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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Primeiras aproximações (complementado com o Roteiro das Aulas Práticas)

Direito:

 O Direito é um produto da cultura, varia consoante a opinião dominante num


determinado Estado; é prático, serve para resolver as questões que o dia-a-dia nos coloca;
 O Direito é uma ordem da sociedade em que concorrem as determinações do ser, do
dever ser e do valor. Nenhuma delas é dispensável ou redutível às outras;
 Serve para prevenir e resolver litígios, organizar e impor um certo limite à nossa
liberdade e poder, organizar a vida em sociedade segundo certos padrões, princípios e critérios
(organizar a sociedade e regular a conduta humana). Só cumpre a sua função se for aplicado
conforme a nossa vida, é preciso que a condicione e que a organize. Desta forma, o Direito
impede que a sociedade caminhe para fora da ordem jurídica, para uma anarquia ou para o
despotismo.
 Tridimensionalidade do Direito:
o Fático (factos): destina-se a regular factos da vida real;
o Sociológica (valores): regula factos da vida social (axiológica), destinando-se a certos
valores, desde logo a justiça;
o Normativa (normas): conjunto de normas. Momento necessário do processo de
integração fático-axiológico, ordenando factos sociais sob o influxo de valores.
 Às categorias facto, norma e valor corresponderão assim a eficácia, a validade formal e
a fundamentação natural, no sentido mais aproximado.
 Kelson e Galvão Telles dizem que a justiça não é critério.
 Miguel Reale considera os factos e valores “momentos de um processo”, pois a norma
não integra dialeticamente facto e valor apenas na sua forma inicial, mas pode experienciar
novas aceções em consequência de novos factos ou novas valorações, trata-se de um
normativismo jurídico concreto.

Factos jurídicos:

Os factos jurídicos são todos os factos que alteram as situações existentes e


consequentemente produzem efeitos de direito. Estes podem ser:

 SS (Stricto Sensus), isto é, factos naturais e\ou cuja voluntariedade é irrelevante para o
efeito jurídico, mas apenas ascende à categoria de facto jurídico se produzir efeitos de direito;
 Ato jurídico, facto humano e voluntário.

(Oliveira Ascensão pp. 18-19)

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Direito Objetivo e Subjetivo:

 No direito objetivo está-se mais perto de uma organização da vida social (law; Direito);
 O direito subjetivo é a realidade subjetiva atendendo à relação do homem com as
normas, à partida goza de uma certa posição favorável (right, direito).

O direito de sucessão é objetivo, no entanto, o direito de suceder é subjetivo.

(Oliveira Ascensão pp. 45-47)

Exercícios:

A.3.

a) Facto jurídico voluntário – direito de propriedade sobre esse bem – artigo 875º CC;

b) Facto jurídico – indemnização, poderá haver negligência – artigo 483º CC;

c) Stricto Sensus – perda do direito de propriedade de produção, Seguro – artigo 1305º CC;

d) Facto não jurídico – poderá produzir efeitos de Direito se houver prazos que caduquem em
Outubro;

e) Facto jurídico voluntário – contrato, casamento – artigo 1577º CC;

f) Facto jurídico voluntário – perda do direito de vinculação – código de trabalho artigo 351º;

Constituição da República Portuguesa:

 Direito Constitucional: ramo do direito que consagra os direitos fundamentais dos


cidadãos, os princípios essenciais por que se rege o Estado e as grandes orientações políticas
a que os órgãos devem obedecer e as regras de organização de poder político. Define a
estrutura do Estado e os órgãos de poder político e como se relacionam.
 A Constituição da República Portuguesa é a Lei suprema do país, a fonte primordial do
Direito baseada no Direito Constitucional.
 Serve para reger o país (consoante as leis), os cidadãos (consagrar os direitos e
deveres) e o Estado (funcionamento e estrutura): definir a organização estatal (estrutura);
fundamentar a ordem jurídica (catálogo de direitos fundamentais que são o fundamento do
Estado e da Ordem Jurídica); racionalizar e limitar o poder político (escrito, assegurar limite
recíprocos); planificar um programa de ação política do Governo, orientação política.
 Surgiu para conservar o Estado de Direito (separação de poderes; direitos
fundamentais; soberania popular);

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 Força jurídica especial é a Lei suprema, nenhuma lei é válida se se contrapuser à lei
constitucional. É uma lei necessária, mas não revogável. Sujeita a um processo legislativo de
elaboração e revisão para lhe impor limites (mais exigente e rígido do que a normalidade das
leis da Assembleia da República) – Revisão Constitucional;
 Constituição é uma lei fundamental – carta orgânica do Estado (estrutura organizatória
do Estado). Estabelece tarefas e prestações para assegurar direitos. Impõem e regula relações
estabelecidas em particulares.
 Conceção tradicional de Constituição – os cidadãos não são relevantes, não regia a
sociedade.
 Baseia-se em constituições estrangeiras. É produto de um particular contexto histórico-
político vivido no país em diferentes momentos: exprime um compromisso histórico, cada
Partido tinha preocupações de âmago diverso (daí a sua extensão); num período pós
revolucionário houve uma preocupação em assegurar a pessoa antes do Estado, antes de
qualquer organização política. Reação à exiguidade do Estado Novo, de forma a assegurar os
direitos fundamentais e prevenir que sejam violados.

d) Constituições Portuguesas:

1822 – liberalismo, invasões francesas, deslocação da corte

1826 – moderado, progressista


Liberalismo
1838 – D. Maria II

1911 – Primeira República, fim da monarquia


Constitucionalismo
1933 – Estado Novo
Autoritário
1976 – Democracia pluralista, Segunda República
Democraciapluralista

i) Revisões Constitucionais:

1982 – Removidas ideias socialistas que estavam impregnadas.

1989 – Suprime a reversibilidade das nacionalizações.

1992 – Integração Europeia.

1997 – Referendo, exercício público.

2001, 2004 e 2005 – Relativas ao direito da União Europeia.

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Código Civil:

 Código: Organização sintética, sistemática e científica.


 O Código Civil é uma lei que contém um conjunto de normas. Forma de revelação e de
formação de normas que determinam os direitos e deveres das pessoas dos bens e das
relações no âmbito privado com base na Constituição;
 Regular as relações jurídicas , entre os particulares, disciplina a vida das pessoas do
nascimento à morte, relações pessoais (familiares) e patrimoniais (económico);
 Direito Civil: Normas jurídicas que regulam as relações jurídicas entre as pessoas, que
se encontram numa situação de equilíbrio de condições;
 Direito privado comum: É aplicado a todos, pois são pessoas independentemente do
estatuto ou situação na sociedade. Define-se por exclusão de partes, pois regula as ordens
jurídicas correspondentes aos seus ramos de direito privado. Normas aplicadas
subsidiadamente a todas as relações jurídicas incompletas ou omissas;
 Ramos do Direito consagrados no Código Civil:
o Direito das Obrigações: Entre partes, estuda as espécies obrigacionais, características,
efeitos e extinção. Vinculo jurídico transitório entre o credor e devedor, cujo objeto consiste
numa prestação de dar, fazer ou não fazer. É necessária a imposição de uma parte e sujeição
de outra em relação à restrição da liberdade da segunda;
o Direito Real\ Direito das Coisas: Direito patrimonial cujas regras tratam do poder dos
homens sobre as coisas apropriáveis. Poder direto imediato do qual não se possui. Usufruto,
atribuição universal, repartição das coisas a determinada pessoa;
o Direito da Família: Estrutura, organização e proteção da família: regula e estabelece as
normas de convivência familiar;
o Direito das Sucessões: Disciplinam a transferência do património de alguém, após a sua
morte, ao herdeiro, em virtude de lei ou testamento;
 Linhas diretivas e gerais do Código civil: a sua interpretação, aplicação e importância
histórica.

Exercício:

D.8.

a) artigo 397º - Obrigações

b) artigo 5º, 1 - Parte Geral

c) artigo 2031º - Sucessões

d) artigo 1773º, 1 - Família

e) artigo 1302º - Real

f) artigo 68º, 1 – Parte Geral

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Direito Privado e Direito Público:

 Surgiu uma necessidade de distinção entre Direito privado e Direito público pela
necessidade do estudo, em relação ao conteúdo da norma jurídica, e não só. É uma
classificação, divisão do Estado e sociedade. Direito público - escrito em lei, competência
(constitucional, administrativo...). Direito privado - liberdade (civil [família, sucessões, das
coisas, das obrigações]...). Qual o tribunal responsável para julgar a causa. Dependendo do
tipo de Direito, aplica-se o ramo que lhe é correspondente.
 Distingue-se em três aspetos:
o Interesse: Coletividade

Particulares

Todas as normas têm interesses público e privado, mas há um predominante.

o Qualidade do sujeito: entes públicos ou privados (natureza)


o Posição do sujeito: se está munido de prerrogativas de autoridade do uso do seu ius
imperi (direito de mandar, de exercer autoridade, de governar. O poder jurisdicional, o de que
goza o Estado)

Sujeito situação – igualdade – privado

– autoridade – público

Exercício:

E. 10. Distinção entre os vários ramos de Direito:

a) Direito Público administrativo.

b) Direito laboral e criminal.

c) Direito Privado das sucessões.

d) Direito Privado da família, Direito processual civil.

e) Direito Privado real.

f) Direito Público constitucional.

g) Direito Público comunitário, direito da União Europeia.

h) Direito Público internacional.

i) Direito Privado internacional (contrato com conexão de diferentes ordens jurídicas, entes
privados).

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j) Direito Público criminal.

l) Direito Privado das obrigações.

m) Direito Público fiscal.

n) Direito Público internacional.

o) Direito Privado laboral.

p) Direito Privado real.

Sanções:

 Efeito jurídico: vontade própria de cumprir a lei.


o Pode haver uma espécie de consequência prémio (prémios fiscais – descontos);
 Sanção: caso fuja ao cumprimento da lei. As sanções podem ser:
o Compulsórias: procura que o infrator adote uma conduta devidade e que a violação não
se prolongue; cessa assim que a norma jurídica for verificada (confiscar);
o Compensatória: estabelece uma situação que, embora diferente, a considera
valorativamente equivalente à situação anterior à violação da norma jurídica (indemnização);
o Preventiva: visam afastar futuras violações, cujo receio é justificado pela prática de um
determinado ilícito (liberdade condicional);
o Punitiva: aplica um mal ao infrator como castigo da violação de uma norma jurídica
(penas).

Social Mero facto (leis de sociologia)

Ordem Normativa (ordens do dever ser, orienta a conduta do


homem)
Natural

Ubi homo, ibi societas. Ubi societas, ibi ius. Ubi ius, ibi societas

Onde há homem há sociedade. Onde há sociedade há Direito. Onde há direito há sociedade

Fonte Interpretação Regra\Norma Jurídica

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Sistema normativo (conjunto de normas)


Direito

Efetividade (é necessário à vida em sociedade - organizado, sem ele corre-


se o risco de uma anarquia - [instrumentos, aparelhos do Estado])

Justiça (conexão entre justiça e direito)

Sistema Jurídico (complementado com o Roteiro das Aulas Práticas)


Sistemas Jurídicos:

1. Sistema Ocidental (romanístico e anglo-americano);


2. Sistema Soviético;
3. Direito Chinês;
4. Direito dos países da África Negra;
5.
1. Tem uma base ideológica tripartida:
o Herança grega;
o Herança cristã;
o Herança capitalista.

