13/08/2017 Os Filhos de Deus e as Filhas dos Homens de Gênesis 6

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ESTUDOS BÍBLICOS

Os Filhos De Deus E As Filhas Dos Homens De

Gênesis 6
Por Daniel Conegero

As especulações sobre quem eram os lhos de Deus e as lhas dos homens de Gênesis 6,
provocam uma polêmica que já dura um bom tempo entre os estudiosos da Bíblia.

Existem várias opiniões sobre o assunto, porém três linhas de interpretação aparecem como
principais:

Os lhos de Deus eram anjos caídos;

Os lhos de Deus eram descendentes de Sete se casando com descendentes de Caim;
Os lhos de Deus eram homens poderosos (governantes e nobres).

Abaixo veremos os detalhes de cada uma das três interpretações disponíveis.

Os lhos de Deus eram anjos caídos:

A ideia de que os lhos de Deus eram anjos caídos que tiveram relações com mulheres é a
interpretação mais antiga e conhecida sobre o assunto. A principal defesa para essa
interpretação é o fato de que no Antigo Testamento a expressão “ lhos de Deus” se refere a
anjos (Jó 1:6; 2:1; 38:7). Outro ponto que reforça essa ideia é que antigos estudiosos hebreus
como Flávio Josefo, também apresentam essa teoria, o que também concorda com o livro
pseudoepígrafo de Enoque que defende tal interpretação.

No Novo Testamento os textos mais utilizados para defender essa opinião estão em 2 Pedro 2:4
e Judas 1:6.

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Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado
no inferno (https://estiloadoracao.com/o-que-e-o-inferno-na-biblia/), os
entregou às cadeias da escuridão, cando reservados para o juízo;
(2 Pedro 2:4)

E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria
habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele
grande dia (https://estiloadoracao.com/o-juizo- nal/);
(Judas 1:6)

Dessa perspectiva, o resultado da união entre as mulheres ( lhas dos homens) com os seres
angelicais ( lhos de Deus) resultou no nascimento de gigantes (no sentido literal), homens
notórios e valentes da antiguidade.

Para contradizer essa interpretação o texto mais utilizado é o de Mateus 22:30, porém é
rebatido pelos simpatizantes da teoria com o argumento de que Jesus se referiu aos anjos do céu
e não aos anjos rebeldes, além de que o texto diz que os anjos não se casam, mas não diz nada
sobre a impossibilidade de, em forma corpórea de homem, os anjos poderem manter relações
com mulheres.

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Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão
como os anjos de Deus no céu.
(Mateus 22:30 (https://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/22/30))

Outro texto muito utilizado nessa defesa é Gênesis 19:5, onde os homens homossexuais de
Sodoma queriam ter relações com os anjos (em forma de homem) que vieram destruir a cidade.

Com base nessa interpretação, estudiosos apresentam o tamanho da desobediência em relação

aos mandamentos de Deus, a ponto de existir uma raça mista cosmológicamente, ou seja, que
não era 100% humana, o que justi caria o Dilúvio ter dizimado toda a humanidade, com exceção
de Noé e sua família.

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Outra critica contra essa interpretação é a questão de que os textos do Novo Testamento de

Pedro e Judas utilizados como defesa dessa teoria, em momento algum tratam de casamentos
angelicais, e muito menos se propõem a explicar o evento antediluviano, o que parece exigir
muito arranjo de exegese para combina-los com Genesis 6. Também vale ressaltar que o capítulo
6 diz claramente que a atitude partiu dos “ lhos de Deus” e não das “ lhas dos homens”. Se essa
mistura resultou no Dilúvio deveria existir alguma referência mais explicita de punição a esses
anjos que iniciaram tal perversidade no próprio livro de Gênesis.

Os lhos de Deus eram os descendentes de Sete:

Segundo essa interpretação, a descendência justa de Sete se misturou com a descendência ímpia
de Caim, ou seja, os homens da linhagem de Sete se casaram com as mulheres pagãs da linhagem
de Caim. Nessa interpretação os “nephilins” (gigantes) foram os homens ímpios e tiranos que
alcançaram fama na antiguidade, resultado dessa raça mista religiosamente.

