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A SIGNIFICAÇÃO DO DESENHO INFANTIL E A PERCEPÇÃO DO

PROFESSOR1
Laís Fernandes de Araújo*
Helenice Maria Tavares**

RESUMO
Os professores da educação infantil conseguem perceber o real sentido dos desenhos das
crianças, desenvolvendo assim uma prática docente diferenciada sobre a significação dos
rabiscos para a vida escolar infantil? Promovendo uma melhor compreensão sobre o desenho
e sua evolução no processo de desenvolvimento infantil. Mediante pesquisa bibliográfica
evidenciou-se que o papel do desenho na construção da significação visa a atuação do
professor que é fundamental no processo de aprendizagem, zelando pela condição de
liberdade de expressão, pois a prática do educador está intimamente ligada ao fracasso ou
sucesso da atividade.

Palavras-chave: Educação Infantil. Desenho. Percepção do Professor. Significação.

Os professores da educação infantil não conseguem perceber o real sentido dos


desenhos infantis e sua importante característica de representar mais o que a criança sabe ou o
vê do mundo, interrompendo assim uma conversa com o exterior de forma abrupta,
desvalorizando o conhecimento que a mesma já tem ou adquiriu ao longo do processo de
construção de aprendizagem.
Presenciamos na prática o desconhecimento dessa fase importante para a criança que é
o desenho infantil, ela apropria-se desse tipo de linguagem para se comunicar com o mundo,
revelando assim as suas expectativas e curiosidades, pois é fato que o desenho é uma das
linguagens mais utilizadas pelas crianças ao longo de trajetória escolar e não escolar também.
Este trabalho tem por objetivo, promover uma melhor compreensão sobre o desenho e
suas evoluções no processo de desenvolvimento infantil, contribuir para a construção do seu
conceito e significação no processo cognitivo, reforçar o papel do desenho para o
desenvolvimento infantil, evidenciar a importância da atuação do educador no apoio ao
processo de ensino aprendizagem.
Para a elaboração deste usou-se pesquisa bibliográfica que se caracteriza por:

1
Trabalho apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de Licenciatura em Pedagogia da
Faculdade Católica de Uberlândia.
*
Graduanda em Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia. E-mail:
laisfdaraujo@hotmail.com.
**
Professora orientadora do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia. E-mail:
tavareshm@netsite.com.br.
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos. Embora que em quase todos os estudos seja
exibido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas a partir de fontes
bibliográficas. (GIL, 1999, p. 65).

Para refletirmos sobre as propostas curriculares e pedagógicas para a Educação


Infantil faz-se necessário compreender historicamente as diferentes representações da
infância.
Segundo Oliveira (2002) educação pré-escolar institucionalizou na Europa em
decorrência das transformações sociais, políticas e econômicas ocorridas, que resultaram na
intensificação da urbanização e inserção da mulher no mercado de trabalho gerando a
necessidade de instituições com objetivos de assistir a criança, ou seja, com caráter
assistencialista.
Passados alguns séculos, foi criado na Alemanha, o jardim de infância, que
fundamentou pela primeira vez a idéia de educação, posteriormente a pré-escola se expandiu
dos Estados Unidos para o mundo até chegar ao Brasil.
A autora ressalta que, os primeiros jardins de infância eram públicos, mas antes disso,
já haviam surgido no Rio de Janeiro e São Paulo sob iniciativas privadas; eles apresentavam
caráter educativo e assistencialista que logo fora substituído pela função compensatória, que
veio fortalecer a crença que a pré-escola era capaz de suprir as carências, deficiências
culturais, lingüísticas e afetivas das crianças de classe econômica baixa.
Nas décadas de 70 e 80, o Brasil intensificou seu processo de industrialização que
consequentemente ampliou a participação da mulher no mercado de trabalho, possibilitando
assim um maior atendimento educacional na faixa etária de 4 a 6 anos de idade; e em seguida
na década de 80 ocorre a expansão na educação de 0 a 3 anos de idade.
Nesse período de redemocratização dos pais, o campo da educação ganha impulso
tanto em pesquisas, quanto no plano legal, com a promulgação da Constituição Federal de
1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB nº. 9394/96).
A Constituição Federal (BRASIL, 1988) passa então a reconhecer o dever do Estado e
o direito da criança a ser atendidas em creches e pré-escolas e vincula esse atendimento à área
educacional.
A partir da promulgação da LDB (BRASIL, 1996), a Educação Infantil se
institucionaliza passando a fazer parte do currículo escolar da Educação Básica, juntamente
com o Ensino Fundamental e Ensino Médio, desligando-se das secretarias de assistência
social e atrelando-se às secretarias de educação municipais.
De acordo com BRASIL (1996), a Educação Infantil constitui a primeira etapa da
Educação Básica e tem como promover o desenvolvimento integral da criança ate seis anos de
idade. Isso significa construir um conjunto de conhecimentos que abrange tanto os aspectos
físicos e biológicos quanto emocionais, afetivos, cognitivos e sociais de cada criança,
considerando que ela é um completo, singular e único.

