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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA
MBI 100 – MICROBIOLOGIA GERAL
NOTAS DE AULA
METABOLISMO MICROBIANO

Professor Antônio Galvão do Nascimento

Índice

1. Introdução ............................................................................................................................ 2
2. Princípios de bioenergética aplicados ao metabolismo ....................................................... 4
2.1. Processos espontâneos e processos não espontâneos ............................................. 4
2.2. Reações espontâneas no metabolismo .................................................................... 5
2.3. Liberação gradual de energia nas reações espontâneas do metabolismo ............... 6
2.4. Regras sobre a liberação de energia nas reações espontâneas de oxido-redução
do catabolismo ........................................................................................................ 7
2.5. Reações não espontâneas no metabolismo ............................................................. 10
2.6. Conservação de energia no metabolismo microbiano ............................................ 10
2.7. Gasto (utilização) de energia no metabolismo microbiano .................................... 10
3. Diversidade das vias catabólicas quimiotróficas entre os microrganismos ........................ 14
3.1. Metabolismo quimiotrófico .................................................................................... 14
3.1.1. Diversidade de vias catabólicas quimiotróficas ......................................... 14
3.1.2. Formação de um gradiente iônico em quimiotrofias .................................. 19
3.1.3. Obtenção de elétrons para a biossíntese em quimiotrofias ......................... 19
3.1.4. Vias alternativas à via glicolítica em bactérias ........................................... 21
4. Rendimento energético das quimiotrofias ........................................................................... 22
5. Vias Metabólicas Centrais ................................................................................................... 23
5.1. Relação entre as Vias Metabólicas Centrais e o catabolismo ................................. 24
5.2. Fluxo pelas Vias Metabólicas Centrais .................................................................. 25
6. Metabolismo fototrófico ...................................................................................................... 29
6.1. Fotossíntese ............................................................................................................ 29
6.1.1. Absorção de energia luminosa por pigmentos nos fotossistemas .............. 30
6.1.2. A Cadeia Transportadora de Elétrons fotossintética e a fotofosforilação .. 31
7. Exercícios ............................................................................................................................ 32
8. Referências consultadas ...................................................................................................... 35

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1. INTRODUÇÃO:

Nos cursos de Bioquímica Geral, o metabolismo foi estudado de forma ampla, durante um
semestre. Assim, foi dada ênfase aos detalhes das reações bioquímicas. No curso de Microbiologia
Geral, o metabolismo será abordado de forma sintética ao longo de três aulas. Portanto, a ênfase
agora será dada para a interação das vias metabólicas, tentando construir uma visão panorâmica do
metabolismo microbiano. Nas duas primeiras aulas, analisaremos três necessidades principais de
uma célula: energia, elétrons e carbono. Na primeira aula, analisaremos a utilização de recursos
do ambiente para que a célula obtenha energia e elétrons. Na segunda aula, estudaremos os
processos realizados por células microbianas que gastam energia e, também, estudaremos o fluxo de
compostos de carbono pelas Vias Metabólicas Centrais. Na terceira aula, estudaremos a regulação
do metabolismo microbiano.
O metabolismo, conjunto de todas as reações que ocorrem em uma célula, é composto pelo
catabolismo e pelo anabolismo. O catabolismo é o conjunto de reações que liberam energia a partir
das fontes desta energia. A fonte de energia para as reações catabólicas pode ser uma substância
química (orgânica ou inorgânica) ou a luz, dependendo do microrganismo. A degradação de uma
substância orgânica por uma via catabólica resulta em produtos finais de menor tamanho, além de
serem compostos de carbono mais oxidados. Estes produtos podem ser o CO2 ou outros compostos
orgânicos, dependendo da via. Se a fonte de energia for uma substância inorgânica, esta será
liberada em uma forma mais oxidada.
Por outro lado, o anabolismo é o conjunto de reações de biossíntese, as quais gastam
energia. Há dois grandes grupos de vias anabólicas: Vias de biossíntese de monômeros
(aminoácidos, nucleotídeos, açúcares, ácidos graxos) e vias de biossíntese de polímeros (proteínas,
ácidos nucleicos, polissacarídeos, lipídeos). As estruturas de uma célula (membranas, ribossomos,
camadas da parede celular, flagelos, etc) são organizadas a partir dos novos polímeros formados,
resultando progressivamente em aumento de massa da célula e, em determinada fase do ciclo
celular, na divisão em células-filhas. Através das diferentes medidas do crescimento microbiano,
pode ser evidenciado o resultado global do funcionamento constante das vias anabólicas.
O metabolismo é classificado de acordo com a fonte de energia para as vias catabólicas
como quimiotrófico ou fototrófico, se uma substância química ou a luz é a fonte de energia,
respectivamente. No caso dos microrganismos quimiotróficos, a fonte de elétrons é também a fonte
de energia, ao contrário dos microrganismos fototróficos, cuja fonte de elétrons não é fonte de
energia.
Quanto à fonte de carbono, o metabolismo é classificado como litotrófico, se a fonte de
carbono é inorgânica, e como organotrófico, se a fonte de carbono é orgânica. Litotrófico é

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sinônimo de autotrófico e organotrófico é sinônimo de heterotrófico. Considerando conjuntamente a
fonte de energia e a fonte de carbono, há quatro classes principais de metabolismos:
quimioorganotrófico (quimioheterotrófico), quimiolitotrófico (quimioautotrófico),
fotoorganotrófico (fotoheterotrófico) e fotolitotrófico (fotoautotrófico).

Tabela 1: Classificação das principais categorias de metabolismo quanto à fonte de energia e quanto
à fonte de carbono.

Metabolismo Fonte de energia Fonte de carbono

Quimioorganotrófico Substância orgânica Substância orgânica

Quimiolitotrófico Substância inorgânica Substância inorgânica

Fotoorganotrófico Luz Substância orgânica

Fotolitotrófico Luz Substância inorgânica

Como citado, os termos “organotrófico” e “litotrófico” referem-se primariamente à fonte de


carbono, orgânica e inorgânica, respectivamente. Todavia, no caso dos metabolismos
quimiotróficos, também é possível fazer referência às fontes de energia relacionadas com os
mesmos termos, conforme a Tabela 2.

Tabela 2: Comparação dos metabolismos quimiotróficos, quanto às fontes de carbono e de energia.

Metabolismo Fonte de carbono e de energia

Quimioorganotrófico A substância orgânica é fonte de carbono e de energia.

Quimiolitotrófico Uma substância inorgânica é fonte de energia, e outra substância


inorgânica é a fonte de carbono (CO2).

Há uma regra geral para a liberação e conservação de energia pelas vias catabólicas, nos
metabolismos quimiotróficos: a liberação e conservação de parte desta energia ocorrem durante um
fluxo espontâneo de elétrons. Nos metabolismos fototróficos que realizam fotossíntese,
anteriormente à etapa de liberação e conservação de energia durante um fluxo espontâneo de
elétrons, pigmentos absorvem energia luminosa.
Atenção: Ao final de algumas das próximas seções, estão sugeridos exercícios. Alguns
estão numerados e apresentados na seção 7, e outros estão apresentados diretamente na seqüência
do texto. Os exercícios 7.1 e 7.2. referem-se a conceitos fundamentais de química, que talvez você
precise rever.
________________________________________________________________________________

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2. PRINCÍPIOS DE BIOENERGÉTICA APLICADOS AO METABOLISMO:

2.1. Processos espontâneos e processos não espontâneos:


Vamos partir de conceitos básicos:
a) Energia é um potencial de realizar trabalho;
b) Processos espontâneos, também chamados exergônicos, são os que liberam energia. Um
processo espontâneo é aquele que não necessita de que um outro processo o impulsione para que
ocorra e,
c) Processos não espontâneos ou endergônicos são os que consomem energia. Um processo
não espontâneo só ocorre se estiver acoplado a outro processo espontâneo.
Agora, compare os dois exemplos abaixo:
Exemplo 1: Funcionamento de uma hidrelétrica
Na hidrelétrica, há água represada pela barragem. Na barragem, há canalizações por onde a
água cai sobre turbinas em alta velocidade, forçando o movimento destas. Em conseqüência deste
movimento, uma parte desta energia é conservada na forma de energia elétrica. Portanto, a queda da
água tem o potencial de realizar um trabalho, pois é capaz de forçar o movimento da turbina ao cair
sobre ela. Pelo fato da água cair livremente, esta queda é classificada como processo espontâneo.
Por outro lado, como o movimento das turbinas precisa ser forçado, ele é classificado como
processo não-espontâneo. A energia elétrica pode ser utilizada para a ocorrência de vários processos
não-espontâneos, como o giro da hélice de um liquidificador, por exemplo.
Exemplo 2: Respiração aeróbia a partir da glicose
A equação geral da Respiração Aeróbia a partir da glicose é:
C6H12O6 + 6O2 + 38 ADP + 38 Pi → 6CO2 + 6H2O + 38 ATP (Reação 1)
A Reação 1 pode ser desmembrada em duas reações parciais acopladas:
C6H12O6 + 6O2 → 6CO2 + 6H2O (Reação 2);
38 ADP + 38 Pi → 38 ATP (Reação 3) .
A Reação 2 libera energia (é espontânea ou exergônica). A Reação 3 gasta energia (é não
espontânea ou endergônica) . Parte da energia liberada pela Reação 2 é conservada nas moléculas
de ATP. A conservação desta parte da energia liberada nas moléculas de ATP só é possível porque
estas duas reações parciais ocorrem de maneira acoplada, conforme a equação da Reação 1.
Nas células, não ocorre gasto de energia para “movimentar uma estrutura”, como no caso da
hidrelétrica, salvo exceções, como o movimento do flagelo em bactérias. Na célula, a energia
liberada nas reações espontâneas é gasta para possibilitar a ocorrência de reações não-espontâneas.
Ou seja, durante a ocorrência de uma reação química espontânea, esta tem o potencial de “forçar” a
ocorrência de uma reação química não espontânea acoplada. Uma vez que “energia” é definida
como “potencial de realizar trabalho”, podemos transformar a frase anterior da seguinte forma:
4
- “ Durante a ocorrência de uma reação que libera energia (espontânea), parte desta energia
é utilizada para realizar um trabalho, ou seja, é utilizada para forçar a ocorrência de uma reação não
espontânea (que gasta energia)”.

