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Márcio André Lopes Cavalcante

Processo excluído deste informativo esquematizado por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: RE 870947/SE.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 4357 ED/DF; ADI 4425 ED/DF.

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
 Surgimento de novas vagas e discussão sobre direito subjetivo à nomeação.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


COMPETÊNCIA
 STF não possui competência originária para julgar ação popular.

JUSTIÇA GRATUITA
 Exigibilidade suspensa das obrigações resultantes da sucumbência.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
 Possibilidade de compartilhamento das provas obtidas em outro processo criminal.

DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCURSO PÚBLICO
Surgimento de novas vagas e discussão sobre direito subjetivo à nomeação

Importante!!!
O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante o
prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos
candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de
preterição arbitrária e imotivada por parte da administração, caracterizada por
comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de revelar a inequívoca
necessidade de nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser
demonstrada de forma cabal pelo candidato.
Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge
nas seguintes hipóteses:

Informativo 811-STF (17/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


a) quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação; e
c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do certame
anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte da
administração nos termos acima.
STF. Plenário. RE 837311/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/12/2015 (repercussão geral) (Info 811).

CANDIDATO APROVADO DENTRO DO NÚMERO DE VAGAS


O candidato aprovado dentro do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação?
SIM. O candidato aprovado dentro do número de vagas previstas no edital do concurso público possui
direito subjetivo de ser nomeado e empossado dentro do período de validade do certame.

Momento da nomeação
O candidato aprovado dentro do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação, mas quem escolhe o
momento de nomear é a Administração Pública. Assim, o candidato não pode exigir que seja
imediatamente nomeado. O direito de o candidato exigir a nomeação só surge quando o prazo do
concurso está expirando ou já expirou sem que ele tenha sido nomeado.

CANDIDATO APROVADO FORA DO NÚMERO DE VAGAS


O candidato aprovado fora do número de vagas tem direito subjetivo à nomeação?
Em regra, não.

Se o candidato foi aprovado fora do número de vagas, mas durante o prazo de validade do concurso
foram criados novos cargos, ele terá direito subjetivo à nomeação?
Em regra, não.

Imagine que a Administração fez um concurso para 10 vagas, tendo nomeado e dado posse aos 10
primeiros. Alguns meses depois são criadas 5 novas vagas. O prazo de validade do concurso ainda não
expirou. Apesar disso, o Poder Público decide fazer um segundo concurso. Os candidatos aprovados no
primeiro certame fora do número de vagas inicialmente previsto poderão exigir sua nomeação?
Em regra, não.

A situação pode ser assim definida:


REGRA: o surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo durante o prazo
de validade do certame anterior não gera automaticamente o direito à nomeação dos candidatos
aprovados fora das vagas previstas no edital.

EXCEÇÃO:
Haverá direito à nomeação se o candidato conseguir demonstrar, de forma cabal:
•à ueà existeà i e uívocaà ecessidadeà deà o eaçãoà deà ap ovadoà du a teà oà pe íodoà deà validadeà doà
certame; e
•à ueà est à have doà preterição arbitrária e imotivada por parte da administração ao não nomear os
aprovados.

HIPÓTESES NAS QUAIS EXISTIRÁ DIREITO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO


O STF listou as três hipóteses nas quais existe direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em
concurso público:
1) Quando a aprovação do candidato ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
2) Quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação;
3) Quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do certame anterior, e
ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte da administração.

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TESE FIXADA EM REPERCUSSÃO GERAL
A decisão do STF foi proferida em sede de recurso extraordinário submetido à sistemática da repercussão
geral, tendo sido fixada a seguinte tese a ser aplicada em todos os processos tratando sobre o tema:
“O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante o prazo de
validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos candidatos
aprovados fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de preterição arbitrária e
imotivada por parte da administração, caracterizada por comportamento tácito ou expresso do Poder
Público capaz de revelar a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado durante o período de
validade do certame, a ser demonstrada de forma cabal pelo candidato.
Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge nas
seguintes hipóteses:
a) quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação; e
c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do certame anterior, e
ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte da administração nos
termos acima."
STF. Plenário. RE 837311/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/12/2015 (repercussão geral).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COMPETÊNCIA
STF não possui competência originária para julgar ação popular

O STF não possui competência originária para processar e julgar ação popular, ainda que
ajuizada contra atos e/ou omissões do Presidente da República.
A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do
Presidente da República, é, via de regra, do juízo de 1º grau
STF. Plenário. Pet 5856 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 25/11/2015 (Info 811).

Dete i ado idadão p opôs ação popula o t a a P eside te da Repú li a pedi do ue ela fosse
condenada à perda da função pública e a privação dos direitos políticos. A competência para julgar essa
ação é do STF?
NÃO. O STF não possui competência originária para processar e julgar ação popular, ainda que ajuizada
contra atos e/ou omissões do Presidente da República.
A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da
República, é, via de regra, do juízo de 1º grau.

JUSTIÇA GRATUITA
Exigibilidade suspensa das obrigações resultantes da sucumbência

O art. 12 da Lei nº 1.060/50 foi recepcionado pela CF/88.


O CPC 2015 revogou o art. 12 da Lei nº 1.060/50, mas previu regra semelhante no § 3º do art. 98:
Art. 98 (...) § 3º Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão
sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco)
anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar

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que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de
gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.
STF. Plenário. RE 249003 ED/RS, RE 249277 ED/RS e RE 284729 AgR/MG, Rel. Min. Edson Fachin,
julgados em 9/12/2015 (Info 811).

Garantia de assistência jurídica integral e gratuita


áàCF/88àp evêàaàga a tiaàdaàassistê ciaàju ídicaài teg alàeàg atuitaàe àseuàa t.à º,àLXXIV:à o Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos .

Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:


II – Gratuidade da justiça
I – Assistência jurídica integral e gratuita
(Assistência Judiciária Gratuita – AJG).
Fornecimento pelo Estado de orientação e defesa Isenção das despesas que forem necessárias para
jurídica, de forma integral e gratuita, a ser que a pessoa necessitada possa defender seus
prestada pela Defensoria Pública, em todos os interesses em um processo judicial.
graus, aos necessitados (art. 134 da CF). Era regulada pela Lei nº 1.060/50, mas o CPC 2015
Regulada pela Lei Complementar 80/94. passou a tratar sobre o tema, revogando quase
toda essa lei.

Quem tem direito à gratuidade da justiça?


Tem direito à gratuidade da justiça a pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de
recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios (art. 98 do CPC-2015).

Quem está abrangido por ela?


 pessoas físicas (brasileiras ou estrangeiras);
 pessoas jurídicas (brasileiras ou estrangeiras).

A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Segundo o § 1º do art. 98 do CPC-2015, a gratuidade da justiça compreende:
I - as taxas ou as custas judiciais;
II - os selos postais;
III - as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a publicação em outros meios;
IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do empregador salário integral,
como se em serviço estivesse;
V - as despesas com a realização de exame de código genético - DNA e de outros exames considerados
essenciais;
VI - os honorários do advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou do tradutor nomeado para
apresentação de versão em português de documento redigido em língua estrangeira;
VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para instauração da execução;
VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para propositura de ação e para a prática
de outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório;
IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da prática de registro, averbação
ou qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo
judicial no qual o benefício tenha sido concedido.

Se a parte beneficiada pela justiça gratuita, ao final da demanda, for sucumbente (perder a causa), ela
terá que pagar os ônus da sucumbência (custas e honorários) ou é isenta?
O beneficiário da justiça gratuita não é isento do pagamento dos ônus sucumbenciais (custas e
honorários). Apenas sua exigibilidade fica suspensa até que cesse a situação de hipossuficiência ou se
decorridos cinco anos.

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Veja o que o art. 12 da Lei nº 1.060/50 previa:
Art. 12. A parte beneficiada pelo isenção do pagamento das custas ficará obrigada a pagá-las, desde que
possa fazê-lo, sem prejuízo do sustento próprio ou da família, se dentro de cinco anos, a contar da
sentença final, o assistido não puder satisfazer tal pagamento, a obrigação ficará prescrita.

Em outras palavras, o juiz deverá condená-la a pagar as custas, mas a exigibilidade dessa obrigação ficará
suspensa aguardando que a situação econômica da parte melhore e ela tenha condições de quitar o
débito. Assim, enquanto não houver alteração na situação econômica da parte, ela não poderá ser
cobrada (executada) pela dívida. Essa suspensão irá perdurar durante o prazo de 5 anos. Passado tal
interregno, a obrigação será extinta pela prescrição.

Cuidado nas provas. Isso porque, segundo a interpretação dada pelo STJ a esse dispositivo, a parte
beneficiada pela justiça gratuita não é isenta do pagamento. Assim, ela é condenada a pagar (a obrigação
existe), mas a sua exigibilidade é suspensa. Veja:
(...) O beneficiário da justiça gratuita não é isento do pagamento dos ônus sucumbenciais, custas e
honorários, apenas sua exigibilidade fica suspensa até que cesse a situação de hipossuficiência ou se
decorridos cinco anos, conforme prevê o art. 12 da Lei nº 1.060/50. (...)
(STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 598.441/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 26/05/2015)

Segundo a jurisprudência, o art. 12 da Lei nº 1.060/50 era compatível com a CF/88?


SIM. A jurisprudência do STJ e a do STF são pacíficas no sentido de que o art. 12 da Lei nº 1.060/50 foi
recepcionado pela CF/88.
Não seria justo privilegiar tributariamente jurisdicionado que recuperasse sua capacidade contributiva
para adimplir obrigação relacionada à taxa, em detrimento de todo corpo social que pagaria impostos
sobre as bases econômicas renda, patrimônio e consumo.
STF. Plenário. RE 249003 ED/RS, RE 249277 ED/RS e RE 284729 AgR/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgados
em 9/12/2015 (Info 811).
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1414975/SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 05/11/2015.

O que acontece com o novo CPC?


O CPC 2015 revogou o art. 12 da Lei nº 1.060/50, mas previu regra semelhante no § 3º do art. 98:
Art. 98 (...)
§ 3º Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição
suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos subsequentes ao
trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de
insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais
obrigações do beneficiário.

Desse modo, as observações feitas acima a respeito do art. 12 continuam valendo com o CPC 2015.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
Possibilidade de compartilhamento das provas obtidas em outro processo criminal

O fato de a interceptação telefônica ter visado elucidar outra prática delituosa não impede a
sua utilização em persecução criminal diversa por meio do compartilhamento da prova.
STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/12/2015 (Info 811).

Imagine a seguinte situação adaptada:


A Polícia Civil de Minas Gerais estava investigando crimes praticados por João naquele Estado.
O juiz autorizou a interceptação telefônica do investigado e, durante os diálogos, descobriu-se a
ocorrência de delitos praticados por Pedro em São Paulo (SP).
O Ministério Público de Minas Gerais denunciou João pelos crimes por ele praticados e, quanto aos delitos
cometidos por Pedro, remeteu cópias para o Ministério Público de São Paulo, que requisitou a instauração
de inquérito policial para apurar o fato.
Após novas provas colhidas no inquérito policial que confirmaram a prática de crimes praticados por
Pedro, o MP/SP ofereceu denúncia contra ele.
O réu alegou a nulidade da ação penal sob o argumento de que a prova seria ilícita, já que foram
aproveitados dados alusivos a interceptação telefônica verificada em outra unidade da Federação e em
outro processo-crime.

O argumento da defesa de Pedro foi aceito pelo STF?


NÃO. O fato de a interceptação telefônica ter visado elucidar outra prática delituosa não impede a sua
utilização em persecução criminal diversa por meio do compartilhamento da prova.

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA
Ausência de autos apartados configura mera irregularidade

Segundo o art. 8º da Lei 9.296/96, o procedimento de interceptação telefônica (requerimento,


decisão, transcrição dos diálogos etc.) deverá ser instrumentalizado em autos apartados.
Haverá nulidade caso a interceptação não seja formalizada em autos apartados?
NÃO. Preenchidas as exigências previstas na Lei nº 9.296/96 (ex: autorização judicial, prazo
etc.), não deve ser considerada ilícita a interceptação telefônica pela simples ausência de
autuação. A ausência de autos apartados configura mera irregularidade que não viola os
elementos essenciais à validade da interceptação.
STF. 1ª Turma. HC 128102/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/12/2015 (Info 811).

Autos apartados
Segundo a Lei nº 9.296/96, o procedimento de interceptação telefônica (requerimento, decisão,
transcrição dos diálogos etc.) deverá ser instrumentalizado em autos apartados:
Art. 8º A interceptação de comunicação telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá em autos apartados,
apensados aos autos do inquérito policial ou do processo criminal, preservando-se o sigilo das diligências,
gravações e transcrições respectivas.

Haverá nulidade caso a interceptação não seja formalizada em autos apartados?


NÃO. Preenchidas as exigências previstas na Lei nº 9.296/96 (ex: autorização judicial, prazo etc.), não deve ser
considerada ilícita a interceptação telefônica pela simples ausência de autuação. A ausência de autos apartados
configura mera irregularidade que não viola os elementos essenciais à validade da interceptação.

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JULGADO NÃO COMENTADO

Precatórios: embargos de declaração convertidos em diligência


O Tribunal, por maioria, converteu em diligência o julgamento conjunto de embargos de declaração
opostos em ações diretas de inconstitucionalidade para permitir a intervenção de todos os interessados na
causa,à osà te osà doà a t.à à doà RI“TFà Oà Ple ioà ouà aà Tu aà pode à co ve te à oà julga e toà e à
diligê cia,à ua doà ecess iaà àdecisãoàdaàcausa .àMa teve,àai da,àaà odulaçãoàdosàefeitos,à oàte po,àdoà
quanto decidido anteriormente em questão de ordem, sem prejuízo do pagamento dos precatórios
(questão de ordem noticiada nos Informativos 725, 739, 778 e 779). A Corte apontou que representantes
de estados-membros teriam demonstrado preocupação com a falta de capacidade de pagamento dos entes
públicos e que iriam buscar uma solução legislativa para esse problema. Referiam-se à PEC 74-A, aprovada
em primeiro turno e encaminhada pela Câmara dos Deputados — em segundo turno de votação — para o
Senado Federal. Tal proposta levaria em conta a modulação ditada pelo STF, de modo a assegurar
mecanismos de diferenciamento para que a decisão judicial que prevê a quitação total dos precatórios até
o final de 2020 seja cumprida. Assim, não obstante tenha conferido um prazo largo para o pagamento dos
precatórios, estudos estatísticos atuariais do Congresso revelariam que os estados-membros não teriam
como pagar no tempo aprazado. Vencidos os Ministros Luiz Fux (relator), Roberto Barroso, Rosa Weber,
Cármen Lúcia e Marco Aurélio, que acolhiam em parte os embargos.
ADI 4357 ED/DF, rel. Min. Luiz Fux, 9.12.2015.
ADI 4425 ED/DF, rel. Min. Luiz Fux, 9.12.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 7 a 11 de dezembro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 738.481-SE


RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. MUNICÍPIOS. COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR ACERCA DA
OBRIGATORIEDADE DE INSTALAÇÃO DE HIDRÔMETROS INDIVIDUAIS NOS EDIFÍCIOS E CONDOMÍNIOS. AUSÊNCIA DE
PRECEDENTE ESPECÍFICO. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 907.777-RN
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SERVIDORA PÚBLICA INATIVA. AÇÃO VISANDO AO
PAGAMENTO DE COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ.
MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa à legitimidade do Município de Mossoró para figurar no polo passivo de demanda visando ao pagamento de
complementação de aposentadoria a servidora pública inativa é infraconstitucional, pois fundada na interpretação da Lei Municipal 311/91.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 921.694-RS
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SERVIDORA PÚBLICA DA SECRETARIA DE ESTADO
DE EDUCAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL. GRATIFICAÇÃO DE DIFÍCIL ACESSO. BASE DE CÁLCULO. MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. É de natureza infraconstitucional a controvérsia acerca da base de cálculo da gratificação de difícil acesso, pois requer a análise das Leis 6.672/74 e
9.121/90, do Estado do Rio Grande do Sul.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
Decisões Publicadas: 3

Informativo 811-STF (17/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


CLIPPING DO D JE
7 a 11 de dezembro de 2015

HC N. 126.315-SP
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Habeas corpus. 2. Tráfico de entorpecentes. Condenação. 3. Aumento da pena-base. Não aplicação da causa de diminuição do § 4º do art. 33, da Lei
11.343/06. 4. Período depurador de 5 anos estabelecido pelo art. 64, I, do CP. Maus antecedentes não caracterizados. Decorridos mais de 5 anos desde
a extinção da pena da condenação anterior (CP, art. 64, I), não é possível alargar a interpretação de modo a permitir o reconhecimento dos maus
antecedentes. Aplicação do princípio da razoabilidade, proporcionalidade e dignidade da pessoa humana. 5. Direito ao esquecimento. 6. Fixação do
regime prisional inicial fechado com base na vedação da Lei 8.072/90. Inconstitucionalidade. 7. Ordem concedida.
*noticiado no Informativo 799
RHC N. 129.811-ES
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA PREVISTA NO
ART. 33, § 4º, DA LEI 11.343/2006. APLICAÇÃO. INVIABILIDADE. RÉU QUE NÃO PREENCHE OS REQUISITOS LEGAIS. REFORMATIO
IN PEJUS. NÃO OCORRÊNCIA. REGIME PRISIONAL FUNDAMENTADO NAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO.
1. A não aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 pressupõe a demonstração pelo juízo sentenciante da existência de
conjunto probatório apto a afastar ao menos um dos critérios, que são autônomos, descritos no preceito legal: (a) primariedade; (b) bons antecedentes;
(c) não dedicação a atividades criminosas; e (d) não integração à organização criminosa. Nesse juízo, não se pode ignorar que a norma em questão
tem a clara finalidade de apenar com menor grau de intensidade quem pratica de modo eventual as condutas descritas no art. 33, caput e § 1º, daquele
mesmo diploma legal em contraponto ao agente que faz do crime o seu modo de vida, razão pela qual, evidentemente, não estaria apto a usufruir do
referido benefício.
2. As instâncias ordinárias concluíram, com base nos elementos de provas colhidos sob o crivo do contraditório, pela dedicação do recorrente a
atividade criminosa, circunstância que não pode contraditada em sede de habeas corpus, instrumento que não se presta para o revolvimento do
conjunto fático probatório. Precedentes.
3. Mantida a essência da causa de pedir e sem piorar a situação do recorrente, é legítima a manutenção da decisão recorrida, em sede de apelação,
ainda que por outros fundamentos. No particular, a não aplicação da minorante foi mantida, sob perspectiva diversa, com esteio circunstâncias fáticas
apontadas na própria sentença condenatória. Desse modo, não há falar em reformatio in pejus.
4. A determinação do regime inicial de cumprimento da pena deve levar em conta dois fatores: (a) o quantum da reprimenda imposta (CP, art. 33, §
2º); e (b) as condições pessoais do condenado estabelecidas na primeira etapa da dosimetria (CP, art. 59 c/c art. 33 § 3º). Nesse contexto, não há
ilegalidade na decisão que, mediante fundamentação jurídica adequada, estabelece o regime inicial mais grave, como medida necessária e suficiente
para reprovação e prevenção do crime.
5. Recurso ordinário a que se nega provimento.
AG. REG. NO AG. REG. NO RE N. 562.763-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
REPERCUSSÃO GERAL – BAIXA À ORIGEM – DECISÃO PRECLUSA – ARTIGO 543-B DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. A preclusão
do pronunciamento, mediante o qual se determinou a remessa do Agravo de Instrumento nº 682.112/SP à origem, obstaculiza o sucesso de
impugnação.
AG. REG. NO AI N. 745.101-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio próprio ao revolvimento da prova, também
não servindo à interpretação de normas estritamente legais.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – LEI LOCAL. O recurso extraordinário não é meio hábil a ter-se o rejulgamento da lide no que decidida pelas
instâncias ordinárias a partir de interpretação emprestada a normas locais.*noticiado no
AG. REG. NO RMS N. 31.515-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR. APLICAÇÃO DE PENA DE DEMISSÃO A POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL. ABSOLVIÇÃO DO DENUNCIADO
NA ESFERA PENAL POR AUSÊNCIA DE PROVAS. FATOS NOVOS. DENÚNCIA DAS ÚNICAS TESTEMUNHAS PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL POR DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA. CONDENAÇÃO E RETRATAÇÃO. ENQUADRAMENTO
NA HIPÓTESE DE INEXISTÊNCIA DO FATO. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA PENA NA ESFERA ADMINISTRATIVA.
INOCORRÊNCIA DE INVASÃO DO PODER JUDICIÁRIO NO MÉRITO ADMINISTRATIVO DO ATO. INEXISTÊNCIA DE FALTA
RESIDUAL. INOCORRÊNCIA DE DECISÃO EXTRA PETITA. MERA INDICAÇÃO DA POSSIBILIDADE DE PLEITEAR
INDENIZAÇÃO NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A absolvição penal e a comunicabilidade do resultado na instância administrativa é tema jurídico que prescinde de dilação probatória.
2. A absolvição penal baseada na inexistência do fato ou autoria afasta a responsabilidade administrativa, tendo em vista a comunicabilidade das
instâncias.
3. In casu: a) O juízo criminal, quando da absolvição do agravado, não negou, expressamente, a existência do fato ou da sua autoria. Ocorre que a
superveniência dos fatos novos conduzem à conclusão no sentido da inexistência do fato, porquanto houve a condenação de dois dos denunciantes,
um por denunciação caluniosa e outro por falso testemunho, além da retratação das demais testemunhas. b) A Comissão Processante não sugeriu a
aplicação de pena de demissão ao policial com fundamento no fato de ter permitido que o motorista buscasse a CNH conduzindo seu próprio veículo.
Desse modo, não se verifica falta residual. Súmula 18 do STF. c) Inocorreu exame de conveniência, oportunidade e utilidade do ato primitivo pelo
Poder Judiciário, mas, apenas, a apreciação quanto à sua legalidade.
4. A mera indicação da possibilidade de se pleitar indenização nas instâncias ordinárias, sem a existência desse requerimento no recurso ordinário,
não configura decisão extra petita.

Informativo 811-STF (17/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


5. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO RE N. 809.476-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
IMPOSTO DE RENDA – PESSOA NATURAL – TABELA PROGRESSIVA – CORREÇÃO – ATUAÇÃO JUDICIAL –IMPOSSIBILIDADE – PRECEDENTE.
Não cabe ao Poder Judiciário autorizar a correção monetária, ante a ausência de previsão legal nesse sentido, da tabela progressiva do Imposto de Renda devido por
pessoas naturais. Precedente: Recurso Extraordinário nº 388.312/MG, Pleno de minha relatoria, acórdão redigido pela ministra Cármem Lúcia, Diário da Justiça de 11 de
outubro de 2011. Ressalva da óptica pessoal.
EMB. DECL. NO RE N. 900.701-SC
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. DIREITO ADMINISTRATIVO E
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DEMOLITÓRIA. EDIFICAÇÃO EM FAIXA DE DOMÍNIO DE RODOVIA FEDERAL E ÁREA NON
EDIFICANDI. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. LEI Nº 6.766/1979. DEBATE DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL. EVENTUAL
OFENSA REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI MAIOR. ACÓRDÃO
RECORRIDO PUBLICADO EM 17.10.2014.1. A jurisprudência desta Suprema Corte firmou-se no sentido de que incabíveis embargos de
declaração opostos em face de decisão monocrática. Recebimento como agravo regimental com fundamento no princípio da fungibilidade. 2. A
controvérsia, a teor do já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos constitucionais
indicados nas razões recursais. Compreender de modo diverso exigiria a análise da legislação infraconstitucional encampada na decisão da Corte de
origem, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a
exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Suprema Corte. 3. As razões do agravo regimental não se
mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada. 4. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual
se nega provimento.
ADI N. 3.415-AM
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. LEIS 2.875/04 E 2.917/04, DO ESTADO DO AMAZONAS. COMISSÁRIO DE
POLÍCIA. CARGO DE NATUREZA ISOLADA. TRANSFORMAÇÃO, APÓS POUCO MAIS DE 3 ANOS, EM CARGOS DE DELEGADO DE
POLÍCIA. QUEBRA DE HIERARQUIA FUNCIONAL. BURLA AO CONCURSO PÚBLICO CARACTERIZADA.
INCONSTITUCIONALIDADE.
1. As leis estaduais impugnadas equipararam (Lei 2.875/04) e, logo após, transformaram (Lei 2.917/04) em delegados de polícia 124 cargos isolados
de comissários de polícia, que haviam sido criados em 2001 com remuneração bastante inferior à daquele primeiro cargo e sem perspectiva de
progressão funcional.
2. A forma pela qual foi conduzido o rearranjo administrativo revela que houve, de fato, burla ao postulado do concurso público, mediante o
favorecimento de agentes públicos alçados por via legislativa a cargo de maior responsabilidade do que aquele para o qual foram eles aprovados em
concurso. Não se verificou, no caso, um gradual processo de sincretismo entre os cargos, senão que uma abrupta reformulação da condição dos
comissários de polícia, que em menos de três anos deixaram de ter suas características originais para passar a um cargo organizado em carreira.
3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
*noticiado no Informativo 800
Inq N. 3.320-RS
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: PENAL. INQUÉRITO. OFERECIMENTO DE DENÚNCIA POR CRIME DE SONEGAÇÃO DE DOCUMENTOS. CONDUTA QUE
NÃO SE ADEQUA AO TIPO PENAL DO ART. 314 DO CÓDIGO PENAL. POSSÍVEL CRIME DE PREVARICAÇÃO, CUJA PUNIBILIDADE
ESTÁ EXTINTA. DENÚNCIA REJEITADA.
1. O crime de sonegação de documentos descrito no art. 314 do Código Penal se caracteriza pela ocultação ou negativa de acesso a quem de direito a
documentos de que o acusado tenha a guarda em razão do cargo.
2. In casu, foram requisitados: a) demonstrativos, relatórios, dados e outras informações que permitissem avaliar os indicadores de saúde do Estado; b) a
apresentação dos saldos das contas bancárias que movimentam os recursos recebidos do Fundo Nacional de Saúde.
3. O crime de sonegação de documentos não se caracteriza em razão da não elaboração de demonstrativos, relatórios ou informações, podendo encerrar, em
tese, quando muito, o crime de prevaricação, cuja punibilidade está extinta, no caso sub judice.
a) In casu, os saldos das contas vinculadas à saúde foram apresentados pela Secretaria de Saúde, o que é inconteste nos autos. Embora os auditores tenham se
queixado da não apresentação dos extratos bancários das mencionadas contas, o fato é que somente foram solicitados os saldos, e não os extratos, razão pela
qual é inadmissível imputar ao acusado a prática do crime de sonegação de um documento que não lhe foi requerido.
b) Outrossim, afigura-se impossível a prática do crime de sonegação de extratos bancários pelo Secretário de Saúde, por não se tratar de ato do seu ofício a
guarda dos documentos exigidos, encarregada a órgão próprio, não se revelando presente o fim de agir do tipo penal do art. 314 do Código Penal (consistente
em inviabilizar por completo o acesso aos documentos requeridos).
c) os extratos bancários acabaram por ser fornecidos pelo Ministério Público de Contas do Estado, que é um dos órgãos detentores dos mencionados
documentos. É que “a aplicação correta da Emenda Constitucional n° 29 foi verificada e atestada pelo órgão competente, que é o Tribunal de Contas do
Estado. O mesmo se diga dos indicadores de saúde, reconhecidamente os melhores da federação. O IBGE fez o levantamento dos dados relativos à gestão de
2008, exatamente o período auditado, concluindo que o Rio Grande do Sul possuía os melhores índices de saúde do país”.
c.i) Consequentemente, assume verossimilhança o fato de que a auditoria que se pretendia realizar foi programada pelo Diretor do DENASUS por motivos
políticos, uma vez que “vinha fazendo oposição declarada ao governo do qual fazia parte o Acusado” e tinha por fim aproveitar-se do momento de excesso de
trabalho da Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul, por conta da epidemia da gripe H1N1 que atingiu o país naquele período, pois todos os seus
diretores estavam envolvidos, dia e noite, com esta pauta.
4. Denúncia rejeitada.
MS N. 26.419-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. NOTÍCIAS DE IRREGULARIDADES
NA ADMINISTRAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO AMAZONAS. REPRESENTAÇÃO. PROCEDIMENTO DE CONTROLE
ADMINISTRATIVO. INSTAURAÇÃO. NOTIFICAÇÃO POR EDITAL DE PESSOA IDENTIFICADA COMO BENEFICIÁRIA DE ATO
IMPUGNADO. NULIDADE. ORDEM CONCEDIDA.
1. Reveste-se de nulidade por ofensa ao exercício do direito ao contraditório e ampla defesa a notificação apenas por edital de pessoa identificada como
beneficiária direta de ato objeto de questionamento em procedimento de controle administrativo instaurado no âmbito do Conselho Nacional do Ministério
Público.

Informativo 811-STF (17/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


2. No caso, a comunicação por edital se deu na forma do art. 105 do Regimento Interno do Conselho Nacional do Ministério Público, então em vigor, que
possuía a mesma redação do art. 98 de antigo Regimento Interno do Conselho Nacional de Justiça, cuja inconstitucionalidade foi reconhecida pelo Plenário
desta Corte no julgamento do MS 25.962 (Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de 20/3/2009).
3. Ordem concedida.
*noticiado no Informativo 785
Acórdãos Publicados: 643

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Ação popular - Presidente da República - Supremo Tribunal Federal - Incompetência (Transcrições)


Pet 5.856/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: Ação popular. Ajuizamento contra a Presidente da República. Falta de competência originária do Supremo Tribunal
Federal. Doutrina. Precedentes. Regime de direito estrito a que se submete a definição constitucional da competência da Corte Suprema.
Ação popular de que não se conhece.
DECISÃO: Trata-se de “ação popular” ajuizada contra a Senhora Presidente da República com o objetivo de impor-lhe a perda da função pública
e a privação dos direitos políticos.
A pretensão do autor popular fundamenta-se na Constituição da República (art. 5º, incisos XXXIV, XXXV e LXXIII) e, também, na Lei nº
8.429/92.
Sendo esse o contexto, passo a examinar questão preliminar concernente à competência originária do Supremo Tribunal Federal para
processar e julgar a presente causa.
E, ao fazê-lo, reconheço não competir a esta Suprema Corte atribuição para apreciar, em sede originária, a ação popular proposta pelo
demandante.
A jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal consolidou-se no sentido ora mencionado, destacando, em inúmeros
precedentes, a absoluta falta de competência originária desta Corte para o processo e julgamento de ações populares, ainda que ajuizadas contra
o Presidente da República e/ou outras autoridades que disponham de prerrogativa de foro “ratione muneris” perante o Supremo Tribunal Federal
(AO 772-QO/SP, Rel. Min. MOREIRA ALVES – Pet 129/PR, Rel. Min. MOREIRA ALVES – Pet 296/MG, Rel. Min. CÉLIO BORJA – Pet
352/DF, Rel. Min. SYDNEY SANCHES – Pet 431/SC, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA – Pet 487/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – Pet 546-
MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO – Pet 713/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO – Pet 1.546-MC/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO – Pet 2.018-
AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO – Pet 3.152-AgR/PA, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – Pet 3.422-AgR/DF, Rel. Min. AYRES
BRITTO – Pet 5.239/DF, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, v.g.):
“Competência. Ação Popular contra o Presidente da República.
– A competência para processar e julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, inclusive daquelas que, em mandado de
segurança, estão sob a jurisdição desta Corte originariamente, é do Juízo competente de primeiro grau de jurisdição.
Agravo regimental a que se nega provimento.”
(RTJ 121/17, Rel. Min. MOREIRA ALVES – grifei)
“AÇÃO ORIGINÁRIA. QUESTÃO DE ORDEM. AÇÃO POPULAR. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL: NÃO-OCORRÊNCIA. PRECEDENTES.
1. A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da República, é, via de
regra, do juízo competente de primeiro grau. Precedentes. (…).”
(AO 859-QO/AP, Red. p/ o acórdão Min. MAURÍCIO CORRÊA – grifei)
“AÇÃO POPULAR. AUSÊNCIA DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO STF.
– A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal – quer sob a égide da vigente Constituição republicana, quer sob o domínio da
Carta Política anterior – firmou-se no sentido de reconhecer que não se incluem na esfera de competência originária da Corte Suprema o
processo e o julgamento de ações populares constitucionais, ainda que ajuizadas contra atos do Presidente da República, das Mesas da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal ou de quaisquer outras autoridades cujas resoluções estejam sujeitas, em sede de mandado de
segurança, à jurisdição imediata do STF. Precedentes.”
(Pet 1.641/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
É oportuno destacar, neste ponto, que a colenda Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, defrontando-se com pretensão jurídica
semelhante à ora em exame, coincidentemente deduzida pelo mesmo autor popular que promove a presente demanda, proferiu decisão
consubstanciada em acórdão assim ementado:
“’AÇÃO POPULAR’ – AJUIZAMENTO CONTRA JUÍZES DO TRABALHO – AUSÊNCIA DE COMPETÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL – AÇÃO POPULAR DE QUE NÃO SE CONHECE – PARECER DA PROCURADORIA- GERAL DA
REPÚBLICA PELO NÃO PROVIMENTO DO RECURSO – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.
O PROCESSO E O JULGAMENTO DE AÇÕES POPULARES CONSTITUCIONAIS (CF, ART. 5º, LXXIII) NÃO SE INCLUEM
NA ESFERA DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
– O Supremo Tribunal Federal – por ausência de previsão constitucional – não dispõe de competência originária para processar e
julgar ação popular promovida contra qualquer outro órgão ou autoridade da República, mesmo que o ato cuja invalidação se pleiteie tenha
emanado do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal ou, ainda, de qualquer dos Tribunais
Superiores da União. Jurisprudência. Doutrina. (…).”

Informativo 811-STF (17/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


(Pet 5.191-AgR/RO, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Não constitui demasia assinalar que a competência originária do Supremo Tribunal Federal, por qualificar-se como um complexo de
atribuições jurisdicionais de extração essencialmente constitucional – e ante o regime de direito estrito a que se acha submetida –, não comporta a
possibilidade de ser estendida a situações que extravasem os rígidos limites fixados, em “numerus clausus”, pelo rol exaustivo inscrito no art. 102,
I, da Carta Política, consoante adverte a doutrina (MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, “Comentários à Constituição Brasileira de
1988”, vol. 2/217, 1992, Saraiva) e proclama a jurisprudência desta própria Corte (RTJ 43/129 – RTJ 44/563 – RTJ 50/72 – RTJ 53/776 – RTJ
159/28, v.g.).
Esse regime de direito estrito a que se submete a definição da competência institucional do Supremo Tribunal Federal tem levado esta Corte
Suprema, por efeito da taxatividade do rol constante da Carta Política, a afastar do âmbito de suas atribuições jurisdicionais originárias o processo
e o julgamento de causas de natureza civil que não se acham inscritas no texto constitucional – tais como ações populares (RTJ 121/17, Rel. Min.
MOREIRA ALVES – RTJ 141/344, Rel. Min. CELSO DE MELLO – Pet 352/DF, Rel. Min. SYDNEY SANCHES – Pet 431/SP, Rel. Min. NÉRI
DA SILVEIRA – Pet 487/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – Pet 1.641/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO), ações civis públicas (RTJ 159/28,
Rel. Min. ILMAR GALVÃO – Pet 240/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA) ou ações cautelares, ações ordinárias, ações declaratórias e medidas
cautelares (RTJ 94/471, Rel. Min. DJACI FALCÃO – Pet 240/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA – Pet 1.738-AgR/MG, Rel. Min. CELSO DE
MELLO, v.g.)
Essa orientação jurisprudencial, por sua vez, tem o beneplácito de autorizados doutrinadores (ALEXANDRE DE MORAES, “Direito
Constitucional”, p. 180, item n. 7.8, 6ª ed., 1999, Atlas; RODOLFO DE CAMARGO MANCUSO, “Ação Popular”, p. 129/130, 1994, RT; HELY
LOPES MEIRELLES, ARNOLDO WALD e GILMAR FERREIRA MENDES, “Mandado de Segurança e Ações Constitucionais”, p. 192/193,
item n. 6, 35ª ed., 2013, Malheiros; HUGO NIGRO MAZZILLI, “O Inquérito Civil”, p. 83/84, 1999, Saraiva; MARCELO FIGUEIREDO,
“Probidade Administrativa”, p. 91, 3ª ed., 1998, Malheiros, v.g.), cujo magistério também assinala não se incluir na esfera de competência
originária do Supremo Tribunal Federal o poder de processar e julgar causas de natureza civil não referidas no texto da Constituição, ainda que
promovidas contra agentes públicos a quem se outorgou, “ratione muneris”, prerrogativa de foro em sede de persecução penal ou ajuizadas contra
órgãos estatais ou autoridades públicas que, em sede de mandado de segurança, estão sujeitos à jurisdição imediata do Supremo Tribunal Federal.
A “ratio” subjacente a esse entendimento, que acentua o caráter absolutamente estrito da competência constitucional do Supremo Tribunal
Federal, vincula-se à necessidade de inibir indevidas ampliações descaracterizadoras da esfera de atribuições institucionais desta Suprema Corte,
conforme ressaltou, a propósito do tema em questão, em voto vencedor, o saudoso Ministro ADALÍCIO NOGUEIRA (RTJ 39/56-59, 57).
Manifesta, pois, a falta de competência originária do Supremo Tribunal Federal para processar e julgar a presente causa, considerado o
que dispõe, em norma de direito estrito, o art. 102, I, da Constituição.
Registro, finalmente, que a incognoscibilidade da presente ação popular, em decorrência das razões ora expostas, justifica a seguinte
observação: no desempenho dos poderes processuais de que dispõe, assiste ao Ministro Relator competência plena para exercer, monocraticamente,
o controle das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, legitimando-se, em consequência, os atos decisórios que, nessa
condição, venha a praticar.
Impõe-se referir, neste ponto, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a inteira validade constitucional da norma legal que
inclui na esfera de atribuições do Relator a competência para negar trânsito, em decisão monocrática, a recursos, pedidos ou ações, quando
incabíveis, estranhos à competência desta Corte, intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a jurisprudência
predominante do Tribunal (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175).
Nem se alegue que esse preceito legal implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o postulado em questão sempre restará
preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal
Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, v.g.):
“PODERES PROCESSUAIS DO MINISTRO-RELATOR E PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE.
– Assiste ao Ministro-Relator competência plena para exercer, monocraticamente, com fundamento nos poderes processuais de que
dispõe, o controle de admissibilidade das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal. Pode, em conseqüência, negar
trânsito, em decisão monocrática, a ações, pedidos ou recursos, quando incabíveis, intempestivos, sem objeto ou, ainda, quando veicularem
pretensão incompatível com a jurisprudência predominante na Suprema Corte. Precedentes.
– O reconhecimento dessa competência monocrática deferida ao Relator da causa não transgride o postulado da colegialidade, pois
sempre caberá, para os órgãos colegiados do Supremo Tribunal Federal (Plenário e Turmas), recurso contra as decisões singulares que
venham a ser proferidas por seus Juízes.”
(MS 28.097-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Sendo assim, e em face das razões expostas, não conheço da presente ação popular.

