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Mídia, m e d i a ç ã o e s o c i e d a d e : o ( d e s ) c a m i n h o d o debate

público

Media, mediation and society: the way of public discussion

ValéríoCruzBritos
Doutor em Comunicação da Faculdade de Comunicação da Universidade Federai da Bahia/UFBA
E-mail: val.bri@terra.com.br.

Resumo

0 trabalho analisa um grupo de emissoras de televisão, jornais e revistas, visando a identificação de como são
tratados os temas comunicacionais relevantes, os quais circulam em torno dos tópicos propriedade, acesso,
pauta e forma de divulgação de conteúdos. Tal procedimento sustenta-se na concepção de que o debate
público, na contemporaneidade, requer a mediação da mídia, sendo esta a trilha para a construção de
políticas públicas democráticas. No entanto, é identificado que as questões centrais do campo comunicadora)
não integram a pauta das indústrias da cultura. Tendo em vista a diversidade dasformaçõessociais atuais,
considera-se o acesso plural aos meios, em especial a IV, indispensável.
Palavras-chave: economia política da comunicação; políticas de comunicação; processos midiáticos.

Os temas relevantes envolvendo o foram analisados alguns veículos


campo comunicacional, relativos à midiáticos durante um dado intervalo
propriedade» ao acesso, à pauta e à forma de tempo, buscando identificar como
de divulgação de conteúdos, não eram tratadas as problemáticas
conformam os tópicos que a cidadania comunicacionais. Considera-se o debate
discute cotidianamente. Essa pista, público das temáticas contemporâneas
fornecida pela observação não- — e particularmente de um assunto tão
sistemática dos veículos de essencial na conformação das estruturas
comunicação, serviu de hipótese para o e vidas deste mundo complexo, como é
estudo aqui apresentado, considerando a comunicação — essencial, na medida
ser a publicização das temáticas em que as políticas públicas devem
midiáticas um requisito indispensável emergir desde a confrontação entre
para a consubstanciação de um efetivo sociedade civil, Estado e mercado, em
debate público sobre a questão, que que há papéis tradicionais (como o
venha a sustentar a construção de empresariado opondo-se aos avanços
políticas públicas democráticas da área. sociais), mas também alianças pouco
A reflexão parte da constatação de que a ortodoxas (a exemplo de acordos
televisão digital permite o esporádicos entre grupos de
desencadeamento de profundas mobilização popular e segmentos da
conseqüências no país, tendo em vista elite, a partir de um entendimento
o que pode acarretar de inovação quanto específico). Hoje, tal debate público
à T V tradicional e o papel desta mídia não pode ser travado sem a mediação
nos modos de vida da população e na da mídia, que é o instrumento de maior
sustentação do capitalismo como um penetração na vida social do planeta
todo. Mas sem o debate, via sistema Terra. Para isso, é indispensável que os
televisual, não há participação da agentes alternativos possam oferecer
sociedade na edificação dos marcos suas versões e reivindicações aos grupos
regulatórios, inclusive daquele norteador sociais e ao Estado, o que não implica
da televisão digital, tornando o um ingênuo desconhecimento da
momento de mudança tecnológica vinculação histórica entre indústrias
perdido no que poderia acrescentar de culturais e sistema capitalista.
abertura à pluralidade, a partir da A mídia é um lugar de acesso à
pressão social. realidade tão precário quanto
Para o desenvolvimento da pesquisa, indispensável. Precário porque apresenta

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construções da realidade e é um discurso responsável pela definição de sua posição
relacionado com o real, mas não é o real, relacionai.1
pois ao apresentar os (atos, os constrói, Não obstante, deve-se alertar para
o que implica em supressão e o perigo do determinante tecnológico,
deformação, ainda que não ante todo o esforço de construção de
intencionalmente. Apesar disso, campo como formalízador da mídia
constitui-se em um espaço indispensável c o m o principal estruturador das
na contempora-neidade, tendo em vista dinâmicas da sociedade. Por isso, é
a inviabilidade de acessar-sc a maioria importante absorver com cuidado a
das ocorrências da atualidade afirmação de Adriano Rodrigues, de que
diretamente. É o dispositivo possível de o campo da mídia não unicamente
contato com o mundo, principalmente superintende "à mediação dos diferentes
a televisão, cuja presença na domínios da experiência e dos diferentes
sociabilidade do fim do século X X e campos sociais", fazendo emergir, "nas
início do século XXI denota uma força fronteiras dos campos sociais instruídos,
sem precedentes. Os limites da T V novas questões, c o m o a droga, o
referem-se às características do próprio sexismo, o aborto, a ecologia, para as
meio, partindo da elaboração de suas quais nenhum dos campos detém
mensagens e chegando à assimilação legitimidade indiscutível". 2 Essa
cognitiva pelo receptor, materializando- concepção pode conduzir a uma
se em seu consumo, via de regra supervalorização da mídia, o que é um
transcorrido em ambientes domésticos retorno, de modo próprio, às teorias que
e de forma partilhada com outras superestimam seu poder. Os meios não
tarefas, não raro com a participação de pautam isoladamente os agentes sociais,
outros telespectadores. o fazem em simbiose com a sociedade,
c o m o parte dela. Afastando-se
Campos e processos conotações ligadas ao determinismo
midiático, identificam os valores
O horizonte da mídia coletivos como gestados no solo social,
contemporânea - em que se insere a fortemente formatados desde anseios
necessidade de c o n t r o l e social, econômicos.
viabilizado em políticas públicas e O deslocamento latino-americano
mediante o debate público das ações produzido a partir dos anos 80 do século
midiáticas — inscreve-se na força desse X X , ao enfatizar as mediações, prega um
campo social como mediador dos fatos afastamento da comunicação midiática
e das práticas sociais, essencialmente a em prol da cultura e do cotidiano. Não
partir dos ditames do capitalismo trata diretamente da mídia c o m o
contemporâneo. A noção de campo instituição medidora, mas considera que
social é incluída com o objetivo de expor entre os meios e suas mensagens há
melhor a evolução do espaço da mediações que moldam a compreensão
comunicação na sociedade, sua conexão da realidade. Como diz Martín-Barbero, 1
BOURDIEU, Pierre. Sobre a
com o capitalismo e sua relação com a é um processo de rompimento e televisão. Rio de Janero: Jorge Zahar,
instância econômica. Seja como for, para ampliação, em que os processos de 1997. p. 57.
trabalhar essa idéia é fundamental trazer comunicação deixam de ser vistos 2
RODRIGUES, Adriano. A
Bourdieu, para quem "um campo é um unicamente desde as disciplinas e os
emergência dos campos sociais. In:
espaço social estruturado, um campo de meios, abrindo-se sua análise "às
. Reflexões sobre o
forças - há dominante e dominados, há instituições, às organizações e aos mundo contemporâneo. Rio de
relações constantes, permanentes, de sujeitos, às diversas temporalidades Janeiro: Revan, 2000, p. 189-215,
desigualdade, que se exercem no interior sociais e à multiplicidade de matrizes p. 193-194.
desse espaço - que é também um campo culturais a partir das quais os meios- 3
MARTÍN-BARBERO. Jesús. La
de lutas", visando a transformação ou tecnologias se constituem". 3 Sendo
comunicación desde Ia cultura: crisis
conservação desse universo, e onde cada assim, a mídia é uma das matrizes
de Io nacional y emergencia de Io
um, no seu abrigo, empenha, nos mediadoras, numa posição de destaque,
popular. Revista Alternativa
movimentos de disputa concorrencial, constituindo-se na principal delas. Os
Latinoamerícana, Mendoza, p. 7-
a relativa força que detém e que é meios comunicacionais funcionam 20, jun. 1985. p. 10.

