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Aula 03
Principais Modelos de Gestão de Estoques
Objetivos Específicos
• Aplicar técnicas de gestão de estoques;
• Relacionar as vantagens e desvantagens de cada técnica.
Temas
Introdução
1 Modelos de gestão de estoques
Considerações finais
Referências
Professora
Carolina Schmitt Nunes
Gestão de Estoques e Sistema de Embalagens
Introdução
Qual a melhor forma para gerenciar os estoques de uma organização? Com a evolução das
pesquisas na área de administração, logística, produção e da disponibilização de informações
sobre as organizações, atualmente, é possível conhecer experiências bem-sucedidas e práticas
não tão bem-sucedidas assim (é importante ressaltar que aprende-se muito com os erros) de
organizações que adotaram determinados modos de gerir seus estoques.
Gerenciar os estoques de uma organização é uma tarefa complexa e extensa, que exige
planejamento, organização e controle de recursos materiais, financeiros e humanos, por
parte dos gestores e dos envolvidos nesse processo. Garcia et al. (2006) explicam que muitas
empresas ainda negligenciam essa atividade por acreditarem que ela não é estratégica para a
organização, porém, há outras que já perceberam a importância e as vantagens competitivas
que podem ser obtidas através da gestão de estoques e que estão considerando os estoques
em toda a cadeia de suprimentos.
Com relação à escolha de qual modelo a empresa deve adotar, Wanke (2008, p. 11)
afirma que “[…] a escolha/implementação do modelo de estoques mais adequado é uma
decisão de base empírica e que pode envolver o uso de simulações, análises de cenários,
análises de custos incrementais ou esquemas conceituais qualitativos.” Ou seja, é necessário
conhecer e analisar profundamente as características da organização, bem como o cenário no
qual ela está inserida, como havia assinalado anteriormente por Garcia et al. (2006).
Diante disso, serão apresentados alguns dos modelos mais populares. É importante
salientar que esses não são os únicos, tampouco os mais recomendados, por isso a importância
de conhecer o ambiente da empresa e adaptar os modelos a eles.
O Just in Time (JIT) tem sua origem no Japão, após Segunda Guerra Mundial. Esse sistema
nasceu das ideias de Taiichi Ohno e Shigeo Shingo na empresa Toyota Motor Company, por
isso esse sistema também é conhecido como Sistema Toyota de Produção (GARCIA et al.,
2006).
1 A produção ocidental baseada em Taylor e Fayol é o modelo clássico de administração. Nesse modelo, os aspectos mais marcantes são: a
especialização e a divisão do trabalho. Esse modelo considera a empresa um sistema fechado.
É importante destacar que o Just in Time não se refere unicamente a estoques, tampouco
à produção, ele é um sistema amplo que engloba todas as áreas da empresa, desde os recursos
humanos até lay-out da fábrica (GARCIA et al., 2006). O sistema pode ser considerado mais
do que um sistema, pode ser considerado uma filosofia, pois exige uma mudança de postura
de toda a organização, demandando além de mudanças estruturais, mudanças na cultura da
organização. A filosofia JIT é baseada na eliminação de desperdícios e na melhoria contínua.
De acordo com Pozo (2010), o JIT gera, em longo prazo, com a redução e eliminação dos
desperdícios, um processo tão dinâmico e eficiente que se torna uma vantagem competitiva.
A empresa se diferencia por ter produtos de qualidade e um tempo de resposta rápido
ao consumidor, aumentando assim sua participação no mercado. Além disso, de acordo
com Taylor (2005), em curto prazo, é possível obter uma redução de custos de estoques e
obsolescência e ainda aumentar os lucros.
O JIT é caracterizado por ser um sistema puxado de produção, ou seja, a demanda gerada
pelo cliente é que dará início ao fluxo de produção. Nesse sistema, o fluxo de materiais tem
relevância maior que a formação de estoques. A Figura 1 a seguir apresenta a diferença entre
o sistema puxado e o sistema empurrado. Destaca-se que, no sistema puxado, a demanda do
cliente é que determina o quanto deve ser produzido. Nesse sentido, é relevante assinalar
que o JIT significa “em tempo certo”, e isso se refere ao produto pronto para cliente, como
também a chegada do material no momento exato em que são necessários para o início da
próxima operação (TAYLOR, 2005).