Exercício 7.3

2.2. Reações espontâneas no metabolismo:


Primeiramente, vamos entender o motivo pelo qual a Reação 2 é espontânea.
A Reação 2 é uma reação de oxi-redução, ou seja, envolve a transferência de elétrons da
glicose para o oxigênio, formando um composto mais oxidado que a glicose (CO2) e outro mais
reduzido que o oxigênio (H2O). Na Reação 2, podemos identificar dois pares redox:
Par 1: CO2 / glicose
Par 2: O2 / H2O.
O composto oxidado de cada par é: Par 1( CO2) e Par 2 (O2 ). Dentre estes, o O2 tem “maior
afinidade” pelos elétrons, o que explica um fluxo espontâneo de elétrons da glicose para o O2 , e,
não, da água para o CO2.
Em uma reação de oxi-redução, o fluxo espontâneo de elétrons ocorre no sentido em que os
elétrons são doados para o composto oxidado com maior “afinidade” pelos elétrons. Uma forma de
expressarmos esta “afinidade” relativa entre diferentes pares redox é através dos valores de E0'
(potenciais Redox) (Tabela 3). Nesta escala de valores relativos, quanto maior o valor de E0' , maior
a afinidade da substância oxidada do par redox pelos elétrons.
Repare que a interpretação dos valores de E0' (pontencial redox) difere daquela que podemos
fazer da interpretação dos valores de ∆E0' (Diferença de pontencial redox). Assim, podemos
comparar diferentes reações de oxi-redução através de seus valores de ∆E0'. Quanto maior for este
valor de ∆E0', maior é a capacidade de realização de trabalho, ou maior é a quantidade de energia
disponível para a realização de trabalho.

Tabela 3: Valores de potenciais redox (E0') de diferentes pares redox componentes de


reações de oxido-redução das vias catabólicas.

Par redox E0'(V)

CO2/C6H12O6 -0,43

H+/H2 -0,42

NAD+/NADH + H+ -0,32

SO4-2/HS- -0,22

5
Par redox E0'(V)

Piruvato/ Lactato -0,19

NO3-/NO2- 0,42

Fe3+/Fe2+ 0,76

Oxigênio/Água 0,82
Fonte: MADIGAN et al., 2003, modificado.
Exercícios 7.4 e 7.5

2.3. Liberação gradual de energia nas reações de oxirredução do metabolismo:


Obs.: Nesta e nas próximas seções, as equações nas Figuras e nas Reações estão
simplificadas e sem os cálculos estequiométricos!
A respiração aeróbia a partir da glicose pode ser resumida em quatro etapas principais: Via
glicolítica, descarboxilação do ácido pirúvico, ciclo de Krebs e cadeia transportadora de elétrons.
Em bactérias, as primeiras três etapas ocorrem no citoplasma e a cadeia transportadora de elétrons
ocorre na membrana plasmática. As etapas que ocorrem no citoplasma estão esquematizadas na
Figura 1.
Conforme citado, a equação geral da respiração aeróbia a partir da glicose é:
C6H12O6 + O2 + ADP + Pi → CO2 + H2O + ATP (Reação 1)
A Reação 1 pode ser desmembrada em duas reações parciais acopladas:
C6H12O6 + O2 → CO2 + H2O (Reação 2);
ADP + Pi → ATP (Reação 3) .
A Reação 2 é um resumo da reação de oxirredução espontânea da glicose durante o
metabolismo. Esta reação de oxidação pode ser desmembrada em duas grandes reações:
C6H12O6 + NAD+ → CO2 + NADH (Reação 4);
NADH + O2 → NAD+ + H2O (Reação 5).
A Reação 4 é também um resumo das etapas que ocorrem no citosol em bactérias. A
Reação 5 é um resumo da Cadeia Transportadora de Elétrons, que ocorre na membrana plasmática
em bactérias. A Reação 4 também pode ser desmembrada nas Reações 4.1, 4.2 e 4.3 abaixo, as
quais representam a via glicolítica, a descarboxilação do ácido pirúvico e o ciclo de Krebs,
respectivamente. Veja as Reações 4.1, 4.2 e 4.3 abaixo:
C6H12O6 + NAD+ → Piruvato + NADH + H+ (Reação 4.1 – Via glicolítica);
Piruvato + CoA + NAD+ → Acetil-CoA + NADH + H+ + CO2 (Reação 4.2 –
Descarboxilação do ácido pirúvico) e;
Acetil-CoA + NAD+ → CO2 + NADH + H+ + CoA (Reação 4.3 – Ciclo de Krebs).

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Exercício: Some as Reações 4.1, 4.2, 4.3 e 5. Compare esta soma com a Reação 2.
Exercício: Compare as Figuras 2A e 2B. Na Figura 2A, a respiração aeróbia da glicose está
representada pelas Reações 4.1, 4.2 e 4.3 e 5, e na Figura 2B, através das Reações 4 e 5.

2.4. Regras sobre a liberação de energia nas reações espontâneas de oxido-redução


do catabolismo:
As reações espontâneas ou exergônicas é que liberam energia. As regras gerais sobre a
liberação de energia durante a ocorrência de reações espontâneas de oxido-redução são as mesmas
verificadas para a respiração aeróbia a partir da glicose:
- Doador de elétrons, que também é fonte de energia (no caso de metabolismo
quimiotrófico), é uma substância química orgânica ou inorgânica;
- Aceptor final de elétrons: Uma substância orgânica ou inorgânica é o aceptor final de
elétrons;
- Diferença de potencial redox (∆E0'): Para que um microrganismo possa obter energia a
partir da oxidação de uma substância química, a diferença de potencial redox tem que ser maior que
zero entre o par redox que contém a substância doadora de elétrons e o par redox que contém a
substância aceptora final de elétrons. Ou seja, o aceptor final de elétrons tem maior afinidade pelos
elétrons do que a substância oxidada do par que contém o doador de elétrons, o que define um fluxo
espontâneo de elétrons entre o doador e o aceptor final de elétrons;
- Oxidação em várias etapas: Este fluxo espontâneo de elétrons ocorre através de uma série
de reações de oxirredução. Ou seja, a substância que é a fonte de energia é oxidada e libera a
energia em várias etapas até a última reação de oxirredução que envolve o aceptor final de elétrons.
Exercício 9.6a

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Figura 1: Esquema simplificado representando as reações da Via glicolítica, descarboxilação do
ácido pirúvico e ciclo de Krebs.

Exercício: Complete as reações da Figura 1, indicando a participação de coenzimas


oxidadas e coenzimas reduzidas, e as reações que envolvem ATP e ADP.

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A)

B)
Figura 2: Esquema de célula bacteriana realizando respiração aeróbia da glicose. No esquema A,
estão as reações parciais simplificadas da Via glicolítica, descarboxilação do ácido pirúvico e ciclo
de Krebs; no esquema B, estas três etapas estão representadas em uma única reação resumida. Em
ambos os esquemas, a cadeia transportadora de elétrons está representada na membrana plasmática.
Nesta figura e em todas as próximas (com exceção à Figura 4), o retângulo azul mais espesso
representa a membrana plasmática. O limite da parede celular está representado pelo retângulo
externo. Repare os esquemas das fosforilações: ao nível de substrato, durante a via glicolítica e
durante o ciclo de Krebs, e fosforilação oxidativa, ocorrendo na membrana, por meio da
ATPsintase.

