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1. Introdução
A adaptação do ser humano ao meio aquático (AMA) é, antes de mais, uma questão
de sobrevivência. Mais tarde ou mais cedo, com maior ou menor frequência, de
forma mais ou menos inusitada, qualquer pessoa acaba por contactar com o
ambiente aquático, seja ele natural (mares, rios, lagos,…) ou produzido pelo
próprio Homem (piscinas). A capacidade de nele sobreviver vai depender da
quantidade e qualidade das adaptações até então adquiridas e do conhecimento
que o sujeito tem deste meio. Neste contexto, a AMA é vista no seu sentido lato.
Quanto melhor for a competência aquática de um indivíduo tanto mais adaptado ele
estará. Estará mais bem adaptado à água o sujeito que nade todas as técnicas,
parta e vire, jogue pólo aquático, salte e faça natação sincronizada, entre outras
competências não associadas a modalidades desportivas aquáticas. Em sentido
restrito, a AMA é vista como a primeira fase do ensino da natação ou de outras
disciplinas aquáticas. Nesta fase procuram resolver-se os problemas de equilíbrio,
respiração e propulsão que o inadaptado sente e que decorrem das diferenças
existentes entre o meio terrestre e o meio aquático. Procura-se ainda dotar o
indivíduo de um conjunto de competências básicas que visam facilitar a aquisição
de competências mais complexas. Por exemplo, ensina-se o aluno a rodar no eixo
frontal com vista à futura aquisição das técnicas de viragem com rolamento. Neste
contexto, a AMA ultrapassa a importante relação com a sobrevivência do indivíduo
no meio aquático, passando a ser olhada como pressuposto da aprendizagem e do
próprio rendimento desportivo na natação.
O texto que a seguir se desenvolve está redigido de uma forma simples, usando
uma linguagem que se quer tão próxima possível da que utilizamos no bordo da
piscina, por vezes destituída de alguns dos formalismos que caracterizam a
linguagem escrita. Tal não invalida que nalgumas situações se apliquem termos
mais formais, que deverão ser simplificados na prática do dia a dia. Contudo, a
simplificação da linguagem no ambiente de ensino não deve cair em situações
menos ortodoxas, tais como a de, por exemplo, chamar corda ao separador de
pista. Será legítimo simplificar e chamar-lhe apenas pista, mão não corda. Tudo
isto porque o uso da designação completa, separador de pista no exemplo dado,
implica que o tempo de informação aumente e que o feedback curto e rápido possa
ser inviabilizado. Durante as páginas seguintes falaremos então sobre a sequência
a adoptar para adaptar um indivíduo ao meio aquático, justificando algumas das
opções tomadas à luz da didáctica e de alguns princípios mecânicos
especificamente relacionados com o meio aquático. Trata-se de uma proposta
elaborada e permanentemente optimizada pelo gabinete de Natação da FADEUP,
com base na consulta de documentos vários e na experiência lectiva dos docentes.
Encerraremos com uma reflexão relativa ao conceito de saber nadar e indicando
alguma literatura de suporte ao ensino da natação que poderá ser consultada.
2.1.Equilíbrio vertical
A aquisição do equilíbrio vertical é o primeiro passo da adaptação ao meio aquático.
Quando um sujeito entra na água de pé e tenta simplesmente caminhar, a primeira
coisa que sente é que se desequilibra. A busca do equilíbrio aquático pode então
ser induzida com deslocamentos suaves, andando para a frente, para trás, de lado,
a rodar e das formas que o aluno imaginar. Depois, à medida que se sente mais
seguro, podemos sugerir-lhe que corra, salte e brinque de forma mais atrevida. A
necessidade de o aluno conseguir caminhar na água é fundamental. Antes de
avançar para o desenvolvimento de outras competências temos de ter a certeza de
que o aluno, em caso de queda, consegue retomar a vertical sem risco de
afogamento.
