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Prova SentençaCIVIL Estadual

1) SENTENÇA ESTADUAL

RODADA 11.2014

1) SACI ajuizou ação de cobrança de indenização relativa ao seguro DPVAT


em face da Seguradora “CADA UM POR SI”. Narrou na inicial os seguintes
pontos:

a) No dia 10.02.2009 sofreu danos físicos decorrentes de acidente


automobilístico em via terrestre.
b) O laudo conclusivo do IML, produzido no dia 10.03.2009, atestou que o
autor teve perda funcional completa do pé direito;
c) Na sequencia, SACI requereu administrativamente, perante a seguradora
ré, o pagamento de indenização por invalidez permanente. Deu entrada em
tal pedido administrativo no dia 10.04.2009;
d) A seguradora “CADA UM POR SI”, após análise técnica, contestou as
conclusões do laudo emitido pelo IML. Na decisão administrativa, proferida no
dia 10.08.2009, a seguradora comunicou ao autor que não teria ocorrido a
perda funcional apontada, razão pela qual indeferiu o pedido de pagamento
da indenização;

Ante essa breve narrativa, SACI pediu a condenação da seguradora no


pagamento de R$13.500,00 (acrescido de correção monetária e juros), valor
esse correspondente ao teto para ressarcimento de indenização por invalidez
permanente, coberta pelo seguro DPVAT. A ação foi ajuizada no dia
08.04.2012. Apresentou com a inicial, dentre outros documentos, o boletim de
ocorrência relativamente ao fato, laudo confeccionado pelo Instituto Médico
Legal, além de três outros laudos, subscritos por médicos particulares, todos
convergentes quanto à conclusão chegada pelo IML.

A seguradora “CADA UM POR SI”, em sua defesa, alegou ocorrência de


prescrição, uma vez que o ajuizamento ocorreu mais de três anos após o
acidente. No mérito, reiterou o argumento já apresentado em sede
administrativa, no sentido de que não constatou a perda funcional certificada
pelo IML. No que concerne a tal ponto, a ré apresentou resultado da análise
técnica realizada quando do processamento em sede administrativa, ocasião
na qual fora realizada outra avaliação de SACI. Também contestou o valor
pleiteado na inicial, argumentado que, mesmo na hipótese de
reconhecimento em sede judicial da perda funcional do pé direito, o valor da
indenização deveria ser proporcional ao grau da invalidez.

O juízo determinou a realização de perícia por uma junta de três médicos de


sua confiança, já previamente cadastrados na serventia. Realizados os
trabalhos de estudo dos documentos acostados aos autos e novo exame
físico de SACI, a junta médica concluiu que o autor efetivamente teve perda
funcional completa do pé direito, corroborando, portanto, o que atestado no
laudo do IML e nos atestados particulares apresentados pelo autor com a
inicial.

Após vista do laudo produzido em juízo, SACI peticionou apenas para externar
sua concordância. Já a seguradora “CADA UM POR SI” apresentou nova
divergência, desta feita com base em contraponto de seu assistente técnico.
Afirmou que o autor teve “apenas” perda funcional de um dos dedos do pé
direito. Por tal razão, ante esse reconhecimento parcial da lesão, a ré
apresentou, na mesma ocasião, proposta de acordo para encerramento do
processo, admitindo pagar a quantia de R$ 1.350,00, conforme legislação de
regência.

Consultado o autor, este recusou a proposta da ré, reiterando que houve


perda funcional completa do pé direito (não só de um dedo), nos termos de
todas as demais provas já produzidas. De qualquer modo, aproveitando esse
reconhecimento parcial por parte da ré, o autor requereu que, quando do
julgamento do feito, seja proferida ordem judicial no sentido de a seguradora
realizar o pagamento da parte incontroversa, independentemente do trânsito
em julgado.

Autos remetidos ao gabinete do magistrado.

Esses foram os mais relevantes pontos da marcha processual, que teve curso
regular. Na condição de Juiz de Direito competente para apreciação do
caso, profira a decisão que reputar adequada, sendo dispensado o relatório.
Bons estudos!

“Querer vencer significa já ter percorrido metade do caminho”. (Ignacy


Paderewski)
COMENTÁRIOS

TÓPICOS DO CASO – SENTENÇA ESTADUAL – RODADA 11.2014:
 


Para uma melhor divisão da sentença, até mesmo para possibilitar um esquema de
enfrentamento das questões apresentadas, recomenda-se dividir a fundamentação
em tópicos e subtópicos. Além de servir para organizar a sua resposta, tal tipo de
apresentação certamente causa uma boa impressão, pois o examinador facilmente
encontrará os pontos a analisar conforme planilha que carrega.



I – RELATÓRIO: Dispensado pelo enunciado da rodada.
 
 II –


FUNDAMENTAÇÃO:
 
 II.1 – DA ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO (PREJUDICIAL
DE MÉRITO):
 
 Inicialmente, trazemos lição proferida pelo Juiz Federal Alexandre
Henry Alves, no livro “Sentença Cível” (Porto Alegre: Verbo Jurídico 2008). Sobre a
prescrição, explica o doutrinador: “Já falamos anteriormente que alguns autores
dividem as preliminares em processuais e de mérito. A prática mais comum, porém, é
chamar as primeiras simplesmente de preliminares e as outras de prejudiciais de
mérito. Adotando essa denominação mais comum, podemos dizer que as preliminares
se referem realmente a questões processuais que impedem o juiz de analisar o
pedido principal em si, ou ao menos demandam que certas providências sejam
adotadas antes dessa análise. Já as prejudiciais de mérito não são ligadas a questões
processuais, mas dizem respeito diretamente ao mérito, impedindo que ele seja
analisado por questões formais, mas por outros motivos. Entre eles: satisfação do
crédito, decadência, prescrição, etc...” (pg. 169). Nessa perspectiva, considerando a
terminologia mais comumente utilizada, em prova de concurso prefira catalogar a
prescrição como prejudicial de mérito. Apenas como exemplo, transcrevemos abaixo
acórdão do STJ onde se utiliza a nomenclatura mais
costumeira:
 
 “ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR. PERCEPÇÃO DE SOLDO
EM VALOR INFERIOR AO PATAMAR MÍNIMO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO
ACÓRDÃO RECORRIDO. RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO ENQUANTO
PREJUDICIAL DE MÉRITO. EXAME DE NORMAS DE DIREITO LOCAL. SÚMULA
280/STF POR APLICAÇÃO ANALÓGICA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
 1. Não há que se falar na existência de omissões quando ao mérito
da demanda, quando este não foi analisado em face do reconhecimento da incidência
da prescrição do fundo de direito enquanto prejudicial de mérito. 
 2. O exame da
prescrição no caso em concreto inevitavelmente demandaria o revolvimento de direito
local, o que é vedado na via recursal eleita a teor da Súmula 280/STF, por aplicação
analógica.
 (Precedentes: AREsp nº 166.360 - PE (2012/0076188-0) - Relator :
MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA; AREsp nº 176.199 - PE (2012/0097028-7) -
Relator: MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO; AREsp nº 172.033 - PE
(2012/0087545-8) - Relator MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES).
 3. Agravo
regimental a que se nega provimento.
 (AgRg no AREsp 155.872/PE, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/06/2012, DJe
03/08/2012)”
 
 Outro ponto diz respeito à ordem de enfrentamento da alegação de
prescrição. Por se tratar, como a própria terminologia mais comum indica (vide acima),
de matéria prejudicial ao exame do mérito (em sentido estrito), o exame sobre
ocorrência ou não de prescrição deve ser realizado antes de juízos ou raciocínios
jurídicos quanto à existência do direito alegado no caso concreto, ou seja, antes do
exame do mérito propriamente dito. Sendo assim, a prescrição deve ser analisada
depois das preliminares e antes do mérito propriamente dito. Acrescentamos, ainda,
que a própria lei define ser a prescrição matéria de mérito (art. 269 do CPC), por tal
razão, caso se dividida a sentença em tópicos e subtópicos, evidente que o exame de
tal matéria deveria vir dentro do tópico atinente ao mérito, mas antes da análise do
mérito propriamente dito. Assim, visando evitar qualquer tipo de dúvida quanto à
correta divisão da sentença, sugerimos que se abra um tópico específico para
apreciação de possível arguição de prescrição, intitulando tal tópico como, por
exemplo, “Da prescrição (prejudicial de mérito):”, para, na sequencia e na hipótese de
rejeição da prejudicial (por óbvio), ser feita a análise sobre a existência do direito em
si em tópico sob o título “Do mérito propriamente dito”. 
 
 Pois bem, voltemos agora
ao caso da rodada. Relembremos as datas consignadas no enunciado da rodada: a)
10.02.2009: foi a data do acidente; b) 10.03.2009: data do laudo conclusivo do IML; c)
10.04.2009: data de entrada no requerimento administrativo; d) 10.08.2009: dia em
que SACI tomou conhecimento da decisão da seguradora CADA UM POR SI; e)
08.04.2012: ajuizamento da ação.
 
 A primeira etapa para resolver a questão é
verificar qual o prazo prescricional na espécie, bem assim o seu termo inicial (termo a
quo). De acordo com a súmula 405 do STJ, o prazo prescricional relativamente a
pedidos de indenização pelo seguro DPVAT é de 3 (três) anos. O fundamento
utilizado para tal definição é o art. 206, §3º, IX, do Código Civil.
 
