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Análise da Obra
Introdução ..........................................................................................................................2
Contextualização .............................................................................................................11
Conclusão ........................................................................................................................12
Bibliografia ......................................................................................................................13
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Introdução
Neste trabalho proponho-me a explorar e analisar a pintura de Domingos
Sequeira, Coroação da Virgem datada do séc. XIX, aproximadamente de 1825/30 d.C.,
patente no Museu Nacional de Arte Antiga.
Logo para iniciar encontra-se a ficha técnica da obra, para se ter acesso às
informações base da mesma. De seguida passo para a análise da obra em si. Aqui
exploro os aspetos formais, materiais, técnicos e compositivos desta pintura.
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Ficha Técnica da Obra
Técnica: Óleo
Suporte: Tela
Dimensões: 73 x 94 cm
Análise da Obra
Este quadro trata-se de uma obra de caracter religioso e de certo modo também
simbólico de celebração e adoração à Virgem Maria, que entrava agora de “corpo e
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MatrizNet, Ficha de Inventário – Coroação da Virgem. 2010 [Consult. 2016-05-07] Disponível em
<URL: http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=249059>
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Idem, MatrizNet
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alma no Céu”3 homenageada pelos “anjos e a corte”4 celeste. Nesta pintura, Domingos
Sequeira pega numa temática tradicionalmente religiosa, a da coroação da Virgem pela
Santíssima Trindade e transforma-a quase numa paisagem metafisica do romantismo de
carácter “irreal e sublime”5.
Ainda que nesta fase da sua vida Domingos Sequeira tenha abandonado o
desenho rigoroso da pintura figurativa, tornando-a “cada vez mais abstrata, ás vezes à
base já só de simples manchas” 6, ainda pode dizer-se que se trata de uma pintura
figurativa uma vez que nos oferece uma narrativa e conseguimos destacar algumas
figuras. Como é o caso da presença da Virgem Maria ao centro, que se prepara para
receber a coroação.
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Arautos do Evangelho, A Coroação de Nossa Senhora como Rainha do Céu e da Terra. 2009 [Consult.
2016-05-07] Disponível em <URL: http://www.arautos.org/artigo/8682/A-Coroacao-de-Nossa-Senhora-
como-Rainha-do-Ceu-e-da-Terra.html>
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Idem, Arautos do Evangelho
5
Museu Nacional de Arte Antiga, Coroação da Virgem. 2016 [Consult. 2016-05-07] Disponível em
<URL: http://www.museudearteantiga.pt/colecoes/pintura-portuguesa/coroacao-da-virgem>
6
La Hornacina, Domingos Sequeira. 2016 [Consult. 2016-05-07] Disponível em <URL:
http://www.lahornacina.com/semblanzassequeira.htm>
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Também no eixo central da pintura num nível mais inferior está uma zona azul
clara que parece quase um “portal” para a terra, que pode funcionar aqui como o
caminho/passagem pela qual a Virgem ascendeu ao céu.
No que concerne às cores, Domingos Sequeira optou por uma paleta cromática
de tons quentes, o que não é uma prática comum quando se trata da representação do
Céu, essencialmente em tons terra (vermelhos, castanhos, ocres, amarelos, laranjas…),
pontualmente vai dando à pintura uns tons verdes e azuis e mais no eixo central, nas
figuras divinas enche esta obra de luz com tons brancos e azuis claros, em especial na
Santíssima Trindade, também na Virgem e ainda nos anjos de maior destaque que a
ladeiam e no “portal”. Podemos ainda observar a grande aurela composta de várias
cores fortes e contrastantes, onde estão presentes o azul e o vermelho em grande
destaque com várias nuances e diferentes níveis de saturação, esta zona quase que faz
uma quebra na harmonia da obra pelo grande contraste que faz com toda a pintura
circundante pelo uso de cores tão fortes e pelo facto dessa zona ser tão bem delimitada e
marcante.
