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Processo excluído deste informativo esquematizado por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: RE 870947/SE.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 4357 ED/DF; ADI 4425 ED/DF.
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
Surgimento de novas vagas e discussão sobre direito subjetivo à nomeação.
JUSTIÇA GRATUITA
Exigibilidade suspensa das obrigações resultantes da sucumbência.
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
Surgimento de novas vagas e discussão sobre direito subjetivo à nomeação
Importante!!!
O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante o
prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos
candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de
preterição arbitrária e imotivada por parte da administração, caracterizada por
comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de revelar a inequívoca
necessidade de nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser
demonstrada de forma cabal pelo candidato.
Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge
nas seguintes hipóteses:
Momento da nomeação
O candidato aprovado dentro do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação, mas quem escolhe o
momento de nomear é a Administração Pública. Assim, o candidato não pode exigir que seja
imediatamente nomeado. O direito de o candidato exigir a nomeação só surge quando o prazo do
concurso está expirando ou já expirou sem que ele tenha sido nomeado.
Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas, mas durante o prazo de validade do concurso
foram criados novos cargos, ele terá direito subjetivo à nomeação?
Em regra, não.
Imagine que a Administração fez um concurso para 10 vagas, tendo nomeado e dado posse aos 10
primeiros. Alguns meses depois são criadas 5 novas vagas. O prazo de validade do concurso ainda não
expirou. Apesar disso, o Poder Público decide fazer um segundo concurso. Os candidatos aprovados no
primeiro certame fora do número de vagas inicialmente previsto poderão exigir sua nomeação?
Em regra, não.
EXCEÇÃO:
Haverá direito à nomeação se o candidato conseguir demonstrar, de forma cabal:
•à ueà existeà i e uívocaà ecessidadeà deà o eaçãoà deà ap ovadoà du a teà oà pe íodoà deà validadeà doà
certame; e
•à ueà est à have doà preterição arbitrária e imotivada por parte da administração ao não nomear os
aprovados.
COMPETÊNCIA
STF não possui competência originária para julgar ação popular
O STF não possui competência originária para processar e julgar ação popular, ainda que
ajuizada contra atos e/ou omissões do Presidente da República.
A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do
Presidente da República, é, via de regra, do juízo de 1º grau
STF. Plenário. Pet 5856 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 25/11/2015 (Info 811).
Dete i ado idadão p opôs ação popula o t a a P eside te da Repú li a pedi do ue ela fosse
condenada à perda da função pública e a privação dos direitos políticos. A competência para julgar essa
ação é do STF?
NÃO. O STF não possui competência originária para processar e julgar ação popular, ainda que ajuizada
contra atos e/ou omissões do Presidente da República.
A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da
República, é, via de regra, do juízo de 1º grau.
JUSTIÇA GRATUITA
Exigibilidade suspensa das obrigações resultantes da sucumbência
A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Segundo o § 1º do art. 98 do CPC-2015, a gratuidade da justiça compreende:
I - as taxas ou as custas judiciais;
II - os selos postais;
III - as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a publicação em outros meios;
IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do empregador salário integral,
como se em serviço estivesse;
V - as despesas com a realização de exame de código genético - DNA e de outros exames considerados
essenciais;
VI - os honorários do advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou do tradutor nomeado para
apresentação de versão em português de documento redigido em língua estrangeira;
VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para instauração da execução;
VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para propositura de ação e para a prática
de outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório;
IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da prática de registro, averbação
ou qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo
judicial no qual o benefício tenha sido concedido.
Se a parte beneficiada pela justiça gratuita, ao final da demanda, for sucumbente (perder a causa), ela
terá que pagar os ônus da sucumbência (custas e honorários) ou é isenta?
O beneficiário da justiça gratuita não é isento do pagamento dos ônus sucumbenciais (custas e
honorários). Apenas sua exigibilidade fica suspensa até que cesse a situação de hipossuficiência ou se
decorridos cinco anos.
Em outras palavras, o juiz deverá condená-la a pagar as custas, mas a exigibilidade dessa obrigação ficará
suspensa aguardando que a situação econômica da parte melhore e ela tenha condições de quitar o
débito. Assim, enquanto não houver alteração na situação econômica da parte, ela não poderá ser
cobrada (executada) pela dívida. Essa suspensão irá perdurar durante o prazo de 5 anos. Passado tal
interregno, a obrigação será extinta pela prescrição.
Cuidado nas provas. Isso porque, segundo a interpretação dada pelo STJ a esse dispositivo, a parte
beneficiada pela justiça gratuita não é isenta do pagamento. Assim, ela é condenada a pagar (a obrigação
existe), mas a sua exigibilidade é suspensa. Veja:
(...) O beneficiário da justiça gratuita não é isento do pagamento dos ônus sucumbenciais, custas e
honorários, apenas sua exigibilidade fica suspensa até que cesse a situação de hipossuficiência ou se
decorridos cinco anos, conforme prevê o art. 12 da Lei nº 1.060/50. (...)
(STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 598.441/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/05/2015)
Desse modo, as observações feitas acima a respeito do art. 12 continuam valendo com o CPC 2015.
O fato de a interceptação telefônica ter visado elucidar outra prática delituosa não impede a
sua utilização em persecução criminal diversa por meio do compartilhamento da prova.
STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/12/2015 (Info 811).
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
Ausência de autos apartados configura mera irregularidade
Autos apartados
Segundo a Lei nº 9.296/96, o procedimento de interceptação telefônica (requerimento, decisão,
transcrição dos diálogos etc.) deverá ser instrumentalizado em autos apartados:
Art. 8º A interceptação de comunicação telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá em autos apartados,
apensados aos autos do inquérito policial ou do processo criminal, preservando-se o sigilo das diligências,
gravações e transcrições respectivas.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 7 a 11 de dezembro de 2015
HC N. 126.315-SP
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Habeas corpus. 2. Tráfico de entorpecentes. Condenação. 3. Aumento da pena-base. Não aplicação da causa de diminuição do § 4º do art. 33, da Lei
11.343/06. 4. Período depurador de 5 anos estabelecido pelo art. 64, I, do CP. Maus antecedentes não caracterizados. Decorridos mais de 5 anos desde
a extinção da pena da condenação anterior (CP, art. 64, I), não é possível alargar a interpretação de modo a permitir o reconhecimento dos maus
antecedentes. Aplicação do princípio da razoabilidade, proporcionalidade e dignidade da pessoa humana. 5. Direito ao esquecimento. 6. Fixação do
regime prisional inicial fechado com base na vedação da Lei 8.072/90. Inconstitucionalidade. 7. Ordem concedida.
*noticiado no Informativo 799
RHC N. 129.811-ES
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA PREVISTA NO
ART. 33, § 4º, DA LEI 11.343/2006. APLICAÇÃO. INVIABILIDADE. RÉU QUE NÃO PREENCHE OS REQUISITOS LEGAIS. REFORMATIO
IN PEJUS. NÃO OCORRÊNCIA. REGIME PRISIONAL FUNDAMENTADO NAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO.
1. A não aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 pressupõe a demonstração pelo juízo sentenciante da existência de
conjunto probatório apto a afastar ao menos um dos critérios, que são autônomos, descritos no preceito legal: (a) primariedade; (b) bons antecedentes;
(c) não dedicação a atividades criminosas; e (d) não integração à organização criminosa. Nesse juízo, não se pode ignorar que a norma em questão
tem a clara finalidade de apenar com menor grau de intensidade quem pratica de modo eventual as condutas descritas no art. 33, caput e § 1º, daquele
mesmo diploma legal em contraponto ao agente que faz do crime o seu modo de vida, razão pela qual, evidentemente, não estaria apto a usufruir do
referido benefício.
2. As instâncias ordinárias concluíram, com base nos elementos de provas colhidos sob o crivo do contraditório, pela dedicação do recorrente a
atividade criminosa, circunstância que não pode contraditada em sede de habeas corpus, instrumento que não se presta para o revolvimento do
conjunto fático probatório. Precedentes.
3. Mantida a essência da causa de pedir e sem piorar a situação do recorrente, é legítima a manutenção da decisão recorrida, em sede de apelação,
ainda que por outros fundamentos. No particular, a não aplicação da minorante foi mantida, sob perspectiva diversa, com esteio circunstâncias fáticas
apontadas na própria sentença condenatória. Desse modo, não há falar em reformatio in pejus.
4. A determinação do regime inicial de cumprimento da pena deve levar em conta dois fatores: (a) o quantum da reprimenda imposta (CP, art. 33, §
2º); e (b) as condições pessoais do condenado estabelecidas na primeira etapa da dosimetria (CP, art. 59 c/c art. 33 § 3º). Nesse contexto, não há
ilegalidade na decisão que, mediante fundamentação jurídica adequada, estabelece o regime inicial mais grave, como medida necessária e suficiente
para reprovação e prevenção do crime.
5. Recurso ordinário a que se nega provimento.
AG. REG. NO AG. REG. NO RE N. 562.763-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
REPERCUSSÃO GERAL – BAIXA À ORIGEM – DECISÃO PRECLUSA – ARTIGO 543-B DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. A preclusão
do pronunciamento, mediante o qual se determinou a remessa do Agravo de Instrumento nº 682.112/SP à origem, obstaculiza o sucesso de
impugnação.
AG. REG. NO AI N. 745.101-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio próprio ao revolvimento da prova, também
não servindo à interpretação de normas estritamente legais.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – LEI LOCAL. O recurso extraordinário não é meio hábil a ter-se o rejulgamento da lide no que decidida pelas
instâncias ordinárias a partir de interpretação emprestada a normas locais.*noticiado no
AG. REG. NO RMS N. 31.515-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR. APLICAÇÃO DE PENA DE DEMISSÃO A POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL. ABSOLVIÇÃO DO DENUNCIADO
NA ESFERA PENAL POR AUSÊNCIA DE PROVAS. FATOS NOVOS. DENÚNCIA DAS ÚNICAS TESTEMUNHAS PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL POR DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA. CONDENAÇÃO E RETRATAÇÃO. ENQUADRAMENTO
NA HIPÓTESE DE INEXISTÊNCIA DO FATO. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA PENA NA ESFERA ADMINISTRATIVA.
INOCORRÊNCIA DE INVASÃO DO PODER JUDICIÁRIO NO MÉRITO ADMINISTRATIVO DO ATO. INEXISTÊNCIA DE FALTA
RESIDUAL. INOCORRÊNCIA DE DECISÃO EXTRA PETITA. MERA INDICAÇÃO DA POSSIBILIDADE DE PLEITEAR
INDENIZAÇÃO NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A absolvição penal e a comunicabilidade do resultado na instância administrativa é tema jurídico que prescinde de dilação probatória.
2. A absolvição penal baseada na inexistência do fato ou autoria afasta a responsabilidade administrativa, tendo em vista a comunicabilidade das
instâncias.
3. In casu: a) O juízo criminal, quando da absolvição do agravado, não negou, expressamente, a existência do fato ou da sua autoria. Ocorre que a
superveniência dos fatos novos conduzem à conclusão no sentido da inexistência do fato, porquanto houve a condenação de dois dos denunciantes,
um por denunciação caluniosa e outro por falso testemunho, além da retratação das demais testemunhas. b) A Comissão Processante não sugeriu a
aplicação de pena de demissão ao policial com fundamento no fato de ter permitido que o motorista buscasse a CNH conduzindo seu próprio veículo.
Desse modo, não se verifica falta residual. Súmula 18 do STF. c) Inocorreu exame de conveniência, oportunidade e utilidade do ato primitivo pelo
Poder Judiciário, mas, apenas, a apreciação quanto à sua legalidade.
4. A mera indicação da possibilidade de se pleitar indenização nas instâncias ordinárias, sem a existência desse requerimento no recurso ordinário,
não configura decisão extra petita.
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Publique-se.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
7 a 11 de dezembro de 2015
Lei nº 13.202, de 8.12.2015 - Institui o Programa de Redução de Litígios Tributários - PRORELIT; autoriza o
Poder Executivo federal a atualizar monetariamente o valor das taxas que indica; altera as Leis n os 12.873, de 24 de
outubro de 2013, 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.213, de 24 de julho de 1991, 9.250, de 26 de dezembro de 1995, e
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
MS 33586 AgR/DF; RE 641320/RS.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: RE 608847 AgR/RJ.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Não cabimento de ADPF contra decisão judicial transitada em julgado.
IMUNIDADE PARLAMENTAR
Imunidade material.
SUS
Diferença de classes no SUS é inconstitucional.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Declaração de inconstitucionalidade de lei que efetuou transposição e exoneração do servidores.
DIREITO TRIBUTÁRIO
IMPOSTO DE RENDA
Aumento de alíquota e irretroatividade.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Não cabimento de ADPF contra decisão judicial transitada em julgado
Não cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) contra decisão judicial
transitada em julgado. Este instituto de controle concentrado de constitucionalidade não tem
como função desconstituir a coisa julgada.
STF. Decisão monocrática. ADPF 81 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 27/10/2015 (Info 810).
É possível que seja proposta ADPF contra decisão judicial mesmo que já tenha havido trânsito em julgado?
NÃO. Não cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) contra decisão judicial
transitada em julgado. Este instituto de controle concentrado de constitucionalidade não tem como
função desconstituir a coisa julgada.
IMUNIDADE PARLAMENTAR
Imunidade material
Queixa-crime
O ex-Presidente Lula, por intermédio dos seus advogados, ingressou, então, com queixa-crime contra o
Senador pedindo a sua condenação por calúnia, injúria e difamação.
Defesa do Senador
A defesa argumentou que o parlamentar não cometeu qualquer crime com seu comentário, considerando
estar acobertado pela imunidade material prevista no art. 53 da CF/88:
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões,
palavras e votos.
Importante!!!
É inconstitucional a possibilidade de um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) pagar para
ter acomodações superiores ou ser atendido por médico de sua preferência, a chamada
"diferença de classes".
Existe uma portaria do Ministério da Saúde (Portaria 113/1997) que proíbe a diferença de
classe. Este ato estava sendo questionado e o STF, em recurso extraordinário submetido à
repercussão geral, declarou que ele é constitucional, firmando a seguinte tese, que vale de
forma ampla para todos os casos envolvendo diferença de classe:
"É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, a internação em
acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por médico do próprio SUS,
ou por médico conveniado, mediante o pagamento da diferença dos valores correspondentes."
STF. Plenário. RE 581488/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/12/2015 (repercussão geral)
(Info 810).
Risco de os serviços prestados pelo SUS piorarem como forma de forçar o pagamento extra pelos pacientes
Se fosse permitida a diferença de classes, haveria o risco de os hospitais piorarem as condições das
enfermarias e das estruturas hospitalares, de maneira a constranger os indivíduos a procurarem por
condições mais dignas, ainda que pagas. Além disso, não se pode eliminar a possibilidade de ocorrer
superdimensionamento dos preços das acomodações superiores, de forma a que os usuários do Sistema
Único de Saúde arquem integralmente com os custos do tratamento. Em outras palavras, o pagamento
dessa "diferença" seria tão alto que, na verdade, o paciente estaria pagando o tratamento todo e o
hospital recebendo duas vezes (uma do SUS e outra dessa "diferença").
Existe uma portaria do Ministério da Saúde (Portaria 113/1997) que proíbe a diferença de classe. Este
ato estava sendo questionado e o STF, em recurso extraordinário submetido à repercussão geral
declarou que ele é constitucional, firmando a seguinte tese, que vale de forma ampla para todos os
casos envolvendo diferença de classe:
"É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, a internação em
acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por médico do próprio SUS, ou por
médico conveniado, mediante o pagamento da diferença dos valores correspondentes."
STF. Plenário. RE 581488/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/12/2015 (repercussão geral) (Info 810).
SERVIDORES PÚBLICOS
Declaração de inconstitucionalidade de lei que efetuou transposição e exoneração do servidores
No julgamento da ADI 3819, o STF declarou inconstitucional lei estadual, posterior à CF/88,
que transformou ocupantes de determinado cargo público em Defensores Públicos. Entendeu-
se que houve violação ao princípio do concurso público.
Os servidores foram, então, exonerados pelo Governador do Estado, mas conseguiram ser
reintegrados por decisão do STJ, que entendeu que, antes da exoneração, deveria a eles ser
garantido devido processo legal, com contraditório e ampla defesa.
O STF, em reclamação, cassou essa decisão do STJ por entender que ela contrariou a
autoridade da decisão proferida pelo STF no julgamento da ADI 3.819/MG.
STF. 2ª Turma. Rcl 16950/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1º/12/2015 (Info 810).
O STF concordou com o pedido contido na reclamação? A decisão do STJ determinando a reintegração
dos servidores afrontou a decisão proferida na ADI 3819?
SIM. A reclamação foi julgada procedente, determinando que fosse cassada a decisão do STJ que
reintegrava os servidores nos quadros da Defensoria Pública.
A decisão reclamada contrariou a autoridade da decisão proferida pelo STF no julgamento da ADI
3.819/MG (DJe de 23.8.2008). Nessa ação direta, o STF declarou a inconstitucionalidade, com efeitos
prospectivos, da lei estadual que admitiu, na função de Defensor Público, servidores que não ingressaram
na carreira mediante concurso.
O STF explicou que, durante o julgamento dessa ADI, ficou definido que os servidores não poderiam mais
permanecer como Defensores Públicos por força da declaração de inconstitucionalidade. O prazo
conferido para que a decisão paradigma produzisse seus efeitos apenas tinha o propósito de permitir ao
Estado de Minas Gerais a adoção das medidas necessárias para solucionar eventual risco à continuidade
dos serviços prestados pela Defensoria Pública.
RECURSOS
INSS é dispensado do pagamento de porte de remessa e retorno
Se o INSS interpuser um recurso, ele precisará pagar o porte de remessa e retorno (despesas
postais para o transporte do recurso)?
NÃO. O INSS é dispensado de pagar o porte de remessa e retorno mesmo nos processos que
tramitam na Justiça Estadual. Segundo decidiu o STF, o INSS é exonerado de recolher o porte de
remessa e retorno com base no § 1º do art. 511 do CPC 1973 (§ 1º do art. 1.007 do CPC 2015).
O porte de remessa e retorno é uma despesa de serviço postal prestado pelos Correios
(empresa pública federal) e que é remunerada por tarifa (preço público). Desse modo, o porte
de remessa e retorno não tem natureza jurídica de taxa, não sendo uma taxa estadual.
Sendo o porte de remessa e retorno uma tarifa paga a uma empresa pública federal, o CPC, que
é uma lei federal, poderia, de forma válida, prever a sua dispensa para o INSS. Trata-se de
diploma editado pela União, a quem compete dispor sobre as receitas públicas oriundas da
prestação do serviço público postal.
O STF resumiu a solução da controvérsia por meio da seguinte frase: "Aplica-se o parágrafo 1º
do artigo 511 do CPC, para dispensa de porte de remessa e retorno, ao exonerar o seu
respectivo recolhimento por parte do INSS .
STF. Plenário. RE 594116/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 3/12/2015 (repercussão geral)
(Info 810).
PREPARO
Preparo consiste no pagamento das despesas relacionadas com o processamento do recurso.
No preparo incluem-se:
taxa judiciária (custas);
despesas postais com o envio dos autos ( ha adoàdeà porte de remessa e de retorno dos autos).
Desseà odo,à p epa a à o recurso é nada mais que pagar as despesas necessárias para que a máquina
judiciária dê andamento à sua apreciação. O pagamento do preparo é feito, comumente, na rede bancária
conveniada com o Tribunal.
MOMENTO DO PREPARO
O CPC afirma que a parte que está recorrendo da decisão precisa comprovar o preparo no momento da
interposição do recurso. Logo, o preparo (recolhimento do valor) deve ser feito antes da interposição do
recurso e, junto com o recurso interposto, o recorrente deve juntar o comprovante do pagamento.
DESERÇÃO
Deserção é a inadmissibilidade do recurso pela falta ou insuficiência de preparo, observados os §§ 2º e 4º
do art. 1.007 do CPC 2015. Se o recurso foi deserto, significa que ele não foi conhecido (não foi sequer
apreciado). Gramaticalmente, desertar é o mesmo que abandonar.
Art. 511. No ato de interposição do recurso, o Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o
recorrente comprovará, quando exigido pela recorrente comprovará, quando exigido pela
legislação pertinente, o respectivo preparo, legislação pertinente, o respectivo preparo,
inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena
de deserção. de deserção.
Vale ressaltar que, quando o INSS estiver litigando na Justiça Estadual, ele terá que pagar as custas
processuais, mas somente ao final da demanda, se for vencido. Aplica-se ao INSS o art. 27 do CPC 1973
(art. 91 do CPC 2015) e o art. 1ºA da Lei nº 9.494/97:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 27. As despesas dos atos processuais, Art. 91. As despesas dos atos processuais
efetuados a requerimento do Ministério Público praticados a requerimento da Fazenda Pública, do
ou da Fazenda Pública, serão pagas a final pelo Ministério Público ou da Defensoria Pública serão
vencido. pagas ao final pelo vencido.
Lei nº 9.494/97:
Art. 1º-A. Estão dispensadas de depósito prévio, para interposição de recurso, as pessoas jurídicas de
direito público federais, estaduais, distritais e municipais.
Conforme já dito, o INSS é uma autarquia federal, portanto, está englobada dentro do conceito de
Fazenda Pública. Para que não houvesse qualquer dúvida, o legislador foi expresso na Lei n. 8.620/93:
Art. 8º O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), nas causas em que seja interessado na condição de
autor, réu, assistente ou opoente, gozará das mesmas prerrogativas e privilégios assegurados à Fazenda
Pública, inclusive quanto à inalienabilidade e impenhorabilidade de seus bens.
§ 1º O INSS é isento do pagamento de custas, traslados, preparos, certidões, registros, averbações e
quaisquer outros emolumentos, nas causas em que seja interessado na condições de autor, réu, assistente
ou opoente, inclusive nas ações de natureza trabalhista, acidentária e de benefícios.
§ 2º O INSS antecipará os honorários periciais nas ações de acidente do trabalho.
Obs: a lei federal não pode conceder isenção das custas na Justiça Estadual, mas pode afirmar que o INSS
só irá pagar ao final porque isso não é isenção.
E o porte de remessa e retorno? Se o INSS interpuser um recurso, ele precisará pagar o porte de remessa
e retorno (despesas postais para o transporte do recurso)?
NÃO. O INSS é dispensado de pagar o porte de remessa e retorno mesmo nos processos que tramitam na
Justiça Estadual.
Segundo decidiu o STF, o INSS é exonerado de recolher o porte de remessa e retorno com base no § 1º do
art. 511 do CPC 1973 (§ 1º do art. 1.007 do CPC 2015):
CPC 1973 CPC 2015
Assim, eventual lei estadual que determine que o INSS tenha que pagar porte de remessa e retorno é
inconstitucional. Isso porque o porte de remessa e retorno é uma despesa de serviço postal prestado pelos
Correios (empresa pública federal) e que é remunerada por tarifa (preço público). Desse modo, o porte de
remessa e retorno não tem natureza jurídica de taxa, não sendo uma taxa estadual.
Sendo o porte de remessa e retorno uma tarifa paga a uma empresa pública federal, o CPC, que é uma lei
federal, poderia, de forma válida, prever a sua dispensa para o INSS. Trata-se de diploma editado pela
União, a quem compete dispor sobre as receitas públicas oriundas da prestação do serviço público postal.
Como o recurso acima foi decidido sob a sistemática da repercussão geral, o STF resumiu a solução da
controvérsia por meio da seguinte frase: "Aplica-se o parágrafo 1º do artigo 511 do CPC, para dispensa de
porte de remessa e retorno, ao exonerar o seu respectivo recolhimento por parte do INSS .
HABEAS CORPUS
Não cabimento para reexame dos pressupostos de admissibilidade dos recursos
Importante!!!
Não é cabível habeas corpus para o reexame dos pressupostos de admissibilidade dos recursos.
A jurisprudência admite o habeas corpus substitutivo ?
• STJ e 1ª Turma do STF: NÃO (mas pode ser conhecido habeas corpus de ofício).
• 2ª Turma do STF: SIM.
STF. 1ª Turma. HC 114293/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 1º/12./2015 (Info 810).
A jurisprudência admite a utilização do habeas corpus como substitutivo de recurso próprio (o chamado
ha eas orpus su stitutivo )?
O entendimento majoritário é no sentido de que não. Não é possível a impetração de habeas corpus
substitutivo do recurso próprio.
Deve-se alertar, contudo, que, se a ilegalidade exposta no processo for flagrante (evidente, manifesta,
muito clara), ou então a decisão impugnada for teratológica (absurda, monstruosa), admite-se que o
Tribunal conceda habeas corpus de ofício, beneficiando o paciente.
Em outras palavras, se a ilegalidade for indiscutível ou a decisão absurda, o Tribunal não conhecerá do HC
impetrado (por ser ele substitutivo), mas concederá HC de ofício em favor do réu.
Esse entendimento é adotado pela 1ª Turma do STF e pelo STJ.
IMPOSTO DE RENDA
Aumento de alíquota e irretroatividade
É inconstitucional a aplicação retroativa de lei que majora a alíquota incidente sobre o lucro
proveniente de operações incentivadas ocorridas no passado, ainda que no mesmo ano-base,
tendo em vista que o fato gerador se consolida no momento em que ocorre cada operação de
exportação, à luz da extrafiscalidade da tributação na espécie.
A Súmula 584 do STF permanece válida. No entanto, este enunciado não se aplica para as
hipóteses em que o tributo tenha função extrafiscal.
STF. Plenário. RE 592396/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 3/12/2015 (repercussão geral)
(Info 810).
A Lei nº 7.988/89 aumentou as alíquotas do Imposto de Renda sobre exportações, nos seguintes termos:
Art. 1º A partir do exercício financeiro de 1990, correspondente ao período-base de 1989:
I - passará a ser 18% (dezoito por cento) a alíquota aplicável ao lucro decorrente de exportações
incentivadas, de que trata o art. 1º do Decreto-Lei nº 2.413, de 10 de fevereiro de 1988;
O problema foi que essa Lei, publicada em 28 de dezembro de 1989, influenciou no recolhimento do
imposto incidente sobre operações ocorridas em 1989. Como ela foi publicada no final de 1989, acabou
incidindo sobre operações realizadas antes mesmo da sua vigência.
Diante disso, o STF declarou a inconstitucionalidade do art. 1º, I, da Lei (que elevou a alíquota de 6% para
18% sobre as exportações) por entender que ele violou os princípios da anterioridade e da segurança
jurídica.
Súmula 584-STF
Um dos argumentos da União para defender a constitucionalidade da Lei foi a de que esse aumento da
alíquota é permitido pela jurisprudência do STF cristalizada na Súmula 584, que tem a seguinte redação:
Súmula 584-STF: Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente
no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração.
A súmula 584 do STF está superada? Ela pode ser aplicada no caso do art. 1º, I, da Lei nº 7.988/89 para
reconhecer esse aumento constitucional?
O tema é polêmico, mas prevalece no STF que a Súmula 584 continua válida.
O fato gerador do imposto de renda, na visão do STF, somente ocorre em 31 de dezembro do ano. Por
isso, em regra, não viola o princípio da irretroatividade a edição de lei editada nos últimos dias mesmo que
se aplique ao seu ano de edição.
No entanto, esse entendimento do STF, cristalizado na Súmula 584, foi construído e vale para as hipóteses
em que o imposto de renda tenha função meramente fiscal (arrecadatória), o que é a regra geral.
Esse enunciado, contudo, não se aplica ao caso do art. 1º, I, da Lei nº 7.988/89 porque, nesta hipótese, o
imposto de renda incidia sobre importações incentivadas pelo Governo, ou seja, o tributo aí tinha função
extrafiscal.
Para o caso da Lei nº 7.988/89, como não se trata de hipótese arrecadatória, deve ser afastada a
incidência da súmula, sob pena de se ferir direito adquirido do contribuinte.
Assim, não é legítima a aplicação retroativa do art. 1º, I, da Lei 7.988/89, que majorou a alíquota
incidente sobre o lucro proveniente de operações incentivadas ocorridas no passado, ainda que no
mesmo exercício. Relativamente a elas, a legislação havia conferido tratamento fiscal destacado e mais
favorável, justamente para incrementar a sua exportação. A evidente função extrafiscal da tributação
das referidas operações afasta a aplicação, em relação a elas, da Súmula 584/STF.
STF. RE 183130, Rel. p/ Acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 25/09/2014.
No julgamento deste RE 592396/SP, o STF reiterou o que foi decidido acima e, pelo fato de o recurso ter
sido julgado sob a sistemática da repercussão geral, a Corte fixou a seguinte tese:
"É inconstitucional a aplicação retroativa de lei que majora a alíquota incidente sobre o lucro proveniente
de operações incentivadas ocorridas no passado, ainda que no mesmo ano-base, tendo em vista que o
fato gerador se consolida no momento em que ocorre cada operação de exportação, à luz da
extrafiscalidade da tributação na espécie."
A Turma frisou que, embora as disposições normativas aplicáveis à magistratura da União e do Estado do
Rio de Janeiro não fossem absolutamente idênticas, em ambas as situações, apenas os membros do Poder
Judiciário que tivessem recebido o abono variável no período de 1º.1.1998 a 28.6.2002 teriam interesse na
causa, de modo que, quanto a esse ponto, não haveria distinção entre o presente caso e aqueles
apreciados pelo Plenário. Portanto, a limitação temporal do interesse da magistratura na matéria ocorreria
tanto no âmbito federal quanto no estadual, de modo que não se poderia afastar a aplicação do art. 102, I,
,àdaàCF.àáde ais,àoàfato de a controvérsia interessar apenas a magistrados estaduais também não seria
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 30 de novembro a 4 de dezembro de 2015
CLIPPING DO D JE
30 de novembro a 4 de dezembro de 2015
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
ADPF - Impugnação a decisões judiciais transitadas em julgado - Inadmissibilidade - Lei pós-constitucional - Inviabilidade
(Transcrições)
(v. Informativo 810)
ADPF 81-MC/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: ADPF. CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO. LEGITIMIDADE ATIVA DA ENTIDADE DE CLASSE ARGUENTE.
PRECEDENTE. FISCALIZAÇÃO CONCENTRADA DE CONSTITUCIONALIDADE: PROCESSO DE CARÁTER OBJETIVO
IMPOSSIBILIDADE DE DISCUSSÃO DE SITUAÇÕES INDIVIDUAIS E CONCRETAS. PRECEDENTES. AUSÊNCIA DE
CONTROVÉRSIA JURÍDICA RELEVANTE. PRESSUPOSTO NECESSÁRIO E ESSENCIAL AO VÁLIDO AJUIZAMENTO DA ADPF.
INEXISTÊNCIA, NO CASO, DE QUALQUER ESTADO DE INCERTEZA OU DE INSEGURANÇA NO PLANO JURÍDICO,
NOTADAMENTE PORQUE JÁ DIRIMIDO O DISSENSO INTERPRETATIVO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
PRECEDENTES ESPECÍFICOS SOBRE O LITÍGIO EM QUESTÃO. SUPERVENIÊNCIA, ADEMAIS, DE LEGISLAÇÃO
MODIFICADORA, EM PONTO RELEVANTE, DO ESTATUTO BÁSICO DISCIPLINADOR DA MATÉRIA. IMPUGNAÇÃO DE
INTERPRETAÇÃO JUDICIAL DE DIPLOMAS LEGISLATIVOS PÓS-CONSTITUCIONAIS. POSTULADO DA SUBSIDIARIEDADE.
CABIMENTO, NO CASO, DE AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE. CONSEQUENTE INVIABILIDADE DA
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO. PRECEDENTES. EXISTÊNCIA, NO ORDENAMENTO POSITIVO, DE INSTRUMENTO
PROCESSUAL APTO A SANAR, DE MODO EFICAZ, A SITUAÇÃO DE LESIVIDADE ALEGADAMENTE RESULTANTE DOS
ATOS ESTATAIS IMPUGNADOS (LEI Nº 9.868/99, ART. 21). POSSIBILIDADE DE IMPUGNAÇÃO, MEDIANTE ADPF, DE
DECISÕES JUDICIAIS, DESDE QUE NÃO TRANSITADAS EM JULGADO. CONSEQUENTE OPONIBILIDADE DA COISA
JULGADA EM SENTIDO MATERIAL À ADPF. PRECEDENTES. O SIGNIFICADO POLÍTICO-JURÍDICO DA “RES JUDICATA”.
RELAÇÕES ENTRE A COISA JULGADA MATERIAL E A CONSTITUIÇÃO. RESPEITO PELA AUTORIDADE DA COISA JULGADA
MATERIAL, MESMO QUANDO A DECISÃO TENHA SIDO PROFERIDA EM CONFRONTO COM A JURISPRUDÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADPF: AÇÃO CONSTITUCIONAL QUE NÃO DISPÕE DE FUNÇÃO RESCISÓRIA.
INTERPRETAÇÕES FUNDADAS, NO CASO, EM DECISÕES JUDICIAIS QUE, EXPRESSAMENTE INVOCADAS PELA
ARGUENTE, JÁ TRANSITARAM EM JULGADO. INADMISSIBILIDADE, EM TAL SITUAÇÃO, DA ADPF. A AUTORIDADE DA
COISA JULGADA MATERIAL COMO OBSTÁCULO INSUPERÁVEL AO AJUIZAMENTO DA ADPF. DOUTRINA.
PRECEDENTES. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO NÃO CONHECIDA.
DECISÃO: Trata-se de arguição de descumprimento de preceito fundamental, com pedido de medida cautelar, ajuizada pela Associação Brasileira
das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros – ABRATI, que pretende que o Supremo Tribunal Federal “declare, com eficácia ‘erga omnes’
e efeito vinculante, ser competência privativa da União, pelos órgãos delegados, obedecidos os critérios de conveniência e oportunidade, inerentes à
Administração, a outorga de autorização, concessão ou permissão de exploração de transporte interestadual e internacional de passageiros, sempre
Publique-se.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
30 de novembro a 4 de dezembro de 2015
Lei Complementar nº 152, de 3.12.2015 - Dispõe sobre a aposentadoria compulsória por idade, com
proventos proporcionais, nos termos do inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal. Publicada no DOU, Seção
1, Edição nº 232, p. 2, em 4.12.2015.
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: SL
853 MC-AgR/SP; ADI 4067/DF; RMS 32482/DF; Rcl 15551/GO; Rcl 20132/SP.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: Rcl 8668/SP; MS 25430/DF; Ext 1375 ED/DF; Rcl 6527 AgR/SP; HC 123971/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO
Competências do órgão especial.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Adicional por tempo de serviço e direito adquirido.
DIREITO FINANCEIRO
DEPÓSITOS JUDICIAIS
Inconstitucionalidade das leis estaduais que permitem que o Estado utilize tais verbas
DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO
Competências do órgão especial
Caso concreto
Em um caso concreto envolvendo o TJ/SP, o CNJ afirmou que, quando o órgão especial é criado, todas as
atribuições administrativas e jurisdicionais que eram do Pleno, exceto a eletiva, passariam
automaticamente para a competência do órgão especial.
O STF não concordou com esse entendimento do CNJ e afirmou que compete aos Tribunais de Justiça
definirem quais as competências que serão delegadas ao órgão especial, desde que aprovadas pela
maioria absoluta de seus membros.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Adicional por tempo de serviço e direito adquirido
João impetrou mandado de segurança contra a determinação do TCU alegando que houve violação do
direito adquirido e da coisa julgada. O pedido foi aceito pelo STF?
NÃO. Não há garantia à continuidade de recebimento de adicional por tempo de serviço em percentual
superior àquele previsto em legislação posterior sob o fundamento de direito adquirido.
A Corte entendeu que a perpetuação do direito ao adicional, na forma estabelecida em lei revogada,
implicaria, na situação dos autos, na possibilidade de aquisição de direitos com base em regras abstratas
decorrentes de sistema remuneratório já não mais em vigor, em clara afronta ao princípio da legalidade.
Para o STF, não existe direito adquirido a regime jurídico.
COMPETÊNCIA
Redução a condição análoga à de escravo
Importante!!!
Compete à justiça federal processar e julgar o crime de redução à condição análoga à de
escravo (art. 149 do CP).
O tipo previsto no art. 149 do CP caracteriza-se como crime contra a organização do trabalho e,
portanto, atrai a competência da justiça federal (art. 109, VI, da CF/88).
STF. Plenário. RE 459510/MT, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado
em 26/11/2015 (Info 809).
Como exemplo, o art. 203 do CP prevê como crime f ust a , edia te f aude ou violê ia, di eito
assegu ado pela legislação do t a alho . O STJ já decidiu que, se o art. 203 foi perpetrado em detrimento
de apenas um trabalhador, compete à Justiça Estadual processar e julgar o feito (CC 108.867/SP, DJe de
19/4/2010).
O STF possui entendimento semelhante. Para a Corte, somente são da competência da Justiça Federal os
crimes contra a organização do trabalho (arts. 197 a 207 do CP) quando causarem prejuízo à ordem
pública, econômica ou social e ao trabalho coletivo (RE 599943 AgR, Relator Min. Cármen Lúcia, Primeira
Turma, julgado em 02/12/2010).
Em outro julgado, o Pretório Excelso afirmou que a interpretação do que seja crime contra a organização
do trabalho, para o fim constitucional de determinar a competência, não se junge à capitulação do Código
Penal. Assim, se no caso concreto houve retenção momentânea, mediante violência, de um único
empregado, impedido de adentrar à empresa onde laborava, verifica-se ofensa à liberdade individual e
não à organização do trabalho como um todo. Logo, a competência, nessa hipótese, é da Justiça estadual
(ARE 706368 AgR, Relator Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 30/10/2012).
Em resumo, os delitos previstos nos arts. 197 a 207 do CP poderão ser de competência da Justiça Federal
ou da Justiça Estadual, a depender do caso concreto.
Vamos tratar agora do crime de redução a condição análoga à de escravo, previsto no art. 149 do CP. De
quem é a competência para julgar esse delito?
Justiça FEDERAL. Compete à justiça federal processar e julgar o crime de redução à condição análoga à de
escravo (art. 149 do CP).
Este crime encontra-se encartado no Título I do Código Penal,à ueàt ataàso eàosà i esà o t aàaàpessoa à
eà ãoà oàTítuloà IVà Dosà i esà o t aàaào ga izaçãoàdoàt a alho .àápesa àdisso,àoà“TFàe te deà ueà seà
trata de delito de competência da Justiça Federal, tendo em vista que a topografia do crime (ou seja, sua
posição no Código Penal) não é o fator preponderante no momento da fixação da competência.
Em suma, é possível encontrar crimes definidos no Título IV do Código Penal que não correspondem à norma
constitucional do art. 109, VI, também sendo certo que outros crimes definidos na legislação podem
configurar, dependendo do caso, crime contra a organização do trabalho (STF. ARE 706368 AgR / SP)
O Plenário do STF, no julgamento do RE 398.041 (rel. Min. Joaquim Barbosa, sessão de 30.11.2006), fixou a
competência da Justiça Federal para julgar os crimes de redução à condição análoga à de escravo, por
entender "que quaisquer condutas que violem não só o sistema de órgãos e instituições que preservam,
coletivamente, os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também o homem trabalhador, atingindo-o
nas esferas em que a Constituição lhe confere proteção máxima, enquadram-se na categoria dos crimes
contra a organização do trabalho, se praticadas no contexto de relações de trabalho" (RE 541627, Relatora
Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 14/10/2008).
Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4
No mesmo sentido entende o STJ:
(...) A Terceira Seção desta Corte já pacificou o entendimento de que compete à Justiça Federal processar
e julgar os autores do delito previsto no art. 149 do Código Penal, haja vista a violação aos direitos
humanos e à organização do trabalho. (...)
(STJ. 6ª Turma. RHC 25.583/MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 09/08/2012)
Pela redação literal do art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado Estadual, o Deputado Federal e o Senador
somente poderão ser presos, antes da condenação definitiva, em uma única hipótese: em caso de
flagrante delito de crime inafiançável. Isso significa que, pela literalidade do dispositivo constitucional, tais
parlamentares não podem ter contra si uma ordem de prisão preventiva.
Obs: existe divergência na doutrina sobre a possibilidade de o Deputado ou Senador ser preso por conta
de atraso no pagamento da pensão alimentícia (prisão civil). Admitem: Uadi Bulos e Marcelo Novelino.
Não admitem: Pedro Lenza e Bernardo Fernandes. Não há precedente do STF sobre o tema.
Em suma, pode-se dizer que o § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do
parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como foi a
hipótese do ex-Deputado Federal Natan Donadon condenado pelo STF na AP 396/RO.
No caso do Senador Delcídio, ele ainda nem foi formalmente denunciado. Dessa forma, não estamos
falando em condenação definitiva.
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização
criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais
infrações penais praticadas.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração
penal que envolva organização criminosa.
Crime do caput do art. 2º: as declarações de Cerveró e os indícios presentes nos autos comprovariam que
o Senador Delcídio faria parte da organização criminosa investigada na operação "Lava Jato" e que teria
sido beneficiado em esquemas envolvendo contratos da Petrobrás.
Na doutrina, Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto consideram que o delito do art. 2º, caput, da
Lei nº 12.850/2013, um dos imputados ao Senador Delcídio, é sim crime permanente. Confira:
"(...) Infração permanente, a sua consumação se protrai enquanto não cessada a permanência. Isso
significa que o agente pode ser preso em flagrante delito enquanto não desfeita (ou abandonar) a
associação (art. 303 do CPP);" (Crime Organizado. Comentários à nova lei sobre o Crime Organizado - Lei
nº 12.850/2013. Salvador : Juspodivm, 2013, p. 18).
5) Os crimes supostamente praticados pelo Senador (art. 2º, caput e § 1º da Lei nº 12.850/2013) são
inafiançáveis?
O STF entendeu que sim. Sobre esse ponto, é importante explicar o tema com calma.
O art. 5º, incisos XLII, XLIII e XLIV e o art. 323 do CPP preveem a lista de crimes inafiançáveis:
a) Racismo;
b) Tortura;
c) Tráfico de drogas;
d) Terrorismo;
e) Crimes hediondos;
f) Crimes cometidos por ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático.
Assim, a lista acima é composta por crimes que são absolutamente inafiançáveis. Nunca poderá ser
concedida fiança para eles. São inafiançáveis por natureza.
O art. 324 do CPP, por sua vez, traz situações nas quais não se poderá conceder fiança. Veja a redação do
dispositivo, em especial o inciso IV:
Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança:
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem
motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;
II - em caso de prisão civil ou militar;
III - (Revogado pela Lei nº 12.403/2011).
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312).
Desse modo, segundo esse inciso IV, não será concedida fiança se estiverem presentes os motivos que
autorizam a decretação da prisão preventiva (garantia da ordem pública, da ordem econômica,
conveniência da instrução criminal, ou necessidade de se assegurar a aplicação da lei penal).
O inciso IV prevê, portanto, situação em que a pessoa praticou um crime que, mesmo não estando na lista
do art. 323 (absolutamente inafiançáveis), não poderá receber fiança por circunstâncias específicas
verificadas no curso do processo.
Em suma, os crimes do art. 2º, caput e do § 1º da Lei nº 12.850/2013 praticados pelo Senador são
inafiançáveis, no caso concreto, não por força do art. 323 do CPP, mas sim com fundamento no art. 324, IV.
O STF criou a seguinte tese: se, no caso concreto, estiverem presentes os pressupostos para a decretação
da prisão preventiva, o crime será considerado inafiançável (art. 324, IV, do CPP) mesmo que não esteja
listado no art. 323 do CPP.
6) Como vimos acima, o STF reconheceu que o parlamentar estava em situação de flagrância. No
entanto, vale ressaltar que o pedido do MP no presente caso foi de prisão PREVENTIVA. O Procurador
Geral da República, ao fundamentar seu pedido no STF, requereu a prisão PREVENTIVA do Senador
Delcídio do Amaral afirmando que o art. 53, § 2º da CF/88 não poderia ser tido como absoluto. Diante
disso, indaga-se: essa tese do MP foi acolhida pelo STF? É possível prisão preventiva de Deputado
Federal ou Senador?
Surgiram duas correntes entre os professores e autores que se debruçaram para explicar o tema:
1ª) SIM. Para Rogério Sanches e Marcelo Novelino, o STF teria autorizado a prisão preventiva do Senador,
relativizando o art. 53, § 2º da CF/88.
2ª) NÃO. Não é possível a prisão preventiva de Deputado Estadual, Deputado Federal ou Senador porque a
única prisão cautelar que o art. 53, § 2º da CF/88 admite é a prisão em flagrante de crime inafiançável.
Particularmente, entendo que o Ministro Teori Zavascki não decretou a prisão preventiva do Senador
Delcídio do Amaral. Digo isso não apenas com base na argumentação por ele utilizada, mas também pela
forma como escreveu o comando da decisão. Vejamos:
Veja o trecho do Informativo 809 do STF que, no meu ponto de vista, corrobora a ideia de que não houve
decretação de prisão preventiva:
"No âmbito das prisões cautelares para os representantes do Senado, somente se admitiria a modalidade
de prisão em flagrante decorrente de crime inafiançável em tese. Dos delitos apontados como praticados
pelo senador consta, dentre eles, o de organização criminosa — crime permanente —, a contemplar não
sóà aà possi ilidadeà deà flag a teà aà ual ue à te poà o oà atéà es oà aà ha adaà açãoà o t olada ,à osà
te osà daà Leià . / à á t.à º.à Co sisteà aà açãoà o t oladaà e à eta da à aà i te ve çãoà poli ialà ouà
administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida
sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à
fo açãoàdeàp ovasàeào te çãoàdeài fo ações .àáàhipóteseàp ese te é de inafiançabilidade, nos termos
doà CPPà [ á t.à .à Nãoà se ,à igual e te,à o edidaà fia ça:à ...à IVà - quando presentes os motivos que
auto iza àaàde etaçãoàdaàp isãoàp eve tivaà a t.à ]."
8) Se era caso de prisão em flagrante, por que o Ministério Público formulou um requerimento de prisão
ao STF? A prisão em flagrante não precisa de pedido...
Realmente. A prisão em flagrante não se pede ao Poder Judiciário. Qualquer do povo poderá e as
autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito
(art. 301 do CPP). Não é necessária ordem judicial para tanto. No entanto, no caso concreto, o Procurador
Geral da República não requereu ao STF a prisão em flagrante do Senador Delcídio, mas sim a sua prisão
preventiva. Veja o trecho final do pedido:
"O Procurador-Geral da República requer a prisão preventiva de Delcídio Amaral e Edson de Siqueira
Ribeiro Filho e a prisão temporária de André Santos Esteves e Diogo Ferreira Rodrigues.
Caso se entenda descabida a prisão preventiva de congressista, em razão de vedação constitucional, o
Procurador-Geral da República requer a imposição cumulativa das seguintes medidas cautelares a Delcídio
Amaral: (...)"
Na minha opinião, contudo, o STF não concordou em decretar a prisão preventiva, mas reconheceu que o
Senador estava em situação de flagrância, razão pela qual ordenou o cumprimento da prisão.
Ressalto, mais uma vez, que o tema é polêmico e que alguns autores entenderam que foi decretada a
prisão preventiva do parlamentar.
9) Sendo prisão em flagrante, o STF precisaria ter expedido mandados de prisão contra o Senador?
Tecnicamente, não. Como já dito, a prisão em flagrante não precisa de ordem judicial para ser cumprida.
Entretanto, no caso concreto, o STF foi provocado e precisava decidir se seria hipótese mesmo de prisão
preventiva ou não. Além disso, havia a prisão preventiva de Edson Ribeiro e as prisões temporárias de
André Esteves e Diogo Ferreira que precisavam ser cumpridas simultaneamente a fim de que não
houvesse risco de fuga ou de destruição de provas por parte de qualquer dos investigados.
Por essas razões, o Ministro houve por bem expedir um mandado de prisão cautelar (gênero do qual a
prisão em flagrante é uma espécie). Não há qualquer irregularidade nisso, já que se trata de uma
formalidade adicional em prol do investigado. A outra opção seria o Ministro, na decisão, afirmar:
qualquer do povo está autorizado a prender o Senador.
Vale destacar que não é porque foi expedido um mandado de prisão que a custódia, no caso concreto,
deixou de ser prisão em flagrante e passou a ser preventiva. A diferença entre essas duas espécies de
custódia não está no instrumento por meio do qual ela é formalizada.
10) Na chamada "Operação Dominó", deflagrada em 2006, no Estado de Rondônia, envolvendo supostos
desvios praticados por Deputados Estaduais, o STJ e o STF autorizaram a prisão preventiva dos
Deputados envolvidos?
NÃO. Nesta "Operação Dominó" o STJ (na época, Min. Eliana Calmon), em situação parecida com a exposta
acima, reconheceu que os Deputados Estaduais estavam em situação de flagrância pela prática do então
existente crime de quadrilha (art. 288 do CP). Não foram decretadas, portanto, prisões preventivas.
Na "Operação Dominó" houve uma relativização do art. 53, § 2º da CF/88. Essa relativização, contudo, não foi
quanto à possibilidade de prisão preventiva. Isso não foi relativizado. O que o STJ e o STF decidiram foi que,
naquele caso concreto, não se deveria remeter a prisão para ser analisada pela Casa (Assembleia Legislativa)
em 24 horas. Entendeu-se que, pelo fato de 23 dos 24 Deputados estarem envolvidos supostamente no
esquema criminosa, a ALE não teria condições de analisar a manutenção da prisão. Veja trecho da ementa:
Além disso, na época, a decisão da 1ª Turma do STF foi por apertada maioria (3x2), sendo que, dos
Ministros que votaram a favor da manutenção da prisão e desnecessidade de deliberação pela ALE,
somente a Ministra Cármen Lúcia ainda permanece na Corte.
11) A gravação da conversa feita por Bernardo Cerveró pode ser considerada como prova lícita?
SIM. Trata-se de entendimento pacífico do STF:
(...) É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem
conhecimento do outro." (STF. Plenário. RE 583937 QO-RG, Min. Rel. Cezar Peluso, julgado em 19/11/2009
- repercussão geral)
ássi ,àseà á àeà B àestãoà o ve sa do,à á àpodeàg ava àessaà o ve saà es oà ueà B à ãoàsai a.àPa aàoà
STF, a gravação de conversa feita por um dos interlocutores sem o conhecimento dos demais é
considerada lícita, quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva da conversação.
12) Seria possível falar que houve flagrante preparado por parte de Bernardo Cerveró, o que traria
hipótese de crime impossível, nos termos da Súmula 145 do STF?
NÃO. Ocorre o flagrante preparado (provocado) quando alguém instiga o indivíduo a praticar o crime com
o objetivo de prendê-lo em flagrante no momento em que ele o estiver cometendo. O flagrante preparado
é hipótese de crime impossível e o indivíduo instigado não responderá penalmente, sendo sua conduta
considerada atípica.
No caso analisado, segundo a versão do Ministério Público com base nas informações indiciárias que
constam nos autos, não houve flagrante preparado porque foi o Senador Delcídio, por intermédio de seu
chefe de gabinete, Diogo Ferreira, quem teria procurado a família de Cerveró com a proposta de ajuda
financeira e outras formas de auxílio em troca do silêncio do réu. Logo, neste momento, sem qualquer
instigação por parte de Bernardo Cerveró, já teria havido a prática do crime do art. 2º, § 1º da Lei de Crime
Organizado. Além disso, de acordo com a versão do Ministério Público, o Senador Delcídio seria
beneficiário de contratos fraudulentos celebrados pela Petrobrás, inclusive a compra da refinaria de
Pasadena, de forma que, em tese, há anos, ele seria integrante da suposta organização criminosa que é
investigada pela operação Lava Jato. Dessa forma, mesmo antes de procurar a família de Cerveró, o
Senador, em tese, já teria cometido o delito do art. 2º da Lei nº 12.850/2013.
13) Depois de concretizada a prisão em flagrante do parlamentar, qual é o procedimento que deverá ser
adotado em seguida?
A Constituição Federal determina que os autos deverão ser remetidos dentro de 24 horas à Casa
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão (art. 53, § 2º).
Assim, o STF remeteu os autos ao Senado Federal que, por 59 votos contra 13, decidiu manter a prisão do
Senador.
Com base nesse dispositivo, o Regimento Interno do Senado previu que a votações para se decidir sobre a
manutenção ou não da prisão do parlamentar deveria ser secreta.
Ocorre que a EC nº 35/2001 modificou esse dispositivo, deslocando-o para o § 2º do art. 53 e suprimiu a
expressão "pelo voto secreto". Ficou assim:
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em
flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à
Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.
Veja, portanto, que a redação atual não fala mais em voto secreto.
A regra é que as votações na Câmara dos Deputados e no Senado Federal sejam ABERTAS. Isso decorre do
fato de o Brasil ser uma República e de adotarmos a publicidade dos atos estatais como um princípio
constitucional.
Assim, a população tem o direito de saber como votam os seus representantes, considerando que eles
estão exercendo o poder em nome do povo (art. 1º, parágrafo único, da CF/88).
A votação secreta somente é permitida se for expressamente prevista na CF. Em caso de silêncio,
prevalece a publicidade. Tanto isso é verdade que, para as demais votações do Parlamento, o texto
constitucional não precisa reafirmar que se trata de voto aberto. É o caso, por exemplo, das demais
matérias previstas no art. 53 da CF/88.
Desse modo, o dispositivo do Regimento Interno que previa o voto secreto para apreciar a prisão dos
parlamentares não foi recepcionado pela EC 35/2001.
DIREITO FINANCEIRO
DEPÓSITOS JUDICIAIS
Inconstitucionalidade das leis estaduais que permitem que o Estado utilize tais verbas
Diversos Estados têm editado leis complementares estaduais prevendo que o Poder Executivo
pode utilizar os valores constantes dos depósitos judiciais não apenas relacionados com processos
em que os Estados fossem parte, mas também oriundos de outros feitos em que estivessem
litigando somente particulares. Tais leis estão sendo questionadas por meio de ADIs propostas
pelo Procurador Geral da República. É o caso, por exemplo, da LC 42/2015, do Estado da Bahia.
O STF tem entendido, ainda em um juízo sumário e provisório, que tais leis estaduais são
inconstitucionais por violarem:
Depósitos judiciais
Todos os valores em dinheiro que ficam à disposição da Justiça enquanto o processo não se encerra são
depositados em um conta bancária em nome do Poder Judiciário. A isso chama-se de depósito judicial.
Exs: João ingressa com ação de consignação em pagamento em face de Pedro, depositando em juízo R$
100 mil reais. Maria ajuíza execução contra Antônio e consegue a penhora on line de R$ 200 mil. Tais
valores ficarão em depósito judicial e, quando o juiz autorizar, eles poderão ser levantados pela parte
vencedora, devidamente atualizados.
Assim, em outras palavras, a LC 151/2015 autorizou que os Estados, o DF e os Municípios utilizem 70% dos
valores que sejam objeto de depósitos vinculados a processos em que tais entes federados sejam parte.
Segundo o art. 7º da LC 151/2015, esses recursos repassados ao Estado, ao Distrito Federal ou ao
Município serão aplicados, exclusivamente, no pagamento de:
I – precatórios judiciais de qualquer natureza;
II – dívida pública fundada, caso a lei orçamentária do ente federativo preveja dotações suficientes para o
pagamento da totalidade dos precatórios judiciais exigíveis no exercício e não remanesçam precatórios
não pagos referentes aos exercícios anteriores;
III – despesas de capital, caso a lei orçamentária do ente federativo preveja dotações suficientes para o
pagamento da totalidade dos precatórios judiciais exigíveis no exercício, não remanesçam precatórios não
pagos referentes aos exercícios anteriores e o ente federado não conte com compromissos classificados
como dívida pública fundada;
IV – recomposição dos fluxos de pagamento e do equilíbrio atuarial dos fundos de previdência referentes
aos regimes próprios de cada ente federado, nas mesmas hipóteses do inciso III.
Obs: poderá o Estado, o Distrito Federal ou o Município utilizar até 10% da parcela que lhe for transferida
para constituição de Fundo Garantidor de PPPs ou de outros mecanismos de garantia previstos em lei,
dedicados exclusivamente a investimentos de infraestrutura.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 23 a 27 de novembro de 2015
CLIPPING DO D JE
23 a 27 de novembro de 2015
ADI N. 1.077-RS
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Ação direta de inconstitucionalidade.
2. Governador do Estado do Rio Grande do Sul.
3. Lei estadual nº 10.114, de 16 de março de 1994.
4. Alegação de ofensa aos artigos 2º; 5º, caput e incisos XVII, XVIII e XX; e 61, § 1º, II, “e”, da Constituição Federal.
5. Lei que dispõe sobre entidades municipais legitimadas a integrar órgão da administração pública estadual ou firmar convênios com o Estado-
membro.
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
“Mandado de segurança: inadmissibilidade contra decisão jurisdicional de Turma do STF, ademais, transitada em julgado.”
(MS 22.897-AgR/SP, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE)
“CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA: DECISÃO DO PLENÁRIO DO S.T.F., DE SUAS
TURMAS OU DE RELATOR: NÃO CABIMENTO.
I. – Não cabe mandado de segurança contra decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal, de suas Turmas ou de Relator, de
índole jurisdicional.
II. – Precedentes do S.T.F.
III. – Agravo não provido.”
(MS 22.988-AgR/MS, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – grifei)
“– Os atos emanados do Supremo Tribunal Federal, quando revestidos de conteúdo jurisdicional, não comportam a impetração de
mandado de segurança, eis que tais atos decisórios somente podem ser desconstituídos, no âmbito da Suprema Corte, em decorrência da
adequada utilização dos recursos cabíveis ou, na hipótese de julgamento de mérito, com trânsito em julgado, mediante ajuizamento
originário da pertinente ação rescisória. Precedentes. (…).”
(RTJ 182/194-195, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Vale registrar que esse entendimento – inadmissibilidade de mandado de segurança contra atos de conteúdo jurisdicional emanados de
Ministros desta Corte ou proferidos por qualquer dos órgãos colegiados do Supremo Tribunal Federal (Plenário ou Turmas) – vem de ser
reafirmado, por esta Corte, agora sob a égide da Lei nº 12.016/2009:
“MANDADO DE SEGURANÇA – IMPETRAÇÃO CONTRA ATO DE CONTEÚDO JURISDICIONAL EMANADO DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL – INADMISSIBILIDADE – POSSIBILIDADE DE O RELATOR DA CAUSA, NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DELA
NÃO CONHECER MEDIANTE DECISÃO MONOCRÁTICA – LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DESSE PODER PROCESSUAL DO
RELATOR – INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO POSTULADO DA COLEGIALIDADE – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.
DESCABIMENTO DE MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JURISDICIONAL EMANADO DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL.
– Não cabe mandado de segurança contra julgamentos impregnados de conteúdo jurisdicional, não importando se monocráticos ou
colegiados, proferidos no âmbito do Supremo Tribunal Federal. É que tais decisões, ainda quando emanadas de Ministro-Relator, somente
serão suscetíveis de desconstituição mediante utilização dos recursos pertinentes ou, tratando-se de pronunciamentos de mérito já transitados
em julgado, mediante ajuizamento originário da pertinente ação rescisória. Precedentes. (…).”
(MS 28.097-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
“(...) 2. Inadmissível a impetração de mandado de segurança contra Ministro da Corte, no exercício da função jurisdicional.
Precedentes: MS 25.070-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso; MS 24.399-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa. Excepcionalidade não verificada.
…...................................................................................................
Publique-se.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23
23 a 27 de novembro de 2015
Lei nº 13.193, de 24.11.2015 - Altera a Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica
do estrangeiro no Brasil e cria o Conselho Nacional de Imigração, para dispor sobre a dispensa unilateral do visto de
turista por ocasião dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, Rio 2016. Publicada no DOU, Seção 1, Edição nº 225,
p. 3, em 25.11.2015.
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE
845779/SC; MS 33406/DF; MS 33406/DF; MS 30364/PA.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: AP 913 QO/AL; RMS 23111/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes.
CNJ
Revisão disciplinar e prazo de instauração.
DIREITO ADMINISTRATIVO
TETO REMUNERATÓRIO
As vantagens pessoais do servidor também devem respeitar o teto, mesmo que sejam anteriores à EC 41/2003.
DIREITO PENAL
LEI DE DROGAS
A causa de aumento prevista no inciso V do art. 40 não exige a efetiva transposição da fronteira.
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes
A Constituição Federal, em seu art. 102, § 2º, estabelece os efeitos da decisão proferida pelo STF no
controle abstrato de constitucionalidade:
Art. 102 (...)
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e
efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.
Em suma, pela teoria da transcendência dos motivos determinantes, a ratio decidendi, ou seja, os
fundamentos determinantes da decisão também teriam efeito vinculante.
Ocorre que o STF NÃO adota a teoria da transcendência dos motivos determinantes (teoria extensiva).
O STF já chegou a manifestar apreço pela teoria da transcendência dos motivos determinantes, mas
atualmente, a posição da Corte é no sentido de que não pode ser acolhida.
Quando o STF julgou as ADIs 3715 MC/TO, 1779/PE e 849/MT, ele realmente decidiu que:
As contas dos chefes do Poder Executivo são julgadas pelo Poder Legislativo (no caso dos
Governadores, pelas Assembleias e, se for Prefeito, pelas Câmaras Municipais);
No caso das contas dos chefes do Poder Executivo, o Tribunal de Contas apenas emite um parecer
prévio, que poderá ser acolhido ou não pelo Poder Legislativo.
No entanto, o STF mencionou essas duas conclusões acima expostas apenas na fundamentação do
julgado. O dispositivo da decisão foi a declaração de inconstitucionalidade de normas das Constituições do
Estado de Tocantins (ADI 3715), de Pernambuco (ADI 1779) e de Mato Grosso (ADI 849).
O dispositivo do acórdão do STF que julgou as ADIs 3715 MC/TO, 1779/PE e 849/MT possui eficácia
vinculante e erga omnes?
SIM. Logo, a decisão do STF de que são inconstitucionais esses artigos das Constituições do TO, PE e MT
deve ser respeitada por todos e, em caso de descumprimento, pode-se ajuizar reclamação no STF.
A fu da e tação utilizada pelo “TF ao julgar essas ADI’s 1 MC/TO, 1 /PE e /MT possui eficácia
vinculante e erga omnes?
NÃO. Porque o STF não adota a teoria da transcendência dos motivos determinantes.
O Supremo acolhe a teoria restritiva, de forma que somente o dispositivo da decisão produz efeito
vinculante. Os motivos invocados na decisão (fundamentação) não são vinculantes.
Assim, ainda que a Constituição do Ceará tenha um artigo com redação idêntica ao da Constituição do
Tocantins (que foi declarado inconstitucional), não se poderá ajuizar reclamação diretamente no STF caso
o Tribunal de Contas aplique normalmente esse artigo da Carta cearense. Teria que ser proposta uma nova
ADI impugnando a Constituição cearense ou então valer-se o interessado dos instrumentos processuais
para a defesa do seu direito e a declaração difusa de inconstitucionalidade.
CNJ
Revisão disciplinar e prazo de instauração
O CNJ possui a competência para rever, de ofício ou mediante provocação, as decisões das
Corregedorias locais que julgam, a favor ou contra, juízes e membros de Tribunais. No entanto,
essa competência revisora deverá ser exercida no prazo máximo de 1 ano depois da decisão
proferida (art. 103-B, § 4º, V, da CF/88).
STF. 2ª Turma. MS 32724/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808).
Primeira pergunta: em tese, o CNJ pode rever processos disciplinares de Juízes e membros de Tribunais
julgados pelas corregedorias dos Tribunais?
SIM. Essa competência está prevista expressamente no art. 103-B, § 4º, V, da CF/88.
Segundo decidiu o STF, ao apreciar o caso acima, apesar de o CNJ ter instaurado processo disciplinar para
apuração dos fatos antes de se ter o julgamento da questão pela corregedoria local, o feito estava sobrestado
no Conselho aguardando a decisão do TJ. Uma vez decidida no TJ, a reanálise do caso pelo CNJ adquiriu
natureza revisional. Em razão disso, deveria ter sido retomada dentro do prazo de 1 ano previsto na CF.
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSOS PÚBLICOS
Teoria do fato consumado: inaplicabilidade em concurso público
Importante!!!
O candidato que toma posse em concurso público por força de decisão judicial precária
assume o risco de posterior reforma desse julgado que, em razão do efeito ex tunc ,
inviabiliza a aplicação da teoria do fato consumado em tais hipóteses.
A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não
implica a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia
aprovação em concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor constitucional que prepondera
sobre o interesse individual do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da
proteção da confiança legítima, pois conhece a precariedade da medida judicial.
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo
público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista.
STF. 1ª Turma. RMS 31538/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
em 17/11/2015 (Info 808).
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral)
(Info 753).
A Teoria do Fato Consumado é admitida pela jurisprudência no caso de posse em cargo público por força
de decisão judicial provisória?
NÃO. A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não
implica a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia aprovação em
concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor constitucional que prepondera sobre o interesse individual
do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da proteção da confiança legítima, pois
conhece a precariedade da medida judicial.
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público por
força de decisão judicial provisória posteriormente revista.
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral) (Info 753).
E por que o STF não aplica o princípio da proteção da confiança legítima para os casos de posse em
cargo público por força de medida judicial provisória posteriormente revogada?
Porque nesses casos a nomeação e a posse no cargo ocorrem por iniciativa, provocação, requerimento do
próprio particular interessado e contra a vontade da Administração Pública que, inclusive, contesta o
pedido feito na Justiça.
Logo, não há que se falar em legítima confiança do administrado, já que não foi a Administração Pública
quem praticou o ato nem reconheceu o direito.
Em situações envolvendo concurso público não faz sentido invocar-se o princípio da proteção da confiança
legítima, haja vista que o candidato beneficiado com a decisão não desconhece que o provimento
jurisdicional tem natureza provisória e que pode ser revogado a qualquer momento, acarretando
automático efeito retroativo.
Vale ressaltar, por fim, que a concessão da tutela antecipada corre por conta e responsabilidade do
requerente.
O servidor que teve a sua posse tornada sem efeito em virtude da revogação da decisão anterior terá
que devolver as verbas recebidas? Em nosso exemplo, Maria terá que restituir a remuneração que
percebeu ao longo desses anos?
NÃO. Isso porque a remuneração possui caráter alimentar que, como regra, é irrepetível. Além disso, se
fosse exigida a devolução, haveria enriquecimento ilícito por parte do Estado, considerando que o servidor
trabalhou durante esse período.
TETO REMUNERATÓRIO
As vantagens pessoais do servidor também devem respeitar o teto,
mesmo que sejam anteriores à EC 41/2003
Importante!!!
Alguns servidores continuavam tentando excluir do teto as vantagens pessoais que haviam
adquirido antes da EC 41/2003 (que implementou, na prática, o teto no funcionalismo).
Argumentavam que a garantia da irredutibilidade de vencimentos, modalidade qualificada de
direito adquirido, impediria que as vantagens percebidas antes da vigência da EC 41/2003
fossem por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As vantagens pessoais anteriores à
EC 41/2003 estão fora do teto?
NÃO. Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI, da
Constituição da República, também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC
41/2003 a título de vantagens pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de
valores eventualmente recebidos em excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/11/2015 (repercussão geral)
(Info 808).
Exeções:
Estão fora do teto as seguintes verbas:
a) parcelas de caráter indenizatório previstas em lei (§ 11 do art. 37);
b) verbas que correspondam aos direitos sociais previstos no art. 7º c/c o art. 39, § 3º da CF/88, tais
como 13º salário, 1/3 constitucional de férias etc. (Fernanda Marinela);
c) quantias recebidas pelo servidor a título de abono de permanência em serviço (§ 19 do art. 40);
d) remuneração em caso de acumulação legítima de cargos públicos. O STJ entende que, se o servidor
acumular dois cargos públicos nas hipóteses admitidas na CF/88, a remuneração de cada cargo não
poderá ser superior ao teto constitucional, sendo possível, no entanto, que a soma dos dois ultrapasse
esse limite (STJ. 2ª T. AgRg no AgRg no RMS 33.100/DF, Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado
em 07/05/2013). Ex.: se determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber
seu subsídio integral como Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse caso, o
teto seria considerado especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele recebesse acima do
limite previsto no art. 37, XI da CF se considerarmos seus ganhos globais.
Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto?
Sim. A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.
Dessa forma, na prática, o teto passou a vigorar no Brasil a partir da EC nº 41/2003, que foi publicada em
31/12/2003. Isso porque, como vimos acima, essa Emenda afirmou expressamente que, enquanto não
houvesse lei regulamentando o inciso XI, o valor do teto seria a remuneração do Ministro do STF na época.
O primeiro valor do teto remuneratório foi de R$ 19.115,19, remuneração do Ministro do STF naquele
momento.
Quando o teto foi finalmente implementado na prática (EC 41/2003), o que aconteceu com a
remuneração das pessoas que recebiam acima do teto que foi instituído? Essas pessoas tiveram direito
adquirido de continuar recebendo acima do teto?
NÃO. O art. 9º da EC nº 41/2003 determinou que qualquer remuneração ou proventos que estivessem
sendo recebidos acima do teto deveriam ser imediatamente reduzidos ao limite fixado, não podendo a
pessoa invocar direito adquirido.
Assim, em 01/01/2004, se o servidor público tinha uma remuneração de R$ 25.000,00, por exemplo, ele
passou a receber apenas R$ 19.115,19.
Obviamente, tal situação gerou reação das pessoas prejudicadas, que recorreram ao Poder Judiciário
questionando a constitucionalidade dessa previsão. O que decidiu o STF? Era possível aplicar
imediatamente o teto previsto na EC nº 41/2003, reduzindo a remuneração de quem ganhava acima
desse valor?
SIM. O STF decidiu, em sede de repercussão geral, que o teto de retribuição fixado pela EC nº 41/2003 é
de eficácia imediata e todas as verbas de natureza remuneratória recebidas pelos servidores públicos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios devem se submeter a ele, ainda que adquiridas
de acordo com regime legal anterior.
A aplicação imediata da EC nº 41/2003 e a redução das remunerações acima do teto não afrontou o
princípio da irredutibilidade nem violou a garantia do direito adquirido.
Em outras palavras, com a EC nº 41/2003, quem recebia acima do teto fixado, teve a sua remuneração
reduzida para respeitar o teto. Essa redução foi legítima.
STF. Plenário. RE 609381/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 2/10/2014 (Info 761).
Mesmo após a decisão do STF no RE 609381/GO, alguns servidores continuavam tentando excluir do
teto as vantagens pessoais que haviam adquirido antes da EC 41/2003 (que implementou, na prática, o
teto no funcionalismo). Argumentavam que a garantia da irredutibilidade de vencimentos, modalidade
qualificada de direito adquirido, impediria que as vantagens percebidas antes da vigência da EC 41/2003
fossem por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As vantagens pessoais anterior à EC 41/2003
estão fora do teto?
NÃO. Computam-se, para efeito de observância do teto remuneratório do art. 37, XI, da CF/88, também os
valores percebidos anteriormente à vigência da EC 41/2003 a título de vantagens pessoais pelo servidor
público.
O art. 37, XI, da CF/88, na redação da EC 41/2003, é expresso ao incluir as vantagens pessoais ou de
qualquer outra natureza para fins de limitação dos ganhos ao teto remuneratório do serviço público.
A EC 41/2013 não violou a cláusula do direito adquirido, porque o postulado da irredutibilidade de
vencimentos, desde sua redação original, já indicava que deveria ser respeitado o teto remuneratório (art.
37, XI, da CF/88).
Em outras palavras, a Constituição assegurou a irredutibilidade, mas no mesmo dispositivo já mencionou
que deveria ser respeitado o teto remuneratório.
Assim, a Constituição não só autoriza, como exige o cômputo, para efeito de incidência do teto, de
adicionais por tempo de serviço, sexta parte, prêmio de produtividade e gratificações, ainda que
qualificados como vantagens de natureza pessoal percebidas antes do advento da EC 41/2003.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/11/2015 (repercussão geral) (Info 808).
E os servidores que receberam vantagens pessoais acima do teto antes dessa decisão do STF deverão
devolver os valores? A Administração Pública poderá ingressar com ações cobrando o ressarcimento
dessas quantias recebidas acima do teto a título de vantagens pessoais?
NÃO. O STF afirmou que os servidores não estão obrigados a restituir os valores eventualmente recebidos
em excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015 (data da decisão do STF).
Em todos os julgamentos de recursos extraordinários com repercussão geral reconhecida, o STF elabora
uma frase que resume a tese adotada pelo Tribunal. A tese fixada pela Corte neste caso foi a seguinte:
Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI, da Constituição da
República, também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC 41/2003 a título de vantagens
pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de valores eventualmente recebidos em excesso
e de boa-fé até o dia 18/11/2015.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/11/2015 (repercussão geral) (Info 808).
O § 2º do art. 557 do CPC 1973 (§ 4º do art. 1.021 do CPC 2015) prevê que, quando
manifestamente inadmissível ou improcedente o agravo, o tribunal condenará o agravante a
pagar ao agravado multa de
1% a 10% do valor corrigido da causa (CPC 1973)
1% a 5% do valor atualizado da causa (CPC 2015).
2) Após ouvir a ré, o juiz proferiu uma decisão interlocutória denegando a tutela.
3) Contra as decisões interlocutórias prolatadas pelo juízo de 1ª instância qual é o recurso cabível?
No CPC 1973: cabia, em tese, agravo retido ou agravo de instrumento, conforme o caso concreto.
No CPC 2015: cabe agravo de instrumento nas hipóteses listadas pelo art. 1.015. Se não se enquadrar
em uma dessas situações, a parte prejudicada só poderá atacar a decisão nas razões de apelação (art.
1.009, § 1º). Assim, as decisões interlocutórias que não puderem ser impugnadas por meio de agravo
de instrumento por não estarem no rol do art. 1.015 não ficam sujeitas à preclusão imediata e
poderão ser discutidas pela parte em preliminar de apelação (se ela for a recorrente ao final) ou nas
contrarrazões (se não foi ela quem interpôs a apelação). O que é muito importante que você guarde:
no novo CPC não mais existe agravo retido.
4) No caso concreto, era hipótese realmente de agravo de instrumento (art. 522 do CPC 1973 / art.
1.015, I, do CPC 2015).
6) A parte prejudicada (João) interpôs o agravo de instrumento. Para isso, teve que dar entrada no
recurso diretamente no Tribunal (entregou no protocolo do Tribunal e não no do Fórum), conforme
determina o art. 524 do CPC 1973 (art. 1.016 do CPC 2015).
7) O agravante, no prazo de 3 dias, teve que juntar aos autos do processo em 1ª instância cópia da
petição do agravo de instrumento interposto e do comprovante de sua interposição, assim como a
relação dos documentos que instruíram o recurso. Como há algumas inovações no CPC 2015 sobre o
tema, importante você conhecer a nova redação:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 526. O agravante, no prazo de 3 (três) dias, Art. 1.018. O agravante poderá requerer a
requererá juntada, aos autos do processo de juntada, aos autos do processo, de cópia da
cópia da petição do agravo de instrumento e do petição do agravo de instrumento, do
comprovante de sua interposição, assim como a comprovante de sua interposição e da relação
relação dos documentos que instruíram o dos documentos que instruíram o recurso.
recurso. § 1º Se o juiz comunicar que reformou
Parágrafo único. O não cumprimento do inteiramente a decisão, o relator considerará
disposto neste artigo, desde que argüido e prejudicado o agravo de instrumento.
provado pelo agravado, importa § 2º Não sendo eletrônicos os autos, o agravante
inadmissibilidade do agravo. tomará a providência prevista no caput, no
prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do
agravo de instrumento.
§ 3º O descumprimento da exigência de que
trata o § 2º, desde que arguido e provado pelo
agravado, importa inadmissibilidade do agravo
de instrumento.
9) Relator CONTRÁRIO ao recurso do agravante (art. 527, I do CPC 1973 / art. 932, III e IV do CPC 2015):
O Desembargador Relator poderá, de forma monocrática:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no Art. 932. Incumbe ao relator:
tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: III - não conhecer de recurso inadmissível,
I - negar-lhe-á seguimento, liminarmente, nos prejudicado ou que não tenha impugnado
casos do art. 557; especificamente os fundamentos da decisão
(...) recorrida;
Art. 557. O relator negará seguimento a recurso IV - negar provimento a recurso que for
manifestamente inadmissível, improcedente, contrário a:
prejudicado ou em confronto com súmula ou a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do
10) E se a parte não concordar com essa decisão monocrática do Relator, o que ela poderá fazer?
A parte poderá, neste caso, interpor um agravo interno para o órgão colegiado do Tribunal
questionando a decisão monocrática do Relator.
12) Imaginemos que o Relator negou seguimento ao agravo de instrumento e João interpôs um agravo
interno manifestamente infundado ( abusivo ) contra a decisão que negou seguimento ao agravo de
instrumento.
Se o órgão colegiado do Tribunal considerar que o agravo interno ( ag a o egi e tal ) interposto é
manifestamente inadmissível ou improcedente, ele aplicará ao recorrente duas sanções:
12.a) condenará o agravante a pagar ao agravado uma multa;
12.b) condicionará o depósito do valor da multa em juízo para que futuros recursos sejam recebidos.
14) Para a aplicação da multa, exige-se que a decisão do Tribunal tenha sido unânime?
CPC 1973: NÃO. Não era necessário.
CPC 2015: SIM. A aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º do novo CPC exige votação unânime.
15) A multa prevista para o agravante que interpuser recurso manifestamente inadmissível ou
improcedente aplica-se também para a Fazenda Pública? A sanção explicada no item "12.a" acima
aplica-se também ao Poder Público?
SIM. Tanto no CPC 1973 como no CPC 2015.
16) A legislação prevê uma segunda punição, qual seja, exige o depósito do valor da multa em juízo para
que futuros recursos sejam recebidos. Essa sanção explicada no item "12.b" acima aplica-se também
para a Fazenda Pública?
CPC 1973: SIM. O CPC 1973 não falava expressamente sobre a Fazenda Pública ao tratar dessa
sanção. Diante disso, o STJ entendia que, havendo condenação do Poder Público ao pagamento da
multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC 1973, a interposição de qualquer outro recurso ficava
17) A multa prevista para o agravante que interpuser recurso manifestamente inadmissível ou
improcedente (item "12.a" acima) aplica-se também para o beneficiário da justiça gratuita?
SIM. No entanto, há uma diferença de tratamento no caso:
CPC 1973: a parte beneficiária da justiça gratuita não está isenta do pagamento da multa do art.
557, § 2º do CPC 1973. Porém, o recolhimento da multa ficará suspenso por 5 anos para ver se a
parte conseguirá melhorar sua condição econômica e auferir recursos para pagar a sanção,
conforme prevê o art. 12 da Lei nº 1.060/50. Nesse sentido, decidiu o STF, 1ª Turma. RE 775685
AgR-ED/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808). Na prática, ela quase nunca
irá pagar.
CPC 2015: o novo CPC trata sobre o tema nos §§ 3º e 4º do art. 98. Compare:
18) A legislação prevê uma segunda punição, qual seja, exige o depósito do valor da multa em juízo para
que futuros recursos sejam recebidos. Essa sanção explica no item "12.b" acima aplica-se também para
a parte beneficiária da justiça gratuita?
NÃO. O CPC 2015 trata sobre o tema de forma expressa:
Art. 1.021 (...)
§ 5º A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa
prevista no § 4º, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o
pagamento ao final.
LEI DE DROGAS
A causa de aumento prevista no inciso V do art. 40 não exige a efetiva transposição da fronteira
Importante!!!
O art. 40, V, da Lei de Drogas prevê que a pena do tráfico e de outros delitos deverá ser
aumentada se ficar "caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o
Distrito Federal".
Para que incida essa causa de aumento não se exige a efetiva transposição da fronteira
interestadual pelo agente, sendo suficiente a comprovação de que a substância tinha como
destino localidade em outro Estado da Federação.
Ex: João pegou um ônibus em Campo Grande (MS) com destino a São Paulo (SP); algumas horas
depois, antes que o ônibus cruzasse a fronteira entre os dois Estados, houve uma blitz da
polícia no interior do coletivo, tendo sido encontrados 10kg de cocaína na mochila de João, que
confessou que iria levá-la para um traficante de São Paulo.
STF. 1ª Turma. HC 122791/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808).
Como primeira tese, a defesa alegou que o agente levou a droga no transporte público, mas não a
ofereceu nem comercializou para as pessoas que estavam dentro desse meio de transporte. Logo, não
deveria incidir a causa de aumento do inciso III. Essa tese é aceita pela jurisprudência? Para que incida
essa causa de aumento, é necessário que o agente comercialize a droga no interior do transporte
público?
SIM. A majorante do art. 40, III, da Lei 11.343/2006 somente deve ser aplicada nos casos em que ficar
demonstrada a comercialização efetiva da droga em seu interior.
A mera utilização de transporte público para o carregamento da droga não leva à aplicação da causa de
aumento do inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006.
Com base em uma interpretação teleológica, o disposto no art. 40, III, somente pode ser aplicado se
houver a comercialização da droga em transporte público, não alcançando a situação de o agente ter sido
surpreendido quando trazia consigo droga em ônibus intermunicipal, sem que nele a tivesse vendido.
STF. 2ª Turma. HC 120624/MS, Red. p/ o acórdão, Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 3/6/2014 (Info 749).
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.295.786-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 18/6/2014 (Info 543).
INDULTO NATALINO
Período de prova no sursis não pode ser equiparado a cumprimento de pena
Indulto natalino
É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no final de todos os anos, concedendo
i dulto. Esse De eto o he ido o o i dulto atali o .
No Decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do benefício. Caso o apenado
atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve reconhecer o direito, extinguindo a pena pelo indulto.
Gabarito
1. E 2. C
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 16 a 20 de novembro de 2015
CLIPPING DO D JE
16 a 20 de novembro de 2015
RMS N. 28.428-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO – RECEBIMENTO – DISTRIBUIÇÃO – APRECIAÇÃO – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE –
PORTARIA – INSUBSISTÊNCIA. Cumpre observar o princípio da legalidade, o que se contém no artigo 397 do Código de Processo Penal Militar,
não subsistindo Portaria de teor contrário.
*noticiado no Informativo 798
AG. REG. NO RE N. 798.740-DF
REDATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. MARCO AURÉLIO
RECUPERAÇÃO JUDICIAL – NATUREZA – RECURSO – INADMISSIBILIDADE DECLARADA NA ORIGEM. Questionamento sobre a
natureza estritamente política de atos praticados surge relevante, abrindo a via de acesso ao Supremo.
*noticiado no Informativo 797
MS N. 27.601-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
CONCURSO – ATIVIDADE JURÍDICA – ESPECIFICIDADE – ARTIGO 129, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ALCANCE. A expressão “três
anos de atividade jurídica”, contida no artigo 129 da Constituição Federal, não encerra vinculação a atividade privativa de bacharel em direito.
*noticiado no Informativo 800
Acórdãos Publicados: 404
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Ação Rescisória - Coisa Julgada Material - Erro de Fato - Conceito - Precedentes (Transcrições)
(v. Informativo 808)
AR 2.347/AM*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: AÇÃO RESCISÓRIA. DECISÃO RESCINDENDA QUE APRECIOU O MÉRITO DA CONTROVÉRSIA. CUMULAÇÃO
OBJETIVA, EM ORDEM SUCESSIVA, DO “JUDICIUM RESCINDENS” COM O “JUDICIUM RESCISSORIUM” (CPC, ART. 488, I).
ERRO DE FATO COMO PRESSUPOSTO DE RESCINDIBILIDADE DO JULGADO (CPC, ART. 485, IX E § 1º). ÓRGÃO
JULGADOR QUE, AO DECIDIR A CAUSA, INCIDIU EM ERRO DE PERCEPÇÃO, RECONHECENDO OCORRENTE FATO
EFETIVAMENTE INEXISTENTE. APLICAÇÃO EQUIVOCADA DE PRECEDENTE, FIRMADO EM REPERCUSSÃO GERAL (RE
563.965/RN), QUE NÃO GUARDA QUALQUER PERTINÊNCIA COM A SITUAÇÃO JULGADA PELO ACÓRDÃO RESCINDENDO (RE
602.300-AgR/AM). A NOÇÃO DE ERRO DE FATO NA VISÃO DA JURISPRUDÊNCIA E DA DOUTRINA. POSSIBILIDADE DE
REJULGAMENTO DA CAUSA EM SEDE DE AÇÃO RESCISÓRIA. INVIABILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
INTERPOSTO PELO ESTADO DO AMAZONAS. APELO EXTREMO INCOGNOSCÍVEL, POR VEICULAR CONTROVÉRSIA
INFRACONSTITUCIONAL. DIREITO LOCAL (SÚMULA 280/STF) E OFENSA INDIRETA. PRECEDENTES ESPECÍFICOS DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DESAUTORIZAM A PRETENSÃO RECURSAL EXTRAORDINÁRIA DEDUZIDA PELO
ESTADO DO AMAZONAS. AÇÃO RESCISÓRIA JULGADA PROCEDENTE.
DECISÃO: Trata-se de ação rescisória ajuizada em 07/01/2013 e que, promovida com fundamento no art. 485, incisos IV e V, do CPC, visa a
desconstituir acórdão emanado da colenda Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal que negou provimento a recurso de agravo interposto
contra decisão monocrática que dera provimento ao apelo extremo deduzido pelo Estado do Amazonas (RE 602.300-AgR/AM).
O acórdão rescindendo – que transitou em julgado em 16/11/2011 – está assim ementado:
“Agravo regimental no recurso extraordinário. Servidor público. Estabilidade financeira. Vantagem incorporada. Revisão.
Inexistência de direito adquirido a regime jurídico. Irredutibilidade de vencimentos. Desvinculação. Possibilidade. Precedentes.
1. É pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de que, embora constitucional o instituto da estabilidade financeira, não há
direito adquirido à forma de reajuste da remuneração, o que implicaria direito adquirido a regime jurídico, ficando assegurada, contudo, a
irredutibilidade de vencimentos.
Publique-se.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
16 a 20 de novembro de 2015
Decreto de 18.11.2015 - Convoca as Conferências Nacionais dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos
Direitos da Pessoa Idosa, de Políticas Públicas de Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais, dos Direitos da Pessoa com Deficiência e de Direitos Humanos. Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº
221, em 19.11.2011.
Decreto nº 8.573, de 19.11.2015 - Dispõe sobre o Consumidor.gov.br, sistema alternativo de solução de conflitos
de consumo, e dá outras providências. Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº 222, em 20.11.2015.
Lei nº 13.190, de 19.11.2015 - Altera as Leis nos 12.462, de 4 de agosto de 2011, que institui o Regime
Diferenciado de Contratações Públicas - RDC, 7.210, de 11 de julho de 1984, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 8.935,
de 18 de novembro de 1994, 11.196, de 21 de novembro de 2005, e 12.305, de 2 de agosto de 2010; e dá outras providências.
Publicada no DOU, Seção 1, Edição Extra nº 222, p. 1, em 20.11.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
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Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE
194704/MG; ADI 1625/DF; PSV 115/DF; ARE 785068/DF; MS 32569/DF.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 5365 MC-AgR/PB; RMS 29914/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Inconstitucionalidade de lei estadual que prevê punições para quem exige teste de gravidez nas contratações.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES TEMPORÁRIOS
Competência da Justiça Comum.
DIREITO ELEITORAL
FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL
Inconstitucionalidade da norma que permitia doações anônimas a candidatos
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Inconstitucionalidade de lei estadual que prevê punições
para quem exige teste de gravidez nas contratações
É inconstitucional lei estadual que preveja punições a empresas privadas e a agentes públicos
que exijam a realização de teste de gravidez e a apresentação de atestado de laqueadura para
admissão de mulheres ao trabalho.
STF. Plenário. ADI 3165/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/11/2015 (Info 807).
Inconstitucionalidade formal
A inconstitucionalidade, no caso, é formal. Isso porque a competência para legislar sobre direito do
trabalho é da União, nos termos do art. 22, I, da CF/88.
Vale ressaltar que já existe a Lei federal nº 9.029/95, que proíbe a exigência de atestados de gravidez e
esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos admissionais ou de permanência da relação
jurídica de trabalho.
Assim, como não existe omissão legislativa por parte da União, não poderia o Estado-membro ter legislado
sobre o tema.
Além disso, haveria vício de forma, uma vez que a lei estadual cuida de servidor público, mas ela foi
proposta por um Deputado Estadual, violando a reserva privativa do chefe do Poder Executivo (art. 61, §
1º, II, "c", da CF/88).
Não confunda
É proibido exigir, como condição para contratação da mulher, a realização de teste de gravidez ou de
qualquer procedimento de esterilização. A lei estadual foi declarada, contudo, inconstitucional porque
tratar sobre esse tema é competência da União e já existe lei federal dispondo sobre o assunto.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES TEMPORÁRIOS
Competência da Justiça Comum
Importante!!!
A justiça comum é competente para processar e julgar causas em que se discuta a validade de
vínculo jurídico-administrativo entre o poder público e servidores temporários.
Dito de outra forma: a Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários
(art. 37, IX, da CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal).
A competência NÃO é da Justiça do Trabalho, ainda que o autor da ação alegue que houve
desvirtuamento do vínculo e mesmo que ele formule os seus pedidos baseados na CLT ou na lei
do FGTS.
STF. Plenário. Rcl 4351 MC-AgR/PE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli,
julgado em 11/11/2015 (Info 807).
Se a pessoa, contratada nas hipóteses do art. 37, IX, da CF/88, quer pedir judicialmente valores
decorrentes deste vínculo, de quem será a competência para julgar este pleito?
Justiça Comum. O STF possui entendimento pacífico de que a competência é da JUSTIÇA COMUM,
estadual (se o contratante for Estado ou Município) ou federal (se o contratante for órgão ou entidade
DIREITO ELEITORAL
Doações ocultas
O art. 28, § 12 da Lei nº 9.504/97 prevê a possibilidade de "doações ocultas" de pessoas físicas a
candidatos, ou seja, sem que os nomes dos doadores fiquem registrados na prestação de contas. Veja:
§ 12. Os valores transferidos pelos partidos políticos oriundos de doações serão registrados na prestação
de contas dos candidatos como transferência dos partidos e, na prestação de contas dos partidos, como
transferência aos candidatos, sem individualização dos doadores. (Incluído pela Lei nº 13.165/2015)
ADI
O Conselho Federal da OAB ajuizou ADI contra esse dispositivo, que foi incluído pela Lei nº 13.165/2015.
A entidade argumentou que o dispositivo é inconstitucional, pois permite que doações feitas a partidos
possam ser repassadas a candidatos sem a demonstração da origem dos recursos, o que violaria o
princípio da transparência e o princípio da moralidade, além de favorecer a corrupção, dificultando o
rastreamento das doações eleitorais.
Segundo a petição inicial, doações ocultas são aquelas em que não é possível identificar o vínculo entre
doadores e candidatos. Nesse modelo, a pessoa física doa dinheiro para o partido, que repassa ao
candidato, sem que o processo seja transparente.
áà possi ilidadeà deà doaçõesà o ultas à deà pessoasà físi asà aà a didatosà podeà sustentar relações pouco
O STF apreciou o pedido de liminar formulado na ação. O que decidiu a Corte? Em uma análise liminar, o
dispositivo viola a Constituição Federal?
SIM. O Plenário deferiu pedido de medida cautelar na ADI para suspender, até o julgamento final da ação,
aàefi iaàdaàexp essãoà se ài di idualizaçãoàdosàdoado es ,à o stante da parte final do § 12 do art. 28 da
Lei nº 9.504/1997, acrescentado pela Lei 13.165/2015.
álé àdisso,à o fe iu,àpo à aio ia,àefeitosà exàtu à àde isão.à
A parte final do § 12 do art. 38 da Lei nº 9.504/97, acrescentado pela Lei nº 13.365/2015, suprime a
transparência do processo eleitoral, frustra o exercício da fiscalização pela Justiça Eleitoral e impede que o
eleitor exerça, com pleno esclarecimento, seu direito de escolha dos representantes políticos. Isso atenta
contra a arquitetura republicana e a inspiração democrática que a Constituição Federal imprime ao Estado
brasileiro.
Fundamentação
O STF afirmou que é necessário que haja um efetivo sistema de controle dos recursos arrecadados por
partidos e candidatos. Para isso, é indispensável que haja transparência nas contas eleitorais.
Sem as informações necessárias, entre elas a identificação dos particulares que contribuíram
originariamente para os partidos e candidatos, o processo de prestação de contas perde a sua capacidade
de documentar a real movimentação financeira, os dispêndios e os recursos aplicados nas campanhas
eleitorais, impedindo a fiscalização por parte da Justiça Eleitoral e o controle pelos eleitores. As
informações sobre as doações de particulares a candidatos e a partidos não interessam apenas à Justiça
Eleitoral, mas à sociedade como um todo.
A identificação dos particulares que fizeram doações eleitorais é informação essencial para que se possa
constatar se as doações provêm de fontes lícitas e se respeitam os limites máximos de valor previstos no
art. 23 da Lei nº 9.504/97.
Por fim, o acesso a esses dados ainda propicia o aperfeiçoamento da própria política legislativa de
combate à corrupção eleitoral, ajudando a denunciar as fragilidades do modelo e a inspirar propostas de
correção futuras.
SERVIDORES TEMPORÁRIOS
Competência da Justiça Comum
Importante!!!
A justiça comum é competente para processar e julgar causas em que se discuta a validade de
vínculo jurídico-administrativo entre o poder público e servidores temporários.
Dito de outra forma: a Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários
(art. 37, IX, da CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal).
REPERCUSSÃO GERAL
9 a 13 de novembro de 2015
CLIPPING DO DJE
9 a 13 de novembro de 2015
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Publique-se.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
9 a 13 de novembro de 2015
Medida Provisória nº 699, de 10.11.2015 - Altera a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o
Código de Trânsito Brasileiro. Publicada no DOU, seção 1, Edição nº 215, p. 1, em 11.11.2015.
Lei nº 13.188, de 11.11.2015 - Dispõe sobre o direito de resposta ou retificação do ofendido em matéria
divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social. Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº 216, p.
1, em 12.11.2015.
Decreto nº 8.572, de 13.11.2015 - Altera o Decreto nº 5.113, de 22 de junho de 2004, que regulamenta o art. 20,
inciso XVI, da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, que dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -
FGTS. Publicado no DOU, Seção 1, Edição Extra nº 217, p. 1, em 13.11.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
PSV 93/DF; ADI 2404/DF; AP 913 QO/AL; RE 514639/RS.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: RE 201512/MG; RE 196752 AgR/MG; RE 790059 AgR-AgR/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Inviolabilidade de domicílio e flagrante delito.
INDULTO
Possibilidade de concessão para pessoas submetidas a medida de segurança.
DIREITO TRIBUTÁRIO
IPTU
Alíquota aplicável em caso de lei municipal declarada inconstitucional por prever progressividade em função do
valor do imóvel antes da EC 29/2000.
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Inviolabilidade de domicílio e flagrante delito
Importante!!!
A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno,
quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori , que indiquem
que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados.
STF. Plenário. RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/11/2015 (repercussão
geral) (Info 806).
Previsão
A CF/88 prevê, em seu art. 5º, a seguinte garantia:
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial;
Assim, guarde isso: não se pode invadir a casa de alguém durante a noite para cumprir ordem judicial.
Flagrante delito
Vimos acima que, havendo flagrante delito, é possível ingressar na casa mesmo sem consentimento do
morador, seja de dia ou de noite.
Um exemplo comum no cotidiano é o caso do tráfico de drogas. Diversos verbos do art. 33 da Lei nº
11.343/2006 fazem com que este delito seja permanente:
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda,
oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:
Assim, se a casa do traficante funciona como boca-de-fumo, onde ele armazena e vende drogas, a todo
momento estará ocorrendo o crime, considerando que ele está praticando os verbos "ter em depósito" e
"guardar".
Diante disso, havendo suspeitas de que existe droga em determinada casa, será possível que os policiais
invadam a residência mesmo sem ordem judicial e ainda que contra o consentimento do morador?
SIM. No entanto, no caso concreto, devem existir fundadas razões que indiquem que ali está sendo
cometido um crime (flagrante delito). Essas razões que motivaram a invasão forçada deverão ser
posteriormente expostas pela autoridade, sob pena de ela responder nos âmbitos disciplinar, civil e penal.
Além disso, os atos praticados poderão ser anulados.
A tese fixada pelo STF em sede de recurso extraordinário sob repercussão geral foi a seguinte:
A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando
amparada em fundadas razões, devidamenteàjustifi adasà aàposte io i ,à ueài di ue à ueàde t oàdaà asaà
ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade, e de nulidade dos atos praticados.
PROCESSO COLETIVO
Legitimidade da Defensoria Pública para ação civil pública
A legitimidade da Defensoria para a ACP é irrestrita, ou seja, a instituição pode propor ACP em todo e
qualquer caso?
Apesar de não ser um tema ainda pacífico, a resposta que prevalece é que NÃO.
Assim, a Defensoria Pública, ao ajuizar uma ACP, deverá provar que os interesses discutidos na ação têm
pertinência com as suas finalidades institucionais.
Segundo a jurisprudência, a Defensoria Pública só tem legitimidade ativa para ações coletivas se elas
estiverem relacionadas com as funções institucionais conferidas pela CF/88, ou seja, se tiverem por
objetivo beneficiar os necessitados que não tiverem suficiência de recursos (CF/88, art. 5º, LXXIV).
A própria Lei Orgânica da Defensoria Pública (Lei Complementar n. 80/94) nos faz concluir dessa forma:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
(...)
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos
direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar
grupo de pessoas hipossuficientes; (Redação dada pela LC 132/2009).
VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e
dos direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal; (Redação dada
pela LC 132/2009).
X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos
individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de
No julgamento da ADI 3943 (STF. Plenário. Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6 e 7/5/2015. Info 784),
diversos Ministros manifestaram esse mesmo entendimento.
O Min. Roberto Barroso corroborou essa conclusão e afirmou que o fato de se estabelecer que a
Defensoria Pública tem legitimidade, em tese, para ações civis públicas, não exclui a possibilidade de, em
um eventual caso concreto, não se reconhecer a legitimidade da Instituição. Em tom descontraído, o
Ministro afirmou que a Defensoria não teria legitimidade, por exemplo, no caso concreto, para uma ação
ivilà pú li aà aà defesaà dosà só iosà doà Yat hà Clu .à Eà da doà out oà e e ploà e t e o,à afi ouà ueà aà
Defensoria não teria legitimidade, no caso concreto, para ajuizar uma ação civil pública em favor dos
lie tesà Pe so alit àdoàBa oàItaú.
O Min. Teori Zavascki segue na mesma linha e afirma que existe uma condição implícita na legitimidade da
Defensoria Pública para ações civis públicas que é o fato de ela ter que defender interesses de pessoas
hipossuficientes, sendo esta uma condição imposta pelo art. 134 da CF/88.
A Min. Rosa Weber também deixou claro que a Defensoria Pública tem legitimidade para propor ações
civis públicas, mas que o juízo poderá aferir, no caso concreto, sua adequada representação.
Atenção. Não confunda: não se está dizendo que a Defensoria Pública só pode propor ACP se os direitos
dis utidosà e volve e à ape asà pessoasà po es (rectius: hipossuficientes). Essa era a tese da CONAMP,
que foi rechaçada pelo STF. O que estou afirmando é que, para a Defensoria Pública ajuizar a ACP aquele
interesse discutido na lide tem que, de algum modo, favorecer seu público-alvo (hipossuficientes), ainda
que beneficie outras pessoas também que não sejam necessitadas.
A oitiva de testemunhas pode ser considerada prova urgente para os fins do art. 366 do CPP?
Sim, desde que as circunstâncias do caso concreto revelem a possibilidade concreta de perecimento.
Ex: a testemunha possui idade avançada e se encontra enferma, com possibilidade concreta de morte.
Existe um argumento no sentido de que se as testemunhas forem policiais, deverá haver autorizada a
sua oitiva como prova antecipada, considerando que os policiais lidam diariamente com inúmeras
ocorrências e, se houvesse o decurso do tempo, eles iriam esquecer dos fatos. Esse argumento é aceito
pela jurisprudência? A oitiva das testemunhas que são policiais é considerada como prova urgente para
os fins do art. 366 do CPP?
SIM. É a posição do STJ. NÃO. Julgado do STF.
O fato de o agente de segurança pública atuar É incabível a produção antecipada de prova
constantemente no combate à criminalidade faz testemunhal fundamentada na simples
com que ele presencie crimes diariamente. Em possibilidade de esquecimento dos fatos, sendo
virtude disso, os detalhes de cada uma das necessária a demonstração do risco de
ocorrências acabam se perdendo em sua perecimento da prova a ser produzida (art. 225 do
memória. CPP).
Essa peculiaridade justifica que os policiais sejam Não serve como justificativa a alegação de que as
ouvidos como produção antecipada da prova testemunhas são policiais responsáveis pela
testemunhal, pois além da proximidade temporal prisão, cuja própria atividade contribui, por si só,
com a ocorrência dos fatos proporcionar uma para o esquecimento das circunstâncias que
maior fidelidade das declarações, possibilita ainda cercam a apuração da suposta autoria de cada
o registro oficial da versão dos fatos vivenciados infração penal.
por ele, o que terá grande relevância para a STF. 2ª Turma. HC 130038/DF, Rel. Min. Dias
garantia da ampla defesa do acusado, caso a Toffoli, julgado em 3/11/2015 (Info 806).
defesa técnica repute necessária a repetição do
seu depoimento por ocasião da retomada do curso
da ação penal.
STJ. 5ª Turma. RHC 51.232-DF, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 2/10/2014 (Info 549).
STJ. 6ª Turma. RHC 48.073/DF, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 30/06/2015.
INDULTO
Possibilidade de concessão para pessoas submetidas a medida de segurança
Importante!!!
Indulto é um ato do Presidente da República (art. 84, XII, da CF/88), materializado por meio de
um Decreto, por meio do qual é extinto o efeito executório da condenação imposta a alguém.
Em outras palavras, mesmo havendo ainda pena a ser cumprida, o Estado renuncia ao seu
direito de punir, sendo uma causa de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP).
Tradicionalmente, o indulto é concedido a pessoas que receberam uma pena por terem sido
Indulto natalino
É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no final de todos os anos, concedendo
i dulto.àEsseàDe etoà à o he idoà o oà i dultoà atali o .
No Decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do benefício. Caso o apenado
atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve reconhecer o direito, extinguindo a pena pelo indulto.
Medidaà deà segu a çaà à aà odalidadeà deà sanção penal com finalidade exclusivamente preventiva, e de
caráter terapêutico, destinada a tratar inimputáveis e semi-imputáveis portadores de periculosidade, com
oàes opoàdeàevita àaàp ti aàdeàfutu asài f açõesàpe ais. à Má““ON,àCle e .àDireito Penal esquematizado.
São Paulo: Método, 2012, p. 815).
Assim, a medida de segurança é aplicável para o indivíduo que praticou uma conduta típica e ilícita, mas,
no tempo do fato, ele era totalmente incapaz (inimputável) ou parcialmente capaz (semi-imputável) de
entender o caráter ilícito de sua conduta e de se autodeterminar segundo tal entendimento. Em razão
disso, em vez de receber uma pena, ele estará sujeito a receber uma medida de segurança (AVENA,
Norberto. Execução penal esquematizado. São Paulo: Método, p. 363).
Ao final do ano, a Presidente da República tem editado Decreto concedendo indulto a diversas pessoas
condenadas pela prática de infrações penais. Dentre os beneficiados com esse perdão, têm sido incluídos
indivíduos que receberam medidas de segurança. Veja, por exemplo, o Decreto nº 8.380/2014:
Art. 1º Concede-se o indulto coletivo às pessoas, nacionais e estrangeiras:
(...)
XII - submetidas a medida de segurança, que, até 25 de dezembro de 2014, independentemente da
cessação de periculosidade, tenham suportado privação da liberdade, internação ou tratamento
ambulatorial por período igual ou superior ao máximo da pena cominada à infração penal correspondente
à conduta praticada ou, nos casos de substituição prevista no art. 183 da Lei de Execução Penal, por
O Ministério Público não concordou com essa prática. Segundo argumentou o Parquet, a medida de
segurança é um instituto jurídico de natureza terapêutica e que tem por objetivo evitar que a pessoa que
apresenta certo grau de periculosidade pratique novos fatos previstos como crime. Logo, de acordo com o
MP, só se poderia afastar a medida de segurança após uma avaliação técnica na qual ficasse comprovado
que o indivíduo não apresenta mais periculosidade. Assim, seria impossível conceder indulto para pessoas
submetidas a medida de segurança.
A tese do MP foi acolhida pelo STF? É vedada a concessão de indulto para pessoas submetidas a medida
de segurança?
NÃO. A tese do MP não foi acolhida. É possível sim a concessão de indulto para pessoas submetidas a
medida de segurança.
A competência do Presidente da República para a concessão de indulto (art. 84, XII, da CF/88) abrange não
apenas pessoas que receberam "pena", como também aquelas que foram submetidas a medida de
segurança, considerando que ambas são espécies de sanção penal. Ademais, não existe uma restrição
expressa à concessão de indulto.
O STF aprovou a seguinte tese para efeitos de aplicação da repercussão geral (para servir de paradigma):
Reveste-se de legitimidade jurídica a concessão, pelo Presidente da República, do benefício constitucional
do indulto (CF, art. 84, XII), que traduz expressão do poder de graça do Estado, mesmo se se tratar de
indulgência destinada a favorecer pessoa que, em razão de sua inimputabilidade ou semi-imputabilidade,
sofre medida de segurança, ainda que de caráter pessoal e detentivo.
DIREITO TRIBUTÁRIO
IPTU
Alíquota aplicável em caso de lei municipal declarada inconstitucional por prever
progressividade em função do valor do imóvel antes da EC 29/2000
IPTU
Características
Trata-se de um imposto:
Real: incide sobre uma coisa (propriedade imobiliária urbana);
Direto: o próprio contribuinte é quem suporta o encargo financeiro da tributação (não há repercussão
econômica);
Fiscal: a função precípua deste imposto é a arrecadação (imposto fiscal). Vale ressaltar, no entanto,
que, em alguns casos, ele poderá assumir também um caráter extrafiscal (forma de estimular o
cumprimento da função social da propriedade);
Progressivo: pode ser progressivo no tempo caso a propriedade não esteja cumprindo sua função
social (art. 182, § 4º), além de poder ser progressivo em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I);
Complexivo: significa que seu fato gerador é um só ao longo de todo o ano.
Fato gerador
- de bem imóvel
propriedade
O fato gerador - por natureza ou
domínio útil
do IPTU é a... - por acessão física
posse
- localizado na zona urbana.