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como mediações de segunda ordem, correspondendo à verdade a
aceitando-se serem as de primeiro grau representação da sociedade
as relativas à posição e c o n ô m i c o - homogeneizada, com óculos iguais. As
cultural do sujeito, sempre presentes, mediações dos receptores são diferentes
seja a realidade acessada via dispositivos entre si. O c o r r e é que grupos com
tecnológicos ou não. Q u a n d o a características semelhantes possuem
mediação dá-se via mídia, denomina-se mediações próximas. As mediações,
precipuamente de midiatização. todavia, não podem ser encaradas como
A noção de mediação como função externas ao indivíduo, j á que, se a
exercida pela mídia integra a concepção proposta incorpora o entorno do ato de
de Silverstone, implicando a assistir, envolvendo tudo que integra a
transformação constante "de interação, do lugar aos grupos de
significados, em grande e pequena escala, relacionamento, em boa medida
importante e desimportante, de um significam visões, proposições e práticas
texto para o outro, de um discurso para introjetadas no ser humano. Mesmo
o outro, de um evento para outro", um quando provenientes de outras fontes,
processo que é "fundamentalmente as mediações configuram-se nos sujeitos
político ou, talvez, mais estritamente, sociais.
politicamente econômico". 4 Há uma O s processos de mediação atingem
paulatina absorção das funções de o que é produzido e a forma como
mediação, sempre existentes, pela mídia. habitualmente os receptores recebem os
N o capitalismo, companhias privadas bens simbólicos, num engendramento
absorvem os modos de vida das de condicionamentos colados às
comunidades, as práticas laborais dos condições socioeconômico-culturais de
trabalhadores» os conhecimentos produção, distribuição e consumo.
universais e as informações relativas aos Manuel M a r t i n Serrano propõe a
acontecimentos de todo tipo. existência de mediações cognitivas e
Especialmente a partir do capitalismo estruturais, sendo que a primeira "opera
monopolista, . o processamento sobre os relatos, oferecendo à audiência
simbólico coletivo passa a ser modelos de representação do mundo",
desempenhado por essas corporações enquanto a segunda incide "sobre os
privadas, o que não exclui suportes, oferecendo às audiências
complementações das trocas diretas modelos de produção de
entre cidadãos e participações periféricas c o m u n i c a ç ã o " . 7 Isso provoca nos
4
de outras soluções organizativas. Essas grupamentos de recepção um conjunto
SILVERSTONE, Roger. Por que
estruturas industriais articulam o que de limites que não pode ser interpretado
estudar a mídia? São Pauto: Loyoia,
se equipara, ao real informativo proposto c o m o um espaço de produção de
2002, pi 17,33.
por Maria Cristina Mata, algo não sentido ilimitado, havendo mais uma
5
MATA, Maria Cristina. De Ia cultura w associado c o m uma construção movimentação em torno de um
massiva a Ia cultura mediática. fantasiosa [...], e sim com uma realidade c o n j u n t o de lógicas passadas pela
Diálogos de Ia comunicación,
anterior". 5 produção/distribuição. Por outro lado,
Córdoba, n° 56, p. 80-91, oct.
1999. (X 85. Compreende-se, por esse percurso, a realização comunicacional também é
que o processo de mediação estrutura a atravessada de tensões, complementa
6
BRUTOS, Valéria Recepção e TV Serrano, como "a produção ininterrupta
percepção de toda a realidade social,
a cabo: aforçada cultura local. 2. de novos acontecimentos [...] e a
não somente da recepção de produtos
ed. São Leopoldo: Ed. Unisinos,
disponibilizados pelas indústrias reprodução continuada das normas [...]
2001, pi 29.
culturais. "Convencionando-se que o que cada grupo se esforça em preservar
7
SERRANO, Manuel Martin. La conjunto de mediações é ordenador de ou em implantar". 8
mediación de los médios de apropriações distintas da recepção Com isso, identifica-se
comunicación. In: MARTÍN-
televisiva, ele funciona como um grupo circunscrições (marcas media-doras
BARBERO, Jesus; SILVA, Armando.
de lentes. Conforme as mediações, o sobre as formas de produzir e receber) e
Proyectar Ia comunicación.
receptor vê um determinado produto aberturas (contradições entre a
Bogotá: Tercer Mundo, 1997, p.
137-156. p. 141. televisivo ou um fato social". 6 Cada normatização do sistema e suas
mediação é uma lente que estrutura o práticas), que não podem ser
8
Ibid., p. 139-140. momento de recepção, não desconhecidas pela sociedade. A

