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Fichamento Bibliográfico: O campo de políticas públicas visa proporcionar um conhecimento voltado ao

enfrentamento de problemas públicos, por meio de técnicas da análise de problemas e análise de soluções.
Neste sentido, o autor busca criar um guia metodológico que permita ao analista prescrever soluções para
problemas públicos, por meio de duas possibilidades de abordagem: a abordagem argumentativa (diálogo
entre os atores sociais para buscar soluções) e a abordagem racionalista (adequação de meios a fins e
projeção de resultados). Os métodos analíticos evitam soluções pautadas na repetição, imitação, preconceito
ou autointeresse, que poderia gerar soluções com falhas de implementação. Desse modo, os métodos
analíticos possibilitam soluções “tecnicamente consistentes, socialmente sensíveis e politicamente viáveis”.
Fichamento de Texto: Inicialmente, o autor visa ambientar o leitor no campo de políticas públicas. O
problema público, objeto desta ciência, é definido como a distância entre o status quo e uma situação ideal
possível para a realidade pública (Sjoblom,1984;Sechi,2013). Os estudos de políticas públicas podem ser, do
ponto de vista da finalidade, descritivos (construção de teorias) ou prescritivos (apontar como as políticas
públicas poderiam ser). Já do ponto de vista metodológico, os estudos descritivos podem ser indutivos
(pesquisador parte de dados empíricos para sínteses conceituais) ou dedutivos (teste de teorias na prática).
Por sua vez, os estudos prescritivos podem ser retrospectivos ( observação de fenômenos que já ocorreram
no tempo) ou prospectivos ( projeções, predições e conjecturas).
Neste contexto, o autor distingue quatro campos distintos: Análise de Políticas Públicas (busca dar suporte a
decisão em políticas públicas, tendo caráter prescritivo e métodos prospectivos), a Pesquisa de Políticas
Públicas (métodos indutivos e natureza descritiva, buscando entender o desenvolvimento de políticas
públicas), Avaliação de Políticas Públicas (caráter prescritivo, com uso de métodos retrospectivos, buscando
gerar informações para manutenção, ajustes ou extinção de políticas públicas, podendo ser ex ante, in intineri
ou ex post) e Teoria da Escolha Pública (métodos dedutivos, buscando compreender a influência das regras
de decisão e incentivos sobre o comportamento dos atores políticos, bem como a interação entre policy
makers e policy takers).
A referida obra se encontra no campo da Análise de Políticas Públicas, tendo por objetivo auxiliar o
processo decisório de políticas públicas, de modo a resolver ou mitigar o problema público, possiblitando
decisões mais acertadas. Neste sentido, as funções do analista se dividem em função informativa, criativa,
argumentativa e legitimadora. Por sua vez, as habilidades necessárias ao analista consistem em: pesquisar e
analisar, estruturar e recomendar, aconselhar estratégicamente, classificar valores e argumentos, democratizar
e mediar. Essas habilidades variam conforme a abordagem adotada, de modo que pela abordagem
racionalista, as habilidades mais demandadas são as três primeiras enquanto que pela abordagem
argumentativa, são necessárias as três últimas. Sendo assim, o analista se situa entre o papel de educador
(“speaking the truth to power”) e consultor (“giving the customer what he wants”), podendo sua atuação ser
melhor compreendida como atividade que pode ser desenvolvida por diversos atores sociais do que como
profissão.
O capítulo 2 é dedicado a análise do problema público, que pode surgir em três situações: deterioração do
status quo, vislumbramento de uma oportunidade de melhoria e mudança na percepção das pessoas acerca do
que é ou não um problema público. Sendo a política pública um enfrentamento a um problema público, é
fundamental um diagnóstico preciso do problema público. Para isso, preliminarmente, o analista deve ser
capaz de diferenciar problemas públicos e soluções. Por exemplo, falta de hidrantes trata-se de uma possível
solução ao problema dos incêndios. Além disso, é necessário verificar se há de fato um problema. Em
segundo lugar, é necessário distinguir problemas públicos e privados, bem como verificar se existe a
possibilidade de enfrentamento desse problema “dentro dos recursos e das competências disponíveis pelo
ator político ou instituição”. Por fim, é necessário verificar a disponibilidade em engajar-se na análise. Desse
modo, o analista será capaz de “ultrapassar as interpretações superficiais (retórica oficial),ultrapassar a
interpretação dos vários atores envolvidos, para então concluir com uma interpretação fundamentada sobre a
essência do tema em questão”
A primeira etapa, após as análises preliminares, da análise do problema é dividida em: diagnóstico do
problema (“trabalho analístico de identificação do problema público, sua intensidade, seu contexto, suas
causas e consequências e seu potencial de tratamento”), definição do problema ( “formaliza-lo, ou seja,
