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Introdução

O “pensamento crítico” é tema em que demasiados filósofos – e intelectuais de outras


ciências humanas e sociais – se destinam a pesquisar e a se aprofundar, ainda mais quando se trata da
relação dele com a instituição escola. Platão perpassar por esses temas – reflexão e formação da
sociedade – em alguns de seus textos. A educação dos jovens, de maneira explícita na Apologia de
Sócrates – por ser acusado de corrupção da Juventude –, e o pensamento crítico, de forma mais sutil
em outros textos, por meio do que chamaremos de “postura socrática”, que se dá pelo próprio
método que utiliza – filosofia. Além da reflexão sobre “pensar criticamente em relação à educação”, Commented [LV1]: Melhor, talvez: Maiêutica.

há de se ressaltar neste trabalho o telos – do Grego, a “finalidade” – que esta capacidade reflexiva Commented [LV2]: Um pouco confuso. Dá a impressão que irá
dizer algo sobre “A educação dos jovens (...) e o pensamento
permite imprimir naqueles que se utilizam dela. Veremos, por meio dos escritos Platônicos, que o crítico...” Algo diferente do que dizia sobre o que escreveu
pensar criticamente qualifica o indivíduo a uma autêntica aretê – do Grego a “excelência” – e torna- anteriormente, embora sua intenção seja dizer que Platão perpassa
por esses tópicos (educação de jovens e pensamento critico)
se fundamental para a educação que nos dias de hoje é adquirida em grande parte por esta instituição sutilmente em outros textos. Faltou deixar claro, já que encerrou a
oração anterior.
formativa. Em suma trata-se de uma pequena reflexão que não pretende esgotar o assunto, mas
Commented [LV3]: Quando escreve “do grego...” deve cita, a
fomentar outras reflexões que ajudem a compreender de forma mais completa esse rico tema. seguir, o radical em grego que deu origem a palavra. Se o objetivo é
‘traduzi-la’, melhor: telos – palavra grega que significa “finalidade” -
... (sem o artigo ‘a’), ou então, “telos – “finalidade” – .
Commented [LV4]: Mesma coisa do comentário 3.
 Pensar Criticamente.

Dentro das atribuições humanas, aquela que, de fato, mais distingue o homem dos outros
animais é a capacidade de pensar e refletir sobre o próprio pensamento. Por isso, o chamamos de Commented [LV5]: Embora nem todos o façam.

animal racional,: porque pensa. Um exemplo e é a filosofia, ela própria nasce da pergunta
fundamental “o que é?” que por si já é reflexiva.
Posto que a qualidade do pensar seja a capacidade de diferenciação do Homem dos demais
seres viventes, mediante uma atitude reflexiva, a própria pergunta filosófica por excelência
propõe e induz aos seguintes questionamentos: O que é o pensamento? O que é a critica? O que é
pensar criticamente? Perguntas que são importantes para a compreensão do como, do porquê e do
para quê essa qualidade humana é necessária para a educação das sociedades.
“Pensamento”, no dicionário de língua portuguesa, significa: “Ato de pensar; ideia; reflexão;
faculdade de pensar; espírito; mente; ato de inteligência; intenção; conceito; máxima; ideia
principal de um escrito; intenção de um autor; fantasia; imaginação. (De pensar1.)” 1. Dentre
todos os significados, optaremos pelo termo “reflexão” – mais apropriado para este trabalho. Já o
termo “crítica” tem seu significado no mesmo dicionário como: “arte de julgar obras literárias,
artísticas ou cientificas; apreciação escrita dessas obras; conjunto dos críticos; discussão de fatos
históricos; parte da filosofia que trata dos critérios; apreciação minuciosa; critério; apreciação
desfavorável; (fig.) censura; maledicência. (Do gr. Chritike)” 2. oO que nos é necessário é refletir Commented [LV6]: A citação termina aqui.

sobre os significados de “critério” e de “apreciação minuciosa”. O pensamento crítico, então, é


uma reflexão criteriosa a respeito de algum assunto, ou seja, uma atitude de discernimento.
Atualmente, essa qualidade humana tem sido constantemente trabalhada por filósofos,
sociólogos e pedagogos, como é o caso de Valdemir Guzzo e Guilherme Brambatti Guzzo no
artigo O pensamento crítico como ferramenta de defesa intelectual, que disserta sobre
pensamento crítico como centro da atividade educacional. Guzzo evidencia que “Uma sociedade
que trata seus temas importantes de forma irrefletida e não valoriza a clareza de pensamento é
produto de uma educação deficitária...” 3 e que, por isso, “... uma das maneiras de enfrentar o
problema está em dedicar atenção a ele nos próprios estabelecimentos de ensino”4.
Podemos perceber que a preocupação com a reflexão criteriosa não surge com o advento da
modernidade e contemporaneidade, trata-se de um questionamento já elucidado pelo Sócrates
platônico na Obra “A República, de Platão”. Por exemplo, quando o personagem por ele criado – Formatted: Font: Not Italic

