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CAPÍTULO I – CONCEITOS BÁSICOS

1. A Ciência Econômica e o sistema econômico

A Ciência Econômica enquadra-se como uma ciência humana sendo, a sua preocupação
básica, a administração dos recursos relativamente escassos associada às necessidades
humanas ilimitadas.

De acordo com MASLOW, um dos personagens mais pesquisados na área de Administração


de empresas, as necessidades humanas respeitam a uma hierarquia onde compreende as
necessidades fisiológicas e se ampliam para questões relacionadas às necessidades sociais
(educação, saúde, transporte), de ego e status social, à medida que o nível de renda aumenta
ao longo do tempo, passando a satisfazer, além das necessidades primárias as necessidades
secundárias (luxo, por exemplo).

Por participarem do sistema econômico, tal como as famílias, caberá aos demais agentes
econômicos, empresas e Governo o atendimento destas necessidades correntes onde, o
Governo oferece os serviços e os bens públicos e as empresas a produção de bens e serviços.

De imediato, nem sempre as empresas e o Governo poderão atender a essas necessidades,


pois há restrições de ordem orçamentária ou limitação científica.

Um sistema econômico em formação requer maior atuação do Governo como empresário,


foi o que aconteceu com o Brasil a partir dos anos 30 quando ocorreram investimentos nas
indústrias de base (siderúrgicas e petróleo) e demais setores.

No aspecto empresarial precisamos avaliar o que é utilidade e o que é futilidade, pois muito
do que é produzido o é para o atendimento de necessidades secundárias tais como: produto
que possibilita o armazenamento de 2000 músicas através do processo de download ou
alimentar os “bichinhos virtuais” tão vendidos nos anos 90. Já, outras produções, são
empenhadas na resolução de casos até dias ou anos atrás indissolúveis como são os casos de
ejaculação precoce e disfunção erétil cujos laboratórios Johnson & Johnson e Pfizer,
respectivamente, dedicaram anos de pesquisa para melhorar a autoestima dos vitimados. Se
ambos os casos apresentados são exemplos de sucesso, então podemos concluir que a
indústria do entretenimento é tão útil quanto a os avanços da indústria farmacêutica.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Como a nossa finalidade é o entendimento da existência da ciência econômica, então qual é


o problema econômico central que impera sobre este sistema econômico ?

Resposta:

Como atender às necessidades humanas ilimitadas se os recursos são relativamente escassos ?

Para melhor esclarecer, daremos alguns exemplos desta relação entre necessidades
humanas ilimitadas e recursos relativamente escassos:

Exemplo 1: A população brasileira é altamente consumidora de trigo, produto ao qual é


largamente utilizado na fabricação de pães e massas. Caberá aos agricultores locais,
dependendo das condições climáticas, iniciar a fase de plantação da cultura, porém, nem
sempre o plano é bem sucedido e a safra fica prejudicada em função de um clima mais quente,
contrário à cultura do trigo. Neste caso, observamos que surge uma escassez relativa em
território brasileiro ao qual o governo terá que importar o produto de outros países
produtores ou formar estoques preventivamente.

Exemplo 2: Nos anos 70 fomos vitimados pela crise do petróleo, (1973 e 1979), pois não
éramos autossuficientes como somos atualmente. Havia necessidade pelo produto, porém não
havia disponibilidade interna, o que nos obrigava a importar o produto e nos endividar para
isso. No quadro atual, somos autossuficientes no volume de extração, mas não no volume de
refino, ao qual ainda nos condiciona a exportar petróleo bruto e importar o petróleo refinado.
Uma das propostas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do Governo atual é de
construir mais refinarias no futuro. Já temos uma em desenvolvimento no Nordeste em
parceria com o Governo Venezuelano.

Sistema Econômico composto

pelos agentes econômicos:

Famílias

Empresas (2º setor)

Governo (1º setor)

Com base nos exemplos, concluímos que este sistema econômico se interage com o resto do
mundo e vice-versa.

Alvaro Edauto S. Gomes


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1.1 Tipos de Bens e Serviços

A classificação dos tipos de bens e serviços dar-se-á da seguinte forma:

Bens duráveis, bens semiduráveis, bens não duráveis e serviços, bens e serviços
públicos.

Este mercado de serviços é dividido em setores:

Setor primário: pesca, agricultura, extrativismo

Setor secundário: Indústria

Setor terciário: comércio e serviços

Setor quaternário: Informação

A somatória do que é produzido nos limites geográficos brasileiro de todos estes setores é o
que resultará na soma total do Produto Interno Bruto, não que seja a medida mais eficiente.
Atualmente esta variável está em vias de sofrer modificações para que sejam incluídas
informações sofre produção sustentável. Quando se extrai petróleo, é necessário avaliarmos,
também, o vácuo que será gerado para as futuras gerações e medidas devem ser tomadas
para a sua compensação.

1.2 Informações complementares:

Micro e pequenas empresas:

As micro e pequenas empresas representam, no Brasil, noventa e oito por cento das
empresas formalizadas, empregando cinqüenta e sete por cento da mão de obra formal
ocupada e representando mais de vinte por cento do Produto Interno Bruto, PIB, sendo que,
mundialmente, surge como tendência para a geração de novos empregos e rendas.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Produto Interno Bruto

De acordo com as novas séries divulgadas, o PIB, em geral, aumentou. Em 2005, por
exemplo, o PIB estimado na nova série foi de R$ 2,148 trilhões - pela primeira vez, o valor
supera 2 trilhões - e ficou 10,9% acima do valor estimado na série anterior. O crescimento do
PIB de 2005 em relação a 2004 foi reajustado para 2,9%, enquanto na série antiga havia sido
de 2,3%.

Atualmente o Produto Interno Bruto Brasileiro supera R$ 3 trilhões.

Nova metodologia

O PIB, que é a soma de bens e serviços produzidos pelo País, agora é calculado de maneira
mais precisa. Foram incorporadas pesquisas anuais de indústria, comércio, serviços e
construção, com informações mais recentes e amplas.

Esta série passa a incorporar, integralmente, as pesquisas anuais do IBGE, as informações


anuais da Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ), agregado
por código da Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE), os resultados da Pesquisa
de Orçamentos Familiares de 2003, o Censo Agropecuário 1996 e, ainda, atualiza conceitos e
definições introduzindo as últimas recomendações das Nações Unidas e de outros organismos
internacionais.

2. Subdivisões da Ciência Econômica

A Ciência Econômica é subdividida em duas áreas: a da Microeconomia e a da


Macroeconomia, sendo:

Microeconomia: O estudo do comportamento dos consumidores e dos produtores, também


conhecidos como demandantes e ofertantes, respectivamente.

Na ótica da demanda, a procura por bens e serviços dependerá de uma infinidade de fatores
tais como:

 Preço

 Preço da concorrência

 Preço do bem substituto

 Preço do bem complementar

 Qualidade (design, marca, tecnologia, cheiro, cor)

Alvaro Edauto S. Gomes


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 Forma de pagamento

 Taxa de juros

 Taxa de câmbio

 Gosto

 Segurança

 Segurança jurídica

 Renda

 Custo/Benefício

 Custo/Oportunidade

Somente após a verificação dessas variáveis é que o ato do consumo será efetivado.
Portanto, demanda é um estágio anterior ao ato do consumo.

Necessidade Demanda Ato do consumo

Já na ótica do ofertante, as variáveis determinantes serão:

 Custo dos fatores produtivos: terra, capital, mão de obra, tecnologia, gestão

 Preço da concorrência

 Conhecimento do segmento

 Tempo do retorno sobre o investimento

 Localização: próxima à matéria-prima ou próximo ao mercado consumidor

 Clima

 Preço da commodity (produto cujo preço é cotado no mercado internacional)

 Pesquisa de mercado

 Segurança Jurídica

Somente após a avaliação de todas estas variáveis é que o ato da produção será efetivado.
Portanto, ofertar é um estágio anterior ao ato da produção.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Necessidade Oferta Ato da Produção

Fatores produtivos

Referem-se aos elementos necessários para a execução de um processo produtivo e são


conhecidos como:

1. Terra: espaço físico necessário para a produção ou prestação de serviços.

2. Capital: (explicação abaixo).

3. Mão-de-obra: para empresários modernos é representada pelo capital humano


formado pela mão-de-obra física e intelectual.

4. Gestão: Famíliar ou profissionalizada, será responsável pela alocação e


dimensionamento dos fatores acima.

Ressaltamos que o conceito de capital não se restringe apenas à área financeira. Há


diversas modalidades de capital, tais como:

Capital Físico Fixo: representado pelas máquinas, equipamentos e edificações;

Capital Físico Circulante: representado por componentes e matéria-prima;

Capital Financeiro: representado pelo capital social (participação dos sócios no negócio com
registro em contrato social), capital de giro (capital necessário para a funcionamento da
empresa e responsável pela cobertura dos custos e despesas operacionais), capital próprio e
capital de terceiros (quando há necessidade por financiamentos, empréstimos ou créditos
provenientes de agentes financeiros).

Macroeconomia: Estudo do comportamento das variáveis globais tais como:

 Produto Interno Bruto/Renda per capta

 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

 Índice Gini

 Índice de Confiança do empresariado e do consumidor

Alvaro Edauto S. Gomes


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 Índice de Desenvolvimento Educacional

 Taxa de Juros

 Taxa de Câmbio

 Taxa de Desemprego

 Taxa de Natalidade

 Taxa de Inflação

 Carga tributária

 Dívida Interna

 Dívida Externa

 Risco Brasil (índice de confiabilidade)

dentre outros aos quais o Governo e as empresas tem interesse por tais informações para a
definição de seus planos estratégicos de ação. Estas variáveis também são eficientes para a
avaliação e comparação entre a política de cada Governo e a eficácia de seus resultados.
Portanto, são medidas de eficiência de um sistema econômico. Estas informações servem de
base, também, para decisões de ordem empresarial e pessoal.

O Produto Interno Bruto já supera a cifra de US$ 1,6 trilhões, o IDH brasileiro é de 0,800 na
escala de 0 a 1, o que representa um indicador de que a qualidade de vida do brasileiro
apresentou melhoras significativas ao longo dos anos, apesar de algumas deficiências na área
da saúde e habitação. Já a taxa de juros é considerada uma das mais altas do mundo sendo
que a taxa de juro do Governo, a SELIC, atualmente de 10,50 % ao ano, não reflete as taxas
cobradas pelas instituições financeiras e comercio varejista que chegam a atingir cifras de 3
dígitos percentuais. A taxa de câmbio depende do volume de reservas cambiais (quanto
menor o volume de reservas, maior a vulnerabilidade da moeda interna), a taxa de
desemprego é sempre presente e difere por regiões, principalmente nas que não atraem
investimentos. Atualmente aproxima-se de 9 % da população economicamente ativa PEA (80
milhões). A taxa de natalidade já indica uma redução significativa em função de casais com
propostas de menos filhos, a taxa de inflação vem sendo controlada por importações e
retrações econômicas que nos levam à deflação em alguns momentos, a carga tributária ainda
é um dos maiores problemas brasileiros, atingindo 38% do PIB. A dívida pública interna já
supera R$ 1,6 trilhões e a dívida externa está como nunca bem administrada e praticamente
paga, pois deixamos de ser devedores e somos, atualmente, credores. O índice Gini, que mede
o índice de pobreza na região equivale a 0,49 sendo que, quanto mais próximo de 1, maior a
existência de pobreza local.

Alvaro Edauto S. Gomes


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3. Formação do Sistema Econômico Brasileiro

Não é novidade para alunos do curso superior que fomos vitimados por um processo de
colonização de exploração e não de povoamento. A população passou a ser composta pela
mistura do branco europeu, o índio e o negro, sendo o regime de trabalho o de escravidão e
voltado ao atendimento das necessidades da metrópole que nos explorava.

Passamos por diversos ciclos tais como: ciclo da cana-de-açucar, do ouro, da borracha e,
nenhum destes ciclos possibilitou o avanço da economia brasileira de forma a transformá-la e
direcioná-la para um caminho de crescimento e desenvolvimento. No ciclo da cana
constatamos o crescimento nas cidades do nordeste onde os engenhos de cana eram
instalados, na fase do ciclo do ouro cidades como Vila Rica, Ouro Preto, Tiradentes e algumas
cidades de Goiás também floresceram. Este ciclo favoreceu o surgimento de cidades na região
centro-oeste do país. Já no ciclo da borracha a região favorecida foi a cidade de Manaus.

A partir de meados do século XIX contávamos já com a presença de indústrias têxteis,


porém, predominava no campo a monocultura do café ao qual favoreceu o crescimento da
região sudeste e a formação das oligarquias cafeeiras. Permanecíamos ainda no regime de
escravidão o que dificultava, mais uma vez, a formação da renda interna que crescia graças
aos operários da indústria têxtil e bancários remunerados pelas casas bancárias que se
formavam. Em 1860, por exemplo, surge a Caixa Econômica Federal.

A partir dos anos 20 passamos a contar com a presença de imigrantes (japoneses e


italianos) em território brasileiro que trouxeram novos métodos e técnicas de trabalho,
contribuindo em muito para a melhora do cultivo, colheita e, futuramente, nas técnicas
comerciais e empresariais. Com a queda do preço do café somada à crise de 1929 nos Estados
Unidos o segmento foi vitimado e, a partir de então, a cultura do algodão torna-se a mola
propulsora do setor têxtil brasileiro, mas já estávamos a um passo da diversificação dos
setores produtivos no Brasil quando do início da 1ª. Revolução industrial brasileira.

Somado a este problema, consideramos que, com a primeira guerra mundial tivemos que
substituir muitas das importações que fazíamos, passando a contar, mais uma vez com a
experiência de imigrantes que aqui se instalavam e tiveram interesse pela atividade produtiva.

A partir do governo de Getúlio Vargas nos anos 30, aceleramos o processo de substituição
de importações e passamos a viver o momento da 1ª. Revolução Industrial Brasileira com o
desenvolvimento das indústrias de base (Cia Siderúrgica Nacional) e participação do governo
com as estatais (Petrobrás). A partir de então, novas classes sociais surgiam representadas
pelos funcionários das empresas estatais e outras empresas que se formavam. Neste período
surge a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Alvaro Edauto S. Gomes


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Com a formação de novas classes sociais e a geração de empregos pelas empresas então
instaladas, o fluxo de renda da economia acelera-se e torna-se dinâmico e constante.

Famílias
Produção

Fatores Produtivos

Renda

Empresas

Particulares e Estatais Consumo

O fluxo de renda na economia brasileira se intensifica a partir dos anos 40. O governo cria o
Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDE (hoje BNDES) como instrumento de fomento às
empresas locais e as multinacionais entram no Brasil, a partir dos anos 50 com grande
colaboração das indústrias automobilísticas . Houve maior abertura para o emprego tanto no
referido segmento como nas empresas satélites (fornecedoras), o que contribuiu mais uma vez
para o fortalecimento da renda no mercado brasileiro.

3.1 Planos de desenvolvimento e de infra-estrutura no Brasil

a) Plano Salte
(Governo Dutra, 1946-1950, desenhado em 1948, implementado a partir do orçamento de
1949, até 1951 ):
Investimentos nas áreas de saúde, alimentação, transportes e energia, via ordenamento
orçamentário do Estado, investimentos privados e empréstimos externos.
b) Plano de Metas
(Governo JK, 1956-1960):
Coordenação entre o setor público e o privado, estímulo à industrialização, “pontos de
estrangulamento” na infra-estrutura e na demanda de vários setores da economia,
formação de recursos humanos; financiamento público, empréstimos externos,
investimentos privados, abertura ao capital estrangeiro; trinta objetivos em cinco
grandes metas: energia, transportes, alimentação, indústrias de base e educação
(formação de pessoal técnico).

Alvaro Edauto S. Gomes


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c) Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social


(Governo Goulart, 1961-1964, implementado de forma incompleta em 1962-63):
Plano de transição econômica: modelo de “substituição de importações”, para superar
desequilíbrios estruturais da economia brasileira; reforma fiscal, redução do dispêndio
público, mobilização de recursos externos; interrompido.

d) Plano de Ação Econômica do Governo


(Governo Castelo Branco, 1964-67):
Ampla reforma da política econômica e de seus instrumentos básicos, inclusive no
plano institucional; reorganização do Estado nos planos fiscal (tributário-orçamentário,
inclusive tarifas aduaneiras), monetário-financeiro (com disseminação do mecanismo de
correção monetária, ou indexação), trabalhista, habitacional e de comércio exterior;
início de uma forte expansão do setor estatal, com criação de empresas públicas e forte
intervencionismo e centralização econômica.

e) Plano Decenal (roteiro para o período 1967-1976):


- “estratégia decenal de desenvolvimento”, que não chegou a ser posta em execução.

f) Programa Estratégico de Desenvolvimento


(Governo Costa e Silva, 1968-1970):
Diretrizes de política econômica e diretrizes setoriais, com vetores de desenvolvimento
regional, com o objetivo de se ter um “projeto nacional de desenvolvimento”;
participação do setor estatal no preenchimento dos chamados “espaços vazios” da
economia.

g) Programa de Metas e Bases para a Ação do Governo


(Governo Médici, 1970-1973):
Diretrizes governamentais para a elaboração de um novo orçamento plurianual, com
vigência para o período 1971-1973, com orientação para quatro áreas prioritárias: (a)
educação, saúde e saneamento; (b) agricultura e abastecimento; (c) desenvolvimento
científico e tecnológico; (d) fortalecimento do poder de competição da indústria nacional;
deveria servir de base para um primeiro plano nacional de desenvolvimento, previsto para
desenvolver-se entre 1972 e 1974.

h) Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento PND-I


(Governo Médici, 1972-1974):

Alvaro Edauto S. Gomes


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Grandes projetos de integração nacional (transportes, corredores de exportação,


telecomunicações; ponte Rio-Niterói, rodovia Transamazônica, hidrelétrica de Três
Marias, barragem de Itaipu); planos especiais de desenvolvimento regional; expansão dos
investimentos estatais e uso da capacidade regulatória do Estado: empresas públicas
eram integradas às políticas do governo.
i) Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento PND-II
(Governo Geisel, 1974-1979):
Indústrias de base (siderúrgica e petroquímica); bens de capital; autonomia em insumos
básicos (metais não-ferrosos, minérios, petroquímica, fertilizantes e defensivos agrícolas,
papel e celulose), energia (contexto da crise energética: destaque para a indústria nuclear
e a pesquisa do petróleo, programa do álcool e construção de hidrelétricas, como Itaipu);
dois planos básicos de desenvolvimento científico e tecnológico e um primeiro plano nacional
de pós-graduação.

j) Terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento PND-III


(Governo Figueiredo, 1979-1985):
Descontinuado por motivo de crise econômica; esse plano encerra um ciclo de trinta anos

(desde 1949) de planejamento econômico para o desenvolvimento, a ele sucedendo-se meros

planos de estabilização macroeconômicos, até meados dos anos 90, pelo menos.

k) Planos Plurianuais - PPAs


(a partir da Constituição de 1988)

O Plano Plurianual torna-se o principal instrumento de planejamento de médio prazo no


sistema governamental brasileiro; deve estabelecer, de forma regionalizada, as diretrizes,
objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras dela
decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada; cada PPA deve conter
diretrizes para a organização e execução dos orçamentos anuais e a vigência de um plano deve
começar no segundo ano de um governo e findar no primeiro ano do mandato seguinte, com o
objetivo explícito de permitir a continuidade do planejamento governamental e das ações
públicas;

3.2 Do Milagre Econômico em diante

Na gestão do governo militar – pós- 1964, ingressamos na fase do milagre econômico


(período de 1967 a 1973) onde crescíamos a taxas superiores a 10% ao ano, porém, as custas
de endividamento externo, uma vez que na economia já existia renda, porém, pouca
propensão a poupar.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Fomos surpreendidos pelo choque do petróleo em 1973 e 1979 e pelo aumento da taxa de
juros nos Estados Unidos, o qual comprometeu a saúde de nossa Balança Comercial que ficou
deficitária e pela necessidade do pagamento do petróleo com endividamento que passou a
ficar mais caro.

Entramos, então na década de 80, considerada como a década perdida, pois o monstro
inflacionário nos levou a implantar vários planos econômicos dentre estes, o plano cruzado e,
posteriormente o Plano Verão, o Plano Bresser até chegarmos no Plano Collor. Todos estes
planos foram considerados embrionários e preparatórios para o melhor dos planos: o Plano
Real, implantado a partir do ano de 1994. Nos anos 80 ocorreram a quebra de instituições
financeiras tais como: Comind, Auxiliar, Mainsonave.

Com o plano real o Governo cria a moeda real e a vincula ao dólar na proporção de R$ 1,00
= US$ 1 favorecendo, desta forma, a aceleração do processo de privatização com o
recebimento em moeda forte, ao mesmo tempo, esta taxa cambial favorecia a importação de
máquinas e equipamentos para a modernização do parque industrial brasileiro.

A queda da inflação vitima muitos bancos e, a partir de 1995 passamos pelo fenômeno da
quebradeira dos bancos: Nacional, Econômico, Marka, Fonte-Cindam, Bamerindus, etc.

Em 1994 ocorre a crise no México, em 1997 a crise na Ásia, em 1998 a crise Russa (também
crise no Equador) e, com a retirada de investimentos especulativos as reservas diminuem de
US$ 60 bilhões para US$ 30 bilhões e, em 13 de janeiro de 1999 a moeda real sofre a
desvalorização na ordem de 50%. Desta forma, o fluxo de exportações aumenta, pois os
produtos brasileiros ficaram mais competitivos. Neste mesmo período a Argentina entra em
crise por ter mantido o peso na mesma paridade com o dólar.

“Meus patrícios

Alvaro Edauto S. Gomes


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Ao se aproximar o fim desta campanha política, em que percorri todo o nosso


território, trago gravada em meu espírito a exata visão de nossas imensas possibilidades e a
nítida compreensão da gravidade de nossos problemas.

Estou convencido de que em nossa geração se definirá o destino do Brasil: — seremos uma
grande e rica Nação, se soubermos trabalhar intensamente e nos organizarmos para
construir nosso futuro; seremos uma grande e pobre comunidade, superpovoada e infeliz, se
nos dedicarmos ao gozo presente, à ostentação e às disputas internas.

O Brasil é ainda uma terra de oportunidades. Continuará, entretanto, retardado e sofredor,


se não quisermos lutar com a energia de construtores de um novo mundo.

Os propósitos que exponho nas páginas seguintes definem, em sua diretriz geral, o caminho
que devemos percorrer nos próximos anos, para acelerar o nosso desenvolvimento
econômico. Eles expressam o optimismo sadio e a decidida vontade de criar e realizar que
empolga os homens de fé deste imenso Brasil.

As idéias que apresento sintetizam objetivos que vêm amadurecendo no espírito dos mais
esclarecidos estudiosos de nossa realidade e das tendências de nossa evolução.

Espero que em torno delas possamos reunir o melhor da nossa capacidade de trabalho, para
darmos ao Brasil, nos próximos cinco anos, um novo impulso na senda do progresso e da
felicidade de seus filhos.”

Juscelino Kubitschek de Oliveira - 1955

Leitura do texto de Juscelino Kubitschek de Oliveira na obra Diretrizes Gerais do Plano


Nacional de Desenvolvimento disponível em :

www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/AUP840/4dossie/kubitschek-
plano55/kubit-1a-parte.pdf

3.3 Abordagem Jurídica – Breve histórico

3.3.1 CÓDIGO PENAL

Na época da descoberta do Brasil, estava em vigência em Portugal as Ordenações Afonsinas


e logo em seguida as Manuelinas. A divisão em capitanias tornava impossível a aplicação das

Alvaro Edauto S. Gomes


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leis sem um Estado centralizado e forte o suficiente. A partir dos Governos Gerais é que se
começou a efetiva aplicação da legislação penal no Brasil. A legislação aplicada no âmbito
penal era o Livro X das Ordenações Filipinas. As penas lá contidas eram horríveis. Por exemplo,
a pena de morte natural (enforcamento no pelourinho seguida de sepultamento), a morte
natural cruelmente (dependia da imaginação do executor e dos árbitros), a morte natural pelo
fogo (queima do réu vivo), morte natural para sempre (enforcamento, ficando o cadáver
pendurado até o apodrecimento). O sentido desta legislação é a intimidação feroz, sem
qualquer tipo de proporção entre a pena e o delito, ainda confundindo os interesses do Estado
com os da Igreja. Este tipo de legislação demonstra o espírito reinante nas legislações até o
surgimento do movimento humanitário.
O Livro X das Ordenações Filipinas fica vigente no Brasil até a edição de nosso primeiro
Código Penal em 1830. Em 16 de dezembro de 1830 entra em vigor o primeiro Código Penal
autônomo na América Latina. Este 1º Código Penal sofreu influências das idéias européias
vigentes na época: princípios liberais do Iluminismo e algumas idéias de Bentham. As
influências legislativas mais importantes foram do Código francês de 1810, Código Napolitano
de 1819.
Apesar da grande influência estrangeira, o nosso Código Penal é inovador em vários
aspectos. Entre eles a exclusão da pena capital para crimes políticos, fixava um esboço de
individualização da pena, previa a existência de atenuantes e agravantes e estabelecia
julgamento especial para menores de quatorze anos. Este nosso diploma penal, influenciou a
legislação espanhola (códigos de 1848 e 1870), que por sua vez influenciou muitos outros
códigos da América Latina.
Com a proclamação da República, foi editado em 11 de outubro de 1890 o novo estatuto,
agora denominado Código Penal. Com ele aboliu-se a pena de morte, instalou-se o regime
penitenciário de caráter correcional. Entretanto foi um código elaborado as pressas e por isso
continha muitas falhas e teve de ser modificado por uma série de leis extravagantes. Estas leis
foram reunidas na Consolidação das Leis Penais, pelo de Decreto nº 22.213 de 14 de dezembro
de 1932.
Em 1º de janeiro de 1942, entra em vigor um novo Código Penal, este vigente até hoje. È
tida pelos estudiosos como uma obra eclética , aceitando-se postulados da Escola Clássica e da
Positiva, e utilizando o que havia de melhor nas legislações modernas de orientação liberal,
especialmente o código italiano e suíço. Alguns princípios básicos: adoção do dualismo
culpabilidade-pena e periculosidade-medida de segurança, consideração a respeito da
personalidade do criminoso, a aceitação excepcional da responsabilidade objetiva .

3.3.2 CÓDIGO CIVIL

Uma vez proclamada a independência do Brasil, uma lei editada em outubro de 1823
determinou a manutenção das Ordenações Filipinas em nossas terras, bem como demais

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formas normativas emanadas dos imperadores portugueses que vigoravam até a data de 26 de
abril de 1821.

A Constituição do Império de 1824 estabeleceu que fossem organizados um código civil e


também um criminal, em caráter de urgência. Pois bem. Nosso diploma civil passou por uma
série de fases e demorou quase um século para ser elaborado, aprovado e promulgado.

Informação de extrema relevância, pois nos força a analisar o fato de que nosso Código
fora confeccionado em um tempo – e para esse tempo - e acabou por regrar um momento
histórico, político, econômico e social completamente distinto, fundado em princípios quase
que opostos aos de sua feitura.

Ou seja, o Código Civil foi elaborado ainda, dentro da dogmática que apartava o Direito
Público do Direito Privado, envolto pelos ideais de liberalismo e individualismo.

Quando foi promulgado, essa realidade já estava em crise, tendo em vista a enorme
quantidade de demandas sociais que exigiam a intervenção estatal. O voluntarismo puro não
mais se enquadrava no cenário que ora se apresentava.

O Código Civil de 1916 era um código de sua época, elaborado a partir da realizada típica
de uma sociedade colonial, traduzindo uma visão do mundo condicionado pela circunstância
histórica, física e étnica em que se revela. Sendo a cristalização das idéias dominantes,
detentores do poder político e social da época, por sua vez determinadas, ou condicionadas,
pelos fatores econômicos, políticos e sociais.

3.3.3 CÓDIGO COMERCIAL

Já o registro mercantil no Brasil pode ser dividido em duas fases distintas. A primeira é
originada no período colonial entre os anos de 1750 e 1777, surgia no Brasil as chamadas
Mesas de Inspeção. A partir deste fato surgem as origens do registro do comércio em nosso
País. Embora elas não realizassem ainda todos os serviços hoje desempenhados pelas Juntas
Comerciais, podem ser consideradas como as primeiras instituições criadas no Brasil com este
objetivo. Eram voltadas mais para o comércio externo, pois o comércio interno era ainda
pouco desenvolvido, situando-se, portanto, apenas nas principais cidades marítimas. As Mesas
de Inspeção desempenharam seu papel por aproximadamente 70 anos, quando foram
absorvidas pela “Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábrica e Navegação”, cuja finalidade era
efetuar o registro e manter o controle das atividades comerciais. Criando assim o primeiro
Tribunal brasileiro específico para as atividades do comércio. A partir de 1850, foi absolvida
pelos Tribunais do Comércio, com funções administrativas e judiciárias, cujas atividades
estavam sujeitas ao Código Comercial Brasileiro de 1850. O registro do comércio, no entanto,
era apenas uma das atribuições inseridas nas demais atividades dos Tribunais de Comércio,
pois o mesmo código estabelecia, em seu artigo 11, que nas Secretarias dos Tribunais de
Comércio haveria o registro público do comércio, onde em livros próprios seriam inscritos não
só as matrículas dos comerciantes, como também os papéis com a abertura dos Portos por D.
João VI.

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3.3.4 CÓDIGO TRIBUTÁRIO

Na fase das capitanias hereditárias os donatários eram os cobradores de impostos sobre a


pescaria, engenho e salinas. Na maioria das regiões do Brasil quem detinha o poder eram os
jesuítas, os latifundiários e os apresadores de índios.

O Brasil Colônia pagava um alto tributo para seu colonizador, Portugal. Esse tributo incidia
sobre tudo o que fosse produzido em nosso país e correspondia a 20% da produção. Essa
taxação altíssima, absurda, era chamada de "O Quinto". Esse imposto recaía principalmente
sobre nossa produção de ouro. O Quinto era tão odiado pelas pessoas que foi apelidado de "o
quinto dos infernos".

Na fase do ciclo do ouro aumentou o fiscalismo português.

Derrama: decreto que estabelecia que, se a captação não fosse paga os bens dos
mineradores poderiam ser confiscados.

Uma das atribuições de Dom João VI com a vinda da família real para o Brasil foi a instalação
de tribunais e a criação de novos impostos.

Próximo ao movimento da independência, os produtos ingleses passaram a ser mais


tributados.

Veja quais são os 74 impostos no Brasil Com a criação da taxa de fiscalização e controle da Previdência
Complementar - TAFIC - art. 12 da MP nº 233/2004 - agora são 74 impostos e taxas no Brasil - correspondendo a
48,83% sobre o faturamento bruto das empresas.

