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INTERSETORIALIDADE NA POLÍTICA DE GÊNERO: POSSIBILIDADE

REAL

Rosalia de Oliveira Lemos1


Nivia Valença Barros2

Resumo: Este trabalho versa sobre intersetorialidade desenvolvida pela CODIM – Coordenação dos
Direitos das Mulheres de Niterói e demais Secretarias Municipais, da Prefeitura de Niterói/RJ, no
período de 2003 a 2008, que promove o atendimento às demandas sociais de mulheres dos
diferentes grupos sociais, na atenção e atendimento de casos de violência doméstica, do acesso à
saúde – destacando a criação da primeira Maternidade Municipal –, da educação – com a instituição
do Grupo de Trabalho Educação e Relação Étnicorraciais e de Gênero -, da regularização da
habitação, da economia solidária – com apoio às artesãs e realização de Mostras que
potencializavam os arranjos econômicos locais -, das relações étnicorraciais. A atuação buscava o
bem-estar social, visando a autonomia, o acolhimento das reivindicações e a solidez da autoestima
das mulheres. Para além de analisar o compromisso político na implementação das políticas de
gênero, o trabalho apresentará uma análise das relações intragovernamentais e da atuação
transversal com os movimentos sociais locais, em busca de cumprir a missão institucional e efetivar
o controle social, através da participação ativa das mulheres da cidade, traduzida na reformulação
do Conselho Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres da Cidade de Niterói.
Palavras-chave: Avaliação de Política Social. Desenvolvimento Institucional. Direitos Humanos.
Relações Raciais e de Gênero.

Neste artigo busca-se fazer um relato de experiência e, desta forma compartilhar vivências e
reflexões sobre a importância da intersetorialidade para os programas, projetos e ações direcionadas
para políticas públicas para as mulheres. Retrata-se a formulação e implantação da Coordenação dos
Direitos das Mulheres da Prefeitura de Niterói, no período de 2003 e 2008.
Em minha trajetória profissional, sempre era recorrente as lembrança do período que era
professora de química no Curso de Formação de Professoras - curso normal. Esta experiência
docente muito contribuiu para instigar a prática interdisciplinar, necessária ao futuro exercício
profissional do corpo discente, uma vez que as estudantes ao se formarem, deveriam lecionar várias
disciplinas, necessitando, portanto, de buscar a interseção de conhecimento para promover uma
educação contextualizada. Neste sentido, o estudo da química deveria ir além das “decorebas” de
fórmulas e de equações. Deveria fazer uma aliança com a Biologia, para juntas perceber suas
interações, seja no processo da respiração, nas reações que ocorriam na digestão, no debate sobre a

