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A

José Maurício de Carvalho*

Revista de Filosofia
O Século xx em El Espectador
de Ortega y Gasset: a Crise
como Desvio Moral

RESUMO

Neste artigo estudamos como o filósofo espanhol Ortega y Gasset pensa o século XX e seus pro-
blemas. Para caracterizá-lo formula a noção de crise que nasce na sociedade de massa. O homem
massa vive uma existência vulgar, que carece de responsabilidade e sentido de dever. É o que dá
à crise do século, segundo Ortega y Gasset, uma raiz moral.

Palavras-chave: Crise; Ética; Moral; Valores; Ortega y Gasset.

RÉSUMÉ

Dans cet article nous étudions comment le philosophe espagnol Ortega y Gasset pense le XX ème
siècle et ses problèmes. Pour Le caractériser il formule l’idée de crise qui naît dans la societé de
masse. L`homme masse vit une existence triviale, dépourvue de responsabilité et de sens du devoir.
C´est ce qui donne à la crise du siécle, selon Ortega y Gasset, une racine moral.

Mots clef: Crise; Éthique; Moral; Valeurs; Ortega y Gasset.

* Doutor em Filosofia e Professor da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ).

Argumentos, Ano 2, N°. 4 - 2010 9


Considerações Iniciais problemas que afligiam seu país eram comuns
ao seu tempo. Na obra, considera que a deca-
Com a publicação de El Espectador, o dência de um povo ocorre pela fragilidade e
filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883- apatia dos melhores. Diz ainda que nada traduz
1955) consolida a t ransição do momento inicial melhor o espírito de um povo do que as relações
de sua filosofia de inspiração kantiana para a que se estabelecem entre a maioria e as suas
etapa decisiva do seu pensamento. El Especta­ minorias qualificadas. Este tema será retomado
dor é um conjunto de sete volumes de ensaios mais tarde em La Rebelión de las Massas, mas
escritos durante um período relativamente longo foi estruturado nos ensaios de El Espectador.
que se estende de 1916 a 1934. Pouco antes de Nos ensaios começa a ser composta a noção
redigi-los, em 1914, Ortega publicou a primeira da insubordinação das maiorias contra as mi-
edição das Meditaciones del Quijote, obra que norias e examinado o propósito das massas de
inaugurou a etapa decisiva do raciovitalismo. impor o seu modo de vida. Espírito das massas
Em sua interpretação do personagem de Miguel insubordináveis não é um fenômeno político
de Cervantes, Quixote1 é a metáfora de uma que alimentou opções totalitárias, é um estilo de
vida em mudança e permanentemente em risco, viver que expressa um desvio moral expresso por
exemplo de vida nobre. Ortega y Gasset na expressão homem massa,
Qual é o problema estudado neste artigo? conforme iremos mostrar. Assim os desafios do
O modo como Ortega y Gasset entendeu o seu seu tempo foram enfrentados com um pensa-
tempo, a crise que nele identificou, as causas e mento de implicações éticas, ainda que não
as soluções que apontou para ela nos ensaios fosse originalmente um problema ético.
de El Espectador. Destas propostas ele não se Como se articula o problema da crise
afastará nos livros seguintes. O filósofo traz para e a exigência ética? As análises iniciadas em
os ensaios de El Espectador a confiança de que España invertebrada e aprofundadas em La
o homem de sua época poderia superar a crise Rebelión de las Massas foram preparadas nos
originada pelo fenômeno da massa caso adotas- ensaios de El Espectador. É neles que a crise da
se a vida nobre do Quixote, exigindo mais de si Espanha se torna a crise de um tempo depois de
mesmo e se dedicando mais a novos projetos. comprovada que era inadequada a europeiza-
No momento em que elaborava as bases ção da Espanha, estratégia com a qual o filósofo
de seu pensamento raciovitalista com as Medi­ esperava, num primeiro momento, resolver a
taciones del Quijote, o filósofo começou a ver crise de seu país. Nos ensaios de El Espectador
com outros olhos as dificuldades da Espanha. fica claro que a fragilidade das massas vinha de
Ele quer saber se os problemas de seu país tam- sua adesão à vida vulgar, o que permite ver na
bém existem noutras partes do mundo, afinal, a raiz da crise um componente ético.
vida do homem (inclusive a sua) não se afasta Qual o método utilizado neste artigo?
da circunstância em que vive. Circunstância é O procedimento metodológico é o analítico.
o que envolve o eu, indica o filósofo. Ao afirmar Trata-se de metodologia comum na pesquisa
nas Meditaciones del Quijote (1967) que “eu filosófica, revelando-se eficaz para indicar os
sou eu e minha circunstância e se não salvo a aspectos implícitos e pouco elaborados pelo au-
ela também não salvo a mim” (p. 51), o filósofo tor investigado, dando-lhes com a metodologia
está falando da vida de qualquer homem e não uma formatação mais adequada. Sua aplicação
somente do espanhol. Nos ensaios de El Espec­ ajuda a melhor compreender o pensamento do
tador o filósofo também estará considerando os filósofo e é essencial para o entendimento preci-
problemas gerais do seu tempo. so de suas ideias. Nos trabalhos de Filosofia, na
No livro Espana Invertebrada (1921), Or- cultura moderna e contemporânea, a tendência
tega y Gasset abordou as causas da decadência analítica, isto é, a força pela qual se reconhece
da Espanha e começou a desconfiar que os a análise como método de investigação tornou-

