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Educação e Pesquisa, São Paulo, v.33, n.3, p. 601-619, set./dez. 2007 601
The idea of polytechnicalism in Mozambique:
contradictions of a socialist discourse (1983-1992)*
Abstract
Keywords
*
Mozambique – Frelimo – Modern nation-state – National Education
This article is based on the Master
Dissertation prepared under the
System – Concept of Polytechnic education.
supervision of Professor Maria de
Lourdes Rocha de Lima and co-
supervision of Professor Rosemary
Dore Soares, to which the author wishes
the express his gratitude. The Master
studies were sponsored by CAPES
through a scholarship offered within the
Exchange Student Program (PEC-PG).
602 Educação e Pesquisa, São Paulo, v.33, n.3, p. 601-619, set./dez. 2007
O trabalho, síntese da dissertação de Quando da independência do país, téc-
mestrado defendida em novembro de 2005, ana- nicos estrangeiros oriundos dos ex-países soci-
lisa a fundamentação do conceito de politecnia alistas chegaram a Moçambique em apoio à
presente no projeto socialista para a educação revolução, no âmbito do internacionalismo pro-
moçambicana, apresentado pela Frente de Liber- letário. Os técnicos em referência, segundo Brito
tação de Moçambique (Frelimo)1, entre 1983 e (1995), ocuparam funções de “especialistas ou de
1992, em vista a edificar o socialismo após a in- conselheiros nos gabinetes de estudos, nos depar-
dependência do país, ocorrida em 1975. Defini- tamentos de planificação dos ministérios” (p. 11),
do, naquele projeto educacional, como “tradução e alguns se envolveram com o processo da orga-
do princípio pedagógico de ligação entre a teo- nização da educação escolar moçambicana2. Pos-
ria e a prática, entre a escola e o trabalho produ- sivelmente, teria sido a partir desse envolvimento
tivo no processo educativo” (Moçambique, 1985, que esses técnicos influenciaram a adoção da
p. 112), o conceito de politecnia deveria permear perspectiva educacional que vigorava em seus
todo o processo de formação escolar e visava pro- respectivos países.
piciar aos alunos “bases para compreender a rea- Entretanto, a explicação oficial relativa à
lidade, assimilar o conhecimento científico e trans- adoção da politecnia em Moçambique encon-
formar a natureza e a sociedade” (Moçambique, tra-se nos documentos do ex-Ministério da
1985, p. 21). Educação e Cultura do país (MEC)3. Ali é afir-
Em torno do conceito de politecnia, en- mado que “foi do combate pela libertação da
tretanto, há uma grande polêmica e existem di- terra e dos homens”, nas Zonas Libertadas, que
ferentes interpretações sobre ele. Somente para foram forjados “os princípios que orientam a
exemplificar, no socialismo real, o conceito se nossa sociedade e educação” (MEC, 1980, p. 2)4.
consolidou como expressão da síntese do pen- Naquelas zonas, refere o documento oficial, o
samento marxista sobre a educação escolar. No trabalho manual e a produção já “faziam parte
entanto, em Marx, a politecnia ou educação da educação, garantindo a unidade entre estu-
tecnológica constitui uma das três dimensões do e o trabalho produtivo, entre o trabalho
da sua concepção educacional, que abrange intelectual e o manual” (MEC, 1980, II, p. 1).
também a educação intelectual (da mente) e a Essa explicação oficial sugere não ter ha-
ginástica (Marx; Engels, 2004). vido influências externas na proposição e ado-
Durante a Revolução Soviética, o conceito ção do conceito na educação escolar moçam-
foi adotado por Lênin e Krupskaia, sem despre- bicana. Contudo, o que os organizadores da
zar a dimensão da educação geral, isto é, o educação moçambicana entendiam por princí-
conceito de politecnia “não sintetizava todas as pio pedagógico de ligação entre a teoria e a
possibilidades de ligação entre o trabalho e o prática, entre a escola e o trabalho, como ex-
estudo” (Dore Soares, 2000, p. 345-346). Após
a ascensão de Stalin, o conceito de politecnia foi 1. A Frelimo, de acordo com os documentos oficiais, nasceu da unificação
se afirmando “para designar a educação relaci- de três movimentos nacionalistas moçambicanos em junho de 1962, na
capital da Tanzânia – Dar-Es-Salam. São eles, a União Nacional Africana de
onada ao trabalho industrial, desvinculada da Moçambique (MANU) do norte do país; a União Nacional Democrática de
formação geral” (p. 350). Moçambique (UDENAMO), centro; e a União Nacional Africana de Moçambique
Independente (UNAMI), fundada na Província de Tete (centro do país).
