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para o
desenvolvimento
agrícola
dos países ACP
N.o 48
Abril 2002
Finanças e desenvolvimento
Os escassos anos que se seguem 3
PALOP 6
BREVES 8
REFERÊNCIAS 11
PUBLICAÇÕES 12
ENTRE NÓS 14
PONTO DE VISTA
Foto: V. Audet © Sunset
Informação profissional
Uma questão de confiança 16
D
estar sempre a cair, todavia os baixos ezembro de 2001. O mercado do ca- res retomam as suas vãs tentativas para conse-
níveis no ano passado foram objecto de cau de Mbanga, a noroeste de Douala, guir um melhor preço.
uma ligeira recuperação. Como enfrentar o porto mais importante dos Cama- A mudança para o café é confirmada mais
com êxito esta incerteza, é o assunto do rões, foi visitado por participantes de um semi- tarde por alguns jovens camponeses, cuja língua
artigo principal. E do nosso segundo nário do CTA sobre organizações de agriculto- se solta após a partida dos mais velhos e dos par-
artigo também, olhando para a forma res. Meia dúzia de produtores entregavam sacos ticipantes do seminário. Segundo um agricultor,
como as inconstâncias e as modas às mãos robustas do comerciante que carregava ou terão de mudar para o café ou ir para a cidade.
afectam as ajudas. o camião . Mais tarde, o vulgarizador local fala apaixo-
“Muito em breve já não precisará de voltar”, nadamente da necessidade de um serviço de in-
Protegermo-nos a nós próprios contra a
avisam os agricultores. “Estamos a abandonar o formação de mercado, para criar consciência do
irregularidade é com certeza necessário.
cacau porque perdemos muito dinheiro e temos preço e permitir correctas decisões por parte
Mas atenção! Há caminhos
famílias para sustentar. Vamos para o café que dos produtores, tais como se devem de facto
aparentemente por explorar e a lição da é muito mais seguro”. Desencadeia-se uma dis- mudar para o café. No seu escritório encontra-
“roça do forro” está ainda por tirar. cussão, o carregamento pára, a tensão aumenta, mos a Spore 95 (Esporo 45), com um artigo que
até ser quebrada por duas participantes, tam- explica porque é que 20 milhões de produtores
bém elas vigorosas, que sem medo de partir as desesperadamente desistem do café devido à
unhas ou estragar os vestidos, carregam um saco queda dos preços. “Após dois anos em queda
pela escada oscilante do comerciante. Risota livre, que ainda não terminou, os produtores
geral. O carregamento recomeça e os produto- não podem produzir mais a estes preços”.
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Crise das matérias-primas •
Este tipo de confusão, saltando de mal para para 2003? E que no final de 2005 irão perder mais tempo. Outros têm esperança nos nichos
pior, não facilita a análise da última “crise das 10%, situando-se assim 40% acima dos preços de mercado dos chocolates biológicos do Gana
matérias-primas”. É ir a qualquer mercado; de 2000? Provavelmente sim, mas quem o ga- ou dos cafés requintados dos novos produtores
abrir qualquer jornal financeiro, ouvir o dis- rante? de Vanuatu, que têm de competir com as ex-
curso de qualquer ONG; discutir com qualquer Estas projecções de preços, eventualmente celentes colheitas especializadas da Jamaica e
ministro das finanças e em poucos instantes se confusas, são meras expectativas dependendo da Etiópia. Infelizmente, nem todos podem
ouve a expressão “crise das matérias-primas”. de muitos factores. Incertezas similares verifi- usufruir dos nichos.
Mas alguma vez não foi assim? cam-se para os preços de qualquer outra com- O elemento que falta agora, como a Esporo
De facto, estas crises são cíclicas, alternando modity agricola, quer se trate do sorgo (relati- já referiu, são os seguros. Durante séculos, os
bons e maus períodos, com duração de anos vamente estável nos últimos dois anos), do intermediários de commodities protegeram-se
ou décadas.O que não serve de consolo para algodão ou do amendoim (regularmente em contra as flutuações excessivas de preços com
agricultores gravemente endividados, que ape- baixa). A variação de preços é da máxima im- planos de seguros. Porque não os produtores?
nas têm como perspectiva, a contração de mais portância em muitos países ACP, onde os pro- O método mais simples é “precaver-se”, mi-
dívidas. As subtilezas dos “ciclos de preços das dutos agrícolas têm grande peso nas receitas de nimizando as perdas ao contrabalançar um
matérias-primas” relatadas por historiadores exportação. Qualquer alteração nos preços tem risco com outro. Entre o campo e o armazem,
económicos, pouco significado têm quando a um impacto directo na vida das pessoas, quer um produtor (ou grupo) faz um acordo com
realidade se torna cada vez mais dura. produzam ou não culturas de rendimento: em
O café testemunhou a mais dramática queda muitas zonas da África Ocidental, por exem-
de preços das matérias-primas dos últimos tem- plo, os produtos de primeira necessidade re-
pos, caindo em média 70% desde 1997. Mas presentam entre um terço a metade do orça-
que média desanimadora. Este preço baseia-se mento familiar.
num “cabaz” com todos os tipos de café do
mundo – robustas, arábicas naturais, arábicas A esperança é apenas
aromáticos e outros – cujos preços diferem con- uma casa décimal
sideravelmente dependendo do local de produ-
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• Finanças e desenvolvimento
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Conversações recentes
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mobiliza- Pa sobre um segundo Plano
Estará o conceito de ajuda dos pelos Pre
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Marshall, para África, não
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a tornar-se desactualizado? próprios agri- F ot o levam em conta as realidades
cultores”. A cons- de compromissos externos pouco
Seria melhor para tante incapacidade do
O Banco Mundial
poderia aprender sinceros e a inadequada capacidade de
a agricultura encorajar Ocidente de responder às aqui alguma coisa. absorção interna. A Nova Associação Econó-
necessidades de ajuda iden- mica para o Desenvolvimento de África, com
o “investimento interno”. tificadas, é vista como uma mensagem preo- ênfase em fundos internos, é mais realista.
cupante por muitos países ACP. A ajuda ex-
D
a mesma forma que o comprador ve- terna que lhes corresponde representa uma Investir, investir
rifica se não existem pedras misturadas pequena mas determinante fracção do con-
O desenvolvimento seria melhor com menos
no saco de feijões que vai adquirir, sumo corrente e do investimento. Mas isto terá
ajudas? Poderá bem ser assim. Certamente que
muitos diplomatas têm um instrumento para de mudar.
as alternativas parecem dar melhores resulta-
medir a sinceridade das declarações políticas nas A ajuda externa oriunda do Ocidente tem
dos, se o terreno do jogo estiver em condições.
conferências mundiais. Designa-se teste dos vindo a reduzir-se constantemente. Em 2001,
Comércio e não ajudas, como dizia o slogan de
“novos fundos” e tem sido presentemente caiu para 56,8 mil milhões € (51,4 mil mi-
1964, pode ser mais recompensador e dura-
muito utilizado. Na actual série de cimeiras lhões US$), representando 0,22% do produto
douro em condições difíceis: comércio justo,
mundiais para erradicar a pobreza, combater a nacional bruto (PNB) do Ocidente, sendo que
realismo em não exportar demasiada biomassa
fome, ou impulsionar a investigação agrícola, há dez anos atrás se cifrava em 0,33%. As
para demasiado longe e abolição de subsídios
surgem usualmente um conjunto de promessas metas originais de 0,7% estabelecidas nos anos
disparatados à agricultura Ocidental.
governamentais e de parceria, para aplicar mais 70, com excepção de alguns países do Norte
A segunda alternativa é o investimento di-
recursos nos domínios em questão. Na maior da Europa, revelaram-se irrealistas.
recto estrangeiro, já maior que todas as ajudas,
parte dos casos não se trata de fundos novos ou Fizeram-se novas promessas na Conferência
públicas e privadas. No entanto, a agricultura
adicionais, mas de uma reafectação ou alteração das Nações Unidas sobre Financiamento para
não é considerada um investimento seguro, em
do nome de fundos existentes. o Desenvolvimento, realizada em Monterrey,
parte porque os rendimentos estão sujeitos a
Num encontro em Março de 2002, um México, em Março de 2002. Os Estados Uni-
cotações comerciais muito variáveis. Existem
frustrado negociador ACP que ficou, talvez dos da América comprometeram-se a aumen-
contudo amplas oportunidades de investir ren-
simbolicamente, num aposento de atmosfera tar a sua ajuda em 5 mil milhões US$ por ano,
tavelmente em pontos chave da cadeia alimen-
abafada e inebriante em Nova Iorque, a pre- através de novos fundos, a partir de 2006. Os
tar: processamento, embalagem, distribuição e
parar a agenda para a Cimeira Mundial de membros da União Europeia fizeram promes-
marketing, para referir apenas alguns.
