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Era uma vez, a Arte de Tecer

Águas, Florestas e Sociedade: uma rede de gestão compartilhada


E u sou a água, a água sou eu,

Eu sou a árvore, a árvore sou eu,

Eu sou suas raízes, suas raízes sou eu,

Eu sou a Terra, a Terra sou eu,

Eu sou todas as coisas, todas as coisas sou eu,

Eu sou a Unidade, a Unidade sou eu.

Nós somos a Unidade.

S. Knight
Era uma vez, a Arte de Tecer
Águas, Florestas e Sociedade: uma rede de gestão compartilhada

www.supereco.org.br
www.tecendoasaguas.net

Textos: Andrée de Ridder Vieira e Gleice Máira Alves


1ª edição • São Paulo • 2015
Copyright © 2015 • Instituto Supereco E
sta publicação é uma organização do Instituto Supereco e da equipe do Projeto
Tecendo as Águas, que protagonizou os resultados aqui apresentados. Retrata,
Projeto editorial e textos: Andrée de Ridder Vieira e Gleice Máira Alves de forma lúdica e criativa, a sistematização da experiência do Projeto Tecendo as
Águas no litoral norte de São Paulo, na bacia hidrográfica do Rio Juqueriquerê
Apoio no desenvolvimento de conteúdo e na bacia hidrográfica do Rio São Francisco, municípios de Caraguatatuba e
de São Sebastião, SP. O projeto é uma referência na gestão compartilhada das
Equipe de Gestão Local: Silvia Weel, Vagner Gonçalves bacias hidrográficas do litoral norte com o Corredor de Biodiversidade da Serra
do Mar (Mata Atlântica), envolvendo a mobilização de atores estratégicos
Equipe de Educação Ambiental: Débora Redivo, Patrícia Mie Matsuo, Natália Marchioni e a formação de uma grande rede de cooperação com múltiplos parceiros
interessados na conservação das águas e das florestas, com o desenvolvimento
Equipe de Geoprocessamento: Reinaldo Gomes
local e o fortalecimento de políticas públicas integradas.
Equipe de Gestão Ambiental: Juliano Hojah da Silva, Sidnei Simão
Nossa história é contada por meio de magia de um tear e de uma menina
Equipe de Comunicação Integrada: Mayara Peixoto e Agência Maypress caiçara chamada Lara. O Projeto Tecendo as Águas é patrocinado pela
Petrobras por meio do Programa Petrobras
Projeto gráfico, ilustrações e editoração eletrônica: Freez Creative Studio Socioambiental. Agradecemos a toda
equipe Petrobras, especialmente
Fotos: Juliano Hojah e Acervo Instituto Supereco a nossa gestora Carolina Leão
(Responsabilidade Social/
Programas Ambientais), por ter
acreditado no sonho de Lara e
mergulhado no encantamento
da gestão compartilhada!
Apresentação.................................................................................................................................................................................................... 06
Capítulo 01 • A Arte de Tecer....................................................................................................................................................................... 10

Capítulo 02 • Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar e a Nossa Paisagem..................................................................... 14

Capítulo 03 • Saberes das Águas............................................................................................................................................................... 20

Capítulo 04 • Águas da Mata...................................................................................................................................................................... 31

Capítulo 05 • Se Liga nas Águas................................................................................................................................................................ 38

Capítulo 06 • Conhecendo as Águas........................................................................................................................................................ 46

Capítulo 07 • Caminho das Águas............................................................................................................................................................. 53

Capítulo 08 • Ritmo das Águas.................................................................................................................................................................. 64

Capítulo 09 • Grupo Ciclos Contínuos..................................................................................................................................................... 71

Era uma vez o início... .................................................................................................................................................................................... 77

Créditos............................................................................................................................................................................................................... 78
Águas, florestas e sociedade:

uma grande rede de cooperação pela vida!


TECENDO AS Á GUAS 6
O litoral norte de São Paulo faz parte deste território e aqui a equipe Supereco se
encantou com a Serra que “tomba” no mar, integrando rios, cachoeiras, mares
e marés, restingas, praias e manguezais, mas principalmente a diversidade de
cultura e saberes das pessoas que ali nasceram e também daquelas que chegaram
em busca de melhor qualidade de vida.

Mas também se deparou com um enorme desafio: mesmo com toda sua
importância, as fontes de água e as florestas como a Mata Atlântica (hoje o
território nacional conta somente com 12% da sua área original) têm sofrido todo
O Instituto Supereco é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público tipo de degradação, colocando em risco a vida das pessoas, da biodiversidade e a
(Oscip), fundada em 1994, com centenas de iniciativas em prol da educação pela socioeconomia da região.
sustentabilidade que fortaleceram pessoas, instituições e vários segmentos em todos
os biomas do Brasil, a partir da formação de redes de parceiros e colaboradores. O fato é que não se podemos ir contra o desenvolvimento, mas devemos pensar no
desenvolvimento valorizando a conservação, encontrando diretrizes e caminhos
Desde 2005, inaugurou um Programa institucional Planejando a nossa Paisagem: sustentáveis que busquem benefícios para todos!
gestão compartilhada de Bacias Hidrográficas e Corredor de Biodiversidade, tendo
escolhido o Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar como cenário principal
de suas intervenções. Este corredor abrange os estados do ES, RJ, MG, SP e PR,
incluindo grandes cidades e principais metrópoles do Brasil, as quais dependem
diretamente desta serra conservada para terem os serviços ofertados como ÁGUA,
pois sem a água, das nascentes a centenas de rios, não existe nenhum tipo de
vida, muito menos desenvolvimento humano, produção e economia; assim como
alimentos, vestuários, energia, transporte, clima, ar puro, lazer e bem estar.

TECENDO AS Á GUAS 7
Existe uma fórmula mágica para dar certo, além de muita determinação?
Podemos dizer que mais do que receitas, é importante partir da compreensão do Programa Planejando a nossa paisagem. Ele foi desenvolvido pelo Instituto
de um contexto (ambiental, social e econômico): entender e aprender sobre a Supereco e por uma rede de patrocinadores, parceiros, apoiadores e colaboradores
evolução e história de um local, como ocorreu o desenvolvimento desta região como lideranças comunitárias, moradores e representantes do governo, de Ongs e de
e de sua comunidade - Como era? O que mudou? Por que mudou? Quem são as instituições públicas e privadas, cuja bela história você irá conhecer nesta publicação.
pessoas e atividades que modificam o cenário? Que interferências externas alteram
a sua dinâmica? O que existe de bom e precisa ser mantido? O que precisa ser Foram 24 meses de muitas ações e mobilização da sociedade, com iniciativas
mudado e como pode ser mudado? O que presente irá interferir no futuro do lugar? e práticas de educação ambiental e educomunicação em escolas e nas
comunidades, reflorestamento de matas ciliares e conservação de rios, agricultura
Uma série de indagações exige muita investigação por muitas pessoas orgânica e familiar, ecoeficiência na zona rural, saneamento e saúde, turismo
conjuntamente, mergulhar fundo nas águas e na complexidade desta bacia sustentável, mapeamentos e diagnósticos para apoiar as políticas públicas da
hidrográfica. Mas, antes de partir para a prática, é preciso tecer relações, investir região e a busca de soluções junto com as comunidades.
na sensibilização, na mobilização e formação de lideranças capazes de se
envolver e disseminar conhecimentos, boas práticas e soluções. Tecer relações Assim, as águas foram tecidas num rico mosaico de seis objetivos conectados
entre águas, florestas e sociedade! e suas ações para integrar água, floresta, educação, saúde, cultura, turismo,
geração de renda e qualidade de vida, na área rural e urbana: “Saberes das
Encontrar o “tom” do trabalho formando uma grande Rede de Cooperação pela Águas”, “Se Ligue nas Águas”, “Conhecendo as Águas”, “Caminho das Águas”,
Vida! Esta foi a trajetória do Projeto Tecendo as Águas, aprovado no edital público “Águas da Mata” e “No Ritmo das Águas”.
do Programa Petrobras Socioambiental em 2012, e que contribuiu no fortalecimento

TECENDO AS Á GUAS 8
O sucesso do Tecendo as Águas é de todos e para todos! Resultou de uma rede de
patrocinadores como a Petrobras, parceiros e inúmeros apoiadores do bem comum,
U ma grande REDE DE COOPERAÇÃO PELA VIDA é construída pela
esperança, união e contribuição de cada um. E de muitos
de uma equipe engajada e compromissada em fazer a diferença com amor e parceiros que decidiram fazer a diferença pelo
esperança. Mas, especialmente, das lideranças locais formadas pelo Grupo Ciclos litoral norte com muitas conquistas:
Contínuos do Juqueriquerê e do São Francisco, que se tornaram multiplicadoras e
agentes socioambientais das transformações nas suas comunidades. - 1º Lugar da categoria de Preservação dos Recursos Naturais do prêmio
“LIF 2015 - Clima e Sociedade: a mudança começa em nós”, da Câmara
Você é convidado (a) especial para conhecer a história “Era uma vez...A arte de de Comércio França-Brasil;
Tecer: Águas, Florestas e Sociedade”, onde cada capítulo trará um resumo dos
principais objetivos, públicos envolvidos, atividades, metodologias aplicadas, - Prêmio “Melhores Práticas de Educação Ambiental e Gerenciamento
resultados e desdobramentos em cada eixo deste mosaico, cujo conjunto de Recursos Hídricos de 2014”, no XII Diálogo Interbacias de Educação
traz uma referência metodológica para a gestão compartilhada de bacias Ambiental em Recursos Hídricos - Água & Energia;
hidrográficas no Brasil valorizando a construção participativa das diferentes - 4.200 pessoas atendidas diretamente;
representatividades da sociedade.
- Mais de um milhão em campanhas e ações de mídia e educomunicação;
Esperamos que nossa história lhe inspire para formarmos um grande manancial - 172 encontros de mobilização e capacitação de atores estratégicos;
de vida e de esperança, transformando nossa realidade atual para melhor e
preparando um futuro próspero para as próximas gerações. - 8.400 árvores de Mata Atlântica plantadas em mata ciliar;
- Implantação de 8 boas práticas de ecoeficiência na zona rural;
- Fortalecimento de 23 políticas públicas e de colegiados, como o Comitê
de Bacias Hidrográficas do Litoral Norte de SP;
Agradecemos a cada um que fez e faz do Tecendo
- 21 publicações e 56 mapas georreferenciados;
as Águas uma experiência inesquecível!
- 47 parcerias.

Equipe Instituto Supereco/Projeto Tecendo as Águas


TECENDO AS Á GUAS 9
Era uma vez, a arte de tecer...
Era uma vez uma garotinha de pele achocolatada, cabelos castanhos e olhos
brilhantes. Seu nome era Lara, que em tupi-guarani, significa “deusa das águas”.
A cordava ainda no
escuro, como se ouvisse o
Esperta e curiosa, a pequena Lara, percorria as ruas de pedras do Bairro São sol chegando atrás das beiradas
Francisco onde morava, dia após dia, com sua inquietação de menina. Passava o da noite. E logo sentava-se ao tear.
dia explorando as belas praias até perder-se de vista, passando por trilhas da bela
e imponente Serra do Mar, conversando com os moradores mais antigos, ouvindo Linha clara, para começar o dia.
histórias, muitas histórias.
Delicado traço cor da luz, que ela ia
Eis que numa ensolarada manhã, Lara seguiu por entre as matas atrás de uma passando entre os fios estendidos,
fruta com nome esquisito chamada de “fruta-pão” e chegou até a Fazenda enquanto lá fora a claridade da manhã
Santana. Encantada com a construção de 1743, Lara logo se embrenhou pelos
desenhava o horizonte. Depois lãs mais
corredores da casa grande, passou pelos arcos de pedra e entrou no porão. Lá
havia diversos objetos antigos, alguns estranhos que lhe deram medo, mas um
vivas, quentes lãs iam tecendo, hora
deles lhe chamou muito a atenção. Era simples, apenas madeira e um fio. Um fio a hora, em longo tapete que nunca
que não parecia com nada que Lara conhecia. Com sua curiosidade de criança, acabava. Se era forte demais o sol, e
Lara tocou o objeto. No mesmo instante, sem que pudesse compreender o que no jardim pendiam as pétalas, a moça
acontecia, o fio começou a se movimentar e a tecer, tecer e tecer. Lara mal estava colocava na lançadeira grossos fios
acreditando no que via, menos ainda conseguia identificar que desenho surgia, até cinzentos do algodão mais felpudo.
que percebeu que o tear, sozinho, tecia uma história:
Em breve, na penumbra trazida pelas
nuvens, escolhia um fio de prata,
que em pontos longos rebordava
sobre o tecido. Leve, a chuva vinha
cumprimenta-la á janela.

Colasante (2004)

TECENDO AS Á GUAS 10
Lara continuava sem entender o que estava acontecendo. Mas naquele instante, ela entre os que viviam no interior do oîkos - mata o próprio
acabara de encontrar um TEAR, que ao ser tocado passou a revelar, da mesma forma filho do casal, Itis, e o oferece como refeição ao marido. Após
que “A Moça Tecelã”, do poema de Marina Colasante, a magia da arte de tecer.
descobrir que havia se alimentado da carne do próprio filho
E assim nossa história começa, tecendo o Projeto Tecendo as Águas, costurando ele as persegue. As duas irmãs fogem e são transformadas em
águas, florestas, pessoas, seus saberes e fazeres. Entre as linhas e agulhas das pássaros: Procne num rouxinol e Filomela em uma andorinha.
páginas deste livro, seu olhar será conduzido para cada descoberta de Lara e
os “jeitos de tecer” neste rico cenário do litoral norte, como um mergulho nessa
encantadora magia. A transformação de Procne em um rouxinol a associa mais intimamente ao
canto.3 O canto acompanha a atividade feminina e a tecelagem aparece ligada a
Cada capítulo conduzido por um fio levará você a conhecer uma arte1 que remonta uma espontaneidade e alegria feminina. Há entre Filomena e Procne uma espécie
do mundo antigo grego, onde a habilidade era pertencente apenas às mulheres, de complementaridade, isto porque, enquanto uma tece a outra canta. Filomena
como uma arte necessária a prosperidade do grupo doméstico. Assim como um tece o crime do qual é vítima e a Procne, canta a sua dor acerca do crime que ela
meio de se comunicar essencialmente feminino e sensível, ao olhar sempre em mesma executa.4
sistemas, em um mundo, no todo e não apenas em partes ou peças que se juntam.
Tecer é a arte de expressão de um povo, de uma cultura de múltiplos saberes.
No segundo mito, a deusa Atena é desafiada na arte da
Lara nem se dava conta de como estava sendo levada para conhecer a origem tecelagem por Aracne, uma jovem da Lídia e órfã de mãe. Seu
nos tempos longínquos da arte de tecer. E, diante de seus olhos brilhantes, os fios pai, Idmón, era tintureiro, um artesão de múltiplos recursos.
começaram a se interligar revelando dois mitos: o mito de Filomela e de sua irmã
De acordo com o próprio mito, Aracne, vaidosa e hábil na
Procne e o da Aracne, que disputa a habilidade do tecer com a deusa Atena.
tecelagem, não aceitava que se atribuíssem seus méritos
aos ensinamentos da deusa e a desafiou a própria Atena a
No primeiro mito, Tereu depois de ter ajudado Pandion, um concurso. Frente ao desrespeito de Aracne para com as
rei de Atenas, a vencer a guerra por disputa de fronteiras, divindades, a Deusa oferecendo a jovem uma oportunidade,
contra Ladidaco rei de Tebas, recebeu a jovem Procne em aparece a ela como uma anciã, e lhe recomenda moderação e
casamento. Porém Tereu acaba por violar Filomena, irmã de respeito aos deuses. Aracne, portanto, não aceita os conselhos
Procne. E para que a violação não fosse revelada, corta-lhe e expulsa a senhora de sua casa. Atena aceita a competição
a língua. Restando-lhe, então, a arte de tecer para narrar à e “frente a frente, cada uma em seu tear, tecem com ardor,
sua irmã o que havia acontecido. Ela tece um tapete narrando
o acontecido. Procne - como forma de punição, pois Tereu
havia transgredido uma das regras de relações de intimidade

1 LESSA (2011) 3 Aristóteles. História dos Animais. IV, 9, 536a apud LESSA (2011)
2 Brandão, 2000, v. II, p. 41 e v. III, p. 150 e 236; Frontisi-Ducroux, 2006, p. 226; Buxton, 1996, p. 141; Harvey, 1998, p. 235 apud LESSA (2011) 4 Frontisi-Doucroux, 2009, p. 86, 127-8 apud LESSA (2011)
TECENDO AS Á GUAS 11
utilizando todas as cores, histórias de tempos antigos”.5 revelaram que a tecelagem era praticada desde a Idade de Bronze usando
Atena representa sua vitória sobre Poseidon na disputa lã, cânhamo, linho ou outras fibras, resultando em tecidos de boa qualidade.
Acredita-se que durante cerca de 9000 anos, nos meses de inverno, as mulheres
para converter-se em protetora de Atenas, enquanto Aracne
passavam fiando e tecendo tecidos que eram usados como moeda de troca no
descreve de forma expressiva as metamorfoses que utilizavam intercâmbio com outros países. Somente no século 12 o fuso e a roda foram
os deuses masculinos. Diante da perfeição do trabalho de substituídos pelo tear horizontal e a presença masculina foi aos poucos assumindo
Aracne, Atenas não teve como objetar. Dessa forma Aracne a tecelagem em grande escala. “Porém, as mulheres continuaram a fiar e tecer nas
sai vencedora da competição o que deixa Atena irada, fazendo suas casas, mantendo assim vivas as lendas e tradições da tecelagem como uma
com que transforme a jovem em uma aranha para que arte mágica feminina”.6
permaneça compulsivamente a tecer.
Para o estudioso grego e mitólogo, Frontisi-Ducroux7

Na mitologia, outras deusas aparecem relacionadas à habilidade de “fiar e tecer”,

A
como uma representação de seus poderes, das estações lunares e da própria vida
humana. As Moiras de Roma, as Parcas da Grécia e as Nornes dos países Nórdicos, atividade de tecer é
conhecidas como senhoras do destino, traziam como símbolo de sua magia,
por duas razões o espaço
a roda de fiar. Entonando canções elas mediam, cortavam e fiavam o fio da
existência humana, predizendo os destinos dos recém-nascidos. de voz feminina. Primeiro,
porque a arte de tecer
Os fios do nosso tear continuam a compor sua história nos revelando os pressupõe a convivência
segredos do tempo. Da Mitologia a era Paleolítica, onde a confecção de vestes em grupo, isto porque as
de algum tipo de material tecido fazia parte das atividades femininas que iam
esposas, exercendo tal
da preparação de fios, torcendo pequenos filamentos de fibras naturais. Com
este método eram preparadas cordas para amarrar, redes, armadilhas, roupas
atividade em conjunto,
e cobertas. A descoberta do ato de fiar pode ser comparada em importância nas formavam uma equipe
artes domésticas com a introdução da roda nas atividades agrícolas. O mais eficiente, e com isso
antigo registro foi encontrado numa estatueta neolítica de Lespugue, datada de produziam mais e bem
20.000 anos a.C, que trazia uma figura feminina chamada Vênus usando um melhor do que se estivessem
“avental” confeccionado de fios torcidos amarrados com uma tira na cintura. atuando em separado.
As extremidades desfiadas dos fios dão indícios de se tratar de origem vegetal
ou animal. Achados encontrados nos sítios arqueológicos do Norte europeu

6 Site Teia de THEA - Fiar e Tecer, a artes mágicas Femininas <http://www.teiadethea.org/?q=node/170>


7 Françoise Frontisi-Ducroux , nascido em 10 de Fevereiro de 1937, é um estudioso grego e mitólogo Francês vice-
5 (Frontisi-Doucroux, 2006, p. 251)apud Lessa (2001) diretor do laboratório do Collège de France, co-fundador do centro Gernet (EHESS) e membro do herdeiro Anhima
laboratório centro Gernet. Sua tese de pós-graduação, defendida na Sorbonne, em 1972, antes de um painel
composto por Marcel Detienne, Vernant e Ernest Será que um é dedicado a Daedalus e figura do artesão na Grécia
antiga; como revisado para publicação, publicado em 1975, se tornou um clássico estudos mitológicos. TECENDO AS Á GUAS 12
Apesar das palavras difíceis e de uma história que se passou há muito mais de mil E assim nosso tear segue com suas tramas, tecendo e unindo dois fios, depois
anos, Lara não perdeu a atenção e se viu diante de um balcão empoeirado com três, e mais três fios, que se cruzam perpendicularmente e se encontram sempre
um quadro antigo de uma foto bem amarelada onde havia duas mulheres: Dona formando um novo tecido e novas histórias. Histórias de vidas, de lutas, de
Antônia Margarida de Jesus e sua sobrinha Dona Gertrudes Baldaia do Rego. Na esperança, de conquistas e de fé. Histórias de caiçaras, agricultores, pescadores,
moldura estava escrito “As Senhoras de Engenho da Fazenda Santana” e Lara se artesãos, artistas, professores, educadores, empresários, governantes, moradores e
perguntou se elas também sabiam tecer e se tinham tecido vestidos tão lindos como turistas e tantos outros seres humanos especiais que neste livro iremos encontrar.
os daquela foto. Imediatamente passou a lembrar-se também de outras mulheres
que já havia encontrada por suas andanças, que sentadas ao tear montados nas Histórias de idosos e de crianças, meninos e meninas, homens e mulheres, histórias
portas de suas casas teciam e cantavam sempre rodeadas de crianças. de gente real e de gente que foi criada para dar vida a novas histórias...