Não obstante esses exemplos em torno da 2. Na Educação, houve uma presença significativa dos técnicos provin-
complexidade do conceito, foi o termo politecnia dos da antiga República Democrática Alemã. Informação dada por Luís
que acabou ficando conhecido no socialismo real Filipe em 15 de janeiro de 2005 em Maputo.
3. O documento em referência, depositado na Biblioteca do Centro de Estudos
como sinônimo de uma concepção socialista de Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, pasta 67.9 6/KL, é
vinculação entre trabalho e ensino. a versão não divulgada das Linhas Gerais do Sistema Nacional de Educação.
4. As Zonas Libertadas, situadas no interior das províncias de Niassa e
De que modo o conceito de politecnia Cabo Delgado, no norte de Moçambique, são as áreas que passaram para
chegou a Moçambique? o controle da Frelimo no decurso da luta armada.
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pressão da politecnia? A que resultados chegou (1983), de objetivos independentistas e naciona-
a educação moçambicana orientada pelo con- listas, a luta armada, dirigida pela Frelimo, passou
ceito de politecnia? a ter um caráter revolucionário. A Frente preten-
Essas foram as principais questões das dia operar uma radical transformação das rela-
quais partiu o estudo. Da análise sobre a fun- ções sociais em Moçambique para construir uma
damentação do conceito de politecnia, é sus- nova sociedade, livre de exploração do homem
tentada a tese de que o entendimento desse pelo homem, em que “as condições materiais de
conceito em Moçambique foi limitado. Além da vida do povo melhorem continuamente e [...]
limitação quanto ao entendimento do concei- suas necessidades sociais sejam satisfeitas”
to, ainda em nível educacional, o discurso que (Frelimo, 1983a, p. 31).
acompanhou a fundamentação da politecnia foi Após a independência, a Frelimo buscou
contraditório com relação aos propósitos soci- efetivar o projeto de Estado e de sociedade
alistas dos dirigentes moçambicanos. nascido durante a luta de libertação, estenden-
Para se chegar a essa conclusão, foi re- do a todo o país o processo de destruição da
alizada uma pesquisa teórica, revisando a bibli- velha sociedade.
ografia geral sobre o conceito de politecnia. Foi nesse contexto que o MEC, seguindo as
Também foram consultados documentos oficiais, orientações do III Congresso da Frelimo, elaborou
artigos, livros e resultados de pesquisa sobre a uma proposta educacional para dar início à reor-
educação socialista moçambicana que focassem ganização da educação escolar moçambicana.
o propósito de pesquisa5. Empiricamente, reali- Chamada de Linhas Gerais do Sistema Nacional de
zaram-se entrevistas com alguns intelectuais6 Educação, a proposta foi apresentada pelo MEC à
que estiveram envolvidos com a educação ex-Assembléia Popular7 em 1981, tendo sido apro-
moçambicana no período recortado (1983- vada sob forma de lei com denominação de Siste-
1992), na cidade de Maputo-Moçambique, en- ma Nacional de Educação (SNE) – (Lei 4/83, de 23
tre janeiro e março de 2005. de Março de 1983)8.
São expostos, a seguir, os resultados de O objetivo central atribuído ao SNE era
investigação, apresentando, primeiro, a emergên- o de formar o Homem Novo Revolucionário:
cia da politecnia na educação moçambicana, si- “um homem livre do obscurantismo, da supers-
tuando o contexto histórico em que surge essa tição e da mentalidade burguesa e colonial, um
proposta. Depois é discutida a emergência da homem que assume os valores da sociedade
politecnia na história da Educação, a compreen- socialista” (Moçambique, 1985, p. 113). Eram
são que Marx e Lênin tiveram desta e o rumo que os fundamentos da nova educação, além da
ela seguiu no movimento operário russo. Por fim, experiência educacional havida nas Zonas Li-
é analisada a fundamentação do conceito de bertadas, a Constituição da República (1975 e
politecnia na educação moçambicana, à luz do 1978), o Programa do Partido Frelimo “e os
discurso socialista dos dirigentes moçambicanos. princípios universais do marxismo-leninismo,
particularmente os que se referem à pedagogia
A emergência do conceito de socialista” (Moçambique, 1985, p. 17).
politecnia na educação
moçambicana
5. Fazem parte dos documentos oficiais os relatórios técnicos, os discur-
sos dos dirigentes moçambicanos, a legislação educacional e toda a docu-
Segundo se referiu, o conceito de politec- mentação produzida no Ministério de Educação e Cultura de Moçambique.