Alíquota
As alíquotas poderão ser livremente estipuladas pelos Municípios, desde que, obviamente, não sejam tão
elevadas a ponto de caracterizar um confisco, o que é vedado constitucionalmente (art. 150, IV, da CF/88).
Existem três critérios de diferenciação de alíquota no IPTU:
a) Progressividade em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I);
b) Progressividade em razão da função social da propriedade (art. 182, § 4º, II): aumento de alíquotas
para desestimular que o imóvel fique não edificado, inutilizado ou subutilizado.
c) Extrafiscalidade pela localização e uso (art. 156, § 1º, II).
O s:àalgu sàauto esà ha a àaàe t afis alidadeàpelaàlo alizaçãoàeàusoàdeà seletividadeàdoàIPTU .àÉàoà asoà
de Hugo de Brito Machado e Ricardo Lobo Torres.
Progressividade
Progressividade é uma técnica de tributação que tem como objetivo fazer com que os tributos atendam à
capacidade contributiva.
Na prática, a progressividade funciona da seguinte forma: a lei prevê alíquotas variadas para o imposto e o
aumento dessas alíquotas ocorre na medida em que se aumenta a base de cálculo.
Assim, na progressividade, quanto maior a base de cálculo, maior será a alíquota.
O IPTU é progressivo?
SIM. Existem duas espécies de progressividade no IPTU:
a) Progressividade em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I): quanto maior o valor do imóvel, maior a
alíquota. Trata-se de progressividade fiscal (com o objetivo de arrecadar mais).
b) Progressividade em razão da função social da propriedade (art. 182, § 4º, II): aumento de alíquotas para
desestimular que o imóvel fique não edificado, inutilizado ou subutilizado. Consiste em uma
progressividade extrafiscal (tem por finalidade fazer cumprir um mandamento constitucional, qual seja, a
função social da propriedade).
Para o STF, as leis municipais que, antes da EC 29/2000, previam alíquotas progressivas em razão do
valor do imóvel eram válidas? Essa Lei do Município XXX era válida?
NÃO. Como vimos acima, antes da EC 29/2000, a CF/88 não previa, em seu texto, a progressividade em
razão do valor do imóvel. Para o STF, essa lacuna era proposital e, não havendo previsão expressa, os
Municípios estavam proibidos de instituir a progressividade em razão do valor. Antes da EC 29/2000 só era
válida uma forma de progressividade no IPTU: a progressividade para cumprir a função social da
propriedade. Logo essas leis municipais que trouxeram progressividade fiscal antes da EC 29/2000 eram
inconstitucionais. Foi editada até uma súmula para expor esse entendimento:
Súmula 668-STF: É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da emenda constitucional
29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função
social da propriedade urbana.
Qual será, no entanto, a alíquota que deverá ser paga? Suponha que João possui um imóvel avaliado em
R$ 2 milhões, ele pagará o IPTU com base em qual alíquota?
Declarada inconstitucional a progressividade de alíquota tributária, é devido o tributo calculado pela
alíquota MÍNIMA correspondente, de acordo com a destinação do imóvel.
Segundo decidiu o STF, o reconhecimento da inconstitucionalidade da progressividade do IPTU não afasta
a cobrança total do tributo. Esta, no entanto, deve ser realizada pela forma menos gravosa prevista em lei.
ECT e prescrição
A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, proveu agravo regimental para determinar que
o recurso extraordinário tenha sequência. Na espécie, debate-se a possibilidade, à luz do art. 173, § 1º, II, da
CF, de equiparação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) com a Fazenda Pública — v.
Informativo 797. A Turma destacou que a matéria deveria ser examinada em razão de várias prerrogativas de
direito público já terem sido reconhecidas aos Correios. Vencidos a Ministra Rosa Weber (relatora) e o
Ministro Roberto Barroso que mantinham a decisão agravada no sentido de que o conceito de fazenda
pública se estenderia à ECT. Agravo regimental em agravo regimental em recurso extraordinário provido para
assegurar o trânsito em julgado do recurso extraordinário em que se questiona a aplicação da prescrição
quinquenal prevista no Decreto 20.910/1932 à referida empresa pública prestadora de serviço público.
RE 790059 AgR-AgR/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 3.11.2015.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 3 a 6 de novembro de 2015
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
3 a 6 de novembro de 2015
Lei nº 13.183, de 4.11.2015 - Altera as Leis nºs 8.212, de 24 de julho de 1991, e 8.213, de 24 de julho de 1991,
para tratar da associação do segurado especial em cooperativa de crédito rural e, ainda essa última, para atualizar o rol
de dependentes, estabelecer regra de não incidência do fator previdenciário, regras de pensão por morte e de
empréstimo consignado, a Lei nº 10.779, de 25 de novembro de 2003, para assegurar pagamento do seguro-defeso para
familiar que exerça atividade de apoio à pesca, a Lei nº 12.618, de 30 de abril de 2012, para estabelecer regra de
inscrição no regime de previdência complementar dos servidores públicos federais titulares de cargo efetivo, a Lei nº
10.820, de 17 de dezembro de 2003, para dispor sobre o pagamento de empréstimos realizados por participantes e
assistidos com entidades fechadas e abertas de previdência complementar e a Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990; e
dá outras providências. Publicada no DOU, Seção 1, Edição nº 211, p. 1, em 5.11.2015.
Lei nº 13.184, de 4.11.2015 - Acrescenta § 2o ao art. 44 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para dispor sobre a matrícula do candidato de renda familiar inferior a dez
salários mínimos nas instituições públicas de ensino superior. Publicada no DOU, Seção 1, Edição nº 211, p. 2, em
5.11.2015.
Lei nº 13.185, de 6.11.2015 - Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). Publicada no
DOU, Seção 1, Edição nº 213, p. 1, em 9.11.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
RE 579431/RS; MS 31285/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
A disciplina sobre o ordenamento do espaço urbano pode ser feita por meio de outras leis municiais além do plano
diretor, desde que sejam compatíveis com esta.
CNMP
Procedimento de controle administrativo e notificação pessoal.
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
A disciplina sobre o ordenamento do espaço urbano pode ser feita por meio de outras leis
municipais além do plano diretor, desde que sejam compatíveis com esta
Os Municípios com mais de 20 mil habitantes e o Distrito Federal podem legislar sobre
programas e projetos específicos de ordenamento do espaço urbano por meio de leis que
sejam compatíveis com as diretrizes fixadas no plano diretor.
Isso significa que nem sempre que o Município for legislar sobre matéria urbanística, ele
precisará fazê-lo por meio do Plano Diretor. O Plano Diretor é o instrumento legal que dita a
atuação do Município ou do Distrito Federal quanto ao ordenamento urbano, traçando suas
linhas gerais, porém a sua execução pode se dar mediante a expedição de outras lei e decretos,
desde que guardem conformidade com o Plano Diretor.
STF. Plenário. RE 607940/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 29/10/2015 (Info 805).
Em outras palavras, não poderia ter sido editada essa lei, uma vez que se trata de assunto que deveria ser
tratado no plano diretor.
CNMP
Procedimento de controle administrativo e notificação pessoal
COMPETÊNCIA
Disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente
Importante!!!
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou
adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B
do ECA), quando praticados por meio da rede mundial de computadores (internet).
STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. Orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 28 e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805).
Este inciso fixa competência criminal da Justiça Federal. Consiste em competência estabelecida em função
da matéria.
Para que o delito seja de competência da Justiça Federal com base neste inciso, são necessários três
requisitos:
a) que o fato seja previsto como crime em tratado ou convenção;
b) que o Brasil seja signatário de compromisso internacional de combate àquela espécie delitiva;
c) que exista uma relação de internacionalidade entre a conduta criminosa praticada e o resultado
produzido [ou que deveria ter sido produzido].
Desse modo, não é suficiente que o crime esteja previsto em tratado ou convenção internacional para ser
julgado pela Justiça Federal.
Podemos citar os seguintes exemplos de crimes que poderão ser submetidos a julgamento pela Justiça
Federal com fundamento no art. 109, V, da CF/88, desde que haja relação de internacionalidade, por
serem previstos em tratados internacionais:
a) tráfico transnacional de drogas (art. 70, da Lei nº 11.343/2006);
b) tráfico internacional de arma de fogo (art. 18 da Lei nº 10.826/2003);
c) tráfico internacional de pessoas para fim de exploração sexual (art. 231 do CP);
d) envio ilegal de criança ou adolescente para o exterior (art. 239 do ECA).
Todo crime praticado pela internet é de competência da Justiça Federal com base neste inciso V?
Obviamente que não. Segundo entendimento pacífico da jurisprudência, o fato de o delito ter sido
cometido pela rede mundial de computadores não atrai, por si só, a competência da Justiça Federal. Para
que o delito cometido por meio da internet seja julgado pela Justiça Federal, é necessário que se amolde
em umas das hipóteses elencadas no art. 109, IV e V, da CF/88.
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio,
inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
(...)
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro
que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
(...)
De quem será a competência para julgar esses delitos caso tenham sido praticados por meio da internet?
Justiça Federal, com base no art. 109, V, da CF/88.
Os delitos acima listados são crimes que o Brasil, por meio de tratado internacional, comprometeu-se a
reprimir. Trata-se da Convenção sobre Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas, aprovada pelo Decreto legislativo 28/90 e pelo Decreto 99.710/90.
Se o crime é praticado por meio da internet, o vídeo ou a fotografia envolvendo a criança ou o adolescente
em cenas de sexo ou de pornografia poderão ser visualizados em qualquer computador do mundo.
Ocorre, portanto, a transnacionalidade do delito.
DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR
PEDERASTIA
Inconstitucionalidade das expressões que mencionem homossexualismo
O tipo penal do art. 235 do CPM continua sendo crime mesmo com a CF/88. No entanto, devem
ser consideradas incompatíveis com a CF/88 as expressões empregadas que falem em
homossexualismo. Isso porque o crime em tela se configura tanto quando o militar pratica
relação sexual com alguém do mesmo sexo, como também de sexo diferente, não devendo
haver distinção de tratamento.
Assim, as expressões pederastia ou outro — mencionada na rubrica enunciativa referente ao
art. 235 do CPM — e homossexual ou não — contida no aludido dispositivo — não foram
recepcionadas pela CF/88.
STF. Plenário. ADPF 291/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 28/10/2015 (Info 805).
ADPF 291
O Procurador-Geral da República ajuizou uma arguição de descumprimento de preceito fundamental
(ADPF) contra esse dispositivo alegando que ele violaria os princípios da isonomia, da liberdade, da
dignidade da pessoa humana, da pluralidade e do direito à privacidade, e pedia que fosse declarada a não
recepção do dispositivo pela CF/88. Subsidiariamente, pedia a declaração de inconstitucionalidade do
te o pede astia e da exp essão ho ossexual ou ão a tipificação pe al.
Para o PGR, essa norma foi editada no contexto histórico de um regime militar ditatorial, marcado pelo
autoritarismo e pela intolerância às diferenças.
Em suma:
O tipo penal do art. 235 do CPM continua sendo crime mesmo com a CF/88. No entanto, devem ser
consideradas incompatíveis com a CF/88 as expressões empregadas que falem em homossexualismo. Isso
porque o crime em tela se configura tanto quando o militar pratica relação sexual com alguém do mesmo
sexo, como também de sexo diferente, não devendo haver distinção de tratamento.
Assim, o tipo penal do art. 235 do CPM deve ser agora lido da seguinte forma:
Ato de libidinagem
Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com ele se pratique ato libidinoso em lugar sujeito a
administração militar:
Pena - detenção, de seis meses a um ano.
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DO D JE
26 a 29 de outubro de 2015
AG. REG. NOS EMB. DECL. NOS EMB. DIV. NO AG. REG. NO AI N. 808.405-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA – ACÓRDÃO RELATIVO A AGRAVO. Acórdão decorrente de julgamento de agravo regimental, interposto
contra ato de relator no exame de agravo, sem apreciação da matéria de fundo do extraordinário, não desafia embargos de divergência – inteligência
do artigo 546 do Código de Processo Civil.
Ext N. 1.351-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. EXTRADIÇÃO EXECUTÓRIA. REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA. TRÁFICO E ASSOCIAÇÃO
PARA O TRÁFICO DE ENTORPECENTES – ARTIGOS 33 E 35, C/C ARTIGO 40, I, TODOS DA LEI N. 11.343/2006. DUPLA TIPICIDADE. CIDADÃO
ALEMÃO. EXEQUATUR DE SENTENÇA PROFERIDA PELA JUSTIÇA ESPANHOLA CONCEDIDO PELA JUSTIÇA ALEMÃ. CUMPRIMENTO DA PENA NA
ALEMANHA. REGULARIDADE FORMAL DO PEDIDO. AUSÊNCIA DE TRATADO SUPRIDA PELA PROMESSA DE RECIPROCIDADE. COMPETÊNCIA DO
ESTADO REQUERENTE. PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE. CONOTAÇÃO POLÍTICA. INEXISTÊNCIA. CONTENCIOSIDADE LIMITADA (ART. 85, § 1º DA
LEI N. 6.185/1980). NULIDADE DO INTERROGATÓRIO POR AUSÊNCIA DE TRADUTOR JURAMENTADO. INEXISTÊNCIA: TRADUTOR NOMEADO E
COMPROMISSADO PELO JUIZ. EXTRADITANDO NÃO FLUENTE EM PORTUGUÊS. CIRCUNSTÂNCIA NÃO COMPROMETEDORA DA VALIDADE DO
INTERROGATÓRIO: COMPREENSÃO PLENA DOS FATOS IMPUTADOS. PROPÓSITO DE ACIONAR O TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DOS
HOMENS PARA DESCONSTITUIR A SENTENÇA CONDENATÓRIA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE DECISÃO CONCESSIVA DE EFEITO SUSPENSIVO
DA EXECUÇÃO DA PENA. INEXISTÊNCIA DE PRESCRIÇÃO EM AMBOS OS ORDENAMENTOS JURÍDICOS. QUESTIONAMENTO A RESPEITO DA PRISÃO
PREVENTIVA PARA EXTRADIÇÃO. INVIABILIDADE: CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE DO PEDIDO. RESIDÊNCIA PERMANENTE NO BRASIL E FILHO
BRASILEIRO: CIRCUNSTÂNCIAS NÃO IMPEDITIVAS DA EXTRADIÇÃO (SÚMULA 421/STF). EXTRADIÇÃO DEFERIDA.
1. A extradição pressupõe o cumprimento dos requisitos legais extraídos por interpretação a contrario sensu do art. 77 da Lei nº 6.815/80; vale dizer,
defere-se o pleito se o caso sub examine não se enquadrar em nenhum dos incisos do referido dispositivo e restarem observadas as disposições do
tratado específico.
2. A promessa de reciprocidade torna indiferente a ausência de tratado, não impedindo a extradição.
3. Os elementos de convicção embasadores da condenação são insuscetíveis de análise pelo Supremo Tribunal Federal, cuja competência, a teor do
artigo 85, § 1º, da Lei n. 6.815/1980, restringe-se ao exame da identidade da pessoa reclamada, defeito de forma dos documentos ou ilegalidade da
extradição (Ext 1009, rel. Min. Sepúlveda Pertence).
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Processo excluído deste informativo por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: ADI 5296 MC/DF.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: Rcl 8823/RJ; Ext 1394/DF.
ÍNDICE
DIREITO CIVIL
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
Desnecessidade de registro do contrato de alienação fiduciária de veículos no RTD.
DIREITO PENAL
LEI MARIA DA PENHA
Impossibilidade de penas restritivas de direito.
DIREITO CIVIL
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
Desnecessidade de registro do contrato de alienação fiduciária de veículos no RTD
Importante!!!
Quando for realizada a alienação fiduciária de um veículo, o contrato deverá ser registrado no
DETRAN e esta informação constará no CRV do automóvel.
É desnecessário o registro do contrato de alienação fiduciária de veículos em cartório.
STF. Plenário. RE 611639/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/10/2015 (repercussão geral).
STF. Plenário. ADI 4333/DF e ADI 4227/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 21/10/2015 (Info 804).
CONCEITO
A alie ação fidu iá ia e ga a tia é u o t ato i st u e tal e ue u a das pa tes, e o fia ça,
aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de
dete i ado fato. RAMO“, A d é Luiz “a ta C uz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo:
Método, 2012, p. 565).
Essa informação é uma garantia tanto para o banco ,como também para terceiros que eventualmente se
interessem por comprar aquele carro. Isso porque, ao consultarem o documento do veículo (CRV), verão
que existe esse gravame e que a pessoa que está na posse direta do veículo não possui ainda a propriedade
plena do bem, já que aquele automóvel foi oferecido como garantia de uma dívida. Somente após pagar
todo o débito é que o possuidor terá a propriedade plena.
Onde consta a obrigatoriedade de que o contrato de alienação fiduciária seja registrado no DETRAN?
É o Código Civil que determina que o contrato de alienação fiduciária seja registrado no DETRAN e que essa
informação seja anotada no CRV. Confira:
Art. 1.361. Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com
escopo de garantia, transfere ao credor.
§ 1º Constitui-se a propriedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por instrumento público ou
particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se
tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento (explico: DETRAN), fazendo-se a
anotação no certificado de registro (esclareço: CRV).
Além de ser anotado no CRV, é necessário (obrigatório) que a alienação fiduciária seja registrada no
cartório de Registro de Títulos e Documentos (RTD)?
NÃO. É desnecessário o registro do contrato de alienação fiduciária de veículos em cartório.
O registro da alienação fiduciária no RTD, no passado, já foi obrigatório, conforme previa o art. 66, § 1º da
Lei nº 4.728/65, tendo este artigo sido revogado pela Lei nº 10.931/2004.
Além disso, para que não houvessem dúvidas de que o registro no RTD é dispensável, o legislador editou
duas leis afirmando isso. Confira:
Lei nº 11.882/2008:
Art. 6º Em operação de arrendamento mercantil ou qualquer outra modalidade de crédito ou
financiamento a anotação da alienação fiduciária de veículo automotor no certificado de registro a que se
Lei nº 11.795/2008:
Art. 14 (...) § 7º A anotação da alienação fiduciária de veículo automotor ofertado em garantia ao grupo de
consórcio no certificado de registro a que se refere o Código de Trânsito Brasileiro, Lei nº 9.503, de 23 de
setembro de 1997, produz efeitos probatórios contra terceiros, dispensado qualquer outro registro público.
Essa tese foi aceita? Houve inconstitucionalidade das referidas leis ao dispensarem o registro da
alienação fiduciária no RTD?
NÃO. Não havia nada que impedisse o legislador de extinguir, como o fez, essa obrigatoriedade. Não há
nenhum dispositivo na CF/88 que obrigue o registro do contrato de alienação fiduciária no cartório.
Na verdade, os requisitos relacionados com a formação, validade e eficácia de contratos privados são
assuntos para serem tratados pela legislação federal e não pelo texto constitucional.
O legislador entendeu, de forma correta, que a exigência do registro da alienação fiduciária na serventia
extrajudicial (RTD) acarretaria ônus e custos desnecessários ao consumidor, além de não conferir ao ato a
publicidade adequada. Para o leigo que irá comprar um carro, é muito mais provável que ele procure no
DETRAN e no CRV se há restrições ao veículo, sendo improvável que ele vá atrás dessa informação no RTD
ou em qualquer outro cartório.
Essa proibição também foi questionada por meio das ADIs, mas o STF entendeu que não havia nenhuma
inconstitucionalidade na proibição.
O STF, no entanto, a fim de respeitar o ato jurídico perfeito e a segurança jurídica, afirmou que a vedação
imposta pela Lei nº 11.882/2008 não poderia ser aplicada aos convênios celebrados antes da publicação
dessa norma.
Assim, os convênios já pactuados por ocasião da edição da lei foram preservados até o fim do prazo da sua
vigência, sendo vedada qualquer prorrogação.
Quais são os requisitos cumulativos para a conversão da pena privativa de liberdade em penas
restritivas de direitos?
Estão previstos no art. 44 do CP e podem ser assim esquematizados:
Agora que você relembrou os requisitos para a aplicação das penas restritivas de direito, imagine que João
foi condenado por lesão corporal no âmbito da violência doméstica, delito previsto no art. 129, § 9º do CP:
Violência Doméstica
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)
Veja, portanto, que esse dispositivo proíbe que o juiz aplique as seguintes penas restritivas de direitos à
pessoa que praticou violência doméstica e familiar contra a mulher:
Pena de "cesta básica";
Quaisquer espécies de prestação pecuniária (art. 45, §§ 1º e 2º);
Pagamento isolado de multa (art. 44, § 2º do CP).
Alguns doutrinadores sustentaram a tese de que o art. 17, ao proibir apenas esses tipos de penas, teria, a
contrario sensu, permitido que fossem aplicadas outras espécies de penas restritivas de direitos. Essa
interpretação, contudo, não foi aceita pela jurisprudência.
O entendimento que prevalece é o seguinte: além das sanções previstas no art. 17, são proibidas
quaisquer penas restritivas para os condenados por violência doméstica e familiar contra a mulher. Isso
porque o art. 44, I, do CP veda penas restritivas de direito em caso de crimes cometidos com violência ou
grave ameaça à pessoa. Nesse sentido:
(...) Não se pode diminuir a abrangência da norma trazida no art. 44, inciso I, do Código Penal, com a
finalidade de se contornar a impossibilidade de aplicação da Lei n. 9.099/1995 aos crimes cometidos no
âmbito familiar. Com efeito, não obstante a Lei n. 11.340/2006 não vedar a substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos, restringindo apenas a aplicação de pena de prestação pecuniária e o
pagamento isolado de multa, o inciso I do art. 44 do Código Penal é claro ao proibir a substituição quando
o crime for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa. (...)
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 288.503/MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/08/2014.
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) (Juiz Federal TRF2 2009 CESPE) No caso de veículos, a propriedade fiduciária só se constitui após o registro do
contrato na repartição competente para o licenciamento, procedendo-se à anotação no certificado de registro. ( )
2) (Promotor MP/RO 2010 CESPE) Pela Lei de Registros Públicos, o registro em cartório do contrato de alienação
fiduciária de veículo automotor é requisito de validade do negócio jurídico. ( )
3) (Juiz TJDFT 2015 CESPE) Fernando, com trinta anos de idade, capaz, ameaçou de morte sua companheira Tereza,
com vinte e nove anos de idade, capaz. Fernando foi processado e condenado, definitivamente, pelo referido
crime à pena de cinco meses de detenção. Nessa situação, Fernando tem direito à substituição da pena privativa
de liberdade por pena restritiva de direitos. ( )
4) (Promotor MP/MS 2015) É possível a aplicação da pena restritiva de direitos de prestação pecuniária, bem como a
substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa, nos casos de violência doméstica e familiar
contra a mulher. ( )
5) (Juiz TJ/SC 2015 FCC) É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas
de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento
isolado de multa. ( )
1. C 2. E 3. E 4. E 5. C
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DO D JE
19 a 23 de outubro de 2015
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos: RE 837311/PI; HC 100612/SP; Inq
3305 AgR/RS; RHC 130132/MS.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
MEDIDAS PROVISÓRIAS
Emenda parlamentar em medida provisória e contrabando legislativo.
DIREITO CONSTITUCIONAL
MEDIDAS PROVISÓRIAS
Emenda parlamentar em medida provisória e contrabando legislativo
Importante!!!
Durante a tramitação de uma medida provisória no Congresso Nacional, os parlamentares
poderão apresentar emendas?
SIM, no entanto, tais emendas deverão ter relação de pertinência temática com a medida
provisória que está sendo apreciada. Assim, a emenda apresentada deverá ter relação com o
assunto tratado na medida provisória.
Desse modo, é incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de
pertinência temática com medida provisória submetida à sua apreciação.
STF. Plenário. ADI 5127/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado
em 15/10/2015 (Info 803).
Imagine que o Presidente da República edita medida provisória dispondo sobre matéria tributária.
Durante a tramitação no Congresso Nacional, um Deputado apresenta emenda incluindo o art. 76 na
medida provisória para tratar sobre os requisitos para a profissão de contador. A medida provisória é
aprovada, sendo convertida em lei, inclusive com o artigo incluído. Indaga-se: esse art. 76 da lei é
constitucional?
NÃO. É incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de pertinência temática
com medida provisória submetida à sua apreciação. Assim, como essa emenda versa sobre assunto
diverso do que é tratado na medida provisória, deve-se considerá-lo inconstitucional.
Assim, é até possível emenda parlamentar ao projeto de conversão da MP, no entanto, deverá ser
observada a devida pertinência lógico-temática.
Essa foi a conclusão do STF ao julgar a ADI 5127/DF proposta contra o art. 76 da Lei nº 12.249/2010,
inserido mediante emenda parlamentar em projeto de conversão de medida provisória em lei, e que
tratava sobre assunto diferente daquele veiculado no texto da MP.
O art. 76 foi acrescentado indevidamente por emenda parlamentar durante a tramitação da MP 472/2009,
convertida na Lei nº 12.249/2010. Isso porque o referido artigo dispunha sobre assunto diverso daquele
tratado na MP, faltando, portanto, pertinência temática. Assim, o art. 76 foi fruto de um contrabando
legislativo.
Quais foram os fundamentos utilizados pelo STF para não declarar o art. 76 da Lei nº 12.249/2010
inconstitucional?
O STF apresentou dois argumentos para não declarar o art. 76 inconstitucional:
1) Essa foi a primeira oportunidade em que a Corte enfrentou esse tema (contrabando legislativo) e, por
isso, seria necessário antes de declarar inconstitucionais todas as emendas que foram inseridas nesta
mesma situação, iniciar um diálogo entre o Legislativo e o Judiciário sobre a matéria.
2) O contrabando legislativo é uma prática já arraigada em nosso processo legislativo, tendo ocorrido
inúmeras outras vezes. Assim, se a decisão do STF já valesse para todos os casos, isso poderia provocar
enorme insegurança jurídica, considerando que diversos dispositivos que estão em vigor e são fruto desse
procedimento seriam declarados inconstitucionais.
Proclamação do resultado
Na proclamação do resultado do julgamento, a Corte decidiu cientificar ao Poder Legislativo que o STF afirmou,
com efeitos ex nunc (de agora em diante), que não é compatível com a Constituição a apresentação de
emendas sem relação de pertinência temática com medida provisória submetida à sua apreciação.
Ficam preservadas, até a data do julgamento, as leis oriundas de projetos de conversão de medidas provisórias,
em obediência ao princípio da segurança jurídica, mesmo que contenham contrabando legislativo.
CLIPPING DO D JE
13 a 16 de outubro de 2015
HC N. 129.474-PR
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. SÚMULA 691/STF. AFASTAMENTO. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. ARTIGO
33, CAPUT, DA LEI 11.343/2006. LIBERDADE PROVISÓRIA COM FIANÇA. SITUAÇÃO ECONÔMICA DO RÉU. DISPENSA.
ARTIGOS 325, § 1º, I, E 350, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONCESSÃO DA ORDEM.
1. Em casos excepcionais, viável a superação do óbice da Súmula 691 desta Suprema Corte. Precedentes.
2. O magistrado de primeiro grau decidiu fundamentadamente pela concessão de liberdade provisória com fiança (art. 310, III, do CPP), porquanto
inexistentes os elementos concretos indicativos de fuga do paciente, de interferência indevida na instrução processual ou de ameaça à ordem pública.
3. Na dicção dos arts. 325 e 326 do Código de Processo Penal, a situação econômica do réu é o principal elemento a ser considerado no arbitramento
do valor da fiança.
4. Diante da incapacidade econômica do paciente, aplicável a concessão de liberdade provisória com a dispensa do pagamento da fiança, “sujeitando-
o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso”, nos termos do art. 325, § 1º, I, c/c art.
350, do Código de Processo Penal. Precedente.
5. Ordem de habeas corpus concedida para deferir o benefício da liberdade provisória com dispensa do pagamento de fiança e imediata expedição do
competente alvará de soltura, ressalvada, se o caso, a imposição de medidas cautelares do art. 319 do Código de Processo Penal, pelo Juízo de origem.
*noticiado no Informativo 800
HC N. 112.382-RS
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PENAL MILITAR. USO DE DOCUMENTO FALSO (ART. 315 DO CPM). CRIME
SUJEITO À JURISDIÇÃO MILITAR (ART. 9º, III, “A”, DO CPM). PRECEDENTES. EXASPERAÇÃO DA PENA, DE OFÍCIO, PELO
TRIBUNAL DE APELAÇÃO. IMPOSSIBLIDADE.
1. As condutas imputadas ao paciente, tais como descritas no acórdão condenatório, amoldam-se, em tese, ao tipo descrito no art. 315 do Código
Penal Militar, atingindo, diretamente, a ordem administrativa militar (art. 9º, III, “a”, do CPM). Nesse contexto, torna-se inviável, em sede de habeas
corpus, decidir que o crime praticado foi o de estelionato e, portanto, a vítima seria a Caixa Econômica Federal, até porque em momento algum a
denúncia alude a prejuízo alheio (elementar normativa do delito de estelionato).
2. Se é certo que o efeito devolutivo inerente ao recurso de apelação permite que o Tribunal aprecie em exaustivo nível de profundidade, o mesmo não
ocorre quanto a sua extensão (limite horizontal), que deve se adstringir - sobretudo em se tratando de recurso da acusação - à matéria questionada e ao
pedido formulado na petição recursal, ressalvada sempre a possibilidade de concessão de ordem de ofício. Assim, padece de ilegalidade julgado do
Tribunal de apelação que agrava a situação processual do réu (exasperação da pena) sem que a própria acusação a tenha almejado.
3. Ordem concedida em parte.
*noticiado no Informativo 793
AG. REG. NO ARE N. 883.846-RJ
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
AGRAVO – OBJETO. Visando o agravo a fulminar certa decisão, a minuta deve estar direcionada a infirmá-la. O silêncio quanto a fundamento
consignado conduz, por si só, à manutenção do que assentado.
AG. REG. NO ARE N. 900.478-RO
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. CELEBRAÇÃO DE CONVÊNIO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO QUE INADMITIU O RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SÚMULA 287/STF. ACÓRDÃO RECORRIDO
PUBLICADO EM 10.3.2014.
1. A jurisprudência desta Suprema Corte é firme no sentido de que inadmissível o agravo que não ataca especificamente os fundamentos da decisão
que inadmitiu o recurso extraordinário. Incidência da Súmula 287/STF.
2. Da detida leitura das razões recursais, bem como dos fundamentos adotados pela Presidência da Corte a quo, ao exame da admissibilidade do
recurso, verifico não impugnados os fundamentos da decisão pela qual inadmitido o extraordinário na origem.
3. Agravo regimental conhecido e não provido.
Ext N. 1.375-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. EXTRADIÇÃO EXECUTÓRIA. GOVERNO DA ESPANHA. SONEGAÇÃO FISCAL – ART. 1º, INC. I, DA LEI N.
8.137/90. REGULARIDADE FORMAL DO PEDIDO. DUPLA TIPICIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESPANHOLA: PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE.
AUSÊNCIA DE PRESCRIÇÃO EM AMBOS OS ORDENAMENTOS LEGAIS. CONVERSÃO DA PENA DE MULTA EM PRISÃO. IMPOSSIBILIDADE: QUESTÃO
AFETA À SOBERANIA ESTATAL. EXTRADIÇÃO DEFERIDA.
1. A extradição pressupõe o cumprimento dos requisitos legais extraídos por interpretação a contrario sensu do art. 77 da Lei nº 6.815/80; vale dizer,
defere-se o pleito se o caso sub examine não se enquadrar em nenhum dos incisos do referido dispositivo e restarem observadas as disposições do
tratado específico.
2. In casu, o extraditando foi condenado à pena de 2 (dois) anos e 5 (cinco) meses de prisão, pela prática do crime de sonegação fiscal, que restou
acrescida de 5 (cinco) meses por conta do inadimplemento da pena de multa, e que restou parcialmente cumprida entre 11/04/2011 e 08/06/2012,
resultando o saldo de 1 (um) ano e 9 (nove) meses a cumprir.
3. O pedido atende ao disposto no Tratado de Extradição firmado entre a Espanha e o Brasil (Decreto n. 99.340/1990), há indicações seguras sobre
locais, datas, natureza e circunstâncias dos fatos.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
13 a 16 de outubro de 2015
Decreto nº 8.539, de 8.10.2015 - Dispõe sobre o uso do meio eletrônico para a realização do processo
administrativo no âmbito dos órgãos e das entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional.
Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº 194, p. 2, em 9.10.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 5286/AP, ADI 5287/PB e ADPF 339/PI; ADI 5296 MC/DF; Rcl 15243/RJ.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ACO 1664 AgR/RS, ACO 1516 AgR/RS; AP 933 QO/PB.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
INELEGIBILIDADES
As hipóteses de inelegibilidade são aplicáveis às eleições suplementares
DIREITO ELEITORAL
INELEGIBILIDADES
As hipóteses de inelegibilidade são aplicáveis às eleições suplementares
DIREITO PENAL
CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS (DL 201/67)
Para a configuração do delito do art. 1º, XIV é indispensável a inequívoca ciência do Prefeito.
DIREITO CONSTITUCIONAL
INELEGIBILIDADES
As hipóteses de inelegibilidade são aplicáveis às eleições suplementares
As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo de
seis meses, são aplicáveis às eleições suplementares.
STF. Plenário. RE 843455/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/10/2015 (Info 802).
INELEGIBILIDADES
As hipóteses de inelegibilidade são aplicáveis às eleições suplementares
As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo de
seis meses, são aplicáveis às eleições suplementares.
STF. Plenário. RE 843455/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/10/2015 (Info 802).
INELEGIBILIDADE REFLEXA
O art. 14, § 7º, da CF/88 estabelece o seguinte:
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins,
até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do
Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito,
salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
Exceção à regra do § 7º: (...) salvoàseàj àtitula àdeà a datoàeletivoàeà a didatoà à eeleição.
Assim, no caso do cônjuge, parente ou afim já possuir mandato eletivo, não haverá qualquer impedimento
para que concorra à reeleição (candidatura ao mesmo cargo).
A ra gê ia do ter o ô juge :
Considera-se cônjuge não somente a mulher/homem que esteja casada(o), mas também aquela(e) que
vive em união estável com o Chefe do Poder Executivo, ou mesmo com seu irmão (afim de 2º grau). Isso
porque a CF/88 amplia o conceito de entidade familiar, nos termos do art. 226, § 3º. A vedação incide
também no caso de união homoafetiva.
Os parentes (ou cônjuge) podem concorrer nas eleições, desde que o titular do cargo tenha direito à
reeleição e não concorra na disputa:
Ex: em 1998, Garotinho foi eleito Governador do RJ. No final do seu 1º mandato (em 2002), ele renunciou ao
cargo para se desincompatibilizar e concorrer à Presidência da República. Sua esposa, Rosinha, candidatou-se
ao cargo de Governador na eleição de 2002, tendo sido eleita. O TSE considerou que Rosinha poderia
concorrer e assumir o cargo porque seu marido havia renunciado e ainda estava no 1º mandato. A lógica
utilizada pelo TSE foi a seguinte: ora, se o próprio Garotinho poderia concorrer novamente ao cargo de
Governador, não haveria sentido em se negar à sua esposa o direito de disputar a eleição.
Vale ressaltar, no entanto, que Rosinha, ao ganhar a eleição, é como se estivesse exercendo o 2º mandato
consecutivo. Logo, em 2006 não poderia ela concorrer novamente ao Governo.
Em suma, este núcleo familiar foi eleito Governador em 1998 e reeleito em 2002, não podendo figurar em
um terceiro mandato consecutivo.
Maria defendeu-se afirmando que as hipóteses de inelegibilidade só se aplicam para eleições gerais, não
valendo para o caso de eleições suplementares.
Assim, sendo João inelegível, Maria também tornou-se inelegível, não podendo ser aplicada a exceção
feita pela jurisprudência ao art. 14, § 7º, da CF/88. Em outras palavras, não se pode aplicar aqui a mesma
solução dada ao caso da Rosinha porque lá o Garotinho não estava inelegível (ele ainda poderia concorrer
à reeleição, se quisesse). No presente caso é diferente porque João estava inelegível, fazendo com que
essa inelegibilidade se transmitisse à sua mulher.
O que é mais importante, no entanto, é que você aprenda a tese fixada pelo STF no âmbito da
repercussão geral:
As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo de seis meses,
são aplicáveis às eleições suplementares.
DIREITO PENAL
O art. 1º, XIV, do DL 201/67 prevê que o Prefeito pratica crime quando nega execução a lei
federal, estadual ou municipal, ou deixa de cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da
recusa ou da impossibilidade, por escrito, à autoridade competente.
Vale ressaltar, no entanto, que, segundo entende o STF, para a configuração do delito em tela é
indispensável que o MP comprove a inequívoca ciência do Prefeito a respeito da ordem judicial.
Ex: em Joinville (SC), o juiz expediu ordem judicial determinando que o Município se
abstivesse de praticar determinado ato administrativo. A ordem judicial foi endereçada à
Procuradoria do Município. Mesmo após a intimação ser efetivada, o ato administrativo
questionado foi praticado. Diante disso, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o
Prefeito, imputando-lhe a prática do crime previsto no art. 1º, XIV, do DL 201/67. O STF
absolveu o réu. Segundo entenderam os Ministros, não foram produzidas provas de que o réu
tenha tido conhecimento da ordem judicial ou que tenha concorrido para seu
descumprimento. Para configuração do delito em tela, é indispensável que o MP comprove a
inequívoca ciência do Prefeito a respeito da ordem judicial, não sendo suficiente que a
determinação judicial tenha sido comunicada a terceiros. Para que o Prefeito pudesse ser
responsabilizado criminalmente, seria indispensável a sua intimação pessoal.
STF. 1ª Turma. AP 555/SC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/10/2015 (Info 802).
DECRETO-LEI 201/67
O Decreto-Lei 201/67 é um ato normativo com status de lei ordinária e que prevê, em seu art. 1º, uma lista
de crimes cometidos por Prefeitos no exercício de suas funções.
O DL 201/67 traz também regras de processo penal que deverão ser aplicadas quando ocorrerem os
crimes ali previstos.
Vale ressaltar que o DL 201/67 foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária (Súmula 496 do STF).
ART. 1º
O art. 1º do DL 201/67 elenca, em seus incisos, diversos crimes de responsabilidade dos Prefeitos.
Vejamos a redação do caput:
Bem jurídico protegido pelos tipos do art. 1º: o patrimônio da Administração Pública e a moralidade
administrativa.
Sujeito passivo: em regra, é o Município. No entanto, a depender do caso concreto, poderá também ser
vítima do crime o Estado ou a União. É o caso em que o Prefeito se apropria ou desvia de bens ou rendas
públicas pertencentes ao ente estadual ou federal (ex: Prefeito que desvia recursos de um convênio
federal).
Sendo o sujeito passivo o Município ou o Estado, a competência para julgar o crime é da Justiça Estadual.
Se o sujeito passivo for a União, a competência será da Justiça Federal.
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, uma vez que somente pode ser praticado pelo Prefeito (ou por
quem esteja no exercício desse cargo, como o Vice-Prefeito ou o Presidente da Câmara de Vereadores).
Os crimes do art. 1º são próprios, mas é possível que haja coautoria ou participação. Em outras palavras,
outros indivíduos podem ser coautores ou partícipes do Prefeito no cometimento da infração. Exs: um
Secretário Municipal, um contador, um assessor etc.
Término do mandato: importante destacar que o fato de ter terminado o mandato do Prefeito não
impede que ele seja denunciado e processado pelos crimes do art. 1º do DL 201/67, desde que os fatos
tenham sido praticados durante o mandato. Essa dúvida foi tão frequente no passado, que existem duas
súmulas afirmando isso:
Súmula 164-STJ: O prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua sujeito a processo por crime
previsto no art. 1º do Dec. lei n. 201, de 27/02/67.
Súmula 703-STF: A extinção do mandato do Prefeito não impede a instauração de processo pela prática
dos crimes previstos no art. 1º do DL 201/67.
Exemplo:
Juiz do Trabalho determina ao prefeito que ele bloqueie o saldo que uma empresa que prestava serviços
ao Município ainda tinha para receber a fim de que esse dinheiro seja utilizado para pagar direitos
trabalhistas. Apesar de receber a ordem de forma direta e específica, o prefeito não a cumpre e autoriza o
pagamento à empresa.
Elemento subjetivo
O crime é punido a título de dolo. Não se exige elemento subjetivo especial ("dolo específico"). Assim,
para o crime se consumar, não é necessário que o Prefeito tenha descumprido a lei ou a ordem judicial por
causa de um motivo específico, para ajudar alguém, ter vantagem pecuniária etc. Para que o delito se
configure, basta que o Prefeito tenha negado execução à lei ou descumprido a ordem judicial de forma
injustificada, ou seja, sem apresentar motivos, por escrito, as razões da recusa ou da impossibilidade de
cumprimento.
Consumação
Trata-se de crime formal (mera conduta): consuma-se no momento em que o Prefeito nega execução à lei
ou descumpre a ordem judicial sem apresentar motivos, por escrito, as razões da recusa ou da
impossibilidade de cumprimento.
COMPETÊNCIA
Menção ao investigado com foro por prerrogativa de função
no depoimento do réu que está sendo processado em 1ª instância
Na chamada "operação Lava Jato", o STF decidiu desmembrar um dos feitos, ficando no
Supremo a investigação relacionada com o Deputado Federal "EC" e sendo remetido de volta
para a Vara Federal de Curitiba o processo que apura a conduta dos demais réus (supostos
comparsas do parlamentar).
Depois do desmembramento, durante a oitiva de um réu colaborador na 1ª instância, este
revelou novos fatos criminosos que teriam sido praticados por "EC".
Essa oitiva foi correta e não houve usurpação de competência do STF.
Só se poderia dizer que houve violação da competência do STF se o juiz federal tivesse
realizado medidas investigatórias dirigidas ao Deputado Federal, não podendo ser
considerada medida de investigação o simples fato de ele ter ouvido réu colaborador e este ter
mencionado a participação de "EC" durante a audiência.
É comum que, em casos de desmembramento, ocorra a produção de provas que se relacionem
tanto com os indivíduos investigados na 1ª instância, como o dos demais réus com foro
privativo. A existência dessa coincidência não caracteriza usurpação de competência.
Em suma, a simples menção do nome do reclamante em depoimento de réu colaborador,
durante a instrução em 1ª instância, não caracterizaria ato de investigação, ainda mais quando
houve prévio desmembramento, como no caso.
STF. Plenário. Rcl 21419 AgR/PR, Rel. Min.Teori Zavascki, julgado em 7/10/2015 (Info 802).
O juiz federal de Curitiba, ao prestar informações na reclamação contra ele proposta, bem explicou a
situação:
"Apesar da irresignação do Reclamante, não cabe à Justiça silenciar testemunhas ou acusados ou orientar o que
devem e o que não devem declarar em Juízo, máxime quando, segundo alegam, pretendem falar a verdade.
O foro por prerrogativa de função apenas outorga ao seu detentor o direito de ser processado perante a
Corte própria, privilégio este garantido ao Reclamante no presente caso, já que o Deputado Federal 'EC'
está sendo investigado pelos supostos crimes cometidos perante o Supremo Tribunal Federal no aludido
Inquérito 3.983.
O foro por prerrogativa de função não outorga ao titular o direito de não ter sequer o seu nome
pronunciado por quem quer que seja, máxime por testemunhas ou acusados colaboradores em
investigações ou processos previamente desmembrados pelo Supremo Tribunal Federal.
(...)
Saliente-se que a mera referência ao nome do titular do foro em depoimento em Juízo não o torna
acusado do processo, nem significa ato investigatório contra ele."
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 5 a 9 de outubro de 2015
RE N. 632.265-RJ
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
TRIBUTO – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. A exigibilidade de tributo pressupõe lei que o estabeleça – artigo 150 da Constituição Federal.
ICMS – REGIME DE APURAÇÃO – ESTIMATIVA – DECRETO – IMPROPRIEDADE. A criação de nova maneira de recolhimento do tributo,
partindo-se de estimativa considerado o mês anterior, deve ocorrer mediante lei no sentido formal e material, descabendo, para tal fim, a edição de
decreto, a revelar o extravasamento do poder regulamentador do Executivo.
*noticiado no Informativo 790
ADI N. 2.314-RJ
REDATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. MARCO AURÉLIO (ART.38,IV, b, DO RISTF)
POLÍCIA CIVIL – REGÊNCIA – LEI – NATUREZA. A previsão, na Carta estadual, da regência, quanto à polícia civil, mediante lei complementar
não conflita com a Constituição Federal.
*noticiado no Informativo 790
AG. REG. NO ARE N. 903.291-BA
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. AGENTE DE POLÍCIA.
APLICAÇÃO DE PENA DE SUSPENSÃO. NULIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO IMPUGNADO. FALHAS PROCEDIMENTAIS.
ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, XXXV, XXXVI, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CONTRADITÓRIO E AMPLA
DEFESA. DEVIDO PROCESSO LEGAL. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. DEBATE DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL.
EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ARTIGO 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NULIDADE.
INOCORRÊNCIA. RAZÕES DE DECIDIR EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO JURISDICIONAL. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM
18.3.2008.
1. Inexiste violação do artigo 93, IX, da Lei Maior. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o referido dispositivo
constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional, das razões do seu convencimento, dispensando o exame detalhado de cada argumento
suscitado pelas partes.
2. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, XXXV, XXXVI, LIV e LV, da Constituição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida a
matéria à apreciação desta Suprema Corte, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à
competência jurisdicional extraordinária prevista no art. 102 da Magna Carta.
3. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
4. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO ARE N. 906.803-MG
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. SUSPEITA DE FURTO. ABORDAGEM EM ESTABELECIMENTO
COMERCIAL. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI
MAIOR. REELABORAÇÃO DA MOLDURA FÁTICA CONSTANTE DO ACÓRDÃO REGIONAL. IMPOSSIBILIDADE. ACÓRDÃO
RECORRIDO PUBLICADO EM 11.02.2015.
1. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, X, da Constituição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida a matéria à apreciação desta
Suprema Corte, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à competência jurisdicional
extraordinária prevista no art. 102 da Magna Carta.
2. Divergir da conclusão da Corte Regional exigiria a reelaboração da moldura fática delineada no acórdão da origem, procedimento vedado em sede
extraordinária. Aplicação da Súmula 279/STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”.
3. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
4. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO ARE N. 893.353-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Direito do consumidor. Acidente de consumo. Lucros cessantes e
danos morais. Valor. Fixação. Prequestionamento. Ausência. Princípios da legalidade e do devido processo legal. Ofensa reflexa. Fatos e
provas. Reexame. Legislação infraconstitucional. Análise. Impossibilidade. Ausência de repercussão geral. Precedentes.
1. Não se admite o recurso extraordinário quando os dispositivos constitucionais que nele se alega violados não estão devidamente prequestionados.
Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF.
2. A afronta aos princípios da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa ou do contraditório, dos limites da coisa julgada ou da prestação
jurisdicional, quando depende, para ser reconhecida como tal, da análise de normas infraconstitucionais, configura apenas ofensa indireta ou reflexa à
Constituição Federal.
3. Inviável, em recurso extraordinário, o reexame dos fatos e das provas dos autos e a análise da legislação infraconstitucional de regência. Incidência
das Súmulas nºs 279 e 636 /STF.
4. O Supremo Tribunal Federal, analisando o ARE nº 743.771/SP-RG, Relator o Ministro Gilmar Mendes, assentou a ausência de repercussão geral
da questão relativa à modificação do valor fixado a título de indenização por danos morais, uma vez que essa discussão não alcança status
constitucional.
5. Agravo regimental não provido.
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
HC 101473/SP; MS 26415/DF. Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos: MS 25838/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Reversão jurisprudencial (revisão legislativa).
DIREITO ELEITORAL
PARTIDOS POLÍTICOS
É constitucional a Lei 13.107/2015, que alterou a Lei dos Partidos Políticos.
É inconstitucional a Lei 12.875/2013, que alterou a Lei dos Partidos Políticos e a Lei das Eleições.
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Superação legislativa da jurisprudência (reação legislativa)
As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF no julgamento de ADI, ADC ou ADPF
possuem eficácia contra todos (erga omnes) e efeito vinculante (§ 2º do art. 102 da CF/88).
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado. Assim, o STF não proíbe
que o Poder Legislativo edite leis ou emendas constitucionais em sentido contrário ao que a Corte
já decidiu. Não existe uma vedação prévia a tais atos normativos. O legislador pode, por emenda
constitucional ou lei ordinária, superar a jurisprudência. Trata-se de uma reação legislativa à
decisão da Corte Constitucional com o objetivo de reversão jurisprudencial.
No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda
constitucional, a invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites
previstos no art. 60, e seus §§, da CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma emenda
constitucional buscando alterar a interpretação dada pelo STF para determinado tema, essa
emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se ofender uma cláusula pétrea ou o
processo legislativo para edição de emendas.
No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente colidir
com a jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, de forma
que caberá ao legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção do
precedente se afigura legítima. Assim, para ser considerada válida, o Congresso Nacional
deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas sobre as quais se fundou a decisão do
STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá verdadeira hipótese de
mutação constitucional pela via legislativa.
STF. Plenário. ADI 5105/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/10/2015 (Info 801).
Obs: no caso da ADPF, esse efeito está descrito no art. 10, § 3º da Lei nº 9.882/99.
O que acontece se as pessoas e órgãos que estão vinculados à decisão do STF desrespeitarem aquilo que
foi decidido?
Neste caso, o interessado poderá questionar esse ato diretamente no STF por meio de reclamação (art.
102, I, "l", da CF/88). Se o ato estiver realmente violando o que foi decidido, ele será cassado.
A decisão proferida na ADI, ADC e ADPF vincula o próprio STF? E o Poder Legislativo?
Veja abaixo um quadro-resumo sobre o tema:
EFICÁCIA SUBJETIVA DAS DECISÕES PROFERIDAS PELO STF EM ADI, ADC E ADPF
Ficam vinculados.
Particulares
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
Os órgãos e entidades do Poder Executivo ficam vinculados.
Executivo
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
Os demais juízes e Tribunais ficam vinculados.
Judiciário
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
A decisão vincula os julgamentos futuros a serem efetuados monocraticamente pelos
Ministros ou pelas Turmas do STF.
Essa decisão não vincula, contudo, o Plenário do STF. Assim, se o STF decidiu, em controle
abstrato, que determinada lei é constitucional, a Corte poderá, mais tarde, mudar seu
entendimento e decidir que esta mesma lei é inconstitucional por conta de mudanças no
STF
cenário jurídico, político, econômico ou social do país. Isso se justifica a fim de evitar a
"fossilização da Constituição".
Esta mudança de entendimento do STF sobre a constitucionalidade de uma norma pode
ser decidida, inclusive, durante o julgamento de uma reclamação constitucional. Nesse
sentido: STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013 (Info 702).
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado.
Isso também tem como finalidade evitar a "fossilização da Constituição".
Assim, o legislador, em tese, pode editar nova lei com o mesmo conteúdo daquilo que foi
declarado inconstitucional pelo STF.
Se o legislador fizer isso, não é possível que o interessado proponha uma reclamação ao
Legislativo
STF pedindo que essa lei seja automaticamente julgada também inconstitucional (Rcl
13019 AgR, julgado em 19/02/2014).
Será necessária a propositura de uma nova ADI para que o STF examine essa nova lei e a
declare inconstitucional. Vale ressaltar que o STF pode até mesmo mudar de opinião no
julgamento dessa segunda ação.
Em tese, o Congresso Nacional pode editar uma lei em sentido contrário ao que foi decidido pelo STF no
julgamento de uma ADI/ADC?
SIM. Conforme vimos acima, o Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado aos
efeitos da decisão do STF.
O STF possui, segundo a CF/88, a missão de dar a última palavra em termos de interpretação da
Constituição. Isso não significa, contudo, que o legislador não tenha também a capacidade de
interpretação do Texto Constitucional. O Poder Legislativo também é considerado um intérprete autêntico
da Constituição e justamente por isso ele pode editar uma lei ou EC tentando superar o entendimento
anterior ou provocar um novo pronunciamento do STF a respeito de determinado tema, mesmo que a
Corte já tenha decidido o assunto em sede de controle concentrado de constitucionalidade. A isso se dá o
nome de "reação legislativa" ou"superação legislativa da jurisprudência"
A reação legislativa é uma forma de "ativismo congressual" com o objetivo de o Congresso Nacional
reverter situações de autoritarismo judicial ou de comportamento antidialógico por parte do STF, estando,
portanto, amparado no princípio da separação de poderes.
Mas se houver uma "reação legislativa", com toda a certeza o STF irá julgar novamente a nova lei
inconstitucional, não é verdade?
NÃO. Em tese, ou seja, na teoria, isso não é verdade. É possível que o STF repense seu entendimento
anterior e evolua para uma nova interpretação, chegando a conclusão diferente daquilo que havia
decidido e, assim, concorde com a nova lei editada com o mesmo conteúdo da anterior.
Veja o que dizem Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto, citados pelo Min. Luiz Fux em seu voto:
... ão é saluta at i ui a u ú i o ó gão ual ue a p e ogativa de da a últi a palav a so e o
sentido da Constituição. (...). É preferível adotar-se um modelo que não atribua a nenhuma instituição –
nem do Judiciário, nem do Legislativo – o di eito de e a po últi o , a i do-se a permanente
possibilidade de correções recíprocas no campo da hermenêutica constitucional, com base na ideia de
diálogo, em lugar da visão tradicional, que concede a última palavra nessa área ao STF.
(...)
As decisões do STF em matéria constitucional são insuscetíveis de invalidação pelas instâncias políticas.
Isso, porém, não impede que seja editada uma nova lei, com conteúdo similar àquela que foi declarada
inconstitucional. Essa posição pode ser derivada do próprio texto constitucional, que não estendeu ao
Poder Legislativo os efeitos vinculantes das decisões proferidas pelo STF no controle de
constitucionalidade (art. 102, § 2º, e art. 103-A, da Constituição). Se o fato ocorrer, é muito provável que a
nova lei seja também declarada inconstitucional. Mas o resultado pode ser diferente. O STF pode e deve
refletir sobre os argumentos adicionais fornecidos pelo Parlamento ou debatidos pela opinião pública para
dar suporte ao novo ato normativo, e não ignorá-los, tomando a nova medida legislativa como afronta à
sua autoridade. Nesse ínterim, além da possibilidade de alteração de posicionamento de alguns ministros,
pode have ta é a uda ça a o posição da Co te, o eflexões o esultado do julga e to.
(SARMENTO, Daniel; SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. Direito Constitucional. Teoria, história e métodos de
trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2012, p. 402-405)
Mas sempre se disse que o STF possui a última palavra na interpretação da Constituição...
É verdade. Sempre se afirmou isso. O STF, de fato, detém a última palavra no que se refere à interpretação
da Constituição, imune a qualquer controle democrático. Contudo, essa afirmação vem sendo rediscutida
(remodelada) pelos constitucionalistas.
Entende-se atualmente que a decisão do STF em matéria constitucional deve ser compreendida como
"última palavra provisória", nas palavras do Min. Luiz Fux. Isso porque depois que o STF decidir, reiniciam-
se as rodadas de debates entre as instituições e os demais atores da sociedade civil sobre o tema.
b) No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda constitucional, a
invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites previstos no art. 60, e seus §§,
da CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma emenda constitucional buscando alterar a interpretação
dada pelo STF para determinado tema, essa emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se
ofender uma cláusula pétrea ou o processo legislativo para edição de emendas.
c) No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente colidir com a
jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, de forma que caberá ao
legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção do precedente se afigura legítima.
A novel legislação que frontalmente colida com a jurisprudência (leis in your face) se submete a um
controle de constitucionalidade mais rigoroso.
Para ser considerada válida, o Congresso Nacional deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas
sobre as quais se fundou a decisão do STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá
verdadeira hipótese de mutação constitucional pela via legislativa.
Vale ressaltar, no entanto, que excetuadas as situações de ofensa evidente ao texto constitucional, o STF
deve adotar comportamento de autorrestrição e de maior deferência às opções políticas do legislador.
DIREITO ELEITORAL
PARTIDOS POLÍTICOS
É constitucional a Lei 13.107/2015, que alterou a Lei dos Partidos Políticos
A Lei 13.107/2015 alterou a Lei 9.096/95 com o objetivo de desestimular a fusão de partidos
políticos. Veja duas das mudanças promovidas:
1) A Lei nº 13.107/2015 alterou o § 1º do art. 7º da Lei 9.096/95 ao exigir que as pessoas que
assinarem o apoiamento para a criação de novos partidos não poderão fazer parte de outros
partidos políticos.
2) A Lei nº 13.107/2015 determinou que somente será admitida a fusão ou incorporação de
partidos políticos que hajam obtido o registro definitivo do Tribunal Superior Eleitoral há,
pelo menos, 5 anos. Antes não havia essa exigência.
Essas duas mudanças foram impugnadas por meio de ADI, mas o STF negou a medida cautelar
afirmando que as alterações são compatíveis com a CF/88, não tendo havido violação à
autonomia constitucional dos partidos políticos.
STF. Plenário. ADI 5311-MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/9/2015 (Info 801).
Lei 13.107/2015
Em 2015, foi publicada a Lei nº 13.107/2015, que alterou a Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos) com
o objetivo de desestimular a fusão de partidos políticos.
Veja duas das mudanças promovidas pela Lei nº 13.107/2015 na Lei nº 9.096/95:
1) Apoiamento de eleitores
O art. 7º da Lei nº 9.096/95 prevê as regras para que um partido político possa ser criado.
Um dos requisitos para a criação de um novo partido é que ele deverá obter uma quantidade mínima de
eleitores assinando uma declaração de apoio à nova agremiação. Isso é chamado de "apoiamento mínimo
de eleitores". É como se fosse um "abaixo-assinado" com eleitores declarando que desejam a criação do
novo partido. Essa lista de assinaturas e títulos é posteriormente conferida pelo chefe do Cartório
eleitoral, que irá lavrar um atestado na própria lista.
A Lei nº 13.107/2015 alterou o § 1º deste art. 7º com o objetivo de dificultar a criação de novos partidos ao
exigir que as pessoas que assinarem esse apoiamento não poderão fazer parte de outros partidos políticos.
Antes: pessoas que assinavam o apoiamento podiam já ser filiadas a partidos políticos. Ex: João é filiado ao
PSOL, mas assina lista de apoiamento para criação do partido REDE.
Depois: isso foi proibido. As pessoas que assinarem a lista de apoiamento não podem mais ser filiadas a
partidos políticos.
ADI 5311
O Partido Republicano da Ordem Social (Pros) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade no STF contra
essas duas alterações promovidas pela Lei nº 13.107/2015.
Segundo alegou o partido na Inicial, as modificações violam o pluralismo político, a liberdade de criação,
fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos e a participação do cidadão no processo político-
partidário do país.
A CF/88 assegura a liberdade de criação, fusão, extinção e incorporação de partidos políticos, como
expressão do princípio democrático e do pluripartidarismo (art. 17). Portanto, realmente está garantida no
ordenamento jurídico-constitucional a liberdade dos partidos políticos de se articularem. Essa garantia,
contudo, não é absoluta, sendo possível haver um controle quantitativo e qualitativo dos partidos político,
o que justificaria a existência das normas impugnadas.
Segundo apontou o STF, há agremiações intituladas formalmente como partidos políticos sem qualquer
substrato eleitoral. Essas legendas estão habilitadas a receber parcela do fundo partidário e a disputar
tempo de televisão sem difundir, contudo, ideias e programas. Elas atuam para defender outros interesses
partidários, especialmente para obtenção de vantagens particulares para os seus dirigentes.
Como os partidos políticos recebem recursos do fundo partidário (dinheiro público), é necessário e
justificável que haja um controle sobre eles.
A proliferação indiscriminada de partidos sem coerência ou respaldo social causa risco institucional e
ameaça a democracia. Além disso, pode transformar o sadio pluripartidarismo em caos político.
A exigência de que os apoiadores do novo partido não sejam filiados a partidos políticos está de acordo
com o sistema representativo.
A exigência de 5 anos para se levar a efeito fusões e incorporações entre partidos assegura o atendimento
do compromisso do cidadão com a sua opção partidária, o que evita o estelionato eleitoral ou a reviravolta
política contra o apoio dos eleitores, então filiados.
Portanto, as normas atacadas na ADI têm a finalidade de evitar a lógica mercantilista e nada republicana
de prática política.
Ante o exposto, o STF entendeu que não houve ingerência estatal indevida na autonomia constitucional
dos partidos políticos.
Objetivo da Lei
A Lei 12.875/2013 foi editada com o objetivo de inibir a criação de novos partidos políticos. Para isso,
restringiu o acesso de novas legendas aos recursos financeiros do Fundo Partidário e ao tempo de
propaganda na TV e no rádio.
Fundo partidário
Trata-se de um Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos que tenham seu estatuto
registrado no Tribunal Superior Eleitoral e prestação de contas regular perante a Justiça Eleitoral.
O Fundo Partidário é o stituído po dotações o ça e tá ias da U ião, ultas, pe alidades, doações e
outros recursos financeiros previstos no art. 38 da Lei n. 9.096/95.
Os valores contidos no Fundo Partidário são repassados aos partidos políticos por meio de um cálculo
previsto no art. 41-A, da Lei n. 9.096/95.
Consiste na principal fonte de verbas dos partidos.
ADI 5105
O Partido Solidariedade (SDD) ajuizou no STF ação direta de inconstitucionalidade contra a Lei nº
12.875/2013.
Vejamos as alterações realizadas pela Lei nº 12.875/2013 e se elas foram declaradas inconstitucionais pelo STF.
Até aí, tudo bem. Mas veja agora o que fez a Lei nº 12.875/2013.
A Lei nº 12.875/2013 determinou que, para os fins dessa distribuição acima, devem ser desconsideradas as
mudanças de filiação partidária. Dessa feita, o Deputado Federal que mudar de partido (ainda que para um
partido novo) du a te o a dato ão pode á leva para o outro os votos que obteve na última eleição,
de modo que a mudança não fará com que o partido de destino receba mais verbas do fundo partidário.
2/3 1/3
do tempo seria distribuído entre os partidos e Desse 1/3 restante, a distribuição seria assim:
coligações de forma proporcional ao número de
Deputados Federais que possui esse partido ou a) 1/3 distribuído igualitariamente entre os
coligação. partidos e coligações; e
No caso de coligação, calcula-se esse número pela b) 2/3 de forma proporcional ao número de
soma dos Deputados Federais que integram os representantes eleitos no pleito imediatamente
partidos que fazem parte da coligação. anterior para a Câmara dos Deputados.
Obs2: de acordo com as regras da Lei nº 12.875/2013, os partidos novos ficariam com pouquíssimo tempo
de rádio e TV. Eles só entrariam na divisão da letra "a" da segunda coluna acima explicada.
Lei nº 13.165/2015
Atenção. A Lei nº 13.165/2015 alterou o § 2º do art. 41 da Lei nº 9.504/97 modificando os percentuais de
tempo de rádio e TV destinados a cada partido. A redação atual do dispositivo é a seguinte:
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DO DJE
28 de setembro a 2 de outubro de 2015
HC N. 125.768-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Habeas corpus. Processo penal militar. Recurso. Embargos infringentes e de nulidade. Superior Tribunal Militar. Norma
regimental que exige no mínimo 4 (quatro) votos minoritários divergentes para seu cabimento. Inadmissibilidade. Requisito não previsto nos
arts. 538 e 539 do Código de Processo Penal Militar. Tribunal que não dispõe de poderes normativos para disciplinar matéria recursal em
contrariedade à lei. Inteligência do art. 96, I, a, da Constituição Federal. Inconstitucionalidade formal da alteração regimental. Garantia da
razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, CF) que não a legitima. Violação dos princípios constitucionais do devido processo legal e da
ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, da CF). Ilegalidade flagrante. Impossibilidade de analogia com o art. 333, parágrafo único, do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal, que exige no mínimo 4 (quatro) votos vencidos para o cabimento dos embargos infringentes. Norma
editada à época em que o art. 119, § 3º, c, da Carta de 1969 expressamente outorgava à Suprema Corte poderes para dispor, em seu
regimento interno, sobre o processo e o julgamento dos feitos de sua competência originária ou recursal. Ordem concedida para se
determinar ao Superior Tribunal Militar que processe os embargos infringentes interpostos pelo paciente. Declarada a inconstitucionalidade
incidental do art. 119, § 1º, do Regimento Interno do Superior Tribunal Militar, na redação dada pela Emenda Regimental nº 24, publicada
no DJe de 10/6/14.
1. Assim como o legislador não pode se imiscuir em matéria reservada ao regimento interno dos tribunais, a esses é vedado desbordar de seus poderes
normativos e dispor sobre matéria de competência privativa da União (art. 22, I, CF), sob pena de inconstitucionalidade formal. Precedentes.
2. A atribuição de poderes aos tribunais para instituir recursos internos e disciplinar o procedimento dos recursos que devam julgar não lhes outorga
competência para criar requisito de admissibilidade recursal não previsto em lei. Inteligência do art. 96, I, a, da Constituição Federal.
3. Os arts. 538 e 539 do Código de Processo Penal Militar não exigem, para o cabimento dos embargos infringentes e de nulidade, número mínimo de
votos vencidos.
4. O art. 119, § 1º, do Regimento Interno do Superior Tribunal Militar, ao exigir, no mínimo, 4 (quatro) votos divergentes minoritários para o
cabimento dos embargos infringentes e de nulidade, além de dispor sobre matéria de competência privativa da União, viola o devido processo legal
(art. 5º. LIV, CF), por impor requisito de admissibilidade recursal não previsto em lei.
5. Descabe invocar-se analogia com o art. 333, parágrafo único, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, que exige no mínimo 4 (quatro)
votos vencidos para o cabimento dos embargos infringentes, uma vez que essa regra foi editada à época em que a Constituição de 1969, no art. 119, §
3º, c, outorgava poderes normativos ao Supremo Tribunal Federal para dispor sobre o processo e o julgamento dos feitos de sua competência
originária ou recursal.
6. A garantia constitucional da duração razoável do processo não pode ser hipertrofiada em prejuízo da ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes (art. 5º, LV, CF), salvo quando nítido o abuso do direito de recorrer.
7. É inconstitucional o art. 119, § 1º, do Regimento Interno do Superior Tribunal Militar, na redação dada pela Emenda Regimental nº 24, publicada
no DJe de 10/6/14, ao exigir no mínimo 4 (quatro) votos divergentes minoritários para o cabimento dos embargos infringentes e de nulidade.
8. Ordem de habeas corpus concedida.
*noticiado no Informativo 791
HC N. 128.446-PE
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. SONEGAÇÃO TRIBUTÁRIA. ART. 1º, I, DA LEI 8.137/1990. DOSIMETRIA DA PENA. AFERIÇÃO
DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DO ART. 59 DO CP. INVIABILIDADE. CIRCUNSTÂNCIAS E CONSEQUÊNCIAS DO CRIME.
QUANTUM FIXADO MEDIANTE FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA.
1. Não é viável, na via estreita do habeas corpus, o reexame dos elementos de convicção considerados pelo magistrado sentenciante na avaliação das
circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal. O que está autorizado é apenas o controle da legalidade dos critérios utilizados, com a
correção de eventuais arbitrariedades. No caso, entretanto, não se constata qualquer vício apto a justificar o redimensionamento da pena-base. Precedentes.
2. Ademais, em se tratando de infrações penais contra a ordem tributária, a extensão do dano causado pode ser invocada na primeira fase da
dosimetria, como critério para exasperação da pena-base, sem que tanto implique bis in idem.
3. Ordem denegada.
*noticiado no Informativo 799
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
28 de setembro a 2 de outubro de 2015
os
Lei nº 13.165, de 29.9.2015 - Altera as Leis n 9.504, de 30 de setembro de 1997, 9.096, de 19 de setembro de
1995, e 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral, para reduzir os custos das campanhas eleitorais, simplificar a
administração dos Partidos Políticos e incentivar a participação feminina. Publicada no DOU, Seção 1, Edição Extra, nº
186-A, p. 1, em 29.9.2015.
OUTRAS INFORMAÇÕES
Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13
28 de setembro a 2 de outubro de 2015
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)
Gestão - Fiscal - Relatório
Portaria nº 212, de 24.9.2015 - Torna público o Relatório de Gestão Fiscal referente ao segundo quadrimestre de
2015, constante do anexo a esta Portaria. Publicada no DOU, Seção 1, p. 91, em 29.9.2015.
Feriado forense - Expediente forense - Secretaria
- Prazo - Prorrogação
Portaria nº 192, de 28.9.2015 - Comunica que não haverá expediente na Secretaria do Tribunal no dia 12 de
outubro de 2015 (segunda-feira). E que os prazos que porventura devam iniciar-se ou completar-se nesse dia ficam
automaticamente prorrogados para o dia 13 subsequente (terça-feira). Publicada no DJE/STF, n. 195, p. 258, em
30.9.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: SL
883 MC-AgR/RS; RMS 28774/DF; Rcl 19464/SP; HC 123144/PR.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: Inq 4130 QO/PR; RHC 117756/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
MINISTÉRIO PÚBLICO
Três anos de atividade jurídica para ingresso na carreira.
DIREITO ADMINISTRATIVO
PROVIMENTO DERIVADO
É inconstitucional lei estadual que transforma cargos de Comissário de Polícia em Delegado de Polícia.
PRISÃO
Súmula vinculante 11 (uso de algemas).
DIREITO CONSTITUCIONAL
MINISTÉRIO PÚBLICO
Três anos de atividade jurídica para ingresso na carreira
Importante!!!
A Constituição Federal exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura, do
Ministério Público e da Defensoria Pública, além da aprovação em concurso público, que o
bacharel em direito possua, no mínimo, três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129, § 3º).
A referência a três anos de atividade jurídica , contida na CF/88, não se limita à atividade
privativa de bacharel em Direito. Em outras palavras, os três anos de atividade jurídica não
precisam ter sido exercidos em um cargo privativo de bacharel em Direito.
Atividade jurídica
A Constituição Federal exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura, do Ministério
Público e da Defensoria Pública, além da aprovação em concurso público, que o bacharel em direito
possua, no mínimo, três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129, § 3º).
Essa exigência foi inserida na CF/88 pela Emenda Constitucional nº 45/2004, a chamada Reforma do
Judiciário.
Diante disso, indaga-se: o tempo que João trabalhou como técnico judiciário poderá ser computado
como atividade jurídica?
SIM. áà efe iaàaà t sàa osàdeàatividadeàju ídi a ,à o tidaàna CF/88, não se limita à atividade privativa
de bacharel em Direito.
Em outras palavras, os três anos de atividade jurídica não precisam ter sido exercidos em um cargo
privativo de bacharel em Direito.
STF. 1ª Turma. MS 27601/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/9/2015 (Info 800).
DIREITO ADMINISTRATIVO
PROVIMENTO DERIVADO
É inconstitucional lei estadual que transforma cargo de Comissário de Polícia em Delegado de Polícia
Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil de
determinado Estado. Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de
Delegado de Polícia e de Comissário de Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um
desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia.
• a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente
com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos.
• a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de Polícia".
Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI e o STF decidiu que elas são
INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla à exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de Polícia
porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que eles
tivessem feito concurso público para tanto.
Provimento
Provimento é o ato pelo qual o cargo público é preenchido, com a designação de seu titular (Hely Lopes
Meirelles). Existem duas formas de provimento: originário e derivado.
Ascensão funcional
O que a SV 43 do STF proíbe é a chamada ascensão funcional (também conhecida como acesso ou
transposição).
A ascensão funcional é a progressão funcional do servidor público entre cargos de carreiras distintas.
Ocorre quando o servidor é promovido para um cargo melhor, sendo este, no entanto, integrante de uma
carreira diferente.
A ascensão funcional era extremamente comum antes da CF/88. Quando o servidor chegava ao último
nível de uma carreira, ele ascendia para o primeiro nível de carreira diversa (e superior) sem necessidade
de concurso público.
Ex.1: o indivíduo é servidor público e ocupa o cargo de técnico judiciário; a lei previa que, se ele chegasse à
última classe de técnico judiciário, poderia ser promovido à analista judiciário.
Ex.2: o agente de polícia de último nível tornava-se delegado de polícia de nível inicial.
Antes da CF/88, somente se exigia o concurso público para o ato da primeira investidura.
Feitos os devidos esclarecimentos, imagine o seguinte caso, julgado pelo STF, com algumas adaptações:
Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil de determinado Estado.
Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de Delegado, Comissário, Escrivão e
Investigador.
Vale ressaltar que, tanto para o cargo de Comissário como de Delegado, a lei exigia que seus ocupantes
fossem bacharéis em Direito.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um desses cargos, e
os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia:
a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente com o
Delegado de Polícia, praticamente equiparando a remuneração dos dois cargos.
O Procurador-Geral da República ajuizou ADI contra essas duas leis de 2004 argumentando que elas
promoveram uma transposição indevida de cargos, violando a regra do concurso público.
O STF concordou com a tese exposta na ADI? A Lei que transformou o cargo de Comissário de Polícia em
Delegado é inconstitucional?
SIM. Segundo decidiu o STF, as duas leis acima explicadas são inconstitucionais porque representaram
burla à exigência do concurso público.
Para o STF, essas leis fizeram uma espécie de ascensão funcional dos Comissários de Polícia porque
transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que eles tivessem feito concurso
público para Delegado.
Resumindo:
Em regra, não é possível que a lei extinga determinado cargo e que os seus ocupantes sejam
aproveitados em outro cargo. Isso viola o princípio do concurso público (art. 37, II, da CF/88);
Excepcionalmente, o STF admite essa mudança, como forma de racionalização administrativa, desde
que fique nitidamente provado que existe uma substancial correspondência entre as características
dos dois cargos, sobretudo no que diz respeito às competências e responsabilidades. Em outras
palavras, os cargos devem ser equivalentes.
Desse modo, na visão do STF, havia uma série de diferenças entre os cargos no que tange às
responsabilidades e perspectivas das carreiras. Isso impedia que houvesse essa transformação do cargo de
Comissário em Delegado. As diferenças entre os dois cargos não eram apenas formais, ou seja, na
nomenclatura.
Ante o exposto, o STF considerou que a transposição feita pela Lei violou a regra do concurso público.
Não haveria, de igual modo, um gradual processo de sincretismo entre os cargos. Portanto, houvera burla
ao postulado do concurso público, mediante o favorecimento de agentes públicos alçados por via
legislativa a cargo de maior responsabilidade do que aquele para o qual aprovados em concurso.
DEPOSITÁRIO INFIEL
Súmula vinculante 25 (prisão civil de depositário infiel)
O STF rejeitou proposta feita para cancelar a Súmula Vinculante 25, que tem a seguinte redação:
SV 25-STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito.
STF. Plenário. PSV 54/DF, 24.9.2015.
Proposta de cancelamento da SV
A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho - Anamatra ingressou com um pedido no
STF para cancelamento ou alteração do teor da Súmula Vinculante 25 do STF, que tem a seguinte redação:
SV 25-STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
A entidade pediu que a súmula fosse cancelada ou que sua redação fosse alterada e nela constasse
permissão para a prisão civil do depositário judiciário infiel no âmbito da Justiça do Trabalho.
O STF afirmou que, para admitir-se a revisão ou o cancelamento de súmula vinculante, é necessário
demonstrar que houve:
a) evidente superação da jurisprudência do STF no tratamento da matéria;
b) alteração legislativa quanto ao tema; ou
c) modificação substantiva de contexto político, econômico ou social.
Vale destacar que o mero descontentamento ou eventual divergência quanto ao conteúdo da súmula
vinculante não autorizariam a rediscussão da matéria.
RECURSOS
Recurso apresentado em setor errado do Tribunal
PRISÃO
Súmula vinculante 11 (uso de algemas)
O STF rejeitou proposta feita para cancelar a Súmula Vinculante 11, que tem a seguinte redação:
SV 11-STF: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou
de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada
a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do estado.
STF. Plenário. PSV 13/DF, 24.9.2015.
Proposta de cancelamento da SV
A Confederação Brasileira dos Trabalhadores Policiais Civis – Cobrapol ingressou com um pedido no STF
para cancelamento da Súmula Vinculante 11 do STF, que tem a seguinte redação:
SV 11-STF: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à
integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por
escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da
prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do estado.
O STF afirmou que, para admitir-se a revisão ou o cancelamento de súmula vinculante, é necessário
demonstrar que houve:
a) evidente superação da jurisprudência do STF no tratamento da matéria;
b) alteração legislativa quanto ao tema; ou
c) modificação substantiva de contexto político, econômico ou social.
A proponente, porém, não conseguiu comprovar a ocorrência de qualquer um desses pressupostos, o que
impossibilita o exame da proposta de cancelamento.
Vale destacar que o mero descontentamento ou eventual divergência quanto ao conteúdo da súmula
vinculante não autorizariam a rediscussão da matéria.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 21 a 25 de setembro de 2015
CLIPPING DO DJE
21 a 25 de setembro de 2015
EMB. DECL. NOS EMB. DIV. NOS EMB. DECL. NO SEGUNDO AG. REG. NO AI N.621.124-RJ
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NO SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. RAZÕES RECURSAIS DISSOCIADAS DA FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO
RECORRIDA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL. INOCORRÊNCIA.
1. A orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que os embargos declaratórios opostos, com caráter infringente,
objetivando a reforma da decisão do relator, devem ser conhecidos como agravo regimental (MI 823-ED-segundos, Rel. Min. Celso de Mello; Rcl
11.022-ED, Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia; ARE 680.718-ED, Rel. Min. Luiz Fux).
2. As razões recursais não guardam pertinência com a fundamentação da decisão impugnada, que, portanto, permanece incólume.
3. Ademais, não é possível falar em extinção da punibilidade pela prescrição, uma vez que não transcorreu prazo superior a 12 anos entre os marcos
interruptivos previstos nos incisos do art. 117 do Código Penal.
4. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental a que se nega provimento, com determinação de baixa imediata dos autos à origem.
AG. REG. NA AR N. 1.798-PE
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
AÇÃO RESCISÓRIA – OBJETO – DECISÃO DE MERITO – AUSÊNCIA. A ausência de apreciação do mérito direciona à negativa de seguimento
ao pedido formulado na rescisória.
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012).
[...] § 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de
infração penal: (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
I - os converte em ativos lícitos;’
Desta forma, diante da notícia de infrações em que a iniciativa da ação é pública incondicionada, necessária a instauração de
inquéritos – individualizados – para aprofundar a investigação dos fatos.” (grifei)
3. A colaboração premiada, que não é meio de prova, acha-se legalmente disciplinada como instrumento de obtenção de dados e subsídios
informativos. Valor e restrição concernentes ao depoimento do agente colaborador. O “Caso Enzo Tortoza” na Itália: um clamoroso erro
judiciário
Registro, inicialmente, que o instituto da colaboração premiada, especialmente nos termos em que disciplinado pela Lei nº 12.850/2013
(arts. 4º a 7º), vem sendo reconhecido, por esta Suprema Corte, com apoio no magistério doutrinário (VALDOIR BERNARDI DE FARIAS,
“Delação Premiada: constitucionalidade, aplicabilidade e valoração”, p. 135/158, 153, “in” “Temas Contemporâneos de Direito”, org. por José
Carlos Kraemer Bortoloti e Luciane Drago Amaro, 2009, Méritos Editora, v.g.), como relevante instrumento de obtenção de prova, e não como meio
de prova (HC 127.483/PR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Pleno), refletindo, em seu tratamento normativo, o que se delineou, no plano das relações
internacionais, na Convenção de Palermo (Artigo 26) e na Convenção de Mérida (Artigo 37), ambas subscritas pelo Brasil e formalmente já
incorporadas ao sistema de direito positivo interno de nosso País em virtude da promulgação, respectivamente, do Decreto nº 5.015/2004 e do
Decreto nº 5.687/2006.
Embora sofrendo críticas por parte de eminentes autores (CEZAR ROBERTO BITENCOURT e PAULO CÉSAR BUSATO, “Comentários
à Lei de Organização Criminosa”, p. 115/117, item n. 1, 2014, Saraiva; RÔMULO DE ANDRADE MOREIRA, “A Delação no Direito
Brasileiro”, v.g.), o fato é que a Lei nº 12.850/2013 “(...) traz aspectos positivos ao garantir ao delatado maior possibilidade de questionar o
depoimento do delator, ao buscar diminuir a possibilidade de erro judiciário vedando-se condenação com fundamento exclusivo em delação, ao
procurar garantir a integridade física do colaborador e ao regulamentar o acordo de colaboração, o que antes inexistia”, tal como assinalam
ROBERTO DELMANTO, ROBERTO DELMANTO JUNIOR e FABIO M. DE ALMEIDA DELMANTO (“Leis Penais Especiais Comentadas”,
p. 1.003/1.051, 1.031, 2ª ed., 2014, Saraiva – grifei), cuja lição, no entanto, ainda que reconhecendo a eficácia desse instituto “na apuração de
gravíssimos crimes”, não deixa de questionar-lhe os aspectos no plano ético.
Sendo esse o contexto, passo a apreciar o pleito formulado pelo Senhor Procurador-Geral da República, fazendo, no entanto, algumas
considerações que reputo essenciais ao exame do tema pertinente ao regime de colaboração premiada, tendo em vista o fato de que a pretendida
instauração de inquérito, no caso, fundamenta-se, precisamente, em depoimento prestado por agente colaborador.
Como se sabe, o Supremo Tribunal Federal tem admitido a utilização do instituto da colaboração premiada (cujo “nomen juris” anterior era
o de delação premiada), ressalvando, no entanto, bem antes do advento da Lei nº 12.850/2013 (art. 4º, § 16), que nenhuma condenação penal
poderá ter por único fundamento as declarações do agente colaborador (HC 94.034/SP, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RE 213.937/PA, Rel. Min.
ILMAR GALVÃO, v.g.):
“PROVA – DELAÇÃO – VALIDADE. Mostra-se fundamentado o provimento judicial quando há referência a depoimentos que
respaldam delação de co-réus. Se, de um lado, a delação, de forma isolada, não respalda condenação, de outro, serve ao convencimento
quando consentânea com as demais provas coligidas.”
(HC 75.226/MS, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – grifei)
O aspecto que venho de ressaltar – impossibilidade de condenação penal com suporte unicamente em depoimento prestado pelo agente
colaborador, tal como acentua a doutrina (EDUARDO ARAÚJO DA SILVA, “Organizações Criminosas: aspectos penais e processuais da Lei
nº 12.850/13”, p. 71/74, item n. 3.6, 2014, Atlas, v.g.) – constitui importante limitação de ordem jurídica que, incidindo sobre os poderes do Estado,
objetiva impedir que falsas imputações dirigidas a terceiros “sob pretexto de colaboração com a Justiça” possam provocar inaceitáveis erros
judiciários, com injustas condenações de pessoas inocentes.
Na realidade, o regime de colaboração premiada, definido pela Lei nº 12.850/2013, estabelece mecanismos destinados a obstar abusos que
possam ser cometidos por intermédio da ilícita utilização desse instituto, tanto que, além da expressa vedação já referida (“lex. cit.”, art. 4º, § 16),
o diploma legislativo em questão também pune como crime, com pena de 1 a 4 anos de prisão e multa, a conduta de quem imputa “falsamente,
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
21 a 25 de setembro de 2015
Medida Provisória nº 692, de 22.9.2015 - Altera a Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, para dispor acerca
da incidência de imposto sobre a renda na hipótese de ganho de capital em decorrência da alienação de bens e direitos
de qualquer natureza, e a Medida Provisória nº 685, de 21 de julho de 2015, que institui o Programa de Redução de
Litígios Tributários – PRORELIT. Publicada no DOU, Seção 1, Edição Extra nº 181, em 22.9.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br
Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos: RMS 30548/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS POLÍTICOS
Inconstitucionalidade das doações eleitorais feitas por pessoas jurídicas.
DIREITO ELEITORAL
FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL
Inconstitucionalidade das doações feitas por pessoas jurídicas.
DIREITO PENAL
MAUS ANTECEDENTES
Cinco anos após o cumprimento ou extinção da pena, a condenação pretérita ainda poderá ser utilizada como
maus antecedentes?
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS POLÍTICOS
Inconstitucionalidade das doações eleitorais feitas por pessoas jurídicas
Mandado de segurança
O Desembargador investigado impetrou mandado de segurança no STF contra o ato do CNJ invocando, em
síntese, duas teses:
1) A competência disciplinar do CNJ é subsidiária e, antes de o Conselho atuar, deveria ter sido dada
oportunidade para que o caso fosse apurado pela Corregedoria do TRF ao qual o Desembargador é vinculado;
2) As diligências determinadas pelo CNJ deveriam ter sido delegadas a um Juiz Federal, e não a um Juiz de
Direito, considerando que o CNJ é um órgão federal.
1) O STF já firmou posição no sentido de que a competência constitucional do CNJ é autônoma (e não
subsidiária).
2) É regular a designação de juiz auxiliar, seja ele originário do Judiciário estadual ou federal, para a
condução de sindicância, por delegação do Corregedor-Nacional de Justiça, ainda que o investigado seja
magistrado federal. A autoridade delegada atua em nome do CNJ, sendo irrelevante, portanto, se é Juiz
Estadual ou Federal.
Importante!!!
As contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais e partidos políticos são
inconstitucionais.
As contribuições de pessoas físicas são válidas e regulam-se de acordo com a lei em vigor.
STF. Plenário. ADI 4650/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16 e 17/9/2015 (Info 799).
ADI 4650
O Conselho Federal da OAB ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4650) no STF pedindo que
sejam declarados inconstitucionais os dispositivos da legislação eleitoral (Leis nº 9.096/95 e nº 9.504/97)
que autorizam doações de empresas a candidatos e a partidos políticos.
Na ação, a entidade também pede que seja fixado um limite máximo para as doações feitas por pessoas físicas.
Para a OAB, existe uma infiltração do poder econômico nas eleições, o que gera graves distorções, como a
desigualdade política, na medida em que aumenta a influência dos mais ricos sobre o resultado dos pleitos
eleitorais, e, consequentemente, sobre a atuação do próprio Estado. Além disso, essa forte influência do
poder econômico inviabiliza a possibilidade de sucesso eleitoral dos candidatos que não têm patrimônio
para suportar os gastos de campanha nem acesso aos financiadores privados.
Essas modalidades de exercício da cidadania são inerentes às pessoas naturais e, por isso, é desarrazoado
estendê-las para as pessoas jurídicas.
Mesmo sem as doações de pessoas jurídicas, será possível a realização das campanhas
Vale ressaltar que o fim das doações feitas por pessoas jurídicas não prejudicará a sobrevivência dos
partidos políticos nem impedirá que os candidatos façam suas campanhas. Isso porque todos os partidos
políticos têm acesso ao fundo partidário e à propaganda eleitoral gratuita nos veículos de comunicação,
podendo assim promover suas ideais e propostas.
Mas as pessoas jurídicas poderão continuar doando para campanhas e partidos de forma escondida
("caixa dois")...
É verdade. Isso é possível. No entanto, tal realidade não pode servir como argumento para evitar que o
STF declare inconstitucionais as leis que autorizam a doação por pessoas jurídicas.
A possibilidade de que as empresas continuem a investir elevadas quantias — não contabilizadas (caixa dois) —
nas campanhas eleitorais não constitui empecilho para que o STF declare ser errado o atual modelo.
Violação à isonomia
O STF invocou ainda um último argumento para declarar inconstitucionais as doações por pessoas
jurídicas. Trata-se do fato de que o art. 24 da Lei das Eleições proíbe que determinadas pessoas jurídicas
façam doações. É o caso, por exemplo, das associações de classe, entidades sindicais e entidades do
Votos vencidos
Ficaram vencidos os Ministros Teori Zavascki, Gilmar Mendes e Celso de Mello.
DIREITO PENAL
MAUS ANTECEDENTES
Cinco anos após o cumprimento ou extinção da pena, a condenação pretérita ainda poderá ser
utilizada como maus antecedentes?
O que é reincidência?
A definição de reincidência, para o Direito Penal brasileiro, é encontrada a partir da conjugação do art. 63
do CP com o art. 7º da Lei de Contravenções Penais.
Com base nesses dois dispositivos, podemos encontrar as hipóteses em que alguém é considerado
reincidente para o Direito Penal (inspirado no quadro contido no livro de CUNHA, Rogério Sanches.
Manual de Direito Penal. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 401):
Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5
Se a pessoa é condenada E depois da condenação Qual será a consequência?
definitivamente por definitiva pratica novo(a)
CRIME
CRIME REINCIDÊNCIA
(no Brasil ou exterior)
CRIME CONTRAVENÇÃO
REINCIDÊNCIA
(no Brasil ou exterior) (no Brasil)
CONTRAVENÇÃO CONTRAVENÇÃO
REINCIDÊNCIA
(no Brasil) (no Brasil)
NÃO HÁ reincidência.
CONTRAVENÇÃO
CRIME Foi uma falha da lei.
(no Brasil)
Mas gera maus antecedentes.
NÃO HÁ reincidência.
CONTRAVENÇÃO
CRIME ou CONTRAVENÇÃO Contravenção no estrangeiro
(no estrangeiro)
não influi aqui.
Assim, diz-se que, em tema de reincidência, o Código Penal adota o sistema da temporariedade, uma vez
que os efeitos negativos da reincidência duram apenas por determinado período de tempo.
Curiosidade: na redação original do Código Penal (antes da Reforma de 1984), vigorava o sistema da
perpetuidade, ou seja, os efeitos negativos da reincidência duravam para sempre.
Exemplo:
Douglas praticou um furto, foi condenado e terminou de cumprir sua pena em 02/02/2010. Em
03/03/2015, ele comete um outro crime. No julgamento desse segundo delito, Douglas não poderá ser
considerado reincidente, porque já se passaram mais de cinco anos desde o dia em que terminou de
cumprir a pena pelo primeiro crime.
Obs.1: o tema será pacificado pelo STF no RE 593818 RG, que foi afetado para julgamento pelo Plenário
sob a sistemática da repercussão geral.
Obs.2: cuidado. Alguns livros de Direito Penal fornecem uma explicação em sentido contrário ao que vem
sendo decidido pelo STF.
Determinado réu foi condenado por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei 8.137/90).
O STF considerou correta a sentença do juiz que, na 1ª fase da dosimetria da pena, aumentou a
pena-base com fundamento em dois argumentos:
1) Na análise das circunstâncias, o magistrado aumentou a pena sob a alegação de que o réu
omitiu seu nome do quadro societário da empresa com o objetivo de esconder que era ele
quem realmente administrava a empresa.
O STF afirmou que o ardil utilizado pelo réu (omissão do seu nome do quadro societário da
empresa) teve como objetivo acobertar sua real condição de administrador da empresa
investigada e, com isso, furtar-se de possível aplicação da lei penal. Essa omissão do nome do
réu no quadro societário não é a mesma omissão de que trata o inciso I do art. 1º.
A omissão que é elementar do tipo é a omissão para suprimir ou reduzir tributo. A omissão do
nome do réu foi para evitar que ele fosse descoberto. Logo, punir a omissão do nome do réu
não significa punir o condenado duas vezes pelo mesmo fato.
2) No exame das consequências do crime, o juiz também majorou a pena argumentando que o
crime praticado gerou um grande prejuízo ao erário (mais de 2 milhões de reais), o que
autorizaria a elevação da pena-base. Segundo entende o STF, em se tratando de infrações
penais contra a ordem tributária, a extensão do dano causado pode ser invocada na 1ª fase da
dosimetria como critério para exasperação da pena-base, sem que tanto implique bis in idem.
STF. 2ª Turma. HC 128446/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).
Critério trifásico
A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.
1º) Na análise das circunstâncias, o magistrado aumentou a pena sob a alegação de que o réu omitiu seu
nome do quadro societário da empresa com o objetivo de esconder que era ele quem realmente
administrava a empresa.
2º) No exame das consequências do crime, o juiz também majorou a pena argumentando que o crime
praticado gerou um grande prejuízo ao erário (mais de 2 milhões de reais), o que autorizaria a elevação da
pena-base.
Segundo sustentou a defesa, quando o magistrado aumentou a pena pelo fato de o réu ter omitido seu
nome do quadro societário, houve bis in idem. Isso porque "omitir informação" é uma elementar do crime
do art. 1º, I. Assim, se é uma elementar do tipo penal, não pode servir para aumentar a pena-base.
Quanto ao segundo aumento, a defesa afirmou que o montante do prejuízo ao erário não serve para
majorar a pena.
O juiz poderia ter aumentado a pena-base com fundamento na omissão do nome do réu do quadro
societário?
SIM. O STF afirmou que o ardil utilizado pelo réu (omissão do seu nome do quadro societário da empresa)
teve como objetivo acobertar sua real condição de administrador da empresa investigada e, com isso,
furtar-se de possível aplicação da lei penal. Essa omissão do nome do réu no quadro societário não é a
mesma omissão de que trata o inciso I do art. 1º.
A omissão que é elementar do tipo é a omissão para suprimir ou reduzir tributo. A omissão do nome do
réu foi para evitar que ele fosse descoberto.
Logo, punir a omissão do nome do réu não significa punir o condenado duas vezes pelo mesmo fato.
O ardil considerado, portanto, não seria aquele inerente ao tipo penal do crime contra a ordem tributária.
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 14 a 18 de setembro de 2015
CLIPPING DO D JE
14 a 18 de setembro de 2015
ADI N. 3.926-SC
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PROJETO DE LEI – INICIATIVA EXCLUSIVA DO EXECUTIVO – EMENDA PARLAMENTAR – DESVIRTUAMENTO. A ausência de
pertinência temática de emenda da casa legislativa a projeto de lei de iniciativa exclusiva do Executivo leva a concluir-se pela inconstitucionalidade
formal.
CARGO PÚBLICO – PROVIMENTO – INADEQUAÇÃO. A teor do Verbete nº 685 da Súmula do Supremo, “é inconstitucional toda modalidade de
provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público, em cargo que não integra a carreira na qual
anteriormente investido”.
*noticiado no Informativo 793
AG. REG. NO ARE N. 903.790-RJ
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO
TRIBUTÁRIO. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA E JULGADA. RE 566.621 (REL. MIN. ELLEN GRACIE).
ACÓRDÃO RECORRIDO CONFORME O PRECEDENTE. PREVIDÊNCIA PRIVADA. IMPOSTO DE RENDA. RESGATE. REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. PRESCRIÇÃO. VERIFICAÇÃO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE
BENEFÍCIO DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR APÓS A LEI 9.250/95. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO
DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI MAIOR. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 06.05.2015.
1. Ao exame do RE 566.621, Rel. Min. Ellen Gracie, esta Suprema Corte declarou a inconstitucionalidade do art. 4º, segunda parte, da LC 118/2005,
considerando válida a aplicação do novo prazo prescricional de 5 anos tão somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou
seja, a partir de 9 de junho de 2005. O entendimento adotado pela Corte de origem não divergiu dessa orientação.
2. A controvérsia não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais.
Compreender de modo diverso exigiria a análise da legislação infraconstitucional encampada na decisão da Corte de origem, a tornar oblíqua e
reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a exigência do art. 102, III, “a”,
da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Suprema Corte.
3. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
4. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NA AC N. 932-AP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CAUTELAR. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. FINANCEIRO. INSCRIÇÃO DE
ESTADO-MEMBRO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. ATOS DECORRENTES DE GESTÕES
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Processo excluído deste informativo por não terem sido concluído em virtude de pedido de vista: RE 635659/SP
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Sistema carcerário e Estado de Coisas Inconstitucional.
DIREITO ADMINISTRATIVO
TRIBUNAL DE CONTAS
Independência da tomada de contas em relação ao PAD.
Citação no processo de tomada de contas.
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Sistema carcerário e Estado de Coisas Inconstitucional
Importante!!!
O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando verifica-se a existência de um quadro de
violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais, causado pela inércia ou
incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a conjuntura, de
modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de uma
pluralidade de autoridades podem modificar a situação inconstitucional.
O STF reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas
Inconstitucional", com uma violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. As
penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e
desumanas.
Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três Poderes
(Legislativo, Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-Membros e do Distrito
Federal.
A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma
verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da perpetuação e
do agravamento da situação.
Obs: conceito baseado nas lições de Carlos Alexandre de Azevedo Campos (O Estado de Coisas
Inconstitucional e o litígio estrutural. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-set-01/carlos-
campos-estado-coisas-inconstitucional-litigio-estrutural), artigo cuja leitura se recomenda.
Origem
A ideia de que pode existir um Estado de Coisas Inconstitucional e que a Suprema Corte do país pode atuar
para corrigir essa situação surgiu na Corte Constitucional da Colômbia, em 1997, com a chamada
"Sentencia de Unificación (SU)". Foi aí que primeiro se utilizou essa expressão.
Depois disso, a técnica já teria sido empregada em mais nove oportunidades naquela Corte.
Existe também notícia de utilização da expressão pela Corte Constitucional do Peru.
Pressupostos:
Segundo aponta Carlos Alexandre de Azevedo Campos, citado na petição da ADPF 347, para reconhecer o
estado de coisas inconstitucional, exige-se que estejam presentes as seguintes condições:
a) vulneração massiva e generalizada de direitos fundamentais de um número significativo de pessoas;
b) prolongada omissão das autoridades no cumprimento de suas obrigações para garantia e promoção dos
direitos;
b) a superação das violações de direitos pressupõe a adoção de medidas complexas por uma pluralidade
de órgãos, envolvendo mudanças estruturais, que podem depender da alocação de recursos públicos,
correção das políticas públicas existentes ou formulação de novas políticas, dentre outras medidas; e
d) potencialidade de congestionamento da justiça, se todos os que tiverem os seus direitos violados
acorrerem individualmente ao Poder Judiciário.
Situações excepcionais
O reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional é uma técnica que não está expressamente
prevista na Constituição ou em qualquer outro instrumento normativo e, considerando que "confere ao
Tribunal uma ampla latitude de poderes, tem-se entendido que a técnica só deve ser manejada em
hipóteses excepcionais, em que, além da séria e generalizada afronta aos direitos humanos, haja também
a constatação de que a intervenção da Corte é essencial para a solução do gravíssimo quadro enfrentado.
“ão asos e ue se ide tifi a u lo ueio i stitu io al pa a a ga a tia dos di eitos, o ue leva a Co te
a assumir um papel atípico, sob a perspectiva do princípio da separação de poderes, que envolve uma
intervenção mais ampla sobre o campo das políticas públicas." (trecho da petição inicial da ADPF 347).
O STF ainda não julgou definitivamente o mérito da ADPF, mas já apreciou o pedido de liminar. O que a
Corte decidiu?
O STF decidiu conceder, parcialmente, a medida liminar e deferiu apenas os pedidos "b" (audiência de
custódia) e "h" (liberação das verbas do FUNPEN).
O Plenário reconheceu que no sistema prisional brasileiro realmente há uma violação generalizada de
direitos fundamentais dos presos. As penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo
penas cruéis e desumanas.
Diante disso, o STF declarou que diversos dispositivos constitucionais, documentos internacionais (o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos, a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos e Penas
Cruéis, Desumanos e Degradantes e a Convenção Americana de Direitos Humanos) e normas
infraconstitucionais estão sendo desrespeitadas.
Os cárceres brasileiros, além de não servirem à ressocialização dos presos, fomentam o aumento da
criminalidade, pois transformam pe ue os deli ue tes e o st os do i e . A p ova da i efi i ia
do sistema como política de segurança pública está nas altas taxas de reincidência. E o reincidente passa a
cometer crimes ainda mais graves.
Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três Poderes (Legislativo,
Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-Membros e do Distrito Federal.
A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma verdadeira "falha
estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da perpetuação e do agravamento da situação.
Assim, cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia, coordenar ações visando a resolver o
problema e monitorar os resultados alcançados.
No entanto, o Plenário entendeu que o STF não pode substituir o papel do Legislativo e do Executivo na
consecução de suas tarefas próprias. Em outras palavras, o Judiciário deverá superar bloqueios políticos e
institucionais sem afastar, porém, esses poderes dos processos de formulação e implementação das soluções
necessárias. Nesse sentido, não lhe incumbe definir o conteúdo próprio dessas políticas, os detalhes dos meios
a serem empregados. Com base nessas considerações, foram indeferidos os pedidos "e" e "f".
Quanto aos pedidos a , e d , o STF entendeu que seria desnecessário ordenar aos juízes e Tribunais
que fizessem isso porque já são deveres impostos a todos os magistrados pela CF/88 e pelas leis. Logo, não
havia sentido em o STF declará-los obrigatórios, o que seria apenas um reforço.
TRIBUNAL DE CONTAS
Citação no processo de tomada de contas
Nos processos administrativos que tramitam no TCU, é possível a citação do interessado por
via postal?
SIM. O envio de carta registrada com aviso de recebimento está expressamente enumerado
entre os meios de comunicação de que dispõe o TCU para proceder às suas intimações.
O interessado alega que não mora mais no endereço para o qual a carta com AR foi enviada.
Contudo, constata-se que esse é o endereço que consta na Receita Federal como sendo do
interessado, além do que é o mesmo que está na petição inicial do MS por ele impetrado. A
alegação de nulidade da citação deverá ser aceita?
NÃO. Inicialmente, deve-se esclarecer que a validade da comunicação dos atos do TCU não
depende de comunicação pessoal do interessado, bastando sua efetivação por meio de carta
registrada com aviso de recebimento que comprove sua entrega no endereço do destinatário.
No caso concreto, a a citação foi enviada ao endereço fornecido pelo impetrante no cadastro da
Receita Federal do Brasil, que é o mesmo informado na petição inicial do mandado de
segurança impetrado. Logo, o STF entendeu que foi comprovada a entrega da carta registrada
no endereço do destinatário, de forma que não se podia falar em nulidade do processo.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info 798).
Nos processos administrativos que tramitam no TCU, é possível a citação do interessado por via postal?
SIM. O envio de carta registrada com aviso de recebimento está expressamente enumerado entre os
meios de comunicação de que dispõe o TCU para proceder às suas intimações.
O inciso II do art. 179 do Regimento Interno do TCU é claro ao exigir apenas a comprovação da entrega no
endereço do destinatário, bastando o aviso de recebimento simples.
STF. Plenário. MS 25816 AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 12/06/2006.
No caso concreto, o interessado alegou nulidade da citação sob o argumento de que não moraria mais
naquele endereço. Tal argumento foi aceito pelo STF?
NÃO. Inicialmente, deve-se esclarecer que a validade da comunicação dos atos do TCU não depende de
comunicação pessoal do interessado, bastando sua efetivação por meio de carta registrada com aviso de
recebimento que comprove sua entrega no endereço do destinatário.
No caso concreto, a citação foi enviada ao endereço fornecido pelo impetrante no cadastro da Receita
Federal do Brasil, que é o mesmo informado na petição inicial do mandado de segurança impetrado. Logo,
o STF entendeu que foi comprovada a entrega da carta registrada no endereço do destinatário, de forma
que não se podia falar em nulidade do processo.
ARQUIVAMENTO
Ilegalidade de Portaria que não admite o processamento de
pedidos de arquivamento de procedimento de investigação
É ilegal Portaria expedida por Juiz-Auditor Militar na qual ele afirma que os pedidos de
arquivamento de procedimento investigatório criminal instaurados pela Procuradoria de
Justiça Militar não devem ser recebidos ou distribuídos pela Justiça Militar.
A referida Portaria é ilegal porque existe um procedimento previsto expressamente no art.
397 do CPPM para os casos de pedido de arquivamento do inquérito policial ou procedimento
investigatório criminal.
Diante de um pedido de arquivamento, compete ao Juiz-Auditor a adoção de duas possíveis
condutas: a) anuir (concordar) com o arquivamento proposto; ou b) discordando da
fundamentação apresentada, remeter o processo ao Procurador-Geral.
A recusa em dar andamento ao pleito de trancamento configura inaceitável abandono do
controle jurisdicional a ser exercido no tocante ao princípio da obrigatoriedade da ação penal.
STF. 1ª Turma. RMS 28428/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/9/2015 (Info 798).
Há, portanto, evidente conflito entre uma norma de hierarquia inferior (Portaria) com uma norma superior
(CPPM), devendo prevalecer, portanto, este último diploma.
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 7 a 11 de setembro de 2015
CLIPPING DO D JE
7 a 11 de setembro de 2015
RE N. 593.727-MG
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
Repercussão geral. Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Constitucional. Separação dos poderes. Penal e processual penal. Poderes de
investigação do Ministério Público. 2. Questão de ordem arguida pelo réu, ora recorrente. Adiamento do julgamento para colheita de parecer do Procurador-
Geral da República. Substituição do parecer por sustentação oral, com a concordância do Ministério Público. Indeferimento. Maioria. 3. Questão de ordem
levantada pelo Procurador-Geral da República. Possibilidade de o Ministério Público de estado-membro promover sustentação oral no Supremo. O Procurador-
Geral da República não dispõe de poder de ingerência na esfera orgânica do Parquet estadual, pois lhe incumbe, unicamente, por expressa definição
constitucional (art. 128, § 1º), a Chefia do Ministério Público da União. O Ministério Público de estado-membro não está vinculado, nem subordinado, no plano
processual, administrativo e/ou institucional, à Chefia do Ministério Público da União, o que lhe confere ampla possibilidade de postular, autonomamente,
perante o Supremo Tribunal Federal, em recursos e processos nos quais o próprio Ministério Público estadual seja um dos sujeitos da relação processual.
Questão de ordem resolvida no sentido de assegurar ao Ministério Público estadual a prerrogativa de sustentar suas razões da tribuna. Maioria. 4. Questão
constitucional com repercussão geral. Poderes de investigação do Ministério Público. Os artigos 5º, incisos LIV e LV, 129, incisos III e VIII, e 144, inciso IV, §
4º, da Constituição Federal, não tornam a investigação criminal exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de investigação do Ministério Público.
Fixada, em repercussão geral, tese assim sumulada: “O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob
investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais
de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da
possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula
Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição”. Maioria. 5. Caso concreto. Crime de responsabilidade de prefeito. Deixar de cumprir ordem
judicial (art. 1º, inciso XIV, do Decreto-Lei nº 201/67). Procedimento instaurado pelo Ministério Público a partir de documentos oriundos de autos de processo
judicial e de precatório, para colher informações do próprio suspeito, eventualmente hábeis a justificar e legitimar o fato imputado. Ausência de vício. Negado
provimento ao recurso extraordinário. Maioria.
*noticiado no Informativo 785
RE N. 730.462-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE PRECEITO NORMATIVO
PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EFICÁCIA NORMATIVA E EFICÁCIA EXECUTIVA DA DECISÃO: DISTINÇÕES.
INEXISTÊNCIA DE EFEITOS AUTOMÁTICOS SOBRE AS SENTENÇAS JUDICIAIS ANTERIORMENTE PROFERIDAS EM SENTIDO
CONTRÁRIO. INDISPENSABILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO OU PROPOSITURA DE AÇÃO RESCISÓRIA PARA SUA
REFORMA OU DESFAZIMENTO.
