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Alexandre Machado1
Resumo
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Alexandre Machado Bacharel em Ciências Sociais Aplicadas pela AELIS, especialista em Marketing
pela FECAP/FAAP, mestre em Comunicação e Educação pela Universidade Anhembi Morumbi e
doutorando em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, professor de graduação e
pós-graduação da UNIBR e Coordenador dos Cursos de Gestão Tecnológica em Recursos Humanos,
Marketing, Processos Gerenciais e Gestão Financeira da Faculdade de São Vicente – UNIBR.
Cultura, Família e Criança
Para Gade (1998) quando observa o fator sociogrupal, ela afirma ser o grupo o
fator de maior relevância para o consumo, pois as pessoas mantêm uma relação de
interdependência entre si dentro desse grupo e enfatiza que o comportamento de cada
membro é influenciado potencialmente. A decisão de consumo da família possui, ainda,
vários papéis: como o de iniciador, aquele que assume e desencadeia a identidade de
precursor da ideia do consumo, seja ela de um produto ou serviço, o influenciador, o
que estimula e agrega valor a decisão com dados e informações, o decisor, que pratica a
ação propriamente dita de consumo, carregando o estigma de determinar o como, o
quanto e o onde consumir, o comprador, o que exerce o consumo e que não
necessariamente é o utilitário do produto ou serviço e o usuário ou consumidor, o que
encerra o processo estabelecendo e avaliando o produto ou serviço.
Nos anos 70, Davis (apud Kotler 1993, p.213), apresentou um estudo sobre as
decisões de consumo na família americana no Jornal of Marketing Research -
Dimensions of marital roles in consumer decision-making, dimensões dos papéis
conjugais na decisão de consumo. O estudo classificava papéis distintos para cada
membro da família nas decisões de consumo como o do marido nas compras de
automóvel e televisão, da esposa, na compra de máquina de lavar e utensílios de cozinha
e de ambos, na decisão de férias, moradia e diversão. As crianças não apareciam e não
demonstravam ter relevância para os estudos sobre grupo de referência e seu papel no
processo de decisão de consumo.
Nos anos 80, as crianças começam a aparecer nas análises e estudos o sobre a
participação no processo de decisão de consumo. Gade (1980, p.108), questiona que:
O consumidor de uma forma geral não mais é inerte às ações das empresas assim
como os consumidores infantis não se calam às imposições apresentadas, manifestam-se
e posicionam-se de forma crítica, reivindicando respeito, atenção e honestidade das
empresas na busca das ofertas.
1- É inteligente;
2- Está emancipado;
3- É cético;
4- Está ligado;
5- Tem pouco tempo;
6- É exigente;
7- É “desfiel2”;
8- Está sempre acessível;
9- Está à frente na curva;
10- É vingativo.
É possível observar que até este momento as crianças são reflexos das atitudes dos
pais que muitas das vezes utilizavam-se do consumo como recompensa e até mesmo
para oferecer a eles o que os mesmos não tiveram.
A criança aprende a respeito das necessidades básicas com seus pais, aprende
significado simbólico dos bens com seus pares, seu grupo e através da
televisão. (GADE, 1980, p.112).
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Termo inventado pelo autor retratando “... sou fiel a uma marca ou empresa até que ela me tapeie,
desaponte ou deixe na mão”.
Os pais passaram a contribuir de forma direta com a cultura de consumo das
crianças, que por meio da observação gerou costume, que virou hábito, e esse se
transformou em comportamento. Essas termologias se fundem em uma só característica,
independente de haver uma ordem cronológica para se pensar sobre a origem desses
procedimentos.
Sendo assim, Gade (1998, p.205) complementa que a cultura tem sido definida
pela psicologia social e pela antropologia como “o conjunto de elementos materiais e
não materiais, crenças, normas, valores e atitudes que são adotados por determinada
sociedade para regular e facilitar as ações dos seus membros”, ou seja, se o costume é o
uso e prática e o hábito a disposição duradoura adquirida pela repetição frequente de um
ato ou uso, ambas passam a estar intrínsecas assim como a atitude que assume o modo
de proceder ou agir relaciona-se com o comportamento que é o conjunto de atitudes e
reações do indivíduo em face do meio social.