 Já quanto ao termo
inicial, tem entendido o Tribunal da Cidadania que o termo inicial corresponde o dia
em que o autor da ação de indenização teve ciência inequívoca da incapacidade
laboral. No ponto, diz o STJ que tal dia corresponde, em regra, ao do laudo definitivo
produzido pelo IML. Alguns precedentes:
 
 “CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. SEGURO DPVAT. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART.
535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. PRESCRIÇÃO. OCORRÊNCIA. NOVO CÓDIGO
CIVIL. REGRA DE TRANSIÇÃO DO ART. 2.028. TERMO INICIAL DO PRAZO
PRESCRICIONAL. DATA EM QUE O SEGURADO TEVE CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA
INVALIDEZ PERMANENTE. SÚMULA 278/STJ. REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7
DO STJ. INCIDÊNCIA.
 1. Não há ofensa ao art. 535 do CPC se o tribunal se
pronuncia suficientemente sobre as questões relevantes à lide, sem incorrer em
nenhum dos vícios elencados na referida norma.
 2. O prazo prescricional para
propositura da ação de cobrança relacionada ao seguro obrigatório DPVAT é de três
anos, conforme disposto no art. 206, § 3º, IX, do novo Código Civil, observada a regra
de transição de que trata o artigo 2.028 do aludido diploma legal. 
 3. "O termo inicial
do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve
ciência inequívoca da incapacidade laboral. - Súmula n. 278/STJ".
 4. Inviável o
recurso especial cuja análise das razões impõe reexame da matéria fática da lide, nos
termos da vedação imposta pelo enunciado nº 7 da Súmula do STJ. 
 5. Agravo
regimental a que se nega provimento.
 (AgRg no Ag 1334648/MT, Rel. Ministra
MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 11/02/2014, DJe
28/02/2014)”
 
 “AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE
COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO DECORRENTE DE SEGURO OBRIGATÓRIO
(DPVAT) - DECISÃO MONOCRÁTICA NEGANDO SEGUIMENTO AO RECLAMO.
INSURGÊNCIA DO AUTOR.
 1. Violação do artigo 535 do CPC não configurada.
Acórdão local que enfrentou todos os aspectos essenciais à lide. 
 2. Termo inicial do
prazo prescricional para exercício da pretensão de cobrança de seguro obrigatório.
1.1. "O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que
o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral" (Súmula 278/STJ). 
 1.2.
Em regra, o beneficiário do seguro DPVAT tem ciência inequívoca de sua invalidez
permanente na data da emissão do laudo médico pericial. Nada obstante, na hipótese
dos autos, o Tribunal local entendeu que a ciência inequívoca da invalidez
permanente ocorreu em data anterior ao laudo (elaborado onze anos após o acidente
automobilístico ocorrido em maio de 1996), tendo em vista a inexistência de prova da
realização de tratamento médico, tendente à reversão da enfermidade, durante o
lapso temporal decorrido entre o sinistro e a lavratura da perícia. Incidência da Súmula
7/STJ.
 3. Agravo regimental desprovido.
 (AgRg no REsp 1305993/MT, Rel. Ministro
MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 10/09/2013, DJe
24/09/2013)”
 
 “AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO. PRESCRIÇÃO TRIENAL. TERMO INICIAL.
SÚMULAS N. 278 E 405 DO STJ.
 1. A ação de cobrança do seguro obrigatório
DPVAT prescreve em três anos.
 2. O prazo prescricional na ação de indenização
inicia-se na data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral,
ficando suspenso até a resposta de requerimento administrativo de pagamento da
indenização.
 3. Não tendo havido requerimento administrativo, o termo inicial é a
data do evento.
 4. Agravo regimental provido.
 (AgRg no AREsp 173.988/GO, Rel.
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/08/2013,
DJe 19/08/2013)”
 
 Assim, considerando os elementos colocados no enunciado da
questão, fica evidente que SACI tomou conhecimento da lesão na data da produção
do laudo pericial pelo IML, produzido um mês após o acidente. Calha aqui fazer uma
diferenciação importante! Em casos específicos em que o segurado obtém uma
determinada indenização em decorrência do seguro DPVAT, isso em sede
administrativa, e depois vem a juízo cobrar complementação da indenização, por
entender que recebeu menos do que o devido, nessa específica situação, tem
entendido o STJ que o prazo prescricional corre a partir da data do pagamento
realizado pela seguradora (considerado a menor pelo segurado). Confira-
se:
 
 “PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE
COBRANÇA. SEGURO DPVAT. COMPLEMENTAÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL
TRIENAL. PRECEDENTES.
 1. Nos termos da jurisprudência do STJ, a prescrição da
pretensão de cobrança de complementação do seguro DPVAT prescreve em três
anos, a contar do recebimento administrativo a menor.
 2. Agravo não
provido.
 (AgRg no REsp 1382252/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 27/08/2013, DJe 30/08/2013)”
 
 “AGRAVO REGIMENTAL EM
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. COMPLEMENTAÇÃO DO SEGURO DPVAT. 3
ANOS. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
 1. O prazo de
prescrição para o recebimento da complementação do Seguro DPVAT é trienal (art.
206, § 3º, inciso IX, Código Civil) - porque trienal também é o prazo para o
recebimento da totalidade do seguro - e se inicia com o pagamento administrativo a
menor, marco interruptivo da prescrição anteriormente iniciada para o recebimento da
totalidade da indenização securitária (art. 202,inciso VI, Código Civil). 
 2. Agravo
regimental a que se nega provimento.
 (AgRg no AREsp 122.012/SP, Rel. Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 13/03/2012, DJe
19/03/2012)”
 
 Entretanto, como no caso da rodada o que o autor busca é a própria
indenização, haja vista a negativa total em sede administrativa, vale o entendimento
de que o prazo prescricional corre a partir do conhecimento inequívoco das lesões,
conforme precedentes colacionadas anteriormente. 
 
 Realizado esse apontamento,
voltemos à problemática do caso. A data em que SACI teve ciência da lesão foi no dia
10.03.2009. Contando-se 3(três) anos para frente, verificamos que o prazo para
exercício da pretensão findaria no dia 10.03.2012. SACI, por sua vez, ajuizou a ação
somente em 08.04.2012. Caso o raciocínio parasse aí certamente seria o caso de
reconhecer a prescrição. Entretanto, o enunciado da questão apontou outra
informação relevante: houve requerimento administrativo no dia 10.04.2009, sendo
processado até o dia 10.08.2009, quando então SACI foi comunicado do
indeferimento. De acordo com pacífico entendimento do STJ, durante o
processamento do pedido administrativo o prazo prescricional fica suspenso. Sendo
assim, considerando que houve 4 meses de suspensão do prazo, no caso a
prescrição deveria ser rechaçada. Sobre este último entendimento, colhemos o
seguinte julgado:
 
 “CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT. PRESCRIÇÃO TRIENAL. TERMO
INICIAL. DATA EM QUE O SEGURADO TEVE CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA
INCAPACIDADE LABORAL. REEXAME DE FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/STJ.
 1. A jurisprudência desta Corte consolidou
entendimento segundo o qual o prazo prescricional para propositura da ação de
cobrança relacionada ao seguro obrigatório - DPVAT - é de três anos, conforme
disposto no art. 206, § 3º, do Código Civil.
 2. "O termo inicial do prazo prescricional,
na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da
incapacidade laboral" (Súmula n. 278/STJ). Ainda, o pedido referente ao pagamento
de indenização pela seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado
tenha ciência da decisão (Súmula n. 229/STJ).
 3. O Tribunal de origem, com base
nos elementos de prova dos autos, afastou a tese de prescrição, por ser incerto o
termo inicial desta, uma vez que não ficou comprovado que a parte autora foi
cientificada acerca da negativa do pagamento requerido na via
administrativa.
 Dissentir de tal conclusão demandaria o reexame do contexto fático-
probatório dos autos, inviável no âmbito desta Corte, por força do óbice da Súmula n.
7/STJ.
 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
 (AgRg no AREsp
341.788/RS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado
em 15/10/2013, DJe 28/10/2013)”
 
 II.2 – DO MÉRITO PROPRIAMENTE
DITO:
 
 Pretende SACI o recebimento de indenização pelo DPVAT em decorrência
de invalidez permanente decorrente de acidente de trânsito. A lei que trata do seguro
em questão é a 6.194/74. Sobre a cobertura do seguro, estabelece o diploma legal
(redação atual):
 
 “Art. 3o Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no
art. 2o desta Lei compreendem as indenizações por morte, por invalidez permanente,
total ou parcial, e por despesas de assistência médica e suplementares, nos valores e
conforme as regras que se seguem, por pessoa vitimada: (Redação dada pela Lei nº
11.945, de 2009). (Produção de efeitos).
 a) (revogada); (Redação dada pela Lei nº
11.482, de 2007)
 b) (revogada); (Redação dada pela Lei nº 11.482, de 2007) 
 c)
(revogada); (Redação dada pela Lei nº 11.482, de 2007) 
 I - R$ 13.500,00 (treze mil e
quinhentos reais) - no caso de morte; (Incluído pela Lei nº 11.482, de 2007) 
 II - até
R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de invalidez permanente; e
(Incluído pela Lei nº 11.482, de 2007)
 III - até R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos
reais) - como reembolso à vítima - no caso de despesas de assistência médica e
suplementares devidamente comprovadas. (Incluído pela Lei nº 11.482, de
2007)”
 
 A ocorrência do acidente em si é fato incontroverso, uma vez que a tese de
defesa central diz respeito tão somente à ausência de lesão em decorrência do
acidente e, posteriormente, mais ao final do processo, sobre o grau desta lesão.