As cores estão colocadas de forma de forma harmoniosa ainda que com grandes
contrastes de claro/escuro especialmente nas zonas periféricas da pintura evidenciando
ainda mais a perspetiva assente na mesma. Domingos Sequeira foi imaculado no que
concerne à plasticidade da cor especialmente no destaque que dá aos valores lumínicos,
conseguindo criar zonas onde parece emanar realmente luz, devido ao verniz
amarelecido e a zona celestial profundamente iluminada não ser tão extensa, este facto
não é tão percetível como noutras obras.
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As figuras não são delineadas, são criadas através de manchas, encontramos
algumas mais definidas enquanto que outras são apenas manchas indefinidas que
sugerem membros da corte celestial. É curioso que as figuras da Virgem e da Santíssima
Trindade, que são as figuras de maior importância na pintura, não sejam de facto as
mais definidas e trabalhadas, o destaque é-lhes dado pelo lugar que ocupam, “acima do
trono de Maria só o trono de Jesus”7 aclamados pela corte celestial que Os circunda, e
pelos valores lumínicos. Delineados e delimitados estão sim, os círculos coloridos.
Pela forma ritmada como as figuras estão dispostas, como algumas personagens
têm gesticulam de braços no ar, como o fundo enublado se alvoraça e com o ritmo dos
círculos de cores contrastantes esta pintura ganha grande sugestão de ritmo, movimento
e vida. Apesar de haver figuras que se mantêm serenas sem grandes gesticulações, todos
os restantes elementos ganham vida e sobrepõem-se a estas figuras e elementos mais
estáticos.
No que concerne aos objetos pintados não há qualquer dúvida de que Domingos
Sequeira se rege pela figura humana e junta a esta composição a figura do circulo, ainda
que este nunca aparece completo.
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Idem, Arautos do Evangelho
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Relativamente aos agentes plásticos o artista recorre essencialmente à cor e aos
valores lumínicos através da mancha, conseguindo criar uma atmosfera celestial e uma
encenação irreal e mística de uma temática religiosa onde figuram enumeras figuras de
dimensões reduzidas.
A nível da geometria assente nesta obra fiz alguns estudos e cheguei a duas
leituras possíveis segundo a subdivisão harmónica e quero deixar claro que a parte
superior não irá corresponder a nenhuma leitura uma vez que esta se organiza segundo
linhas circulares que se expandem dos círculos de centrais de cores fortes assumidos na
pintura., no entanto antes de apresentar estes vou mostrar duas leituras que não se
enquadram nesta pintura. Começámos por ver uma prática que teria caído em desuso
para dar lugar à secção de ouro que é a Vesica Piscis (fig.2), e apesar da Santíssima
Trindade estar evidenciada no meio da vesica, a restante composição não fica
enquadrada, por isso esta não oferece uma leitura relevante da obra, visto que apenas as
figuras centrais ficam enquadradas, não fazendo uma leitura coerente do resto da obra,
sem qualquer tipo de proporção ou relação com o resto da composição. Posto isto,
avancei com uma nova análise geométrica, desta vez através Razão/Secção de Ouro do
retângulo da pintura, contudo confirmasse que este não tem as dimensões de ouro
(fig.3).
Fig.2 Coroação da Virgem, Domingos Sequeira, 1825/1830, Óleo sobre Tela. Proposta de leitura
geométrica através da Vesica Piscis
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Fig.3 Coroação da Virgem, Domingos Sequeira, 1825/1830, Óleo sobre Tela. Proposta de leitura geométrica através
da Razão/Secção de Ouro
Para terminar fiz uma leitura através da subdivisão harmónica e esta parece a ser
aquela que melhor se adequou a esta obra, como já tinha referido. A subdivisão
harmónica é apenas uma, mas para não confundir apresento duas leituras da mesma
subdivisão harmónica com distinção dos traçados a verde e roxo (fig. 4 e 5). Na
primeira subdivisão harmónica pode-se constatar que as figuras centrais se inscrevem
no losango bem como os núcleos de figuras que figuram nos triângulos imediatamente
em baixo do mesmo. Na imagem seguinte pode-se observar a restante subdivisão
harmónica onde comecei por dividir o retângulo da pintura nas suas duas metades
horizontais e verticais (traçado vermelho) que originaram pequenos retângulos que por
sua vez foram subdivididos através do processo anterior (traçado amarelo). Posto isto,
fiz as diagonais de todos os retângulos (traçado roxo), através deste traçado a roxo
podemos observar linhas de força que delimitam núcleos de personagens que se
apresentam praticamente simétricos ao lado oposto que lhe corresponde, que estão
identificados segundo a mesma cor (fig. 6). Após todo este traçado conseguimos ver que
muitos pontos onde todo este traçado se cruza são pontos fulcrais para os quais
possivelmente Domingos Sequeira queria destacar e chamar a nossa atenção.