1
A obra de Miguel Cervantes de Saavedra é intitulada Aventuras do Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha. A primeira parte
do romance foi publicada em Madri em 1605, saindo a segunda só em 1616. O livro é uma novela de cavalaria que faz uma sátira a
este gênero narrativo muito comum na Idade Média. Cervantes nasceu em Alcalá de Henares em 1547 e morreu em Madri em 1616.

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se generalizada e se mostrou eficiente. O que como uma doutrina que não mais respondia aos
é mesmo a análise? É o exame das partes de desafios da vida, mas para aqueles profissionais
um todo, tendo o propósito de conhecer sua da saúde não havia nada mais moderno que a
natureza, funções e relações, isto é, chegar à visão positivista do mundo. Qualquer outro mo-
determinação dos elementos que se organizam vimento intelectual lhes parecia inadequado e
em uma totalidade dada ou a se construir. O isto apesar do positivismo ser considerado, por
método de procedimento é o bibliográfico com outros cientistas e filósofos, coisa do passado.
destaque para aos ensaios de El Espectador Eis como nosso Ortega y Gasset descreve o
onde o filósofo examina a crise de seu tempo e comportamento dos médicos:
os assuntos a ela relacionados.
[...] os médicos do século XIX se aferram a
O Impacto do Século XIX ele (positivismo), qualquer outra doutrina
que não fosse o positivismo lhes repugna-
Ao procurar entender os desafios do sé- va, não só como um erro-coisa que seria
culo XX, Ortega y Gasset se depara com uma justificável como revivência do passado.
herança que contribuía para o agravamento das É que o positivismo viveu dentre eles uma
dificuldades que observava, o modo de pensar atmosfera espiritual impregnada de ambi-
do século XIX. Na verdade, avalia o filósofo, todo ção modernizante, de sorte que a escola,
o passado da humanidade que chega ao homem não só lhes parece verdadeira, mas por
sua vez, moderna. (Idem, p. 23).
do século XX vem pelas lentes do século XIX,
pois é através de seu estilo, das interpretações
elaboradas por seus intelectuais e pelas crenças Entender o mais recente como definitivo é
ali aceitas que todo o passado da humanidade é encantador. Os homens do século XIX sugerem
passado adiante. Ortega y Gasset lembra que o uma correlação perfeita entre ser moderno e
século XIII, por exemplo, está muito afastado dos verdadeiro, mas isto é uma distorção. A mesma
homens de seu tempo que dele só tem notícia dificuldade aparece no discurso dos políticos do
pela interpretação construída no século XIX. No século XIX, como os médicos seus contemporâ-
ensaio Nada Moderno y Muy Siglo XX o filósofo neos, eles tratam como modernas suas próprias
afirma (1916): “Falando com rigor, o século XIII teses, deixando de lado, como velho e falso, tudo
e todos os demais pretéritos só existem para nós o que nelas não se encaixa.
dentro do século XIX, segundo ele os viu através Para o homem do século XX, o modo de
de seu gênio.” (p. 22). pensar do século anterior precisava ser alterado
Esta circunstância histórica se torna um porque os desafios que surgiam pediam nova
problema para o século XX porque o anterior lhe interpretação do mundo. O problema para Or-
impôs o seu modo de ver as coisas, ou melhor, tega y Gasset não será, portanto, ser moderno
obrigou um estilo. Havendo cultivado a ideia de ou ser pós-moderno, mas viver o próprio tem-
progresso, os homens do século XIX a conside- po. O pensador espanhol diz que cada século
ram definitiva. Eles a impuseram ao século se- precisa construir o esquema intelectual com o
guinte, porém não perceberam que esta ideia é qual compreenderá a si mesmo, não podendo
também ela um elemento para ser superado. Do importar princípios e filosofias de outras épocas
mesmo modo que o século XIX transcendeu as sem submetê-los à rigorosa análise.
formas de ver o mundo dos séculos anteriores, os O século XX por conta de suas profundas
tempos vindouros também precisam superar sua mudanças é pensado a partir da ideia de crise,
forma de pensar. Nas palavras do filósofo esta mas crise não significa decadência, esclarece
questão assim se coloca: O século progressista Ortega y Gasset, contrapondo-se à interpreta-
não concebe que ocorra o progresso em outra ção do filósofo e historiador Oswald Splenger
forma que não no estado de alma progressista” em A Decadência do Ocidente (1918-1922).
(Idem, p. 23). Um exemplo desta visão distorcida O que sugeriu a Splenger associar mudança e
de futuro é encontrado entre os médicos. Até o decadência, avalia Ortega y Gasset, é o modo
final do século XIX a classe médica era adepta de pensar do século XIX. Quando Splenger
do positivismo, escola filosófica que se acredita- vislumbrou que muitas coisas tidas como ver-
va verdadeira. O positivismo iniciou o século XX dadeiras em seu tempo começavam a mudar,