Agosto de 2002 sobre Desenvolvimento Sus- sas públicas semelhantes. Em conclusão: as
O agricultor informado, as organizações de
tentado (CMDS), disse à Esporo: “Por vezes ajudas vão aumentar para 0,24% do PNB. Um
agricultores e as agências de investigação fa-
nem se trata da velha questão de vinho velho bonito troco, mas não mais do que isso.
riam bem em captar investimento externo, e
numa nova garrafa. Apenas se muda o rótulo”.
não apenas fundos de ajuda, como suplemento
A imagem de manter promessas com uma luz O dilema dos doadores para os seus esforços hercúleos. A experiência
ao longe, para ver se existem “novos fundos”, Contudo, para as nações doadoras, não é existente em micro-finança, poupança, crédito
é um triste reflexo no estado actual da solida- apenas uma questão de restringir o orçamento e seguros, pode providenciar a destreza finan-
riedade internacional e dos interesses próprios. da ajuda, face à pressão de prioridades domés- ceira básica para captar o investimento. Fazer o
ticas e à crescente resistência da opinião pú- dinheiro funcionar, em vez de correr atrás do
Tudo é relativo blica. A bem da verdade, e é uma verdade que dinheiro para equilibrar as contas, é a próxima
Esta desvalorização da cooperação interna- qualquer ministro das finanças ou do desen- etapa do desenvolvimento financeiro. Na rea-
cional será triste, mas não é necessariamente volvimento dirá em privado, é difícil aplicar lidade, apenas é necessária uma nova atitude.
fatal. Na maior parte dos países em desenvol- adequadamente todos os fundos de ajuda. Isto Ver Referências, p. 11
vimento o investimento estrangeiro não chega tem a ver com a chamada subutilização. Há li-
a um quinto do investimento total. Ao con- mitações organizacionais neste processo, daí as
trário do que se julga à primeira vista, a maior
parte do investimento provém de financia-
recentes modas da “capacidade de utilização”.
O dilema dos doadores é serem acusados de ICI BIENTÔT
Ilustração: M. Tanguy © Louma Productions
mento local e do capital humano. É o caso da uma ajuda aparentemente pouco empenhada, UNE PRÉ-ÉTUDE DE FAISABILITÉ
agricultura e do desenvolvimento rural que, ou de uma realização orçamental insuficiente: POUR ENVISAGER LA POSSIBILITÉ
DU FINANCEMENT INTERNATIONAL D'UN APPUI
mesmo lutando contra a maré, estão testemu- em resumo, subempenhamento ou subutiliza- AUX INVESTISSEURS REGIONAUX POUR
nhando a erosão do investimento externo. ção.
Dados recentes do Banco Mundial mostram
que os gastos com a agricultura recuaram de
Tal como se apresenta, a ajuda comunitária
oficial e não governamental é frequentemente
UNE USINE DE
um quarto do orçamento das instituições, para
menos de um décimo. Os inputs nacionais são
francamente mais significativos, mas poucos
acusada de criar um sector paralelo na econo-
mia do país em desenvolvimento. Dispõe de
infra-estruturas próprias de educação, trans-
TOMATES SA
C
R
IN
países em desenvolvimento afectam mais de porte, habitação, prioridades, subvenções, co- FOA CLISS CRAD DRU SACRIN
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Ervas daninhas e seu controlo
Se as não consegue
controlar, substitua-as
As ervas daninhas não se deixam dominar facilmente. Mesmo após
serem sachadas vezes sem conta, elas voltam a rebentar, arruinando
onde são verdadeiramente indesejadas, seja por- fere estas ervas ao milho. Usam-se duas
que competem com as culturas pelos nutrientes, outras ervas daninhas para repelir as bro-
água e luz, ou porque são venenosas. A maior cas: a erva do mel (Melinis minutifolia) ou
desmodium de folha prateada (Desmo-
parte dos agricultores fazem por conseguinte uma
dium uncinatum).
distinção entre infestantes úteis e prejudiciais. O truque é localizar ervas repelentes no
As “infestantes úteis” – poderá levar algum interior dos campos de milho para afu-
tempo a habituarmo-nos a este termo – são as usa- gentar as brocas, e as ervas-armadilha no
A
pesar dos seus nomes bonitos e esotéri- das para fins medicinais, como forragem para os perímetro. As brocas ficam presas na
animais e ervas para a cozinha. Ou podem ser as substância pegajosa que estas ervas-ar-
cos, tais como “ambrosia-das-boticas
madilha produzem.
espinhosa” ou “o chicote do cavalo de plantas que repelem pragas das culturas, fixam o O capim elefante e a erva do Sudão são
satanás”, as ervas daninhas são mais devastadoras azoto no solo ou protegem-no contra a erosão. também usadas como forragem. A erva do
do que suas companheiras, as pragas de insectos, Enquanto não competirem demasiado com as cul- mel repele não só as brocas, como as car-
as bactérias ou os vírus. Causam fenomenais pre- turas, permite-se que cresçam com aqueles objec- raças. Contudo, o desmodium parece ex-
juízos na agricultura, especialmente em zonas tro- tivos. Simultaneamente procede-se ao controlo ceder as suas colegas em utilidade. Fixa o
nitrogénio no solo, é uma importante
picais, onde são responsáveis por um quarto das das infestantes, o que significa arrancar as ervas fonte de forragem, repele as brocas, e o
perdas das colheitas. Combatê-las também con- que são prejudiciais, tóxicas, ou que não têm qual- mais surpreendente: também repele outra
erva daninha, a striga (ver outra caixa). Ex-
perimentalmente constatou-se uma infes-
As piores infestantes do mundo tação de striga 40 vezes menor em campos
de desmodium – milho, quando compara-
dos com monocultura de milho.
69% das infestantes terrestres são de folha larga, 23% são gramíneas, 6% são junças (com O Centro Internacional de Fisiologia e Eco-
caules e folhas tipo gramínea e pequenas flores) e 2% são fetos. As infestantes abaixo indi- logia de Insectos ( International Centre for
cadas ocorrem sem excepção nas zonas tropicais e subtropicais e encontram-se nas terras altas Insect Physiology and Ecology), sediado
cultivadas. A mais conhecida infestante aquática é o jacinto de água (Eichhornia crassipes). em Nairobi, desenvolveu, testou e disse-
Nome botânico nome comum minou com sucesso, o sistema combinado
Cyperus rotundus Junça de conta de culturas consorciadas. Pequenos agri-
Cynodon dactylon Grama cultores e grandes explorações comerciais
Echinochloa crus-galli Crista de galo, Milhã pé de galo da Etiópia à Tanzânia estão a plantar des-
Echinochloa colonum Arroz do mato (nas terras baixas e arrozais) modium nos seus campos de milho. Uma
consequência do sucesso é a emergência
Eleusine indica Erva de ganso
de uma nova oportunidade de fonte de
Sorghum halepense Erva de Alepo
rendimento: a venda da semente de des-
Imperata cylindrica Língua de vaca (frequente nas culturas arbóreas)
modium.
