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O Conflito Pós-Moderno

Marcos Porto Freitas da Rocha


Este artigo apresenta, brevemente, uma perspectiva sobre a realidade da compreensão de mundo na
Pós-modernidade, para tanto se descreveu características da Idade Média e da Modernidade com o intuito de
exemplificar a diferença entre as percepções de mundo nestes períodos históricos. Não se trata de esgotar as
características dos períodos anteriores à Pós-modernidade, mas apenas no que se destacam em contraponto a
esta.
Posteriormente a Pós-modernidade é apresentada em seus aspectos mais marcantes, seus pensadores,
sua relação com as igrejas e os conflitos que isto acarreta.
Neste material abordaremos de forma resumida o que será apresentado na palestra “O Conflito Pós-
Moderno” no 1oFórum Teológico da ADNA.
Idade Média
A verdade estava na Instituição (Igreja Católica Romana) e não na razão humana. Aqueles que
questionavam a Igreja estavam perdidos “Extra Eclesia nula Salus” fora da Igreja não há salvação.
Educação na idade Média: Visava o conhecimento de Deus e, posteriormente, da filosofia, com
resgates de Al-Farabi e outros estudiosos.
Na Idade Média, a Educação era vista como um instrumento para se alcançar a Sabedoria, que
consequentemente, levaria o homem à Felicidade, um bem desejado por si mesmo e mais perfeito que todos
os outros bens (al-Farabi, 2002: 43-44).
Modernidade (Séc XVI – XX)
Modo de pensar que se desenvolveu principalmente na Europa Ocidental e que pode ser descrita como:
a visão de mundo baseada na racionalidade humana. A marca da Modernidade foi o Renascimento Italiano;
O Racionalismo Francês (René Descartes). A verdade está na capacidade mental (Razão) que percebe a
harmonia, perfeição, estrutura lógica existentes no universo. O Discurso do Método de Descartes “Cogito
Ergo Sum” penso logo existo, afirmava que só seria possível descobrir a verdade através da compreensão do
funcionamento das coisas e da confirmação metodológica pela repetição exaustiva do processo que conduziu
à descoberta.
Naturalismo: Acreditar que temos à nossa disposição para entender o mundo apenas o que nos é
apresentado como natureza (não existe o sobrenatural).
Ex. Scooby-doo! O Fantasma que é desmistificado pela explicação científica!
Alguém, nos dias de hoje, que enxerga o mundo pelo viés da modernidade, quando decide encontrar
Deus, ela entende que precisa conhecer Deus com seu intelecto.
Marcado pelo Determinismo que entendia a humanidade como seres pré-programados para agir de tal
modo, seja por mecanismos biológicos ou psicológicos que podiam ser identificados em traços genéticos. Um
exemplo foram os estudos sobre os tamanhos dos crânios das pessoas violentas, as tentativas de explicar os
padrões de molestadores através de alterações de genes, dentre outros.
As Igrejas Históricas Protestantes Tradicionais foram criadas no período da Modernidade e corroboram
a visão de mundo Moderna, (Emile Guillaume Leonard, O protestantismo Brasileiro: estudo de eclesiologia e
[de] história social, 1963 Aste).
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O Projeto da Modernidade: Racionalismo, Antropocentrismo e secularismo eram, dentre outros os