Arquivem-se os presentes autos.

Publique-se.

Brasília, 06 de novembro de 2015.

Ministro CELSO DE MELLO


Relator

*decisão publicada no DJe de 11.11.2015

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
7 a 11 de dezembro de 2015

Lei nº 13.202, de 8.12.2015 - Institui o Programa de Redução de Litígios Tributários - PRORELIT; autoriza o
Poder Executivo federal a atualizar monetariamente o valor das taxas que indica; altera as Leis n os 12.873, de 24 de
outubro de 2013, 8.212, de 24 de julho de 1991, 8.213, de 24 de julho de 1991, 9.250, de 26 de dezembro de 1995, e

Informativo 811-STF (17/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


12.546, de 14 de dezembro de 2011; e dá outras providências. Publicada no DOU, Seção 1, Edição nº 235, p. 1, em
9.12.2015.
Lei nº 13.203, de 8.12.2015 - Dispõe sobre a repactuação do risco hidrológico de geração de energia elétrica;
institui a bonificação pela outorga; e altera as Leis nos 12.783, de 11 de janeiro de 2013, que dispõe sobre as concessões
de energia elétrica, 9.427, de 26 de dezembro de 1996, que disciplina o regime das concessões de serviços públicos de
energia elétrica, 9.478, de 6 de agosto de 1997, que institui o Conselho Nacional de Política Energética, 9.991, de 24 de
julho de 2000, que dispõe sobre realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficiência energética
por parte das empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas do setor de energia elétrica, 10.438, de 26 de abril
de 2002, 10.848, de 15 de março de 2004, que dispõe sobre a comercialização de energia elétrica, e 11.488, de 15 de
junho de 2007, que equipara a autoprodutor o consumidor que atenda a requisitos que especifica. Publicada no DOU,
Seção 1, Edição nº 235, p. 2, em 9.12.2015.
Medida provisória nº 700, de 8.12.2015 - Altera o Decreto-Lei nº 3.365, de 21 de junho de 1941, que dispõe
sobre desapropriações por utilidade pública, e a Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, que dispõe sobre os registros
públicos, e dá outras providências. Publicada no DOU, Seção 1, Edição nº 235, p. 4, em 9.12.2015.
Lei Complementar nº 153, de 9.12.2015 - Altera o art. 3º da Lei Complementar nº 79, de 7 de janeiro de 1994,
que cria o Fundo Penitenciário Nacional - FUNPEN, e dá outras providências. Publicada no DOU, Seção 1, Edição nº
236, em 10.12.2015.

O Informativo STF voltará a circular em fevereiro de 2016.

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 811-STF (17/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
MS 33586 AgR/DF; RE 641320/RS.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: RE 608847 AgR/RJ.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
 Não cabimento de ADPF contra decisão judicial transitada em julgado.

IMUNIDADE PARLAMENTAR
 Imunidade material.

SUS
 Diferença de classes no SUS é inconstitucional.

DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
 Declaração de inconstitucionalidade de lei que efetuou transposição e exoneração do servidores.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


RECURSOS
 INSS é dispensado do pagamento de porte de remessa e retorno.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


HABEAS CORPUS
 Não cabimento para reexame dos pressupostos de admissibilidade dos recursos.

DIREITO TRIBUTÁRIO
IMPOSTO DE RENDA
 Aumento de alíquota e irretroatividade.

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Não cabimento de ADPF contra decisão judicial transitada em julgado

Não cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) contra decisão judicial
transitada em julgado. Este instituto de controle concentrado de constitucionalidade não tem
como função desconstituir a coisa julgada.
STF. Decisão monocrática. ADPF 81 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 27/10/2015 (Info 810).

É possível, em tese, que seja proposta ADPF contra decisão judicial?


SIM. Segundo o art. 1º da Lei nº 9.882/99, a ADPF será proposta perante o STF, e terá por objeto evitar ou
reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ATO DO PODER PÚBLICO.
Quando a lei fala em "ato do poder público", abrange não apenas leis ou atos normativos, mas também
outros atos do poder público, como uma decisão judicial. Nesse sentido:
(...) A arguição de descumprimento de preceito fundamental foi concebida pela Lei 9.882/99 para servir
como um instrumento de integração entre os modelos difuso e concentrado de controle de
constitucionalidade, viabilizando que atos estatais antes insuscetíveis de apreciação direta pelo Supremo
Tribunal Federal, tais como normas pré-constitucionais ou mesmo decisões judiciais atentatórias a
cláusulas fundamentais da ordem constitucional, viessem a figurar como objeto de controle em processo
objetivo. (...)
(STF. Decisão Monocrática. ADPF 127, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 25/2/2014)

É possível que seja proposta ADPF contra decisão judicial mesmo que já tenha havido trânsito em julgado?
NÃO. Não cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) contra decisão judicial
transitada em julgado. Este instituto de controle concentrado de constitucionalidade não tem como
função desconstituir a coisa julgada.

É possível que seja proposta ADPF contra súmula (comum ou vinculante)?


NÃO. A arguição de descumprimento de preceito fundamental não é a via adequada para se obter a
interpretação, a revisão ou o cancelamento de súmula vinculante. (STF. Plenário. ADPF 147-AgR, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 24/03/2011).

(PGM Salvador 2015 CESPE) É possível, mediante o ajuizamento de arguição de descumprimento de


preceito fundamental, a revisão, o cancelamento ou a interpretação conforme a CF de súmula vinculante
proferida pelo STF. (ERRADA)

IMUNIDADE PARLAMENTAR
Imunidade material

A imunidade parlamentar é uma proteção adicional ao direito fundamental de todas as


pessoas à liberdade de expressão, previsto no art. 5º, IV e IX, da CF/88. Assim, mesmo quando
desbordem e se enquadrem em tipos penais, as palavras dos congressistas, desde que
guardem alguma pertinência com suas funções parlamentares, estarão cobertas pela
imunidade material do art. 53, caput , da CF/88.
STF. 1ª Turma. Inq 4088/DF e Inq 4097/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 1º/12/2015 (Info 810).

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


Declarações de Senador nas redes sociais
O Senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) publicou, em suas contas no Twitter e Facebook, as seguintes
mensagens:
Lulaàtem postura de bandido. E bandido frouxo! Igual à época que instigava metalúrgicos a protestar e ia
do i à aàsalaàdoàdelegadoàTu a .
Lulaàeà suaàtu aàfo a àpegosà ou a doàaàPet o asàeà ago aàa eaçaà o àaàt opaàM“Tàdoà“t dileàeà doà
Rainha para promover a bade a .
E àvezàdeài àpa aà eu iõesàdeài itaçõesàaoàódio,àLulaàdeve iaài à àCPIàdaàPet o asàexpli a àosàassaltosà
o etidosàpo àeleàeàseuàgove o .

Queixa-crime
O ex-Presidente Lula, por intermédio dos seus advogados, ingressou, então, com queixa-crime contra o
Senador pedindo a sua condenação por calúnia, injúria e difamação.

Defesa do Senador
A defesa argumentou que o parlamentar não cometeu qualquer crime com seu comentário, considerando
estar acobertado pela imunidade material prevista no art. 53 da CF/88:
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões,
palavras e votos.

O Senador praticou crime contra a honra do ex-Presidente Lula?


NÃO. A 1ª Turma do STF entendeu que as declarações publicadas pelo Senador estavam protegidas pela
imunidade parlamentar prevista no art. 53 da CF/88.
Segundo decidiu o Min. Relator Edson Fachin, as manifestações do congressista, no caso concreto,
possuíam cunho político e estavam relacionadas com o exercício do mandato. Isso porque a função
parlamentar não abrange apenas atividades legislativas, mas inclui também a fiscalização e a investigação
da administração pública.
A imunidade parlamentar é uma proteção adicional ao direito fundamental de todas as pessoas à
liberdade de expressão, previsto no art. 5º, IV e IX, da CF/88. Assim, mesmo quando desbordem e se
enquadrem em tipos penais, as palavras dos congressistas, desde que guardem alguma pertinência com
suas funções parlamentares, estarão cobertas pela imunidade mate ialàdoàa t.à5 ,à aput ,àdaàCF/88.

Imunidade material é prevista para assegurar a democracia


A Constituição confere uma tolerância maior com o uso da liberdade de expressão quando proveniente de
parlamentar no exercício de seu respectivo mandato. Trata-se da imunidade material. Essa imunidade se
justifica com o objetivo de assegurar um bem maior, qual seja, a própria democracia. Entre um parlamentar
acuado pelo medo de sofrer um processo criminal e um parlamentar livre para expor as suspeitas que pairam
sobre outros homens públicos, o caminho trilhado pela Constituição foi o de conferir liberdade ao congressista.
Dessa feita, a regra da imunidade deve prevalecer nas situações limítrofes em que não fique demonstrada
uma conexão direta entre a atividade parlamentar e as ofensas irrogadas, mas que, igualmente, não se
possa, de plano, dizer que exorbitem do exercício do mandato.

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


SUS
Diferença de classes no SUS é inconstitucional

Importante!!!
É inconstitucional a possibilidade de um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) pagar para
ter acomodações superiores ou ser atendido por médico de sua preferência, a chamada
"diferença de classes".
Existe uma portaria do Ministério da Saúde (Portaria 113/1997) que proíbe a diferença de
classe. Este ato estava sendo questionado e o STF, em recurso extraordinário submetido à
repercussão geral, declarou que ele é constitucional, firmando a seguinte tese, que vale de
forma ampla para todos os casos envolvendo diferença de classe:
"É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, a internação em
acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por médico do próprio SUS,
ou por médico conveniado, mediante o pagamento da diferença dos valores correspondentes."
STF. Plenário. RE 581488/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/12/2015 (repercussão geral)
(Info 810).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O hospital pa ti ula à Boaà “aúde à credenciado junto ao SUS para prestar atendimento gratuito à
população em geral. Em outras palavras, esse hospital recebe verbas do SUS para que uma parte de seu
atendimento seja destinada a todas as pessoas, independentemente de pagamento.
João foi internado no hospital para tratamento de saúde pelo SUS, ficando no ambulatório com outros
pacientes. Como foi internado pelo SUS, João não pagaria nada e o hospital receberia do governo pelos
serviços realizados.
Ocorre que o médico de confiança de João (que não era do SUS) lhe deu uma dica: se ele pagasse determinado
valor ao hospital, poderia ter direito de ficar no quarto (em vez do ambulatório) e poderia escolher o médico
que iria lhe operar (mesmo que este profissional não fosse do SUS).
Para ter direito a esse "upgrade", bastaria que João pagasse a diferença entre o tratamento já pago pelo
SUS e o que seria devido em caso de tratamento particular nas acomodações melhores. Ex: o SUS paga ao
hospital R$ 1 mil reais por dia que o paciente fica no ambulatório. O hospital cobra R$ 1.500 por dia de
paciente no quarto. Logo, João teria que pagar apenas essa diferença (R$ 500).

Qual é o nome dessa prática?


Pagamento pela "diferença de classe".

Isso é permitido? A chamada diferença de classes no SUS é compatível com a CF/88?


NÃO. É inconstitucional a possibilidade de um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) pagar para ter
acomodações superiores ou ser atendido por médico de sua preferência, a chamada "diferença de classes".

O SUS é baseado nos seguintes princípios:


a) UNIVERSALIDADE: o sistema garante prestação dos serviços de saúde a toda e qualquer pessoa;
b) EQUIDADE: os serviços de saúde são prestados em todos os níveis que sejam necessários, de acordo
com a complexidade que o caso venha a exigir, de forma isonômica, nas situações similares;
c) INTEGRALIDADE: deve ser reconhecido que cada indivíduo é considerado como um todo indivisível e
integrante de uma comunidade, o que exige do Poder Público que as ações de promoção, proteção e
recuperação da saúde formem também um todo indivisível, atendendo os casos e observando os diversos
graus de complexidade de forma integral pelas unidades prestadoras de serviços de saúde.

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Subverte a lógica do sistema, que tem como um dos princípios a equidade
Para o STF, admitir que um paciente internado pelo SUS tenha acesso a melhores condições de internação
ou a médico de sua confiança mediante pagamento subverte totalmente a lógica do sistema, em especial a
equidade. Não se pode conceber que um atendimento público de saúde que se pretenda igualitário
compreenda, dentro de si, diversas possibilidades de atendimento de acordo com a capacidade
econômico-financeira do paciente, sobretudo quando esse atendimento se encontra a cargo do Estado.

Risco de os serviços prestados pelo SUS piorarem como forma de forçar o pagamento extra pelos pacientes
Se fosse permitida a diferença de classes, haveria o risco de os hospitais piorarem as condições das
enfermarias e das estruturas hospitalares, de maneira a constranger os indivíduos a procurarem por
condições mais dignas, ainda que pagas. Além disso, não se pode eliminar a possibilidade de ocorrer
superdimensionamento dos preços das acomodações superiores, de forma a que os usuários do Sistema
Único de Saúde arquem integralmente com os custos do tratamento. Em outras palavras, o pagamento
dessa "diferença" seria tão alto que, na verdade, o paciente estaria pagando o tratamento todo e o
hospital recebendo duas vezes (uma do SUS e outra dessa "diferença").

Atendimento personalizado e dividido em classes é permitido na rede privada de saúde


A Constituição Federal não proibiu o atendimento personalizado de saúde, mas este deve ser feito na rede
privada. Assim, aquele que desejar contratar médicos e acomodações diferenciados, de acordo com sua
vontade e posses, deve recorrer à rede privada de saúde. Os atendimentos realizados pela rede pública
devem ser igualitários.

Na rede do SUS, o indivíduo deve ser atendido por médico do SUS


Segundo entendeu o STF, permitir o acompanhamento por médico particular via Sistema Único de Saúde é
injusto e desleal com os próprios profissionais da rede pública, que se submetem a concursos e todos os
demais requisitos exigidos para ingresso em cargos ou empregos públicos. Em última análise, é uma forma
de burlar os requisitos para ingresso no serviço público.
Na rede do SUS, o indivíduo deve ser atendido por profissional do SUS. Ao internar-se pelo SUS, o
indivíduo aceita todo o pacote, inclusive a assistência por profissional da rede pública. A chamada relação
de confiança médico-paciente será construída com o profissional do SUS que acompanhará o paciente.

Existe uma portaria do Ministério da Saúde (Portaria 113/1997) que proíbe a diferença de classe. Este
ato estava sendo questionado e o STF, em recurso extraordinário submetido à repercussão geral
declarou que ele é constitucional, firmando a seguinte tese, que vale de forma ampla para todos os
casos envolvendo diferença de classe:
"É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, a internação em
acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por médico do próprio SUS, ou por
médico conveniado, mediante o pagamento da diferença dos valores correspondentes."
STF. Plenário. RE 581488/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/12/2015 (repercussão geral) (Info 810).

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DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS
Declaração de inconstitucionalidade de lei que efetuou transposição e exoneração do servidores

No julgamento da ADI 3819, o STF declarou inconstitucional lei estadual, posterior à CF/88,
que transformou ocupantes de determinado cargo público em Defensores Públicos. Entendeu-
se que houve violação ao princípio do concurso público.
Os servidores foram, então, exonerados pelo Governador do Estado, mas conseguiram ser
reintegrados por decisão do STJ, que entendeu que, antes da exoneração, deveria a eles ser
garantido devido processo legal, com contraditório e ampla defesa.
O STF, em reclamação, cassou essa decisão do STJ por entender que ela contrariou a
autoridade da decisão proferida pelo STF no julgamento da ADI 3.819/MG.
STF. 2ª Turma. Rcl 16950/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1º/12/2015 (Info 810).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Em 1990, foi editada uma Lei em Minas Gerais transformando os ocupantes do cargo de advogado de uma
extinta sociedade de economia mista estadual em Defensores Públicos.
Em 2007, essa Lei foi declarada inconstitucional pelo STF por violar o princípio do concurso público (ADI
3819, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 24/10/2007).
O STF modulou os efeitos da decisão, conferindo um prazo de 6 meses para que os referidos servidores
continuassem como Defensores Públicos até que o Governo mineiro conseguisse realizar novo concurso
público para prover os cargos.
Passado esse prazo, o Governador exonerou os referidos servidores do cargo de Defensor Público.
Os servidores exonerados impetraram mandado de segurança contra o ato do Governador afirmando que
essa exoneração foi feita sem que eles tivessem tido direito ao contraditório e ampla defesa.
O TJ negou o pedido do MS, mas o STJ, ao apreciar o recurso, concordou com a tese e determinou a
reintegração dos servidores no cargo de Defensor Público, sem prejuízo de que eles fossem novamente
exonerados no futuro, mas após o devido processo legal.
O Estado de Minas Gerais ingressou com reclamação no STF afirmando que a decisão do STJ afrontou o
que a Corte decidiu na ADI 3819.

O STF concordou com o pedido contido na reclamação? A decisão do STJ determinando a reintegração
dos servidores afrontou a decisão proferida na ADI 3819?
SIM. A reclamação foi julgada procedente, determinando que fosse cassada a decisão do STJ que
reintegrava os servidores nos quadros da Defensoria Pública.
A decisão reclamada contrariou a autoridade da decisão proferida pelo STF no julgamento da ADI
3.819/MG (DJe de 23.8.2008). Nessa ação direta, o STF declarou a inconstitucionalidade, com efeitos
prospectivos, da lei estadual que admitiu, na função de Defensor Público, servidores que não ingressaram
na carreira mediante concurso.
O STF explicou que, durante o julgamento dessa ADI, ficou definido que os servidores não poderiam mais
permanecer como Defensores Públicos por força da declaração de inconstitucionalidade. O prazo
conferido para que a decisão paradigma produzisse seus efeitos apenas tinha o propósito de permitir ao
Estado de Minas Gerais a adoção das medidas necessárias para solucionar eventual risco à continuidade
dos serviços prestados pela Defensoria Pública.

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


DIREITO PROCESSUAL CIVIL

RECURSOS
INSS é dispensado do pagamento de porte de remessa e retorno

Se o INSS interpuser um recurso, ele precisará pagar o porte de remessa e retorno (despesas
postais para o transporte do recurso)?
NÃO. O INSS é dispensado de pagar o porte de remessa e retorno mesmo nos processos que
tramitam na Justiça Estadual. Segundo decidiu o STF, o INSS é exonerado de recolher o porte de
remessa e retorno com base no § 1º do art. 511 do CPC 1973 (§ 1º do art. 1.007 do CPC 2015).
O porte de remessa e retorno é uma despesa de serviço postal prestado pelos Correios
(empresa pública federal) e que é remunerada por tarifa (preço público). Desse modo, o porte
de remessa e retorno não tem natureza jurídica de taxa, não sendo uma taxa estadual.
Sendo o porte de remessa e retorno uma tarifa paga a uma empresa pública federal, o CPC, que
é uma lei federal, poderia, de forma válida, prever a sua dispensa para o INSS. Trata-se de
diploma editado pela União, a quem compete dispor sobre as receitas públicas oriundas da
prestação do serviço público postal.
O STF resumiu a solução da controvérsia por meio da seguinte frase: "Aplica-se o parágrafo 1º
do artigo 511 do CPC, para dispensa de porte de remessa e retorno, ao exonerar o seu
respectivo recolhimento por parte do INSS .
STF. Plenário. RE 594116/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 3/12/2015 (repercussão geral)
(Info 810).

PREPARO
Preparo consiste no pagamento das despesas relacionadas com o processamento do recurso.
No preparo incluem-se:
 taxa judiciária (custas);
 despesas postais com o envio dos autos ( ha adoàdeà porte de remessa e de retorno dos autos).

Desseà odo,à p epa a à o recurso é nada mais que pagar as despesas necessárias para que a máquina
judiciária dê andamento à sua apreciação. O pagamento do preparo é feito, comumente, na rede bancária
conveniada com o Tribunal.

MOMENTO DO PREPARO
O CPC afirma que a parte que está recorrendo da decisão precisa comprovar o preparo no momento da
interposição do recurso. Logo, o preparo (recolhimento do valor) deve ser feito antes da interposição do
recurso e, junto com o recurso interposto, o recorrente deve juntar o comprovante do pagamento.

PREPARO NÃO COMPROVADO NA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO


Se o recorrente, quando interpuser o recurso, não comprovar que fez o preparo, o seu recurso será
considerado deserto (deserção).
Importante: os §§ 2º e 4º do art. 1.007 do novo CPC preveem mitigações à essa regra, conforme você verá
mais abaixo.

DESERÇÃO
Deserção é a inadmissibilidade do recurso pela falta ou insuficiência de preparo, observados os §§ 2º e 4º
do art. 1.007 do CPC 2015. Se o recurso foi deserto, significa que ele não foi conhecido (não foi sequer
apreciado). Gramaticalmente, desertar é o mesmo que abandonar.

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


PREVISÃO DA REGRA DO PREPARO
CPC 1973 CPC 2015

Art. 511. No ato de interposição do recurso, o Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o
recorrente comprovará, quando exigido pela recorrente comprovará, quando exigido pela
legislação pertinente, o respectivo preparo, legislação pertinente, o respectivo preparo,
inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena
de deserção. de deserção.

§ 1º São dispensados de preparo os recursos § 1º São dispensados de preparo, inclusive porte


interpostos pelo Ministério Público, pela União, de remessa e de retorno, os recursos interpostos
pelos Estados e Municípios e respectivas pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito
autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e
respectivas autarquias, e pelos que gozam de
isenção legal.

§ 2º A insuficiência no valor do preparo implicará § 2º A insuficiência no valor do preparo, inclusive


deserção, se o recorrente, intimado, não vier a porte de remessa e de retorno, implicará deserção
supri-lo no prazo de cinco dias. se o recorrente, intimado na pessoa de seu
advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5 (cinco)
dias.

§ 3º É dispensado o recolhimento do porte de


remessa e de retorno no processo em autos
eletrônicos.

§ 4º O recorrente que não comprovar, no ato de


interposição do recurso, o recolhimento do preparo,
inclusive porte de remessa e de retorno, será
intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o
recolhimento em dobro, sob pena de deserção.

§ 5º É vedada a complementação se houver


insuficiência parcial do preparo, inclusive porte de
remessa e de retorno, no recolhimento realizado
na forma do § 4º.

§ 6º Provando o recorrente justo impedimento, o


relator relevará a pena de deserção, por decisão
irrecorrível, fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias
para efetuar o preparo.

§ 7º O equívoco no preenchimento da guia de custas


não implicará a aplicação da pena de deserção,
cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao
recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício
no prazo de 5 (cinco) dias.

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


PREPARO ENVOLVENDO RECURSOS INTERPOSTOS PELO INSS
Como vimos acima, o preparo é composto de duas partes: custas judiciais + porte de remessa e retorno.
Se o INSS interpuser um recurso, ele precisará pagar as CUSTAS JUDICIAIS (espécie de taxa) ou é isento?
A situação do INSS é peculiar porque este, mesmo sendo uma autarquia federal, pode ser demandado na
Justiça Estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, quando a comarca não for sede de
vara federal (art. 109, § 3º).
Em suma, o INSS pode ser parte tanto em processos na Justiça Estadual como na Justiça Federal.

Se estiver litigando na Justiça Federal: Se estiver litigando na Justiça Estadual:


É isento das custas NÃO é isento das custas (terá que pagar)
Lei nº 9.289/96: Súmula 178 do STJ: O INSS não goza de isenção do
Art. 4° São isentos de pagamento de custas: pagamento de custas e emolumentos, nas ações
I - a União, os Estados, os Municípios, os acidentárias e de benefícios propostas na Justiça
Territórios Federais, o Distrito Federal e as Estadual.
respectivas autarquias e fundações; Isso ocorre porque as custas e emolumentos
possuem natureza jurídica de taxa. As custas da
Justiça Estadual são taxas estaduais; logo,
somente uma lei estadual poderia isentar o INSS
do pagamento dessa taxa, não podendo uma lei
federal prever essa isenção (art. 151, III da CF/88).
Justamente por isso, o § 1º do art. 1º da Lei nº
9.289/96 prevê o seguinte:
Art. 1º (...) § 1° Rege-se pela legislação estadual
respectiva a cobrança de custas nas causas
ajuizadas perante a Justiça Estadual, no exercício
da jurisdição federal.

Vale ressaltar que, quando o INSS estiver litigando na Justiça Estadual, ele terá que pagar as custas
processuais, mas somente ao final da demanda, se for vencido. Aplica-se ao INSS o art. 27 do CPC 1973
(art. 91 do CPC 2015) e o art. 1ºA da Lei nº 9.494/97:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 27. As despesas dos atos processuais, Art. 91. As despesas dos atos processuais
efetuados a requerimento do Ministério Público praticados a requerimento da Fazenda Pública, do
ou da Fazenda Pública, serão pagas a final pelo Ministério Público ou da Defensoria Pública serão
vencido. pagas ao final pelo vencido.

Lei nº 9.494/97:
Art. 1º-A. Estão dispensadas de depósito prévio, para interposição de recurso, as pessoas jurídicas de
direito público federais, estaduais, distritais e municipais.

Conforme já dito, o INSS é uma autarquia federal, portanto, está englobada dentro do conceito de
Fazenda Pública. Para que não houvesse qualquer dúvida, o legislador foi expresso na Lei n. 8.620/93:
Art. 8º O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), nas causas em que seja interessado na condição de
autor, réu, assistente ou opoente, gozará das mesmas prerrogativas e privilégios assegurados à Fazenda
Pública, inclusive quanto à inalienabilidade e impenhorabilidade de seus bens.
§ 1º O INSS é isento do pagamento de custas, traslados, preparos, certidões, registros, averbações e
quaisquer outros emolumentos, nas causas em que seja interessado na condições de autor, réu, assistente
ou opoente, inclusive nas ações de natureza trabalhista, acidentária e de benefícios.
§ 2º O INSS antecipará os honorários periciais nas ações de acidente do trabalho.

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


Em 2012, foi editada a Súmula 483 do STJ, deixando claro que o INSS também goza desta prerrogativa:
Súmula 483-STJ: O INSS não está obrigado a efetuar depósito prévio do preparo por gozar das
prerrogativas e privilégios da Fazenda Pública.

Obs: a lei federal não pode conceder isenção das custas na Justiça Estadual, mas pode afirmar que o INSS
só irá pagar ao final porque isso não é isenção.

E o porte de remessa e retorno? Se o INSS interpuser um recurso, ele precisará pagar o porte de remessa
e retorno (despesas postais para o transporte do recurso)?
NÃO. O INSS é dispensado de pagar o porte de remessa e retorno mesmo nos processos que tramitam na
Justiça Estadual.
Segundo decidiu o STF, o INSS é exonerado de recolher o porte de remessa e retorno com base no § 1º do
art. 511 do CPC 1973 (§ 1º do art. 1.007 do CPC 2015):
CPC 1973 CPC 2015

Art. 511. (...) Art. 1.007. (...)

§ 1º São dispensados de preparo os recursos § 1º São dispensados de preparo, inclusive porte


interpostos pelo Ministério Público, pela União, de remessa e de retorno, os recursos interpostos
pelos Estados e Municípios e respectivas pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito
autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e
respectivas autarquias, e pelos que gozam de
isenção legal.

Assim, eventual lei estadual que determine que o INSS tenha que pagar porte de remessa e retorno é
inconstitucional. Isso porque o porte de remessa e retorno é uma despesa de serviço postal prestado pelos
Correios (empresa pública federal) e que é remunerada por tarifa (preço público). Desse modo, o porte de
remessa e retorno não tem natureza jurídica de taxa, não sendo uma taxa estadual.
Sendo o porte de remessa e retorno uma tarifa paga a uma empresa pública federal, o CPC, que é uma lei
federal, poderia, de forma válida, prever a sua dispensa para o INSS. Trata-se de diploma editado pela
União, a quem compete dispor sobre as receitas públicas oriundas da prestação do serviço público postal.
Como o recurso acima foi decidido sob a sistemática da repercussão geral, o STF resumiu a solução da
controvérsia por meio da seguinte frase: "Aplica-se o parágrafo 1º do artigo 511 do CPC, para dispensa de
porte de remessa e retorno, ao exonerar o seu respectivo recolhimento por parte do INSS .

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


DIREITO PROCESSUAL PENAL

HABEAS CORPUS
Não cabimento para reexame dos pressupostos de admissibilidade dos recursos

Importante!!!
Não é cabível habeas corpus para o reexame dos pressupostos de admissibilidade dos recursos.
A jurisprudência admite o habeas corpus substitutivo ?
• STJ e 1ª Turma do STF: NÃO (mas pode ser conhecido habeas corpus de ofício).
• 2ª Turma do STF: SIM.
STF. 1ª Turma. HC 114293/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 1º/12./2015 (Info 810).

Imagine a seguinte situação adaptada:


João foi condenado em processo criminal e interpôs apelação, tendo o TJ mantido a sentença.
Contra o acórdão do TJ, a defesa manejou recurso especial, mas o STJ não conheceu do recurso sob o
argumento de que estava intempestivo.
A defesa impetrou, então, habeas corpus questionando a decisão do STJ e procurando, por meio do writ,
demonstrar que o recurso interposto estava dentro do prazo.

Agiu corretamente a defesa? Esse habeas corpus será conhecido?


NÃO. Não é cabível habeas corpus para o reexame dos pressupostos de admissibilidade dos recursos.

Habeas corpus substitutivo


O habeas corpus substitutivo ocorre quando o impetrante, em vez de interpor o recurso cabível contra a
decisão, opta por questioná-la ajuizando novo habeas corpus, dirigido à instância superior. Na prática, os
advogados e Defensores Públicos preferem valer-se do HC substitutivo por ser este mais simples e rápido
que o recurso.

A jurisprudência admite a utilização do habeas corpus como substitutivo de recurso próprio (o chamado
ha eas orpus su stitutivo )?
O entendimento majoritário é no sentido de que não. Não é possível a impetração de habeas corpus
substitutivo do recurso próprio.
Deve-se alertar, contudo, que, se a ilegalidade exposta no processo for flagrante (evidente, manifesta,
muito clara), ou então a decisão impugnada for teratológica (absurda, monstruosa), admite-se que o
Tribunal conceda habeas corpus de ofício, beneficiando o paciente.
Em outras palavras, se a ilegalidade for indiscutível ou a decisão absurda, o Tribunal não conhecerá do HC
impetrado (por ser ele substitutivo), mas concederá HC de ofício em favor do réu.
Esse entendimento é adotado pela 1ª Turma do STF e pelo STJ.

2ª Turma do STF admite habeas corpus substitutivo


Vale fazer uma ressalva: a 2ª Turma do STF admite o habeas corpus substitutivo. Nesse sentido:
(...) A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal admite habeas corpus substitutivo de recurso
ordinário constitucional (art. 102, II, a, da Constituição Federal). (...)
(STF. 2ª Turma. HC 125841, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/03/2015).

A jurisprudência admite o ha eas orpus su stitutivo ?


 STJ e 1ª Turma do STF: NÃO (mas pode ser conhecido habeas corpus de ofício).
 2ª Turma do STF: SIM.

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


DIREITO TRIBUTÁRIO

IMPOSTO DE RENDA
Aumento de alíquota e irretroatividade

É inconstitucional a aplicação retroativa de lei que majora a alíquota incidente sobre o lucro
proveniente de operações incentivadas ocorridas no passado, ainda que no mesmo ano-base,
tendo em vista que o fato gerador se consolida no momento em que ocorre cada operação de
exportação, à luz da extrafiscalidade da tributação na espécie.
A Súmula 584 do STF permanece válida. No entanto, este enunciado não se aplica para as
hipóteses em que o tributo tenha função extrafiscal.
STF. Plenário. RE 592396/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 3/12/2015 (repercussão geral)
(Info 810).

A Lei nº 7.988/89 aumentou as alíquotas do Imposto de Renda sobre exportações, nos seguintes termos:
Art. 1º A partir do exercício financeiro de 1990, correspondente ao período-base de 1989:
I - passará a ser 18% (dezoito por cento) a alíquota aplicável ao lucro decorrente de exportações
incentivadas, de que trata o art. 1º do Decreto-Lei nº 2.413, de 10 de fevereiro de 1988;

O problema foi que essa Lei, publicada em 28 de dezembro de 1989, influenciou no recolhimento do
imposto incidente sobre operações ocorridas em 1989. Como ela foi publicada no final de 1989, acabou
incidindo sobre operações realizadas antes mesmo da sua vigência.

Diante disso, o STF declarou a inconstitucionalidade do art. 1º, I, da Lei (que elevou a alíquota de 6% para
18% sobre as exportações) por entender que ele violou os princípios da anterioridade e da segurança
jurídica.

Súmula 584-STF
Um dos argumentos da União para defender a constitucionalidade da Lei foi a de que esse aumento da
alíquota é permitido pela jurisprudência do STF cristalizada na Súmula 584, que tem a seguinte redação:
Súmula 584-STF: Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente
no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração.

A súmula 584 do STF está superada? Ela pode ser aplicada no caso do art. 1º, I, da Lei nº 7.988/89 para
reconhecer esse aumento constitucional?
O tema é polêmico, mas prevalece no STF que a Súmula 584 continua válida.
O fato gerador do imposto de renda, na visão do STF, somente ocorre em 31 de dezembro do ano. Por
isso, em regra, não viola o princípio da irretroatividade a edição de lei editada nos últimos dias mesmo que
se aplique ao seu ano de edição.
No entanto, esse entendimento do STF, cristalizado na Súmula 584, foi construído e vale para as hipóteses
em que o imposto de renda tenha função meramente fiscal (arrecadatória), o que é a regra geral.
Esse enunciado, contudo, não se aplica ao caso do art. 1º, I, da Lei nº 7.988/89 porque, nesta hipótese, o
imposto de renda incidia sobre importações incentivadas pelo Governo, ou seja, o tributo aí tinha função
extrafiscal.
Para o caso da Lei nº 7.988/89, como não se trata de hipótese arrecadatória, deve ser afastada a
incidência da súmula, sob pena de se ferir direito adquirido do contribuinte.

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Resumindo. A Súmula 584 do STF permanece válida e aplicável?
 Regra: SIM.
 Exceção: a súmula não se aplica para as hipóteses em que o IR tenha função extrafiscal.

Assim, não é legítima a aplicação retroativa do art. 1º, I, da Lei 7.988/89, que majorou a alíquota
incidente sobre o lucro proveniente de operações incentivadas ocorridas no passado, ainda que no
mesmo exercício. Relativamente a elas, a legislação havia conferido tratamento fiscal destacado e mais
favorável, justamente para incrementar a sua exportação. A evidente função extrafiscal da tributação
das referidas operações afasta a aplicação, em relação a elas, da Súmula 584/STF.
STF. RE 183130, Rel. p/ Acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 25/09/2014.

No julgamento deste RE 592396/SP, o STF reiterou o que foi decidido acima e, pelo fato de o recurso ter
sido julgado sob a sistemática da repercussão geral, a Corte fixou a seguinte tese:
"É inconstitucional a aplicação retroativa de lei que majora a alíquota incidente sobre o lucro proveniente
de operações incentivadas ocorridas no passado, ainda que no mesmo ano-base, tendo em vista que o
fato gerador se consolida no momento em que ocorre cada operação de exportação, à luz da
extrafiscalidade da tributação na espécie."

JULGADO NÃO COMENTADO

Abono variável e competência do STF


Compete ao STF para processar e julgar, originariamente, demanda ajuizada por magistrado estadual a
respeito de pagamento de correção monetária sobre valores correspondentes a abono variável. Essa a
conclusão da Segunda Turma que, por maioria, deu provimento a agravo regimental em recurso
extraordinário em que debatida a definição da competência. Afirmou que o Plenário já se manifestara no
sentido de ser o STF competente para processar e julgar as ações ajuizadas por magistrados federais
referentes à correção monetária do abono variável prevista na Lei 10.474/2002. Assinalou que a ação de
cobrança, no caso concreto, visaria ao pagamento da correção monetária incidente sobre o abono variável,
vantagem instituída pela Lei 9.655/1998 correspondente à diferença entre a remuneração mensal de cada
magistrado e o valor do subsídio que viesse a ser fixado na vigência da EC 19/1998. A Lei 9.655/1998, no
entanto, não estabelecera o valor nominal dos subsídios devidos aos magistrados. Apenas escalonara os
respectivos estipêndios com base no subsídio mensal dos Ministros do STF, que não teria sido fixado pela
lei exigida nos termos do art. 48, XV, da CF. A aplicação do art. 6º da Lei Federal 9.655/98 dependeria,
portanto, da edição da lei de fixação do subsídio dos Ministros do STF. Assim, com o fim de dar eficácia ao
art. 6º da Lei Federal 9.655/1998, a Lei Federal 10.474/2002, ao tratar da remuneração da magistratura da
União, determinara que até que fosse editada a lei prevista no art. 48, XV, da CF, o vencimento básico do
Ministro do STF seria fixado em R$ 3.950,31. Embora as disposições acima se aplicassem apenas à
magistratura da União, fora editada, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, a Lei fluminense 4.631/2005
ueàapli a aàaosà e osàdoàPode àJudi i ioàestadualàoàdispostoà oàa t.à º,à aput ,àeà§à º,àdaàLeiàFede alà
10.474/2002.