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2.5. Reações não espontâneas no metabolismo microbiano:
Um dos motivos pelos quais a reação 3 é não espontânea é porque a molécula de ATP é
mais instável que os reagentes ADP e Pi. Essa maior instabilidade do ATP explica-se, em parte,
pelo maior número de cargas residuais negativas que causam repulsão eletrostática na molécula, em
comparação ao que se observa nas moléculas de ADP e Pi.
Relembrando, um processo não espontâneo só ocorre se estiver acoplado a outro processo
espontâneo. É o fluxo espontâneo de elétrons (Reação 2) que permite a ocorrência da síntese de
ATP (Reação 3). Ou seja, é o fluxo espontâneo de elétrons que “força” a ocorrência das reações
não espontâneas de síntese de ATP;
Atenção: É fundamental que você saiba exatamente o que significa dizer que duas reações
ocorrem acopladas!

2.6. Conservação de energia no metabolismo microbiano:


Uma parte da energia liberada pelas reações espontâneas do catabolismo é primeiramente
conservada. Em microrganismos procariotos, a conservação da energia ocorre de duas formas
principais:
1) Em substâncias orgânicas no citoplasma, cujo exemplo principal é o ATP. Outros
exemplos são todos os outros nucleotídeos trifosfato (CTP, GTP, UTP, TTP) e o fosfoenolpiruvato;
2) Em um gradiente de íons, concentrados na parte externa da membrana plasmática. Estes
íons podem ser do tipo H+, mas há casos em que bactérias mantêm um gradiente de íons Na+. Os
processos não espontâneos que permitem conservar energia na forma de um gradiente iônico serão
analisados na seção 3.1.2 deste texto.
A conservação de energia na forma de ATP (fosforilação) pode ser de três formas:
- Fosforilação ao nível de substrato: Associada a uma reação química de uma via que ocorre
no citoplasma. Ex.: Fosforilações que ocorrem na via glicolítica e no ciclo de Krebs;
- Fosforilação oxidativa: Associada ao gasto de energia de um gradiente de íons por uma
ATP sintase. Este gradiente de íons é previamente formado de maneira acoplada a um fluxo
espontâneo de elétrons por várias reações de oxi-redução que ocorrem em uma membrana lipídica;
- Fotofosforilação: Processo semelhante à fosforilação oxidativa, com a diferença de que a
fonte de energia é a luz.
Exercício 7.6b

2.7. Gasto (utilização) de energia no metabolismo microbiano:


Compare os esquemas de células realizando respiração aeróbia da glicose, na Figura 2B e na
Figura 3. Veja que na Figura 3, também foram representados alguns processos que gastam energia
no citoplasma e na membrana plasmática.

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O gasto de um dos dois tipos principais de energia conservadas citadas anteriormente ocorre
das seguintes formas:
I) As reações de hidrólise das substâncias químicas do citoplasma (Ex.: ATP → ADP +
Pi, ou, também, ATP → AMP + PPi) gera produtos mais estáveis que o reagente. Estas reações de
hidrólise são portanto espontâneas e têm o potencial de “forçar” a ocorrência de outras reações
químicas não espontâneas acopladas. As vias de biossíntese de monômeros e de polímeros utilizam
esta fonte de energia no citoplasma. Veja o exemplo de uma das etapas de adição de um monômero,
durante a biossíntese de um ácido nucleico:
ATCCG + ATP → ATCCGA (Reação 6).
A reação acima pode ser representada como o resultado de duas reações parciais:
ATP → AMP + PPi (Reação 7)
AMP + ATCCG → ATCCGA (Reação 8).
Na Reação 6, ocorreu a hidrólise do ATP, liberando AMP + PPi, de forma acoplada à
transferência direta de AMP para o ácido nucleico em formação (ATCCG), gerando ATCCGA. A
reação de hidrólise do ATP (Reação 7) é espontânea, e é a ocorrência desta hidrólise espontânea
que força a ocorrência da reação não espontânea de adição do monômero AMP ao ácido nucleico
em formação. Repare que a reação parcial 8 não poderia ocorrer se não houvesse uma transferência
direta do AMP para o ácido nucléico em formação. Ou seja, a reação 7 não poderia ocorrer se AMP
fosse primeiramente liberado no citoplasma pela reação 7. A reação 6 pode ocorrer justamente
porque nela há uma transferência direta do AMP de uma molécula à outra.
II) A concentração de íons, geralmente prótons (H+), na parte externa da membrana
plasmática, gera uma diferença de cargas e de concentração destes prótons. Os prótons são atraídos
para o citoplasma. Todavia, como têm carga residual, não podem passar através dos lipídeos da
membrana plasmática. Mas há polipeptídeos integrais nas membranas que possibilitam esta
passagem dos prótons. Como exemplos, podem ser citadas as permeases de membrana e as
proteínas da base do flagelo bacteriano. A passagem destes prótons através destes polipeptídeos é
acoplada a outro processo não espontâneo. No caso das permeases, este processo não espontâneo é
o transporte ativo de um nutriente. No caso das proteínas da base do flagelo bacteriano, este
processo não espontâneo é o movimento das proteínas da base dos flagelos, que gera o movimento
rotacional dos mesmos (Figura 3).
Exercício 9.6c

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Figura 3: Esquema de célula bacteriana realizando respiração aeróbia da glicose. No esquema,
estão representados os processos que liberam energia (catabólicos) e alguns processos que gastam
energia: anabolismo (biossíntese de monômeros e de polímeros), transporte ativo de nutrientes e
movimento do flagelo.

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Figura 4: Esquema do conjunto do metabolismo de uma bactéria quimiotrófica e seus processos
principais (subconjuntos): catabolismo, anabolismo e processos que gastam energia proveniente do
gradiente iônico. O catabolismo está representado pela reação espontânea de oxirredução entre a
fonte de elétrons e o aceptor final de elétrons, em sua forma oxidada (AFEox.), gerando a fonte de
elétrons oxidada e o aceptor final de elétrons reduzido (AFEred.). Repare que, através do
catabolismo, conservam-se os dois tipos de energia: nas moléculas orgânicas do citoplasma
(representadas pelo ATP) e no gradiente iônico. Também durante o catabolismo são geradas as
coenzimas reduzidas (representadas pelo NADH). O anabolismo está representado pela reação de
biossíntese de monômeros e a de polímeros. Repare que em ambas as etapas de biossíntese, a fonte
de energia é a hidrólise de moléculas orgânicas do citoplasma (representadas pela hidrólise do
ATP). Em muitas vias de biossíntese de monômeros, gastam-se elétrons, provenientes de coenzimas
reduzidas (representadas pelo NADH). Repare um terceiro subconjunto, contendo os processos que
gastam energia proveniente do gradiente iônico (Transporte ativo de nutrientes e movimento do
flagelo).

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3. DIVERSIDADE DE VIAS CATABÓLICAS QUIMIOTRÓFICAS ENTRE OS
MICRORGANISMOS:
Como visto, o metabolismo pode ser classificado de acordo com a fonte de energia para as
vias catabólicas como quimiotrófico ou fototrófico, se uma substância química ou a luz é a fonte de
energia, respectivamente. Na seção 3.1, serão estudadas as vias quimiotróficas, e na seção 6, as vias
fototróficas.

3.1. Metabolismo quimiotrófico

3.1.1. Diversidade de vias catabólicas quimiotróficas:


As quimiotrofias são classificadas como: Quimioorganotrofia ( Respiração ou Fermentação)
e Quimiolitotrofia. Veja os esquemas na Figura 5.
Em uma respiração (Figura 5A), ocorrem as etapas de oxidação dos compostos orgânicos
no citoplasma (Glicólise, descarboxilação do ácido pirúvico e ciclo de Krebs), seguida da última
etapa que é uma cadeia transportadora de elétrons (CTE), a qual ocorre na membrana plasmática.
Portanto, a síntese de ATP é por fosforilação ao nível de substrato e por fosforilação oxidativa. No
início da CTE, as coenzimas reduzidas são re-oxidadas (Ex.: NADH + H+ é oxidado a NAD+).
Assim, as moléculas de NAD+ se tornam novamente disponíveis para as reações de oxi-redução do
citoplasma (Glicólise, descarboxilação do ácido pirúvico e ciclo de Krebs).
Nas fermentações (Figura 5B), a oxidação dos compostos orgânicos ocorre apenas através
de uma via metabólica no citoplasma (via glicolítica ou outra), e não há uma cadeia transportadora
de elétrons. Portanto, ocorre síntese de ATP somente por fosforilação ao nível de substrato. Neste
caso, as coenzimas reduzidas (NADH + H+) são reoxidadas quando doam elétrons para um
composto orgânico, intermediário da própria via.
Nas quimiolitotrofias (Figura 5C), a substância inorgânica que é fonte de elétrons e de
energia é oxidada diretamente na membrana plasmática, doando elétrons em uma primeira reação
de oxiredução da cadeia transportadora de elétrons. Portanto, energia é conservada como moléculas
de ATP somente por fosforilação oxidativa.

