Nem Tupi, Nem Tapuia

Coleção
Coordenação
Ana Lídia Campos Brizola
Andrea Vieira Zanella
Organizadores
Marcos Roberto Vieira Garcia

Marco Antonio Torres
Daniel Kerry dos Santos
Florianópolis
2015
Aluísio Ferreira de Lima
Marcelo Gustavo Aguilar Calegare
Leandro Roberto Neves
Renata Monteiro Garcia

Carlos Eduardo Ramos

Cleci Maraschin
Lupicinio Íñiguez Rueda

a
sido importante espaço para o intercâmbio entre estudantes de graduação e
Psicologia
& Sociedade
As Edições do Bosque
Edi-
ções do Bosque
Esta obra está licenciada sob uma

Intersecções em Psicologia Social: raça/etnia, gênero, sexualidades
Sumário
A Coleção 1
Apresentação 3
A memória social indígena: a psicologia em questão 13

Juliana Dal Ponte Tiveron, José Francisco Miguel Henriques Bairrão
32
trajetória histórica dos indígenas brasileiros
Bruno Simões Gonçalves
Interseccionalidade e violência de gênero contra as mulheres: 55

a questão étnico-racial
Raquel da Silva Silveira e Henrique Caetano Nardi
Do ventre escuro de um porão vou baixar no seu terreiro 80

Veridiana Silva Machado e José Francisco Miguel Henriques Bairrão
101
Andréa Moreira Lima
130
diversidade
151
sem distância
A formação em Psicologia e o olhar para a diversidade sexual: 166
Izaque Machado Ribeiro
VI
184
diversidade de Pernambuco
Fernanda Ximenes e Benedito Medrado
208
Liliana Rodrigues
Nas Pistas do Desejo: experiências de se assumir “marido de 222
Marília dos Santos Amaral e Maria Juracy Filgueiras Toneli
243
experiências de intersexuais
Paula Sandrine Machado e Janaína Freitas
259
encontros e desencontros
Camila Guaranha e Henrique Caetano Nardi
284
de enfrentamento
311
VII
A coleção
reúne tra-
balhos oriundos do XVII Encontro Nacional da Associação Brasileira de
Psicologia Social - ABRAPSO, realizado na Universidade Federal de Santa
Catarina em outubro de 2013. Comemorando 30 anos, ao realizar esse
-
-
-
-
pecto que sirva para oprimir indivíduos e grupos. Os princípios que orien-
-
ção. A ABRAPSO, como parte da sociedade civil, tem buscado contribuir
-
cias de diversas ordens que atentam contra a dignidade das pessoas.
Os Encontros Nacionais de Psicologia Social promovidos pela
1980) e se caracteriza atualmente como o 3º maior encontro brasileiro
mais de 1.500 trabalhos.
1
O XVII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia
violências de diversas ordens, com o aviltamento de direitos humanos e
possibilitou
individualizantes que geralmente os caracterizam e os processos de
Neste XVII
Grupos de Trabalho, todos coordenados por pesquisadores/doutores de

-
compor a presente coletânea. Um entre os proponentes de cada grupo

responsabilizou-se pelo processo editorial que envolveu desde o convite
mantendo-se os conjuntos dos GTs, estes passaram a compor os oito vo-

-
conhecimento que vem sendo produzido na Psicologia Social brasileira,

-
em que vivemos.
2
Apresentação
Mara Coelho de Souza Lago
Zanella e Ana Lídia Brizola em torno de temas que ordenaram as apresen-
-
dução editorial, avalizada por importantes indexadores e a atribuição de
Qualis A1 pela Capes.
na complexidade do mundo contemporâneo não pode prescindir de uma

-
antologia, pelos estudos sobre raça/etnia e pelos estudos de gênero e se-
3
Esta coletânea reúne trabalhos apresentados em quatro GTs da

Reunião da ABRAPSO de 2013.
-
balhos apresentados na XVIII da ABRAPSO para comporem este e-book.
-
nem
-
-
4
-
renciados em apenas duas categorias,
-
-
em momentos variados do processo de escravização dos negros no Brasil,
processos de assimilação pela miscigenação- branqueamento- encarada
-
-
-
-
5
-
-
troduzida no campo dos estudos de gênero por autoras voltadas para a
Maria da Penha e na legislação espanhola, em que a/o autora/or consta-

-
-
res que acessaram a Lei Maria da Penha em Porto Alegre, os resultados
do trabalho Silveira e Nardi corroboram estudos que destacam a maior
vulnerabilidade econômica e cultural de mulheres negras, com piores
-
-
-
diram no Brasil da ditadura militar, denunciando e reivindicando o comba-
As autoras apresentam e discutem resultados de pesquisa realizada em

-
-
-
6
-
2015), evidenciando que a violência contra mulheres, objeto de alerta e

-
dos direitos sexuais como direitos humanos, selecionou cinco trabalhos

para comporem essa coletânea.
-
A autora pesquisa os movimentos LGBT nas duas cidades, contextualizando

-
-
-
7
pesquisa que desenvolvem em duas escolas do Rio de Janeiro, com o ob-

-
Mostrando como os discursos religiosos, morais, biologizantes e hetero-
-
-
ria; urbano/ rural, imbricadas por assimetrias de saberes mais e menos
gênero e sexualidades.
de estudos. O autor historiciza os movimentos LGBT no país em suas lutas
voltados/as a essa população, ressaltando suas potências e denunciando

-
8
que desenvolve como docente de Curso de Psicologia em universidade
da Região Sul, o autor destaca a importância dessas experiências educa-
sexual no campo da educação superior necessitam ainda de grandes avan-

ços no Brasil.
-
momentos atuais, em que o país vivencia o recrudescimento de movimen-

tos e atuação de grupos conservadores que ameaçam a laicidade do Esta-
nos níveis nacional, estaduais e municipais.
documental que realizararn em quatro jornais de Pernambuco durante
-
-
cas, selecionou quatro trabalhos para essa coletânea.
Transitando por novos percursos no universo trans, Marília dos San-
9
Caetano Nardi, apresenta parte de pesquisa que buscou compreender
-
ços importantes nesse campo.
-
-
nos entendimentos que desenvolvem
10
-
precisam ser constantemente monitorados no interesse da promoção de
apresentados nessa coletânea são exemplos de uma psicologia compro-