Divide-se em dois subsistemas:

 Romanístico (Civil Law):


o Tem por base o direito romano;
o Estende-se em quase toda a Europa, América Latina e ainda algumas zonas de África
que não pertencem ao sistema muçulmano ou anglo-saxónico;
o A lei ocupa o lugar cimeiro nestes sistemas, enquanto principal fonte de Direito;
 Anglo-americano (Common Law):
o Formou-se com a integração dos anglo-saxões com os normandos, formando um direito
próprio;
o A jurisprudência ocupa a posição predominante enquanto fonte de direito (funciona a
regra do precedente ou seja, o que é fixado pelos órgãos superiores é vinculativo para os
inferiores e em casos futuros);

Critério de aplicação da lei, uma das formas de interpretação da lei. Modo 7


individual de expressão da fonte/ordem jurídica.
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o A lei tem uma função auxiliar – completa e esclarece o sistema do Direito comum, mas
não é a sua base;
o A jurisprudência predomina sobre a lei, graças:
 Ao empirismo do povo britânico;
 À desconfiança do povo britânico em relação à lei que é tida como arma dos tiranos;

2. Partiu do sistema romanístico, mas afastou-se dele;


O Estado é um potente aparelho de coação;
O Estado não se submete ao direito e este é um instrumento nas suas mãos;
As leis são aplicadas à luz de princípios políticos;
A lei é a única fonte de direito, porque o costume não é reconhecido e a jurisprudência não cria
normas;
A lei permite a punição de factos análogos aos previstos na lei.

3. Tradicionalmente, acentuava os valores da concórdia e moderação, vigorando a ideia


de que o recurso à justiça era uma vergonha;
O costume é a principal fonte de direito;
A solução dos litígios é remetida à equidade;
Com o triunfo comunista, começou a ser dada relevância à lei enquanto fonte de direito e com
abertura ao exterior, começou a haver uma grande atividade legislativa;
Contudo, só recentemente se consagrou o princípio da legalidade, mas defende-se que o
direito é apenas uma arma da ditadura contra os revolucionários e que poderá ser dispensado
numa etapa posterior;

4. Em regra, a independência dos países africanos fez-se sem quebrar a continuidade do


direito, ou seja, os países conservaram-se dentro dos sistemas de direito que os colonizava.
Ainda assim, o Direito nestes países pode ter uma das seguintes influências:

o Do sistema muçulmano: nos países atingidos pelo islamismo, o direito confunde-se com
a lei religiosa;
o Dos direitos tradicionais: que subsistem ao lado do Direito civilizado (sistema jurídico
dualista).

Normas Jurídicas:

 As normas jurídicas são a expressão da ordem jurídica.


 Parte de um problema concreto, é um critério de decisão para resolver problemas de
Direito.
 Como é que o Direito constrói os critérios de decisão?

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

o Tem que garantir a igualdade de tratamento e segurança jurídica (conhece-se as


normas antes de se atuar e as suas consequências – previsibilidade).
 As normas são imperativas, mas nem todas pertencem ao mesmo mundo, ao mundo do
Direito. Exemplo: Religiosas, morais, trato social – Normas imperativas não inseridas no Direito,
não jurídicas.
 A norma religiosa é confundida com a lei civil. No mundo ocidental há distinção entre
norma jurídica\lei civil e religiosa, há liberdade de religião, logo, o Estado não pode impôr uma
norma religiosa (não pertence ao mundo do Direito, que o Estado garanta). Ex: mulher adúltera
perante Cristo.
 Elementos estruturais da regra jurídica:
o Previsão: condição em que se aplica o efeito jurídico, em que medida é aplicável;
o Estatuição (factispécie): efeito jurídico.
 Há um silogismo jurídico:
o Premissa maior (termo maior) –norma legal;
o Premissa menor (termo menor) – previsão (facto);
o Conclusão (termo menor) – estatuição (efeito\aplicação).

Exercícios:

15.

a) Artigo 13º, nº1, CRP, “Todos os cidadãos” - previsão; “tem a mesma dignidade social e
são iguais perante a lei” - estatuição.
b) Artigo 1790 º, CC, “Em caso de divórcio” - previsão; “nenhum dos cônjuges pode na
partilha receber mais do que receberia se o casamento tivesse sido celebrado segundo o
regime da comunhão de adquiridos” - estatuição.
c) Artigo 66º, nº 1, CC, “no momento do nascimento completo e com vida.” - previsão; “A
personalidade adquire-se” - estatuição.
Artigo 66º, nº 2, CC, “dependem do seu nascimento” - previsão; “Os direitos que a lei
reconhece aos nascituros” - estatuição.
d) Artigo 483º, nº1, CC, “Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito
de outrem” “Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar (...) qualquer disposição legar
destinada a proteger interesses alheios” - previsão; “fica obrigado a indemnizar o lesado pelos
danos resultantes da violação.” - estatuição.
e) Artigo 1323º, nº1, CC, “Aquele que encontrar animal ou outra coisa móvel perdida e
souber a quem pertence” “se não souber a quem pertence” “observando os usos da terra” -
previsão; “deve restituir o animal ou a coisa móvel a seu dono, ou avisar este do achado” “deve
anunciar o achado pelo modo mais conveniente, atendendo ao valor da coisa e às
possibilidades locais” “ou avisar as autoridades , (...), sempre que os haja” - estatuição.
f) Artigo 1646º, nº1, CC, “O menor que casar sem ter obtido autorização dos pais ou do
tutor, ou respetivo suprimento judicial” - previsão; “continua a ser menor quanto à administração
de bens que leve para o casal ou que posteriormente lhe advenham por título gratuito até à

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

maioridade, mas dos rendimentos desses bens ser-lhe-ão arbitrados os alimentos necessários
ao seu estado” - estatuição.
Artigo 1649º, nº2, CC, “durante a menoridade do seu consorte” “por dívidas contraídas por um
ou ambos os cônjuges no mesmo período” - previsão; “Os bens subtraídos à administração do
menor são administrados pelos pais, tutor ou administrador legal, não podendo em caso algum
ser entregues à administração do outro cônjuge” “não respondem, nem antes nem depois da
dissolução do casamento” - estatuição.
g) Artigo 131º, Código Penal, “Quem matar outra pessoa” - previsão; “é punido com pena
de prisão de 8 a 16 anos” - estatuição.

 Critério material: contém nele próprio uma apreciação sobre uma categoria de
situações. Permite qualificar os casos concretos e por esse meio torna possível a decisão - é
um critério de qualificação e decisão de casos concretos e não de conduta.
Norma jurídica
 Critério formal: não formula regras, atua consoante as características próprias do caso
em questão, não se pode projetar para casos futuros, não tem intuito generalizador.
Equidade

(Oliveira Ascensão pp. 493-494)

 As normas são sempre a interpretação de uma fonte ou ordem, por parte de um


indivíduo ou grupo de indivíduos, logo, esta nunca poderá ser objetiva, pois varia consoante o
intérprete; nem preexistente, pois a norma resulta da leitura, apreciação e conclusão individual
de cada pessoa (devidamente intitulada para o fazer) para solucionar e aplicar a casos
concretos, logo, a norma não existe previamente. A interpretação da ordem\fonte poderá
resultar em várias normas divergentes.

Critério Material:
 Generalidade e Abstração como características essenciais das normas jurídicas:
o Galvão Telles: Ambos são essenciais.
o Oliveira Ascensão: a generalidade é essencial; a abstração não, pois há normas
relativas a casos presentes ou passados e ainda são normas jurídicas, a abstração prevê
disciplinas e comportamentos para casos futuros.
o Rui Medeiros e Jorge Miranda: Não são características essenciais, embora tendenciais.
É preciso que haja um espírito generalizador e que se verifiquem os princípios constitucionais
(ex.: igualdade). Pode haver normas individuais e concretas, pois não se pode tratar igual o que
é distinto, Stricto Sensus não é geral e abstrato, mas tem o intuito generalizador.

 Abstração: Factos e situações previstos pela regra que não estejam já verificados;
factos ou situações que o futuro proponha ou preveja disciplina comportamentos futuros.

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Contrapõem-se ao concreto (real, específico, concreto)


Situações.
 Generalidade: Especifica uma lei que fixe uma categoria e não uma entidade
individualizada, independentemente das pessoas que preencham a categoria.
Contrapõem-se à individualidade (ex.: Presidente da República vs. Marcelo Rebelo de Sousa)
Destinatários.
 Tipos de normas:
 Principais: outorga o direito, regra pré-existente;
 Derivadas: por dedução lógica chega-se a outras regras. Regra ulterior que se retira da
regra pré-existente;

Normas de conduta:

 Precetivas: impõem uma conduta.


 Proibitivas: vedam condutas (ex. normas penais).
 Permissivas: permitem ou autorizam certa conduta.
(O.A. pp. 514)

Normas quanto à vontade das partes:

 Injuntivas ou cogentes: aplicam-se haja ou não declaração da vontade dos sujeitos


nesse sentido:
 Interpretativas (fontes de direito): são as regras interpretativas injuntivas, pois fixam o
entendimento das fontes, objetivamente, sem olhar à vontade das partes.
 Dispositivas: só se aplica se as partes suscitam ou não afastam a sua aplicação. Têm
entre os seus pressupostos uma posição da vontade quanto a essa aplicação:
 Supletivas: suprem a falta de manifestação de vontade das partes sobre determinados
aspetos de um negócio jurídico que carecem de regulamentação. A lei acode a esta deficiência,
estabelecendo em todas as categorias de negócios mais importantes em regime normal, que
se aplicará sempre que as partes nada dispuserem em contrário. Artigos 878º, 1725º, 2131º e
2225º CC.
 Interpretativas (negócios jurídicos): são as regras interpretativas de negócios jurídicos:
são as regras interpretativas dispositivas porque visam esclarecer os termos que os
particulares usaram porque quiseram, fazem-no dispositivamente

Normas quanto à validade:

 Gerais: estabelecem o regime-regra para o sector de relações que disciplina. Principio


da liberdade de forma. Artigo 219º CC.
 Especiais: oposta ao regime-regra das normas gerais, vem adaptá-la. Não pode ser
revogada por uma norma geral, consagram uma disciplina nova ou diferente para círculos ou
relações, mas não diretamente oposta à norma geral:
 Face à matéria: exemplo é especial o artigo 136º face ao artigo 131º do Código Penal;
 Pessoalmente: face aos destinatários;
 Territorialmente: face à zona;

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

 Excecionais: consagram uma regra oposta ao regime-regra, num sector restrito.


Constituem uma exceção que contraria o regime estabelecido pelas regras gerais, a fim de
prosseguir finalidades particulares. Têm um âmbito mais restrito. Contraria a liberdade de
forma, diretamente oposta, aplicação analógica. Artigo 875º CC, também no que se refere aos
casos de homicídio como legítima defesa.

Normas quanto à aplicação:

 Interpretativas: limita-se a fixar o sentido e o alcance juridicamente relevante duma


declaração precetiva;
 Inovadoras: é a que altera de algum modo a ordem jurídica preexistente;

Normas quanto à plenitude do sentido:

 Autónomas: por si só têm um sentido completo. O seu conteúdo é independente do de


outras normas jurídicas;
 Não autónomas: por si só não têm sentido completo, só o obtendo em combinação ou
comparação com outras regras.
 Regras remissivas: não têm um sentido completo, por isso, remetem para outras
normas;
 Regras restritivas ou ampliativas: regras sobre regras que fixam o âmbito de regras
anteriores, mas só ganham sentido quando conjugadas com outras normas.
 Para Oliveira Ascensão e Santo Justo as Definições Legais são meros preceitos que
vêm fornecer elementos ordenadores, não são vinculativos, não são normas em sentido
material.
Para Nuno de Sá Gomes e Galvão Telles são normas jurídicas não autónomas, têm que ser
combinadas com outras normas.

Exercícios:

20.Classificação de normas jurídicas:

a) Artigo 894º, CC, permissiva; dispositiva supletiva (face ao 903º); especial (exigir a restituição
não proíbe de todo o preço total)

b) Artigo 977º, CC, proibitiva; cogente; excecional

c) “É proibida a circulação de veículos pesados no viaduto de Alcântara” proibitiva; cogente;


especial territorialmente; “porém, é permitida a circulação de veículos motorizados e de
veículos ligeiros” permissiva: dispositiva; especial territorialmente

d) permissiva; dispositiva; excecional (face ao pagamento de propinas); especial pessoalmente


(para os alunos que venham a ter 17 valores, pode existir)

e) Artigo 362º, CC.

