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“O SISTEMA TERRA-ATMOSFERA”
Visão geral da UD
O texto tem início apresentando as esferas terrestres divididas nos grandes sistemas
interligados por onde flui energia disponibilizada pelo sol. Essas esferas são: a Atmosfera, a
Hidrosfera, a Litosfera, chamadas abióticas, que numa complexa troca e transformação de
energia dão forma a esfera biótica, que é composta pela Biosfera.
A seguir o autor discorre sobre a formação do Universo, pelo Big Bang, dando origem
ao tempo e espaço como os percebemos. Nesse quadro localiza-se a formação do Sistema
Solar e seus respectivos planetas; até deter-se, mais especificamente, no sistema Atmosfera.
O autor mostra como se formou a Atmosfera e o que a compõe, numa perspectiva
temporal, e como sua composição química foi sendo alterada pelo processo de resfriamento
progressivo, pela radiação ultravioleta do sol, pela eletricidade estática, entre outros. A
atmosfera terrestre é hoje composta por uma mistura de gases e de partículas sólidas em
suspensão, dos quais os mais abundantes são o nitrogênio e o oxigênio. É nesse contexto que
surgem os primeiros organismos vivos, só passíveis de sobrevivência nas profundezas dos
corpos d’água. Afirma ainda que hoje já se sabe que os “processos de interação entre a
atmosfera, a superfície dos oceanos, a crosta terrestre e os seres vivos, são e serão os fatores
que determinarão o futuro do planeta Terra”.
O texto aborda as principais formas de interação entre a superfície e a atmosfera
relativas à entrada de energia no sistema e sua distribuição pela camada limite planetária,
porção inferior da atmosfera na qual os efeitos da presença da superfície terrestre são
diretamente sentidos.
Em sua parte final é destacado o papel que a Amazônia, como floresta tropical, possui
em termos energéticos: funcionam como uma imensa bomba d’água e um enorme radiador.
Assim, a Amazônia é importante na manutenção dos níveis energéticos na atmosfera que
regulam o clima do Planeta.
Por último, é desejável que o aluno procure responder às questões para fixação do
conteúdo elaboradas pelo autor, a fim de verificar o seu grau de compreensão do assunto.
Objetivo
Este texto tem como objetivo abordar, de forma introdutória, as características do
fluxo de energia dentro do sistema terra-atmosfera, seu balanço, sua distribuição e seu frágil
equilíbrio, o qual garante a sustentabilidade das diversas formas de vida encontradas no
planeta Terra.
Conteúdo
• Introdução
• O tempo, o espaço e a terra
• Atmosfera terrestre
• Composição e estrutura da atmosfera
• O fluxo de energia
• O balance de energia
• Questões para fixação
Texto base
O SISTEMA TERRA-ATMOSFERA
Rodrigo da Silva1
INTRODUÇÃO
As esferas terrestres são divididas e quatro gigantescos sistemas interligados, por onde
flui toda a energia disponibilizada pelo Sol que sustenta o sistema biogeofisico terrestre. São
eles: a Atmosfera, a Hidrosfera, a Litosfera e a Biosfera que interagem entre si. Dentro da
imensidão da superfície terrestre, três desses sistemas, as esferas abióticas (Atmosfera,
Hidrosfera e Litosfera), sobrepõem-se uma as outras, em uma complexa troca e transformação
de energia para dar forma ao reino da esfera biótica, ou esfera da vida, a nossa Biosfera.
A Atmosfera é um fino manto, uma capa gasosa que envolve o globo terrestre, e
permanece presa a terra devido à ação da força gravitacional. A Hidrosfera é a esfera que
abriga água em seus três estados (solido, liquido e gasoso) e compreende a água que se
encontra na atmosfera, na superfície e na crusta terrestre próximo a superfície. Juntas, a
hidrosfera e a atmosfera possibilitam a vida no planeta. A litosfera é a crosta terrestre, porção
solida mais externa do nosso planeta e é composta por rochas e solo. Ao lado da hidrosfera e
da atmosfera, constituem a biosfera. A biosfera, por sua vez, sustenta a única forma de vida
Figura 2 – (A) nebulosa planetária, produto da explosão de uma supernova; (B) colapso da
nebulosa; (C) formação dos protoplanetas; (D) formação dos planetas rochosos e dos gigantes
gasosos; (E) sistema solar atual. (fonte: http://planetmars.sites.uol.com.br; autor
desconhecido)
No sistema solar exterior, formaram-se quatro grandes massas que deram origem aos
planetas gigantes gasosos: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno; estes planetas gasosos possuem
uma densa atmosfera gerada pela sua intensa gravidade. Nas proximidades do Sol formaram-
se os chamados planetas terrestres (rochosos): Mercúrio, Venus, Terra e Marte. Ainda, ao
longo dos milhares de anos de intensa agitação do jovem sistema solar, colisões desde
pequenos detritos a gigantescas massas rochosas foram moldando a geometria do sistema
solar, determinando seu equilíbrio orbital e as orbitas de cada planeta em torno do Sol.