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julgou que se tratava de decadência o que era como possibilidade de completa renovação
mudança ou um novo modo conceber a realida- é a atitude necessária para superar a miopia
de. Mudanças sérias não se fazem sem romper hegeliana.
crenças, alterar valores, revisar ideias e isto é A razão histórica elaborada por Ortega y
muito duro de assimilar. Em Sobre la Muerte de Gasset é vital e circunstanciada. Ela surge num
Roma (1926) diz: eu singular diferente do eu universal e de raiz
[...] o pavor que este pensamento (mu- racionalista concebido por Hegel. Onde o pen-
dança profunda no modo de vida) sugere sador alemão falava de espírito Ortega y Gasset
inspira o homem automaticamente a crer refere-se à vida, que é um fenômeno imanente
que sua civilização não morrerá. Recorde- ao mundo e tem um aspecto consciente. Como
se a certeza com que o europeu de vinte já explicamos em outro momento, para Ortega
anos atrás dava como definitiva a forma y Gasset (2003):
européia do mundo. (p. 537/538).
Viver é empenho de interiorização e ensi-
Esta forma de pensar própria do historicis- mesmamento, base das ações futuras, tanto
mo do século XIX, na qual sucumbiu Splenger e daquelas que afetam os sentimentos, emo-
que concebe o temporal como o passado de um ções, pensamentos quanto das que alteram
presente definitivo, é a interpretação do real his- a base natural do mundo pela criação de
tórico por Hegel. A filosofia daquele século pode novos elementos culturais. (p. 36).
ser entendida como um diálogo com Hegel. A A crítica orteguiana ao conceito de razão
noção de circunstância construída por Ortega elaborado por Hegel é que ele é demasiado
y Gasset nas Meditaciones del Quijote dirige a estreito. Hegel não apenas perde de vista a
atenção para o sujeito concreto, situado aqui e singularidade da pessoa, mas segue os passos
agora, ou melhor, mergulhado completamente do racionalismo moderno, alterando-o com a
num presente aberto para o futuro. dialética triádica.
Como já resumimos, para Ortega y Gas- O século XX foi um tempo de profundas
set (2002): “O mundo é sempre vivido como mudanças sentidas como crise, mas não estava
horizonte mutável porque o homem muda de decadente como acreditara Splenger, nem per-
posição e perspectiva.” (p. 280). dera contato com o seu passado. O que aquele
Eis o que diz o filósofo sobre o desvio tempo demandava era novas ideias para pensar
idealista em Hegel y América (1928): a vida e estratégias para enfrentá-la.
Na filosofia hegeliana da história, todas as
qualificações e valorizações do passado Os Sinais da Crise na Estética
estão calculadas em vista do presente e na Ética
como término da evolução. [...] Nós so-
mos seu lúcido resultado. O Espírito do Havia naqueles dias o sentimento geral
mundo atual é o conceito que o Espírito de que eram grandes as mudanças em curso.
chegou a ter de si mesmo, ele é quem
Para o filósofo, um bom termômetro delas era
possui e rege o mundo e é resultado
a transformação da experiência artística. Ele
dos esforços de seis mil anos [...]. A ele
deve o sistema de Hegel seu caráter de
entende a expressão da arte e seu gozo como
sistema fechado, sem evolução além de indicações de vitalidade e afirma no ensaio
si mesmo, sem amanhã. O presente, Apatia Artística (1921):
para Hegel, não é um tempo qualquer, Desde há algum tempo que as pessoas
é este e só este. E por isto o presente não melhor dotadas de sensibilidade artística se
mudará em nada de essencial, sem se encontram surpreendidas ao sair de um con-
tornar pretérito jamais. (p. 566). certo, de uma exposição ou de um museu,
pela falta de prazer recebido. (p. 334).
A crise do século XX é o reconhecimento
das dificuldades de um momento perigoso que Ao constatar o desgosto estético de
afeta a consciência histórica e que, para Ortega seu tempo, Ortega y Gasset está falando do
y Gasset, precisava ser revisto. Preservar o es- procedimento daquelas pessoas educadas e
sencial de uma consciência que se faz no tempo preparadas para perceber os movimentos da
sem perder a abertura para o futuro entendido arte e os apreciar e não da elite social ou eco-