A Turma frisou que, embora as disposições normativas aplicáveis à magistratura da União e do Estado do
Rio de Janeiro não fossem absolutamente idênticas, em ambas as situações, apenas os membros do Poder
Judiciário que tivessem recebido o abono variável no período de 1º.1.1998 a 28.6.2002 teriam interesse na
causa, de modo que, quanto a esse ponto, não haveria distinção entre o presente caso e aqueles
apreciados pelo Plenário. Portanto, a limitação temporal do interesse da magistratura na matéria ocorreria
tanto no âmbito federal quanto no estadual, de modo que não se poderia afastar a aplicação do art. 102, I,
,àdaàCF.àáde ais,àoàfato de a controvérsia interessar apenas a magistrados estaduais também não seria

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suficiente para obstar a aplicação do entendimento firmado pelo Plenário em hipóteses relativas a
magistrados federais. Isso porque, conquanto interpretação literal do art. 102,à I,à ,à daà CFà pe itisseà
concluir pela necessidade de envolvimento de todos os membros da magistratura de forma direta ou
indireta para a aplicação da competência originária do STF, dever-se-ia ter em conta que essa disposição
normativa constitucional não possuiria outro objetivo senão o de deslocar a competência para evitar-se,
ainda que de forma geral, o julgamento da causa por interessados. Vencida a Ministra Cármen Lúcia
(relatora) e vencido o Ministro Celso de Mello. Pontuou que a discussão sobre a incidência de correção
monetária no sistema de pagamento do abono variável criado especificamente no Estado do Rio de Janeiro
ãoàseài se i iaà oà olàdeà at iasàaptasàaàat ai àaà o pet iaào igi iaàdoà“TF,àp evistaà oàa t.à ,àI,à ,à
da CF, cuja interpretação deveria ser restritiva. Não haveria, na espécie vertente, interesse direto ou
indireto de toda a magistratura estadual autorizador do deslocamento da competência para o STF.
RE 608847 AgR/RJ, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 1º.12.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 30 de novembro a 4 de dezembro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 901.623-SP


RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: CONSTITUCIONAL. PENAL. ART. 19 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS. PORTE DE ARMA BRANCA. PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE PENAL. ANÁLISE SOBRE A OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE DA CONDUTA DESCRITA.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
Questão relevante do ponto de vista social e jurídico.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 806.339-SE
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
LIBERDADE DE REUNIÃO – AUTORIDADE COMPETENTE – PRÉVIO AVISO – ARTIGO 5º, INCISO XVI, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL – ALCANCE – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a
controvérsia alusiva ao alcance da exigência de prévio aviso à autoridade competente como pressuposto para o exercício do direito versado no artigo
5º, inciso XVI, da Carta de 1988.
Decisões Publicadas: 2

CLIPPING DO D JE
30 de novembro a 4 de dezembro de 2015

AG. REG. NO ARE N. 825.531-CE


REDATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Constitucional e administrativo. Servidor público. Pretensão de
manutenção de vantagem remuneratória adquirida no exercício de cargo de carreira diversa. Impossibilidade. Precedentes.
1. A pretensão do ora agravado era a manutenção de vantagem remuneratória adquirida no exercício de cargo público no Judiciário estadual e a
transposição dessa vantagem funcional para o cargo atualmente exercido na Justiça Federal.
2. O Supremo Tribunal Federal no julgamento de mérito do recurso extraordinário nº 587.371/DF-RG, Relator o Ministro Teori Zavascki, DJe de
24/6/14, cuja repercussão geral havia sido reconhecida, assentou a impossibilidade de as vantagens remuneratórias adquiridas no exercício de
determinado cargo público serem transportadas para outro cargo pertencente a carreira e regime jurídico distintos para o qual o agente público venha a
ser nomeado posteriormente.
3. No referido julgamento, consignou o relator que “as vantagens remuneratórias adquiridas no exercício de determinado cargo público não
autoriza o seu titular, quando extinta a correspondente relação funcional, a transportá-las para o âmbito de outro cargo, pertencente a
carreira e regime jurídico distintos, criando, assim, um direito de tertium genus, composto das vantagens de dois regimes diferentes”.
4. Agravo regimental provido para que se conheça do agravo e se dê provimento ao recurso extraordinário interposto pela União, julgando-se, por
conseguinte, improcedente a ação proposta pelo ora agravado, com a ressalva de preservação dos valores eventualmente já recebidos, em respeito ao
princípio da boa-fé.
RMS N. 32.202-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
DEVIDO PROCESSO LEGAL – DEFESA – VIABILIZAÇÃO. Uma vez viabilizada a defesa, descabe agasalhar alegação de ofensa ao devido processo legal.

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


DEMISSÃO – FUNDAMENTOS. Surgindo fundamentado o ato de demissão, fica afastado o vício de forma.
SANÇÃO ADMINISTRATIVA – ATO DA COMISSÃO PROCESSANTE – INDEPENDÊNCIA. A autoridade julgadora não está vinculada à conclusão da
comissão processante.
PRESCRIÇÃO – PROCESSO ADMINISTRATIVO – LEGISLAÇÃO PENAL. A influência da legislação penal faz-se consideradas balizas a englobarem a
pena máxima prevista para o delito.
PROCESSO ADMINISTRATIVO – PROCESSO-CRIME – REPERCUSSÃO. A teor do disposto no artigo 935 do Código Civil, a repercussão do que
decidido no processo-crime pressupõe pronunciamento, precluso na via da recorribilidade, afastando o fato ou a autoria.
RHC N. 116.463-MG
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
RECURSO EM HABEAS CORPUS – PREJUÍZO. Fica prejudicado o recurso em habeas corpus dirigido ao afastamento de custódia preventiva ante a
absolvição do acusado, com expedição de alvará de soltura.

AG. REG. NO ARE N. 793.712-SP


RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. MATÉRIA CRIMINAL. INTEMPESTIVIDADE DO
PRIMEIRO AGRAVO. INAPLICABILIDADE DO PRAZO DA LEI 12.322/2010. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 699 DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. SEGUNDO AGRAVO. APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL NO TRIBUNAL DE ORIGEM.
INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO PREVISTO NO ART. 544 DO CPC. NÃO CABIMENTO.
1. É intempestivo o agravo, em matéria criminal, que não observa o prazo de interposição de 05 (cinco) dias estabelecido no art. 28 da Lei
8.038/1990.
2. O Supremo Tribunal Federal, por maioria, resolvendo questão de ordem suscitada no ARE 639.846-AgR, manteve o enunciado da Súmula 699 do
STF, ao relevar que não se aplica, na espécie, a alteração trazida pela Lei 12.322/2010 ao art. 544, caput, do Código de Processo Civil.
3. Não cabe a esta Corte rever a aplicação da sistemática da repercussão geral no Juízo de origem, nos termos do que assentado no julgamento da
Questão de Ordem no AI 760.358, Rel. Min. Gilmar Mendes.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
Acórdãos Publicados: 230

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

ADPF - Impugnação a decisões judiciais transitadas em julgado - Inadmissibilidade - Lei pós-constitucional - Inviabilidade
(Transcrições)
(v. Informativo 810)
ADPF 81-MC/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello

EMENTA: ADPF. CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO. LEGITIMIDADE ATIVA DA ENTIDADE DE CLASSE ARGUENTE.
PRECEDENTE. FISCALIZAÇÃO CONCENTRADA DE CONSTITUCIONALIDADE: PROCESSO DE CARÁTER OBJETIVO
IMPOSSIBILIDADE DE DISCUSSÃO DE SITUAÇÕES INDIVIDUAIS E CONCRETAS. PRECEDENTES. AUSÊNCIA DE
CONTROVÉRSIA JURÍDICA RELEVANTE. PRESSUPOSTO NECESSÁRIO E ESSENCIAL AO VÁLIDO AJUIZAMENTO DA ADPF.
INEXISTÊNCIA, NO CASO, DE QUALQUER ESTADO DE INCERTEZA OU DE INSEGURANÇA NO PLANO JURÍDICO,
NOTADAMENTE PORQUE JÁ DIRIMIDO O DISSENSO INTERPRETATIVO PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
PRECEDENTES ESPECÍFICOS SOBRE O LITÍGIO EM QUESTÃO. SUPERVENIÊNCIA, ADEMAIS, DE LEGISLAÇÃO
MODIFICADORA, EM PONTO RELEVANTE, DO ESTATUTO BÁSICO DISCIPLINADOR DA MATÉRIA. IMPUGNAÇÃO DE
INTERPRETAÇÃO JUDICIAL DE DIPLOMAS LEGISLATIVOS PÓS-CONSTITUCIONAIS. POSTULADO DA SUBSIDIARIEDADE.
CABIMENTO, NO CASO, DE AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE. CONSEQUENTE INVIABILIDADE DA
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO. PRECEDENTES. EXISTÊNCIA, NO ORDENAMENTO POSITIVO, DE INSTRUMENTO
PROCESSUAL APTO A SANAR, DE MODO EFICAZ, A SITUAÇÃO DE LESIVIDADE ALEGADAMENTE RESULTANTE DOS
ATOS ESTATAIS IMPUGNADOS (LEI Nº 9.868/99, ART. 21). POSSIBILIDADE DE IMPUGNAÇÃO, MEDIANTE ADPF, DE
DECISÕES JUDICIAIS, DESDE QUE NÃO TRANSITADAS EM JULGADO. CONSEQUENTE OPONIBILIDADE DA COISA
JULGADA EM SENTIDO MATERIAL À ADPF. PRECEDENTES. O SIGNIFICADO POLÍTICO-JURÍDICO DA “RES JUDICATA”.
RELAÇÕES ENTRE A COISA JULGADA MATERIAL E A CONSTITUIÇÃO. RESPEITO PELA AUTORIDADE DA COISA JULGADA
MATERIAL, MESMO QUANDO A DECISÃO TENHA SIDO PROFERIDA EM CONFRONTO COM A JURISPRUDÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADPF: AÇÃO CONSTITUCIONAL QUE NÃO DISPÕE DE FUNÇÃO RESCISÓRIA.
INTERPRETAÇÕES FUNDADAS, NO CASO, EM DECISÕES JUDICIAIS QUE, EXPRESSAMENTE INVOCADAS PELA
ARGUENTE, JÁ TRANSITARAM EM JULGADO. INADMISSIBILIDADE, EM TAL SITUAÇÃO, DA ADPF. A AUTORIDADE DA
COISA JULGADA MATERIAL COMO OBSTÁCULO INSUPERÁVEL AO AJUIZAMENTO DA ADPF. DOUTRINA.
PRECEDENTES. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO NÃO CONHECIDA.
DECISÃO: Trata-se de arguição de descumprimento de preceito fundamental, com pedido de medida cautelar, ajuizada pela Associação Brasileira
das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros – ABRATI, que pretende que o Supremo Tribunal Federal “declare, com eficácia ‘erga omnes’
e efeito vinculante, ser competência privativa da União, pelos órgãos delegados, obedecidos os critérios de conveniência e oportunidade, inerentes à
Administração, a outorga de autorização, concessão ou permissão de exploração de transporte interestadual e internacional de passageiros, sempre

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mediante licitação, prestando-se homenagem, assim, ao disposto nos arts. 2º, 5º, ‘caput’ e inciso XXXVI, 21, XII, e, 37, ‘caput’ e inciso XXI, e 175,
da Constituição” (fls. 35 – grifei).
A ora arguente, ao deduzir referida postulação, destacou, com especial ênfase, a existência de decisões judiciais que têm reconhecido “(...)
a particulares o direito de explorar serviço público de transporte interestadual e internacional de passageiros, sujeito ao regime de autorização,
concessão ou permissão, sem a observância do procedimento licitatório” (fls. 33 – grifei).
A ABRATI sustenta, bem por isso, que tais decisões judiciais, inclusive provimentos jurisdicionais de natureza meramente cautelar,
qualificam-se como atos estatais transgressores dos preceitos inscritos nos arts. 2º, 5º, “caput” e inciso XXXVI, 21, inciso XXII, alínea “e”, 37,
“caput” e inciso XXI, e 175, todos da Constituição da República, assinalando, em razão dessa conduta do Poder Judiciário, que se impõe
proclamar a “(...) impossibilidade de outorga de concessão, autorização e/ou permissão de exploração de serviços de transporte de passageiros
interestadual e internacional a empresas particulares por outro que não pelo Poder concedente” (fls. 03) e, sempre, mediante prévia instauração do
concernente procedimento licitatório.
Eis, no ponto, os aspectos essenciais realçados na presente arguição de descumprimento de preceito fundamental (fls. 03/05):
“O transporte rodoviário de passageiros no Brasil é parte integrante do chamado ‘Sistema Nacional de Viação’, descrito no art. 2º da
Lei nº 10.233/01 (e alterações introduzidas pela MP nº 2.217-3/01), que se constitui numa infraestrutura viária e estrutura operacional dos
diferentes meios de transporte de pessoas e bens, sob jurisdição da União, regido pelos princípios e diretrizes traçados na Constituição
Federal, arts. 21, XII, ‘e’ (regulamentado pelo Decreto nº 2.521/98 e disposições da Lei nº 8.987/99), 37, XXI, e 175.
2 – Trata-se de um serviço de utilidade pública e, conforme previsão constitucional, vista acima, é provido pelo exercício do poder
discricionário da União, obedecidos os critérios de conveniência e oportunidade, sempre mediante licitação, devendo contemplar as
necessidades básicas do cidadão, tanto para o exercício da atividade laboral como para a satisfação das necessidades sociais, assistenciais,
culturais e de lazer, o que o torna, portanto, um fator importante de inclusão social, desenvolvimento econômico e integração nacional.
3 – Nesse passo, o particular ao pretender explorar tais serviços deverá reportar-se à Agência Nacional de Transportes Terrestres –
ANTT, que, por determinação legal (Lei nº 10.233, de 5.6.01), é o órgão responsável pelo estabelecimento do plano de concessão, pela
realização de licitações, pelo incentivo à competição, pela definição da tarifa, pelo controle de serviços, pela defesa dos direitos dos usuários
e pela arbitragem de conflitos.
4 – E assim deve ser, pois somente a Administração (Poder concedente) dispõe de meios hábeis para promover estudos de viabilidade
técnica e econômica, podendo, assim, regulamentar, controlar e fiscalizar, de forma centralizada e efetiva, a prestação desses serviços.
5 – Não obstante esses fatos, várias empresas (clandestinas) do setor, que sequer ostentam legitimidade para ser tuteladas
judicialmente, por não possuírem autorização hábil a legalizar suas atividades de exploradora de serviços públicos, vêm obtendo, no Poder
Judiciário, a outorga de concessões e permissões de exploração de tais serviços, o que invariavelmente acarreta enormes prejuízos àquelas
já regularmente delegadas, além de violar, de uma só vez, os preceitos fundamentais insculpidos nos arts. 2º, 5º, ‘caput’ e inciso XXXVI, 21,
inciso XII, alínea ‘e’, 37, ‘caput’ e inciso XXI, e 175, todos da Constituição.
6 – Tais linhas rodoviárias são ‘concedidas’, em todos os casos, sem que seja levada em conta sua viabilidade econômico-financeira e
em completa inobservância a critérios técnicos, causando um enorme estado de insegurança jurídica no setor, além de prejudicar
sobremaneira o regular desenvolvimento dos serviços prestados por aquelas empresas que possuem contrato com o Poder Público
(concessionárias ou permissionárias).
7 – Sob esse prisma, além do prejuízo jurídico, perpetrado, antes de tudo, pela inobservância aos princípios da segurança jurídica, da
separação dos Poderes e da isonomia, com grave repercussão e lesão à ordem e à economia públicas e à ordem jurídica, pela inobservância,
também, ao disposto na Lei nº 8.987/95 e no Decreto nº 2.521/98, verifica-se, ainda, o prejuízo econômico das empresas legalmente
delegadas.” (grifei)
O eminente Advogado-Geral da União manifestou-se, em caráter preliminar, pelo não conhecimento da presente arguição e, quanto ao
mérito, pela procedência do pedido formulado (fls. 598/613).
O Ministério Público Federal, por sua vez, em pronunciamento da lavra do eminente Procurador-Geral da República, Dr. RODRIGO JANOT
MONTEIRO DE BARROS, opinou, com ressalva, pelo parcial acolhimento da pretensão cautelar (fls. 641/663).
Sendo esse o contexto, passo a apreciar, inicialmente, a admissibilidade da presente ação constitucional. E, ao fazê-lo, assinalo que a
arguição de descumprimento de preceito fundamental, instituída pela própria Constituição (art. 102, § 1º) e disciplinada pela Lei nº 9.882/99,
qualifica-se como típica ação constitucional destinada a proteger e a preservar a integridade de preceitos fundamentais revestidos, em decorrência
de sua natureza mesma, de um claro sentido de essencialidade, configurando “modalidade de integração entre os modelos de perfil difuso e
concentrado no Supremo Tribunal Federal” (ADPF 33/PA, Rel. Min. GILMAR MENDES).
No sistema constitucional brasileiro, há, como sabemos, duas modalidades de arguição de descumprimento: uma de caráter autônomo (Lei
nº 9.882/99, art. 1º, “caput”) e outra de natureza incidental (‘lex cit.’, art. 1º, parágrafo único), como esclareceu esta Suprema Corte em precedente
sobre a matéria (ADPF 3-QO/CE, Rel. Min. SYDNEY SANCHES).
Impõe-se destacar, de outro lado, que a arguição de descumprimento de preceito fundamental pode ter por objeto de impugnação tanto ato
estatal impregnado de conteúdo normativo quanto ato do Poder Público despojado de qualquer atributo de normatividade, valendo relembrar, no
que se refere a esse específico ponto, valioso precedente firmado pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal:
“Argüição de descumprimento de preceito fundamental. Lei nº 9882, de 3.12.1999, que dispõe sobre o processo e julgamento da
referida medida constitucional. 2. Compete ao Supremo Tribunal Federal o juízo acerca do que se há de compreender, no sistema
constitucional brasileiro, como preceito fundamental. (…) 4. Argüição de descumprimento de preceito fundamental como instrumento de
defesa da Constituição, em controle concentrado. (…). 6. O objeto da argüição de descumprimento de preceito fundamental há de ser ‘ato
do Poder Público’ federal, estadual, distrital ou municipal, normativo ou não (…).”
(ADPF 1-QO/RJ, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA – grifei)
Reconheço, de outro lado, como salientei em anterior decisão nesta causa (fls. 364/366), a legitimidade ativa “ad causam” da entidade de
classe ora arguente, considerado o que estabelece o art. 2º, inciso I, da Lei nº 9.882/99, c/c o art. 103, inciso IX, da Constituição Federal.
Com efeito, esta Suprema Corte já reconheceu que a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros – ABRATI
dispõe de qualidade para agir em sede jurisdicional concentrada (RTJ 207/583).
Cabe registrar, ainda, que a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros – ABRATI satisfaz, plenamente, a
exigência jurisprudencial concernente à pertinência temática, consideradas, de um lado, as finalidades institucionais dessa entidade de classe de
âmbito nacional e, de outro, o próprio objeto da postulação ora deduzida nesta sede processual.
É importante rememorar, neste ponto, que o requisito da pertinência temática – que se traduz na relação de congruência que
necessariamente deve existir entre os objetivos estatutários ou as finalidades institucionais da entidade autora e o conteúdo material do ato
questionado em sede de controle abstrato – foi erigido à condição de pressuposto qualificador da própria legitimidade ativa “ad causam” para efeito
de instauração, entre outros processos de fiscalização concentrada, daquele concernente à arguição de descumprimento de preceito fundamental.

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Impende verificar, a seguir, se se revela admissível a arguição de descumprimento de preceito fundamental nos casos em que se impugnam
decisões judiciais reputadas lesivas em razão de interpretação nelas veiculada e que transgrediriam – segundo sustenta a arguente – preceitos
fundamentais consagrados no texto da Constituição da República.
Tenho assinalado, na linha de orientação jurisprudencial firmada por esta Suprema Corte (ADPF 33/PA, Rel. Min. GILMAR MENDES –
ADPF 47/PA, Rel. Min. EROS GRAU – ADPF 101/DF, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – ADPF 144/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADPF
249-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), que se mostra processualmente viável a impugnação, em sede de arguição de descumprimento
de preceito fundamental, de interpretações judiciais alegadamente violadoras de preceitos fundamentais, cuja suposta transgressão decorreria de
decisões emanadas de órgãos diversos do Poder Judiciário, desde que tais decisões judiciais ainda não tenham transitado em julgado (ADPF 249-
AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), considerado o que dispõe o art. 5º, § 3º, “in fine”, da Lei nº 9.882/99:
“Não podem ser alcançados pela eficácia suspensiva de liminar concedida em ação de descumprimento de preceito fundamental os
efeitos de sentenças transitadas em julgado ou convalidados por lei superveniente.”
(ADPF 79-AgR/PE, Rel. Min. CEZAR PELUSO – grifei)
Essa compreensão da matéria – que sustenta a viabilidade da utilização da arguição de descumprimento contra interpretação judicial de que
possa resultar lesão a preceito fundamental (excluídas, no entanto, as decisões impregnadas da autoridade da coisa julgada material) – encontra
apoio em autorizado magistério doutrinário (ALEXANDRE DE MORAES, “Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional”, p.
2.280, item n. 5.1, 8ª ed., 2011, Atlas; FABIO CESAR DOS SANTOS OLIVEIRA, “Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental”, p.
144/145, item n. IV.2, 2004, Lumen Juris; GABRIEL DIAS MARQUES DA CRUZ, “Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental –
Lineamentos Básicos e Revisão Crítica no Direito Constitucional Brasileiro”, p. 99, item n. 5.7.1, 2011, Malheiros; SYLVIO MOTTA e
GUSTAVO BARCHET, “Curso de Direito Constitucional”, p. 885, item n. 10, 2007, Elsevier, v.g.), valendo destacar, por relevante, a lição
expendida pelo eminente Ministro GILMAR MENDES (“Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental: comentários à Lei n. 9.882,
de 3.12.1999”, p. 72, item n. 6, 2007, Saraiva):
“Pode ocorrer lesão a preceito fundamental fundada em simples interpretação judicial do texto constitucional.
Nesses casos, a controvérsia não tem por base a legitimidade ou não de uma lei ou de um ato normativo, mas se assenta simplesmente
na legitimidade ou não de uma dada interpretação constitucional. No âmbito do recurso extraordinário essa situação apresenta-se como um
caso de decisão judicial que contraria diretamente a Constituição (art. 102, III, ‘a’).
Não parece haver dúvida de que, diante dos termos amplos do art. 1º da Lei n. 9.882/99, essa hipótese poderá ser objeto de argüição
de descumprimento – lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder Público –, até porque se cuida de uma situação trivial no
âmbito de controle de constitucionalidade difuso.
Assim, o ato judicial de interpretação direta de um preceito fundamental poderá conter uma violação da norma constitucional. Nessa
hipótese, caberá a propositura da argüição de descumprimento para afastar a lesão a preceito fundamental resultante desse ato judicial do
Poder Público, nos termos do art. 1º da Lei n. 9.882/99.” (grifei)
Assentadas tais premissas, e reconhecidas, no caso, a legitimidade ativa da autora, a existência de pertinência temática e a possibilidade
processual de impugnação, em sede de arguição de descumprimento de preceito fundamental, de interpretação fundada em decisões judiciais ainda
não transitadas em julgado, cabe examinar, agora, a idoneidade jurídica da presente ação constitucional, tendo em vista a pretensão formulada
pela arguente (ABRATI).
Verifico, a partir da leitura da petição inicial, dos documentos que a instruem e dos demais elementos de informação produzidos nos autos –
e após exame mais aprofundado, diverso daquele realizado mediante “non plena cognitio” (fls. 364/366) –, que este processo de controle
concentrado foi instaurado com o iniludível objetivo de promover, em sede de fiscalização abstrata, a defesa de interesses individuais e concretos das
empresas de transporte coletivo terrestre de passageiros “que possuem contrato com o Poder Público (concessionárias ou permissionárias)” (fls. 05 –
grifei), como se depreende do seguinte fragmento constante da peça processual mencionada (fls. 06):
“10 – O sistema rodoviário brasileiro conta, hoje, aproximadamente 1783 (mil setecentos e oitenta e três) linhas regularmente
delegadas, que geram um faturamento para o setor de R$ 3.000.000.000,00 (três bilhões de reais) por ano. Todavia, de acordo com dados
fornecidos pela Agência Nacional de Transportes Terrestres-ANTT (doc. anexo), há ainda, no Brasil, quase 200 (duzentas) linhas de
transporte rodoviário interestadual e/ou internacional de passageiros em operação por determinação judicial, o que representa um prejuízo
para o setor regularmente delegado de aproximadamente R$ 310.000.000,00 (trezentos e dez milhões de reais) por ano.
11 – Essa prática de colusão e de captura regulatória desmoraliza a autoridade pública, desestrutura os órgãos gestores e abre porta
para a ilegalidade, pois impede o exercício do poder de polícia do Estado, ficando inviável para a Administração exercer adequadamente
sua competência de forma centralizada e com uniformidade de critérios, impedindo, também, o regular desenvolvimento das atividades das
empresas concessionárias e permissionárias.
….............................................................................................................
13 – Não obstante o mandamento constitucional da realização de licitações, o que se observa, por um lado, é a continuidade da
prática de prorrogação de autorizações por decisões judiciais, sem nenhuma justificativa técnica ou econômica, desestimulando a eficiência
e os investimentos pelo setor regularmente delegado, desmoralizando-o e fragilizando-o.” (grifei)
Esses elementos tornam inquestionável o intuito da autora de, ao agir em sede de fiscalização concentrada, buscar, na realidade, amparo
jurisdicional para a preservação de direitos e interesses concretos das empresas de transporte coletivo terrestre de passageiros que, vinculadas à
ABRATI, estariam sendo afetadas, em suas respectivas situações individuais, pela interpretação veiculada nas decisões judiciais referidas.
Veja-se, pois, que o contexto ora exposto põe em evidência a configuração concreta de interesses individuais das sociedades empresárias em
questão, o que basta, por si só, para inviabilizar a utilização, na espécie, da arguição de descumprimento de preceito fundamental, considerada a
natureza essencialmente abstrata da controvérsia nela suscitada.
Não se pode perder de perspectiva, neste ponto, que o sistema de controle normativo abstrato de constitucionalidade – em cujo âmbito não se
discutem situações individuais, nem se examinam interesses concretos – qualifica-se como típico processo de caráter objetivo, destinado a
viabilizar “o julgamento não de uma relação jurídica concreta, mas de validade de lei em tese (…)” (RTJ 95/999, Rel. Min. MOREIRA ALVES –
grifei), ou, como sucede na espécie, a propiciar decisão “in abstracto” da compatibilidade de uma dada interpretação judicial com o texto da
Constituição da República.
A importância de qualificar-se o controle normativo abstrato de constitucionalidade como processo objetivo – vocacionado, exclusivamente, à
defesa, em tese, da “harmonia do sistema constitucional, ferida pela manutenção de lei [ou de interpretação judicial] produzida em desrespeito à
Constituição” (CELSO RIBEIRO BASTOS, “Curso de Direito Constitucional”, p. 327, 11ª ed., 1989, Saraiva) –, além de refletir entendimento
exposto em autorizado magistério (CLÈMERSON MERLIN CLÈVE, “A Fiscalização Abstrata de Constitucionalidade no Direito Brasileiro”, p.
141/145, item n. 3.2.2, 2ª ed., 2000, RT; NAGIB SLAIBI FILHO, “Ação Declaratória de Constitucionalidade”, p. 106, 2ª ed., 1995, Forense;
GILMAR FERREIRA MENDES, “Controle de Constitucionalidade – Aspectos Jurídicos e Políticos”, p. 250, 1990, Saraiva), encontra apoio na
própria jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que, por mais de uma vez, já enfatizou a objetividade desse instrumento de proteção “in
abstracto” da ordem constitucional (RTJ 113/22, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA – RTJ 131/1001, Rel. Min. CELSO DE MELLO – RTJ 136/467,

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Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), repelindo, por isso mesmo, qualquer pretensão que vise a resguardar interesses individuais supostamente
lesados em face de situações concretas.
Isso significa, portanto, tal como ressaltado, que, em face da natureza objetiva de que se reveste o processo de fiscalização concentrada de
constitucionalidade, não se discutem situações individuais no âmbito do controle abstrato de normas (RTJ 164/506-509, Rel. Min. CELSO DE
MELLO – ADI 1.254-AgR/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), notadamente quando o ajuizamento da arguição de descumprimento de
preceito fundamental é motivado, em caráter preponderante, por determinadas situações concretas claramente identificáveis:
“INADEQUAÇÃO DO CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO PARA A DEFESA DE INTERESSES INDIVIDUAIS E
CONCRETOS – CONSEQUENTE INADMISSIBILIDADE DA AÇÃO DIRETA.
– O controle normativo de constitucionalidade qualifica-se como típico processo de caráter objetivo, vocacionado, exclusivamente, à
defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional. A instauração desse processo objetivo tem por função instrumental viabilizar o
julgamento da validade abstrata do ato estatal em face da Constituição da República. O exame de relações jurídicas concretas e individuais
constitui matéria juridicamente estranha ao domínio do processo de controle concentrado de constitucionalidade.
– A tutela jurisdicional de situações individuais, uma vez suscitada a controvérsia de índole constitucional, há de ser obtida na via do
controle difuso de constitucionalidade, que, supondo a existência de um caso concreto, revela-se acessível a qualquer pessoa que disponha de
interesse e legitimidade (CPC, art. 3º). Doutrina. Precedentes.”
(ADI 2.423-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
“O controle normativo de constitucionalidade qualifica-se como típico processo de caráter objetivo, vocacionado exclusivamente à
defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional. O exame de relações jurídicas concretas e de situações individuais constitui matéria
juridicamente estranha ao domínio do processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade. Precedentes.”
(ADPF 363-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Vale referir, bem por isso, ante a pertinência de seu conteúdo, fragmento do parecer que o eminente Procurador-Geral da República
produziu no âmbito da ADPF 318/DF, de que fui Relator:
“A amplitude da arguição de descumprimento para impugnar atos do Poder Público, todavia, não deve ser tomada a ponto de
transmudar a vocação constitucional dessa via processual, de ação de contornos marcadamente objetivos para sucedâneo de recursos
próprios, como forma de atalhar as vias processuais ordinárias a fim de submeter a lide à apreciação direta do Supremo Tribunal Federal.
…..................................................................................................
Não se deve admitir manejo de ADPF para tutela judicial de caso singular, a fim de obter solução para situação concreta, sob pena
de banalizar e inviabilizar a jurisdição constitucional concentrada que a Constituição da República atribui ao Supremo Tribunal Federal.
Com a admissibilidade desmedida da arguição e de outros instrumentos de controle concentrado de constitucionalidade, adviria enorme
risco para a Corte e para a própria sociedade brasileira, decorrente de invencível incapacidade operacional do Supremo Tribunal Federal de
fazer face ao volume de demandas que lhe seriam submetidas. É própria das cortes constitucionais a imposição de requisitos relativamente
rigorosos para eleição das causas que lhes são ofertadas pelos interessados, a fim de permitir que elas emprestem aos litígios admitidos a
atenção e o tempo necessários, inerentes às graves e complexas demandas a seu cargo.” (grifei)
Mesmo que fosse possível superar esse obstáculo processual, ainda assim subsistiria outro fundamento autorizador do juízo negativo de
admissibilidade da presente ação constitucional.
Como se sabe, a admissibilidade da arguição de descumprimento de preceito fundamental supõe, entre outros requisitos, aquele referente à
existência de controvérsia constitucional relevante.
Com efeito, um dos pressupostos inerentes à arguição de descumprimento de preceito fundamental consiste na comprovação da existência
“de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação do preceito fundamental que se considera violado”, como prescreve o art. 3º, n. V, da Lei nº
9.882/99
É que a arguição de descumprimento de preceito fundamental, quando impugnar atos estatais, como os provenientes do Poder Judiciário,
somente poderá ser utilizada se se demonstrar que há relevante controvérsia constitucional sobre determinado tema, o que, no entanto, não ocorre
no caso ora em exame.
A análise da jurisprudência prevalecente no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais Regionais Federais de todas as Regiões evidencia, de
maneira muito clara, que já não existe qualquer estado de incerteza ou de insegurança no plano jurídico a respeito da pretensão deduzida pela ora
arguente, não mais havendo, por isso mesmo, qualquer situação de indefinição em torno do “thema decidendum”, tal como proposto pela ABRATI.
O Supremo Tribunal Federal, defrontando-se com litígio jurídico idêntico ao versado nestes autos, firmou entendimento que fez cessar
qualquer controvérsia constitucional na matéria em causa, como resulta inequívoco de inúmeros precedentes emanados de seu Plenário, de ambas
as suas Turmas e de seus Juízes (AI 594.615/RJ, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – AI 836.059-AgR/RS, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – ARE
885.427/PR, Rel. Min. LUIZ FUX – ARE 902.634/PR, Rel. Min. GILMAR MENDES – RE 140.989/RJ, Rel. Min. OCTAVIO GALLOTTI – RE
264.621/CE, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – RE 267.383/CE, Rel. Min. GILMAR MENDES – RE 412.977-AgR/PR, Rel. Min. AYRES BRITTO – RE
412.978/PR, Rel. Min. AYRES BRITTO – RE 435.837/RJ, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – RE 496.150/PR, Rel. Min. AYRES BRITTO – RE
501.387-AgR/DF, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RE 517.431/ES, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – RE 549.330/PR, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI – RE 586.934/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RE 597.536/RJ, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – RE 607.126-AgR/RJ,
Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RE 617.204/RS, Rel. Min. ROSA WEBER – RE 628.337-AgR/PR, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RE 640.723/SC,
Rel. Min. LUIZ FUX – RE 748.085/RS, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI – RE 759.648/RS, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, v.g.):
“Demonstração dos requisitos objetivos para o deferimento de suspensão da execução de acórdão: lesão à ordem pública, tendo em
vista o contido nos arts. 21, XII, ‘e’, e 175 da Constituição da República. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido da
impossibilidade da prestação de serviços de transporte interestadual de passageiros a título precário, sem a observância do procedimento
licitatório. Lesão à ordem administrativa: afastamento da Administração do legítimo juízo discricionário de conveniência e oportunidade na
fixação de trecho a ser explorado diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, do serviço de transporte rodoviário
interestadual de passageiros.
…...................................................................................................
4. Agravo regimental improvido.”
(STA 73-AgR/SP, Rel. Min. ELLEN GRACIE, Pleno – grifei)
“Agravo regimental no recurso extraordinário. Transporte coletivo interestadual de passageiros. Concessão ou permissão.
Necessidade de prévia licitação. Precedentes.
1. A jurisprudência da Suprema Corte pacificou o entendimento de que é imprescindível prévia licitação para a concessão ou
permissão da exploração de serviços de transporte coletivo de passageiros.
2. Agravo regimental não provido.”
(RE 626.844-AgR/RS, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, 1ª Turma – grifei)