Atualmente, o nosso sistema solar é composto por oito planetas que circundam o Sol
descrevendo órbitas estáveis (plutão não é mais considerado planeta) e a maioria deles possui
satélites naturais (luas). Ainda compõem o sistema solar os asteróides e os cometas que são
resíduos do sistema solar primitivo em formação.
Em especial, dentre todos do sistema solar, a posição em que o Planeta Terra se
encontra, teve e tem grande impacto para o estabelecimento e consolidação da vida neste
planeta. A Terra está a uma distancia do Sol que lhe permitiu agregar elementos fundamentais
para o desenvolvimento de uma atmosfera capaz de reter água e conservar-la nos três estados
(solido, liquido e gasoso). Conseguiu agrupar ferro em quantidades suficientes para manter
um núcleo quente e dinâmico capaz de gerar um campo magnético (magnetosfera) que
protege a Terra da radiação cósmica e ventos solares nocivos aos seres vivos.
Adicionalmente, embora consideremos o espaço interplanetário (distancia entre os planetas)
um imenso vazio, os asteróides são resquícios errantes da formação do sistema solar
potencialmente perigoso ao nosso planeta. Contudo, os milhares de asteróides que entram ou
atravessam o sistema solar todos os anos, a grande maioria deles são atraídos pela força
gravitacional dos gigantes gasosos, que funcionam como verdadeiros escudos para os planetas
rochosos localizados no sistema solar interior (próximos ao Sol).
De fato, embora existam trilhões de trilhões de trilhões de planetas na imensidão do
universo, apenas um é conhecido por ser capaz de abrigar e manter uma enorme diversidade
de formas de vida. Contudo, a presença de vida da forma que a Terra abriga hoje é muito
recente dentro da historia e da evolução do Planeta Terra e possui um frágil equilíbrio
construído pelo próprio planeta durante centenas de milhares de anos.
ATMOSFERA TERRESTRE
A formação da atmosfera se confunde com a própria formação do planeta. A cerca de
4,5 bilhões de anos, a atmosfera primordial era composta de gases remanescentes da nebulosa
de que formara o sistema solar. No estágio inicial de formação da Terra, transformações
físico-químicas deram origem a substâncias gasosas que escaparam da massa solidificada da
superfície e formaram a primeira película gasosa em torno do planetóide. Esta atmosfera
primitiva era rica em hidrogênio (H) e o hélio (He), contudo, durante o primeiro bilhão de
anos a elevada temperatura e o constante bombardeamento da superfície terrestre, forneceram
energia e condições para que houvesse a perda para o espaço de grandes quantidades de H2 e
He. A agitação térmica das moléculas suplantava a força gravitacional. Em menor quantidade
havia gases contendo hidrogênio como o metano (CH4), a amônia (NH3), o vapor d’ água
(H2O), o dióxido de carbono (CO2) e gases nobres.
Ao longo do tempo a composição química da atmosfera foi sendo alterada devido ao
progressivo resfriamento, ao efeito da radiação ultravioleta do Sol, a eletricidade estática e
raios e por transformações físico-químicas que forneceram condições à formação de novos
elementos químicos, liberação de oxigênio da superfície, condensação do vapor d’água e a
decomposição da amônia, liberando o Nitrogênio (N2) elemento que seria dominante nesta
época. Essa lenta transformação provocou chuvas e a formação dos oceanos, que dissolveram
o excesso de CO2 presente na atmosfera através de reações químicas com os componentes
desse oceano primitivo, originando gigantescos depósitos de calcário.
