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DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

Patrick de Almeida Affonso Ciampi

DIREITOS HUMANOS

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Direitos Humanos

Observações iniciais: na prova geralmente são 05 questões de Direitos Humanos e a banca


examinadora, neste concurso para Delegado – MG, tem a tendência natural de cobrar,
principalmente: terminologia, parte histórica e princípios.

AULA 01

BLOCO 01
I - Diferença entre Direitos do Homem, Direitos Fundamentais e Direitos Humanos.
Direitos do Homem: direitos inerentes à condição humana, que independem de qualquer
positivação jurídica. São direitos naturais (jus naturale). Ex: direito à vida.
Direitos Fundamentais: têm positivação na ordem jurídica interna. Ex: direito fundamental à
vida (art. 5º, caput, Constituição Federal)
Direitos Humanos: têm positivação jurídica na ordem jurídica externa. Ex: direito humano à
vida (Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de San Jose da Costa Rica).
II – Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, III, CF)
Possui um duplo eixo/função: é unificadora e é hermenêutica.
É unificadora porque ela é o eixo axiológico/valorativo de todo o ordenamento jurídico, de toda
a constituição.
É hermenêutica porque interpreta e limita o direito.
III – Diferença entre “gerações”, “dimensões”, ou “famílias” de Direitos Humanos.
Tratam-se do mesmo tema, são sinônimos nos Direitos Humanos e representam a mesma coisa.
“Gerações” é o termo que ainda é o mais utilizado em provas, mas que começa a entrar em
desuso porque vem sendo substituído pelo termo “dimensões”, o qual é mais moderno,
conceitualmente falando. Já “famílias” é um termo que surgiu após a 2ª Guerra Mundial (1945),
uma vez que em tal época o mundo precisava se reconstruir baseado nos ideias de fraternidade
e solidariedade, direitos de 3ª geração.
As gerações mais consagradas que caem em 90% das provas são as 1ª, 2ª, e 3ª.
Macete: fazer paralelo com a Revolução Francesa, a qual possuía como sua base a tríade:
liberdade, igualdade e fraternidade.
Direitos Humanos de 1ª geração: direitos de liberdade;

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Direitos Humanos de 2ª geração: direitos de igualdade;
Direitos Humanos 3ª geração: direitos de fraternidade.
- Direitos Humanos de 1ª geração, dimensão ou família: passagem do Estado Absolutista (o
Estado reinava soberano) para o Estado Liberal (indivíduo alçando seu protagonismo). É o não
fazer estatal, no qual o Estado se abstém (nada faz, não age), é a consagração das chamadas
liberdades negativas e também da igualdade formal (ou “de papel” / “perante a lei”). Ex’s: vida,
liberdade, propriedade, voto.
Três grandes berços das tratativas sobre Direitos Humanos: Estados Unidos, Inglaterra e França.
Logo, tem-se três documentos importantes que consagraram os direitos de 1ª geração.
Nos Estados Unidos, foi a Declaração do (Bom) Povo da Virgínia – 1776.
Na Inglaterra, foi a Magna Carta – 1215. Entretanto, este documento abordou os direitos de
forma rudimentar. Assim, foi-se criado posteriormente, um outro documento para aperfeiçoar
e consagrar com maior peso os direitos de 1ª geração: o Bill of Rights – 1689.
Na França, foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – 1789.
No Brasil, foram duas grandes constituições: a do Império - 1824 e a da Republica – 1891.
- Direitos Humanos de 2ª geração/dimensão/família: surgiram por volta do Século XX. São os
direitos relacionados à igualdade. Para que essa igualdade possa ser promovida, o indivíduo
não mais reina soberano. O estado precisa conferir ao indivíduo mecanismos/meios para que
ele possa brilhar com seus direitos. É o fazer estatal, o Estado deve atuar/agir para garantir os
direitos do indivíduo. Liberdades são positivas. A igualdade é material (ou “de fato”). Ex´s:
direitos relacionados ao trabalho, lazer, saúde, educação.
Também há aqui três importantes documentos na esfera internacional acerca dos direitos de 2ª
geração: Na Alemanha, a Constituição de Weimar – 1919; o tratado de Versalhes – 1919, que
colocou fim à 1ª Guerra Mundial e a Constituição Mexicana – 1917.
No Brasil, teve a constituição da Era Vargas – 1934.
- Direitos Humanos de 3ª geração/dimensão/família: surgiram após a 2 guerra mundial. São os
direitos de fraternidade/solidariedade, direitos de titularidade difusa e coletiva (titularidade
colocada a todos, indistintamente, independentemente de qualquer condição). Ex’s: direito ao
meio ambiente digno/sustentável, à paz.

BLOCO 02
Documento de grande importância que consagrou, na esfera internacional, os direitos de 3ª
geração: a Declaração Universal dos Direitos Humanos – 1948 (Atenção! Pegadinha: na prova
costuma aparecer o ano de 1945, que foi o da criação da ONU. Não confunda!).
Por ter natureza jurídica de resolução da Assembleia Geral da ONU, a DUDH é, logicamente,
posterior à criação da própria ONU.
No Brasil, teve a Constituição de 1946 e, atualmente, tem-se a Constituição de 1988.

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- Direitos Humanos de 4ª geração/dimensão/família: direitos de modernidade e de globalização.
Ex’s: bioética, biodireito. Surgiram com a necessidade da atualização das condutas sociais.
- Direitos Humanos de 5ª geração/dimensão/família: paz universal e segurança internacional.
Obs: Na definição de Karel Vasak, tem-se o direito à paz como sendo de 3ª geração. Já na
definição de Paulo Bonavides, o direito à paz está na 5ª geração. Para saber diferenciar, se na
questão vier o conceito “paz universal”, será de 5ª geração. Por outro lado, sempre que o
conceito vier isolado, somente “paz” (no contexto de 2ª Guerra Mundial), será a definição
clássica, portanto, será direito de 3ª geração.
IV – Características dos Direitos Humanos / Direitos Fundamentais
1) Relatividade: para o STF, todos os Direitos Humanos / Fundamentais são relativos,
porque, no caso concreto, poderão ser mitigados, sopesados, equilibrados. Logo, a
contrario sensu, nenhum desses direitos é absoluto.
Por outro lado, na Declaração dos Direitos Humanos, há dois direitos que são
considerados absolutos: vedação à tortura e vedação à escravidão/tráfico de escravos.

2) Universalidade: tem que ser observada sob um duplo prisma. Os D.H. e os D.F. são
universais por dois motivos: por todos serem seus titulares e por darem ideia de dupla
proteção ao indivíduo (o indivíduo tem a garantia de que, se o seu direito não for
assegurado na ordem jurídica interna, ele poderá contar com mecanismos da ordem
jurídica externa para assegurá-lo. Ex’s: Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH), Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH).

3) Complementariedade: os direitos se complementam, um precisa se socorrer do outro.