 
 Quanto à existência da lesão, bem assim o seu grau, o enunciado da questão
forneceu uma série de provas que indicariam a ocorrência efetiva de lesão, sendo
esta definida como perda funcional completa do pé direito. Nesse sentido: laudo
pericial produzido pelo IML; pareceres/atestados assinados por três médicos
particulares; por fim, laudo pericial produzido por junta médica designada pelo juízo.
Assim, a despeito de a seguradora ter realizado uma avaliação administrativa
contrária, o conjunto probatório circunstanciado no caso apontava claramente para a
comprovação da perda funcional alegada pelo autor. Outro ponto do enunciado que
sinaliza para a conclusão quanto à comprovação da lesão diz respeito à modificação
do entendimento da empresa ré, isso com base em parecer de seu assistente técnico
em juízo, no sentido de que haveria lesão apenas de um dedo do pé
direito. 
 
 Tendo como provada a ocorrência de perda funcional completa do pé
direito, resta analisar o segundo ponto de controvérsia. Diz respeito à extensão da
indenização. A lei 6.194, quanto ao ponto, preceitua: 
 
 “§ 1o No caso da cobertura
de que trata o inciso II do caput deste artigo, deverão ser enquadradas na tabela
anexa a esta Lei as lesões diretamente decorrentes de acidente e que não sejam
suscetíveis de amenização proporcionada por qualquer medida terapêutica,
classificando-se a invalidez permanente como total ou parcial, subdividindo-se a
invalidez permanente parcial em completa e incompleta, conforme a extensão das
perdas anatômicas ou funcionais, observado o disposto abaixo: (Incluído pela Lei nº
11.945, de 2009). (Produção de efeitos).
 I - quando se tratar de invalidez permanente
parcial completa, a perda anatômica ou funcional será diretamente enquadrada em
um dos segmentos orgânicos ou corporais previstos na tabela anexa, correspondendo
a indenização ao valor resultante da aplicação do percentual ali estabelecido ao valor
máximo da cobertura; e (Incluído pela Lei nº 11.945, de 2009). (Produção de
efeitos).
 II - quando se tratar de invalidez permanente parcial incompleta, será
efetuado o enquadramento da perda anatômica ou funcional na forma prevista no
inciso I deste parágrafo, procedendo-se, em seguida, à redução proporcional da
indenização que corresponderá a 75% (setenta e cinco por cento) para as perdas de
repercussão intensa, 50% (cinquenta por cento) para as de média repercussão, 25%
(vinte e cinco por cento) para as de leve repercussão, adotando-se ainda o percentual
de 10% (dez por cento), nos casos de sequelas residuais. (Incluído pela Lei nº 11.945,
de 2009). (Produção de efeitos).”
 
 Vale enfatizar que de acordo como preceituado
na Lei 11.945/2009, as prescrições acima transcritas produzem efeitos a partir de
16.12.2008, ou seja, antes da ocorrência do acidente com SACI. 
 
 Voltando os olhos
para o anexo 6.194/74, bem assim tendo em consideração o grau da lesão tido como
provado nos autos (perda funcional completa do pé direito) verificamos que o
percentual correspondente que deve incidir sobre o teto estabelecido no art. 3º, II, da
mesma Lei, é de 50%. Sendo assim, como o teto para indenização por invalidez é de
R$13.500,00, SACI deveria receber a indenização de R$6.750,00. 
 
 Assinalamos
que a jurisprudência já vinha há muito tempo referendando essa proporcionalidade na
fixação da indenização. Esse pensamento jurisprudencial está condensado na súmula
474 do STJ: “A indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do
beneficiário, será paga de forma proporcional ao grau da invalidez”. 
 
 II.3 – DO
PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA:
 
 Com a proposta de acordo feita pela
seguradora CADA UM POR SI, o autor SACI deduziu, na verdade, um pedido
antecipatório da parte incontroversa, vale dizer, a quantia de R$ 1.350,00. Veja que
constou do enunciado: “Já a seguradora “CADA UM POR SI” apresentou nova
divergência, desta feita com base em contraponto de seu assistente técnico. Afirmou
que o autor teve “apenas” perda funcional de um dos dedos do pé direito. Por tal
razão, ante esse reconhecimento parcial da lesão, a ré apresentou, na mesma
ocasião, proposta de acordo”. Houve um reconhecimento, mesmo que parcial, da
lesão, motivo pelo qual, com base no art. 273, § 6º, seria recomendável o deferimento
da tutela antecipada na sentença, relativamente à parte incontroversa. 
 
 Chamamos
a atenção para a clareza do enunciado ao consignar que a empresa ré havia
reconhecido parcialmente a lesão. Vale dizer, a proposta de acordo não teve como
finalidade somente e simplesmente encerrar o processo, sem qualquer
referência/vinculação ao elemento material de fundo, tendo em conta os próprios
termos utilizados na petição da seguradora para formular a proposta de transação. Em
outras palavras, após a última manifestação da ré, considerando os princípios da boa-
fé processual e do “venire contra factum proprium”, a seguradora não poderia
argumentar que apenas propôs acordo, sem aceitar a procedência, mesmo que
parcial do pedido. Relembramos, ainda, que a proposta de transação teve como pano
de fundo o reconhecimento por parte da mesma de uma lesão menor do que a
alegada pelo autor. Sendo assim, no mínimo estaria assegurada a lesão de menor
gravidade, o que evidencia a existência de parte incontroversa. 
 
 Sobre o instituto
previsto no §6º, do art. 273, discorrem Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero:
“Incontroverso é aquilo sobre o que não há discussão entre as partes. A incontrovérsia
pode defluir do não desempenho do ônus de impugnação específica das alegações
fáticas do autor (art. 302, CPC), de transação parcial, de reconhecimento jurídico do
pedido parcial, de admissão em audiência de alegações de fato incontroversas e, em
geral, da existência no processo de alegações de fato que não dependem de prova
(art. 334, CPC)” (“Código de Processo Civil comentado artigo por artigo” – 3ª Edição;
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011). No caso da rodada, a ré, após
ciência do laudo produzido em juízo, ao tempo em que peticionou propondo uma
transação parcial, também expressamente passou a reconhecer a existência de uma
lesão também parcial. Nesta parcialidade do reconhecimento e proposta reside a
parte incontroversa, o denominador comum, digamos assim. 
 
 Por oportuno, sobre a
antecipação da parte incontroversa já decidiu o STJ da seguinte
forma:
 
 “RECURSOS ESPECIAIS. PROCESSUAL CIVIL. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO DO ART. 273, § 1º,
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
ARTIGO 273, § 6º, DO CPC. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA PARA LEVANTAMENTO
DO VALOR INCONTROVERSO DO CRÉDITO. POSSIBILIDADE. CONSECTÁRIOS
DA CONDENAÇÃO. CABIMENTO.
 1. Não importa negativa de prestação
jurisdicional o acórdão que adotou, para a resolução da causa, fundamentação
suficiente, porém diversa da pretendida pela recorrente, para decidir de modo integral
a controvérsia posta. De tanto resulta que não há falar, na espécie, em violação do
artigo 535 do Código de Processo Civil, visto que inexiste qualquer vício a ser sanado
em sede de embargos de declaração.
 2. A tese recursal vinculada ao § 1º do artigo
273 do CPC, diversa da suscitada nas razões dos aclaratórios, não foi debatida no
acórdão hostilizado, sequer de modo implícito, não tendo servido de fundamento à
conclusão adotada pelo Tribunal de origem. Resta desatendido, portanto, o requisito
específico de admissibilidade do recurso especial concernente ao prequestionamento,
o que atrai o óbice constante na Súmula nº 211 desta Corte (v.g.: REsp 775.841/RS,
Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 26/3/2009).
 3. Se um dos pedidos, ou parte deles, já
se encontre comprovado, confessado ou reconhecido pelo réu, não há razão que
justifique o seu adiamento até a decisão final que aprecie a parte controversa da
demanda que carece de instrução probatória, podendo ser deferida a antecipação de
tutela para o levantamento da parte incontrovesa (art. 273, § 6º, do Código de
Processo Civil).
 4. Não se discute que a tutela prevista no § 6º do artigo 273 do CPC
atende aos princípios constitucionais ligados à efetividade da prestação jurisdicional,
ao devido processo legal, à economia processual e à duração razoável do processo, e
que a antecipação em comento não é baseada em urgência, nem muito menos se
refere a um juízo de probabilidade (ao contrário, é concedida mediante técnica de
cognição exauriente após a oportunidade do contraditório). 
 Porém, por questão de
política legislativa, a tutela do incontroverso, acrescentada pela Lei nº 10.444/02, não
é suscetível de imunidade pela coisa julgada, inviabilizando o adiantamento dos
consectários legais da condenação (juros de mora e honorários advocatícios). 
 6.
Recursos especiais da STM Networks Inc. e da STM Wireless Telecomunicações
Ltda. não providos.
 (REsp 1234887/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/09/2013, DJe
02/10/2013)”
 
 Acrescentamos que os fundamentos relativos à concessão da tutela
antecipada da parte incontroversa devem ser apresentados, por óbvio, na
fundamentação. No dispositivo, deve ficar consignado o direcionamento da decisão
(deferimento ou indeferimento), bem assim a obrigação imposta no caso de
deferimento (“deferir para que a ré faça...”). 
 