Portulaca oleracea Beldroega
Em Togo e Benin, Mucuna spp. Tem sido
Chenopodium album Pé de ganso, Ambrósia das boticas
utilizada como cultura de cobertura para
Digitaria sanguinalis Milhã digitada
restaurar a fertilidade do solo e reduzir a
Convolvulus arvensis Corriola, verdisela infestação por ervas. Tem tido sucesso, es-
Amaranthus hybridus Gimboa pecialmente em áreas rurais de elevada
Amaranthus spinosus Amaranto espinhoso densidade populacional, onde a pressão
Cyperus esculentus Junquinha mansa sobre a terra é grande e os períodos de
Paspalum conjugatum Erva creola (frequente nas culturas arbóreas) pousio são curtos. A plantação de mucuna
Rottoboelia conchinchinensis Erva da sarna durante o período de pousio melhorado
Baseado em: suprime a infestação de língua de vaca
Weed management in the humid and sub-humid tropics (Imperata cylindrica) mas também é culti-
por P J Van Rijn, Royal Tropical Institute, Netherlands, 2001. 245 pp. ISBN 90 6832 123 4 € 31.31 vada em consorciação com o milho. A téc-
KIT Press, PO Box 95001, 1090 HA Amsterdam, Netherlands nica tem-se propagado rapidamente e a
Fax: + 31 20 568 82 86 venda de sementes de Mucuna é um ne-
Email: publishers@kit.nl gócio em expansão.
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• Ervas daninhas e seu controlo
quer tipo de utilidade, nem mesmo como com- plica como distinguir ervas daninha dos vegetais: retirá-las manualmente ou mecanicamente. À
posto ou combustível. Em pequenas explorações “Se vir alguma coisa crescer, arranque. Se crescer medida que o tempo passou, a resistência aos
agrícolas, as ervas são encaradas de forma diferente de novo é uma erva daninha”. Uma característica herbicidas aumentou bem como a consciência
das grandes plantações ou explorações comerciais das ervas daninhas é crescerem e propagarem-se dos aspectos ambientais e sanitários dos agro-quí-
onde qualquer planta que não a cultura desejada rapidamente. “Sweet flowers are slow and weeds micos. Entretanto, as ervas daninhas iam literal-
é designada de erva daninha, seja útil ou não. make haste” (As flores delicadas são lentas e as mente ganhando terreno. De ano para ano,
ervas daninhas são fulgurantes), como escreveu quanto mais herbicidas se aplicava maiores eram
As ervas daninhas são fulgurantes Shakespeare. As ervas daninhas produzem anual- as perdas causadas pelas infestantes.
mente uma grande quantidade de sementes que Basicamente, o controlo das infestantes gira
Cerca de 8000 plantas em todo o mundo são frequentemente mantem a sua capacidade germi- em torno de cinco tipos de medidas. A utilisação
correntemente consideradas verdadeiras ervas da- nativa durante muitos anos. Por exemplo, a Ama- de herbicidas é uma. Os herbicidas têm o incon-
ninhas e destas, uma pequena elite de 250 são ranthus spp produz mais de 235 000 sementes em veniente de serem caros e em alguns casos peri-
consideradas como as mais nocivas ou prejudi- cada ciclo vegetativo e é considerada por muitos gosos, para além de outros inconvenientes. A
ciais de todo o mundo. Obviamente não irá en- agricultores como uma infestante incómoda, ape- aplicação de fertilizantes é outra forma – igual-
contrá-las todas na sua exploração. Afinal de con- sar de ter sido uma base alimentar na América mente dispendiosa – de controlar quimicamente
tas, uma infestante pode ser prejudicial ou hostil Central durante mais de 4000 anos. As ervas da- as infestantes, melhorando a fertilidade dos solos.
para com outra. E como qualquer outra planta, ninhas perenes propagam-se vegetativamente – As medidas biológicas apresentam-se como uma
têm as suas preferências relativamente à tempera- através das raízes, tubérculos, rizomas ou lan- segunda via para o controlo das infestantes. O re-
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Palop •
A
cultura do cacau foi introduzida em cessidade de encontrar alternativas para a agri- dioca (Manihot esculenta), a batata-doce (Ipo-
1822, e embora as grandes plantações cultura santomense sem preconceitos de qual- mea batatas) e o milho (Zea mays); e um sé-
só se tenham desenvolvido cerca de 50 quer espécie e à luz da realidade actual. timo andar de herbaceas expontâneas não co-
anos depois, fizeram-no a ritmo tal que, nos É conhecida a estrutura, aliás ecologica- mestíveis como a erva da fortuna (Tradescantia
anos 20 do século passado, S. Tomé foi o maior mente correcta, das plantações de cacau, onde virginiana), os Panicum sp. e muitas mais, a
produtor mundial, e a especulação era então tão há a registar a existência de um andar de “en- que há ainda que acrescentar as trepadeiras
rendosa para os seus promotores, em parte gra- sombramento” de essências florestais tais como atravessando vários andares, e de que são
ças às elevadas cotações da época, que a palavra a eritrina (Erythrina sp.), a acácia preta (Pithe- exemplo a baunilha (Vanilla planifolia), a pi-
“cacau” ficou no léxico como sinónimo de ri- colobium saman), o marapião (Fagara sp.) e ou- menteira (Piper nigrum), o inhame (Discorea
queza. Essa realidade marcou profundamente a tras, responsáveis pela defesa e manutenção da sp.) e o maracujá (Passiflora sp.). A esta produ-
paisagem agrícola do país, caracterizada à data fertilidade do solo, de um andar produtivo ção acresce ainda a criação de pequenos ani-
do Recenseamento Agrícola de S. Tomé e Prín- ocupado pelo cacau (Theobroma cacao), e de mais (porcos, cabras, patos e galinhas).
cipe (1961-65), pela alocação de 93% do terri- um estrato inferior que se procura controlar. Tanto no período colonial, como posterior-
tório a pouco mais de três dezenas de empre- mente durante a vigência das empresas estatais,
sas, dedicadas quase exclusivamente à produção A biodiversidade fundamenta a “roça de cacau” e a “roça do forro” tinham
de cacau, explorando as grandes e bem cuida- novas opções objectivos diferentes, como refere o citado
das “roças coloniais”, que depois da indepen- autor, em artigo datado de 1983: “Num caso
dência do país deram lugar a 15 grandes em- Na “roça do forro”, conceito que engloba explora-se um produto rico (?), que não é con-
presas estatais, restando para a população uma enorme variabilidade, pode definir-se a sumido no território, mas cuja exploração pos-
apenas 7%, cerca de 5305 ha, repartidos por existência de até sete andares de vegetação, a sibilita as divisas necessárias à compra no exte-
1100 pequenas empresas familiares, designadas, saber: um primeiro de árvores de madeira rior de bens de consumo, com relevância para
por vezes com um sentido depreciativo, por como a amoreira (Clorofora excelsa), o pau cai- os alimentares. No outro, produz-se bens ali-
“roças do forro”. mentares que poderão satisfazer
Note-se que à data do Recenseamento Agrí- grande parte das necessidades do
cola, os tempos de ouro do cacau já há muito país, mas não se exporta, ou exporta-
tinham passado, mas as cotações eram ainda, se menos, e poderá não haver en-
em termos reais, 3 ou 4 vezes superiores às ac- trada suficiente das tão indispensá-
tuais, o que permitia manter a solvabilidade fi- veis divisas.”
nanceira e, sublinhemos, o prestígio local do Mas esta dualidade persistirá ne-
Foto: Carvalho Rodrigues
modelo monocultural representado pela “roça cessariamente nos dias de hoje, após
colonial”, face à “roça do forro”, exploração o processo de distribuição de terras?