Por isso a expressão “dimensões” é mais adequada do que “gerações”, embora sejam a
mesma coisa e ambas estão corretas.

4) Historicidade: são históricos porque refletem as transformações sociais, tendo em vista


que os novos direitos, que surgem com o passar do tempo, precisam ser tutelados.

5) Indisponibilidade ou Inalienabilidade: significa a ausência de conteúdo econômico


dos D.H e D.F.

6) Essencialidade: tais direitos são essenciais para o exercício de uma vida digna,
saudável, feliz, próspera.

7) Imprescritibilidade: não se perdem pelo decurso do tempo. O que pode haver é uma
perda das garantias processuais relativas aos D.H. e aos D.F., por um prazo estabelecido
em lei.

8) Irrenunciabilidade: em regra, são irrenunciáveis, não se pode dispor de seus direitos.


O que é permitido é uma mitigação/sopesamento dessa irrenunciabilidade, podendo um
direito, no caso concreto, ser renunciado temporariamente para que outro seja alçado.
Ex: Big Brother Brasil, no qual uma pessoa que se inscreve e assina o contrato renuncia
a uma série de direitos, como a vida privada, honra, imagem.

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9) Inexauribilidade: são inexauríveis. Existe uma fonte inesgotável de direitos, uma vez
que a sociedade está mudando constantemente e, com essa mudança, novos direitos vão
surgindo, os quais precisam ser devidamente tutelados e garantidos.

10) Vedação ao retrocesso: as conquistas já alcançadas pelo ser humano face ao estado não
podem retroceder. Tal característica esbarra na reserva do possível, uma vez que a
mesma pode ser invocada pelo Estado, por razões de ordem orgânica/financeira, para
justificar o não atendimento/a não tutela a um direito. O Estado, entretanto, não pode
invocá-la para violar direitos.

BLOCO 03
V – Eficácia dos Direitos Fundamentais: diferenciação entre eficácia vertical, horizontal
e diagonal
Quando os Direitos Fundamentais foram delineados, eles vieram justamente para
tutela/proteger as relações existentes entre Estado e indivíduo. Por isso, a tutela/proteção desses
direitos veio para evitar abusos por parte do Estado nessa relação de absoluta desigualdade com
o indivíduo.
Eficácia vertical: relação entre Estado e particular.
Eficácia horizontal: relação entre particulares.
Eficácia diagonal: entre dois particulares, mas que tende a ser desigual por conta da natureza
da relação (ex’s: relações trabalhistas e de consumo).
VI – Distinção entre direitos e garantias
Os direitos são normas declaratórias.
As garantias são normas assecuratórias (asseguram os direitos).
VII – Direitos Fundamentais em espécie
Segundo o art. 5º, caput, CF, todos são titulares dos Direitos Fundamentais.
Tal artigo, em seu caput, apresenta 05 direitos:
Vida
Liberdade
Igualdade
Segurança
Propriedade

MACETE: VLISP

Muito embora o art. 5º, caput, CF diga que tais direitos são destinados aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país, o STF afirma que não se restringem somente a eles, sendo
estendido a todos. (ex: estrangeiro sem residência e por passagem no país pode impetrar Habeas

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Corpus. Por outro lado, não pode propor Ação Popular, pois a sua titularidade é do cidadão e o
estrangeiro é inalistável).

Outros Direitos Fundamentais de importância relevante:

- Liberdade de expressão (e, consequentemente, seu direito de resposta): a Constituição veda o


anonimato (Atenção! Pegadinha: na prova costuma vir a expressão “inclusive o anonimato”,
o que está errado.) Ademais, não se pode atingir a esfera de outros direitos e, por isso, há certas
limitações, como por exemplo, os crimes contra a honra.

O STF entendeu que a “marcha da maconha” está dentro da legalidade e que a mesma, inclusive,
garante dois direitos: liberdade meio (direito de reunião) e liberdade fim (direito à liberdade de
expressão).

- Liberdade de consciência e crença: não pode ser invocada para violar um direito. Pode invocá-
la para deixar de fazer alguma coisa, desde que aquilo não esteja assegurado e
necessitado/demandado por lei.

Questões polêmicas que costumam cair em prova: A) Colocação de crucifixos em órgãos


públicos  STF permitiu, uma vez que entendeu que tal fato é muito mais uma manifestação
cultural do que religiosa propriamente dita. B) Expressão “sob a proteção de Deus” no
preâmbulo da Constituição  STF também decidiu por permitir, afirmando que tal termo, por
si só, não fere a laicização do Estado.

- Liberdade de locomoção: Atenção! Pegadinha: lembrar que deve constar a expressão “em
tempos de paz”. Geralmente o examinador a suprime, o que torna incorreta a assertiva.

- Inviolabilidade domiciliar: a Constituição diz que a casa é asilo inviolável do indivíduo,


ninguém nela podendo penetrar sem o consentimento do morador, salvo exceções, quais sejam:
flagrante delito, desastre, prestação de socorro ou durante o dia, com autorização judicial.

Para definir o conceito de casa, o STJ usa a seguinte expressão: “todo compartimento sem
acesso irrestrito ao público” (ou seja, com acesso restrito).

É necessário compreender até onde esse conceito de casa se estende. Seria somente aquele lugar
tradicional onde moramos (com quarto, cozinha, banheiro)? A grande discussão acerca deste
tema é quanto à busca em veículos automotores e em boleias (cabine de comando) de
caminhões.

Em regra, a busca veicular se equipara à busca pessoal. Portanto, não há necessidade de


autorização judicial, não sendo necessário o respeito à cláusula de reserva de jurisdição.

Com relação à boleia de caminhão, a jurisprudência possui dois entendimentos:

 Para o STJ, está consolidado o entendimento de que a boleia não pode ser equiparada
à casa, uma vez que o caminhoneiro não tem o animus definitivo de residência na mesma

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e pelo fato de que o caminhão é considerado instrumento de trabalho. Portanto, se uma
pistola for encontrada em uma boleia de caminhão, para o STJ, será porte ilegal de arma
de fogo.

 Para o STF, a questão não está pacificada. Houve uma situação pontual/isolada em que
o STF entendeu que a boleia, naquele caso, seria casa e que, por isso, o revólver lá
encontrado configuraria em posse ilegal de arma de fogo.

BLOCO 04
Para os crimes permanentes, há necessidade de respeito à cláusula de reserva de jurisdição, ou
seja, é preciso solicitar autorização ao poder judiciário para, por exemplo, adentrar em uma
residência? NÃO, pois neste caso aplicam-se as regras do flagrante.

- Privacidade: uma questão importante que tem caído em provas recentemente é com relação à
transferência de sigilo da órbita bancária para a órbita fiscal (art. 6º, Lei Complementar
105/2001). Em regra, no tocante ao sigilo bancário e ao sigilo fiscal, deve-se respeito e
obediência à cláusula de reserva de jurisdição, sendo necessário que o poder judiciário autorize
para que esses dados sejam revelados.