Art. 29 A Educação Infantil primeira etapa da Educação Básica tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança ate seis anos de idade, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social complementando a ação da família e comunidade.
Art. 30 A educação Infantil será oferecida em:
I- Creches, ou entidades equivalentes, para crianças de ate três anos de idade.
II- Pré-escolas para as crianças de quatro a seis anos de idade.
Art.31 Na escola infantil a avaliação faz-se necessário mediante acompanhamento mediante
registros do seu desenvolvimento sem o objetivo de promoção mesmo para o acesso ao ensino
fundamental. (BRASIL, 1996, p.26).

É válido ressaltar também que a que a criança tem seus direitos resguardados
legalmente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente que garante a ela o direito de conviver
no seio familiar com total assistência básica: saúde, educação, lazer dentre outros para que
assim se desenvolva plenamente em seus aspectos social psicológico e cognitivo.

Art. 53 A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de


sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-
lhe: ·.
I – Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II – Direito de ser respeitado pelos seus educadores;
III - Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares
superiores:
IV – Direito de organização e participação em entidades estudantis:
V – Acesso a escola publica e gratuita próximo de sua residência. (BRASIL, 1990, p.21).

Nessa perspectiva o sistema de ensino encontra-se em plena fase de transição, seja em


relação ao atendimento às crianças, como em relação à definição da identidade desta etapa da
educação básica sendo que nos últimos anos, educadores, profissionais de diversas áreas tem
buscado formas criativas e alternativas de tratar a Educação Infantil no Brasil, levando-se em
conta a multiplicidade própria da sociedade brasileira.
A Educação Infantil assume certas especificidades que lhe conferem um caráter ímpar
em, sobretudo no que se refere à organização dos conteúdos próprios dessa fase.
Nesse emaranhado de especialidades está a necessidade de se ampliar nas crianças à
compreensão do mundo de um lado e de outro a missão de promover sua formação pessoal e
social, a partir do desenvolvimento da identidade e autonomia, além das noções de musica,
artes visuais e movimento. (BRASIL, 1998b)
As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentidos a sensações,
sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos,
ainda presentes em seu dia-a-dia da criança de forma bem simples como rabiscar e desenhar
no chão, na areia, no muro, na parede, utilizando materiais diversos que expressam a
linguagem, importantíssima para a expressão e comunicação humana, justificando assim, sua
presença na educação geral e em particular na Educação Infantil.

O trabalho com crianças da Educação Infantil (zero a seis anos de idade) deve levar em conta o
processo de aprendizagem que se realiza de acordo com as fases de desenvolvimento da
criança. Contudo , é bom lembrar que cada criança é única , com identidade própria e um ritmo
singular de desenvolvimento.
Portanto alem de levar em conta o processo de maturação da criança e o modo geral e suas
características individuais, é preciso propor situações que a incentivem à conquista devagar de
autonomia e da individualidade em seus diversos contextos. (BRASIL, 1998a, p.33).

O Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil. (RCNEI) sugere a prática das


artes visuais, seja abordada fazendo parte do cotidiano infantil, pois este saber artístico de
crianças pequenas está repleto de concepções e idéias que revelam valores, emoções,
sentimentos e significações sobre si e sobre o mundo ao seu redor, adquirindo assim caráter
ainda mais precisos, envolvendo os aspectos cognitivos, afetivos, intuitivos sensíveis e
estéticos, desenvolvendo assim pré-requisitos importantíssimos para o desenvolvimento da
aprendizagem, pensamento, imaginação, sensibilidade, intuição e percepção. (BRASIL,
1998b)
Ou seja, o processo de criação artística ao mesmo tempo em que contribuem para a
formação intelectual da criança, promove o aperfeiçoamento do seu domínio corporal,
desenvolve o seu processo de expressão e comunicação favorecendo o relacionamento inter-
pessoal tornando-a mais participativa e flexível.
Considerando um ato exclusivo autônomo e espontâneo da criança o processo de
criação pode ser significativamente enriquecido pela ação dirigida do professor, pois o mesmo
deve promover e valorizar a interação da criança tendo em vista que tal processo amplia o
desenvolvimento gradativo das capacidades associado as quatro competências básicas: falar,
escutar, ler e escrever.
Embora a proposta curricular continue norteando o trabalho da maioria dos
professores, não e difícil encontrar educadores e professores alienados de seu contexto
histórico e social.
Hoje o conceito de arte segundo Ferraz e Fusari (1993) tem sido objeto de diferentes
interpretações: arte como técnica, matérias artísticos; lazer, processo intuitivo, liberação de
impulsos reprimidos, expressão; linguagem e comunicação.
Porém a arte apresenta-se como produção, trabalho, construção e, portanto uma
representação do meio com significado, imaginação e interpretação; é conhecimento do
mundo, é também expressão dos sentimentos, energia interna, efusão que se expressa que se
manifesta que simboliza.
Segundo Ferraz e Fusari (1993) a educação através da Arte é na verdade um
movimento educativo e cultural que busca a constituição de um ser completo, total, dentro dos
moldes do pensamento idealista e democrático, valorizando no ser humano, os aspectos
intelectuais, morais e estéticos.
Porém a prática da educação artística não e desenvolvida corretamente, pois necessita
de todo um processo de aprendizagem e desenvolvimento do educando envolvendo aspectos
pedagógicos, ideológicos e filosóficos que marcam o ensino aprendizado e pode auxiliar o
professor no processo de formação e construção do aluno.
Moreira (1984) aponta que o desenho e uma possibilidade de conhecer a criança
através de uma outra linguagem e que o ato de desenhar não é visto como possibilidade de se
conhecer, recuperar o ser poético que é a criança. Será possível quando os professores se
perceberem como pessoas capazes de viver o estranhamento, que é o ser da poesia quando o
professor descobrir nele mesmo o prazer da criação, entendendo então que desenho é o traço
que a criança faz no papel ou em qualquer superfície.
A criança antes de aprender a ler e escrever, desenhar para comunicar suas sensações,
sentimentos, pensamentos, ou seja, é uma manifestação semiótica, onde a forma das quais as
atribuições da significação se expressa e se constrói.
A evolução do desenho compartilha o processo de desenvolvimento, passando por
etapas que caracterizam a maneira da criança se situar no mundo.
Segundo Piaget (1971), a forma de uma criança conhecer o objeto, passa por
significativas transformações em sua evolução no processo de adaptação ao meio que se dá
por sucessivos movimentos de equilibrações.
Inicialmente predomina a ação nas relações com o objeto denominado de período
sensório motor. Já o período simbólico se caracteriza pelo desenvolvimento da capacidade de
representação em diferentes manifestações seja ela de imitação, imagem mental, desenho e
linguagem verbal.
O desenho surge no período simbólico e evolui em conjunto com o desenvolvimento
da cognição, semelhante ao brincar, que se caracteriza pelo exercício da ação.
Ele é precedido pela garatuja, fase inicial do grafismo, que passa a ser conceituado
como tal a partir do reconhecimento pela criança de um objetivo no traçado que realizou.
Outras condições do desenho são destacadas por Vygotsky (1988). Uma delas é
relativa ao domínio do ato motor, pois o desenho é o registro do gesto constituindo passagem
deste a imagem. Tal característica é referente à percepção da possibilidade de representar
graficamente, configurando o desenho como precursor da escrita.
Vygotsky (1988) comenta a existência de certo grau de abstração, na atitude da criança
que desenha, ao liberar conteúdos da sua memória. Reconhece o papel da fala nesse processo
afirmando que a linguagem verbal é a base da linguagem gráfica constituída pelo desenho
