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A INFORMAÇÃO E A SUSTENTABILIDADE DA
MINERAÇÃO NA AMAZÔNIA: UM BANCO DE DADOS
SÓCIO-ECONÔMICO E AMBIENTAL
Resumo
A região amazônica tornou-se atualmente a última fronteira mineral. Essa região, contudo,
é social e ambientalmente sensível, pelas particularidades do ecossistema que abriga e pela
sua história de ocupação territorial. A elaboração do banco de dados sócio-econômico e
ambiental – SUSTEMIN, que consiste em um sistema de informações georreferenciadas,
está inserido no âmbito de um projeto maior do Centro de Tecnologia Mineral - CETEM e
é a primeira etapa para viabilizar a execução do projeto nomeado Desafios da
Sustentabilidade da Mineração na Amazônia Brasileira. O presente trabalho mostra como
foi elaborado o banco de dados e, a partir de sua utilização, a elaboração das análises e a
confecção dos mapas que possibilitam visualizar questões relevantes que trarão subsídios
importantes para os gestores de política da área mineral.
1. Introdução
2. Desenvolvimento
A integração de diversas fontes de dados disponíveis foi feita através da sobreposição dos
diversos temas existentes nas fontes de dados selecionadas, de forma a facilitar a busca
conjunta de informações de diferentes origens.
1
Linha de pesquisa do CME – Coordenação de Metalurgia Extrativa, sob a coordenação da pesquisadora
Maria Laura Barreto
2
SGBD – Sistema Gerenciador de Bases de Dados - relacional representa os dados geográficos armazenados
como atributos numéricos em tabelas. Cada ponto é representados por um par de coordenadas x-y (cada um
numa coluna separada) e cada arco é guardado como referêrncia a dois pontos (o inicial e o final) in Camara,
Gilberto Revista InfoGeo 12, 2000
Os dados coletados se encontravam , originalmente, nos mais diferentes formatos: base de
dados nos formato Access e DBase, projetos ArcView/ArcExplorer, Intergraph, MGE/Vista
Map, planilhas Excel, arquivos de imagens, etc. Todos eles foram convertidos para um
formato uniforme na base de dados do SUSTEMIN.
Do DNPM obteve-se:
• Controle de Áreas de Mineração (Cadastro Mineiro), em formato Microsoft Access,
com diversas informações sobre processos relacionados às poligonais de mineração,
características de áreas especiais, histórico das poligonais de mineração, análise de
interferência entre poligonais de mineração e tipos de substâncias
Do IPEA obteve-se:
• PIB municipal nos anos de 1970, 1975, 1980, 1985, 1990 e 1996 dos seguintes estados:
Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Acre, Maranhão e Tocantins (incluindo
os valores das áreas mínimas comparáveis em relação ao ano de 1996).
Do PNUD/IPEA/FJP obteve-se:
Algumas variáveis foram apenas indicadas na concepção do banco, ficando para a próxima
etapa a sua incorporação, como por exemplo: os dados sócio-econômicos referentes a
malha municipal de 2000, ainda não disponíveis pelo IBGE, assim como os mesmos dados
referentes a malha de 1992, que exigirá um tempo maior de coleta de dados nas diversas
instituições.
3 – O projeto da base de dados3 teve como premissa possuir um formato único e flexível,
para todos os dados, facilitando a entrada de novas variáveis e a conversão para outros
formatos que se façam necessários. A estrutura do banco de dados está baseada nas
seguintes entidades (vide anexo: projeto lógico – diagrama de entidades e relacionamentos)
• Município e as malhas municipais – para se ter uma perspectiva temporal, ou seja,
séries temporais e análises de evolução, levou-se em conta que a formação dos
municípios brasileiros é alterada de tempos em tempos, essas diversas configurações
são chamadas de malhas municipais. Todos os dados colhidos dos municípios,
presentes no sistema, devem fazer parte da malha que estava vigente na época da coleta
de dados. Atualmente, a base engloba 3 malhas: de 1989 até 1992, de 1993 até 1996 e
de 1997 até 2000.
• Polígonos – esta entidade representa os polígonos aos quais todos os dados devem estar
associados, e pode representar um município, ou apenas uma região (como uma área de
preservação ambiental)
• Temas – representa os diversos temas dos quais os dados pesquisados fazem parte. São
eles: Mineração, Sócio-economia e Ambiente.
4 – Para a importação dos dados, foi necessário criar dois programas. O primeiro para a
importação das malhas municipais e de fontes de dados de forma genérica4 e o segundo
para a importação dos dados do cadastro mineiro do DNPM, para esses, por serem dados
que possuem um formato muito diferente dos demais, foi feito um módulo separado de
importação dos dados.
A tela principal, a seguir, possibilita a escolha da área geográfica a ser gerada, podendo ser
um retângulo qualquer marcado no mapa, um município identificado, todos os municípios
de um estado, ou de todos os estados da região.
