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Unidade IV

Unidade IV
9 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E
ECONOMIA BRASILEIRA Crescimento econômico é a
elevação do produto real da economia
9.1 O desenvolvimento econômico durante um certo período de tempo.

Primeiro, é preciso destacar, mais uma vez, a diferença entre


crescimento econômico e desenvolvimento econômico.

O crescimento econômico refere-se à elevação do produto


real da economia durante um certo período de tempo, sem
5 haver mudanças estruturais ou na distribuição de renda, nem
preocupações com a sustentabilidade desse crescimento.
A ideia de crescimento econômico é recente; antes do
surgimento do capitalismo, as sociedades estavam em estágios
comparativamente estagnados; eram basicamente agrícolas e
10 variavam pouco ao longo dos anos, com exceção de boas ou
más colheitas, guerras e epidemias.

O capitalismo e as mudanças tecnológicas, trazendo a


acumulação de capital, alteraram de forma radical as estruturas
dessas sociedades. Foi graças ao crescimento econômico que
15 os países desenvolvidos alcançaram elevado nível de vida
após 1850. Isso lhes permitiu realizar investimentos para,
simultaneamente, criar capacidade produtiva e expandir o
consumo e conforto da população.

No século XX, a produção industrial cresceu entre 30 e 40 vezes,


20 e, como a população mundial dobrou, a produção per capita
cresceu entre 15 e 20 vezes. Maiores níveis de bem-estar foram
alcançados ao longo desse século, com a utilização de energia

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elétrica, água encanada e rede de esgotos, o que contribuiu para


aumentar a expectativa de vida da população.

O crescimento econômico é, então, definido como o


aumento contínuo do produto interno bruto em termos globais
5 e per capita, ao longo do tempo; esse critério também implica
uma melhor eficiência do sistema produtivo. Alguns defendem
que o crescimento é um aumento na produção acompanhado
de modificações nas disposições técnicas e institucionais, isto é,
mudanças nas estruturas produtivas e na alocação dos insumos
10 pelos diferentes setores da produção.

Algumas economias crescem a taxas mais elevadas do


que outras. Embora seja bastante complexa a definição das
causas do crescimento econômico, visto que isso depende
das peculiaridades de cada país e de seus processos históricos,
15 existem algumas razões básicas que determinam o crescimento
da sociedade:

• a acumulação de capital por meio de aumento de máquinas,


indústrias, obras de infraestrutura, estradas, energia e
melhor preparação de mão de obra;

20 • a disponibilidade de recursos produtivos (ampliação da


mão de obra e outros insumos);

• o aumento de produtividade (melhoria na qualidade da mão


de obra, melhoria tecnológica e eficiência organizacional
na combinação de insumos);

25 • a atitude da sociedade em relação à poupança;

• o crescimento da população implica um aumento da força


de trabalho e da demanda interna.

Na verdade, o crescimento econômico é um elemento


fundamental para a geração de uma série de benefícios para
30 a sociedade. Ele se caracteriza como um processo sustentado
ao longo do tempo, no qual os níveis de atividade econômica

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aumentam continuamente. Crescimento econômico, portanto,


não deve ser confundido com desenvolvimento econômico,
porque os frutos da expansão do produto nem sempre
beneficiam a economia geral e o conjunto da população. O
5 crescimento econômico, nesse sentido, nada mais é do que
um elemento de um processo mais geral e abrangente: o
desenvolvimento econômico, que provoca, ao longo do tempo,
mudanças fundamentais em sua organização e instituições.

Assim, o desenvolvimento econômico engloba não apenas Desenvolvimento econômico:


10 a expansão do produto real da economia, mas implica também engloba não apenas a expansão do
mudanças significativas na estrutura produtiva e da própria produto real da economia, mas implica
sociedade, com melhoria nos indicadores sociais e na distribuição também mudanças significativas
na estrutura produtiva e da própria
de renda. Dessa forma, o desenvolvimento econômico constitui sociedade, com melho-ria nos indi-
um conceito mais qualitativo, que diz respeito às alterações da cadores sociais e na distribuição de
15 composição do produto e à alocação dos recursos pelos diferentes renda.
setores da economia, de forma a melhorar indicadores relativos à
pobreza, ao desemprego, à desigualdade, às condições de saúde,
alimentação, educação e moradia.

O processo de desenvolvimento econômico engloba, além das


20 mudanças de caráter quantitativo dos níveis do produto nacional,
as modificações que alteram a composição do produto e a alocação
dos recursos pelos diferentes setores da economia. O fundamental é
que o desenvolvimento econômico não pode ser analisado somente
por meio de indicadores que medem o crescimento do produto.
25 Sua análise deve ser complementada pela avaliação de índices que
representem, mesmo que de forma incompleta, a qualidade de vida
dos indivíduos. Desse modo, devemos ter um conjunto de medidas
que reflitam alterações econômicas, sociais, políticas e institucionais.
O crescimento econômico é condição necessária, mas não suficiente,
30 para gerar desenvolvimento.

9.1.1 Origens da questão do desenvolvimento econômico

As preocupações com o crescimento e desenvolvimento


econômico têm raízes tanto teóricas como empíricas, razões
estas originadas das crises econômicas.

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ECONOMIA E MERCADO

O crescimento econômico moderno surgiu com a


Revolução Industrial inglesa, entre 1760 e 1850, coincidindo
com a supremacia do capitalismo como sistema econômico
predominante. As inovações tecnológicas permitiram produção
5 agrícola crescente, apesar do êxodo rural em direção às cidades.
Esse fenômeno moldou a característica moderna do crescimento
econômico: a intensa urbanização.
Adam Smith (1723-1790) é con-
Embora o desenvolvimento econômico tenha obtido siderado o pai da economia, e sua
destaque enquanto questão de Estado somente no século XX, principal obra, A riqueza das nações
10 a preocupação com o crescimento econômico nos principais (1776), foi a grande responsável por
países da Europa é bem antiga. No entanto, até o surgimento das esse título.
flutuações econômicas do século XIX e a concentração exacerbada
de renda e riqueza, o objetivo principal dos que se ocupavam com
as finanças públicas era aumentar o poder econômico e militar
15 dos homens do poder. Dificilmente havia preocupação com a
melhoria das condições de vida da população.