Confira a lista de tributos que pagamos no Brasil - segundo o sitio da Aclame. * Adicional de Frete para Renovação
da Marinha Mercante - AFRMM - Lei 10.893/2004 * Contribuição á Direção de Portos e Costas (DPC) - Lei
5.461/1968 * Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FNDCT - Lei
10.168/2000 * Contribuição ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), também chamado
"Salário Educação" * Contribuição ao Funrural * Contribuição ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA) - Lei 2.613/1955 * Contribuição ao Seguro Acidente de Trabalho (SAT) * Contribuição ao Serviço
Brasileiro de Apoio a Pequena Empresa (Sebrae) - Lei 8.029/1990 * Contribuição ao Serviço Nacional de
Aprendizado Comercial (SENAC) - Lei 8.621/1946 * Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado dos
Transportes (SENAT) - Lei 8.706/1993 * Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (SENAI) - Lei
4.048/1942 * Contribuição ao Serviço Nacional de Aprendizado Rural (SENAR) - Lei 8.315/1991 * Contribuição ao
Serviço Social da Indústria (SESI) - Lei 9.403/1946 * Contribuição ao Serviço Social do Comércio (SESC) - Lei
9.853/1946 * Contribuição ao Serviço Social do Cooperativismo (SESCOOP) * Contribuição ao Serviço Social dos
Transportes (SEST) - Lei 8.706/1993 * Contribuição Confederativa Laboral (dos empregados) * Contribuição
Confederativa Patronal (das empresas) * Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico - CIDE Combustíveis -
Lei 10.336/2001 * Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública - Emenda Constitucional 39/2002 *
Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional - CONDECINE - art. 32 da Medida
Provisória 2228-1/2001 e Lei 10.454/2002 * Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) *
Contribuição Sindical Laboral (não se confunde com a Contribuição Confederativa Laboral, vide comentários sobre a

Alvaro Edauto S. Gomes


22

Contribuição Sindical Patronal) * Contribuição Sindical Patronal (não se confunde com a Contribuição Confederativa
Patronal, já que a Contribuição Sindical Patronal é obrigatória, pelo artigo 578 da CLT, e a Confederativa foi
instituída pelo art. 8º, inciso IV, da Constituição Federal e é obrigatória em função da assembléia do Sindicato que a
instituir para seus associados, independentemente da contribuição prevista na CLT) * Contribuição Social Adicional
para Reposição das Perdas Inflacionárias do FGTS - Lei Complementar 110/2001 * Contribuição Social para o
Financiamento da Seguridade Social (COFINS) * Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) *
Contribuições aos Órgãos de Fiscalização Profissional (OAB, CRC, CREA, CRECI, CORE, etc.) * Contribuições de
Melhoria: asfalto, calçamento, esgoto, rede de água, rede de esgoto, etc. * Fundo Aeroviário (FAER) - Decreto Lei
1.305/1974 * Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (FISTEL) - lei 5.070/1966 com novas disposições da lei
9.472/1997 * Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) * Fundo de Universalização dos Serviços de
Telecomunicações (FUST) - art. 6 da Lei 9998/2000 * Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das
Atividades de Fiscalização (Fundaf) - art.6 do Decreto-lei 1.437/1975 e art. 10 da IN SRF 180/2002. * Imposto
s/Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) * Imposto sobre a Exportação (IE) * Imposto sobre a Importação (II)
* Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) * Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial
Urbana (IPTU) * Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) * Imposto sobre a Renda e Proventos de
Qualquer Natureza (IR - pessoa física e jurídica) * Imposto sobre Operações de Crédito (IOF) * Imposto sobre
Serviços de Qualquer Natureza (ISS) * Imposto sobre Transmissão Bens Intervivos (ITBI) * Imposto sobre
Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) * INSS - Autônomos e Empresários * INSS - Empregados * INSS -
Patronal * IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) * Programa de Integração Social (PIS) e Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) * Taxa de Autorização do Trabalho Estrangeiro * Taxa de
Avaliação in loco das Instituições de Educação e Cursos de Graduação - lei 10.870/2004 * Taxa de Classificação,
Inspeção e Fiscalização de produtos animais e vegetais ou de consumo nas atividades agropecuárias - Decreto Lei
1.899/1981 * Taxa de Coleta de Lixo * Taxa de Combate a Incêndios * Taxa de Conservação e Limpeza Pública *
Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - TCFA - lei 10.165/2000 * Taxa de Controle e Fiscalização de Produtos
Químicos - lei 10.357/2001, art. 16 * Taxa de Emissão de Documentos (níveis municipais, estaduais e federais) *
Taxa de Fiscalização CVM (Comissão de Valores Mobiliários) - lei 7.940/1989 * Taxa de Fiscalização de Vigilância
Sanitária Lei 9.782/1999, art. 23 * Taxa de Fiscalização dos Produtos Controlados pelo Exército Brasileiro - TFPC -
lei 10.834/2003 * Taxa de Fiscalização e Controle da Previdência Complementar - TAFIC - art. 12 da MP 233/2004 *
Taxa de Licenciamento Anual de Veículo * Taxa de Licenciamento para Funcionamento e Alvará Municipal * Taxa
de Pesquisa Mineral DNPM - Portaria Ministerial 503/1999 * Taxa de Serviços Administrativos - TSA - Zona Franca
de Manaus - lei 9960/2000 * Taxa de Serviços Metrológicos - art. 11 da lei 9933/1999 * Taxas ao Conselho Nacional
de Petróleo (CNP) * Taxas de Outorgas (Radiodifusão, Telecomunicações, Transporte Rodoviário e Ferroviário, etc.)
* Taxas de Saúde Suplementar - ANS - lei 9.961/2000, art. 18 * Taxa de Utilização do MERCANTE - Decreto
5.324/2004 * Taxas do Registro do Comércio (Juntas Comerciais) * Taxa Processual Conselho Administrativo de
Defesa Econômica - CADE - Lei 9.718/1998 Robson Alves Ribeiro:consultor, pesquisador e analista dos estudos da
Administração de Empresas e criador do BLOG TOUROLOUCO

Registramos nesta apostila, as principais informações históricas com conotação econômica e


jurídica para, desta forma, avançarmos para os capítulos subseqüentes.

CAPÍTULO II - REESTRUTURAÇÃO SOCIETÁRIA E CONCENTRAÇÃO DE MERCADO

1. Modalidades de Crescimento Empresarial e Reorganização Societária

Alvaro Edauto S. Gomes


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Faremos neste módulo um estudo sobre o comportamento das Sociedades Anônimas de


capital aberto para facilitar o entendimento dos assuntos que serão apresentados. Estas
sociedades possuem ações disponibilizadas na Bolsa de Valores de São Paulo, o que significa
dizer que, a partir da abertura de capital, terão responsabilidades perante os acionistas e
compromissos tais como, publicação de demonstrações financeiras, realização de assembléias,
contratação de um diretor de relações com o mercado, além de alimentar as corretoras e o
mercado (stakeholders) de informações sobre as decisões internas, como forma de mantê-los
informados, facilitando, desta forma, a transparência das operações e informações, o que
favorece o processo de captação de recursos , pois promove a valorização da empresa no
mercado de capitais. A Lei da Sociedades Anônimas de 1976 prevê a oferta de ações ordinárias
(com direito a voto) e preferenciais (ao investidor interessado pelo recebimento de
dividendos).

Uma das estratégias para ganhar valor no mercado dar-se-á, muitas vezes, por intermédio
de orientações de bancos de investimento que estimulam as empresas a comprarem
(incorporação) , venderem (cisão) ou se juntarem a uma outra empresa (joint ventures) e,
desta forma colher alguns benefícios, tais como:

 Benefício tributário;

 Redução de custos;

 Aumento do market share;

 Estratégia de investimento;

 Incorporação de tecnologia e capital humano.

Por nos referirmos às sociedades anônimas, levaremos em consideração que tais decisões
devem ir ao encontro dos interesses dos acionistas que são representados pelo Conselho
Fiscal, Conselho da Administração, Comitê de Auditoria e Diretoria da Sociedade Anônima,
sendo necessário, para a aprovação da reorganização societária (incorporação, cisão ou fusão),
a convocação de uma Assembléia Geral.

1.1 Atribuições do Conselho Fiscal:

I) Fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e verificar o


cumprimento de seus deveres legais e estatutários;

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II) Opinar sobre as propostas dos órgãos da administração relativas a modificação do


capital social, emissão de debêntures, planos de investimento, distribuição de
dividendos, transformação, incorporação, cisão ou fusão;

III) Denunciar, por qualquer de seus membros, aos órgãos de administração e, se estes
não tomarem as providências necessárias para a proteção dos interesses da
companhia, à assembléia-geral, os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, e
sugerir providências úteis à companhia;

IV) Convocar a assembléia-geral ordinária, se os órgãos da administração retardarem por


mais de um mês esta convocação, e a extraordinária sempre que ocorrerem
motivos graves ou urgentes;

V) Analisar o Balancete e demais demonstrações financeiras;

1.2 Modalidades de Crescimento empresarial

Existem 2 alternativas para as empresas crescerem: ou de forma vertical ou de forma


horizontal.

Na forma vertical as empresas incorporam (compram) empresas de segmentos


completamente diferentes objetivando, talvez, equalizar os seus ganhos em momentos de
dificuldades para um dos segmentos. Representamos esta modalidade de crescimento através
do exemplo abaixo referente à empresa X:

Em 1930 a empresa X inicia as suas atividades no setor petroquímico;


Alvaro Edauto S. Gomes
100

80
25

Em 1940 compra uma instituição financeira para o financiamento de


suas atividades com o comércio exterior

Em 1950 passa a investir no segmento imobiliário através da


incorporação de uma construtora – segmento luxo

Em 1960 compra participação acionária de uma empresa de cimento

Em 1970 compra fazenda de abate de gado bovino

Em 1980 compra estação de rádio e TV

Em 1990 a empresa compra o controle acionário de uma empresa de


brinquedos

Importante observar que, quando nos referimos a equalização dos resultados, queremos
dizer que, se em uma época um dos segmentos estiver proporcionando pouco faturamento
ou baixa lucratividade ou baixo retorno sobre o patrimônio líquido ao conglomerado
financeiro-industrial, então outro segmento poderá compensar esta perda evitando, portanto,
que o grupo tenha problemas no seu fluxo de caixa e recorra a financiamentos externos
(bancos locais e no exterior). Atuando em um único segmento, portanto, poderá corresponder
a um risco maior do negócio.

Sobre a empresa de cimento que foi “incorporada”, a empresa pretende ter apenas uma
participação acionária, sem necessariamente interferir nas decisões da empresa. Talvez esta
opção seja vista como mera estratégia de investimento ou aquisição do controle acionário de
forma gradual.

Já no caso do controle acionário da empresa de brinquedos, a finalidade da aquisição do


controle acionário dará direito de representação na mesa do conselho constituído e haverá
interferência direta dos seus controladores. O controle acionário dar-se-á quando a empresa
do grupo detiver 50 % mais uma ação ou a totalidade delas (com direito a voto). Se as ações
estiverem pulverizadas, então o controle acionário poderá ser adquirido com percentual
menor, portanto, trabalharemos dentro de certas proporções.

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26

Torna-se evidente, em função da diversificação das atividades da empresa a necessidade da


constituição de uma Holding ou Empresa controladora, passando o organograma da empresa
a ser constituído da seguinte forma:

HOLDING

Empresa de Instituição Empresa Construtora


Rádio-Difusão Financeira Agropecuári
a

Empresa
Petroquímica

Empresa de Participação
brinquedos societária em
empresa de
(Subsidiária) cimento
Detém 52% das (Coligada) 10%
ações de participação
acionária

Com a constituição da Holding o sistema de gerenciamento de compras, vendas,


contabilidade, logística podem ser unificados, além disso, a entidade ganha representatividade
maior junto às instituições financeiras em caso de empréstimos ou financiamentos. Muitas

Alvaro Edauto S. Gomes


27

das Holdings são constituídas como estratégia para facilitar o planejamento sucessório, é o
que chamamos de Holdings familiares.

Podemos citar várias empresas que possuem esta estrutura verticalizada: Odebrecht, Grupo
Silvio Santos, Organizações Globo, General Eletric. Citamos, também as empresas
controladoras BRADESPAR, GLOBOPAR, ITAUSA, Holdings dos grupos BRADESCO, REDE GLOBO
e BANCO ITAÚ.

Consideramos que as instituições financeiras denominadas bancos múltiplos também


possuem esta estrutura verticalizada, pois são idealizadas para atuarem em diversos
segmentos:

Holding

Corretora de Valores e Câmbio

Distribuidora de títulos e valores


mobiliários

Leasing ou Arrendamento Mercantil

Securitizadora de créditos imobiliários

Seguros Gerais

Vida e Previdência

Banco de Investimento

No crescimento horizontal ocorre o que chamamos de crescimento vegetativo ou orgânico.


Isto ocorre com empresas quando aderem ao sistema de franquia, com igrejas quando
constroem outras igrejas em novos territórios para a formação e aumento de seu “rebanho”,
com bancos quando resolvem abrir as agências bancárias. Nestes casos, a oferta dos serviços
não sofreu nenhum processo de diversificação.

2. O Processo de Incorporação Empresarial

Alvaro Edauto S. Gomes


28

No processo de incorporação empresarial, geralmente há o desembolso efetivo de recursos


ou o pagamento com ações, conforme representamos abaixo:

Empresa A

(Petroquímica) Empresa B

(Cimento)

Havendo o pagamento pela incorporação os atuais incorporadores passam a comandar a


mais nova empresa do grupo. Podemos citar como exemplo a recente aquisição feita pelo
Grupo Votorantim, comprando a parte da família Lorentzen da Aracruz Celulose. Neste caso,
houve uma incorporação parcial, uma vez que há outras famílias que gerem a empresa.

Se o pagamento for feito em ações, o antigo proprietário deixa de ser o dono da empresa e
poderá compor o conselho da administração ou se tornar um acionista com participação
acionária, apenas, passando a receber os dividendos quando de sua distribuição e contar com
a valorização das ações na Bolsa de Valores.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Quanto ao nome da empresa, poderá haver acordos pela utilização do nome por um prazo
previamente estabelecido, a aquisição da marca em si, além da aquisição patrimonial ou a
opção pela não utilização da marca, passando a incorporadora a ofertá-la no mercado como
ativo intangível. Podemos dar como exemplo a recente aquisição da bandeira Esso pelo grupo
COSAN, maior empresa do setor sucroalcooleiro do mundo.

Em boa parte dos casos uma grande empresa incorpora uma de porte menor.

2.1 Case de Incorporação e Cisão:

Kraft Foods do Brasil

Nabisco Comprou a Nabisco em 2000

(Biscoitos, chocolates e bebidas em pó)

Sucos Maguary
Sucos Maguary (2009)

Souza Cruz
Cia Brasileira de Bebidas

Família Pernambucana Tavares de Melo


Sucos Maguary (1984)
Sucos Maguary (1953)

Neste caso específico, estamos nos referindo, ao mesmo tempo em situações de cisão e
incorporação, uma vez que a empresa de sucos Maguary foi incorporada e vendida em vários
momentos de sua história. As cisões realizadas podem ter ocorrido pelas seguintes razões:

 A empresa conclui que o segmento não é o core business do grupo empresarial;

 A empresa compra, faz o saneamento financeiro e depois a oferece à novos grupos,


ganhando com a operação de venda (fundos de private equity);

2.2 Incorporações no segmento da indústria farmacêutica:

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Data Alvo Comprador

04/11/99 Warner-Lambert Pfizer (EUA)

17/01/00 SmithKline Beencham Glaxo Wellcome (Reino


Unido)

26/01/04 Aventis Sanofi-Synthelabo

26/01/09 Wyeth Pfizer

15/07/02 Pharmacia Pfizer

06/03/09 Gegentech (44,1%) Roche Holding (Suíça)

09/03/09 Schering-Plough Merck (EUA)

09/12/98 Astra (Reino Unido) Zeneca Group (Suécia)

17/05/99 Hoescht Rhone-Poulenc

20/12/99 Pharmacia e Upjohn Monsanto (EUA)

07/03/96 Ciba-Geigy (Alemanha) Sandoz

23/03/06 Schering Bayer (Alemanha)

26/06/06 Pfizer *Healthcare Business Johnson & Johnson (EUA)

27/03/01 Alza Corp Johnson & Johnson

Fonte: Valor Econômico – 10 de março de 2009 Página B9

Podemos concluir, neste caso, um processo de concentração de empresas deste segmento


sendo a lógica a seguinte: laboratórios com patentes em vias de suspensão quando não
conseguem novas patentes são alvos das incorporadoras. Este processo de incorporação visa o
aperfeiçoamento do departamento de novos produtos e pesquisa. Após a quebra da patente,
os laboratórios concorrentes de produtos genéricos entram em ação e tiram o mercado destas

2.3 Cuidados a serem tomados em um processo de Incorporação e Fusão

Alvaro Edauto S. Gomes


31

A aquisição de uma empresa por outra empresa não é um processo simples, pois são
consideradas uma infinidade de variáveis para que a operação seja feita com total segurança,
pois existem alguns riscos envolvidos:

1. Comprar uma empresa exportadora e, na semana posterior esta empresa perde


mercado por denúncia de trabalho escravo em uma de suas fazendas. Neste caso,
estaremos diante de um risco operacional;

2. Comprar uma empresa muito alavancada em ativos financeiros (derivativos).


Ocorrendo uma desvalorização cambial a dívida em reais da empresa aumenta,
podendo inviabilizar o negócio. Neste caso, referimo-nos ao risco de mercado. Por
essa razão, devemos considerar a observação de todo e qualquer tipo de contrato
negociado pela empresa incorporada;

3. Comprar uma empresa deixando de considerar o passivo tributário, passivo cível,


passivo trabalhista, passivo penal e passivo ambiental. Processos podem estar em
andamento e há a necessidade da valoração deste passivo em uma eventual perda do
processo, o que significará o pagamento das indenizações que podem ser milionárias.

Cabe salientar que, haverá a necessidade de uma avaliação patrimonial contando, desta
forma, com o conhecimento dos profissionais da área da Engenharia e empresas e Auditoria.
Uma sociedade anônima tem o seu valor de mercado definido na bolsa de valores através da
cotação da ação. Comprar por este valor poderá significar pagar muito ou pagar pouco por
esta empresa, tudo dependerá dos acontecimentos no mercado. Uma situação como a atual
(crise do subprime – 2008 nos Estados Unidos) provocou a desvalorização das ações de
empresas a ponto de valerem menos do que o patrimônio. Neste caso, como processaremos a
operação de compra ? Em boa parte das operações de compra considerasse o pagamento do
ágio/deságio e leva-se em consideração a capacidade de geração de caixa futura da empresa
incorporada.

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3. O Processo de Fusão Empresarial

No processo de fusão empresarial, o que constatamos é uma similaridade entre as


empresas envolvidas, isto quer dizer que, geralmente, atuam na mesma área pelas seguintes
razões:

 Conseguir ganhos de escala. Quanto maior o volume de produção, menor será o custo
por unidade produzida. Neste aspecto, produzimos uma quantidade maior ao mesmo
custo fixo, o que favorece a redução dos custos;

 Conquistar o mercado externo apresentando-se como uma grande empresa;

 Aumento da participação no mercado (market share);

 Vantagens tributárias.

Podemos retratar a situação da seguinte forma:

Empresa A Empresa B

Ambas as empresas têm interesse pela realização da fusão. Por serem grandes demais,
nenhuma tem interesse em adquirir a outra, então, nenhuma delas fará o desembolso de
recursos e o processo se dará através da permuta de ações. Lembremos que todos os
exemplos são referentes às sociedades anônimas. Será levado em consideração o valor da
ação no período e a quantidade de ações à disposição do mercado. Geralmente a empresa
com o maior valor, resultado da multiplicação entre o valor da ação e a quantidade de ações
no mercado, ficará com o controle acionário do novo grupo que se forma e também assumirá
a presidência do novo grupo.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Empresa Valor da ação na Quantidade de ações Valor total da


Bolsa – R$ no mercado empresa

A 2,40 3.000.000 7.200.000

B 5,30 5.000.000 26.500.000

Portanto, na proporção de ações e seu respectivo valor, a fusão resultará no domínio da


empresa B sobre a A.

A: participação de 21%

B: participação de 79%

Teremos, então, a unificação patrimonial:

Empresa A Empresa B

O resultado dessa fusão resultará na empresa de proporções maiores:

Nova empresa:

A/B ou C

Alvaro Edauto S. Gomes


34

Na fusão poder-se-á optar pela manutenção do nome das duas empresas envolvidas, tais
como ocorreu com a fusão entre a empresa alemã DAIMLER-BENZ e a norte americana
CHRYSLER (A/B) que resultou na DAIMLER-CHRYSLER. A outra opção seria a substituição de
ambos os nomes, geralmente ocorrendo quando as marcas já tornaram-se velhas demais.
Neste caso lembremos da empresa NOVARTIS (C) que foi o resultado da fusão de duas
empresas do ramo farmacêutico a SANDOZ e a CIBA-GEIGY.

4. Malefícios da Incorporação e da Fusão

Quando tomamos conhecimento que alguma operação de fusão ou incorporação está em


vias de ser concluída, o primeiro sentimento, principalmente dos empregados das empresas
envolvidas é o desemprego, pois a superposição de funções nos níveis gerenciais e
operacionais poderá resultar em demissões. Para evitar problemas com o sindicato da
categoria, geralmente as empresas propõem o PDV – Plano de demissão voluntária com
“bonificações” aos interessados. Além disso, a cultura de uma empresa difere da outra, o que
poderá gerar conflitos entre os funcionários e equipes. Há empresas com um departamento de
recursos humanos mais preocupadas com o capital humano, outra empresa com estrutura de
informática mais avançada, etc.

Muitas das incorporações e fusões realizadas devem ser avaliadas pelo governo para que
seja evitada a concentração de mercado que, na legislação brasileira, corresponde a 20% de
um mercado relevante (ver legislação 8884/94 sobre concentração de mercado). Por essa
razão é que as incorporações e fusões devem ser comunicadas ao órgão anti-truste brasileiro.

No Brasil há o SBDC – Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência composto pela


Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, a Secretaria de Direito
Econômico do Ministério da Justiça, sendo o julgamento feito pelo CADE – Conselho
Administrativo de Defesa Econômica. Cabe às secretarias receberem as denúncias e
encaminhá-las ao órgão julgador para análise.

5. Os Reflexos no Mercado de Capitais

Alvaro Edauto S. Gomes


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As fusões e incorporações sejam entre empresas brasileiras ou entre uma empresa


estrangeira e uma nacional repercutem negativamente ou positivamente no mercado de
ações. Caberá aos analistas de mercado a responsabilidade pelas informações aos seus clientes
sobre a perspectiva de valorização ou desvalorização das ações no novo grupo que se forma
(no caso da fusão) ou da incorporação que foi realizada.

Quando o mercado faz a leitura de que a empresa incorporadora herdará um passivo


trabalhista considerável da empresa incorporada, isto poderá repercutir negativamente no
valor da ação da empresa ou, se com a incorporação e desembolso de recursos reduzir a
possibilidade de distribuição dos dividendos da empresa incorporadora para o reforço de
caixa, poderá o mercado interpretar negativamente a situação.

Demandas judiciais também ocorrem, principalmente em relação aos acionistas


minoritários que, em muitos casos não foram remunerados pelo valor da ação na data da
negociação. Esse problema está sendo sanado através da Governança Corporativa que sugere
que as ações negociadas sejam todas ordinárias, nos mesmos moldes do mercado norte-
americano. A tendência, portanto, é que as ações preferenciais deixem de ser negociadas no
mercado para que se evite o problema do TAG ALONG.

Uma outra situação que vale a pena mencionarmos é a questão do insider trading. Trata-se
de uma modalidade de crime repugnado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que é o
órgão responsável pela regulação do mercado de capitais no Brasil. Ser um insider trading
corresponde a um elemento que se privilegia de sua função na empresa para passar
informações sobre as ocorrências internas e se beneficiar ou beneficiar a terceiros de forma
antecipada com operações de compra ou venda das ações. Já ocorreram situações onde o
colegiado da CVM puniu um investidor por ter negociado ações de uma empresa no período
anterior ao anúncio de oferta pública para fechamento de capital. Não houve a comprovação
da exata transmissão da informação, mas a condenação ocorreu pelo fato da amizade muito
próxima do acusado com o diretor da companhia. Dois casos emblemáticos foram o da Sadia
quando da oferta hostil que fez com a Perdigão. O diretor financeiro foi punido, um
funcionário do Banco Real também por ter ajudado na condução da oferta. O inquérito foi
encerrado com um acordo entre os acusados e o órgão regulador americano, o que resultou
no pagamento de multas. O outro caso ocorreu quando da incorporação da Suzano
Petroquímica pela Petrobrás que, segundo a CVM a empresa uruguaia beneficiada pagou uma
multa de R$ 2,2 milhões. Os elementos comprobatórios podem ser: gravações nas mesas de
operação, documentos internos como e-mail´s.

Alvaro Edauto S. Gomes


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6. Estruturas Empresariais e Concentração de Mercado

O processo de industrialização no Brasil ocorreu de forma tardia, intensificando-se a partir


dos anos 30 através da 1ª. Revolução Industrial Brasileira no governo de Getúlio Vargas e
moldou-se de forma a apresentar uma estrutura, em alguns dos segmentos, excessivamente
monopolizada, duopolizada ou oligopolizada sendo a representação do domínio do mercado
por uma, duas ou mais empresas, respectivamente.

Nos setores ferroviário, elétrico, siderúrgico, químico e telefônico implantou-se o


monopólio estatal, ou o monopólio legalmente instituído. A administração dos aeroportos no
Brasil também caracterizou-se como tal através da gestão INFRAERO (constituída nos termos da
Lei nº 5.862, de 12 de dezembro de 1972) e a entrega de correspondências e encomendas
também, através da empresa CORREIO (Em 20 de março de 1969, pela Lei nº 509, constitui-se a
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, como empresa pública vinculada ao Ministério das
Comunicações). Um outro exemplo encontramos no sistema de penhor que é monopólio da
Caixa Econômica Federal desde 1934, sendo desnecessário este tipo de monopólio nos dias
atuais. No caso do Correio, já ocorreram brigas na justiça (liminares) por parte da empresa que
procurou garantir o seu mercado protegido constitucionalmente de empresas tais como UPS,
DHL e FedEx.

O processo de privatização iniciado a partir de 1991 no Governo Collor e a sua dinamização


na gestão FHC a partir de 1994 desonerou o governo ao privatizar os segmentos que atuava e
criou as agências reguladoras para monitorar as concessões realizadas. É então que surgem a
ANATEL (Telecomunicações), a ANEEL (Eletricidade) e demais agências para a regularização do
setor ferroviário e viário para o acompanhamento do bom andamento dos contratos e das
responsabilidades assumidas.

No caso das empresas multinacionais, podemos constatar, na maior parte destas, uma
estrutura oligopolizada, como foi o caso do setor automobilístico que, durante anos era
representado por 4 empresas apenas (Volkswagem, Ford, GM e Fiat), ou do setor farmacêutico
nas mãos de empresas como Johnson & Johnson, Bayer, Roche, setor de produtos de limpeza
nas mãos de empresas como RECKIT BENCKSER, Johnson & Johnson, Procter & Gamble.
Perceba como a conta do supermercado aumenta consideravelmente quando passamos por
essas prateleiras. O setor de cimentos hoje nas mão de empresas tais como Votorantin,
Holdercin, Cimpor e Lafarge. Se analisarmos o mercado de elevadores e escadas rolantes
contaremos com a presença de empresas como OTIS, SCHINDLER, THYSSEN KRUPP. Muito da
inflação dos anos 80 e 90 teve a participação desses grupos. Em termos mundiais, sentimos a
força dominante na industria de filmes com forte participação de empresas estrangeiras.
Crescemos assistindo aos desenhos e filmes da Disney, além de mega produções da Fox,
Paramount, Sony, Universal e Warner. Não podemos deixar de considerar uma estrutura
oligopolizada também no setor bancário onde há maior participação de bancos tais como
BANCO DO BRASIL, CEF, BRADESCO, ITAÚ-UNIBANCO. Esta estrutura dificulta a concorrência
entre o segmento e resulta em cobranças de taxas ainda consideradas altas no mercado
bancário (temos algo próximo a 190 instituições financeiras no Brasil contra 8.000 nos Estados
Unidos). Mesmo com a entrada de grupos europeus tais como SANTANDER e HSBC a
concentração manteve-se até os dias atuais. Os seis maiores conglomerados financeiros

Alvaro Edauto S. Gomes


37

(ItaúUnibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Santander, CEF e HSBC) respondem por quase 80%
dos ativos administrados pelo conjunto de bancos com carteiras comerciais.

Neste caso, caberá ao Governo se empenhar para gerar concorrência internamente,


estimulando a criação de empresas locais e entradas de novas concorrentes, mesmo sendo
estrangeiras. Quando não exerce esta função, a tendência é um domínio cada vez maior destas
empresas no que se refere ao controle de preços e demais estratégias para sempre lucrarem
neste mercado. Para elucidarmos esta questão, lembremos da única empresa no Brasil que
fornecia lata de alumínio para as empresas de bebidas: LATASA – Latas de Alumínio S/A.
Durante anos foi a única a fornecer o produto no mercado interno, porém, alguns anos depois
outras concorrentes estrangeiras entraram no país e a própria Cia Siderúrgica Nacional chegou
a oferecer ao mercado as latas de aço.

Sobre o duopólio, podemos exemplificar o império conquistado no Brasil e no mundo pelas


empresas FUJI e KODAK nos anos 70 e 80 quando eram as mais reconhecidas no mercado
fotográfico e a BOEING e a AIR BUS na disputa pelo mercado de jatos comerciais.

Um outro caso mundialmente conhecido foi o da XEROX a qual detinha o império do


mercado mundial de material reprográfico até final dos anos 90 quando surgiram novas
concorrentes e o império ruiu. Neste caso, a alta tecnologia aplicada aos produtos da empresa
caracterizaram a conquista de mercado como um monopólio natural. O mesmo podemos
falar de empresas como a COCA-COLA a qual desenvolveu um sistema de logística de
distribuição que nenhum concorrente possui até hoje e, porque não lembrarmos do produto
GILLETE, hoje incorporada à Procter & Gamble, mas que investia milhões de dólares para
desenvolver a melhor lâmina de barbear do mundo com equipes próprias de engenheiros que
desenvolviam máquinas específicas para a elaboração do produto.