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A)

B)

C)

Figura 5: Esquemas de células bacterianas realizando diferentes tipos de quimiotrofias. Figura 5A:
Respiração aeróbia da glicose; Figura 5B: Fermentação lática a partir da glicose e, Figura 5C:
Quimiolitotrofia a partir do gás Hidrogênio (H2). Repare que em todos os três esquemas de células
foram representados somente os processos do catabolismo. O anabolismo, o movimento do flagelo
e o transporte ativo de nutrientes foram suprimidos dos esquemas para simplificar a análise.
15
- Diversidade de fontes de carbono para uma respiração:
Além da glicose e de outros carboidratos, os microrganismos podem realizar a respiração
utilizando outras substâncias orgânicas como proteínas, lipídeos, ácidos orgânicos, dentre outros.
Todos estes compostos primeiramente precisam ser transformados em algum intermediário da via
glicolítica, ou da etapa intermediária entre via glicolítica e ciclo de Krebs (descarboxilação do ácido
pirúvico), ou do ciclo de Krebs. Abaixo, estão as vias de utilização de proteínas e lipídeos:
1) Proteínas primeiramente são degradadas por proteases e peptidases, liberando
aminoácidos. Estes aminoácidos são absorvidos e posteriormente ocorrem as reações de
desaminação, liberando ácidos orgânicos e amônia. Alguns ácidos orgânicos provenientes de
desaminações, como o ácido pirúvico e o ácido oxaloacético, entram na via glicolítica ou no ciclo
de Krebs, respectivamente.
2) Os lipídeos são degradados por lipases liberando o glicerol fosfato e os ácidos graxos. O
glicerol fosfato é reduzido a diidroxicetona fosfato, o qual entra na via glicolítica. Os ácidos graxos
são degradados pela via da β-oxidação a unidades de acetil-CoA, os quais entram no ciclo de Krebs.

Figura 6: Esquema da via glicolítica e do ciclo de Krebs (algumas reações da via glicolítica foram
suprimidas, e também a participação de coenzimas). No esquema são indicadas as entradas de um
carboidrato ou de um lipídeo como fontes alternativas de carbono e energia. Obs.: A forma como
ocorre o fluxo de carbono por estas vias, a partir desta fonte, será analisada na Figura 11.
16
Exercício: Complete o esquema da Figura 6, indicando algumas entradas possíveis quando
uma proteína é fonte de carbono e energia.
Há vários aceptores finais de elétrons em respirações como sulfato (SO4-2), nitrato (NO3-1),
Fe3+, além do oxigênio (O2). Na respiração aeróbia, o aceptor final de elétrons da CTE é o
oxigênio; em todos os outros casos é uma respiração anaeróbia (Ver Figura 7).

A)

B)

C)

Figura 7: Esquemas de células bacterianas realizando respiração da glicose, utilizando O2 (gás


oxigênio, ou NO3- (nitrato), ou SO4-2 (sulfato), como aceptores finais de elétrons, alternativamente.
Repare que em todos os três esquemas de células foram representados somente os processos do
catabolismo. O anabolismo, o movimento do flagelo e o transporte ativo de nutrientes foram
suprimidos dos esquemas para simplificar a análise.

Existem alguns grupos de microrganismos que fazem respiração anaeróbia utilizando formas
oxidadas de nitrogênio, como o nitrato ( NO3- ), transformando-as em formas mais reduzidas, como
o nitrito ( NO2- ), os óxidos NO e N2O e o gás nitrogênio (N2). Todos estes tipos de respiração
anaeróbia são chamados conjuntamente de “desnitrificação”. As substâncias NO, N2O e N2 são
17
gases, e a perda destes gases pode ser significativa, resultando em prejuízo para a fertilidade dos
solos agrícolas. O conhecimento dos fatores que interferem na intensidade do processo de
desnitrificação é fundamental para uma aplicação eficaz de adubos nitrogenados em solos agrícolas.
Usam-se as expressões “redução dissimilatória do nitrato” e “redução dissimilatória do
sulfato” como referências ao uso do nitrato ou do sulfato como aceptor final de elétrons de uma
respiração anaeróbia. É importante diferenciar as “reduções dissimilatórias” dos processos de
“redução assimilatória do nitrato” ou de “redução assimilatória do sulfato” que se referem à redução
destes ânions como fonte de nutrientes para os processos anabólicos (biossintéticos).
Exercício: Analise a Figura 7 e a Tabela 3. Considerando os dados da Tabela 3, faça o
cálculo de ∆E0’ para cada tipo de respiração da Figura 7. Relacione os valores calculados com as
diferenças observadas entre os esquemas da Figura 7.

- Diversidade de vias de fermentação:


As vias de fermentação mais simples são a fermentação láctica e a fermentação alcoólica,
realizada por bactérias e leveduras, respectivamente. Há muitas outras vias de fermentação, como a
fermentação heterofermentativa do lactato, a fermentação do propionato, a fermentação ácido mista,
dentre outras. As fontes orgânicas de energia para vias de fermentação, além de açúcares, incluem
aminoácidos, purinas etc.
Em todas as vias de fermentação, existe(m) etapa(s) onde ocorre a síntese de ATP por
fosforilação ao nível de substrato. Além disso, todas estas vias possuem reações onde as coenzimas
reduzidas vão ser reoxidadas doando elétrons para um composto orgânico, intermediário da própria
via. Os produtos finais destas vias são variados. Muitos destes produtos finais são explorados
comercialmente, como fonte de energia (etanol), além de desempenharem importantes funções na
produção de alimentos (ácido lático), como solventes (acetona), dentre outros.

- Diversidade de vias de quimiolitotrofia:


Várias substâncias inorgânicas podem servir como fonte de elétrons e de energia em um
metabolismo quimiolitotrófico, como gás hidrogênio (H2), ácido sulfídrico (H2S), amônio (NH4+),
nitrito (NO2- ), Fe2+, dentre outros. O aceptor final de elétrons pode ser o oxigênio ou outras
substâncias inorgânicas.
Na Figura 8, está esquematizada uma bactéria que realiza quimiolitotrofia a partir do Fe2+.
Compare este esquema com a Figura 5C (quimiolitotrofia a partir do gás H2). Na Figura 8, o fluxo
de elétrons na membrana está representado por dois subconjuntos: o fluxo espontâneo de elétrons
entre o par Fe3+/Fe2+ e o par Oxigênio/Água; e o fluxo reverso de elétrons entre o par Fe3+/Fe2+ e o
par NAD+/NADH + H+.
Exercício: Utilizando os dados da Tabela 3, calcule o valor de ∆E0' para o fluxo espontâneo
18
de elétrons e para o fluxo reverso de elétrons, ambos representados na Figura 8. Agora responda:
qual fluxo libera energia e qual fluxo gasta energia?

Figura 8: Esquema de célula microbiana realizando quimiolitotrofia a partir do Fe2+. Na membrana,


o fluxo espontâneo de elétrons está representado em preto, e o fluxo reverso de elétrons está
representado em amarelo. O anabolismo, o movimento do flagelo e o transporte ativo de nutrientes
foram suprimidos do esquema para simplificar a análise.

Exercícios 7.7, 7.8 e 7.9

3.1.2. Formação de gradiente iônico em quimiotrofias:


Como visto anteriormente, uma das formas de energia conservada pelos microrganismos é
um gradiente iônico na parte externa da membrana plasmática. Em respirações e quimiolitotrofias, a
formação de um gradiente iônico ocorre diretamente associada à própria Cadeia Transportadora de
Elétrons (Figuras 5A, 5C, 7 e 8).
Em fermentações, não ocorre uma Cadeia Transportadora de Elétrons, portanto, não é
possível formar um gradiente iônico associado a ela. Mas um dos mecanismos possíveis para
formar este gradiente iônico em fermentações é a hidrólise de ATP no citoplasma, realizada por
ATPases de maneira acoplada ao processo não espontâneo de ejeção de prótons (H+) para a face
externa da membrana plasmática (Figura 5B).