O JIT tem como meta a eliminação de qualquer desperdício, Garcia et al. (2006) explicam
que os desperdícios estão classificados em sete categorias: de superprodução, de espera, de
transporte, de processamento, de movimentação, de elaboração de itens defeituosos e de
estoques. É oportuno destacar que, para a Toyota (apud POZO, 2010, p. 117), o desperdício
significa “[…] qualquer quantidade maior que o mínimo necessário de equipamentos,
materiais, componentes e tempo de trabalho absolutamente essencial à produção.”
Especificamente relativos aos estoques, o JIT considera que atuam como uma forma de
marcar ineficiências. A Figura 2 ilustra esse pressuposto. Os estoques seriam como a água
que protege o barco das pedras (que são as ineficiências). Por exemplo, um alto nível de
estoque manteria a linha de produção funcionando, caso algum dos fornecedores atrasassem
as entregas, da mesma forma, se houver uma máquina quebrada, a entrega está garantida
pelo alto nível de estoques. Ou seja, o estoque acoberta os problemas, a ideia do JIT é reduzir
os estoques para que a ineficiência apareça e seja eliminada (GARCIA et al., 2006).
O Kanban faz uso de dois tipos de cartões coloridos: o Kanban de produção, que tem por
função acionar a fabricação de um lote em um centro de trabalho; e o Kanban de transporte,
que dispara a transferência de itens de um centro de trabalho para outro. O Kanban é
considerado um sistema visual, pois são utilizados os cartões em três cores: verde, amarelo e
vermelho, para indicar a situação das peças. A cor verde significada que a produção está em
condições normais de operação; a cor amarela significa que se deve ficar atento para o fluxo;
e o vermelho significa que a situação é de urgência.
Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados 6
Gestão de Estoques e Sistema de Embalagens
Figura 3 – Exemplo de Kanban em um dos processos de produção da fábrica Alpargatas – Campina Grande
materiais que são enviados pelos fornecedores. O uso do Kanban gerou informações mais
claras e precisas sobre o que estava sendo produzido (PORTO, 1995).
No caso Hering, os funcionários declararam que a adoção do JIT exigiu mais atenção e
concentração por sua parte, o que, na opinião deles, significava um esforço maior no trabalho.
Porém, paradoxalmente, esses mesmos funcionários declararam estarem mais satisfeitos
com a nova forma de trabalho. Isso pode ser entendido pelo fato deles terem um nível maior
de responsabilidade e se sentirem envolvidos em todo o processo. Estudos mundiais revelam
que é comum isso acontecer em empresas que adotam o JIT (PORTO, 1995).
Em organizações onde a demanda dos produtos que ela fabrica são sazonais ou incerta,
o JIT não é indicado, pois pode acabar gerando falta de produto e perdas de venda. Isso
acontece porque seria necessário que a manufatura tivesse uma capacidade de produção
muito maior para manter os estoques em baixos níveis (GARCIA et al., 2006). Além disso,
seria necessário ter a garantia de conseguir as matérias-primas necessárias em tempo hábil
e a preço justo.
Uma outra situação em que o JIT não é indicado é para organizações que fabricam
muitos produtos diferentes com componentes diferentes. É preciso considerar a aderência do
sistema ao ambiente de negócio da organização. Isso significa dizer que há condições externas
que a empresa não consegue controlar, por exemplo: a JIT preconiza lotes de ressuprimento
pequenos, mas isso pode elevar o custo logístico global caso a empresa não consiga reduzir o
valor dos fretes (GARCIA et al., 2006).
Outro ponto central do sistema JIT é a valorização e qualificação das pessoas que
trabalham na empresa e seu envolvimento nas atividades da organização. O JIT só irá funcionar
se cada colaborador da empresa, do chão de fábrica até o diretor, estiver engajado no esforço
de eliminar os desperdícios e na resolução efetiva de problemas (POZO, 2010).