Já no século XVIII, surgiram algumas escolas de pensamento


econômico preocupadas com o crescimento econômico e
distribuição da riqueza. Com “A riqueza das nações”, em 1776,
20 Adam Smith procurou identificar as razões que determinam o
crescimento da riqueza nacional de um país, tentando explicar
como opera o mercado e qual a importância do aumento do
tamanho dos mercados para reduzir os custos médios de
produção e permitir uma produção lucrativa. O aumento dos
25 mercados amplia a renda e o emprego, segundo Smith.

O aumento da proporção dos trabalhadores produtivos,


em relação aos trabalhadores improdutivos, a redução do
desemprego e a elevação da renda média da população
constituiriam um processo de desenvolvimento econômico para
30 Smith. Haveria, portanto, uma redistribuição de renda entre
capitalistas, trabalhadores e arrendatários.

O contexto histórico da concepção teórica smithiana é


a consolidação da expansão capitalista moderna, quando se

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desenrolava a Revolução Industrial, os avanços nas máquinas de


fiação e tecelagem, invenção da máquina a vapor, entre outras
inovações.

Embora o crescimento econômico tenha acelerado com a


5 Revolução Industrial inglesa, o desenvolvimento econômico
somente emergiu no século XX.

A consolidação da industrialização, e com ela a acentuação


das diferenças entre as nações ricas e pobres, trouxe consigo
também o aprofundamento das diferenças no interior dos
10 próprios países desenvolvidos, tornando saliente o desnível
do desenvolvimento entre regiões e classes sociais. Surge,
então, a necessidade de dar maior ênfase ao desenvolvimento
econômico.

Em 1911, Joseph Schumpeter publica a sua Teoria do


15 desenvolvimento econômico, estabelecendo pela primeira vez
a diferença entre crescimento e desenvolvimento econômico.
Quando há desenvolvimento, diz Schumpeter, existem inovações
tecnológicas, o processo produtivo deixa de ser rotineiro e os
empresários passam a auferir lucros extraordinários.

20 Com a crise econômica generalizada, que surge a partir


do crack da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, o drama
social do desemprego tornou-se evidente. No entanto, a
intensidade das crises era diferente entre setores, regiões e
classes sociais. Em períodos de crescimento do produto, toda
25 a sociedade se beneficia; contudo, nas crises, esse produto
se retrai, e os mais prejudicados são os assalariados e as
pequenas empresas. Em nível global, os mais prejudicados
são os países mais pobres.

Fica evidente, portanto, que uma das condições básicas para


30 o desenvolvimento econômico é a estabilidade, e que o ritmo
do crescimento econômico deve ser de tal sorte a atender às
reivindicações das diferentes classes sociais, regiões e países.

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ECONOMIA E MERCADO

Com o surgimento da contabilidade social1, os países


passaram a medir suas rendas e seus desempenhos, além
do surgimento de outros indicadores sociais e econômicos,
tornando-se factível a comparação da renda per capita dos
5 diversos países e a consequente classificação destes como ricos
ou pobres. Torna-se, portanto, mais urgente o debate sobre
o desenvolvimento econômico e o papel do Estado na sua
promoção.

Com a publicação desses indicadores econômicos, os


10 países pobres passaram a ser identificados como países
subdesenvolvidos. Em geral, esses países apresentavam
crescimento econômico instável e insuficiente, elevado nível
de analfabetismo, elevadas taxas de natalidade e mortalidade
infantil, predominância da agricultura como atividade
15 principal, insuficiência de capital e certos recursos naturais,
mercado interno restrito, baixa produtividade, instabilidade
política, entre outros aspectos que os caracterizavam como
países subdesenvolvidos. Até então, inexistiam estatísticas em
nível nacional e regional, e a visão prevalecente era a de que o
20 setor público deveria abster-se de intervir na economia.

O surgimento das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial,


bem como dos outros organismos internacionais, por ocasião da
conferência de Bretton Woods, acentuou a preocupação com
a melhoria dos indicadores de desenvolvimento econômico.
25 A publicação de alguns diagnósticos pela ONU e pelo Banco
Mundial evidenciou a necessidade do estudo das causas da
pobreza das nações, e combatê-la passou a ser um dado
econômico, humanitário e político. A partir disso, os países
pobres passaram a reivindicar mais recursos dos países ricos nos
30 fóruns internacionais.

1
Contabilidade social: registro contábil da atividade econômica de
um país num dado período. É uma técnica que se preocupa com a
definição e os métodos de quantificação dos principais agregados
macroeconômicos, como produto nacional, consumo global, investi-
mentos, exportações, entre outros.

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Com a aplicação da história econômica para analisar fatores


relativos ao desenvolvimento econômico, constatou-se que
o subdesenvolvimento é um produto da própria expansão do
capitalismo mundial em sua fase oligopolista.

5 Verificou-se que os países pobres eram colocados numa


posição de dependência e subserviência com relação aos países
ricos no contexto da divisão internacional do trabalho. Os países
desenvolvidos tornavam-se cada vez mais fortes com o aumento
dos fluxos internacionais de capitais e com as trocas desiguais entre
10 países, pois, enquanto estes produziam bens industrializados de alto
valor agregado, aqueles eram impelidos a continuar produzindo
matérias-primas estratégicas a baixo custo e produtos alimentícios
de baixo preço para alimentar os trabalhadores dos países centrais e
não pressionar sua taxa de lucro.

15 No entanto, alguns economistas mais tradicionais


questionaram significativamente essa análise da história
econômica e construíram teorias que procuram explicar o
subdesenvolvimento da escassez de capital.