Tocando o tear da Fazenda Santana, Lara pode sentir que o tear é um instrumento Os fios se transformam em tecido acolhedor...
pelo qual se transmite o patrimônio cultural às futuras gerações, o qual as marcará Firme e leve ao mesmo tempo.
para sempre! Lara jamais se esquecerá do dia em que as palavras e imagens da
contação de histórias da bacia hidrográfica durante a Festa Santana, contada pela Constroem e reconstroem mosaicos com pedaços de um território, ligam-se lá no
voz de mulheres, encantou crianças, jovens e pessoas de todas as idades! alto da serra, descem pelas cachoeiras da Serra do Mar, cruzam rios e riachos,
praias e manguezais, contornam rochas e pedras no caminho, envolvem árvores
de todos tipos e bichos de todos os tamanhos. E em cada ponto e remendo
identificam um novo fio a tecer. E lá estamos nós, como aquele fio que brilha ao
sol da manhã, refletindo a boa energia de quem tece.

Um fio que traz a canção de contagia, que encanta e que transforma este lugar.
E com o cair da noite, espelhado nas águas do São Francisco, traz o silêncio de
refletir um novo caminhar.

Um fio que pode ser de lã, mas também pode ser de água, de raiz de floresta
ou de cabelo de gente. Não importa qual fio, todos carregam em si saberes e
fazeres, encontros e reencontros, que juntos irão tecer a história da grande Rede de
Cooperação pela Vida!

Era uma vez, o Corredor


da Serra do Mar...
TECENDO AS Á GUAS 13
Corredor de Biodiversidade da
Serra do Mar e a Nossa Paisagem
TECENDO AS Á GUAS 14
N o grande mosaico da vida, cada elemento é único
em sua essência. Mas quando misturados como águas,
mares, matas, terra, areia, bichos e pessoas, formam a
mesma Unidade! Pela harmonia e equilíbrio de todos,
estaremos sempre a tecer uma nova história...

(Instituto Supereco)

A névoa cobria toda a Serra do Mar, quando Lara despertou ao amanhecer. Mas eram os fios que teciam a Serra, por todos os lados, em todos os cantos e
Lembrou-se do sonho do tear. Era sonho ou realidade? recantos das matas, que mais chamavam a atenção desta menina caiçara. Vinham
das nascentes, rios, cachoeiras e córregos que, conforme se movimentavam em
Ela acordava todas as manhãs e via aquela enorme cadeia de montanhas direção ao mar, pareciam desenhar “caminhos” como se estivessem moldando o
verdes como a cor mais viva do seu estojo de lápis. Aliás, a Serra era pincelada solo por onde passavam. Também moldavam histórias daquele lugar, de quando
de muitos tons de verde por onde se olhava. Também havia outras cores, azuis ainda nem era ocupado do jeito que hoje Lara conhece. De um lado para o outro,
de um céu bem brilhante, brancas das nuvens que pareciam flutuar aos olhos de pessoas coloriam de alegria e movimento essa bela paisagem.
Lara, vermelhas das penas do Tiê-sangue e rosa das flores mais impressionantes
que já tinha visto! O tear de Lara parecia um grande mosaico multicolorido, que mais tarde ganhou
sentido na aula de Geografia. O morador mais antigo do bairro São Francisco
onde Lara mora, o S.Áureo, foi a atração do dia na escola. Foi ele quem contou
às crianças que o mosaico com aquele monte de “tipos de coisas juntas e muito
importantes” era na verdade o Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar*.
Também disse que o corredor é como uma linha virtual (que a gente não vê), mas
que serve para planejar a paisagem, criando conexão entre os pedaços de florestas
da Mata Atlântica e de matas, onde os animais poderiam se deslocar de um lado
para o outro, ficarem protegidos, alimentados e criar suas novas famílias. Parece
uma teia da vida, com fios ligando uns aos outros por todos os lados e direções.

*O Corredor de Biodiversidade é um mosaico de usos e ocupação da terra. Ele integra parques e reservas, áreas de
cultivo e pastagem, centros urbanos e atividades industriais, responsabilizando todos os cidadãos pela conservação
da natureza. O objetivo é re-conectar os fragmentos de floresta, que garantem a sobrevivência das espécies, o equilíbrio
dos ecossistemas e o bem estar humano. (www.aliancamatatlantica.org.br) TECENDO AS Á GUAS 15
Algumas crianças ficaram inquietas e Lara logo pensou: vai ver tem aranha Sua professora de Geografia, que aliás também era educadora ambiental, logo interviu:
ajudando S.Áureo a tecer esta tal de corredor! Ele também contou que o Corredor
abriga um dos mais importantes remanescentes contínuos de floresta dos 12% - Lara, existe esperança para transformar este cenário. Senta e
que restaram da área original da Mata Atlântica do Brasil. Junto com as matas, escuta que lá vem história!
muitas nascentes das bacias hidrográficas estão desaparecendo e muitos rios estão
contaminados. Por isso fez um alerta: E foi o que Lara fez, assim como todas as crianças da classe. Ficaram quietas ouvindo
S.Áureo, com suas mãos mágicas tocando o tear. Cada vez que ele desenrolava os
- Conservar e cuidar da Serra do Mar é garantir que todos os serviços panos e fios, mais ajuda recebia dos tecelões e um novo capítulo se iniciava.
ambientais que ela nos oferece, gratuitamente, todos os dias, como
Personagens reais, do Projeto Tecendo as Águas, que se juntaram a muitos parceiros
água, regime de chuvas, ar puro, clima estável, biodiversidade,
para mudar a vida do litoral norte de SP. Mobilizando pessoas e mais pessoas para
alimentos, artesanato, renda, turismo e lazer possam existir hoje e atuarem na conservação e na gestão compartilhada das bacias hidrográficas do
para as futuras gerações. litoral norte de SP.

Lara levantou pensativa, até mesmo entristecida e começou a tagarelar:

- Como pode ter sobrado somente um tiquinho de toda a Mata Atlântica


que existia? Para qual paisagem as outras crianças, das outras cidades,
olhavam todas as manhãs? E como elas iam tomar banho daqui para
frente? Teriam praia para nadar? Água boa para beber? Ar para respirar?
Chuva para se molhar? Alimentos para comer? E lágrimas para chorar?
E essa tal de bacia, era de lavar a roupa ?

TECENDO AS Á GUAS 16
BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS MUNICÍPIOS
NOSSO ENDEREÇO ECOLÓGICO DE CARAGUATATUBA E DE SÃO SEBASTIÃO

O Instituto Supereco atua no Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar e nas


bacias hidrográficas do litoral norte de São Paulo. O “Projeto Tecendo as Águas”
elegeu duas bacias hidrográficas, a bacia do Rio Juqueriquerê e a bacia do rio São
Francisco, por serem prioritárias para o abastecimento público de Caraguatatuba
e São Sebastião, SP. Assim como pelo cenário atual originado pela larga expansão
econômica da região, com megaempreendimentos simultâneos que impactam
diretamente o nosso “endereço ecológico”, especialmente no setor de energia e de
transporte. Se não houver um bom planejamento integrado deste território, voltado
para a sua sustentabilidade e envolvendo as comunidades locais, os riscos atuais
de degradação podem comprometer, no presente e futuro, a segurança hídrica, a
socioeconomia e qualidade de vida da população.

Imagem da Serra do Mar: Reinaldo Gomes

TECENDO AS Á GUAS 17
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUQUERIQUERÊ NOSSO PRINCIPAL OBJETIVO
E BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO

“Contribuir para a recuperação da qualidade dos recursos hídricos do Sistema de


Abastecimento Porto-Novo e Sistema São Francisco e a conservação da bacia do
Rio Juqueriquerê e bacia do Rio São Francisco, municípios de Caraguatatuba e de
Sebastião, Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar, litoral norte de SP”.

NOSSO PRINCIPAL DESAFIO

Mobilizar e engajar o maior número possível de atores destas bacias hidrográficas,


em todos os níveis e segmentos, a se apropriarem de conhecimentos sobre o seu
território e de boas práticas de conservação para “atuarem em rede”, visando o
planejamento conjunto e o fortalecimento da gestão compartilhada dos recursos
hídricos, incluindo o Comitê de Bacias Hidrográficas do Litoral Norte de SP (CBH-LN)
como catalisador desta sinergia.

TECENDO AS Á GUAS 18
NOSSA PERSONAGEM PRINCIPAL

Lara, uma menina caiçara e muito curiosa, disposta a aprender todos os dias e
tornar o seu aprendizado uma inspiração para sua vida inteira. O sonho de Lara
é ver todos felizes, inclusive seus filhos e netos no futuro, vivendo num mundo
colorido e sustentável. Água não poderá nunca faltar no mundo de Lara!

NOSSOS TECELÕES

Equipe do Instituto Supereco, do Projeto Tecendo as Águas, do Grupo Ciclos


Contínuos e de muitos parceiros e apoiadores envolvidos nesta história, cujos
nomes e instituições podem ser podem ser conhecidas ao final desta publicação.

TEMPO DA NOSSA HISTÓRIA

O Projeto Tecendo as Águas foi vencedor do edital do Programa Petrobras


E por falar em aprender,
era uma vez os saberes das águas...
Socioambiental 2012. A história aqui contada tem a duração de agosto de 2013
a julho de 2015.

TECENDO AS Á GUAS 19
Saberes das Águas
TECENDO AS Á GUAS 20
Tão logo Lara conheceu o S. Áureo,
um dos moradores mais antigos do NOSSAS ÁGUAS (OBJETIVO)
bairro São Francisco, contador de
histórias como ninguém, um mundo
de descobertas ela vivenciou. E Sensibilizar e mobilizar atores locais para a importância da recuperação, conservação
foram juntando gente e mais gente e qualidade dos corpos d’água do Sistema de Abastecimento Porto Novo-São
para ouvir com atenção o que Sebastião e Sistema São Francisco – Sub-bacia do Rio Juqueriquerê e Sub-bacia do Rio
S. Áureo tinha a dizer: São Francisco, fortalecendo a gestão compartilhada dos recursos hídricos.

QUEM FORAM NOSSAS GOTAS


(PÚBLICO-ALVO)
A li a gente tomava banho, pulava de cima
A educação ambiental foi o tema transversal a todos os objetivos e ações do
daquela ponte, era fundo...agora é só porcaria, lodo, Projeto Tecendo as Águas. Envolvemos diversos atores de todas as idades e
não tem muita água... peixe tinha bastante, agora nem segmentos nesse processo. Pessoas que chegaram à Rede e nos fortaleceram com
peixe tem. Minha mãe ia lá no rio, pegava água no pote seus saberes e fazeres, tradicionais, acadêmicos, científicos e populares. Juntamos
pra trazer pra casa pra gente beber, a gente tomava diversos fios que foram desenvolvidos por:
banho, antigamente não tomava banho em casa não, - Supervisores Pedagógicos da Secretaria de Educação e Cultura de São
tinha que ir pro rio... Punha a toalha no pescoço e ia, Sebastião (SEDUC);
não tinha nada de chuveiro, nem de água encanada, - Coordenadoria de Educação Ambiental e equipe da Secretaria de Meio
nada... A água era carregada em pote de barro, as Ambiente de São Sebastião;
mulheres carregavam água na cabeça, tudo limpinho, - Professores Coordenadores do Núcleo Pedagógico da Diretoria de Ensino de
era um cristal a água, limpinha, limpinha.... Caraguatatuba (PCNPs);

Sr. Áureo Rego, 86 anos, aposentado, morador do bairro - Diretores, Coordenadores Pedagógicos e Professores das escolas públicas:
São Francisco, personagem do Caderno Saberes das EMEI Algodão Doce, EMEI Três Porquinhos, EMEI Pingo de Gente, EMEI
Chapeuzinho, Escola Municipal Maria Francisca Tavolaro, Escola Municipal
Águas, melhor amiga da Lara
Walfrido Maciel Monteiro; Escola Estadual Nair Ferreira Neves;

TECENDO AS Á GUAS 21
- Estudantes das redes municipal e estadual da Bacia Hidrográfica do Rio São Iniciamos nossas atividades de Formação continuada em educação ambiental com
Francisco, em São Sebastião, SP; a realização de um Seminário Geral de Formação do Saberes das Águas para todos
os envolvidos, com carga horária de 8hrs.
- Lideranças comunitárias (pescadores, agricultores, artesãos, donas de
casa e representantes de vários outros segmentos) e moradores das bacias
A partir do seminário de formação geral, desmembramos a formação continuada
hidrográficas do rio Juqueriquerê e do Rio São Francisco, em Caraguatatuba e
em Oficinas de Saberes específicas para cada um dos segmentos escolares,
São Sebastião, SP;
realizadas diretamente no território da instituição de ensino, de forma a privilegiar
- Crianças e jovens atendidos pelos projetos sociais de São Sebastião, SP. a formação de novos multiplicadores, compartilhar novas experiências e sugestões
pedagógicas, monitorando o aproveitamento, e adequando os conteúdos às
sugestões e necessidades dos educadores. Estas oficinas foram realizadas durante o
Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) das escolas municipais e durante
COMO TECEMOS AS GOTAS as Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPC) da escola estadual. As instituições
(METODOLOGIAS) parceiras do projeto tiveram a liberdade de escolher em qual segmento educacional
participariam, considerando a faixa etária do público atendido pela instituição e os
A partir da proposta de um Programa de Educação Ambiental, os primeiros fios trabalhos temáticos desenvolvidos. Desta forma, foi possível criar desdobramentos
buscaram garantir, desde o início, a integração e o alinhamento da proposta das do Saberes das Águas, fortalecendo novas alianças de trabalho coletivo.
ações de educação ambiental do Projeto Tecendo as Águas com os conteúdos
disciplinares em todas as áreas, currículos e estratégias pedagógicas das
instituições de ensino e dos projetos sociais. Realizamos reuniões de apresentação

N
e construção conjunta do formato do Programa com supervisores, gestores,
coordenadores e educadores de diferentes instituições de ensino dos municípios de o começo as crianças não sabiam que a bacia
São Sebastião e Caraguatatuba, SP. hidrográfica do Juqueriquerê abastecia suas casas. Hoje,
Envolvemos educadores de todos os segmentos escolares – Educação Infantil,
cada uma delas é multiplicadora de conhecimentos
Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio – da bacia do sobre a água e sobre o Rio Juqueriquerê. Elas levam
Rio São Francisco, em São Sebastião, bem como as instituições parceiras, esses ensinamentos para casa. Assim, trabalhamos toda
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), Secretaria Municipal de a comunidade indiretamente.
Meio Ambiente de São Sebastião (SEMAM); Projeto Garoçá; Projeto Cidadão
Criança; Projeto Viração; Polícia Militar Ambiental; Secretaria de Educação e Educadora Fabiana Helena Medeiros,
Cultura de Caraguatatuba (SEDUC) e Instituto Terra e Mar; visando garantir que Projeto Garoça
as ações promovidas com o mesmo público estivessem integradas e não houvesse
duplicidade. O intuito foi potencializar as iniciativas já existentes no território da
bacia hidrográfica, assim como possibilitar a formação de novas parcerias entre
os vários atores e o fortalecimento em rede.

TECENDO AS Á GUAS 22
O rio praticamente morreu, porque o
Os materiais pedagógicos “Caderno Saberes das Águas”, “Guia de Apoio ao
Educador”, “Kit Rodas de Conversa” para apoiar estas iniciativas foi todo
volume de água dele diminuiu muito, muito construído a partir da investigação do contexto, de temas e personagens locais.
mesmo, o que eu posso dizer é isso... Em pouco Atores identificados na bacia hidrográfica serviram de inspiração para criar histórias
tempo, não faz nem 8 anos que eu tô aqui, em interativas, jogos e passatempos, estimulando a imaginação das crianças e jovens
cinco anos ele diminuiu bastante, talvez pela e levando-as a interagir e valorizar a sua bacia hidrográfica. S.Aureo, Cida, D.Bete,
falta de chuva... porque o rio que passa na D.Geni, José Roberto, S.Edvaldo, Denise, entre outras personagens reais da região se
uniram a Lara para fazer do Saberes das Águas uma grande diversão.
porta da minha casa, ele chegou a secar. No
final da temporada do ano passado ele não
tinha nem água...ele ficou sequinho.
Sr. José Roberto de Oliveira
(Líder comunitário, aluno do Curso de Biomapas)

As Oficinas de Saberes (Maio de 2014 a Junho de 2015) totalizaram 28 Encontros,


4 com cada segmento. Respeitando os fios que já são tecidos de forma organizada
na escola, as datas dessas oficinas foram agendadas previamente pela nossa
equipe com os coordenadores pedagógicos de cada escola, de acordo com os
compromissos já existentes de cada unidade escolar.