 III – DISPOSITIVO:
 
 Nessa parte,
conforme já orientado acima, o candidato deve ser claro/objetivo e ao mesmo tempo
consignar tudo o que for necessário à compreensão e cumprimento adequado do
julgado.
 
 Como orientado, o comando do dispositivo deve especificar os valores das
condenações e consectários legais, não sendo correto apenas fazer referência “ao
pedido contido na inicial” ou “condenação nos termos da
fundamentação”.
 
 Considerando o que explicitado, elaboramos um exemplo de
comando judicial para o caso: 
 
 “Pelo exposto, nos termos do art. 269, I, do CPC,
JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO para efeito de condenar a ré
CADA UM POR SI na obrigação de pagar indenização ao autor no valor de R$
6.750,00, incidindo sobre tal quantia correção monetária pelos índices oficiais desde o
dia 10.02.2014 (data do fato) e até o dia da citação, quando, a partir de então, incidirá
exclusivamente a taxa SELIC, que engloba tanto juros de mora como correção
monetária. Também DEFIRO o pedido de tutela antecipada para determinar que a
parte ré antecipe o pagamento de parte da obrigação, relativamente à quantia
incontroversa, no valor de R$ 1.350,00 (prazo para cumprimento da tutela: 10 dias).
Custas e honorários compensados, considerando a sucumbência recíproca. Publique-
se. Registre-se. Intimem-se. Local, data e assinatura do(a) Juiz(a)”. 
 
 Quanto aos
juros, correção monetária e demais consectários, ver explicações
abaixo.
 
 DOS JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA:
 
 Sobre o termo inicial dos
juros, estabelece a súmula 426 do STJ: “Os juros de mora na indenização do seguro
DPVAT fluem a partir da citação”. Mesmo nas ações em que se busca o complemento
de indenização decorrente do seguro obrigatório - DPVAT -, por se tratar de ilícito
contratual, os juros de mora devem incidir a partir da citação, e não da data em que
efetuado o pagamento parcial da indenização (Rcl 5.272/SP, Rel. Ministro SIDNEI
BENETI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/02/2012, DJe 07/03/2012). Além de
representar responsabilidade contratual, a obrigação no caso é ilíquida, o que
novamente indica a incidência dos juros de mora a partir da citação (REsp
1098365/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
28/10/2009, DJe 26/11/2009).
 
 Já quanto à correção monetária, considerando que
esta visa tão somente recompor o capital, na ação de cobrança de indenização do
seguro DPVAT o termo inicial corresponde a data do evento danoso (AgRg no AREsp
46.024/PR, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em
16/02/2012, DJe 12/03/2012). No mesmo sentido:
 
 “SEGURO OBRIGATÓRIO
(DPVAT). RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. INVIABILIDADE.
ACIDENTE OCORRIDO ANTERIORMENTE À VIGÊNCIA DA LEI 8.441/92, QUE
ALTEROU A REDAÇÃO DOS ARTIGOS 4, 5, 7 E 12 DA LEI 6.194/74. PAGAMENTO
DE 50% DA INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. CORREÇÃO MONETÁRIA. DATA
DO ACIDENTE. JUROS DE MORA A CONTAR DA CITAÇÃO.
 1. Embora seja dever
de todo magistrado velar a Constituição Federal, para que se evite supressão de
competência do egr. STF, não se admite a apreciação, na via especial, de matéria
constitucional.
 2. O seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos
automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não, é
seguro com propósito eminentemente social, operando "como que uma estipulação
em favor de terceiro". (SANTOS, Ricardo Bechara. Direito de Seguro no Novo Código
Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 564) 3. "O aplicador da lei (notadamente o juiz
na decisão dos casos de espécie) terá de se valer de toda uma técnica, no plano do
desenvolvimento jurídico, ainda que transcendendo à lei (como observa Karl Larenz),
porém mantendo-se 'nos limites das valorações fundamentais do ordenamento
jurídico' sem penetrar no âmbito do 'arbítrio judicial'." (PEREIRA, Caio Mário da Silva.
Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2007, v.1, pp. 187 e 188) 4. A
jurisprudência prevalente nesta Corte aplica os princípios contidos na Lei 8.441/92,
aos termos da Lei 6.194/74, sobretudo aos acidentes ocorridos sob a vigência deste
diploma legal.
 5. A interpretação literal do artigo 7º, § 1º, da Lei 6.194/74, alheia aos
demais dispositivos que o mesmo Diploma legal alberga, bem como ao contexto
histórico de sua criação e seu fim, conduz à inconcebível situação em que seguro com
caráter inequivocamente social possa conceder a quem dele mais necessita apenas
metade da indenização a que faz jus aquele que sabe a identificação do veículo
envolvido e que, por conseguinte, pode mover ação em face do condutor e/ou do
proprietário 
 6. No seguro obrigatório incide correção monetária desde o evento
danoso e juros de mora a partir da citação.
 7. Recurso especial parcialmente provido,
apenas para reconhecer que os juros de mora devem incidir a partir da
citação.
 (REsp 875.876/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 10/05/2011, DJe 27/06/2011)”
 
 Relativamente à taxa de juros,
apesar de ainda haver certa divergência jurisprudencial nas instâncias inferiores, o
Superior Tribunal de Justiça tem decidido que a partir do novo Código Civil a taxa de
juros de mora, com base no art. 406 do referido diploma (“Art. 406. Quando os juros
moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando
provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor
para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional”), deve ser a
taxa SELIC, nos termos da Lei 9.250/95, sendo que esta engloba tanto juros como
correção monetária. Citamos alguns precedentes: A) EDcl no REsp 1312992/RS, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/04/2013, DJe
10/05/2013; B) EDcl no AgRg no Ag 1160335/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe 06/12/2012; C)
EREsp 826.809/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 10/08/2011, DJe 17/08/2011; D) EREsp 645.595/SC, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/2009, DJe
22/10/2009; E) REsp 897.043/RN, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 03/05/2007, DJ 11/05/2007, p. 392. 
 
 Vale esclarecer que a taxa
SELIC não se confunde com o percentual de 1% ao mês, previsto no art. 161, §1º, do
CTN. A taxa SELIC é fixada mensalmente através de ato administrativo do Comitê de
Política Monetária do Banco Central do Brasil (COPOM). Para ilustrar, o COPOM, por
unanimidade e no dia 28.08.2013, decidiu elevar a taxa Selic para 9,00% ao ano, sem
viés. (fonte: http://www.bcb.gov.br/?COPOM177). Ou seja, o patamar de agosto de
2013 da taxa SELIC estava em torno de 0,75% ao mês. 
 
 De outra banda, cediço é
que a taxa SELIC engloba tanto a correção monetária como os juros: a) AgRg no
REsp 1268863/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado
em 08/05/2012, DJe 15/05/2012; b) REsp 1139997/RJ, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/02/2011, DJe 23/02/2011; c) AgRg
nos EDcl no REsp 1074256/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 26/10/2010, DJe 04/11/2010.
 
 Assim, a despeito de ainda
existirem entendimentos respeitáveis no sentido de se aplicar, com base no art. 406
do código civil, o percentual de 1% ao mês previsto no art. 161, §1º, do CTN, o
espelho da presente rodada, baseado na linha traçada pelo STJ, adota como resposta
preferencial a aplicação da taxa SELIC. De relevo chamar atenção para a redação do
art. 406 do Código Civil que expressamente remete como parâmetro para fixação de
juros a taxa relativa aos impostos da Fazenda Nacional. 
 
 Como afirmado, muitos
Tribunais de Justiça ainda não aplicam a SELIC como fator de mora. Em outras
palavras, não seguem o STJ. O concursando não pode fechar os olhos para tal
realidade. Pensando de forma pragmática, considerando essa divergência
jurisprudencial de vários Tribunais Justiça em face do STJ, relativamente à taxa de
juros atual espelhada pelo art. 406 do Código Civil, orienta-se, quando da realização
de concurso público, aplicar, em regra, o entendimento superior, até porque o STJ tem
o papel de uniformizar a interpretação da lei federal. Consignou-se em regra, pois, em
determinada situação específica, pensando também de forma pragmática, pode-se
revelar mais racional a adoção da orientação do Tribunal específico para o qual se
está prestando concurso. Isso ocorre na situação específica de o próprio Tribunal
conduzir o certame (de forma mais clara: na hipótese de o Tribunal, por meio de uma
banca de desembargadores, ser o responsável pela elaboração e efetiva correção das
provas – tais informações geralmente constam nos editais do concurso). 
 
 Por óbvio
que se um Tribunal, por meio de edital próprio e banca de desembargadores, for o
responsável pela elaboração e efetiva correção das provas de concurso para ingresso
na magistratura, a tendência (maior probabilidade) é que adote como correto o
entendimento consentâneo com a sua jurisprudência, sob pena de flagrante
contradição (na prática forense adota um posicionamento; no concurso, adota outra
linha). Por isso a importância de se estudar não só a jurisprudência dos Tribunais
Superiores, mas também a do Tribunal para a qual se presta concurso, notadamente
na hipótese de o Tribunal (banca de desembargadores) ser o responsável pelas
correções. De qualquer sorte, na dúvida, aplique o entendimento
superior.
 