6. No sentido gramsciano do termo (Gramsci, 2004).
nia, na educação escolar moçambicana, surgiu da 7. No âmbito da mudança, de orientação política e da reforma do Estado
experiência educacional havida nas Zonas Liberta- moçambicano, a Assembléia Popular passou ser designada de Assem-
bléia da República.
das, no decurso da Luta de Libertação de Moçam- 8. A lei de nacionalização dos serviços de Saúde, Educação e Habitação
bique do domínio português. Conforme Munslow foi promulgada em 24 de Julho de 1975.
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do na terra ou “na manutenção dos territórios curso socialista dos dirigentes de Moçambique.
e instalações” (CEA, s/d, p. 7). Entretanto, a que resultados chegou a educação
Para se garantir o princípio de ligação moçambicana orientada pela noção da politecnia,
entre a teoria e a prática, com base no trabalho, conforme o propósito transformador e igualitário
prossegue o professor Roque Vicente, “os alunos defendido pelos dirigentes? Quais foram as con-
faziam a patrulha, participavam da agricultura, tribuições da educação moçambicana, norteada
cada um tomando parte no cultivo dos campos pelo conceito de politecnia, para uma concepção
da escola”. Os estudantes também se dispunham socialista de educação?
para auxiliarem aos aldeãos “em várias tarefas, tais Para se compreenderem os resultados al-
como a agricultura, a construção de casas e a lim- cançados pela educação moçambicana orientada
peza”. A população, por sua vez, agradecia aos pelo conceito de politecnia, conforme a propos-
alunos “ajudando a escola na alimentação, em- ta transformadora e igualitária dos dirigentes e as
prestando machados, enxadas e outros utensílios”. contribuições dessa educação para uma concep-
Além disso, os aldeãos ensinavam aos estudantes ção socialista de educação, primeiro é focalizado
“coisas como fazer esteiras e outras manufaturas”. o aparecimento do conceito de politecnia na his-
Os estudantes, por sua vez, “ensinavam aos alde- tória da Educação, as interpretações havidas so-
ãos a ler e a escrever” (CEA, s/d, p. 9-10). Desse bre este em Marx e Lênin, e os rumos que a
modo, estava garantido o ensino politécnico, li- politecnia tomou no socialismo real.
gando a teoria e a prática, a escola e a comuni-
dade, a escola e o trabalho produtivo. A emergência da politecnia na
Essa experiência educacional das Zonas Li- história da Educação
bertadas tinha mostrado para a Frelimo a exigência
de formar o Homem Novo, libertando a sua “inici- O conceito de politecnia, na história da
ativa criadora, unindo cada vez mais a teoria e a Educação, surgiu das mudanças científicas ocorri-
prática, formando também uma mentalidade cien- das nos meados do século XIX, em função dos
tífica, materialista e dialéctica” (MEC, 1980, p. 3). impactos que essas mudanças provocaram no pro-
Por isso, quando da organização do SNE, cesso de produção, marcando a passagem do ar-
foi definido como objetivo da área politécnica, tesanato à grande indústria. A transformação do
“a transmissão das bases científico-técnicas da processo produtivo, que decorreu das mudanças
produção, o desenvolvimento de capacidade de científicas havidas e o aparecimento da maquina-
trabalho produtivo e a ligação constante dos ria, levou a que a realização do trabalho não mais
conhecimentos adquiridos à prática da vida dependesse do conhecimento específico que o
social e à produção” (Moçambique, 1985, p. 20). trabalhador possuía sobre esse conhecimento. A
O ensino das bases científico-técnicas é justi- automação do processo de produção, por meio da
ficado com base no argumento de que “a ciên- incorporação das funções manuais à máquina, sim-
cia e a técnica devem ser apropriadas pelas plificou o trabalho humano. Este passou a ser or-
massas populares” (MEC, 1980, p. 2), garantin- ganizado de acordo com os “princípios científicos,
do a “igualdade de oportunidades que tem simples e gerais” (Saviani, 2000, p. 163). Confor-
qualquer cidadão de acesso a todos os níveis me Dore Soares (2000), o trabalho perdeu o seu
de ensino e educação” (MEC, 1980, p. 2). caráter de especialização, tornou-se acessível a
Seria, portanto, por meio da politecnia, se- qualquer pessoa e, para a sua realização, era exi-
gundo a experiência educacional havida nas Zonas gido ao trabalhador “a aquisição de habilidades
Libertadas, que se poderia formar o Homem Novo e conhecimentos gerais e técnicos” (p. 337)13.