O processo “aprender fazendo” foi o tom permanente do aprendizado


compartilhado, com dinâmicas interativas (acervo do Instituto Supereco), músicas e
contação de história com temáticas ambientais voltadas para o território, utilização
de mapas e saídas de campo para mapeamento e reconhecimento das fragilidades e
potencialidades do entorno das escolas. As temáticas propostas em cada segmento
foram sugestões pedagógicas que poderiam ser trabalhadas de forma transversal
no currículo do segmento escolar específico. Assim, a Educação Ambiental e a
temática Recursos Hídricos foram tecidas pelo mesmo fio, de forma transversal, em
todas as disciplinas e idades, a partir do cenário e personagens locais.

TECENDO AS Á GUAS 23
Um Curso de Biomapas (6 módulos de duração) trouxe a oportunidade de levar a Pelas águas da bacia do Rio São Francisco, estudantes da EE Nair Ferreira Neves realizaram
educação ambiental para as comunidades, onde cada grupo de atores, de acordo análises da qualidade de água (IQA), com auxílio de Kits de monitoramento, em 3 pontos
com um tema específico, teve como desafio construir, em bases cartográficas e de coleta da bacia, integrando o currículo da Química e Biologia, de forma a contribuir
com apoio do geoprocessamento, o seu olhar sobre o território, identificando o que com a construção do conhecimento da real situação destes rios e córregos. No total
está bom e o que precisa mudar. Com base nos resultados, Planos de Ação foram foram realizadas 15 coletas e análise de água e o procedimento de monitoramento da
concebidos trazendo sugestões e soluções. Foram muitos fios se tecendo e outros qualidade de água educativo, estimulando a visão crítica dos alunos, auxilia no processo
necessitando de remendo, até mesmo de nova costura! de construção do conhecimento e empoderamento dos jovens sobre a qualidade dos rios.
Estimulou o olhar, cobrança e ação para conservação destas águas.

Após o longo percurso destas gotas nas escolas, onde muitas instituições formaram suas
próprias cachoeiras, cada qual com muitos resultados positivos de aplicação do Saberes
das Águas, a finalização da formação continuada em educação ambiental aconteceu
com um Seminário Geral de Devolutiva de Resultados (carga horária de 8hrs) com
o objetivo de compartilhar (entre todos e para todos) as atividades desenvolvidas em
cada instituição. Neste momento, os educadores puderam trocar as experiências que
obtiveram durante a formação, os resultados alcançados pela interface com o Tecendo
as Águas, assim como as dificuldades e lições aprendidas nesse processo.

Para os educadores com um mínimo de 75% de frequência, houve a entrega de


certificados de participação. Durante a comemoração, as unidades escolares e
instituições parceiras receberam um troféu e um certificado de participação do
Programa “Saberes das Águas” do Projeto Tecendo as Águas, visando reconhecer
e valorizar o seu trabalho de educação ambiental mediante a adesão efetiva do
Projeto em suas instituições e com a participação ativa de seus educadores.

Fios tecidos minunciosamente nesta Rede da Educação precisam de monitoramento


de seus caminhos, alinhavos e reforço em seus teares. Como instrumento avaliador
deste processo, foi desenvolvido um Sistema de Monitoramento e de Avaliação com
Réguas de Desempenho preenchidas com cada escola/instituição. O resultado deste
processo servirá para avaliar e validar a aplicabilidade da educação ambiental e
do Projeto Tecendo as Águas como formador de conhecimentos e mobilizador para
a gestão compartilhada dos recursos hídricos, ambos amparados e integrados às
políticas públicas de educação e das águas.

TECENDO AS Á GUAS 24
PERCURSO DO NOSSO RIO
(ATIVIDADES) N ovos tecidos e tecelões abriram novos caminhos...

Pelas mãos dos hábeis tecelões, a equipe do projeto, educadores e instituições, até
As principais atividades serviram para navegar pelas águas das bacias mesmo de outras águas longínquas, foram muito além do que estava previsto:
hidrográficas e tecer relações entre os atores, as temáticas e os seus desafios: realizaram 33 desdobramentos de ações não planejadas anteriormente, além
- 30 Reuniões com Gestores das escolas; da produção de 4 outros materiais educativos (Texto da Bacia Hidrográfica São
Francisco, Exposição Água Virtual, Vídeo Saberes das Águas, História da Fazenda
- 02 Seminários de Formação com educadores do ensino formal e não formal;
Santana), 01 Oficina de Contação de História para professores e educadores,
- 28 Oficinas Saberes (4 com cada segmento: Educação Infantil, Fundamental I, 02 apresentações externas do projeto (Seminário de Educação Ambiental em
Fundamental II, Ensino Médio); Cachoeiras de Macacu no estado do Rio de Janeiro e na Faculdade de São
- 06 Estudos de Meio integrados ao Programa Visão Costeira1; Sebastião) e 01 Oficina de Pedagogia Social com equipe EA e Ciclos Contínuos.

- 01 Curso de Metodologia de Biomapas com representantes das lideranças


comunitárias;
- 1 reunião das abordagens interativas de sensibilização ambiental nos piers do
Bairro São Francisco;
- Produção de kit educativo com 03 Cadernos de Educação Ambiental voltados
para estudantes;
- Produção de kit com 03 Guias de Apoio ao Educador do Ensino Fundamental I; A s professoras ficam
- Produção de kit com 07 Rodas de Conversa para educador do Ensino renovadas após as oficinas
Fundamental II; do saberes e estão integrando
- 16 análises de água; o tema com o nosso
planejamento escolar.
- 01 planilha de Eco eficiência para o Escritório do Projeto Tecendo as Águas;
Maria Teresa
- 01 planilha de Eco eficiência para as ações de campo dos objetivos
desenvolvidos no projeto; (EMEI Algodão Doce)

- 01 Oficina de Formação em Boas Práticas e Eco eficiência;


- 01 Régua de Desempenho de Educação Ambiental;
- 01 Régua de Gestão com Eco eficiência.

1
O Projeto Visão Costeira foi idealizado pelo Secretário de Meio Ambiente Eduardo Hipólito do Rego e recebe apoio da prefeitura de São Sebastião. Teve
início em 2004 buscando levar estudantes para conhecer o território local visto a partir do mar. O trajeto percorrido inicia-se no bairro São Francisco,
indo até o Farol do Moleque, retornando até a praia das Cigarras para então ser concluído de volta ao bairro São Francisco. Durante o trajeto os
estudantes do 8° e 9° ano das escolas municipais da cidade, aprenderam sobre a história costeira da cidade, assim como as mudanças no local devido
ao crescimento da região e seus impactos ambientais. Todo o passeio dura em torno de quatro horas, sendo muito produtivo e agradável. Nos últimos
TECENDO AS Á GUAS 25
dois anos a iniciativa levou mais de 1,5 mil crianças para conhecer a bacia hidrográfica diretamente com a visão do mar para a terra.
IMPACTOS DE NOSSA CORRENTEZA destinada a todos os professores de Ciências do município na Semana de
(RESULTADOS) Formação Pedagógica, realizada entre os dias 07 e 11 de Julho de 2014;
- Convite para participar do processo de Formação de Educadores do
Nossas águas passaram e deixaram marcas... Lavaram pedras, alimentaram Projeto Portinari2 em São Sebastião;
moinhos, enriqueceram a terra, adubaram a imaginação.
- Convite para contribuir na nova proposta pedagógica de Educação Física
- Atividades com 2667 alunos e 200 educadores em atividades formativas do município de São Sebastião;
de educação ambiental e pelo menos 42 atores de outros segmentos em
- A equipe de Educação ambiental do projeto participou e tem participado
atividades complementares (Visão Costeira) ;
ativamente das reuniões da CTEA – Câmara Técnica de Educação
- 102 horas de formação com educadores (2 Seminários de Educação, 28 Ambiental do Comitê de Bacia Hidrográfica do Litoral Norte - CBH-LN;
oficinas “Sabres das Águas” e reuniões de planejamento coletivo dos gestores contribuído na revisão do Plano de Ação de Educação deste comitê, além
e educadores – (HTPCs e ATPCs); de ter interferido diretamente para evitar a fragilização deste colegiado,
- Boas estratégias de fidelização e ótima relação da equipe com todos os propondo o restabelecimento e fortalecimento da CTEA ;
coordenadores pedagógicos dos respectivos segmentos (Educação Infantil, - Participação em ações desenvolvidas pelas escolas relacionadas ao
Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio), o que facilita a projeto Tecendo as Águas:
mobilização da área de educação do município;
a) Elaboração de mapas das respectivas bacias hidrográficas para os
- Participação e receptividade de novos professores nas Oficinas de Saberes; projetos sociais que não estão localizados na bacia do rio São Francisco;
- As atividades realizadas nas Oficinas de Saberes e os materiais de apoio b) Eventos da escola;
especializados, especialmente elaborados com as temáticas, cenários e
c) Desfile de 07 de setembro: algumas escolas abordaram o tema água em
personagens locais, contribuíram para que os professores conhecessem
sinergia com o projeto;
a bacia hidrográfica do São Francisco, já que grande parte não mora
na área da Bacia do São Francisco e também não conhecia a sua d) Mostra Educacional: apoio na criação de um jogo educativo sobre a
caracterização e contexto. Desta forma, o assunto era muito pouco ou bacia do rio São Francisco;
nada trabalhado no âmbito escolar; - Protagonismo juvenil com estudantes do Grêmio da Escola Estadual Nair
- Ótimo aproveitamento das lideranças comunitárias e de representantes Ferreira Neves. O grêmio passou a trabalhar as questões concernentes a
dos demais segmentos da bacia hidrográfica nos cursos e oficinas, bacia do rio São Francisco nos eventos da escola. Os gestores identificaram
potencializando seus papeis como disseminadores e enraizadores do a possibilidade da escola se transformar em um ponto de coleta de óleo
aprendizado em suas instituições e locais de moradia; de cozinha para reciclagem, além de colaborarem com algumas ações do
projeto fora do âmbito escolar. Estes jovens estão sensibilizados e tornaram-
- Reconhecimento da experiência em Educação do Instituto Supereco, por
se importantes multiplicadores de boas práticas ambientais;
parte da Secretaria Municipal de Educação de São Sebastião, que convidou
a equipe do Tecendo as Águas para realizar uma Oficina de formação

2
O Projeto visa entre outras ações, colocar a obra do artista a serviço da tarefa maior de busca da nossa identidade cultural e preservação da memória nacional. No campo socioeducativo o Núcleo de Arte-Educação e Inclusão Social
implementa projetos de ensino-aprendizagem que associam diretamente a obra de Portinari aos princípios de uma Cultura de Paz. Podem ser citados, entre outros, a exposição itinerante “O Brasil de Portinari”; o projeto “Se eu fosse Portinari”;
as exposições “Portinari – Arte e Ciência” e “Tempo Portinari”; o projeto “Portinari – Arte e Meio Ambiente”; o programa educativo do “Projeto Guerra e Paz”; o projeto “Portinari – Bauzinho do pintor”: a primeira edição, dedicada à literatura, TECENDO AS Á GUAS 26
relaciona a obra do artista ao livro Menino de Engenho, de José Lins do Rego; a segunda associa a pintura de Portinari a questões do meio ambiente.
- Reconhecimento do território: Projeto Garoçá, Projeto Cidadão Criança
e Projeto Viração (projetos que atuam com jovens em idade escolar em
O bservamos mudanças de hábitos. Os jovens estão
situação de risco) organizaram saídas de campo até cachoeiras próximas
nos procurando e fazendo mais denúncias para proteger
das sedes dos projetos para identificação e valorização dos atributos o meio ambiente. Parecem estar mais cientes do certo e
naturais/hídricos da sua respectiva bacia hidrográfica. Os educadores do errado. Denunciam desmatamento, descarte de lixo,
desses projetos passaram a incorporar a temática água na maioria das entre outras coisas.
atividades que realizam com as crianças, adaptando inclusive para a
realidade de cada bacia. As atividades desses projetos são amplamente Cabo Fábio Anselmo Cezar, da Polícia
divulgadas, hoje, pelas mídias locais; Ambiental de São Sebastião
- Fomento de parcerias entre instituições participantes das oficinas. O 3º Pelotão
da Polícia Ambiental de São Sebastião desenvolveu atividades em parcerias
as Águas propiciaram um trabalho sobre cultura local que não acontecia
com o Projeto Cidadão Criança e Projeto Viração, apoiando nas saídas de
antes na escola. A Escola Municipal Walfrido passou a promover saídas e
campo para visita as cachoeiras na área da bacia do rio São Francisco;
estudos do meio com os alunos com a proposta de instigá-los a observarem
- Influência na temática abordada pelas escolas na Mostra Educacional da os problemas ambientais do bairro, estimulando a reflexão da qualidade
Secretaria de Educação de São Sebastião: jogo de tabuleiro em formato de das águas dos corpos hídricos do local. Em várias instituições houve relato
maquete da Bacia do Rio São Francisco e passeatas sobre a preservação da água; de que o projeto ajudou diretamente aos alunos mudarem suas atitudes
para melhor no cotidiano escolar e em suas famílias;
- Influência da temática água nos projetos sociais do município (Projeto
Cidadão Criança, Projeto Garoçá e Projeto Viração) que realizaram - Aplicação de uma atividade de sensibilização sobre a água na 1ª
diversas atividades destacando o tema, tendo sido organizado um evento Reunião Pedagógica com Gestores e Professores de toda rede municipal
de premiação para a atividade “Poetize com a Água” e ainda diversas de ensino a convite da Secretaria de Educação de São Sebastião. A
apresentações de teatro e dança com temáticas ambientais; sensibilização atingiu diretamente 1.100 pessoas que compõem todo
o quadro de gestores e professores da rede de ensino, com grande
- Intervenção no cotidiano escolar: a Escola Municipal Maria Francisca
repercussão. O material apresentado vídeo educativo “Saberes das
incluiu no Plano Político Pedagógico da escola de 2015, a temática Meio
Águas” está sendo veiculado para os alunos em sala de aula;
Ambiente com foco na preservação da água e indicou que o Projeto Tecendo
as Águas sensibilizou para outras ações como o Projeto “Caçadores de - Foram elaborados 4 biomapas, bem como respectivos Planos de
Vazamentos” onde a comunidade é incentivada a procurar, encontrar e Ação, durante o curso de biomapas realizado com representantes
solucionar possíveis vazamentos de água. A escola começou a promover das lideranças comunitárias a partir das temáticas: Uso e ocupação
mutirão de limpezas no bairro, “as pessoas perceberam que o lixo interfere de solo e vegetação; Água; Saneamento Ambiental e Saúde; Turismo
diretamente na qualidade da água”, comentou a coordenadora pedagógica e Infraestrutura. Tais instrumentos de planejamento participativo
da escola - Cleide Cristiano. Outro fator que merece destaque é a escola ter servem como subsídios para ferramentas de gestão e de planejamento
comentado que os materiais educativos produzidos pelo Projeto Tecendo integrado do território da bacia hidrográfica do Rio São Francisco.

TECENDO AS Á GUAS 27
As oficinas e formações do Saberes das Águas, realizadas GESTÃO COMPARTILHADA DAS ÁGUAS
de forma participativa, possibilitaram uma maior (POLÍTICAS PÚBLICAS INTEGRADAS)
integração entre os educadores, assim como a valorização
dos professores que nasceram e/ou moram na bacia do Acreditamos que um território se constrói a partir de sua gente, da integração de
São Francisco que tiveram espaço para contribuir com todos os atores, suas relações e atividades. Mas, o que mais fizemos foi tirar as
dados e informações importantes sobre a realidade local. políticas públicas do papel e colocá-las em prática. Seja usando os saberes no
Os materiais e seus conteúdos estão totalmente alinhados fortalecimento das já existentes ou estimulando a construção de novas políticas.
O “Saberes das Águas” atuou diretamente em consonância com:
aos Projetos Político-Pedagógicos (PPP) das escolas, e
com os programas disciplinares, o que foi apontado pelos - a Constituição Federal 1988 - Art. 225
educadores como uma qualidade pedagógica do Tecendo - Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC, 1997)
as Águas e as atividades práticas como apoio para - Princípios da Carta da Terra
reforçar o ensino básico do município de São Sebastião.
- Agenda 21
- Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global
- Política Nacional de Educação Ambiental
- Plano de Bacias do Litoral Norte de SP

E, ainda, contribuímos diretamente com novos conteúdos para a disciplina de


AFLUENTES DE NOSSA REDE Educação Física do município de São Sebastião.
(PARCERIAS)

O Programa de Educação Ambiental foi o rio principal da nossa bacia


hidrográfica. Durante o percurso, fomos agregando novos afluentes e parcerias...
- Educadores das instituições: Polícia Militar Ambiental, Instituto Terra e Mar e
Sabesp;
- Lideranças comunitárias;
- Lideranças da pesca artesanal, amadora e de turismo náutico;
- Pais e famílias de alunos.

TECENDO AS Á GUAS 28
LIÇÕES APRENDIDAS

Conceber um Programa de Educação Ambiental para atuar diretamente nas


ONósTecendo é um projeto maravilhoso.
escolas requer um bom planejamento e interface com o currículo escolar e com
pudemos conhecer o entorno das
seus gestores e com o contexto desde o início, quando o projeto ainda está sendo escolas e observar o que precisa ser
concebido. Assim como para atuar com as comunidades, o processo é o mesmo, há feito. Isso foi passado para os alunos
necessidade de construção compartilhada dos saberes e ações. A possibilidade de com fotos, vídeos e testemunhos.
sucesso quando algo é construído de dentro para fora é bem maior que o contrário. Professores de Ciências e Geografia
É muito importante o investimento em capacitação continuada da equipe, onde o mostram uma parte dessa realidade
que está sendo proposto ao público, precisa de maturidade, experiência e vivência
e eu passei por meio de números, por
prévias. Ter um bom sistema de indicadores e avaliação de desempenho para corrigir
rumos a tempo, acompanhando as mudanças, de forma contínua e permanente, exemplo, mostrando quanto uma árvore
na própria dinâmica do território, efetuando ajustes e novas estratégias. Conhecer, produz de água para a atmosfera.
re-conhecer, construir, re-construir, agir, monitorar e alimentar a rede com as Essa água volta em forma de chuva.
melhores práticas, fortalecer as políticas públicas, valorizando as iniciativas e seus Os alunos gostaram de participar e
protagonistas. Eis algumas linhas do sucesso da educação ambiental deste projeto, passaram a refletir sobre a origem da
como as que você irá conhecer em “De fio em fio...”
água, da energia elétrica etc. Eu mesmo
já uso água da chuva e também instalei
um Kit GNV para dias em que preciso
ir de automóvel. Obrigado por me
incentivarem nessas atitudes.

