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ENCONTRO – PROCESSO CRIATIVO EM CONSTRUÇÃO DE

NARRATIVA

Matheus Moura Silva


saruom@gmail.com
http://www.megaupload.com/?d=8FYKMUR4

Guilherme Lima Bruno E. Silveira


guilhermepwcca@hotmail.com

Resumo
O referido texto trata de uma experiência pessoal no campo da criação de
Histórias em Quadrinhos. Tomando como base o processo criativo do
psicanalista estadunidense Rollo May foi verificado e documentado o passo-a-
passo do descrito por ele e sentido pelo autor da história/artigo. A intensão do
texto é demonstrar o processo criativo de uma história em quadrinho do gênero
Poético-Filosófico, o qual, muita das vezes, se dá de maneira inusitada.

Palavras-chave:
História em quadrinhos; poético-filosófico; processo criativo; criatividade.

Abstract
The text is about a personal experience at the field of comics. Observing the
creative process described by the american psychoanalyst Rollo May it was
verified and documented step by step the researched and felt by the autor of the
history. The intension of the text is demonstrate the creative process of a poetic
philosophical comics history genre, which frequently happens in an unusual way

Keywords:
Comics; poetic philosophical; creative process; creativity.
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A grande maioria das pessoas conhece as tradicionais Histórias em Quadrinhos
(HQs), o que muitos não sabem é que esta mídia possui um gênero singular,
envolto em questionamentos e análises a respeito da condição humana. Por
alguns é chamado de poético-filosófico, por outro de fantástico-filosófico.
O pesquisador Elydio dos Santos Neto conta que, entre o final da década de
1980, um singular grupo de quadrinhistas passou a trabalhar com histórias fora
do padrão convencional. Esses artistas são: Flávio Calazans, Edgar Franco,
Gazy Andraus, Henry e Maria Jaepelt, Wally Viana, Joacy Jamys, Luciano
Irrthum, Eduardo Manzano e Antonio Amaral (NETO, 2009, p. 71).
Muitos desses autores foram reunidos no fanzine Barata, editado por Calazans. Para
Edgar Franco (1997, p. 56), Calazans pode ser considerado como um dos
precursores dos quadrinhos poético-filosóficos no país. Além do Barata, houve ainda
a revista Tyli-Tyli, editada posteriormente pela Marca de Fantasia, de Henrique
Magalhães. Mais tarde, no número 9, a publicação foi rebatizada de Mandala (NETO,
2009, p. 2). Durante as 13 edições da publicação, ela ampliou o leque de autores e
abriu espaço para a discussão dos quadrinhos poéticos-filosóficos. Foi o primeiro
passo para a consolidação do estilo (NETO, 2009, p. 2 e 3). Com o fim da Mandala,
em 2001, os autores voltaram a publicar em fanzines de maneira independente ou em
formato digital. Em 2008, uma nova publicação surge dando abertura maior ao estilo
poético, a Camiño di Rato, editada por Matheus Moura.
No gênero, os autores não se limitam a simplesmente contar histórias,
experimentando as possibilidades narrativas da HQ. Elydio define três características
básicas desses quadrinhos como: 1) A intencionalidade poética e filosófica; 2)
Histórias curtas que exigem uma leitura diferente da convencional; 3) Inovação na
linguagem quadrinhística em relação aos padrões de narrativas tradicionais dos
quadrinhos (NETO, 2009, p. 90).
A HQ selecionada é uma histórias poético-filosófica por tratar de aspectos da
personalidade humana, deixar aberta para múltiplas interpretações e o principal: forçar o
leitor a questionar e a pensar. Por outro lado, o intuito do artigo não é discutir a HQ
Encontro, mas seu processo criativo. Como projeto, para um futuro mestrado na FAV-
UFG, há a ideia de trabalhar justamente os aspectos que compõem o processo criativo de

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suscita dúvidas como: seu próprio processo criativo se dá de maneira convencional, ou

não? Quais critérios são avaliados pelo artista na criação? Quais suas motivações?

O Encontro

A história foi construída por mim primeiro por meio de roteiro e desenhada por Guilherme

Silveira. A criação da história teve como início um “pesadelo”. Nesse sonho, vi uma mulher

que foge de algo não mostrado. Logo, eu (personagem no sonho) estou em um local sujo,

feio e entro em uma casa. Nela, há um monstro humanoide-molusco que diz coisas

desconexas. Depois desse encontro macabro, acordei, anotei o que vi – principalmente a

ideia do monstro e o local em que ele se encontrava. Os dias se passaram e mais de seis

meses já haviam transcorrido desde o pesadelo. Durante esse período, de tempos em

tempos me recordava da criatura e pensava em desenvolver algo com ela.