1
Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro – IRFJ, Doutoranda no Programa
de Estudos Pós Graduados em Política Social da Universidade Federal Fluminense – UFF, Rio de Janeiro, Brasil.
2
Professora Doutora Efetiva do Programa de Estudos Pós Graduados em Política Social da Universidade Federal
Fluminense – UFF, Rio de Janeiro, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X
Cólera, que necessitavam de entendimentos sobre as substâncias para desenvolver estratégias de
combate. Deveríamos entender que o estudo da pigmentação não só necessitava apenas do
conhecimento da química, como o da física, também. no sentido de entender a relação luz e cor. O
olhar para além do específico era fundamental.
A importância de se destacar as diversas implicações que ocorrem nos mais diversos
processos, nos levou a trazer esse pedacinho de vivência para nosso texto. A percepção da
importância da atuação partilhada não é uma tarefa fácil, pois não é adquirida em manuais ou
treinamentos. Ser e fazer a interdisciplinaridade e a intersetorialidade, como prática profissional, é
um compromisso político, no qual você olha para seu plano de aula ou para a sua agenda de
compromissos de governo e, tem a certeza, que sozinha não conseguirá atingir as metas
estabelecidas e, muito menos, alcançará resultados abrangentes e complementares, que são os
alicerces para executar uma boa aula ou fazer uma boa política pública.
O processo de participação/construção da intersetorialidade encontra resistência de inúmeras
ordens, que vão, entre outros fatores, dos limites do conhecimento humano (fator que possibilita ter
a dimensão restrita e não ampla de um determinado assunto), às influências de nossa formação
profissional extremamente fragmentada, sem esquecer das vaidades que envolvem a busca pelo
êxito de uma determinada política, a herança de uma cultura de especialistas, que impedem que uma
determinada política seja vista como um sistema que necessita da integração de variados
conhecimentos e diferentes intervenções e, assim, atender na sua amplitude a demanda da
população, enfim, são vários problemas que entram na dimensão o humano, além da disputa pelos
recursos (Burlandy, 2009, p. 853).
MOTTA E AGUIAR (2007) em seu trabalho sobre integralidade, interdisciplinaridade e
intersetorialidade em políticas de atenção a idosos, cita Vasconcelos (2002) que descreve alguns
obstáculos que construção tão ambiciosa enfrenta. Assinala:
que o arcabouço das Instituições de Ensino Superior (IES), organizado em faculdades e
departamentos que eventualmente não se comunicam, pode impedir o desenvolvimento de
cultura acadêmica que desenvolva e compartilhe o trabalho de forma interdisciplinar. Além
disso, a formalização das profissões implica em reivindicações de saberes e competências
exclusivos, às quais é atribuído um mandato social para realização de tarefas específicas,
controle de recursos e responsabilidade legal, cristalizando a divisão social e técnica do
trabalho. A institucionalização de organizações corporativas exerce controle na formação,
nas normas éticas e na defesa de interesses econômicos e políticos dos respectivos grupos.
Assim, as práticas na saúde incorporam estratégias de negociação saber/poder, de
competição intra e intercorporativa em processos institucionais e socioculturais que
impõem barreiras à troca de saberes cooperativa ( p. 367).
No caso deste trabalho, existia uma confluência de fatores que percebiam na afirmação
acima, um empecilho para a promoção da intersetorialidade, porém o compromisso dos gestores e

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gestoras com o Programa de Governo que elegeu o novo prefeito e o perfil participativo em
movimentos sociais dos mesmos, concorriam de maneira positiva para nossa atuação em conjunto.
Este trabalho está dividido em três partes: a primeira fala-se um pouco sobre a influência do
federalismo brasileiro no “trato com a coisa pública” que influencia a forma de se fazer política
pública, e, muitas vezes, dificulta a atuação de diferentes gestores na implantação de uma
determinada política pública; na segunda, discute-se a intersetorialidade; na terceira parte será
relatado alguns exemplos de ações que foram desenvolvidas na CODIM. E, por fim, traremos as
considerações finais.

2. Intersetorialidade: uma cultura em construção

O federalismo nasceu nos Estados Unidos como um modelo de pacto político entre os
Estados o qual seria fruto de esforços teóricos e negociação política (LIMONGI, 2006, p. 245). Tal
pacto deveria ser capaz de estabelecer um universo mínimo de regras para todo território nacional e,
o princípio de independência deveria conviver com o da interdependência. Mas, deve-se considerar
neste processo, a natureza conflitiva e competitiva desse modelo de organização política.
Para Dalmo de Abreu Dallari, o movimento na construção do federalismo brasileiro foi em
direção contrária se comparado ao americano, uma vez que partiu da existência de uma unidade
com poder centralizado e se distribuiu poder político entre várias unidades, sem eliminar o poder
central. Cada uma dessas unidades, que era apenas uma subdivisão administrativa chamada
província, recebeu uma parcela de poder político e afirmação formal de sua individualidade,
passando a denominar-se estado, aqui, portanto, o movimento foi descentralizado (Abrucio, 1998, p.
33).
A característica principal do Federalismo brasileiro é a forma predatória e não cooperativa
das relações intergovernamentais, tanto dos estados com a União, como também das unidades
subnacionais entre si – estados e municípios. Um dos argumentos está na natureza da origem do
nosso federalismo, marcada pela busca de autonomia dos governos subnacionais, o que não se
verifica em solo americano, lá o federalismo se formou em torno de uma associação de estados com
um sentimento de defesa comum, segundo João Camilo de Oliveira Torres3.
Atuar de forma cooperativa para o desenvolvimento de políticas públicas tem sido um
exercício difícil, uma vez que os gestores são influenciados por essa cultura política que prega a

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João Camilo de Oliveira Torres é um dos maiores historiadores do federalismo brasileiro (Abrucio, 199, p. 32).