Professor Ilgvars Alfons Svalb


da Escola Municipal Maria
Francisca Tavolaro

TECENDO AS Á GUAS 29
DE FIO EM FIO...
• Realizar avaliações periódicas com os professores e equipe executora,
promovendo uma reflexão crítica e abrindo um canal para sugestões e
adaptações necessárias;

• Apresentar a proposta do Programa de Educação Ambiental para as • Trabalhar com ações práticas embasadas em teoria e realidade local;
instâncias educacionais responsáveis antes de qualquer contato com as • Desenvolver atividades de formação nos horários de HTPC e ATPC;
escolas, (Secretaria Municipal de Educação, Diretoria de Ensino do Estado de
São Paulo) para integrar com as ações já existentes e fazer possíveis reajustes • Equipe executora precisa conhecer a realidade socioambiental da área onde
para atender as recomendações solicitadas; irá atuar;

• Integrar os Conteúdos Básicos do município com os temas e as ações do • Contribuir com a experiência pedagógica da equipe executora para fortalecer
programa de educação ambiental; os projetos socioambientais que já são realizados na região;

• Analisar e integrar os Projetos Políticos Pedagógicas das escolas de interesse • Garantir um tempo no cronograma da equipe executora para atender as
com os temas e as ações do programa de educação ambiental; demandas vindas das escolas e instituições, por exemplo: eventos, festas,
saídas de campo, reuniões de pais, etc;
• Identificar instituições que já atuam na região, especialmente com as escolas
(ONGs, órgãos governamentais, universidades, projetos sociais, APAE, • Valorizar as experiências e habilidades da equipe executora para o
Unidades de Conservação, etc) e convidar os educadores para participarem enriquecimento do programa de EA, por exemplo: estudo do meio, contação
do programa; de história, elaboração de materiais educativos, entre outras.

• Fazer um diagnóstico nas escolas e instituições para conhecer a


infraestrutura, ações e projetos socioambientais;
• Integrar e valorizar projetos de EA já existentes na região, especialmente
aqueles que são desenvolvidos com as escolas de interesse;

Era uma vez, águas e


• Produzir materiais educativos (estudantes e professores) que tragam: 1) a
realidade local (ambiental, cultural, histórico, social, etc) e 2) personagens
reais, de pessoas que atuam nas áreas trabalhadas pelo projeto;

florestas para tecer...

TECENDO AS Á GUAS 30
Águas da Mata

TECENDO AS Á GUAS 31
como o S.Mauro, o S.Silvio, a Jaqueliny, a Antônia, a Maria... E tantos outros
que se juntaram ao Tecendo as Águas. Eles estão recuperando as matas ciliares,
cuidando do solo, produzindo alimentos sem prejudicar o meio ambiente e até
captando a água do “céu”! – falou S.Áureo apontando o alto da Serra.

Diante do olhar espantado de Lara, S.Áureo começou a tecer a história do


Juqueriquerê e as mudanças para melhor na zona rural...

Q uero aprender a fazer de goiaba. Quando vendo


minhas hortaliças já ofereço também as compotas
e bolo de mandioca que eu mesma faço. Agora
poderei acrescentar geleias de diversas frutas.
A cabeça de Lara parecia passarinho voando na história do S.Áureo. Ela ficou
imaginando como seria aquela água limpinha... E as pessoas com potes indo Maria Margarete Vieira Santos - Agricultora que
buscar água no rio, tomando banho e pulando da ponte! participou da oficina de compotas e geleias

Coisa que ela sempre quis fazer, mas o rio do seu bairro, o “Perequerê-mirim”
(como é conhecido o rio São Francisco quando chega à beira da praia) hoje
mais parece uma lagoa de tão raso. Nem sapo, que adora viver em lagoas, está
gostando desta mudança!

S.Áureo começou a falar de outras águas, as nascentes, que são tecidas junto com as
florestas, conhecidas como matas ciliares, que protegem a beira dos rios. Lara piscou os
olhos e lembrou que estas matas parecem ter nome de “cílios”, que protegem os seus NOSSA NASCENTE (OBJETIVO)
olhos. Esse S.Áureo é muito esperto mesmo, fala de um jeito fácil o que parece difícil!

- Vou lhe apresentar as águas da bacia hidrográfica do rio Juqueriquerê, Lara. Contribuir para a recuperação ambiental de trechos da área rural da Bacia do Rio
Esta bacia é como uma irmã para a bacia do rio São Francisco, juntas elas Juqueriquerê com recomposição da vegetação ciliar capacitação em esgotamento
abastecem a nossa população enquanto houver água disponível. Lá na zona sanitário adequado ecoeficiência e destino correto de resíduos.
rural de Caraguatatuba tem muitas agricultoras e agricultores já mobilizados,

TECENDO AS Á GUAS 32
AS RAÍZES DE NOSSAS NASCENTES
(PÚBLICO-ALVO) O mais importante é agregar pessoas a essa
atividade. Várias crianças estiveram no plantio e
Diante dos desafios da zona rural da bacia do Rio Juqueriquerê, muitos isso é ótimo. Daqui um ano e meio, muitas dessas
agricultores e agricultoras se juntaram ao Tecendo as Águas para construir árvores já estarão dando frutos e atraindo a fauna.
caminhos mais sustentáveis e ecoeficientes para as propriedades rurais. Inspirados
no exemplo da comunidade, parceiros foram tecendo relações de fortalecimento Karina Cavalheiro Barbosa - Bióloga da Dersa
desta iniciativa a cada mutirão.
- Moradores da área rural da Bacia Hidrográfica do Rio Juqueriquerê
- Agricultores (as) e proprietários rurais (pequeno e médio, principalmente); COMO ADUBAMOS A FLORESTA
- Técnicos da Secretária do Meio Ambiente de Caraguatatuba;
(METODOLOGIAS)
- CATI;
Tecer relações com os produtores rurais foi um trabalho cuidadoso e envolvente
- Estudantes de escolas públicas, escolas técnicas e universidades; do início ao fim. Afinal, uma boa prosa, uma parada para um café, uma visita
de apoio, ouvir as dificuldades, as ideias e sugestões de quem conhece o seu
- Lideranças comunitárias de várias áreas;
“endereço ecológico”, ou até mesmo o desafio de mobilizar para um mutirão tem
- Turistas que ser baseado em respeito e na escuta sensível. Em resultados e boas práticas
com mais “ação”, menos discurso ou promessas.

Com este primeiro passo, o “aprender fazendo” foi o grande adubo das técnicas de
ecoeficiência construídas para a coletividade, onde a ideia foi tornar cada produtor
rural um disseminador de boas ações ambientais em sua comunidade. Algumas
estratégias metodológicas foram fundamentais para o nosso percurso:
- Levantamento prévio junto aos órgãos que já atuam com o segmento agrícola
das iniciativas já existentes com este público;
- Mapeamento das propriedades rurais na área da bacia hidrográfica do
rio Juqueriquerê com o apoio do geoprocessamento e de mapas mentais
“ambientais” construídos em oficina com os agricultores;
- Aplicação de questionários com a metodologia de “pesquisa-ação”
participativa para a construção de Fichas Perfil;

TECENDO AS Á GUAS 33
- Sensibilização por meio de visitas permanentes, contínuas e atividades lúdicas
PERCURSO ÁGUAS DA MATA
para garantir a adesão do público;
(ATIVIDADES)
- Análise das Fichas Perfil, das necessidades e potencialidades de cada - 01 Cadastro de 38 produtores rurais da Bacia do Rio Juqueriquerê;
propriedade e família;
- 01 Oficina de Recuperação Florestal, Legislação Ambiental, Novo Código
- Termo de Parceria com produtor interessado em recuperar as suas áreas de APP; Florestal e Serviços ambientais da água;
- Eleição das boas práticas conforme o perfil da região; - 01 Curso teórico e prático de Alternativas de Tratamento de esgoto doméstico,
- Aplicação das boas práticas de ecoeficiência em sistema de mutirões para com a implantação de Fossa Biodigestora e de Tratamento de Águas Cinzas;
“aprender fazendo”, migrando de propriedade em propriedade, a fim de atender - 06 Oficinas temáticas sobre Boas Práticas e Ecoeficiência (Horta orgânica,
uma diversidade de público na bacia hidrográfica. A escolha de cada tipo Captação de água da chuva, associativismo e cooperativismo, compotas e
de prática para um local específico dependeu da maior necessidade daquele geleias caseiras de frutas, alternativas para o controle natural de pragas e
produtor ou ambiente; doenças nos cultivos e tratamento de águas cinzas);
- Atender necessidades específicas não previstas no projeto pela dinâmica de - 02 Mutirões de Limpeza de APPs;
organização e necessidades dos agricultores e do cenário (políticas públicas)
como, por exemplo, aplicação do CAR – Cadastro Ambiental Rural, facilitação - 02 Mutirões de Plantio de mudas em áreas de recuperação de mata ciliar,
nos processos de associativismo e cooperativismo; incluindo um modelo de Agroecologia;

- Fomento de mutirões comunitários; - Plantio de 5 ha com 8.400 mudas nativas de Mata Atlântica em mata ciliar do
Rio Claro;
- Recuperação de APP conforme estudo técnico da zona rural da bacia, com área
sujeita a enchentes; - Monitoramento periódico e contínuo dos plantios;

- Plantio e monitoramento por representantes do Grupo Ciclos Contínuos, como - Desdobramento: 01 Workshop “Sementes, Mudas, e Restauração Florestal”;
profissionalização de mão de obra local; - Elaboração de um Kit de Fichas Pedagógicas de Técnicas de Ecoeficiência nas
- Inclusão da agricultora Jaqueliny Nascimento como membro do Grupo Ciclos propriedades rurais.
Contínuos, visando dar a oportunidade de formação e qualificação profissional

Cdaomrede,
para uma liderança comunitária, mas também torná-la disseminadora de
conhecimentos e mobilizadora dos agricultores no projeto; os encaminhamentos vamos conseguir a continuidade
- Implementação de restauração florestal com um modelo de Agroecologia no fortalecer ações locais através desse trabalho”.
Sítio do produtor Sr Silvio Saito, presidente da Associação de Produtores Rurais,
que já havia recebido um plantio em APP do Instituto Supereco (2009) e viu a Renan Cardoso - Engenheiro florestal da OCA, um dos parceiros
diferença na sua propriedade. organizadores “Workshop de sementes, mudas e restauração florestal”

TECENDO AS Á GUAS 34
M inha avó colocava diversos baldes debaixo do telhado SEMENTES DA NOSSA REDE
(PARCERIAS)
quando chovia e usava a água para regar plantas. Em
casa sempre tive lições de como cuidar bem da natureza
e por isso me interessei pela oficina que, além de ajudar o - Associação de Produtores Rurais do Litoral Norte
meio ambiente, faz diferença no bolso. Quero colocar uma - Chevrolet
cisterna em casa o quanto antes. - Comitê de Bacias Hidrográficas do Litoral Norte

Patrícia Helena Maciel da Silva - Artesã que - Grupo de Escoteiros Edgard Armond
participou da oficina de captação de água da chuva - Instituto Educa Brasil
- Instituto Trata Brasil
- Secretaria do Meio Ambiente de Caraguatatuba
- Jaqueliny Orteney Nascimento (agricultora)
IMPACTOS DA NOSSA FLORESTA - Mauro Andrade (agricultor)
(RESULTADOS) - Mauro Leite (agricultor)
- Neil Oliveira Reis (Grupo de Escoteiros Edgard Armond)
- 147 agricultores e moradores da área rural, mobilizados e capacitados; - Silvio Saito (agricultor)
- 51 estudantes envolvidos em mutirões;
- 04 educadores envolvidos em mutirões;
- 36 horas de oficina com agricultores;
- 18 horas de mutirões;
- 8 horas de Workshop;
- 5 ha de mata nativa plantados;
- 01 modelo de agroecologia em APP do Juqueriquerê;
- 10 quilos de resíduos recolhidos das APPs do Juqueriquerê;
- Cadastro de propriedades com fichas perfil e dados como subsídios para
desenvolvimento de outros projetos e iniciativas locais;
- 01 banco de dados com as propriedades rurais georreferenciadas da bacia do Rio
Juqueriquerê.

TECENDO AS Á GUAS 35
MOSAICO DA NOSSA FLORESTA LIÇÕES APRENDIDAS
(POLÍTICAS PÚBLICAS INTEGRADAS)

A zona rural da bacia do Rio Juqueriquerê abrange o entorno do Parque Estadual - Projetos que desenvolvem atividades de restauração florestal estão sujeitos
da Serra do Mar - Núcleo Caraguatatuba, com importância estratégica para a aos riscos das mudanças climáticas, como períodos de chuvas e secas fora do
segurança hídrica do litoral norte de SP. Neste sentido, ao recuperar áreas de planejado, entre outros fatores (enchentes), ou mudanças de zoneamento do
APPs que protegem as nascentes e limpar a foz (manguezais), implantar boas território. Portanto, apesar do sucesso do plantio do Tecendo as Águas para
práticas de ecoefiiência relacionadas ao uso responsável da água e sistemas de a meta proposta, consideramos o período de dois anos, conforme previsto no
esgotamento sanitário alternativo, atender necessidades dos agricultores como edital, insuficiente para garantir a implantação eficiente do restauro com um
o apoio ao cadastramento no CAR, profissionalizar lideranças comunitárias da bom monitoramento, de médio e longo prazo;
zona rural em restauração florestal, o Projeto Tecendo as Águas esteve integrado e
- É necessário investir no fortalecimento das instituições e associações rurais de
fortaleceu as seguintes políticas públicas:
forma a garantir maior adesão e sustentabilidade das boas práticas pós-projeto;
- Política Nacional das Águas;
- Valorizar os conhecimentos tradicionais e saberes locais dos agricultores,
- Plano de Bacias do Litoral Norte de SP; integrando-os com os conhecimentos científicos e as tecnologias;
- DECRETO Nº 7.830/2012: CAR – Cadastro Ambiental Rural - Investir na “tradução” da terminologia ambiental e científica, tornando-a
atraente e acessível aos produtores;
- LEI Nº 12.651/2012: Código Florestal
- Ter mutirões comunitários alternados em propriedades, de acordo com as
- LEI Nº 12.305/ 2010: Política Nacional dos Resíduos Sólidos
necessidades locais, e construídos coletivamente, traz melhor adesão dos produtores;
- LEI Nº 9.985/ 2000: SNUC – Sistema Nacional das Unidades de Conservação
- Ter uma equipe alinhada e bem estruturada desde o início do projeto, com menos
- LEI Nº 5.889/1973: Lei do Trabalho Rural riscos de incompatibilidade com o perfil do público, do lugar e das metas e
cronograma a serem atingidos;
- Prever os riscos da atividade de restauração florestal na elaboração da

A oficina mostra que podemos fazer coisas


proposta financeira.

importantes para nossa saúde sem complicação.


Temos que pensar no futuro e evitar toda forma
de contaminação da água e solo.

Silvio Saito - Presidente da Associação de


Agricultores e que recebeu a restauração florestal

TECENDO AS Á GUAS 36
Onapropósito do Supereco é muito bom e importante para quem mora
A oficina está sendo muito importante para mim
área rural. Vivemos numa Bacia Hidrográfica e tratar o esgoto é
fundamental para a saúde e meio ambiente. Desde pequena aprendi
para que eu possa saber as normas sobre área legal,
a plantar sem degradar a natureza e trabalho no reflorestamento do
APPs e como proteger minha terra.
meu sítio há 23 anos. Espero dar esse exemplo para as gerações futuras.
Tenho interesse em tratar o meu esgoto para não poluir as águas. Isso
Betisaba Soraia Pinheiro Tavares -Dona de imóvel rural
é bom para melhorar a qualidade de vida. Por enquanto minha fossa é
há 20 anos, em Caraguatatuba, cultiva mandioca, milho,
comum, mas quero aprender a construir uma que trate o esgoto. Achei
quiabo e hortaliças há cinco anos. Participou da oficina de
ótima a ideia desse projeto para conscientizar a população.
Legislação ambiental e afirmou que o que mais sente falta
para administrar seu sítio é conhecimento técnico. Ela vende
Mauro Donizete Leite - Proprietário e produtor rural.
seu produto a comerciantes locais e para merenda escolar da
Junto com Ana Eva, ele participou da oficina de
Prefeitura de Caraguatatuba.
tratamento alternativo de esgoto.

Era uma vez,


A dona da casa que alugamos para passar
as férias nos avisou do plantio e contou um pouco
se liga nessa bacia...
sobre o Projeto Tecendo as Águas. Achamos bonito
o trabalho da ONG e resolvemos participar porque
vai ajudar a flora e a fauna da região. Praia tem
todo dia, mas a oportunidade de estar numa ação
como essa é rara.
Sarah Fernandes - Milena Magnani, Raquel Vanucchi e
Sofia Vanucchi, garotas de Campinas (interior de SP) que
estiveram de férias em São Sebastião e se encantaram
com a ideia de deixar o chinelo e o biquíni em casa e ir de
tênis e boné para o mutirão.

TECENDO AS Á GUAS 37
Se Liga nas Águas

TECENDO AS Á GUAS 38
Encantada pelas nascentes do Rio Juqueriquerê,
lá no alto da Serra, e com toda gente mobilizada NOSSAS LIGAÇÕES (OBJETIVO)
para recuperar as florestas e garantir água boa
para brotar, Lara decidiu seguir o fluxo das águas
que desciam em direção à cidade. Ficou abismada Promover a campanha “Se Liga nessa Bacia” de sensibilização e incentivo
ao ver tanta sujeira no rio, que parecia correr de às ligações de edificações (ligações factíveis) ao Sistema de Esgotamento
mansinho, tristonho com tanta poluição. Sanitário na Bacia do Rio Juqueriquerê.

Esgoto tinha de monte, mas também um bocado


de canos, ligando tubulações. Era a rede coletora
AS CONEXÕES DE NOSSA BACIA
de esgoto chegando com a solução. Seu Pedro
(PÚBLICO-ALVO)
pescador, da Ong Acaju, logo se aproximou,
trouxe a Lara um alerta de quem já viu o rio
bem vivo, cheio de boas pescarias e de luta pela No tear os fios se entrelaçam, num movimento constante de criação, dando
recuperação. Lara trouxe a esperança, o rio já vida e movimento a nossa história de transformação. É hora do porta
foi bem pior, ainda mais porque nas águas tão a porta, com pessoas de todos os cantos da bacia do Rio Juqueriquerê,
mansas tem gente querendo mudar... Tem gente identificadas em suas comunidades em três bairros de intervenção: Porto
querendo ligar as casas na rede de esgoto! Novo, Barranco Alto e Morro do Algodão.

