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PRESCRIÇÃO – parte 1

Ocorrendo um fato delituoso, nasce para o Estado o jus puniendi. Contudo, esse direito, que se denomina
pretensão punitiva, não pode eternizar-se no tempo. Por este motivo, o Estado estabelece critérios limitadores para
o exercício do direito de punir, e, levando em consideração a gravidade da conduta delituosa e, em consequência,
da sanção correspondente, fixa lapso temporal dentro do qual o Estado estará legitimado a buscar e aplicar a sanção
penal adequada.
Esgotado o prazo que a própria lei estabelece, observadas suas causas modificadoras, prescreve o direito
estatal à punição do infrator. Assim, podemos definir prescrição como “a perda do direito de punir do Estado, em
razão do seu não exercício no decurso do tempo previamente fixado em lei”. Ou seja, a prescrição é a perda da
pretensão punitiva do Estado ou a perda de sua pretensão executória. A prescrição é causa extintiva da punibilidade
(art. 107, IV, CP).
Para o ordenamento jurídico brasileiro, prescrição é instituto de direito material, regulado pelo Código Pe-
nal, e, nessas circunstâncias, conta-se o dia do início. A prescrição é de ordem pública, devendo ser decretada de
ofício, a requerimento do Ministério Público ou do interessado.

QUANDO E POR QUE ARGUIR A PRESCRIÇÃO?

A prescrição pode ocorrer tanto em fase pré-processual como durante o processo. Poderá ainda ocorrer
prescrição após o trânsito em julgado, durante a fase de execução, se o Estado não iniciar o cumprimento da pena,
ou, sendo a mesma interrompida, houver demora em sua retomada.
Assim, verificada a prescrição, deve a mesma ser reconhecida pelo magistrado responsável pela fase
processual em curso, que declarará a extinção da punibilidade.
É certo que causas extintivas da punibilidade podem e devem ser reconhecidas de ofício, independente-
mente de provocação. Contudo, o advogado, por muitas vezes, deve demonstrar que a prescrição realmente ocor-
reu, arguindo-a oralmente (em audiência, se for o caso) ou através de petição.
Se a prescrição é verificada pela defesa no momento de apresentação de uma peça nomeada (resposta
à acusação ou defesas prévias, memoriais, ou ainda em sede de razões ou contrarrazões recursais), esta causa
extintiva da punibilidade deverá ser arguida como preliminar e também no mérito da petição. Caso a prescrição se
verifique em outros momentos, poderá ser requerido seu reconhecimento através de simples petição endereçada
ao juiz competente, ou do habeas corpus. É o que ocorre, por exemplo, quando se verifica a prescrição ainda na
fase de investigação criminal.

Vejamos o que dispõe o inciso IV do art. 107 do Código Penal:

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:


[...]
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

Ao observar o art. 107, IV, CP, verificamos a possibilidade de prescrição, decadência e perempção como
causas extintivas da punibilidade. A perempção será tratada por nós quando do estudo sobre a ação penal privada.
Precisamos, agora, estabelecer as semelhanças e diferenças entre a prescrição e a decadência.

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Embora ambos os institutos constituam causas extintivas de punibilidade, a decadência é uma causa de
extinção da punibilidade por via indireta. Vejamos:
Sabemos que nas infrações de ação penal privada, o ofendido/vítima só oferece a queixa se quiser, já que
vigora a oportunidade ou conveniência. Contudo, estabelece a lei um limite para o exercício do direito de ação neste
caso, sendo ele de 06 (seis) meses contados da data em que a vítima soube quem era o autor do fato. Da mesma
forma, nas infrações de ação penal pública condicionada à representação, o direito de representação da vítima deve
ser exercido dentro do mesmo critério de 06 (seis) meses a contar da data em que a vítima souber quem foi o
infrator. Em ambos os casos, deve-se observar o que dispõem os artigos 38 do CPP e 103 do CP.

Art. 103 do CP. Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de
queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado
do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste
Código, do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia.

Art. 38 do CPP. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal,


decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de
seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do
art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, den-
tro do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.