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competição em lugar da cooperação. COMMERLATTO (2007, p. 03) ao analisar a gestão de
políticas pública e a intersetorialidade na construção dos conselhos municipais observa que:
o processo de descentralização das políticas públicas vem sendo operacionalizado no Brasil
há, aproximadamente, duas décadas, requerendo o rompimento com as 'velhas concepções e
práticas' que ainda permeiam as ações assistenciais em diferentes áreas. A atenção às
demandas sociais dá-se, via de regra, de modo fragmentário, pontual, reparador e com
sobreposições na oferta de programas, projetos e serviços. Assim, há a necessidade urgente
de estimular alternativas na perspectiva de integralizar a atenção e o atendimento aos
problemas sociais, uma vez que o mundo se tornou mais complexo e vem produzindo
problemas e novas situações em que conhecimentos focalizados e fragmentados são
incapazes de explicar e nem a ação setorial, em si, é capaz de resolver (AKERMAN, 1998).
Esse foi nosso desafio: romper com as antigas práticas e a cultura de fragmentação das ações
nas diferentes secretarias de governo, cujo o método de trabalho era o isolamento total na
formulação, implementação e avliação das políticas públicas.
A seguir, apresentaremos alguns exemplos desenvolvidos na Prefeitura Municipal de
Niterói.

3. Construindo parcerias para provocar a intersetorialidade na implantação da CODIM

No processo de formulação e implantação da CODIM, em 08 de março de 2003, era de


nosso conhecimento que precisaríamos estabelecer parcerias no governo, uma vez que não existia
previsão orçamentária no PPA – Plano Plurianual da Prefeitura Municipal de Niterói, pois esse
organismo governamental era inédito na cidade, por isso nosso foco em desenvolver estratégias para
tornar possível atuação intersetorial com a CODIM.
A primeira estratégia desenvolvida trata do próprio compromisso com o Programa de
Governo do Partido dos Trabalhadores, no que se referia à política de gênero. O prefeito eleito,
Godofredo Pinto, em sua trajetória de vida pública atuava na luta social, especificamente, como
ativista do sindicato dos profissionais da educação do Rio de Janeiro e, como deputado estadual em
12 de dezembro de 1990, por solicitação das ativistas feministas do Núcleo de Mulheres do PT
criou a Lei Nº 17664, na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, que assegurava à população do
sexo feminino, o atendimento por Médicos Legistas do mesmo sexo, durante exames periciais
destinados à averiguação de violências físicas. Verifica-se, portanto, seu compromisso 13 anos
antes de se tornar gestor do município de Niterói, o que evidencia seu compromisso com as
políticas de gênero e a atenção às reivindicações das feministas do Partido dos Trabalhadores.

