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Estado Islâmico na Internet: a morte como


espetáculo

Research · September 2016


DOI: 10.13140/RG.2.2.24034.53447

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Adriana Ferreira Cunha


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Graduação em Jornalismo - Núcleo Universitário São Gabriel

ESTADO ISLAMICO NA INTERNET

A Morte Como Espetáculo

Camilla Alves Ferreira Cabral

Davidson Junio do Nascimento

Eduardo Vieira Zanetti

Izabella Priscila Souza Dutra

Jeniffer Passos Borges

Belo Horizonte

2015



Camilla Alves Ferreira Cabral

Davidson Junio do Nascimento

Eduardo Vieira Zanetti

Izabella Priscila Souza Dutra

Jeniffer Passos Borges

ESTADO ISLAMICO NA INTERNET

A Morte Como Espetáculo

Projeto Experimental apresentado ao Programa de


Graduação em Comunicação Social – Jornalismo – da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Orientadora: prof.ª M. Adriana de Barros Ferreira Cunha

Belo Horizonte

2015



Camilla Alves Ferreira Cabral

Davidson Junio do Nascimento

Eduardo Vieira Zanetti

Izabella Priscila Souza Dutra

Jeniffer Passos Borges

ESTADO ISLAMICO NA INTERNET

A Morte Como Espetáculo

Projeto Experimental apresentado ao Programa de


Graduação em Comunicação Social – Jornalismo – da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

___________________________________________
Prof.ª. M. Adriana de Barros Ferreira Cunha (Orientadora) - PUC Minas

_____________________________________________
Prof. Me. Adriano de Souza Ventura – PUC Minas

_____________________________________________

Prof. Me. Clovis Alves Caldas Filho – PUC Minas

Belo Horizonte, 27 de Novembro de 2015.



RESUMO

Em um cenário extremamente carregado e de intensa sensação lutuosa, o Estado Islâmico


mantém seu mecanismo de atuação e divulgação de poder e relevância através da
exteriorização de suas práticas violentas. Força bélica, riqueza, influência militar e política,
exibição de terror e domínio ideológico são alguns mecanismos visivelmente utilizados pelo
grupo. Numa evidente situação de tensão, a espetacularização da morte pelo EI ganha força
nas diversas mídias e dispositivos ao alcance de todos. Os jihadistas encontraram na internet
uma maneira ágil e amplamente multiplicadora de suas ações. O espaço “mídia” possui uma
estreita relação com a comunicação, sendo assim, paralela à afinidade do jornalista com o que
nela é veiculado. Buscamos salientar neste trabalho a atuação do Estado Islâmico por meio de
uma estrutura que conta desde os acontecimentos históricos que levaram à sua criação até sua
situação nos dias de hoje e, sobretudo, entender a densa atuação através da internet na
cooptação de membros e disseminação do terror.

Palavras-chave: Estado Islâmico. Terrorismo. Mídia. Internet. Espetacularização.


Comunicação. Influência.



ABSTRACT

In a highly charged and intense feeling mournful scene, the Islamic State maintains its
mechanism of action and dissemination of power and relevance through the externalization of
their violent practices. Military force, wealth, military and political influence, horror and
exhibition area are some mechanisms visibly used by the group. An obvious situation of
tension, the spectacle of death by ISIS gains strength in the various media and devices
available to everyone. The Islamic State found the Internet as an agile way and widely
multiplier of his actions. The space "media" has a close relationship with communication,
therefore, parallel to the affinity of the journalist what it is aired. We have sought to highlight
this work the role of the Islamic state through a structure that has provided the historical
events that led to its creation to its situation today and, above all, understand the dense role in
the induction of members and spread terror.

Keywords: Islamic State. Terrorism. Media. Internet. Spectacle. Communication.


Influence.



LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa Limite Geográfico Oriente Médio .............................................................27


Figura 2: Mapa Modificações Territoriais Oriente Médio .................................................29
Figura 3: Mapa de Partilha da ONU.....................................................................................30
Figura 4: Propaganda Para Recrutar Jovens ......................................................................42
Figura 5: Propaganda Para Recrutar Jovens ......................................................................43
Figura 6: Propaganda Para Recrutar Jovens ......................................................................43
Figura 7: Mulher Com a Garganta Cortada ........................................................................46
Figura 8: Criança a Espera da Morte por Militantes ..........................................................46
Figura 9: Prisioneiros Sendo Afogados Pelo Estado Islâmico ............................................48
Figura 10: Prisioneiros Amarrados Aguardando Execução ...............................................49
Figura 11: Prisioneiros Queimados Pelo Estado Islâmico ..................................................51
Figura 12: Homem Esmagado por tanque de Guerra .........................................................52
Figura 13: Integrantes da Milícia da Líbia sendo mortos pelo EI .....................................53
Figura 14: Revista Dabiq........................................................................................................58



SUMÁRIO


1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................9

2. METODOLOGIA............................................................................................................13
2.1. Pesquisa Bibliográfica .................................................................................................13
2.2. Análise Documental .....................................................................................................14

3. REFERENCIAL TEÓRICO ..........................................................................................16

4. CONTEXTO HISTÓRICO: ORIENTE MÉDIO ........................................................19


4.1. Origem Das Religiões Do Oriente Médio ...................................................................20
4.1.1. Zoroatrismo ................................................................... Erro! Indicador não definido.
4.1.2. Judaísmo ...................................................................................................................21
4.1.3. Cristianismo ..............................................................................................................22
4.1.4. Islamismo ..................................................................................................................22
4.2. Facções Religiosas ........................................................................................................24
4.2.1. Al-Qaeda ...................................................................................................................24
4.2.2. Talibã .........................................................................................................................25
4.2.3. Estado Islâmico.........................................................................................................25
4.3. Questões Geográficas ...................................................................................................27
4.4. Palestina e Israel ..........................................................................................................28
4.5. Questões Político-Religiosas ........................................................................................30

5. A RAZÃO DE SER DO TERRORISMO ......................................................................33


5.1. Terrorismo e o Estado Islâmico ..................................................................................35

6. O ESTADO ISLÂMICO E A INTERNET ...................................................................41


6.1. Espetacularização da Morte: O Estado Islâmico e o Público ..................................41
6.2. Espetacularização da Morte: Análise dos Vídeos .....................................................47
6.3. Recrutamento e Divulgação Pela Internet .................................................................53
6.4. Revista Dabiq ...............................................................................................................57

7. A LINHA ENTRE A NOTÍCIA E O TERROR ...........................................................59

8. CONCLUSÃO..................................................................................................................64

REFERÊNCIAS ..............................................................................................................70





1. INTRODUÇÃO

Este projeto tem como tema a espetacularização da morte pelo Estado Islâmico.
Buscamos entender os mecanismos e a organização do grupo, além de analisar as atitudes e o
modo como o Estado Islâmico usa a mídia para transformar a morte em espetáculo. Diversos
fatores foram considerados para a construção deste projeto, como as questões políticas,
econômicas, culturais e religiosas que ambientam o Estado Islâmico e o posicionam no
cenário internacional. A fim de situar as origens do grupo, foi realizado um amplo estudo
sobre o Oriente Médio por meio de um vasto apanhado histórico.
A metodologia foi definida por meio de uma estrutura que contempla a identificação
da origem dos conflitos e dos motivos que os iniciaram; análise das origens das culturas
religiosas; análise das questões políticas e geográficas que justificam a existência do Estado
Islâmico; análise e compreensão do terrorismo e dos mecanismos causadores de terror e o
acompanhamento e análise documental das ações do EI divulgadas na mídia em geral, mais
especificamente na internet, por meio de redes sociais como Twitter e sites diversos,
utilizados para publicação de vídeos, como YouTube e Internet Archive.

• Pesquisa bibliográfica: autores que abordam as temáticas interessantes ao tema


principal e que contribuíram para a realização deste trabalho foram escolhidos como
base para a definição de teorias e auxílio na oferta de informações.

• Análise documental: diversos acontecimentos relacionados ao Estado Islâmico de


produção própria, como, por exemplo, os vídeos e imagens publicadas pelo grupo,
registros como notícias jornalísticas e publicações instantâneas em redes sociais foram
formas vitais que nos levaram a muitas informações importantes para o
desenvolvimento do trabalho.

• Análise da imagem: neste método foi possível entender como o Estado Islâmico causa
terror e mostra sua força e influência diante no mundo.

Uma série de materiais disponíveis na internet foram importantes e decisivos na


construção do texto, mas foi na bibliografia lida que encontramos as principais teorias que nos
serviram de base. Para entender a exploração das imagens, utilizamos a discursiva de Francis
9

Wolf (2005), que foi capaz de explicar o impacto da exposição. No livro de Jessica Sterne J.M
Berger (2015) foi possível compreender o terrorismo midiático e o seu alcance na internet.
Guy Debord (2003) em “A Sociedade do Espetáculo” foi um grande aliado na construção das
máximas argumentativas que foram desenvolvidas.
O projeto foi construído em meio a um processo de constantes mudanças. O Estado
Islâmico está em um momento de atuação voraz e constante, nunca visto antes, e isso nos
levou a estabelecer um parâmetro que englobasse a estrutura única do EI, suas estratégias base
e fatores itinerantes que fazem parte dos mecanismos do grupo. Dessa forma, foi possível
manter o trabalho atualizado, independente das novas ações do Estado Islâmico.
Nos capítulos que dão início ao desenvolvimento do tema, apresentamos um pouco do
Oriente Médio, que hoje é resultado de uma mescla de diferentes culturas e civilizações. É o
centro de nascimento de diversas religiões como cristianismo, islamismo, judaísmo,
yazidismo, mitraísmo, zoroastrismo, maniqueísmo e o bahá'i. A região é conflituosa e seu
processo organizacional é pautado no formato tribal pela necessidade de deslocamento,
condicionada pelas poucas áreas férteis, longos períodos de estiagem e poucos rios, além do
clima predominantemente desértico.
A região mais prolífera é conhecida como Crescente Fértil, uma área produtiva que
sempre chamou a atenção de vários povos, sendo motivo de disputa. Compreende o território
de Israel, Jordânia, Líbano, Iraque, Síria, Egito, sudeste da Turquia e sudoeste do Irã.
Destacam-se os rios Tigre, Eufrates, Jordão e Nilo.
Além disso, o petróleo é um dos maiores causadores de discórdia na região. As
reservas estão entre as maiores do mundo, e o cartel da OPEP1 é dominado no Oriente Médio
por Iraque, Irã, Kuwait, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Além disso, momentos históricos marcantes foram responsáveis pela divisão de povos
e resultaram na criação de diferentes religiões:

• Zoroastrismo: religião dos antigos persas e primeira crença intelectual da história. No


Oriente Médio, os zoroastrianos se concentram no Irã, nas cidades de Teerã, Kerman e
Yazd.

1
Organização dos Países Exportadores de Petróleo: Angola, Argélia, Líbia, Nigéria, Venezuela, Equador,
Gabão, Indonésia, Iraque, Irã, Kuwait, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

10

• Judaísmo: é a mais antiga das religiões monoteístas do mundo. Para os judeus, existe
apenas um Deus, e ele é o criador de todas as coisas. A religião surgiu há cerca de quatro
mil anos, na região da Palestina.

• Cristianismo: o cristianismo é a segunda maior religião no Oriente Médio em relação a


seguidores, com cerca de 13 milhões de cristãos de igrejas árabes. Hoje, o povo cristão é
arduamente perseguido, principalmente pelos militantes do Estado Islâmico.

• Islamismo: religião monoteísta que teve como berço o Oriente Médio, nascido dentro da
cultura árabe, no século VI. Dividida em duas vertentes, sunita e xiita, não é apenas uma
religião, mas uma visão de mundo que compreende todas as áreas da vida cotidiana.

Essa divisão de povos e crenças deu origem às facções religiosas que buscam na
prática violenta, posicionamento e aplicação de seu fundamento. Aqui, as principais em
relevância histórica e em atividade nos dias atuais:

• Al-Qaeda: organização terrorista mais conhecida do mundo, em razão dos atentados às


torres do World Trade Center, em 11 de setembro em 2001, nos Estados Unidos.
Composta por muçulmanos fundamentalistas sunitas, tem por objetivo erradicar a
influência ocidental sobre o mundo árabe.

• Talibã: grupo político que atua no Paquistão e no Afeganistão, também preocupado com
a aplicação das leis da sharia. O grupo comandou o Afeganistão de 1996 a 2001, quando
os EUA invadiram o país após os atentados de 11 de setembro.

• Estado Islâmico: grupo terrorista sunita jihadista que age com mais intensidade no Iraque
e na Síria, tendo surgido oficialmente em 2013, como uma dissidência da Al-Qaeda. O
seu líder é Abu Bakr al-Baghdadi.

O Estado Islâmico é um dos grupos que estão mais fortemente ligados aos meios de
comunicação, e possui uma massiva atuação na internet. A aplicação e ampliação de sua
fundamentação jihadista são os seus principais objetivos.
Foi na violência que o grupo encontrou sua força. Suas ações violentas e afinidade
com a morte são os principais mecanismos de terror. O Estado Islâmico busca impor-se

11

através da integração de soldados em massa para disseminar sua causa e concretizar seu
objetivo fundamentalista. Pessoas pelo mundo todo são atraídas à causa jihadista, se juntando
às forças armadas do grupo, apesar de muitas vezes o objetivo religioso se perder em meio aos
argumentos arquitetados para serem atraentes aos jovens.
A produção das imagens pelo Estado Islâmico é minuciosamente pensada e sua
exposição é, evidentemente, um mecanismo de direcionamento de atenção e recursos. O que
se percebe ao assistir esses vídeos é que em muitos deles existe uma preocupação estética.
Além da evidente exposição da violência, são filmados de forma profissional, se
assemelhando a uma produção cinematográfica, pois também são recrutadas pessoas da área
de comunicação e artes, com essa finalidade.
O que se percebeu durante a produção deste trabalho e pretendeu-se mostrar ao final
dele, é que a imagem e a linguagem são fortes ferramentas de dominação e exibição daquilo
que se deseja conquistar. Uma série de artifícios de imagem, um discurso atraente e uma
utilização eficaz dos meios e veículos de comunicação são os maiores diferenciais do Estado
Islâmico.

12

2. METODOLOGIA

O objetivo desta pesquisa é entender e analisar as atitudes e métodos de utilização da


mídia pelo Estado Islâmico para transformar a morte em espetáculo. Portanto, para que esse
objetivo seja atingido, foi construída uma base teórica bibliográfica e posteriormente foi
realizada análise de textos e vídeos veiculados na internet para podermos compreender os
motivos que levam o Estado Islâmico à espetacularização midiática.
Para isso, deve-se relembrar a pergunta principal: "Por que o Estado Islâmico
espetaculariza a morte?". Dessa maneira, foi preciso obter alguns conhecimentos específicos
que possibilitaram uma melhor compreensão dos fatos atuais. As etapas realizadas foram:

• Identificação da origem dos conflitos e dos motivos que os iniciaram;

• Análise das origens das culturas religiosas e das questões políticas e geográficas que
justificam a existência do Estado Islâmico (EI);

• Compreensão e análise do terrorismo e dos mecanismos causadores de terror;

• Acompanhamento e análise documental das ações do EI divulgadas na mídia em geral,


mais especificamente através da internet.

Como métodos de busca para obter as respostas à questão proposta, foram feitas
pesquisas bibliográficas, análise documental e de imagem, como se pode ler detalhadamente a
seguir:

2.1. Pesquisa Bibliográfica

Segundo Severino (2007), pesquisa bibliográfica é uma análise feita a partir de outros
estudos realizados anteriormente, por outros pesquisadores e teóricos. Essas pesquisas
antigas, quando devidamente registradas, servem de dados para a realização de futuros
estudos, tornando fontes de embasamento para novas pesquisas.
Salvador (1982) descreve o conceito de pesquisa bibliográfica, não como uma base
para ser citada, e sim para associar e comparar pontos de vista entre os teóricos citados. Sendo
assim, para a elaboração desta pesquisa, foram usadas várias obras registradas por teóricos,
que fizeram estudos com objetivos semelhantes a esse.
13

Procuramos, primeiramente, entender todo o conceito e origem sobre o Estado
Islâmico. Para que isso fosse possível, foi elaborado um capítulo sobre o Oriente Médio e suas
vertentes, como origem e formação das religiões e organizações religiosas do século XX,
questões geográficas, políticas e religiosas. Os autores Cotrim (2005), Guellouz (2007),
Nabhan (1996), Naipaul (1981), Olic (1991) e Zahreddine (2011), foram essenciais para a
investigação e compreensão do assunto.
Para falar sobre a forma como o Estado Islâmico utiliza a mídia e usam as imagens
como espetáculo para exibição de poder, os principais teóricos que nos guiaram foram Debord
(2003), Sontag (2003) e Coutinho (2012).
Os temas aprofundados foram o Estado Islâmico e a internet e a razão de ser do
terrorismo. Para essas duas vertentes, foram exploradas obras dos autores Armstrong (2001)
Stern e Berger (2015) e Buzar (2014).

