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A Objetividade da Subjetividade Saber Humano n.

3 | Junho 2013

A Objetividade da Subjetividade

Alécio Vidor
Faculdade Antonio Meneghetti (AMF)

Resumo: Este é um artigo teórico que possui como escopo o estudo e análise acerca
da temática da objetividade da subjetividade, na Filosofia. O critério do saber
necessita adequação do ser. O corpo não limita suas informações à percepção dos
sentidos externos. Existem outras linguagens corporais que são objeto de estudo para
que o homem conheça a si mesmo em seu aspecto subjetivo. Os métodos podem ser
extrospectivos ou introspectivos desde que o objetivo seja integrar as ciências num
em um único princípio: o ser humano. Os caminhos podem ser diferentes, mas, o
núcleo que dá origem ao saber é o homem. Não basta o saber tecnológico da cultura
construída; hoje é necessário conhecer o homem verdadeiro, para que ele possa ser o
senhor e o condutor de seus produtos, sem ser manipulado ou ofendido em seu valor.
A consciência deve desprender-se da cultura oficial para abrir-se e perceber
informações dinâmicas da atividade psíquica, a fim de ter acesso à inteligência da
vida.
Palavras-chave: objetividade, subjetividade, método.

Abstract: This is a theoretical paper that has as target the study and analysis on the 68
issue of the objectivity of subjectivity in Philosophy. The criterion of adequacy
needs to know to be. The body does not limit your information to the perception of
the external senses. There are other body languages that are object of study for man
to know himself in its subjective aspect. The methods can be extrospectivos or
introspective since the goal is to integrate the sciences into a single principle: the
human being. The paths may be different, but the core that gives rise to know is the
man. Do not just learn the technological culture built, today it is necessary to know
the real man, so it can be master and conductor of its products without being
offended or manipulated in value. Consciousness must become detached from
official culture to open up and realize dynamic information of psychic activit, in
order to gain access to the intelligence of life.
Key-words: objectivity, subjectivity method.

Para a ciência que se reputa domínio sobre a natureza e de poder, para


objetiva, não se leva em conta as manipular. Com estes conhecimentos a
condições subjetivas de quem produz a ciência não tem acesso ao modo de ser e
ciência. Por consequência, fica fora de agir da forma humana, e o homem pode
consideração, a situação subjetiva do ser subjugado por seus produtos,
cientista. O homem deixou de esclarecer considerados científicos.
quem é o homem, excluindo a Para o reconhecimento da
compreensão interna do próprio homem, cientificidade, segundo as normas atuais
do seio científico e, preocupou-se em estabelecidas, basta que o cientista
voltar seu olhar para o externo, obedeça aos seguintes critérios, sem que
construindo uma ciência tecnológica de

VIDOR, Alécio. A objetividade da subjetividade. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 3, p. 68-75,
2013.
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haja exigências de exatidão subjetiva, tal Considerando que o corpo é o