-
-
tar leitores e leitoras.
Freud, S.
Nogueira, C. A teoria da Interseccionalidade nos estudos de gênero e sexu-
11
-
-
12
A memória social indígena: a psicologia em questão
Juliana Dal Ponte Tiveron
José Francisco Miguel Henriques Bairrão
Introdução
-
-
-
13
14
-
-
Kaingang -
15
dos Kaingang. Kain-

gang,
.
ilustra a tragédia resultante do processo de
Kaingang,
indígenas Kaingang -
16
-
-
cidos quanto aos cuidados diante de qualquer reação violenta indígena
17
-
-
-
-
18
-
-
-
-
-
A Comissão Nacional da Verdade
19
-
-
guarani
e guarani-kaiowá
20
-
Etnocídio indígena
Arqueologia
da Violência -
21
-
-
-
-
-
-
22
-
-
Fulni-ô 2
3
,
3
-
23
Xucuru4,
seguinte descrição no livro
24
dos 5
bebida cauim6
A memória ferida
Tupi-
25
26
-
-
-
27
-
-
Kiki dos Kaingang

-
-
-
-
28
Conclusão
-
-
Referências
14
umbanda
29
Lei n. 12.528
-
4
-
.
30
-
13
-
-
31
Nem Tupi, nem Tapuia. A busca pela indianeidade

brasileira
Bruno Simões Gonçalves
Introdução
-
-
Colonialidade do Poder -
32
A colonialidade do poder
-
-
Colonialidade do
Poder
-
Colonialidade do Poder -
33
Colonialidade do Poder foi a media-
Colonialidade do Poder em
-
raça
raça
. -
Colonialidade do Poder
34
raça, criou-se a es-
raça, .
Colonialidade do Poder
-
-
-
considerando ser povos indígenas.

-
-
No Brasil todo mundo

é índio, exceto quem não é.
35
-
ethos -
-
índios -
-
36
a Colonialidade do Poder -
37
-
-
-
-
-
38
O período pombalino
-
-
-
-
e caboclo
39
-
-
lócus -
-
40
-
O regime tutelar no século XX
Regime Tutelar. -
-
-
41
-
-
-
-
42
-
-
-
-
43
-
vil
-
-
-
-
44
-
ou .
era vivido
45
-
-
46
-
-
-
47
-
-
-
-
Psicologia da Libertação
-
-
48
-
-
-
-
-
-
-
49
-
der -
50
-
-
-
processo
51
-
-
-
-
-
52
-
Conclusão
e seu
-
-
-
Referências
O caminho brasileiro para a cidadania indígena.

História da cidadania
53
-
dade à autonomia
O índio Brasileiro: o que você precisa saber
sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. -
-
-
cología,
-
A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências so-
,
-
A presença indígena na formação do

Brasil. -
No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não

é
pdf
54
Interseccionalidade e violência de gênero contra as
mulheres: a questão étnico-racial
Raquel da Silva Silveira
Henrique Caetano Nardi
Introdução
a interseccionalidade racial e étnica
culo
55
56
57
discurso apontava para
58
59
60
-
61
62
intraclasse
63
, citado por Rios,
64
65
66
67
68
69
70
71
72
Amostra
IBGE/Censo/2010 Amostra Amostra
Atendimentos-
Raça Porto Alegre Processos BOS
Entrevistas
73
74
Referências
75
,8
,
10
-
.
76
-
Rio de
, 18
-
za.
12
-
.
, 20
77
.
-
Tese
, 20
78
-
79
Do ventre escuro de um porão vou baixar no seu

terreiro
Veridiana Silva Machado
José Francisco Miguel Henriques Bairrão
Introdução
-
-
-
80
-
-
-
Bantu
Bantu
-
Bantu
81
-
-
82
-
-
-
-
-
-
.
-
kilundu
kulundula -
oriundo de kalundu
-
83
Candomblé
Bantu
Loomba, -
NDOOMBELE
ka
- KANDOOMBELE
Bantu -
84
-
Além dos Bantu -
-
-
, e consequen-
85
-
-
-
-
-
-
-
86
-
Nação
angolas, con-
gos, jejes, nagôs, -
-
-
-
-
87
-
-
-
-
-
-
Bantu (corresponden-
-
-
-
Nagô ou Eba
Oyó-Ijexá Mina-Nagô
Xambá
Jeje
ewe-fon
Jeje-Mahin e o Jeje- Savalu (presen-
Jeje-Mina
88
-
-
-
-
-
89
-
-
-
-
-
-
-
Bantu
90
-
-
-
91
-
-
92
-
-
-
93
-
-
Conclusão
-
-
94
-
-
-
95
-
-
-
-
mamet’u ou
de um Taata dya Nkisi Yalorixá ou um Babalorixá -
-
96
Jeje
Keto,
-
-
-
-
-
-
97
bantu que signi-
98
-
Referências
O duplo e a metamorfose: -
dades nagô.
-
Estudos de Psicologia 10
A busca da África no Candomblé: tradição e poder.
Religiões negras e negros Bantos. -
Falares africanos na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro
Vovó Nagô e papai branco: usos e abusos da África no

Brasil.
(
Psicologia em Pesquisa 7
O universo mágico religioso negro africano e afro-brasileiro:
Bantu- Nagô -
-
oldman A possessão e a construção ritual da pessoa no candom-

blé.
99
The Red Fez:Art and Spirit Possession in Africa

Ver
-
blé Keto -
Revista
Afro-Ásia
A formação do Candomblé: história e ritual da nação jeje
na Bahia
Herdeiros do Axé: sociologia das religiões afro-brasileiras.
Alma africana no Brasil: os Iorubás.
-
Nkisi na diáspora:
Ed UnB
primeiro terreiro baiano de keto
Todos os Santos: dos séculos XVII a XIX

-
100
Andréa Moreira Lima
101
Snowball
102
103
Lampião da Esquina
104
Lei das uni-
ões de facto,
105
), Sen (2004)
e Shivji (2006).
106
107
108
109
110
111
a Teoria Queer
112
queer
queer
queer
queer
queer
A teoria queer
queer
113
114
115
a priori, as parcerias entre sociedade
116
117
entre
118
119
120
d
121
122
123
124
125
126
Sociolo-
127
contemporâneos
-
Estudos Feministas, 9
Cadernos do
128
-
Episte-
Cidadania sem fronteiras
-
alism
Brasil
129
Carolina Bertol
130
131
132
133
134
como
135
136
137
138
139
como sai o gozo

de dentro da mulher depois que ela transa?
dizendo que a Lady Gaga é hermafrodita?
140
A
141
Já aconteceu uma situação absurda comigo. Eu era pequena, devia ter uns
antes de uma aula iniciar a gente se abraçou em sala. E daí o professor de

ciências entrou na sala de aula e disse: “Vamos parar com o ato de lesbia-
nismo que eu quero dar minha aula”. Ele falou isso na frente da turma toda
... Ele já estava errado de fazer isso, ainda mais na frente de todo mundo ...
eu
acho que a direção tem que evitar mesmo essa coisa de namoro na esco-
la
142
outra. O inspetor da escola mora perto da gente. Você acredita que teve um
dia que a mãe da V. veio aqui na escola e ele insinuou pra mãe dela que a
amiga de ninguém, é?
143
tudo bem, porque hoje em dia é normal as amigas se abraçarem, se bei-