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http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/f25571cac4a61011032564fe0052c89c/cdcb3cb45b2f6c6003256533006a1
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As inúmeras feministas e militantes do Núcleo de Mulheres do PT Niterói na época, como
Vera March Sixel, Marilza Medina, Rosana Dalles, Miriam de Fátima Cruz, Lourdes Marília Lira,
Ângela Fernandes, dentre outras, que em recente entrevista a LEITE (2012, pp. 52,53) reafirmaram
o papel coerente do então prefeito em atender às reivindicações para a criação de um organismo
governamental de políticas para as mulheres. A concretização na esfera municipal de nossa pauta
formulada para o governo federal era uma demanda prioritária, pois a campanha do presidente Lula
incorporava as reivindicações das feministas do partido, historicamente discutidas seus diferentes
estados e municípios, através da formalização do Compromisso com as Mulheres que em seu corpo
apresentava a estrutura necessária para tornar viável tal proposta:
“A ação do Estado para mudar o Brasil será potencializada ao garantir a igualdade entre
mulheres e homens. A construção destas políticas que afirmam a igualdade será possível ao
serem incorporadas nas diversas instâncias do governo. Por isto a Secretaria Especial da
Mulher será vinculada diretamente à Presidência da República, com os requisitos
institucionais e orçamentários para exercer as seguintes atribuições:· formular diretrizes,
elaborar, executar conjuntamente e/ou coordenar políticas em todos os níveis no âmbito da
administração pública, direta ou indireta, que garantam a implantação de uma política
efetiva de igualdade entre homens e mulheres; · elaborar em conjunto com outros
Ministérios políticas públicas nas áreas que interferem diretamente na situação das
mulheres na sociedade e trabalhar na execução e fiscalização dessas políticas; · dar
continuidade a levantamentos estatísticos em todas as áreas da administração pública
federal, para diagnóstico atualizado sobre a participação de homens e mulheres,
considerando também os fatores etnia e raça com o objetivo de corrigir distorções e efetivar
a igualdade de oportunidades entre os sexos e promover a melhoria dos sistemas de geração
de estatísticas do País, de modo a dar visibilidade à situação das mulheres nas áreas urbanas
e rurais;· criar um centro de documentação e dados que subsidie o trabalho da Secretaria,
aberto a toda população e aos movimentos de mulheres, · formular propostas de mudanças
na legislação, criar condições para fiscalizar o cumprimento da legislação que assegure os
direitos da mulher; · elaborar um planejamento de gênero que normatize a ação do governo
federal e, no que for possível, dos governos estaduais e municipais; · coordenar campanhas
educativas e antidiscriminatórias de caráter nacional, nas áreas de trabalho, saúde,
violência, educação, divisão do trabalho doméstico. Para efetivar essa proposta é
fundamental democratizar o debate sobre políticas públicas e decisões de governo com o
conjunto da população, reconhecendo as mulheres como força política que contribui na
construção da democracia. (Perseu Abramo, 2002, p.p. 12,13)”
Se na primeira estratégia adotada por nós, observamos o compromisso com a estrutura
nacional, em relação ao processo municipal, estávamos empenhadas a reproduzir a mesma
conquista. Assim, a CODIM obteve o status de Secretaria de governo, vinculada diretamente ao
Gabinete do Prefeito, visando dar agilidade e igualdade de poder à gestora da pasta. A escolha de
Rosalia Lemos, passou por um processo de discussão interna no partido, entre as militantes do
Núcleo de Mulheres do PT de Niterói, sendo encaminhado um documento ao prefeito eleito,
assinado por todas.
Mesmo que as condições físicas fossem muito precárias, já que a sala ocupada era dividida
com a Subsecretária de Governo, e só houve a nomeação de apenas quatro funcionarias

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selecionadas com base em critérios políticos e sem a prioridade de qualificação técnica, para o
exercício das funções necessárias ao bom desenvolvimento das políticas públicas que a CODIM
desenvolveria. Entanto, cabe destacar que sabíamos que, na medida que fossemos desenhando o
modelo de gestão, conquistaríamos a ampliação da equipe, o que de fato ocorreu, pois com a
articulação política das assessoras, diversas mulheres passaram a procurar o serviço com suas
diferentes demandas o que exigiu acréscimo da equipe. Após dois meses, em articulação com a
Secretária de Assistência Social, Heloísa Mesquita, conseguimos nos alojar em uma pequena sala,
porém com total privacidade para o desenvolvimento de nossas atividades.
Se por um lado a predominância política na composição inicial da CODIM acenava para
uma atuação técnica limitada, por outro era um facilitador para o estabelecimento da divulgação, da
ampliação do contato com novas mulheres e para o acolhimento de diferentes demandas trazidas
por elas. As mulheres do município passaram a fazer a interlocução com a CODIM apresentando
suas reivindicações em relação aos diferentes setores: educação, saúde, habitação, segurança,
trabalho, dentre outros.
A aliança com os movimentos sociais com o passar do tempo foi ampliada diante das
participações nas diversas conferências tais como Saúde, Educação, Assistência Social, além das
específicas organizadas por nós, a de Políticas Públicas para as Mulheres (I e II) e a da Igualdade
Racial (I). A organização das Comemorações do Dia Internacional da Mulher era outro momento
precioso, no qual governo e sociedade civil, que em conjunto organizava as atividades, gerando
anualmente o Jornal da Mulher (2004, 2005, 2006,2007 e 2008), que trazia diversas matérias da
sociedade civil, além da programação geral envolvendo todos os parceiros e parceiras.
Do ponto de vista intra-institucional a decisão de investir na participação em todos os
eventos das demais pastas, teve como fundamento a criação de uma cultura de interdependência, e
assim consolidar parcerias necessárias. Nossa estratégia foi a de fomentar a solidariedade nas ações,
que demais secretários e secretárias estavam desenvolvendo. Marcamos, assim, de forma presencial
o interesse da gestora de gênero nos rumos do governo como um todo. Com essa estratégia, não foi
difícil solicitar reuniões específicas com os demais integrantes da gestão, tendo ainda outro
facilitador, pois a maioria do secretariado era oriunda dos movimentos sociais tornando mais
palatável as propostas de trabalhos e a formulação de uma agenda comum.
Outra estratégia fundamental foi a participação nos encontros de Planejamento Estratégico 5.
No primeiro, em 2005, nossos desafios eram:

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Relatório digitalizado e enviado por e-mail para todos e todas participantes, no ano de 2007.

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→MELHORAR A MOBILIDADE URBANA (TRÂNSITO E TRANSPORTE)
→MELHORAR O USO DOS LOGRADOUROS PÚBLICOS
→FOMENTAR O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL
→ATUAR SOBRE AS OCUPAÇÕES IRREGULARES
→PROMOVER A INCLUSÃO SOCIAL
→AMPLIAR A PARTICIPAÇÃO CIDADÃ EM NITERÓI
→MODERNIZAR A ADMINISTRAÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA
→FORTALECER E APRIMORAR A POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO DO GOVERNO
(INTERNA E EXTERNA)
Tais desafios foram ampliados, com a inserção do tema violência para o biênio 2007/2008:
→MELHORAR A MOBILIDADE URBANA (TRÂNSITO E TRANSPORTE) -nome
mantido
→REORDENAR O USO DOS LOGRADOUROS PÚBLICOS - renomeado
→DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - renomeado
→SANEAMENTO, MEIO AMBIENTE, POLÍTICA HABITACIONAL E
REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA- renomeado
→PROMOVER A INCLUSÃO SOCIAL - nome mantido
→AMPLIAR A PARTICIPAÇÀO CIDADÃ EM NITERÓI - nome mantido
→PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA - novo desafio
→MODERNIZAR A GESTÃO PÚBLICA – renomeado
→ ESTRUTURAR PROJETO ESTRATÉGICO DE COMUNICAÇÃO - renomeado
Cabe apresentar as ações e suas respectivas metas assumidas e negociadas com os demais
parceiros e parceiras de governo, durante a elaboração do Planejamento Estratégico e, naquele
momento, nossa expectativa em relação ao trabalho tinha a preocupação com a intersetorialidade,
por acreditarmos que deveríamos definir a abrangência de ações das áreas afins:
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
PROGRAMA/PROJETO RESPONSÁVEL META ALCANÇADA PRAZO

MOSTRA MULHER Rosalia Lemos - 15.000 pessoas 2007/2008


(Ocorreu em parceira com a Secretaria CODIM
Municipal de Ciência e Tecnologia)

PROMOVER A INCLUSÃO SOCIAL


PROGRAMA/PROJETO RESPONSÁVEL META PRAZO
ALCANÇADA
2007/2008
RESTRUTURAR O Rosalia Lemos - CODIM 1000 mulheres
CENTRO DE REFERÊNCIA
DE ATENÇÃO A MULHER
Waldeck Carneiro- Educação 2007/2008
PROFISSIONALIZAÇÃO Josilma – Igualdade Racial 3.000 jovens e
DE JOVENS E ADULTOS Rosalia Lemos – CODIM adultos
Ana Wagner - Viva Idoso