No dia 7 de abril de 2010, dei início a leitura de A Coragem de Criar, escrito pelo

psicanalista, Rollo May. Na primeira metade do livro, Rollo trata principalmente das etapas

mentais e comportamentais de criação, além de definir o que venha a ser criatividade e a

coragem de criar. A maneira como o artista age, pensa e sente momentos antes do

“encontro”, ou seja, do surgimento do ato criativo, que o levará ao seu próprio “mundo

objetivo”. Para Rollo o “mundo objetivo” vai além do físico palpável, é o mundo interior do

artista, aquele com que ele irá adentrar no momento de criação extrapolando o sentido de

mundo como “ambiente ou 'soma total' das coisas” (MAY, 1982, p. 49) e da relação objeto

sujeito. O autor explica que isso se deve à relação dinâmica entre indivíduo e mundo

externo. Dessa forma, o que exprime como obra de arte tem, invariavelmente, influência de

seu tempo e sociedade.

O “encontro”, mencionado e descrito pelo autor, é quando o artista se depara com o que lhe

impele a criar. A grosso modo seria a inspiração. No meu caso, o encontro foi no sonho. No

livro, Rollo até mesmo cita um exemplo de um professor de Nova Iorque que, por meio de

sonho, teve um encontro que lhe rendeu o prêmio Nobel (MAY, 1982, p. 44). Para o

psicanalista, o encontro está como o princípio do processo criativo. No caso, o meu iniciou

há vários meses, quando despertei de um pesadelo e anotei seus pontos principais.

É interessante notar que o encontro não necessariamente é realizado de modo consciente.

O meu, por exemplo, irrompeu do sonho. Como diz Rollo, “a resolução de problemas que
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nos vêm em devaneios ou sonhos não são produtos do acaso” (MAY, 1982, p. 45). Pelo

contrário, essas soluções, ou encontros, só são possíveis surgirem em sonhos e devaneios

por terem sido antes trabalhadas “com afinco e determinação” (MAY, 1982, p. 45). Isso,

então, irá designar o nível de compromisso do indivíduo com seu ato criativo

Mais do que a maneira como o encontro se dá, para Rollo o importante é o “grau de

absorção, o grau de intensidade” (MAY, 1982, p. 40) desse encontro. É por meio do

encontro que o autor distingue dois tipos básicos de criatividade: a escapista e a genuína.

De modo simples e direto, a principal distinção entre uma e outra é que na primeira há

ausência de encontro enquanto na segunda, além de haver o encontro ele é intenso e de

envolvimento completo (MAY, 1982, p. 42).

Encontro e ansiedade

Rollo May, destaca alguns fatores do processo criativo. O primeiro deles é o sentimento de

medo de errar momentos antes de iniciar um novo trabalho. Isso gera ansiedade. O

surgimento dessa ansiedade “acompanha o nascimento da ideia inconsciente” (MAY, 1982,

p. 60). May dá o exemplo do artista plástico Alberto Giacometti, que, antes de pintar, era

arrebatado por grande sentimento de ansiedade e agonia (MAY, 1982, p. 83).

O segundo fator é a “claridade” (MAY, 1982, p. 60), que faz o artista, ser tomado por um

sentimento de que tudo está mais nítido. Suas percepções são afloradas, os sons são mais

límpidos, as cores mais vivas. O terceiro é a Gestalt, a formação inconsciente que delimita

uma forma ainda não bem definida, mas que impele o artista à criar. “(...) a forma não

formada, pode ser definida como o 'chamado' ao qual o inconsciente respondeu” (MAY,

1982, p. 61). Por fim, o quarto fator: a intuição, que surge em um momento de transição

entre trabalho e repouso.

No meu caso os quatro fatores foram muito bem delineados. Primeiro, durante a leitura do

livro passei a sentir uma certa inquietação que aumentou gradualmente. Segundo,

juntamente com a ansiedade passei a prestar mais atenção ao que estava a minha volta,

principalmente ao livro em minhas mãos. Terceiro, senti que uma peça, não muito bem

definida acabara de se juntar a outra já formada. O quarto e último fator, eu estava em um

momento de leitura (trabalho) e parcialmente disperso da leitura. Foi então que decidi pôr-

me a escrever.