jarem, ninguém acha estranho
garotos
se fosse uma menina, ele aceita-
acostumada com homem e mulher, e aí estranham Querem que eles
ui, cruzes, eu não, eu não sou viado, sou pegador.
contra Deus, que fez o homem e a mulher, e esse era o certo
144
-
vidarmos
Minha amiga faz tudo em casa e
me sinto vigiada e tenho até medo de ir ao banheiro
Pra minha mãe é assim
ser bonita as mulheres de hoje em dia estão muito fáceis, não estão se
respeitando... os homens não estão dando valor o homem já chega
nelas para comer e ir embora
145
mas quando os colegas falam da mãe dele, ele perde a cabeça. Ela disse
146
precisa ser assim, absurdo. Batom rosa, boca rosa, roupa rosa. O que que
é isso? Tem uns gays que conseguem viver uma vida normal. O amigo da
ia parecer normal
147
a gente se encontra
todo dia. mas não sabe o que o outro pensa sobre tal assunto foi
legal ver os colegas, que estão sempre zoando, dar a opinião deles a sério
sobre tal coisa...
148
149
-
-estruturalista
Rio
Educação e Pesquisa
39
. Cadernos Pagu
Cadernos Pagu,
O corpo edu-
.
150
igualdade a/sem distância
-
-
-
-
151
-
-
152
-
-
-
-
-
153
Quando você se locomove até o lugar, isso faz a diferença, que você con-
segue analisar todo o funcionamento do sujeito no lugar onde ele vive, se
bem que Floripa para mim é uma província, sou de São Paulo, então Flori-
pa já é uma província, então imagina, quando tu sai de Floripa e vai para
estas cidades do interior, por exemplo esta cidade onde eu atuei, para
eles Floripa é uma graaande metrópole e para mim é uma coisa super
engraçada.
Imagina, Mato Grosso, só tem boi, vaca, touro. Tem lugares onde o pre-
conceito é mais forte... Foi assim, eu saí do interior, pedi transferência para
Canoas por uma série de coisas e daí eu pedi transferência para Porto
-
-
154
Com certeza em cidades do interior, são sociedades patriarcais, onde as
equidade de gênero, se percebia muitas mulheres se dando conta de uma

coisa de que elas buscavam uma explicação, existe uma naturalização da
mesmo? E lá ... existe uma absorção dessa assimetria de gênero como uma
-
-
-
155
e foi uma experiência riquíssima, houve

professores do GDE que na primeira vez na sua vida estavam vendo em
carne e osso um transexual na sua frente, só viam na mídia, na televisão
Aqui numa cidade pequena um curso deste chama a atenção, até fazermos
o curso, tem que saber como falar, numa cidade grande parece que é dife-
-
mento diferente e numa cidade pequena não, eu acho bastante diferença
em tudo, em todas as coisas. Já tem, mas pouquíssimo em relação à cidade
grande
gays
-
gay
156
-
-
queer
O curso mudou muito o meu jeito,

que a gente era completamente ignorante
gay -
gays
gay -
-
-
157
Trabalhar estas questões de sexualidade, gênero, etc, tem a ver com o

meu próprio eu, como eu estou vivendo com isso, então não é qualquer
professor, não basta chegar lá e capacitar aquele professor, e que ele vai
bem formoso falar destas coisas com a maior naturalidade, que existe
toda uma trajetória de vida, um histórico de vida, uma tradição que até
vai passar pelo lugar onde vive, a gente tava falando da cidade, uma cida-
de do interiooooor de SC, como se vive ali, tem pessoas que nunca saíram
dali, você viaja a estes lugares e tem gente que nasceu, viveu, vai morrer
sem nunca ter ido na cidade vizinha, então as informações que eles tem...
Como a gente mora no interior, eles acham que a gente não

trabalha, a gente trabalha um monte! Aquela coisa, acham que a gente
vive fora do mundo
-
158
queer
-
-
E aí uma professora falou assim... Por que lá na minha aula, na minha es-
cola tem o Rafael, e o Rafael, na verdade é Sabrina, mas ele chegou na
chamada é Sabrina, agora a senhora me ensinou que Rafael é na verdade

o nome social...., e aí uma outra falou...aí contou um outro caso. Então tu
8.000 habitantes, duas pessoas me fa-
159
mas as crianças são trans lá, e eles tem que lidar com as crianças trans,
-
-
-
,
.
O que a gente está tentando fazer é transformar estas pessoas em iguais a

gente.... Tentar impor uma lógica daqui para uma cidade de 7000 habitan-
-
mento, vamos fazer com que estas pessoas desejem outra coisa diferente
do que elas desejam...
Qual o projeto que a gente está tentando vender para eles de como deve
ser uma mulher? Estamos mostrando para elas que existem mais coisas
que o casamento, que a luz está para além do casamento? Mas e se não
é assim que funciona ali? Por que a gente desconsidera esta lógica? Toda
mulher deve querer entrar para a academia e ser uma mulher indepen-
dente?
160
-
verdades -
-
-
Só porque
ele chega da capital, ele acha que pode chegar zoando
-
161
-
-
-
eu queria muito fazer um mestrado, mas eu gosto muito de estar
mestrado, né? Tu não é casada, né?
-
-
-
-
rença, principalmente no interior, aí é um facilitador, o fato de ser um
como ter um Porsche
Todo mundo se conhece, e quem não se conhecia bem acabou se conhe-

cendo por que esta interação foi legal. Nos conhecemos de outras escolas,
-
cionamento em cidade pequena não é tão acentuada, por que eu sei quem
estuda, eu sei quem trabalha na minha escola, eu sei quem trabalha, co-
nheço quem trabalha na escola de ensino médio, eu conheço as professo-
ras do município, porque no caminho que eu vou para a escola eu encontro
elas na rua, a gente se encontra aqui, se encontra acolá
162
-
por que o polo era uma coisa nova, poucos conheciam. Era pouco divulgado
Fomos no domingo, fomos dar um passeio e aproveitamos e divulgamos
Reinventando/Respeitando o local
-
local
-
-
nos dos
a priori
163
Cadernos Pagu
Marcos de guerra. Lãs vidas lloradas
-
-
-
cios urbanos
A arqueologia do saber
Michel
-
-
tural lives
-
164
Localidade ou metrópole? Demonstrando a capacidade de
-
Teoria & Pesquisa
Escola
-
modernity
Cadernos Pagu
Cadernos Pagu
165
A formação em Psicologia e o olhar para a diversidade
Izaque Machado Ribeiro
Esse relato fundamenta-se na atual discussão a respeito das rela-
coerente? Que outros entendimentos a respeito de gênero e sexualidade