como apontado abaixo: objeto primário das informações
repassadas à consciência, por ser o
Que a manualidade seja executada de mediador e tradutor de qualquer outro
maneira totalmente impessoal, que seja objeto; a consciência necessita perceber
perfeita de modo mecânico e, melhor, se
executada com instrumentos, maquinários
toda e qualquer informação registrada
ou aparelhos sofisticados. Que os pelo corpo, para garantir a objetividade
resultados sejam definíveis e autêntica.
quantificáveis em fórmulas gráficas e, a De fato, existem experiências
novidade, que emergir do experimento, orgânicas que correspondem à ação do
seja exposta em dados estatísticos
significativos. Por fim, o experimento
organismo, quando este ativa a variação
deve ser repetível e que, em paridade de dos sentidos externos em suas relações e
condições ambientais, possa ser refeito contatos, neste caso a consciência pode
por quem quer que seja e em qualquer produzir uma noção e até uma hipótese
parte do mundo... (BROVEDANI, 1989, p explicativa e aplicável ao mundo externo.
.49).
Porém este conhecimento serve-se de uma
informação relativa a uma parte da
Obedecendo estas exigências, o
experiência registrada pelo corpo.
método e as condições estabelecidas,
Porém, existem experiências que
acredita-se que seja possível obter um
produzem variações emotivas, glandulares
experimento objetivo e de valor científico:
e sensações viscerotônicas que afetam
a) Independente de quem realiza;
órgãos internos e que, sendo percebidas,
b) Estatisticamente quantificável
geram conhecimentos de outra ordem.
ou baseado em medida
A primeira modalidade de
material; 69
experiências está reduzida à percepção de
c) Repetível por quem quer que
alguns sentidos do corpo e limita-se a uma
seja e em qualquer lugar desde
interpretação que não representa a
que as condições permitam.
realidade objetiva do corpo todo e não
reflete a informação da mente toda.
Não se pretende, mediante uma
A consciência não percebe estas
análise, negar conhecimentos adquiridos
informações dinâmicas, que revelam se a
através da experiência oriunda de
vida prossegue em ordem, porque a
impressões sensoriais (os cinco sentidos),
consciência foi estampada pelos modelos
desde que tais conhecimentos adquiridos
sociais e pelos modos de fazer ciência e se
por esta via, quando aplicados são
manteve alienada dos valores da vida e da
confirmados e possibilitam uma evolução
saúde.
tecnológica de gradual domínio sobre a
As experiências viscerotônicas
natureza, ou melhor, de equilíbrio entre
registram variações dinâmicas no corpo e
forças da natureza e forças de poder
estas informam ações da atividade
científico.
psíquica e que requer outro nível de
O método proposto é considerado
percepção, mas que fazem parte da
objetivo, caso se aceite a suposição que o
objetividade organísmica. Tal percepção
observador seja isento de interferir no
permite verificar se a atividade psíquica
objeto observado, não podendo atribuir
reflete ordem ou desordem no corpo.
uma versão imprópria ao objeto, por ser
No momento que se isola e separa
determinado pelo objeto externo. No
o sujeito do objeto, abre-se a possibilidade
entanto, o observador pode desconhecer
ao sujeito de, mediante percepção restrita
informações registradas pelo próprio
e limitada do corpo, elaborar conteúdos de
organismo e não percebidas por ele.
projeções conscientes subjetivas que não

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correspondem a informações das ações homem necessita saber se ele decide e age
corretas da vida presente, manifestas no em forma humana no uso da ciência
corpo todo e não percebidas. A mente, tecnológica que é um produto seu e
mantendo-se dividida entre consciência e responsabilidade sua. No caso de
vida não tem condições de equilibrar procedimentos o homem corre o risco de
exigências da vida com os produtos da um desequilíbrio: o homem pode usar seus
consciência. produtos tecnológicos contra o humano
O homem, de fato, só conhece destruindo o homem, caso este não
através de variações do próprio recupere a dimensão humana para
organísmico (= corpo+mente), e se não conduzir seus produtos.
tem acesso a percepções registradas pelo A dissociação entre causas
próprio ser, seu conhecimento deixa de ser externas e causas internas revela uma
objetivo. O princípio que estabelece a ciência unilateral produzida por uma
unidade e a continuidade é o ser. Ser do mente consciente dividida ou
sujeito e ser do objeto relacionam-se em esquizofrênica.
interação ativa e encontram-se unidos e Quando a consciência está presa à
convergentes em ser. O ser humano é cultura interiorizada, ela não tem
psicoorgânico ou organísmico e em base a condições de produzir um saber de outra
seu ser encontra o ser universal, como na ordem, um saber que seja reflexo do
gota se encontra o ser da água. humano ou de sua identidade. O reflexo
A objetividade apela a um reflexo consciente ao formalizar o sentido ou a
inteligente que coincide com as variações noção da experiência ou do experimento
completas e adequadas ao corpo, por ser fica restrito às regras da cultura
este o objeto primário da verdadeira mente assimilada.
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humana. Caso a consciência projeta O reflexo consciente sendo um
noções não conformes à intuição do fenômeno intrapsíquico não
intelecto (o intelecto é o leitor íntimo do necessariamente é idêntico ao mundo
ser), suas noções são opiniões oriundas de físico e por isto se faz necessário um
uma subjetividade comprometida com exame de aspectos subjetivos. A
uma percepção limitada e condicionada consciência pode ter sofrido
em sua atividade, por ser parcial e condicionamentos do ensino imposto, e
comprometida por influências deixar de refletir mensagens de vida que
desconhecidas pela consciência. levam a conhecer valores humanos. As
Ciência, conforme exige o termo, é noções científicas elaboradas podem
o saber coincidente à ação do ser. revelar conhecimentos de causas
A possibilidade de erro não se extremas, mas podem ser destituídos de
origina das experiências, mas da valor real para a vida humana e a
incapacidade da consciência de percebê- humanização.
las e traduzir em reflexo o que o ser As regras ou o método objetivo
informa mediante o objeto corpo. O ser acima estabelecido, quando transferidos
não se reduz a uma parte de informação para elaborar o conhecimento científico,
do corpo, mas corresponde a uma unidade passam a descrever, tão somente, efeitos
de vida que usa corpo e alma para indicar de um inconsciente desconhecido,
o saber humano. mantendo oculta a dimensão subjetiva e
O acréscimo que se pretende dar reforçando, mediante condicionamento
ao método é o de voltar o olhar do interior operante, a uma adaptação de violência à
mundo-da-vida, da atividade psíquica vida. Não parece sensato admitir que
como inteligente condutor do saber eventuais erros e até doenças tenham
humano adequado para humanizar. O

