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- W- A TEORIÀ CRITIC,A: ONTEM E HOiE
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de troca e na acu-
ção sistêmica baseada nas relações
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dos: por um lado, a competência técnica e instrumen-
I
tal desenvoivida pelos sistemas de reprodução rnate' mulação, por um lado, e da falta de racionalidacle co-
por
rial, graças à ciência e à técnica, permitindo em prin' municativã qm amplas esferas do mundo vivido'
cípio a plena satisfação das necessidades de *"odos os outro. I{abermas, õonfudo, tem uma fé inquebrantá'
homens e, por outro lado, a crescente "racionaiiza' capacidade de aprendizado dos sistemas.sócio'
ção" das esferas de vaior, substituindo concepçóes re-
"uin"
culturais modernos, que ajustam seus mecanismos de
t ligiosas do mundo por sistemas de normâs e valores autocontrole e de auto-orientação de acordo com os
.)
consensualmente elaborados pelos atores do sistema cr^,rt de conrplexidade e diferenciação atingidos'
\
-í em situações dialógicas liwes de repressão. Habermas não adere à leitura do Iluminismo feita
Fercebe-se que Habermas acompanha o raciocí- s por tr{orkheiirner e Adorno, em que "o feitiço se volta
Y
nio de Marx, ao valorizar a racionalidade e eficácia $ àontra o feiticeiro", mas percebe-se como leitor atento
x do sistema de reprodução material das modernas so- z
.HI de seus trabalhos. Nos debates que trava com
seus o-
\J ffg. pãtitot"t teóricos e ideolôgicos, não lhe interessa ani'
ciedades de massa, e o de Weber, quando admite a
mas absorvê-ios'
"racionalização" de certas esferas de valor que es- ht$P.
lÉt$ 5 ãuitar ou contestar seus argumentos'
z no interesse de uma melhor argumentação, mais ve'
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capam ao controle autoritário da religião ou do Es- 0 co-
-ì tado, Hâbeïnas aintia admite, corno A4am, que a re- .+<ìl v C) raz, mais justa, mais verdadeira' A teoria da ação
luuãpt dialógica e'
v produção material de bens, destinada a suprir as ne- u municativa demonstra uma competência
+è \.í cessidades'de todos os honens; aiirda"não e;:controu i.i+6" Ê *.*pt"t, ao debater-se com teôricos de todas as orien-

\g formas racionais e justas de distribuir esses bens efeti-


vamente entre todos os membros da sociedade, e con-
cordaria que a "racionalizaçáo do mundo" nem sem-

c-ffi6u
o
&
F.
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lãioãt, Habermas parece estar pondo em prâtica a sua
i"àriu consensual da verdade. Neste sentido toda teo-
ntação de Habermas não é senão díscurso' como
ele
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Ò-4 pre trouxe benefícios à humanidade. Mas Habermas $ próprio o definiu.
la <v discorda de Marx em sua proposta de alterar revoiu'
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--? cionariamente as condições sociais como única saída
/ -f*-' possível e não acompanha mais Weber quando esse A dupla face da cultura
>r. \ e a discussão da indústria cultural
-'" afirrna que a "racionalizaçáo" das concepções religio-
=€ sas do mundo conduziu ao "desencantamento" e à a-

5o
!|q.
lienação. Habermas resgata, atravês de sua teoria da
evolução da modernidade, dois momentos positivos do
"iià"li,lã;Ìli:Íi-,ïflÏ:,':'"ï":ïï:'i:f
i;ïi;ea
processo histórico: a competência do sistema cle pro- uma dimensão crítica iace a todas as instituiçees
-\laí tudo que existe"'
dução para atender às necessidades de sobrevivência (Âdorno)
-1 .!l
da'humanidade e o grau de racionalidade comunicati-
{- va jâ conquistada pelaLebenswelt.l'iem por isso FIa-
Provavelmente a teoria crítica da Escola
de
bermas deixa de perceber as incongruências e injusti-
ças que ainda ocoffem em conseqüência da orgániza- Frankfurt tornou-se mais conhecida no mundo inteiro
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6ó BARBARAFREITAG -ïk-Èh5ap5n1c.r, oNrEMFdu i, 6i
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pela sua crítica à cultura de rnassa que pelos seus de- dorno. A obra posterior de Adorno, especialmente a.
mais trabalhos em outros campos do saber, como a fi- quela publicada na Alemanha a parür de sua volta dos
Iosofia, a sociologia, a crittea literária, a teoria do co- Estados Unidos (Noten zur Literatur, Ìtííninza Mora-
nhecimento, etc. lía, Negaiíva Dialektik e Aesthetische Teorie), pode,
O conceito de "indúsfria cultural", divuigado por em grande parte, ser vista e interpretada como sendo
Adorno e Florkheimer eÍn A Dialética do Esclsreci- um desdobramento das teses esboçadas nesse artigo,
mento (7947), jâ laz parte integrante do conceituai das ainda escrito na Califórnia.
ciências sociais e da comunicação, onde tem encontra- I -? Na discussão que aqui se segue será dada maior 1

