Analise do samba enredo da Beija Flor (2018), ressaltando a reconstrução metafórica da relação do Estado e a Sociedade brasileira, por meio de uma partilha do sensível .
Analise do samba enredo da Beija Flor (2018), ressaltando a reconstrução metafórica da relação do Estado e a Sociedade brasileira, por meio de uma partilha do sensível .
Analise do samba enredo da Beija Flor (2018), ressaltando a reconstrução metafórica da relação do Estado e a Sociedade brasileira, por meio de uma partilha do sensível .
O Deslocamento da Monstruosidade Como uma Nova "Partilha do Sensível"
(Ihering Guedes Alcoforado)
O Potencial cognitivo da metáfora é objeto de um grande número de trabalhos,
os quais tem em comum o reconhecimento da relevância das metáforas como recurso epistêmico, além de uma pura contingência estilística (Black, 1977)
A Beija Flor explora as possibilidades em latência da metáfora no seu samba
enredo: “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu”. Isto porque estabelece uma relação de identidade e similaridade entre os dois domínios de significados incompatíveis, o romance “Frankenstein” e a realidade social-histórica brasileira. Em função desse artifício narrativo expõe aspectos de um e outro que modifica não só nossa perspectiva da problemática brasileira, mas também do seu significado. E, assim nossa concepção da relação realista da Pátria com o Povo brasileiro é resignificada a partir do contraste com o imaginário sistematizado no romance “Frankenstein”, escrito pela inglesa Mary Shelley,
A metaforização das mazelas brasileiras a partir do contraste entre o Monstro e
o Criador, permite a articulação ao longo de 36 alas e nove atos, representando um cenário “monstruoso” do nosso cotidiano: teve encenação de arrastão, teve prostituta e homossexual sendo alvos de preconceito, teve crítica à sonegação de impostos e teve até maus políticos sendo comparados a ratos.
O resultado é uma contundente crítica social metaforizada, que cria uma
plataforma a partir da qual se pode socializar uma reflexão sobre a natureza e as origens da problemática relação entre o Estado brasileiro (metaforizado com a pátria amada) e o Povo brasileiro (filhos). O fundamental, do ponto de vista político é a inversão da monstruosidade que, foi deslocada da criatura (o povo) para o criador (a Pátria), o que evidencia a centralidade na narrativa do último carro alegórico chamado “Ensinando a Amar”, seguido por um tripé (pequena alegoria) onde se lia que “o samba faz essa dor dentro do peito ir embora”.
O instigante samba enredo, depois da inversão da relação Monstro vs.
Criador, insinua o "amor" como categoria política e "samba" como um instrumento político. Uma intervenção estética que configura um ato político problemático, ao deixar implícito o interdito, não possível de ser mostrado nem dito: o mundo da contravenção de Diniz Abrão na qual se assenta a Beija Flor.
A reflexão suscitada pelo samba da Beija Flor deve, portanto, partir do
reconhecimento que, na base da política, como assinala Rancière, existe uma "estética" que não deve ser confundida com a "estetização" da política", característica da "era das massas" de que trata Benjamin, já que é por meio dela que se define o lugar e os procedimentos da política num sentido amplo, estabelecendo o que se ver e o que se pode dizer, além de delimitar quem tem competência para ver e competência para dizer. Enfim, uma expressão emblemática dessa estética nos traz a Beija Flor: a estética da malandragem que cultivada nas margens do sistema no nosso dia-a-dia, assume uma centralidade na critica ao sistema, ainda que restrita ao período do carnaval. Isso dar “samba”....
BIBLIOGRAFIA
Black, M. (1977). “More about metaphor.” Dialectica 31(3/4): 431-56
RANCIÈRE, J. La división de lo sensible. Estética y política Prólogo.