Agentes comunitários do Programa Saúde da Família, juntando-se com

OMaternidade
lideranças, incluindo o Grupo Ciclos Contínuos, uniram seus fios com este
tear e juntos percorreram ruas e bairros a mobilizar na Campanha “Se Liga
Rio Juqueriquerê de águas turvas e mansinhas
nessa Bacia”. Teve até bicicleta falante chamando gente para se conectar!
e berçário do Robalo e da Tainha
Da nascente até a foz deslizando igual serpente
Trazendo mil maravilhas ao dia a dia da gente...

Não devemos aceitar o que vem acontecendo


Estão lhe desmatando as margens, lhe entupindo de veneno
É o futuro do Brasil que estamos jogando fora
Vamos abraçar a causa. Venha que a hora é agora...

Trecho da Música “Rio Juqueriquerê” do Sr. Zé da Viola

TECENDO AS Á GUAS 39
COMO MONTAMOS ESSA CONEXÃO Conhecer e compreender a realidade de cada moradia e morador, entender seus
(METODOLOGIAS) motivos de se ligar ou não se ligar à rede de esgoto, foram fundamentais para ajustar
a Campanha ao longo do tempo, que ganhou uma força incrível da correnteza da
comunicação e das gotas de mobilização. A rádio ecoou as mensagens, em escolas,
A partir da ajuda do geoprocessamento, e das parcerias como a Sabesp e o Instituto praças, postos de saúde, ruas e bairros e, assim, os fios foram tecendo uma multidão
Trata Brasil, estruturamos a “Campanha Se Liga nesta Bacia” e regionalizamos a de gente atenta, em ter água boa pra beber e praia limpa para nadar!
abordagem por bairro. O desafio foi imenso, para garantir a atenção porta a porta,
afinal são tantas ligações factíveis que não dava para desanimar.

TECENDO AS Á GUAS 40
As ações ganharam força de um jeito que iremos conhecer:
- As ações e materiais de comunicação, as intervenções de educação ambiental
e apoio do Grupo Ciclos Contínuos, abriram as portas e prepararam o cenário
para receber os agentes de nossa Campanha;
- A logomarca da Campanha ajudou no processo educativo, ao mostrar
a relação da ligação da rede de esgoto, diretamente conectada com a
qualidade da água da bacia hidrográfica;
- Questionários foram desenvolvidos e aplicados pelas lideranças comunitárias - Os Agentes do Programa da Saúde na Família (PSF) das Unidades Básicas
de acordo com os objetivos da campanha: sensibilização ambiental e de Saúde, nos bairros Porto Novo, Barranco Alto e Morro do Algodão,
informando a comunidade sobre questões relevantes de saneamento, saúde e foram capacitados pela nossa equipe sobre saneamento e saúde. Uma vez
renda. Perguntas foram respondidas e analisadas posteriormente resultando instrumentados puderam atuar como disseminadores da campanha, a fim
num diagnóstico participativo, onde as informações servirão como uma de expandi-la para além das abordagens diretas da equipe. A capacitação
ferramenta de gestão e auxiliarão as instituições responsáveis pelo tratamento contou com a parceria da Sabesp que ofereceu uma visita guiada na Estação
de esgoto a estabelecerem em seus planos estratégicos, metas e ações que de Tratamento de Água e Esgoto;
possam solucionar a situação das ligações factíveis; - Diversas consultas a mapeamentos e documentos já realizados na região,
- Como atrativo distribuímos brindes educativos que foram confeccionados os quais foram checados e atualizados pela equipe com apoio dos parceiros,
especialmente para a Campanha: o imã serviu para atrair, sensibilizar e lembrar o auxiliaram a equipe na formatação da Campanha, indo na direção adequada
morador sobre a “Campanha” na porta da sua geladeira. A caneca foi o atrativo com dados baseados no contexto local. O relatório produzido pelo Instituto
para devolutiva do questionário, associando a água boa para beber a uma boa Supereco “Diagnóstico socioambiental e sanitário dos bairros do Porto
rede de esgoto com as moradias conectadas. Ambos foram muito estratégicos na Novo, Morro do Algodão e Barranco Alto - Município de Caraguatatuba/
adesão dos moradores e na participação dos questionários; SP”, com financiamento do Fehidro – Fundo Estadual de Recursos Hídricos
(2010) trouxe informações detalhadas e pertinentes sobre a situação local de
dinâmicas sociais e questões de saneamento e ambientais da sub-bacia do
Rio Juqueriquerê;
- Promoção de atrativos de mobilização da infância e da juventude como
formadores de opinião familiar e disseminadores em suas comunidades por
meio de Concursos e atividades de educomunicação e de arte&educação;
- O monitoramento do desempenho deste objetivo e da Campanha foi realizado
em parceria com a SABESP, avaliando por meio de atualizações bimestrais
as novas ligações implementadas na rede coletora de esgoto.

TECENDO AS Á GUAS 41
- Distribuição de 200 folhetos educativos sobre saúde e saneamento aos
PERCURSO DE NOSSA TUBULAÇÃO educadores do Centro de Referência em Assistência Social, para distribuição
(ATIVIDADES) junto às comunidades em situação de risco social dos bairros da região Sul do
município de Caraguatatuba;
- Realização de 2 palestras educativas no Centro de Referência em Assistência
- Elaboração de um plano da campanha de forma participativa com a equipe
Social da região Sul de Caraguatatuba;
de comunicação do projeto, o Grupo Ciclos Contínuos, os parceiros do CBH-
LN, da SABESP, Instituto Trata Brasil e da Secretaria de Saúde do Município de - Realização de 3 eventos de mobilização social e de sensibilização da
Caraguatatuba; comunidade, organizados de acordo com a realidade local, sendo 1 em área
pública na beira do Rio Juqueriquerê no bairro Morro do Algodão, 1 próximo às
- Desenvolvimento e produção de peças de comunicação, promocionais e
colônias de veraneio no período de verão para atingir veranistas no bairro Porto
educativas para atender aos objetivos de sensibilização da campanha: brindes,
Novo e 1 ação na Escola Estadual Ismael Iglesias no bairro Barranco Alto;
cartazetes, faixas, spots de Rádio, spots de bicicleta falante etc;
- Realização de 1 curso de 3 módulos de Educomunicação com aproximadamente 30
- Regionalização, com apoio do geoprocessamento, das áreas passíveis de
jovens do Centro Comunitário no bairro Morro do Algodão, onde foram produzidos
abrangência da campanha, a partir do levantamento da localização das
materiais como spots veiculados na Rádioweb Supereco e usados como inspiração
edificações com ligações factíveis da Bacia do rio Juqueriquerê nos bairros do
para outras produções e spots comerciais;
Porto Novo, Barranco Alto e Morro do Algodão;
- Desenvolvimento de atividade de Educação Ambiental sobre poluição hídrica
pela Futurágua (Sabesp), como parte do evento de lançamento da Festa Cultural
do projeto Tecendo as Águas.

- Aplicação de 513 questionários nos 3 bairros, com questões sobre a ligação à rede
coletora de esgoto e informações sobre saneamento, renda, saúde e meio ambiente;
- 300 pessoas envolvidas diretamente em ações de formação direcionada;
- 11 capacitações para equipes do Programa Saúde da Família, CRAS
Caraguatatuba e Escola Estadual Ismael Iglesias, Caraguatatuba;

TECENDO AS Á GUAS 42
IMPACTOS DE NOSSA CAMPANHA CONEXÕES DE NOSSA REDE
(RESULTADOS) (PARCERIAS)

- Criação de um banco de dados das ligações factíveis dos três bairros, contendo - Prefeitura Municipal de Caraguatatuba
informações sobre o interesse de se ligar à rede e outras de relevância ao órgão
- SABESP
responsável pelo sistema de tratamento de esgoto;
- Comitê de Bacia Hidrográfica do Litoral Norte, CBH-LN
- Incentivo ao protagonismo juvenil: o programa de Educomunicação possibilitou
o despertar artístico de jovens locais, que têm desenvolvido raps sobre o meio - Instituto Trata Brasil
ambiente e participado da produção de materiais de áudio da campanha - Secretaria de Saúde do Município de Caraguatatuba
conjuntamente com o radialista Carlinhos Paes no Centro Comunitário do Morro
do Algodão; - Secretaria de Assistência Social de Caraguatuba

- Seleção e produção de um jingle para a campanha por meio de um Concurso nas - Associação de Moradores do Morro do Algodão
escolas públicas dos três bairros, utilizado em produtos de comunicação; - Centro de Referência de Assistência Social- CRAS
- Veiculação de anúncios de eventos, produtos de Educom e jingle da campanha - Pastoral da Criança
em bicicleta falante nos três bairros da campanha;
- Expansão da nossa escala de abordagem de questionários para bairros da Costa
Sul de Caraguatatuba que não pertenciam à área original da campanha.
CIDADÃOS LIGADOS NA SAÚDE
(POLÍTICAS PÚBLICAS INTEGRADAS)

A situação de saneamento básico no Brasil ainda é muito grave em várias regiões do


país e uma das causadoras de muitas doenças e mortes, além de onerar os gastos

D
dos serviços de saúde com um elevado número de internações. Quando o melhor e
esde que a rede mais barato seria investir em prevenção! A questão do saneamento está presente em
muitas políticas integradas, mas o maior desafio é tornar acessível o conhecimento
coletora de esgoto foi
da população sobre os graves riscos da falta de saneamento, que já é direito
instalada pela Sabesp, o humano, desde o simples ato de lavar bem as mãos e realizar a limpeza das caixas
bairro ficou mais limpo. d´água, mas também mobilizá-la a fazer a diferença quando há uma solução como
a existência da rede coletora de esgoto, começando pela ligação de sua moradia.
Davi Paulo Porcze, morador.

TECENDO AS Á GUAS 43
Qchovia
uando eu tinha fossa, quando
Outras políticas públicas atendidas, fortalecidas ou apoiadas pelo objetivo “Se
Liga nas Águas” são:
o esgoto voltava para - Apoio ao Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de
dentro do imóvel, mas isso não Caraguatatuba de 2011, que estabelece previsões de atendimento ao Índice de
acontece mais desde que me Coleta de Esgotos nos cenários futuros;
liguei à rede coletora de esgoto. - Apoio ao Plano Diretor de Caraguatatuba, em sua Seção III - Saneamento
Básico, Art. 46. que estabelece as políticas de saneamento municipal;
Geraldo Agostinho Lobo
- Atendimento à Lei 6.938, de 1981, que institui Política Nacional do Meio
Ambiente e a Lei 1445/07 de Saneamento Básico.

O objetivo “Se liga nas águas” e a Campanha Se Liga nessa Bacia já nasceram,
desde a concepção do projeto, integradas ao Plano de Bacias (2012 a 2015) do
LIÇÕES APRENDIDAS
CBH-LN, atendendo as suas metas:
- Plano de campanha integrado ao eixo V.07 das Prioridades do compromisso Realizar o “porta a porta”, chegando bem perto da vida dos moradores da bacia
do Plano de Bacias do Litoral Norte com o Plano Estadual de Recursos hidrográfica, sem desrespeitar a sua privacidade requer muita sensibilidade e
Hídricos (2012 – 2015) – Ação específica: Programa de comunicação e estratégias de abordagem diferenciadas. Até porque nem todos desejam se identificar
capacitação em esgotamento sanitário; em processos de questionamentos investigativos, como a relação de destino de
seu esgoto e do lixo, muito menos de uma ocupação irregular. Ter as lideranças
- Plano de campanha integrado ao eixo III. 1 das Prioridades do compromisso
comunitárias envolvidas no processo, como o Grupo Ciclos Contínuos, desde o
do Plano de Bacias do Litoral Norte com o Plano Estadual de Recursos
planejamento à execução das ações, nos auxiliou a encontrar uma boa direção,
Hídricos (2012 – 2015) – Ação específica: Ampliar, manter e aperfeiçoar os
inspiração e exemplo para os moradores nos bairros e comunidades abordadas.
sistemas de coleta e tratamento de esgotos;
- Plano de campanha integrado ao eixo V.11 das Prioridades do compromisso
do Plano de Bacias do Litoral Norte com o Plano Estadual de Recursos
Hídricos (2012 – 2015) – Ação específica: Programa de Educação Ambiental
para saneamento básico;
- Plano de campanha integrado ao eixo V.10 das Prioridades do compromisso do
Plano de Bacias do Litoral Norte com o Plano Estadual de Recursos Hídricos
(2012 – 2015) – Ação específica: Campanha educativa para ligações de factíveis.

TECENDO AS Á GUAS 44
Conseguimos atingir nosso objetivo pelo estabelecimento de uma rede constituída de
fortes parcerias com atores locais, como o CRAS, os Agentes do Programa da Saúde A s pessoas precisam se ligar à rede
na Família e outras lideranças que “abriram as portas” das comunidades. Tais atores coletora de esgoto para melhorar a
conhecem melhor o território, a realidade local e até mesmo ruas, que qualquer mapa saúde da população do bairro.
ou documento/ diagnóstico consegue conceber com tantas particularidades.
Luciane Eller, moradora.
A fidelização dos parceiros durante toda a campanha, com devolutivas periódicas
de processos e resultados, foi uma estratégia fundamental para o sucesso do
trabalho. Uma vez que as questões sobre saneamento e saúde são delicadas, o
compartilhamento de dados de um órgão privado (edificações factíveis), como a
Sabesp, depende da confiança na equipe do projeto, assim como o entendimento do
interesse do Instituto Supereco na contribuição e construção conjunta de estratégias,
evitando duplicar ou sobrepor esforços e iniciativas. Esta fidelização só é mantida
por meio de comunicação contínua e entendimento dos processos colaborativos. Durante o processo da implantação da Campanha, um bairro por vez, no intuito
de executar uma fase piloto, avaliar para seguir adiante, houve equívocos
de percurso na primeira abordagem, como deixar o questionário na moradia
para coletar posteriormente. Tal impacto resultou em mudanças estratégicas a
tempo, com abordagem direta e temporal que garantiram o sucesso das novas
abordagens com a coleta imediata dos dados. Um dos maiores desafios da
equipe foi encontrar muitas edificações pertencentes a veranistas, ou alugadas
por turistas, comprometendo o rendimento do campo e a inviabilidade das
respostas no momento da abordagem. Diante de tal fato, novas estratégias como
campanhas em praças, nas rádios, faixas e cartazetes espalhados pelas áreas da
Campanha, bem como ações durante o verão, foram direcionadas como reforço.

Os resultados da “Campanha Se Liga nessa Bacia” são importantes instrumentos para


gestão compartilhada das águas e do saneamento, portanto devem ser divulgados
para as comunidades e a todos os atores envolvidos em planejamento do município.

Era uma vez, novas águas para conhecer...


TECENDO AS Á GUAS 45
Conhecendo as Águas
TECENDO AS Á GUAS 46
Lara se entusiasmou com a tal “bicicleta falante”, afinal não sabia que até
bicicleta podia falar. Quem sabe ela era mágica, assim como o tear! De bairro
NOSSA INVESTIGAÇÃO
em bairro, foi seguindo aquela gente animada, até que em São Sebastião outro
(OBJETIVO)
veículo prendeu a sua atenção. Curiosa como ninguém foi logo se aproximando...
Realizar um diagnóstico socioambiental e sanitário e o monitoramento da
Na caminhonete “super colorida”, dois jovens conversavam sobre as águas da qualidade dos recursos hídricos da Bacia do Rio São Francisco, como ferramenta
região. Estavam com frascos de vidro, garrafas de plástico de todos os tipos, de gestão integrada do Sistema de Abastecimento Porto Novo e Sistema São
pedacinhos de papeis coloridos e um Kit de Análise de Água. Débora e Sidney se Francisco, Caraguatatuba e São Sebastião, SP.
preparavam para mais um dia de campo com os alunos da Escola Estadual Nair
Ferreira da bacia do rio São Francisco.

Do outro lado da estrada, lá no Morro do Abrigo, o Grupo Ciclos Contínuos INVESTIGADORES DAS ÁGUAS
batia de porta em porta. Papel e caneta na mão, eles aplicavam centenas de (PÚBLICO-ALVO)
questionários. E foram logo dizendo:
Técnicos e educadores da equipe Tecendo as Águas se uniram aos moradores e
- Vem com a gente, Lara, conhecer o que acontece com as águas, monitorar a sua lideranças da bacia do rio São Francisco, aos pesquisadores de universidades e
qualidade. Investigar o que não está bom vai nos ajudar a pensar em soluções de laboratórios, aos alunos de escolas públicas, aos representantes do Comitê de
para a nossa comunidade. Bacias Hidográficas do Litoral Norte, de Ongs, da Sabesp e de outras instâncias do
poder público, numa grande teia para tecer descobertas do que acontece com as
E num piscar de olhos lá estava Lara, toda orgulhosa em virar cientista e ao águas, chuvas, vegetação, solo e a saúde das pessoas da região.
mesmo tempo investigadora das águas do São Francisco!

TECENDO AS Á GUAS 47
e 8 pontos com kits educativos, que compõem dados de classificação CONAMA.
COMO REALIZAMOS ESSA Ao longo deste percurso, estudantes de vários níveis foram envolvidos, seja como
INVESTIGAÇÃO (METODOLOGIAS) estagiários de universidades, ou alunos do ensino médio. Os resultados destas
campanhas foram usados em materiais educativos para sensibilizar os alunos
Foi necessária uma grande imersão na bacia hidrográfica, percorrendo de ponta mais novos e dar sentido à Matemática na escola.
a ponta os caminhos das águas, estudar a ocupação e história do lugar e partir
para a caracterização (diagnóstico). O destino do lixo e do esgoto, as condições de
acesso à água, bem como a vazão dos rios, a alteração da vegetação, o clima e o
regime das chuvas mudando a configuração... Entre tantas perguntas e dúvidas a
responder, entendemos que tinha que ser por etapas, que foram tecidas ao longo
do tempo, na metodologia da “pesquisa-ação”:
- Fontes e organização dos dados (marco zero): inicialmente foram levantados
os principais atores regionais para solicitação dos dados referentes a situação
existente e o histórico regional da bacia do Rio São Francisco e da sua sub-bacia.
Não encontramos dados relevantes sobre estudos locais, as informações eram
mais regionais e municipais. Daí a importância do nosso recorte territorial, uma
vez que esta bacia responde ao abastecimento público prioritário e é uma das
mais críticas em disponibilidade de água.
- Mapas: a equipe de geoprocessamento do projeto georeferenciou todos os dados
obtidos antes da saída a campo, durante e após a “pesquisa-ação”. Esses dados
serão disponibilizados para os órgãos gestores do município, a fim de fortalecer
o sistema municipal de geoprocessamento. Também favorecer e influenciar os
trabalhos de planejamento integrado e formulação de políticas públicas com
referências espaciais deste município. - Estudo hidrológico do curso d’água que serve de abastecimento público (Sabesp)
- Levantamento dos cursos d’água e monitoramento da qualidade das águas e estudo meteorológico da sub-bacia do Rio São Francisco: o estudo consistiu
(IQA): o levantamento dos recursos hidrícos da bacia foi realizado através de em monitoramento ambiental, com um vertedor retangular na proximidade
caminhadas por dentro dos cursos d’água, fazendo uso de GPS e de imagens da captação de água para abastecimento pela SABESP e estudos hidrológicos
satelitais. O monitoramento da qualidade das águas contou com 12 pontos da bacia hidrográfica em questão. Além desta temática, foram realizados
de análises, ao longo de 10 campanhas, localizados no bairro São Francisco, monitoramentos, durante 24 meses, do regime das chuvas com uma estação
incluindo Morro do Abrigo e captação da Sabesp (sub-bacia do Rio São meteorológica instalada na bacia hidrográfica, visando compreender a mudança
Francisco). Tendo sido 4 pontos estratégicos realizados com amostra laboratorial na dinâmica da região e até mesmo as mudanças climáticas.