familiar voltada sobretudo para a produção de A resposta é claramente não. Pode-
bens alimentares, uma policultura assente em mos dizer que todo o contexto se al-
diversos andares de vegetação, com aspecto de terou. A grande maioria das terras do
aparente abandono. país estão hoje nas mãos dos peque-
Um olhar abrange quatro andares: a palmeira,
a bananeira, o cacaueiro e a matabala.
nos e médios agricultores; o cacau e
Mas… os rendimentos as “comodities” em geral não encon-
xão (Urophyllum insulare), o ocá (Ceiba pen- tram em S. Tomé condições de competitivi-
eram equiparáveis
tandra), as atrás referidas e tantas outras; um dade no contexto do mercado mundial; há
Mas factos são factos, e o Eng. Carvalho segundo andar, confundindo-se parcialmente ainda que considerar não apenas a necessidade
Rodrigues, então responsável pela condução do com o anterior, de grandes árvores de fruto de alimentar uma população em rápido cresci-
Recenseamento Agrícola, provou, através dos como a palmeira dendem (Elaeis guineensis), a mento, mas também o que tal significa em ter-
inquéritos e de contas de cultura, que “… con- fruta-pão (Artocarpus communis), a jaqueira mos de mercado para os agricultores; e final-
trariamente à opinião geral, os rendimentos (Artocarpus integer), o coqueiro (Cocos nuci- mente a oportunidade de explorar os mercados
eram equiparáveis, com a diferença de que a fera), a mangueira (Manguifera indica) e ou- dos países de região, que se podem configurar
pequena roça produzia uma variada gama de tras; um terceiro andar de pequenas árvores de como seguros e remuneradores, desde que se
produtos alimentares, com um mínimo de in- fruto como o safuzeiro (Pachylobus edulis), o explorem segmentos que estejam ao abrigo da
vestimento e de trabalho, e a grande roça pro- abacateiro (Persea americana), a anoneira desenfreada concorrência internacional que
duzia principalmente um produto de exporta- (Anona sp.) e outras; um quarto andar de gran- abrange as “comodities”.
ção, rico é certo, mas a poder de muito des herbáceas com bananeiras de muitas varie- Assim, no actual estádio de desenvolvimento
trabalho e investimento.” dades (Musa sp.), a papaieira (Carica papaya), de S. Tomé, o que se torna necessário é en-
Nos tempos actuais, dada a concorrência a cana-do-açúcar (Saccharum officinarum), etc.; contrar a forma de mobilizar os agricultores
que se regista no mercado mundial, onde o um quinto andar de arbustos de grande e para a criação de riqueza, sabendo que nem
cacau tem cotações muito baixas, um estudo médio porte como o cacaueiro (Theobroma eles, nem o país, dispõem de recursos finan-
equivalente nem é necessário, pois a monocul- cacao), o cafeeiro (Coffea sp.) e a goiabeira (Psi- ceiros que permitam optar por sistemas de
tura do cacau, em especial na sua forma tradi- dium guajava); um sexto andar de herbáceas produção que apontem para investimentos in-
cional de produção em S. Tomé, atravessa comestíveis como a matabala (Xantosoma sagit- tensivos, aliás de mais que duvidosa rentabili-
uma clara crise sem solução à vista. Daí a ne- tifolium), o ananás (Ananas sativus), a man- dade nas condições locais.
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• Palop
É possível explorar como um ponto de partida, viável e sólido, mas Promover a tracção animal
os mercados regionais que permite porém a exploração futura de mu-
itos percursos evolutivos. Esses apoios passam ao nível da exploração,
Ora se repararmos bem, dentre as multiplas
Trata-se efectivamente de equacionar o fu- pela resolução dos problemas do transporte, da
actividades que o padrão atrás enunciado para
turo, mas como poderemos constatar, o futuro parcela até à estrada, de produções que da
a “roça do forro” exibe, figuram diversas pro-
já existe. Começou logo a manifestar-se à data ordem de centenas de kg/ha no caso do cacau,
duções susceptíveis, pelas razões indicadas, de
da distribuição das terras aos pequenos agricul- passam para algumas ton/ha para as produções
terem procura suficiente e preço atractivo nos
tores, que ao procederem à recuperação das diversificadas que são possíveis ( sobretudo se
mercados regionais, e que paulatinamente, em-
plantações envelhecidas de cacau que lhes considerarmos a produção de raízes), o que
bora umas mais rapidamente do que outras, po-
foram atribuídas, começaram logo, a par da res- aconselha a que se pense enviabilizar a tracção
derão ir ganhando expressão pela mão dos agri-
sementeira de cacau, a produzir banana, mata- animal.
cultores santomenses, nas terras que lhes foram
distribuídas. bala, mandioca, e praticar outras culturas, ao
Este sistema poderá englobar numerosos mo- mesmo tempo que as “palaiés” levaram até ao Mobilizar apoios à exportação
delos de exploração, em que a composição dos Gabão, aos Camarões e até a Angola, tudo o
andares produtivos varia, devido não só a im- que de disponível para exportação se vai pro- Por outro lado urge o apoio às iniciativas de
perativos da ecologia local, com variações tão duzindo em S. Tomé. exportação, quer ao nível do transporte marí-
vincadas quanto a panóplia dos regimes climá- E é importante assim interpretar esta tendên- timo, quer à criação de entrepostos para a co-
ticos vigentes no país (de sub-húmidos secos, a cia expontânea e dar-lhe o devido relevo, pois mercialização dos produtos santomenses nos
super-húmidos), mas também em função das ela parece indicar o caminho a seguir. Tanto portos de destino, quer ainda à resolução de
múltiplas escolhas possíveis relativamente às mais que estas acções individuais, realizadas por questões cambiais.
culturas a considerar na consociação, o que tem numerosos agricultores para a satisfação das suas Em conclusão, para que a agricultura santo-
sobretudo a ver com a forma como os agricul- necessidades, só poderão vir a ser ampliadas no mense possa cumprir a sua missão económica
tores queiram corresponder às solicitações do sentido de levar à criação de grandes excedentes e social, tem de se remodelar corajosamente,
mercado e ao maior ou menor grau de intro- de produção destinados ao consumo interno e mas felizmente que não lhe são estranhas as
dução de factores de produção exógenos, bus- aos mercados regionais, se alguns estrangula- bases necessárias a que esse processo prossiga
cando graus diversos de intensificação produ- mentos forem removidos, mediante apoios con- com êxito, assim não faltem os apoios de que
tiva. O sistema deve assim ser encarado apenas cretos à produção e à comercialização. necessita.
T
rês questões subjugam hoje, de forma brevivência, não consentâneos, muitas vezes, Mundo Ibérico, realizado em Lisboa, nos pas-
dramática, o continente africano: a doen- com os objectivos do desenvolvimento. A cor- sados dias 11 a 13 de Dezembro, onde se pro-
ça, a guerra civil e o disfuncionamento da rupção generalizada não deixa também de ser curou fazer uma análise crítica e um balanço
sociedade. Epidemias como o paludismo e a sida, uma manifestação deste fenómeno. das escolhas, tanto teóricas como práticas, que
e os permanentes conflitos armados que devas- É evidente que a dimensão desta tragédia nortearam as políticas de cooperação dos paí-
tam o continente, bloqueiam drasticamente as exige uma resposta adequada, e esta pressupõe ses ibéricos, no espaço africano, no último
não só que se concretizem profundas mudan- quartel do século XX.