Ao longo do tempo em que a Terra se resfriou, dando origem a uma atmosfera
primitiva, surgiram os primeiros organismos vivos. Entretanto, sem a presença de ozônio e
oxigênio, a radiação ultravioleta proveniente do Sol não era filtrada nesta atmosfera e chegava
até a superfície da Terra. A vida que então se iniciava só era possível nas profundezas dos
corpos d’água, onde o ultravioleta não penetrava. Hoje acredita-se que foram bactérias e
outras formas de vida anaeróbicas e fixadoras do nitrogênio que deram inicio a vida nos
mares primitivos. Há registros fosseis os organismos fotossintetizadores surgiram há pelo
menos 3,5 bilhões de anos atrás. Como nos dias de hoje, estes primeiros organismos
utilizavam energia solar para produzir seu alimento a partir de água e CO2 e eliminavam
oxigênio. Mesmo com a liberação de oxigênio, a atmosfera continha muito pouco desse
elemento, pois o que era produzido seria utilizado no processo de oxidação da superfície.
Portanto, esta atmosfera primitiva era anóxica e redutora.
Hoje em dia, o minério encontrado na terra é rico em oxigênio, óxido de ferro, óxido
de manganês, oxido de urânio, uma conseqüência de milhares de anos do processo de
oxidação da superfície. Ao mesmo tempo em que os organismos produtores de oxigênio
aumentavam, os elementos redutores na superfície eram saturados e o oxigênio lentamente
começou a se acumular na atmosfera. O aumento da concentração de oxigênio na atmosfera
possibilitou a formação da camada de ozônio na estratosfera e o surgimento de organismos
aeróbicos e a proliferação da vida nos mares. Esta condição marca uma importante mudança
ambiental, onde a atmosfera deixa de ser redutora para ser uma atmosfera oxidante rica em
oxigênio e a presença da vida teve papel determinante para essa condição. A Teoria de Gaia
de J. E. Lovelock explora estes aspectos. Também, considera que é possível analisar a
presença de vida em outro planeta através do conhecimento da composição de sua atmosfera.
Hoje se sabe que os processos de interação entre a atmosfera, a superfície dos oceanos,
a crosta terrestre e os seres vivos que aqui habitam, são e serão os fatores que determinarão o
futuro do planeta Terra.
O FLUXO DE ENERGIA
A energia pode ser definida como a capacidade de realizar trabalho e transferir calor.
O calor é definido como o total de energia cinética de todos os átomos, íons ou moléculas em
movimento em uma substância. A temperatura é a medida da velocidade média do movimento
dos átomos, íons ou moléculas da matéria, em um dado instante. Uma conseqüência direta é
que uma substância pode ter muito calor (muita massa e grande movimento de átomos, íons
ou moléculas), porem possuir uma temperatura baixa (velocidade média das moléculas baixa).
Todos os corpos com temperatura acima de zero absoluto (0ºK ou -273.15 ºC) emitem
energia. Energia e calor podem ser transferidos pela radiação, que ocorre através de ondas
eletromagnéticas, pela condução, quando ocorre através de colisões entre moléculas, e pela
convecção que ocorre através de circulação de um fluído. O espectro eletromagnético (figura
4) é a distribuição da intensidade da radiação eletromagnética em função do seu comprimento
de onda ou de sua freqüência.
proporcionais:
• A Lei de Stephan-Boltzman estabelece que a quantidade de energia emitida por um
corpo depende da sua temperatura. Quanto mais quente o corpo, maior a quantidade
de energia emitida. Essa energia é diretamente proporcional à quarta potência da
-8 -2
temperatura: , onde σ é a constante de Stefan-Boltzmann (5,67 x 10 W m
K-4), e ε é a emissividade do corpo, que indica o quanto ele emite em relação á
emissão de um corpo negro (corpo ideal que emite toda energia incidente).
A figura 4 mostra a distribuição espectral de energia radiante de um corpo negro à
temperatura de 6000 ºK (como a temperatura da superfície do Sol) lado esquerdo e de um
corpo negro com temperatura de 303 ºK (como a temperatura da superfície da Terra) lado
direito.
A quantidade de energia emitida por cada corpo é muito distinto. O Sol emite energia
radiante na ordem de 107 watts por metro quadrado por micrometros (W/m2 por µm)
transportada por pequenos comprimentos de ondas, quanto que a Terra emite apenas poucas
dezenas de watts por metro quadrado por micrometros transportada por comprimentos de
onda maiores. O pico da emissão solar ocorre a um comprimento de onda de 0,48 µm
(microns 10-6 m), enquanto que o da Terra ocorre a 10 µm (figura 4). Importante observar que
os maiores níveis de energia emitidos pelo Sol são transportados pelos comprimentos de onda
que compõem o espectro da luz visível. Devido a grande diferença entre os comprimentos de
onda típicos do espectro de energia do Sol e da Terra pode-se diz-se radiação de onda curta a
radiação solar, enquanto que a terrestre é chamada de radiação de onda longa.