TECENDO AS Á GUAS 48
- Caracterização Socioambiental Sanitária de 500 edificações localizadas no
bairro do São Francisco, principalmente as do entorno dos cursos d’água, com
F izemos coleta e análise da água do Rio
São Francisco em três pontos com os alunos.
pesquisa ação: tão necessária como a pesquisa científica é essencial envolver
a comunidade na investigação do seu território. Daí entrou a metodologia da
O resultado foi que a água está ruim, cheia de
pesquisa-ação participativa com a elaboração e aplicação de Fichas Perfil de bactérias nocivas à saúde. Compartilhamos o
Cadastramento, com perguntas investigativas aplicadas no porta a porta pelos resultado e propusemos soluções numa roda
técnicos e pelo Grupo Ciclos Contínuos. Os questionários socioambientais tiveram de conversa. Os alunos se espantaram porque,
como referência a metodologia de fichas do Instituto Supereco, adaptados para à primeira vista, a água parecia limpa. Então
a sub-bacia. Assim como a inserção de novos parâmetros e critérios de análise, eles mesmos começaram a refletir sobre as
uma vez que há uma preocupação expressiva quanto à ocupação irregular e
atitudes que estão poluindo o rio.
o desenvolvimento socioeconômico para esta região. Do modelo de ocupação
ao destino dos resíduos gerados, os impactos têm afetado significativamente a
Mônica Cristina Simões - Professora de Química e
disponibilidade da vazão e da qualidade de água para o abastecimento público.
Biologia da EE Nair Ferreira Neves
- Levantamento de vegetação: além de analisar as águas afetadas pela
ocupação, a vegetação da bacia hidrográfica requereu a nossa atenção. Com
a interpretação de imagens aéreas; consulta à bibliografia para definição das
principais tipologias vegetais existentes e dos estágios de regeneração dos PERCURSO DO NOSSO ENDEREÇO
remanescentes florestais; vistorias in loco para confirmar as tipologias vegetais ECOLÓGICO (ATIVIDADES)
previamente mapeadas. Após o mapeamento das principais tipologias vegetais
existentes nas áreas de influência, definiram-se os locais para sugerirmos ao
A caracterização do nosso “endereço ecológico” foi sendo construída a partir de
município a realização de Restauração Florestal.
diversas ações integradas:
- Caracterização, Monitoramento Hidrológico, Qualidade e Georeferenciamento
dos cursos d’água da Sub-Bacia do Rio São Francisco;
Foram muitos fios tecidos ao mesmo tempo, cada
- Realização de pesquisa-ação para Caracterização Socioambiental Sanitária
qual com a sua importância. Mas o grande desafio de 500 edificações localizadas no bairro do São Francisco, principalmente as
foi costurar todos os fios, olhando cada retalhe do entorno dos cursos d’água;
para além de um simples remendo. Planejar bem
- Caracterização da vegetação da Bacia hidrográfica do rio São Francisco;
um território requer um firme tecido, somando com
precisão cada alinhavo na coesão. Pensar de forma - 01 Diagnóstico socioambiental e sanitário da Sub-bacia do Rio São Francisco;
“sistêmica” para agir pela “Unidade”... - 01 Reunião de devolutiva, análise e validação do diagnóstico junto ao CBH-
LN – e parceiros da Gestão integrada do Sistema Porto Novo – São Francisco.

TECENDO AS Á GUAS 49
IMPACTOS DE NOSSA INVESTIGAÇÃO TECELÕES DA NOSSA
(RESULTADOS) CARACTERIZAÇÃO (PARCERIAS)

- Questionários aplicados em 500 edificações e sistematizados em gráficos e - Chevrolet


analisados pela equipe técnica; - CBH-LN
- 01 Caracterização de uso e ocupação de solo; - EE Nair Ferreira Neves
- 01 banco de dados com o perfil das condições sanitárias dos imóveis existentes - Instituto Educa Brasil
no bairro do São Francisco;
- Prefeitura Municipal de São Sebastião
- 01 Levantamento e monitoramento da qualidade das águas (IQA) dos cursos
d’água em 4 pontos de análises, ao longo de 10 campanhas, localizados no - Sabesp
bairro São Francisco, incluindo Morro do Abrigo e captação da Sabesp (sub-bacia - Universidade UNBR
do Rio São Francisco) e 8 pontos com kit educacional;
- 01 Levantamento e caracterização dos cursos d’água;
- 01 Caracterização da vegetação da bacia;
- Produção de Mapas sobre a caracterização socioambiental;
- 01 Diagnóstico socioambiental e sanitário da Sub-bacia do Rio São Francisco;
- 01 Diagnóstico integrado da bacia hidrográfica do Rio São Francisco;
A parte de coleta e analise de água
com os alunos foi muito bom, pois orientar
- 56 mapas georreferenciados relativos à Bacia do Rio São Francisco e à Bacia do
como é feito o tratamento de água para
Rio Juqueriquerê, integrando o sistema de abastecimento público.
o consumo humano com a metodologia
de ensino sobre educação ambiental de
preservar os rios e a bacia hidrográfica para
no futuro termos uma água de qualidade
para todos.

Sidney Simão da Silva - Técnico em gestão


ambiental do Instituto Supereco

TECENDO AS Á GUAS 50
Fdeazeráguaa coleta e análise da qualidade
com os alunos da Escola
Estadual Nair Ferreira Neves foi uma
experiência ótima, pois estimula a visão
GESTÃO COMPARTILHADA DO TERRITÓRIO crítica dos alunos, auxilia no processo
(POLÍTICAS PÚBLICAS INTEGRADAS) de construção do conhecimento e
empoderamento dos jovens sobre a
qualidade dos rios, instigando o olhar,
O diagnóstico socioambiental e sanitário e o monitoramento da qualidade
dos recursos hídricos de forma participativa despertou o olhar para a bacia
cobrança e ação para conservação
hidrográfica. Tal metodologia fortalece a Política Nacional de Educação destas águas. E foi uma ótima experiência
Ambiental e o Tratado de Educação Ambiental, que preconizam a contextualização como educadora ambiental fazer parte
do aprendizado pelo olhar do seu território e da sociodiversidade local. da equipe de coleta e análise de água
Quanto à gestão das águas, estamos atendendo e elaborando informações com os alunos. De forma dinâmica, e
relevantes para fortalecer: ao ar livre, utilizando os kits educativos
- Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que estabeleceu um marco fundamental
conseguimos conhecer a situação da
na implementação dos comitês de bacia no Brasil, ao instituir a Política saúde dos rios que investigamos.
Nacional de Recursos Hídricos e criar o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos. Entre outros artigos, podemos citar os artigos V e Débora Redivo - Educadora do Instituto Supereco
VI “a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos” e “a gestão dos recursos hídricos
deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos
usuários e das comunidades.”;
- A Constituição Estadual do Estado de São Paulo, dos seus artigos 205 a 2013;
- A Lei nº 7.663 de 1991, que estabelece normas de orientação à Política
Estadual de Recursos Hídricos
- A Lei Estadual nº 9.034 de 1994, que dispõe sobre o Plano Estadual de
Recursos Hídricos - PERH

TECENDO AS Á GUAS 51
LIÇÕES APRENDIDAS

- Qualquer processo investigativo requer um bom planejamento de “métodos de


investigação”, começando pelos dados pré-existentes a fim de criar um marco
zero do cenário pesquisado;
- Assim como levantar dados, mapear os atores, suas atividades e intervenções, é
fundamental para fortalecer esforços no planejamento integrado do território;
- Criar oportunidades e canais de valorização dos estudantes em ações de pesquisa
com voluntariado e estágios direcionados e bem supervisionados. De uma ação
pontual, pode surgir uma boa oportunidade profissional para a juventude;
- Envolver a comunidade em pesquisa ação participativa vai além da coleta de
informações, tornando-se uma oportunidade para criar processos formativos
durante a investigação e trocas de saberes e conhecimentos entre os diferentes
atores do mesmo endereço ecológico;
- Revisitar o marco zero durante o processo de caracterização, observando as
mudanças dinâmicas do cenário, é necessário para buscar novas estratégias que
permitam aprofundar temáticas relevantes ao produto final;
- Na organização dos produtos finais da caracterização, desde mapas a
documentos complexos, é preciso sair do papel de “investigador”, de quem já
vivenciou e conhece o assunto, e assumir o olhar de quem irá receber o produto
e precisa compreendê-lo sem estar em sua companhia. Tornar acessível e
autônoma a informação é um grande desafio!

Era uma vez, o caminho das águas...

TECENDO AS Á GUAS 52
Caminho
das Águas
TECENDO AS Á GUAS 53
O sol cor de laranja já deitava lá no horizonte quando Lara voltava para casa. Nas
águas calmas da praia do São Francisco, barquinhos multicoloridos pincelavam
as ondas do mar e se misturavam com os casarões coloniais. Pescadores
artesanais recolhiam as redes na tradicional cultura caiçara. Tudo é belo, sereno e
aconchegante... Parece até que parou no tempo, vai ver é magica do tear!

S.Áureo conhece este lugar como ninguém, costuma caminhar todas as manhãs pela
Rua Martins do Val, antiga Rua do Fogo por causa da queima dos utensílios de barro.
Maria Aparecida, a Cida, ainda mantém viva a tradição da feitura das panelas de
barro no seu Ateliê de Cerâmica. Foi D. Adélia Barsotti, a última ceramista tradicional
do bairro que ensinou tudinho para Cida a arte de “fazer panelas”. E agora Cida
quer ensinar a Lara, assim como já ensinou aos alunos da APAE*, e, assim, um vai
ensinando ao outro, tecendo as memórias e os saberes de São Sebastião.

S.Edvaldo Nascimento que o diga, ele já teceu muitas fotografias, histórias e


lendas da região, como a do dia em que “prenderam um Santo na cadeia” porque
acharam que ele tinha pecado!

Ele já foi até astro de filme faroeste, roteirista e cineasta ao mesmo tempo, na
histórica São Sebastião. Imagina o que não passou pela cabeça de Lara, quando
poderia virar artista de roteiro de cinema!

Eis aí que veio uma ideia: tecer o Roteiro “Caminho das Águas”, tecer rios, ondas do
mar, areia da praia, matas e seus animais, saberes e fazeres de um povo, história
e cultura tradicional... Tecer amores, encontros e reencontros, de um jeito bem
atraente para quem também vem de outras águas.

Turistas daqui ou de outras cidades, de carro, a pé ou de bicicleta, numa viagem


encantadora, guiada por monitores comunitários tecendo lazer, conservação e
encantamento para todas as idades...

A cada toque no tear, lá vem um novo atrativo!

* Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais


TECENDO AS Á GUAS 54
E u me sinto comprometida mesmo, eu assumi
NOSSO CAMINHO DAS ÁGUAS
(OBJETIVO)
esse compromisso durante o curso com a dona Adélia
de não deixar que isso se perdesse...Porque quando
Desenvolver um Roteiro ecoturístico, educativo, cultural e histórico “Caminho das
você vende uma panela, você não vende a panela...
Águas” no eixo Centro - Bairro São Francisco, zona costeira do município de São
Você vende a panela que tem uma história por trás Sebastião, potencializando o turismo sustentável com atores locais como monito-
dela. E a pessoa compra esta história e está levando res e educadores ambientais.
essa história... Ela está conhecendo um Brasil que
está desconhecido e não existe nos livros... Então essa
panela é um cartão postal, a história é um cartão
postal da nossa produção. VIAJANTES DO NOSSO DESTINO
(PÚBLICO-ALVO)
Maria Aparecida Ivanov - artesã e educadora,
conhecida como “Cida paneleira”, virou
- Moradores do litoral norte de SP;
personagem do Caderno Saberes das Águas. - Turistas;
- Profissionais e instituições da cadeia produtiva do turismo;
- Estudantes de turismo;
- Turismólogos e outros profissionais interessados no turismo sustentável;
- Lideranças comunitárias;
C onsidero-me, hoje, importante para a cidade
- Monitores e educadores ambientais;
- Representantes da Secretaria de Cultura e Turismo de São Sebastião
porque sou um dos que tentam manter a história...
Fotografo tudo o que interessa para que, no futuro,
as crianças saibam como era São Sebastião.
Edivaldo Nascimento - autodidata, contador de
histórias, lendas e causos, fotógrafo e apaixonado pela
história de São Sebastião, por cinema e fotografia.
Virou personagem do Caderno Saberes das Águas.

TECENDO AS Á GUAS 55
COMO CONSTRUÍMOS JUNTOS O
NOSSO ROTEIRO (METODOLOGIAS)

O Roteiro Ecoturístico, educativo, cultural e histórico “Caminho das Águas” O maior propósito socioambiental do “Caminho das Águas” é motivar as pessoas,
foi uma das atividades mais envolventes do Projeto Tecendo as Águas, pois por meio de um roteiro bem estruturado que integre lazer e cultura com educação,
motivou e propiciou à equipe do projeto mergulhar na evolução histórica de São a conservarem as águas, as florestas e o ambiente da região, valorizando a
Sebastião, sua cultura, seus bens materiais e imateriais. Esta trajetória teve muito comunidade local, e tornando-as multiplicadoras de boas atitudes durante e
encantamento e inspiração, uma vez que todo processo aconteceu pela construção após a experiência. Neste sentido, o Instituto Supereco também idealizou um
participativa com vários grupos focais da cadeia produtiva do turismo, como produto que englobe toda a Serra do Mar, com potencial de replicabilidade da
também com a própria comunidade local, o contato direto com os atrativos e metodologia em outras cidades, integrando um grande Roteiro “Caminho das
pessoas que ainda mantém viva a memória deste lugar! Águas”, sendo São Sebastião foi o primeiro município a receber esta proposta.

O maior desafio foi transformar estes levantamentos em “produtos” atraentes Para chegarmos aos produtos do Roteiro Caminhos das Águas, um longo “passo a
e acessíveis ao público. Como também criar oportunidades de melhorar a passo” foi percorrido:
visitação da cidade em períodos para além da sazonalidade, atraindo turistas
da costa sul, da costa norte e também de outras regiões do Brasil. O eixo piloto
- Pesquisa documental com levantamento de dados secundários já existentes
escolhido foi o “Centro Histórico ao Bairro da Cultura tradicional caiçara São
na região;
Francisco” pelo diferencial de atratividade nos segmentos desejados, localização
perto da Rodovia principal, proximidade um do outro e necessidade de - Comunicação com atores locais e parceiros do projeto com a intenção de
potencialização do turismo nestes locais. coletar impressões sobre a situação atual do turismo e a percepção do
potencial turístico no município de São Sebastião;
- Mobilização da comunidade por meio do levantamento e mapeamento de
atores estratégicos nas comunidades da Bacia hidrográfica do Rio São Francisco;

T oda história vivenciada, jamais será


- Engajamento e apoio da SECTUR - Secretaria de Cultura e Turismo de São
Sebastião, possibilitando um desenvolvimento de roteiro compartilhado e
esquecida se for contada com carinho. adaptado às políticas públicas municipais e regionais de desenvolvimento
Jaqueline Vieira - monitora comunitária do turismo;
capacitada pelo roteiro

TECENDO AS Á GUAS 56
- Aplicação de questionário investigativo com o apoio do Grupo Ciclos - Para a caracterização do perfil dos atrativos turísticos, utilizamos o modelo
Contínuos abordando as pessoas nos locais de interesse do projeto, de referência do Sebrae (anteriormente aplicado à Fazenda Santana em estudo
adaptados aos vários públicos em questão (turistas, Trade e comunidade), anterior) e adaptamos alguns elementos de uma ficha desenvolvida pelos
a fim de obter a percepção destes atores sobre os assuntos trabalhados na professores do Curso de Turismo da ETEC – Escola Técnica Estadual de São Paulo;
concepção do Roteiro. Para elaboração deste questionário, adaptamos um
- Sistematização de questionários aplicados: os resultados foram tabulados à
questionário elaborado pela SECTUR e COMTUR no projeto de “Sistema de
fim de gerar gráficos e analisados;
Monitoramento do Turismo – São Sebastião” que estava sendo aplicado no
município inteiro concomitantemente, além de uma pesquisa em literatura - Realização de um roteiro piloto no Bairro São Francisco com alunos da
para validação da qualidade destes questionários; ETEC e outras lideranças comunitárias no evento de lançamento do projeto,
possibilitando uma primeira impressão dos potenciais turísticos deste bairro
- Mapeamento de atrativos turísticos atuais e potenciais por meio de uma
assim como a avaliação da metodologia de monitoria empregada;
dinâmica participativa de levantamento e localização espacial, num mapa da
área de abrangência do roteiro, com a legenda de categorias: histórico-cultural, - Elaboração de Fichas de caracterização e categorização dos atrativos
naturais e esportes náuticos, gastronomia e hospedagens. Este mapa foi turísticos em primário, secundário e terciário de acordo com a importância
utilizado nas oficinas e reuniões de elaboração socioparticipativa do roteiro; histórica-cultural, natural e qualidades de infraestrutura. Esta metodologia
permitiu a definição de roteiros de acordo com a relevância destes atrativos e,
assim, adequando-se ao interesse e tempo de visitação dos visitantes;
- Desenvolvimento de dinâmicas de grupo na Oficina com a Comunidade: a) “
Oferecendo Turismo”, com o objetivo estimular o olhar dos participantes da
Oficina com a Comunidade, em relação aos atrativos locais do município e os
diferentes perfis de turistas; b) “Filtro dos Sonhos”, com o objetivo de levantar
quais são os desejos e apreensões relacionados ao turismo na região, de
forma a verificar situações, ou atividades que precisem de atenção;

Foicomumaa parte
iniciativa bem participativa,
socioambiental, a
comunidade (nós)... Agradecemos
imensamente por este projeto tão rico.
Bruna Rodrigues - monitora
capacitada pelo roteiro.