ças no seio das comunidades africanas, em ter- Mas a conclusão profunda deste fórum, que
mos políticos e institucionais, mas ainda que embora visando a cooperação dos países ibéri-
um tanto a contraciclo (e o artigo da p. 3 deste cos é obviamente generalizável, foi no sentido
Esporo constitui um oportuno alerta para essa de afirmar que, nos dias de hoje, no âmbito das
realidade), se clame pela necessidade de imple- relações de cooperação, não há lições a dar, de
mentar formas mais ajustadas e eficazes de co- parte a parte, mas muito trabalho em comum
operação, capazes de equacionar corajosamente a desenvolver. Será que a poderemos igual-
as razões profundas do desequilíbrio deste mente identificar como subjacente às conclu-
mundo em que vivemos. sões da Conference on Financing for Development
Efectivamente é neste contexto que são organizada, em Março passado, pela ONU em
“… compreensíveis os apelos dos dirigentes Monte Rei (México)?
dos países mais pobres e dos movimentos e or-
ganizações internacionais que os enquadram, Citações: Ingenium – Rev. da Ordem dos
Engenheiros, Nov 2001 e Documentação
designadamente dos que convidam, a que em do III Congresso de Estudos Africanos
vez de se proceder ao pagamento da “dívida no Mundo Ibérico, Dez 2001.
externa” se pague a “dívida ecológica”, inver-
tendo assim o ónus da “dívida” que caracteri-
zou a relação entre os países industriais e os
De Angola
Foto: Humbi-Humbi
ESPORO 48 • PÁG. 7
Breves •
Nova praga de lagartas
Mandioca amarga mandioca. Uma solução é variar a
alimentação e substituir parcial-
■ Uma lagarta relativamente
nova causa estragos no Congo. mente a mandioca por outros gé-
Desde 1999 que esta lagarta não neros alimentares. Outra solução
identificada infesta abacateiros, passa por melhorar a transforma-
anoneiras, goiabeiras, bananeiras ção da mandioca: os métodos tra-
e palmeiras. Fixa-se sob as folhas dicionais como a secagem ao sol e
e frutos; as plantas afectadas a fermentação a monte deixam
murcham e morrem. Ainda não muita substância tóxica na farinha
se conhece nenhum pesticida ou de mandioca. A introdução de va-
ESPORO 48 • PÁG. 8
• Breves
destaques: avaliação de
agricultura e encontrar novos nichos organizações de agricultores,
de mercado para a exportação. A viabilidade do financiamento
rural e a investigação da
produção total mundial ascende a
pobreza. A participação
250 000 t por ano. Os maiores pro- circunscreve-se a 200 convidados,
dutores mundiais são a Índia, Indo- mas estão sendo feitos esforços
nésia e China, mas é na Jamaica que Tem fogo! Cresce depressa e vende-se bem, mas consumir para que o evento seja mais
com moderação. alargado – talvez
se encontra a melhor qualidade de
gengibre. electronicamente.
destas toneladas em 1997 a uma produzir um tónico à base de gen-
Nas Ilhas Fidgi, o gengibre verde
previsão de 7 toneladas em 2001. gibre? (ver o artigo “Claro e sim- As cooperativas têm uma
é o mais procurado pelos produto-
O sector do gengibre no Pacífico ples”). Compreenderá melhor de- parte do Web
res e transformadores. É colhido
ainda tem que aprender alguns tru- pois de um ou dois copos. ■ Desde 30 de Janeiro de 2002
em Abril e transformado em xarope
ques. Alguém já pensou em imitar Ah! Quanto se ganha em ler a que as organizações cooperativas
para exportação. Em 2001, foram
o Senegal e a Costa do Marfim, e Esporo! podem registar a sua morada na
colhidas e vendidas 1700 t de gen- Internet. Em vez de um simples
gibre verde a um preço médio de .com ou .org podem ser .coop.
cerca de 1 US$/kg (1,15 €). O gen- Dentre as cooperativas já
gibre maduro é colhido de Julho a inscritas contam-se produtores de
Setembro, e apesar da procura ele- Claro e simples fruta das Caraíbas, cooperativas
de lacticínios da Índia e a
vada nos mercados locais e de ex- associação mongol de
portação, a sua produção diminuiu, ■ Na África ocidental o gengibre é trico por quilo de gengibre e 6 a cooperativas de criadores
passando de 500 t em meados da utilizado como bebida. Na Costa 10 litros de água limpa. Deixe re- privados. Encontrará todos os
década de 90 para apenas 180 t. do Marfim, por exemplo, o gengi- pousar duas horas a temperatura detalhes em www.coop.
Uma das causas é os produtores bre fresco é usado localmente para ambiente e depois filtre o líquido
preferirem o gengibre verde por ser fazer uma bebida refrescante: gna- com um pano. Deixe durante a Lançamento de uma rede
menos afectado por pragas e doen- makudji. As raízes são descascadas, noite para clarificar. sobre rega
ças. As raízes do gengibre maduro trituradas, embebidas com água e Acrescente 1 quilo de açúcar e ■ Uma nova rede on-line, para
podem apodrecer mais facilmente adoçadas com açúcar. O problema aqueça durante 15 minutos a 75 o C. troca de experiências, de
inovações e de resultados de
devido a nematodos e bactérias. é que esta simples receita apenas se Deixe arrefecer, filtre outra vez e
investigação no domínio da
Em Samoa, o sector do gengibre conserva durante 24 horas. Na transfira o líquido para garrafas ou pequena irrigação na África
apostou no mercado biológico da Universidade de Abobo, Adjamé recipientes vedados. Pasteurize o Ocidental e Central, foi
Nova Zelândia onde obteve um Komia Mosso desenvolveu um mé- produto colocando as garrafas em recentemente lançada pela ARID
certificado ecológico do organismo todo simples para obter uma be- água quente a uma temperatura de (Associação regional para a rega
de certificação BIO-GRO. A cul- bida de gengibre simples e de longa 70 o C durante 30 minutos. e drenagem). O site contém
estudos de casos em 23 países,
tura do gengibre foi introduzida duração.
documentos e listas de discussão.
em Samoa no início dos anos 80; Primeiro pese as raízes do gengi- Já se inscreveram centenas de
✍ Dr Komia Mossi
as exportações começaram uma dé- bre, depois lave-as e triture-as sem Université Abobo-Adjamé membros para trocar
cada mais tarde e aumentaram de as descascar. Acrescente 75 ml de 02 BP 801 Abidjan 02, experiências através desta rede.
forma regular, passando de 3 mo- sumo de limão ou 3 g de ácido cí- Costa do Marfim Website: www.hipponet.nl/arid-l
ESPORO 48 • PÁG. 9
Breves •
As raízes da informação?
■ Mais de trezentos cultivadores
Preciosa, gota a gota
de tubérculos e investigadores
encontram-se regularmente no
site RootcropsNet para trocar
informações. Este fórum de
conselhos sobre as culturas de
tubérculos tropicais é
particularmente útil para os
serviços de investigação e de
extensão, para as organizações
científicas e académicas
(incluindo escolas), ONGs
e agricultores.
Website:
http://groups.yahoo.com/group/R
ootcropsNet
ESPORO 48 • PÁG. 10
• Referências
P
rocura financiar equipa- responsável irá impedir a expansão de fundos e de pesquisadores de fundos. dos na Esporo.
mento para expandir a sua do seu rendimento. Consultar também a direcção indi- No ambito da biodiversidade,
produção ou a sua capaci- cada no final deste artigo e o Site da terá de promover a conservação e o
dade comercial? Ou para fortalecer a Escolha bem as suas palavras. As Esporo em www.agricta.org/spore. uso sustentável dos recursos biológi-
sua organização através de formação? entidades financiadoras seguem cos em ecossistemas áridos e semi-
Este artigo passa em revista formas modas e frequentemente utilizam Ponha uma jóia das áridos, em zonas costeiras, florestais
de mobilizar montantes financeiros uma “linguagem” diferente da sua. Nações Unidas na sua coroa e de montanha. O projecto pode
suplementares razoáveis (100 € a 50 Poderá querer mais financiamento até abranger questões agrícolas sen-
000 €) para organizações locais para melhorar o rendimento das Os sonhos tornam-se realidade! síveis tais como as que se colocam
(ONGs e organizações de base co- suas colheitas, ou a capacidade de Eis um fundo que é aberto, ajustado na orla de um parque nacional.