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“Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Transporte interestadual de passageiros. Concessão e permissão. Prorrogação. 3.
Controle de legalidade dos atos administrativos pelo Poder Judiciário. Possibilidade. Não configuração de ofensa ao Princípio da Separação
de Poderes. 4. Necessidade de licitação prévia. Norma cogente. Artigo 175 da Constituição. Precedentes. 5. Agravo regimental a que se
nega provimento.”
(ARE 805.715-AgR/PE, Rel. Min. GILMAR MENDES, 2ª Turma – grifei)
Inocorre, desse modo, o requisito essencial e necessário ao válido ajuizamento da arguição de descumprimento de preceito fundamental,
consistente – segundo exigência imposta pelo art. 3º, inciso V, da Lei nº 9.882/99 – na comprovada “existência de controvérsia judicial relevante
sobre a aplicação do preceito fundamental que se considera violado”.
Sem a observância desse pressuposto de admissibilidade, torna-se inviável a instauração (ou o prosseguimento) do processo de fiscalização
normativa “in abstracto”, sob pena de converter-se a arguição de descumprimento de preceito fundamental em um inadmissível instrumento de
consulta sobre determinada interpretação constitucional – já pacificada, de resto, no tema ora em exame, na esfera do Poder Judiciário –,
descaracterizando, por completo, a própria natureza jurisdicional que qualifica a atividade desenvolvida, em referido processo, pelo Supremo
Tribunal Federal.
Desse modo, e para efeito de configuração do interesse objetivo de agir do autor da arguição de descumprimento de preceito fundamental,
torna-se indispensável que exista (e continue a existir) controvérsia apta a afetar a presunção “juris tantum” de constitucionalidade ínsita a
qualquer ato emanado do Poder Público (RTJ 157/371, 385).
Vale reproduzir, a propósito do tema ora em exame e no sentido ora exposto, expressivo fragmento de obra doutrinária (GILMAR
FERREIRA MENDES e PAULO GUSTAVO GONET BRANCO, “Curso de Direito Constitucional”, p. 1.279/1.281, item n. 2.3, 7ª ed., 2012,
Saraiva):
“Tal como a Lei n. 9.868/99, na parte que disciplinou os pressupostos da ação declaratória de constitucionalidade (arts. 13 a 20), a
Lei n. 9.882/99 pressupõe, basicamente, a existência de controvérsia judicial ou jurídica relativa à constitucionalidade da lei ou à
legitimidade do ato para a instauração da arguição de inconstitucionalidade. Portanto, também na arguição de descumprimento de preceito
fundamental há de se cogitar de uma legitimação para agir ‘in concreto’, tal como consagrada no Direito alemão, que se relaciona com a
existência de um estado de incerteza, gerado por dúvidas ou controvérsias sobre a legitimidade da lei. É necessário que se configure,
portanto, situação hábil a afetar a presunção de constitucionalidade ou de legitimidade do ato questionado.” (grifei)
O que não se mostra viável é dar prosseguimento a uma arguição de descumprimento de preceito fundamental em situação na qual já não
mais subsiste a exegese impugnada, pois, como anteriormente assinalado, cessou a controvérsia jurídica em torno do tema veiculado nesta ação
constitucional, tendo em vista a jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal e pelos Tribunais Regionais Federais (AC
00029347020084036000, Rel. Juiz NERY JUNIOR, TRF/3ª – AC 00159002320124013400, Rel. Juiz NÉVITON GUEDES, TRF/1ª – AC
00190416020064013400, Rel. Juiz JIRAIR ARAM MEGUERIAN, TRF/1ª – AC 00699079120144013400, Rel. Juiz KASSIO NUNES MARQUES,
TRF/1ª – AC 199351010561885, Rel. Juiz FREDERICO GUEIROS, TRF/2ª – AC 199650010078991, Rel. Juiz SERGIO SCHWAITZER, TRF/2ª
– AC 473418/PE, Rel. Juiz FRANCISCO BARROS DIAS, TRF/5ª – AC 9702430844, Rel. Juiz MARIA ALICE PAIM LYARD, TRF/2ª – AG
00179191220154010000, Rel. Juiz JOÃO BATISTA MOREIRA, TRF/1ª – AG 200904000000260, Rel. Juiz CARLOS EDUARDO THOMPSON
FLORES LENZ, TRF/4ª – AG 42496/CE, Rel. Juiz FREDERICO PINTO DE AZEVEDO (Convocado), TRF/5ª – AGRAC 00173149619974010000, Rel. Juiz
MARCIO BARBOSA MAIA, TRF/1ª – AI 00991837520074030000, Rel. Juiz ALDA BASTO, TRF/3ª – EIAC 00339163020094013400, Rel. Juiz
DANIEL PAES RIBEIRO, TRF/1ª – EINF 200171040048569, Rel. Juiz MARGA INGE BARTH TESSLER, TRF/4ª, v.g.):
“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. TRANSPORTE RODOVIÁRIO INTERESTADUAL DE PASSAGEIROS.
EXIGÊNCIA DE LICITAÇÃO. 1 – As outorgas de concessões de serviço público exigem necessariamente a realização de licitação pública,
uma vez que apenas por meio do procedimento licitatório é possível assegurar-se a igualdade de condições a todos os interessados em
explorar o serviço público, objetivando-se, assim, a otimização da prestação do serviço. Precedentes do STF, do STJ e do TRF 1ª Região. 2
– Apelação a que se nega provimento.”
(AC 00204884920074013400, Rel. Juiz VALLISNEY DE SOUZA OLIVEIRA (Convocado), TRF/1ª – grifei)
“ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. EXPLORAÇÃO DE TRANSPORTE INTERESTADUAL DE PASSAGEIROS.
NECESSIDADE DE LICITAÇÃO. ART. 175 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1 – A autorização, permissão ou concessão de serviço
público de transporte rodoviário interestadual de passageiros somente pode ser outorgada pela União (art. 21, XII, ‘e’, da CF), mediante
licitação e após análise da conveniência e necessidade de implementação de uma determinada linha de transporte de passageiros pela
Administração. 2 – Não cabe ao Judiciário substituir a Administração, para autorizar a exploração do serviço de transporte, ainda que de
forma provisória, sob pena de violação do princípio da separação de Poderes e da obrigatoriedade de licitação. 3 – Precedentes jurisprudenciais. 4
– Recurso e remessa necessária providos.”
(AC 200002010212573, Rel. Juíza CLAUDIA MARIA BASTOS NEIVA, TRF/2ª – grifei)
“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO E ASSISTÊNCIA LITISCONSORCIAL –
PRESSUPOSTOS LEGAIS – AUSÊNCIA – ARTS. 47 E 50, CPC – INTERESSE MERAMENTE ECONÔMICO DE OUTRAS
EMPRESAS CONCESSIONÁRIAS OU PERMISSIONÁRIAS – TRANSPORTE INTERESTADUAL DE PASSAGEIROS – SERVIÇO
PÚBLICO – DELEGAÇÃO AO PARTICULAR – NECESSIDADE DE PRÉVIA LICITAÇÃO. (…). 3. O transporte interestadual de
passageiros caracteriza-se como serviço público, consoante dicção do art. 21, XII, ‘e’, c.c. 175, ambos da Constituição Federal. 4. A
exploração dos serviços públicos de transporte coletivo interestadual ou internacional é precedida da necessária e indispensável licitação,
sendo exercida em consonância com os elementos nesta fixados, ou seja, os itinerários, horários, freqüência, etc., preestabelecidos no edital
de licitação, de acordo com o art. 20 do Decreto nº 952/93, e 17 do Decreto 2521/98. Precedentes do C. STF e desta E. Turma.”
(AC 00017287019984036000, Rel. Juiz MAIRAN MAIA, TRF/3ª – grifei)
“AGRAVO. SUSPENSÃO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. GRAVE LESÃO AOS BENS TUTELADOS PELO ART. 4º DA LEI
8.437/92. TRANSPORTE RODOVIÁRIO INTERESTADUAL DE PASSAGEIROS. SERVIÇO PÚBLICO EXPLORADO
DIRETAMENTE PELA UNIÃO OU MEDIANTE OUTORGA ADMINISTRATIVA. PROCEDIMENTO DE LICITAÇÃO.
AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE. O artigo 4º da lei nº 8.437/92 prevê a possibilidade de suspensão das decisões
concessivas de liminares e sentenças proferidas em ações contra o Poder Público ou seus agentes, se configurado que a execução do ato
judicial implicará ameaça de lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. Pedido formulado pela ANTT objetivando a
suspensão de decisão judicial que autorizou a prestação de serviço de transporte rodoviário interestadual de passageiros, independentemente
de outorga administrativa. Precedentes desta Corte e dos Tribunais Superiores. Hipótese em que a autorização judicial causa: a) lesão à
ordem jurídica, na medida em que compete à União a exploração dos serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de
passageiros, seja de forma direta, seja mediante autorização, concessão ou permissão, nesses casos, obrigatoriamente precedida de licitação
(art. 21, XII, ‘e’, 175 e 178, todos da CF/88); b) lesão à ordem administrativa, visto que o sistema nacional de transporte rodoviário de
passageiros vigente decorre de estudo técnico detido, elaborado com objetivo de interligar as esferas federal, estadual e municipal; e c)

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prejuízos às empresas formalmente autorizadas a explorar rotas previamente definidas pela ANT, devido à sobreposição de linhas. Agravo
improvido.”
(SL 200904000306098, Rel. Juiz VILSON DARÓS, TRF/4ª – grifei)
“ADMINISTRATIVO. AÇÃO CAUTELAR. TRANSPORTE INTERESTADUAL DE PASSAGEIROS. IMPRESCINDIBILIDADE
DE PRÉVIA LICITAÇÃO. REFORMA DA SENTENÇA.
1. Impossibilidade de o Judiciário substituir a autoridade administrativa admitindo que a Autora continue a exercer a atividade de
transporte interestadual de passageiros, sem que para tal esteja habilitada. Não dispondo de qualquer título que a torne apta ao dito
exercício, a suplicante não faz jus à manutenção da situação fática eventualmente existente e à outorga de uma chancela judicial, a
ampará-la e a compatibilizá-la, ainda que provisoriamente, com o ordenamento jurídico.
2. Ausência dos requisitos essenciais da ação cautelar, ou seja, do ‘fumus boni iuris’ e do ‘periculum in mora’. Precedentes.
3. Apelações da ** e da União providas. Remessa Oficial provida.”
(AC 336208/CE, Rel. Juiz ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO (Convocado), TRF/5ª – grifei)
Também o E. Superior Tribunal de Justiça perfilha igual orientação (REsp 964.946/RJ, Rel. Min. JOSÉ DELGADO – REsp 1.208.580/RJ, Rel.
Min. HUMBERTO MARTINS – RMS 21.843/GO, Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, v.g.):
“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – RECURSO ESPECIAL – ADMISSIBILIDADE. OUTORGA DE AUTORIZAÇÃO PARA
A EXPLORAÇÃO DE LINHA RODOVIÁRIA. LICITAÇÃO. AUSÊNCIA.
…...................................................................................................
2. O transporte coletivo de passageiros nas rodovias federais é um serviço público, competindo à União explorá-lo diretamente ou
outorgar sua execução, mediante autorização, concessão ou permissão, a teor do que dispõe o art. 21, XII, “e”, e art. 175 da Constituição
Federal, conforme conveniência e necessidade. A implantação de nova linha de transporte, bem como qualquer alteração referente à linha
ou à prestação do serviço por empresa de ônibus deverá sempre ser precedida de licitação. (…).”
(REsp 617.147/PR, Rel. Min. LUIZ FUX – grifei)
“ADMINISTRATIVO – TRANSPORTE COLETIVO DE PASSAGEIROS – AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO – LINHAS DE TRANSPORTE
EM REGIME DE PERMISSÃO – AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO – AUTORIZAÇÕES PRECÁRIAS PARA PREENCHER A LACUNA PELO
PODER JUDICIÁRIO.
1. Após a CF de 88 se passou a exigir licitação para a concessão do serviço de transporte de passageiros intermunicipal, respeitadas
as permissões concedidas antes do novo regramento normativo.
2. Constatação inequívoca de que a impossibilidade do Poder Público conceder novas permissões e a ausência de licitação por
vontade política ocasionam graves prejuízos à população.
3. Não pode o Poder Judiciário pretender suprir a omissão do Executivo autorizando o funcionamento de serviços de transportes,
sob pena de desorganizar o modelo político da divisão de tarefas pelos Poderes.
4. Recurso especial das empresas conhecido e não provido, recurso especial da União conhecido em parte e nessa parte provido.”
(REsp 661.122/PR, Red. p/ o acórdão Min. ELIANA CALMON – grifei)
Cabe enfatizar, neste ponto, considerada a regra inscrita no art. 175 da Constituição da República, que a exploração indireta de serviços
públicos em geral, nestes compreendidos os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros (CF, art. 21, XII, alínea
“e”), quando efetivada mediante concessão ou permissão, dar-se-á “sempre através de licitação” (CF, art. 175, “caput”).
Em razão dessa específica cláusula constitucional fundada no art. 175, “caput”, da Constituição, editou-se a Lei nº 12.996, de 18/06/2014,
que introduziu alterações relevantes na legislação básica sobre a matéria consubstanciada na Lei nº 10.233, de 05/06/2001.
Com efeito, a Lei nº 12.996/2014 definiu a autorização (modalidade de delegação unilateral) como uma das formas de outorga, quando se
tratar de “prestação regular de serviços de transporte terrestre coletivo interestadual e internacional de passageiros desvinculados da exploração
da infraestrutura” (art. 13, inciso V, alínea “e”, da Lei nº 10.233/2001).
Ao assim proceder, a União Federal viabilizou a possibilidade de, adotada a autorização no contexto normativo que venho de mencionar
(Lei nº 10.233/2001, art. 13, V, “e”, na redação dada pela Lei nº 12.996/2014), não tornar obrigatória a prévia instauração de procedimento
licitatório, como se vê do art. 43 da Lei nº 10.233/2001, na redação que lhe deu a MP nº 595/2012, convertida na Lei nº 12.815/2013:
“Art. 43. A autorização, ressalvado o disposto em legislação específica, será outorgada segundo as diretrizes estabelecidas nos arts.
13 e 14 e apresenta as seguintes características: (…)
I – independe de licitação;
II – é exercida em liberdade de preços dos serviços, tarifas e fretes, e em ambiente de livre e aberta competição;
III – não prevê prazo de vigência ou termo final, extinguindo-se pela sua plena eficácia, por renúncia, anulação ou cassação.” (grifei)
Resulta claro desse novo quadro normativo que não mais subsiste o fundamento de ofensa ao art. 175, “caput”, c/c o art. 21, XII, “e”, ambos
da Constituição, pois, naqueles casos em que a delegação unilateral assumir a forma administrativa da autorização, tonar-se-á desnecessária a
prévia licitação para efeito de outorga da exploração de serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros.
Mesmo que fosse possível superar os obstáculos processuais precedentemente referidos, ainda assim não se revelaria admissível o
ajuizamento da presente arguição de descumprimento de preceito fundamental.
Refiro-me ao fato, juridicamente relevante, de que a pretensão de reconhecimento de ofensa a preceitos fundamentais deduzida nesta causa
dirige-se a interpretações judiciais de diploma legislativo de índole pós-constitucional (Lei nº 10.233, de 05/06/2001, alterada pela Lei nº
12.815/2013 e pela Lei nº 12.996/2014), o que evidencia a inadmissibilidade da presente arguição de descumprimento, considerados os julgamentos
– colegiados e monocráticos – proferidos por esta Corte Suprema a respeito dessa específica questão.
Cabe destacar, bem por isso, o fato de que o Plenário do Supremo Tribunal Federal tem advertido ser inadmissível a arguição de
descumprimento de preceito fundamental, quando se tratar de diploma normativo pós-constitucional, vale dizer, de espécie normativa editada após
a vigência da presente Constituição, ou quando se cuidar, como sucede na espécie, de interpretação judicial que tenha por objeto legislação pós-
constitucional (ADPF 158-AgR/DF, Rel. Min. GILMAR MENDES – ADPF 314-AgR/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – ADPF 330-AgR/PB, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, v.g.).
E a razão dessa diretriz jurisprudencial é uma só: por tratar-se de diploma normativo pós-constitucional, há, no plano dos processos
objetivos, instrumento de controle normativo abstrato, como a ação declaratória de constitucionalidade, em cujo âmbito torna-se possível a
adoção de meio eficaz apto a sanar, com real efetividade, o estado de lesividade alegadamente resultante dos atos estatais impugnados (Lei nº
9.868/99, art. 21).
Por tal motivo, esta Suprema Corte tem acentuado que será inadmissível a arguição de descumprimento de preceito fundamental onde cabível
a ação direta de inconstitucionalidade (ADPF 329-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO) ou a própria ação declaratória de constitucionalidade:
“Em outros termos, o princípio da subsidiariedade – inexistência de outro meio eficaz de sanar a lesão –, contido no § 1º do art. 4º da
Lei nº 9.882, de 1999, há de ser compreendido no contexto da ordem constitucional global.

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


…..................................................................................................
Nesse caso, cabível a ação direta de inconstitucionalidade ou de constitucionalidade, não será admissível a arguição de
descumprimento. Em sentido contrário, não sendo admitida a utilização de ações diretas de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade
– isto é, não se verificando a existência de meio apto para solver a controvérsia constitucional relevante de forma ampla, geral e imediata –,
há de se entender possível a utilização da arguição de descumprimento de preceito fundamental.”
(ADPF 33/PA, Rel. Min. GILMAR MENDES – grifei)
Nem se diga que, em razão de tratar-se de legitimação ativa de caráter estrito (Lei nº 9.868/99, art. 13), não seriam invocáveis, na espécie,
os precedentes mencionados, eis que o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.882/99, ao pré-excluir a arguição de descumprimento de preceito fundamental
“quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade”, refere-se à possibilidade de utilização de qualquer espécie de processo de perfil
objetivo (ADI, ADO ou ADC), independentemente de o autor da arguição de descumprimento dispor, ele próprio, de qualidade para agir em sede
de ação declaratória de constitucionalidade.
O que se mostra relevante acentuar, no ponto, é a possibilidade teórica de existirem meios eficazes de neutralização dos efeitos
alegadamente lesivos resultantes do ato estatal impugnado, ainda que o meio processual utilizável esteja sujeito a uma cláusula estrita de
legitimação ativa.
Inadmissível, desse modo, também por esse outro fundamento, a presente ação constitucional, por nela tratar-se de interpretação judicial
incidente sobre ato estatal posterior à promulgação da vigente Carta Política, a significar que o diploma legislativo em causa, tendo em vista o seu
caráter pós-constitucional, revela-se suscetível de exame mediante ação declaratória de constitucionalidade (ADPF 317-MC/MA, Rel. Min. CELSO
DE MELLO), motivo pelo qual incide, na espécie, a cláusula da subsidiariedade fundada no § 1º do art. 4º da Lei nº 9.882/99.
Mostra-se tão relevante esse aspecto da questão que o Supremo Tribunal Federal, em recente julgamento, assentou a impossibilidade de
converter-se a arguição de descumprimento de preceito fundamental (em cujo âmbito se haja instaurado o exame de lei pós-constitucional) em
qualquer outra modalidade de controle abstrato de constitucionalidade (ADPF 314-AgR/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Pleno).
Há, ainda, uma outra razão que constitui obstáculo ao processamento desta arguição de descumprimento de preceito fundamental.
Tal como salientei em passagem anterior desta decisão, pronunciamentos judiciais podem qualificar-se como “res habilis”, vale dizer,
como objeto idôneo suscetível de impugnação em sede de arguição de descumprimento de preceito fundamental, desde que referidas manifestações
decisórias ainda não tenham transitado em julgado, em face do que prescreve o art. 5º, § 3º, “in fine”, da Lei nº 9.882/99.
Esse entendimento não só tem o beneplácito do magistério doutrinário (a que precedentemente aludi nesta decisão), mas encontra suporte
na própria jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
As considerações que venho de fazer prendem-se ao fato de que todas as decisões veiculadoras da interpretação ora questionada,
expressamente referidas pela ora arguente em sua petição inicial, transitaram em julgado, o que inviabiliza o processamento desta arguição de
descumprimento.
As decisões em causa, que veicularam a outorga de provimentos cautelares e antecipatórios, todas elas transitadas em julgado, foram
proferidas nos seguintes processos:
– Agravo de Instrumento nº 2004.01.00.002790-1/BA, TRF/1ª: trânsito em julgado em 05/07/2005;
– Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 2002.04.01.036135-0/PR, TRF/4ª: trânsito em julgado em 30/04/2008 (REsp);
– Apelação Cível nº 2001.04.01.033093-1/PR, TRF/4ª: trânsito em julgado em 03/03/2010 (REsp) e 03/11/2010 (RE);
– Agravo de Instrumento nº 2004.04.01.047614-8/RS, TRF/4ª: trânsito em julgado em 01/07/2008;
– Apelação Cível nº 2001.04.01.033082-7/PR, TRF/4ª: trânsito em julgado em 03/03/2010 (REsp) e em 28/06/2010 (RE);
– Mandado de Segurança nº 2002.01.00.007504-5/PA, TRF/1ª: trânsito em julgado em 29/11/2005 (REsp);
– Agravo de Instrumento nº 2004.01.00.007110-3/DF, TRF/1ª: trânsito em julgado em 17/04/2006;
– Agravo de Instrumento nº 2004.04.01.021930-9/RS, TRF/4ª: trânsito em julgado em 07/06/2006;
– Agravo de Instrumento nº 2004.01.00.008316-0/DF, TRF/1ª: trânsito em julgado em 28/02/2011.
Não constitui demasia relembrar que a existência de coisa julgada atua como pressuposto negativo de admissibilidade do ajuizamento da
arguição de descumprimento de preceito fundamental, tornando-a incognoscível, em consequência, se e quando promovida contra decisões
revestidas da autoridade da coisa julgada, tal como adverte, com absoluta precisão, o eminente Professor ELIVAL DA SILVA RAMOS
(“Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental: Delineamento do Instituto”, “in” Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental: Análises à Luz da Lei nº 9.882/99, obra coletiva, p. 116/117, item n. 2.1, 2001, Atlas):
“É certo que a eficácia do instrumento, uma vez revestido dessa característica de incidente processual, dependerá, em grande parte,
da concessão de medida liminar pelo Supremo Tribunal Federal, conforme previsto no § 3º do art. 5º do referido diploma legal, no sentido de
determinar a suspensão do andamento do processo, bem como, desde logo, o efeito de decisão judicial eventualmente já proferida, desde que
ainda não transitada em julgado. Esse é um importante limite que o Legislador Ordinário expressamente estipulou em relação à utilização
da argüição de descumprimento de preceito fundamental em face de atos judiciais, excluindo a possibilidade de gerar efeitos rescisórios.”
(grifei)
Na realidade, esse entendimento tem o beneplácito do magistério jurisprudencial desta Suprema Corte (ADPF 288-MC/DF, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, v.g.) que adverte – tal como anteriormente referido – que a arguição de descumprimento de preceito fundamental não se
qualifica como sucedâneo da ação rescisória, eis que “Este instituto de controle concentrado de constitucionalidade não tem como função
desconstituir a coisa julgada” (ADPF 134-AgR-terceiro/CE, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Pleno – grifei).
A importância e o elevado sentido político-jurídico da “res judicata”, examinada em sua acepção material, justificam a compreensão que
se vem de mencionar, considerados os atributos de indiscutibilidade, de imutabilidade e de coercibilidade que exprimem as notas especiais que
tipificam os efeitos resultantes do comando sentencial.
É por tal razão que o Supremo Tribunal Federal, em diversos precedentes, já destacou o significado do instituto da coisa julgada material
“como expressão da própria supremacia do ordenamento constitucional e como elemento inerente à existência do Estado Democrático de Direito”
(RE 659.803-AgR/RS, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
Daí a advertência de NELSON NERY JUNIOR e de ROSA MARIA DE ANDRADE NERY (“Código de Processo Civil Comentado e
Legislação Extravagante”, p. 715/716, item n. 28, 11ª ed., 2010, RT):
“28. Coisa julgada material e Estado Democrático de Direito. A doutrina mundial reconhece o instituto da coisa julgada material
como ‘elemento de existência’ do Estado Democrático de Direito (…). A ‘supremacia da Constituição’ está na própria coisa julgada,
enquanto manifestação do Estado Democrático de Direito, fundamento da República (CF 1.º ‘caput’), não sendo princípio que possa opor-
se à coisa julgada como se esta estivesse abaixo de qualquer outro instituto constitucional. Quando se fala na intangibilidade da coisa
julgada, não se deve dar ao instituto tratamento jurídico inferior, de mera figura do processo civil, regulada por lei ordinária, mas, ao
contrário, impõe-se o reconhecimento da coisa julgada com a magnitude constitucional que lhe é própria, ou seja, de elemento formador do
Estado Democrático de Direito (…).” (grifei)

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no precedente já referido, ao acentuar que não é função constitucional da arguição de
descumprimento de preceito fundamental atuar como instrumento de desconstituição da autoridade da coisa julgada em sentido material,
claramente delimitou o âmbito de incidência dessa ação constitucional, pré-excluindo de seu campo de abrangência atos jurisdicionais como os
ora referidos na petição inicial, desde que impregnados, como sucede na espécie, dos atributos que qualificam a “res judicata”.
Ao assim decidir, esta Corte Suprema levou em consideração o magistério de doutrinadores eminentes – tais como HUMBERTO
THEODORO JÚNIOR (“Curso de Direito Processual Civil”, vol. I/550- -553, itens ns. 516/516-a, 51ª ed., 2010, Forense), VICENTE GRECO
FILHO (“Direito Processual Civil Brasileiro”, vol. 2/267, item n. 57.2, 11ª ed., 1996, Saraiva), MOACYR AMARAL SANTOS (“Primeiras
Linhas de Direito Processual Civil”, vol. 3/56, item n. 754, 21ª ed., 2003, Saraiva), EGAS MONIZ DE ARAGÃO (“Sentença e Coisa Julgada”, p.
324/328, itens ns. 224/227, 1992, Aide) e ENRICO TULLIO LIEBMAN (“Eficácia e Autoridade da Sentença”, p. 52/53, item n. 16, nota de
rodapé, tradução de Alfredo Buzaid/Benvindo Aires, 1945, Forense, v.g.) –, cujas lições enfatizam a verdadeira razão de ser do instituto em
questão: preocupação em garantir a segurança nas relações jurídicas e em preservar a paz no convívio social, valendo rememorar, por relevante,
a observação de JOSÉ FREDERICO MARQUES (“Manual de Direito Processual Civil”, vol. III/329, item n. 687, 2ª ed./2ª tir., 2000, Millennium
Editora) em torno das relações entre a coisa julgada material e a Constituição:
“A coisa julgada cria, para a segurança dos direitos subjetivos, situação de imutabilidade que nem mesmo a lei pode destruir ou
vulnerar – é o que se infere do art. 5º, XXXVI, da Lei Maior. E sob esse aspecto é que se pode qualificar a ‘res iudicata’ como garantia
constitucional de tutela a direito individual.
Por outro lado, essa garantia, outorgada na Constituição, dá mais ênfase e realce àquela da tutela jurisdicional, constitucionalmente
consagrada, no art. 5º, XXXV, para a defesa de direito atingido por ato lesivo, visto que a torna intangível até mesmo em face de ‘lex
posterius’, depois que o Judiciário exaure o exercício da referida tutela, decidindo e compondo a lide.” (grifei)
Nem se diga que eventual inobservância da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal poderia legitimar a utilização da arguição de
descumprimento de preceito fundamental com função rescindente, pois, mesmo em tal hipótese, esta Corte não tem admitido o desrespeito à
autoridade da coisa julgada (ADPF 52-MC/MA, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADPF 176-AgR/RS, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – ADPF
224/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO – ADPF 249-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADPF 288-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO –
ADPF 340/SP, Rel. Min. ROBERTO BARROSO – ADPF 345/BA, Rel. Min. ROBERTO BARROSO – RE 401.399/RS, Rel. Min. AYRES
BRITTO – RE 431.014-AgR/RN, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – RE 504.197- AgR/RS, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, v.g.):
“(...) Sob pretexto de contrariar a jurisprudência, não pode ser descumprida sentença recoberta por coisa julgada material.”
(RE 486.579-AgR-AgR/RS, Rel. Min. CEZAR PELUSO – grifei)
“RECURSO EXTRAORDINÁRIO – COISA JULGADA EM SENTIDO MATERIAL – INDISCUTIBILIDADE, IMUTABILIDADE E
COERCIBILIDADE: ATRIBUTOS ESPECIAIS QUE QUALIFICAM OS EFEITOS RESULTANTES DO COMANDO SENTENCIAL –
PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL QUE AMPARA E PRESERVA A AUTORIDADE DA COISA JULGADA – EXIGÊNCIA DE CERTEZA
E DE SEGURANÇA JURÍDICAS – VALORES FUNDAMENTAIS INERENTES AO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO – EFICÁCIA
PRECLUSIVA DA ‘RES JUDICATA’ – ‘TANTUM JUDICATUM QUANTUM DISPUTATUM VEL DISPUTARI DEBEBAT’ –
CONSEQUENTE IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO DE CONTROVÉRSIA JÁ APRECIADA EM DECISÃO TRANSITADA EM
JULGADO, AINDA QUE PROFERIDA EM CONFRONTO COM A JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE NO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL – A QUESTÃO DO ALCANCE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 741 DO CPC – MAGISTÉRIO DA DOUTRINA –
RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.”
(RE 659.803-AgR/RS, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Todas essas razões justificam, plenamente, a oponibilidade da “res judicata” em sentido material ao instituto da arguição de
descumprimento de preceito fundamental, cuja função constitucional, insista-se, não se reveste de caráter rescindente, tal como já advertiu, em
precedente específico, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (ADPF 134-AgR-terceiro/CE, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI).
Registro, finalmente, que a inviabilidade da presente arguição de descumprimento de preceito fundamental, em decorrência das razões ora
expostas, justifica a seguinte observação: no desempenho dos poderes processuais de que dispõe, assiste ao Ministro Relator competência plena
para exercer, monocraticamente, o controle das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, legitimando-se, em consequência,
os atos decisórios que, nessa condição, venha a praticar.
Impõe-se referir, neste ponto, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a inteira validade constitucional da norma legal que
inclui, na esfera de atribuições do Relator, a competência para negar trânsito, em decisão monocrática, a recursos, pedidos ou ações, quando
incabíveis, estranhos à competência desta Corte, intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a jurisprudência
predominante do Tribunal (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175).
Nem se alegue que esse preceito legal implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o postulado em questão sempre restará
preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal
Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, v.g.):
“PODERES PROCESSUAIS DO MINISTRO-RELATOR E PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE.
– Assiste ao Ministro-Relator competência plena para exercer, monocraticamente, com fundamento nos poderes processuais de que
dispõe, o controle de admissibilidade das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal. Pode, em conseqüência, negar
trânsito, em decisão monocrática, a ações, pedidos ou recursos, quando incabíveis, intempestivos, sem objeto ou, ainda, quando veicularem
pretensão incompatível com a jurisprudência predominante na Suprema Corte. Precedentes.
– O reconhecimento dessa competência monocrática deferida ao Relator da causa não transgride o postulado da colegialidade, pois
sempre caberá, para os órgãos colegiados do Supremo Tribunal Federal (Plenário e Turmas), recurso contra as decisões singulares que
venham a ser proferidas por seus Juízes.”
(MS 28.097-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Cabe enfatizar, por necessário, que esse entendimento jurisprudencial é também aplicável aos processos objetivos de controle concentrado
de constitucionalidade (ADC 21/DF, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – ADI 563/DF, Rel. Min. PAULO BROSSARD – ADI 593/GO, Rel. Min. MARCO
AURÉLIO – ADI 2.060/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADI 2.207/AL, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADI 2.215/PE, Rel. Min. CELSO DE
MELLO – ADO 3/RJ, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – ADPF 6-MC/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADPF 40/MG, Rel. Min. GILMAR
MENDES – ADPF 82/PE, Rel. Min. GILMAR MENDES – ADPF 95/DF, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI – ADPF 104-MC/SE, Rel. Min. CÁRMEN
LÚCIA – ADPF 125/DF, Rel. Min. LUIZ FUX – ADPF 239/DF, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – ADPF 240/DF, Rel. Min. ROBERTO BARROSO –
ADPF 287/TO, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – ADPF 288-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADPF 308/SP, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI
– ADPF 319/PB, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – ADPF 327/MG, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – ADPF 329-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO –
ADPF 333/RS, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – ADPF 340/SP, Rel. Min. ROBERTO BARROSO – ADPF 352/MT, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – ADPF 363-
MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), eis que, tal como já assentou o Plenário do Supremo Tribunal Federal, o ordenamento positivo brasileiro

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


“não subtrai ao Relator da causa o poder de efetuar – enquanto responsável pela ordenação e direção do processo (RISTF, art. 21, I) – o controle
prévio dos requisitos formais da fiscalização normativa abstrata, o que inclui, entre outras atribuições, o exame dos pressupostos processuais e das
condições da própria ação direta” (RTJ 139/67, Rel. Min. CELSO DE MELLO).
Sendo assim, e em face das razões expostas, não conheço da presente arguição de descumprimento de preceito fundamental, inviabilizando-
se, em consequência, o exame do pedido de medida liminar.

Arquivem-se os presentes autos.

Publique-se.

Brasília, 27 de outubro de 2015.

Ministro CELSO DE MELLO


Relator

*decisão publicada no DJe de 4.11.2015


**nome suprimido pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
30 de novembro a 4 de dezembro de 2015

Lei Complementar nº 152, de 3.12.2015 - Dispõe sobre a aposentadoria compulsória por idade, com
proventos proporcionais, nos termos do inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal. Publicada no DOU, Seção
1, Edição nº 232, p. 2, em 4.12.2015.

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 810-STF (11/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: SL
853 MC-AgR/SP; ADI 4067/DF; RMS 32482/DF; Rcl 15551/GO; Rcl 20132/SP.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: Rcl 8668/SP; MS 25430/DF; Ext 1375 ED/DF; Rcl 6527 AgR/SP; HC 123971/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO
 Competências do órgão especial.

DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
 Adicional por tempo de serviço e direito adquirido.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


COMPETÊNCIA
 Redução a condição análoga à de escravo.

PRISÃO CAUTELAR DE SENADOR


 Análise dos principais aspectos jurídicos.

DIREITO FINANCEIRO
DEPÓSITOS JUDICIAIS
 Inconstitucionalidade das leis estaduais que permitem que o Estado utilize tais verbas

DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO
Competências do órgão especial

Em regra, o órgão interno do Tribunal que decide as questões administrativas é o Plenário,


chamado de "tribunal pleno" e que é formado, como o próprio nome diz, pela totalidade dos
julgadores. Ocorre que nos Tribunais maiores (exs: TJ/SP, TJ/MG) existem centenas de membros,
o que dificulta a reunião para decidirem as questões administrativas. Diante disso, a fim de
facilitar o funcionamento, a CF/88 previu que, se o Tribunal possuir mais que 25 membros, ele
poderá criar um "órgão especial" para exercer algumas atribuições administrativas e
jurisdicionais que seriam originalmente de competência do tribunal pleno (art. 93, XI).
Compete aos Tribunais de Justiça definirem quais as competências que serão delegadas ao
órgão especial, desde que aprovadas pela maioria absoluta de seus membros.
STF. Plenário. MS 26411 MC/DF, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 26/11/2015 (Info 809).

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


Órgão especial
Em regra, o órgão interno do Tribunal que decide as questões administrativas é o Plenário, chamado de
"tribunal pleno" e que é formado, como o próprio nome diz, pela totalidade dos julgadores.
Ocorre que nos Tribunais maiores (exs: TJ/SP, TJ/MG) existem centenas de membros, o que dificulta a
reunião de todos para decidirem as questões administrativas. Diante disso, a fim de facilitar o
funcionamento, a CF/88 previu que, se o Tribunal possuir mais que 25 membros (ex: um TJ que tenha mais
que 25 Desembargadores), ele poderá criar um "órgão especial" para exercer algumas atribuições
administrativas e jurisdicionais que seriam originalmente de competência do tribunal pleno. Veja a
previsão constitucional:
Art. 93 (...)
XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído órgão especial,
com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições
administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das
vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45/2004)

Caso concreto
Em um caso concreto envolvendo o TJ/SP, o CNJ afirmou que, quando o órgão especial é criado, todas as
atribuições administrativas e jurisdicionais que eram do Pleno, exceto a eletiva, passariam
automaticamente para a competência do órgão especial.
O STF não concordou com esse entendimento do CNJ e afirmou que compete aos Tribunais de Justiça
definirem quais as competências que serão delegadas ao órgão especial, desde que aprovadas pela
maioria absoluta de seus membros.

DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Adicional por tempo de serviço e direito adquirido

Não há garantia à continuidade de recebimento de adicional por tempo de serviço em


percentual superior àquele previsto em legislação posterior sob o fundamento de direito
adquirido.
STF. Plenário. MS 22423/RS, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado
em 26/11/2015 (Info 809).

Imagine a seguinte situação adaptada:


João era servidor público federal e, em 1970, ao completar 10 anos de serviço público, passou a receber
uma gratificação chamada de "adicional por tempo de serviço", que era equivalente a 30% dos seu
vencimentos.
Ocorre que, em 1974, veio uma lei que reduziu esse adicional para 5%.
Inconformado com a redução, João impetrou mandado de segurança pedindo para continuar recebendo o
adicional em 30%. A ação foi julgada procedente e transitou em julgado em 1980. Assim, João continuou
recebendo o adicional no percentual de 30% por força da decisão judicial com coisa julgada.
Vale ressaltar que, por lei, esse adicional é levado para a aposentadoria, ou seja, quando a pessoa se
aposenta, ele continua a fazer parte dos proventos pagos.
Em 2000, João pediu aposentadoria e o TCU, ao analisar o ato, determinou que a aposentadoria fosse
concedida, mas que o valor do adicional fosse reduzido para 5% de acordo com a lei.

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


O TCU fundamentou sua decisão no art. 17 do ADCT da CF/88, que afirma o seguinte:
Art. 17. Os vencimentos, a remuneração, as vantagens e os adicionais, bem como os proventos de
aposentadoria que estejam sendo percebidos em desacordo com a Constituição serão imediatamente
reduzidos aos limites dela decorrentes, não se admitindo, neste caso, invocação de direito adquirido ou
percepção de excesso a qualquer título.

João impetrou mandado de segurança contra a determinação do TCU alegando que houve violação do
direito adquirido e da coisa julgada. O pedido foi aceito pelo STF?
NÃO. Não há garantia à continuidade de recebimento de adicional por tempo de serviço em percentual
superior àquele previsto em legislação posterior sob o fundamento de direito adquirido.
A Corte entendeu que a perpetuação do direito ao adicional, na forma estabelecida em lei revogada,
implicaria, na situação dos autos, na possibilidade de aquisição de direitos com base em regras abstratas
decorrentes de sistema remuneratório já não mais em vigor, em clara afronta ao princípio da legalidade.
Para o STF, não existe direito adquirido a regime jurídico.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA
Redução a condição análoga à de escravo

Importante!!!
Compete à justiça federal processar e julgar o crime de redução à condição análoga à de
escravo (art. 149 do CP).
O tipo previsto no art. 149 do CP caracteriza-se como crime contra a organização do trabalho e,
portanto, atrai a competência da justiça federal (art. 109, VI, da CF/88).
STF. Plenário. RE 459510/MT, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado
em 26/11/2015 (Info 809).

Competência da JF para julgar os crimes contra a organização do trabalho


Segundo o art. 109, VI, da CF/88, compete aos juízes federais processar e julgar:
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema
financeiro e a ordem econômico-financeira;

O Título IV do Código Penal, que e glo a os arts. 97 a 7, possui a segui te ru ri a: Dos ri es


o tra a orga ização do tra alho . Dia te disso, i daga-se: os crimes contra a organização do trabalho
previstos neste Título IV do CP serão sempre julgados pela Justiça Federal?
NÃO. Segundo entende o STJ, os crimes previstos nos arts. 197 a 207 do CP somente serão de competência
da Justiça Federal quando ficar demonstrado, no caso concreto, que o delito provocou lesão a:
 direito dos trabalhadores coletivamente considerados; ou
 organização geral do trabalho.

Como exemplo, o art. 203 do CP prevê como crime f ust a , edia te f aude ou violê ia, di eito
assegu ado pela legislação do t a alho . O STJ já decidiu que, se o art. 203 foi perpetrado em detrimento
de apenas um trabalhador, compete à Justiça Estadual processar e julgar o feito (CC 108.867/SP, DJe de
19/4/2010).

