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CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: Direito Civil VI - Sucessões


PLANO DE AULA – 2017.1
Rosani Leite Carvalho

Aula 10: Legados: Conceito, classificação, efeitos, responsabilidade pelo pagamento e caducidade.

1) Legados (artigos 1912 a 1946).

a) Conceito: é a disposição testamentária a título singular, pela qual o testador deixa a pessoa estranha ou
não à sucessão legítima um ou mais objetos individualizados ou certa quantia em dinheiro.

b) Sujeitos envolvidos testador ou legante

legatário ou honrado = beneficiado (pessoa natural ou jurídica)

Obs: Quando o legado é designado a herdeiro legítimo, denomina-se prelegado


ou legado precípuo, sendo o beneficiário chamado de prelegatário ou legatário
precípuo.

herdeiro = onerado (quem deve cumprir o legado)

c) Objeto: O objeto dos legados é amplo, podendo abranger bens móveis e imóveis; corpóreos e incorpóreos;
alimentos; direitos reais como o usufruto; ente outros.

Quando são contemplados herdeiros necessários deve o testador expressamente afirmar que o está
beneficiando com sua parte disponível, pois, se não o fizer, entende-se que apenas está identificando o
bem do herdeiro (art. 2.014, CC) e, então, o bem sairá da sua legítima. Sendo contemplado com bem
da parte disponível, estará dispensado de colacioná-lo (art. 2.018, CC).

d) Regras gerais:

1ª) Em regra, a eleição do legatário é personalíssima. Cabe ao testador identificar o legatário e indicar o bem que
lhe quer deixar. Não pode ser atribuído a terceiro o encargo de escolher o beneficiário ou fixar o valor do quinhão
(CC 1.900 III e IV).

Exceções: Apontado como legatário uma ou mais pessoas, um dos membros de uma família ou de uma
comunidade, a escolha pode ser delegada a outrem (CC 1.901 III).

Também pode ser terceirizado o ônus atribuir valor ao legado deixado em remuneração a serviços
prestados ao testador por ocasião de sua morte (CC 1.901 II).

Já no legado de bem fungível, determinado pelo gênero, a escolha cabe ao herdeiro (CC 1.929)

2ª) A premissa básica dos legados é que só se pode legar o que é seu (art. 1.912, CC), salvo as exceções
legais, como por exemplo, o legado de coisa alheia (artigo 1913). .
e) Espécies de legados.

* Legado de coisa alheia (artigo 1913): quando o testador ordena ao herdeiro entregar ao legatário coisa de
sua propriedade. “A hipótese do artigo coloca o herdeiro (ou legatário), em um dilema: ou aceita a
herança, ou legado, entregando a coisa, nos termos ordenados pelo testador, ou conserva a coisa em sua
propriedade e, neste caso, implicitamente, renuncia a herança ou legado [a presunção de renúncia é „juris
et de jure‟]. É uma opção que se abre ao herdeiro ou legatário na qual a possibilidade de ficar com ambas
as vantagens é, logo vedada pelo testador” (Eduardo de Oliveira Leite, 2005, p. 229).

Trata-se de disposição condicional, ou seja, o beneficiário só recebe a herança ou legado se entregar a


coisa de sua propriedade.

Frise-se, no entanto, que essa obrigação ou encargo não pode ser imposta ao herdeiro necessário quanto
a bem referente à legítima.

* legado de coisa comum (artigo 1.914, CC): ocorre quando só parte da coisa pertence ao testador ou ao
herdeiro ou legatário, então, só quanto a esta parte valerá o legado. No entanto, entende Carlos Roberto
Gonçalves que (2011, p. 366) que “se o testador mostra saber que a coisa legada lhe pertence apenas
em parte, e não obstante a lega por inteiro, o legado vale para o todo, ficando, por isso mesmo, o
onerado obrigado a adquirir a parte pertencente a outrem, para entregá-lo ao legatário, ou a entregar-lhe
o justo preço. De mesmo modo válido por inteiro será o legado se a parte que não lhe pertencia, por
ocasião da feitura do testamento, foi pelo testador adquirida posteriormente, fazendo parte do seu
patrimônio por ocasião do seu falecimento”.

* legado de coisa genérica (artigo 1.915, CC): determinada por gênero ou espécie). Ocorre quando o
legado se determina pelo gênero, mesmo que este bem não se encontre entre os bens deixados pelo
testador. A escolha, então, caberá ao devedor (herdeiro ou onerado), se outra previsão não houver no
testamento (nesse caso, o legado se chamará „electionis‟).

a. Aplica-se à escolha o princípio do meio-termo ou da qualidade intermediária, ou seja, não é o


devedor obrigado a entregar a melhor coisa, mas não pode entregar a pior (arts. 244 e 1.929,
CC).
b. Se o terceiro designado para fazer a escolha não quiser ou não puder fazê-la, fá-lo-á o juiz (art.
1.930, CC).
c. Se a escolha for designada ao próprio legatário (será denominado „optionis‟), este poderá optar
pela melhor coisa que houver na herança (art. 1.930, CC).