afirma que: [...]os esquemas que caracterizam os primeiros desenhos infantis lembram
conceitos verbais que comunicam somente os aspectos essenciais dos objetos”. (Vygotsky,
1988, p.127).
Embora focalizando diferentes aspectos do desenho, as concepções dos dois autores, a
saber, Piaget (1971) considerando o sujeito do ponto de vista epistemico e Vygotsky (1988)
contemplando-o do ponto de vista social; se aproximam em relação à importância do desenho
no processo de desenvolvimento da criança e a característica de que ela desenha o que a
interessa, representando o que sabe do objeto.
È válido esclarecer que o desenho é a primeira forma que a criança se comunica com o
mundo, pois é no papel que ela estabelece pontos de comunicação e expressa gosto, medos,
anseios e angustias.
Lowenfeld (1977) ressalta a importância do desenho para o desenvolvimento para a
criança, seja como veículo de auto expressão ou como de desenvolvimento da capacidade
criativa e representativa.
É, pois indiscutível a importância da imagem visual para a criança , pois é através dela
que a mesma estimula sua imaginação e externa no papel sua leitura de mundo, e os
significados que realmente tal acontecimento tem para a seu dia a dia .
Derdyk (1989) salienta o poder da imagem visual. O desenho como forma de
pensamento, propicia oportunidade de que o mundo interior se confronte com o exterior, a
observação do real se depare com a imaginação e o desejo de significar. Assim memória,
imaginação e observação se encontram, passado e futuro convergindo para o registro da ação
no presente. Como pensamento visual, o desenho é o estimulo para exploração do universo
imaginário.
A autora ressalta que o desenhar envolve diferentes operações mentais como;
simbolizar e representar, tendo em vista o desenvolvimento cognitivo da criança e
relacionando-a com as pessoas que a circundam e com o espaço em que habita.
[...] ao desenhar a criança esta inter-relacionando seu conhecimento objetivo e seu
conhecimento imaginativo. (PILLAR, 1996, p.51). Expressando sua necessidade de
comunicação com o objeto que acabou de conhecer e com o seu imaginário, sendo este
importantíssimo para seu desenvolvimento cognitivo.
Moreira (1984) salienta a necessidade do respeito ao desenho infantil, não apenas pelo
espaço de liberdade de expressão que constitui, como também pela sua condição de
linguagem, tendo em vista o papel do desenho no processo de desenvolvimento humano.
A interpretação do desenho da criança depende do olhar do interprete, pois o desenho
é o lugar provável, do indeterminado, das significações, configurando assim um espaço
fundamental do mundo infantil, onde o mesmo deve ser considerado não apenas como
modalidade de expressão ou de representação da realidade, mas também como resultado de
atividades intencionais envolvendo aspectos cognitivos e emotivos, em seu ajuste à realidade
com a qual convive.
Enfim a ampliação da compreensão e da valorização do desenho espontâneo infantil
evidencia a importância da atividade de desenhar para a elaboração conceitual dos objetivos e
eventos feitos pelas crianças; o papel do desenho na construção da significação e no
desenvolvimento.
À atuação do educador é fundamental no apoio ao processo, zelando, pela condição de
liberdade fundamental na preservação do espaço do desenho infantil importante não só para o
desenvolvimento cognitivo, como a criatividade e expressão pessoal.
O desenho infantil é uma importante esfera de atividades simbólicas que envolvem
aspectos cognitivos, motores e sócias, sendo assim cabe as equipes de educadores das escolas
e redes de ensino realizar um trabalho de qualidade a fim de que as crianças gostem de
aprender arte e consequentemente desenho.
Compete aos centros de formação de professores investirem em projetos de pesquisa
continua, para que os professores sejam os protagonistas de praticas atualizadas em sala de
aula.
Acredita-se que a arte promove o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos
necessários a diversas áreas de estudo; pois sabe-se que ela é uma forma ancestral de
manifestação, favorecendo a participação do sujeito na interação com o meio cultural.
Portanto não se deve privar o aluno em formação desse conhecimento e negar o que
lhe é direito, o papel dos professores é importante para que os alunos aprendam a fazer arte e
desperte o gosto ao longo da vida, que nasce também da qualidade da medição que os
professores realizam entre os aprendizes e a arte. Ação esta que envolve aspectos cognitivos e
afetivos que passam pela relação professor/aluno e aluno/aluno estendendo se por todo o tipo
de relação que se articulam no ambiente escolar.
O ideal seria que o professor tivesse a sensibilidade de observação sobre a qualidade
do vínculo de cada um de seus alunos nos atos de aprendizagem sendo que os mesmos
aprendam por interesse e curiosidade e não por pressão externa.
