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Auto da Barca do Inferno , de Gil Vicente

S íntese
Cena do Fidalgo
O Fidalgo, D. Anrique, é a primeira personagem a entrar em cena e traz consigo um pajem (criado) que
segura uma cadeira. O Fidalgo pertence à Nobreza e, por isso, pensa que não vai para o Inferno. Além de se
considerar superior aos outros pelo estatuto social, o Fidalgo, altivo, acha que a sua mulher e a amante rezam
pela sua alma, de forma que pode ir para o Céu.
O Fidalgo demonstra arrependimento por acreditar que o seu estatuto social seria sinónimo de salvação
e o Diabo zomba dele. O Fidalgo é humilhado pelo Diabo e, por fim, resigna-se à sua sorte, e entra na barca do
Diabo. O pajem, que transporta a cadeira, é mandado embora pelo Diabo.

Cena do Onzeneiro
A segunda personagem a entrar em cena é o Onzeneiro, que viveu a sua vida a amealhar dinheiro à
custa dos outros, emprestando dinheiro com um juro excessivo (11% - onzena). O Diabo quer que ele entre
desde logo na sua barca, mas o Onzeneiro, recusando, dirige-se à barca da Glória.
Na barca da Glória, o Onzeneiro é repelido pelo Anjo que o acusa de cobiça e de ganância. De facto, o
Onzeneiro traz uma bolsa tão grande que quase não cabe na barca, mas diz estar vazia. Pede ao Diabo que o
deixe voltar à terra para ir buscar um dinheiro que deixou escondido e o Diabo obriga-o a embarcar.

Cena do Parvo
A terceira personagem a entrar é o Parvo, chamado Joane, que insulta o Diabo, quando este o convida
a entrar na barca. Por ser uma personagem simples e ingénua, que não se pode responsabilizar pelos seus
actos, o Anjo promete levá-lo para o Paraíso e manda-o aguardar no cais.

Cena do Sapateiro
O Sapateiro, João Antão, é a quarta personagem a apresentar-se no cais, com o seu avental e
carregado de formas de sapatos. Como passou a vida a roubar o povo em solas e cabedais é condenado à
barca do Inferno pelo Diabo. Uma vez que se confessou e comungou, ouviu missas, deu esmolas e assistiu a
funerais tenta a salvação junto do Anjo. Rejeitado pelo Anjo, não tendo alternativa, o Sapateiro entra na Barca do
Diabo.

Cena do Frade
O Frade Babriel é a quinta personagem e entra em cena a cantar, trazendo consigo uma moça,
Florença, sua amante. O Frade está convencido que vai para o Paraíso e que será perdoado graças á sua
condição de frade. Por baixo do hábito, o Frade traz o traje de esgrimista e faz uma demonstração ao Diabo para
mostrar que é bom praticante da modalidade. Depois d lição de esgrima, o Frade, acompanhado da amante,
dirige-se à arca do Anjo que o ignora e reprova de tal forma que nem sequer lhe dirige a palavra. É o Parvo que
denuncia a sua vida e pecado e de libertinagem.
Sem mais alternativas, conformado, o Frade e a sua amante entram na barca do Inferno.

Cena da Alcoviteira
A Alcoviteira Brízida Vaz é a sexta personagem a entrar em cena e, embora tenha vivido da prostituição
de moças, altiva perante o Diabo, acha-se digna de ir para o Céu. A Alcoviteira considera-se um mártir por ter
sido vítima de perseguição por parte da Justiça (açoitada), argumenta que fez “cousas mui divinas”, que
“forneceu” as moças para os sacerdotes, orientou-as para arranjarem maridos ou amantes, refere que
“converteu” mais moças do que Santa Úrsula, de forma que acha meritória do Céu. O discurso argumentativo da
Alcoviteira perante o Anjo, pejado de palavras carinhosas também não convence. Depois da condenação do
Anjo, resignada, Brízida Vaz entra na barca do Diabo.

Cena do Judeu
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A sétima personagem a entrar em cena é um Judeu que traz um bode às costas. O Judeu,
provavelmente chamado Semah Fará, dirige-se directamente à barca do Diabo, com o objectivo de comprar a
passagem para ele e o bode. Como é fanático da religião – o judaísmo – nem sequer se dirige à barca da Glória.
O Diabo recebe-o com desprezo, ao contrário da satisfação com que recebeu os outros passageiros, e
não o quer deixar entrar na barca. Depois da discussão sobre o embarque do bode, Joane denuncia os seus
pecados – a violação de sepulturas cristãs, o consumo de carne em dias de jejum. O Diabo acaba por permitir
que ambos se desloquem a reboque da barca – “ireis à toa”.

Cena do Corregedor e do Procurador


O Corregedor chega ao cais carregado de processos jurídicos e com a vara na mão. O Diabo acusa-o
de imparcialidade, malícia, corrupção e exploração de lavradores ingénuos.
O Corregedor defende-se, argumentando que um juiz não pode ser condenado e que era a sua mulher
quem recebia os subornos.
Entretanto, o Procurador, carregado de livros, chega também ao cais e encontra o Corregedor.
O Procurador, cúmplice do Corregedor na prática fraudulenta da Justiça, é também condenado pelo
Diabo.
O Procurador, em conversa com o Corregedor, afirma não se ter confessado, pois não considerava a
hipótese de morrer repentinamente.
O Corregedor diz ter-se confessado antes de morrer, mas omitindo alguns pecados para não ter de
devolver o dinheiro roubado.
Ambos se dirigem à barca da Glória para tentar a salvação, mas o Anjo condena-os e o Parvo denuncia
a sua desonestidade.
A cena termina com uma discussão entre o Corregedor e Brízida Vaz.

Cena do Enforcado
O Enforcado, com a corda ao pescoço, é a décima personagem a chegar ao cais e a dirigir-se ao batel
do Diabo. De imediato, o Diabo dá-lhe as boas vindas e pergunta-lhe o que disse Garcia Moniz, um possível
tesoureiro da Casa da Moeda de Lisboa. Ora, o Enforcado foi convencido por Garcia Moniz de que a morte na
forca era uma forma de purificação dos pecados e que a prisão era o lugar dos escolhidos, de “santa gente”.
Assim, o Enforcado acreditou que iria para o Paraíso.
Desenganado e desiludido pelo Diabo, resta-lhe entrar na barca do Inferno.

Cena dos Quatro Cavaleiros


Quatro cavaleiros, trazendo a cruz de Cristo, entram a cantar no cais e dirigem-se à barca da Glória.
Ao passar em frente da barca do Inferno, o Diabo, confuso com a indiferença dos Cavaleiros, manda-os
entrar na sua barca. Os Cavaleiros, com arrogância, afirmam que quem morre em nome de Jesus Cristo, não
entra na barca do Inferno.
Na sua barca, o Anjo já esperava os mártires da Igreja que refere merecerem “paz eternal”. O Auto
termina com os cavaleiros a embarcar rumo ao Paraíso.

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