no livro VII – passa por um doloroso processo até chegar à contemplação daquilo que é real e
lança seu olhar para o sol: “- Por fim, imagino, há de ver o sol, não suas vãs imagens refletidas
nas águas ou em qualquer outro local, mas o próprio sol em seu verdadeiro lugar, que ele poderá
ver e contemplar como é” (A REPUBLICA, p. 265). Sócrates considera que esta contemplação do
objeto real leva o individuo a compreender melhor as coisas que são do mundo sensível, a ponto
de seu personagem preferir viver como um servente de um pobre lavrador a voltar às ilusões do
fundo da caverna (A REPUBLICA, p. 266).

1
dDicionário bBrasileiro da lLíngua pPortuguesa, p. 537.
2
dDicionário bBrasileiro da lLíngua pPortuguesa, p.260.
3
cConjectura, p. 66.
4
cConjectura, p. 66
A contemplação do objeto em sua essência – caso do prisioneiro – permite que ele obtenha Commented [LV7]: Numa visão platônica, o prisioneiro (que se
libertou) não contempla os objetos em sua essência. A essência dos
novos parâmetros de analise dos objetos aparentes. Isso porque, no mundo inteligível eles são objetos, do mundo sensível no geral, está no mundo não sensível
ideais, o que permite a realização de uma comparação entre eles. Desta forma, ao subir ao mundo (são as ideias). A caverna é uma analogia, apenas, e somente em
certo sentido podemos dizer que o prisioneiro contemplou os
perfeito o homem se torna capaz de pensar criticamente a realidade aparente, por meio de uma objetos na sua “essência”, a saber, ele não estava mais olhando
para as sombras, mas sim para o objeto que era sombreado.
comparação com a realidade perfeita. Concluímos assim, que o indivíduo que realiza essa subida
é mais apto à realização de reflexões discernidas, e porque sabe como é a realidade das
substâncias, lança um novo olhar para as que são irreais e encontra as diferenças delas. Commented [LV8]: Para evitar polêmica com o professor,
prefira “cópias”.
O caminho realizado pelo homem que habitava a caverna é doloroso, porque, “de modo
Commented [LV9]: Muito boa sua comparação do processo
contrário ao que o senso comum supõe, parte considerável das decisões humanas é realizada de educativo com a alegoria da caverna. Eu acrescentaria que, a tarefa
da educação é essa mesma: a de conduzir os indivíduos da
forma superficial, não reflexiva, rápida e irracional” (GUZZO, p.66). Concluímos, assim, que a escuridão para a luz, da sombra na caverna para a luz do sol. Aliais,
reflexão crítica não é uma instancia cognitiva corriqueira ao homem racional, mas sim é adquirida o termo latino educare descreve bem esse processo: significa,
literalmente, conduzir para fora.
por um processo – subida do homem a contemplação do real – que o capacite ao uso de sua
racionalidade de forma mais crítica.
Contemplar o mundo inteligível se torna importante justamente porque “pensar criticamente –
exigindo boas razões e evidências para se aceitar determinada afirmação – é a maneira mais
eficiente de conseguir separar informações confiáveis daquelas que são provavelmente falsas”
(Guzzo, p. 68). Por isso, é fundamental a busca pela contemplação daquilo que é real, daquilo que
é o bem.
Desta forma a reflexão critica, ainda que não corresponda a uma atividade corriqueira a
humanidade, é necessária para uma vida mais consciente. E a busca pela essência das coisas nos
leva a canalizar essa instância cognitiva para o bem. Entretanto, o prisioneiro do mito da caverna
precisou romper as algemas; se pôr de pé; receber questionamentos; mudar sua forma de ver e
pensar a realidade. Conforme vemos.

