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Informação

para o
desenvolvimento
agrícola
dos países ACP

N.o 48
Abril 2002

Crise das matérias-primas


Um jogo perdido logo à partida 1

Finanças e desenvolvimento
Os escassos anos que se seguem 3

Ervas daninhas e seu controlo


Se as não consegue controlar,
substitu-as 4

PALOP 6

BREVES 8

REFERÊNCIAS 11

PUBLICAÇÕES 12

ENTRE NÓS 14

PONTO DE VISTA
Foto: V. Audet © Sunset

Informação profissional
Uma questão de confiança 16

Web Site: www.cta.nl

Neste número Crise das matérias-primas


Escrevemos com
frequência acerca dos
ciclos da vida e em relação a alguns até
termos certezas. O dia segue-se à noite,
e a lua brilha da forma que lhe é
Um jogo perdido
peculiar, banhando as nossas costas com
os fluxos e os refluxos das marés. As
estações, as chuvas, os períodos de seca,
logo à partida
também têm, mais ou menos, a sua
frequência normal.
E se pudessemos dizer o mesmo das
Nunca foi fácil viver de matérias-primas, mas hoje em
nossas próprias obras… Tomemos como dia tornou-se um jogo perigoso e sem esperança. Há
exemplo os preços das mercadorias, que três saídas possíveis: desistir, saltar fora ou precaver-se.
se agitam por toda a parte como uma
nuvem de pó numa alameda. Parecem

D
estar sempre a cair, todavia os baixos ezembro de 2001. O mercado do ca- res retomam as suas vãs tentativas para conse-
níveis no ano passado foram objecto de cau de Mbanga, a noroeste de Douala, guir um melhor preço.
uma ligeira recuperação. Como enfrentar o porto mais importante dos Cama- A mudança para o café é confirmada mais
com êxito esta incerteza, é o assunto do rões, foi visitado por participantes de um semi- tarde por alguns jovens camponeses, cuja língua
artigo principal. E do nosso segundo nário do CTA sobre organizações de agriculto- se solta após a partida dos mais velhos e dos par-
artigo também, olhando para a forma res. Meia dúzia de produtores entregavam sacos ticipantes do seminário. Segundo um agricultor,
como as inconstâncias e as modas às mãos robustas do comerciante que carregava ou terão de mudar para o café ou ir para a cidade.
afectam as ajudas. o camião . Mais tarde, o vulgarizador local fala apaixo-
“Muito em breve já não precisará de voltar”, nadamente da necessidade de um serviço de in-
Protegermo-nos a nós próprios contra a
avisam os agricultores. “Estamos a abandonar o formação de mercado, para criar consciência do
irregularidade é com certeza necessário.
cacau porque perdemos muito dinheiro e temos preço e permitir correctas decisões por parte
Mas atenção! Há caminhos
famílias para sustentar. Vamos para o café que dos produtores, tais como se devem de facto
aparentemente por explorar e a lição da é muito mais seguro”. Desencadeia-se uma dis- mudar para o café. No seu escritório encontra-
“roça do forro” está ainda por tirar. cussão, o carregamento pára, a tensão aumenta, mos a Spore 95 (Esporo 45), com um artigo que
até ser quebrada por duas participantes, tam- explica porque é que 20 milhões de produtores
bém elas vigorosas, que sem medo de partir as desesperadamente desistem do café devido à
unhas ou estragar os vestidos, carregam um saco queda dos preços. “Após dois anos em queda
pela escada oscilante do comerciante. Risota livre, que ainda não terminou, os produtores
geral. O carregamento recomeça e os produto- não podem produzir mais a estes preços”.

ESPORO 48 • PÁG. 1
Crise das matérias-primas •
Este tipo de confusão, saltando de mal para para 2003? E que no final de 2005 irão perder mais tempo. Outros têm esperança nos nichos
pior, não facilita a análise da última “crise das 10%, situando-se assim 40% acima dos preços de mercado dos chocolates biológicos do Gana
matérias-primas”. É ir a qualquer mercado; de 2000? Provavelmente sim, mas quem o ga- ou dos cafés requintados dos novos produtores
abrir qualquer jornal financeiro, ouvir o dis- rante? de Vanuatu, que têm de competir com as ex-
curso de qualquer ONG; discutir com qualquer Estas projecções de preços, eventualmente celentes colheitas especializadas da Jamaica e
ministro das finanças e em poucos instantes se confusas, são meras expectativas dependendo da Etiópia. Infelizmente, nem todos podem
ouve a expressão “crise das matérias-primas”. de muitos factores. Incertezas similares verifi- usufruir dos nichos.
Mas alguma vez não foi assim? cam-se para os preços de qualquer outra com- O elemento que falta agora, como a Esporo
De facto, estas crises são cíclicas, alternando modity agricola, quer se trate do sorgo (relati- já referiu, são os seguros. Durante séculos, os
bons e maus períodos, com duração de anos vamente estável nos últimos dois anos), do intermediários de commodities protegeram-se
ou décadas.O que não serve de consolo para algodão ou do amendoim (regularmente em contra as flutuações excessivas de preços com
agricultores gravemente endividados, que ape- baixa). A variação de preços é da máxima im- planos de seguros. Porque não os produtores?
nas têm como perspectiva, a contração de mais portância em muitos países ACP, onde os pro- O método mais simples é “precaver-se”, mi-
dívidas. As subtilezas dos “ciclos de preços das dutos agrícolas têm grande peso nas receitas de nimizando as perdas ao contrabalançar um
matérias-primas” relatadas por historiadores exportação. Qualquer alteração nos preços tem risco com outro. Entre o campo e o armazem,
económicos, pouco significado têm quando a um impacto directo na vida das pessoas, quer um produtor (ou grupo) faz um acordo com
realidade se torna cada vez mais dura. produzam ou não culturas de rendimento: em
O café testemunhou a mais dramática queda muitas zonas da África Ocidental, por exem-
de preços das matérias-primas dos últimos tem- plo, os produtos de primeira necessidade re-
pos, caindo em média 70% desde 1997. Mas presentam entre um terço a metade do orça-
que média desanimadora. Este preço baseia-se mento familiar.
num “cabaz” com todos os tipos de café do
mundo – robustas, arábicas naturais, arábicas A esperança é apenas
aromáticos e outros – cujos preços diferem con- uma casa décimal
sideravelmente dependendo do local de produ-

Foto: R. Faidutti © FAO


Estas diferenças de preços – para alguns ape-
ção. Da mesma forma, nenhum agricultor se
nas uma casa décimal numa equação – tradu-
revê numa média, como mostram os números
zem-se em consequências dramáticas para ou-
produzidos pela “Campanha para um comércio
tros, quer individualmente, quer em termos da
equitativo”, em Abril de 2002. Evocando uma
economia de uma nação, mesmo se, como
exploração familiar em Kituntu, Uganda, des-
proclama o movimento por um comércio
crevem a queda de 83% relativamente aos pre- A única vez em que o cacau sobe
equitativo “um produtor de cacau do Gana é quando está a crescer.
ços de 1997, de 600 shillings do Uganda por
apenas fica com 1.2% do preço pago pelo con-
quilo (cerca de 40 cêntimos de dólar) para 100
sumidor por uma tablete de chocolate”. O ca-
shillings no final de 2001. As crianças desta fa- um comprador para um preço mínimo a ser
minho é irregular e o trajecto para a frente é
mília deixaram a escola para cultivar legumes pago, mesmo se o preço de mercado baixar
repleto de riscos que os agricultores conhecem
entre as plantas de café. Considerando que mais. Em contrapartida, acordam igualmente
bem, para além da incerteza do preço. O mau
5 milhões de pequenos produtores e suas famí- um preço máximo, que terá de ser praticado
tempo ou a falha de factores de produção
lias – cerca de um quarto da população do mesmo se o preço de mercado for superior. O
podem reduzir a colheita de um país, mas uma
Uganda – vivem da cultura do café, as conse- acordo pode ser reforçado com um crédito a
produção excepcional pode fazer baixar o
quências das flutuações dos preços tornam-se uma taxa de juro razoável, em vez de um em-
preço médio. Os intermediários podem elevar
ainda mais dramáticas. préstimo usurário.
os preços a fim de conseguir um lucro rápido.
Em teoria, não é novidade para os astutos
Os consumidores ou os inspectores de saúde
Como saber? agricultores que sabem repartir os riscos. Na
podem criar uma aversão a certos produtos –
prática, implica a vontade de pagar o prémio
Para querer saltar para o mercado do café em os amendoins da África Ocidental e as raízes
deste seguro, bom senso financeiro e um in-
depressão, como pretendem alguns produtores de kawa do Pacífico são duas recentes vítimas
formação completa e séria. Aqui reside o papel
de cacau em Mbanga, é preciso estar muito de- deste fenómeno – forçando a uma baixa dos
fundamental das organizações de produtores,
sesperado. E assim estaria qualquer um de nós, preços. Ou os cientistas podem desenvolver
talvez a mais exigente de um vasto conjunto de
com os preços internacionais em 2001 cerca de produtos artificiais prejudicando as oportuni-
tarefas. Segundo afirmação do economista Oli-
40% mais baixos do que em 1998, mesmo es- dades dos produtos naturais – como parece
vier Combe em meados da década de 90, as
tando acima do mínimo recorde de 2000. Aju- estar a acontecer actualmente com a baunilha.
organizações de produtores deveriam estabele-
daria saber que a Organização Internacional do cer a ligação entre os agricultores e o mundo
Cacau prevê uma subida de 25% dos preços de Chame o seu agente de seguros financeiro.
cacau no final de 2002, relativamente a 2000 e Os produtores de matérias-primas correm O Banco Mundial – frequentemente criti-
de 56% actualmente riscos insuportáveis, com os preços cado pela sua investigação às apalpadelas de
a afundar para além de qualquer possibilidade novas ideias em matéria de desenvolvimento –
de sobrevivência pessoal e das várias tentativas lançou um novo programa para pequenos pro-
nacionais e internacionais de estabilização dutores e suas organizações para acederem a
dos preços, terem sido em grande parte instrumentos capazes de gerir os seus riscos
abandonadas. num mercado volátil. Determinante, sem dú-
Qual é a saída? As respostas stan- vida, para a subsistência de muitas pessoas. Le-
dard, no seu conjunto, são demasi- vará tempo até que as instituições e profissões
ado tímidas, tardias e pouco ima- como os agricultores, bancos e seguradores se
ginativas. Os esquemas para habituem a ser parceiros, mas é um risco que
controlar a produção e é preciso correr.
forçar os preços a
subir são postos de
Para mais informações:
lado pelos produtores International Task Force for Commodity Risk
concorrentes (como o Management c/o CRM Group, Rural Development
Vietnam para o café) Department
ou pela tecnologia World Bank, 1818 H Street, N.W.
Washington, DC 20433, USA
que permite aos Fax: + 1 202 477 6391
transformadores acu- Email: feedback@itf-commrisk.org
mular stocks durante Website: www.itf-commrisk.org

ESPORO 48 • PÁG. 2
• Finanças e desenvolvimento

Finanças e desenvolvimento trazer resultados rápidos, mas pou-


co contribui para o desenvolvi-
mento local.

Os escassos Em oposição a esta es-


banjadora solução, a
prática tradicional de
atirar dinheiro para

anos que um problema, tam-


bém não é uma
opção real para re-
solver as necessida-

se seguem des de nenhum sec-


tor, nem mesmo do
mais necessitado,
como é a agricultura.