2.2.Adaptações da face
Resolvida a situação de equilíbrio vertical e para minimizar ainda mais o risco de
afogamento em situação de queda a água, é necessário começar rapidamente com
o trabalho de adaptação da face. O aluno tem que suportar o contacto da água com
os olhos, o nariz, a boca e os ouvidos. O que mais lhe irá custar será a abertura dos
olhos e neste momento, nós professores, não podemos ceder à pressão dos pais e
dos alunos que insistem no uso dos óculos de natação. Um aluno não deve usar
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óculos de natação antes de conseguir abrir os olhos de forma natural e espontânea.
Este é o momento de propormos exercícios onde a expiração activa está presente
(e.g. "faz bolhinhas debaixo de água com a boca") e exercícios em que o aluno tem
que ver, com a face imersa, que objecto foi escondido no fundo da piscina ou o
número de dedos que estão visíveis na mão do professor.
A absoluta necessidade de aquisição das três competências que expressam a
adaptação da face à água (imergir a face e, simultaneamente, abrir os olhos e
expirar activamente) é sustentada por várias ordens de razões: (i) Primeiro porque
um sujeito que "sabe nadar" (ou seja, não se afoga!), numa situação de acidente
(queda inadvertida na água) pode afogar-se pelo simples facto de não conseguir
ultrapassar a aflição que é ter a face (ouvidos incluídos) rodeada de água. Assusta-
se, hiperventila e engole água; (ii) Segundo porque qualquer habilidade realizada
com o corpo na horizontal é sujeita a maior arrasto (força oposta ao deslocamento)
quando a cabeça está emersa. Tal acontece porque os membros inferiores (MI)
afundam quando a cabeça se eleva, ficando o corpo em posição oblíqua, o que
aumenta a área de superfície frontal oposta ao deslocamento (a área de superfície
frontal oposta ao deslocamento é a superfície corporal que cria resistência ao
avanço. Andar de pé para a frente na água é mais difícil do que deslocar-se na
horizontal porque a superfície corporal que cria resistência é maior quando estamos
de pé); (iii) Terceiro, porque não é possível nadar bem com a cabeça fora de água,
seja em que técnica for, porque em todas há um tempo de imersão da face que
tem que ser respeitado e coordenado com os movimentos, quer dos membros
superiores (MS), quer dos MI. Em qualquer das técnicas (à excepção óbvia do nado
de costas); (iv) Quarto, porque a expiração é realizada dentro de água. Se não o
for, quando o praticante emerge a cabeça, no tempo que tem para inspirar vai ter
que expirar e inspirar, o que aumenta o tempo de permanência da cabeça fora de
água, induz maior arrasto e provoca uma descoordenação com os movimentos dos
MS e dos MI; (v) Quinto e, por último, abrir os olhos é fundamental por uma
questão de orientação. A existência de linhas pretas no fundo e paredes da piscina
justifica-se, exactamente, pelo facto de necessitarmos de guias para que o nado
ocorra em linha recta. Necessitamos, pela mesma razão, do festão de falsa partida
e dos festões de viragem ("bandeirolas") para sabermos, quando nadamos costas,
o quão próximo estamos da parede. É fácil testar esta necessidade. Basta tentar
nadar em linha recta com os olhos fechados. O que vai acontecer é um desvio da
linha de nado para a lateral direita ou esquerda, dependendo de qual é o MS
dominante.