são possíveis em nossa sociedade?
queer Judith Butler (2008), antes mesmo de
-
o que for considerado masculino pela sociedade deve obrigatoriamente

expressar atributos masculinos, ocorrendo relação similar com o que for
-
contribuir para as discussões a respeito da diversidade sexual no de-
166
Queer,
entre produzir coerência a
-
-
queer,
primeiro polo, como certa vantagem com relação ao segundo, indagamos
-
tudo de alguns trabalhos acadêmicos sobre o assunto, assim como da lei-
167
paradigmas da formação de uma universidade do interior do estado do
-
-
-
-
de movimentos, os quais começam a evidenciar-se no plano das novas
168
-
heroinômanos e hookers
ideia dos grupo de risco, gerando cada vez mais preconceito e discrimina-
-
mento homossexual, eram parte da luta travada internamente pelo movi-
-
-
169
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
170
-
-
cipação do movimento de homossexuais, para acompanhar e avaliar as
que ocorrem dentro de seu espaço, na organização curricular, por exem-
primando pela intersetorialidade e transversalidade na proposição e im-
171
abordagem que promova o respeito e o reconhecimento da diversidade da
do acesso e da permanência em todos os níveis e modalidades de ensino,
-
-
-
zação do conhecimento; formação de atores; defesa e proteção dos direi-
-
-
172
-
ro e
pesquisas e extensão, sem excluir nenhum campo do saber ou limitar a
-
-
e da sociedade para a promoção da cidadania e dos direitos humanos de
promover a produção e a difusão de conhecimentos que contribuam para

a superação da violência, do preconceito e da discriminação em razão de
-
-
-
superior, nos faz pensar que, existem propostas muito bem feitas a esse
173
segmento, -
poderes; cooperação internacional e gestão da implantação sistêmica da
rua, em parceria com agências internacionais de cooperação, universidades
-
-
-
174
-
-
-
-
-
-
tas dos planos e programas elaborados pelo governo federal e com
planejado e a efetividade de ações, que, de certo modo, encontram
175
em processos formais de Educação, como isso reverbera nas chamadas

-
cesso formativo?
queer
queer permi-
pedagogia queer
pedagogia e um currículo queer estariam voltados para o processo de

produção das diferenças e trabalhariam, centralmente, com a instabili-
-
-
os processos que produzem as diferenças, o currículo passaria a exigir que
contemplar uma sociedade plural, seria imprescindível dar-se conta das
176
2
-
-
sexual vêm ocorrendo em sala de aula, em grupos de estudos e em en-
-
ajuda para resolver situações embaraçosas com alguns alunos/
as
dois me-
só quer andar com os meninos

-
diversidade sexual (e de temas interrelacionados, como gênero e cor-

2
-
177
-
-
da diversidade sexual e das relações de gênero e que acreditavam que o
-
tegrante se responsabilizava por encabeçar a discussão, por apontar as
-
dade de intervir, buscar por mais visibilidade na universidade e nos de-
-
-
178
-
-
dores da universidade, e falava-se mais, na sala de aula e fora dela, sobre
nas discussões realizadas em sala de aula, havendo um momento, inclu-
ligados a crenças religiosas se mostraram bastante incomodados com a

discussão apresentada pelo grupo e, quando apresentaram seu trabalho
diretrizes propostas pelos planos e programas que tratam da diversidade
-
-
-
-
179
docente que lecionava Biologia e, para nossa surpresa, o restante da sala

onde foram exibidos os vídeos foi tomada por adolescentes, oriundos das
-
isso ocorreu, uma professora havia ensinado somente como se coloca a

camisinha, no menino, não dando atenção para os demais aspectos que
-
180
-
são centrais, e estão presentes transversalmente em algumas disciplinas e
Essas coisas não podem ser mostra-

das! Porque é
feio! Essas coisas têm que ser feita no mato, não é pra tá mostrando aqui
-
-
181
esse de -
Psicolo-
em -
182
teorias e abordagens
Estudos Feministas,
Brasil Sem Homofobia

-
Sociologias
Athenea Digital
Psico, -
Relatório de Monitoramento das

Ações do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de
Plano Nacional de Pro-
183
Tem marcha na capa ou a festa é manchete? A 10ª

Parada da diversidade de Pernambuco
Fernanda Ximenes
Benedito Medrado
Não imagine que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo que
a coisa que se combata seja abominável. É a ligação do desejo com a
realidade (e não sua fuga, nas formas da representação) que possui
uma força revolucionária. (Foucault, 1991, p. 82)
Introdução
184
-
-
-
-
-
-
-
-
tralidade, havendo uma irreversibilidade entre espectadores, posiciona-
185
que conta com um palco, espaço especializado para o seu desenvolvimen-
contemporâneos, como o cinema, a televisão etc.

-
-
navalesco, diferentemente de outros países, em que se dá em forma de
adentrar em terras brasileiras, é recorrentemente associada ao carnaval,
período do Carnaval como uma espécie de ritual, que tem como mecanismos
-
-
problemas da democracia.
or-
186
-
nessa espécie de contorno que cria um espaço de tensão antagonista.
-
-
-
-
a primeira manifestação de rua, que, posteriormente, se
No panorama geral dos movimentos de reivindicação das minorias
-
-
187
que
contava com -
nas instâncias de controle social, é um processo interpretado pela autora
188
-
clube, a qual, no entanto, na visão dos organizadores, não teria alcançado

a adesão esperada.
-
-
adotado como modelo eventos semelhantes ocorridos em outros países,
assimilação ao Carnaval, difundiram-se ao longo de várias capitais e ci-
paradas no mundo.
como “o metro quadrado mais caro da cidade” e uma das praias mais
-
-
entre o movimento social e a gestão local, conferiu ao evento um caráter
-
-
189
e ao mesmo tempo propor outras.
noção de
cien-
saberes localizados e parciais.
do conhecimento como uma produção e não um “espelho da natureza”,
as coisas do mundo parcialmente.

-
190
-
ção estratégica em que o homem se encontra situado. É essa relação es-
estratégicos que ao mesmo tempo são efeitos e instrumentos de poder.

-
-
de sujeito e não discursos colados a seus criadores. Esses são “lugares

perpassados por regimes de verdade, e que possibilitam aos sujeitos o
verdades inscritas em palavras, que postulam e ensinam determinados
meio a estratégias e jogos de força.