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nômica. Se nem as pessoas mais bem prepara- p. 337). Nos ensaios onde trata de ética, e não
das tinham entusiasmo com as manifestações apenas nos reunidos em El Espectador, Ortega
artísticas, o que estaria acontecendo? Seria y Gasset mostra que embora a experiência
este um fenômeno espanhol observado apenas vital seja um fenômeno pessoal, os valores nos
nos teatros e galerias de arte do país ou tinha tocam e valem por eles mesmos, superando a
uma extensão mais ampla? Era uma crise só da interpretação psicológica e relativa dos valores
arte ou um movimento cultural mais genérico? em nome de uma objetividade construída no
Ortega responde à segunda pergunta dizendo universo da cultura.2
tratar-se de algo generalizado em todo ocidente, A percepção da crise representa uma re-
um problema que ia além da Espanha: “Logo novação da maneira de entender a consciência
soube que na França, como na Alemanha, em histórica. A razão vital é transitória, embora não
todas as partes se observa o mesmo fenômeno e, seja cética. Cada tempo possui suas verdades
por­tanto, o que poderia ser uma doentia deca- que precisamos respeitar, explica o filósofo em
dência nos nervos de um grupo, se converte em Revés de Almanaque (1930):
fato geral de inegável transcendência.” (Idem. p. Antes interessava ao homem uma forma
335). Quanto ao fenômeno em si, representava de arte, uma idéia científica, um princí-
a incapacidade de perceber a beleza expressa pio político porque pareciam definitivos.
nas diversas manifestações da arte. Esta apa- Quando não pareciam sê-lo caía-se no
rente desqualificação da arte significava que ceticismo, que é a suspensão da vida.
as pessoas não mais se entusiasmavam com as Agora precisamos aprender que só somos
manifestações artísticas porque elas não mais definitivos quando sentimos bem o perfil
lhes tocavam intimamente. O tempo de esplen- transitório que nos corresponde, quer
dor daquela arte havia passado. Era preciso um dizer, quando aceitamos nosso tempo
outro tipo de arte para agradar uma sociedade como nosso destino sem nostalgia nem
que mudara seu modo de viver. O homem do utopismos. (p. 728).
século XX não mais se entrega emotivamente A Percepção de Crise no Século XX
à beleza artística, pois possui uma capacida-
de menor de se emocionar. Por isto, a música O século XX começou com grandes mu-
de Stravinsky, avalia Ortega, ainda que com danças, confusão e insegurança, um tempo em
qualidade, graça, gênio, agilidade e colorido que as previsões de paz consolidada e progresso
menores que a de Wagner, por possuir preten- permanente, crenças forjadas no século anterior
sões bem menores de emocionar, produz mais não se confirmaram.
satisfação no novo século. O desenvolvimento da ciência não pro-
As mudanças importantes na sociedade piciou a solução para os problemas humanos
não se restringiam à forma de apreciar a arte, como acreditaram os positivistas. O conheci-
portanto a crise se espalhava para outros setores mento científico e tecnológico foi utilizado, por
da cultura. Os valores, por exemplo, também exemplo, na produção de armas de destruição
mudaram, fato que afetou a experiência vital de em massa, provocando um cenário inimaginável
sua geração. Assim se deu porque há nos valo- no século anterior. O cientista estava longe de
res uma objetividade reconhecida por Ortega ser um novo sacerdote e a ciência uma nova
y Gasset “na essência mesma dos objetos que religião. Outro problema foi a constatação de
habitam o círculo de nossa existência.” (Idem., que o modelo de ciências da natureza que vinha

