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RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Relator(a): Min. GILMAR MENDES
Julgamento: 14/12/2016 Órgão Julgador: Tribunal Pleno
Publicação
ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-209 DIVULG 14-09-2017 PUBLIC 15-09-2017
Parte(s)
RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
RECDO.(A/S) : INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA - INCRA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL FEDERAL
RECDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
RECDO.(A/S) : OVIDIO ARAÚJO BARROS E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : MARK SANDER DE ARAÚJO FALCÃO
Ementa
Recurso extraordinário. 2. Constitucional. Administrativo. Cultivo ilegal de plantas psicotrópicas.
Expropriação. Art. 243 da CF/88. Regime de responsabilidade. 3. Emenda Constitucional 81/2014.
Inexistência de mudança substancial na responsabilidade do proprietário. 4. Expropriação de caráter
sancionatório. Confisco constitucional. Responsabilidade subjetiva, com inversão de ônus da prova. 5.
Fixada a tese: “A expropriação prevista no art. 243 da CF pode ser afastada, desde que o proprietário
comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo”. 6. Responsabilidade subjetiva
dos proprietários assentada pelo Tribunal Regional. 7. Negado provimento ao recurso extraordinário.
Decisão
O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do Relator, apreciando o tema 399 da repercussão geral, negou
provimento ao recurso extraordinário, fixando tese nos seguintes termos: “A expropriação prevista no art. 243 da
Constituição Federal pode ser afastada, desde que o proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que in
vigilando ou in eligendo”. Ausente, justificadamente, o Ministro Celso de Mello. Falou pela União a Ministra Grace Maria
Fernandes Mendonça, Advogada-Geral da União. Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 14.12.2016.
Tema
399 - Natureza da responsabilidade do proprietário de terras com cultivo ilegal de
plantas psicotrópicas para fins de expropriação.
Tese
A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que
o proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in
eligendo.
Desapropriação confiscatória
A doutrina denomina este art. 243 de "desapropriação confiscatória" em virtude de
não conferir ao proprietário direito à indenização, como ocorre com as demais espécies
de desapropriação (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito
Administrativo. São Paulo: Atlas, 2016, p. 1044). Outros autores preferem falar em
"confisco" (MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil interpretada e legislação
constitucional. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 2135).
Pressupostos
Existem dois motivos que geram esse confisco:
a) o fato de no imóvel estarem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas; ou
b) o fato de no imóvel haver exploração de trabalho escravo.
Extensão da expropriação
A expropriação irá recair sobre a totalidade do imóvel, ainda que o cultivo ilegal ou a
utilização de trabalho escravo tenham ocorrido em apenas parte dele. Nesse sentido:
STF. Plenário. RE 543974, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 26/03/2009.
Procedimento
As regras e o procedimento para essa expropriação estão disciplinados na Lei nº
8.257/91 e no Decreto nº 577/92. Trata-se de um rito muito célere no qual a Lei
estipula poucos dias para a realização de cada ato processual. Veja abaixo o resumo
do procedimento:
O proprietário poderá evitar a expropriação se provar que não teve culpa pelo
fato de estarem cultivando plantas psicotrópicas em seu imóvel?
SIM.
Mesmo tendo esse dever, poderá provar que não teve como evitar
Esse dever de zelar pelo correto uso da propriedade não é ilimitado, só podendo ser
exigido do proprietário que evite o ilícito quando estiver ao seu alcance.
Assim, o proprietário pode afastar sua responsabilidade demonstrando que não
incorreu em culpa. Ele pode provar, por exemplo, que foi esbulhado ou até enganado
pelo possuidor ou pelo detentor.
Ônus da prova
Importante destacar que cabe ao proprietário (e não à União) o ônus da prova. Em
outras palavras, caberá ao proprietário provar que não agiu com culpa.