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10 Comunicação e Informação, V 8, if 1: pág 8 - 1 8 . - jan/jun. 2005.
constatação de aberturas, no entanto, divisória que marca as fronteiras
não deve corresponder a visões da entre ficção, presente e passado,
produção e do consumo simbólicos arte e kitsch. [...] As formas e as
desconectados da totalidade capitalista. estratégias de ordenamento, de
O u seja, deve-se reafirmar, com temporal izaçao e de estetização da
Garnham, que as instituições pelas quais informação pela televisão são
as formações sociais constroem, operações de natureza poética, no
distribuem e consomem formas sentido de que são criados novos
simbólicas estão atravessadas por objetos de observação, diferentes
transformações caracterizadas daqueles que os motivaram.
principalmente pelos aspectos: reforço Nesse sentido, a realidade
dos ditames mercadológicos; fixação da mediada pela televisão é um
T V como o lócus privilegiado para um mundo paralelo, um mundo
consumo crescentemente privatizado e possível. As relações entre esses
doméstico; criação de um mercado em mundos, suas similaridades e
duas faixas, uma constituída pelos ricos diferenças são determinadas pela
de informação (que dispõem de serviços comparação ou constraste entre
informativos e culturais de alto custo) e suas macro morfologias.10
outra, pelos pobres de informação (que
contam com ofertas de entretenimento Ainda que não se trate de resolver o
homogeneizado em escala de massa); e problema, uma reordenação do estado
mudança de âmbitos nacionais para atual passa pela elaboração de outras
internacionais nas esferas formas de mediação, que ultrapassem a
com unicacio nais.' espetacularização. "O espetáculo não é
mero resultado, e sim a forma do
Mercados e espetacul ari zações discurso da televisão: a equivalência em
imagens (signos) da história do mundo
Dessa forma, o círculo midiático, já - sejam noticiários, telenovelas ou
nascido privatizado, tem suas esportivos — e da figuração dos objetos,
características mercado-lógicas ou seja, da publicidade. É essa
aceleradas a partir das décadas finais do equivalência que o telespectador
século XX, com a definição de um novo consome". 1 1 Ao globalizarem-se, os
modelo, vinculado a ações de exclusão discursos, inclusive os políticos,
norteadas por questões de preços, ainda espetacularizam-se, num circuito em 9
GARNHAM, Nicholas. Capitalism
que reiteradamente apresentadas sob que toda proposição é alçada a signos
and Communication. Londres:
selos de diversidade cultural e possíveis de consumo, de preferência
Sage, 1990. pi 104-105.
segmentação. Trata-se de um poderoso desprovidos de idéias que fujam das
dispositivo de penetração e relação proposições hegemônicas e construídos 10
TESCHE, Adayr M. Medbções e
social, responsável pelo que a como produto da cultura pós-moderna, trocas simbólicas na
humanidade acredita ser o que acorre revelando um somatório de pesquisas, teledramaturgia brasileira. In:
em ruas, estradas, casas, palácios, cores e renovações não transformadoras. CONGRESSO BRASILEIRO DE
CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 26.,
cidades, campos, rios e mares. Sendo Guy Debord alerta que a sociedade do
2003, Belo Horizonte. Anais ...
assim, é oportuna a observação de Adayr espetáculo é outra forma de dominação Horizonte: Intercom, 2003.1 GX
Tesche sobre o sistema televisivo: das regiões subdesenvolvidas, além de pi 1.12.
submetê-las à subordinação econômica,
sendo o espetáculo "o capital em alto " MARTÍN-BARBERO, Jesús. De Ia
A televisão opera como um
grau de acumulação que se torna transparência dei mensaje a Ia
dispositivo de (re)configuração, opacidad de los discursos. In:
• Ml?
moldagem e hibridização não só . Procesos de
imagem .
das formas de enunciação, mas comimkaòónymatrices de cultura:
Deve-se relacionar a
também dos gêneros e saberes itinerário para salir de Ia razón
espetacularização com o papel dos meios
narrativos. Essa máquina de dualista. México: Gustavo Gilli,
na contemporaneidade, já que para 1987. p. 41-80. pi 64.
contar histórias sem fim, através
produzir sentido coletivamente é
de suas operações de escolha, 12
indispensável o acesso às indústrias de DEBORD, Guy A sociedade do
recorte, montagem e estruturação espetáculo. Rio de Janeiro:
comunicação. Essa espetacu-larização
da narrativa, faz esmaecer a linha Contraponto, 1997. pi 25,38.
subjaz nas características dos
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acontecimentos propostas por Martín- mensagens. O cotidiano é o lugar
Barbero: imprevisibilidade, implicação privilegiado para abordar o processo de
e integração no ciclo de consumo como recepção. N o espaço das práticas
notícia. 1 3 Tal fenômeno relaciona-se cotidianas encontram-se "desde a relação
com a ênfase às ações prioritariamente com o próprio corpo até o uso do tempo,
micros, inerentes ao discurso pós- o habitar e a consciência do possível em
moderno. M a s o próprio M a r t í n - cada vida, do alcançável e do
Barbero não deixa de valorar inalcançável". 1 7 Isto não é
positivamente a micropolítica, ao necessariamente uma desvantagem,
ressaltar os projetos de "uma democracia concebida c o m o um dado que
nova", na qual não é questionada "a impediria a compenetração necessária ao
necessidade de partidos, mas sim o aproveitamento consciente dos bens
monopólio da política por parte destes, simbólicos. O que deve ser repensado é
com sua concepção de política como embalar as mensagens recebidas
dissociada da vida cotidiana do povo e em tal c o n t e x t o . E no espaço
dedicada exclusivamente à luta pela revalorizado da cotidianidade, esse
tomada do Estado ou pela permanência laboratório de intercâmbio social, em
à sua frente". 1 4 Ainda que a ação que ocorre a recepção, onde as pessoas
sóciopolítica deva iniciar nas menores vivem e o sujeito mostra-se
células — e seus efeitos serem ali de integralmente como é, soltando-se da
imediato percebidos — é evidente que maioria de suas amarras. O cotidiano
11
MARTÍN-BARBE RO, Jesús, op. cit., só com macromudanças se alteram familiar, repleto de tensões e conflitos,
p. 56,57,58. situações históricas totais. viabiliza-se c o m o um dos poucos
14 Prosseguindo, cabe outro reparo ao lugares o n d e ' os indivíduos
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Os
raciocínio de Martín-Barbero. Segundo verdadeiramente expressam suas ânsias
métodos: dos meios às mediações.
ele, "ao identificar as formas do processo e frustrações, confrontando-se como
In: . Dos meios às
mediações. 2. ed. Rio de Janeiro: industrial com as lógicas da acumulação efetivamente são. Paralelamente, o
Ed. UFRJ, 2002. p. 270-334. p. do capital, a crítica legitimou a fuga: se âmbito doméstico reproduz, com
284. a racionalidade da produção se esgota configurações específicas, as relações de
,s na do sistema não haveria outro modo poder verificadas em outros palcos da
MARTÍN-BARBERO, Jesús.
de escapar da reprodução que sendo sociedade.
Itinerários de Ia investigadón. In:
. Oficio de cartografo. improdutivos". 1 5 Tal raciocínio é É a partir das relações de partilha
México: Fonde Cultura Econômica, simplista, na medida em que o processo que estabelece com as práticas cotidianas
2002. (X 207-255. 214. industrial é expressão do capitalismo. e as representações culturais que lhe
16
A saída não é não fazer, mas reinventar fazem nexo que o consumidor é capaz
Ibid.
a tradição industrial. O processo de usar as tecnologias não
17
MARTÍN-BARBERO, Jesús. La industrial é a base do capitalismo, uniformemente. Afinal, o receptor
telenovela en Colombia: television, primeiramente um modo de produção, coloca-se diante da T V carregando toda
melodrama y vida cotidiana. Diá- o que passa pela industrialização com sua história, que se manifesta nas
logos de Ia comunicación, Lima, n.
especialização do trabalho. Por isso, interpretações dos produtos televisivos.
17, p. 46-59,1987. p. 50.
também é inaceitável sua proposição de C o m o pondera Jesds Galindo, cada
" GAL1ND0, Jesús. Lo cotidrano yk) "superação do marginalismo do procedimento, cada objeto que rodeia
social: Ia telenovela como texto y alternativo e sua crença em uma nosso estar aqui, é manifestação de
pretexto. Estúdios sobre Ias 'autêntica' comunicação que se centenas de ações, sentimentos, prazeres
culturas contemporâneas, Cdima, v. produziria por fora da contaminação e desejos. 1 1 Essa complexidade
2, n. 4-5, fx 95-136,1988. p. 95
tecnológica/mercantil dos grandes manifesta-se no relacionamento com a
19
Para obter maiores informações meios". 1 6 Não se trata de uma cultura e a natureza. N o entanto,
sobre essa teoria, ver SAPERAS, autenticidade, mas de uma expectativa destaca-se que a idéia de que o receptor
Enric. La sociologia de Ia de que se produza algo fora do é ativo e se posiciona ante a mídia com
comunicación de masas en los industrial, e então plenamente não- seu passado e presente não é
Estados Unidos. PPV: Barcelona, hegemônico, embora se atente para o necessariamente nova. Nesse rumo, está
1992. pi 108-111,150-151. Ver
risco da institucionalização, mesmo da intrínseco no patrimônio compreensivo
também DEFLEUR, Mdvin L; BALL-
ROCKEACH, Sandra. Teorias da mídia alternativa. comunicacional a Teoria dos Usos e
comunicação de massa. Zahar: Rio O espaço e a forma de recepção Gratificações, surgida na década de 40,
de Janeiro, 1993. p. 205-207. também interferem na leitura das nos Estados Unidos. 19 Esta propõe que