 HONORÁRIOS, CUSTAS E DEMAIS PONTOS FINAIS DO
DISPOSITIVO:
 
 O autor deduziu pedido certo no valor de R$13.500,00, previsto na
lei do DPVAT, mas o julgamento foi no sentido de reconhecer o direito apenas à
metade desta quantia. Neste cenário, conforme julgados abaixo, seria caso de se
reconhecer a sucumbência recíproca, nos termos do art. 21 do CPC. Veja-
se:
 
 “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. DISSÍDIO PRETORIANO. SÚMULA 13/STJ. DESSEMELHANÇA
FÁTICA. CIVIL. INDENIZAÇÃO. CULPA. AFERIÇÃO. REEXAME DE PROVAS.
SÚMULA 7/STJ. CUMULAÇÃO. DANO MORAL E ESTÉTICO. POSSIBILIDADE.
DANOS MATERIAIS. REDUÇÃO. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. REPARTIÇÃO DOS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS RESPECTIVOS.
 1 - Não há omissão no julgamento
do Tribunal de origem quando analisadas todas as questões a ele submetidas. 
 2 -
Aferir a existência de culpa (lato senso) pela ocorrência do acidente é intento que
demanda revolvimento fático-probatório e, portanto, não se submete ao crivo do STJ,
na via especial, ante o veto da súmula 7/STJ.
 3 - As duas turmas de direito privado
deste Tribunal admitem a cumulação dos danos morais com os danos estéticos,
derivados do mesmo fato, quando possível, como determinado, no caso, a apuração
em separado.
 4 - Não se perfectibiliza o dissídio pretoriano quando alguns dos
julgados trazidos à colação são do mesmo tribunal (súmula 13/STJ) e os demais não
guardam semelhança fática com o julgamento em xeque, ou seja, suas bases fáticas
são distintas e, por isso mesmo, não servem como paradigmas.
 5 - Reduzido o valor
inicialmente pedido a título de danos materiais, há sucumbência recíproca, devendo
os honorários pertinentes serem proporcionalmente distribuídos entre as partes. 
 6 -
Recurso especial conhecido em parte e provido apenas para repartir recíproca e
proporcionalmente o pagamento dos honorários advocatícios atinentes à condenação
por danos materiais.
 (STJ – REsp 435.371/DF, Rel. Ministro FERNANDO
GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em 07/04/2005, DJ 02/05/2005, p.
354)”
 
 “Seguro obrigatório (DPVAT) - Cobrança - Diferença securitária - Invalidez
permanente - Pedido inicial julgado parcialmente procedente - Correção monetária -
Termo inicial - Data em que deveria ter sido realizado o pagamento. A correção
monetária, como instrumento de atualização da moeda e seu poder de aquisição,
deve incidir a partir da data do pagamento incompleto. Sucumbência recíproca -
Honorários advocatícios - Artigo 21 do Código de Processo Civil - Incidência.
Decaindo a autora de metade do pedido, configurada a sucumbência recíproca, os
ônus respectivos devem ser carreados a ambos os litigantes, em igual proporção e na
forma do disposto no artigo 21, caput, do Código de Processo Civil. Recurso
improvido. (TJ/SP – Apelação 9000002-96.2012.8.26.0549; 30ª Câmara de Direito
Privado – Relator: Orlando Pistoresi; data do julgamento: 04.09.2013)”
 
 “APELAÇÃO
CÍVEL. SEGURO. DPVAT. SUCUMBÊNCIA RECIPROCA. MANUTENÇÃO DO ÔNUS
DA SUCUMBÊNCIA À AMBAS AS PARTES. VERBA HONORÁRIA.
COMPENSAÇÃO. POSSIBILIDADE. 1.No caso em exame, no que tange ao ônus
sucumbencial, é caso de sucumbência recíproca, na medida em que a parte autora
postula a complementação do montante indenizatório até o teto previsto em lei ou,
alternativamente, ao pagamento de 75% do valor total, sendo reconhecido
judicialmente metade deste percentual. 2.Assim, havendo sucumbência recíproca,
mostra-se possível a compensação dos honorários advocatícios, por força do disposto
no artigo 21, caput, do Código de Processo Civil, inexistindo qualquer ofensa ao artigo
23 da Lei n. º 8.906/94 (Estatuto da OAB). Negado seguimento ao apelo. (TJ/RS –
Apelação Cível Nº 70057945925, Quinta Câmara Cível, Relator: Jorge Luiz Lopes do
Canto, Julgado em 17/12/2013)”
 
 “EMENTA: CIVIL E PROCESSO CIVIL -
INDENIZAÇÃO - SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT - INDENIZAÇÃO DEVIDA -
CONDENAÇÃO EM VALOR INFERIOR AO PLEITEADO - SUCUMBÊNCIA
RECÍPROCA - ART. 21 DO CPC - CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO INICIAL -
ACIDENTE. 
 1. Com a procedência parcial dos pedidos iniciais, houve sucumbência
recíproca, devendo cada parte arcar com metade dos ônus da sucumbência -
inteligência do art. 21 do CPC. 
 2. O enunciado de súmula nº 43 do STJ é claro e
plenamente aplicável à espécie, dispondo que "Incide correção monetária sobre dívida
por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo"; o que se deu com o acidente que
vitimou a parte autora e lhe causou invalidez. (TJ/MG – Apelação 1.070.10.014979-
1/001; 16ª Câmara Cível – Relator: Sebastião Pereira de Souza; Data do julgamento:
28.11.2012)”
 
 “DPVAT. Ação de cobrança. Sentença de procedência. Apelação.
Vítima que não deixou descendente e nem ascendentes, mas outro irmão, além da
autora. Alegado pagamento da indenização àquele beneficiário, sem comprovação,
todavia. Direito da autora que, de qualquer forma, se limita à metade do valor
reclamado, correspondente a 20 salários mínimos, ainda que realizado pela ré o
alegado pagamento na esfera administrativa. Salário mínimo. O salário mínimo que
deve presidir a fixação do quantum indenizatório é o da época do sinistro, e não o da
sentença, tal como resulta da Súmula nº 88 deste E. Tribunal de Justiça: "A
indenização securitária prevista na Lei nº 6194, de 19 de dezembro de 1974, é mero
parâmetro e não contrasta com o disposto no art. 7º, IV, da Constituição Federal,
desde que a condenação seja estabelecida pela sentença em moeda corrente. "Nesse
passo, ". deve a sentença concretizar o quantum a ser pago em reais, convertendo o
valor de salários mínimos para a moeda corrente, na data em que deveria ter ocorrido
o pagamento e, a partir daí, corrigida monetariamente pelos critérios legais."
(justificativa ao enunciado nº 28, aprovado em Armação dos Búzios em 2005)As
Resoluções expedidas pela CNSP e SUSEP não podem se sobrepor às leis federais
que regem a matéria mas, antes, a elas se submetem. Correção monetária e juros da
mora Correção monetária que retroage à data do sinistro, fluindo os juros de mora da
citação, em atenção aos dizeres da Súmula 426 do STJ: "Os juros de mora na
indenização do seguro DPVAT fluem a partir da citação. "Sucumbência recíproca.
Tendo decaído a autora de metade do pedido formulado na inicial, a sucumbência se
revela recíproca, exigindo o rateio das custas e a compensação dos honorários,
observada a regra do artigo 12 da lei 1060/50. Recurso parcialmente provido. (TJ/RJ –
Apelação n.º 0004142-08.2009.8.19.0073; 2ª Câmara Cível – Relator: Maurício
Caldas Lopes; Julgamento: 15.09.2011)”
 
 “CIVIL - PROCESSUAL CIVIL - DIREITO
DO CONSUMIDOR - AÇÃO DE COBRANÇA - CONTRATO DE SEGURO DE
ACIDENTES PESSOAIS - ESTIPULANTE - ILEGITIMIDADE PASSIVA "AD
CAUSAM" - REJEIÇÃO - PRESCRIÇÃO - INAPLICABILIDADE - INADIMPLÊNCIA -
SUSPENSÃO OU CANCELAMENTO AUTOMÁTICO DO CONTRATO -
NECESSIDADE DE INTERPELAÇÃO - VALOR DO PRÊMIO - DEBILIDADE
PERMANENTE EM GRAU MÉDIO - OBSERVÂNCIA A CLÁUSULA CONTRATUAL -
CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO INICIAL - DATA DO SINISTRO -
SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - APLICAÇÃO. 
 1. A responsabilidade da estipulante
deve ser reconhecida quando sua participação extrapola a simples intermediação no
negócio jurídico, considerando, ainda, que a relação jurídica submete-se às regras do
Código de Defesa do Consumidor, que prevê a responsabilidade solidária de todos
que participem da cadeia de consumo, corolário da Teoria da Aparência. 
 2. "O
pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição
até que o segurado tenha ciência da decisão." Súmula 229/STJ. 
 3. O atraso no
pagamento das prestações do seguro não induz à suspensão ou cancelamento
automático do contrato, impondo-se a prévia constituição em mora do devedor. 
 4. A
ocorrência do sinistro restou devidamente comprovada nos autos, assistindo direito ao
autor ao respectivo prêmio. Todavia, inexistindo conclusão pericial de que as
debilidades sofridas pelo autor tenham resultado na sua invalidez permanente, não há
como ser reconhecido o seu direito de perceber o correspondente à indenização, mas
sim, o disposto em cláusula contratual que prevê o pagamento de 50% (cinqüenta por
cento) do prêmio, por se tratar de debilidade permanente de membro superior em grau
médio. 
 5. A correção monetária é mero fator de atualização do valor da moeda,
devendo incidir a partir da data em que se tornou exigível a obrigação, e não do
ajuizamento da ação. Nos casos de cobrança de seguro de acidentes pessoais, os
valores devidos hão de ser monetariamente corrigidos desde a data do sinistro. 
 6.
Havendo pedido certo para o pagamento do valor do prêmio segurado, logrando-se o
autor vitorioso tão somente em relação à metade do "quantum" vindicado, impõe-se a
aplicação da sucumbência recíproca, na forma do "caput" do art. 21, CPC. 
 7.
Preliminares rejeitadas. Recurso da requerida conhecido e não provido. Recurso do
autor conhecido e parcialmente provido. 
 (TJ/DFT, 20080110889040APC, Relator:
HUMBERTO ADJUTO ULHÔA, 3ª Turma Cível, Data de Julgamento:
09/09/2009)”
 