1. A sentença do Supremo Tribunal Federal que afirma a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito normativo gera, no plano do
ordenamento jurídico, a consequência (= eficácia normativa) de manter ou excluir a referida norma do sistema de direito.
2. Dessa sentença decorre também o efeito vinculante, consistente em atribuir ao julgado uma qualificada força impositiva e obrigatória em relação a
supervenientes atos administrativos ou judiciais (= eficácia executiva ou instrumental), que, para viabilizar-se, tem como instrumento próprio, embora
não único, o da reclamação prevista no art. 102, I, “l”, da Carta Constitucional.
3. A eficácia executiva, por decorrer da sentença (e não da vigência da norma examinada), tem como termo inicial a data da publicação do acórdão do
Supremo no Diário Oficial (art. 28 da Lei 9.868/1999). É, consequentemente, eficácia que atinge atos administrativos e decisões judiciais
supervenientes a essa publicação, não os pretéritos, ainda que formados com suporte em norma posteriormente declarada inconstitucional.
4. Afirma-se, portanto, como tese de repercussão geral que a decisão do Supremo Tribunal Federal declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade
de preceito normativo não produz a automática reforma ou rescisão das sentenças anteriores que tenham adotado entendimento diferente; para que tal ocorra,
será indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC, observado o
respectivo prazo decadencial (CPC, art. 495). Ressalva-se desse entendimento, quanto à indispensabilidade da ação rescisória, a questão relacionada à execução
de efeitos futuros da sentença proferida em caso concreto sobre relações jurídicas de trato continuado.
5. No caso, mais de dois anos se passaram entre o trânsito em julgado da sentença no caso concreto reconhecendo, incidentalmente, a constitucionalidade do
artigo 9º da Medida Provisória 2.164-41 (que acrescentou o artigo 29-C na Lei 8.036/90) e a superveniente decisão do STF que, em controle concentrado,
declarou a inconstitucionalidade daquele preceito normativo, a significar, portanto, que aquela sentença é insuscetível de rescisão.
6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
TRANSCRIÇÕES
Extradição e falsidade de registro civil de nascimento (Transcrições)
(v. Informativo 796)
Ext. 1.393/DF*
RELATOR: Ministro Dias Toffoli
EMENTA: Extradição instrutória. Governo do Paraguai. Nacionalidade do extraditando. Registros civis brasileiro e paraguaio
atestando seu nascimento, na mesma data, em ambos os países. Impossibilidade lógica de sua coexistência. Cancelamento do registro
civil brasileiro, em razão de sua falsidade. Antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional em ação anulatória de registro promovida
pelo Ministério Público. Presunção de veracidade do ato registrário brasileiro afastada (art. 1.604 do Código Civil). Provisoriedade da
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
7 a 11 de setembro de 2015
Lei nº 13.163, de 9.9.2015 - Modifica a Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal, para
instituir o ensino médio nas penitenciárias. Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº 173, p. 1, em 10.9.2015.
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADPF 347 MC/DF; RE 693456/RJ; AP 905 QO/MG; RE 790059 AgR-AgR/DF.
Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos: MS 33729/DF.
ÍNDICE
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
SUSPENSÃO DE SEGURANÇA
Natureza da decisão e cabimento de recurso especial para impugná-la.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Reconhecida a repercussão geral não é mais possível que as partes desistam do processo.
RECURSOS
Situação de reformatio in pejus mesmo tendo havido redução da pena final
SUSPENSÃO DE SEGURANÇA
Natureza da decisão e cabimento de recurso especial para impugná-la
CONCEITO
O pedido de suspensão é
NOMENCLATURA
Comumente, esse instituto é chamado de pedido deà suspe s oà deà segu a ça .à Issoà po ueà eleà foià
previsto originalmente na lei apenas para suspender as decisões liminares ou sentenças proferidas em
mandados de segurança.
Ocorre que, com o tempo, foram editadas novas leis trazendo a possibilidade de suspensão para
praticamente toda e qualquer decisão judicial prolatada contra a Fazenda Pública.
Po àessaà az o,àatual e te,àal àdeà suspe s oàdeàsegu a ça ,àpode-seàfala àe à suspe s oàdeàli i a ,à
suspe s oàdeàse te ça ,à suspe s oàdeàa ó d o àet .
PREVISÃO LEGAL
Há cinco diferentes dispositivos legais prevendo pedido de suspensão:
art. 12, § 1º da Lei nº 7.347/85 (suspensão de liminar em ACP);
art. 4º da Lei nº 8.437/92 (suspensão de liminar ou sentença em ação cautelar, em ação popular ou em
ACP). É considerada pela doutrina como a previsão mais geral sobre o pedido de suspensão;
art. 1º da Lei nº 9.494/97 (suspensão de tutela antecipada concedida contra a Fazenda Pública);
art. 16 da Lei nº 9.507/97 (suspensão da execução de sentença concessiva de habeas data);
art. 15 da Lei nº 12.016/09 (suspensão de liminar e sentença no mandado de segurança).
Lei nº 8.437/92:
Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso,
suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas ações movidas contra o Poder Público
ou seus agentes, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público
interessada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave
lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.
§ 1° Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em processo de ação cautelar inominada, no
processo de ação popular e na ação civil pública, enquanto não transitada em julgado.
NATUREZA JURÍDICA
P evale eà ueàseàt ataàdeàu à i ide teàp o essual à Leo a doàJos àCa ei oàdaàCu ha .
LEGITIMIDADE
Quem pode formular pedido de suspensão?
a) União, Estados, Distrito Federal e Municípios;
b) autarquias e fundações;
c) Ministério Público;
d) concessionárias de serviço público (desde que para tutelar o interesse público primário).
COMPETÊNCIA
A competência para apreciar o pedido de suspensão é do Presidente do
Tribunal que teria competência para julgar o recurso contra a decisão.
Decisão prolatada por Ex: concedida liminar por juiz federal do AM, o pedido de suspensão será
juiz de 1ª instância: julgado pelo Presidente do TRF1.
Ex2: concedida liminar por juiz de direito do AM, o pedido de suspensão será
julgado pelo Presidente do TJAM.
O pedido de suspensão será decidido pelo:
Presidente do STF: se a matéria for constitucional.
Presidente do STJ: se a matéria for infraconstitucional.
Decisão prolatada por
membro de TJ ou TRF:
Ex: concedida liminar pelo Desembargador do TJ/AM, o pedido de suspensão
será dirigido ao Presidente do STF ou do STJ, e não ao Presidente do TJ/AM
(art. 25 da Lei nº 8.038/90).
Se a causa tiver fundamento constitucional, é possível o ajuizamento de pedido de
Decisão prolatada por
suspensão dirigido ao Presidente do STF.
membro de Tribunal
Se a causa não tiver fundamento constitucional, não há possibilidade de
Superior:
pedido de suspensão.
APESAR DE NÃO SE EXAMINAR O MÉRITO, DEVE SER REALIZADO UM JUÍZO MÍNIMO DE DELIBAÇÃO
Mesmo sendo vedado ao Presidente do Tribunal examinar o mérito da demanda principal, é preciso, para
que se conceda a suspensão de liminar, que haja um mínimo de plausibilidade na tese da Fazenda Pública,
porque o pedido de suspensão funciona como uma contracautela, devendo, por isso, demonstrar fumus
boni iuris e periculum in mora inverso:
(...) 1. A jurisprudência pacificada do Supremo Tribunal Federal permite o proferimento de um juízo mínimo
de delibação, no que concerne ao mérito objeto do processo principal, quando da análise do pedido de
suspensão de decisão (SS 846-AgR/DF, rel. Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.96; SS 1.272-AgR, rel.
Ministro Carlos Velloso, DJ 18.5.2001, dentre outros).
(STA 73 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2008, DJe-078 DIVULG 30-
04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00001)
Obs: o prazo para esse agravo é de 5 dias mesmo que tenha sido interposto pela Fazenda Pública ou pelo
MP. Em outras palavras, NÃO incide o art. 188 do CPC (que confere prazo em dobro para recorrer à
Fazenda Pública ou ao MP) na hipótese de o recurso interposto ser o incidente de suspensão de liminar
previsto no art. 4º, § 3º da Lei 8.437/1992.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.331.730-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/5/2013 (Info 523).
Cabe recurso especial da decisão do Plenário ou da Corte Especial que julga esse agravo?
Segundo o STJ: NÃO. Não cabe Recurso Especial de decisões proferidas no âmbito do pedido de
suspensão. O recurso especial se destina a combater argumentos que digam respeito a exame de
legalidade, ao passo que o pedido de suspensão ostentaria juízo político.
Segundo a 1ª Turma do STF: SIM. A 1ª Turma do STF entendeu que a decisão em sede de suspensão de
segurança não é estritamente política, possuindo conteúdo jurisdicional. Com base nisso, decidiu que
é cabível, em tese, recurso especial contra decisões proferidas no âmbito do pedido de suspensão de
segurança (RE 798740 AgR/DF).
Ex2: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o Presidente do
TJ; este não concede a suspensão; a Fazenda Pública agrava da decisão do Presidente para o Plenário, que
mantém a decisão do Presidente e a liminar concedida em primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a
Fazenda Pública terá a possibilidade de formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Reconhecida a repercussão geral, não é mais possível que as partes desistam do processo
Importante!!!
Um dos pressupostos de admissibilidade do recurso extraordinário é a repercussão geral.
Desse modo, para que o RE seja conhecido, é necessário que o recorrente demonstre a
repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso.
Antes do STF apreciar o mérito do recurso, ele primeiro decide se aquele determinado tema
discutido possui repercussão geral.
É comum que essa decisão reconhecendo a existência de repercussão geral seja proferida em
uma data e somente meses ou até anos depois é que o STF aprecia o mérito do recurso.
O STF decidiu que, uma vez reconhecida a repercussão geral da questão constitucional
discutida no caso, não é mais possível às partes a desistência do processo.
O novo CPC permite que a parte desista, mas afirma que a questão cuja repercussão geral foi
reconhecida continuará sendo analisada. Veja:
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do recurso.
Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão
geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou
especiais repetitivos.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/9/2015 (Info 797).
CPC 2015
O novo CPC permite que a parte desista, mas afirma que a questão cuja repercussão geral foi reconhecida
continuará sendo analisada. Em outras palavras, a parte pode até desistir do processo, mas mesmo assim a
tese jurídica que era discutida na lide será definida pelo STF. Veja:
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes,
desistir do recurso.
Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha
sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos.
"(...) o art. 998, parágrafo único, CPC, permite que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de
Justiça se pronunciem sobre questões recursais ainda que a parte tenha desistido do recurso. Nesse caso,
obviamente que a pronúncia da Corte não poderá alcançar o recurso da parte. Servirá, porém, para
outorgar unidade ao direito, valendo como precedente." (MARINONI, Luiz Guilherme; AREHART, Sérgio
Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: RT, 2015, p. 933).
PROCEDIMENTOS
Aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo penal
Importante!!!
É cabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo penal.
Se no processo civil, em que se discutem direitos disponíveis, concede-se prazo em dobro, com
mais razão no processo penal, em que está em jogo a liberdade do cidadão.
STF. Plenário. Inq 3983/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em
3/9/2015 (Info 797).
STF. Plenário. Inq 4112/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgado em 1º/9/2015 (Info 797).
Segundo argumentou o Deputado, ele está sendo acusado juntamente com outra pessoa (litisconsórcio
passivo no processo penal) e os dois réus estão sendo assistidos por escritórios de advocacia diferentes.
Logo, aplica-se perfeitamente o art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015).
Essa tese foi acatada pelo STF? É possível aplicar o art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) por
analogia ao processo penal?
SIM. É cabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao prazo previsto no
art. 4º da Lei nº . / à áp ese tadaàaàde ú iaàouàaà ueixaàaoàT i u al,àfa -se-á a notificação do
acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias .à
O Min. Luiz Fux argumentou que, se no processo civil, em que se discutem direitos disponíveis, concede-se
prazo em dobro, com mais razão no processo penal, em que está em jogo a liberdade do cidadão.
Obs1: para alguns, pode parecer estranho, mas se em um processo criminal existem dois ou mais réus,
tem-se, no caso, um litisconsórcio passivo, considerando que o MP (ou o querelante) é o autor da ação
penal e os réus estão no polo passivo.
Obs2: o precedente acima foi envolvendo a Lei nº 8.038/90, mas penso que nada impede que esse mesmo
entendimento seja aplicado aos procedimentos regidos pelo CPP.
RECURSOS
Situação de reformatio in pejus mesmo tendo havido redução da pena final
João foi condenado em 1ª instância a uma pena de 2 anos pela prática do crime de furto
qualificado pela escalada (art. 155, § 4º, II, do CP). O Ministério Público não recorreu,
transitando em julgado a sentença para a acusação. A defesa do réu interpôs apelação. O
Tribunal de Justiça entendeu que não estavam presentes os requisitos necessários para a
configuração da qualificadora da escalada (art. 155, § 4º, II) e, por isso, a retirou,
transformando em furto simples. Até aí, tudo bem. Esse era um dos pedidos do recurso. Ocorre
Mas o TJ reduziu a pena do réu de 2 anos para 1 ano e 4 meses... mesmo assim pode-se dizer que houve
reformatio in pejus (reforma em prejuízo do recorrente)?
SIM. Isso porque o TJ acrescentou uma causa de aumento de pena (art. 155, § 1º) que não havia sido
reconhecida na sentença em 1ª instância. Como o recurso era exclusivo da defesa, o TJ não poderia ter
inserido na condenação uma circunstância contrária ao réu e que não estava presente anteriormente.
Assim, mesmo aparentemente a decisão do TJ tendo sido benéfica ao réu (por ter reduzido a pena), na
verdade, houve, na parte referente à causa de aumento, uma reforma para pior.
O STF entendeu que houve violação à parte final do art. 617 do CPP:
Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que
for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.
Prevaleceu a tese de que a melhor interpretação a ser dada à parte final do art. 617 do CPP seria a sistemática,
a levar em conta que a norma está inserida em um conjunto organizado de ideias e, por isso, a vedação da
efo atioà i à pejus à oà seà est i ge à quantidade final de pena, devendo ser analisado se o Tribunal
acrescentou alguma imputação (seja ela qualificadora, causa de aumento etc.) que não estava prevista
anteriormente na condenação. Em outras palavras, não se deve analisar apenas a quantidade final da pena.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 31 de agosto a 4 de setembro de 2015
CLIPPING DO D JE
31 de agosto a 4 de setembro de 2015
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Trata-se de Recurso Extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, cuja ementa se transcreve:
“Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DETERMINAÇÃO AO PODER EXECUTIVO DE REALIZAÇÃO DE OBRAS EM
PRESÍDIO. DECABIMENTO. PODER DISCRICIONÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO.
Preliminar:
O pedido não é juridicamente impossível, porquanto não lhe veda expressamente a ordem jurídica.
Mérito:
O texto constitucional dispõe sobre os direitos fundamentais do preso, sendo certo que as precárias condições dos estabelecimentos prisionais
importam ofensa à sua integridade física e moral. A dificuldade está na técnica da efetivação desses direitos fundamentais.
É que diversa a carga de eficácia quanto se trata de direito fundamental prestacional proclamado em norma de natureza eminentemente
programática, ou quando sob forma que permita, de logo, com ou sem interposição legislativa, o reconhecimento de direito subjetivo do
particular (no caso do preso), como titular do direito fundamental.
Aqui o ponto: saber se a obrigação imposta ao Estado atende norma constitucional programática, ou norma de natureza imposivita (sic).
Vê-se às claras, que mesmo não tivesse ficado no texto constitucional senão que também na Lei das Execuções Criminais, cuida-se de norma
de cunho programático. Não se trata de disposição auto-executável, apenas traça linha geral de ação ditada ao poder público.
Para além (sic) disso, sua efetiva realização apresenta dimensão econômica que faz depender da conjuntura; em outras palavras, das
condições que o Poder Público, como destinatário da norma, tenha de prestar. Daí que a limitação de recursos constitui, na opinião de
muitos, no limite fático à efetivação das normas de natureza programática. É a denominada ‘reserva do possível’.
Pois a ‘reserva do possível’, no que respeita aos direitos de natureza programática, tem a ver não apenas com a possibilidade material para
sua efetivação (econômica, financeira, orçamentária), mas também, e por conseqüência, com o poder de disposição de parte do
Administrador, o que imbrica na discricionariedade, tanto mais que não se trata de atividade vinculada.
Ao Judiciário não sabe determinar ao Poder Executivo a realização de obras, como pretende o Autor Civil, mesmo pleiteadas a título de
direito constitucional do preso, pena de fazer às vezes de administrador, imiscuindo-se indevidamente em seara reservada à Administração.
8. Tem legitimidade o Poder Judiciário para determinar adoção de políticas públicas que garantam intangibilidade do mínimo
existencial do direito fundamental ao respeito à integridade física e moral dos presos, como reforma, ampliação e construção de
estabelecimentos prisionais, em caso de omissão dos entes estatais. Precedentes.
9. Parecer pelo provimento do recurso extraordinário.”
É, em suma, o relatório/Voto.
- Premissa: o que é uma Constituição? / o que uma Constituição constitui?
A promulgação da Constituição da República de 1988 inaugurou uma nova ordem político-jurídica no Brasil. A partir de 05 de outubro de
1988, a Constituição deixou de ser compreendida apenas como mero documento político organizador do estado e repartidor de competências, passou
a ser compreendida como um projeto de construção nacional, com princípios (art. 3) e objetivos (art. 4) expressos, prevendo um rol de direitos e
garantias fundamentais (art. 5 ao art. 17), redefinindo a organização e separação entre os Poderes. Dessa forma, a questão central a partir de 1988
deixou de ser “o que é uma constituição”, e passou a ser “o que uma constituição constitui”. E a Constituição de 1988 não mais um mero documento
organizador do poder do Estado, mas sim o compromisso fundamental de uma comunidade de pessoas que se reconhecem reciprocamente como livres
e iguais. (NETO, Menelick de Carvalho; SCOTTI, Guilherme. Os Direitos Fundamentais e a (In)Certeza do Direito – A produtividade das Tensões
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
31 de agosto a 4 de setembro de 2015
Decreto nº 8.513, de 3.9.2015 - Dispõe sobre a antecipação do abono anual devido aos segurados e dependentes da
Previdência Social no ano de 2015. Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº 170, p. 1, em 4.9.2015.
OUTRAS INFORMAÇÕES
31 de agosto a 4 de setembro de 2015
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADPF 347 MC/DF; Rcl 18564/SP; Rcl 15551/GO.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: Ext 1375/DF; Ext 1393/DF.
ÍNDICE
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
COMPETÊNCIA
Litígios envolvendo servidores temporários e a Administração Pública.
DIREITO PENAL
ESTELIONATO
Estelionato e devolução da vantagem indevida antes do recebimento da denúncia.
COLABORAÇÃO PREMIADA
Impugnação do acordo de colaboração.
NULIDADES
Julgamento adiado e intimação de julgamento a ser realizado no dia seguinte.
HABEAS CORPUS
Cabimento de HC contra ato de Ministro do STF.
A Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários (art. 37, IX, da
CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal).
A competência NÃO é da Justiça do Trabalho.
STF. 1ª Turma. Rcl 6527 AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
ESTELIONATO
Estelionato e devolução da vantagem indevida antes do recebimento da denúncia
Importante!!!
O art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003 prevê que o pagamento integral do débito fiscal realizado
pelo réu é causa de extinção de sua punibilidade.
Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato causando prejuízo aos cofres
públicos. Antes do recebimento da denúncia, o agente paga integralmente os danos produzidos.
Isso poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003?
NÃO. A causa especial de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º da Lei nº
10.684/2003, relativamente ao pagamento integral do crédito tributário, não se aplica ao
delito de estelionato (CP, art. 171).
O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras: a) arts.
1º e 2º da Lei nº 8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária); c) Art.
337-A do CP (sonegação de contribuição previdenciária). Repare, portanto, que o estelionato
(art. 171 do CP) não está listado nessa lei.
Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas regras por
analogia em favor do réu?
NÃO. O art. 9º da Lei 10.684/2003 somente abrange crimes tributários materiais, delitos que
são ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que protegem bens jurídicos
diferentes. Dessa forma, não há lacuna involuntária na lei penal a demandar analogia.
O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal?
SIM. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento posterior, tendo
sua pena reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 18 do CP).
STF. 2ª Turma. RHC 126917/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 24/3/2015 (Info 559).
Imagine que João praticou estelionato causando prejuízo de R$ 200 mil aos cofres públicos. Suponha
Isso poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º da Lei n. 10.684/2003?
que, antes do recebimento da denúncia, ele devolva todo esse valor, com juros e correção monetária.
§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica
relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive
acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento. (Incluído pela Lei 12.382/2011)
Repare, portanto, que o estelionato (art. 171 do CP) não está listado nessas duas leis.
Mesmo sem o estelionato estar previsto, não é possível aplicar essas regras por analogia em favor do réu?
NÃO. O art. 9º da Lei n. 10.684/2003 e o art. 83 da Lei n.9.430/96 somente abrangem crimes tributários
materiais, delitos que são ontologicamente distintos do estelionato e que protegem bens jurídicos
diferentes.
Dessa forma, não é possível a aplicação, por analogia, da causa extintiva de punibilidade prevista no art. 9º
da Lei 10.684/2003 pelo pagamento do débito ao estelionato, pois não há lacuna involuntária na lei penal
a demandar o procedimento supletivo, de integração do ordenamento jurídico.
O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo não trará qualquer benefício penal?
Trará sim. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento posterior, tendo sua
pena reduzida de 1/3 a 2/3:
Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de
um a dois terços.
Se um indivíduo, que não possui habilitação para dirigir (art. 309 do CTB), conduz seu veículo
de forma imprudente, negligente ou imperita e causa lesão corporal em alguém, ele
responderá pelo crime do art. 303, parágrafo único, do CTB, ficando o delito do art. 309 do CTB
absorvido por força do princípio da consunção.
O delito de dirigir veículo sem habilitação é crime de ação penal pública incondicionada. Por
outro lado, a lesão corporal culposa (art. 303 do CTB) é crime de ação pública condicionada à
representação. Imagine que a vítima não exerça seu direito de representação no prazo legal.
Diante disso, o Ministério Público poderá denunciar o agente pelo delito do art. 309?
NÃO. O delito do art. 309 já foi absorvido pela conduta de praticar lesão corporal culposa na
direção de veículo automotor, tipificada no art. 303 do CTB, crime de ação pública condicionada à
representação. Como a representação não foi formalizada pela vítima, houve extinção da
punibilidade, que abrange tanto a lesão corporal como a conduta de dirigir sem habilitação.
STF. 2ª Turma. HC 128921/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
Por quê?
Porque o CTB estabelece que, se a lesão corporal culposa for praticada por um motorista que não tenha
habilitação para dirigir, haverá uma causa de aumento de pena prevista no parágrafo único do art. 303 c/c
o art. 302, § 1º, I. Veja:
Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do §
1º do art. 302.
Levando em conta a vedação de bis in idem, não se pode admitir que o mesmo fato seja atribuído ao
paciente como crime autônomo e, ao mesmo tempo, como causa especial de aumento de pena.
O delito de dirigir veículo sem habilitação é crime de ação penal pública incondicionada. Por outro lado,
a lesão corporal culposa (art. 303 do CTB) é crime de ação pública condicionada à representação.
Imagine que Pedro (a vítima) não exerça seu direito de representação no prazo legal. Diante disso, o
Ministério Público poderá denunciar João pelo delito do art. 309?
NÃO. O delito do art. 309 foi absorvido pela conduta de praticar lesão corporal culposa na direção de
veículo automotor, tipificada no art. 303 do CTB, crime de ação pública condicionada à representação.
Como a representação não foi formalizada pela vítima, houve extinção da punibilidade, que abrange tanto
a lesão corporal como a conduta de dirigir sem habilitação.
O crime mais grave de lesões corporais culposas, qualificado pela falta de habilitação para dirigir veículos,
absorve o crime menos grave de dirigir sem habilitação (arts. 303, parágrafo único, e 309 do CTB). O crime de
lesões corporais culposas é de ação pública condicionada à representação da vítima por expressa disposição
legal (arts. 88 e 91 da Lei 9.099/1995). Na hipótese em que a vítima não exerce a faculdade de representar,
ocorre a extinção da punibilidade do crime mais grave de lesões corporais culposas, qualificado pela falta de
habilitação, não podendo o paciente ser processado pelo crime menos grave de dirigir sem habilitação, que
restou absorvido. (STF. 2ª Turma. HC 80.298, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJe 1-12-2000).
INQUÉRITO POLICIAL
(Im)possibilidade de reabertura de inquérito policial arquivado por excludente de ilicitude
Súmula 524-STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de
Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.
O juiz deverá concordar? Deverá ser determinado o desarquivamento no presente caso? É possível a
reabertura da investigação e o oferecimento de denúncia se o inquérito policial havia sido arquivado
com base em excludente de ilicitude?
Atualmente, é possível identificar a existência de divergência entre o STJ e o STF:
Importante!!!
Colaboração premiada é um instituto previsto na legislação por meio do qual um investigado
ou acusado da prática de infração penal decide confessar a prática do delito e, além disso,
aceita colaborar com a investigação ou com o processo fornecendo informações que irão
ajudar, de forma efetiva, na obtenção de provas contra os demais autores dos delitos e contra a
organização criminosa, na prevenção de novos crimes, na recuperação do produto ou proveito
dos crimes ou na localização da vítima com integridade física preservada, recebendo o
colaborador, em contrapartida, determinados benefícios penais (ex: redução de sua pena).
"EMF", um dos réus na operação Lava-Jato impetrou no STF habeas corpus contra ato do Min.
Teori Zavascki, que homologou o acordo de delação premiada de Alberto Youssef.
No HC, a defesa do réu alegou, dentre outras teses, que o colaborador não teria idoneidade
para firmar o acordo e que, por isso, as informações por ele repassadas não seriam confiáveis.
Afirmou-se, ainda, que ele já descumpriu um outro acordo de colaboração premiada,
demonstrando, assim, não ter compromisso com a verdade.
Em razão disso, o acordo seria ilícito e todas as provas obtidas a partir dele também seriam
ilícitas por derivação, devendo ser anuladas.
O STF concordou com o HC? A ordem foi concedida?
NÃO. O STF indeferiu o habeas corpus.
A colaboração premiada é apenas meio de obtenção de prova, ou seja, é um instrumento para
colheita de documentos que, segundo o resultado de sua obtenção, poderão formar meio de
prova. A colaboração premiada não se constitui em meio de prova propriamente dito.
O acordo de colaboração não se confunde com os depoimentos prestados pelo colaborador
com o objetivo de fundamentar as imputações a terceiros. Uma coisa é o acordo, outra é o
depoimento prestado pelo colaborador e que será ainda valorado a partir da análise das
provas produzidas no processo.
Homologar o acordo não significa dizer que o juiz admitiu como verídicas ou idôneas as
informações prestadas pelo colaborador. Quando o magistrado homologa o acordo, ele
apenas afirma que este cumpriu sua regularidade, legalidade e voluntariedade.
O STF entendeu que o acordo não pode ser impugnado por terceiro, mesmo que seja uma
pessoa citada na delação. Isso porque o acordo é personalíssimo e, por si só, não vincula o
delatado nem afeta diretamente sua situação jurídica. O que poderá atingir eventual
corréu delatado são as imputações posteriores, constantes do depoimento do colaborador.
A personalidade do colaborador ou o fato de ele já ter descumprido um acordo anterior de
colaboração premiada não têm o condão de invalidar o acordo atual. Não importa a
idoneidade do colaborador, mas sim a idoneidade das informações que ele fornecer e isso
ainda será apurado no decorrer do processo.
STF. Plenário. HC 127483/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26 e 27/8/2015 (Info 796).
COLABORAÇÃO PREMIADA
CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA
- Colaboração premiada é um instituto previsto na legislação por meio do qual...
- um investigado ou acusado da prática de infração penal
- decide confessar a prática do delito
- e, além disso, aceita colaborar com a investigação ou com o processo
A colaboração premiada possui natureza jurídica de "meio de obtenção de prova" (art. 3º, I, da Lei nº
12.850/2013). Chamo atenção para esse fato: a colaboração premiada não é um meio de prova
propriamente dito. A colaboração premiada não prova nada (ela não é uma prova). A colaboração
premiada é um meio, uma técnica, um instrumento para se obter as provas.
Enquanto os meios de prova são aptos a servir, diretamente, ao convencimento do juiz sobre a
veracidade ou não de uma afirmação fática (p. ex., o depoimento de uma testemunha, ou o teor de uma
escritura pública), os meios de obtenção de provas (p. ex.: uma busca e apreensão) são instrumentos para
a colheita de elementos ou fontes de provas, estes sim, aptos a convencer o julgador (p. ex.: um extrato
bancário [documento] encontrado em uma busca e apreensão domiciliar). Ou seja, enquanto o meio de
prova se presta ao convencimento direto do julgador, os meios de obtenção de provas somente
indiretamente, e dependendo do resultado de sua realização, poderão servir à reconstrução da história
dos fatos BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de Janeiro. Campus: Elsevier. 2012, p. 270).
PREVISÃO NORMATIVA
Podemos encontrar algumas previsões embrionárias de colaboração premiada em diversos dispositivos
legais esparsos. Confira a relação:
Código Penal (arts. 15, 16, 65, III, 159, § 4º);
Crimes contra o Sistema Financeiro – Lei 7.492/86 (art. 25, § 2º);
Crimes contra a Ordem Tributária – Lei 8.137/90 (art. 16, parágrafo único);
Lei dos Crimes Hediondos – Lei 8.072/90 (art. 8º, parágrafo único);
Convenção de Palermo – Decreto 5.015/2004 (art. 26);
Lei de Lavagem de Dinheiro – Lei 9.613/98 (art. 1º, § 5º);
Lei de Proteção às Testemunhas – Lei 9.807/99 (arts. 13 a 15);
Lei de Drogas – Lei 11.343/2006 (art. 41);
Lei Antitruste – Lei 12.529/2011 (art. 87, parágrafo único).
O instituto, no entanto, foi tratado com maior riqueza de detalhes pela Lei nº 12.850/2013 (Lei do Crime
Organizado), em seus arts. 4º a 7º. Este é, atualmente, o diploma que rege, de forma geral, a colaboração
premiada em nosso país, razão pela qual a explicação abaixo será feita com base nesta Lei.
NOMENCLATURA
Normalmente, encontramos na doutrina e jurisprudência, a te i ologia delação p e iada .
A Lei .8 / , o e ta to, utilizou a exp essão ola o ação p e iada . Existe alguma diferença?
SIM. Para parcela da doutrina, a nomenclatura "colaboração premiada" é mais ampla, devendo ser
considerada como um gênero, do qual uma das suas espécies é a delação premiada.
A delação premiada ocorre quando o investigado ou acusado colabora com as autoridades delatando os
comparsas, ou seja, apontando as outras pessoas que também praticaram as infrações penais.
Desse modo, como já dito, a delação é uma forma de exercer a colaboração premiada. Existem, contudo,
outras espécies, conforme será visto mais a frente.
Exemplo de colaboração premiada que não é delação premiada: o autor confessa a prática do crime e não
delata nenhum comparsa. No entanto, ele fornece todas as informações necessárias para que as
autoridades recuperem o dinheiro desviado com o esquema criminoso e que se encontrava em contas
bancárias no exterior.
Assim, toda delação premiada é uma forma de colaboração premiada, mas nem sempre a colaboração
premiada será feita por meio de uma delação premiada.
CRÍTICAS E IMPORTÂNCIA
A delação premiada é criticada por alguns doutrinadores. O argumento é o de que, por meio deste
expediente, o Estado estaria incentivando uma conduta antiética por parte do delator, qual seja, a traição.
Afirma-se, ainda, que a colaboração premiada seria uma forma de o Poder Público barganhar com os
criminosos, postura que não seria adequada.
A posição majoritária, contudo, e a meu ver, mais razoável, é aquela que defende que, em uma
ponderação de interesses, a delação premiada é medida indispensável ao combate da criminalidade
organizada, sendo, portanto, legítima, já que não viola nenhum direito ou garantia fundamental. Veja a
opinião de Nucci:
... pa e e-nos que a delação premiada é um mal necessário, pois o bem maior a ser tutelado é o
Estado Democrático de Direito. Não é preciso ressaltar que o crime organizado tem ampla
penetração nas entranhas estatais e possui condições de desestabilizar qualquer democracia, sem
que se possa combatê-lo, com eficiência, desprezando-se a colaboração daqueles que conhecem o
esquema e dispõem-se a denunciar co-autores e partícipes. No universo de seres humanos de bem,
sem dúvida, a traição é desventurada, mas não cremos que se possa dizer o mesmo ao
transferirmos nossa análise para o âmbito do crime, por si só, desregrado, avesso à legalidade,
contrário ao monopólio estatal de resolução de conflitos, regido por leis esdrúxulas e extremamente
severas, totalmente distante dos valores regentes dos di eitos hu a os fu da e tais. NUCCI,
Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e execução penal. São Paulo: RT, 2008, p. 418).
Ademais, se o Estado não pudesse contar (e incentivar) a delação por parte dos comparsas, dificilmente
seria possível desmantelar organizações criminosas poderosas, com estrutura hierarquizada de poder, nas
quais o chefe da ORCRIM raramente pratica os atos criminosos pessoalmente, valendo-se sempre de
interpostas pessoas e ordens reservadas. Se um integrante da organização for preso e o Poder Público não
tiver autorização para incentivar a delação dos demais membros, o grupo criminoso estará sempre se
renovando, além do que somente serão punidos os componentes de baixo escalão do crime organizado.
A história revela que o instituto da delação premiada foi imprescindível para que a Itália conseguisse punir
algu s i teg a tes do g upo afioso si ilia o o he ido o o Cosa Nost a a ha ada Ope ação
Mãos Li pas . U dos afiosos, To aso Bus etta, após se p eso, ele ou acordo com o Procuratore
Della Repubblica Giovanni Falcone, aceitando delatar seus comparsas e revelar toda a estrutura e os
planos da organização criminosa.
1) Identificar os demais coautores e partícipes da organização criminosa e as infrações penais por eles
praticadas.
4) Recuperar total ou parcialmente o produto ou o proveito das infrações penais praticadas pela
organização criminosa.
Obs: reitero que basta que um desses cinco objetivos seja atingido para que o colaborador tenha direito
ao benefício.
MOMENTO
A colaboração premiada e a concessão dos benefícios dela decorrentes podem ocorrer em três momentos:
1) Na fase de investigação criminal (inquérito policial ou investigação conduzida pelo MP);
2) Durante o curso do processo penal (ainda que já em instância recursal);
3) Após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
BENEFÍCIOS
Poderão ser concedidos ao colaborador os seguintes benefícios (prêmios):
1) Não oferecimento da denúncia
Se o acordo de colaboração for firmado ainda na fase de investigação, sendo ele homologado pelo juiz, o
Ministério Público poderá deixar de oferecer a denúncia contra o colaborador. Trata-se de uma exceção ao
princípio da obrigatoriedade, segundo o qual, havendo justa causa, o MP é obrigado a oferecer a denúncia.
Para que o MP deixe de oferecer a denúncia contra o colaborador é necessário o preenchimento dos
seguintes requisitos:
a) A colaboração deve ser efetiva e voluntária;
b) O colaborador não pode ser o líder da organização criminosa;
c) O colaborador deve ter sido o primeiro a prestar efetiva colaboração.
3) Redução da pena
Outro benefício previsto ao colaborador é a redução da pena que lhe for imposta.
Se a colaboração ocorrer antes da sentença, ou seja, se a pessoa decidir colaborar antes de ser
julgada: sua pena poderá ser reduzida em até 2/3.
Se a colaboração ocorrer após a sentença, ou seja, se a pessoa decidir colaborar apenas depois de ser
condenada: sua pena poderá ser reduzida em até metade (1/2).
5) Progressão de regime
Para que ocorra a progressão de regime, o réu deverá ter cumprido determinado tempo de pena. A isso
chamamos de requisito objetivo da progressão.
Para crimes comuns: o requisito objetivo consiste no cumprimento de 1/6 da pena aplicada.
Para crimes hediondos ou equiparados, o requisito objetivo representa o cumprimento de:
• / da pe a se fo p i á io.
• / da pe a se fo ei ide te.
Se o réu já estiver condenado e cumprindo pena e decidir colaborar, ele poderá receber como "prêmio" a
progressão de regime ainda que não tenha atingido o requisito objetivo (§ 5º do art. 4º).
O STF entende que, caso a colaboração seja efetiva e produza os resultados almejados, o colaborador tem
direito subjetivo à aplicação das sanções premiais estabelecidas no acordo, inclusive de natureza
patrimonial (HC 127483/PR).
DIREITOS DO COLABORADOR
O art. 5º da Lei 12.850/2013 prevê os seguintes direitos ao colaborador:
I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica (Lei nº 9.807/99);
II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados;
III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes;
IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados;
O Delegado de Polícia pode negociar e assinar acordo de colaboração premiada com o colaborador
(assistido por seu defensor), enviando depois esse termo para ser homologado pelo juiz? A autoridade
policial tem legitimidade para celebrar o acordo de colaboração premiada?
Na proposta encaminhada ao Judiciário já deverá ser especificado o benefício que deverá ser concedido ao
colaborador (ex: redução de 2/3 da pena). Deve-se esclarecer, contudo, que o magistrado não está
vinculado aos termos da proposta, podendo adequá-la ao caso concreto (§ 8º do art. 4º).
Ocorre que, após celebrado, o pacto somente terá eficácia processual se for homologado pelo juiz.
Art. 4º (...) § 8º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais, ou
adequá-la ao caso concreto.
"A homologação não representa juízo de valor sobre as declarações eventualmente já prestadas pelo
colaborador à autoridade judicial ou ao Ministério Público." (Min. Dias Toffoli, no HC 127483/PR). Isso
significa que, quando o juiz homologa o acordo de colaboração premiada, não significa que esteja
concordando ou afirmando que as declarações prestadas pelo colaborador são verdadeiras. Tais
declarações ainda serão objeto de apuração.
7) Recusa à homologação
O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso
concreto.
Na análise da homologação, o juiz deverá se ater ao exame da regularidade, legalidade e voluntariedade
do acordo. Assim, não pode o magistrado imiscuir-se em questões de discricionariedade investigatória ou
fazer incursões sobre a conveniência e oportunidade da colaboração premiada. Esta não é sua
competência.
Recurso contra a decisão do juiz que recusa a homologação do acordo: a lei não prevê. Diante desse
silêncio, a doutrina afirma que cabe, por analogia, recurso em sentido estrito (art. 581, I, do CPP). Nesse
sentido: Pacelli.
9) Oitiva do colaborador
Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser
ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo Delegado de Polícia responsável pelas investigações.
Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a
requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.
Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será feito pelos meios ou recursos de gravação
magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade
das informações.
RETRATAÇÃO DA PROPOSTA
Mesmo após a proposta ter sido aceita, alguma das partes pode voltar atrás e se retratar?
SIM. Segundo o § 10 do art. 4º, as partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas
autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu
desfavor.
VALOR PROBATÓRIO DA COLABORAÇÃO: DECLARAÇÕES DO COLABORADOR DEVEM SER CORROBORADAS COM OUTRAS PROVAS
Segundo o § 16 do art. 4º da Lei, nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas
nas declarações de agente colaborador.
Assim, as declarações do colaborador deverão ser corroboradas por outros elementos de prova.
Em verdade, mesmo que não houvesse tal previsão, é certo que, para a jurisprudência, a simples delação
do corréu não é suficiente para uma condenação.
"Daí a importância daquilo que a doutrina chama de regra da corroboração, ou seja, que o colaborador
traga elementos de informação e de prova capazes de confirmar suas declarações (v.g., indicação do
produto do crime, de contas bancárias, localização do produto direto ou indireto da infração penal, auxílio
para identificação de números de telefone a serem grampeados ou na realização de interceptação
ambiental etc.)." (LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada. Salvador:
Juspodivm, 2015, p. 545).
Personalidade do colaborador
A personalidade do colaborador ou o fato de ele já ter descumprido um acordo anterior de colaboração
premiada não têm o condão de invalidar o acordo atual.
Não importa a idoneidade do colaborador, mas sim a idoneidade das informações que ele fornecer e isso
ainda será apurado no decorrer do processo.
Os delatores são pessoas envolvidas em delitos, tanto que também estão sendo acusados. Assim, em
regra, são indivíduos que não têm bons antecedentes criminais e apresentam personalidade desajustada
ao convívio social. Dessa forma, se a colaboração processual estivesse subordinada à boa personalidade do
colaborador, o instituto teria poucos efeitos práticos e quase nenhum acordo seria aceito.
Segundo a Lei nº 12.850/2013, a personalidade do colaborador irá influenciar apenas na escolha do
benefício que será concedido a ele (art. 4º, § 1º), mas não interfere na validade do acordo de colaboração.
O ue i po ta ão é a o fia ça do pode pú li o o age te ola o ado . O ue interessa é a análise da
idoneidade e utilidade das informações prestadas por ele, o que será aferido apenas posteriormente, no
curso do processo.
NULIDADES
Julgamento adiado e intimação de julgamento a ser realizado no dia seguinte
A Defensoria Pública, ao tomar ciência de que o processo será julgado em data determinada ou
nas sessões subsequentes, não pode alegar cerceamento de defesa ou nulidade de julgamento
quando a audiência não realizada no dia previamente marcado, ocorrer no dia seguinte à nova
intimação.
Ex: no dia 17/06/2014, o Defensor Público se fez presente para realizar a sustentação oral, no
entanto, não houve tempo para julgamento do recurso e este foi adiado sem que fosse informada
nova data. No dia 15/09/2014, o Defensor Público foi intimado pessoalmente de uma lista de 90
processos que seriam julgados no dia seguinte, entre eles a apelação que havia sido adiada. No
dia 16/09/2014, o recurso foi julgado sem que o Defensor Público tenha comparecido para fazer
a sustentação oral. Entendeu-se que não houve qualquer nulidade, já que a Defensoria Pública
foi intimada quanto à nova inclusão dos autos para julgamento em sessão do dia seguinte e
mesmo assim não requereu adiamento ou qualquer outra providência.
STF. 1ª Turma. HC 126081/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
Imagine a seguinte situação adaptada:
João foi condenado em 1ª instância e interpôs apelação por intermédio da Defensoria Pública.
No recurso, o Defensor Público pediu para fazer sustentação oral.
O Relator deferiu o pedido de sustentação oral e pautou o julgamento da apelação, proferindo o seguinte
despacho:
"Defiro o pedido de sustentação oral formulado pela Defensoria Pública e informo que o recurso será
julgado na Sessão do dia 17 de junho de 2014 ou sessões subsequentes".
No dia 17/06/2014, o Defensor Público se fez presente para realizar a sustentação oral, no entanto, não
houve tempo para julgamento do recurso e este foi adiado sem que fosse informada nova data.
No dia 15/09/2014, o Defensor Público foi intimado pessoalmente de uma lista de 90 processos que
seriam julgados no dia seguinte, entre eles a apelação que havia sido adiada.
No dia 16/09/2014, o recurso foi julgado sem que o Defensor Público tenha comparecido para fazer a
sustentação oral.
Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17
Houve nulidade no julgamento do recurso?
NÃO. A Defensoria Pública, ao tomar ciência de que o processo será julgado em data determinada ou nas
sessões subsequentes, não pode alegar cerceamento de defesa ou nulidade de julgamento quando a
audiência não realizada no dia previamente marcado, ocorrer no dia seguinte à nova intimação.
Entendeu-se que a Defensoria Pública foi intimada quanto à nova inclusão dos autos para julgamento em
sessão do dia seguinte e mesmo assim não requereu adiamento ou qualquer outra providência.
HABEAS CORPUS
Cabimento de HC contra ato de Ministro do STF
Mudança de entendimento!
É cabível habeas corpus em face de decisão monocrática proferida por Ministro do STF.
STF. Plenário. HC 127483/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26 e 27/8/2015 (Info 796).
Imagine que um Ministro do STF, em um processo que lá tramita, profere decisão monocrática
("sozinho") contrária a um investigado ou réu, neste caso caberá habeas corpus contra essa decisão? É
cabível HC contra decisão monocrática de Ministro do STF?
SIM. É cabível HC em face de decisão monocrática de Ministro do STF.
Se não fosse admitido HC neste caso haveria uma violação ao princípio da inafastabilidade da jurisdição
(art. 5º, XXXV, da CF/88) e ao próprio ideário de p oteção do ha eas o pus .
Ressalte-se que, se a parte quiser, em vez de impetrar HC, poderá interpor agravo regimental contra a
decisão monocrática do Ministro.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 24 a 28 de agosto de 2015
CLIPPING DO D JE
24 a 28 de agosto de 2015
HC N. 127.158-MG
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Habeas corpus. Penal e Processual Penal. Recurso especial. Revaloração do conjunto fático-probatório. Admissibilidade. Hipótese
que não se confunde com reexame de provas. Precedentes. Estupro (art. 213, § 1º, do CP). Pena. Dosimetria. Continuidade delitiva (art. 71,
CP). Majoração da pena no máximo legal de 2/3 (dois terços). Admissibilidade. Delitos praticados durante 6 (seis) anos contra a mesma
vítima. Imprecisão quanto ao número de crimes. Irrelevância. Dilatado lapso temporal que obsta a incidência do aumento em apenas 1/6
(um sexto). Ordem denegada.
1. A revaloração de elementos fático-jurídicos, em sede de recurso especial, não se confunde com reapreciação de matéria probatória, por se tratar de
quaestio juris, e não de quaestio facti. Precedentes.
2. Na espécie, toda a matéria fática foi bem retratada na sentença e no acórdão do tribunal local, razão por que se limitou o Superior Tribunal de
Justiça a emprestar-lhe a correta consequência jurídica.
3. Segundo pacífica jurisprudência da Suprema Corte, o quantum de exasperação da pena, por força da continuidade delitiva, deve ser proporcional
ao número de infrações cometidas. Precedentes.
4. A imprecisão quanto ao número de crimes praticados não obsta a aplicação da causa de aumento de pena da continuidade delitiva no patamar
máximo de 2/3 (dois terços), desde que haja elementos seguros que demonstrem que vários foram os delitos perpetrados ao longo de dilatado lapso
temporal.
5. Ordem denegada.
*noticiado no Informativo 791
AG. REG. NO AI N 682.983-RS
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PARCELAMENTO. EXTENSÃO ÀS EMPRESAS PRIVADAS.
IMPOSSIBILIDADE. TAXA SELIC. DÉBITO TRIBUTÁRIO. POSSIBILIDADE. MULTA MORATÓRIA. CARÁTER CONFISCATÓRIO
RECONHECIDO. REDUÇÃO PARA 20%.
1. O Supremo Tribunal Federal já assentou a ausência de repercussão geral da controvérsia relativa à violação aos princípios do contraditório, da
ampla defesa, do devido processo legal e dos limites da coisa julgada, quando o julgamento da causa depender de prévia análise da adequada
aplicação de normas infraconstitucionais (ARE 748.371-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes).
2. Esta Corte já decidiu pela impossibilidade de extensão do parcelamento de débito previdenciário em 240 meses, previsto na Lei nº 8.620/1993, às
empresas do setor privado, porquanto o Poder Judiciário não pode atuar como legislador positivo.
3. Nos termos do entendimento fixado nos autos do RE 582.461-RG, julgado sob relatoria do Ministro Gilmar Mendes, a utilização da Taxa Selic
como índice de atualização de débitos tributários não contraria qualquer preceito constitucional.
4. A aplicação de multa moratória acima do patamar de 20% detém caráter confiscatório. Trata-se de montante que se coaduna com a ideia de que a
impontualidade é uma falta menos grave, aproximando-se, inclusive, do valor que um dia já foi positivado na Constituição.
5. Agravo regimental a que se dá parcial provimento para determinar a redução da multa moratória para 20% (vinte por cento) sobre o valor do
tributo.
RHC N 128.281-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. POSSE DE ACESSÓRIO DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO. ART. 16 DA
LEI 10.826/2003. BUSCA E APREENSÃO. ILICITUDE DA PROVA. INOCORRÊNCIA. CRIME PERMANENTE. FLAGRANTE DELITO.
CRIME DE MERA CONDUTA E DE PERIGO ABSTRATO. IRRELEVÂNCIA DA POTENCIALIDADE LESIVA DO ARTEFATO.
DESCRIMINALIZAÇÃO TEMPORÁRIA PREVISTA NOS ARTIGOS 30 E 32 DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO. PRORROGAÇÃO DO
PRAZO CONFERIDO PELAS LEIS 11.706/2008 E 11.922/2009. ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.
1. Busca e apreensão autorizada judicialmente em propriedade rural, compreendida por seus vários imóveis. Inocorrência de ilicitude da prova por
ofensa ao princípio da inviolabilidade do domicílio.
2. Ademais, havendo fundada suspeita, a busca domiciliar nos crimes permanentes se justifica em decorrência do flagrante delito. Inexistência de
ingresso abusivo e constatação posterior de crime permanente.
3. A posse de arma de fogo de uso restrito, de seus acessórios ou de munições constitui crime de mera conduta e de perigo abstrato cujo objeto
jurídico tutelado compreende a segurança coletiva e a incolumidade pública.
4. Presente laudo especificando o modelo do silenciador de uso restrito, desnecessária a realização de perícia a comprovar a potencialidade lesiva do
acessório para configuração do delito.
5. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a descriminalização temporária prevista nos arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento, com a
redação conferida pela Lei 11.706/2008, restringe-se ao delito de posse irregular de arma de fogo de uso permitido (art. 12) e não se aplica à conduta
do art. 16 da Lei 10.826/2003.
6. Recurso ordinário a que se nega provimento.
AG. REG. NO RHC N 127.725-DF
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
24 a 28 de agosto de 2015
OUTRAS INFORMAÇÕES
24 a 28 de agosto de 2015
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE
635659/SP; Inq 3731/DF.
ÍNDICE
DIREITO PROCESSUAL PENAL
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Constitucionalidade do Provimento do TJ que regulamentou a audiência de custódia.
Anulação da pronúncia por excesso de linguagem.
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Constitucionalidade do Provimento do TJ que regulamentou a audiência de custódia
Importante!!!
Audiência de custódia consiste no direito que a pessoa presa em flagrante possui de ser
conduzida (levada), sem demora, à presença de uma autoridade judicial (magistrado) que irá
analisar se os direitos fundamentais dessa pessoa foram respeitados (ex: se não houve
tortura), se a prisão em flagrante foi legal e se a prisão cautelar deve ser decretada ou se o
preso poderá receber a liberdade provisória ou medida cautelar diversa da prisão.
A audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), que
ficou conhecida como "Pacto de San Jose da Costa Rica", promulgada no Brasil pelo Decreto
678/92 e ainda não regulamentada em lei no Brasil.
Diante dessa situação, o TJSP editou o Provimento Conjunto nº 03/2015 regulamentando a
audiência de custódia no âmbito daquele Tribunal.
O STF entendeu que esse Provimento é constitucional porque não inovou na ordem jurídica,
mas apenas explicitou conteúdo normativo já existente em diversas normas da CADH e do CPP.
Por fim, o STF afirmou que não há que se falar em violação ao princípio da separação dos
poderes porque não foi o Provimento Conjunto que criou obrigações para os delegados de
polícia, mas sim a citada convenção e o CPP.
STF. Plenário. ADI 5240/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/8/2015 (Info 795).
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Conceito
Audiência de custódia consiste...
- no direito que a pessoa presa em flagrante possui
- de ser conduzida (levada),
Previsão
A audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), que ficou
conhecida como "Pacto de San Jose da Costa Rica", promulgada no Brasil pelo Decreto 678/92.
Veja o que diz o artigo 7º, item 5, da Convenção:
Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal
(...)
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra
autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais (...)
Segundo entende o STF, os tratados internacionais de direitos humanos que o Brasil foi signatário
incorporam-se em nosso ordenamento jurídico com status de norma jurídica supralegal (RE 349.703/RS,
DJe de 5/6/2009). Desse modo, na visão do STF, a Convenção Americana de Direitos Humanos é norma
jurídica no Brasil, hierarquicamente acima de qualquer lei ordinária ou complementar, só estando abaixo,
portanto, das normas constitucionais.
Obs: na época em que a CADH foi aprovada no Brasil, ainda não havia a previsão do § 3º do art. 5º da CF/88.
Regulamentação
Apesar de existir um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional (PLS nº 554/2011), o certo é que a
audiência de custódia ainda não foi regulamentada por lei no Brasil. Isso significa que não existe uma lei
estabelecendo o procedimento a ser adotado para a realização dessa audiência.
Diante desse cenário, e a fim de dar concretude à previsão da CADH, recentemente, alguns Tribunais de
Justiça, incentivados pelo CNJ, passaram a regulamentar a audiência de custódia por meio de atos internos
exarados pelos próprios Tribunais (provimentos e resoluções).
Qual é a amplitude da expressão "sem demora" prevista na CADH? Em até quanto tempo a pessoa presa
deverá ser levada para a audiência de custódia?
Não existe uma previsão específica de tempo na CADH. A doutrina majoritária defende, contudo, que esse
prazo deve ser de 24 horas, aplicando-se, subsidiariamente, a regra do § 1º do art. 306 do CPP.
Esse foi o prazo adotado pelo PLS nº 554/2011, em tramitação no Congresso Nacional.
O STF concordou com os argumentos da ADEPOL? A audiência de custódia disciplinada por meio de ato
do Tribunal de Justiça é inconstitucional?
NÃO. O STF julgou improcedente a ADI proposta.
A Corte afirmou que o artigo 7º, item 5, da Convenção Americana de Direitos Humanos, por ter caráter
supralegal, sustou os efeitos de toda a legislação ordinária conflitante com esse preceito convencional. Em
outras palavras, a CADH inovou o ordenamento jurídico brasileiro e passou a prever expressamente a
audiência de custódia.
Ademais, a apresentação do preso ao juiz está intimamente ligada à ideia da garantia fundamental de
li e dade, ual seja, o ha eas o pus . A ess ia desse e dio onstitucional, portanto, está
justamente no contato direto do juiz com o preso, para que o julgador possa, assim, saber do próprio
detido a razão pela qual fora preso e em que condições se encontra encarcerado. Justamente por isso, o
CPP estabelece que e e ida a petição de ha eas o pus , o juiz, se julga e essá io, e estive p eso o
paciente, mandará que este lhe seja imediatamente apresentado e dia e ho a ue desig a (a t. 656).
Desse modo, o STF entendeu que o Provimento Conjunto do TJSP não inovou na ordem jurídica, mas
apenas explicitou conteúdo normativo já existente em diversas normas da CADH e do CPP.
Por fim, o STF afirmou que não há que se falar em violação ao princípio da separação dos poderes porque
não foi o Provimento Conjunto que criou obrigações para os delegados de polícia, mas sim a citada
convenção e o CPP.
TRIBUNAL DO JÚRI
Anulação da pronúncia por excesso de linguagem
Quais são os crimes dolosos contra a vida (de competência do Tribunal do Júri)?
homicídio (art. 121 do CP);
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122 do CP);
infanticídio (art. 123 do CP);
aborto em suas três espécies (arts. 124, 125 e 126 do CP).
EXERCÍCIOS
(JUIZ TJSC 2015) O excesso de linguagem reconhecido acarreta a anulação da decisão de pronúncia ou do acórdão que
incorreu no mencionado vício. Assim, conforme já decidiu o STF, deverá ser providenciado o desentranhamento e
envelopamento da respectiva peça processual, para evitar que o jurado tenha acesso à tal peça processual. ( ) E
Gabarito
1. E
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 17 a 21 de agosto de 2015
CLIPPING DO D JE
17 a 21 de agosto de 2015
MS N 33.092-DF
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Mandado de Segurança. 2. Tribunal de Contas da União. Tomada de contas especial. 3. Dano ao patrimônio da Petrobras. Medida cautelar de
indisponibilidade de bens dos responsáveis. 4. Poder geral de cautela reconhecido ao TCU como decorrência de suas atribuições constitucionais. 5.
Observância dos requisitos legais para decretação da indisponibilidade de bens. 6. Medida que se impõe pela excepcional gravidade dos fatos
apurados.Segurança denegada.
*noticiado no Informativo 779
ADI N 5.081-DF
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO Nº 22.610/2007 DO
TSE. INAPLICABILIDADE DA REGRA DE PERDA DO MANDATO POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA AO SISTEMA ELEITORAL
MAJORITÁRIO.
1. Cabimento da ação. Nas ADIs 3.999/DF e 4.086/DF, discutiu-se o alcance do poder regulamentar da Justiça Eleitoral e sua competência para dispor
acerca da perda de mandatos eletivos. O ponto central discutido na presente ação é totalmente diverso: saber se é legítima a extensão da regra da
fidelidade partidária aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário.
2. As decisões nos Mandados de Segurança 26.602, 26.603 e 26.604 tiveram como pano de fundo o sistema proporcional, que é adotado para a
eleição de deputados federais, estaduais e vereadores. As características do sistema proporcional, com sua ênfase nos votos obtidos pelos partidos,
tornam a fidelidade partidária importante para garantir que as opções políticas feitas pelo eleitor no momento da eleição sejam minimamente
preservadas. Daí a legitimidade de se decretar a perda do mandato do candidato que abandona a legenda pela qual se elegeu.
3. O sistema majoritário, adotado para a eleição de presidente, governador, prefeito e senador, tem lógica e dinâmica diversas da do sistema
proporcional. As características do sistema majoritário, com sua ênfase na figura do candidato, fazem com que a perda do mandato, no caso de
mudança de partido, frustre a vontade do eleitor e vulnere a soberania popular (CF, art. 1º, parágrafo único; e art. 14, caput).
4. Procedência do pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade.
*noticiado no Informativo 787
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais aprofundada do
pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham despertado ou possam despertar de
modo especial o interesse da comunidade jurídica.
LEI – APLICAÇÃO NO TEMPO – TRIBUTO – IRRETROATIVIDADE. Lei regedora de tributo há de ser editada em certo exercício, para
observância no subsequente.
BALANÇO – CORREÇÃO MONETÁRIA – EXERCÍCIO DE 1989 – ARTIGO 30, § 2º, DA LEI Nº 7.799/89. Ante o princípio da
irretroatividade, surge inconstitucional o § 2º do artigo 30 da Lei nº 7.799/89, no que impôs a correção monetária das demonstrações
financeiras referentes ao exercício de 1989.
RELATÓRIO: O Tribunal Regional Federal da 4ª Região acolheu pedido formulado em apelação, sufragando tese assim sintetizada na ementa do
acórdão de folha 247 a 250:
CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. CORREÇÃO MONETÁRIA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
DO EXERCÍCIO DE 1989. LEI Nº 7.799/89, arts. 2º e 3º. Constitucionalidade da exigência. Recurso provido (folha 250).
Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
III – Cobrar tributos:
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
Conforme salientado pela melhor doutrina – Geraldo Ataliba e Roque Antônio Carraza –, o princípio da irretroatividade da norma há de ser
perquirido e preservado no âmbito da eficácia, dos resultados provocados pelas leis. Fatos anteriores à Lei nº 7.799/89, a demonstração financeira tal
como resultante da lei revogada – nº 7.730, de 31 de janeiro de 1989 –, não podem ser apanhados por diploma a eles posterior, sob pena de solapar o
sistema voltado à preservação da segurança jurídica.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
17 a 21 de agosto de 2015
Medida Provisória nº 688, de 18.8.2015 - Dispõe sobre a repactuação do risco hidrológico de geração de energia
elétrica, institui a bonificação pela outorga e altera a Lei n o 10.848, de 15 de março de 2004, que dispõe sobre a
comercialização de energia elétrica, a Lei no 12.783, 11 de janeiro de 2013, que dispõe sobre as concessões de energia
elétrica, e a Lei no 9.478, de 6 de agosto de 1997, que institui o Conselho Nacional de Política Energética. Publicada no
DOU, Seção 1, Edição Extra, p.2, em 18.8.2015.
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 5326 MC/DF; ADI 4983/CE.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Imposição de obras emergenciais em estabelecimento prisional.
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Imposição de obras emergenciais em estabelecimento prisional
Importante!!!
É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na
promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais
para dar efetividade ao postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o
respeito à sua integridade física e moral, nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF, não
sendo oponível à decisão o argumento da reserva do possível nem o princípio da separação
dos poderes.
STF. Plenário. RE 592581/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/8/2015 (Info 794).
Reserva do possível
A cláusula da reserva do possível somente seria oponível se ficasse demonstrado objetivamente, pelo
Poder Público, um justo motivo para não realizar o mandamento constitucional.
Ademais, não cabe falar em falta de recursos, tendo em vista que o Fundo Penitenciário Nacional dispõe
de verbas da ordem de R$ 2,3 bilhões, e para usá-los basta que os entes federados apresentem projetos e
firmem convênios para realizar obras. Desse modo, o que falta é vontade para a implementação das
políticas e para enfrentar o problema.
Informativo 794-STF (19/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DO D JE
10 a 14 de agosto de 2015
AG. REG. NOS EMB. DIV. NOS EMB. DECL. NO AG. REG. NO ARE N. 845.201-RS
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
E M E N T A: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA – DESCUMPRIMENTO, PELA PARTE EMBARGANTE, DO DEVER PROCESSUAL DE
PROCEDER AO CONFRONTO ANALÍTICO DETERMINADO NO ART. 331 DO RISTF – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL –
COMPETÊNCIA NORMATIVA PRIMÁRIA (CF/69, ART. 119, § 3º, “c”) – POSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL, SOB A ÉGIDE DA CARTA
FEDERAL DE 1969, DE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL DISPOR, EM SEDE REGIMENTAL, SOBRE NORMAS DE DIREITO
PROCESSUAL – RECEPÇÃO, PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988, DE TAIS PRECEITOS REGIMENTAIS COM FORÇA E EFICÁCIA DE
LEI (RTJ 147/1010 – RTJ 151/278) – PLENA LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO ART. 331 DO RISTF – RECURSO DE AGRAVO
IMPROVIDO.
– A parte embargante, sob pena de recusa liminar de processamento dos embargos de divergência – ou de não conhecimento destes, quando já
admitidos – deve demonstrar, de maneira objetiva, mediante análise comparativa entre o acórdão paradigma e a decisão embargada, a existência
do alegado dissídio jurisprudencial, impondo-se-lhe reproduzir, na petição recursal, para efeito de caracterização do conflito interpretativo, os
trechos que configurariam a divergência indicada, mencionando, ainda, as circunstâncias que identificariam ou que tornariam assemelhados os
casos em confronto. Precedentes.
– O Supremo Tribunal Federal, sob a égide da Carta Política de 1969 (art. 119, § 3º, “c”), dispunha de competência normativa primária para, em
sede meramente regimental, formular normas de direito processual concernentes ao processo e ao julgamento dos feitos de sua competência
originária ou recursal. Com a superveniência da Constituição de 1988, operou-se a recepção de tais preceitos regimentais, que passaram a
ostentar força e eficácia de norma legal (RTJ 147/1010 – RTJ 151/278), revestindo-se, por isso mesmo, de plena legitimidade constitucional a
exigência de pertinente confronto analítico entre os acórdãos postos em cotejo (RISTF, art. 331).
RELATÓRIO: Trata-se de habeas corpus , com pedido de medida liminar, impetrado pela Defensora Pública do Estado do Rio de Janeiro **, em
favor de **, contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que negou provimento ao Agravo Regimental no Agravo em
Recurso Especial 1.444.825/RJ.
O paciente cumpre pena privativa de liberdade em regime semiaberto.
A defesa requereu o benefício de visita periódica à família, nos termos dos arts. 122, inciso I, e 123 da LEP. O requerimento foi deferido. No
despacho, o Juiz fixou, desde logo, calendário com as saídas autorizadas (duas mensais, além de aniversário, páscoa, dia das mães e dos pais, natal e
ano novo).
Irresignado, o Ministério Público interpôs agravo ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, o qual negou provimento ao recurso.
Em seguida, interpôs recurso especial.
A 3ª Vice-Presidência do TJ/RJ, nos termos do artigo 543-C, § 7º, inciso II, do CPC, determinou a remessa dos autos à Câmara de origem, para
reexame da matéria, à luz de acórdão relativo ao recurso-paradigma, e eventual exercício do juízo de retratação ou manutenção do pronunciamento
divergente.
O órgão fracionário manteve seu entendimento. Eis o teor:
“AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. HIPÓTESE ESTABELECIDA NO ARTIGO 543-C,
PARÁGRAFO 7º, INCISO II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
Autos encaminhados pela Terceira Vice-Presidência para reexame da questão, à luz de acórdão relativo ao recurso paradigma.
Eventual exercício do juízo de retratação ou manutenção do pronunciamento divergente. Visita periódica ao lar. Inconformismo relacionado
à forma de fruição do benefício e deferimento automático de saídas temporárias. Acórdão paradigma - REsp n. 1.166.251/RJ - no sentido da
impossibilidade de delegação de função jurisdicional ao administrador do presídio. Entendimento desta Câmara Criminal no sentido de que o
Juízo executório pode conferir ao apenado saídas temporárias anuais para visitação familiar, de forma automática.
Manutenção do pronunciamento deste Órgão fracionário no julgamento do Agravo de Execução Penal em apreço. Sem desconhecer o
teor e os fundamentos da decisão emanada do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do recurso especial representativo da
controvérsia, decidiu-se pela confirmação da decisão proferida pelo Juízo executório, que atende aos objetivos da execução penal, expressos
no artigo 1º da Lei de Execução Penal.
Juízo de retratação não exercido. Devolução dos autos à 3ª Vice-Presidência, na forma do artigo 4º, parágrafo 2º, inciso III, alínea ‘a’
da Resolução TJ/3ª Vice-Presidência n. 03/2009”.
O Superior Tribunal de Justiça, a seu turno, deu provimento ao recurso especial do Ministério Público para cassar o acórdão recorrido e a
decisão que deferiu saídas temporárias automatizadas.
Impugnou-se a decisão por meio de agravo regimental, ao qual foi negado provimento, nos termos do acórdão assim ementado:
“EXECUÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL OFERTADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. SAÍDA
TEMPORÁRIA. CONCESSÃO AUTOMÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Ao julgar sob o rito de ‘recurso repetitivo’ (CPC, art. 543-C) o Recurso Especial n. 1.166.251/RJ, decidiu a Terceira Seção desta
Corte que ‘deve ser afastada a concessão de saídas automatizadas, para que haja manifestação motivada do Juízo da Execução, com
intervenção do Ministério Público, em cada saída temporária’ (Rel. Ministra Laurita Vaz, julgado em 14/03/2012).
2. Agravo regimental desprovido”.
Opostos embargos de declaração, estes foram rejeitados.
No presente habeas corpus, a defesa alegou a ocorrência de violação aos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da
duração razoável do processo. Sustentou que o pedido do benefício de saída temporária levou quase 2 (dois) meses para ser deferido, razão pela qual
se, para cada saída for preciso novo requerimento, o trâmite processual não apenas se prolongará de forma demasiada e desnecessária, como também
será suprimido o direito de o apenado visitar sua família na forma estabelecida pela Lei de Execuções Penais. Pleiteou a concessão da ordem para
restabelecer a decisão da Vara de Execuções Penais que concedeu ao paciente autorização de saída temporária.
A medida liminar foi indeferida (eDOC 22).
OUTRAS INFORMAÇÕES
10 a 14 de agosto de 2015
Decreto nº 8.499, de 12.8.2015 - Altera o Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999, que aprova o Regulamento da
Previdência Social. Publicado no DOU nº 154, Seção 1, p.1, em 13.8.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
SL 883 MC-AgR/RS; ADI 4764/AC; ADI 4747/DF; RE 855178 ED/SE; RE 600867/SP.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto:RE 188083/PR; ACO 478/TO; ADI 3711/ES; HC 112382/RS.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM A CF/88
CE pode proibir que servidores estaduais substituam trabalhadores privados em greve.
PROCESSO LEGISLATIVO
Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo e pertinência temática.
TRIBUNAL DE CONTAS
Análise de aposentadoria e gratificação recebida por força de decisão judicial transitada em julgado.
DIREITO ADMINISTRATIVO
PODER DE POLÍCIA
Poder de polícia de trânsito e guardas municipais.
DIREITO PENAL
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Aplicação em caso de reincidência e furto qualificado.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Ressarcimento do prejuízo em acordo homologado no juízo cível e sua repercussão no processo criminal.
CE estadual pode prever que é proibido que os servidores estaduais substituam trabalhadores
de empresas privadas em greve.
STF. Plenário. ADI 232/RJ, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 5/8/2015 (Info 793).
ADI
O Governador do Estado do RJ, na época, ajuizou ADI contra esse inciso XXIII afirmando que ele seria
inconstitucional porque tratou sobre servidores públicos, invadindo nas matérias de competência do
Poder Executivo sem que a CF/88 tivesse dado essa autorização, já que não há, na Carta Federal, nenhum
dispositivo semelhante que pudesse ser aplicado por simetria para a Carta Estadual.
Oàa t.à ,à§à º,àII,à a eà e , da CF/88, afirma que a competência para legislar sobre o funcionamento da
administração pública é do chefe do Poder Executivo. Tais matérias não podem nem mesmo ser tratadas
na CE porque devem ser propostas pelo chefe do Poder Executivo em leis de sua iniciativa.
Até aí, tudo, bem. O STF afirmou, no entanto, que isso não significa que as Constituições estaduais estão
inteiramente proibidas de tratarem sobre o funcionamento da Administração local. Isso também não
significa que as Constituições estaduais tenham que sempre repetir as mesmas regras da CF/88, não
podendo inovar em nada.
As Constituições estaduais podem tratar sobre o funcionamento da Administração estadual desde que
cumpridos alguns requisitos:
a) as regras de reserva de iniciativa devem ser respeitadas (ex: não pode haver violação ao art. 61, § 1º
da CF/88); e
b) o parlamento local não pode retirar do Governador alguma competência legítima que ele possua.
No caso concreto, o inciso XXIII do art. 77 da CE/RJ proíbe que servidor público estadual seja designado
para substituir trabalhadores de empresas privadas em greve. Embora o preceito esteja relacionado ao
funcionamento da Administração local, ele não invade o campo de discricionariedade política que a
Constituição Federal reserva, com exclusividade, à iniciativa do Governador. Em outras palavras, ele não
trata diretamente de nenhuma das matérias do art. 61, § 1º da CF/88. Além disso, essa regra não viola
nenhum outro dispositivo da CF/88. Assim, essa previsão não apresenta nenhum vício formal.
Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 2
A regra imposta pela CE/RJ coíbe o desvio de função que poderia ser utilizado como forma de frustrar o
direito de greve dos trabalhadores da iniciativa privada. Dessa feita, a Constituição estadual apenas tornou
expresso em seu texto um comportamento administrativo que já proibido pela CF/88.
Vale ressaltar que, segundo apontou o Min. Teori Zavascki, a previsão da CE/RJ não proíbe o deslocamento
de servidores estaduais para o exercício temporário de funções alheias aos correspondentes cargos, desde
que presente uma situação emergencial e isso sejafeito em benefício da Administração.
PROCESSO LEGISLATIVO
Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivoe pertinência temática
REQUISITOS PARA QUE SEJA VÁLIDA A EMENDA PARLAMENTAR A PROJETOS DE LEI DE OUTROS PODERES
O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa privativa do chefe
do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre uma das matérias do art. 61, §
1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser alterado pelos parlamentares?
SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada ao Chefe do
Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88).
Assim, nos projeto de lei de iniciativa do Chefe do Executivo, o parlamentar pode até propor emendas,
mas estas deverão respeitar as restrições trazidas pelo art. 63, I, da CF/88.
TRIBUNAL DE CONTAS
Análise de aposentadoria e gratificação recebida por força de decisão judicial transitada em julgado
O pedido de Maria foi acolhido pelo STF? O TCU violou a coisa julgada?
NÃO. A sentença que reconhece ao trabalhador ou a servidor o direito a determinado percentual de
acréscimo remuneratório deixa de ter eficácia a partir da superveniente incorporação definitiva do
referido percentual nos seus ganhos (STF RE 596.663).
Sendo uma relação de caráter continuativo (todos os meses a servidora recebe aquela remuneração) e
tendo havido superveniente modificação na situação de fato (o referido reajuste foi incorporado, por lei,
aos vencimentos da servidora), essa alteração no status quo produz, de forma imediata e automática, a
cessação da eficácia da decisão acobertada pela coisa julgada. E para essa cessação não é necessária ação
rescisória ou ação revisional.
No caso concreto, o Tribunal de Contas da União observou que a parcela atinente ao percentual de
28,86%, objeto da decisão transitada em julgado em 1996, foi ulteriormente absorvida por
reestruturações remuneratórias na carreira da servidora em virtude de lei editada em 1998.
Assim, com o advento da Lei em 1998, houve significativa mudança no estado de direito, não mais
subsistindo o quadro fático-normativo que deu suporte à decisão judicial transitada em julgado.
A coisa julgada fu io aà segu doà aà l usulaà e usà si à sta ti us ,à ouà seja,à so e teà e ua toà asà oisasà
permanecerem do modo que estão. Se houver modificação na situação de fato, aquela coisa julgada deixa
de produzir seus efeitos. Confira as palavras do Min. Teori Zavascki:
Éài o t ove saàaàp e issaàsegu doàaà ualàaàfo çaàvi ulativaàdaà oisaàjulgadaàatua rebus sic stantibus.
Quer dizer, ao pronunciar juízos de certeza sobre a existência, a inexistência ou o modo de ser das
relações jurídicas, a sentença leva em consideração as circunstâncias de fato e de direito que se
apresentam no momento da sua prolação. Tratando-se de relação jurídica de trato continuado, a eficácia
Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 5
temporal da sentença permanece enquanto se mantiverem inalterados esses pressupostos fáticos e
jurídicos que lhe serviram de suporte (cláusula rebus sic stantibus). Dessa forma, não atenta contra a coisa
julgada a superveniente alteração do estado de direito, em que a nova norma jurídica tem eficácia ex
u ,àse àefeitosà et oativos. à ágRegàM“à . .
Além disso, outro argumento invocado pelo STF foi o de que a decisão judicial transitada em julgado
concedeu o benefício para ser incorporado nos vencimentos da servidora (ou seja, quantia por ela
recebida enquanto estava na ativa). A decisão nada mencionou sobre sua incidência também para efeitos
de proventos da aposentadoria.
DIREITO ADMINISTRATIVO
PODER DE POLÍCIA
Poder de polícia de trânsito e guardas municipais
Importante!!!
As guardas municipais podem realizar a fiscalização de trânsito?
SIM. As guardas municipais, desde que autorizadas por lei municipal, têm competência para
fiscalizar o trânsito, lavrar auto de infração de trânsito e impor multas.
O STF definiu a tese de que é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício do
poder de polícia de trânsito, inclusive para a imposição de sanções administrativas legalmente
previstas (ex: multas de trânsito).
STF. Plenário.RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 6/8/2015 (Info 793).
Mas o art. 144, § 8º, da CF/88, ao tratar sobre as guardas municipais, não fala em trânsito...
Não tem problema. O art. 144, § 8º, da CF/88define as atribuições da guarda municipal, mas não de forma
exaustiva. Assim, esse dispositivo não impede que a guarda municipal receba funções adicionais a ela
outorgadas por meio de lei. Em outras palavras, o § 8º do art. 144 da CF/88 traz um mínimo de atribuições
que são inerentes às guardas municipais, sendo possível, no entanto, que a lei preveja outras atividades a
esse órgão, desde que de competência municipal.
O inciso II fortalece a ideia de que as guardas municipais podem exercer atividades de fiscalização de
trânsito uma vez que as guardas municipais são órgãos municipais estruturados em carreira e criados por
lei. Logo, enquadram-se na previsão do inciso II.
Desse modo, os Municípios podem criar órgãos de trânsito específicos ou, então, submeter esse serviço de
fiscalização de trânsito às guardas municipais.
CONCURSO PÚBLICO
Serventias judiciais disponíveis, mas que estejam su judi e
Nos concursos de cartório, o TJ deverá incluir no edital do certame como vagas as serventias
extrajudiciaisque estão sub judice ?
SIM. O TJ deverá incluir no concurso público as serventias consideradas disponíveis, mas que
estejam sub judice , devendo, no entanto, ser cumpridas duas cautelas:
• O edital do certame deverá informar que as serventias estão sub judice ;
•Tais serventias não poderão ser providas até o trânsito em julgado dos processos judiciais.
STF. 1ª Turma.MS 31228/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/8/2015 (Info 793).
A dúvida que surgiu foi a seguinte: o TJ deverá incluir no edital do certame como vagas as serventias
ext ajudi iais ue estão su judi e ?
SIM. O TJ deverá incluir no concurso público as serventias consideradas disponíveis, mas que estejam sub
judice , devendo, no entanto, ser cumpridas duas cautelas:
Oàeditalàdoà e ta eàdeve ài fo a à ueàasàse ve tiasàest oà su àjudi e ;
Tais serventias não poderão ser providas até o trânsito em julgado dos processos judiciais.
Advertência pública
É indispensável que haja uma adve t iaà pú li aà a e aà daà o diç oà su à judi e à das delegações
ofertadas no concurso, de modo que o candidato se quiser escolhê-la, o fará por sua conta e risco, sem
direito a qualquer reclamação posterior caso o resultado da ação judicial correspondente frustre sua
escolha e seu exercício.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Aplicação em caso de reincidência e furto qualificado
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
ORIGEM
Quem primeiro tratou sobre o princípio da insignificância no direito penal foi Claus Roxin, em 1964.
Esse princípio busca raízes no brocardo civil minimis non curat praetor algoà o oà oàp eto à– magistrado à
época – não cuida de coisas sem importância).
TERMINOLOGIA
Ta à à ha adoàdeà p i ípioàdaà agatela àouà i f aç oà agatela àp óp ia .
PREVISÃOLEGAL
O princípio da insignificância não tem previsão legal no direito brasileiro.
Trata-se de uma criação da doutrina e da jurisprudência.
NATUREZA JURÍDICA
Para a posição majoritária, o princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão da tipicidade
material.
TIPICIDADE MATERIAL
A tipicidade penal divide-se em:
a) Tipicidade formal (ou legal): é a adequação (conformidade) entre a conduta praticada pelo agente e a
conduta descrita abstratamente na lei penal incriminadora.
b) Tipicidade material (ou substancial): é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo
penal.
Verificar se há tipicidade formal significa examinar se a conduta praticada pelo agente amolda-se ao que
está previsto como crime na lei penal.
Verificar se há tipicidade material consiste em examinar se essa conduta praticada pelo agente e prevista
como crime produziu efetivamente lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo penal.
Primeiro se verifica se a conduta praticada pelo agente se enquadra em algum crime descrito pela lei penal.
Se não se amoldar, o fato é formalmente atípico.
Se houver essa correspondência, o fato é formalmente típico.
Apesar disso, na prática, observa-se que, na maioria dos casos, o STF e o STJ negam a aplicação do
princípio da insignificância caso o réu seja reincidente ou já responda a outros inquéritos ou ações penais.
Ex: o STF negou o princípio da insignificância para réu que praticou furto simples de um chinelo avaliado
em R$ 16. Embora o bem tenha sido restituído à vítima, a Corte não aplicou o referido princípio em razão
de ele ser reincidente específico, costumeiro na prática de crimes contra o patrimônio. Segundo afirmou o
Min. Teori Zavascki, a reiteração criminosa do agente faz com que seja alta a carga dereprovabilidade da
conduta, servindo para impedir a concessão do benefício (HC 123.108/MG).
Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 10
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E FURTO QUALIFICADO
É possível aplicar o princípio da insignificância em caso de furto qualificado?
O STF, ao analisar o tema, também afirmou que não é possível fixar uma regra geral sobre o assunto.
A decisão sobre a incidência ou não do princípio da insignificância deve ser feita caso a caso.
STF. Plenário. HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
3/8/2015 (Info 793).
Apesar disso, na prática, observa-se que, na maioria dos casos, o STF e o STJ negam a aplicação do
princípio da insignificância em caso de furto qualificado.
Ex1: réu, em conjunto com outra pessoa, furtou dois sabonetes líquidos avaliados em R$ 40. O STF negou
o princípio da insignificância em razão de ele ter praticado o crime em concurso de agentes, o que
caracteriza furto qualificado, nos termos do art. 155, § 4º, IV, do CP (HC 123.533/SP).
Ex2: réu furtou 15 bombonscaseiros avaliados em R$ 30. O STF negou o princípio da insignificância em
razão de ele ter praticado o crime com rompimento de obstáculo e mediante escalada, o que caracteriza
furto qualificado, nos termos do art. 155, § 4º, I e II, do CP (HC 123.533/SP).
A advogada ficou com o dinheiro recebido pelo cliente e só devolveu a quantia após ser
demandada judicialmente e fazer acordo em ação de cobrança.
Vale ressaltar que, a esta altura, já havia um inquérito policial instaurado para apurar
eventual crime de apropriação indébita.
O STF, com base em peculiaridades do caso concreto, decidiu trancar a ação penal por falta de
justa causa.
Salientou-se que o acordo firmado no juízo cível que colocou fim à pendência ocorreu em
novembro de 2012 e a denúncia só foi formalizada quase um ano após.
Além disso, o juiz do processo cível determinou a comunicação à Delegacia de Polícia sobre o
acordo.
Diante desses fatos, a 1ª Turma entendeu que a situação seria excepcional e suficiente para se
trancar a ação penal.
Entendeu-se que a relação jurídica cível repercute porque o acerto de contas se deu em data
anterior à propositura da ação penal.
STF. 1ª Turma.RHC 125283/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/8/2015 (Info 793).
O fato de ter sido celebrado o acordo no cível produz efeitos na esfera penal?
Legislação: NÃO Decisão da 1ª Turma STF: SIM
Não existe previsão na legislação de que a A 1ª Turma do STF decidiu trancar a ação penal
devolução dos valores, com ressarcimento do por falta de justa causa.
dano, mesmo antes do recebimento da denúncia, Salientou-se que o acordo firmado no juízo cível
afaste o crime de apropriação indébita. que colocou fim à pendência ocorreu em
O STJ também decide neste mesmo sentido, novembro de 2012 e a denúncia só foi formalizada
entendendo que a devolução do bem na apropriação quase um ano após.
indébita, mesmo que antes do recebimento da Além disso, o juiz do processo cível determinou a
denúncia, não afasta o dolo, devendo esse fato ser comunicação à Delegacia de Polícia sobre o acordo.
considerado como mero arrependimento posterior Diante desses fatos, a 1ª Turma entendeu que a
e, portanto, servir apenas para reduzir a pena, nos situação seria excepcional e suficiente para se
termos do art. 16 do CP. trancar a ação penal.
Obs: a decisão acima do STF baseou-se nas peculiaridades do caso concreto e não se pode dizer que isso valha
para todas as situações envolvendo apropriação indébita e restituição da coisa. Apesar disso, é importante você
ficar atento(a) na hora da prova porque pode ser cobrado este julgado de forma específica.
EXECUÇÃO PENAL
Calendário de saídas temporárias (saídas temporárias automatizadas)
Importante!!!
Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária deve ser formulado um
pedido ao juiz que, então, ouve o MP e a administração penitenciária, e, após, decide.
Em algumas partes do Brasil, no entanto, como é o caso do RJ, os juízes da execução penal
adotaram um procedimento para simplificar a concessão dessas saídas temporárias.
Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o juiz ouve o MP e o
diretor do Presídio, e, se estiverem preenchidos os requisitos, concede o benefício. No entanto,
nesta primeira decisão o juiz já fixa um calendário de saídas temporárias.
Desse modo, após o juiz deferir o benefício para o apenado nesta primeira vez, as novas saídas
temporárias deste mesmo reeducando não mais precisarão ser analisadas pelo juiz e pelo MP,
sendo concedidas automaticamente pela direção do Presídio, desde que a situação disciplinar
do condenado permaneça a mesma, ou seja, que ele tenha mantido o comportamento
adequado no cumprimento da pena. Se cometer falta grave, por exemplo, é revogado o
benefício.A esse procedimento simplificado deu-se o nome de saída temporária
automatizada ou calendário de saídas temporárias .
O calendário de saídas temporárias é permitido? A prática da saída temporária automatizada é
válida?
STJ: NÃO. O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional
insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional
(Súmula 520-STJ).
STF: SIM. É legítima a decisão judicial que estabelece calendário anual de saídas
temporárias para visita à família do preso.
STF. 2ª Turma.HC 128763/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/8/2015 (Info 793).
Obs: o juiz pode determinar que, durante a saída temporária, o condenado fique utilizando um
equipamento de monitoração eletrônica (tornozeleira eletrônica).
Obs2: os presos provisórios que já foram condenados (ainda sem trânsito em julgado) e estão cumprindo a
pena no regime semiaberto podem ter direito ao benefício da saída temporária, desde que preencham os
requisitos legais que veremos abaixo.
Previsão
A saída temporária encontra-se disciplinada nos arts. 122 a 125 da Lei n. 7.210/84 (LEP).
Requisitos
A concessão da saída temporária dependerá da satisfação dos seguintes requisitos (art. 123 da LEP):
II - cumprimento mínimo de 1/6 da pena (se for primário) e 1/4 (se reincidente).
Trata-se do requisito objetivo.
Deve-se lembrar que o apenado só terá direito à saída temporária se estiver no regime semiaberto. No
entanto, a jurisprudência permite que, se ele começou a cumprir a pena no regime fechado e depois
progrediu para o semiaberto, aproveite o tempo que esteve no regime fechado para preencher esse
requisito de 1/6 ou 1/4. Em outras palavras, ele não precisa ter 1/6 ou 1/4 da pena no regime semiaberto.
Poderá se valer do tempo que cumpriu no regime fechado para preencher o requisito objetivo.
Co àout asàpalav as,àfoiàissoàoà ueàoà“TJà uisàdize àaoàedita àaà“ú ulaà :à Pa aào te ç oàdosà e efí iosàdeà
saída temporária e trabalho externo, considera-seàoàte poàdeà u p i e toàdaàpe aà oà egi eàfe hado.
Peculiaridade: no caso da saída temporária para estudo, o prazo da saída temporária será igual ao
necessário para as atividades discentes (ex: pode ser autorizada a saída temporária todos os dias).
Condições
Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes condições legais (obrigatórias):
I – o condenado deverá fornecer o endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser
encontrado durante o gozo do benefício;
II – o condenado deverá se comprometer a ficar recolhido na residência visitada, no período noturno;
III – o condenado não poderá frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.
Além dessas, o juiz pode fixar outras condições que entender compatíveis com as circunstâncias do caso e
a situação pessoal do condenado. Nesse caso, chamamos de condições judiciais (ou facultativas).
Verificando-se a prática de quaisquer das hipóteses do art. 125 da LEP, ficamautomaticamente revogadas
as autorizações para as saídas subsequentes.
Desse modo, após o juiz deferiro benefício para o apenado nesta primeira vez, as novas saídas temporárias
deste mesmo reeducando não mais precisarão ser analisadas pelo juiz e pelo MP, sendo concedidas
automaticamente pela direção do Presídio, desde que a situação disciplinar do condenado permaneça a
mesma, ou seja, que ele tenha mantido o comportamento adequado no cumprimento da pena. Se
cometer falta grave, por exemplo, é revogado o benefício.
A esse procedimento simplificado deu-se o nome de saída temporária automatizada àouà ale d ioàdeà
saídasàte po ias .
A autorização das saídas temporárias é ato É legítima a decisão judicial que estabelece calendário anual
jurisdicional da competência do Juízo das de saídas temporárias para visita à família do preso.
Execuções Penais, que deve ser motivada
com a demonstração da conveniência de Para o STF, um único ato judicial que analisa o histórico
cada medida. do sentenciado e estabelece um calendário de saídas
temporárias, com a expressa ressalva de que as
Desse modo, não é possível delegar ao autorizações poderão ser revistas em caso de
administrador do presídio a fiscalização cometimento de infração disciplinar, mostra-se suficiente
sobre diversas saídas temporárias, para fundamentar a autorização de saída temporária.
autorizadas em única decisão, por se tratar
de atribuição exclusiva do magistrado das O Min. Gilmar Mendes apontou que, em regra, os
execuções penais, sujeita à ação requisitos das saídas temporárias são os mesmos,
fiscalizadora do Parquet. independentemente do momento do ano em que
o o e .à áà saídaà doà Natalà oà te à e uisitosà aisà
Assim, não é legítima a prática de se brandos do que a saída da Páscoa, por exemplo. Não há
permitir saídas temporárias automatizadas. razão funcional para afirmar que uma única decisão que a
Para cada pedido de saída temporária, a asà o te pleà àdefi ie teàdeàfu da e taç o .
deverá haver uma decisão motivada do
Juízo da Execução, com intervenção do MP. Além disso, essa prática não exclui a participação do MP,
STJ. 3ª Seção. REsp 1166251/RJ, Rel. Min. que poderá se manifestar sobre seu cabimento e, caso
Laurita Vaz, julgado em 14/03/2012 alterada a situação fática, pedir sua revisão.
(recurso repetitivo) (Info 493).
A exigência feita pelo STJ no sentido de que haja uma
A fim de deixar bem evidente esse decisão motivada para cada saída temporária coloca em
entendimento, o STJ editou um enunciado: risco o direito do sentenciado ao benefício, em razão do
grande volume de processos nas varas de execuções penais.
Súmula 520-STJ: O benefício de saída
temporária no âmbito da execução penal é STF. 1ª Turma. HC 98067, Rel. Min. Marco Aurélio,
ato jurisdicional insuscetível de delegação julgado em 06/04/2010.
à autoridade administrativa do STF. 2ª Turma. HC 128763, Rel. Min. Gilmar Mendes,
estabelecimento prisional. julgado em 04/08/2015.
A Súmula 520 foi editada há pouquíssimo tempo (25/03/2015), mas é provável que seja cancelada pelo STJ
diante do entendimento acima manifestado pelo STF.
Gabarito
1. E 2. E 3. C 4. C 5. C
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 3 a 7 de agosto de 2015
ADI N. 524-ES
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INCISO VI DO ART. 32 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO. SERVIDOR PÚBLICO. NEPOTISMO. VEDAÇÃO AO EXERCÍCIO DE FUNÇÕES SOB A DIREÇÃO IMEDIATA DE CÔNJUGE OU
PARENTE ATÉ O SEGUNDO GRAU CIVIL. VIOLAÇÃO AO INCISO II DO ART. 37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E AO PRINCÍPIO DA
ISONOMIA. INEXISTÊNCIA. PROIBIÇÃO QUE DECORRE DO CAPUT DO ART. 37 DA CF. PROCEDÊNCIA PARCIAL PARA
EMPRESTAR INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO. INCIDÊNCIA EXCLUSIVA SOBRE CARGOS DE PROVIMENTO EM
COMISSÃO, FUNÇÃO GRATIFICADA E CARGOS E DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO.
*noticiado no Informativo 786
ADI N. 3.580-MG
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 17, I e II, da Lei 12.919, de 29 de junho de 1998, do Estado de Minas Gerais. 3. Concurso Público de
Ingresso e Remoção nos Serviços Notarias e de Registro. Apresentação dos seguintes títulos: a) tempo de serviço prestado como titular, interino,
substituto ou escrevente em serviço notarial e de registro (art. 17, I); b) apresentação de temas em congressos relacionados com os serviços notariais e
registrais (art. 17, II). 4. Violação ao princípio constitucional da isonomia. Atividades específicas relacionadas às atividades notarial e de registro.
Precedentes. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. 6. Modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade. Efeito ex
nunc, a partir de 8.2.2006, data da concessão da cautelar.
*noticiado no Informativo 786
ADO N. 22-DF
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO. REGULAMENTAÇÃO DE PROPAGANDA DE BEBIDAS DE
TEOR ALCOÓLICO INFERIOR A TREZE GRAUS GAY LUSSAC (13° GL). AUSÊNCIA DE OMISSÃO. ATUAÇÃO DO PODER LEGISLATIVO.
ART. 2º DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE DE ATUAR O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO LEGISLADOR
POSITIVO, SUBSTITUINDO-SE AO PODER LEGISLATIVO NA DEFINIÇÃO DE CRITÉRIOS ADOTADOS NA APROVAÇÃO DAS NORMAS DE
PROPAGANDA DE BEBIDAS ALCOÓLICAS: PRECEDENTES. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. DECISÃO COM EFEITOS VINCUANTES.
*noticiado no Informativo 782
ADO N. 28-SP
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO. APOSENTADORIA ESPECIAL PARA POLICIAIS FEMININAS
CIVIS E MILITARES. ART. 40, § 1º E § 4º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.
1. Inexistência de omissão inconstitucional relativa à aposentadoria especial das servidoras da Polícia Militar. A Lei Complementar n. 144/2014,
norma geral editada pela União nos termos do art. 24, § 4º, da Constituição da República, é aplicável às servidoras da Polícia Civil do Estado de São
Paulo. Precedentes.
2. O art. 42, § 1º, da Constituição da República preceitua: a) o regime previdenciário próprio dos militares, a ser instituído por lei específica estadual;
b) não contempla a aplicação de normas relativas aos servidores públicos civis para os militares, ressalvada a norma do art. 40, § 9º, pela qual se
reconhece que “o tempo de contribuição federal, estadual ou municipal será contado para efeito de aposentadoria e o tempo de serviço
correspondente para efeito de disponibilidade”. Inaplicabilidade do art. 40, §§ 1º e § 4º, da Constituição da República, para os policiais militares.
Precedentes.
3. Ação direta de inconstitucionalidade por omissão julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 781
MS N. 25.845-DF
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
Mandado de segurança preventivo. 2. Ato futuro do Presidente do Tribunal de Contas da União. Determinação do pagamento das parcelas referentes
aos quintos decorrente do exercício de funções comissionadas no período compreendido entre a edição da Lei 9.624/1998 e a MP 2.225-48/2001. 3.
Impossibilidade de incorporação de quintos decorrente do exercício de funções comissionadas no período compreendido entre a edição da Lei
9.624/1998 e a MP nº 2.225-48/2001. Art. 61, § 1º, inciso II, ―a‖, e 63, inciso I, CF/88. Ausência de fundamentação legal indispensável para
incorporação dos quintos no período de 9.4.1998 a 4.9.2001, data da edição da MP 2.225-45/2001. Violação ao princípio constitucional da legalidade.
A medida provisória tão somente transformou em Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada (VPNI) a incorporação das parcelas a que se referem
os arts. 3º e 10 da Lei 8.911, de 11 de julho de 1994, e o art. 3º da Lei 9.624, de 2 de abril de 1998. 4. Impetração julgada prejudicada, com
reconhecimento de inconstitucionalidade. Acórdão 2.248/2005 do TCU.
*noticiado no Informativo778
Rcl N. 5.826-PA
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. DIAS TOFFOLI
Reclamação constitucional. Advogado. Recolhimento em sala de estado-maior, cujo desuso retira a consistência do ato normativo previsto no
Estatuto dos Advogados. Contrariedade ao que decidido na ADI nº 1.127/DF. Não ocorrência. Decisão reclamada que não se amparou na
inconstitucionalidade do art. 7º, inciso V, da Lei nº 8.096/94. Impropriedade da ação para averiguar se as instalações onde o reclamante se
encontra custodiado preencheriam os requisitos aptos a qualificá-la como sala de estado-maior. Precedentes. Improcedência.
1. A reclamação é instrumento destinado a preservar a competência do Supremo Tribunal Federal, garantir a autoridade dos seus julgados e infirmar
decisões que desrespeitem súmula vinculante editada pela Corte.
2. A decisão reclamada ao tratar das condições físicas do local onde o reclamante se encontra custodiado e se esse se enquadra no conceito de sala de
estado maior não se amparou na inconstitucionalidade do art. 7º, inciso V, do Estatuto dos Advogados, não havendo, portanto, que se falar em
descumprimento do que foi decidido no julgamento da ADI nº 1.127/DF.
3. Impropriedade da ação para averiguar situação de fato.
4. Reclamação improcedente.
RE N. 638.115-CE
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso extraordinário. 2. Administrativo. 3. Servidor público. 4. Incorporação de quintos decorrente do exercício de funções comissionadas no
período compreendido entre a edição da Lei 9.624/1998 e a MP 2.225-48/2001. 5. Impossibilidade. 6. Recurso extraordinário provido.
*noticiado no Informativo 778
MS N. 33.340-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. CONTROLE LEGISLATIVO FINANCEIRO. CONTROLE EXTERNO. REQUISIÇÃO PELO
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO DE INFORMAÇÕES ALUSIVAS A OPERAÇÕES FINANCEIRAS REALIZADAS PELAS
IMPETRANTES. RECUSA INJUSTIFICADA. DADOS NÃO ACOBERTADOS PELO SIGILO BANCÁRIO E EMPRESARIAL.
1. O controle financeiro das verbas públicas é essencial e privativo do Parlamento como consectário do Estado de Direito (IPSEN, Jörn.
Staatsorganisationsrecht. 9. Auflage. Berlin: Luchterhand, 1997, p. 221).
2. O primado do ordenamento constitucional democrático assentado no Estado de Direito pressupõe uma transparente responsabilidade do Estado e,
em especial, do Governo. (BADURA, Peter. Verfassung, Staat und Gesellschaft in der Sicht des Bundesverfassungsgerichts. In:
Bundesverfassungsgericht und Grundgesetz. Festgabe aus Anlass des 25jähringe Bestehens des Bundesverfassungsgerichts. Weiter Band. Tübingen:
Mohr, 1976, p. 17.)
3. O sigilo de informações necessárias para a preservação da intimidade é relativizado quando se está diante do interesse da sociedade de se conhecer
o destino dos recursos públicos.
4. Operações financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas pelo sigilo bancário a que alude a Lei Complementar nº 105/2001,
visto que as operações dessa espécie estão submetidas aos princípios da administração pública insculpidos no art. 37 da Constituição Federal. Em tais
situações, é prerrogativa constitucional do Tribunal [TCU] o acesso a informações relacionadas a operações financiadas com recursos públicos.
5. O segredo como ―alma do negócio‖ consubstancia a máxima cotidiana inaplicável em casos análogos ao sub judice, tanto mais que, quem
contrata com o poder público não pode ter segredos, especialmente se a revelação for necessária para o controle da legitimidade do emprego dos
recursos públicos. É que a contratação pública não pode ser feita em esconderijos envernizados por um arcabouço jurídico capaz de impedir o
controle social quanto ao emprego das verbas públicas.
6. ―O dever administrativo de manter plena transparência em seus comportamentos impõe não haver em um Estado Democrático de Direito, no qual o
poder reside no povo (art. 1º, parágrafo único, da Constituição), ocultamento aos administrados dos assuntos que a todos interessam, e muito menos
em relação aos sujeitos individualmente afetados por alguma medida.‖ (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 27ª
edição. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 114).
7. O Tribunal de Contas da União não está autorizado a, manu militari, decretar a quebra de sigilo bancário e empresarial de terceiros, medida
cautelar condicionada à prévia anuência do Poder Judiciário, ou, em situações pontuais, do Poder Legislativo. Precedente: MS 22.801, Tribunal Pleno,
Rel. Min. Menezes Direito, DJe 14.3.2008.
8. In casu, contudo, o TCU deve ter livre acesso às operações financeiras realizadas pelas impetrantes, entidades de direito privado da Administração
Indireta submetidas ao seu controle financeiro, mormente porquanto operacionalizadas mediante o emprego de recursos de origem pública.
Inoponibilidade de sigilo bancário e empresarial ao TCU quando se está diante de operações fundadas em recursos de origem pública. Conclusão
decorrente do dever de atuação transparente dos administradores públicos em um Estado Democrático de Direito.
9. A preservação, in casu, do sigilo das operações realizadas pelo BNDES e BNDESPAR com terceiros não, apenas, impediria a atuação
constitucionalmente prevista para o TCU, como, também, representaria uma acanhada, insuficiente, e, por isso mesmo, desproporcional limitação ao
direito fundamental de preservação da intimidade.
10. O princípio da conformidade funcional a que se refere Canotilho, também, reforça a conclusão de que os órgãos criados pela Constituição da
República, tal como o TCU, devem se manter no quadro normativo de suas competências, sem que tenham autonomia para abrir mão daquilo que o
constituinte lhe entregou em termos de competências.(CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 5ª
edição. Coimbra: Almedina, 2002, p. 541.)
11. A Proteção Deficiente de vedação implícita permite assentar que se a publicidade não pode ir tão longe, de forma a esvaziar,
desproporcionalmente, o direito fundamental à privacidade e ao sigilo bancário e empresarial; não menos verdadeiro é que a insuficiente limitação ao
direito à privacidade revelar-se-ia, por outro ângulo, desproporcional, porquanto lesiva aos interesses da sociedade de exigir do Estado brasileiro uma
atuação transparente.
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
‟A função clássica do ‗habeas corpus‘ restringe-se à estreita tutela da imediata liberdade de locomoção física das pessoas.
- A ação de „habeas corpus‟ - desde que inexistente qualquer situação de dano efetivo ou de risco potencial ao „jus manendi,
ambulandi, eundi ultro citroque‟ - não se revela cabível, mesmo quando ajuizada para discutir eventual nulidade do processo penal
em que proferida decisão condenatória definitivamente executada.
Esse entendimento decorre da circunstância histórica de a Reforma Constitucional de 1926 - que importou na cessação
da doutrina brasileira do ‗habeas corpus‘ - haver restaurado a função clássica desse extraordinário remédio processual, destinando-
o, quanto à sua finalidade, à específica tutela jurisdicional da imediata liberdade de locomoção física das pessoas. Precedentes.‘
(RTJ 186/261-262, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Vale insistir, bem por isso, na asserção de que o ‘habeas corpus’, em sua condição de instrumento de ativação da jurisdição
constitucional das liberdades, configura um poderoso meio de cessação do injusto constrangimento ao estado de liberdade de locomoção
física das pessoas. Se essa liberdade não se expõe a qualquer tipo de cerceamento, e se o direito de ir, vir ou permanecer sequer se revela
ameaçado, nada justifica o emprego do remédio heroico do ‘habeas corpus‟, por não estar em causa a liberdade de locomoção física:
‟CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. ‗HABEAS CORPUS‘: CABIMENTO. C.F., art. 5º, LXVIII.
I. – O „habeas corpus‟ visa a proteger a liberdade de locomoção – liberdade de ir, vir e ficar – por ilegalidade ou abuso de
poder, não podendo ser utilizado para proteção de direitos outros. C.F., art. 5º, LXVIII.
II. – H.C. indeferido, liminarmente. Agravo não provido.”
(HC 82.880-AgR/SP, Rel. Min. CARLOS VELLOSO, Pleno – grifei)
Cabe reafirmar, desse modo, que esse remédio constitucional, considerada a sua específica destinação tutelar, tem por finalidade
amparar, em sede jurisdicional, ‘única e diretamente, a liberdade de locomoção. Ele se destina à estreita tutela da imediata liberdade física
de ir e vir dos indivíduos (...)‟ (RTJ 66/396 – RTJ 177/1206-1207 – RT 423/327 – RT 338/99 – RF 213/390 – RF 222/336 – RF 230/280,
v.g.), excluída, portanto, a possibilidade de se questionar, no âmbito do processo de ‘habeas corpus‟, como ora pretendido pela parte ora
impetrante, ‘autorização para que a companheira do paciente possa visitá-lo‟, no estabelecimento penal em que cumpre pena‖.
Recentemente, no RHC nº 121.046/SP, Segunda Turma, de minha relatoria, DJe de 26/5/15, reafirmei o entendimento de que não cabe
―(…) habeas corpus que tenha por escopo assegurar o direito do condenado de receber visita da companheira no estabelecimento em
que cumpre pena (art. 41, X, da Lei nº 7.210/84), hipótese em que esta Corte já assentou a “inadequação absoluta do meio processual
utilizado‖ (HC nº 115.542/DF-MC, Segunda Turma, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe de 25/4/13).
Não desconheço que, no HC nº 107.701/RS, Segunda Turma, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 26/3/12, ora invocado pela
impetrante, o Supremo Tribunal admitiu a impetração de habeas corpus para assegurar ao preso o direito de receber a visita de seus filhos e dos
filhos de sua companheira, ao fundamento de que,
“[e]m linhas gerais, o direito de visitas nada mais é que um desdobramento do direito de liberdade. De fato, só há falar de direito de
visitas porque a liberdade do apenado encontra-se tolhida. Dessarte, tenho para mim que a decisão do juízo das execuções que indeferiu o
pedido de visitas formulado teve diretamente o condão de repercutir na esfera de liberdade, na medida em que agrava, ainda mais, o grau de
restrição da liberdade do paciente.
Ademais, levando em conta que uma das finalidades da pena é a ressocialização, eventuais erros por parte do Estado ao promover a
execução podem e devem ser sanados via habeas corpus, sob pena de, ao fim do cumprimento da pena, não restar alcançado o objetivo de
reinserção eficaz do apenado em seu seio familiar e social”.
Nesse último caso, o pano de fundo foi a negativa de autorização para os menores visitarem o preso, ao fundamento de que seriam ―(...)
expostos, sem nenhuma garantia, a um ambiente que não lhes é próprio podendo trazer prejuízos à formação psíquica dos menores, o que, no
momento, deve[ria] ser preservado‖.
Esse argumento foi rechaçado no julgamento do HC nº 107.701/RS, sob a premissa de que ―cabe ao Poder Público o dever de propiciar meios
para que o apenado possa receber visitas, inclusive de seus filhos e enteados, em ambiente minimamente aceitável e preparado para tanto e que não
coloque em risco a integridade física e psíquica dos visitantes‖.
De toda sorte, mantenho-me fiel ao mais recente entendimento esposado pela Segunda Turma desta Suprema Corte de que, por não haver
efetiva restrição ao status libertatis do paciente, o habeas corpus é meio inidôneo para discutir direito de visita a preso.
Ainda que assim não fosse, melhor sorte não assistiria à impetrante.
Na espécie, a companheira do paciente deduziu, perante o juízo das execuções, dois pedidos de autorização para visitá-lo, que foram
indeferidos, respectivamente, em 4/9/13 e 16/6/14, ao fundamento de que veio a ser condenada definitivamente por tráfico, por ter sido flagrada, em
2/3/11, trazendo consigo droga, no próprio estabelecimento prisional em que seu companheiro estava recolhido, quando pretendia visitá-lo.
Como se observa, os fatos subjacentes à presente impetração e ao HC nº 107.701/RS são diversos, uma vez que, no caso vertente, a negativa de
autorização não se ampara na suposta necessidade de se resguardar a integridade psíquica de menores, mas sim em ato ilícito de extrema gravidade,
concretamente praticado pela companheira do paciente, comprometedor da segurança e da disciplina carcerárias.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
3 a 7 de agosto de 2015
Lei nº 13.156, de 4.8.2015 - Altera a redação do § 2º do art. 5º da Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989, que cria
o Fundo Nacional de Meio Ambiente e dá outras providências. Publicado no DOU, Edição Extra, nº 148, Seção 1, p. 5,
em 5.8.2015.