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Durante o processo de escrita, o texto fluiu com naturalidade. Não precisei nem ao menos
recapitular o que havia escrito sobre o sonho. Porém, ao final do texto travei. Havia chegado
a um momento em que, assim como a mulher da história, estava sem saída. Sabia como
queria terminar o conto, mas com o seu desenrolar meu final, previamente concebido,
agora era um estorvo, uma vez que me limitava a desenvolvê-lo apropriadamente. Salvei o
arquivo de texto e resolvi espairecer. Ao me afastar da frente do computador e a me colocar
novamente em um estado de repouso, subitamente um novo final, agora de acordo com o
desenrolar da trama, surgiu do inconsciente levando-me a experimentar outro aspecto
descrito por Rollo: a gratificação. “Regozijamo-nos por participar do que a física e outras
ciências naturais chamam de uma experiência 'elegante'” (MAY, 1982, p. 60)..
_________________
BIBLIOGRAFIA
MAY, Rollo. A coragem de criar / Rollo May; tradução de Aulyde Soares Rodrigues. - Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
SANTOS NETO, Elydio. O que são histórias em quadrinhos poético-filosóficas? Um olhar
brasileiro. In: Visualidades. Revista do Programa de Mestrado em Cultura Visual/UFG
(2009). - Goiânia-GO: UFG, FAV, 2009.
_____________, Elydio. Henrique Magalhães e a editoria de quadrinhos poético-
filosóficos: Vanguarda e independência nas fronteiras entre comunicação, educação e arte.
In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 32, 2009. Curitiba. - Anais... São
Paulo: Intercom, 2009.
_____________, Elydio. Transgressão, transcendência e esperança: Os quadrinhos
poético-filosóficos de Edgar Franco. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação,
29, 2008. Natal. - Anais... São Paulo: Intercom, 2008.
_____________, Elydio. Os quadrinhos poético-filosóficos de Gazy Andraus: Provocações
de uma visão crítica, espiritual e afirmativa da vida. In: Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação, 30, 2007. Santos. - Anais... São Paulo: Intercom, 2007.
__________________

MINI-CURRÍCULO
Matheus Moura é graduado em Comunicação Social – Jornalismo, pelo Centro
Universitário do Triângulo – UNITRI. É jornalista, editor, roteirista e produtor cultural.
Atualmente pesquisa processos criativos para submissão de projeto no mestrado da FAV-
UFG.
Guilherme Silveira é graduado em Educação Artística na UNESP – Bauru. É artista plástico,
pesquisador, músico e quadrinhista, tendo trabalhos publicados na Camiño di Rato e na
revista Miscelânea da UNESP.

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Roteiro da HQ Encontro

Por Matheus Moura

13/04/2010

PG 1

Quadro 1

Imagem superior. Imagino esse quadro contendo 1/3 da página, na horizontal de uma
margem a outra. É mostrada uma cobertura de edifício (não muito alto, talvez uns 6
andares). Chove é noite. Dessa cobertura um homem observa o movimento nas ruas
logo abaixo. Uma mulher corre em direção a um beco que, a partir desse ponto, a visão
do homem não mais alcança.

Texto do homem: !!!

Quadro 2

Ainda por uma imagem superior, mas de menor altura, pois agora a câmera persegue a
mulher por entre o beco.

Texto da mulher: arf arf arf (ofegante pela fuga)

Quadro 3

Plano geral, mostrando a mulher de frente, correndo e olhando para trás, como fugindo
de algo que a persegue. Acho que se o quadro ficar levemente inclinado dá uma
dinâmica interessante.

Texto da mulher: arf arf arf (ofegante pela fuga)

Página 2

Quadro 1

Imagine a parte superior da página dividida em três quadros de mesmo tamanho. O


homem que estava no topo do prédio está correndo atrás da mulher. A visão do quadro é
a visão do homem. Ele a vê de costas, de corpo inteiro, correndo em direção uma
esquina. Chove.

Texto da mulher: arf arf arf

Texto do homem: arf arf arf

Quadro 2

A visão do quadro ainda é a visão do homem. Ele a vê dobrando uma esquina, que dá
para um corredor continuação do beco. Mostrar apenas o detalhe dela, como metade do
corpo já do outro lado.