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De igual modo, o delito de sabotagem industrial (art. 202 do CP), apesar de estar no Título IV, que trata
dos crimes contra a organização do trabalho, deve ser julgado pela Justiça estadual se atingir apenas bens
particulares sem repercussão no interesse da coletividade (STJ. CC 123.714-MS, julgado em 24/10/2012).

O STF possui entendimento semelhante. Para a Corte, somente são da competência da Justiça Federal os
crimes contra a organização do trabalho (arts. 197 a 207 do CP) quando causarem prejuízo à ordem
pública, econômica ou social e ao trabalho coletivo (RE 599943 AgR, Relator Min. Cármen Lúcia, Primeira
Turma, julgado em 02/12/2010).

Em outro julgado, o Pretório Excelso afirmou que a interpretação do que seja crime contra a organização
do trabalho, para o fim constitucional de determinar a competência, não se junge à capitulação do Código
Penal. Assim, se no caso concreto houve retenção momentânea, mediante violência, de um único
empregado, impedido de adentrar à empresa onde laborava, verifica-se ofensa à liberdade individual e
não à organização do trabalho como um todo. Logo, a competência, nessa hipótese, é da Justiça estadual
(ARE 706368 AgR, Relator Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 30/10/2012).

Em resumo, os delitos previstos nos arts. 197 a 207 do CP poderão ser de competência da Justiça Federal
ou da Justiça Estadual, a depender do caso concreto.

Vamos tratar agora do crime de redução a condição análoga à de escravo, previsto no art. 149 do CP. De
quem é a competência para julgar esse delito?
Justiça FEDERAL. Compete à justiça federal processar e julgar o crime de redução à condição análoga à de
escravo (art. 149 do CP).
Este crime encontra-se encartado no Título I do Código Penal,à ueàt ataàso eàosà i esà o t aàaàpessoa à
eà ãoà oàTítuloà IVà Dosà i esà o t aàaào ga izaçãoàdoàt a alho .àápesa àdisso,àoà“TFàe te deà ueà seà
trata de delito de competência da Justiça Federal, tendo em vista que a topografia do crime (ou seja, sua
posição no Código Penal) não é o fator preponderante no momento da fixação da competência.

Como explica o Min. Joaquim Barbosa:


A Co stituição, o a t. 9, VI, dete i a ue são da o petê ia da Justiça Fede al os i es o t a a
organização do trabalho , se expli ita ue delitos se i lue essa atego ia. E o a o Código Pe al
brasileiro haja um capítulo destinado a tais crimes, o entendimento doutrinário e jurisprudencial
dominante é no sentido de que não há correspondência taxativa entre os delitos capitulados no referido
Código e aqueles indicados na Constituição, cabendo ao intérprete verificar em quais casos se está diante
de u i e o t a a o ga ização do t a alho . (RE 398.041-6).

No mesmo sentido, veja as palavras do Min. Gilmar Mendes:


Com efeito, o art. 109, VI, da Constituição Federal estabelece a competência da Justiça Federal para julgar
os crimes contra a organização do trabalho. Contudo, a Lei Maior não se interpreta a partir do Código
Penal e o nomen iuris de um capítulo do Diploma Penal não tem o condão de definir a natureza jurídica de
um delito, tampouco sua objetividade jurídica. (ARE 706368 AgR / SP)

Em suma, é possível encontrar crimes definidos no Título IV do Código Penal que não correspondem à norma
constitucional do art. 109, VI, também sendo certo que outros crimes definidos na legislação podem
configurar, dependendo do caso, crime contra a organização do trabalho (STF. ARE 706368 AgR / SP)

O Plenário do STF, no julgamento do RE 398.041 (rel. Min. Joaquim Barbosa, sessão de 30.11.2006), fixou a
competência da Justiça Federal para julgar os crimes de redução à condição análoga à de escravo, por
entender "que quaisquer condutas que violem não só o sistema de órgãos e instituições que preservam,
coletivamente, os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também o homem trabalhador, atingindo-o
nas esferas em que a Constituição lhe confere proteção máxima, enquadram-se na categoria dos crimes
contra a organização do trabalho, se praticadas no contexto de relações de trabalho" (RE 541627, Relatora
Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 14/10/2008).
Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4
No mesmo sentido entende o STJ:
(...) A Terceira Seção desta Corte já pacificou o entendimento de que compete à Justiça Federal processar
e julgar os autores do delito previsto no art. 149 do Código Penal, haja vista a violação aos direitos
humanos e à organização do trabalho. (...)
(STJ. 6ª Turma. RHC 25.583/MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 09/08/2012)

PRISÃO CAUTELAR DE SENADOR


Análise dos principais aspectos jurídicos

No caso envolvendo a prisão do Senador Delcídio do Amaral, podemos apontar algumas


conclusões:
1) Como regra, os membros do Congresso Nacional não podem ser presos antes da condenação
definitiva. Exceção: poderão ser presos caso estejam em flagrante delito de um crime
inafiançável (art. 53, § 2º da CF/88).
2) Segundo entendeu o STF, o Senador e as demais pessoas envolvidas teriam praticado, no
mínimo, dois crimes: a) integrar organização criminosa (art. 2º, caput, da Lei 12.850/2013); b)
embaraçar investigação envolvendo organização criminosa (art. 2º, § 1º da Lei 12.850/2013).
3) O STF entendeu que as condutas do Senador configurariam crime permanente,
considerando que ele, até antes de ser preso, integrava pessoalmente a organização criminosa
(art. 2º, caput) e, além disso, estaria, há dias, embaraçando a investigação da Lava Jato (art. 2º,
§ 1º). Desse modo, ele estaria por todos esses dias cometendo os dois crimes acima, em estado,
portanto, de flagrância.
4) Os crimes do art. 2º, caput e do § 1º da Lei nº 12.850/2013 que, em tese, foram praticados
pelo Senador, não são, a princípio, inafiançáveis considerando que não se encontram listados
no art. 323 do CPP. Não se tratam, portanto, de crimes absolutamente inafiançáveis. No
entanto, como, no caso concreto, estariam presentes os motivos que autorizam a decretação da
prisão preventiva (tentativa de calar o depoimento de colaborador, tentativa de influenciar os
julgadores e planejamento de fuga), havia uma situação que não admite fiança, com base no
art. 324, IV, do CPP.
5) O STF admite a prisão preventiva de Deputado Federal ou Senador? Surgiram duas
correntes: 1ª) SIM. Para Rogério Sanches e Marcelo Novelino, o STF teria autorizado a prisão
preventiva do Senador, relativizando o art. 53, § 2º da CF/88. 2ª) NÃO. Não é possível a prisão
preventiva de Deputado Estadual, Deputado Federal ou Senador porque a única prisão
cautelar que o art. 53, § 2º da CF/88 admite é a prisão em flagrante de crime inafiançável. É a
posição que entendo mais acertada.
6) É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem
conhecimento do outro. Assim, se A e B estão conversando, A pode gravar essa conversa
mesmo que B não saiba. Para o STF, a gravação de conversa feita por um dos interlocutores
sem o conhecimento dos demais é considerada lícita, quando ausente causa legal de sigilo ou
de reserva da conversação.
7) Depois de concretizada a prisão em flagrante do parlamentar, qual é o procedimento que
deverá ser adotado em seguida? A CF determina que os autos deverão ser remetidos dentro de
24 horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a
prisão (art. 53, § 2º). Esse voto é aberto. Assim, o STF remeteu os autos ao Senado Federal que,
por 59 votos contra 13, decidiu manter a prisão do Senador.
STF. 2ª Turma. AC 4036 e 4039 Referendo-MC/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 25/11/2015
(Info 809).

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Resumo dos fatos
O Min. do STF Teori Zavascki ordenou a prisão do Senador Delcídio do Amaral e de mais três pessoas: o
advogado Edson Ribeiro, o banqueiro André Esteves, e o chefe de gabinete do parlamentar, Diogo
Ferreira. No dia seguinte, a 2ª Turma do STF referendou (confirmou) a regularidade das prisões e as
manteve.

O que as pessoas presas fizeram, segundo o Ministério Público?


O Senador, em conjunto com os demais investigados, estariam tentando convencer o ex-diretor
Internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró (um dos réus na Lava Jato), a não assinar acordo de
colaboração premiada com o Ministério Público Federal. Isso porque Cerveró iria delatar crimes que
teriam sido praticados por Delcídio e Esteves.
Em troca de seu silêncio, o Senador e o banqueiro teriam oferecido o pagamento de uma quantia mensal
em dinheiro à família de Cerveró.
Além disso, o Senador teria também prometido fazer lobby junto aos Ministros do STF para que estes
concedessem liberdade a Cerveró e, em seguida, com o réu solto, o parlamentar iria facilitar a fuga do ex-
diretor da Petrobras para a Espanha, país do qual também tem cidadania.
Foram realizadas pelo menos quatro reuniões para tratar sobre a proposta e o plano de fuga. Nestas
reuniões participavam, além do Senador, o assessor parlamentar, o advogado de Nestor Cerveró e seu
filho (Bernardo Cerveró).
Ocorre que Nestor Cerveró já estava decidido a fazer o acordo de colaboração premiada e não confiava na
proposta do Senador. Por isso, seu filho (Bernardo Cerveró) gravou as conversas e as propostas que foram
feitas e as entregou ao Ministério Público.
Bernardo entregou também vídeos, conversas trocadas por e-mail e por whatsapp.

Vamos aqui abordar alguns aspectos jurídicos do tema.

1) O Deputado Federal ou Senador pode ser preso antes da condenação definitiva?


•à Reg a:à NÃO.à Co oà eg a,à osà e osà doà Co g essoà Na io alà ãoà pode à se à p esosà a tesà daà
condenação definitiva.
•àEx eção:àpode ãoàse àp esosà asoàesteja àe àflag a teàdelitoàdeàu à i eài afiançável.

Isso está previsto no art. 53, § 2º da CF/88:


Art. 53 (...) § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser
presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e
quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.

Pela redação literal do art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado Estadual, o Deputado Federal e o Senador
somente poderão ser presos, antes da condenação definitiva, em uma única hipótese: em caso de
flagrante delito de crime inafiançável. Isso significa que, pela literalidade do dispositivo constitucional, tais
parlamentares não podem ter contra si uma ordem de prisão preventiva.

Trata-se da imunidadeàfo alàe à elaçãoà àp isão,àta é à ha adaàdeà i oe i ilidadeàpessoalà elativa à


(freedom from arrest).
As imunidades parlamentares são prerrogativas conferidas pela CF/88 aos parlamentares para que eles
possam exercer seu mandato com liberdade e independência.
Vale ressaltar (isso será importante mais a frente) que a imunidade prevista no art. 53, § 2º da CF/88
aplica-se não apenas para Deputados Federais e Senadores, mas também para os Deputados Estaduais.
Isso porque os Deputados Estaduais possuem as mesmas imunidades que os parlamentares federais, por
força do art. 27, § 1º da CF/88.

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2) O Deputado Federal ou Senador pode ser preso se for condenado em processo criminal com trânsito
em julgado?
SIM. O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do parlamentar, ou seja,
não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como no caso de Deputado Federal
condenado definitivamente pelo STF.
STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 26/6/2013 (Info 712).

REGRA: Deputados Federais e Senadores não poderão ser presos.


Exceção 1: Exceção 2:
Poderão ser presos em flagrante de crime O Deputado ou Senador condenado por
inafiançável. sentença judicial transitada pode ser preso
para cumprir pena.
Trata-se de exceção prevista Trata-se de exceção construída pela
expressamente na CF/88. jurisprudência do STF.

Obs: os autos do flagrante serão Obs: o parlamentar condenado por


remetidos, em até 24h, à Câmara ou ao sentença transitada em julgado será preso
Senado, para que se decida, pelo voto mesmo que não perca o mandato.
aberto da maioria de seus membros, pela Poderíamos ter por exemplo, em tese, a
manutenção ou não da prisão do esdrúxula situação de um Deputado
parlamentar. condenado ao regime semiaberto que,
durante o dia vai até o Congresso Nacional
trabalhar e, durante a noite, fica recolhido
no presídio.

Obs: existe divergência na doutrina sobre a possibilidade de o Deputado ou Senador ser preso por conta
de atraso no pagamento da pensão alimentícia (prisão civil). Admitem: Uadi Bulos e Marcelo Novelino.
Não admitem: Pedro Lenza e Bernardo Fernandes. Não há precedente do STF sobre o tema.
Em suma, pode-se dizer que o § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do
parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como foi a
hipótese do ex-Deputado Federal Natan Donadon condenado pelo STF na AP 396/RO.
No caso do Senador Delcídio, ele ainda nem foi formalmente denunciado. Dessa forma, não estamos
falando em condenação definitiva.

3) Quais os crimes teriam sido praticados pelo Senador e demais envolvidos?


Segundo o Ministério Público, o Senador e as demais pessoas teriam praticado, no mínimo, dois crimes:
•ài teg a ào ga ização criminosa (art. 2º, caput, da Lei nº 12.850/2013);
•àe a aça ài vestigaçãoàe volve doào ga izaçãoà i i osaà a t.à º,à§à ºàdaàLeià ºà . / .

Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização
criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais
infrações penais praticadas.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração
penal que envolva organização criminosa.

Crime do caput do art. 2º: as declarações de Cerveró e os indícios presentes nos autos comprovariam que
o Senador Delcídio faria parte da organização criminosa investigada na operação "Lava Jato" e que teria
sido beneficiado em esquemas envolvendo contratos da Petrobrás.

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Crime do § 1º do art. 2º: o Senador, ao tentar convencer Cerveró a não assinar o acordo de colaboração
premiada e planejar a sua fuga para a Espanha, estava embaraçando as investigações dos crimes apurados
na operação Lava Jato e que envolvem organização criminosa. Embaraçar significa dificultar, atrapalhar.

4) Mas o Senador estava em flagrante delito?


Para o STF, sim. O STF entendeu que as condutas do Senador configurariam crime permanente,
considerando que ele, até antes de ser preso, integrava pessoalmente a organização criminosa (art. 2º,
caput) e, além disso, estaria, há dias, embaraçando a investigação da Lava Jato (art. 2º, § 1º). Desse modo,
ele estaria por todos esses dias cometendo os dois crimes acima, em estado, portanto, de flagrância.

Na doutrina, Rogério Sanches Cunha e Ronaldo Batista Pinto consideram que o delito do art. 2º, caput, da
Lei nº 12.850/2013, um dos imputados ao Senador Delcídio, é sim crime permanente. Confira:
"(...) Infração permanente, a sua consumação se protrai enquanto não cessada a permanência. Isso
significa que o agente pode ser preso em flagrante delito enquanto não desfeita (ou abandonar) a
associação (art. 303 do CPP);" (Crime Organizado. Comentários à nova lei sobre o Crime Organizado - Lei
nº 12.850/2013. Salvador : Juspodivm, 2013, p. 18).

5) Os crimes supostamente praticados pelo Senador (art. 2º, caput e § 1º da Lei nº 12.850/2013) são
inafiançáveis?
O STF entendeu que sim. Sobre esse ponto, é importante explicar o tema com calma.

O art. 5º, incisos XLII, XLIII e XLIV e o art. 323 do CPP preveem a lista de crimes inafiançáveis:
a) Racismo;
b) Tortura;
c) Tráfico de drogas;
d) Terrorismo;
e) Crimes hediondos;
f) Crimes cometidos por ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático.

Assim, a lista acima é composta por crimes que são absolutamente inafiançáveis. Nunca poderá ser
concedida fiança para eles. São inafiançáveis por natureza.

O art. 324 do CPP, por sua vez, traz situações nas quais não se poderá conceder fiança. Veja a redação do
dispositivo, em especial o inciso IV:
Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança:
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem
motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;
II - em caso de prisão civil ou militar;
III - (Revogado pela Lei nº 12.403/2011).
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312).

Desse modo, segundo esse inciso IV, não será concedida fiança se estiverem presentes os motivos que
autorizam a decretação da prisão preventiva (garantia da ordem pública, da ordem econômica,
conveniência da instrução criminal, ou necessidade de se assegurar a aplicação da lei penal).

O inciso IV prevê, portanto, situação em que a pessoa praticou um crime que, mesmo não estando na lista
do art. 323 (absolutamente inafiançáveis), não poderá receber fiança por circunstâncias específicas
verificadas no curso do processo.

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


A partir desse dispositivo, o STF construiu a seguinte tese: os crimes do art. 2º, caput e do § 1º da Lei nº
12.850/2013 que, em tese, foram praticados pelo Senador, não são, a princípio, inafiançáveis,
considerando que não se encontram listados no art. 323 do CPP. Não se tratam, portanto, de crimes
absolutamente inafiançáveis. No entanto, como, no caso concreto, estão presentes os motivos que
autorizam a decretação da prisão preventiva (tentativa de calar o depoimento de colaborador, tentativa
de influenciar os julgadores e planejamento de fuga), estamos diante de uma situação que não admite
fiança, com base no art. 324, IV, do CPP.

Em suma, os crimes do art. 2º, caput e do § 1º da Lei nº 12.850/2013 praticados pelo Senador são
inafiançáveis, no caso concreto, não por força do art. 323 do CPP, mas sim com fundamento no art. 324, IV.

O STF criou a seguinte tese: se, no caso concreto, estiverem presentes os pressupostos para a decretação
da prisão preventiva, o crime será considerado inafiançável (art. 324, IV, do CPP) mesmo que não esteja
listado no art. 323 do CPP.

6) Como vimos acima, o STF reconheceu que o parlamentar estava em situação de flagrância. No
entanto, vale ressaltar que o pedido do MP no presente caso foi de prisão PREVENTIVA. O Procurador
Geral da República, ao fundamentar seu pedido no STF, requereu a prisão PREVENTIVA do Senador
Delcídio do Amaral afirmando que o art. 53, § 2º da CF/88 não poderia ser tido como absoluto. Diante
disso, indaga-se: essa tese do MP foi acolhida pelo STF? É possível prisão preventiva de Deputado
Federal ou Senador?
Surgiram duas correntes entre os professores e autores que se debruçaram para explicar o tema:
1ª) SIM. Para Rogério Sanches e Marcelo Novelino, o STF teria autorizado a prisão preventiva do Senador,
relativizando o art. 53, § 2º da CF/88.
2ª) NÃO. Não é possível a prisão preventiva de Deputado Estadual, Deputado Federal ou Senador porque a
única prisão cautelar que o art. 53, § 2º da CF/88 admite é a prisão em flagrante de crime inafiançável.
Particularmente, entendo que o Ministro Teori Zavascki não decretou a prisão preventiva do Senador
Delcídio do Amaral. Digo isso não apenas com base na argumentação por ele utilizada, mas também pela
forma como escreveu o comando da decisão. Vejamos:

Comando da decisão de prisão do advogado Comando da decisão de prisão do Senador


"Ante o exposto, observadas as especificações "Ante o exposto, presentes situação de flagrância e os
apontadas, (a) decreto a prisão preventiva de Edson requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal,
Ribeiro, qualificado nos autos, a teor dos arts. 311 e decreto a prisão cautelar do Senador Delcídio do
seguintes do Código de Processo Penal; (b) decreto a Amaral, observadas as especificações apontadas e ad
prisão temporária de André Esteves e Diogo Ferreira, referendum da Segunda Turma do Supremo Tribunal
também qualificados nos autos, nos termos do art. 10, I Federal."
e I", da Lei 7.960/1989."

Veja o trecho do Informativo 809 do STF que, no meu ponto de vista, corrobora a ideia de que não houve
decretação de prisão preventiva:
"No âmbito das prisões cautelares para os representantes do Senado, somente se admitiria a modalidade
de prisão em flagrante decorrente de crime inafiançável em tese. Dos delitos apontados como praticados
pelo senador consta, dentre eles, o de organização criminosa — crime permanente —, a contemplar não
sóà aà possi ilidadeà deà flag a teà aà ual ue à te poà o oà atéà es oà aà ha adaà açãoà o t olada ,à osà
te osà daà Leià . / à á t.à º.à Co sisteà aà açãoà o t oladaà e à eta da à aà i te ve çãoà poli ialà ouà
administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida
sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à
fo açãoàdeàp ovasàeào te çãoàdeài fo ações .àáàhipóteseàp ese te é de inafiançabilidade, nos termos
doà CPPà [ á t.à .à Nãoà se ,à igual e te,à o edidaà fia ça:à ...à IVà - quando presentes os motivos que
auto iza àaàde etaçãoàdaàp isãoàp eve tivaà a t.à ]."

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


7) E por que, durante o voto e na notícia do informativo, é mencionada algumas vezes a expressão
prisão preventiva?
Porque o Min. Teori entendeu que a situação seria de inafiançabilidade justamente por estarem presentes
os requisitos da prisão preventiva (art. 324, IV, do CPP). Logo, ele precisava expressamente discorrer sobre
os fundamentos, no caso concreto, da prisão preventiva, que estão presentes no art. 312 c/c art. 282, § 6º
do CPP.

8) Se era caso de prisão em flagrante, por que o Ministério Público formulou um requerimento de prisão
ao STF? A prisão em flagrante não precisa de pedido...
Realmente. A prisão em flagrante não se pede ao Poder Judiciário. Qualquer do povo poderá e as
autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito
(art. 301 do CPP). Não é necessária ordem judicial para tanto. No entanto, no caso concreto, o Procurador
Geral da República não requereu ao STF a prisão em flagrante do Senador Delcídio, mas sim a sua prisão
preventiva. Veja o trecho final do pedido:
"O Procurador-Geral da República requer a prisão preventiva de Delcídio Amaral e Edson de Siqueira
Ribeiro Filho e a prisão temporária de André Santos Esteves e Diogo Ferreira Rodrigues.
Caso se entenda descabida a prisão preventiva de congressista, em razão de vedação constitucional, o
Procurador-Geral da República requer a imposição cumulativa das seguintes medidas cautelares a Delcídio
Amaral: (...)"

Na minha opinião, contudo, o STF não concordou em decretar a prisão preventiva, mas reconheceu que o
Senador estava em situação de flagrância, razão pela qual ordenou o cumprimento da prisão.
Ressalto, mais uma vez, que o tema é polêmico e que alguns autores entenderam que foi decretada a
prisão preventiva do parlamentar.

9) Sendo prisão em flagrante, o STF precisaria ter expedido mandados de prisão contra o Senador?
Tecnicamente, não. Como já dito, a prisão em flagrante não precisa de ordem judicial para ser cumprida.
Entretanto, no caso concreto, o STF foi provocado e precisava decidir se seria hipótese mesmo de prisão
preventiva ou não. Além disso, havia a prisão preventiva de Edson Ribeiro e as prisões temporárias de
André Esteves e Diogo Ferreira que precisavam ser cumpridas simultaneamente a fim de que não
houvesse risco de fuga ou de destruição de provas por parte de qualquer dos investigados.
Por essas razões, o Ministro houve por bem expedir um mandado de prisão cautelar (gênero do qual a
prisão em flagrante é uma espécie). Não há qualquer irregularidade nisso, já que se trata de uma
formalidade adicional em prol do investigado. A outra opção seria o Ministro, na decisão, afirmar:
qualquer do povo está autorizado a prender o Senador.
Vale destacar que não é porque foi expedido um mandado de prisão que a custódia, no caso concreto,
deixou de ser prisão em flagrante e passou a ser preventiva. A diferença entre essas duas espécies de
custódia não está no instrumento por meio do qual ela é formalizada.

10) Na chamada "Operação Dominó", deflagrada em 2006, no Estado de Rondônia, envolvendo supostos
desvios praticados por Deputados Estaduais, o STJ e o STF autorizaram a prisão preventiva dos
Deputados envolvidos?
NÃO. Nesta "Operação Dominó" o STJ (na época, Min. Eliana Calmon), em situação parecida com a exposta
acima, reconheceu que os Deputados Estaduais estavam em situação de flagrância pela prática do então
existente crime de quadrilha (art. 288 do CP). Não foram decretadas, portanto, prisões preventivas.
Na "Operação Dominó" houve uma relativização do art. 53, § 2º da CF/88. Essa relativização, contudo, não foi
quanto à possibilidade de prisão preventiva. Isso não foi relativizado. O que o STJ e o STF decidiram foi que,
naquele caso concreto, não se deveria remeter a prisão para ser analisada pela Casa (Assembleia Legislativa)
em 24 horas. Entendeu-se que, pelo fato de 23 dos 24 Deputados estarem envolvidos supostamente no
esquema criminosa, a ALE não teria condições de analisar a manutenção da prisão. Veja trecho da ementa:

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


(...) 2. Os elementos contidos nos autos impõem interpretação que considere mais que a regra proibitiva
da prisão de parlamentar, isoladamente, como previsto no art. 53, § 2º, da Constituição da República. Há
de se buscar interpretação que conduza à aplicação efetiva e eficaz do sistema constitucional como um
todo. A norma constitucional que cuida da imunidade parlamentar e da proibição de prisão do membro de
órgão legislativo não pode ser tomada em sua literalidade, menos ainda como regra isolada do sistema
constitucional. Os princípios determinam a interpretação e aplicação corretas da norma, sempre se
considerando os fins a que ela se destina. A Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia, composta de
vinte e quatro deputados, dos quais, vinte e três estão indiciados em diversos inquéritos, afirma situação
excepcional e, por isso, não se há de aplicar a regra constitucional do art. 53, § 2º, da Constituição da
República, de forma isolada e insujeita aos princípios fundamentais do sistema jurídico vigente. 3. Habeas
corpus cuja ordem se denega.
(STF. 1ª Turma. HC 89417, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/08/2006)

Além disso, na época, a decisão da 1ª Turma do STF foi por apertada maioria (3x2), sendo que, dos
Ministros que votaram a favor da manutenção da prisão e desnecessidade de deliberação pela ALE,
somente a Ministra Cármen Lúcia ainda permanece na Corte.

11) A gravação da conversa feita por Bernardo Cerveró pode ser considerada como prova lícita?
SIM. Trata-se de entendimento pacífico do STF:
(...) É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem
conhecimento do outro." (STF. Plenário. RE 583937 QO-RG, Min. Rel. Cezar Peluso, julgado em 19/11/2009
- repercussão geral)

ássi ,àseà á àeà B àestãoà o ve sa do,à á àpodeàg ava àessaà o ve saà es oà ueà B à ãoàsai a.àPa aàoà
STF, a gravação de conversa feita por um dos interlocutores sem o conhecimento dos demais é
considerada lícita, quando ausente causa legal de sigilo ou de reserva da conversação.

12) Seria possível falar que houve flagrante preparado por parte de Bernardo Cerveró, o que traria
hipótese de crime impossível, nos termos da Súmula 145 do STF?
NÃO. Ocorre o flagrante preparado (provocado) quando alguém instiga o indivíduo a praticar o crime com
o objetivo de prendê-lo em flagrante no momento em que ele o estiver cometendo. O flagrante preparado
é hipótese de crime impossível e o indivíduo instigado não responderá penalmente, sendo sua conduta
considerada atípica.
No caso analisado, segundo a versão do Ministério Público com base nas informações indiciárias que
constam nos autos, não houve flagrante preparado porque foi o Senador Delcídio, por intermédio de seu
chefe de gabinete, Diogo Ferreira, quem teria procurado a família de Cerveró com a proposta de ajuda
financeira e outras formas de auxílio em troca do silêncio do réu. Logo, neste momento, sem qualquer
instigação por parte de Bernardo Cerveró, já teria havido a prática do crime do art. 2º, § 1º da Lei de Crime
Organizado. Além disso, de acordo com a versão do Ministério Público, o Senador Delcídio seria
beneficiário de contratos fraudulentos celebrados pela Petrobrás, inclusive a compra da refinaria de
Pasadena, de forma que, em tese, há anos, ele seria integrante da suposta organização criminosa que é
investigada pela operação Lava Jato. Dessa forma, mesmo antes de procurar a família de Cerveró, o
Senador, em tese, já teria cometido o delito do art. 2º da Lei nº 12.850/2013.

13) Depois de concretizada a prisão em flagrante do parlamentar, qual é o procedimento que deverá ser
adotado em seguida?
A Constituição Federal determina que os autos deverão ser remetidos dentro de 24 horas à Casa
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão (art. 53, § 2º).
Assim, o STF remeteu os autos ao Senado Federal que, por 59 votos contra 13, decidiu manter a prisão do
Senador.

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


14) O Regimento Interno do Senado afirmava que essa votação no Senado deveria ser secreta, no
entanto, ela foi aberta. Por quê?
O Regimento Interno do Senado, nesta parte, é inválido porque se tornou incompatível com o texto da
CF/88, que foi alterado pela EC nº 35/2001. Explico:
Na redação original da CF/88, o § 3º do art. 53 previa o seguinte:
§ 3º - No caso de flagrante de crime inafiançável, os autos serão remetidos, dentro de vinte e quatro
horas, à Casa respectiva, para que, pelo voto secreto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão e
autorize, ou não, a formação de culpa.

Com base nesse dispositivo, o Regimento Interno do Senado previu que a votações para se decidir sobre a
manutenção ou não da prisão do parlamentar deveria ser secreta.

Ocorre que a EC nº 35/2001 modificou esse dispositivo, deslocando-o para o § 2º do art. 53 e suprimiu a
expressão "pelo voto secreto". Ficou assim:
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em
flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à
Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.

Veja, portanto, que a redação atual não fala mais em voto secreto.

A regra é que as votações na Câmara dos Deputados e no Senado Federal sejam ABERTAS. Isso decorre do
fato de o Brasil ser uma República e de adotarmos a publicidade dos atos estatais como um princípio
constitucional.

Assim, a população tem o direito de saber como votam os seus representantes, considerando que eles
estão exercendo o poder em nome do povo (art. 1º, parágrafo único, da CF/88).

A votação secreta somente é permitida se for expressamente prevista na CF. Em caso de silêncio,
prevalece a publicidade. Tanto isso é verdade que, para as demais votações do Parlamento, o texto
constitucional não precisa reafirmar que se trata de voto aberto. É o caso, por exemplo, das demais
matérias previstas no art. 53 da CF/88.
Desse modo, o dispositivo do Regimento Interno que previa o voto secreto para apreciar a prisão dos
parlamentares não foi recepcionado pela EC 35/2001.

DIREITO FINANCEIRO

DEPÓSITOS JUDICIAIS
Inconstitucionalidade das leis estaduais que permitem que o Estado utilize tais verbas

Diversos Estados têm editado leis complementares estaduais prevendo que o Poder Executivo
pode utilizar os valores constantes dos depósitos judiciais não apenas relacionados com processos
em que os Estados fossem parte, mas também oriundos de outros feitos em que estivessem
litigando somente particulares. Tais leis estão sendo questionadas por meio de ADIs propostas
pelo Procurador Geral da República. É o caso, por exemplo, da LC 42/2015, do Estado da Bahia.
O STF tem entendido, ainda em um juízo sumário e provisório, que tais leis estaduais são
inconstitucionais por violarem:

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


1) O princípio da separação dos poderes.
2) A iniciativa privativa legislativa da União (art. 22, I, da CF/88).
3) A LC federal 151/2015 apenas autoriza o levantamento de 70% dos valores que sejam
objeto de depósitos vinculados a processos em que os entes federados sejam parte.
STF. Plenário. ADI 5409 MC-Referendo/BA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 25/11/2015 (Info 809).

Depósitos judiciais
Todos os valores em dinheiro que ficam à disposição da Justiça enquanto o processo não se encerra são
depositados em um conta bancária em nome do Poder Judiciário. A isso chama-se de depósito judicial.
Exs: João ingressa com ação de consignação em pagamento em face de Pedro, depositando em juízo R$
100 mil reais. Maria ajuíza execução contra Antônio e consegue a penhora on line de R$ 200 mil. Tais
valores ficarão em depósito judicial e, quando o juiz autorizar, eles poderão ser levantados pela parte
vencedora, devidamente atualizados.

Lei complementar federal 151/2015


Como se sabe, o Brasil vem passando por uma crise econômica e os Estados e Municípios têm enfrentado
enormes dificuldades para pagar suas despesas, especialmente com precatórios.
Diante disso, uma das medidas encontradas pelo Governo para contornar esse problema foi o de permitir
que o Poder Executivo estadual utilize parte dos valores que estão nos depósitos judiciais. Para tanto, foi
editada a LC 151/2015, que prevê, resumidamente, o seguinte:
 Dos valores que estão na conta do Poder Judiciário como depósito judicial deve-se identificar aqueles
que sejam oriundos de processos nos quais os Estados, o DF e os Municípios sejam parte.
 Desses valores, 70% poderão ser transferidos para a conta única do Tesouro do Estado, do Distrito
Federal ou do Município.
 Os 30% restantes ficarão como um fundo de reserva a fim de serem utilizados para o pagamento dos
valores devidos à outra parte, caso o Estado, o DF ou o Município perca a causa.

Assim, em outras palavras, a LC 151/2015 autorizou que os Estados, o DF e os Municípios utilizem 70% dos
valores que sejam objeto de depósitos vinculados a processos em que tais entes federados sejam parte.
Segundo o art. 7º da LC 151/2015, esses recursos repassados ao Estado, ao Distrito Federal ou ao
Município serão aplicados, exclusivamente, no pagamento de:
I – precatórios judiciais de qualquer natureza;
II – dívida pública fundada, caso a lei orçamentária do ente federativo preveja dotações suficientes para o
pagamento da totalidade dos precatórios judiciais exigíveis no exercício e não remanesçam precatórios
não pagos referentes aos exercícios anteriores;
III – despesas de capital, caso a lei orçamentária do ente federativo preveja dotações suficientes para o
pagamento da totalidade dos precatórios judiciais exigíveis no exercício, não remanesçam precatórios não
pagos referentes aos exercícios anteriores e o ente federado não conte com compromissos classificados
como dívida pública fundada;
IV – recomposição dos fluxos de pagamento e do equilíbrio atuarial dos fundos de previdência referentes
aos regimes próprios de cada ente federado, nas mesmas hipóteses do inciso III.

Obs: poderá o Estado, o Distrito Federal ou o Município utilizar até 10% da parcela que lhe for transferida
para constituição de Fundo Garantidor de PPPs ou de outros mecanismos de garantia previstos em lei,
dedicados exclusivamente a investimentos de infraestrutura.

Leis complementares estaduais


Ocorre que, antes da LC 151/2015, diversos Estados já haviam editado leis complementares estaduais
prevendo que o Poder Executivo poderia utilizar os valores constantes dos depósitos judiciais não apenas
relacionados com processos em que o Estado fosse parte, mas também oriundos de outros feitos em que

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estivessem litigando somente particulares. Em outras palavras, os Estados poderiam utilizar
indistintamente os valores dos depósitos judiciais.
Tais leis estão sendo questionadas por meio de ADIs propostas pelo Procurador Geral da República.
É o caso, por exemplo, da LC 42/2015, do Estado da Bahia.

O que o STF vem decidindo?


O STF tem entendido, ainda em um juízo sumário e provisório, que tais leis estaduais são inconstitucionais
pelos seguintes motivos:
1) Violam o princípio da separação dos poderes. Segundo já decidiu o STF, cumpre ao Poder Judiciário a
administração e os rendimentos referentes à conta única de depósitos judiciais e extrajudiciais. Atribuir ao
Poder Executivo essas funções viola o disposto no art. 2º CF/88, que afirma a interdependência -
independência e harmonia - entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. (STF. Plenário. ADI 3458, Rel.
Min. Eros Grau, julgado em 21/02/2008).
2) Ofendem a iniciativa privativa da União. A Lei que versa sobre depósitos judiciais é de competência
legislativa privativa da União, por tratar de matéria processual, nos termos do art. 22, I, da CF/88 (STF.
Plenário. ADI 2909, Rel. Min. Ayres Britto, julgado em 12/05/2010).
3) Contraria a LC federal 151/2015. A lei federal apenas autoriza o levantamento de 70% dos valores que
sejam objeto de depósitos vinculados a processos em que os entes federados sejam parte (art. 2º).

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Advogado: inexistência de sala de Estado Maior e prisão domiciliar - 2


Em conclusão de julgamento, o Plenário assentou o prejuízo de pedido formulado em favor de advogada
para que aguardasse em prisão domiciliar, na falta de sala de Estado Maior. No caso, ela se encontrava
presa, por força de sentença condenatória recorrível, em penitenciária feminina em cela separada de
outras detentas. A Presidência do Supremo deferira liminar e determinara a prisão domiciliar — v.
Informativo 575. O Colegiado registrou que fora proferida sentença de extinção da punibilidade da
interessada pelo cumprimento integral da pena, da qual não fora interposto recurso.
Rcl 8668/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 26.11.2015

Coisa julgada e TCU


O Plenário, por maioria, denegou mandado de segurança impetrado contra ato do TCU que determinara a
suspensão do pagamento da incorporação do reajuste de 26,05% e 26,06% — referentes aos vencimentos
de fevereiro de 1989 e julho de 1987, respectivamente — aos proventos de servidora pública aposentada
— v. Informativo 454. Na espécie, a impetrante teria requerido o pagamento do índice de 26,05% fixado
para URP relativa ao mês de fevereiro de 1989 e consequente incorporação deste percentual a partir de
março de 1989. O Tribunal reconheceu que a controvérsia em exame não se referiria ao alcance da coisa
julgada, mas à eficácia temporal da sentença. Por essa razão, limitada a discussão à eficácia temporal da
sentença, não haveria falar-se em imutabilidade da própria decisão. Ademais, sequer seria o caso de se
cogitar em uma ação revisional, pois as modificações das razões de fato ou de direito, que serviriam de
suporte para a sentença, operariam efeitos imediata e automaticamente, dispensando-se novo
pronunciamento judicial. Frisou que, na situação dos autos, com a modificação da estrutura remuneratória
da impetrante, a decisão que lhe favorecera deveria ter produzido efeitos somente durante a vigência do
regime jurídico anterior. Com a mudança de regime, não seria possível manter o pagamento de vantagem
econômica sem qualquer limitação temporal. Destacou que a alteração do regime jurídico garantiria à
impetrante o direito à irredutibilidade dos vencimentos, mas não à manutenção no regime anterior. Assim,
tendo a impetração suscitado ofensa à coisa julgada, não se poderia reconhecer direito líquido e certo,
porque o ato atacado apenas interpretara o alcance da eficácia temporal da coisa julgada. Vencido o

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Ministro Eros Grau, que concedia a ordem. Em seguida, o Plenário, por maioria, assentou que as verbas
recebidas até o momento do julgamento, ante o princípio da boa fé e da segurança jurídica, não teriam que
ser devolvidas. Vencido, em parte, o Ministro Teori Zavascki, que resguardava os valores recebidos até a
concessão da liminar proferida pelo relator em 2005.
MS 25430/DF, rel. orig. Eros Grau, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, 26.11.2015.

