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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

MCM
Nº 70058137472 (Nº CNJ: 0006310-27.2014.8.21.7000)
2014/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. CONCURSO PÚBLICO.


BRIGADA MILITAR. INAPTIDÃO NO EXAME DE
SAÚDE. TATUAGEM.
- A Lei Estadual nº 12.307/05 que regula as
condições específicas para o ingresso na Brigada
Militar prevê expressamente como requisito a
aprovação nos exames de saúde a serem
estipulados em edital, de modo que a previsão da
causa de inaptidão no exame de saúde relativa à
presença de tatuagem em área exposta do corpo,
ainda que apenas no edital, está em conformidade
com a lei.
- Candidato que não está se submetendo a
procedimento para retirada da tatuagem.
- Liquidez e certeza do direito pleiteado que não se
ostenta.

APELAÇÃO IMPROVIDA.

APELAÇÃO CÍVEL TERCEIRA CÂMARA CÍVEL

Nº 70058137472 (Nº CNJ: 0006310- COMARCA DE PORTO ALEGRE


27.2014.8.21.7000)

CARLOS JUAREZ HORN APELANTE

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL APELADO

DECISÃO MONOCRÁTICA
Vistos.
1. Trata-se de apelação cível interposta por CARLOS JUAREZ
HORN em face da sentença de fls. 244-246, que denegou a segurança impetrada
contra ato do COMANDANTE GERAL DA BRIGADA MILITAR DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL.

Em razões (fls. 248-252), alega que sua tatuagem, localizada na


lateral da perna direita, não é visível quando do uso do uniforme de educação física
militar, não configurando condição incapacitante de saúde para o ingresso na
polícia militar.

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

MCM
Nº 70058137472 (Nº CNJ: 0006310-27.2014.8.21.7000)
2014/CÍVEL

Refere que a tatuagem não possui conotação obscena, ofensiva ou


de morte, tampouco faz apologias ao crime, à traficância, ao consumo de drogas, à
discriminação racial, étnica, religiosa ou de qualquer outra natureza, tampouco traz
mensagem ideológica, razão pela qual não pode ocasionar o alijamento do
certame, no qual logrado aprovação em todas as fases.
Cita jurisprudência favorável a sua tese e requer o provimento da
apelação.
A apelação foi recebida em seu duplo efeito (fl. 253).

O Estado ofertou contrarrazões às fls. 254-260, pugnando pela


manutenção da sentença.

Nesta instância, manifestou-se o Ministério Público pelo


improvimento do apelo, em parecer do Procurador de Justiça, Dr. Julio Cesar da
Silva Rocha Lopes (fls. 263-265).
Vieram os autos conclusos para julgamento.

É o relatório.
2. A matéria objeto do presente recurso foi analisada à saciedade na
decisão que apreciou o pedido de agregação de efeito suspensivo no agravo de
instrumento nº 70051347003 (fls. 191-194), razão pela qual a ratifico e transcrevo:

“O agravante, candidato inscrito em certame aberto pela Brigada


Militar do Estado, se insurge contra a causa de inaptidão no exame
de saúde, consistente na presença de tatuagem em área exposta do
corpo, entendida como área não coberta pelo uniforme regularmente
usado pela Brigada Militar.
Primeiramente, impende salientar que a exigência editalícia não se
mostra ilegal. A Constituição Federal, em seu art. 39, § 3º, dispõe
que lei pode estabelecer requisitos diferenciados de admissão em
cargo público, quando a natureza deste o exigir1.
No âmbito do Estado do Rio Grande do Sul, a Lei Estadual nº
12.307, de 08 de julho de 2005, regula as condições específicas para
o ingresso na Brigada Militar, e dentre os requisitos para o ingresso
prevê expressamente a aprovação nos exames de saúde, a serem
estipulados em edital:

1
Art. 39. (...) § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º,
IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer
requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.
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Art. 2º - Para ingresso na Brigada Militar deverão ser observadas as


seguintes condições:
(...)
IX - obter aprovação nos exames de saúde, capacitação física e intelectual,
conforme requisitos estipulados em edital; [grifei]