do ampla aplicação. ênfase ao ensaio sobre a indústria cultural, no qual são I


Como no caso do primeiro eixo temáüco, o terna discutidos os conceitos de cultura popular e de massa, I
ida cultura aflora no início dos babalhos do grupo, ain- indústria culfural, obra de arte, etc, A referência à o- '
,da na fase de seu funcionamento em Frankfurt,,e 4l bra posterior de Adorno será feita a títuio de extrapo-
companha a reflexão dos seus maiores expoentes, até a lação, ressaltando-se sua tendência crescente em dire-
sua morte. Já no primeiro número da Zeitschrtft ção a um pessimismo cultural que o conduziria a um
dorno publica urn importante artigo sobre a música ^- beco sem saída.
("Sobre a sihração social da rnúsica", lg32) no qual Como no tratamento do tema anterior, impõe-se
reconhece que a música é um produto espeeífico das uma diferenciação entre os diferentes autores que
relações de produção capitalista, rnas ressalta também compõem o núcleo dos pensadores críticos, não se se-
o seu caráter contestatório, enquarrto ci{tica.cíessas re- guindo uma ordem cronológica dos trabalhos. O tra-
lações. Benjamin, por sua vez, lança no sexto número tamento do tema seguirá, na medida do possível, à ló-,
' da revista (1936)
seu artigo polêmico sobre a .,Obra de gica de desdobramento intrínseca aos conceitos desen-l
arte na era de sua reproduübilidade técnica" (a pri_ volvidos pelos autores, partindo do conceito de cultu-
meira versão ern francês data de 1935). Ë de 1932 o ra, da obra de arte, sua reprodutibilidade técnica, seu,
corrhecido ensaio de Marcuse sobre o "Carâter afirma- consumo pelas massas, o seu desvirtuamento ("a per-j
tivo da cultura", e de 7947 o ensaio de .Horkheimer so- da da aura", na visão benjaminiana) e a preservação'
bre a "Arte e a cultura de massa", onde pela primeira da música e outras formas de arte (como única mani,
vez é empregado o conceito de ,iln_dústria-_qirlturall'. .
festação de protesto e crítica contra a ordem estabelei
Estes e outros artigos de menor importância an- i cida, na visão de Adorno). ì

tecederam, pois, as reflexões de Adorno e Horkheimer I Corfiãntadores de Adorno (Text und Kritik, 1967)
magistralmente sintetizadas no ensaio ,,Indústria cul- i são unânimes em afirmar que a partir do momento em
turai, Iluminismo como sedução das massas" (1947), I que assumiu a cogestão e finalmente a direção do Ins-
que íntegra sua coietânea de ensaios A Dialética d,o tituto, o autor da Dia!ética Negativa restringiu o cam-
Esclarecimento. Segundo revelações feitas à Haber- po semântico e a abrangência da teoria crítica de ou-
mas pela viúva de Adorno, o ensaio sobre a indústria trora, abandonando as análises mais concretas das re-
cultural pode ser atribuído quase que na íntegra a A- lações de produção e da repressão das ciasses inerente
66 BARBARAFREITAG A TEORIA CRÍTICA: O'''TEM E HOJE 69