9.1.2 Desenvolvimento e subdesenvolvimento

A primeira condição para o desenvolvimento econômico é


20 a de que a taxa de crescimento do produto seja continuamente
superior à taxa de crescimento da população; logo, a renda per
capita está crescendo. Uma melhora nas condições de vida e na
distribuição de renda em favor das classes mais pobres também
é algo imprescindível para evidenciar o desenvolvimento. Para
25 caracterizar um processo de desenvolvimento econômico, devemos
observar, além disso, ao longo do tempo, a existência de:

• crescimento do bem-estar econômico;


• ampliação da economia de mercado;
• diminuição dos níveis de pobreza, desemprego e
30 desigualdade;
• melhoria nas condições de saúde, nutrição, educação,
moradia e transporte;
• aperfeiçoamentos institucionais.

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ECONOMIA E MERCADO

É preciso destacar que, embora estejamos dando ênfase aos


fatores econômicos estratégicos para o desenvolvimento, este se
constitui num fenômeno mais global da sociedade, que atinge
toda a estrutura sociopolítica e econômica.

5 Assim, o desenvolvimento econômico deriva da expansão


contínua do produto real de uma economia, implicando
mudanças estruturais e melhorias no bem-estar da população,
medido por indicadores sociais e econômicos. Os indicadores
econômicos mais usados são: renda per capita, percentual de
10 residências com telefones, consumo de energia e fertilizantes,
produção de alimentos e produção total por empregado. Os
indicadores sociais são: expectativa de vida, taxa de mortalidade
infantil, analfabetismo, consumo diário de calorias per capita,
número de pessoas recebendo um salário mínimo ou menos e
15 índice de informalidade do mercado de trabalho.

A existência de um conjunto de insuficiências em relação às


economias desenvolvidas.

Os elementos que condicionam o subdesenvolvimento


são, segundo a teoria econômica tradicional, a escassez de
20 capital físico, a insuficiência de capital humano e a relação
de dependência com os outros países. O subdesenvolvimento
caracteriza-se por baixa renda por habitante, reduzido nível de
poupança e insuficiente dotação tecnológica, todos os elementos
que limitam o crescimento econômico.

25 Em geral, as economias subdesenvolvidas apresentam


um crescimento econômico sistematicamente inferior ao
crescimento demográfico, empobrecimento da população,
instabilidade e dependência dos países ricos. Outras
características que normalmente aparecem em economias
30 subdesenvolvidas, são:

• baixo consumo de calorias per capita;


• baixa produção de alimentos per capita;
• baixa esperança de vida ao nascer;
• elevada taxa de analfabetismo;

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• elevada mortalidade infantil;


• elevadas taxas de desemprego;
• criminalidade elevada;
• economia informal significativa;
5 • insuficiência de gastos públicos na área social;
• baixa produtividade;
• crescimento econômico concentrado;
• concentração da propriedade e da riqueza;
• expansão das favelas;
10 • empresas nacionais com baixos níveis de competitividade
nos mercados internacionais.

9.1.3 Caminhos para o desenvolvimento

Embora esteja claro que a industrialização é um elemento


fundamental para o desenvolvimento econômico, o processo
de desenvolvimento dos países industrializados sempre esteve
15 associado ao aumento da produtividade do setor agrícola, liberando
recursos e mão de obra para incrementar significativamente o
processo de ampliação das indústrias nas cidades.

Em meados do século XX, acreditava-se que a industrialização


dos países subdesenvolvidos seria assegurada se os mercados
20 internos desses países fossem protegidos da concorrência
internacional enquanto fortaleciam seu parque industrial.
O modelo de substituição de importações foi a estratégia de
desenvolvimento utilizada pela maior parte dos países em vias
de desenvolvimento a partir da década de 1950. Esse modelo
25 consistia em proteger os produtores internos da competição
estrangeira por quotas de importações e tarifas alfandegárias,
de modo que eles pudessem expandir a sua produção para
substituir bens que eram anteriormente importados.

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ECONOMIA E MERCADO

Esse modelo de desenvolvimento esgota-se nos anos 1980


na maior parte dos países em desenvolvimento. As estratégias
protecionistas fizeram com que os produtores domésticos
produzissem bens com um custo alto, de baixa qualidade e em
5 um volume insuficiente para atender ao mercado. A solução
adotada amplamente pelos países subdesenvolvidos nos anos
1980 foi a abertura comercial, com a redução das barreiras
às importações e o incentivo às exportações por uma série de
políticas cambiais, fiscais e comerciais.

10 Embora alguns países tenham alcançado amplo sucesso,


ao adotarem essas estratégias de crescimento baseadas na
abertura econômica, países como o Brasil não se beneficiaram
significativamente desse modelo, apresentando elevados
níveis de desindustrialização, desnacionalização das empresas
15 nacionais, destruição de postos de trabalho e estagnação do
crescimento econômico.

Os principais obstáculos a serem superados para sair do


subdesenvolvimento são a debilidade do setor público, os
desequilíbrios sociais e políticos, as diferenças regionais e
20 culturais e a dificuldade de financiamento para investimentos
na promoção do desenvolvimento.

Um país em desenvolvimento que queira investir na


melhoria da sua estrutura social e econômica deverá utilizar a
sua poupança interna, ou recorrer à poupança estrangeira por
25 empréstimos ou ajuda financeira.

Assim, é preciso incentivar a formação da poupança interna,


com o desenvolvimento de um mercado financeiro e de capitais
e com o incentivo às pessoas a se absterem de parte do seu
consumo presente. Os recursos desses indivíduos poderão ser
30 canalizados para a formação de capital e investimento das
empresas.

Para atrair poupança estrangeira, um país subdesenvolvido


deverá atrair empresas para investir diretamente no país, ou

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então tomar emprestado recursos nos mercados mundiais de


capitais ou do Banco Mundial.

10. BREVE HISTÓRIA DA ECONOMIA


BRASILEIRA

10.1 O processo de substituição de


importações

10.1.1 Transformação no modelo econômico brasileiro

Até a República Velha (1889 – 1930), o bom desempenho das


exportações determinava os rumos da economia brasileira, que,
5 na época, restringiam-se a alguns poucos produtos agrícolas,
em especial o café plantado na região Sudeste. A economia
brasileira era, portanto, agroexportadora, e essa foi a forma de
inserção da economia brasileira na economia mundial desde o
período colonial.