“ - Considera agora o que lhes sobrevirá naturalmente se forem libertos das cadeias e curados da
ignorância. Que se separe um desses prisioneiros, que o forcem a levantar-se imediatamente, a volver
o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos à luz: ao efetuar todos esses movimentos sofrerá, e o
ofuscamento o impedirá de distinguir os objetos cuja sombra enxergava há pouco. O que achas, pois,
que ele responderá se alguém lhe vier dizer que tudo quanto vira até então eram apenas vãos
fantasmas, mas que presentemente, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com
maior exatidão? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas passantes, o obrigar, à força de
perguntas, a dizer o que é isso? Não crês que ficará embaraçado e que as sombras que via há pouco
lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que ora lhe são mostrados?” (A REPUBLICA, p.
264)

Como, então, gerar nos indivíduos esse romper das algemas – como no prisioneiro do mitoda
alegoria – e os levar a usar da capacidade de discernimento que possuem? Que instituições da
sociedade podem ser consideradas responsáveis por essa formação para a crítica? Sócrates
considera, como sendo a resposta, a educação que é “(...) a arte que se propõe a este fim (...) a
Commented [LV10]: Então, até o surgimento da instituição
educação se esforça por levá-la [alma] à boa direção”(” (A REPUBLICA, p. 270). escola, não houve sociedades? Essa afirmação é razoável? (Pois
“uma das instituições que formam as sociedades”, diz que ela é
Em suma, na atualidade, uma das instituições que formam as sociedades, de modo geral, é a uma instituição necessária para a existência de uma sociedade,
escola. Ela deve ser capaz de gerar nos indivíduos, que se submetem a seu método, a capacidade embora não seja suficiente). Mas creio que o problema esteja em
“formam”, a depender da interpretação, o significado muda. Se
de lançarem um olhar discernido sobre a realidade que os circunda. essa palavra estiver significando “compõem”, prefira essa ultima
(assim, o que eu disse acima não se põe mais).
Commented [LV11]: No Brasil não é possível não se submeter
(ao menos não sem grandes pelejas judiciais), ela é obrigatória.
 Filosofia e educação.

Sempre existiu nas sociedades uma preocupação em relação à formação e transmissão dos
pressupostos teóricos, técnicos e culturais, adquiridos anteriormente pelos seus ancestrais. Na
Grécia antiga a atenção a essa transmissão era muito valorizada, devido ao modelo de sociedade
que privilegiava o homem político [público], a chamada “paidéia”. Como nos elucida Adão José
Peixoto.

“ Além de criarem a razão, a politica, a democracia e o teatro, o gregos souberam, talvez como
nenhum outro povo, valorizar a educação, entendida não como escola, instrumentalização de
crianças e jovens para o exercício de funções e atividades específicas, mas como paidéia, cultural,
ideal de excelência, trabalho de purificação e elevação da alma à mais alta perfeição.” ( Filosofia,
educação e filosofia da educação, p. 45)

Atualmente no Brasil, vivemos um modelo educacional aos moldes do vigente durante a


idade média. Um sistema organizado para formar uma quantidade maior de indivíduos de uma
só vez. Diferente da educação na Grécia antiga – onde ela se dava de forma mais individualizada
–, os sistemas educacionais modernos possuem, na maioria dos casos, um itinerário previamente
definido a ser seguido. Outra diferença se dá na maneira de qualificar o individuo. Enquanto na
Grécia a “avaliação” do “aluno” se dava pela forma como este se “comportaria” perante a
sociedade, hoje, a avaliação do aluno se dá por um sistema de notas e classificações.
A areté – excelência – grega, desta forma, difere muito da classificação por notas almejada
atualmente. Porque prevê uma formação para a cidadania mais do que para uma avaliação
qualitativa da apreensão do conteúdo. Guardadaos as devidas diferenciações entre essas
tradições e suas formas de transmitir a cultura, ciência e costumes, passamos agora para um
problema que perpassar tanto um como outro meio de formação.
A dificuldade evidenciada por Platão para a paidéia, podemos dizer, também se faz
presente na contemporaneidade: a falta de reflexão a cerca do conteúdo transmitido, ou seja, a
falta de pensar criticamente, com parresia5. Para este autor a filosofia é a resposta para a Commented [LV12]: Platão ou Peixoto?

verdadeira paidéia, que leve os indivíduos ao pensamento crítico, a ir além de uma opinião
irrefletida. Peixoto ainda diz que “o cultivo da filosofia nos educa para dúvida, a crítica, a
contestação, o pensamento radical e rigoroso das teorias e das práticas (...)”.
A partir da denuncia feita por Platão na antiguidade – de uma sociedade que vivia a luz da
opinião e das imagens –, podemos hoje nos colocar o mesmo questionamento a respeito da
formação dos nossos jovens. Como estimular neles esse já comentado pensamento crítico, para
que eles reflitam melhor a respeito dos conteúdos propostos pelos magistrados à sua formação?
Platão na apologia de Sócrates expressa essa preocupação. O Sócrates platônico se
defendendo da acusação de corrupção da juventude coloca a Meleto uma pergunta que expressa
a preocupação em relação a quem seria capaz de educar os jovens bem.