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Top of mind – marca de produto ou serviço mais lembrado ou conhecido entre todas as marcas citadas
espontaneamente. O mais citado pelo consumidor, ou seja, o primeiro lugar na mente do entrevistado.
O jornal a Folha de S. Paulo4 em seu caderno de ciência publicou em 18 de abril
de 2003, matéria intitulada “Índice de crianças e adolescentes obesos saltou 240% no
Brasil”, isso nos últimos 20 anos, foi a constatação da pesquisa realizada pela Força
Tarefa Latino-Americana de Obesidade que revela, ainda, uma distinção entre as classes
sociais informando que as crianças obesas estavam mais presentes em escolas
particulares (29%) do que nas escolas públicas (16,9%).
O papel da família na educação para o consumo das crianças nos dias atuais é
muito mais significativo e responsável do que no passado. As consequências dos atos
ora negligenciados pela família colaboram diretamente na educação para um consumo
impulsivo do público infantil. A família e a sociedade são consequência uma da outra,
os costumes e hábitos de uma família tratados na sociedade proporcionam dimensões e
alterações periódicas, influenciando grupos de referências primários e secundários,
assim como modificando atitudes e formando novos comportamentos.
4
Pesquisa completa disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u8891.shtml
5
Constituição Federal de 1988 completa disponível em:
http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_05.10.1988
6
Conceito de Família Teen – IBGE disponível em
http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/glossario/familia_definicao.html
o prazer no consumo acima de sua vontade assim como aponta Veblen (1987, p.15) na
emulação pecuniária7, como uma comparação invejosa entre os consumidores na
sociedade, gerando concorrência entre si e refletindo o gosto de quem pode consumir
mais.
7
Similar à comparação invejosa/odiosa.
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Relacionado a ilustre, notável, respeitável.
forma de ser da sociedade de consumo, pois o espetáculo consiste na
multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de
comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos
de consumo, de tudo aquilo que falta a vida real do homem comum:
celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias –
tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade
e ousadia.
O mercado passa a ser utilizado pelo consumidor como ponto de referência para
a prática de troca, compra, venda, produção, consumo e negócios de uma forma geral e
o consumidor infantil surge como neófito neste mercado. Para esse inexperiente
consumidor dentro de um ávido e experiente mercado a barganha é o maior desafio,
pois como aponta Jeffe (2008), o novo consumidor é inteligente, cético e tem pouco
tempo na busca pela satisfação e se tornará vingativo caso seja ludibriado pelo sistema.
Da satisfação à insatisfação, do útil ao inútil, o novo consumidor processa rápido
e descarta mais rápido ainda os produtos e serviços que não demonstram
compatibilidade no meio em que vivem, principalmente entre o seu grupo.
E complementa que:
O lugar de consumo é a vida cotidiana. Esta não é apenas a soma dos fatos e
gestos, a dimensão da banalidade e da repetição, é um sistema de interpretação.
(BAUDRILLARD, 2008, p. 26).
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Material de aula (Março/2012) produzido pela disciplina Comunicação e Consumo: uma abordagem
Multidisciplinar, prof. Dr. Daniel Galindo para o programa de Pós-Graduação da UMESP
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Ibdem.
A visão míope do consumidor infantil em não atribuir o real valor ao bem
adquirido e a velocidade com que surgem novas ofertas, banaliza o cenário de
satisfação. A educação na forma de orientação é um caminho e uma tentativa em alertar
as consequências já sentidas pela sociedade de consumo infantil.
É necessário rever procedimentos, atos e atitudes, pois a sociedade não deve ser
refém do indivíduo, o indivíduo criança ou adolescente é que precisa agregar-se à
sociedade, proporcionando consumo consciente e necessário, percebendo e
compreendendo o que é ideal e o que é desnecessário para a justa satisfação.
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Referências Bibliográficas