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origem exclusivas em causas externas ou percepção evidente de outro nível,


em exigências do método, não cumpridas. permite-nos fazer ciência, desde que a
Pode-se perceber que erros medida do saber coincide com a dimensão
possíveis, na ciência, provêm da do ser.
inexatidão do cientista; inexato porque A evidência pode ser ampliada,
parte do modo como pensa e não usa a desde que a percepção aprimorada possa
medida integral da vida humana. produzir um conhecimento de valor e
Assim, as regras estabelecidas utilidade para servir a vida humana.
podem valer para pesquisar certo aspecto, Evidências mais altas, difíceis de
mas não podem pretender ser regra única, entender, para uma maioria numérica pode
visto sua unilateralidade. permanecer excluída, por certo tempo, da
Os que estabeleceram tais regras, ciência, porém a ciência não pode ser
excluindo a subjetividade de exame, o medida pela democracia.
fizeram servindo-se de uma percepção Como exigência de objetividade
limitada ou baseados em experiências para o homem, é preciso admitir que o
provindas por impressão de determinados objeto primário de informação é o corpo
órgãos corporais, com exclusão de outros. humano. Por corpo entende-se qualquer
A possibilidade de uma percepção variação biológica, química, orgânica,
de nível mais elevado e que colhe emotiva, pulsional (o coração, o fígado, o
informações dinâmicas, vê-se que foi sexo, a sede, a fome, a agressividade,
excluída da formulação da ciência. No etc.), e qualquer pulsão passa informação
entanto, um cientista que colhe ou percebe e uma ciência deve formalizar
a totalidade das informações conhecimento conforme a ação do próprio
organísmicas, afirma: “Há uma gráfica ser: “Qualquer parte do corpo é um órgão
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invisível, que a intuição da alma colhe, de conhecimento, exatamente como o
sem ver com os olhos, porque os sentidos cérebro; cada uma destas partes é
não entram neste universo de informação especializada em colher a realidade em
espiritual” (MENEGHETTI, 2006, p.116). torno” (MENEGHETTI, 2012, p. 30). Um
Pode-se até suspeitar que, o medo de conhecimento limitado a uma parcela de
alguns indivíduos cultos de efetuar uma informação da vida corporal, não pode
introspecção em si próprios, para conhecer tornar-se o critério de valor único para
o mundo-da-vida interior, dificulte a formalizar toda a ciência.
aceitação de um novo caminho para a A consciência, como instrumento
ciência. que projeta as noções decorrentes de
Por etimologia grega, a palavra experiências sensoriais, está limitada e
„método‟ (metá+odós) significa um determinada pela cultura memorizada e
caminho para alcançar uma meta ou um perdeu a compreensão de informações que
objetivo e que o caminho pode variar o mundo-da-vida transcreve no corpo
segundo o objetivo que se pretende humano. Supõe-se que o critério de valor
alcançar. Não há, necessariamente, um que sustenta a ciência deva ser o modo
único caminho que seja absolutamente como o organismo traduz as informações
válido. transcritas pela ação da natureza humana.
Por outro lado, o método e as Não é o pensar que garante o objetividade,
regras definidas como única válidas para mas é o ser que fundamenta o saber.
produzir ciência, partem do consenso da Uma vez esclarecida esta análise,
autoridade de alguns e, de mim e de tantos vê-se que a consciência necessita de uma
outros, exigem-se a crença em tal revisão para ampliar o saber a tudo o que
proposta. No entanto, a ciência, necessita o corpo informa segundo a ação da alma.
ter como base a evidência. Portanto, uma Se a consciência ao interpretar o real já