à moderna sociedade de massas, objeto original das tituía uma forma de seduzir os rnembros da sociedade
investigações do Instituto, para enclausurar-se cada para se contentarem com promessas ou expectativas
vez mais no campo da rnúsica, onde sua crítica e seur de felicidade no mundo espiritual, sem reivindicá-las
protesto somente sexien ccnpreendidos põr uma pe- ou estendê-las também às suas condições materiais de
quena minoria. vida. Essas condições sô eram favoráveis para uma pe-
Será interessante seguir essa trajetória do pensa- guena minoria, detentora dos meios de produção. A .

mento, em especial, o caminho da crítica da cultura à grande maioria da população estava excluída tanto do
teoria estéticá que se concebe como interpretação do i usufruto dos bens materiais e portanto do bem-estar e
protesto contido nas manifestações artísticas. I
do conforto individual quanto do acesso ao consÌ]no'
de bens culturais como a pintura, escultura, música ei
outras manifestações da cuitura.
' A separação da sociedade burguesa em dois mun-
Cultura e indústría cultural
dos o da reproduçãô maïërïá1 dd vÌdâ GìViliiaçãó) e
-
o mundo espiritual das idéias, da arte, dos sentimen-
Ao tratarem do tema da culfura, Marcuse, Ador- tos, etc. (cuitura) perrmitiu a essa sociedade justifi-
no e Horkheimer lembram a velha distinção feita e até
-
car a exploração e alienação que a grande maioria so-
hoje difundida na Alemanha entre "cultura" e "civili- fria nas linhas de montagem e de produção, na adnti- '

zação", isto é; entre mundo cias idéias'e rios,sentimen- nistração burocratizada, e no cotidiano miserâvel.
tos elevados de um lado, e mundo da reprodução ma- Em contrapartida, essa mesma---sociedade a-cenê
terial, do outro. através dos seus bens culturais õJm um müiiã-o mèlhor,
Em seu artigo, "Caráter afirmativo da Cultura" no qual se ióncretizanam a felicidade, liberdade, o a-
(1937), Marcuse analisa as condições históricas mor e a humanidade. Esses ideais são tematizados em --
mergência da burguesia na Europa
- a e-
em que essa se- obras de arte, na proclução cultural, simbolizando a
paração foi consumada e perpetuada. - Enquanto o promessa de feiicidade. Marcuse acre-dita, por isso,
niundo do trabalho seguia a lógica da necessidade, iml àu. u obra de arte, alienada*de uma reãlíaaae material
pondo soÍrimento e abstenção aos homens que nele sd ,i, aiiume uma função alienante na medi-
moviam, o mundo cultural permitira postular a liber-] "*plorhãô,
da em q,r" iu, .o* qüe'os liodìú-s se ãiustem e se ade-
dade, a felicidade, a realização espiritual, se não reaJ quem às formas deiumanas de organuaçào da socie-
lizadas no presente, pelo menos prometidas para o fuì dade, rìmètendo para,o futuro os seus desejos de feli-
turo. À oposição trabalho-lazer, necessidade-liber- cidade e reallização. Ao mesllo !qppo."que-a.-.obra d.e
dade, matéria-espírito, associou-se o par exteriori- arte e a cultura em gelal se fechavam ao consumo da
dade-interioridade, central para a filosofia da culh.ra classe trabalhadorâ, pr31 serem considerados bens de
do período burguês (século XIX). A ênfase dada à di- consumo leservãàos a uffta elite, representavam em
mensão subjetiva, à interioridade dos sentimentos, aos ì
sua própria estrptura.um protesto contra a injustiça,
valores espirituais, à dignidade da pobreza, etc,, cons- mas esta sô poderia ser superada no futu.ro. --
BÁRBé.RA FREÍTAC
A TEORIA CRÌTICÁ; ONTEM E HOiE 71