marcos da modernidade. Em síntese, a fé na racionalidade e no progresso secular.
Educação na modernidade: Rompeu com os objetivos de conformar o ser humano com os desígnios
divinos para tornar-se instrumento de aprimoramento da racionalidade. O Objetivo é o desenvolvimento do
intelecto, uma alteração epistêmica que impôs novos métodos, novos conhecimentos e novas formas de
aprender.
Pós Modernidade (~pós 1930)
Pós Modernidade: Movimento da Cultura que rejeita os valores da Modernidade e vê com desconfiança
os princípios racionais e supostamente universais desenvolvidos na época do iluminismo (Luiz Sayão/2008);
Pensadores Pós-Modernos:
Friedrich Nietzsche: Está entre os precursores, questionando a objetividade do conhecimento.
Todos criam que o que víamos era o que se via de verdade, e o que se falava, falava-se do que era de
verdade e. Para ele, ao olhar para um objeto, não estamos vendo o que é o objeto, apenas parte dele. E
ao vê-lo criamos uma imagem do objeto que não é de fato o objeto. E inventamos uma palavra para nomear o
objeto e não podemos afirmar que completa o objeto em si. Nós estamos presos em nossa mente sobre o que
achamos ser a realidade.
Michael Foucalt: Analisa a relação entre palavra, conhecimento e poder. Postula que a linguagem é
uma ferramenta de dominação, de exercício de poder (manipulação) sobre as coisas.
Jacques Derrida: Discute o significado nos textos. É desconstrutivista. Atua especialmente à partir da
Análise do discurso.
Na Pós-modernidade acredita-se em tudo, mística, sobrenatural, exoterismo, artes divinatórias, etc.
Não existe uma só verdade, mas várias verdades. Existe realmente a disputa de poder, e o discurso de verdade
é apenas mais um meio eficaz de dominação.
Jean Paul Sartre “O homem é um absurdo inútil” (SAYÃO / 2008)
O ser humano não encontrou as respostas que queria ou pensou que teria com o racionalismo e com
isso entrou em colapso e não possui alicerce para explicar o mundo, pois a razão tem seu espaço definido, é o
espaço técnico. A razão atrapalha a compreensão holística do mundo.
Uma pessoa do mundo pós-moderno quer conhecer Deus sem a Racionalidade. Emocionalismo em
contraponto ao racionalismo.
A busca por experiências intensas que deem sentido à vida conduz ao hedonismo, consumo de drogas
que alterem o estado psicológico, experiências religiosas místicas, exotéricas, sexuais e outras.
Projeto da Pós Modernidade (ou Modernidade Líquida): tudo é volátil, as relações humanas não são
mais tangíveis, e a vida em conjunto, familiar, de casais, de grupos de amigos, de afinidades políticas e assim
por diante, perde consistência e estabilidade. “O progresso que gera o atraso” com a destruição ambiental e o
crescimento das desigualdades, mostram que as propostas de bem-aventurança e prosperidade do projeto
moderno, atingidas pelo desenvolvimento técnico e científico foram incapazes de se cumprir plenamente
(SAYÃO, 2008).
O homem se converte em mero agente do valor (financeiro). Essa racionalização destrói a relação
direta entre os indivíduos: o contato direto é o das mercadorias, mediado pelo ser humano. O ser humano é
transformado, reduzido ao estatuto de coisa. (SAYÃO, 2008).
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É a fase tardia do Capitalismo, desta vez pode-se desmanchar o que era sólido para a Modernidade,
classes, indústrias, cidades, coletividade, nação-Estado, e demais configurações institucionais. (SAYÃO,
2008).
Sociedade da imagem onde a mídia tem um papel fundamental na produção de narrativas que criam
um universo de ilusão que passa a ser tão ou mais real par ao indivíduo que a própria realidade.
O “espetáculo” midiático atinge as diversas esferas sociais, produzindo uma “realidade à parte” ou o
“Hiper-real”. (SAYÃO, 2008 apud Baudrillard, 1997).
A cultura Pós-Moderna, (...) interfere profundamente na cognição e na constituição da subjetividade:
produz-se assim, ‘tipos de pessoas’ que incorporam em seu cotidiano a substituição pelo espetáculo (SAYÃO,
2008).
O Conflito Pós-Moderno
O mundo pós-moderno representa um grande desafio para a realidade das igrejas, como agir neste
contexto?
A pós modernidade é uma grande mudança de paradigma que a igreja precisa entender caso queira
manter-se em seu foco de ganhar a humanidade para Cristo.
A visão de mundo das pessoas e sua compreensão da realidade são tão plurais que a igreja precisa
compreender essa multiplicidade de visões para poder adequar suas estratégias de abordagem de modo a
continuar refletindo Jesus Cristo e influenciando pessoas a desejarem conhecê-lo. Isto traz para igreja alguns
desafios metodológicos.
A pós modernidade é marcada pela indefinição, ninguém sabe direito o que é nada, pois todas as
verdades são válidas, por exemplo, eu aprendi que há dois tipos de sexualidade, masculino e feminino, homem
e mulher. Recentemente um artigo de jornal apresentou 37 tipos de sexualidade que podem ser declaradas em
um aplicativo de encontros.
A pós modernidade possui outra característica marcante, a velocidade, alguns historiadores e cientistas
sociais afirmam que em média um acontecimento demorava 25 anos para se tornar parte da cultura de um
grupo social, para se tornar história para esse grupo. No 11 de setembro de 2001, foi televisionado o impacto
do segundo avião em uma das Torres Gêmeas. História sendo transmitida e fixada em tempo real. Um
personagem que teve sua trajetória meteórica e passou por diversas transformações da década de 1970 até
recentemente foi Michael Jackson, que ostentou no mínimo 6 configurações faciais que incluíam mudança de
tom de pele ao longo de 40 anos.
Não abordaremos aqui questões mais teológicas, pois outros palestrantes o farão em seus materiais e
exposição.
Desafios Metodológicos para a igreja
Era comum ver alguém colocar uma caixa de som sobre sua bicicleta ou carro e sair convidando as
pessoas a virem cultuar em uma praça e era uma ferramenta eficaz que proporcionava resultados. Geralmente
o local de culto encontrava-se cheio de pessoas alcançadas por este método.
Hoje os carros de som atraem menos, seja porque são associados a algum tipo de comércio informal
seja pelas pessoas em cidades maiores morarem em prédios que as distanciam umas das outras e deste tipo de
método.
Outro método muito comum era o bater à porta das pessoas para entregar folhetos e iniciar uma
conversa sobre Jesus e o Plano da Salvação, hoje não passaremos da portaria ou as pessoas irão se esconder e
não atenderão para que nos cansemos de chamar e saiamos.
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Ao não dialogar com a pós modernidade muitas igrejas se perdem em seus métodos e acabam por não
alcançar as pessoas e literalmente fecham suas portas.
Confusão Religiosa
Vivíamos em um mundo que possuía uma certa uniformidade religiosa, era possível identificar
características marcantes relacionadas ao credo do indivíduo, Católico, Evangélico de missão, Pentecostal,
Ateu, Espírita, de Matriz africana, etc. Mas todos com características próprias. Hoje a diversidade é tamanha
que não consegue mais identificar de imediato algum aspecto ou característica de um credo pela mera menção
do nome da denominação.
Os próprios nomes das igrejas são tão mais baseados em estratégias de marketing que propriamente
definidores de doutrina. Alguns futurólogos preveem que este crescimento quantitativo de novos credos
chegará a um ponto em que não haverá mais instituição religiosa, restando apenas a religiosidade por
afinidade, como a “confraria do condomínio do lameirão” ou as igrejas midiáticas por exemplo.

Quadro exemplificativo
Pré-Modernidade Modernidade Pós Modernidade
Renascença Italiana
Racionalismo Francês Conhecimento Incerto
Método Científico
Iluminismo
Teocentrismo Antropocentrismo
Racionalismo Irracionalismo
Naturalismo Sobrenaturalismo
Humanismo Crise do Humanismo
Certeza Objetiva Misticismo
Positivismo Relativismo
Progresso Indefinido Rejeição ao Progresso
Deísmo Individualismo Pluralismo
(Verdade Divina) na Igreja (verdade individual) (verdade do coletivo)
Determinismo Existencialismo
Tradição Religiosa e A Crítica da Tradição Todas as opiniões são
Filosófica válidas
Secularismo Declínio Capitalismo
Capitalismo Arquitetura Pós Moderna
Desafios Metodológicos
Confusão Religiosa

Referências Bibliográficas:
AL-FARABI. El camino de la felicidad (trad., introd. y notas de Rafael Ramón Guerrero). Madrid:
Editorial Trotta, 2002.
Emile Guillaume Leonard, O protestantismo Brasileiro: estudo de eclesiologia e [de] história social,
1963 Aste.
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SAYÃO. Luiz Alberto Teixeira. A Igreja na Pós Modernidade. Conferência Teológica Batalhando pela
Fé. Igreja Batista de Parquelândia, 2008. Escola Charles Spourgeon.
O GLOBO. Com 37 opções de sexualidade, Tinder tem 250 mil novos encontros em 6 meses.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/com-37-opcoes-de-sexualidade-tinder-tem-
250-mil-novos-encontros-em-6-meses-1-21056701. Acessado em 16/10/17 às 9h29.