 A despeito dos posicionamentos supra, não se desconhece a
existência de precedentes em sentido contrário, onde se afirma que “a fixação das
verbas indenizatórias em quantias inferiores às pretendidas não configura
sucumbência recíproca” (TJ/RJ – Apelação 0002543-47.2005.8.19.0211; 13ª Câmara
Cível – Relator: Agostinho Teixeira de Almeida Filho; data do julgamento: 12.12.2013).
Entretanto, logicamente que sem desmerecer este último entendimento, adotamos no
caso a resposta preferencial pelo reconhecimento da sucumbência recíproca, na
esteira dos posicionamentos antes colacionados.
 
 Aqui lembramos, também, a
súmula 326 do STJ que diz: “Na ação de indenização por dano moral, a condenação
em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca”.
Atentar para a circunstância de que a súmula faz referência especificamente ao dano
moral.
 
 Por fim, no enunciado da questão não foi explicitado se o procedimento
adotado foi o sumário ou o sumaríssimo, bem assim se o juízo processante foi comum
ou do Juizado Especial Federal. Nesta perspectiva, considerando, ainda, vertente
jurisprudencial no sentido da possibilidade de processamento de feitos do tipo em
qualquer destes procedimentos/juízos (STJ – REsp 146.189/RJ, Rel. Ministro
BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 24/03/1998, DJ 29/06/1998, p.
196; TJ/MA - AC: 175322006 MA , Relator: JAMIL DE MIRANDA GEDEON NETO,
Data de Julgamento: 27/04/2007, SAO LUIS; TJ/SP – Apelação 9096850-
37.1998.8.26.0000; 5ª Câmara de Férias Julho – Relator: Álvaro Torres Júnior; data
do julgamento: 28.07.1999), pontuamos que não seria desarrazoado cogitar de
resposta que consignasse a não condenação em custas e honorários de
sucumbência, isso com base no art. 55 da Lei 9.099/95, apesar de a redação do caso
deixar transparecer que o processamento foi por um rito mais pausado, notadamente
em razão da perícia médica. De qualquer modo, reiteramos que a resposta adotada
no caso seria pela certificação da sucumbência recíproca, tendo em vista os
precedentes anteriormente citados, bem como a marcha processual narrada no
enunciado, inclusive com realização de perícia por junta médica. 
 
 Ao final,
consignar as expressões: “P.R.I. Local, data. Assinatura do Juiz”. 
 
 Conforme já
alertado, o candidato em concurso público não deve colocar um local e/ou data
específica na sua peça (salvo se o enunciado, por algum motivo/razão, expressa
e claramente assim o determine, o que, vale enfatizar, não é praxe), sob pena de
a banca considerar tal procedimento como tentativa de identificação de prova, o
que redundaria na eliminação do certame. Em regra, basta colocar ao final da
sentença/resposta a expressão: “P.R.I. Local, data. Assinatura do Juiz”. 
 


Bons estudos e até a próxima semana.

MELHORES RESPOSTAS

Observação: A escolha da(s) melhore(s) resposta(s) não significa


necessariamente que todos os pontos do espelho foram atingidos, nem que
não há erros pontuais, mas sim que a(s) resposta(s) selecionada(s)
encontra(m)-se entre as melhores apresentadas pelos alunos participantes da
rodada, sem prejuízo de eventualmente existirem outras igualmente boas.
Portanto, além da leitura das sentenças abaixo, recomenda-se a leitura
atenta dos comentários da rodada.

Foram selecionadas as respostas preparadas pelos alunos(as): HELOISA


HELENA PALHARES MONTENEGRO DE MORAES (Curitiba/PR); LUCIANA
ANDRADE MUNIZ DA SILVA (Bauru/SP); THIAGO LEAL PEDRA (Sete Lagoas/MG).

- Sentença produzida por HELOISA HELENA PALHARES MONTENEGRO DE


MORAES (Curitiba/PR):

“Poder Judiciário
Comarca de
__ Vara Cível
Autos nº__
Autor: SACI
Réu: Seguradora CADA UM POR SI

I- RELATÓRIO

II- FUNDAMENTAÇÃO

DA PRELIMINAR:
PRESCRIÇÃO: A defesa alegou a ocorrência da prescrição, uma vez que o
ajuizamento da ação ocorreu mais de três anos após o acidente.
A preliminar não merece ser acolhida.
A Súmula 405 do STJ preceitua que prescreve em 3 anos a ação de cobrança
do seguro obrigatório (DPVAT). Entretanto, diversamente do que alegou a
defesa, o termo inicial do prazo prescricional na ação de indenização é a
data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral
(11/03/09 - Súmula 278 do STJ e artigo 184, CPC).
Ocorre que no dia 10/04/09 o autor requereu administrativamente, perante a
seguradora ré, o pagamento de indenização por invalidez permanente.
Consoante preceitua a Súmula 229 do STJ, esse pedido administrativo
suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da
decisão. A decisão administrativa foi proferida em 10/08/09, ocasião em que
o curso do prazo prescricional voltou a ter curso.
A presente ação foi ajuizada em 08/04/12, ou seja, antes do decurso do prazo
prescricional de 3 anos que se daria em julho de 2012.
Sendo assim, não ocorreu a prescrição.

DO MÉRITO:
DA INVALIDEZ PERMANENTE: O DPVAT é o seguro obrigatório de danos pessoais
causados por veículos automotores de vias terrestres criado pela Lei 6.194/74,
com o fim de amparar as vítimas de acidente de trânsito em todo o território
nacional, e prevê indenizações em caso de morte, invalidez permanente,
total ou parcial, além de despesas de assistência médica e suplementares.
O autor juntou na inicial laudo conclusivo do IML, realizado após o acidente,
atestando que o mesmo teve perda funcional completa do pé direito e mais
três laudos subscritos por médicos particulares, todos convergentes quanto à
conclusão chegada pelo IML.
No mérito, a defesa reiterou argumento já apresentado em sede
administrativa, no sentido de que não constatou a perda funcional certificada
pelo IML. Apresentou resultado da análise técnica realizada em sede
administrativa resultado da avaliação feita no autor.
Diante da divergência, este juízo determinou a realização de perícia por uma
junta de três médicos previamente cadastrados. Realizados os trabalhos de
estudos dos documentos acostados aos autos e novo exame físico de SACI, a
junta médica concluiu que o autor efetivamente teve perda funcional
completa do pé direito, corroborando, portanto, o que atestado no laudo do
IML e nos atestados particulares apresentados pelo autor com a inicial.
Após a realização da perícia determinada pelo juízo, a ré apresentou
contraponto do assistente técnico no sentido de que o autor teve apenas
perda funcional de um dos dedos do pé direito.
Analisando as provas colhidas, nota-se que as alegações da defesa não
encontram respaldo probatório. Observa-se que o laudo do IML realizado
após o acidente, o laudo resultante da perícia realizada pela junta médica
deste juízo e mais três laudos subscritos por médicos particulares, atestaram
que SACI efetivamente teve perda funcional do pé direito. Sendo assim, após
cinco laudos serem convergentes no sentido da perda funcional completa do
pé direito, a alegação isolada do assistente técnico da parte ré no sentido de
que houve perda funcional de apenas um dos dedos do pé não merece
prosperar.
Portanto, comprovado o preenchimento dos requisitos da Lei 6.194/74, faz jus
a parte autora ao recebimento da indenização securitária DPVAT, até mesmo
porque, em violação ao disposto no artigo 333, II, do CPC, não cuidou a parte
ré de demonstrar qualquer causa extintiva, modificativa ou impeditiva do
direito autoral.

