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VYGOTSKY
Resumo
A sistematização da matemática
O saber matemático para ser considerado um saber científico, necessita ser registrado
por uma linguagem codificada e passar pelos membros da comunidade científica e estes deve
respeitar o conjunto de idéias. Por conseguinte, após a validação por parte dessa comunidade,
o conhecimento passa a ser um saber científico como lembra Pais (2002, p. 18).
No entanto, o conhecimento matemático produzido ao longo da história da
humanidade, conforme argumenta Davis1 (apud Pais, 2002), fundamenta-se em três
concepções sendo uma delas tratada como platonismo, que consiste em relatar os objetos
matemáticos já existem na natureza como idéias puras e acabadas. Sendo assim, o saber
matemático consiste na generalização do real. Ou seja, não se poderia dizer que houve a
invenção dos conceitos matemáticos, mas sim, a sua descoberta, pois estes já existiam antes
de qualquer esforço intelectual.
Portanto, o saber científico da matemática consiste em uma codificação do real
afastando-se o máximo possível de sua aplicação concreta. Nas academias são estes saberes,
dentre outros, os ensinados aos licenciados em matemática. Cabendo aos futuros professores
durante o exercício de sua profissão, fazer a transposição didática de uma linguagem
codificada carregada de símbolos tal como são encontrados nos textos e relatórios técnicos,
para uma linguagem acessível ao aluno sem tornar o saber científico num saber puramente
simplificado como destaca Pais (2002, p.21).
Para que o ensino da matemática tenha um significado para o aluno é necessário fazer
a contextualização, por isto, cabe ao educador todas as vezes que ensina determinado
conteúdo questionar o contexto de sua origem e quais são os fatores que justificam a sua
presença no currículo escolar.
1
DAVIS, P. e HERSH, R. A experiência Matemática. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1985.
A luz de Oliveira (2009, p.19), Lev Semenovich Vygotsky nasceu na hoje extinta
União Soviética em 1896 e morreu prematuramente aos 37 anos devido à tuberculose, casou-
se e teve duas filhas.
A sua educação formal até os 15 anos foi em casa com tutores particulares. Fez os dois
últimos anos do curso secundário num colégio privado e daí ingressou na Universidade de
Moscou onde fez o curso de direito. Ao mesmo tempo freqüentou o curso de história e
filosofia na Universidade Popular de Shanyavskii. No entanto, não recebeu nenhum título
acadêmico nesta universidade.
Todavia, foi nesse local que aprofundou seus conhecimentos em psicologia, filosofia e
literatura, o que foi de grande valia para a sua vida profissional posterior. Devido ao seu
interesse por problemas neurológicos e como forma de compreender o funcionamento
psicológico do ser humano, ingressou no curso de medicina, parte em Moscou e outra em
Kharkov.
A vida profissional e sua produção literária foram muito diversificadas, segundo relato
de Oliveira (2009, p.21). Atuou como professor e pesquisador nas áreas de psicologia,
pedagogia, filosofia, literatura, deficiência física e mental, atuando em diversas instituições de
ensino e pesquisa, e concomitantemente, escrevia, lia e proferia conferências.
A produção de Vygotsky não chega a ser um sistema explicativo completo, articulado
do qual se pudesse extrair uma “teoria vygotskiana” bem estruturada. Mas sim, textos repletos
de ideias fecundas e de entusiasmo. Não se trata de um trabalho individual, teve alguns
colaboradores, dos quais, destacam-se Alexander Romanovich Luria e Alexei Nikolaievich
Leontievas.
Os temas centrais dos estudos de Vygotsky foram o desenvolvimento humano,
aprendizagem e as relações entre desenvolvimento e aprendizagem. O desenvolvimento de
uma pessoa se dá no campo pessoal, como um indivíduo da espécie humana.
O desenvolvimento ocorre também de acordo com a aprendizagem do sujeito com o
meio externo Oliveira (2009, p.56) diz que o indivíduo que convive em um grupo social que
desconhece a escrita jamais será alfabetizado. O processo de leitura e escrita será
desencadeado somente se este indivíduo for submetido a um processo de alfabetização, sendo
assim o seu desenvolvimento será alterado.
Oliveira (2009, p.78) relata que para Vygotsky “a inserção do indivíduo num
determinado ambiente cultural é parte essencial de sua própria constituição enquanto pessoa.”