“ Aproxima-te, Meleto, e diz-me: – Não achas muito importante que os jovens sejam educados o
melhor possível?
Formatted: Font: (Default) Times New Roman
5 Alguns autores costumam traduzir por franqueza, mas pode ser compreendido também como sinceridade. Formatted: Font: (Default) Times New Roman
– Sim, acho.
– Então, diz agora aos juízes quem os torna melhores? É claro que sabes, uma vez que tomas
isso a peito. Com efeito, descobristes um que corrompe os jovens, como dizes, e trouxeste-me perante
esses juízes. Sendo assim, fala agora, e aponta quem é que, na tua opinião, os torna melhores, aponta
aos juízes que é.” (APOLOGIA DE SÓCRTES, p. 49)

Colocando-nos a mesma questão podemos então pensar a realidade atual. Quem forma
melhor os jovens? Devemos considerar que não só a escola é a responsável pela formação dos
destes, por isso levo a cabo esta pergunta com o seguinte questionamento reformulado: Quem
são os que formam os jovens a pensar criticamente o mundo?
A família, os amigos, a religião e outras instituições sociais tem sua parcela de contribuição
na formação da juventude, mas não nos deteremos nelas neste trabalho, por serem temas
igualmente ricos em pressupostos teóricos, logo extensos. A escola nessa perspectiva platônica é
a instituição que considero mais apta a gerar nos indivíduos o estimulo ao pensamento crítico.
Sócrates pouco depois de questionar Meleto, evidencia que no caso de cavalos não seriam
quaisquer indivíduos capazes de treina-los, de igual forma, logicamente, não seriam quaisquer Commented [LV13]: Não entendi, indivíduos não podem
treinar cavalos?
homens que educariam os homens de forma a torna-los melhores (APOLOGIA, pg. 51).
A escola possui uma peculiaridade que permite torna-la responsável pelo estimulo a
reflexão. Ela reúne, no mesmo espaço, diversos profissionais especializados numa área do
conhecimento, ou seja, “exímios na sua arte”6. Por esse motivo ela é o meio mais oportuno de
criar uma cultura do pensamento critico, porque reúne especialistas que podem transmitir algum
conhecimento, em uma comunidade voltada para esse propósito.
Podemos perguntar, então, porque não vemos no Brasil uma sociedade que reflete
criticamente suas questões de modo satisfatório – já que possuímos escolas –, em geral?
Encontra-se ai a chave da questão, a escola vem sendo encarada – em grande parte – como uma
instituição com função somente de transmissão do conteúdo técnico e não como uma
comunidade com intuito de reflexão sobre o conhecimento proposto. Temos que levar a peito o
exemplo de Sócrates que estimulava os seus ouvintes a pensar criticamente a sociedade, como
Peixoto relata.

“ Em vez de transmitir informações, de apresentar brilhantes discursos e lições,


com respostas para todas as dúvidas e questões dos jovens atenienses, Sócrates os
exortava a buscarem a verdade, a questionarem as respostas que encontravam. A
verdadeira paidéia consiste em iniciar o homem no exercício da maiêutica,
ajudando-o a dar a luz, a partejar ideias, bem como a girar a alma em direção ao
ser, ao bem, e a despertar suas qualidades adormecidas; enfim, a pensar e a viver de
acordo com a razão.” (Filosofia, educação e filosofia da educação, p. 47)

6
Para o Sócrates platônico, os técnicos eram os únicos que possuíam algum tipo de conhecimento, por poder ser Formatted: Justified
transmitido, lidar com um conjunto de regras, produzir algum tipo de interversão no meio e ter uma finalidade. Cf. Luisa Formatted: Font: (Default) Times New Roman
Severo Buarque de Holanda, em aula 28/09/2016 .
Não só Atenienses da antiguidade, nossa sociedade precisa fazer da escola esse meio de
estimular a crítica e a reflexão. Para Platão esta tarefa era destinada aos filósofos, hoje essa
missão é uma incumbência dos professores. O desafio consiste em fazer da relação professor-
aluno, aquilo que os filósofos se propuseram fazer da relação mestre-discípulo, levar seus
orientados a contemplação do bem, leváa-los a pensar criticamente. Ou seja, os docentes devem
buscar não só transmitir conteúdo, mas também estimular seus alunos a refletirem sobre ele de
modo que consigam apreendêe-lo e questioná-lo. Os professores devem, então, ajudar seus
alunos a parir suas próprias visões a respeito do conteúdo, os transformando em autênticos
cidadãos críticos.

 Amado, amante e a educação.

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