2.2. Análise Documental

De acordo com Moreira (2012), análise documental é mais que localizar, identificar,
organizar e avaliar textos, som e imagem. O autor entende que ela funciona como expediente
eficaz para contextualizar fatos, situações e momentos. Chizotti (2005), por sua vez, defende
que documentação é toda informação sistemática comunicada de forma oral, escrita, visual ou
gestual, registrada em um suporte material, como fonte durável de comunicação. Essa
ferramenta teve a função de resgatar dados e informações pertinentes ao objeto da pesquisa.
Moreira (2012) salienta que as fontes da análise documental frequentemente são de
origem secundária, ou seja, constituem conhecimento, dados ou informações já reunidas ou
organizadas. Como fonte secundária dessa pesquisa foi utilizada a mídia eletrônica (jornais,
revistas, vídeos e imagens digitais). Ainda de acordo com Moreira (2012), a análise
documental processa-se a partir de semelhanças e diferenças. É uma forma de investigação
que consiste em um conjunto de operações intelectuais, que tem como objetivo descrever e
representar os documentos de maneira unificada e sistemática para facilitar a sua
representação. Foram analisados vídeos e artigos da internet, com aprofundamento nas redes
sociais e sites utilizados por integrantes do Estado Islâmico para divulgar execuções e
propagandas.

14

No Twitter, o grupo analisou os perfis @iyaken, @aboojaber111 e @abdsh6, com o
objetivo de monitorar as ações e de verificar o conteúdo dos posts, pois esses perfis eram de
pessoas que possuem ou possuíam grande visibilidade nas redes sociais ao que se refere a
popularidade na internet, grande número de amigos inscritos e seguidores em seus perfis.
Atualmente as contas estão suspensas, isso ocorreu durante a elaboração do trabalho.
No YouTube, foram assistidos alguns vídeos de execuções, que mostram métodos
variados de assassinato, de fuzilamentos a decapitações. O site retirou vários desses conteúdos
do ar, e os que restam não mostram mais as mortes na íntegra. O conteúdo das imagens
encontradas e analisadas será abordado adiante. O critério de seleção dos vídeos analisados
priorizou os diferentes métodos utilizados para as execuções, assim como as produções mais
elaboradas, de tom cinematográfico.

2.3. Análise da Imagem

Coutinho (2012) define que o termo imagem remete ao latim imago, cujo sentido é o
de toda e qualquer visualização gerada pelo ser humano, seja em forma de objeto, de obra de
arte, de registro foto mecânico, de construção pictórica (pintura, desenho, gravura) ou até de
pensamentos (imagens mentais). Coutinho (2012) complementa, em linhas gerais, dizendo
que a análise de imagens seria uma espécie de faculdade "natural" de todo ser humano, uma
de suas formas de comunicação com o outro, com a sociedade. Portanto, a capacidade que as
imagens têm de transmitir e comunicar uma informação é o que constitui a ferramenta
principal da sua análise.
O objetivo da análise da imagem segundo Coutinho (2012), é compreender as
mensagens visuais como produtos comunicacionais, especialmente aquelas inseridas em
meios de comunicação de massa: fotografias impressas em jornais, anúncios publicitários,
filmes, imagens difundidas pela televisão ou disponíveis na internet. Fizemos uma pesquisa
expansiva e analisamos algumas imagens em busca do real motivo pelo qual o EI usa a mídia
como forma de espetáculo.
Ao reconhecermos a força das imagens, passamos a analisá-las de forma minuciosa
para que pudéssemos realmente entender o motivo de tantas mortes. Batalhas e massacres
filmados no momento em que se desenvolvem tornaram-se um ingrediente rotineiro do fluxo
incessante de entretenimento, de acordo com Sontag (2003). A capacidade que a imagem tem
de se comunicar é o que constitui o aspecto principal da sua análise.

15

A importância do estudo da imagem segundo Coutinho (2012), se dá pelos registros
visuais na vida em sociedade, no próprio reconhecimento das origens do homem na
concepção religiosa. O que reforça os conceitos de imagem e semelhança na construção do
ser humano.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

Diversos fatores nos levaram à escolha do tema - Espetacularização da morte pelo


Estado Islâmico - e, sobretudo, a pesquisar e, de forma minuciosa, explorar o acervo de
materiais existentes sobre o assunto. Instantaneamente conferimos que percorreríamos, em
nossas pesquisas, da bibliografia mais antiga até os perfis do Twitter e suas informações
prementes.
A princípio foi necessário um estudo sobre o que é o Estado Islâmico, como surgiu e
quais são os moldes que o fazem existir até os tempos atuais. Por meio de um apanhado
histórico, foi possível ambientar e contextualizar a origem do próprio EI, assim como dos
conflitos relacionados a ele.
O Estado Islâmico cresce a cada dia e projeta sua atuação insistentemente em busca de
concretizar a aplicação de seu fundamento por onde passa, sobretudo no Oriente Médio. Além
disso, direciona ataques ao ocidente visando ampliar sua área de atuação e viabilizar sua ação
terrorista.
A morte violenta e a sua máxima divulgação é a principal arma argumentativa que o
EI utiliza. O mecanismo principal do grupo, para arraigar sua posição de poder, está na
radicalização de seus meios utilizando o teor informativo das imagens e sua vasta aplicação.
Pode-se entender os motivos do grupo na utilização de vídeos em que há vasta
exposição de morte e terror para atrair apoio e novos membros ao EI, quando Sontag (2003)
em seu livro “Diante da dor dos outros”, afirma que durante o massacre do mercado em
fevereiro de 1994 na Bósnia, fotos foram feitas especialmente para jornalistas espalhar aos
inimigos e angariar ainda mais apoio internacional ao lado bósnio.
Sontag (2003), nos apresenta uma afirmativa bastante consistente de como a captura
de imagens nos primórdios da Guerra Civil Espanhola, por exemplo, já traçava um
mecanismo de choque bem-sucedido:

Imagens chocantes, recrutadas como parte do jornalismo contava-se (...) para atrair a
atenção, o espanto, a surpresa. Como dizia o antigo lema da revista Paris Match,
lançada em 1949 “o peso das palavras, o choque das fotos”. (SONTAG, 2003, p.23)
16

O objetivo da análise da imagem, segundo Coutinho (2012), é compreender as
mensagens visuais como produtos comunicacionais, especialmente aquelas inseridas em
meios de comunicação de massa: fotografias impressas em jornais, anúncios publicitários,
filmes, imagens difundidas pela televisão ou disponíveis na internet.
O EI atrai membros de todo o mundo para participar do grupo e concretizar a
implantação do seu fundamento. Grande parte da cooptação do grupo é de jovens dispostos e
interessados pela causa islâmica e/ou pelas atividades radicais do grupo.
O alistamento acontece de formas diversas, e utiliza, principalmente vídeos e fotos
atraentes e interessantes aos jovens, intencionalmente projetadas para despertar-lhes o
interesse e finalmente defini-los como membros. O que acontece é um evidente
aproveitamento por parte do EI de um grupo sensível às tendências diversas e a um
anarquismo, como afirma Dunia Buzar, diretora do Centro de Prevenção contra as derivas
sectárias vinculadas ao islã na França.

A instrução religiosa não é mais necessária. Isso é demonstrado com mensagens do


tipo 'eu não me importo com o islã, vou fazer minha jihad'. Os radicais preferem
vender o EI como um novo paraíso, onde o dinheiro circula livremente (BUZAR,
2014, Portal Terra)

Uma das principais bases deste projeto está concomitante a capacidade que as imagens
têm de transmitirem densas intenções paradoxais daquilo que se quer passar de si a quem se
destina uma ação a fim de despertar neste algum sentimento, e o que elas representam, como
explica Jeff Lewis:

A representação faz referência aos vários processos transformativos que


circunscrevem um assunto aos seus “mundos” fenomenais, mas também simbólicos
e semióticos. (LEWIS, 2005, p.21)

Desta forma, o Estado Islâmico busca na reprodução de suas ações uma forma eficaz
de disseminar o terror e a força do grupo. No livro Estado Islâmico: Estado Terror, de Stern e
Berger (2015) percebe-se como a nítida exploração do terror se faz presente nas ações do EI
ao conquistar popularidade através da estratégia que valoriza a brutalidade, apresentando um
morticínio ferino, inventivo e alinhado, revelando-se disposto a internalizar-se na vida das
pessoas.
A ferramenta utilizada para alistar pessoas é a mesma para disseminar e divulgar as
ações violentas do EI. Já se sabe que uma ação violenta só é considerada terrorismo se esse

17

ato atingir um número considerável de pessoas causando danos físicos, simbólicos ou
psicológicos, assim, quanto mais pessoas forem atingidas, mais bem-sucedida foi a ação,
como afirma Guy Debord em “A Sociedade do Espetáculo”:

O conceito de espetáculo unifica e explica uma grande diversidade de fenômenos


aparentes. As suas diversidades e contrastes são as aparências organizadas
socialmente, que devem, elas próprias, serem reconhecidas na sua verdade geral.
(DEBORD, 2003, p.10)

Perfis em redes sociais, sites, portais de notícias, canais no YouTube, revistas e todo
um aparato de veículos de mídia fortificam a atuação do Estado Islâmico levando-o para
diversas partes do mundo e multiplicando a sua visibilidade.

18

4. CONTEXTO HISTÓRICO: ORIENTE MÉDIO

O Oriente Médio é hoje, de acordo com Cotrim (2005), resultado de uma mescla de
diferentes culturas e civilizações. Essa mistura de crenças, tradições e visões de mundo têm
como consequência inúmeros conflitos e confrontos, causados principalmente pelas
diferenças religiosas.
A região voltada às partes leste e sul do mar Mediterrâneo e que se estende da porção
leste deste mar até ao golfo Pérsico é conhecida como Oriente Médio. Segundo Archela
(2009), é uma sub-região da África-Eurásia e partes da África Setentrional e é uma região
que, se comparada com o restante da Ásia pode ser considerada pequena – 7.200.000m² – mas
tem dimensões próximas ao do continente da Oceania. A população da região conta em
aproximadamente duzentos e sessenta milhões de habitantes.
Centro de nascimento de diversas religiões como o cristianismo, o islamismo,
o judaísmo, o yazidismo, o mitraísmo, o zoroastrismo, o maniqueísmo e o bahá'i, de acordo
com Archela (2009), a região vem sendo, ao longo dos séculos, uma zona muito sensível
política, cultural e religiosamente, além de região estratégica para economia e belicismos.
Após a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano foi dividido, e surgiram diversos
Estados na região, mas o grande centro das atenções no século passado foi a criação do Estado
de Israel após a Segunda Guerra Mundial, em 1948.
No campo econômico, destaca-se a produção de petróleo, encabeçada pelo Iraque, Irã,
Kuwait, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. As reservas de petróleo da região estão
entre as maiores do mundo e o cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(OPEP) é dominado por estes países.
A origem dos conflitos na região, segundo Cotrim (2005), se pauta em aspectos
geográficos e climatológicos. De clima predominante desértico, a região possui poucas áreas
férteis e poucos rios. A região mais fértil é conhecida como Crescente Fértil, uma área
produtiva que sempre chamou a atenção de vários povos e foi motivo de disputa. Destacam-se
nessa área os rios Tigre, Eufrates e Jordão. O processo organizacional da região é pautado no
formato tribal, já que pela necessidade de deslocamento, condicionada pelas poucas áreas
férteis e pelos longos períodos de estiagem, a maioria das tribos é nômade, chave para o
sucesso e habilidade desses povos no comércio.

19

A região mais conturbada está às margens do Rio Jordão. Essa região, que
compreende os estados de Israel, Jordânia, Faixa de Gaza e Cisjordânia, já foi chamada de
Hebron, Canaã (Terra Prometida), Reino de Israel, Reino de Judá/Judeia, Filisteia, Sião, Terra
Santa e, atualmente é chamada de Palestina. Independentemente das áreas compreendidas por
essas determinadas regiões, geopoliticamente elas se referem ao mesmo lugar, alvo de
conflitos históricos.
Com o passar dos séculos, de acordo com Naipaul (1999) houve inúmeros povos que
controlaram a região, em alternância ou dominação por disputa. Filisteus, Cananeus e
Arameus foram os primeiros, seguidos do povo Hebreu, por prazo mais reduzido. Após a
morte do Rei Salomão, o terceiro rei de Israel, em 931 a.C, aconteceu uma separação de
povos, uma cisma, já que o sucessor no trono, seu filho Roboão, tomou por prática a oneração
do povo em altos impostos, criando assim dois reinos, um controlado por ele – Israel
Meridional, e outro controlado por Jeroboão I – Israel Setentrional, ou o Reino das Dez
Tribos.
Já no século XX haviam dois povos dominantes na região que estava duramente
controlada pela Inglaterra por causa do fim da Primeira Guerra Mundial: o povo Judeu e o
povo Palestino.
A criação do Estado de Israel, em 1948, pela Organização das Nações Unidas (ONU)
foi o ponto de discórdia, já que a ONU neste plano de partilha determinou que Israel fosse
uma cidade internacional, mas dois povos habitavam a região: os Árabes e os Judeus, que
professam o Islamismo e o Judaísmo e não permitiram que o plano proposto pela ONU fosse
implantado.

4.1. Origem Das Religiões Do Oriente Médio

Após a morte do profeta Maomé, fundador do Islamismo e responsável pelo Alcorão


segundo Nabhan (1996) o poder sobre a cultura islâmica virou disputa política. O genro de
Maomé, Ali, era quem reivindicava o cargo. Ali, por ser muito jovem, foi preterido pelos
muçulmanos em relação ao experiente Abu Bakr, amigo de Maomé. Durante um bom tempo
tudo correu em paz, até que o califa Uthman, sucessor de Bakr, foi assassinado em uma
emboscada e Ali, genro de Maomé, tomou o poder para si.
Há também outra desavença religiosa que vem desde os tempos de Bakr e perdura até
hoje. Conforme salienta Nabhan (1996) a disparidade de crença entre Xiitas e Sunitas. Os
Xiitas acreditam que a linha sucessória dos califas só pode vir da árvore genealógica de
20

Maomé e seguem as antigas interpretações do Alcorão e da Lei Islâmica à risca. Já os Sunitas
divergem dos Xiitas em relação ao tipo de sucessão que permitem, não sendo ligados à
genealogia de Maomé e seguem outro livro sagrado: a Suna. Os Sunitas totalizam 90% da
comunidade islâmica do mundo e a Suna traz os grandes feitos de Maomé. Esse povo é mais
aberto a transformações.

4.1.1. Zoroastrismo

O zoroastrismo é a religião dos antigos persas. Foi o primeiro credo intelectual da


história, e era a crença predominante na região do Império Persa, hoje Irã, até a invasão e
dominação muçulmana no século VII, quando os adeptos da religião foram perseguidos por
serem considerados infiéis. O profeta é Zaratustra, que aos 30 anos recebeu os ensinamentos
do deus Ormuzd, baseados em ideais de igualdade e pureza. Desde então, Zaratustra divulgou
a religião, que prega a visão dualista do mundo, dividido entre forças do bem e do mal.
Algumas das suas concepções religiosas como a crença no paraíso, na ressurreição, no
juízo final, na recompensa para quem pratica o bem e na vinda de um messias influenciaram o
judaísmo, o cristianismo e o islamismo, formando assim as quatro religiões monoteístas.
No Oriente Médio, os zoroastrianos se concentram no Irã, nas cidades de Teerã,
Kerman e Yazd.

4.1.2. Judaísmo

O judaísmo é a mais antiga das religiões monoteístas do mundo. Para os judeus, existe
apenas um Deus, e ele é o criador de todas as coisas. A religião surgiu há cerca de 4 mil anos,
na região da Palestina (região que inclui o Estado de Israel e a Jordânia). Por isso essa terra é
sagrada para os judeus, assim como para os palestinos e cristãos. Esse fato gerou vários
conflitos durante toda a história, e eles se estendem até os dias atuais.
Em 1948 após a Segunda Guerra Mundial, foi criado o Estado de Israel, como uma
compensação determinada pela Organização das Nações Unidas por causa do holocausto. Até
então, os judeus eram um povo sem pátria, dispersos pelo mundo desde sua expulsão da
Palestina por terem se revoltado contra a dominação romana no início da era cristã. A região
é sagrada para as três religiões monoteístas. Para o islamismo, o Domo da Rocha em
Jerusalém é o local de onde o profeta Maomé subiu aos céus. É o terceiro lugar mais
21

importante para a religião. Para o cristianismo, a Igreja do Santo Sepulcro, que também fica
em Jerusalém, foi o local da crucificação, do enterro e da ressurreição de Jesus Cristo, o
Messias. Para o judaísmo, o Muro das Lamentações, parte do segundo templo de Salomão,
também em Jerusalém, é o local mais sagrado de todos.
Há uma discussão sem fim sobre qual povo é a vítima deste processo de criação do
Estado de Israel na Palestina. Os judeus não possuem outra nação, e a terra é sagrada para a
comunidade judaica, que está ligada emocional e historicamente com a região. Os palestinos
também tem a terra como sagrada, e se definem como invadidos por Israel, já que com a
criação do Estado de Israel, a terra dos palestinos foi dividida em duas. Para o professor e
historiador israelense Benny Morris, em seu livro “Righteous Victims” (1999), ambos os
lados são vítimas. Morris define os palestinos como oprimidos por serem menores, mais
fracos e dispersos pelo mundo árabe. Oprimidos assim como os judeus, reprimidos global e
historicamente, vivendo em um território constantemente sitiado sob pressão de todo o mundo
árabe.
O conflito árabe-israelense se resume então em uma reivindicação de direitos sobre a
área da Palestina. Esse é o principal foco das desavenças entre árabes e judeus.