munitária – OBC). armazenamento, e eles precisarão de e que dá respostas. É o Programa O mesmo se aplica às alterações
Este exercício é importante por acreditar que estão a financiar uma para Pequenos Financiamentos climáticas: deverá demonstrar como
ser compensador em termos de “delegação de funções”, ou “igual- (SGP – Small Grants Programme) poderá ultrapassar obstáculos locais
poupança de tempo. Como ponto dade de género”, ou “gestão de re- lançado em 1992, através da Direc- à conservação e à eficiência energé-
de partida, deve atender-se a quatro cursos naturais”. Assim, necessitará tiva Global do Ambiente (GEF – tica, ou promover a adopção de
princípios fundamentais: de adaptar os seus objectivos, de Global Environment Facility) e a ser energias renováveis.
forma honesta e criativa, de acordo expandido após a Cimeira Mundial A área de intervenção das águas
Saber o que se quer. O seu ob- internacionais é mais restrita, por
jectivo e o seu projecto têm de ser envolver questões ambientais numa
claros para si e para toda a gente, massa de água partilhada por dois
em todos os detalhes. Que equipa- ou mais países.
mento ou formação necessita e Todas as actividades deverão en-
como é que isso melhorará o seu volver uma forte participação co-
trabalho de forma permanente? munitária, considerações de igual-
Como irá usar o financiamento ? dade de género, conhecimentos e
Como irá substituí-lo? instituições locais.
Poderá precisar de ajuda externa Os financiamentos podem servir
para realizar o projecto, necessitando projectos-piloto, formação, boas
Foto: P. Cenini © FAO
ESPORO 48 • PÁG. 11
Publicações •
A frio
■ A conservação de mais de 1100
Da base para a base Cultura
amostras de material genético da
banana e da banana pão é uma
Já se questionou sobre o ver- «pesticidas e GRN – duas realida- em estufa
actividade fundamental para a dadeiro sentido do debate des inconciliáveis?»
melhoria destas plantas que sobre a gestão sustentável dos re- Para além dos exemplos de su- ■ A produção de vegetais em estufa
alimentam tanta gente. Este cursos naturais? Se trabalha numa cesso das comunidades locais, os au- está a ganhar popularidade nos tró-
documento compacto, editado
com o apoio do CTA, faz o organização comunitária, ONG ou tores fizeram igualmente um exce- picos húmidos como uma forma
ponto de situação sobre os outra instituição relacionada com lente trabalho de vulgarização do mais segura de conseguir produtos
protocolos de crioconservação este tipo de organização, esta publi- contexto internacional como as «Ci- de boa qualidade. As estufas evitam
dos meristemas – ou dito de
outra forma: como conservar os cação (em francês) poderá esclarecê- meiras Planeta Terra» do Rio, e de- estragos nas colheitas provocado
tecidos vegetais a longo prazo e -lo sobre a gestão dos recursos natu- pois de Joanesburgo em 2002. Dão por condições climáticas adversas,
a baixa temperatura (-196 ºC). rais (GRN). a conhecer igualmente as iniciativas como chuvas fortes, tempestades e
Cryoconservation du matériel internacionais que podem apoiar os forte incidência da luz do sol. Este
génétique du bananier
B. Panis e N. T. Thinh, esforços das comunidades locais, de- guia (em inglês) fornece informação
J. V. Escalant e S. Sharrock, eds. signadamente as normas de certifi- preciosa sobre a cultura em estufas,
INIBAP/ IPGRI/ CTA. Guide cação e o certificado ecológico. baseada em investigações realizadas
Technique INIBAP 5, Montpellier,
2001, 42 páginas. Trata-se de um excelente mate- em Martinica, complementada com
ISBN 2 910810 44 5 rial baseado em experiências con- informações de outras ilhas das Ca-
Gratuitamente no cretas, que nos propõe a rede Ina- raíbas e de África.
Website: www.inibap.org/
des-Formation, bem conhecida pela É um manual prático e minu-
publications/technicalguidelines/
guideline_fre.htm sua proximidade das preocupações cioso que aborda a cultura em es-
INIBAP do terreno. Não se encontra a auto- tufa em terra e em substracto (hi-
Parc Scientifique Agropolis II satisfação presente noutros guias dropónica).
F-34397 Montpellier Cedex 5
França
publicados por mentes brilhantes de
Fax : + 33 4 67 61 03 34 instituições internacionais. E tanto
E-mail : inibap@cgiar.org melhor. Esperemos que venha a in-
É uma colecção notável de fichas centivar outras iniciativas locais a
Aquele que nunca
técnicas, bem escritas e ilustradas, darem-se a conhecer.
tenha pescado…
sobre dezenas de iniciativas de co-
■ Para fazer face ao problema, Pour une gestion communautaire et
cada vez mais grave, da pesca
munidades locais e de serviços de
durable des ressources naturelles en
ilícita, a FAO apoiou o apoio no terreno. Explica o sentido Afrique
desenvolvimento de um da conciliação a nível local apoian- co-edição Agripromo, INADES
instrumento que se pode aplicar Formation, CTA e Solagral,
a Estados, entidades ou
do-se em estudos de casos como
2001. 174 pp.
pescadores individuais. Integra-se «térmitas e homens, práticas socio- ISSN 1018 8568
numa série de medidas, que têm culturais e GRN no Tchad» ou N.o CTA 1065, 20 unidades de crédito
em linha de conta,
designadamente as necessidades
específicas dos actores dos países
em vias de desenvolvimento, Descreve vários tipos e particu-
para uma pesca responsável… ou
pelo menos consciente.
Actue em frente, laridades das estufas de forma su-
cinta, desenvolvendo mais alguns
Plan d’action international visant
à prévenir, à empêcher
olhando para trás aspectos relacionados com a cul-
et à éliminer
A melhor maneira de apren- tura, tais como as exigências em
la pêche illicite, non déclarée água e fertilizantes, controlo de
et non réglementée der é olhar para trás e apren-
FAO, Rome. 2001. 27 páginas. der com os próprios erros. Este foi pragas, técnicas de sementeira e de
ISBN 92 5 204601 1
o ponto de partida de um projecto ventilação.
Preço: € 9,30 Inclui fichas relativas a nove ve-
FAO – Sales and Marketing do International Service for Natio-
Group nal Agriculture Research (ISNAR) getais comuns em cultura em estufa:
Information Division
em colaboração com muitas orga- “courgette”, pepino, feijão-verde,
Viale delle Terme di Caracalla, alface, melão, cebola, pimento, mo-
00100 Roma, Itália nizações nacionais e internacionais
Fax : + 39 06 5705 3360 envolvidas em investigação agrí- rango e tomate.
E-mail: publications- cola, que arrancou em Janeiro de
sales@fao.org Guide to sheltered vegetable cultivation
2000. O projecto centrava-se na In the humid Tropics
Cada vez destroem melhoria da capacidade de desen- por C Langais & P Ryckewaert,
CIRAD-FHLOR. 2001. 93 páginas.
mais… volver esforços na investigação agrí- ISBN 2 87614 440 9
■ Os insectos são a principal cola e em programas de desenvolvi- € 15,24 – La librairie du CIRAD
praga das árvores tropicais. Uma mento através da melhoria da Avenue Agropolis (B. 4) – BP 5035
Learning about capacity development
análise aos factores que os 34032 Montpellier Cedex 1 – França
avaliação – uma luz condutora no through evaluation:
Fax : + 33 4 67 61 55 47
influenciam: os géneros de perspectives and observations
insecto; o tipo de estragos trabalho corrente do ISNAR. E-mail : librairie@cirad.fr
from a collaborative network
causados, como a desfolhagem, a Os resultados da primeira me- of national and international
alimentação à base de seiva, de tade do projecto encontram-se des- organizations Os livros publicados por editores
madeira de casca de árvore, a and donor agencies dos países ACP (bem como
perfuração de sementes, de critos neste relatório (em inglês)
por D Horton, quaisquer edições em língua
frutos e de rebentos; e técnicas que apresenta uma série de cinco CTA co-publication ISNAR, portuguesa, publicadas noutros
de controlo e gestão. casos de avaliação e as principais meeting report N.o 13. 2001. países, com interesse para os
Insects Pests in Tropical Forestry conclusões de um workshop do 52 páginas. Gratuitamente em: PALOP) são benvindos a esta
por M. R. Speight & F. R. Wylie, www.cgiar.org/isnar secção onde lhes será feita a
CABI Publishing, 2000, 320 pp. projecto, realizado em Julho de Ou no CTA merecida referência.