10 A primeira metade do século XX foi marcada por três


acontecimentos importantes, que afetaram significativamente
a economia brasileira:

• a Primeira Guerra Mundial (1914-1918);

• a grande depressão (1929-1933);

15 • a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

No início do século XX, as condições do mercado internacional


de café determinavam o desempenho da economia brasileira. O
Brasil era, à época, o principal produtor de café, mas não o único
ofertante, nem controlava totalmente esse mercado. O Brasil
20 produzia 3/4 do café exportado para o mercado mundial.

A demanda de café dependia das oscilações no crescimento da


economia mundial, aumentando em momentos de prosperidade

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ECONOMIA E MERCADO

econômica e reduzindo-se quando as grandes potências


ocidentais entravam em crise ou guerra. As crises internacionais
tinham um efeito negativo sobre as exportações de café, criando
sérias dificuldades para toda a economia brasileira, já que boa
5 parte das outras atividades econômicas do país dependia direta
ou indiretamente do desempenho do setor exportador cafeeiro.

Havia, nas décadas de 1920 e 1930, uma superprodução de


café, que pressionava os preços no mercado internacional antes
mesmo da crise dos anos 1930. O governo tentava corrigir isso
10 desvalorizando a moeda nacional para ampliar a exportação, ou
então comprava excedentes para estocar e diminuir a oferta de
café no mercado, o que acabava por agravar a superprodução,
já que os produtores mantinham os seus lucros e o desejo de
produzir sempre mais.

15 Em 1930, a produção nacional de café era enorme, e


a economia mundial entrou numa das maiores crises da
história. Após a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, o
mundo assiste a uma queda no nível de suas atividades e a um
crescimento assustador dos níveis de desemprego. A depressão
20 de 1929 só não destruiu a antiga URSS. Para se ter uma ideia
das proporções dessa crise, as taxas de desemprego chegaram a
22% na Inglaterra e Bélgica, 27% nos Estados Unidos e 44% na
Alemanha. O volume do comércio mundial caiu em 60%, e os
empréstimos internacionais, em 90%.

25 Esse fato se refletiu no mercado internacional de café,


conjugando excesso de oferta, decorrente dos seguidos anos
de superprodução cafeeira no Brasil, subsidiado pelo governo,
controlado pelas oligarquias agrícolas, com queda na demanda
internacional, fazendo com que os preços internacionais do
30 café tivessem uma queda significativa. O governo brasileiro
foi obrigado a intervir fortemente no mercado, comprando e
estocando café e desvalorizando o câmbio, para defender a
rentabilidade do setor cafeeiro e, ao mesmo tempo, salvaguardar
a rentabilidade, o emprego, a renda e a demanda em todas as

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atividades econômicas do país. Além disso, a demanda atingiu


seu limite. O governo não suportou mais e resolveu queimar 1/3
da produção de café entre 1931/1939.

Inicialmente, houve uma queda no nível de renda no Brasil,


5 de 25 a 30%, e o índice de preços dos produtos importados subiu
33%. Como consequência, a redução das importações foi por
volta de 60%. Com isso, parte da demanda, antes satisfeita com
importações, passou a ser atendida pela oferta interna; assim,
a demanda interna passaria a ter importância crescente como
10 elemento dinâmico na recessão mundial. A firmeza da procura
interna criou uma situação nova, com a preponderância do setor
ligado ao mercado interno no processo de formação de capital e
no conjunto de investimentos no país.

A crise dos anos 30 foi um momento de ruptura no


15 desenvolvimento econômico brasileiro. A fragilização do modelo
agroexportador evidenciou a necessidade da industrialização
como forma de superar os constrangimentos externos e o
subdesenvolvimento.

A grande depressão de 1930 é o marco fundamental no


20 processo de consolidação da produção industrial brasileira e
mesmo latino-americana. Apesar de a industrialização remontar
às últimas décadas do século XIX, a indústria só viria a se tornar
o fator determinante da dinâmica econômica na década de
1930. Após a crise, o café deixa de ser o produto determinante
25 da economia brasileira e o mercado interno torna-se o fator
dinâmico principal da economia. Os dados da produção agrícola
e industrial do período mostram um dinamismo surpreendente
no contexto da crise mundial, com aumento da renda nacional,
contrariando o que ocorria no resto do mundo.

30 Politicamente, a revolução de 1930 ocasionou a perda da


hegemonia política da oligarquia cafeeira de São Paulo e Minas
Gerais, em favor da classe industrial ascendente, e o processo de
industrialização intensificou-se.

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ECONOMIA E MERCADO

A forma assumida pela industrialização brasileira,


depois de 1930, foi o chamado processo de substituição de
importações. Pelo estrangulamento externo, gerado pela
crise internacional, houve uma necessidade de produzir
5 internamente o que antes era importado, defendendo-se,
dessa forma, o nível de atividade econômica. Há também
uma mudança na pauta de importações do país. Conforme
aumenta a produção interna de bens de consumo,
anteriormente importados, aumenta também a importação
10 de bens de capital e de bens intermediários necessários a
essa produção. Esse modelo de industrialização substitutivo
de importações caracteriza-se por ser uma industrialização
fechada, voltada para dentro do país, que visa atender ao
mercado interno.

15 As principais características do modelo de substituição de


importações são:

• tendência ao desequilíbrio das contas externas;


• aumento da participação do Estado na economia, seja na
geração de infraestrutura básica, seja no fornecimento
20 de insumos básicos, seja na captação e distribuição de
poupança;
• aumento do grau de concentração de renda;
• êxodo rural intenso;
• escassez de fontes de financiamento ao desenvolvimento,
25 seja pela inexistência de um sistema financeiro
desenvolvido, seja pela precariedade do sistema tributário
nacional.