2
Como indicamos em Vida e valores na filosofia da razão vital de Ortega y Gasset (2004): “A objetividade dos valores pode ser obser-
vada quando tratamos das qualidades das coisas. Falamos de qualidades próprias quando elas não dependem de outras coisas, a cor e
forma de uma fruta, por exemplo, e são relativas quando dependem, como quando asseveramos que esta fruta é igual à outra, ou mais
doce do que ela. Daí o filósofo conclui que existe no mundo algo que não é objeto, que é irreal, embora não no sentido da mística ou
da fantasia. Entre estes objetos irreais não fantasiosos estão os valores. Eles não são conhecidos, mas estimados ou apreciados. Estimar
significa, no contexto da axiologia orteguiana, realizar uma função psíquica que identifica valor. Toda esta discussão não deixa de ser
uma tentativa de esclarecer o que é a experiência moral, tema da ética contemporânea, e do esforço para diferenciá-la da experiência
das coisas. Para o filósofo, a experiência dos valores constitui parcela central da ética. A meditação sobre a experiência dos valores
é que levou Ortega a concluir pela objetividade dos valores, objetividade que se assemelha à obtida na matemática. Os valores não
dependem, portanto, dos caprichos da subjetividade individual, são objetivos.” (p. 74).

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do positivismo era inadequado para as ciências rios filósofos. O mais conhecido deles foi Martin
humanas que se estruturavam. Os limites do Heidegger para quem a crise vivida era uma
modelo positivista de ciência foram apontados questão a ser pensada. O filósofo alemão refere-
por Edmund Husserl em A Crise das Ciências se ao homem como um ser de preocupação e
Européias e a Fenomenologia Transcendental. diz que se viviam dias de despreocupação com
Husserl percebeu que a questão não reduzia a a condição humana e que esta forma imprópria
importância da ciência e do seu papel na cul- de viver era a raiz da crise.
tura, mas indicou que a interpretação positivista O filósofo português Delfim Santos perce-
dela não atendia às necessidades do novo tem- beu o propósito de Martin Heidegger e também
po. Husserl apontou um caminho para superar de Karl Jaspers ao construir uma meditação filo-
o positivismo como já resumimos em O Homem sófica partindo da existência humana. Também
e a Filosofia, Pequenas Meditações sobre a ele adotou esta perspectiva existencialista, mas
Existência e a Cultura (2007): observa que Ortega y Gasset é o outro grande
Foi Husserl quem introduziu o esforço de nome a ser considerado naquele momento. É em
superação do positivismo na Filosofia de Ortega y Gasset que ele se inspira para tratar a
nosso tempo. Ele não duvidava da exis- vida do homem como jornada que supera difi-
tência do que nos rodeia nem desejava culdades e ultrapassa limites. Não basta ocupar-
eliminá-lo. Seu propósito foi compreender se de sua condição como queria Heidegger. É
o mundo como fenômeno, isto é, mostrar necessário ver a vida como compromisso de
como ele se apresentava à consciência. superação dos limites, conforme sugeria Ortega
Fenômeno é, pois, o que emerge na cons- y Gasset. Delfim Santos explica em Temas de
ciência, aquilo que pode ser apreendido Flagrante Atualidade o diferencial orteguiano:
antes de qualquer reflexão. Não há dúvida um projeto vital sustentado num compromisso
que há muitas coisas em torno de nós,
ético, um conceito de crise como marca de seu
porém não era objetivo de Husserl ir até as
tempo, as mudanças na vida como desafios que
coisas mesmas, mas mostrar que o que de-
nominamos mundo é o que se apresenta à estimulam a preocupação (1982):
consciência. Este elemento de certificação É o tema de nosso tempo – como diz
cognoscitiva é o que Husserl denominou Ortega Y Gasset -, exigência de radical
de mundo vivido. (p. 30). superação construtiva. Compete-nos criar
e seguir uma trajetória que eleve a atitude
Não é preciso aprofundar aqui as ques- vital de nossa geração. Este é o pulsar da
tões presentes na meditação filosófica de Husserl, potência orgânica da raça e não pode ser
apenas acenar que ele percebeu que havia como diz o filósofo espanhol – cumulativa
dificuldades no horizonte da cultura no início do com a geração anterior. (p. 8).
século XX e que a filosofia devia enfrentá-las. A percepção de que havia um quotidiano
Foram muitas as mudanças na cultura em crise tornou-se comum entre os pensadores
decorrentes da quebra da bolsa de Nova York, do século XX. Indicaremos, a seguir, como Or-
revolução russa e guerras de independência na tega y Gasset o fez.
Ásia e África. As decorrentes das duas guerras
mundiais e do modo de organização da eco-
nomia que vieram depois delas afetaram a vida A Crise do Século XX na Visão de
de milhões de seres humanos. Naqueles dias a Ortega y Gasset
massa estava muito preocupada em sobreviver
e menos em desfrutar uma vida particularíssima. O nosso ponto de partida para entender-
Tragédias pessoais, pobreza, desemprego, des- mos o pensamento orteguiano sobre a crise é
truição das famílias, mudança no modo de vida notar que a vida humana é histórica e que histó-
alimentaram Estados Nacionais fortes com poder ria significa mudança no modo como o mundo é
sobre as consciências. Mesmo as sociedades percebido. Esta mudança pode ser considerada
liberais ficaram preocupadas em construir um comum ou normal quando reflete a expectativa
modo estável de vida reduzindo os riscos. da nova geração. No entanto, as mudanças
Entender o quotidiano do século XX como podem aparecer como um desmoronamento
um momento de crise foi o que pretenderam vá- das crenças e a imposição de uma nova con-