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Conversações recentes

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mobiliza- Pa sobre um segundo Plano
Estará o conceito de ajuda dos pelos Pre
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Marshall, para África, não
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a tornar-se desactualizado? próprios agri- F ot o levam em conta as realidades
cultores”. A cons- de compromissos externos pouco
Seria melhor para tante incapacidade do
O Banco Mundial
poderia aprender sinceros e a inadequada capacidade de
a agricultura encorajar Ocidente de responder às aqui alguma coisa. absorção interna. A Nova Associação Econó-
necessidades de ajuda iden- mica para o Desenvolvimento de África, com
o “investimento interno”. tificadas, é vista como uma mensagem preo- ênfase em fundos internos, é mais realista.
cupante por muitos países ACP. A ajuda ex-

D
a mesma forma que o comprador ve- terna que lhes corresponde representa uma Investir, investir
rifica se não existem pedras misturadas pequena mas determinante fracção do con-
O desenvolvimento seria melhor com menos
no saco de feijões que vai adquirir, sumo corrente e do investimento. Mas isto terá
ajudas? Poderá bem ser assim. Certamente que
muitos diplomatas têm um instrumento para de mudar.
as alternativas parecem dar melhores resulta-
medir a sinceridade das declarações políticas nas A ajuda externa oriunda do Ocidente tem
dos, se o terreno do jogo estiver em condições.
conferências mundiais. Designa-se teste dos vindo a reduzir-se constantemente. Em 2001,
Comércio e não ajudas, como dizia o slogan de
“novos fundos” e tem sido presentemente caiu para 56,8 mil milhões € (51,4 mil mi-
1964, pode ser mais recompensador e dura-
muito utilizado. Na actual série de cimeiras lhões US$), representando 0,22% do produto
douro em condições difíceis: comércio justo,
mundiais para erradicar a pobreza, combater a nacional bruto (PNB) do Ocidente, sendo que
realismo em não exportar demasiada biomassa
fome, ou impulsionar a investigação agrícola, há dez anos atrás se cifrava em 0,33%. As
para demasiado longe e abolição de subsídios
surgem usualmente um conjunto de promessas metas originais de 0,7% estabelecidas nos anos
disparatados à agricultura Ocidental.
governamentais e de parceria, para aplicar mais 70, com excepção de alguns países do Norte
A segunda alternativa é o investimento di-
recursos nos domínios em questão. Na maior da Europa, revelaram-se irrealistas.
recto estrangeiro, já maior que todas as ajudas,
parte dos casos não se trata de fundos novos ou Fizeram-se novas promessas na Conferência
públicas e privadas. No entanto, a agricultura
adicionais, mas de uma reafectação ou alteração das Nações Unidas sobre Financiamento para
não é considerada um investimento seguro, em
do nome de fundos existentes. o Desenvolvimento, realizada em Monterrey,
parte porque os rendimentos estão sujeitos a
Num encontro em Março de 2002, um México, em Março de 2002. Os Estados Uni-
cotações comerciais muito variáveis. Existem
frustrado negociador ACP que ficou, talvez dos da América comprometeram-se a aumen-
contudo amplas oportunidades de investir ren-
simbolicamente, num aposento de atmosfera tar a sua ajuda em 5 mil milhões US$ por ano,
tavelmente em pontos chave da cadeia alimen-
abafada e inebriante em Nova Iorque, a pre- através de novos fundos, a partir de 2006. Os
tar: processamento, embalagem, distribuição e
parar a agenda para a Cimeira Mundial de membros da União Europeia fizeram promes-
marketing, para referir apenas alguns.
Agosto de 2002 sobre Desenvolvimento Sus- sas públicas semelhantes. Em conclusão: as
O agricultor informado, as organizações de
tentado (CMDS), disse à Esporo: “Por vezes ajudas vão aumentar para 0,24% do PNB. Um
agricultores e as agências de investigação fa-
nem se trata da velha questão de vinho velho bonito troco, mas não mais do que isso.
riam bem em captar investimento externo, e
numa nova garrafa. Apenas se muda o rótulo”.
não apenas fundos de ajuda, como suplemento
A imagem de manter promessas com uma luz O dilema dos doadores para os seus esforços hercúleos. A experiência
ao longe, para ver se existem “novos fundos”, Contudo, para as nações doadoras, não é existente em micro-finança, poupança, crédito
é um triste reflexo no estado actual da solida- apenas uma questão de restringir o orçamento e seguros, pode providenciar a destreza finan-
riedade internacional e dos interesses próprios. da ajuda, face à pressão de prioridades domés- ceira básica para captar o investimento. Fazer o
ticas e à crescente resistência da opinião pú- dinheiro funcionar, em vez de correr atrás do
Tudo é relativo blica. A bem da verdade, e é uma verdade que dinheiro para equilibrar as contas, é a próxima
Esta desvalorização da cooperação interna- qualquer ministro das finanças ou do desen- etapa do desenvolvimento financeiro. Na rea-
cional será triste, mas não é necessariamente volvimento dirá em privado, é difícil aplicar lidade, apenas é necessária uma nova atitude.
fatal. Na maior parte dos países em desenvol- adequadamente todos os fundos de ajuda. Isto Ver Referências, p. 11
vimento o investimento estrangeiro não chega tem a ver com a chamada subutilização. Há li-
a um quinto do investimento total. Ao con- mitações organizacionais neste processo, daí as
trário do que se julga à primeira vista, a maior
parte do investimento provém de financia-
recentes modas da “capacidade de utilização”.
O dilema dos doadores é serem acusados de ICI BIENTÔT
Ilustração: M. Tanguy © Louma Productions

mento local e do capital humano. É o caso da uma ajuda aparentemente pouco empenhada, UNE PRÉ-ÉTUDE DE FAISABILITÉ
agricultura e do desenvolvimento rural que, ou de uma realização orçamental insuficiente: POUR ENVISAGER LA POSSIBILITÉ
DU FINANCEMENT INTERNATIONAL D'UN APPUI
mesmo lutando contra a maré, estão testemu- em resumo, subempenhamento ou subutiliza- AUX INVESTISSEURS REGIONAUX POUR
nhando a erosão do investimento externo. ção.
Dados recentes do Banco Mundial mostram
que os gastos com a agricultura recuaram de
Tal como se apresenta, a ajuda comunitária
oficial e não governamental é frequentemente
UNE USINE DE
um quarto do orçamento das instituições, para
menos de um décimo. Os inputs nacionais são
francamente mais significativos, mas poucos
acusada de criar um sector paralelo na econo-
mia do país em desenvolvimento. Dispõe de
infra-estruturas próprias de educação, trans-
TOMATES SA
C
R
IN

países em desenvolvimento afectam mais de porte, habitação, prioridades, subvenções, co- FOA CLISS CRAD DRU SACRIN

10% do seu parco orçamento à agricultura. municação, pessoal e estratégias de desenvolvi-


De facto, como a FAO reconheceu, “a mento de recursos humanos, a operar com
maior parte dos investimentos são antes de pouco respeito pelo estado soberano. Isto pode

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Ervas daninhas e seu controlo

Se as não consegue
controlar, substitua-as
As ervas daninhas não se deixam dominar facilmente. Mesmo após
serem sachadas vezes sem conta, elas voltam a rebentar, arruinando

Foto: P. Cenini © FAO


as colheitas e ocupando completamente o espaço das culturas. Mas se
compreendermos melhor porque é que as ervas daninhas aparecem e
reaparecem, poderemos controlá-las de forma mais eficaz, em vez de
tentar erradicá-las. Se não as queremos, temos que as ultrapassar.

some imenso tempo e energia. Removê-las à mão


ou à enchada, é uma das tarefas que consome A guerra das ervas
mais tempo na agricultura, uma actividade reali- daninhas
zada essencialmente por mulheres e crianças. Mas
quando é que uma planta se considera uma erva Na África Oriental, os agricultores plan-
daninha? Meia dúzia de pés de milho no meio de tam capim elefante (Pennisetum purpu-
uma plantação de tomate podem talvez ser con- reum) ou erva do Sudão (Sorghum vulgare
siderados como ervas daninhas, mas as verdadei- sudanese) como erva-armadilha na cultura
do milho. A broca dos cereais, responsável
ras infestantes são plantas que crescem em locais por mais de 30% das perdas no milho, pre-
Foto: J. chantereau © Cirad

onde são verdadeiramente indesejadas, seja por- fere estas ervas ao milho. Usam-se duas
que competem com as culturas pelos nutrientes, outras ervas daninhas para repelir as bro-
água e luz, ou porque são venenosas. A maior cas: a erva do mel (Melinis minutifolia) ou
desmodium de folha prateada (Desmo-
parte dos agricultores fazem por conseguinte uma
dium uncinatum).
distinção entre infestantes úteis e prejudiciais. O truque é localizar ervas repelentes no
As “infestantes úteis” – poderá levar algum interior dos campos de milho para afu-
tempo a habituarmo-nos a este termo – são as usa- gentar as brocas, e as ervas-armadilha no

A
pesar dos seus nomes bonitos e esotéri- das para fins medicinais, como forragem para os perímetro. As brocas ficam presas na
animais e ervas para a cozinha. Ou podem ser as substância pegajosa que estas ervas-ar-
cos, tais como “ambrosia-das-boticas
madilha produzem.
espinhosa” ou “o chicote do cavalo de plantas que repelem pragas das culturas, fixam o O capim elefante e a erva do Sudão são
satanás”, as ervas daninhas são mais devastadoras azoto no solo ou protegem-no contra a erosão. também usadas como forragem. A erva do
do que suas companheiras, as pragas de insectos, Enquanto não competirem demasiado com as cul- mel repele não só as brocas, como as car-
as bactérias ou os vírus. Causam fenomenais pre- turas, permite-se que cresçam com aqueles objec- raças. Contudo, o desmodium parece ex-
juízos na agricultura, especialmente em zonas tro- tivos. Simultaneamente procede-se ao controlo ceder as suas colegas em utilidade. Fixa o
nitrogénio no solo, é uma importante
picais, onde são responsáveis por um quarto das das infestantes, o que significa arrancar as ervas fonte de forragem, repele as brocas, e o
perdas das colheitas. Combatê-las também con- que são prejudiciais, tóxicas, ou que não têm qual- mais surpreendente: também repele outra
erva daninha, a striga (ver outra caixa). Ex-
perimentalmente constatou-se uma infes-
As piores infestantes do mundo tação de striga 40 vezes menor em campos
de desmodium – milho, quando compara-
dos com monocultura de milho.
69% das infestantes terrestres são de folha larga, 23% são gramíneas, 6% são junças (com O Centro Internacional de Fisiologia e Eco-
caules e folhas tipo gramínea e pequenas flores) e 2% são fetos. As infestantes abaixo indi- logia de Insectos ( International Centre for
cadas ocorrem sem excepção nas zonas tropicais e subtropicais e encontram-se nas terras altas Insect Physiology and Ecology), sediado
cultivadas. A mais conhecida infestante aquática é o jacinto de água (Eichhornia crassipes). em Nairobi, desenvolveu, testou e disse-
Nome botânico nome comum minou com sucesso, o sistema combinado
Cyperus rotundus Junça de conta de culturas consorciadas. Pequenos agri-
Cynodon dactylon Grama cultores e grandes explorações comerciais
Echinochloa crus-galli Crista de galo, Milhã pé de galo da Etiópia à Tanzânia estão a plantar des-
Echinochloa colonum Arroz do mato (nas terras baixas e arrozais) modium nos seus campos de milho. Uma
consequência do sucesso é a emergência
Eleusine indica Erva de ganso
de uma nova oportunidade de fonte de
Sorghum halepense Erva de Alepo
rendimento: a venda da semente de des-
Imperata cylindrica Língua de vaca (frequente nas culturas arbóreas)
modium.
Portulaca oleracea Beldroega
Em Togo e Benin, Mucuna spp. Tem sido
Chenopodium album Pé de ganso, Ambrósia das boticas
utilizada como cultura de cobertura para
Digitaria sanguinalis Milhã digitada
restaurar a fertilidade do solo e reduzir a
Convolvulus arvensis Corriola, verdisela infestação por ervas. Tem tido sucesso, es-
Amaranthus hybridus Gimboa pecialmente em áreas rurais de elevada
Amaranthus spinosus Amaranto espinhoso densidade populacional, onde a pressão
Cyperus esculentus Junquinha mansa sobre a terra é grande e os períodos de
Paspalum conjugatum Erva creola (frequente nas culturas arbóreas) pousio são curtos. A plantação de mucuna
Rottoboelia conchinchinensis Erva da sarna durante o período de pousio melhorado
Baseado em: suprime a infestação de língua de vaca
Weed management in the humid and sub-humid tropics (Imperata cylindrica) mas também é culti-
por P J Van Rijn, Royal Tropical Institute, Netherlands, 2001. 245 pp. ISBN 90 6832 123 4 € 31.31 vada em consorciação com o milho. A téc-
KIT Press, PO Box 95001, 1090 HA Amsterdam, Netherlands nica tem-se propagado rapidamente e a
Fax: + 31 20 568 82 86 venda de sementes de Mucuna é um ne-
Email: publishers@kit.nl gócio em expansão.

ESPORO 48 • PÁG. 4
• Ervas daninhas e seu controlo
quer tipo de utilidade, nem mesmo como com- plica como distinguir ervas daninha dos vegetais: retirá-las manualmente ou mecanicamente. À
posto ou combustível. Em pequenas explorações “Se vir alguma coisa crescer, arranque. Se crescer medida que o tempo passou, a resistência aos
agrícolas, as ervas são encaradas de forma diferente de novo é uma erva daninha”. Uma característica herbicidas aumentou bem como a consciência
das grandes plantações ou explorações comerciais das ervas daninhas é crescerem e propagarem-se dos aspectos ambientais e sanitários dos agro-quí-
onde qualquer planta que não a cultura desejada rapidamente. “Sweet flowers are slow and weeds micos. Entretanto, as ervas daninhas iam literal-
é designada de erva daninha, seja útil ou não. make haste” (As flores delicadas são lentas e as mente ganhando terreno. De ano para ano,
ervas daninhas são fulgurantes), como escreveu quanto mais herbicidas se aplicava maiores eram
As ervas daninhas são fulgurantes Shakespeare. As ervas daninhas produzem anual- as perdas causadas pelas infestantes.
mente uma grande quantidade de sementes que Basicamente, o controlo das infestantes gira
Cerca de 8000 plantas em todo o mundo são frequentemente mantem a sua capacidade germi- em torno de cinco tipos de medidas. A utilisação
correntemente consideradas verdadeiras ervas da- nativa durante muitos anos. Por exemplo, a Ama- de herbicidas é uma. Os herbicidas têm o incon-
ninhas e destas, uma pequena elite de 250 são ranthus spp produz mais de 235 000 sementes em veniente de serem caros e em alguns casos peri-
consideradas como as mais nocivas ou prejudi- cada ciclo vegetativo e é considerada por muitos gosos, para além de outros inconvenientes. A
ciais de todo o mundo. Obviamente não irá en- agricultores como uma infestante incómoda, ape- aplicação de fertilizantes é outra forma – igual-
contrá-las todas na sua exploração. Afinal de con- sar de ter sido uma base alimentar na América mente dispendiosa – de controlar quimicamente
tas, uma infestante pode ser prejudicial ou hostil Central durante mais de 4000 anos. As ervas da- as infestantes, melhorando a fertilidade dos solos.
para com outra. E como qualquer outra planta, ninhas perenes propagam-se vegetativamente – As medidas biológicas apresentam-se como uma
têm as suas preferências relativamente à tempera- através das raízes, tubérculos, rizomas ou lan- segunda via para o controlo das infestantes. O re-