Repare, portanto, que se a vítima não exercer o direito de queixa (nas infrações de ação penal privada)
ou de representação (nas infrações de ação penal pública condicionada), perderá ela a oportunidade do seu exer-
cício. Daí falarmos que ela decaiu do direito de queixa ou do direito de representação.
Como nestes crimes o Estado não poderá deflagrar o processo sem que a vítima se manifeste, não haverá
como alcançar a satisfação da punição, já que não há pena sem processo, e, perante um Judiciário inerte, não há
processo sem ação. Por tal motivo, a decadência é a perda do direito de queixa ou do direito de representação, que,
por consequência, gera a extinção da punibilidade do agente, motivo pelo qual mencionamos acima ser ela uma
causa indireta.
Situação distinta ocorre com a prescrição, que excluir, diretamente, o direito de punir do Estado.
Para que a resposta penal seja efetiva, deve ser "tempestiva", ou melhor, contemporânea, devendo ocorrer
dentro de limites razoáveis de tempo. Não é eficaz, como mencionamos em nossas aulas, uma resposta penal que
somente venha a ser aplicada após gerações: tempo apaga a memória do crime.
Assim, permanecendo o Estado inerte além do razoável, a prescrição ocorrerá. É, portanto, uma forma de
sanção imposta pela lei à inércia estatal.
Salvo as hipóteses definidas pela Constituição Federal como imprescritíveis, todos os crimes são sujeitam-
se à prescrição.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

Surge então uma pergunta: o que seria esta atividade do Estado em tempo razoável? E o que seria "razo-
ável"?
Para a primeira pergunta temos que o Estado deve instaurar o processo dentro de determinado limite de
tempo após a consumação da infração. Da mesma forma, o processo não pode demorar além do tempo permitido.
Ou ainda, o Estado deve ter capacidade de promover o cumprimento da pena imposta em tempo oportuno. Vão
surgindo, assim, as espécies de prescrição, que explicaremos a seguir.
Quanto ao que ou quanto seria o tempo razoável, este dependerá da gravidade da conduta praticada e,
por isso, leva em consideração, num primeiro momento, a sanção máxima abstratamente cominada, e, em um
momento posterior, a própria sanção efetivamente aplicada. De toda sorte, será o art. 109 do CP a definir os prazos
prescricionais.

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Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto
no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liber-
dade cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a
doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a
oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não
excede a dois;
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. (Redação dada
pela Lei nº 12.234, de 2010).
Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos pre-
vistos para as privativas de liberdade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)

Vale lembrar, portanto:

No Direito Penal e no Direito Processual Penal, dois são os artigos importantes para a contagem dos
prazos, o art. 10 do CP e o art. 798 do CPP:

Código Penal
Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e
os anos pelo calendário comum.

Código de Processo Penal


Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não
se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado.

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§ 1o Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do venci-
mento.
§ 2o A terminação dos prazos será certificada nos autos pelo escrivão; será, porém, con-
siderado findo o prazo, ainda que omitida aquela formalidade, se feita a prova do dia em
que começou a correr.
§ 3o O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o
dia útil imediato.
§ 4o Não correrão os prazos, se houver impedimento do juiz, força maior, ou obstáculo
judicial oposto pela parte contrária.
§ 5o Salvo os casos expressos, os prazos correrão:
a) da intimação;
b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver presente a
parte;
c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença ou despa-
cho.

Assim institutos de natureza penal ou mista, terão seus prazos contados na forma do art. 10 do Código
Penal.
Já os institutos de direito exclusivamente processual devem ter a contagem do prazo em conformidade
com o art. 798 do CPP.

Prazo de acordo com o Direito Penal Prazo de acordo com o Processo Penal
(art. 10 do CP) (art. 798 do CPP)
prescrição
decadência
todas as peças processuais, salvo a queixa-
outras causas extintivas da punibilidade
crime e a representação
prisão
pena

Contando o PRAZO PROCESSUAL PENAL

No prazo processual penal (art. 798, CPP) é dispensado o dia do início e incluído o dia do final.
Somente se o 1o. ou o último dia do prazo cair em dia não útil, em que não haja expediente forense, é que
o 1o. ou o último dia será prorrogado para o primeiro dia útil subsequente.
Importante frisar que NÃO se aplicam ao processo penal as novas formas de contagem de prazos do
CPC/2015.