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cepção de mundo. Neste caso falamos de crise uma forma que antes não ocorrera em nenhum
e elas adquirem a extensão de um século como outro momento da história. Os benefícios goza-
ocorre no século XX, às vezes são ainda mais dos resultam de muitos séculos de esforço. No
longas. Naquele século tivemos crise porque entanto, estas pessoas não percebem que os
houve alteração no sistema de crenças que foi bens de que dispõem resultam do empenho e
partilhada por gerações anteriores e que ficou esforço de antigas gerações.
perdida com as mudanças, como ele comenta No século XX estas maiorias não enxergam
no livro En Torno a Galileo (1933): lideranças a que acompanhar, não olham para
“Eis aqui senhores por que há história, as minorias como modelo, elas não enxergam
por que há mudança contínua nas vidas. a civilização como resultado de esforço e traba-
Se seccionarmos o passado humano em lho. Assim, entregues a seus gostos e intuições
qualquer data, encontramos sempre o ho- estes homens esperam tirar de si o rumo para
mem instalado num mundo, como numa a própria vida.
casa que fez para se abrigar.” (p. 33). O que dissemos indica que a massa é uma
A característica fundamental da crise do coisa, o homem massa é outra. O século XX é o
século XX era uma atitude comum que, segundo tempo das massas, porém toda sociedade tem
Ortega, marcava a massa e a minoria da socie- maiorias e minorias. Podemos ter maioria e não
dade. É bom lembrar que para o filósofo esta é ter nenhum homem massa que é uma anomalia,
uma divisão comum a todas as sociedades. O uma aberração moral. Escreve Ortega y Gasset
que ele observa é que no século XX, as minorias sobre seu tempo em Revés de Almanaque, este
mais bem educadas nos diversos campos culturais é um tempo em que a humanidade tem menos
não assumiam a tarefa de dirigir a sociedade, não controle dos fatos e a história se dirige para onde
respondiam aos novos desafios que a vida apre- os processos mecânicos a levam (1930):
sentava, cultivavam um saber muito especializado A massa se nega a ser dirigida por crer
e ignoravam quase todos os outros assuntos. Estas que ela se basta a si mesma. Vice-versa
minorias não formam uma classe social ou um gru- as minorias vivem para si e não se situam
po, mas se definem pelas funções que possuem. em atitude de dirigir, se especializam
A ignorância destas várias elites representa uma e se bizantinizam [...] A massa não se
nova forma de barbárie que é complementada dirige, senão gravita para onde a leva
pela inocência infantil com que elas julgam a vida seu peso bruto; por isto é esta uma
e a acham muito fácil. Esta interpretação que o das épocas – quem o diria – em que a
história vai mais à deriva de sua mecâ-
filósofo concebe nos ensaios de El Espectador será
nica irracional e se acha menos em sua
desenvolvida em La Rebelión de las Masas, livro própria mão. (p. 722).
onde explica que o homem do seu tempo deixou
de se empenhar com afinco na edificação de Pela amplidão das consequências que as
uma vida melhor. Este homem aceita a mesmice atitudes tanto das minorias quanto das maiorias
e se conforma com o modo de vida mais comum. têm na cultura, generaliza-se a noção de crise.
Este doutor ignorante e infantil é o homem massa. Esta percepção ganha força quando o homem
Como já dissemos (2008): “O homem massa é o não enfrenta as mudanças e desafios do seu
medíocre que não se arrisca em grandes obras e tempo, pois não está preparado para fazê-lo.
que não se entrega a uma causa.” (p. 134). Este homem despreparado comporta-se como
A demonstração dos problemas trazidos menino mimado, entrega-se ao gozo irresponsá-
por esta nova forma de barbárie está no modo vel de que trata Ortega y Gasset em La Rebelión
como as pessoas entram em debates para os de las Masas, pois é característica comum da
quais não estão preparadas. O resultado são infância supor que o mundo andará segundo
discussões inócuas que não tocam a essência seus caprichos.
dos problemas fundamentais. Antes de seguir adiante com a noção
Além das minorias as sociedades possuem de crise é preciso lembrar a importância que
a massa. Também ela não forma uma classe so- Ortega y Gasset atribui às crenças em relação
cial ou um grupo. Estas parcelas sociais ganham aos mais variados assuntos: ciência, filosofia, re-
importância em nosso tempo porque elas têm ligião, mitos, etc. Elas têm muito peso na cultura.
acesso aos benefícios criados na civilização de Viver é relacionar-se com o entorno, mergulhar