Assim, a previsão da causa de inaptidão no exame de saúde relativa


à presença de tatuagem em área exposta do corpo, ainda que
apenas no edital, está em plena conformidade com a lei.
A jurisprudência desta Corte de Justiça se consolidou nesse sentido:
REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO
PÚBLICO. REPROVAÇÃO EM EXAME DE SAÚDE. TATUAGEM EM ÁREA
EXPOSTA PELOS UNIFORMES DA BRIGADA MILITAR. SENTENÇA
REFORMADA. O impetrante não comprovou que sua reprovação no
processo seletivo do Programa de Militares Estaduais Temporários da
Brigada Militar do Rio Grande do Sul, no exame de saúde, foi equivocada,
já que a tatuagem que possui no braço direito não fica coberta pelos
uniformes de educação física da Brigada Militar, violando, desta forma, as
regras previstas no edital do concurso. SENTENÇA REFORMADA, EM
REEXAME NECESSÁRIO. (Reexame Necessário Nº 70025862236, Quarta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins
Pastl, Julgado em 24/09/2008)

ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL - CONCURSO PÚBLICO DA


BRIGADA MILITAR. CANDIDATO EXCLUÍDO DO CERTAME EM RAZÃO
DE POSSUIR TATUAGEM, CAUSA DE INAPTIDÃO, CONFORME O
DECRETO 43.430/2004. POR MAIORIA, NEGARAM PROVIMENTO AO
AGRAVO, VENCIDO O RELATOR. (Agravo de Instrumento Nº
70025086596, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Alexandre Mussoi Moreira, Julgado em 17/09/2008)

ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. BRIGADA MILITAR.


CANDIDATO COM TATUAGEM. INAPTIDÃO. 1. O art. 1º, IX, da Lei
12.307/05, que dispõe sobre as condições específicas de ingresso na
Brigada Militar, prescreve a necessidade de o candidato obter aprovação
nos exames de saúde, capacitação física e intelectual, conforme requisitos
estipulados em edital. Dessa forma, prevendo o edital do certame como
causa de inaptidão a discromia de pele ou tatuagem expostas nas áreas
não cobertas pelos uniformes regularmente usados pela Brigada Militar,
conclui-se que não padece de ilegalidade o ato que considerou inapto no
exame de saúde candidato tatuado. 2. EMBARGOS INFRINGENTES
ACOLHIDOS POR MAIORIA. VOTOS VENCIDOS. (Embargos Infringentes
Nº 70020251971, Segundo Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Araken de Assis, Julgado em 09/11/2007)

CONCURSO PÚBLICO. INGRESSO NA BRIGADA MILITAR. EXAME DE


SAÚDE. CANDIDATO DESCLASSIFICADO DO CERTAME FACE À
CONFIGURAÇÃO DE UMA DAS CAUSAS DE INAPTIDÃO,
DEVIDAMENTE PREVISTA NO EDITAL. EXISTÊNCIA DE TATUAGEM NO
BRAÇO DIREITO. INVIABILIDADE DE DISCUSSÃO SOBRE SUA
RAZOABILIDADE, VISANDO O PROSSEGUIMENTO NO CONCURSO.

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INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO ARTIGO 5º, INCISO


LV, DA CF/88. APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Cível Nº 70009358045,
Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Miguel Ângelo da
Silva, Julgado em 15/12/2004)

MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. INGRESSO NO


CARGO DE SERVIDOR MILITAR NA GRADUAÇÃO DE SOLDADO-PM.
REPROVAÇÃO NO EXAME DE SAÚDE. TATUAGEM. AUTORIDADE
COATORA NÃO APONTADA. CONSEQÜÊNCIAS. O legitimado passivo
(sentido formal) no mandado de segurança é a autoridade administrativa
que pratica o ato inquinado de ilegal ou abusivo. Os efeitos da sentença que
concede a segurança é que são suportados (sentido material) pela pessoa
jurídica de direito público interno a que está vinculada a autoridade
impetrada. A má indicação de pessoa jurídica para integrar o pólo passivo
acarreta a extinção do processo, sem julgamento de mérito, mormente
quando o impetrante revela bem conhecer a estrutura em que se organiza a
Brigada Militar. Utilização pretérita da via do conhecimento para questionar
o mesmo ato que bem revela a inexistência de direito líquido e certo.
Estando a tatuagem definitiva, com dimensões conhecidas de 12 x 3 cm,
localizada no braço esquerdo, a circunstância de ficar encoberta pelos
uniformes oficiais da Brigada Militar é matéria que desafia a coleta de prova.
Reprovação no exame físico que não caracteriza abuso, pois a regra
estadual foi editada em consonância com o decreto federal que disciplina o
Serviço Militar. APELO PROVIDO, PREJUDICADO O REEXAME.
(Apelação e Reexame Necessário Nº 70007819477, Terceira Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nelson Antônio Monteiro Pacheco,
Julgado em 08/04/2004)