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as necessidades da audiência» suas articulações e deliberações
expectativas e suas formas de satisfazer públicas e privadas do dia-
essas projeções, mediante a obtenção de a-dia, e de produtos de
satisfações, determinam a seleção da veiculação nacional, visto
oferta comunicativa. Ou seja, a mídia é que as temáticas não são de
usada conforme a gratificação que possa cunho regional (a exceção
trazer à audiência, na satisfação de suas ficou por conta da T V E -
necessidades. Mas a Teoria dos Usos e RS, cuja programação local
Gratificações vê o sujeito isolado e debate questões ligadas ao
superestima seu poder, sem mundo, ao país, ao estado
contextualizá-lo na história, no e à cidade). Os espaços
cotidiano ou nos grupos culturais que estudados foram Bom Dia
integra. Brasil, Jornal Hoje, Jornal
Nacional, Jornal da Globo,
Sistemas e elementos Globo Repórter e
Fantástico (Globo); Jornal
Visando inicialmente verificar a do S B T - I a Edição, Jornal do S B T -
cobertura midiática acerca do processo 2 a Edição e S B T Repórter (SBT); Band
de definição da televisão digital terrestre News, Jornal da Band, Jornal da Noite
no Brasil, esta pretensão foi ampliada e Canal Livre (Band); Fala Brasil, Jornal
para buscar identificar a publicização, da Record, Edição de N o t í c i a s ,
pelos meios de comunicação, de um Repórter Record e Passando a Limpo
c o n j u n t o de tópicos envolvendo o (Record); e Jornal da T V E — I a Edição,
funcionamento dos sistemas televisivos, Estação Cultura, Cidadania, Jornal da
em sua relação com o todo social. Assim, Cultura, Jornal da T V E — 2 a Edição,
tratou-se de estudar um grupo de Debates T V E e T V E Repórter ( T V E -
veículos, a partir das seguintes variáveis, RS). Em nenhum meio foi considerada
no encontro com o tema televisão: a cobertura relativa à vida privada de
digitalização, política pública, artistas e demais celebridades.
regulamentação, propriedade, acordos Com esse somatório de veículos,
empresariais, acesso a conteúdos, novas atentou-se para a constituição de uma
tecnologias, reivindicações da amostra representativa da mídia
sociedade, lançamentos, ética, brasileira, reunindo as principais redes
estratégias de concorrência, alterações comerciais nacionais de T V , uma
nos mercados, história, liberdade de emissora pública de televisão, as quatro
imprensa, qualidade de progra-mação, principais revistas especializadas no
20
Os tópicosforamestabelecidos
produtos, concessões, audiência e noticiário semanal e cinco jornais, visando dar conta da cobertura
negócios publicitários. 20 Durante três escolhidos por atingirem critérios midiática, de forma a haver a maior
meses - julho, agosto e setembro de precisão possível. Por exemplo,
diferentes: a Folha de S. Paulo, por ser
todo lançamento de um produto
2003 foram acompanhadas as o principal do país; a Gazeta Mercantil,
integra uma estratégia de
programações das redes Globo, Sistema por constituir-se no mais importante concorrência, mas, neste estudo,
Brasileiro de Televisão (SBT), diário econômico do Brasil; o Jornal do enquadra-se como lançamentos,
Bandeirantes e Record, além do canal Brasil, por atingir os leitores por ser bem mais esclarecedor do
estadual TVE-RS; os jornais Zero Hora, interessados em jornalismo analítico, que o genérico estratégias de
Folha de S. Paulo, Gazeta Mercantil, representar a mídia carioca e, mesmo, concorrência, aplicável, então, a
Diário Gaúcho e Jornal do Brasil; e as por sua histórica força com a outros movimentos desenvolvidos
revistas nacionais de informação semanal pelas empresas de televisão.
intelectualidade; a Zero Hora, por ser
Veja, Isto é, Época e Carta Capital. 21 o de maior dimensão no Rio Grande 21
Essas tarefes contaram com a
Escolheu-se trabalhar unicamente do Sul, onde foi desenvolvida a colaboração dos bolsistas de
com as mídias impressa e televisiva, por pesquisa; e o Diário Gaúcho, por ser iniciação científica Fábio Zavarise
sua representatividade e pela dificuldade dirigido ao público popular. A meta foi Domingues (UNISINOS) e Rodrigo
ver se pontual ou generalizadamente as Machado da Silva (FAPERGS -
de executar esse acompanhamento com
Fundação de Amparo à Pesquisa do
o rádio, centrado somente no áudio. A temáticas eram abordadas, quais
Estado do Rio Grande do Sul),
opção foi pela análise de programas elementos eram noticiados pelos
ambos graduandos de
jornalísticos, sendo um tema ligado às veículos, a quantidade de vezes em que Comunicação Social - Jornalismo.