Exemplo de contagem do prazo processual:

Hipótese 1:
Pedro foi citado em 13/11/2017, segunda-feira. A citação se dá para que o réu apresente a resposta à
acusação no prazo de 10 (dez) dias.
Assim, dispensado o dia da efetiva citação, o primeiro dia do prazo para a apresentação da resposta
será terça-feira, dia 14/11/2017, expirando o prazo na quinta-feira, 23/11/2017. Como tanto o dia do início (14/11)
como o dia do final (23/11) são úteis, não haverá qualquer prorrogação.

Hipótese 2:
Rodrigo e seu advogado foram intimados da sentença condenatória em 17/11/2017, sexta-feira. Por-
tanto, cientes da sentença, começa a fluir o prazo para a interposição do recurso de apelação, cujo prazo é de 5
(cinco) dias.
Contudo, verificamos que, dispensado o dia da efetiva intimação, o primeiro dia seria sábado, 18/11.
Mas, como não há expediente forense no sábado, o primeiro dia será segunda-feira, 20/11, vencendo o prazo na
sexta-feira, 24/11/2017.

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Contando o PRAZO PENAL

Já no prazo penal (art. 10, CP) é incluído o dia do começo, contando-se o prazo de acordo com o calen-
dário comum.
Como os dias, meses ou anos são contados de forma corrida, considerando que o primeiro dia foi incluído,
quando estivermos diante de prazos penais contados em meses ou anos, devemos excluir, ao final do prazo, um
dia.
Por isso costumamos dizer que, no prazo penal, incluímos o dia do início e excluímos o dia do final.

Exemplo de contagem do prazo penal:

João praticou um crime de furto simples (art. 155, CP) no dia 17/04/2010.

Para analisar quando se dá a prescrição no referido caso, devemos observar a pena máxima do crime
de furto, que é de 4 anos, verificando, em seguida, que o art. 109, inciso IV, do CP, prevê, para tal pena, prescrição
em 8 anos.
Assim, para a análise da prescrição, devemos considerar como primeiro dia do prazo o próprio dia em
que se consumou o delito (17/04/2010), e, a partir desta data, iniciar a contagem dos 8 anos, excluindo um dia
ao final:
17/04/2011 = 1 ano
17/04/2012 = 2 anos
17/04/2013 = 3 anos
17/04/2014 = 4 anos
17/04/2015 = 5 anos
17/04/2016 = 6 anos
17/04/2017 = 7 anos
17/04/2018 = 8 anos,

do qual deveremos abater 1 dia: assim, a prescrição dar-se-á em 16/04/2018.

Neste caso, se o recebimento da denúncia não ocorrer dentro de 8 anos, ocorrerá a prescrição da
pretensão punitiva, mas, em sendo oferecida e RECEBIDA a denúncia até o dia 16/04/2018, a contagem do prazo
prescricional será interrompida, zerando-se o prazo para o reinício da contagem, de forma a que um novo lapso
temporal seja observado até a data da publicação da eventual sentença condenatória.

Em ambos os casos (prazos processuais e penais) o que se busca é uma ampliação de garantias. O prazo
processual é contado com mais flexibilidade para garantir mais tempo aos atos processuais. Já o prazo penal inclui
o dia do começo porque ser este o modelo mais favorável ao réu.

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Com a prática de uma infração penal, sabemos que o direito abstrato de punir do Estado se concretiza,
dando origem a um conflito entre o direito estatal de punir e o direito de liberdade do indivíduo. Surgindo então para
o Estado o direito concreto de punir e a necessidade de que, para buscar tal punição, seja exercida a ação penal,
instaurando-se o processo, inicia-se a contagem do prazo de prescrição da pretensão punitiva, em suas múltiplas
etapas ou formas.
Assim, antes de transitar em julgado a sentença penal, o Estado deve "correr contra o tempo" para alcançar
sua pretensão, voltada ao julgamento da procedência do pedido e consequente condenação do réu.
Contudo, não basta que o réu seja condenado, com o trânsito em julgado da sentença condenatória, é
preciso que o Estado veja concretizada a pena imposta. Assim, com a definitividade da condenação, o Estado deve
"correr contra o tempo" para buscar o cumprimento da pena, motivo pelo qual inicia-se a contagem da prescrição
da pretensão executória.
Identificamos, portanto e claramente, duas espécies de prescrição, a prescrição da pretensão punitiva e a
prescrição da pretensão executória.