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nele e responder aos seus desafios. Se não Por que assim ocorre? Por que a limpeza dos
conseguem fazê-lo as pessoas perdem o rumo e veículos espanhóis não estava associada aos
generaliza-se a noção de crise. Toda crise pode valores do século XX, mas à falta deles, pois:
ser compreendida se olhamos a relação entre 1º - quem limpa os carros são empregados mal
a vida e o sistema de crenças que caracteriza a pagos, o que significa a falta de bons empregos
cultura num certo tempo. e de desenvolvimento econômico no país; 2º - os
Como a crise do século XX se formou, qual carros viajam pouco na Espanha pela ausência
a origem do homem massa? Observe-se que de estradas, sinal de que o carro é um objeto de
cada crise histórica tem contornos únicos que se luxo e não de trabalho como em outros países da
vinculam ao modo de vida concreto dos sujeitos Europa; 3º - os espanhóis pagam valores muito
históricos. No século XVIII houve uma geração mais altos que os europeus para obtê-los, o que
que buscou construir os direitos fundamentais significa a falta de visão de mercado.
do homem e esta foi uma tarefa monumental. Estas atitudes ainda seriam admissíveis se
Ela tinha princípios morais rígidos, mas come- houvesse um esforço de transformação desta
çou a falar de direito para todos independente realidade, mas isto não ocorre. Esclarece o
do que fizesse. Depois de algumas gerações se filósofo (1994):
generalizou a noção de direito para todos, sem Nada significaria moralmente esta acu-
a correspondente preocupação com obrigações mulação de absurdos se tivéssemos assis-
ou deveres. O processo que soma direitos e tido a ensaios enérgicos para corrigi-los,
subtrai deveres culminou no século XX no tempo ainda que as tentativas houvessem fra-
das massas. Os políticos deste tempo esperam cassado. Porém, não creio que houvesse
dirigir a massa sem contar com a colaboração intento algum apreciável para conseguir
dela. Logo, a crise atual foi iniciada no século que o automobilismo na Europa se com-
XVIII e agravada no século XIX como se vê num porte com sentido comum. (p. 87).
texto claríssimo onde todo processo é assim
descrito pelo filósofo: Os automóveis na Espanha são proprie-
O homem do século XX foi preparado dade do senhorio, diz no ensaio, “a espécie
no século XVIII e o que hoje domina foi de criatura mais desprezível e estéril que pode
preparado no século XIX. Quer dizer, o haver.” (idem., p. 86). Por que o senhorio é des-
liberal democrata foi forjado em um sécu- prezível? Porque ele não conhece o valor do que
lo sem liberdade nem democracia e um desfruta e também porque não percebe que este
século que gozou ambas coisas produziu veículo que lhe traz deleite é resultado de muito
um homem antiliberal. (Idem., p. 722). talento e esforço. Ele pensa que pode gozar o
Em todo ocidente se generaliza um modo seu uso, que a tudo tem direito sem precisar se
de vida que provoca a crise. A Espanha dele par- empenhar muito.
ticipa, mas não é legítimo, conclui Or­tega, acusar
a inquisição ou o catolicismo pela inércia mental Considerações Finais
que marcou a vida espanhola e ibérica.
Um exemplo de como a tradição cultural
explica o atraso espanhol é apresentado num A vida neste começo de milênio não é igual
ensaio de 1930 denominado La Moral del Auto­ a do último século. Temos um novo perfil de vio-
móvil em España. O automóvel é um instrumento lência urbana, crime organizado mais agressivo e
importante em todo o mundo ocidental. No en- associado ao tráfico de drogas, fanatismo religioso
tendimento orteguiano, a chegada do automóvel convertido em terrorismo, consumo de drogas em
à Espanha revelou problemas antigos daquela grandes quantidades, sérios problemas ecológi-
sociedade. Ele relata que os espanhóis tinham cos, um mundo sob o risco do aquecimento das
grande orgulho de que os carros em Madri es- temperaturas. Estes novos desafios e as mudanças
tavam sempre brilhando, limpíssimos, enquanto observadas na sociedade contemporânea apon-
em outros países não eram tão bem cuidados. tam para o fortalecimento do individualismo e do
O que poderia significar compromisso com a hedonismo, cujo resultado prático não diverge
ordem, a limpeza, o trabalho e o capricho, na muito do homem massa orteguiano. Ora este
verdade esconde a ausência de valores atuais. perfil do homem de hoje não é muito diverso da