* legado de coisa singularizada (art. 1916) - O bem tem de ser encontrado na herança sob pena de
ineficácia da disposição testamentária.

* legado de bem imóvel (art. 1.922, CC): o legado abrange os acessórios do bem (inclusive suas
benfeitorias, acessões e construções). Entende-se que não são abrangidas as „novas aquisições‟, ou
seja, ampliações ou acréscimos externos ao imóvel.

“Em se tratando de bem imóvel a aquisição não depende de registro imobiliário, ao contrário do que
ocorre na transmissão „inter vivos‟. A morte e o testamento juridicamente existente e válido
constituem título translativo. Ainda assim deve o herdeiro levar o formal de partilha a registro.
Quando o legado for de bem móvel é desnecessária a tradição para perfectibilizar-se a
aquisição” (Maria Berenice Dias, 2011, p. 399).

* legado de dinheiro (artigo 1925): é exigível desde a abertura da sucessão. Discute-se se o legado de
dinheiro tem natureza fungível ou infungível quando há nomeação conjunta. “Deixada certa importância
em dinheiro a mais de uma pessoa em conjunto, se um dos beneficiados renunciar, for deserdado ou
declarado indigno, sua fração do numerário retorna ao acervo sucessório para ser distribuído entre os
herdeiros legítimos. Não dá para invocar a regra legal que admite o direito de acrescer do legado de
coisa certa e determinada (CC 1.942)” (Maria Berenice Dias, 2011, p. 408), uma vez que dinheiro é bem
fungível por natureza.

* legado de coisa localizada (art. 1.917) – a coisa deve encontrar-se no lugar indicado para ter eficácia.
* legado de crédito (art. 1.918) e de quitação de dívida (art. 1.918) - somente compreende a importância
aferida ao tempo da abertura da sucessão, excluídos os débitos posteriores à data do testamento.

* legado de alimentos (art. 1.920) - cabe ao juiz da sucessão enfrentar o binômio possibilidade dos
herdeiros, conforme as rendas auferíveis da herança, e as necessidades do legatário, nos limites
previstos no art. 1.920, CC. A duração é até o falecimento do legatário.

* legado de usufruto (art. 1921)- durará por toda a vida do legatário se não for fixado termo. A doutrina
afirma que o legado pode se referir a outros direitos reais como o de habitação, o uso, a posse, etc.

“O legislador somente se referiu ao legado de usufruto para fixar o tempo de sua duração
quando o testador não o houver feito. [...]. Se, no entanto, o legado de usufruto tem como
beneficiária pessoa jurídica, e o testador não determinou o tempo de duração da benesse,
esta perdurará por trinta anos, a não ser que, antes, ocorra a extinção da pessoa jurídica em
favor de quem o usufruto foi constituído (CC, art. 1.410, III)” (Carlos Roberto Gonçalves, 2011,
p. 370).

* legado alternativo (artigo 1932 e 1933): presume-se deixada ao herdeiro a opção. Em caso de morte
destes, caberá aos seus herdeiros.

* legado por ‘sub causa’ ou por certa causa: é o legado em que o testador declara expressamente os
motivos passados que justificaram a sua liberalidade.

* legado de material genético: há controvérsia doutrinária sobre a possibilidade de material biológico ser
objeto de legado ou não. A tendência, no entanto, é reconhecer-se que há direito de propriedade sobre o
material genético e embriões congelados e que, portanto, poderiam ser objeto de legado.

f) Cumprimento, efeitos e pagamento do legado (artigos 1923 a 1938)

* Aceitação e renúncia: o legado não exige aceitação expressa uma vez que o requerimento de cumprimento ao
onerado já vale como manifestação positiva do legatário. Pode o legatário, no entanto, renunciar ao legado. A
renúncia do legado é sempre total e irretratável, não sendo aceita quando feita parcialmente.

* Cumprimento (art. 1.934) por pessoa indicada pelo testador

aos herdeiros e, não os havendo, aos legatários, na proporção do que herdaram.

* Efeitos.

A abertura da sucessão confere ao legatário apenas o domínio e o direito de requerer a posse aos herdeiros em
procedimento de inventário. Por isso, o legado quanto à posse do bem legado pode ser (art. 1.923, CC).