OUTRAS INFORMAÇÕES
3 a 7 de agosto de 2015
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: MS 26860 ED/DF; AP 530 ED-segundos/MS; RE 431602 Quarto-AgR/PB.
ÍNDICE
DIREITO PROCESSUAL PENAL
HABEAS CORPUS
Pedido para autorização de visita.
INDULTO NATALINO
Período de prova no sursis não pode ser equiparado a cumprimento de pena.
HABEAS CORPUS
Pedido para autorização de visita
O habeas corpus não é meio processual adequado para o apenado obter autorização de visita
de sua companheira no estabelecimento prisional.
STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/6/2015 (Info 792).
Indulto natalino
É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no final de todos os anos, concedendo
i dulto. Esse De eto é o he ido o o i dulto atali o .
No Decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do benefício. Caso o apenado
atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve reconhecer o direito, extinguindo a pena pelo indulto.
Decreto 8.172/2013
Em 2013, a Presidente da República editou o Decreto n. 8.172/2013 concedendo o indulto natalino para
os condenados que cumprissem os requisitos ali estabelecidos.
No art. 1º, XIII e XIV, o Decreto concedeu indulto para os réus condenados a pena privativa de liberdade,
desde que tivessem cumprido, até 25/12/2013, 1/4 (um quarto) da pena.
DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR
CORREIÇÃO PARCIAL
Não cabimento de correição parcial como sucedâneo de ação rescisória
É incabível o manejo de correição parcial para rever decisão que declarou extinta a
punibilidade do réu pelo reconhecimento da prescrição, decisão esta que já havia transitado
em julgado.
A correição de processos findos somente é possível para verificar eventuais irregularidades ou
falhas administrativas a serem corrigidas no âmbito da Justiça Militar. Não cabe seu uso,
porém, como substituto de ação rescisória.
STF. 2ª Turma. HC 112530/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 30/6/2015 (Info 792).
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 29 de junho a 1º de julho de 2015
CLIPPING DO D JE
29 de junho a 1º de julho de 2015
AR N. 2.199-SC
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
Ação rescisória. Decisão fundada em jurisprudência do STF posteriormente alterada. Art. 557, §1º, do CPC. Suposta violação literal de lei.
Inocorrência. Não cabe ação rescisória de decisões proferidas em harmonia com a jurisprudência do STF, ainda que ocorra alteração posterior do
entendimento do Tribunal sobre a matéria. Ação não conhecida. Precedente: RE 590.809.
*noticiado no Informativo 782
RE N. 632.853-CE
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso extraordinário com repercussão geral. 2. Concurso público. Correção de prova. Não compete ao Poder Judiciário, no controle de legalidade,
substituir banca examinadora para avaliar respostas dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas. Precedentes. 3. Excepcionalmente, é permitido ao
Judiciário juízo de compatibilidade do conteúdo das questões do concurso com o previsto no edital do certame. Precedentes. 4. Recurso extraordinário
provido.
*noticiado no Informativo 782
RE N. 675.978-SP
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ART. 37, INC. XI, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, ALTERADO PELA
EMENDA CONSTITUCIONAL N. 41/2003. A BASE DE CÁLCULO PARA A INCIDÊNCIA DO TETO REMUNERATÓRIO PREVISTO NO ART. 37,
INC. IX, DA CONSTITUIÇÃO É A RENDA BRUTA DO SERVIDOR PÚBLICO PORQUE: A) POR DEFINIÇÃO A REMUNERAÇÃO/PROVENTOS
CORRESPONDEM AO VALOR INTEGRAL/BRUTO RECEBIDO PELO SERVIDOR; B) O VALOR DO TETO CONSIDERADO COMO LIMITE
REMUNERATÓRIO É O VALOR BRUTO/INTEGRAL RECEBIDO PELO AGENTE POLÍTICO REFERÊNCIA NA UNIDADE FEDERATIVA
(PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE). A ADOÇÃO DE BASE DE CÁLCULO CORRESPONDENTE À REMUNERAÇÃO/PROVENTOS DO
SERVIDOR PÚBLICO ANTES DO DESCONTO DO IMPOSTO DE RENDA E DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS CONTRARIA O
FUNDAMENTO DO SISTEMA REMUNERATÓRIO INSTITUÍDO NO SISTEMA CONSTITUCIONAL VIGENTE. RECURSO AO QUAL SE NEGA
PROVIMENTO.
*noticiado no Informativo 781
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Com efeito, o Supremo Tribunal Federal, na decisão final da ADPF 130/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO, ao julgar procedente o pedido
formulado naquela sede processual, o fez sem prejuízo do regular exercício do direito de resposta previsto no art. 5º, inciso V, da própria
Constituição:
“11. EFEITOS JURÍDICOS DA DECISÃO. Aplicam-se as normas da legislação comum, notadamente o Código Civil, o Código
Penal, o Código de Processo Civil e o Código de Processo Penal às causas decorrentes das relações de imprensa. O direito de resposta, que
se manifesta como ação de replicar ou de retificar matéria publicada é exercitável por parte daquele que se vê ofendido em sua honra
objetiva, ou então subjetiva, conforme estampado no inciso V do art. 5º da Constituição Federal. Norma, essa, ‘de eficácia plena e de
aplicabilidade imediata’, conforme classificação de José Afonso da Silva. ‘Norma de pronta aplicação’, na linguagem de Celso Ribeiro
Bastos e Carlos Ayres Britto, em obra doutrinária conjunta.” (grifei)
O direito de resposta, como se sabe, foi elevado à dignidade constitucional, no sistema normativo brasileiro, a partir da Constituição de
1934, não obstante a liberdade de imprensa já constasse da Carta Política do Império do Brasil de 1824.
O art. 5º, inciso V, da Constituição brasileira, ao prever o direito de resposta, qualifica-se como regra impregnada de suficiente densidade
normativa, revestida, por isso mesmo, de aplicabilidade imediata, a tornar desnecessária, para efeito de sua pronta incidência, a “interpositio
legislatoris”, o que dispensa, por tal razão, ainda que não se lhe vede, a intervenção concretizadora do legislador comum.
Isso significa que a ausência de regulação legislativa, motivada por transitória situação de vácuo normativo, não se revela obstáculo ao
exercício da prerrogativa fundada em referido preceito constitucional, que possui densidade normativa suficiente para atribuir, a quem se sentir
prejudicado por publicação inverídica ou incorreta, direito, pretensão e ação cuja titularidade bastará para viabilizar, em cada situação ocorrente, a
prática concreta da resposta e/ou da retificação.
É interessante assinalar, por oportuno, que o direito de resposta somente constituiu objeto de regulação legislativa, no Brasil, com o
advento da Lei Adolpho Gordo (Decreto nº 4.743, de 31/10/1923, arts. 16 a 19), eis que – consoante observa SOLIDONIO LEITE FILHO
(“Comentários à Lei de Imprensa”, p. 188, item n. 268, 1925, J. Leite Editores) – “Não havia na legislação anterior à lei de imprensa nenhum
dispositivo regulando o direito de resposta” (grifei).
O que me parece relevante acentuar, neste ponto, é que a ausência de qualquer disciplina ritual regedora do exercício concreto do direito
de resposta não impede que o Poder Judiciário, quando formalmente provocado, profira decisões em amparo e proteção àquele atingido por
publicações inverídicas ou inexatas.
É que esse direito de resposta/retificação não depende, para ser exercido, da existência de lei, ainda que a edição de diploma legislativo
sobre esse tema específico possa revelar-se útil e, até mesmo, conveniente.
Vale insistir na asserção de que o direito de resposta/retificação tem por base normativa a própria Constituição da República, cujo art. 5º,
inciso V, estabelece os parâmetros necessários à invocação dessa prerrogativa de ordem jurídica, tal como o decidiu, na espécie, o E. Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, ao enfatizar “que o direito de resposta possui status constitucional”, razão pela qual, presente o contexto
em exame, mostrava-se desnecessária a “interpositio legislatoris”.
Correto esse julgamento, pois sempre caberá ao Poder Judiciário, observados os parâmetros em questão, garantir à pessoa lesada (ainda que
se cuide do próprio jornalista) o exercício do direito de resposta.
De qualquer maneira, no entanto, a ausência, momentânea ou não, de regramento legislativo não autoriza nem exonera o Juiz, sob pena de
transgressão ao princípio da indeclinabilidade da jurisdição, do dever de julgar o pedido de resposta, quando formulado por quem se sentir
ofendido ou, então, prejudicado por publicação ofensiva ou inverídica.
Não se pode desconhecer que é ínsito à atividade do Juiz o dever de julgar conforme os postulados da razoabilidade, proporcionalidade e
igualdade, em respeito ao que está previsto no art. 126 do Código de Processo Civil (“O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando
lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e
aos princípios gerais de direito”), consoante assinala, sem maiores disceptações, o magistério da doutrina (ANTÔNIO CLÁUDIO DA COSTA
MACHADO, “Código de Processo Civil Interpretado e Anotado”, p. 405, 2ª ed., 2008, Manole; LUIZ GUILHERME MARINONI e DANIEL
MITIDIERO, “Código de Processo Civil Comentado Artigo por Artigo”, p. 174/175, 2008, RT; HUMBERTO THEODORO JUNIOR, “Curso de
Direito Processual Civil”, vol. I/38 e 40, itens ns. 35 e 38, 50ª ed., 2009, Forense, v.g.).
Isso significa, portanto, considerado o que prescreve o art. 126 do CPC, que, em situação de “vacuum legis” (tal como sucede na espécie), o
magistrado poderá valer-se de dispositivos outros – tais como aqueles existentes, p. ex., na Lei nº 9.504/97 (art. 58 e parágrafos) –, aplicando-os,
no que couber, por analogia, ao caso concreto, viabilizando-se, desse modo, o efetivo exercício, pelo interessado, do direito de resposta e/ou de
retificação.
‘1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade’
‘3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas’
e com o artigo 32.2, segundo o qual ‘Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais, pela segurança de todos e
pelas justas exigências do bem comum, em uma sociedade democrática’.
O direito de retificação ou de resposta é um direito ao qual são aplicáveis as obrigações dos Estados Partes consagradas nos artigos
1.1 e 2 da Convenção. E não poderia ser de outra maneira, já que o próprio sistema da Convenção está direcionado a reconhecer direitos e
liberdades às pessoas e não a facultar que os Estados o façam (Convenção Americana, Preâmbulo, O efeito das reservas sobre a entrada em
vigência da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art.s 74 e 75), Opinião Consultiva OC-2/82 de 24 de setembro de 1982. Série A,
n. 2, parágrafo 33).” (grifei)
Impende ressaltar, por oportuno, trecho da manifestação proferida no âmbito de mencionada Opinião Consultiva emanada da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, proveniente do eminente Juiz RODOLFO E. PIZA ESCALANTE, que assim se pronunciou:
“Em outras palavras, o direito de retificação ou de resposta é de tal relevância que nada impede respeitá-lo ou garanti-lo, vale dizer
aplicá-lo e ampará-lo, ainda que não haja lei que o regulamente, por meio de simples critérios de razoabilidade; no fim das contas, a
própria lei, ao estabelecer as condições de seu exercício, deve sujeitar-se a iguais limitações, porque, de outra forma, violaria ela mesma o
conteúdo essencial do direito regulamentado e, portanto, o artigo 14.1 da Convenção.” (grifei)
Em suma: é por todas essas razões, e também por aquelas resultantes do acórdão ora impugnado, que tenho por inviável a pretensão
recursal formulada nesta sede processual.
Sendo assim, e em face das razões expostas, conheço do presente recurso extraordinário, para negar-lhe provimento.
Publique-se.
Brasília, 24 de junho de 2015.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
*decisão publicada no DJe de 1º.7.2015
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
29 de junho a 1º de julho de 2015
Lei nº 13.139, de 26.6.2015 - Altera os Decretos-Lei nº 9.760, de 5.9.1946, nº 2.398, de 21.12.1987, a Lei nº
9.636, de 15.5.1998, e o Decreto-Lei nº 1.876, de 15.7.1981; dispõe sobre o parcelamento e a remissão de dívidas
patrimoniais com a União; e dá outras providências. . Publicada no DOU, nº 121, Seção 1, p. 2, em 29.6.2015.
Lei nº 13.140, de 26.6.2015 - Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de controvérsias
e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública; altera a Lei nº 9.469, de 10.7.1997, e o
Decreto nº 70.235, de 6.3.1972; e revoga o § 2º do art. 6º da Lei nº 9.469, de 10.7.1997. Publicada no DOU, nº 121,
Seção 1, p. 4, em 29.6.2015.
OUTRAS INFORMAÇÕES
2 a 31 de julho de 2015
Lei 13.142, de 6.7.2015 - Altera os arts. 121 e 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7.12.1940 (Código Penal), e o art.
1º da Lei nº 8.072, de 25.7.1990 (Lei de Crimes Hediondos). Publicada no DOU, nº 127, Seção 1, p. 7, em 7.7.2015.
Lei 13.144, de 6.7.2015 - Altera o inciso III do art. 3º da Lei nº 8.009, de 29.3.1990, que disciplina o instituto do
bem de família, para assegurar proteção ao patrimônio do novo cônjuge ou companheiro do devedor de pensão
alimentícia. Publicada no DOU, nº 127, Seção 1, p. 2, em 7.7.2015.
Lei 13.146, de 6.7.2015 - Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência). Publicada no DOU, nº 127, Seção 1, p. 2, em 7.7.2015.
Lei nº 13.149, de 21.7.2015 - Altera as Leis nº 11.482, de 31.5.2007, para dispor sobre os valores da tabela
mensal do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, 7.713, de 22.12.1988, 9.250, de 26.12.1995, e 10.823, de
19.12.2003. Publicada no DOU, nº 138, Seção 1, p. 1, em 22.7.2015.
Lei nº 13.151, de 28.7.2015 - Altera os arts. 62, 66 e 67 da Lei nº 10.406, de 10.1.2002 - Código Civil, o art. 12
da Lei nº 9.532, de 10.12.997, o art. 1º da Lei nº 91, de 28.8.1935, e o art. 29 da Lei nº 12.101, de 27.11.2009, para
dispor sobre a finalidade das fundações, o prazo para manifestação do Ministério Público sobre suas alterações
Processos excluídos deste informativo por não terem sido concluídos: HC 118533/MS; ADI 4747/DF; Inq 3788/DF.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: HC 125768/SP; HC 127158/MG; HC 109708/SP.
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
Princípio da intranscendência subjetiva na inscrição de unidade federativa em cadastro de inadimplentes.
CONCURSO PÚBLICO
Momento para comprovação do limite de idade.
DIREITO PENAL
MAUS ANTECEDENTES (DOSIMETRIA DA PENA)
Inquéritos policiais e ações penais sem trânsito em julgado.
DIREITO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
Princípio da intranscendência subjetiva na
inscrição de unidade federativa em cadastro de inadimplentes
Toda ação envolvendo União e Estados em polos distintos será julgada originariamente pelo STF com
base no art. , I, f , da CF/88?
NÃO.
No caso concreto, o STF entendeu que ele era competente para a ação. Isso porque, além da presença, em
polos distintos, de Estado-membro e União, estava em jogo a inscrição do ente local em cadastro federal
de inadimplência, o que impedia que ele contratasse operações de crédito, celebrasse convênios e
recebesse transferências de recursos. Essa situação revela possível abalo ao pacto federativo, já que está
mitigando (enfraquecendo) a autonomia do Estado-membro, a ensejar a incidência do art. 102, I, f , da
CF/88.
Em tese, é possível que a União inscreva Estado-membro em cadastro federal de inadimplentes, como é
o caso do CAUC ou do SIAFI?
SIM. A princípio, não existe qualquer ilegalidade no fato de a União proceder à inscrição do órgão ou ente
(o qual se mostre inadimplente em relação a débitos ou deveres legais) nos cadastros de restrição.
No caso concreto, houve violação ao princípio do devido processo legal? Para que o Estado-membro seja
incluído no cadastro restritivo, é necessário o encerramento do procedimento instaurado pelo TCU?
SIM. Viola o princípio do devido processo legal a inscrição de unidade federativa em cadastros de
inadimplentes antes de iniciada e julgada tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas da União
(STF. 1ª Turma. ACO 2.159-MC-REF, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de 02/06/2014).
Em casos como esse, mostra-se necessária a tomada de contas especial e sua respectiva conclusão, a fim
de reconhecer que houve realmente irregularidades. Só a partir disso é possível a inscrição do ente nos
cadastros de restrição ao crédito organizados e mantidos pela União.
O que é o princípio da intranscendência subjetiva das sanções? No caso concreto, houve violação a esse
princípio?
SIM. O princípio da intranscendência subjetiva impede que sanções e restrições superem a dimensão
estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as causadoras do ato ilícito.
Assim, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às
administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores.
A inscrição do Estado de Pernambuco no CAUC ocorreu em razão do descumprimento de convênio
celebrado por gestão anterior, ou seja, na época de outro Governador. Ademais, ficou demonstrado que
os novos gestores estavam tomando as providências necessárias para sanar as irregularidades verificadas.
“egu do o Mi . Luiz Fux, o se pode i via iliza a ad i ist aç o de ue foi eleito de o ati a e te e
não foi respo s vel di eta e te pelas difi uldades fi a ei as ue a a eta a a i s iç o o atida .
Logo, deve-se aplicar, no caso concreto, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo
que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou recebimento
de repasses federais.
Exceção: é possível que o edital do concurso público estabeleça limites de idade, desde que haja previsão
em lei e isso se justifique pela natureza das atribuições do cargo.
Segunda pergunta: é possível que esse limite seja exigido no momento da inscrição no concurso?
SIM. O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso público,
há de ser comprovado no momento da inscrição no certame.
Algumas vozes afirmavam que essa exigência no ato de inscrição do concurso seria indevida e que o limite
de idade deveria ser sempre comprovado no momento do curso de formação ou da posse.
O STF, contudo, entendeu que a comprovação do limite de idade deve ocorrer por ocasião da inscrição no
concurso porque é impossível se antever, com certeza, a data em que será realizada a fase final do
concurso ou a possse. Nesse sentido:
(...) A comprovação do requisito etário estabelecido na lei deve ocorrer no momento da inscrição no
certame, e não no momento da inscrição do curso de formação.
(STF. 2ª Turma. ARE 685870 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/12/2013)
Resolução 187/2014-CNJ
A Resolução 187/2014 do CNJ alterou diversos dispositivos da Resolução 81/2009.
A Resolução 81/2009 do CNJ trata sobre as regras dos concursos públicos de cartório (outorga de
delegações de serventias notariais e registrais).
A Resolução 187/2014, por sua vez, modificou as normas que tratam sobre os títulos aceitos no concurso e
sua respectiva pontuação.
Resolução 187/2014-CNJ não se aplica para concursos iniciados antes de sua vigência
Imagine que em 2013 iniciou um concurso para cartório.
Em 2015, chega ao fim a fase de provas e inicia a análise dos títulos.
O STF decidiu que, como esse concurso iniciou antes da Resolução 187/2014, as regras por ela impostas
não poderão se aplicar para este certame.
Assim, a Resolução 187/2014 do CNJ não se aplica a concursos que já estavam em andamento quando ela
iniciou a sua vigência.
A aplicação das modificações promovidas pela Resolução 187/2014 a concurso em andamento representaria
um abalo à confiança que os candidatos depositaram no edital do certame que seguia a regras da Resolução
81/2009, em sua redação originária. Desse modo, haveria uma violação à segurança jurídica.
A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não podem ser
considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena.
STF. Plenário. HC 94620/MS e HC 94680/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgados em 24/6/2015
(Info 791).
Critério trifásico
A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.
Este critério trifásico, elaborado por Nelson Hungria, foi adotado pelo Código Penal, sendo consagrado
pela jurisprudência pátria (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1021796/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 19/03/2013).
Antecedentes:
São as anotações negativas que o réu possua em matéria criminal.
Se o juiz entender que o réu possui maus antecedentes, ele irá aumentar a pena-base imposta ao
condenado.
Se o réu possui inquéritos policiais instaurados e ações penais em curso, tais elementos podem ser
considerados como maus antecedentes no momento da dosimetria da pena?
NÃO. Inquéritos policiais ou ações penais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena. Isso por causa do princípio da presunção de não culpabilidade.
Esse é o entendimento pacífico da jurisprudência. No STJ, existe um enunciado espelhando tal conclusão:
Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.
No STF, a questão foi decidida pelo Plenário em sede de repercussão geral: RE 591054/SC, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
Observação importante:
No julgamento do HC 94620/MS e HC 94680/SP, acima destacados, o STF manteve seu entendimento
tradicional no sentido de que os inquéritos policiais e as ações penais sem trânsito em julgado não podem
ser considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena porque isso já havia sido
decidido em repercussão geral no RE 591054/SC. No entanto, seis Ministros (Ricardo Lewandowski,
Cármen Lúcia, Luiz Fux, Teori Zavascki, Edson Fachin e Rosa Weber) manifestaram-se no sentido de que
gostariam de rever esse entendimento ao julgarem um novo recurso extraordinário em sede de
repercussão geral. Assim, é possível que, no futuro, o STF passe a decidir que os inquéritos policiais em
curso ou as ações penais mesmo sem trânsito em julgado sejam considerados para fins de majorar a pena.
Vamos aguardar e acompanhar a discussão do tema.
NULIDADE
Intimação da Defensoria Pública com remessa dos autos
mesmo que a decisão tenha sido proferida em audiência
Importante!!!
A LC 80/94 (Lei Orgânica da Defensoria Pública) prevê, como uma das prerrogativas dos
Defensores Públicos, que eles devem receber intimação pessoal (arts. 44, I, 89, I e 128, I).
Se uma decisão ou sentença é proferida pelo juiz na própria audiência, estando o Defensor
Público presente, pode-se dizer que ele foi intimado pessoalmente naquele ato ou será
necessário ainda o envio dos autos à Defensoria para que a intimação se torne perfeita?
Para que a intimação pessoal do Defensor Público se concretize, será necessária ainda a
remessa dos autos à Defensoria Pública.
Segundo decidiu o STF, a intimação da Defensoria Pública, a despeito da presença do defensor
na audiência de leitura da sentença condenatória, se aperfeiçoa com sua intimação pessoal,
mediante a remessa dos autos.
STF. 2ª Turma. HC 125270/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/6/2015 (Info 791).
Se uma decisão ou sentença é proferida pelo juiz na própria audiência, estando o Defensor Público
presente, pode-se dizer que ele foi intimado pessoalmente naquele ato ou será necessário ainda o envio
dos autos à Defensoria para que a intimação se torne perfeita?
Para que a intimação pessoal do Defensor Público se concretize, será necessária ainda a remessa dos autos
à Defensoria Pública.
Segundo decidiu o STF, a intimação da Defensoria Pública, a despeito da presença do defensor na
audiência de leitura da sentença condenatória, se aperfeiçoa com sua intimação pessoal, mediante a
remessa dos autos.
Exemplo adaptado:
João foi condenado pelo juiz em sentença proferida na própria audiência, fato ocorrido dia 02/02/2015.
O Defensor Público que fazia sua assistência jurídica estava presente no ato.
Em 03/03/2015, os autos do processo foram remetidos à Defensoria Pública que, no dia seguinte,
apresentou recurso de apelação.
O Tribunal julgou a apelação intempestiva sob o argumento de que o prazo para o recurso se iniciou no dia
da audiência.
O STF não concordou com a decisão do Tribunal e decidiu que, mesmo o Defensor Público estando
presente na audiência, para que a sua intimação pessoal se aperfeiçoe é indispensável a remessa dos
autos à instituição.
Segundo afirmou o Min. Teori Zavaski:
Considerar intimado o defensor público pela presença na audiência de leitura da sentença condenatória,
sem a ulterior remessa dos autos, acaba por esvaziar o direito primordial do paciente à ampla e efetiva
defesa. Nessa perspectiva, há de se oferecer condições e facilidades, asseguradas por lei, à preparação das
teses defensivas.
Obs: os membros da DPU e da Defensoria do DF possuem idêntica prerrogativa prevista nos arts. 44, I e
89, I, da mesma Lei Complementar.
HABEAS CORPUS
Proibição da reformatio in pejus
INTERROGATÓRIO
Momento do interrogatório no rito do CPPM
A Lei 11.719/2008 alterou o art. 400 do CPP estabelecendo que o interrogatório deve ser feito
depois da inquirição das testemunhas e da realização das demais provas.
Essa alteração repercutiu no CPPM? No procedimento do CPPM, o interrogatório deve ser o
último ato da instrução?
SIM (1ª Turma do STF)
NÃO (2ª Turma do STF)
E se o interrogatório foi realizado no começo da instrução, mas este ato ocorreu antes da Lei
11.719/2008, haverá nulidade?
NÃO. Não haverá nulidade porque a Lei 11.719/2008 não pode ser aplicada para atos processuais
praticados antes de sua entrada em vigor (20/8/2008). Incide o princípio do tempus regit actum,
de forma que deve ser aplicada a legislação em vigor no momento da sua prática.
Ex: João foi denunciado pela prática do crime de concussão (art. 305 do CPM). Em 2007, foi
realizado seu interrogatório como primeiro ato do processo (antes da oitiva das testemunhas).
Em 2009, o réu foi condenado e a defesa suscitou nulidade afirmando que a Lei 11.719/2008
teria alterado o momento do interrogatório para o final. O STF considerou que não houve
nulidade, já que, quando o ato processual foi aplicado, não havia nenhuma dúvida de que o
interrogatório era o primeiro ato do processo, pois assim dispunha a legislação.
STF. Plenário. HC 123228/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2015 (Info 791).
O Código de Processo Penal Militar prevê o procedimento (rito) que deverá ser observado no caso de
crimes militares.
O procedimento previsto no CPPM possui algumas diferenças em relação ao procedimento trazido pelo
CPP. Uma das distinções reside no momento em que é realizado o interrogatório do réu. Vejamos:
O que é mais favorável ao réu: ser interrogado antes ou depois da oitiva das testemunhas?
Depois. Isso porque, após o acusado ouvir o relato trazido pelas testemunhas, poderá decidir a versão dos fatos
que irá apresentar. Se, por exemplo, avaliar que nenhuma testemunha o apontou como o autor do crime,
poderá sustentar a negativa de autoria ou optar pelo direito ao silêncio. Ao contrário, se entender que as
testemunhas foram sólidas em incriminá-lo, terá como opção viável confessar e obter a atenuação da pena.
Dessa feita, a regra do art. 400 do CPP é mais favorável ao réu do que a previsão do art. 302 do CPPM.
E se o interrogatório foi realizado no começo da instrução, mas este ato ocorreu antes da Lei n.
11.719/2008, haverá nulidade?
NÃO. Não haverá nulidade porque a Lei n. 11.719/2008 não pode ser aplicada para atos processuais
praticados antes de sua entrada em vigor (20/8/2008). Incide o princípio do tempus regit actum, de forma
que deve ser aplicada a legislação em vigor no momento da sua prática.
Ex: João foi denunciado pela prática do crime de concussão (art. 305 do CPM). Em 2007, foi realizado seu
interrogatório como primeiro ato do processo (antes da oitiva das testemunhas). Em 2009, o réu foi
condenado e a defesa suscitou nulidade afirmando que a Lei n. 11.719/2008 teria alterado o momento do
interrogatório para o final. O STF considerou que não houve nulidade, já que, quando o ato processual foi
aplicado, não havia nenhuma dúvida de que o interrogatório era o primeiro ato do processo, pois assim
dispunha a legislação.
Obs: o Plenário do STF ainda não firmou posição a respeito de uma das duas correntes acima explicadas. O
que ele decidiu é que se o ato foi praticado antes da Lei n. 11.719/2008 nem se deverá discutir sobre a
aplicação dessa lei porque ela ainda não estava em vigor.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 22 a 26 de junho de 2015
Decisões Publicadas: 1
CLIPPING DO D JE
22 a 26 de junho de 2015
HC N. 85.011-RS
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. PODER DE INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
POSSIBILIDADE. IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO DE MEMBRO DO ÓRGÃO MINISTERIAL QUE PARTICIPOU DA FASE
INVESTIGATÓRIA. INOCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA PARA JULGAR ARGUIÇÃO DE IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO DE
PROMOTOR DE JUSTIÇA. MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU. ART. 104 DO CPP. PRISÃO CAUTELAR. FUNDAMENTAÇÃO
INIDÔNEA. EXCESSO DE PRAZO CONFIGURADO.
1. Ao concluir o julgamento do RE 593.727/MG, com repercussão geral reconhecida, o Plenário desta Corte assentou a seguinte tese: “o Ministério
Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os
direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as
hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados
(Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado
democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos
membros dessa instituição”.
2. A jurisprudência do STF é no sentido de que a participação de membro do Ministério Público na fase investigatória não acarreta, por si só, seu
impedimento ou sua suspeição para o oferecimento da denúncia, e nem poderia ser diferente à luz da tese firmada pelo Plenário, mormente por ser ele
o dominus litis e sua atuação estar voltada exatamente à formação de sua convicção.
3. À luz do art. 104 do CPP, é do juiz de primeira instância a competência para processar e julgar exceção de impedimento ou suspeição de promotor
de justiça, a quem cabe, inclusive, decidir sobre a realização ou não de diligências solicitadas nesse incidente processual, podendo indeferir as que
entender irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (CPP, art. 400, § 1º), sem que tanto configure cerceamento de defesa.
4. Nos termos da jurisprudência desta Corte, a mera impressão do juiz sobre a possibilidade de o paciente interferir na instrução criminal, bem como
sua situação econômica, sem a indicação de elementos concretos demonstradores do risco de fuga, não constituem fundamentos idôneos para o
decreto de prisão preventiva. Os autos revelam, ainda, situação configuradora de excesso de prazo da prisão cautelar.
5. Habeas corpus denegado. Ordem concedida de ofício para revogar a prisão cautelar.
*noticiado no Informativo 787
Inq N. 3.634-DF
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Inquérito. 2. Competência originária. 3. Penal e Processual Penal. 4. “Operação Sanguessuga”. Art. 1º, I, do Decreto-Lei 201/67 (peculato do
prefeito). Crime próprio, que admite participação. Justa causa. Indicativos suficientes de participação do denunciado no direcionamento de licitação
para compra de ambulância com sobrepreço. 5. Denúncia recebida.
*noticiado no Informativo 788
AG. REG. NO ARE N. 862.175-RJ
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
TRANSCRIÇÕES
Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
CPI/PETROBRÁS - Busca e Apreensão - Reserva de Jurisdição - Delimitação dos Poderes Investigatórios (Transcrições)
MS 33.663 - MC/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: CPI/PETROBRAS. IMPUGNAÇÃO MANDAMENTAL AO ATO QUE DETERMINOU BUSCA E APREENSÃO “DE
DOCUMENTOS E COMPUTADORES” DOS IMPETRANTES. NATUREZA DOS PODERES DE INVESTIGAÇÃO DAS COMISSÕES
PARLAMENTARES DE INQUÉRITO. DELIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL DAS ATRIBUIÇÕES DESSE ÓRGÃO DE
INVESTIGAÇÃO LEGISLATIVA. ATOS CUJA PRÁTICA É PERMITIDA A QUALQUER CPI. PRECEDENTES. IMPOSSIBILIDADE
JURÍDICA DE CPI PRATICAR ATOS SOBRE OS QUAIS INCIDA A CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE
JURISDIÇÃO, COMO A BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR, v.g.. DOUTRINA. PRECEDENTE. POSSIBILIDADE, CONTUDO,
DE A CPI ORDENAR BUSCA E APREENSÃO DE BENS, OBJETOS E COMPUTADORES, DESDE QUE ESSA DILIGÊNCIA NÃO SE
EFETIVE EM LOCAL INVIOLÁVEL, COMO OS ESPAÇOS DOMICILIARES, SOB PENA , EM TAL HIPÓTESE , DE INVALIDADE DA
DILIGÊNCIA E DE INEFICÁCIA PROBATÓRIA DOS ELEMENTOS INFORMATIVOS DELA RESULTANTES. DELIBERAÇÃO
DA CPI/PETROBRAS QUE, EMBORA NÃO ABRANGENTE DO DOMICÍLIO DOS IMPETRANTES, RESSENTIR-SE-IA DA FALTA
DA NECESSÁRIA FUNDAMENTAÇÃO SUBSTANCIAL. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO, NA ESPÉCIE, DE CAUSA PROVÁVEL E DE
FATOS CONCRETOS QUE, SE PRESENTES , AUTORIZARIAM A MEDIDA EXCEPCIONAL DA BUSCA E APREENSÃO, MESMO
A DE CARÁTER NÃO DOMICILIAR . LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO PODER DE CONTROLE, PELO JUDICIÁRIO, DOS
ATOS E DELIBERAÇÕES EMANADOS DE COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO, NOS CASOS EM QUE SE
INVOQUE SUPOSTO ABUSO DE PODER POR PARTE DESSE ÓRGÃO DE INVESTIGAÇÃO LEGISLATIVA. PRECEDENTES.
MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA .
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado contra o Senhor Presidente da CPI/PETROBRAS, em
razão da aprovação , por referida Comissão Parlamentar de Inquérito , de requerimento de medida de busca e apreensão “de documentos e
computadores nos escritórios das empresas do Grupo **.”
Busca-se, em sede cautelar, “(...) seja obstado o curso da medida de busca e apreensão emanada pela Comissão Parlamentar de Inquérito da
Petrobras, a partir da aprovação do Requerimento REQ 849/2015-CPI PETRO, até o ulterior julgamento do mérito desta impetração (…)”( grifei ).
Sendo esse o contexto, passo a examinar o pleito cautelar deduzido pelos ora impetrantes. E , ao fazê-lo , observo , inicialmente , que o
poder de investigar constitui uma das mais expressivas funções institucionais do Poder Legislativo. Essa prerrogativa de fiscalizar traduz, na
dimensão em que se projetam as múltiplas competências constitucionais do Legislativo, atribuição inerente à própria essência da instituição
parlamentar.
As Comissões Parlamentares de Inquérito - que constituem verdadeiras “fact-finding commissions”- devem dispor , na condução do
procedimento investigatório, de todos os meios necessários e pertinentes à colimação de seus objetivos. Os poderes de indagação probatória e de
investigação ou pesquisa dos fatos determinados que motivaram a instauração do inquérito parlamentar sofrem , no entanto , limitações de ordem
jurídico-constitucional que restringem , em consequência , a capacidade de atuação da CPI (RAUL MACHADO HORTA, “Limitações
Constitucionais dos Poderes de Investigação” ,” in” RDP, vol. 5/38; JOÃO DE OLIVEIRA FILHO, “Inquéritos Parlamentares” , “in” Revista
de Informação Legislativa, vol. 2/73; MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, “Comentários à Constituição Brasileira de 1988” , vol. 2/72,
1992, Saraiva).
O direito de investigar - que o ordenamento constitucional brasileiro atribuiu ao Congresso Nacional e às Casas que o compõem ( CF , art.
58, § 3º) - tem , no inquérito parlamentar , o instrumento mais significativo de sua concretização.
A Constituição da República , ao outorgar às Comissões Parlamentares de Inquérito “poderes de investigação próprios das autoridades
judiciais” (art. 58, § 3º), claramente delimitou a natureza de suas atribuições institucionais , restringindo-as , unicamente , ao campo da
indagação probatória , com absoluta exclusão de quaisquer outras prerrogativas que se incluem , ordinariamente , na esfera de competência dos
magistrados e Tribunais, inclusive aquelas que decorrem do poder geral de cautela conferido aos juízes, como a decretação de indisponibilidade de
bens da pessoa sob investigação legislativa ( MS 23.466/DF , Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE MS 23.471/DF , Rel. Min. OCTAVIO
GALLOTTI, v.g. ).
É por essa razão que a jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal - com apoio no magistério da doutrina (JOSÉ
CRETELLA JÚNIOR, “Comentários à Constituição de 1988”, vol. V/2.700-2.701, item n. 303, 1991, Forense Universitária) - tem advertido que
as Comissões Parlamentares de Inquérito não podem formular acusações nem punir delitos ( RDA 199/205 , Rel. Min. PAULO BROSSARD), nem
desrespeitar o privilégio contra a autoincriminação que assiste a qualquer indiciado ou testemunha ( RDA 196/197 , Rel. Min. CELSO DE MELLO
HC 79.244/DF , Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE), nem decretar a prisão de qualquer pessoa , exceto nas hipóteses de flagrância ( RDA
196/195 , Rel. Min. CELSO DE MELLO RDA 199/205 , Rel. Min. PAULO BROSSARD).
Se é certo , observadas as restrições jurisprudenciais mencionadas, que a Comissão Parlamentar de Inquérito “tem poderes imanentes ao
natural exercício de suas atribuições, como os de colher depoimentos, ouvir indiciados, inquirir testemunhas, notificando-as a comparecer perante
ela e a depor”, bem assim os de “requisitar documentos e buscar todos os meios de provas legalmente admitidos” ( RDA 199/205 , Rel. Min.
PAULO BROSSARD), não é menos exato - segundo autorizado magistério doutrinário (LUÍS ROBERTO BARROSO, “Comissões
Parlamentares de Inquérito - Limite de sua Competência - Sentido da Expressão Constitucional Poderes de Investigação Próprios das
Autoridades Judiciais - Inadmissibilidade de Busca e Apreensão sem Mandado Judicial , “in” Revista Forense, vol. 335/165; FÁBIO KONDER
COMPARATO, “Comissões Parlamentares de Inquérito – Limites”, “in” Revista Trimestral de Direito Público, vol. 5/66) - que a Comissão
Parlamentar de Inquérito não tem competência para praticar atos sujeitos à cláusula constitucional de reserva de jurisdição , vale dizer , não
dispõe de competência para promover atos cuja efetivação a Constituição Federal atribuiu , com absoluta exclusividade , aos membros do Poder
Judiciário .
O postulado da reserva constitucional de jurisdição - consoante assinala a doutrina (J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional e
Teoria da Constituição”, p. 580 e 586, 1998, Almedina, Coimbra, v.g. ) - importa em submeter à esfera única de decisão dos magistrados (e
somente dos magistrados) a prática de determinados atos cuja realização, por efeito de verdadeira discriminação material de competência
jurisdicional fixada no texto da Carta Política, somente pode emanar do juiz , não de terceiros , inclusive daqueles a quem se hajam eventualmente
atribuído “poderes de investigação próprios das autoridades judiciais .”
Isso significa considerada a cláusula de primazia judiciária que encontra fundamento no próprio texto da Constituição - que esta exige ,
para a legítima efetivação de determinados atos , notadamente daqueles que implicam restrição a direitos, que sejam eles ordenados apenas por
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
22 a 26 de junho de 2015
Lei nº 13.137, de 19.6.2015 - Altera as Leis nº 10.865, de 30.4.2004, para elevar alíquotas da Contribuição para o
PIS/Pasep-Importação e da Cofins-Importação, 11.941, de 27.5.2009, 11.079, de 30.12.2004, 10.925, de 23.7.2004,
OUTRAS INFORMAÇÕES
22 a 26 de junho de 2015
Poder Judiciário - Ministério Público da União (MPU) - Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)
- Regime de Previdência Complementar - Servidor Público
Resolução Conjunta STF/MPU nº 1, de 23.6.2015 - Orienta os órgãos do Poder Judiciário da União, do Ministério
Publico da União (MPU) e do Conselho Nacional do Ministério Publico (CNMP) sobre o Regime de Previdência
Complementar instituído pela Lei nº 12.618, de 30.4.2012, estabelece procedimentos operacionais para a aplicação do
Plano de Benefícios do Judiciário da União, do MPU e do CNMP (JUSMP-PREV) e institui o Manual do Patrocinador
da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Judiciário. Publicada no DJE/STF, n.
124, p. 1-3, em 26.6.2015.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
HABEAS DATA
Possibilidade de se obter dados do contribuinte que constem nos sistemas da Receita Federal.
PROCESSO LEGISLATIVO
Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo.
LIVRE CONCORRÊNCIA
Súmula vinculante 49-STF.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Súmula vinculante 51-STF.
DIREITO TRIBUTÁRIO
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
Súmula vinculante 50-STF.
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
Súmula vinculante 52-STF.
ICMS
Somente lei em sentido formal pode instituir o regime de recolhimento do ICMS por estimativa.
DIREITO CONSTITUCIONAL
HABEAS DATA
Possibilidade de se obter dados do contribuinte que constem nos sistemas dos órgãos fazendários
Importante!!!
O habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados concernentes
ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas informatizados de
apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes estatais.
Sistema SINCOR
SINCOR (Sistema de Conta Corrente de Pessoa Jurídica) é um banco de dados da Receita Federal no qual
ela armazena as informações sobre os débitos e créditos dos contribuintes pessoas jurídicas.
As Certidões de Regularidade Fiscal dos contribuintes são emitidas com base nas informações constantes
do SINCOR.
O sistema SINCOR é de uso interno da Receita Federal e ela não fornece as informações ali constantes nem
mesmo se a própria pessoa jurídica interessada requerer.
O pedido da empresa poderá ser acolhido? A empresa tem direito de ter acesso às informações
presentes no SINCOR? O habeas data é instrumento adequado para esse pedido?
SIM. O STF decidiu que o habeas data é a ação adequada para que o contribuinte obtenha dados
relacionados ao pagamento de tributos e que constam nos sistemas informatizados dos órgãos da
administração fazendária (ex: SINCOR).
Em nível infraconstitucional, o habeas data foi regulamentado pela Lei n. 9.507/97.
O SINCOR pode ser considerado um banco de dados de caráter público para fins de habeas data?
SIM. O art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 9.507/97 prevê o seguinte:
Parágrafo único. Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados contendo informações
que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou
entidade produtora ou depositária das informações.
O SINCOR registra os dados sobre os débitos e créditos dos contribuintes e que servirão de apoio para os
servidores no trabalho de arrecadação dos tributos federais federal. Com isso, ele pode ser enquadrado no
conceito amplo de arquivo, banco ou registro de dados.
Pela leitura da Constituição, percebe-se que o habeas data garante à pessoa o acesso às informações
presentes em:
bancos de dados das entidades governamentais; e
bancos de dados de caráter público geridos por pessoas privadas.
Durante a tramitação da ação, um dos argumentos defensivos da União foi no sentido de que a empresa
ão teria i teresse de agir ao propor o habeas data já que as informações que alimentam o SINCOR
seriam fornecidas pela própria empresa. Tal alegação foi aceita pelo STF?
NÃO. Na atual sociedade de risco, os contribuintes estão submetidos a uma infinidade de obrigações
tributárias principais e acessórias, que implicam o pagamento de inúmeros tributos e o preenchimento de
incontáveis declarações. Desse modo, é razoável se entender que o contribuinte não consegue ter
controle total sobre todas essas informações, possuindo, portanto, interesse em ter acesso ao referido
banco de dados.
Constituição estadual poderá prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil daquele estado tenha
status de lei complementar.
Não há nada na CF/88 que impeça o constituinte estadual de exigir quórum maior (lei
complementar) para tratar sobre essa questão.
Seria uma demasia (um exagero) negar à Constituição estadual a possibilidade de escolher
determinados temas como mais sensíveis, exigindo, para eles, uma aprovação legislativa mais
qualificada por meio de lei complementar.
STF. Plenário. ADI 2314/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
julgado em 17/6/2015 (Info 790).
ADI
O Governador do Estado do RJ, na época, ajuizou ADI contra esse dispositivo afirmando que ele seria
inconstitucional por violar o princípio da simetria. A CF/88, ao tratar sobre as polícias civis, não exige que
as suas leis orgânicas sejam elaborados com status de lei complementar. Logo, para o autor da ADI, a CE
não poderia ter feito essa imposição sem respaldo na Carta federal.
Desse modo, os Estados detém competência para legislar sobre o tema e não há nada na CF/88 que
impeça o constituinte estadual de exigir quórum maior (lei complementar) para tratar sobre essa questão.
Segundo entendeu o STF, seria uma demasia (um exagero) negar à Constituição estadual a possibilidade
de escolher determinados temas como mais sensíveis, exigindo, para eles, uma aprovação legislativa mais
qualificada por meio de lei complementar.
REQUISITOS PARA QUE SEJA VÁLIDA A EMENDA PARLAMENTAR A PROJETOS DE LEI DE OUTROS PODERES
O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa privativa do chefe
do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre uma das matérias do art. 61, §
1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser alterado pelos parlamentares?
SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada ao Chefe do
Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88).
Assim, nos projeto de lei de iniciativa do Chefe do Executivo, o parlamentar pode até propor emendas,
mas estas deverão respeitar as restrições trazidas pelo art. 63, I, da CF/88.
LIVRE CONCORRÊNCIA
Lei municipal que impede instalação de estabelecimentos comerciais
Súmula vinculante 49-STF: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede
a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.
Zoneamento urbano consiste na divisão da cidade em áreas nas quais podem ser realizadas determinadas
atividades. Ex: o Município poderá estabelecer que determinado bairro será considerado área residencial;
outra região da cidade será reputada como área comercial; outra localidade será prevista como área
industrial e assim por diante.
Na maioria dos Municípios este zoneamento não é extremamente rígido porque as cidades não nasceram
planejadas e nos diversos locais já havia tanto casas residenciais como estabelecimentos comerciais/industriais.
Assim, o mais comum é vermos áreas mistas em que existe mais de um tipo de imóvel.
O zoneamento urbano, em regra, é válido porque se trata de competência prevista na CF/88, além de ser
salutar já que organiza a vida na cidade.
Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6
Livre concorrência
O ordenamento e o zoneamento urbanos não podem, contudo, violar direitos e garantias constitucionais,
sob pena de serem ilegítimos.
Logo que a CF/88 foi editada, alguns Municípios, sob o pretexto de fazerem o ordenamento do solo
urbano, editaram leis proibindo que, em determinados áreas da cidade, houvesse mais de um
esta ele i e to o e ial do es o a o e p esa ial. Ex: o ai o X só pode ia ha e u
supermercado.
O STF considerou que tais previsões são inconstitucionais por violarem a livre concorrência, que é um
princípio protegido pela CF/88:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
(...)
IV - livre concorrência;
O Município, ao proibir que um estabelecimento comercial se instale em determinada área da cidade pelo
simples fato de já existir outro ali funcionando, impede a livre concorrência entre os empresários.
Além disso, tal medida viola o princípio da isonomia e não trará qualquer benefício para o ordenamento
urbano nem para a população local.
Exemplo concreto:
O Município de Joinville (SC) editou lei proibindo que novas farmácias se instalassem a menos de 500m de
outra. Essa lei municipal foi considerada inconstitucional.
Segundo explicou o Min. Ilmar Galvão, o Município possui competência para o zoneamento, podendo
i pedi o exe í io de e tas ati idades a zo a u a a. No e ta to, essa o pet ia ão pode hega
ao ponto de impedir a duplicidade, ou até a multiplicidade de estabelecimentos do mesmo ramo, numa
mesma área, o que redundaria em reserva de mercado, ainda que relativa, e, consequentemente, em
afronta aos princípios da livre concorrência, da defesa do consumidor e da liberdade de exercício das
atividades econômicas, que informam o modelo da ordem econômica consagrado a Carta da República
(art. 170 e pa ág afo, da CF . “TF. ª Tu a. RE 203909, julgado em 14/10/1997).
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Revisão geral dos servidores antes da EC 19/98
Súmula vinculante 51-STF: O reajuste de 28,86%, concedido aos servidores militares pelas
Leis 8.622/1993 e 8.627/1993, estende-se aos servidores civis do Poder Executivo, observadas
as eventuais compensações decorrentes dos reajustes diferenciados concedidos pelos mesmos
diplomas legais.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.
Assim, se atualmente for dado um reajuste anual para os militares maior do que para os servidores públicos do
Poder Executivo federal, estes não terão direito de pedir equiparação. O contrário também é verdadeiro.
Crítica
A súmula 672-STF foi editada para resolver uma questão específica que ocorreu há muitos anos. A
esmagadora maioria dos processos judiciais envolvendo o tema já foram julgados. Os pouco que ainda
restam poderiam ser facilmente resolvidos mediante a aplicação da sú ula o u -STF. Desse
modo, não havia necessidade na edição da transformação da súmula 672 em vinculante. A SV 51 não serve
para quase nada porque o tema está ultrapassado e, o pior, sua edição contraria o § 1º do 103-A da CF/88
ue exige o t o sia atual :
Art. 103-B (...)
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca
das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que
acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
Norma que altera o prazo de pagamento do tributo
Súmula vinculante 50-STF: Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação
tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.
Esses dois princípios foram previstos para serem aplicados cumulativamente, ou seja, se um tributo é
instituído ou aumentado em um determinado ano, ele somente poderá ser cobrado no ano seguinte. Além
disso, entre a data em que foi publicada a lei e o início da cobrança deverá ter transcorrido um prazo
mínimo de 90 dias. Tudo isso para que o contribuinte possa programar suas finanças pessoais e não seja
pego de su p esa po u o o t i uto ou seu au e to.
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
Imunidade tributária e imóvel alugado
Súmula vinculante 52-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o
imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde que o
valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.
Se o partido, entidade ou instituição possui um imóvel onde ali realiza suas atividades, esse bem é imune
(estará livre do pagamento de IPTU)?
SIM.
Se o partido, entidade ou instituição possui um imóvel e o aluga a um terceiro, esse bem continua sendo
imune (estará livre do pagamento de IPTU)?
SIM. Persiste a imunidade, mas desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais
tais entidades foram constituídas. É o que afirma a jurisprudência do STF que conferiu uma interpretação
teleológica à imunidade afirmando que o fator que realmente importa é saber se os recursos serão
utilizados para as finalidades incentivadas pela Constituição. Confira novamente a redação da súmula:
Súmula vinculante 52-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel
pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde que o valor dos aluguéis
seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.
ICMS
Somente lei em sentido formal pode instituir o regime de recolhimento do ICMS por estimativa
Quando se fala em regime de apuração, isso significa a forma por meio da qual o valor tributo
será calculado. No caso do ICMS, existem vários regimes de apuração do imposto.
A LC 87/96 autoriza que os Estados membros adotem o regime de apuração por estimativa.
O Estado-membro pode estabelecer o regime de estimativa por meio de Decreto?
NÃO. Somente lei em sentido formal pode instituir o regime de recolhimento do ICMS por
estimativa.
STF. Plenário. RE 632265/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/6/2015 (Info 790).
ICMS
O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF/88:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
II — operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no
exterior;
A CF/88 determinou, no art. 155, § 2º, XII, que uma lei complementar nacional deveria fixar as normas
gerais sobre o ICMS prevendo os contribuintes do imposto, as formas de substituição tributária, c o regime
de compensação, a base de cálculo etc.
Que lei complementar é essa de que trata o art. 155, § 2º, XII?
Trata-se da LC 87/96, lei complementar nacional, que traz as regras gerais sobre o ICMS.
Os Estados-membros (e o DF) podem (e devem) editar leis estaduais tratando sobre o ICMS segundo suas
peculiaridades regionais, mas para isso precisam respeitar os limites e contornos fixados pela LC 87/96.
Tese:
Como o tema foi julgado em sede de recurso extraordinário sob repercussão geral, o STF firmou a seguinte
tese que valerá para outros casos semelhantes:
Somente lei em sentido formal pode estabelecer o regime de recolhimento do ICMS por estimativa.
DIREITO PROCESSUAL
DO TRABALHO
Súmula vinculante 53-STF: A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da
CF, alcança a execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da
condenação constante das sentenças que proferir e acordos por ela homologados.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos
da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa
física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;
(...)
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre
aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;
Assim, por exemplo, se o juiz do trabalho condena o empregador a pagar R$ 2 mil de salários atrasados,
ele também já poderá reconhecer que é devido o pagamento da contribuição previdenciária que incide
sobre essa verba, nos termos do a t. , I, a , e II, da CF/88 e cobrar do patrão condenado tanto as
verbas trabalhistas (que serão destinadas ao trabalhador) quanto as previdenciárias (que reverterão aos
cofres da Previdência).
SITUAÇÃO 1
Imagine agora a seguinte situação hipotética:
João t a alhou du a te a os, o a tei a assi ada, pa a a e p esa XX at ue, e to dia, foi de itido.
Insatisfeito com os valores recebidos na rescisão do contrato, o ex-empregado ajuíza ação trabalhista
pedindo o pagamento de horas extras, adicional noturno e adicional de insalubridade.
Tratando ainda sobre a 1ª situação. Se João e a empresa decidem fazer um acordo no qual a empresa
reconhece que as verbas salariais são devidas e as aceita pagar. Neste caso, o juiz, no momento de
homologar o acordo, deverá incluir as respectivas contribuições previdenciárias que deveriam incidir
sobre tais verbas?
SIM. Mesmo tendo havido um acordo, o juiz, ao homologá-lo, já deverá fazer constar na sentença
homologatória as contribuições previdenciárias que são devidas e poderá executá-las, de ofício, caso não
sejam pagas.
Observação importante: Ricardo (empregador) só foi condenado a pagar os R$ 10 mil reais. Ele não foi
condenado a pagar nenhum salário referente ao período de fev/2012 a fev/2014 porque estes já tinham
sido quitados.
Segundo o TST e o STF, a Justiça do Trabalho só tem competência para executar de ofício as contribuições
sociais que se referiam às verbas que foram objeto da sentença condenatória ou do acordo homologado
(em nosso exemplo, sobre os R$ 10 mil).
A Justiça do Trabalho não pode executar contribuições previdenciárias relacionadas com períodos que ela
reconheceu como sendo relação de emprego, mas sobre os quais não houve condenação (em nosso
exemplo, fev/2012 a fev/2014).
Essa conclusão está presente na primeira parte do enunciado 368 do TST e na SV 53 do STF. Confira:
TST. SÚMULA Nº 368. DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO
PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO.
I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A
competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às
sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que
integrem o salário de contribuição. (...)
Súmula vinculante 53-STF: A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da CF, alcança a
execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da condenação constante das
sentenças que proferir e acordos por ela homologados.
Essa parte destacada em cinza é considerada inconstitucional pelo STF, devendo, portanto, ser aplicado o
entendimento exposto na SV 53 acima explicada.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 15 a 19 de junho de 2015
CLIPPING DO D JE
15 a 19 de junho de 2015
ADI N. 4.284-RR
RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
EMENTA: PROCESSO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.
DESCABIMENTO DE ADITAMENTO. II – PROCESSO LEGISLATIVO. VÍCIO DE INICIATIVA. EMENDA À CONSTITUIÇÃO ESTADUAL
QUE PREVÊ AFASTAMENTO DE MEMBROS DA ALTA ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL.
I – Não conhecimento da ação quanto à pretendida declaração de inconstitucionalidade do art. 111, §§ 1º e 2º, da Carta Estadual de Roraima, por não
indicação dos fundamentos jurídicos do pedido (Lei nº 9.868/1999, art. 3º, I).
II – Não conhecimento do aditamento à inicial quanto à nova redação do inciso XVIII do art. 33 da Constituição Estadual, dada pela EC nº 30/2012,
haja vista que o dispositivo original está em debate na ADI 2.167 e não foi impugnado na inicial.
III – Procedência do pedido quanto aos incisos XXXI e XXXII do art. 33 da Constituição Estadual, por tratarem de regime jurídico de servidores
públicos sem observar a iniciativa privativa do Chefe do Executivo.
IV – Ação conhecida em parte, e, na parte conhecida, julgada procedente.
*noticiado no Informativo 780
HC N.126.516-RJ
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO, LESÃO
CORPORAL AGRAVADA PELA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO – ARTIGOS 121, § 2º, INCISOS I E IV, 129, § 9º, AMBOS
DO CÓDIGO PENAL, E 12 DA LEI 10.826/03. ABSOLVIÇÃO. APELAÇÃO DA ACUSAÇÃO PROVIDA SOB O FUNDAMENTO DE CONTRARIEDADE À
PROVA DOS AUTOS. EXISTÊNCIA DE DUAS VERSÕES PLAUSÍVEIS. AFRONTA À SOBERANIA DOS VEREDICTOS DO TRIBUNAL DO JÚRI (ART. 5º, INC.
XXXVIII, ALÍNEA C, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). APELAÇÃO FUNDADA NO ART. 593, III, D, DO CPP. PRECEDENTES.
Ext N. 1.390-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: EXTRADIÇÃO FUNDADA EM TRATADO FIRMADO ENTRE O BRASIL E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. CRIMES DE
CONSPIRAÇÃO, ROTULAGEM FRAUDULENTA, FRAUDE ELETRÔNICA, FRAUDE DE CORRESPONDÊNCIA E ROTULAGEM
FRAUDULENTA DE MEDICAMENTO ENQUANTO DISPONÍVEL PARA VENDA. DELITOS NÃO CONTEMPLADOS NO ART. II DO
TRANSCRIÇÕES
Adoção de descendente maior de idade e legitimidade (Transcrições)
(v. Informativo 785)
MS 31.383/DF*
RELATOR: Ministro Marco Aurélio
PENSÃO – ADOÇÃO DE PESSOA MAIOR DE IDADE – INSTRUMENTO PÚBLICO – INSUFICIÊNCIA. Cumpre observar, no caso de
adoção de pessoa maior de idade, as dependências emotiva e financeira, não cabendo potencializar o ato formalizado em cartório quando
desacompanhado de tais fenômenos.
RELATÓRIO: O assessor ** prestou as seguintes informações:
** aponta ilegalidade praticada pela Primeira Câmara do Tribunal de Contas da União, que, no Acórdão nº 635/2012, formalizado no
Processo Administrativo TC nº 012.708/2007-7, negou registro a pensão militar recebida.
Segundo narra, no referido processo, figuraram quatro beneficiárias de pensões militares. Foi realizado julgamento conjunto em razão
da semelhança de situações fáticas, já que todas são beneficiárias de pensões militares decorrentes da adoção, feita por meio de escritura
pública, conforme regra do artigo 375 do Código Civil de 1916.
Afirma nunca ter sido intimada da tramitação do processo no Tribunal de Contas da União, o que revelaria tratamento discrepante
daquele conferido às demais beneficiárias, pois, em relação a elas, teriam sido respeitadas as garantias constitucionais do contraditório e da
ampla defesa. Diz da arbitrariedade da decisão do Tribunal, pois vinha recebendo a pensão desde 2000. Alude à existência de precedentes
nos quais o Supremo assentou a necessidade de contraditório para a cassação de pensões concedidas há mais de cinco anos, ante o princípio
da segurança jurídica. Assevera ser preciso observar o devido processo legal nos processos administrativos, consoante previsto no artigo 5º,
inciso LIV, da Lei Maior, o que inclui aqueles em curso no Tribunal de Contas da União. Aponta violação ao Verbete Vinculante nº 3 da
Súmula do Supremo.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
15 a 19 de junho de 2015
Lei nº 13.134, de 16.6.2015 - Altera as Leis n° 7.998, de 11.1.1990, que regula o Programa do Seguro-
Desemprego e o Abono Salarial e institui o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), n° 10.779, de 25.11.2003, que
dispõe sobre o seguro-desemprego para o pescador artesanal, e n° 8.213, de 24.7.1991, que dispõe sobre os planos de
OUTRAS INFORMAÇÕES
15 a 19 de junho de 2015
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
PSV 28/DF; ACO 989/BA; AP 530 ED-segundos/MS.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: RHC 125477/RJ.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão
DIREITO ADMINISTRATIVO
APOSENTADORIA ESPECIAL
Oficiais de justiça não têm direito à aposentadoria especial.
DIREITO CIVIL
DIREITOS DA PERSONALIDADE
Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão
DIREITO PENAL
TORTURA
Regime inicial de cumprimento de pena.
DIREITO CONSTITUCIONAL
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão
Importante!!!
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do indivíduo
biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização prévia
seria uma forma de censura, não sendo compatível com a liberdade de expressão consagrada
pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as seguintes:
Biografias
Um dos gêneros literários mais lidos em todo o mundo são as chamadas biografias, livros nos quais o autor
narra a vida e a história de uma pessoa.
Ocorre que ao mesmo tempo em que as biografias geram paixão e interesse dos leitores, algumas vezes
despertam também polêmicas.
Isso porque existem duas espécies de biografias:
a) AUTORIZADA: na qual o indivíduo que será retratado no livro concordou com a sua divulgação (ou seus
familiares, se já tiver falecido) e até forneceu alguns detalhes para subsidiar a obra. Geralmente são obras
e osài te essa tesàpo ueà ep ese ta àaà e s oàofi ial àdaà idaàdoà iog afado,àouàseja,àape asàosàfatosà
e circunstâncias que ele quer que sejam mostrados, perdendo um pouco da imparcialidade do relato.
b) NÃO-AUTORIZADA: quando o biografado (pessoa que está sendo retratada) não concordou
expressamente com a obra ou até se insurgiu formalmente contra a sua edição. São esses os livros que
geram maior interesse porque nele são trazidos fatos polêmicos e às vezes pouco conhecidos da vida do
biografado, circunstâncias que muitas vezes ele não queria ter exposto.
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as
providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
Veja, portanto, que o art. 20 afirma expressamente que a divulgação de escritos ou a publicação da
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento.
Qua doàoàa t.à 0àfalaàe à i age ,àeleà oàest àape asàseà efe i doà ài age àfisio i aàdoài di íduoà
seuà et ato .àáàpala aà i age àaliàe p egadaàte àt sàacepções:
a) Imagem-retrato: são as características fisionômicas da pessoa, ou seja, o seu desenho, sua pintura, sua
fotografia. A imagem-retrato é captada pelos olhos.
b) Imagem-atributo: são as características imateriais (morais) por meio das quais os outros enxergam
aquela pessoa. É a personalidade, o caráter, o comportamento da pessoa segundo a visão de quem a
conhece. A imagem-atributo é captada pelo coração.
Em uma interpretação literal do art. 20, as biografias não-autorizadas seriam proibidas, já que elas
constituiriam na divulgação ou publicação da imagem-atributo do biografado sem que este tenha dado seu
consentimento.
Diante disso, o biografado poderia, invocando seu direito à imagem e à vida privada, pleitear judicialmente
providências para impedir ou fazer cessar essa publicação (art. 21 do CC). Em outras palavras, o biografado
poderia impedir a produção da biografia ou, se ela já estivesse pronta, a sua comercialização.
O exemplo mais emblemático de disputa judicial envolvendo o tema ocorreu no caso do cantor Roberto
Carlos, que processou o jornalista e escritor Paulo Cesar de Araújo, autor de sua biografia não-autorizada
ha adaàdeà Ro e toàCa losàe àdetalhes àeà ueà ha iaàsidoàla çadaàe àdeze oàdeà 00 àpelaàEdito aà
Planeta, sendo proibida pela Justiça em abril de 2007.
ADI 4815
Em 2012, a Associação Nacional dos Editores de Livros (ANEL) ajuizou uma ação direta de
inconstitucionalidade no STF com o objetivo de declarar a inconstitucionalidade parcial dos arts. 20 e 21
do Código Civil.
O pedido principal da autora foi para que o STF desse interpretação conforme a Constituição e declarasse
que não é necessário o consentimento da pessoa biografada para a publicação ou veiculação de obras
biográficas, literárias ou audiovisuais.
O STF concordou com o pedido? As biografias não-autorizadas podem ser publicadas mesmo sem prévia
autorização do biografado (ou de sua família)?
SIM. O STF julgou procedente a ADI e conferiu interpretação conforme à Constituição aos arts. 20 e 21 do
CC para declarar que não é necessária a autorização prévia para a publicação de biografias.
Liberdade de expressão
áà CF/88à o sag aà aà li e dadeà deà exp ess oà e à seuà a t.à º,à IX,à p e e doà ueà é livre a expressão da
atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou lice ça .
Noàa t.à 0,à§à º,àaàCa taàafi aà ueà à vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e
a tísti a .
Desse modo, uma regra infraconstitucional (Código Civil) não pode abolir o direito de expressão e criação
de obras literárias.
Em suma:
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do indivíduo biografado, das
demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização prévia seria uma forma de censura,
não sendo compatível com a liberdade de expressão consagrada pela CF/88.
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus direitos foram
violados pela publicação, ele terá direito à reparação, que poderá ser feita não apenas por meio de
indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a publicação de ressalva, de nova
edição com correção, de direito de resposta etc.
DIREITO ADMINISTRATIVO
APOSENTADORIA ESPECIAL
Oficiais de justiça não têm direito à aposentadoria especial
Importante!!!
Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são mais
favoráveis que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas.
A CF/88 prevê que os servidores que exerçam atividades de risco têm direito à aposentadoria
especial, segundo requisitos e condições previstas em lei complementar art. 40, § 4º, )), b .
O sindicato dos Oficiais de Justiça ajuizou, no STF, mandado de injunção coletivo alegando que
os oficiais de justiça exercem atividades de risco, nos termos do art. 40, § 4º, II, da CF/88 e que,
apesar disso, até agora, não foi editada uma lei complementar nacional prevendo
aposentadoria especial para eles. Argumentou, então, que estaria havendo omissão legislativa.
O STF concordou com o pedido formulado?
NÃO. Os Oficiais de Justiça, no exercício de suas funções, até sofrem, eventualmente, exposição
a situações de risco, mas isso, por si só, não confere a eles o direito subjetivo à aposentadoria
especial.
Os Oficiais de Justiça podem até, a depender do caso concreto, estar sujeitos a situações de
risco, notadamente quando no exercício de suas funções em áreas dominadas pela
criminalidade, ou em locais marcados por conflitos fundiários. No entanto, o STF entendeu que
esse risco é contingente (eventual), e não inerente ao serviço. Não se pode dizer que as funções
dos Oficiais de Justiça são perigosas (isso não está na sua essência). Elas podem ser
eventualmente perigosas.
Se uma atividade é eventualmente perigosa, o legislador pode prever que os servidores que a
desempenham tenham direito à aposentadoria especial com base no art. 40, § 4º, II, da CF/88.
Se o legislador não fizer isso, não haverá omissão de sua parte porque o texto constitucional
não exige. Ex: Oficiais de Justiça. Reconhecer ou não o direito à aposentadoria especial é uma
escolha da discricionariedade legislativa.
Servidores que exerçam atividades de risco (art. 40, § 4º, II). A CF exige que seja editada uma lei
complementar.
Servidores que exerçam atividades sob condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física (art. 40, § 4º, III).
Logo, a CF/88 exige a edição de uma LEI COMPLEMENTAR definindo os critérios para a concessão da
aposentadoria especial aos servidores públicos. A Lei deverá, inclusive, elencar as carreiras que se
encontram em situação de risco ou cujas atividades prejudiquem a saúde ou integridade física.
Oficiais de justiça
O sindicato dos Oficiais de Justiça ajuizou, no STF, mandado de injunção coletivo alegando que os oficiais
de justiça exercem atividades de risco, nos termos do art. 40, § 4º, II, da CF/88 e que, apesar disso, até
agora, não foi editada uma lei complementar nacional prevendo aposentadoria especial para eles.
O autor argumentou, então, que estaria havendo omissão legislativa do Presidente da República e do
Presidente do Congresso Nacional na regulamentação do art. 40, § 4º, II, da CF/88, para a aposentadoria
especial dos ocupantes do cargo de Oficial de Justiça.
Além de pedir para ser reconhecida a mora (omissão legislativa), o sindicato requereu que, enquanto não
seja editada a lei complementar prevendo aposentadoria especial para os Oficiais de Justiça, sejam
aplicadas a essa categoria, por analogia, as regras de aposentadoria especial dos policiais civis, previstas na
Lei Complementar Federal n. 51/85.
O sindicato argumentou que poderia ser feita essa analogia porque os Oficiais de Justiça recebem
adicional de periculosidade e podem obter autorização para porte de arma de fogo de uso permitido, de
forma que seria uma carreira equiparável.
É proibido que a lei complementar preveja aposentadoria especial, com base no art. 40, § 4º, II, da
CF/88, para atividades que são apenas eventualmente perigosas? Vamos admitir que a atividade dos
Oficiais de Justiça é apenas eventualmente perigosa. O legislador está impedido de prever
aposentadoria especial para essa categoria?
NÃO. O STF explicou que não existe uma impossibilidade jurídica de que a lei preveja critérios para
aferição de situações concretas de risco no serviço público, para fins de concessão de aposentadoria
especial. Em outras palavras, o legislador não está proibido de prever aposentadoria especial, com base no
art. 4º, II, da CF/88 para carreiras que desempenhem atividades apenas eventualmente perigosas. Assim, o
legislador até pode prever aposentadoria especial para Oficiais de Justiça com base na periculosidade.
O que o STF quis dizer é que não existe um dever constitucional do legislador de prever aposentadoria
especial para atividades apenas eventualmente perigosas. Isso é uma discricionariedade do legislador
(escolha política). O dever que existe é o de criar a aposentadoria especial para aquelas atividades
perigosas por sua própria natureza (ex: policiais).
Assim, embora o legislador possa, em tese, prever aposentadoria especial por periculosidade para os
Oficiais de Justiça, a decisão de editar ou não essa lei complementar é uma escolha política, a ser exercida
dentro pelo Parlamento.
Explicando melhor:
Se uma atividade é eventualmente perigosa, o legislador pode prever que os servidores que a
desempenham tenham direito à aposentadoria especial com base no art. 40, § 4º, II, da CF/88. Se o
legislador não fizer isso, não haverá omissão de sua parte porque o texto constitucional não exige. Ex:
Oficiais de Justiça. Reconhecer ou não o direito à aposentadoria especial é uma escolha da
discricionariedade legislativa.
Se uma atividade é perigosa por sua própria natureza, o legislador tem o dever de prever que os
servidores que a desempenham terão direito à aposentadoria especial com base no art. 40, § 4º, II, da
CF/88. Se o legislador não fizer isso, haverá omissão inconstitucional de sua parte porque o texto da
CF/88 exige. Aqui não existe discricionariedade, mas sim um dever do legislador. Ex: carreira policial.
O Congresso Nacional, ao cumprir o dever de legislar previsto no art. 40, § 4º, II, da CF/88, pode prever critérios
mais ou menos elásticos para a ide tifi aç oàdasà ati idadesàdeà is o ,à asà oàpode iaàdeixa àdeà o te pla à
as atividades inerentemente perigosas, sob pena de violação ao núcleo essencial do dispositivo.
Obs: no caso dos policiais, o legislador não está em omissão porque já existe lei regulando sua
aposentadoria especial. Trata-se da LC 51/85.
E como o STF refutou o argumento do sindicato de que os Oficiais de Justiça podem ser equiparados a
policiais porque recebem adicional de periculosidade e podem portar arma de fogo?
O STF afirmou que tais circunstâncias não podem, por si só, ou seja, de forma automática, produzir efeitos
sobre o vínculo previdenciário. Existe uma autonomia entre o vínculo funcional e o previdenciário, ou seja,
os requisitos para se obter gratificações, adicionais etc. são uns e os requisitos para se obter
aposentadoria especial são outros.
DIREITO CIVIL
DIREITOS DA PERSONALIDADE
Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão
Importante!!!
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária a autorização prévia do indivíduo
biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização prévia
seria uma forma de censura, não sendo compatível com a liberdade de expressão consagrada
pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as seguintes:
É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias
ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas retratadas como
coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes .
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus direitos
foram violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não apenas por
meio de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a publicação de
ressalva, de nova edição com correção, de direito de resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).
DIREITO PENAL
TORTURA
Regime inicial de cumprimento de pena
O STF já decidiu que é inconstitucional a Lei que impõe o regime inicial fechado para os crimes
hediondos e equiparados (STF. HC 111.840-ES).
Para o STJ, isso se aplica também ao delito de tortura, por ser este equiparado a crime
hediondo. Logo, o juiz deve desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei nº
9.455/1997, por ser esta norma também inconstitucional. Assim, não é obrigatório que o
condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado. O
juiz, no momento da dosimetria da pena, deverá seguir as regras do art. 33 do CP.
A Lei nº 8.072/90, em sua redação original, determinava que os condenados por crimes hediondos ou
equiparados (TTT) deveriam cumprir a pena em regime integralmente fechado:
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de: (...)
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado.
Em 23/02/2006, o STF declarou inconstitucional este § 1º do art. 2º por duas razões principais, além de
outros argumentos:
a) a norma violava o princípio constitucional da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF/88), já que
obrigava o juiz a sempre condenar o réu ao regime integralmente fechado independentemente do caso
concreto e das circunstâncias pessoais do réu;
b) a norma proibia a progressão de regime de cumprimento de pena, o que inviabilizaria a ressocialização
do preso.
STF. Plenário. HC 82959, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/02/2006.
O novo § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/2007, continua sendo
inconstitucional? Os vícios de inconstitucionalidade que existiam na redação original permanecem? Esse
dispositivo, em sua nova redação, continua violando o princípio constitucional da individualização da pena?
SIM. O STF decidiu que o § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/2007,
ao impor o regime inicial fechado, é INCONSTITUCIONAL.
STF. Plenário. HC 111.840/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, 27/6/2012 (Info 672).
A CF prevê, no seu art. 5º, XLIII, as vedações que ela quis impor aos crimes hediondos e equiparados
(são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia). Nesse inciso, não consta que o regime inicial
para esses crimes tenha que ser o fechado. Logo, não poderia o legislador estabelecer essa imposição
de regime inicial fechado, por violar o princípio da individualização da pena.
Desse modo, deve ser superado o disposto na Lei dos Crimes Hediondos (obrigatoriedade de início do
cumprimento de pena no regime fechado) para aqueles que preencham todos os demais requisitos
previstos no art. 33, §§ 2º, e 3º, do CP, admitindo-se o início do cumprimento de pena em regime
diverso do fechado.
O juiz, no momento de fixação do regime inicial, deve observar as regras do art. 33 do Código Penal,
podendo estabelecer regime prisional mais severo se as condições subjetivas forem desfavoráveis ao
condenado, desde que o faça em razão de elementos concretos e individualizados, aptos a demonstrar
a necessidade de maior rigor da medida privativa de liberdade do indivíduo.
Mas o juiz, ao sentenciar o réu por crime de tortura, não é obrigado a aplicar o § 7º do art. 1º da Lei nº
9.455/97 (Lei de Tortura) (§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º,
iniciará o cumprimento da pena em regime fechado)?
NÃO. Como vimos acima, o Plenário do STF decidiu que é inconstitucional a Lei que impõe o regime inicial
fechado para os crimes hediondos e equiparados (STF. HC 111.840-ES).
Esse entendimento do STF aplica-se também ao delito de tortura, por ser este equiparado a crime hediondo.
Logo, o juiz deve desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei nº 9.455/1997, por ser esta norma
também inconstitucional.
(...) 3. É flagrante o constrangimento ilegal em relação à fixação do regime inicial fechado com base no art.
1.º, § 7.º, da Lei de Tortura.
4. Com a declaração pelo Pretório Excelso da inconstitucionalidade do regime integral fechado e do § 1.º do art.
2.º da Lei de Crimes Hediondos, com redação dada pela lei n.º 11.464/2007 - também aplicável ao crime de
tortura -, o cumprimento da pena passou a ser regido pelas disposições gerais do Código Penal. (...)
STJ. 5ª Turma. HC 286.925/RR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/05/2014.
Observe que, segundo defendeu o Min. Marco Aurélio, o § 7º do art. 1º da Lei n. 9.455/97 seria constitucional,
ou seja, para ele, é legítima a previsão de que o regime inicial no crime de tortura seja o fechado.
Cuidado: o inteiro teor do julgado ainda não foi divulgado, mas penso que se trata de uma posição
minoritária e isolada do Min. Marco Aurélio. Repare que os demais Ministros acompanharam o Relator
mais por uma questão de praticidade do que de tese jurídica. Isso porque os demais Ministros entendiam
que, no caso concreto, nem caberia habeas corpus considerando que já havia trânsito em julgado. No
entanto, eles não aderiram expressamente à tese do Relator.
PRISÃO E LIBERDADE
Prisão domiciliar e gestante a partir do 7º mês de gravidez
A CF/88 assegura às presidiárias condições para que possam permanecer com seus filhos
durante o período da amamentação e enfatiza a proteção à maternidade e à infância (art. 5º,
L , e art. 6º, caput .
No caso concreto, a acusada encontrava-se presa preventivamente, em estágio avançado de
gravidez (7 meses), em penitenciária insalubre e sem condições para acompanhamento pré-natal.
Assim, objetivando efetivar o direito acima mencionado, reconheceu-se que a acusada teria
direito à prisão domiciliar, nos termos do art. 318, IV, do CPP:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco.
STF. 2ª Turma. HC 128381/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/6/2015 (Info 789).
A concessão da prisão domiciliar encontra amparo legal na proteção à maternidade e à infância, como
também na dignidade da pessoa humana, porquanto prioriza-se o bem-estar da menor, principalmente,
por estar em estágio avançado de gravidez.
Além disso, no caso concreto, a prisão preventiva decretada não atendeu aos requisitos do art. 312 do
CPP, especialmente no que diz respeito à indicação de elementos concretos que, ao momento da
decretação, fossem imediatamente incidentes a ponto de justificar a constrição.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 8 a 12 de junho de 2015
CLIPPING DO D JE
8 a 12 de junho de 2015
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
8 a 12 de junho de 2015
Lei nº 13.132, de 9.6.2015 - Altera a Lei no 12.096, de 24.11.2009. Publicada no DOU, n. 108, Seção 1, p.1, em
10.6.2015.
Decreto nº 8.463, de 5.6.2015 - Regulamenta as medidas tributárias referentes à realização, no Brasil, dos Jogos
Olímpicos de 2016 e dos Jogos Paraolímpicos de 2016 de que trata a Lei nº 12.780, de 9.1.2013, e altera o Decreto nº
7.578, de 11.10.2011, que regulamenta as medidas tributárias referentes à realização, no Brasil, da Copa das
Confederações FIFA 2013 e da Copa do Mundo FIFA 2014 de que trata a Lei nº 12.350, de 20.12.2010, e dá outras
providências. Publicado no DOU, n. 106, Seção 1, p.1, em 8.6.2015.
ARBITRAGEM - Agência Reguladora - Critério - Litígio - Resolução - Porto
Decreto nº 8.465, de 8.6.2015 - Regulamenta o § 1º do art. 62 da Lei nº 12.815, de 5.6.2013, para dispor sobre os
critérios de arbitragem para dirimir litígios no âmbito do setor portuário. Publicado no DOU, n. 107, Seção 1, p.2, em
9.6.2015.
Processo excluído deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: Rcl
18165 AgR/RR.
ÍNDICE
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Não cabimento de decisão monocrática do relator.
DIREITO PENAL
PRESCRIÇÃO
Não se admite a denominada prescrição em perspectiva.
DIREITO PENAL
PRESCRIÇÃO
Não se admite a denominada prescrição em perspectiva
A prescrição virtual ocorre quando o juiz, verificando que já se passaram muitos anos desde o
dia em que o prazo prescricional começou ou voltou a correr, entende que mesmo que o
inquérito ou processo continue, ele não terá utilidade porque muito provavelmente haverá a
prescrição pela pena em concreto.
Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se ele fosse condenado e, a
partir daí, examina se, entre os marcos interruptivos presentes no processo, já se passaram
mais anos do que o permitido pela lei.
A prescrição virtual é também chamada de prescrição em perspectiva , por prognose ,
projetada ou antecipada .
O STF e o STJ afirmam que é inadmissível a prescrição virtual por dois motivos principais: a)
em virtude da ausência de previsão legal; b) porque representaria uma afronta ao princípio da
presunção de não-culpabilidade.
O STJ tem, inclusive, um enunciado proibindo expressamente a prática (Súmula 438-STJ).
STF. 1ª Turma. Inq 3574 AgR/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2015 (Info 788).
Depois de fazer todo esse prognóstico, o juiz conclui que é inútil marcar instrução, expedir mandados de
intimação, gastar recursos com oficial de justiça, ouvir testemunhas e o réu, sabendo (ou tendo
praticamente certeza) que, mesmo se condenado, o réu não irá cumprir pena.
Diante disso, ele p ofe eà u aàse te çaàjulga doàexti taà aàpu i ilidadeà o à aseà aà p es içãoàvi tual
afirmando que não existe interesse de agir do Estado, já que o processo penal não terá utilidade.
Sinônimos
A prescrição virtual é também chamada de prescrição e àpe spe tiva ,à po àp og ose ,à p ojetada àouà
a te ipada .
O crime do art. 1º, I, do Decreto-Lei 201/1967 é próprio, somente podendo ser praticado por
prefeito, admitida, porém, a participação, nos termos do art. 29 do CP.
Exemplo: Deputado Federal apresentou emenda parlamentar ao orçamento da União
autorizando o repasse de recursos para o Município X , verba destinada à aquisição de uma
ambulância. O recurso foi transferido, foi realizada a licitação, mas o certame foi direcionado
em favor de determinada empresa que superfaturou o preço. Ficou demonstrado que o
Prefeito, o Deputado e os donos da empresa vencedora estavam em conluio para a prática
dessa conduta. Desse modo, todos eles irão responder pelo delito do art. 1º, I, do DL 201/67.
STF. 2ª Turma. Inq 3634/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/6/2015 (Info 788).
DECRETO-LEI 201/67
O Decreto-Lei 201/67 é um ato normativo com status de lei ordinária e que prevê, em seu art. 1º, uma lista
de crimes cometidos por Prefeitos no exercício de suas funções.
O DL 201/67 traz também regras de processo penal que deverão ser aplicadas quando ocorrerem os
crimes ali previstos.
Vale ressaltar que o DL 201/67 foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária (Súmula 496 do STF).
CRIME DO INCISO I
Como dito, o art. 1º do DL 201/67 elenca diversos crimes de responsabilidade dos Prefeitos.
Vamos estudar o inciso I:
Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder
Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:
I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio;
(...)
§ 1º Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos os dos itens I e II, com a pena de
reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a pena de detenção, de três meses a três anos.
Sujeito passivo: em regra, é o Município. No entanto, a depender do caso concreto, poderá também ser
vítima do crime o Estado ou a União. É o caso em que o Prefeito se apropria ou desvia de bens ou rendas
públicas pertencentes ao ente estadual ou federal (ex: Prefeito que desvia recursos de um convênio
federal).
Sendo o sujeito passivo o Município ou o Estado, a competência para julgar o crime é da Justiça Estadual.
Se o sujeito passivo for a União, a competência será da Justiça Federal.
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, uma vez que somente pode ser praticado pelo Prefeito (ou por
quem esteja no exercício desse cargo, como o Vice-Prefeito ou o Presidente da Câmara de Vereadores).
Se o sujeito comete o crime do art. 1º do DL 201/67, mas termina seu mandato sem que ele seja
denunciado, é possível que ele responda pelo delito mesmo não sendo mais Prefeito?
Claro que sim. Existem dois enunciados afirmando isso:
Súmula 164-STJ: O prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua sujeito a processo por crime
previsto no art. 1º do Dec. lei n. 201, de 27/02/67.
Súmula 703-STF: A extinção do mandato do Prefeito não impede a instauração de processo pela prática
dos crimes previstos no art. 1º do DL 201/67.
Exemplo:
Deputado Federal apresentou emenda parlamentar ao orçamento da União autorizando o repasse de
recursos para oàMu i ípioà X ,àve aàdesti adaà àaquisição de uma ambulância.
O recurso foi transferido, foi realizada a licitação, mas o certame foi direcionado em favor de determinada
empresa que superfaturou o preço.
Ficou demonstrado que o Prefeito, o Deputado e os donos da empresa vencedora estavam em conluio
para a prática dessa conduta.
Desse modo, todos eles irão responder pelo delito do art. 1º, I, do DL 201/67.
STF. 2ª Turma. Inq 3634/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/6/2015 (Info 788).
Prefeito que desvia bens ou rendas públicas em proveito da própria Administração: não comete o delito
do inciso I uma vez que este tipo penal exige que haja desvio em proveito próprio (pessoal do Prefeito) ou
proveito alheio (de terceira pessoa). No entanto, ele poderá responder pelo inciso III.
Tipo subjetivo: o crime do art. 1º só é punido a título de dolo. Não existe forma culposa.
Consumação: trata-se de crime material. No caso de apropriação, consuma-se quando o agente passa a
agir como se fosse dono. Na modalidade desvio, consuma-se quando o Prefeito dá uma destinação para a
coisa diversa daquela que estava legalmente prevista.
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DO D JE
1º a 5 de junho de 2015
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
1º a 5 de junho de 2015
OUTRAS INFORMAÇÕES
1º a 5 de junho de 2015
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 3543/RS; ADI 3538/RS; RE 593068/SC; RE 514639/RS; HC 123698/PE.
Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos: ADPF 341 MC-Referendo/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Cabimento de nova ADI por inconstitucionalidade material contra ato normativo já reconhecido formalmente
constitucional pelo STF.
Efeitos da declaração de inconstitucionalidade e ação rescisória.
DIREITOS POLÍTICOS
Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica a cargos eletivos majoritários.
DIREITO ELEITORAL
INFIDELIDADE PARTIDÁRIA
Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica a cargos eletivos majoritários
TRANSAÇÃO PENAL
Em caso de transação penal não se aplicam os efeitos do art. 91 do CP.
DIREITO TRIBUTÁRIO
ICMS
Súmula vinculante 48.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Cabimento de nova ADI por inconstitucionalidade material contra
ato normativo já reconhecido formalmente constitucional pelo STF
Importante!!!
A Lei X foi questionada no STF por meio de ADI. Na ação, o autor afirmou que a lei seria
formalmente inconstitucional. O STF julgou a ADI improcedente, declarando a lei
constitucional. Quatro anos mais tarde, outro legitimado ajuíza nova AD) contra a Lei X , mas
desta vez alega que ela é materialmente inconstitucional.
Essa ação poderia ter sido proposta? O STF poderá, nesta segunda ação, declarar a lei
materialmente inconstitucional?
SIM. Na primeira ação, o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da Lei X nem
disse que ela era constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material).
Logo, nada impede que uma segunda ADI seja proposta questionando, agora, a
inconstitucionalidade material da lei e nada impede que o STF decida declará-la
inconstitucional sob o aspecto material.
O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma norma não interfere nem impede que
ele reconheça posteriormente que ela é materialmente inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).
Essa ação poderia ter sido proposta? O STF poderá, nesta segunda ação, declarar a lei materialmente
inconstitucional?
SIM. Na primeira ação, o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da Lei X à e àdisseà ueàelaà
era constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material).
Logo, nada impede que uma segunda ADI seja proposta questionando, agora, a inconstitucionalidade
material da lei e nada impede que o STF decida declará-la inconstitucional sob o aspecto material.
O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma norma não interfere nem impede que ele
reconheça posteriormente que ela é materialmente inconstitucional.
Exemplo concreto:
A Resolução 22.610/2007 do TSE foi objeto de ADI proposta por um partido político. Nesta ação,
questionou-se apenas a constitucionalidade formal do ato normativo. Não se impugnou seu aspecto
material. Tal ADI foi julgada improcedente, de sorte que o STF declarou que o ato é formalmente
constitucional (ADI 3999, julgado em 12/11/2008).
Alguns anos mais tarde, o PGR ajuizou nova ADI contra a Resolução 22.610/2007, mas desta vez questionando
somente aspectos materiais, ou seja, afirmando que há dispositivos na Resolução que são materialmente
inconstitucionais, tendo isso sido reconhecido pelo STF (ADI 5081/DF, julgado em 27/5/2015).
Importante!!!
A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito
normativo não produz a automática reforma ou rescisão das decisões proferidas em outros
processos anteriores que tenham adotado entendimento diferente do que posteriormente
decidiu o Supremo.
Para que haja essa reforma ou rescisão, será indispensável a interposição do recurso próprio
ou, se for o caso, a propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC
1973 (art. 966, V do CPC 2015), observado o prazo decadencial de 2 anos (art. 495 do CPC 1973
/ art. 975 do CPC 2015).
Segundo afirmou o STF, não se pode confundir a eficácia normativa de uma sentença que
declara a inconstitucionalidade que retira do plano jurídico a norma com efeito ex tunc
com a eficácia executiva, ou seja, o efeito vinculante dessa decisão.
STF. Plenário. RE 730462/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/5/2015 (repercussão geral)
(Info 787).
A decisão do STF faz com que a sentença que foi proferida contra João seja considerada
automaticamente rescindida?
NÃO. A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito normativo
não produz a automática reforma ou rescisão das decisões proferidas em outros processos anteriores que
tenham adotado entendimento diferente do que posteriormente decidiu o Supremo.
Para que haja essa reforma ou rescisão, será indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o
caso, a propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC 1973 (art. 966, V do CPC
2015), observado o prazo decadencial de 2 anos (art. 495 do CPC 1973 / art. 975 do CPC 2015).
Segundo afirmou o STF, não se pode confundir a eficácia normativa de uma sentença que declara a
inconstitucionalidade ( ueà eti aàdoàpla oàju ídi oàaà o aà o àefeitoà exàtu ) com a eficácia executiva,
ou seja, o efeito vinculante dessa decisão.
Eficácia normativa
Quando o STF, no controle concentrado de constitucionalidade (ADI ou ADC), decide que determinada lei é
constitucional ou inconstitucional, ele gera a consequência que se pode denominar de eficácia normativa,
que significa manter ou excluir (declarar nula) a referida norma do ordenamento jurídico.
Observação:
Em seu voto, o Min. Teori Zavascki afirma que a solução jurídica para o caso concreto seria propor uma
ação rescisória questionando aàde isãoàa te io à ueàt a sitouàe àjulgado.àOà p o le a àdessaàsoluçãoà à
que, se a decisão que transitou em julgado estava de acordo com o entendimento então vigente no STF,
neste caso não caberá ação rescisória.
Se a sentença foi proferida com base na jurisprudência do STF vigente à época e, posteriormente, esse
entendimento foi alterado (ou puder ser alterado), não se pode dizer que essa decisão impugnada tenha
violado literal disposição de lei. Desse modo, não cabe ação rescisória em face de acórdão que, à época de
sua prolação, estava em conformidade com a jurisprudência predominante do STF.
STF. Plenário. AR 2199/SC, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/4/2015 (Info 782).
Logo, a solução dada pelo Min. Teori Zavascki só irá ter realmente sentido se, na época em que transitou
em julgado, o STF ainda não havia se posicionado sobre o tema. Essa é mais uma das polêmicas
envolvendo a súmula 343-STF. Para maiores detalhes, reveja o Info 782 do STF.
Foi proposta uma ADI contra esse dispositivo, mais especificamente contra a exp essãoà eà aoà Vi e-
Gove ado nela constante.
O argumento foi o de que a CF/88 não prevê nenhuma regra semelhante a essa. Em outras palavras, como
a CF/88 não diz que se aplicam ao Vice-Presidente da República as proibições e os impedimentos
estabelecidos para os Deputados Federais e Senadores, a Constituição Estadual não poderia fazer isso
quanto aos Vice-Governadores.
Logo, o autor da ADI afirmou que houve violação ao princípio da simetria.
A ADI foi julgada procedente? Esse dispositivo é inconstitucional? Houve violação ao princípio da simetria?
NÃO. Realmente, o princípio da simetria, que é baseado nos arts. 25 da CF/88 e 11 do ADCT determina que
os Estados deverão observar os princípios da Constituição Federal com o objetivo de buscar uma harmonia
e homogeneidade. Isso não significa, contudo, impor amarras absolutas às Constituições estaduais.
O princípio da simetria não significa que o constituinte estadual só pode copiar as normas federais e o que
esteja fora disso seja inconstitucional.
O fato de o constituinte federal não ter expressamente previsto semelhantes vedações ao Presidente e ao
Vice-Presidente da República não significa que o constituinte estadual não possa estabelecê-las para o
Governador e Vice-Governador.
O estabelecimento de restrições a certas proibições ao Vice-Governador, com o objetivo de preservar a
sua incolumidade política, é matéria que o Estado-membro pode desenvolver no exercício da sua
autonomia constitucional. Não há na Constituição Federal princípio que o impeça.
Importante!!!
Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito,
ele perderá o cargo que ocupa?
a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo
sistema majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor.
No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando
o quociente eleitoral nem o quociente partidário.
Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no candidato e não no seu partido político.
Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade
partidária é antagônica (contrária) à soberania popular.
SISTEMAS ELEITORAIS
Sistema eleitoral é o conjunto de regras e técnicas previstas pela CF e pela lei para disciplinar a forma
como os candidatos ao mandato eletivo serão escolhidos e eleitos.
No Brasil, atualmente, existem dois sistemas eleitorais:
a) MAJORITÁRIO b) PROPORCIONAL
O mandato eletivo fica com o candidato ou Terminada a votação, divide-se o total de votos
partido político que obteve a maioria dos votos. válidos pelo número de cargos em disputa,
obtendo-se assim o quociente eleitoral. Ex: na
Ganha o candidato mais votado, eleição para vereador houve 100 mil votos válidos
independentemente dos votos de seu partido. e eram 20 vagas. Logo, o quociente eleitoral será
5 mil (100.000 : 20 = 5.000).
No Brasil, é o sistema adotado para a eleição de No Brasil, é o sistema adotado para a escolha de
Prefeito, Governador, Senador e Presidente. Vereador, Deputado Estadual e Deputado Federal.
Obs: existe ainda o sistema eleitoral misto, que mescla regras de ambos, com votos distritais e votos
gerais. É o sistema adotado, por exemplo, na Alemanha.
INFIDELIDADE PARTIDÁRIA
Filiação partidária
No Brasil, a pessoa só pode concorrer a um cargo eletivo se ela estiver filiada a um partido político. Essa
exigência está prevista no art. 14, § 3º, V, da CF/88.
Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito, ele
perderá o cargo que ocupa?
Depende. O STF faz a seguinte diferença:
a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO b) Se for um cargo eletivo PROPORCIONAL: SIM
A perda do mandato em razão de mudança de O mandato parlamentar conquistado no sistema
partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo eleitoral proporcional pertence ao partido político.
sistema majoritário, sob pena de violação da Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de
soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor. partido político, ele sofrerá um processo na Justiça
No sistema majoritário, o candidato escolhido é Eleitoral que poderá resultar na perda do seu
aquele que obteve mais votos, não importando o mandato. Neste processo, com contraditório e
quociente eleitoral nem o quociente partidário. ampla defesa, será analisado se havia justa causa
Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no para essa mudança.
candidato e não no seu partido político. Desse O assunto está disciplinado na Resolução n.
modo, no sistema majoritário, a imposição da 22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as
perda do mandato por infidelidade partidária é hipóteses consideradasà o oà justaà ausa .
antagônica (contrária) à soberania popular.
Foi o que decidiu o STF no julgamento da ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015
(Info 787).
Importante!!!
O BNDES celebrou um contrato de financiamento com um grande grupo empresarial de carnes
bovinas. A Comissão de Controle Externo da Câmara dos Deputados solicitou ao TCU que
realizasse auditoria neste contrato. O TCU instaurou o procedimento e determinou ao BNDES
que enviasse os documentos relacionados com a operação.
O BNDES impetrou mandado de segurança no STF contra o TCU pedindo para não ser obrigado
a fornecer as informações solicitadas, sob o fundamento de que isso violaria o sigilo bancário e
empresarial da empresa que recebeu o financiamento.
O STF concordou com as razões invocadas no MS?
NÃO. O STF denegou (indeferiu) o mandado de segurança impetrado e determinou que o
BNDES enviasse as informações.
O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito originárias de recursos
públicos não é coberto pelo sigilo bancário. O acesso a tais dados é imprescindível à atuação
do TCU na fiscalização das atividades do BNDES.
O STF possui precedentes no sentido de que o TCU não detém legitimidade para requisitar
diretamente informações que importem quebra de sigilo bancário. No entanto, a Corte
reputou que a situação acima relatada seria diferente dos demais precedentes do Tribunal, já
que se trata de informações do próprio BNDES em um procedimento de controle legislativo
financeiro de entidades federais por iniciativa do Parlamento.
STF. 1ª Turma. MS 33340/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/5/2015 (Info 787).
BNDES
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é uma empresa pública federal que tem
por objetivo financiar projetos de longo prazo que gerem o desenvolvimento da economia do país.
O apoio do BNDES se dá por meio de empréstimos, com condições facilitadas, que serão utilizados para
custear projetos de investimentos, aquisição de equipamentos e exportação de bens e serviços.
Poderão receber financiamentos do BNDES tanto empresas privadas como também pessoas físicas e até
órgãos e entidades da Administração Pública. Ex: durante a preparação para a Copa do Mundo de 2014, o
BNDES emprestou dinheiro para diversos Estados para a construção dos estádios de futebol. Também é
comum o empréstimo de recursos para grandes empresas construírem indústrias, obras etc.
O objetivo aqui foi apenas o de apresentar esta teoria para você não ser surpreendido com ela na hora da
prova. Para maiores informações, leia NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. Salvador: Juspodivm,
2015, p. 335-337 ou outro bom livro de Direito Constitucional.
O TCU ostenta a condição de órgão independente na estrutura do Estado brasileiro, cujas funções
estão elencadas nos incisos do art. 71 da CF/88. Seus membros possuem as mesmas prerrogativas
que as asseguradas aos magistrados (art. 73, § 3º da CF/88), tendo suas decisões a natureza
jurídica de atos administrativos passíveis de controle jurisdicional. Trata-se de um tribunal de
índole técnica e política, criado para fiscalizar o correto emprego dos recursos públicos.
Os Tribunais de Contas realizam controle de legitimidade, economicidade e de eficiência,
verificando se os atos praticados pelos entes controlados estão de acordo com a moralidade,
eficiência, proporcionalidade.
No atual contexto juspolítico brasileiro, o Tribunal de Contas possui competência para aferir
se o administrador atuou de forma prudente, moralmente aceitável e de acordo com o que a
sociedade dele espera.
O TCU representa um dos principais instrumentos republicanos destinados à concretização da
democracia e dos direitos fundamentais, na medida em que o controle do emprego de recursos
públicos propicia, em larga escala, justiça e igualdade.
STF. 1ª Turma. MS 33340/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/5/2015 (Info 787).
INFIDELIDADE PARTIDÁRIA
Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica a cargos eletivos majoritários
Importante!!!
Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito,
ele perderá o cargo que ocupa?
a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo
sistema majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor.
No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando
o quociente eleitoral nem o quociente partidário.
Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no candidato e não no seu partido político.
Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade
partidária é antagônica (contrária) à soberania popular.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Honorários advocatícios constituem-se em verba de natureza alimentar
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Honorários advocatícios são verba de natureza alimentar
Os honorários advocatícios são a remuneração do advogado e, portanto, possuem caráter alimentar. Esse
é o entendimento pacífico tanto do STJ como do STF.
Éà o oàseàfosseàoà sal io àdeàu àe p egado.àOàCPCà àp ev isso expressamente:
O advogado da parte vencedora terá direito aos honorários contratuais e aos honorários sucumbenciais,
estes últimos pagos pela parte sucumbente (vencida).
Obs: tanto os honorários contratuais como os sucumbenciais pertencem ao advogado e são considerados
verba alimentar.
REGIME DE PRECATÓRIOS
Para entender a súmula, é preciso relembrar em que consiste o regime de precatórios.
No caput do art. 100 da CF/88 consta a regra geral dos precatórios, ou seja, os pagamentos devidos pela
Fazenda Pública em decorrência de condenação judicial devem ser realizados na ordem cronológica de
ap ese taçãoàdosàp e ató ios.àExiste,àe tão,àu aàesp ieàdeà fila àpa aàpaga e toàdosàp e ató ios:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em
virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos
precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações
orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. (Redação dada pela EC 62/09)
Qua to é pe ue o valo pa a os fi s do § 3º do a t. ?
Este quantum poderá ser estabelecido por cada ente federado (União, Estado, DF, Município) por meio de
leis específicas, conforme prevê o § 4º do art. 100:
§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias, valores distintos às entidades
de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior
benefício do regime geral de previdência social.
RPV
Nasàhipótesesàdeà pe ue oàvalo ,àoàpaga e toà àfeitoàpo à eioàdeà e uisiçãoàdeàpe ue oàvalo à RPV ,à
que se trata de uma ordem expedida pela autoridade judicial à autoridade da Fazenda Pública responsável
para pagamento da quantia devida.
CPC 1973:
Os honorários eram fixados segundo apreciação equitativa do juiz:
Art. 20 (...) § 4º Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver
condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão
fixados consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo
anterior.
CPC 2015:
O novo CPC prevê uma infinidade de regras no art. 85 para tratar sobre os honorários advocatícios pagos
pela Fazenda Pública.
Segundo o § 3º, nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os
seguintes percentuais:
§ 5º Quando, conforme o caso, a condenação contra a Fazenda Pública ou o benefício econômico obtido
pelo vencedor ou o valor da causa for superior ao valor previsto no inciso I do § 3º, a fixação do percentual
de honorários deve observar a faixa inicial e, naquilo que a exceder, a faixa subsequente, e assim
sucessivamente.
§ 6º Os limites e critérios previstos nos §§ 2º e 3º aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo
da decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de mérito.
§ 7º Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública que enseje
expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.
COMO FICAM OS HONORÁRIOS CASO A FAZENDA PÚBLICA TENHA SIDO CONDENADA A PAGAR O CRÉDITO PRINCIPAL POR
MEIO DE PRECATÓRIO
Situação 1. O crédito principal é maior que 60 salários-mínimos, mas o crédito do advogado é inferior.
Ex: João teve seu imóvel desapropriado pela União e irá receber R$ 800 mil de indenização fixada pelo juiz
em sentença transitada em julgado. O magistrado condenou a União a pagar 5% de honorários
advocatícios, ou seja, Dr. Rui, advogado de João, terá direito a R$ 40 mil de honorários advocatícios
sucumbenciais a serem pagos pela União.
Repare que a quantia que o advogado irá receber é inferior a 60 salários-mínimos, sendo, portanto,
o side ado o o de pe ue o valo . Neste aso, é possível fracionar o valor da execução movida
contra a Fazenda Pública, de modo a permitir a cobrança dos honorários sucumbenciais pelo rito da RPV
e o crédito principal ser cobrado mediante precatório? Em outras palavras, o advogado pode separar a
sua parte (referente aos honorários advocatícios) e pedir o pagamento imediato como RPV?
SIM. O STJ e o STF entendem que é possível que a execução de honorários advocatícios devidos pela
Fazenda Pública se faça mediante Requisição de Pequeno Valor (RPV) na hipótese em que os honorários
ãoàex eda àoàvalo àli iteàaà ueàseà efe eàoàa t.à ,à§à º,àdaàCF,àai daà ueàoà ditoàditoà p i ipal àsejaà
executado por meio do regime de precatórios. Isso porque os honorários advocatícios (inclusive os de
sucumbência) podem ser executados de forma autônoma — nos próprios autos ou em ação distinta —,
independentemente da existência do montante principal a ser executado. Em outras palavras, é possível o
fracionamento de precatório para pagamento de honorários advocatícios.
STF. Plenário. RE 564132/RS, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/10/2014 (repercussão
geral) (Info 765).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.347.736-RS, Rel. Min. Castro Meira, Rel. para acórdão Min. Herman Benjamin,
julgado em 9/10/2013 (recurso repetitivo) (Info 539).
Oà edo àp i ipalà e à ossoàexe plo,àJoão ,àte à ueàe t a à aà fila àdosàp e ató ios.
Situação 2. Tanto o crédito principal como o crédito do advogado são maiores que 60 salários-mínimos.
Ex: João teve seu imóvel desapropriado pela União e irá receber R$ 1 milhão de indenização fixada pelo
juiz em sentença transitada em julgado. O magistrado condenou a União a pagar 5% de honorários
advocatícios, ou seja, Dr. Rui, advogado de João, terá direito a R$ 50 mil de honorários advocatícios
sucumbenciais a serem pagos pela União.
A fila que Dr. Rui entrará para receber seu crédito de honorários é a mesma que João (credor principal)?
NÃO.àJoãoàte à ueàespe a àpa aà e e e àseuà ditoàe àu aà filaàge alàdosàp e ató ios àe ua toà ueàD .à
Ruiàagua da àe àu aà filaàp efe e ial àdeà ditosàdeà atu ezaàali e tí ia.àVejaà o oàfu io a:
O STF entende, como já vimos acima, que os honorários advocatícios possuem a natureza de verba
alimentar. Logo, o advogado que tiver que receber créditos da Fazenda Pública decorrentes de honorários
advocatíciosà ãoàe t a à aà filaàge al àdosàp e ató ios,à asàsi à aà filaàp efe e ial àdeà ueàt ataàoà§à ºà
do art. 100 da CF/88.
COMO FICAM OS HONORÁRIOS CASO A FAZENDA PÚBLICA TENHA SIDO CONDENADA A PAGAR O CRÉDITO PRINCIPAL POR
MEIO DE RPV
Imagine que a União foi condenada a pagar R$ 40 mil reais a João. O magistrado condenou a União a pagar
10% de honorários advocatícios, ou seja, Dr. Rui, advogado de João, terá direito a R$ 400 de honorários
advocatícios sucumbenciais.
Neste caso, após transitar em julgado, o juiz determina a expedição de uma RPV para pagar o crédito
principal de João e outra para pagar os honorários sucumbenciais do Dr. Rui.
a) Honorários incluídos na condenação: são os honorários sucumbenciais, ou seja, a quantia que o juiz
condenou a Fazenda Pública a pagar em favor da outra parte, que foi a vencedora. Como vimos acima,
esses honorários sucumbenciais serão incluídos na condenação, ou seja, irão figurar na sentença
(título executivo) e, a depender do valor, serão pagos por RPV ou precatório. Mesmo que sejam pagos
por precatório, esse crédito irá entrar na fila preferencial de verbas alimentícias.
Voltando ao exemplo:
Dr. Rui pediu que fosse destacado seu honorários contratuais do valor que João tem para receber da União. O
juiz autorizou e foi destacada a quantia de R$ 200 mil. João, para receber seu valor restante (R$ 800 mil),
entrará na fila geral de precatórios, e ua toà ueàD .àRuiàpode àagua da àseuà ditoà aà filaàp efe e ial .
Este parágrafo único do art. 23 encontra-se em desacordo com o teor da SV 47 do STF e, portanto, terá
que ser revogado, sob pena de ser declarado nulo, nos termos do § 3º do art. 103-A da CF/88. Isso porque
a SV 47 diz claramente que os honorários advocatícios destacados do montante principal devido ao credor
consubstanciam verba de natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá observada ordem especial restrita
aos créditos dessa natureza. Em outras palavras, os honorários advocatícios destacados são verba
alimentar e devem ser pagos na fila preferencial, ao contrário do que afirma a Resolução.
Resumindo:
Os honorários advocatícios (contratuais ou sucumbenciais) são a remuneração do advogado e, portanto,
possuem caráter alimentar. Logo, são, em princípio, impenhoráveis, com base no art. 649, IV, do CPC.