Já a transferência do sigilo da órbita bancária para a órbita fiscal consiste em situação distinta.
Exemplo: determinado dado e seu sigilo estão na instituição financeira e aí vem o Fisco e
solicita o mesmo diretamente ao banco. Neste caso, o STF entendeu que não existe a
necessidade de respeito à clausula de reserva de jurisdição, ou seja, não precisa pedir
autorização ao poder judiciário para que a instituição bancária possa repassar o dado ao Fisco.
Trata-se tão somente de transferência do sigilo da órbita bancária para a órbita fiscal.

VIII – Incorporação dos Tratados Internacionais ao ordenamento jurídico brasileiro

Os tratados internacionais gerais (não os sobre direitos humanos) são incorporados observando,
em regra, a paridade normativa com as leis ordinárias federais. Existem duas exceções à regra
da paridade normativa:

A) art. 98, CTN: “os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a


legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha”. Uma lei
ordinária pode não ser suficiente.

B) Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos (é o que irá cair na prova): podem ser
incorporados ao nosso ordenamento jurídico de duas maneiras:

1) Observando o procedimento previsto no art. 5º, §3º, CF (EC 45/04): “os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.” Caso isto
aconteça, este tratado receberá o status constitucional/de Emenda Constitucional.
São três os documentos que já foram incorporados ao nosso ordenamento jurídico

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com essa força de emenda constitucional / status constitucional: I) Convenção sobre
os direitos da Pessoa com Deficiência; II) Protocolo facultativo da Convenção sobre
os Direitos da Pessoa com Deficiência; III) Tratado de Marraqueche, que aborda a
questão do acesso a obras literárias pelas pessoas com algum tipo de deficiência
visual.

2) Status supralegal: abaixo da Constituição e acima da legislação. O Pacto de San José


da Costa Rica (Decreto 678/92) traz a questão do depositário infiel. A Constituição
Federal, em seu texto, prevê duas possibilidades de prisão civil: devedor inescusável
de alimentos e depositário infiel. Com a ratificação, pelo Brasil, do Pacto de San
José da Costa Rica, que veda qualquer tipo de prisão civil que não seja do devedor
inescusável de alimentos, surgiu um impasse para o STF. Assim, decidiu-se, em
nome do princípio pro homine (norma mais favorável ao ser humano), que o Pacto
de San José da Costa Rica teria o status supralegal. Portanto, atualmente no Brasil,
não há no que se falar na prisão civil do depositário infiel. Nesse sentido, tem-se a
Súmula Vinculante nº. 25: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que
seja a modalidade de depósito.”

IX - Fases ou Iter dos Tratados (caminho que os Tratados percorrem até produzir seus
efeitos na ordem jurídica interna e na ordem jurídica externa)

1ª fase: negociação + assinatura. A negociação é um primeiro sinal que o país dá informando


que aquele texto naquela forma agrada ao seu ordenamento jurídico. Já a competência para
assinar um Tratado Internacional é privativa do Presidente da República (art. 84, VIII, CF).
Portanto, significa dizer que o presidente pode repassá-la a terceiros, os quais são chamados de
plenipotenciários, sendo que estes são autoridades, geralmente diplomatas/ministros de estado,
que detém a Carta de Plenos Poderes (assinada pelo presidente e referendada pelo Ministro de
Relações Exteriores – espécie de procuração). Atenção! Pegadinha: na prova virá como sendo
competência exclusiva, o que está incorreto.

2ª fase: Referendo Congressual ou Parlamentar ou do Congresso Nacional. O Congresso irá


aprovar ou não o prosseguimento daquele tratado. Caso diga “não”, o tratado tem seu caminho
interrompido ali mesmo. Se disser “sim, podemos avançar”, existe a emissão de um decreto
legislativo. Esse decreto não obriga o Brasil ao cumprimento do tratado, seja na ordem externa,
seja na ordem interna. O Brasil só se obriga ao cumprimento daquelas tratativas, na esfera
internacional depois de ratificar o tratado (3ª fase.) No âmbito interno, somente após a 4ª fase,
com a promulgação e publicação.

3ª fase: ratificação. É de competência exclusiva do Presidente da República e, portanto, não


pode ser repassada a terceiros. A ratificação obedece os critérios de conveniência e
oportunidade. Atenção! Bizu’s de prova: A) Portanto, se na prova vier que “a ratificação se
pauta no princípio da discricionariedade”, estará correto. B) A ratificação produz os efeitos do
tratado somente na esfera internacional.

4ª fase: promulgação + publicação. É quando o Brasil se obriga a cumprir o tratado no âmbito


interno, quando um tratado internacional passa a produzir seus efeitos em nosso país.

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Dicas de prova:

 Incidente de deslocamento de competência / Federalização dos crimes contra os Direitos


Humanos (art. 109, §5º, CF)  Em caso de grave violação de direitos humanos, poderá ser
suscitado o deslocamento de competência, ou seja, a competência que era originária de
determinado órgão, não mais será.

Requisitos: I - grave violação de Direitos Humanos; II - o Procurador Geral da República - PGR


irá solicitar ao Superior Tribunal de Justiça - STJ o deslocamento de uma competência, que
originariamente seria da Justiça Estadual, para a Justiça Federal (Atenção! Pegadinha: na
prova irá vir como STF, o que está incorreto); tal fato poderá se dar em qualquer fase do
inquérito ou do processo. Esse deslocamento acontece porque a União (quem representa o
Brasil no âmbito internacional) é que vai assumir o papel de tutela dos Direitos Humanos.

 Direito de reunião  quaisquer pessoas podem se reunir desde que pacificamente, sem
armas, em locais abertos ao público, com AVISO ou COMUNICAÇÃO à autoridade
competente. Atenção! Pegadinha: na prova irá vir “autorização”, o que está errado.

BLOCO 05
X – Exercício

Questão 46 – (FUMARC – DELEGADO PCMG)


A Constituição da República de 1988 alargou significativamente o campo dos direitos e
garantias fundamentais, por isso é um marco jurídico da transição ao regime democrático
no Brasil. Nesse processo de transição, é acentuada, na Constituição, a preocupação em
assegurar os valores da dignidade e do bem-estar da pessoa humana, como imperativo de
justiça social. Não corrobora com o contexto acima, este entendimento o argumento:

a)
Os objetivos fundamentais do Estado brasileiro visam à concretização da democracia
econômica, social e cultural, a fim de efetivar na prática a dignidade da pessoa humana.

b)
Os direitos fundamentais, que têm como núcleo a dignidade da pessoa humana, são
elementos básicos para a realização do princípio democrático, tendo em vista que exercem
uma função democratizadora.

c)

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A Constituição traz a previsão expressa do valor da dignidade da pessoa humana como
imperativo da justiça social, mas que deve ceder frente à necessidade de se preservar a
ordem democrática.

d)
O valor da dignidade da pessoa humana impõe-se como núcleo básico e informador do
todo o ordenamento jurídico como critério e parâmetro que orienta a compreensão do
sistema constitucional.