3
o banco de dados SUSTEMIN foi desenvolvido pela Solucionar Informática & Sistemas
4
nesse caso os dados importados estão sempre relacionados a alguma malha municipal (a malha varia
dependendo do ano)
A terceira tela chamada é a tela de seleção de temas e das variáveis que serão incluídos no
arquivo gerado. Nessa tela são apresentados, em um primeiro nível, os grupos de temas e
em segundo os temas propriamente ditos e em terceiro as variáveis pertencentes ao tema.
3. Resultados
As pressões para o uso dos recursos naturais da Amazônia foram baseadas em diretrizes de
ocupação territorial, através de políticas públicas que incentivaram a imigração de grandes
contingentes populacionais para a região e garantiam a implantação de núcleos oficiais de
colonização e assentamento ao longo das grandes rodovias que, ao cortarem o interior da
Amazônia, asseguravam a proteção de ricos pólos minerais estratégicos .
5
Trabalho apresentado por Elen Araújo de Barcellos na X Jornada de Iniciação Cientifica – CETEM, julho
2002 sob orientação de Maria Helena Rocha Lima
De acordo com o PRODES - Projeto de Estimativa do Desflorestamento da Amazônia-,
aproximadamente 75% do desflorestamento se concentra em uma porção limitada e
específica da região que passou a ser conhecida como Arco do Desflorestamento, devido a
grande intensidade dos desmates nos Estados do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Pará.
Estes foram os Estados que receberam incentivos fiscais e creditícios, além de
investimentos em rodovias associadas aos grandes projetos de colonização, inclusive os de
mineração.
Concluiu-se, através dos mapas gerados com o SUSTEMIN (vide anexo), que o
desflorestamento da região tem sido causado basicamente pelas atividades agropecuárias.
Pode-se observar nos mapas, que a agricultura e a pecuária ocupam uma grande extensão
na região e que existe a expectativa de crescimento futuro para ambas atividades, o que
trará uma pressão maior nas áreas ainda não incorporadas.
Não existe uma correlação direta das áreas mineradoras com as áreas mais afetadas pelo
desflorestamento, portanto, os impactos ambientais e o desflorestamento relacionados a
mineração são geograficamente concentrados e atingem a área próxima a atividade de
extração mineral. Efeitos existem, entretanto que, não podem ser considerados diretos e sim
indiretos. A implantação de um pólo minerador pode propiciar um crescimento
populacional na região, que necessitará de novas áreas para o cultivo. É nesse processo de
incorporação de novas áreas que irão se efetivar os impactos indiretos, os quais são bem
mais difíceis de serem analisados e que devem ser objeto de novos e futuros estudos.
Outro trabalho6 gerado com as informações levantadas com o Banco de Dados SUSTEMIN
foi o Impacto da Arrecadação da Compensação Financeira sobre a Exploração Mineral
no PIB dos Municípios do Estado do Pará.
6
Trabalho apresentado por Maria Helena Rocha Lina no VII Simpósio de Geologia da Amazônia, novembro
2001, Belem - Pará
significativa, da atividade econômica da mineração, ou seja, se existe uma relação entre
essa arrecadação e o PIB municipal.
O Produto Interno Bruto – PIB - municipal é uma medida da riqueza gerada no município e
o CFEM, mais que ser uma devolução em forma de recursos financeiros para a comunidade
local pela exploração de sua riqueza mineral, é considerado como parte do valor agregado
da economia do município no período de um ano. Portanto, o presente trabalho considera o
CFEM uma referência indireta da produção mineral na renda municipal.
A conclusão mais interessante é que os municípios que pagam quantias mais elevadas de
CFEM não são os que tem maior PIB. Os municípios de Parauapebas (Província de
Carajás), Oriximiná (bauxita), Ipixuna do Pará (caulim) e Almeirim (bauxita) são aqueles
que recebem maior Compensação Financeira e, no entanto, estão entre as duas faixas mais
baixa do PIB entre os municípios do estado.
O impacto positivo da atividade mineral no estado do Pará, como o aumento da renda das
comunidades locais, pode ser questionada a partir destes dados. Constata-se que, mesmo
considerando que toda a arrecadação (e não somente os 65% devidos ao município) tenha
sido aplicada em projetos de melhoria da infra-estrutura, conforme estabelecido em lei, não
existe evidência empírica que essa arrecadação tenha gerado resultados positivos no PIB
municipal.
4. Conclusão
LIMA, Maria Helena Rocha. A questão ambiental do Projeto Ferro Carajás. São Paulo:
Universidade Estadual de Campinas, 1997.
SMITH, N.J; ALVIM, P.T; SERRÃO, E. A. .S; FALESI, I.C. AMAZÔNIA. In: Regions at
Risk: Comparisons of Threatened Environments. New York: Ed. Kaperson, J.X., 1995.
VEIGA, A. Tadeu C.; VEIGA, Marcelo M. Uma proposta para reabilitação de áreas
garimpadas na Amazônia. In: Cierre de Minas: Experiencia en Iberoamerica. Roberto
Villas Bôas e Maria Laura Barreto. Rio de Janeiro: CYTED/IMAAC/UNIDO, 2000.
VERGOLINO, J.R.; GOMES, G.M.; NETO, A..M. Produtos Internos Bruto dos
Municípios Brasileiros. In:Texto para Discussão- IPEA, Rio de Janeiro, 2000