No entanto, o STJ entende que o art. 649, IV, do CPC não pode ser interpretado de forma literal ou
absoluta. Em determinadas circunstâncias é possível a sua relativização.
Assim, se os honorários advocatícios recebidos são exorbitantes e ultrapassam valores que seriam razoáveis
para sustento próprio e de sua família, a verba perde a sua natureza alimentar (finalidade de sustento) e passa
a ser possível a sua penhora, liberando-se apenas uma parte desse valor para o advogado.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/11/2014 (Info 553).
INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
Legitimidade do MP para promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal
O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por
prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias
que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado.
A controvérsia sobre a legitimidade constitucional do poder de investigação do Ministério
Público foi pacificada pelo STF com o julgamento do RE 593.727/MG (Info 785).
STF. 1ª Turma. HC 85011/RS, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 26/5/2015 (Info 787).
Neste julgado a 1ª Turma do STF simplesmente reiterou o que foi decidido no RE 593.727/MG, ou seja,
que o Ministério Público possui legitimidade para promover, por autoridade própria, investigações de
natureza penal, desde que respeitados certos parâmetros.
Para maiores informações sobre o tema, veja o Info 785 do STF.
TRANSAÇÃO PENAL
Em caso de transação penal, não se aplicam os efeitos do art. 91 do CP
Importante!!!
As consequências jurídicas extrapenais previstas no art. 91 do Código Penal são decorrentes
de sentença condenatória. Tal não ocorre, portanto, quando há transação penal, cuja sentença
tem natureza meramente homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade
criminal do aceitante. As consequências geradas pela transação penal são essencialmente
aquelas estipuladas por modo consensual no respectivo instrumento de acordo.
STF. Plenário. RE 795567/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/5/2015 (Info 787).
Determinado dia, João estava em sua moto coletando apostas do jogo do bicho quando foi abordado por
policiais militares e levado até a Delegacia de Polícia. Lá chegando, o Delegado instaurou um termo
circunstanciado e liberou João com o compromisso de que ele deveria comparecer no Juizado Especial
Criminal no dia marcado. Ocorre que a autoridade policial não liberou a motocicleta, que ficou retida
porque poderia constituir-se em instrumento da infração penal.
Transação penal
No dia da audiência no Juizado, o Promotor ofereceu proposta de transação penal consistente na
obrigação de prestar serviços à comunidade por 60 horas.
João aceitou a transação e cumpriu a obrigação imposta.
O juiz prolatou, então, sentença declarando extinta a punibilidade do agente, mas, como pena acessória, o
magistrado decretou a perda do bem apreendido (motocicleta), sob o argumento de que ele teria sido
utilizado para o cometimento da referida contravenção penal. Como fundamento legal, o juiz invocou o
art. ,àII,à a ,àdoàCP:
Art. 91. São efeitos da condenação:
(...)
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
detenção constitua fato ilícito;
ICMS
Previsão
O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF e na LC 87/96:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
II — operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no
exterior;
Características
Principais características do imposto:
plurifásico: incide sobre o valor agregado, obedecendo-se ao princípio da não-cumulatividade;
real: as condições da pessoa são irrelevantes;
proporcional: não é progressivo;
fiscal: tem como função principal a arrecadação.
Fatos geradores
Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os seguintes fatos geradores (Manual de
Direito Tributário. 4. ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1061):
circulação de mercadorias;
prestação de serviços de transporte intermunicipal;
prestação de serviços de transporte interestadual;
prestação de serviços de comunicação.
Valeà essalta à ueài ideàoàICM“à es oà ueà asàope açõesàeàasàp estaçõesàseài i ie à oàexte io à a t.à
155, II da CF/88).
ICMS IMPORTAÇÃO
A CF/88 prevê que haverá cobrança de ICMS nos casos de mercadoria importada do exterior ou nas
hipóteses de serviço prestado no exterior. Ex: uma empresa que fabrica roupas deverá pagar ICMS se
importou da China uma máquina têxtil para utilizar em sua linha de produção.
Se a pessoa que importou a mercadoria era uma pessoa física não contribuinte habitual do imposto,
haverá incidência de ICMS?
SIM.
Se a mercadoria foi importada pela empresa sem finalidade comercial (não seria utilizada em sua cadeia
produtiva), mesmo assim haverá incidência de ICMS?
SIM.
Desde a edição da EC 33/2001, o ICMS incide sobre toda e qualquer importação. Independentemente de a
pessoa ser contribuinte ou não do ICMS, deverá pagar o ICMS importação.
Esta súmula encontra-se SUPERADA porque era baseada na legislação anterior e não mais subsiste, já que o art.
12, IX, da LC 87/96 afirma que o fato gerador do imposto é o desembaraço aduaneiro, situação que ocorre
ainda na alfândega, ou seja, antes de o bem ou a mercadoria ser levada ao estabelecimento do importador.
A Corte apontou que regras do Fies seriam explícitas no sentido de que, uma vez concluída a inscrição, o
órgão gestor iria verificar a disponibilidade de recursos para deferir ou não o ingresso daquele indivíduo.
Desse modo, não estaria caracterizado direito adquirido ou violação de segurança jurídica a quem não
tivesse se inscrito. Esclareceu que aqueles que conseguissem comprovar que tentaram entrar no sistema
na data aprazada e não tivessem conseguido se inscrever, por falhas no sistema eletrônico, teriam
assegurado o direito à inscrição no Fies. Frisou que o direito de se inscrever não significaria o direito de ter
deferido o pedido. Vencidos, em parte, os Ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Teori
Zavascki, que concediam a medida cautelar em maior extensão. Abrangiam, também, o grupo de
estudantes que teriam se submetido ao Enem antes das alterações introduzidas pela nova portaria e que
teriam preenchido o requisito exigido anteriormente, consistente na mera realização do exame nacional, e
que agora não poderiam aderir ao Fies por não preencherem os novos requisitos. A concessão se aplicaria
dentro do período de inscrição do Fies 2015, sem distinção quanto à data em que os candidatos teriam
tentado se inscrever no programa. Apontavam que a jurisprudência da Corte no sentido de não existir
direito adquirido a regime jurídico não se ajustaria ao caso dos autos. Enfatizavam que o financiamento
estudantil, instituído pela Lei 10.260/2001, se enquadraria na seara das políticas públicas destinadas à
promoção e à ampliação do acesso à educação superior. Aduziam que a relação estabelecida entre Estado e
particular seria de natureza prestacional. Concluíam que os requisitos instituídos pela nova regra deveriam
ser exigidos somente dos estudantes que viessem a prestar o Enem a partir de 2015, os quais, no momento
da realização das provas, teriam a devida ciência do novo regramento em vigor.
ADPF 341 MC-Referendo/DF, rel. Min. Roberto Barroso, 27.5.2015. (ADPF-341)
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 25 a 29 de maio de 2015
CLIPPING DO D JE
25 a 29 de maio de 2015
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Governador de Estado – Crime Comum – Prévia Autorização Legislativa – Indispensabilidade – Crime de Responsabilidade
– Competência Federal (Transcrições)
(v. Informativo 774)
ADI 4.791/PR*
RELATOR: Min. Teori Zavascki
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
25 a 29 de maio de 2015
OUTRAS INFORMAÇÕES
25 a 29 de maio de 2015
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 2921/RJ; ADI 4013/TO. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos: RE 254559/SP; ADI
4171/DF; ADI 3106 ED/MG; ADI 4876 ED/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PEC DA BENGALA
ADI proposta contra a EC 88/2015.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Cumulação de ADI com ADC.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Controvérsia judicial relevante.
TRIBUNAL DE CONTAS
Competência para declarar a inidoneidade de empresa para licitar.
DIREITO ADMINISTRATIVO
NEPOTISMO
Norma que impede nepotismo no serviço público não alcança servidores de provimento efetivo.
DIREITO PENAL
CRIMES TRIBUTÁRIOS
Aplicação da SV 24-STF a fatos anteriores à sua edição.
PEC DA BENGALA
ADI proposta contra a EC 88/2015
Importante!!!
No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que ficou jocosamente conhecida como PEC
da Bengala em virtude de aumentar o limite de idade da aposentadoria compulsória dos
Ministros de Tribunais Superiores.
Foi proposta uma ADI contra essa EC, tendo o STF julgado a medida liminar. Veja o que foi
decidido:
O art. 100 do ADCT afirma que os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU irão se
aposentar compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, Dznas condições do art. 52
da Constituição Federaldz. O que quer dizer essa parte final?
O objetivo dessa parte final do dispositivo foi o de exigir que o Ministro que complete 70 anos
somente possa continuar no cargo se for submetido a nova arguição pública sabatina e
votação no Senado Federal. Em outras palavras, o Ministro, quando completasse 70 anos,
poderia continuar no cargo até os 75 anos, mas, para isso, seu nome precisaria ser novamente
aprovado pelo Senado.
É possível estender essa regra da aposentadoria compulsória aos 75 anos para juízes e
Desembargadores?
O STF afirmou que o art. 100 do ADCT da CF/88 não pode ser estendido a outros agentes
públicos até que seja editada a Lei Complementar Nacional a que se refere o art. 40, § 1º, inciso
II, da CF/88.
O que acontece com os mandados de segurança que haviam sido impetrados pelos
Desembargadores que queriam prorrogar a aposentadoria compulsória para 75 anos?
O STF declarou que fica sem produzir efeitos todo e qualquer pronunciamento judicial e
administrativo que tenha interpretado que a EC 88/2015 permitiria, mesmo sem LC, ampliar
para 75 anos a idade da aposentadoria compulsória para outros agentes públicos que não
Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2
sejam Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU.
Em outras palavras, o STF afirmou que nenhuma decisão judicial ou administrativa pode
estender o limite de 75 anos da aposentadoria compulsória para outros agentes públicos.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
EC 88/2015
No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que fi ou jo osa e te o he ida o o PEC da Be gala ,
em virtude de aumentar o limite de idade da aposentadoria compulsória dos Ministros de Tribunais
Superiores.
Antes de entender o que foi decidido pelo STF, vejamos alguns breves comentários sobre o tema.
Obs1: o § 5º do art. 40 prevê critérios diferenciados para a aposentadoria de professores que comprovem
exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino
fundamental e médio.
Obs2: o § 4º do art. 40 elenca a possibilidade de ser concedida aposentadoria com requisitos e critérios
diferenciados para servidores:
I – que sejam portadores de deficiência;
II – que exerçam atividades de risco;
III – cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
DEPOIS DA EC 88/2015:
• REGRA: o ti ua se do a os.
Os servidores públicos, sejam eles federais, estaduais ou municipais, de qualquer dos Poderes, incluindo
magistrados de Tribunais de 2ª instância, continuam se aposentando compulsoriamente aos 70 anos de idade.
• EXCEÇÃO : a Lei Co ple e ta pode á p eve ue a apose tado ia o puls ia seja a pliada pa a
anos, segundo critérios que ela fixar e para todos ou determinados cargos do serviço público.
• EXCEÇÃO : pa a os Mi ist os do “TF, dos T i u ais “upe io es “TJ, T“T, T“E, “TM e do TCU a idade da
aposentadoria compulsória já é agora 75 anos, mesmo sem Lei Complementar. A regra já está produzindo
todos os seus efeitos.
Veja o art. 100, que foi acrescentado no ADCT da CF/88 pela EC 88/2015:
Art. 100. Até que entre em vigor a lei complementar de que trata o inciso II do § 1º do art. 40 da
Constituição Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de
Contas da União aposentar-se-ão, compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, nas
condições do art. 52 da Constituição Federal.
Apesar de muito curta, a EC 88/2015 escondia algumas polêmicas que foram impugnadas por meio de ADI
julgada cautelarmente pelo STF. Vejamos:
ADI
Diante disso, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho (Anamatra) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) ingressaram, no dia
08/05/2015, com ação direta de inconstitucionalidade (ADI) contra esse trecho (nas condições do art. 52
da Constituição Federal) previsto na parte final do art. 100 do ADCT da CF/88, acrescentado pela EC
88/2015.
As associações argumentaram que, quanto a esse trecho, o constituinte derivado acabou por mesclar
it ios de a esso o it ios de o ti uidade ou pe a ia o a go, ia do u a o a
a ifesta e te violado a da ga a tia da vitali iedade da agist atu a . De a o do o a ADI, a
i te p etação o se tido de ue a su issão de agistrados, detentores da garantia da vitaliciedade
prevista no artigo 95 da Constituição Federal, a uma nova sabatina perante o Senado Federal e a uma nova
nomeação pelo presidente da República afeta, diretamente, não apenas o direito/garantia de parte dos
associados das autoras – os membros desse egrégio STF e dos tribunais superiores –, como igualmente o
egula fu io a e to do Pode Judi iá io .
Assim, pediram que o STF declarasse inconstitucional a exigência de uma nova sabatina e aprovação pelo
Senado para que os Ministros permanecessem no cargo até os 75 anos.
O STF apreciou a medida cautelar da ADI. O que foi decidido? Essa exigência é compatível com a CF/88?
NÃO. Essa exigência é INCONSTITUCIONAL.
A liminar foi concedida nos termos do voto do relator da ADI, Ministro Luiz Fux, que suspendeu a aplicação
da exp essão as o diç es do a tigo da Co stituição Fede al , o tida o fi al do a t. do ADCT.
“egu do e te deu o “TF, essa exig ia de ova sa ati a a a a po vul e a as o diç es ate iais
necessárias ao exercício imparcial e independente da função jurisdicional, ultrajando a separação de
Pode es, láusula p t ea i s ita o a tigo , pa ág afo º, i iso III, da Co stituição Fede al . E si ples
palavras, o STF entendeu que há violação ao princípio da separação dos Poderes.
Desse modo, os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE, STM) e do TCU possuem o
direito de se aposentar compulsoriamente somente aos 75 anos e, para isso, não precisam passar por uma
nova sabatina e aprovação do Senado Federal.
A exigência de nova sabatina dos Ministros no Senado é inconstitucional.
Essa LC ampliando a aposentadoria compulsória dos juízes e Desembargadores para 75 anos pode ser
uma LC estadual?
NÃO. Lei complementar estadual não poderá tratar do tema. É necessário que seja uma Lei complementar
nacional, ou seja, aprovada pelo Congresso Nacional.
Desse modo, será inconstitucional qualquer tentativa dos Tribunais de Justiça ou das Assembleias
Legislativas de ampliar a aposentadoria dos juízes e Desembargadores para 75 anos antes que seja editada
a LC nacional.
Essa LC nacional ampliando a aposentadoria compulsória dos juízes e Desembargadores para 75 anos
pode ser apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República ou por algum parlamentar?
NÃO. Todas as leis que trazem regras gerais sobre a magistratura nacional devem ser iniciadas pelo STF,
nos termos do art. 93 da CF/88.
Logo, o projeto de LC que estenderá para 75 anos a aposentadoria compulsória para juízes e
Desembargadores deverá ser apresentado ao Congresso Nacional pelo STF, sendo um dos dispositivos que
integrará o Estatuto da Magistratura (Lei Orgânica da Magistratura), nos termos do art. 93, VI, da CF/88:
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios:
(...)
VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes observarão o disposto no art. 40;
O que acontece com os mandados de segurança que haviam sido impetrados pelos Desembargadores
que queriam prorrogar a aposentadoria compulsória para 75 anos?
O STF declarou que fica sem produzir efeitos todo e qualquer pronunciamento judicial e administrativo
que tenha interpretado que a EC 88/2015 permitiria, mesmo sem LC, ampliar para 75 anos a idade da
aposentadoria compulsória para outros agentes públicos que não sejam Ministros do STF, dos Tribunais
Superiores e do TCU.
Em outras palavras, o STF afirmou que nenhuma decisão judicial ou administrativa pode estender o limite
de 75 anos da aposentadoria compulsória para outros agentes públicos.
Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6
Com isso, os Desembargadores que concederam liminares a outros Desembargadores permitindo que eles
se aposentassem aos 75 anos deverão tornar sem efeito as decisões proferidas, revogando as liminares
concedidas. Os Desembargadores impetrantes, se já completaram 70 anos, deverão ser considerados
automaticamente aposentados, devendo os respectivos Tribunais publicar o ato aposentatório,
encaminhando-o ao Tribunal de Contas.
O que acontece se o Desembargador que concedeu a liminar mantiver-se recalcitrante e não tornar sem
efeito sua decisão? E se forem concedidas novas medidas liminares em outros processos?
Neste caso, a referida decisão poderá ser atacada por meio de reclamação proposta diretamente no STF,
que irá cassá-la.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Cumulação de ADI com ADC
Importante!!!
O legitimado poderá ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) requerendo a
inconstitucionalidade do art. XX da Lei ZZZ e, na mesma ação, pedir que o art. YY seja
declarado constitucional? É possível, em uma mesma ação, cumular pedido típico de ADI com
pedido típico de ADC?
SIM. O STF entendeu que é possível a cumulação de pedidos típicos de ADI e ADC em uma única
demanda de controle concentrado.
A cumulação de ações, neste caso, além de ser possível, é recomendável para a promoção dos
fins a que destinado o processo objetivo de fiscalização abstrata de constitucionalidade,
destinado à defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional.
A cumulação objetiva permite o enfrentamento judicial coerente, célere e eficiente de
questões minimamente relacionadas entre si.
Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações, além de carecer de fundamento expresso na
Lei 9.868/1999, traria como consequência apenas o fato de que o autor iria propor novamente
a demanda, com pedido e fundamentação idênticos, ação que seria distribuída por prevenção.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
Esse legitimado poderá ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) requerendo a
inconstitucionalidade do art. XX e, na mesma ação, pedir que o art. YY seja declarado constitucional? É
possível, em uma mesma ação, cumular pedido típico de ADI com pedido típico de ADC?
SIM. O STF entendeu que é possível a cumulação de pedidos típicos de ADI e ADC em uma única demanda
de controle concentrado.
Exemplo concreto:
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) ajuizou a ADI 5316 contra a EC 88/2015 formulando dois
pedidos principais:
A declaração de inconstitucionalidade da exp essão as o diç es do a t. da Co stituição Fede al
contida no art. 100 do ADCT, introduzido pela EC 88/2015 (pedido típico de ADI); e
A declaração de constitucionalidade da exigência de lei complementar para que a aposentadoria
compulsória aos 75 anos fosse estendida para juízes e Desembargadores, nos termos do inciso II do § 1º do
art. 40 da CF/88 e do art. 100 do ADCT, com redação dada pela EC 88/2015 (pedido típico de ADC).
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Controvérsia judicial relevante
A Lei 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos da
petição inicial. Um desses requisitos exigidos é se demonstre que existe controvérsia judicial
relevante sobre a lei objeto da ação.
Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a
constitucionalidade daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais
decidindo que aquela lei é inconstitucional. Se não existirem decisões contrárias à lei, não há
razão para se propor a ADC.
É possível que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher o
requisito da controvérsia judicial relevante com poucos dias de vigência do ato normativo?
SIM. Mesmo a lei ou ato normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível preencher
o requisito da controvérsia judicial relevante se houver decisões julgando essa lei ou ato
normativo inconstitucional.
O STF decidiu que o requisito relativo à existência de controvérsia judicial relevante é
qualitativo e não quantitativo. Em outras palavras, para verificar se existe a controvérsia não
se examina apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas decisões
em sentido contrário à lei. Mesmo havendo ainda poucas decisões julgando inconstitucional a
lei já pode ser possível o ajuizamento da ADC se o ato normativo impugnado for uma emenda
constitucional (expressão mais elevada da vontade do parlamento brasileiro) ou mesmo em se
tratando de lei se a matéria nela versada for relevante e houver risco de decisões contrárias à
sua constitucionalidade se multiplicarem.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a constitucionalidade
daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais decidindo que aquela lei é
inconstitucional. Se não existirem decisões contrárias à lei, não há razão para se propor a ADC.
É possível que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher o requisito da
controvérsia judicial relevante com poucos dias de vigência do ato normativo?
SIM. Mesmo a lei ou ato normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível preencher o
requisito da controvérsia judicial relevante se houver decisões julgando essa lei ou ato normativo
inconstitucional.
Mas não é necessário que haja muitas decisões judiciais contrárias à lei ou ato normativo?
Não necessariamente. O STF decidiu que o requisito relativo à existência de controvérsia judicial relevante
é qualitativo e não quantitativo. Em outras palavras, para verificar se existe a controvérsia não se examina
apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas decisões em sentido contrário à
lei. Mesmo havendo ainda poucas decisões julgando inconstitucional a lei já pode ser possível o
ajuizamento da ADC se o ato normativo impugnado for uma emenda constitucional (expressão mais
elevada da vontade do parlamento brasileiro) ou mesmo em se tratando de lei se a matéria nela versada
for relevante e houver risco de decisões contrárias à sua constitucionalidade se multiplicarem.
Importante!!!
O TCU tem competência para declarar a inidoneidade de empresa privada para participar de
licitações promovidas pela Administração Pública. Essa previsão está expressa no art. 46 da
Lei 8.443/92, sendo considerada constitucional:
Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará a
inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na
Administração Pública Federal.
STF. Plenário. MS 30788/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 21/5/2015 (Info 786).
Desse modo, o STF reconheceu que o TCU tem competência para declarar a inidoneidade de empresa
privada para participar de licitações promovidas pela Administração Pública.
No caso concreto, a empresa prejudicada alegou que esse art. 46 somente poderia ser aplicado se a
licitação fosse do próprio TCU, não podendo ser utilizado para contratações feitas por outro órgão. Essa
argumentação foi aceita?
NÃO. Esse art. 46 da Lei n. 8.443/92 é um instrumento outorgado pelo legislador para que o TCU realize
sua missão constitucional de fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial
mediante o controle externo da Administração Pública federal (art. 70 da CF/88).
A empresa alegou, por fim, que o art. 46 da Lei n. 8.443/92 teria sido derrogado pelo art. 87 da Lei n.
8.666/93. Isso é correto?
NÃO. O art. 87, III, da Lei n. 8.666/93 prevê o seguinte:
Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração poderá, garantida a prévia defesa,
aplicar ao contratado as seguintes sanções:
(...)
III - suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a Administração,
por prazo não superior a 2 (dois) anos;
Segundo entende o STF, o poder outorgado pelo legislador ao TCU, de declarar, verificada a ocorrência de
fraude comprovada à licitação, a inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos,
de licitação na Administração Pública Federal (art. 46 da Lei n. 8.443/92), não se confunde com o art. 87
da Lei das Licitações (art. 87), que é dirigido apenas ao controle interno da Administração Pública e de
DIREITO ADMINISTRATIVO
NEPOTISMO
Norma que impede nepotismo no serviço público não alcança servidores de provimento efetivo
A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. , V), que é vedado ao servidor
público servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil .
Foi proposta uma ADI contra esta norma.
O STF julgou a norma constitucional, mas decidiu dar interpretação conforme à Constituição,
no sentido de o dispositivo ser válido somente quando incidir sobre os cargos de provimento
em comissão, função gratificada, cargos de direção e assessoramento. Em outras palavras, o
STF afirmou que essa vedação não pode alcançar os servidores admitidos mediante prévia
aprovação em concurso público, ocupantes de cargo de provimento efetivo, haja vista que isso
poderia inibir o próprio provimento desses cargos, violando, dessa forma, o art. 37, I e II, da
CF/88, que garante o livre acesso aos cargos, funções e empregos públicos aos aprovados em
concurso público.
STF. Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 20/5/2015 (Info 786).
Ocorre que se a pessoa foi aprovada em concurso público e irá assumir um cargo efetivo, ela poderá assumi-lo
mesmo que na direção imediata esteja seu cônjuge ou parente. Isso porque, neste caso, este cônjuge ou
parente não teve influência na contratação, que se deu em virtude de aprovação em concurso público.
Se fôssemos aplicar essa proibição inclusive para cargos efetivos, isso violaria o art. 37, I e II, da CF/88, que
garante o livre acesso aos cargos, funções e empregos públicos aos aprovados em concurso público.
O nepotismo é vedado em qualquer dos Poderes da República por força dos princípios constitucionais da
impessoalidade, eficiência, igualdade e moralidade, independentemente de previsão expressa em diploma
legislativo.
Assim, o nepotismo não exige a edição de uma lei formal proibindo a sua prática, uma vez que tal vedação
decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88 (STF. Rcl nº 6.702/PR-MC-Ag).
Logo, essa previsão da CE era dispensável.
PARIDADE
Em regra, eles não têm direito à paridade com servidores em atividade;
Exceção: terão direito à paridade caso se enquadrem na regra de transição prevista no art.
3º da EC 47/2005.
INTEGRALIDADE
Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 não possuem direito à
integralidade (CF, art. 40, § 7º, I), não havendo regra de transição para isso.
PRINCÍPIO DA INTEGRALIDADE
O que é o princípio da integralidade?
Era uma garantia de que o servidor público, quando se aposentasse, iria receber o mesmo valor que já
auferia na sua última remuneração. Ex: o indivíduo era técnico judiciário, de 1ª classe, recebendo R$ 5 mil.
Isso significa que, quando ele se aposentasse, receberia os mesmos R$ 5 mil a título de proventos.
Já que não existe mais a integralidade, como é calculado o valor da pensão por morte que será paga?
O cálculo é feito com base no art. 40, § 7º, I, da CF/88:
§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pensão por morte, que será igual:
I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite máximo estabelecido para os
benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da
parcela excedente a este limite, caso aposentado à data do óbito; ou (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 41, 19.12.2003)
Desse modo, veja que o inciso I começa falando que a pensão por morte será o valor da totalidade dos
proventos do servidor falecido, mas logo em seguida já impõe uma série de restrições. Logo, não mais
existe o direito à integralidade.
JUIZADOS ESPECIAIS
Competência da União para legislar
Recurso inominado
A Lei nº 9.099/95, que disciplina o processo nos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, prevê que, contra a
sentença proferida pelo juiz no rito dos juizados, caberá recurso inominado para o próprio Juizado (recurso
a ser julgado pela Turma Recursal).
Obs.: contra sentença meramente homologatória de conciliação ou laudo arbitral não cabe recurso inominado.
DIREITO PENAL
CRIMES TRIBUTÁRIOS
Aplicação da SV 24-STF a fatos anteriores à sua edição
Importante!!!
A SV 24-STF diz que o crime tributário material só se consuma com o lançamento definitivo do
tributo. Em outras palavras, não existe crime antes da constituição definitiva do crédito
tributário. Logo, indiretamente, a SV afirma que o prazo prescricional só começa a ser contado
no dia da constituição definitiva do crédito tributário já que é nessa data que o delito se
consuma (art. 111, I, do CP).
Perceba, portanto, que sob o ponto de vista da prescrição, a SV 24-STF é prejudicial para o réu
porque mesmo ele tendo praticado a conduta anos antes, o prazo prescricional nem começou a
correr se ainda não houve constituição definitiva do crédito tributário. Fica assim mais difícil
de o agente escapar da prescrição. O Estado-acusação acaba ganhando mais tempo para
oferecer a denúncia antes que o crime prescreva.
Desse modo, surgiu a tese defensiva de que a SV 24-STF, por ser mais gravosa ao réu, não
poderia retroagir para ser aplicada a fatos anteriores à sua edição, sob pena de isso ser
considerado aplicação retroativa in malam partem . Esse argumento foi aceito? É proibido
aplicar a SV 24-STF para fatos anteriores à sua edição?
NÃO. A tese não foi aceita. A SV 24-STF pode sim ser aplicada a fatos anteriores à sua edição.
Não se pode concordar com o argumento de que a aplicação da SV 24-STF a fatos anteriores à
sua edição configura retroatividade in malam partem . )sso porque o aludido enunciado
apenas consolidou interpretação reiterada do STF sobre a matéria.
A súmula vinculante não é lei nem ato normativo, de forma que a SV 24-STF não inovou no
ordenamento jurídico. O enunciado apenas espelhou (demonstrou) o que a jurisprudência já
vinha decidindo.
STF. 1ª Turma. RHC 122774/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/5/2015 (Info 786).
Lei 8.137/90
A Lei n. 8.137/90, em seus arts. 1º e 3º, define crimes contra a ordem tributária.
O art. 1º prevê o delito de sonegação fiscal, que é um crime tributário MATERIAL (com exceção do inciso V,
que é formal).
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e
qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer
De quando é a SV 24-STF?
A súmula foi publicada no DJe de 11/12/2009.
NULIDADE
Constituição de novo mandatário, sem qualquer ressalva,
enseja a revogação tácita da procuração anterior
Importante!!!
João respondeu a ação penal e foi condenado em 1ª instância. Seu advogado constituído na
época era Dr. Pedro que interpôs recurso de apelação.
Algumas semanas depois, João outorga procuração para outro advogado (Dr. Carlos)
conferindo-lhe poderes para representá-lo neste processo criminal. Vale ressaltar que nesta
segunda procuração não há qualquer menção ao mandato que havia sido dado a Dr. Pedro.
Dr. Carlos peticiona, então, ao Tribunal de Justiça (onde tramita a apelação) juntando a
procuração e informando que deseja ser intimado de todos os atos judiciais.
Ocorre que a petição do Dr. Carlos foi ignorada e, quando marcaram o dia do julgamento da
apelação, o advogado intimado foi o Dr. Pedro.
No julgamento da apelação, que não foi acompanhado nem pelo Dr. Carlos nem pelo Dr. Pedro,
o TJ manteve a sentença condenatória.
Houve nulidade no presente caso?
SIM. Houve nulidade do julgamento da apelação considerando que o novo advogado
constituído do réu não foi intimado. A jurisprudência do STF é firme no sentido de que a não
intimação de advogado constituído configura cerceamento de defesa e, portanto, nulidade dos
atos processuais.
Mesmo sem ter havido revogação expressa do mandato outorgado ao primeiro advogado, ficou
clara a intenção do réu de alterar seu causídico. Podemos dizer que houve revogação tácita.
Para o STF, a constituição de novo mandatário para atuar em processo judicial, sem ressalva
ou reserva de poderes, enseja a revogação tácita do mandato anteriormente concedido.
STF. 2ª Turma. RHC 127258/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 19/5/2015 (Info 786).
Atenção! DPU
Se uma praça (exs: soldados, cabos) for condenada por crime militar com pena superior a 2 anos,
receberá, como pena acessória, a sua exclusão das Forças Armadas mesmo sem que tenha sido
instaurado processo específico para decidir essa perda?
SIM. A pena acessória de perda do cargo pode ser aplicada a PRAÇAS mesmo sem processo
específico para que seja imposta. Trata-se de uma pena acessória da condenação criminal.
E se um OFICIAL for condenado?
Neste caso, será necessário um processo específico para que lhe seja imposta a perda do posto
e da patente (art. 142, § 3º, VI e VII, da CF/88). Para que haja a perda do posto e da patente do
Oficial condenado a pena superior a 2 anos, é necessário que, além do processo criminal, ele
seja submetido a novo julgamento perante Tribunal Militar de caráter permanente para
decidir apenas essa perda.
STF. Plenário. RE 447859/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
O Código Penal Militar (editado em 1969) prevê que, se uma praça (exs: soldados, cabos) for condenada
por crime militar com pena superior a 2 anos, receberá, como pena acessória, a sua exclusão das Forças
Armadas. Veja:
Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de liberdade, por tempo superior a dois anos, importa
sua exclusão das fôrças armadas.
Obs1: na escala hierárquica, os militares estão divididos em dois grandes grupos: as praças (que
desempenham funções mais subalternas) e os oficiais (que realizam atividades mais graduadas).
Obs2: apesar de o art. 102 falar em Forças Armadas, esse dispositivo também se aplicada para a Polícia
Militar e para o Corpo de Bombeiros Militar.
Diante dessa previsão, surgiu a tese de que o art. 102 do CPM não teria sido recepcionado pela CF/88 e
que a perda da graduação das praças somente seria possível se fosse aberto um processo específico para
essa finalidade e a perda fosse declarada por um Tribunal. Em outras palavras, a praça condenada por
crime militar não poderia receber, como pena acessória, a perda do cargo.
Desse modo, para que haja a perda do posto e da patente do Oficial condenado a pena superior a 2 anos,
é necessário que, além do processo criminal, ele seja submetido a novo julgamento perante Tribunal
Militar de caráter permanente para decidir apenas essa perda.
A Corte asseverou que não se teria como aceitável a atribuição da responsabilidade às distribuidoras de
o ustíveis, o aso de ope aç es i te estaduais o gasoli a C ou leo diesel, pelo e olhi e to do
valor correspondente ao ICMS diferido ou suspenso, de modo a estornar o crédito do imposto
correspondente ao volume de AEAC ou B100 contidos na mistura. Não se poderia exigir o recolhimento de
quem não teria a obrigação legal relativamente a ele. Outrossim, não caberia exigir o estorno, na forma de
pagamento, para compensar a anulação de crédito meramente contábil. Se o crédito de ICMS, porventura
existente na operação anterior, seria meramente escritural, não haveria motivos de ordem prática e
jurídica a justificar a obrigação de estorno na forma de pagamento do imposto. O estorno poderia dar-se na
forma de compensação contábil, mas não na modalidade de pagamento de imposto. Por outro lado, na
espécie, os Estados-Membros e o Distrito Federal, sob a supervisão da União, teriam vulnerado o princípio
da legalidade tributária, pois, por meio de convênio, teriam estipulado que o mesmo fato gerador se
prestaria a servir de instrumento arrecadador para entes federados distintos, a gerar hipótese de
bitributação não contemplada na Constituição. Esse fato causaria, portanto, evidente surpresa e prejuízo
ao contribuinte, uma vez que agravaria sua situação tributária, em patente violação às limitações
constitucionais do poder de tributar. Vencidos os Ministros Luiz Fux e Cármen Lúcia, que julgavam
improcedente o pedido. Na sequência, o Plenário, por maioria, modulou os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade, para que tivesse a eficácia diferida por seis meses após a publicação do acórdão.
Vencido, quanto à modulação, o Ministro Marco Aurélio.
ADI 4171/DF, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, 20.5.2015.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 878.694-MG
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO DAS SUCESSÕES. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DISPOSITIVOS DO CÓDIGO CIVIL QUE PREVEEM DIREITOS
DISTINTOS AO CÔNJUGE E AO COMPANHEIRO. ATRIBUIÇÃO DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Possui caráter constitucional a controvérsia acerca da validade do art. 1.790 do Código Civil, que prevê ao companheiro direitos sucessórios
distintos daqueles outorgados ao cônjuge pelo art. 1.829 do mesmo Código.
2. Questão de relevância social e jurídica que ultrapassa os interesses subjetivos da causa.
3. Repercussão geral reconhecida.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 859.251-DF
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso extraordinário com agravo. Repercussão geral. Constitucional. Penal e processual penal. 2. Habeas corpus. Intervenção de terceiros. Os
querelantes têm legitimidade e interesse para intervir em ação de habeas corpus buscando o trancamento da ação penal privada e recorrer da decisão
que concede a ordem. 3. A promoção do arquivamento do inquérito, posterior à propositura da ação penal privada, não afeta o andamento desta. 4. Os
fatos, tal como admitidos na instância recorrida, são suficientes para análise da questão constitucional. Provimento do agravo de instrumento, para
análise do recurso extraordinário. 5. Direito a mover ação penal privada subsidiária da pública. Art. 5º, LIX, da Constituição Federal. Direito da
vítima e sua família à aplicação da lei penal, inclusive tomando as rédeas da ação criminal, se o Ministério Público não agir em tempo. Relevância
jurídica. Repercussão geral reconhecida. 6. Inquérito policial relatado remetido ao Ministério Público. Ausência de movimentação externa ao Parquet
por prazo superior ao legal (art. 46 do Código de Processo Penal). Surgimento do direito potestativo a propor ação penal privada. 7. Questão
constitucional resolvida no sentido de que: (i) o ajuizamento da ação penal privada pode ocorrer após o decurso do prazo legal, sem que seja oferecida
denúncia, ou promovido o arquivamento, ou requisitadas diligências externas ao Ministério Público. Diligências internas à instituição são irrelevantes;
(ii) a conduta do Ministério Público posterior ao surgimento do direito de queixa não prejudica sua propositura. Assim, o oferecimento de denúncia, a
promoção do arquivamento ou a requisição de diligências externas ao Ministério Público, posterior ao decurso do prazo legal para a propositura da
ação penal, não afastam o direito de queixa. Nem mesmo a ciência da vítima ou da família quanto a tais diligências afasta esse direito, por não
representar concordância com a falta de iniciativa da ação penal pública. 8. Reafirmação da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 9. Recurso
extraordinário provido, por maioria, para reformar o acórdão recorrido e denegar a ordem de habeas corpus, a fim de que a ação penal privada
prossiga, em seus ulteriores termos.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 876.982-PR
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ESTADO DO PARANÁ. SERVIDORA PÚBLICA.
GRATIFICAÇÃO DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO
GERAL.
1. A controvérsia relativa à base de cálculo da vantagem denominada “gratificação de insalubridade”, paga aos servidores públicos das universidades
estaduais do Paraná, é de natureza infraconstitucional, uma vez que fundada na interpretação das Leis Estaduais 10.692/93 e 15.050/06.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 881.383-RN
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SERVIDORA PÚBLICA INATIVA.
APOSENTADORIA NO CARGO DE PROFESSORA, COM CARGA HORÁRIA DE 40 HORAS. ALTERAÇÃO DO REGIME DO
MAGISTÉRIO ESTADUAL E POSTERIOR REENQUADRAMENTO NO CARGO DE PROFESSOR, COM CARGA HORÁRIA DE 30 HORAS.
OCORRÊNCIA DE DECESSO REMUNERATÓRIO. REEXAME DE FATOS E PROVAS (SÚMULA 279/STF). MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
Decisões Publicadas: 4
CLIPPING DO D JE
18 a 22 de maio de 2015
ADI N. 2.615-SC
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Direito do Consumidor. 3. Telefonia. 4. Assinatura básica mensal. 5. Lei n. 11.908, de 25 de setembro de
2001, do estado de Santa Catarina. 6. Inconstitucionalidade formal. 7. Afronta aos arts. 21, XI, e 22, IV, da Constituição Federal. 8. É inconstitucional
norma local que fixa as condições de cobrança do valor de assinatura básica, pois compete à União legislar sobre telecomunicações, bem como
explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão seus serviços. 9. Ação direta julgada procedente.
*noticiado no Informativo 777
ADI N. 5.163-GO
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº 17.882/2012 DO ESTADO DE GOIÁS.
SERVIÇO DE INTERESSE MILITAR VOLUNTÁRIO (SIMVE). INOBSERVÂNCIA DA REGRA CONSTITUCIONAL IMPOSITIVA
DO CONCURSO PÚBLICO. VIOLAÇÃO AOS ART. 37, II, E 144, § 5°, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PREVISÃO GENÉRICA
E ABRANGENTE DE CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA: OFENSA AOS ARTS. 37, II, IX, E 144, CAPUT, DA CRFB/88.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. LEI ESTADUAL QUE CONTRARIA NORMAS GERAIS EDITADAS PELA UNIÃO. AÇÃO
JULGADA PROCEDENTE.
1. O postulado do concurso público traduz-se na necessidade essencial de o Estado conferir efetividade a diversos princípios constitucionais,
corolários do merit system, dentre eles o de que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (CRFB/88, art. 5º, caput).
2. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, conquanto instituições públicas, pressupõem o
ingresso na carreira por meio de concurso público (CRFB/88, art. 37, II), ressalvadas as funções administrativas para trabalhos voluntários (Lei nº
10.029/2000), restando inconstitucional qualquer outra forma divergente de provimento.
3. À luz do conteúdo jurídico do art. 37, inciso IX, da Constituição da República e da jurisprudência firmada por esta Suprema Corte em sede de
Repercussão Geral (RE 658.026, Relator Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe 31.10.2014), a contratação temporária reclama os seguintes
requisitos para sua validade: (i) os casos excepcionais devem estar previstos em lei; (ii) o prazo de contratação precisa ser predeterminado; (iii) a
necessidade deve ser temporária; (iv) o interesse público deve ser excepcional; (iv) a necessidade de contratação há de ser indispensável, sendo
vedada a contratação para os serviços ordinários permanentes do Estado, e que devam estar sob o espectro das contingências normais da
Administração, mormente na ausência de uma necessidade temporária.
4. No caso sub examine, não há qualquer evidência de necessidade provisória que legitime a contratação de policiais temporários para o munus da
segurança pública, mercê de a lei revelar-se abrangente, não respeitando os pressupostos básicos de norma que almeja justificar a sua
excepcionalidade frente à regra da Carta Magna (CRFB/88, art. 37, II e IX).
5. A competência legislativa concorrente entre a União e os Estados-membros (CRFB/88, art. 24), nos casos em que cabe àquela estabelecer normas
gerais (§ 1º) e a estes normas suplementares (§ 2º), submete-se ao exame de constitucionalidade em sede de fiscalização normativa abstrata quando
configurada inconstitucionalidade direta, imediata e frontal. Precedentes do Plenário:; ADI 1366 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe
20-09-2012; ADI 2656/SP, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ 01.08.2003; ADI 311 MC, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ
14-09-1990.
6. É que afronta o texto maior lei estadual que regule fora das peculiaridades locais e de sua competência suplementar, atentando contra as normas
gerais de competência da União em manifesta usurpação de competência (CRFB/88, arts. 22, XXI, e 24, § 2º).
7. É inconstitucional, por vício formal, lei estadual que inaugura relação jurídica contraposta à legislação federal que regula normas gerais sobre o
tema, substituindo os critérios mínimos estabelecidos pela norma competente.
8. In casu, a Lei nº 17.882, de 27 de dezembro de 2012, do Estado do Goiás, ao instituir o Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual (SIMVE)
na Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás, instituiu uma classe de policiais temporários, cujos integrantes, sem o
indispensável concurso público de provas e títulos, passam a ocupar, após seleção interna, função de natureza policial militar de maneira
evidentemente inconstitucional.
9. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
10. Proposta a modulação temporal pelo Relator, não se obteve, no Plenário, o quorum necessário para a sua aprovação.
*noticiado no Informativo 780
AP N. 568-SC
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
MS N. 33.046-PR
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. PROCEDIMENTO DE CONTROLE
ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO DE REMOÇÃO PARA OUTORGA DO 6º CARTÓRIO DE PROTESTOS DE
CURITIBA. CRITÉRIO PARA DESEMPATE DO CERTAME. LEI FEDERAL Nº 10.741/03. ESTATUTO DO IDOSO. NORMA GERAL.
CRITÉRIO DE DESEMPATE ETÁRIO. NÃO APLICABILIDADE. LEI FEDERAL Nº 8.935/94 E LEI ESTADUAL Nº 14.594/2004.
NORMAS ESPECÍFICAS. CRITÉRIO DE DESEMPATE. TEMPO DE SERVIÇO. APLICABILIDADE. ORIENTAÇÃO ADOTADA
PELO ACÓRDÃO IMPUGNADO. SEGURANÇA DENEGADA.
1. O princípio federativo brasileiro reclama, na sua ótica contemporânea, o abandono de qualquer leitura excessivamente inflacionada das
competências normativas da União (sejam privativas, sejam concorrentes), bem como a descoberta de novas searas normativas que possam ser
trilhadas pelos Estados, Municípios e pelo Distrito Federal, tudo isso em conformidade com o pluralismo político, um dos fundamentos da República
Federativa do Brasil (CRFB, art. 1º, V)
2. A competência da União para legislar sobre registros públicos (CRFB, art. 22, XXV) alcança apenas as atividades-fim dos notários e registradores,
correspondendo ao poder de “criar e extinguir requisitos de validade dos atos jurídicos de criação, preservação, modificação, transferência e
extinção de direitos e obrigações” (Precedente do STF: ADI nº 2.415, rel. Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, j. 22/09/2011, DJe-028 de 08-02-2012).
3. Cabe aos Estados-membros editar as normas e fixar os critérios para o concurso de remoção para outorga de serventia extrajudicial (ex vi do art. 25,
§1º, CRFB), como, a rigor, já reconhecido pela legislação federal sobre o tema (Lei nº 8.935/1994 - art. 18. A legislação estadual disporá sobre as
normas e os critérios para o concurso de remoção).
4. O Estado do Paraná, no exercício de sua competência legislativa, editou a Lei nº 14.594/2004, que estabeleceu as normas e critérios para concursos
de remoção nos serviços notariais e de registro.
5. A Lei nº 10.741/03 (Estatuto do Idoso) cuida apenas da admissão em concurso público em termos gerais, de modo que, quando em referência
concurso de remoção, não deve ser seguida, ante a existência de lei especial (lex specialis derogat legi generali).
6. In casu, o acórdão impugnado do Conselho Nacional de Justiça, ao negar a aplicação da Lei n° 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), privilegiando o
que estabelece a Lei Estadual n° 14.594/2004, agiu acertadamente, resolvendo o conflito aparente de normas segundo a boa técnica jurídica.
7. O tempo anterior na titularidade do serviço para o qual se realiza o concurso público não pode ser utilizado como critério de desempate por violar o
princípio da razoabilidade, segundo a jurisprudência do STF (Precedente: ADI nº 3.522, rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, j. 24/11/2005, DJ
12.05.2006).
ADI N. 4.481-PR
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa:. I. TRIBUTÁRIO. LEI ESTADUAL QUE INSTITUI BENEFÍCIOS FISCAIS RELATIVOS AO ICMS. AUSÊNCIA DE CONVÊNIO
INTERESTADUAL PRÉVIO. OFENSA AO ART. 155, § 2º, XII, g, DA CF/88. II. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. MODULAÇÃO
DOS EFEITOS TEMPORAIS.
1. A instituição de benefícios fiscais relativos ao ICMS só pode ser realizada com base em convênio interestadual, na forma do art. 155, §2º, XII, g, da
CF/88 e da Lei Complementar nº 24/75.
2. De acordo com a jurisprudência do STF, o mero diferimento do pagamento de débitos relativos ao ICMS, sem a concessão de qualquer redução do
valor devido, não configura benefício fiscal, de modo que pode ser estabelecido sem convênio prévio.
3. A modulação dos efeitos temporais da decisão que declara a inconstitucionalidade decorre da ponderação entre a disposição constitucional tida por
violada e os princípios da boa-fé e da segurança jurídica, uma vez que a norma vigorou por oito anos sem que fosse suspensa pelo STF. A supremacia
da Constituição é um pressuposto do sistema de controle de constitucionalidade, sendo insuscetível de ponderação por impossibilidade lógica.
4. Procedência parcial do pedido. Modulação para que a decisão produza efeitos a contatar da data da sessão de julgamento.
*noticiado no Informativo 777
HC N. 123.652-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO INADMITIDO NA
ORIGEM. APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL. ALEGAÇÃO DE USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO STF.
INADMISSIBILIDADE. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO. ART. 297 DO CP. EXTINÇÃO PREMATURA DA AÇÃO PENAL.
INVIABILIDADE. PRESENTES OS PRESSUPOSTOS AUTORIZADORES DA PERSECUÇÃO CRIMINAL.
1. O Plenário desta Corte firmou o entendimento de que não cabe recurso ou reclamação ao Supremo Tribunal Federal para rever decisão do Tribunal
de origem que aplica a sistemática da repercussão geral, a menos que haja negativa motivada do juiz em se retratar para seguir a decisão da Suprema
Corte.
2. A denúncia narra de forma clara e objetiva os fatos supostamente delituosos, com a indicação dos elementos indiciários mínimos aptos a tornar
plausível a acusação, de modo a permitir, àquele que sofre a persecução criminal, o pleno exercício do direito de defesa, nos termos do art. 41 do
Código de Processo Penal.
3. Não há como avançar nas alegações sobre a veracidade, ou não, dos fatos imputados, questões que serão apuradas no âmbito da ação penal
originária, impossível de ser avaliada nesta via processual.
4. Não se trata de acusação de falsificação de fotocópia de documento público não-autenticada, ou de sua utilização, o que, em tese, poderia implicar
na inidoneidade do suposto documento para ilaquear a fé pública. O que se tem descrito é que a referida cópia seria um elemento de informação que
demonstraria a existência de duas versões de um mesmo contrato administrativo, cuja utilização do escrito supostamente falsificado teria gerado
prejuízos à municipalidade, ou seja, consequências no plano jurídico.
5. Ordem denegada.
HC N. 126.520-RJ
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PENAL MILITAR. PACIENTE CONDENADO PELO CRIME DE DESERÇÃO. ART. 187 DO CPM. EQUÍVOCO NA ELABORAÇÃO
DO TERMO DE DESERÇÃO. INOCORRÊNCIA. EXCLUSÃO DOS QUADROS DAS FORÇAS ARMADAS APÓS O PERÍODO DE GRAÇA.
CONSUMAÇÃO DO DELITO. ART. 452 DO CPPM. CARÁTER DE INSTRUÇÃO PROVISÓRIA DO TERMO. POSSIBILIDADE DE
UTILIZAÇÃO DE OUTROS MEIOS DE PROVA.
1. Eventual equívoco na lavratura do Termo de Deserção apenas tem o condão de afastar a tipicidade da conduta quando, a partir dele, as forças
armadas excluírem o militar durante o período de graça.
2. A literalidade do art. 452 do CPPM deixa claro que o Termo de Deserção tem o caráter de instrução provisória e destina-se a fornecer os elementos
necessários à propositura da ação penal, não significando prova definitiva, que será formada durante a instrução, sob o crivo do contraditório e da
ampla defesa. Doutrina.
3. Ordem denegada.
AG. REG. NO HC N. 124.867-PR
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
E M E N T A: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. DESCAMINHO. VALOR INFERIOR AO
ESTIPULADO PELO ART. 20 DA LEI 10.522/2002. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. HABITUALIDADE DELITIVA.
REPROVABILIDADE DA CONDUTA.
1. A pertinência do princípio da insignificância deve ser avaliada considerando os aspectos relevantes da conduta imputada.
2. A habitualidade delitiva revela reprovabilidade suficiente a afastar a aplicação do princípio da insignificância (ressalva de entendimento da
Relatora). Precedentes.
3. Agravo regimental conhecido e não provido
AG. REG. NO ARE N. 854.606-PE
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. GRATIFICAÇÃO
DE RISCO DE POLICIAMENTO OSTENSIVO. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº 59/2004. CARÁTER GENÉRICO. ART. 97 DA CF/88.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. PRECEDENTES.
1. Dissentir da conclusão adotada pelo Tribunal de origem quanto à natureza jurídica das vantagens concedidas aos servidores, se genéricas ou pro
labore faciendo, exige o exame da legislação local pertinente e uma nova apreciação dos fatos e do material probatório constante dos autos
(incidência das Súmulas 279 e 280/STF).
2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que não há violação ao princípio da reserva de plenário quando o acórdão
recorrido apenas interpreta norma local, sem declará-la inconstitucional ou afastar sua aplicação com base nos termos da Constituição Federal.
3. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
Acórdãos Publicados: 416
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
18 a 22 de maio de 2015
Lei nº 13.123, de 20.5.2015 - Regulamenta o inciso II do § 1o e o § 4o do art. 225 da Constituição Federal, o Artigo 1, a
alínea j do Artigo 8, a alínea c do Artigo 10, o Artigo 15 e os §§ 3 o e 4o do Artigo 16 da Convenção sobre Diversidade
Biológica, promulgada pelo Decreto no 2.519, de 16.3.1998; dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a
proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso
sustentável da biodiversidade; revoga a Medida Provisória no 2.186-16, de 23.8.2001; e dá outras providências.
Publicada no DOU em 21.5.2015, Seção 1, p. 52.
Lei nº 13.124, de 21.5.2015 - Altera a Lei no 10.446, de 8.5. 2002, que dispõe sobre infrações penais de repercussão
interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme, para os fins do disposto no inciso I do § 1 o do art. 144 da
Constituição Federal. Publicada no DOU em 22.5.2015, Seção 1, p. 1.
Medida Provisória nº 675, de 21.3.2015 - Altera a Lei nº 7.689, de 15.12.1988, para elevar a alíquota da Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido - CSLL em relação às pessoas jurídicas de seguros privados e de capitalização e às
referidas nos incisos I a VII, IX e X do § 1º do art. 1º da Lei Complementar nº 105, de 10.1.2001. Publicada no DOU
em 22.5.2015, Seção 1, p. 2.
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADPF 341 MC-Ref/DF; RE 598677/RS; RE 658570/MG; ARE 868922 AgR/SP.
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
PENSÃO POR MORTE
Adoção de descendente maior com o único objetivo de deixar pensão por morte.
DIREITO ADMINISTRATIVO
Não é legítima a adoção de descendente maior de idade, sem a constatação de suporte moral
ou econômico, com o fim de induzir o deferimento de benefício previdenciário.
No caso concreto, militar reformado do Exército, antes de falecer, adotou sua própria neta, que
na época tinha 41 anos de idade e era professora do ensino público estadual. Quando faleceu, a
neta habilitou-se para receber a pensão por morte como dependente do militar. O Exército fez
a concessão inicial do benefício, mas o TCU negou registro à pensão.
O STF considerou que a decisão do TCU foi correta porque a adoção não tinha suporte moral
nem econômico e tinha sido feita com o objetivo de induzir o deferimento do benefício
previdenciário. Logo, não foi legítima, tendo sido praticada com simulação e fraude à lei.
STF. 1ª Turma. MS 31383/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/5/2015 (Info 785).
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1
Maria impetrou mandado de segurança contra o acórdão do TCU, alegando que a decisão da Corte foi
ilegal porque:
a) não lhe foi garantida ampla defesa e contraditório;
b) houve decadência já que o TCU negou registro à pensão mais de 5 anos depois de sua concessão inicial
pelo Exército;
c) o TCU não poderia ter desconsiderado a adoção realizada.
Desse modo, repetindo, em regra, quando o Tribunal de Contas aprecia se o ato de concessão inicial da
aposentadoria foi legal ou não, é desnecessário que haja contraditório e ampla defesa.
b) Decadência
Caso uma aposentadoria ou uma pensão tenham sido concedidas sem que os requisitos legais tenham
sido preenchidos, a Administração Pública pode anular esse benefício?
Sim, com base na autotutela administrativa. Nesse sentido, relembre a Súmula 473 do STF:
Súmula 473-STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
Qual o prazo de que dispõe a Administração Pública federal para anular o ato administrativo que concedeu
uma aposentadoria ilegal?
O prazo é de 5 anos, nos termos do art. 54 da Lei n. 9.784/99 (que regula o processo administrativo no
âmbito da Administração Pública Federal):
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para
os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.
Dessa forma, o argumento da impetrante também não deve prosperar quanto a este ponto. A incidência
do disposto no art. 54 da Lei n. 9.784/99 pressupõe situação jurídica aperfeiçoada. Isso não acontece
quanto ao ato de natureza complexa que só se aperfeiçoa depois que o Tribunal de Contas fizer o registro
do ato (aposentadoria ou pensão).
c) Adoção
O STF decidiu que a adoção no presente caso não tinha suporte moral nem econômico e tinha sido feita
com o objetivo de induzir o deferimento do benefício previdenciário. Logo, esta adoção não foi legítima,
tendo sido praticada com simulação e fraude à lei.
Não havia demonstração da dependência econômica capaz de justificar o deferimento da pensão.
Em contexto de escassez de recursos públicos, devem ser combatidas posturas estrategicamente
destinadas a induzir o deferimento de pensões em casos que, diante das características subjetivas dos
envolvidos, não ensejam o reconhecimento do direito.
Obs: alguns de vocês podem estar se perguntando: mas como o militar adotou sua própria neta se isso é
proibido? Realmente, segundo o ECA, o avós não podem adotar seus netos (art. 42, § 1º: Não podem
adotar os ascendentes e os irmãos do adotando ). Esse caso concreto, contudo, ocorreu antes do ECA e,
por isso, não havia ainda esta vedação. Essa informação não interfere no resultado do julgamento, mas
queria esclarecer apenas para que ninguém ficasse confuso.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
Não cabem para corrigir erros de julgamento
Embargos de declaração
Os embargos de declaração são uma espécie de recurso, que são julgados pelo próprio órgão que prolatou
a decisão. Ex.: os embargos de declaração opostos em face de uma sentença são julgados pelo próprio juiz
que proferiu a decisão.
O prazo dos embargos de declaração é de 5 dias.
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3
Hipóteses de cabimento
Segundo o CPC 1973, cabem embargos de declaração quando o pronunciamento judicial apresentar
obscuridade, contradição ou omissão:
Art. 535. Cabem embargos de declaração quando:
I — houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição;
II — for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal.
No âmbito do CPC 1973, a jurisprudência admitia, com base no art. 463, I, que os erros materiais
i exatidões ate iais fossem corrigidos mesmo sem embargos. Bastava uma mera petição. O novo CPC
prevê isso como hipótese de cabimento dos embargos. Diante disso, indaga-se: no CPC 2015, se a parte
identificar um erro material e, em vez de opor embargos de declaração, apresentar uma mera petição ao
juiz pedindo que o vício seja sanado, será possível a sua correção?
SIM. Segundo conclusão doutrinária do Fórum Permanente de Processualistas Civis, a ão oposição de
e a gos de de la ação e aso de e o ate ial a de isão ão i pede sua o eção a ual ue te po
(Enunciado 360).
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4
Embargos de declaração podem ser utilizados para corrigir...
Erro de julgamento: NÃO Premissa equivocada: SIM
Ocorre quando o órgão julgador não aplicou Ocorre quando o órgão julgador cometeu:
corretamente os fatos ou o direito ao caso erro material; ou
concreto. erro de fato (desconsiderou um fato que, se
Ex: o juiz aplicou de forma errada os precedentes fosse reconhecido, teria influência decisiva no
jurisprudenciais sobre aquela determinada julgamento, ou seja, teria alterado o resultado
matéria. do que foi decidido).
Os embargos de declaração não servem para
questionar erro de julgamento, devendo ser Cabem os embargos de declaração para corrigir o
interposto o recurso próprio contra a decisão. erro material ou para sanar a omissão e, por força
do efeito integrador deste recurso, pode ser que
ocorra, eventualmente, a modificação da decisão.
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5
O Ministério Público pode realizar diretamente a investigação de crimes?
SIM. O MP pode promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal.
Mas a CF/88 expressamente menciona que o MP tem poder para investigar crimes?
NÃO. A CF/88 não fala isso de forma expressa. Adota-se aqui a teoria dos poderes implícitos.
Segundo essa doutrina, nascida nos EUA (Mc CulloCh vs. Maryland – 1819), se a Constituição outorga
determinada atividade-fim a um órgão, significa dizer que também concede todos os meios necessários
para a realização dessa atribuição.
A CF/88 confere ao MP as funções de promover a ação penal pública (art. 129, I). Logo, ela atribui ao
Parquet também todos os meios necessários para o exercício da denúncia, dentre eles a possibilidade de
reunir provas para que fundamentem a acusação.
Ademais, a CF/88 não conferiu à Polícia o monopólio da atribuição de investigar crimes. Em outras
palavras, a colheita de provas não é atividade exclusiva da Polícia.
Desse modo, não é inconstitucional a investigação realizada diretamente pelo MP.
Esse é o entendimento do STF e do STJ.
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DO D JE
11 a 15 de maio de 2015
HC N. 121.656-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMENTA: PRISÃO PREVENTIVA – EXCEÇÃO –FUNDAMENTOS. A prisão preventiva há de guardar sintonia com o figurino legal, porque,
revelando excepcionalidade, inverte a sequência natural das coisas, prendendo, para, depois, apurar.
PRISÃO PREVENTIVA – FUNDAMENTOS – IMPUTAÇÃO. A gravidade da imputação não respalda a prisão preventiva, sob pena de tornar-se,
em certas situações, automática.
PRISÃO PREVENTIVA – ESTRANGEIRO. O fato de tratar-se de réu estrangeiro é neutro considerada a custódia preventiva.
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7
PRISÃO PREVENTIVA – RESIDÊNCIA E OCUPAÇÃO LÍCITA. Descabe evocar, no ato alusivo à prisão preventiva, como respaldo, a falta de
comprovação, por parte do réu, relativamente a residência ou ocupação lícita.
PRISÃO PREVENTIVA – EXCESSO DE PRAZO. Configurado o excesso de prazo na custódia preventiva, impõe-se a devolução do direito à
liberdade de ir e vir ao acusado, presente o princípio constitucional da não culpabilidade: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória” – inciso LVII do artigo 5º da Carta Federal.
EMB. DECL. NO AG. REG. NA ACO N. 1.800-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CÍVEL
ORIGINÁRIA. INEXISTÊNCIA DE QUAISQUER DOS VÍCIOS DO ART. 535 DO CPC.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
Inq N. 3.817-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMENTA: PARLAMENTAR – IMUNIDADE. A imunidade parlamentar, ante ideias veiculadas fora da tribuna da Casa Legislativa, pressupõe nexo
de causalidade com o exercício do mandato.
QUEIXA – IMUNIDADE PARLAMENTAR – ARTIGO 53 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – INCIDÊNCIA. As declarações do investigado, na
qualidade de 2º Vice-Presidente da Comissão Permanente de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados, alusivas aos dirigentes do futebol
brasileiro, fizeram-se ligadas ao exercício do mandato, estando cobertas pela imunidade parlamentar material.
AG. REG. EM MS N. 29.691-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PROVIMENTO SEM CONCURSO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE. ART. 236, E
PARÁGRAFOS, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: NORMAS AUTOAPLICÁVEIS, COM EFEITOS IMEDIATOS, MESMO ANTES DA
LEI 9.835/1994. INAPLICABILIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO ART. 54 DA LEI 9.784/1999. PRECEDENTES
DO PLENÁRIO. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência do STF é no sentido de que o art. 236, caput, e o seu § 3º da CF/88 são normas autoaplicáveis, que incidiram imediatamente desde
a sua vigência, produzindo efeitos, portanto, mesmo antes do advento da Lei 8.935/1994. Assim, a partir de 5/10/1988, o concurso público é
pressuposto inafastável para a delegação de serventias extrajudiciais, inclusive em se tratando de remoção, observado, relativamente a essa última
hipótese, o disposto no art. 16 da referida lei, com a redação que lhe deu a Lei 10.506/2002. As normas estaduais editadas anteriormente, que
admitem o ingresso na atividade notarial e de registro independentemente de prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas.
2. É igualmente firme a jurisprudência do STF no sentido de que a atividade notarial e de registro, sujeita a regime jurídico de caráter privado, é
essencialmente distinta da exercida por servidores públicos, cujos cargos não se confundem.
3. O Plenário do STF, em reiterados julgamentos, assentou o entendimento de que o prazo decadencial de 5 (cinco) anos, de que trata o art. 54 da Lei
9.784/1999, não se aplica à revisão de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a Constituição de 1988, sem o atendimento das
exigências prescritas no seu art. 236.
4. É legítima, portanto, a decisão da autoridade impetrada que considerou irregular o provimento de serventia extrajudicial, sem concurso público,
com ofensa ao art. 236, § 3º, da Constituição. Jurisprudência reafirmada no julgamento do MS 28.440 AgR, de minha relatoria, na Sessão do Plenário
de 19/6/2013.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO RHC N. 126.967-SC
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. RHC CONTRA ACÓRDÃO DO STJ PROFERIDO EM OUTRO RHC. INVIABILIDADE. REGRA DE
COMPETÊNCIA PREVISTA NO ART. 102, II, “A”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRISÃO PREVENTIVA. HOMICÍDIO QUALIFICADO.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PERICULOSIDADE DO AGENTE. CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL.
1. Segundo o art. 102, II, “a”, da CF, compete ao STF julgar, em recurso ordinário, o habeas corpus decidido em última instância pelos Tribunais
Superiores, se denegatória a decisão. A decisão foi proferida não no âmbito de habeas corpus originário, mas de julgamento de recurso ordinário em
habeas corpus interposto no Superior Tribunal de Justiça. Considerando as normas de distribuição de competências na Constituição Federal, de
natureza estrita, o presente recurso ordinário é manifestamente incabível. Precedentes.
2. Ainda que superado esse óbice, não há constrangimento ilegal a ser sanado. Os fundamentos utilizados revelam-se idôneos para manter a
segregação cautelar do paciente, na linha de precedentes desta Corte. É que a decisão está lastreada em circunstâncias concretas e relevantes (a) para
resguardar a ordem pública, ante a periculosidade do agente, evidenciada pelas circunstâncias em que o delito fora praticado; e (b) por conveniência
da instrução criminal, em razão do fundado receio de ameaça às testemunhas.
3. As circunstâncias concretas do caso não recomendam a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão preventiva, previstas no art. 319 do
Código de Processo Penal.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NOS EMB. DECL. EM MS N. 29.457-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PROVIMENTO, MEDIANTE REMOÇÃO, SEM CONCURSO PÚBLICO.
ILEGITIMIDADE. ART. 236, E PARÁGRAFOS, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: NORMAS AUTOAPLICÁVEIS, COM EFEITOS
IMEDIATOS, MESMO ANTES DA LEI 9.835/1994. INAPLICABILIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO ART. 54 DA LEI 9.784/1999.
PRECEDENTES DO PLENÁRIO. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência do STF é no sentido de que o art. 236, caput, e o seu § 3º da CF/88 são normas autoaplicáveis, que incidiram imediatamente desde
a sua vigência, produzindo efeitos, portanto, mesmo antes do advento da Lei 8.935/1994. Assim, a partir de 5/10/1988, o concurso público é
pressuposto inafastável para a delegação de serventias extrajudiciais, inclusive em se tratando de remoção, observado, relativamente a essa última
hipótese, o disposto no art. 16 da referida lei, com a redação que lhe deu a Lei 10.506/2002. As normas estaduais editadas anteriormente, que
admitem a remoção na atividade notarial e de registro independentemente de prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas.
2. É igualmente firme a jurisprudência do STF no sentido de que a atividade notarial e de registro, sujeita a regime jurídico de caráter privado, é
essencialmente distinta da exercida por servidores públicos, cujos cargos não se confundem.
3. O Plenário do STF, em reiterados julgamentos, assentou o entendimento de que o prazo decadencial de 5 (cinco) anos, de que trata o art. 54 da Lei
9.784/1999, não se aplica à revisão de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a Constituição de 1988, sem o atendimento das
exigências prescritas no seu art. 236.
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8
4. É legítima, portanto, a decisão da autoridade impetrada que considerou irregular o provimento de serventia extrajudicial, sem concurso público,
decorrente de remoção, com ofensa ao art. 236, § 3º, da Constituição. Jurisprudência reafirmada no julgamento do MS 28.440 AgR, de minha
relatoria, na Sessão do Plenário de 19/6/2013.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 764.763-DF
RELATOR : MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário. 2. Razões recursais dissociadas dos fundamentos utilizados pelo Superior Tribunal de
Justiça para negar seguimento ao recurso especial. Incidência da Súmula 284. 3. Matéria constitucional surgida nas instâncias originárias. Não
interposição do recurso extraordinário concomitante ao especial. Preclusão. Precedentes. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
RE N. 724.347-DF
RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. INVESTIDURA EM CARGO PÚBLICO POR FORÇA DE
DECISÃO JUDICIAL.
1. Tese afirmada em repercussão geral: na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão judicial, o servidor não faz jus a indenização,
sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante.
2. Recurso extraordinário provido.
*noticiado no Informativo 775
HC N. 126.910-SP
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Habeas corpus. 2. Ato infracional equiparado a tráfico e associação para tráfico ilícito de entorpecentes (arts. 33 e 35 da Lei 11.343/2006). 3.
Imposição de medida socioeducativa de internação. 4. Ausência de prévia manifestação das instâncias precedentes. Dupla supressão de instância.
Superação. 5. Conduta que não se amolda a nenhuma das situações descritas no art. 122 do ECA. Ausência de violência ou grave ameaça ou
reiteração. 6. Concessão da ordem, confirmando a liminar deferida para substituir a internação por liberdade assistida. Extensão da decisão colegiada
ao outro adolescente em razão da identidade da situação processual (art. 580 do CPP).
AG. REG. NOS EMB. DIV. NOS EMB. DECL. NOS EMB. DECL. NO AG. REG. NO RE N. 551.955-RS
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
DISPENSA. EXECUÇÃO NÃO EMBARGADA PELA FAZENDA PÚBLICA EM AÇÃO COLETIVA. IMPOSSIBILIDADE DE
FRACIONAMENTO DA EXECUÇÃO. ENTENDIMENTO ALINHADO AO POSICIONAMENTO SEDIMENTADO PELO PLENÁRIO
DESTA SUPREMA CORTE. PARADIGMA EMPREGADO COMO CAUSA DE DECIDIR DO ACÓRDÃO EMBARGADO. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A controvérsia suscitada nos presentes embargos de divergência encontra respaldo na decisão do Plenário do STF.
2. Inadmissíveis os embargos de divergência quando a decisão embargada estiver alinhada ao posicionamento do Plenário desta Suprema Corte.
3. In casu, apontado como acórdão paradigma o mesmo precedente empregado para fundamentar o julgado embargado.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 871.149-BA
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DOS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I - Nos termos da orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal, cabe à parte agravante impugnar todos os fundamentos da decisão agravada, o
que não ocorreu no caso.
II - Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 824.751-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ELEITORAL. PARTIDO POLÍTICO.
DESAPROVAÇÃO DE CONTAS. SUSPENSÃO DAS QUOTAS DO FUNDO PARTIDÁRIO. AUSÊNCIA DE PRELIMINAR
FUNDAMENTADA DE REPERCUSSÃO GERAL. ARTIGO 543-A, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL C.C. ARTIGO 327, § 1º,
DO RISTF.
1. A repercussão geral é requisito de admissibilidade do apelo extremo, por isso o recurso extraordinário é inadmissível quando não apresentar
preliminar formal de transcendência geral ou quando esta não for suficientemente fundamentada (Questão de Ordem no AI 664.567, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ de 6/9/2007).
2. A demonstração das questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos das
partes, deve ser realizada em tópico específico, devidamente fundamentado, no recurso extraordinário, e não nas razões do agravo regimental.
Incidência do óbice da preclusão consumativa.
3. In casu, o acórdão extraordinariamente recorrido assentou: “AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO. EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2010.
PRESTAÇÃO DE CONTAS. PARTIDO POLÍTICO. DIRETÓRIO ESTADUAL. DESAPROVAÇÃO. FALHAS QUE COMPROMETEM O CONTROLE
DAS CONTAS PELA JUSTIÇA ELEITORAL. RECURSO ESPECIAL. INADMISSÃO NA ORIGEM. INSURGÊNCIA QUE NÃO ATACA OS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO DO PRESIDENTE DO TRE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 182/STJ. DESPROVIMENTO.”
4. Agravo regimental DESPROVIDO.
AG. REG. NO ARE N. 861.275-RJ
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. TRIBUTÁRIO. EMPRÉSTIMO
COMPULSÓRIO. ELETROBRÁS. LEI Nº 4.156/1962. PRESCRIÇÃO. DEFINIÇÃO DO PRAZO. OFENSA REFLEXA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS Nº 282 E 356 DO STF. INOVAÇÃO RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIOS DA AMPLA
DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL REJEITADA PELO PLENÁRIO DO STF NO ARE Nº
748.371. CONTROVÉRSIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL.
1. A definição do prazo prescricional para demandar em juízo a restituição dos valores tomados a título de empréstimo compulsório em favor da
ELETROBRÁS, nos termos da Lei nº 4.156/1962, quando sub judice a controvérsia, não dá ensejo ao cabimento do recurso extraordinário, por situar-
se no âmbito infraconstitucional.
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9
2. O prequestionamento da questão constitucional é requisito indispensável à admissão do recurso extraordinário. As súmulas 282 e 356 do STF
dispõem, respectivamente, verbis: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal
suscitada” e “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não podem ser objeto de recurso extraordinário,
por faltar o requisito do prequestionamento”.
3. A alegação tardia de matéria constitucional, só suscitada em sede de embargos de declaração, não supre o requisito do prequestionamento. Precedentes:
ARE 693.333-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJe de 19/9/2012; e AI 738.152-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma,
DJe de 8/11/2012.
4. A inovação de argumentos em agravo regimental é incabível. Precedente: AI 518.051-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de
17/2/2006.
5. Os princípios da ampla defesa, do contraditório, do devido processo legal e os limites da coisa julgada, quando debatidos sob a ótica
infraconstitucional, não revelam repercussão geral apta a tornar o apelo extremo admissível, consoante decidido pelo Plenário virtual do STF, na
análise do ARE 748.371-RG.
6. In casu, o acórdão recorrido extraordinariamente assentou: “TRIBUTÁRIO - EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL - DEBÊNTURES EMITIDAS PELA
ELETROBRÁS EM RAZÃO DO EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA (LEI 4.156/62) - PRESCRIÇÃO -
AUSÊNCIA DE CERTEZA, LIQUIDEZ E EXIGIBILIDADE DO TÍTULO - ALEGAÇÃO DE MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA”.
7. Agravo regimental DESPROVIDO.
AG. REG. NO ARE N. 873.798-RS
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO TRIBUTÁRIO. TAXA DE SAÚDE SUPLEMENTAR. LEI Nº 9.961/2000. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO
VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI MAIOR. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM
10.7.2014.
A controvérsia, a teor do que já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar, nesse compasso, em afronta aos
preceitos constitucionais indicados nas razões recursais, porquanto compreender de modo diverso exigiria análise da legislação infraconstitucional
encampada na decisão prolatada pela Corte de origem, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o
conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta
Corte.
As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
Agravo regimental conhecido e não provido.
EMB. DECL. NOS EMB. DECL. NO Inq N. 2.952-RR
RELATOR : MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Embargos de declaração em inquérito. 2. Alegação de ilicitude da prova, rechaçada por três argumentos, cada um deles suficiente para
rejeitar o pleito do embargante. Insuficiência das alegações dos embargos de declaração para atacar os argumentos do julgado. 3. Embargos de
declaração rejeitados.
AG. REG. NO HC N. 126.797-PR
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO E
LAVAGEM DE DINHEIRO. IMPEDIMENTO DE MINISTRO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: PREJUÍZO NÃO
DEMONSTRADO. DOSIMETRIA DA PENA-BASE. LIMITES INSTRUTÓRIOS DO HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO MANIFESTAMENTE
CONTRÁRIA À JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal é firme no sentido de não se verificar prejuízo quando Ministro impedido participa de julgamento cujo
resultado é unânime, pois a subtração do voto desse magistrado não teria a capacidade de alterar o resultado da votação.
2. Não há ilegalidade na fixação da pena-base acima do mínimo legal quando identificadas circunstâncias judiciais desfavoráveis e específicas.
3. Agravo Regimental não provido.
AG. REG. NO ARE N. 865.466-SP
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA
REPERCUSSÃO GERAL PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO PREVISTO NO ART. 544 DO CPC. NÃO
CABIMENTO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS AO TRIBUNAL DE ORIGEM. CABIMENTO
SOMENTE PARA OS RECURSOS INTERPOSTOS ANTES DE 19/11/2009. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I - Não é cabível agravo para a correção de suposto equívoco na aplicação da repercussão geral, consoante firmado no julgamento do AI 760.358-QO/SE,
Rel. Min. Gilmar Mendes. II - A aplicação do princípio da fungibilidade recursal, com a devolução dos autos para julgamento pelo Tribunal de origem
como agravo regimental, só é cabível nos processos interpostos antes de 19/11/2009. III - Agravo regimental a que se nega provimento.
EMB. DECL. NO ARE N. 864.913-SC
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS DE DECISÃO MONOCRÁTICA. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL.
INEXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. ÓBICE INTRANSPONÍVEL AO PROCESSAMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I - A questão em exame nestes autos teve sua repercussão geral negada por esta Corte no julgamento do ARE 685.029-RG. Essa decisão vale para
todos os recursos sobre matéria idêntica, consoante determinam os arts. 326 e 327 do RISTF e o art. 543-A, § 5º, do CPC, introduzido pela Lei
11.418/2006.
II - Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE 825.283-MA
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ICMS. REVENDA DE COMBUSTÍVEIS.
SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. RAZÕES RECURSAIS QUE NÃO ATACAM TODOS OS FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO
RECORRIDO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 283 DO STF. REPERCUSSÃO GERAL NÃO EXAMINADA EM FACE DE OUTROS
FUNDAMENTOS QUE OBSTAM A ADMISSÃO DO APELO EXTREMO.1. É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão
recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles. (Súmula nº 283/STF). Precedente: RE 505.028-AgR,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe de 12/9/2008.2. Não afasta a incidência da Súmula nº 283 do STF a argumentação suscitada
apenas em agravo regimental contra os fundamentos contidos no acórdão recorrido, que não foram atacados no recurso extraordinário.3.
Inconstitucionalidade da base de cálculo, ilegitimidade passiva e ativa e bitributação indevida constituem fundamentos para, ainda que
individualmente admitidos, afastar exigência de obrigação tributária. Inexistência de argumentação contra qualquer desses fundamentos impede a
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10
análise do recurso extraordinário com fundamento na Súmula nº 283 do STF.4. In casu, o acórdão recorrido extraordinariamente assentou: “DIREITO
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSOS DE APELAÇÃO. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. AUTO DE INFRAÇÃO. ICMS.
EMPRESA DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. RECOLHIMENTO ANTECIPADO DO IMPOSTO PELA
REFINARIA. SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE O PEDIDO E CONDENOU A AUTORA AO PAGAMENTO DE CUSTAS E
HONORÁRIOS. AFRONTA AO PRINCIPIO DA LEGALIDADE. FIXAÇÃO DE PREÇOS DIFERENCIADOS POR MEIO DE PORTARIA
MINISTERIAL. REGIME DE PAUTA FISCAL. SÚMULA 431 DO STJ. MAJORAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO PELOS AUTOS DE INFRAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1 - Alguns produtos, dentre eles os combustíveis, são comercializados sob a estrutura,
que consiste em cobrar na ponta da cadeia os impostos incidentes em todas as etapas. Todos os impostos são cobrados na venda do combustível do
produtor para o distribuidor, portanto, as vendas do posto para o consumidor final são isentas de impostos, uma vez que estes já foram cobrados
antecipadamente por substituição tributaria. 2 - A Carta Magna, em seu art. 155, § 2º, inciso I, consagra como um dos princípios basilares do ICMS
a não cumulatividade, que é operacionalizado pelo instituto da compensação, efetivada pelo abatimento dos créditos decorrentes de operações
anteriores, com os débitos referentes à revenda, não necessitando que sejam provenientes da mesma mercadoria ou do mesmo serviço. 3 - A redução
da base de cálculo do ICMS na revenda de combustíveis, de acordo com a interpretação dada ao tema pelo Supremo Tribunal Federal, equivale à
isenção parcial do tributo. 4 - Sendo caso de isenção, esse princípio, assim como os demais insculpidos na Constituição determina que a
desoneração no preço de revenda da mercadoria ou serviço deverá acarretar a proporcional anulação do crédito relativo às operações anteriores
(artigo 155, II, ‘b’), pois condiciona o aproveitamento do crédito anterior, desde que não seja a operação posterior isenta ou não-incidente do
imposto. 5 - A base de cálculo do ICMS há de ser, em face de força do princípio da legalidade, o valor da operação de que decorrer na saída da
mercadoria. 6 - Primeiro apelo conhecido e provido a fim de reformar a sentença de base e anular os Autos de Infração e Segundo Apelo negado
provimento”.5. Agravo regimental DESPROVIDO.
AG. REG. NO ARE N.859.280-DF
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO DO TRABALHO. COMPLEMENTO DA REMUNERAÇÃO MÍNIMA POR NÍVEL E REGIME. INTERPRETAÇÃO DE
CLÁUSULAS DE ACORDO COLETIVO. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. INOCORRÊNCIA. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 23.5.2014.A controvérsia, a teor do que já asseverado na
decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar, nesse compasso, em afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões
recursais, porquanto compreender de modo diverso exigiria análise da legislação infraconstitucional encampada na decisão prolatada pela Corte de
origem, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a
exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Corte.
Divergir da conclusão do acórdão recorrido exigiria o reexame da interpretação conferida a cláusulas de acordo coletivo, procedimento vedado em
sede extraordinária. Aplicação da Súmula 454/STF: “Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá lugar a recurso extraordinário.”Agravo
regimental conhecido e não provido.
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
“Amicus Curiae” – ADIN – Poderes Processuais – Ingresso Recusado – Legitimidade Recursal (Transcrições)
(v. Informativo 665)
ADI 3.396-AgR/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
VOTO: Preliminarmente, conheço do presente recurso de agravo, considerando, para tanto, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que
admite a possibilidade de impugnação recursal, por parte de terceiro, quando recusada, como na espécie, a sua intervenção como “amicus curiae”
(ADI 3.105-ED/DF, Rel. Min. CEZAR PELUSO – ADI 3.934-ED-segundos-AgR/DF, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, v.g.):
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS POR ‘AMICUS CURIAE’.
AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE. INTERPRETAÇÃO DO § 2º DA LEI N. 9.868/99.
1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal é assente quanto ao não-cabimento de recursos interpostos por terceiros estranhos à
relação processual nos processos objetivos de controle de constitucionalidade.
2. Exceção apenas para impugnar decisão de não-admissibilidade de sua intervenção nos autos.
3. Precedentes.
4. Embargos de declaração não conhecidos.”
(ADI 3.615-ED/PB, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – grifei)
Vê-se, portanto, que o Plenário do Supremo Tribunal Federal entende cabível o recurso de agravo quando interposto contra decisão do
Relator que não admite a intervenção formal de terceiro, como “amicus curiae”, no processo de controle normativo abstrato.
Esta Corte Suprema, na realidade, buscando viabilizar o acesso de terceiros com representatividade adequada e, assim, permitir a
pluralização do debate constitucional, construiu entendimento jurisprudencial no sentido de submeter à revisão do Plenário do Supremo Tribunal
Federal, mediante recurso de agravo, o ato decisório que nega a possibilidade de intervenção do “amicus curiae”.
O recurso em questão, unicamente cabível na hipótese de recusa da intervenção de terceiros como “amicus curiae”, qualifica-se, na vasta
tipologia das espécies recursais, como recurso “secundum eventum litis”.
É por isso – insista-se – que esta Corte tem reconhecido legitimidade recursal ao terceiro quando não admitido, pelo Relator, como “amicus
curiae” (ADI 3.105-ED/DF, Rel. Min. CEZAR PELUSO – ADI 3.615-ED/PB, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, v.g.).
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11
Entendo essencial admitir, por todas essas razões, o controle recursal, pelo Plenário, da decisão do Relator que nega ao terceiro o ingresso
como “amicus curiae”, especialmente se se considerar que o objetivo precípuo da participação do colaborador da Corte consiste em pluralizar o
debate constitucional e em conferir maior coeficiente de legitimidade democrática aos julgamentos do Supremo Tribunal Federal em sede de
fiscalização abstrata de constitucionalidade.
Desse modo, e com apoio em tais fundamentos, conheço do presente recurso de agravo.
Superada essa questão prévia, passo a examinar o pleito recursal. E, ao fazê-lo, assinalo não assistir razão à parte ora agravante, por não
dispor de representatividade adequada, que traduz – tal como assinalado na decisão recorrida – um dos requisitos legitimadores da intervenção
do “amicus curiae” no processo objetivo de controle normativo abstrato.
Não vejo, pois, como reconhecer, ao Procurador da Fazenda Nacional ora recorrente, legitimidade para intervir, como “amicus curiae”,
neste processo de fiscalização normativa abstrata.
Como se sabe, terceiros não dispõem, ordinariamente, em nosso sistema de direito positivo, de legitimidade para intervir no processo de
fiscalização normativa abstrata (RDA 155/155 – RDA 157/266 – ADI 575-AgR/PI, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
A Lei nº 9.868/99, ao regular o processo de controle abstrato de constitucionalidade, prescreve que “Não se admitirá intervenção de
terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade” (art. 7º, “caput” – grifei).
A razão de ser dessa vedação legal – adverte o magistério da doutrina (OSWALDO LUIZ PALU, “Controle de Constitucionalidade”, p.
192/193, item n. 9.9.1, 2ª ed., 2001 RT; ZENO VELOSO, “Controle Jurisdicional de Constitucionalidade”, p. 89, item n. 109, 3ª ed./2ª tir., 2003,
Cejup; ALEXANDRE DE MORAES, “Direito Constitucional”, p. 755/756, item n. 9.2, 27ª ed., 2011, Atlas, v.g.) – repousa na circunstância de o
processo de fiscalização normativa abstrata qualificar-se como processo de caráter objetivo (RTJ 113/22 – RTJ 131/1001 – RTJ 136/467 – RTJ
164/506-507).
É certo, no entanto, que a regra constante do art. 7º, § 2º, da Lei nº 9.868/99 abrandou, em caráter inovador, o sentido da vedação
pertinente à intervenção assistencial, permitindo, agora, na condição de “amicus curiae”, o ingresso de entidades dotadas de representatividade
adequada no processo de controle abstrato de constitucionalidade.
A norma legal em questão, ao excepcionalmente admitir a possibilidade de ingresso formal de terceiros no processo de controle normativo
abstrato, assim dispõe:
“O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir,
observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.” (grifei)
Sabemos que entidades que possuem representatividade adequada podem ingressar, formalmente, em sede de controle normativo abstrato,
na condição de terceiros interessados, para efeito de participação e manifestação sobre a controvérsia constitucional suscitada por quem dispõe de
legitimidade ativa para o ajuizamento de referida ação constitucional.
Tal como assinalei em decisões anteriores (ADI 2.130-MC/SC, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU 02/02/2001), a intervenção do “amicus
curiae”, para legitimar-se, deve apoiar-se em razões que tornem desejável e útil a sua atuação processual na causa, em ordem a proporcionar
meios que viabilizem uma adequada resolução do litígio constitucional.
Impõe-se destacar, neste ponto, por necessário, a idéia nuclear que anima os propósitos teleológicos que motivam a intervenção do “amicus
curiae” no processo de fiscalização normativa abstrata.
Não se pode perder de perspectiva que a intervenção processual do “amicus curiae” tem por objetivo essencial pluralizar o debate
constitucional, permitindo que o Supremo Tribunal Federal venha a dispor de todos os elementos informativos possíveis e necessários à resolução
da controvérsia, visando-se, ainda, com tal abertura procedimental, superar a grave questão pertinente à legitimidade democrática das decisões
emanadas desta Corte, quando no desempenho de seu extraordinário poder de efetuar, em abstrato, o controle concentrado de constitucionalidade,
tal como destacam, em pronunciamento sobre o tema, eminentes doutrinadores (GUSTAVO BINENBOJM, “A Nova Jurisdição Constitucional
Brasileira”, 2ª ed., 2004, Renovar; ANDRÉ RAMOS TAVARES, “Tribunal e Jurisdição Constitucional”, p. 71/94, 1998, Celso Bastos Editor;
ALEXANDRE DE MORAES, “Jurisdição Constitucional e Tribunais Constitucionais”, p. 64/81, 2000, Atlas; DAMARES MEDINA, “Amicus
Curiae: Amigo da Corte ou Amigo da Parte?”, 2010, Saraiva, v.g.).
Valioso, a propósito dessa particular questão, o magistério expendido pelo eminente Ministro GILMAR MENDES (“Direitos
Fundamentais e Controle de Constitucionalidade”, p. 503/504, 2ª ed., 1999, Celso Bastos Editor), em passagem na qual põe em destaque o
entendimento de PETER HÄBERLE, para quem o Tribunal “há de desempenhar um papel de intermediário ou de mediador entre as diferentes
forças com legitimação no processo constitucional” (p. 498), em ordem a pluralizar, em abordagem que deriva da abertura material da
Constituição, o próprio debate em torno da controvérsia constitucional, conferindo-se, desse modo, expressão real e efetiva ao princípio
democrático, sob pena de se instaurar, no âmbito do controle normativo abstrato, um indesejável “deficit” de legitimidade das decisões que o
Supremo Tribunal Federal venha a pronunciar no exercício, “in abstracto”, dos poderes inerentes à jurisdição constitucional.
Daí, segundo entendo, a necessidade de assegurar, ao “amicus curiae”, mais do que o simples ingresso formal no processo de fiscalização
abstrata de constitucionalidade, a possibilidade de exercer o direito de fazer sustentações orais perante esta Suprema Corte, além de dispor da
faculdade de submeter ao Relator da causa propostas de requisição de informações adicionais, de designação de perito ou comissão de peritos,
para que emita parecer sobre questões decorrentes do litígio, de convocação de audiências públicas, sem prejuízo da prerrogativa de recorrer – tal
como esta Corte tem reiteradamente reconhecido – da decisão que tenha denegado o seu pedido de admissão no processo de controle normativo
abstrato.
Cumpre rememorar, nesta passagem, a irrepreensível observação do eminente Ministro GILMAR MENDES, no fragmento doutrinário já
referido, constante de sua valiosíssima produção acadêmica, em que expõe considerações de irrecusável pertinência em tema de intervenção
processual do “amicus curiae” (“op. loc. cit.”):
“Vê-se, assim, que, enquanto órgão de composição de conflitos políticos, passa a Corte Constitucional a constituir-se em elemento
fundamental de uma sociedade pluralista, atuando como fator de estabilização indispensável ao próprio sistema democrático.
É claro que a Corte Constitucional não pode olvidar a sua ambivalência democrática. Ainda que se deva reconhecer a legitimação
democrática dos juízes, decorrente do complexo processo de escolha e de nomeação, e que a sua independência constitui requisito
indispensável para o exercício de seu mister, não se pode deixar de enfatizar que aqui também reside aquilo que Grimm denominou de ‘risco
democrático’ (...).
É que as decisões da Corte Constitucional estão inevitavelmente imunes a qualquer controle democrático. Essas decisões podem
anular, sob a invocação de um direito superior que, em parte, apenas é explicitado no processo decisório, a produção de um órgão direta e
democraticamente legitimado. Embora não se negue que também as Cortes ordinárias são dotadas de um poder de conformação bastante
amplo, é certo que elas podem ter a sua atuação reprogramada a partir de uma simples decisão do legislador ordinário. Ao revés, eventual
correção da jurisprudência de uma Corte Constitucional somente há de se fazer, quando possível, mediante emenda.
Essas singularidades demonstram que a Corte Constitucional não está livre do perigo de converter uma vantagem democrática num
eventual risco para a democracia.
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12
Assim como a atuação da jurisdição constitucional pode contribuir para reforçar a legitimidade do sistema, permitindo a renovação
do processo político com o reconhecimento dos direitos de novos ou pequenos grupos e com a inauguração de reformas sociais, pode ela
também bloquear o desenvolvimento constitucional do País.
.......................................................................................................
O equilíbrio instável que se verifica e que parece constituir o autêntico problema da jurisdição constitucional na democracia afigura-
se necessário e inevitável. Todo o esforço que se há de fazer é, pois, no sentido de preservar o equilíbrio e evitar disfunções.
Em plena compatibilidade com essa orientação, Häberle não só defende a existência de instrumentos de defesa da minoria, como
também propõe uma abertura hermenêutica que possibilite a esta minoria o oferecimento de ‘alternativas’ para a interpretação
constitucional. Häberle esforça-se por demonstrar que a interpretação constitucional não é – nem deve ser – um evento exclusivamente
estatal. Tanto o cidadão que interpõe um recurso constitucional, quanto o partido político que impugna uma decisão legislativa são
intérpretes da Constituição. Por outro lado, é a inserção da Corte no espaço pluralista – ressalta Häberle – que evita distorções que
poderiam advir da independência do juiz e de sua estrita vinculação à lei.” (grifei)
Na verdade, consoante ressalta PAOLO BIANCHI, em estudo sobre o tema (“Un’Amicizia Interessata: L’amicus curiae Davanti Alla Corte
Suprema Degli Stati Uniti”, “in” “Giurisprudenza Costituzionale”, Fasc. 6, nov/dez de 1995, Ano XI, Giuffré), a admissão do terceiro, na condição de
“amicus curiae”, no processo objetivo de controle normativo abstrato, qualifica-se como fator de legitimação social das decisões do Tribunal
Constitucional, viabilizando, em obséquio ao postulado democrático, a abertura do processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade, em
ordem a permitir que, nele, se realize a possibilidade de participação de entidades e de instituições que efetivamente representem os interesses
gerais da coletividade ou que expressem os valores essenciais e relevantes de grupos, classes ou estratos sociais.
Essa percepção do tema foi lucidamente exposta pelo eminente Professor INOCÊNCIO MÁRTIRES COELHO (“As Idéias de Peter
Häberle e a Abertura da Interpretação Constitucional no Direito Brasileiro”, “in” RDA 211/125-134, 133):
“Admitida, pela forma indicada, a presença do ‘amicus curiae’ no processo de controle de constitucionalidade, não apenas se reitera
a impessoalidade da questão constitucional, como também se evidencia que o deslinde desse tipo de controvérsia interessa objetivamente a
todos os indivíduos e grupos sociais, até porque, ao esclarecer o sentido da Carta Política, as cortes constitucionais, de certa maneira,
acabam reescrevendo as constituições.” (grifei)
É por tais razões que entendo que a atuação processual do “amicus curiae” não deve limitar-se à mera apresentação de memoriais ou à
prestação eventual de informações que lhe venham a ser solicitadas ou, ainda, à produção de sustentações orais perante esta Suprema Corte.
Essa visão do problema – que restringisse a extensão dos poderes processuais do “colaborador do Tribunal” – culminaria por fazer
prevalecer, na matéria, uma incompreensível perspectiva reducionista, que não pode (nem deve) ser aceita por esta Corte, sob pena de total
frustração dos altos objetivos políticos, sociais e jurídicos visados pelo legislador na positivação da cláusula que, agora, admite o formal ingresso
do “amicus curiae” no processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade.
Cumpre permitir, desse modo, ao “amicus curiae”, em extensão maior, o exercício de determinados poderes processuais.
Esse entendimento é perfilhado por autorizado magistério doutrinário, cujas lições acentuam a essencialidade da participação
legitimadora do “amicus curiae” nos processos de fiscalização abstrata de constitucionalidade (GUSTAVO BINENBOJM, “A Nova Jurisdição
Constitucional Brasileira”, p. 157/164, 2ª ed., 2004, Renovar; GUILHERME PEÑA DE MORAES, “Direito Constitucional/Teoria da
Constituição”, p. 207/208, item n. 4.10.2.3, 4ª ed., 2007, Lumen Juris, v.g.), reconhecendo-lhe o direito de promover, perante esta Corte Suprema, a
pertinente sustentação oral (FREDIE DIDIER JR., “Possibilidade de Sustentação Oral do Amicus Curiae”, “in” “Revista Dialética de Direito
Processual”, vol. 8/33-38, 2003; NELSON NERY JR./ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, “Código de Processo Civil Comentado e Legislação
Extravagante”, p. 1.388, 7ª ed., 2003, RT; EDGARD SILVEIRA BUENO FILHO, “Amicus Curiae: a democratização do debate nos processos
de controle de constitucionalidade”, “in” “Direito Federal”, vol. 70/127-138, AJUFE, v.g.) ou, ainda, a faculdade de solicitar a realização de
exames periciais sobre o objeto ou sobre questões derivadas do litígio constitucional ou a prerrogativa de propor a requisição de informações
complementares, bem assim a de pedir a convocação de audiências públicas, sem prejuízo, como esta Corte já o tem afirmado, do direito de recorrer
de decisões que recusam o seu ingresso formal no processo de controle normativo abstrato.
Cabe observar que o Supremo Tribunal Federal, em assim agindo, não só garantirá maior efetividade e atribuirá maior legitimidade às suas
decisões, mas, sobretudo, valorizará, sob uma perspectiva eminentemente pluralística, o sentido essencialmente democrático dessa participação
processual, enriquecida pelos elementos de informação e pelo acervo de experiências que o “amicus curiae” poderá transmitir à Corte
Constitucional, notadamente em um processo – como o de controle abstrato de constitucionalidade – cujas implicações políticas, sociais,
econômicas, jurídicas e culturais são de irrecusável importância, de indiscutível magnitude e de inquestionável significação para a vida do País e a de
seus cidadãos.
Cumpre acentuar, de outro lado, ante a sua inteira pertinência, que o sistema de controle normativo abstrato de constitucionalidade não
permite que, em seu âmbito, se discutam situações individuais, nem se examinem interesses concretos.
Cabe ter presente, neste ponto, que o processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade – por revestir-se de caráter objetivo –
destina-se a viabilizar “o julgamento, não de uma relação jurídica concreta, mas de validade de lei em tese (...)” (RTJ 95/999, Rel. Min. MOREIRA
ALVES – grifei).
A importância de qualificar-se o controle normativo abstrato de constitucionalidade como processo objetivo – vocacionado, como
precedentemente enfatizado, à proteção “in abstracto” da ordem constitucional – impede, por isso mesmo, a apreciação de qualquer pleito que vise a
resguardar interesses de expressão concreta e de caráter individual.
Isso significa, portanto, que, em face da natureza objetiva de que se reveste o processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade,
nele não se discutem situações individuais (RTJ 170/801-802, Rel. Min. CELSO DE MELLO), eis que inadmissível proceder à “defesa de direito
subjetivo” (Min. CÉLIO BORJA, “in” ADI 647/DF – RTJ 140/36-42) em sede de controle normativo abstrato:
“CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE – PROCESSO DE CARÁTER OBJETIVO – IMPOSSIBILIDADE DE
DISCUSSÃO DE SITUAÇÕES INDIVIDUAIS E CONCRETAS.
– O controle normativo de constitucionalidade qualifica-se como típico processo de caráter objetivo, vocacionado, exclusivamente à
defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional. A instauração desse processo objetivo tem por função instrumental viabilizar o
julgamento da validade abstrata do ato estatal em face da Constituição da República. O exame de relações jurídicas concretas e individuais
constitui matéria juridicamente estranha ao domínio do processo de controle concentrado de constitucionalidade.
A tutela jurisdicional de situações individuais, uma vez suscitada a controvérsia de índole constitucional, há de ser obtida na via do
controle difuso de constitucionalidade, que, supondo a existência de um caso concreto, revela-se acessível a qualquer pessoa que disponha
de interesse e legitimidade (CPC, art. 3º).”
(RTJ 164/506-509, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)
Concluo o meu voto: preliminarmente, conheço do presente recurso de agravo, apoiando-me, para tanto, nos precedentes firmados pelo
Plenário do Supremo Tribunal Federal.
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13
Caso conhecido este recurso, nego-lhe provimento, seja em razão da inobservância, por parte do ora agravante, da exigência pertinente à
“adequacy of representation”, seja, ainda, em decorrência da inadmissibilidade da defesa de direitos e interesses individuais em sede de controle
normativo abstrato.
É o meu voto.
*decisão pendente de publicação
OUTRAS INFORMAÇÕES
11 a 15 de maio de 2015
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14
Márcio André Lopes Cavalcante
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE
580252/MS; Ext 1354/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CNMP
STF não tem competência para ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e do CNJ.
DIREITO DO TRABALHO
EXECUÇÃO DE SENTENÇA NORMATIVA
Execução de sentença normativa e ofensa à coisa julgada
DIREITO CONSTITUCIONAL
CNMP
STF não têm competência para ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e do CNJ
A competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP é do STF
(art. , I, r , da CF/88).
Algumas vezes o interessado provoca o CNJ ou o CNMP, mas tais órgãos recusam-se a tomar
alguma providência no caso concreto porque alegam que não tem competência para aquela
situação ou que não é hipótese de intervenção. Nessas hipóteses, dizemos que a decisão do CNJ
ou CNMP foi NEGATIVA porque ela nada determina, nada aplica, nada ordena, nada invalida.
Nesses casos, a parte interessada poderá impetrar MS contra o CNJ/CNMP no STF?
NÃO. O STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões
negativas do CNMP e do CNJ. Segundo entende o STF, como o conteúdo da decisão do
CNJ/CNMP foi negativo , ele não decidiu nada. Se não decidiu nada, não praticou nenhum ato.
Se não praticou nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP a ser atacado no STF.
STF. 1ª Turma. MS 33163/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 5/5/2015 (Info 784).
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1
De quem é a competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP?
Do STF, nos termos do a t. , I, , da CF/88.
Nessas hipóteses, dize os ue a de isão do CNJ ou CNMP foi egativa porque ela nada determina, nada
aplica, nada ordena, nada invalida.
(...) A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que as deliberações negativas do Conselho
Nacional de Justiça não estão sujeitas a revisão por meio de mandado de segurança impetrado
diretamente no Supremo Tribunal Federal. (...)
STF. Plenário. MS 28202 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/03/2011
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
A Defensoria Pública pode propor ação civil pública na defesa de direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos.
É constitucional a Lei nº 11.448/2007, que alterou a Lei 7.347/85, prevendo a Defensoria
Pública como um dos legitimados para propor ação civil pública.
STF. Plenário. ADI 3943/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6 e 7/5/2015 (Info 784).
A inclusão da Defensoria no rol de legitimados para ajuizar ACP foi determinada pela Lei nº 11.448/2007.
A alteração promovida pela Lei nº 11.448/2007 foi, no entanto, muito importante porque reforçou ainda
mais essa legitimidade:
(...) 2. Este Superior Tribunal de Justiça vem-se posicionando no sentido de que, nos termos do art. 5º, II,
da Lei nº 7.347/85 (com a redação dada pela Lei nº 11.448/07), a Defensoria Pública tem legitimidade para
propor a ação principal e a ação cautelar em ações civis coletivas que buscam auferir responsabilidade por
danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico e dá outras providências. (...)
STJ. 1ª Turma. REsp 912849/RS, Rel. Min. José Delgado, julgado em 26/02/2008.
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3
Para a entidade, a inclusão da Defensoria Pública afrontaria também os arts. 5º, LXXIV e 134, caput, da
CF/88, considerando que a função constitucional da instituição seria a de prestar assistência jurídica
integral e gratuita apenas aos hipossuficientes e, no bojo de uma ACP, não teria como ter certeza se a ação
estaria beneficiando apenas pessoas carentes ou também indivíduos economicamente ricos.
Assim, a CONAMP pediu que esta inclusão fosse declarada inconstitucional ou, então, que o STF dissesse
que a Defensoria Pública não pode ajuizar ACP em matéria de direitos difusos ou coletivos. Segundo a tese
da autora, a Defensoria, se pudesse propor ACP, somente poderia fazê-lo quanto a direitos individuais
homogêneos e desde que ficasse individualizada e identificada a presença de pessoas economicamente
hipossuficientes.
Segundo a autora, a Defensoria Pública foi criada para atender, gratuitamente, aqueles que possuem
recursos insuficientes para se defender judicialmente ou que precisam de orientação jurídica, de modo
que seria impossível a sua atuação na defesa de interesses difusos e coletivos em razão da dificuldade de
identificar quem é carente. No seu entendimento, os atendidos pela Defensoria Pública devem ser, pelo
menos, individualizáveis, identificáveis, para que se saiba se a pessoa atendida pela Instituição não possui
recursos suficientes para o ingresso em juízo.
O STF concordou com os argumentos da ADI proposta? É inconstitucional a previsão de que a Defensoria
Pública pode ajuizar ACP na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos?
NÃO. Não há qualquer inconstitucionalidade na previsão da Lei nº 11.448/2007. Ao contrário, essa lei já
era compatível com o texto originário da CF/88 e isso ficou ainda mais claro quando o Congresso Nacional
aprovou a EC 80/2014, que alterou a redação do art. 134 da CF/88 prevendo expressamente que a
Defensoria Pública tem legitimidade para a defesa de direitos individuais e coletivos (em sentido amplo).
Veja:
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos
direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do
art. 5º desta Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80/2014)
Desse modo, seja antes da EC 80/2014 e com maior razão depois, a Defensoria Pública possui sim
legitimidade para propor ação civil pública na defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais
homogêneos.
Segundo pontuou a Ministra Cármen Lúcia, em um país como o nosso, marcado por graves desigualdades
sociais e pela elevada concentração de renda, uma das grandes barreiras para a implementação da democracia
e da cidadania ainda é o efetivo acesso à Justiça. Somente se conseguirá promover políticas públicas para
reduzir ou suprimir essas enormes diferenças se forem oferecidos instrumentos que atendam com eficiência às
necessidades dos cidadãos na defesa de seus direitos. Nesse sentido, destaca-se a ação civil pública. Dessa feita,
não interessa à sociedade restringir o acesso à justiça dos hipossuficientes.
A interpretação sugerida pela CONAMP restringe, sem fundamento jurídico, a possibilidade de utilização
da ação civil pública, que é instrumento capaz de garantir a efetividade de direitos fundamentais de
pobres e ricos a partir de iniciativa processual da Defensoria Pública.
Exigir que a Defensoria Pública, antes de ajuizar a ACP, comprove a pobreza do público-alvo não é
condizente com os princípios e regras norteadores dessa instituição permanente e essencial à função
jurisdicional do Estado, menos ainda com a norma do art. 3º da CF/88.
Vale ressaltar que no momento da liquidação e execução de eventual decisão favorável na ação coletiva, a
Defensoria Pública irá fazer a assistência jurídica apenas dos hipossuficientes. Nesta fase é que a tutela de
cada membro da coletividade ocorre separadamente.
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4
Além disso, deve-se lembrar que a CF/88 não assegura ao Ministério Público a legitimidade exclusiva para
o ajuizamento de ação civil pública. Em outras palavras, a Constituição em nenhum momento disse que só
o MP pode propor ACP. Ao contrário, o § 1º do art. 129 da CF/88 afirma que a legitimação do Ministério
Público para as ações civis não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta
Constituição e na lei.
Em suma:
É constitucional a Lei nº 11.448/2007, que alterou a Lei n. 7.347/85, prevendo a Defensoria Pública como
um dos legitimados para propor ação civil pública.
Vale ressaltar que, segundo o STF, a Defensoria Pública pode propor ação civil pública na defesa de
direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.
STF. Plenário. ADI 3943/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6 e 7/5/2015 (Info 784).
APROFUNDANDO:
Vou agora aprofundar um pouco mais o tema, tratando de alguns tópicos mais polêmicos e que ainda
podem suscitar divergências.
A legitimidade da Defensoria para a ACP é irrestrita, ou seja, a instituição pode propor ACP em todo e
qualquer caso?
Apesar de não ser um tema ainda pacífico, a resposta que prevalece é que NÃO.
Assim, a Defensoria Pública, ao ajuizar uma ACP, deverá provar que os interesses discutidos na ação têm
pertinência com as suas finalidades institucionais.
Segundo a posição tranquila no STJ, a Defensoria Pública só tem legitimidade ativa para ações coletivas se
elas estiverem relacionadas com as funções institucionais conferidas pela CF/88, ou seja, se tiverem por
objetivo beneficiar os necessitados que não tiverem suficiência de recursos (CF/88, art. 5º, LXXIV).
A própria Lei Orgânica da Defensoria Pública (Lei Complementar n. 80/94) nos faz concluir dessa forma:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
(...)
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos
direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar
grupo de pessoas hipossuficientes; (Redação dada pela LC 132/2009).
VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5
dos direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal; (Redação dada
pela LC 132/2009).
