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Pegue um jornal
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e
meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda
que incompreendido do público.
Ode ao burguês
Mário de Andrade
Se o dadaísmo não professa um estilo específico nem defende novos modelos, aliás
coloca-se expressamente contra projetos predefinidos e recusa todas as experiências
formais anteriores, é possível localizar formas exemplares da expressão dada. Nas artes
visuais, os ready-made de Duchamp constituem manifestação cabal de um espírito que
caracteriza o dadaísmo. Ao transformar qualquer objeto escolhido ao acaso em obra de
arte, Duchamp realiza uma crítica radical ao sistema da arte. Assim, objetos utilitários sem
nenhum valor estético em si são retirados de seu contexto original e elevados à condição
de obra de arte ao ganhar uma assinatura e um espaço de exposição, museu ou galeria.
Por exemplo, a roda de bicicleta que encaixada num banco vira Roda de Bicicleta, 1913,
ou um mictório, que invertido se apresenta como Fonte, 1917, ou ainda os bigodes
colocados sobre a Mona Lisa, 1503/1506 de Leonardo da Vinci, que fazem dela um ready-
made retificado, o L.H.O.O.Q., 1919. Os princípios de subversão mobilizados pelos ready-
made podem ser também observados nas máquinas antifuncionais de Picabia e nas
imagens fotográficas de Man Ray.
objetos tirados de seu contexto ou função usual e elevados à categoria de arte,
seja por sua reorganização, seja pela forma como são colocados nos espaços
expositivos.
Conte que, no contexto da Arte Moderna, a arte de Duchamp é desprovida de
qualquer sentido heroico. Ele não desejava levar arte às massas nem beleza
ao cotidiano. Duchamp também não estava preocupado em corrigir as
imperfeições da natureza ao produzir obras belas (como ocorria na pintura do
Renascimento). Desde o final do século 19, o objetivo de Marcel Duchamp e de
outros artistas modernos era refletir sobre o próprio fazer artístico. O mais claro
e contundente convite de Marcel Duchamp nesse sentido são seus ready-
made. Ao tirar um objeto comum de seu contexto e elevá-lo à categoria de arte,
ele anunciava ao mundo: a habilidade manual do artista já não basta para
definir uma obra.
Na realidade moderna, tomada pelas mais diferentes possibilidades de
reprodução, o pensamento do autor por trás de seu trabalho, a ideia e a
concepção das obras tornam-se mais importantes que a busca pela perfeição
estética. Para Duchamp, instalar uma roda de bicicleta sobre um banco era um
jeito de fazer com que o espectador deixasse de vê-la como parte da bicicleta e
passasse a admirá-la por seus contornos. O que torna essa roda uma peça
valiosa no mercado de arte, contudo, não é sua beleza, mas a “sacada” do
artista. O deslocamento do objeto é o que agregava valor a ele. E Duchamp foi
um mestre na escolha de seus ready-mades, como o “Porta-garrafas” e a
“Fonte”.
Ainda que 1922 apareça como o ano do fim do dadaísmo, fortes ressonâncias do
movimento podem ser notadas em perspectivas artísticas posteriores. Na França, muitos
de seus protagonistas integram o surrealismo subsequente. Nos Estados Unidos, na
década de 1950, artistas como Robert Rauschenberg, Jasper Johns e Louise Nevelson
retomam certas orientações do movimento no chamado neodada.
Difícil localizar influências diretas do dadaísmo na produção brasileira, mas talvez seja
possível pensar que ecos do movimento dada cheguem pela leitura que dele fazem os
surrealistas, herdeiros legítimos do dadaísmo em solo francês. Por exemplo, em obras
variadas como as de Ismael Nery e Cicero Dias; nas fotomontagens de Jorge de Lima, que
podem ser aproximadas de trabalhos correlatos de Max Ernst; na produção de Flávio de
Carvalho. De Carvalho, as performances, tão ao gosto das vanguardas - por exemplo, a
relatada no livro Experiência nº 2 -, e também seu projeto para a Fazenda Capuava,
construída em 1938, cujas motivações de aproximação arte e vida lembram, segundo
algumas leituras, o Merzbau de Schwitters.
Referências:
http://www.mundoeducacao.com/literatura/dadaismo.htm
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=term
os_texto&cd_verbete=3651