A erva bruxa malvada

A striga ou erva bruxa (Striga hermon-


thica) é uma forte candidata para se jun-
tar às piores ervas do mundo, e já se en-
contra no topo da lista de muitos
agricultores africanos. É uma erva para-
sita que penetra na raiz de outras plan-
tas, desviando os nutrientes e água da
planta hospedeira, inibindo assim o seu
crescimento. A striga aparece principal-
mente nos cereais, como o milho, sorgo,
fonio e milho miudo, mas a Striga spp.
também afecta o feijão frade e o amen-
doim. Tem infestado sobretudo as zonas
de savana em África e estima-se que seja
responsável, em todo o continente afri-
cano, pela perda anual de 40 milhões de
toneladas de cereais. A striga afecta es-
Foto: P. Lowrey © FAO

pecialmente o Benin, Burkina Faso, Ca-


marões, Máli, Nigéria, Sudão e Togo, mas
encontra-se também presente nas zonas
este e sul do continente.
No Mali, investigadores descobriram um
fungo (Fusarium oxysporum) que ataca a
striga. O fungo é cultivado na palha de
A lição do provérbio. Muitas mãos a trabalhar, mas a prevenção é melhor que a cura
sorgo, que é posteriormente espalhada
nos campos por altura da sementeira.
Ataca a striga nos primeiros estágios de çando estolhos que se espalham pela superfície curso a culturas intercalares, à cobertura do solo
crescimento e é inofensivo para as pes- do solo. Outra coisa que as ervas daninhas têm (mulching), aos sistemas agroflorestais ou a cultu-
soas e para as culturas de cereais. em comum é a sua razão de existir, e pela qual se ras de ensombramento são exemplos (ver caixas).
No Quénia, a striga está a ser combatida desenvolvem tão depressa, e em tão grande nú- Uma terceira via é através da alteração genética
através da plantação de desmodium (ver mero, nas terras improdutivas. Quando retiramos
caixa). O Instituto Internacional de Agri-
das culturas, utilizando técnicas convencionais de
a vegetação nativa, lavramos o solo e estabelece- cruzamento ou engenharia genética, para aumen-
cultura Tropical (IITA), na Nigéria, tem de-
dicado anos ao desenvolvimento da resis- mos culturas anuais ou perenes, estamos de facto tar a resistência ou a tolerância das culturas às in-
tência dos cereais à striga. Investigadores a desafiar a sucessão ecológica da própria Natu- festantes.
do IITA conseguiram obter milho resis- reza. Estamos a resistir ao processo natural de su-
tente à striga através da combinação de O processo mais comum para se livrar das in-
cessão de plantas, que realmente aponta para que
variedades de milho resistentes à striga festantes é o recurso a tecnicas culturais engloba-
o sentido da evolução ambiental retroceda para o
com variedades que têm boa produção. das na designação genérica de sacha. Outras téc-
seu estado prévio, a floresta. As ervas daninhas
Duas populares essências florestais, Calli- nicas tradicionais como a queimada e a lavoura
andra calothyrsus e Croton megalocarpus, são as culturas pioneiras que prosperam em solos
da terra podem ser contraproducentes, visto que
libertam substâncias alelopáticas (inibido- de baixa fertilidade e com escassa diversidade de
criam um ambiente ideal – ou chamando as coi-
ras de crescimento) que reduzem a infes- plantas. A este respeito, as ervas daninhas dizem-
tação de striga. sas pelos nomes, um deserto ecológico – favore-
nos que as condições do solo não estão brilhan-
O método mais eficaz no controlo das cendo o reaparecimento das infestantes que cor-
tes. Para os agricultores itenerantes, por exemplo,
ervas daninhas, ao fim e ao cabo, é pro- responde à primeira fase da sucessão.
o início de um excessivo crescimento de infes-
vavelmente a combinação de procedi- E a quinta via? Como a maioria das coisas na
mentos como sejam, as culturas intercala- tantes é o sinal de partida para outras terras.
vida, uma combinação de métodos, na maioria
res com fixação de azoto e plantas que
repelem a striga, mantendo ou aumen- dos casos, pode conseguir o melhor resultado. Se
Um pouco de tudo
tando a fertilidade do solo. uma boa exploração agrícola é o reflexo de um
Acreditou-se durante décadas que a agricultura ecossistema natural saudável, onde a fertilidade
moderna conseguiria ganhos de produção através do solo é mantida e a diversidade das plantas
tura, solos, fertilidade e humidade. Não é de ad- da combinação da mecanização, monocultura, imita a natureza, então não há necessidade das
mirar que as ervas daninhas apareçam em cultu- variedades melhoradas, aplicação de agro-quími- ervas indesejadas surgirem em grande numero.
ras com preferências similares. cos e da luta contra as infestantes a todo o custo. Onde existe vontade existe uma solução. Querer
As ervas daninhas também têm coisas em A aplicação de herbicidas em infestantes era con- é poder. Se verdadeiramente se quer, até as ervas
comum. Um ditado clássico dos agricultores ex- siderado um processo mais fácil e barato do que daninhas não crescem…

ESPORO 48 • PÁG. 5
Palop •

A “roça do forro” – a actualidade do sistema


tradicional de produção agrícola em S. Tomé e Príncipe

Apesar da clara falta de competitividade da produção de cacau em S. Tomé e Príncipe, o mito


da grande exploração de alguma forma ainda persiste, e sobretudo poucos se aperceberam que
as alternativas adequadas ao estádio de evolução socioeconómico do País se têm de construir a
partir das potencialidades patentes ali mesmo, na “roça do forro”.

A
cultura do cacau foi introduzida em cessidade de encontrar alternativas para a agri- dioca (Manihot esculenta), a batata-doce (Ipo-
1822, e embora as grandes plantações cultura santomense sem preconceitos de qual- mea batatas) e o milho (Zea mays); e um sé-
só se tenham desenvolvido cerca de 50 quer espécie e à luz da realidade actual. timo andar de herbaceas expontâneas não co-
anos depois, fizeram-no a ritmo tal que, nos É conhecida a estrutura, aliás ecologica- mestíveis como a erva da fortuna (Tradescantia
anos 20 do século passado, S. Tomé foi o maior mente correcta, das plantações de cacau, onde virginiana), os Panicum sp. e muitas mais, a
produtor mundial, e a especulação era então tão há a registar a existência de um andar de “en- que há ainda que acrescentar as trepadeiras
rendosa para os seus promotores, em parte gra- sombramento” de essências florestais tais como atravessando vários andares, e de que são
ças às elevadas cotações da época, que a palavra a eritrina (Erythrina sp.), a acácia preta (Pithe- exemplo a baunilha (Vanilla planifolia), a pi-
“cacau” ficou no léxico como sinónimo de ri- colobium saman), o marapião (Fagara sp.) e ou- menteira (Piper nigrum), o inhame (Discorea
queza. Essa realidade marcou profundamente a tras, responsáveis pela defesa e manutenção da sp.) e o maracujá (Passiflora sp.). A esta produ-
paisagem agrícola do país, caracterizada à data fertilidade do solo, de um andar produtivo ção acresce ainda a criação de pequenos ani-
do Recenseamento Agrícola de S. Tomé e Prín- ocupado pelo cacau (Theobroma cacao), e de mais (porcos, cabras, patos e galinhas).
cipe (1961-65), pela alocação de 93% do terri- um estrato inferior que se procura controlar. Tanto no período colonial, como posterior-
tório a pouco mais de três dezenas de empre- mente durante a vigência das empresas estatais,
sas, dedicadas quase exclusivamente à produção A biodiversidade fundamenta a “roça de cacau” e a “roça do forro” tinham
de cacau, explorando as grandes e bem cuida- novas opções objectivos diferentes, como refere o citado
das “roças coloniais”, que depois da indepen- autor, em artigo datado de 1983: “Num caso
dência do país deram lugar a 15 grandes em- Na “roça do forro”, conceito que engloba explora-se um produto rico (?), que não é con-
presas estatais, restando para a população uma enorme variabilidade, pode definir-se a sumido no território, mas cuja exploração pos-
apenas 7%, cerca de 5305 ha, repartidos por existência de até sete andares de vegetação, a sibilita as divisas necessárias à compra no exte-
1100 pequenas empresas familiares, designadas, saber: um primeiro de árvores de madeira rior de bens de consumo, com relevância para
por vezes com um sentido depreciativo, por como a amoreira (Clorofora excelsa), o pau cai- os alimentares. No outro, produz-se bens ali-
“roças do forro”. mentares que poderão satisfazer
Note-se que à data do Recenseamento Agrí- grande parte das necessidades do
cola, os tempos de ouro do cacau já há muito país, mas não se exporta, ou exporta-
tinham passado, mas as cotações eram ainda, se menos, e poderá não haver en-
em termos reais, 3 ou 4 vezes superiores às ac- trada suficiente das tão indispensá-
tuais, o que permitia manter a solvabilidade fi- veis divisas.”
nanceira e, sublinhemos, o prestígio local do Mas esta dualidade persistirá ne-
Foto: Carvalho Rodrigues

modelo monocultural representado pela “roça cessariamente nos dias de hoje, após
colonial”, face à “roça do forro”, exploração o processo de distribuição de terras?
familiar voltada sobretudo para a produção de A resposta é claramente não. Pode-
bens alimentares, uma policultura assente em mos dizer que todo o contexto se al-
diversos andares de vegetação, com aspecto de terou. A grande maioria das terras do
aparente abandono. país estão hoje nas mãos dos peque-
Um olhar abrange quatro andares: a palmeira,
a bananeira, o cacaueiro e a matabala.
nos e médios agricultores; o cacau e
Mas… os rendimentos as “comodities” em geral não encon-
xão (Urophyllum insulare), o ocá (Ceiba pen- tram em S. Tomé condições de competitivi-
eram equiparáveis
tandra), as atrás referidas e tantas outras; um dade no contexto do mercado mundial; há
Mas factos são factos, e o Eng. Carvalho segundo andar, confundindo-se parcialmente ainda que considerar não apenas a necessidade
Rodrigues, então responsável pela condução do com o anterior, de grandes árvores de fruto de alimentar uma população em rápido cresci-
Recenseamento Agrícola, provou, através dos como a palmeira dendem (Elaeis guineensis), a mento, mas também o que tal significa em ter-
inquéritos e de contas de cultura, que “… con- fruta-pão (Artocarpus communis), a jaqueira mos de mercado para os agricultores; e final-
trariamente à opinião geral, os rendimentos (Artocarpus integer), o coqueiro (Cocos nuci- mente a oportunidade de explorar os mercados
eram equiparáveis, com a diferença de que a fera), a mangueira (Manguifera indica) e ou- dos países de região, que se podem configurar
pequena roça produzia uma variada gama de tras; um terceiro andar de pequenas árvores de como seguros e remuneradores, desde que se
produtos alimentares, com um mínimo de in- fruto como o safuzeiro (Pachylobus edulis), o explorem segmentos que estejam ao abrigo da
vestimento e de trabalho, e a grande roça pro- abacateiro (Persea americana), a anoneira desenfreada concorrência internacional que
duzia principalmente um produto de exporta- (Anona sp.) e outras; um quarto andar de gran- abrange as “comodities”.
ção, rico é certo, mas a poder de muito des herbáceas com bananeiras de muitas varie- Assim, no actual estádio de desenvolvimento
trabalho e investimento.” dades (Musa sp.), a papaieira (Carica papaya), de S. Tomé, o que se torna necessário é en-
Nos tempos actuais, dada a concorrência a cana-do-açúcar (Saccharum officinarum), etc.; contrar a forma de mobilizar os agricultores
que se regista no mercado mundial, onde o um quinto andar de arbustos de grande e para a criação de riqueza, sabendo que nem
cacau tem cotações muito baixas, um estudo médio porte como o cacaueiro (Theobroma eles, nem o país, dispõem de recursos finan-
equivalente nem é necessário, pois a monocul- cacao), o cafeeiro (Coffea sp.) e a goiabeira (Psi- ceiros que permitam optar por sistemas de
tura do cacau, em especial na sua forma tradi- dium guajava); um sexto andar de herbáceas produção que apontem para investimentos in-
cional de produção em S. Tomé, atravessa comestíveis como a matabala (Xantosoma sagit- tensivos, aliás de mais que duvidosa rentabili-
uma clara crise sem solução à vista. Daí a ne- tifolium), o ananás (Ananas sativus), a man- dade nas condições locais.