ISBN 085199461X 2001. N.o CTA 1046, 5 unidades de crédito
ESPORO 48 • PÁG. 12
• Publicações
ESPORO 48 • PÁG. 13
Entre nós •
E
stamos na era do trabalho em rede,
onde qualquer pessoa em qualquer forma como será feita dependerá de cada situ- ticamente modificados e questões de género já
parte do mundo pode contactar outra ação, que Greenidge designa como uma abor- foram contemplados.
pessoa não passando por mais de três interme- dagem às pessoas nos seus lugares. A faceta mais significativa de todo o plano é
diários, e mesmo sem recurso aos media. Esta o reconhecimento do factor humano na rede
Digital de trabalho. A maior parte das instituições têm
lógica simples – e a sua simplicidade nem sem-
pre funciona, pelo menos na partilha de infor- A segunda mudança no Plano é a crescente uma abordagem com pouca visão, vendo as
mação e conhecimento agrícola – era a vanta- utilização de “modernas” TIC – Tecnologias de redes meramente como relações mecânicas
gem das pessoas que estavam ligadas na altura Informação e Comunicação, para preparar, dis- entre instituições, ou computadores interliga-
em que o trabalho em rede se tornou um meio tribuir e processar informação em paralelo com dos. Felizmente que o Plano Estratégico do
de comunicação privilegiado, no culminar dos os procedimentos “tradicionais”. Em concreto, CTA vai mais longe. Segundo Greenidge,
anos 70 e 80. significa um muito maior uso de publicações “trata-se da utilização de redes de trabalho so-
O CTA, fundado em 1984, foi criado no electrónicas, redes de computadores, mais ciais. Se a palavra parceria quer dizer alguma
despontar da era do trabalho em rede. Con- media como a rádio e, quando possível, satélite. coisa, precisamos de fazer maior uso das redes
tudo ainda se inscrevia na estrutura e valores Num projecto-piloto correntemente em prepa- informais, através das quais as pessoas possam
do passado, como expressa a Convenção de ração, a Esporo será distribuída via satélite num cooperar no sector rural”. É um bom exemplo
Lomé, redigida na primeira metade dos anos futuro próximo, em paralelo com a forma tra- de uma abordagem “mais imaginativa” que ele
70. Agora, à medida que o Centro se aproxima dicional em papel e a versão Internet. espera do Centro. Na sua expectativa relativa-
da terceira década, foi acompanhando os tem- O Plano delineou três serviços que já estão mente à Esporo, avança que “tem que desafiar
pos e deu os passos necessários para se tornar operacionais há vários meses: Serviços e Pro- mais os leitores em termos de conteúdo e co-
uma genuína organização de trabalho em rede. dutos de Informação; Serviços e Canais de Co- locar mais questões, em vez de (apenas) provi-
O mundo onde opera, e o sector agrícola que municação e Gestão de Comunicação e Infor- denciar um produto não controverso”. Esta-
serve nos países ACP, tem vindo a mudar sig- mação (GCI) – Aptidões e Sistemas. Serão mos a ouvi-lo, Sr. Greenidge, é música que
nificativamente. O Acordo de Cotonou suce- coordenados por serviços usuais de um depar- ficou nos nossos ouvidos.
deu ao de Lomé; a intervenção da sociedade
civil aumentou, enquanto a que o papel do es-
tado diminuíu; as hierarquias fundiram-se em
“estruturas horizontais”, as parcerias fazem-se
Caixa postal
ouvir em todo o lado e as tecnologias de in-
formação e comunicação (TICs) revoluciona- As pessoas encarregadas do correio no CTA têm sido submergidas por um fluxo
ram a vida e as relações de muitas pessoas. extra nestas últimas semanas, com muitas cartas para o Inquérito de utilização.
As necessidades de informação do círculo de Agradecemos que continuem a escrever, mas também para a Caixa Postal. Para
leitores do CTA mudaram, em natureza e nú- além das vossas notícias, pontos de vista e questões, gostamos muito de rece-
ber fotografias e desenhos. É que tudo isso ajuda a explicar o nosso trabalho
mero, bem como as respostas a essas necessi- aos colegas e outras pessoas com quem temos relações. Mesmo o carteiro está
dades, que são mais vastas, profundas e im- interessado!
portantes. Não admira que as actividades do
Centro tenham sido reorientadas e focalizadas
sob um novo Plano Estratégico e Programa de
Acção para 2001-2005.
Multiplicação
@
Segundo o Director do CTA, Carl B Gree-
nidge, numa entrevista com a Esporo, o Plano
marca uma viragem nos objectivos centrais do
CTA. Continuará a difusão directa de infor-
mação, por vezes de forma mais compacta e
incisiva, com medidas para maximizar a sua
eficácia. Será dada mais ênfase à ajuda a par-
ceiros e beneficiários para se ligarem a redes e
terem interacções activas com outros interve-
nientes, bem como à aquisição e melhoria de
competências de gestão da comunicação e da Reparou no carimbo Do princípio ao fim
informação.
■ Nós sabemos através dos vossos comen- ■ De Messo, nos Camarões, Jean Marie
A verdadeira mudança estratégica no Plano tários, que os artigos da Esporo são extre- Hermann escreve-nos pondo uma questão
é contudo o uso deliberado de uma estratégia mamente bem lidos. Mas uma carta en- e explica como o Spore está sendo dissemi-
“multiplicadora”. O Centro procurará multi- viada por Abayneh Mekonen, de North nado na sua empresa, a SEPJH.N.” Logo
Shoa, Etiópia, ganha o prémio de atenção que um número novo chega, a administra-
plicar o impacto do seu trabalho, trabalhando
aos detalhes. Ele lê mesmo o texto dos ção lê-o completamente e selecciona os
com beneficiários que possam multiplicar a selos na caixa Postal e descobriu o seu pró- temas mais importantes. Transmite-os aos
utilidade da informação que usam, parti- prio nome num deles no Spore 96. É o extensionistas e às comunidades campone-
lhando-a com outros, e fortalecendo as capaci- mesmo que o nome local do Nilo Azul, um sas que irão participar nos nossos seminá-
dos maiores rios do país. Nasce no lago rios de formação. Nós gostaríamos de saber
dades multiplicadoras dos seus parceiros. Tana na região Norte da Etiópia. Agora é se o CTA nos poderia fornecer informação
Na prática, isto significa trabalhar directa ou um novo modo de “Ir na corrente”! acerca das oliveiras, como crescem, a sua
indirectamente com organizações a todos os
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• Entre nós
Inquérito ao utilizador
E os vencedores são…
A
té 1 de Fevereiro de 2002, chegaram H M Tesfaye, entomologista investigador em
respostas de 957 leitores do inqué- Wonji Shoa Sugar Cane Research and Trai-
rito “Como utiliza a Esporo”. De ning Centre na Etiópia; o Sr. J T Mamman,
facto, recebemos mais algumas centenas de res- auxiliar de zona da People-Oriented Develop-
postas posteriormente a essa data que serão in- ment Organisation em Ecwa, um programa de
cluídas na análise a ser publicada brevemente. desenvolvimento comunitário holístico em Ka-
A 1 de Março sorteou-se o prémio na sede duna State, Nigéria; e o Sr. Getachew Nigus-
do CTA (ver fotografia). Os números das 957 sie Mekonnen, veterinário assistente do Minis-
respostas foram colocados num recipiente, tério da Agricultura em Addis Ababa, Etiópia.
tendo sido tiradas três à sorte pelo Director do Cada um receberá unidades de crédito extra
CTA, Carl B Greenidge. Os felizes contem- e/ou assinaturas da Esporo.
plados ( números 14, 261 e 523) foram o Sr. Parabéns os três vencedores!