A prescrição da pretensão punitiva é analisada desde a data da consumação do crime (regra geral) até o
trânsito em julgado da sentença condenatória. Porém, sua análise é feita em períodos distintos, os quais correspon-
dem a etapas processuais distintas.
Assim, são espécies de prescrição da pretensão punitiva:

analisada pela pena em abstrato, considerando o período


prescrição da pretensão
compreendido entre a data do fato e o recebimento da denúncia ou
punitiva (PPP 1)
prescrição da pretensão punitiva

queixa

analisada pela pena em abstrato, considerando o período


prescrição da pretensão
compreendido entre o recebimento da denúncia ou queixa e a
punitiva (PPP 2)
primeira condenação

observada pela pena máxima em abstrato, se houver recurso do MP,


prescrição superveniente e pela pena em concreto, se existir apenas recurso da defesa. É a
ou intercorrente (PS) prescrição analisada após a sentença condenatória, porém antes do
trânsito em julgado da decisão

ocorrendo o trânsito em julgado para a acusação, porém pendente


prescrição retroativa (PR) recurso da defesa, os prazos prescrionais deverão ser reanalisados
levando em consideração a pena concretamente analisada

Portanto, quando verificamos a Prescrição da pretensão punitiva, a qual se dá quando há demora na


formação do título condenatório penal, eliminam-se todos os efeitos do crime. Em consequência, nada será lançado
na folha penal do indivíduo, que permanece primário e de bons antecedentes.

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A prescrição da pretensão punitiva (PPP) somente poderá ocorrer antes do trânsito em julgado da sen-
tença penal condenatória.
O lapso prescricional começa a correr a partir da data da consumação do crime ou do dia em que cessou
a atividade criminosa (art. 111, CP), apresentando, contudo, causas que o suspendem (art. 116, CP) ou o interrom-
pem (art. 117).

Termo inicial da prescrição antes de transitar em julgado a sentença final


Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr
I - do dia em que o crime se consumou;
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil,
da data em que o fato se tornou conhecido.
V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste
Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos,
salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. (Redação dada pela Lei
nº 12.650, de 2012)

Causas interruptivas da prescrição


Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II - pela pronúncia;
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; (Redação dada
pela Lei nº 11.596, de 2007).
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; (Redação dada pela Lei nº
9.268, de 1º.4.1996)
VI - pela reincidência. (Redação dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996)
§ 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição
produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que se-
jam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer
deles.
§ 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo
começa a correr, novamente, do dia da interrupção.

Em razão das causas de interrupção, teremos:

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Como visto acima, a prescrição da pretensão punitiva subdivide-se em:

 Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita (PPP 1):

Deve ser analisada entre a data da consumação do crime e o recebimento da denúncia ou queixa
Como ainda não existe uma pena concretizada em sentença, o parâmetro adotado para delimitar o lapso
prescricional é a pena máxima em abstrato cominada ao delito praticado.
Devemos, desta forma, verificar em qual inciso do art. 109 do CP a pena abstratamente prevista encontra-
se alocada. Assim, por exemplo, a pretensão punitiva estatal prescreve em vinte anos, se o máximo da pena é
superior a doze (art. 109, I), ou em três anos, se o máximo da pena é inferior a um (art. 109, IV).