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Quadro 3

Esse então, possui mesmo tamanho e dá sequência ao quadro anterior. A câmera pode
estar estática, mostrando apenas o homem que persegue a mulher se aproximando da
esquina onde ela virou. Do outro lado da esquina, onde a mulher está, um grito.

Texto da mulher: NÃAAAAAOOOOOO!

Quadro 4

Imagem superior na diagonal mostrando o homem de costas, parando atônito, com


destaque ao que está na frente dele: nem sinal da mulher. Ao fim do corredor a área se
abre e ao fundo uma espécie de comodo retangular, com uma janela de vidro e uma
porta de lata, dessa cheias de dobradiças. O telhado é de “eternite”. A “casa” passa um
aspecto ruim, de pobreza, sujeira e ao mesmo tempo de algo nefasto.

Texto do homem: Caralho!

Quadro 5

O homem continua a se aproximar da casa e observa o ambiente. Todo cheio de


concreto, bastante urbano, opressor e sujo. Aqui ele já está no “pátio” enfrente a casa.

Quadro 6

Ele se aproxima da porta e levanta a mão em direção a maçaneta. Da janela um par de


olhos parece brilhar...mas nada muito evidente, é como uma impressão.

Texto do homem: !

Página 3

Quadro 1

Imagino esse quadro como se fosse a porta aberta, ou seja, a borda dele é o portal. Lá
dentro uma espécie de aquário, com uma água escura e densa, encima de uma mesa. A
água balança como se algo tivesse sido jogado lá dentro.

Texto do homem: Que merda de lugar é esse?

Quadro 2

Imagino a câmera filmando de baixo para cima, mostrando em primeiro plano os pés do
homem indo dar um passo, e ao fundo o aquário. O homem se direciona ao tanque.

Texto do Homem: aaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrhhhhhhhhhhhhg

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Quadro 3

Plano aberto. Uma criatura sinistra para enfrente ao homem. Imagino esse
monstro mais ou menos assim: Olhos de caranguejos, ou seja, como tentáculos
em que nas pontas estão os olhos. Vários deles, talvez uns seis ou sete desses
olhos. A boca dele é outro conjunto de micro-tentáculos que se balançam
desordenadamente. A cabeça da criatura é oval, não muito bem definida. O
corpo é como de um inseto que se ergue em duas pernas. As mãos são pinças
de caranguejos, grotescas e com aparência de fortes. Ele fala:

Monstro: Pensa estar aqui. Pensa ver-me!

Homem Atônito diz: A mulher?!

Quadro 4

Mostrar o ambiente todo. A sala onde estão por completo. O lugar é sujo como
lá fora, mas com uma diferença: por toda a extensão da parede que forma o
local, uma mesa e encima dela objetos de laboratório, como tubos de ensaio e
coisas do gênero, além disso alguns objetos de cozinha, como cutelo, tábuas de
bife, penduradas pela parede, facas etc.

Monstro: Dentro de si!

Homem: Agora?

Monstro: Não mais lá fora!

Homem: E você?

Quadro 5

Close no mostro que diz:

Monstro: Seu espelho!

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Esboços
Por Guilherme Silveira