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AMPLIAR A PARTICIPAÇÀO CIDADÃ EM NITERÓI
PROGRAMA/PROJETO RESPONSÁVEL META PRAZO
ALCANÇADA
CRIAÇÃO DE FÓRUNS E Rosalia Lemos - CODIM 2007/2008
CONSELHOS André Diniz – Cultura 05 FORUNS/
Waldeck Carneiro – Educação Conselhos
Josilma – Igualdade Racial
Verônica Lima – Segurança
Alimentar
CRIAÇÃO DA Rosalia Lemos - CODIM 01 Cooperativa - 63 2007
COOPERATIVA DE mulheres
ARTESÃS ÁGUIAS DE
NITERÓI

PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA
PROGRAMA/PROJETO RESPONSÁVEL META PRAZO
ALCANÇADA
CURSOS DE CAPACITAÇÃO Hélio Luiz – Defesa Civil e 05 cursos 2008
DA GM EM GARANTIA DE Direitos Humanos
DIREITOS Rosalia Lemos – CODIM
Josilma - CEPIR
IMPLANTAÇÃO DA LEI Rosalia Lemos - CODIM 300 mulheres 2007/2008
MARIA DA PENHA

4. Ações concretas de intersetorialidade

4.1 – Saúde

As ações voltadas para atenção à saúde da mulher, segundo Maria Célia Vasconcelos, atual
Secretária Executiva da Prefeitura de Niterói datam da implantação do Programa de Assistência
Integral à Saúde da Mulher, vinculado ao Ministério da Saúde no ano de 1983, quando recém
empossada em um cargo público foi à Brasília fazer um curso visando sua implantação no
município de Niterói. No de 1986 formula o Projeto Niterói, exercendo a coordenação do mesmo.
Em 1991-1992 foi criada a Câmara Técnica da Mulher, com a formulação do Grupo de Atenção à
Saúde da Mulher, vinculado à Atenção Ambulatorial. No ano de 1995, seu colaborador, o médico
ginecologista, Lívio Soares formula e implanta o Programa de Saúde da Mulher, destaca-se como
uma das ações importantes a criação da Carteira da Gestante. Vale destacar, ainda nesse ano, a
ampliação das políticas públicas de atenção à saúde da mulher, com a criação da Policlínica de
Especialidades da Mulher Malu Sampaio, originária dos Postos de Assistência Médica do extinto
INAMPS, oferecendo referência ambulatorial para especialidades e exames solicitados por toda a
rede básica, especializada e hospitalar.
As Conferências de Saúde eram espaços grandiosos de participação dos três segmentos:
profissionais da área de saúde, usuários e governo, destaca-se para a IV, ocorrida no ano de 2003,

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quando foi votada a deliberação do governo implantar uma maternidade municipal. A CODIM
atuou tanto na defesa da proposta, quanto a convite do então – e atual - secretário de Saúde, Dr.
Chico D’Ângelo para tornar possível a demanda. Em onze meses foi inaugurada a Maternidade
Alzira Reis, em 11 de maio de 2004.
Outra ação intersetorial foi o acordo de cooperação firmado entre a Secretaria Especial e
Políticas para mulheres, SPM, a Secretaria Municipal de Saúde e a CODIM, para o fornecimento da
pílula do dia seguinte6, em 25 de abril de 2005 quando priorizamos o uso para mulheres que
sofreram violência sexual, após consulta médica e, ainda, para aquelas que procuravam o serviço de
saúde para orientação quanto ao planejamento familiar.
Não podemos esquecer da interface com a Clínica Malú Sampaio ao lado dos profissionais
responsáveis pelo grupo de acompanhamento às mulheres em situação de violência. Tivemos
atuação com SOS Mulher do HUAP – Hospital Universitário Antônio Pedro, com a ONG MADA –
Mulheres que Amam Demais de Niterói, com o SAMU e associações de moradores que
encaminhavam mulheres para a CODIM.