No decorrer do tempo, esse modelo foi se tornan_ ,/


do segundo a análise de Marcuse
rias, sisternas filosóficos e obras de arte são derruba-
- - cada vez mais
fuâgti e íncapaz de contribuir para a manutenção do dos'dos seus pedestais, deixam de ser bens de consÌtmo
de luxo, destinados a uma.elite burguesa, para se con-
sistema de reprodução rnaterial, sobretudo na fase de
ascensão da.trur"guesia. Para rnanter os trabalhadores -fverterem ern bens de coísümo de rnassa. Esse p1o.cgss9/,
-d,issoluçãeda-o_bfe_dç:glq9 dê_Sltuü-êsiab ú:u,a d o
e assalariados em geral inseridos ns processo produti_
de f
ppla-sevoluçae--teyolosl_qglqgltrigl glg__pertLi du i
vo, tornavam-se necessárias novas formas de repressão arte ou dej
e exploração, exigindo do Estado e da empresa inten. t@,--f oto grati.a- cixema -disõ* .cas. s e-'
venções mais radicais eeficientes. I ^
t"r@go, utc.)'-4 ob.e Ir arte, nêera_dq 24..19p-r_qdu- g',
A separação entre a produção materiai (civiliza- ti6Íi dãFe ïëffi i.ìTBgü elrtlrl-úí-qb c"i o n a ïói t u t i i ò o
Ção) e a.produção de bens espirituais (cultura) não era
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clJ1rrm -cÌs solve o . ;" ó t" l; "
;e u a ; aeã i Ì *,-tratrlo tn-u</
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masu- M as c o m o a j u' -'


a forma mais adequada pará dissimuìar as estruturas "i
qgI!Ë-de+Ji.teer0.{gltu-f-a-de
do novo sistema de produção. A fim de tornar os tra-
ção do processo material de produção com o processo
balhadores dóceis e submissos, não bastava recorrer à de produção de bens ideais e culturais não se deu na
dicotomia entre civilizaçã.o e cultura, entre escassez perspectiva idealizada por Marcuse, a "democratiza-
material externa e riqveza espirihral interna. To:nou_ ção" dos bens culturais Íoi uma Íalsa "democratiza-
se imperioso mudar os padrões de organizaçáo da pro_ ção".A dissolução da obra de arte não ocorreu porque'
ducão culfural que foi sen.do.gradatjvamenfa coo.ntada o sistema de produção de mercadorias havia sido su-
pela esfera da civilização, isto é, sendo absorvidá pelo primido e sim.porque ela foi transformada em merca-i
sistema da produção de bens rnateriais que ,.rrt u_ doria (Adorno, Horkheimer), assimilando-a à produ-i
turou inteiramente as formas de circulação e consumo ção capitalista de bens. Em conseqüência, a aparente
da culfura. Inicialmente Marcuse acreditava que a dis_ reconciliação da cultura com a civiiização foi uma fal-
solução da obra de arte em conseqüência de uma or_ sa reconciliação, que traiu o ideal.de felicidade, huma-
ganizaçã.o geral da produção material de bens em
mol_ nidade e justiça contido na esfera da culfura.,]Q.p5odl-r<+.
'\
des socialistas anunci arta a matenalização da felicida- to.-_c-ultural integrado 4.lógica do mercado e das reia-l
de no mundo do trabalho, dispensando a longo prazo ções de troca deixa de ser "cultura" para tornar-se va{ ,/'
a produção artística. Esta somente seria necessária em lor de troca, A falsa reconciliação entre produção maì(i
um mundo alienado, marcado pela divisão do trabalho terial e ideal de bens recebe o nome de "indústria.culp
pela propriedade privada e pela dominação.
Erradica- tunal". Ho1\heimç-q.ç.Adorno'crìaram esse termo pará"
i
dos esses males, a obra de arte poderia eventualmente i il;
evitaítermos mais familiares, mas também mais am-
perder sua razão de ser. Mas não foi assinr que se |\ì 6jêuôs, corn "cul,tuia de-maisal.'-*.'-eu!tura populai"
de-
ram as coisas, e Marcuse severá forçado a reÍormular, ou' iüa contrap atti-{_a_, " cuitu ra de eliteìf ''a1Ííõúlt r -
rnais tarde, a sua concepção de cultura e arte. ra", para caracteri?are.m melhor o fenômeno que âna-
lisam: cultura-prõdÈzjda para o consumo de nrassa, a-\
@t bens culturais, concretizados em obras literá- tendendo às necessidades d.ç valor de troc{ (do seu pro- \
IJ BARBARA FREIT.AG A TEORIA CRITICA: ONTEM E HOJE 73