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

o Para Oliveira Ascensão e Santo Justo as Definições Legais são meros preceitos legais
que vem fornecer elementos ordenadores, não são vinculativos, logo, não é norma em sentido
material.
o Para Galvão Telles e Nuno de Sá Gomes, são normas jurídicas não autónomas, tem
que ser combinadas com outras normas.

f) Artigo 2188º, CC, permissiva; dispositiva; geral

g) Artigo 1690º, CC, permissiva; dispositiva; excecional (face ao artigo 1678, nº3 do CC)

h) Artigo 1680º, CC, permissiva; dispositiva; geral

i) Artigo 883º, CC, percetiva; dispositiva; especial

k) Artigo 237º, CC, dispositiva interpretativa de negócios jurídicos; geral

23. Este decreto-lei pode ou não ser considerado lei em sentido material, depende pois das
doutrinas defendidas por diversos autores quanto às características essenciais da lei.

Para Galvão Teles a generalidade e a abstração são características essenciais da lei, pois
garantem a vigência da justiça através da igualdade; impedem exercícios abusivos da lei, do
poder, que prejudiquem as partes envolvidas. A generalidade diz respeito ao momento de
feitura, isto é, se se pretendia um conjunto indeterminado de destinatários. Na abstração a
categoria a que a norma se refere deve ser abstrata.

Para Oliveira Ascensão a generalidade é característica essencial, pois resulta da lei uma
necessária igualdade, sendo individualista não é aplicada igualmente a todos os cidadãos. Já a
abstração não é característica essencial, pois há leis referentes a factos passados, por
exemplo, as normas retroativas são verdadeiras normas jurídicas mas dizem respeito a factos
passados, e sendo eles assim, serão sempre determináveis e concretos.

Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão adotam uma perspetiva bilateral, sendo que, na
norma jurídica em sentido estrito (Stricto Sensus) ambas são tendencialmente características,
mas não necessariamente, se for possível identificar os sujeitos a norma é sempre individual e
concreta, isto em sentido material. No entanto, o Stricto Sensus não engloba a regra jurídica o
que significa que em sentido amplo estes critérios não são características essenciais, pois a
norma jurídica é sinónimo de regra jurídica.

Por fim, Rui Medeiros, Jorge Miranda e Miguel Teixeira de Sousa não consideram a
generalidade e a abstração critérios essenciais, pois a lei só tem que assegurar o principio da
igualdade, desde que seja conforme aos princípios constitucionais, o que se pode verificar
numa lei medida. No entanto, há um intuito generalizador, isto é, tratar de forma igual aqueles
que estão em situações iguais.

Na abstração há uma divergência doutrinária onde de um lado se encontram Galvão Telles, Rui
Medeiros, Marcelo Rebelo de Sousa e os restantes, e do outro se encontra Oliveira Ascensão.

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Para os primeiros a abstração implica que a categoria a que a norma a que se refere seja
abstrata, tem que haver incerteza na situação e quando será ou se será aplicada; para Oliveira
Ascensão ao tratar-se de um facto passado a norma nunca seria abstrata, tem que ser
aplicável a casos futuros, logo seria sempre determinável e concreta.

“quem for atingido pela cheia de 31 de Dezembro”- concreta

“proprietários dos rés-dos-chão dos edifícios da Ribeira, no Porto, (...) atingidos pela cheia de
31 de Outubro” - individual

Logo, segundo Oliveira Ascensão, Galvão Telles, Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão
este decreto-lei não é uma lei em sentido material, pois não preenche os requisitos necessários
às características essenciais da lei.

Já Rui Medeiros, Jorge Miranda e Miguel Teixeira de Sousa consideram que este decreto-lei é
uma lei em sentido material, pois está consagrado o principio da igualdade, no tratamento igual
daqueles que estão em situações iguais.

Artigo 3º do Decreto-Lei

No momento de feitura não há uma categoria de destinatários específica a preencher.

Todos os casos semelhantes, os destinatários são indeterminados. Todos os que forem


proprietários, em qualquer data, dos edifícios situados nas margens do Douro e do Tejo, não
restringe aos que lá vivem numa dada data, mas a todos os que lá viverem e forem
prejudicados pelas cheias que eventualmente, ou não, acontecerão. – Geral (não se sabe no
momento de feitura da norma quem preencherá o lugar de destinatário).

Para Oliveira Ascensão é abstrata porque se trata de uma norma de aplicação futura “que
venham a ser severamente afetados por cheias extraordinárias.

Para o resto dos autores, porque há incerteza – no momento de feitura da norma é


estabelecida uma categoria indeterminada de situações.

Para doutrina de Rui Medeiros e Jorge Miranda o decreto-lei está de acordo com os princípios
constitucionais de igualdade.

A lei já é lei em sentido material. Todo o Decreto-lei passa a ser lei, porque apesar de todo o
conjunto de preceitos individuais e concretos, se houver uma só norma jurídica geral e abstrata
(preenchidos os requisitos), passa a ser considerada lei. Ao conter uma verdadeira norma
jurídica faz com que o Decreto-lei seja lei em sentido material.

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Fontes de Direito:

 São modos de formação e revelação das normas jurídicas.


 Modo de formação: todo o facto normativo pressupõe a aplicação de uma regra sobre a
produção jurídica (todo o processo de produção até à sua promulgação);
 Modo de revelação: da interpretação da fonte de extrai a norma (todo o processo por
que passa após a sua publicação).

 Para chegar à norma é preciso que exista uma interpretação de um


preceito/disposição legal. Este preceito é a fonte – a força vinculativa da fonte impede
interpretações divergentes da mesma, a fonte deve ser interpretada resultando numa norma
que possa justificá-la e complementá-la de forma coerente e clara.
 Não é possível mudar uma fonte, pois não se tem o poder ou autoridade
para tal. Apenas seria possível pela Assembleia da República ou pelo Governo, é-lhes
conferido o poder e autoridade representativos da sociedade portuguesa para promulgar e
alterar fontes.
 A norma é a criação de quem as interpreta, mas tem que ter o mínimo de
correspondência com a fonte. A fonte lei é criada pelo legislador. A regra que o tribunal aplica é
a da sua interpretação da lei, é o critério a que se chega. O legislador pode alterar a conceção
da fonte. Quanto mais claro for o preceito, menos divergências há.
 É preciso saber quais são as fontes de direito e como de lá extrair
normas.
 Diferentes aceções da expressão «fontes de direito»:
o Sociológica (conjunto de fatores que existem na sociedade e estão
correlacionados com o surgimento da norma jurídica);
o Orgânica (órgãos que criam a norma jurídica);
o Filosófica (razão última de ser da norma jurídica);
o Histórica (Precedentes históricos da norma jurídica);
o Instrumental (textos e diplomas que contêm a norma jurídica);
o Técnico-jurídico ( modo de formação e criação de critérios materiais de
decisão de casos concretos [factos que dão origem à norma jurídica]);

Fontes mediatas e imediatas:


 Fontes imediatas: são aquelas que nos vinculam. A Lei é uma fonte
imediata intencional - de autoridade que não podem ser contestadas, estão ligadas por alguém
de autoridade, pelo legislador. Os códigos, a constituição são fontes de direito vinculativas. O
Costume é uma fonte de direito imediata não intencional.
 Fontes mediatas: não são vinculativas, mas ajudam-nos a descobrir a
norma. Como os usos e a equidade, não têm autonomia, dependem de fontes imediatas, neste
caso os usos e a equidade só podem ser utilizados quando a lei lhes der acolhimento.
 Fontes por via “mediata”: a doutrina e a jurisprudência não são fontes
oficiais de direito em sentido figurativo Portugal, mas podem ser bastante persuasivas de modo

15
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

a que um bom orador (advogado) consiga convencer o intérprete (juíz) com o seu argumento.
Valor persuasivo por via de influência na vida jurídica. Ex.: vários livros sobre um certo assunto
podem ajudar o intérprete a informar-se e clarificar-se melhor acerca do mesmo, no entanto,
não há qualquer vinculação aos livros.

Em sentido técnico-jurídico:
1. Doutrina
2. Costumes
3. Lei
4. Jurisprudência

1. Labor dos jurisconsultos, práticos ou doutrinários, pode em abstrato representar uma


fonte de direito:
 Na opinião tomada por si, a solução de resposta de um jurisconsulto pode ter por si força
vinculativa;
 Conjunto de orientações dos autores, extrair do conjunto das posições doutrinárias uma
orientação comum.

2. Prática social reiterada com convicção de obrigatoriedade ou juridicidade.


 É a fonte que mais concorre à lei.

 No costume distinguem-se dois elementos constitutivos essenciais,


requisitos:
o O corpus é o uso, a prática social reiterada, resulta de uma mera
observação de facto.
o O animus é a convicção de obrigatoriedade\juridicidade, isto é, a
convicção de que se deve proceder segundo aquele uso, só assim se pode dizer que há
costume, e portanto estão implicadas regras jurídicas.

Ex.: Trocar uma lâmpada em casa é um costume, não há a sensação de que se age de forma
ilícita.

Conduzir a cima dos limites de velocidade na autoestrada e reduzir a velocidade perante um


órgão policial é um uso, há a sensação de que se está a agir de forma ilícita.

 O costume brota diretamente da sociedade, ao contrário da lei que


contém uma tensão entre o ser e o dever ser.

 Pretensos requisitos:

16
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

o Racionalidade: segundo Oliveira Ascensão o costume tem que ser


racional, conforme aos princípios fundamentais do direito (dignidade da pessoa humana).
o Consagração legal: não é necessário que seja aceite pela lei, pois assim
postularia o predomínio desta. A lei e o costume estão em pé de igualdade; a lei não admitindo
o costume como fonte de direito tem primazia como fonte; o costume como fonte reconhece-se
como fonte igual – logo, a legalidade do costume é-lhe irrelevante. Esta decisão cabe ao
intérprete. Da mesma forma que a lei não admite o costume, o costume pode não admitir a lei,
logo, pode ir para além desta, se a lei não consegue vigorar o costume pode afastá-la.
o Imposição pelos órgãos públicos: o costume é uma fonte privilegiada,
pois não depende de acolhimento legal nem da atitude que os governantes têm face a este.
Assim, pode uma sentença decidir contra a regra costumeira, que esta em si não é prejudicada.
Só quando, em consequência da persistente atuação dos órgãos públicos, forem atingidos, ou
o uso ou a convicção de obrigatoriedade, o costume deixa de existir.
o Espontaneidade: não deve resultar de uma imposição de um poder ou
de um grupo social. Fala-se por vezes em convicção de necessidade, mas mesmo como uma
necessidade naturalística, como um ter de ser, mas uma necessidade moral, um dever ser. Se
uma prática resulta de mera imposição não há ainda convicção de obrigatoriedade, e não há
portanto costume.

 Relação entre o costume e a lei:


o Secundum Legem: coincide com a lei;
o Praeter Legem: não contraria a lei, mas vai além dela. Tem por objeto
matéria não regulada por ela.
o Contra Legem: contraria a lei, mas diferencia-se do desuso. Há um
verdadeiro costume que se opõe àquela regra. Só cessará a vigência se se criar a convicção
de que é lícito proceder assim, se se formar um verdadeiro costume contra legem e não um
desuso da regra.
 Um desuso é o simples facto do não uso;
 O costume contra legem contribui inestimavelmente para a sanidade da
própria ordem jurídica. Devido à diária inflação de leis, o costume liberta a ordem legislativa de
partes caducas. A própria sufocaria, pelo peso dos elementos mortos que formalmente a
continuariam a compor.
 Aplicação pelos órgãos públicos:
o Nuns casos, o costume por falta de aplicação coativa, definhará. Quando
deixa de orientar as pessoas o costume extingue-se.
o Noutros casos, o costume logrará, insinuando-se no funcionamento dos
órgãos estatais e voltá-los em seu favor. Quando a proibição for ela própria suprimida pelo
costume, nada ameaçará a vigência do costume proibido.
 Usos: são práticas sociais suscetíveis de juridicidade mas destituídas de
convicção de obrigatoriedade. A lei admite os usos, mas impõe-lhe limites:
o Racionalidade do uso, compatibilidade com a cláusula geral dos bons
costumes;
o Fonte mediata: o uso não se impõe por si, mas por haver uma lei que o
reclama.