Exercício 7.10

3.1.3. Obtenção de elétrons para a biossíntese em quimiotrofias:


Os microrganismos realizam processos de biossíntese. Primeiramente, os monômeros
(açúcares, aminoácidos, nucleotídeos e ácidos graxos) precisam ser sintetizados, caso estes não

19
estejam disponíveis no meio. Em seguida, estes monômeros são energizados. Posteriormente, estes
monômeros energizados são utilizados na biossíntese dos respectivos polímeros (polissacarídeos,
proteínas, ácidos nucléicos e lipídeos).
Em várias vias de biossíntese de monômeros existem reações em que coenzimas reduzidas,
como o NADH + H+, doam elétrons. Alguns exemplos são algumas reações da via de biossíntese de
ácidos graxos, a primeira reação de síntese de Glicerol-3P a partir de dihidroxicetona fosfato,
algumas reações da assimilação de amônia nos compostos orgânicos para formar o primeiro
aminoácido (alfa cetoglutarato), e várias reações de vias de biossíntese de outros aminoácidos.
Os microrganismos autotróficos têm uma demanda ainda maior de coenzimas reduzidas
comparativamente aos heterotróficos, uma vez que durante a fixação de fontes inorgânicas de
carbono (CO2), estas substâncias devem ser reduzidas a formas orgânicas de carbono. Estas vias de
fixação autotrófica de carbono gastam uma quantidade muito grande de coenzimas reduzidas. As
formas orgânicas resultantes é que alimentam as vias metabólicas centrais (VMCs). Uma vez
formados os intermediários destas VMCs, os monômeros podem ser sintetizados.
As vias de biossíntese (de monômeros, de fixação autotrófica de CO2, dentre outras)
recebem estes elétrons provenientes das coenzimas reduzidas (NADH + H+; NADPH2 etc). As vias
catabólicas é que geram estas coenzimas reduzidas, e o mecanismo varia entre estas vias. Nas
fermentações, a geração destas coenzimas reduzidas ocorre diretamente associada à etapa de
oxidação do composto orgânico no citoplasma (Ex.: Na via glicolítica, durante a fermentação
láctica). Nas respirações, estas coenzimas são geradas na via glicolítica, na descarboxilação do
ácido pirúvido e no ciclo de Krebs.
Nas quimiolitotrofias, estas coenzimas reduzidas vão ser geradas sempre associadas a um
fluxo de elétrons na membrana plasmática. Todavia, este fluxo de elétrons que gera estas coenzimas
reduzidas vai ocorrer de maneira diferente, dependendo da substância inorgânica que é o doador de
elétrons. Considere o gás hidrogênio (H2) como exemplo de fonte inorgânica de elétrons e energia
em uma bactéria quimiolitotrófica. Como o potencial redox do par H+/H2 é menor que o potencial
redox do par NAD+/NADH + H+ (Tabela 3), elétrons são transferidos do H2 até chegarem às
moléculas de NAD+, formando NADH + H+, através de um fluxo espontâneo. Neste caso, outros
elétrons continuam fluindo espontaneamente pela cadeia transportadora de elétrons, permitindo a
ejeção de prótons para a face externa da membrana plasmática (formação de um gradiente iônico).
Há muitas outras fontes inorgânicas de elétrons e energia para bactérias quimiolitotróficas,
como o Fe2+, o NH3, e o HS-. Nestes casos, como o potencial redox do par que contém a substância
inorgânica doadora de elétrons é sempre maior que o potencial redox do par NAD+/NADH + H+, a
transferência de elétrons do doador de elétrons para o NAD+ não pode ocorrer através de um fluxo
espontâneo de elétrons. Alguns dentre estes elétrons provenientes das substâncias inorgânicas
oxidadas fluem através de um fluxo espontâneo, permitindo a ejeção de prótons, com a conseqüente

20
formação do gradiente iônico (H+). Outros elétrons provenientes das substâncias inorgânicas
oxidadas fluem através de um Fluxo Reverso de Elétrons, até serem doados para a molécula de
NAD+, formando as moléculas de NADH + H+. Este Fluxo Reverso de Elétrons gasta energia, pois
ocorre no sentido contrário ao fluxo espontâneo de elétrons. Os prótons do gradiente iônico, ao
retornarem ao citoplasma através de alguns complexos protéicos, é que permitem que o fluxo
reverso de elétrons ocorra até que os elétrons sejam doados ao NAD+, formando as moléculas de
NADH + H+.
Como os microrganismos quimiolitotróficos são também autotróficos (obtêm carbono a
partir de fontes inorgânicas), estes gastam uma quantidade muito grande de coenzimas reduzidas
nas vias de obtenção autotrófica de carbono. Este fato, associado a um baixo rendimento energético
do fluxo espontâneo de elétrons destas vias (pequeno ∆E0’) e à necessidade do fluxo reverso de
elétrons, que gasta parte da energia conservada no gradiente de prótons, contribuem para que os
microrganismos quimiolitotróficos produzam pouca biomassa no ambiente.
Exercício 7.11 e 7.12

3.1.4. Vias alternativas à via glicolítica em bactérias:


A via glicolítica é a primeira etapa de um metabolismo quimioorganotrófico para muitas
bactérias. Todavia, algumas batérias oxidam carboidratos através de vias alternativas, como a Via
das Pentoses Fosfato ou a Via Entner-Doudoroff.
A via das pentoses fosfato é a única alternativa para a oxidação de carboidratos em algumas
bactérias, como Thiobacillus novellus e Brucella abortus. Outras bactérias dependem
completamente da via Entner-Doudoroff, como as do gênero Pseudomonas sp. Em todas estas
situações, a dependência de uma destas vias alternativas explica-se pela impossibilidade da
ocorrência da primeira etapa da via glicolítica, ou seja, não podem transformar glicose em duas
moléculas de gliceraldeído-3P.
A via das Pentoses-Fosfato é encontrada em todos os microrganismos, como uma das três
Vias Metabólicas Centrais. A sua importância deve-se à geração de três intermediários que são
precursores para a biossíntese de alguns aminoácidos e de nucleotídeos, além da geração de
NADPH2, coenzima reduzida utilizada em algumas vias biossintéticas. Portanto, nos
microrganismos que dependem do funcionamento da Via das Pentoses-Fosfato como única
alternativa para a oxidação de carboidratos, este é um outro papel do seu funcionamento.
Durante a oxidação de uma molécula de glicose pela via glicolítica, são gastos dois ATPs na
primeira etapa e são produzidos 4 ATPs na segunda etapa, resultando em rendimento de 2 ATPs.
Quando glicose é inicialmente oxidada pela via das Pentoses-Fosfato, ocorrem três
descarboxilações por molécula de glicose que inicia o fluxo por esta via. O resultado líquido é o
21
retorno de apenas uma molécula de gliceraldeído-3P para a segunda etapa da via glicolítica. Nesta
segunda etapa, este único gliceraldeído-3P rende duas moléculas de ATP. Como foi gasto um ATP
na fosforilação da glicose, anteriormente ao início do fluxo pela via das Pentoses-Fosfato, o saldo
líquido é de apenas 1 ATP.
Quando o microrganismo utiliza a via Entner-Doudoroff, inicialmente ocorre o gasto de um
ATP na fosforilação da glicose. Não há nenhuma reação de descarboxilação nesta via. Todavia, um
intermediário desta via (KDPG), quando hidrolisado, gera uma molécula de gliceraldeído-3P e
outra de ácido pirúvico. Entre estas duas, apenas a molécula de gliceraldeído-3P é que rende 2 ATP
na segunda etapa da via glicolítica. O resultado também é um rendimento de apenas 1 ATP por
molécula de glicose.

4. RENDIMENTO ENERGÉTICO DAS QUIMIOTROFIAS:

Em primeiro lugar, o rendimento energético depende da categoria de quimiotrofia analisada.