O que não for considerado monopólio natural e legal será enquadrado como monopólio
forçado que pode ocorrer da seguinte forma:

a) Empresa incorpora a concorrente ou concorrentes fechando-as, em seguida. Neste


caso, fica claro que a intenção da empresa é aniquilar a concorrência em prejuízo aos
consumidores que antes tinham maior opção de escolha e, com a incorporação esta
opção é reduzida drasticamente;

b) A exigência de contratos de exclusividade é outra estratégia geralmente utilizada pelas


empresas dominantes. O caso na SOUZA CRUZ é emblemático, pois recebeu acusações
de sua principal concorrente a PHILIP MORRIS de atuar de tal maneira no mercado
brasileiro, o que justificava a participação no mercado superior a 70%. Recentemente a
AMBEV também foi notificada;

c) A pratica de dumping, ou seja, a venda de produto abaixo do custo e por um


determinado tempo com a finalidade de aniquilar a concorrência é outra forma de
conquista do mercado à força, devendo as empresas, concorrentes, em casos de
suspeita, denunciar a operação ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica
através das Secretarias de Direito e Acompanhamento Econômico.

Alvaro Edauto S. Gomes


38

Todas estas operações são denominadas TRUSTE e são consideradas atos criminosos,
podendo a empresa dominante obrigada a revender a empresa incorporada, desfazer os
seus contratos de exclusividade e suspender a prática do dumping, ficando sujeita,
portanto às multas previstas na legislação. Essas ações são geralmente arquitetadas por
empresas monopolistas.

Com relação ao oligopólio, que corresponde ao domínio do mercado por duas ou mais
empresas, as estratégias coletivas podem ter as seguintes características:

a) Aumento orquestrado de preços;

b) Delimitação das áreas de atuação;

c) Retirada da matéria-prima com atraso para beneficiar-se do preço;

d) Aplicação do dumping (venda de bens e serviços abaixo do preço de mercado).

Neste caso, estaremos diante de uma operação de CARTEL, que também é considerado um
ato criminoso, podendo os envolvidos serem incriminados como formação de quadrilha, além
de responderem a processos administrativos junto ao Conselho Administrativo de Defesa
Econômica.

Cases sobre cartel:

I - No Ministério da Justiça já acumula 294 investigações de cartel. Um dos mais famosos foi
a operação Fanta, conhecida como a maior operação de apreensão de documentos na história
da Secretaria de Direito Econômico.

Produtores de suco de laranja em pé de guerra com os processadores por conta de preços


e condições de venda. Conforme os documentos apreendidos os produtores são vítimas de
cartel pelos processadores desde 1993. As indústrias teriam controlado as safras e o preço das
laranjas até 1999.

Liminares foram concedidas determinando o lacre dos documentos até que a SDE
conseguisse o reconhecimento da Justiça sobre a legalidade da operação fanta.

Réus no processo: Montecitrus, Coinbra, Cutrale e Citrovita

Fonte: Valor Econômico de 16/03/09 B11

II – Um outro caso famoso foi o do segmento de pedra brita ao qual busca e apreensão foi feita
na Associação e no Sindicato das empresas, geralmente presidida pelos próprios empresários.

Alvaro Edauto S. Gomes


39

7. Atuações do Governo como Agente Econômico

a) Normatização

O Governo é atuante como agente econômico por ser o responsável pela normatização do
sistema econômico no que se refere à constituição dos poderes (Executivo, Legislativo e
Judiciário) , definição do Regime (Monárquico ou República), tipo de sistema (capitalista,
socialista ou economia mista).

No aspecto legal, será responsabilidade do governo a implantação dos códigos necessários


para a harmonização e normatização do sistema: Código Comercial, Código Civil, Código Penal,
Código Tributário, alem da instituição de uma Constituição Federal.

b) Planejamento

A atuação do governo como interventor no sistema econômico foi essencial para o


desenvolvimento das indústrias de base no Brasil nos segmentos químico, siderúrgico,
ferroviário, elétrico e telefônico com a criação das empresas estatais. Consideramos os planos
de desenvolvimento (SALTE, Plano de Metas, Plano Trienal, PAEG, PND´s e PAC) como
intervencionismo governamental necessários para o desenvolvimento da infra-estrutura
necessária para que o Brasil permanecesse a crescer.

c) Política Monetária e Cambial

O governo atua, também, através de seus órgãos, tais como: Banco Central do Brasil no que
se refere à doção da política monetária e da política cambial, já que cabe à esta autoridade
monetária a administração da quantidade de dinheiro na economia via controle da taxa de
juros com a finalidade de evitar a recessão e até crescimento sem auto-sustentação ou sem
planos de desenvolvimento paralelos e administração das reservas cambiais (dólares e outras
moedas represadas em função de saldos superavitários na balança comercial, entrada de
investimentos diretos especulativos e produtivos e créditos e financiamentos concedidos) .

Através da política monetária o governo recolhe dinheiro captado pelos bancos na


proporção necessária para tirar o país da recessão ou evitar crescimento com estrangulamento
(poluição, problemas com esgoto nas cidades, trânsito, meio ambiente, etc – problemas
inerentes a crescimentos sem preparação da infra-estrutura das cidades).

Demonstramos abaixo as conseqüências desta política em uma conjuntura recessiva e, no


segundo momento, em uma conjuntura de crescimento sem sustentação (apresentando
pontos de estrangulamento na infra-estrutura):

Alvaro Edauto S. Gomes


40

Conjuntura Recolhimento Reservas Custo do Propensão a


Compulsório Bancárias Crédito consumir

Recessiva

Crescimento não
sustentado

Importante enfatizar que este mecanismo no ponto de vista prático nem sempre ocorre
como demonstrado. Um exemplo claro foi o Japão que ficou em processo recessivo por 15
anos, o Governo reduziu o custo do crédito a zero e a propensão a consumir permaneceu
inalterada, uma vez que a população estava mais interessada em poupar.

A intervenção do governo via política cambial ocorrerá em função das reservas que o país
possui. Abaixo, a demonstração das reservas em períodos diferentes e uma interpretação da
época:

Ano Total Inflação do Ataques Sucesso do


Reservas** período Especulativos Plano

US$ Bi % ano

1985 14 6700 6 meses

1994 60 2700 4,5 anos

1998 30 6

2009 214 5,5

** Valores aproximados

Percebemos que as reservas de R$ 14 bilhões não eram suficientes para uma país da
dimensão brasileira e colocava o governo em situação de vulnerabilidade diante dos ataques
especulativos. Lembremos que o plano cruzado, de combate à inflação, desagradava em muito
o setor bancário que ganhava dinheiro aplicando os recursos parados na conta-corrente no
overnight. Além deste setor, o empresarial também se beneficiava dos ganhos de seus
estoques. Esta situação motiva tais setores a promoverem ataques especulativos contra a
moeda local. Por esta razão, o governo, diante de diversos ataques especulativos e com
poucas reservas não teve como manter o seu plano de combate à inflação.

Alvaro Edauto S. Gomes


41

Em 1994 as reservas próximas a US$ 60 bilhões foram o resultado da legislação editada


pelo Governo Collor que autorizava a entrada de investimentos estrangeiros no mercado
financeiro e de capitais no Brasil, além de investimentos diretos provenientes do plano de
privatização brasileiro e de saldos superavitários na Balança comercial. Portanto, as reservas se
formam provenientes das seguintes operações:

Saldos Superavitários na Balança


Comercial;

Entrada de investimentos produtivos


e especulativos;

Financiamentos, créditos e
empréstimos.

US$

Importante ressaltar que, com a adoção do Plano Real, também foi instituída a paridade
cambial, ou seja, R$ 1,00 = US$ 1. Esta situação desagradou o setor exportador, pois o produto
brasileiro perdia em competitividade. Com o plano de combate à inflação, foi retirado o
floating dos bancos que ganhavam dinheiro com a aplicação de recursos em conta-corrente.
Passamos a ter, portanto, dois setores propensos a realizarem ataques especulativos.

A partir deste ano as crises internacionais passam a comprometer as nossas reservas


cambiais, conforme demonstramos abaixo:

Ano Local da Crise Ocorrência

1994 México O peso mexicano desvalorizou-se em


60%, provocando uma fuga em massa de
divisas do país e desencadeando uma

Alvaro Edauto S. Gomes


42

A dívida externa mexicana já era a maior onda de desconfiança em todos os


do mundo, com seus 147,5 bilhões de mercados financeiros dos países em
dólares. Dois meses depois atingia 165 desenvolvimento, o chamado "efeito
bilhões de dólares. A previsão era de tequila" (bebida nacional mexicana).
que até o final do ano atingisse os 200
bilhões de dólares, um recorde
inimaginável desde o início da história
econômica mundial.

1997 Ásia A crise asiática foi disparada por um


processo de fuga de capital e deflação
No caso dos tigrinhos, o descompasso de ativos financeiros em certo conjunto
entre ativos e passivos tinha na de economias daquela região. Iniciando-
especulação imobiliária um componente se pelos "tigrinhos" (Tailândia, Malásia,
substantivo, ao passo que, na Coréia, o Indonésia e Filipinas), suas repercussões
desajuste relevante refletia ociosidade adquiriram amplitude global quando
de capacidade produtiva industrial em aquele processo incorporou os "tigres"
seus conglomerados. O elevado grau de Coréia do Sul e Hong Kong, ameaçando
endividamento dos conglomerados também colocar em insolvência seus
coreanos, característica indissociável da credores japoneses. As moedas
agressividade presente em seu nacionais daqueles países mergulharam
crescimento, perdera a garantia de em queda livre em relação ao dólar, com
solvência obtida no passado mediante exceção de Hong Kong, onde a
desvalorização cambial foi evitada a alto
receitas com exportações crescentes.
custo.

1998 Rússia A Rússia sofreu muito com a crise


asiática, principalmente com a
desvalorização do preço das
commodities, já que os principais
produtos de exportação do país eram o
petróleo e o gás. Paralelo a isso, a
moeda russa, o rublo, desvalorizou-se
mais de 50% em função da estratégia
adotada pelo governo de deixar o
câmbio flutuar. E para piorar a situação,
o governo declarou moratória de 90 dias
ao pagamento da dívida externa. Por
aqui, o Ibovespa se desvalorizou 63%.

1999 Argentina
A economia argentina prosperou até
1995, quando o país entrou em uma
recessão devido ao contágio (difusão de
incerteza econômica de um país para
outro) da crise econômica do México,
também conhecida como efeito tequila.

Essas crises provocaram o esvaziamento de nossas reservas cambiais com a saída de


investimentos especulativos para compensar a perda que investidores tiveram na Ásia. Esta
situação provocou a desvalorização de nossa moeda em 13 de janeiro de 1999 e fez com que o
Brasil recorresse ao Fundo Monetário Internacional para a obtenção de um empréstimo, em
caso de necessidade, na proporção de US$ 20 bilhões.

Alvaro Edauto S. Gomes


43

Com a desvalorização da moeda os produtos brasileiros passam a ganhar em


competitividade e o preço das commodities sobem no mercado internacional, favorecendo,
desta forma, os saldos superavitários na Balança comercial, o que favorecem, em muito, a
formação de reservas cambiais ao longo desses anos.

d) Política Fiscal e de Rendas

Uma outra forma de intervenção governamental dar-se-á em um sistema econômico


altamente concentrador de renda onde o governo poderá adotar a política fiscal com a
finalidade de distribuição da renda tributando os mais ricos e repassando aos setores da
habitação, saúde, transporte e educação ou via política de rendas através do aumento de
salário mínimo , salário família, bolsa família e programas leve-leite.

Um exemplo recente de política fiscal foi a redução do IPI – Imposto sobre os Produtos
Industrializados sobre os automóveis.

e) Defesa da Concorrência

A intervenção no mercado se dará quando casos de incorporações e fusões empresariais


conduzirem a uma alta concentração de mercado por parte da empresa dominante. Neste
caso, o Ministério da Justiça através do CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica
atuará com a finalidade de impedir a formação de trustes e cartéis na economia.

Neste aspecto, a atuação do governo será importante para evitar a formação de trustes e
cartéis na economia. Atualmente a Secretaria de Direito Econômico (Ministério da JustiçaJ) e a
Secretaria de Acompanhamento Econômico (Ministério da Fazenda) recebem as queixas de
formação de cartéis e as enviam ao CADE que poderá fazer a due dilligence nas empresas
envolvidas ou convidá-las a prestar esclarecimentos.

É por essa razão que todos os processos de Fusão e de Incorporação empresariais devem
ser monitorados pelo governo, pois, por trás dessas operações poderá existir um esquema de
desmantelamento da concorrência, devendo as empresas envolvidas comunicarem o fato ao
CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

CAPÍTULO III – FUNCIONAMENTO DO MERCADO DE CAPITAIS E DO MERCADO FINANCEIRO


NO BRASIL

Alvaro Edauto S. Gomes


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1. O Processo de Abertura de Capital

Há o equivalente a 400 empresas com suas ações negociadas na Bolsa de Valores de São
Paulo. Desta forma, qualquer pessoa poderá tornar-se um acionista ao comprar as ações de
uma dessas empresas através de uma Corretora de Títulos e Valores Mobiliários,
independente ou vinculada a alguma instituição financeira. As empresas listadas são diferentes
quanto à natureza de seu controle. Há empresas de controle privado nacional, de controle
estrangeiro e de controle estatal, sendo os seus controladores os acionistas que detêm a
maioria das ações com direito de voto. Há companhias cujo controle está nas mãos da família
fundadora, grupos empresariais ou companhias com controle compartilhado. Há, ainda, as
empresas com controle difuso, situação na qual os controladores não possuem a maioria do
capital votante, sendo o controle disperso no mercado, como é o caso da Loja de
departamentos Renner e da Embraer. Estas empresas, ao abrirem o capital se utilizam da Bolsa
para captar recursos dos investidores para financiar os seus projetos e tornarem-se mais
competitivas. É por essa razão que o mercado de capitais exerce importante papel no
desenvolvimento econômico e na criação de empregos no Brasil.

A legislação define como companhia aberta aquela que disponibiliza os seus valores
mobiliários tais como ações e debêntures negociadas de forma pública. Para isso, deve a
empresa entrar com um pedido de registro de companhia junto à Comissão de Valores
Mobiliários que é o órgão regulador e fiscalizador do mercado de capitais brasileiro e
protocolo na ANBID (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), que se transformou na
AMBIMA, junção da ANBID com a ANDIMA . Junto com esse pedido, deve a empresa solicitar
autorização para realizar uma venda de ações ao público, tecnicamente conhecida como
distribuição pública de ações. Esta operação é também conhecida como Oferta Pública Inicial
ou IPO (Initial Public Offering). A empresa deve solicitar a listagem na BOVESPA para que as
suas ações sejam negociadas na Bolsa de Valores.

Na distribuição primária a empresa emite e vende novas ações ao mercado e os recursos


obtidos são canalizados para o caixa da empresa. Na distribuição secundária, quem vende as
ações é o empreendedor ou algum dos atuais sócios sendo, portanto, ações existentes que
estão sendo vendidas e os recursos irão para o vendedor, ao invés de ir para o caixa da
empresa. De uma forma ou de outra, a companhia aumenta o seu número de sócios.

1.1 Vantagens da Abertura de Capital

Desde 1910 há empresas listadas na Bovespa e os seus interesses diferem umas da outras,
porém, nos dá condições de percebermos alguns desses interesses:

Alvaro Edauto S. Gomes


45

 Expansão de mercado: Acesso a recursos para financiar projetos de investimento


através da emissão de valores mobiliários;
 Dar liquidez ao patrimônio: nos casos em que os sócios vendem parte de suas ações
com o objetivo de capitalizar a empresa;
 Facilitar a partilha e o processo sucessório por meio da abertura de capital,
proporcionando uma saída para os que não desejem permanecer na sociedade;
 Incorporar empresas;
 Utilizar o mercado como ferramenta de avaliação de suas principais decisões:
estratégias corporativas percebidas negativamente pelos investidores reduzem o
preço das suas ações;
 Ter acesso às opiniões de vários analistas de mercado;
 Melhorar a condição de negociação com os fornecedores;
 Maior exposição da marca;
 Aumentar o comprometimento de seus funcionários;
 Vantagens na avaliação e concessão de crédito junto às instituições financeiras;
 Ganho de eficiência com a organização;
 Reestruturar os passivos;

A abertura de capital dá à empresa uma fonte de recursos que não possui limitação.
Enquanto a empresa tiver projetos viáveis, atrairá a atenção dos investidores interessados
em financiá-la e o retorno deste investimento dependerá do desempenho da empresa.

O
1.2 Fatores a serem considerados antes do Processo da Abertura

a) Análise de conveniência

 Avaliar benefícios e custos da operação;


 Avaliar se o perfil da companhia é adequado;
 Avaliar se a entrada de novos acionistas proporcionará maior riqueza patrimonial aos
atuais sócios;

b) Vantagens

 Aumento da liquidez do patrimônio dos atuais sócios;


 Aumento do retorno do investimento a ser realizado com os recursos obtidos;
 Aumento da eficiência;

c) Custos

 Abertura de capital e publicações;


 Aumento da estrutura organizacional para o atendimento da demanda de investidores
e da regulamentação das sociedades anônimas de capital aberto;

Alvaro Edauto S. Gomes


46

 Confecção do prospecto de venda;


 Comissão do intermediário financeiro;
 Custo com o marketing de distribuição;
 Custo do pessoal envolvido no processo;
 Consultoria para explicar o processo de abertura de capital, organização interna e
avaliação preliminar;
 Consultoria jurídica;
 Taxa de negociação e liquidação na BM&FBovespa.

d) Análise da disposição da empresa em:

 Aumentar o nível de prestação de informações ao mercado;


 Administração da companhia voltada para a geração de valor;
 Evolução consistente da empresa;
 Fundamentação dos projetos;
 Histórico da rentabilidade da empresa;
 O que fará com os recursos captados;
 Projetos e perspectivas de retorno;

e) Escolha do Intermediário Financeiro

Haverá a necessidade da contratação de um intermediário financeiro para qualquer


distribuição pública de ações e deve ser realizada por meio de uma corretora de valores,
banco de investimento ou distribuidora de títulos e valores mobiliários aos quais atuarão como
coordenadores da operação.

Caberá a este intermediário financeiro orientar a empresa em todo processo de abertura


de capital, inclusive dando orientações sobre a estratégia de marketing da oferta (investidores
a visitar, elaboração de material, conteúdo das apresentações e prospecto de venda que é um
documento completo e detalhado sobre a empresa e a operação). Ajudará, também, na
definição das características e tamanho da oferta, auxiliando na avaliação da empresa e na
estimativa do preço considerado atrativo aos investidores. Este coordenador acordará com
outras instituições a formação de um pool de distribuição para ampliar a base de investidores
potenciais.

f) Documentação e reforma estatutária

Os procedimentos necessários para que a empresa solicite o registro de companhia aberta,


de distribuição e de listagem na BOVESPA são os seguintes, com base nos regulamentos da
CVM e da BMFBOVESPA:

Alvaro Edauto S. Gomes


47

1. Entregar demonstrações financeiras nos padrões estabelecidos pela CVM;


2. Submeter as demonstrações a uma auditoria externa;
3. Confeccionar o prospecto de venda das ações;
4. Apresentação do estatuto da companhia reformado;
5. Ata da assembléia que a aprovou a transformação da companhia em uma sociedade
de capital aberto

g) Quem são os investidores

 Pessoas físicas e clubes de investimento;


 Investidores institucionais;
 Instituições financeiras;
 Investidores estrangeiros;
 Pessoas jurídicas

h) O formador de mercado

Referem-se às instituições financeiras que tem, por contrato, obrigação de fazer


diariamente ofertas de compra e venda para as ações nas quais atue. Geralmente é o
coordenador da operação. Pelo novo regulamento proposto pela ANBID – Associação Nacional
dos Bancos de Investimento ( atualmente ANBIMA), à CVM – Comissão de Valores Mobiliários,
ao fechar um contrato para a coordenação da oferta, o banco líder deverá informar se possui
ou não participação igual ou superior a 10% do capital da companhia que o contratou. Em caso
afirmativo, será obrigado a inserir outra instituição financeira no processo, sem relação com as
partes, para referenciar a avaliação e o intervalo de preço sugerido para a emissão dos papéis.
Em geral, a abertura de capital em bolsa faz com que as empresas paguem às instituições
coordenadoras prêmios que variam de acordo com o sucesso ou não da operação do
lançamento de papéis. Muitas vezes o próprio banco financia a empresa para obter no futuro
esses prêmios. Agora a ANBIMA determinou que 25% dos valores devidos só poderão ser
pagos aos bancos após um ano da contratação.

Observação: BovespaMais

Servirá às empresas que tenham uma estratégia gradual de acesso ao mercado acionário,
colocando pequenos volumes de ações ou busquem um público mais restrito de investidores.
Por meio da listagem no MAIS essas empresas poderão atrair a atenção destes menos focados
na liquidez e com perspectiva de investimento de médio prazo.

Alvaro Edauto S. Gomes


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i) Governança Corporativa

É o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os


relacionamentos entre acionistas, conselho de administração, diretoria, auditoria
independente e conselho fiscal. Essa prática tem, por objetivo, aumentar o valor da
sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade. Desta forma, a
administração conduzirá os negócios considerando o interesse de todos os seus acionistas,
sem distinção entre o acionista controlador e o acionista investidor, ao qual também poderá
votas nas decisões via assembléia geral e ter acesso permanente a informações que lhe
permitam acompanhar e fiscalizar o seu investimento. Através desta prática a empresa cria
valor para si, profissionaliza e disciplina a gestão.

Vantagens da Governança corporativa (Novo Mercado):

1. Todas as ações emitidas são ordinárias;


2. Todos os acionistas tem direito ao Tag Along (numa eventual venda de controle
acionário o comprador se compromete a comprar as ações de todos os sócios nas
mesmas condições ofertadas ao vendedor do controle);
3. Aderir à arbitragem para a solução de conflitos societários;
4. Ter no mínimo 20% de membros independentes no conselho de administração.

j) A análise fundamentalista

Os analistas fundamentalistas estudam os seguintes aspectos para recomendar aos seus


clientes a aquisição das ações das empresas:

 Vantagem competitiva;
 Situação econômica e financeira da empresa;
 Se o produto é commodity ou de valor agregado;
 Pontos fortes em relação aos concorrentes;
 Qualidade do mercado consumidor;
 Qualidade do crédito;
 Grau de atualização tecnológica da companhia;
 Estrutura de custos da empresa;
 Grau de alavancagem financeira da empresa;
 Grau de endividamento da empresa;
 Número e qualidade dos projetos

k) A Precificação

Com base nas empresas concorrentes listadas na bolsa de valores no Brasil ou no exterior,
as utilizamos como base de comparação para estimar o preço referencial da ação da empresa
que está abrindo o seu capital

Alvaro Edauto S. Gomes


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l) Entidades Vinculadas

IB
IBRI – Instituto Brasileiro de Relações com Investidores
APIMEC – Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais
IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
ANBID – Associação Nacional dos Bancos de Investimento
AMEC – Associação de Investidores no Mercado de Capitais
ANBIMA -

m) Outras informações

Existem no Brasil, aproximadamente, 400 empresas de capital aberto. Todas estas


empresas, por serem sociedades anônimas, passam a ter o direito de captar recursos via a
emissão de valores mobiliários, mais conhecidas como ações e debêntures. As ações podem
ser ordinárias (com direito à voto) ou preferenciais (preferência ao recebimento dos
dividendos) e correspondem à fração patrimonial disponibilizada aos futuros acionistas,
enquanto que as debêntures correspondem a títulos privados emitidos pelas sociedades
anônimas com o objetivo de captarem recursos sem, necessariamente, gerarem a figura do
acionista. Estes títulos determinam de forma prévia quanto irão remunerar os seus
investidores em prêmios e juros e, por essa razão são denominados no jargão do mercado
financeiro de títulos de renda fixa e são resgatadas em um período também previamente
determinado, o que difere das ações que são conhecidas no mercado financeiro como títulos
de renda variável, pois dependem de uma infinidade de variáveis para terem o seu valor
aumentado ou diminuído ao serem listadas na bolsa de valores.

Desta forma, o valor da ação de uma empresa poderá sofrer influências das seguintes
variáveis:

1. Expectativa de lucro ou prejuízo da empresa;

2. Política ativa ou inativa de distribuição de dividendos;

3. Riscos de mercado, operacionais, de crédito, jurídicos;

4. Expectativa de fusão ou incorporação;

Portanto, o mercado de capitais é o que possibilitará às empresas captarem recursos por


intermédio da emissão dos valores mobiliários servindo, muitas vezes, como alternativa aos
financiamentos bancários considerados caros ou utilização dos recursos próprios. Não nos
esqueçamos que a opção pela abertura de capital nos conduzirá a sérios compromissos com os
acionistas.

Alvaro Edauto S. Gomes


50

n) Informações privilegiadas (Insider Trading)

Qualquer pessoa que tenha uma informação que ainda não foi divulgada ao mercado e
negocie as ações com base nisso estará infringindo as regras;

Antes da divulgação dos fatos relevantes os administradores e outras pessoas que estejam a
par do assunto estão proibidos de negociar ações da companhia;

2. OS PARTICIPANTES DO MERCADO DE CAPITAIS

Comissão de Valores Mobiliários –


Órgão Regulador Fundos de Ações

Fundos de Renda Fixa

Alvaro Edauto S. Gomes Fundos Multimercado


51

Sociedade Anônima/Governo

Disponibiliza valores mobiliários


ao mercado Bancos, Corretoras e
Distribuidoras de Títulos e
(Ações e Debêntures/Títulos
Valores Mobiliários
Públicos)
(Físicas ou virtuais: home
broker) Responsáveis pela
orientação e intermediação das
ordens de compra e venda

Investidores

Pessoas Físicas Investidores Estrangeiros

Pessoas Jurídicas
Bancos de Investimento

Investidores Institucionais (Fundos de Pensão) Assets Managements

Clube de investimento Analistas de mercado

Family Offices

Analistas de mercado

Bolsa de Valores
Câmara Brasileira de Liquidação e
(BM&FBovespa) Custódia

Local físico onde as ordens de


compra e venda são efetivadas

2.1 Índices Constituídos

Alvaro Edauto S. Gomes


52

Ibovespa: (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo)

IBrX50 (Índice Brasil das 50 ações mais líquidas do mercado

IGC (Índice de ações com Governança Corporativa diferenciada)

IBrX (Índice Brasil)

ITag (Índice de ações com Tag Along diferenciado)

IVBX 2 (Índice valor Bovespa 2ª. Linha)

DJ Brazil Titans 20 ADR (Índice Dow Jones para as ADRS Brasileiras)

Assim que a empresa tiver a autorização da Comissão de Valores Mobiliários para se


tornar uma Sociedade Anônima de capital aberto, poderá disponibilizar os seus valores
mobiliários (ações e debêntures ) ao mercado financeiro e de capitais. O processo de captação
ocorrerá quando bancos comerciais e de investimento, corretoras e distribuidoras iniciarem a
oferta destes valores mobiliários ao mercado através de recomendações de compra à sua
clientela com o respaldo das informações dos analistas de mercado que emitem relatórios
analíticos sobre a(s) empresa(s) em questão.

As informações do relatório ou o próprio investidor pessoa física ou jurídica dotado de


conhecimento técnico dará condições para que a ordem de compra da ação da empresa seja
efetivada e, desta forma, ajudará no processo de captação de recursos por parte da empresa.
Cabe ressaltar que, sobre estas ordens, há uma cobrança de taxa de corretagem.
Denominamos este procedimento de compra direta de ações e atrai investidores que queiram
participar do recebimento de dividendos e dos riscos da valorização ou desvalorização da ação.
Muitos são especuladores, enquanto que outros atuam com visão de longo prazo e são
denominados investidores.

Outra forma de os bancos ajudarem a empresa no processo de captação, é incluir as ações


desta nos fundos de investimento criados para tal finalidade. Cada banco cria o seu fundo e, o
investidor deixa a condição de acionista e se torna um quotista do fundo, tal como em um
condomínio. Este tipo de investidor não olha o negócio em si, mas a rentabilidade.

Sobre o índice IBOVESPA, este reflete o equivalente a 50 das ações mais negociadas e,
quando as ordens de compra superam as ordens de venda o índice sobe e, quando as ordens
de venda superam as ordens de compra o índice desce.

3. Atribuições da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

Alvaro Edauto S. Gomes


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De acordo com a lei que a criou, a Comissão de Valores Mobiliários - CVM exercerá suas
funções, a fim de:

 assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão;


 proteger os titulares de valores mobiliários contra emissões irregulares e atos ilegais de
administradores e acionistas controladores de companhias ou de administradores de
carteira de valores mobiliários;

 evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação destinadas a criar condições


artificiais de demanda, oferta ou preço de valores mobiliários negociados no mercado;

 assegurar o acesso do público a informações sobre valores mobiliários negociados e


as companhias que os tenham emitido;

 assegurar a observância de práticas comerciais eqüitativas no mercado de valores


mobiliários;

 estimular a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários;


 promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado de ações e
estimular as aplicações permanentes em ações do capital social das companhias
abertas.

A Lei que criou a CVM (6385/76) e a Lei das Sociedades por Ações (6404/76) disciplinaram
o funcionamento do mercado de valores mobiliários e a atuação de seus protagonistas, assim
classificados, as companhias abertas, os intermediários financeiros e os investidores, além de
outros cuja atividade gira em torno desse universo principal.

A CVM tem poderes para disciplinar, normatizar e fiscalizar a atuação dos diversos
integrantes do mercado. Seu poder normatizador abrange todas as matérias referentes ao
mercado de valores mobiliários.

Cabe à CVM, entre outras, disciplinar as seguintes matérias:

 registro de companhias abertas;


 registro de distribuições de valores mobiliários;
 credenciamento de auditores independentes e administradores de carteiras de valores
mobiliários;

 organização, funcionamento e operações das bolsas de valores;


 negociação e intermediação no mercado de valores mobiliários;
 administração de carteiras e a custódia de valores mobiliários;
 suspensão ou cancelamento de registros, credenciamentos ou autorizações;

Alvaro Edauto S. Gomes


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 suspensão de emissão, distribuição ou negociação de determinado valor mobiliário ou


decretar recesso de bolsa de valores.

O sistema de registro gera, na verdade, um fluxo permanente de informações ao


investidor. Essas informações, fornecidas periodicamente por todas as companhias abertas,
podem ser financeiras e, portanto, condicionadas a normas de natureza contábil, ou apenas
referirem-se a fatos relevantes da vida das empresas. Entende-se como fato relevante, aquele
evento que possa influir na decisão do investidor, quanto a negociar com valores emitidos pela
companhia.

A CVM não exerce julgamento de valor em relação à qualquer informação divulgada


pelas companhias. Zela, entretanto, pela sua regularidade e confiabilidade e, para tanto,
normatiza e persegue a sua padronização.