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estavam presentes e quais temas ocupado pelo SBT, o que explica o
predominaram no período, interesse, já que as intervenções, não
considerando a totalidade dos órgãos raras vezes, eram marcadas de
informativos sob estudo. interjeições opinativas dos
Imediatamente, é possível constatar apresentadores, mescladas com
que três assuntos predominaram especulações sobre as sanções que o
durante o período, sendo um por mês: grupo poderia receber (até a cassação
o caso Sílvio Santos (SS), em julho; a chegou a ser proposta). Esse moralismo
morte de Roberto Marinho, em agosto; oportunista da Record e da Band
e o episódio Gugu Liberato, em acirrou-se nos programas policialescos
setembro. Esses temas foram do final de tarde, Cidade Alerta e Brasil
considerados porque extrapolaram a Urgente, de uma e outra rede,
abordagem da vida pessoal da respectivamente, ambos fora da amostra
celebridade: quanto a Sílvio Santos, a deste estudo: jurados de morte na falsa
partir do auto-anúncio de seu falso entrevista, seus apresentadores
estado terminal, surgiu toda uma abusaram da passionalidade.
expectativa de venda do S B T ; o Considerando-se os telejornalísricos
falecimento do patriarca da Família já expostos, a variedade de temas
Marinho permitiu desdobramentos abordados pelas emissoras de T V não
envolvendo o histórico de surgimento foi além dos três citados, cabendo
do império, que hoje se reúne sob as somente registrar que todos os canais
Organizações Globo, e também como veicularam a morte de Roberto
se daria a sucessão no âmbito da Marinho, em agosto, cabendo à Globo,
corporação; já a entrevista transmitida logicamente, a maior cobertura, de
pelo apresentador Augusto Liberato forma que os espaços no dia seguinte
com bandidos fictícios, como se fossem ao de seu falecimento produziram
pertencentes à organização clandestina verdadeiros especiais sobre o fundador
Primeiro Comando da Capital (PCC), da emissora. Na Globo, essa temática
em seu programa Domingo Legal, rendeu matéria também em setembro,
gerou uma série de matérias sobre ética dessa vez aproveitando uma
na comunicação, regulamentação e homenagem prestada a ele. A limitação
itens afins. Previsivelmente, os temas SS da pauta, quanto à movimentação
e Gugu não foram exibidos pelo SBT, midiática, representa bem como a
já que traziam conseqüências negativas televisão está distante de uma discussão
para o grupo. A Globo não noticiou a social relevante sobre suas lógicas,
pseudo/transferência acionária do SBT conseqüências e potencialidades. É
(no bojo da inexistente doença de seu importante lembrar que os três pontos
proprietário), mas abriu espaço em citados eram assuntos que, de uma ou
quatro ocasiões para o Caso Gugu. de outra forma, interessavam às
A TVE-RS acompanhou a Globo e emissoras: por se tratar da possibilidade
não trouxe informações sobre a eventual de autolouvação ou por poder ser
negociação do S B T com o grupo utilizada como arma contra a
mexicano Televisa, possivelmente por se concorrência, além de serem questões
tratar de um tópico no qual a fronteira que beiravam a vida pessoal de seus
com a mentira, o jocoso e a vida pessoal protagonistas, estes sim tópicos muito
sempre esteve muito próxima. A Band noticiados, em programas como Vídeo
foi quem mais tratou do episódio Gugu, Show (Globo), Falando Francamente
em 11 vezes (uma delas terminou em (SBT) e Melhor da Tarde (Band), todos
bate-boca, a partir de uma entrevista fora da amostra deste trabalho.
com o apresentador Roberto Cabrini,
no Jornal da Noite). A Record também Pautas e exdusões
se dedicou ao tema, em oito ocasiões,
igualmente no mês de setembro. Essas Embora a pauta seja mais ampla, em
duas redes disputam o terceiro lugar de todos os jornais analisados os três itens
audiência e almejam o segundo, já identificados no jornalismo televisivo