4.1.3. Cristianismo

O cristianismo é a segunda maior religião no Oriente Médio em relação a seguidores,


com cerca de 13 milhões de cristãos de igrejas árabes, como a Copta e a Maronita, duas das
mais antigas do cristianismo. Hoje, o povo cristão é arduamente perseguido principalmente
pelos militantes do Estado Islâmico, pois aqueles que adoram outro Deus a não ser Allah são
vistos como infiéis, e, amparados pelo alcorão, os cristãos são obrigados a se converterem, a
pagarem propina para continuar professando a sua fé ou são brutalmente mortos. Em alguns
casos, são degolados ou crucificados, assim como Jesus Cristo.

4.1.4. Islamismo

O Islamismo é uma religião monoteísta que teve como berço o Oriente Médio, nascido
dentro da cultura árabe, no século VI. Não é apenas uma religião, mas uma visão de mundo
que compreende todas as áreas da vida cotidiana. O islã é mais do que uma salvação pessoal
ou um corpo de crenças. Ele é uma identidade, uma cultura. Nos países onde a religião é
22

predominante, não há dissociação entre religião e política. A política é regida sob os preceitos
da religião por meio da Sharia - a lei islâmica. Arábia Saudita, Irã, Iraque, Egito, Líbano,
Jordânia, Iêmen, Omã, Emirados Árabes Unidos, Catar, Bahrein, Kuwait, Síria e Territórios
Palestinos são países com maioria islâmica. Além da sua região de berço, o Islamismo se
expande cada vez mais em todo o mundo.
Um dos seus pilares é a sua capacidade de expansão, realizada desde sua fundação
pelo Profeta Maomé por meio da Jihad, a “Guerra Santa”. O islã e os seus ensinamentos,
compilados no livro sagrado da religião, o Alcorão, é a lente pela qual os muçulmanos
enxergam o mundo. Esse fato abre espaço para extremismos e fundamentalismos que causam
desavenças dentro da própria comunidade islâmica, dividida entre xiitas e sunitas. Essa
divisão se originou após a morte do Profeta Maomé, que em vida não estabeleceu nenhuma
linha sucessória a ser adotada. Após a sua morte, nasceram duas linhas distintas com relação a
quem seria o seu sucessor. Uma linha defendia a ideia de que a sucessão cabia aos
descendentes diretos do profeta. No caso, o primeiro sucessor seria Ali Abu Talib, genro de
Maomé. Daí a origem do nome xiita: “partido de Ali”. A outra linha entendia que diante dessa
situação, se deveria adotar a hadith (tradições do profeta, transmitidas oralmente de Maomé
para os seus discípulos e dos discípulos para as gerações), ideia representada por Abu Bakr,
amigo do profeta, que no fim foi proclamado o sucessor de Maomé.
Essa divisão culmina em inúmeros conflitos em todo o Oriente Médio, como os que
aconteceram no Iraque no fim de 2013 e início de 2014, quando as forças de segurança do
país prenderam um parlamentar sunita em Ramadi, desencadeando um tiroteio que deixou seis
mortos. Dois dias depois, o primeiro-ministro xiita ordenou a destruição de um acampamento
sunita com a alegação de que o local tinha se transformado em um "quartel-general para a
liderança da Al-Qaeda", que luta pelo controle de duas cidades no oeste do país, Ramadi e
Fellujah. O Iraque é um país de governo xiita, assim como a maioria de sua população. A
minoria sunita afirma ser vítima de discriminação por parte do governo, o que causa um
profundo descontentamento e revolta por parte dos militantes sunitas, principalmente os
envolvidos com a Al-Qaeda. Juntos com o Estado Islâmico do Iraque e do Levante promovem
ataques pelo país, tendo como alvo funcionários das forças de segurança, do governo e civis
xiitas.
Além dos confrontos entre os dois grupos, o fundamentalismo islâmico tomou conta
da maioria dos países árabes com grupos terroristas, e agora se expande em todo o mundo
com o crescimento e fortalecimento da organização jihadista Estado Islâmico. Para os

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extremistas, o ocidente é visto como sinônimo de colonialismo, dominação e infidelidade
perante Allah. Além de invadirem cidades, treinarem soldados e sequestrarem estrangeiros, os
militantes do Estado Islâmico perseguem as minorias religiosas do Oriente Médio,
principalmente os cristãos, em busca de estabelecer em cada território conquistado o califado
islâmico e submissão completa a Allah.

4.2. Facções Religiosas

Citaremos as principais organizações que são mais frequentemente mencionadas como


os maiores grupos terroristas da atualidade, ou seja, apenas aqueles grupos que ainda se
encontram em atividade:

4.2.1. Al-Qaeda

É a organização terrorista mais conhecida do mundo, em razão dos atentados às torres


do World Trade Center, em 11 de setembro em 2001. Composta por muçulmanos
fundamentalistas tem por objetivo erradicar a influência ocidental sobre o mundo árabe. Foi
criada em 1980, durante a guerra fria, para defender o território do Afeganistão contra a
URSS, que buscava expandir o domínio socialista sobre o país. Inicialmente essa organização
contava com o apoio dos EUA, mas rompeu relações com esse país no início da década de
1990.Após o 11 de setembro, o grupo ganhou força e visibilidade se tornando um dos maiores
e mais atuantes grupos terroristas.

24

4.2.2. Talibã

O grupo Talibã é um grupo político que atua no Paquistão e no Afeganistão, também


preocupado com a aplicação das leis da sharia. O grupo comandou o Afeganistão desde 1996
até 2001, quando os EUA invadiram o país após os atentados de 11 de setembro. Com a
retirada das tropas estrangeiras, o grupo vem fortalecendo-se e retomando o controle de boa
parte do território afegão.

4.2.3. Estado Islâmico

O Estado Islâmico no Iraque e na Síria é um grupo terrorista jihadista que age nos dois
referidos países, tendo surgido em 2013 como uma dissidência da Al-Qaeda, inspirando-se
nesse grupo. O seu líder é Abu Bakr al-Baghdadi, que liderou a Al-Qaeda no Iraque em 2010
e que havia participado da resistência à invasão dos Estados Unidos ao território iraquiano em
2003. O objetivo do Estado Islâmico é a criação de um emirado islâmico abrangendo os
territórios da Síria e do Iraque.
Em 2003, de acordo com Cotrim (2005), com a invasão do Iraque pelos Estados
Unidos da América, sob o pretexto de combate ao terrorismo, a região foi violentamente
atacada e diversos grupos militares iraquianos ofereceram enorme resistência às tropas norte-
americanas. Um dos que mais se destacou foi o Jama’atal-Tawhidwal-Jihaduma, liderado
pelo jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, e que existia desde 1999. Não só atacou as forças de
coalizão como promoveu ataques suicidas contra civis iraquianos. Brevemente, um ano
depois, estabeleceu aliança com Osama Bin Laden e passou a se chamar TanzimQaidatal-
Jihad fiBilad al-Rafidayn, ou como é mais conhecido, Al-Qaeda do Iraque. Também neste
ano, Abu Omar al-Baghdadi agregou ao grupo Al-Qaeda outros grupos paramilitares menores,
e logo depois foi promovido para ter um lugar no assento do Conselho Mujahideen Shura e no
conselho judicial do Estado Islâmico do Iraque. Na sequência, o grupo se fundiu com outros
menores e buscou evitar erros cometidos no passado recente pela facção principal, a Al-
Qaeda.
A imagem do Estado Islâmico foi severamente abalada no final dos anos 2000 por
gerar violência gratuita sobre a população iraquiana que, em sua maioria, deixou de apoiá-lo.
Em junho de 2006, o líder al-Zarqawi foi morto em um ataque aéreo promovido pelos
EUA e isso trouxe ao poder Abu Omar al-Baghdadi, e em outubro deste mesmo ano o grupo

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passou a se autointitular Estado Islâmico do Iraque (EII), cujo principal objetivo era
estabelecer um estado islâmico nas áreas majoritariamente sunitas do país.
No ano de 2010, Abu Bakral-Baghdadi, doutor pela Universidade Islâmica de Bagdá
em estudos islâmicos, tomou a frente do grupo Estado Islâmico do Iraque, sendo declarado
pelos componentes do grupo como califa após a morte de seu antecessor Abu Omar al-
Baghdadi.
Em 2011, após a saída das tropas americanas do Iraque, graças a um pacto de retirada
assinado entre Washington e Bagdá, a reestruturação do país ficou a cargo de um grupo xiita,
e apesar da elaboração de uma nova constituição e da implantação de uma república
parlamentarista, os ataques na região não cessaram. Diversos grupos contrários ao governo
pró-ocidente, que tende a possibilitar a entrada de empresas multinacionais de exploração
petrolífera, são os responsáveis por esses ataques, entre eles o EII. Os bombardeios voltaram a
ser rotina e o Estado Islâmico do Iraque seguia avançando territorialmente, sob olhares
atentos dos EUA.
Desde que al-Baghdadi tomou o controle do grupo, a fronteira Síria foi transposta. O
poder local confrontou o Estado Islâmico e este enviou diversos destacamentos militares para
combater Bashar al-Assad e garantir a formação de um novo braço armado do grupo na Síria,
o Jabhat al-Nusra. Vários ataques a cidades Sírias foram obra deste grupo, especialmente ao
norte do país. Em 2013, a união da Jabhat al-Nusra com o Estado Islâmico do Iraque formou o
chamado Estado Islâmico do Iraque e Síria (EIIS ou ISIS, em inglês).
O Estado Islâmico controla quase a metade do território da Síria e uma parte do norte
do Iraque, separando o território curdo do resto do Iraque. Tem como capital Raqqa, perto da
maior barragem do rio Eufrates na Síria, a Tabqa, e dominam as áreas de Deires-Zour, um
importante polo petrolífero sírio, Sinjar, a maior comunidade Yazidi2, além de Mossul, a
segunda cidade do Iraque, com quase 2 milhões de habitantes. A barragem da cidade de
Mossul, a maior do Tigre, a 60 quilômetros da cidade, foi reconquistada por tropas curdas,
com apoio aéreo dos EUA.

2
Os iazidis são em sua maioria, falantes de língua curda que professam a religião iazidismo, religião com raiz nas
religiões persas.

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4.3. Questões Geográficas

O Oriente Médio é uma região localizada entre o sul e o leste do mar mediterrâneo e
nele surgiram o Judaísmo, Cristianismo e o Islamismo. É uma região historicamente
conflituosa devido à escassez de recursos como água, a exploração do petróleo e
principalmente por questões religiosas.
Com clima semiárido e calor médio de 37ºC, essa região sofre com constantes
tempestades de areia e prolongadas secas decorrentes dos ventos continentais.
De acordo com Archela (2009) o Oriente Médio é formado por dezesseis países, são
eles: Turquia, Líbano, Egito, Síria, Israel, Iraque, Jordânia, Irã, Afeganistão, Kuwait, Catar,
Emirados Árabes, Arábia Saudita, Omã, Iêmen e Iêmen do Sul. É dominada por três grandes
planaltos que são: planalto da Anatólia, planalto do Irã e planalto da Arábia. Como se observa
na figura 1, abaixo:
Figura 1: Mapa Limite Geográfico Oriente Médio

Existem quatro principais pontos de acesso ao Oriente Médio segundo Archela (2009)
principalmente para saída de petróleo, são eles: o estreito de Bósforo que liga o Mediterrâneo
ao Mar Negro, o Canal de Suez que liga o Mediterrâneo ao Mar Vermelho, o Estreito de

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Ormuz que é a passagem do Golfo Pérsico para o Mar Arábico e o estreito de Bab-el-Mandeb
que liga o Mar Vermelho ao Mar Arábico.

4.4. Palestina e Israel

Desde a Antiguidade, uma região do Oriente Médio é chamada de Palestina pelo


império Britânico. Aproximadamente em 120 a.C., os hebreus (judeus) conquistaram esta
região. Porém, com consecutivos domínios estrangeiros sobre este território, foi iniciado um
processo de dispersão da população judaica para outras regiões, embora grande parte ainda
continuasse na Palestina.
Duas grandes revoltas ocorreram por parte dos judeus contra o domínio romano,
ocasionando a demolição do Templo de Jerusalém, e a proibição deles habitarem em
Jerusalém, o que resultou na dispersão de hebreus pelo Império Romano.
Cotrim (2005), salienta que as populações helenísticas passaram a ocupar a Palestina e
no ano de 395 passou a ser uma província. Em 1517, a Palestina foi conquistada pelo Império
Turco, e já no século XX, havia populações de judeus habitando a região juntamente com o
povo árabe, fato este que ficou mais intenso em 1918, o que gerou um incômodo na
população árabe, e com isso os judeus imigrantes criaram um movimento paramilitar
chamado Haganah, com o objetivo de se proteger e armar planos para futuramente atacar os
árabes.
A Declaração de Balfour feita pelo ministro britânico dos Assuntos Estrangeiros
favorecia a instituição de um novo Estado judeu, mas como a Grã-Bretanha mantinha uma
ótima relação econômica com os Estados mulçumanos do Oriente Médio, tentou impedir a
imigração dos judeus para não contrariar seu aliado, porém a população de judeus, e a
organização dos terroristas na Palestina pressionavam o mundo para a criação desse novo
Estado.
Em 1947 foi aprovado pelas Nações Unidas o plano de Partilha da Palestina, que
dividiu o território em dois Estados: um judeu e outro árabe, com o principal objetivo de
acabar com o confronto que havia entre as duas sociedades, entretanto o plano de partilha da
Palestina foi recusado pelos Estados árabes.
No ano de 1948, foi proclamado o Estado de Israel pelos judeus, que foi invadido
pelos países árabes vizinhos, dando inicio à primeira guerra árabe-israelense. Muitos conflitos
se seguiram pelos anos seguintes, a Guerra de Suez em 1956, a Guerra dos Seis Dias em

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1967, a Guerra de Yom Kippur em 1973, a revolta Popular de Gaza chamada de Intifada em
1987 e os atentados suicidas principais em 2003 foram determinantes para as modificações
territoriais no Oriente Médio, conforme figura 2.

Figura 2: Mapa Modificações Territoriais Oriente Médio

Os países árabes que estavam na guerra eram Egito, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano,
estes foram derrotados pelo Estado de Israel, o que levou a ampliação do território israelense,
que passou a dominar 75% da Palestina. Com isso, teve inicio a expulsão dos palestinos para
países vizinhos. Portanto, hoje a Palestina está dividida em três partes conforme plano de
partilha da ONU de 1947 como podemos ver na figura 3; uma integra o Estado de Israel; outra
a Jordânia e duas outras, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. A população é de maioria de árabes
palestinos e deveriam integrar um estado palestino a ser criado de acordo com a lei
internacional, bem como as determinações das Nações Unidas, e do Reino Unido.

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Figura 3: Mapa de Partilha da ONU

4.5. Questões Político-Religiosas

Nós nos rebelamos contra os que colonizaram nossas terras e tentaram nos
escravizar (...) nós repelimos a revolução vermelha muitas vezes, e continuamos
nossas revoluções brancas por muitos anos (...) e para isso suportamos muito
sofrimento, aguentamos muitas perdas, sacrificamos tantas vidas (...) mas: Quando
finalmente conquistamos nossa liberdade, começamos a santificar as fronteiras que
eles instituíram depois de dividir nossas terras (...) e nos esquecemos de que essas
fronteiras eram as do "confinamento solitário" e as da "prisão domiciliar" que eles
nos impuseram!”.(Sati‘ al-Husri. Data imprecisa; tradução livre).