17
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

o Usos como um processo de integração de lacunas, na sua modalidade


de costume praeter legem, embora apenas nos casos especiais em que a lei o determine. A
racionalidade continuará a ser um requisito.

3. Em sentido material: Texto ou fórmula que contenha normas jurídicas e


que tenha sido deliberadamente criado por um órgão com competência para tal, para ser
imposto na sociedade. (em sentido mais restrito, por entender a lei sempre como um ato da
função politica).
Em sentido formal: Reveste formas destinadas por excelência ao exercício da função legislativa
do Estado.
o Leis constitucionais, reforçadas, formais ordinárias e decretos-lei são
simultaneamente leis em sentido material e formal.
 A lei foi constituída numa lógica hierárquica, ou seja, a ordem jurídica está escalonada numa
hierarquia.
 Atos Normativos:

I.
CRP

II. Leis de revisão


constitucional

Convenções internacionais
III. (tratados, acordos em forma
simplificada)
Leis formais:
IV. leis, decretos de lei, decretos legislativos
regionais

Regulamentos
V.

I- CRP – Constituição da República Portuguesa:


 Não existe em todos os países. Está no topo porque é expressão da
soberania do Estado – tem-no no momento que que decide criar ou romper uma constituição,
poder originário.
 Tudo a baixo da Constituição é delegado desta ordem superior.
Consagra princípios em que todos nós nos revemos.

18
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

II- Leis de revisão constitucional:


 A lei de revisão constitucional está a cima de toda as outras porque pode
de facto mudar a Constituição, mas continua a estar dependente desta. Não é poder originário,
é já subordinado.
 O poder de revisão é já um poder regulado, não é livre.

Ex.: Só pode ser revista a Constituição de 5 em 5 anos; ou só pode ser revista de 4\5 dos
deputados a consentirem.

 A Constituição impede a tirania da maioria – assim quem tem o poder


não pode abusar deste, por isso, é necessário um consenso alargado dos partidos da
Assembleia da República, a fim de não haver tentações para aumentar o poder para uma certa
parte.

Ver CRP, Artigos 277º a 289º - revisão constitucional.

 Nada impede que não possa haver monarquia em Portugal, ter-se-ia é


que mudar a Constituição, fazer uma nova.
 A Constituição de 1933 também não permitia o regime adotado pela
revolução de 1974, por isso, foi feita uma nova Constituição.
 A mudança de sistema não corresponde à lei de revisão constitucional,
mas sim à legislação de uma nova.

III- Convenções Internacionais:


 Para que as relações internacionais fluam normalmente é preciso
estabelecer medidas que as protejam – proteção diplomática.

Ex.: acordos normativos que os Estados estabelecem entre si.

 Convenções internacionais não têm todas o mesmo grau de solenidade:


o Umas mais solenes\importantes – tratados internacionais;
o Menos solenes\dignidade – acordos internacionais de forma simplificada.
 Não se aplica o mesmo regime, há diferentes exigências procedimentais,
formalidades diferentes. Há um interesse da boa convivência no espaço internacional em
ambas.
 Todas estão subordinadas à CRP, mas há uma tolerância em relação a
violações secundárias ou formais se o tratado já tiver sido ratificado.

IV- Leis formais/ordinárias:


 Subordinadas a todos os patamares a cima. São os atos legislativos; leis
solenes.
 Há três tipos de leis formais:
o Leis, aprovadas pela Assembleia da República.

19
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

o Decretos-leis, aprovados pelo Governo.


o Decretos legislativos regionais, aprovamos pelas Assembleias
Legislativas ou Parlamentos Regionais das respetivas Regiões Autónomas.
 Como se relacionam as leis e os decretos-leis?
o Artigo 112º nº2 CRP. À partida têm valor igual, a mesma força e são
mutuamente revogáveis, prevalece o posterior.
o Há uma inflação de leis, uma quantidade de leis imensa a ser publicada
todos os dias.
o Comporta exceções quanto à matéria sobre a qual o Governo pode
legislar (por exemplo, o Governo não pode alterar a lei eleitoral, pois não há parcialidade,
estariam a privilegiar certos interesses e ideias), por isso, há matérias reservadas à Assembleia
da República. O Governo não pode legislar neste campo a não ser que seja autorizado pela
Assembleia da República.

Artigo 164º, 165º e 227º b) c), CRP – matérias reservadas.

 Uma lei aprovada numa Região Autónoma que não diga respeito aos
órgãos de soberania nacional nem viole as reservas prevalece, na região respetiva, sobre as
leis e decretos-leis.

V- Regulamentos:

 Fonte de Direito aprovada pela Administração. Regulamentos da


Administração, subordinados às leis e a todas as fontes supralegais.

 No dia-a-dia lidamos fundamentalmente com o Estado Administração.

 Distingue-se das leis formais pela forma:

Ex.: lei nº27\2016

Decreto-lei nº3\2016

Tem sempre o nome a identificar, é um ato fundamentalmente legislativo.

 Os Regulamentos são gerais e abstratos ao contrário dos atos


administrativos que são praticados pela ação pública. Destina-se a uma pluralidade
indeterminada de pessoas. Ignora-se ou não se sabe quem são os destinatários
(generalidade). A medida aplica-se também a uma pluralidade de casos que se possam repetir
(abstração), não se aplica a uma situação ou caso específico (concreto).

 Medidas gerais e abstratas no seu conteúdo, Regulamentos (atos


administrativos).

 As leis solenes podem ter conteúdo concreto (atos legislativos).

 Pirâmide hierárquica das fontes de Direito (atos normativos).

20
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Primeiro tiro no porta-aviões da pirâmide:

1- Há princípios gerais que nenhuma Constituição pode violar, são os


limites à Constituição – IUS COGENS: Direito imperativo, que não pode ser violado em caso
algum por nenhum Estado do mundo.

Dentro do Direito internacional há um núcleo de normas que está a cima das leis de qualquer
Estado.

Ex.: Guerra na Síria há de acabar e quando acabar serão julgados pelos crimes de guerra.

2- Soberania nacional\popular, soberania da União Europeia.

Ex.: A Hungria recusa a entrada de refugiados no seu país, algo que contraria o estipulado pela
União Europeia. A Hungria faz parte da União Europeia e esta tem o seu Direito comum a
todos os Estados-membros. Aqui está em conflito a ordem interna e a ordem da União
Europeia.

Artigo 8º, n4º, CRP, O Direito da União Europeia aplica-se em Portugal, mesmo que a
Constituição da República Portuguesa diga outra coisa; a União Europeia está a cima da
Constituição da República Portuguesa, a menos que os princípios fundamentais do Estado de
Direito democrático sejam postos em causa, assim, de certa forma, a Constituição tem
prevalência, pois o Direito da União Europeia nunca pode violar os seus princípios.

A União Europeia tem personalidade jurídica autónoma. Há um Direito originado e um derivado.

A ONU está a cima da União Europeia:

Caso Kadi- Tribunal de Primeira Instância da UE: não se pode fazer nada, a ONU manda.

- Tribunal de Segunda Instância da UE: esta resolução não se pode aplicar, pois
viola os princípios fundamentais da UE; a ONU acabou por regulamentar melhor as listas.

(caso está no moodle)

 Multiplicar centros de produção de Direito é um problema.

 Desvalores dos Atos Legislativos:


o Ineficácia em sentido amplo:
 Inexistência: Falta de promulgação ou assinatura peloo Presidente da
República de atos normativos, ou mesmo de decretos sem caráter normativo, determina a sua

21
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

inexistência jurídica (artigo 140, CRP); bem assim a falta de referenda pelo Governo de vários
atos do Presidente da República (artigo 143, nº 2, CRP)
 Invalidade: Sempre que desrespeitada uma regra sobre a produção
jurídica. Distingue-se em nulidade e anulabilidade. Nula é por si inaplicável; a
inconstitucionalidade deve ser considerada causa de nulidade. Anulável aplicar-se-á enquanto
o órgão ou órgãos competentes não tomarem a iniciativa da sua anulação; esta é de mais rara
verificação.
 Ineficácia em sentido restrito: Há vários motivos, mas o mais importante
é a falta de publicação.

 Início de Vigência da Lei:


o É preciso, para além da aprovação ou promulgação da lei, que a lei seja
publicada para que esta tenha efetividade\eficácia jurídica, ou seja, para que possa ser
aplicada pelos tribunais. Artigo 119º CRP; artigo 5ª CC.
o A lei tem que ser publicada\publicitada no Diário da República (jornal
oficial), ou noutros lugares informativos quando se trata de leis em sentido amplo menos
relevante. A publicidade da lei pode ser assegurada por outras vias para além do Diário da
República, para que os cidadãos possam ter acesso a nova legislação diária; não pode haver
leis “clandestinas”.
 Lei dos Formulários – Há mais coisas que têm que ser publicadas no
Diário da República na primeira ou na segunda série.

o É condição necessária mas não suficiente para a eficácia de uma lei,


existe a Vacatio Legis, o tempo que medeia a data de publicação e a data de entrada em vigor.
o Prazos normais:
 Lei dos Formulários, artigo 2º, nº1: Cada lei\regulamento estabelece o
período que considera adequado para que a lei entre em vigor; cabe ao autor de cada lei a
escolha. Não pode entrar em vigor no próprio dia, porque assim os cidadãos não têm tempo
para se informarem da nova lei. Tem uma Vacatio mínima de 1 dia.
 Supletiva – artigo 2º, nº 2: por vezes o legislador não diz qual a Vacatio
Legis, tem que haver uma lei que responda a isto. A lei entra em vigor no quinto dia após a
publicação desta, no caso de o autor da lei não estabelecer a Vacatio Legis, 15 dias após a
publicação, nas regiões autónomas e 30 dias após a publicação, no estrangeiro.
 Artigo 1º, nº 1: a data de publicação é a data em que a lei ficou
disponível no site oficial do Diário da República.
 Artigo 2, nº 4: determina que o prazo se conta a partir do dia imediato de
publicação, “ou da sua efetiva distribuição, se esta tiver sido posterior”. Atende-se à
necessidade de proteger quem não podia contar com a lei. Mas esta solução tem um preço: a
desproteção de quem porventura confiou na data formalmente atribuída ao diploma e atua com
convicção de que ele estava já em vigor. Quem for prejudicado por uma entrada em vigor
anterior à efetiva possibilidade de conhecimento da lei tem direito a que sejam, para aquele
caso, reparadas as consequências nocivas da distribuição tardia.

22
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

o O legislador pode ampliar o prazo considerando:


 A dificuldade de apreensão de certas leis;
 A dificuldade de adaptação das pessoas ao novo regime.
o O legislador pode reduzir o prazo, atendendo a considerações de
urgência, sempre que não houver disposição hierarquicamente superior que imponha uma
determinada vacatio. A fixação legal desta é expressamente apresentada de modo supletivo.
Há casos em que a imediata entrada em vigor da lei é uma necessidade absoluta:
 Por inadiável urgência. Pense-se em providências de emergência em
caso de catástrofe pública.
 Para evitar o prejuízo ou frustração dos objetivos da lei.
o Assim, como a Lei dos formulários se trata de uma lei ordinária, pode ser
derrogada por um diploma de nível equivalente ou superior que determine a vigência imediata
da lei.