Igreja Emergente, a Igreja do Pós-modernismo?

Mauro Meister
Introdução
Há alguns meses, se eu ouvisse a expressão “igreja emergente” certamente pensaria que se tratava de
algum estudo sobre a igreja neotestamentária nos primeiros séculos da era cristã. Hoje, depois de pensar que
estive fechado em um quarto sem receber notícias do mundo por vários anos, sei que a igreja emergente é um
movimento em expansão dentro da igreja evangélica nas duas últimas décadas. O chamado movimento da
igreja emergente já tem até mesmo uma associação brasileira, fundada informalmente em janeiro de 2006.
Definição
Por ser um movimento característico da pós-modernidade, a igreja emergente é difícil de ser definida
e alguns autores até mesmo hesitam em dizer que ela pode ser caracterizada como um movimento. Os próprios
envolvidos preferem se caracterizar como uma “conversação” emergente. Há que se lembrar que o pós-
modernismo é caracterizado pela negação da possibilidade de qualquer metanarrativa abrangente. No
ambiente pós-moderno o pluralismo relativista domina o cenário das ideias, negando a possibilidade de um
único caminho, a possibilidade de regras fixas.
As características de fluidez, imprecisão e falta de um padrão que possa abranger todas as comunidades
que se reconhecem como emergentes tornam a tarefa da definição ainda mais difícil. Por outro lado, é
impossível deixar de observar que um número cada vez maior de comunidades com origens dentro do
cristianismo chamam a si mesmas de emergentes. Seguindo a tese de Carson – “sempre que surge um
movimento cristão que se apresenta como reformista ele não deve ser sumariamente descartado” –, faz-se
necessário um esforço na busca de compreender o que caracteriza de fato esses movimentos emergentes.
Podemos então, provisoriamente, definir a igreja emergente como uma reação ao cristianismo do
período moderno sob a pressuposição de que o cristianismo, como se desenvolveu no modernismo, tornou-se
arcaico e irrelevante para a geração contemporânea. É um movimento de reação à igreja moderna.
Origens e Representatividade
Geograficamente o movimento teve origem no Reino Unido, ligado a uma cultura fundamentada na
experiência, a cultura clubber. Essa cultura, na verdade uma subcultura, é caracterizada pela migração dos
jovens suburbanos para o centro das cidades durante os fins de semana, buscando um significado tribal para a
existência. Os ajuntamentos de jovens dentro dessa subcultura propiciaram o aparecimento de “tribos” cristãs
entre a população, e estes, por sua vez, produziram movimentos que, mais tarde, passariam a identificar-se
como emergentes. Na Inglaterra, onde a expressão do cristianismo evangélico tradicional é muito pequena e
a frequência à igreja está entre 2 e 3% da população, a igreja emergente tornou-se rapidamente uma expressão
importante.
A influência do movimento dentro da cultura norte-americana deu-se em um contexto bem diferente,
ou seja, dentro do contexto de uma subcultura cristã já existente. Nos anos 80 desenvolviam-se no meio da
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igreja evangélica norte-americana as igrejas GEN-X, ou geração X, equivalente à geração “coca-cola”. Esse
movimento caracterizava-se por comunidades em que o culto oferecia música em alto volume, vida
apaixonada, pregação informal, relacionamentos friends e mais adiante a presença de expressões artísticas no
culto, inclusive cerimônias à luz de velas. Todavia, esse formato de igreja e culto não se mostrou efetivo no
alcance da geração pós-moderna. Para tanto, seria necessário um passo a mais.
Essa necessidade está, supostamente, sendo atendida mediante o surgimento das comunidades
emergentes, cuja proposta é proporcionar um “retorno refrescante a um ministério focalizado em Jesus,
essencialmente sagrado e voltado para a experiência de cada pessoa”. Dessa forma, os líderes do movimento
preferem divulgar as suas ideias através de histórias ou relatos pessoais, pois segundo eles essa foi uma marca
fundamental do desenvolvimento do cristianismo. Normalmente a espiritualidade é abordada como uma
caminhada ou viagem espiritual e na literatura as ideias são expressas pela boca de diferentes personagens e
diálogos. O subtítulo do livro de McLaren, A New Kind of Christian, é “um conto de dois amigos em uma
jornada espiritual”. Vários líderes preferem chamar o movimento de uma “conversação emergente”.
Principais características
Carson afirma que a igreja emergente é essencialmente um movimento “de dentro” e se opõe à igreja
evangélica tradicional característica das últimas décadas do século 20. Na visão dos líderes emergentes aquela
forma de ser igreja é cativa dos conceitos do absolutismo da era moderna e o movimento emergente veio trazer
a liberdade necessária para um cristianismo relevante na pós-modernidade. Logo, uma das marcas principais
do pensamento emergente é a aversão ao absolutismo, ou seja, a forma de pensar do modernismo, que admite
o conceito de verdade absoluta com bases fundacionalistas.
Pluralismo
A proposta emergente enfatiza os sentimentos e afeições sobre o pensamento linear e a racionalidade;
a experiência em contraposição à verdade; a inclusão ao invés da exclusão; a participação em contrapartida
ao individualismo. Essas seriam as bases para afastar a crença cristã na verdade “absoluta” e levar à
autenticidade, ao “novo tipo de cristão”, pregado por McLaren. Assim, a característica dominante da igreja
emergente é a não afirmação de absolutos e a aceitação das diferenças, a saber, a marca fundamental do
pluralismo pós-moderno.
Protesto
A marca do pluralismo leva o movimento emergente a uma posição de protesto. Praticamente toda a
sua liderança vem de dentro da base do cristianismo evangélico tradicional e fundamentalista e manifesta o
seu descontentamento com a instituição de origem.
O conceito de uma cosmovisão integral com valores objetivos e absolutos é impossível de ser vivido
de maneira coerente e relevante nos tempos da pós-modernidade. O protesto, então, é resultado da forma
incoerente como vive o cristianismo que se diz bíblico.
Missional
Quase todas as descrições feitas do movimento também apontam para esta como outra de suas
principais características. Nesse contexto, um dos conceitos básicos de “ser missional” é ser autêntico.
Na verdade, esse é um aspecto positivo do movimento, exatamente por demonstrar uma intensa
preocupação com os incrédulos e uma considerável eficiência no alcance de não-cristãos. Por outro lado, as
ênfases tendem a levar os grupos a uma relação extremamente horizontal, na qual a pregação do evangelho e
a ação social, por exemplo, tornam-se indistintas e os discursos quase que se confundem, em nova embalagem,
com os da teologia da libertação. Assim sendo, a ação social, como ato de amor, já é pregação e pode dispensar
a proclamação.
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Linguagem, culto e pregação


