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Cláudio José Palma SANCHEZ
1 INTRODUÇÃO
O princípio da reserva legal nasce das idéias iluministas do século XVIII, na teoria
do contrato social. Em nossa primeira Constituição, de 1824, já vinha expresso no artigo
179, inciso XII, o postulado da reserva legal. A Constituição Federal vigente, de 1988,
também consagra tal princípio de maneira explícita no artigo 5, inciso XXXIX, que
preceitua: "Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal".
Dessa maneira, somente a lei antes da ocorrência do fato criminoso pode definir os
delitos e suas respectivas sanções.
O marquês Beccaria6 já nos ensinava, em 1724: "só as leis podem decretar as penas
para os delitos. Esta autoridade não pode residir se não no legislador, que representa
toda a sociedade organizada por um contrato social".
a legalidade substancial seria anterior, e poderia ser mesmo contra a lei, tendo como
fonte uma espécie de direito natural, a ser pesquisado na natureza das coisas. É evidente
que a chamada legalidade substancial implica na negação prática da reserva legal, posto
que só no aspecto formal da lei é que se pode explicitar o princípio em análise.
Não há dúvidas, que o princípio da reserva legal também deve ser observado na
execução das penas, visto ser encontrado na Constituição Federal evidências a esse
respeito, especialmente da aplicação individualizada da pena .
Dessa forma, para que o princípio da legalidade seja observado sem causar prejuízo
à tutela penal de bens coletivos e da própria justiça, é necessário que o legislador
elabore normas claras e precisas, que traduzam os valores e interesses primários dos
cidadãos. Como bem salienta Francesco Palazzo9:
A aplicação abusiva da previsão legislativa penal faz com que ela perca parte de seu
mérito e, assim, sua força intimidadora.
No Brasil, o Código Penal em vigor, de 1940, já teve sua parte especial acrescida
por outros delitos e, ainda, conta com um número considerável de leis penais
extravagantes.
A título exemplificativo, dispõe o artigo 5, inciso XLIX, da Lei Maior, que: "é
assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral". O próximo inciso do
mesmo artigo assevera que: "às presidiárias são asseguradas as condições para que
possam permanecer com seus filhos durante o período da amamentação". Ainda mais
enfatizante é o inciso XLVII, do citado artigo, que dispõe: "não haverá penas: a) de
morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do artigo 84, XIX; b) de caráter
perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis".
O Direito Penal não pode se identificar com o direito relativo a assistência social. Serve
em primeiro lugar à Justiça distributiva, e deve por em relevo a responsabilidade do
delinqüente por haver violentado o direito, fazendo com que receba a resposta merecida
da Comunidade. E isto não pode ser atingido sem dano e sem dor principalmente nas
penas privativas da liberdade, a não ser que se pretenda subverter a hierarquia dos
valores morais, e fazer do crime uma ocasião de prêmio, o que nos conduziria ao reino
da utopia. Dentro dessas fronteiras, impostas pela natureza de sua missão, todas as
relações humanas disciplinadas pelo direito penal devem estar presididas pelo princípio
da humanidade.
A Carta Magna em vigor disciplina no artigo 5, inciso XLV que: "nenhuma pena
passará da pessoa do condenado (...) ".
A pena não se pode estender a pessoas que não participaram do delito, ainda que
haja laços de parentesco, afinidade ou amizade com o condenado.
Não se pode olvidar, contudo, que a pena pode gerar danos e sofrimentos a
terceiros, em especial a família. Assim, determinadas legislações vêm disciplinando a
criação de institutos que auxiliam tanto a família do sentenciado, como a vítima do
delito.
A lei 7.210, de 11 de julho de 1984 ( Lei de Execução Penal ) dispõe em seu artigo
22, inciso XVI, que cabe ao serviço social "orientar e amparar, quando necessário, a
família do internado e da vítima". Ainda, no artigo 29, parágrafo 1, "b", impõe que o
produto da remuneração do trabalho do preso deverá atender "a assistência à família",
entre outros objetivos.
No primeiro momento, a lei delimita as penas para cada tipo de delito, guardando
proporcionalidade com a importância do bem jurídico defendido e com o grau de
lesividade da conduta. Nesta fase, ainda, se estabelece as espécies de penas que podem
ser aplicadas, de forma cumulativa, alternativa ou exclusiva. Além disso, estabelece
regras que possibilitam ulteriores individualizações.
A respeito desta última fase, assevera Aníbal Bruno17: "aí é que a sanção penal
começa verdadeiramente a atuar sobre o delinqüente, que se mostrou insensível a
ameaça contida na cominação".
A Lei Maior traz alguns preceitos que devem ser respeitados na etapa executória.