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Uma vez que o aluno já se desloca de pé na água com alguma segurança e imerge
a face podemos começar a fazê-lo entender que quando cai à água não fica
pousado no fundo da piscina, como se de uma barra de ferro se tratasse, um
pensamento muito usual no senso-comum. De facto, o corpo tende a emergir, o
que acontece porque enquanto no meio terrestre o corpo está sujeito a uma força
única, denominada força da gravidade, aquela que atrai o corpo para a terra e que
é responsável pelo facto desse corpo ter peso, na água há uma outra força a actuar
sobre o corpo, chamada força de impulsão. A força de impulsão é a força que
empurra o corpo para cima, na direcção da superfície, e é a resultante das forças
de compressão do corpo, que são maiores nas zonas que estão a maior
profundidade (nos pés, se estivermos de pé). Esta força não é, contudo, suficiente
para nos mantermos à superfície com a face fora de água, nomeadamente a boca e
o nariz. Se o aluno ainda não conseguir sustentar-se na água, após a queda
emerge, mas vai engoli-la e respirá-la e o afogamento dar-se-á pouco abaixo da
zona de interface entre o ar e a água. Para melhor entender a emersão o aluno
deve ser convidado a imergir em profundidade e a subir ajudado pela força de
impulsão. Podemos pedir-lhe para descer a escada da piscina com as mãos, para
largar o bordo da piscina e se empurrar para o fundo, sentando-se até, se
conseguir, para descer agarrado a uma vara, para descer juntamente com o
professor ou empurrado por ele. Mal o aluno toque o fundo deve soltar-se de tudo a
que estiver agarrado, olhar para cima e começar a subir, sentindo como "algo" o
empurra em direcção à superfície. Se mover os MS e os MI sobe ainda mais rápido
e mal se agarra ao bordo da piscina fica seguro. É natural que o aluno sinta um
pouco de medo durante a realização destes exercícios, mas tal facto é
absolutamente natural e não devemos deixar de o ajudar.
A partir do momento em que o aluno já caminha na piscina para a frente, para trás
e para os lados, já molha a cara, abre os olhos e expira e já consegue imergir o
corpo todo até ao fundo da piscina pode começar a saltar de pé, tendo o cuidado de
prender os haluces (dedos grandes do pé) no bordo da piscina.
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cuidadosamente analisado. Chamamos a atenção para o facto de estarmos a
analisar o domínio do senso-comum. A autora da notícia pretendia chamar a
atenção para os cuidados que devemos ter com as crianças e a água (leia-se
piscinas, mar...) durante os períodos de férias, particularmente no verão.
Conhecemos vários exemplos similares a este.
"...estávamos num condomínio fechado com piscina e andava por ali uma menina
que não devia ter mais de 3 anos. Andava com as braçadeiras e entrava e saída
da piscina a seu bel-prazer. Os pais estavam do outro lado de uma sebe a não a
conseguiam ver. Às tantas a menina veio de ao pé dos pais sem as braçadeiras
e como normalmente fazia (e como ainda ninguém lhe tinha dito que não podia ir
para a água sem elas) atirou-se para dentro da água. Se não fosse o Sr. Marido
[a autora do relato refere-se ao seu próprio marido] atirar-se logo lá para dentro e
trazê-la para fora ela tinha lá ficado e os pais nem sequer se tinham apercebido de
nada." (as expressões a negrito foram propositadamente salientadas)
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2.3.2. Aquisição da noção do risco de afogamento e “auto-
salvamento”
Apesar do confronto da criança com as situações de imersão da face e do corpo,
dependendo da sua idade, a noção do risco de afogamento pode ou não ser
adquirida. Para adquirir esta noção é necessário que, enquanto bebé, se ultrapasse
a fase da inconsciência do risco (a fase em que saltar de uma janela do 3º andar é
igual a descer o degrau do passeio). É ainda importante referir que, mesmo depois
da aquisição da noção de risco de afogamento, é muito difícil uma criança adquirir
algumas competências de "auto-salvamento" antes dos 2.5 anos e, mesmo depois
de as adquirir, vai continuar a requerer uma vigilância muito apertada, porque na
emoção do momento, brincando, imitando outras crianças, pode ir além daquilo
que é capaz. Antes desta idade, na maioria das vezes, a competência de “auto-
salvamento” traduz-se na simples acção de, depois de cair à água perto do bordo, a
criança emergir e nadar um metro para se agarrar. Note-se, ainda, que estas
afirmações não são válidas se a criança cair à água vestida, porque dificilmente
será capaz de sustentar o peso da roupa molhada. Todas as pessoas deveriam
saber que, numa situação de queda acidental à água, a primeira coisa que temos
de fazer é despir-nos, tirando os sapatos ou botas logo em primeiro lugar. Contudo,
isto é algo que um bebé ou uma criança pequena não conseguem fazer.