-
dade importantes, posto que “assegurariam” aquilo que os interlocutores
podem (e devem) considerar como verdade, haveria um direcionamento
para o estabelecimento de uma espécie de “credibilidade generalizada”
ao que é visibilizado pelo jornalismo, seja o relato de um acontecimento,
-
,
-
dos, tanto para quem os produziu como para quem os consome (leitores,
191
-
-
-
se encontra este trabalho.
-
cional, quanto social.
-
192
podem ser considerados um , na medida em que sus-
-
-
mica (que são os enunciados, orientados por vozes), as formas mais ou
-
nos envolve em uma interpretação - implicando essen-

-
sua -
zemos que o discurso está orientado (conscientemente ou não) para a
.
O termo construção é importante, pois nos lembra que aquilo a ser
-
rão escolhidos pelos falantes em detrimento de outros.
193
,o ,a eo .
-
nadas e seus usos. Nessa etapa, será realizada uma análise mais espe-
-
vadas anteriormente.
-
-
194
no , oito no , quatro no e
quatro na .
-
tanto o -
-
zesseis são matérias completas.
-
-
sobem ao palco e trios, o evento não é tratado nesses termos pelos ve-
ículos impressos.
-
-
jornais operam, não há relação entre o que se convencionou chamar de
195
através do critério preço e tradição no estado. O
é cotado como o jornal de maior circulação no estado,
pernambucana.
pelo
podem ser considerados jornais voltados a segmentos populares.
-
eo
oito produtos em cada, e a eo apresen-
hierárquica entre os jornais.
desse material, especialmente nas matérias completas, é a forte presença
196
) apre-
sentam pelo menos uma matéria completa em que a cantora é colocada
que até aquele momento ela nunca havia se pronunciado publicamente a
realização do evento.
Na
-
-
conceito”. O , certamente o mais popular dos jornais e o mais
barato, que apresenta linguagem mais coloquial e é conhecido na cidade
-
No que concerne aos jornais de maior tradição, o
197
-
-
-
-
da ordem da razão e do argumento e, por isso, apresenta uma ordem de

-
-
-
nais e as revistas passaram a usar as imagens como forma de complemen-
198
-
-
-
escolheu a imagem da can-
tem uma
da cantora em apenas uma matéria.
que os discursos seriam empregados de maneiras diversas em diferentes
momento (Medrado, 1998).

-
de direitos?
-
“fantasiado” de sadomasoquista, além dos corpos quase nus de tra-
aparece em
com
199
rece como um contramovimento que constantemente descaracteriza e
capacidade de mobilização.
escritas no banheiro masculino, também recebeu destaque nos jornais.
-
cia, tal como a foto da pichação no banheiro, ou ainda fotos de familiares
que denotam tristeza ou medo apareceram acompanhadas de mensagens
-
sivas, e isso permite que o interlocutor entenda a parte em relação ao
-
-
200
-
do evento.
-
-
-
criminalização da homofobia.
o
o menor. É importante notar que, embora os jornais -
e
-
-
riscamos a interpretar.
-
-
201
descritos pelos jornais.

-
em outros campos do saber, como o cultural, o educacional, o jurídico e
que restringe os direitos de cidadania e, por isso, chega-se a propor a

criminalização da homofobia.
-
nalização da homofobia (presente apenas no e no
Caderno C ou na sessão de Cultura) ou talvez elas não sejam “levadas a

-
202
-
-
lesca. É importante notar que, ao contrário do que o senso comum pode
-
,a
eo
-
ser observados com igual destaque.

-
-
-
discrepância entre os jornais. Enquanto o não apresenta nenhuma

, na qual fo-
e no
-
Não queremos aqui propor que os jornais e são “des-
pelos jornais? E quando não se fala na linguagem dos movimentos sociais,
203
-
buco
-
-
-
-
mente pela batalha travada pelo reconhecimento de direitos, mas pela
Não que desacreditemos no potencial dos aparelhos do Estado como for-
acompanhamos um fato relevante para o seu desenvolvimento. O “bei-

, foi uma
desestabilizantes, livres de qualquer noção unitária ou totalizante” (Fou-
204
-
da aprovação do casamento (e não somente união estável) entre pesso-
Fechamento: terminando sem encerrar
205
desestabilizar doutrinas, atentos a possíveis mecanismos de opressão que
-
minamos esses apontamentos, entendendo a análise de material jornalís-
o grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquiza-
dos, mas um constante gerador de “desindividualização”, pois o indivíduo
é produto do poder.
Referências
Escobar (Org.),
-
derna.
-
meio a disputas.
(1), 1-22.
206
construcionista.
-
,
(Orgs.),
(Coleção
-
gens de risco-aventura em matérias de revista. ,
Cortez.
-
(Org.), -
207
Liliana Rodrigues
Ao longo dos tempos e em diferentes países, os discursos sociais, po-
contra as pessoas trans, nomeadamente contra as pessoas transexuais.

-
-
-
O termo trans surgiu do feminismo trans -

-
208
-
-
-
de cidadania às pessoas transexuais e trans.
mainstream dos Direitos Humanos. De seguida, discutem-se argumentos

-
-
” de
-
209
-
-
-
dades plurais.
mainstream
mainstream de direitos humanos e os seus

-
210
-
-
-
mainstream
-
211
De acordo com estes documentos internacionais, as pessoas transe-
-
-
212
-
Portugal
-
-
-
213
-
cimento legal da transexualidade em Portugal. Os media tem desempe-
Rodrigues,
-
214
-
-
-
-
-
215
despatologizantes.
-
-
-
-
216
-
-
mantendo o status quo
Discurso
de ódio e crimes de ódio contra a população LGBT
-
Introdução ao transfeminismo. Transfeminismo. Acesso em

-
, 19
217
-
al Journal for Theology
-
Acta Med Portuguesa, 23

El
-
lidad
.
-
The Yogyakarta Principles: Principles

-
Publicada em Portugal no Diário da República, I

Série A, n.º 57/78, de 9 de Março de 1978.
, 76
-
Acesso
Comunicado: 6.º aniversário da morte de Gisberta Sal-

ce Júnior. -
-
mos
218
, H. -
A quem pertence o corpo da mulher? Reportagens e Ensaios,
Lei nº 7
-
Ley nº 26.743 -
-
-
ma.htm
Lima -
-
transexualidad. Rev. Asoc. Esp. Neuropsiquiatria, XXVIII(
the discourse of human rights. ,5
Declaração nº A/63/635:Direitos hu-
onu.pdf
Ado-
tada pela Resolução n.2.200-A (XXI) da Assembléia Geral das Nações Uni-
de 1992.
-
219
Adotado e aber-
-
bleia Geral das Nações Unidas, de 16 de dezembro de 1966.
-
. -
-
tes. Psicologia, 26
Portaria n. 1.707 -
-
-
Romper as fronteiras. A
interseccionalidade nas questões de género e feministas
-
ciais, Sociedades Desiguais e Paradigmas em Confronto
-
,1
, A. L. A defesa dos direitos humanos é uma for-

ma de “ocientalismo”?
-
220
Women &Therapy, 34
-
, 21
-
El géne-
The Transgender
Studies Reader
221
Nas pistas do desejo: experiências de se assumir
Marília dos Santos Amaral