EXAME FINAL 5 SETEMBRO 2012

a) O artigo 3º diz que o Decreto-Lei “entra em vigor imediatamente”, no


entanto o artigo 2º nº1 da Lei dos Formulários diz que em caso algum uma lei pode entrar em
vigor no dia da sua publicação. As leis da Assembleia da República e os decretos-leis do
Governo têm o mesmo valor à partida, à exceção das matérias reservadas à primeira, logo,
prevalece a que foi publicada posteriormente. Este Decreto-Lei não derroga nem afasta a Lei
dos Formulários, assim como também não é ilegal por violar este mesmo artigo referido,
simplesmente prevalece sobre o mesmo, não é parâmetro de validade perante um Decreto-Lei
ou Lei.
Não prevalece porque tem a mesma força, a segurança jurídica não é o único valor, a diferença
são as razões que justificam a entrada imediata em vigor. A segurança jurídica é apenas um
principio de confiança, isto é, se o Decreto-Lei violar os princípios constitucionais, tem que
haver uma carta forte, uma razão que destrunfe a lei vigente; neste caso a questão da saúde é
forte. Se houver razões mais ponderosas se interesse público ou a proteção em geral, pode ser
imediata; justifica o sacrifício da segurança jurídica para salvaguardar a vida ou a saúde.

 Cessação da Vigência da Lei:


a) Caducidade;
b) Declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma lei por um
Acórdão de força obrigatória geral;
c) Revogação da Lei;
d) Costume contra legem.

23
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

a) A lei pode caducar por causa de dois aspetos:


a. Estabelece em si mesma vigência temporária;
b. Desaparecem todos os pressupostos de aplicação da normal

 A lei morre por si, chega ao fim quando acaba o prazo de vigência (CRP
artigo 19º), a própria medida em si foi adotada com um quadro de vigência temporária (seja a
vigência certa [este verão] ou incerta [enquanto houver guerra]).
 A lei pode morrer naturalmente, deixar de vigorar porque já não pode ser
aplicada.

Ex.: O javali está extinto, a proibição da caça ao javali já não faz sentido.

 Não é possível caducar se houver uma pequena função de


aplicabilidade, só quando já não exerce qualquer efetividade.
Só caduca quando houver vigência temporária, sempre que não se puder declarar a lei morta
claramente, não pode ser considerada caducada.

EXAME FINAL 31 JANEIRO 2012

Caducidade, foi pensada para uma realidade que já não existe hoje.

Lei inconstitucional (artigo 13º CRP) contra a igualdade de sexos, já não há fundamento para
diferenciar o homem e a mulher neste nível. As mulheres continuam a receber menos que os
homens, poderia fazer algum sentido proteger as mulheres. Independentemente da
inconstitucionalidade (da desigualdade) terá a lei caducado? Pode adaptar-se a lei, no entanto,
só o pode fazer quem tiver legitimidade para tal, só um legislador o pode fazer (às vezes
adapta-se a lei às circunstâncias, no entanto, tem que ter o mínimo de correspondência com a
lei original). Se não for feito, o intérprete tem que estar relativamente preso à letra da lei
aquando a norma resultante da sua interpretação, tem que interpretar a fonte consoante o seu
entendimento, mas não pode adaptar a fonte ao ponto de a alterar. A lei interpretada
atualisticamente gera resultados diferentes, mas não podem estes fugir à letra da lei, apesar de
não ter que se cingir à mesma de forma literal.

Continua ou não a lei a vigorar? Depende do conceito de caducidade e, quanto à igualdade ou


desigualdade, depende da interpretação.

b) Como já se viu nos desvalores dos atos legislativos, uma lei não pode
vigorar se for contra os princípios constitucionais. Como tal é declarada ilegal ou
inconstitucional por um Acórdão com força obrigatória geral.

24
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

c) Uma lei nova é publicada em data posterior. Não há dificuldade pelo


facto de várias leis deverem entrar em vigor simultaneamente, pois a data relevante para este
efeito é a data da publicação e não da entrada em vigor.

 A lei posterior prevalece à lei anterior, tem que se adequar e atualizar ao


tempo atual. Tem uma legitimidade reforçada, o que o povo quer hoje e não o que queria antes
das eleições; traduz a vontade atualizada dos representantes da lei que têm legitimidade para o
fazer. Prevalência à lei que traduz mais adequadamente aquilo que é a vontade do povo. Artigo
7º, nº2 CC:

 Revogação expressa: porque a lei nova diz expressamente que a lei


anterior ficou revogada;
 Revogação tácita por incompatibilidade: A lei anterior não é compatível
com a nova lei, sem nada dizer quanto à revogação, logo a lei nova tem prevalência;
 Nova revogação geral ou integral: porque a lei nova regula aquela
matéria, entende-se que se afasta a anterior (não porque seja incompatível, assim como
também não revoga expressamente); afasta a velha lei implicitamente.

Exemplo: “Fica revogada toda a legislação anterior incompatível com a nova lei”

Revogação tácita por incompatibilidade ou expressa?

Não indica o que a lei revoga expressamente, logo é revogação tácita por incompatibilidade.
Continuam a vigorar milhares de leis que não sejam incompatíveis com a nova lei, logo é
revogada tacitamente por incompatibilidade, impõem-se sempre que o legislador diga ou não.

Artigo 287º CRP- Revogação expressa, a lei constitucional tem que dizer expressamente o que
muda na CRP. Em caso algum a CRP admite revogação tácita por incompatibilidade da revisão
constitucional.

 Não Repristinação: Artigo 7º, nº4, CC: A lei que revoga uma certa
revogação não faz renascer a lei que foi revogada pela segunda.
A revogação não representa a destruição da lei anterior, cessam os seus efeitos, mas salvam-
se em princípio os efeitos já produzidos.

 Está porém fora da alçada do legislador repristinar por lei uma lei já
revogada; e pode atribuir efeito retroativo a esse repristinação, impondo efeitos sobre o
passado. Uma lei por inadvertência para uma outra lei que na realidade estava já revogada, ou
cuja vigência cessara por qualquer outro motivo. Então não se deve entender que a nova lei
repõe em vigor a lei anterior. Isto é claro quando a nova lei for de nível hierárquico inferior à
antiga.

25
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

 Uma revogação pode ser por eliminação, aditamento ou alteração; pode


também ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação) – toda a lei ou apenas um artigo ou
suplemento.
Artigo 7º, nº3 CRP: exceção, à partida, uma lei geral posterior não pode revogar a lei especial
anterior – critério da especialidade.
 O critério hierárquico nunca pode ser posto em causa. Quando há um
conflito entre leis, prevalece a lei superior sobre a posterior. A hierarquia tem primazia sobre a
temporalidade.
 Uma lei especial não é revogada por uma lei geral posterior, não revoga,
mas adapta; aplica a lei geral a um tipo concreto de situações; ainda se conforma com o
principio geral.

Exemplo: Código Penal:

Artigo 131º - critério geral

Artigo 134º - critério especial face ao artigo 131º

A lei excecional tem em vista um conjunto especifico de situações não admite naquele caso
concreto a conformidade do principio geral.

Ex.: O aborto admite-se sem que seja crime – excecional (contra o regime-regra).

Se matar alguém será punido com pena de 8 a 16 anos de prisão – geral (regime-regra).

Se matar a pedido sério a pena será reduzida a 3 anos – especial (conforme o regime-regra).

 Que tipo de lei é o artigo 7º, nº3 do CC?


o Este artigo, de facto, só diz respeito às leis especiais. No entanto,
segundo o artigo 9º, nº1, a interpretação da lei não deve cingir-se à letra da lei. A fonte por si só
nunca dá a resposta. A norma é o resultado da interpretação da fonte, nunca se pode para na
letra da lei, deve cingir-se ao pensamento legislativo.
 Porque é que o legislador fez uma previsão como a do artigo 7º, nº3?
Qual a razão de ser desta regra?
o A lei especial pode ser entendida em sentido restrito ou amplo (abre-se à
lei excecional).

Ex.: Quem fez uma nova lei do arrendamento urbano não pensa em situações específicas, as
particularidades de inúmeras situações possíveis.

26
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

É preciso atender no momento de feitura qual a categoria de destinatários e situações a que o


legislador se dirige, se há situações específicas que o legislador dedicou no regime; se o
legislador segundo no novo arrendamento urbano não legislou à cerca disso, não quer dizer
que o anterior deixa de ter efeito, quer apenas dizer que a lei nova não fez a ponderação no
que diz respeito aos casos concretos e específicos.

Tem que se interpretar extensivamente a categoria de lei especial, de modo a albergar lei
especial e lei excecional anterior. A interpretação do artigo 7º, nº3, não pode cingir-se à letra da
lei. Independentemente da leitura que se faça é preciso em qualquer caso perceber o sentido
da lei geral não revogar a lei especial anterior. Pode-se interpretar em sentido restrito ou amplo
desde que se mostre que se sabe que qualquer uma das interpretações é lícita.

4. Doutrina Geral: Orientação que se extrai da interpretação do tribunal


quem vem aplicar as normas a casos concretos, critério que este utilizou para decidir.
É a leitura que o tribunal fez para chegar a um certo critério de decisão que permita tornar-se
fonte para casos futuros. É vinculativo em sistemas como o anglo-americano.

 Em Portugal não é fonte imediata, pois não está vinculado pela lógica.
Perante a jurisprudência o juiz não segue o entendimento, o oposto verifica-se em Portugal.
Não é necessário adotar um entendimento expresso por um Acento\Acordão, visto que a
jurisprudência não é fonte. Um tribunal pode não concordar com a decisão tomada por outro, é
duvidoso que seja fonte de direito porque não vinculam os casos semelhantes futuros, podem
vários tribunais chegar a conclusões diferentes ou mesmo declará-las inconstitucionais, perante
uma lei inconstitucional o Tribunal Constitucional pode revogá-la.
 O juiz deve julgar apenas de acordo com a lei e a sua consciência. A
máxima de decisão não é elevada a regra que deva observar-se noutros casos. Não é molde
de revelação ou formação de normas jurídicas, não é fonte de direito em sentido técnico-
jurídico em Portugal.
 É fonte por via “mediata”, tem um valor persuasivo por via de influxo na
vida jurídica. Vai formando o ambiente que permitirá, através de verdadeiras fontes do direito, a
criação de regras jurídicas.
o Sentido restrito – é o conjunto das orientações que resultam de todos os
atos jurisdicionais, em regra são individuais e concretos, contudo podem ser gerais e abstratos.
o Sentido amplo – é o conjunto de orientações que resultam de todos os
atos jurisdicionais, tomam-se decisões perante a igualdade, há uma vinculação do processo
que lhe deu origem, estabilidade do caso julgado (uma vez estabelecida, não pode ser alterada
a decisão).