De forma geral, as quimioorganotrofias do tipo fermentação apresentam rendimento energético
baixo, uma vez que o único tipo de fosforilação existente nestes casos é a fosforilação ao nível de
substrato.
Entre as quimioorganotrofias do tipo respiração, o rendimento energético de cada via deve
ser analisado para cada uma das etapas a seguir:
a) Vias que ocorrem no citoplasma (Via glicolítica ou alternativas, descarboxilação do ácido
pirúvico e ciclo de Krebs);
b) A Cadeia Transportadora de Elétrons (CTE).
Considere como exemplo o funcionamento da Via glicolítica e de uma das vias alternativas
(a via das Pentoses-Fosfato). Já verificamos que o rendimento de ATP da via glicolítica é maior que
o desta via alternativa. Além disso, na via glicolítica, são geradas duas moléculas de ácido pirúvico,
e na via das Pentoses-Fosfato, é gerado apenas um ácido pirúvico por glicose oxidada. Quanto
maior o número de moléculas de ácido pirúvico geradas por molécula de glicose, maior o número
de ATPs gerados por fosforilação ao nível de substrato e maior o número de coenzimas reduzidas
geradas durante o ciclo de Krebs. Portanto, a quantidade de ATP gerada por fosforilação oxidativa
na cadeia transportadora de elétrons também será maior quando glicose for oxidada inicialmente
pela via glicolítica. Este é um exemplo da diferença de rendimento energético em função do tipo de
via metabólica que ocorre anteriormente à cadeia transportadora de elétrons.
O rendimento energético durante a Cadeia Transportadora de Elétrons depende basicamente
da diferença de potencial redox (∆E0') entre o par que contém a substância que doa elétrons no
início da cadeia e o par que contém o aceptor final de elétrons. Quanto maior o valor de ∆E0', maior
22
a quantidade de prótons ejetados para a face externa da membrana plasmática por elétron que flui
pela CTE. Considerando que é necessário o retorno de um número fixo de prótons por cada ATP
sintetizado por fosforilação oxidativa, este rendimento de ATP depende do valor de ∆E0'. Há vários
aceptores finais de elétrons em respirações, e os valores de ∆E0' entre o doador de elétrons
(coenzimas reduzidas) e estes diferentes aceptores finais de elétrons variam muito entre as
diferentes CTEs. Repare que o rendimento energético de uma CTE é sempre maior para uma
respiração aeróbia, seguida das diferentes respirações anaeróbias.
Entre as quimiolitotrofias, o rendimento energético será uma função dos valores das
diferenças de potencial redox (∆E0') entre o par redox do início e do par redox do final de cada
CTE. Na grande maioria das quimiolitotrofias, como estes valores de ∆E0' são muito pequenos, o
rendimento energético é também pequeno.
Considerando que o microrganismo necessita de ATP como fonte de energia para sintetizar
biomassa, quanto maior o rendimento energético de uma via, maior a quantidade de biomassa
sintetizada por unidade de fonte de energia oxidada. Assim, de forma geral, os microrganismos
quimiolitotróficos produzem menos biomassa por unidade de fonte de energia que for oxidada, em
comparação com outros microrganismos quimioorganotróficos.
Também como uma conseqüência do baixo rendimento energético, os microrganismos
quimiolitotróficos liberam grandes quantidades da fonte inorgânica de energia, após oxidada, por
unidade de biomassa sintetizada. Um exemplo é o crescimento de bactérias que obtêm energia da
oxidação do Fe2+, gerando grandes quantidades de Fe3+ no meio. Esta forma mais oxidada de ferro
apresenta-se na forma de um hidróxido insolúvel, gerando uma coloração intensamente amarelada
nos meios onde estas bactérias crescem.
Há microrganismos que possuem uma grande versatilidade, como a Escherichia coli,
podendo realizar respiração aeróbia ou respiração anaeróbia ou fermentação. Quando o oxigênio
está presente no ambiente, este é utilizado como aceptor final de elétrons. Na ausência de oxigênio e
na presença de um aceptor final de elétrons alternativo (Ex.: Nitrato), vai ocorrer uma respiração
anaeróbia. Se não há oxigênio e nenhum outro aceptor final de elétrons de uma CTE, Escherichia
coli pode realizar a fermentação. Portanto, a via metabólica utilizada para o crescimento será aquela
que resulte em um maior rendimento energético possível para cada condição ambiental.

5. VIAS METABÓLICAS CENTRAIS:

As Vias Metabólicas Centrais (VMCs) são aquelas que geram os precursores para a
biossíntese de monômeros (como por exemplo, açúcares e aminoácidos).
As Vias Metabólicas Centrais são a via glicolítica, a via das pentoses-fosfato e o ciclo de
Krebs (Figura 9).
23
Figura 9: Vias Metabólicas Centrais (VMCs), juntamente com algumas vias de biossíntese de
monômeros (em vermelho) e algumas vias de biossíntese de polímeros (em verde).

5.1. Relação entre as Vias Metabólicas Centrais (VMCs) e o catabolismo:

As VMCs são chamadas também de anfibólicas, porque além de realizarem a função


anabólica (geração de precursores para a biossíntese de monômeros), também desempenham a
função catabólica, como em respirações e em fermentações.
É importante notar que as três VMCs (Via glicolítica, Ciclo de Krebs e Via das Pentoses
Fosfato) ocorrem em todos os microrganismos, independente do tipo de via catabólica utilizada
para conservar energia, e independente da fonte de carbono que alimenta estas VMCs, exatamente
pelo fato de que são as VMCs que geram os precursores para a biossíntese dos monômeros. Em
microrganismos que realizam respiração, as três VMCs desempenham tanto um papel catabólico
(conservação de energia) quanto anabólico (geração de precursores para a biossíntese de
monômeros). Todavia, mesmo em microrganismos que realizam fermentação ou quimiolitotrofia,
nos quais o catabolismo não envolve todas as VMCs ou nenhuma delas, respectivamente, as três
VMCs ocorrem desempenhando o seu papel anabólico.

24
5.2. Fluxo pelas Vias Metabólicas Centrais (VMCs)

O sentido do fluxo de pelo menos uma parte das três VMCs pode variar em função da fonte
de carbono e do ponto onde esta fonte entra nas VMCs.
Para verificar estas diferenças, considere o exemplo de uma mesma bactéria crescendo em
três Erlenmeyers contendo Meio Mínimo. Foi adicionado em cada Erlenmeyer, como única fonte de
carbono, glicose (Meio A), lipídeos (Meio B), e um aminoácido (Meio C). Obs.: No meio C,
considere um aminoácido, que ao ser desaminado, gera oxaloacetato. Em todos estes três meios, a
bactéria está realizando respiração a partir de cada uma das fontes de carbono citadas.
No Meio A (glicose como fonte de carbono), glicose primeiramente é transformada a ácido
pirúvico pela via glicolítica (Figura 10). A partir da formação de glicose-6P, ocorre a via das
Pentoses– Fosfato. Ocorre a reação de descarboxilação do ácido pirúvico, gerando acetil-CoA. Na
primeira reação do ciclo de Krebs, o acetil-CoA reage com ácido oxaloacético, gerando ácido
cítrico. Portanto, o fluxo pelas vias metabólicas centrais é o mesmo daquele que estudamos no
processo de respiração a partir de glicose. Para que o microrganismo possa realizar biossíntese, é
necessário que a célula tenha um suprimento adequado de todos os precursores para a biossíntese
dos monômeros.Neste caso, ocorre uma das duas vias anapleróticas a seguir: carboxilação do PEP
ou carboxilação do Piruvato, ambas gerando ácido oxaloacético (Figura 10).
No Meio B (lipídeos como fonte de carbono), primeiramente os lipídeos são transformados
por lipases em suas unidades, o glicerol-fosfato e os dois ácidos graxos(Figura 11). O glicerol-
fosfato é oxidado a DHAP (dihidroxiacetona-fosfato), a qual entra na via glicolítica. Os ácidos
graxos serão primeiramente oxidados a várias unidades de acetil-Coa pela via da beta-oxidação. A
partir da entrada de acetil-CoA, ocorrem todas as reações do ciclo de Krebs. Em cada lipídeo, há um
glicerol-fosfato e dois ácidos graxos esterificados a ele. A molécula de glicerol-fosfato tem três
átomos de carbono, e gera apenas uma molécula de DHAP, que também tem três átomos de
carbono. Por outro lado, cada ácido graxo gera muitas unidades de acetil-CoA, dependendo do
tamanho do ácido graxo que foi oxidado pela via da beta-oxidação. Portanto, a partir de um lipídeo,
um número muito maior de átomos de carbono, na forma de acetil-CoA, entra anteriormente ao
ciclo de Krebs, em comparação com apenas uma molécula de três carbonos que entra na via
glicolítica como DHAP. Desta forma, o fluxo de carbono pelas VMCs será definido pela entrada
principal, que é na forma de acetil-CoA (Figura 11).
Neste Meio B, para que o microrganismo possa realizar biossíntese, também é necessário
que a célula tenha um suprimento adequado de todos os precursores para a biossíntese dos
monômeros. Para que todo o carbono que entra no ciclo de Krebs não seja perdido como CO2,
devido às duas descarboxilações que ocorrem nesta via, existe um rota que funciona como um
desvio do ciclo de Krebs, e que ocorre juntamente com o funcionamento do ciclo de Krebs. Este
25
desvio é o ciclo do glioxilato, o qual impede as duas descarboxilações do início do ciclo de Krebs,
permitindo que o microrganismo produza uma quantidade de precursores do ciclo de Krebs
compatível com as necessidades da célula para a biossíntese em cada condição de cultivo. No ciclo
do glioxilato, ocorrem duas reações em seqüência: na primeira reação, glioxilato e succinato são
gerados a partir de ácido cítrico, e na segunda reação, ocorre a condensação de glioxilato e acetil-
CoA, gerando malato e liberando CoA. Malato é oxidado a ácido oxaloacético. Uma vez formado
ácido oxaloacético (oxaloacetato), este será utilizado de três formas:
I) Um conjunto destas moléculas é utilizado na biossíntese de aminoácidos;
II) Outras moléculas de ácido oxaloacético continuam fluindo pelo ciclo de Krebs, a partir
da condensação com acetil-CoA, formando ácido cítrico;
III) Ainda outras moléculas de oxalacetato perdem uma molécula de carbono e recebem um
grupamento fosfato, gerando ácido fosfoenolpirúvico (PEP). A partir de fosfoenolpiruvato, será
iniciada uma série de reações (gliconeogênese), que funcionam exatamente no sentido reverso do
sentido em que as reações da via glicolítica ocorrem. Uma vez formada glicose-6P na
gliconeogênese, é iniciada a via das Pentoses-Fosfato. Repare que neste caso, apesar do
funcionamento da gliconeogênese, esta via gera os mesmos precursores gerados na via glicolítica,
pois ambas as vias possuem os mesmos intermediários, com a diferença de que as reações ocorrem
em sentidos opostos.
No Meio C (aminoácido como fonte de carbono) (Figura 12), o oxaloacetato proveniente da
desaminação já é diretamente utilizado das três formas, conforme citado acima, para o caso do
Meio B. Portanto, a partir de ácido oxaloacético, ocorre o ciclo de Krebs, é formado PEP e é
iniciada a gliconeogênese e a via das Pentoses-fosfato, e também, moléculas de ácido oxaloacético
são utilizadas para a biossíntese de outros aminoácidos.
Suponha o cultivo de uma bactéria que realiza fermentação lática a partir da glicose,
como única fonte de carbono (Meio D) (Figura 13). Na glicólise, glicose é transformada a ácido
pirúvico. A partir de glicose-6P, ocorre a via das Pentoses-fosfato. A redução de ácido pirúvico
(piruvato) á ácido lático é a etapa do fluxo espontâneo de elétrons, que permite regenerar coenzimas
oxidadas. Ácido fosfoenolpirúvico (PEP) ou ácido pirúvico (Pir) é carboxilado, formando ácido
oxaloacético. A partir de ácido oxaloacético, dois conjuntos de reações do ciclo de Krebs ocorrem
em sentidos opostos do fluxo:
I) Acido oxaloacético reage com acetil-CoA, formando ácido cítrico. A partir de ácido
cítrico, ocorrem as reações que resultam finalmente na formação de α-cetoglutarato. O resultado
líquido desta etapa é a oxidação do composto orgânico, gerando coenzimas reduzidas (Ex.: NADH
+ H+). Não ocorrre a reação de oxidação de α-cetoglutarato, gerando succinil-CoA;
II) Por outro lado, a partir de ácido oxaloacético, ocorre uma série de reações em que os
compostos orgânicos são gradativamente reduzidos, até a etapa em que succinil-CoA é gerado.
26
Nestas reações, ocorre a reoxidação de coenzimas reduzidas, gerando coenzimas oxidadas (NAD+,
FAD+). A importância do ciclo de Krebs funcionar interrompido, em duas etapas (uma oxidativa e
outra redutiva), é que as coenzimas reduzidas geradas na etapa oxidativa são reoxidadas na etapa
redutiva, impedindo que um excesso de coenzimas reduzidas acumule na célula.
Nos Meios E e F, vamos imaginar o cultivo de duas bactérias autotróficas (utilizam CO2
como fonte de carbono). No Meio E, a bactéria realiza a via autotrófica do ciclo de Calvin. No
Meio F, a bactéria realiza a via autotrófica do Ciclo do ácido tricarboxílico redutivo. Em ambas as
situações, a análise do fluxo de carbono pelas Vias Metabólicas Centrais (VMCs), permite chegar à
seguinte conclusão: Ocorre um grande gasto de energia (hidrólise de ATP) e de elétrons (doados
por coenzimas reduzidas) para transformar o composto inorgânico em um composto orgânico das
VMCs. Uma vez formados todos os precursores nas VMCs, em um microrganismo autotrófico,,
ocorre gasto de energia e de coenzimas reduzidas na etapa de formação de monômeros a partir dos
precursores, e gasto de energia na etapa de formação de polímeros a partir dos monômeros. O gasto
de energia e elétrons nas duas últimas etapas citadas também ocorre nos microrganismos
heterotróficos. Portanto, os microrganismos autotróficos apresentam um gasto maior de energia e de
elétrons, devido exatamente à etapa de fixação autotrófica de CO2.