ESPORO 48 • PÁG. 6
• Palop
É possível explorar como um ponto de partida, viável e sólido, mas Promover a tracção animal
os mercados regionais que permite porém a exploração futura de mu-
itos percursos evolutivos. Esses apoios passam ao nível da exploração,
Ora se repararmos bem, dentre as multiplas
Trata-se efectivamente de equacionar o fu- pela resolução dos problemas do transporte, da
actividades que o padrão atrás enunciado para
turo, mas como poderemos constatar, o futuro parcela até à estrada, de produções que da
a “roça do forro” exibe, figuram diversas pro-
já existe. Começou logo a manifestar-se à data ordem de centenas de kg/ha no caso do cacau,
duções susceptíveis, pelas razões indicadas, de
da distribuição das terras aos pequenos agricul- passam para algumas ton/ha para as produções
terem procura suficiente e preço atractivo nos
tores, que ao procederem à recuperação das diversificadas que são possíveis ( sobretudo se
mercados regionais, e que paulatinamente, em-
plantações envelhecidas de cacau que lhes considerarmos a produção de raízes), o que
bora umas mais rapidamente do que outras, po-
foram atribuídas, começaram logo, a par da res- aconselha a que se pense enviabilizar a tracção
derão ir ganhando expressão pela mão dos agri-
sementeira de cacau, a produzir banana, mata- animal.
cultores santomenses, nas terras que lhes foram
distribuídas. bala, mandioca, e praticar outras culturas, ao
Este sistema poderá englobar numerosos mo- mesmo tempo que as “palaiés” levaram até ao Mobilizar apoios à exportação
delos de exploração, em que a composição dos Gabão, aos Camarões e até a Angola, tudo o
andares produtivos varia, devido não só a im- que de disponível para exportação se vai pro- Por outro lado urge o apoio às iniciativas de
perativos da ecologia local, com variações tão duzindo em S. Tomé. exportação, quer ao nível do transporte marí-
vincadas quanto a panóplia dos regimes climá- E é importante assim interpretar esta tendên- timo, quer à criação de entrepostos para a co-
ticos vigentes no país (de sub-húmidos secos, a cia expontânea e dar-lhe o devido relevo, pois mercialização dos produtos santomenses nos
super-húmidos), mas também em função das ela parece indicar o caminho a seguir. Tanto portos de destino, quer ainda à resolução de
múltiplas escolhas possíveis relativamente às mais que estas acções individuais, realizadas por questões cambiais.
culturas a considerar na consociação, o que tem numerosos agricultores para a satisfação das suas Em conclusão, para que a agricultura santo-
sobretudo a ver com a forma como os agricul- necessidades, só poderão vir a ser ampliadas no mense possa cumprir a sua missão económica
tores queiram corresponder às solicitações do sentido de levar à criação de grandes excedentes e social, tem de se remodelar corajosamente,
mercado e ao maior ou menor grau de intro- de produção destinados ao consumo interno e mas felizmente que não lhe são estranhas as
dução de factores de produção exógenos, bus- aos mercados regionais, se alguns estrangula- bases necessárias a que esse processo prossiga
cando graus diversos de intensificação produ- mentos forem removidos, mediante apoios con- com êxito, assim não faltem os apoios de que
tiva. O sistema deve assim ser encarado apenas cretos à produção e à comercialização. necessita.

Novas relações com África: que perspectivas?

T
rês questões subjugam hoje, de forma brevivência, não consentâneos, muitas vezes, Mundo Ibérico, realizado em Lisboa, nos pas-
dramática, o continente africano: a doen- com os objectivos do desenvolvimento. A cor- sados dias 11 a 13 de Dezembro, onde se pro-
ça, a guerra civil e o disfuncionamento da rupção generalizada não deixa também de ser curou fazer uma análise crítica e um balanço
sociedade. Epidemias como o paludismo e a sida, uma manifestação deste fenómeno. das escolhas, tanto teóricas como práticas, que
e os permanentes conflitos armados que devas- É evidente que a dimensão desta tragédia nortearam as políticas de cooperação dos paí-
tam o continente, bloqueiam drasticamente as exige uma resposta adequada, e esta pressupõe ses ibéricos, no espaço africano, no último
não só que se concretizem profundas mudan- quartel do século XX.
ças no seio das comunidades africanas, em ter- Mas a conclusão profunda deste fórum, que
mos políticos e institucionais, mas ainda que embora visando a cooperação dos países ibéri-
um tanto a contraciclo (e o artigo da p. 3 deste cos é obviamente generalizável, foi no sentido
Esporo constitui um oportuno alerta para essa de afirmar que, nos dias de hoje, no âmbito das
realidade), se clame pela necessidade de imple- relações de cooperação, não há lições a dar, de
mentar formas mais ajustadas e eficazes de co- parte a parte, mas muito trabalho em comum
operação, capazes de equacionar corajosamente a desenvolver. Será que a poderemos igual-
as razões profundas do desequilíbrio deste mente identificar como subjacente às conclu-
mundo em que vivemos. sões da Conference on Financing for Development
Efectivamente é neste contexto que são organizada, em Março passado, pela ONU em
“… compreensíveis os apelos dos dirigentes Monte Rei (México)?
dos países mais pobres e dos movimentos e or-
ganizações internacionais que os enquadram, Citações: Ingenium – Rev. da Ordem dos
Engenheiros, Nov 2001 e Documentação
designadamente dos que convidam, a que em do III Congresso de Estudos Africanos
vez de se proceder ao pagamento da “dívida no Mundo Ibérico, Dez 2001.
externa” se pague a “dívida ecológica”, inver-
tendo assim o ónus da “dívida” que caracteri-
zou a relação entre os países industriais e os
De Angola
Foto: Humbi-Humbi

países colonizados e não-colonizados, fornece-


dores de matérias primas a baixo preço, man-
tidos ao longo de séculos abaixo do limiar da No sector do Taka (Gambos) da província
pobreza, do analfabetismo e da estagnação eco- da Huíla, já faz tempo que um grupo de
mulheres teve a iniciativa de se dedicar à
nómica e social”. produção de panelas de barro que passa-
A menina dos gambos. Mas por outro lado, “… se não faltam teóri- ram a vender localmente. Esta iniciativa
cos da ciência política, incluindo africanos, que contou com o apoio da ADRA- Acção para
comunidades, chegando mesmo, em alguns acusam as formas democráticas de não estarem o Desenvolvimento Rural e Ambiente, no
casos, a criar terríveis vazios humanos em gran- adaptadas às condições históricas do continente, sentido do reforço da capacidade organi-
zativa do grupo. Com esta actividade, as
des espaços. Não admira pois que neste quadro, convém ser mais preciso e menos derrotista: a
mulheres aumentam a receita familiar,
a sociedade civil esteja bloqueada e impotente África só pode liquidar as formas evidentes ou compram material escolar para os filhos e
para gerar saídas para a tremenda crise em que larvares de guerra civil graças à democracia e ao contribuem para a compra de medica-
se encontra mergulhada, dando assim lugar a que respeito pelos direitos humanos”. mentos para o posto médico do sector.
as populações, na falta de perspectivas, lancem Toda esta problemática constituiu o tema Humbi – Humbi n.o 24 I e II trimestres – 2001
mão de todo o tipo de esquemas informais de so- do III.o Congresso de Estudos Africanos no

ESPORO 48 • PÁG. 7
Breves •
Nova praga de lagartas
Mandioca amarga mandioca. Uma solução é variar a
alimentação e substituir parcial-
■ Uma lagarta relativamente
nova causa estragos no Congo. mente a mandioca por outros gé-
Desde 1999 que esta lagarta não neros alimentares. Outra solução
identificada infesta abacateiros, passa por melhorar a transforma-
anoneiras, goiabeiras, bananeiras ção da mandioca: os métodos tra-
e palmeiras. Fixa-se sob as folhas dicionais como a secagem ao sol e
e frutos; as plantas afectadas a fermentação a monte deixam
murcham e morrem. Ainda não muita substância tóxica na farinha
se conhece nenhum pesticida ou de mandioca. A introdução de va-

Foto: Dr. Bradbury


método para lutar contra esta
riedades contendo menos HCN é
lagarta. Espécimes estão a ser
outra solução possível. Podem
analisados no Instituto
combinar-se todos estes procedi-
Internacional de Agricultura
Tropical.
mentos.
O excesso de ácido cianídrico da mandioca pode causar paralisias. Como medir o nível de cianetos
✍ G Bani As terapias podem aliviar, como aqui na província de Nampula,
em Moçambique.
nas plantas e produtos à base de
PNLB – DGRST
BP 2499, Brazzaville
mandioca e o nível de tiocianato
Congo ■ Não devemos subestimar a im- Uma das consequências desta toxi- na urina (ver Esporo 39) para pre-
Fax: + 242 81 29 20 portância da mandioca no regime cidade é o Konzo, uma paralisia das venir o Konzo? O Dr. J. Bradbury
alimentar de muitas populações, pernas que afecta sobretudo as da Universidade Nacional da Aus-
Uma montanha de trocas nem os efeitos da taxa perigosa- crianças e as mulheres jovens na trália desenvolveu kits de medição
■ A Conferência internacional da mente elevada de ácido cianídrico África Oriental e Central. Os níveis simples, disponíveis gratuitamente
Associação Africana das (HCN) que a mandioca contém. de HCN da mandioca são mais ele- a pedido.
Montanhas (AMA), será realizada vados em períodos de seca. Em pe- Muitas variedades africanas de
em Moshi, Tanzânia, em meados ríodos de crise e de guerra, quando mandioca são amargas e contêm
de Agosto de 2002. Abordará as Adubo há menos alimentos à disposição, a uma taxa elevada de HCN, mas
vias e meios de promoção da população torna-se muita mais de- esta característica é igualmente útil,
conservação e do de pedra pendente da mandioca que exige uma vez que repele insectos nefas-
desenvolvimento sustentável dos menos factores de produção e cui- tos. No Pacífico, onde se cultiva
recursos das montanhas ■ O estrume e o composto são al- dados. O Konzo é endémico em al- variedades doces, não existem pro-
africanas. ternativas económicas aos adubos blemas de intoxicação.
gumas regiões. Na África Ocidental,
✍ AMA comerciais, mas provavelmente po- a NAT (neuropatia atáxica tropical)
F N Gichuki derá estar sentado sobre um outro ✍ J. H. Bradbury
está mais propagada. É uma doença School of Botany and Zoology
C/o Department of Agricultural tesouro que se encontra na sua terra que causa dificuldades ao andar, en- Australian National University
Engineering e que apenas pede para ser utili-
University of Nairobi
torpecimento, surdez e cegueira. Canberra, ACT 0020, Austrália
zado: a fosforite. A utilização desta Não existe tratamento para o Fax: + 61 2 61 25 55 73
PO Box 30197 E-mail:
rocha não é novidade em si. Em Konzo mas pode-se evitar a doença
Nairobi, Quénia Howard.Bradbury@anu.edu.au
E-mail : Fgichuki@cgiar.org
muitas fábricas por todo o mundo, reduzindo a quantidade de HCN Website:
faz-se o tratamento químico das absorvida através do consumo de www.anu.edu.au/BoZo/CCDN/
Sentinela de pesticidas fosforites (com ácido sulfúrico, por
exemplo) para dissolver o fosfato e
■ Se deseja entrar no mercado
utilizá-lo como adubo para a agri-
europeu com os seus produtos
cultura. Em meados da década de
hortícolas, não se pode limitar a
fazer a embalagem e o
90, investigadores do Instituto de Uma nova abóbora
Investigação Mineira do Zimbabwe
transporte. Os seus frutos e
legumes deverão satisfazer e da Universidade de Guelph no para os agricultores
diversos requisitos: não só não Canadá desenvolveram um pe-
■ Mais saudável e mais saborosa, exportação promis-
poderão conter nenhum parasita, queno aparelho que permite obter
Barbara é uma nova variedade de sor para fora da
como não poderão ultrapassar o um granulado de fácil utilização,
abóbora (Cucurbita moschata) que região.
nível máximo permitido de misturando fosforites com super-
resíduos de pesticidas (MRL). não deixará nenhum pequeno pro- Aos olhos do
fosfato triplo. Uma vez espalhadas
A COLEACP, entidade que dutor indiferente. Este novo hí- consumidor o seu
no solo, bastará regá-las para liber-
incentiva o comércio de produtos brido, rico em beta-caroteno e de trunfo reside na
tarem o fosfato.
hortícolas junto dos exportadores excelente paladar chegou recente- facilidade de uti-
É um aparelho de fácil utilização
ACP e dos importadores da UE, mente à África do Sul. O seu ren- lização. Conser-
e cada vez mais apreciado no Qué-
lançou o Programa iniciativas dimento pode ser 35% superior ao va-se bem, cozi-
pesticidas (PIP). Fornece – on-line
nia e no Uganda onde é fabricado
das abóboras seleccionadas de livre nha-se de di-
– bases de dados detalhadas
por artesãos locais por cerca de
polinização conhecidas, uma vez versas maneiras
sobre o MRL em vigor na UE e 200 US$ (230 €). Esta tecnologia
que produz frutos durante um pe- e pode ser fa-
em cada país membro da União. foi reproduzida em Burkina Faso,
ríodo de tempo mais prolongado. cilmente
As bases de dados cobrem todas no Máli e no Senegal com o apoio
Actualmente, a sua produção, transfor-
as combinações de do ICRAF, do CRDI, da Funda-
estimada em várias milhares de to- mada em
culturas/pesticidas praticadas nos ção Rockfeller e do Programa
países ACP.
neladas por ano, desenvolve-se alimento
África 2000.
bem na África Austral, mas a para be-
✍ COLEACP
PIP 4, rue de la Presse ✍ Department of Land Resource planta adapta-se mal fora do seu bés, so-
Science clima temperado de origem. pas, bolos
B-1000 Bruxelas, Bélgica
University of Guelph A abóbora Barbara começa a ser e fritos. O
Fax : + 32 2 218 31 41 Guelph, Ontario
E-mail: Canadá N1G 2W1
apreciada nos mercados de Bots- fruto tem as
coleacp.pesticides@wanadoo.be Fax: + 1 519 824 57 30 wana, Namíbia, Zâmbia e Zim- riscas verdes e o
Website: www.coleacp.org Email: pvanstra@Irs.uoguelph.ca babwe, e oferece um potencial de fundo típico das abóboras.