Vale» Cruz Brittos. MfcSa, mediação e sociedade: o (úfes)camtnho do debate púbico.


Comunicação e Informação, V 8,rt°1: pág 8 -18. - jan/jun. 2005.
também prevaleceram. Coube à Folha ser voltada ao noticiário econômico,
de S. Paulo e à Gazeta Mercantil a passa por dificuldades financeiras,
cobertura com perfil mais corporativo, dependendo definanciamentosdiversos,
ou seja, explicando os resultados dos inclusive de governos.
episódios para as empresas envolvidas, Além dos três itens sempre
sendo considerado mais de um cenário. presentes, a Folha de S. Paulo também
Além disso, o Diário Gaúcho noticiou divulgou, em julho: liquidação de
somente o lançamento da T V Unisinos, publicidade no SBT; estratégias da
no mês de julho (renova-se o RedeTV! para 2004; Globo em Nova
esclarecimento de que notícias Iorque; Globo produz visando a
envolvendo relações pessoais e convergência; governo negocia verba
informações inconsistentes sobre publicitária com veículos; Band negocia
bastidores do mundo artístico, muito renovação de canal; Ratinho estuda
presentes nesse periódico, estavam fora parceria; Boninho comenta reality
de avaliação). Nas páginas de Zero Hora show; M T V dobra audiência; M T V
(que, assim como o Diário Gaúcho, produz reality show; estréia Big Brother
pertence ao grupo Rede Brasil Sul de África; Ministério da Justiça dá prazo
Comunicações - R B S , o maior do para a novela Kubanacan mudar;
estado, atuante em todas as mídias e crescimento de 5 a 8 % nas receitas
afiliado da Rede Globo no Rio Grande publicitárias da Globo e Bandeirantes;
do Sul e em Santa Catarina), SBT pretende acrescentar
identificou-se ainda uma matéria sobre entretenimento ao jornalismo da
o êxito da novela Mulheres Apaixonadas madrugada; Ministério das
e outra apresentando eventos culturais Comunicações disponibiliza minutas e
que receberão incentivo da empresa. emendas sobre políticas de T V digital;
Nota-se que essas notícias se vinculam Globo discute sua programação de 40
a interesses da própria RBS. anos; CBN planeja transmitir Jornal
Com relação às publicações Nacional no rádio; cai em 5 , 1 %
anteriores, o Jornal do Brasil ampliou faturamento da T V brasileira. Em
as temáticas, publicizando o projeto de agosto, a Folha noticiou: projeto de
regionalização da programação de T V regionalização de conteúdos de
(a partir de comentários sobre o radiodifusão vai à votação; será lançada
programa televisual Observatório da primeira operadora de televisão paga do
Imprensa), um relatório da Associação país dirigida a evangélicos; Globo vai
Nacional de Jornais (ANJ), que aponta receber 57% das verbas do governo
abalo na liberdade de imprensa, um federal para publicidade televisiva;
artigo considerando a programação Globo e SBT querem negociar ética.
pol ftico-cultural da T V Globo sofrível Igualmente, estiveram nas páginas
e um acordo em que o Grupo J B assumia

m
da Folha ainda em agosto: Globo e SBT
a área comercial da Gazeta Mercantil.
Ao contrário do Diário Gaúcho e da
Zero Hora, cujos proprietários são
também concessionários de TV, o Jornal
do Brasil não conta com emissoras
televisivas, o que talvez auxilie a
compreensão da presença de conteúdos
mais críticos à televisão. A Folha de S.
Paulo e a Gazeta Mercantil também não
atuam no segmento televisão
(anteriormente, esta última locou
horários em emissoras), ficando mais
liberadas para abordar a temática. Mas,
enquanto a Folha tem uma tradição
crítica (e esta é a identificação que busca
no leitor), a Gazeta Mercantil, além de

Váleio Cruz Brittos. Mídia, mediação e sociedade: o (ífe)caminho do debate púbico.


