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emprego
Governo do Estado de São Paulo
Secretaria de Desenvolvimento Econômico,
Ciência e Tecnologia
Pr o g ra m a d e
Qualificação
Conteúdos Gerais
Profissional
C a d e r n o d o
Trabalhador
Vo l u m e
Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, Ciência e Tecnologia
ÍNDICE
História do trabalho 9
Como se preparar para o mercado de trabalho 39
P964
Programa de qualificação profissional / Conteúdos gerais
São Paulo : Fundação Padre Anchieta, 2010.
(Caderno do trabalhador, v. 1)
(vários autores, il.)
Programa de qualificação profissional da Secretaria do
Emprego e Relação do Trabalho-SERT
ISBN 978-85-61143-39-8
1. Trabalho – história. 2. Entrevista – emprego
3. Currículo – elaboração I. Título. II. Série.
Geraldo Alckmin
Governador
Rodrigo Garcia
Secretário
O que é trabalho?
Podemos pensar que o trabalho é o ato de transformar
a natureza. Uma tora de madeira que vira banco ou o
sapê que se transforma em cobertura de uma casa são
exemplos da ação do ser humano mudando a natureza.
Ele faz isso por meio do raciocínio, da capacidade de
pensar, de planejar algo para o próprio bem, ou seja,
em seu benefício pessoal.
Régis Filho
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história do trabalho
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Do trabalho artesanal à
Unidade 2
Revolução Industrial
Vimos que o homem transforma
George holton/Latinstock
O surgimento da moeda
Essa “diferença” entre um produto e outro foi abrin-
do o caminho para a invenção da moeda. Surgia a
Moeda de Lesbos, Grécia, cerca de 500-450 a.C.
ideia: Quem tem gado tem mais “dinheiro”.
A descoberta do metal veio acompanhada da evo-
lução, do progresso da técnica. Com isso, o metal
foi adquirindo um valor muito diferente, pois até
então permitia apenas produzir ferramentas mais
Moeda de Creta, Grécia, de 300 a 270 a.C. elaboradas.
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história do trabalho
O sistema de guildas
Depois de muito tempo, no século 12 (XII: o X repre- Você sabia?
senta o número 10 e cada I, o número 1), começou uma Um século é um período
nova etapa nessa história, uma fase marcada pela venda de 100 anos. Quando fala
das mercadorias e pela venda do trabalho. Tem início o mos em século 7 (VII), nos
referimos ao período que
trabalho assalariado. começa no ano 601 e vai
Surgiram as “oficinas artesanais”, já com características da até o ano 700.
indústria, que ainda não existia: havia o mestre, o artífice
ou companheiro, e o aprendiz. Era o chamado sistema de
guildas (a palavra guilda tem origem no francês guilde,
que significa corporação de artesãos).
Mas veja como o trabalho já estava ligado à formação
profissional. FILE:SHOEMAKER_BOOK_OF_TRADES.PNG
HTTP://COMMONS.WIKIMEDIA.ORG/WIKI/
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Veja que curioso: o mestre possuía um tipo de diploma, uma garantia de que ele do-
minava seu ofício, conhecia sua profissão. O aprendiz – que depois se tornava artífice
– tinha direito a uma declaração de que havia recebido a formação de seu mestre.
2 Em sua opinião, existe hoje algum sistema parecido com o que acabamos de estudar?
3 Você acha que as mulheres podiam participar das guildas? Explique por quê.
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história do trabalho
AFP
cionavam nas casas, elas se confundiam
com o ambiente doméstico: pai (mestre),
filho mais velho (companheiro) e filho
mais novo (aprendiz), todos trabalhando
na mesma profissão. Era proibida a partici-
pação de mulheres, e a elas cabiam as tare-
fas de limpar a oficina, cuidar da casa etc.
Se, por exemplo, o ofício era construir
carruagens, o mestre, o companheiro e o Carruagem de ouro. Museu Hermitage, São Petersburgo, Rússia.
aprendiz pensavam em cada detalhe do
processo: como vai ser a carruagem? E a desenhavam. Como serão os estofados? E as
rodas? Vamos fazer pinturas nas portas para que fiquem mais bonitas?
Todos conheciam o trabalho do princípio ao fim e participavam de todas as etapas até
a carruagem ficar pronta. Portanto, não havia divisão do trabalho.
O que se valorizava nas oficinas artesanais era o conhecimento que todos, cada um a
seu tempo, tinham de sua profissão.
A divisão do trabalho
Mas novamente os processos de produção foram mudando, até serem divididos em
etapas. Surgia, assim, a divisão do trabalho e, com ela, o trabalho especializado.