A atividade de credenciamento da CVM é realizada com base em padrões pré-


estabelecidos pela Autarquia que permitem avaliar a capacidade de projetos a serem
implantados.

A Lei atribui à CVM competência para apurar, julgar e punir irregularidades


eventualmente cometidas no mercado. Diante de qualquer suspeita a CVM pode iniciar um
inquérito administrativo, através do qual, recolhe informações, toma depoimentos e reúne
provas com vistas a identificar claramente o responsável por práticas ilegais, oferecendo-lhe, a
partir da acusação, amplo direito de defesa.

O Colegiado tem poderes para julgar e punir o faltoso. As penalidades que a CVM pode
atribuir vão desde a simples advertência até a inabilitação para o exercício de atividades no
mercado, passando pelas multas pecuniárias.

A CVM mantém, ainda, uma estrutura especificamente destinada a prestar orientação


aos investidores ou acolher denúncias e sugestões por eles formuladas.

Quando solicitada, a CVM pode atuar em qualquer processo judicial que envolva o
mercado de valores mobiliários, oferecendo provas ou juntando pareceres. Nesses casos, a
CVM atua assessorando a decisão da Justiça.

Em termos de política de atuação, a Comissão persegue seus objetivos através da


indução de comportamento, da auto-regulação e da auto-disciplina, intervindo efetivamente,
nas atividades de mercado, quando este tipo de procedimento não se mostrar eficaz.

No que diz respeito à definição de políticas ou normas voltadas para o desenvolvimento


dos negócios com valores mobiliários, a CVM procura, junto a instituições de mercado, do

Alvaro Edauto S. Gomes


55

governo ou entidades de classe, suscitar a discussão de problemas, promover o estudo de


alternativas e adotar iniciativas, de forma que qualquer alteração das práticas vigentes seja
feita com suficiente embasamento técnico e, institucionalmente, possa ser assimilada com
facilidade, como expressão de um desejo comum.

A atividade de fiscalização da CVM realiza-se pelo acompanhamento da veiculação de


informações relativas ao mercado, às pessoas que dele participam e aos valores mobiliários
negociados. Dessa forma, podem ser efetuadas inspeções destinadas à apuração de fatos
específicos sobre o desempenho das empresas e dos negócios com valores mobiliários.

RESUMO:

A CVM é órgão regulador e controlador máximo do mercado de valores mobiliários. Ela


tem amplos poderes para disciplinar, normatizar e fiscalizar a atuação dos diversos integrantes
do mercado.

O que são valores mobiliários?

Valor mobiliário é título de investimento que a sociedade anônima emite para a obtenção
de recursos. É investimento social oferecido ao público, pela companhia.

Além das ações, a Lei das Sociedades por Ações (LSA) contempla como suas
modalidades as partes beneficiárias e as debêntures. Também trata dos valores considerados
pela doutrina como subprodutos de valores mobiliários; os bônus de subscrição e os
certificados de emissão de garantia. Na verdade, são valores mobiliários derivados.

As negociações primárias e secundárias

A negociação primária opera-se por meio do lançamento público de ações, devidamente


registrado na CVM e com a intermediação obrigatória das instituições integrantes do sistema
de distribuição de valores mobiliários. No caso, o investidor subscreve as ações, revertendo o
produto dessa subscrição para a companhia.

Incumbe à CVM a análise de pedido de registro de distribuição pública de valores


mobiliários. No caso de valores emitidos por sociedades controladas direta ou indiretamente
por estados, municípios e pelo Distrito Federal, ouvirá, previamente, o Banco Central quanto ao
atendimento às disposições das Resoluções do Senado federal sobre o endividamento público.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Quanto à colocação no mercado secundário, as ações são negociadas pelas Bolsas de


Valores ou no mercado de balcão. Nos demais casos, essas operações, a juízo do investidor,
podem ser realizadas a vista, a termo, a futuro ou no mercado de opções. O prazo para
liquidação física e financeira das operações realizadas em Bolsas de Valores, por meio de seus
sistemas de pregões, em todos os mercados que operarem, é até o segundo dia subseqüente
ao do fechamento da operação.

Penalidades:

A CVM deve promover processo administrativo para investigar a ocorrência de


irregularidades no mercado, ensejando aos acusados amplo direito de defesa, vigente o
princípio do devido processo legal na esfera administrativa.

As sanções para quem descumpre as regras legais do mercado de valores mobiliários,


sobretudo as normas editadas pela CVM, são: advertência, multa, suspensão ou inabilitação
para o exercício do cargo, ou cassação da autorização ou do registro, bem como a proibição
por prazo determinado para o exercício de atividades e operações do sistema de distribuição.
Também o investidor pode ser proibido temporariamente de atuar, direta ou indiretamente, no
mercado.

É importante frisar que a CVM tem a obrigação de comunicar ao Ministério Público


quaisquer indícios de ilícito penal verificados nos processos sobre irregularidades no mercado.
Da mesma forma, tratando-se de ilegalidade fiscal, deve encaminhar o processo à Secretaria
da Receita Federal.

Em matéria criminal, a Lei nº 10.303/2001 acrescentou à lei nº 6.385/76 três delitos


dolosos contra o mercado de valores mobiliários:

 manipulação de mercado;
 uso indevido de informação privilegiada (insider trading);
 exercício irregular de cargo, profissão, atividade ou função.

Alvaro Edauto S. Gomes


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4. O Mercado de Títulos Públicos

4.1 O Mercado Primário

As Letras, Letras Financeiras e Notas Federais são inicialmente oferecidas em leilões


dos quais participam o Banco Central e as instituições financeiras. Através desses leilões,
fundos destinados ao financiamento de novo déficit são levantados e dívidas preexistentes são
refinanciadas ou "roladas".

Os leilões de títulos emitidos pelo Tesouro obedecem a uma programação previamente


estabelecida e são divulgados por meio de comunicados às instituições financeiras através do
sistema do Banco Central, o Sisbacen (sistema eletrônico de coleta, armazenagem e troca de

informações que liga o Banco Central aos agentes do sistema financeiro nacional) , e
publicados no Diário Oficial da União, detalhando as condições específicas da oferta, tais como
os títulos a serem ofertados, as quantidades, a data de liquidação financeira, o horário para
recebimento das ofertas e outras informações importantes. Os leilões do Tesouro geralmente
são realizados às terças- feiras, para liquidação no dia útil seguinte.

4.2 O Mercado Secundário

Uma vez que os títulos são emitidos e colocados em circulação, eles passam a ser
negociados no mercado secundário. As instituições financeiras, negociando tanto para sua
conta própria como para seus clientes, fornecem cotações de compra e venda nos mais
variados papéis.

A negociação secundária de títulos públicos ocorre no mercado de balcão e na Bolsa de


Valores, e é de longe o maior e mais abrangente segmento do mercado financeiro, dado o
número de participantes que nele estão envolvidos, quer como intermediários, quer como
investidores. As instituições financeiras carregam estoques de títulos e buscam obter um lucro
com esse carregamento. Elas também giram as suas carteiras com a expectativa de obter
ganhos com oscilações favoráveis nos preços dos títulos. E, finalmente, elas obtêm comissões
comprando e vendendo papéis para os seus clientes. Os títulos públicos podem ser adquiridos
pela população através do site do Governo Federal – Tesouro Direto.

No mercado de balcão, os negócios são fechados entre as instituições financeiras pelo


telefone. É um mercado ágil, com um grande número de participantes, mas o seu maior
problema é que ele não oferece a transparência que alguns investidores demandam e nem um
mecanismo de centralização de preços, isto é, os investidores não sabem se estão obtendo o
melhor preço do momento para os seus negócios.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, ao contrário, as negociações ocorrem através


de um sistema eletrônico, que tem terminais instalados em todas as instituições participantes
do mercado, nas quais se pode visualizar as ofertas e os preços dos negócios a medida que
eles vão acontecendo.

A Bolsa, ademais, distribui essas informações para as agências de notícias e as


empresas especializadas em disseminar cotações do mercado, beneficiando não só as
instituições financeiras, mas também os investidores de modo geral. Mais importante, pelas
regras da Bolsa, os negócios têm que ser fechados ao melhor preço disponível no mercado no
momento, desde que outras condições, tais como a quantidade mínima desejada pela
contraparte para fechar o negócio, sejam atendidas. Com isso, os investidores têm sempre a
certeza de terem realizado o melhor negócio possível.

4.3 Procedimentos do Mercado

1. Os títulos públicos federais são vendidos pelo Banco Central no mercado primário ou
via Tesouro Direto, por meio de leilões, com os rendimentos definidos pelas ofertas das
instituições e que são garantidos pelo Governo e pagos nos vencimentos (a exceção
de uma ruptura do sistema econômico vigente).
2. É no mercado primário que ocorrem a colocação de ações, títulos públicos relativos a
emissões novas.
3. Após a venda no mercado primário, esses títulos podem passar de uma instituição para
outra, configurando o mercado secundário, cujos negócios podem ter preços bem
diferentes daqueles “contratados” por ocasião da compra do papel.
4. No mercado secundário ocorrem as negociações dos títulos adquiridos no mercado
primário, proporcionando a liquidez necessária.
5. Essas diferenças de preços, até bem pouco tempo, eram mais comuns e acentuadas
nos papeis prefixados, tendo em vista que a prefixação da rentabilidade impedia seu
alinhamento às novas taxas praticadas pelo mercado. Em função disso, o risco de taxa
era maior.
6. Nos títulos pós-fixados, atrelados a variação da taxa Selic, essas diferenças eram
muito pequenas, considerando que o mercado, por entender que risco de taxa era
irrisório, cotava os preços desses papeis com remunerações muito próximas ao
SELIC/CDI (Taxa de juros básica da economia/Certificado de Depósito Interbancário).
7. As carteiras dos Fundos de Investimentos possuem em suas carteiras títulos públicos
federais, além de outros papeis. Para que os resgates possam ser pagos aos clientes,
os Fundos precisam vender esses títulos no mercado secundário. Havendo diferenças
entre o preço dos títulos da carteira e a cotação do mercado, o Fundo poderá registrar
lucros ou prejuízos.

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5. Sistemas de Custódia

5.1 A Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia

A CBLC é a responsável pela liquidação de operações de todo o mercado brasileiro de


ações, certificados de privatização, debêntures, certificados de investimento, certificados
audiovisuais e quotas de fundos imobiliários.

Objetivo

A CBLC é uma sociedade anônima tendo como objetivo social à prestação de serviços de
compensação e liquidação física e financeira de operações realizadas nos mercados à vista e a
prazo da BOVESPA e de outros mercados, bem como a operacionalização dos sistemas de
custódia de títulos e valores mobiliários em geral.

Trata-se de Entidade que presta serviços de compensação, custódia e liquidação física e


financeira de operações realizadas nos mercados à vista e a prazo da Bovespa - Bolsa de
Valores de São Paulo. A CBLC realiza também a liquidação das operações realizadas no âmbito
da Sociedade Operadora do Mercado de Ativos - Soma.

No caso de uma operação de venda no mercado a vista, as ações objeto da negociação


devem estar disponíveis na conta de custódia do vendedor, para entrega ao comprador, até o
horário limite estabelecido pela CBLC.

A não entrega total ou parcial das ações objeto da negociação em D+3 ou a ausência de
apresentação de documentos necessários à liquidação, caracterizam a falta de entrega de
ativos e resultam em multa ao vendedor das ações.

Caso os ativos não sejam entregues, a CBLC aciona, no mesmo dia, o mecanismo de
tratamento de falta de entrega – o Processo de Recompra de Ativos – alem de cobrar nova
multa sobre o valor dos ativos não regularizados.

A ordem de recompra emitida em D+4 é o instrumento que autoriza a contraparte a


executar, a preço de mercado, uma nova operação de compra dos ativos adquiridos em D+0 e
não recebidos no prazo regulamentar por falta na entrega. Essa ordem de recompra deve ser
executada até D+6 e ter confirmada sua execução, perante a CBLC, até D+7. O vendedor em
falta com a entrega dos ativos arcará com a diferença de preço da recompra, quando ela

Alvaro Edauto S. Gomes


60

ocorrer.

Caso a recompra não seja executada até o prazo estipulado por qualquer que seja o motivo,
a CBLC, em D+8, reverterá a operação, retornando os valores financeiros ao comprador da
operação.

Assim, o cliente deve estar ciente de que uma eventual venda realizada sem ter as ações em
sua conta, ou sob a expectativa de seu recebimento por conta de uma compra do mesmo ativo
realizada em data anterior, poderá resultar em sua inadimplência, com o conseqüente ônus,
conforme demonstrado, caso essa compra sofra problemas em sua liquidação.

5.2 Selic - Sistema Especial de Liquidação e de Custódia

Administrado pelo Banco Central do Brasil, o Selic é um sistema eletrônico para registro,
custódia e liquidação de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central
do Brasil, bem como os depósitos interfinanceiros das instituições financeiras. O Selic processa
ofertas públicas de títulos, operações de movimentações, pagamento de juros, custódia e
respectivas liquidações financeiras. O sistema processa também a liquidação das operações
definitivas e compromissadas realizadas em seu ambiente.

5.3 Cetip - Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos

Criada em 1986, a Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos - Cetip registra


e custodia títulos de renda fixa privados (Certificados de Depósito Bancário - CDB, Recibos de
Depósito Bancários - RDB, Depósitos Interfinanceiros - DI, Letras de Câmbio - LC, Letras
Hipotecárias - LH, debêntures e commercial papers, entre outros).

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6. Definição de Bolsa de Valores

As bolsas de valores são instituições administradoras de mercados. No caso brasileiro, a


BM&FBOVESPA S/A - Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBOVESPA) é a principal
bolsa de valores, administrando os mercados de Bolsa e de Balcão Organizado. A diferença
entre esses mercados está nas regras de negociação estabelecidas para os ativos registrados
em cada um deles. A BM&FBOVESPA também é responsável por administrar o mercado de
bolsa de derivativos e de futuros.

As bolsas de valores são também os centros de negociação de valores mobiliários, que


utilizam sistemas eletrônicos de negociação para efetuar compras e vendas desses valores. No
Brasil, atualmente, as bolsas são organizadas sob a forma de sociedade por ações (S/A),
reguladas e fiscalizadas pela CVM. As bolsas têm ampla autonomia para exercer seus poderes
de auto-regulamentação sobre as corretoras de valores que nela operam. Todas as corretoras
são registradas no Banco Central do Brasil e na CVM.

A principal função de uma bolsa de valores é proporcionar um ambiente transparente e


líquido, adequado à realização de negócios com valores mobiliários. Somente através das
corretoras, os investidores têm acesso aos sistemas de negociação para efetuarem suas
transações de compra e venda desses valores.

Após o recente processo de desmutualização das bolsas de valores no Brasil, o direito de


transacionar valores mobiliários em uma bolsa foi desvinculado da propriedade de ações.
Anteriormente, apenas as corretoras proprietárias de títulos patrimoniais podiam negociar em
Bolsa.

As companhias que têm ações negociadas nas bolsas são chamadas companhias "listadas".
Para ter ações em bolsas, uma companhia deve ser aberta ou pública, o que não significa que
pertença ao governo, e sim que o público em geral detém suas ações. A companhia deve,
ainda, atender aos requisitos estabelecidos pela Lei das S.A. (Lei nº 6.404, de 15 de dezembro
de 1976) e pelas instruções da CVM, além de obedecer a uma série de normas e regras
estabelecidas pelas próprias bolsas.

Alvaro Edauto S. Gomes


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No passado, o Brasil chegou a ter nove bolsas de valores, mas atualmente a BM&FBOVESPA
é a principal. A BM&FBOVESPA foi criada em maio de 2008 com a integração entre Bolsa de
Mercadorias & Futuros (BM&F) e Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA), tornando-se a
maior bolsa da América Latina, a segunda das Américas e a terceira maior do mundo. Nela são
negociados títulos e valores mobiliários, tais como: ações de companhias abertas, títulos
privados de renda fixa, derivativos agropecuários e minerais (commodities), derivativos
financeiros (câmbio, ouro, índices, inflação), entre outros valores mobiliários.

6.1 Funções das Bolsas de Valores

Os mercados de capitais são mais eficientes em países onde existem bolsas de valores bem
estruturadas, transparentes e líquidas. Para que elas desempenhem suas funções, o ambiente
de negócios do país tem que ser livre e as regras devem ser claras. Nestes contextos, as bolsas
podem beneficiar todos os indivíduos da sociedade e não somente aqueles que detêm ações
de companhias abertas. Veja, a seguir, quais são os benefícios gerados pelas bolsas de valores
para a economia e a sociedade como um todo:

 Levantando capital para negócios - As bolsas de valores fornecem um excelente


ambiente para as companhias levantarem capital para expansão de suas atividades
através da venda de ações, e outros valores mobiliários, ao público investidor.

 Mobilizando poupanças em investimentos - Quando as pessoas investem suas


poupanças em ações de companhias abertas, isto leva a uma alocação mais racional
dos recursos da economia, porque os recursos - que, de outra forma, poderiam ter
sido utilizados no consumo de bens e serviços ou mantidos em contas bancárias - são
mobilizados e redirecionados para promover atividades que geram novos negócios,
beneficiando vários setores da economia, tais como, agricultura, comércio e indústria,
resultando num crescimento econômico mais forte e no aumento do nível de
produtividade.

 Facilitando o crescimento de companhias - Para uma companhia, as aquisições e/ou


fusões de outras empresas são vistas como oportunidades de expansão da linha de
produtos, aumento dos canais de distribuição, aumento de sua participação no
mercado etc. As bolsas servem como um canal que as companhias utilizam para
aumentar seus ativos e seu valor de mercado através da oferta de compra de ações de
uma companhia por outra companhia. Esta é a forma mais simples e comum de uma

Alvaro Edauto S. Gomes


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companhia crescer através das aquisições ou fusões. Quando feitas em bolsas, as


aquisições e fusões são mais transparentes e permitem uma maior valorização da
companhia, pois as informações são mais divulgadas e há uma maior interação dos
agentes envolvidos, tanto compradores quanto vendedores.

 Redistribuindo a renda - Ao dar a oportunidade para uma grande variedade de


pessoas adquirir ações de companhias abertas e, conseqüentemente, de torná-las
sócias de negócios lucrativos, o mercado de capitais ajuda a reduzir a desigualdade da
distribuição da renda de um país. Ambos os investidores - casuais e profissionais - ,
através do aumento de preço das ações e da distribuição de dividendos, têm a
oportunidade de compartilhar os lucros nos negócios bem sucedidos feitos pelos
administradores das companhias.

 Aprimorando a Governança Corporativa - A demanda cada vez maior de novos


acionistas, as regras cada vez mais rígidas do governo e das bolsas de valores têm
levado as companhias a melhorar cada vez mais seus padrões de administração e
eficiência. Conseqüentemente, é comum dizer que as companhias abertas são mais
bem administradas que as companhias fechadas (companhias cujas ações não são
negociadas publicamente e que geralmente pertencem aos fundadores, familiares ou
herdeiros ou a um grupo pequeno de investidores). Os princípios de governança
corporativa estão, cada vez mais, sendo aceitos e aprimorados.

Obs: Infelizmente, casos como o da SADIA e ARACRUZ que operaram de forma


alavancada no mercado de derivativos colocam em cheque esta teoria.
Posteriormente, estas empresas foram incorporadas pela PERDIGÃO e Grupo
VOTORANTIM, respectivamente.

 Criando oportunidades de investimento para pequenos investidores -


Diferentemente de outros empreendimentos que necessitam de grandes somas de
capital, o investimento em ações é aberto para quaisquer indivíduos, sejam eles
grandes ou pequenos investidores. Um pequeno investidor pode adquirir a quantidade
de ações que está de acordo com sua capacidade financeira, tornando-se sócio
minoritário (mesmo tendo participação percentual ínfima no capital da companhia),
sem que tenha que ficar excluído do mercado de capitais apenas por ser pequeno.
Desta forma, a bolsa de valores abre a possibilidade de uma fonte de renda adicional
para pequenos poupadores.

Alvaro Edauto S. Gomes


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 Atuando como Termômetro da Economia - Na bolsa de valores, os preços das ações


oscilam dependendo amplamente das forças do mercado e tendem a acompanhar o
ritmo da economia, refletindo seus momentos de retração, estabilidade ou
crescimento. Uma recessão, depressão, ou crise financeira pode eventualmente levar
a uma queda (ou até mesmo uma quebra) do mercado. Desta forma, o movimento dos
preços das ações das companhias e, de forma ampla, os índices de ações são um bom
indicador das tendências da economia.

 Ajudando no financiamento de projetos sociais - Os governos federal, estadual ou


municipal podem contar com as bolsas de valores ao emprestar dinheiro para a
iniciativa privada para financiar grandes projetos de infra-estrutura, tais como
estradas, portos, saneamento básico ou empreendimentos imobiliários para camadas
mais pobres da população. Geralmente, esses tipos de projetos necessitam de grande
volume de recursos financeiros, que as empresas ou investidores não teriam condições
de levantar sozinhas sem contar com a participação governamental. Os governos, para
levantarem recursos, utilizam-se da emissão de títulos públicos. Esses títulos podem
ser negociados nas bolsas de valores. O levantamento de recursos privados, por meio
da emissão de títulos, elimina a necessidade (pelo menos no curto prazo) dos governos
sobretaxarem seus cidadãos e, desta maneira, as bolsas de valores estão ajudando
indiretamente no financiamento do desenvolvimento.

6.2 História da BOVESPA – Bolsa de Valores de São Paulo

A Bovespa foi fundada em 23 de agosto de 1890 por Emilio Pestana. Até as reformas do
sistema financeiro e do mercado de capitais, implementadas pelo governo no biênio 1965-
1966, as bolsas de valores brasileiras eram entidades oficiais corporativas, vinculadas às
secretarias de finanças dos governos estaduais e compostas por corretores nomeados pelo
poder público.

Após as reformas, as bolsas assumiram a característica institucional , transformando-se em


associações civis sem fins lucrativos, com autonomia administrativa, financeira e patrimonial. A
antiga figura individual do corretor de fundos públicos foi substituída pela da sociedade
corretora, empresa constituída sob a forma de sociedade por ações nominativas ou por cotas
de responsabilidade limitada.

Alvaro Edauto S. Gomes


65

Desde então, a Bovespa vem crescendo e se modernizando, sempre em sintonia com as


novas tecnologias e tendências. Até pouco tempo atrás, grande parte dos negócios ainda era
realizada através do pregão viva-voz mas, atualmente, todos os negócios com ações e opções
são realizados através do sistema Mega Bolsa, implantado em 1997. Em março de 1999, a
Bovespa lançou o sistema Home Broker, que permitia que investidores pudessem comprar
e/ou vender ações e opções em suas casas através da Internet. Esse sistema foi interligado ao
Mega Bolsa e oferecido por uma ampla variedade de corretoras, cada qual com um serviço
distinto. O sucesso do Home Broker no Brasil foi total e, em pouco tempo, os pequenos
investidores passaram a ter uma maior participação no número e no volume de negócios da
Bovespa, tendência que vem crescendo nos últimos anos.

Em 28 de agosto de 2007, a BOVESPA deixou de ser uma instituição sem fins lucrativos e se
tornou uma sociedade por ações: a BOVESPA Holding S/A. A BOVESPA Holding possui como
subsidiárias integrais a Bolsa de Valores de São Paulo (BVSP) - responsável pelas operações dos
mercados de bolsa e de balcão organizado - e a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia
(CBLC), que presta serviços de liquidação, compensação e custódia.

Em maio de 2008, a BOVESPA foi integrada à BM&F, formando, então, a BM&FBOVESPA


S/A.

6.3 História da BM&F – Bolsa de Mercadorias e de Futuros

Empresários paulistas ligados à exportação, ao comércio e à agricultura criaram, em 26 de


outubro de 1917, a Bolsa de Mercadorias de São Paulo, a BMSP. Primeira no Brasil a introduzir
operações a termo, ela alcançou, ao longo dos anos, rica tradição na negociação de contratos
agropecuários, particularmente café, boi gordo e algodão.

Em julho de 1985, surge a Bolsa Mercantil & de Futuros, a BM&F. Seus pregões começam a
funcionar em 31 de janeiro de 1986. Em pouco tempo, ela conquista posição invejável entre as
principais commodities exchanges do mundo, negociando contratos futuros, de opções, a
termo e a vista, referenciados em índices de ações, ouro, taxas de juros e taxas de câmbio.

Em 9 de maio de 1991, BM&F e BMSP resolvem fundir suas atividades, aliando a tradição de
uma ao dinamismo da outra. Surge então a Bolsa de Mercadorias & Futuros - também com a
sigla BM&F - cujo objetivo é desenvolver mercados futuros de ativos financeiros,
agropecuários e outros.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Em 2007, a BM&F iniciou seu processo de desmutualização e, a partir de 1º de outubro de


2007, a BM&F se tornou uma sociedade por ações com fins lucrativos. Por meio da
desmutualização, os direitos patrimoniais dos antigos associados da Companhia foram
desvinculados dos Direitos de Acesso, e convertidos em participações acionárias.

Em maio de 2008, a BM&F e a BOVESPA integraram-se, formando, assim, a BM&FBOVESPA


S/A.

Informações sobre a BM&FBOVESPA no mês de março de 2009:

Valor de mercado das Companhias R$ 1,42 trilhões


Negociadas

Volume negociado R$ 88,94 bilhões

Número de Negócios 6,34 milhões

Participação dos estrangeiros 34,01 %

Investidores pessoas físicas 33,82 %

Invetsidores Institucionais 23,64 %

Instituições Financeiras 6,60 %

Número total dos clubes de 2.790


investimento (148.000 quotistas)

Negociações no Home Broker R$ 31,80 bilhões

Fonte: Valor Econômico 06/04/2009

Alvaro Edauto S. Gomes


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6.4 Cases de Atuação da Comissão de Valores Mobiliários

I - “A Comissão de Valores Mobiliários celebrou Termo de Compromisso com a BMC Asset


Management e seus Ex-diretores para encerrar processo que investigava irregularidades em
negócios envolvendo fundos exclusivos da Fundação de Assistência dos Empregados da
Companhia Energética de Brasília. A gestora e os executivos eram acusados de não terem sido
diligentes diante de operações irregulares feitas por uma corretora contratada para fazer a
gestão da parte do fundo exclusivo da fundação, e que teriam causado perdas à carteira.

Aplicação da multa: R$ 287.784,00 dos quais 80% irão para a Faceb e o restante para a CVM.

Total do prejuízo causado: R$ 1,918 milhão

Posição da CVM: Concluiu que, apesar de não ter culpa pelas operações ilegais, a BMC Asset e
os executivos não agiram com diligência suficiente para impedir as irregularidades cometidas
pela contratada”.

Fonte: Valor Econômico

“BMC Asset faz acordo e paga R$ 287 mil a CVM e Faceb”

06 de abril de 2009 – D2

II – “O empresário Ricardo Mansur foi multado em R$ 100 mil por infrações de regras de
mercado quando era diretor presidente da extinta rede de varejos Mesbla. O vice-presidente
também foi multado em R$ 50 mil.

Motivo: Não elaboração das demonstrações financeiras, não convocação de assembleias


gerais e por não ter eleito um diretor de relações com o mercado.

A decisão é de primeira instância e pode haver recurso junto ao Conselho de Recursos do


Sistema Financeiro Nacional”.

Fonte: Valor Econômico

“CVM multa Mansur”

07 de abril de 2009

Alvaro Edauto S. Gomes


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PRINCIPAIS PERIGOS PARA O INVESTIDOR

Irregulares
Negócio da China: Aplicações em títulos envolvendo atividades agrícolas (palmito, reflorestamento) ou criações
(boi, avestruz, camarão) sem registro na CVM que prometem ganhos fixos muito acima do mercado.

Clube do prejuízo: Instituição que oferece clubes de investimento sem autorização da CVM ou da BOVESPA
prometendo retorno fixo altíssimo em ações ou derivativos complexos.

Forex: Aplicação em moedas no exterior não regulamentada pela CVM, em geral oferecidas por sites fora do Brasil,
o que impede a fiscalização e abre espaço para golpes.

Golpes
Fundo 157: Pessoa liga dizendo que o investidor tem dinheiro a receber da aplicação feita nos anos 60 e 70 e pede
dinheiro para a liberação.

Ações da Telebrás: O golpista diz que a pessoa comprou telefone no passado e tem ações da empresa de telefonia
e pede um valor antecipado para pagar imposto ou liberar o dinheiro.

Garimpeiros: Pessoas que fazem anúncios ou visitam cidades se oferecendo para comprar ações de empresas de
telefonia de planos de expansão por preços irrisórios.

O professor: Pessoa sem autorização da CVM se passa por especialista em mercado, dá palestra ou abre uma
conta e depois recolhe aplicações ou indica a própria empresa ou uma conta falsa para a pessoa aplicar.

Lobo em pele de cordeiro: Falso agente autônomo que visita cidades do interior, organiza eventos e forja fichas
cadastrais e telefones de corretoras existentes para recolher aplicações.

Fonte: Valor Econômico – 07 de abril de 2009 P. D-2

Observação: A CVM só tem competência quando a captação se caracteriza como oferta


pública de valor mobiliário. Fora isso, é caso simples do artigo 171 do Código Penal. A CVM
tem poder apenas administrativo, a parte civil e criminal cabe ao Ministério Público. A punição
para crimes envolvendo manipulação de mercado pode levar a penas de um a oito anos de
prisão mais multa (artigo 27 letra “E” da lei 6.385) . Já os crimes de distribuição ou gestão de
investimentos irregular tem pena de 6 meses a dois anos.

Alvaro Edauto S. Gomes


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7. O Mercado Financeiro

Neste módulo vincularemos o mercado de capitais ao mercado financeiro por haver uma
sinergia entre estes dois mercados. Vimos no estudo sobre a história do Brasil que a atividade
bancária inicia-se primeiro do que a atividade do mercado de capitais, porém, será através das
instituições financeiras que as operações no mercado de capitais irão ocorrer, mas este
mercado não fica restrito apenas ao mundo das ações e dos títulos mobiliários, pois possui
estrutura própria e autônoma, além de ter fiscalização direta do BANCO CENTRAL DO BRASIL.

Com a reforma bancária de 1964 surge o CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL (órgão


normativo) e o BANCO CENTRAL DO BRASIL (órgão executor), sendo a estrutura do sistema
financeiro nacional composta por estas autoridades monetárias, autoridades de apoio tais
como BNDES, CVM, SUSEP, Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, Sistema de
Previdência Complementar, além das diversas instituições financeiras existentes denominadas:
instituições financeiras monetárias, instituições financeiras não monetárias e instituições não
financeiras.