Uma das características visíveis da igreja emergente está no seu uso da linguagem e na sua forma de
manifestação de culto, que são prontamente observáveis nos sites e literatura.
Um dos argumentos fundamentais é que a comunicação para a mente pósmoderna não pode acontecer
de forma linear. Para a geração que cresce nos tempos contemporâneos a comunicação precisa acontecer em
forma de rede, como um site na internet, onde as possibilidades de continuidade são inúmeras e, na verdade,
ninguém sabe onde ela vai terminar. Uma das propostas fundamentais na comunicação emergente é a criação
de um culto experimental e multi-sensorial, numa atmosfera trabalhada por luzes, velas, símbolos, mensagens
multimídia, arte estática e em movimento, espontânea e participativa, dando sempre lugar à experiência. Isto
seria uma reação ao culto na igreja moderna que coloca os adoradores mais como expectadores e que exige
muito pouco envolvimento no ato de adoração. Na “Liquid Church” (Igreja líquida), por exemplo, o culto é
descrito como “Intenso e apaixonado. Sonhador e reflexivo”.
Bibliografia
GRENZ, Stanley, Renewing the center: evangelical theology in a post-theological era. Grand Rapids:
Baker, 2000. Outros teólogos que tem servido à proposta pós-moderna são Roger Olson, Nancey Murphy e
John Franke.
KIMBALL, Emerging churches.
Liquid Church, Our Worship. Em
http://liquidchurch.typepad.com/liquidchurch/06_our_worship_/index.html. Acesso em 7 abr. 2006.
GIBBS e BOLGER, Emerging churches.
McLaren, Generous orthodoxy.
CARSON, Becoming conversant.

O RELATIVISMO PÓS-MODERNO

Sandra Salum
Introdução
De maneira geral, é possível afirmar que a vida cristã possui características e objetivos comuns em
todos os momentos da história. A ordem de “santificar a Cristo no coração” (1Pe 3.15), por exemplo, se aplica
a todos os cristãos em todos os momentos históricos. No entanto, é possível afirmar que cada momento
histórico apresenta desafios próprios para o cristianismo. Nós somos chamados por Deus para viver a vida
cristã num tempo específico. Por isso, no exercício de santificar a Cristo no coração, por exemplo, cristãos de
diferentes épocas se deparam com diferentes dilemas e desafios.

O relativismo dos tempos pós-modernos

Estudiosos de nosso tempo têm o denominado de pós-modernidade. Esta nomenclatura revela que o
momento histórico em que vivemos é um momento que segue o período moderno. No entanto, a relação entre
um momento histórico (modernidade) e outro (pós-modernidade) não é apenas temporal ou histórica, mas
também conceitual e cultural. Em outras palavras, a pós-modernidade não é apenas um período que segue a
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modernidade em termos temporais, mas um período que segue a modernidade conceitual e culturalmente,
rompendo, de certa forma, com aspectos do modo de pensar, viver e se organizar, próprio da modernidade.

Uma das características mais marcantes da pós-modernidade é o rompimento com o que poderíamos
chamar de universal ou geral, em prol do particular ou individual. Na modernidade se pensava na história
humana de modo geral, em termos de uma história universal. Hoje em dia o que importa é a história individual,
quando muito a de um grupo de pessoas, mas não se costuma falar mais em uma história da humanidade. Na
modernidade se falava também em uma verdade universal e absoluta. Para nossos dias, no entanto, falar em
uma verdade universal e absoluta é algo quase que inaceitável. Por fim, a modernidade podia falar de um
modo de agir universal e norteado por valores absolutos, enquanto para a pós-modernidade este é um discurso
ultrapassado. Isto não significa que a modernidade tenha sido necessariamente cristã, mas apenas que ela teve
em comum com a visão de mundo cristã o fato de assumir o universal e absoluto.

