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Mestrando em História na Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Assis/SP, bacharel em Direito
com especialização em processo penal, mestre em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo
Centro de Altos Estudos de Segurança (CAES) da Polícia Militar de São Paulo, major da Polícia Militar e
subcomandante do 32º BPM/I (batalhão da região de Assis/SP). O artigo é uma síntese de pesquisa
realizada pelo autor em curso de especialização.
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A Constituição da República Federativa do Brasil (CF) foi promulgada em 05.10.1988 e seu artigo 5º,
que aborda os direitos individuais, possui hoje 78 incisos.
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No caso da atuação policial-militar, o parágrafo 5º, do artigo 144, da CF, estabelece que: “às polícias
militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública (...)”
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TROJANOWICZ e BUCQUEROUX (1994, p. 04) apresentaram uma definição objetiva de Polícia
Comunitária: “É uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a
população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar
juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como crime, droga, medo do
crime, desordens físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a
qualidade geral da vida na área”. No Estado de São Paulo, em 05.10.1993 a Nota de Instrução CPM-
005/3/93 regulou o serviço de Radiopatrulha Comunitária (RPC) na área da região metropolitana (em
torno da Capital); em 23.02.1995 a Diretriz 3EM/PM-002/02/95 definiu no âmbito da Polícia Militar de
São Paulo os procedimentos para implantação do Programa Integrado de Segurança Comunitária (PISC);
ainda em 1995, o Plano Diretor da Polícia Militar para o período 1996 a 1999 estabeleceu como meta a
disseminação da doutrina de polícia comunitária; e em 10.12.1997 a Nota de Instrução PM3-004/02/97
regulou a implantação da polícia comunitária como filosofia e estratégia organizacional.
5 Nesse raciocínio, sintetizou LAZZARINI (1999, p. 205): “O ato de polícia administrativa ou ato de
polícia preventiva, como exteriorização do Poder de Polícia da Administração Pública, tem a mesma
infra-estrutura de qualquer outro ato administrativo. Nele se encerra a manifestação do ‘Poder de Polícia’
e, assim, para ser válido, o ato de polícia deve partir de órgão competente, tendo em vista a realização do
bem comum, observando a forma que lhe for peculiar e que poderá ser a escrita, verbal ou simbólica, tudo
diante de uma situação de fato e de direito que diga respeito à atividade policiada, devendo, finalmente,
ser lícito o seu objeto. Em outras palavras, como qualquer outro ato administrativo, o de polícia deve
conter os requisitos da competência, finalidade, forma, motivo e objeto”.
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A NECESSÁRIA HARMONIZAÇÃO ENTRE ABORDAGEM POLICIAL E DIREITOS HUMANOS
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Artigo 244 do CPP: “A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver
fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam
corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar” (Decreto-Lei Nº
3.689, de 03.10.1941). Note-se que a partir da constatação de infração penal, por exemplo, a localização
de uma arma portada irregularmente, a busca passa a ter caráter processual, como aquela realizada em
cumprimento à ordem judicial (domiciliar ou pessoal).
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Artigo 78 do CTN: “Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de
interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e
do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder
Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos” (Lei
Federal nº 5. 172, de 25.10.1966, com redação do artigo 78 dada pelo Ato Complementar nº 31, de
28.12.1966).
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A informação foi amplamente divulgada em folheto produzido pela 5ª Seção do Estado-Maior da Polícia
Militar de São Paulo, sob o título: “Obrigado por colaborar!” para campanha realizada sobre abordagem
policial, objetivando a conscientização da comunidade sobre a importância do procedimento policial.
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Disponível em: http://abordagempm.blogspot.com/. Acesso em 21 jul. 2011.
