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Universidade de São Paulo


Faculdade de Direito, Largo de São Francisco
Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia
Programa da Disciplina
Legislação Penal Especial II

Professor da disciplina

Prof. Dr. Mauricio Stegemann Dieter

Justificativa e objetivos

A legislação penal brasileira contabiliza hoje aproximadamente 1680 tipos


legais. Em contraste com a violência que permeia nossas relações sociais e a
radical seletividade do sistema de justiça criminal, essas normas penais são
evidência de que o aumento das hipóteses de criminalização não guarda qualquer
relação com o objetivo declarado de proteção a direitos fundamentais ou das
condições de sua realização pelo poder público.
A inflação legislativa que se anuncia desde o início da década de 90,
portanto, encontra suas determinações além de duvidosas “boas intenções
legislativas” e cada lei penal extraordinária precisa ser analisada em sua
totalidade, ou seja, tanto à luz de seu contexto sócio-histórico particular quanto
a partir de uma ampla racionalidade sistêmica (estrutural e funcional) vinculada
ao modo de produção, reprodução e desenvolvimento da vida social.
Em termos normativos (jurídico-penais), surpreende que o Brasil se
aproxime cada vez mais de um modelo autoritário-repressor de controle social,
afastando-se de um modelo democrático afim à Constituição da República.
Nesse sentido, antes de estudar as especificidades técnicas das leis penais
descritas no Programa da disciplina, propõe-se entender os fundamentos
político-criminais do recorrente impulso por “criminalização simbólica” (meio
ambiente, sexualidade infantil etc.). Evidentemente, essas considerações não
impedem uma análise exaustiva da Lei 9.605/98 ou da incriminação genérica da
“pedofilia” além da violência sexual direta no Estatuto da Criança e do
Adolescente, exigidas pelo campo científico-normativo.
O curso se concentrará, todavia, no estudo do movimento proibicionista
em sua diacronia histórica. Afinal, é o discurso da “guerra às drogas” que viabiliza
o genocídio e encarceramento em massa da população pobre, jovem e negra no
país. Assim, a Lei 11.343/2006, expressão legislativa e anacrônica do
proibicionismo doméstico, será avaliada desde um ponto de vista crítico, capaz
de identificar suas contradições no propósito oficial de proteger a “saúde pública”
e, simultaneamente, explorar todo seu potencial descriminalizador.
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Referente teórico

A disciplina está estruturada a partir das premissas epistemológicas da


Criminologia Radical – que toma o próprio Direito Penal como objeto de crítica –
e da teoria rigorosa do Direito Penal, que subordina a análise de todas as
hipóteses de criminalização à luz do arsenal conceitual da moderna teoria do fato
punível.

Avaliação

Será realizada apenas uma prova, com quatro a seis questões dissertativas. O
número de linhas definido para cada resposta é bastante estrito, a fim de obrigar
a síntese. As perguntas serão sobre o conteúdo ministrado em sala de aula, as
atividades eventualmente realizadas e as leituras indicadas durante o curso.
Pedidos de prova substitutiva somente serão conhecidos se devidamente
instruídos e deferidos apenas se o incidente for suficientemente grave para
justificar a ausência no dia da prova. A prova obedecerá às seguintes regras, que
constam em seu cabeçalho: “Use somente caneta azul. Não é permitido o uso de grafite.
Responda às questões em ordem, a partir da primeira folha do caderno de prova (folha com linhas). Só é
possível o rascunho no verso desta folha. Em nenhuma hipótese o aluno terá mais de um caderno de
prova consigo. Devolva esta folha junto com o caderno de prova, com nome e assinatura; caso contrário,
o caderno de prova não será corrigido. Pule pelo menos 1 (uma) linha entre respostas. Não ultrapasse o
limite de linhas. A prova não admite consulta de qualquer espécie, nem mesmo à legislação, em material
sem o acréscimo de qualquer significante, relevando-se apenas realce translúcido ou sublinhado. A
compreensão e a interpretação das questões integram a avaliação. Responda conceitualmente e evite o
uso de exemplos. Faça sempre explícita referência às normas pertinentes. Descontos: (a) a violação de
regras formais ortográficas e gramaticais reduz a nota final em 0,25 (vinte e cinco décimos) de ponto por
erro; (b) ultrapassar o limite de linhas definido para cada questão reduz a 0,0 (zero) seu valor; (c) o
desrespeito às demais regras formais implica na redução de 1,0 (um) ponto por violação; (d) estudantes
surpreendidos em conduta irregular ou com aparência de irregularidade serão advertidos pelo Professor
ou monitor, em silêncio, gestualmente ou por escrito, indicando-se com isso o fim da prova e atribuição
de nota final 0,0 (zero), independentemente de processo disciplinar.”

Monitoria (PEEG)

O estudante Pedro Coutinho, inscrito no Programa de Estímulo ao Ensino


na Graduação, é o monitor de da disciplina. Entre outras atribuições, ele é o
responsável por disponibilizar os textos da matéria. Todas as dúvidas sobre o
desenvolvimento da disciplina devem ser, primeiro, encaminhadas a ele, que
mediará o contato entre Professor e turma.

Leituras e atividades

Todas as atividades e leituras são obrigatórias e integram a avaliação.