dutor) e de valor de uso (do seu consumidor). A cultura, ser adiada para o futuro, por jâ estar concretizada no
transformada em mercadoria, perde sua característica presente basta lembrar o caso da teienovela brasi'
de cultura, para ser meramente um valor de froca. Mas
-
leira. E, finaimente, ela elimina a dimensão cútica/f
a que necessidades atende esse valor criado païâ o con_ ainda presente na cultura butguesa, fazendo as mas-f
sumo? Ele permite, como ainda será necessário de- sas que consornem o novo produto da indústria cultu-.
.J rnonstrar, reproduzir ad infinítun o sistema, atendelr_ ral eiquecereÍn sÌla realidaáe alienada. Com a dissoiu::
:: do assim às necessidades de acumulação do sistema. ção da obra de arte e da cultura no cotidiano, extin'
Assim.-p.ode:S-e dizer que a '.lindíLsfria cultural" é a guem-se a reÍÌessa para o futuro e a promessa de feli-
fQ-ryna-rui e e rrerís pel a qu al a produçãõ-ãiiiiiièa.e-n6 cidade, inerentes à obra de arte burguesa.
fural é organizada no co_lrJexto das relações capitalrstai Preenchidas essas funções, a reprodução das rela-
.' dg Rroduc ão,. I ançad_a_no-tnercado e por estç-.coo.slì.: ções sociais como um todo estâ novamente assegurada,
,mida-Numa sociedade em que t-das as relações so- já que os indivíduos não têm mais oportunidade de se
ciais são mediatizadas pela mercadoda, também a conscientizarem das relações de exploração em que vi-
vem. Foi-lhes tomado o tempo para pensarem' e foii
',;',
obrâ de arte, idéias, valores espirifuais se transformam
em mercadoria, relacionando enire si artistas, pensa- thes tirada a esperança pÍeservada outrora em obras ,

dores, moralistas atr-avés do vaior de troca rio produto. culfurais de que o presente poderia ser melhor'i São I o
Este deixa de ter o caráter único, singular, heio.a_ciç ,er- sugestionados, ainda, paÍa consumirem incessante- \'
a expres $qda- eeniali dade* jO_s o_fi-imen to, d a an gú s -
.
mente,lpois o consÈmo é apresentado como o caminho I
tia de um produtor.(artista, poeta, escritor) parJser.'\ para a'ieitiiaçao pessoa{ A cultura fornecida pelos,
um bem de consumo coletivo, destinado, desde o iní- meios de comunicação de massa não permite que as;
classes assalariadas assulnam posição crítica face a sua;
I

cio, à venda, sendo avaliado segundo sua lucratividade


realidadel jâ que ela mistura os planos da realidade
I

:ou aceitação de.mercado e não pelo seu valor estético. Ì


intrínseco.l
filosófico, literário '- maierial com as suas formas de representação e pro'
A-jndústria.-.cultural nâo ê, pois, simplesmente giessivamente anulam os mecanismos da reflexão e
mais um ramo da produçã.a na diversificada produção c-rítica par4.4çiona-rgiil a Pglç-9pç-4q.ç- qr iç!-ti-d-os (visão
capitalista, ela foi concebida e reorga.n.iz elLpaL pre- e audiçãg). Nq-lug4l.dp- +p-qi..romântico sonhado pelor
encher funções sociais específicas, antes úeenchidas poetàìãJnterc"tla a teiêìiovelê, ilo lugar do sexo vivido i
pela culfura burguesa, alienada de sua base material. iãta;m*é pornô, em lugar de iiberdade autêntica se \-
iA nova produção cultural tem a função de ocupar o vir:e a liberdãde rje escolha entre produtòS lânçàdbs no ì

f.) espaço do lazer que resta ao operârio e ao trabalhador mercado.