Extradição e cumprimento de pena


Os requisitos do pedido de extradição devem ser verificados na data do julgamento, sendo impossível a
análise de fatos supervenientes. Com base nesse entendimento, a Primeira Turma, por maioria, acolheu
embargos de declaração, sem efeitos infringentes, para esclarecer que a entrega do extraditando somente
poderá ocorrer até 6.12.2015. No caso, o extraditando alegava omissão superveniente ao julgamento da
extradição pela Turma. Aduzia que o somatório do cumprimento de parte da pena no seu país de origem
com o tempo de prisão preventiva para fins de extradição resultaria em saldo remanescente de 1 ano e 1
mês de pena. Assim, considerado o prazo para a sua retirada do Brasil, a extradição estaria vedada,
porquanto a pena a cumprir seria inferior a 1 ano. Pleiteava, em consequência, a denegação do pedido de
extradição ou, subsidiariamente, o reconhecimento da possibilidade de extradição até 6.12.2015. A Turma
consignou que as razões recursais admitiriam a inexistência de omissão no julgado. No entanto, por uma
questão de justiça, dever-se-ia acolher o pleito subsidiário. A extradição somente seria legítima se realizada
até 6.12.2015, momento em que o saldo da pena atingirá exatamente um ano. Isso porque o tratado de
extradição admitiria a extradição, apenas, quando a pena fosse igual ou inferior a um ano. Vencidos os
Ministros Edson Fachin e Rosa Weber, que não acolhiam os embargos. Pontuavam que, quando a Turma
deferira a extradição, ainda restaria um ano e nove meses de pena a ser cumprida.
Ext 1375 ED/DF, rel. Min. Luiz Fux, 24.11.2015. (EXT-1375)

Reclamação e sociedade de economia mista (Errata)


Comunicamos que o correto teor da matéria referente à Rcl 6.527 AgR/SP, divulgada no Informativo 796, é
este:
A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, negou provimento a agravo regimental
interposto de decisão que determinara a remessa dos autos de ação civil pública — que fora apreciada pela
Justiça do Trabalho — à justiça comum. Na espécie, a decisão agravada acolhera o argumento de que teria
havido afronta à decisão proferida na ADI 3395 MC/DF (DJU de 10.11.2006). Prevaleceu o voto do Ministro
Luiz Fux (relator), que manteve o que decidido na decisão monocrática para assegurar o processamento
dos litígios entre servidores temporários e a Administração Pública perante a justiça comum. A Ministra
Rosa Weber, por sua vez, acompanhou o relator na conclusão, ao negar provimento ao agravo, porém,
divergiu quanto à fundamentação. Assentou que no julgamento da ADI 3395 MC/DF, o Tribunal decidira
não competir à Justiça do Trabalho a apreciação de litígios que envolvessem servidores estatutários ou
vinculados de qualquer forma por relação jurídico-administrativa com pessoas jurídicas de direito público,
da Administração direta e indireta. Apontou que a Prodesp seria sociedade de economia mista e fora
questionada sobre a validade de seus contratos de trabalho sem o prévio concurso público. Dessa forma,
seus trabalhadores, por força do ordenamento constitucional, não poderiam ser vinculados a relações
estatutárias. Frisou que os ora agravantes seriam os reclamantes beneficiados pelo julgamento da
reclamação que lhes dera razão e determinara a remessa dos autos à justiça comum. Aduziu que o único
ponto discutido no presente recurso seria se, ante a declaração de incompetência absoluta da Justiça do
Trabalho, haveria ou não necessidade de decretar nulidade de atos decisórios da Justiça do Trabalho. Por
se à vedadaà aà efo atioà i à pejus ,à egavaà p ovi e toà aoà ag avoà egi e tal.àVe idoàoà Mi ist oàMa oà
Aurélio, que provia o recurso. Assentava que, ao se ajuizar processo trabalhista, até mesmo para se
declarar o autor carecedor dessa ação, competente seria a justiça do trabalho.
Rcl 6527 AgR/SP, rel. Min. Luiz Fux, 25.8.2015. (Rcl-6527)

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


Art. 225 do CP e ação penal
áà“egu daàTu aàafetouàaoàPle ioàoàjulga e toàdeà ha easà o pus àe à ueàseàdis uteàaà e epção,àpelaà
CF/ ,à doà a t.à à doà CP,à e à suaà edaçãoà o igi iaà á t.à à - Nos crimes definidos nos capítulos
anteriores, somente se procede mediante queixa. § 1º - Procede-se, entretanto, mediante ação pública: I -
se a vítima ou seus pais não podem prover às despesas do processo, sem privar-se de recursos
indispensáveis à manutenção própria ou da família; II - se o crime é cometido com abuso do pátrio poder,
ou da qualidade de padrasto, tutor ou curador; § 2º - No caso do nº I do parágrafo anterior, a ação do
Mi isté ioàPú li oàdepe deàdeà ep ese tação .à
HC 123971/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 24.11.2015. (HC-123971)

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 23 a 27 de novembro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 900.968-BH


RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO DO CONSUMIDOR.
RESPONSABILIDADE CIVIL. EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO. SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA
ELÉTRICA. DANOS. INDENIZAÇÃO. MATÉRIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO.
INEXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
I – A controvérsia relativa à ocorrência de dano indenizável em virtude da suspensão do fornecimento de energia elétrica por empresa prestadora de
serviço público está restrita ao âmbito infraconstitucional.
II – O exame da questão constitucional não prescinde da prévia análise de normas infraconstitucionais, o que afasta a possibilidade de reconhecimento
do requisito constitucional da repercussão geral.
III – Repercussão geral inexistente.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 736.090-SC
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. MULTA FISCAL QUALIFICADA. SONEGAÇÃO, FRAUDE E CONLUIO.
150% SOBRE A TOTALIDADE OU DIFERENÇA DO IMPOSTO OU CONTRIBUIÇÃO NÃO PAGA, NÃO RECOLHIDA, NÃO
DECLARADA OU DECLARADA DE FORMA INEXATA (ATUAL § 1º C/C O INCISO I DO CAPUT DO ARTIGO 44 DA LEI FEDERAL
Nº 9.430/1996). VEDAÇÃO AO EFEITO CONFISCATÓRIO. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. QUESTÃO RELEVANTE DOS PONTOS
DE VISTA ECONÔMICO E JURÍDICO. TRANSCENDÊNCIA DE INTERESSES. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 905.357-RR
REDATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ESTADO DE RORAIMA. SERVIDORES PÚBLICOS.
REVISÃO GERAL ANUAL. ÍNDICE DE 5%. PREVISÃO NA LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS (LEI ESTADUAL 339/02).
AUSÊNCIA DA DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA CORRESPONDENTE NA LEI ORÇAMENTÁRIA DO RESPECTIVO ANO. EXISTÊNCIA OU
NÃO DE DIREITO SUBJETIVO. REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA.
1. Possui repercussão geral a controvérsia relativa à existência ou não de direito subjetivo a revisão geral da remuneração dos servidores públicos por
índice previsto apenas na Lei de Diretrizes Orçamentárias, sem correspondente dotação orçamentária na Lei Orçamentária do respectivo ano.
2. Repercussão geral reconhecida.
Decisões Publicadas: 3

CLIPPING DO D JE
23 a 27 de novembro de 2015

ADI N. 1.077-RS
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Ação direta de inconstitucionalidade.
2. Governador do Estado do Rio Grande do Sul.
3. Lei estadual nº 10.114, de 16 de março de 1994.
4. Alegação de ofensa aos artigos 2º; 5º, caput e incisos XVII, XVIII e XX; e 61, § 1º, II, “e”, da Constituição Federal.
5. Lei que dispõe sobre entidades municipais legitimadas a integrar órgão da administração pública estadual ou firmar convênios com o Estado-
membro.

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


6. Usurpação da competência legislativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo. Artigo 61, § 1º, inciso II, “e”, da Constituição Federal. Precedentes.
Inconstitucionalidade formal configurada.
7. Violação aos princípios da autonomia municipal e da isonomia. Artigos 30, inciso I; 34, inciso VII, “c”; e, art. 5º, caput da Constituição Federal.
Inconstitucionalidade material configurada.
8. Ação julgada procedente.
HC N. 126.573-BA
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. SUBSTITUTIVO DE RECURSO CONSTITUCIONAL.
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. HOMICÍDIOS QUALIFICADOS E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. PRISÃO PREVENTIVA.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. EXCESSO DE
PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA NÃO CONFIGURADO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
1. Contra acórdão exarado em recurso ordinário em habeas corpus remanesce a possibilidade de manejo do recurso extraordinário previsto no art.
102, III, da Constituição Federal. Diante da dicção constitucional, inadequada a utilização de novo habeas corpus, em caráter substitutivo.
2. Prisão preventiva decretada em razão do risco à ordem pública, da conveniência da instrução criminal, pois as circunstâncias concretas dos autos
indicam a periculosidade do agente e a eventual ameaça às testemunhas. Precedentes.
3. A razoável duração do processo não pode ser considerada de maneira isolada e descontextualizada das peculiaridades do caso concreto.
4. Habeas corpus extinto sem resolução do mérito.
HC N. 94.680-SP
RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. FIXAÇÃO DE PENA-BASE. LATROCÍNIO. MAUS ANTECEDENTES. FOLHA DE ANTECEDENTES
CRIMINAIS. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. DESRESPEITO. OCORRÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA.
I – Inquéritos ou processos em andamento, que ainda não tenham transitado em julgado, não devem ser levados em consideração como maus
antecedentes na dosimetria da pena.
II – Ordem concedida.
*noticiado no Informativo 791
RMS N. 29.914-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. PRETENSÃO DE EQUIPARAÇÃO DE
SERVIDORES INATIVOS AO PESSOAL DA ATIVA NO QUE SE REFERE AO PAGAMENTO DE VANTAGEM REMUNERATÓRIA.
FICHAS FINANCEIRAS JUNTADAS PELA PRÓPRIA AUTORIDADE IMPETRADA EM INFORMAÇÕES, AS QUAIS FORAM REUNIDAS
EM VOLUME APENSADO AOS AUTOS PRINCIPAIS. AFASTAMENTO DO FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO DE AUSÊNCIA DE PROVA
PRÉ-CONSTITUÍDA. RETORNO DOS AUTOS AO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, PARA QUE PROSSIGA NO EXAME DA CAUSA.
RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO.
*noticiado no Informativo 807
HC N. 94.620-MS
RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. FIXAÇÃO DE PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. POSSIBILIDADE. PREMEDITAÇÃO.
MOMENTO DE ANÁLISE. MAUS ANTECEDENTES. FOLHA DE ANTECEDENTES CRIMINAIS. PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA.
DESRESPEITO. OCORRÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA.
I – O magistrado, ao fixar a pena-base dos pacientes, observou fundamentadamente todas as circunstâncias judiciais constantes do art. 59 do Código
Penal, o que justifica o quantum acima do mínimo legal.
II – A premeditação é analisada quando da fixação da pena-base, tal como ocorreu na espécie.
III – Inquéritos ou processos em andamento, que ainda não tenham transitado em julgado, não devem ser levados em consideração como maus
antecedentes na dosimetria da pena.
IV – Ordem concedida.
AG. REG. NO ARE N. 914.579-DF
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO ELEITORAL. CABIMENTO DE AÇÃO RESCISÓRIA. INELEGIBILIDADE. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO
VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI MAIOR. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM
15.6.2015.
1. A controvérsia, a teor do já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos
constitucionais indicados nas razões recursais. Compreender de modo diverso exigiria a análise da legislação infraconstitucional encampada na
decisão da Corte de origem, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário.
Desatendida a exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Suprema Corte.
2. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
3. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO ARE N. 923.296-SP
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo.
2. Penal e Processual Penal. Art. 48 da Lei 9605/1998 (impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação).
Denúncia.
3. Ausência de prequestionamento. Incidência dos enunciados 282 e 356 da Súmula do STF.
4. Alegação de violação ao artigo 93, inciso IX, da CF. Não ocorrência. Acórdão recorrido suficientemente motivado.
5. Prescrição. Pleito que demanda reexame do conjunto fático-probatório dos autos (Súmula 279/STF) e da interpretação da legislação
infraconstitucional.
6. O crime previsto no art. 48 da Lei n. 9.605/1998 é de natureza permanente, de modo que o prazo prescricional inicia-se com a cessação da conduta
delitiva. Precedentes.
7. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada.
8. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 853.123-PE
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio próprio ao revolvimento da prova, também
não servindo à interpretação de normas estritamente legais.
AG. REG. NO ARE N. 743.430-BA
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DESERÇÃO DO RECURSO. DEFICIENTE REALIZAÇÃO DO PREPARO PREVISTO NA LEI
ESTADUAL Nº 12.373/2011. RECOLHIMENTO INCOMPLETO. ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. EVENTUAL
OFENSA REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI MAIOR. DECISÃO RECORRIDA
PUBLICADA EM 10.10.2012.
1. A controvérsia, a teor do já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos
constitucionais indicados nas razões recursais. Compreender de modo diverso exigiria a análise da legislação infraconstitucional encampada na
decisão da Corte de origem, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário.
Desatendida a exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Suprema Corte.
2. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
3. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO ARE N. 907.065-DF
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL
RURAL. MARCO INICIAL DA PRESCRIÇÃO. CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS. RESERVA DE LEI COMPLEMENTAR.
CLÁUSULA DA RESERVA DE PLENÁRIO.
1. A jurisprudência do STF é firma no sentido de que a contribuição sindical rural foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, submetendo-se
ao regime tributário, de modo que as disposições do CTN lhe são aplicáveis.
2. Por se tratar de espécie tributária prevista na Constituição Federal, é possível a instituição do tributo por meio de lei ordinária, a qual deve fixar o
aspecto temporal da hipótese de incidência, à luz do princípio da legalidade. Assim, em nenhum momento se infere dos autos tratamento de matéria
reservada à lei complementar.
3. O Plenário desta Corte já atestou que não há repercussão geral na matéria referente ao lançamento de contribuição sindical rural, com base no art.
605 da CLT. Precedente: AI-RG 743.833, de relatoria do Ministro Cezar Peluso, DJe 16.10.2009.
4. O afastamento, pelos órgãos judiciários a quo, de lei ou ato normativo do Poder Público sem expressa declaração de inconstitucionalidade constitui
ofensa à cláusula de reserva de plenário, consistindo em error in procedendo no âmbito do acórdão recorrido, tal como previsto no art. 97 da
Constituição Federal e na Súmula Vinculante 10 desta Suprema Corte. Precedente: RE-QO-RG 580.108, de relatoria da Ministra Ellen Gracie, DJe
19.12.2008.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO RE N. 881.849-GO
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. GRATIFICAÇÃO DE REPRESENTAÇÃO. EXTENSÃO A INATIVOS. LEI
DELEGADA ESTADUAL Nº 04/2003. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO ENSEJA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. NECESSIDADE DE
INTERPRETAÇÃO DE LEGISLAÇÃO LOCAL. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 280/STF. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM
13.6.2014.
1. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere ao
óbice da Súmula nº 280 do STF, a inviabilizar o trânsito do recurso extraordinário.
2. A suposta afronta aos postulados constitucionais invocados no apelo extremo somente poderia ser constatada a partir da análise da legislação
infraconstitucional, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário.
3. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO RE N. 885.451-CE
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA. LIMITES TERRITORIAIS DA COISA JULGADA. MATÉRIA COM
REPERCUSSÃO GERAL REJEITADA PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO ARE 796.473-RG/RS. ALEGAÇÃO DE
OFENSA AO ART. 5º, XXXV, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. DEVIDO
PROCESSO LEGAL. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. DEBATE DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERECE TRÂNSITO. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 16.3.2012.
1. O Plenário Virtual desta Suprema Corte já proclamou a inexistência de repercussão geral da questão relativa à limitação territorial da eficácia da
decisão proferida em ação coletiva, em face do caráter infraconstitucional do debate (ARE 796.473-RG/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes).
2. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, XXXV, LIV e LV, da Constituição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida a matéria à
apreciação deste Supremo Tribunal Federal, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à
competência jurisdicional extraordinária prevista no art. 102 da Magna Carta.
3. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
4. Agravo regimental conhecido e não provido.
HC N. 113.577-RS
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PENA-BASE – CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL – ANTECEDENTES CRIMINAIS – INQUÉRITOS E PROCESSOS EM CURSO –
DESINFLUÊNCIA. Ante o princípio constitucional da não culpabilidade, inquéritos e processos criminais em curso, bem como condenações por
fatos posteriores ao crime, embora com decisões transitadas em julgado, são neutros na definição dos antecedentes – precedente: Recurso
Extraordinário nº 591.054, de minha relatoria, julgado no Plenário em 17 de dezembro de 2014, com acórdão publicado no Diário da Justiça de 26 de
fevereiro de 2015.
PENA – REGIME DE CUMPRIMENTO – DEFINIÇÃO. O regime de cumprimento da pena é fixado, presentes os parâmetros do artigo 33 do
Código Penal, ante as circunstâncias judiciais. Sendo a pena-base estabelecida no mínimo previsto para o tipo e a final em quantitativo inferior a
quatro anos, não se tratando de condenado reincidente, impõe-se o regime aberto.
PENA – SUBSTITUIÇÃO – EXAME. Uma vez aplicada pena em patamar a atrair a incidência do disposto no artigo 44 do Código Penal, cumpre
implementar a substituição da restritiva da liberdade pela limitadora de direitos.
EMB. DECL. NO ARE N. 916.187-PA
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PRELIMINAR DE REPERCUSSÃO GERAL. FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE. ÔNUS
DO RECORRENTE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA. ART. 5º, XXXV E LV, DA CF/88. OFENSA
CONSTITUCIONAL REFLEXA. SERVIDOR PÚBLICO. INATIVOS. GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DA CARREIRA DA
PREVIDÊNCIA, DA SAÚDE E DO TRABALHO (GDPST). REDUÇÃO DO PERCENTUAL PAGO EM RAZÃO DO ADVENTO DAS
AVALIAÇÕES DE DESEMPENHO. OFENSA AO PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS. INOCORRÊNCIA.
1. Apreciando a Gratificação de Desempenho do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (GDPGPE), cujo regramento é similar ao da Gratificação
de Desempenho da Carreira da Previdência, da Saúde e do Trabalho (GDPST), o Plenário do STF, no julgamento do RE 631.389, Rel. Min. MARCO
AURÉLIO, DJe de 3/6/2014, Tema 351, submetido ao regime do art. 543-B do CPC, decidiu pela sua concessão aos inativos, no mesmo percentual
pago aos ativos, apenas até que fossem processados os resultados da primeira avaliação de desempenho. A partir desse termo, a gratificação perde sua
natureza geral e adquire o caráter pro labore faciendo.
2. Assim, avaliados os servidores em atividade, o pagamento da GDPST aos pensionistas e inativos deverá observar o art. 5º-B, § 6º, da Lei
11.355/2006, de modo que a redução da gratificação de desempenho paga aos servidores não importa ofensa ao princípio da irredutibilidade de
vencimentos.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 901.780-RJ
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO TRIBUTÁRIO. AFRETAMENTO DE EMBARCAÇÃO A CASCO NU. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS. NATUREZA DA
ATIVIDADE. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI
MAIOR. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 19.5.2015.
1. A controvérsia acerca da natureza das atividades prestadas pela empresa, a teor do já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura
constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais. Compreender de modo diverso exigiria a análise
da legislação infraconstitucional encampada na decisão da Corte de origem, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de
viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior, nos termos da remansosa
jurisprudência desta Suprema Corte.
2. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
3. Agravo regimental conhecido e não provido.
Ext N. 1.339-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EXTRADIÇÃO – REQUISITOS. Uma vez atendidos os requisitos legais – ordem de prisão ou de título condenatório criminal, da promessa de
reciprocidade do Estado requerente, da dupla tipologia e da ausência de prescrição –, mostrando-se os documentos anexados ao processo em
harmonia com a forma prevista em lei, há de ser reconhecida a possibilidade de entrega do extraditando, cabendo o ato ao Chefe do Poder Executivo
Nacional.
Pet N. 5.647-DF
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. QUEIXA-CRIME. INJÚRIA. DIFAMAÇÃO. SÚMULA 714/STF. DECLARAÇÕES EM ENTREVISTA
VINCULADA À ATIVIDADE PARLAMENTAR. DEPUTADO FEDERAL. IMUNIDADE MATERIAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. REJEIÇÃO.
1. É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal
por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções (Súmula 714/STF).
2. As manifestações do parlamentar possuem nexo de casualidade com a atividade legislativa.
3. A imunidade cível e penal do parlamentar federal tem por objetivo viabilizar o pleno exercício do mandato.
4. O excesso de linguagem pode configurar, em tese, quebra de decoro, a ensejar o controle político
5. Não incide, na hipótese, a tutela penal, configurando-se a atipicidade da conduta. Precedentes. Queixa-crime rejeitada
AG. REG. NO ARE N. 914.837-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio próprio ao revolvimento da prova, também
não servindo à interpretação de normas estritamente legais.
PREQUESTIONAMENTO – CONFIGURAÇÃO – RAZÃO DE SER. O prequestionamento não resulta da circunstância de a matéria haver sido
arguida pela parte recorrente. A configuração pressupõe debate e decisão prévios pelo Colegiado, ou seja, emissão de entendimento. O instituto visa o
cotejo indispensável a que se diga enquadrado o recurso extraordinário no permissivo constitucional.
EMB. DECL. NO ARE N. 875.604-PA
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO
ASSISTENCIAL. DEFICIENTE. LIMITAÇÃO LEVE. AUSÊNCIA DE INCAPACIDADE. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, II, XXXV,
XXXVI, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LEGALIDADE. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. DEVIDO PROCESSO
LEGAL. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. DEBATE DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA
DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. ART. 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. RAZÕES DE DECIDIR
EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO JURISDICIONAL. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 20.10.14.
1. Inexiste violação do art. 93, IX, da Lei Maior. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o referido dispositivo
constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional, das razões do seu convencimento, dispensando o exame detalhado de cada argumento
suscitado pelas partes.
2. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV e LV, da Constituição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida a
matéria à apreciação desta Suprema Corte, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à
competência jurisdicional extraordinária prevista no art. 102 da Magna Carta.
4. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento.
EMB. DECL. NO AG. REG. NO RE N. 755.613-ES
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Embargos de declaração no agravo regimental no recurso extraordinário. Efeitos infringentes. Possibilidade, em casos
excepcionais. Corte de origem. Recebimento de petição. Erro do próprio órgão judiciário no processamento do recurso. Recurso de apelação
tempestivo.

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


1. No caso concreto, o recebimento da petição de apelação no Tribunal a quo não poderia dar ensejo à declaração de intempestividade do recurso,
haja vista ter sido protocolado dentro do prazo previsto em lei.
2. O erro não pode ser atribuído exclusivamente ao advogado do apelante, sendo da responsabilidade, também, do setor que recebeu a petição do
recurso indevidamente.
3. A Turma acolheu os embargos de declaração para, atribuindo a eles excepcionais efeitos infringentes, dar provimento ao agravo regimental e, em
consequência, prover o recurso extraordinário, tão somente para que a Corte de origem, afastada a premissa de intempestividade, prossiga no exame
do recurso de apelação.
HC N. 100.978-SP
REDATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: HABEAS CORPUS IMPETRADO EM FACE DE DECISÃO MONOCRÁTICA QUE INDEFERE LIMINAR EM TRIBUNAL
SUPERIOR. SÚMULA 691/STF. NÃO CONHECIMENTO. PODERES DE INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. TEMA ASSENTADO
EM REPERCUSSÃO GERAL. POSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DAS CONDI-CIONANTES. INEXISTÊNCIA DE
TERATOLOGIA OU ABUSO DE PODER.
1. A teor da Súmula 691/STF, não se conhece do habeas corpus impetrado contra decisão de relator que indefere liminar em writ originário, salvo em
hipóteses excepcionais, em que o impetrante demonstre a existência de flagrante ilegalidade ou abuso de poder na decisão hostilizada.
2. “O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal,
desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado. (…) ‘O Ministério
Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável,’ - eis aí a primeira condicionante, o prazo há de ser
razoável - ‘investigações de natureza penal,’ - portanto, o julgamento abriu as portas para a investigação de natureza penal - ‘desde que’ - vem a
segunda condicionante - “respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado,
observadas, sempre, por seus agentes, - e vem a terceira condicionante - as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, - vem a
quarta - as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, - fazendo referência expressa aos ilustres advogados - (...) sem
prejuízo da possibilidade - sempre presente no Estado democrático de Direito - do permanente controle jurisdicional dos atos, - do Ministério
Público, é a quinta condicionante - necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição. - é a sexta
condicionante” (RE 593.727, Redator para o Acordão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14.05.2015).
3. Writ não conhecido.
EMB. DECL. NO AG. REG. NO RE N. 755.613-ES
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Embargos de declaração no agravo regimental no recurso extraordinário. Efeitos infringentes. Possibilidade, em casos
excepcionais. Corte de origem. Recebimento de petição. Erro do próprio órgão judiciário no processamento do recurso. Recurso de apelação
tempestivo.
1. No caso concreto, o recebimento da petição de apelação no Tribunal a quo não poderia dar ensejo à declaração de intempestividade do recurso,
haja vista ter sido protocolado dentro do prazo previsto em lei.
2. O erro não pode ser atribuído exclusivamente ao advogado do apelante, sendo da responsabilidade, também, do setor que recebeu a petição do
recurso indevidamente.
3. A Turma acolheu os embargos de declaração para, atribuindo a eles excepcionais efeitos infringentes, dar provimento ao agravo regimental e, em
consequência, prover o recurso extraordinário, tão somente para que a Corte de origem, afastada a premissa de intempestividade, prossiga no exame
do recurso de apelação.
*noticiado no Informativo 801
Acórdãos Publicados: 201

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Mandado de segurança - Impetração em defesa de direito alheio - Inadmissibilidade (Transcrições)


(v. Informativo 809)
MS 33.844-MC/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. IMPUGNAÇÃO A PROVIMENTOS CAUTELARES DEFERIDOS, EM SEDE
MANDAMENTAL ORIGINÁRIA, CONTRA O PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, SUSPENDENDO A EFICÁCIA DA

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


RESPOSTA À QUESTÃO DE ORDEM Nº 105/2015. IMPETRAÇÃO EM DEFESA DO PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO, DO DOGMA DA
SEPARAÇÃO DE PODERES, DAS PRERROGATIVAS DO CONGRESSO NACIONAL E DOS DIREITOS DO POVO BRASILEIRO.
AJUIZAMENTO, EM NOME PRÓPRIO, DE AÇÃO MANDAMENTAL OBJETIVANDO A PROTEÇÃO DE DIREITO ALHEIO (O DO
CONGRESSO NACIONAL E O DOS CIDADÃOS EM GERAL). INADMISSIBILIDADE. CARÁTER EXCEPCIONAL DA
LEGITIMAÇÃO ATIVA EXTRAORDINÁRIA OU ANÔMALA (CPC, ART. 6º). INOCORRÊNCIA, NO CASO, DA HIPÓTESE A QUE SE
REFERE O ART. 3º DA LEI Nº 12.016/2009. PRECEDENTES. DOUTRINA. IMPOSSIBILIDADE, ADEMAIS, DE UTILIZAÇÃO DO
MANDADO DE SEGURANÇA COMO SUCEDÂNEO DE AÇÃO POPULAR (SÚMULA 101/STF). JURISPRUDÊNCIA.
IMPETRAÇÃO CONTRA ATO REVESTIDO DE CONTEÚDO JURISDICIONAL EMANADO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
INVIABILIDADE. PRECEDENTES. MANDADO DE SEGURANÇA DE QUE NÃO SE CONHECE.
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado contra o Supremo Tribunal Federal em razão de
decisões que, proferidas em sede mandamental originária (MS 33.837/DF, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI e MS 33.838/DF, Rel. Min. ROSA
WEBER), determinaram a suspensão de eficácia da solução que o Senhor Presidente da Câmara dos Deputados deu à Questão de Ordem nº
105/2015, bem assim a sustação dos demais procedimentos relacionados a essa mesma resposta parlamentar.
Passo a apreciar, preliminarmente, a pertinência do mandado de segurança no caso ora em análise. E, ao fazê-lo, reconheço a inviabilidade
da utilização, na espécie, da presente ação de mandado de segurança, eis que a parte ora impetrante postula, na realidade, em nome próprio, nesta
sede mandamental, a defesa de direito alheio (o direito dos cidadãos em geral, de um lado, e as prerrogativas institucionais do Congresso Nacional,
de outro).
Isso significa, portanto, que o autor da presente ação mandamental, ao assim proceder, age, inequivocamente, na condição de verdadeiro
substituto processual, sem que exista, para tanto, qualquer base normativa que lhe permita investir-se de legitimação anômala ou extraordinária,
para efeito de instauração deste processo de mandado de segurança.
Como se sabe, o ordenamento jurídico pátrio estabelece que “Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando
autorizado por lei” (CPC, art. 6º – grifei).
Vê-se, desse modo, presente o contexto em exame, que falece ao ora impetrante legitimidade ativa “ad causam” para fazer instaurar, em
nome próprio, a presente ação mandamental, eis que, longe de vindicar a defesa de direito subjetivo próprio, limitou-se a pleitear, em seu nome, a
defesa da integridade de direito alheio (o do Congresso Nacional e o do Povo brasileiro).
Cabe assinalar que o entendimento que venho de expor encontra apoio em autorizado magistério doutrinário (HELY LOPES MEIRELLES,
ARNOLDO WALD e GILMAR FERREIRA MENDES, “Mandado de Segurança e Ações Constitucionais”, p. 36, item n. 4, 34ª ed., 2012,
Malheiros; HUMBERTO THEODORO JUNIOR, “Curso de Direito Processual Civil”, volume I/73, item n. 67, 41ª ed., 2004, Forense; CÂNDIDO
RANGEL DINAMARCO, “Instituições de Direito Processual Civil”, volume II/116, item n. 440, 4ª ed., 2004, Malheiros; VICENTE GRECO
FILHO, “Direito Processual Civil Brasileiro”, volume I/78, item n. 14, 17ª ed., 2003, Saraiva, v.g.), cujas lições fazem incidir, em situações como a
dos autos, a norma restritiva fundada no art. 6º do CPC.
Impende registrar, ainda, que essa orientação tem o beneplácito da jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal firmou na matéria ora
em análise (MS 20.902/DF, Rel. Min. CÉLIO BORJA – MS 22.444/SP, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA, v.g.):
“Mandado de segurança. Legitimidade ativa.
O mandado de segurança pressupõe a existência de direito próprio do impetrante. Somente pode socorrer-se dessa especialíssima
ação o titular do direito, lesado ou ameaçado de lesão, por ato ou omissão de autoridade. A ninguém é dado pleitear, em nome próprio,
direito alheio, salvo quando autorizado por lei (art. 6º do CPC).
Não obstante a gravidade das alegações, evidente é a ilegitimidade do postulante e a falta de interesse processual.
Pedido não conhecido.”
(RTJ 110/1026, Rel. Min. DJACI FALCÃO – grifei)
“Mandado de Segurança. Direito subjetivo. Interesse.
Descabe o mandado de segurança quando o impetrante não tem em vista a defesa de direito subjetivo, mas a de mero interesse reflexo
de normas objetivas. Precedentes e doutrina. (...).”
(RTJ 120/328, Rel. Min. FRANCISCO REZEK – grifei)
“Mandado de segurança. Legitimidade ativa: inexistência.
O mandado de segurança é medida judicial que só pode ser utilizada para defesa de direito próprio e direito do impetrante e não
para defender direito potencial, e que apenas poderia eventualmente surgir se afastado aquele a quem o ato apontado como ilegal iria atingir.
(...).”
(RTJ 120/816, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO – grifei)
“Mandado de segurança requerido pelo Impetrante, na qualidade de cidadão brasileiro, contra ato de Comissão da Câmara dos
Deputados, tendente a possibilitar a adoção da pena de morte, mediante consulta plebiscitária.
Falta de legitimidade ativa do Requerente, por falta de ameaça concreta a direito individual, particularizado em sua pessoa.”
(RTJ 139/783, Rel. Min. OCTAVIO GALLOTTI – grifei)
“Mandado de Segurança. Não cabe se o ato contra o qual é impetrado não fere direito líquido e certo do impetrante. A ninguém é
dado pleitear em nome próprio direito alheio, salvo quando autorizado por Lei (CPC, art. 6º).
Impetração não conhecida.”
(RTJ 128/1138, Rel. Min. CARLOS MADEIRA – grifei)
“– O autor da ação de mandado de segurança individual não pode pleitear, em nome próprio, a tutela jurisdicional de direito público
subjetivo alheio, salvo quando autorizado por lei (CPC, art. 6º). O impetrante do mandado de segurança individual, por não dispor de
legitimação extraordinária para agir, não pode invocar a proteção jurisdicional do Estado em favor da generalidade dos participantes de um
determinado concurso público.”
(RTJ 179/210-211, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Nem se diga, ainda, que o ora impetrante, em sua condição de cidadão responsável, de “integrante de um povo da América”, desejoso de
viver sob regime democrático e de ver preservada “(...) a atuação do Congresso Nacional num momento de intensa crise institucional” (grifei),
poderia valer-se deste “writ” mandamental para a consecução de seus propósitos.
Não obstante o relevo de tais objetivos, impende assinalar que o mandado de segurança não pode ser utilizado como sucedâneo de ação
popular, consoante esta Suprema Corte tem advertido em sucessivos julgamentos (RTJ 116/71, Rel. Min. DJACI FALCÃO – RTJ 172/495-496,
Rel. Min. SYDNEY SANCHES – MS 31.629-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), valendo referir, por necessário, a existência, neste
Tribunal, da Súmula 101, cujo enunciado tem o seguinte conteúdo: “O mandado de segurança não substitui a ação popular” (grifei).
Mesmo que se mostrassem superáveis essas questões prévias, ainda assim não se revelaria admissível, no caso, o presente mandado de
segurança, eis que o “writ” constitucional insurge-se contra atos praticados em sede jurisdicional.

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


Impõe-se ter presente, quanto a esse fundamento, que o Supremo Tribunal Federal, em sucessivos pronunciamentos, não tem admitido a
impetração de mandado de segurança contra atos emanados dos órgãos colegiados desta Corte ou de qualquer de seus Juízes, proferidos em
processos de índole jurisdicional, como o de que ora se cuida, ressalvada, unicamente, a hipótese singular de decisão teratológica, de todo
inocorrente na espécie em exame:
“Não cabe mandado de segurança contra atos de conteúdo jurisdicional proferidos pelo Supremo Tribunal Federal, sendo
irrelevante, para esse efeito, que as decisões tenham emanado de órgãos colegiados (Pleno ou Turmas) ou de qualquer dos Juízes da Corte.
Precedentes. Mandado de segurança não conhecido.”
(MS 23.572/MG, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
“AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. ATO JURISDICIONAL. NÃO CABIMENTO DO ‘WRIT’. 1. Não
cabe mandado de segurança contra ato jurisdicional, a não ser que se trate de decisão teratológica, o que não é o caso dos autos. 2. Agravo
regimental a que se nega provimento.”
(MS 29.875-AgR/PR, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, Pleno – grifei)
Bem por isso, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem sempre enfatizado, na linha desse entendimento, que não se revela
processualmente viável, por inadmissível, mandado de segurança contra decisões de índole jurisdicional proferidas por esta Suprema Corte (MS
26.704-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.):
“Mandado de Segurança impetrado contra decisões proferidas pelos Relatores.
II – As decisões do Supremo Tribunal Federal de caráter jurisdicional não comportam impugnação através da via mandamental. (...).
Súmula 268.
III – Pedido não conhecido.”
(RTJ 91/445, Rel. Min. THOMPSON FLORES – grifei)
“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal orienta-se no sentido da inadmissibilidade de mandado de segurança contra ato
jurisdicional da Corte.
.......................................................................................................
Agravo regimental improvido.”
(MS 21.734-AgR/MS, Rel. Min. ILMAR GALVÃO – grifei)
“DESCABIMENTO DE MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JURISDICIONAL EMANADO DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL.
– A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal – mesmo sob a égide da vigente Constituição – firmou-se no sentido de não admitir,
por incabível, mandado de segurança contra atos decisórios de índole jurisdicional proferidos pela Suprema Corte, eis que tais decisões,
ainda quando emanadas de Ministro-Relator, somente são suscetíveis de desconstituição mediante utilização dos recursos pertinentes ou,
tratando-se de pronunciamentos de mérito já transitados em julgado, mediante ajuizamento originário da ação rescisória. Precedentes.”
(RTJ 168/174-175, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
“– DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ACÓRDÃO DE TURMA DO
S.T.F. 1. É pacífica a jurisprudência do Plenário do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que não cabe Mandado de Segurança contra
seus acórdãos ou de qualquer de suas Turmas. (…).”
(MS 22.515-AgR/DF, Rel. Min. SYDNEY SANCHES – grifei)

“Mandado de segurança: inadmissibilidade contra decisão jurisdicional de Turma do STF, ademais, transitada em julgado.”
(MS 22.897-AgR/SP, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE)
“CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA: DECISÃO DO PLENÁRIO DO S.T.F., DE SUAS
TURMAS OU DE RELATOR: NÃO CABIMENTO.
I. – Não cabe mandado de segurança contra decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal, de suas Turmas ou de Relator, de
índole jurisdicional.
II. – Precedentes do S.T.F.
III. – Agravo não provido.”
(MS 22.988-AgR/MS, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – grifei)
“– Os atos emanados do Supremo Tribunal Federal, quando revestidos de conteúdo jurisdicional, não comportam a impetração de
mandado de segurança, eis que tais atos decisórios somente podem ser desconstituídos, no âmbito da Suprema Corte, em decorrência da
adequada utilização dos recursos cabíveis ou, na hipótese de julgamento de mérito, com trânsito em julgado, mediante ajuizamento
originário da pertinente ação rescisória. Precedentes. (…).”
(RTJ 182/194-195, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Vale registrar que esse entendimento – inadmissibilidade de mandado de segurança contra atos de conteúdo jurisdicional emanados de
Ministros desta Corte ou proferidos por qualquer dos órgãos colegiados do Supremo Tribunal Federal (Plenário ou Turmas) – vem de ser
reafirmado, por esta Corte, agora sob a égide da Lei nº 12.016/2009:
“MANDADO DE SEGURANÇA – IMPETRAÇÃO CONTRA ATO DE CONTEÚDO JURISDICIONAL EMANADO DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL – INADMISSIBILIDADE – POSSIBILIDADE DE O RELATOR DA CAUSA, NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DELA
NÃO CONHECER MEDIANTE DECISÃO MONOCRÁTICA – LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DESSE PODER PROCESSUAL DO
RELATOR – INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO POSTULADO DA COLEGIALIDADE – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.
DESCABIMENTO DE MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JURISDICIONAL EMANADO DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL.
– Não cabe mandado de segurança contra julgamentos impregnados de conteúdo jurisdicional, não importando se monocráticos ou
colegiados, proferidos no âmbito do Supremo Tribunal Federal. É que tais decisões, ainda quando emanadas de Ministro-Relator, somente
serão suscetíveis de desconstituição mediante utilização dos recursos pertinentes ou, tratando-se de pronunciamentos de mérito já transitados
em julgado, mediante ajuizamento originário da pertinente ação rescisória. Precedentes. (…).”
(MS 28.097-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
“(...) 2. Inadmissível a impetração de mandado de segurança contra Ministro da Corte, no exercício da função jurisdicional.
Precedentes: MS 25.070-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso; MS 24.399-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa. Excepcionalidade não verificada.
…...................................................................................................

