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André Ricardo Pontes – RA: 200500200

Professora Marília – Introdução à Filosofia


Relação entre a Dialética do Esclarecimento (Adorno e Horkheimer) e a dialética do progresso de Fausto (Berman)
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Dialética do Esclarecimento

O livro de Adorno e Horkheimer questiona o esclarecimento como se dá na atualidade. O esclarecimento, com seu
ideário iniciado no final do século XVIII, pregando como finalidades a liberdade, a igualdade e a justiça, acabou levando-
nos a uma sociedade injusta, que oprime o indivíduo e é, em si, destrutiva. A questão que o trabalho desses dois
filósofos se propõe a responder é esta: como o ideal do esclarecimento levou ao oposto de suas intentas finalidades?

Para os autores, o problema está na relação mito-esclarecimento, no sentido de que o esclarecimento busca separar-se
do mito, que é tido como algo subjetivo, a ser rejeitado. Entretanto, é necessário que o esclarecimento conscientize-se
como mito, ou se tornará um mito no sentido mais duro do termo: o mito que se reconhece como verdade e, portanto,
rejeita quem não o reconheça como tal. A sociedade atual enfrenta este problema com a cientificidade. Qualquer
pensamento não rotulado como “fato” é imediatamente descartado, o que faz com que o esclarecimento caia refém da
ideologia vigente. Foi o que ocorreu, por exemplo, durante a Guerra Fria, quando do chamado macartismo, que levou
milhares a desconfiar das pessoas de seu próprio convívio social, criando uma indústria de perseguições que girava em
torno do medo do comunismo – destruindo reputações, carreiras, e vidas humanas no processo. É, também, o que
ocorre atualmente, por exemplo, com o Ato Patriótico nos EUA.

O esclarecimento, na sociedade moderna, é entendido apenas como o esclarecimento científico, posto em dois termos
bastante explicativos:

1. Razão instrumental, termo de Horkheimer para a civilização técnica, que nasce quando o esclarecimento é
entendido como capacidade de dominar e controlar a natureza e, por extensão, os seres humanos;
2. Indústria cultural, termo de Adorno para a lógica cultural do capitalismo.

Assim, a Dialética do Esclarecimento é uma crítica à sociedade que não possui uma finalidade, ou, em outros termos,
cuja finalidade é o próprio meio, o progresso tecnológico. O progresso tecnológico é, dessa forma, o meio para alcançar
mais progresso tecnológico, o que leva à falta de reflexão acerca dos fins que se busca.

Dialética do Progresso de Berman

Fausto - palavra latina para "sortudo", e também palavra germânica para "punho".

Berman expõe Fausto não como um homem, mas sim como a sociedade moderna. Já de início, Fausto faz um pacto
com o demônio em que se compromete a entregar sua alma quando alcançar a felicidade, mas acredita, de antemão,
que isso é impossível. A figura do demônio, então, torna-se a sombra que sempre lembrará Fausto de não perseguir a
felicidade, já que essa seria sua ruína. Fausto, então, destrói tudo o que está ao seu redor em nome do progresso da
humanidade.

Como indivíduo, Fausto é um herói. Não é hipócrita, já que não se coloca acima do que busca, o progresso. Não sem
razão, alcança a redenção, obtida por ter buscado, ainda que por meios discutíveis, o progresso como motor da
felicidade. Em última análise, Fausto busca, sim, a felicidade, mas como acredita que esta é inalcançável, esquece-se
deste fim e atenta-se somente ao meio, o progresso. Fausto se supera enquanto indivíduo, tornando-se o próprio
progresso em benefício da humanidade, mas sem deixar de ser o indivíduo, e é daí que advém sua redenção.