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parte comprometida com regras e com a ser não há mais sentido em ter. O ter deve
cultura interiorizada, ela pode distorcer a necessariamente orientar-se para construir
evidência perceptiva da ação vital. melhor o ser e realizar a vida humana.
O critério de segurança, A qualidade é uma propriedade do
externamente proposto para produzir ser, da essência, é uma característica que
ciência, pretende excluir as interferências aperfeiçoa o ser inteligente e o habilita a
subjetivas sem compreendê-las; porém, “o desempenhar funções sempre melhores e
conhecimento em si, objetivamente, é a sobressair por excelência, não apenas para
noção e quem opera a noção é o sujeito. aprimorar a competência profissional, mas
Quando se discute sobre a ciência, se o faz para aperfeiçoar-se na forma humana.
sobre as noções, sobre a representação” É necessário que o modo de pensar
(MENEGHETTI, 2009, p. 46). Quem tenha origem na forma de ser e não apenas
mede a relação dos objetos é a na cultura memorizada e fixa. O direito de
representação consciente e se faz viver sem o dever do trabalho para se
necessário verificar se tal medida não está sustentar, faz nascer a aberração de impor
reduzida a medidas materiais e aos outros os próprios deveres. A vida é
quantitativas devidas à limitação dinâmica e só sustenta o direito de viver
perceptiva e condicionadas. em base à capacidade do dever cumprido
Antes de pretender estabelecer com ela. Assim, o homem necessita
limites à ciência é necessário examinar se, cultivar a competência inteligente criativa
na base está uma ideia ou se a base é de si mesmo, para se qualificar e
sustentada pelo reflexo de vida do homem responsabilizar-se por si mesmo e poder
verdadeiro. A ciência real não se contribuir para a evolução social.
fundamenta numa ideologia, numa Hoje estamos diante de um
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opinião econômica, médica ou moral de desequilíbrio entre o conhecimento
quem pretende conhecer a verdade sem tecnológico do externo e o conhecimento
ser verdadeiro, porque estes supostos da forma original da vida humana. É
valores só refletem a medida da cultura indispensável aperfeiçoar o conhecimento
memorizada. A ideologia, o pensamento do valor humano, sob o risco de que o
ou a cultura não são prioritários, homem passe a usar os produtos
prioritário é o homem exato, aquele que elaborados por ele, para gradualmente
reflete segundo a ordem da própria destruir o valor humano. Trata-se de evitar
natureza. usar a ciência contra o homem.
Não convém construir um saber A falta de um saber que conheça o
que tenha por objetivo subjulgar a vida valor íntimo do homem ou da ordem
humana a ponto de anular sua dignidade interna da vida impede o homem de
pessoal. O econômico serve ao corpo, mas conduzir a própria vida com dignidade e
é indigno usá-lo para manipular e anular a manter-se como senhor de seus produtos e
vida do corpo. Não podemos separar o não ser reduzido a objeto de manipulação,
homem de seus produtos, dando ou até, ser destruído.
autonomia a produtos que não Através de uma percepção que
aperfeiçoam o humano sem salvar o útil e colhe as informações dinâmicas da vida,
funcional à vida e a dignidade do homem. pode-se obter o conhecimento de
A medida quantitativa diz estruturas inconscientes que interferem
referência à matéria, ao ter e esta medida ativamente na consciência, e que impedem
tende a obter mais terreno de domínio a correta versão dos elaborados racionais.
esterno, mas o ter é inteligente enquanto O valor de um método depende da
serve ao ser e à sua realização. É o ser que capacidade e do raio de percepção do
fundamenta o valor do ter. Se perdemos o cientista. A competência em ler todas as

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informações, traduzidas pelo corpo, como de forma humana o poder da tecnologia