Página 1

Detalhe finalização

12
Esboços

Página 2

Detalhe finalização

Página 3

Detalhe a lápis

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Processo -
Por Guilherme Silveira
O início de tudo foi a proposta do Matheus Moura, o qual me enviou o roteiro para que eu
avaliasse se poderia ou não desenhá-lo. Após a leitura discutimos sobre o geral do enredo, o que nós
achávamos. Encontramos alguns pontos que coincidiam.
Feito isso, parti para a transposição das ideias para o papel. Os materiais utilizados foram papel tamanho A3;
lápis, para o esboço; tinta nanquim, para a finalização (caneta e pincel); photoshop para ajustes finais
(contraste, algumas somas e alterações).
Voltei minha atenção para a perseguição, tentando passar para o papel um pouco do desespero e da
dúvida (o que persegue?), assim deixei alguns elementos, como a chuva, em segundo plano, voltando-me
para outros, como a escuridão. Esses elementos aparecem na primeira página, a mais simples das três, uma
vez que apenas apresenta as duas personagens e a dúvida para o leitor. A divisão dos quadros já havia sido
dada pelo roteiro, restou-me apenas explorar os formatos. Durante sua feitura (e isso se repetiu nas outras
páginas) a maior barreira foi conseguir definição de personagens e cenários em meio ao grande cinza das
hachuras, e é aqui que entram alguns contornos mais rígidos, e até alguns contornos brancos, dos quais
sempre tento fugir, mas aqui me vi obrigado a usar – esses foram feitos usando photoshop, assim como
algumas onomatopéias extras.
A segunda página é a mais dinâmica, nela o leitor reconhece ambas as personagens, a mulher
perseguida e o homem que persegue. Na primeira metade o clima continua o mesmo da página anterior, as
formas distorcidas dos três primeiros quadros já eram descritas no roteiro. Ao fundo resolvi somar a imagem
de um homem sorrindo e uma mulher desesperada, as personagens da HQ, intensificando o que acontece
nesses três quadros, e até adiantando algo do fim da história (dependendo da leitura de cada um). Quando
terminei essa parte superior senti que tudo acontecia de repente demais, podia melhorar o tempo dos
acontecimentos, foi quando somei (com o photoshop) os traços claros entre o segundo e o terceiro quadro,
anunciando o grito que vemos no terceiro quadro. A partir daqui a narrativa se vira e o homem é quem se torna
alvo da insegurança, fica perdido por não saber o que aconteceu. É o que tentei captar no quadro central, o
susto ao encontrar aquela estranha casa (uma casa típica de temas de horror) após o grito e sumiço da mulher
que perseguia. Aqui usei a hachura das paredes para auxiliar na sensação de medo/insegurança e somei
pequenas referências à carta da morte (tarô de Toth) em um mastro (típico no interior paulista,
tradicionalmente carrega imagens de santos), por seu significado de término, fim de um ciclo, medo da
efemeridade, do que virá. A sombra na porta (5º quadro) evidencia que algo chamou a atenção do
personagem. O último elemento é - ao fundo da metade inferior da página – o detalhe de um pote de tinta
sendo derramado, um acidente, algo que não saiu como o esperado. O photoshop ainda foi utilizado em
algumas onomatopéias.
A última página (terceira), com certeza o ápice da narrativa, foi também a mais difícil, por uma
incapacidade pessoal de desenhar monstros. Aqui, mais do que em todo o restante da HQ, o roteiro foi
essencial. A partir da descrição do Matheus, cheguei a uma imagem virtual que ficava entre um monstro de
Lovecraft e os alienígenas do Distrito 9. No restante, essa página foi simples, valendo ressaltar alguns
detalhes visuais da produção. No segundo quadro o homem se assusta, o motivo seria o surgimento do já
citado monstro, para não representá-lo diretamente (já que o roteiro não pedia) e ao mesmo tempo, não
deixar o susto solto no espaço, utilizei uma sombra, novamente, saindo do aquário, tomando toda a parede,
essa sensação é maximizada pela mancha ascendente existente atrás do quadro. Ao produzir a tipografia da
fala do monstro resolvi usar uma pequena referência/homenagem aos quadrinhos de Gazy Andraus, uma vez
que esse autor trabalha não criando uma situação que mostra reflexão, mas sim direto com a reflexão, achei
interessante usar uma tipografia com semelhanças a sua nesse personagem que é o elemento reflexivo da
narrativa. O photoshop foi utilizado no balão do primeiro quadro (esquecido durante a produção) e no fundo
cinza da página.

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Para conhecer mais o trabalho dos autores visite:
www.misterorror.blogspot.com www.tokadirato.blogspot.com
Guilherme Silveira Matheus Moura
Expediente:
Editor: Matheus Moura - Textos: Matheus Moura e Guilherme E. Silveira - Ilustrações: Guilherme E.
Silveira - Capa: Matheus Moura - Montagem: Matheus Moura.
O fanzine ENCONTRO foi desenvolvido exclusivamente para apresentação no III Seminário Nacional de
Pesquisa em Cultura Visual, realizado na FAV-UFG entre os dias 9 e 11 de junho de 2010. Na feitura
deste foram utilizadas técnicas mistas, com uso de computação gráfica e processos manuais -
como recorte, colagem, pintura e costura.

Para contato com o Editor escreva para: saruom@gmail.com ou pelo endereço


R: Princesa Isabel, # 1578 - Tabajaras - Uberlândia - MG, CEP: 38400-192

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