Resposta: A dignidade da pessoa humana está sim prevista expressamente na Constituição


Federal (art. 1º, III) entretanto ela não se curva a absolutamente nada. Incorreta: Alternativa C.

AULA 02

BLOCO 01

I – Internacionalização dos Direitos Humanos


Existência de um conflito entre Direito Internacional Clássico (soberania dos Estados – Paz de
Vestfália) x Direito Internacional Contemporâneo (relativização da soberania – ideia de
responsabilizar o Estado que porventura violasse os Direitos Humanos).
1ª fase: metade do século XIX até 1945 (fim da II Guerra Mundial). Esta fase é marcada por
três momentos / “ondas” importantes:

1) Direito Humanitário – Convenção de Genebra (1864). É o direito vigente para tutelar as


relações durante o estado de guerra (se distingue dos Direitos Humanos, pois estes existem para
tutelar as relações em tempos de paz);

2) Luta contra a escravidão – Convenção de Bruxelas;

3) Regulação dos Direitos do Trabalhador Assalariado – veio com a criação da Organização


Internacional do Trabalho - OIT (1919).

2ª fase: após a II Guerra Mundial até os dias atuais - criação do Sistema Global de Proteção /
Sistema ONU. Foi criado em 1945 através da Carta da ONU / Carta de São Francisco, em um
momento em que os Estados precisavam se amparar para que conseguissem se reerguer após o
fim da II Guerra Mundial. O principal documento que surgiu por meio deste sistema é a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, datada de 1948, que não possui força cogente /
força obrigatória, não podendo vincular os países a cumprirem os seus termos, uma vez que é
uma Resolução da Assembleia Geral da ONU (natureza jurídica da DUDH). A DUDH somente
traz mera diretrizes aos Estados para indicar como eles devem se pautar daquele momento em

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diante, não possuindo o condão de obrigar por meio de sanções, o que acaba por consistir em
uma crítica que se faz a este documento.

E ainda há os Sistemas Regionais. É considerado um “desdobramento” da 2 ª fase, não chega a


ser uma 3ª fase. São três: Interamericano / Americano (de maior importância para o concurso),
Europeu e Africano.

O principal documento do Sistema Interamericano / Americano é a Convenção Americana


sobre Direitos Humanos = Pacto de San José da Costa Rica.

BLOCO 02
II – Órgãos e organismos da ONU
Existindo conflito entre a Carta da ONU e qualquer outro tratado internacional, sobrepõe-se os
dispositivos da carta, na esfera internacional. (Art. 103, Carta da ONU – “No caso de conflito
entre as obrigações dos Membros das Nações Unidas, em virtude da presente Carta e as
obrigações resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as obrigações
assumidas em virtude da presente Carta.”).
Diferença entre órgãos e organismos:
A ONU é composta por seis órgãos, os quais não têm personalidade jurídica própria.
1) Assembleia Geral: estão presentes os representantes de todos os Estados. As reuniões
acontecem uma vez ao ano e cada Estado tem direito a um voto. Lá os seus participantes
encontram-se em pé de igualdade, a “voz” de cada um dos Estados tem a mesma força.
É um órgão deliberativo.

2) Conselho de Segurança: é composto por 15 membros, sendo 5 permanentes e 10


rotativos (que alteram a cada 02 anos). Os membros permanentes são: Estados Unidos,
Rússia, China, Reino Unido e França. A vantagem de ser um membro permanente é ter
o direito ao veto, ou seja, significa que eles podem vetar/paralisar qualquer assunto na
esfera da ONU. Atenção! Bizu de prova: o Conselho de Segurança tem inclusive o
poder de decretar intervenção militar nos Estados, pois pretende manter dois princípios
básicos da ONU: paz e segurança internacional.

3) Conselho Econômico e Social: órgão no qual é discutido, por exemplo, novos projetos
relativos a direitos das mulheres/trabalhistas. Discussões acerca de como melhorar o
mundo. É composto por 54 membros, desenvolvendo pesquisas e trabalhos econômico-
sociais. Os 54 membros possuem um mandato de 03 anos e são eleitos pela Assembleia
Geral.

4) Conselho de Tutela: está em desuso desde 1994, com a independência do último


território internacional (Ilhas Palau, que eram dos Estados Unidos). Este órgão, que não
está extinto, fiscalizava/tutelava os locais que tinham a ingerência de terceiros, para
evitar que abusos acontecessem naquele Estado. É eleito pelo Conselho de Segurança e
pela Assembleia Geral. Os seus membros coincidem com os membros do Conselho de
Segurança (5 membros permanentes).
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5) Corte / Tribunal Internacional de Justiça (≠ de Tribunal Penal Internacional): não julga
pessoas em nenhuma hipótese, julga somente os Estados violadores. Sua sede é em Haia,
Países Baixos. Composto por 15 membros, eleitos pelo Conselho de Segurança e pela
Assembleia Geral, para um mandato de 09 anos. Não pode haver dois juízes de mesma
nacionalidade.

6) Secretariado: é o órgão burocrático/administrativo, que trata das questões corriqueiras


e triviais na ONU. Possui função de assessoria.
Já os organismos possuem personalidade jurídica própria e são aquelas instituições que tem
alguma relação/vinculação com a ONU, mas dela não dependem, sendo inclusive, muitas das
vezes, instituições prévias à própria ONU (Ex: Organização Internacional do Trabalho - OIT,
Organização Mundial da Saúde - OMS, Organização Mundial do Comércio – OMC).

III – Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) – natureza jurídica:


resolução da Assembleia Geral da ONU.
Ressalta-se, mais uma vez, que não possui força cogente/obrigatória.

BLOCO 03
Artigo I - Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados
de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.
Artigo II - Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos
nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião,
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou
qualquer outra condição. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição
política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate
de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra
limitação de soberania.
Artigo III - Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo IV - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de
escravos serão proibidos em todas as suas formas.
Artigo V - Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou
degradante.
Artigo VI - Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como
pessoa perante a lei.
Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção
da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

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Artigo VIII - Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes
remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos
pela constituição ou pela lei.
Artigo IX - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo X - Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência
por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou
do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.
Artigo XI – 1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido
inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento
público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2.
Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam
delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do
que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo XII - Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu
lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem
direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Artigo XIII – 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das
fronteiras de cada Estado. 2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive
o próprio, e a este regressar.
Artigo XIV – 1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar
asilo em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição
legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e
princípios das Nações Unidas.
Artigo XV - 1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente
privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.
Artigo XVI - 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça,
nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam
de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 2. O casamento não
será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes. 3. A família é o núcleo
natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.
Artigo XVII - Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2.
Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo XVIII - Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião;
este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa
religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou
coletivamente, em público ou em particular.
Artigo XIX - Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui
a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e
ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

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Artigo XX – 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica. 2.
Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo XXI – 1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país
diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Todo ser humano
tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base da
autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por
sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.
Artigo XXII - Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à
realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização
e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua
dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
Artigo XXIII - 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a
condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todo ser
humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Todo
ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure,
assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se
acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 4. Todo ser humano tem direito
a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.
Artigo XXIV - Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável
das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Artigo XXV - 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a
sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos
e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença,
invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias
fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais.
Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.
Artigo XXVI - 1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo
menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A
instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta
baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades
fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as
nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da
manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que
será ministrada a seus filhos.
Artigo XXVII - 1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da
comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios. 2.
Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de
qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.
Artigo XXVIII - Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os
direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

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Artigo XXIX - 1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno
desenvolvimento de sua personalidade é possível. 2. No exercício de seus direitos e liberdades,
todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com
o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de
satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade
democrática. 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos
contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XXX - Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o
reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade
ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui
estabelecidos.