assalariado depois de um longo dia de trabalho, a fim indústria cultural, que se caractetiza por sua
\'A,
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de recompor suas forças para voltar a h-abaihar no d.ia dimehsão anti ou acultural (dissolução da obra de atte,
seguinte, sem lhe dar trégua para pensar sobile a rea- produção e reprodução de mercadorias ditas "cultu-
lidade miserável em que vivel A indúshia cultural, iais"), por sua vinculação com a moderna técnica (rá-
:-. aiém disso, cria iiusão de que a feiicidade não precisa dio, tevê, cinema, fotografia, imprensa, etc.) e seu
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\. ...r
i4 BARBARAFREITAG
A TEORIA CRITIC.A,: ONTËÌV1 E HOJE
consumo de massas e seu carâter de mercadoria, cons_
titui a fórmula moderna que a sociedade burguesa en- estrutura arquitetônica como um todo. Na medida em
c on trou p ara a r r tnpf rgetu ar- que o úundo se dessacralwa, a obra de arte vai sendo
S€_eltig
le._ r._;
qaracão-_entre_culturae_qy@cãopìeeEffi:penq11 a_sad-ìExO_-
liberada para o oihar do espectador. Mas o valor de
T m9!p q
rigmrllte aW1Éqg!g1z.çêq.S ealogização dau
culto não desaparece. Ele sobrevive nas formas secu-
pt diçõeq mo dgl! g$ lares da arte como culto do belo. A idealização exhema
: 3:s: i_..: lát "'
t g, :e 4 ?l$. p
rq 3ì da arte mostra claramente sua origem religiosa, por
9!êraì'ii;.eom aúxílío CC 4gnsìã-s dãÏégniôá, aFiAi-
lan do, p ois, a cultura à-civili taçao., mais profanas que sejam suas manifestações. O valor
-l-,maììttTórmulâ de exposição aumenta, sem que se perca o elemento
pall coilsolid4r e perpetuar a prodÈão Cípiráfrìà: a
cultural, que continua presente na "aura" da obra de

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arte. O objeto aurâtico ê caracteruado pela unicidade;'
(Eínmaliekeil) e distâneia (Entferwung). O espectador-
permanece fascinado pela "aurau', A "aura" é uma I
A obra de arte, a "eztre" e a perd,a da aurq espécie de invôlucro que envolve a obra de arte, con" f
tendo "elementos espaciais e temporais: a apariçãol
Um dos trechos mais difundidos sobre a obra de única de uma coisa distante, por mais perto que ela
arte. seu., concei.to e su,as funçães. ó. o e,,lse,!o. Ce Ben_ esteja" (Benjamin, 1935-1936, p. 170), 1

jamin (do qual se conhecem duas versões em alemão Se a passagem do período feudal para o burguês r., - .,.
e
uma francesa),, " A- obra..de. arte na..e.ra .de. iue .:,.lpro_ isecaracterizoupelasecularizaçãodaobradearte,.sem'
se extinguisse a sua aura, a passagem {o -Ue-riogo
dutibilidade técnica" (1935-1936). Nesse ensaio, cuja i g""
primeira variante alemã acaba de ser publicada no f burguês para a sociedade de massa èstâ caracterlzada
Brasil (Brasiliense, 1985), Benjamin esboça um histô L-p.e[a perd-4..-{"a 4qê-. A perda da aura ocome em con- ,',.,
rico da obra de arte e do seu reiacionam"nto .o* o ii seqüênbia de dois fatores bâsicos: a tecnificação cres- '".--.
';
produtor e o consumidor desde a Idade rvrêdía até oi cente do mundo e a reprodutibilidade técnica da obra ,"
/
nossos dias. Para melhor estabelecer a relação enhe/ de arte, que leva a uma massificação do consumo dos ì ',-,,
produtor e consumidor propõe duas novas categorias', beqs artísticos. Ambos os fatores decorrem da moder- i
de análise: o valor de culto e o valor de.exposição de nizaçáo da sociedade burguesa do século XIX.
unra obra (Benjamin, 1935-1936 , p. ll/3). A perda da aura não tem para Benjamin as coir-
No culto religioso medieval, o valor de exposição seqüências negativas que Hork$.eimer, Adorno e o ú1- :