As instituições financeiras monetárias são representadas por todos os bancos comerciais


que captam e emprestam recursos através de seus canais (agências bancárias). Com a
Constituição de 1988 foi criada a figura do banco múltiplo que é o banco que atua em diversas
ramificações do mercado financeiro tais como: seguro, corretora, Sociedade de Crédito
Imobiliário, Sociedades de Crédito e Financiamento, Cooperativas de Crédito, Distribuidora,
Private bank, banco de investimento, leasing. Desta forma, podemos concluir que a maior
parte dos bancos no Brasil possuem esta característica. Porém, a legislação permite a criação

Alvaro Edauto S. Gomes


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de companhias de seguro, consórcios, sociedades de poupança e empréstimo, corretoras e


distribuidoras, empresas de arrendamento mercantil, Sociedades de Credito Imobiliário de
forma independentes, sem serem necessariamente bancos. Esta é a razão de serem
denominadas instituições financeiras não monetárias, uma vez que não possuem canais de
captação tal como os bancos comerciais, ou seja, não possuem capilaridade e nem a
possibilidade de aplicação do efeito multiplicador bancário (quando o volume de empréstimo
supera o volume de captação).

Quanto às instituições não financeiras, podemos elencar as seguintes atividades:

 Cias de seguro: são clientes dos bancos, pois os recursos financeiros (prêmios)obtidos
são aplicados no mercado financeiro e servirão como fonte para o pagamento dos
sinistros. São fiscalizadas pela SUSEP – Superintendência de Seguros Privados. Estas
empresas comercializam títulos de capitalização, planos de previdência privada, além
das diversas modalidades de seguro;

 Empresas de cartão de crédito: são propriedades dos bancos. Embora haja discussão
jurídica em relação à essa questão, pois são vistas por alguns como instituição
financeira de fato, uma vez que cobram juros sobre juros sobre as dívidas não quitadas
(crédito rotativo), porém, seus recursos não provêm de captação de mercado, mas de
patrimônio líquido dos bancos que as constituíram. Por enquanto, este setor se
autorregula, mas já há Projeto de Lei propondo a regulação deste setor pelo Conselho
Monetário Nacional e Banco Central do Brasil;

 Empresas de fomento comercial (factoring): não são fiscalizadas pelo Banco Central
do Brasil. A sua constituição dar-se-á mediante registro na Junta Comercial.

ESTRUTURA DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

normativos Entidades Operadores


supervisoras
Conselho Banco Central do Instituições Bancos de Outros intermediários financeiros e
Monetário Nacional Brasil - Bacen financeiras câmbio e administradores de recursos de
- CMN captadoras de demais terceiros
depósitos à instituições
vista financeiras
Comissão de Valores Bolsas de Bolsas de
Mobiliários – CVM mercadorias e valores
futuros
Conselho Nacional Superintendência de IRB – Brasil Sociedades Sociedades de Entidades abertas
de Seguros Seguros Privados - Resseguros seguradoras capitalização de previdência
Privados - CNSP Susep (Monopólio complementar
quebrado em
2008)
Conselho de Secretaria de Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão)
Gestão da Previdência
Previdência Complementar – SPC
Complementar –
CGPC

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71

7.1 PRODUTOS FINANCEIROS

Aplicações Financeiras - Rentabilidade

Aplicação Rentabiidade em 12 meses - Real


Renda Fixa
CDI – Certificado de Depósito Interbancário 6,06
CDB – Certificado de Depósito Bancário 5,97
Poupança 1,74
Fundos Referenciados DI 5,83
Fundo de Renda Fixa 6,43
Renda Variável
Ibovespa -36,84
IVBX-2 -36,54
FGV - 100 -37,21,
FGV – 100 E -27,96
Dólar Comercial 24,42
Dólar paralelo 23,16
Ouro (BM&F) 22,42
Fundos Ibovespa Ativos com alavancagem -37,41
Fundo Ibovespa Ativo sem alavancagem -36,64
Fundo Cambial Dólar sem alavancagem 27,39
Fundo Multimercado com RV 1,22
Fundo Multimercado sem RV 6,58
Valor Econômico - Data: 03 de abril de 2009

a) Fundos Exclusivos

Criados para atender às necessidades específicas de investidores qualificados – pessoas


físicas ou jurídicas, instituições financeiras, sociedades de capitalização, companhias
seguradoras, entidades abertas e fechadas de previdência complementar – que possuam
investimentos em valor superior a R$ 300.000,00 e atenderá aos cotistas com objetivos em
comum.

b) Fundos de Renda Fixa

São títulos que pagam, em períodos definidos, uma certa remuneração, que pode ser
determinada no momento da aplicação ou no momento do resgate (no final da aplicação). O
modo mais fácil de entender o que é um título de renda fixa é imaginar cada título como um
empréstimo. Cada vez que você compra um título de renda fixa você está basicamente
emprestando dinheiro ao emissor do título (que pode ser o seu banco, uma empresa ou o
governo). Os juros cobrados nada mais são do que a remuneração que você recebe por
emprestar seu dinheiro.

Alvaro Edauto S. Gomes


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c) Certificados de Recebíveis Imobiliários

Os Certificados de Recebíveis Imobiliários, CRI, são títulos de renda fixa lastreados em


créditos imobiliários - fluxo de pagamentos de contraprestações de aquisição de bens
imóveis, ou de aluguéis - emitidos por sociedades securitizadoras. Podem ser emitidos nas
formas simples ou com regime fiduciário, sendo que esta implica em constituição de
patrimônio separado, administrado pela companhia securitizadora e composto pela
totalidade dos créditos submetidos ao regime fiduciário que lastreiem a emissão, além da
nomeação de agente fiduciário, o qual tem como função zelar pela proteção dos direitos e
interesses dos beneficiários, acompanhando a atuação da companhia securitizadora na
administração do patrimônio separado, entre outras. A Lei 9.514/97 que criou o CRI,
posteriormente alterada pela MP 2.223/01 e Lei 10.931/04, também instituiu a alienação
fiduciária para bens imóveis e as Companhias Securitizadoras. Outra importante característica
dos CRI é a isenção de imposto de renda sobre sua remuneração, para investidores pessoas
físicas a partir de 01/01/2005, de acordo com a lei 11.033/94.

d) Letras Hipotecárias

As letras hipotecárias são uma forma de captação usada pelos bancos para financiar certas
linhas de crédito imobiliário, portanto só podem ser emitidas por instituições autorizadas
para este tipo de financiamento. As Letras Hipotecárias são emitidas com juros prefixados,
flutuantes e pós-fixados em TR ou TJLP (Taxa de juro de longo prazo) com prazo mínimo de
180 dias e , apesar de não ser estipulado em geral, não passa de 24 meses.

Como os fundos referenciados DI na média tendem a render (antes de impostos e taxas)


cerca de 90% do CDI, as aplicações em Letras Hipotecárias são bastante atrativas para
pessoas com perfil menos agressivo e bolsos mais cheios que buscam alternativas de redução
da carga tributária dos seus investimentos.

Além do maior volume de capital exigido para aplicar nas Letras Hipotecárias, outro
inconveniente é a falta de liquidez e de prazos maleáveis de investimento em relação a outros
produtos disponíveis no mercado. As letras são oferecidas apenas com vencimentos pré-
definidos, que variam entre seis meses a dois anos, e não existe a possibilidade de saque dos
recursos antes do prazo estabelecido.

Alvaro Edauto S. Gomes


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e) Debêntures

Valor mobiliário, emitido pelas sociedades por ações que asseguram, a seu titular, um
direito de crédito contra a companhia emissora, nas condições constantes da escritura de
emissões e do certificado, quando este for emitido.

f) Certificados e Recibos de Depósitos Bancários

Antes da introdução dos fundos de investimento, os CDBs eram uma das principais
alternativas de investimento no mercado brasileiro. Os CDBs são títulos emitidos por bancos,
que podem ser vistos como um depósito bancário, já que ao comprar o CDB você na verdade
está emprestando o dinheiro para o banco, e recebendo em troca o pagamento de juros.
Além dos CDBs, os bancos também emitem os RDBs (recibo depósito bancário), que têm as
mesmas características de um CDB, com a diferença de que não admite negociação antes de
seu vencimento.

Porém, este pode ser rescindido em caráter excepcional desde que em concordância com a
instituição depositária. Neste caso só pode ser devolvido o principal, isto é , sem os juros.

A taxa paga pelos bancos pode ser pré-fixada, pós-fixada ou flutuante, essa última
atrelada a um percentual da variação de um índice, que pode ser a TR, TJLP, CDI, ou um índice
de inflação, como o IGP-DI ou IGP-M. Nos CDBs pré-fixados, como o próprio nome já sugere,
você sabe na hora da compra quanto irá receber em juros, enquanto nos pós-fixados a
remuneração que você receberá só será definida depois do vencimento do título.
Normalmente, as aplicações têm prazos que variam entre 30 dias e 180 dias. Em geral os
bancos concedem taxas melhores de acordo com o volume investido, isto é, quanto maior o
investimento, melhor deve ser a taxa que você receberá do banco.

Ao aplicar seu dinheiro em um CDB, o maior risco é de que o banco que emitiu o CDB
fique inadimplente, ou seja, que o banco quebre antes de pagar seus clientes. Nesse caso, a
aplicação é garantida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), vinculado ao Governo Federal,
até um valor máximo de R$ 60.000,00 por CPF. Vale lembrar que os fundos de investimento
não se beneficiam com recursos do FGC.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Assim como grande parte dos fundos de renda fixa, os CDBs pré-fixados se beneficiam de
liquidez diária, isto é, você pode sacar seu dinheiro a qualquer momento, mas assim como
acontece com os fundos, se o saque acontecer antes de 30 dias terá de pagar IOF regressivo,
isto é, quanto mais tempo deixar o dinheiro investido menos paga em IOF. No vencimento do
CDB, você recebe um crédito automático em sua conta corrente, já descontado o pagamento
de imposto de renda sobre o rendimento bruto do CDB no período.

g) Fundo de Renda Variável

O mercado de renda variável compreende todas as operações realizadas nas bolsas de


valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas, bem como as operações com ouro, ativo
financeiro, realizadas fora de bolsas, com a interveniência de instituições integrantes do
Sistema Financeiro Nacional (bancos, corretoras e distribuidoras).

h) Fundos Cambiais

Fundos cambiais são fundos que aplicam pelo menos 80% do seu patrimônio líquido,
diretamente ou não, em moedas estrangeiras. Os 20% restantes, se não aplicados, devem
estar relacionados a operações com títulos de renda fixa.

i) Fundos Imobiliários

Os Fundos Imobiliários são aplicações ideais para investidores que buscam,


fundamentalmente, complementação de renda com o aluguel de imóveis e diversificação em
seus investimentos. Também são conhecidos como condomínios cujos recursos são investidos
em empreendimentos imobiliários provendo a rentabilidade dos aluguéis dos imóveis de
propriedade do fundo, que são distribuídos mensalmente as cotistas.

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j) Derivativos

Derivativo é um contrato definido entre duas partes no qual se definem pagamentos


futuros baseados no comportamento dos preços de um ativo de mercado. O mercado de
derivativos abrange um amplo leque de operações que estão sempre inseridas nos mercados a
termo, de futuros, de opções ou de swap.

Em qualquer um deles, o investidor poderá negociar tanto commodities (metais e produtos


agrícolas) quanto ativos financeiros, como taxas de juro, índices de mercado etc. É comum
vermos investidores à procura de operações com derivativos para especular e para buscar
proteção. Esta segunda atitude caracteriza o investidor como um hedger.

k) Titulos de Capitalização

É uma aplicação pela qual o Subscritor constitui um capital, segundo cláusulas e regras
aprovadas e mencionadas no próprio título (Condições Gerais do Título) e que será pago em
moeda corrente num prazo máximo estabelecido. O título de capitalização só pode ser
comercializado pelas Sociedades de Capitalização devidamente autorizadas a funcionar. Eles
são considerados, para todos os fins legais, títulos de crédito.

Na esfera legal, o Decreto-lei nº 261, de 28 de fevereiro de 1967, dispõe sobre as operações


das Sociedades de Capitalização, mencionando no seu texto artigos do Decreto-lei nº 73, de 21
de novembro de 1966.

Na esfera infra-legal, a Resolução CNSP nº 015, de 12/05/92, e alterações estabelecem as


normas reguladoras das operações de capitalização no país e a Circular SUSEP nº 130, de 18 de
maio de 2000, e alterações dispõem sobre as operações, as Condições Gerais e a Nota Técnica
Atuarial dos títulos de capitalização.

A contratação de um título é realizada através do preenchimento e da assinatura da


proposta.
O envio (a entrega) da proposta devidamente assinada representa a concretização da
subscrição do Título, sendo proibida a cobrança de qualquer taxa a título de inscrição.
Importante destacar que as Condições Gerais do título devem estar disponíveis ao subscritor
no ato da contratação. A disponibilização das Condições Gerais em momento posterior ao da
contratação constitui violação às normas, sendo a Sociedade, portanto, passível de multa.

Alvaro Edauto S. Gomes


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O subscritor, que é a pessoa que adquire o título e assume o dever de efetuar os


pagamentos, pode, desde que comunique por escrito à Sociedade, a qualquer momento, e
não somente no ato da contratação, definir quem será o titular, isto é, quem assumirá os
direitos relativos ao título, tais como o resgate e o sorteio.
É claro que subscritor e titular podem ser a mesma pessoa, isto é, a pessoa que paga o título é
a que detém os direitos atinentes a ele.

Caso haja atraso no pagamento , cada título define o procedimento em relação aos
pagamentos em atraso. Alguns estipulam multa moratória e atualização monetária para
pagamentos após a data de vencimento. Outros só atualização monetária. Já alguns
simplesmente prorrogam a vigência em razão de atrasos. Porém, em qualquer hipótese
anteriormente citada, os títulos que estão em atraso são suspensos, não possuindo direito aos
sorteios durante o prazo de suspensão. Além disso, na ocorrência de um determinado número
consecutivo (definido em cada título) de pagamentos em atraso, o título será
automaticamente cancelado. Porém, mesmo assim, o titular terá direito ao capital formado
para resgate, após encerrado o prazo de carência

É facultada à Sociedade de Capitalização a utilização dos resultados de loterias oficiais para


a geração dos seus números sorteados. Caso a sociedade opte por não utilizá-los, ou se as
loterias oficiais não se realizarem, a Sociedade de Capitalização se obriga a realizar sorteios
próprios com ampla e prévia divulgação aos titulares, prevendo, inclusive, livre acesso aos
participantes e a presença de auditores independentes.
As Condições Gerais do título deverão prever a forma de atribuição e apuração dos
números em razão dos sorteios, além de definir os múltiplos dos prêmios dos sorteios. Tais
múltiplos se referem ao valor do pagamento, ou seja, se no exemplo dado acima o prêmio do
sorteio for de 40 vezes o pagamento, ao título sorteado caberá R$4000,00 (40 x R$100,00).
Porém, deverá ser informado se este valor é bruto (sobre o qual incidirá imposto de renda) ou
se já é líquido de imposto.
O título sorteado poderá permanecer em vigor ou não, segundo o que estiver disposto nas
condições gerais, porém o fato de um título ser ou não sorteado em nada alterará o seu capital
para resgate.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Finalizando, um título de capitalização não obrigatoriamente deverá prever sorteios, mas


como os prêmios do sorteio são custeados pelos próprios títulos, em geral, quanto maiores
forem os prêmios, menores serão as cotas de capitalização, isto é, menor será a parcela do
pagamento destinada a compor o capital de resgate do título.

O capital a ser resgatado origina-se do valor que é constituído pelo título com o decorrer do
tempo a partir dos percentuais dos pagamentos efetuados, com base nos parâmetros
estabelecidos nas Condições Gerais. Este montante que vai sendo formado denomina-se
Reserva Matemática e é, portanto, a base de cálculo para o valor a que o subscritor terá direito
ao efetuar o resgate do seu título. Ele, mensalmente e obrigatoriamente, é atualizado pela TR,
que é a mesma taxa utilizada para atualizar as contas de caderneta de poupança, e sofre a
aplicação da taxa de juros definida nas condições gerais, que pode inclusive ser variável,
porém limitada ao mínimo de 20% da taxa de juros mensal aplicada à caderneta de poupança
(atualmente, então, a taxa mínima de juros seria de 0,1% ao mês).
A Sociedade de Capitalização em hipótese alguma poderá se apossar do capital, podendo
apenas estabelecer um percentual de desconto (penalidade), não superior a 10%, nos casos de
resgate antecipado, isto é, quando o resgate for solicitado pelo titular antes de concluído o
período de vigência. Na hipótese de resgate após o prazo de vigência, ou se for previsto
obrigatoriamente quando o título for sorteado, o capital resgatado corresponderá a
integralidade (100%) da reserva matemática.

Alguns títulos prevêem prazo de carência, isto é, um período inicial em que o capital fica
indisponível ao titular. Se o titular solicitar o resgate durante o período de carência ou se o
título for cancelado, o resgate só poderá acontecer efetivamente (receber o dinheiro) após o
encerramento do período de carência. Conforme já explicado acima, em casos de resgate
antecipado, faculta-se a Sociedade de Capitalização estipular uma penalidade de até 10% do
capital constituído.

Outra possibilidade, também, é a de o título prever Resgate Parcial, isto é, resgata-se uma
parte do capital constituído, valendo inclusive a aplicação de penalidade limitada novamente a
10%.

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Título de capitalização não é a mesma coisa que caderneta de poupança. O título de


capitalização é um produto comercializado somente pelas Sociedades de Capitalização através
de planos que são previamente aprovados pela SUSEP. Seu capital de resgate será sempre
inferior ao capital constituído por aplicações idênticas na caderneta de poupança, já que, dos
pagamentos efetuados num título, desconta-se uma parte para custear as despesas
administrativas das Sociedades de Capitalização e, quando há sorteios, uma parcela para
custear as premiações.

As Sociedades de capitalização são obrigadas a prestar informações sempre que


solicitadas pelo subscritor. Independentemente deste fato, as informações poderão ser
disponibilizadas por meio de mídia impressa ou eletrônica, ou ainda, por meio de extratos. No
caso de extratos, a periodicidade máxima para sua emissão ou é de seis meses, para planos
com Pagamentos Mensais (P.M) e vigência igual a 12 meses, ou é de um ano, se a vigência for
superior a 12 meses ou para qualquer período de vigência se o título for de Pagamento Único
(P.U.).

O consumidor deverá ponderar as vantagens e desvantagens para adquirir um título de


capitalização. As grandes vantagens seriam os sorteios e a obrigação de "poupar", objetivando
não atrasar os pagamentos. As grandes desvantagens são: capital constituído inferior se
comparado ao da caderneta de poupança, prazo de carência (mas nem sempre há), proibição à
depósitos aleatórios e penalidade em caso de resgate antecipado, isto é, antes de encerrado o
prazo de vigência (alguns títulos não prevêem tal penalidade).

l) Previdência Privada

Em resumo, pode-se dizer que é um sistema que acumula recursos que garantam uma renda
mensal no futuro, especialmente no período em que se deseja parar de trabalhar. Num
primeiro momento, era vista como uma forma uma poupança extra, além da previdência
oficial, mas como o benefício do governo tende a ficar cada vez menor, muitos adquirem um
plano como forma de garantir uma renda razoável ao fim de sua carreira profissional.

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Há dois tipos de plano de previdência no Brasil. A aberta e a fechada. A aberta, pode ser
contratada por qualquer pessoa, enquanto a fechada é destinada a grupos, como funcionários
de uma empresa, por exemplo.

Abaixo, as principais características de cada uma delas:

Fechada - É destinada aos profissionais ligados a empresas, sindicatos ou entidades de classe.


Em linhas gerais, o trabalhador contribui com uma parte mensal do salário e a empresa banca
o restante, valor que normalmente é dividido em partes iguais. Outras empresas, essas mais
raras, bancam toda a contribuição.

Uma vantagem imediata é a possibilidade de se deduzir 12% da renda bruta na declaração


anual do Imposto de Renda. Estima-se que as empresas de previdência complementar
possuam cerca de 126 mil participantes que já desfrutam de benefícios de previdência do
setor. Exemplos: PREVI, FUNCEF, VALIA, REAL GRANDEZA, etc.

Aberta - É oferecida por seguradoras ou por bancos. Um dos principais benefícios dos planos
abertos é a sua liquidez, já que os depósitos podem ser sacados a cada dois meses. O número
total de participantes de planos abertos é estimado em 5 milhões de pessoas.

OPÇÕES DE PREVIDÊNCIA ABERTA

PGBL

VGBL

Plano tradicional

Fapi

Os especialistas recomendam que a sua renda ao final do período produtivo seja de pelo
menos 70% da renda atual. Isso levando-se em conta que os filhos já estarão crescidos, a casa
própria estará quitada, e outros gastos consideráveis do período produtivo da vida já não se
façam mais necessários.

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7.2 SERVIÇOS FINANCEIROS

a) Factoring – Fomento Comercial

Tem por objetivo a prestação de serviços e participações destinadas ao fomento


comercial, a saber:
a) A cobrança e garantia de créditos comerciais;
b) Aquisição, administração e negociação de ativos patrimoniais de pessoas jurídicas,
inclusive de direitos creditórios de empresas comerciais ou industriais, decorrentes de
faturamento da renda de bens ou de serviços;
c) Prestação de serviços técnicos de assessoria em operações de financiamento,
elaboração de estudos, planejamento e participação em empreendimentos;
d) Participação em outras sociedades como acionista ou quotista;

b) Consórcios

Atua na concessão de financiamento para a aquisição de bens duráveis. Pela atual Lei
11.795 de 08 de outubro de 2008 o Banco Central do Brasil passa a regular a atividade. Por não
captar recursos no mercado financeiro, é instrumento de progresso social, destinado a
propiciar acesso a bens e serviços.

Para a atual Lei:

 Prevalece o interesse coletivo sobre o individual;


 Cada grupo terá o patrimônio segregado em relação aos demais e o da própria
sociedade gestora dos recursos, passando o grupo a ser dotado de autonomia
financeira, pois os recursos do grupo não se confundem com a da administradora, não
integrando seus bens e direitos para fins de liquidação extrajudicial e não podendo ser
dados em garantia os seus débitos;
 São os administradores os depositários até a satisfação das obrigações do contrato de
adesão do grupo e responderão pessoal e solidariamente, tenham ou não culpa, pelos
danos ao grupo;

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c) Cooperativas de Crédito

No Brasil as primeiras cooperativas surgiram no início do século XX, em São Paulo e no Rio
Grande do Sul. Elas são regidas pela lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que define a
política de cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas e dá outras
providências.
As cooperativas são sociedades civis, compostas por pessoas, com forma e natureza jurídica
próprias, sem fins lucrativos e não sujeitas à falência. Adicionalmente, as cooperativas de
crédito são instituições financeiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Por essa
razão, seu funcionamento é definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e suas
operações fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil, que para tanto emite os atos normativos
necessários.

Tem por objetivo a concessão de crédito e a prestação de serviços financeiros a seus


associados de forma mais vantajosa, geralmente emprestando a menores taxas, remunerando
aplicações a maiores taxas, cobrando menores tarifas e com menores exigências, quando
comparadas aos bancos e financeiras.

No período 1994 a 2002, o número de cooperativas de crédito brasileiras, passou de 946


para 1428 - um crescimento de 51% - com 1,6 milhão de associados, empregando 25 mil
pessoas em 2700 postos de atendimento. As operações de crédito somaram R$ 4,1 bilhões o
que, no entanto, representa uma participação bastante modesta no volume de crédito do país:
apenas 1,64%.

São instituições que operam sem objetivo de lucro e seus depósitos à vista, ao contrário
dos bancos comerciais, não estão sujeitos ao depósito compulsório no Banco Central, o que
significa que elas dispõem da totalidade desses depósitos para empréstimos podendo,
portanto, cobrar menores taxas de juros e tarifas;

d) Financeiras

As sociedades de crédito, financiamento e investimento, também conhecidas por


financeiras, foram instituídas pela Portaria do Ministério da Fazenda 309, de 30 de novembro
de 1959. São instituições financeiras privadas que têm como objetivo básico a realização de

Alvaro Edauto S. Gomes


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financiamento para a aquisição de bens, serviços e capital de giro. Devem ser constituídas sob
a forma de sociedade anônima e na sua denominação social deve constar a expressão
"Crédito, Financiamento e Investimento". Tais entidades captam recursos por meio de aceite e
colocação de Letras de Câmbio e Recibos de Depósitos Bancários.

e) Sociedades de Crédito Imobiliário

As sociedades de crédito imobiliário são instituições financeiras criadas pela Lei 4.380, de 21
de agosto de 1964, para atuar no financiamento habitacional. Constituem operações passivas
dessas instituições os depósitos de poupança, a emissão de letras e cédulas hipotecárias e
depósitos interfinanceiros. Suas operações ativas são: financiamento para construção de
habitações, abertura de crédito para compra ou construção de casa própria, financiamento de
capital de giro a empresas incorporadoras, produtoras e distribuidoras de material de
construção. Devem ser constituídas sob a forma de sociedade anônima, adotando
obrigatoriamente em sua denominação social a expressão "Crédito Imobiliário". (Resolução
CMN 2.735, de 2000).

f) Sociedades de Poupança e Empréstimo

Sistema Financeiro da Habitação (SFH), é um segmento especializado do Sistema Financeiro


Nacional, criado pela Lei 4380/64, no contexto das reformas bancária e de mercado de
capitais. Por essa Lei foi instituída correção monetária e o Banco Nacional da Habitação, que se
tornou o órgão central orientando e disciplinando a habitação no País. Em seguida, a Lei
5107/66 criou o FGTS. O sistema previa desde a arrecadação de recursos, o empréstimo para a
compra de imóveis, o retorno desse empréstimo, até a reaplicação desse dinheiro. Tudo com
atualização monetária por índices idênticos.

Em 1.986, o SFH passou por uma profunda reestruturação com a edição do Decreto-Lei nº
2.291/86, que extinguiu o BNH e distribui suas atribuições entre o então Ministério de
Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (MDU), o Conselho Monetário Nacional (CMN), o
Banco Central do Brasil (Bacen) e a Caixa Econômica Federal (CEF). Ao MDU coube a
competência para a formulação de propostas de política habitacional e de desenvolvimento
urbano; ao CMN coube exercer as funções de Órgão central do Sistema, orientando,
disciplinando e controlando o SFH; ao Bacen foram transferidas as atividades de fiscalização
das instituições financeiras que integravam o SFH e a elaboração de normas pertinentes aos

Alvaro Edauto S. Gomes


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depósitos de poupança e a CEF à administração do passivo, ativo, do pessoal e dos bens


móveis e imóveis do BNH, bem como, a gestão do FGTS .
As atribuições inicialmente transferidas para o então MDU foram posteriormente
repassadas ao Ministério do Bem Estar Social, seguindo depois para o Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão e finalmente, a partir de 1999 até hoje, alçadas a
Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência da República (SEDU/PR).
Da criação do SFH até os dias de hoje, o sistema foi responsável por uma oferta de cerca de
seis milhões de financiamentos e pela captação de uma quarta parte dos ativos financeiros. O
sistema passou a apresentar queda nos financiamentos concedidos a partir de uma sucessão
de políticas de subsídios que reduziram substancialmente os recursos disponíveis.
O SFH possui, desde a sua criação, como fonte de recursos principais, a poupança voluntária
proveniente dos depósitos de poupança do denominado Sistema Brasileiro de Poupança e
Empréstimo (SBPE), constituído pelas instituições que captam essa modalidade de aplicação
financeira, com diretrizes de direcionamento de recursos estabelecidas pelo CMN e
acompanhados pelo Bacen, bem como a poupança compulsória proveniente dos recursos do
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço(FGTS), regidos segundo normas e diretrizes
estabelecidas por um Conselho Curador, com gestão da aplicação efetuada pelo Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão(MPOG), cabendo a CEF o papel de agente operador.
Atualmente, as normas do CMN (Resoluções nº 1.980, de 30.04.1993 e nº 3.005, de
30.07.2002), disciplinam as regras para o direcionamento dos recursos captados em depósitos
de poupança pelas instituições integrantes do SBPE, estabelecendo que 65%, no mínimo,
devem ser aplicados em operações de financiamentos imobiliários, sendo que 80% do
montante anterior em operações de financiamento habitacional no âmbito do SFH e o restante
em operações a taxas de mercado, desde que a metade, no mínimo, em operações de
financiamento habitacional, bem como 20% do total de recursos em encaixe obrigatório no
Bacen e os recursos remanescentes em disponibilidades financeiras e operações de faixa livre.

g) Arrendamento Mercantil

As sociedades de arrendamento mercantil são constituídas sob a forma de sociedade


anônima, devendo constar obrigatoriamente na sua denominação social a expressão
"Arrendamento Mercantil". As operações passivas dessas sociedades são emissão de
debêntures, dívida externa, empréstimos e financiamentos de instituições financeiras. Suas
operações ativas são constituídas por títulos da dívida pública, cessão de direitos creditórios e,

Alvaro Edauto S. Gomes


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principalmente, por operações de arrendamento mercantil de bens móveis, de produção


nacional ou estrangeira, e bens imóveis adquiridos pela entidade arrendadora para fins de uso
próprio do arrendatário. São supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Resolução CMN
2.309, de 1996).

h) Family Offices

NA IMPRENSA

O crescimento das operações de abertura de capital das empresas locais e o aumento do


número de fusões e aquisições do mercado de gestão de fortunas, tem impulsionado o
crescimento das family offices (empresas especializadas em gerir os recursos de grupos
familiares).
Os recentes ganhos com o mercado de capitais no Brasil permitiram expansão do
patrimônio de muitas famílias, aumentando o número de milionários e bilionários com
recursos disponíveis para novos investimentos.

O País é o maior mercado na América Latina em termos de riqueza, com quase metade das
fortunas da região, superando, inclusive, o México, representando US$ 1,5 trilhão, dos cerca
dos US$ 3,4 trilhões dos clientes private na região. Existem cerca de 40 a 50 family offices
atuantes no Brasil que atendem a famílias que possuem recursos entre R$ 5 milhões e R$ 10
milhões em ativos para investimento. A relação que possuem com os bancos é de parceria,
pois o forte dessas empresas está focado no planejamento tributário e fiscal, orientação
jurídica, aconselhamento de processo sucessório, entre outros. Desta forma, passa a ter um
relacionamento próximo à sua base de clientes, o que facilita a montagem de um produto
específico de acordo com o perfil desta, além da independência na escolha de aplicações
financeiras disponibilizadas por terceiros.

i) Bancos de Investimento
O banco de investimento é instituição financeira de natureza privada especializada em
operações de participação societária de caráter temporário, de financiamento de atividade
produtiva para suprimento de capital fixo e de giro e de administração de recursos de
terceiros, devendo ser constituído sob a forma de sociedade anônima.

