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o livro "NA SENDA DA ESPIRITUALIDADE", de José Caldas e Maria Carmelo,

inserido na colecção "Saberes". Parte de: PEQUENO CONTO TEOSÓFICO - págs. 145
a 149

Há muito, muito tempo, num recanto remoto mas tranquilo duma vasta galáxia a
que poeticamente chamavam a “Via Láctea”, reinava um grande Senhor.
Chamavam-lhe, carinhosamente, “o Pai”, pela forma meiga e bondosa como geria
os seus vastos domínios. Tão vastos, na verdade, que havia quem dissesse que se
estendiam por territórios que a vista não alcança. Planos – chamavam alguns;
Dimensões – diziam outros.
O que constava é que esses territórios ocultos estavam vedados a olhos físicos,
deixando-se apenas entrever por aqueles que privavam de perto com o Pai. Os
Senhores vizinhos, que habitavam territórios contíguos, estranhavam que o Pai não
tivesse descendência. Afinal, quem herdaria tão vastos territórios? O que lhes
aconteceria quando o Pai deixasse aqueles planos?
Todos sabiam que o Pai não morria, mas suspeitavam que, num futuro ainda
remoto, Ele rumasse para outras paragens de ninguém conhecidas. Certo é que,
ninguém suspeitava que também o Pai se preocupava com isso. Pensava na sua
idade vetusta (milhões de anos, diziam alguns; biliões, juravam outros) e cada vez
mais ponderava deixar larga prole que gerisse e até expandisse tão vastos
territórios. Sabia-se que o Pai, apesar do seu aspecto másculo e poderoso, era, na
verdade, um ser andrógino capaz de criar vida pelo simples poder da sua vontade
infinita. Mas, por qualquer razão, reinava ainda supremo e solitário naquele
recesso sossegado da galáxia. Até um dia…
Nesse dia memorável, o Pai, por um esforço supremo da sua vontade infinita,
trouxe à existência, num abrir e fechar de olhos, uma vasta descendência. Tão
vasta que, temiam alguns, aqueles domínios fossem exíguos para a todos albergar.
Mas não. O pai não comete erros desses.
Olhos treinados contaram cerca de 40 biliões de crianças, mais alma menos alma
que, subitamente, animaram aqueles lugares habitualmente sossegados. Poder-se-
ia suspeitar que aquele recanto tranquilo, subitamente, se transformasse num
espaço de algazarra e alarido infantil. Longe disso. Aquelas crianças, sumamente
bem-comportadas, nasceram todas com um tino e uma sensatez bem pouco
juvenis. Agora, que o Pai já tinha tratado da sua descendência, grande curiosidade
reinava para saber que nomes seriam colocados à criançada. Faziam-se apostas
discretas, mas ninguém acertou. Uma vez mais, o Pai a todos surpreendeu com as
suas decisões inesperadas. Tão grande era o seu sentimento de igualdade em
relação aos seus filhos que decidiu a todos dar o mesmo nome – MÓNADAS. Quem
iria adivinhar tal? Afinal, como é que o Pai distinguiria os seus filhos? Mal sabiam
todos que o Pai dispunha de um método infalível para o fazer. Colocou a todos uma
pequena pulseira diferente (que outros chamavam “ritmo vibratório”) que lhe
permitia instantaneamente saber onde se encontrava cada um dos da pequenada.
Quarenta biliões de crianças que se davam maravilhosamente bem, sem aquelas
lutas e conflitos que desesperam os comuns dos pais. Todas brincavam como
crianças da sua idade, mas com uma pose tão madura, tão atilada que não
pareciam a idade que tinham. Mas, no meio da criançada, uma monadazinha
parecia mais traquinas do que as suas irmãs. Mais agitada, menos obediente, mais
curiosa talvez, atrevia-se aqui e ali a testar a paciência infinita do Pai. Por onde
esta monadazinha passava, as suas irmãs tornavam-se imediatamente mais
barulhentas e espevitadas, influenciadas que eram pelo seu temperamento alegre,
vivo e jovial.
O Pai, talvez pela serenidade que uma longa idade sempre traz, em vez de a
repreender, tratava-a com uma bonomia e tolerância que só a encorajava a ir mais
longe na sua curiosidade infantil. Mas, um dia, a nossa monadazinha, num acesso
acriançado de entusiasmo, resolveu, sozinha, explorar os limites da propriedade de
seu pai. Caminhou até aos limites conhecidos e olhou o desconhecido. O que viu,
assombrou-a. Para lá, muito para lá do que já conhecia, viu no céu aquilo que, mais