 Quadros de possível relevância:

27
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

 Jurisprudência constante: É a repetição de julgados sem convicção de


obrigatoriedade. Vão-se repetindo em arestos de tribunais superiores ao ponto de muitas vezes
os juízes se sentirem desobrigados de apresentar outra qualquer fundamentação, indicam o
trânsito do mero facto da repetição de julgados para uma visão da jurisprudência como fonte do
direito. Presunção da verdade daquela orientação, presunção esta que pode ser afastada: não
exclui uma viragem jurisprudencial. Basta uma mera observação do facto da repetição, mas a
orientação não tem que ter necessariamente uma longa duração.
 Só pode estar em causa a possibilidade de transformação daa
jurisprudência em fonte do direito quando esta assume a conformação específica de:
o Jurisprudência uniformizada: Perante decisões de tribunais superiores
contrárias, contraditórias entre si que incidam em matéria semelhante, casos semelhantes, há
um Acórdão que terá que uniformizar a decisão para aquele caso concreto, não vincula casos
futuros, apenas o processo para o qual foi uniformizada, vinculando, nesse casso concreto, os
tribunais inferiores. Não tem força obrigatória geral: não vincula as instâncias, por força do
princípio de independência, e não vincula o próprio Supremo Tribunal de Justiça porque teria
de ser a lei a estabelecer esse efeito auto-vinculativo. Não funciona mesmo assim, a
jurisprudência, como fonte de direito.
o Costume jurisprudencial: A repetição de julgados pode levar à formação
de um costume jurisprudencial. Brotam novas regras jurídicas da jurisprudência; a fonte de
direito não é propriamente a jurisprudência, mas sim o costume.
 Funda-se num uso, como todo o costume, mas oferece a especialidade
desse dos de entidades cuja excecional qualificação assenta justamente em estarem colocadas
acima dos interessados. A condição dos interessados diretos é irrelevante, no costume
jurisprudencial.
 Não basta a convicção dos próprios juízes: requer-se que ela acabe por
se propagar aos interessados. É necessário que a oposição cesse e se adote naquele modo de
proceder convicção de que deve ser efetivamente assim.
o Precedente: Máxima de decisão que serviu para resolver o caso
concreto, será decisiva para a resolução de casos futuros. Mas não é vinculativa, não é fonte
do direito.

 Antigos Assentos: Nos casos declarados na lei, podiam os tribunais fixar,


por meio de assento, doutrina com força obrigatória geral. A fonte do direito resultaria de uma
fixação feita pelo tribunal. Foi revogado o Artigo 2º do Código Civil que atribuía aos tribunais
competência para fixar doutrina com força obrigatória geral, por ser inconstitucional, por
violação do disposto no artigo 115º da CRP (atual artigo 112º, nº6).
 Cria-se assim um meio de uniformização da jurisprudência, com os
méritos e as limitações de meios desta ordem. O artigo 17º, nº 2, do Decreto-Lei nº 329-A\95,
que aprovou as alterações ao Código de Processo Civil, determina que os assentos perdem
retroativamente a sua categoria de fontes de direito, com força obrigatória geral. Passam a ser
mera jurisprudência uniformizada.
o Menezes Cordeiro: Assim ter-se-ia revogado inúmeras regras jurídicas
que seriam objeto de assentos passados. O Governo não tinha autorização da Assembleia da

28
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

República, pelo que o preceito padeceria de inconstitucionalidade orgânica. Atingiria inúmeros


direitos consagrados à sombra deles, o que provocaria inconstitucionalidades em cascata.
o Miguel Teixeira de Sousa: a constitucionalidade da legislação sobre os
assentos não depende do objeto destes. Pode o Governo legislar sobre o assento como intuito.
O que se pode discutir é o âmbito da eficácia. O artigo seria retroativo, mas gozaria apenas de
retroatividade ordinária. Dos assentos proferidos depois do artigo 112, nº6 da CRP, só ficaria
ressalvado o caso julgado (jurisprudência uniformizada).
 Os assentos cessariam de valer como fontes do direito, mas todo o
passado fica intocado.

Acórdãos com força obrigatória geral:

 São fontes do direito em Portugal os Acórdãos com força obrigatória


geral:
o Fiscalização abstrata da constitucionalidade ou legalidade pelo Tribunal
Constitucional – artigo 281, nº1 CRP;
o À mesma matéria, mas no pressuposto de uma mesma norma ter sido já
declarada inconstitucional ou ilegal em três casos concretos – artigo 281, nº3 CRP;
o A todos ultrapassa em generalidade, ao mandar publicar no jornal oficial
“as decisões do Tribunal Constitucional, bem como as dos outros tribunais a que a lei confira
força obrigatória geral” – artigo 119, nº1 CRP.
 Há sempre distanciação do caso concreto, porque a pronúncia do
tribunal é sempre abstrata e independente da solução do caso concreto. Estão separados da
solução do caso concreto.
 Daqui resulta que a atribuição de força obrigatória geral a uma decisão
de um tribunal não lhe retira o caráter jurisprudencial. Em todos os casos exprime o conjunto de
fontes existentes, quando declara o direito, com força obrigatória geral.

29
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Exercícios

24. Fontes de Direito em sentido técnico-jurídico no ordenamento português:

a) Lei, em sentido material, texto ou fórmula que contenha norma jurídica e que tenha sido
deliberadamente criada (para ser imposta na sociedade) por um órgão competente para tal.
Contém norma jurídica, não é norma jurídica.

Costume, prática social reiterada (corpus) com convicção de obrigatoriedade (animus). Deve
ser conforme aos princípios fundamentais do direito, segundo Oliveira Ascensão, tem que ser
racional.

Doutrina, opiniões de jurisconsultos, fonte por via “mediata” caso a lei assim o estabeleça.

Jurisprudência, conjunto de orientações dos tribunais, excecionalmente podem ser gerais e


abstratas, são também fontes por via “mediata”.

b) Previstos na CRP, artigo 112º: facto produtor de um diploma, emanado por um órgão
competente tendo observado a forma exigida\predeterminada para tal ato normativo. Internos:
legislativos e regulamentares. Leis constitucionais e atípicos (não estão no artigo 112º). Há um
pluralismo jurídico (ver pirâmide hierárquica a cima).

c) Leis, decretos-leis, decretos legislativos regionais (ver pirâmide hierárquica).

Artigo 112, nº 1 e 5. Subprincípios, não podem existir outros atos legislativos para além dos
que estão fixados. Catálogo taxativo.

d) O costume é uma prática social reiterada com convicção de obrigatoriedade, ou seja, é


composta pelo uso que é apenas a prática repetitiva e contínua, no entanto, para ser mais do
que uso e passar a ser costume tem que ter convicção de obrigatoriedade e juridicidade, que a
sua prática seja acompanhada da consciência da sua juridicidade.

e) As fontes imediatas são as que nos vinculam, das quais a interpretação não pode sair do
propósito inicial para que foi criada, como é o caso da Constituição, uma norma inconstitucional
não tem qualquer efetividade. No caso do costume é apenas vinculativo se para além do uso
houver intervenção da convicção de obrigatoriedade, assim, o costume em si é uma fonte
imediata.

As fontes por via “mediata” não têm caráter vinculativo, têm valor persuasivo por via de influxo
na vida jurídica, como o caso da doutrina, vários livros sobre um certo assunto facilitam e
clarificam providenciando informação à cerca do mesmo, como por exemplo os livros de
Oliveira Ascensão, Galvão Telles, Sandra Lopes Luís, não são vinculativos mas estão ao dispor
do intérprete permitindo-lhe analisar diferentes doutrinas e decidir ou não à luz destas ou de
outras. A doutrina não é fonte em sentido técnico-jurídico , nem a jurisprudência, apenas
auxiliam o intérprete que formulará a norma jurídica, mas não faz parte do processo de
formação da norma.

30
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

As fontes mediatas são os usos e a equidade, não têm autonomia, precisam do acolhimento da
lei para terem efetividade e só se pode recorrer a estas fontes mediatas quando a lei assim o
dispuser.

f) É a leitura que o tribunal faz para chegar a um critério que permita tornar-se vinculativa em
casos semelhante futuros. É uma orientação extraída da interpretação do tribunal, o critério que
este utilizou. Esta é considerada fonte de direito vinculativa nos sistemas jurídicos anglo-
saxónico e americano, é uma das principais se não mesmo a principal fonte; as decisões
baseiam-se no precedente, o direito é criado e aperfeiçoado pelos juízes, é a common law. Há
uma obrigação em seguir o raciocínio utilizado na decisão anterior. Típico do sistema jurídico
americano e anglo-saxónico.

No ordenamento político as principais fontes do Direito são a lei, o texto, a legislação


completamente regida pela razão e o dever, há uma generalidade de normas jurídicas, que são
aplicadas pelos juízes em casos concretos. Perante a jurisprudência o juiz não segue o
entendimento, logo a jurisprudência não é fonte de Direito em Portugal, cuja as decisões estão
vinculas à lógica e ao entendimento, um tribunal pode discordar de outros e interpretar por
outra via complemente diferente do primeiro, mas na linha da lei, as normas geradas pela
interpretação têm que estar de acordo com a Constituição, se não podem e devem ser
revogadas. (ver fonte de direito como jurisprudência a cima)

25.

c) À partida todas as fontes de direito têm a mesma força vinculativa, logo perguntar à lei se o
costume é fonte de direito é estar a elevar a lei como fonte principal de direito, como “critério
único de avaliação das fontes de direito”; não sendo o caso, a lei poderá efetivamente
considerar que o costume não é fonte de direito, mas isso não quer dizer que o seja, quer dizer
simplesmente que aos olhos da lei o costume não tem força vinculativa; o inverso poder-se-á
também verificar, o costume, tendo a mesma força, à partida, que a lei, poderá não admitir a lei
como vinculativa, logo poderá ir para além da lei.

A lei e o costume estão em pé de igualdade, a lei não admitindo o costume como fonte de
direito tem primazia como fonte; o costume como fonte reconhece-se com igual força
vinculativa, logo a sua legalidade é-lhe irrelevante. Cabe ao intérprete decidir qual a fonte a que
se vincula. Apesar de tudo isto, o espaço para o costume é diminuto, pois há soberania popula
e a lei acaba por comtemplar aspetos relacionados com o costume, o que faz com que não seja
necessário convocá-lo.

Há uma tensão entre ser e dever ser na lei. Enquanto, o costume brota diretamente da
sociedade

26. Diferentes aceções da expressão «fontes de direito»:

“Atendendo à proliferação de acidentes rodoviários (...), baseada em estatísticas” –


Sociológico; “Assembleia da República” – Orgânico; “exemplo do legislador alemão”; “aprovar

31
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

uma Lei” (modo de revelação) Técnico-jurídico; “combater o flagelo” – Filosófico; “Lei” –


Instrumental, atendendo aos textos e diplomas que contenham a norma jurídica, é a lei.

30. Há um princípio previsto na artigo 6º do Código Civil, “A ignorância ou a má interpretação


da lei não justifica a falta do seu cumprimento nem isenta pessoas das sanções nela
estabelecidas”. Apesar da inflação legislativa diária, não é possível, de facto, a um cidadão
médio estar ocorrente de toda a legislação em vigor de todo o ordenamento jurídico; a
complexidade das normas jurídicas.

Contudo, a doutrina moderna diz, unanimemente, que não existe qualquer presunção em saber
toda a legislação devido à quantidade existente e constante; Segundo Oliveira Ascensão pode
dividir-se: na racionalidade das normas, isto é, áreas éticas, o Direito é intuitivo quando são
áreas como o Direito Penal, mas a mera intuição jurídica não será guia certeiro do que diz
respeito às novas normas jurídicas, áreas técnicas; e na necessidade de eficácia ou
operacionalidade do ordenamento jurídico, ou seja, fundamento máximo do princípio de
segurança da lei, as leis contendo normas jurídicas vêm estabelecer o ordenamento jurídico.
Sem este princípio a ordem jurídica seria paralisada, contra os valores de justiça e de
segurança jurídica, muito embora a Daniela tenha razão – um cidadão médio não pode
verdadeiramente conhecer todas as normas jurídicas.

A revogação tácita é uma das formas de revogação da lei, cessação da vigência (a par do
costume contra legem, a inconstitucionalidade\ilegalidade e da caducidade). O juiz tinha que
estar perante uma noa lei hierarquicamente igual ou superior ao Código Civil. Não tem qualquer
sentido invocar a revogação tácita.

Um último ponto a salientar é o facto de o juiz se abster a tomar uma decisão devido a factos
pouco esclarecedores. O artigo 8º nº 1 e 2 do Código Civil estabelece que o juiz não se pode
abster de decidir o caso, proibição Non Liquet: falta ou obscuridade da lei para avaliar ou
julgar os factos; ou dúvida insanável quanto aos factos – o juiz diz que tem dúvidas insanáveis
quanto aos factos invocados por Carlos (invoca o incumprimento de um contrato, mas não
consegue provar a sua existência). O artigo 342º é supletivo quanto a este artigo 8º, haverá
sempre uma solução possível, sem prova não há direito para o Carlos ser indemnizado. O juiz
é obrigado a julgar com o dever de obediência ao Direito objetivo, não pode seguir a sua
compreensão subjetiva achando que Daniela tem ou não razão.