ComunicaçãoeInformação,V8,if1:pág8-1&- jan/jun.2005.
já começam a investir em brasileiro; DirecTV anuncia que deverá
regionalização; primeiras concessões do ter um crescimento de 18% em sua
Governo Lula; Band busca parceiros receita em 2003 (setembro).
para teledramaturgia; subsidiária do Relativamente às revistas, só a morte
Banco Rural Investimentos assume ser de Roberto Marinho foi analisada por
sócia da RedeTV!; nova direção das todos os veículos analisados. O Caso
Organizações Globo; Chocolate com Sílvio Santos não foi pautado por Carta
Pimenta vetada para antes das 20 horas; Capital e Época, e esta também não se
Justiça obriga Ibope a passar ao S B T interessou pelo episódio envolvendo
metodologia para medir a audiência; Gugu Liberato. Esses resultados podem
Globo cancela produção de reality shows ser lidos da seguinte forma: a partir da
em 2004; Gugu perde no Ibope e ganha exaustiva cobertura da T V Globo, o
no Datanexus. Em setembro, a Folha falecimento de Roberto Marinho
tratou de: ministro Miro Teixeira tornou-se um fato de tal dimensão que
descumpriu promessa de disponibilizar não pôde ser desconhecido pelos demais
nomes dos donos de concessões de veículos; as notícias envolvendo Sílvio
radiodifusão; Record transmitirá duas Santos foram omitidas por Época e
horas diárias do verão em Salvador; áreas Carta Capital por motivos diferentes:
comerciais do SBT, Record, Band e pela primeira revista, que é das
RedeTV! articulam formação de um Organizações Globo, para não divulgar
pool para enfrentar T V Globo; um concorrente; pela segunda, porque
Ministério da Justiça vai advertir SBT o assunto beira a intimidade, o que não
por entrevista com supostos integrantes é privilegiado por essa publicação. O
do PCC; emissoras buscam terceirização desconhecimento do Caso Gugu pela
de programas; Polícia Civil investiga Época não encontra explicação num
eventual armação no programa Boa primeiro momento, pois interessa a seus
Noite Brasil; José Bonifácio de Oliveira controladores a divulgação de um fato
Sobrinho inaugurou T V Vanguarda que desmoraliza o SBT, como mostra a
Taubaté; faltam mecanismos para lisura cobertura pela T V Globo do mesmo
na televisão. episódio.
Ao lado dos três episódios presentes Nas revistas, outro assunto
em todos os diários, a Gazeta Mercantil recorrente foi a telenovela da Globo das
privilegiou: inauguração de emissora 21 horas, Mulheres Apaixonadas, alvo
televisiva; superintendente da Anatel de notícias pela Veja (duas em julho e
anuncia novo serviço público de outra em agosto), Istoé (uma em julho),
comunicação eletrônica; T V Vanguarda Época (duas em julho e uma em
entra no ar com 3 0 % da programação setembro). Das publicações integrantes
local; ministro Miro Teixeira informa da amostra, só Carta Capital não
que sistema de televisão digital estará noticiou o êxito dessa novela. Veja
pronto em 2006 (agosto); Câmara do noticiou também: compra de espaço nas
Comercio Árabe-brasileiro inaugura emissoras televisivas (julho); estréia de
agência de notícias sobre economia e seriado na T V aberta; nova série na
oportunidades; G N T terá espaço no site televisão paga; filha de Sílvio Santos terá
globo.com; Governo brasileiro negocia programa na Ali T V (agosto). A Istoé
canal televisual via satélite para países apresentou: novela Kubanacan tem
árabes; inaugurada em São José dos prazo para mudar; novo canal no cabo;
Campos (SP) a T V regional Canção os formatos dos programas vespertinos
Nova Grande Vale; Comissão de (agosto); Época: documentário da T V
Direitos Humanos vai realizar audiência Cultura proibido; T V Globo lança
pública para discutir código de ética na dicionário; a chegada no Brasil das
televisão; campanha vai divulgar o novo telenovelas colombianas (julho);
ranking dos programas campeões de novidades em Sex and the city; projeto
denúncias; governo federal cria grupo de lei transforma a T V Senado em canal
de trabalho para propor diretrizes para aberto e a experiência de televisão via
a implantação do modelo de T V digital Internet da Ali T V (agosto); visita a

Váleio Cruz Brittos. Mídia, mediação e sociedade: o (úfes)caminho do debate púbfico.