X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos
individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de
ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela; (Redação dada pela LC 132/2009).
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da
pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de
outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado; (Redação dada pela LC
132/2009).
No julgamento da ADI 3943, acima explicada, diversos Ministros manifestaram esse mesmo entendimento.
O Min. Roberto Barroso corroborou essa conclusão e afirmou que o fato de se estabelecer que a
Defensoria Pública tem legitimidade, em tese, para ações civis públicas não exclui a possibilidade de, em
um eventual caso concreto, não se reconhecer a legitimidade da Instituição. Em tom descontraído, o
Ministro afirmou que a Defensoria não teria legitimidade, por exemplo, no caso concreto, para uma ação
civil pública na defesa dos sócios do Yatch Club . E dando outro exemplo extremo, afirmou que a
Defensoria não teria legitimidade, no caso concreto, para ajuizar uma ação civil pública em favor dos
lie tes Pe so alit do Ba o Itaú.
O Min. Teori Zavascki segue na mesma linha e afirma que existe uma condição implícita na legitimidade da
Defensoria Pública para ações civis públicas que é o fato de ela ter que defender interesses de pessoas
hipossuficientes, sendo esta uma condição imposta pelo art. 134 da CF/88.
A Min. Rosa Weber também deixou claro que a Defensoria Pública tem legitimidade para propor ações
civis públicas, mas que o juízo poderá aferir, no caso concreto, sua adequada representação.
Atenção. Não confunda: não se está dizendo que a Defensoria Pública só pode propor ACP se os direitos
dis utidos e volve e ape as pessoas po es . Essa era a tese da CONAMP, que foi rechaçada pelo STF.
O que estou afirmando é que, para a Defensoria Pública ajuizar a ACP aquele interesse discutido na lide
tem que, de algum modo, favorecer seu público-alvo (hipossuficientes), ainda que beneficie outras
pessoas também.
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6
Se o interesse defendido beneficiar pessoas economicamente abastadas e também hipossuficientes, a
Defensoria terá legitimidade para a ACP?
SIM, considerando que, no processo coletivo, vigoram os princípios do máximo benefício, da máxima
efetividade e da máxima amplitude.
Dessa feita, podendo haver hipossuficientes beneficiados pelo resultado da demanda deve-se admitir a
legitimidade da Defensoria Pública.
É o caso, por exemplo, de consumidores de energia elétrica, que tanto podem abranger pessoas com alto
poder aquisitivo como hipossuficientes:
LEGITIMIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO COLETIVA.
A Turma, ao prosseguir o julgamento, entendeu que a Defensoria Pública tem legitimidade para ajuizar
ação civil coletiva em benefício dos consumidores de energia elétrica, conforme dispõe o art. 5º, II, da Lei
nº 7.347/1985, com redação dada pela Lei nº 11.448/2007. (...)
REsp 912.849-RS, Rel. Min. José Delgado, julgado em 26/2/2008 (Info 346).
Exemplo em que o STJ reconheceu não haver legitimidade, no caso concreto, para a Defensoria Pública
propor ACP:
Segundo decidiu o STJ, a Defensoria Pública não tem legitimidade para ajuizar ACP em favor de
consumidores de plano de saúde particular. Para a Corte, ao optar por contratar plano particular de saúde,
parece intuitivo que não se está diante de um consumidor que possa ser considerado necessitado, a ponto
de ser patrocinado, de forma coletiva, pela Defensoria Pública.
Ao revés, trata-se de grupo que, ao demonstrar capacidade para arcar com assistência de saúde privada,
presume-se em condições de arcar com as despesas inerentes aos serviços jurídicos de que necessita, sem
prejuízo de sua subsistência, não havendo que se falar em hipossuficiência.
Assim, o grupo em questão não é apto a conferir legitimidade ativa adequada à Defensoria Pública, para
fins de ajuizamento de ação civil.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.192.577-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2014 (Info 541).
DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR
Crime de deserção
O Código Penal militar prevê o crime de deserção em seu art. 187:
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve
permanecer, por mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7
Desse modo, o crime só se consuma quando completar o 9º dia de ausência do militar.
Esse p azo de dias ha ado pela dout i a de pe íodo de g aça , ou seja, u te po e ue se o
militar retornar, não terá cometido crime.
O período de graça terminará, por sua vez, à zero hora do dia 30/06. Nesta data (30/06), haverá a
consumação do crime.
Em nosso exemplo, tão logo completou o dia 30/06, o oficial lavrou um termo declarando que João havia
desertado (termo de deserção), conforme previsto no art. 451 do CPPM:
Art. 451. Consumado o crime de deserção, nos casos previstos na lei penal militar, o comandante da
unidade, ou autoridade correspondente, ou ainda autoridade superior, fará lavrar o respectivo termo,
imediatamente, que poderá ser impresso ou datilografado, sendo por ele assinado e por duas
testemunhas idôneas, além do militar incumbido da lavratura.
No caso concreto, a defesa questionava a lavratura do termo de deserção, afirmando que ele teria sido
lavrado antes do prazo, o que não aconteceu na realidade, já que o último dia do período de graça foi
29/06 e o termo lavrado em 30/06.
O que aconteceria se o termo de deserção tivesse sido lavrado antes do prazo, ou seja, durante o
período de graça?
Neste caso, o crime de deserção não teria se consumado. Haveria um fato atípico porque se a autoridade
lavrou o termo de deserção antes do final do prazo de graça, o acusado deixou de ser militar neste instante e
não haveria motivo para ele retornar ao serviço. Logo, antes de se completar os 8 dias, a autoridade acabou
desobrigando o ex-militar a voltar ao quartel . Antes de consumar o delito de deserção, o acusado deixou
de ter a obrigação de retornar ao serviço. Há precedentes do STF nesse sentido:
(...) O crime de deserção é próprio e, por isso, somente pode ser praticado por militar. A sua consumação
opera com a ausência injustificada por mais de oito dias (art. 187 do CPM).
2. A lavratura antecipada e equivocada do termo de deserção acarreta a perda da condição de militar,
antes de findar o oitavo dia de ausência, passando a ostentar o Paciente a condição de civil, situação
impeditiva da consumação da figura delitiva, ressaltando-se que a retificação do termo de deserção não
pode produzir efeitos pretéritos prejudiciais ao administrado.
3. Ordem concedida para determinar o trancamento da ação penal, restabelecida a decisão do Juízo da
Auditoria da 6ª Circunscrição Judiciária Militar.
STF. 2ª Turma. HC 121190, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 01/04/2014.
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8
Outra alegação da defesa foi a de que o termo de deserção tinha vícios formais e que isso inviabilizaria a
condenação do réu. Esse argumento foi aceito?
NÃO. Eventual irregularidade do termo de deserção apenas tem o condão de afastar a tipicidade da
conduta quando, a partir dele, as Forças Armadas excluírem o militar durante o período de graça. Em
outras palavras, o vício que poderia levar à atipicidade da conduta seria a lavratura antecipada do termo, o
que, no caso concreto, não aconteceu. Logo, não há que se falar em atipicidade.
Além disso, o termo de deserção não é prova única e definitiva. O art. 452 do CPPM deixa claro que o
termo de deserção te o a áte de i st ução p ovisó ia e desti a-se a fornecer os elementos
necessários à propositura da ação pe al , ão sig ifi a do p ova defi itiva, ue se á fo ada du a te a
instrução, sob o ivo do o t aditó io e da a pla defesa NUCCI, Guilhe e de Souza. Código de
Processo Penal Militar Comentado. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 484).
Assim, cabia ao juízo natural da causa penal, com observância ao princípio do contraditório, colher as
provas e examinar se existiam elementos suficientes para condenar o réu além do termo de deserção. No
caso concreto, o juiz militar entendeu que havia provas suficientes de que o acusado praticou a deserção.
DIREITO PROCESSUAL
DO TRABALHO
Não ofende a coisa julgada decisão extintiva de ação de cumprimento de sentença normativa,
na hipótese em que o dissídio coletivo tiver sido extinto sem julgamento de mérito.
A extinção da sentença proferida em ação de cumprimento, quando decorrente da perda da
eficácia da sentença normativa que a ensejou, não implica violação da coisa julgada. Essa
modalidade de ação é ajuizada visando ao cumprimento de cláusula de acordo coletivo.
STF. Plenário. RE 428154/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 7/5/2015 (Info 784).
A empresa recorreu da sentença normativa e o sindicato ajuizou ação de cumprimento na 1ª instância (1ª
Vara do Trabalho). Isso foi possível porque o ordenamento jurídico processual trabalhista permite a
propositura de ação de cumprimento antes do trânsito em julgado do dissídio coletivo. Ocorre que uma
peculiaridade acabou gerando um impasse. Veja:
A ação de cumprimento ajuizada na 1ª instância (1ª Vara do Trabalho) transitou em julgado e entrou na
fase de execução. No entanto, no julgamento do recurso ordinário interposto pela empresa no dissídio
coletivo, o TST concordou com os argumentos da recorrente e extinguiu o feito sem resolução do mérito.
Em outras palavras, o TST extinguiu a sentença do dissídio coletivo.
A empresa informou isso ao juízo da 1ª Vara do Trabalho que, por conta deste fato, extinguiu a ação de
cumprimento (que já havia transitado em julgado e estava em fase de execução!).
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9
O sindicato não concordou e recorreu contra esta decisão do juiz, inicialmente, para o TRT (que manteve a
sentença extintiva do magistrado) e depois para o TST (que também concordou com a extinção da
execução da sentença de cumprimento).
O sindicato não desistiu e, contra a decisão do TST, interpôs recurso extraordinário ao STF alegando que a
execução da sentença da ação de cumprimento não poderia ter sido extinta pelo juiz porque a sentença de
cumprimento já havia transitado em julgado.
No mesmo caminho, mais recentemente: RE 394051 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/03/2014.
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DO D JE
4 a 8 de maio de 2015
ADI N. 3.477-RS
RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PREVIDENCIÁRIO. LEI Nº 8.633/2005 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. CONTRIBUIÇÃO
SOCIAL INCIDENTE SOBRE PROVENTOS DE APOSENTADORIA E PENSÕES. DISPENSA NA REFORMA DA CARTA ESTADUAL PARA INSTITUIÇÃO DA
EXAÇÃO EM TELA, A QUAL PODE PERFEITAMENTE SER CRIADA PELA LEI ESTADUAL. A CRFB/88, EM SEU ARTIGO 40, COM REDAÇÃO CONFERIDA
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10
PELA EC Nº 41/2003, ESTABELECE REGRA GERAL A SER OBSERVADA PELOS ESTADOS, MUNICÍPIOS E DISTRITO FEDERAL. PARÁGRAFO 1º DO ART. 149
DA CRFB/88. IMPOSIÇÃO AOS ESTADOS DE OBRIGATORIEDADE DE INSTITUIÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL PARA CUSTEIO DO REGIME
PREVIDENCIÁRIO DE SEUS SERVIDORES. PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 3º DA LEI HOSTILIZADA. INTERPRETAÇÃO À LUZ DO PARÁGRAFO 21 DO ART.
40 DA CRFB/88, SEGUNDO A TÉCNICA DE INTERPRETAÇÃO CONFORME.
AÇÃO JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE.
*noticiado no Informativo 776
HC N. 103.310-SP
RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Habeas corpus. 2. Emendatio libelli (art. 383, CPP) em segunda instância mediante recurso exclusivo da defesa. Possibilidade, contanto que
não gere reformatio in pejus, nos termos do art. 617, CPP. A pena fixada não é o único efeito que baliza a condenação, devendo ser consideradas
outras circunstâncias para verificação de existência de reformatio in pejus. 3. O redimensionamento da pena-base pelo Tribunal de Apelação em
patamar para além daquele fixado no Juízo originário, embora reduza a reprimenda total em apelação exclusiva da defesa, reconhecendo vetoriais
desfavoráveis não veiculadas na sentença (art. 59, CP), gera reformatio in pejus. 4. Ordem concedida.
*noticiado no Informativo 776
Acórdãos Publicados: 371
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Vereador - Discurso na Tribuna da Câmara Municipal - Imunidade Parlamentar Material - Inviolabilidade Penal e Civil
(Transcrições)
(v. Informativo 775)
RE 600.063/SP*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
VOTO: Peço vênia ao eminente Ministro MARCO AURÉLIO para conhecer e dar provimento ao presente recurso extraordinário, pois entendo
incidir, na espécie, em favor do ora recorrente, que é Vereador, a prerrogativa constitucional da imunidade parlamentar em sentido material, que
se traduz na inviolabilidade a que alude o inciso VIII do art. 29 da Constituição da República.
Com efeito, reconheço que o discurso parlamentar que o ora recorrente proferiu da própria tribuna da Casa Legislativa local acha-se
abrangido pela cláusula constitucional da imunidade parlamentar em sentido material, apta a exonerá-lo de qualquer responsabilidade
eventualmente resultante de tais declarações, eis que inafastável, na espécie, a constatação de que tais atos resultaram de contexto claramente
vinculado ao exercício do ofício legislativo, tal como tem decidido o Supremo Tribunal Federal:
“‘HABEAS CORPUS’ – VEREADOR – CRIME CONTRA A HONRA – RECINTO DA CÂMARA MUNICIPAL – INVIOLABILIDADE (CF, ART. 29, VIII,
COM A RENUMERAÇÃO DADA PELA EC Nº 1/92) – TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL – PEDIDO DEFERIDO.
ESTATUTO POLÍTICO-JURÍDICO DOS VEREADORES E INVIOLABILIDADE PENAL.
– A Constituição da República, ao dispor sobre o estatuto político-jurídico dos Vereadores, atribuiu-lhes a prerrogativa da imunidade
parlamentar em sentido material, assegurando a esses legisladores locais a garantia indisponível da inviolabilidade, ‘por suas opiniões,
palavras e votos, no exercício do mandato e na circunscrição do Município’ (CF, art. 29, VIII).
Essa garantia constitucional qualifica-se como condição e instrumento de independência do Poder Legislativo local, eis que projeta,
no plano do direito penal, um círculo de proteção destinado a tutelar a atuação institucional dos membros integrantes da Câmara Municipal.
A proteção constitucional inscrita no art. 29, VIII, da Carta Política estende-se – observados os limites da circunscrição territorial do
Município – aos atos do Vereador praticados ‘ratione officii’, qualquer que tenha sido o local de sua manifestação (dentro ou fora do recinto
da Câmara Municipal).
…......................................................................................................
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA.
– O Vereador, atuando no âmbito da circunscrição territorial do Município a que está vinculado, não pode ser indiciado em inquérito
policial nem submetido a processo penal por atos que, qualificando-se como delitos contra a honra (calúnia, difamação e injúria), tenham
sido por ele praticados no exercício de qualquer das funções inerentes ao mandato parlamentar: função de representação, função de
fiscalização e função de legislação.
A eventual instauração de ‘persecutio criminis’ contra o Vereador, nas situações infracionais estritamente protegidas pela cláusula
constitucional de inviolabilidade, qualifica-se como ato de injusta constrição ao ‘status libertatis’ do legislador local, legitimando, em
conseqüência do que dispõe a Carta Política (CF, art. 29, VIII), a extinção, por ordem judicial, do próprio procedimento penal
persecutório.”
(HC 74.201/MG, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Não constitui demasia assinalar, considerada a própria jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal firmou no tema ora em exame, que
os discursos proferidos na tribuna das Casas legislativas (inclusive nas Câmaras Municipais) estão amparados, quer para fins penais, quer para
efeitos civis (RE 210.917/RJ, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE), pela cláusula da inviolabilidade, pois nada se reveste de caráter mais
intrinsecamente parlamentar do que os pronunciamentos feitos no âmbito do Poder Legislativo, a partir da própria tribuna do Parlamento, neste
compreendidas as próprias Câmaras de Vereadores (AI 631.276/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO – RE 140.867/MS, Red. p/ o acórdão Min.
MAURÍCIO CORRÊA – RE 278.086/SP, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA), hipótese em que será absoluta a inviolabilidade constitucional (Inq
1.958/AC, Red. p/ o acórdão Min. AYRES BRITTO, Pleno), como resulta, de forma bastante clara, da expressiva lição ministrada por eminentes
doutrinadores (JOSÉ AFONSO DA SILVA, “Curso de Direito Constitucional Positivo”, p. 597, 12ª ed., 1996, Malheiros; PINTO FERREIRA,
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11
“Comentários à Constituição Brasileira”, vol. 2/273, 1990, Saraiva; DAMÁSIO E. DE JESUS, “Código de Processo Penal Anotado”, p. 763, 11ª
ed., 1994, Saraiva; HELY LOPES MEIRELLES, “Direito Municipal Brasileiro”, p. 451/452, 6ª ed./3ª tir., 1993, Malheiros; JOSÉ NILO DE
CASTRO, “Direito Municipal Positivo”, p. 86, 2ª ed., 1992, Del Rey; DIOMAR ACKEL FILHO, “Município e Prática Municipal à Luz da
Constituição Federal de 1988”, p. 28, 1992, RT, v.g.), como faz certo ROSAH RUSSOMANO DE MENDONÇA LIMA (“O Poder Legislativo na
República”, p. 140/141, item n. 2, 1960, Freitas Bastos), cujo magistério é bastante preciso a respeito da matéria:
“Em conseqüência de tal determinação, o congressista usufrui de uma proteção ampla, integral, ininterrupta, sempre que atua no
exercício do mandato.
Sua palavra é livre, desconhece peias e limitações. Vota pelo modo que lhe parecer mais digno e que melhor se coadune com os
reclamos de sua consciência. Emite opiniões desafogadamente, sem que o atormente o receio de haver incidido em algum crime de calúnia,
de injúria ou de difamação.
…...................................................................................................
Há, pois, em verdade, uma ampla irresponsabilidade, que não tem outros limites, senão aqueles traçados pela Constituição.
Deste modo, se o congressista ocupar a tribuna, diga o que disser, profira as palavras que proferir, atinja a quem atingir, a
imunidade o resguarda. Acompanha-o nos instantes decisivos das votações. Segue-o durante o trabalho árduo das comissões e em todas as
tarefas parlamentares, dentro do edifício legislativo. Transpõe, mesmo, os limites do Congresso e permanece, intangível, a seu lado, quando
se trata do desempenho de atribuições pertinentes ao exercício do mandato.” (grifei)
Impõe-se reconhecer, ainda, que a garantia constitucional da imunidade parlamentar material também estende o seu manto protetor (1) às
entrevistas jornalísticas, (2) à transmissão, para a imprensa, do conteúdo de pronunciamentos ou de relatórios produzidos nas Casas Legislativas
(RTJ 172/400-401, Rel. Min. ILMAR GALVÃO) e (3) às declarações feitas aos meios de comunicação social (RTJ 187/985, Rel. Min. NELSON
JOBIM), eis que – tal como bem realçado por ALBERTO ZACHARIAS TORON (“Inviolabilidade Penal dos Vereadores”, p. 247, 2004, Saraiva)
– esta Suprema Corte tem reafirmado “(...) a importância do debate, pela mídia, das questões políticas protagonizadas pelos mandatários”, além de
haver enfatizado “a idéia de que as declarações à imprensa constituem o prolongamento natural do exercício das funções parlamentares, desde
que se relacionem com estas” (grifei).
Vale destacar, neste ponto, por oportuno, que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Inq 579/DF, Rel. Min. CÉLIO BORJA
(RTJ 141/406, 408), pôs em evidência, de modo bastante expressivo, no voto vencedor proferido pelo eminente Ministro PAULO BROSSARD, o
caráter absoluto da inviolabilidade constitucional que protege o parlamentar, quando expende suas opiniões da tribuna da Casa legislativa:
‘
“(...) para palavras ditas da tribuna da Câmara dos Deputados, Pontes de Miranda diz que não há possibilidade de infração da lei
penal, porque a lei não chega até ela. O parlamentar fica sujeito à advertência ou à censura do Presidente dos trabalhos, mas falando na
Câmara, não ofende a lei penal.” (grifei)
Esse mesmo entendimento foi perfilhado pelo eminente Ministro CARLOS VELLOSO, quando do julgamento do RE 140.867/MS, Red. p/
o acórdão Min. MAURÍCIO CORRÊA, também decidido pelo Plenário desta Suprema Corte:
“(...) se a manifestação do Vereador é feita da tribuna da Câmara, a inviolabilidade é absoluta. Indaga-se se não haveria corretivo
para os excessos praticados da tribuna. Há sim. Os excessos resolvem-se no âmbito da Câmara. Pode vir até a perder o mandato, por falta
de decoro e outras transgressões regimentais. Certo é que, se a manifestação ocorreu da tribuna, repito, a inviolabilidade é absoluta.”
(grifei)
Essa orientação jurisprudencial foi expressamente consagrada em julgamento emanado do Plenário do Supremo Tribunal Federal, cujo
acórdão está assim ementado:
“INQUÉRITO. DENÚNCIA QUE FAZ IMPUTAÇÃO A PARLAMENTAR DE PRÁTICA DE CRIMES CONTRA A HONRA,
COMETIDOS DURANTE DISCURSO PROFERIDO NO PLENÁRIO DE ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA E EM ENTREVISTAS
CONCEDIDAS À IMPRENSA. INVIOLABILIDADE: CONCEITO E EXTENSÃO DENTRO E FORA DO PARLAMENTO.
A palavra ‘inviolabilidade’ significa intocabilidade, intangibilidade do parlamentar quanto ao cometimento de crime ou
contravenção. Tal inviolabilidade é de natureza material e decorre da função parlamentar, porque em jogo a representatividade do povo.
O art. 53 da Constituição Federal, com a redação da Emenda nº 35, não reeditou a ressalva quanto aos crimes contra a honra,
prevista no art. 32 da Emenda Constitucional nº 1, de 1969. Assim, é de se distinguirem as situações em que as supostas ofensas são
proferidas dentro e fora do Parlamento. Somente nessas últimas ofensas irrogadas fora do Parlamento é de se perquirir da chamada
‘conexão com o exercício do mandato ou com a condição parlamentar’ (INQ 390 e 1.710). Para os pronunciamentos feitos no interior das
Casas Legislativas, não cabe indagar sobre o conteúdo das ofensas ou a conexão com o mandato, dado que acobertadas com o manto da
inviolabilidade. Em tal seara, caberá à própria Casa a que pertencer o parlamentar coibir eventuais excessos no desempenho dessa
prerrogativa.
No caso, o discurso se deu no plenário da Assembléia Legislativa, estando, portanto, abarcado pela inviolabilidade. Por outro lado,
as entrevistas concedidas à imprensa pelo acusado restringiram-se a resumir e comentar a citada manifestação da tribuna, consistindo, por
isso, em mera extensão da imunidade material.
Denúncia rejeitada.”
(Inq 1.958/AC, Red. p/ o acórdão Min. AYRES BRITTO, Pleno – grifei)
Cabe enfatizar, por relevante, que a jurisprudência desta Suprema Corte firmou diretriz, nesse mesmo sentido, a propósito da extensão e
abrangência da cláusula de inviolabilidade de Vereadores, fundada no art. 29, inciso VIII, da Constituição da República, e que foi bem definida
no julgamento do AI 818.693/MT, Rel. Min. CELSO DE MELLO, assim ementado:
“VEREADOR. IMUNIDADE PARLAMENTAR EM SENTIDO MATERIAL: INVIOLABILIDADE (CF, art. 29, VIII). DISCURSO
PROFERIDO POR VEREADOR NA TRIBUNA DA CÂMARA MUNICIPAL À QUAL SE ACHA VINCULADO. IMPOSSIBILIDADE DE
RESPONSABILIZAÇÃO PENAL (E CIVIL) DO MEMBRO DO PODER LEGISLATIVO DO MUNICÍPIO. PRESSUPOSTOS DE
INCIDÊNCIA DA GARANTIA CONSTITUCIONAL DA IMUNIDADE PARLAMENTAR. PRÁTICA ‘IN OFFICIO’ E PRÁTICA ‘PROPTER
OFFICIUM’. RECURSO IMPROVIDO.
– A garantia constitucional da imunidade parlamentar em sentido material (CF, art. 29, VIII, c/c o art. 53, ‘caput’) exclui a
responsabilidade penal (e também civil) do membro do Poder Legislativo (Vereadores, Deputados e Senadores), por manifestações, orais ou
escritas, desde que motivadas pelo desempenho do mandato (prática ‘in officio’) ou externadas em razão deste (prática ‘propter officium’).
– Tratando-se de Vereador, a inviolabilidade constitucional que o ampara no exercício da atividade legislativa estende-se às opiniões,
palavras e votos por ele proferidos, mesmo fora do recinto da própria Câmara Municipal, desde que nos estritos limites territoriais do
Município a que se acha funcionalmente vinculado. Precedentes. AI 631.276/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12
– Essa prerrogativa político-jurídica – que protege o parlamentar (como os Vereadores, p. ex.) em tema de responsabilidade penal -
incide, de maneira ampla, nos casos em que as declarações contumeliosas tenham sido proferidas no recinto da Casa legislativa,
notadamente da tribuna parlamentar, hipótese em que será absoluta a inviolabilidade constitucional. Doutrina. Precedentes.”
Impõe-se registrar, finalmente, a seguinte observação: se o membro do Poder Legislativo, não obstante amparado pela imunidade
parlamentar material, incidir em abuso de tal prerrogativa, expor-se-á à jurisdição censória da própria Casa legislativa a que pertence, tal como
assinala a doutrina (RAUL MACHADO HORTA, “Direito Constitucional”, p. 562, item n. 3, 5ª ed., atualizada por Juliana Campos Horta, 2010,
Del Rey; CARLOS MAXIMILIANO, “Comentários à Constituição Brasileira”, vol. II/49, item n. 297, 5ª ed., 1954, Freitas Bastos, v.g.) e acentua,
com particular ênfase, a jurisprudência constitucional firmada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (RE 140.867/MS, Red. p/ o acórdão
Min. MAURÍCIO CORRÊA – Inq 1.958/AC, Red. p/ o acórdão Min. AYRES BRITTO).
Concluindo: a análise dos elementos constantes destes autos permite-me reconhecer que o comportamento do ora recorrente – que era,
então, à época dos fatos, Vereador – subsume-se, inteiramente, ao âmbito da proteção constitucional fundada na garantia da imunidade
parlamentar material, em ordem a excluir, na espécie, a responsabilidade penal do parlamentar municipal em referência, eis que incidente, no
caso, a cláusula de inviolabilidade inscrita no art. 29, inciso VIII, da Constituição da República, considerada a circunstância de que o questionado
discurso parlamentar foi proferido no exercício do mandato legislativo, no próprio recinto da Câmara de Vereadores e “na circunscrição do
Município”.
Por tais razões, e acompanhando o dissenso, conheço e dou provimento ao presente recurso extraordinário.
É o meu voto.
*acórdão publicado no DJe de 15.5.2015
OUTRAS INFORMAÇÕES
4 a 8 de maio de 2015
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13
Márcio André Lopes Cavalcante
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos os julgamentos: MI 4204/DF; RE
607940/DF; Rcl 11427AgR/MG; Rcl 11408 AgR/RS; Rcl 4726/PR.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITO ADQUIRIDO E ATO JURÍDICO PERFEITO
Aplicação imediata aos contratos em curso da lei que fixa novos índices de correção monetária.
DIREITO CIVIL
USUCAPIÃO
Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que a área do imóvel seja inferior ao módulo mínimo dos lotes
urbanos previsto no plano diretor
PRISÃO E LIBERDADE
Decisão no HC que substituiu a prisão preventiva dos réus da operação Lava Jato por outras medidas cautelares
(art. 319 do CPP).
DIREITO DO TRABALHO
PLANO DE DISPENSA INCENTIVADA
Plano de dispensa incentivada e validade da quitação ampla de parcelas contratuais
DIREITO CONSTITUCIONAL
A Lei 9.069/95 (Lei do Plano Real) estabeleceu, em seu art. 21, que os índices de correção
monetária previstos nos contratos de locação comercial que já existiam antes mesmo da sua
vigência deveriam ser alterados.
Essa medida não violou direito adquirido nem ato jurídico perfeito.
Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, a lei nova pode incidir
imediatamente sobre as cláusulas presentes no contrato, desde que as normas legais sejam de
natureza cogente, ou seja, aquelas cujo conteúdo foge do domínio da vontade dos contratantes.
Plano Real
No começo da década de 90, o Brasil vivia um período de imensa inflação.
Com o objetivo de tentar resolver esse problema, o Governo lançou um novo programa econômico que foi
atizado de Pla o Real . Este plano foi instituído por meio de uma medida provisória (MP 542/1994) que,
posteriormente, converteu-se na Lei n. 9.069/95.
O que o STF decidiu? Houve ofensa ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito? O art. 21 da Lei n.
9.069/95 é inconstitucional?
NÃO. O art. 21 da Lei n. 9.069/95 foi um das medidas mais importantes do Plano Real, um dos seus
pilares essenciais, já que fixava critérios para a transposição das obrigações monetárias, inclusive
contratuais, do antigo para o novo sistema monetário.
Esse dispositivo é classificado como um preceito de ordem pública e tem natureza estatutária, ou seja, não
pode ser afastado por vontade das partes. Dessa forma, ele vincula necessariamente todos os seus
destinatários.
Considerando que a norma em questão tem natureza institucional estatutária, ele pode ser aplicado
imediatamente aos contratos que já existiam quando a Lei entrou em vigor. Não há inconstitucionalidade
nesta incidência imediata.
Vale ressaltar que o fato de o art. 21 se aplicar aos contratos em curso não significa que a Lei esteja sendo
aplicada retroativamente. É preciso diferenciar aplicação imediata de aplicação retroativa da Lei.
Aplicação retroativa
Haveria aplicação retroativa se a Lei incidisse sobre fatos ocorridos no passado (ex: se ela alterasse as
parcelas que já foram pagas antes de sua vigência).
A aplicação retroativa da Lei é inconstitucional, salvo se dela não resultar violação a direito adquirido, a
ato jurídico perfeito ou a coisa julgada (art. 5º, XXXVI, da CF/88).
Assim, é possível a incidência retroativa de uma lei nova que, por exemplo, melhore a situação do seu
destinatário.
Não há violação a direito adquirido nem a ato jurídico perfeito na aplicação imediata
Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, a lei nova pode incidir
imediatamente sobre as cláusulas presentes no contrato desde que as normas legais sejam de natureza
cogente, ou seja, aquelas cujo conteúdo foge do domínio da vontade dos contratantes.
Assim, se estivermos diante de um contrato de trato sucessivo e execução diferida, se surgir uma lei nova
que determine, de forma cogente, sua aplicação imediata, os contratantes não podem invocar direito
adquirido ou ato jurídico perfeito com o objetivo de manter o teor das cláusulas na forma como
originalmente foram previstas no contrato.
Resumindo:
Considerando que as normas em questão, constantes do art. 21 da Lei n. 9.069/95, editadas no âmbito da
implantação de novo sistema monetário (Plano Real) têm natureza institucional ou estatutária (são
cogentes), não há inconstitucionalidade em sua aplicação imediata, podendo, portanto, disciplinar as
cláusulas de correção monetária presentes nos contratos em curso quando a lei entrou em vigor. Isso não
se confunde com aplicação retroativa.
Esse é o entendimento consolidado no STF:
(...) no que pertine aos contratos em curso, as normas de ordem pública instituidoras de novo padrão
monetário são de aplicação imediata, haja vista a necessidade de reequilibrar-se a relação jurídica
anteriormente estabelecida. (...)
(STF. 1ª Turma. RE 289912 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/12/2012)
DIREITO CIVIL
USUCAPIÃO
Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que a área do imóvel seja inferior ao módulo
mínimo dos lotes urbanos previsto no plano diretor
Determinada pessoa preencheu os requisitos para obter o direito à usucapião especial urbana,
prevista no art. 183 da CF/88. Ocorre que o juiz negou o pedido alegando que o plano diretor
da cidade proíbe a existência de imóveis urbanos registrados com metragem inferior a 100m2.
Em outras palavras, fixou que o módulo mínimo dos lotes urbanos naquele Município seria de
100m2 e, como a área ocupada pela pessoa seria menor que isso, ela não poderia registrar o
imóvel em seu nome.
A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei municipal impede
que a pessoa tenha direito à usucapião especial urbana?
NÃO. Se forem preenchidos os requisitos do art. 183 da CF/88, a pessoa terá direito à
usucapião especial urbana e o fato de o imóvel em questão não atender ao mínimo dos
módulos urbanos exigidos pela legislação local para a respectiva área (dimensão do lote) não é
motivo suficiente para se negar esse direito, que tem índole constitucional.
Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé;
Algumas observações:
Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez;
É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for calcular se o tamanho
do imóvel é menor que 250m2 não se incluirá a área comum, como salão de festas etc, mas tão
somente a parte privativa);
O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos,
independentemente do estado civil.
A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei municipal impede que a
pessoa tenha direito à usucapião especial urbana?
NÃO. A decisão do juiz não foi correta. Segundo decidiu o STF, se forem preenchidos os requisitos do art.
183 da CF/88, a pessoa terá direito à usucapião especial urbana e o fato de o imóvel em questão não
COMPETÊNCIA
Criação de nova vara e perpetuatio jurisdictionis
Importante!!!
Em 2004, três Auditores-Fiscais do Trabalho foram assassinados na zona rural do Município
de Unaí (MG) em virtude do trabalho de fiscalização que vinham realizando no local.
Na época dos fatos, não havia vara federal em Unaí, motivo pelo qual a denúncia do MPF foi
recebida pelo juízo da 9ª Vara Federal de Belo Horizonte (MG).
Alguns anos depois, foi criada a Vara Federal de Unaí (MG) e, em razão disso, o juízo da 9ª Vara
Federal de Belo Horizonte declinou a competência para julgar o processo para a recém criada
Vara Federal.
Tanto o STF como o STJ discordaram da decisão declinatória e reafirmaram o entendimento de
que a criação superveniente de vara federal na localidade de ocorrência de crime doloso
contra a vida não enseja a incompetência do juízo em que já se tenha iniciado a ação penal.
Incide, no caso, o princípio da perpetuatio jurisdictionis que, apesar de só estar previsto no
CPC (art. 87 do CPC 1973 / art. 43 do CPC 2015), é aplicável também ao processo penal por
força do art. 3º do CPP.
Assim, o juízo da Vara de Belo Horizonte, que recebeu a denúncia (iniciando a ação penal),
continua sendo competente para julgar o processo mesmo tendo sido criada nova vara.
STF. 1ª Turma. HC 117871/MG e HC 117832/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Rosa
Weber, julgados em 28/4/2015 (Info 783).
A decisão do juízo federal de declinar a competência foi correta, segundo o entendimento do STF e STJ?
NÃO. A criação superveniente de vara federal na localidade de ocorrência de crime doloso contra a vida
não enseja a incompetência do juízo em que já se tenha iniciado a ação penal.
Incide, no caso, a figura da perpetuatio jurisdictionis , que é aplicável também ao processo penal.
Assim, o juízo da Vara de Belo Horizonte, que recebeu a denúncia (iniciando a ação penal), continua sendo
competente para julgar o processo mesmo tendo sido criada nova vara.
EXCEÇÕES:
Existem duas mudanças que irão influenciar na competência, ou seja, duas situações em que o juízo que
começou a ação penal deixará de ser competente para continuar o processo por força de fatos
supervenientes. Veja:
a) Supressão do órgão judiciário: a lei (ou a CF) extingue o órgão judiciário (juízo) que era competente
para aquele processo.
Ex1: imaginemos que viesse uma lei federal extinguindo a 9ª vara federal de BH.
Ex2: a EC 45/2004 extinguiu os Tribunais de Alçada e todos os recursos ali existentes foram
redistribuídos.
A regra e as exceções estão previstas no art. 87 do CPC 1973 (art. 43 do CPC 2015) que, como vimos,
aplica-se ao processo penal em virtude do art. 3º do CPP:
Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as
modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão
judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia.
Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo
irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando
suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.
Se você reparar, o novo CPC mantém a ideia geral do princípio da perpetuatio , mas melhora a redação
do dispositivo. Em vez de falar em alteração de competência em razão da matéria ou da hierarquia, ele
fala em alteração da competência absoluta. Isso porque matéria e hierarquia são critérios da competência
absoluta. Logo, melhor mencionar o gênero porque engloba as duas referidas, além de outras situações.
(...) A criação de novas varas, em virtude de modificação da Lei de Organização Judicial local, não implica
incompetência superveniente do juízo em que se iniciou a ação penal.
2. O art. 87 do Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente ao processo penal, leva à perpetuação
do foro, em respeito ao princípio do juiz natural. (...)
(STF. Plenário. RHC 83181, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Joaquim Barbosa, julgado em 06/08/2003)
PRISÃO E LIBERDADE
Decisão no HC que substituiu a prisão preventiva dos réus da operação Lava Jato por outras
medidas cautelares (art. 319 do CPP)
O STF concedeu parcialmente a ordem em habeas corpus para os réus da operação Lava
Jato substituindo a prisão preventiva por outras medidas cautelares (art. 319 do CPP).
A prisão é a medida acauteladora mais grave no processo penal, razão pela qual somente deve
ser decretada quando absolutamente necessária.
A prisão somente é legítima em situações nas quais seja o único meio eficiente para preservar
os valores jurídicos que a lei penal visa a proteger, segundo o art. 312 do CPP (garantia da
ordem pública, da ordem econômica, conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal). Fora dessas hipóteses excepcionais, a prisão representa mera
antecipação de pena, o que é inadmissível.
O STF entendeu que o fato de o réu ser dirigente de empresa com filial no exterior e de fazer
constantemente viagens internacionais, por si só, não é suficiente para a decretação da preventiva.
Não há risco à conveniência da instrução penal, considerando que a instrução criminal está
praticamente concluída, tendo sido colhida toda a prova acusatória, e resta apenas a tomada
de alguns depoimentos da defesa.
Por mais graves e reprováveis que sejam as condutas praticadas, isso não é suficiente para
justificar a prisão processual. Da mesma maneira, não é legítima a decretação da preventiva
unicamente com o argumento da credibilidade das instituições públicas. Ainda que a
sociedade esteja, justificadamente, indignada com a notícia dos crimes em comento, a exigir
resposta adequada do Estado, também deve compreender que a credibilidade das instituições
somente se fortalece na exata medida em que seja capaz de manter o regime de estrito
cumprimento da lei, seja na apuração e julgamento dos delitos, seja na preservação dos
princípios constitucionais em jogo.
STF. 2ª Turma. HC 127186/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/4/2015 (Info 783).
Segundo determina o CPP, a prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua
substituição por um ou algumas das medidas cautelares previstas no art. 319. Em outras palavras, a
primeira opção do magistrado deve ser impor uma das medidas do art. 319. Apenas se estas não forem
suficientes para o caso concreto é que o juiz deverá decretar a prisão preventiva (art. 282, § 6º do CPP).
No caso concreto, o STF entendeu que as medidas cautelares acima listadas eram suficientes e que a
prisão do empresário não se fazia necessária. Veja abaixo o resumo dos argumentos:
Há, ainda, outra premissa: em qualquer dessas situações, além da demonstração concreta e objetiva dos
requisitos do art. 312 do CPP, é indispensável a evidência de que nenhuma das medidas alternativas do
art. 319 do mesmo diploma é apta para, no caso concreto, atender eficazmente aos mesmos fins (art. 282,
§ 6º do CPP).
Outras considerações
Se num primeiro momento a prisão cautelar se mostrava indispensável, com o decurso do tempo a
medida extrema não tem mais essa qualidade, podendo ser eficazmente substituída por medidas
alternativas.
Há de se considerar também outras circunstâncias: a) os fatos imputados ocorreram entre 2006 e 2014; b)
a prisão preventiva perdura por aproximadamente seis meses; c) as empresas controladas pelo réu estão
impedidas de contratar com a Petrobrás; e d) houve o afastamento formal do réu da direção dessas
empresas, com o consequente afastamento do exercício de atividades empresariais.
Outros réus
A Turma enfatizou que já foram aplicadas medidas acauteladoras diversas da prisão para outros
investigados com situação análoga à do paciente, tendo elas se mostrado de forma eficaz.
Embora o paciente não tenha se disponibilizado à colaboração premiada, essa circunstância não é motivo
relevante porque a prisão processual não pode servir de instrumento para obter colaboração por parte do
preso.
Votos contrários
Votaram pela liberdade do réu: Min. Teori Zavascki, Min. Gilmar Mendes e Min. Dias Toffoli.
Votaram pela manutenção da prisão: Min. Cármen Lúcia e Min. Celso de Mello
DIREITO DO TRABALHO
PLANO DE DISPENSA INCENTIVADA
Plano de dispensa incentivada e validade da quitação ampla de parcelas contratuais
Importante!!!
A transação extrajudicial que importa rescisão de contrato de trabalho, em razão de adesão
voluntária do empregado a plano de dispensa incentivada, enseja quitação ampla e irrestrita
de todas as parcelas objeto do contrato de emprego, caso essa condição tenha constado
expressamente do acordo coletivo que aprovou o plano, bem como dos demais instrumentos
celebrados com o empregado.
STF. Plenário. RE 590415/SC e RE 590415 AgR/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
30/4/2015 (repercussão geral) (Info 783).
Quando se trata de acordo coletivo, não incide a regra do art. 477, § 2º da CLT, que restringe a eficácia
liberatória da quitação aos valores e às parcelas discriminadas no termo de rescisão exclusivamente:
Art. 477. É assegurado a todo empregado, não existindo prazo estipulado para a terminação do respectivo
contrato, e quando não haja ele dado motivo para cessação das relações de trabalho, o direto de haver do
empregador uma indenização, paga na base da maior remuneração que tenha percebido na mesma
empresa.
(...)
§ 2º - O instrumento de rescisão ou recibo de quitação, qualquer que seja a causa ou forma de dissolução
do contrato, deve ter especificada a natureza de cada parcela paga ao empregado e discriminado o seu
valor, sendo válida a quitação, apenas, relativamente às mesmas parcelas.
No âmbito do direito coletivo do trabalho não se verifica a mesma situação de assimetria de poder
presente nas relações individuais de trabalho. Como consequência, a autonomia coletiva da vontade não
se encontra sujeita aos mesmos limites da autonomia individual.
O art. 7º, XXVI, da CF/88 prestigia a autonomia coletiva da vontade e a autocomposição dos conflitos
trabalhistas, de forma a acompanhar a tendência mundial ao crescente reconhecimento dos mecanismos
de negociação coletiva, retratada na Convenção 98/1949 e na Convenção 154/1981 da Organização
Internacional do Trabalho. Assim, o reconhecimento dos acordos e convenções coletivas permite que os
trabalhadores contribuam para a formulação das normas a reger sua própria vida.
Os planos de dispensa incentivada permitem reduzir as repercussões sociais das dispensas, assegurando
àqueles que optem por seu desligamento da empresa condições econômicas mais vantajosas do que
aquelas que decorram da mesma dispensa por decisão do empregador.
É importante que seja assegurada a credibilidade dos planos, para preservar a sua função protetiva e não
desestimular o seu uso.
Os planos de dispensa incentivada têm se tornado, em alguns cenários econômicos, alternativa social
relevante para atenuar o impacto de dispensas em massa por oferecerem, em regra, condições mais
favoráveis que aquelas que ordinariamente o trabalhador receberia.
Por todo o exposto, o STF fixou a seguinte tese, em sede de repercussão geral, e que valerá para os demais
asos se elha tes: a transação extrajudicial que importa rescisão do contrato de trabalho em razão de
adesão voluntária do empregado a plano de dispensa incentivada enseja quitação ampla e irrestrita de
todas as parcelas objeto do contrato de emprego, caso essa condição tenha constado expressamente do
acordo coletivo que aprovou o plano, bem como dos demais instrumentos celebrados com o empregado .
Gabarito
1. E 2. Letra D 3. C
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de27 de abril a 1 de maio de 2015
CLIPPING DO D JE
27 de abril a 1º de maio de 2015
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
OUTRAS INFORMAÇÕES
27 de abril a 1 de maio de 2015
Decreto nº 8.442, de 29.4.2015 - Regulamenta os art. 14 a art. 36 da Lei nº 13.097, de 19.1.2015, que tratam da
incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social - Cofins, no mercado interno e na importação, sobre produtos dos Capítulos 21 e 22 da
Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados - Tipi. Publicado no DOU em 30.4.2015, Seção 1, p. 2.
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista ou
suspensão de julgamento: PSV 65/SP, 22.4.2015; RE 422349/RS; RE 188083/PR.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: AI 801096 AgR-EDv/DF; ACO 555/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PUBLICIDADE DE BEBIDAS ALCÓOLICAS
O legislador, ao editar a Lei 9.294/96, atendeu a regra do art. 220, § 4º, da CF/88.
DIREITO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Divulgação de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal.
CONCURSO PÚBLICO
Controle de questões de concurso pelo Poder Judiciário.
AÇÃO RESCISÓRIA
Análise do art. 485, V, do CPC 1973 (art. 966, V, do CPC 2015).
DIREITO CONSTITUCIONAL
O art. 220, § 4º da CF/88 prevê que lei poderá impor restrições às propagandas de bebidas
alcoólicas.
Com o objetivo de regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei 9.294/96.
Ocorre que a Lei 9.294/96 afirmou expressamente que só haveria restrições para as propagandas
de bebidas alcoólicas com teor alcoólico superior a 13 GL (art. 1º, parágrafo único).
O PGR não concordou com a medida e ajuizou ação direta de inconstitucionalidade por omissão
afirmando que o Congresso Nacional estaria em mora legislativa, considerando que deveria impor
restrições à propaganda de bebidas alcoólicas independentemente do seu teor de álcool.
De início, a Ministra Relatora lembrou que o STF já decidiu esse mesmo tema e, com fundamento nos
princípios da harmonia e independência entre os Poderes, entendeu que não é possível que o Poder
Judiciário crie norma geral e abstrata em substituição ao legislador definindo o que é bebida alcoólica para
fins de propaganda (ADI 1.755/DF, DJU de 18.5.2001).
Além disso, no entanto, o principal ponto a ser considerado é que não existe a alegada omissão
inconstitucional. O legislador federal, no exercício da atribuição a ele conferida pelo poder constituinte
originário, aprovou a Lei n. 9.294/96. Analisando a tramitação do projeto, percebe-se que a matéria
invocada pelo PGR foi amplamente debatida durante sete anos nas casas do Congresso Nacional. Após sua
aprovação, houve ainda a edição do Decreto que regulamentou a lei (Decreto 2.018/96) e de outros atos
normativos infralegais tratando sobre o tema. Não existe, portanto, omissão no tratamento do assunto.
Ainda que os argumentos expostos pelo PGR sejam relevantes, o pedido não pode prosperar. Isso porque,
tão importante quanto a preservação da saúde daqueles que se excedem no uso de bebidas alcoólicas, é
relevante também que sejam respeitados os princípios do direito constitucional, como o da separação dos
Poderes. Se o STF fosse acolher o pedido feito na ação, ele teria que analisar a conveniência política da Lei
n. 9.294/96, elaborada legitimamente pelos representantes eleitos pelo povo. Portanto, não se está
diante de uma omissão, mas sim de uma opção do legislador.
Por fim, o STF entendeu que a Lei n. 9.294/96 não contraria a Lei n. 11.705/2008 (Lei Seca),
considerando que são diplomas legislativos com âmbitos de incidência totalmente diversos. A primeira lei
cuida de restrições à propaganda e liberdade de expressão. Nela não se está julgando o teor alcoólico da
bebida e sim até que limite pode ir a sua publicidade. Na segunda, estão sendo discutidos os efeitos do
álcool para pessoas que dirigem veículo automotor e a proibição imposta para essa prática.
Curiosidade
Foi falado acima que a Lei n. 9.294/96 não impõe restrições às propagandas de cervejas e vinhos porque
estas bebidas possuem teor alcóolico inferior a 13 GL. No entanto, talvez você tenha pensando o
segui te: as eu já vi a p opaga da de TV ue se p e após o a ú io da e veja apa e e a f ase e a
o ode ação . Po ue isso a o te e?
A obrigatoriedade dessa frase não foi imposta pela Lei n. 9.294/96, mas sim pelo CONAR (Conselho
Nacional de Autorregulamentação Publicitária).
O CONAR é uma organização da sociedade civil constituída por representantes de setores ligados à
propaganda e publicidade, tais como: agências de publicidade, anunciantes, jornais, revistas, emissoras de
rádio e TV.
O CONAR possui um Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, que não é lei (trata-se de um ato
i te o do CONA‘ , as ue, apesa disso, é fo te do Di eito lassifi ada o o ostu e a t. º da LINDB .
As agências de publicidade e os órgãos de imprensa respeitam fielmente o Código de
Autorregulamentação e, se determinado tipo de propaganda é proibida pelo CONAR, pode ter certeza que
nem a agência irá aceitar veicular e, muito menos, a TV, rádio ou jornal.
Desse modo, a Lei n. 9.294/96 não trata sobre a propaganda de cervejas e vinhos, mas o Código Brasileiro
de Autorregulamentação Publicitária do CONAR impõe uma série de restrições que você vê por aí.
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Divulgação de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal
É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos
nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens
pecuniárias.
STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral)
(Info 782)
Princípio da publicidade
O princípio da publicidade exige que, em regra, haja ampla divulgação dos atos praticados pela
Administração Pública.
O princípio da publicidade existe porque vivemos em uma República democrática, na qual o titular do
poder é o povo (art. 1º, parágrafo único, da CF/88). O administrador apenas atua em nome do povo. Logo,
ele tem o dever de prestar contas ao povo sobre todos os atos que pratica. O povo tem que controlar
socialmente o poder. Como o povo vai controlar se ele não sabe como o Poder Público está agindo? Sem
essas informações, ele não consegue controlar a coisa pública de uma forma adequada.
Esse princípio da publicidade também está relacionado com a eficiência na gestão das contas públicas, já
que assim poderá haver uma maior fiscalização.
Exceção:
A própria CF/88 afirma que o princípio da publicidade não é absoluto e afirma que deverá ser assegurado
o sigilo se a informação a ser divulgada puder gerar riscos à segurança da sociedade e do Estado.
(Procurador do DF 2007 CESPE) Na esfera administrativa, o sigilo, como exceção ao princípio da
publicidade, é inadmissível ante a existência de preceito constitucional expresso que veda sua adoção pela
Administração Pública. (ERRADO).
CONCURSO PÚBLICO
Controle de questões de concurso pelo Poder Judiciário
É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi elaborada
de maneira equivocada? É possível que seja alterada a pontuação dada ao candidato na
questão sob o argumento de que a correção feita pela banca foi inadequada?
Regra: NÃO. Os critérios adotados por banca examinadora de concurso público não podem ser
revistos pelo Poder Judiciário. Não é possível controle jurisdicional sobre o ato administrativo
que corrige questões de concurso público. Não compete ao Poder Judiciário substituir a banca
examinadora para reexaminar o conteúdo das questões e os critérios de correção utilizados.
Exceção: apenas em casos de flagrante ilegalidade ou inconstitucionalidade, a Justiça poderá
ingressar no mérito administrativo para rever critérios de correção e de avaliação impostos
pela banca examinadora.
STF. Plenário. RE 632853/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral)
(Info 782).
É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi elaborada de
maneira equivocada? É possível que seja alterada a pontuação dada ao candidato na questão sob o
argumento de que a correção feita pela banca foi inadequada?
Regra: NÃO. Os critérios adotados por banca examinadora de concurso público não podem ser revistos
pelo Poder Judiciário. Não é possível controle jurisdicional sobre o ato administrativo que corrige questões
de concurso público. Não compete ao Poder Judiciário substituir a banca examinadora para reexaminar o
conteúdo das questões e os critérios de correção utilizados.
O Poder Judiciário não pode realizar o controle jurisdicional sobre o mérito de questões de concurso
público. A reserva de administração impede que o Judiciário substitua banca examinadora de concurso,
por ser um espaço que não é suscetível de controle externo, a não ser nos casos de ilegalidade ou
inconstitucionalidade.
Assim, exige-se apenas que a banca examinadora dê tratamento igual a todos os candidatos, ou seja, que
aplique a eles, indistintamente, a mesma orientação. Sendo assegurada essa igualdade, o Poder Judiciário
não pode alterar os critérios de correção aplicados pela banca examinadora.
Caso concreto
No caso concreto julgado pelo STF, determinadas candidatas de um concurso público pretendiam que
fosse declarada a nulidade de dez questões do certame, ao fundamento de que as questões possuiriam
O STF tem competência para processar e julgar causas em que se discute prerrogativa dos
juízes de portar arma de defesa pessoal, por se tratar de ação em que todos os membros da
magistratura são direta ou indiretamente interessados art. , ), n , da CF/88 .
STF. Plenário. Rcl 11323 AgR/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki,
julgado em 22/4/2015 (Info 782).
O STF concordou com a reclamação? Essa causa é de competência originária do STF com base no art.
, I, , da CF/ ?
SIM. O STF tem competência para processar e julgar causas em que se discute prerrogativa dos juízes de
portar arma de defesa pessoal, por se tratar de ação em que todos os membros da magistratura são direta
ou indiretamente interessados (art. 102, I, n , da CF/ ).
No caso concreto, essa prerrogativa é assegurada pela LOMAN a todos os magistrados indistintamente e
não apenas aos que integram as associações. Assim, todos os membros da magistratura são interessados.
A situação seria diferente se o assunto discutido influenciasse apenas uma parcela de magistrados,
hipótese na qual não haveria competência do STF. A regra da LOMAN, contudo, é clara ao prever essa
prerrogativa para todos os magistrados.
Obs: vale ressaltar que a matéria de fundo ainda não foi decidida, ou seja, o Supremo não definiu neste
julgamento se os magistrados possuem direito de portar arma de fogo sem se submeterem ao Estatuto do
Desarmamento. A única situação até agora definida foi a de que a competência para julgar o MS é do STF.
AÇÃO RESCISÓRIA
Análise do art. 485, V, do CPC 1973 (art. 966, V, do CPC 2015)
CONCEITO
Ação rescisória é uma ação que tem por objetivo desconstituir uma decisão judicial transitada em julgado.
NATUREZA JURÍDICA
A ação rescisória é uma espécie de ação autônoma de impugnação (sucedâneo recursal externo).
Atenção: a ação rescisória NÃO é um recurso. O recurso é uma forma de impugnar a decisão na pendência
do processo (este ainda não acabou). A ação rescisória, por sua vez, somente pode ser proposta quando
há trânsito em julgado, ou seja, quando o processo já se encerrou.
COMPETÊNCIA
A ação rescisória é sempre julgada por um tribunal (nunca por um juiz singular).
Quem julga a rescisória é sempre o próprio tribunal que proferiu a decisão rescindenda.
CPC 2015
Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última
decisão proferida no processo.
Repare que o CPC 2015 acrescenta esta importante parte final no seu texto explicitando que o prazo para
a rescisória é contado da última decisão proferida no processo.
HIPÓTESES
O CPC prevê as hipóteses em que a ação rescisória é cabível.
Vamos comparar como o tema é tratado no novo CPC:
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em Art. 966. A decisão de mérito, transitada em
julgado, pode ser rescindida quando: julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi dada por prevaricação, I - se verificar que foi proferida por força de
concussão ou corrupção do juiz; prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
II - proferida por juiz impedido ou absolutamente II - for proferida por juiz impedido ou por juízo
incompetente; absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo da parte vencedora em III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora
detrimento da parte vencida, ou de colusão entre em detrimento da parte vencida ou, ainda, de
as partes, a fim de fraudar a lei; simulação ou colusão entre as partes, a fim de
fraudar a lei;
VI - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido
apurada em processo criminal ou seja provada na apurada em processo criminal ou venha a ser
própria ação rescisória; demonstrada na própria ação rescisória;
VII - depois da sentença, o autor obtiver VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito
documento novo, cuja existência ignorava, ou de em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou
que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe
assegurar pronunciamento favorável; assegurar pronunciamento favorável;
VIII - houver fundamento para invalidar confissão, Obs: o inciso VIII do antigo CPC (invalidar
desistência ou transação, em que se baseou a confissão, desistência ou transação) não é previsto
sentença; mais como hipótese de rescisória, sendo caso de
ação anulatória (§ 4º do art. 966 do CPC 2015).
§ 1º Há erro, quando a sentença admitir um fato § 1º Há erro de fato quando a decisão rescindenda
inexistente, ou quando considerar inexistente um admitir fato inexistente ou quando considerar
fato efetivamente ocorrido. inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo
indispensável, em ambos os casos, que o fato não
§ 2º É indispensável, num como noutro caso, que represente ponto controvertido sobre o qual o juiz
não tenha havido controvérsia, nem deveria ter se pronunciado.
pronunciamento judicial sobre o fato.
ANÁLISE DO INCISO V
O inciso V do art. 485 prevê que é cabível a ação rescisória quando a sentença de mérito transitada em
julgado viola lite al disposição de lei .
O CPC de 2015 melhorou a redação da hipótese, incorporando em seu texto os entendimentos da
jurisprudência sobre o tema. Agora, diz-se que é cabível a ação es isó ia ua do a de isão violar
manifestamente norma jurídica .
Quando o inciso falava e lei , abrangia também as normas constitucionais? E agora, com o novo CPC?
“IM. A palav a lei no inciso V do art. 485 do CPC 1973 era interpretada pela doutrina e jurisprudência em
sentido amplo, abrangendo lei ordinária, lei complementar, medida provisória, norma constitucional,
decreto, resolução e qualquer outro ato normativo.
Assim, se a sentença violasse literal disposição de lei, de norma constitucional ou de qualquer outra norma
jurídica, cabia, em tese, ação rescisória.
O novo CPC adotou em seu texto esse entendimento e passou a prever, expressamente, que cabe
rescisória quando houver violação da norma jurídica.
O raciocínio que inspirou essa súmula é o seguinte: se há nos tribunais divergência sobre um mesmo
preceito normativo, é porque ele comporta mais de uma interpretação, significando que não se pode
qualificar qualquer dessas interpretações, mesmo a que não seja a melhor, como ofensiva ao teor literal
da norma interpretada. Trata-se da ha ada doutrina da tolerância da azoável i te p etação da o a
(Voto do Ministro Teoria Zavascki no RE 590809/RS).
Obs: a súmula fala em ofe sa a lite al disposição de lei po ue esta é a redação do art. 485, V, do CPC
1973. O CPC 2015 altera esse dispositivo prevendo que cabe ação es isó ia ua do a de isão viola
a ifesta e te o a ju ídi a a t. 66 do CPC . A edação do ovo CPC ape as o sag a a
interpretação que a doutrina e a jurisprudência dão pa a a exp essão lei p evista o Código passado. Já
se entendia que lei deve ia se lida o o o a ju ídi a . Assi , ão há uma mudança substancial e o
raciocínio trazido pela súmula continua aplicável.
Ex: na sentença, o juiz decidiu que o art. XX da CF/88 assegurava uma imunidade tributária. Na época, o
tema era controvertido, mas esse era o entendimento majoritário. Houve trânsito em julgado. Um ano
depois, o STF pacifica que o art. XX não garante imunidade tributária. O STF possuía julgados dizendo que
seria possível sim ação rescisória contra essa sentença, considerando que ela violaria o atual
entendimento do STF sobre a matéria. Logo, essa decisão deveria ser rescindida porque não se poderia
admitir que ela permanecesse hígida, já que afrontaria a supremacia da CF/88.
O argumento para afastar a súmula e permitir a ação rescisória nesses casos era o de que violar a CF é
muito mais grave que ofender uma lei infraconstitucional. Assim, se a sentença transitada em julgado está
em confronto com a interpretação atual da CF, ela deve ser rescindida, mesmo que, na época em que
prolatada, aquele fosse o entendimento majoritário. Isso porque não se pode admitir interpretações
erradas sobre normas constitucional, ainda que razoáveis.
Cabe ação rescisória nesse caso? Podemos dizer que o acórdão do TRF4 violou literal disposição de lei?
NÃO. Mesmo que a sentença transitada em julgado esteja em confronto com o atual entendimento do
STF, não caberá ação rescisória se, na época em que foi prolatada, ela estava em conformidade com a
jurisprudência predominante do próprio STF.
Aplicou-se, o aso, a “ú ula do “TF: Não a e ação es isó ia po ofe sa a lite al dispositivo de lei,
ua do a de isão es i de da se tive aseado e texto legal de i te p etação o t ove tida os t i u ais.
A súmula 343 do STF aplica-se quando a sentença transitada em julgado e que está sendo atacada foi
proferida na época com base no entendimento do próprio STF. Nesse caso, não se deve relativizar o
alcance do enunciado.
O Min. Marco Aurélio afirmou que, em regra, aplica-se a súmula 343-STF mesmo em caso de violação à
norma constitucional. No entanto, ele mencionou uma exceção: se a sentença transitada em julgado
baseou-se em uma lei e esta foi, posteriormente, declarada inconstitucional pelo STF com eficácia erga
omnes e sem modulação de efeitos, nesse caso caberia ação rescisória, afastando-se a súmula 343-STF.
STF. Plenário. RE 590809/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/10/2014 (Info 764).
Aplica-se a súmula 343 do STF em caso de violação à norma constitucional? É vedada ação rescisória se
a sentença foi proferida com base em interpretação controvertida sobre matéria constitucional, mas
atualmente é contrária ao posicionamento do STF?
Entendimento até então vigente: NÃO
Entendimento atual: SIM (se na época em que a decisão rescindenda foi prolatada, ela seguiu a
jurisprudência do STF).
Neste Informativo 782, o STF reiterou essa posição manifestada no RE 590809/RS e decidiu que não cabe
ação rescisória de decisões proferidas em harmonia com a jurisprudência do STF, ainda que o próprio
Supremo venha a alterar o seu entendimento sobre a matéria.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 20 a 24 de abril de 2015
CLIPPING DO D JE
20 a 24 de abril de 2015
ADI N. 3.813-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei estadual (RS) nº 12.427/2006. Restrições ao comércio de produtos agrícolas importados
no Estado. Competência privativa da União para legislar sobre comércio exterior e interestadual (CF, art. 22, inciso VIII).
1. É formalmente inconstitucional a lei estadual que cria restrições à comercialização, à estocagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados no
Estado, ainda que tenha por objetivo a proteção da saúde dos consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por outros países. A
matéria é predominantemente de comércio exterior e interestadual, sendo, portanto, de competência privativa da União (CF, art. 22, inciso VIII).
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
20 a 24 de abril de 2015
Lei nº 13.116, de 20.4.2015 - Estabelece normas gerais para implantação e compartilhamento da infraestrutura
os
de telecomunicações e altera as Leis n 9.472, de 16.07.1997, 11.934, de 5.5.2009, e 10.257, de 10.07.2001. Publicado
no DOU em 22.4.2015, Seção 1, p. 10.
OUTRAS INFORMAÇÕES
20 a 24 de abril de 2015
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE
212609/SP; RHC 126763/MS.
Julgado excluído por ter sido decidido com base em peculiaridades do caso concreto: ADI 4413 MC QO/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CNMP
CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei.
DIREITO ADMINISTRATIVO
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
Constitucionalidade da Lei 9.637/98.
SERVIDORES PÚBLICOS
Remunerações acima do teto constitucional e base de cálculo para incidência do IR e da contribuição
previdenciária.
DIREITO ELEITORAL
CRIMES ELEITORAIS
Requisitos para a configuração do crime de desobediência eleitoral
DIREITO CONSTITUCIONAL
CNMP
CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei
Outro Promotor de Justiça não concordou com a decisão do MPSC e ingressou com reclamação no CNMP
questionando isso. O Conselho decidiu que a permanência na comarca foi indevida porque o art. 141 da LC
estadual 197/2000 seria inconstitucional e não poderia ser aplicado para aquele caso concreto nem para
as situações futuras envolvendo outras comarcas.
DIREITO ADMINISTRATIVO
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
Constitucionalidade da Lei 9.637/98
Importante!!!
Organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, prestadoras
de atividades de interesse público e que, por terem preenchido determinados requisitos
previstos na Lei . 3 / , recebem a qualificação de organização social .
A pessoa jurídica, depois de obter esse título de organização social , poderá celebrar com o
Poder Público um instrumento chamado de contrato de gestão por meio do qual receberá
incentivos públicos para continuar realizando suas atividades.
Foi ajuizada uma ADI contra diversos dispositivos da Lei 9.637/98 e também contra o art. 24,
XXIV, da Lei 8.666/93, que prevê a dispensa de licitação nas contratações de organizações
sociais.
O Plenário do STF não declarou os dispositivos inconstitucionais, mas deu interpretação
conforme a Constituição para deixar explícitas as seguintes conclusões:
a) o procedimento de qualificação das organizações sociais deve ser conduzido de forma
pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 3 da CF, e de
acordo com parâmetros fixados em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei 9.637/98;
b) a celebração do contrato de gestão deve ser conduzida de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 3 da CF;
SETORES DA ECONOMIA
Não sei se você já ouviu falar em primeiro, segundo ou terceiro setores da economia.
O assunto que irei explicar agora está relacionado com o chamado te ei oà seto à daà e o o ia. Mas
afinal de contas, o que é isso?
Existe uma classificação que divide os atores da economia em quatro setores diferentes:
1º Setor: 2º Setor: 3º Setor: 4º Setor:
Estado Mercado Entidades paraestatais Economia informal
São os órgãos e entidades São os empresários e Formado pelas entidades São os particulares que
da Administração Pública. sociedades empresárias. não-governamentais atuam no mercado, mas
Atuam e influenciam na Atuam na economia com (entidades privadas) que sem estarem registrados
economia com o objetivo o objetivo principal de prestam atividades de formalmente. É uma forma
principal de garantir os gerar lucro. interesse público, por de fugir do pagamento de
interesses da coletividade. iniciativa própria, sem fins tributos e demais
lucrativos. obrigações legais. Também
estão aqui pessoas que
praticam atividades
econômicas ilícitas (ex:
tráfico de drogas).
TERCEIRO SETOR
No terceiro setor estão as entidades privadas que, mesmo sem integrarem a Administração Pública,
executam atividades de interesse público (social) e sem fins lucrativos.
São também chamadas de:
- e tesàdeà ola o aç o à po ueàest oàajuda do/colaborando com a Administração Pública); ou
- e tidadesà pa aestatais à ( pa a à à u à adi alà deà o ige à g egaà ueà sig ifi aà aoà lado ;à assi ,à diz-se
ueàtaisàe tidadesàs oàpa aestataisàpo ueàatua à aoàlado dos órgãos e entidades estatais).
Existem, atualmente, cinco espécies de entidades que atuam no terceiro setor:
a) os Serviços Sociais Autônomos. Exs: SESI, SENAI, SESC.
b) as Organizações Sociais (OS).
c) as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).
d) as Entidades de Apoio.
Quando falamos em crescimento e incentivo do terceiro setor devemos destacar uma expressão que pode ser
cobrada na sua prova: publicização dos serviços não exclusivos do Estado. Vejamos com calma o que é isso.
Na década de 90, ganhou força no Brasil a ideia de que seria necessário fazer uma Reforma do Aparelho do
Estado, reduzindo seu tamanho e as atividades por ele desenvolvidas. Foi então aprovado um Plano
Diretor com diversas medidas para transformar a Administração Pública, que era muito burocrática, em
uma Administração Pública mais moderna e eficiente (Administração Pública gerencial). Esse Plano tinha
cinco eixos principais:
Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3
1) reduzir o papel do Estado na economia para que ele deixasse de ser responsável direto por atividades
econômicas e atuasse apenas como fomentador e regulador do mercado;
2) privatização de atividades que antes eram exercidas pelo Estado e poderiam ser passadas aos
particulares (ex: telefonia);
3) publicização dos serviços não exclusivos do Estado, ou seja, passou-se a defender que alguns serviços
públicos que não fossem exclusivos do Estado deveriam ser agora exercidos de forma prioritária pelo setor
público não estatal (sociedade civil organizada: 3º setor);
4) melhorar a eficiência da máquina administrativa;
5) reduzir os gastos públicos.
Desse modo, foram editadas algumas leis, como a Lei n. 9.637/98 e a Lei n. 9.790/99, buscando
incentivar o fortalecimento do terceiro setor a fim de promover a publicização dos serviços não exclusivos
do Estado, isto é, a sua gradual transferência para a sociedade civil.
Como disse, o assunto que iremos estudar agora está relacionado com esse 3º setor. Na verdade, vamos
tratar sobre uma dessas entidades que atua no 3º setor: as organizações sociais.
Quais são os requisitos necessários para a pessoa jurídica ser qualificada como OS?
Tais requisitos estão elencados no art. 2º da Lei n. 9.637/98. Veja um resumo dos principais requisitos
necessários para que as entidades possam tentar receber a qualificação de organização social:
finalidade não-lucrativa, com a obrigatoriedade de investimento de seus excedentes financeiros no
desenvolvimento das próprias atividades;
ter, como órgãos de deliberação superior e de direção, um conselho de administração e uma diretoria;
participação, no seu órgão colegiado de deliberação superior, de representantes do Poder Público e de
membros da comunidade, de notória capacidade profissional e idoneidade moral;
obrigatoriedade de publicação anual, no Diário Oficial da União, dos relatórios financeiros e do
relatório de execução do contrato de gestão;
proibição de distribuição de bens ou de parcela do patrimônio líquido em qualquer hipótese, inclusive
em razão de desligamento, retirada ou falecimento de associado ou membro da entidade;
previsão de incorporação integral do patrimônio, dos legados ou das doações que lhe foram
destinados, bem como dos excedentes financeiros decorrentes de suas atividades, em caso de
extinção ou desqualificação, ao patrimônio de outra organização social qualificada no âmbito da
Se a pessoa jurídica preencher todos os requisitos ali listados, o Poder Público é obrigado a conceder a
qualificação?
NÃO. Mesmo preenchendo todos os requisitos, os Ministros podem decidir não conceder o titulo porque
esta é uma decisão discricionária, na qual se avalia a conveniência e oportunidade de conceder.
As organizações sociais que celebrarem contrato de gestão com o Poder Público passam a ser
consideradas entidades da Administração Pública?
NÃO. Mesmo tendo celebrado contrato de gestão, continuam sendo entidades paraestatais (não estatais).
As organizações sociais que celebrarem contrato de gestão com o Poder Público podem ser consideradas
delegatárias de serviços públicos?
NÃO. As organizações sociais exercem em nome próprio serviços públicos, mas não são consideradas
delegatárias tendo em vista que não recebem uma concessão ou permissão de serviço do Poder Público.
Os setores de saúde, educação, cultura, desporto e lazer, ciência e tecnologia e meio ambiente são
classificados como serviços públicos sociais. Segundo a CF/88, tais serviços devem ser desempenhados não
apenas pelo Estado como também pela sociedade (são deve esà doà Estadoà e da Sociedade ). Assim, é
permitida a atuação, por direito próprio, dos particulares, sem que para tanto seja necessária a delegação
pelo Poder Público. Não se aplica, portanto, o a t.à1 5,à aput ,àdaàCF/88 às atividades desenvolvidas pelas
organizações sociais.
Desse modo, quando a Administração contratar serviços a serem prestados pelas organizações sociais,
está dispensada de realizar licitação, desde que aquela atividade esteja prevista no contrato de gestão.
ADI 1923/DF
Em 1998, o PT e o PDT ajuizaram uma ADI contra diversos dispositivos da Lei das Organizações Sociais (Lei
n. 9.637/98) e também contra o art. 1º da Lei n. 9.648/98 que mudou a Lei n. 8.666/93 para prever a
dispensa de licitação nas contratações de organizações sociais.
O STF finalmente julgou a ação. Veja os principais pontos sobre o que foi decidido:
Os incentivos previstos na Lei n. 9.637/98 em favor das organizações sociais (recebimento de recursos
orçamentários, cessão de bens e servidores etc.) são inconstitucionais?
NÃO. O Poder Público pode atuar no domínio econômico (atividades econômicas) ou na área social por
meio de intervenção direta (quando ele mesmo age disponibilizando utilidades materiais aos beneficiários)
ou indireta (quando faz uso de seu instrumental jurídico para induzir que os particulares executem
atividades de interesses públicos).
Essa atuação indireta ocorre mediante atividades de regulação do mercado ou de fomento (concessão de
incentivos e estímulos). Em qualquer das situações, o certo é que a Administração Pública atua sob o
ângulo do resultado, ou seja, verificando se os objetivos buscados estão sendo atingidos.
Assim, essa cessão de recursos, bens e pessoal da Administração Pública para as entidades privadas, após
a celebração de contrato de gestão, é o que viabiliza (possibilita) a transferência para os particulares das
atividades de interesse público exigindo das organizações sociais, em contrapartida, metas e resultados a
serem alcançados.
A dispensa de licitação para que o Poder Público contrate organizações sociais (art. 24, XXIV, da Lei n.
8.666/93) é inconstitucional?
NÃO. As dispensas de licitação instituídas no art. 12, § 3º, da Lei n. 9.637/98 e no art. 24, XXIV, da Lei n.
8.666/1993 tem a finalidade de induzir (fomentar) práticas sociais benéficas, ou seja, incentivar a atuação
de organizações sociais que tenham firmado contrato de gestão e que sejam, assim, reconhecidas como
colaboradoras do Poder Público no desempenho dos deveres constitucionais no campo dos serviços
sociais. A isso chamamos de função regulatória da licitação .
Função regulatória da licitação: segundo essa teoria, a licitação pode ser utilizada como instrumento de
regulação de mercado, de modo a torná-lo mais livre e competitivo, além de ser possível concebê-la como
mecanismo de indução de determinadas práticas (de mercado) que produzam resultados sociais
benéficos, imediatos ou futuros, à sociedade. A possibilidade de contratação direta, sem licitação, de
organizações sociais ou OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) é um exemplo dessa
função regulatória da licitação já que, como essa prática, o Estado induz que essas entidades sejam criadas
pelos particulares. Para maiores informações, veja: FERRAZ, Luciano. Função regulatória da licitação.
Disponível em: http://revista.tce.mg.gov.br/Content/Upload/Materia/490.pdf.
O afastamento do certame licitatório não exime, porém, o administrador público da observância dos
princípios constitucionais, de modo que a contratação direta deve observar critérios objetivos e
impessoais, com publicidade de forma a permitir o acesso a todos os interessados.
Vimos acima que a organização social que celebrar contrato de gestão pode receber recursos
orçamentários. Recebendo esse dinheiro público, a organização social, quando contratar terceiros (ex:
comprar produtos, serviços), é obrigada a fazer licitação? Dito de forma direta, a organização social
submete-se ao dever de licitar?
NÃO. As organizações sociais, por integrarem o Terceiro Setor, não fazem parte do conceito constitucional
de Administração Pública, razão pela qual não se submetem, em suas contratações com terceiros, ao
dever de licitar, o que consistiria em quebra da lógica de flexibilidade do setor privado, finalidade por
detrás de todo o marco regulatório instituído pela Lei.
No entanto, por receberem recursos públicos, bens públicos e servidores públicos, o regime jurídico das
organizações sociais deve ser minimamente informado (influenciado) pelos princípios da Administração
Pública (art. 37, caput ,à daà CF/ ), dentre os quais se destaca o princípio da impessoalidade, de modo
que suas contratações devem observar o disposto em regulamento próprio (Lei nº 9.637/98, art. 4º, VIII),
fixando regras objetivas e impessoais para o dispêndio de recursos públicos.
Em outras palavras, quando a OS for contratar, não precisará seguir as rígidas regras da Lei de Licitações
de Contratos (Lei n. 8.666/93), devendo respeitar, contudo, os princípios da Administração Pública
elencados no caput do art. 37 da CF/88 (LIMPE) e as normas de seu regulamento interno (que irão explicar
os passos necessários para a contratação).
Os salários pagos aos empregados das organizações sociais precisam ser fixados em lei, conforme exige
o art. 37, X, da CF/88?
NÃO. Os empregados das organizações sociais não são servidores públicos, mas sim empregados privados.
Logo, a sua remuneração não precisa ser fixada em lei (art. 37, X, da CF/88). Basta que seja prevista no
contrato de trabalho firmado consensualmente entre a OS e o empregado.
SERVIDORES PÚBLICOS
Remunerações acima do teto constitucional e base de cálculo
para incidência do IR e da contribuição previdenciária
Existem determinados servidores, especialmente aposentados, que, por terem vantagens pessoais
incorporadas em seus vencimentos ex: quintos , no papel , deveriam receber mais do que o teto.
Ex: João, Desembargador aposentado, incorporou diversas gratificações pessoais ao longo de sua
carreira. Assim, a remuneração bruta de João é de R$ 50 mil, mas ele só receberá, de fato, até o
valor do teto, devendo ser ressaltado que a quantia que superar o limite constitucional não lhe
será paga. O valor que, no momento do pagamento, é descontado da remuneração total do
servidor por estar superando o teto constitucional é chamado de abate-teto .
O servidor público, antes de receber sua remuneração líquida, é obrigado a pagar imposto de
renda e contribuição previdenciária. Esse valor já é descontado na folha pela entidade pagadora.
Assim, o Tribunal de Justiça, antes de pagar a remuneração de um Desembargador, já desconta os
valores que ele deverá pagar de IR e contribuição previdenciária. As alíquotas do IR e da
contribuição previdenciária incidem sobre o valor da remuneração do servidor público. Ex: valor
do IR = 27,5% multiplicado pela remuneração do servidor. Em termos tributários, podemos dizer
que a base de cálculo do IR e da contribuição previdenciária é a remuneração do servidor.
Se o servidor tem uma remuneração no papel superior ao teto, o imposto de renda e a
contribuição previdenciária incidirão sobre essa remuneração total ou sobre a remuneração
total menos o abate-teto? Em outras palavras, a remuneração de João é 50 mil; ocorre que o
teto do funcionalismo é 33 mil; João pagará IR e CP sobre 50 mil ou sobre 33 mil?
Sobre os 33 mil. A base de cálculo para se cobrar o IR e a contribuição previdenciária é o valor
da remuneração do servidor depois de ser excluída a quantia que exceder o teto.
Como o recurso extraordinário foi julgado sob a sistemática de repercussão geral, o STF
definiu, em uma frase, a tese que será aplicada em todos os demais casos idênticos. A tese
firmada foi a seguinte: Subtraído o montante que exceder o teto e subteto previsto no artigo
37, inciso XI, da Constituição Federal, tem-se o valor que vale como base para o Imposto de
Renda e para a contribuição previdenciária .
STF. Plenário. RE 675978/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/4/2015 (repercussão geral)
(Info 781).
Obs: esse quadro de exceções é a posição atualmente majoritária, mas o STF ainda irá examinar e definir o
tema em um recurso extraordinário sob a sistemática da repercussão geral e que aguarda para ser julgado.
Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto?
Sim. A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.
Quando o teto foi finalmente implementado na prática (EC 41/2003), o que aconteceu com a
remuneração das pessoas que recebiam acima do teto que foi instituído? Essas pessoas tiveram direito
adquirido de continuar recebendo acima do teto?
NÃO. O art. 9º da EC nº 41/2003 determinou que qualquer remuneração ou proventos que estivessem
sendo recebidos acima do teto deveriam ser imediatamente reduzidos ao limite fixado, não podendo a
pessoa invocar direito adquirido.
Abate-teto
Existem determinados servidores, especialmente aposentados, que, por terem vantagens pessoais
i o po adasàe àseusàve i e tosà ex:à ui tos ,à oàpapel ,àdeve ia à e e e à aisàdoà ueàoàteto.à
Ex: João, Desembargador aposentado, incorporou diversas gratificações pessoais ao longo de sua carreira.
Assim, a remuneração bruta de João é de R$ 50 mil, mas ele só receberá, de fato, até o valor do teto,
devendo ser ressaltado que a quantia que superar o limite constitucional não lhe será paga. O valor que,
no momento do pagamento, é descontado da remuneração total do servidor por estar superando o teto
o stitu io alà à ha adoàdeà a ate-teto .
Mas agora eu não entendi.... Por que João queria pagar sobre o valor total? Isso não seria pior para ele?
NÃO. No caso concreto, não. A questão é matemática. Veja com calma porque, tirando Pontes de
Miranda, os operadores do Direito não são bons com números:
Desse modo, no caso concreto, para este servidor era melhor que ele pagasse o IR e a contribuição
previdenciária sobre o valor total de sua remuneração (e não sobre o valor depois de deduzido o abate-teto).
Foram muitas informações. Vou refazer a pergunta e respondê-la de forma objetiva no que interessa
para você e orizar: se o servidor te u a re u eração o papel superior ao teto, o i posto de
renda e a contribuição previdenciária incidirão sobre essa remuneração total ou sobre a remuneração
total menos o abate-teto? Em outras palavras, a remuneração de João é 50 mil; ocorre que o teto do
funcionalismo é 33 mil; João pagará IR e CP sobre 50 mil ou sobre 33 mil?
Sobre os 33 mil. A base de cálculo para se cobrar o Imposto de Renda e a contribuição previdenciária é o
valor da remuneração do servidor depois de ser excluída a quantia que exceder o teto.
Como o recurso extraordinário foi julgado sob a sistemática de repercussão geral, o STF definiu, em uma frase,
a tese que será aplicada em todos os demais casos id ti os.à áà teseà fi adaà foià aà segui te:à Subtraído o
montante que exceder o teto e subteto previsto no artigo 37, inciso XI, da Constituição Federal, tem-se o valor
que vale como base para o Imposto de Renda e para a contribuição p evide i ia .
SERVIDORES PÚBLICOS
Aposentadoria dos policiais civis e militares
O § 4º do art. 40, por sua vez, estabelece que é possível a previsão de requisitos de aposentadoria mais
facilitados para pessoas que exerçam atividades de risco (ex: policiais), desde que isso seja definido em lei
complementar. Veja:
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos
abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis
complementares, os casos de servidores:
(...)
II - que exerçam atividades de risco;
Logo, a tese do autor da ADI por omissão é a de que o Governador do Estado poderia propor e a ALE
aprovar um projeto de lei complementar prevendo menores requisitos para as policiais do sexo feminino
se aposentarem, nos termos do art. 40, § 4º, II, da CF/88.
A lei complementar de que trata o § 4º do art. 40 da CF/88 é uma lei complementar de cada ente (ex:
uma lei complementar para a União, para cada Estado e para cada Município)?
NÃO. O STF entende que a lei complementar de que trata o § 4º do art. 40 é uma lei complementar
nacional, ou seja, uma lei complementar editada pelo Congresso Nacional e que regule o tema de modo
uniforme, de caráter geral, a fim de evitar criação de regras distintas pelos Estados-Membros para
servidores em situações semelhantes.
Logo, não é correta a tese exposta na ação de que o Estado de São Paulo, ao não editar a lei, estaria sendo
omisso. Isso porque a responsabilidade pela edição da lei é do Presidente da República (iniciativa) e do
Congresso Nacional (aprovação).
Assim, a OAB deveria ter ajuizado a ação contra o Presidente da República e o Congresso Nacional (e não
contra a ALE e o Governador do Estado).
Esta LC 51/85 prevê um prazo menor para as policiais mulheres se aposentarem em relação aos policiais
homens? Existe algum critério diferenciado em favor das mulheres?
SIM. O art. 1º da LC 51/85 (com redação dada pela LC 144/2014) estabelece que a policial do sexo
feminino se aposenta com 5 anos a menos que o policial do sexo masculino.
No Estado de São Paulo existe alguma lei tratando sobre a aposentadoria dos policiais civis paulistas?
SIM. Existe a Lei complementar estadual 1.062/2008, que dispõe sobre requisitos e critérios diferenciados
para a concessão de aposentadoria voluntária aos policiais civis locais.
Vale ressaltar que essa lei paulista e a lei de todos os demais Estados e Municípios, quando regularem a
aposentadoria dos policiais civis, nos termos do art. 40, § 4º, II, da CF/88, deverão seguir as regras
previstas na Lei Complementar federal que trata sobre o tema.
Assim, se a lei federal sobre a matéria regulamenta o tempo de contribuição para efeito de aposentadoria
dos policiais de forma exaustiva, não pode a lei estadual dispor de modo diverso, sob pena de afrontar as
regras de repartição de competência firmadas pela Constituição.
Dessa feita, a Lei complementar 1.062/2008 do Estado de SP, por exemplo, não pode trazer regras
diferentes da LC federal 51/85.
Como a Lei complementar estadual 1.062/2008 não previa critérios mais favoráveis para as mulheres, o
STF entendeu que, nesta parte, ela está suspensa e deverão ser aplicados os requisitos diferenciados da LC
144/2014.
A aposentadoria dos policiais militares também se enquadra no art. 40, § 4º, II, da CF/88?
NÃO. O art. 40 trata sobre aposentadoria de servidores públicos e os policiais militares, atualmente, não
são mais o side adosà se vido esà pú li os . As emendas constitucionais 18/98 e 20/98 excluíram os
ilita esàdoà o eitoàdeà se vido esàpú li os .
Art. 42 (...)
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a ser
fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei
estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais
conferidas pelos respectivos governadores.
Desse modo, existem duas espécies de regimes previdenciários próprios: um para servidores civis e outro
para militares.
A CF/88 obriga que os Estados-membros concedam aposentadoria com requisitos facilitados para as
policiais militares do sexo feminino?
NÃO. Veja que no art. 142, § 3º, X, da CF/88 não existe determinação constitucional expressa obrigando
que os Estados-membros concedam aposentadoria com requisitos facilitados para as policiais militares do
sexo feminino. No art. 40 existe; no art. 142 da CF/88 não. Assim, a decisão de conceder aposentadoria
para mulheres policiais militares com tempo reduzido encontra-se no âmbito de discricionariedade da lei
estadual. Caso o Estado não preveja isso, não haverá ofensa à CF/88.
DIREITO ELEITORAL
CRIMES ELEITORAIS
Requisitos para a configuração do crime de desobediência eleitoral
Considerando o que foi narrado, o STF considerou que houve a prática de crime?
NÃO. Para a configuração do crime de desobediência eleitoral (art. 347 do Código Eleitoral), é necessário que:
a ordem descumprida tenha sido emitida de forma direta e individualizada; e
que o agente (réu) tinha ciência da ordem tida por descumprida.
O STF entendeu que a ordem supostamente descumprida na hipótese (não realização de carreatas ou
passeatas eleitorais em determinado local) não teria sido dirigida especificamente ao acusado, mas a
todos os candidatos, partidos, coligações e cidadãos, mediante encaminhamento de ofício-circular pelo
juiz eleitoral. Como visto acima, para a configuração do crime de desobediência eleitoral, seria necessário
que a ordem tida por descumprida tivesse sido direta e individualizada ao agente, o que não aconteceu,
tendo em conta o caráter geral e abstrato da referida orientação da Justiça Eleitoral.
Além disso, não havia nos autos elementos mínimos e suficientes a indicar que o acusado tinha ciência do
ofício-circular elaborado pelo juiz eleitoral e que o tenha descumprido deliberadamente. Assim, resta
ausente, no caso, o elemento subjetivo do tipo (o dolo).
MANDADO DE SEGURANÇA
Desistência de MS após já ter sido prolatada sentença de mérito
É possível que o impetrante desista do MS após já ter sido prolatada sentença de mérito?
Em regra, SIM. Existem julgados do STF e STJ admitindo (STF. RE 669367/RJ, Min. Rosa Weber,
julgado em 02/05/2013; STJ. 2ª Turma. REsp 1.405.532-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado
em 10/12/2013. Info 533).
O entendimento acima parecia consolidado. Ocorre que, em um caso concreto noticiado neste
Informativo, o STF afirmou que não é cabível a desistência de mandado de segurança, nas
hipóteses em que se discute a exigibilidade de concurso público para delegação de serventias
extrajudiciais, quando na espécie já houver sido proferida decisão de mérito, objeto de
sucessivos recursos. No caso concreto, o pedido de desistência do MS foi formulado após o
impetrante ter interposto vários recursos sucessivos (embargos de declaração e agravos
regimentais), todos eles julgados improvidos. Dessa forma, o Ministro Relator entendeu que
tudo levaria a crer que o objetivo do impetrante ao desistir seria o de evitar o fim da discussão
com a constituição de coisa julgada. Com isso, ele poderia propor uma ação ordinária em 1ª
instância e, assim, perpetuar a controvérsia, ganhando tempo antes do desfecho definitivo
contrário. Assim, com base nessas peculiaridades, a 2ª Turma do STF indeferiu o pedido de
desistência.
STF. 2ª Turma. MS 29093 ED-ED-AgR/DF, MS 29129 ED-ED-AgR/DF, MS 29189 ED-ED-AgR/DF, MS
29128 ED-ED-AgR/DF, MS 29130 ED-ED-AgR/DF, MS 29186 ED-ED-AgR/DF, MS 29101 ED-ED-
AgR/DF, MS 29146 ED-ED-AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 14/4/2015 (Info 781).
É possível que o impetrante desista do MS após já ter sido prolatada sentença de mérito?
Em regra, SIM. A 1ª Turma do STF possui julgado afirmando que a desistência do mandado de segurança é
uma prerrogativa de quem o propõe e pode ocorrer a qualquer tempo, sem anuência da parte contrária e
independentemente de já ter havido decisão de mérito, ainda que favorável ao autor da ação (RE
669367/RJ, Min. Rosa Weber, julgado em 02/05/2013).
O STJ também possui precedentes nesse sentido, ou seja, afirmando que o impetrante pode desistir de
mandado de segurança sem a anuência do impetrado mesmo após a prolação da sentença de mérito (STJ.
2ª Turma. REsp 1.405.532-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/12/2013. Info 533).
Intuito abusivo
O entendimento acima parecia consolidado. Ocorre que, em um caso concreto noticiado neste Informativo
781, o STF afirmou que não é cabível a desistência de mandado de segurança, nas hipóteses em que se
discute a exigibilidade de concurso público para delegação de serventias extrajudiciais, quando na espécie
já houver sido proferida decisão de mérito, objeto de sucessivos recursos.
No caso concreto, o pedido de desistência do MS foi formulado após o impetrante ter interposto vários
recursos sucessivos (embargos de declaração e agravos regimentais), todos eles julgados improvidos.
Dessa forma, o Ministro Relator entendeu que tudo levaria a crer que o objetivo do impetrante ao desistir
seria o de evitar o fim da discussão com a constituição de coisa julgada. Com isso, ele poderia propor uma
ação ordinária em 1ª instância e, assim, perpetuar a controvérsia, ganhando tempo antes do desfecho
definitivo contrário.
Assim, com base nessas peculiaridades, a 2ª Turma do STF indeferiu o pedido de desistência.
COMPETÊNCIA
Mesmo tendo cessada a competência do STF para julgar a ação penal, é possível a concessão de
habeas corpus de ofício em caso de flagrante atipicidade
Importante!!!
Determinado réu foi denunciado pela prática de crime contra a Lei de Licitações. Como ele era
Deputado Federal, seu processo estava tramitando no STF. Após toda a instrução, o Ministério
Público apresentou alegações finais, no final de 2014, pedindo a absolvição por atipicidade da
conduta. O STF designou a sessão para julgar o réu. Ocorre que essa sessão somente foi
marcada para abril de 2015 e o problema é que o referido réu não conseguiu se reeleger
Deputado Federal e deixou o cargo em 31/12/2014. Desse modo, no dia marcado para a sessão
de julgamento, o acusado já não era mais Deputado Federal.
Como o réu deixou de ser Deputado Federal, a solução tecnicamente mais correta a ser
tomada pelo STF seria reconhecer que não era mais competente para a ação penal e declinar o
processo para ser julgado por um juiz de direito de 1ª instância. A Corte adotou, no entanto,
uma postura mais moderna ou de vanguarda para o caso: o STF reconheceu que não era
mais competente para julgar a ação penal, mas considerou que a situação era de flagrante
Diante disso, indaga-se: o STF continua tendo competência para julgar a ação penal proposta contra NLN ?
NÃO. Em regra, se o parlamentar federal (Deputado ou Senador) está respondendo a uma ação penal no
STF e deixa o cargo (seja porque renunciou, seja porque terminou seu mandato), cessa (acaba) o foro por
prerrogativa de função e o processo deverá ser remetido para julgamento em 1ª instância.
O foro privativo é uma prerrogativa do cargo ocupado (e não da pessoa física). Assim, deixando de exercer
o cargo de Deputado Federal ou de Senador, em regra, não há mais motivo para que o ex Parlamentar
continue a ser julgado pelo STF.
áà issoà álexa d eà deà Mo aesà ha aà deà eg aà daà atualidade ,à ouà seja,à t ata do-se de crime comum
praticado por detentores de foro privativo no STF, a competência será desta Corte somente enquanto
durar o cargo ou mandato. Obs: no livro Principais Julgados de 2014 explico a existência de duas
exceções a essa regra.
Atenção
O julgamento acima não significa dizer que a regra mudou e que o réu que deixa de ser Deputado Federal
ou Senador continua sendo julgado pelo STF. Não. A regra não mudou. O que o STF fez, no caso concreto,
foi conceder um habeas corpus de ofício em favor do acusado.
13) (Juiz Federal TRF2) Às organizações sociais poderão ser destinados bens públicos, sendo dispensada
licitação, mediante permissão de uso, consoante cláusula expressa de contrato de gestão celebrado
com o poder público. ( )
14) Os salários pagos aos empregados das organizações sociais precisam ser fixados em lei, conforme exige
o art. 37, X, da CF/88. ( )
15) A OS não é obrigada a fazer concurso público para a contratação de seus empregados. ( )
16) A organização social, quando tiver recebido recursos públicos, é obrigada a fazer licitação, submete-se
ao dever de licitar. ( )
17) A regra segundo a qual as organizações sociais podem usar bens públicos mesmo sem licitação é
inconstitucional. ( )
18) A dispensa de licitação para que o Poder Público contrate organizações sociais é constitucional. ( )
19) Segundo o STF, os incentivos previstos na Lei 9.637/98 em favor das organizações sociais (recebimento
de recursos orçamentários, cessão de bens e servidores etc.) são constitucionais. ( )
20) Subtraído o montante que exceder o teto e subteto previsto no artigo 37, inciso XI, da Constituição
Federal, tem-se o valor que vale como base para o Imposto de Renda e para a contribuição
previdenciária. ( )
Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. E 5. E 6. E 7. E 8. E 9. C 10. C
11. E 12. Letra C 13. C 14. E 15. C 16. E 17. E 18. C 19. C 20. C
CLIPPING DO D JE
13 a 17 de abril de 2015
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
13 a 17 de abril de 2015
Lei nº 13.114, de 16.4.2015 - Dispõe sobre a obrigatoriedade de os serviços de registros civis de pessoas naturais
comunicarem à Receita Federal e à Secretaria de Segurança Pública os óbitos registrados, acrescentando parágrafo
o
único ao art. 80 da Lei n 6.015, de 31.12.1973. Publicada no DOU, em 17.4.2015, Seção 1, p. 1.
OUTRAS INFORMAÇÕES
13 a 17 de abril de 2015
Decreto nº 8.431, de 9.4.2015 - Promulga o Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a
República Popular da China, firmado em Brasília, em 12.12.2004. Publicado no DOU, em 10.4.2015, Seção 1, p. 4.
Processo excluído deste informativo por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: Inq 3305 AgR/RS.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: PSV 109/DF; Inq 3847 AgR/GO.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Impossibilidade de reabertura da discussão sobre a modulação se o Plenário já discutiu e rejeitou a proposta,
proclamando o resultado.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Súmula vinculante 46-STF: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas
de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União.
TRIBUNAL DE CONTAS
Anulação de acordo extrajudicial pelo TCU.
DIREITO ADMINISTRATIVO
LICITAÇÕES
É constitucional lei estadual que determina que a Administração Pública irá, preferencialmente, utilizar
soft ares li res.
CONCURSO PÚBLICO
Súmula vinculante 43-STF: É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se,
sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na
qual anteriormente investido.
É inconstitucional lei estadual que cria Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual.
Súmula vinculante 44-STF: Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público.
SERVIDORES PÚBLICOS
Inconstitucionalidade de subsídio vitalício a ex-governador.
DIREITO INTERNACIONAL
EXTRADIÇÃO
Não é possível conceder a extradição de estrangeiro se o crime está prescrito no Brasil
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Impossibilidade de reabertura da discussão sobre a modulação se o Plenário já discutiu e
rejeitou a proposta, proclamando o resultado
Importante!!!
O STF, ao apreciar uma ADI, julgou que determinada lei é inconstitucional. No dia que ocorreu
o julgamento, havia apenas 10 Ministros presentes. Na oportunidade, discutiu-se se deveria
haver ou não a modulação dos efeitos da decisão. 7 Ministros votaram a favor, mas como são
necessários, no mínimo, 8 votos, a proposta de modulação foi rejeitada e o resultado final do
julgamento foi proclamado. No dia seguinte, o Ministro que estava ausente compareceu à
sessão e afirmou que era favorável à modulação dos efeitos da decisão que declarou a lei
inconstitucional no dia anterior.
Diante disso, indaga-se: é possível que o Plenário reabra a discussão sobre a modulação?
NÃO. Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado concluído e
encerrado e, por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir novamente a
modulação dos efeitos da decisão proferida.
A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica:
a) primeiro, o Plenário decide se a lei é constitucional ou não; e
b) em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de modulação
dos efeitos.
Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votação sobre a
modulação (que não foi alcançada), não há como reabrir o caso, ficando preclusa a
possibilidade de reabertura para deliberação sobre a modulação dos efeitos.
STF. Plenário. ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
julgado em 8/4/2015 (Info 780).
Lei 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços
de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de
seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
Diante disso, indaga-se: é possível que o Plenário reabra a discussão sobre a modulação?
NÃO. Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado concluído e encerrado
e, por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir novamente a modulação dos efeitos da
decisão proferida.
Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votação sobre a modulação
(que não foi alcançada), não há como reabrir o caso, ficando preclusa a possibilidade de reabertura para
deliberação sobre a modulação dos efeitos.
Mas o a t. 61, § 1º, fala e leis e o ato i pug ado e a u a e e da co stitucio al...
O STF entende que, se houver uma emenda constitucional tratando sobre algum dos assuntos listados no
art. 61, § 1º, da CF/88, essa emenda deve ter sido proposta pelo chefe do Poder Executivo. Assim, é
incabível que os parlamentares proponham uma emenda constitucional dispondo sobre o regime jurídico
dosàse ido esàpú li os,àpo àexe ploà a t.à ,à§à º,à II,à .à“eàissoàfosseà pe itido,àse iaàu aàfo aàdeà
burlar a regra do art. 61, § 1º, da CF/88.
Em su a,à at iaà est itaà ài i iati aàdoàPode àExe uti oà ãoàpodeàse à eguladaàpo àe e daà o stitu io alàdeà
o ige àpa la e ta à “TF.àPle io.àáDIà . ,àRel.àMi .àJoa ui àBa osa,àjulgadoàe à / / .
Tudo bem. Entendi que a emenda proposta foi formalmente inconstitucional. Mas e sob o ponto de vista
material, seria possível que as autoridades indicadas pelo Governador do Estado fossem obrigadas a se
submeter à aprovação da ALE?
Quanto aos dirigentes de autarquias e fundações e quanto ao Defensor Público-Geral:
Se não fosse o vício formal, seria possível que a Constituição do Estado exigisse que tais nomes fossem
aprovados pela ALE. Isso porque a CF/88 permite que a legislação condicione a nomeação de
determinados titulares de cargos públicos à prévia aprovação do Senado Federal, a teor do art. 52, III.
Logo, em homenagem ao princípio da simetria, essa mesma previsão do art. 52 pode ser repetida na
Quanto ao Procurador-Geral do Estado: não. Mesmo que não houvesse inconstitucionalidade formal,
haveria material. Isso porque o STF possui entendimento pacífico no sentido de que o Advogado-Geral
é cargo de confiança do Presidente da República, sendo de livre nomeação pelo Chefe do Poder
Executivo, não precisando passar por sabatina no Senado.
Quanto aos dirigentes das empresas públicas e sociedades de economia mista: não. Mesmo que não
houvesse inconstitucionalidade formal, haveria material. Isso porque tais entidades se sujeitam ao regime
das empresas privadas e, portanto, não podem sofrer nenhuma ingerência por parte do Legislativo.
Inconstitucionalidade formal
Assim como já expliquei acima, essa previsão é formalmente inconstitucional porque trata sobre regime
jurídico de servidores públicos e foi acrescentada por emenda constitucional de iniciativa parlamentar.
Inconstitucionalidade material
A obrigação acima é também inconstitucional sob o ponto de vista material porque institui um modelo de
fiscalização exacerbado, exagerado, extremo. Desse modo, isso viola o princípio da separação de Poderes.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Súmula vinculante 46
CRIMES DE RESPONSABILIDADE
O que são crimes de responsabilidade?
Crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas praticadas por pessoas que ocupam
determinados cargos públicos.
Caso o agente seja condenado por crime de responsabilidade, ele não receberá sanções penais (prisão ou
multa), mas sim sanções político-administrativas (perda do cargo e inabilitação para o exercício de função
pública).
Os crimes de responsabilidade estão previstos:
Quanto ao Presidente da República: no art. 85 da CF/88 e Lei n. 1.079/50.
Quanto aos Governadores de Estado: na Lei n. 1.079/50.
Quanto aos Prefeitos: no DL 201/67.
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra:
(...)
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e
julgamento.
Repare que a dout i aà o eituaà osà i esà deà espo sa ilidadeà o oà se doà i f açõesà políti o-
ad i ist ati as .àNoàe ta to,àoà“TFàe te deà ue,àpa aàfi sàdeà o pet iaàlegislati a,àissoà à at iaà ueà
se insere no direito penal e processual, de forma que a competência é da União.
Dessa forma, a Constituição Estadual deve seguir rigorosamente os termos da legislação federal sobre
crimes de responsabilidade.
TRIBUNAL DE CONTAS
Anulação de acordo extrajudicial pelo TCU
O TCU tem legitimidade para anular acordo extrajudicial firmado entre particulares e a
Administração Pública, quando não homologado judicialmente.
Se o acordo foi homologado judicialmente, o TCU não pode anulá-lo porque a questão já
passou a ser de mérito da decisão judicial, o que não pode ser revisto pelo Tribunal de Contas.
Contudo, sendo o acordo apenas extrajudicial, a situação está apenas no âmbito
administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o ajuste celebrado.
STF. 1ª Turma. MS 24379/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).
O TCU poderia ter adotado tal providência? O TCU pode anular acordos extrajudiciais envolvendo a
Administração Pública federal?
SIM. O TCU tem legitimidade para anular acordo extrajudicial firmado entre particulares e a Administração
Pública, quando não homologado judicialmente.
Se o acordo tivesse sido homologado judicialmente, o TCU não poderia anulá-lo porque a questão já
passaria a ser de mérito da decisão judicial, o que não pode ser revisto pelo Tribunal de Contas.
No caso, contudo, como o acordo foi apenas extrajudicial, a situação estava apenas no âmbito
administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o ajuste celebrado.
DIREITO ADMINISTRATIVO
LICITAÇÕES
É constitucional lei estadual que determina que a Administração Pública
irá, preferencialmente, utilizar soft ares li res
O Governo do Rio Grande do Sul editou uma lei estadual determinando que a administração
pública do Estado, assim como os órgãos autônomos e empresas sob o controle do Estado
utilizarão preferencialmente em seus sistemas e equipamentos de informática programas
abertos, livres de restrições proprietárias quanto à sua cessão, alteração e distribuição
softwares livres .
Determinado partido político ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria
inconstitucionalidades materiais e formais.
O STF julgou improcedente a ADI e afirmou que a lei é constitucional.
A preferência pelo software livre, longe de afrontar os princípios constitucionais da
impessoalidade, da eficiência e da economicidade, promove e prestigia esses postulados, além
de viabilizar a autonomia tecnológica do País.
Não houve violação à competência da União para legislar sobre licitações e contratos porque a
competência da União para legislar sobre licitações e contratos fica restrita às normas gerais,
podendo os Estados complementar as normas gerais federais.
A referida lei também não viola o art. 61, )), b , da CF/88 porque a competência para legislar
sobre licitação não é de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo, podendo ser
apresentada por um parlamentar, como foi o caso dessa lei.
STF. Plenário. ADI 3059/RS, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado m
9/4/2015 (Info 780).
ADI
Determinado partido político ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria
inconstitucionalidades materiais e formais.
Segundo o autor, a lei violaria os princípios da impessoalidade, eficiência e economicidade. Além disso,
seria formalmente inconstitucional porque a competência para legislar sobre licitações e contratos seria
privativa da União (art. 22, XXVII, da CF/88) bem como pelo fato de o projeto que deu origem à lei ter sido
apresentado por um parlamentar (e não pelo Governador), o que afrontaria o art. 61, § 1º da CF/88.
O STF entendeu que a lei não afronta esse dispositivo porque, na verdade, a lei versa sobre licitação no
âmbito da Administração Pública estadual, e não sobre nenhuma das matérias previstas nesse art. 61, II,
,à daà CF/ . Ademais, a iniciativa legislativa prevista no aludido dispositivo constitucional teria sido
reservada ao Presidente da República apenas por se tratar de matéria adstrita aos Territórios.
CONCURSO PÚBLICO
Súmula vinculante 43
Provimento
Provimento é o ato pelo qual o cargo público é preenchido, com a designação de seu titular (Hely Lopes
Meirelles). Existem duas formas de provimento: originário e derivado.
Ascensão funcional
O que a SV 43 do STF proíbe é a chamada ascensão funcional (também conhecida como acesso ou
transposição).
A ascensão funcional é a progressão funcional do servidor público entre cargos de carreiras distintas.
Ocorre quando o servidor é promovido para um cargo melhor, sendo este, no entanto, integrante de uma
carreira diferente.
A ascensão funcional era extremamente comum antes da CF/88. Quando o servidor chegava ao último
nível de uma carreira, ele ascendia para o primeiro nível de carreira diversa (e superior) sem necessidade
de concurso público.
Ex.1: o indivíduo é servidor público e ocupa o cargo de técnico judiciário; a lei previa que, se ele chegasse à
última classe de técnico judiciário, poderia ser promovido à analista judiciário.
Ex.2: o agente de polícia de último nível tornava-se delegado de polícia de nível inicial.
Antes da CF/88, somente se exigia o concurso público para o ato da primeira investidura.
1) Provimento originário: ocorre quando o indivíduo passa a ocupar o cargo público sem que existisse
qualquer vínculo anterior com o Estado. Ex.: João prestou concurso público e foi aprovado para o cargo de
técnico judiciário do TRF, sendo nomeado. Trata-se de um provimento originário. Alguns anos depois, João
fez novo concurso público e foi aprovado, desta vez, para analista judiciário do TRF. Ao ser nomeado para
o cargo de analista, houve novo provimento originário, uma vez que seu vínculo não decorreu do anterior.
2) Provimento derivado: provimento derivado ocorre quando o indivíduo passa a ocupar determinado
cargo público em virtude do fato de ter um vínculo anterior com a Administração Pública. O
preenchimento do cargo decorre de vínculo anterior entre o servidor e o Poder Público.