ESPORO 48 • PÁG. 8
• Breves

A alternativa vermelha ao ouro verde do Malawi De local a global


■ As interacções entre o local e
o global são o fio condutor de
■ Na última década, incentivou-se Zimbabwe), EUA e Europa, no- cárias para as poupanças dos seus
uma conferência internacional
a cultura de pimentão no Malawi meadamente Espanha como espe- membros, que podem ser colateral- sobre «As autarquias na era da
para diversificar a produção agrí- ciaria ou corante alimentar. mente utilizadas para empréstimos. globalização» organizada pela
cola do país. É uma boa alternativa Por forma a organizar mais efi- As associações também são vantajo- Associação Internacional de
ao tabaco, o “ouro verde” do país e cientemente a produção, transfor- sas para a comercialização, uma vez Estudo do Património
principal fonte de divisas há muitos mação e exportação, a Associação que é mais fácil vender maiores Comunitário (IASCP), que terá
lugar em Victoria Falls,
anos, cuja venda está a ser afectada do Pimentão do Malawi criou pe- quantidades em grupo para expor-
Zimbabué, de 17 a 21 de Junho
pela quebra do consumo mundial. quenas associações de agricultores – tação. O preço do pimentão varia de 2002.
Os produtores de pimentão, qua- 36 ao todo até agora. Graças a estas de 0,34 € a 1,40 € o kg, de acordo ✍ IASCP Conference
se sempre pequenos agricultores in- associações os agricultores ganha- com a qualidade. A constituição das Centre for Applied Social
dividuais, cultivam e exportam ac- ram a confiança dos fornecedores associações impressionou o governo Sciences
tualmente 1,5 milhões de kg por de factores de produção, como as dinamarquês que fez uma doação University of Zimbabwe
ano e ainda há espaço para expandir. companhias de adubos, que aceita- de 18 milhões MWK – Kwachwa PO Box MP 167
Mount Pleasant, Harare
A produção é exportada para a ram fornecer produto a crédito. As do Malawi – (300 000 €) para o Zimbabwe
região (Zâmbia, África do Sul, associações estão a abrir contas ban- seu apoio. Fax: + 263 4 30 71 34
E-mail: iascp@cass.org.zw
Website: www.indiana.edu/
~iascp/2002.html

Doce e quente: Estratégia em Setembro


■ O “Forum Europeu para a
a especiaria Cooperação no Desenvolvimento
Rural” terá lugar em
dos amantes Montpellier, França, de 4 a 6 de
Setembro de 2002. Organização
da Comissão Europeia e do
■ Países do Pacífico como as Ilhas Ministério Francês dos Negócios
Estrangeiros, com o patrocínio e
Fidji, Samoa e Vanuatu estão a apoio do CTA e a colaboração de
apostar na cultura do gengibre (Zin- diversos parceiros do Sul. Alguns
giber officinale) para diversificar a
Foto: P. Moulu © Sunset

destaques: avaliação de
agricultura e encontrar novos nichos organizações de agricultores,
de mercado para a exportação. A viabilidade do financiamento
rural e a investigação da
produção total mundial ascende a
pobreza. A participação
250 000 t por ano. Os maiores pro- circunscreve-se a 200 convidados,
dutores mundiais são a Índia, Indo- mas estão sendo feitos esforços
nésia e China, mas é na Jamaica que Tem fogo! Cresce depressa e vende-se bem, mas consumir para que o evento seja mais
com moderação. alargado – talvez
se encontra a melhor qualidade de
gengibre. electronicamente.
destas toneladas em 1997 a uma produzir um tónico à base de gen-
Nas Ilhas Fidgi, o gengibre verde
previsão de 7 toneladas em 2001. gibre? (ver o artigo “Claro e sim- As cooperativas têm uma
é o mais procurado pelos produto-
O sector do gengibre no Pacífico ples”). Compreenderá melhor de- parte do Web
res e transformadores. É colhido
ainda tem que aprender alguns tru- pois de um ou dois copos. ■ Desde 30 de Janeiro de 2002
em Abril e transformado em xarope
ques. Alguém já pensou em imitar Ah! Quanto se ganha em ler a que as organizações cooperativas
para exportação. Em 2001, foram
o Senegal e a Costa do Marfim, e Esporo! podem registar a sua morada na
colhidas e vendidas 1700 t de gen- Internet. Em vez de um simples
gibre verde a um preço médio de .com ou .org podem ser .coop.
cerca de 1 US$/kg (1,15 €). O gen- Dentre as cooperativas já
gibre maduro é colhido de Julho a inscritas contam-se produtores de
Setembro, e apesar da procura ele- Claro e simples fruta das Caraíbas, cooperativas
de lacticínios da Índia e a
vada nos mercados locais e de ex- associação mongol de
portação, a sua produção diminuiu, ■ Na África ocidental o gengibre é trico por quilo de gengibre e 6 a cooperativas de criadores
passando de 500 t em meados da utilizado como bebida. Na Costa 10 litros de água limpa. Deixe re- privados. Encontrará todos os
década de 90 para apenas 180 t. do Marfim, por exemplo, o gengi- pousar duas horas a temperatura detalhes em www.coop.
Uma das causas é os produtores bre fresco é usado localmente para ambiente e depois filtre o líquido
preferirem o gengibre verde por ser fazer uma bebida refrescante: gna- com um pano. Deixe durante a Lançamento de uma rede
menos afectado por pragas e doen- makudji. As raízes são descascadas, noite para clarificar. sobre rega
ças. As raízes do gengibre maduro trituradas, embebidas com água e Acrescente 1 quilo de açúcar e ■ Uma nova rede on-line, para
podem apodrecer mais facilmente adoçadas com açúcar. O problema aqueça durante 15 minutos a 75 o C. troca de experiências, de
inovações e de resultados de
devido a nematodos e bactérias. é que esta simples receita apenas se Deixe arrefecer, filtre outra vez e
investigação no domínio da
Em Samoa, o sector do gengibre conserva durante 24 horas. Na transfira o líquido para garrafas ou pequena irrigação na África
apostou no mercado biológico da Universidade de Abobo, Adjamé recipientes vedados. Pasteurize o Ocidental e Central, foi
Nova Zelândia onde obteve um Komia Mosso desenvolveu um mé- produto colocando as garrafas em recentemente lançada pela ARID
certificado ecológico do organismo todo simples para obter uma be- água quente a uma temperatura de (Associação regional para a rega
de certificação BIO-GRO. A cul- bida de gengibre simples e de longa 70 o C durante 30 minutos. e drenagem). O site contém
estudos de casos em 23 países,
tura do gengibre foi introduzida duração.
documentos e listas de discussão.
em Samoa no início dos anos 80; Primeiro pese as raízes do gengi- Já se inscreveram centenas de
✍ Dr Komia Mossi
as exportações começaram uma dé- bre, depois lave-as e triture-as sem Université Abobo-Adjamé membros para trocar
cada mais tarde e aumentaram de as descascar. Acrescente 75 ml de 02 BP 801 Abidjan 02, experiências através desta rede.
forma regular, passando de 3 mo- sumo de limão ou 3 g de ácido cí- Costa do Marfim Website: www.hipponet.nl/arid-l

ESPORO 48 • PÁG. 9
Breves •
As raízes da informação?
■ Mais de trezentos cultivadores
Preciosa, gota a gota
de tubérculos e investigadores
encontram-se regularmente no
site RootcropsNet para trocar
informações. Este fórum de
conselhos sobre as culturas de
tubérculos tropicais é
particularmente útil para os
serviços de investigação e de
extensão, para as organizações
científicas e académicas
(incluindo escolas), ONGs
e agricultores.
Website:
http://groups.yahoo.com/group/R
ootcropsNet

O ouro preto relança


o ouro castanho
■ A Guiné Equatorial faz
doravante parte dos grupo dos

Foto: J. Hartley © Panos Pictures


maiores produtores de petróleo –
e espera tornar-se o quarto
maior exportador daqui a cinco
anos – o que está a ter influência
no ressurgimento das plantações
de cacau. Laureada com vários
prémios internacionais nos
últimos anos, a cultura do cacau
atraiu comerciantes e
trabalhadores do sector Associados privados no domínio público, brotam da fonte.
petrolífero que investiram
activamente nas suas aldeias de
origem, não em segundas ■ Mesmo quando é escassa, a ini- res, os projectos de rega desenvolvi- em Outubro de 2001, com o pa-
residências, mas em parcelas de ciativa privada encontra sempre o dos e geridos por privados revela- trocíneo pelo CTA, FAO, Plano
cacau não declaradas e seu lugar, tal como o mais fino veio ram-se viáveis. E os pequenos pro- Colombo e das agências de gestão
altamente rentáveis. Será que o
ouro também brotará das
de água encontra sempre um cami- jectos informais geridos por grupos de água IWMI e IPTRID. Contou
árvores? nho por onde correr. Vejamos o que de mulheres ou associações de agri- com mais de 80 participantes de 20
Fonte: Jeune Afrique, 22 de se passou no fim dos anos 80 na cultores tiveram o mesmo sucesso países da África subsariana e parcei-
Outubro de 2001 África subsariana. Uma vez instala- que as grandes explorações de rega ros de desenvolvimento que explo-
dos os sistemas de rega, os operado- bem equipadas. Esta tendência, bem raram temas como o acolhimento
Ligo-me, logo pesco
res públicos retiraram-se rapida- como uma impressionante série de de novos operadores, a transferência
■ No seguimento do artigo mente para travar os prejuizos experiências em África ou em países das responsabilidades dos Estados
“Ligo-me, logo existo” da Esporo
42 sobre a utilização de causados por uma fraca utilização. mais longínquos como a Bolívia, para os organismos privados, neces-
telemóveis por agricultores ACP, Foi então que o sector privado en- foram analisadas num seminário re- sidades de formação e – assunto
o presidente do sindicato de trou em cena, sob a forma de inici- gional sobre o desenvolvimento da chave para muitos – estabeleci-
pescadores do Senegal
contou-nos que os seus
ativas comerciais ou comunitárias. rega e a participação do sector pri- mento de modelos financeiros está-
associados utilizavam telemóvel Para surpresa de alguns observado- vado. Teve lugar em Accra, Gana, veis para conseguir rentabilidade.
quando pescavam longe da
costa. Podem informar-se sobre
o porto ou praia que pratica
os melhores preços, trocar
informações com outros barcos
sobre a localização de bancos de
Perdão, onde fica a fronteira?
peixes e até… seguir resultados
de jogos de futebol – durante as ■ A procura crescente de carne pelo maior uso de tracção animal e uma tar-se à urbanização, crescimento
suas pausas, sem dúvida. mercado urbano em pleno desen- sedentarização de pastores transu- demográfico e globalização. As suas
volvimento favorece a emergência mantes para se dedicarem à produ- previsões situam-se na fronteira da
A publicidade e a venda de uma nova força na África Oci- ção agro-pastoril. Mas como con- revolução: as explorações terão
■ A Internet dá um novo sentido dental e noutras partes do mundo: duzir este sistema no sentido de menor dimensão, para se reagrupa-
ao provérbio «o seu mercado é o
mundo». Mesmo que não possa
a revolução do gado. A pressão re- uma produção sustentável para me- rem à medida que as pessoas mi-
ligar-se, haverá sempre uma sultante sobre os parcos recursos de lhorar as condições de vida e a ges- grem para os centros urbanos, tor-
organização que poderá fazê-lo pastagens vem juntar-se a pressões tão dos recursos naturais na África nando-se necessário intensificar a
por si. Visite o site similares para aumentar a superfície Ocidental? Foi o tema de um semi- produção de alimento animal e as
www.la-vague.net, que mostra
como mais de 20 produtores do de produção agrícola. nário realizado em Ibadan, Nigéria, tecnologias que permitam melhorar
Oceano Índico comercializam os Para os agricultores locais, o em Novembro de 2001, organizado a produtividade da terra. Este im-
seus produtos à escala mundial. modo engenhoso de atacar este pro- pelo CIRDES do Burkina Faso, pulso será conduzido pelas forças de
Conheça também a Manobi, uma
sociedade senegalesa que
blema consiste em tratar os dois as- pelo CTA e pelos centros de inves- mercado, disseram os participantes,
oferece uma plataforma de pectos ao mesmo tempo, através de tigação internacionais ILRI, IITA, apesar do mercado não estar repre-
serviços comerciais on-line para um “sistema integrado de agricul- ICRISAT e WARDA. Mais de 70 sentado no seminário. Um partici-
os produtores e distribuidores de
tura e criação de gado”. Este sis- participantes provenientes de todo pante lamentou a ausência de co-
produtos agrícolas tropicais
frescos. tema caracteriza-se por uma melhor o continente africano e agências de merciantes no grupo. São impor-
Website: www.manobi.net utilização dos resíduos das colheitas apoio reflectiram sobre a forma tantes depositários de conheci-
E-mail: contact@manobi.net para a alimentação dos animais, um como estes sistemas poderiam adap- mento, declarou. De facto assim é.