Por que esse nome?
Como as encomendas estavam aumentando, as tarefas começaram a ser distribuí
das entre os trabalhadores: se no início a equipe inteira participava de todas as
etapas da construção da carruagem, mais tarde cada um tornou-se responsável por
apenas uma tarefa. Quem passou a fazer a roda, por exemplo, tornou‑se “especia-
lista em roda”.
E por que isso aconteceu?
Se o mestre mandava alguém se limitar a lixar a madeira e pregar as rodas, esse
auxiliar deixava de saber construir a carruagem toda, tornando‑se especialista
em apenas uma atividade. Por outro lado, se ele adoecesse, seria substituído com
mais facilidade, pois era mais simples encontrar profissionais especializados em
uma só tarefa.
Inglaterra
Essa etapa ficou conhecida como Primeira Revolução Industrial. Ela teve início na
Inglaterra, no século 18 (XVIII), porque esse país europeu era rico em carvão mineral
e ferro.
Os trabalhadores do campo começaram a deslocar-se para as cidades em busca de
trabalho nas novas indústrias. Surgiram, então, as primeiras metrópoles e, com elas,
problemas como alcoolismo, prostituição, fome etc.
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Você sabia?
Os trabalhadores reagiam?
Em 8 de março de 1857,
as operárias de uma fá Apesar da pobreza e da fome, os empregados das indústrias
brica nos Estados Unidos começaram a se organizar, a fim de melhorar as condições
organizaram uma greve de trabalho, até mesmo com reações violentas, como o
a fim de exigir melhores
condições de trabalho e a movimento ludista ou luddita: no início do século 19
redução da jornada diária (XIX), os operários quebraram as máquinas dentro das
para 10 horas. As mulhe fábricas em protesto contra as condições de trabalho e o
res recebiam um terço
desemprego. O movimento recebeu esse nome porque foi
(1/3) do salário dos ho
mens e não queriam mais Ned Ludd, um trabalhador da indústria têxtil, quem teve
ser desrespeitadas pelos a ideia de destruir o maquinário.
capatazes. Elas foram
presas na fábrica, incen
diada em seguida: cerca Atividade 3 – As condições de trabalho
de 130 tecelãs morreram 1 Em grupo de cinco pessoas, cada um de vocês irá se
nesse incêndio. Em ho
menagem a essas traba
imaginar no lugar dos trabalhadores daquela época,
lhadoras, em 8 de março refletindo sobre as questões abaixo.
é celebrado o Dia Inter-
a) Quebrar máquinas era um ato contra equipamentos?
nacional da Mulher.
b) Equipamentos como os teares eram responsáveis
por desempregar muitos trabalhadores?
c) Como vocês veem as condições de trabalho durante
a Revolução Industrial?
d) Existem semelhanças entre o trabalho daquela épo-
ca e o de hoje? Quais?
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cravos não aceitavam pagar salários pelo seu trabalho;
Você já teve a oportuni
dade de ver o filme Tem preferiam contratar imigrantes europeus que começa-
pos modernos, de Charles vam a chegar ao país.
Chaplin? O personagem
principal é operário numa Hoje em dia, infelizmente, ainda existem situações pa-
grande indústria. Ele tem recidas: muitos trabalhadores, inclusive estrangeiros,
como tarefa apertar para são contratados com a ilusão de uma oportunidade de
fusos de peças em uma emprego e, longe de casa, têm seus documentos retidos
esteira rolante, mas não
consegue acompanhar pelos patrões, que passam a cobrar pelos instrumentos de
a velocidade das peças e trabalho, pela moradia e alimentação, criando assim uma
começa a “atropelar” seus enorme dívida que seus empregados não conseguem qui-
colegas a fim de recupe
tar. Eles, então, passam a trabalhar apenas com o objetivo
rar o trabalho perdido. O
filme mostra, de modo de se manterem vivos.
divertido, como todos tra
balhavam de forma mecâ
nica e em ritmo acelerado. A Segunda Revolução Industrial
As mudanças não pararam.
Houve uma Segunda Revolução Industrial, já em 1860.
Se no século 18 (XVIII) a novidade foi o uso do carvão
para movimentar as máquinas, agora era a vez da desco-
berta da eletricidade e do uso do petróleo. Além disso,
a transformação do ferro em aço permitiu aumentar e
variar toda a produção.
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história do trabalho
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fábricas passaram a produzir mais e, embora
com muito sacrifício humano, a oferta de em-
prego aumentou.