BLOCO 04

IV – Pacto de San José da Costa Rica (1969)


Também chamado de Convenção Americana sobre Direitos Humanos, está inserido no sistema
interamericano / americano.
No brasil, só veio com o Decreto 678/92 (23 anos depois de sua criação).
 Dimensões de direitos que são tuteladas pelo Pacto: além dos direitos de 1ª
dimensão/geração/família, no art. 26, que traz normas programáticas, existe a expressa previsão
de tutela dos direitos de 2ª dimensão/geração/família:

DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS

Artigo 26. Desenvolvimento progressivo.

“Os Estados Partes comprometem-se a adotar providências, tanto no âmbito interno


como mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de
conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas
econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização
dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos
recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados”.
 A teoria concepcionista foi a adotada pelo Pacto de San José no tocante ao direito à vida. Ou
seja, significa dizer que o direito à vida, em regra, é tutelado desde a concepção. (Atenção!
Pegadinha: não é do nascimento).
A pena de morte é sim tutelada no Pacto de San José:
- nos Estados que já tiverem abolido a pena de morte, a mesma não poderá ser reestabelecida,
nem mesmo por força de poder constituinte originário;

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- nos Estados que ainda não aboliram existem regras a serem cumpridas, tais como: só poderá
ser aplicada por tribunal competente por força de sentença penal condenatória; deve-se respeitar
os princípios de anterioridade da lei penal e da legalidade; somente pode ser aplicada nos delitos
mais graves, de acordo com o ordenamento de cada Estado; para crimes políticos e seus conexos
é inaplicável; aos menores de 18 anos, não se pode nem impor (decretação da condenação) a
pena de morte, sendo que aquele que tem exatos de 18 anos pode ser condenado; quanto aos
maiores de 70 anos (Atenção! Pegadinha: não é 60 anos) também não se pode impor
(decretação da condenação) a pena de morte, sendo que aquele que tem exatos 70 anos já não
pode ser condenado; já quanto às mulheres grávidas, a pena de morte pode ser imposta, mas
não poderá ser aplicada (execução da pena em si) enquanto permanecer o estado gravídico. E,
ainda, tem-se que todo condenado à pena de morte tem o direito de pedir anistia, indulto ou
comutação de pena (Atenção! Pegadinha: na prova irá vir o termo “graça”, mas o mesmo não
está incluído nas possibilidades do que pode ser pedido), sendo que, enquanto perdurar a análise
deste pedido, o indivíduo não poderá ser executado.
Obs: as idades são consideradas do momento do cometimento do delito, e não do momento da
sentença.

Art. 4º, Direito à vida, Pacto de San José da Costa Rica:

“1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser
protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado
da vida arbitrariamente.

2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser
imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente
e em conformidade com lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito sido
cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique
atualmente.

3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.

4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos, nem
por delitos comuns conexos com delitos políticos.

5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração


do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado
de gravidez.

6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou


comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode executar
a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade
competente.”

Artigo 7º, Direito à liberdade pessoal, Pacto de San José da Costa Rica:

“1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.

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2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas
condições previamente fixadas pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas leis
de acordo com elas promulgadas.

3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários.

4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da sua detenção e
notificada, sem demora, da acusação ou acusações formuladas contra ela.

5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um
juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser
julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que
prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu
comparecimento em juízo.

6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal


competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou
detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados Partes
cujas leis preveem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem
direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente a fim de que este decida sobre a legalidade
de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser
interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa.

7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados
de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação
alimentar.”

 São dois os mecanismos de fiscalização/tutela dos dispositivos previstos no Pacto de San


José da Costa da Rica:
1) Comissão Interamericana sobre Direitos Humanos: composta por 07 membros
(chamados de comissários), com mandato de 04 anos, sendo possível uma recondução
por mais 04 anos. Cada Estado envia uma lista com até 03 nomes (até tríplice), sendo
que uma dessas pessoas não pode ser nacional do Estado que indicou a lista. Esta
comissão, de natureza administrativa, faz o chamado juízo de prelibação, uma vez que
é a “turma do deixa disso”, dando avisos, emitindo recomendações, relatórios e
diretrizes para que o Estado possa se enquadrar nos termos preconizados pelo próprio
Pacto. Caso o Estado faça por ignorar tais orientações, não cumprindo-as, será acionada
a Corte Interamericana sobre Direitos Humanos;

2) Corte Interamericana sobre Direitos Humanos: possui natureza jurídica dúplice e


ambivalente, sendo consultiva e contenciosa/jurisdicional. A natureza consultiva é
obrigatória aos Estados signatários do Pacto. Já a natureza contenciosa/jurisdicional é
facultativa, cada Estado escolhe se vai se submeter a esta natureza ou não. (Atenção!
Pegadinha: a prova costuma inverter). Também é composta por 07 membros, com
mandato de 06 anos, sendo possível uma recondução por mais 06 anos. Não pode haver
dois juízes de mesma nacionalidade, os 07 membros/juízes tem que ser de

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nacionalidades distintas. Muito embora sejam 07 membros, o quórum para deliberação
é de 05 juízes.