A ascensão funcional, como vimos, é inconstitucional, sendo proibida pela SV 43-STF. Assim, atualmente, a
única hipótese permitida de provimento derivado vertical é a promoção.
2.2) Provimento derivado horizontal: ocorre quando o servidor muda para outro cargo com atribuições,
responsabilidades e remuneração semelhantes. É o caso da readaptação (art. 24 da Lei nº 8.112/90).
3) Provimento derivado por reingresso: ocorre quando o servidor havia se desligado do serviço público e
retorna em virtude do vínculo anterior. Exs.: reintegração, recondução, aproveitamento e reversão.
Desse modo, concluindo, a SV 43-STF não proíbe todas as formas de provimento derivado. Na verdade, ela
só veda uma espécie de provimento derivado vertical, que é a ascensão funcional.
O Estado de Goiás editou uma lei criando algo que ele chamou de Serviço de Interesse Militar
Voluntário Estadual (SIMVE). Esse SIMVE funcionaria, em linhas gerais, da seguinte forma: as
pessoas poderiam se alistar para trabalhar voluntariamente como soldado na Polícia Militar
ou no Corpo de Bombeiros Militar. Haveria uma espécie de seleção (menos rigorosa que um
concurso público) e, se a pessoa fosse escolhida, ela receberia, como contraprestação pelo
trabalho desempenhado, um subsídio e atuaria como se fosse um soldado. Esse contrato seria
por um prazo determinado.
O STF entendeu que esse SIMVE é formal e materialmente inconstitucional.
O SIMVE viola a regra do concurso público (art. 37, II, da CF/88).
Além disso, o STF afirmou ainda que a Lei estadual possui um vício formal, já que trata sobre
prestação voluntária de serviços na PM e Corpo de Bombeiros de forma diametralmente
oposta ao que diz a Lei federal 10.029/2000.
STF. Plenário. ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/3/2015 (Infos 880 e 881).
O PGR ajuizou ADI contra essa lei. O que o STF decidiu? A Lei do SIMVE é constitucional?
NÃO. O STF decidiu que a Lei que instituiu o SIMVE é formal e materialmente inconstitucional.
Inconstitucionalidade material
A Lei estadual n. 17.882/2012, a pretexto de ter fundamento de validade na Lei n. 4.735/64 (Lei do
Serviço Militar), instituiu uma classe de policiais temporários, cujos integrantes, após serem aprovados em
seleção e em curso de formação, passariam a ocupar cargo de natureza policial militar. Esses temporários
seriam remunerados por subsídio, sujeitos à legislação militar e às normas específicas da Polícia Militar e
do Corpo de Bombeiros Militar estaduais.
O objetivo do Governo foi o de cortar gastos relacionados com a segurança pública. No entanto, ao
possibilitar que voluntários tivessem função de policiamento preventivo e repressivo, além de terem o
di eitoà deà usa à osà u ifo es,à i síg iasà eà e le asà utilizadosà pelaà o po ação,à o à aà desig açãoà “V ,à
recebendo subsídio, a lei criou policiais temporários, disfarçados sob a classificação de voluntários, para a
execução de atividades militares, em detrimento da exigência constitucional de concurso público.
Ademais, a lei impugnada não se amolda à contratação temporária do art. 37, IX, da CF/88. Não estão
presentes os requisitos e limites para esse tipo de contratação.
Desse modo, o SIMVE viola frontalmente a regra do concurso público (art. 37, II, da CF/88).
A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar são instituições estaduais destinadas à função de
segurança pública e não seguem o mesmo regime constitucional alusivo às Forças Armadas. Essa diferença
diz respeito a inúmeros aspectos, dentre eles a forma de ingresso na carreira. Enquanto a admissão nas
Forças Armadas ocorre tanto pela via compulsória do recrutamento oficial quanto pela via voluntária de
ingresso nos cursos de formação, os servidores militares estaduais são submetidos, sempre
voluntariamente, a concurso público.
A Lei goiana possuía ainda outro vício: a lei do SIMVE permite a contratação de 2.400 policiais
temporários, mas existem cerca de 1.400 concursados aprovados regularmente no concurso da Polícia
Militar e que estão em cadastro reserva aguardando convocação.
Inconstitucionalidade formal
O STF afirmou ainda que a Lei possui um vício formal, já que viola o art. 24 da CF/88, ao usurpar a
competência da União para legislar sobre o tema. Isso porque a União já editou uma Lei prevendo a
prestação voluntária de serviços administrativos e de serviços auxiliares de saúde e de defesa civil nas
Polícias Militares e nos Corpos de Bombeiros Militares. Trata-se da Lei federal n. 10.029/2000.
A Lei estadual goiana, ao tratar sobre o mesmo tema (prestação de serviços voluntários) na PM e Corpo de
Bombeiros, violou o que diz a Lei n. 10.029/2000 ao dizer que os serviços voluntários podem ser
prestados não apenas para atividades administrativas ou serviços auxiliares, mas sim para a atividade-fim
(policiamento), o que não é possível.
CONCURSO PÚBLICO
Súmula vinculante 44
Súmula vinculante 44-STF: Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de
candidato a cargo público.
STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).
O mencionado art. 37, I afirma claramente que os requisitos de acesso a cargos, empregos e funções
sejam previstos em lei. Assim, as exigências contidas no edital do concurso público devem ter previsão na
lei. Em outras palavras, o edital não pode fixar exigências que não tenham amparo legal.
Assim, para que seja válido em concursos públicos, o exame psicotécnico deverá cumprir os seguintes
requisitos:
a) o exame precisa estar previsto em lei e no edital;
b) deverão ser adotados critérios objetivos no teste;
c) deverá haver a possibilidade de o candidato prejudicado apresentar recurso contra o resultado.
Nesse sentido: STF. Plenário. AI 758.533-QO-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 13/8/2010; STJ. 2ª
Turma. AgRg no REsp 1404261/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 11/02/2014.
Se o exame psicotécnico for anulado por falta de previsão legal, o que acontece?
O candidato reprovado neste teste deverá ser considerado aprovado.
Se o exame psicotécnico for anulado por ser subjetivo (faltar-lhe objetividade), o que acontece?
O candidato reprovado neste teste deverá ser submetido a novo exame, desta vez adotando-se critérios
objetivos (STJ AgRg no REsp 1437941/DF). Assim, uma vez anulado o exame psicotécnico por falta de
objetividade, o candidato beneficiado com a decisão não pode prosseguir na disputa sem se submeter a
novo exame, não sendo válida a nomeação e a posse efetuadas sob essa hipótese, sob pena de
malferimento aos princípios da isonomia e da legalidade (STJ AgRg no AgRg no AREsp 566.853/SP).
Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de
Governador do Estado fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns
chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil. A previsão
desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. Essa regra fere o princípio da isonomia. Não há uma justificativa razoável para que seja
prevista genericamente a concessão da pensão para ex-governadores, configurando um
tratamento privilegiado sem haver fundamento legítimo.
STF. Plenário. ADI 4552 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 9/4/2015 (Info 780).
Outros precedentes
O STF já havia se manifestado sobre o tema, conforme se pode inferir pela ementa a seguir:
(...) Segundo a nova redação acrescentada ao Ato das Disposições Constitucionais Gerais e Transitórias da
Constituição de Mato Grosso do Sul, introduzida pela Emenda Constitucional n. 35/2006, os ex-
Governadores sul-mato-grossenses que exerceram mandato integral, em 'caráter permanente',
receberiam subsídio mensal e vitalício, igual ao percebido pelo Governador do Estado. Previsão de que
esse benefício seria transferido ao cônjuge supérstite, reduzido à metade do valor devido ao titular.
2. No vigente ordenamento republicano e democrático brasileiro, os cargos políticos de chefia do Poder
Executivo não são exercidos nem ocupados 'em caráter permanente', por serem os mandatos temporários
e seus ocupantes, transitórios.
(...)
4. Afronta o equilíbrio federativo e os princípios da igualdade, da impessoalidade, da moralidade pública e
da responsabilidade dos gastos públicos (arts. 1º, 5º, caput, 25, § 1º, 37, caput e inc. XIII, 169, § 1º, inc. I e
II, e 195, § 5º, da Constituição da República). (...)
(STF. Plenário. ADI 3853, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 12/09/2007)
COMPETÊNCIA
Súmula vinculante 45
Quais são os crimes dolosos contra a vida (de competência do Tribunal do Júri)?
homicídio (art. 121 do CP);
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122 do CP);
infanticídio (art. 123 do CP);
aborto em suas três espécies (arts. 124, 125 e 126 do CP).
Desse modo, em regra, ocorrendo a prática de um desses crimes, o autor será julgado pelo Tribunal do Júri
(e não por um juízo singular).
Surge, por fim, uma dúvida: a Constituição Estadual pode estabelecer que determinadas autoridades
deverão ser julgadas pelo Tribunal de Justiça mesmo isso não estando previsto na CF/88? É possível foro
por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual?
SIM. A CF/88 autoriza que a competência dos Tribunais de Justiça seja definida na Constituição do Estado
(art. 125, § 1º). No entanto, essa liberdade de definição não é absoluta. Quando a Constituição Estadual
for definir quais são as autoridades que serão julgadas pelo TJ ela deverá respeitar o princípio da simetria
ou paralelismo com a CF/88. Explicando melhor: as autoridades estaduais que podem ter foro privativo
são aquelas que, se comparadas com as mesmas autoridades em nível federal, teriam direito de foro por
prerrogativa de função na CF/88.
Obs: existem ainda algumas polêmicas envolvendo o tema, mas, para fins de concurso, a resposta mais
adequada é o que foi explicado acima.
Desse modo, podemos concluir que existem hipóteses em que o foro por prerrogativa de função é
estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual. Exs: Vice-Governador, Secretários de Estado.
Quem julgará esse Secretário Estadual pelo homicídio por ele praticado?
Temos aqui um impasse: a CF/88 determina que esse réu seja julgado pelo Tribunal do Júri e a
Constituição Estadual preconiza que o foro competente é o Tribunal de Justiça.
Vale ressaltar que esta diferença entre crimes dolosos contra a vida e demais delitos somente se aplica
para os casos em que o foro por prerrogativa de função for previsto apenas na Constituição Estadual.
Se o foro por prerrogativa de função for previsto na Constituição Federal, a pessoa será julgada no foro
privativo mesmo que o crime seja doloso contra a vida. Vamos a mais um exemplo:
Por quê?
Porque o foro por prerrogativa de função dos prefeitos é previsto na própria Constituição Federal (art. 29, X).
Logo, temos a previsão da CF/88 dizendo que as pessoas que cometem crimes dolosos contra a vida serão
julgadas pelo Tribunal do Júri (art. 5º, XXXVIII, d). E temos a previsão, também da CF/88, dizendo que os
Prefeitos serão julgados pelo Tribunal de Justiça (art. 29, X). As duas normas são de mesma hierarquia (as
duas são da CF/88).
Vale ressaltar, no entanto, que o Prefeito será julgado pelo TJ se o crime for de competência da Justiça
Estadual. Se for da competência da Justiça Federal, será julgado pelo TRF e se for da Justiça Eleitoral, pelo
TRE. Este é o entendimento sumulado do STF. Confira:
Súmula 702-STF: A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de
competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo
tribunal de segundo grau.
PROGRESSÃO DE REGIME
Novo requisito para progressão de regime: pagamento integral da pena de multa
Importante!!!
Não tem nos livros!!!
O não pagamento voluntário da pena de multa impede a progressão no regime prisional?
SIM. O Plenário do STF decidiu o seguinte:
• Regra: o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao
sentenciado impede a progressão no regime prisional.
• Exceção: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se ficar
comprovada a absoluta impossibilidade econômica do apenado em quitar a multa, ainda que
parceladamente.
STF. Plenário. EP 12 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/4/2015 (Info 780).
Progressão de regime
No Brasil, adota-se o sistema progressivo (ou inglês), ainda que de maneira não pura.
Assim, de acordo com o CP e com a LEP, as penas privativas de liberdade deverão ser executadas
(cumpridas) em forma progressiva, com a transferência do apenado de regime mais gravoso para menos
gravoso tão logo ele preencha os requisitos legais.
CONSTITUCIONALIDADE DO § 4º DO ART. 33 DO CP
A defesa de u dos co de ados o Me salão alegou ue esse e uisito exigido pelo § º do a t. do
CP se ia i co stitucio al po ep ese ta u a espécie de p isão po dívida . O “TF co co dou co o
argumento? Esse dispositivo viola a CF/88?
NÃO. O § 4º do art. 33 do CP é CONSTITUCIONAL.
Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo sem previsão expressa, deve ser permitido que o condenado
faça o parcelamento do valor da dívida.
STF. Plenário. EP 22 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
Após cumprir 1/6 da pena (requisito objetivo) e tendo bom comportamento carcerário (requisito
subjetivo), João pediu a progressão do regime semiaberto para o aberto.
Depois de toda a tramitação, com a oitiva do MP, o juiz indeferiu o pedido porque o sentenciado, embora
devidamente notificado, não efetuou o pagamento da pena de multa imposta na sentença.
A defesa recorreu afirmando que o prévio pagamento da pena de multa não é requisito legal para a
progressão de regime, tendo em vista que não há prisão por dívida (art. 5º, LXVII) e que o art. 51 do CP
proíbe a conversão da multa em prisão.
Diante disso, indaga-se: a decisão do juiz foi correta? O não pagamento voluntário da pena de multa
impede a progressão no regime prisional?
SIM. O Plenário do STF decidiu o seguinte:
Regra: o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao sentenciado
impede a progressão no regime prisional.
Exceção: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se ficar comprovada a
absoluta impossibilidade econômica do apenado em quitar a multa, ainda que parceladamente.
O condenado tem o dever jurídico (e não a faculdade) de pagar integralmente o valor da multa. Pensar de
modo diferente seria o mesmo que ignorar que esta espécie de pena é prevista, expressamente, de forma
autônoma, oàa t.à º,ài isoàXLVI,àalí eaà àdaàCF/ .àO não recolhimento da multa por condenado que
tenha condições econômicas de pagá-la constitui deliberado descumprimento de decisão judicial e deve
impedir a progressão de regime. Além disso, admitir-se o não pagamento da multa configuraria
tratamento privilegiado em relação ao sentenciado que espontaneamente paga a sanção pecuniária.
No caso concreto, a defesa não comprovou a impossibilidade do sentenciado de cumprir a pena de multa,
de forma que é incabível aplicar a ele a exceção.
O pagamento da multa está previsto no art. 112 da LEP como sendo um requisito para a progressão?
NÃO. O pagamento da multa não está previsto expressamente no art. 112 como um dos requisitos
necessários para a progressão de regime. Apesar disso, o STF entendeu que esse pagamento poderá ser
exigido porque a análise dos requisitos necessários para a progressão de regime não se restringe ao
referido art. 112 da LEP. Em outras palavras, outros elementos podem, e devem, ser considerados pelo
julgador na decisão quanto à progressão.
Assim, para o STF, o julgador, atento às finalidades da pena e de modo fundamentado, está autorizado a
lançar mão de outros requisitos, não necessariamente enunciados no art. 112 da LEP, mas extraídos do
ordenamento jurídico, para avaliar a possibilidade de progressão no regime prisional, tendo como
objetivo, sobretudo, o exame do merecimento do sentenciado.
Essa decisão não viola o art. 51 do CP, que proíbe a conversão da pena de multa em prisão?
NÃO. O art. 51 do Código Penal previa que se o condenado, deliberadamente, deixasse de pagar a pena de
multa, ela deveria ser convertida em pena de detenção. Essa regra foi alterada pela Lei n. 9.268/96 e,
atualmente, se a multa não for paga, ela será considerada dívida de valor e deverá ser cobrada do
condenado pela Fazenda Pública por meio de execução fiscal.
Importante, no entanto, esclarecer que, mesmo com essa mudança feita pela Lei n. 9.268/96, a multa
continua tendo caráter de sanção criminal, ou seja, permanece sendo uma pena.
Esse entendimento não viola a regra constitucional segundo a qual não existe prisão civil por dívida?
NÃO. Não se está prendendo alguém por causa da dívida, mas apenas impedindo que ela tenha direito à
progressão de regime em virtude do descumprimento de um dever imposto ao condenado. O benefício da
p og essãoàexigeàdoàse te iadoà autodis ipli aàeàse soàdeà espo sa ilidade à a t.à ,àIIàdaàLEP ,àoà ueà
pressupõe o cumprimento das decisões judiciais que a ele são aplicadas.
EXTRADIÇÃO
Não é possível conceder a extradição de estrangeiro se o crime está prescrito no Brasil
O Governo da Itália pediu a extradição de nacional italiano que está no Brasil em virtude de ele
ter sido condenado por crimes de falência fraudulenta naquele país.
O STF negou o pedido já que houve a prescrição da pretensão executória da pena do referido
delito segundo a lei brasileira.
Em outras palavras, estando o crime prescrito, não é possível conceder a extradição por faltar
o requisito da dupla punibilidade (art. 77, VI, do Estatuto do Estrangeiro).
STF. 2ª Turma. Ext 1324/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) (Juiz TJ/CE 2012 CESPE) A definição de condutas típicas configuradoras da prática de crime de
responsabilidade por parte de agentes estaduais e municipais está inserida no âmbito da competência
legislativa do estado-membro e do município, respectivamente. ( )
2) (Juiz TJ/DF 2014 CESPE) Será constitucional lei distrital que defina as condutas típicas configuradoras de
crimes de responsabilidade dos agentes políticos distritais e que discipline o correspondente processo. ( )
3) (DPE/TO 2013 CESPE) É constitucional norma inserida na constituição estadual que repute crime de
responsabilidade a ausência injustificada de secretário do estado à convocação da assembleia
legislativa para prestar esclarecimentos. ( )
Gabarito
1. E 2. E 3. E
OUTRAS INFORMAÇÕES
CLIPPING DO D JE
6 a 10 de abril de 2015
HC N.120.678-PR
RED/ O ACÓRDÃO: MIN. MARCO AURÉLIO
EMENTA: CRIME – HOMICÍDIO E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO – EXCLUDENTE DE ILICITUDE – LEGÍTIMA DEFESA –
EXTENSÃO – IMPROPRIEDADE. Não se comunica a excludente de ilicitude que é a legítima defesa, relativa ao homicídio, ao crime autônomo de
porte ilegal de arma.
*noticiado no Informativo 775
HC N. 119.934-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Habeas corpus. Processual Penal. Prisão em flagrante. Crimes de tráfico de drogas. Artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06.
Liberdade provisória. Possibilidade. Inconstitucionalidade incidenter tantum do art. 44, caput, da Lei nº 11.343/06 reconhecida. Precedente da
Corte. Necessidade de comprovação da presença dos requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal. Inidoneidade dos
fundamentos justificadores da custódia no caso concreto. Superação do enunciado da Súmula nº 691 do Supremo Tribunal. Ordem
concedida.
1. Em princípio, se o caso não é de flagrante constrangimento ilegal, segundo o enunciado da Súmula nº 691, não compete ao Supremo Tribunal
Federal conhecer de habeas corpus contra decisão de relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere liminar.
2. Entretanto, o caso evidencia situação de flagrante ilegalidade, apta a ensejar o afastamento, excepcional, do referido óbice processual.
3. Diante do que foi decidido pelo Plenário da Corte no HC nº 104.339/SP, Relator o Ministro Gilmar Mendes, está reconhecida a
inconstitucionalidade incidenter tantum do art. 44, caput, da Lei nº 11.343/06, o qual vedava a possibilidade de concessão de liberdade provisória
nos casos de prisão em flagrante pelo delito de tráfico de entorpecentes, sendo necessário, portanto, averiguar se o ato prisional apresenta, de modo
fundamentado, os pressupostos autorizadores da constrição cautelar, nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal.
4. Na hipótese em análise, ao determinar a custódia do paciente, o Tribunal estadual não indicou elementos concretos e individualizados que
comprovassem a necessidade da sua decretação, conforme a lei processual de regência, calcando-a em considerações a respeito da gravidade em
abstrato do delito, que, segundo a jurisprudência da Corte, não a justificam.
5. Ordem concedida.
*noticiado no Informativo 773
RHC N. 118.006-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Recurso ordinário em habeas corpus. Processual Penal. Júri. Homicídio qualificado. Artigo 121, § 2º, II, c/c o art. 29, do Código
Penal. Leitura pelo Ministério Público, nos debates, de sentença condenatória de corréu proferida em julgamento anterior. Alegação de sua
RHC N. 119.149-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Recurso ordinário em habeas corpus. Impetração da qual não conheceu o Superior Tribunal de Justiça, por ser ela substitutiva de
recurso especial. Entendimento que não se coaduna com o entendimento da Corte. Precedentes. Alegação de ofensa à vedação da reformatio
in pejus e ao princípio da individualização da pena. Não ocorrência. Recurso não provido.
1. A Corte não tem admitido a rejeição da impetração perante o Superior Tribunal de Justiça a pretexto de se cuidar de substitutivo de recurso
especial cabível (HC nº 115.715/CE, Primeira Turma, Rel. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/6/13).
2. Não há que se cogitar da reformatio in pejus, pois o Tribunal de Justiça gaúcho, ao negar provimento ao recurso criminal defensivo,
não reconheceu, em desfavor do recorrente, circunstância fática não reconhecida em primeiro grau, apenas fazendo sua reclassificação dentre os
vetores previstos no art. 59 do Código Penal.
3. Recurso não provido.
*noticiado no Informativo 774
ADI N. 4.639-GO
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO E CONSTITUCIONAL. LEI 15.150/05, DO ESTADO DE GOIÁS. CRIAÇÃO DE REGIME DE PREVIDÊNCIA
ALTERNATIVO EM BENEFÍCIO DE CATEGORIAS DE AGENTES PÚBLICOS NÃO REMUNERADOS PELOS COFRES PÚBLICOS.
INADMISSIBILIDADE. CONTRASTE COM OS MODELOS DE PREVIDÊNCIA PREVISTOS NOS ARTS. 40 (RPPS) E 201 (RGPS) DA CF.
1. A Lei estadual 15.150/05 estabeleceu regime previdenciário específico para três classes de agentes colaboradores do Estado de Goiás, a saber: (a)
os delegatários de serviço notarial e registral, que tiveram seus direitos assegurados pelo art. 51 da Lei federal 8.935, de 18 de novembro de 1994; (b)
os serventuários do foro judicial, admitidos antes da vigência da Lei federal 8.935, de 18 de novembro de 1994; e (c) os antigos segurados facultativos
com contribuição em dobro, filiados ao regime próprio de previdência estadual antes da publicação da Lei 12.964, de 19 de novembro de 1996.
2. No julgamento da ADI 3106, Rel. Min. Eros Grau, DJe de 29/9/10, o Plenário invalidou norma que autorizava Estado-membro a criar sistema
previdenciário especial para amparar agentes públicos não efetivos, por entender que, além de atentatória ao conteúdo do art. 40, § 13, da Constituição
Federal, tal medida estaria além da competência legislativa garantida ao ente federativo pelo art. 24, XII, do texto constitucional.
3. Presente situação análoga, é irrecusável a conclusão de que, ao criar, no Estado de Goiás, um modelo de previdência extravagante – destinado a
beneficiar agentes não remunerados pelos cofres públicos, cujo formato não é compatível com os fundamentos constitucionais do RPPS (art. 40), do
RGPS (art. 201) e nem mesmo da previdência complementar (art. 202) – o poder legislativo local desviou-se do desenho institucional que deveria
observar e, além disso, incorreu em episódio de usurpação de competência, atuando para além do que lhe cabia nos termos do art. 24, XII, da CF, o
que resulta na invalidade de todo o conteúdo da Lei 15.150/05.
4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, com modulação de efeitos, para declarar a inconstitucionalidade integral da Lei
15.150/2005, do Estado de Goiás, ressalvados os direitos dos agentes que, até a data da publicação da ata deste julgamento, já houvessem reunido os
requisitos necessários para obter os correspondentes benefícios de aposentadoria ou pensão.
HC N. 119.984-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMENTA: PRISÃO PREVENTIVA – CRIME HEDIONDO – AFASTAMENTO. Se a própria lei prevê que, em caso de sentença condenatória, o
juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade, forçoso é concluir que o enquadramento do crime como hediondo não revela,
por si só, base para a prisão.
PRISÃO PREVENTIVA – GRAVIDADE DA IMPUTAÇÃO. A gravidade da imputação, presente o princípio da não culpabilidade, não é capaz de
levar à prisão preventiva.
PRISÃO PREVENTIVA – DISTRITO DA CULPA – ABANDONO. A interpretação sistemática do Código de Processo Penal conduz a afastar-se,
como móvel para a preventiva, o fato de o acusado haver deixado o distrito da culpa.
PRISÃO PREVENTIVA – INSTRUÇÃO CRIMINAL – TESTEMUNHAS – INFLUÊNCIA. Mostra-se extravagante presumir que, solto, o acusado
poderá influenciar testemunhas, exigindo-se, para chegar-se à custódia preventiva, ato concreto sob tal ângulo.
PRISÃO PREVENTIVA – TRIBUNAL DO JÚRI - PRESENÇA – Descabe prisão preventiva para assegurar a presença do acusado no Tribunal do
Júri.
ADI N. 4.641-SC
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO E CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL QUE INCLUIU NO REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA
SEGURADOS QUE NÃO SÃO SERVIDORES DE CARGOS EFETIVOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ART. 40 DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. NECESSÁRIA VINCULAÇÃO AO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL.
1. O art. 40 da Constituição de 1988, na redação hoje vigente após as Emendas Constitucionais 20/98 e 41/03, enquadra como segurados dos Regimes
Próprios de Previdência Social apenas os servidores titulares de cargo efetivo na União, Estado, Distrito Federal ou Municípios, ou em suas
respectivas autarquias e fundações públicas, qualidade que não aproveita aos titulares de serventias extrajudiciais.
2. O art. 95 da Lei Complementar 412/2008, do Estado de Santa Catarina, é materialmente inconstitucional, por incluir como segurados obrigatórios
de seu RPPS os cartorários extrajudiciais (notários, registradores, oficiais maiores e escreventes juramentados) admitidos antes da vigência da Lei
federal 8.935/94 que, até 15/12/98 (data da promulgação da EC 20/98), não satisfaziam os pressupostos para obter benefícios previdenciários.
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Separação entre os Poderes: jurisdição constitucional e devido processo constitucional legislativo (Transcrições)
MS 33.351/DF*
RELATOR: Ministro Luiz Fux
MANDADO DE SEGURANÇA. PRESIDENTE DA REPÚBLICA. RELATÓRIO BIMESTRAL SOBRE EXECUÇÃO
ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA. EXAME DE SUA COMPATIBILIDADE COM A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E DE
LEGALIDADE. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DE PARLAMENTAR. SEPARAÇÃO ENTRE OS PODERES E
PREVISÃO CONSTITUCIONAL PARA SUAS ATUAÇÕES. DEFERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO À DELIBERAÇÃO DA
MAIORIA PARLAMENTAR. MANDADO DE SEGURANÇA A QUE SE NEGA SEGUIMENTO.
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado por **, **, **, ** e **, Deputados Federais, contra ato da Presidente
da República.
Argumentam que esta Corte reconheceu a legitimidade do parlamentar para impetrar mandado de segurança contra ato da Mesa do Congresso
Nacional que viole o devido processo constitucional legislativo.
Narram os impetrantes que a autoridade coatora encaminhou ao Congresso Nacional o “Relatório de Avaliação das Receitas e Despesas,
referente ao quinto bimestre de 2014, destinada à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional, o qual foi
elaborado em flagrante violação ao direito em vigor à época do exercício orçamentário a que se refere e da feitura do instrumento”.
Sustentam que a mensagem seria nula, pois foi elaborada sem observar o art. 3º da Lei de Diretrizes Orçamentárias (Lei nº 12.919/2013), que
estabelece:
“Art. 3º A meta de superávit a que se refere o art. 2º pode ser reduzida em até R$ 67.000.000.000,00 (sessenta e sete bilhões de reais),
relativos ao Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, cujas programações serão identificadas no Projeto e na Lei Orçamentária de
2014 com identificador de Resultado Primário previsto na alínea “c” do inciso II do § 4º do art. 7º desta Lei, e a desonerações de tributos.”
Informam que na Exposição de Motivos Interministerial “EMI nº 00218/2014 MP MF”, subscrita pela Ministra do Planejamento e anexada à
Mensagem nº 398/2014, por intermédio da qual foi encaminhado o citado relatório, consta a seguinte informação:
“12. Nesse contexto, o Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional, por intermédio da Mensagem nº 365, de 10 de novembro de
2014, Projeto de Lei que altera a LDO-2014 (PLN nº 36/2014) no sentido de ampliar a possibilidade de redução da meta de resultado
primário no montante dos gastos relativos às desonerações de tributos e ao PAC. Ou seja, em caso de aprovação do referido projeto, o valor
que for apurado, ao final do exercício, relativo a desonerações e as despesas com o PAC, poderá ser utilizado para abatimento da meta fiscal.
O presente relatório já considera o projeto de lei em questão, indicando aumento de R$ 70,7 bilhões na projeção do abatimento da meta
fiscal. Isso posto, o abatimento previsto, neste Relatório, é de R$ 106,0 bilhões, o que é compatível com a obtenção de um resultado primário
de R$ 10,1 bilhões.”
Argumentam que estaria sendo violado o direito de fiscalização do Poder Executivo pelo Congresso Nacional, prerrogativa veiculada nos arts.
34, VII, “d”, 49, IX, e 70 da Constituição da República. Ressaltam que esse direito estaria incluído no estatuto constitucional da minoria parlamentar.
Pugnam pela declaração de nulidade da Mensagem nº 398/2014 da Presidente da República, bem como pela determinação para que seja
enviada nova mensagem de acordo com a legislação vigente à época do exercício bimestral a que se refere.
Requerem o deferimento de medida liminar para que seja suspensa “a tramitação do PLN nº 36, de 2014 até que a decisão de mérito tenha
sido cumprida pela Presidente da República, nos termos do art. 7º, III, da Lei 12.016, de 2009”.
É o relatório. Decido.
Preliminarmente, examino a legitimidade ativa ad causam dos impetrantes para deduzir a pretensão veiculada nesta ação mandamental.
Na esteira da remansosa jurisprudência desta Corte, os parlamentares possuem direito público subjetivo ao devido processo legislativo. Nesse
sentido, MS 20.257, Rel. Min. Moreira Alves, Tribunal Pleno, DJ 27/2/1981; MS 21.642, Rel. Min. Celso de Mello, RDA 191/200; MS 21.303, Rel.
Min. Octavio Galloti; MS 24.356, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ 12/9/2003; e MS 24.642, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno,
DJ 18/6/2004.
É cediço que “o parlamentar, fundado na sua condição de co-partícipe do procedimento de formação das normas estatais, dispõe, por tal
razão, da prerrogativa irrecusável de impugnar, em juízo, o eventual descumprimento, pela Casa legislativa, das cláusulas constitucionais que lhe
condicionam, no domínio material ou no plano formal, a atividade de positivação dos atos normativos” (MS nº 23.565, rel. Min. Celso de Mello, j.
10/11/1999, DJ 17.11.1999).
OUTRAS INFORMAÇÕES
6 a 10 de abril de 2015
Medida Provisória nº 673, de 31.3.2015 - Altera a Lei nº 9.503, de 23.9.1997 - Código de Trânsito Brasileiro, e
dá outras providências. Publicada no DOU em 1º.4.2015, Seção 1, p. 1.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista ou
adiamento: ADI 3239/DF; ADI 5163/GO; ACO 478/TO; ADI 4876 ED/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
TRIBUNAL DE CONTAS
Medida cautelar de indisponibilidade de bens.
DIREITO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
Observância do devido processo legal, contraditório e ampla defesa antes da inclusão de entes federativos nos
cadastros federais de inadimplência.
CONCURSO PÚBLICO
Constitucionalidade do art. 19-A da Lei 8.036/90.
TRIBUNAL DE CONTAS
Medida cautelar de indisponibilidade de bens
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
Observância do devido processo legal, contraditório e ampla defesa antes da inclusão de entes
federativos nos cadastros federais de inadimplência
Toda ação envolvendo União e Estados em polos distintos será julgada originariamente pelo STF com
base no art. , I, f , da CF/88?
NÃO.
Dife e ça e t e o flito e t e e tes fede ados e o flito fede ativo: e ua to o primeiro, pelo prisma
subjetivo, observa-se a litigância judicial promovida pelos membros da Federação, no segundo, para além
da participação desses na lide, a conflituosidade da causa importa em potencial desestabilização do
próprio pacto federativo. Há, portanto, distinção de magnitude nas hipóteses aventadas, sendo que o
legislador constitucional restringiu a atuação da Corte à última delas, nos moldes fixados no Texto Magno,
e não incluiu os litígios e as causas envolvendo Municípios como ensejadores de conflito federativo apto a
exigi a o pet ia o igi á ia da Co te. STF. Plenário. ACO 1.295-AgR-segundo, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 14/10/2010).
No caso concreto, o STF entendeu que ele era competente para a ação. Isso porque, além da presença, em
polos distintos, de Estado-membro e União, estava em jogo a inscrição do ente local em cadastro federal
de inadimplência, o que impedia que ele contratasse operações de crédito, celebrasse convênios e
recebesse transferências de recursos. Essa situação revela possível abalo ao pacto federativo já que está
mitigando (enfraquecendo) a autonomia do Estado-membro, a ensejar a incidência do art. 102, I, f , da
CF/88.
Por que a ação foi proposta pelo Estado contra a União? Não deveria ser ajuizada contra o FNDE
(autarquia federal)?
O STF entendeu que a ação deveria ser proposta contra a União mesmo. Isso porque embora o FNDE
possua personalidade jurídica própria, cabe à União, na qualidade de gestora, fazer a inscrição no CAUC e
no SIAFI. Logo, antes de fazer essa inscrição ela deve garantir a ampla defesa ao ente, sendo também ela a
competente para retirar do cadastro.
E o que o STF decidiu quanto ao mérito? A Corte concordou com os argumentos do Estado-membro?
SIM. O STF entendeu configurada ofensa ao devido processo legal. Para a Corte, ficou demonstrada a
ocorrência de incêndio que destruiu a documentação relacionada com a execução dos recursos advindos
CONCURSO PÚBLICO
Constitucionalidade do art. 19-A da Lei 8.036/90
Caso uma pessoa assuma cargo ou emprego público sem concurso público (fora das hipóteses permitidas
pela Constituição), qual será a consequência?
O § 2º do art. 37 determina que:
o ato de investidura seja declarado nulo; e
a autoridade responsável pelo ato seja punida, nos termos da lei (ex.: improbidade).
Verba Fundamento
1) O saldo de salário pelo número de horas Princípio que veda o enriquecimento sem causa do
trabalhadas. Poder Público. Como ele trabalhou, tem direito de
ser ressarcido por isso.
2) Os valores referentes aos depósitos do FGTS. Art. 19-A da Lei nº 8.036/90.
Obs.: João não terá direito a receber as demais verbas trabalhistas como 13º salário, férias acrescidas de
1/3, FGTS acrescido de 40%, adicionais legais etc.
Em suma:
É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia aprovação em
concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação aos empregados
eventualmente contratados, ressalvados os direitos à percepção dos salários referentes ao período
trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei n. 8.036/90, ao levantamento dos depósitos efetuados no
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço — FGTS.
O art. 19-A da Lei n. 8.036/90 é CONSTITUCIONAL.
Imagine que determinado adolescente cumpre medida socioeducativa de internação. Após seis
meses de cumprimento, o parecer psicossocial apresentado pela equipe técnica manifesta-se
favoravelmente à progressão para o regime de semiliberdade. O juiz pode decidir de forma
contrária ao parecer e manter a internação?
SIM. O parecer psicossocial não possui caráter vinculante e representa apenas um elemento
informativo para auxiliar o magistrado na avaliação da medida socioeducativa mais adequada
a ser aplicada. A partir dos fatos contidos nos autos, o juiz pode decidir contrariamente ao
laudo com base no princípio do livre convencimento motivado.
STF. 1ª Turma. RHC 126205/PE, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 24/3/2015 (Info 779).
Desse modo, quando estava prestes a completar o prazo de 6 meses, a defesa formulou pedido de
progressão do adolescente para liberdade assistida.
O juiz solicitou, então, que a equipe multidisciplinar que atua no centro de internação (composta por
psicólogas e assistentes sociais) emitisse um relatório da situação do adolescente.
O parecer psicossocial foi favorável ao adolescente e recomendou que ele saísse da internação e passasse
para o regime da semiliberdade (art. 120 do ECA).
Decisão e HC
O juiz, contudo, discordou do parecer e determinou que o adolescente continuasse cumprindo a
internação. Em sua decisão o magistrado utilizou como argumentos o fato de que, no histórico do
adolescente, existe registro de fuga além de ele já ter reiteradamente praticado atos infracionais graves e
com violência à pessoa.
A defesa impetrou habeas corpus contra a decisão do magistrado alegando que o juiz não poderia ter
decidido de forma contrária ao parecer psicossocial da equipe multidisciplinar, que foi favorável à
progressão para liberdade assistida.
A decisão do magistrado foi correta? O juiz poderia ter decidido de forma contrária ao parecer?
SIM. O parecer psicossocial não possui caráter vinculante e representa apenas um elemento informativo
para auxiliar o magistrado na avaliação da medida socioeducativa mais adequada a ser aplicada.
A partir dos fatos contidos nos autos, o juiz pode decidir contrariamente ao laudo com base no princípio
do livre convencimento motivado.
PRECATÓRIOS
Modulação dos efeitos da ADI que julgou inconstitucional
o novo regime de precatórios estabelecido pela EC 62/2009
Importante!!!
A EC 62/2009 alterou o art. 100 da CF/88 e o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT) da CF/88 prevendo inúmeras mudanças no regime dos precatórios. Tais
alterações foram impugnadas por meio de ações diretas de inconstitucionalidade que foram
julgadas parcialmente procedentes. No entanto, o STF decidiu modular os efeitos da decisão,
ou seja, alguns dispositivos, apesar de terem sido declarados inconstitucionais, ainda irão
vigorar por mais algum tempo. Veja o resumo do que foi decidido quanto à modulação:
1. O § 15 do art. 100 da CF/88 e o art. 97 do ADCT (que tratam sobre o regime especial de
pagamento de precatórios) ainda irão valer (poderão ser aplicados) por mais cinco anos
(cinco exercícios financeiros) a contar de 01/01/2016. Em outras palavras, tais regras serão
válidas até 2020.
2. §§ 9º e 10 do art. 100 da CF/88 (previam a possibilidade de compensação obrigatória das
dívidas que a pessoa tinha com a Fazenda Pública com os créditos que tinha para receber com
precatório): o STF afirmou que são válidas as compensações obrigatórias que foram feitas até
25/03/2015 (dia em que ocorreu a modulação). A partir desta data, não será possível mais a
realização de compensações obrigatórias, mas é possível que sejam feitos acordos entre a
Fazenda e o credor do precatório e que também possua dívidas com o Poder Público para
compensações voluntárias.
3. Leilões para desconto de precatório: o regime especial instituído pela EC 62/2009 previa
uma série de vantagens aos Estados e Municípios, sendo permitido que tais entes realizassem
uma espécie de leilão de precatórios no qual os credores de precatórios competem entre si
oferecendo deságios descontos em relação aos valores que têm para receber. Aqueles que
oferecem maiores descontos irão receber antes do que os demais. Esse sistema de leilões foi
declarado inconstitucional, mas o STF afirmou que os leilões realizados até 25/03/2015 (dia
em que ocorreu a modulação) são válidos (não podem ser anulados mesmo sendo
inconstitucionais). A partir desta data, não será possível mais a realização de tais leilões.
4. Vinculação de percentuais mínimos da receita corrente líquida ao pagamento dos
precatórios e sanções para o caso de não liberação tempestiva dos recursos destinados ao
pagamento de precatórios: as regras que tratam sobre o tema, previstas nos §§ 2º e 10 do art.
97 do ADCT da CF/88 continuam válidos e poderão ser utilizados pelos Estados e Municípios
até 2020.
5. Expressão índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança prevista no §
do art. 100:
5.1 Para precatórios da administração ESTADUAL e MUNICIPAL: o STF disse que a TR (índice
da poupança) poderia ser aplicada até 25/03/2015.
5.2 Para os precatórios da administração FEDERAL: o STF afirmou que se poderia aplicar a TR
até 31/12/2013.
Após essas datas, qual índice será utilizado para substituir a TR (julgada inconstitucional)?
• Precatórios em geral: IPCA-E.
• Precatórios tributários: SELIC.
Regime de precatórios
Se a Fazenda Pública Federal, Estadual, Distrital ou Municipal for condenada, por sentença judicial
transitada em julgado, a pagar determinada quantia a alguém, este pagamento será feito sob um regime
espe ial ha ado de p e ató io a t. da CF/ .
EC 62/2009
A EC 62/2009 alterou o art. 100 da CF/88 e o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT) da CF/88 prevendo inúmeras mudanças no regime dos precatórios.
As modificações impostas pela EC 62/2009 dificultaram o recebimento dos precatórios pelos credores e
tornaram ainda mais vantajosa a situação da Fazenda Pública. Por esta razão, a alteração ficou conhecida,
jo osa e te, o o E e da do Calote .
ADI
Foram propostas quatro ações diretas de inconstitucionalidade contra esta previsão, tendo elas sido
julgadas parcialmente procedentes.
Confira abaixo os dispositivos que foram julgados inconstitucionais:
Quanto ao art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, como ele reproduzia, em parte, a redação do § 12 do art. 100, ele
também foi declarado inconstitucional no seguinte trecho de sua redação: índice oficial de remuneração
ási a da ade eta de poupa ça .
Recapitulando:
Os débitos da Fazenda Pública devem ser pagos por meio do sistema de precatórios.
Quem é pago em 1º lugar: créditos alimentares de idosos e portadores de doenças graves.
Quem é pago em 2º lugar: créditos alimentares de pessoas que não sejam idosas ou portadoras de
doenças graves.
Quem é pago em 3º lugar: créditos não alimentares.
Obs.1: a superprioridade para créditos alimentares de idosos e portadores de doenças graves possui um
limite de valor previsto no § 2º do art. 100. Assim, se o valor a receber pelo idoso ou doente grave for
muito alto, parte dele será paga com superpreferência e o restante será quitado na ordem cronológica de
apresentação do precatório. Esta limitação de valor foi considerada constitucional pelo STF.
Obs.3: os débitos de natureza alimentícia são aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos,
pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez,
fundadas em responsabilidade civil.
Obs.4: em que momento é analisada esta idade de 60 anos para que a pessoa passe a ter a
superpreferência?
Segundo a redação literal do § 2º do art. 100, para que o indivíduo tivesse direito à superpreferência, ele
deveria ser idoso (60 anos ou mais) no dia da expedição do precatório pelo juízo. Veja a redação do § 2º:
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data
de expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei, serão pagos
com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os
fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante
será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.
Ocorre que, entre o dia em que o precatório é expedido e a data em que ele é efetivamente pago, são
passados alguns anos. Desse modo, é comum que a pessoa não seja idosa no instante em que o precatório
é expedido, mas, como o processo de pagamento é tão demorado, ela acaba completando mais de 60
anos de idade durante a espera.
Diante disso, esta expressão na data de expedição do pre atório constante no § 2º do art. 100 da CF/88
foi declarada INCONSTITUCIONAL. O STF entendeu que esta limitação até a data da expedição do
precatório viola o princípio da igualdade e que esta superpreferência deveria ser estendida a todos os
credores que completassem 60 anos de idade enquanto estivessem aguardando o pagamento do
precatório de natureza alimentícia.
Ex.: determinada sentença transitou em julgado condenando o Estado do Amazonas a pagar 500 mil reais
a João. Antes de expedir o precatório, o Tribunal deveria indagar à Fazenda Pública amazonense se João
devia algum valor líquido e certo ao Estado do Amazonas. Veja:
§ 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta
em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento, informação sobre os débitos que
preencham as condições estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 62/09).
Se existissem débitos, estes seriam abatidos do valor a ser pago pela Fazenda Pública. Assim, o § 9º previa
uma compensação entre o que era devido pela Fazenda e o que era devido pelo exequente.
Voltando ao nosso exemplo, João tinha a receber 500 mil reais, mas possuía uma dívida de 100 mil com a
Fazenda estadual. Logo, haveria uma compensação e o precatório seria expedido no valor de 400 mil.
Como é calculado o valor da correção monetária e dos juros de mora no caso de atraso no pagamento do
precatório?
A EC nº 62/09 trouxe uma nova forma de cálculo prevista no § 12 do art. 100:
§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização (obs: correção monetária) de
valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua
natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de
compensação da mora (obs2: juros de mora), incidirão juros simples no mesmo percentual de juros
incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/09)
O § 12 do art. 100, inserido pela EC 62/09, também foi questionado. O que decidiu a Corte?
O STF declarou a inconstitucionalidade da exp essão í di e ofi ial de e u e ação ási a da ade eta
de poupa ça , o sta te do § do a t. da CF.
Para os Ministros, o índice oficial da poupança (que é chamado de TR – Taxa Referencial) não consegue
evitar a perda de poder aquisitivo da moeda.
Este índice (TR) é fixado ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não relacionados com
a inflação considerada no período. Todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a real flutuação de
preços apurada no período em referência.
Dessa maneira, como este índice (da poupança) não consegue manter o valor real da condenação, ele
afronta a garantia da coisa julgada, tendo em vista que o valor real do crédito previsto na condenação
judicial não será o valor que o credor irá receber efetivamente quando o precatório for pago (este valor
terá sido corroído pela inflação).
A finalidade da correção monetária consiste em deixar a parte na mesma situação econômica que se
encontrava antes. Nesse sentido, o direito à correção monetária é um reflexo imediato da proteção da
propriedade.
Vale ressaltar, ainda, que o Poder Público tem seus créditos corrigidos pela taxa SELIC, cujo valor supera
em muito o rendimento da poupança, o que reforça o argumento de que a previsão do § 12 viola também
a isonomia.
Como vimos acima, o art. 1º-F. da Lei nº 9.494/97, com redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009,
também previa que, nas condenações impostas à Fazenda Pública, os índices que seriam aplicados seriam
os da caderneta de poupança.
Logo, com a declaração de inconstitucionalidade do § 12 do art. 100 da CF, o STF também declarou
inconstitucional, por arrastamento (ou seja, por consequência lógica), o art. 5º da Lei nº 11.960/2009, que
deu a redação atual ao art. 1º-F. da Lei nº 9.494/97.
O STF também declarou a inconstitucionalidade da exp essão i depe de te e te de sua atu eza ,
presente no § 12 do art. 100 da CF, com o objetivo de deixar claro que, para os precatórios de natureza
tributária, aplicam-se os mesmos juros de mora incidentes sobre o crédito tributário.
Assim, para o STF, aos precatórios de natureza tributária devem ser aplicados os mesmos juros de mora
que incidem sobre todo e qualquer crédito tributário. Atualmente, este índice é a SELIC.
O objetivo era que este regime especial previsse uma forma dos Estados/DF e Municípios irem reduzindo
esta dívida de precatórios sem que o orçamento dos entes ficasse inviabilizado.
A EC nº 62/09 incluiu ainda o art. 97 ao ADCT prevendo um regime especial de pagamento dos precatórios
enquanto não fosse editada a lei complementar. Confira:
Art. 97. Até que seja editada a lei complementar de que trata o § 15 do art. 100 da Constituição Federal, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, na data de publicação desta Emenda Constitucional,
estejam em mora na quitação de precatórios vencidos, relativos às suas administrações direta e indireta,
inclusive os emitidos durante o período de vigência do regime especial instituído por este artigo, farão
esses pagamentos de acordo com as normas a seguir estabelecidas, sendo inaplicável o disposto no art.
100 desta Constituição Federal, exceto em seus §§ 2º, 3º, 9º, 10, 11, 12, 13 e 14, e sem prejuízo dos
acordos de juízos conciliatórios já formalizados na data de promulgação desta Emenda Constitucional.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/2009)
O regime especial instituído pelo art. 97 do ADCT prevê uma série de vantagens aos Estados e Municípios,
se do pe itido ue tais e tes ealize u a esp ie de leilão de p e ató ios o ual os credores de
precatórios competiriam e t e si ofe e e do deságios des o tos ) em relação aos valores que teriam
para receber. Aqueles que oferecessem maiores descontos iriam receber antes do que os demais.
Assim, o regime especial excepcionou a regra do art. 100 da CF/88 de que os precatórios deveriam ser
pagos na ordem cronológica de apresentação. Logo, se alguém estivesse esperando há 20 anos, por
exemplo, para receber seu precatório, já seria afetado por este novo regime e, para aumentar suas
chances de co segui logo seu dito, deve ia o ede u o des o to ao e te pú li o.
Com a EC nº 62/09, o Poder Público reconheceu que descumpriu, durante anos, as ordens judiciais de
pagamento em desfavor do erário. Admitiu, ainda, que existem inúmeras dívidas pendentes, as quais se
propõe a pagar, mas de forma limitada a um pequeno percentual de sua receita.
Por fim, fica claro que, com o comportamento inadimplente do Poder Público e com o novo regime
instituído, o objetivo foi forçar os titulares de precatórios a participarem dos leilões, concedendo
des o tos ao e á io e elação a valo es ue são devidos po fo ça de decisão judicial transitada em
julgado.
VINCULAÇÃO DE PERCENTUAIS MÍNIMOS DA RECEITA CORRENTE LÍQUIDA AO PAGAMENTO DOS PRECATÓRIOS E SANÇÕES
PARA O CASO DE NÃO LIBERAÇÃO TEMPESTIVA DOS RECURSOS DESTINADOS AO PAGAMENTO DE PRECATÓRIOS
Diversos Estados e Municípios possuem dívidas de anos e até décadas de precatórios. O certo seria que
eles pagassem todos de uma só vez. No entanto, como isso não seria possível por falta de orçamento, a EC
62/2009 deu uma sobrevida a esses entes afirmando o seguinte: vocês não precisam pagar tudo de uma só
vez, mas precisarão, todos os meses, depositar em uma conta específica para pagamento de precatórios,
um determinado valor calculado com base em um percentual da sua receita corrente líquida. Ex: 1% da
receita corrente líquida.
Ao fazerem isso, tais entes não seriam considerados em mora quanto aos precatórios, mesmo eles
estando atrasados há anos. No entanto, caso descumprissem essas regras do § 2º do art. 97, iriam receber
sanções que foram previstas no § 10 do art. 97, o que incluía, inclusive, sequestro de verbas públicas.
EXPRESSÃO ͞ÍNDICE OFICIAL DE REMUNERAÇÃO BÁSICA DA CADERNETA DE POUPANÇA͟ PREVISTA NO § 12 DO ART. 100
O § 12 prevê que o valor dos precatórios será corrigido pelo índice básico da caderneta de poupança (TR).
O STF julgou esse índice inconstitucional. No entanto, a Corte conferiu eficácia prospectiva à declaração de
inconstitucionalidade dessa expressão, ou seja, o Supremo afirmou que essa inconstitucionalidade não
teria efeitos retroativos (ex tunc). Essa declaração de inconstitucionalidade somente iria valer a partir de
certa data. E qual data é esta?
Para precatórios da administração Para os precatórios da administração
ESTADUAL e MUNICIPAL FEDERAL
O STF disse que a TR (índice da poupança) poderia O STF afirmou que se poderia aplicar a TR até
ser aplicada até 25/03/2015. 31/12/2013.
Quando se for calcular a correção monetária do Quando se for calcular a correção monetária do
precatório, é possível utilizar a TR até essa data. precatório federal, utiliza-se a TR até essa data.
Precatórios em geral: Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial. O IPCA-E passa a ser o índice
Após essas datas, qual índice será utilizado para substituir a TR (julgada inconstitucional)?
A Lei n. 13.080/2014 também trouxe o mesmo índice para o ano de 2015:
Art. 27. A atualização monetária dos precatórios, determinada no § 12 do art. 100 da Constituição
Federal, bem como das requisições de pequeno valor expedidas no ano de 2015, inclusive em relação às
causas trabalhistas, previdenciárias e de acidente do trabalho, observará, no exercício de 2015, a variação
do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - Especial - IPCA-E do IBGE, da data do cálculo
exequendo até o seu efetivo depósito.
Ao analisar a modulação dos efeitos da ADI, o STF concordou com o que a União fez, ou seja, chancelou a
escolha do IPCA-E como índice de correção monetária dos precatórios. Além disso, estendeu, por analogia,
esse mesmo índice para a correção monetária dos precatórios estaduais e municipais. No entanto, como
não havia leis estaduais ou municipais prevendo o IPCA-E, o STF afirmou que esse índice somente seria
aplicável depois do dia da modulação, ou seja, do dia 26/03/2015 em diante. O que ficou para trás, ou
seja, da data do julgamento da ADI até o dia da modulação, poderia ser aproveitado, aplicando-se ainda a
TR, já que os Estados e Municípios não tinham como adivinhar que o STF iria adotar realmente o IPCA-E.
PRECATÓRIOS
QUESTÃO DE ORDEM NAS ADIS 4.357 E 4.425
1. Modulação de efeitos que dê sobrevida ao regime especial de pagamento de precatórios, instituído pela
Emenda Constitucional nº 62/2009, por 5 (cinco) exercícios financeiros a contar de primeiro de janeiro de
2016.
2.1. Fica mantida a aplicação do índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR), nos
termos da Emenda Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data após a qual (i) os créditos em
precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (ii) os
precatórios tributários deverão observar os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus
créditos tributários; e
2.2. Ficam resguardados os precatórios expedidos, no âmbito da administração pública federal, com base
nos arts. 27 das Leis nº 12.919/13 e nº 13.080/15, que fixam o IPCA-E como índice de correção monetária.
3.1. Consideram-se válidas as compensações, os leilões e os pagamentos à vista por ordem crescente de
crédito previstos na Emenda Constitucional nº 62/2009, desde que realizados até 25.03.2015, data a partir
da qual não será possível a quitação de precatórios por tais modalidades;
3.2. Fica mantida a possibilidade de realização de acordos diretos, observada a ordem de preferência dos
credores e de acordo com lei própria da entidade devedora, com redução máxima de 40% do valor do
crédito atualizado.
4. Durante o período fixado no item 1 acima, ficam mantidas (i) a vinculação de percentuais mínimos da
receita corrente líquida ao pagamento dos precatórios (art. 97, § 10, do ADCT) e (ii) as sanções para o caso
de não liberação tempestiva dos recursos destinados ao pagamento de precatórios (art. 97, §10, do ADCT).
TRIBUNAL DO JÚRI
Referência ou leitura da decisão de pronúncia durante os debates no júri
Importante!!!
O art. 478, I, do CPP afirma que, durante os debates, as partes não poderão, sob pena de
nulidade, fazer referências à decisão de pronúncia ou às decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação como argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o
acusado. Isso não significa, contudo, que qualquer referência ou leitura da decisão acarretará,
obrigatoriamente, a nulidade do julgamento.
Na verdade, somente haverá nulidade se a leitura ou as referências forem feitas como
argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado.
Assim, por exemplo, não haverá nulidade se o MP simplesmente ler, no Plenário, trecho da
decisão do Tribunal que manteve a sentença de pronúncia contra o réu, sem fazer a utilização
do artifício do argumento de autoridade .
STF. 2ª Turma. RHC 120598/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015 (Info 779).
STJ. 5ª Turma. HC 248.617-MT, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/9/2013 (Info 531).
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.235.899-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
5/11/2013 (Info 531).
Exemplos:
Durante os debates em plenário, o Promotor de Justiça fala o seguinte para os jurados:
Situação 1: Situação 2
Prezados jurados, hoje os senhores irão julgar Prezados jurados, na sentença de pronún ia, o
Fulano de Tal, que foi pronunciado pelo crime de Dr. Sicrano, juiz de direito, que estudou muito e
homicídio qualificado por motivo fútil, conforme passou em concurso extremamente difícil,
podem ver na sentença de pronúncia que foi reconheceu que havia indícios de que o réu aqui
entregue a cada um de vocês e cujo trecho eu vou presente praticou um homicídio qualificado.
ler agora. Então, o juiz já concordou com o Ministério
Pú li o.
Nesta primeira hipótese, não há que se falar em Neste segundo exemplo, há nulidade porque a
nulidade uma vez que a referência à sentença de referência à sentença foi feita como argumento
pronúncia não foi feita como argumento de de autoridade.
autoridade. Utilizou-se o respeito e o prestígio da autoridade
Em outras palavras, não se utilizou a decisão do (magistrado) para convencer os jurados.
Poder Judiciário para impressionar ou influenciar O objetivo é passar aos jurados a mensagem
os jurados. su li i a de ue se at o juiz, ue o he e as
leis, disse que ele é culpado, eu tenho que
o de a .
Em suma, a lei não veda toda e qualquer referência à pronúncia ou às decisões posteriores que
mantiveram a acusação. O que o CPP proíbe é que tais menções sejam utilizadas como forma de persuadir
o júri a concluir que, se o juiz/Tribunal pronunciou o réu, logo este é culpado.
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 23 a 31 de março de 2015
CLIPPING DO D JE
23 a 31 de março de 2015
Ext N. 1.340-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. EXTRADIÇÃO INSTRUTÓRIA. GOVERNO DO URUGUAI. REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS.
DEFERIMENTO.
1. A extradição requer o preenchimento dos requisitos legais extraídos a contrario sensu do art. 77 da Lei nº 6.815/80, bem assim que sejam
observadas as disposições contidas em tratado específico.
2. O extraditando não logrou comprovar, perante a Justiça Federal, ser filho de brasileira, por essa razão teve indeferido o pedido de opção de
nacionalidade; via de consequência, resta afastado o óbice atinente à proibição de extraditar brasileiro nato, previsto no art. 5º, inc. LI, c/c art. 12, inc.
I, alínea c, da Constituição Federal.
3. O pedido está instruído com os documentos necessários à sua análise, como mandado de prisão expedido por juiz competente, contendo a narração
dos fatos, indicação de local e datas, e com os textos legais sobre o crime, a pena e sua prescrição.
4. A circunstância de o extraditando possuir família brasileira não constitui óbice ao deferimento do pedido, consoante a Súmula nº 421/STF, verbis:
“NÃO IMPEDE A EXTRADIÇÃO A CIRCUNSTÂNCIA DE SER O EXTRADITANDO CASADO COM BRASILEIRA OU TER FILHO
BRASILEIRO.”
5. O crime de tráfico de entorpecentes tipificado no artigo 31 do Decreto-Lei n. 14.294, do Uruguai, possui correspondente no art. 33 da Lei n.
11.343/2006, por isso que se encontra satisfeito o requisito da dupla tipicidade.
6. O Uruguai é competente para julgar o extraditando, visto que os fatos ocorreram em seu território, precisamente na cidade de Rivera, entre
01/06/2010 e 17/05/2013.
7. A legislação uruguaia prevê pena de até 10 (dez) anos de prisão e prazo prescricional de 10 (anos) após a data do fato (art. 117, § 1º, “c” do Código
Penal), além de que a ordem de prisão expedida em 21/09/2012 constitui causa interruptiva da prescrição, ex vi do art. 120 do mesmo Código, a
evidenciar a ausência da referida causa extintiva da punibilidade.
8. A prescrição também não ocorreu segundo a legislação brasileira, que comina pena em abstrato máxima de 15 anos para o crime de tráfico de
drogas (art. 33 da Lei n. 11.343/2006) e correspondente prazo prescricional de 20 anos (art. 109, inc. I, do Código Penal).
9. Extradição deferida, devendo o Estado requerente formalizar o compromisso de detrair de eventual pena o tempo de prisão preventiva cumprido no
Brasil para fins de extradição. Consigna-se ainda a ressalva prevista no art. 89, c/c art. 67 da Lei n. 6.815/80, visto que o extraditando responde a
processo no Brasil.
EMB. DECL. NO HC N. 95.443-SC
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
Ext N. 1.363-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: EXTRADIÇÃO FUNDADA EM PROMESSA DE RECIPROCIDADE. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. SONEGAÇÃO
FISCAL. ATENDIMENTO DOS REQUISITOS FORMAIS. DUPLA TIPICIDADE E PUNIBILIDADADE. INEXISTÊNCIA DE PRESCRIÇÃO
EM AMBOS OS ORDENAMENTOS JURÍDICOS. DEFERIMENTO.
1. A falta de tratado de extradição entre o Brasil e a República Federal da Alemanha não impede o atendimento da demanda, desde que o requisito da
reciprocidade seja atendido mediante pedido formalmente transmitido por via diplomática. Precedentes.
2. Por força do sistema de contenciosidade limitada consagrado no Estatuto do Estrangeiro (art. 85, § 1º) e placitado pela jurisprudência desta Corte,
compete ao Supremo Tribunal Federal exclusivamente o exame dos pressupostos formais do pedido de extradição. Precedentes.
3. O crime de sonegação fiscal previsto na legislação penal alemã (art. 370 do Código Penal alemão) encontra correspondência no tipo penal do art.
1º, I, da Lei 8.137/1990 (art. 77, II, da Lei 6.815/1980). Precedentes.
4. Extradição deferida.
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
23 a 31 de março de 2015
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista ou
adiamento: MS 27931/DF; ADI 4357 QO/DF; ADI 4425 QO/DF; RE 798740 AgR/DF; HC 126315/SP.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: MS 25845/DF; MS 25763/DF; RE 638115/CE.
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
Questão da prova objetiva que exige do candidato saber quantas afirmações estão corretas.
HABEAS CORPUS
Desnecessidade de prequestionamento em HC.
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
Questão da prova objetiva que exige do candidato saber quantas afirmações estão corretas
Situação concreta:
Determinada candidata impetrou mandado de segurança questionando três questões da prova objetiva do
26º Concurso para Procurador da República.
As questões impugnadas foram formuladas da seguinte forma: eram apresentadas quatro afirmações;
após essas asse ti as, existia uat o alte ati as; a let a A dizia: ape as u a está o eta ; let a B :
duas estão o etas ; let a C : t ês estão o etas ; let a D : todas estão o etas .
Veja a íntegra de uma das questões atacadas apenas para entender melhor:
Para a candidata, essa forma de questão afrontou ainda o parágrafo único do art. 36 da Resolução 75 do
CNJ, que, apesar de se referir a concursos da magistratura, poderia também ser aplicada, por analogia,
para os certames do Ministério Público. Confira o que fala a Resolução do CNJ:
Art. 36. As questões objetivas serão agrupadas por disciplina e nos respectivos blocos, devidamente
explicitados.
Parágrafo único. Se a questão for elaborada sob a forma de exame prévio de proposições corretas ou
incorretas, constará de cada uma das alternativas de resposta expressa referência, em algarismos
romanos, à assertiva ou às assertivas corretas, vedada qualquer resposta que não indique com precisão a
resposta considerada exata.
O STF concordou com a tese da impetrante? Essa forma de questão objetiva violou a resolução do CNMP?
NÃO. Apesar de as referidas questões apresentarem realmente uma estrutura objetiva diversa das demais
perguntas normalmente feitas em prova objetiva, isso não significa qualquer nulidade, sendo apenas uma
forma de dificultar o nível da prova igualmente a todos os candidatos e condizente com o objetivo de um
concurso destinado a medir conhecimentos de vários tipos, ou seja, não só jurídicos, mas também lógicos
e gramaticais.
Ademais, entendeu-se que não se poderia invocar a Resolução 75/2009 do CNJ porque, embora o CNJ e o
CNMP possuam estruturas semelhantes e mesma origem constitucional, são órgãos autônomos, de forma
que o CNMP disciplinou o tema na forma que entendeu melhor e não vedou esse tipo de questão.
Apenas a título de curiosidade, o mandado de segurança foi proposto pela brilhante Prof. Fernanda
Marinela, grande administrativista, que fez, inclusive, sustentação oral no Supremo, mas, apesar disso, o
writ foi denegado.
PRISÃO DE ADVOGADO
Conceito de sala de Estado-Maior
Importante!!!
Os advogados, membros da Magistratura, do MP e da Defensoria Pública, se forem presos antes
do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, possuem o direito de ficar recolhidos
não em uma cela com grades, mas sim em uma sala de Estado-Maior.
A palavra Estado-Maior representa o grupo de Oficiais que assessora o Comandante das
Forças Armadas, do Corpo de Bombeiros ou da Polícia Militar. Logo, sala de Estado-Maior é o
compartimento localizado na unidade militar que é utilizado por eles para o exercício de suas
funções.
Obs.1: a exp essão is ada assi e o he idas pela OAB foi de la ada i o stitu io al pelo “TF o
julgamento da ADI n. 1.127/DF. Desse modo, não é a OAB quem tem o poder de definir se o local onde foi
preso o advogado é ou não compatível com a definição de sala de Estado-Maior. Tal análise é feita pelo
juiz/Tribunal que determinou a prisão.
Obs.2: esse direito só é garantido em caso de prisão provisória. Quando houver o trânsito em julgado da
condenação, o cumprimento da pena deverá ocorrer em uma unidade prisional comum, como as demais
pessoas.
HABEAS CORPUS
Desnecessidade de prequestionamento em HC
COMPETÊNCIA
Furto praticado por militar contra outro militar dentro das instalações militares
Militar do Exército subtraiu de seu colega de farda, em quartel militar, cartão magnético,
juntamente com a respectiva senha. Após, efetuou empréstimo em nome da vítima, bem como
saques de valores. A competência para julgar esse crime é da Justiça Militar?
SIM. Compete à Justiça castrense processar e julgar militar pela prática de crime de furto (art.
240 do CPM) perpetrado contra outro militar em ambiente sujeito à administração militar
(art. 9º, II, a do CPM).
STF. 1ª Turma. HC 125326/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/3/2015 (Info 778).
O Colegiado ponderou que uma decisão judicial que, sem fundamento legal, afetasse situação individual,
revelar-se-ia contrária à ordem constitucional, pelo menos ao direito subsidiário da liberdade de ação. Se
admitido, como expressamente estabelecido na Constituição, que os direitos fundamentais vinculariam
todos os Poderes e que a decisão judicial deveria observar a Constituição e a lei, então a decisão judicial
que se revelasse desprovida de base legal afrontaria ao menos o princípio da legalidade. Essa orientação
poderia converter a Corte em autêntico tribunal de revisão, se fosse admitido que toda decisão contrária
ao direito ordinário seria inconstitucional. Por isso, deveria ser formulado um critério a limitar a
impugnação das decisões judiciais mediante recurso constitucional. A admissibilidade dependeria da
No mérito, o Plenário pontuou que a decisão judicial a determinar incorporação dos quintos careceria de
fundamento legal e, assim, violaria o princípio da legalidade. A decisão recorrida baseara-se no
entendimento segundo o qual a Medida Provisória 2.225-45/2001, em seu art. 3º, permitiria a incorporação
dos quintos no período compreendido entre a edição da Lei 9.624/1998 e a edição da aludida medida
provisória. O referido art. 3º transformara em Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada - VPNI a
incorporação das parcelas a que se referem os artigos 3º e 10 da Lei 8.911/1994 e o art. 3º da Lei
9.624/1998. Não se poderia considerar que houvera o restabelecimento ou a reinstituição da possibilidade
de incorporação das parcelas de quintos ou décimos. A incorporação de parcelas remuneratórias
remontaria à Lei 8.112/1990. Seu art. 62, § 2º, na redação original, concedera aos servidores públicos o
direito à incorporação da gratificação por exercício de cargo de direção, chefia ou assessoramento à razão
de um quinto por ano, até o limite de cinco quintos. A Lei 8.911/1994 disciplinara a referida incorporação.
Por sua vez, a Medida Provisória 1.195/1995 alterara a redação dessas leis para instituir a mesma
incorporação na proporção de um décimo, até o limite de dez décimos. A Medida Provisória 1.595-
14/1997, convertida na Lei 9.527/1997, extinguira a incorporação de qualquer parcela remuneratória, com
base na Lei 8.911/1994, e proibira futuras incorporações. As respectivas parcelas foram transformadas em
VPNI. A Lei 9.527/1997 não teria sido revogada pela Lei 9.624/1998, pois esta seria apenas a conversão de
uma cadeia distinta de medidas provisórias — reeditadas validamente — iniciada anteriormente à própria
Lei 9.527/1997. Desde a edição da Medida Provisória 1.595-14/1997, portanto, seria indevida qualquer
concessão de parcelas remuneratórias referentes a quintos ou décimos. Em suma, a concessão de quintos
somente seria possível até 28.2.1995, nos termos do art. 3º, I, da Lei 9.624/1998, enquanto que, de
1º.3.1995 a 11.11.1997 — edição da Medida Provisória 1.595-14/1997 — a incorporação devida seria de
décimos, nos termos do art. 3º, II e parágrafo único, da Lei 9.624/1998, sendo indevida qualquer concessão
após 11.11.1997. Nesse quadro, a Medida Provisória 2.225/2001 não viera para extinguir definitivamente o
direito à incorporação que teria sido revogado pela Lei 9.624/1998, mas somente para transformar em
VPNI a incorporação das parcelas referidas nas Leis 8.911/1994 e 9.624/1998. Assim, o direito à
Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8
incorporação de qualquer parcela remuneratória, fosse quintos ou décimos, já estaria extinto. O
restabelecimento de dispositivos normativos anteriormente revogados, a permitir a incorporação de
quintos ou décimos, somente seria possível por determinação expressa em lei. Em outros termos, a
repristinação de normas dependeria de expressa determinação legal. Assim, se a Medida Provisória
2.225/2001 não repristinara expressamente as normas que previam a incorporação de quintos, não se
poderia considerar como devida uma vantagem remuneratória pessoal não prevista no ordenamento. Em
conclusão, não existiria norma a permitir o ressurgimento dos quintos ou décimos levada a efeito pela
decisão recorrida. Vencidos os Ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia e Celso de Mello, que desproviam o
recurso. Assentavam que a incorporação de gratificação relativa ao exercício de função comissionada no
período de 8.4.1998 a 5.9.2001, transformando as referidas parcelas em VPNI, teria sido autorizada pela
Medida Provisória 2.225-45/2001, em razão de ter promovido a revogação dos artigos 3º e 10 da Lei
8.911/1994. Por fim, o Plenário, por decisão majoritária, modulou os efeitos da decisão para desobrigar a
devolução dos valores recebidos de boa-fé pelos servidores até a data do julgamento, cessada a ultra-
atividade das incorporações concedidas indevidamente. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que não
modulava os efeitos da decisão.
RE 638115/CE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18 e 19.3.2015.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 16 a 20 de março de 2015
CLIPPING DO D JE
16 a 20 de março de 2015
ADI N. 3.920-MT
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO – PROCESSO OBJETIVO – INCONSTITUCIONALIDADE DE NORMA – ATRIBUIÇÃO. Consoante dispõe
o artigo 103, § 3º, da Constituição da República, cumpre à Advocacia-Geral da União, no processo em que o Supremo aprecia inconstitucionalidade,
em tese, de norma legal ou ato normativo, atuar na defesa do ato ou texto impugnado.PROJETO DE LEI – SERVIDORES PÚBLICOS – REGIME
JURÍDICO. Surge como princípio sensível a separação de Poderes, cabendo aos entes da Federação observar o disposto no artigo 61 da Carta de
1988.
*noticiado no Informativo 773
AG. REG. NA PROGRESSÃO DE REGIME NA EP N.22-PI
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. CRIME CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DEVOLUÇÃO DO PRODUTO DO ILÍCITO. 1. É
constitucional o art. 33, § 4º, do Código Penal, que condiciona a progressão de regime, no caso de crime contra a Administração Pública, à reparação
do dano ou à devolução do produto do ilícito. 2. Tendo o acórdão condenatório fixado expressamente o valor a ser devolvido, não há como se afirmar
não se tratar de quantia líquida. 3. A alegação de falta de recursos para devolver o dinheiro desviado não paralisa a incidência do art. 33, § 4º, do
Código Penal. O sentenciado é devedor solidário do valor integral da condenação. 4. Na hipótese de celebração de ajuste com a União para
pagamento parcelado da obrigação, estará satisfeita a exigência do art. 33, § 4º, enquanto as parcelas estiverem sendo regularmente quitadas. 5.
Agravo regimental desprovido.
*noticiado no Informativo 772
ADI N 4.150-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
TRIBUNAL – COMPOSIÇÃO – QUINTO – ASSEMBLEIA LEGISLATIVA – PRONUNCIAMENTO – INADEQUAÇÃO. Conflita com a
Constituição Federal norma da Carta do Estado que junge à aprovação da Assembleia Legislativa a escolha de candidato à vaga do quinto em
Tribunal. Precedentes: Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.228, relator ministro Sepúlveda Pertence, e Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 202, relator ministro Octavio Gallotti, com acórdãos publicados no Diário da Justiça de 2 de junho de 1995 e 7 de março de
1997, respectivamente.
*noticiado no Informativo 775
ADO N. 6-PR
RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO. GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANÁ. ALEGADA
AUSÊNCIA DE INICIATIVA DO PROCESSO LEGISLATIVO QUANTO AOS ARTS. 39, § 4º, 128, § 5º, I, C , 135 e 144, § 9º, DA
CONSTITUIÇÃO, QUE DETERMINA A ADOÇÃO DO SUBSÍDIO COMO FORMA DE REMUNERAÇÃO PARA OS MEMBROS DO
MINISTÉRIO PÚBLICO, PROCURADORES DO ESTADO, DEFENSORES PÚBLICOS, POLICIAIS E INTEGRANTES DOS CORPOS DE
BOMBEIROS MILITARES. ILEGITIMIDADE QUANTO AO MINISTÉRIO PÚBLICO. PREJUDICIALIDADE RECONHECIDA NO TOCANTE
AOS DEMAIS AGENTES. AÇÃO CONHECIDA EM PARTE E JULGADA PREJUDICADA NA PARTE CONHECIDA.I - A remuneração dos
membros do Parquet deve ser fixada na forma do subsídio, porém, por iniciativa do Procurador-Geral de Justiça, pois a competência conferida ao
Ministério Público para propor a criação e extinção dos seus cargos compreende a de fixar os respectivos vencimentos. II - O modelo remuneratório
dos Defensores Públicos do Estado do Paraná foi alterado pela Lei Complementar estadual 136/2011, o que acarreta a perda superveniente de objeto
da ação no ponto. III - Idêntica situação de prejuízo desta ação verifica-se quanto ao modelo de remuneração dos policiais civis, diante do advento da
Lei estadual 17.170/2012, que instituiu o subsídio para a Polícia Civil e os Delegados do Estado do Paraná. IV - A Lei Complementar estadual
161/2013 alterou a remuneração da carreira de Procurador do Estado do Paraná para a forma de subsídio.V - Por seu turno, a Lei estadual
17.169/2012 dispôs sobre o subsídio da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Estado do Paraná.VI - Ação conhecida em parte e na parte
conhecida julgada prejudicada.
Acórdãos Publicados: 431
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
16 a 20 de março de 2015
OUTRAS INFORMAÇÕES
16 a 20 de março de 2015
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista ou
adiamento: PSV 96/DF; PSV 26/DF; PSV 65/SP; PSV 57/DF; ACO 758/SE; ADI 4284/RR.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: CC 7706 AgR-segundo-ED-terceiros/SP; RE 816084 AgR/DF.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União.
Súmula vinculante 38-STF: É competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento
comercial.
Súmula vinculante 39-STF: Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias
civil e militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.
CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA
Súmula vinculante 40-STF: A contribuição confederativa de que trata o artigo 8º, IV, da Constituição Federal, só é
exigível dos filiados ao sindicato respectivo.
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
Critério de desempate em concursos de remoção de serventias notariais e registrais.
SERVIDORES PÚBLICOS
Súmula vinculante 42-STF: É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou
municipais a índices federais de correção monetária.
REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
Lei estadual não pode incluir os titulares de serventias extrajudiciais no regime próprio de Previdência Social.
DIREITO TRIBUTÁRIO
TAXAS
Súmula vinculante 41-STF: O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.
ICMS
É inconstitucional lei estadual que concede benefícios fiscais relacionados com o ICMS sem a prévia celebração de
convênio intergovernamental.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR
Competência da Justiça estadual para julgar complementação de aposentadoria por entidades de previdência privada.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União
A competência para legislar sobre telecomunicações é privativa da União, estando prevista nos art. 21, XI e
22, IV, da CF/88 :
Art. 21. Compete à União:
XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de
telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão
regulador e outros aspectos institucionais;
A Lei de que trata este inciso é a Lei n. 9.472/97, que dispõe sobre a organização dos serviços de
telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos institucionais.
Com base no que foi acima exposto, o STF julgou inconstitucional lei do Estado de SC que fixava as
condições de cobrança dos valores da assinatura básica residencial nos serviços de telefonia fixa.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Os donos dos estabelecimentos comerciais atingidos começaram a questionar essas leis editadas ao redor
do país, sob o argumento de que esse assunto (horário de funcionamento dos estabelecimentos
o e iais à esta iaà ela io adoà o à Di eitoà Co e ial à eà Di eitoà doà T a alho ,à deà fo aà ueà taisà
Municípios teriam invadido a competência privativa da União prevista no art. 22, I, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho;
O argumento dos donos de estabelecimento foi aceito pelo STF? Tais leis municipais são inconstitucionais?
NÃO. O STF firmou o entendimento de que tais leis são CONSTITUCIONAIS.
Compete aos Municípios legislar sobre o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais
situados no âmbito de seus territórios.à Issoà po ueà essaà at iaà à e te didaà o oà se doà assu to de
interesse local ,à ujaà o pet iaà à u i ipal,à osàte osàdoàa t.à ,àI,àdaàCF/ :
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
Cada cidade tem suas peculiaridades, tem seu modo de vida, umas são mais cosmopolitas, com estilo de
vida agitado, muitos serviços, turistas. Por outro lado, existem aquelas menos urbanizadas, com costumes
mais tradicionais etc. Assim, o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais deve atender a
essas características próprias, análise a ser feita pelo Poder Legislativo local.
Esse entendimento do STF foi reiterado inúmeras vezes ao ponto de a Corte editar um enunciado, em 2003,
explicitando a conclusão:
Súmula 645-STF (de 24/09/2003): É competente o Município para fixar o horário de funcionamento de
estabelecimento comercial.
Vale ressaltar que, sobre esse tema, já havia uma súmula mais antiga do STF que também espelhava, em
última análise, a mesma conclusão, apesar de ter sido editada sob a égide da CF/1946:
Por iniciativa do Min. Ricardo Lewandowski, atual Presidente da Corte, o Plenário do STF tem convertido
em súmulas vi ula tesàalgu asàsú ulasà o u s à o àoào jetivoàdeàagiliza àosàp o essosàeàpa ifi a àosà
temas. Essa súmula 645 foi uma das escolhidas e por isso sua redação foi transformada em súmula
vinculante.
Ressalva à SV 38-STF:
Existeàu aà ex eção à à“ú ulaàVi ulante 38: o horário de funcionamento dos bancos.
Segundo o STF e o STJ, as leis municipais não podem estipular o horário de funcionamento dos bancos.
A competência para definir o horário de funcionamento das instituições financeiras é da União. Isso porque
esse assunto (horário bancário) traz consequências diretas para transações comerciais intermunicipais e
interestaduais, transferências de valores entre pessoas em diferentes partes do país, contratos etc.,
situações que transcendem (ultrapassam) o interesse local do Município. Enfim, o horário de
funcionamento bancária é um assunto de interesse nacional (STF RE 118363/PR).
Súmula 19-STJ: A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência da União.
Desse modo, a Súmula 19 do STJ é compatível com a Súmula Vinculante 38 do STF, ambas convivendo
harmonicamente.
Legislação sobre outros aspectos relacionados com os serviços bancários disponibilizados aos clientes
Vale ressaltar, por fim, que os Municípios podem legislar sobre medidas que propiciem segurança, conforto
e rapidez aos usuários de serviços bancários (STF ARE 691591 AgR/RS, julgado em 18/12/2012). Exs: tempo
xi oàdeàespe aà aàfilaà LeiàdasàFilas , instalação de banheiros e bebedouros nas agências, colocação de
cadeiras de espera para idosos, disponibilização de cadeiras de rodas, medidas para segurança dos clientes
etc. Tais assuntos, apesar de envolverem bancos, são considerados de interesse local e podem ser tratados
por lei municipal.
Concursos
Súmula importantíssima para todos os concursos públicos, em especial os municipais.
Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo organizados e mantidos pelo Governo Federal, o Governo do
Distrito Federal poderá utilizar os serviços das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros militar, nos
termos da lei federal:
Art. 32. (...)
§ 4º - Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal, das polícias civil e militar e do
corpo de bombeiros militar.
Importante destacar, ainda, que as polícias civil e militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal,
mesmo sendo mantidas pela União, subordinam-se ao Governador do Distrito Federal (art. 144, § 6º).
O então Min. Carlos Ayres Britto, durante debate de uma ADI no STF, afirmou, com muita sabedoria, que,
se fosse permitido que o Distrito Federal legislasse sobre os vencimentos dos membros das polícias civil e
militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal estaria sendo admitido que o Governo do DF
fizesseà o tesiaà o àoà hap uàalheio àpo ueà ue àvaiàa a à o àasàdespesasà àaàU iãoà “TF.àADI 1.045,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/4/2009).
Em suma, não haveria lógica em se admitir que o Distrito Federal tivesse competência para aumentar os
vencimentos dos policiais e bombeiros se não será ele quem ira pagar tal remuneração.
Concursos
Súmula menos importante para concursos públicos, salvo os do Distrito Federal.
CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA
Contribuição sindical
Com o objetivo de garantir o seu custeio, a CF/88 assegurou às entidades sindicais duas contribuições
diferentes. Veja:
Art. 8º (...)
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada
em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente
da contribuição prevista em lei;
Desse modo, apesar de a redação do inciso ser um pouco truncada, é possível perceber que ele fala em
duas espécies de contribuição:
1ª) Contribuição fixada pela assembleia geral (destacada na primeira parte);
2ª) Contribuição prevista em lei (destacada na segunda parte).
Logo que a CF/88 foi editada, os sindicatos quiseram emplacar a tese de que as duas espécies de
contribuição seriam obrigatórias, ou seja, a pessoa, mesmo sem ser filiada ao sindicato, deveria pagá-las.
O STF, contudo, rechaçou essa tese e, para pacificar o assunto, editou, em 2003, um enunciado:
Súmula 666-STF: A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição, só é exigível dos
filiados ao sindicato respectivo.
Por que a contribuição CONFEDERATIVA não é obrigatória para todos da categoria? Por que ela só é
exigível dos filiados ao sindicato?
Porque não existe uma lei que obrigue seu pagamento. A contribuição confederativa não é instituída por
lei, mas sim por decisão da assembleia geral. Ora, se a pessoa não é filiada ao sindicato, não há razão
jurídica que autorize que ela seja obrigada a pagar uma contribuição criada pela assembleia geral desse
sindicato do qual não faz parte.
O indivíduo somente pode ser obrigado a pagar algo se isso for determinado por meio de lei ou se ele
próprio se sujeitou a isso. Como a contribuição confederativa não é prevista em lei, somente será
obrigatória se o trabalhador se sujeitou à filiação junto àquele sindicato.
Para aqueles que fazem concursos trabalhistas, importante mencionar a posição do TST no mesmo sentido:
Precedente normativo 119-TST:
Nº 119 CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS - INOBSERVÂNCIA DE PRECEITOS CONSTITUCIONAIS – (mantido) - DEJT
divulgado em 25.08.2014
"A Constituição da República, em seus arts. 5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre associação e
sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção coletiva
Concursos
Súmula muito importante para todos os concursos públicos.
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
Critério de desempate em concursos de remoção de serventias notariais e registrais
Importante!!!
A lei estadual do Estado X prevê que, em caso de empate entre os candidatos em concurso de
remoção para serventias notariais e registrais, o primeiro critério de desempate é o maior
tempo de serviço público.
Ocorre que a Lei Federal 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) determina que o primeiro critério
de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais
elevada (art. 27, parágrafo único).
Qual das duas legislações deverá prevalecer no caso?
A legislação estadual. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, não se aplica como critério de
desempate, no concurso público de remoção para outorga de delegação notarial e de registro,
quando existir lei estadual específica que regule o certame e traga regras aplicáveis em caso
de empate. Desse modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar com o candidato que tiver maior
tempo de serviço público (e não necessariamente com o mais idoso).
STF. 1ª Turma. MS 33046/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2015 (Info 777).
João era tinha 10 anos de serviço público e Carlos, por seu turno, só possuía 7 anos.
Diante disso, o Tribunal de Justiça declarou que, pelo critério de desempate previsto na lei estadual, ele
figurou em 1º lugar no concurso de remoção, razão pela qual ficou com a titularidade do RI.
Estatuto do Idoso
Carlos, contudo, não concordou e impetrou mandado de segurança alegando que o art. 11 da Lei estadual
contraria o art. 27, parágrafo único da Lei Federal n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). Veja o que diz a Lei:
Art. 27. (...)
Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência
ao de idade mais elevada.
A tese de Carlos foi aceita pelo STF? E aso de o ursos pú li os e volve do artórios (serve tias
notariais e registrais), o primeiro critério de desempate deve ser obrigatoriamente a idade, por força do
Estatuto do Idoso?
NÃO. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, não se aplica como critério de desempate, no concurso público
de remoção para outorga de delegação notarial e de registro, quando existir lei estadual específica que
regule o certame e traga regras aplicáveis em caso de empate.
Desse modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar mesmo com João porque a legislação estadual não
prevê a idade como o primeiro critério de desempate, não se aplicando o Estatuto do Idoso.
No caso concreto, somente se poderia adotar o critério de desempate que privilegiasse o mais idoso, como
requeria o impetrante, se os candidatos tivessem também empatado quanto ao tempo de serviço público.
SERVIDORES PÚBLICOS
Valeà essalta à ueàoàí di eà ofi ial àdeài flaçãoà àoàIPCáà Í di eàNa io alàdeàP eçosàaoàCo su ido àá plo ,à
que é produzido pelo IBGE (fundação federal). Desse modo, o IPCA, por ser calculado pelo IBGE, é
considerado um índice federal de correção monetária.
Concursos
Súmula menos importante para concursos públicos.
Lei 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços
de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de
seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
Importante!!!
A lei estadual do Estado X prevê que, em caso de empate entre os candidatos em concurso de
remoção para serventias notariais e registrais, o primeiro critério de desempate é o maior
tempo de serviço público.
Ocorre que a Lei Federal 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) determina que o primeiro critério
de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais
elevada (art. 27, parágrafo único).
Qual das duas legislações deverá prevalecer no caso?
A legislação estadual. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, não se aplica como critério de
desempate, no concurso público de remoção para outorga de delegação notarial e de registro,
quando existir lei estadual específica que regule o certame e traga regras aplicáveis em caso
de empate. Desse modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar com o candidato que tiver maior
tempo de serviço público (e não necessariamente com o mais idoso).
STF. 1ª Turma. MS 33046/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2015 (Info 777).
APOSENTADORIA
Lei estadual não pode incluir os titulares de serventias extrajudiciais
no regime próprio de Previdência Social
PROGRESSÃO DE REGIME
Estrangeiro com pedido de extradição já deferido
Importante!!!
O estrangeiro que cumpre pena no Brasil pode ser beneficiado com a progressão de regime?
SIM. Não existe motivo para negar aos estrangeiros que cumprem pena no Brasil os benefícios
da execução penal, dentre eles a progressão de regime. Isso porque a condição humana da
pessoa estrangeira submetida a pena no Brasil é protegida constitucionalmente e no âmbito
dos direitos humanos. Assim, em regra, é plenamente possível a progressão de regime para
estrangeiros que cumpram pena no Brasil.
Vale ressaltar, no entanto, que essa providência (progressão) será ineficaz até que o STF
delibere acerca das condições da prisão para extradição. Em outras palavras, é possível que
seja deferida a progressão de regime ao apenado que aguarda o cumprimento da ordem de
extradição, mas isso só poderá ser concretizado pelo juízo das execuções (juiz de 1ª instância)
depois que o STF concordar. Cabe ao STF deliberar acerca de eventual adaptação das
condições da prisão para extradição ao regime prisional da execução penal. Assim, depois que
o juízo da execução afirmar que os requisitos para a progressão estão preenchidos, deverá
ainda o STF verificar se a concessão do regime semiaberto ou aberto ao extraditando não irá
causar risco à garantia da ordem garantia da ordem pública, da ordem econômica, à
conveniência da instrução criminal, nem à aplicação da lei penal pública (art. 312 do CPP).
STF. 2ª Turma. Ext 893 QO/República Federal da Alemanha, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
10/3/2015 (Info 777).
O estrangeiro que cumpre pena no Brasil tem direito aos benefícios da execução penal (ex.: saída
temporária etc.)?
SIM. O fato de o reeducando ser estrangeiro, por si só, não é motivo suficiente para inviabilizar os
benefícios da execução penal.
O estrangeiro que cumpre pena no Brasil pode ser beneficiado com a progressão de regime?
SIM. Conforme dito acima, não existe motivo para negar aos estrangeiros que cumprem pena no Brasil os
benefícios da execução penal, dentre eles a progressão de regime. Isso porque a condição humana da pessoa
estrangeira submetida a pena no Brasil é protegida constitucionalmente e no âmbito dos direitos humanos.
Assim, em regra, é plenamente possível a progressão de regime para estrangeiros que cumpram pena no Brasil.
DIREITO TRIBUTÁRIO
TAXAS
Características
Diz-se que a taxa é um tributo bilateral, contraprestacional, sinalagmático ou vinculado. Isso porque a taxa
é um tributo vinculado a uma atividade estatal específica, ou seja, a Administração Pública só pode cobrar
se, em troca, estiver prestando um serviço público ou exercendo poder de polícia.
Há, portanto, obrigações de ambas as partes. O poder público tem a obrigação de prestar o serviço ou
exercer poder de polícia e o contribuinte a de pagar a taxa correspondente.
Previsão
A disciplina sobre as taxas está prevista no art. 145, II da CF/88 e no art. 77 do CTN.
Espécies de taxas
As taxas podem ter dois fatos geradores:
o exercício regular do poder de polícia; ou
a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou
posto à sua disposição (art. 77 do CTN).
Com base nisso, pode-se dizer que existem duas espécies de taxa:
taxa de polícia;
taxa de serviço.
Para que seja cobrada a taxa, é necessário que o contribuinte use, de forma efetiva, o serviço público?
NÃO necessariamente. O Estado poderá cobrar a taxa não apenas quando prestar o serviço ao contribuinte,
mas também pelo simples fato de colocar o serviço à disposição das pessoas. Em outras palavras, estando o
serviço à disposição da população, é possível a instituição da taxa, ainda que não haja sua efetiva utilização.
É o caso, por exemplo, de uma pessoa que tenha um apartamento fechado. Mesmo não produzindo lixo, irá
pagar a taxa pelo serviço de coleta domiciliar de lixo.
Obs: você pode estar sentindo alguma dificuldade de conceituar e imaginar, na prática, o que são os
serviços específicos e divisíveis. Não se preocupe, no entanto, porque essa dificuldade existe também na
doutrina. Para fins de concurso, normalmente é cobrada apenas de definição dada pela própria lei e a
relação dos serviços que, segundo a jurisprudência, são considerados como específicos e divisíveis. Não
perca muito tempo querendo aprofundar o tema.
A questão chegou até o STF. É possível instituir taxa para custear os serviços prestados pelo Município
com a iluminação pública? Em outras palavras, a iluminação dos postes nas vias públicas possui um
custo, que é suportado pelos Municípios. É permitido que tais entes cobrem uma taxa dos usuários para
remunerar esse serviço?
NÃO. O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.
Conforme vimos acima, o poder público somente poderá cobrar taxa para custear serviços públicos
específicos e divisíveis.
O serviço público de iluminação pública não é específico e divisível. Isso porque não é possível mensurar
(medir, quantificar) o quanto cada pessoa se beneficiou pelo fato de haver aquela iluminação no poste.
Uma pessoa que anda muito à pé, à noite, se beneficia, em tese, muito mais do que o indivíduo que quase
não sai de casa, salvo durante o dia. Apesar de ser possível presumir que tais pessoas se beneficiam de
COSIP
Dia teà dasà eite adasà de isõesà judi iaisà de la a doà asà taxasà deà ilu i açãoà pú li a à i o stitu io ais, os
Municípios que perderam essa fonte de receita começaram a pressionar o Congresso Nacional para que
dessem uma solução ao caso. Foi então que, nos últimos dias de 2002, foi aprovada a EC 39/2002 que
arrumou uma forma de os Municípios continuarem a receber essa quantia.
O modo escolhido foi criar uma contribuição tributária destinada ao custeio do serviço de iluminação
pública. Sendo uma contribuição, não havia mais a exigência de que o serviço público a ser remunerado
fosse específico e divisível. Logo, o problema anterior foi contornado.
Essa contribuição, chamada pela doutrina de COSIP, foi introduzida no art. 149-A da CF/88:
Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis,
para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III.
Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura de consumo de
energia elétrica.
(artigo incluído pela Emenda Constitucional nº 39/2002)
Dessa forma, o serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa (SV 41). No entanto,
os Municípios poderão instituir contribuição para custeio desse serviço (art. 149-A da CF/88).
Concursos
Para fins de concurso, contudo, súmula é importante e você deve conhecer.
É inconstitucional lei estadual que concede benefícios fiscais relacionados com o ICMS sem a
prévia celebração de convênio intergovernamental (art. 55, § º, XII, g , da CF/88 e LC
24/1975).
No caso concreto, o STF julgou inconstitucionais dispositivos da lei estadual que previam
parcelamento do pagamento de ICMS em quatro anos sem juros e correção monetária e
também os artigos que conferiam créditos fictícios de ICMS de forma a reduzir artificialmente
o valor do tributo. Além disso, a Corte entendeu inconstitucional dispositivo que autorizava o
Governador do Estado a conceder benefício fiscal por ato infralegal, tendo havido violação à
regra da reserva legal (art. 150, § 6º, da CF/88).
Por outro lado, o STF considerou constitucional dispositivo de lei estadual que estabeleceu a
suspensão do pagamento do ICMS incidente sobre a importação de matéria-prima ou de
material intermediário, e transferiu o recolhimento do tributo do momento do desembaraço
aduaneiro para o momento de saída dos produtos industrializados do estabelecimento. O
Supremo entendeu que tais dispositivos são constitucionais porque a jurisprudência permite o
legislador estadual, mesmo sem convênio, preveja o diferimento (retardamento) do
recolhimento do valor devido a título de ICMS se isso não implicar redução ou dispensa do
valor devido. Diferir o recolhimento do valor não significa benefício fiscal e, portanto, não
precisa da prévia celebração de convênio.
Modulação dos efeitos. O STF decidiu modular os efeitos da decisão para que ela tenha eficácia
somente a partir da data da sessão de julgamento. Ponderou que se trata de benefícios
tributários inconstitucionais, mas que se deveria convalidar os atos jurídicos já praticados,
tendo em vista a segurança jurídica e a pouca previsibilidade, no plano fático, quanto às
consequências de eventual decretação de nulidade desses atos, existentes no mundo jurídico
há anos. Deve-se chamar atenção para esse fato porque, em regra, a jurisprudência do
Supremo não tem admitido a modulação dos efeitos nessas hipóteses.
STF. Plenário. ADI 4481/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 11/3/2015 (Info 777).
Determinada Lei do Estado do Paraná concedeu benefícios fiscais relacionados com o ICMS.
Tal lei foi impugnada e o STF decidiu que alguns dispositivos nela previstos eram inconstitucionais.
Segundo jurisprudência consolidada no STF, a concessão unilateral de benefícios fiscais relativos ao ICMS
sem a prévia celebração de convênio intergovernamental, nos termos da LC 24/1975, afronta o art. 155, §
2º, XII, g , da CF/88, que estabelece o seguinte:
CF/88
Art. 155 (...) § 2º (...)
XII - cabe à lei complementar:
(...)
g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e
benefícios fiscais serão concedidos e revogados.
LC 24/75
Art. 1º As isenções do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias serão concedidas ou
revogadas nos termos de convênios celebrados e ratificados pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo
esta Lei.
Dispositivos que previam parcelamento do pagamento de ICMS em quatro anos sem juros e correção
monetária e também os artigos que conferiam créditos fictícios de ICMS de forma a reduzir
artificialmente o valor do tributo: o STF julgou INCONSTITUCIONAIS. Entendeu-se que haveria aí
concessão indevida de benefício fiscal.
Dispositivo que autorizava o Governador do Estado a conceder benefício fiscal por ato infralegal:
INCONSTITUCONAL. Há aqui afronta à regra da reserva legal (art. 150, § 6º, da CF/88).
PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR
Competência da Justiça estadual para julgar complementação de
aposentadoria por entidades de previdência privada
De quem é a competência para julgar tal demanda? Justiça do Trabalho ou Justiça comum?
R: Da Justiça COMUM ESTADUAL. Este é o entendimento do STJ e do STF.
No caso em tela, a causa de pedir é o contrato de previdência privada celebrado entre o autor da ação e a
entidade de previdência privada (fundação ligada à empresa).
As entidades de previdência privada são pessoas jurídicas de direito privado que custeiam previdência
complementar e possuem autonomia financeira, realizando atividades de natureza civil (Min. Luis Felipe
Salomão, CC 116.228).
Desse modo, cabe à Justiça estadual apreciar questões referentes ao seu fiel cumprimento.
Vale ressaltar que não importa a natureza da verba que se pretende incluir no cálculo de previdência
complementar. Será sempre competência da Justiça comum porque a discussão é contratual (nesse
sentido: STJ. EAg 1.301.267-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgados em 23/5/2012).
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 9 a março de de 2015
CLIPPING DO D JE
9 a 13 de março de 2015
AR N. 1.699-DF
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
MANDADO DE SEGURANÇA – PARTE PASSIVA. No mandado de segurança, é parte passiva a pessoa jurídica de direito público que deve suportar
os efeitos de decisão favorável à impetração.
MANDADO DE SEGURANÇA – DECADÊNCIA – RELAÇÕES JURÍDICAS MÚLTIPLAS. Em se tratando de relações jurídicas diversas, sem
haver o litisconsórcio necessário, descabe cogitar de obrigatoriedade de impetração conjunta.
AÇÃO RESCISÓRIA – ACÓRDÃO RESCINDENDO – LIMITES. A ação rescisória é norteada pelos limites do acórdão rescindendo, quer sob o
ângulo subjetivo, quer sob o ângulo objetivo, não se podendo presumir pronunciamento judicial no que deve vir ao mundo jurídico devidamente
fundamentado.
*noticiado no Informativo 772
ADI N 4.925-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL 12.635/07, DE SÃO PAULO. POSTES DE SUSTENTAÇÃO DA REDE ELÉTRICA.
OBRIGAÇÃO DE REMOÇÃO GRATUITA PELAS CONCESSIONÁRIAS EM PROVEITO DE CONVENIÊNCIAS PESSOAIS DOS
PROPRIETÁRIOS DE TERRENOS. ENCARGOS EXTRAORDINÁRIOS NÃO PREVISTOS NOS CONTRATOS DE CONCESSÃO DE
ENERGIA ELÉTRICA. RELEVÂNCIA JURÍDICA DA TESE DE USURPAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS FEDERAIS PARA DISPOR SOBRE O
TEMA.1. Tendo em vista (a) a simplicidade da questão de direito sob exame; (b) a exaustividade das manifestações aportadas aos autos; e (c) a baixa
utilidade da conversão do rito inicial adotado para o presente caso, a ação comporta julgamento imediato do mérito. Medida sufragada pelo Plenário
em questão de ordem.2. As competências para legislar sobre energia elétrica e para definir os termos da exploração do serviço de seu fornecimento,
inclusive sob regime de concessão, cabem privativamente à União, nos termos dos art. 21, XII, “b”; 22, IV e 175 da Constituição. Precedentes.3. Ao
criar, para as empresas que exploram o serviço de fornecimento de energia elétrica no Estado de São Paulo, obrigação significativamente onerosa, a
ser prestada em hipóteses de conteúdo vago (“que estejam causando transtornos ou impedimentos”) para o proveito de interesses individuais dos
proprietários de terrenos, o art. 2º da Lei estadual 12.635/07 imiscuiu-se indevidamente nos termos da relação contratual estabelecida entre o poder federal
e as concessionárias.4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
*noticiado no Informativo 774
EMB.DECL. NO ARE N.853.228-RS
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS DE DECISÃO MONOCRÁTICA. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. APLICAÇÃO
DA SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL PELO TRIBUNAL DE ORIGEM (ART. 543-B DO CPC). INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Processo Legislativo - Controle Jurisdicional - Cessação Superveniente do Mandato Parlamentar do Impetrante - Extinção
do Processo (Transcrições)
MS 33.444-MC/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: CONTROLE JURISDICIONAL DO PROCESSO LEGISLATIVO. UTILIZAÇÃO, PARA TANTO, DO MANDADO DE
SEGURANÇA. POSSIBILIDADE, DESDE QUE IMPETRADO O “WRIT” CONSTITUCIONAL POR MEMBRO DO CONGRESSO
NACIONAL. LEGITIMAÇÃO ATIVA “AD CAUSAM” QUE DEVE ESTAR PRESENTE, NO ENTANTO, JUNTAMENTE COM AS
DEMAIS CONDIÇÕES DA AÇÃO, NÃO SÓ NO INSTANTE DA PROPOSITURA DA DEMANDA, COMO, TAMBÉM, NO MOMENTO
DA RESOLUÇÃO DO LITÍGIO (CPC, ART. 462). CESSAÇÃO SUPERVENIENTE DO MANDATO PARLAMENTAR DO
IMPETRANTE. RELAÇÃO DE CONTEMPORANEIDADE, NÃO MAIS EXISTENTE, ENTRE A CONDIÇÃO JURÍDICA DE
CONGRESSISTA E A FASE DECISÓRIA DO MANDADO DE SEGURANÇA. EXTINÇÃO ANÔMALA DO PROCESSO
MANDAMENTAL. DOUTRINA. PRECEDENTES ESPECÍFICOS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. MANDADO DE
SEGURANÇA NÃO CONHECIDO.
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado contra omissão “do Presidente da Mesa Diretora da
Câmara dos Deputados”, com o objetivo de assegurar ao ora impetrante, embora presentemente extinto o seu mandato parlamentar, o direito de
“apresentar suas Emendas Parlamentares” e de vê-las “recebidas e apreciadas pelo relator”, ordenando-se, ainda, “a imediata suspensão das
Emendas Parlamentares apresentadas pelo deputado **”.
A presente impetração mandamental apoia-se, em síntese, nos seguintes fundamentos:
“1. O impetrante é Deputado Federal, tendo assumido o cargo recentemente através de decisão nos autos do Mandado de Segurança
32.957, em trâmite nessa Corte Suprema, proferida em 18.06.2014. Ocorre que a nomeação só aconteceu em 18.12.2014, tendo a autoridade
coatora desobedecido à ordem judicial por seis meses.
…...................................................................................................
3. Portanto, conforme consta no trecho citado, quando vagou a cadeira do deputado eleito, foi determinada a posse de suplente que já
não mais poderia assumir o cargo, dada a incidência do instituto da infidelidade partidária (primeiro, segundo e terceiro suplentes já não
mais pertenciam aos quadros do Partido **). Por tal motivo, o impetrante requereu ao eg. STF o reconhecimento da sua aptidão e a imediata
ocupação do cargo. A decisão do STF foi rápida, mas somente ocorreu a sua efetivação ao final de um périplo de exatos 6 (seis) meses, pois a
Mesa Diretora da Câmara protelou sua nomeação.
…...................................................................................................
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
9 a 13 de março de 2015
OUTRAS INFORMAÇÕES
9 a 13 de março de 2015
Medida Provisória nº 670, de 10.3.2015 - Altera a Lei nº 11.482, de 31.5.2007, para dispor sobre os valores da
tabela mensal do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física; a Lei nº 7.713, de 22.12.1988; e a Lei nº 9.250, de
26.12.1995. Publicada no DOU em 11.3.2015, Seção 1, p. 1.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 2949 QO/MG; RE 194662 Ediv-ED-ED/BA; ADI 4171/DF; ADI 2921/RJ; RE 593068/SC.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: HC 84548/SP; EP 1 QO/DF; RE 632343 AgR/RJ; HC 103310/SP.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Direito de jornal ter acesso a informações sobre o uso da verba indenizatória por Senadores.
PROCESSO LEGISLATIVO
Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos.
DIREITO ADMINISTRATIVO
REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
Lei estadual não pode conceder isenção de contribuição previdenciária para todos os servidores aposentados e
pensionistas que tiverem doença incapacitante.
DIREITO AMBIENTAL
COMPETÊNCIA
Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana
DIREITO PENAL
PRESCRIÇÃO
A publicação do acórdão condenatório para fins de prescrição ocorre no dia da sessão de julgamento.
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Direito de jornal ter acesso a informações sobre o uso da verba indenizatória por Senadores
Importante!!!
Determinado jornal requereu ao Senado Federal cópia dos documentos que demonstrassem
como os Senadores utilizaram a verba indenizatória dos seus gabinetes.
A Presidência do Senado negou ao jornal o acesso aos dados sob o fundamento de que os
documentos solicitados seriam sigilosos e que haveria uma invasão à privacidade dos
Parlamentares.
O STF determinou que o Senado forneça cópia dos documentos solicitados.
A verba indenizatória destina-se a custear despesas direta e exclusivamente relacionadas ao
exercício da função parlamentar. Desse modo, tais valores possuem natureza pública, tanto pelo
fato de estarem sendo pagas por um órgão público (Senado Federal) quanto pela finalidade a que
se destinam, estando vinculadas ao exercício da representação popular (mandato). Sendo a verba
pública, a regra geral é a de que as informações sobre o seu uso são públicas.
A Corte entendeu que o fornecimento de tais informações não acarreta qualquer risco à
segurança nem viola a privacidade ou intimidade dos Parlamentares.
STF. Plenário. MS 28178/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 4/3/2015 (Info 776).
Sigilo
Realmente, a CF/88 afirma que não são públicas as informações cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado (art. 5º, XXXIII, parte final) e às que sejam protegidas pela inviolabilidade
conferida à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas (art. 5º, X, c/c art. 37, § 3º, II).
No entanto, no caso concreto, as informações sobre o uso de tais verbas não se enquadram nem na
necessidade de sigilo por questões de segurança nem na proteção da intimidade.
No caso do Senado Federal, as atividades ordinárias de seus membros estão muito longe de exigir um
caráter predominantemente sigiloso. Em se tratando de órgão de representação popular por excelência,
presume-se justamente o contrário, ou seja, que tais atividades são públicas. Assim, eventual necessidade
de sigilo não pode ser invocada de forma genérica, devendo ser concretamente justificada (ex: despesas
para contratação de seguranças para um determinado parlamentar ameaçado).