timo, Marcuse, atribuem à dissolução da obra de arte. i


$a.obr_a de arte é
praticamente inexistente, sendo en_
fatizado quase que exclusivarnente seu vaior de culto. Ë verdade que, também para Benjamin, com a perda'
A obra de arte se mantém escondida, inacessíve1 da aura se desh'ói a unicidade e a singularidade da
ao olhar do espectador. Basta pensar nas esculturas obra de arte, mas ao perder seu valor de culto seu vaior ;. ' l
góticas de santos, ernbutidas nas colunas das cate- de exposição se intensifica.
drais, escondidas em nichos, confundindo-se com a A obra adquire uma nova qualidade: ela se torna
acessível a todos,. seu consumo generalizado se torna
BARBARA FRSITAG
A TEORIA CRITIC.q,: Oì{TEM E HOJE 77

possível, ela adquire por assim dizer um novo valor:


sivelmente teriam condições de dinamizar a sociedade.
um "valor de consumo". Ao contrário do que afirmava
Eeniamin lembra nesse contexto os filmes de Chaplin.
Adorno, a reprodução de um quadro da Mona Lisa
Diante do exposto, fica evidente que os frankfur-
como cartaz,. de um romance de.Balzac.eri-..paper_hack
tianos, longe de constituírem um bloco teórico mono-
ou de uma sinfonia de tseethoven em disco náo desvir-
lítico, defendem posições diferenciadas, por vezes di-
tua a obra de arte. Apenas ela abandona os gabinetes e
vergentes, mas que em certas dimensões apresentam
salões para ser divulgada e apreciada por todoi. A.re_
convergências e até mesrno sobreposições fundarnen-
produtibilídade técnica não somente assegura o con_
tais.
sumo generalizado como transforma o caráter. a natu_
Marcuse, F{orkheimer e Adorno, bem como Ben- ,l
, reza intrínseca da obra de arte, modificando ainda a jamin, são unânimes em atribuir à cultura em geral, e 7/
própria percepção do consumidor. tsenjamin vê na foto_,
à obra de arte em especial, uma dupla função, a de/
e.no fiime exemplos privilegiados dessa rnudança ra- .irepresentar e consolidar a ordem existente e ao mesm{
dical na concepção e percepção da obra de arte drsar:-
, ,í \tempo a de criticâ-la, denunciâ-la como imperfeita è
ratizada. Por isso mesmo Be4jamin nã,o faz a mesma 'i'tr"\sonúaditória. Essa dupla função decorre do caráte'ri
Ieitura que Adorno do processo de massificação e de- arnbíguo da própria cultura de ser ao mesïno tempo a
mocratização do consumo. Enquanto para este a re_i depositâria das experiências passadas de repressão e
produtibilidade técnica significa o,,desvirtuarnento','i das expectativas de melhoria, de aperfeiçoamento: eia
da obra, sua "dissolução" na realidade banal, através\ . criüca o presente e remete ao futuro. A dimensão cort- i
da indústria cultural, e portanto a destruição do valor \ servadora e emancipatôria da cultura e da obra cie arte j
de negatividade inerente à arte e a despolitização dc ] encontrarn-se, pois, de mãos dadas.
I

seu destinatâno, Benjamin pelo contrário associa ai Benjamin, contudo, diverge dos seus companhei-
idéia da "desauratização" a dè politização. Termiàa ì ros quanto à avaliação do processo de desaun{tzaçã'o
seu ensaio sobre a reprodutibilidade ïéCnica da obra da obra de arte, sua democra{tzaçáo e massiÍicação.
de arte denunciandoa-ilestetização" da polí-tiça .ç.o-rnq .
Fara.Adorno e t{orkFreimer esse processo implicaYa a
a forma f4scista de utilizar a dimensão artísticà, ao dissolução da obra de arte e com ela perda da dimen-
que o comunismo respondia com a ,'politização" da . são crítica da arte. Isso sieilifica para eles, em outras
arte. A moderna obra de arte, como a fotografia e o ' .. palavras, o fim da dialétiïa e o conÈêlaúento do Èro-
'cinema
(hoje acrescentaríamos a televisão, o-uíd.o . o i cesso histórico. A obra de arte "aurática" presewava a
:lazet), ao provocarem mudanças na percepção e nâs - ;,'' 1". - t
r -:,.ir coüsciência de que a realidade poderia ser melhor,
.'atitudes dos consumidores, estariam modificando esses '- . contendo uma promesse de bonheur no futuro, Sua
r mesnros consumidores. Por isso mesmo a obra de arte :;rf dissolução coincide com a unidimensionalização' do
' pode sen'ir como instrumento de politiz_ação (Beqja- j1
min estava, na época, fortemente influenciado por -, min admite a possibilidade da politização das massas '
Bertholt Brecht), mas tambérn de inshlrmento de redu- atravós da obra de arte desauratizada, no entanto,
ção de tensões que, sem essa "váilula de escape", pos- com certo ceticismo.
78 EARBARAFREITAC A TEORiA CRITICA: ONTEM Ë HOJE 79