De acordo com Disney, Naim e Potter (2002), o VMI é caracterizado pelo acordo entre
dois membros de uma cadeia de suprimentos, no qual os clientes dão informações sobre
inventário e vendas aos fabricantes e os autorizam (e os responsabilizam) pelo ressuprimento
de seus materiais. Assim, os clientes não enviam ordens de compra aos seus fornecedores,
pois confiam e acreditam que estes vão entregar as quantidades suficientes de estoques para
atender às suas necessidades. Pires (2004) enfatiza que esse sistema pode ser entendido
como uma evolução ou ainda uma nova versão da prática de estoque consignado, agora
contextualizada em um ambiente de negócios mais colaborativo e com a utilização de
tecnologias da informação.
seu espaço físico, em contrapartida, deve disponibilizar todas as suas informações de vendas
para o fabricante.
O mercado de fraldas descartáveis, nos Estados Unidos, crescia em média 3,8% ao ano
na década de 1980, chegando ao faturamento de aproximadamente 4 bilhões de dólares, um
cenário otimista para a então líder desse segmento, a P&G. No entanto, as marcas regionais
e as marcas próprias (aquelas que são fabricadas especialmente para uma grande rede
varejista e seguem especificações dessa rede, como embalagem, tamanhos e tipos) estavam
avançando e conquistando maiores fatias do mercado consumidor de fraldas, chegando a
ocupar 22% do mercado norte-americano e com um preço até 15% menor do que as fraldas
descartáveis similares da P&G.
Para o fabricante, o impacto dessa prática se refletiu nas vendas, que passaram a ser em
lotes maiores e irregulares, o que os obrigou a manter altos níveis de estoque. Além disso,
a dificuldade em realizar previsões de demanda e as polpudas comissões recebidas pelos
vendedores elevavam o custo de manufatura do produto.
Os resultados desse teste foram tão positivos que a P&G expandiu o VMI para outros
clientes e produtos, visto que, atualmente, ele é amplamente utilizado na cadeia varejista. Os
principais resultados positivos foram a significativa redução dos custos de estoque, a melhoria
no nível de serviço aos consumidores, especialmente através da diminuição das taxas de falta
de estoque e a redução de custo com mão de obra para o varejista, pois não havia mais a
necessidade de tantas pessoas no controle de estoque e no setor de compras.
Considerações finais
Nesta aula, foram apresentados dois sistemas que são utilizados mundialmente para
o gerenciamento de estoques. São eles: Just in Time e Vendor Managed Inventory. Há,
na literatura, muitos trabalhos que abordam esses sistemas, seus pontos fracos e fortes
e suas adaptações. É importante destacar que eles não são os únicos, tampouco os mais
recomendáveis para qualquer contexto. No entanto, os dois citados apresentam relevância e
notoriedade na administração da produção, com muitos casos de sucesso.
Referências
ALVAREZ-BALLESTEROS, Maria Esmeralda. Administração da qualidade e produtividade:
abordagens do processo administrativo, São Paulo: Atlas, 2001.
DISNEY, Stephen Michael; NAIM, Mohamed Mohamed; POTTER, Andrew. Assessing the impact
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<http://www.edicomgroup.com/pt_BR/solutions/CRP/software/CRP-Flow/operating>. Acesso
em: 4 abr. 2015.
FREITAS, Rafael Paradella. Controle de Estoque de Peças de Reposição: Revisão Da Literatura
E Um Estudo De Caso. 2008. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Pontifícia
Universidade Católica Do Rio De Janeiro – PUC-RIO, Rio de Janeiro, 2008.
GARCIA, Eduardo Saggioro et al. Gestão de estoques: otimizando a logística e a cadeia de
suprimentos. São Paulo: E-PAPERS, 2006.
GOUNET, Thomas. Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel. São Paulo: Boitempo,
1999. p. 23-29
GUEDES, Débora Barbosa. A aplicabilidade do Kanban e suas vantagens enquanto ferramenta
de produção numa indústria calçadista da Paraíba. XXX Encontro Nacional de Engenharia de
Produção. São Carlos, São Paulo. 2010.
NOVAES. Antônio Galvão. Logística e Gerenciamento da cadeia de distribuição. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2007.
PIRES, Silvio Roberto Ignacio. Gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Management):
Conceitos, Estratégias, Práticas e Casos. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2004.