O Estado Islâmico de acordo com Nabhan (1996) é uma região com tipo de governo
baseado no islamismo, seguindo a Sharia, Lei de origem Religiosa Islâmica Fundamentalista.
São descendentes do califado, mas atualmente incorporam elementos democráticos modernos,
deixando as monarquias déspotas de lado e adotando eleições, parlamentos, poder judicial e
soberania popular.
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O movimento de populações oprimidas conhecido como Primavera Árabe teve início
na Tunísia, em 2010, quando, no dia 17 de dezembro, o vendedor de rua Mohamed Bouazizi
ateou fogo ao próprio corpo, em protesto às condições de vida de seu país. A rebelião solitária
desse jovem tunisiano foi o estopim de um movimento que se espalhou primeiramente dentro
de toda a Tunísia e logo em diante para o Egito, onde milhares de pessoas foram às ruas.
Dentro da Tunísia, o movimento viu o presidente Zine el-Abdine Ben Ali, que estava no
poder desde 1987, fugir dez dias depois do início do movimento para a Arábia Saudita.
Estendeu-se pelo oriente médio em oposição aos governos rendidos ao imperialismo de países
ocidentais, que implantaram em suas nações um regime militaresco, opressor e regido pelo
silêncio da população.
O Estado Islâmico do Iraque e do Levante como salienta Nabhan (1996) é uma
organização jihadista do Oriente Médio. Jihad, em árabe, significa esforço, luta e, no islã é a
supressão dos instintos humanos, numa guerra por uma boa sociedade ou contra os infiéis. É
conhecido como ad-Dawlat al-Islāmiyahfī al-ʿIrāqwash-Shām, levando ao acrônimo de
Da’ish'ish ou Daesh. O grupo, conforme já foi detalhado, em seu formato original foi
composto por vários grupos sunitas insurgentes, incluindo organizações antecessoras, como a
Al-Qaeda.
A despeito do rígido controle midiático implantado pelos Estados da região, a
circulação de informações em todo o mundo foi bastante eficaz, graças às novas mídias de
comunicação social, o que permitiu que se formasse uma rede de indivíduos vorazes por
democracia de verdade e liberdade não mediada. No Egito, o presidente Hosni Mubarak
renunciou dezoito dias após o início da Primavera Árabe, deixando o poder depois de trinta
anos de governo, pressionado pelos manifestantes que se reuniam na praça Tahrir - em árabe,
praça da Libertação, no centro da Cidade do Cairo.
Um tempo depois Mubarak foi colocado sob julgamento, mesmo estando
hospitalizado e condenado à prisão perpétua pela morte de 900 civis. Em janeiro de 2015, a
alta corte egípcia reverteu a condenação de Mubarak para corrupção e pediu o agendamento
de novo julgamento. Mubarak ainda cumpre parte da pena de 3 anos a que foi condenado por
desvio de recursos públicos em um hospital militar no Cairo.
Egito e Tunísia foram às urnas à frente dos outros países da região, já no primeiro ano
da Primavera Árabe. Na Líbia, o coronel Muamar Kadafi demorou mais para cair. Ele era o
líder há mais tempo na região, desde 1969, com quarenta e dois anos de poder. Nesse ínterim
a Líbia passou por uma brutal guerra civil. Rebeldes avançaram sobre cidades ainda lideradas

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por Kadafi. Trípoli, a capital, caiu em agosto. Dois meses depois, escondido em um buraco de
esgoto de Sirte, no Golfo da Líbia, o ditador foi capturado e morto. Em 2015 a cidade foi
tomada por militares do Estado Islâmico.
A Síria, país que era governado desde 1963 pelo partido Baath e desde 2000 pelo
presidente Bashar al-Assad, sofria sérias restrições econômicas. A degradação dos direitos
humanos era cada vez maior e o desemprego atingia um quarto da população. Entre janeiro e
março de 2011 uma série de manifestações contra o governo começou.
Considerando as manifestações ilegítimas, Bashar al-Assad ainda declarou que estas
eram movidas por terroristas e reprimiu todas com intensidade. Dados do Observatório de
Direitos Humanos apontam que, em 2013, setenta e três mil pessoas foram mortas no conflito,
sendo vinte e duas mil civis. Foi a transformação de um conflito político em um conflito
religioso, que colocou os grupos que atendem à diferentes crenças em atrito.

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5. A RAZÃO DE SER DO TERRORISMO

Mais do que uma violência física, o terrorismo é uma violência psicológica. A palavra
terrorismo vem do latim TERRERE, que significa “fazer tremer, assustar, causar terror”. É
um método psicológico executado por indivíduos, grupos clandestinos ou pelo Estado por
razões políticas e/ou religiosas. A diferença para o homicídio é que os alvos diretos da
violência não são as principais metas do ato terrorista. As vítimas geralmente são aleatórias,
mas há também as que são previamente escolhidas, como líderes simbólicos de uma
população. No terrorismo, a violência é o objetivo, já que é a partir do terror gerado com ela
que o alvo será manipulado e intimidado. O objetivo dos grupos terroristas então, é gerar
insegurança para os países e, principalmente, para a população mundial.
O tipo de terrorismo tratado aqui é o exercido por grupos fundamentalistas islâmicos.
De acordo com Armstrong (2001) o fundamentalismo, no âmbito pessoal, é o ato de seguir
uma religião ao “pé da letra” por meio da interpretação literal das escrituras sagradas. Já o
fundamentalismo no âmbito social e político se dá quando uma pessoa ou um grupo impõe
essa linha ao outro de forma armada ou por aprovações de leis em um determinado Estado,
originando um sistema político, econômico e social e cultural embasado nas leis islâmicas. No
Islamismo, o fundamentalismo também é exercido por meio da Jihad, o esforço pela expansão
da fé feita pela revolta armada. O alvo dessa revolta é o Ocidente, que ao olhar dos
fundamentalistas é uma ameaça aos valores islâmicos por causa da sua cultura “infiel”, ou
seja, todo aquele que não reconhece Allah como seu único deus nem vive sob os preceitos da
fé islâmica.
Para Armstrong (2001), especialista em religiões, todo praticante islâmico é oposto ao
Ocidente, com suas ideias fortalecidas e potencializadas pela interpretação literal do corão.
Essa interpretação literal fundamenta as promessas de vida eterna para aqueles que defendem
os ensinamentos de Allah, sendo em alguns casos, a única esperança para aqueles que
crescem com uma visão de mundo integralmente estabelecida por uma religião.
Rehov (2001), cineasta francês que cobre conflitos árabe-israelenses, classifica o Islã
como uma cultura de ódio, na qual pessoas sem qualquer educação sofrem uma lavagem
cerebral de tal ordem que sua única solução na vida passa a ser matar a si mesmos e a
outros em nome de Alá, cuja palavra, segundo lhes disseram outros homens, tornou-se sua
única segurança. A doutrina islâmica é bastante rigorosa. De acordo com Nabhan (1996) a

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submissão a Allah é total e compreende todas as áreas da vida cotidiana. Há a completa
separação entre homens e mulheres, a destituição de qualquer tipo de poder a elas e o total
encargo dos homens de zelar pela honra da família. Esta honra precisa ser defendida, e é
perante esta situação que muitos homens se tornam um shahid, um mártir.
Um shahid é extremamente valorizado e festejado na cultura muçulmana. É um sonho
e um motivo de orgulho para as famílias terem um mártir. Fora dessa cultura, os shahid são
conhecidos como homens-bomba, são eles os responsáveis pelos ataques terroristas suicidas.
Fundamentados pela ideologia extremista trabalhada muitas vezes desde a infância, estes
terroristas cometem atentados suicidas em busca da recompensa prometida por Allah no
Corão àqueles que defendem o Islamismo e combatem os infiéis.
O Corão ou Alcorão é o livro sagrado dos muçulmanos. De acordo com Guellouz
(2007), nele estão reunidas as revelações, código de leis que regem a vida em todas as áreas,
de Allah feitas ao profeta Maomé em 114 capítulos ou surahs, suratase 6236 ayats, versos. É
o guia de vida para os muçulmanos pacíficos e também para os extremistas, que interpretam o
sentido literal das escrituras, sem considerar o contexto histórico da época em que o Alcorão
foi escrito. Estudiosos alegam que existem mais de 150 versos que incitem a violência no
Corão. Versos esses que são usados de base para os terroristas suicidas, tais como:

“E quando vos enfrentardes com os incrédulos, (em batalha), golpeai-lhes os pescoços, até
que os tenhais dominado, e tomai (os sobreviventes) como prisioneiros. ” (Alcorão 47:4 -
apud Challita, 2010. Tradução livre)

"Infundiremos terror nos corações dos incrédulos, por terem atribuído parceiros a Deus, sem
que Ele lhes tivesse conferido autoridade alguma para isso." (Alcorão 3:151- apud Challita,
2010. Tradução livre)

"Está-vos prescrita a luta (pela causa de Deus), embora o repudieis. É possível que repudieis
algo que seja um bem para vós e, quiçá, gosteis de algo que vos seja prejudicial." (Alcorão
2:216 - apud Challita, 2010. Tradução livre)

Seguindo os sentidos literais dos versos, os homens-bomba também buscam as


recompensas prometidas por Allah. Mulheres virgens ansiosas pelo seu esposo. Segundo a
interpretação do clérigo saudita muçulmano Muhammad Al-Munajjid, as mulheres do paraíso
são puras, não menstruam e não evacuam. São livres de falhas físicas e de caráter. São
submissas, devotas e não são ciumentas nem bravas. Cada homem terá a força de 100 homens
para comer, beber e fazer sexo. O verso que traz a promessa está na surata 56:

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E se deitarão sobre leitos incrustados com pedras preciosas, frente a frente, onde
lhes servirão jovens de frescores imortais com taças e jarras cheias de vinho que
não lhes provocará dores de cabeça nem intoxicação, e frutas de sua predileção, e
carne das aves que desejarem. E deles serão as huris [virgens] de olhos escuros,
castas como pérolas bem guardadas, em recompensa por tudo quanto houverem
feito. (…) Sabei que criamos as huris para eles, e as fizemos virgens, companheiras
amorosas para os justos. (Alcorão, surata 56, versículos 12-40 apud Challita, 2010).

Segundo os hadits, coletânea de histórias contadas por Maomé que foram transmitidas
oralmente de geração em geração até serem redigidas em sua forma atual, são 72 o número de
virgens para cada homem no paraíso:

A menor recompensa para aqueles que se encontram no paraíso é um átrio com


80.000 servos e 72 esposas, sobre o qual repousa um domo decorado com pérolas,
aquamarinas e rubis, tão largo quanto a distância entre Al-Jabiyyah e Sana’a.
(Hadith 2687 Livro de Sunan, volume IV apud Ministério Apolégico).

Ser um mártir de acordo Guellouz (2007) não é uma exclusividade do sexo masculino,
embora os homens sejam a grande maioria dos suicidas. As mulheres-bomba também
cometem atentados pela promessa de terem seus corpos purificados, servindo e satisfazendo
os mártires que morreram pelo mesmo ideal que elas.

5.1. Terrorismo e o Estado Islâmico

O Estado Islâmico, também conhecido como Estado Islâmico do Iraque e da Síria


(ISIS) e Estado Islâmico do Iraque e Levante (ISIL), é mais do que um grupo terrorista. Antes
de todo o poder bélico, financeiro e midiático, o EI era o braço do grupo afegão Al-Qaeda no
Iraque. Após a invasão das tropas estadunidenses no país e a queda do ditador Saddam
Hussein, que estava há 24 anos no poder, vários grupos armados começaram a se proliferar, e
agir nas brechas de um território devastado pela guerra. Entre eles, o grupo de Abu Musab al-
Zarqawi, auto proclamado líder da Al-Qaeda no Iraque e também fundador grupo militante
Tawhidwal-Jihad, que mais tarde se tornaria o Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
A figura de Abu Musab al-Zarqawi é preponderante para entender a essência do
Estado Islâmico. Nascido em outubro de 1966, na cidade de Zarqa, Jordânia, Ahmad Fadhil
Nazzalal-Khalaylah era de uma família grande e comum, mas pertencente a uma importante
tribo. Se envolveu em vários crimes, sempre com requintes de crueldade.

35

“(...) um homem que foi demitido de um emprego como balconista de uma locadora
de vídeos e cujo pano de fundo incluía gangues de rua e, de acordo com oficiais da
inteligência jordaniana, prisão por agressão sexual. Ele era um autopromotor cruel
que, afirmam autoridades dos EUA, matou ou feriu milhares de pessoas nos últimos
três anos (2003 – 2006) em atentados suicidas, execuções em massa, e decapitações
que foram gravadas em vídeo. Ele desenvolveu uma aura mítica de
invulnerabilidade”. (WEAVER, 2006. Tradução livre).

Assumindo um nome de guerra baseado em sua cidade natal, Abu Musab passou a ser
Abu Musab al-Zarqawi. Abandonou a escola no nono ano, bebia exageradamente e tinha
várias tatuagens pelo corpo. Para se livrar da vida de crimes e pecados, se juntou a uma
organização chamada Tablighi Jamaat, dedicada a reavivar a fé dos muçulmanos mais fracos,
caídos em práticas pecaminosas. O objetivo é a mudança de hábitos e fortalecimento da fé,
garantindo a entrada no paraíso, ou a implementação do Islã na Terra. Se trata de uma jihad
espiritual.
Após o período de recuperação, foi para o Afeganistão. Lá, aderiu ao movimento de
rebelião organizada contra a ocupação do Afeganistão pela União Soviética. Aqui, se dá um
dos detalhes mais importantes de sua vida que influenciaria a forma de propagação do
vindouro Estado Islâmico. Na insurgência, Abu Musab al-Zarqawi não era um combatente,
mas realizava trabalhos jornalísticos, elaborando news letters jihadistas.
Quando facções afegãs começaram a lutar uma contra as outras pelo controle do país,
al-Zarqawi entrou em combate e, mais tarde, conheceu o xeque Abu Muhammad al-Maqdisi,
clérigo e um dos nomes mais importantes do Salafismo jihadista, que se tornou o guia do
jordaniano.
Em 1993, os dois voltaram para a Jordânia e lá se envolveram em vários atentados
falhos. Abu Musab al-Zarqawi acabou sendo preso, e isso foi preponderante para que ele se
transformasse em um dos homens mais procurados do mundo. Saiu da prisão em 1999, se
envolvendo em mais uma série de atentados frustrados. Procurado pelos serviços de segurança
Jordanianos, fugiu para o Afeganistão. Foi quando conheceu Osama Bin Laden.
A preocupação de Bin Laden era voltada ao ocidente e a sua influência no islã. Mesmo
com as diferenças, a Al-Qaeda patrocinava o campo independente de treinamento de al-
Zarqawi, que recrutou combatentes na Síria, Líbano e Irã, expandindo a sua rede.
Após os ataques de 11 de setembro, houve a invasão estadunidense em territórios
afegãos, tendo como alvo as bases da Al-Qaeda e do Talibã. Al-Zarqawi combateu em defesa
dos dois grupos, mas foi ferido e fugiu para o Irã. De lá foi para o Curdistão Iraquiano onde se
juntou com o grupo Ansaral-Islam. Esse envolvimento foi usado como prova pelos Estados
36

Unidos na acusação de que ele e Al-Qaeda tinham se unido a Saddam Hussein, o que não
acontecera.
Na década de 1920 o sionismo foi visto com maus olhos ao redor do mundo, sendo
considerado um movimento intruso às forças nacionalistas árabes. Ao mesmo tempo, os
países que surgiram da separação do Império Otomano em 1924, como Síria, Transjordânia,
atual Jordânia, Líbano, Iraque e Arábia Saudita e também lideranças palestinas, acabaram por
ver nos nazistas e fascistas, possíveis aliados contra o imperialismo anglo-francês.
A invasão americana no Iraque, em 2003, foi a brecha pela qual surgiu o Estado
Islâmico. Como as bases da Al-Qaeda no Afeganistão tinham sido destruídas, o movimento
jihadista se enfraqueceu, mas reacendeu com a ocupação norte-americana no país. No
contexto geopolítico do Oriente Médio, a queda do governo de Saddam Hussein fortaleceu o
fundamentalismo islâmico ao provocar as divisões extremistas que resultaram na
desestabilização de toda a sociedade iraquiana.
Com mãos de ferro, Hussein controlava os ânimos no país, os conflitos étnicos e
religiosos eram contidos. As diferenças sempre existiram, mas a hostilidade era amenizada
antes da invasão. Com o vazio de poder e sob os efeitos de mais uma guerra, o cenário era
perfeito para a explosão de inúmeros conflitos internos e para o surgimento e fortificação de
vários grupos terroristas, como o Estado Islâmico. Desta nova visão de apoio político,
desenvolveu-se a partir de 1928 o fundamentalismo político muçulmano, com a criação de A
Irmandade Muçulmana3, pelo professor egípcio Hasan Al Banna e um seleto grupo de
estudantes na cidade do Cairo, em reação ao fim do califado turco, decretada pelo reformador
Kemal Ataturk. Os pontos que regiam A Irmandade eram:

1- Rejeição ao colonialismo e valores ocidentais;


2- Retorno à pureza do Islã;
3- Sacrifício extremo pela causa;
4- Assistencialismo islâmico;
5- Tomada do poder político por meio da revolução;
6- Refundação do califado unificado no mundo islâmico, sob autoridade exclusiva do
Corão;

3
Al Ikhwanal-Muslimun: Irmandade Muçulmana ou "Fraternidade Muçulmana" é uma organização islâmica
radical, que atua em cerca de 70 países e que pretende retomar os ensinamentos do Corão, rejeitando qualquer
tipo de influência ocidental.
37

7- Abolição de todas as instituições implantadas no mundo islâmico pelo Ocidente, com a
consequente extinção dos Estados Árabes na forma como existiam, além da eliminação
de Israel, à época sob controle inglês.