No artigo 5, inciso XLIX, diz ser "assegurado aos presos o respeito a integridade física e
moral". Já no inciso XLVIII, do mesmo artigo, se impõe que o cumprimento da pena se
dará em estabelecimentos que atendam "a natureza do delito, a idade e o sexo do
apenado".
Não se pode olvidar, que nos tempos atuais, têm se elaborado tipos penais
indeterminados e abrangentes, elencando um amplo rol de fatos caracterizados como
crimes. Mas, não se pode negar que tal atitude enseja um perigoso grau de
arbitrariedade e discricionariedade do aplicador do Direito, sendo oportuno salientar,
que tal corrente vem perdendo adeptos apontando para o caminho de um Direito Penal
Mínimo.
o Direito Penal deve ser uma coisa seríssima. Não pode ser um instrumento qualquer a
serviço da política. Tem que ser uma coisa acima da política. Não deve mudar quando
mudam os regimes políticos - da democracia para a ditadura e vice e versa. Só deve
visar comportamentos absolutamente inaceitáveis em qualquer tipo de sociedade.
Assassinato. Estupro. Atos atrozes cometidos por uma pessoa contra outra. Ponto final.
Não, ponto final, não. Esta tese do Direito Penal mínimo defendida hoje por colegas
excelentíssimos como Alessandro Baratta e Wolfgang Naucke, e, menos radicalmente,
por parte de Winfried Hassener e de Peter-Alexis Albrecht, implica a sub-tese da
absoluta necessidade do Direito Penal nesta área limitada. Eu acho - junto com alguns
dos chamados abolicionistas como Louk Hulsnan, Nils Christie e outros - que o Direito
Penal não tem a estrutura adequada para lidar com as complexidades deste tipo de
comportamento grave em situações dificílimas. Não é muito sensato deixar a burocracia
jurídica tentar tratar destas situações. Existem métodos não-estatais para dar mais
satisfação às vítimas, atribuir culpa e responsabilidades como mais certezas, e para
chegar a um resultado positivo para todos os indivíduos e para o público atingido e
interessado.
Um número maior de leis penais incriminadoras, por vezes, pode gerar a realização
de uma justiça substancial e responder aos anseios de uma sociedade que busca, a
qualquer custo, diminuir o índice de criminalidade, mas, por outro lado, pode significar
a existência de tipos penais iníquos e instituir penas vexatórias à dignidade da pessoa
humana, desatendendo ao critério de razoabilidade.
Contudo, será que o legislador poderia escolher qual comportamento que, a seu ver,
mereça punição, sem levar em conta qualquer critério ? Efetivamente não. Deve ele
respeitar, em primeiro lugar, a Constituição Federal e seguir a orientação traçada pelos
princípios valorativos, alguns deles já explicitados neste trabalho.
Nada adianta fazer do Direito Penal a tábua de salvação para a violência urbana no
Brasil, se a causa dessa violência não for estudada e tratada. O máximo que se vai
conseguir com isso é ignorar o princípio constitucional da dignidade da pessoa
humana - na medida em que a pena criminal estará sendo colocada na vitrine para ser
utilizada indiscriminadamente - e o descrédito do próprio Direito Penal, que vai, a
cada dia, se vulgarizando, contribuindo, assim, com o jargão de que o Brasil é o país
da impunidade.
a intervenção penal não pode ter uma missão expansionista: deve ser necessariamente
mínima, expressando, apenas e esclusivamente, a idéia de proteção de bens jurídicos
vitais para a livre e plena realização da personalidade de cada ser humano e para a
organização, conservação e desenvolvimento da comunidade social em que ele está
inserido.
Entretanto, o sistema penal brasileiro começa a dar sinais de reação, com a adoção
do chamado Novo Modelo de Justiça Penal, que é reivindicado pela moderna
Criminologia e que enfoca o delito fato interpessoal e histórico, com repercussão direta
para todos os envolvidos no conflito. Nesse diapasão, o primeiro passo se deu com a
edição da Lei de Juizados Especiais Criminais ( Lei n. 9.099/95 ), que regulamentou
institutos despenalizadores. Recentemente, a chamada Lei das Penas Alternativas ( Lei
n. 9.714/98 ) que aumentou o âmbito de incidência das penas restritivas de direitos, em
detrimento das privativas de liberdade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa forma, pode-se concluir que os princípios constitucionais penais são suporte
básico para o legislador buscar cada vez mais o aprimoramento da criminalização das
condutas, de tal forma que o Direito Penal alcance a finalidade precípua de atuação
eficaz na realização da paz social, não se afastando, contudo, das garantias e direitos
fundamentais assegurados a todos os cidadãos.
Por outro lado, se tem como certo que o Direito Penal tem como finalidade tutelar
bens jurídicos relevantes para a sociedade, que não encontram em outros ramos do
direito amparo efetivo.
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