Maria Juracy Filgueiras Toneli
Introdução
O texto proposto durante o XVII Encontro Nacional da ABRAPSO e ofe-

-
um documentário:
No hospital todo mundo nos olhava e diziam assim: O que ele é seu? E
eu dizia ela é minha esposa! Michaelson é sua esposa? Sim, Michaelson é
minha esposa!
-
1
222
-
-
-
-
-
estudos trans. Si-
223
-
-
3
. Nessa
na Ong4
-
-
-
-
de extensão
224
-
tos mudam ou se movem.
-
da montaria5 bombar6
-
-
cidos no universo trans -
-
homens de verdade, gringos
225
-
-
-
-
-
-
No rastro de ferramentas
queer
comuns a essas teorias. Importantes instrumentos de uma caixa de fer-
226
-
-
-
da
indivíduos
os sujeitos -
-
-
-
-
227
Mesmo as dissonantes não escapam inteiramente e ilesas desse modelo
228
-
tórica Gender
Trouble
delirar
um dos principais instrumentos da caixa de ferramentas dessa proposta
-
-
229
em -
-
-
230
-
-
-
das vidas pouco vivíveis e dos corpos in -
231
ricas em intensidades.
-
-
-
-
232
-
-
(in)
-
-
a
priori -
233
-
como ensi-
-
bofes, ocós, homens, machos ou maridos
-
-
-
-
234
sexuais-afetivos.
-
viados
Neste contexto o termo viado se refere aos gays -
235
agrados são elementos
macheza
distanciando-o da viadagem
-
homens
normais,
maridos gringos, -
236
são descri-
pista11 o
vícios, -
vício
. Flutua
-
-
-
-
11
237
-
-
Mário Quintana
Referências
Áran -
,
238
-
Rio de Ja-
Bombadeira
.
-
tas, 10
Cadernos
Deshacer el género
– 1990
Cuerpos que importan: sobre los límites materiales y discusi-
-
-
15
-
São
239
Ditos e Escritos V:
Rio de Janeiro: Forense
Universitária.
História da sexualidade I - A vontade de saber
Mi-
Rio
margem. 10
-
Sociedade e Cultura, 15
240
-
Porto
Alegre: Sulina.
lo-
vers -
XII Anais do Congresso Brasileiro
de Sociologia
-
-
Gênero, sexo, afetos e dinheiro:
mobilidades transnacionais envolvendo o Brasil
Bagoas, 5
Corpo, gênero e sexualidade: instâncias e
N O negócio do michê -
241
“
-
Rio de Janeiro: Rocco.

-
-
-
Gênero, sexo, afetos e dinheiro:
mobilidades transnacionais envolvendo o Brasil
-
vimentos: 30 anos de Abrapso Recife: Editora Universitária
da UFPE.
-
242
Sexualidades e afetos face às regulações sociomédicas
nas experiências de intersexuais
Paula Sandrine Machado
Janaína Freitas
Introdução
O modelo dominante a orientar a organização social ocidental reme-

-
cotômica. Os pressupostos de normalidade corporal, por sua vez, também
amplamente informados pela biomedicina (Fausto-Sterling, 2000).
-
do, 2008). Por escaparem dos modelos hegemônicos de corporalidade,
os corpos intersex locus
standart corporal binário.

De acordo com Machado (2008), o gerenciamento sociomédico
atual no caso das pessoas intersex
tais como a cirurgia, a endocrinologia, a pediatria, a urologia, a psicolo-
gia e outras - envolve, entre outros elementos, a decisão por construir
-
-natal. O argumento biomédico principal, ainda fortemente baseado no
escolhido” para que sejam socializadas de forma adequada ao mesmo,

-
243
-
riza acerca do regime contemporâneo de regulação dos corpos, o qual
-
-
-
-
-
tendido pelo saber biomédico e pela sociedade.
tratamento de Money já era adulta. Algumas pessoas começaram a for-

intersex - sendo pioneira
a Intersex Society of North America (ISNA) -
-
rkazis, 2008; Machado, 2008).
-
necessidade de intervenções “corretoras” e não reconhece as diferenças

nos corpos como possíveis e desejáveis.
Ademais, entende-se aqui que não é possível falar acerca de uma
-
-
siderando, além disso, que os corpos estão atravessados por diferentes
244
-
lidades e classe social, os quais contribuem para conformar “outridades”,
isto é, diferentes posições de sujeito.
-
londrina em 2004 demonstra que as cirurgias ditas “corretoras” dos cor-

-
ções nervosas das genitálias, resultando em uma perda parcial ou total
de sensibilidade no pós-operatório, principalmente no caso das pessoas
designadas como mulheres no nascimento. Morland salienta, ainda, que
áreas além das genitálias, já que também são empreendidos em outras

estruturas dos corpos.
Apesar desse cenário, as intervenções seguem ocorrendo e são raros
(2008), mesmo quando tais estudos são realizados, geralmente são em-
“funcionalidade” dos genitais que possibilitem um coito “adequado” - isto
e que permitam a reprodução. Essas pesquisas acabam ser restringindo,
diversidade corporal para além do padrão binário.

Desta forma, a falta de sensibilidade e outros danos causados pelas
cirurgias são de um modo geral apagados dos discursos médicos acerca
-
soas intersex
-
propõe-se ainda analisar como as regulações sociomédicas incidem nes-
dessas pessoas estão atravessadas pela biomedicina e, ao mesmo tempo,
245
-
-
pesquisa situada nos referenciais teóricos e metodológicos dos estudos

-
pesquisa ainda está em andamento e, até o momento, foram entrevista-
medicamentosas precocemente, ou seja, ainda na infância .
Análise
-
-
davia, os discursos apresentam algumas similitudes, tais como um forte
equipe médica, quanto por parte da família. Entende-se, portanto, que

-
2
, de 20 anos, residente em um município no interior do Rio
era 3
. Sara, também com 20 anos e vivendo no interior
2
-
tadas.
246
até a entrevista). Entretanto, sente-se agradecida aos médicos, porque
estes lhe . Sara nasceu com o que, na linguagem médica,
residente em uma região rural do RS. Ela relata ter tomado conhecimento
courinho extra na vagina.