BLOCO 05
V – Exercício
Questão 56 – (FUNCAB – DELEGADO PCBA 2016)

Com relação à Declaração Universal dos Direitos Humanos, é correto afirmar que
a(os):
a) três valores fundamentais dos direitos humanos são a liberdade, a igualdade e a
fraternidade. (V)
b) pessoas vítimas de perseguição tem direito de procurar asilo em outro país, mesmo
nos casos em que a perseguição é motivada por crimes de direito comum. (F)
c) liberdade de opinião e de expressão não inclui a liberdade de transmitir
informações por qualquer meio e independente de fronteiras. (F)
d) direitos de liberdade previstos são relativos à esfera individual, não prevendo
liberdades políticas relativas à participação do povo no governo. (F, inclui a esfera
coletiva também)
e) liberdade religiosa é acessível a qualquer pessoa desde que sua manifestação seja
feita de forma coletiva e em particular apenas. (F, pode ser isolada ou coletivamente, em
público ou em particular)

AULA 03

BLOCO 01
I – Convenção de Mérida
Também conhecida como Convenção das Nações Unidas de Combate/Contra a Corrupção.
Como o próprio nome indica, seu tema principal é o combate à corrupção e apresenta normas
programáticas, normas estas que os Estados tem que se submeter de acordo com a reserva do
possível, de acordo com a disponibilidade existente em cada Estado.
Foi o Decreto nº 5687/06, que promulgou e publicou essa convenção no Brasil.
São 04 os capítulos (fases) importantes:
I – Prevenção: todos aqueles atos e condutas que os Estados podem e devem adotar para que a
coisa pública seja manuseada com a maior probidade possível, para evitar a ocorrência da

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corrupção. A) ingresso no serviço público por meio de concursos públicos. Atentar para o termo
“accountability”, importante neste sentido, que significa trato probo/honesto com a coisa
pública; B) mecanismos como o portal da transparência para checar as contas públicas; C)
financiamento de campanha eleitoral; D) licitações.
II - Punição / Repressão / Penalização: através da tipificação das condutas, tem-se o combate
às formas básicas de corrupção (aquelas previstas no Código Penal), bem como o combate aos
atos que contribuam para essas formas básicas de corrupção (ex: o famoso “jeitinho”).
III - Cooperação Internacional: quando há um entrave entre dois ou mais Estados. Aí será
necessário uma flexibilização, dentro do ordenamento jurídico de cada país, das normas de
Direito Internacional. Princípio da dupla incriminação / incriminação recíproca (ex: uma
conduta que é crime no Estado A, também deve considerada como crime no Estado B para que
haja a extradição).
IV - Recuperação de Ativos: não são apenas bens tangíveis e corpóreos, também podem ser
intangíveis e incorpóreos. Não necessariamente será algo físico, pode ser algo como royalties,
por exemplo. Devolver de fato à vítima o seu protagonismo. Ex: o COAF - Conselho de
Controle de Atividades Financeiras para fiscalizar movimentações financeiras-bancárias que
sejam suspeitas e estranhas, mas que ainda não são comprovadamente ilícitas.
MACETE: PPCR
Para o texto da Convenção de Mérida, o conceito de “funcionário público” é mais amplo do
que o adotado pelo Código Penal Brasileiro: quaisquer pessoas, que tenham alguma relação
com o funcionalismo público, com as repartições públicas, com a coisa pública, será
considerado funcionário público.

Art. 2º (leitura obrigatória), Convenção de Mérida:

Definições

Aos efeitos da presente Convenção:

*a) Por "funcionário público" se entenderá: i) toda pessoa que ocupe um cargo
legislativo, executivo, administrativo ou judicial de um Estado Parte, já designado ou
empossado, permanente ou temporário, remunerado ou honorário, seja qual for o tempo
dessa pessoa no cargo; ii) toda pessoa que desempenhe uma função pública, inclusive em
um organismo público ou numa empresa pública, ou que preste um serviço público,
segundo definido na legislação interna do Estado Parte e se aplique na esfera pertinente
do ordenamento jurídico desse Estado Parte; iii) toda pessoa definida como "funcionário
público" na legislação interna de um Estado Parte. Não obstante, aos efeitos de algumas
medidas específicas incluídas no Capítulo II da presente Convenção, poderá entender-se
por "funcionário público" toda pessoa que desempenhe uma função pública ou preste um
serviço público segundo definido na legislação interna do Estado Parte e se aplique na
esfera pertinente do ordenamento jurídico desse Estado Parte;

b) Por "funcionário público estrangeiro" se entenderá toda pessoa que ocupe um


cargo legislativo, executivo, administrativo ou judicial de um país estrangeiro, já

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designado ou empossado; e toda pessoa que exerça uma função pública para um país
estrangeiro, inclusive em um organismo público ou uma empresa pública;

c) Por "funcionário de uma organização internacional pública" se entenderá um


funcionário público internacional ou toda pessoa que tal organização tenha autorizado a
atuar em seu nome;

*d) Por "bens" se entenderá os ativos de qualquer tipo, corpóreos ou incorpóreos,


móveis ou imóveis, tangíveis ou intangíveis e os documentos ou instrumentos legais que
creditem a propriedade ou outros direitos sobre tais ativos;

e) Por "produto de delito" se entenderá os bens de qualquer índole derivados ou


obtidos direta ou indiretamente da ocorrência de um delito;

*f) Por "embargo preventivo" ou "apreensão" se entenderá a proibição temporária


de transferir, converter ou trasladar bens, ou de assumir a custódia ou o controle
temporário de bens sobre a base de uma ordem de um tribunal ou outra autoridade
competente;

*g) Por "confisco" se entenderá a privação em caráter definitivo de bens por ordem
de um tribunal ou outra autoridade competente;

h) Por "delito determinante" se entenderá todo delito do qual se derive um produto


que possa passar a constituir matéria de um delito definido no Artigo 23 da presente
Convenção;

i) Por "entrega vigiada" se entenderá a técnica consistente em permitir que


remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais Estados, o atravessem ou
entrem nele, com o conhecimento e sob a supervisão de suas autoridades competentes,
com o fim de investigar um delito e identificar as pessoas envolvidas em sua ocorrência.

BLOCO 02

II – Convenção de Palermo
Também chamada de Convenção das Nações Unidas de Combate ao /Contra o Crime
Organizado Transnacional.
Foi com o Decreto n° 5015/04, que o Brasil ratificou a convenção, ou seja, quando o Estado
deu o aceite definitivo.
O crime organizado transnacional é um conjunto de condutas que atingem a toda comunidade
internacional, com a transposição das fronteiras. É um problema mundial, principalmente por
dois motivos: porque precisa-se da cooperação dos Estados para combater essas condutas e
porque tais condutas não são problemas isolados de determinados Estados.

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Atenção! Bizu de prova: para aderir a um dos protocolos, o Estado deve antes aderir/ratificar
a Convenção de Palermo.
São três os protocolos que vão compor a Convenção de Palermo:
1) Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial
mulheres e crianças (portanto, pessoas em situação de vulnerabilidade) – Decreto n° 5017/04:
Em seu art. 3°, o tema abordado é o consentimento. Nesse sentido, tem-se que a criança não
tem capacidade para consentir.
Mas quem é criança?
Para o nosso ECA, criança é pessoa de 0 a 12 anos incompletos; adolescente é de 12 a 18 anos
incompletos.
Já para a Convenção de Palermo e para o Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição
do Tráfico de Pessoas; criança é pessoa com até 18 anos (inferior a 18 anos).
Se um dos meios fraudulentos (abuso, coação, etc.) for utilizado para o convencimento do
indivíduo, não há que se falar em consentimento, este será inválido.
Art. 3°, Decreto n° 5017/04:

“Definições Para efeitos do presente Protocolo:

a) A expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o transporte, a transferência, o


alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras
formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de
vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o
consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A
exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de
exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à
escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos;

b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de
exploração descrito na alínea a) do presente Artigo será considerado irrelevante se tiver sido
utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a);

c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma


criança para fins de exploração serão considerados "tráfico de pessoas" mesmo que não
envolvam nenhum dos meios referidos da alínea a) do presente Artigo;

d) O termo "criança" significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos.”