Revolucionário, “que transforma a natureza e a
sociedade” (Moçambique, 1985, p. 21), numa 13. Marx inspirou-se no método educativo desenvolvido por Robert Owen
escola única, igual e para todos, conforme o dis- (Dore Soares, 2003).
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flutuantes da exploração capitalista, pela priedade de alguns, destinando às maiorias as
disponibilidade absoluta para a variedade escolas técnicas estritamente profissionalizantes
de trabalhos. (p. 77-78) para atender às demandas do setor produtivo.
Por isso, refere Marx (Marx; Engels, 2004),
Essa concepção educacional que também quando for conquistado
inclui a formação politécnica, além de substituir,
segundo Marx (Marx; Engels, 2004), “o indiví- [...] o poder político pela classe trabalhadora,
duo parcial, mero fragmento humano que repete terá a adopção do ensino tecnológico, teórico
sempre uma operação parcial, pelo indivíduo e prático nas escolas dos trabalhadores. (p. 78)
integralmente desenvolvido para as qual as di-
ferentes funções sociais não passariam de formas Os trabalhadores, entretanto, conquista-
diferentes e sucessivas de suas atividades” (p. ram o poder político, por meio da Revolução,
78), também preservaria as crianças e os adoles- num país, à época, o mais pobre da Europa e
centes da “ignorância, brutalização e degrada- com características feudais: a Rússia. Os dirigen-
ção física e espiritual” (Marx; Engels, 2004, p. tes russos começaram a afrontar o problema de
75) de que eram vítimas na fábrica. consolidar a tomada do poder e desenvolver o
Por isso, a formação politécnica, fundada país mediante a industrialização, num contexto de
no princípio do trabalho, sem desprezar a for- grandes adversidades, entre as quais a I Guerra
mação intelectual de carácter geral, e a educa- Mundial (1914-1918) e a demora da Revolução
ção física, no entendimento de Marx (Marx; proletária em outros países da Europa, como
Engels, 2004), tendo rompido com a unilate- esperava o movimento operário (Dore Soares,
ralidade da escola artesanal, da popular e tra- 2000; Losurdo, 2005).
dicional (a humanista), continha em germe a No entanto, antes mesmo da Revolução
educação para o futuro. russa, Lênin, o dirigente dessa Revolução, junta-
Com essa análise dialéctica, Marx (Marx; mente com Krupskaia, havia retomado as reflexões
Engels, 2004) aponta para a necessidade do fim de Marx sobre a educação. Lênin buscava conce-
da divisão técnica do trabalho, das desigualda- ber uma escola que preparasse os trabalhadores
des sociais e das desigualdades educacionais. para os desafios da conquista do poder político
Com efeito, para Marx, a divisão técnica do tra- e construir o socialismo. Para isso, propuseram
balho mutila as capacidades humanas e distin-
gue os indivíduos em função dos tipos de ati- [...] a instrução politécnica juntamente com a
vidades por eles realizados. A divisão técnica do formação geral de base humanista, em subs-
trabalho faz com que aos indivíduos distintos tituição da ideia de ensino geral e profissio-
caiba-lhes, respectivamente, “a actividade inte- nal. (Dore Soares, 2000, p. 345)
lectual e a material; o gozo e o trabalho; o
consumo e a produção” (p. 24). O fim da divi- A educação politécnica se inseria, por-
são técnica do trabalho, para Marx, também tanto, num contexto de ruptura com as remi-
“significará a “emancipação de todos os senti- niscências de uma educação de tipo artesanal,
dos e qualidades humanas (p. 42). A educação baseada nas particularidades da profissão. A
escolar, por sua vez, não pode ser a promoto- grande indústria trazia a universalização dos
ra das desigualdades socioeducacionais e da ofícios e é para esse aspecto que Krupskaia
divisão técnica do trabalho. chama a atenção quando defende que a edu-
A educação escolar, portanto, na socie- cação politécnica, promovendo uma formação
dade socialista, não deve ser organizada em técnica com características universais, visava
função da divisão técnica do trabalho, em que proporcionar aos trabalhadores uma qualifica-
a ciência e os instrumentos do pensar são pro- ção profissional segundo as exigências técnicas