Um dos argumentos para sustentar essa interpretação é o contexto dos capítulos anteriores. Em
Gênesis 4 é apresentada a geração perversa de Caim, e em Gênesis 5 é descrita a descendência
justa de Sete. Como sequencia, o capítulo 6 parece mostrar que tal separação foi corrompida e
misturada.

O problema com essa interpretação é que em nenhum outro lugar no Antigo Testamento os
descendentes de Sete são chamados de “ lhos de Deus”. Além do mais a Bíblia não diz que todos
os descendentes de Sete foram justos, mas descreve alguns, como Enoque e Noé. Outro ponto
ainda mais discutível é a exigência de uma “quebra de padrão de escrita” no próprio capítulo 6.
No versículo 1 o termo “homens” parece se referir a humanidade de modo geral (considerando
todos os homens), mas no versículo 2 signi caria a descendência de Caim especi camente. Por
último, também seria difícil de explicar que apenas as mulheres descendentes de Caim é que se
casaram com os descendentes de Sete, já que pode ter ocorrido de homens descendentes de
Caim terem se casado com as mulheres descendentes de Sete.

Uma variação dessa interpretação defende que não necessariamente sejam os descendentes de
Sete ou Caim, mas que pessoas piedosas uniram-se com pessoas pagãs, e logo todos estavam
praticando a maldade de uma forma abominável, resultando em uma devassidão total por parte
da humanidade.

Os lhos de Deus eram homens poderosos:

Essa interpretação defende que o termo “ lhos de Deus” eram títulos atribuídos a reis,
governantes, aristocratas e nobres, homens poderosos da antiguidade no Antigo Oriente que
não cumpriram os mandamentos de Deus e, ao invés de praticarem um governo justo, faziam o
que bem entendiam na busca por poder e riquezas.

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A união entre esses homens e as “ lhas dos homens” não seria no sentido de “realeza e plebe”, ou
união mista religiosamente (homens justos e mulheres pagãs), mas no sentido de poligamia, e
pratica de orgias que banalizavam o sentido original e singular da relação homem e mulher,
inicialmente criado por Deus, e disseminando uma depravação sem precedentes por toda a
humanidade. Nessa interpretação as “ lhas dos homens” não seriam apenas as descendentes de
Caim, mas as mulheres em geral.

Para essa interpretação, o termo “nephilins” está associado ao termo “gibborim” da raiz “gibbor”
que signi ca “homem de força”, “homem de poder” ou “homem de valor e riqueza”. Isso signi ca
que não se tratavam de gigantes em estatura, mas homens poderosos que exerciam governo na
antiguidade.

Outra defesa utilizada é o fato de que a palavra hebraica “Elohim” não é empregada apenas para
se referir a Deus no Antigo Testamento, mas também para se referir a juízes, magistrados ou
homens em posição de destaque (Ex 21:6; Sl 82:1, 82:6).

O crítica em relação a essa interpretação é que os nobres, reis e algumas autoridades às vezes

são chamados de “deuses”, mas em nenhum momento de “ lhos de Deus”, porém tal crítica é
rebatida com base em alguns antigos targumim aramaicos, que traduzem “ lhos de Deus” como
“ lhos de nobres”. Outra critica é o fato de “nephilins” nessa interpretação não se referir a
homens de grande estatura, já que em Números 13:33 (única utilização da palavra além de
Gênesis) o mesmo termo é utilizado para se referir às pessoas de grande estatura literalmente.

Existe também uma variação de interpretação sobre os gigantes, que defende que o texto bíblico
não diz que eles nasceram da união entre “ lhos de Deus” e “ lhas dos homens”, mas que naquela
época existiam gigantes na terra, apenas isso.

Qual a interpretação correta?

Como pudemos notar é bem difícil a rmar qual linha de interpretação está correta. Na verdade
considero ser impossível eleger uma das visões como posição o cial das Escrituras e a rmar com
exatidão o que realmente Gênesis 6 descreve, isso pelo fato de a Bíblia não esclarecer
explicitamente o assunto. Importantes estudiosos ao longo dos anos têm se pronunciado de
forma contraditória entre si, ou seja, dividem opiniões, já que existem críticas a todas as
interpretações.