DO VALOR DA INDENIZAÇÃO: O autor pediu a condenação da seguradora no


pagamento de R$13.500,00 acrescido de correção monetária e juros, valor
esse correspondente ao teto para ressarcimento de indenização por invalidez
permanente, coberta pelo seguro DPVAT.
A ré contestou o valor pleiteado na inicial, argumentando que o valor da
indenização deveria ser proporcional ao grau de invalidez.
Acerca da questão, o STJ editou a Súmula 474 que dispõe que “a indenização
do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do beneficiário, será paga de
forma proporcional ao grau de invalidez”.
Além disso, em atenção ao comando do artigo 3°, §1°, inciso I da Lei n°
6.194/74, o valor da indenização deve ser proporcional ao grau da debilidade
suportada pela parte autora em virtude do acidente automotor.
De acordo com a tabela a que se refere o artigo 3º, §1º, inciso I, da Lei
6.194/74, em caso de perda funcional completa de um dos pés o valor da
indenização deve corresponder a 50% de R$13.500,00, isto é, R$6.750,00.
Importante esclarecer que o acidente ocorreu em 10/02/09, ou seja, após a
edição da medida provisória nº451/08 de 16/12/2008, que instituiu a tabela do
grau de invalidez. A conversão da referida medida provisória na Lei 11.945/09
se deu em 04/06/09, ou seja, após a data do acidente, entretanto em nada
interfere na solução adotada, uma vez que o que interessa é a data da
vigência da medida provisória, sendo que a tabela deve ser aplicada aos
fatos ocorridos após a sua vigência, sob pena de ofensa ao princípio do
“tempus regit actum” e às normas de direito intertemporal.
Desse modo, à titulo indenização pelo seguro DPVAT, acolho parcialmente
pedido autoral para determinar que a parte ré indenize a parte autora na
quantia equivalente a R$6.750,00, valor que deverá ser atualizado
monetariamente nos termos da Súmula 43 do STJ, a partir da data do
acidente, com a incidência de juros moratórios de 1% ao mês, computados a
partir da citação (artigo 406 do CC e Súmula 426 do STJ).

DO VALOR INCONTROVERSO: Diante do reconhecimento parcial da lesão


pela ré e o oferecimento da quantia de R$1.350,00 à título de indenização
pela perda funcional de apenas um dos dedos do pé direito, o autor pleiteou
a condenação da seguradora com o pagamento da parte incontroversa,
independentemente do trânsito em julgado.
O pedido deve ser acolhido, uma vez que a ré reconheceu expressamente a
lesão parcial do autor e ofereceu pagar a quantia de R$1.350,00 como
proposta de acordo para o encerramento do processo.
Importante ressaltar, que a Corte do STJ já acolheu a tese segundo a qual a
multa prevista no artigo 475-J do CPC não se aplica à execução provisória,
incidindo somente após o trânsito em julgado da sentença na hipótese em
que a parte vencida, intimada por intermédio do seu advogado, não cumpra
voluntária e tempestivamente a condenação.

DAS VERBAS SUCUMBENCIAIS: Quanto às verbas sucumbenciais, como o


pedido inicial foi no valor de R$13.500,00, e como a condenação foi imposta
na quantia de R$6.750,00, verifico que no caso há sucumbência recíproca. Na
hipótese de sucumbência recíproca, as custas processuais e os honorários
advocatícios devem ser estipulados proporcionalmente ao “quantum” dos
interesses das partes que restaram atendidos na decisão.
Então, de acordo com as disposições dos artigos 20 e seguintes do CPC, e,
considerado que a parte autora decaiu de cerca de 1/2 do valor do pedido,
as custas processuais e os honorários advocatícios, ora fixados em 10% sobre o
valor da condenação, serão suportados por ela na proporção de 50%, e, pela
parte ré, no percentual de 50%.

III- DISPOSITIVO
Ante o exposto, com base no artigo 269, I, do Código de Processo Civil, JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para resolver o mérito e condenar a
parte ré a pagar à parte autora a importância total de R$6.750,00 (seis mil,
setecentos e cinquenta reais), valor que deverá ser corrigido monetariamente
desde a data do acidente, e acrescido de juros moratórios mensais de 1%,
desde a citação.
Parte do valor total, ou seja, a importância incontroversa de R$1.350,00,
deverá ser paga antecipadamente pela parte ré.
Condeno as partes ao pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação, na proporção de
50% para a parte autora, e de 50% para a parte ré, autorizada a
compensação com base no artigo 21, “caput”, do CPC e na súmula 306, do
STJ.
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se.
Local, data.
Nome e assinatura
Juiz de Direito”

- Sentença produzida por LUCIANA ANDRADE MUNIZ DA SILVA (Bauru/SP):

“Poder Judiciário do Estado


Vara Cível da Comarca do Estado
Requerente: Saci
Requerida: Seguradora "Cada um por si"

Sentença
1 Relatório (dispensado, nos termos do Enunciado)
Fundamento e decido.

2 Fundamentação
Tratam os autos de ação de cobrança de indenização relativa ao seguro
DPVAT, movida por Saci em face da Seguradora "Cada um por si", em razão
da ocorrência de acidente automobilístico em via terrestre que ensejou a
perda funcional completa do pé direito do autor, de acordo com o laudo do
IML, o qual foi corroborado pelo laudo da perícia judicial.

2.1 Preliminar
Em sua contestação, a requerida alegou a ocorrência da prescrição, tendo
em vista o fato de terem decorridos mais de 3 (três) anos entre a data do
acidente e a data do ajuizamento da ação (08/04/2009).
Contudo, tal alegação não prospera.
De fato, de acordo com entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de
Justiça, na Súmula 405, ocorre em 3 anos a prescrição da ação de cobrança
do seguro obrigatório (DPVAT). Porém, o termo 'a quo' se dá, segundo
entendimento do STJ, com o laudo conclusivo do IML, data em que o
segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral (Súmula 278 do
STJ), o que ocorreu apenas em 10/03/2009.
Ademais, em data de 10/04/2009, o autor requereu administrativamente o
pagamento de indenização por invalidez permanente, sendo que a decisão
administrativa indeferindo tal pedido somente foi comunicada em 10/08/2009.
Neste período, o prazo prescricional ficou suspenso, segundo redação da
Súmula 229 do STJ, e, assim, a prescrição apenas se configuraria em
09/07/2012.
Por tal razão, tem-se afastada a preliminar.

2.2 Mérito
Meritoriamente, tem-se de um lado o pedido do autoro de condenação da
seguradora ao pagamento de R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais), valor
correspondente ao teto para ressarcimento de indenização por invalidez
permanente, e, de outro, tem-se alegação da requerida de que não teria
ocorrido a perda funcional apontada e afirmando, subsidiariamente, que o
valor da indenização deveria ser proporcional ao grau de invalidez.
O laudo da perícia judicial corroborou o que fora atestado no laudo do IML,
ou seja, de que o autor teve perda funcional completa do pé direito. Desta
forma, apesar da divergência ao laudo apresentada pela requerida, com
base em contraponto de seu assistente técnico, afirmando que o autor teve
"apenas" perda funcional de um dos dedos do pé direito, admitindo pagar
apenas a quantia de R$ 1.350,00 (um mil trezentos e cinquenta reais),
prevalece o laudo oficial.
Ocorrendo divergência entre o laudo médico juntado pelas partes e a perícia
realizada por perito nomeado pelo juízo, deve prevalecer o laudo oficial, por
ser realizado por profissional distante do interesse das partes.
Com relação ao valor de indenização pleiteado na inicial, assiste razão à
requerida ao afirmar que o valor deveria ser proporcional ao grau de
invalidez.
A redação da Súmula 474 do STJ dispõe que em caso de invalidez parcial do
beneficiário, a indenização do seguro DPVAT será paga de forma
proporcional ao grau de invalidez.
O artigo 3º, inciso II, da Lei 6194/74, com redação dada pela Lei 11482/07,
afirma que no caso de invalidez permanente o valor da indenização será de
até R$ 13.500,00. Com efeito, a expressão "até" indica a existência de uma
gradação, conforme o grau de invalidez da vítima.
Na hipótese dos autos, a perícia médica do IML, corroborada pela judicial,
constatou que, em razão do acidente, houve perda funcional completa do
pé direito. Assim, tem-se estabelecido grau de invalidez permanente parcial
do requerente.
De acordo com o §1º do artigo 3º da Lei 6194/74, no caso de invalidez
permanente, as lesões podem ser classificadas em invalidez permanente total
ou parcial, subdividindo-se a parcial em completa e incompleta, conforma a
extensão das perdas anatômicas ou funcionais.
A hipótese constatada nos autos, qual seja, perda funcional completa do pé
direito, enquadra-se como dano corporal segmentar (parcial) no anexo à Lei
6194/74, fixando-se percentual da perda em 50% do valor total para
indenização, ou seja, 50% de R$ 13.500,00, gerando montante de R$ 6.750,00
(seis mil setecentos e cinquenta reais) valor a ser pago ao requerente à título
de indenização.

2.3 Parte incontroversa


Tendo em vista o reconhecimento pela requerida, que admitiu pagar a
quantia de R$ 1.350,00 (um mil trezentos e cinquenta reais), tem-se este valor
como incontroverso, e, consequentemente, a possível concessão da tutela
antecipada, nos termos do §6º do artigo 273 do CPC. Neste caso, o
julgamento da tutela antecipada não é por verossimilhança, mas sim por
direito evidente, não contestado.
Desta fora, concedo a antecipação da tutela a fim de determinar o depósito
em juízo do valor incontroverso pela requerida, bem como seu possível
levantamento pelo requerente.

3 Dispositivo
Ante o exposto, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para condenar a
Seguradora "Cada um por si" ao pagamento da indenização no montante de
R$ 6.750,oo (seis mil setecentos e cinquenta reais) ao requerente, valor este a
ser corrigido monetariamente desde a data do acidente e acrescido de juros
de mora de 1% ao mês a contar da citação, nos termos da Súmula 426 do STJ.
Concedo a tutela antecipada, nos termos do §6º do artigo 273 do CPC, para
condenar o réu ao pagamento de R$ 1.350,00, valor incontroverso.
Ante a sucumbência recíproca em igual proporção, cada parte arcará com
os honorários de seu patrono, bem como repartirão igualitariamente as custas
e despesas processuais, incluindo a perícia judicial, fixando os honorários do
perito judicial em R$ 2.000,00 (dois mil reais).
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
Local e data.
Juiz substituto.”