Alvaro Edauto S. Gomes


85

7.3 O COAF – CONSELHO DO CONTROLE DE ATIVIDADES FINANCEIRAS

O COAF, no âmbito do Ministério da Fazenda, é o órgão encarregado de disciplinar, aplicar


penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades
ilícitas, previstas na Lei nº 9.613, de 03.03.1998, que dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou
ocultação de bens, direitos e valores.

O crime de lavagem de dinheiro caracteriza-se por um conjunto de operações comerciais ou


financeiras que buscam a incorporação na economia de cada país, de modo transitório ou
permanente, de recursos, bens e valores de origem ilícita e que se desenvolvem por meio de
um processo dinâmico que envolve, teoricamente, três fases independentes que, com
freqüência, ocorrem simultaneamente.

Em 03.03.98, o Brasil, dando continuidade a compromissos internacionais assumidos a


partir da assinatura da Convenção de Viena de 1988, aprovou, com base na respectiva
Exposição de Motivos, a Lei de Lavagem de Dinheiro ou Lei nº 9.613, posteriormente alterada
pela Lei nº 10.467, de 11.06.02.

Essa lei tipifica o crime de "Lavagem" de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores,
no que se refere a atos com propósito de legalização de recursos provenientes dos crimes
antecedentes previstos na mesma.

A lei supracitada atribuiu às pessoas jurídicas de diversos setores econômico-financeiros


maior responsabilidade na identificação de clientes e manutenção de registros de todas as
operações e na comunicação de operações suspeitas, sujeitando-as ainda às penalidades
administrativas pelo descumprimento das obrigações.

Para efeitos de regulamentação e aplicação das penas, o legislador preservou a


competência dos órgãos reguladores já existentes, cabendo ao COAF a regulamentação e
supervisão dos demais setores.

Alvaro Edauto S. Gomes


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7.4 DECRETO Nº 2.799, DE 8 DE OUTUBRO DE 1998 - aprova o Estatuto do Conselho de


Controle de Atividades Financeiras - COAF

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA,

no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, da Constituição,

DECRETA:

Art. 1º Fica aprovado, na forma do Anexo a este Decreto, o Estatuto do Conselho de Controle
de Atividades Financeiras - COAF, criado pela Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998.

Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 8 de outubro de 1998; 177º da Independência e 110º da República.

ANEXO AO DECRETO Nº 2.799, DE 8 DE OUTUBRO DE 1998


ESTATUTO DO CONSELHO DE CONTROLE DE ATIVIDADES FINANCEIRAS - COAF

CAPÍTULO I
DA NATUREZA E FINALIDADE

Art. 1º O Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, órgão de deliberação coletiva


com jurisdição em todo território nacional, criado pela Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998,
integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, com sede no Distrito Federal tem por
finalidade disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as
ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas em sua Lei de criação, sem prejuízo da
competência de outros órgãos e entidades.

Parágrafo único. O COAF poderá manter núcleos descentralizados, utilizando-se da infra-


estrutura das unidades regionais dos órgãos a que pertencem os Conselheiros, objetivando a
cobertura adequada de todo o território nacional.

CAPÍTULO II
DA ORGANIZAÇÃO

Seção I
Da Composição do Plenário

Art. 2º O Plenário será presidido pelo presidente do COAF e integrado por um representante
de cada um dos seguintes órgãos ou entidades:

I - Banco Central do Brasil;

II - Comissão de Valores Mobiliários ;

III - Superintendência de Seguros Privados;

Alvaro Edauto S. Gomes


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IV - Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional;

V - Secretaria da Receita Federal;

VI - Subsecretaria de Inteligência da Casa Militar da Presidência da República;

VII - Departamento de Polícia Federal;

VIII - Ministério das Relações Exteriores.

Parágrafo único. Os Conselheiros serão integrantes do quadro de pessoal efetivo de suas


organizações, designados pelo Ministro de Estado da Fazenda, atendendo, no caso dos incisos
VI, VII e VIII, à indicação dos respectivos Ministros de Estado.

Art.3º O Conselho contará com o apoio de uma Secretaria-Executiva, dirigida por um


Secretário-Executivo, nomeado pelo Ministro de Estado da Fazenda.

Seção II
Do Cargo de Presidente

Art. 4º O cargo de Presidente do COAF é de dedicação exclusiva, não se admitindo qualquer


acumulação, salvo as constitucionalmente permitidas.

§ 1º Aplicam-se ao cargo de Presidente, no que couber, o disposto nos arts. 5º e 6º.

§ 2º O presidente do Conselho será nomeado pelo Presidente da República, mediante


indicação do Ministro de Estado da Fazenda.

Seção III
Do Mandato de Conselheiro

Art. 5º O mandato de Conselheiro será de três anos, permitida a recondução.

§ 1º A perda de mandato de Conselheiro se dará nos casos de:

I - incapacidade civil absoluta;

II - condenação criminal em sentença transitada em julgado;

III - improbidade administrativa comprovada mediante processo disciplinar de conformidade


com o que prevê a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e a Lei nº 8.429, de 2 de junho de
1992;

IV - perda do cargo efetivo no órgão de origem ou aposentadoria;

V - infração ao disposto no art.6º.

§ 2º Também perderá o mandato, automaticamente, o membro do COAF, que faltar


injustificadamente a três reuniões ordinárias consecutivas, ou dez intercaladas.

Alvaro Edauto S. Gomes


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§ 3º Ocorrendo a perda de mandato ou a renúncia de Conselheiro será designado substituto,


que cumprirá mandato regular, observado o disposto no caput deste artigo.

§ 4º A função de Conselheiro será exercida sem prejuízo das atribuições regulares nos órgãos
de origem do membro do COAF.

Seção IV
Das vedações

Art. 6º Ao Presidente, aos Conselheiros e aos servidores da Secretaria-Executiva do COAF, ou à


sua disposição, é vedado:

I - participar, na forma de controlador, administrador, gerente preposto ou mandatário, das


pessoas jurídicas com atividades relacionadas no art. 9º, caput e parágrafo único da Lei nº
9.613, de 1998;

II - emitir parecer sobre matéria de sua especialização, fora de suas atribuições funcionais,
ainda que em tese, ou atuar como consultor de qualquer das pessoas jurídicas a que se refere
o inciso anterior;

III - manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de
julgamento no Conselho.

CAPÍTULO III
DAS COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES

Seção I
Da Competência do Plenário

Art. 7º Ao Plenário do COAF, compete:

I - zelar pela observância da legislação pertinente, do seu Estatuto e do Regimento Interno do


Conselho;

II - disciplinar a matéria de sua competência, nos termos da Lei nº 9.613, de 1998;

III - receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas, nos termos
do art. 1º da Lei nº 9.613, de 1998;

IV - decidir sobre infrações e aplicar as penalidades administrativas previstas no art. 12 da Lei


nº 9.613, de 1998, às pessoas jurídicas de que trata o art. 9º da referida Lei, para as quais não
exista órgão próprio fiscalizador ou regulador;

V - expedir as instruções destinadas às pessoas jurídicas a que se refere o inciso anterior;

VI - elaborar a relação de transações e operações suspeitas, nos termos do § 1º do art. 11 da


Lei nº 9.613, de 1998;

Alvaro Edauto S. Gomes


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VII - coordenar e propor mecanismos de cooperação e de troca de informações que viabilizem


ações rápidas e eficientes na prevenção e na repressão à ocultação ou dissimulação de bens,
direitos e valores;

VIII - solicitar informações ou requisitar documentos às pessoas jurídicas, para as quais não
exista órgão fiscalizador ou regulador, ou por intermédio do órgão competente, quando for o
caso;

IX - determinar a comunicação às autoridades competentes, quando concluir pela existência


de crimes, de fundados indícios de sua prática, ou de qualquer outro ilícito;

X - manifestar-se sobre propostas de acordos internacionais, em matéria de sua competência,


ouvindo, quando for o caso, os demais órgãos ou entidades públicas envolvidas com a matéria.

Seção II
Da Competência da Secretaria-Executiva

Art. 8º À Secretaria-Executiva compete:

I - receber das instituições discriminadas no art. 9º da Lei nº 9.613, de 1998, diretamente ou


por intermédio dos órgãos fiscalizadores ou reguladores, as informações cadastrais e de
movimento de valores considerados suspeitos, em conformidade com os arts. 10 e 11 da
referida Lei;

II - concentrar as solicitações encaminhadas às unidades descentralizadas;

III - receber relatos, inclusive anônimos, referentes a operações consideradas suspeitas;

IV - catalogar, classificar, identificar, cotejar e arquivar as informações, relatos e dados


recebidos e solicitados;

V - solicitar informações mantidas nos bancos de dados dos órgãos e entidades publicas e
privadas;

VI - analisar os relatos, os dados e as informações recebidas e solicitadas, elaborar e arquivar


dossiês contendo os estudos realizados;

VII - solicitar investigações aos órgãos e entidades da administração pública federal quando
houver indícios de operações consideradas suspeitas, nas informações recebidas ou solicitadas
ou em decorrência das análises procedidas;

VIII - secretariar os trabalhos do Conselho, em caráter permanente;

IX - preparar, para decisão do Ministro de Estado da Fazenda, os recursos contra decisões das
autoridades competentes mencionados no artigo anterior;

X - exercer outras atribuições conferidas pelo Plenário ou pela Presidência.

Seção III
Das Atribuições do Presidente

Alvaro Edauto S. Gomes


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Art. 9º Ao Presidente do COAF incumbe:

I - presidir, com direito a voto, inclusive o de qualidade, as reuniões do Plenário do Conselho;

II - editar os atos normativos e regulamentares necessários ao aperfeiçoamento dos trabalhos


do Conselho;

III - convocar reuniões e determinar a organização da respectiva pauta;

IV - assinar os atos oficiais do COAF, bem como as decisões do Plenário;

V - determinar a intimação dos interessados;

VI - orientar, coordenar e supervisionar as atividades administrativas do Conselho e da


Secretaria-Executiva;

VII - oficiar as autoridades competentes, sempre que os exames concluírem pela existência de
fortes indícios de irregularidades;

VIII - designar perito, para auxiliar nas atividades do Conselho, quando a matéria reclamar
conhecimentos técnicos específicos;

IX - convidar representante de órgãos ou entidades publica ou privada para participar das


reuniões, sem direito a voto.

Seção IV
Das Atribuições dos Conselheiros

Art. 10. Aos Conselheiros incumbe:

I - emitir votos nos processos e questões submetidas ao Plenário;

II - proferir despachos e lavrar decisões nos processos em que forem relatores;

III - submeter ao Plenário a requisição de informações e documentos que interessem ao


processo, observado o sigilo legal, bem como determinar as diligências que se fizerem
necessárias ao exercício de suas funções;

IV - desincumbir-se das demais tarefas que lhes forem cometidas no Regimento Interno do
Conselho;

V - exercer outras atribuições conferidas pelo Plenário ou pela Presidência.

CAPÍTULO IV
DO INTERCÂMBIO DE INFORMAÇÕES

Art. 11. O Banco Central do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários, a Superintendência de


Seguros Privados, o Departamento de Polícia Federal, a Subsecretaria de Inteligência da Casa
Militar da Presidência da República e os demais órgãos e entidades públicas com atribuições
de fiscalizar e regular as pessoas sujeitas às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 da Lei nº

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9.613, de 1998, prestarão as informações e a colaboração necessárias ao cumprimento das


atribuições do COAF e sua Secretaria-Executiva.

§ 1º A troca de informações sigilosas entre o COAF e os órgãos referidos no caput, quando


autorizada judicialmente, implica transferência de responsabilidade pela preservação do sigilo.

§ 2º Os pedidos de informação de que trata o caput serão encaminhados mediante formulário


específico, assinados por autoridade administrativa competente, ou acessados os dados
armazenados em banco de dados eletrônico, por servidor ou funcionário devidamente
cadastrado.

§ 3º As solicitações de informações dos órgãos que compõem o COAF e deste aos referidos
órgãos serão atendidas prioritariamente.

§ 4º As informações solicitadas ao COAF serão encaminhadas ao solicitante, na forma de


formulários ou relatórios específicos, caracterizando o seu encaminhamento a transferência da
responsabilidade pela preservação do sigilo legal, quando for o caso.

§ 5º Os órgãos referidos no caput estabelecerão mecanismos de compatibilização de seus


sistemas de dados, para facilitar a troca de informações eletrônicas, que não estejam
protegidas pelo sigilo legal.

Art. 12. O COAF poderá compartilhar informações com autoridades pertinentes de outros
países e de organismos internacionais, com base na reciprocidade ou em acordos.

Art. 13. Recebida solicitação de informação referente aos crimes previstos no art. 1º da Lei nº
9.613, de 1998, procedente de autoridade ou órgão competente de outro país, o COAF
atenderá ou encaminhará, se for o caso, a solicitação aos órgãos competentes, para que sejam
tomadas as providências cabíveis objetivando o atendimento da solicitação.

CAPÍTULO V
DO PROCESSO ADMINISTRATIVO

Art. 14. As infrações administrativas previstas na Lei nº 9.613, de 1998, serão apuradas e
punidas mediante processo administrativo, assegurados o contraditório e a ampla defesa.

Parágrafo único. O Banco Central do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários, a


Superintendência de Seguros Privados e demais órgãos ou entidades responsáveis pela
aplicação de penas administrativas previstas no art. 12 da Lei nº 9.613, de 1998, observarão
seus procedimentos e, no que couber, o disposto neste Estatuto.

Art. 15. O COAF e os órgãos fiscalizadores e reguladores das pessoas a que se refere o art. 9º
da Lei nº 9.613, de 1998, poderão promover averiguações preliminares, em caráter reservado.

Parágrafo único. Nas averiguações preliminares, a autoridade competente, nos termos das
normas internas do respectivo órgão ou entidade, poderá requerer esclarecimentos às pessoas
físicas ou jurídicas, diretamente relacionadas com o objeto da averiguação.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Art. 16. Concluídas as averiguações preliminares, a autoridade responsável proporá a


instauração do processo administrativo ou determinará o seu arquivamento, submetendo,
neste último caso, a decisão à revisão superior.

Art. 17. O processo administrativo será instaurado em prazo não superior a dez dias úteis,
contado do conhecimento da infração, do recebimento das comunicações a que se refere o
inciso II do art. 11 da Lei nº 9.613, de 1998, ou do conhecimento das conclusões das
averiguações preliminares, por ato fundamentado da autoridade competente, que especificará
os fatos a serem apurados.

Art. 18. O acusado será intimado para apresentar defesa no prazo de quinze dias, devendo
apresentar as provas de seu interesse, sendo-lhe facultado apresentar novos documentos a
qualquer momento, antes de encerrada a instrução processual.

§ 1º A intimação conterá inteiro teor do ato de instauração do processo administrativo.

§ 2º A intimação do acusado será feita pelo correio, com aviso de recebimento, ou, não tendo
êxito a intimação postal, por edital publicado uma única vez no Diário Oficial da União,
contando-se os prazos do recebimento da intimação, ou da publicação, conforme o caso.

§ 3º O acusado poderá acompanhar o processo administrativo, pessoalmente ou por seu


representante legal, quando pessoa jurídica, ou por advogado legalmente habilitado, sendo-
lhes assegurado amplo acesso ao processo, que permanecerá nas dependências do órgão ou
entidade processante, e a obtenção de cópias das peças dos autos.

Art. 19. Será considerado revel o acusado que, intimado, não apresentar defesa no prazo a que
se refere o artigo anterior, incorrendo em confissão quanto à matéria de fato, contra ele
correndo os demais prazos, independentemente de nova intimação.

Parágrafo único. Qualquer que seja a fase em que se encontre o processo, nele poderá intervir
o revel, sem direito à repetição de qualquer ato já praticado.

Art. 20. Decorrido o prazo de apresentação da defesa, a autoridade responsável pela condução
do processo poderá determinar a realização de diligências e a produção de provas de interesse
do processo, sendo-lhe facultado requisitar do acusado novas informações, esclarecimentos
ou documentos, a serem apresentados no prazo fixado pela autoridade requisitante,
mantendo-se o sigilo legal, quando for o caso.

Art. 21. A decisão será proferida no prazo máximo de sessenta dias após o termino da
instrução.

Art. 22. Os órgãos e entidades responsáveis pela aplicação das penas administrativas previstas
na Lei nº 9.613, de 1998 fiscalizarão o cumprimento de suas decisões.

§ 1º Descumprida a decisão, no todo ou em parte, será o fato comunicado à autoridade


competente, que determinará providências para sua execução judicial.

§ 2º Quando se tratar de decisão do COAF a representação judicial será feita por advogado da
Advocacia-Geral da União.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Art. 23. Das decisões do COAF caberá recurso para o Ministro de Estado da Fazenda no prazo
de quinze dias da ciência da decisão.

CAPÍTULO VI - DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 24. As despesas com a instalação e funcionamento do COAF e da Secretaria-Executiva


correrão por conta do orçamento do Ministério da Fazenda.

Art. 25. O Advogado-Geral da União designará advogado da Advocacia-Geral da União, que


atuará junto ao COAF.

Art. 26. O Regimento Interno do COAF será aprovado mediante ato do Ministro de Estado da
Fazenda.

Alvaro Edauto S. Gomes


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7.5 LEGISLAÇÃO SOBRE LIQUIDAÇÃO E INTERVENÇÃO BANCÁRIA

LEI N.º 6.024 13 DE MARÇO DE 1974

Dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de instituições financeiras, e dá outras


providências.

O Presidente da República

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÃO PRELIMINAR

Art. 1º - As instituições financeiras privadas e as públicas não federais, assim como as


cooperativas de crédito, estão sujeitas, nos termos desta Lei, à intervenção ou à liquidação
extrajudicial, em ambos os casos efetuada e decretada pelo Banco Central do Brasil, sem prejuízo
do disposto nos artigos 137 e 138 do Decreto-lei nº 2627, de 26 de setembro de 1940, ou à
falência, nos termos da legislação vigente.

CAPÍTULO II
DA INTERVENÇÃO E SEU PROCESSO

Seção I
Da Intervenção

Art. 2º - Far-se-á a intervenção quando se verificarem as seguintes anormalidades nos negócios


sociais da instituição:

I - a entidade sofrer prejuízo, decorrente da má administração, que sujeite a riscos os seus


credores;

II - forem verificadas reiteradas infrações a dispositivos da legislação bancária não regularizadas


após as determinações do Banco Central do Brasil, no uso das suas atribuições de fiscalização;

III - na hipótese de ocorrer qualquer dos fatos mencionados nos artigos 1º e 2º, do Decreto-lei nº
7661, de 21 de junho de 1945 (Lei de Falências), houver possibilidade de evitar-se a liquidação
extrajudicial.

Art. 3º - A intervenção será decretada ex officio pelo Banco Central do Brasil, ou por solicitação
dos administradores da instituição - se o respectivo estatuto lhes conferir esta competência - com
indicação das causas do pedido, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal em que
incorrerem os mesmos administradores, pela indicação falsa ou dolosa.

Art. 4º - O período da intervenção não excederá a seis (6) meses o qual, por decisão do Banco
Central do Brasil, poderá ser prorrogado uma única vez, até o máximo de outros seis (6) meses.

Art. 5º - A intervenção será executada por interventor nomeado pelo Banco Central do Brasil, com
plenos poderes de gestão.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Parágrafo único. Dependerão de prévia e expressa autorização do Banco Central do Brasil os atos
do interventor que impliquem em disposição ou oneração do patrimônio da sociedade, admissão e
demissão de pessoal.

Art. 6º - A intervenção produzirá, desde sua decretação, os seguintes efeitos:

a) suspensão da exigibilidade das obrigações vencidas;

b) suspensão da fluência do prazo das obrigações vincendas anteriormente contraídas;

c) inexigibilidade dos depósitos já existentes à data de sua decretação.

Art. 7º - A intervenção cessará:

a) se os interessados, apresentando as necessárias condições de garantia, julgadas a critério do


Banco Central do Brasil, tomarem a si o prosseguimento das atividades econômicas da empresa;

b) quando, a critério do Banco Central do Brasil, a situação da entidade se houver normalizado;

c)se decretada a liquidação extrajudicial, ou a falência da entidade.

Seção II
Do Processo da Intervenção

Art. 8º - Independentemente da publicação do ato de sua nomeação, o interventor será investido,


de imediato, em suas funções, mediante termo de posse lavrado no "Diário" da entidade, ou, na
falta deste, no livro que o substituir, com a transcrição do ato que houver decretado a medida e
que o tenha nomeado.

Art. 9º - Ao assumir suas funções, o interventor:

a) arrecadará, mediante termo, todos os livros da entidade e os documentos de interesse da


administração;

b) levantará o balanço geral e o inventário de todos os livros, documentos, dinheiro e demais bens
da entidade, ainda que em poder de terceiros, a qualquer título.

Parágrafo único. O termo de arrecadação, o balanço geral e o inventário, deverão ser assinados
também pelos administradores em exercício no dia anterior ao da posse do interventor, os quais
poderão apresentar, em separado, as declarações e observações que julgarem a bem de seus
interesses.

Art. 10 - Os ex-administradores da entidade deverão entregar ao interventor, dentro em cinco


dias, contados da posse deste, declaração assinada em conjunto por todos eles, de que conste a
indicação:

a) do nome, nacionalidade, estado civil e endereço dos administradores e membros do Conselho


Fiscal que estiverem em exercício nos últimos doze meses anteriores à decretação da medida;

b) dos mandatos que, porventura, tenham outorgado em nome da instituição, indicando o seu
objeto, nome e endereço do mandatário;

c) dos bens imóveis, assim como dos móveis, que não se encontrem no estabelecimento;

d) da participação que, porventura, cada administrador ou membro do Conselho Fiscal tenha em


outras sociedades, com a respectiva indicação.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Art. 11 - O interventor, dentro em sessenta dias, contados de sua posse, prorrogável se


necessário, apresentará ao Banco Central do Brasil relatório, que conterá:

a) exame da escrituração, da aplicação dos fundos e disponibilidades, e da situação econômico-


financeira da instituição;

b) indicação, devidamente comprovada, dos atos e omissões danosos que eventualmente tenha
verificado;

c) proposta justificada da adoção das providências que lhe pareçam convenientes à instituição.

Parágrafo único. As disposições deste artigo não impedem que o interventor, antes da
apresentação do relatório, proponha ao Banco Central do Brasil a adoção de qualquer providência
que lhe pareça necessária e urgente.

Art. 12 - À vista do relatório ou da proposta do interventor, o Banco Central do Brasil poderá:

a) determinar a cessação da intervenção, hipótese em que o interventor será autorizado a


promover os atos que, nesse sentido, se tornarem necessários;

b) manter a instituição sob intervenção, até serem eliminadas as irregularidades que a motivaram,
observado o disposto no artigo 4º;

c) decretar a liquidação extrajudicial da entidade;

d) autorizar o interventor a requerer a falência da entidade, quando o seu ativo não for suficiente
para cobrir sequer metade do valor dos créditos quirografários, ou quando julgada inconveniente a
liquidação extrajudicial, ou quando a complexidade dos negócios da instituição ou a gravidade dos
fatos apurados aconselharem a medida.

Art. 13 - Das decisões do interventor caberá recurso, sem efeito suspensivo, dentro em dez dias
da respectiva ciência, para o Banco Central do Brasil, em única instância.

§ 1º Findo o prazo, sem a interposição de recurso, a decisão assumirá caráter definitivo.

§ 2º O recurso será entregue, mediante protocolo, ao interventor que o informará e o


encaminhará, dentro em cinco dias, ao Banco Central do Brasil.

Art. 14 - O interventor prestará contas ao Banco Central do Brasil, independentemente de


qualquer exigência, no momento em que deixar suas funções, ou a qualquer tempo, quando
solicitado, e responderá, civil e criminalmente, por seus atos.

CAPÍTULO III
DA LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Seção I
Da Aplicação e dos Efeitos da Medida

Art. 15 - Decretar-se-á a liquidação extrajudicial da instituição financeira:

I - ex officio :

a) em razão de ocorrências que comprometam sua situação econômica ou financeira


especialmente quando deixar de satisfazer, com pontualidade, seus compromissos ou quando se
caracterizar qualquer dos motivos que autorizem a declaração de falência;

Alvaro Edauto S. Gomes


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b) quando a administração violar gravemente as normas legais e estatutárias que disciplinam a


atividade da instituição bem como as determinações do Conselho Monetário Nacional ou do Banco
Central do Brasil, no uso de suas atribuições legais;

c) quando a instituição sofrer prejuízo que sujeite a risco anormal seus credores quirografários;

d) quando, cassada autorização para funcionar, a instituição não iniciar, nos 90 (noventa) dias
seguintes, sua liquidação ordinária, ou quando, iniciada esta, verificar o Banco Central do Brasil
que a morosidade de sua administração pode acarretar prejuízos para os credores;

II - a requerimento dos administradores da instituição - se o respectivo estatuto social lhes


conferir esta competência - ou por proposta do interventor, expostos circunstanciadamente os
motivos justificadores da medida.

§ 1º O Banco Central do Brasil decidirá sobre a gravidade dos fatos determinantes da liquidação
extrajudicial, considerando as repercussões deste sobre os interesses dos mercados financeiro e
de capitais, e, poderá, em lugar da liquidação, efetuar a intervenção, se julgar esta medida
suficiente para a normalização dos negócios da instituição e preservação daqueles interesses.

§ 2º O ato do Banco Central do Brasil, que decretar a liquidação extrajudicial, indicará a data em
que se tenha caracterizado o estado que a determinou, fixando o termo legal da liquidação que
não poderá ser superior a 60 (sessenta) dias contados do primeiro protesto por falta de
pagamento ou, na falta deste, do ato que haja decretado a intervenção ou a liquidação.

Art. 16 - A liquidação extrajudicial será executada por liquidante nomeado pelo Banco Central do
Brasil, com amplos poderes de administração e liquidação, especialmente os de verificação e
classificação dos créditos, podendo nomear e demitir funcionários, fixando-lhes os vencimentos,
outorgar e cassar mandatos, propor ações e representar a massa em Juízo ou fora dele.

§ 1º Com prévia e expressa autorização do Banco Central do Brasil, poderá o liquidante, em


benefício da massa, ultimar os negócios pendentes e, a qualquer tempo, onerar ou alienar seus
bens, neste último caso através de licitações.

§ 2º Os honorários do liquidante, a serem pagos por conta da liquidanda, serão fixados pelo Banco
Central do Brasil.

Art. 17 - Em todos os atos, documentos e publicações de interesse da liquidação, será usada


obrigatoriamente a expressão "Em liquidação extrajudicial" em seguida à denominação da
entidade.

Art. 18 - A decretação da liquidação extrajudicial produzirá, de imediato, os seguintes efeitos:

a) suspensão das ações e execuções iniciadas sobre direitos e interesses relativos ao acervo da
entidade liquidanda, não podendo ser intentadas quaisquer outras, enquanto durar a liquidação;

b) vencimento antecipado das obrigações da liquidanda;

c) não atendimento das cláusulas penais dos contratos unilaterais vencidos em virtude da
decretação da liquidação extrajudicial;

d) não-fluência de juros, mesmo que estipulados contra a massa, enquanto não integralmente
pago o passivo.

e) interrupção da prescrição relativa a obrigações de responsabilidade da instituição;

f) não reclamação de correção monetária de quaisquer dívidas passivas, nem de penas pecuniárias
por infração de leis penais ou administrativas.

Art. 19 - A liquidação extrajudicial cessará:

Alvaro Edauto S. Gomes


98

a) se os interessados, apresentando as necessárias condições de garantia, julgadas a critério do


Banco Central do Brasil, tomarem a si o prosseguimento das atividades econômicas da empresa;

b) por transformação em liquidação ordinária;

c) com a aprovação das contas finais do liquidante e baixa no registro público competente;

d) se decretada a falência da entidade.

Seção II
Do Processo da Liquidação Extrajudicial

Art. 20 - Aplicam-se, ao processo da liquidação extrajudicial, as disposições relativas ao processo


da intervenção, constantes dos artigos 8º, 9º, 10 e 11, desta Lei.

Art. 21 - À vista do relatório ou da proposta previstos no artigo 11, apresentados pelo liquidante
na conformidade do artigo anterior o Banco Central do Brasil poderá autorizá-lo a:

a) prosseguir na liquidação extrajudicial;

b) requerer a falência da entidade, quando o seu ativo não for suficiente para cobrir pelo menos a
metade do valor dos créditos quirografários, ou quando houver fundados indícios de crimes
falimentares.

Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto neste artigo, em qualquer tempo, o Banco Central do
Brasil poderá estudar pedidos de cessação da liquidação extrajudicial, formulados pelos
interessados, concedendo ou recusando a medida pleiteada segundo as garantias oferecidas e as
conveniências de ordem geral.

Art. 22 - Se determinado o prosseguimento da liquidação extrajudicial o liquidante fará publicar,


no Diário Oficial da União e em jornal de grande circulação do local da sede da entidade, aviso aos
credores para que declarem os respectivos créditos, dispensados desta formalidade os credores
por depósitos ou por letras de câmbio de aceite da instituição financeira liquidanda.

§ 1º No aviso de que trata este artigo, o liquidante fixará o prazo para a declaração dos créditos o
qual não será inferior a vinte, nem superior a quarenta dias, conforme a importância da liquidação
e os interesses nela envolvidos.

§ 2º Relativamente aos créditos dispensados de habilitação, o liquidante manterá, na sede da


liquidanda, relação nominal dos depositantes e respectivos saldos, bem como relação das letras de
câmbio de seu aceite.

§ 3º Aos credores obrigados a declaração assegurar-se-á o direito de obterem do liquidante as


informações, extratos de contas, saldos e outros elementos necessários à defesa dos seus
interesses e à prova dos respectivos créditos.

§ 4º O liquidante dará sempre recibo das declarações de crédito e dos documentos recebidos.

Art. 23 - O liquidante juntará a cada declaração a informação completa a respeito do resultado das
averiguações a que procedeu nos livros, papéis e assentamentos da entidade, relativos ao crédito
declarado, bem como sua decisão quanto à legitimidade, valor e classificação.

Parágrafo único. O liquidante poderá exigir dos ex-administradores da instituição que prestem
informações sobre qualquer dos créditos declarados.

Alvaro Edauto S. Gomes


99

Art. 24 - Os credores serão notificados, por escrito, da decisão do liquidante, os quais, a contar da
data do recebimento da notificação, terão o prazo de dez dias para recorrer, ao Banco Central do
Brasil, do ato que lhes pareça desfavorável.