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2) Protocolo Relativo ao Combate ao Tráfico de Migrantes, por Via Terrestre, Marítima e Aérea
– Decreto n° 5016/04.

Atenção! Bizu de prova: hidroavião é navio, logo é tráfico por via marítima.

Documentos de viagem/identidade fraudulentos – art. 3°, Decreto n° 5016/04:

“Para efeitos do presente Protocolo:

a) A expressão "tráfico de migrantes" significa a promoção, com o objetivo de obter,


direta ou indiretamente, um benefício financeiro ou outro benefício material, da entrada ilegal
de uma pessoa num Estado Parte do qual essa pessoa não seja nacional ou residente permanente;

b) A expressão "entrada ilegal" significa a passagem de fronteiras sem preencher os


requisitos necessários para a entrada legal no Estado de acolhimento.

c) A expressão "documento de viagem ou de identidade fraudulento" significa qualquer


documento de viagem ou de identificação:

(i) Que tenha sido falsificado ou alterado de forma substancial por uma pessoa ou uma
entidade que não esteja legalmente autorizada a fazer ou emitir documentos de viagem ou de
identidade em nome de um Estado; (“feito no fundo do quintal”) ou

(ii) Que tenha sido emitido ou obtido de forma irregular, através de falsas declarações,
corrupção ou coação ou qualquer outro meio ilícito (“o Estado que dá” – ex: documento de
identidade devidamente emitido pelo órgão oficial competente, mas feito a partir de uma falsa
certidão de nascimento); ou

(iii) Que seja utilizado por uma pessoa que não seja seu titular legítimo;

d) O termo "navio" significa todo o tipo de embarcação, incluindo embarcações sem


calado e hidroaviões, utilizados ou que possam ser utilizados como meio de transporte sobre a
água, com excepção dos vasos de guerra, navios auxiliares da armada ou outras embarcações
pertencentes a um Governo ou por ele exploradas, desde que sejam utilizadas exclusivamente
por um serviço público não comercial.”

Obs: o conceito “entrada ilegal” não é um conceito absoluto, uma vez que cada Estado tem
os seus próprios requisitos para ingresso em seu território.

3) Protocolo Contra a Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, suas peças e


componentes (munições) – Decreto n° 5941/06.
Tópicos que costumar cair: rastreamento, tipificação e fabricação.

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Atenção! Bizu de prova: conceito de “arma antiga” – nenhuma arma de fogo será considerada
antiga se foi fabricada depois de 1899.

BLOCO 03

III – Tribunal Penal Internacional – TPI (está inserido no Tratado/Estatuto de Roma) –


Decreto n° 4388/02
Se baseou (não para ser igual, mas sim para fazer o contrário) em dois tribunais de exceção de
grande relevância na história mundial: Tribunal de Tóquio e Tribunal de Nuremberg.
Por que o TPI foi criado? Porque ambos os tribunais acima citados sofreram muitas críticas,
dentre as quais destacam-se: eram tribunais em que vencedores julgavam os vencidos;
desrespeitavam os princípios da legalidade e da anterioridade da lei penal; havia a instituição
da pena de morte (logo, a contrario sensu, a pena máxima prevista no TPI é de 30 anos, salvo
casos específicos de prisão perpétua); eram tribunais de exceção / pós fato / ad hoc.
Apenas 04 crimes são julgados sob jurisdição do TPI:
1 – Genocídio (art. 6°, Decreto n° 4388/02);
2 – Crimes contra a humanidade (art. 7°, Decreto n° 4388/02);
3 – Crimes de guerra (art. 8°, Decreto n° 4388/02);
4 – Agressão (não existe definição legal expressamente prevista no texto do TPI).
MACETE: GCCA
Características:
A) É um tribunal permanente;
B) É um tribunal independente;
C) É um tribunal complementar (ele só atua / só irá julgar, quando o Estado não puder fazer
ou falhar)
O TPI NÃO JULGA ESTADOS, SOMENTE PESSOAS.
ATENÇÃO! PEGADINHA: NÃO CONFUNDIR COM A CORTE / TRIBUNAL
INTERNACIONAL DE JUSTIÇA, QUE JULGA ESTADOS.
O TPI possui duas principais fases no seu julgamento:
1ª) Fase das acusações – o indivíduo se declara culpado ou inocente.

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2ª) Fase da defesa – onde ocorrem as audiências e as manifestações.
Atenção! Bizu de prova: pode um Chefe de Estado ser julgado pelo TPI? SIM. A
responsabilização penal internacional independe de cargo ou função ocupados.

IV – Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis/Encarregados da Aplicação


da Lei (1979)
Conceito para definir quem são esses funcionários: são todos aqueles que detêm o poder de
polícia, aqueles que, de alguma forma, estão ligados ao uso da força.
“Artigo 1º - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem sempre cumprir o dever
que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais,
em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão requer.
Obs: Você será sim um policial por 24h, mas importante ressaltar que a lei não exige atitudes
heroicas.
Comentário: o termo "funcionários responsáveis pela aplicação da lei" inclui todos os agentes
da lei, quer nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes policiais, especialmente poderes de
detenção ou prisão. Nos países onde os poderes policiais são exercidos por autoridades
militares, quer em uniforme, quer não, ou por forças de segurança do Estado, será entendido
que a definição dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá os funcionários de
tais serviços.
Artigo 2º - No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem
respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos humanos de todas as
pessoas.
Obs: Busca pessoal em mulher pode ser feita por homem mas, se for possível, por algum modo,
que seja feita por outra mulher, é melhor evitar.
Artigo 3º - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força
quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do seu dever.
Comentário: o emprego da força por parte dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei
deve ser excepcional. Embora se admita que estes funcionários, de acordo com as
circunstâncias, possam empregar uma força razoável, de nenhuma maneira ela poderá ser
utilizada de forma desproporcional ao legítimo objetivo a ser atingido. O emprego de armas de
fogo é considerado uma medida extrema; devem-se fazer todos os esforços no sentido de
restringir seu uso, especialmente contra crianças. Em geral, armas de fogo só deveriam ser
utilizadas quando um suspeito oferece resistência armada ou, de algum outro modo, põe em
risco vidas alheias e medidas menos drásticas são insuficientes para dominá-lo. Toda vez que
uma arma de fogo for disparada, deve-se fazer imediatamente um relatório às autoridades
competentes.