Os principais mecanismos de proteção à indústria nacional,


utilizados durante o processo de substituição de importações,
30 foram a desvalorização cambial, o controle de câmbio, taxas
múltiplas de câmbio e elevação das tarifas aduaneiras.

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Apesar de a dinâmica da economia brasileira ter passado, a


partir dos anos 1930, a ser determinada internamente, tratava-se
de um processo de industrialização ainda incompleto, uma
vez que os setores produtores de bens de capital e de bens
5 intermediários eram muito pouco desenvolvidos no país. Além
disso, por décadas, o país ainda continuou a ter a produção
agrícola superior à industrial; somente a partir de 1956, com o
Plano de Metas, a situação começa a se inverter.

10.1.2 A era Vargas

O então Presidente da República Getúlio Vargas desfere


10 um golpe militar em novembro de 1937. Ele havia sido eleito
indiretamente em 1934 e seu mandato terminaria em 1938. O
Parlamento, as Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais
foram dissolvidos, e os governadores estaduais, substituídos
por interventores. Esse golpe foi o fim da descentralização
15 política republicana, uma tentativa de afirmação de um projeto
nacional, no qual caberia ao Estado assumir o papel de indutor
do desenvolvimento industrial, mudando a forma de intervenção
estatal na economia brasileira. O Estado Novo – instaurado por
Getúlio Vargas - estende-se até 1945, concentrando no Governo
20 Central a maior parte dos poderes.

Na verdade, havia por parte do novo governo liderado por


Vargas a noção de que os capitais privados nacionais ainda eram
frágeis, e não fazia parte da estratégia das grandes empresas
capitalistas produzir nos países subdesenvolvidos. Assim, a única
25 possibilidade de implantar grandes projetos de indústrias de
bens de produção residia na ação estatal, exatamente essa a
proposta de Vargas.

Após o início da Segunda Guerra Mundial, o país passou a


apresentar uma balança comercial superavitária, com o aumento
30 das exportações para os países aliados e a recuperação dos preços
do café, em um momento de forte redução das importações.
Observa-se nesse período também um crescimento do produto

118
ECONOMIA E MERCADO

industrial, de 9,9%, e a taxa de crescimento do PIB cresce em


6,4% ao ano entre 1942 e 1945.

Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Brasil


redemocratizou-se e houve a eleição do Presidente Dutra,
5 que pautou o início de seu governo nos princípios liberais
de Bretton Woods: o Estado deveria reduzir o grau de sua
intervenção na atividade econômica. No entanto, a política do
governo Dutra não foi muito bem-sucedida para alavancar o
crescimento e o desenvolvimento do país. A única tentativa de
10 intervenção planejada do Estado nesse período foi o Plano Salte,
que procurava coordenar gastos públicos nas áreas de saúde,
alimentação, transporte e energia, estabelecendo investimentos
para o período entre 1949-1953. Como não foram asseguradas
as fontes de financiamento para esses investimentos, na prática,
15 o Plano Salte mal saiu do papel.

Nos anos 1950, a conjuntura econômica internacional


era marcada pela Guerra Fria, e os interesses estratégicos dos
Estados Unidos estavam voltados para a reconstrução europeia
e japonesa. Países como o Brasil foram deixados à própria sorte e
20 dependiam basicamente do mercado e dos movimentos privados
de capitais para o financiamento de seus déficits em transações
correntes e seus projetos de desenvolvimento.

Nesse momento, Getúlio Vargas volta ao poder, agora por


eleições diretas, uma tentativa nacionalista de superação dos
25 estrangulamentos do processo de substituição de importações e
dos entraves à afirmação de um projeto nacional. A substituição
de importação foi importante para o Brasil, porém, ainda era
preciso importar bens de produção, então, era necessário
construir as bases para suprir essa necessidade.

30 Durante esse segundo governo, Vargas procurou implantar


as bases de uma indústria de bens de produção e de bens de luxo
no Brasil. Nesse período, temos a criação da Petrobrás, a entrada
em operação da Companhia Siderúrgica Nacional, o projeto da

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Unidade IV

Eletrobrás é enviado ao Congresso Nacional para apreciação e


há a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
(BNDE).

A tentativa de Vargas de implementar um departamento


5 produtor de bens de produção e de bens intermediários enfrentou
as dificuldades políticas típicas de um projeto nacionalista. O
desfecho desse processo foi uma crise política que culminou
com o suicídio de Vargas e a morte de um projeto nacional que
nem mesmo chegou a ser implementado.

10 Com o suicídio de Vargas, assume Café Filho, que implementa


uma política econômica ortodoxa, com prioridade para as
políticas anti-inflacionárias baseadas no controle da moeda. A
principal ação do governo foi a instrução 113 da SUMOC, que
permitia às empresas estrangeiras instaladas no país importar
15 máquinas e equipamentos sem cobertura cambial. A política
contracionista resultou em falta de liquidez, provocou uma crise
bancária e o aumento de falências no Rio de Janeiro e em São
Paulo.

10.1.3 O plano de metas de Juscelino Kubitschek

O plano de metas do governo Juscelino Kubitschek pode ser


20 considerado o auge do período de industrialização brasileira.
Seu principal objetivo era estabelecer uma estrutura industrial
mais madura no país, impulsionando o desenvolvimento do
setor produtor de bens de consumo duráveis.

O Plano de Metas (1956-1960) é uma experiência bem-


25 sucedida de planejamento estatal: amplos projetos estatais de
infraestrutura, além de o Estado articular grandes somas de
investimentos privados de origem externa e interna, destinados à
indústria automobilística, construção naval e aeronáutica, visando
sempre ao desenvolvimento industrial acelerado; implantação
30 das indústrias de bens duráveis (especialmente automobilística);
clara aceitação de capital externo, ao contrário de Vargas; e
continuidade do processo de substituição de importações.

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ECONOMIA E MERCADO

O Plano de Metas financiava os gastos públicos e privados


com expansão dos meios de pagamento e crédito, via
empréstimos do BNDE e empréstimos do exterior.