TECENDO AS Á GUAS 57
- Desenvolvimento de Mapa mental dos atores envolvidos com turismo no
município, uma vez que foi verificada grande desarticulação destes atores. A
sistematização deste mapa permitiu a classificação dos atores estratégicos
em grupos focais para as oficinas de planejamento participativo;
- Desenvolvimento de atividade de World Café para promover a participação
dos professores e coordenadores pedagógicos da educação do município na
elaboração dos pontos interpretativos do Estudo do Meio na Fazenda Santana;
por meio do preenchimento de fichas com conteúdo pedagógico de cada
disciplina e sua interação nos respectivos pontos da Fazenda;
- Participação da equipe do Projeto Tecendo as Águas na plataforma representativa
- Visita monitorada do Bairro São Francisco com os professores e do segmento do turismo COMTUR para o envolvimento dos atores do TRADE
coordenadores pedagógicos municipais da educação para definição de roteiro local, considerando a dificuldade de engajamento deste setor na elaboração
educativo (com reflexões pedagógicas), com foco no turismo pedagógico do socioparticipativa do roteiro. Com esta metodologia procurou-se atrair a atenção
“Caminho das Águas”; deste setor aos produtos de comunicação previstos pelo projeto, uma vez que este é
um elemento de divulgação que pode interessar o empresariado;
- Apresentação de um comparativo entre os resultados de alta estação da
pesquisa de demanda turística encomendada pela Sectur no projeto de - Contação de história na Novena da Fazenda Santana, festa tradicional anual,
“Sistema de Monitoramento do Turismo - São Sebastião” e a pesquisa do como uma metodologia lúdica e interativa empregada para divulgação,
Caminho das Águas, indicando diferenças no perfil de turista; educação e coleta de percepções sobre os potenciais da Fazenda Santana para o
estudo do meio proposto;
- Para a elaboração adequada dos produtos de comunicação (placas, portal e
folders) do roteiro “Caminho das Águas”, a equipe do projeto analisou todos

Afundamental
sazonalidade é de fato uma questão
os resultados das oficinas e das reuniões socioparticipativas sob um aspecto
técnico: a) um estudo minuncioso de padrões de placas no Ministério de Turismo
e o conhecimento de um turismólogo local – Vagner Gonçalves - da equipe do
no desenvolvimento e
sustentabilidade do turismo em São Tecendo as Águas; b) um levantamento de produtos de comunicação de diversos
roteiros para uma verificação dos aspectos positivos a serem incorporados como
Sebastião, portanto atrativos independentes conteúdo e design destes produtos; c) a contratação de uma equipe de design –
da estação são muito importantes para “Freez” que já possuía a “identidade” e linha dos produtos institucionais, para a
fomentar o turismo. confecção dos materiais; d) a contribuição contínua e permanente e a validação
dos representantes da SECTUR - incluindo a Secretária de Cultura e Turismo e a
Marianita Bueno - Secretária de
diretora de Cultura do Município;
Cultura e Turismo de São Sebastião

TECENDO AS Á GUAS 58
- A inspiração para a criação da logomarca da logo do roteiro “Caminho das
Águas” foi um Concurso Cultural para eleger um desenho símbolo promovido PERCURSO PARTICIPATIVO DO
junto às escolas municipais da bacia do Rio São Francisco e adjacências. NOSSO ROTEIRO (ATIVIDADES)
Crianças e jovens foram envolvidos no aprendizado e na descoberta das
potencialidades turísticas da sua região. Os 10 melhores desenhos receberam
- 01 Documento com o mapeamento situacional de iniciativas existentes de turismo
um prêmio e o primeiro colocado teve seu desenho incorporado nos materiais de
cultural, histórico e ecoturismo, bem como dos locais potenciais e suas infraestruturas
comunicação do roteiro;
para o roteiro ”Caminho das Águas no eixo centro – bairro são Francisco”;
- Realização de curso de capacitação de monitores comunitários (em módulos
- 21 Fichas com caracterização do perfil dos atrativos potenciais da área de
teóricos e práticos) com as temáticas relevantes do roteiro, assim como na
abrangência do roteiro;
formação de boas condutas na monitoria, segurança, empreendedorismo e
cadeia produtiva do turismo, com uma avaliação final dos alunos com melhor - 232 questionários e instrumentos de registro e coleta de percepção e expectativas
desempenho e os quais foram cadastrados como aptos para a atividade. em relação ao roteiro;
- 04 Oficinas para elaboração socioparticipativa e compartilhada do roteiro
“Caminho das Águas” com lideranças comunitárias, professores da rede
municipal de educação e departamento de coordenação pedagógica do
município, representantes do setor de ecoturismo; especialistas em história,
turismo e cultura do município;
- 05 Reuniões para elaboração socioparticipativa e compartilhada do roteiro
“Caminho das Águas” com o Departamento de Patrimônio Histórico, Conselho
Municipal de Turismo (COMTUR), Sebrae; Grupo de Trabalho municipal de
Ecoturismo e Conselho gestor do Parque Estadual da Serra do Mar;
- 01 vivência prática de dois membros da equipe do projeto em estudo do meio de
uma escola visitante no município de São Sebastião, permitindo uma reflexão do
projeto sobre os potenciais educativos dos atrativos turísticos;
- 01 Contação de História para a comunidade participante da Novena na
Fazenda Santana;
- 01 Curso de capacitação de 25 monitores de turismo sobre o roteiro Caminho
das Águas;
- 01 Reunião de validação do Roteiro Caminho das Águas associada a um press trip
com jornalistas convidados, incluindo sugestões e recomendações deste grupo.

TECENDO AS Á GUAS 59
IMPACTOS DE NOSSO ROTEIRO INTEGRADO
DE TURISMO SUSTENTÁVEL (RESULTADOS)
- Mobilização de atores e apoio ao turismo local por meio do Conselho Municipal
de Turismo – Comtur e Grupo de Trabalho de Ecoturismo – GT Ecoturismo;
- Elaboração do 01 Roteiro de turismo sustentável integrando educação, cultura, história
- 25 lideranças comunitárias capacitadas no desenvolvimento do Roteiro
e conservação, por meio da participação da comunidade, viabilizado por oficinas;
Caminho das Águas, sendo escolhidos os alunos com melhor desempenho para o
- 01 Mapeamento situacional de iniciativas existentes de turismo cultural, histórico cadastramento junto à SECTUR e demais interessados em operar o Roteiro na região;
e ecoturismo do município de São Sebastião (eixo Centro Histórico – Bairro São
- Produtos de comunicação como atrativos para o Roteiro (placas de sinalização,
Francisco e adjacências);
placas de atrativos, folders, site: www.tecendoasaguas.net/caminhodasaguas,
- 01 Modelo de Referência em Educação Ambiental, História, Cultura e Ecoturismo do página no facebook - https://www.facebook.com/roteirocaminhodasaguas,
“Caminho das Águas - Estudo de Meio e Educação Ambiental na Fazenda Santana; boletins e comerciais de TV e youtube – canal ssuperecco);
- Implementação da infraestrutura física para Estudo de Meio e Educação - 01 press trip do Roteiro Caminho das Águas com um grupo de jornalistas
Ambiental na Fazenda Santana; convidados para potencializar a divulgação inicial do Roteiro na mídia.

TECENDO AS Á GUAS 60
APOIADORES DO NOSSO CAMINHAR CAMINHOS PARA O TURISMO SUSTENTÁVEL
PELAS ÁGUAS (PARCERIAS) (POLÍTICAS PÚBLICAS INTEGRADAS)

O maior incentivo ao Roteiro veio de uma rede de parceiros interessados em A construção do Roteiro Caminho das Águas (e sua equipe executora), esteve
tornar o “Caminho das Águas” um produto diferenciado para a região pela diretamente relacionada as políticas públicas descritas a seguir, bem como houve
vocação turística já existente, que permita o desenvolvimento local com a a preocupação em contribuir tecnicamente e fortalecer estes segmentos de política
geração de renda para as comunidades e a conservação ambiental. O apoio das pública de forma integrada e sistêmica, potencializando o que já existe na região e
lideranças comunitárias, moradores da bacia do Rio São Francisco e entorno, nos colegiados.
operadores de turismo, bem como de representantes de outros municípios,
- Contribuição com a Reativação do Programa Municipal de Ecoturismo,
na construção participativa foi muito relevante a ativo. Além da SECTUR –
Decreto 2.209/98 de 22 de Outubro de 1998, por meio de atuação da nossa
Secretaria de Cultura e de Turismo de São Sebastião, quatro grupos foram
equipe no Grupo de Trabalho de Ecoturismo – GT Ecoturismo;
estratégicos como parceiros: GT – Ecoturismo, COMTUR, Instituto Educa Brasil e
proprietários da Fazenda Santana. - Apoio ao incentivo de resgate e valorização do patrimônio imaterial,
estabelecida pela Lei No 1770/2005 que institui a implantação da Política
Municipal de Apoio ao Patrimônio Imaterial de São Sebastião, além de
outras providências;
- Valorização turística histórico-cultural do patrimônio material do Centro

Onas
s resultados dos questionários aplicados
Histórico e Bairro São Francisco, e assim, apoiando a Lei 1840/2007, que
estabelece o programa de revitalização das áreas históricas das regiões
regiões centrais de São Sebastião, acima mencionadas;
quando comparados com as aplicadas pela
- Atendimento e participação de reuniões do Conselho Municipal de Turismo –
SECTUR no município inteiro, esclarecem COMTUR de São Sebastião.
muito sobre as diferenças de públicos entre
a costa sul e a costa norte.
Telma della Monica - diretora de turismo da
Secretaria de Cultura e Turismo de São Sebastião

TECENDO AS Á GUAS 61
É importante mencionar que o desenvolvimento
do turismo numa região, aumentando a sua LIÇÕES APRENDIDAS
atratividade (oferta x demanda), requer um
conjunto de políticas públicas planejadas,
fortalecidas e integradas simultaneamente, tais - Planejar qualquer atividade de turismo requer a identificação de quais são as
políticas públicas associadas em todas as esferas do poder, a fim de obter maior
como: gestão ambiental, abastecimento público, impacto, apoio e menos riscos para a atividade. Assim como a necessidade dos
saúde, saneamento, transporte, comunicação, diversos gestores públicos trabalharem de forma integrada o planejamento de
infraestrutura, desenvolvimento territorial, entre suas políticas públicas, de forma a garantir o mínimo de infraestrutura e quali-
outras. Caso contrário, os riscos são prejudiciais dade para os turistas, sem impactar na qualidade de vida e na infraestrutura da
população local;
para o sucesso da iniciativa.
- O turismo acontece nas comunidades e com a participação das mesmas, pois
não há turismo sustentável sem a participação comunitária, muito menos sem
agregar o valor social ao turismo e à conservação. Se não houver o envolvimen-
to destes atores desde a elaboração da proposta (não imposta, mas construída
coletivamente), a comunidade não se identificará e não se engajará na iniciativa;
- Apesar da importância de focar no desenvolvimento do turismo sustentável em
uma escala local, atendendo suas peculiaridades e diferenciais (segmentação) e
mantendo sua identidade, é estratégico e fundamental enquadrar este turismo
em um âmbito regional. Ou seja, adequar a um mercado com escala e capilari-
dade, inclusão em um nicho que atraia turistas de forma mais organizada e com
qualidade garantida regionalmente;
- O desenvolvimento do turismo é uma oportunidade para o resgate histórico e
cultural de um lugar, valorizando as comunidades e os seus saberes e mantendo
vivas as memórias de geração em geração;

TECENDO AS Á GUAS 62
A qui a gente tem uma riqueza muito - Durante o desenvolvimento da proposta do estudo do meio, em que os
coordenadores pedagógicos foram envolvidos, percebemos a grande falta de
grande, a parte histórica e cultural é oportunidades dos alunos locais saírem da sala e vivenciarem São Sebastião em
muito grande... Mas é preciso capacitar sua história, cultura e beleza natural. O sistema educacional carece de estruturas
novos monitores culturais e de ecoturismo. (como receptivos e operadores de turismo pedagógico) que possam receber
alunos em um modelo educacional-pedagógico associado ao currículo;
Suelen Couto - Agência de turismo
- Quando se conhece a história do local, o sentimento de pertencimento ajuda
receptivo Passeios Fácil
na preservação do patrimônio material e imaterial da cidade. Neste sentido,
para a própria equipe do Tecendo as Águas, o contato direto e investigativo
- Aprendemos por meio de nossa vivência de desenvolvimento deste roteiro que das potencialidades de atrativos materiais e imateriais foi um laboratório ao ar
um dos principais parceiros para um objetivo como este é o setor privado como o livre de aprendizado e encantamento pela cidade, fato que colaborou muito no
chamado TRADE (atores da cadeia produtiva do turismo). No caso de nosso projeto, desenvolvimento dos produtos técnicos e de comunicação. Por exemplo, a equipe de
pela realidade já existente no município, a fragilidade no engajamento destes atores designers fez uma imersão presencial para colher inspirações antes de desenvolver as
foi um desafio, pois estes são os atores que “fazem acontecer. ” Potencialmente, peças e perceber a importância do seu trabalho e as dificuldades a serem superadas.
são eles que poderiam abarcar um roteiro como o proposto, viabilizando a

A
sustentabilidade do mesmo. Neste sentido, diversas estratégias foram pensadas
durante o percurso, mas ainda precisam ser retomadas junto aos parceiros principais
escola cada vez mais tem essa concepção de que o
como a SECTUR para mobilizar o Trade para o Caminho das Águas;
conhecimento na verdade é um mundo, e no meio você consegue
- A proposta de confeccionar e instalar placas de sinalização e com mapas dos relacionar isso, como na verdade aprender está ligado à descobrir
atrativos, além de folders, foi uma assertiva do projeto muito bem recebida por
um mundo e conseguir atuar nesse mundo , nós queremos formar
todos os atores associados ao turismo. Fortaleceu a necessidade de uma estrutura
de comunicação diferenciada (integrando educação, lazer e conservação com
estudantes como sujeitos da história , e eles precisam entender
cultura e história) e de divulgação do turismo sustentável no município; que eles são capazes de transformar o cotidiano , de transformar a
dinâmica social...Sem dúvida acho que o turismo pode contribuir
muito pra isso... Não mais como observadores da história mas como
A criação de um roteiro turístico, que envolva diversos
participantes, como atores nesse processo de transformação.
professora Marina Novaes Senne da disciplina
atores do setor público, privado e comunidade é, sem dúvida,
um grande desafio que exige um esforço significativo de de História da Escola Miró de Ribeirão Preto.
comunicação e de intermediação entre estes atores.
Alexandre Nunes - consultor da
SEBRAE de São José dos Campos Era uma vez, a voz da comunidade...
TECENDO AS Á GUAS 63
No Ritmo
das Águas
TECENDO AS Á GUAS 64
E a voz da Lara ecoou para centenas de crianças,
jovens e adultos de outras águas...

Ivana, do Grupo Ciclos Contínuos, filmava tudo com emoção, Lara iria virar estrela
dos vídeos ambientais. E a Educom ganhou força nas cidades da Serra do Mar!

Teve até parceiros de fora, de outros projetos socioambientais, “Águas do São


Francisco” e o “Plantando Águas” vieram ecoar suas vozes em São Sebastião.

Foi uma grande alegria para Lara ter participado do “Festival Tecendo as Águas”
na praia do São Francisco. No meio dos tecidos coloridos, pessoas de todas as
idades desfrutavam de boa comida, diversão, cultura e arte, comemorando uma
história bonita! Lá no Espaço Criança, Lara se encantou ao tocar o tear, mais
encantadas ficaram as crianças ao ver Lara se aproximar...

Leonardo e Isabela, jornalistas mirins, logo vieram convidar Lara a fazer parte da
turma na RádioWeb Supereco. Carlinhos, o educomunicador do Projeto Tecendo as
Águas, se entusiasmou com a novidade e levou Lara para o estúdio:

- A Rádio Supereco apresenta: o Projeto Tecendo as Águas!!!

TECENDO AS Á GUAS 65
NOSSO RITMO (OBJETIVO)

Disseminar temas socioambientais e culturais relacionados à saúde e ao uso


racional e conservação dos recursos hídricos, ambientes costeiros e marinhos,
produzidos com apoio das Comunidades locais, utilizando as ferramentas de
educomunicação (web, rádio e audiovisual).

COMO ECOAMOS AS VOZES


(METODOLOGIAS)

Considerando a Educomunicação um campo de intervenção socioambiental,


buscou-se, dentro das oficinas de Vídeo, de Rádio e de Web despertar o olhar dos
participantes para questões socioambientais da Bacia do Rio São Francisco e da
Bacia do Rio Juqueriquerê, por meio de atividades de sensibilização e apropriação
do conhecimento. Saídas de campo e confecção de biomapa, metodologia que
propõe a realização de um diagnóstico rápido e participativo, ajudaram aos
A VOZ DA COMUNIDADE alunos a mergulharem nos desafios e se inspirarem para os programas.
(PÚBLICO-ALVO)
As aulas foram planejadas, em módulos teóricos e práticos, com o objetivo de
alinhar informações técnicas de uso de equipamentos, enquadramento, roteiro
- Jovens moradores e profissionais que atuam nos bairros Cigarras, Figueira, São
(Vídeo), conhecimento html, criação de blog, conteúdos para internet (Web) ,
Francisco, Morro do Abrigo, Portal da Olaria, Arrastão, Reserva do Moullin,
conhecimento de voz, exercícios de dicção e respiração (rádio) com informações
Pontal da Cruz e Praia Deserta, interessados em aprender sobre educomunicação;
relacionadas às questões socioambientais. Especialmente da Bacia do rio São
- Alunos da Escola Estadual Nair Ferreira Neves, localizada no bairro São Francisco. Francisco, onde a EDUCOM foi instalada, partindo da percepção dos participantes.

TECENDO AS Á GUAS 66
A partir do momento em que os alunos
PERCURSO DAS NOSSAS MÍDIAS
(ATIVIDADES)
começaram a produzir mídia, despertou-se
neles um senso crítico maior em relação
O Programa de Formação em Educomunicação para a comunidade envolveu
a própria mídia: consumo consciente ou atividades formativas em cursos com módulos específicos de Rádio, WEB e
consumo inconsciente. Audiovisual (aulas teóricas e práticas), cobertura em eventos do projeto e de
outras iniciativas, produção de spots, vídeos, blogues e outras mídias sociais,
Carlinhos Paes - Educomunicador e radialista, formatura conjunta dos alunos dos três tipos e cursos com o compartilhamento
idealizador da Rádioweb Supereco dos produtos e a valorização da troca de saberes.

Os técnicos das várias áreas do Projeto Tecendo as Águas apoiaram as aulas


teóricas, trazendo para os alunos a inspiração dos conteúdos e a valorização da
bacia hidrográfica.