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A medusa, ou posição fetal na água começa a ser trabalhada após o salto de pé ou
o equilíbrio vertical autónomo. É a habilidade aquática em que o corpo humano
mais se aproxima do equilíbrio estável. O equilíbrio estável caracteriza-se pela
coincidência dos pontos de aplicação das forças de gravidade e de impulsão, o que
acontece apenas em corpos homogéneos, como uma rolha de cortiça, por exemplo.
Trata-se de um tipo de equilíbrio impossível no corpo humano, por ser constituído
por diferentes tipos de tecidos (ósseo, muscular, adiposo, cartilaginoso,...). O aluno
vai começar por experimentar a posição de medusa, primeiro, realizando uma
apneia inspiratória (inspirar o mais possível e suster o ar, bloqueando a expiração).
O ar é muito leve (menos denso que a água) e ajuda a flutuar. O aluno vai sentir
que, com o ar dentro do peito, é muito fácil flutuar. São critérios para a realização
da medusa com apneia inspiratória a manutenção da face em imersão e da posição
fetal. Depois do aluno já conseguir adoptar a posição de medusa com apneia
inspiratória deve deixar-se manipular. Devemos tocar, empurrando e rodando
ligeiramente na horizontal, no corpo do aluno, que se deixará voltar à posição
inicial, sentindo como o seu corpo tende a flutuar. Por fim, devemos estimular uma
habilidade mais difícil, por vezes mesmo impossível de realizar com crianças
pequenas, a medusa com apneia expiratória. A dificuldade associada a esta
habilidade advém da necessidade de resistir à apneia expiratória. O aluno tem,
primeiro, que expirar com muita força (expiração forçada) e depois tem que
adoptar a posição de medusa só com o volume de ar residual que lhe fica dentro
dos pulmões. Se o aluno conseguir suportar a apneia expiratória vai sentir o seu
corpo descer em direcção ao fundo da piscina, salvo nalguns casos em que existe
flutuabilidade positiva mesmo com o pulmão esvaziado.
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Antes do aluno começar a tentar o domínio do equilíbrio horizontal tem que
aprender a deitar-se na água, quer em decúbito ventral, quer dorsal. É
imprescindível que seja capaz de passar da posição vertical para a horizontal, quer
ventral, quer dorsal, voltando a retomar a posição vertical inicial. Depois de treinar
estas alterações de posição pode começar a adoptar a posição de estrela (flutuar
com os MI e os MS afastados), com a face imersa. Apesar da necessidade de
imersão na face, a definição da posição de estrela é mais fácil na posição ventral.
Deitar para trás é vertiginoso e é natural que o aluno reaja de forma mais receosa
às primeiras propostas de realização da estrela dorsal.