Art. 25 - Esgotado o prazo para declaração de créditos e julgados estes, o liquidante organizará o
quadro geral de credores e publicará, na forma prevista no artigo 22, aviso de que dito quadro,
juntamente com o balanço geral, se acha afixado na sede e demais dependências da entidade,
para conhecimento dos interessados.

Parágrafo único. Após a publicação mencionada neste artigo, qualquer interessado poderá
impugnar a legitimidade, valor, ou a classificação dos créditos constantes do referido quadro.

Art. 26 - A impugnação será apresentada por escrito, devidamente justificada com os documentos
julgados convenientes, dentro em dez dias, contados da data da publicação de que trata o artigo
anterior.

§ 1º A entrega da impugnação será feita contra recibo, passado pelo liquidante, com cópia que
será juntada ao processo.

§ 2º O titular do crédito impugnado será notificado pelo liquidante e, a contar da data do


recebimento da notificação, terá o prazo de cinco dias para oferecer as alegações e provas que
julgar convenientes à defesa dos seus direitos.

§ 3º O liquidante encaminhará as impugnações com o seu parecer, juntando os elementos


probatórios, à decisão do Banco Central do Brasil.

§ 4º Julgadas todas as impugnações, o liquidante fará publicar avisos na forma do artigo 22, sobre
as eventuais modificações no quadro geral de credores que, a partir desse momento, será
considerado definitivo.

Art. 27 - Os credores que se julgarem prejudicados pelo não provimento do recurso interposto, ou
pela decisão proferida na impugnação poderão prosseguir nas ações que tenham sido suspensas
por força do artigo 18, ou propor as que couberem, dando ciência do fato ao liquidante para que
este reserve fundos suficientes à eventual satisfação dos respectivos pedidos.

Parágrafo único. Decairão do direito assegurado neste artigo os interessados que não o
exercitarem dentro do prazo de trinta dias, contados da data em que for considerado definitivo o
quadro geral dos credores, com a publicação a que alude o § 4? do artigo anterior.

Art. 28 - Nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial, ou de
documentos ignorados na época do julgamento dos créditos, o liquidante ou qualquer credor
admitido pode pedir ao Banco Central do Brasil, até ao encerramento da liquidação, a exclusão, ou
outra classificação, ou a simples retificação de qualquer crédito.

Parágrafo único. O titular desse crédito será notificado do pedido e, a contar da data do
recebimento da notificação, terá o prazo de cinco dias para oferecer as alegações e provas que
julgar convenientes, sendo-lhe assegurado o direito a que se refere o artigo anterior, se se julgar
prejudicado pela decisão proferida, que lhe será notificada por escrito, contando-se da data do
recebimento da notificação o prazo de decadência fixado no parágrafo único do mesmo artigo.

Art. 29 - Incluem-se, entre os encargos da massa, as quantias ela fornecidas pelos credores, pelo
liquidante ou pelo Banco Central do Brasil.

Art. 30 - Salvo expressa disposição em contrário desta Lei, das decisões do liquidante caberá
recurso sem efeito suspensivo, dentro em dez dias da respectiva ciência, para o Banco Central do
Brasil, em única instância.

§ 1º Findo o prazo, sem a interposição de recurso, a decisão assumirá caráter definitivo.

Alvaro Edauto S. Gomes


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§ 2º O recurso será entregue, mediante protocolo, ao liquidante, que o informará e o encaminhará


dentro de cinco dias, ao Banco Central do Brasil.

Art. 31 - No resguardo da economia pública, da poupança privada e da segurança nacional,


sempre que a atividade da entidade liquidanda colidir com os interesses daquelas áreas, poderá o
liquidante, prévia e expressamente autorizado pelo Banco Central do Brasil, adotar qualquer forma
especial ou qualificada de realização do ativo e liquidação do passivo, ceder o ativo a terceiros,
organizar ou reorganizar sociedade para continuação geral ou parcial do negócio ou atividade da
liquidanda. (1)

§ 1º Os atos referidos neste artigo produzem efeitos jurídicos imediatos, independentemente de


formalidades e registros.

§ 2º Os registros correspondentes serão procedidos no prazo de quinze dias, pelos Oficiais dos
Registros de Imóveis e pelos Registros do Comércio, bem como pelos demais órgãos da
administração pública, quando for o caso, à vista da comunicação formal que lhes tenha sido feita
pelo liquidante.

Art. 32 - Apurados, no curso da liquidação, seguros elementos de prova, mesmo indiciária, da


prática de contravenções penais ou crimes por parte de qualquer dos antigos administradores e
membros do Conselho Fiscal, o liquidante os encaminhará ao órgão do Ministério Público para que
este promova a ação penal.

Art. 33 - O liquidante prestará contas ao Banco Central do Brasil, independentemente de qualquer


exigência, no momento em que deixar suas funções, ou a qualquer tempo, quando solicitado, e
responderá, civil e criminalmente, por seus atos.

Art. 34 - Aplicam-se a liquidação extrajudicial no que couberem e não colidirem com os preceitos
desta Lei, as disposições da Lei de Falências (Decreto-lei 7661, de 21 de junho de 1945),
equiparando-se ao síndico, o liquidante, ao juiz da falência, o Banco Central do Brasil, sendo
competente para conhecer da ação revocatória prevista no artigo 55 daquele Decreto-lei, o juiz a
quem caberia processar e julgar a falência da instituição liquidanda.

Art. 35 - Os atos indicados nos artigos 52 e 53, da Lei de Falências (Decreto-lei nº 7661, de
1945), praticados pelos administradores da liquidanda, poderão ser declarados nulos ou
revogados, cumprido o disposto nos artigos 54 e 58 da mesma Lei.
Parágrafo único. A ação revocatória será proposta pelo liquidante, observado o disposto nos
artigos 55, 56 e 57, da Lei de Falências.

CAPÍTULO IV
DOS ADMINISTRADORES E MEMBROS DO CONSELHO FISCAL

Seção I
Da Indisponibilidade dos Bens

Art. 36 - Os administradores das instituições financeiras em intervenção, em liquidação


extrajudicial ou em falência, ficarão com todos os seus bens indisponíveis, não podendo, por
qualquer forma, direta ou indireta, aliená-los ou onerá-los, até apuração e liquidação final de suas
responsabilidades.

§ 1º A indisponibilidade prevista neste artigo decorre do ato que decretar a intervenção, a


liquidação extrajudicial ou a falência, e atinge a todos aqueles que tenham estado no exercício das
funções nos doze meses anteriores ao mesmo ato.

§ 2º Por proposta do Banco Central do Brasil, aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, a
indisponibilidade prevista neste artigo poderá ser estendida:

Alvaro Edauto S. Gomes


101

a) aos bens de gerentes, conselheiros fiscais e aos de todos aqueles que, até o limite da
responsabilidade estimada de cada um, tenham concorrido, nos últimos doze meses, para a
decretação da intervenção ou da liquidação extrajudicial;

b) aos bens de pessoas que, nos últimos doze meses, os tenham a qualquer título, adquirido de
administradores da instituição, ou das pessoas referidas na alínea anterior desde que haja seguros
elementos de convicção de que se trata de simulada transferência com o fim de evitar os efeitos
desta Lei.

§ 3º Não se incluem nas disposições deste artigo os bens considerados inalienáveis ou


impenhoráveis pela legislação em vigor.

§ 4º Não são igualmente atingidos pela indisponibilidade os bens objeto de contrato de alienação,
de promessa de compra e venda, de cessão ou promessa de cessão de direitos, desde que os
respectivos instrumentos tenham sido levados ao competente registro público, anteriormente à
data da decretação da intervenção, da liquidação extrajudicial ou da falência.

Art. 37 - Os abrangidos pela indisponibilidade de bens de que trata o artigo anterior, não poderão
ausentar-se do foro, da intervenção, da liquidação extrajudicial ou da falência, sem prévia e
expressa autorização do Banco Central do Brasil ou do juiz da falência.

Art. 38 - Decretada a intervenção, a liquidação extrajudicial ou a falência, o interventor, o


liquidante ou o escrivão da falência comunicará ao registro público competente e às Bolsas de
Valores a indisponibilidade de bens imposta no artigo 36.

Parágrafo único - Recebida a comunicação, a autoridade competente ficará relativamente a esses


bens impedida de:
a) fazer transcrições, inscrições ou averbações de documentos públicos ou particulares;

b) arquivar atos ou contratos que importem em transferência de cotas sociais, ações ou partes
beneficiárias;

c) realizar ou registrar operações e títulos de qualquer natureza;

d) processar a transferência de propriedade de veículos automotores.

Seção II Da Responsabilidade dos Administradores e Membros do Conselho Fiscal

Art. 39 - Os administradores e membros do Conselho Fiscal de instituições financeiras


responderão, a qualquer tempo, salvo prescrição extintiva, pelos atos que tiverem praticado ou
omissões em que houverem incorrido.

Art. 40 - Os administradores de instituições financeiras respondem solidariamente pelas


obrigações por elas assumidas durante sua gestão, até que se cumpram.

Parágrafo único. A responsabilidade solidária se circunscreverá ao montante dos prejuízos


causados.

Art. 41 - Decretada a intervenção, a liquidação extrajudicial ou a falência de instituição financeira,


o Banco Central do Brasil procederá a inquérito, a fim de apurar as causas que levaram a
sociedade àquela situação e a responsabilidade de seus administradores e membros do Conselho
Fiscal.

§ 1º Para os efeitos deste artigo, decretada a falência, o escrivão do feito a comunicará, dentro
em vinte e quatro horas, ao Banco Central do Brasil.

Alvaro Edauto S. Gomes


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§ 2º O inquérito será aberto imediatamente à decretação da intervenção ou da liquidação


extrajudicial, ou ao recebimento da comunicação da falência, e concluído dentro em cento e vinte
dias, prorrogáveis, se absolutamente necessário, por igual prazo.

§ 3º No inquérito, o Banco Central do Brasil poderá:

a) examinar, quando e quantas vezes julgar necessário, a contabilidade, os arquivos, os


documentos, os valores e mais elementos das instituições;

b) tomar depoimentos solicitando para isso, se necessário, o auxílio da polícia;

c) solicitar informações a qualquer autoridade ou repartição pública, ao juiz da falência, ao órgão


do Ministério Público, ao síndico, ao liquidante ou ao interventor;

d) examinar, por pessoa que designar, os autos da falência e obter, mediante solicitação escrita,
cópias ou certidões de peças desses autos;
e) examinar a contabilidade e os arquivos de terceiros com os quais a instituição financeira tiver
negociado e no que entender com esses negócios, bem como a contabilidade e os arquivos dos
ex-administradores, se comerciantes ou industriais sob firma individual, e as respectivas contas
junto a outras instituições financeiras.

§ 4º Os ex-administradores poderão acompanhar o inquérito, oferecer documentos e indicar


diligências.

Art. 42 - Concluída a apuração, os ex-administradores serão convidados, por carta, a apresentar,


por escrito, suas alegações e explicações dentro em cinco dias, comuns para todos.

Art. 43 - Transcorrido o prazo do artigo anterior, com ou sem a defesa, será o inquérito encerrado
com um relatório, do qual constarão, em síntese, a situação da entidade examinada, as causas de
sua queda, o nome, a qualificação e a relação dos bens particulares dos que, nos últimos cinco
anos, geriram a sociedade, bem como o montante ou a estimativa dos prejuízos apurados em
cada gestão.

Art. 44 - Se o inquérito concluir pela inexistência de prejuízo, será, no caso de intervenção e de


liquidação extrajudicial, arquivado no próprio Banco Central do Brasil ou, no caso de falência, será
remetido ao competente juiz, que o mandará apensar aos respectivos autos.

Parágrafo único. Na hipótese prevista neste artigo, o Banco Central do Brasil, nos casos de
intervenção e de liquidação extrajudicial, ou o juiz, no caso de falência, de ofício ou a
requerimento de qualquer interessado, determinará o levantamento da indisponibilidade de que
trata o artigo 36.

Art. 45 - Concluindo o inquérito pela existência de prejuízo, será ele, com o respectivo relatório,
remetido pelo Banco Central do Brasil ao juiz da falência, ou ao que for competente para decretá-
la, o qual o fará com vista ao órgão do Ministério Público, que, em oito dias, sob pena de
responsabilidade, requererá o seqüestro dos bens dos ex-administradores, que não tinham sido
atingidos pela indisponibilidade prevista no artigo 36, quantos bastem para a efetivação da
responsabilidade.

§ 1º Em caso de intervenção ou liquidação extrajudicial, a distribuição do inquérito ao juízo


competente, na forma deste artigo, previne a jurisdição do mesmo juízo, na hipótese de vir a ser
decretada a falência.

§ 2º Feito o arresto, os bens serão depositados em mãos do interventor, do liquidante ou do


síndico, conforme a hipótese, cumprindo ao depositário administrá-los, receber os respectivos
rendimentos e prestar contas a final.

Art. 46 - A responsabilidade dos ex-administradores, definida nesta Lei, será apurada em ação
própria, proposta no juízo da falência ou no que for para ela competente.

Alvaro Edauto S. Gomes


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Parágrafo único. O órgão do Ministério Público, nos casos de intervenção e liquidação extrajudicial,
proporá a ação obrigatoriamente dentro em trinta dias, a contar da realização do arresto, sob
pena de responsabilidade e preclusão da sua iniciativa. Findo esse prazo ficarão os autos em
cartório, à disposição de qualquer credor, que poderá iniciar a ação, nos quinze dias seguintes. Se
neste último prazo ninguém o fizer, levantar-se-ão o arresto e a indisponibilidade, apensando-se
os autos aos da falência, se for o caso.

Art. 47 - Se, decretado o arresto ou proposta a ação, sobrevier a falência da entidade, competirá
ao síndico tomar, daí por diante, as providências necessárias ao efetivo cumprimento das
determinações desta Lei, cabendo-lhe promover a devida substituição processual, no prazo de
trinta dias, contados da data de seu compromisso.

Art. 48 - Independentemente do inquérito e do arresto, qualquer das partes, a que se refere o


parágrafo único do artigo 46, no prazo nele previsto, poderá propor a ação de responsabilidade
dos ex-administradores, na forma desta Lei.

Art. 49 - Passada em julgado a sentença que declarar a responsabilidade dos ex-administradores,


o arresto e a indisponibilidade de bens se convolarão em penhora, seguindo-se o processo de
execução.

§ 1º Apurados os bens penhorados e pagas as custas judiciais, o líquido será entregue ao


interventor, ao liquidante ou ao síndico, conforme o caso, para rateio entre os credores da
instituição.

§ 2º Se, no curso da ação ou da execução, encerrar-se a intervenção ou a liquidação extrajudicial,


o interventor ou o liquidante por ofício, dará conhecimento da ocorrência ao juiz, solicitando sua
substituição como depositário dos bens arrestados ou penhorados, e fornecendo a relação nominal
e respectivos saldos dos credores a serem, nesta hipótese, diretamente contemplados com o
rateio previsto no parágrafo anterior.

CAPÍTULO V
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 50 - A intervenção determina a suspensão, e, a liquidação extrajudicial, a perda do mandato


respectivamente, dos administradores e membros do Conselho Fiscal e dos de quaisquer outros
órgãos criados pelo estatuto, competindo, exclusivamente, ao interventor e ao liquidante a
convocação da assembléia geral nos casos em que julgarem conveniente.

Art. 51 - Com o objetivo de preservar os interesses da poupança popular e a integridade do acervo


das entidades submetidas a intervenção ou a liquidação extrajudicial, o Banco Central do Brasil
poderá estabelecer idêntico regime para as pessoas jurídicas que com elas tenham integração de
atividade ou vínculo de interesse, ficando os seus administradores sujeitos aos preceitos desta Lei.

Parágrafo único. Verifica-se integração de atividade ou vínculo de interesse, quando as pessoas


jurídicas referidas neste artigo, forem devedoras da sociedade sob intervenção ou submetida a
liquidação extrajudicial, ou quando seus sócios ou acionistas participarem do capital desta em
importância superior a 10% (dez por cento) ou sejam cônjuges, ou parentes até o 2º grau,
consangüíneos ou afins, de seus diretores ou membros dos conselhos, consultivo, administrativo,
fiscal ou semelhantes.

Art. 52 - Aplicam-se as disposições da presente Lei às sociedades ou empresas que integram o


sistema de distribuição de títulos ou valores mobiliários no mercado de capitais ( artigo 5º, da lei
nº 4728, de 14 de julho de 1965), assim como às sociedades ou empresas corretoras de câmbio.

§ 1º A intervenção nessas sociedades ou empresas, ou sua liquidação extrajudicial, poderá ser


decretada pelo Banco Central do Brasil por iniciativa própria ou por solicitação das Bolsas de
Valores quanto as corretoras a elas associadas, mediante representação fundamentada.

Alvaro Edauto S. Gomes


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§ 2º Por delegação de competência do Banco Central do Brasil e sem prejuízo de suas atribuições,
a intervenção ou a liquidação extrajudicial das sociedades corretoras, membros das Bolsas de
Valores, poderá ser processada por estas sendo competentes no caso, aquela da área em que a
sociedade tiver sede.

Art. 53 - As sociedades ou empresas que integram o sistema de distribuição de títulos ou valores


mobiliários no mercado de capitais, assim como as sociedades ou empresas corretoras de câmbio,
não poderão, como as instituições financeiras, impetrar concordata.

Art. 54 - As disposições da presente Lei estendem-se às intervenções e liquidações extrajudiciais


em curso, no que couberem.

Art. 55 - O Banco Central do Brasil é autorizado a prestar assistência financeira às Bolsas de


Valores, nas condições fixadas pelo Conselho Monetário Nacional, quando, a seu critério, se fizer
necessária para que elas se adaptem, inteiramente, às exigências do mercado de capitais.

Parágrafo único. A assistência financeira prevista neste artigo poderá ser estendida às Bolsas de
Valores, nos casos de intervenção ou liquidação extrajudicial em sociedades corretoras de valores
mobiliários e de câmbio, com vistas a resguardar legítimos interesses de investidores.

Art. 56 - (REVOGADO TACITAMENTE) (1)

Art. 57 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogada a Lei nº 1808, de 7 de
janeiro de 1953, os Decretos-leis 9228, de 3 de maio de 1946; 9328, de 10 de junho de 1946;
9346, de 10 de junho de 1946; 48, de 18 de novembro de 1966; 462, de 11 de fevereiro de 1969;
e 685, de 17 de julho de 1969 e demais disposições gerais e especiais em contrário.

Brasília, 13 de março de 1974;


153º da Independência e 86º da República.

EMÍLIO G. MÉDICI
Antônio Delfim Netto

Esta versão atualizada e consolidada não se reveste da legalidade jurídica conferida ao texto
original publicado no DOU de 14/03/1974 pág. 2865 - (Ret: DOU DE 08/04/1974 pág. 3945).

Alvaro Edauto S. Gomes


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CAPÍTULO IV - PROCEDIMENTOS PARA EXPORTAR E IMPORTAR


1. Introdução

Há uma infinidade de exigências legais e administrativas quando da realização de um


processo de exportação que é fundamental ao aluno do curso de Direito tomar conhecimento.

Comecemos por explicar o Sistema Integrado de Comércio Exterior – SISCOMEX, que


refere-se a um sistema informatizado que integra as atividades de registro, acompanhamento
e controle de comércio exterior, realizadas pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), pela Secretaria da
Receita Federal (SRF) e pelo Banco Central do Brasil (BACEN), conhecidos como órgãos
gestores do sistema.

Há, ainda, os órgãos anuentes que atuam no caso de operações específicas tais como o
Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Defesa, Ministério da Agricultura e
Abastecimento, Ministério da Saúde, Departamento da Polícia Federal, o Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, e outros.

As empresas interessadas em exportar devem registrar as operações neste sistema que são,
em seguida, analisadas on line pelos gestores do sistema. Estas empresas podem investir em
sistema de acesso próprio ou poderão utilizá-lo por meio de despachantes aduaneiros, rede de
computadores colocadas à disposição dos usuários pela Secretaria da Receita Federal (sala de
contribuintes), corretoras de câmbio, agências bancárias que realizem operações de câmbio e
outras entidades habilitadas.

Ao preencher o Registro de Exportadores e Importadores (REI) no SISCOMEX, a empresa


deverá classificar seus produtos, de acordo com duas nomenclaturas: a Nomenclatura Comum
do MERCOSUL (NCM) e a Nomenclatura Aduaneira da ALADI (NALADI/SH), ambas criadas
com base na Convenção Internacional sobre o Sistema Harmonizado de Designação e de
Codificação de Mercadorias (SH), firmada em Bruxelas, em 14 de junho de 1983. O SH possui 6
dígitos, mas cada país pode acrescentar até quatro dígitos.

Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM): foi criada em 1995, com a entrada em vigor do
MERCOSUL, e aprovada pelo Decreto 2.376, de 13 de novembro de 1997, juntamente com as
alíquotas do imposto de importação que compõem a Tarifa Externa Comum – TEC. Ao incluir
Ofertas de Exportação, e ao consultar Oportunidades de Negócios ou itens da seção Produtos
e Mercados, o usuário cadastrado na BrazilTradeNet tem acesso à NCM, nas versões em
português, espanhol e inglês. A NCM, que substituiu a Nomenclatura Brasileira de Mercadorias
(NBM), possui 8 dígitos e uma estrutura de classificação que contém até 6 níveis de agregação:
capítulo, posição, subposição simples, subposição composta, item e sub-item:

EXEMPLO:

NCM 8445.19.24 (máquinas abridoras de fibras de lã)

84: capítulo (reatores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos, e


suas partes)

Alvaro Edauto S. Gomes


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8445: posição (máquinas para preparação de matérias têxteis; máquinas para fiação,
dobagem ou torração de matérias têxteis e outras máquinas e aparelhos para fabricação de
fios têxteis; máquinas de bobinar - incluídas as bobinadeiras de trama - ou de dobar matérias
têxteis e máquinas para preparação de fios têxteis para sua utilização nas máquinas das
posições 8446 ou 8447)

8445.19: subposição simples (máquinas para preparação de matérias têxteis)

8445.19: subposição composta (outras máquinas para preparação de matérias têxteis)

8445.19.24: item (máquinas para a preparação de outras matérias têxteis)

8445.19.24: sub-item (máquinas abridoras de fibras de lã)

2. Documentos exigidos nas operações de exportação

2.1 Exportador

Inscrição no REI - Registro de Exportadores e Importadores da SECEX/MDIC

 Documentos referentes ao Contrato de Exportação

 Fatura Pro Forma;


 Carta de Crédito ou borderô, em caso de cobrança documentária;
 Letra de Câmbio; e
 Contrato de Câmbio.

 Documentos referentes à mercadoria - acompanham todo o processo de


traslado da mercadoria desde o estabelecimento do exportador até o local de
destino designado pelo importador:

 Registro de Exportação no SISCOMEX;


 Registro de Operação de Crédito;
 Registro de Venda;
 Solicitação de Despacho (SD);
 Nota Fiscal;
 Conhecimento de Embarque (bill of lading);
 Fatura Comercial (commercial invoice);
 Romaneio (packing list);
 Outros documentos: Certificado de Origem, Legalização Consular, Certificado
ou Apólice de Seguro, Borderô ou Carta de Entrega.

Alvaro Edauto S. Gomes


107

Há duas modalidades especiais de exportação que são objeto de regulamentação


específica. Nas exportações temporárias, as empresas poderão enviar para o exterior
mercadorias para exibição em exposições ou em feiras. O exportador é obrigado a comprovar
o retorno da mercadoria no prazo máximo de 180 dias, contados a partir da data de embarque
ou, no caso de venda, do ingresso da moeda estrangeira. Nas exportações em consignação, as
empresas poderão realizar vendas com prazo máximo de 180 dias, a contar da data do
embarque, prorrogável por até 180 dias. Até o vencimento, as empresas deverão providenciar
a liquidação das cambiais. Caso não ocorra a venda, a empresa terá o prazo de 60 dias para
comprovar o retorno da mercadoria, contado a partir do término do prazo estipulado.

2.2 Documentos referentes ao exportador

As operações de exportação e de importação poderão ser realizadas por pessoas físicas ou


jurídicas que estiverem inscritas no Registro de Exportadores e Importadores – REI da
Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior.

De acordo com a Portaria SECEX nº 12, de 15 de dezembro de 1999, os exportadores e


importadores são inscritos automaticamente no REI, ao realizarem a primeira operação, sem o
encaminhamento de quaisquer documentos, os quais poderão ser solicitados, eventualmente,
pelo Departamento de Comércio Exterior da SECEX, para verificação de rotina.

Cabe salientar que antes da vigência da referida Portaria havia a necessidade de a empresa
providenciar a sua inscrição prévia no REI e fornecer uma série de documentos.

a) Fatura Pro-Forma

O ato de exportar sempre tem origem em um contato preliminar entre o exportador e o


potencial importador de sua mercadoria no exterior, cuja identificação pode ser facilitada pela
consulta à BrazilTradeNet. Após a manifestação de interesse por parte do importador, o
exportador deverá enviar ao importador um documento - FATURA PRO-FORMA - em que são
estipuladas as condições de venda da mercadoria. A FATURA PRO-FORMA deve conter as
seguintes informações:

 descrição da mercadoria, quantidade, peso bruto e líquido, preço unitário e


valor;
 quantidades mínimas e máximas por embarque;
 nomes do exportador e do importador;
 tipo de embalagem de apresentação e de transporte;
 modalidade de pagamento;
 termos ou condições de venda - INCOTERMS;
 data e local de entrega;
 locais de embarque e de desembarque;
 prazo de validade da proposta;
 assinatura do exportador; e
 local para assinatura do importador, que com ela expressa a sua concordância
com a proposta.

Alvaro Edauto S. Gomes


108

A FATURA PRO-FORMA pode ser substituída por uma cotação enviada por fax ou carta, que
contenha as mesmas informações indicadas acima.

b) Carta de Crédito

Após o envio da FATURA PRO-FORMA ao importador, o exportador receberá do importador,


caso se confirme o seu interesse, um pedido de compra ou uma carta de crédito, documentos
que confirmam a aquisição da mercadoria. Por sua vez, o exportador deve conferir os dados
contidos na carta de crédito ou no pedido enviado pelo importador, confrontando-os com as
informações contidas na FATURA PRO-FORMA ou na cotação do produto.

c) Letra de Câmbio

A letra de câmbio, semelhante à duplicata emitida nas vendas internas, representa um


título de crédito, emitido pelo exportador e sacado contra o importador. O valor da letra de
câmbio deve ser igual ao total de divisas registradas na fatura comercial. Contém os seguintes
elementos:

 número, praça e datas de emissão e de vencimento;


 beneficiário;
 nome e endereço do emitente, e sua assinatura;
 instrumento que gerou o saque - carta de crédito, fatura comercial, etc.

d) Contrato de Câmbio

É um instrumento firmado para troca de moedas, entre o exportador (exportador de


divisas) e um banco (importador de moedas estrangeiras), autorizado pelo Banco Central do
Brasil a operar com câmbio.

2.3 Documentos referentes à mercadoria

a) Registro de Exportação - RE

O Registro de Exportação (RE) no SISCOMEX é um conjunto de informações de natureza


comercial, financeira, cambial e fiscal, que caracteriza a operação de exportação de uma
mercadoria e define o seu enquadramento legal. Entre outras informações, a empresa deverá
fornecer a classificação de seu produto segundo a NCM (Nomenclatura Comum do
MERCOSUL) e a NALADI/SH (Nomenclatura Aduaneira da Associação Latino-Americana de
Integração - ALADI).

A Portaria SECEX nº 2/92 (Normas Administrativas de Exportação) e alterações posteriores


dispõe sobre as remessas ao exterior que estão dispensadas de Registro de Exportação.

Alvaro Edauto S. Gomes


109

No caso de operações de exportação no valor de até US$ 10,000.00 (dez mil dólares),
poderão ser utilizados, no lugar do RE, o Registro de Exportação Simplificado (RES) ou a
Declaração Simplificada de Exportação (DSE), de acordo com as regulamentações específicas
de cada uma dessas modalidades.

b) Registro de Operação de Crédito - RC

Devem constar do Registro de Operação de Crédito (RC) as informações de caráter cambial


e financeiro referentes a exportações com prazo de pagamento superior a 180 dias (prazo que
caracteriza as exportações financiadas), contado a partir da data do embarque. O
preenchimento do RC e o seu deferimento devem ser anteriores ao preenchimento do
Registro de Exportação (RE).

Ao preenchimento do RC segue-se o prazo para o embarque das mercadorias. Nesse


período, devem ser providenciados os respectivos REs e as solicitações para o desembaraço
aduaneiro das mercadorias.

O exportador, diretamente ou por intermédio de seu representante legal, é responsável


pela prestação de todas as informações necessárias ao exame e processamento do RC, que é
feito por meio do SISCOMEX.

Uma vez efetuado o preenchimento, a validação do RC é feita pelo Banco do Brasil – em


caso de exportação financiada pelo PROEX – ou pelo Departamento de Operações de Comércio
Exterior da SECEX (DECEX) – em caso de operação realizada com recursos do próprio
exportador. No caso de exportações amparadas pelo Programa de Financiamento às
Exportações - PROEX, o Banco do Brasil fará análise prévia, com base nas informações contidas
no RC. Caso o registro seja aceito pelo Banco do Brasil, fica assegurado o apoio financeiro do
PROEX.

O SISCOMEX fornece automaticamente ao operador (exportador ou representante legal do


exportador) um número referente a cada RC.

c) Registro de Venda - RV

O Registro de Venda (RV) deve ser preenchido nos casos de produtos negociados em bolsas
internacionais de mercadorias ou de produtos primários (commodities). O preenchimento do
RV no SISCOMEX deve ser anterior ao preenchimento do Registro de Exportação (RE) da
mercadoria.

O SISCOMEX fornece automaticamente ao operador (exportador ou representante legal do


exportador) um número referente a cada Registro de Venda preenchido.

d) Nota Fiscal

Este documento deve acompanhar a mercadoria desde a saída do estabelecimento do


exportador até o seu embarque para o exterior. A nota fiscal deve ser emitida em moeda
nacional, com base na conversão do preço FOB em reais, pela taxa do dólar no fechamento de

Alvaro Edauto S. Gomes


110

câmbio. No caso de exportação direta, a nota fiscal deve ser emitida em nome da empresa
importadora. Na exportação indireta, a nota será emitida em nome da empresa que efetuará a
operação de exportação (trading company, etc.)

e) Despacho Aduaneiro de Exportação

Trata-se do procedimento fiscal de desembaraço da mercadoria destinada ao exterior, com


base nas informações contidas no Registro de Exportação – RE, na Nota Fiscal (primeira via) e
nos dados sobre a disponibilidade da mercadoria para verificação das autoridades aduaneiras.
O Despacho Aduaneiro de Exportação é processado por intermédio do SISCOMEX. No caso de
exportações terrestres, lacustres ou fluviais, além da primeira via da Nota Fiscal, é necessária a
apresentação do Conhecimento de Embarque e do Manifesto Internacional de Carga.