Entre 1957-1961, o PIB cresceu 8,2%, resultando num


5 aumento de 5,1% ao ano da renda per capita. O desenvolvimento
industrial foi liderado pelo crescimento de bens de capital (26,4%)
e bens de consumo duráveis (23,9%). O crescimento industrial
durante o governo JK foi estruturado pelas empresas estatais,
pelo capital privado estrangeiro e pelo capital privado nacional,
10 com a participação dominante do capital externo. O mercado
interno era atrativo para as multinacionais europeias. Assim,
as empresas multinacionais passaram a dominar amplamente
a produção industrial brasileira, especialmente os setores mais
dinâmicos da indústria de transformação.

15 O financiamento do Plano de Metas era o principal entrave do


governo. Não houve uma reforma fiscal para fazer frente às metas
e aos gastos estipulados, então o financiamento dos investimentos
públicos foi feito basicamente pela emissão monetária, provocando
elevação nas taxas de inflação. Houve também um crescimento da
20 dívida externa e uma deterioração do saldo em transações correntes.
Observa-se, no período, uma significativa concentração de renda,
em decorrência do desestímulo à agricultura e investimentos em
capital intensivo na indústria.

Os saldos comerciais tornaram-se negativos a partir de


25 1958, com o novo ciclo de deterioração das relações de troca,
o crescimento das despesas financeiras e o serviço do capital
estrangeiro a partir de 1957, também como consequência
dos investimentos e empréstimos externos acumulados nessa
década.

30 Apesar da política extremamente liberal seguida por


JK relativamente ao capital estrangeiro, os organismos
internacionais não aprovaram o plano de substituição de
importações. Além disso, a ortodoxia monetarista predominante

121
Unidade IV

no FMI e no Banco Mundial também não aprovava a condução


da política macroeconômica (carregada de déficits fiscais) e a
política monetária expansionista, que não se preocupava com as
crescentes taxas de inflação no período. Em 1959, os conflitos
5 entre JK e o FMI resultam em um rompimento. A inflação
disparou e atingiu a taxa anual de 90% em 1964.

Esse conjunto de contradições se manifestou na queda do


ritmo do crescimento industrial a partir de 1962, configurando
a primeira crise econômica brasileira motivada por entraves
10 internos. Até então, todas as crises tinham tido origem externa.

10.2 O período militar

10.2.1 O PAEG

Em 1964, a Ditadura Militar é instaurada no Brasil por um


novo golpe militar, impondo uma solução para a crise econômica
e política surgida no período, e foi uma pré-condição ao
encaminhamento “técnico” das medidas de superação da crise
15 econômica – reformas institucionais e alteração na condução
da política econômica.

A economia brasileira sofre uma desaceleração que perdura


até 1967, e as razões enumeradas para a crise econômica são:

• fim do ciclo de crescimento; só na indústria automobilística,


20 a capacidade ociosa chegou a 50%;

• setor de bens duráveis crescia mais do que a demanda (em


função da baixa renda);

• as limitações em financiamentos a longo prazo traziam


restrições para a demanda;

25 • crise cambial que foi agravada pela forte dependência


externa.

122
ECONOMIA E MERCADO

Tratou-se efetivamente de uma crise cíclica, agravada pelo


aumento da instabilidade política e das políticas de estabilização
recessivas, somando-se a isso o fato de que era uma economia
que se industrializara mantendo enorme dependência com o
5 setor externo.

Roberto Campos, como ministro, elaborou um plano de ações


anti-inflacionárias bastante ortodoxas – o PAEG, Plano de Ação O governo militar, instituído em
Econômica do Governo - e, mais uma vez, foi utilizada a política 1964, foi responsável por uma grande
gama de planos econômicos, cujo
de contenção de gastos públicos e de liquidez. principal objetivo era o fim da inflação.

10 Na verdade, o Brasil assumiu uma clara subordinação com


relação ao capitalismo mundial. Tratava-se do aprofundamento
do modelo de capitalismo dependente e associado, já hegemônico
no país desde o Plano de Metas de JK. Isso resultou no aumento
da internacionalização da economia brasileira em relação aos
15 capitais externos e à consolidação da oligopolização, com o
franco predomínio das empresas multinacionais e o aumento da
dependência externa, gerando o crescimento da dívida externa
no Brasil.

O autoritarismo permitiu ao governo militar executar


20 uma política econômica voltada a garantir os investimentos,
estimulando ainda mais o processo de oligopolização.

A estrutura básica do sistema financeiro nacional foi criada


em 1965, com a instituição do Banco Central e do Conselho
Monetário Nacional. A reforma tributária de 1967 criou o
25 sistema tributário ainda vigente no país: a arrecadação foi
significativamente incrementada, sendo centralizada no
Governo Federal. Fundos parafiscais, como o FGTS, o PIS e o
PASEP contribuíram significativamente para o aumento da
arrecadação do governo, além dos impostos.

30 As reformas do PAEG alteraram praticamente todo o


quadro institucional da economia brasileira, adaptando-a
às necessidades de uma economia industrial. A retomada

123
Unidade IV

do crescimento econômico assistida no período posterior


foi viabilizada pelo esquema de financiamento montado por
essas reformas, e dotou-se o Estado de maior capacidade de
intervenção na economia.

5 A política adotada no PAEG conseguiu efetivamente


uma redução significativa da espiral inflacionária e abriu a
possibilidade efetiva da retomada do crescimento a taxas jamais
vistas na economia brasileira no período do chamado “milagre
econômico”.

10.2.2 O milagre brasileiro

10 O período entre 1968 e 1973 caracterizou-se pelas maiores


taxas de crescimento do produto brasileiro da história recente,
com relativa estabilidade de preços. Foi o que se convencionou
chamar de milagre brasileiro: um período de intenso crescimento
do PIB e da produção industrial. A economia brasileira apresentou
15 uma taxa média de crescimento do produto acima dos 10% ao
ano, com destaque para o produto industrial.