tarde, soube chamarem-se planetas, vastos orbes suspensos no horizonte que
giravam à volta da propriedade central. Não sabia o que pensar já que nunca
sonhou a existência de tão extraordinárias paisagens. Mas, o Pai, sempre atento,
chamou a monadazinha e explicou-lhe, com palavras simples e doces, que um dia
tudo aquilo lhe pertenceria. Mas, antes desse dia chegar, teria de aprender a
conhecer esse vasto território e aqueles vastos orbes que tinha vislumbrado
naquela aventura solitária. Explicou-lhe que, para tal, teria que habitar esses
mundos para aprender o muito que tinham para lhes ensinar. Disse-lhe também
(como se falasse com um adulto) que não se iludisse com aquilo que conseguia ver.
Na verdade, aqueles vastos territórios, espalhavam-se por áreas que a vista não
podia alcançar e que o Pai designava de Planos. Explicou-lhe que havia, pelo
menos, sete e disse-lhe que, nesses Planos, a vida não seria tão fácil nem
agradável como ali, pois ocultavam perigos e desafios para os quais ainda não
estavam preparados e de que ali estavam bem protegidos.
Satisfeita com a explicação do Pai, a monadazinha voltou ao convívio tranquilo dos
seus irmãos e não mais pensou naqueles Planos e mundos remotos. Até um dia…
Nesse dia, a nossa monadazinha, sempre curiosa, descobriu num dos quartos do
vasto castelo de seu Pai, um armário cujas portas estavam entreabertas e apenas
encostadas. Dominada pela curiosidade, não resistiu e abriu-as. O que viu, fê-la
recuar, assombrada. O armário guardava seis fatos muito estranhos e muito
diferentes uns dos outros. Uns, muito grossos e pesados, tinham a forma a que
costumavam chamar “humana”; outros, muito mais leves e subtis, moldavam-se
facilmente a qualquer forma. Era, na verdade, uma visão muito estranha…Quando
olhou os fatos mais atentamente, reparou que cada um estava identificado com
uma etiqueta. Curiosa, leu-as. Diziam – corpo físico, corpo astral, corpo mental,
corpo causal, corpo búdico, corpo átmico. Inicialmente, aqueles nomes nada lhe
diziam. Mas, depois, começou a pensar no que o Pai lhe dissera tempos antes e
deduziu que para visitar os tais Planos teria de vestir os diferentes fatos que
pendiam no armário. Porquê, não sabia. Curiosa como era, resolveu, uma vez mais,
fazer uma experiência sem nada dizer a ninguém. Pegou, então, no fato mais
pesado, no que dizia “corpo físico” e, com muito custo, pois era muito pesado,
vestiu-o.
CORPO FÍSICO
Mal fechou o fecho éclair, sentiu-se sugada irresistivelmente por uma força que
parecia surgir do nada, que a afastava daqueles lugares serenos que habitava.
Deixou-se levar sem resistir, pois apercebeu-se que não dispunha de forças para
tal. Quando o torvelinho parou, a nossa monadazinha encontrava-se num lugar
estranho, completamente diferente da propriedade do Pai onde brincava todos os
dias. Olhou à sua volta e, primeiro pensou estar numa festa pois todos se vestiam
como ela – com aquele fato que se chamava corpo físico. Mas, o que mais
estranhou foi a forma como reconhecia todos os outros. Apercebeu-se que possuía
diversos apêndices no seu fato que lhe permitiam reconhecer e comunicar com
eles. E, aparentemente, esses apêndices tinham nomes. Alguns chamavam-se
“olhos” e conseguia “ver” com eles. Outros chamavam-se “ouvidos” e conseguia
“ouvir” uma coisa estranha chamada “sons”. Apercebeu-se também que se
“tocasse” algo com a mão, “sentia” impressões estranhas que, mais tarde, soube
chamarem-se “tacto”. Um outro apêndice, colocado bem na parte superior do fato e
a que chamavam “nariz” permitia-lhe sentir outra coisa a que chamavam “cheiro
ou odor”. E, alguém lhe sugeriu que, se experimentasse comer (– comer?
perguntou-se a monadazinha. O que será?) certos alimentos, eles teriam um
óptimo sabor. Experimentou fazer como os outros, levou um certo objecto à boca
e… ficou bastante satisfeita com o resultado… tão satisfeita que não resistiu a
repetir a experiência. Apercebeu-se então que aquele fato lhe permitia fazer um
conjunto de experiências bastante interessantes e conhecer aquele mundo tão
estranho de uma forma que nunca antes havia experimentado.

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