As três fases de Fausto expostas por Berman mostram Fausto (ou a sociedade) nas fases durante e após o início do
Esclarecimento (Iluminismo). Primeiramente, Fausto busca o conhecimento, mas está enfadado com o mundo que o
cerca. Acredita que pode mais, que deveria alcançar mais, e por isso compra livros e instrumentos, mas estes chegam a
um limite. Para prosseguir além deste limite, Fausto faz o acordo com o demônio, que lhe dá os poderes que busca.
André Ricardo Pontes – RA: 200500200
Professora Marília – Introdução à Filosofia
Relação entre a Dialética do Esclarecimento (Adorno e Horkheimer) e a dialética do progresso de Fausto (Berman)
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A segunda parte trata da descoberta de seus poderes e da idealização de suas pretensões. Há o romance com
Gretchen, que acaba por tornar-se vítima de Fausto, já que ela, apesar de buscar também a independência e o
esclarecimento, ainda está presa ao “pequeno mundo”. Neste romance, resta evidente que o progresso não pode ser
contido, não importa o custo humano.

A terceira parte é a prática, a transformação do mundo. A sociedade moderna, cíclica em seu progresso buscando mais
progresso. A entrada, na ambição de Fausto, de mais e mais pessoas, vindas cada uma de seus “pequenos mundos”,
seus vilarejos que serão incorporadas ao sonho de Fausto de “trabalhar com e para pessoas, usar sua mente em nome
da vontade e do bem-estar social”, um bom slogan para muitas empresas do século XXI, diga-se.

É aí que aparece a dialética do progresso: Fausto busca o bem-estar da humanidade, mas o custo em vidas humanas
será alto. Não somente dos que compartilham e fazem parte dos sonhos do Fausto, mas também, e especialmente, dos
que desejam seguir sua vida sem fazer parte do progresso, como Filemo e Báucia, que são pessoas obsoletas, que
devem ser eliminadas, pois representam um obstáculo no caminho do progresso, e a forma de descarte é bastante
“moderna”: de forma impessoal, através de uma ordem. Possivelmente da mesma forma que o presidente Bush
ordenou aos agentes da CIA, ou da mesma forma que Stálin ordenava a remoção de vilas para grandes construções.
Dessa forma impessoal, o progresso pode continuar com “a consciência tranqüila”, buscando o bem-estar da
humanidade.

Relação

A “sociedade fáustica”, portanto, está diretamente relacionada ao objeto de estudo de Adorno e Horkheimer. Pode-se
dizer, até, que a sociedade fáustica é o objeto de estudo, no sentido de que essa sociedade tornou-se o que é –
mecanizada, cuja finalidade é apenas aprimorar o próprio meio, progredir para progredir mais – é o resultado
alcançado por Fausto: uma sociedade cujo mito (não reconhecido como tal) é a cientificidade, que não permite a
existência de “empecilhos” no caminho da ciência e do progresso. Não à toa, a grita de cientistas contrários à
legislações restringindo pesquisas sobre células-tronco, por exemplo, pode se encaixar tanto na análise de Berman
sobre a era fáustica quando na análise da razão instrumental. Em ambos os casos, os que querem restringir tais
pesquisas são vistos como empecilhos a “incomensuráveis benefícios para a humanidade” no futuro.

A dialética do esclarecimento e a dialética do progresso são resultados do mesmo processo, que leva a sociedade a
crer, talvez até de forma inocente, que o progresso é o único caminho para a felicidade, mas esta estará sempre no
futuro, alcançável sempre depois de mais e mais progresso. Esta visão é muito parecida com a religiosa, por exemplo,
em que há sempre uma promessa de uma eternidade de benesses. O que o esclarecimento científico não levou em
consideração é que é, ele próprio, um mito, tão mito como a religiosidade. Isso levou a se acreditar que essa crença,
que tanto se assemelha às crenças religiosas, no formato e na finalidade distante no futuro, não se trata de um mito,
mas sim de conquistas possíveis que devem ser alcançadas a qualquer custo, mesmo custo humano, justamente em
nome da humanidade.

Em resumo, ambas dialéticas versam sobre a capacidade de se alienar e, em última instância, até eliminar indivíduos,
em nome da liberdade e da felicidade da humanidade. Mas se o indivíduo não tem valor perante o progresso, como a
liberdade, que se dá somente no particular, no individual, poderá ser alcançada? E, essa felicidade da humanidade,
poderá realmente merecer esse nome, já que para alcançá-la, fez-se necessário eliminar ou alienar os dissonantes?

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