mensagens da própria alma, dá ao que foi colocado à sua disposição.
cientista a possibilidade de formalizar a A ciência atual desconhece como
ciência do homem pelo homem. se move o princípio dinâmico que gera a
Forçando o homem a adaptar-se ao experiência e que rege a ordem de base: a
modelo prescrito pela cultura ensinada, atividade psíquica original. Enquanto a
anula-se a inteligência criativa e a ciência consciência é influenciada por memórias
fica bloqueada em sua evolução. A de informações passadas, por motivações
criação e a evolução são qualidades afetivas ou emocionais, por crença ou
necessárias para o aperfeiçoamento do autoridade, a consciência se limita a emitir
homem e de seus produtos. O centro de opiniões, porque permanece dominada por
origem do progresso científico é o interferências subjetivas complexuais.
homem. É indispensável provocar a Complexos latentes na
consciência do homem a coincidir com a subjetividade constroem dinâmicas
ordem íntima da própria natureza para subterrâneas em pesquisas de grupo. Os
produzir ciência de valor humano. acordos opinativos não formam ciência,
Hoje se prioriza o econômico e porque são adaptações aos complexos
coloca-se o homem a serviço de objetos, coletivos inconscientes. A deficiência de
de um ter que desrespeita a ordem do lucidez interior, por falta de evidência, de
próprio ser e não promove evolução de um ou vários pesquisadores, direciona a
inteligência. O processo de falsos resultados a pesquisa de grupo.
condicionamento operante despersonaliza Quem recorre a discussões em defesa de
o homem e o reduz à categoria de objeto ideias consideradas intocáveis,
de manipulação. comumente é distônico à luz do ser. A
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Ciência, em sua origem latina ideia é mutável e relativa e necessita
(scio+entis+actio) significa saber a ação seguir à inspiração criativa da alma, ou da
do ser ou saber como o ente age. O pensar vida.
necessita refletir em coincidência com a A qualidade, em ciência,
variação do ser. O ser humano é mente e independe da quantidade dos que a
organismo em continuidade e a ciência aprovam. A qualidade é uma propriedade
não pode limitar-se à percepção de alguns da exatidão da mente consciente. Uma
sentidos do organismo. O organismo descoberta de um verdadeiro cientista
reflete contínuas linguagens da mente, pode exigir vários anos para ser
através de emoções, mímicas, variações compreendida, visto que estruturas
orgânicas, atos falhos, sonhos e fantasias, subjetivas não permitem ver ou aceitar. Os
etc., e o método positivista não oferece parâmetros fixados, quando interiorizados
condições para decifrar tais linguagens e como absolutos produzem resistência
quando ele é imposto sempre prevalece consciente. Isto já aconteceu, ao longo da
um conhecimento que se mantém história, com Giordano Bruno, Galileu
dissociado do ritmo da vida. Galilei, Sigmund Freud, etc.
O conhecimento do homem pelo Quando a percepção se subordina à
homem ficou marginalizado, e o homem imposição do limite estabelecido, a ação
concentrou seu interesse no mundo vida fica impedida de ser colhida pela
externo e reproduziu em tecnologia de consciência. Se a informação da alma não
propriedades da natureza física e orgânica tem acesso à consciência ela fica impressa
e com tal conhecimento surgiu o em outras linguagens do corpo, como em
desequilíbrio que ameaça o valor da vida esquecimentos, atos falhos sonhos ou
humana. O homem não sabe administrar doenças, conforme salientou Freud.

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O intelecto é uma faculdade da torna-se princípio de alienação da ordem