-
função dos medicamentos que toma. Diz ter começado a entender me-
-
-
Porque, querendo ou não, eu me
.
pelo fato de ter nascido com um

de idade, fez outra cirurgia. Desta vez, pra reconstruir o canal da urina,
hipospádia o que, segundo ele, trazia
mijar que nem mulher
aterrorizado e,
por isso, teve de ser encaminhado pela equipe médica para um psicólogo
[Eles] Me
247
parte eram os médicos e os meus pais. Então, dizer ‘não’ ou dizer ‘sim’ era
O médico, responsável pelo caso na época, disse ao menino que

-
aponta Morland (2009, p. 290), “fonte de privilégios”. Pode-se constatar,

assim, que, como posto por Machado (2008), os médicos e as famílias, de
-
do gaps
intersex
discursos dessemelhantes.
-
-
dico que cuidou do seu caso foi a de que a cirurgia propiciaria uma
no futuro - questão não mencionada pelas mulheres entrevis-
-
ta - a mais velha entre as quatro interlocutoras e a que possui maior nível
bastante
-
do, muitas vezes nem aos amigos. Isto ocorre, conforme relatado, devido
ao grande preconceito -
ter contado sobre sua trajetória médica a ninguém, circulavam muitos

comentários pela vizinhança sobre ela ser, na verdade, um homem. Mar-
ta contou sobre as cirurgias apenas para o menino com o qual namorou
248
situação, porém a relação foi abalada no momento em que ela lhe falou
que teria de fazer um tratamento para engravidar, em função dos medi-
José também relatou que sua infância foi marcada por muito sofri-
mento gerado pelas fofocas e apelidos que circulavam pela escola. Diz ter
sido alvo de muitas agressões verbais por parte dos colegas que o cha-
mavam de mulherzinha ou, segundo ele, , e que
zombavam do fato de ele não ir ao banheiro junto com os outros meninos.
-
perava até não ter ninguém no banheiro ou, pelo menos, até nenhum
a respeito de suas idas ao médico, argumentava que se tratava de falta

de hormônio
cirurgias; entretanto, relata que, em alguns momentos, até pensou em
contar para um amigo, mas não o fez porque achou estranho e temeu os
.
-
de seus corpos, como se a natureza pudesse traí-los e denunciar uma su-
-
-
ser tratada como um “campo metodológico indeterminado”, enquanto o
249
preveem um afastamento da ideia de corpo biológico enquanto locus de

inscrição e mero instrumento de representação da cultura. Assim, a cor-
4
em suas
entre outros elementos, pelas disciplinas que compõem o corpo interro-
-
to dinâmico, e por vezes contraditório, das relações de poder que atuam
na sociedade, afastando-se dos pressupostos essencialistas que a tomam
como um dado natural.
-
-
-
-
ais e de parentesco.
-
-
-
nas inóspitas da vida social que são densamente habitadas por aqueles
4
-
gua portuguesa do livro
250
-
-
-
-
a priori a todas as relações so-
-
-
5
terminação do trato urinário e funcionalidade -, isto é, constroem-se vagi-
Machado, 2005; 2008). Ainda, segundo Machado (2008), aos homens

-
lheres, a reprodução e a maternidade.
-
culinidades” e “feminilidades”, implica a evocação de uma “economia
It’s easier to poke a hole than to

” (“É mais fácil cavar um buraco do que construir um poste”).
Embora haja a possibilidade, em termos de desenvolvimento de técnicas
não somente, todas as relações humanas e sua produção de conceitos, como todos os pro-
251
(Machado, 2005), a construção de corpos femininos, como mencionado
mais “fácil”. Preciado (2008) trata destas diferenças na produção de femi-

nilidades e masculinidades ao mencionar a questão da circulação dos hor-
progesterona) são vendidos livremente, a testosterona, considerada hor-

mônio “masculino”, segue sendo uma substância controlada pelo Estado.
-
desempenhar os atributos demandados pelo “falocentrismo heterosse-
-
dad-para-ser-penetrada sólo puede ocurrir si otra operación material y sig-
confundido con un pene. Pene o no pene, primero. Que el clítoris no parez-
Quando o saber médico realiza intervenções sobre pessoas interse-

-
de corpos femininos e masculinos que são, como indicado por Morland

(2009), verdadeiras impossibilidades - o bisturi também faz promessas.
Os corpos, uma vez “corrigidos” devem ser permanentemente controla-
possibilidades de (re)invenção. Porém, muitos são os deslocamentos que

-
estáveis”.
-
-
252
regulações tentaram inscrever em tais “carnes”.
coragem de com alguma, pois acha que as pessoas na cida-

de vão comentar e que seus amigos a vão julgar. Sara, ao nos contar que
faz uso de “vela”8 -
-
ída apenas por mulheres. Diz não ter contado aos pais porque teme que
outro lado, a entendem.

-
fóbico em que vivem, no qual o desejo não pode, por vezes, nem mesmo
de tais entraves, no caso de Sara a atração por meninas é deslocada das

-
to no registro do dom. Isto é, o corpo fora dos padrões biomédicos e a
Porque Deus me deu, acho,

.
como meninos,
que caminham e se vestem, e, no caso de Sara, também pelo fato de ela

querer ser caminhoneira.
-
pessoa, mas, ao descobrir que se tratava de uma mulher, decidiu inter-

-
tosterona
analisadas, nas quais as interlocutoras estabeleciam uma ligação “natu-
intersex assignadas como “mulheres” no nascimento.
253
de hormônios -
dos sujeitos.
relação a ela acabam por reiterar a própria “norma”, uma vez que contri-
buem para a manutenção de uma ideia de quais “lugares” não devem ser
-
da. Isto ocorreu porque, em dois dos casos analisados, as mulheres ainda
-
normais, mas não
Sobre
esses medos
Muitas vezes, o interlocutor atribuiu o falta de te-

são
ter sensibilidade. Entretanto, tal
254
-
-
volvimento de carinho, amor
e cumplicidade que, segundo José, seriam mais importantes do que ter
um grande.
-
ser entendida como mera reação a algum dano corporal.
queer
-
-
quais tomam cada lugar do corpo como um espaço potencial de recitação
Ao mesmo tempo, como apontado por Morland (2009), ao ver a
queer que entende o prazer mais centra-
-
cionado por Morland
obter orgasmos “vaginais”, nem mesmo com “todo o corpo”. Portanto,
nas elaborações da teoria queer -
tencial transformador, na medida em que romperia com as fronteiras do
255
queer” (Mor-
land, 2009, p. 295).
queer
-
-
tem corpos que borram as fronteiras materiais e que, assim, escampam
queer acaba as circuns-

crevendo aos efeitos da cirurgia e, portanto, ao registro do “prazer” dissi-
dente ou da “vergonha”.
-
clusive no âmbito da teoria queer, o toque é pensado como simultâneo
entende o primeiro como uma “ação” e o segundo como uma “sensa-
Avaliou-se que as regulações sociomédicas interpelam, sob modos
casos aqui vistos, em função da combinação de vários marcadores sociais