31. pgdlisboa.pt – site de Procuradia Geral da República (lá as leis atualizadas).

33. A lei começará a produzir efeitos dia 12 de Setembro, pois segundo a posição de Oliveira
Ascensão a publicação é condição de eficácia da lei, pois a distribuição desta desprotegeria as
pessoas que começaram a contar a partir desta mesma publicação, haveria insegurança
jurídica. No entanto, não é necessariamente com a publicação que passa a produzir efeitos,

32
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

apenas com a publicação no Diário da República é que a lei passa e ter efetividade. O período
entre a publicação e a entrada em vigor destina-se a assegurar o conhecimento da lei aos seus
destinatários, como explicita o artigo 5º do Código Civil. No entanto, há situações em que o
legislador não estabelece a Vacatio Legis, então, o artigo 2º da Lei dos Formulários vem
supletar esta lacuna afirmando que, na ausência de Vacatio Legis, a lei passará a vigorar no
quinto dia após a publicação. A Lei 26\2006 de 30 de Junho estabelece que a publicação
online, ou seja, a data de disponibilidade é o ponto de partida para se aplicar a Vacatio Legis
ou a sua norma supletiva. Sendo assim, a lei passa a vigorar dia 25 de Setembro e não dia 12,
pois só foi distribuída a 20 de Setembro sem Vacatio Legis estabelecida.

34. Caso a lei não estabeleça a Vacatio Legis, artigo 5º do Código Civil, pode uma outra lei
estabelecer um prazo supletivo, artigo 2º da Lei dos Formulários. Abílio pode exercer a sua
atividade até ao dia 24 de Setembro às 23:59 horas. Mesmo que já tenha condições para
produzir efeitos, só os produz quando entrar em vigor, não os produz imediatamente. Dentro do
prazo supletivo de cinco dias ou do período da Vacatio Legis, não é exigível que os
destinatários, mesmo conhecendo a lei, cumprem ou respeitem a lei, só a partir da entrada em
vigor e que se torna efetiva. O prazo supletivo nunca pode suprimir a Vacatio Legis escolhida
pelo legislador.

35. Hoje está em vigor o Decreto-Lei Y, pois foi publicado posteriormente, como já se viu, a lei
ou decreto-lei posterior prevalece. Segundo a perspetiva de Oliveira Ascensão prevalece, pois
houve uma revogação tácita do Decreto-Lei X, isto é, nada diz quanto à revogação da lei
antiga, mas é incompatível, logo, sedo posterior, anula esta anterior, artigo 7º, nº1 e 2, Código
Civil. Já Miguel Teixeira de Sousa, concluindo o mesmo que esta doutrina unânime, utiliza um
fundamento diferente do de Oliveira Ascensão, no período de Vacatio Legis do Decreto-Lei X é
publicado outro incompatível, sendo assim, não se trata de verdadeira uma revogação, mas
sim um impedimento à vigência do primeiro, artigo 5º, nº1.

40. Em 2014 continua a vigorar o Decreto-Lei X de 1981, ou seja, podem caçar-se cinco
perdizes por dia, apesar de, em 1998, ter sido estabelecido pelo Decreto-Lei Y que apenas se
podiam caçar três perdizes por dia, foi também estabelecido o prazo de caducidade do mesmo,
“durante a época de caça de 1998”. Findo este prazo a lei morre por si mesma, mas não
revoga o Decreto-Lei X, o Decreto-Lei Y vem suspender o Decreto-Lei X, é uma lei especial
face à lei geral do segundo, tendo estabelecido um prazo para o fim da sua vigência. O
Decreto-Lei X não tem nada que indique a cessação da sua vigência nem foi revogado, logo
mantém-se em vigor, artigo 7º, nº1, Código Civil.

42. Um Decreto-Lei nunca poderia alterar o artigo 24º da CRP, pois para além do Direito à vida
ser inviolável, um direito fundamental, e estar implícito nas normas do ius cogens que estão a

33
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

cima da Constituição de qualquer Estado e desta norma resultar a proibição da pena de morte
em caso algum.

A Revisão Constitucional cabe à Assembleia da República, através de Leis e não Decretos-


Leis, o Direito à Vida é um princípio consagrado na CRP, artigo 288º da CRP, que diz respeito
aos “limites materiais da revisão”, a alínea “d) Os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos”
nunca poderão ser postos em causa em qualquer revisão constitucional, muito menos, sendo
uma matéria reservada à Assembleia da República, por um Decreto-Lei do Governo. Sendo o
Direito à vida um direito fundamental a CRP deve assegurar a garantia desse mesmo direito, o
qual implica a proibição da pena de morte, seja em que caso for, artigo 277º, nº1, “São
inconstitucionais as normas que inflijam o disposto na CRP ou os princípios nela consagrados”.

O PR tendo recebido o Decreto-Lei aprovado pelo Governo cabe-lhe, segundo os termos do


artigo 134º alínea b) da Constituição, “Promulgar e mandar publicar as leis, os decretos-leis e
os decretos regulamentares”. Também o artigo 136º, nº4, da CRP, vem estabelecer que “No
prazo de quarenta dias contados da receção de qualquer decreto do Governo para ser
promulgado, ou da publicação da decisão do Tribunal Constitucional que não se pronuncie pela
inconstitucionalidade de norma dele constante, deve o Presidente da República promulgá-lo ou
exercer o direito de veto, comunicando por escrito ao Governo o sentido do veto”; logo, cabe
também ao Presidente da República permitir que uma lei aprovada seja ou não promulgada.

Ver artigos 286º, 161º, 134ºb), 136º.

45. A hierarquia prevalece sobre a posterioridade, logo um Tratado Internacional prevalece


sobre um Decreto-Lei posterior que o contrarie. O presente Decreto-Lei é incompatível com o
Tratado, há uma contrariedade ao tratado superior, logo é ilegal. O Governo aprovou este
Decreto-Lei, cabe ao presidente promulga-lo ou vetá-lo, segundo o artigo 134 b) e 136 nº4 da
CRP, neste caso sendo ilegal o Decreto-Lei, deve vetá-lo e explicar o porquê desse veto ao
Governo por escrito. Há assim inexistência jurídica por falta de assinatura ou promulgação do
Presidente da República, artigo 137º, CRP.

47. A questão apresentada aqui remete à doutrina, o conjunto de orientações que resultam da
opinião de jurisconsultos. Ora, a doutrina não é fonte do direito em sentido técnico-jurídico em
Portugal, não é um modo de revelação e formulação das normas, logo, não é vinculativa. Esta
doutrina contraria um parecer que há muito este tribunal seguia, há uma repetição de julgados,
isto é, uma jurisprudência constante. No entanto, como já foi visto, a jurisprudência também
não é fonte de direito em sentido técnico-jurídico, por isso, o tribunal não pode decidir o caso
nestes termos. Não podendo decidir de acordo com as suas pré-compreensões, estando
apenas vinculado ao Direito objetivo, segundo o artigo 203º da CRP e 8º do CC, os juízes têm
o dever de fundamentar as suas decisões, também acrescenta o artigo 615º do Código do
Processo Civil, que se não fundamentar a sua decisão esta é nula. Não sendo nem a doutrina

34
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

nem a jurisprudência vinculativas, o Conselheiro relator não tem qualquer legitimidade no que
diz.

49. As afirmações de Sofia não são devidamente fundamentadas e são falaciosas. Sofia invoca
o costume contra legem, no entanto, ao definir costume fica-se pela metade, isto é, está
meramente a definir usos – prática social reiterada –, para estar presente no seu todo para
além de uso tem que estar vinculado a uma convicção de obrigatoriedade. Neste caso não há
uma convicção de que se deve proceder segundo aquele uso, não estão implícitas regras
jurídicas, ou seja, falar ao telefone não é uma prática segundo a qual há uma crença de que é
lícita a prática e assim se deve proceder. A definição e má formulação do conceito de costume
não permitem que o mesmo seja invocado, logo, não tem qualquer prevalência sobre a lei que
dita que falar ao telefone enquanto se conduz é proibido devido à insegurança que subjaz ao
primeiro e terceiros. Não estando reunidos os requisitos de costume, não há qualquer valor
revogatório da lei, quem está mal informada é a Sofia e não os agentes que simplesmente
cumprem a sua função.

50. Trata-se da cessação ou não da vigência de um regulamento, que se enquadra na fonte de


direito Lei, todo o texto ou fórmula deliberadamente criada por alguém com competência para
tal. O artigo 7º do Código Civil diz que “Quando não se destine a ter vigência temporária, a lei
só deixa de vigorar se for revogada por outra lei”. Isto é, a lei apenas cessa a sua efetividade
quando caduca ou revogada. Nenhuma lei publicada posteriormente regula acerca desta
matéria, nem em favor nem em contrário, logo, não estamos perante nenhuma forma de
revogação. Em termos de caducidade, esta não abrange apenas aquelas que se destinem a ter
vigência temporária, abrange também aquelas cujos os pressupostos de aplicação da norma
desaparecem, neste caso, a lei caiu em desuso e o mero desuso não revoga a lei. A
interpretação literal do artigo 7º não abrange a cessação de vigência por inconstitucionalidade
ou ilegalidade por um acórdão com força obrigatória geral, a constituição privilegia a igualdade
no artigo 13º, o que este regulamento não acompanha ao discriminar os homens exigindo que
vistam as suas camisolas na praia, e o costume contra legem, não nos podemos cingir à letra
da lei segundo o artigo 9º nº1. Este último pode já revogar a lei , é uma prática social reiterada
com convicção de obrigatoriedade, há um costume contrário à lei, não acompanha a aplicação
desta lei, mas age-se em conformidade com a ordem jurídica. Este regulamento deixa de
exprimir de forma adequada a ordem jurídica, esta lei é ultrapassada pelo tempo.

A maioria da doutrina considera o costume contra legem fonte do direito, a lei por si própria não
se pode considerar superior ao costume, a supremacia da lei está ainda por demonstrar. O
costume é uma fonte privilegiada, pois brota diretamente da sociedade, expressa a vontade
das pessoas, não está dependente do Estado: tem que ser observado e espontâneo, tem uma
eficácia assegurada. A lei pode não ter eficácia, mas o costume tem-na, é observável e
independente do comportamento dos governantes. O costume contra legem prevalece neste
caso.

35
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

54. Estamos perante uma repetição de julgados, isto é, perante a jurisprudência constante,
como já vimos, a jurisprudência não é vinculativa, o juiz está apenas vinculado ao direito
objetivo e à sua consciência, artigo 8º do CC e 203º CRP, o juiz pode decidir sem estar
vinculado aos precedentes. Não é, pois, um costume jurisprudencial, porque apesar da
repetição de julgados, os juízes decidem naturalmente daquela forma, não há convicção de
obrigatoriedade, mas é preciso, contudo, ter em conta os casos análogos apesar de não serem
vinculativos. Perante uma disposição geral não se podem afastar da lei os juízes, por muito
persuasiva que seja a jurisprudência constante.

60. A jurisprudência uniformizadora não é fonte de direito, ou seja, não vincula os tribunais
inferiores nem os casos futuros. O juiz está vinculado somente ao Direito objetivo. Assim, este
Acórdão uniformizador vinculou o caso para que foi criado, mas não vincula mais nenhum, pois
não tem força obrigatória geral. Assim, o tribunal de primeira instância não está vinculado a
tomar esta decisão que foi tomada naquele caso concreto.