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A NECESSÁRIA HARMONIZAÇÃO ENTRE ABORDAGEM POLICIAL E DIREITOS HUMANOS
10 A abordagem policial relaciona-se com os Processos: 1.01.00 (abordagem de pessoas a pé); 1.02.00
(abordagem de veículos); 1.05.00 (vistoria de veículo); e 5.03.00 (uso de algemas). O Guia de
Procedimentos Operacionais Padrão da Polícia Militar que compõe o Sistema de Supervisão e
Padronização (SISUPA) foi registrado na Biblioteca Nacional sob nº 500.583, como produção intelectual
em nome da Polícia Militar de São Paulo.
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Por outro lado, a Polícia Militar de São Paulo definiu como um dos seus
Objetivos Institucionais a “preocupação constante com a imagem institucional para
que aumente cada vez mais a credibilidade da Instituição e consequente impacto na
sensação de segurança da população”, nos dizeres do seu Planejamento Estratégico
2008-2011 (PMESP, 2007, p.17).
Ocorrências com desfechos negativos e relacionadas a abordagens
policiais geram impacto na opinião pública e são vigorosamente divulgadas pelos
meios de comunicação de massa cada vez mais ágeis em função da mesma
tecnologia que permite a divulgação instantânea de informações e imagens em
movimento. Relevante, por esse motivo, a redução de não-conformidades para o
aprimoramento da atividade policial na pretensão de manter o apoio da sociedade -
no propósito da Polícia Comunitária - partindo-se da harmonização preconizada,
em conjunto com medidas corretivas. Essa meta encontra eco ainda no
Planejamento Estratégico quando se definiu que a instituição policial paulista
buscará ser reconhecida pelos seus valores: “legalidade, competência, atualidade,
flexibilidade e humanitarismo” (PMESP, 2007, p. 18).
Portanto, o maior desafio de uma Polícia voltada à defesa do cidadão e
por isso orientada pelo fundamental “princípio da dignidade da pessoa humana” é o
equilíbrio do seu principal instrumento de atuação preventiva com a defesa dos
direitos humanos.
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Texto integral disponível em: <http://www2.mp.pr.gov.br/cpdignid/dwnld/cep_b47_tf_1.pdf >. Acesso
em: 21 jul. 2011.
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A NECESSÁRIA HARMONIZAÇÃO ENTRE ABORDAGEM POLICIAL E DIREITOS HUMANOS
Conclusões
Deve-se considerar possível o ideal de uma harmonização entre
abordagem policial e a filosofia de direitos humanos permeando todos os
programas de policiamento, diante de um compromisso assumido de defesa da vida,
da integridade física e da dignidade da pessoa humana. Parte-se da noção de que,
paradoxalmente, quando se realiza uma abordagem policial para preservação da
ordem pública e, em última instância para garantia dos próprios direitos humanos
(somente possível com segurança pública), impõe-se uma natural e inerente
restrição de direitos individuais, legitimada no exercício do poder de polícia. Essa
ação será considerada equilibrada pela mínima imposição de restrição de direitos
individuais, observados os critérios da razoabilidade e da necessidade do ato, diante
do caso concreto.
A realização do procedimento de modo uniforme e igualitário, por
parte dos policiais militares, com técnica e sem discriminação não impede o alcance
dos resultados operacionais desejados; em outras palavras, com o máximo respeito -
possível - aos direitos individuais do revistado, o objetivo da intervenção policial
será alcançado.
A formação e os mecanismos de instrução continuada, associados à
depuração, devem ser capazes de capacitar o policial como um agente consciente do
nível de responsabilidade nele depositada na condição de “protetor dos direitos
humanos”, não obstante o aparente conflito entre restrição e proteção de direitos
incidente na ação policial. No plano ideal, o agente se apresentará seguro da
fundamentação dos seus atos em prol da coletividade e, ainda, sensível quanto à
importância da máxima preservação dos direitos individuais em compatibilização
com a intervenção policial restritiva.
O momento é propício para reflexão sobre a chamada “humanização
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Trata-se da obra “Para servir e proteger. Direitos humanos e direito internacional humanitário para
forças policiais e de segurança: manual para instrutores” (ROVER, 2008).
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