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política: era a produção da própria realidade A teoria, para aqueles dirigentes e educado-
social, por meio do trabalho humano, no sen- res, era a linha política do partido, qual seja, o
tido de atividade vital e transformadora. marxismo-leninismo. Além da linha política do
É pelo trabalho, no sentido de atividade, partido, a teoria que os dirigentes moçambicanos
que o homem transforma-se a si mesmo e a defendiam na educação escolar também foi toma-
natureza. Assim, o trabalho é a práxis humana da no sentido positivista: o conhecimento cientí-
(Petrovic, 2002), constitui a mediação e a sín- fico com o qual deveria ser combatida a supersti-
tese da relação entre a teoria e a prática. Se for ção e o obscurantismo da educação tradicional,
pela atividade humana que o homem transfor- que tomou conta da ciência (CEA, s/d, p. 3).
ma a si mesmo e a natureza na produção da No entanto, de que marxismo-leninismo a
realidade, seja social, política e econômica, para Frelimo falava, haja vista: primeiro, a complexi-
isso, é necessário que ele compreenda o proces- dade da definição do marxismo-leninismo em
so que desenvolve e que seja consciente deste. função do campo socialista terem emergido
Em que pesem essas indicações do alcan- várias tendências ideológicas, tais como “a orto-
ce político, social e cultural do princípio de liga- doxa, a revisionista e a sindicalista revolucioná-
ção entre a teoria e a prática, à sua época, Marx ria” (Waldenberg, 1982, p. 224)? Cada uma
não considerou a escola como importante frente de delas interpretou diversamente os princípios do
luta para a transformação social. Mesmo assim, ao marxismo, principalmente em relação às táticas
refletir sobre o trabalho como atividade vital e e estratégias para tomar o poder e consolidá-lo.
transformadora e sobre o princípio de união entre Segundo, o termo marxismo-leninismo é vago,
a teoria e a prática no processo educativo, deixou pois ele não pode ser tomado como expressão
importantes indicações para o movimento socialis- da homogeneidade entre o pensamento de Marx
ta na luta pela igualdade socioeducacional e pela e o de Lênin (Gruppi, 1996)?15
transformação social, em que a escola constitui Em relação ao marxismo-leninismo mo-
numa das principais frentes culturais dessa luta. çambicano, cabe referir que os dirigentes da
Posto isso, quando os dirigentes moçam- Frente afirmaram que ele proveio da própria ex-
bicanos afirmaram a originalidade do princípio de periência de luta, e definiram-no como “síntese
ligação entre a teoria e a prática, entre a escola teórica das ricas experiências das classes e po-
e o trabalho, num processo educativo que visa- vos oprimidos de todo o mundo, na sua luta
va à formação do Homem Novo revolucionário, secular contra os exploradores, pela instauração
eles teriam se demarcado do entendimento do de um novo poder” (Frelimo, 1977a, p. 92).
vínculo entre o ensino e o trabalho havido no Então, a Frelimo, transformada em partido po-
socialismo real e, assim, se aproximado da filosofia lítico de vanguarda, deveria guiar-se “pela sín-
de Marx? Responder a essa pergunta implica a tese da experiência da luta revolucionária do
análise do entendimento dos conceitos teoria, povo moçambicano” (Frelimo, 1983a, p. 6). En-
prática e trabalho na educação moçambicana. tretanto, a síntese da experiência, por sua vez,
era a própria Frelimo, uma vez que esta definiu
A fundamentação do conceito a si mesma e a luta por ela dirigida como
de politecnia em Moçambique
[...] culminar de um processo de resistências
Para expressar a vinculação entre a teo- seculares do povo moçambicano, conduzidas
ria e a prática, entre a escola e o trabalho no isolada e localmente contra o colonialismo
processo educativo, os dirigentes e intelectuais de quinhentos anos. (Mazula, 1995, p. 103)
moçambicanos, no âmbito da edificação de
uma sociedade socialista, interpretaram o con-
ceito de politecnia em várias acepções. 15. Relatório do Comitê Central ao III Congresso (Frelimo, 1977a).