Um professor que entra em sintonia com as formas de vinculação de cada estudante, se
torna mais apto a instigar o aluno e atribuir o significado ao desenho e a arte; resolve
problemas no fazer artístico e propõe questões com suas poéticas, pessoais, desenvolvendo
critérios de gosto e valor em sua atividade. A consciência de si como alguém capaz de
aprender e uma representação que pode ser construída ou destruída na sala de aula.
Dai a enorme responsabilidade dos professores, quando a criança fala , escreve ou faz
seus trabalhos de desenho porque geralmente é ele que valida as produções, atribuindo-lhes
qualidades na orientação, incentivando os esforços nos processos de construção de saberes
cognitivos, procedimentais ou atitudinais, e nas combinações desses tipos de saberes.
O interesse para com os desenhos infantis é uma resposta direta pois eles possuem um
encontro de novidades, simplicidade, fonte de puro prazer, são bonitos de ver e podem ser
encarados como expressão da nossa procura de ordem em um mundo complexo, sendo sem
dúvida mais naturais que imitativos, pois emergem de dentro.
Acredita-se que os desenhos infantis contam muito, por debaixo da superfície,
considerados indicativos dos aspectos gerais do desenvolvimento e habilidade humana.
Verifica-se que os desenhos podem nos dar informações não só sobre as crianças, mas
também sobre a natureza do pensamento e a resolução de problemas entre crianças e adultos.
Evidencia-se, portanto que o que nossa cultura está preocupada com as palavras, pois
sabe-se que a compreensão sobre a natureza da ação está sendo deixada de lado, e que
nenhum desenho é uma gravação automática de um qualquer mundo perceptual ou como
sendo indiferente à importância da orientação.
Observa-se então, que o que a criança vê ou entende, é por certo um importante
componente, na ação de desenhar, que precisa ser compreendido mais profundamente, pois o
desenvolvimento e a aprendizagem estão inter-relacionados desde o nascimento.
A linguagem visual na Educação Infantil requer profunda atenção no que diz respeito
ás peculiaridades e esquemas de conhecimentos próprios, de acordo com a faixa etária e nível
de desenvolvimento. Os símbolos representam o mundo à partir das relações que as crianças
estabelecem consigo e com as outras pessoas. O desenvolvimento do desenho merece
destaque no fazer artístico e na construção das demais linguagens visuais .
O desenho constitui uma linguagem que possui vocabulário e sintaxe próprio e é assim
que a criança cria e recria individualmente formas expressivas integrando percepção,
imaginação, reflexão e sensibilidade pois está intimamente ligado ao desenvolvimento da
escrita .
O ato de desenhar possui habilidades de brincar, falar, registrar e marcar o
desenvolvimento da infância, inserindo assim concepções que oscilam entre dois pólos: de um
lado a atividade gráfica destituída de valor educacional, desvinculada de qualquer contexto
significativo empregada para acalmar a criança ou distraí-la; e de outro lado a extrema
mecanização do desenho que deve ser ensinado, dirigido, treinado, para aprimorar a
coordenação precepto-motora ou outra área do desenvolvimento.
O papel atribuído ao adulto varia também no meio escolar, podendo ser visto como
algo nocivo e prejudicial ao desenvolvimento da criança.
O desenho é portanto uma possibilidade de conhecer a criança através de uma outra
língua, o ato de desenhar não é visto apenas como possibilidade de se conhecer , pois antes de
saber escrever a criança desenha para comunicar suas sensações, sentimentos, pensamentos,
realidade e para justificar suas idéias.
Torna-se indiscutível então, a importância que o desenho infantil tem no
desenvolvimento da criança, pois é através dele que temos manifestações semióticas, das
quais as funções de atribuição da significação se expressa e se constrói.
O que a criança expressa enquanto desenha é importante, por que ela registra ,
imagina, relacionando sua experiência vivida, pois os desenhos materializam as imagens
mentais do que a criança conhece e tem registrado na memória com a contribuição da
imaginação.
A evolução do desenho compartilha o processo de desenvolvimento passando por
etapas que caracterizam a maneira da criança se situar no mundo. Acredita-se que a forma
dela conhecer o objeto, passa por expressivas transformações em sua evolução e por esta
razão existe varias etapas, que analisa o desenho e suas implicações relativas à escolarização,
salientam a necessidade do respeito ao desenho infantil, não apenas pelo espaço de liberdade e
de expressão contribuindo também pela sua significação e condição de linguagem.
À interpretação do desenho da criança depende do olhar do interprete, pois o desenho
infantil é o lugar do improvável e indeterminado das significações, daí a importância da
atuação do educador no apoio ao processo, zelando pela condição de liberdade de expressão e
sustentação do direito de manifestar.