CONCURSO PÚBLICO. BRIGADA MILITAR. CANDIDATO CONSIDERADO


INAPTO FACE AS REGRAS DO CERTAME CONTIDAS NO EDITAL.
TATUAGEM: CONFIGURA CAUSA DE INAPTIDÃO NO EXAME DE
SAÚDE. ATO DA ADMINISTRAÇÃO QUE TEM AMPARO LEGAL. Recurso
desprovido. (Apelação Cível Nº 70006791545, Terceira Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Mário Crespo Brum, Julgado em
13/11/2003)

CONCURSO PÚBLICO. INGRESSO NA BRIGADA MILITAR. EXAME DE


SAÚDE. CANDIDATO DESCLASSIFICADO DO CERTAME FACE À
CONFIGURAÇÃO DE UMA DAS CAUSAS DE INAPTIDÃO,
DEVIDAMENTE PREVISTA NO EDITAL. EXISTÊNCIA DE TATUAGEM NO
BRAÇO DIREITO. INVIABILIDADE DE DISCUSSÃO SOBRE SUA
RAZOABILIDADE, VISANDO O PROSSEGUIMENTO NO CONCURSO
PRESENTEMENTE JÁ FINDO. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS
PRINCÍPIOS DO ARTIGO 5º, INCISO LV, DA CF/88. RECURSO
DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70006667943, Terceira Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Ari Azambuja Ramos, Julgado em
21/08/2003)

Ademais, destaco que a ação de mandado de segurança foi


impetrada em 13/09/2012, em que pese o concurso em debate tenha
referido que as inscrições estariam abertas no período de 02 a 31 de

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janeiro/2012, até o presente momento inexiste comprovação de que


o candidato tenha, efetivamente, iniciado tratamento para a remoção
da tatuagem que foge dos parâmetros aceitos pela Brigada Militar,
de modo que não se apresenta razoável, sob pena de ofensa ao
princípio da isonomia de tratamento entre os certamistas, a sua
permanência no concurso público.
Registro que em demanda semelhante já me manifestei pela
possibilidade de manutenção do certamista tatuado em concurso da
Brigada Militar. Todavia, naquele feito havia prova de que o
candidato estava se submetendo a tratamento de despigmentação
da tatuagem, sendo provado, ainda, que apenas mais uma sessão a
tatuagem ficaria imperceptível.
Assim, tenho que não estão presentes as condições autorizadoras
da medida liminar no mandado de segurança.

No mesmo sentido o parecer do Ministério Público nesta instância


que transcrevo no ponto ( fls.188/189):

No mérito, contudo, não deve ser provida a inconformidade.

Com efeito, a exigência editalícia, prevista no art. 30, IX, do Decreto


2
n. 45.993/08 , encontra amparo no art. 39, § 3º, da Constituição
Federal, com a redação dada pelo art. 5º da Emenda Constitucional
n. 19/98, o qual, de sua vez, permitiu à lei “estabelecer requisitos
diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir”.

Não restam dúvidas de que a natureza do cargo de Soldado da


Brigada Militar justifica plenamente a exigência de requisitos
diferenciados para admissão, sendo plenamente legal a regra
relativa à ausência de tatuagens em áreas não cobertas pelo
fardamento da corporação, inclusive porque, em última análise, não
se poderia admitir o controle da violência pública por policiais
militares que exibissem, por exemplo, marcas discriminatórias,
racistas ou incitantes à violência em seu corpo.

No caso em tela, tal como bem ressaltado pela eminente Relatora,


Desembargadora Matilde Chabar Maia, não há quaisquer indícios de
que o agravante esteja submetendo-se a processo de
despigmentação, sendo certo, ainda, que o curso de formação
iniciou-se no dia 17 de setembro próximo passado, não havendo
sequer tempo hábil para que a tatuagem seja removida.

Eis as razões pelas quais, no caso concreto, manifesto-me pelo


desprovimento do recurso, ressaltando que já externei

2
“Art. 30 - É vedado ao ME: (...) IX - o uso de tatuagens e piercings (adereços metálicos presos ao corpo), em
locais visíveis do corpo;”
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posicionamento diverso em tendo em vista que, naquelas situações,


os candidatos estavam em fase avançada do tratamento para
remoção das tatuagens. (...)”

3. Ante o exposto, nego provimento à apelação.


Intimem-se.

Porto Alegre, 21 de setembro de 2015.

DES.ª MATILDE CHABAR MAIA,


Relatora.

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