A Irmandade Islâmica segundo Nabhan (1996), seria incapaz de chegar ao poder


político no Egito e, inicialmente, era limitada à reforma moral e espiritual, mas cresceu de tal
forma que entre aos anos 1930 e 1940 contava com cerca de 500 mil membros somente no
Egito, além de inúmeros agregados em todo o Oriente Médio. O espantoso crescimento tem
ligação direta com as circunstâncias políticas no pós 2ª Guerra, principalmente o surgimento
da Guerra Fria, na qual a disputa passou dos campos de batalha para o campo ideológico e
também o racismo, materializado na figura dos judeus, acabou por tornar a Irmandade uma
força política realmente expressiva no Egito, que visava à libertação da pátria islâmica do
controle dos estrangeiros infiéis e o estabelecimento do Estado Unificado e que tinha
representantes em diversos segmentos da sociedade.
Neste ponto, a Irmandade se inspirou nos “camisas negras”, violento grupo paramilitar
fascista da Itália de Mussolini e acabou por criar seu próprio braço paramilitar, que continha
uma agência de inteligência, al-jihaz al-sirri, que coordenava ataques terroristas e
assassinatos. O slogan desse braço paramilitar era: ação, obediência, silêncio, fé e luta.
Atualmente a Irmandade ainda existe e está sob comando de Muhammad al-Mahmud
al-Hudeibi, de forma politicamente moderada e atua fortemente na Jordânia, Síria, Paquistão,
Sudão, Arábia Saudita, Argélia, Marrocos, Tunísia, países europeus e territórios ocupados
palestinos e expande suas doutrinas pelas comunidades muçulmanas pelo mundo e é
considerada a matriz dos grupos islâmicos radicais fundamentalistas palestinos. A
representatividade da Irmandade para grande parte dos muçulmanos é feita através de figuras
de resistência, na imagem mais recente de Osama Bin Laden e são os valores
fundamentalistas que os defendem contra o imperialismo ocidental.
Da Irmandade, vários grupos se desdobraram, dentre eles o Estado Islâmico, formado
na Jordânia há pouco mais de uma década, que mescla poderio militar, ânsia pela morte em
combate como forma de elevação e recompensa divina, selvageria contra prisioneiros e civis,
além de extrema perícia no uso da propaganda e da internet. Utilizam-se para isso de diversas
formas de comunicação em redes sociais já abordadas anteriormente, onde proliferam seus
fundamentos, afirmam seu poder bélico e econômico e disseminam o terror, de forma a causar
choques ideológicos, o que acaba por reafirmar seu poder.

38

A postura antiocidentalista adotada pelo EI vem, então, de quase um século atrás.
Basicamente, os inimigos declarados do EI são: politeístas, entre os quais muçulmanos xiitas
e os alauítas da Síria; os apóstatas, aqueles que abandonaram o islã; e os chamados infiéis,
aqueles que não pertencem ao islã.
Matar, a partir destes preceitos, é uma ferramenta, não um efeito. E é nítido que tudo
começou com A Irmandade Muçulmana. É obscura a origem do aprendizado organizacional e
bélico deste grupo, mas associa-se às forças nazifascistas estes conhecimentos
compartilhados, como relatou o cientista político alemão Matthias Kuntzel em seu artigo O
antissemitismo Islâmico e suas raízes Nazistas. Seguindo este pensamento, a Al Qaeda, o
Hamas e a Jihad Islâmica têm seu sucesso ideológico baseado nas raízes do nazismo.

O novo impacto das teorias da conspiração nazi-like torna-se particularmente


evidente se tomarmos uma olhada na Carta da Irmandade Muçulmana da Palestina
que se chama Hamas. Esta Carta, criada em 1988, representa um dos programas
islâmicos mais importantes de hoje. Aqui, o Hamas incisivamente faz uso da retórica
anti-semita do Mufti de Jerusalém que, por sua vez, havia adotado a partir dos
nazistas. A Irmandade da Palestina se define como um movimento universal cujo
jihad era a ponta de lança ea avant-garde em sua luta contra o sionismo mundial.
(KUNTZEL, 2003. Tradução direta)

O Estado Islâmico é um dos grupos mais poderosos, em termos de recursos


financeiros, sendo capaz de se manter atuante possibilitando a manutenção de sua existência.
Segundo uma reportagem da revista Carta Capital, o grupo oferece aos seus combatentes
comuns um salário de 500 a 600 dólares por mês. Segundo o jornal Al-Araby al-Jadeed, o
grupo dispõe, em 2015, de um orçamento de pelo menos 2 bilhões de dólares.
Ainda segundo a reportagem, o Estado Islâmico recebe dinheiro de diversas maneiras
tendo seu principal lucro vindo do petróleo. Desde 2014, as principais regiões petrolíferas que
o EI possui controle estão localizadas no Iraque e na Síria. Uma informação da revista
Foreign Affairs chama a atenção, pois no ano passado o EI chegou a produzir um total de 44
mil barris diários no Iraque e na Síria.
Outras formas de captação de dinheiro mantém o Estado Islâmico como é possível
verificar a seguir:

• Doações de simpatizantes: Pessoas que apoiam as ideias do Estado Islâmico são


grandes financiadores do grupo com a oferta de quantias generosas.

39

• Propina paga pelos países do Golfo Pérsico: Segundo reportagem da revista Carta
Capital, esses países temem que a organização se torne ativa na Península Arábica e
pagam ao EI para evitar a propagação do terror e da violência na região.

• Atividade criminal: Contrabando de cigarros, medicamentos, celulares e até


antiguidades iraquianas. Sequestros que resultam em extorsão das famílias das
vítimas, tráfico de pessoas, comércio de órgãos no mercado negro e venda de
passaportes por combatentes estrangeiros ao entrar no Iraque e na Síria.

• Impostos: O Estado Islâmico faz coleta de impostos e impõe uma organização


tributária nos territórios que domina.

40

6. O ESTADO ISLÂMICO E A INTERNET

A internet é uma ferramenta extremamente utilizada pelo Estado Islâmico no auxílio


de seus moldes de disseminação da doutrinação religiosa e de seus objetivos fundamentalistas.
Com pilares de imposição de causa e de manutenção da sua existência através do alistamento
de membros por todo o mundo e divulgação de suas ações através da internet, o Estado
Islâmico ganha cada vez mais força.
O grupo extremista tem forte influência, grande poder e controle sobre o meio digital,
pois além de ter a sua estrutura militar e administrativa, ele tem também em sua composição,
militantes incumbidos apenas da mídia que são os membros do Al Hayat4.
Diante desse panorama, fruto do uso das redes sociais e da internet pelo Estado Islâmico, o
que lhe permite que as informações cheguem a qualquer território, as possibilidades de imposição
de seu fundamento político-religioso crescem consideravelmente. Algumas tentativas de cooptação
de jovens pelo Estado Islâmico acontecem por meio de vídeos e imagens publicadas em redes
sociais.

6.1. Espetacularização da Morte: O Estado Islâmico e o Público

Especialistas em redes sociais, o Estado Islâmico vem utilizando cada vez mais a
internet para espalhar vídeos e recrutar novos membros. A intenção do grupo é assustar
inimigos, tanto participantes do conflito na região, quanto países de outras regiões, ”para que
não interfiram em seus assuntos”. Além de ajudar a recrutar novos soldados e reforçar a
existência do Estado Islâmico.
O Twitter e YouTube são as redes sociais mais utilizadas pelo grupo extremista, pois
por meio desses canais, é possível levar ao mundo inteiro suas mensagens. Com gravações
extremamente profissionais o EI atinge seu público alvo – muitas vezes o grupo tem preferência
por jornalistas para que possam ter mais facilidade em disseminar os vídeos ao mundo, jovens e
pessoas que não tem medo de praticar o terror seja ele em qualquer grau de crueldade – e vão
modificando a forma de exibição das imagens de acordo com a necessidade que pode variar entre
recrutar, assustar ou atingir o inimigo.

4
Em tradução livre do turco Al Hayat significa início da vida. O Al Hayat é uma instituição dentro do Estado
Islâmico responsável pela produção de material distribuído em mídia. Imagens, vídeos e todo o aparato que
divulga as ações do grupo são de responsabilidade dos membros do Al Hayat.
41

As imagens são carregadas de terror, armas, e algumas vezes com o dia-a-dia do que
acontece dentro dos grupos militares mais temidos e menos compreendidos da Síria, além
disso, eles ridicularizam a segurança do país, demonstrando a facilidade em entrar para o
grupo. As imagens abaixo mostram claramente a forma como o grupo utiliza as redes sociais
para recrutar membros cada vez mais jovens:

Figura 4: Propaganda Para Recrutar Jovens

“Estamos vivendo bem, ALHAMDULILLAH! Postei algumas fotos da minha casa para
mostrar como Allah está provendo para nós na terra abençoada de shaam! Veja que é só a
minha casa, com um único quarto... Outros têm cinco quartos e piscina, etc. De novo,
ALHAMDULILLAH para Aquele que nos deu tudo isso, porque Ele sabe que eu gosto de um
pouco de dunya, bens materiais, com o meu din, rsrs”. (VICE, 2014).

42

Figura 5: Propaganda Para Recrutar Jovens

“Não precisamos só de homens e dinheiro. Precisamos de comunidades. Estamos


construindo o Estado Islâmico. Junte-se a nós antes que fique muito difícil passar pelas
fronteiras.” (VICE, 2014)

Figura 6: Propaganda Para Recrutar Jovens

“Quem acha que consegue pular???... Subhan'Allah, Deus é glorioso... Uma hora de vôo até
Istambul, 30 min de carro até Hatay e bum, vc está dentro!!” (VICE, 2014)

43

Na maioria das vezes as contas utilizadas pelos jihadistas são bloqueadas, mas o grupo
rapidamente cria outro canal para que assim nunca falte conteúdo a ser divulgado e a
visibilidade não se esgote. O EI também tem recorrido cada vez mais a mensagens
criptografadas e enviadas através do lado obscuro da internet, o darkweb5.
Segundo Philippe Chadrys (2015), Diretor-adjunto encarregado da luta contra o
terrorismo na Direção Central da Polícia Judiciária (DCPJ) da França diz que:

Não devemos nos iludir... temos visto uma crescente utilização da darkweb. Isso torna as
investigações muito mais complicadas. Os terroristas se adaptam, compreendem que o
telefone e a internet são convenientes, mas perigosos. (CHADRYS, 2015).

É mais provável que os mecanismos de divulgação utilizados pelo Estado Islâmico


dentro dos meios de comunicação de massa sejam válidos e eficazes apenas pela não
existência de uma unidade social ou ideológica ao redor do mundo. Utilizar-se do espetáculo
para chamar a atenção do mundo para suas ações não é o ponto final da motivação. Segundo
Debord (2003) em “A Sociedade do Espetáculo”, o produto veiculado nos meios de
comunicação de massa é a manifestação geral da ilusão efetivamente real. No momento em
que se enxerga um determinado ator social como capaz de atingir nosso núcleo, entende-se de
acordo com Wolff (2005) que as imagens são capazes de suscitar aos poucos quase todas as
emoções e paixões humanas, positivas e negativas.
É nítido que o Estado Islâmico conquistou a notoriedade que tem através do marketing
da selvageria,

(...) apresentando em seus media uma carnificina chocante, criativa e requintada,


mostrando-se disposto a introduzir em nossas vidas a exibição pública da selvageria
(STERN; BERGER, 2015 p.34)

É aí que entendemos a que o terrorismo se propõe:

O terrorismo é o terror dirigido a não-combatentes, que intimida e chama a atenção


ao seu propósito maior pela vulgarização do terror através do espetáculo. O
terrorismo se distancia da guerra pois não é direcionado aos combatentes e o efeito
buscado pelos terroristas é dramático, de forma a instilar o medo na audiência-alvo,
o que, por vezes, é mais importante que o resultado das ações (STERN; BERGER,
2015 p.35)

5
Também chamada de Deepnet, Web Invisível, Undernet ou Web oculta se refere ao conteúdo da World Wide
Web que não faz parte da Surface Web, que é indexada pelos mecanismos de busca padrão, está relacionada à
porção da Internet que não pode ser acessada ou que se tornou inacessível por meios convencionais.
44

Essa escalada da barbárie é o contra-ataque dos levantistas ao imperialismo ocidental,
que acaba por suprimir as identidades locais, regionais e culturais em favor de interesses
escusos, basicamente voltados ao lucro monetário.
O terror que o EI encabeça tem um contra-argumento que leva à manutenção da
guerra: a Guerra Contra o Terror. É a antítese do sistema encabeçado pelo bloco de poder do
Oriente Médio. Sinal que o espetáculo aterrorizante é eficaz, pois o bloco ocidental coloca
centenas de milhares de dólares neste trabalho de desmantelamento da entidade EI, tais como
os ataques aéreos frequentemente efetuados pelos Estados Unidos a posições do grupo EI na
Síria e no Iraque. Também gastam vultosos recursos em inteligência, de forma a descobrir
ações futuras e novas posições do EI.
A propaganda feita com terror é muito chamativa. O EI é capaz de recrutar jovens
desiludidos e descontentes em praticamente qualquer parte do globo, com a promessa de
salvação divina. Até mesmo crianças são recrutadas dessa forma, com aval dos pais, também
associados ao EI, para serem combatentes suicidas ou para servirem de escudo aos soldados
mais experientes.
Em vídeos divulgados pelo EI na internet é possível ver cenas de decapitação, de
pessoas sendo queimadas vivas ou de tortura física e psicológica. Em um destes vídeos, com
duração de cinco minutos, 21 cristãos egípcios têm suas cabeças decepadas como uma
mensagem assinada com sangue para a nação da cruz6. Num destes vídeos o funcionário de
ajuda humanitária britânico David Haines é decapitado7. Em outro vídeo, uma mulher cristã é
colocada nua sob uma bancada, segurada firme pelos islamitas executores e tem sua garganta
cortada. O sangue da mulher vai sendo recolhido em uma bacia, enquanto sua vida realmente
se esvai ao longo dos três minutos de gravação figura 78. Conforme podemos ver na figura 8,
a criança é fotografada à espera de ser morta por militantes do Estado Islâmico9.

6
https://www.youtube.com/watch?v=JL2sy9iTEVY
7
https://www.youtube.com/watch?v=k1GT3hchWVE
8
http://adf.ly/10168247/http://logosapologetica.com/wpcontent/uploads/2014/08/14075168461961_700.jpg
9
http://adf.ly/10168247/http://logosapologetica.com/wp-content/uploads/2014/08/2014081646.jpg
45

Figura 7: Mulher Com a Garganta Cortada

Figura 8: Criança a Espera da Morte por Militantes

Em 2014, dois jornalistas americanos foram mortos pelo EI: James Foley e Steven
Sotloff. Foley foi o primeiro cidadão americano a ser executado pelo EI desde o início do
conflito na Síria, o que levou os EUA a aumentarem seu envolvimento em ações militares no
Iraque em oposição ao grupo terrorista. No vídeo onde Foley é decapitado, antes de sua
execução ele é obrigado a dizer que os verdadeiros culpados por sua morte são os Estados
Unidos. Nesta mesma gravação, o algoz de Foley diz que vocês (EUA) estão na linha de

46

frente das agressões ao Estado Islâmico. Vocês foram longe demais no seu caminho de
interferir em nossos assuntos10.
Herdeiro do aparato militar da Al-Qaeda, que foi treinada e municiada pelos EUA
durante a Guerra Fria para combater os soviéticos, o EI foi considerado excessivo pela própria
instituição que o ajudou em sua formação. Matar civis de maneiras tão brutais foi o bastante
para que líderes da Al-Qaeda os rejeitassem, em algum momento, como um braço diretamente
ligado a eles. O fundamentalismo religioso foi levado ao extremo pelos jihadistas.
Utilizar jornalistas como cartaz para suas ações através das execuções foi o passo mais
extremo, mas aconteceu, também, do EI utilizar o fotógrafo britânico e correspondente de
guerra John Cantlie como seu próprio “correspondente de guerra”. Cantlie rebate informações
ocidentais em um vídeo de cinco minutos11, onde desmonta afirmações de que os terroristas
estariam abandonando a cidade síria de Kobani, na fronteira com a Turquia, enquanto
imagens desta cidade, gravadas com um drone, são exibidas. Cantlie foi sequestrado pelos
jihadistas juntamente com Foley, em novembro de 2012.
Os vídeos em que são exibidos os assassinatos são, ainda, os maiores porta-vozes do
EI. Neles, a expansão do domínio territorial conseguido pelo EI também é veiculada.
À medida em que o terror real é exibido em vídeos como estes, mais terror ficcional é
produzido na indústria da cultura. Incentivar a indústria da cultura a inserir cenas brutais em
seus produtos é a abertura de uma porta para confundir a mente do cidadão menos atento em
relação ao que é realidade e ao que é ficção. Esse tipo de ação trabalha sob o sincronismo das
linguagens da produção do entretenimento com a linguagem usada para disseminação do
terror. Como pode-se perceber nas imagens divulgadas amplamente do recente ataque
terrorista ocorrido em Paris em retaliação ao assassinato de Jihad Johnes que será analisado
no capítulo Anexo a este trabalho

6.2. Espetacularização da Morte: Análise dos Vídeos

O Estado Islâmico vem se especializando em produções quase cinematográficas para


disseminar o terror, por meio de vídeos cada vez mais profissionais, os jihadistas mostram
com clareza e riqueza de detalhes a execução de seus prisioneiros. Os motivos para as
execuções variam, e de acordo com a intensidade do “crime” cometido maior a brutalidade

10
https://www.youtube.com/watch?v=AT-0xQVXlVY
11
https://www.youtube.com/watch?v=GLCx89oi5EU
47

das execuções. Suas táticas brutais – incluindo assassinatos e sequestros de membros de
minorias religiosas e étnicas em massa, bem como as decapitações de soldados e jornalistas –
geram medo e indignação em todo o mundo e são fundamentadas na aplicação da lei religiosa
islâmica.
Em um site chamado “O fim dos tempos”12é possível ter acesso aos mais diversos
tipos de imagens, com conteúdos que variam desde afogamentos, fuzilamentos, explosões,
decapitações, dentre outras brutais formas de execução. As Figuras 9 e 10 abaixo, são frames
de vídeos publicados no site citado, ilustram a forma violenta e cruel que o grupo vem
reagindo aos que de alguma forma infringem suas leis.