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ondas são muito similares àquelas que se formam quando atiramos uma pedra para
dentro de um lago em que as águas estavam paradas. A formação de ondas à volta
do corpo do nadador é um dos fenómenos hidrodinâmicos responsáveis pela
frenagem do seu movimento, conhecido por arrasto de onda. Mas o arrasto de onda
não é a única forma de arrasto que o corpo sofre quando se desloca à superfície da
água. Existe também o arrasto de fricção. Junto ao corpo existe uma fina película
de água que se move a uma menor velocidade que as camadas adjacentes. Chama-
se a esta película a camada limite. A água move-se mais lentamente, frenando o
deslocamento para a frente, porque as gotas de água vão ficando "presas" ao
corpo. Este fenómeno de fricção é tanto maior quanto mais perto se estiver da
superfície, porque quanto mais fundo se está mais as partículas têm dificuldade em
aderir ao corpo, uma vez que as adjacentes puxam-nas, como que descolando-as
do corpo. À superfície as camadas adjacentes são muito menos espessas, daí o
maior arrasto. Outro tipo de arrasto que o corpo sofre quando à superfície da água
é o arrasto de pressão. Quando se nada, a parte da frente do corpo (cabeça,
ombros...) constitui uma barreira oposta ao deslocamento. Nesta zona de barreira
há partículas de água que diminuem a sua velocidade de deslocamento e outras
que param mesmo de se movimentar. Quando conseguem fluir a partir do ponto
que as fez desacelerar ou onde ficaram estagnadas, aceleram rapidamente na
direcção dos pés, umas seguindo pela parte superior do corpo, outras pela parte
inferior. Estas partículas vão criar, na zona dos pés, uma massa de água em
turbilhão que se designa por esteira. Este fenómeno, representado na Figura 1,
pode ser muito facilmente observado nos barcos a motor, por exemplo.
Um matemático suíço de nome Jakob Bernoulli (sec XVI – XVII), descobriu que há
uma relação inversa entre a velocidade de um fluído e a sua pressão (Teorema de
Bernoulli). Assim, se na parte anterior do corpo a velocidade das partículas de água
é menor, então, a pressão é maior, e o inverso acontece no lado oposto desse
mesmo corpo. Quando há um gradiente inverso de pressões tende a formar-se uma
força orientada no sentido das altas para as baixas pressões, formando-se uma
força que puxa o corpo na direcção dos pés, ou seja, no sentido contrário ao
deslocamento. É a esta força que se chama arrasto de pressão. Este tipo de arrasto
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é o responsável pelo facto de não se dever elevar muito a cabeça quando se nada,
por exemplo. Elevando a cabeça, os MI tendem a afundar, criando muitos mais
pontos de estagnação das partículas de água e aumentando o arrasto de pressão.
No deslize, se o aluno se deslocar com um bom alinhamento corporal, imerso,
minimiza os pontos de estagnação e desloca-se mais depressa.
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As rotações no eixo frontal são exactamente o conteúdo seguinte que o aluno deve
aprender. O eixo horizontal é o eixo que fica à frente do corpo, mas fora dele (é o
eixo do varão de protecção da saída da escola em que as crianças rodam). O aluno
deve aprender a rodar com o corpo engrupado, para a frente e para trás. A
aquisição desta competência vai ser de grande valia na aprendizagem futura das
viragens de rolamento. Também vai permitir ao aluno aprender a retomar as suas
referências em termos de orientação, depois de ter rodado na água, uma
competência importante para o auto-salvamento em caso de acidente aquático. Por
exemplo, se o aluno alguma vez cair à piscina ou de um barco, mesmo depois de
duas ou três “cambalhotas”, saberá exactamente onde está.
Se estivermos a aprender a ensinar a nadar numa piscina de água rasa (com pé),
podemos ajudar o aluno a rodar. Numa piscina de água profunda (sem pé),
podemos colocar o aluno no bordo, na posição de grande flexão de MI (de
“cócoras”), e ele terá de fazer as “cambalhotas” deixando-se cair para a água e
rodando.
Depois do aluno ter aprendido tudo o que descrevemos até ao momento deverá
estar pronto para começar a propulsionar-se através da acção alternada dos MI,
quer estando na posição ventral, quer dorsal. A placa deve ser pegada na posição
horizontal (com o bordo mais largo na frente da cabeça), usando-se uma pega
média (as duas mãos agarram os bordos laterais da placa). O aluno deve estender
bem os MI, sem esquecer os pés e sem ficar exageradamente tenso, e estender
bem os MS. É fundamental que coloque a cabeça dentro de água, para uma boa
manutenção do alinhamento corporal e minimização do arrasto. Sempre que o
aluno necessitar de respirar deve elevar a cabeça frontalmente e inspirar
fortemente. Depois volta a colocar a cabeça na água e expirar tanto ar quanto
conseguir. É necessário cuidar para que o aluno não expire fora de água, fazendo
uma apneia quando a face está imersa. Este erro é particularmente grave,
nomeadamente porque, mais tarde, quando o aluno estiver a aprender as técnicas
de nado, será impossível conseguir um nado bem coordenado. Tal acontecerá
porque o aluno vai expirar e inspirara no momento temporal destinado apenas à
inspiração, o que atrasará a imersão da face.