ESPORO 48 • PÁG. 10
• Referências

Financiamentos estratégicos de ONGs, OBCs, associações de


agricultores, câmaras de comércio e
de desperdícios da agricultura, de
energia para o processamento agrí-

Encontre o seu agricultura, mesmo que não seja


membro. Poderão orientá-lo. De se-
guida, tente na sua capital, as em-
cola produzida por mini-hidricas,
de preservação de mangais, de cul-
tivo de plantas medicinais, projectos

financiamento baixadas dos países ocidentais, as


delegações da União Europeia e o
PNUD – Programa das Nações
agroflorestais, de agricultura orgâ-
nica e de tratamento de águas de es-
goto para utilização em agricultura
Unidas para o Desenvolvimento, urbana.
que representa todas as agências das O primeiro passo a dar para per-
Hoje em dia, a maneira mais inteligente Nações Unidas. Estas entidades suadir o SGP a ser seu parceiro fi-
de conseguir financiamento é através do também o podem orientar de forma nanceiro, é explicar o modo como o
útil e quase todos têm fundos para seu projecto pode contribuir de
investimento. Mas se os financiamentos pequenos apoios. É uma questão de forma positiva para o ambiente
ainda estão disponíveis, então porque Contacto – Visita – Informação – mundial, se puder ser tomado como
Persuasão e Execução! exemplo. Veêm o mundo segundo
não usá-los? A Mediateurs (W – Alexanderpoort três perspectivas: biodiversidade, al-
46, 1421 CH Uithoorn, The Nether- terações climáticas e águas interna-
lands) tem à sua disposição uma lista cionais – temas regularmente trata-

P
rocura financiar equipa- responsável irá impedir a expansão de fundos e de pesquisadores de fundos. dos na Esporo.
mento para expandir a sua do seu rendimento. Consultar também a direcção indi- No ambito da biodiversidade,
produção ou a sua capaci- cada no final deste artigo e o Site da terá de promover a conservação e o
dade comercial? Ou para fortalecer a Escolha bem as suas palavras. As Esporo em www.agricta.org/spore. uso sustentável dos recursos biológi-
sua organização através de formação? entidades financiadoras seguem cos em ecossistemas áridos e semi-
Este artigo passa em revista formas modas e frequentemente utilizam Ponha uma jóia das áridos, em zonas costeiras, florestais
de mobilizar montantes financeiros uma “linguagem” diferente da sua. Nações Unidas na sua coroa e de montanha. O projecto pode
suplementares razoáveis (100 € a 50 Poderá querer mais financiamento até abranger questões agrícolas sen-
000 €) para organizações locais para melhorar o rendimento das Os sonhos tornam-se realidade! síveis tais como as que se colocam
(ONGs e organizações de base co- suas colheitas, ou a capacidade de Eis um fundo que é aberto, ajustado na orla de um parque nacional.
munitária – OBC). armazenamento, e eles precisarão de e que dá respostas. É o Programa O mesmo se aplica às alterações
Este exercício é importante por acreditar que estão a financiar uma para Pequenos Financiamentos climáticas: deverá demonstrar como
ser compensador em termos de “delegação de funções”, ou “igual- (SGP – Small Grants Programme) poderá ultrapassar obstáculos locais
poupança de tempo. Como ponto dade de género”, ou “gestão de re- lançado em 1992, através da Direc- à conservação e à eficiência energé-
de partida, deve atender-se a quatro cursos naturais”. Assim, necessitará tiva Global do Ambiente (GEF – tica, ou promover a adopção de
princípios fundamentais: de adaptar os seus objectivos, de Global Environment Facility) e a ser energias renováveis.
forma honesta e criativa, de acordo expandido após a Cimeira Mundial A área de intervenção das águas
Saber o que se quer. O seu ob- internacionais é mais restrita, por
jectivo e o seu projecto têm de ser envolver questões ambientais numa
claros para si e para toda a gente, massa de água partilhada por dois
em todos os detalhes. Que equipa- ou mais países.
mento ou formação necessita e Todas as actividades deverão en-
como é que isso melhorará o seu volver uma forte participação co-
trabalho de forma permanente? munitária, considerações de igual-
Como irá usar o financiamento ? dade de género, conhecimentos e
Como irá substituí-lo? instituições locais.
Poderá precisar de ajuda externa Os financiamentos podem servir
para realizar o projecto, necessitando projectos-piloto, formação, boas
Foto: P. Cenini © FAO

para tal de fundos para contratar um práticas e trabalho em rede. Os


consultor ou organizar um Workshop micro-financiamentos, usualmente
para investidores. Algumas entidades de cerca de 2000 US$, servem para
financiadoras como a PNUD/GEF processos de planeamento de base
(ver em baixo) poderão prestar esses comunitária para elaborar projectos
serviços. de maior dimensão.
Fazer um projecto é como talhar um fato: o segredo está no corte.
As estruturas de cada país, domi-
Invista no seu futuro. Está pro- nadas pelas ONGs e OBCs, têm
vavelmente à procura de uma sub- com a percepção do mundo que sobre Desenvolvimento Sustentado, critérios de âmbito local. É melhor
venção, mas encare-a como um in- têm as entidades financiadoras. que terá lugar em Joanesburgo, em contactar directamente o SGP atra-
vestimento ou um empréstimo, e Setembro de 2002. vés do escritório nacional do
não como uma dádiva. Nalgum Descubra e compreenda o seu Veiculado através do PNUD, o PNUD. Em alternativa, use o site
momento no futuro, precisará de parceiro. Existem centenas de mi- Programa de Pequenos Financia- informativo www.undp.org/sgp ou
substituir ou mesmo melhorar o seu lhares de entidades financiadoras no mentos financia projectos num contacte o escritório central. Se o
equipamento, quando estiver depre- mundo. Algumas são locais e muitas montante máximo de 50 000 US$, seu país ainda não estiver contem-
ciado ou para desenvolver as apti- estrangeiras. Informe-se sobre o que em muitas áreas de interesse parti- plado, não deixe de continuar a per-
dões adquiridas em formação. podem fazer por si e o que não lhadas pelos leitores da Esporo. De seguir a informação de que neces-
Então, aproveitando uma parte do podem fazer. Algumas são especiali- facto, encontram-se já entre os be- sita! Para o SGP são já elegíveis
seu rendimento adicional, conse- zadas em pequenos apoios de 100 € neficiários do programa alguns dos sessenta e seis países, mas breve-
guido através de uma utilização pru- ou menos, enquanto outras de um nossos leitores. mente deverão juntar-se mais – de-
dente do seu financiamento, realize mínimo de 5000 € a um máximo de O SGP vê-se a si próprio, e com signadamente os países que ratifica-
algumas poupanças para financiar 50 000 €. Dispenda tempo à pro- alguma justificação, como personi- ram as Convenções Mundiais sobre
aquela substituição, encarada como cura da entidade financiadora certa, ficando a própria essência do desen- Diversidade Biológica e Alterações
um negócio de aquisição de novo com os fundos certos e a atitude volvimento sustentado. Apoia pro- Climáticas.
equipamento. Algumas entidades fi- certa para si, ou faça uso dos servi- jectos de conservação e recuperação
nanciadoras não permitem que o ços de procura de entidades financi- do meio natural que promovam si- ✍ SGP, UNDP/GEF,
seu dinheiro seja usado directa- adoras para ajudá-lo na sua pesquisa. multaneamente o bem-estar e os 304 East 45th Street,
mente para a criação de reservas, O seu primeiro passo? Tente as meios de subsistência. Aprovou re- Nova Iorque, NY 10017, USA
mas nenhuma entidade financiadora entidades nacionais de coordenação centemente projectos de reutilização Fax: + 1 212 906 6568

ESPORO 48 • PÁG. 11
Publicações •
A frio
■ A conservação de mais de 1100
Da base para a base Cultura
amostras de material genético da
banana e da banana pão é uma
Já se questionou sobre o ver- «pesticidas e GRN – duas realida- em estufa
actividade fundamental para a dadeiro sentido do debate des inconciliáveis?»
melhoria destas plantas que sobre a gestão sustentável dos re- Para além dos exemplos de su- ■ A produção de vegetais em estufa
alimentam tanta gente. Este cursos naturais? Se trabalha numa cesso das comunidades locais, os au- está a ganhar popularidade nos tró-
documento compacto, editado
com o apoio do CTA, faz o organização comunitária, ONG ou tores fizeram igualmente um exce- picos húmidos como uma forma
ponto de situação sobre os outra instituição relacionada com lente trabalho de vulgarização do mais segura de conseguir produtos
protocolos de crioconservação este tipo de organização, esta publi- contexto internacional como as «Ci- de boa qualidade. As estufas evitam
dos meristemas – ou dito de
outra forma: como conservar os cação (em francês) poderá esclarecê- meiras Planeta Terra» do Rio, e de- estragos nas colheitas provocado
tecidos vegetais a longo prazo e -lo sobre a gestão dos recursos natu- pois de Joanesburgo em 2002. Dão por condições climáticas adversas,
a baixa temperatura (-196 ºC). rais (GRN). a conhecer igualmente as iniciativas como chuvas fortes, tempestades e
Cryoconservation du matériel internacionais que podem apoiar os forte incidência da luz do sol. Este
génétique du bananier
B. Panis e N. T. Thinh, esforços das comunidades locais, de- guia (em inglês) fornece informação
J. V. Escalant e S. Sharrock, eds. signadamente as normas de certifi- preciosa sobre a cultura em estufas,
INIBAP/ IPGRI/ CTA. Guide cação e o certificado ecológico. baseada em investigações realizadas
Technique INIBAP 5, Montpellier,
2001, 42 páginas. Trata-se de um excelente mate- em Martinica, complementada com
ISBN 2 910810 44 5 rial baseado em experiências con- informações de outras ilhas das Ca-
Gratuitamente no cretas, que nos propõe a rede Ina- raíbas e de África.
Website: www.inibap.org/
des-Formation, bem conhecida pela É um manual prático e minu-
publications/technicalguidelines/
guideline_fre.htm sua proximidade das preocupações cioso que aborda a cultura em es-
INIBAP do terreno. Não se encontra a auto- tufa em terra e em substracto (hi-
Parc Scientifique Agropolis II satisfação presente noutros guias dropónica).
F-34397 Montpellier Cedex 5
França
publicados por mentes brilhantes de
Fax : + 33 4 67 61 03 34 instituições internacionais. E tanto
E-mail : inibap@cgiar.org melhor. Esperemos que venha a in-
É uma colecção notável de fichas centivar outras iniciativas locais a
Aquele que nunca
técnicas, bem escritas e ilustradas, darem-se a conhecer.
tenha pescado…
sobre dezenas de iniciativas de co-
■ Para fazer face ao problema, Pour une gestion communautaire et
cada vez mais grave, da pesca
munidades locais e de serviços de
durable des ressources naturelles en
ilícita, a FAO apoiou o apoio no terreno. Explica o sentido Afrique
desenvolvimento de um da conciliação a nível local apoian- co-edição Agripromo, INADES
instrumento que se pode aplicar Formation, CTA e Solagral,
a Estados, entidades ou
do-se em estudos de casos como
2001. 174 pp.
pescadores individuais. Integra-se «térmitas e homens, práticas socio- ISSN 1018 8568
numa série de medidas, que têm culturais e GRN no Tchad» ou N.o CTA 1065, 20 unidades de crédito
em linha de conta,
designadamente as necessidades
específicas dos actores dos países
em vias de desenvolvimento, Descreve vários tipos e particu-
para uma pesca responsável… ou
pelo menos consciente.
Actue em frente, laridades das estufas de forma su-
cinta, desenvolvendo mais alguns
Plan d’action international visant
à prévenir, à empêcher
olhando para trás aspectos relacionados com a cul-
et à éliminer
A melhor maneira de apren- tura, tais como as exigências em
la pêche illicite, non déclarée água e fertilizantes, controlo de
et non réglementée der é olhar para trás e apren-
FAO, Rome. 2001. 27 páginas. der com os próprios erros. Este foi pragas, técnicas de sementeira e de
ISBN 92 5 204601 1
o ponto de partida de um projecto ventilação.
Preço: € 9,30 Inclui fichas relativas a nove ve-
FAO – Sales and Marketing do International Service for Natio-
Group nal Agriculture Research (ISNAR) getais comuns em cultura em estufa:
Information Division
em colaboração com muitas orga- “courgette”, pepino, feijão-verde,
Viale delle Terme di Caracalla, alface, melão, cebola, pimento, mo-
00100 Roma, Itália nizações nacionais e internacionais
Fax : + 39 06 5705 3360 envolvidas em investigação agrí- rango e tomate.
E-mail: publications- cola, que arrancou em Janeiro de
sales@fao.org Guide to sheltered vegetable cultivation
2000. O projecto centrava-se na In the humid Tropics
Cada vez destroem melhoria da capacidade de desen- por C Langais & P Ryckewaert,
CIRAD-FHLOR. 2001. 93 páginas.
mais… volver esforços na investigação agrí- ISBN 2 87614 440 9
■ Os insectos são a principal cola e em programas de desenvolvi- € 15,24 – La librairie du CIRAD
praga das árvores tropicais. Uma mento através da melhoria da Avenue Agropolis (B. 4) – BP 5035
Learning about capacity development
análise aos factores que os 34032 Montpellier Cedex 1 – França
avaliação – uma luz condutora no through evaluation:
Fax : + 33 4 67 61 55 47
influenciam: os géneros de perspectives and observations
insecto; o tipo de estragos trabalho corrente do ISNAR. E-mail : librairie@cirad.fr
from a collaborative network
causados, como a desfolhagem, a Os resultados da primeira me- of national and international
alimentação à base de seiva, de tade do projecto encontram-se des- organizations Os livros publicados por editores
madeira de casca de árvore, a and donor agencies dos países ACP (bem como
perfuração de sementes, de critos neste relatório (em inglês)
por D Horton, quaisquer edições em língua
frutos e de rebentos; e técnicas que apresenta uma série de cinco CTA co-publication ISNAR, portuguesa, publicadas noutros
de controlo e gestão. casos de avaliação e as principais meeting report N.o 13. 2001. países, com interesse para os
Insects Pests in Tropical Forestry conclusões de um workshop do 52 páginas. Gratuitamente em: PALOP) são benvindos a esta
por M. R. Speight & F. R. Wylie, www.cgiar.org/isnar secção onde lhes será feita a
CABI Publishing, 2000, 320 pp. projecto, realizado em Julho de Ou no CTA merecida referência.
ISBN 085199461X 2001. N.o CTA 1046, 5 unidades de crédito