Figura 9: Prisioneiros Sendo Afogados Pelo Estado Islâmico

Fonte: O Fim dos Tempos, 2015

12
https://www.ofimdostempos.com/
48

Figura 10: Prisioneiros Amarrados Aguardando Execução

Fonte: O Fim dos Tempos, 2015

Pode-se de certa forma entender os motivos que levam o grupo extremista a utilizar
vídeos horripilantes para atrair apoio e novos membros ao Estado Islâmico, quando Sontag
(2003) em seu livro “Diante da dor dos outros”, diz que durante o massacre do mercado em
fevereiro de 1994 na Bósnia, fotos foram feitas especialmente para jornalistas espalhar aos
inimigos e angariar ainda mais apoio internacional ao lado bósnio:

Fotos de corpos mutilados podem certamente ser usadas, para dar ânimo à
condenação de guerras e podem, durante algum tempo, transmitir de forma
convincente uma parcela da sua realidade para aqueles que não têm nenhuma
experiência de guerra (SONTAG. 2003.p. 15)

Além de conteúdos carregados de crueldade, podemos notar que o grupo foca nos
detalhes das cenas, dando zoom cada vez que uma cabeça é decapitada ou focando no
momento em que um de seus homens está cometendo o ato, isso pode ser facilmente ligado ao
fato de que o grupo pretende criar terror e assustar seus inimigos, deixando claro a capacidade
que eles têm de cometer atos que para muitos é considerado insano.
Nota-se também, que para eles os vídeos são uma maneira fácil de atingir jovens que
estão de certa forma perdidos e sem motivação, assim eles podem ter acesso a uma certa vida

49

fácil e terem um objetivo de viver, uma causa para lutar, em troca disso, eles dão sua vida e
total lealdade ao grupo terrorista.
Para realizar a descrição e posterior análise do conteúdo exibido no site “O Fim dos
Tempos” – site principal e fonte de material onde são postados diariamente vídeos e
informações do próprio Estado Islâmico e sobre o grupo – foram escolhidos três vídeos em
que são mostrados, claramente, o cotidiano e a forma como são executados os prisioneiros do
grupo terrorista. Os vídeos contêm cenas pesadas e carregadas de crueldade, porém podem ser
facilmente acessados pelo canal <https://www.ofimdostempos.com/>.

• Estado Islâmico queima quatro prisioneiros vivos acusados de queimarem


militantes vivos em Ambar no Iraque.

Com a ideologia do “olho por olho, dente por dente”, no dia 31 de agosto de 2015, o
grupo executa quatro prisioneiros, queimando lentamente até que eles chegam a óbito, a ação
feita pelo grupo é justificada no argumento de que os prisioneiros foram acusados de terem
assassinado alguns militantes na cidade de Ambar, no Iraque, queimando-os vivos. O vídeo
disponível na internet13mostra como os prisioneiros são torturados psicologicamente antes da
execução, os militantes exibem um pequeno vídeo para fazer com que entendam exatamente a
forma que vão morrer.

Logo em seguida eles são acorrentados pelos pés e mãos e levados a uma espécie de
fogueira, onde são suspensos e colocados de barriga pra baixo. O fogo é colocado lentamente,
para que possam sentir aos poucos a agonia pela espera da morte, segundos depois o fogo os
atinge e começa a queimá-los como se fosse um pedaço de carne numa churrasqueira. O
grupo se contorce e pouco a pouco vão sendo carbonizados, a tortura dura em média seis
minutos. Frame do vídeo na figura 11:

13
https://www.ofimdostempos.com/estado-islamico-ei-isis/2015/08/31/video-estado-islamico-queima-4-
quatro-prisioneiros-vivos-acusados-de-queimarem-militantes-vivos-em-anbar-no-iraque/
50

Figura 11: Prisioneiros Queimados Pelo Estado Islâmico

Fonte: O Fim dos Tempos, 2015


No decorrer das imagens são feitas algumas pausas, focando no momento em
que o fogo é colocado e no momento exato em que os prisioneiros queimam, essa técnica é
justamente utilizada para causar mais impacto a quem assiste e deixa claro o objetivo do
grupo em assustar ou punir aqueles que pensam ou vão contra as leis do Estado Islâmico.
O que se percebe, especificamente nesse vídeo, é o argumento utilizado pelo Estado
Islâmico para realizar a ação de queimar seus prisioneiros vivos. O mecanismo de vingança
fica evidente e prova que há punição para aquele que vai contra o grupo. O método em si
evidencia a crueldade e a exposição da dor e sofrimento que fazem parte dos pilares do Estado
Islâmico. A produção impecável, no que se refere aos cuidados técnicos, estéticos e
promocionais como se um roteiro direcionasse a ação. Trilha sonora, enquadramento e jogo
de câmera nos fazem perceber a preocupação na produção desses vídeos.

• Estado Islâmico (ISIS-EI) Mata homem esmagado com tanque de guerra

Um integrante das Forças Armadas da Síria é atropelado por um tanque de guerra, o


homem é colocado em frente às câmeras para justificar o motivo pelo qual está sendo
executado. O vídeo tem data de 24 de outubro de 2015 e segundo a página “O fim dos
tempos” foi filmada no Estado de Homs, uma região ocupada pelo EI na Síria. O homem
caminha por uma estrada e aguarda a chegada do tanque de guerra, logo depois o tanque se
aproxima e lentamente passa por cima do prisioneiro. Segundos depois o cinegrafista
51

aproxima para mostrar com riqueza de detalhes o resultado final da execução, é possível ver
nitidamente pedaços do homem totalmente esmagado, a impressão que se tem, é que o grupo
tem a intenção de matar da mesma forma em que o “crime” foi cometido.
A forma brutal e fria de mostrar detalhes da cabeça e corpo totalmente esmagados e
ensanguentados no chão, nos faz acreditar que para o grupo extremista não existem limites
para executar um homem que infringe suas leis. As imagens tem duração de dois minutos e
trinta e quatro segundos, o suficiente para gerar pânico e agonia em quem está do outro lado
da tela. Ao final do vídeo o grupo comemora mais uma vitória contra, os que para eles, são
criminosos, os infiéis14. Frame do vídeo na figura 12:

Figura 12: Homem Esmagado por tanque de Guerra

Fonte: O Fim dos Tempos, 2015.

• Estado Islâmico mata dois integrantes da milícia da Líbia.

O primeiro a ser morto pelo grupo foi um militante da milícia Líbia – grupo que tenta
recuperar cidades que estão sendo invadidas pelo EI - o homem é filmado15 sendo obrigado a
cavar sua própria cova e logo em seguida é atingido por um tiro de espingarda na cabeça o
que o levou a morte imediatamente, isso ocorreu no dia 17 de outubro de 2015. A imagem é

14
https://www.ofimdostempos.com/estado-islamico-ei-isis/batalha-na-siria/2015/10/26/video-estado-
islamico-isis-ei-mata-homem-esmagado-com-tanque-de-guerra/
15
https://www.ofimdostempos.com/estado-islamico-ei-isis/batalha-na-libia/2015/10/18/video-estado-
islamico-mata-dois-integrantes-da-milicia-da-libia-um-e-morto-com-um-tiro-na-cabeca-apos-cavar-a-propria-
cova-e-outro-e-arrastado-pela-cidade-por-uma-caminhonete/
52

pausada exatamente no momento em que o tiro alcança a cabeça do prisioneiro, logo depois é
feito um zoom no ferimento que dá mais ênfase à execução, e ao mesmo tempo causa tensão.
O segundo homem tem suas mãos amarradas e é arrastado por uma caminhonete cheia
de militantes do Estado Islâmico armados e encobertos por uma espécie de pano no rosto,
pelas ruas da cidade, o prisioneiro é filmado e as imagens vão tendo mais lentidão à medida
que os ferimentos vão acontecendo, é possível ver também a comemoração dos militantes
enquanto o caminho é percorrido.
Nesse último vídeo analisado, observa-se a questão de domínio territorial, fortemente
discutida atualmente. As forças do Estado Islâmico avançam nas regiões do Oriente Médio e
tomam os locais para si, definindo seu domínio e ampliando sua atuação, e consequentemente
expandindo sua gama de inimigos. Frame do vídeo na figura 13:

Figura 13: Integrantes da Milícia da Líbia sendo mortos pelo EI

Fonte: O Fim dos Tempos, 2015

6.3. Recrutamento e Divulgação Pela Internet

O Estado Islâmico busca força através da integração de soldados em massa para


disseminar sua causa e concretizar seu objetivo fundamentalista. Pessoas pelo mundo todo são
atraídas à causa islâmica e a se alistarem às forças armadas do grupo, apesar de muitas vezes
o objetivo religioso se perder em meio aos argumentos arquitetados para serem atraentes aos
jovens.
O recrutamento do EI pela internet acontece em massa: homens e mulheres, jovens e
adultos de todas as partes do mundo são atraídos à causa do grupo e a combaterem
extrapolando limites extremos. A cooptação pela internet atinge um número superior de
jovens, não se sabe ao certo quantos já fazem parte do EI ou estimativas de novos

53

alistamentos, entretanto, a partir do apanhado de notícias de diversos veículos, percebe-se a
grande incidência de casos de jovens envolvidos com terrorismo.
De acordo com a Revista Veja (2015), pode-se verificar alguns casos como o da
adolescente dinamarquesa Lisa Borch que assassinou a própria mãe, Tina Romer Holtegaard,
com pelo menos vinte facadas. Em seu julgamento, a garota contou à polícia que se tornou
obcecada com o extremismo islâmico depois de se apaixonar por um jihadista, o que a teria
levado a cometer o crime contra sua mãe.
Os principais motivos pelos quais o Estado Islâmico alista jovens estão ligados à boa
relação deles com a internet e com as possibilidades de integração com estrangeiros, além de
se destacar a atuação dos chamados “lobos solitários”, extremistas que, por não integrar as
listas internacionais de terroristas, tem mais mobilidade e capacidade de fazer atentados
isolados e imprevisíveis em diferentes países.
Em vídeos publicados na internet e fotos divulgadas em redes sociais, jihadistas
europeus atraem jovens com discurso ligado ao acesso a uma vida mais ativa e de muitos
benefícios financeiros.
A radicalização surge do encontro entre um jovem muito sensível que faz perguntas a
si mesmo sobre as injustiças e um discurso que o transforma em salvador da humanidade. O
doutrinamento começa quase sistematicamente pela internet.
A organização coopta jovens de várias maneiras, e utiliza vídeos e fotos com intenções
projetadas para encher os olhos de meninos e meninas através de mecanismos atraentes a cada
um deles. Muitos jovens pelo mundo são assíduos e envolvidos no mundo dos vídeos-games,
por exemplo, e alimentam essa indústria bilionária que inova a cada dia. Diversos grupos
terroristas e o próprio EI utilizam a linguagem dos videogames que mostram guerras, missões
e armas como ambientação de alguns de seus vídeos e imagens.
Apesar da maioria dos jogos disseminarem a ideologia antiterrorismo, eles desafiam os
jogadores a utilizarem e/ou desenvolverem táticas de guerrilha. Essas imagens de combate
parecidas com jogos são utilizadas como mecanismo de sedução de jovens interessados,
multiplicando os vídeos de combates e de execuções sumárias. Este envolvimento virtual
disfarçado de entretenimento complica o trabalho dos serviços de inteligência.
Outra forma que o Estado Islâmico utiliza para atrair jovens é através da propaganda
islâmica que utiliza discurso que valoriza a ideologia do Islã e na qual prometem uma
civilização melhor ou atrativos específicos para cada jovem em vida, como riqueza material
ou em morte – quando o discurso da vida plena em Allah se faz presente. Nesse tipo de

54

linguagem, jovens anti-imperialistas, sobretudo ocidentais, numa intenção opositora e de clara
insatisfação social, se unem ao grupo radical numa cruzada, destinada ao combate e até
mesmo à morte.
Como é o caso do jovem egípcio de família rica, Islam Yaken conhecido como ‘o
terrorista hipster16’. De cabelos cacheados, barba cobrindo parte do rosto, óculos com
armação característica, Islam segue um estilo diferente em combate. Montado em um cavalo e
armado com sua cimirrata - uma espada de lâmina curva típica dos guerrilheiros árabes e
outros povos orientais. Antes de entrar para o EI, o jovem exibia em sua página do Facebook,
fotos de seu corpo musculoso e sua aparência, essa exibição foi substituída pelas imagens de
terror e morte que marcam a integração do Islã ao terrorismo, no Twitter (@i_Yaken).
Todos os dias é possível ver notícias relacionadas ao Estado Islâmico e, sobretudo a
divulgação de suas ações violentas. São manchetes anunciando que determinado grupo radical
do EI divulgou foto ou vídeo de uma ameaça aos inimigos ou de execução dos mesmos.
Os assassinatos brutais acontecem com o uso de facas, espadas, armas de fogo,
explosivos e todo um aparato meticulosamente preparado para causar impacto visual e
psicológico durante as execuções. Formas de tortura e evidente exposição de sofrimento numa
carnificina cruel também são formas da violenta ação do grupo. O que se deve entender é que
esta forma de matar pessoas é o principal meio pelo qual o EI exterioriza sua ação e projeta
uma dominação iminente em seus expectadores.
O jornalismo, em seu modelo noticioso e com dado compromisso com a informação,
acaba assumindo papel disseminador do que o Estado Islâmico quer mostrar, uma vez que os
acontecimentos são notícia de interesse mundial. Jorge Pedro Souza (1999) explica o
funcionamento do modelo jornalístico ocidental em seu livro As Notícias e Seus Efeitos:

O jornalismo, na visão ocidental e democrática, existe para informar, comunicar


utilmente, analisar, explicar, contextualizar, educar, formar, etc., mas também existe
para tornar transparentes os poderes, para vigiar e controlar os poderes de
indivíduos, instituições ou organizações, mesmo que se tratem de poderes legítimos
manifestados no sistema social. (SOUZA, 1999).