Figura 4 – Distribuição espectral de energia radiante do Sol (6000 ºK) e da Terra (300 ºK) em
função do comprimento de onda.
transmitida através desta (T ), refletida por sua superfície (R ) ou absorvida (A ), de forma que
λ λ λ
Figura 5 – Absorção por constituintes atmosféricos e pela atmosfera como um todo em função
do comprimento de onda da radiação incidente. (Fonte: Oke (1987) adaptado)
O BALANÇO DE ENERGIA.
A Atmosfera terrestre, da mesma forma que uma máquina de calor, transforma energia
disponível em movimentos de imensas massas de ar. Praticamente todo o combustível para
esta "máquina" é fornecido pelo sol. A atmosfera terrestre é semitransparente a radiação solar.
Estritamente falando 25% da energia é absorvida diretamente pela atmosfera e 28% é refletida
pelas nuvens ou por partículas em suspensão e pela própria superfície. O resto,
aproximadamente 47%, passa através da atmosfera e é absorvido pela superfície.
Posteriormente esta energia é transferida de volta, por movimentos convectivos, para as
primeiras centenas de metros da atmosfera.
O saldo entre a energia radiante que chega a Terra e o que é emitida ou refletida pela
mesma é chamado de balanço de energia ou balanço radiativo. Através do entendimento do
balanço de energia é possível determinar como a energia é aplicada no sistema terra-
atmosfera. O fluxo de energia na Biosfera pode ser expresso pela seguinte equação:
Rn = G + H + LE,
onde: H = é o Fluxo de Calor sensível que é aquela energia transferida da superfície para as
primeiras camadas de ar da atmosfera por condução e tem a função de aquecer ou resfriar o
ar; LE = é o Fluxo de Calor latente, que é a energia utilizada para realizar a mudança de fase
da água; G = é o Fluxo de Calor do solo, que é a energia transferida para os níveis mais
baixos da superfície.
O limite de energia solar (radiação de onda curta) imposto ao sistema Terra-Atmosfera
é conhecido como Constante Solar (I0) e seu valor é de 1.367 W/m2 no topo da atmosfera.
Esta radiação que incide no topo da atmosfera pode ser absorvida por constituintes
atmosféricos, refletida por estes de volta ao espaço, refletida novamente pela atmosfera em
direção a Terra, ou recebida diretamente na superfície. A componente que chega à superfície
após múltiplas reflexões na atmosfera é denominada radiação solar difusa (D), que faz com
que dias de céu encoberto não seja escuro. A parcela que incide em determinada superfície é
ainda reduzida em função do ângulo θ que os raios solares fazem com o zênite, de acordo com
a seguinte expressão: S = Si cos(θ). Na superfície a radiação total de onda curta recebida é
simbolizada por K↓ = S + D. O valor médio de energia que chega ao topo da atmosfera ao
longo de um ano é 342 W/m2, um quarto da constante solar. Esta energia representa 100% da
energia primaria disponível para o sistema Terrestre em um ano. O balanço de radiação de
onda curta na media ao longo de um ano é o seguinte:
Assim, do total de energia solar incidente no topo da atmosfera, 19% são refletidos
diretamente de volta ao espaço por nuvens e 6% são refletidos pelos constituintes
atmosféricos (gases e particulados). Estes por sua vez, são melhores absorvedores de onda
curta (K*atm 20%) do que as nuvens (K*nuvens 5%). Do total que chega à superfície da Terra,
3% são diretamente refletidos para o espaço e 47% absorvido. Desta forma, 28% da energia
de onda curta que chega a Terra são refletidas de volta para o espaço e 25% são absorvidas
pela atmosfera e 47% são absorvidas pela superfície terrestre (figura 6).