Comunicação e Informação, V 8, n° 1: pág 8 - 1 8 . - jan/jun. 2005.
estúdio de seriado a estrear; autor fala acordos empresariais (4), audiência (4),
sobre novela; D V D com passagens do qualidade de programação ( 3 ) ,
Fantástico; programa Pânico chega à digitalização (3), negócios publicitários
televisão; o humor de Z o r r a Total ( 2 ) , concessões ( 2 ) , liberdade de
(setembro). A revista Carta Capital foi imprensa (1). Quanto à variedade de
a que menos noticiou temas midiáticos temas, as revistas situam-se num
no período, mas tem tradição de, patamar intermediário, entre a T V e o
quando aborda a questão, tratá-la de jornal, tratando de lançamentos (10),
forma séria, inclusive levantando produtos (8), propriedade (6), história
polêmica sobre empréstimos (5), ética (5), negócios publicitários (3),
governamentais a empresas de audiência (1), novas tecnologias (1),
comunicação. regulamentação (1). Mas, além de as
De todos os tópicos propostos para ressalvas com relação aos tópicos ética,
a análise, quatro nenhum veículo propriedade e história valerem também
abordou: política pública, para revistas e jornais, deve-se atentar
reivindicações da sociedade, acesso a que o item estratégias de concorrência
conteúdos, alterações nos mercados. São envolve uma gama enorme de dinâmicas
justamente aqueles mais diretamente ligadas ao planejamento das emissoras,
relacionados com a democratização das assim como o registro lançamentos
comunicações, ao falarem, de um lado, refere-se a estréias em geral, de produtos
sobre a ação da sociedade sobre a mídia; e canais. Ou seja, em regra, as matérias
de outro, sobre as próprias indústrias não são críticas, estão muito centradas
culturais, ao terem a possibilidade de no canal e em suas soluções, devendo-
alteração de seus mercados, incluindo se refletir também sobre a limitação das
lógicas não-mercadológicas; e, no meio, fontes, estando atores não-hegemônicos
do Estado, como formulador de praticamente fora das pautas.
dispositivos coadunados para o
funcionamento das indústrias culturais. Considerações conclusivas
Quando se encara somente o meio TV,
os temas abordados são mais restritos: Integrado aos processos científicos
ética (12), propriedade (7), história (5). do grupo de pesquisa Comunicação,
São todos temas relevantes, mas há um Economia Política e Sociedade,
conjunto de outros que poderiam ser estruturado a partir da E c o n o m i a
incluídos, por serem igualmente Política da Comunicação, este trabalho
importantes. Além do mais, a ética foi permite concluir e explicar os motivos
tão comentada por causa do Caso Gugu, (ou parte deles) da baixa participação
enquanto o tópico propriedade esteve social numa decisão que pode trazer
relacionado com a possível venda do efeitos importantes para os modos de
SBT, em decorrência do anunciado consumir televisão, conhecer a realidade
estado terminal de seu proprietário, e social, acessar o mundo digitalizado e
com a mudança no c o n t r o l e das conviver, doméstica e socialmente, com
Organizações G l o b o , diante do a digitalização dos sistemas televisivos.
falecimento de Roberto Marinho, cujas Mais do que isso, permite que se reflita
matérias de reconstituição de sua obra a respeito de como o tema comunicação
comunicacional responderam pela social está ausente do foco das
elevada quantidade de informação de cómpanhias culturais, quando se exclui
cunho histórico. coberturas c o m o bastidores de
Os jornais trabalharam com uma telenovelas e vida de artistas.
pauta mais ampla, tratando dos Considerando-se todos os veículos
seguintes quesitos, arrolados com o analisados, representando televisão,
número de vezes em que apareceram ao jornal e revista, a cobertura da mídia
longo do período nessa mídia: &obre a mídia resume-se a nove itens, a
estratégias de concorrência (17), ética seguir expostos, com a quantidade de
( 1 3 ) , propriedade (10), lançamentos publicização: ética (30), propriedade
(11), regulamentação (9), história (4), (23), lançamentos (21), estratégias de

Váleio Cruz Brittos. Mídia, mediação e sociedade: o (úfes)caminho do debate púbfico.


Comunicação e Informação, V 8, n° 1: pág 8 - 1 8 . - jan/jun. 2005.
concorrência ( 1 7 ) , história ( 1 4 ) , Key-words: political economy of communication;
regulamentação ( 1 0 ) , produtos ( 8 ) , communication policies; media processes
audiência (5), negócios publicitários
(5), acordos empresariais (4), qualidade Referências
de programação (3), digitalização (3),
concessões (2), liberdade de imprensa BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1997.
(1), novas tecnologias (1).
BRUTOS, Valério. Recepção e TV a cabo: aforçada
N a verdade, há um ciclo em que a
cultura local. 2. ed. São Leopoldo: Ed Unisinos, 2001.
ausência de publicização dos tópicos
DEBORD, Guy A sociedade do espetáculo. Rio de
midiáticos impede a formulação de
Janeiro: Contraponto, 1997.
políticas públicas de comunicação, ao
DEFLEUR, Melvin L; BALL-ROCKEACH, Sandra. Teorias
mesmo tempo em que estas poderiam
da comunicação de massa. Zahar: Rio de Janeiro,
fomentar o debate público das referidas 1993.
temáticas. No processo de formulação GAUNDO, Jesús. Lo cotidiano y Io social: Ia telenovela
das p o l í t i c a s públicas, as decisões como texto y pretexto. Estúdios sobre Ias culturas
governamentais devem corresponder à contemporâneas, Colima, v. 2, n. 4-5, p. 95-136,
parte, n ã o ao t o d o , j á que esse 1988.
deslocamento deve ser construído no GARNHAM, Nicholas. CapitaJism and Communication.
chão social. Dito de outra forma, a ação Londres: Sage, 1990.
do não hegemônico sobre a tecnologia MARTÍN-BARBERO, Jesús. La comunicacíón desde Ia
midiááca deveria completar o ciclo para cultura: crísis de lo nacional y emergencia de Io
a sua real incorporação social, além de popular. Revista Alternativa Latinoamericana,
mercadológica. Nessa mediação Mendoza, p. 7-20, jun. 1985.
incompleta dos temas midiáticos, em . De Ia transparência dei mensaje a Ia
que ao desenho da realidade mostrada opacidad de los discursos. In: .
faltam muitos pedaços, cabe também Procesos de comunicacíón y matrices de cultura:
ao alternativo pressionar as indústrias itinerário para salír de Ia razón dualista. México:
Gustavo Glli, 1987. p. 41-80.
culturais com suas proposições, se têm
, La telenovela en Colombia: television,
sentidos a oferecer à sociedade. A falta
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de controle social sobre a mídia acaba
comunicaáón, Lima, n. 17, pi 46-59,1987.
c r i a n d o descalabros, c o m o os dos
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apresentadores dos programas sobre
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violência do final de tarde da T V serem
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os xerifes a c o b r a r m o r a l i d a d e do
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apresentador Gugu Liberato, quando
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eles próprios oferecem, diariamente, um de Janeiro: Ed. UFRJ, 2002. p. 270-334.
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