Ao contrário da modernidade, nosso tempo tem como princípio o relativismo. Tendo valorizado o
particular, em detrimento do universal, a pós-modernidade abandonou a ideia de absolutos e assumiu o
relativismo. O relativismo é a teoria de que a base para os julgamentos sobre conhecimento, cultura ou ética
difere de acordo com as pessoas, com os eventos e com as situações (Dicionário de Ética Cristã, Carl Henry,
Editora Cultura Cristã).
Esse relativismo contemporâneo se aplica aos três elementos apresentados no parágrafo anterior:
história, conhecimento e ética. A pós-modernidade questiona, primeiramente, a existência de uma história
comum que possa, de alguma forma, identificar os homens de modo universal. Em segundo lugar, no âmbito
do conhecimento, questiona a existência de uma verdade que seja universal e absoluta. Por consequência,
questiona por fim a possibilidade de se estabelecer princípios morais que devam reger a conduta de todas as
pessoas universalmente. Nosso tempo rejeita qualquer critério universalmente aceito para se medir
valores (Carl Henry).
Esta teoria consideravelmente complexa (o relativismo) pode ser vista nas palavras e ações do dia a
dia das pessoas em nosso tempo. Provavelmente a maioria dos leitores já consegue perceber o quanto o homem
contemporâneo se preocupa com a sua história individualmente, como se ela não estivesse relacionada à
história de modo geral. Provavelmente, a maioria dos leitores deste texto já teve uma discussão encerrada com
as seguintes palavras: “não vale a pena discutir, afinal, você tem a sua verdade e eu tenho a minha”. Ou, quem
nunca foi perguntado de forma retórica, depois de ter emitido um juízo de valor sobre algo ou alguém: “quem
é você para julgar?”. Essas palavras e ações revelam como o relativismo tomou conta de nossos dias.

A igreja, enquanto comunidade plantada e imersa em seu tempo histórico sofre as consequências deste
relativismo. Uma das maiores evidências da influência do relativismo na igreja contemporânea é sua tendência
ao ecumenismo. A defesa da aceitação indiscriminada de toda e qualquer crença revela o quanto o caráter
exclusivista do evangelho soa mal aos ouvidos contemporâneos. Outra característica que tem se tornado cada
vez mais comum no meio da igreja é o questionamento da necessidade e a ausência da disciplina eclesiástica.
Esta prática revela que não apenas o relativismo quanto ao conhecimento tem adentrado a igreja, mas também
o relativismo ético-moral.

O relativismo e a Bíblia
O relativismo é uma teoria coerente com os pressupostos que a definem. Mas seria coerente com a
cosmovisão cristã? Uma rápida consideração das verdades bíblicas é suficiente para revelar que o relativismo
não se sustenta diante de alguns elementos fundamentais da fé cristã.

A Bíblia e a história
Ao considerarmos a história à luz da Bíblia, concluímos que, embora seja possível falar em histórias
individuais, existem elementos fundamentais que na história humana que identifica todos os indivíduos,
universalmente.

Pense no tema bíblico básico: Criação, Queda, e Redenção. A narrativa bíblica afirma que Deus é o
autor da realidade. Tudo aquilo que existe foi criado por Deus (Gn 1.1). O homem não é mero produto de uma
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evolução biológica, mas um ser criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26). A origem do homem,
portanto, identifica-nos todos uns com os outros. Além da criação, somos identificados pela queda em pecado.
A rebeldia não fora uma característica específica do primeiro casal, mas é algo que se perpetua nas gerações.
A Bíblia é contundente em afirmar que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23); ou
ainda que “não há um justo sequer” (Rm 3.10). Deste modo, nossa história se identifica com a história de
todos os demais homens, não apenas pela criação, mas também pela queda. Por fim, nossa história se identifica
com a história de todos os demais pela redenção. É claro que a identificação, neste ponto, não se dá pelo fato
de serem todos salvos, mas pelo fato de que nosso destino eterno se define pela nossa relação com Jesus Cristo
e o plano redentor de Deus nele proposto. Mesmo distinguindo entre salvos e perdidos, a Bíblia identifica
todos eles em termos finais, ao afirmar, por exemplo, que todo joelho se dobrará e toda língua confessará que
Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2.10-11).

A tríade Criação, Queda e Redenção é o elemento unificador da história humana. Embora existam
particularidades na história dos indivíduos, existem aspectos em que a história é universal; a história do
homem criado à imagem de Deus, que se rebelou contra ele, e foi alvo da graça de Deus em Cristo Jesus.

A Bíblia e a verdade
Segundo a Bíblia, Deus não apenas trouxe a realidade e o homem à existência, mas se revelou. Aliás,
o próprio ato criador é revelação. Deus criou todas as coisas pela sua Palavra (E disse Deus… Jo 1.1-2). Esta
é a razão pela qual a realidade criada revela quem Deus é; “os céus proclamam a glória de Deus, e o
firmamento anuncia as obras de suas mãos” (Sl19.1).

O Deus da Bíblia, portanto, não é imóvel, mudo, mas é um Deus que vai ao encontro do homem e fala
com ele. Desde muito cedo somos informados pela Bíblia deste movimento de Deus em relação ao homem.
De acordo com os capítulos iniciais do Gênesis, ouvir a voz de Deus, que andava no jardim pela viração do
dia, parece ser algo com o qual Adão e Eva estavam acostumados (Gn 2.16; 3.8). Mesmo após a Queda, Deus
fala com o homem (Gênesis 3.8). Durante toda a história, Deus continuou falando ao homem, e à medida que
falava, Deus tomava providências para que suas palavras fossem preservadas para toda a posteridade (Êx
17.14; 34.27).

Até que ele falou de modo pessoal, pela pessoa de Cristo Jesus. Ele, a Palavra que se fez carne e
habitou entre nós (Jo 1.14) é a revelação maior de Deus. Ele é a expressão exata do seu Ser (Hb 1.3), que se
apresentou dizendo: “quem me vê, vê aquele que me enviou” (Jo 12.45). Este mesmo Jesus se define como o
caminho, a verdade e a vida (João 14.6), aquele cujo conhecimento significa liberdade (Jo 8.32).
Deus é a verdade, e ele se revelou a nós por meio de sua Palavra. Por isso, a verdade não é uma questão
meramente subjetiva ou de construto social. Ainda que o homem atribua significados à realidade, a verdade é
objetiva. Nós nos aproximamos da verdade, todas as vezes que nos aproximamos do que Deus revelou por sua
Palavra. O contrário também é verdadeiro. Sempre que nos distanciamos da revelação que Deus deu por
intermédio de sua Palavra, nos distanciamos da verdade. A Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.17).