de diferença, evocados na fabricação destas corporalidades.
De modo geral, levando em consideração os resultados até então
-
-
-
256
-
a teoria queer oferece ferramentas teóricas para se pensar sobre outras
da teoria queer
Referências
Ahmed, S. (2004).
.
-
Cadernos Pagu
Orientaciones:
em
257
Cadernos Pagu, 405.
-
(Porto Alegre), 36
Fausto-Sterling, A. (2000). -
. Rio de
-
Durham,
ambígua. , 20
Machado, P. S. (2008).
-
dade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
GLQ: A Journal of
,
Texto yonqui
. Rio de Ja-
. Porto Ale-
O corpo educa-
do: pedagogias da sexualidade
El pensamiento heterosexual y otros ensayos -
les.
258
-
1
-
-
ação
259
-
-
-
-
-
-
260
-
-
-
de saúde programa
261
-
-
-
-
262
-
-
-
-
-
263
-
-
-
-
-
. -
264
-
-
-
-
-
-
-
-
265
-
-
-
-
-
266
-
-
-
-
-
-
267
-
-
-
-
268
-
na verdade
269
É, elas
-
-
270
-
-
-
-
-
-
271
-
e nos efeitos que
272
-
-
-
273
274
-
ou
-
-
275
-
-
-
276
-
-
-
-
-
277
-
-
278
-
-
-
-
-
279
-
Saúde em Debate 37
-
Saúde em Debate, 37
19
280
14
10
saúde
transexual.
. -
16
-
-
44
-
281
-
11
.
17
19
-
Saúde em Debate 37
.
-
6
-
-
-
-
282
15
10
16
-
283
pública de enfrentamento
Scheila Krenkel
(Karin Smigay)
284
-
285
-
-
-
-
-
-
-
-
286
-
-
-
-
-
287
-
-
-
-
-
origem ao
288
-
289
Método
290
-
-
-
mu-
-
291
Análise e discussão dos resultados
-
-
292
%
321 48
Violência psicológica/ameaça de morte 235 35
-
-
293
-
-
-
-
-
-
ca como o -
294
-
Tabela 2. Portas de entrada para a casa-abrigo
Local N %
Secretaria de Assistência Social 280 42
Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher 121 18
Delegacia de Polícia 100 15
ambulatórios ou qualquer outro órgão público.
295
-
-
-
-
296
-
-
-
-
-
297
-
-
Tabela 3 Idade das mulheres abrigadas
Idade N %
20-29 anos 218 33

30-39 anos 257 38
298
-
-
-
-
-
299
-
atua como
-
-
300
-
-
-
-
301
Tabela 4. Tempo de permanência na casa-abrigo
Período N %
1 a 7 dias 304 45
-
-
-
-
302
-
303
das mulheres após saírem da casa-abrigo
N %
196 30
Familiares 194 29
304
-
305
-
-
-
-
-
-
-
306
-
Referências
307
308
em
html
309
Termo de
Lei Maria da
Rede de
em
310
Sobre os autores, organizadores e coordenadoras
Autores
311
-
-
-
-
312
-
-
313
-
-
Organizadores
314
Coordenadoras da Coleção
315

Nem Tupi, Nem Tapuia

Uploaded by

Document Information

Copyright

Available Formats

Share this document

Share or Embed Document

Sharing Options

Did you find this document useful?

Is this content inappropriate?

Copyright:

Available Formats

Nem Tupi, Nem Tapuia

Uploaded by

Copyright:

Available Formats

Coleção

Marcos Roberto Vieira Garcia

Renata Monteiro Garcia

Ana Lídia Campos Brizola

Lupicinio Íñiguez Rueda

Ana Lídia Campos Brizola

sido importante espaço para o intercâmbio entre estudantes de graduação e

Esta obra está licenciada sob uma

A memória social indígena: a psicologia em questão 13

Interseccionalidade e violência de gênero contra as mulheres: 55

Do ventre escuro de um porão vou baixar no seu terreiro 80

Andréa Moreira Lima

A formação em Psicologia e o olhar para a diversidade sexual: 166

Izaque Machado Ribeiro

Nas Pistas do Desejo: experiências de se assumir “marido de 222

Marília dos Santos Amaral e Maria Juracy Filgueiras Toneli

1980) e se caracteriza atualmente como o 3º maior encontro brasileiro

mais de 1.500 trabalhos.

O XVII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Psicologia

violências de diversas ordens, com o aviltamento de direitos humanos e

individualizantes que geralmente os caracterizam e os processos de

Grupos de Trabalho, todos coordenados por pesquisadores/doutores de

compor a presente coletânea. Um entre os proponentes de cada grupo

mantendo-se os conjuntos dos GTs, estes passaram a compor os oito vo-

conhecimento que vem sendo produzido na Psicologia Social brasileira,

Mara Coelho de Souza Lago

Zanella e Ana Lídia Brizola em torno de temas que ordenaram as apresen-

na complexidade do mundo contemporâneo não pode prescindir de uma

antologia, pelos estudos sobre raça/etnia e pelos estudos de gênero e se-

Esta coletânea reúne trabalhos apresentados em quatro GTs da

em momentos variados do processo de escravização dos negros no Brasil,

processos de assimilação pela miscigenação- branqueamento- encarada

Maria da Penha e na legislação espanhola, em que a/o autora/or consta-

As autoras apresentam e discutem resultados de pesquisa realizada em

2015), evidenciando que a violência contra mulheres, objeto de alerta e

dos direitos sexuais como direitos humanos, selecionou cinco trabalhos

A autora pesquisa os movimentos LGBT nas duas cidades, contextualizando

pesquisa que desenvolvem em duas escolas do Rio de Janeiro, com o ob-

Mostrando como os discursos religiosos, morais, biologizantes e hetero-

de estudos. O autor historiciza os movimentos LGBT no país em suas lutas

voltados/as a essa população, ressaltando suas potências e denunciando

sexual no campo da educação superior necessitam ainda de grandes avan-

momentos atuais, em que o país vivencia o recrudescimento de movimen-

nos níveis nacional, estaduais e municipais.

documental que realizararn em quatro jornais de Pernambuco durante

Caetano Nardi, apresenta parte de pesquisa que buscou compreender

nos entendimentos que desenvolvem

precisam ser constantemente monitorados no interesse da promoção de

apresentados nessa coletânea são exemplos de uma psicologia compro-

Nogueira, C. A teoria da Interseccionalidade nos estudos de gênero e sexu-

dos Kaingang. Kain-

A Comissão Nacional da Verdade

Kiki dos Kaingang

Nem Tupi, nem Tapuia. A busca pela indianeidade

Colonialidade do Poder foi a media-

considerando ser povos indígenas.

No Brasil todo mundo

O regime tutelar no século XX

O caminho brasileiro para a cidadania indígena.

A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências so-

A presença indígena na formação do

No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não

a interseccionalidade racial e étnica

discurso apontava para