Obrigado a quan-
tos escreveram, en-
viaram fax, telefona-
ram ou responde-
ram por E-mail ou
no Site disponibili-
zado para o efeito. E
todos os leitores, te-
nham ou não parti-
cipado, serão tam-
Observado pelo staff do CTA e por visitantes bém no futuro re-
e ladeado pelo responsável do Projecto compensados pela
Spore/Esporo, Sam Matsangaise à esquerda,
tendo à direita Helen Oguli e o editor Paul
reorientação da Es-
Osborn (líder do consortium redator), Carl B. poro baseada nas opi-
Greenidge exibe a ficha vencedora. niões expressas.
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Ponto de vista •
Informação profissional
Uma questão
de confiança
Jane pertence à nova geração de profissionais da informação:
Jane Kyomuhendo Baitwa gere o
serviço de informação da Federação aberta, entusiástica, responsável e que corresponde às
Nacional de Agricultores do Uganda
(UNFFE) – antiga UNFA association – solicitações. Entre duas sessões num seminário do CTA sobre
em Kampala e é editora da revista
Voz dos Agricultores. É uma
organizações de agricultores, falou com a Esporo sobre o seu
jornalista com experiência de rádio, trabalho, actividades e sonhos. Ouça esta conversa que
e licenciada em ciências políticas
pela Universidade Makere. aconteceu à sombra de uma árvore.
T
inha acabado de dizer, repetindo três ting ou de crédito, eles poderão pensar que conhecimento a outros agricultores. Acreditem,
vezes, que “informação é poder”. Por- têm trabalho mais importante para fazer. ele tornou-se muito confiante; agora, quando
que é que isso tão importante para ela? As pessoas ainda pensam mesmo assim, in- vem ao escritório, já não é a mesma pessoa que
“Quando alguém tem informação e conheci- dagámos, no século 21, na era da informação, eu encontrei pela primeira vez na sua explora-
mento, tem confiança e capacidade para tomar ainda há pessoas a resistir? Não completa- ção. Desabrochou. Quando chega, pergunta
decisões fundamentadas”. Quererá ela dizer que mente, foi-nos assegurado, não intencional- isto e aquilo, sabendo que é porta-voz das ne-
uma pessoa é apenas alguém quando tem plena mente. Mas o que se passa é que a maior parte cessidades dos outros agricultores.
confiança, e que algumas pessoas com quem das pessoas não aprecia a informação porque São todos tão especiais como aquele agricul-
trabalha não são pessoas completas, ou agricul- não é tangível, não se pode tocar e sentir. Um tor, quisemos saber? Nem todos: alguns lêem
tores plenos? De certo modo sim. Alguns agri- vulgarizador pode ensinar um agricultor a cul- alguma coisa, apreciam e põem em prática o
cultores não têm confiança, mesmo sabendo tivar milho, indicando o espaçamento a que que lêem, outros nada fazem de concreto. Será
que eles e os seus antepassados praticam agri- deve deixar a semente e mostrando-o; ou falar a informação um pouco como uma semente
cultura há séculos. Certamente têm informação sobre sementes e mostra-las para que o agri- que cai numa terra fértil ou pedregosa, como
sobre questões práticas, mas não têm informa- cultor as possa observar. Mas com a informa- diz a Bíblia? Jane desenvolve a ideia: não é uma
ção suficiente sobre o mercado. Se você for um ção não parece ser tão imediato. questão de terra pedregosa. A terra pode ser fér-
agricultor e não souber o que é o mercado pro- Ela inclina-se para a frente querendo parecer til, mas precisar de chuva. A energia das pessoas
cura, poderá produzir milho muito bem, se- mais positiva. Algumas pessoas apreciam a in- pode ter o mesmo efeito sobre a informação,
gundo as melhores práticas agrícolas, mas po- formação e alguns agricultores escrevem para a que a chuva na semente.
derá não ter forma de escoar o seu produto. Voz do Agricultores. Brincamos sobre o facto das Fala com orgulho sobre as emissões de rádio
Consequentemente vai desinteressar-se do cartas dos leitores que se encontram no início da sua organização e da sua colecção de casse-
milho porque para si perdeu valor. da sua revista, se encontrarem no fim da Esporo, tes para os agricultores em seis línguas. Evoca
E o que é que se passa numa perspectiva de e questionamos qual é melhor. Fala-nos de um a forma como cada exemplar da Voz dos Agri-
poder? Trabalhamos, diz Jane, para que as pes- agricultor da região centro, que encontrou num cultores é lido por quatro pessoas, como chega
soas tenham poder e confiança pelo facto de “workshop” sobre comunicação que lhe disse: às escolas, e do seu projecto de aumentar a ti-
estarem informadas. Usualmente as pessoas “li um artigo sobre um agricultor que produz ragem para além dos 2000 exemplares actuais,
temem levantar-se e falar, porque receiam po- noutra região do país maracujás e laranjas, e através de financiamento com publicidade.
derem não dizer coisas correctas. Se estiverem pensei que se o meu colega consegue fazê-lo O que é que a desiludiu? A parca cobertura
de assuntos agrícolas pela imprensa. A atitude
dos jornalistas que só querem “facilidades” e os
“A energia das pessoas pode ter o mesmo efeito editores que dissertam sobre a cultura do feijão,
não dando espaço a questões que afectem a
sobre a informação que a chuva na semente…” orientação política. Exalta-se e fala de organi-
zar um “workshop” para jornalistas, para os co-
informados, estarão confiantes e poderão dizer porque não eu?” Os maracujás são actualmente locar ao lado dos agricultores.
coisas acertadas ou colocar a questão certa, no a sua principal fonte de rendimentos e está mais Será que ela tem um sonho, um sonho pro-
momento certo. Isto ajuda ao envolvimento preparado para sobreviver. O que mais impres- fissional? Os seus olhos brilham, e agita a mão
com o que nos rodeia. sionou os seus colegas participantes no “works- com firmeza. Gostaria de estar numa rede a
Referimos que ela trabalha e personaliza o de- hop”, foi a sua sede de conhecimento e a ener- ajudar os agricultores a obter informação ade-
partamento de informação da sua organização, gia devotada na sua procura. Para ele, o conhe- quada. É preciso criar um lugar onde se possa
o que poderá querer dizer que ela tem a chave cimento mudou a sua vida. encontrar de tudo, que ainda não existe por-
da confiança de muita gente. Admitiu, que até Escrevi igualmente sobre outro agricultor, que as pessoas – investidores e agências de
certo ponto sim. “Selecciono informação e sou que não sabia inglês, e que por conseguinte não apoio – não apreciam o valor da circulação da
a porta de entrada da sua confiança e poder”. podia ler o artigo sozinho. No entanto, o artigo informação. É que eles ainda não conhecem a
De facto, preciso de mais confiança para foi lido até na Dinamarca, onde se encontra o Jane… A confiança personificada.
conseguir mais informação correcta. As outras principal parceiro da UNFFE. Uma organiza-
pessoas que trabalham na nossa organização ção dinamarquesa de agricultores mostrou-se
podem ser as fontes, pelo que necessito que interessada e quando enviaram uma equipe de As opiniões expressas neste Ponto de vista
elas valorizem mais a importância da informa- filmagem para o Uganda, foram visitá-lo. Fi- são as do autor e não reflectem
ção. É que quando peço um artigo a cientistas, nalmente recebeu uma formação especializada forçosamente as ideias do CTA.
agricultores, vulgarizadores, gestores de marke- em extensão, dado o seu dom para transmitir
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