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deslocar na água. Contudo, ainda sem que lhe ensinemos qualquer técnica
estereotipada de nado. Podemos usar jogos em que o aluno tem de ser deslocar em
meio aquático imitando objectos, animais ou acontecimentos. Devemos usar
imagens tão sui generis quanto possível (ex: nada como se fosses uma cadeira,
como um Leão, como um candeeiro, como uma ave, como um parafuso. Imita um
piano a cair á água, um rallie. Inventa tu! Nada como quiseres.). A única exigência
a colocar é a de que o aluno seja capaz de se deslocar. Neste momento o aluno
estará pronto para novas aquisições. Podemos dizer que está adaptado ao meio
aquático. Não tem problemas em nadar sem óculos, não precisa de braçadeiras ou
flutuadores para se manter à superfície, sabe colocar-se em posição hidrodinâmica,
fazer “parafusos” e dar “cambalhotas”.
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Figura 3 – Entrada na piscina, de cabeça, sem voo.
A entrada na água dá-se com as mãos em primeiro lugar e todo o corpo deve
passar pelo "buraco" aberto pelas mãos. Claro que no ensino, se se retirou o voo,
vai ser impossível fazer passar o corpo todo pelo mesmo ponto. Por fim, o aluno vai
deslizar com o corpo em posição hidrodinâmica, a uma altura de cerca de 50 cm da
superfície, habilidade que ele já aprendeu.
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curso superior de educação física, se irá querer fazer carreira na marinha, se, se,
se, se... O lema mais importante é, em linguagem bem corrente, "não cortar
pernas", ensinar-lhe tudo. Mesmo que ele não venha a ser nadador de alta
competição, mesmo que ele venha a ser um profissional qualquer de outra área que
não o desporto aquático, mesmo que ele só venha a nadar como forma de
"manutenção", de recereação ou de recuperação. Ainda assim, só nadará se o seu
nado for competente e lhe transmitir uma sensação agradável. Se for penoso e
sofrido, um nado de "desenrasque", de pouco ou nada irá servir-lhe, seja em que
circunstância for. Neste sentido, nós, os profissionais das actividades aquáticas, só
temos uma solução: ser profissionais de excelência para produzir alunos com
excelência capaz de ser aplicada naquilo que eles vierem a necessitar. É isso que
devemos tentar todos os dias, quer com os maiores, quer com os mais pequeninos,
que nos passam como alunos.
Apenas mais um pormenor em jeito de reflexão. Se saber "desenrascar-se" na água
chegasse, então, os professores de natação não seriam necessários. Há imensas
pessoas e crianças que se “desenrascam” muito bem com os ensinamentos que os
pais e avôs lhes proporcionam em tempo de verão.
Saber nadar, para o leigo, significa não se afogar. Saber nadar, para o profissional
do desporto, significa ter uma competência aquática de nível superior em todas as
disciplinas aquáticas.
3. Conclusão
O processo adaptativo ao meio aquático constitui a propedêutica do ensino das
técnicas de nadar, partir e virar. Pressupõe uma abordagem sequencial de
conteúdos, ordenados do mais simples para o mais complexo. Esta ordenação tem
por base uma fundamentação suportada na documentação técnica existente, na
lógica da didáctica e dos princípios da mecânica aquática. Apesar de carecer ainda
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de validação científica, tem aceitação suficiente na comunidade técnica. Assim é a
proposta que aqui deixamos.
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