4.2 – Educação

A secretária municipal de educação, Profª. Maria Felisberta de Trindade, estabeleceu como


prioridade a formação das profissionais da educação sobre a temática de gênero e relações raciais na
educação. No mês de novembro de 2003 foi lançado o Plano Municipal de Ação Educacional para a
Igualdade Racial, durante o 1º Simpósio Municipal da Consciência Negra, em parceria com a
Secretaria Municipal de Educação. Essas atividades foram organizadas com Grupo de Trabalho
Educação e Relações de Gênero e Etnia, que atuava na interface da CODIM e Secretaria de
Educação, no desenvolvimento de ações e capacitação das profissionais da educação, para a
implantação da Lei 10639/03, que introduz conteúdos da história e cultura africana e afrobrasileira
no currículo escolar.
No ano de 2006, em parceria com a SPM – Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres, participamos do curso Educação e Relações de Gênero, direcionado às trabalhadoras
domésticas. Foram ainda desenvolvidas ações com educação o Programa Creche Comunitária.
Nestas oportunidades sensibilizávamos as mães – de todas as fases geracionais –, para retomarem
seus estudos estabelecendo um fluxo direto com a Secretaria de Educação, para que se matriculando
em cursos de educação de jovens e adultos, oferecidos pelo município.

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http://www.aids.gov.br/noticia/postos-de-niteroi-terao-pilula-do-dia-seguinte-o-dia-rj

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4.3 – Outras ações intersetoriais

Nossa atuação buscou ampliar o acesso das mulheres ao mercado de trabalho e coibir o
preconceito de gênero nas relações ali estabelecidas. Na geração de renda, investimos no evento
Mostra Mulher que oferecia às mulheres de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, etc, um leque de
atividades que englobava palestras, oficinas, desfiles, demonstrações, estandes, atividades culturais,
trazendo informação, entretenimento e consumo, de forma direcionada ao público feminino e
àqueles que convivem no seu universo. As artesão de Niterói tinham gratuidade para exposição de
seus produtos nas duas versões que ocorreu em 2006 e 2007. Tal ação era desdobramento da
intersetorialidade entre a CODIM, a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia e a empresa Plus
Eventos e Promoções Ltda. Fomos coordenadoras da Câmara Técnica de Gênero, no COMPERJ –
Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, ainda em construção no município de Itaboraí.
No que se referia ao enfrentamento à violência através do Projeto Segurança Mulher, em
parceria com a Guarda Municipal, foi qualificada uma equipe de agentes municipais de segurança
pública e direitos humanos, para atender as demandas de mulheres em situação de violência
doméstica e sexual, em diferentes bairros da cidade. Criamos um serviço telefônico para
recebimento das demandas, nas dependências da Guarda Municipal de Niterói.
Elaboramos ainda, o CERAM - Centro de Referência de Atendimento à Mulher. A
prioridade foi ampliar e aperfeiçoar a rede de prevenção e atendimento às mulheres em situação de
violência, promover ações preventivas em relação à violência doméstica e sexual, capacitar os
profissionais das áreas de segurança pública, saúde, educação e assistência psicossocial na temática
da violência e ampliar o acesso das mulheres à justiça e à assistência jurídica, social e psicológica
gratuitas.
Na área da cultura e entretenimento, 08 de março de 2006, foi realizado o Show da cantora
Daniela Mercury, numa ação direta da CODIM com a SPM e contou com a parceria da Secretaria
Municipal de Cultura, Fundação Municipal de Artes e Compahia Estadual de Gás do Rio de Janeiro
– CEG, cerca de 50 mil pessoas participaram do show, nas areias da Praia de Sâo Francisco.
Por fim, vale citar as ações desenvolvidas com a sociedade civil em busca da restruturação
do Conselho Municipal de Políticas para as Mulheres, no qual obtemos votação unânime na edição
final da Lei7 Nº 11 de 01 de marco de 2007.