A emissão de energia pela superfície da terra e pela atmosfera é dada pela Lei de
Stefan-Boltzmann. Em uma boa aproximação podemos considerar que a superfície da terra
possui índice de emissividade (ε) igual a um, e que a temperatura media da superfície é de 15
ºC (288 ºK), aplicando esses valores obtemos que a energia media emitida pela superfície da
ao longo de um ano é de 390 W/m2. Esse valor é 14% maior que a energia primaria que chega
do Sol, ou seja, a superfície terrestre emite 114% (figura 6). Isso só é possível porque boa
parte da energia de onda longa emitida pela superfície é bloqueada pela atmosfera. Na
ausência da atmosfera toda energia de onda curta seria refletida para o espaço ou absorvida
pela superfície terrestre, que a reemitiria na mesma proporção em onda longa. Neste caso,
sem atmosfera, a soma de energia de onda curta refletida e a emissão em onda longa deveriam
igual o valor de energia incidente de onda curta. Como hipótese, no caso de toda energia
incidente (342 W/m2) fosse absorvido ao longo do ano pela Terra, aplicando a Lei de Stefan-
Boltzmann a temperatura média da Terra seria de apenas 5 ºC. Portanto, a presença da
atmosfera com sua composição atual elevam a temperatura da superfície do planeta em 10 ºC.
Este fenômeno que a atmosfera proporciona de elevar a temperatura da superfície da Terra é
conhecido como efeito estufa, e é causado por alguns gases atmosféricos que possuem a
propriedade de absorver e emitir radiação de onda longa. Os principais gases presentes na
atmosfera com essa propriedade, os gases do efeito estufa, são o vapor d’água e o dióxido de
carbono. O aumento das concentrações desses e de outros gases do efeito estufa presentes na
atmosfera, como o metano e o oxido nitroso, gera uma intensificação do efeito estufa, pois
torna aumenta a capacidade da atmosfera de reter e emitir mais radiação de onda longa
(calor). Contudo, o efeito estufa é uma propriedade natural da atmosfera e sem esse efeito as
condições ambientais na Terra completamente diferentes e se mesmo as forma de vida que
nele habitassem seriam igualmente distintas das existentes hoje.
Entretanto, mesmo com a presença do efeito estufa em nossa atmosfera, a lei universal
de conservação de energia deve ser satisfeita. Uma breve analise nos mostra que dos 100% de
energia recebida do espaço pelo sistema Terra-Atmosfera, apenas 28% dessa mesma energia
(onda curta) retornou para o espaço. Os outros 72% de energia restante são devolvidos ao
espaço pelo sistema Terra-Atmosfera na forma de radiação de onda longa (calor) emitidos
parte pela superfície do planeta (5%) e grande parte pela atmosfera (67%). Desta forma, a
Terra como um todo está em equilíbrio radiativo. Contudo, desde que a sociedade humana
fundamentou todo seu avanço tecnológico através da geração de energia através da queima de
combustíveis fosseis e modificou a paisagem de grandes áreas sobre a superfície terrestre, este
equilíbrio radiativo pode estar sendo quebrado.
Embora, o sistema planetário terrestre esteja em equilíbrio energético, o sistema
superfície-atmosfera não deve estar em equilíbrio, pois deve existir um saldo de energia
positivo na superfície terrestre responsável pela manutenção de sua temperatura acima
daquela que seria possível apenas com a energia de onda curta. Este saldo positivo (29% de
) é chamado de radiação liquida ou energia liquida, e representa a quantidade de energia
(aproximadamente 100 W/m2) disponível para impulsionar os processos físicos, químicos e
biológicos que ocorrem na biosfera.
Do ponto de vista pratico o balanço radiativo mais importante para ser analisado é o
da superfície terrestre, pois é na superfície que se encontra quase que a totalidade dos
ecossistemas. As componentes desse balanço são:
• K↓ radiação incidente de onda curta, é composta pela soma das componentes direta
(S) e difusa (D). Essa componente sobre variação de acordo com a época do ano e
local, em função da posição do Sol, bem como as nuvens interferem em sua
magnitude. Possui um ciclo diário bem definido seguindo a posição do Sol no céu e é
nula durante a noite. Cerca de 50% dessa radiação solar que chega a superfície da
Terra ocorre em comprimentos de onda curta úteis para a fotossíntese, a chamada
Radiação Solar Fotossinteticamente Ativa. Entretanto, mesmo as espécies vegetais
mais eficientes, podem somente incorporar de 3% a 10% dessa radiação na produção
de biomassa.