ESPORO 48 • PÁG. 12
• Publicações

Protecção natural que explicam como ajudar os agri-


cultores a adoptar métodos natu-
Quem gere a água?
Uma interessante série de
rais de luta contra as pragas e do- comunicações sobre a
que conquistou um lugar de des- evolução, nas últimas
enças. «Como todos nós, relembra décadas, dos modelos de gestão
taque nas prateleiras dos agricul-
o autor, os agricultores procuram das águas de rega ou das
tores e seus conselheiros. O con-
vantagens e lucro». É este realismo abordagens agronómicas,
teúdo de base foi alargado. Após técnicas e institucionais,
elementar que tornou este livro consideram as zonas de rega
uma descrição das pragas e doen-
num sucesso há quinze anos; a como conjuntos sociotécnicos
ças que atacam as diferentes cul-
nova versão tem ainda uns bons dinâmicos, com as suas próprias
turas, o autor explica os principais diferenças e diversidade de
dias pela sua frente.
métodos naturais de protecção, actores.
como as culturas intercalares ou Gestion de l’eau agricole.
La protection naturelle des cultures Actes d’un Séminaire CTA,
plantas repelentes de insectos, me- tropicales. Quand l’information se Cordoba, Espanha,
didas de protecção dos stocks, in- transforme en réalité. 20-25 Setembro 1999
Par G Stoll, Margraf Verlag – CTA, 2001. 224 páginas
cluindo a utilização de substâncias AGRECOL – CTA, 386 pp., 2002. ISBN 92 9081 2524
de origem animal ou vegetal. ISBN 3 8236 1317 0 N.o CTA 1048,
Como a maior parte das Com uma paginação exemplar e Margraf Verlag, PO Box 1205
20 unidades de crédito
97985 Weikersheim, Alemanha
plantas a que se consagra, uma excelente ilustração, esta nova Fax: + 49 7934 8156
este livro (em francês) é uma bela edição contempla, entre outras E-mail: margraf@compuserve.com Ventos de mudança
flor. A nova edição da Protection novidades, um glossário, referên- N.o CTA 1069, 40 unidades de crédito Todos os actores da
Edição em inglês (já recenseada agricultura dos países
Naturelle des Cultures Tropicales cias na Internet, uma biblioteca no Esporo 42, p. 13): ACP estavam lá para dar
assemelha-se pouco à de 1986, detalhada e oito estudos de casos N.o CTA 1005, 40 unidades de crédito o seu contributo a este seminário
do CTA, organizado em 2000 e
que teve em conta as opções de
parcerias. Estas parcerias

Mercados examinados à lupa constituem – vendo agora


retrospectivamente – uma
viragem na cooperação agrícola
Les marchés mondiaux des e rural. Este documento é o
fruits et légumes biologiques testemunho disso.
é um guia sério e minucioso que L’information pour le
deveria interessar qualquer co- développement Agricole
et rural des pays ACP:
merciante, exportador ou pro- nouveaux acteurs, nouveaux
dutor. médias et thèmes prioritaires.
Quais são as exigências dos Rapport de synthèse du
séminaire du CTA.
grandes mercados de exportação CTA, 2001. 26 páginas
de produtos biológicos? Quais são ISBN 92 9081 2508
as características dos mercados N.o CTA 1051,
5 unidades de crédito
austríaco, belga, dinamarquês,
alemão, italiano, japonês, holan- Dados sobre a pesca
dês, sueco, suíço, inglês e ameri- ■ Este documento fornece
cano? Quem certifica o quê, o Internacional do Comércio (que de 1% do comércio alimentar directivas a gestores e
que significam as etiquetas, quem compreende a UNCTAD e a total. Com este guia não se arrisca praticantes de pesca a todos os
níveis (quadros superiores e
são os concorrentes locais? Os OMC), este livro (em francês e a perder-se.
médios, técnicos), para responder
perfis detalhados destes países são inglês) está repleto de informa- às necessidades de informação
acompanhados de estudos sobre a ções úteis, de referências e de li- Les marchés mondiaux des fruits dos programas de planeamento
gações com outras fontes. Nada et légumes biologiques. Perspectives da pesca. Os recursos haliêuticos
produção e a exportação da Ar-
de production et d’exportation são explorados de forma a
gentina, Camarões, Chile, Repú- de fanfarronice, confusão ou so- de produits horticoles biologiques assegurar um rendimento
blica Dominicana, Madagáscar nhos: mesmo na sua rudeza os pour les pays en développement. sustentável? A produção de
Papuásia–Nova Guiné e Zâmbia. factos têm qualquer coisa de tran- FAO – ITC – CTA, 2001. 317 páginas peixe satisfaz as necessidades de
N.o CTA 1066, 40 unidades de crédito segurança alimentar a médio
Baseado num estudo encomen- quilizante, como o facto do mer- Edição em inglês: prazo? Existem conflitos entre os
dado pela FAO, CTA e Centro cado biológico representar cerca N.o CTA 1095, 40 unidades de crédito sub-sectores da pesca? Definidas
por ocasião de uma intervenção
FAO/Danida na Tailândia em
1998, estas directivas facilitarão a
Como obter estas publicações realização de uma recolha
motivada e transparente de
dados informativos.
As publicações, nestas CTA são gratuitas para os assi- dos países do grupo ACP (África, Directives pour la collecte régulière
ou noutras páginas do nantes do SDP – serviço de dis- Caraíbas, Pacífico), como aos de donnés sur les pêches de
ESPORO, que estejam tribuição de publicações. Os assi- particulares residentes nestes capture.
assinaladas com este símbolo nantes podem solicitar estas países. FAO, Roma. 2001. 123 páginas.
fazem parte do catálogo do CTA publicações, até ao limite dos Se não é o seu caso ou se, sendo FAO document technique sur les
e podem ser obtidas através do seus créditos, utilizando impera- assinante, já esgotou as suas uni- pêches N.o 382.
CTA, desde que esteja inscrito tivamente as notas de enco- dades de crédito, poderá comprar ISBN 92 5 204304 7
no seu Serviço de Distribuição. menda que lhes foram distribuí- as publicações do catálogo ACP Preço : US$ 16 – € 18,55
Para todas as outras publicações das. no seguinte distribuidor: Triops — FAO – Sales and Marketing
(assinaladas por um quadrado Os não-assinantes podem solici- Hindenburgstrasse 33 – D-64295 Group
laranja ■) os interessados devem tar um formulário de inscrição Darmstadt – ALEMANHA – Fax: Information Division
dirigir-se directamente aos edi- ao CTA. O SDP está aberto tanto + 49 6151 3140 48 E-mail: triops@ Viale delle Terme di Caracalla,
tores indicados e não ao CTA. às organizações e instituições de net-library.de – Site Web: http:// 00100 Roma, Itália
As publicações do catálogo do desenvolvimento agrícola e rural www.net-library.de/triops.html Fax : + 39 06 5705 3360
E-mail:
publications-sales@fao.org

ESPORO 48 • PÁG. 13
Entre nós •

Plano estratégico níveis – nacional, regional e local –, de minis-


térios a organizações de agricultores ou grupos
tamento de Planeamento e Serviços Associados
que inclui “questões transversais” relativas aos
Vastas, de mulheres. Uma vez que uma organização é TICs, capital social e género, comuns a todo o
composta por indivíduos que trabalham em trabalho do Centro. É uma forma do pessoal
profundas conjunto, não se poderá dizer que o CTA não ser enriquecido através da valorização das com-
e importantes trabalhará com pessoas individuais, mas fá-lo-
-á apenas num contexto colectivo, onde a in-
petências em domínios mais amplos. Outra
forma é através de vários seminários internos,
formação é partilhada de forma organizada. A nos quais tópicos relativos a organismos gene-

E
stamos na era do trabalho em rede,
onde qualquer pessoa em qualquer forma como será feita dependerá de cada situ- ticamente modificados e questões de género já
parte do mundo pode contactar outra ação, que Greenidge designa como uma abor- foram contemplados.
pessoa não passando por mais de três interme- dagem às pessoas nos seus lugares. A faceta mais significativa de todo o plano é
diários, e mesmo sem recurso aos media. Esta o reconhecimento do factor humano na rede
Digital de trabalho. A maior parte das instituições têm
lógica simples – e a sua simplicidade nem sem-
pre funciona, pelo menos na partilha de infor- A segunda mudança no Plano é a crescente uma abordagem com pouca visão, vendo as
mação e conhecimento agrícola – era a vanta- utilização de “modernas” TIC – Tecnologias de redes meramente como relações mecânicas
gem das pessoas que estavam ligadas na altura Informação e Comunicação, para preparar, dis- entre instituições, ou computadores interliga-
em que o trabalho em rede se tornou um meio tribuir e processar informação em paralelo com dos. Felizmente que o Plano Estratégico do
de comunicação privilegiado, no culminar dos os procedimentos “tradicionais”. Em concreto, CTA vai mais longe. Segundo Greenidge,
anos 70 e 80. significa um muito maior uso de publicações “trata-se da utilização de redes de trabalho so-
O CTA, fundado em 1984, foi criado no electrónicas, redes de computadores, mais ciais. Se a palavra parceria quer dizer alguma
despontar da era do trabalho em rede. Con- media como a rádio e, quando possível, satélite. coisa, precisamos de fazer maior uso das redes
tudo ainda se inscrevia na estrutura e valores Num projecto-piloto correntemente em prepa- informais, através das quais as pessoas possam
do passado, como expressa a Convenção de ração, a Esporo será distribuída via satélite num cooperar no sector rural”. É um bom exemplo
Lomé, redigida na primeira metade dos anos futuro próximo, em paralelo com a forma tra- de uma abordagem “mais imaginativa” que ele
70. Agora, à medida que o Centro se aproxima dicional em papel e a versão Internet. espera do Centro. Na sua expectativa relativa-
da terceira década, foi acompanhando os tem- O Plano delineou três serviços que já estão mente à Esporo, avança que “tem que desafiar
pos e deu os passos necessários para se tornar operacionais há vários meses: Serviços e Pro- mais os leitores em termos de conteúdo e co-
uma genuína organização de trabalho em rede. dutos de Informação; Serviços e Canais de Co- locar mais questões, em vez de (apenas) provi-
O mundo onde opera, e o sector agrícola que municação e Gestão de Comunicação e Infor- denciar um produto não controverso”. Esta-
serve nos países ACP, tem vindo a mudar sig- mação (GCI) – Aptidões e Sistemas. Serão mos a ouvi-lo, Sr. Greenidge, é música que
nificativamente. O Acordo de Cotonou suce- coordenados por serviços usuais de um depar- ficou nos nossos ouvidos.
deu ao de Lomé; a intervenção da sociedade
civil aumentou, enquanto a que o papel do es-
tado diminuíu; as hierarquias fundiram-se em
“estruturas horizontais”, as parcerias fazem-se
Caixa postal
ouvir em todo o lado e as tecnologias de in-
formação e comunicação (TICs) revoluciona- As pessoas encarregadas do correio no CTA têm sido submergidas por um fluxo
ram a vida e as relações de muitas pessoas. extra nestas últimas semanas, com muitas cartas para o Inquérito de utilização.
As necessidades de informação do círculo de Agradecemos que continuem a escrever, mas também para a Caixa Postal. Para
leitores do CTA mudaram, em natureza e nú- além das vossas notícias, pontos de vista e questões, gostamos muito de rece-
ber fotografias e desenhos. É que tudo isso ajuda a explicar o nosso trabalho
mero, bem como as respostas a essas necessi- aos colegas e outras pessoas com quem temos relações. Mesmo o carteiro está
dades, que são mais vastas, profundas e im- interessado!
portantes. Não admira que as actividades do
Centro tenham sido reorientadas e focalizadas
sob um novo Plano Estratégico e Programa de
Acção para 2001-2005.