"Na época de Homero, a humanidade oferecia-se tura assumissem um novo caráter e outra funciona-
em espetáculo aos deuses olímpicos; agora, ela se lidade.
transforma em espetáculo para si mesma. Sua auto- Essa possibilidade não é vislumbrada nem na
alienação atingiu o ponto que ihe permite viver sua Dialétíca do Esclarecimento nem em A ldeologia da
própria destruição corilo üm prazei estóiico de pri- Sociedade Industríal (One Dimensíonal Man).
meira ordem. Eis a estetização da política, como a pra-
tica o fascismo. O comunismo responde com a politi-
zaçáo da arte." (Benjamin, 1935, p. 196).
Marcuse que advogara, como vimos, a dessubli- Da teoria crítíca à teoria estétíca
mação da arte, defendendo sua superação pela equa-
hzaçáo das desigualdades estruturais da base econô- Adorno ter.e seu período de maior produtividade
mica, assume como autor maduro as posições defen- depois da volta a Frankfurt em 1950, ocasião em que
didas por seus amigos frankfurtianos, Horkheimer e assumiu, juntamente com Horkheimer, a direção do
Adorno, Em um diâlogo travado com Habermas em Instituto.
Starnberg, pouco antes de sua morte, defende a pre- A, Dìqlética do Esclarecirnento havia afirmado a
servação da obra de arte com sua aura como única autodestruição da razáo: a razáo que saíra para com-
iorn'r a cie' impedir su.a' unidinreïrsianaiizaçãoi o u sej a, bater o mito e se kansformara, no decorrer do per-
sua cooptação pelo sistema capitalista de produção curso, ela própria em mito. Em vez de prornover a
(cr: ilaúermas'e ÌvÍarcusv; igi&,'pp: 44.e segb.; ver emancipação, ela assume o controle técnico da natu-
tarnbém Mareuse, 1965, p. 183). rezae dos homens. Negava assim sua dimensão cútica
Ao comentar as posições dos seus antecessores, e emancipatória, presentes no início do percurso.
Habermas está mais próximo de Benjamin que dos de- O pessimismo radical de Adorno e F[orkheimer
mais. Critica Marcuse, Adorno e Horkheimer por te- nessa coletânea de ensaios talvez tivesse sido influen-
rem adotado urna posição tradicional, limitada e idea- ciado pelas circunstâncias histór'icas específicas em
lista em relação à obra de arte e à cultura : tradicíonal, que fora escrito: o holocausto provocado pelo nazismo
porque continuam vendo na obra de arte somente uma na velha Europa, o UeggelËlglo e a experiência ame-
promessa de feiicidade; Iimitada, por se basearem em ricana dos anos 40, bem como o sutgimento do socia-
*um conceito burguês de arte, no qual fenômenos artís- lismo stalinista na União Soviética e posteriormente na
ticos como o jaà2, o surrealismo, o filme con_tempQ:-*r / Europa do leste, ocupada pelo exército vermelho.
râneo, happenings, etc., não têm lugar, e, finaíment€, ' Nos trabalhos subseqüentes de Adorno, entre os
idealìsta, por não admitirem a alteração interna da es- quais se destacam Mínima Moralia (1951), a Díalétíca
trutura e função da arte e cultura que acompanha Negativa (1966) e a Teoria Estética (1970), o autor
o desenvolvimento do capitalismo tardio. Justamente propõe uma nova versão da teoria crítica, Se nos anos
as alterações ocorridas na base material do sistema de fundação do Instituto a reflexão cú$ga sãhâviáÏi-
de produção permitiriam que a obra de arte e a cul- xado mais nos textos de Marx, não tendo sido, até en-

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