• K↑ radiação de onda curta refletida pela superfície terrestre, depende da radiação
incidente (K↓) e do albedo da superfície (α), desta forma: K↑ = α · K↓. Esta
componente tem papel importante no balanço pois responde energeticamente a uma
alteração superficial. Podemos tomar como exemplo as calotas de gelo, que possuem
albedo em torno de 0,9, ou seja, refletem até 90% da radiação solar incidente sobre
elas, com a redução da área das calotas de gelo, menor será a quantidade de radiação
solar refletida e maior será a radiação absorvida pela superfície.
• L↓ radiação de onda longa emitida pela atmosfera para a superfície, depende da
composição e temperatura atmosféricas. É a componente do balanço radiativo com
menores variações ao longo do dia. Por exemplo, a atmosfera úmida possui maior
capacidade de emissão radiativa do que atmosfera menos úmida ou seca.
• L↑ radiação de onda longa emitida pela superfície. Depende da temperatura e
emissividade superficiais, pois L↑ = ε·σ·T4. Devido essa dependência com a
temperatura superficial, apresenta valores maiores durante o dia (superfície mais
aquecida) e valores menores durante a noite devido ao resfriamento superficial (perda
radiativa).
A partição de energia entre calor sensível e calor latente varia muito entre as três
condições superficiais. O oceano contrasta com o deserto. Sobre o oceano, praticamente não
há energia sendo disponibilizada para aquecer a atmosfera, pois o fluxo de calor sensível é
praticamente nulo, por outro lado o fluxo de calor latente é grande e praticamente constante
ao longo do dia. Isso se deve ao fato da superfície do oceano oferecer uma fonte continua de
umidade para a atmosfera, desta forma a parcela de energia liquida que é transferida para a
atmosfera será usada quase que na sua totalidade no processo de evaporação do oceano. Já no
deserto, existe uma ausência de umidade na superfície, o que determina um fluxo de calor
latente nulo e toda a energia transferida para atmosfera é utilizada exclusivamente para
aquecer o ar durante o dia (valor positivo de H) e resfriá-lo durante a noite (valor negativo de
H). Esse fato faz com que o ciclo diário de temperatura sofra grandes variações, com
temperaturas elevadas durante o dia á temperaturas abaixo de zero durante a noite. Já na
floresta a distribuição de energia é mais equilibrada, sendo que muito mais energia é utilizada
no processo de evaporação (LE) que para aquecer o ar (H), com pouca energia sendo utilizada
no aquecimento do solo. Esse domínio do fluxo de calor latente é uma conseqüência direta da
capacidade que as florestas tropicais possuem de manter um fluxo continuo de umidade para a
atmosfera através da evapotranspiração. As florestas tropicais possuem dupla funcionalidade
em termos energéticos: funcionam como uma imensa bomba de água e um enorme radiador.
Estes exemplos ilustram bem a dinâmica de troca de energia entre superfície e a
atmosfera. Especificamente, as florestas tropicais, em especial a Amazônia possui um
importante papel na manutenção de níveis energéticos na atmosfera que regulam o clima do
planeta. De fato, toda e qualquer alteração provocada na superfície tem reflexo imediato na
maneira com que a energia disponível será utilizada, ou para armazenar calor no solo, ou para
aquecer o ar ou para transformação de estado da água. O fato é que devido a alterações nos
níveis de dióxido de carbono na atmosfera, o sistema Terra-Atmosfera está tendo que se
ajustar a um novo balanço energético, que poderá ter conseqüências severas para os seres
vivos que habitam esse planeta.
Explique o que é Efeito Estufa. Isso é um fenômeno natural ou não? Justifique sua resposta.
Explique porque é possível distinguir a radiação solar da radiação terrestre apenas pelo
comprimento de onda destas?
O que significa dizer que o Albedo da Floresta Nacional do Tapajós vale 0,14 e que o Albedo
do Rio Tapajós vale 0,03?
Sabemos que o valor médio de energia que chega ao topo da atmosfera ao longo de um ano é
de 342 W m-2. Admitindo que a emissividade ε da superfície da terra seja igual à unidade, use
a Lei de Stefan-Botzmann (E=εσT4, onde σ = 5,67 x 10-8 W m-2 K-4) para estimar qual seria a
temperatura media da superfície do planeta se seu albedo fosse igual a zero. Comente o
resultado.
Explique porque é correto afirmar que o aquecimento global é devido a uma alteração no
balanço de energia do sistema Terra-Atmosfera? Onde está esta alteração?
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LABOURIAU, M. L. S. História ecológica da Terra. 5ª ed. São Paulo: Edgard Blücher,
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