Considerações Finais

Torna-se importante destacar o papel do desenho no desenvolvimento da criança pela


sua própria constituição, que tem características particulares e que o distingue de outras
formas de expressão.
O desenho se caracteriza enquanto imagem visual pela sua globalidade, e possibilidade
de percepção, sendo que o signo visual é icônico e imediato, podendo ser visto como uma
linguagem privilegiada, pois permite o exercício relativamente mais livre de construção da
forma, estabelecendo relação entre significado e significante.
Esta perspectiva possibilita a compreensão da valorização do desenho infantil e nos
mostra a importância da atividade de desenhar.
Evidencia-se o papel do desenho na construção da significação tendo em vista à
atuação do professor, que é fundamental no processo zelando pela condição de liberdade de
expressão, pois a prática do educador está intimamente ligada ao fracasso ou sucesso da
atividade.
È valido ressaltar que cada desenho externa naquele momento a comunicação da
criança com o meio, seja ele familiar ou educacional, pois varias crianças não conseguem
falar e se expressam através dos desenhos, e nós professores ainda não conseguimos fazer esta
leitura apurada do desenho infantil que nos atribui percepção e significação do mundo infantil
A criança é simbolista e seu desenho expressa a necessidade de significar, sendo o
meio de comunicação /interação da criança com seu modo de pensar, pois acredita-se que o
desenho infantil revela a autonomia e evidencia os traças da época em que ela vive.
A expressão infantil é constituída de elementos cognitivos e afetivos, sendo assim
desde de pequenas as crianças desenvolvem linguagem própria traduzida em signos e
símbolos carregados de significação subjetiva e social, e que devem ser respeitadas e
reconhecidas, visto que seus rabiscos são extensões de seus gestos primordiais, um ato
criador, resultado de ato expressivo que evidencia o seu desenvolvimento e expressão do seu
eu e do seu mundo.
Enfim o compromisso dos educadores deve ser o de adequar o seu trabalho para o
desenvolvimento das expressões e percepções infantis, buscando aprimorar as potencialidades
das crianças.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Ministério da Educação e da Cultura. Secretaria de Educação Fundamental.


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Brasília: MEC/SEF, 1990.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Lei de


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BRASIL. Ministério da Educação e da Cultura. Secretaria de Educação Fundamental.


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BRASIL, Ministério da Educação e da Cultura. Secretaria de Educação Fundamental.


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