sintetizar em uma frase a sua essência para que seja compreensível para todos os atores do processo de
política pública”) e , por fim, definição do objetivo ( “delimitar o que se pretende alcançar com a política
pública, seja a extinção ou diminuição do problema, suas causas ou consequências).
O diagnóstico do problema compreende o diagnóstico do contexto, com base na busca pela origem do
problema e histórico, por meio, por exemplo, de uma linha do tempo; a análise política, por meio da
descrição dos atores envolvidos (“Atores políticos são sujeitos individuais ou coletivos que agem
intencionalmente na arena política”(Secchi, 2013)), por meio da construção de um mapa de atores
(Pressman e Widalsky, 1973); análise econômica, abrangendo os custos diretos e indiretos que podem
ser assumidos pelo governo ou distribuídos pela sociedade ou grupos; análise jurídico legal, que
compreende o estudo das leis ou interpretações judiciais que envolvem o problema público em análise,
uma vez que as legislações indiretas podem afetar o problema ou mesmo serem as causadoras do
problema e, até mesmo, as falhas da legislação pertinente também podem ser consideradas parte na
análise; análise sociocultural, na qual deve conter “a verificação das instituições informais, ou seja, os
hábitos, costumes, estilos e barreiras culturais que fazem que o problema se acentue”.
Ainda neste campo, o autor também salienta a importância da realização do diagnóstico da amplitude do
problema , onde se verifica quais atores são atingidos pelo problema e quais serão atingidos no futuro, bem
como o diagnóstico da intensidade do problema, onde se aborda a gravidade do problema. Nesta categoria,
analisa-se quanto o problema é grave em relação a outros problemas e a distribuição deste problema pelas
categorias sociais. Por fim, é necessário a realização do diagnóstico da tendência do problema, que refere-se
a análise da intensidade do problema ao longo do tempo. Assim, haveriam problemas súbitos, que são
“aqueles que recém um pico de atenção pública por causa de um evento extraordinário”; problemas
incrementais, “aqueles que se agravam de forma contínua e crescente ao longo do tempo”; problemas em
declínio, “aqueles que perdem força ou atenção pública de forma progressiva”; problemas estáveis, “aqueles
que mantem constante gravidade ao longo do tempo”; problemas cíclicos, aqueles “que mantém um padrão
contínuo de aumento e diminuição de sua intensidade ao longo do tempo”.
A partir disso o autor passa para a segunda etapa, referente a definição do problema, que consiste em
“sintetizar em uma frase simples e direta a essência do problema que está sendo analisado”.O autor
recomenda que seja feita uma frase afirmativa descritiva específica, que também quantifique o problema e
não confunda o problema com a solução. Por exemplo, “a oferta de serviços de atenção primária de saúde
nos postos de saúde dos bairros Alvorada, Barreiras e Camaquã, do Município X, não está suprindo a
demanda”, ou mesmo “ a taxa de reincidência dos presídios Brasileiros é de 70%”. Por fim, o autor ressalta
que as definições do problema público podem ser conflitantes, visto que consistem em um instrumento de
poder e são vistas de modos distintos pelos diversos atores políticos, de modo que é possível manter duas ou
mais definições do problema público para depois escolher uma delas, encontrar uma definição alternativa ou
até mesmo manter as duas definições.
A terceira etapa consiste na definição do objetivo da política. Neste sentido, considera-se util o desenho da
arvore de problemas, representação gráfica da estrutura do problema, suas causas e consequencias ( raíz,
causas; tronco, problemas e copa, consequências). Neste sentido, “o objetivo deve ser prático, voltado ao
enfrentamento do problema, ou para alguma de suas causas ou consequências”, específico e descrito com
base em verbo no infinitivo, bem como quantificável.
O capítulo 3 visa auxiliar o analista a escolher a abordagem da análise, voltando a distinção entre a
abordagem racionalista e argumentativa. Os fatores que, segundo o autor, devem ser levados em conta
são o nível de estruturação do problema (problemas estruturados já contam com informações
disponíveis para sua resolução, enquanto problemas desestruturados não contam com tantas
informações disponíveis) , o nível de urgência, a necessidade de legitimação das decisões (aceitação da
autoridade para que impedir possíveis resistências a implementação), habilidade do analista e dos
potenciais participantes e a disponibilidade de recursos para a condução da análise. A abordagem
argumentativa é mais adequada quando há problemas pouco estruturados, tempo hábil disponível, e
necessidade de legitimação das decisões. Por sua vez, a abordagem racionalista é mais interessante
quando há problemas estruturados, de urgência relevante, pouca necessidade de legitimação, etc.
O capítulo 4 volta-se a análise de soluções com base na abordagem racionalista e passa por três etapas:
geração de alternativas, estabelecimento de critérios, e projeção de resultados. A geração de
