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E se o cliente é assaltado na rua, após sacar dinheiro na agência, haverá respon-
sabilidade civil do banco?
NÃO. Não há como responsabilizar a instituição financeira na hipótese em que o
assalto tenha ocorrido fora das dependências da agência bancária, em via pública,
sem que tenha havido qualquer falha na segurança interna da agência bancária que
propiciasse a atuação dos criminosos após a efetivação do saque, tendo em vista
a inexistência de vício na prestação de serviços por parte da instituição financeira.
A mera alegação do cliente de que o autor do roubo deve tê-la observado sacar di-
nheiro do banco não é suficiente para imputar responsabilidade à instituição bancária.
Além do mais, se o ilícito ocorre em via pública, é do Estado, e não do banco, o
dever de garantir a segurança dos cidadãos e de evitar a atuação dos criminosos.

3.2 RESPONSABILIDADE POR FRAUDES


E DELITOS NAS OPERAÇÕES BANCÁRIAS
Atenção!
Súmula 479-STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos
danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados
por terceiros no âmbito de operações bancárias.
STJ. 2ª Seção, DJe 01/08/2012.

E
Ex1: Um talão de cheques é extraviado da agência do banco, chegando às mãos de
um fraudador, que põe em circulação cheques falsificados em nome de “A” (cliente
do banco). O banco compensa os cheques, fazendo com que o saldo de “A” fique
negativo e ele seja inscrito na SERASA por força das dívidas. Esse banco respon-
derá objetivamente (isto é, independentemente de culpa) pelos danos materiais e
morais causados ao cliente.
Ex2: Determinado cracker invade o sistema do banco e consegue transferir dinheiro
da conta de um cliente. O banco responde objetivamente por esse dano.
Ex3: O cartão de crédito de um cliente é “clonado” e, por conta disso, são feitas com-
pras fraudulentas em seu nome. O banco responde objetivamente por esse dano.

F
Por que o banco responde objetivamente nesses casos?
Os bancos são fornecedores de serviços e a eles é aplicado o Código de Defesa do
Consumidor (art. 3º, § 2º, do CDC; Súmula 297-STJ; STF ADI 2591).
Se ocorreu um fortuito interno na operação bancária relacionado com uma fraude
ou delito praticado por terceiro, o que houve nesse caso foi um defeito no serviço
bancário, sendo isso chamado pelo CDC de “fato do serviço”.

Direito do Consumidor | 289

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Fato do serviço são os danos causados aos consumidores em razão de um aciden-
te de consumo provocado por serviço defeituoso (art. 14 do CDC).
Se ocorre um fato do serviço, o fornecedor desse serviço é obrigado a indenizar os
consumidores lesados, independentemente de culpa:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
O STJ afirma que a responsabilidade do banco (fornecedor do serviço) decorre da
violação a um dever contratualmente assumido, qual seja o de gerir com segu-
rança as movimentações bancárias de seus clientes (Min. Luis Felipe Salomão).

E
José perde sua carteira com os documentos. Pedro, experiente estelionatário, en-
contra. Pedro coloca a sua foto no RG de José, treina a assinatura para imitá-la e vai
até o Banco, onde consegue, com os documentos de José, abrir uma conta-corrente
e efetuar um empréstimo bancário, nunca pagando o valor. Por conta disso, o nome
de José é inscrito pelo Banco no serviço de proteção ao crédito.
José, de fato, nunca manteve qualquer relação contratual com o Banco, mas deverá ser
indenizado porque houve um fato do serviço (um defeito no serviço bancário) que fez
com que ele se transformasse em vítima desse evento (consumidor por equiparação).

N
Nos exemplos acima mencionados, os bancos não podem alegar culpa exclusiva
de terceiro para se isentar da responsabilidade?
NÃO. De fato, o CDC prevê que a culpa exclusiva de terceiro exclui o dever de indenizar:
Art. 14 (...)
§ 3º – O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
No entanto, segundo o STJ, a culpa exclusiva de terceiros somente elide (elimina) a
responsabilidade objetiva do fornecedor se for uma situação de “fortuito externo”.
Se o caso for de “fortuito interno”, persiste a obrigação de indenizar.
Fortuito interno Fortuito externo
Está relacionado com a organização da Não está relacionado com a organiza-
empresa. ção da empresa.
É um fato ligado aos riscos da atividade É um fato que não guarda nenhuma
desenvolvida pelo fornecedor. relação de causalidade com a atividade
desenvolvida pelo fornecedor.
É uma situação absolutamente estranha
ao produto ou ao serviço fornecido.

290 | Márcio André Lopes Cavalcante

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Ex1: O estouro de um pneu do ônibus da Ex1: Assalto à mão armada no interior
empresa de transporte coletivo; de ônibus coletivo (não é parte da orga-
Ex2: Cracker invade o sistema do banco nização da empresa de ônibus garan-
e consegue transferir dinheiro da conta tir a segurança dos passageiros contra
de um cliente. assaltos);
Ex3: Durante o transporte da matriz para Ex2: Um terremoto faz com que o telha-
uma das agências ocorre um roubo e do do banco caia, causando danos aos
são subtraídos diversos talões de cheque clientes que lá estavam.
(trata-se de um fato que se liga à organi-
zação da empresa e aos riscos da própria
atividade desenvolvida).
Para o STJ, o fortuito interno NÃO exclui Para o STJ, o fortuito externo é uma cau-
a obrigação do fornecedor de indenizar sa excludente de responsabilidade.
o consumidor.
A jurisprudência do STJ entende que a ocorrência de fraudes ou delitos contra o
sistema bancário, dos quais resultam danos a terceiros ou a correntistas, insere-se
na categoria doutrinária de fortuito interno, porquanto fazem parte do próprio
risco do empreendimento (REsp 1197929/PR).

3.3 RESPONSABILIDADE CIVIL


EM CASO DE INVESTIMENTOS FINANCEIROS
Se um investidor experiente faz aplicações em fundos de investimentos de
alto risco e experimenta prejuízos decorrentes de políticas governamentais
e conjunturas do mercado, tais danos não podem ser imputados à institui-
ção administradora do fundo.
STJ. 4ª Turma. REsp 799.241-RJ, rel. Min. Raul Araújo, julgado em 14/08/2012.

Imagine a seguinte situação hipotética:


Fábio fez um contrato com a empresa “X”, uma administradora de fundos de in-
vestimentos, para que esta realizasse aplicações financeiras. O contrato previa que
os investimentos seriam feitos em “Fundos Derivativos”, que são conhecidos no
mercado financeiro por serem investimentos agressivos, com alto risco, podendo
proporcionar ganhos relevantes, mas também perdas substanciais. Vale ressaltar
que Fábio era um investidor habitual e experiente, sendo, inclusive, analista financeiro,
tendo, portanto, ciência dos riscos e oscilações de investimento dessa natureza. As
aplicações não foram bem sucedidas e Fábio experimentou enormes prejuízos,
perdendo quase todo o valor investido. Diante disso, ele ingressou com ação de
indenização contra “X”, gestora do fundo derivativo.
O que o STJ decidiu sobre o tema?
▪ Existe relação de consumo na situação em tela. Assim, “João” pode ser conside-
rado consumidor e “X” fornecedora de serviços (Súmula 297-STJ: O Código de
Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras).

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