Diante do crescimento das indústrias, nos Esta-
dos Unidos o dono de uma fábrica de automó-
veis chamado Henry Ford (nasceu em 1863 e
morreu em 1947) pensou: Se as pessoas não podem
comprar, a fábrica não cresce!
Por isso sua empresa, a Ford, começou a fabricar
Henry Ford e seu modelo T.
um automóvel bem mais barato que o produzi-
AFP
do pela concorrência: o modelo T.
Para produzir esse carro, Henry Ford pôs em
prática um novo jeito de trabalhar: as peças iam
até os homens, e não o contrário, como era fei-
to até então. Com isso, ganhava‑se tempo, e
cada trabalhador só poderia parar quando seu
chefe permitisse.
As propagandas da Ford vendiam a ideia de que
Linha de montagem da Ford.
felicidade era ter um automóvel e poder passear
com ele. O que aconteceu? Como se diz popularmente: o carro vendeu feito pão quente.
Dessa forma, Henry Ford mudou tanto o modo de trabalhar como a maneira de pen-
sar dos norte‑americanos e do mundo.
Os salários eram mais altos na Ford, e a empresa contratava inclusive imigrantes, pois
eles aceitavam melhor as ordens; ao mesmo tempo, as vendas subiam.
Isso se repetiu em diversos tipos de indústrias: de rádios e toca‑discos (as antigas vitro-
las), de eletrodomésticos etc. Mas, nos Estados Unidos, os trabalhadores, mesmo com
bons salários, não suportavam mais o ritmo pesado e a jornada de trabalho extensa.
Outro motivo de preocupação era a poluição, não apenas do ar, como também a so-
nora, pois o barulho das peças se movendo de um lado para o outro fazia com que os
operários perdessem, pouco a pouco, a audição.
Eles passaram, então, a se organizar e fazer greves reivindicando redução da jornada
diária e melhores condições de trabalho. Era uma situação em que uns precisavam dos
outros: os patrões dependiam dos empregados e estes, do emprego.
Com as greves, os trabalhadores conquistaram alguns direitos, tais como a jornada de
8 horas diárias.
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Diego Rivera,
Homem e máquina,
1932‑1933, mural do Instituto
de Artes de Detroit,
Estados Unidos.
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Você sabia?
reprodução
O pintor mexicano
Diego Rivera (nasceu
em 1886 e morreu em
1957) foi convidado
por uma importante
indústria automobi
lística para fazer um
grande quadro, um
mural na entrada da
fábrica. Ele pintou os
homens trabalhando e
demonstrando todo o
esforço e cansaço num
ambiente sujo e poluí
do. Quem encomen
dou não gostou do
resultado final e tentou
estragar a pintura.
Imagem 2
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Imagem 3
Imagem 4
Imagem 5
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E as mulheres, trabalhavam
em qualquer indústria?
acervo iconographia
As vagas nas fábricas eram ocupadas principalmente
por homens. As mulheres eram contratadas para ta-
refas que exigiam movimentos mais delicados, mãos
menores ou dedos finos e longos.
Foi na Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) que
elas começaram a trabalhar na fabricação de arma-
mentos e de peças e motores para aviões, uma vez
que os homens haviam sido convocados para as for-
Trabalho feminino em indústria dos Estados Unidos
ças armadas. durante a Segunda Guerra Mundial.
A industrialização no Brasil
ACERVO ICONOGRAPHIA
Você sabia?
Um italiano que veio ten
tar a vida no Brasil, ou “fa
zer a América”, na expres
são da época, abriu uma
loja de banha em Soroca
Operários das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, em São Paulo. ba, no interior do estado
de São Paulo, e mais tarde
O Brasil seguiu os mesmos passos da industrialização nos tornou-se o maior empre
Estados Unidos, mas com praticamente 40 anos de atraso. sário da América Latina,
com 350 empresas.
Isso porque a indústria só começou a engrenar aqui na
Você já ouviu falar das
década de 1940. Indústrias Matarazzo?
O setor têxtil teve forte presença na história da industria- Eram dele: Francisco
Matarazzo.
lização em nosso país.
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2 Num grupo de cinco pessoas, você e seus colegas devem seguir este roteiro para
discussão.
a) Quem eram esses trabalhadores?
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história do trabalho
Assim como nos Estados Unidos, em São Paulo os operários organizaram-se a fim de
protestar contra as péssimas condições de trabalho. Eles viam as fábricas crescendo,
porém seus salários continuavam baixos. Queriam, também, redução da jornada diá-
ria e regras para a participação de mulheres e crianças, entre outras solicitações.