A ferramenta utilizada para alistar pessoas é a mesma para disseminar e divulgar as


ações violentas do EI, a internet. Já sabemos que uma ação violenta só é considerada
terrorismo se esse ato atingir um número considerável de pessoas causando danos físicos,

16
Hipster: Termo frequentemente usado para se referir a um grupo de pessoas pertencentes a um contexto social
subcultural da classe média urbana. A cultura hipster faz parte da variedade de subculturas que coexiste com a
cultura mainstream.
55

simbólicos ou psicológicos, assim quanto mais pessoas forem atingidas, mais bem-sucedida
foi a ação, como afirma Debord (2003), a origem do espetáculo é a perda da unidade do
mundo, e a expansão gigantesca do espetáculo moderno exprime a totalidade dessa perda.
A divulgação do terror se faz de muitas formas no Estado Islâmico, verificam-se
diversos perfis em redes sociais de seus membros. Nestes perfis, imagens, frases e vídeos são
postados, a todo o momento, e instantaneamente expõem a atuação violenta do grupo. O site
“O Fim dos Tempos” que trata de temas como guerras, catástrofes e, sobretudo o terrorismo,
disponibiliza sem censura os vídeos produzidos pelo Estado Islâmico.
Como afirma Dines et al. (2004, p.13) no lugar do expectador, essas formas de
exposição de morte chamam a atenção e aguçam a curiosidade humana. Dines et al. (2004,
p.13) ainda faz um paralelo entre a expectativa do acontecimento e a sensação de repulsa que
as pessoas sentem em relação aos vídeos de execuções.
Dessa forma, o Estado Islâmico busca mecanismos de disseminação de ações violentas
isoladas praticadas por jihadistas, transformando-as em atentados terroristas comuns,
aumentando o sentimento de grandeza de poder.
Foi na internet que o Estado Islâmico encontrou um meio eficaz de proliferação de seu
fundamento e utiliza a ferramenta na manutenção do seu princípio. Diversos mecanismos são
utilizados pelo Estado Islâmico para divulgar seu poder pela internet como, por exemplo,
quando sistemas internos são invadidos por hackers, sobretudo contas privadas em redes
sociais e sistemas públicos de grande visibilidade. Esta é uma prova de que o grupo pretende
mostrar seu domínio no meio cibernético e possui um verdadeiro acesso e controle às
informações de diversos países.
Várias vezes, contas privadas em perfis em redes sociais dos EUA foram invadidas.
Numa dessas invasões o Twitter e YouTube do Exército norte-americano foram as vítimas,
piratas cibernéticos que alegaram ter atuado sob as diretrizes do Estado Islâmico teriam
conseguido acesso ao usuário de Twitter do Comando Central Militar dos EUA, @centcom, e
publicaram várias mensagens com informação sensível17, segundo reconheceu o Pentágono.
Através dos vídeos das mortes divulgados pelo Estado Islâmico, se dissemina o terror.
Além disso, é possível verificar ameaças a todo o momento aos seus inimigos. Também
utilizando a internet, o EI busca desestabilizar qualquer um que vá contra o seu fundamento.

17
Informação Sensível: Toda e qualquer informação de um país, importante a membros políticos e à sociedade
civil que diz respeito à segurança, ou ainda, a tramitação que envolve recursos e as ações de membros do estado
em dados muitas vezes qualificados como secretos.
56

Os Estados Unidos e países da Europa, por exemplo, já foram por diversas vezes destinatários
de mensagens prometendo ataques.
Outra forma que o EI utiliza para mostrar sua força e que talvez seja a mais recorrente
e agregada às outras é a busca pela desestabilização política e econômica de seus inimigos.
Em um vídeo intitulado “O Surgimento do Califa e o Retorno do Dinar de Ouro” divulgado
pelo grupo, moedas de ouro são mostradas de forma ostensiva enquanto é narrado um
discurso que promete levar o dólar à ruína.
Além da divulgação da ação violenta do grupo através de vídeos e imagens publicadas
em diversos perfis nas redes sociais do próprio Estado Islâmico como também de seus
membros, o EI também faz sua comunicação através da Revista Dabiq.

6.4. Revista Dabiq

A Dabiq é uma revista online jihadista publicada em várias línguas, inclusive o inglês,
que apresenta o Estado Islâmico como a única voz muçulmana no mundo, na tentativa de
convocar estrangeiros para lutarem pelo califado. A ideologia presente na revista mostra duas
opções de vida: seguir o islã e a fé, ou então a descrença e a hipocrisia.
Assim como nos vídeos e publicações em sites e redes sociais do Estado Islâmico, a
violência é um traço igualmente recorrente na revista que estampa imagens de militantes
mascarados em cenários de chamas e com o mar agitado no fundo, campos de execuções de
prisioneiros. Há ainda fotos de cadáveres sangrando e prédios destruídos.
Conforme ilustrado na figura 14a, edição de outubro de 2015, a capa é claramente uma
provocação ao vaticano. Uma das intenções da Dabiq é questionar o ocidente e todo e
qualquer discurso incompatível ao fundamento jihadista.

57

Figura 14: Revista Dabiq

A violência extrema pelo EI é uma decisão consciente para aterrorizar os inimigos,


além de impressionar e cooptar seus jovens recrutas. O Estado Islâmico é adepto da doutrina
de guerra total sem limites e restrições – não há, por exemplo, arbitragem ou transigência
quando se trata de solucionar disputas mesmo com rivais sunitas. A disseminação do terror é
propositalmente divulgada pelo Estado Islâmico para expor sua força bélica e sua atuação
frente ao inimigo.
Ainda que pareça impossível controlar o que o Estado Islâmico divulga, alguns países,
sobretudo da Europa, defendem e praticam a ação de proteção da mídia e da população como
lembra Hobsbawm (2007) em “Globalização, Democracia e Terrorismo” quando fala da ação de
diversos países em que o governo incentiva e disponibiliza programas educacionais de repúdio às
práticas de divulgação do terror e a não publicação de fotos e vídeos que mostram vítimas de
ataques com a finalidade de educar e sensibilizar a sociedade para a não divulgação de imagens de
terror.

58

7. A LINHA ENTRE A NOTÍCIA E O TERROR

A lei dos EUA define terrorismo de acordo com Lewis (2005), como "violência
premeditada, politicamente motivada, contra alvos não combatentes levada a cabo por
grupos subnacionais ou agentes clandestinos. Esta definição privilegia “o Estado” que é
legitimado pela cidadania e pelo primado do direito, e que é protegido por forças militares e
paramilitares que conduzem ao “policiamento” e à “guerra” como forma de manter a ordem.
O Departamento de Defesa americano alarga esta definição, sugerindo que:

(...) ouso calculado da violência contra a propriedade e contra os indivíduos é um ato


de terrorismo quando é concebido para criar medo, coerção ou intimidação de
governos e de sociedades com objetivos políticos, ideológicos ou religiosos”.
Combinadas, as duas definições isentam o estado da possível acusação de ação
terrorista.(LEWIS, 2005 p.22)

Tomando o terrorismo pelo conceito firmado por Lewis (2005) a forma de violência
contra civis politicamente motivada e destinada a produzir medo e insegurança também, nas
palavras dele, é uma forma de violência política que pode ser exercida pelos governos, inicia-
se a delinear o perfil intencional das notícias referentes ao Estado Islâmico, atentados e
movimentações civis e militares no Oriente Médio.
Contudo, é discutível qualquer definição de terrorismo. De fato, há desacordos
significativos quanto à definição e quanto ao caráter desta forma específica de violência
política.
Há, através do entendimento crítico observacional, duas linhas editoriais principais: a
que mostra os ataques terroristas pelo terror da notícia e a que traz a situação calamitosa na
qual vive o povo daquela região. Está fora da grande mídia as notícias que tratam do terror
causado pelas tropas americanas no Iraque e região – os EUA divulgam a imagem de
pacificadores e agentes de promoção de justiça e igualdade, o que de fato não são, pois
destroem/desrespeitam barreiras étnicas, culturais, religiosas e geográficas. O terror e a
destruição causados pela Guerra Contra o Terror na região atinge diretamente os moradores,
liquidando famílias, comércios, identidade e uma estrutura secular de sociedade estabelecida.
O terrorismo, indicado como ação motivada em caráter puramente político, esquece os
casos de “terror” das forças armadas no Iraque. Chegam ao ocidente as notícias da atuação
dos grupos extremistas e das mortes causadas, mas não chegam notícias das baixas
59

populacionais causadas pelas forças “pacificadoras”. Assim, a quem a notícia se dirige, não é
formulada uma explicação bilateral dos acontecimentos, mas apenas a visão ocidentalista.
Pouco se fala que a ação terrorista é politicamente e religiosamente motivada.
Seguindo o pensamento de Schmid (2004), o terrorismo, há algum tempo, é
essencialmente “um ato comunicacional, pelo qual as vítimas são escolhidas à sorte (alvos de
oportunidade) ou selecionadas (alvos simbólicos ou representativos) a partir de uma
população alvo, e servem de geradores de mensagens. As mensagens podem procurar a
promoção de respostas numa audiência mais vasta, incluindo o medo, a chamada de atenção
ou a simpatia por uma causa, ou até a mudança de uma política governamental.
Já a doutora em ciência política Brigitte L. Nacos (2007), afirma que as organizações
terroristas têm empregado estratégias de marketing destinadas a ir de encontro à procura por
parte dos interesses, ao estilo e à agenda mediáticos. Nacos (2007) se refere ao 11 de
setembro como o mais dramático e sofisticado exemplo da estratégia comunicacional da Al
Qaeda, que programou os ataques de forma a conseguir o máximo possível de audiência e
cobertura televisiva. A imprensa mostra-se obcecada em violência, centrando sua narrativa no
terror dos ataques, repetindo inúmeras vezes a imagem dos corpos caindo das janelas e das
Torres Gêmeas desmoronando, além dos incessantes replays dos aviões colidindo nas torres.
Assim, o poder que o terror exerce no povo é ferramenta de trabalho dos Estados, ao
mostrar-se como parte indissociável da democracia, quando os governos “tomam
providências” visando à melhoria da sensação de segurança da população. Por sua vez, os
meios de comunicação de massa também estão profundamente ligados às atividades políticas
das organizações terroristas, que demonstram seu poderio quando usam da violência
midiatizada para captar atenção pública ou governamental. Lewis (2005), afirma que a ênfase
nos media reconhece a ligação substancial entre as dimensões materiais e as dimensões
discursivas da violência política no exercício do poder.
A censura e o silenciamento da imprensa tomam razão de existir quando os media
formatam significados e conceitos sociais, divulgando o que a eles interessa, para de forma a
difundir esse conceito ou uma mensagem específica ligada a este.

Como insiste Foucault, enquanto o poder é exercido através do discurso e da


linguagem, é inevitavelmente "experienciado" através do corpo. O terrorismo é
levado a cabo através de vários canais simbólicos e discursivos, mas é em última
instância "experienciado" através da biologia, da psicologia e das emoções do corpo.
(LEWIS, 2005, p. 27).

60

De acordo com Lewis (2005) o corpo sente o medo e a dor, e estas respostas do
organismo são simultaneamente geradas como mensagens para outros corpos em outros
contextos.
Com a polarização do mundo em Ocidente-Oriente, o terrorismo moderno só é capaz
de existir pela integração permitida pelos meios de comunicação, podendo ter sua existência
condicionada à existência dos meios de comunicação de massa, que transmitem
mundialmente as mensagens. As mensagens, por sua vez, são formatadas visando serem o
mais chocantes e incisivas possíveis. As raízes de ambos, notícia e terrorismo moderno, estão
lotadas na semiótica da cultura midiática.

O meu ponto de vista é que o orientalismo é fundamentalmente uma doutrina


política imposta ao Oriente porque este era mais fraco que o Ocidente, que
eliminava a diferença do Oriente com a sua fraqueza. (SAID, 1990, p. 210).

Outro ponto a ser observado é a chamada “Espiral do Terror”. Esse conceito disseca a
ação inconsciente do público em exigir justiça “na mesma moeda” ao assistir cenas violentas,
neste caso assassinatos, decapitações e explosões que venham a vitimar civis. Apoiados na
“Espiral do Terror” e visando a legitimar suas ações, os governos ocidentais envolvidos na
Guerra Contra o Terror replicam os vídeos (ou frações destes) divulgados pelos grupos
terroristas em que hajam cenas violentas, especialmente quando há um ocidental envolvido,
para que as populações se sintam aptas ou no dever de agirem, representadas pelos seus
governantes, de forma a acabarem com as ações violentas/terroristas. De uma forma
propositadamente irracional, gera-se violência para acabar com a violência e o terrorismo
ganha mais força, pois a intenção da divulgação dos vídeos na rede mundial de computadores
é chamar a atenção para suas ações pautadas em valores intrínsecos à realidade em que vivem.

A imprensa gosta de guerra. Pode parecer exagero, força de expressão, jogo de


palavras. Não é. A imprensa gosta de guerra, mesmo de uma como a do Afeganistão:
guerra de press-release, de transcrição de informes do Pentágono, de fontes de um
lado só. Guerras em que a imprensa foi sempre uma espectadora passiva. E foi
algumas vezes por passividade e outras tantas por cumplicidade que a imprensa fez a
cobertura que interessava ao governo americano. (DORNELES, 2002, p. 27).

Com esses dois perfis de notícia traçados, seguimos à busca de entender o que
realmente é informação e o que é propagação do terror. A linha divisória é bem definida e não
permite que ambas as abordagens se confundam, já que o conteúdo, apesar de compartilhar a
mesma origem, é diferente naquilo que mostra.
61

O que pode acontecer é, involuntariamente, aquilo que deveria ser notícia, se tornar
pura propagação do terror, pela aceleração imperativa da necessidade de noticiar e manter o
nível de produção de conteúdo extremamente alto, num ambiente onde as palavras e imagens
possuem significação intensa. O núcleo das notícias transmite a ideologia referente ao
contexto de interesse dos Estados dominantes, envolto num complexo sistema social movido
por interesses específicos do capital.
Lewis (2005) diz que os discursos de violência tornam-se presas dos interesses do
Estado e da “governamentabilidade”. Para gerir grandes massas de populações, o Estado e o
conjunto mais vasto das agências transformam a violência coerciva em várias formas de
discurso “violento”, isto é, em formas legitimadas de expressão que confirmam a autoridade
do Estado sobre o cidadão. Apesar de nos assegurar de que o poder que é inculcado no
discurso está largamente distribuído, Foucault apud Lewis (2005), chama a atenção, nos seus
estudos históricos, para a capacidade de gestão e de vigilância do poder do estado e das novas
tecnologias do poder.

O antiamericanismo não decorre do ódio à modernidade ou da inveja do avanço


tecnológico que os Estados Unidos representam. Decorre, sim, de uma história de
intervenções e depredações e de casos específicos, como o sofrimento do povo
iraquiano causado pelas sanções impostas pelos Estados Unidos e do apoio
americano a 34 anos de ocupação israelense dos territórios palestinos. (SAID, 1990,
p. 84.)

Ainda de acordo com Lewis (2005), a cultura televisiva, tornou-se difusa; tem a
capacidade de tornar os eventos excepcionais familiares e vice-versa. A imagem cria, aquele
sentido do ‘gigântico’, libertando assim os códigos ainda subliminares da escrita e levando-os
aos extremos da emoção humana. Pode-se concluir que o contrato transmissional depende de
estratégias que atinjam o emocional do receptor e que, se não tiver componentes que garantam
a eficácia da transmissão da mensagem, não pode ser considerado válido. Como Salienta
Zizek (2003), assim como bebemos cerveja sem álcool ou café sem cafeína, temos agora a
guerra esvaziada de sua substância – uma guerra virtual lutada diante de telas de
computadores, uma guerra que para seus participantes não passa de um videogame, uma
guerra sem baixas (pelo menos no nosso lado).

Nós, cidadãos comuns, ficamos totalmente dependentes das autoridades para saber o
que está ocorrendo: nada vemos nem ouvimos; tudo o que sabemos chega da mídia oficial.
62

Uma superpotência bombardeia um deserto desolado e, ao mesmo tempo, é refém de uma
bactéria invisível, como o Antraz em outubro de 2001 – é essa a primeira imagem da guerra
do século XXI.