A Bíblia e a moralidade
Assim como o relativismo ético é resultado do relativismo no âmbito do conhecimento, assim também
a crença de que Deus se revela em sua Palavra tem como consequência a existência de valores morais
universais e absolutos. Ao se revelar, Deus demonstrou sua vontade ao homem; o modo como Deus deseja
que o homem viva neste mundo.

Desde o princípio o relacionamento de Deus com o homem é marcado pelo fato de que Deus é Senhor,
e o homem é servo. Este fato de que Deus tem direitos sobre o homem para requerer dele obediência, é uma
implicação natural da crença na verdade bíblica da criação. É possível dizer que, como criador do homem,
Deus tem direitos autorais sobre o homem, e este direito se revela no fato de que Deus se relaciona com o
homem na posição de seu Senhor.
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A narrativa bíblica da criação apresenta Deus não apenas criando o homem, mas definindo, por meio
de ordenanças, seu propósito e significado. Logo em Gênesis 1, encontramos o imperativo: “sede fecundos,
multiplicai-vos”. Apenas um capítulo depois encontramos a ordem divina, que por ter sido desobedecida, deu
origem a toda sorte de males que experimentamos ainda hoje; “de toda árvore do jardim comerás livremente,
mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente
morrerás” (Gn 2.16-17). Quando, depois da Queda, o mal havia se alastrado sobre a terra, e Deus se apresentou
a Noé, foi com imperativos que ele o fez: “Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança; entrarás na arca, tu
e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos” (Gn 6.18). Posteriormente, Deus se apresentou a
Abrão, e mais uma vez o fez de forma imperativa: “Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua
parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei”(Gn 12.1). Todas estas passagens revelam que
Deus se relaciona com o homem como Senhor, e o tem como seu servo. E, na qualidade de Senhor, Deus
estabelece os princípios por meio dos quais o homem deve viver neste mundo.

Os dez mandamentos são característicos desta vontade divina revelada em sua Palavra. Eles têm sido
chamados de a lei moral de Deus, isto é, o conjunto de preceitos divinos absolutos e atemporais. A causa pela
qual são atemporais e absolutos é o fato de que se fundamentam no caráter de Deus. E, sendo Deus imutável
em seu ser, as perfeições de seu caráter, nas quais se baseiam os mandamentos, são imutáveis também. Essa
é a razão pela qual se pode dizer que os dez mandamentos revelam a vontade atemporal e absoluta de Deus.
“A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria verdade” (Sl 119.142).

A igreja: coluna e baluarte da verdade


Como temos visto, uma visão cristã do mundo pressupõe a existência de absolutos. Deus se revelou e
em sua Revelação apresenta a história universal, nos oferece a verdade e os padrões morais para a vida.
1Timóteo 3.14-15afirma que a igreja é coluna e baluarte da verdade. As duas palavras, “coluna” e “baluarte”,
indicam algo que sustenta e dá firmeza. Se pensarmos na metáfora de um edifício, por exemplo, e
considerarmos o papel das colunas, como parte das estruturas que mantém um prédio de pé, perceberemos
bem o que a Escritura deseja ensinar nesta passagem.

Essa metáfora não ensina que a igreja seja a fonte originadora da verdade. Ao contrário do que pensa
o romanismo, não é a igreja quem define e estabelece o que é a verdade. A fonte originadora da verdade é
Deus mesmo. E a igreja é a guardiã, a protetora, a defensora da verdade revelada e estabelecida por Deus. Esta
lição sobre a igreja chama a nossa atenção para a necessidade de avaliarmos nosso compromisso com a
verdade em tempos em que ela é tão questionada. Um detalhe importante é que 1Timóteo 3.14-15não está
falando sobre algo que a igreja deve se esforçar para ser, mas sim o que a igreja é. O texto está definindo a
igreja. Isto significa que um dos maiores compromissos da igreja é seu compromisso com a verdade, de modo
que, se uma comunidade não é uma coluna e fundamento da verdade, ela não é uma verdadeira igreja de
Cristo.

Conclusão
Vivemos tempos de desconsideração para com a verdade. Cada um parece defender e viver de acordo
com o que pensa ser mais correto. No entanto, a Bíblia nos ensina que temos uma história comum, uma
Revelação absoluta e princípios éticos normativos. E Deus estabeleceu sua igreja como coluna e baluarte da
verdade. Isto significa que uma caraterística fundamental da igreja de Cristo é seu apego à verdade e sua
proclamação.

Aplicação
Lembre-se de seu papel enquanto membro da igreja do Senhor. Você é uma pedra desta coluna que
deve sustentar a verdade de Deus. Para cumprir este ministério: conheça a verdade; estude a Escritura com
afinco até que você domine a verdade de Deus e seja dominado por ela; viva a verdade; seja uma
referência nesses tempos onde os valores éticos e morais estão se tornando cada vez mais vulneráveis.
Proclame a verdade com coragem e ousadia. Não tenha medo. Ainda que isto custe a você um alto preço,
lembre-se de que Deus não tem nos dado espírito de covardia, mas de moderação.
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DESAFIOS DA FAMÍLIA NA PÓS MODERNIDADE