O grande crescimento do comércio mundial e os fluxos


financeiros internacionais beneficiaram sobremaneira a
economia brasileira, possibilitando uma abertura maior comercial
20 e financeira em relação ao exterior. As reformas institucionais e
a recessão do período anterior geraram uma capacidade ociosa
na indústria, possibilitando uma retomada do consumo e da
produção e, portanto, uma retomada da demanda agregada.

Nesse ciclo expansivo, os setores produtores de bens duráveis


25 e de bens de capital são predominantes. Esse projeto brasileiro
de desenvolvimento impôs ao país uma série de distorções
que o condenaram ao fracasso. As principais distorções foram:
promoção de uma brutal concentração de renda; promoção de
um crescimento setorial da produção industrial, que teve um
30 comportamento diferente a depender do setor, privilegiando o
crescimento da produção de bens de produção e de consumo

124
ECONOMIA E MERCADO

duráveis; transformação do Estado em motor do desenvolvimento;


ampliação significativa do endividamento externo, e a consequência
do endividamento seria a crise da dívida dos anos 1980.

As políticas monetária e creditícia de Delfim Neto, durante o


5 milagre econômico, foram fortemente expansionistas. O grande
questionamento ao milagre refere-se aos aspectos sociais.
Os teóricos do desenvolvimento econômico já chamavam a
atenção para a diferença entre crescimento e desenvolvimento
econômico, entendendo que o desenvolvimento é caracterizado
10 pela mudança qualitativa das condições de vida da maioria da
população do país. Na verdade, o milagre econômico brasileiro
foi caracterizado como um intenso crescimento da acumulação
capitalista, beneficiado por altíssimas taxas de lucro, resultantes
da compressão significativa dos salários, o que chegou a ameaçar
15 a continuidade do processo de crescimento. Há crescimento
econômico sem melhoria das condições de vida da maior parte
da população.

10.2.3 O II PND (1975 – 1979)

O II Plano Nacional de Desenvolvimento era, ao mesmo


tempo, uma resposta do governo militar à crise conjuntural
20 da economia brasileira e uma tentativa de superar o próprio
subdesenvolvimento do país, eliminando os estrangulamentos
estruturais de nossa economia. Assim, em 1974, o Brasil entra na
etapa final do processo de substituição de importações.

No II PND, a maioria dos investimentos para crescimento


25 industrial estava direcionada para o departamento produtor
de bens de capital e bens intermediários, e ele surge como
uma nova tentativa de combinar e coordenar as ações e os
investimentos governamentais, na figura das empresas estatais,
com os investimentos da grande empresa privada nacional.

30 O governo Geisel tinha como desafio dar continuidade ao


crescimento econômico, grande fator de legitimação do regime

125
Unidade IV

militar. Nessa fase, as empresas multinacionais participaram do


processo de desenvolvimento como coadjuvantes das empresas
nacionais, pois não estavam mais interessadas em realizar grandes
investimentos em uma conjuntura de grandes incertezas. Para a
5 indústria nacional, era a hora de produzir bens mais sofisticados
tecnologicamente, com financiamentos subsidiados e mercado
garantido.

Os empréstimos externos são a principal fonte de


financiamento do II PND, fundamentais para o fechamento do
10 balanço de pagamentos do país, desequilibrado por grandes
déficits em transações correntes.

A política do governo Geisel manteve o crescimento,


embora a taxas bem inferiores às do milagre econômico; porém,
trouxe de volta a inflação e adiou os projetos nas áreas de
15 energia, química pesada, siderurgia, entre outros. Além disso,
os investimentos do II PND refletiram-se em déficit crescente
em transações correntes e num crescimento significativo da
dívida externa.

10.3 A “década perdida”

Na década de 1980, a economia brasileira foi marcada por graves


20 desequilíbrios internos e externos. A chamada “década perdida”
caracterizou-se pela queda nos investimentos e no crescimento
do PIB, pelo aumento do déficit público, pelo crescimento das
dívidas interna e externa e pela ascensão inflacionária. Entre
1980 e 1991, o crescimento do PIB gira em torno de 2% ao
25 ano. A renda per capita do período permanece praticamente
inalterada ao longo de toda a década.

No governo do General Figueiredo, último do regime militar,


a política econômica inicial foi heterodoxa: controle dos juros;
maior indexação dos salários, que passaram a ser reajustados
30 semestralmente e por faixas; e a desvalorização cambial de 30%
em dezembro de 1979.

126
ECONOMIA E MERCADO

Com o agravamento da crise econômica, as pressões


políticas contra o regime militar tornaram-se insuportáveis e,
em 1985, começava a Nova República, um governo civil, eleito
indiretamente pelo Congresso Nacional. A escalada inflacionária
5 seria enfrentada com os chamados choques heterodoxos,
baseados na teoria da inflação inercial. O objetivo era desindexar
a economia por meio do uso de políticas de rendas apoiadas no
congelamento de preços.

A crise da dívida externa brasileira também preocupou


10 os economistas ao longo da década de 1980. Ela foi
decorrência direta do processo de inserção internacional
do país. O aumento do endividamento foi acelerado a
partir do milagre econômico, supostamente financiado pela
entrada de recursos externos. A partir do primeiro choque
15 do petróleo (1973) e durante o período de implantação do
II PND, o endividamento aumentou pelo financiamento dos
déficits em transações correntes do país. Após o segundo
choque do petróleo e do choque dos juros externos (1979),
o crescimento do endividamento passou a se alimentar do
20 aumento dos custos da própria dívida e da deterioração dos
termos de troca no comércio internacional.

O crescente aumento das despesas com o serviço da dívida


estava na origem da deterioração das contas internas (crise fiscal
do Estado), no estancamento de seu crescimento, na queda do
25 nível de investimentos e na disparada da inflação. A crise da
dívida externa conduziu o país à hiperinflação.

10.3.1 A Nova República

A política econômica da Nova República elegeu o


combate à inflação como meta principal. Uma série de planos
econômicos foi implementada na tentativa de derrubar a
30 inflação. Essa fase é marcada por grandes oscilações nas
taxas de inflação e no produto real e completa deterioração
das contas públicas.