63

8. CONCLUSÃO

Mesmo considerando uma dificuldade aparente em conseguir informações primárias,


pudemos tomar informações já organizadas pela grande mídia e as analisamos de forma
crítica, observando o modo como foram colocadas à disposição do público e os tipos de
edição pelas quais passaram.
Assim pudemos identificar dois tipos distintos de conteúdo: aquele que é notícia e
aquele que é propagação do terror. Aproveitamos para isso a capacidade nata do ser humano
em analisar a imagem e entender o seu significado.
A replicação pela grande mídia do conteúdo produzido pelo grupo Estado Islâmico
tem efeito de atração sobre o público tanto quanto os produtos midiáticos originais divulgados
pelo grupo extremista. O grupo Estado Islâmico hoje atua apoiado nas mídias digitais, mas
sua história e motivações vêm de séculos.
A disputa pelo controle da região citada passou de mão em mão ao longo dos séculos e
data de quase 3 mil anos. Os povos mais representativos deste domínio foram os Filisteus,
Cananeus, Arameus e, posteriormente, os Hebreus. Mais recentemente, dois povos se
destacaram na disputa pelo controle da região: Judeus e Palestinos.
Na região mais conturbada, às margens do Rio Jordão, localizam-se os estados de
Israel, Jordânia, Faixa de Gaza e Cisjordânia, centro de interesse dos grandes players
mundiais graças à existência de abundantes reservas de petróleo, matriz energética não
renovável do mundo contemporâneo.
Diferentes religiões e culturas conformam a organização do Oriente Médio e,
justamente essa mistura de crenças, costumes e concepções de mundo é um dos motivos que
faz existirem tantos conflitos na região. Essa variedade de povos soma mais de 270 milhões
de pessoas, que convivem em uma de extensão semelhante à do continente da Oceania.
Os diferentes enquadramentos conferidos aos povos pelas religiões aos quais são
devotados, criaram visões extremamente particulares sobre as terras da região. Com a criação
do Estado de Israel pela ONU em 1948 os problemas na região se intensificaram. A criação
do Estado de Israel foi uma espécie de compensação pelo holocausto ocorrido na Segunda
Guerra Mundial, porém ali também se encontra o norte espiritual dos cristãos e muçulmanos.
Dessa forma, os palestinos, que já viviam na região, se consideraram invadidos pelos judeus e
o plano de tornar a cidade de Israel uma cidade internacional foi por água abaixo graças aos
conflitos gerados pela divisão compulsória do território Palestino.
64

Os muçulmanos, na tentativa de retomar o território da Palestina das mãos dos não
seguidores do islamismo, começaram a guerrear contra os judeus. Os muçulmanos sunitas,
seguidores da Suna, tomaram postura mais ortodoxa e pragmática e acabaram por encabeçar a
luta armada na região. Seguindo a fé islâmica à risca, teve início o que é conhecido por Jihad,
ou Guerra Santa, que é diretamente relacionado com o dever dos muçulmanos em propagar a
fé islâmica. Dessa forma, surgiram os “combatentes de Maomé” em diversos países da região,
que, em resumo, buscam ceifar qualquer manifestação de outra crença religiosa. Dentre as
facções religiosas surgidas na região pode-se citar o Talibã, a Al Qaeda e o Estado Islâmico.
No ano 2000, o grupo jordaniano Jamaat Al-Tawidwal-Jihaduna fez aliança com o
saudita Osama bin Laden e aí surgiu o grupo Al Qaeda. Após os atentados de 11 de setembro
nos Estados Unidos, aconteceu a entrada das tropas norteamericanas no Iraque, e foi esse
grupo recém-formado, a Al Qaeda, quem ofereceu maior resistência à entrada das tropas
ocidentais. Em 2006, Abu Musab al-Zarqawi, líder da Al Qaeda, foi morto em ataque aéreo
das tropas americanas e foi levado ao poder Abu Omar al-Baghdadi. Neste momento a
organização passou a se intitular Estado Islâmico no Iraque e tinha a intenção de estabelecer
um estado pautado no islamismo nas áreas sunitas do país. Em 2010, uma outra troca de
comando do grupo Estado Islâmico do Iraque aconteceu com a morte de Abu Omar e quem
Abu Bakr foi declarado o califa do grupo pelos seus componentes.
Os xiitas, seguidores da Sharia, ou Tábua da Lei de Maomé, população minoritária no
país, tomaram o poder do Iraque em 2011 após a saída das tropas americanas da região. O
governo xiita tomou posturas pró-ocidente, como a concessão para empresas petrolíferas
multinacionais atuarem na exploração do petróleo iraquiano, e isto desagradou os grupos
combatentes sunitas, dentre eles o Estado Islâmico do Iraque, que intensificou seus ataques.
Neste ponto, a ideologia do grupo Estado Islâmico do Iraque transpôs a fronteira síria
e confrontou o governo local, que, prontamente, na figura de Bashar al-Assad, presidente da
Síria, reagiu enviando tropas. As tropas combatentes na síria formavam o grupo conhecido
por Jabhat al-Nusra e sua união com o Estado Islâmico do Iraque formou o Estado Islâmico
do Iraque e Síria – ISIS ou, simplesmente, Estado Islâmico, EI.
Hoje, o EI tem controle de quase metade do território sírio e da porção norte do Iraque
e, se entendido como um Estado nacional, teve origem após a Primavera Árabe de 2010,
evento fortemente apoiado e difundido pelas mídias digitais.
Como instituição o EI é mais que um grupo terrorista. É a evolução dos grupos
armados que agiram num Iraque devastado e que se tornou a expressão mais influente da

65

jihad. Foi pela sua atuação que o movimento jihadista no Afeganistão foi reavivado após a
invasão do país pelos EUA assim que Saddam Hussein foi derrubado.
O grupo é regido pela ânsia de morte em combate como forma de elevação e
recompensa divina, o uso das ferramentas de rede social é muito bem trabalhado, o que
garante sua eficácia pois, apesar de não existir unidade social entre seus
membros/simpatizantes ao redor do mundo, as mídias digitais foram capazes de atingir todos
os continentes e a maioria absoluta dos países ocidentais.
As mortes protagonizadas por civis das mais diferentes nacionalidades e seus algozes
não são o resultado das ações terroristas, mas, sim, ferramenta da propagação ideológica,
quando apresenta na internet uma carnificina requintada, chocante e disposta a inserir em
nossas vidas a selvageria.
Se, até agora, não se sabe qual a intenção da prática do terrorismo, aproveitando as
palavras de Stern e Berger (2015):
As imagens chocantes incitam reações diversas nos espectadores e, geralmente,
impulsionam indivíduos a se inteirar mais sobre as ações e objetivos do grupo EI. Esse
comportamento esperado do público demonstra como é influente a ação midiática do EI e
como é patente sua significância no mundo contemporâneo, mesmo no ocidente.
As mortes espetacularizadas são a isca-clique para propagar a ideologia jihadista do EI
e arrebanhar seguidores e novos mártires dispostos à conversão ao islamismo ao redor do
mundo.
Se ainda seria possível confrontar a eficácia das ações midiáticas do EI, vimos que o
ocidente – leia-se Estados Unidos e Europa - emprega centenas de milhares de dólares na
intenção de desmantelar o grupo terrorista – desde ataques militares até inteligência digital.
Esse montante empregado na destruição da ideologia do EI nos levou a outra
conclusão: quanto mais se tenta ceifar o grupo, mais divulgado e conhecido ele se torna,
ficando, assim, mais forte, pois sua estrutura é baseada na cooptação de novos membros e
pode ser medida pela quantidade de pessoas aliadas à causa.
As mortes são justificadas pela leitura estrita do Corão, e daí inicia-se o plano da
midiatização das mortes. Se os motivos das execuções variam, rondam em torno da religião e
vitimam os não seguidores da Suna – xiitas politeístas e alauítas; aqueles que abandonaram a
fé islâmica; e/ou nunca pertenceram a esta fé.
O espetáculo do morticínio é a expressão máxima do radicalismo religioso aplicado ao
empoderamento dos jihadistas. A reboque do terror verdadeiro existente nos vídeos vem uma

66

onda de terror fictício impulsionada pela grande mídia. É a indústria cultural buscando
audiência a todo custo, inserindo cenas brutais nos seus produtos – leia-se jornais impressos,
televisivos e digitais, o que abre possibilidade para que os dois terrores se confundam na
cabeça de grande parcela da população receptora. Além do terror pelas mortes, nos seus
vídeos declaram condições de vida pujante e salvação divina para mártires, apresentando
situações que visam desestabilizar a cultura e confrontar as condições sociais dos receptores.
Ainda na internet, possuem uma revista digital, a Dabiq, que se tornou um manual de conduta
para seus novos soldados.
Chegamos então à conclusão que o combustível das mortes midiatizadas é a
publicidade espontânea que elas provocam. No momento que a grande mídia ocidental
retransmite partes dos vídeos de forma a causar pânico na população e se mostrar ativo no
combate ao terrorismo, torna-se distinto o que é notícia e o que é sensacionalismo barato.
Independentemente da forma final que as imagens produzidas pelo EI assumam, o marketing
espontâneo que se forma ao redor do caso é o que os fundamentalistas do EI buscam desde o
princípio. É assim que propagam o terror em escala mundial e se reafirmam potentes não só
no Oriente Médio, mas no mundo todo. Ainda podemos concluir que a mídia espontânea
também facilita o alistamento, pelo motivo da internet ser uma via de mão dupla, ao mesmo
tempo que propaga o terror, mostra condições de vida bastante atraentes para aqueles que não
têm perspectivas melhores ou são radicais religiosos.
Quando tomam jornalistas por objetos de cena do seu terror, querem aproveitar a
projeção natural que estes seres possuem por estarem inseridos na indústria da cultura
ocidental. Dessa maneira, ampliam o alcance e inserção dos seus vídeos de morticínio
cinematográfico.
Assim, da maneira como o grupo EI gerencia a divulgação de seus vídeos e trabalha as
plataformas web na divulgação de seus preceitos, objetivos e conquistas, tomamos noção de
quão potente e bem executadas essas ações são. No começo do trabalho consideramos que os
agentes digitais do EI eram muito bons e eficientes nas suas ações, ao final, concluímos que,
muito possivelmente, são, hoje, os melhores do mundo em comunicação e marketing digital.
Ainda vale dar destaque para a qualidade das produções em vídeo.
A propaganda criada em torno do EI, por eles mesmos e pela mídia espontânea, não só
mostra o poderio da organização, e o reafirma, como também o fortalece.
A plataforma de maior capilaridade utilizada pelo EI é o Twitter. Sem o Twitter a
divulgação dos feitos seria inviável. Nele são divulgadas informações sobre a conduta

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islâmica, mensagens de incitação ao ódio ou de louvor às palavras de Maomé, links para os
vídeos produzidos e fotos de conteúdos que rondam sua premissa.
Os vídeos possuem destaque para a cenografia e produção, onde os prisioneiros são
vestidos em macacões de cor laranja e posicionadas para a morte certa. Nos vídeos com
menor produção, são mostrados a destruição causada pelos seus atentados. Lugares de
identificação mundial são destruídos ou usados como cenário para as execuções.
O EI sabe o que divulgar para não passar longe da grande mídia. Os jornalistas não
podem resistir à divulgação de tais fatos. Seria impossível transmitir esse tipo de conteúdo
sem auxílio da grande mídia.
O que é mostrado nos vídeos causa reações diversas no público: ódio, asco, vergonha,
desejo de vingança. E é esta a intenção do EI em veicular mundialmente morticínios. Dessa
forma, injetam na população o medo. Matar civis é muito eficaz para esse tipo de transmissão.
Os vídeos possuem legendas em inglês ou mesmo são narrados em inglês, além, é
claro, do Árabe. Mas não precisaria. Somente as imagens já são chocantes e carregadas de
mensagem o suficiente para garantirem sua propagação veloz e consistente e a atenção do
público em geral.
O grupo EI delineou muito bem seu plano de criação do Califado e de projeção
mundial. A Primavera Árabe foi o primeiro passo desse projeto, seguida de uma fase na qual
uma noção do que é o EI foi divulgada ao mundo. Após esse tempo, criar um centro gerencial
na Síria foi de fundamental importância para seu estabelecimento e reconhecimento mundial.
O nível de influência das suas ações nas decisões dos players mundiais tornou-se alto.
O seu próximo passo, ainda em vigor, é desmantelar os governos árabes malquistos
por eles. Bashar al-Assad já tem sobrevida no seu governo e não deve concorrer às próximas
eleições na Síria.
Adiante, é possível prever que, diante da conformação e potência tomados pelo EI
como grupo autogerido nos últimos anos, a declaração de um Califado na região do Oriente
Médio está próxima. Este é o primeiro passo efetivo para a estruturação de uma nova ordem
mundial.
O confronto declarado já está prestes a acontecer. Capital versus fé cega. Islamismo
sunita versus todas as outras religiões. É a guerra dos “crentes e não-crentes”.
Sabendo que a Europa recebe um movimento migratório muito grande nos últimos
anos e que, do total de imigrantes, grande parcela é muçulmana, também concluímos que a
disseminação do islamismo pelo velho continente é um fator de apoio às atividades atuais do

68

EI. Projeções indicam que, em 2020, a Europa contará com cerca de 58 milhões de
muçulmanos. Estima-se que, de 2010 a 2014, 13 milhões de muçulmanos tenham chegado aos
27 países da União Europeia. Hoje sabemos que Alemanha e França são as maiores colônias
muçulmanas do continente, fato que agrava ainda mais as tensões já existentes.
A presença dos muçulmanos na Europa ainda cria outra situação complicada: a
população jovem do velho continente será composta, cada vez mais, por muçulmanos.
Todos estes fatos conspiram para que, em médio prazo, o EI obtenha êxito nas suas
intenções, o que pode ser entendido como “a vitória definitiva”, suportada, desde o princípio,
pelas mídias digitais.

69

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ZIZEK, Slavoj. Bem vindo ao deserto do real. 1ª Ed. São Paulo. Boi Tempo: 2003.

74

ANEXO

Durante a construção deste trabalho, notamos que percorreríamos um caminho


verdadeiramente sinuoso e inconstante. A escolha do tema Espetacularização da Morte Pelo
Estado Islâmico foi pensada a partir da evidente e relevante atuação do grupo terrorista e na
certeza de que a reunião das informações aqui contidas, e de que a produção deste material
teria um valor documental realmente importante e útil.
O terrorismo é uma realidade vivida nos dias de hoje e o Estado Islâmico é um grupo
ativo e atuante. Nosso pensamento era de que certamente seríamos surpreendidos pelas suas
ações e isso, de fato, se concretizou. Ao longo do ano de 2015, diversas atividades terroristas
foram registradas e ganharam destaque na mídia elevando-as à prioridade nas discussões
mundiais e maior conhecimento das pessoas.
O Estado Islâmico ganhou notoriedade e foi responsável por vários dos ataques
ocorridos neste ano. Alguns principais serão lembrados pela grande proeminência nos jornais
do mundo todo, a começar pela França:

• Um atentado ao jornal satírico francês Charlie Hebdo, no dia 07 de janeiro deixou 12


mortos e 11 feridos. As piadas e caricaturas relacionadas à religião e a líderes
islâmicos desencadearam uma série de ameaças que terminou em um massacre
realizado pelos irmãos Said Kouachi e Cheif Kouachi.

• Mais tarde, no dia 26 de junho, a França sofreu novo ataque. No mesmo dia, a Tunísia
e o Kuwait também foram alvo de atentados. Mais de 60 pessoas morreram nos três
ataques. Dessas, 38 no hotel em Sousse, numa zona de balneário da Tunísia.

• No dia 10 de outubro, na Turquia, 102 pessoas foram mortas e mais de 500 ficaram
feridas em um atentado suicida em Ancara. O ataque aconteceu no momento em que
milhares de manifestantes pediam por paz.

• No mesmo mês, no dia 31, um avião com 224 passageiros caiu na península do Sinai,
no Egito matando todos.

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• No dia 12 de novembro 44 pessoas morreram em um atentado contra uma base do
Hezbollah, movimento xiita libanês, que tem combatido o EI ao lado do regime de
Bashar al-Assad na Síria.
• ATENTADO EM PARIS: O último atentado registrado até o momento aconteceu na França.
Mais uma vez o país foi agredido por terroristas. No último dia 13 de novembro, Paris sofreu
em 33 minutos, sete ataques coordenados. Foi o dia mais violento desde a Segunda Guerra
Mundial. De início, as informações ainda desencontradas e não fundamentadas, davam conta
de uma série de tiroteios e explosões em Paris, capital francesa.
Às 21h20, hora local, uma bomba explodiu na área externa do Stade de France, que
reunia cerca de 80 mil pessoas enquanto acontecia uma partida amistosa entre as seleções
francesa e alemã. Às 21h25, ocorreu outra explosão, no mesmo lugar. Às 21h25, homens
abriram fogo contra um bar e um restaurante: Le Carillon e Le Petit Cambodge, localizados
há cerca de 7 km do estádio. Às 21h32, outro tiroteio foi realizado. Dessa vez, na Rua de la
Fontaine au Roi. Às 21h36, outro, na Rua de Charonne. Às 21h40, um homem explodiu uma
bomba no restaurante Boulevard Voltaire. Às 21h49, três atiradores invadiram a casa de
shows Bataclan. Às 21h53, outra explosão aconteceu nas cercanias do estádio.
Construído há 151 anos, o Bataclan se tornou uma das mais importantes e
conhecidas casas de show do mundo. No dia dos ataques, a banda norte-americana Eagles of
Death Metal realizava uma apresentação para 1.500 pessoas, lotando a capacidade de
público da casa. Lá, aconteceram a maioria das mortes.
Três homens entraram no local pela porta traseira, já disparando. Testemunhas
relataram que, em meio aos tiros, os homens gritavam que a ação era uma retaliação
aos ataques da França na Síria, além da frase Allahu Akbar, que significa “Alá é
grande”. Cerca de 100 pessoas foram feitas reféns, até que a polícia francesa decidiu
invadir o Bataclan. Os homens também carregavam explosivos ao corpo, e explodiram
ao notar que a polícia entrava no local.

Os ataques foram o maior atentado da história da França, e o maior da Europa em 11


anos, quando em 2004, 10 bombas explodiram no metrô de Madrid, na Espanha, matando 191
pessoas. Em Paris, foi o segundo em 2015, sendo o primeiro a invasão do jornal Charlie
Hebdo.
O atentado ocorrido no último dia 13 foi assumido pelo Estado Islâmico, na manhã
seguinte, por meio de um comunicado oficial divulgado na internet. No texto, o grupo diz que
a França continuará no topo da lista de alvos de possíveis atentados fonte?. Os extremistas

76

também chamam Paris de “capital do adultério e do vício” e acusam o governo francês de
fazer uma guerra contra o Islamismo. Segundo o grupo, os detalhes das ações foram
cuidadosamente estudados.
Além desses acontecimentos ao longo do ano, a violência da guerra civil e a ofensiva
do Estado Islâmico, ambos na Síria, desencadearam uma migração em massa, principalmente
para a Europa.

77

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