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criança inconseqüente e da falta de empenho Recordemos que o homem massa não
vital apontada por Ortega y Gasset como a causa pertence a nenhuma classe ou grupo e pode
da crise do seu tempo. A criança associa pouco ser encontrado em todos eles: entre os médicos
o que faz ao que ocorre e muito do que ocorre num hospital, professores nas escolas, dentistas
hoje em dia é resultado do que é feito. Logo, as em seus consultórios, mesmo entre cientistas e
explicações de El Espectador sobre a crise e difi- milionários à frente de suas empresas. Quando
culdades da sociedade são ainda atuais, embora sua especialidade os leva à ignorância genera-
tenham sido desenvolvidas na década de 20 e lizada, a discussões bizantinas e quando agem
início dos anos 30. É o que também conclui Julián como crianças irresponsáveis eles integram a
Marías da análise de La rebelión de las masas massa. Na parte inicial de La Rebelión de las
(1991): “Quase tudo o que no livro se diz parece Masas o filósofo mostra que as massas emergem
de hoje ou amanhã.” (p. 243). como a força social do século XX. Ele descreve
Há outras características sociais que a sociedade do século passado e constata que
também confirmam a atualidade da análise o surgimento das massas é um fenômeno social,
orteguiana. Vivemos um momento em que as como realça José Lasaga Medina na introdução
instituições têm um perfil horizontal, uma so- de Tiempos Dificiles. Una lectura alemana de
ciedade onde modelos e autoridades perderam La rebelión de las masas (2008): “As massas
reconhecimento. Também por isto as pessoas emergem como força social e temos de contar
pedem pouco ou nada de si mesmas, quase não com elas para o bem e para o mal. Trata-se de
se esforçam para realizar qualquer coisa. A vida uma novidade na história de nossa civilização.”
nobre foi deixada de lado. Nada é considerado (p. 281).
muito importante, nada parece impossível, nada Finalmente, a tese orteguiana que se
é perigoso, nada é superior. Estas são crenças mantém tão atual, e que foi desenvolvida em
do homem massa. vários livros dos quais La Rebelión de las Masas
O que o filósofo espanhol observa é que e Espana invertebrada parecem os mais impor-
precisamos pensar os ideais que pautam o com- tantes, encontra-se bem construída nos ensaios
portamento social a partir das exigências da vida de El Espectador.
mesma, um ideal que se afasta da vida concreta
é beataria. Ortega y Gasset diz que é estando Referências Bibliográficas
atento à razão vital, que é uma razão que nasce
das exigências do viver mesmo, é que é possível
CARVALHO, José Mauricio de. Introdução à
vencer a crise. Não há, contudo, uma forma de
filosofia da razão vital de Ortega y Gasset.
fazê-lo se não tivermos em conta as limitações
Londrina: CEFIL, 2002.
representadas pela circunstância. Para superar
as limitações é importante considerar a vocação _____. Ortega y Gasset um interlocutor ainda
íntima, embora ela se concretize numa circuns- atual. In: CARVALHO, José Mauricio de. (Org.).
tância, num determinado espaço cultural. Atas do Colóquio José Ortega y Gasset. São João
A correlação entre liberdade e circuns- del-Rei: Editora da UFSJ, 2003.
tância proposta inicialmente nas Meditaciones _____. Vida e valores na filosofia da razão vital de
del Quijote, manifesta-se como condição de um Ortega y Gasset. In: CARVALHO, José Mauricio
poder ser autêntico nos ensaios de El Especta­ de. (Org.). Problemas e teorias da ética contem­
dor, em especial, em Intimidades. Ali a questão porânea. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.
aparece bem associada com a circunstância, _____. O Homem e a filosofia, pequenas me­
limitando as escolhas.3 No ensaio citado a ques- ditações sobre a existência e a cultura. 2. ed.
tão das escolhas que delimitam a vida e precisam Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.
ser vencidas adquirem um tom verdadeiramente
moral. Em Intimidades a vida humana é inven- _____. O diálogo entre o raciovitalismo de
ção do que cada um deve ser em sua época, o Ortega y Gasset e o pragmatismo de William
criador de si. James. In: FERREIRA, Arthur Leal Ferreira (Org).

3
Nossa referência tem em vista frases como a que se segue: “Nossa vida está posta por nós e tem uma ou outra meta. A eleição delas
não será totalmente livre, as circunstâncias limitam as margens de nossa vontade.” (p. 644).

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