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De forma a finalizar a análise formal desta obra, podemos afirmar que a obra se
agrupa em 10 grupos distintos (fig. 6), ainda que alguns sejam semelhantes/simétricos
como anteriormente referi. O grupo laranja no topo é referente ao céu e às figuras que o
ocupam, o grupo central vermelho é o das figuras da Santíssima Trindade, que é ladeado
por dois núcleos a azul onde é representada parte da plateia. Por de baixo está o anjo
destacado do restante grupo e o “portal”, no vértice em comum com os núcleos azuis e
vermelho está a Virgem, o que enfatiza o seu papel principal nesta pintura. Depois
existem ainda os núcleos rosas com uma plateia onde a pintura se torna mais diluída em
si mesma e ainda os núcleos verdes onde algumas figuras se posicionam no nosso lugar
de espectadores.
Fig.4 Coroação da Virgem, Domingos Sequeira, 1825/1830, Óleo sobre Tela. Proposta de leitura geométrica
através da Subdivisão Harmónica
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Fig.5 Coroação da Virgem, Domingos Sequeira, 1825/1830, Óleo sobre Tela. Proposta de leitura
geométrica através da Subdivisão Harmónica
Fig.6 Coroação da Virgem, Domingos Sequeira, 1825/1830, Óleo sobre Tela. Proposta de núcleos
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Contextualização
Domingos Sequeira acaba por passar por três fases distintas a nível da sua arte, a
primeira é a de afirmação em Roma e perante a corte Joanina e o reino, onde faz pintura
de temática religiosa e retrato. Abraça também os ideais da Revolução Francesa e
dedica-se à pintura relacionada com a politica. No fim da sua carreira a pintura
transforma-se essencialmente em cor e luz, e representa fundamentalmente cenas
místicas. A linguagem pictórica utilizada por Domingos Sequeira altera-se ao longo do
seu percurso, distanciando-se com o passar dos tempos dos cânones e seguindo uma
linguagem de cunho mais pessoal, quase impressionista.
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Conclusão
Para concluir este trabalho, quero referir que através dele conseguimos perceber
que pertence à fase final da pintura de Domingos Sequeira, onde este se debruça sob a
pintura mística, ainda que tenha uma temática de base religiosa, o tratamento é dado de
forma mística. Esta composição chega até a assemelhar-se quase a uma imagem do
monte do olimpo devido ao seu caracter idílico, irreal e fantástico.
Esta análise feita sobre a pintura “Coroação da Virgem” fez uma leitura
pormenorizada da obra ressalvando as qualidades pictóricas e chamando a atenção para
pormenores que não são notados quando se olha superficialmente para a obra. A mesma
faz valer as qualidades pictóricas deste autor, através do jogo lumínicos e de cores, onde
este consegue apresentar um branco realmente iluminado
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Bibliografia
MatrizNet, Ficha de Inventário – Coroação da Virgem. 2010 [Consult. 2016-05-07] Disponível
em <URL:
http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=2490
59>
Arautos do Evangelho, A Coroação de Nossa Senhora como Rainha do Céu e da Terra. 2009
[Consult. 2016-05-07] Disponível em <URL: http://www.arautos.org/artigo/8682/A-
Coroacao-de-Nossa-Senhora-como-Rainha-do-Ceu-e-da-Terra.html>
Museu Nacional de Arte Antiga, Coroação da Virgem. 2016 [Consult. 2016-05-07] Disponível
em <URL: http://www.museudearteantiga.pt/colecoes/pintura-portuguesa/coroacao-da-
virgem>
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