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Programa

1ª Aula. 07/08.
Apresentação do Professor e do Programa.
Tema: As novas hipóteses de criminalização após a redemocratização brasileira
Leitura: NEUMANN, Ulfried. Bem Jurídico, Constituição e os Limites do Direito Penal.
In: GRECO, Luís e MARTINS, Antonio (Orgs.). Direito penal como crítica da pena: Estudos
em homenagem a Juarez tavares por seu 70º Aniversário em 2 de setembro de 2012.
Madri: Marcial Pons, 2012, p. 519-532.

2ª Aula. 14/08.
Atividade: Um caso bestial.
Tema: A teoria do bem jurídico de Winfried Hassemer e os fundamentos do uso do
direito penal para proteção de vida não-humana.
Leitura: SCHÜNEMANN, Bernd. Sobre la dogmática y la política criminal del Derecho
penal del medio ambiente. In: Temas Actuales y permanentes del Derecho penal
después del milenio. Madri: Tecnos, 2002, p. 203-223 e GRECO, Luís. Proteção de Bens
Jurídicos e Crueldade com animais. In: Revista Liberdades, n. 3 (Janeiro-Abril 2010), p.
47-59.

3ª Aula. 21/08.
Tema: Existe uma justificativa racional para um Direito penal ambiental? Limites
constitucionais diante da tentação punitiva.
Leitura: GUATTARI, Félix. As três ecologias. Trad. Maria Cristina Bittencourt. 11. ed.
Campinas: Papirus: 2001, p. 7-56.

4ª Aula. 28/08.
Tema: A “Parte Geral” da Lei dos Crimes Ambientais – 9.615/98 (ou, “a pior lei penal de
todos os tempos”). Imputação de responsabilidade, penas e processo. A
responsabilidade penal da pessoa jurídica: entre pretensão preventiva e retributiva
contra grandes corporações e a extensão de garantias humanas a entidades inanimadas.
Leitura: CIRINO DOS SANTOS, Juarez. A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. In:
Direito Penal: Parte Geral. 2. ed. rev. e ampl. Curitiba: ICPC/Lumen Juris, p. 425-450.

5ª Aula. 04/09.
Tema: A “Parte Especial” da Lei dos Crimes Ambientais – 9.615/98 (ou, “a pior lei penal
de todos os tempos”). Crimes contra a fauna e flora.
Leitura: ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo a tempos interessantes. In: Vivendo no Fim dos
Tempos. Trad. Maria Beatriz Medina. São Paulo: Boitempo, 2012, p. 291-362

6ª Aula. 18/09.
Tema: A “Parte Especial” da Lei dos Crimes Ambientais – 9.615/98 (ou, “a pior lei penal
de todos os tempos”). Poluição e “risco” ambiental, meio ambiente “urbano e cultural”
e “administração ambiental”.
Leituras: WHITE, Rob. Environmental issues and the criminological imagination. In:
McLAUGHLIN, Eugene e MUNCIE, John. Criminological Perspectives: Essential Readings.
3. ed. Los Angeles, 2013, p. 666-687.
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7ª Aula. 25/09.
Tema: “Guerra às Drogas”: da origem do proibicionismo à Lei Seca.
Leitura: BARATTA, Alessandro. Introducción a la criminologia de la droga. In: BARATTA,
Alessandro. Criminología y sistema penal. Compilación in memoriam. Montevidéu: B de
f, 2003, p. 112-138.

8ª Aula. 02/10.
Tema: “Guerra às Drogas”: da internacionalização do sistema ONU à contracultura.
Leituras: SCHEERER, Sebastian. Economia dirigida e perspectivas da política de drogas.
In: Revista Discursos Sediciosos. Crime, Direito e Sociedade. n. 14. Rio de Janeiro: Revan,
2004, p. 105-116.

9ª Aula. 09/10.
Tema: “Guerra às Drogas”: da ideologia da diferenciação ao tempo presente
Leitura: BATISTA, Vera Malaguti. Difíceis ganhos fáceis: Drogas e Juventude Pobre no
Rio de Janeiro. 2. Ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003, p. 81-135.

10ª Aula. 16/10.


Tema: A Lei de Drogas e perspectivas de descriminalização. Inconstitucionalidade e
irracionalidade e a mentira da “saúde pública” como bem jurídico.
Leitura: HUSAK, Douglas. Legalize This! The case for decriminalizing drugs. Londres:
Verso, 2002, p. 64-108 (“Reasons for criminalizing drug use: possible good answers”).

11ª Aula. 23/10.


Tema: A Lei 11.363/2013. Análise jurídico-penal. Do mandamento constitucional aos
tipos em espécie e seus problemas dogmáticos.
Leitura: ALBRECHT, Peter-Alexis. Criminologia: uma fundamentação para o Direito
Penal. Trad. Juarez Cirino dos Santos e Helena Schiessl Cardoso. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2010, p. 507-528 (“Capítulo 12: Considerações criminológicas sobre o Direito Penal
das Drogas”).

12ª Aula. 30/10.


Atividade.
Tema: O “Caso Ras”
Leitura: SILVA SÁ, Domingos Bernardo. Ayahuasca, a consciência da expansão. In:
Discursos sediciosos. Crime, Direito e Sociedade. Ano 1, nº 2 (2º sem. 1996), Rio de
Janeiro: Revan, p. 145-174.

13ª Aula. 06/11.


Tema: A criminalização da “pedofilia” no Brasil no Estatuto da Criança e do Adolescente
Leitura: GUILLEABAUD, Jean-Claude. A tirania do prazer. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1999.

Início do período de provas: 13/11.

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