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era constituída por dois elementos: a linha po- cujo estudo e solução nos permitirão resol-
lítica do partido e o conhecimento científico. Ela ver situações idênticas que se verificarão
precisava, para formar o Homem Novo, da prá- inevitavelmente à escala nacional [...]. Fa-
tica, que era o trabalho no sentido de produção zendo-o, elevamos, pois as lições da prática
(Mazula, 1995). Nesse sentido, Machel (1976) à categoria de teoria, enriquecemos a nos-
chegou a afirmar que os trabalhadores dos pa- sa teoria revolucionária, instrumento indis-
íses socialistas “edificam, com o seu trabalho e pensável da revolução. (p. 1-2)
com sua consciência, a riqueza que permite ele-
var continuamente as condições de vida” (p. 3)21. Dirigindo-se aos professores, estudantes e
Com aqueles trabalhadores “desenvolvendo a funcionários da Universidade Eduardo Mondlane,
produção poderemos criar infra-estruturas que Machel (1976) lembrou-lhes que todo conheci-
permitam o arranque da nossa economia”, uma mento teórico, por mais que esteja na Universida-
vez que é o “trabalho que gera a riqueza” de, também resultou da prática.
(Machel, 1976, p. 4). Com esses exemplos, pretende-se elucidar
Assim, na educação escolar, seria por o uso variado dos conceitos teoria, prática e tra-
meio do trabalho – no sentido de produção, balho na educação moçambicana, os quais tam-
isto é, trabalho na horta da escola – que o bém receberam uma forte influência do maoís-
aluno estabeleceria o vínculo entre teoria e mo. Com efeito, é de Mao Tsé-Tung (1985) a
prática, segundo o objetivo das disciplinas de afirmação segundo a qual “o conhecimento
atividades manuais e laborais22. Essa vinculação começa pela prática, atinge o conhecimento
entre a teoria e a prática, iniciada nas Zonas teórico e volta à prática” (p. 88).
Libertadas, porém também estava fundamenta- Assim, os problemas da relação entre te-
da no positivismo: “a prática era o campo de oria e prática no ideário socialista de Moçam-
verificação das teorias e fonte de todo o verda- bique, dado o peso das diversas correntes te-
deiro conhecimento” (Johnston, 1989, p. 155). óricas que influenciaram a opção socialista ali
É nesse sentido, referindo-se à experiência edu- tomada, tornam frágil a afirmação dos dirigen-
cacional das Zonas Libertadas, que Machel afir- tes moçambicanos sobre a originalidade do seu
mou que, naquelas zonas, marxismo-leninismo e também dos princípios
pedagógicos que norteavam a educação mo-
[…] o estudo engloba as tarefas de produ- çambicana na perspectiva da politecnia. Ade-
ção, a teoria forja-se na prática e regressa mais, Luis Felipe assegurou que
na prática para se enriquecer com as expe-
riências da sua aplicação concreta. Nestes […] esse tema da educação politécnica, no
centros, os estudantes demonstraram que a sentido como os países socialistas a tinham
ciência nasce do trabalho e nele se desen- nunca foi profundamente aprovado aqui, [...]
volve e só tem sentido quando a aplicamos é verdade que o aluno para aprender tinha
no trabalho. (Frelimo, 1977d, p. 16) que aliar a teoria e a prática. Para nós, não
era pela razão da politecnia, que a gente
Anos antes da independência do país, nem sabia bem o que era, quer dizer, nunca
em face aos problemas que se verificaram no abordamos com propriedade o conceito da
seio da Frente 23, Machel (1974) lembrou aos
militantes e militares da importância da prática 21. Vide Manual de Atividades laborais (INDE, 1985).
22. Samora Machel aponta entre os problemas, o espírito de deixa andar,
como fonte do conhecimento: de vitória fácil, ou seja, havia, no seu entender, certo relaxamento no seio
dos militantes e militares da Frente.