127
Unidade IV

10.3.2 O governo Sarney


O Plano Real pode ser considerado
como o mais bem-sucedido controle de
Em 28 de fevereiro de 1986, o governo brasileiro lançou o inflação implementado no país. Ele foi
Programa de Estabilização da Economia Brasileira, mais conhecido elaborado por uma equipe que contou
como Plano Cruzado. Foi efetuada uma reforma monetária que com diversos economistas, além do
sociólogo Fernando Henrique Cardoso.
criou o cruzado como novo padrão monetário, sendo a taxa de
5 conversão fixada em mil cruzeiros por cruzado. Com exceção
das tarifas industriais de energia elétrica, todos os preços foram
congelados por tempo indeterminado, obedecendo aos níveis do
consumo praticado em 27 de fevereiro, medida que se estendeu
à taxa de câmbio.

10 Os salários foram convertidos, tendo como base o poder de


compra médio dos últimos seis meses em valores correntes, e
todos os assalariados receberam um abono de 8%. Além disso,
os salários seriam corrigidos em 60% da variação do custo de
vida, nas datas anuais dos dissídios coletivos, além de serem
15 automaticamente corrigidos sempre que a inflação acumulasse
a taxa de 20%. Criou-se um novo indexador para medir as
variações de preços, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC).
Não foram estabelecidas metas para as políticas monetária ou
fiscal. O objetivo básico era extirpar a memória inflacionária.

20 O impacto imediato do plano foi uma explosão de consumo


em decorrência do aumento do salário real, da despoupança
por causa da queda das taxas de juros nominais, da diminuição
do recolhimento do imposto de renda pessoa física na fonte,
do consumo reprimido durante a recessão dos anos 1980, da
25 existência de preços defasados com medo de descongelamento,
entre outros.

O aumento do poder de compra dos salários, aliado ao


consumo reprimido durante os anos anteriores, levou à
despoupança e à explosão do plano. Tornou-se difícil manter
30 o congelamento, dada a pressão da demanda, a defasagem
nos preços públicos e a pressão por aumento de preços pelos
empresários do setor privado.

128
ECONOMIA E MERCADO

O fracasso do Plano Cruzado trouxe de volta a inflação e


a ameaça de hiperinflação. Para tentar solucionar isso, vários
planos alternativos foram implementados ao longo do governo
Sarney: Cruzadinho, Cruzado II, Plano Bresser e Plano Verão,
5 todos fracassados.

Os últimos meses do governo Sarney foram marcados por


um verdadeiro caos político e econômico. Não havia mais
credibilidade nem sustentação política ao governo, após as
diversas tentativas fracassadas de estabilização econômica.
10 Embora os três planos (Cruzado, Bresser e Verão) tenham
procurado eliminar ou reduzir a inflação, esta chegou a
atingir, no período, níveis mais alarmantes que antes da
implementação dos planos. A taxa mensal de inflação em 1989
chegou a 85,12% no início de março.

10.4 O Plano Collor

15 Fernando Collor de Mello é eleito e toma posse no dia 15


de março de 1990, anunciando um novo plano de estabilização
econômica – o Plano Collor –, além de uma série de medidas de
grande impacto para a economia brasileira.

O Plano Collor I procurou articular confisco dos depósitos


20 à vista e aplicações financeiras com controle dos preços e
salários (que teriam correção prefixada), câmbio flutuante,
tributação pesada sobre as aplicações financeiras e uma
“reforma administrativa”, que levou ao fechamento de
inúmeros órgãos públicos e à demissão de uma grande
25 quantidade de funcionários. Além disso, o presidente adotou
um programa de redução da dívida interna, de corte nos
gastos públicos e aumento da receita fiscal.

Com a reaceleração da inflação, outro plano de


estabilização foi adotado em janeiro de 1991. Mais uma
30 vez, o governo se utilizava do congelamento de preços e
salários, também lançava mão da unificação das datas-

129
Unidade IV

base de correções salariais, além de medidas de contração


monetária e fiscal.

O período de 1990-1992 foi marcado por uma re-


estruturação produtiva, uma aceleração da abertura da
5 economia, uma desregulamentação dos mercados e uma
aceleração dos processos de privatização de empresas estatais.
Esse período foi marcado também por forte recessão, aumento
do desemprego e queda dos salários reais e da massa salarial. O
desgaste político do governo, aliado às denúncias de corrupção
10 acabaram por levar o presidente Collor ao impeachment em
O Plano Real pode ser considerado
outubro de 1992. como o mais bem-sucedido controle de
inflação implementado no país. Ele foi
10.5 O Plano Real elaborado por uma equipe que contou
com diversos economistas, além do
sociólogo Fernando Henrique Cardoso.
No início dos anos 90, o Brasil havia intensificado os processos
de abertura comercial e financeira, privatizações, renegociação
da dívida externa e desregulamentação do mercado.

15 Com a deposição de Collor, Itamar Franco assume a


Presidência, e, em 1993, o então ministro da Economia,
Fernando Henrique Cardoso, implementou um plano econômico
de estabilização, conhecido como Plano Real. Este foi concebido
e implementado em três etapas: o estabelecimento do equilíbrio
20 das contas públicas federais, para eliminar a principal causa da
inflação; a criação de um padrão estável de valor, a Unidade
Real de Valor (URV); e a emissão de uma moeda nacional nova,
o Real, com poder aquisitivo estável.

Houve um processo de intenso combate à sonegação


25 fiscal, uma ampliação da carga tributária, uma aceleração das
privatizações, o aprofundamento da abertura comercial e a
desregulamentação dos mercados.

O Plano Real é apontado como a melhor experiência de


estabilização da economia brasileira. Houve, de fato, uma queda
30 brusca da inflação, e o objetivo da estabilização monetária foi

130
ECONOMIA E MERCADO

amplamente alcançado. No entanto, os fundamentos do Plano


Real fizeram com que houvesse uma deterioração significativa
das contas públicas, uma elevação significativa da dívida pública
interna e déficits em transações correntes constantes.

Referências bibliográficas

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Unidade IV

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