O Despacho Aduaneiro de Exportação tem por base declaração formulada pelo exportador
ou por seu mandatário (despachante aduaneiro ou empregado especificamente designado),
também por intermédio do SISCOMEX. A Declaração para Despacho de Exportação (DDE),
também conhecida como Solicitação de Despacho (SD), deverá ser apresentada à unidade da
Receita Federal competente.

Ao final do procedimento, a Receita Federal, por meio do SISCOMEX, registra a


"Averbação", que consiste na confirmação do embarque da mercadoria ou sua transposição da
fronteira.

f) Conhecimento ou Certificado de Embarque (Bill of Lading)

A empresa de transporte emite, em língua inglesa, o Conhecimento ou Certificado de


Embarque, que comprova ter a mercadoria sido colocada a bordo do meio de transporte. Este
documento é aceito pelos bancos como garantia de que a mercadoria foi embarcada para o
exterior. O conhecimento de embarque deve conter os seguintes elementos:

 nome e endereço do exportador e do importador;


 local de embarque e desembarque;
 quantidade, marca e espécie de volumes;
 tipo de embalagem;
 descrição da mercadoria e códigos (SH/NCM/NALADI);
 peso bruto e líquido;
 valor da mercadoria;
 dimensão e cubagem dos volumes;
 valor do frete.

Além disso, deve constar a forma de pagamento do frete: freight prepaid - frete pago - ou
freight collect - frete a pagar.

Por último, devem constar do conhecimento de embarque as condições em que a


mercadoria foi embarcada: clean on board (embarque sem restrições ou ressalvas à
mercadoria) ou received in apparent good order and conditions (mercadoria recebida

Alvaro Edauto S. Gomes


111

aparentemente em boas condições). Esta declaração implica que o transportador deverá


entregar a mercadoria nas mesmas condições em que foi recebida do exportador.

O Conhecimento de Embarque é emitido geralmente em três vias originais, com um número


variado de cópias, conforme a necessidade do importador. O documento corresponde ao título
de propriedade da mercadoria e pode ser consignado ao importador, sendo, neste caso,
inegociável. Pode também ser consignado ao portador, sendo, neste caso, negociável.

g) Fatura Comercial (Commercial Invoice)

Este documento, necessário para o desembaraço da mercadoria pelo importador, contém


todos os elementos relacionados com a operação de exportação. Por isso é considerado como
um dos documentos mais importantes no comércio internacional de mercadorias. Deve ser
emitido pelo exportador no idioma do importador ou em inglês, segundo a praxe
internacional. O documento deve conter os seguintes itens:

 nome e endereço do exportador e do importador;


 modalidade de pagamento;
 modalidade de transporte;
 local de embarque e desembarque;
 número e data do conhecimento de embarque;
 nome da empresa de transporte;
 descrição da mercadoria;
 peso bruto e líquido;
 tipo de embalagem e número e marca de volumes;
 preço unitário e total;
 valor total da mercadoria.

h) Romaneio (Packing List)

Este documento, preenchido pelo exportador em inglês, é utilizado tanto no embarque


como no desembarque da mercadoria, e tem por objetivo facilitar a fiscalização aduaneira.
Trata-se de uma relação dos volumes a serem exportados e de seu conteúdo.

O Romaneio deve conter os seguintes elementos:

 número do documento;
 nome e endereço do exportador e do importador;
 data de emissão;
 descrição da mercadoria, quantidade, unidade, peso bruto e líquido;
 local de embarque e desembarque;
 nome da transportadora e data de embarque;
 número de volumes, identificação dos volumes por ordem numérica, tipo de
embalagem, peso bruto e líquido por volume, e as dimensões em metros
cúbicos.

i) Certificados

Alvaro Edauto S. Gomes


112

Certificado de Origem

O objetivo deste documento é o de atestar que o produto é efetivamente originário do país


exportador. Sua emissão é essencial nas exportações para países que concedem preferências
tarifárias. Os certificados de origem são fornecidos por entidades credenciadas, mediante a
apresentação da fatura comercial. As informações requeridas são:

 valor dos insumos nacionais em dólares – CIF ou FOB - e sua participação no


preço FOB;

 valor dos insumos importados em dólares - CIF ou FOB - e sua participação no


preço FOB;

 descrição do processo produtivo, e

 regime ou regras de origem – percentual do preço FOB.

Dependendo do país de destino, são os seguintes os Certificados de Origem:

Certificado de Origem Mercosul

Emitido por federações, confederações ou centros da indústria, do comércio ou da agricultura.

Certificado de Origem Aladi

Emitido por federações estaduais de indústria e federações estaduais de comércio;

Certificado de Origem Sistema Geral de Preferências (SGP)

Nas exportações realizadas no âmbito do Sistema Geral de Preferências (SGP), o certificado


é emitido pelas agências do Banco do Brasil que operam com comércio exterior. O documento
é denominado "Form A" e constitui requisito para a concessão de reduções tarifárias por
países industrializados a países em desenvolvimento.

Certificado de Origem SBPC (Sistema Global de Preferências Comerciais)

Este documento é emitido por federações estaduais de indústria.

Legalização Consular

A Legalização Consular não é exigida por todos os países importadores. Nos contatos com os
importadores estrangeiros, o exportador deve confirmar a necessidade desta providência
(reconhecimento de firma por parte da autoridade consular, em geral cobrada).

Certificado de Apólice de Seguro

Documento exigido quando o exportador é responsável pela contratação do seguro com


uma empresa seguradora e deve ser providenciado antes do embarque da mercadoria.

Borderô ou Carta de Entrega

Alvaro Edauto S. Gomes


113

É um formulário fornecido pelo banco a seu cliente (exportador), com a relação dos
documentos por ele exigidos para a realização de uma operação de exportação. Cabe ao
exportador o preenchimento do formulário e a preparação dos documentos solicitados pelo
banco.

Outros Certificados

Para determinados produtos exportados, o importador poderá solicitar ainda certificados


fitossanitários, certificados específicos, como o que atesta "fumigação", certificados de
inspeção prévia, etc.

j) Registro de Exportação Simplificado - RES ("Simplex")

A Sistemática de Câmbio Simplificado para as Exportações Brasileiras (Circular BACEN nº


2836, de 08/09/98), conhecida como "SIMPLEX", aplica-se às exportações de até dez mil
dólares, por operação (incluídas as despesas referentes ao INCOTERM pactuado). Qualquer
produto pode ser exportado por intermédio do SIMPLEX, tanto por empresas como por
pessoas físicas, desde que não esteja sujeito a controles por órgãos governamentais. A
operação de câmbio simplificado é regulada pela Circular BACEN nº 2.967, de 11/02/2000. Ao
utilizar o SIMPLEX, o exportador deverá assinar Boleto de Compra e Venda de Moeda
Estrangeira, de fácil preenchimento, em banco credenciado a operar com câmbio. O Registro
de Exportação Simplificado (RES), que tem validade de cinco dias (Comunicado DECEX nº
25/98), deverá ser providenciado antes do embarque do produto. Não é possível utilizar
simultaneamente o SIMPLEX e o contrato de câmbio do sistema convencional.

Algumas características do regime simplificado:

 as exportações por meio do SIMPLEX podem ser pagas por intermédio de


cartão de crédito internacional;

 o Boleto de Compra e Venda de Moeda Estrangeira pode ser negociado no


prazo de até 90 dias, antes ou depois do embarque, e a empresa exportadora
poderá utilizar várias formas de pagamento (antecipado, cobrança e carta de
crédito); o prazo mencionado é improrrogável;

 deve ser emitido um RES para cada produto, caso a operação de exportação
compreenda mercadorias diferenciadas. A soma dos valores dos produtos não
poderá, de todo modo, ultrapassar o montante de dez mil dólares;

 o boleto de câmbio simplificado é negociado com o banco credenciado, ao


qual o exportador deverá fornecer os dados para preenchimento do Boleto de
Compra e Venda; a negociação cambial deverá ser realizada após o pagamento
da exportação;

 No câmbio simplificado, o exportador deverá guardar os respectivos


documentos por cinco anos, para eventual verificação pelo Banco Central.

 aplica-se à exportação efetuada no quadro do "SIMPLEX" o mesmo tratamento


tributário referente à exportação pelo sistema convencional.

Alvaro Edauto S. Gomes


114

Não podem beneficiar-se do "SIMPLEX" operações como:

 exportação para consumo a bordo;


 exportação de material usado;
 exportação em consignação;
 exportação de produtos beneficiados pelo Sistema Geral de Preferências;
 exportação sujeita ao RV (Registro de Venda);
 exportação com financiamento do PROEX;
 exportação de produtos sujeitos a pagamento do Imposto de Exportação.

O roteiro para preenchimento do Registro de Exportação Simplificado encontra-se em anexo


ao Comunicado DECEX 25/98.

k) Declaração Simplificada de Exportação - DSE

Também com a finalidade simplificar e facilitar o processamento de operações de até dez


mil dólares, foi regulamentada, pela Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal n º
155, de 22 de dezembro de 1999, a Declaração Simplificada de Exportação (DSE). Esta deverá
ser preenchida pelo exportador, por intermédio de computador conectado ao SISCOMEX.
Todas as exportações, feitas por DSE, podem ser pagas por meio de cartão de crédito
internacional ou por meio de Boleto de Compra e Venda de Moeda Estrangeira.

Na DSE deverão ser fornecidos, entre outros, os seguintes dados:

 identificação do exportador (número de inscrição do exportador no CNPJ ou no


CNPF);

 tipo de exportador (se pessoa física ou jurídica);

 via de transporte (marítima, rodoviária, etc.);

 identificação do veículo transportador;

 peso bruto das mercadorias;

 peso líquido da mercadoria;

 valor total das mercadorias, em Reais;

 classificação do produto na Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM);

 valor de acordo com condição de venda, na moeda negociada (INCOTERMS);

 descrição complementar da mercadoria exportada.

A DSE será utilizada no despacho aduaneiro de bens:

 exportados por pessoa física, com ou sem cobertura cambial, até o limite de
US$ 10,000.00;

Alvaro Edauto S. Gomes


115

 exportados por pessoa jurídica, com ou sem cobertura cambial, até o limite de
US$ 10,000.00;
 exportados, a título de ajuda humanitária, em casos de guerra ou calamidade
pública;
 exportados sob o regime de exportação temporária, para posterior retorno ao
Brasil nas mesmas condições, ou após conserto, reparo ou restauração;
 reexportados de acordo com a Instrução Normativa número 150 da Secretaria
da Receita Federal (SRF), que dispõe sobre o regime de admissão temporária
de bens procedentes do exterior;
 que devem ser devolvidos ao exterior, conforme estabelecido no Art. 30, inciso
VI, da Instrução Normativa 155 da SRF ;
 contidos em remessa postal internacional, até o limite de US$ 10,000.00;
 contidos em encomenda aérea internacional, até o limite de US$ 10,000.00,
transportados por empresa de transporte internacional expresso porta a
porta; e
 integrantes de bagagem desacompanhada.

Registro da DSE

A DSE será registrada por solicitação do exportador, mediante numeração automática única,
seqüencial e nacional (reiniciada a cada ano), pelo SISCOMEX.

Será admitido o registro de DSE pelo correio ou por intermédio de empresa de transporte
internacional expresso, quando se tratar de remessa postal internacional, até o limite de dez
mil dólares ou o equivalente em outra moeda, e de encomenda aérea, igualmente até o limite
de dez mil dólares ou o equivalente em outra moeda.

Caso não tenha sido registrada no prazo de quinze dias, a DSE será cancelada
automaticamente.

Quando se tratar de exportação eventual realizada por pessoa física, a DSE poderá ser
elaborada por servidor da Secretaria da Receita Federal lotado na unidade onde será
processado o despacho aduaneiro.

Documentos necessários para a DSE

Serão necessários os seguintes documentos, os quais deverão ser mantidos pelo exportador
por cinco anos, para eventual apresentação à fiscalização aduaneira:

 primeira via da Nota Fiscal, quando for o caso;

 via original do Conhecimento de Carga ou documento equivalente nas


exportações por via terrestre, fluvial ou lacustre;

 outros documentos, indicados em legislação específica.

A DSE será submetida ao módulo de seleção parametrizada do SISCOMEX, e a seleção para


conferência seguirá os critérios estabelecidos pela Coordenação Geral do Sistema Aduaneiro
(COANA) e pela unidade local da SRF.

Alvaro Edauto S. Gomes


116

A mercadoria cuja DSE, registrada no SISCOMEX, tenha sido selecionada para o canal verde
de conferência aduaneira será desembaraçada mediante procedimento automático do
SISCOMEX. A mercadoria cuja Declaração tenha sido selecionada para o canal vermelho será
conferida e registrada no SISCOMEX pelo Auditor Fiscal da Receita Federal (AFRF).

Averbação do Embarque: o sistema averbará automaticamente os despachos aduaneiros. No


caso de eventuais divergências de informações, a averbação será realizada pelo AFRF, após as
devidas correções. O Comprovante de Exportação será emitido pelo SISCOMEX.

3. INCOTERMS – TERMOS INTERNACIONAIS DO COMÉRCIO

Os chamados Incoterms (International Commercial Terms / Termos Internacionais de


Comércio) servem para definir, dentro da estrutura de um contrato de compra e venda
internacional, os direitos e obrigações recíprocos do exportador e do importador,
estabelecendo um conjunto-padrão de definições e determinando regras e práticas neutras,
como por exemplo: onde o exportador deve entregar a mercadoria, quem paga o frete, quem
é o responsável pela contratação do seguro.

Enfim, os Incoterms têm esse objetivo, uma vez que se trata de regras internacionais,
imparciais, de caráter uniformizador, que constituem toda a base dos negócios internacionais
e objetivam promover sua harmonia.

Na realidade, não impõem e sim propõem o entendimento entre vendedor e comprador,


quanto às tarefas necessárias para deslocamento da mercadoria do local onde é elaborada até
o local de destino final (zona de consumo): embalagem, transportes internos, licenças de
exportação e de importação, movimentação em terminais, transporte e seguro internacionais
etc.

3.1 Terminologias do Incoterms utilizadas no comércio internacional

a) EXW - EX WORKS (...named place)

A mercadoria é colocada à disposição do comprador no estabelecimento do vendedor, ou


em outro local nomeado (fábrica, armazém, etc.), não desembaraçada para exportação e não
carregada em qualquer veículo coletor;
Este termo representa obrigação mínima para o vendedor;
O comprador arca com todos os custos e riscos envolvidos em retirar a mercadoria do
estabelecimento do vendedor;
Desde que o Contrato de Compra e Venda contenha cláusula explícita a respeito, os riscos e
custos envolvidos e o carregamento da mercadoria na saída, poderão ser do vendedor;
EXW não deve ser usado se o comprador não puder se responsabilizar, direta ou
indiretamente, pelas formalidades de exportação;
Este termo pode ser utilizado em qualquer modalidade de transporte.

b) FCA - Free Carrier (...named place)

O vendedor completa suas obrigações quando entrega a mercadoria, desembaraçada para a


exportação, aos cuidados do transportador internacional indicado pelo comprador, no local
determinado;

Alvaro Edauto S. Gomes


117

A partir daquele momento, cessam todas as responsabilidades do vendedor, ficando o


comprador responsável por todas as despesas e por quaisquer perdas ou danos que a
mercadoria possa vir a sofrer;
O local escolhido para entrega é muito importante para definir responsabilidades quanto à
carga e descarga da mercadoria: se a entrega ocorrer nas dependências do vendedor, este é o
responsável pelo carregamento no veículo coletor do comprador; se a entrega ocorrer em
qualquer outro local pactuado, o vendedor não se responsabiliza pelo descarregamento de seu
veículo;
O comprador poderá indicar outra pessoa, que não seja o transportador, para receber a
mercadoria. Nesse caso, o vendedor encerra suas obrigações quando a mercadoria é entregue
àquela pessoa indicada;
Este termo pode ser utilizado em qualquer modalidade de transporte.

c) FAS - Free Along Ship (...named port of shipment)

O vendedor encerra suas obrigações no momento em que a mercadoria é colocada ao lado


do navio transportador, no cais ou em embarcações utilizadas para carregamento, no porto de
embarque designado;

A partir daquele momento, o comprador assume todos os riscos e custos com carregamento,
pagamento de frete e seguro e demais despesas;

O vendedor é responsável pelo desembaraço da mercadoria para exportação;


Este termo pode ser utilizado somente para transporte aquaviário (marítimo fluvial ou
lacustre).

d) FOB - Free on Board (...named port of shipment)

O vendedor encerra suas obrigações quando a mercadoria transpõe a amurada do navio


(ship's rail) no porto de embarque indicado e, a partir daquele momento, o comprador assume
todas as responsabilidades quanto a perdas e danos;

A entrega se consuma a bordo do navio designado pelo comprador, quando todas as


despesas passam a correr por conta do comprador; O vendedor é o responsável pelo
desembaraço da mercadoria para exportação;

Este termo pode ser utilizado exclusivamente no transporte aquaviário (marítimo, fluvial ou
lacustre).

e) CFR - Cost and Freight (...named port of destination)

O vendedor é o responsável pelo pagamento dos custos necessários para colocar a


mercadoria a bordo do navio;

O vendedor é responsável pelo pagamento do frete até o porto de destino designado;

Alvaro Edauto S. Gomes


118

O vendedor é responsável pelo desembaraço da exportação;

Os riscos de perda ou dano da mercadoria, bem como quaisquer outros custos adicionais
são transferidos do vendedor para o comprador no momento em há que a mercadoria cruze a
murada do navio;

Caso queira se resguardar, o comprador deve contratar e pagar o seguro da mercadoria;

Cláusula utilizável exclusivamente no transporte aquaviário (marítimo, fluvial ou lacustre).

f) CIF - Cost, Insurance and Freight (...named port of destination)

A responsabilidade sobre a mercadoria é transferida do vendedor para o comprador no


momento da transposição da amurada do navio no porto de embarque;

O vendedor é o responsável pelo pagamento dos custos e do frete necessários para levar a
mercadoria até o porto de destino indicado;

O comprador deverá receber a mercadoria no porto de destino e daí para a frente se


responsabilizar por todas as despesas;

O vendedor é responsável pelo desembaraço das mercadorias para exportação;

O vendedor deverá contratar e pagar o prêmio de seguro do transporte principal;

O seguro pago pelo vendedor tem cobertura mínima, de modo que compete ao comprador
avaliar a necessidade de efetuar seguro complementar;

Os riscos a partir da entrega (transposição da amurada do navio) são do comprador;

Cláusula utilizável exclusivamente no transporte aquaviário (marítimo, fluvial ou lacustre).

g) CPT - Carriage Paid to (...named place of destination)

O vendedor contrata e paga o frete para levar as mercadorias ao local de destino designado;

A partir do momento em que as mercadorias são entregues à custódia do transportador, os

Alvaro Edauto S. Gomes


119

riscos por perdas e danos se transferem do vendedor para o comprador, assim como possíveis
custos adicionais que possam incorrer;

O vendedor é o responsável pelo desembaraço das mercadorias para exportação;

Cláusula utilizada em qualquer modalidade de transporte.

h) CIP - Carriage and Insurance Paid to (...named place of destination)

Nesta modalidade, as responsabilidades do vendedor são as mesmas descritas no CPT,


acrescidas da contratação e pagamento do seguro até o destino;

A partir do momento em que as mercadorias são entregues à custódia do transportador, os


riscos por perdas e danos se transferem do vendedor para o comprador, assim como possíveis
custos adicionais que possam incorrer;

O seguro pago pelo vendedor tem cobertura mínima, de modo que compete ao comprador
avaliar a necessidade de efetuar seguro complementar;

Cláusula utilizada em qualquer modalidade de transporte.

i) DAF - Delivered at Frontier (...named place of destination)

O vendedor deve entregar a mercadoria no ponto combinado na fronteira, porém antes da


divisa aduaneira do país limítrofe, arcando com todos os custos e riscos até esse ponto;
A entrega é feita a bordo do veículo transportador, sem descarregar;
O vendedor é responsável pelo desembaraço da exportação, mas não pelo desembaraço da
importação;
Após a entrega da mercadoria, são transferidos do vendedor para o comprador os custos e
riscos de perdas ou danos causados às mercadorias;

Cláusula utilizada para transporte terrestre.

j) DES - Delivered Ex Ship (...named port of destination)

O vendedor deve colocar a mercadoria à disposição do comprador, à bordo do navio, não


desembaraçada para a importação, no porto de destino designado;
O vendedor arca com todos os custos e riscos até o porto de destino, antes da descarga;
Este termo somente deve ser utilizado para transporte aquaviário (marítimo, fluvial ou
lacustre).

Alvaro Edauto S. Gomes


120

k) DEQ - Delivered Ex Quay (...named port of destination)

A responsabilidade do vendedor consiste em colocar a mercadoria à disposição do


comprador, não desembaraçada para importação, no cais do porto de destino designado;
O vendedor arca com os custos e riscos inerentes ao transporte até o porto de destino e
com a descarga da mercadoria no cais;

A partir daí a responsabilidade é do comprador, inclusive no que diz respeito ao


desembaraço aduaneiro de importação;

Este termo deve ser utilizado apenas para transporte aquaviário (marítimo, fluvial ou
lacustre).

l) DDU - Delivered Duty Unpaid (...named place of destination)

O vendedor deve colocar a mercadoria à disposição do comprador, no ponto de destino


designado, sem estar desembaraçada para importação e sem descarregamento do veículo
transportador;

O vendedor assume todas as despesas e riscos envolvidos até a entrega da mercadoria no


local de destino designado, exceto quanto ao desembaraço de importação;
Cabe ao comprador o pagamento de direitos, impostos e outros encargos oficiais por
motivo da importação;

Este termo pode ser utilizado para qualquer modalidade de transporte.

m) DDP - Delivered Duty Paid (...named place of destination)

O vendedor entrega a mercadoria ao comprador, desembaraçada para importação no local


de destino designado;

É o INCOTERM que estabelece o maior grau de compromisso para o vendedor, na medida


em que o mesmo assume todos os riscos e custos relativos ao transporte e entrega da
mercadoria no local de destino designado;

Não deve ser utilizado quando o vendedor não está apto a obter, direta ou indiretamente,
os documentos necessários à importação da mercadoria;

Embora esse termo possa ser utilizado para qualquer meio de transporte, deve-se observar
que é necessária a utilização dos termos DES ou DEQ nos casos em que a entrega é feita no
porto de destino (a bordo do navio ou no cais).

Alvaro Edauto S. Gomes


121

4. Despacho Aduaneiro - Importação

O despacho aduaneiro de mercadorias na importação é o procedimento mediante o qual é


verificada a exatidão dos dados declarados pelo importador em relação às mercadorias
importadas, aos documentos apresentados e à legislação específica, com vistas ao seu
desembaraço aduaneiro.

Toda mercadoria procedente do exterior, importada a título definitivo ou não, sujeita ou


não ao pagamento do imposto de importação, deve ser submetida a despacho de importação,
que é realizado com base em declaração apresentada à unidade aduaneira sob cujo controle
estiver a mercadoria.

Em geral, o despacho de importação é processado por meio de Declaração de Importação


(DI), registrada no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), nos termos da Instrução
Normativa SRF nº 680/06, conforme descrito abaixo. Entretanto, em algumas situações, o
importador pode optar pelo despacho aduaneiro simplificado, que pode se dar por meio do
Siscomex ou por formulários, conforme o caso.

Assim, antes de iniciar a sua operação de importação, o interessado deve verificar se a sua
habilitação para utilizar o Siscomex será necessária e se ela se encontra em vigor.

O despacho aduaneiro de importação é dividido, basicamente, em duas categorias: o


despacho para consumo; e o despacho para admissão em regime aduaneiro especial ou
aplicado em áreas especiais.

O despacho para consumo ocorre quando as mercadorias ingressadas no país forem


destinadas ao uso, pelo aparelho produtivo nacional, como insumos, matérias-primas, bens de
produção e produtos intermediários, bem como quando forem destinadas ao consumo próprio
e à revenda. O despacho para consumo visa, portanto, a nacionalização da mercadoria
importada e a ele se aplica o regime comum de importação.

O despacho para admissão em regimes aduaneiros especiais ou aplicados em áreas


especiais tem por objetivo o ingresso no País de mercadorias, produtos ou bens provenientes
do exterior, que deverão permanecer no regime por prazo certo e conforme a finalidade
destinada, sem sofrerem a incidência imediata de tributos, os quais permanecem suspensos
até a extinção do regime. Entre outros, se aplica às mercadorias em trânsito aduaneiro (para
um outro ponto do território nacional ou com destino a um outro país) e em admissão
temporária, caso em que as mercadorias devem retornar ao exterior, após cumprirem a sua
finalidade.

Antes de iniciar uma operação de importação, o interessado deve sempre verificar se a


mercadoria a ser importada está sujeita a controle administrativo, pois, em regra, este deve
ser efetuado anteriormente ao embarque da mercadoria no exterior, sob pena de pagamento
de multa.

Alvaro Edauto S. Gomes


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4.1 Importação por conta de ordem de terceiro

Entende-se por operação de importação por conta e ordem de terceiro aquela em que uma
pessoa jurídica promove, em seu nome, o despacho aduaneiro de importação de mercadoria
adquirida por outra, em razão de contrato previamente firmado, que pode compreender,
ainda, a prestação de outros serviços relacionados com a transação comercial, como a
realização de cotação de preços e a intermediação comercial.

O controle aduaneiro relativo à atuação de pessoa jurídica importadora que opere por
conta e ordem de terceiros é exercido conforme o estabelecido na Instrução Normativa SRF nº
225/02.

O registro da Declaração de Importação (DI) pelo contratado é condicionado à sua prévia


habilitação no Siscomex, para atuar como importador por conta e ordem do adquirente, pelo
prazo previsto no contrato.

4.2 Importação por encomenda

Entende-se por operação de importação por encomenda aquela em que uma pessoa
jurídica promove, em seu nome, o despacho aduaneiro de importação de mercadorias por ela
adquiridas no exterior, para revenda a empresa encomendante predeterminada, em razão de
contrato firmado entre elas.

Não é considerada importação por encomenda a operação realizada com recursos do


encomendante, ainda que parcialmente.

O controle aduaneiro relativo à atuação de pessoa jurídica importadora que opere por
encomenda é exercido conforme o estabelecido na Instrução Normativa SRF no 634/06.

O registro da Declaração de Importação (DI) fica condicionado à prévia habilitação no


Siscomex, tanto do encomendante, quanto do importador por encomenda, e à prévia
vinculação entre eles realizada nesse sistema.

4.3 Declaração de Importação - DI

O despacho aduaneiro de importação é processado com base em declaração a ser


apresentada à unidade aduaneira sob cujo controle estiver a sua mercadoria.

A DI deve conter, entre outras informações, a identificação do importador e do adquirente


ou encomendante, caso não sejam a mesma pessoa, assim como a identificação, a
classificação, o valor aduaneiro e a origem da mercadoria.

A DI é formulada pelo importador ou seu representante legal no Sistema Integrado de


Comércio Exterior (Siscomex) e consiste na prestação das informações constantes do Anexo
Único da IN SRF nº 680/06, de acordo com o tipo de declaração e a modalidade de despacho
aduaneiro. Essas informações estão separadas em dois grupos:

- Gerais - correspondentes à operação de importação;

Alvaro Edauto S. Gomes


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- Específicas (adição) - contendo dados de natureza comercial, fiscal e cambial sobre cada tipo
de mercadoria.

O tratamento aduaneiro a ser aplicado à mercadoria importada é determinante para a


escolha do tipo de declaração a ser preenchida pelo importador.

5. Tributos Incidentes na Importação

Os tributos incidentes sobre uma determinada importação e os seus montantes dependem


do tipo de mercadoria, seu valor, origem, natureza da operação, qualidade do importador,
entre outros.

O próprio Siscomex contém as alíquotas dos tributos aplicáveis e, com base nas
informações fornecidas pelo importador, ele executa os cálculos necessários e debita os
valores devidos diretamente na conta corrente informada, no momento do registro da DI.

6. Início do Despacho Aduaneiro de Importação

O ato que determina o início do despacho aduaneiro de importação é o registro da DI no


Siscomex, salvo nos casos de Despacho Antecipado. É no momento desse registro que ocorre o
pagamento de todos os tributos federais devidos na importação.

Se o despacho de importação, em uma de suas modalidades, não for iniciado nos prazos
estabelecidos na legislação, que variam entre 45 a 90 dias da chegada da mercadoria ao País,
ela é considerada abandonada, o que acarretará a aplicação da pena de perdimento e a
destinação da mercadoria para um dos fins previstos na legislação. O mesmo acontece com a
mercadoria cujo despacho de importação tenha seu curso interrompido durante sessenta dias,
por ação ou por omissão do importador.

7. Documentos de Instrução da Declaração de Importação

Regra geral, os documentos que servem de base para as informações contidas na DI são:

via original do conhecimento de carga ou documento equivalente;


via original da fatura comercial, assinada pelo exportador;
romaneio de carga (packing list), quando aplicável; e
outros, exigidos em decorrência de Acordos Internacionais ou de legislação específica.

Os documentos de instrução da DI devem ser entregues à fiscalização da SRF sempre que


solicitados e, por essa razão, o importador deve mantê-los pelo prazo previsto na legislação,
que pode variar conforme o caso, mas nunca é inferior a 05 anos.

Alvaro Edauto S. Gomes


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8. Parametrização

Uma vez registrada a declaração de importação e iniciado o procedimento de despacho


aduaneiro, a DI é submetida a análise fiscal e selecionada para um dos canais de conferência.
Tal procedimento de seleção recebe o nome de parametrização.

Os canais de conferência são quatro: verde, amarelo, vermelho e cinza.

A importação selecionada para o canal verde é desembaraçada automaticamente sem


qualquer verificação. O canal amarelo significa conferência dos documentos de instrução da DI
e das informações constantes na declaração. No caso de seleção para o canal vermelho, há,
além da conferência documental, a conferência física da mercadoria. Finalmente, quando a DI
é selecionada para o canal cinza, é realizado o exame documental, a verificação física da
mercadoria e a aplicação de procedimento especial de controle aduaneiro, para verificação de
elementos indiciários de fraude, inclusive no que se refere ao preço declarado da mercadoria.

9. Desembaraço Aduaneiro

O desembaraço aduaneiro é o ato pelo qual é registrada a conclusão da conferência


aduaneira. É com o desembaraço aduaneiro que é autorizada a efetiva entrega da mercadoria
ao importador e é ele o último ato do procedimento de despacho aduaneiro.

Alvaro Edauto S. Gomes

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