Art. 1.923. Desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a coisa certa, existente no acervo,
salvo se o legado estiver sob condição suspensiva.
o
§ 1 Não se defere de imediato a posse da coisa, nem nela pode o legatário entrar por autoridade
própria.
o
§ 2 O legado de coisa certa existente na herança transfere também ao legatário os frutos que produzir,
desde a morte do testador, exceto se dependente de condição suspensiva, ou de termo inicial.
* Elementos acidentais suspensivos dos efeitos dos legados.

- legado condicional (artigo 1924, CC): o legatário tem apenas uma expectativa de direito até o
implemento da condição.

- Legado a termo (artigo 1924 CC): a aquisição da propriedade do legado fica subordinada ao
implemento do termo.

- legado puro e simples: confere ao legatário a propriedade da coisa legada desde a abertura da
sucessão, mas não lhe confere de pronto a posse, dependendo esta de requerimento do testador.

- legado modal ou com encargo (art. 1.938, CC): a esta espécie se aplicam as mesmas regras do
puro e simples, no entanto, o legatário estará sujeito ao cumprimento do encargo. O legatário que
recebe o bem com encargo deverá cumpri-lo (arts. 553, 562 e 1.938, CC).

TESTAMENTO. LEGADO. FRUTOS PRODUZIDOS PELO OBJETO DO


LEGADO.Pretensão do legatário ao ressarcimento dos frutos produzidos pelo legado
durante o período no qual não teve a posse dos bens.1. LEGITIMIDADE. ESPÓLIO.
Qualquer herdeiro poderia ter tomado as providências necessárias no sentido de
cumprir o legado estabelecido no testamento, o que, entretanto, não ocorreu
(art. 1.934, do CC). O inventariante somente cumpriu o legado após pedido expresso
do legatário nos autos do inventário. Além destes fatos, ao que tudo indica, não foi
feita a partilha dos bens. Assim, com maior razão, tem o Espólio legitimidade para
responder à pretensão do legatário ao recebimento dos frutos do objeto do
legado.2. Desde a abertura da sucessão, o legatário tem o domínio do objeto do
legado. Entretanto, por não ter sido concedida a posse efetiva do bem logo após
o falecimento do testador, tem direito ao pagamento dos frutos percebidos pelo
Espólio. Princípio da saisine.3. O disposto no art. 1.924, do Código Civil, deve ser
interpretado de acordo com as circunstâncias dos autos e sua aplicação não impede,
no caso em exame, o recebimento dos frutos. Como dito, o objeto de legado já foi
entregue ao autor. Assim, não se justifica aguardar o fim da demanda relacionada à
anulação do testamento, sob pena de impedir, sem justificativa, o direito de
ressarcimento do autor, direito igualmente garantido pelo art. 1.923, § 2º, do Código
Civil.Recurso do legatário provido para anular a sentença a fim de que sejam
produzidas as provas a respeito dos frutos produzidos pelo legado durante o período
de posse dos bens pelo Espólio. Recurso adesivo do réu não provido. (TJ/SP, 10ª
Câmara de Direito Privado, Apelação 0006184-32.2010.8.26.0483, rel.: Carlos Alberto
Grabi; julg.: 14/08/2012, publ.: 18/08/2012)

d) Da caducidade dos legados (artigo 1939 e 1940)

 Conceito: Perda da eficácia por impossibilidade material de cumprir a vontade do testador.

“é a perda, por circunstância superveniente, da razão de existir de um ato determinado, que foi feito de
maneira válida. No caso de legado, trata-se de disposição testamentária que ordinariamente produziria
todos os seus efeitos. Todavia, em virtude da superveniência de uma circunstância, ou melhor, de um
evento, a cláusula testamentária deixa de operar” (Sílvio Rodrigues)
Hipóteses (artigo 1939 e 1940).

Art. 1.939. Caducará o legado:

I - se, depois do testamento, o testador modificar a coisa legada, ao ponto de já não ter a forma nem
lhe caber a denominação que possuía;
II - se o testador, por qualquer título, alienar no todo ou em parte a coisa legada; nesse caso,
caducará até onde ela deixou de pertencer ao testador;
III - se a coisa perecer ou for evicta, vivo ou morto o testador, sem culpa do herdeiro ou legatário
incumbido do seu cumprimento;
IV - se o legatário for excluído da sucessão, nos termos do art. 1.815;
V - se o legatário falecer antes do testador.

Art. 1.940. Se o legado for de duas ou mais coisas alternativamente, e algumas delas perecerem,
subsistirá quanto às restantes; perecendo parte de uma, valerá, quanto ao seu remanescente, o
legado.

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