Equidade:

 Entendida como justiça do caso concreto; a solução pode ser adequada,


mas não fazer sentido num caso concreto.
 Há casos em que devemos resolver a situação, não segundo uma
norma geral e abstrata pensada para n situações, mas segundo uma solução que seja justa no
caso concreto. Há situações em que a solução do caso tem que ser uma solução com base nas
especifidades muito atípicas que o caso concreto apresenta e não segundo o critério geral e
abstrato.
 Em vez da rigidez da regra, substitui-se pela flexibilidade adequada ao
caso concreto (régua de Lesbos).
 Há quem diga que:
o A equidade não é verdadeira fonte de direito; não nos dá um critério, faz
apelo a uma decisão sábia (rei Salomão, as duas mulheres e o bebé); não tem capacidade de
chegar a um critério aplicável a outras situações futuras, não há casos concretos iguais, cada
caso é irrepetível na vida das pessoas, logo não é aplicável; não se tira da equidade um critério
para todos os casos semelhantes.
 É fonte do direito mediata, tem um âmbito limitado: o Código Civil só
aceita a equidade se estiver dentro dos parâmetros do artigo 4º: a própria lei permitir
(expressamente) recorrer, as partes acordarem que a questão seja resolvida de acordo com a
equidade (em relações disponíveis – leis dispositivas) (ex.: artigo 1407º CC).

 A equidade como critério exclusivo de solução (justiça do caso


concreto):

36
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

1. Casos em que a equidade corrige a lei:

 Corrige a lei, ainda é um problema da interpretação corretiva da lei


porque a corrige para todos os casos e não apenas para um concreto, quando a lei o permite.
A interpretação não pode parar na letra da lei, é preciso ter em conta o que o legislador previu
no momento de feitura da norma.

2. Integração da lacuna da lei:

 Deixa de ter uma interpretação restritiva, fica não resolvida, há uma


lacuna e não uma interpretação corretiva. É preciso ver a lei que o legislador pretendia, é
preciso estar sempre consagrada a dignidade e preservação da vida.

3. Substitui a lei:

 Casos em que a lei não pode ser convocada, mas são resolvidos pela
lei, a equidade flexibiliza a durabilidade da lei (ex.: artigo 494º CC). Critério de decisão por
afastamento dos critérios legais. Segundo o artigo 4º do Código Civil, é preciso autorização
legal ou acordo das partes.

 Lei da arbitragem voluntária, artigo 39º CC, as partes vão querer resolver
o litígio não segundo o Direito, mas segundo o que é justo. – Tribunal arbitrário.

4. Quais os casos em que a equidade não pode ser convocada?

 Servia para integrar lacunas, hoje se as houver recorre-se à analogia,


caso análogo.
 Deve resolver-se segundo a norma que o intérprete retira da lei.
 Tinha uma função de misericórdia, hoje também a lei a tem.

Ex.: Chefe da RDA foi preso, ao fim de cumprir um grande período de prisão descobriu-se que
tinha cancro terminal: a equidade diz para o deixar morrer em casa. O caso foi resolvido não
segundo a equidade, o cumprimento de uma pena não pode atentar à dignidade humana, logo
deste princípio retirou-se um critério, uma lei. Logo o caso foi solucionado segundo a lei e não
segundo a equidade.

 A equidade como critério complementar (determina a


consequência jurídica):
 A equidade pode surgir contra legem. Há certas remissões legais para a
equidade. O intérprete poderá recorrer livremente a todas as circunstâncias que forem
relevantes à luz da justiça, como é próprio da solução equitativa. A equidade é o método de
individualização mais radical, mas está longe de ser o único admissível na ordem jurídica.
 Complemento nas cláusulas gerais:

37
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

o A lei limita-se muito frequentemente a uma orientação ampla e vaga,


obrigando o intérprete a uma acrescida intervenção na solução do caso concreto. Mas o critério
a que a lei remete nestes casos é o próprio critério valorativo fixado na cláusula geral, é
necessário atender ao caso concreto, mas a solução deve ser olhada à luz da boa fé, dos bons
costumes e assim por diante, e não diretamente à luz da justiça.
 Medida da consequência jurídica:
o A equidade tem uma intervenção precisa, muitas vezes o efeito jurídico
exige uma quantificação. É preciso atender às circunstâncias do caso concreto, só a equidade
poderá ir buscar este suplemento que nos permite um desenvolvimento que a lei não pode já
conter.

 Menezes Cordeiro: Noção fraca (sem prescindir totalmente do direito


objetivo, do direito positivo, vem decidir com base na justiça do caso concreto mas sempre
atendendo aos princípios que resultaram do direito positivo) e noção forte (prescinde do direito
objetivo, prescinde da lei de todo, da legalidade positiva, e analisava a justiça do caso
concreto) da equidade.

 Os quatro primeiros artigos do Código Civil são hoje irrelevantes, a sua


descrição é desajustada quanto às fontes de direito dos dias de hoje:
o Artigo 1º, são leis estaduais, as normas corporativas, a interpretação não
pode para na letra da lei; há uma nova constituição desde a do tempo revolucionário de 1976; o
artigo é agora irrelevante, porque as regiões autónomas podem agora fazer leis.
o Artigo 2º, foi revogado (acerca do papel vinculativo da jurisprudência);
o Artigo 3º e 4º, são fontes mediatas, dependem da lei. O artigo 3º, uso
sem convicção de obrigação não é costume, não é fonte. O artigo 4, a equidade não é fonte.

Exercícios:

61.

a) A equidade é entendida como justiça do caso concreto; a solução pode ser adequada, mas
não fazer sentido num caso concreto. Há casos em que devemos resolver a situação não
segundo uma norma geral e abstrata para “n” situações, mas segundo uma solução que seja
justa no caso concreto, isto é, casos em que a solução tem que ser uma com base nas
especialidades muito atípicas que o caso concreto apresenta e não segundo o critério geral e
abstrato, não pode ser universal, tem que ter princípios de justiça e racionalidade.

b) As fontes de direito são os modos de formação e revelação de normas jurídicas. A equidade


é um critério formal de decisão, está fora desta definição. A equidade não é considerada fonte
de direito pela generalidade da doutrina, pois não nos dá um critério, faz apelo a uma decisão
sábia, não em capacidade para chegar a um critério aplicável a outras situações semelhantes,

38
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

pois não há casos concretos iguais, cada caso é irrepetível na vida das pessoas. Não se retira
da equidade um critério para casos futuros semelhantes.

O legislador quando formula uma norma jurídica atende aos casos mais frequentes e não a
todas as possibilidades que podem ocorrer. A equidade vem atenuar a rigidez das fontes de
direito oportunas, por vezes a justiça social não é a mais adequada, assim, a equidade tempera
a lei. O valor reconhecido pelo direito português à equidade é a amenização da rigidez da lei
apenas quando está dentro dos parâmetros do artigo 4º: Disposição legal (lei expressamente
diz); disposição convencional (vontade das partes).

A escolha da lei forma sobre a lei material é sempre escolher a justiça do caso concreto sobre
a segurança jurídica (justiça social) – quanto à orientação dos seus atos; previsibilidade da
solução do caso concreto. A escolha da justiça concreta vem denegrir a segurança jurídica. O
julgador apenas pode recorrer à equidade nos termos da disposição legal ou convencional. A
equidade é fonte do direito mediata.

c) A solução dos casos é muitas vezes comparada à régua de Lesbos; em vez da rigidez da
régua vulgar (todas as fontes de direito) substitui-se pela régua flexível, permitindo a adaptação
às faces irregulares dos objetos a medir. A norma é uma régua rígida que abstrai das
circunstâncias por ela não consideradas relevantes. Já a equidade é um régua maleável, pois
está em condições de tomar em conta circunstâncias do caso que a regra despreza, como
força ou fraqueza, para chegar a uma solução que melhor se adapte ao caso concreto, mesmo
que se afaste da solução da lei; há uma criação para o caso singular.

63. Artigo 4º - critério exclusivo substitutivo (substitui os critérios normativos).

Artigo 489º, nº1 - critério exclusivo substitutivo (afasta-se da solução legal).

Artigo 566º, nº3 - critério complementar (determina medida da consequência jurídica da norma
legal).

67. Estamos perante um contrato de depósito nos termos do artigo 1185º do Código Civil, “
Depósito é o contrato pelo qual uma das partes entrega à outra uma coisa, móvel ou imóvel,
para que a guarde, e a restitua quando for exigida”, não tem que estar escrito, pois o artigo
219º permite a liberdade de forma.

Segundo o artigo 1187 alínea c) a Carolina tem o dever de restituir a coisa depositada, neste
caso a arma de Bruno. O artigo 1192º, nº1, estabelece que ainda que tenha um contra crédito
não pode exercer o direito de retenção da coisa depositada. Mas o artigo 1192, nº3 estabelece
um regime excecional em relação ao nº1, vem dizer que poderá de facto reter a coisa
depositada se lhe vier ao conhecimento que a coisa é roubada. Mas neste caso não é o que se
passa, a Carolina tem conhecimento que o Bruno quer praticar um crime. Tratando-se de uma
norma excecional, não se pode aplicar a analogia, se fosse uma norma geral já se podia fazê-

39
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

lo. Com base nos artigos 8º do CC e 203º da CRP os juízes estão sujeitos à lei, ao Direito
objetivo. O artigo 8º diz que não pode afastar-se da disposição com base na injustiça do caso
concreto. Mas o artigo 4º acrescenta que só se pode recorrer à equidade quando está expresso
na disposição legal ou convencional no âmbito da disponibilidade das partes.

O artigo 339º do Código Civil, remete ao Estado de Necessidade, este é uma das formas de
tutela privada que é sempre excecional face à tutela pública. Carolina se estivesse junto de um
polícia podia recorrer à tutela da autoridade pública, contudo, quando não o é possível existem
meios de tutela privada (legitima defesa, estado de necessidade...). Este artigo vem permitir a
tutela privada se existirem os critérios do perigo atual, um dano manifestamente superior
àquele que ocorreria da destruição ou danificação da coisa, com o fim de remover o perigo
atual manifestamente superior. O perigo atual é o homicídio que Bruno cometeria sobre Álvaro,
que é manifestamente superior à danificação ou destruição da arma, mas se a lei permite o
mais permite o menos, se a lei permite que se destrua a coisa, também permite que se retenha
a coisa. A doutrina geral em relação ao artigo não o considera um elenco taxativo, logo se se
vem permitir o mais, também se vem permitir o menos.

Mas não recorrendo à interpretação enunciativa, quem o considere um elemento taxativo,


seguir-se-ia os princípios fundamentais do direito. São um critério de validade dentro da ordem
jurídica, o direito tem uma tridimensionalidade, desde logo uma dimensão axiológica que
prosseguia sempre valores de justiça e segurança. Quando da aplicação surge uma
consequência que não é tolerável dentro da ordem jurídica, diretamente contrária a estes
princípios fundamentais do direito, a lei neste sentido não seria válida.

69. Estamos perante uma indemnização, isto é, a aferição de um montante de ressarcimento


dos danos. Então é um caso de responsabilidade civil, 483º ou 503º do Código Civil. O Filipe é
responsável pelos danos que causou a Gonçalo, é preciso aferir o montante indemnizatório a
pagar, qual o cômputo de indemnização de responsabilidade de vida. Artigo 562º estabelece o
principio geral da reconstituição natural, é preciso tentar reconstituir o carro se for possível,
mas muitas vezes não é possível arranjar o carro. Se não o for possível então deve-se
indemnizar o carro por equivalente, e se não for possível o artigo 566º vem estabelecer a
indemnização fixa em dinheiro. É preciso verificar também, para além dos danos patrimoniais,
os danos não patrimoniais, o artigo 496º, nº1, só se vem ressarcir os danos não patrimoniais
(moral) se forem suficientemente graves que mereçam a tutela do direito. Estes são critérios
normativos.

É preciso interpretar em sentido estrito, é preciso partir da fonte para retirar o sentido da regra
que lá está albergada.

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