Ivan Tadeu Panicio Junior

Questões Contemporâneas
Vivemos um período atípico da história da humanidade (II Tm 3.1). Nunca antes se registrou mudanças
tão gigantescas em tempo recorde e descobertas científicas extraordinárias (Dn 12.4). A multiplicidade de
eventos novos facilmente nos assustam, e ao mesmo tempo, nos desafiam à dominá-los (Mt 24.6). Todavia,
há um fenômeno preocupante atingindo diretamente as raízes da instituição familiar. Percebemos pelas
evidências, que a Instituição Familiar como padrão divino para a estrutura social está cada dia mais distante.
Sendo assim, posso afirmar, sua família está em risco (Mt 24.12). Diante desta realidade não esperamos
lamentos, reclamações, esterias, surtos, nem mesmo espíritos messiânicos, pois disso o mundo está cheio (Mt
24.5). O que todos esperamos e precisamos é aferir de forma clara a situação individual de nossa família e
empreender todas as ações possíveis para torná-la mais saudável (Ef 5.25). Todos, indistintamente todos,
devem somar forças e contribuir de forma direta ou indireta para o fortalecimento dos laços familiares e
perseverarmos até o fim, a favor de nossa fé e de nossa família, nosso maior tesouro (Mt 24.13).
Mediante os relatos históricos e bíblicos, podemos perceber que nos primórdios as pessoas viviam em
estruturas tribais. Segundo VAUX, pesquisador das tradições do povo de Israel esclarece-nos que “a tribo é
um grupo autônomo de famílias que se consideram descendentes de um mesmo antepassado. Ela é denominada
segundo o nome ou o sobrenome de seu antepassado, precedido ou não de filhos de” (VAUX, 2003, p. 23).
Por este motivo, encontramos texto que trazem a expressão “Israel” ou “filhos de Israel”, “Judá” ou “Filhos
de Judá” ou mesmo, casos em que a expressão é substituída por “casa de”, ou seja, “casa de Israel”. Mas, todas
as expressões reportam-se à origem familiar, a descendência, ao vínculo sanguíneo real ou suposto, onde todos
são considerados irmãos, como em Juízes 9.1-2: “E Abimeleque, filho de Jerubaal, foi-se a Siquém, aos irmãos
de sua mãe, e falou-lhes e a toda a geração da casa do pai de sua mãe...Lembrai-vos também de que sou osso
e carne vossa”. Os etnógrafos pontuam modelos familiares, sendo: Fratriarcado, Matriarcado e Patriarcado.
Percebe-se que o Patriarcado era o tipo adotado e facilmente evidenciado através dos textos bíblicos e
históricos para os israelenses. Até poucos anos atrás era o modelo que mais prevalecia, no entanto, com as
mudanças relâmpagos que a sociedade está sofrendo, temos grande dificuldade de definir um modelo
predominante na atualidade. Motivos pelos quais, muitas famílias estão vivendo graves conflitos.
Quando olhamos a família de uma ótica restrita, só conseguimos enxergar a nossa própria casa. Mas
quando olhamos a família com uma ótica holística, na dimensão que Deus vê, percebemos um projeto muito
maior e divino. A sua família, nada mais é que um ambiente dado por Deus para que você contribua para a
humanidade. É bem verdade que requer certa dedicação exclusiva ao seu lar, um esforço direcionado aos
familiares mais próximos, no entanto, estas ações terão eco e reverberaram lá fora, na humanidade. Todos nós
fazemos parte de um sistema, e cada engrenagem deste sistema ao ser movido modifica um todo e não somente
uma parte. Cada vez que Deus nos leva a uma relação saudável em nossa casa, estamos indiretamente
influenciando de forma saudável uma sociedade. Cada vez que exercemos ações saudáveis com nosso cônjuge
estamos lançando sementes que frutificarão no amanhã e muitos colherão desta semeadura.
Elinaldo Renovato , revela vários perigos da pós-modernidade, conforme veremos de forma
panorâmica:
a) Educação materializada – o sistema pós-moderno nos valoriza pelo que temos, não pelo que
somos. O que possuímos revela quem são nossos “amigos”, lugares que frequentaremos, papeis que
desempenharemos e nosso futuro. Mesmo não sendo o padrão bíblico, muitos cristãos estão
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algemados por este sistema materialista. O dinheiro não é mau, os bens também não, mas o amor a
eles é idolatria, e totalmente contrário aos mandamentos do Senhor (Renovato, 2008, p.41-42).
b) Educação ateísta – com o enfoque materialista, consumista, influencia, poder, fama e tantos outros
recursos humanos, o homens declara que não precisa de Deus. Muitas vezes pensamos numa
filosofia ateísta na qual se nega a existência de Deus, mas nem sempre é se apresenta desta maneira.
Muitos não crêem em Deus, pois seu deus é o trabalho, o dinheiro, o prazer, o sucesso, a fama, o
poder, os vícios, ou mesmo sua filosofia de vida individual. O que muitos se esquecem que a vida
não termina aqui neste plano terreno, ela simplesmente começa aqui. E no segundo plano de vida, o
eterno, nenhum destes recursos poderão nos garantir a salvação eterna(Renovato, 2008, p.43-49).
c) Educação relativizada – a alguns anos atrás as verdades eram absolutas. Valores morais e éticos
eram observados e repassados de pai para filho. Mas hoje tudo mudou. Temos dificuldade com a
verdade. Temos dificuldades com valores absolutos. Temos dificuldades com padrões morais e
éticos. A sociedade tornou-se autônoma, independente, e “cada cabeça é uma sentença”. No mundo
relativizado, cada qual interpreta a vida, as situações, os valores e até a bíblia com sua maneira de
enxergar (Renovato, 2008, p.139-156).
d) Deseducação sexual – na antiguidade tínhamos o “tabu” de não falar em sexo na escola, ou mesmo
em casa. Anos se passaram e alguns ícones começaram a puxar a filha na educação sexual, a fim de
prevenir os males que hoje vemos. O problema é que o pendulo da educação sexual passou do prumo
e chegou à deseducação sexual, aderindo princípios de libertinagem, do sexo livre, da
promiscuidade, malícia, fornicação e prostituição. Vivemos numa sociedade erotizada, sensual,
pornográfica, dominada pelos instintos carnais (Renovato, 2008, p.50-54).
e) Formação espiritual de baixa qualidade – Muitos estão perdidos dentro da igreja. Falta-lhes o
alimento sólido, o pão da Vida. Movidos por muitos eventos e movimentos, muitos estão morrendo