- Sentença produzida por THIAGO LEAL PEDRA (Sete Lagoas/MG):

“Protocolo: Processo nº
Natureza: Procedimento Civil
Ação de Cobrança Seguro DPVAT
Autor: SACI
Réu: SEGURADORA CADA UM POR SI.

SENTENÇA

Relatório:
Dispensado nos termos do enunciado da questão.
DA PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO:
A Empresa Ré, alega em preliminar, a prescrição da pretensão do Autor em
reclamar a indenização pelo pagamento do seguro DPVAT, uma vez que,
transcorrido mais de três anos do acidente e da propositura da presente
ação.
Trata-se o presente caso, de ação de cobrança de seguro obrigatório DPVAT
ajuizada pelo autor em 08/04/2012, com base em invalidez permanente
decorrente de acidente ocorrido em 10/02/2009.
Conforme se depreende dos autos, o Autor requereu administrativamente o
pagamento do seguro DPVAT em 10/04/2009, sendo que, somente em
10/08/2009 a Empresa Ré manifestou sua negativa ao pagamento do seguro.
Consta ainda nos autos, que o Autor somente teve conhecimento da
estabilidade de sua lesão em 10/03/2009, quando da entrega do laudo
conclusivo do IML.
A legislação civil brasileira, dita que o prazo prescricional para cobrança da
indenização securitária, decorrente do seguro de responsabilidade civil
obrigatório, passou a ser o de 3 (três) anos do artigo 206, §3°, IX, CC/2002.
Neste sentido também é a jurisprudência do STJ, que possui sumulado o
entendimento de que a prescrição da pretensão para cobrança do seguro
DPVAT é de 3 anos – súmula 405.
No que tange ao início do prazo prescricional, a jurisprudência também é
pacífica no sentido de que este somente se inicia quando a vítima toma
conhecimento inequívoco de sua invalidez permanente, e não do momento
do acidente.
Sendo assim, pela teoria da actio nata, somente em 10/03/2009, teve início o
prazo prescricional no presente caso.
Não obstante, e em tempo hábil, o Autor requereu administrativamente no dia
10/04/2009, o pagamento do seguro DPVAT junto à empresa Ré, sendo que,
somente em 10/08/2009 obteve resposta sobre o indeferimento do pedido.
Neste contexto, o pedido administrativo realizado junto à Seguradora,
suspende o prazo prescricional, sendo que, o mesmo somente se plenificaria
em 10/07/2012, interpretação esta em aplicação da inteligência da súmula
229 do STJ.
Ante o exposto, rejeito a preliminar de prescrição apresentada pela Empresa
Ré.

DO MÉRITO
A demanda proposta pelo Autor Saci, trata-se de ação de cobrança do
seguro DPVAT em detrimento da Seguradora Cada Um Por Si.
Desde já, salienta-se que a ação de cobrança do seguro DPVAT pode ser
proposta contra qualquer seguradora pouco importando se o veículo esteja a
descoberto, uma vez que, a responsabilidade em tal caso decorre do próprio
sistema legal de proteção.
a) Da lesão sofrida.
Em defesa, a Empresa Ré alega que não houve comprovação da perda
funcional no laudo conclusivo do IML. Além do mais, argumenta em sua
defesa, que houve a confecção de outros laudos avaliativos em sede
administrativa, sendo que, neste não foi apontada a invalidez permanente
funcional alegada pelo Autor.
Contudo, em cotejo às provas dos autos, no que tange aos fatos, restou
devidamente apurado a lesão sofrida pelo Autor em virtude do acidente de
trânsito ocorrido no dia 10/02/2009 – conforme Boletim de Ocorrência em
anexo, fato este incontroverso. No que toca a gravidade da lesão sofrida, o
laudo conclusivo do IML aponta de forma inconteste, que o Autor sofreu lesão
funcional completa e permanente no pé direito – laudo anexo.
Em instrução processual, foi determinada a realização de exame pericial
(art.420 do CPC), sendo o referido exame realizado por junta de três médicos
de confiança do juízo e previamente cadastrados. No relatório final da
perícia, restou apurado que o Autor efetivamente teve perda funcional
completa do pé direito, fato que guarda correlação com o informado no
laudo do IML e nos atestados particulares apresentados pelo autor com a
inicial.
Assim, em que pese a Empresa Ré, discordar do laudo pericial confeccionado
em juízo e do laudo conclusivo do IML, simplesmente por mera divergência do
contraponto de fato apresentado por seu assistente técnico. Entendo que, a
Ré não se desincumbiu de seu ônus probatório de provar os fatos impeditivos,
modificativos ou extintivos do direito do Autor – art.333, inciso II do CPC. Além
do mais, pelo conjunto probatório carreado aos autos, certo e bem
delimitado está o direito do autor no que toca a lesão sofrida e seu grau de
incidência debilidade permanente e completa do pé direito.
Ante o exposto, presente no caso em análise a incidência do art.3º, da Lei
6.194/74, no que toca à invalidez permanente.
b) Do quantum da Indenização.
No que tange ao valor da indenização, o Autor pleiteia a quantia de
R$13.500,00 (treze mil e quinhentos reais), em virtude da invalidez permanente.
Já a Empresa Ré, alega em sua defesa que, alternativamente, caso
reconhecida a perda funcional do pé direito, seja o valor da indenização
fixado de forma proporcional ao grau de invalidez.
A legislação de regência aplicada ao presente caso se resume da
interpretação do CC/2002, com a Lei nº 6.194/74 e a jurisprudência pátria, em
especial destaque para as súmulas do Superior Tribunal de Justiça.
O acidente sofrido pelo autor ocorreu em 10/02/2009, assim, incidente no
presente caso a alteração legislativa promovida pela MP 451/2008, convertida
na Lei 11.945/2009, que passou a classificar as incapacidades de forma a
atender a nova redação do art. 3º da Lei 6.194/1974, prevendo a invalidez
permanente e a parcial, dividindo esta em completa e incompleta, e, fixando
ao final tabela com o percentual de incidência sofre a indenização máxima.
Cabe salientar ainda, que o STJ em diversos julgados, inclusive sob o
procedimento do art.543-C, do CPC – causas repetitivas -, declarou a
validade da tabela introduzida pela MP 451/2008, convertida na Lei
11.945/2009, inclusive, com sua aplicação retroativa a casos ocorridos antes
de 16 de dezembro de 2008.
No caso em tela, ficou devidamente apurado que o Autor sofreu lesão no pé
direito em virtude de acidente de trânsito, sendo que, dita lesão acarretou a
perda funcional completa do pé direito.
Ocorre que, em análise à tabela disposta na lei de regência, a perda
anatômica e/ou funcional completa de um dos pés, acarreta a incidência do
percentual de 50% do valor da indenização máxima disposta no art.3º, inciso I
c/c §1º do mesmo artigo.
Dito entendimento da aplicação da indenização de forma proporcional,
encontra guarida na inteligência da súmula 474 do STJ.
Neste contexto, assiste razão a empresa Ré quanto ao pagamento
proporcional do valor da indenização, tendo em vista a perda funcional de
apenas um dos pés do Autor.

c) Da tutela antecipada.
Após a apresentação do laudo pericial pela equipe técnica designada por
este juízo, a Empresa Ré apresentou concordância parcial com os dados
apresentados no documento técnico, sendo que, na oportunidade ofereceu
ao Autor o pagamento da quantia de R$1.350,00.
O Autor por sua vez, não aceitou o valor oferecido pela Empresa Ré, como
proposta para encerramento da demanda. Porém, manifestou pela
concessão da tutela antecipada no que toca a parte incontroversa
reconhecida pela Seguradora Cada Um Por Si.
Em análise detida ao caso, entendo que incide no presente caso, o disposto
no art.273, §6, do CPC, sendo que, a parte incontroversa pode ser levantada
desde logo pelo Autor, quando beneficiado pela decisão judicial. Porém,
conforme entendimento já consolidado no STJ, esta parcela incontroversa,
não poderá ser acrescida dos respectivos honorários advocatícios e juros de
mora, os quais somente serão fixados ao final pela sentença.

Dispositivo
Ante o exposto, afasto a preliminar de prescrição e nos termos do art. 269, I,
do CPC, julgo parcialmente procedentes os pedidos constantes na inicial,
para condenar a Seguradora Cada Um Por Si a pagar ao Autor: a) o valor de
R$6.750,00 a título de indenização securitária DPVAT, devendo incidir no
presente caso correção monetária de acordo com os fatores de atualização
deste TJ, desde a data do sinistro e juros mora a partir da citação (s.406 STJ),
sendo que, após esta data deverá incidir apenas a taxa Selic, por abranger
correção monetária e juros moratório; b) concedo a tutela antecipada nos
termos do art.273, §6º do CPC da parcela incontroversa do valor,
correspondente a R$1.350,00, não incidirá neste valor juros de mora e
honorários advocatícios; c) Custas e honorários de sucumbência
reciprocamente compensados, nos termos do art.21 do CPC.
Intimem-se. Publique-se. Registre-se.
Local, dia, mês, ano.
Juiz de Direito”

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