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Obs: o uso da força deve se pautar no Princípio da Proporcionalidade, somente utilizando-a
quando estritamente necessário e de maneira moderada. Esse princípio se fundamenta em três
vertentes: adequação (estabelecer uma lógica entre meio e fim), necessidade (menor sacrifício
possível), proporcionalidade em sentido estrito (aquele uso da força gerará mais benefícios do
que malefícios? Se a resposta for positiva, irá satisfazer o princípio da proporcionalidade e
poderá agir sem qualquer tipo de problema). Na prática não é tão fácil, sob pressão, identificar
essas circunstâncias em questão de segundos.

BLOCO 04
Artigo 4º - Os assuntos de natureza confidencial em poder dos funcionários responsáveis pela
aplicação da lei devem ser mantidos confidenciais, a não ser que o cumprimento do dever ou
necessidade de justiça estritamente exijam outro comportamento.
Artigo 5º - Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou
tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outro tratamento ou pena cruel, desumano ou
degradante, nem nenhum destes funcionários pode invocar ordens superiores ou circunstâncias
excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaça de guerra, ameaça à segurança
nacional, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública, como justificativa
para torturas ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
Comentário: a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos
ou Degradantes define tortura como: "...qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos,
físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma
terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa
tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras
pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais
dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de
funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se
considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequência unicamente de
sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou dela decorram."
Artigo 6º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem garantir a proteção da saúde
de todas as pessoas sob sua guarda e, em especial, devem adotar medidas imediatas para
assegurar-lhes cuidados médicos, sempre que necessário.
Obs: há obrigação legal para que você socorra as pessoas, ainda que os atos que decorram de
determinada situação não estejam necessariamente ligados à atividade policial.
Artigo 7º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer quaisquer atos
de corrupção. Também devem opor-se vigorosamente e combater todos estes atos.
Comentário: qualquer ato de corrupção, tal como qualquer outro abuso de autoridade, é
incompatível com a profissão dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. A lei deve
ser aplicada com rigor a qualquer funcionário que cometa um ato de corrupção. Os governos
não podem esperar que os cidadãos respeitem as leis se estas também não foram aplicadas
contra os próprios agentes do Estado e dentro dos seus próprios organismos.

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Artigo 8º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei e este Código.
Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se com rigor a quaisquer
violações da lei e deste Código. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem
motivos para acreditar que houve ou que está para haver uma violação deste Código, devem
comunicar o fato aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades competentes ou
órgãos com poderes de revisão e reparação.
Comentário: As disposições contidas neste Código serão observadas sempre que tenham sido
incorporadas à legislação nacional ou à sua prática; caso a legislação ou a prática contiverem
disposições mais limitativas do que as deste Código, devem observar-se essas disposições mais
limitativas. Subentende-se que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem
sofrer sanções administrativas ou de qualquer outra natureza pelo fato de terem comunicado
que houve, ou que está prestes a haver, uma violação deste Código; como em alguns países os
meios de comunicação social desempenham o papel de examinar denúncias, os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei podem levar ao conhecimento da opinião pública, através dos
referidos meios, como último recurso, as violações a este Código. Os funcionários responsáveis
pela aplicação da lei que cumpram as disposições deste Código merecem o respeito, o total
apoio e a colaboração da sociedade, do organismo de aplicação da lei no qual servem e da
comunidade policial.

V – Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos (1960)


As Regras de Mandela (2015) foram uma reedição e reformulação das Regras Mínimas das
Nações Unidas para o Tratamento de Presos, trazendo melhorias.
Essas regras trazem noções de humanização da justiça criminal e uma discussão sobre o sistema
carcerário, buscando um tratamento minimamente digno para que os indivíduos presos possam,
ao serem devolvidos à comunidade, viver com harmonia em sociedade.
Principais pontos que costumam aparecer em provas:
 Mulheres grávidas no interior de unidade prisional - nascimentos de crianças: a regra é
que essas crianças tenham a possibilidade de nascer fora da unidade prisional, que a
mulher, se der tempo, seja transportada para uma unidade hospitalar para que seu filho
tenha o mínimo de dignidade. Se não for possível, se tiver que dar à luz dentro do
cárcere, o registro de nascimento dessa criança jamais poderá trazer essa informação. E,
ainda, antes, durante e logo após o parto não poderá haver o uso de instrumentos
imobilizadores (ex: algemas).

 Comunicação entre preso e advogado: se o preso quiser com se comunicar com o seu
advogado, com alguma sigilosidade, poderá fazê-lo, inclusive por escrito. Pode um
agente penitenciário/prisional acompanhar este encontro, desde que à distância e desde
que não tenha a capacidade de audição das conversas, para que haja o mínimo de
privacidade e sigilo profissional entre o preso e o seu advogado.

 Transporte de preso: deve ocorrer em condições isonômicas, pelo menor tempo


possível, com a maior preservação possível de sua imagem, em condições de
ventilação/circulação de ar e iluminação adequadas.
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 Impossibilidade de proibição de contato com a família como sanção disciplinar ou
administrativa: Atenção! Pegadinha: na prova vai vir como sanção judicial, o está
errado, uma vez que é possível, como por exemplo, na Lei Maria da Penha.

 Doença grave ou óbito na família do preso: se houver, a administração do presídio tem


por obrigação comunicar o fato ao preso (as Regras de Mandela não definem o que são
doenças graves). Se as circunstâncias permitirem, o preso poderá, inclusive, comparecer
sozinho, ou sob supervisão, ao velório/visita hospitalar.

BLOCO 05
VI – Exercício
Questão 53 – (FUMARC – DELEGADO PCMG 2011)
A concepção universal dos direitos humanos, demarcada pela Declaração Universal dos Direitos
Humanos, sofreu e sofre fortes resistências dos adeptos do movimento do relativismo cultural.
Retoma-se dessa forma o velho dilema sobre o alcance das normas de direitos humanos. Associe
abaixo as características intrínsecas a essas concepções:

(I) Concepção universalista.


(II) Concepção relativista.

( I ) Flexibiliza as noções de soberania nacional e jurisdição doméstica, ao consagrar um


parâmetro internacional mínimo, relativo à proteção dos direitos humanos aos quais os
Estados devem se conformar.

( II ) A noção de direito está estritamente relacionada ao sistema político, econômico,


cultural, social e moral vigente em determinada sociedade.

( II ) Cada cultura tem seu próprio discurso acerca dos direitos fundamentais, que está
relacionado às específicas circunstâncias culturais e históricas de cada sociedade.

( II ) O pluralismo cultural impede a formação de uma moral universal, tornando-se


necessário que se respeitem as diferenças culturais apresentadas em cada sociedade.

Marque a opção CORRETA, na ordem de cima para baixo.


a) (I) (II) (II) (I).
b) (II) (I) (I) (I).
c) (I) (II) (II) (II).
d) (I) (II) (I) (II).

FIM
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