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http://camaraniteroi.rj.gov.br/wp-content/plugins/website/widgets/vereador-proposicoes-
ajax.php?&a=2007&t=1&n=11

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5. Considerações finais

Apresentamos exemplos de ações intersetoriais que foram desenvolvidas pela CODIM, no


período de 2003 a 2008, mesmo que outras ações por nós consideradas importantes não constam no
texto, porém vale destacar a Rede de Atenção à Mulher que tornou possível muitas das ações
expostas neste trabalho. Mas, certamente, esse será nosso próximo compromisso com o registro,
tendo em vista a importância do resgate do processo de organização das mulheres em nosso país.
Sabemos das dificuldades na formatação da cultura de trabalho cooperativo, logo
intersetorial em nossa sociedade, mas por sermos politicamente engajadas acreditamos na sua
possibilidade e sucesso. Desde a sua constituição enquanto República, o Brasil convive com uma
perspectiva formal de que a população deveria ser atendida de forma equânime com benefícios e
direitos. Entretanto, observamos em nosso processo histórico, setores específicos da população –
negros, mulheres, indígenas, quilombola –, ficaram a parte do acesso aos direitos sociais, políticos,
econômicos e culturais restritos à pequena parcela da população.
A Constituição Federal de 1988 foi, sem dúvida alguma, um marco para a sociedade
brasileira, tendo na sua formulação a participação de diferentes segmentos da sociedade como os
movimentos feministas e negros. Era um momento de grande envolvimento e Carvalho (2003, p.07)
afirma que havia a crença de que a democratização das instituições traria rapidamente a felicidade
nacional. Pensava-se que o fato de termos conquistado o direito de eleger nossos prefeitos,
governadores e presidente da república seria a garantia de liberdade, de participação de segurança,
de desenvolvimento, de emprego, de justiça social, além do acesso às políticas sociais de qualidade.
Queríamos muito, queríamos tudo! Mas, de certa forma, conquistamos a liberdade, o poder
de se manifestar e alguns direitos que ao longo dos tempos tem sido ampliado, porém estamos ainda
muito longe do ideal. Corroborando Fleury8(p.06), a cidadania pressupõe a inclusão ativa dos
indivíduos em uma comunidade política nacional que comparte um sistema de crenças em relação
aos poderes públicos, à própria sociedade e ao conjunto de direitos e deveres que estão envolvidos
nesta condição de cidadania. A esta dimensão pública dos indivíduos costumamos chamar de
cultura cívica, que é fruto dos mecanismos de socialização – escola, família, comunidade – e dos
mecanismos de repressão – comunidade, polícia.
O compromisso com a implementação de políticas publicas devem ser impermeáveis aos
nossos desejos pessoais ou disputas partidárias. Devemos fazer de nossa prática profissional um
exercício cotidiano, em busca da eficiência e eficácia das ações e responsabilidades para
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Texto digitado.

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potencializar o compromisso com a “coisa pública”. Em um breve ponto final, citamos um
provérbio africano que expressa a reflexão final sobre esse trabalho:
Se você pensa que é muito pequeno para fazer a diferença, tente dormir em um quarto
fechado com um mosquito!

Referências

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profissionais em saúde e o envelhecimento populacional brasileiro: integralidade,
interdisciplinaridade e intersetorialidade. Ciência & Saúde Coletiva. v.12, n.2, p.363-372, 2007.
Ciência & Saúde Coletiva, 12(2): 363-372, 2007.

Intersectionality in genre politics: Real Possibility

Abstract: This work is about intersectionality developed by CODIM - Coordination of Women's


Rights in Niterói and other City departments, the City of Niterói / RJ in the period 2003-2008,
which promotes service to the social demands of women of different social groups in attention and
care of cases of domestic violence, access to health care - highlighting the creation of the first
Municipal Maternity - education - with the establishment of the Working Group on education and
Gender Relations and Étnicorraciais - regularization of housing, economic solidarity - to support the

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artisans and performing shows that potencializavam local economic arrangements - étnicorraciais
relations. The action sought the welfare, seeking autonomy, host of claims and the soundness of the
self-esteem of women. In addition to analyzing the political commitment to the implementation of
gender policies, the paper presents an analysis of the relationship intragovernmental activity and
cross with local social movements, seeking to fulfill the institutional mission and effecting social
control, through the active participation of women of the city, reflected in the redesign of the city
Council Public Policies for Women city of Niterói.
Keywords: Gender; Intersectoral. Social Policy Evaluation. Étnicorraciais Educational Relations.
Institutional Development.

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