Quanto à segunda exceção que justificaria a restrição à publicidade (informações relacionadas à intimidade,
vida privada, honra e imagem das pessoas), o STF entendeu que não é possível que se invoque a intimidade, de
forma genérica, para restringir a transparência acerca do emprego de verbas públicas exclusivamente
relacionadas ao exercício da função parlamentar. Em outras palavras, tais verbas não estão relacionadas com a
vida privada dos Senadores. São recursos, como dito, utilizados para o exercício parlamentar.
Vale ressaltar que o jornal havia se comprometido a pagar o custo das cópias reprográficas solicitadas.
PROCESSO LEGISLATIVO
Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos
É inconstitucional Lei Orgânica Municipal que disponha sobre o regime jurídico dos servidores
públicos (seus direitos e deveres).
O art. 61, § 1º, II, c , da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei
que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos e sobre o regime jurídico dos
militares. Essa regra também é aplicada no âmbito municipal por força do princípio da simetria.
STF. Plenário. RE 590829/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/3/2015 (Info 776).
A CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei que trate sobre os direitos e
deveres dos servidores públicos e também dos militares. Veja:
Art. 61. (...)
§ 1º — São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II — disponham sobre:
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
aposentadoria;
(...)
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade,
remuneração, reforma e transferência para a reserva.
No caso julgado pelo STF e noticiado neste Informativo 776, a Lei Orgânica de Cambuí/MG concedeu
benefícios a servidores públicos daquela municipalidade.
O STF julgou a referida lei inconstitucional por ofender o art. 61, § 1º, II, c da CF/88, a ensejar sua
inconstitucionalidade formal.
DIREITO ADMINISTRATIVO
O Estado-membro pode tratar sobre o regime próprio de previdência social de seus servidores
por meio de lei, não sendo necessário que tal regulamentação seja feita na Constituição
estadual.
As normas estaduais, contudo, deverão observar as regras da CF/88, em especial aquelas
previstas no art. 40.
Determinada lei estadual previu que os servidores públicos aposentados e pensionistas que
fossem portadores de doenças incapacitantes não iriam pagar contribuição previdenciária
(seriam isentos). O STF afirmou que essa regra estadual está em confronto com o § 21 do art.
40 da CF/88, considerando que a Carta Federal previu que os servidores públicos aposentados
e pensionistas que sejam portadores de doenças incapacitantes devem pagar contribuição
previdenciária se o valor dos proventos por eles recebidos superar o dobro do teto do RGPS
(dobro do maior valor de aposentadoria do INSS).
Assim, a norma da lei estadual deve receber interpretação conforme para que respeite essa
previsão do art. 40, § 21 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3477/RN, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em
4/3/2015 (Info 776).
Compare:
CF/88 (art. 40, § 21) Lei do Estado do RN (art. 3º, parágrafo único)
Previu que os servidores públicos aposentados e Previu que os servidores públicos aposentados e
pensionistas que fossem portadores de doenças pensionistas que fossem portadores de doenças
incapacitantes só iriam pagar contribuição incapacitantes não iriam pagar contribuição
previdenciária se o valor dos proventos por eles previdenciária (seriam isentos).
recebidos superar o dobro do teto do RGPS (dobro
do maior valor de aposentadoria do INSS).
O STF afirmou que a regra de isenção da Lei do RN é muito simpática do ponto de vista de justiça social,
mas que ela fere a isonomia, estando em confronto com as normas fixadas pela CF/88.
Assim, o STF conferiu interpretação conforme a Constituição ao dispositivo da lei potiguar, de forma que a
isenção nela prevista deva se limitar ao que prevê o § 21 do art. 40 da CF/88. Em outras palavras, o STF
determinou que os servidores públicos aposentados e pensionistas do RN só terão isenção se o valor dos
proventos por eles recebidos não superar o dobro do teto do RGPS. Se for acima disso, pagarão a
contribuição.
COMPETÊNCIA
Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana
O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o
Estado-membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja
harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art.
30, I e II, da CF/88).
O STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo
para fins de limpeza e preparo do solo no referido município, inclusive para o preparo do
plantio e para a colheita de cana-de-açúcar e de outras culturas.
Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtida
com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos
trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a
garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros, que merecem proteção diante do
chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização, ambos trazidos pela pretensão
de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo.
Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se
traçar um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como
método despalhador e facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art.
40) e Decreto 2.661/98.
STF. Plenário. RE 586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (repercussão geral) (Info 776).
A Corte entendeu que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtida com a
proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos trabalhadores que
atuem neste setor.
No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros,
que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização, ambos
trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo.
Entendeu-se que a proibição da queima da cana não pode ser imediata, abrupta, mas sim gradual,
progressiva, sob pena de gerar um desemprego em massa no setor.
Por outro lado, em relação à questão ambiental, constata-se que, se de um lado a queima causa danos, de
outro, a utilização de máquinas também gera impacto negativo ao meio ambiente, como a emissão de gás
metano decorrente da decomposição da cana, o que contribui para o efeito estufa, além do surgimento de
ervas daninhas e o consequente uso de pesticidas e fungicidas.
Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se traçar um
planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método despalhador e
facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei n. 12.651/2012 (art. 40) e Decreto n. 2.661/98.
Assim, a Lei municipal, ao proibir a queima de forma imediata, viola o espírito da legislação federal, que
propõe, como visto, a diminuição gradual da queima da cana. Vale ressaltar que esse assunto (proibição
ou não da queima da cana) tem um caráter e interesse nacional, não podendo, portanto, o Município
violar a previsão da legislação federal e estadual.
RECURSOS
Tempestividade do recurso interposto antes da decisão recorrida ter sido publicada
Importante!!!
Mudança de entendimento!
Imagine que antes de o acórdão ser publicado no Diário de Justiça, o advogado da parte soube
da decisão e opôs embargos de declaração contra ela. Tais embargos são tempestivos? O
recurso contra a decisão que ainda não foi publicada é tempestivo segundo o STF?
SIM. Admite-se a interposição de embargos declaratórios oferecidos antes da publicação do
acórdão embargado e dentro do prazo recursal.
Se a parte tomar conhecimento do teor do acórdão antes de sua publicação e entender haver
omissão, contradição ou obscuridade, pode embargar imediatamente. Não há nada que impeça
isso. Não se pode dizer que o recurso é prematuro porque o prazo começa a correr da data de
intimação da parte, e a presença do advogado, a manifestar conhecimento do acórdão, supre a
TEMPESTIVIDADE
Para que um recurso seja conhecido, é indispensável que ele preencha requisitos intrínsecos e extrínsecos.
Um dos requisitos extrínsecos de todo e qualquer recurso é a tempestividade.
Tempestividade significa que o recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em lei.
Todo recurso tem um prazo e, se a parte o interpõe após este prazo, o recurso não será conhecido por
intempestividade.
Tal entendimento era extremamente criticado pela doutrina e, por isso, a mudança de posição do STF foi
muito salutar.
STJ e TST
Vale ressaltar que o STJ e o TST entendem que o recurso interposto antes da publicação do acórdão
recorrido é prematuro e, portanto, intempestivo. Veja:
Súmula 434-TST:
RECURSO. INTERPOSIÇÃO ANTES DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO IMPUGNADO. EXTEMPORANEIDADE.
I) É extemporâneo recurso interposto antes de publicado o acórdão impugnado.
Espera-se que, com a decisão do Plenário do STF, tanto o STJ como o TST mudem seu entendimento.
Qualquer novidade sobre a posição do STJ você será avisado até mesmo para atualizar seus Livros.
Novo CPC:
O novo entendimento do STF acima exposto continua válido com o novo CPC?
SIM. Na verdade, o novo CPC reforça a nova conclusão do STF ao trazer a seguinte regra:
Art. 1.024 (...)
§ 5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior,
o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos de declaração será
processado e julgado independentemente de ratificação.
Desse modo, após a entrada em vigor do novo CPC estará superada a súmula 418 do STJ.
DIREITO PENAL
PRESCRIÇÃO
A publicação do acórdão condenatório para fins de prescrição ocorre no dia da sessão de julgamento
Importante!!!
A prescrição da pretensão punitiva do Estado, em segundo grau de jurisdição, se interrompe
na data da sessão de julgamento do recurso e não na data da publicação do acórdão.
Para efeito de configuração do marco interruptivo do prazo prescricional a que se refere o art.
117, IV, do CP, considera-se como publicado o acórdão condenatório recorrível na data da
sessão pública de julgamento, e não na data de sua veiculação no Diário da Justiça ou em meio
de comunicação congênere.
A publicação do acórdão nos veículos de comunicação oficial deflagra o prazo recursal, mas
não influencia na contagem do prazo da prescrição.
STF. 1ª Turma. RHC 125078/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2015 (Info 776).
Qual é o prazo prescricional caso a pena fixada tenha sido de 2 anos e 3 meses?
8 anos, conforme previsto no art. 109, IV c/c art. 110 do CP.
Em nosso exemplo, a defesa alegava que entre o recebimento da denúncia (em 04/11/2002) e a publicação
do acórdão condenatório (em 28/04/2011) já havia se passado mais de 8 anos. Logo, estaria prescrita a
pena imposta pelo crime do art. 288 do CP. Houve prescrição?
NÃO. Não houve prescrição. A sessão de julgamento ocorreu no dia 28/10/2010, antes, portanto, de terem
se passado 8 anos da data do recebimento da denúncia.
Segundo a jurisprudência, a sessão em que realizado o julgamento da causa pode ser considerada como
marco interruptivo da prescrição, uma vez que em tal data a prestação jurisdicional penal condenatória
tornou-se pública (STF. Plenário. AP 396 ED/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 13/12/2012).
Em outras palavras, para efeito de configuração do marco interruptivo do prazo prescricional a que se
refere o art. 117, IV, do CP, considera-se o o pu li ado o a ó d o o de ató io e o ível a data da
sessão pública de julgamento, e não na data de sua veiculação no Diário da Justiça ou em meio de
comunicação congênere.
A publicação do acórdão nos veículos de comunicação oficial deflagra o prazo recursal, mas não influencia
na contagem do prazo da prescrição.
Logo, para fins do art. 117, IV, do CP, considera-se publicado o acórdão condenatório na data em que
realizada a sessão de julgamento pelo Tribunal, havendo aí a interrupção do prazo prescricional.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 2 a 6 de março de 2015
CLIPPING DO D JE
2 a 6 de março de 2015
ADI N. 2.063-RS
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Lei Complementar do Estado do Rio Grande do Sul nº 10.845, de 6 de agosto de 1996, art. 1º e 2º, ambos in fine dispõem da remuneração do serviço
público estadual e dão outras providências. Vulneração da CF 61, § 1º, inciso II, “a” e “c”; e 63, I. 2. Superação do vício de iniciativa. 3. Inexiste
qualquer conflito das normas fiscalizadas com a Constituição Federal. Ação direta julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 774
ADI N. 2.072-RS
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CRIAÇÃO DO FUNDO ROTATIVO DE EMERGÊNCIA DA AGRICULTURA
FAMILIAR. ISENÇÃO DE PAGAMENTO CONCEDIDA AOS PRODUTORES RURAIS BENEFICIADOS PELO PROGRAMA
EMERGENCIAL DE MANUTENÇÃO E APOIO A PEQUENOS PROPRIETÁRIOS RURAIS. LEI GAÚCHA N. 11.367/1999.
1. Perda de objeto da presente ação e do interesse de agir do Autor quanto aos arts. 3º e 4º da Lei gaúcha n. 11.367/1999, pela revogação parcial da lei
impugnada pela Lei gaúcha n. 11.774/2002.
2. Ausência de contrariedade ao art. 22, inc. I, da Constituição da República: normas de direito administrativo e financeiro.
3. O art. 1º da Lei n. 11.367/1999 não contraria o art. 61, § 1º, inc. II, alínea e, da Constituição da República porque não criou ou extinguiu secretarias
ou órgãos da administração pública.
4. O Supremo Tribunal Federal assentou que a reserva de lei de iniciativa do chefe do Executivo, prevista no art. 61, § 1º, inc. II, al. b, da Constituição,
somente se aplica aos territórios federais. Precedentes.
5. Não comprovação de ter sido excedido o limite da dívida mobiliária do Estado ou de prejuízo no desenvolvimento de políticas públicas estaduais.
Matéria de fato. Ofensa constitucional indireta. Precedentes. Inexistência de contrariedade ao art. 52, inc. IX, da Constituição da República.
6. A opção política do legislador estadual de isentar de pagamento os produtores rurais beneficiados pelo programa emergencial de manutenção e
apoio a pequenos proprietários rurais não contraria o princípio da moralidade (art. 37, caput, da Constituição da República), nem equivale à tentativa
de fraudar o pagamento da dívida contraída com a União. A isenção dos devedores primitivos foi conjugada com a assunção, pelo Estado do Rio
Grande do Sul, da condição de devedor principal, sem prejudicar o adimplemento das obrigações assumidas.
7. A vedação do art. 63, inc. I, da Constituição da República não abrange a Lei gaúcha n. 11.367/1999.
8. O art. 167, inc. II, da Constituição da República dirige-se ao administrador público, a quem cabe executar os programas contemplados na lei, com a
utilização de créditos orçamentários.
9. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei gaúcha n.
11.367/1999.
*noticiado no Informativo 773
AG. REG. NA ACO N. 1.684-MS
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. DEMANDA PROPOSTA
POR PARTICULARES OBJETIVANDO A DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA DE OCUPAÇÃO INDÍGENA NAS TERRAS DE SUA
PROPRIEDADE. PEDIDO DE INGRESSO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL PELO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL.
REMESSA DOS AUTOS A ESTA CORTE. INEXISTÊNCIA DE CONFLITO FEDERATIVO. INCOMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À ORIGEM.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
HC N. 112.121-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. JULGAMENTO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO E RECEBIMENTO DE
DENÚNCIA PELO MESMO ORGÃO COLEGIADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA LOCAL. IMPEDIMENTO DOS DESEMBARGADORES
PARTICIPANTES DE AMBAS AS SESSÕES DO ÓRGÃO ESPECIAL. NÃO OCORRÊNCIA. ART. 252, III, DO CPP. IMPOSSIBILIDADE DE
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. ROL TAXATIVO.
1. Por expressa previsão constitucional (arts. 93, VIII, e 96, III, da CF), tanto o procedimento administrativo disciplinar quanto a ação penal nos quais
envolvido magistrado de primeiro grau serão processados e julgados pelo respectivo Tribunal, não havendo falar em “outra instância” para fins de
impedimento previsto no art. 252, III, do Código de Processo Penal. Precedentes.
2. Ordem denegada.
RHC N. 125.112-RJ
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso ordinário em habeas corpus. 2. Justiça Militar. Recorrente que se ausentou, por um mês, da unidade onde exercia função militar. 3.
Abandono de posto (art. 195 do Código Penal Militar). Denúncia recebida. 4. Concomitante instauração de Instrução Provisória de Deserção.
Arquivamento do expediente em razão da condição de incapacidade em inspeção de saúde. 5. Alegação de ausência de justa causa da persecução
penal, pois o abandono de serviço estaria absorvido pela deserção, com base no princípio da consunção. 6. O fato de abandonar o serviço e praticar a
deserção, dentro de um mesmo contexto fático, não implica duas ações autônomas, incidindo, na hipótese, o fenômeno da absorção de um crime por
outro, uma vez que o abandono afigurou-se meio necessário à consecução do delito de deserção (R.S.E. 0000044-60.2011.7.06.0006, do STM). 7.
Parecer da PGR pelo provimento do recurso. 8. Recurso ordinário provido para determinar o trancamento da ação penal pelo crime de abandono de
posto.
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Interpelação Criminal (CP, art. 144) Ministro de Estado - Dúvidas Quanto aos Destinatários das Alegações Ofensivas –
Possibilidade (Transcrições)
Pet 5.557/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: INTERPELAÇÃO JUDICIAL. PROCEDIMENTO DE NATUREZA CAUTELAR. MEDIDA PREPARATÓRIA DE AÇÃO
PENAL REFERENTE A DELITOS CONTRA A HONRA (CP, ART. 144). PEDIDO DE EXPLICAÇÕES AJUIZADO CONTRA
MINISTRO DE ESTADO. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, POR TRATAR-SE DE
AUTORIDADE QUE DISPÕE, PERANTE A SUPREMA CORTE, DE PRERROGATIVA DE FORO NAS INFRAÇÕES PENAIS
COMUNS. NOTIFICAÇÃO DEFERIDA.
- O Supremo Tribunal Federal possui competência originária para processar pedido de explicações formulado com apoio no art. 144 do
Código Penal, quando deduzido contra Ministro de Estado, por tratar-se de autoridade que dispõe de prerrogativa de foro “ratione
muneris” nos ilícitos penais comuns (CF, art. 102, I, “c”).
- O pedido de explicações admissível - em qualquer das modalidades de crimes contra a honra - constitui típica providência de ordem
cautelar destinada a aparelhar ação penal principal tendente a sentença condenatória. O interessado, ao formulá-lo, invoca, em juízo,
tutela cautelar penal, visando a que se esclareçam situações revestidas de equivocidade, ambiguidade ou dubiedade, a fim de que se
viabilize o exercício eventual de ação penal condenatória, notadamente naqueles casos em que se registre efetiva incerteza quanto aos
destinatários específicos das imputações moralmente ofensivas (Pet 4.444-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno).
- A interpelação judicial, sempre facultativa (RT 602/368 - RT 627/365 - RT 752/611 RTJ 142/816), acha-se instrumentalmente vinculada
à necessidade de esclarecer situações, frases ou expressões, escritas ou verbais, caracterizadas por sua dubiedade, equivocidade ou
ambiguidade.
- O pedido de explicações em juízo submete-se à mesma ordem ritual que é peculiar ao procedimento das notificações avulsas (CPC, art.
867 c/c o art. 3º do CPP). Isso significa, portanto, que não caberá ao Supremo Tribunal Federal, em sede de interpelação penal, avaliar o
conteúdo das explicações dadas pela parte requerida nem examinar a legitimidade jurídica de sua eventual recusa em prestá-las, pois tal
matéria compreende-se na esfera do processo penal de conhecimento a ser ulteriormente instaurado. Doutrina. Precedentes.
DECISÃO: Trata-se de “interpelação judicial criminal” deduzida pelo Deputado Federal **, com fundamento no art. 144 do Código Penal,
contra o Ministro de Estado da Educação **.
Pretende-se, com a medida processual ajuizada, que o interpelando ofereça explicações necessárias ao esclarecimento de afirmações, a ele
atribuídas, e que, noticiadas no “blog” do jornalista **, sob o título “Câmara tem uns ‘400, 300 deputados achacadores’ diz Ministro **”, teriam
imputado “a Deputados Federais indeterminados a conduta de enfraquecer o governo com a intenção - ao que parece - de roubar o governo,
intimidando-o, ou de extorquir dinheiro do governo” (fls. 04 grifei), o que - segundo sustenta o próprio interpelante - configuraria, em tese, o
crime de injúria (CP, art. 140).
O ora interpelante assim justificou a formulação deste pedido de explicações (fls. 04/06):
“(…) é razoável supor que o interpelado, em tese, praticou o crime de injúria, tipificado no art. 140 do Código Penal. Mas não disse
quem são os ‘400 deputados, 300 deputados’ e nem em que consiste a tentativa de ‘achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais’. Achacar
mais o que? Tomar mais o que? Tirar mais o que?
São acusações gravíssimas dirigidas a um grupo de pessoas, mas revestidas de equivocidades e ambiguidades que, sem o devido
esclarecimento, inviabilizam a propositura de uma ação penal privada. Quem são os Deputados Federais acusados? E de quais atos? O
interpelado não explicou.
De acordo este Supremo Tribunal, a interpelação só pode ser manejada quando existirem dúvidas sobre o conteúdo das afirmações
tidas por injuriosas, a fim de aparelhar eventual e futura ação penal privada, ‘in verbis’:
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
2 a 6 de março de 2015
Lei nº 13.103, de 2.3.2015 - Dispõe sobre o exercício da profissão de motorista; altera a Consolidação das Leis do
o o os
Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n 5.452, de 1 .3.1943, e as Leis n 9.503, de 23.9.1997 - Código de
Trânsito Brasileiro, e 11.442, de 5.1.2007 (empresas e transportadores autônomos de carga), para disciplinar a jornada
de trabalho e o tempo de direção do motorista profissional; altera a Lei n o 7.408, de 25.11.1985; revoga dispositivos da
o
Lei n 12.619, de 30.4.2012; e dá outras providências. Publicada no DOU em 3.3.2015, Seção 1, p. 1.
Processo excluído deste informativo por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: ADI 2905/MG.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 4079/ES.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Lei estadual pode fixar número máximo de alunos por sala de aula.
PODER LEGISLATIVO
Imunidade material dos Vereadores.
PODER JUDICIÁRIO
CE não pode criar regras novas para a escolha do Desembargador pelo quinto constitucional.
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar.
DIREITO PENAL
FIXAÇÃO DO REGIME PRISIONAL
Fixação de regime inicial de cumprimento de pena e circunstâncias judiciais.
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
O porte ilegal de arma de fogo deve ser absorvido pelo crime de homicídio?
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Lei estadual pode fixar número máximo de alunos por sala de aula
A competência para legislar sobre educação e ensino é concorrente (art. 24, IX, da CF/88).
No âmbito da legislação concorrente, a União tem competência apenas para estabelecer as normas
gerais (§ 1º) e os Estados podem suplementar (complementar, detalhar) a legislação federal (§ 2º).
As normas gerais sobre educação foram editadas pela União na Lei 9.394/96 (LDB).
Determinado Estado-membro editou uma lei prevendo o número máximo de alunos que
poderiam estudar nas salas de aula das escolas, públicas ou particulares, ali existentes.
O STF entendeu que essa lei é constitucional e que não usurpa a competência da União para
legislar sobre normas gerais de educação.
STF. Plenário. ADI 4060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/2/2015 (Info 775).
O argumento utilizado pela Lei estadual foi o de que um número muito grande de alunos por sala de aula
não atende a critérios pedagógicos nem possibilita a adequada comunicação e aproveitamento do ensino.
ADI
A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenem), contudo, não concordou e propôs,
no STF, uma ADI contra a lei.
Na ação, a Confenem argumentou que a União e os Estados são competentes para legislar sobre educação
(art. 24, IX, da CF/88), mas as regras gerais instituídas pela União são de observância obrigatória e os
Estados não podem tratar sobre o tema de forma contrária.
Segundo defendeu a autora da ADI, a Lei estadual teria violado o art. 25 da Lei federal n. 9.394/96 (LDB).
No âmbito da legislação concorrente, a União tem competência apenas para estabelecer as normas gerais
(§ 1º) e os Estados podem suplementar (complementar, detalhar) a legislação federal (§ 2º).
As normas gerais sobre educação foram editadas pela União na Lei n. 9.394/96, chamada de LDB (Lei de
diretrizes e bases da educação nacional).
A LDB trata sobre a quantidade de alunos em sala de aula em apenas um dispositivo. Confira:
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades responsáveis alcançar relação adequada entre o
número de alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais do estabelecimento.
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à vista das condições disponíveis e das
características regionais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto neste artigo.
Sistema de ensino é uma expressão utilizada pela LDB que significa a organização do ensino no respectivo
Estado/DF ou Município. Assim, dizemos que existe o sistema de ensino estadual, distrital e municipal. É o
próprio ente que, por meio de lei, estabelece as regras sobre seu sistema de ensino, desde que
respeitadas as normas gerais da União. Veja o que diz a LDB:
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os
respectivos sistemas de ensino.
(...)
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei.
Desse modo, o Estado-membro poderia legislar sobre seu sistema de ensino e essa regra de número
máximo de alunos por sala de aula não violou nem a CF/88 nem o art. 25 da Lei n. 9.394/96. Ao contrário,
a legislação estadual cumpriu o que determina o parágrafo único do referido art. 25.
Segundo entendeu o STF, limite máximo de alunos em sala de aula é um tema que não precisa ser tratado
de forma idêntica em todo o Brasil (não precisa ter uma uniformidade nacional). Logo, não é matéria de
normas gerais da União, pois envolve circunstâncias peculiares, tais como: número de escolas colocadas à
disposição da população naquele Estado/Município, a oferta de vagas para o ensino fundamental e médio,
quantitativo de crianças em idade escolar, o número de professores em oferta, entre outros.
Assim, considerou-se que a Lei do Estado de Santa Catarina, ao prever número máximo de alunos por sala
de aula, apenas esmiuçou o art. 25 da LDB, não avançando sobre matéria de competência da União.
Durante os debates, os Ministros ressaltaram que o STF, em matéria de competência legislativa, deve
prestigiar (e aceitar) as leis de iniciativas regionais e locais, a menos que ofendam norma expressa e
inequívoca da Constituição. Essa diretriz se ajusta à noção de federalismo como sistema que visaria a
promover o pluralismo nas formas de organização política.
PODER LEGISLATIVO
Imunidade material dos Vereadores
Importante!!!
Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o
Prefeito, um Vereador passou a proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar. O
Vereador ofendido ajuizou ação de indenização por danos morais contra o ofensor. A questão
chegou até o STF que, julgando o tema sob a sistemática da repercussão geral, declarou que o
Vereador não deveria ser condenado porque agiu sob o manto da imunidade material. Na
oportunidade, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser aplicada aos casos semelhantes:
Nos limites da circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do mandato,
garante-se a imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores.
STF. Plenário. RE 600063/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 25/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
A CF/88, ao tratar sobre as imunidades, no art. 53 fala sobre Deputados Federais e Senadores. Indaga-
se: os Deputados Estaduais e os Vereadores também gozam das mesmas imunidades?
Deputados Estaduais: SIM Vereadores:
A CF/88 determina que os Deputados Os Vereadores gozam de inviolabilidade por suas opiniões,
Estaduais possuem as mesmas palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição
imunidades que os parlamentares do Município (art. 29, VIII).
federais.
Resumindo:
Logo, os Deputados Estaduais gozam • I u idade fo al: NÃO goza ;
tanto da imunidade material como • I u idade ate ial: possue , as desde ue ela io ado
formal. com o mandato e por manifestações feitas dentro do
Município.
Durante os debates, o Min. Celso de Mello afirmou que eventual abuso por parte do Parlamentar deve ser
coibido dentro da própria Casa Legislativa, pelos seus pares, que poderão até mesmo cassá-lo por quebra
de decoro. O que não se pode é processar civil ou criminalmente o Vereador por suas opiniões, palavras e
votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município.
PODER JUDICIÁRIO
CE não pode criar regras novas para a escolha do Desembargador pelo quinto constitucional
1/5 dos lugares dos TRF´s e dos TJ´s deve ser composto, alternadamente, por:
- membros do MP com mais de 10 anos de carreira; e
- advogados de notório saber jurídico e ilibada reputação com mais de 10 de efetiva atividade
profissional.
Ex: João, Desembargador do TJSP, oriundo da advocacia, aposentou-se; surge, então, uma vaga nesse TJ
para ser preenchida pelo sistema do quinto constitucional dentre advogados. A OAB-SP deverá elaborar
uma lista com 6 nomes de advogados que tenham notório saber jurídico, reputação ilibada e mais de 10
aos de efetiva advocacia. Essa lista será encaminhada ao TJSP. Desses 6 nomes, o TJ escolherá 3, ou seja,
fará uma lista tríplice e a remeterá ao Governador do Estado. O Governador do Estado escolherá um
desses 3 nomes para nomear como Desembargador.
Obs: no TRF o procedimento é semelhante, com a diferença de que, em vez do Governador do Estado,
quem escolhe um nome da lista tríplice é o Presidente da República.
Essa previsão da CE/SP é válida? Pode-se instituir uma regra na CE exigindo que o candidato à vaga do
quinto constitucional seja antes aprovado pela ALE?
NÃO. O STF entende que essa regra que foi inserida na Constituição de São Paulo não é válida.
Como vimos acima, o procedimento para a escolha dos Desembargadores foi tratado de forma exaustiva
pelo art. 94 da CF/88, não podendo o constituinte estadual inovar e estabelecer novas etapas que não
estejam expressamente previstas na Carta Federal.
STF. Plenário. ADI 4150/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/02/2015.
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar
Importante!!!
O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração
tem direito a receber a remuneração retroativa?
O pedido de indenização formulado por João encontra amparo na jurisprudência? O candidato que teve
postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração tem direito a receber a
remuneração retroativa?
• Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o argumento de que
houve demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação tardia a cargo público em decorrência de
decisão judicial não gera direito à indenização.
• Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o servidor não foi
nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade flagrante.
O tema foi decidido pelo STF em sede de recurso extraordinário sob a sistemática da repercussão geral.
No julgado, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser aplicada aos casos semelhantes:
a hipótese de posse e argo pú li o deter i ada por de isão judi ial, o servidor ão faz jus à
indenização sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior, salvo situação de
ar itrariedade flagra te .
STF. Plenário. RE 724347/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 26/02/2015.
DIREITO PENAL
RECLUSÃO
ABERTO: se a pena foi de até 4 anos.
O regime inicial
Se o condenado for reincidente, o regime inicial,
pode ser:
para esse quantum de pena, será o semiaberto ou o fechado.
O que irá definir isso vão ser as circunstâncias judiciais:
se desfavoráveis, vai para o fechado;
se favoráveis, vai para o semiaberto.
FECHADO: nunca
Obs.: alguns autores mencionam como exceção o art. 10 da Lei de Crimes
Organizados, mas esse dispositivo é inconstitucional.
DETENÇÃO
O regime inicial
SEMIABERTO: se a pena foi maior que 4 anos.
pode ser:
Vimos acima que o regime inicial da detenção nunca será o fechado. No entanto, o condenado que está
cumprindo pena por conta de um crime punido com detenção poderá ir para o regime fechado caso
cometa falta grave e seja sancionado com a regressão?
SIM, é possível. Nesse caso, no entanto, não estaremos mais falando em regime inicial.
O juiz pode fundamentar a imposição do regime mais severo devido ao fato do crime praticado ser,
abstratamente, um delito grave? Ex.: o juiz afirma que, em sua opinião, no caso de tráfico de drogas o
regime deve ser o fechado em razão da gravidade desse delito.
NÃO. A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime NÃO constitui motivação idônea para
a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada (Súmula 718-STF).
O que é considerado, então, motivação idônea para impor ao condenado regime mais gravoso?
Exige-se que o juiz aponte circunstâncias que demonstrem que o fato criminoso, concretamente, foi grave.
Se as circunstâncias judiciais do art. 59 forem desfavoráveis, é possível que o juiz se fundamente nesses
dados para impor ao condenado regime inicial mais gravoso que o previsto para a quantidade de pena
aplicada. Nesse sentido:
(...) Se as penas-base de ambos os crimes são fixadas acima do mínimo legal em face da valoração negativa
das circunstâncias do art. 59 do Código Penal, não há ilegalidade na imposição de regime inicial mais
gravoso do que o abstratamente previsto de acordo com a quantidade de pena aplicada. (...)
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1471969/RN, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 20/11/2014)
Ex.: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de 2 anos e 6 meses de detenção. Em regra, o regime
inicial seria o aberto a t. , § º, , do CP . Ocorre que duas circunstâncias judiciais foram
desfavoráveis a ele, conforme fundamentação do juiz (circunstâncias e consequências do crime). Nesse
caso, o magistrado, fundamentando sua decisão nesses dados, pode impor ao condenado o regime inicial
semiaberto (STF. 2ª Turma. HC 124876/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/2/2015. Info 775).
Se a pena privativa de liberdade foi fixada no mínimo legal, é possível a fixação de regime inicial mais severo
do que o previsto pela quantidade de pena? Ex.: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de seis anos
de reclusão. As circunstâncias judiciais foram favoráveis. Pode o juiz fixar o regime inicial fechado?
Trata-se de tema polêmico. O “TJ possui i ú e os julgados afi a do ue fixada a pena-base no mínimo
legal e sendo o acusado primário e sem antecedentes criminais não se justifica a fixação do regime
p isio al ais g avoso “TJ. ª Tu a. HC 303.247/SP, Rel. Min Jorge Mussi, julgado em 11/11/2014).
Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais
gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.
No entanto, o Informativo 548 trouxe decisão do STJ no sentido de que, ainda que o juiz tenha
considerado favoráveis as circunstâncias judiciais (art. 59 do CP), é admissível a fixação do regime inicial
mais gravoso do que o abstratamente previsto de acordo com a quantidade de pena aplicada, desde que o
magistrado fundamente essa decisão na gravidade concreta da conduta delituosa (STJ. 5ª Turma. HC
294.803-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ-SC), julgado em 18/9/2014). Foi
mencionado outro precedente da Corte no mesmo caminho:
(...) A estipulação do regime de cumprimento da pena não está atrelada, em caráter absoluto, à pena-base. O
fato de esta ser colocada no mínimo legal não torna obrigatória a fixação de regime menos severo, desde que,
por meio de elementos extraídos da conduta delitiva, seja demonstrada a gravidade concreta do crime, de
forma a autorizar a imposição de regime mais rigoroso do que aquele permitido pelo quantu da ep i e da.
“TJ. ª Tu a. HC . ⁄“P, Rel. Mi . “e astião Reis Jú io , julgado e ⁄ ⁄ .
Importante!!!
Se o agente, utilizando arma de fogo, atira e mata alguém, haverá homicídio e porte de arma de
fogo ou apenas homicídio? Se uma pessoa pratica homicídio com arma de fogo, a acusação por
porte deverá ser absorvida? Aplica-se o princípio da consunção?
Depende da situação:
• Situação 1: NÃO. O crime de porte não será absorvido se ficar provado nos autos que o agente
portava ilegalmente a arma de fogo em outras oportunidades antes ou depois do homicídio e
que ele não se utilizou da arma tão somente para praticar o assassinato. Ex: a instrução
demonstrou que João adquiriu a arma de fogo três meses antes de matar Pedro e não a
comprou com a exclusiva finalidade de ceifar a vida da vítima.
• Situação 2: SIM. Se não houver provas de que o réu já portava a arma antes do homicídio ou
se ficar provado que ele a utilizou somente para matar a vítima. Ex: o agente compra a arma de
fogo e, em seguida, dirige-se até a casa da vítima, e contra ela desfere dois tiros, matando-a.
No caso concreto julgado pelo STF, ficou provado que o réu havia comprado a arma 3 meses
antes da morte da vítima. Além disso, também se demonstrou pelas testemunhas que o acusado,
várias vezes antes do crime, passou na frente da casa da vítima, mostrando ostensivamente o
revólver utilizado no crime. Desse modo, restou provado que os tipos penais consumaram-se em
momentos distintos e que tinham desígnios autônomos, razão pela qual não se pode reconhecer
o princípio da consunção entre o homicídio e o porte ilegal de arma de fogo.
STF. 1ª Turma. HC 120678/PR, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
em 24/2/2015 (Info 775).
A tese da defesa deverá ser acolhida? Se o agente, utilizando arma de fogo, atira e mata alguém, haverá, em
tese, homicídio e porte de arma de fogo ou apenas homicídio? Dito de outra forma, se uma pessoa pratica
homicídio com arma de fogo, a acusação por porte deverá ser absorvida? Aplica-se o princípio da consunção?
Depende da situação:
Situação 1: NÃO. O crime de porte não será absorvido se ficar provado nos autos que o agente portava
ilegalmente a arma de fogo em outras oportunidades antes ou depois do homicídio e que ele não se
utilizou da arma tão somente para praticar o assassinato. Ex: a instrução demonstrou que João
adquiriu a arma de fogo três meses antes de matar Pedro e não a comprou com a exclusiva finalidade
de ceifar a vida da vítima.
A conduta de portar arma ilegalmente não pode ser absorvida pelo crime de homicídio, quando
restar evidenciada a existência de crimes autônomos, sem nexo de dependência ou subordinação.
(STJ. 5ª Turma. HC 217.321/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/08/2013)
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 18 a 27 de fevereiro de 2015
CLIPPING DO D JE
18 a 27 de fevereiro de 2015
ADI N. 2.940-ES
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
18 a 27 de fevereiro de 2015
o
Lei nº 13.102, de 26.2.2015 - Altera a Lei n 13.019, de 31.7.2014, que estabelece o regime jurídico das parcerias
voluntárias, envolvendo ou não transferências de recursos financeiros, entre a administração pública e as organizações
da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse público; define
diretrizes para a política de fomento e de colaboração com organizações da sociedade civil; institui o termo de
os
colaboração e o termo de fomento; e altera as Leis n 8.429, de 2.6.1992, e 9.790, de 23.3.1999. Publicada no DOU em
27.2.2015, Seção 1, p. 3.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 4013/TO; ADI 3757/PR; RHC 117462/RJ.
Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos ou por ter sido decidido com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 2063 MC/RS.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
SALÁRIO MÍNIMO
Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como indexador econômico.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que cria obrigações pecuniárias para as concessionárias de energia elétrica.
É inconstitucional lei estadual que proíba comercialização de produtos estrangeiros com agrotóxicos.
PROCESSO LEGISLATIVO
Inconstitucionalidade de EC iniciada por parlamentar tratando sobre matérias do art. 61, § 1º da CF.
DIREITO ADMINISTRATIVO
TETO CONSTITUCIONAL
É inconstitucional lei estadual que fixa teto remuneratório para servidores do Poder Judiciário.
RECURSOS
Inexistência de reformatio in pejus na manutenção da condenação, mas com base em fundamentos diversos da
sentença.
ABANDONO DE POSTO
Abandono de posto e deserção praticados dentro do mesmo contexto fático
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo
vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário
mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a
remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou que seria possível conferir interpretação
conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o valor do benefício seria igual ao
salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso, mesmo o salário
mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar
automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não
pode servir como indexador. Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo
contida na lei estadual seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição
da lei, passando a ser corrigido nos anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com
isso, o benefício continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar
esse valor por meio de índices econômicos.
STF. Plenário. ADI 4726 MC/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2015 (Info 774)
Alguns de vocês podem estar se perguntando: mas eu conheço um benefício assistencial, chamado de LOAS
Este benefício é previsto no art. 20 da Lei n. 8.742/93. Essa Lei viola o art. 7º, IV, da CF/88?
(amparo assistencial), que é pago aos deficientes e idosos miseráveis e que é no valor de um salário mínimo.
NÃO. Isso porque é a própria CF/88, em seu art. 203, V, que determina que esse benefício será pago no
valor de um salário mínimo. Veja:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social, e tem por objetivos:
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que
comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei.
Assim, não há problema se a própria CF/88 estabelecer vinculações a salário mínimo. Quem não pode
fazer isso é a lei sem respaldo constitucional.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que cria obrigações pecuniárias
para as concessionárias de energia elétrica
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que determine que os postes de sustentação à rede elétrica
que estejam causando transtornos ou impedimentos aos proprietários de terrenos serão
removidos, sem qualquer ônus para os interessados. Isso porque essa lei trata sobre energia
elétrica, matéria de competência privativa da União (art. 22, IV, da CF/88), além de interferir
nos termos da relação contratual estabelecida entre o poder federal e as concessionárias que
exploram o serviço de fornecimento de energia elétrica no Estado-membro.
STF. Plenário. ADI 4925/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 12/2/2015 (Info 774).
A referida lei, ao criar para a empresa concessionária de energia elétrica obrigação significativamente
onerosa a ser prestada em hipóteses de conteúdo vago ( que estejam causando transtornos ou
impedimentos ), para o proveito de interesses individuais dos proprietários de terrenos, teria se imiscuído
nos termos da relação contratual estabelecida entre o poder federal e as concessionárias que exploram o
serviço de fornecimento de energia elétrica no Estado-membro.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que proíba comercialização de produtos estrangeiros com agrotóxicos
Lei determinando o controle de resíduos agrotóxicos nos produtos importados de outros países
Foi editada uma lei no Rio Grande do Sul determinando que ficava proibida a comercialização, a
estocagem e o trânsito de arroz, trigo, feijão, cebola, cevada e aveia e seus derivados, importados de
outros países, para consumo e comercialização no Estado, que não tivessem sido submetidos à análise de
resíduos químicos de agrotóxicos.
De acordo com a exposição de motivos da mencionada lei, a proibição em questão teria objetivo de evitar
que a população gaúcha consumisse produtos contaminados por agrotóxicos que, pela legislação federal,
seriam de uso proibido no País, por serem nocivos à saúde, mas que teriam uso regular na Argentina e no
Uruguai. Entretanto, em que pese a relevância das preocupações do Poder Legislativo gaúcho, a lei não
esconderia o propósito de criar requisitos especiais ao ingresso naquele Estado-membro de produtos
agrícolas provindos do exterior. Ao fazê-lo, a lei, por consequência lógica, restringiria a entrada desses
produtos não apenas no Rio Grande do Sul, mas em todo o País.
Para o STF, não é possível compreender a matéria como sendo de competência concorrente, sob o
argumento de tratar-se de legislação concernente à proteção da saúde dos consumidores (art. 24, V e XII,
§§ 1º e 2º). Isso porque, ainda que se trate de questão, sob certo ponto de vista, relacionada com
consumo e proteção à saúde, a lei é predominantemente sobre comércio exterior.
PROCESSO LEGISLATIVO
Inconstitucionalidade de EC iniciada por parlamentar tratando sobre matérias do art. 61, § 1º da CF
Mas o art. 61, § 1º, fala e leis e o ato i pug ado era u a e e da co stitucio al...
O STF entende que se houver uma emenda constitucional tratando sobre algum dos assuntos listados no
art. 61, § 1º, da CF/88, essa emenda deve ter sido proposta pelo chefe do Poder Executivo. Assim, é
incabível que os parlamentares proponham uma emenda constitucional dispondo sobre o regime jurídico
dosàse vido esàpú li os,àpo àexe ploà a t.à ,à§à º,à II,à .à“eàissoàfosseà pe itido,àse iaàu aàfo aàdeà
burlar a regra do art. 61, § 1º, da CF/88.
E àsu a,à at iaà est itaà ài i iativaàdoàPode àExe utivoànão pode ser regulada por emenda constitucional de
o ige àpa la e ta à “TF.àPle io.àáDIà . ,àRel.àMi .àJoa ui àBa osa,àjulgadoàe à / / .
NOÇÕES GERAIS
Responsabilidade do chefe do Poder Executivo
O chefe do Poder Executivo (Presidente da República, Governadores e Prefeitos) podem praticar duas
espécies de crime:
São aqueles tipificados na lei penal São infrações político-administrativas praticadas por
(Código Penal e legislação extravagante). pessoas que ocupam determinados cargos públicos. Caso o
Exs: peculato, corrupção passiva etc. agente seja condenado por crime de responsabilidade ele
não receberá sanções penais (prisão ou multa), mas sim
sanções político-administrativas (perda do cargo e
inabilitação para o exercício de função pública).
Os crimes de responsabilidade estão previstos:
Presidente: art. 85 da CF/88 e Lei n. 1.079/50.
Governador: Lei n. 1.079/50.
Prefeito: DL 201/67.
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra:
(...)
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e
julgamento.
áàdout i aà o eituaàosà i esà deà espo sa ilidadeà o oàse doà i f aç esàpolíti o-ad i ist ativas .àNoà
entanto, o STF entende que, para fins de competência legislativa, isso é matéria que se insere no direito
penal e processual, de forma que a competência é da União.
Dessa forma, a Constituição Estadual deve seguir rigorosamente os termos da legislação federal sobre
crimes de responsabilidade, devendo, portanto, o julgamento ocorrer perante um Tribunal Especial.
CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS NÃO PODEM PREVER QUE A COMPETÊNCIA PARA JUGAR GOVERNADORES É DA ALE
Algumas Constituições estaduais preveem que os Governadores, quando cometerem crimes de
responsabilidade, serão julgados pela Assembleia Legislativa. Essa regra é válida?
NÃO. Como vimos acima, a competência para julgar os Governadores de Estado em caso de crimes de
responsabilidade é de um Tribunal Especial ,à ueà à o postoàespe ial e teàpa aàjulga àoàfatoàeà ueà à
formado por 5 Deputados Estaduais e 5 Desembargadores, sob a presidência do Presidente do Tribunal de
Justiça. Isso está previsto no art. 78, § 3º da Lei n. 1.079/50:
Art. 78. O Governador será julgado nos crimes de responsabilidade, pela forma que determinar a
Constituição do Estado e não poderá ser condenado senão a perda do cargo, com inabilitação até cinco
anos para o exercício de qualquer função pública, sem prejuízo da ação da justiça comum.
(...)
§ 3º Nos Estados, onde as Constituições não determinarem o processo nos crimes de responsabilidade dos
Governadores, aplicar-se-á o disposto nesta lei, devendo, porém, o julgamento ser proferido por um
tribunal composto de cinco membros do Legislativo e de cinco desembargadores sob a presidência do
Presidente do Tribunal de Justiça local, que terá direito de voto no caso de empate. A escolha desse
Tribunal será feita - a dos membros dos membros do legislativo, mediante eleição pela Assembléia; a dos
desembargadores, mediante sorteio.
CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS PODEM PREVER LICENÇA PRÉVIA DA ALE COMO CONDIÇÃO PARA O PROCESSO
Algumas Constituições estaduais preveem que, antes de os Governadores serem julgados (por crimes
comuns ou de responsabilidade), é necessária a autorização da Assembleia Legislativa (licença prévia)
mediante voto de 2/3 de seus membros. Essa regra é válida?
SIM. O STF reconheceu a constitucionalidade das normas das Constituições estaduais que exigem a
aprovação de 2/3 dos membros da Assembleia Legislativa como requisito indispensável (a denominada
licença prévia) para se admitir a acusação nas ações por crimes comuns e de responsabilidade,
eventualmente dirigidas contra o governador do Estado.
Segundo o STF, durante a fase inicial de tramitação de processo instaurado contra Governador, a
Constituição estadual deve obedecer à sistemática disposta na legislação federal.
A CF/88 prevê que compete à Câmara dos Deputados autorizar, por 2/3 de seus membros, a instauração
de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República (art. 51, I). Assim, é constitucional
norma prevista em Constituição estadual que preveja a necessidade de autorização prévia da Assembleia
Legislativa para que sejam iniciadas ações por crimes comuns e de responsabilidade eventualmente
dirigidas contra o Governador de Estado. Isso porque não há nada que impeça que as Constituições
estaduais estendam aos Governadores, por simetria, essa prerrogativa assegurada ao Presidente da
República no art. 51, I, da CF/88.
Essa licença prévia não se constitui em uma regalia antirrepublicana deferida em favor da pessoa do
Governador. Trata-se de uma garantia que serve para a preservação da normalidade institucional das
funções do Executivo e a salvaguarda da autonomia política do Estado-membro.
A exigência de licença para o processamento do Governador não traz prejuízo para o exercício da jurisdição,
porque, enquanto não autorizado o prosseguimento da ação punitiva, fica suspenso o prazo prescricional.
Vale ressaltar, no entanto, que essa necessidade de autorização prévia da ALE (controle político) não existe
para atos constritivos acessórios à investigação penal, entre eles as prisões cautelares. Em outras palavras, não
é preciso autorização prévia da ALE para investigar o Governador nem para decretar a sua prisão.
Lei do Estado da Bahia fixava um teto remuneratório exclusivo para os servidores do Poder
Judiciário.
O STF entendeu que essa lei é inconstitucional.
O teto para o funcionalismo estadual somente pode ser fixado por meio de emenda à
Constituição estadual, não sendo permitido mediante lei estadual.
Além disso, a Constituição do Estado da Bahia adotou subteto único (§ 12º do art. 37 da CF/88)
e a lei viola a sistemática escolhida porque fixou um teto apenas para os servidores do Poder
Judiciário, excluindo-o para os demais Poderes.
STF. Plenário. ADI 4900/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 11/2/2015 (Info 774).
Teto remuneratório
áà CF/ à p ev ,à e à seuà a t.à ,à XI,à oà ha adoà tetoà e u e at io ,à ouà seja,à oà valo à xi oà ueà osà
agentes públicos podem receber no país. O objetivo do constituinte foi o de evitar que alguns agentes
pú li osà e e esse àosà ha adosà supe sal ios ,à ueàsãoài o patíveisà o àoàse viçoàpú li o.
Além de um teto geral (nacional), o dispositivo constitucional prevê limites específicos para o âmbito dos
Estados e Municípios (chamados de subtetos).
O teto geral do serviço público no Brasil é o subsídio dos Ministros do STF.
Vale ressaltar que, na época, em 2010, o subsídio dos Ministros do STF era de quase R$ 27 mil.
TRIBUNAL DO JÚRI
Referência ou leitura de sentença prolatada em desfavor do corréu
Importante!!!
Imagine que duas pessoas tenham praticado, em conjunto, homicídio. Uma delas foi julgada
primeiro, tendo sido condenada. No julgamento do segundo réu, durante os debates no
Plenário do Júri, o Promotor de Justiça leu a sentença que condenou o primeiro réu. Houve
nulidade por violação do art. 478, I, do CPP?
NÃO. A leitura, pelo Ministério Público, da sentença condenatória de corréu proferida em
julgamento anterior não gera nulidade de sessão de julgamento pelo conselho de sentença.
Segundo decidiu o STF, o art. 478, I, não proíbe que se leia a sentença condenatória de corréu
no mesmo processo. Logo, não é possível falar que houve descumprimento da regra prevista
nesse dispositivo.
STF. 1ª Turma. RHC 118006/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info 774).
RECURSOS
Inexistência de reformatio in pejus na manutenção da condenação, mas com base em
fundamentos diversos da sentença
Não caracteriza reformatio in pejus a decisão de tribunal de justiça que, ao julgar recurso de
apelação exclusivo da defesa, mantém a reprimenda aplicada pelo magistrado de primeiro
grau, porém, com fundamentos diversos daqueles adotados na sentença.
STF. 1ª Turma. RHC 119149/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info 774).
Em recurso exclusivo da defesa, o Tribunal não pode complementar a sentença para acrescentar fatos que
possam repercutir negativamente no âmbito da dosimetria da pena (STF. 1ª Turma. HC 101380, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 04/10/2011). Se o Tribunal fizesse isso, haveria a chamada reformatio in pejus.
Vale ressaltar, no entanto, que nãoà a a te izaà efo atioài àpejus àaàde isãoàdeàt i u alàdeàjustiçaà ue,à
ao julgar recurso de apelação exclusivo da defesa, mantém a reprimenda aplicada pelo magistrado de
primeiro grau, porém com fundamentos diversos daqueles adotados na sentença.
No caso concreto, o réu foi condenado em 1ª instância e apelou para o TJ. O MP não recorreu. No recurso,
a defesa questionou os parâmetros utilizados na dosimetria da pena. O TJ manteve a condenação e a pena
imposta, no entanto, um dos aspectos, o Desembargador falou que não deveria ser considerado como
o dutaà so ial à o oà fezà oà juiz ,à se doà aisà ade uadoà lassifi a à essaà i unstância como
pe so alidade àdoàage te. Desse modo, o Tribunal manteve a reprimenda fixada, mas com fundamentos
diferentes dos que foram adotados na sentença, o que não configura reformatio in pejus.
DIREITO PENAL /
PROCESSUAL PENAL MILITAR
DESERÇÃO
Prescrição no caso do crime de deserção
Atenção! DPU
Como ocorre a prescrição no caso do crime de deserção:
a) Se o agente praticou a deserção, mas depois foi reincorporado ao serviço militar: no dia em
que ele reapareceu, inicia-se o prazo prescricional, nos termos do art. 125 do CPM;
b) Se o desertor ainda não foi capturado nem se apresentou à corporação: aplica-se a regra
especial prevista no art. 132 do CPM. Esse artigo determina que, mesmo o agente não
reaparecendo, haverá prescrição quando ele completar 45 anos (se não tiver patente de
oficial); se for oficial, a prescrição ocorre quando atingir 60 anos.
Deserção
O Código Penal militar prevê o delito de deserção nos seguintes termos:
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve
permanecer, por mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.
Vale ressaltar, no entanto, que o crime de deserção é permanente e que a conduta delitiva só é cessada no
momento da captura ou da apresentação voluntária do agente. Assim, enquanto ele se encontra foragido,
não se iniciou o curso do prazo prescricional.
b) Se o desertor (trânsfuga) ainda não foi capturado nem se apresentou à corporação: aplica-se a regra
especial prevista no art. 132 do CPM:
Art. 132. No crime de deserção, embora decorrido o prazo da prescrição, esta só extingue a punibilidade
quando o desertor atinge a idade de quarenta e cinco anos, e, se oficial, a de sessenta.
Atenção! DPU
O fato de abandonar o serviço e praticar a deserção, dentro de um mesmo contexto fático, não
implica duas ações autônomas, incidindo, na hipótese, o fenômeno da absorção de um crime por
outro, uma vez que o abandono afigurou-se meio necessário à consecução do delito de deserção.
STF. 2ª Turma. RHC 125112/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/2/2014 (Info 774).
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve
permanecer, por mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o pôsto ou lugar de serviço que lhe tenha sido designado, ou o
serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 9 a 13 de fevereiro de 2013
CLIPPING DO D JE
9 a 13 de fevereiro de 2013
ADI N. 2.616-PR
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Emenda nº 10/2001 à Constituição do Estado do Paraná. Inconstitucionalidade formal.
Vício de iniciativa.
1. Ação direta proposta em face da Emenda Constitucional nº 10/2001 à Constituição do Estado do Paraná, a qual cria um novo órgão de polícia, a
“Polícia Científica”.
2. Vício de iniciativa em relação à integralidade da Emenda Constitucional nº 10/2001, uma vez que, ao disciplinar o funcionamento de um órgão
administrativo de perícia, dever-se-ia ter observado a reserva de iniciativa do chefe do Poder Executivo prevista no art. 61, § 1º, II, e, da CF/88.
Precedentes: ADI nº 3.644/RJ, ADI nº 4.154/MT, ADI nº 3.930/RO, ADI nº 858/RJ, ADI nº 1.746/SP-MC.
3. Ação direta julgada procedente.
*noticiado no Informativo 768
RE N. 477.323-RS
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS – BASE DE INCIDÊNCIA REDUZIDA – SISTEMA OPCIONAL. Sendo
opcional o sistema a envolver base do tributo reduzida, não se tem violência ao princípio da não cumulatividade no que considerado o crédito de
forma proporcional.
*noticiado no Informativo 763
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 3628/AP; ADI 3802/DF; ADI 5154/PA; HC 124180/RS.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 2433/RN; ADI 2072/RS; ADI 5091 Referendo-MC/MT; ADI 4967/PA; HC 119934/SP.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PROCESSO LEGISLATIVO
Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos e militares.
Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo.
DIREITO ADMINISTRATIVO
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Inconstitucionalidade de lei estadual que preveja pensão para cônjuges de todos os falecidos por crimes hediondos.
DIREITO CONSTITUCIONAL
PROCESSO LEGISLATIVO
Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos e militares
Princípio da simetria
Segundo o princípio ou regra da simetria, o legislador constituinte estadual, ao elaborar as normas da
Constituição estadual sobre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e sobre as regras do pacto
federativo, deverá observar, em linhas gerais, o mesmo modelo imposto pela Constituição Federal, a fim
de manter a harmonia e independência entre eles.
Ex.: a CE não pode estabelecer que o projeto de lei para a criação de cargos na Administração Pública
estadual seja de iniciativa parlamentar. Tal previsão violaria o princípio da simetria, já que iria de encontro
ao odelo fede al i posto pelo a t. , § º, II, a , da CF/ .
O princípio da simetria não está previsto de forma expressa na CF/88. Foi uma criação pretoriana, ou seja,
idealizado pela jurisprudência do STF.
Alguns Ministros invocam como fundamento normativo para a sua existência o art. 25 da CF e o art. 11 do
ADCT, que determinam aos Estados-membros a observância dos princípios da Constituição da República.
As regras de processo legislativo previstas na CF/88 são normas de reprodução obrigatória pelos Estados-
membros, ou seja, estão submetidas ao princípio da simetria.
Leis de iniciativa parlamentar que tratem sobre regime jurídico de servidores públicos e também de
militares são inconstitucionais
O STF constantemente julga inconstitucionais leis de iniciativa parlamentar que versem sobre direitos e
deveres dos servidores públicos e dos militares. Existe, nessa situação, inconstitucionalidade formal
subjetiva.
No caso julgado pelo STF e noticiado neste Informativo 773, a Lei n. 6.841/96, do Estado de Mato Grosso,
de iniciativa parlamentar, tratou sobre a indenização por morte e invalidez permanente dos servidores
públicos militares do referido Estado-membro.
O STF julgou a referida lei inconstitucional por ofender os arts. 2º; 61, § 1º, II, c e f ; 63, II; e 84, III,
todos da CF/88, a ensejar sua inconstitucionalidade formal.
Se o Governador do Estado sancionar o projeto de lei de iniciativa parlamentar que trate sobre matéria
de iniciativa privativa do chefe do Executivo, essa sanção faz com que o vício de iniciativa seja sanado
(corrigido)?
NÃO. A jurisprudência do STF é firme no sentido de que a sanção do projeto de lei aprovado não convalida
o defeito de iniciativa. Assim, se o projeto de lei deveria ter sido apresentado pelo Chefe do Poder
Executivo e, no entanto, foi deflagrado por um Parlamentar, ainda que este projeto seja aprovado e
mesmo que o Chefe do Executivo o sancione, ele continuará sendo formalmente inconstitucional.
Antigamente (há muitos anos), o STF tinha posição em sentido contrário, tanto que havia editado uma
PROCESSO LEGISLATIVO
Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo
O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa privativa do chefe
do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre uma das matérias do art. 61, §
1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser alterado pelos parlamentares?
SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada ao Chefe do
Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas originalmente previstas (art. 63, I, da CF/88).
Assim, nos projetos de lei de iniciativa do Chefe do Executivo, o parlamentar pode até propor emendas,
mas estas deverão respeitar as restrições trazidas pelo art. 63, I, da CF/88.
Importante!!!
O art. 5º da MP 2.170-36/2001 permite que haja capitalização de juros com periodicidade
inferior a um ano nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema
Financeiro Nacional.
A MP 2.170-36/2001 era impugnada sob a alegação de que o tema capitalização de juros não
possuía relevância e urgência, de forma que não poderia ter sido tratado por meio de medida
provisória (art. 62 da CF/88).
Juros capitalizados
A capitalização de juros, também chamada de anatocismo, ocorre quando os juros são calculados sobre os
próprios juros devidos.
Out as de o i aç es pa a apitalização de ju os : ju os so e ju os , ju os o postos ou ju os
f ugífe os .
Normalmente, são verificados em contratos de financiamento bancário.
A ressalva prevista na segunda parte do art. 4º (a parte destacada) significa que a Lei da Usura permite a
capitalização anual.
Desse modo, a capitalização anual sempre foi PERMITIDA (para todos os contratos).
Em outras palavras, todas as medidas provisórias que estavam em vigor quando foi publicada a EC
32/2001 deixaram de ser provisórias e passaram a vigorar como se fossem lei. Assim, as medidas
provisórias que estavam em vigor quando veio a EC 32/2001 não mais têm prazo para expirar e irão valer
até que uma lei as revogue ou que elas sejam rejeitadas pelo Congresso.
Quando a EC 32/2001, entrou em vigor, a MP 2.170-36/2001 estava valendo e foi ete izada , ou seja, ela
vale como se fosse uma lei até que outra lei a revogue ou até que o Congresso a rejeite.
Desse modo, a MP 2.170-36/2001 permitiu que as instituições financeiras, em seus contratos, fixassem a
capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano. Esta MP continua vigorando e não tem data
para perder eficácia por causa do art. 2º da EC 32/2001.
Impugnações à MP 2.170-36/2001
Existem, no Poder Judiciário, milhares de ações judiciais questionando a legalidade e a constitucionalidade
da MP 2.170-36/2001. As três impugnações principais contra a referida MP são as seguintes:
Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? A MP 2.170-36/2001 é ilegal? A capitalização de juros com
periodicidade inferior a um ano (ex: capitalização mensal de juros) é proibida também para os bancos?
NÃO. É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos BANCÁRIOS
celebrados após 31 de março de 2000, data da publicação da MP 1.963-17/2000 (atual MP 2.170-
36/2001), desde que expressamente pactuada (STJ. 2ª Seção. REsp 973.827/RS, Rel. p/ Acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 08/08/2012).
O art. 591 do Código Civil não alterou a regra do art. 5º da MP porque esta é norma específica e o CC é lei
geral, aplicando-se o princípio da especialidade, segundo o qual lei geral não revoga lei específica, ainda
que seja posterior.
A MP também não viola qualquer disposição do CDC.
Portanto, sob o ponto de vista da legalidade, o art. 5º da MP 2.170-36/2001 é plenamente válido.
Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? A MP 2.170-36/2001 é inconstitucional por ter sido editada
sem relevância e urgência?
NÃO. O STF decidiu que o art. 5º da MP 2.170-36/2001 é formalmente constitucional, não tendo violado o
art. 62 da CF/88.
A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias consiste, em regra,
em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do Presidente da República,
controlado pelo Congresso Nacional.
Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na análise dos
requisitos da MP.
No caso concreto, do ponto de vista da relevância, esta estaria presente, considerando que a MP trata sobre
a regulação das operações do Sistema Financeiro, tema de suma importância para a economia do país.
Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5
No que se refere à urgência, a norma foi editada há 15 anos, em um período cuja realidade financeira era
diferente da atual, sendo difícil afirmar com segurança que não havia o requisito da urgência naquela
oportunidade. O cenário econômico, caracterizado pela integração da economia nacional ao mercado
financeiro mundial, exigia medidas céleres, destinadas à adequação do Sistema Financeiro Nacional aos
padrões globais.
Além disso, se a Corte declarasse a inconstitucionalidade da norma, isso significaria atuar sobre um
passado em que milhares de operações financeiras poderiam, em tese, ser atingidas.
3) Inconstitucionalidade material da MP
Existe uma ADI no STF que, além dos requisitos da MP, alega também a inconstitucionalidade material da
capitalização de juros em periodicidade inferior a um ano. Trata-se da ADI 2316, cujo julgamento ainda
não foi concluído.
DIREITO ADMINISTRATIVO
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Inconstitucionalidade de lei estadual que preveja pensão para cônjuges
de todos os falecidos por crimes hediondos
É inconstitucional lei estadual (distrital) que preveja o pagamento de pensão especial a ser
concedida pelo Governo do Estado (Distrito Federal) em benefício dos cônjuges de pessoas
vítimas de crimes hediondos, independentemente de o autor do crime ser ou não agente do
Estado. Tal lei amplia, de modo desmesurado (irrazoável), a responsabilidade civil do Estado
prevista no art. 37, § 6º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1358/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 773).
Em 1995, foi editada uma Lei no Distrito Federal prevendo uma pensão especial a ser paga para os
cônjuges de pessoas assassinadas vítimas de crimes hediondos ocorridos no DF.
Em outras palavras, todas as vezes que morresse alguém no DF, vítima de crime hediondo, o Governo
deveria pagar uma pensão mensal ao viúvo (a) do(a) morto(a) mesmo que o autor do delito não tivesse
sido um agente público.
O STF entendeu que essa lei é inconstitucional porque amplia, de modo desmesurado, a responsabilidade
prevista no art. 37, § 6º, da CF/88.
A referida Lei impôs ao DF responsabilidade civil muito maior que a prevista na CF/88.
A Constituição afirma que o Estado é responsável civilmente pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros.
Vale ressaltar que o Poder Público até poderia, como medida de assistência social (e não por força de
responsabilidade civil), instituir essa pensão, mas desde que fosse para pessoas necessitadas, conforme
exige o art. 203 da CF/88 e, desde que houvesse a previsão da fonte de custeio total (§ 5º do art. 195):
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social, e tem por objetivos:
(...)
Art. 195 (...)
§ 5º - Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a
correspondente fonte de custeio total.
O Procurador-Geral da República ajuizou ADI contra todo o inciso I e também contra a expressão
ap ese tação de te as e o g essos ela io ados o os se viços ota iais e egist ais , o sta te do
inciso II. Segundo o PGR, essas regras violam o princípio da isonomia.
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 2 a 6 de fevereiro de 2015
Decisões Publicadas: 5
CLIPPING DO D JE
2 a 6 de fevereiro de 2015
ADI N. 2.255-ES
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei estadual nº 5.645/1998, do Espírito Santo. Indenização de vítimas de violências praticadas por agentes
estatais. 3. Inexistência de vício formal. Responsabilidade civil do Estado. Regulação de matéria exclusiva de direito administrativo. 4. Não regulação
de matéria de competência exclusiva do Presidente da República. Inocorrência de usurpação de competência privativa da União. 5. Ação direta
julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 768
ADI N. 2.444-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 11.521/2000 do Estado do Rio Grande do Sul. Obrigação do Governo de divulgar na
imprensa oficial e na internet dados relativos a contratos de obras públicas. Ausência de vício formal e material. Princípio da publicidade e
da transparência. Fiscalização. Constitucionalidade. 1. O art. 22, inciso XXVII, da Constituição Federal atribuiu à União a competência para editar
normas gerais de licitações e contratos. A legislação questionada não traz regramento geral de contratos administrativos, mas simplesmente determina
a publicação de dados básicos dos contratos de obras públicas realizadas em rodovias, portos e aeroportos. Sua incidência é pontual e restrita a
contratos específicos da administração pública estadual, carecendo, nesse ponto, de teor de generalidade suficiente para caracterizá-la como “norma
geral”.2. Lei que obriga o Poder Executivo a divulgar na imprensa oficial e na internet dados relativos a contratos de obras públicas não depende de
iniciativa do chefe do Poder Executivo. A lei em questão não cria, extingue ou modifica órgão administrativo, tampouco confere nova atribuição a
órgão da administração pública. O fato de a regra estar dirigida ao Poder Executivo, por si só, não implica que ela deva ser de iniciativa privativa do
Governador do Estado. Não incide, no caso, a vedação constitucional (CF, art. 61, § 1º, II, e). 3. A legislação estadual inspira-se no princípio da
publicidade, na sua vertente mais específica, a da transparência dos atos do Poder Público. Enquadra-se, portanto, nesse contexto de aprimoramento
da necessária transparência das atividades administrativas, reafirmando e cumprindo o princípio constitucional da publicidade da administração
pública (art. 37, caput, CF/88). 4. É legítimo que o Poder Legislativo, no exercício do controle externo da administração pública, o qual lhe foi
outorgado expressamente pelo poder constituinte, implemente medidas de aprimoramento da sua fiscalização, desde que respeitadas as demais balizas
da Carta Constitucional, fato que ora se verifica.5. Não ocorrência de violação aos ditames do art. 167, I e II, da Carta Magna, pois o custo gerado
para o cumprimento da norma seria irrisório, sendo todo o aparato administrativo necessário ao cumprimento da determinação legal preexistente.6.
Ação julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 766
ADI N. 3.223-SC
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 10.926/1998 do Estado de Santa Catarina. Tribunal de contas. Vício de iniciativa.
Inconstitucionalidade formal. Transposição de cargos de corte de contas para o quadro de pessoal do Poder Executivo. 1.
Inconstitucionalidade formal de dispositivo acrescentado por emenda parlamentar que transpõe cargos de analista de controle externo do quadro de
pessoal do Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina para o grupamento funcional do Poder Executivo local. Essa transposição promove
indiretamente a extinção de cargos públicos pertencentes à composição funcional do Tribunal de Contas do Estado.2. Conforme reconhecido pela
Constituição de 1988 e pelo Supremo Tribunal Federal, gozam as cortes de contas do país das prerrogativas da autonomia e do autogoverno, o que
inclui, essencialmente, a iniciativa reservada para instaurar processo legislativo para criar ou extinguir cargos, como resulta da interpretação
sistemática dos arts. 73, 75 e 96, II, b, da Constituição Federal (cf. ADI nº 1.994/ES, Relator o Ministro Eros Grau, DJ de 8/9/06; ADI nº 789/DF,
Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 19/12/94).3. A jurisprudência da Corte é firme no sentido de que a Constituição Federal veda ao Poder
Legislativo formalizar emendas a projetos de iniciativa exclusiva se delas resultar aumento de despesa pública ou se forem elas totalmente
impertinentes à matéria versada no projeto (ADI nº 3.288/MG, rel. Min. Ayres Britto, DJ de 24/2/11; ADI n° 2350/GO, Rel. Min. Maurício Corrêa,
DJ de 30/4/2004). No caso dos autos, o projeto original já versava acerca da transposição de cargos públicos, mas essa transposição limitava-se a
cargos do quadro do Poder Executivo. 4. Ação julgada procedente.
*noticiado no Informativo 766
ADI N. 4.203-RJ
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 5.388/99 do Estado do Rio de Janeiro. CONAMP. Obrigação de entrega de
declaração de bens à Assembleia Legislativa por agentes públicos estaduais. Competência atribuída ao Poder Legislativo sem o devido
amparo constitucional. Vício de iniciativa. Parcial procedência.1. A CONAMP congrega os membros do Ministério Público da União e dos
Estados, tendo legitimidade reconhecida por esta Corte (ADI nº 2.794/DF, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 30/3/07). A exigência de
pertinência temática não impede o amplo conhecimento da ação, com a declaração de inconstitucionalidade da norma para além do âmbito dos
indivíduos representados pela entidade requerente, quando o vício de inconstitucionalidade for idêntico para todos os seus destinatários. Precedentes.
Preliminar rejeitada.2. Lei estadual que estabeleceu, com fundamento na competência constitucional de controle externo por parte do Poder
Legislativo, a obrigatoriedade de apresentação de declaração de bens por diversos agentes públicos estaduais (magistrados, membros do Ministério
Público, deputados, procuradores do estado, defensores públicos, delegados etc.) à Assembleia Legislativa.3. Modalidade de controle direto dos
demais Poderes pela Assembleia Legislativa - sem o auxílio do Tribunal de Contas do Estado - que não encontra fundamento de validade na
Constituição Federal. Assim, faltando fundamento constitucional a essa fiscalização, não poderia a Assembleia Legislativa, ainda que mediante lei,
TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12
Busca e apreensão e autorização judicial (Transcrições)
(v. Informativo 772)
HC 106.566/SP*
RELATOR: Ministro Gilmar Mendes
Habeas corpus. 2. Inviolabilidade de domicílio (art. 5º, IX, CF). Busca e apreensão em estabelecimento empresarial. Estabelecimentos
empresariais estão sujeitos à proteção contra o ingresso não consentido. 3. Não verificação das hipóteses que dispensam o consentimento. 4.
Mandado de busca e apreensão perfeitamente delimitado. Diligência estendida para endereço ulterior sem nova autorização judicial. Ilicitude
do resultado da diligência. 5. Ordem concedida, para determinar a inutilização das provas.
RELATÓRIO: Trata-se de habeas corpus, sem pedido de medida liminar, impetrado por **, ** e ** em favor de **, contra acórdão proferido pela
Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, por maioria, conheceu, parcialmente, do pedido e, nessa extensão, denegou a ordem no HC
124.253/SP.
Relatou que foi alvo das investigações policiais federais – “Chacal” e “Satiagraha”. Em 27.10.2004, os policiais cumpriram mandado de busca
e apreensão, expedido nos autos do PCD 2004.61.81.001452-5 pela 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, tendo como alvo o endereço profissional
do paciente, localizado na Av. **, **, Rio de Janeiro/RJ, no 28º andar. Na mesma oportunidade, realizaram busca e apreensão no endereço do Banco
**, localizado no 3º andar do mesmo edifício, sem que houvesse mandado judicial para tal endereço.
Afirmou que, após decidir realizar a busca e apreensão no 3º andar, a autoridade policial entrou em contato com o juiz substituto da Vara em
questão. Esse juiz emitiu decisão autorizando o espelhamento do disco rígido do servidor da instituição financeira. Ressaltou que o magistrado não era
o mesmo que emitiu os mandados, não dispunha dos autos em que a medida foi determinada, não sabia da inexistência de mandado para o endereço e
não autorizou a apreensão, apenas determinou o espelhamento imediato do disco rígido como forma de preservar o funcionamento da instituição
financeira.
Relatou que a defesa do paciente e o Banco ** interpuseram apelação contra a decisão que determinou as buscas e apreensões (Processo nº
2004.61.81.009685-2).
Paralelamente, a defesa do paciente peticionou ao juiz da causa, que proferiu decisão reconhecendo a ilicitude da prova obtida, mas negou-se a
devolver os objetos apreendidos, alegando que a questão estava devolvida ao Tribunal Regional em apelação dos requeridos contra a decisão que
determinou as buscas. Contra a decisão que reconheceu a ilegalidade da busca, o Ministério Público Federal propôs a Correição Parcial, à qual foi
negado seguimento.
Sobreveio decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, negando provimento ao apelo do paciente e do Banco ** contra o indeferimento
da exclusão da prova.
Alegou que a decisão do Tribunal Regional resulta indevida, visto que agrava a situação do paciente em recurso exclusivo da defesa.
Acrescentou ter sido impetrado o Habeas Corpus 124.253, em favor do paciente, buscando, novamente, a exclusão da prova. Sobreveio
decisão denegando a ordem, fundamentada na desnecessidade de referência precisa do local a ser cumprida a diligência de busca e apreensão e no fato
de que o paciente seria, “notoriamente”, vinculado ao Banco **. Aduziu que os argumentos não se sustentam.
Pediu provimento judicial que:
“reconhecendo a ilegalidade decorrente da busca e apreensão determinada no curso do Processo nº 2004.61.81.001452-5, decrete a nulidade da
diligência de busca e apreensão sucedida em 27/10/2004, precisamente no ponto em que, extrapolando os limites do mandado judicial,
abrangeu as dependências do BANCO **.”
Distribuída a ação ao ministro Marco Aurélio, por dependência ao Habeas Corpus 98.667, sobreveio decisão encaminhando os autos ao Ministro-
Presidente para verificação de prevenção ao Habeas Corpus 95.009, relatoria do Ministro Eros Grau (eDOC 55).
Sobreveio decisão do Ministro-Presidente, Cezar Peluso, determinando a livre distribuição do feito (eDOC 57).
Redistribuídos, determinei a regularização dos documentos que instruíram a petição inicial e solicitei informações ao Juízo de primeira
instância (eDOC 59).
Prestadas informações (eDOC 62), o Procurador-Geral da República pugnou pela denegação da ordem (eDOC 69).
Sobreveio petição dos impetrantes (eDOC 71), informando que o paciente foi absolvido em primeira instância, mas mantém o legítimo
interesse processual, visto que interposta apelação pelo Ministério Público.
É o relatório.
VOTO: Tenho por cabível o habeas corpus. O entendimento do Supremo Tribunal Federal é pelo cabimento do uso da ação com vistas ao
reconhecimento de ilicitude de provas. Especificamente, no que se refere à busca e apreensão, menciono o HC 112.851, de minha relatoria, julgado
pela 2ª Turma em 5.3.2013.
Da mesma forma, é firme o entendimento da 2ª Turma no sentido de que o cabimento do recurso ordinário não afasta a possibilidade de
impetração de novo habeas corpus. No julgamento do HC 111.670, Segunda Turma, julgado em 25.6.2013, votei pelo cabimento do habeas corpus
substitutivo do recurso ordinário, nos seguintes termos:
“Como já tive a oportunidade de me manifestar, não olvido as legítimas razões que alimentam a preocupação com o alargamento das
hipóteses de cabimento do habeas corpus e, com efeito, as distorções que dele decorrem. Contudo, incomoda-me mais, ante os fatos históricos,
restringir seu espectro de tutela.
O valor fundamental da liberdade, que constitui o lastro principiológico do sistema normativo penal, sobrepõe-se a qualquer regra
processual cujos efeitos práticos e específicos venham a anular o pleno exercício de direitos fundamentais pelo indivíduo. Ao Supremo
Tribunal Federal, como guardião das liberdades fundamentais asseguradas pela Constituição, cabe adotar soluções que, traduzindo as
especificidades de cada caso concreto, visem reparar as ilegalidades perpetradas por decisões que, em estrito respeito a normas processuais,
acabem criando estados de desvalor constitucional”.
No HC 121.419, julgado pela 2ª Turma em 2.9.2014, voltei a manifestar minha contrariedade e preocupação com as teses pela limitação do
habeas corpus.
Dito isso, tenho por cabível a ação de habeas corpus para a finalidade pretendida.
Além disso, não vislumbro falta de legítimo interesse processual ou legitimidade de parte neste caso. Os impetrantes sustentam que o paciente
nada tem a ver com a administração do Banco **. Ainda assim, buscam impedir a utilização da prova apreendida na sede de tal instituição em ação
penal movida contra o paciente. Ainda que aparentemente contraditória, essa conduta não impede o conhecimento da ação de habeas corpus. O
implicado pode pedir a exclusão de uma prova, com fundamento em sua ilicitude, independentemente do conteúdo. Entender em contrário, seria
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: MI
4367 AgR/DF; RE 422349/RS; RE 603580/RJ.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: RvC 5437/RO; AR 1699/DF; Inq 3552 QO/RS; AP 347/CE; HC 121089/AP.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
AMICUS CURIAE
Recurso contra decisão que nega intervenção de amicus curiae.
DIREITO PENAL
MAUS ANTECEDENTES (DOSIMETRIA DA PENA)
Inquéritos policiais e ações penais sem trânsito em julgado.
FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PARA REPARAÇÃO DOS DANOS (ART. 387, IV DO CPP)
O inciso IV do art. 387 do CPP não pode ser aplicado a fatos anteriores à Lei 11.719/2008.
REVISÃO CRIMINAL
Impossibilidade de reiteração de teses já apreciadas no processo originário.
DIREITO INTERNACIONAL
EXTRADIÇÃO
Pedido de extradição formulado com base em terrorismo.
AMICUS CURIAE
Recurso contra decisão que nega intervenção de amicus curiae
CONCEITO E FINALIDADE
Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, em razão de sua representatividade, é chamado ou se
oferece para intervir em processo relevante com o objetivo de apresentar ao Tribunal a sua opinião sobre
o debate que está sendo travado nos autos, fazendo com que a discussão seja amplificada e o órgão
julgador possa ter mais elementos para decidir de forma legítima.
NOMENCLATURA
Amicus curiae,àe àu aàt aduçãoàlite alàdoàlati ,àsig ifi aà a igoàdaà o te àouà a igoàdoàt i u al .àO s.:
amici curiae é o plural de amicus curiae.
ORIGEM
Alguns autores afirmam que esta figura surgiu no direito processual penal inglês, enquanto outros
identificam uma origem mais remota, lembrando que havia figura assemelhada no direito romano
(Marcelo Novelino).
NATUREZA JURÍDICA
Existe muita polêmica sobre este ponto, mas prevalece, entre os Ministros do STF, que o amicus curiae é
uma forma de intervenção anômala de terceiros.
Como se vê, em regra, não é admitida a intervenção de terceiros nos processos de ADI e ADC, sendo,
contudo, permitida a participação do amicus curiae, que é uma intervenção anômala.
RECURSOS
Recursos cabíveis contra a decisão do Relator sobre a participação do amicus:
•à o t aàaàde isãoà despa ho à ueàad iteàaàpa ti ipaçãoàdoàamicus: não há recurso cabível.
•à ontra a decisão que inadmite a participação do amicus: cabe agravo regimental.
O amicus curiae não poderá intervir se o processo já foi liberado pelo Relator para que seja incluído na
pauta de julgamentos (STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 21/5/2014.
Info 747).
ECA
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Impossibilidade de privação da liberdade em caso da prática
de ato infracional equiparado ao art. 28 da LD
Não é possível aplicar nenhuma medida socioeducativa que prive a liberdade do adolescente
(internação ou semiliberdade) caso ele tenha praticado um ato infracional análogo ao delito
do art. 28 da Lei de Drogas. Isso porque o art. 28 da Lei 11.343/2006 não prevê a possibilidade
de penas privativas de liberdade caso um adulto cometa esse crime. Ora, se nem mesmo a
pessoa maior de idade poderá ser presa por conta da prática do art. 28 da LD, com maior razão
não se pode impor a restrição da liberdade para o adolescente que incidir nessa conduta.
STF. 1ª Turma. HC 119160/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 9/4/2014 (Info 742).
STF. 2ª Turma. HC 124682/SP, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 16/12/2014 (Info 772).
Sentença
Após toda a instrução, o juiz proferiu sentença aplicando ao adolescente medida socioeducativa de
semiliberdade.
Ao fundamentar a decisão, o magistrado afirmou que a medida era necessária porque Igor já havia
cometido outras infrações graves antes daquela, além de já ter em seu histórico o relato de
descumprimento de outras medidas socioeducativas anteriormente impostas.
A decisão do magistrado foi acertada? No caso concreto, era possível aplicar ao adolescente uma
medida socioeducativa que o priva da sua liberdade?
NÃO. Não é possível aplicar nenhuma medida socioeducativa que prive a liberdade do adolescente
(internação ou semiliberdade) caso ele tenha praticado um ato infracional análogo ao delito do art. 28 da
Lei de Drogas. Isso porque o art. 28 da Lei n. 11.343/2006 não prevê a possibilidade de penas privativas
de liberdade caso um adulto cometa esse crime. Ora, se nem mesmo a pessoa maior de idade poderá ser
presa por conta da prática do art. 28 da LD, com maior razão não se pode impor a restrição da liberdade
para o adolescente que incidir nessa conduta.
Veja as sanções previstas para o art. 28;
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal,
drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às
seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
O juiz somente pode aplicar a medida de internação ao adolescente infrator nas hipóteses taxativamente
previstas no art. 122 do ECA, pois a segregação do adolescente é medida de exceção, devendo ser aplicada
e mantida somente quando evidenciada sua necessidade, em observância ao espírito do Estatuto, que visa
à reintegração do menor à sociedade (STJ HC 213778).
Vale ressaltar, conforme vimos acima, que, no caso do art. 28 da LD não é possível aplicar a medida de
internação ou de semiliberdade nem mesmo em caso de reiteração de infrações (inciso II) ou de
descumprimento de medidas anteriormente aplicadas (inciso III).
Logo, se o adolescente praticar um ato infracional equiparado ao art. 28 da LD, somente poderá receber:
Medidas protetivas (arts. 101, I a VI, do ECA);
Advertência (art. 115);
Prestação de serviços à comunidade (art. 117);
Liberdade assistida (art. 118).
DIREITO PENAL
Importante!!!
A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não podem ser
considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena.
STF. Plenário. RE 591054/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
Critério trifásico
A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.
Este critério trifásico, elaborado por Nelson Hungria, foi adotado pelo Código Penal, sendo consagrado
pela jurisprudência pátria (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1021796/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 19/03/2013).
Antecedentes:
São as anotações negativas que o réu possua em matéria criminal.
Se o juiz entender que o réu possui maus antecedentes, ele irá aumentar a pena-base imposta ao
condenado.
Se o réu possui inquéritos policiais instaurados e ações penais em curso, tais elementos podem ser
considerados como maus antecedentes no momento da dosimetria da pena?
NÃO. Inquéritos policiais ou ações penais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena. Isso por causa do princípio da presunção de não culpabilidade.
Esse é o entendimento pacífico da jurisprudência.
No STF, a questão foi decidida pelo Plenário em sede de repercussão geral: RE 591054/SC, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
NULIDADES
Mandado de busca e apreensão com endereço incorreto
O juiz deferiu mandado de busca e apreensão tendo como alvo o escritório de um banco,
localizado no 28º andar de um prédio comercial. Quando os policiais chegaram para cumprir a
diligência, perceberam que a sede do banco ficava no 3º andar. Diante disso, entraram em
contato com o juiz substituto que autorizou, por meio de ofício sem maiores detalhes, a
apreensão do HD na sede do banco.
A 2ª Turma do STF declarou a ilegalidade da apreensão por ausência de mandado judicial
específico.
STF. 2ª Turma. HC 106566/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/12/2014 (Info 772).
A Lei 11.719/2008 alterou o CPP, prevendo que o juiz, ao condenar o réu, já estabeleça na
sentença um valor mínimo que o condenado estará obrigado a pagar a título de reparação dos
danos causados.
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV - fixará valor mínimo para reparação
dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;
A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei 11.719/2008. Se o
crime ocorreu antes dessa Lei e foi sentenciado após a sua vigência, o juiz não poderá aplicar
esse dispositivo e fixar o valor mínimo de reparação dos danos.
Segundo entendimento majoritário, o inciso IV do art. 387 do CPP é norma híbrida (de direito
material e processual) e, por ser mais gravosa ao réu, não pode ser aplicada a fatos praticados
antes da vigência da Lei 11.719/2008.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
Assim, a vítima (ou seus sucessores), de posse da sentença que condenou o réu, após o seu trânsito em
julgado, dispõe de um título que poderá ser executado no juízo cível para cobrar o ressarcimento pelos
prejuízos sofridos em decorrência do crime.
Com isso, a vítima (ou seus sucessores) tinha ainda que tomar uma outra providência antes de executar:
fazer a liquidação (art. 475-A do CPC).
O legislador tentou facilitar a situação da vítima e, por meio da Lei nº 11.719/2008, alterou o CPP,
prevendo que o juiz, ao condenar o réu, já estabeleça na sentença um valor mínimo que o condenado
estará obrigado a pagar a título de reparação dos danos causados. Veja:
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos
sofridos pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719/2008)
Desse modo, se o juiz, na própria sentença, já fixar um valor certo para a reparação dos danos, não será
necessário que a vítima ainda faça a liquidação, bastando que execute este valor caso não seja pago
voluntariamente pelo condenado.
3) Para que seja fixado o valor da reparação, deverá haver pedido expresso e formal do MP ou do
ofendido?
SIM. Para que seja fixado, na sentença, o valor mínimo para reparação dos danos causados à vítima (art.
387, IV, do CP), é necessário que haja pedido expresso e formal, feito pelo parquet ou pelo ofendido, a fim
de que seja oportunizado ao réu o contraditório e sob pena de violação ao princípio da ampla defesa (STJ.
6ª Turma. AgRg no AREsp 389.234/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 08/10/2013).
Oà exe ploà itadoà estaà let aà à foià justa e teà oà ueà o o euà oà julga e toà doà Me salão .à Oà “TFà
rejeitou o pedido formulado pelo MPF, em sede de alegações finais, no sentido de que fosse fixado valor
mínimo para reparação dos danos causados pelas infrações penais, sob o argumento de que a
complexidade dos fatos e a imbricação de condutas tornaria inviável assentar o montante mínimo. Assim,
6) Além dos prejuízos materiais, o juiz poderá também condenar o réu a pagar a vítima por danos
morais?
1ª corrente: SIM. Posição de Norberto Avena.
2ª corrente: NÃO. Defendida por Eugênio Pacelli.
7) O art. 387, IV, do CPP, com a redação dada pela Lei nº 11.719/2008, fez com que o Brasil passasse a
adotar a cha ada cu ulaç o de i st cias e até ia de i de izaç o pela p tica de c i es?
NÃO. A cumulação de instâncias (ou união de instâncias) em matéria de indenização pela prática de crimes
ocorre quando um mesmo juízo resolve a lide penal (julga o crime) e também já decide, de forma
exau ie te,àaài de izaçãoàdevidaà àvíti aàdoàdelito.àCo fo eàexpli aàPa elliàeàFis he ,à po àesseàsiste a,à
oà ajuiza e toà daà de a daà pe alà dete i aà aà u idadeà deà juízoà pa aà aà ap e iaçãoà daà at iaà ível à
(Comentários ao Código de Processo Penal e Sua Jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2012, p. 769). No Brasil,
não há unidade de instâncias porque o juízo criminal irá apenas, quando for possível, definir um valor
mínimo de indenização pelos danos sofridos sem, contudo, esgotar a apreciação do tema, que ainda
poderá ser examinado pelo juízo cível para aumentar esse valor.
Assim, continuamos adotando o modelo da separação mitigada de instâncias.
8) A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei nº 11.719/2008. Se o crime
ocorreu antes da Lei e foi sentenciado após a sua vigência, pode ser aplicado o dispositivo e fixado o
valor mínimo de reparação dos danos?
1ª corrente: SIM 2ª corrente: NÃO (majoritária)
Trata-se de norma de direito processual. Assim, Trata-se de norma híbrida (de direito material e
ainda que o processo tenha se iniciado antes da processual) e, por ser mais gravosa ao réu, não
Lei nº 11.719/2008, se ele for sentenciado após a pode ser aplicada a fatos praticados antes de sua
sua vigência, deverá observar a fixação do valor vigência.
mínimo de que trata o art. 387, IV, do CPP.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.176.708-RS, Rel. Min. STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/6/2012. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
9) O condenado poderá impugnar o valor fixado na forma do art. 387, IV do CPP por meio de um habeas
corpus?
NÃO. A via processual do habeas corpus não é adequada para impugnar a reparação civil fixada na
sentença penal condenatória, com base no art. 387, IV do CPP, tendo em vista que a sua imposição não
acarreta ameaça, sequer indireta ou reflexa, à liberdade de locomoção (HC 191.724/RJ, Rel. Min. Laurita
Vaz, Quinta Turma, julgado em 15/10/2013) (não divulgado em Info).
10) Se a punibilidade do condenado for extinta pela prescrição da pretensão punitiva, haverá extinção
também do valor de reparação imposto na sentença?
SIM. Extinta a condenação pela prescrição, extingue-se também a condenação pecuniária fixada como
reparação dos danos causados à vítima, nos termos do art. 387, IV do CPP, pois dela decorrente, ficando
ressalvada a utilização de ação cível, caso a vítima entenda que haja prejuízos a serem reparados (EDcl no
AgRg no REsp 1260305/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 12/03/2013) (não
divulgado em Info).
A revisão criminal é instrumento excepcional, não podendo ser utilizado para reiteração de
teses já vencidas pelo acórdão revisando, seja quanto a matéria de direito, seja quanto a
matéria de fato.
Em outras palavras, na revisão criminal não se pode querer rediscutir os argumentos que já
foram alegados e rejeitados durante o processo criminal.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
Natureza jurídica
A revisão criminal NÃO é um recurso.
Trata-se de uma ação autônoma de impugnação, mais precisamente uma ação penal de natureza
constitutiva (tem por objetivo desconstituir uma decisão transitada em julgado).
Pressupostos:
A revisão criminal tem dois pressupostos:
a) existência de decisão condenatória (ou absolutória imprópria) com trânsito em julgado;
b) demonstração de que houve erro judiciário.
Importante!!!
Segundo o § 4º do art. 33 do CP, para que o condenado por crime contra a Administração
Pública tenha direito à progressão de regime e necessário que ele faça a reparação do dano
que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais.
O STF decidiu que essa previsão do § 4º do art. 33 do CP é CONSTITUCIONAL.
Vale ressaltar, no entanto, que deve ser permitido que o condenado faça o parcelamento do
valor da dívida.
STF. Plenário. EP 22 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
Progressão de regime
No Brasil, adota-se o sistema progressivo (ou inglês), ainda que de maneira não pura.
Assim, de acordo com o CP e com a LEP, as penas privativas de liberdade deverão ser executadas
(cumpridas) em forma progressiva, com a transferência do apenado de regime mais gravoso para menos
gravoso tão logo ele preencha os requisitos legais.
Requisito OBJETIVO adicional no caso de condenados por crime contra a Administração Pública:
No caso de crime contra a Administração Pública, para que haja a progressão será necessária ainda:
a reparação do dano causado; ou
a devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais.
Fundamentos da conclusão
Segundo o STF, em matéria de crimes contra a Administração Pública — como também nos crimes de
colarinho branco em geral —, a parte verdadeiramente severa da pena, a ser executada com rigor, há de
ser a de natureza pecuniária. Esta, sim, teria o poder de funcionar como real fator de prevenção, capaz de
inibir a prática de crimes que envolvessem apropriação de recursos públicos.
A imposição da devolução do produto do crime não constitui sanção adicional, mas, apenas a restituição
daquilo que foi indevidamente apropriado ou desviado.
Ademais, não é o direito fundamental à liberdade do condenado que está em discussão, mas, tão
somente, se a pena privativa de liberdade a ser cumprida deve se dar em regime mais favorável ou não, o
que afasta a alegação quanto à suposta ocorrência, no caso, de prisão por dívida. Outrossim, a norma em
comento não é a única, prevista na legislação penal, a ter na reparação do dano uma importante medida
de política criminal. Ao contrário, basta uma rápida leitura dos principais diplomas penais brasileiros para
o stata à ueà aà faltaà deà epa açãoà doà da o:à a à podeà se à ausaà deà evogaçãoà o igató iaà doà su sis ;à à
impede a extinção da punibilidade ou mesmo a redução da pena, em determinadas hipóteses; c) pode
acarretar o indeferimento do livramento condicional e do indulto; d) afasta a atenuante genérica do art.
65, III, b , do CP, entre outros.
DIREITO PENAL /
PROCESSUAL PENAL MILITAR
DOSIMETRIA DA PENA
Culpabilidade e consequências do crime podem ser utilizadas na sentença na dosimetria da pena
Não há nulidade na sentença que julga um crime militar se o juiz aumenta a pena-base com
fundamento na culpabilidade do réu e nas consequências do delito. Isso porque o art. 69 do
CPM fala em intensidade do dolo , locução que, em outras palavras, quer significar a mesma
coisa que culpabilidade . De igual forma, a menção às consequências do crime não implica
qualquer nulidade, já que essa expressão está presente implicitamente no art. 69 do CPM
quando este dispositivo fala em maior ou menor extensão do dano .
STF. 2ª Turma. HC 109545/RJ, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 16/12/2014 (Info 772).
Tais expressões ulpa ilidadeàdoàage te àeà o se u iasàdoà i e àestão previstas apenas no art. 59
doàCódigoàPe alà o u .
Apesar disso, a 2ª Turma do STF entendeu que não houve nulidade. Isso porque ulpa ilidade , na
dosimetria da pena, significa juízo deà ep ova ilidade ,àouàseja,àg auàdeà e su a feita pelo magistrado à
conduta pessoal do réu. Oàa t.à àdoàCPMà ãoàfalaàexp essa e teàe à ulpa ilidade ,à asàdiz que o juiz
irá considerado aài te sidadeàdoàdoloàouàg auàdaà ulpa ,àlo uçãoà ue, em outras palavras, quer significar
a mesma coisa.
Doà es oà odo,à aà e çãoà sà o se u iasà doà i e à ãoà i pli a qualquer nulidade, já que essa
expressão está presente implicitamente no art. 69 do CPM quando este dispositivo fala em maior ou
menor extensão do dano .
‘esu i do:à ãoà h à ulidadeà po ueà aà ulpa ilidade à doà age teà podeà se à e te didaà o oà se doà aà
i te sidadeàdoàdolo àeàasà o se u iasàdoà i e àsãoàaà maior ou menor extensão do dano .
DIREITO INTERNACIONAL
EXTRADIÇÃO
Pedido de extradição formulado com base em terrorismo
Importante!!!
O terrorismo não é tipificado como crime pela legislação brasileira, não sendo válido o art. 20
da Lei 7.170/83 para criminalizar essa conduta.
Logo, não é cabível que seja concedida extradição de um estrangeiro que praticou crime de
terrorismo no Estado de origem, considerando que, pelo fato de o Brasil não ter definido esse
crime, não estará presente o requisito da dupla tipicidade.
Vale ressaltar que, mesmo o Brasil não prevendo o crime de terrorismo, seria possível, em
tese, que a extradição fosse concedida se o Estado requerente tivesse demonstrado que os atos
terroristas praticados pelo réu amoldavam-se em outros tipos penais em nosso país (exs:
homicídio, incêndio etc.). Isso porque a dupla tipicidade não é analisada sob o ponto de vista
do nomen juris , ou seja, do nome do crime . O que importa é que aquela conduta seja punida
no país de origem e aqui, sendo irrelevantes as diferenças terminológicas. No entanto, no caso
concreto, o pedido feito pelo Estado estrangeiro estava instruído de forma insuficiente.
STF. 2ª Turma. PPE 730/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 16/12/2014 (Info 772).
Tendo como base unicamente esses elementos, será possível que o Brasil conceda a extradição?
NÃO. U àdosà e uisitosàpa aà ueàoàB asilà o edaàaàext adiçãoà àaà ha adaà duplaàtipi idade ,àouàseja,à
que o fato seja considerado crime no Estado estrangeiro de origem e também aqui no Brasil. Esse requisito
está previsto no art. 77 do Estatuto do Estrangeiro:
Art. 77. Não se concederá a extradição quando:
II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente;
O que é terrorismo?
OàMi .àCelsoàdeàMello,àdeàfo aàp e isa,à o stataà ueàat àhoje,à aà o u idadeài te a io alàfoiài apazà
de chegar a uma conclusão acerca da definição jurídica do crime de terrorismo, sendo relevante observar
que, até o presente momento, já foram elaborados, no âmbito da Organização das Nações Unidas, pelo
menos, 13 (treze) instrumentos internacionais sobre a matéria, sem que se chegasse, contudo, a um
consenso universal sobre quais elementos essenciais deveriam compor a definição típica do crime de
terrorismo ou, então, sobre quais requisitos deveriam considerar-se necessários à configuração dogmática
daàp ti aàdelituosaàdeàatosàte o istas .
Em outras palavras, trata-se ainda de um tema polêmico.
Apesar disso, podemos citar uma definição feita por René Ariel Dotti e que é bastante difundida no âmbito
doutrinário:
o terrorismo pode ser definido como a prática do terror como ação política, procurando alcançar, pelo
uso da violência, objetivos que poderiam ou não ser estabelecidos em função do exercício legal da
vontade política. Suas características mais destacadas são: a indeterminação do número de vítimas; a
generalização da violência contra pessoas e coisas; a liquidação, desativação ou retração da vontade de
combater o inimigo predeterminado; a paralisação contra a vontade de reação da população; e o
se ti e toàdeài segu a çaàt a s itidoàp i ipal e teàpelosà eiosàdeà o u i ação (Terrorismo e devido
processo legal. RCEJ, ano VI, Brasília, set. 2002, p. 27-30 apud LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação
Criminal Especial Comentada. Niterói: Impetus, 2013, p. 58).
A CF/88 afi a ue não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opi i o (a t.
5º, LII). O terrorismo pode ser co side ado u c i e político e enquadrado nessa proibição do art. 5º,
LII? Em outras palavras, mesmo após o terrorismo ser previsto como crime no Brasil, haverá proibição de
extradição por causa do art. 5º, LII?
NÃO. O terrorismo não podeà se à o side adoà i eàpolíti o àeà e uad adoà no art. 5º, LII. O óbice que
existe atualmente para a concessão de extradição por causa de terrorismo é a inexistência desse crime no
Brasil (requisito da dupla tipicidade). Veja como já decidiu o STF:
(...) Os atos delituosos de natureza terrorista, considerados os parâmetros consagrados pela vigente
Constituição da República, não se subsumem à noção de criminalidade política, pois a Lei Fundamental
proclamou o repúdio ao terrorismo como um dos princípios essenciais que devem reger o Estado brasileiro
em suas relações internacionais (CF, art. 4º, VIII), além de haver qualificado o terrorismo, para efeito de
repressão interna, como crime equiparável aos delitos hediondos, o que o expõe, sob tal perspectiva, a
tratamento jurídico impregnado de máximo rigor, tornando-o inafiançável e insuscetível da clemência
soberana do Estado e reduzindo-o, ainda, à dimensão ordinária dos crimes meramente comuns (CF, art.
5º, XLIII). (...)
O terrorismo - que traduz expressão de uma macrodelinquência capaz de afetar a segurança, a integridade
e a paz dos cidadãos e das sociedades organizadas - constitui fenômeno criminoso da mais alta gravidade,
a que a comunidade internacional não pode permanecer indiferente, eis que o ato terrorista atenta contra
as próprias bases em que se apóia o Estado democrático de direito, além de representar ameaça
inaceitável às instituições políticas e às liberdades públicas, o que autoriza excluí-lo da benignidade de
tratamento que a Constituição do Brasil (art. 5º, LII) reservou aos atos configuradores de criminalidade
política.
- A cláusula de proteção constante do art. 5º, LII da Constituição da República - que veda a extradição de
estrangeiros por crime político ou de opinião - não se estende, por tal razão, ao autor de atos delituosos
de natureza terrorista, considerado o frontal repúdio que a ordem constitucional brasileira dispensa ao
terrorismo e ao terrorista. (...)
(STF. Ext 855, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 26/08/2004)
Duas observações:
No caso concreto, o motivo principal pelo qual o STF negou a extradição do estrangeiro foi o fato de o
Estado requerente não ter apresentado alguns documentos obrigatórios e que foram exigidos pela
Corte. Assim, o pedido feito foi instruído de forma insuficiente. Apesar disso, o Ministro Relator
avançou na apreciação do tema e fez as considerações acima expostas sobre o terrorismo.
Mesmo o Brasil não prevendo o crime de terrorismo, seria possível, em tese, que a extradição fosse
concedida se o Peru tivesse demonstrado que os atos terroristas praticados pelo réu amoldavam-se
em outros tipos penais em nosso país. Ex: o réu praticou terrorismo por meio de homicídios,
incêndios, explosões etc. O pedido de extradição não poderia ser deferido com base em terrorismo,
mas poderia ter sido autorizado com fundamento em homicídio (ar. 121 do CP), incêndio (art. 250) e
explosão (art. 251). Isso porque a dupla tipicidade não é analisada sob o ponto de vistaà doà o e à
ju is ,à ouà seja,à doà nome do crime . O que importa é que aquela conduta seja punida no país de
origem e aqui, sendo irrelevantes as diferenças terminológicas.
Gabarito
1. C 2. 3. C 4. E 5. E 6. C 7. C 8. E 9. E 10. C
11. E 12. E 13. C 14. C 15. - 16. E 17. E 18. E 19. C 20. E
Vencidos os Ministros Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Celso de Mello, que julgavam o pedido
integralmente improcedente. Apontavam que a necessidade de reparação do dano causado teria respaldo
no art. 91, I, do CP, já em vigor à época dos fatos. A inovação trazida pela Lei 11.719/2008 diria respeito
apenas à delegação para que o juiz fixasse o valor mínimo. Tratar-se-ia, portanto, de mera mudança na
regra de procedimento, aplicável ao caso. O Ministro Celso de Mello acrescia que a referida lei também
alterara o parágrafo único do art. 67 do CPP. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução
pode à se à efetuadaà peloà valo à fixadoà osà te osà doà i isoà IVà doà aput à doà a t.à à desteà Códigoà se à
prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido, a indicar que o valor a ser ressarcido
não seria imutável, e o dano efetivamente sofrido seria apurado em liquidação. Vencido, ademais, o
Ministro Marco Aurélio, que julgava o pleito procedente para assentar a incompetência do STF para julgar o
requerente, em face da renúncia ocorrida antes do julgamento, bem assim anulava a dosimetria da pena,
segundo a qual o exercício do então réu de seu direito à renúncia fora considerado circunstância judicial
desfavorável. Além disso, também afastava o ressarcimento do dano nos termos do art. 387, IV, do CPP.
RvC 5437/RO, rel. Min. Teori Zavascki, 17.12.2014.
No mérito, o Plenário afirmou que a decisão rescindenda estaria devidamente fundamentada, no sentido
de determinar a convocação dos impetrantes para a realização da segunda etapa do certame, tendo em
conta a existência de novo concurso. Em momento algum, colocara-se em jogo a situação de outros
candidatos, muito menos dos aprovados em concursos diversos. Naquela oportunidade, explicitara-se o
direito de os concursados serem convocados para o estágio seguinte da disputa sem o risco de serem
No mérito, o Colegiado registrou que a denúncia não imputara aos acusados a apropriação privada dos
recursos públicos disponibilizados, o que configuraria peculato ou apropriação indébita. A peça acusatória
simplesmente reproduzira conclusões de relatório de diligência policial, por meio do qual foram
identificadas irregularidades em prestação de contas apresentadas pela fundação quanto ao emprego da
subvenção social recebida do então Ministério da Ação Social. Apesar das irregularidades, a denúncia não
concluíra pela apropriação privada das verbas, mas apenas que não teriam sido aplicadas exclusivamente
no projeto para o qual liberadas. Assim, de acordo com a tipificação realizada pelo acusador, o crime em
questão configuraria espécie anômala de estelionato. Entretanto, essa equiparação seria problemática,
o side adaàaàdive sidadeàdasà o dutasàe à uestão.àál àdisso,àaà su ve çãoàso ial à e e idaà oà asoà ãoà
seà ualifi a iaà o oà ditoàouàfi a ia e to àouà e u soàp ove ie teàdeài e tivoàfis al .àDesse modo,
não haveria como enquadrar o fato na Lei 7.134/1983, sequer no art. 20 da Lei 7.492/1986 ou no art. 2º, IV,
da Lei 8.137/1990, que revogaram parcialmente a Lei 7.134/1983. Não estaria configurado, de igual modo,
o estelionato, que exige o locupletamento pessoal ou em favor de outrem. Todavia, o melhor
enquadramento da conduta narrada na denúncia seria, talvez, o art. 315 do CP. Tratar-se-ia, entretanto, de
crime próprio de funcionário público, e a acusação não demonstrara a eventual possibilidade de amoldar os
dirigentes da entidade de assistência social no aludido dispositivo. De todo modo, ainda que fosse possível
essa tipificação, o crime estaria prescrito. A Turma destacou que poderia, eventualmente, haver crimes de
falsidade, uma vez que a prestação de contas feita pela fundação conteria documentos falsos. Entretanto,
essas condutas não constituiriam objeto da imputação. Assim, o fato narrado seria atípico. Poderia haver
configuração típica, mas seria preciso demonstrar que houvera apropriação indevida e privada dos
recursos, por meio de rastreamento dos valores, ou mesmo o esclarecimento do projeto para o qual
liberados recursos para a fundação. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que julgava o pedido procedente
haja vista a configuração do crime de estelionato.
AP 347/CE, rel. Min. Rosa Weber, 16.12.2014. (AP-347)
OUTRAS INFORMAÇÕES
REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 15 a 19 de dezembro de 2014
CLIPPING DO D JE
DJe de 15 a 19 de dezembro de 2014
OUTRAS INFORMAÇÕES
20 de dezembro de 2014 a 31 de janeiro de 2015
Decreto nº 8.380, de 24.12.2014 - Concede indulto natalino e comutação de penas, e dá outras providências.
Publicada no DOU em 24.12.2014, Seção 1, p. 1(edição extra).
Decreto nº 8.381, de 29.12.2014 - Regulamenta a Lei nº 12.382, de 25.2.2011, que dispõe sobre o valor do salário mínimo
e a sua política de valorização de longo prazo. Publicada no DOU em 30.12.2014, Seção 1, p. 1.
Mensagem de veto total nº 4 de 6.1.2015 - Projeto de Lei nº 96, de 2014 (nº 1.872/07 na Câmara dos
Deputados), que “Acrescenta arts. 6º-A e 6º-B à Lei nº 6.530, de 12.5.1978, para dispor sobre a associação entre
corretor de imóveis e imobiliárias e sobre a contribuição sindical dos corretores de imóveis”. Publicada no DOU em
7.1.2015, Seção 1, p. 1.