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


4. Agravo regimental a que se nega provimento.”
(MS 27.335-ED/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO – grifei)
“PROCESSO PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO DE MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
INADMISSIBILIDADE.
1. É inadmissível mandado de segurança contra ato jurisdicional do Supremo Tribunal Federal. Precedentes.
2. No Supremo Tribunal Federal, compete ao Relator negar seguimento a recurso ou pedido inadmissível (Lei nº 8.038/1990, art. 38;
RI/STF, art. 21, § 1º).
3. Mandado de segurança a que se nega seguimento.”
(MS 33.534/DF, Rel. Min. ROBERTO BARROSO – grifei)
Mais recentemente, o Plenário deste Tribunal reafirmou essa diretriz jurisprudencial, acentuando a incognoscibilidade da ação de mandado
de segurança quando ajuizada, como na espécie, com o objetivo de desconstituir pronunciamento de índole jurisdicional emanado desta Suprema
Corte:
“PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA EM FACE DE ATO JURISDICIONAL DE MINISTRO, DAS TURMAS
OU DO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. NÃO ADMISSIBILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.”
(MS 28.635-AgR/DF, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI – grifei)

“AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


APLICAÇÃO DO ART. 543-B DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. NÃO CABIMENTO DA IMPETRAÇÃO CONTRA ATO DE
CONTEÚDO JURISDICIONAL DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE
NEGA PROVIMENTO.”
(MS 31.955-AgR/BA, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – grifei)

“MANDADO DE SEGURANÇA – IMPETRAÇÃO CONTRA ATO DE CONTEÚDO JURISDICIONAL EMANADO DE ÓRGÃO


COLEGIADO (PLENÁRIO OU TURMAS) DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL OU PROFERIDO POR QUAISQUER DE SEUS JUÍZES –
PRECEDENTES – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.
– Não cabe mandado de segurança contra julgamentos impregnados de conteúdo jurisdicional, não importando se monocráticos ou
colegiados, proferidos no âmbito do Supremo Tribunal Federal. É que tais decisões, ainda quando emanadas de Ministro Relator, somente
serão suscetíveis de desconstituição mediante utilização dos recursos pertinentes ou, tratando-se de pronunciamentos de mérito já transitados
em julgado, mediante ajuizamento originário da pertinente ação rescisória. Precedentes.”
(MS 32.880-AgR/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Impõe-se, finalmente, uma outra observação, considerada a inviabilidade da presente ação de mandado de segurança: no desempenho dos
poderes processuais de que dispõe, assiste ao Ministro Relator competência plena para exercer, monocraticamente, o controle das ações, pedidos ou
recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, legitimando-se, em consequência, os atos decisórios que, nessa condição, venha a praticar.
Cumpre acentuar, neste ponto, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a inteira validade constitucional da norma legal que
inclui, na esfera de atribuições do Relator, a competência para negar trânsito, em decisão monocrática, a recursos, pedidos ou ações, quando
incabíveis, estranhos à competência desta Corte, intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a jurisprudência
predominante do Tribunal (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175 – RTJ 173/948).
Nem se alegue que esse preceito legal implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o postulado em questão sempre restará
preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal
Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, v.g.):
“PODERES PROCESSUAIS DO MINISTRO-RELATOR E PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE.
– Assiste ao Ministro-Relator competência plena para exercer, monocraticamente, com fundamento nos poderes processuais de que
dispõe, o controle de admissibilidade das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal. Pode, em conseqüência, negar
trânsito, em decisão monocrática, a ações, pedidos ou recursos, quando incabíveis, intempestivos, sem objeto ou, ainda, quando veicularem
pretensão incompatível com a jurisprudência predominante na Suprema Corte. Precedentes.
– O reconhecimento dessa competência monocrática deferida ao Relator da causa não transgride o postulado da colegialidade, pois
sempre caberá, para os órgãos colegiados do Supremo Tribunal Federal (Plenário e Turmas), recurso contra as decisões singulares que
venham a ser proferidas por seus Juízes.”
(MS 28.097-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Sendo assim, em face das razões expostas, e considerando, sobretudo, os precedentes jurisprudenciais ora invocados, não conheço do
presente mandado de segurança, restando prejudicado, em consequência, o exame do pedido de liminar.
2. Defiro o pretendido benefício de gratuidade, tendo em vista a afirmação feita pela parte impetrante nos termos e para os fins a que se
refere o art. 4º da Lei nº 1.060/50, na redação dada pela Lei nº 7.510/86, c/c o art. 21, XIX, do RISTF.

Arquivem-se os presentes autos.

Publique-se.

Brasília, 19 de outubro de 2015.

Ministro CELSO DE MELLO


Relator

*decisão publicada no DJe de 22.10.2015

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23
23 a 27 de novembro de 2015

Lei nº 13.193, de 24.11.2015 - Altera a Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980, que define a situação jurídica
do estrangeiro no Brasil e cria o Conselho Nacional de Imigração, para dispor sobre a dispensa unilateral do visto de
turista por ocasião dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, Rio 2016. Publicada no DOU, Seção 1, Edição nº 225,
p. 3, em 25.11.2015.

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 809-STF (04/12/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE
845779/SC; MS 33406/DF; MS 33406/DF; MS 30364/PA.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: AP 913 QO/AL; RMS 23111/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
 O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes.

CNJ
 Revisão disciplinar e prazo de instauração.

DIREITO ADMINISTRATIVO
TETO REMUNERATÓRIO
 As vantagens pessoais do servidor também devem respeitar o teto, mesmo que sejam anteriores à EC 41/2003.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


AGRAVO
 Multa do § 2º do art. 557 do CPC 1973 (§ 4º do art. 1.021 do CPC 2015) e justiça gratuita.

DIREITO PENAL
LEI DE DROGAS
 A causa de aumento prevista no inciso V do art. 40 não exige a efetiva transposição da fronteira.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


INDULTO NATALINO
 Período de prova no sursis não pode ser equiparado a cumprimento de pena.

DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes

O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes .


Segundo a teoria restritiva, adotada pelo STF, somente o dispositivo da decisão produz efeito
vinculante. Os motivos invocados na decisão (fundamentação) não são vinculantes.

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


A reclamação no STF é uma ação na qual se alega que determinada decisão ou ato:
• usurpou competência do STF; ou
• desrespeitou decisão proferida pelo STF.
Não cabe reclamação sob o argumento de que a decisão impugnada violou os motivos
(fundamentos) expostos no acórdão do STF, ainda que este tenha caráter vinculante. Isso
porque apenas o dispositivo do acórdão é que é vinculante.
Assim, diz-se que a jurisprudência do STF é firme quanto ao não cabimento de reclamação
fundada na transcendência dos motivos determinantes do acórdão com efeito vinculante.
STF. Plenário. Rcl 8168/SC, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado
em 19/11/2015 (Info 808).

A Constituição Federal, em seu art. 102, § 2º, estabelece os efeitos da decisão proferida pelo STF no
controle abstrato de constitucionalidade:
Art. 102 (...)
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e
efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

Vamos explicar melhor esses efeitos:


1) Quanto ao aspecto SUBJETIVO (quem é atingido pela decisão?)
• Eficácia contra todos (erga omnes)
• Efeito vinculante

2) Quanto ao aspecto OBJETIVO


(que partes da decisão produzem eficácia erga omnes e efeito vinculante?)

1ª corrente: teoria restritiva


Somente o dispositivo da decisão produz efeito vinculante.
Os motivos invocados na decisão (fundamentação) não são vinculantes.

2ª corrente: teoria extensiva


Além do dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também são vinculantes.
Admite-se a transcendência dos motivos que embasaram a decisão.

Em suma, pela teoria da transcendência dos motivos determinantes, a ratio decidendi, ou seja, os
fundamentos determinantes da decisão também teriam efeito vinculante.

Ocorre que o STF NÃO adota a teoria da transcendência dos motivos determinantes (teoria extensiva).

O STF já chegou a manifestar apreço pela teoria da transcendência dos motivos determinantes, mas
atualmente, a posição da Corte é no sentido de que não pode ser acolhida.

Para melhor explicar o tema, veja o seguinte exemplo:


A , P efeito de u a idade do i te io do Ceará, teve suas contas aprovadas pela Câmara Municipal, mas
rejeitadas pelo Tribunal de Contas.
O Tribunal de Contas tomou essa decisão porque a Constituição do Estado do Ceará prevê que o Tribunal
de Contas irá julgar as contas dos prefeitos.
A afi a que a decisão do Tribunal de Contas foi errada e que a Constituição do Ceará, nesse ponto,
viola a CF/88, considerando que, no caso dos chefes do Poder Executivo, o Tribunal de Contas apenas
emite parecer prévio, não devendo julgar as contas.

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


A defe de que o STF já acolheu essa tese, ou seja, a de que as contas dos Prefeitos não são julgadas pelo
Tribunal de Contas, mas sim pela Câmara Municipal. Cita como precedentes do STF as ADIs 3715 MC/TO,
1779/PE e 849/MT.
Desse odo, A , i o fo ado o a de isão do Tribunal de Contas, ajuiza reclamação no STF alegando
que o entendimento do Supremo foi desrespeitado pelo Tribunal de Contas.

Essa reclamação do Prefeito pode ser julgada procedente?


NÃO.

Quando o STF julgou as ADIs 3715 MC/TO, 1779/PE e 849/MT, ele realmente decidiu que:
 As contas dos chefes do Poder Executivo são julgadas pelo Poder Legislativo (no caso dos
Governadores, pelas Assembleias e, se for Prefeito, pelas Câmaras Municipais);
 No caso das contas dos chefes do Poder Executivo, o Tribunal de Contas apenas emite um parecer
prévio, que poderá ser acolhido ou não pelo Poder Legislativo.

No entanto, o STF mencionou essas duas conclusões acima expostas apenas na fundamentação do
julgado. O dispositivo da decisão foi a declaração de inconstitucionalidade de normas das Constituições do
Estado de Tocantins (ADI 3715), de Pernambuco (ADI 1779) e de Mato Grosso (ADI 849).

O dispositivo do acórdão do STF que julgou as ADIs 3715 MC/TO, 1779/PE e 849/MT possui eficácia
vinculante e erga omnes?
SIM. Logo, a decisão do STF de que são inconstitucionais esses artigos das Constituições do TO, PE e MT
deve ser respeitada por todos e, em caso de descumprimento, pode-se ajuizar reclamação no STF.

A fu da e tação utilizada pelo “TF ao julgar essas ADI’s 1 MC/TO, 1 /PE e /MT possui eficácia
vinculante e erga omnes?
NÃO. Porque o STF não adota a teoria da transcendência dos motivos determinantes.

O Supremo acolhe a teoria restritiva, de forma que somente o dispositivo da decisão produz efeito
vinculante. Os motivos invocados na decisão (fundamentação) não são vinculantes.

Assim, ainda que a Constituição do Ceará tenha um artigo com redação idêntica ao da Constituição do
Tocantins (que foi declarado inconstitucional), não se poderá ajuizar reclamação diretamente no STF caso
o Tribunal de Contas aplique normalmente esse artigo da Carta cearense. Teria que ser proposta uma nova
ADI impugnando a Constituição cearense ou então valer-se o interessado dos instrumentos processuais
para a defesa do seu direito e a declaração difusa de inconstitucionalidade.

CNJ
Revisão disciplinar e prazo de instauração

O CNJ possui a competência para rever, de ofício ou mediante provocação, as decisões das
Corregedorias locais que julgam, a favor ou contra, juízes e membros de Tribunais. No entanto,
essa competência revisora deverá ser exercida no prazo máximo de 1 ano depois da decisão
proferida (art. 103-B, § 4º, V, da CF/88).
STF. 2ª Turma. MS 32724/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Determinado magistrado foi alvo de duas reclamações disciplinares a respeito de um mesmo fato: uma na
corregedoria do TJ e outra no CNJ.

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Tanto o TJ como o CNJ instauraram procedimento para apurar a suposta infração.
O CNJ foi informado de que a Corregedoria local estava investigando o caso, razão pela qual sobrestou
(suspendeu) a reclamação disciplinar que estava instaurada no Conselho.
Em outubro de 2012, a Corregedoria do TJ absolveu o magistrado por falta de provas, comunicando essa
decisão ao CNJ.
Em dezembro de 2013, o CNJ retirou do sobrestamento o processo disciplinar que ali havia sido instaurado
e decidiu rever a decisão da Corregedoria do TJ.

Primeira pergunta: em tese, o CNJ pode rever processos disciplinares de Juízes e membros de Tribunais
julgados pelas corregedorias dos Tribunais?
SIM. Essa competência está prevista expressamente no art. 103-B, § 4º, V, da CF/88.

No caso concreto, o CNJ poderia reabrir a apuração do fato envolvendo o magistrado?


NÃO. Houve decadência. Isso porque o CNJ possui o prazo de 1 (um) ano para exercer a competência de
revisão disciplinar. Confira:
Art. 103-B (...)
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do
cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem
conferidas pelo Estatuto da Magistratura:
(...)
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais
julgados há menos de um ano;

Segundo decidiu o STF, ao apreciar o caso acima, apesar de o CNJ ter instaurado processo disciplinar para
apuração dos fatos antes de se ter o julgamento da questão pela corregedoria local, o feito estava sobrestado
no Conselho aguardando a decisão do TJ. Uma vez decidida no TJ, a reanálise do caso pelo CNJ adquiriu
natureza revisional. Em razão disso, deveria ter sido retomada dentro do prazo de 1 ano previsto na CF.

DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSOS PÚBLICOS
Teoria do fato consumado: inaplicabilidade em concurso público

Importante!!!
O candidato que toma posse em concurso público por força de decisão judicial precária
assume o risco de posterior reforma desse julgado que, em razão do efeito ex tunc ,
inviabiliza a aplicação da teoria do fato consumado em tais hipóteses.
A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não
implica a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia
aprovação em concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor constitucional que prepondera
sobre o interesse individual do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da
proteção da confiança legítima, pois conhece a precariedade da medida judicial.
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo
público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista.
STF. 1ª Turma. RMS 31538/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
em 17/11/2015 (Info 808).
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral)
(Info 753).

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Imagine a seguinte situação hipotética (com diferenças em relação ao caso original):
Maria prestou concurso para Auditor-Fiscal do Trabalho e não foi aprovada na 1ª fase por conta de um ponto.
A candidata ajuizou ação pedindo a anulação de uma questão e conseguiu liminar para participar da 2ª
fase, tendo sido aprovada na prova discursiva, razão pela qual foi nomeada, tomou posse e passou a
exercer o cargo.
Ocorre que, depois de 15 anos no cargo, a ação foi julgada improcedente, com trânsito em julgado, tendo
a Administração Pública tornado sem efeito a sua nomeação.
Diante disso, Maria impetrou mandado de segurança pedindo para que seja mantida no cargo com base
na teoria do fato consumado, uma vez que já exercia a função há muitos anos.

O pedido de Maria foi aceito pelo STF?


NÃO. O candidato que toma posse em concurso público por força de decisão judicial precária assume o
is o de poste io efo a desse julgado ue, e azão do efeito ex tu , i via iliza a apli ação da
teoria do fato consumado em tais hipóteses.
STF. 1ª Turma. RMS 31538/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
17/11/2015 (Info 808).

O que é a Teoria do Fato Consumado?


Segundo esta teoria, as situações jurídicas consolidadas pelo decurso do tempo, amparadas por decisão
judicial, não devem ser desconstituídas, em razão do princípio da segurança jurídica e da estabilidade das
relações sociais (STJ. REsp 709.934/RJ).
Assim, de acordo com essa posição, se uma decisão judicial autorizou determinada situação jurídica e,
após muitos anos, constatou-se que tal solução não era acertada, ainda assim não deve ser desconstituída,
para que não haja insegurança jurídica.
Em suma, seria uma espécie de convalidação da situação pelo decurso de longo prazo.

A Teoria do Fato Consumado é admitida pela jurisprudência no caso de posse em cargo público por força
de decisão judicial provisória?
NÃO. A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não
implica a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia aprovação em
concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor constitucional que prepondera sobre o interesse individual
do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da proteção da confiança legítima, pois
conhece a precariedade da medida judicial.
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público por
força de decisão judicial provisória posteriormente revista.
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral) (Info 753).

O que é o princípio da proteção da confiança legítima?


Trata-se de um princípio que ganhou destaque inicialmente na Alemanha, por volta da década de 50.
Segundo esse princípio, os comportamentos adotados pelo Estado, em virtude da presunção de
legitimidade, geram no particular a confiança de que são atos legais. Logo, o administrado não pode ser
prejudicado caso esse ato seja desfeito (revogado ou anulado) já que, de boa-fé, acreditou (confiou) que
eram legítimos.
O princípio da proteção da confiança legítima está relacionado com a boa-fé e com o princípio da
segurança jurídica.

O princípio da proteção da confiança legítima é adotado pelo STF em algumas situações?


SIM. O STF reconhece o princípio da confiança legítima, por exemplo, quando, por ato de iniciativa da
própria Administração, decorrente de equivocada interpretação da lei ou dos fatos, o servidor recebe
determinada vantagem patrimonial ou alguma condição jurídica melhor. Nesses casos, o servidor tinha a

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


legítima confiança de que aquela vantagem era legítima.
Assim, mesmo que fique, posteriormente, constatada a ilegitimidade dessa verba, esse servidor não será
obrigado a restituí-la, considerando que a recebeu de boa-fé e exigir que ele a devolvesse violaria o
princípio da confiança legítima.
Essas hipóteses, contudo, são excepcionais e não se tratam da regra geral.

E por que o STF não aplica o princípio da proteção da confiança legítima para os casos de posse em
cargo público por força de medida judicial provisória posteriormente revogada?
Porque nesses casos a nomeação e a posse no cargo ocorrem por iniciativa, provocação, requerimento do
próprio particular interessado e contra a vontade da Administração Pública que, inclusive, contesta o
pedido feito na Justiça.
Logo, não há que se falar em legítima confiança do administrado, já que não foi a Administração Pública
quem praticou o ato nem reconheceu o direito.
Em situações envolvendo concurso público não faz sentido invocar-se o princípio da proteção da confiança
legítima, haja vista que o candidato beneficiado com a decisão não desconhece que o provimento
jurisdicional tem natureza provisória e que pode ser revogado a qualquer momento, acarretando
automático efeito retroativo.
Vale ressaltar, por fim, que a concessão da tutela antecipada corre por conta e responsabilidade do
requerente.

O servidor que teve a sua posse tornada sem efeito em virtude da revogação da decisão anterior terá
que devolver as verbas recebidas? Em nosso exemplo, Maria terá que restituir a remuneração que
percebeu ao longo desses anos?
NÃO. Isso porque a remuneração possui caráter alimentar que, como regra, é irrepetível. Além disso, se
fosse exigida a devolução, haveria enriquecimento ilícito por parte do Estado, considerando que o servidor
trabalhou durante esse período.

TETO REMUNERATÓRIO
As vantagens pessoais do servidor também devem respeitar o teto,
mesmo que sejam anteriores à EC 41/2003

Importante!!!
Alguns servidores continuavam tentando excluir do teto as vantagens pessoais que haviam
adquirido antes da EC 41/2003 (que implementou, na prática, o teto no funcionalismo).
Argumentavam que a garantia da irredutibilidade de vencimentos, modalidade qualificada de
direito adquirido, impediria que as vantagens percebidas antes da vigência da EC 41/2003
fossem por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As vantagens pessoais anteriores à
EC 41/2003 estão fora do teto?
NÃO. Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI, da
Constituição da República, também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC
41/2003 a título de vantagens pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de
valores eventualmente recebidos em excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/11/2015 (repercussão geral)
(Info 808).

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


NOÇÕES GERAIS SOBRE O TETO REMUNERATÓRIO
Teto remuneratório
A CF/ p e , e seu a t. , XI, o ha ado teto e u e ató io , ou seja, o alor máximo que os
agentes públicos podem receber no país. O objetivo do constituinte foi o de evitar que alguns agentes
pú li os e e esse os ha ados supe salá ios , ue são i o patí eis o o se iço pú li o.
Além de um teto geral (nacional), o dispositivo constitucional prevê limites específicos para o âmbito dos
Estados e Municípios (chamados de subtetos).
O teto geral do serviço público no Brasil é o subsídio dos Ministros do STF que, atualmente, está em cerca
de R$ 37.476,93 mil (bruto).
Obs.: o Mi . Teo i )a as ki de o i a o teto e u e ató io de teto de et i uição , exp essão ue pode
ser cobrada em sua prova.

A quem se aplica o teto?


Aplica-se aos agentes públicos independentemente do tipo de vínculo: estatutário, celetista, temporário,
comissionado, político.

O teto se aplica à Administração direta e indireta?


 Agentes públicos da administração direta: SEMPRE
 Agentes públicos das autarquias e fundações: SEMPRE
 Empregados públicos das empresas públicas e sociedades de economia mista: o teto somente se aplica
se a empresa pública ou a sociedade de economia mista receber recursos da União, dos Estados, do DF
ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral (art. 37, § 9º).

Quais as parcelas incluídas nesse limite?


Regra: o teto abrange todas as espécies remuneratórias e todas as parcelas integrantes do valor total
percebido, incluídas as vantagens pessoais ou quaisquer outras.

Exeções:
Estão fora do teto as seguintes verbas:
a) parcelas de caráter indenizatório previstas em lei (§ 11 do art. 37);
b) verbas que correspondam aos direitos sociais previstos no art. 7º c/c o art. 39, § 3º da CF/88, tais
como 13º salário, 1/3 constitucional de férias etc. (Fernanda Marinela);
c) quantias recebidas pelo servidor a título de abono de permanência em serviço (§ 19 do art. 40);
d) remuneração em caso de acumulação legítima de cargos públicos. O STJ entende que, se o servidor
acumular dois cargos públicos nas hipóteses admitidas na CF/88, a remuneração de cada cargo não
poderá ser superior ao teto constitucional, sendo possível, no entanto, que a soma dos dois ultrapasse
esse limite (STJ. 2ª T. AgRg no AgRg no RMS 33.100/DF, Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado
em 07/05/2013). Ex.: se determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber
seu subsídio integral como Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse caso, o
teto seria considerado especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele recebesse acima do
limite previsto no art. 37, XI da CF se considerarmos seus ganhos globais.

Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto?
Sim. A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.

O teto remuneratório existe desde quando?


A redação originária da CF/88 já previa a existência de um teto remuneratório, mas o dispositivo
constitucional não era autoaplicável. Assim, na prática, o teto só foi implementado com a EC nº 41/2003.
Confira a evolução histórica do tema:
 Redação original da CF/88: previa, no inciso XI do art. 37, que cada ente da Federação deveria editar
sua própria lei fixando o teto remuneratório dos servidores públicos. Na prática, o teto não era exigido
Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7
porque, segundo a jurisprudência, o inciso XI não era autoaplicável, já que dependia de lei para
produzir todos seus efeitos.
 EC 19/98: alterou esse inciso estabelecendo que o teto remuneratório seria um só para todos os
servidores públicos do país, sendo este limite o subsídio mensal dos Ministros do STF. Na prática, o
teto continuava não sendo exigido porque ainda não havia lei.
 EC 41/2003: alterou novamente o inciso XI trazendo duas novidades importantes: 1) passou a admitir
que os Estados e Municípios instituíssem subtetos estaduais e municipais; 2) previu que, mesmo sem
lei regulamentando, o teto remuneratório deveria ser imediatamente aplicado, utilizando-se como
limite o valor da remuneração recebida, na época, pelo Ministro do STF (art. 8º da EC 41/2003).
 EC 47/2005: acrescentou o § 11 ao art. 37 estabelecendo que estão fora do limite do teto as parcelas
de caráter indenizatório previstas em lei.

Dessa forma, na prática, o teto passou a vigorar no Brasil a partir da EC nº 41/2003, que foi publicada em
31/12/2003. Isso porque, como vimos acima, essa Emenda afirmou expressamente que, enquanto não
houvesse lei regulamentando o inciso XI, o valor do teto seria a remuneração do Ministro do STF na época.
O primeiro valor do teto remuneratório foi de R$ 19.115,19, remuneração do Ministro do STF naquele
momento.

Quando o teto foi finalmente implementado na prática (EC 41/2003), o que aconteceu com a
remuneração das pessoas que recebiam acima do teto que foi instituído? Essas pessoas tiveram direito
adquirido de continuar recebendo acima do teto?
NÃO. O art. 9º da EC nº 41/2003 determinou que qualquer remuneração ou proventos que estivessem
sendo recebidos acima do teto deveriam ser imediatamente reduzidos ao limite fixado, não podendo a
pessoa invocar direito adquirido.
Assim, em 01/01/2004, se o servidor público tinha uma remuneração de R$ 25.000,00, por exemplo, ele
passou a receber apenas R$ 19.115,19.

Obviamente, tal situação gerou reação das pessoas prejudicadas, que recorreram ao Poder Judiciário
questionando a constitucionalidade dessa previsão. O que decidiu o STF? Era possível aplicar
imediatamente o teto previsto na EC nº 41/2003, reduzindo a remuneração de quem ganhava acima
desse valor?
SIM. O STF decidiu, em sede de repercussão geral, que o teto de retribuição fixado pela EC nº 41/2003 é
de eficácia imediata e todas as verbas de natureza remuneratória recebidas pelos servidores públicos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios devem se submeter a ele, ainda que adquiridas
de acordo com regime legal anterior.
A aplicação imediata da EC nº 41/2003 e a redução das remunerações acima do teto não afrontou o
princípio da irredutibilidade nem violou a garantia do direito adquirido.
Em outras palavras, com a EC nº 41/2003, quem recebia acima do teto fixado, teve a sua remuneração
reduzida para respeitar o teto. Essa redução foi legítima.
STF. Plenário. RE 609381/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 2/10/2014 (Info 761).

Mas isso não viola o princípio da irredutibilidade da remuneração/proventos?


NÃO. Segundo o STF, a garantia da irredutibilidade de remuneração/proventos não impede a aplicação
imediata do teto de retribuição. Isso porque o próprio texto constitucional, ao tratar sobre o princípio da
irredutibilidade, ressalva expressamente o inciso XI do art. 37, deixando claro que é possível a redução da
remuneração/proventos para aplicação do teto de retribuição. Nesse sentido, confira o art. 37, XV, art. 95,
III e a t. , § 5º, I, .
Nas palavras do Min. Teori Zavascki, ao condicionar a fruição da garantia de irredutibilidade de
vencimentos à observância do teto de retribuição (art. 37, XI, da CF/88), a literalidade dos citados
dispositivos constitucionais deixa fora de dúvida que o respeito ao teto representa verdadeira condição de
legitimidade para o pagamento das remunerações no serviço público.
Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8
Não há violação ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito?
NÃO. O art. 5º, XXXVI a lei ão p ejudi a á o di eito ad ui ido, o ato ju ídi o pe feito e a oisa julgada ,
também não pode ser invocado para excepcionar a imposição do teto de retribuição.
Segundo o STF, a cláusula da irredutibilidade somente pode ser invocada se a remuneração que estava
sendo recebida pelo servidor estava em conformidade com a CF/88. Desse modo, os vencimentos acima
do teto constitucional, ainda que com o beneplácito de disciplinas normativas anteriores, não estão
amparados pela regra da irredutibilidade.
O pagamento de remunerações superiores aos tetos de retribuição, além de se contrapor aos princípios da
moralidade, da transparência e da austeridade na administração dos gastos com custeio, representa
gravíssima quebra da coerência hierárquica essencial à organização do serviço público.
O Min. Zavascki lembrou, por fim, que o fato de o art. 9º da EC 41/2003 ser objeto de ação direta de
inconstitucionalidade ainda pendente de apreciação, não impediria, contudo, que o STF fizesse impor a
força normativa do próprio art. 37, XI, da CF, cujo enunciado seria suficiente para coibir situações
inconstitucionais de remuneração excessiva.

Mesmo após a decisão do STF no RE 609381/GO, alguns servidores continuavam tentando excluir do
teto as vantagens pessoais que haviam adquirido antes da EC 41/2003 (que implementou, na prática, o
teto no funcionalismo). Argumentavam que a garantia da irredutibilidade de vencimentos, modalidade
qualificada de direito adquirido, impediria que as vantagens percebidas antes da vigência da EC 41/2003
fossem por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As vantagens pessoais anterior à EC 41/2003
estão fora do teto?
NÃO. Computam-se, para efeito de observância do teto remuneratório do art. 37, XI, da CF/88, também os
valores percebidos anteriormente à vigência da EC 41/2003 a título de vantagens pessoais pelo servidor
público.
O art. 37, XI, da CF/88, na redação da EC 41/2003, é expresso ao incluir as vantagens pessoais ou de
qualquer outra natureza para fins de limitação dos ganhos ao teto remuneratório do serviço público.
A EC 41/2013 não violou a cláusula do direito adquirido, porque o postulado da irredutibilidade de
vencimentos, desde sua redação original, já indicava que deveria ser respeitado o teto remuneratório (art.
37, XI, da CF/88).
Em outras palavras, a Constituição assegurou a irredutibilidade, mas no mesmo dispositivo já mencionou
que deveria ser respeitado o teto remuneratório.
Assim, a Constituição não só autoriza, como exige o cômputo, para efeito de incidência do teto, de
adicionais por tempo de serviço, sexta parte, prêmio de produtividade e gratificações, ainda que
qualificados como vantagens de natureza pessoal percebidas antes do advento da EC 41/2003.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/11/2015 (repercussão geral) (Info 808).

E os servidores que receberam vantagens pessoais acima do teto antes dessa decisão do STF deverão
devolver os valores? A Administração Pública poderá ingressar com ações cobrando o ressarcimento
dessas quantias recebidas acima do teto a título de vantagens pessoais?
NÃO. O STF afirmou que os servidores não estão obrigados a restituir os valores eventualmente recebidos
em excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015 (data da decisão do STF).

Em todos os julgamentos de recursos extraordinários com repercussão geral reconhecida, o STF elabora
uma frase que resume a tese adotada pelo Tribunal. A tese fixada pela Corte neste caso foi a seguinte:
Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI, da Constituição da
República, também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC 41/2003 a título de vantagens
pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de valores eventualmente recebidos em excesso
e de boa-fé até o dia 18/11/2015.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/11/2015 (repercussão geral) (Info 808).

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


DIREITO PROCESSUAL CIVIL
AGRAVO
Multa do § 2º do art. 557 do CPC 1973 (§ 4º do art. 1.021 do CPC 2015) e justiça gratuita

O § 2º do art. 557 do CPC 1973 (§ 4º do art. 1.021 do CPC 2015) prevê que, quando
manifestamente inadmissível ou improcedente o agravo, o tribunal condenará o agravante a
pagar ao agravado multa de
 1% a 10% do valor corrigido da causa (CPC 1973)
 1% a 5% do valor atualizado da causa (CPC 2015).

Essa multa é aplicada também para o beneficiário da justiça gratuita?


SIM. No entanto, há uma diferença de tratamento no caso:
• CPC 1973: a parte beneficiária da justiça gratuita não está isenta do pagamento da multa do
art. 557, § 2º do CPC 1973. Porém, o recolhimento da multa ficará suspenso por 5 anos para
ver se a parte conseguirá melhorar sua condição econômica e auferir recursos para pagar a
sanção, conforme prevê o art. 12 da Lei nº 1.060/50. Nesse sentido, decidiu o STF, 1ª Turma.
RE 775685 AgR-ED/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808). Na prática,
ela quase nunca irá pagar.
• CPC 2015: o novo CPC prevê no art. 98, § 4º que a concessão de gratuidade não afasta o dever
de o beneficiário pagar, ao final, as multas processuais que lhe sejam impostas.
STF. 1ª Turma. RE 775685 AgR-ED/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808).

AGRAVO DE INSTRUMENTO E MULTA DO ART. 557, § 2º DO CPC 1973


Vejamos as etapas do processamento e julgamento do agravo de instrumento:
1) João ajuizou ação contra Pedro e requereu uma tutela antecipada (no novo CPC: "tutela provisória").

2) Após ouvir a ré, o juiz proferiu uma decisão interlocutória denegando a tutela.

3) Contra as decisões interlocutórias prolatadas pelo juízo de 1ª instância qual é o recurso cabível?
No CPC 1973: cabia, em tese, agravo retido ou agravo de instrumento, conforme o caso concreto.
No CPC 2015: cabe agravo de instrumento nas hipóteses listadas pelo art. 1.015. Se não se enquadrar
em uma dessas situações, a parte prejudicada só poderá atacar a decisão nas razões de apelação (art.
1.009, § 1º). Assim, as decisões interlocutórias que não puderem ser impugnadas por meio de agravo
de instrumento por não estarem no rol do art. 1.015 não ficam sujeitas à preclusão imediata e
poderão ser discutidas pela parte em preliminar de apelação (se ela for a recorrente ao final) ou nas
contrarrazões (se não foi ela quem interpôs a apelação). O que é muito importante que você guarde:
no novo CPC não mais existe agravo retido.

4) No caso concreto, era hipótese realmente de agravo de instrumento (art. 522 do CPC 1973 / art.
1.015, I, do CPC 2015).

5) Qual é o prazo para a interposição do agravo de instrumento?


 CPC 1973: 10 dias.
 CPC 2015: 15 dias.

6) A parte prejudicada (João) interpôs o agravo de instrumento. Para isso, teve que dar entrada no
recurso diretamente no Tribunal (entregou no protocolo do Tribunal e não no do Fórum), conforme
determina o art. 524 do CPC 1973 (art. 1.016 do CPC 2015).

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


A petição do agravo de instrumento deve estar acompanhada das peças obrigatórias e facultativas
mencionadas no art. 525 do CPC 1973 (art. 1.017 do CPC 2015).
Destaco a novidade prevista no inciso II do art. 1.017 do CPC 2015 que será muito importante na
prática forense e exaustivamente cobrado nas provas de concurso:
Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão
agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento
oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e
do agravado;
II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita pelo
advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal;
III - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis.

7) O agravante, no prazo de 3 dias, teve que juntar aos autos do processo em 1ª instância cópia da
petição do agravo de instrumento interposto e do comprovante de sua interposição, assim como a
relação dos documentos que instruíram o recurso. Como há algumas inovações no CPC 2015 sobre o
tema, importante você conhecer a nova redação:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 526. O agravante, no prazo de 3 (três) dias, Art. 1.018. O agravante poderá requerer a
requererá juntada, aos autos do processo de juntada, aos autos do processo, de cópia da
cópia da petição do agravo de instrumento e do petição do agravo de instrumento, do
comprovante de sua interposição, assim como a comprovante de sua interposição e da relação
relação dos documentos que instruíram o dos documentos que instruíram o recurso.
recurso. § 1º Se o juiz comunicar que reformou
Parágrafo único. O não cumprimento do inteiramente a decisão, o relator considerará
disposto neste artigo, desde que argüido e prejudicado o agravo de instrumento.
provado pelo agravado, importa § 2º Não sendo eletrônicos os autos, o agravante
inadmissibilidade do agravo. tomará a providência prevista no caput, no
prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do
agravo de instrumento.
§ 3º O descumprimento da exigência de que
trata o § 2º, desde que arguido e provado pelo
agravado, importa inadmissibilidade do agravo
de instrumento.

8) No Tribunal, o agravo de instrumento foi distribuído incontinenti (imediatamente), sendo sorteado um


Desembargador Relator (art. 527 do CPC 1973 / art. 1.019 do CPC 2015).