de fome dentro da casa do Pão, Igreja. Em muitos púlpitos se prega o pseudo-evangelho, intoxicando
os ouvintes, minimizando-lhe a fé e matando-lhes espiritualmente (Renovato, 2008, p.59).
f) Sistema de informação corrompido – desviados na rede mundial de computadores. As estatísticas
revelam que milhares de adolescentes, jovens e até adultos sofrem com os efeitos danosos da
pornografia e imoralidade virtual. O apelo direto, a facilidade ao acesso e o suposto sigilo virtual,
tem levado muitos ao óbito espiritual. A mídia trabalha com um forte apelo sensual, e pelo que
vemos a tendência é de quem é sujo, sujar-se cada vez mais (Renovato, 2008, p.58).
Nossa sociedade está vivendo múltiplas transformações como já mencionamos em tópicos anteriores.
Vejamos alguns descrições de doenças que assolam e comprometem comportamentos, conforme Renovato:
a) Doenças Físicas – as origens são múltiplas, e as consequências maiores ainda. Mas tudo deriva-se
do principio, do pecado do homem, e do comportamento recorrente da desobediência. O infarto vem
ceifado vidas, o câncer caminha em marcha acelerada, o AVC atinge incapacitando e matando
milhares, doenças sexualmente transmissíveis destroem famílias e vidas diariamente, e a evolução
bacteriana evolui de maneira assustadora (RENOVATO, 2008, p. 101-103).
b) Doenças Mentais – podemos entender as doenças mentais como uma “variação mórbida do normal,
variação esta capaz de produzir prejuízo na performance global da pessoa (social, ocupacional,
familiar e pessoal)”. Sabemos que boa parte das doenças possuem raízes na mente. Paulo falou sobre
o homem interior (Rm 7. 22, 2 Co 4.16). Estamos no ápice das doenças emocionais, e o stress é o
grande vilão, acompanhado da ansiedade. As tensões emocionais afetam completamente nossas
rotinas, mexendo no aparelho digestivo, no sistema circulatório, sistema gênitourinário, sistema
nervoso, nas glândulas, na pele e muitos outros membros do corpo humano. O excesso de
competitividade, a luta pela profissão, o insucesso sentimental, estresses agudos e crônicos, somados
do distanciamento de Deus, geram doenças incontáveis. Se você se encontra doente, você pode estar
sofrendo de uma doença psicossomática, nasceu na alma e tem afetado seu corpo (RENOVATO,
2008, p. 102-104).
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c) Doenças Espirituais – Deus nunca se distanciou do homem, desde o princípio vemos Adão tomando
a dianteira. Deus vai ao encontro do homem, enquanto o homem pela vergonha e culpa se afasta.
Cada vez que este fatídico comportamento se repete, somos responsáveis por adoecer nosso espírito
e toda a nossa tricotomia. Existem doenças produzidas por outros, mas existe doenças auto-
produzidas. Ainda que sejamos tentados, não devemos recuar, nem retroceder, o principio correto é
avançarmos à cruz do calvário e alcançarmos a remissão de nossos pecados e sermos sarados pelo
Senhor (RENOVATO, 2008, p. 106-109).
O sociólogo Zygmunt Bauman , autor de vários livros com análise profundas da sociedade, descreve
com riqueza de detalhes, a caricatura de nossa sociedade pós-moderna, ou, sociedade líquida, com vida
líquida6 , numa modernidade líquida, como ele descreve:
a) O indivíduo sitiado – o homem vive rodeado e vigiado durante o dia inteiro. E este comportamento
lhe causa um sentimento de insegurança, de invasão, de ausência de privacidade.
b) Cultura rebelde e ingovernável – a rebelião é comparada a feitiçaria, e os rebeldes não gostam de
ser governados. Nossa sociedade quer viver na anomia (Ausência de lei) e na autônoma (Auto =
pessoal / Noma = lei - lei própria)
c) Busca de abrigo e o latente medo e insegurança – por mais que consigam altos valores financeiros,
vivem a procura da proteção, da segurança e da paz interior. No fundo percebem que os bens desta
terra são insignificantes, para suprir o vazio da alma.
d) O pensamento em tempo sombrios – o que mais permeia a mente humana pós-moderna, constitui-
se de maldade, malicia, avareza, prostituição, superficialidade e tantos outros pensamentos
efêmeros.
e) Dificuldade de amar o próximo – o que nos afirma a Palavra de Deus está se cumprindo, o amor
de muitos vem se esfriando.
f) Convívio Destruído – o afeto humano vem desaparecendo, relacionamentos por interesse imperam,
a barganha e a corrupção tornam-se padrão na sociedade liquida da atualidade.
g) Humanidade em movimento – as mudanças, a transitoriedade, a extrema velocidade e a constante
transformação, levam milhares de pessoas ao caos.
h) Sociedade Líquida – na sociedade líquida, pessoas possuem medo de compromisso, fogem de
relacionamentos sérios, buscam satisfazer suas necessidade de forma imediata, e sofrem da solidão,
a falta de sentido e significado no presente e no futuro.
i) A fuga, a ausência de diálogo – a tecnologia tem evidenciado identidade inexistentes, e um tipo de
comunicação que só funciona no mundo virtual. Muitas pessoas só sabem se comunicar através dos
teclados e do mouse. Existe uma falsa sensação de aproximação, com uma ilusória satisfação
emocional.
j) A conspiração, a ausência de lealdade – a lealdade tornou-se um tesouro raro. A trama contra o
próximo virou atitude normal. A fidelidade não constitui-se papel relevante numa sociedade que só
deseja prazer imediato.
As famílias mudaram assustadoramente de forma. Mas para tal, precisamos entender os tempos, as
circunstâncias e baseados na Palavra de Deus, desenvolvermos medidas corretivas e preventivas para que a
instituição familiar permaneça edificada. Sendo: a) Valorize as pessoas independente da idade. b) Crie elos de
efetividade com as gerações passadas. c) Procure entender e entrar no mundo do outro. d) Tente manter a
unidade entre as gerações passadas e atuais.
Diante das demandas da pós-modernidade esboçadas, cabe-nos entender que tais realidades não devem
nos amedrontar, mas estimularmos a levantar as mãos caídas, fortalecer os joelhos vacilantes e firmar nossos
pés em caminhos retos (Hb 12.12,13), para vencermos as batalhas e mantermos nossas famílias.

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