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O crime de abuso de autoridade e da independência funcional da

Magistratura e do Ministério Público

É no centro dos grandes escândalos de corrupção que surge um projeto de lei


de suma importância para o país: trata-se do crime de abuso de autoridade. Porém,
há um grande receio por parte da maioria dos magistrados e membros do Ministério
Público de que, na verdade, trata-se de um pretexto para intimidar e coibir ações de
juízes, promotores de demais autoridades.
Tal desconfiança nasce da notória constatação de que boa parte dos
deputados e senadores, incumbidos de discutir e revisar o projeto de lei, estão sendo
investigados em operações da Polícia Federal. Não há, nessas circunstâncias,
esperar que seja editada uma norma íntegra, cautelosa, que atenda seu real
significado: que atitudes certificadamente abusivas possam ser punidas e, dessa
forma, evitadas.
Há uma linha divisória entre a ação correta de um juiz ou promotor e os
excessos e usos ilegítimos de seu poder. Deve-se levar em conta as razões, as
circunstâncias do ocorrido, os envolvidos e o contexto situacional, para tipificar um
crime de tal magnitude. É preciso que esse projeto de lei seja bastante claro e taxativo
naquilo que é de fato abuso de autoridade, a fim de se responsabilizar legitimamente
o agente público.
A Constituição Federal assevera que o Ministério Público é uma instituição
permanente e independente, detentora de autonomia funcional, a fim de que possa
garantir a defesa da ordem jurídica e o regime democrático. Essa liberdade de
atuação é que configura a sua essência, instituição que atua de forma segura e
imparcial, não se sujeitando aos interesses político-partidários.
Portanto, torna-se evidente que essa falácia tendenciosa, travestida de projeto
de lei, merece ser revista, adequada e redigida com uma grande cautela, para que
possa, realmente, cumprir sua função primordial sua função primordial: ser uma
espécie de “fiscal” da lei. É necessária uma mobilização de toda a sociedade a
respeito do assunto, uma vez que não há Estado sem lei, não há cidadania sem
democracia.

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