Como definir o prazo prescricional (PPP 1):


1. Observar o máximo da pena privativa de liberdade cominada à infração penal;
2. Verificar no art. 109 do CP o prazo prescricional correspondente àquele limite de pena cominada;
3. Verificar se há alguma das causas modificadoras desse prazo:
3.1. Majorantes ou minorantes obrigatórias (em se tratando de majorantes, deve-se considerar o
fator que mais aumente, e, em se tratando de minorantes, o fator que menos diminua a pena);

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3.2. Menoridade ou velhice (se o agente era, ao tempo do crime, menor de vinte e um anos, ou, na
data da sentença, maior de setenta anos, o prazo prescricional reduzir-se-á pela metade, conforme
art. 115, CP);
3.3. Observar se o prazo decorrido entre a data do fato (art. 111 do CP) e o recebimento da denúncia
ou queixa (art. 117, I, do CP) é superior ao prazo de prescrição anteriormente definido.

 Prescrição da pretensão punitiva propriamente dita – segunda análise (PPP 2):

Deve ser analisada entre a data do recebimento da denúncia ou queixa e a publicação da sentença ou
acórdão condenatório (o que importa é a primeira condenação (art. 117, IV, do CP).
No procedimento do Tribunal do Júri, verifica-se entre o recebimento da denúncia ou queixa e a pronúncia
(art. 117, II), entre a pronúncia e a decisão que a confirma (art. 117, III), e entre a pronúncia ou sua confirmação e
a publicação da sentença condenatória (art. 117, IV, do CP).
Da mesma forma que na análise anterior (PPP 1), como ainda não existe uma pena concretizada em
sentença, o parâmetro adotado para delimitar o lapso prescricional neste caso será a pena máxima em abstrato
cominada ao delito praticado.

Como definir o prazo prescricional (PPP 2):


1. Observar o máximo da pena privativa de liberdade cominada à infração penal;
2. Verificar no art. 109 do CP o prazo prescricional correspondente àquele limite de pena cominada;
3. Verificar se há alguma das causas modificadoras desse prazo:
3.1. Majorantes ou minorantes obrigatórias (em se tratando de majorantes, deve-se considerar o
fator que mais aumente, e, em se tratando de minorantes, o fator que menos diminua a pena);
3.2. Menoridade ou velhice (se o agente era, ao tempo do crime, menor de vinte e um anos, ou, na
data da sentença, maior de setenta anos, o prazo prescricional reduzir-se-á pela metade, conforme
art. 115, CP);
3.3. Excetuando-se os casos de competência do Júri, devemos observar se o prazo decorrido entre
a data do recebimento da denúncia ou queixa (art. 117, I, do CP) e a publicação da primeira conde-
nação (art. 117, IV) é superior ao prazo de prescrição anteriormente definido.
3.4. No procedimento dos crimes dolosos contra a vida, a análise deve ser feita entre a denúncia e
a pronúncia, entre a pronúncia e sua confirmação e entre estas últimas e a sentença condenatória.

 Prescrição retroativa (PR):

Esta subespécie de prescrição da pretensão punitiva, prevista no art. 110 § 1 o. do CP, leva em considera-
ção a pena aplicada, in concreto, na sentença condenatória, contrariamente à prescrição in abstrato, que tem como
referência o máximo de pena cominada ao delito.
Ausente recurso da acusação ou improvido este, está proibida a reformatio in pejus (art. 617 do CPP),
motivo pelo qual já podemos, em face da garantia da individualização da pena, considerar a pena aplicada na sen-
tença para o cálculo da prescrição.
Destaque-se que esta pena, agora aplicada em sentença, era, desde a prática do fato, a necessária e
suficiente para aquele caso concreto. Por isso, passará ela a servir como parâmetro para a prescrição. Daí ser
necessária a reanálise do caso, em regra, desde o recebimento da denúncia, de forma a que se verifique se os
lapsos temporais decorridos entre as causas de interrupção excedem o prazo de prescrição previsto para a pena
concretizada.
Contudo, se o crime houver sido praticado em data anterior a 06/05/2010, data em que entrou em vigor a
Lei 12.234/2010, que alterou a redação do art. 110, § 1o. do CP, a análise da prescrição retroativa deverá ter início
na própria data do fato, em face da irretroatividade da lei penal prejudicial (art. 5º, XL, da CRFB e art. 2º, parágrafo
único, do CP).
A análise da prescrição retroativa somente deverá ser feita após verificada a inocorrência da prescrição
da pretensão punitiva propriamente dita.