alternativas passa por uma primeira possibilidade que é a manutenção do status quo, uma segunda
possibilidade que refere-se às soluções ditas como óbvias, ou seja, aquelas que já são defendidas pelo
imaginário coletivo, e uma terceira, referente a técnicas de criação de alternativas estruturadas, as quais o
autor passa a delinear.
A primeira dessas técnicas é o Benchmarking que consiste no “processo de analise e sistematização de
práticas referenciais com o objetivo de gerar melhoria para as suas próprias práticas. Por meio dessa técnica,
busca-se elementos de políticas públicas que foram exitosos em outros locais ou situações para que sirvam
de inspiração aos participantes do processo criativo. A primeira fase consiste na delimitação do escopo,
buscando encontrar como outros lugares resolveram determinado problema público. A segunda fase consiste
na delimitação das fontes de busca. Por sua vez, a terceira fase consiste na coleta de boas práticas e a quarta
consiste na seleção de alternativas mais promissoras, por meio de critérios como ineditismo, simplicidade de
implementação e potencial de impacto no problema público. Além disso, o analista deve considerar se as
alternativas “atendem minimamente aos requisitos legais de competência técnica, organizacional ou política
do cliente que solicitou a análise”. A vantagem do Benchmarking consiste na possibilidade de se encontrar
soluções inusitadas, enquanto seu risco é a adaptação forçada de um contexto para outro.
A segunda técnica é o Brainstorm, ou tempestade de ideias, que consiste em uma técnica de criatividade
em grupo em que os participantes são solicitados a expor suas ideias de forma livre diante de uma questão ou
problema (Osborn, 1953). Para o planejamento do Brainstorming o autor coloca como necessários : o
estabelecimento de um objetivo, estabelecer o perfil e o tamanho do grupo, estabelecer o ambiente,
estabelecer o horário, definir o mediador e o relator. Durante a realização, o autor sugere que seja feita uma
introdução que evidencie o problema público, a explicação das regras, a medicação das ideias, de modo que
as pessoas se sintam confortáveis para verbalizarem suas ideias sem constrangimento e seleção das ideias
com base em critérios como ineditismo, simplicidade, potencial impacto no problema público, viabilidade e a
disponibilidade de informações para posterior análise aprofundada.
A terceira técnica apresentada é o redesenho incremental também conhecido como thinkering. “Essa
técnica consiste na decomposição de uma política pública, programa ou serviço já existente e na modificação
de seus elementos.”O autor oferece algumas possibilidades de mudança, são elas : localização, tempo,
financiamento, estrutura institucional, regulação, tamanho, etc. A quarta e ultima técnica elencada consiste
no Nudge, que busca criar estímulos leves que visem alterar o comportamento humano. Essa técnica parte do
pressuposto de que muitos comportamentos públicos e privados são baseados em parcelas de informação,
exemplos a disposição, eventos do passado, repetição de ações passadas e repetição daquilo que seus pares
fazem. Por fim, o autor apresenta as chamadas soluções genéricas, que podem consistir em Regulamentação,
Desregulamentação, Aplicação da Lei, Impostos e taxas, Empréstimos Subsídios e incentivos fiscais,
Prestação Direta de Serviço Público, Privatização, terceirização e mercantilização do serviço público, etc.
Após o trabalho de criação de alternativas é necessário uma avaliação dessas alternativas por meio de
critérios (“valores e princípios que estão presentes na sociedade”) que são operacionalizados por meio de
indicadores ( possibilitam a mensuração destes princípios). Segundo o autor, os critérios mais utilizados são:
viabilidade política, simplicidade, custo (recursos – inputs), produtividade (produto – outputs) , eficiência
(relação entre outputs e inputs), eficácia e efetividade (capacidade de alcançar o objetivo), equidade,
legalidade e perenidade.
Fichamento de Citação: “Segundo Simon (1960), existem problemas estruturados e problemas
desestruturados. Os problemas mais estruturados são aqueles recorrentes, de característica técnica e dos quais
já existem informações disponíveis para o processo decisório. Problemas estruturados são resolvidos com
procedimentos padrão e com o hábito consolidado. Por outro lado, os problemas desestruturados são
problemas novos e não há conhecimento acumulado sobre seus parâmetros. Também são chamados
problemas complexos (wicked problems), em que a experiência e a intuição têm um grande papel para a sua
resolução. Enquanto a abordagem racionalista é mais adequada para problemas estruturados, a abordagem
argumentativa consegue lidar bem com problemas complexos.” (p. 62)
“Legitimidade é relacionada a aceitação da autoridade (King, 2003). Os stakeholders e o público em geral
consideram um processo decisório legítimo se for realizado por atores aceitáveis e se seguir um processo
decisório correto e justificado ( Dahl, 1998, Wallner, 2008).” (p. 62)