23. Luis Felipe, ex-chefe do Gabinete do Sistema de Educação no ex-
[...] isto é mais importante quando o fenô- Ministério de Educação e Cultura de Moçambique. Entrevista concedida ao
meno em análise é uma experiência rica, autor da pesquisa, em Maputo, em 15 de Janeiro de 2005.
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dirigentes (MEC, 1979). educacional em relação ao período colonial. So-
Dado que a Frelimo afirmou que era repre- mente para exemplificar, deixou de haver dois sis-
sentante da classe trabalhadora, a ligação entre o temas educacionais em Moçambique e um maior
estudo e o trabalho no processo educativo tam- número de moçambicanos teve acesso à educação
bém visava formar nos alunos a mentalidade de escolar comparativamente ao período colonial
trabalhadores. Assim, por meio da prática, que (PNUD, 2000).
compreendia o trabalho no sentido de produzir Os dirigentes de Moçambique também as-
no campo da escola, pretendia-se levar o “estu- sinaram acordos de cooperação com países do
dante a desenvolver o gosto e o amor pelo tra- bloco socialista, com destaque para Cuba e a ex-
balho e os trabalhadores” (Mined, 1988/9, p. 57). União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS),
A ligação da escola com o trabalho pro- para onde foram enviados muitos moçambicanos25.
dutivo também deveria ser efetivada, levando o Naqueles países, estes deram continuidade aos seus
aluno a uma unidade de produção (fábrica), estudos secundários, técnico-profissionais e mes-
quer durante o período letivo, quer durante as mo superiores.
férias. Com isso, completava-se a educação para Em que pesem essas realizações, o princí-
o amor ao trabalho e ao trabalhador, pois alguns pio de ligação entre a teoria e a prática serviu de
alunos, sendo individualistas e elitistas, despre- critério para a seleção educacional. Com efeito, os
zavam as massas trabalhadoras (Machel, 1977). dirigentes defendiam “a igualdade de oportunida-
Com isso, a educação socialista moçam- des que tem qualquer cidadão de acesso a todos
bicana, orientada pelo conceito de politecnia, os níveis de educação, com base na introdução da
mostrou-se limitada quanto ao propósito trans- escolaridade obrigatória, gratuita, universal e laica”
formador defendido pelos dirigentes em função (MEC, 1980, p. 2). No entanto, em face da reivin-
do limitado entendimento e aplicação desse dicação popular pela educação, os dirigentes, sob
conceito na educação; da simples repetição do justificativa de conter e controlar a explosão esco-
discurso maoísta e stalinista, sem de fato de- lar, regulamentavam a limitação de acesso:
marcarem o âmbito dessas tendências marxis-
tas. O princípio de ligação entre a teoria e a O ministério da Educação, no quadro de uma
prática e entre a escola e o trabalho serviu para planificação central, definirá o número de
afirmar a ditadura do partido. alunos que poderão anualmente ingressar nas
escolas primárias, secundárias e superiores,
Contradições do discurso bem como o número, localização e tipos de
socialista escolas que deverão ser abertas em cada ano.
(Resolução 8/79 de 3 de julho de 1979, n. 2)
Além de a educação moçambicana ter se O dispositivo legal ainda refere que no âm-
mostrado limitada em relação ao propósito trans- bito das tarefas revolucionárias, os grupos
formador, o discurso socialista que acompanhou de vigilância deveriam zelar para que os
essa educação foi contraditório. Os dirigentes alunos que terminassem a quarta série, mas
moçambicanos defendiam, entre vários ideais so- sem poderem continuar com os estudos,
cialistas, a igualdade socioeducacional, razão ‘não afluíssem aos centros urbanos’. (Reso-
por que criticaram o elitismo do sistema de en- lução 8/79 de 3 de julho, n. 3)
sino colonial e propuseram o princípio de liga-
ção entre a teoria e a prática no processo Desse modo, os dirigentes do partido e
educativo, cuja tradução estaria no caráter do Estado, ao mesmo tempo em que defendi-
politécnico da educação. am a massificação da educação, impediam, nos
Não se pode afirmar que não houve reali-
zações significativas em Moçambique no âmbito 25. No Brasil, seriam as secretarias municipais de educação.