Glicose
6P gluconato

Frutose 6P
Ribulose 5P

Frutose 1,6BisP

DAHP + 3PGald

PEP
CO2
Piruvato
CO2
Acetil CoA

Ac. Cítrico
Ac. Oxaloacético

Ac. isocítrico
A.  málico

CO2
Ác. fumárico
Ác. α Cetoglutárico

CO2
Ác. Succínico Succinil CoA

Figura 10: Fluxo pelas Vias Metabólicas Centrais, quando glucose é fonte de carbono, para uma
bactéria que realiza respiração. Algumas reações da via glicolítica foram suprimidas e a via das
pentoses-fosfato foi resumida para simplificar a análise.

27
Figura 11: Fluxo pelas Vias Metabólicas Centrais quando lipídeos são fonte de carbono, para uma
bactéria que realiza respiração. Algumas reações da via glicolítica foram suprimidas e a via das
pentoses-fosfato foi resumida para simplificar a análise.

Figura 12: Fluxo pelas Vias Metabólicas Centrais quando um aminoácido é fonte de carbono, para
uma bactéria que realiza respiração. Este aminoácido, ao ser desaminado, gera ácido oxaloacético.
Algumas reações da via glicolítica foram suprimidas e a via das pentoses-fosfato foi resumida para
simplificar a análise.

28
Figura 13: Fluxo pelas Vias metabólicas Centrais quando glicose é fonte de carbono, para uma
bactéria que realiza fermentação lática. Algumas reações da via glicolítica foram suprimidas e a via
das pentoses-fosfato foi resumida para simplificar a análise.

6. METABOLISMO FOTOTRÓFICO

Os processos que envolvem a utilização de energia luminosa são classificados


conjuntamente como “fototrofias”. O grupo de fototrofias classificadas como “fotossíntese” são
aquelas nas quais, após a absorção de energia luminosa por pigmentos, ocorre um fluxo espontâneo
de elétrons em uma membrana lipídica acoplado à formação de um gradiente iônico e, por último, a
energia conservada é utilizada para a fixação autotrófica de CO2.
Portanto, nem todo microrganismo fototrófico realiza fotossíntese. Um exemplo são as
bactérias que bombeiam prótons através de uma proteína chamada bacteriorodopsina. Esta proteína
absorve energia luminosa e é excitada por ela, possibilitando o bombeamento de prótons para a face
externa da membrana plasmática. Repare que, neste caso, não ocorre uma cadeia transportadora de
elétrons, pois apenas uma única proteína que é excitada pela luz é também a única proteína que
bombeia íons, sem a ocorrência de uma reação de oxirredução.

6.1. FOTOSSÍNTESE:

Os grupos de bactérias que realizam a fotossíntese são as bactérias púrpuras, as bactérias

29
verdes, as heliobactérias e as cianobactérias. Dentre as etapas do processo fotossintético, a grande
maioria ocorre em todos estes grupos de bactérias. Estas etapas são:
1) Pigmentos absorvem energia luminosa e são excitados por ela. Estes pigmentos (Ex.:
clorofila a) têm valores de potencial redox altos antes de serem excitados pela luz. Logo após a
excitação, o valor de potencial redox cai de tal forma que este pigmento pode transferir elétrons
para a substância oxidada de um próximo par redox, em uma primeira reação de oxi-redução;
2) Ocorrem outras várias reações de oxi-redução que definem um fluxo espontâneo de
elétrons de uma Cadeia Transportadora de Elétrons Fotossintética (CTEF), acoplada à formação de
um gradiente iônico;
3) Este gradiente iônico é utilizado para sintetizar ATP pelo processo de fotofosforilação
(semelhante à fosforilação oxidativa, com a diferença de que na fotofosforilação, a fonte primária
de energia é a luz);
4) A geração de coenzimas reduzidas (NADPH2) pode ou não ocorrer associada diretamente
à CTEF;
5) ATP é utilizado como fonte de energia e as coenzimas reduzidas como fontes de elétrons
em vias de fixação autotrófica de CO2.

6.1.1. Absorção de energia luminosa por pigmentos nos fotossistemas:


Os pigmentos que absorvem energia luminosa são as clorofilas, as bacterioclorofilas, as
ficobiliproteínas e os carotenóides. A presença das diferentes classes de pigmentos varia com o
grupo de microrganismos. A maioria destes pigmentos encontra-se complexada a proteínas em
membranas bilipídicas, as chamadas membranas fotossintéticas. Estas variam de acordo com o
grupo de microrganismos:
- Em heliobactérias, é a própria membrana plasmática;
- Em bactérias púrpuras, são invaginações da membrana citoplasmática;
- Em bactérias verdes, podem ser a membrana citoplasmática ou estruturas de membrana
diferenciadas – os clorossomos;
- Em cianobactérias, são os tilacóides.
Há uma unidade de organização estrutural e funcional destes pigmentos, chamada
fotossistema. Nos fotossistemas, há dois conjuntos de pigmentos: os pigmentos dos sistemas-antena
e os pigmentos dos centros de reação.
São os pigmentos do sistema-antena que absorvem energia luminosa e transferem parte
desta energia para os pigmentos do centro de reação. Estes pigmentos variam com o grupo de
bactérias: são bacterioclorofilas em bactérias púrpuras e bactérias verdes, e são as ficobiliproteínas e
clorofila a em cianobactérias.
Os pigmentos do centro de reação, após serem excitados por esta energia, têm o seu

