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Obviamente, as Constituições não podem (e nem mesmo devem) ser tratadas como
contrato, mas cabe o registro de que o constitucionalismo (inclusive, o contemporâneo)
crivou dentre as premissas fundantes as noções contratualistas, tanto que preceitos como
igualdade e direitos civis e políticos foram claramente colhidos desta fonte tão
significativa, a ponto de John Rawls, famoso filósofo estadunidense, nela basear-se para
a formulação da ‘posição original de igualdade’ e conhecimento a priori pelo ‘véu da
ignorância’.
As críticas deste ambiente (e são muitas) não devem ser dirigidas ao contrato, senão ao
mercado que pretende ser uma garantia de liberdade absoluta, lugar de méritos, de riscos
e ocasiões, senão o pior: autor exclusivo das próprias regras (cosmos) onde o Direito não
tem normatividade nem coerção, o que neste ponto revela como consequências o
enfraquecimento das relações sociais e a extrema vulnerabilidade dos consumidores.
Chegou-se ao ponto na globalização – e que aqui convenhamos o mais correto seria tratar
como globalismo – em indicar, como fez Francesco Galgano, a substituição da lei pelo
contrato e do legislador pelo advogado que redige os contratos, dado que a soberania
outrora absoluta (com Hegel) foi relativizada (com Kant), permitindo que recentes
modelos, negociações e tipos de contratualizações singrassem na aldeia global criando
novas regras, novas normas. Talvez, possível solução esteja com Pietro Perlingieri na
mediação entre mercado, solidariedade e direitos humanos.
É justamente neste último ponto (direitos humanos) que está alocada a pessoa, centro de
imputação jurídica ou valor inesgotável do Direito. A recontextualização da pessoa
(consciência, resistência e emancipação, conforme propõe Joaquin Herrera Flores) pelo
Direito permitiu acréscimo valorativo a todos os institutos jurídicos e, especialmente, o
contrato.