As Oficinas de Rádio na educação formal proporcionaram aos jovens alunos do


ensino médio da EE Nair Ferreira Neves um contato com moradores antigos do
bairro São Francisco, caiçaras, agricultores e outros profissionais envolvidos no
projeto como jornalistas e engenheiros agrônomos. Ao elaborar e desenvolver as
entrevistas, os estudantes iniciaram um processo de aprendizagem descobrindo
as condições ambientais do bairro há 30 anos e aprofundando o conhecimento
sobre as questões socioambientais como: restauração florestal, Área de
Preservação Permanente (APP), eco eficiência, agroecologia, logística reversa e
sustentabilidade. As entrevistas foram transformadas em programas de rádio. E a
timidez inicial foi transformada em superação!

Os vídeos, blogues e programas de rádio produzidos pela comunidade foram


divulgados em rádios, web e mídias sociais, que perpetuarão, por muitos anos, a
voz e a intenção dos moradores do litoral norte em fazer a diferença dando o ritmo
a sua emoção.

TECENDO AS Á GUAS 67
Curso de Rádio
IMPACTOS DE NOSSA
EDUCOMUNICAÇÃO (RESULTADOS) Produção de peças de rádio (spots) com conteúdos socioambientais, utilizadas
nas ações do projeto, ações da Campanha Se Liga nessa Bacia, Ecodicas e outras
A educomunicação proporcionou a descoberta de muitos talentos nos alunos, peças veiculadas nas mídias locais e na Rádioweb Supereco.
com investigação, redação, criação, gravação e a divulgação, cujos produtos
resultaram em: Os spots produzidos pelos alunos, bem como as demais produções podem ser
acessadas em: www.radiosupereco.com

Curso de Audiovisual

Os alunos foram divididos em três turmas, onde cada turma produziu um vídeo de Curso de Web
curta metragem, com temas socioambientais.
Os vídeos foram intitulados: Cada participante produziu um blog e alimentou os sites do projeto:
www.supereco.org.br e www.tecendoasaguas.net
- As riquezas de São Francisco: documentário apresenta o turismo do bairro
São Francisco, seus personagens e suas histórias. Cerca de 50 alunos de comunidades foram envolvidos nos processos formativos,
- Caca Cacareco Eco: documentário aborda a reciclagem e a importância da em Caraguatatuba e São Sebastião. Entre eles, atividades específicas com escolas
educação ambiental na Educação Infantil. da bacia hidrográfica do Rio São Francisco e Bacia hidrográfica do Rio Juquerique-
rê (Campanha Se Liga nessa Bacia).
- Preservação da água: vídeo apresenta a problemática da escassez de água e
pequenas ações que podem amenizar o problema.

Criação da Radioweb Supereco


Os vídeos podem ser acessados no canal do youtube: canal superecco e
https://www.facebook.com/ProjetoTecendoasAguas Durante o nosso percurso, decidimos ir além da divulgação dos produtos na
rádio comercial. Com a ajuda do radialista e educomunicador Edson Carlos Paes,
criamos um RádioWeb www.radiosupereco.com que passou a transmitir numa
programação especializada as questões socioambientais para sensibilizar e infor-
mar com criatividade: ecodicas, ecohoróscopo, spots educativos, entrevistas com
personalidades e parceiros da região, músicas ambientais, músicas de raiz, cultura
e muitas outras variedades, dando oportunidades como mídia inclusiva para mui-
tas pessoas além das envolvidas com o Projeto Tecendo as Águas.

TECENDO AS Á GUAS 68
AS VOZES DA NOSSA REDE A FORÇA DA NOSSA VOZ
(PARCERIAS) (POLÍTICAS PÚBLICAS INTEGRADAS)

- Centro Cultural Batuíra Em 2010, a resolução 422 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA
tratou sobre a educomunicação: “considera a educomunicação como campo
- EE Nair Ferreira Neves
de intervenção social, que visa promover o acesso democrático dos cidadãos
- Projeto Águas de São Francisco à produção e à difusão da informação, envolvendo a ação comunicativa no
- Projeto Plantando Águas espaço educativo formal ou não”. Dentro de suas diretrizes o CONAMA traz
como desafio: “contextualizar as questões socioambientais em suas dimensões
- Rádio Morada FM histórica, econômica, cultural, política e ecológica e nas diferentes escalas
- Radiosupereco.com individual e coletiva”.

- Sectur – Secretaria de Cultura e Turismo de São Sebastião O eixo “No Ritmo das Águas” seguiu essas diretrizes e assegurou o compromisso
com o Encontro / Diálogo de Saberes e a valorização da união e contato entre
atores, instituições, gerações, gêneros, culturas, territórios, numa atmosfera
de respeito mútuo, sempre fortalecidos pela ação dialógica. O “diálogo de
saberes” é fundamento metodológico para qualquer prática de Educação, com
a promoção do contato e diálogo entre práticas, conhecimentos, tecnologias,
papéis sociais e políticos.

Promovemos com as atividades deste eixo o alinhamento entre as políticas


públicas da educação, da cultura e do desenvolvimento social (infância,
juventude e terceira idade), com uma comunicação socialmente mobilizadora,
atuando na formação de alianças e redes, além de favorecer as já existentes.
Com a valorização do conhecimento tradicional e popular, a Educomunicacão
Socioambiental respeitou e favoreceu a autonomia das identidades individuais e
coletivas no contexto das comunidades do litoral norte de SP.

TECENDO AS Á GUAS 69
LIÇÕES APRENDIDAS

A educomunicação tem grande potencial para despertar talentos e envolver as


comunidades em temáticas relevantes para a sociedade. Algumas questões e
recomendações vivenciadas no projeto merecem atenção:
- Nas duas possibilidades vivenciadas pelo projeto, uma com curso aberto de
inscrições para a comunidade e outra de inserção da educomunicação nas
escolas, percebemos que o maior retorno foi relacionado ao trabalho na unidade
escolar. Não que um seja mais importante do que o outro, mas quando há uma
instituição, como escola ou projeto social envolvido, já existe uma organização
Era uma vez,
deste grupo social, com maior permanência, continuidade e presença dos alunos
nos cursos;
o Grupo Ciclos
Contínuos...
- Na configuração do perfil das turmas é muito importante ter certo nivelamento
de conhecimentos dependendo do tipo de formação, como no caso dos cursos
de Web, pois alunos sem habilidade preliminar de informática requerem uma
atenção diferenciada;
- Descobrir os talentos de cada um, potencializando suas melhores habilidades é
o que faz a diferença no processo formativo e nos produtos finais, uma vez que
nem todos se sentem aptos para todas as funções;
- Divulgar os produtos em redes sociais diversificadas traz o reconhecimento do
trabalho dos alunos e também ajuda as pessoas a se inspirarem no potencial da
educomunicação como uma ferramenta inclusiva, democrática e de baixo custo,
muito atrativa para a educação;
- Muitas das entrevistas para a Rádio Web Supereco foram feitas usando as
ferramentas de som de aparelhos celulares, sendo transmitidas até mesmo em
outros países para a cobertura de eventos como ocorreu na participação do
Projeto Tecendo as Águas, no Fórum Social Mundial 2015, da Tunísia, África.

TECENDO AS Á GUAS 70
Grupo Ciclos Contínuos,
tecelões das águas e suas memórias

TECENDO AS Á GUAS 71
Foi tanta magia e animação no Festival Tecendo as Águas que Lara mal podia
parar em pé. Desta vez não era de gripe, mas cansaço “bom” de muita diversão.
S ou uma pessoa comum que tinha
muitas ideias, mas sozinha não conseguia
De tear em tear desta grande contação, que começou lá naquela aula de atingir meus objetivos. Então encontrei o
Geografia com S.Áureo, Lara queria dormir. Mas também guardar tudo no Instituto Supereco e passei a ter ferramentas
coração. Lembrar de cada amigo que conheceu, retalho que viu florescer, mudas para realizar meus sonhos. Mas não são
que fizeram brotar, saberes que ganharam memórias, encontros e reencontros de simplesmente sonhos, são árvores crescendo
parceiros em rede, transformação pelas águas e pessoas que viu renascerem... as margens de um rio, são professores e
Mas S.Áureo ainda tinha um grande segredo, guardado como tesouro encantado.
crianças sendo sensibilizados, são idosos
De dentro daquele tear, mãos hábeis dos tecelões, que fizeram a história acontecer redescobrindo suas histórias e seu potencial.
de verdade, surgiram aos olhos de Lara. Pessoas de todas as idades, jovens, Sou feliz por fazer parte disso.
mulheres e homens, com talentos e habilidades, ajudaram a costurar todas as
peças destes capítulos no tom das suas comunidades. Junto com a Adelina, Ivana Pagnota é a veterana do grupo. Alegre, olhos
brilhantes e sorriso que estimula, Ivana conquistou a arte de fazer vídeos
Um a um foi se apresentando a Lara, como membros do Grupo Ciclos Contínuos, ambientais. É filha da D.Dalva, a participante mais idosa do grupo, que se
lideranças comunitárias com a arte de tecer as águas, florestas e sociedade. Mas tornou o xodó da equipe Supereco um exemplo a ser seguido na vida.
não de qualquer jeito. Sorrisos, afeto, aconchego, abraços e curiosidade... Escuta
sensível e muito respeito... Saberes populares, boa prosa e deliciosa comida...
Experiência de vida e do seu território, aprender e ensinar todo dia... Histórias de
superação, foram várias as marcas deixadas nos tecidos que esse grupo trouxe
para a nossa experiência.

EuContínuos’,
me redescobri com o ‘Ciclos
isso é tudo.
Luzimar de Moraes, recém chegada em
São Sebastião, é a mais nova integrante
da equipe após participar do Curso de
Biomapas. Semblante calmo e acolhedor, se
revelou através da arte e da ambientação.

TECENDO AS Á GUAS 72
Q uando entrei para o grupo Ciclos Contínuos Nessa hora Lara já adormecia, embalada por pessoas do bem, mal escutou
quando S.Áureo explicou de onde surgiu o Grupo Ciclos Contínuos:
eu estava com depressão. Me sentia triste e sem
vontade de fazer as coisas. Então passei a sair
de casa, a aprender muitas coisas e descobri que - Os membros do Grupo Ciclos Contínuos (que podem
também tinha coisas para ensinar. Isso deu uma vida ser conhecidos no final desta publicação) fazem
em mim. Foi maravilhoso. Conheci novos amigos, parte da metodologia do Instituto Supereco em
uma sabedoria. Hoje me sinto fortalecida, me sinto mobilizar e formar lideranças comunitárias para serem
segura até para falar. Antes não falava na frente das disseminadores e agentes diretos das ações do projeto
outras pessoas. Agora falo, dou entrevista, conto em suas comunidades. O passo a passo e a rotina (no
história da minha terra e da minha gente. escritório e no campo) do Tecendo as Águas foram
Maria Adjanira de Oliveira (D.Geni) chegou em São
construídos de forma participativa com estas pessoas,
Sebastião aos 4 anos de idade. Moradora do Morro
tornando-as norteadoras para a equipe técnica e para
do Abrigo cresceu assistindo as apresentações da enfrentar os desafios no território.
Folia de Reis por ser filha de um dos integrantes.

P ara mim foi gratificante participar do ‘Ciclos


Continuo’, conheci pessoas maravilhosas, aprendi
muito e consegui passar um pouco de mim.
Agradeço a Deus por ter podido deixar um pouco
de mim para todos os envolvidos.
Adelina Pimenta, esposa, mãe e dona de uma
grande habilidade com as linhas. Unindo
tecidos cria pequenos caiçaras, bonecos que
representam a cultura local. É uma grande
revelação quando mostra sua arte.

TECENDO AS Á GUAS 73
E u tenho um sonho que é transformar meu sítio Pessoas que jamais serão esquecidas, estarão guardadas no coração de Lara e de
nossa equipe com muito carinho. E também nas memórias das águas do litoral
num espaço de educação ambiental para receber norte de São Paulo, pois continuam suas próprias histórias, fortalecidas na sua
escolas e ensinar as crianças... Ter uma horta, um intenção e abençoadas pela sabedoria e pela esperança.
minhocário, uma composteira, plantar mudas...Mas
parece que eu estava sozinha e com a chegada do A cada participante do Grupo Ciclos Contínuos
Supereco eu posso conquistar os meus sonhos. Até dedicamos esta publicação, como forma de
parece que eles me acharam aqui no meio do nada...” manter viva a rede de vida e o abraço pelas
Jaqueliny do Nascimento é agricultora e proprietária águas que nos une para sempre!
de um sítio na zona rural da Bacia do rio Juqueriquerê.
Recebeu a primeira cisterna de captação de água da chuva
do litoral norte desta região com a ajuda do mutirão do
Tecendo as Águas. É determinada e foi responsável por
mobilizar agricultores de sua comunidade.

Era uma vez


a arte de tecer um final...
TECENDO AS Á GUAS 74
A nossa história não tem fim. Com a
mágica do tear, Lara se transformou de
boneca em ser humano.

Lara sonha com a paz para o mundo.

Lara pode ser você, seus amigos, sua


família, a sua comunidade.

Lara pode ser nós!


TECENDO AS Á GUAS 75
Homenagem
Lara pode ser o S. Mário Cândido de
Oliveira, pai da D.Geni, protagonista
do grupo Folia de Reis em São
Sebastião, que esteve entre nós
durante a execução do Projeto
Tecendo as Águas. Hoje ele está
tocando e encantando pessoas em
outras paisagens, lá nas águas do
céu. Será sempre lembrado por
nossa equipe com muito carinho.

TECENDO AS Á GUAS 76
Era uma vez, o início...
TECENDO AS Á GUAS 77
, TODO MENINO E TODA MENINA,
FICA AQUI O NOSSO AGRADECIMENTO A TODO HOMEM, TODA MULHER
NOS AJUD ARAM A DEIXAR UMA HERANÇA PELAS ÁGUAS, FLORESTA S E GENTE DA SERRA DO MAR.
QUE

ABES - SP Base do Corpo de EM Walfrido Maciel Instituto Terra e Mar 3º Pelotão da Polícia Secretaria de Meio
Bombeiros de São Monteiro Militar Ambiental Ambiente Agricultura e
ACAJU Sebastião Made in Forest Pesca de Caraguatatuba
EM Maria Francisca Polícia Militar de São
AMMA - Associação de CRAS - Caraguatatuba Tavolaro Módulo Centro Sebastião Secretaria de Meio
Moradores do Morro do Universitário Ambiente de São
Algodão Defesa Civil de EE Nair Ferreira Neves Posto de Saúde Morro do Sebastião
Caraguatatuba MS - Editora e Gráfica Abrigo
APAE - São Sebastião FUNDACC Ltda Transpetro
DERSA Prefeitura Municipal de
Associação de GAC - Grupo de Auxílio OBME - Organização Caraguatatuba Trata Brasil
Produtores Rurais do DETRAF Civil Brasileira das Mulheres
Litoral Norte Empresárias Prefeitura Municipal de UNESP - Botucatu -
Diretoria Regional Guarda Civil Municipal São Sebastião Faculdade de Ciências
CATI - Caraguatatuba e de Ensino de de São Sebastião OCA - Ombrófila Agronômicas
Ubatuba Caraguatatuba Consultoria Ambiental Projeto Cidadão Criança
Grupos de Escoteiros Vigilância Sanitária de
CEAG - Centro de EMEI Profª. Iraydes Edgard Armon Parque Estadual da Projeto Garoça São Sebastião
Educação Ambiental de Lobo Vianna do Rego Serra do Mar - Núcleo
Guarulhos "Algodão Doce" Instituto Acalanto Caraguatatuba Projeto Viração Visão Costeira - São
Sebastião
Celebreiros EMEI Luciana da Silveira Instituto Educa Brasil Pastoral da Criança Rádio Morada FM
Gonçalves "Chapeuzinho Z-14 - Colônia de
Chevrolet Vermelho" Instituto Federal de 3º Pelotão da Polícia SABESP Pescadores
Educação, Ciência e Ambiental de São
CNH-LN - Comitê de EMEI Três Porquinhos Tecnologia de São Paulo Sebastião Secretaria de Cultura
Bacias Hidrográficas do e Turismo de São
Litoral Norte EMEI Pingo de Gente Instituto General Motors Sebastião

TECENDO AS Á GUAS 78
Instituto Supereco
Coordenadores e gestores de áreas: Andrée de Ridder Vieira, Arthur Varani, Juliano
Conselho: Andrea Martins Vittor, Cristiani Freitas, Elaine Vitor, Eliane Sena,
Hojah da Silva, Mayara Peixoto, Patrícia de Natal, Patrícia Mie Matsuo, Silvia
Elisabeth Silberstein, Helenita Aparecida Arcanjo, João Salles, Maria Cristina
Weel, Vanessa Cristina Rodrigues
Gouveia, Moema Viezzer, Sandra Lia
Técnicos, consultores e colaboradores: Alexander Cesar dos Santos, André Luis
Coordenação Geral: Andrée de Ridder Vieira
dos Santos, Anita Amaral, Barbara Junqueira, Beatriz Manhoso, Bianca Figueredo
Santos, Carolina Vergeti Amim, Ceceo Chaves, David Ferreira Junior, Débora Cubateli
Redivo, Debora Olivato, Diana Ramos Ferreira, Edson Carlos Paes, Emerson Iwama,
Equipe - Projeto Tecendo as Águas Fatima Chuecco, Fernando do Rego, Gleice Maira Alves, Gustavo König, Larissa
Pereira, Lucélia de Melo Berbert, Luiz Americano, Mara Cirino, Marcelo Calenda,
Grupo Ciclos Contínuos: lideranças comunitárias do litoral norte de SP: Adelina Mariana Pirro, Mayara Peixoto, Mônica Simons, Natália Costa Marchioni, Nivia
Pimenta, Camila Nicoletti, Dalva Ferrari, Gabrielle Garcia Carvalho, Ivana Alencar, Nivio Dolfini, Pedro do Rego, Reinaldo Gomes, Roberta Pedroso, Roberto
Pagnota, Jade Chagas, Jaqueliny do Nascimento, Lindinalva dos Santos, Luzimar Marcondes, Sati Albuquerque Ballabio, Sidnei Simão da Silva, Susan Carelli
Alves de Moraes, Marcio Ferreira Rosa, Maria Djanira de Oliveira, Otarcilio Vitor de Piedade, Susana Rodrigues de Lima, Vagner Gonçalves, Violeta Martínez Zepeda,
Lima, Rafael Monteiro, Rosana Maria Santos, Vlamir Pimenta Laginestra Viviane Junqueira

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Sede São Paulo - Av. Engenheiro Luís Carlos Berrini, 550 - 11° andar - Brooklin - (11) 3578-8894 • (11) 3578-8877
Sede Litoral Norte - Rua Coronel Edgard Armond, 11 - Praia Deserta - São Sebastião SP - (11) 3892-6292

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