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potencial eletroquímico diminuído. Estes pigmentos são moléculas de bacterioclorofila especiais em
bactérias púrpuras e bactérias verdes e moléculas de clorofila a especiais em cianobactérias. Em
função da diminuição do potencial eletroquímico, é possível que estes pigmentos transfiram o
elétron para um próximo par redox, em uma primeira reação de oxi-redução espontânea.
Há basicamente dois tipos de fotossistemas: fotossistemas do tipo 1 e fotossistemas do tipo
2. Estes fotossistemas se diferenciam pelos componentes da CTEF que apresentam:
- Os fotossistemas do tipo 1 apresentam, além da molécula de bacterioclorofila a ou de
clorofila a (dependendo do grupo de microrganismos) que participa da primeira reação redox,
proteínas com centros ferro-enxofre. Estas proteínas ferro-enxofre compõem o último par redox da
CTEF que ainda faz parte dos fotossistemas do tipo 1. Estas proteínas doam elétrons para moléculas
de ferredoxina, e estas por sua vez para moléculas de NAD(P)+, gerando NADH + H+ OU
NADPH2;
- Os fotossistemas do tipo 2 apresentam, além da molécula de bacterioclorofila a ou de
clorofila a que participa da primeira reação redox, uma molécula de feofitina e moléculas de
quinonas (ubiquinonas ou plastoquinonas). Estas moléculas de quinonas compõem o último par
redox que faz parte dos fotossistemas do tipo 2. Estas moléculas de quinonas transferem elétrons
para complexos bc1 ou b6f, dependendo do grupo de bactérias.
As bactérias púrpuras apresentam somente um fotossistema do tipo 2; as bactérias verdes
apresentam somente um fotossistema do tipo 1; e as cianobactérias apresentam os dois tipos de
fotossistemas operando em série.

6.1.2. A Cadeia Transportadora de Elétrons Fotossintética e a fotofosforilação


Nem todas as reações redox da Cadeia Transportadora de Elétrons Fotossintética (CTEF)
ocorrem entre pares redox constituintes dos fotossistemas. Em função da forma como ocorre o fluxo
de elétrons, a fotossíntese de bactérias púrpuras é considerada cíclica, e a de bactérias verdes e de
cianobactérias é considerada acíclica. Esta classificação é devida à formação de coenzimas
reduzidas, associada ao funcionamento da CTEF, somente nas bactérias verdes e cianobactérias. Se
são formadas coenzimas reduzidas associado ao funcionamento destas CTEFs, isso só é possível
porque existe uma fonte externa de elétrons, a qual é oxidada doando continuamente novos elétrons
para que o fluxo continue.

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7. EXERCÍCIOS:
7.1) Calcular o número de oxidação dos elementos oxigênio, oxigênio, ferro, nitrogênio e
hidrogênio nas substâncias químicas ou íons abaixo:
O2 H2O Fe+2 NO3-1 H2O

7.2) A partir das reações de oxirredução abaixo, escreva os pares redox e identifique qual é a
substância oxidada e qual é a substância reduzida de cada par redox. Justifique:
Reação 1: C6H12O6 + O2 → CO2 + H2O

Reação 2: Fe 3+ + NADH + H+ → Fe2+ + NAD+

7.3) Preencha a tabela abaixo , comparando os dois exemplos citados.

Comparação Hidrelétrica Respiração aeróbia a partir da


glicose
Processo (esp. + não esp.)

Processo parcial
espontâneo

Processo parcial não


espontâneo

Trabalho realizado

Energia conservada

Processos que gastam a


energia conservada

7.4) A partir dos pares redox abaixo e da tabela de potenciais redox, escreva a reação de
oxirredução espontânea em cada caso, e indique qual reação libera uma maior quantidade de
energia. Justifique!
Pares redox: (O2/H2O; NO3-/NO2-)

Pares redox: ( NO3-/NO2-; NAD+/NADH)

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7.5) O fluxo de elétrons na reação de oxi-redução da respiração aeróbia da glicose C6H12O6 + 6O2
→ 6CO2 + 6H2O ocorre de forma gradual. Assim, esta reação pode ser desmembrada em várias
outras reações parciais. Estas reações parciais podem ser escritas utilizando os seguintes pares
redox:
O2/H2O; CO2/C6H12O6 ; NAD+/NADH.
Responda às seguintes questões:
a) Escreva as reações que caracterizam as etapas desta oxirredução:
Via glicolítica: _________________________________________________
Descarboxilação do ácido pirúvico: _________________________________
Ciclo de Krebs: ________________________________________________
Somatório das etapas que ocorrem no citoplasma: _____________________________
Cadeia transportadora de elétrons ________________________________
b) Classifique cada uma das reações parciais acima como espontâneas ou não espontâneas;

7.6) Faça um esquema simplificado de uma célula bacteriana, representando a membrana


plasmática e a parede celular. Esta bactéria realiza respiração aeróbia a partir da glicose.
Esquematize o que se pede:
a) A reação de oxirredução que resume as etapas que ocorrem no citoplasma e a equação de
oxirredução que resume as etapas que ocorrem na membrana plasmática;
b) O processo de conservação de energia associado à etapa que ocorre no citoplasma e
aquele associado à etapa que ocorre na membrana plasmática;
c) Os processos que gastam energia conservada no citoplasma e os processos que gastam
energia conservada na membrana plasmática.

7.7) Analise as reações abaixo, as quais resumem as cadeias transportadoras de elétrons de 3


microrganismos diferentes e responda:
a) Qual é a classificação destes metabolismos quanto à fonte de energia e quanto ao aceptor
final de elétrons;
b) Consultando a tabela de potenciais redox fornecida, ordene os microganismos em ordem
crescente de rendimento energético das cadeias transportadoras de elétrons;
c) Indique qual (quais) tipo(s) de fosforilação (fosforilações) permite(m) a cada
microrganismo conservar energia na forma de ATP.
Microrganismo 1: Fe 3+ + NADH + H+ → Fe2+ + NAD+
Microrganismo 2: Fe 2+ + O2 → Fe 3+ + H2O
Microrganismo 3: NADH + H+ + O2 → NAD+ + H2O

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7.8) Conceitue e diferencie (considerando a fonte de energia):
Respiração X Fermentação;
Quimioorganotrofia X Quimiolitotrofia;
Respiração aeróbia X Respiração anaeróbia.

7.9) Desenhe, simplificadamente, as células bacterianas listadas abaixo, representando a membrana


plasmática e a parede celular. Em cada uma das células, escreva o resumo das reações de oxi-
redução, os processos que conservam energia, e aqueles que gastam energia no citoplasma e na
membrana plasmática. Cada uma das bactérias obtem energia da seguinte forma:
a) Respiração anaeróbia a partir da glicose, utilizando nitrato como aceptor final de elétrons;
b) Fermentação a partir da glicose, sendo o ácido lático o produto final (fermtação lática);
c) Quimiolitotrofia, tendo como fonte de energia o Fe2+, e O2 como aceptor final de elétrons;
d) Quimiolitotrofia, tendo como fonte de energia o H2, e o O2 como aceptor final de elétrons;

7.10) Preencha a tabela abaixo, sobre os mecanismos que permitem a formação de um gradiente
iônico em bactérias:
Tipo de Metabolismo Processo que permite a formação de um gradiente de íons

Respiração

Fermentação

Quimiolitotrofia

7.11) Represente, nas células do exercício 7.9, os mecanismos que permitem a formação de
coenzimas reduzidas (Ex.: NADH + H+) em cada bacteria indicada.

7.12) Preencha a tabela abaixo, sobre os mecanismos que permitem a formação de coenzimas
reduzidas em bactérias:

Tipo de Metabolismo Etapa onde são geradas Mecanismo


coenzimas reduzidas

Respiração

Fermentação

Quimiolitotrofia ( Fe2+)

Quimiolitotrofia (H2)

_______________________________________________________________________________

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8. REFERÊNCIAS CONSULTADAS:

MADIGAN, M. T., MARTINKO, J. M., PARKER, J. Brock Biology of microrganisms. 10 ed.


London: Prentice Hall, 2003. 1019 p.

NELSON, D. L., COX, M. M. Lenhinger Principles of biochemistry. 4. ed. New York: W. H.


Freeman and Company, 2005, 1119 p.

PELCZAR, M. J. Jr. , CHAN, E. C. S., KRIEG, N. R. Microbiology Concepts and Applications. .


McGraw-Hill, New York, 1993. 896 p.

SYLVIA, D. M., HARTEL, P. G., FURHRMANN, J. J., ZUBERER, D. A. Principles and


Applications of Soil Microbiology. 2. ed. New Jersey, Pearson, 2005, 640 p.

TORTORA, G. J., FUNKE, B. R., CASE, C. L. Microbiologia. 6. ed. Porto Alegre,1998. 827 p.

WHITE, D. The Physiology and biochemistry of prokaryotes. 2. ed. New York: Oxford University
Press, 2000, 565 p.

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