Multiplicação

@
Segundo o Director do CTA, Carl B Gree-
nidge, numa entrevista com a Esporo, o Plano
marca uma viragem nos objectivos centrais do
CTA. Continuará a difusão directa de infor-
mação, por vezes de forma mais compacta e
incisiva, com medidas para maximizar a sua
eficácia. Será dada mais ênfase à ajuda a par-
ceiros e beneficiários para se ligarem a redes e
terem interacções activas com outros interve-
nientes, bem como à aquisição e melhoria de
competências de gestão da comunicação e da Reparou no carimbo Do princípio ao fim
informação.
■ Nós sabemos através dos vossos comen- ■ De Messo, nos Camarões, Jean Marie
A verdadeira mudança estratégica no Plano tários, que os artigos da Esporo são extre- Hermann escreve-nos pondo uma questão
é contudo o uso deliberado de uma estratégia mamente bem lidos. Mas uma carta en- e explica como o Spore está sendo dissemi-
“multiplicadora”. O Centro procurará multi- viada por Abayneh Mekonen, de North nado na sua empresa, a SEPJH.N.” Logo
Shoa, Etiópia, ganha o prémio de atenção que um número novo chega, a administra-
plicar o impacto do seu trabalho, trabalhando
aos detalhes. Ele lê mesmo o texto dos ção lê-o completamente e selecciona os
com beneficiários que possam multiplicar a selos na caixa Postal e descobriu o seu pró- temas mais importantes. Transmite-os aos
utilidade da informação que usam, parti- prio nome num deles no Spore 96. É o extensionistas e às comunidades campone-
lhando-a com outros, e fortalecendo as capaci- mesmo que o nome local do Nilo Azul, um sas que irão participar nos nossos seminá-
dos maiores rios do país. Nasce no lago rios de formação. Nós gostaríamos de saber
dades multiplicadoras dos seus parceiros. Tana na região Norte da Etiópia. Agora é se o CTA nos poderia fornecer informação
Na prática, isto significa trabalhar directa ou um novo modo de “Ir na corrente”! acerca das oliveiras, como crescem, a sua
indirectamente com organizações a todos os

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• Entre nós

Inquérito ao utilizador
E os vencedores são…

A
té 1 de Fevereiro de 2002, chegaram H M Tesfaye, entomologista investigador em
respostas de 957 leitores do inqué- Wonji Shoa Sugar Cane Research and Trai-
rito “Como utiliza a Esporo”. De ning Centre na Etiópia; o Sr. J T Mamman,
facto, recebemos mais algumas centenas de res- auxiliar de zona da People-Oriented Develop-
postas posteriormente a essa data que serão in- ment Organisation em Ecwa, um programa de
cluídas na análise a ser publicada brevemente. desenvolvimento comunitário holístico em Ka-
A 1 de Março sorteou-se o prémio na sede duna State, Nigéria; e o Sr. Getachew Nigus-
do CTA (ver fotografia). Os números das 957 sie Mekonnen, veterinário assistente do Minis-
respostas foram colocados num recipiente, tério da Agricultura em Addis Ababa, Etiópia.
tendo sido tiradas três à sorte pelo Director do Cada um receberá unidades de crédito extra
CTA, Carl B Greenidge. Os felizes contem- e/ou assinaturas da Esporo.
plados ( números 14, 261 e 523) foram o Sr. Parabéns os três vencedores!
Obrigado a quan-
tos escreveram, en-
viaram fax, telefona-
ram ou responde-
ram por E-mail ou
no Site disponibili-
zado para o efeito. E
todos os leitores, te-
nham ou não parti-
cipado, serão tam-
Observado pelo staff do CTA e por visitantes bém no futuro re-
e ladeado pelo responsável do Projecto compensados pela
Spore/Esporo, Sam Matsangaise à esquerda,
tendo à direita Helen Oguli e o editor Paul
reorientação da Es-
Osborn (líder do consortium redator), Carl B. poro baseada nas opi-
Greenidge exibe a ficha vencedora. niões expressas.

produção e como se podem conseguir al- de 3° C) para produzir azeitonas e não


gumas.Será que crescem nas zonas tropicais cresce acima de 600 m de altitude. Produz
humidas? na região mediterrânica: na Argélia, Tuní- Esporo é uma publicação bimestral
Pedimos desculpa, senhor Hermann, mas o sia, Turquia, Grécia, Itália, Espanha e Por- de informação sobre desenvolvimento
CTA não tem nenhuma publicação sobre a tugal, na Nova Zelândia, no Sudoeste dos agrícola dos países ACP. Esporo
cultura da oliveira. Não floresce em muitos Estados Unidos e a única localização em é gratuito para os particulares
climas de países ACP. É uma árvore resis- país ACP é na África do Sul. O seu principal e organizações dos países ACP
tente, que não é difícil de adaptar pois su- produto é o fruto (a azeitona) que é usado e para os da UE que se ocupem
porta altas temperaturas. Necessita con- como alimento e de que se extrai por pres- do desenvolvimento agrícola e rural.
tudo de um Inverno frio e húmido (cerca são um óleo alimentar (o azeite).
Editor: Centro Técnico de Cooperação
Agrícola e Rural (CTA)
Convenção ACP-UE de Lomé
CTA: Postbus 380, 6700 AJ Wageningen,
Países Baixos
Se passar perto, faça uma breve visita Tel.: + 31 317 467 100
■ Na Esporo 44 demos destaque a um “Poster” sobre cacau, publicado pela Farming World Ser- Fax: + 31 317 460 067
vices. Box 294, Ikom, Cross River State, Nigeria. Email farmingworld@yahoo.com. O coordena- E-mail: cta@cta.nl
dor do FWS, Henry Site web: http://www.cta.nl
Ogar Etta escreveu-nos E-mail para os leitores: spore@cta.nl
para anunciar que
“Cross River State na Ni-
Redacção: O Esporo é compilado por um
consórcio formado por Louma productions
géria ocupou o espaço
e Médiateurs, com a participação
do desenvolvimento
de António S. A. Vieira na edição
agricola sustentado, es- em língua portuguesa.
pecialmente no que res-
peita às culturas do Redacção portuguesa e tradução:
cacau, oleo de palma e António S. A. Vieira,
ananás, vencendo um Rua Nuno Gonçalves, 10 – Mercês
prémio nacional pelos 2635-438 – Rio de Mouro – Portugal
seus esforços. O FWS E-mail: antonio.a.vieira@clix.pt
gostaria de conservar o
Paginação: Louma productions, Edições 70
ritmo criando plantas
de viveiro melhoradas Execução gráfica:
para distribuição aos Edições 70, Lda.
agricultores encora- Rua Luciano Cordeiro, 123-2.o Esq.o
jando a produção de 1069-157 Lisboa, Portugal
cacau biológico.” E-mail: edi.70@mail.telepac.pt
O FWS faz funcionar
um vigoroso e bem do- Impressão: SIG – Soc. Industrial Gráfica,
cumentado centro de Lisboa, Portugal
informação (ver foto). © CTA 2002 – ISSN 1019-9381
Se passar pela área, vale O material publicado no Esporo
a pena parar e fazer pode ser livremente reproduzido.
uma visita. Por favor refira sempre a fonte.

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Ponto de vista •

Informação profissional

Uma questão
de confiança
Jane pertence à nova geração de profissionais da informação:
Jane Kyomuhendo Baitwa gere o
serviço de informação da Federação aberta, entusiástica, responsável e que corresponde às
Nacional de Agricultores do Uganda
(UNFFE) – antiga UNFA association – solicitações. Entre duas sessões num seminário do CTA sobre
em Kampala e é editora da revista
Voz dos Agricultores. É uma
organizações de agricultores, falou com a Esporo sobre o seu
jornalista com experiência de rádio, trabalho, actividades e sonhos. Ouça esta conversa que
e licenciada em ciências políticas
pela Universidade Makere. aconteceu à sombra de uma árvore.

T
inha acabado de dizer, repetindo três ting ou de crédito, eles poderão pensar que conhecimento a outros agricultores. Acreditem,
vezes, que “informação é poder”. Por- têm trabalho mais importante para fazer. ele tornou-se muito confiante; agora, quando
que é que isso tão importante para ela? As pessoas ainda pensam mesmo assim, in- vem ao escritório, já não é a mesma pessoa que
“Quando alguém tem informação e conheci- dagámos, no século 21, na era da informação, eu encontrei pela primeira vez na sua explora-
mento, tem confiança e capacidade para tomar ainda há pessoas a resistir? Não completa- ção. Desabrochou. Quando chega, pergunta
decisões fundamentadas”. Quererá ela dizer que mente, foi-nos assegurado, não intencional- isto e aquilo, sabendo que é porta-voz das ne-
uma pessoa é apenas alguém quando tem plena mente. Mas o que se passa é que a maior parte cessidades dos outros agricultores.
confiança, e que algumas pessoas com quem das pessoas não aprecia a informação porque São todos tão especiais como aquele agricul-
trabalha não são pessoas completas, ou agricul- não é tangível, não se pode tocar e sentir. Um tor, quisemos saber? Nem todos: alguns lêem
tores plenos? De certo modo sim. Alguns agri- vulgarizador pode ensinar um agricultor a cul- alguma coisa, apreciam e põem em prática o
cultores não têm confiança, mesmo sabendo tivar milho, indicando o espaçamento a que que lêem, outros nada fazem de concreto. Será
que eles e os seus antepassados praticam agri- deve deixar a semente e mostrando-o; ou falar a informação um pouco como uma semente
cultura há séculos. Certamente têm informação sobre sementes e mostra-las para que o agri- que cai numa terra fértil ou pedregosa, como
sobre questões práticas, mas não têm informa- cultor as possa observar. Mas com a informa- diz a Bíblia? Jane desenvolve a ideia: não é uma
ção suficiente sobre o mercado. Se você for um ção não parece ser tão imediato. questão de terra pedregosa. A terra pode ser fér-
agricultor e não souber o que é o mercado pro- Ela inclina-se para a frente querendo parecer til, mas precisar de chuva. A energia das pessoas
cura, poderá produzir milho muito bem, se- mais positiva. Algumas pessoas apreciam a in- pode ter o mesmo efeito sobre a informação,
gundo as melhores práticas agrícolas, mas po- formação e alguns agricultores escrevem para a que a chuva na semente.
derá não ter forma de escoar o seu produto. Voz do Agricultores. Brincamos sobre o facto das Fala com orgulho sobre as emissões de rádio
Consequentemente vai desinteressar-se do cartas dos leitores que se encontram no início da sua organização e da sua colecção de casse-
milho porque para si perdeu valor. da sua revista, se encontrarem no fim da Esporo, tes para os agricultores em seis línguas. Evoca
E o que é que se passa numa perspectiva de e questionamos qual é melhor. Fala-nos de um a forma como cada exemplar da Voz dos Agri-
poder? Trabalhamos, diz Jane, para que as pes- agricultor da região centro, que encontrou num cultores é lido por quatro pessoas, como chega
soas tenham poder e confiança pelo facto de “workshop” sobre comunicação que lhe disse: às escolas, e do seu projecto de aumentar a ti-
estarem informadas. Usualmente as pessoas “li um artigo sobre um agricultor que produz ragem para além dos 2000 exemplares actuais,
temem levantar-se e falar, porque receiam po- noutra região do país maracujás e laranjas, e através de financiamento com publicidade.
derem não dizer coisas correctas. Se estiverem pensei que se o meu colega consegue fazê-lo O que é que a desiludiu? A parca cobertura
de assuntos agrícolas pela imprensa. A atitude
dos jornalistas que só querem “facilidades” e os
“A energia das pessoas pode ter o mesmo efeito editores que dissertam sobre a cultura do feijão,
não dando espaço a questões que afectem a
sobre a informação que a chuva na semente…” orientação política. Exalta-se e fala de organi-
zar um “workshop” para jornalistas, para os co-
informados, estarão confiantes e poderão dizer porque não eu?” Os maracujás são actualmente locar ao lado dos agricultores.
coisas acertadas ou colocar a questão certa, no a sua principal fonte de rendimentos e está mais Será que ela tem um sonho, um sonho pro-
momento certo. Isto ajuda ao envolvimento preparado para sobreviver. O que mais impres- fissional? Os seus olhos brilham, e agita a mão
com o que nos rodeia. sionou os seus colegas participantes no “works- com firmeza. Gostaria de estar numa rede a
Referimos que ela trabalha e personaliza o de- hop”, foi a sua sede de conhecimento e a ener- ajudar os agricultores a obter informação ade-
partamento de informação da sua organização, gia devotada na sua procura. Para ele, o conhe- quada. É preciso criar um lugar onde se possa
o que poderá querer dizer que ela tem a chave cimento mudou a sua vida. encontrar de tudo, que ainda não existe por-
da confiança de muita gente. Admitiu, que até Escrevi igualmente sobre outro agricultor, que as pessoas – investidores e agências de
certo ponto sim. “Selecciono informação e sou que não sabia inglês, e que por conseguinte não apoio – não apreciam o valor da circulação da
a porta de entrada da sua confiança e poder”. podia ler o artigo sozinho. No entanto, o artigo informação. É que eles ainda não conhecem a
De facto, preciso de mais confiança para foi lido até na Dinamarca, onde se encontra o Jane… A confiança personificada.
conseguir mais informação correcta. As outras principal parceiro da UNFFE. Uma organiza-
pessoas que trabalham na nossa organização ção dinamarquesa de agricultores mostrou-se
podem ser as fontes, pelo que necessito que interessada e quando enviaram uma equipe de As opiniões expressas neste Ponto de vista
elas valorizem mais a importância da informa- filmagem para o Uganda, foram visitá-lo. Fi- são as do autor e não reflectem
ção. É que quando peço um artigo a cientistas, nalmente recebeu uma formação especializada forçosamente as ideias do CTA.
agricultores, vulgarizadores, gestores de marke- em extensão, dado o seu dom para transmitir

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