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trabalho qualificada para a efetivação do PPI que introduzir a prática de pagar menos”
(Mazula, 1995) e do professorado para as tarefas (Frelimo, 1983b, p. 67). Com essa práxis, argu-
educacionais, que a escola socialista moçambicana mentaram os dirigentes moçambicanos,
foi (e ainda continua) dualista: de um lado, o
ensino geral e, de outro, o técnico-profissional, [...] caminharemos seguramente para a
desde o nível elementar até o médio. materialização do princípio socialista de
Com esse dualismo, a educação socialista cada um segundo as suas capacidades e a
moçambicana promoveu a divisão técnica do tra- cada um segundo o seu trabalho. (Frelimo,
balho, pois não ofereceu a todos os moçam- 1983b, p. 67)
bicanos as mesmas oportunidades de adquirirem,
na mesma escola, as bases técnico-científicas Se cada um teve acesso à escola dife-
para transformarem a natureza e a sociedade, rente, como exigir a mesma capacidade e qua-
segundo defenderam os dirigentes e intelectu- lidade de produção? Eis a contradição de um
ais moçambicanos quando propuseram a poli- discurso socialista.
tecnia como base do processo de formação do
Homem Novo. Considerações finais
Numa situação de privilégios, “os filhos
das elites dirigentes e de certas elites bem con- Afirmou-se, na introdução do presente tra-
ceituadas” (Mazula 1995, p. 139), a partir da balho, que se pretendia fazer uma análise da fun-
influência e das intervenções dos pais no parti- damentação do conceito de politecnia presente no
do e no Estado, não eram afetos ao ensino téc- projeto socialista para a educação moçambicana,
nico-profissional. Continuavam os seus estudos apresentado pela Frelimo, no âmbito da edificação
no ensino secundário geral que dava o acesso à do socialismo em Moçambique.
universidade, “principalmente nos cursos de Da análise da fundamentação do conceito,
medicina, engenharia e direito” (Mazula, 1995, inferiu-se que o entendimento deste foi limitado e
p. 139). Eram os filhos dos camponeses e dos que o discurso socialista que acompanhou essa
operários que, em nome do cumprimento das educação foi contraditório. Não existe uma ordem
tarefas revolucionárias e segundo o princípio de de fatores que, por si só, pode explicar os limites
ligação entre a teoria e a prática, deveriam dos objetivos emancipatórios e transformadores da
aceitar freqüentar o ensino técnico-profissional educação moçambicana e da contradição do dis-
e os cursos de magistério. curso socialista que acompanhou essa educação.
Em nível de discurso socialista, os diri- A coexistência de diversas tendências marxistas e
gentes ainda defendiam, como um dos princí- a não-compreensão do próprio marxismo, por uma
pios universais do marxismo-leninismo, que a boa parte da elite dirigente moçambicana, talvez
“cada um segundo as suas capacidades, e cada ofereça uma chave compreensiva do processo po-
um recebia segundo o seu trabalho” (Frelimo, lítico e socioeducacional moçambicano. Por mais
1977a, p. 74). que esses dirigentes buscassem afirmar a origina-
O trabalho de cada um, feito segundo as lidade do seu marxismo e também dos princípios
suas capacidades, era remunerado por meio de pedagógicos que orientavam a educação escolar
salário. Na definição dos salários, os dirigentes moçambicana, essa originalidade não existiu.
argumentaram que se “deve aplicar o princípio Assim, a fundamentação do conceito de
de pagar mais a quem trabalha mais, a quem politecnia teria resultado da influência do mar-
realiza melhor trabalho e a quem atinge maio- xismo positivista de Mao Tsé-Tung, presente em
res índices de eficiência e de produtividade” muitos discursos de Samora Machel. Ademais, a
(Frelimo, 1983b, p. 66). Assim, para quem pro- falta de profissionais da Educação altamente
duzir menos ou com fraca qualidade, “temos qualificados, logo após a independência, talvez
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Recebido em 01.06.06
Aprovado em 04.09.06
António Cipriano Parafino Gonçalves, doutorando em Educação na UFMG, professor de Filosofia da Linguagem e Filosofia
da Educação na Universidade São Tomás de Moçambique (Maputo) e de Filosofia e Metodologia de Trabalho Científico na
Universidade Técnica de Moçambique, pesquisa na área de Políticas Públicas e Educação, com interesses nas relações entre
trabalho e educação, filosofia e educação e políticas de Ensino Superior.
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