Muitos grevistas foram presos e alguns acordos, assinados, mas nem sempre cumpridos.
Uma das conquistas ocorreu em 1917, quando o governo federal publicou uma lei
proibindo mulheres e crianças de trabalharem no período noturno.
memorial do imigrante
Cortejo fúnebre de José Iguanez Martinez, morto em confronto com a polícia durante manifestação operária na cidade de São Paulo, ocorrida na
Greve Geral de 1917.
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4 Pense agora sobre o que vimos até aqui e sobre o que essas pessoas contaram a res-
peito de como começaram a trabalhar. Depois, escreva no caderno suas impressões,
as ideias que você teve. Não se preocupe com a letra, se escreveu certo ou errado.
Primeiro, anote as ideias. Depois, leia novamente e corrija. Se precisar, passe a
limpo com letra caprichada!
O trabalho em outros tempos
Autoria de _________________________________________________________
(escreva seu nome)
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b) Indústrias de alimentos
Nome da empresa Brasileira Estrangeira
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c) Bancos
Muitas das empresas que você listou são conhecidas como multinacionais, pois fo-
ram criadas em um país (os Estados Unidos, por exemplo), mas montaram filiais em
outros. Mais recentemente, algumas delas têm sido chamadas de transnacionais. Isso
porque realizam cada parte da produção em um país – há fabricantes de carros que
fazem motores na Argentina, a carroceria e a montagem no Brasil… –, mas as prin-
cipais decisões, como o desenho dos veículos e a potência dos motores, são tomadas
na matriz da empresa.
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história do trabalho
istockphoto
Alguns robôs, por exemplo, foram desen-
volvidos para fazer a solda, que exige mui-
ta precisão, e começaram a ser usados para
trabalhos em lugares que a mão humana
não alcançava.
Esse tipo de mudança no trabalho atingiu
praticamente todos os setores.
As empresas buscavam produzir mais, em
menos tempo e com custos menores, por-
que a concorrência (disputa pelos consu-
midores) entre elas era ainda mais forte.
O que começou a acontecer? Surgiram
novas tecnologias, novas máquinas, as
empresas reduziram custos e o desempre-
go aumentou.
É a chamada reorganização produtiva: as empresas tentam produzir mais com me-
nos pessoas trabalhando.
Nesse processo, muitas profissões desapareceram nas grandes indústrias. Ao mesmo
tempo, outras surgiram. As pessoas, então, precisavam de novas qualificações. Afinal,
antes não havia profissionais especializados em montar microcomputadores, fazer a
manutenção desses equipamentos, criar sites, e tantos outros.
Na balança do trabalho, o desemprego pesou mais que o emprego.
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4 Agora, com as pessoas da sala organizadas em círculo, de forma que todas pos-
sam ver umas às outras, cada grupo vai apresentar as conclusões a que chegou.
As ideias que as demais equipes apresentaram foram diferentes das que seu
grupo discutiu?
5 Organize suas ideias e registre com suas palavras a conclusão de toda a turma:
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Sistema Sistema
de trocas. de guildas.
Como O que
era? era?
Vamos, agora, refletir sobre o que vimos até aqui, lendo a letra de uma canção do com-
positor Noel Rosa.
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história do trabalho
Três apitos
acervo iconographia
Noel Rosa
Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos, eu me lembro de você
Mas você anda, sem dúvida, bem zangada
Pois está interessada em fingir que não me vê
Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
Por que não atende ao grito tão aflito
Da buzina do meu carro?
Você no inverno sem meias vai pro trabalho
Não faz fé no agasalho, nem no frio você crê
Mas você é mesmo artigo que não se imita Noel de Medeiros Rosa
Quando a fábrica apita nasceu em 11 de dezem
Faz reclame de você bro de 1910, no bairro de
Vila Isabel, no Rio de Ja
Nos meus olhos você vê neiro. Anos mais tarde,
Como eu sofro cruelmente passou a ser conhecido
como o “Poeta da Vila”.
Com ciúmes do gerente impertinente Sofrendo de tuberculose,
Que dá ordens a você em 1937 teve agravado
seu estado de saúde e
Sou do sereno, poeta muito soturno
faleceu em 4 de maio da
Vou virar guarda‑noturno quele ano. Muitos de seus
E você sabe por quê sambas tornaram-se clás
Mas você só não sabe sicos da música brasilei
Que enquanto você faz pano ra, entre eles: Três apitos,
Conversa de botequim e
Faço junto do piano esses versos pra você Último desejo.
Noel Rosa, Feitiço da vila - vol. 1, Revivendo, 1994.
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