alma, ele sempre reflete a presença de de natureza. Uma delimitação
ação da vida e o faz por intuição. A metodológica categórica pode ofender a
consciência é uma construção posterior dignidade do homem inteligente e
que se forma por interferência do criativo.
contexto, mediante representação de Não há interesse em criticar a
opiniões e cultura. contribuição científica que muitos
O intelecto vê e lê (intus+legere) a estudiosos deram, mas pode ser vantajoso
ação íntima da vida e distingue o que é acrescentar um complemento que leva a
útil e funcional para aquela forma de vida. conhecer a outra face da ciência: a
A consciência representa alguns impulsos dimensão humana. Unificar as ciências
da vida, mas grande parte do reflexo pode restabelecer o equilíbrio entre o
intelectual se mantém inconsciente, mas homem e seus produtos. Aperfeiçoar o
ativo no organismo. Há casos em que a conhecimento do valor pessoal íntimo e
consciência representa instintos alterados humano pode contribuir no uso da ciência
e os reputa corretos, embora dissociados em benefício da humanidade.
do critério de natureza. O conhecimento metafísico
A consciência formada necessita enquanto base de origem das noções e
de uma revisão para representar e princípios evidentes, para formular
adequar-se a todas as linguagens ciência, sempre nasce da ação criativa da
organísmicas. É necessário recuperar as inteligência humana. Não se pode
informações dinâmicas da vida com a vida conhecer para além daquilo que se é, e
e saber ler a mensagem dos sonhos porque conhecer a si mesmo, na atividade
estes apresentam um depoimento psíquica especificamente humana, é o
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completo da situação de vida do sonhador. meio para que o homem possa ver de que
A ciência tradicional abandonou a modo e dentro de qual limite ele tem
tentativa de decodificar os símbolos condições de traduzir qualquer coisa.
presentes no sonho. Esta tentativa já foi O homem só conhece uma coisa
iniciada por Antifon 400 anos antes de até aquele tanto que a medida de sua
Cristo, retomada por Artemidoro no mente propõe através de seu organismo. O
segundo século depois de Cristo, e pelos homem conhece como verdade aquilo que
Egípcios. Freud, no século passado, é igual do real humano e não igual à sua
insistiu na necessidade de entender os opinião. A medida do real humano leva
sonhos para compreender o inconsciente e em conta aquilo que é útil e funcional a
a origem de várias doenças. seu modo de ser.
A alma humana é um núcleo Enquanto a ciência mantém a
inteligente que preside a todas as dicotomia sujeito-objeto e exclui a
atividades da vida e mediante um reflexo possibilidade de verificar se o sujeito
inteligente define a ordem da natureza. reflete em base a todos os recursos de
Por exemplo, a dor é um modo de exigir informação da própria vida, parece-nos
uma correção no modo de pensar e agir; o razoável que tal ciência não possa
sonho é um modo de informar se o eu estabelecer limites, de modo absoluto e
procede bem ou mal, de esclarecer pontos único.
que o eu do sujeito não está em condições A subjetividade, em sua raiz, é
de compreender e investir. A alma fornece constituída de objetividade: é como uma
o sentido e o corpo é sua palavra. semente, que não tem origem do objeto
Quando na base do conhecimento externo, e esta objetividade tem condições
prevalece uma ideologia fixa que não de intuir e ler o real que presencia tanto o
reflete o ritmo dinâmico da vida, a ideia sujeito como o objeto: este real é o Ser.

VIDOR, Alécio. A objetividade da subjetividade. Revista Saber Humano, Recanto Maestro, n. 3, p. 68-75,
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Se o íntimo de vida do sujeito não Autor:


encontra o íntimo de vida que atua o
Alécio Vidor: Doutor em Filosofia pela Pontifícia
objeto, não se dá o encontro com o real Universidade São Tomás de Aquino (Roma-Itália);
(ser) que unifica sujeito-objeto. O campo Mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade
semântico leva à possibilidade de ler a São Tomás de Aquino (Roma-Itália); graduação
continuidade que faz de elo da vida com a em Filosofia e Pedagogia pela Universidade de
vida e ver onde se situa o real que faz Passo Fundo; graduação em Teologia
(Escolasticado São José); professor do curso de
aparecer os fenômenos materialmente graduação em Administração e do Bacharelado em
divididos em dois. A percepção do campo Direito da Faculdade Antonio Meneghetti (AMF),
semântico revela a informação integrada e professor dos cursos de Pós-Graduação MBA
no real; mas tal percepção exige do Business Intuition e do curso de Especialização
homem o reflexo do próprio real Lato Sensu Gestão do Conhecimento e o
Paradigma Ontopsicológico da AMF.
autêntico, como atividade psíquica
original, ou como agente universal do
todo.
Submetido em: 30/04/2013
Revisto em: 25/07/2013
Aceito em: 20/08/2013.
Referências

BROVEDANI, R. Soggettività nel método


oggetivo della ricerca sperimentale. Nuova
Ontopsicologia, n. 2, p.41-51, maio 1989.

FREUD, S. Introduzione alla Psicoanalisi.


Milano: Boringhieri, 1974.
75
HUSSERL, E. La crisi delle scienze europee e la
fenomenologia trascendentale. Roma: Sagiatore,
2002.

MARTINS, J. M. F. Temas fundamentais de


fenomenologia. São Paulo: Moraes, 1984.

MASLOW, A. Introdução à Psicologia do Ser.


Rio de Janeiro: Eldorado, 1980.

MENEGHETTI, A. Ontopsicologia Clínica.


Roma: Ontopsicológica Editora, 1978.

MENEGHETTI. A. Fundamentos de Filosofia.


São Paulo: Ontopsicológica Editora, 2005.

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2002.

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Roma: Psicologica Editrice, 2005.

MENEGHETTI, A. Dalla Scienza all’Essere.


Roma: Psicologia Editrice, 2009.

MENEGHETTI, A. L’Arte de Vivere dei Saggi.


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