Meu parecer sobre o assunto é que realmente a Bíblia não esclarece os detalhes sobre tais
especulações. Na verdade o que realmente é importante no capítulo 6 de Gênesis é a descrição
do estado deplorável que a raça humana atingiu, explorando toda a potencialidade do pecado, e
como isso foi contrário aos mandamentos de Deus, causando o juízo divino com o anúncio do
Dilúvio.

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No texto também podemos notar que o plano de Deus é eterno, seus propósitos não mudam e,
aconteça o que for, sua promessa será mantida. Em Gênesis 3:15 podemos ver pela primeira vez
na Bíblia a menção ao plano de salvação, e que da semente da mulher Satanás seria esmagado.
Em Gênesis 6 vemos a descendência da mulher totalmente corrompida e deprava, mas havia um
justo, Noé, que achou graça aos olhos de Deus. Em outras palavras, em Noé, Deus estava
preservando o seu plano imutável.

Agora sobre a discussão de quem seriam os “ lhos de Deus”, particularmente pre ro a última
interpretação (homens poderosos), combinado com uma uma mistura também entre justos e
pagãos que corrompeu a todos. Sobre a possibilidade de serem anjos reconheço que tanto Pedro
quanto Judas em suas epístolas falam sobre anjos rebeldes, mas em nenhum momento a rmam
que tal rebeldia se re ra ao relacionamento entre anjos e humanos. Sei também que anjos
podem assumir forma humana, mas em nenhum outro local isso aparece como precedente para
relações sexuais entre anjos e mulheres. Também pre ro não acrescentar dupla interpretação às
declarações de Jesus em Mateus 22:30 e Marcos 12:25.

Também acredito ser pouco provável a interpretação sobre os descendentes de Sete e Caim,
pois exige uma interpretação particular que parece forçar o texto. No Novo Testamento o termo
“ lhos de Deus” é empregado para se referir aos seguidores de Cristo (Mt 5:9; Rm 8:14; Gl 3:26),
porém é difícil encaixar esse padrão ao contexto de Gênesis 6 já que o Novo Testamento está
tratando da adoção dos escolhidos de Deus em Cristo Jesus (Ef 1:5), e não a uma genealogia
especí ca.

Quanto à questão dos gigantes o texto de Números 13:33 é bastante curioso nesse sentido, sem
falar também sobre o conhecido personagem de grande estatura chamado Golias. O que quero
dizer é que para ser de “grande estatura” no sentido literal nas referências bíblicas, não é pré-
requisito ser fruto do relacionamento entre anjo e mulher. Se fosse assim deveríamos considerar
que a condição de Gênesis 6 se repetiu novamente em Números e na família de Golias. Também
não podemos dizer que essas outras referencias tratam de descendentes desses homens pré-
diluvianos porque a Bíblia é clara em a rmar que apenas Noé e sua família sobreviveram ao
Dilúvio.

É importante dizer que mesmo os homens de grande estatura que a Bíblia se refere, não
possuem um gigantismo fantasioso, no auge de seus mais de 10 metros de altura. Golias, por
exemplo, teria tido uma altura aproximada de 3 metros, nada tão absurdo como o imaginário
popular fantasia, aliás, não tão longe da altura de um jogador de basquete que em alguns casos
atingem até 2,20 metros; sem considerar que na história moderna o Livro dos Recordes
reconhece um homem que teve 2,72 metros de altura. Sobre algumas fotos que circulam na
internet de ossadas absurdas de gigantes, acreditem, se tratam apenas de montagens, inclusive a
mais famosa entre elas foi feita para um concurso.

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Para nalizar, no caso de Gênesis 6, também acredito que os gigantes ali se re ram aos homens
poderosos e de grande fama da antiguidade, valentes que conseguiram tal reputação
principalmente por serem impiedosos e maus, porém rea rmo, essa é a interpretação que eu
particularmente considero mais coerente com as Escrituras, mas está longe de ser um consenso.

E você? O que acha sobre isso?

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Daniel Conegero é o líder do Projeto Estilo Adoração. Formado pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie, é professor de Teologia e serve em sua congregação local como professor da Escola
Bíblica Dominical.

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