Ao analisar essa concepção na escola, percebe-se o relevante papel que as instituições de
ensino fornecem à vida do cidadão. Porque é neste ambiente em que várias pessoas se
interagem, trocam experiências, buscam excessivamente neste meio, as várias ciências
sistematizadas.
Dentre essas ciências temos a matemática, um dos conteúdos estudados por todo aluno
que freqüentou ou freqüenta uma escola em qualquer parte do mundo é a álgebra.
Como relata Lins e Gimenez (1997, p.9) para muitos alunos representa um grande
corte na matemática, pois de repente há introdução de operações com letras e isto ocorre na 7ª
série do ensino fundamental. Alguns podem interpretar a grande dificuldade encontrada pelos
alunos, ao fato de não terem maturidade, no entanto, Lins e Gimenez (1997, p.94) relatam
uma experiência em que o ensino de álgebra foi iniciado de forma tardia (por volta dos 14-15
anos de idade). Isto ocorreu na Inglaterra com o projeto CSMS.
Este projeto teve grande repercussão, pois ao colocar em prática esta sugestão obteve
como resultado alunos que terminavam o ensino fundamental sem qualquer educação
algébrica, no máximo, os alunos considerados na faixa superior em matemática, aprendiam
álgebra de uma forma bastante superficial. Ainda hoje a universidade inglesa sente o efeito
desse processo sobre os alunos que fizeram parte deste projeto.
No entanto Lins e Gimenez (1997, p.104) fazem uma análise das várias abordagens
algébricas chegando à conclusão que todas elas possuem em comum o fato de voltarem o seu
olhar para onde o aluno deve chegar, mas se o aluno não atinge o objetivo desejável, os
modelos tendem a trazê-lo para o desejável sem procurar saber onde ele está. Dê acordo com
as observações feitas por Vygotsky, pode ser uma das razões pelas quais os alunos apresentam
dificuldades no aprendizado de álgebra.
Na tentativa de trazer um significado para o estudo de álgebra e sanar as dificuldades
encontradas pelos alunos, Lins e Gimenez (1997, p. 113) lembra que os estudos do russo V.
V. Davydov com alunos de 7 e 8 anos, este procura dar significado para expressões através da
utilização de diagramas e a constante intervenção do professor, tomando como base este
estudo, Lins e Gimenez (1997, p.124), apresenta uma releitura desta proposta para o ensino
de álgebra.
Coxford e Shulte (1995, p.113), descrevem alguns métodos para a resolução de
equações, sendo que a construção é feita de tal maneira a levar em consideração o
desenvolvimento e capacidade de compreensão do aluno. Os métodos oferecidos são para a
construção de uma sequência de ensino evolutiva que consiste em: gerar, avaliar, esconder,
desfazer e equações equivalentes tendo como base constante a intervenção do professor no
sentido de provocar o aluno, sendo que os conhecimentos da álgebra vão sendo introduzidos
de forma progressiva e tendo como ponto de partida o conhecimento prévio do aluno.
Outro aliado do ensino de álgebra seria a modelagem matemática, sendo que esta
consiste em partir de onde o aluno se encontra e é necessário conhecer a sua realidade e
reconhecer a existência de um problema real, por conseguinte, adequar este problema a
linguagem matemática no sentido de procurar a sua solução matemática e social.
“... quem nos deu o direito de tirar o cotidiano dos alunos para depois
devolver isso a ele? Não é que nós não possamos devolver, é muito mais:
nunca conseguiremos tirar-lhes esse cotidiano; quando eles vêm para a
escola, o cotidiano deles vem junto com eles, ou seja, o que eles são, foram,
gostam ou não, de que eles têm medo, tudo está ali na hora de se dar o
aprendizado, junto com eles na aula de Matemática.” (Meyer 2011, p. 26)
Conclusão
COXFORD, Arthur F. e SHULTE, Alberto P.. As ideias da álgebra. São Paulo: Atual, 1995.
MEYER, João Frederico da Costa; CALDEIRA, Ademir Donizeti; MALHEIROS, Ana Paula
dos Santos. Modelagem em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.
PAIS, Luiz Carlos. Didática da Matemática: uma análise da influência francesa. Belo
Horizonte: 2ed. Autêntica, 2002.