“ Resumindo o que foi tratado, o modelo racionalista é mais apropriado quando se lida com temas técnicos
estruturados, quando a urgência é grande, quando há pouca necessidade de legitimar a análise e a decisão e
quando a habilidade está concentrada no analista de política pública capaz e dominar as ferramentas
racionalistas ( e dali extrair boas soluções para o problema público em análise). A abordagem argumentativa
participativa pode ser mais útil quando o problema em mãos é pouco estruturado, ou seja, quando é
complexo e ambíguo, quando há tempo suficiente para engajar atores para participar e aprender uns com os
outros e chegar a uma recomendação consensual, quando uma análise centrada no analista seria considerada
pouco legítima ou parcial, e quando o analista não possui o conhecimento ou cognição para chegar a uma
recomendação sozinho.” (p. 63)

“A realidade dos problemas públicos, no entanto, mostra que é difícil chegar a extinção por completo,
especialmente dos problemas complexos (wicked problens). Exemplos são os problemas de corrupção,
desigualdades sociais, desemprego e a favelização dos grandes centros urbanos. Nestes casos, o mais
indicado é buscar mitigar, ou seja, diminuir o problema, combater alguma de suas causas ou consequências.”
(p. 53)”

“A análise sociocultural trata da verificação das instituições informais, ou seja, os hábitos, costumes, estilos e
barreiras, costumes, estilos e barreiras culturais que fazem que o problema se acentue. Para a realização da
análise sociocultural é necessário que o analista consiga abstrair-se, ou seja, que tente isolar sua própria
visão, formação, sua tendência político-ideológica, seus pressupostos culturais e seus preconceitos para que
não contaminem os resultados da análise.” (p. 44)

“Outra questão importante é a correlação de forças, ou seja, os recursos políticos que cada ator possui.
Alguns atores são mais fortes que outros e tem poder de veto sobre a aprovação de alternativas. Outros atores
mesmo sem possuir assento na arena decisória, podem fazer campanhas de policy advocacy, mobilizar outras
forças políticas e influenciar a opinião pública e os próprios tomadores de decisão” (p. 117)

“ A variedade dos atores também é definição importante. A pergunta é : “ Quem devemos convidar para o
debate ?” Muitas vezes essa definição é estatutária, se o fórum de política pública já contém um regulamento
que aponta quem são os atores que devem fazer parte das discussões – como câmaras e conselhos que já
possuem representantes e estes devem ser os chamados. No caso de fóruns ad hoc, chamados pelo analista
especificamente, a variedade de participantes dependerá do conteúdo a ser debatido e de regras
institucionais.” (p. 132)

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