Como verificar a prescrição retroativa:


1. Verificar se já há sentença e se houve o trânsito em julgado para a acusação (nem MP nem vítima
recorreram);

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2. Tomar a pena concretizada na sentença condenatória (considerar a pena total aplicada, salvo no
caso de crime continuado ou concurso formal próprio, hipóteses em que a majorante não será compu-
tada para o cálculo da prescrição) e verificar no art. 109 do CP qual o prazo prescricional correspon-
dente;
3. Conferir a idade do agente (se era menor de 21 na data do fato ou maior de 70 na data da sentença
– art. 115 do CP). Em caso positivo, reduzir o prazo de prescrição pela metade. Em caso negativo,
continuar utilizando o prazo identificado no art. 109 do CP;
4. Identificar se o crime ocorreu antes de 06/05/2010 ou não:
4.1. Se ocorreu até o dia 05/05/2010, analisar a prescrição retroativa desde a data do fato, em cada
um dos intervalos entre as causas de interrupção.
4.2. Se ocorreu do dia 06/05/2010 em diante, analisar a prescrição retroativa desde a data do rece-
bimento da denúncia, em cada um dos intervalos entre as causas de interrupção.

 Prescrição da pretensão superveniente/intercorrente (PS):

Analisada APÓS a sentença condenatória, é observada pela pena máxima em abstrato, se houver recurso
do MP, e pela pena em concreto, se existir apenas recurso da defesa. As prescrições retroativa e superveniente
assemelham-se, com a diferença de que a retroativa volta-se para o passado, isto é, para períodos anteriores à
sentença, e a superveniente dirige-se para o futuro, ou seja, para períodos posteriores à sentença condenatória
recorrível. Assim, o prazo da prescrição superveniente/intercorrente começa a correr a partir da sentença condena-
tória, e deve ser considerada até o trânsito em julgado para acusação e defesa. Trata-se de preocupação com a
eventual demora no julgamento dos recursos.
A análise da prescrição superveniente somente deverá ser feita após verificada a inocorrência da prescri-
ção da pretensão punitiva propriamente dita e da prescrição retroativa.

Como encontrar o prazo prescricional na prescrição superveniente ou intercorrente:


1. Se houver recurso da acusação, como a pena ainda poderá ser aumentada, deve-se continuar con-
siderando a pena abstratamente cominada ao delito, excluindo-se eventual majorante decorrente de
crime continuado ou concurso formal;
2. Se somente houver recurso da defesa, utilizar a pena concretizada na sentença condenatória (dever-
se-á computar toda a pena aplicada, com exceção da majoração decorrente do concurso formal próprio
e do crime continuado);
3. Verificar no art. 109 do CP qual o prazo prescricional correspondente;
4. Conferir se é aplicável ao caso a redução pela idade do agente (art. 115 do CP);
5. Se o réu foi condenado na primeira instância, verificar se o prazo decorrido entre a sentença conde-
natória e o trânsito em julgado excede o prazo de prescrição aplicável ao caso;
6. Se o réu somente foi condenado em grau recursal, verificar se o prazo decorrido entre o acórdão
condenatório e o trânsito em julgado excede o prazo de prescrição aplicável ao caso.

ATENÇÃO:

- Sentença condenatória INTERROMPE O PRAZO PRESCRICIONAL


- Sentença absolutória NÃO INTERROMPE O PRAZO PRESCRICIONAL

Portanto, o que interrompe o prazo prescricional é a primeira condenação!!!! Caso o réu seja condenado na primeira
instância e, depois, sua condenação seja confirmada pelo tribunal no julgamento do recurso, o prazo já foi interrom-
pido anteriormente, não havendo, aqui, uma nova interrupção.

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DICAS:

1. A prescrição RETROATIVA é assim chamada porque é a análise feita para o passado, para trás.
Devemos analisar retroativamente.

2. A prescrição SUPERVENIENTE é superveniente à sentença, após a sentença condenatória. Superveniente =


depois!

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