9) Relator CONTRÁRIO ao recurso do agravante (art. 527, I do CPC 1973 / art. 932, III e IV do CPC 2015):
O Desembargador Relator poderá, de forma monocrática:
CPC 1973 CPC 2015
Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no Art. 932. Incumbe ao relator:
tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: III - não conhecer de recurso inadmissível,
I - negar-lhe-á seguimento, liminarmente, nos prejudicado ou que não tenha impugnado
casos do art. 557; especificamente os fundamentos da decisão
(...) recorrida;
Art. 557. O relator negará seguimento a recurso IV - negar provimento a recurso que for
manifestamente inadmissível, improcedente, contrário a:
prejudicado ou em confronto com súmula ou a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


com jurisprudência dominante do respectivo Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de tribunal;
Tribunal Superior. b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de
resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
(...)
Parágrafo único. Antes de considerar
inadmissível o recurso, o relator concederá o
prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que
seja sanado vício ou complementada a
documentação exigível.

10) E se a parte não concordar com essa decisão monocrática do Relator, o que ela poderá fazer?
A parte poderá, neste caso, interpor um agravo interno para o órgão colegiado do Tribunal
questionando a decisão monocrática do Relator.

11) Qual é o prazo desse agravo interno?


 CPC 1973: 5 dias (art. 557, § 2º).
 CPC 2015: 15 dias (art. 1.021, § 2º).

12) Imaginemos que o Relator negou seguimento ao agravo de instrumento e João interpôs um agravo
interno manifestamente infundado ( abusivo ) contra a decisão que negou seguimento ao agravo de
instrumento.
Se o órgão colegiado do Tribunal considerar que o agravo interno ( ag a o egi e tal ) interposto é
manifestamente inadmissível ou improcedente, ele aplicará ao recorrente duas sanções:
12.a) condenará o agravante a pagar ao agravado uma multa;
12.b) condicionará o depósito do valor da multa em juízo para que futuros recursos sejam recebidos.

13) Qual é o valor dessa multa?


 CPC 1973: entre 1% e 10% do valor corrigido da causa;
 CPC 2015: entre 1% e 5% do valor atualizado da causa.

14) Para a aplicação da multa, exige-se que a decisão do Tribunal tenha sido unânime?
 CPC 1973: NÃO. Não era necessário.
 CPC 2015: SIM. A aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º do novo CPC exige votação unânime.

15) A multa prevista para o agravante que interpuser recurso manifestamente inadmissível ou
improcedente aplica-se também para a Fazenda Pública? A sanção explicada no item "12.a" acima
aplica-se também ao Poder Público?
SIM. Tanto no CPC 1973 como no CPC 2015.

16) A legislação prevê uma segunda punição, qual seja, exige o depósito do valor da multa em juízo para
que futuros recursos sejam recebidos. Essa sanção explicada no item "12.b" acima aplica-se também
para a Fazenda Pública?
 CPC 1973: SIM. O CPC 1973 não falava expressamente sobre a Fazenda Pública ao tratar dessa
sanção. Diante disso, o STJ entendia que, havendo condenação do Poder Público ao pagamento da
multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC 1973, a interposição de qualquer outro recurso ficava

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


condicionada ao depósito prévio do respectivo valor. Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp
553.788-DF, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 16/10/2014 (Info 551).
 CPC 2015: NÃO. O § 5º do art. 1.021 do CPC 2015 afirma expressamente que não se exige da
Fazenda Pública o depósito prévio do valor da multa, podendo este pagamento ser feito ao final.

17) A multa prevista para o agravante que interpuser recurso manifestamente inadmissível ou
improcedente (item "12.a" acima) aplica-se também para o beneficiário da justiça gratuita?
SIM. No entanto, há uma diferença de tratamento no caso:
 CPC 1973: a parte beneficiária da justiça gratuita não está isenta do pagamento da multa do art.
557, § 2º do CPC 1973. Porém, o recolhimento da multa ficará suspenso por 5 anos para ver se a
parte conseguirá melhorar sua condição econômica e auferir recursos para pagar a sanção,
conforme prevê o art. 12 da Lei nº 1.060/50. Nesse sentido, decidiu o STF, 1ª Turma. RE 775685
AgR-ED/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808). Na prática, ela quase nunca
irá pagar.

 CPC 2015: o novo CPC trata sobre o tema nos §§ 3º e 4º do art. 98. Compare:

Lei nº 1.060/50 CPC 2015


Art. 12. A parte beneficiada pelo isenção do Art. 98 (...)
pagamento das custas ficará obrigada a pagá-las, § 3º Vencido o beneficiário, as obrigações
desde que possa fazê-lo, sem prejuízo do decorrentes de sua sucumbência ficarão sob
sustento próprio ou da família, se dentro de condição suspensiva de exigibilidade e somente
cinco anos, a contar da sentença final, o poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos
assistido não puder satisfazer tal pagamento, a subsequentes ao trânsito em julgado da decisão
obrigação ficará prescrita. que as certificou, o credor demonstrar que
deixou de existir a situação de insuficiência de
Este art. 12 é revogado pelo novo CPC. recursos que justificou a concessão de
gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo,
tais obrigações do beneficiário.
§ 4º A concessão de gratuidade não afasta o
dever de o beneficiário pagar, ao final, as multas
processuais que lhe sejam impostas.

18) A legislação prevê uma segunda punição, qual seja, exige o depósito do valor da multa em juízo para
que futuros recursos sejam recebidos. Essa sanção explica no item "12.b" acima aplica-se também para
a parte beneficiária da justiça gratuita?
NÃO. O CPC 2015 trata sobre o tema de forma expressa:
Art. 1.021 (...)
§ 5º A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do valor da multa
prevista no § 4º, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que farão o
pagamento ao final.

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


DIREITO PENAL

LEI DE DROGAS
A causa de aumento prevista no inciso V do art. 40 não exige a efetiva transposição da fronteira

Importante!!!
O art. 40, V, da Lei de Drogas prevê que a pena do tráfico e de outros delitos deverá ser
aumentada se ficar "caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o
Distrito Federal".
Para que incida essa causa de aumento não se exige a efetiva transposição da fronteira
interestadual pelo agente, sendo suficiente a comprovação de que a substância tinha como
destino localidade em outro Estado da Federação.
Ex: João pegou um ônibus em Campo Grande (MS) com destino a São Paulo (SP); algumas horas
depois, antes que o ônibus cruzasse a fronteira entre os dois Estados, houve uma blitz da
polícia no interior do coletivo, tendo sido encontrados 10kg de cocaína na mochila de João, que
confessou que iria levá-la para um traficante de São Paulo.
STF. 1ª Turma. HC 122791/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João pegou um ônibus em Campo Grande (MS) com destino a São Paulo (SP).
Ocorre que algumas horas depois, antes que o ônibus cruzasse a fronteira entre os dois Estados, houve
uma blitz da polícia no interior do coletivo, tendo sido encontrados 10kg de cocaína na mochila de João,
que confessou que iria levá-la para um traficante de São Paulo.
O agente foi denunciado pela prática de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006), com a incidência
de duas causas de aumento previstas no art. 40, III e V:
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:
(...)
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de
ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou
beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de
qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de
unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
(...)
V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;

Como primeira tese, a defesa alegou que o agente levou a droga no transporte público, mas não a
ofereceu nem comercializou para as pessoas que estavam dentro desse meio de transporte. Logo, não
deveria incidir a causa de aumento do inciso III. Essa tese é aceita pela jurisprudência? Para que incida
essa causa de aumento, é necessário que o agente comercialize a droga no interior do transporte
público?
SIM. A majorante do art. 40, III, da Lei 11.343/2006 somente deve ser aplicada nos casos em que ficar
demonstrada a comercialização efetiva da droga em seu interior.
A mera utilização de transporte público para o carregamento da droga não leva à aplicação da causa de
aumento do inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006.
Com base em uma interpretação teleológica, o disposto no art. 40, III, somente pode ser aplicado se
houver a comercialização da droga em transporte público, não alcançando a situação de o agente ter sido
surpreendido quando trazia consigo droga em ônibus intermunicipal, sem que nele a tivesse vendido.
STF. 2ª Turma. HC 120624/MS, Red. p/ o acórdão, Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 3/6/2014 (Info 749).
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.295.786-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 18/6/2014 (Info 543).

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


Como segunda tese, a defesa alegou que o agente não chegou a atravessar a fronteira de nenhum
Estado, de forma que não houve tráfico "entre Estados da Federação". Logo, não deveria incidir a causa
de aumento do inciso V. Essa tese é aceita pela jurisprudência? Para incidir essa causa de aumento, é
necessário que o agente atravesse as fronteiras?
NÃO. Para que incida a causa de aumento de pena prevista no inciso V do art. 40, não se exige a efetiva
transposição da fronteira interestadual pelo agente, sendo suficiente a comprovação de que a substância
tinha como destino localidade em outro Estado da Federação.
STF. 1ª Turma. HC 122791/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808).
STJ. 6ª Turma. REsp 1370391/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 03/11/2015.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

INDULTO NATALINO
Período de prova no sursis não pode ser equiparado a cumprimento de pena

Em 2013, a Presidente da República editou o Decreto 8.172/2013 concedendo o indulto


natalino para os condenados que cumprissem os requisitos ali estabelecidos.
No art. 1º, XIII e XIV, o Decreto concedeu indulto para os réus condenados a pena privativa de
liberdade, desde que tivessem cumprido, até 25/12/2013, 1/4 (um quarto) da pena.
Se o condenado foi beneficiado com sursis e já cumpriu mais de 1/4 do período de prova ele
poderá ser beneficiado com o indulto? É possível afirmar que cumprimento do período de
prova no sursis é a mesma coisa que cumprimento de pena?
NÃO. Não é possível o cômputo do período de prova cumprido em suspensão condicional da
pena para preenchimento do requisito temporal objetivo do indulto natalino. O sursis não tem
natureza de pena. Ao contrário, trata-se de uma alternativa à pena, ou seja, um benefício que o
condenado recebe para não ter que cumprir pena. Por essa razão, não se pode dizer que a
pessoa beneficiada com sursis e que esteja cumprindo período de prova se encontre
cumprindo pena. Cumprimento de período de prova não é cumprimento de pena.
STF. 1ª Turma. RHC 128515/BA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/6/2015 (Info 792).
STF. 2ª Turma. HC 123698/PE, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/11/2015 (Info 808).

Anistia, graça e indulto:


- são formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir;
- classificam-se como causas de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP);
- a anistia, a graça e o indulto são concedidas pelo Poder Legislativo (no primeiro caso) ou pelo Poder
Executivo (nos dois últimos), mas somente geram a extinção da punibilidade com a decisão judicial;
- podem atingir crimes de ação penal pública ou privada.

ANISTIA GRAÇA INDULTO


(ou indulto individual) (ou indulto coletivo)
É um benefício concedido pelo Congresso Concedidos por Decreto do Presidente da República.
Nacional, com a sanção do Presidente da
República (art. 48, VIII, CF/88), por meio do Apagam o efeito executório da condenação.
ual se pe doa a p áti a de um fato
criminoso. A atribuição para conceder pode ser delegada ao(s):
Normalmente, incide sobre crimes políticos,  Procurador Geral da República;

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


mas também pode abranger outras espécies  Advogado Geral da União;
de delito.  Ministros de Estado.
É concedida por meio de uma lei federal Concedidos por meio de um Decreto.
ordinária.
Pode ser concedida: Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais benefícios
 antes do trânsito em julgado (anistia só podem ser concedidos após o trânsito em julgado da
própria); condenação. Esse entendimento, no entanto, está cada
 depois do trânsito em julgado (anistia dia mais superado, considerando que o indulto natalino,
imprópria). por exemplo, permite que seja concedido o benefício
desde que tenha havido o trânsito em julgado para a
acusação ou quando o MP recorreu, mas não para
agravar a pena imposta (art. 5º, I e II, do Decreto
7.873/2012).
Classificação Classificação
a) Propriamente dita: quando concedida a) Pleno: quando extingue totalmente a pena.
antes da condenação. b) Parcial: quando somente diminui ou substitui a pena
b) Impropriamente dita: quando concedida (comutação).
após a condenação.
a) Incondicionado: quando não impõe qualquer
a) Irrestrita: quando atinge indistintamente condição.
todos os autores do fato punível. b) Condicionado: quando impõe condição para sua
b) Restrita: quando exige condição pessoal concessão.
do autor do fato punível. Ex.: exige
primariedade. a) Restrito: exige condições pessoais do agente. Ex.:
exige primariedade.
a) Incondicionada: não se exige condição
b) Irrestrito: quando não exige condições pessoais do
para a sua concessão.
agente.
b) Condicionada: exige-se condição para a
sua concessão. Ex.: reparação do dano.

a) Comum: atinge crimes comuns.


b)Especial: atinge crimes políticos.
Extingue os efeitos penais (principais e Só extinguem o efeito principal do crime (a pena).
secundários) do crime.

Os efeitos de natureza civil permanecem Os efeitos penais secundários e os efeitos de natureza


íntegros. civil permanecem íntegros.
O réu condenado que foi anistiado, se O réu condenado que foi beneficiado por graça ou
cometer novo crime, não será reincidente. indulto, se cometer novo crime, será reincidente.
É um benefício coletivo que, por referir-se É um benefício individual É um benefício coletivo
somente a fatos, atinge apenas os que o (com destinatário certo). (sem destinatário certo).
cometeram. Depende de pedido do É concedido de ofício (não
sentenciado. depende de provocação).

Indulto natalino
É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no final de todos os anos, concedendo
i dulto. Esse De eto o he ido o o i dulto atali o .
No Decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do benefício. Caso o apenado
atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve reconhecer o direito, extinguindo a pena pelo indulto.

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Decreto 8.172/2013
Em 2013, a Presidente da República editou o Decreto n. 8.172/2013 concedendo o indulto natalino para
os condenados que cumprissem os requisitos ali estabelecidos.
No art. 1º, XIII e XIV, o Decreto concedeu indulto para os réus condenados a pena privativa de liberdade,
desde que tivessem cumprido, até 25/12/2013, 1/4 (um quarto) da pena.

Imagine agora a seguinte situação adaptada:


João foi condenado e recebeu suspensão condicional da pena (sursis).
O sursis é um benefício por meio do qual o indivíduo, mesmo condenado, não irá cumprir pena (a pena
fica suspensa).
Assim, o condenado não ficará preso, mas terá que cumprir algumas condições que são impostas pelo juiz
e que irão durar por certo período (chamado de período de prova). Ex: prestar serviços à comunidade.
Cumprido o período de prova pelo prazo fixado, haverá extinção da punibilidade.
Voltando ao nosso exemplo, após João cumprir 1/4 do período de prova, ele pediu que a ele fosse
concedido o indulto natalino afirmando que o cumprimento do período de prova no sursis seria
equivalente ao cumprimento de pena. Logo, poderia ser estendida a ele, por equiparação, a possibilidade
de indulto prevista no art. 1º, XIII e IX do Decreto.

A tese de João foi aceita pelo STF?


NÃO. Não é possível o cômputo do período de prova cumprido em suspensão condicional da pena para
preenchimento do requisito temporal objetivo do indulto natalino.
O sursis não tem natureza de pena. Ao contrário, trata-se de uma alternativa à pena, ou seja, um benefício
que o condenado recebe para não ter que cumprir pena.
Por essa razão, não se pode dizer que a pessoa beneficiada com sursis e que esteja cumprindo período de
prova se encontre cumprindo pena. Isso não é verdade. Cumprimento de período de prova não é
cumprimento de pena.
STF. 1ª Turma. RHC 128515/BA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/6/2015 (Info 792).
STF. 2ª Turma. HC 123698/PE, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/11/2015 (Info 808).

Veja o que diz a doutrina:


I a í el dizer que o sursis seja pena, pois estas estão claramente enumeradas no art. 32 do Código Penal
e a suspensão é medida destinada justamente a evitar a aplicação de uma delas, a privativa de liberdade.
(...) Daí por que é mais indicadotratar o sursis como medida alternativa de cumprimento da pena privativa
de li e dade, ão deixa do de se u e efí io. ... NUCCI, Guilhe e de “ouza. Código Pe al
Comentado. 10ª ed., São Paulo: RT, p. 492).

Confira outro precedente do STF:


(...) O sursis não ostenta a categorização jurídica de pena, mas, antes, medida alternativa a ela; por isso
que não cabe confundir o tempo alusivo ao período de prova exigido para a obtenção desse benefício com
o requisito temporal relativo ao cumprimento de 1/4 da pena privativa de liberdade para alcançar-se o
indulto natalino e, consectariamente, a extinção da punibilidade.
(...)
3. In casu, o paciente foi condenado a 2 (dois) anos de reclusão, pela prática do crime de estelionato
tipificado no art. 251 do Código Penal Militar e, beneficiado com o sursis, teve, a posteriori, negado o
indulto natalino sob o fundamento de que não satisfizera o requisito temporal alusivo ao cumprimento de
1/4 da pena privativa de liberdade, advindo irresignação no sentido de que tal requisito fora satisfeito em
razão do cumprimento do período de provas da suspensão condicional da pena.
4. Destarte, tratando-se de institutos penais diversos, não cabe ter como tempo de cumprimento da pena
o período de prova exigido para a suspensão condicional da pena. (...)
STF. 1ª Turma. HC 117855, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/09/2013)

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EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) (PGM-Maceió 2012) Decisão que declara indevida a cobrança do imposto em determinado exercício faz
coisa julgada em relação aos posteriores. Isto se dá em razão da ampla aceitação da teoria da
transcendência dos motivos determinantes na jurisprudência nacional. ( )
2) O art. 40, V, da Lei de Drogas prevê que a pena do tráfico e de outros delitos deverá ser aumentada se
ficar "caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal". Para que
incida essa causa de aumento não se exige a efetiva transposição da fronteira interestadual pelo
agente, sendo suficiente a comprovação de que a substância tinha como destino localidade em outro
Estado da Federação. ( )

Gabarito
1. E 2. C

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Ha eas o pus de ofí io e e e i e to de de ú ia - 2


Ante a falta de justa causa (CPP, art. 395, III), a Segunda Turma, em conclusão de julgamento, resolveu
uestão de o de pa a o ede , de ofí io, o de de ha eas o pus e ejeita de ú ia pela suposta
prática dos crimes de fraude à licitação (Lei 8.666/1993, art. 90) e peculato (CP, art. 312) — v. Informativo
806. Na espécie, após o recebimento de denúncia por juízo de primeiro grau, a diplomação do acusado
como deputado federal ensejara a remessa dos respectivos autos ao STF para prosseguimento do feito. O
Colegiado afirmou que, nos termos do art. 230-A do Regimento Interno do STF, em havendo deslocamento
de competência para o STF, a ação penal deveria prosseguir no estado em que se encontrasse, preservada
a validade dos atos já praticados na instância a te io , e ho e age ao p i ípio te pus egit a tu .
Contudo, o STF não poderia permitir que uma ação penal inviável prosseguisse, pelo só fato de recebê-la no
estado em que se encontrasse, sob pena de manifesto constrangimento ilegal ao réu. Não bastasse isso, o
prosseguimento do feito acarretaria a desnecessária prática de inúmeros atos de instrução, como a
inquirição de testemunhas e a produção de perícias. Ademais, a justa causa para a ação penal consistiria na
exigência de suporte probatório mínimo a indicar a legitimidade da imputação e se traduziria na existência,
no inquérito policial ou nas peças de informação a instruir a denúncia, de elementos sérios e idôneos que
demonstrassem a materialidade do crime e a existência de indícios razoáveis de autoria. No caso, o
acusado, à época da concorrência supostamente fraudada, da assinatura do contrato e de seus aditivos, da
sua execução, das medições de obra e dos pagamentos à empresa contratada — questões atinentes ao
objeto da ação penal em comento —, não mais seria o chefe do Poder Executivo local, por haver
renunciado ao seu mandato. Portanto, além de não subsistir relação de subordinação hierárquica com os
responsáveis pela licitação, o acusado não mais deteria qualquer poder de mando sobre o curso do
procedimento licitatório e a execução do contrato ora hostilizado. O simples fato de ser governador, à
época em que determinada secretaria de Estado firmara o convênio objeto de apuração, não atrairia a sua
responsabilidade penal pela fraude à licitação subsequente e pelo eventual desvio de verbas na execução
do contrato. Reiterou-se o que decidido na AP 477/RS (DJe de 29.5.2009). Assim, à míngua de elementos
probatórios concretos, constituiria mera criação mental da acusação a pretensa relação de causalidade
entre as doações eleitorais feitas ao réu e o seu suposto concurso para a fraude à licitação e ao desvio de
recursos públicos.
AP 913 QO/AL, rel. Min. Dias Toffoli, 17.11.2015. (AP-913)

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Aquisição de imóvel funcional das Forças Armadas e servidor civil - 3
Em conclusão de julgamento, a Segunda Turma desproveu recurso ordinário em mandado de segurança no
qual pretendida a aquisição de imóvel funcional das Forças Armadas por servidor civil, nos termos da Lei
8.025/1990 e do Decreto 99.664/1990. Na esp ie, o “TJ de ega a o it lá i pet ado ao e te di e to
de que o ora recorrente não ocuparia de forma regular o bem colimado, na medida em que se aposentara
antes da vigência das normas em questão. — v. Informativo 657. A Turma rememorou jurisprudência da
Co te o se tido de ue a o dição de apose tado ão eti a ia do e ue e te o status de legíti o
ocupante do imóvel se o ocupasse regularmente, no momento de sua aposentadoria, nele residindo até a
promulgação da Lei 8.025/1990. De outro lado, reputou que o bem em litígio não poderia ser alienado. Isso
porque administrado pelas Forças Armadas e destinado à ocupação por militares. Explicitou que a limitação
de alheamento desses imóveis residenciais imporia a restrição sobre a coisa, e não sobre o militar. Assim,
explicou que a permissão de compra por civil constituiria interpretação deturpada da legislação. Outrossim,
salientou que o Decreto 99.664/1990 proibiria a venda do imóvel a qualquer pessoa, logo, o óbice não seria
pessoal. Nesse contexto, asseverou que a circunstância de o bem ser administrado pelas Forças Armadas
evidenciaria sua destinação precípua à ocupação por militar, de maneira que sua excepcional ocupação por
civil não o desnaturaria ou desafetaria.
RMS 23111/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 17.11.2015. (RMS-23111)

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 16 a 20 de novembro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 922.144-MG


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITO ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. GARANTIA DE JUSTA E PRÉVIA
INDENIZAÇÃO EM DINHEIRO. COMPATIBILIDADE COM O REGIME DE PRECATÓRIOS. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se e como a justa e prévia indenização em dinheiro assegurada pelo art. 5º, XXIV, da CRFB/1988 se
compatibiliza com o regime de precatórios instituído no art. 100 da Carta.
2. Repercussão geral reconhecida.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 914.045-MG
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. DIREITO
TRIBUTÁRIO E DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CLÁUSULA DA RESERVA DE PLENÁRIO. ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL PLENO DO STF. RESTRIÇÕES IMPOSTAS PELO ESTADO. LIVRE EXERCÍCIO DA ATIVIDADE
ECONÔMICA OU PROFISSIONAL. MEIO DE COBRANÇA INDIRETA DE TRIBUTOS.
1. A jurisprudência pacífica desta Corte, agora reafirmada em sede de repercussão geral, entende que é desnecessária a submissão de demanda judicial
à regra da reserva de plenário na hipótese em que a decisão judicial estiver fundada em jurisprudência do Plenário do Supremo Tribunal Federal ou
em Súmula deste Tribunal, nos termos dos arts. 97 da Constituição Federal, e 481, parágrafo único, do CPC.
2. O Supremo Tribunal Federal tem reiteradamente entendido que é inconstitucional restrição imposta pelo Estado ao livre exercício de atividade
econômica ou profissional, quanto aquelas forem utilizadas como meio de cobrança indireta de tributos.
3. Agravo nos próprios autos conhecido para negar seguimento ao recurso extraordinário, reconhecida a inconstitucionalidade, incidental e com os
efeitos da repercussão geral, do inciso III do §1º do artigo 219 da Lei 6.763/75 do Estado de Minas Gerais.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 678.162-AL
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
COMPETÊNCIA – JUSTIÇAS FEDERAL E ESTADUAL – INSOLVÊNCIA CIVIL – ARTIGO 109, INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
– ALCANCE – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia alusiva à
competência para processar e julgar as ações de insolvência civil nas quais haja interesse da União, entidade autárquica ou empresa pública federal,
considerado o preceito do artigo 109, inciso I, da Constituição Federal.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 887.671-CE
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
ASSISTÊNCIA JURÍDICA INTEGRAL E GRATUITA – DEFENSORIA PÚBLICA – PREENCHIMENTO DE CARGO – CONTROLE JUDICIAL –
SEPARAÇÃO DE PODERES – ALCANCE DOS ARTIGOS 5º, INCISO LXXIV, E 134 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – RECURSO
EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia alusiva à possibilidade de o Poder
Judiciário impor o preenchimento de cargo de Defensor Público em localidade desamparada, considerados os preceitos dos artigos 5º, inciso LXXIV,
e 134 da Carta de 1988.

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 780.152-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
COISA JULGADA – DESAPROPRIAÇÃO – HONORÁRIOS – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – OBJETO – QUESTIONAMENTO – DOMÍNIO –
DEFESA – PATRIMÔNIO PÚBLICO – ALCANCE DOS ARTIGOS 5º, INCISO XXXVI, E 129, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia alusiva
à possibilidade de ação civil pública ser utilizada como meio hábil a afastar a coisa julgada, em particular quando já transcorrido o biênio para o
ajuizamento da rescisória, considerados os preceitos dos artigos 5º, inciso XXXVI, e 129, inciso III, da Constituição Federal.
Decisões Publicadas: 5

CLIPPING DO D JE
16 a 20 de novembro de 2015

RMS N. 28.428-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO – RECEBIMENTO – DISTRIBUIÇÃO – APRECIAÇÃO – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE –
PORTARIA – INSUBSISTÊNCIA. Cumpre observar o princípio da legalidade, o que se contém no artigo 397 do Código de Processo Penal Militar,
não subsistindo Portaria de teor contrário.
*noticiado no Informativo 798
AG. REG. NO RE N. 798.740-DF
REDATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. MARCO AURÉLIO
RECUPERAÇÃO JUDICIAL – NATUREZA – RECURSO – INADMISSIBILIDADE DECLARADA NA ORIGEM. Questionamento sobre a
natureza estritamente política de atos praticados surge relevante, abrindo a via de acesso ao Supremo.
*noticiado no Informativo 797
MS N. 27.601-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
CONCURSO – ATIVIDADE JURÍDICA – ESPECIFICIDADE – ARTIGO 129, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ALCANCE. A expressão “três
anos de atividade jurídica”, contida no artigo 129 da Constituição Federal, não encerra vinculação a atividade privativa de bacharel em direito.
*noticiado no Informativo 800
Acórdãos Publicados: 404

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Ação Rescisória - Coisa Julgada Material - Erro de Fato - Conceito - Precedentes (Transcrições)
(v. Informativo 808)
AR 2.347/AM*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: AÇÃO RESCISÓRIA. DECISÃO RESCINDENDA QUE APRECIOU O MÉRITO DA CONTROVÉRSIA. CUMULAÇÃO
OBJETIVA, EM ORDEM SUCESSIVA, DO “JUDICIUM RESCINDENS” COM O “JUDICIUM RESCISSORIUM” (CPC, ART. 488, I).
ERRO DE FATO COMO PRESSUPOSTO DE RESCINDIBILIDADE DO JULGADO (CPC, ART. 485, IX E § 1º). ÓRGÃO
JULGADOR QUE, AO DECIDIR A CAUSA, INCIDIU EM ERRO DE PERCEPÇÃO, RECONHECENDO OCORRENTE FATO
EFETIVAMENTE INEXISTENTE. APLICAÇÃO EQUIVOCADA DE PRECEDENTE, FIRMADO EM REPERCUSSÃO GERAL (RE
563.965/RN), QUE NÃO GUARDA QUALQUER PERTINÊNCIA COM A SITUAÇÃO JULGADA PELO ACÓRDÃO RESCINDENDO (RE
602.300-AgR/AM). A NOÇÃO DE ERRO DE FATO NA VISÃO DA JURISPRUDÊNCIA E DA DOUTRINA. POSSIBILIDADE DE
REJULGAMENTO DA CAUSA EM SEDE DE AÇÃO RESCISÓRIA. INVIABILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
INTERPOSTO PELO ESTADO DO AMAZONAS. APELO EXTREMO INCOGNOSCÍVEL, POR VEICULAR CONTROVÉRSIA
INFRACONSTITUCIONAL. DIREITO LOCAL (SÚMULA 280/STF) E OFENSA INDIRETA. PRECEDENTES ESPECÍFICOS DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE DESAUTORIZAM A PRETENSÃO RECURSAL EXTRAORDINÁRIA DEDUZIDA PELO
ESTADO DO AMAZONAS. AÇÃO RESCISÓRIA JULGADA PROCEDENTE.
DECISÃO: Trata-se de ação rescisória ajuizada em 07/01/2013 e que, promovida com fundamento no art. 485, incisos IV e V, do CPC, visa a
desconstituir acórdão emanado da colenda Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal que negou provimento a recurso de agravo interposto
contra decisão monocrática que dera provimento ao apelo extremo deduzido pelo Estado do Amazonas (RE 602.300-AgR/AM).
O acórdão rescindendo – que transitou em julgado em 16/11/2011 – está assim ementado:
“Agravo regimental no recurso extraordinário. Servidor público. Estabilidade financeira. Vantagem incorporada. Revisão.
Inexistência de direito adquirido a regime jurídico. Irredutibilidade de vencimentos. Desvinculação. Possibilidade. Precedentes.
1. É pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de que, embora constitucional o instituto da estabilidade financeira, não há
direito adquirido à forma de reajuste da remuneração, o que implicaria direito adquirido a regime jurídico, ficando assegurada, contudo, a
irredutibilidade de vencimentos.

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


2. É possível ao legislador desvincular o cálculo de vantagem pecuniária que foi incorporada pelo servidor inativo daquela ocupada
pelo servidor em atividade, sem que isto represente violação ao texto constitucional.
3. Agravo regimental não provido.”
(RE 602.300-AgR/AM, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – grifei)
Sustenta-se, nesta sede processual, que a decisão rescindenda viola o preceito inscrito no art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição da
República, postulando os litisconsortes ativos, em síntese, a desconstituição da autoridade da coisa julgada, de um lado (“judicium rescindens”), e o
restabelecimento do acórdão emanado do E. Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, de outro (“judicium rescissorium”).
O Estado do Amazonas e a Fundação Amazonprev, em sede de contestação, manifestaram-se pela improcedência da presente ação rescisória,
sustentando a não caracterização das hipóteses previstas nos incisos IV e V do art. 485 do CPC e destacando, ainda, existir conflito entre a
pretensão deduzida pelos autores e a orientação que o Supremo Tribunal Federal estabeleceu a propósito da controvérsia em exame.
O Ministério Público Federal, em pronunciamento da lavra do eminente Procurador-Geral da República, Dr. RODRIGO JANOT
MONTEIRO DE BARROS, opinou pela improcedência da presente ação rescisória.
Sendo esse o contexto, passo a examinar a presente causa, fazendo, no entanto, algumas considerações prévias que entendo pertinentes e
necessárias à resolução deste processo.
Registre-se, inicialmente, que “a garantia da coisa julgada não impede que a sentença seja desconstituída através de ação rescisória” (RTJ
83/389, Rel. Min. SOARES MUÑOZ – grifei), valendo observar que a Constituição da República, ao expressamente prever a utilização dessa
verdadeira ação autônoma de impugnação, ajuizável, unicamente, contra provimentos de conteúdo sentencial que tenham julgado o “meritum
causae” (RTJ 105/473, v.g.), viabilizou, ela própria, a possibilidade de desconstituição da coisa julgada em sentido material.
Tratando-se de ação rescisória ajuizada, originariamente, perante o Supremo Tribunal Federal, impõe-se destacar que esse excepcional
remédio processual – que poderá ter por objeto, até mesmo, decisões monocráticas proferidas por Relator nesta Suprema Corte (RTJ 75/29 – RTJ
92/922, v.g.) – somente terá pertinência se o julgamento, colegiado ou singular, houver apreciado, efetivamente, a questão federal controvertida,
quer acolhendo-a, quer repelindo-a (Súmula 249/STF), excluída, no entanto, a possibilidade de qualquer demanda rescisória que vise a invalidar
acórdãos do Supremo Tribunal Federal emanados de julgamento em sede de controle normativo abstrato, como sucede nas ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade (Lei nº 9.868/99, art. 26) ou, então, nas arguições de descumprimento de
preceito fundamental (Lei nº 9.882/99, art. 12).
Não se desconhece, de outro lado – como assinala o magistério da doutrina (HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, “Curso de Direito
Processual Civil”, vol. I/802, item n. 615, 55ª ed., 2014, Forense; JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA, “Comentários ao Código de Processo
Civil”, vol. V/205-212, itens ns. 123 a 126, 15ª ed., 2009, Forense; JOSÉ MIGUEL GARCIA MEDINA, “Código de Processo Civil Comentado”,
p. 508/509, itens ns. I e II, 3ª tir., 2011, RT; ARRUDA ALVIM, ARAKEN DE ASSIS e EDUARDO ARRUDA ALVIM, “Comentários ao Código
de Processo Civil”, p. 790, item n. 1, 2012, GZ Editora; LUIZ GUILHERME MARINONI e DANIEL MITIDIERO, “Código de Processo Civil”, p.
516, item n. 4, e p. 521/522, itens ns. 1 e 2, 6ª ed., 2014, RT; NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, “Código de
Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante”, p. 983/984, itens ns. 10 a 13, 14ª ed., 2014, RT; LUIZ FUX, “Curso de Direito
Processual Civil”, vol. I/699-700, item n. 3.7.2, 4ª ed., 2008, Forense, v.g.) –, que o ajuizamento da ação rescisória pode comportar,
eventualmente, a cumulação processual objetiva, em ordem sucessiva, de dois pedidos, cujo exame, por sua vez, ensejará, quando for o caso,
considerado o que dispõem os arts. 488, I, e 494, ambos do CPC, a formulação de um duplo juízo: (a) o “judicium rescindens” (que objetiva a
desconstituição da “res judicata” em sentido material) e (b) o “judicium rescissorium” (que tem por finalidade o rejulgamento da causa).
Fixadas tais premissas, observo que o exame do acórdão rescindendo evidencia que esse ato decisório incorreu na hipótese de
rescindibilidade prevista no art. 485, inciso IX (“erro de fato”) e respectivo § 1º, do CPC, eis que admitiu fato inexistente, ao proclamar,
erroneamente, que o objeto do apelo extremo deduzido perante esta Suprema Corte – que envolvia a discussão sobre a paridade remuneratória entre
servidores inativos do Estado do Amazonas, de um lado, e servidores em atividade lotados na Secretaria de Fazenda dessa mesma unidade da
Federação, de outro – guardava consonância com os fundamentos subjacentes a julgado proferido pelo Plenário desta Suprema Corte no âmbito do
RE 563.965/RN, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, cuja ementa está assim redigida:
“DIREITOS CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. ESTABILIDADE FINANCEIRA. MODIFICAÇÃO DE FORMA DE
CÁLCULO DA REMUNERAÇÃO. OFENSA À GARANTIA CONSTITUCIONAL DA IRREDUTIBILIDADE DA REMUNERAÇÃO:
AUSÊNCIA. JURISPRUDÊNCIA. LEI COMPLEMENTAR N. 203/2001 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE:
CONSTITUCIONALIDADE.
1. O Supremo Tribunal Federal pacificou a sua jurisprudência sobre a constitucionalidade do instituto da estabilidade financeira e
sobre a ausência de direito adquirido a regime jurídico.
2. Nesta linha, a Lei Complementar n. 203/2001, do Estado do Rio Grande do Norte, no ponto que alterou a forma de cálculo de
gratificações e, consequentemente, a composição da remuneração de servidores públicos, não ofende a Constituição da República de 1988,
por dar cumprimento ao princípio da irredutibilidade da remuneração.
3. Recurso extraordinário ao qual se nega provimento.” (grifei)
Nota-se da análise de referido julgado que esta Suprema Corte limitou-se, naquela oportunidade (RE 563.965/RN), a assentar a
constitucionalidade do instituto da estabilidade financeira e a confirmar a ausência de direito adquirido a regime jurídico remuneratório, não se
podendo extrair, por isso mesmo, de referido provimento judicial qualquer inferência sobre a inconstitucionalidade de equiparação remuneratória
entre servidores integrantes de carreiras distintas promovida por ato normativo estadual, tal como registrado no acórdão cuja desconstituição
postula-se na presente sede processual.
Verifica-se, portanto, que o acórdão rescindendo desconstituiu a decisão proferida pelo E. Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas,
tomando por base matéria essencialmente estranha à razão de decidir subjacente ao julgado emanado daquela Corte judiciária local.
Ao assim proceder, a colenda Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal incorreu em erro de fato, o que legitima, plenamente, a
aplicação, ao caso, do art. 485, inciso IX e respectivo § 1º, do CPC.
Cumpre relembrar, neste ponto, a propósito do erro de fato, a advertência formulada pelo eminente Ministro MOREIRA ALVES em
julgamento no qual se instaurou controvérsia sobre essa específica hipótese de rescindibilidade dos julgados, ocasião em que salientou, a esse
respeito, que o erro de fato, “para dar margem à rescisória, ocorre quando a decisão rescindenda admite fato inexistente, ou quando considera
inexistente fato efetivamente ocorrido, desde que não tenha havido controvérsia, nem pronunciamento judicial, sobre o fato (art. 485, IX, §§ 1º e 2º,
do Código de Processo Civil)” (RTJ 185/441-442, 451, Rel. Min. MOREIRA ALVES – grifei).
Esta Suprema Corte, na decisão ora rescindenda, supôs (erroneamente) existente um fato (efetivamente) inocorrente, pois admitiu que o
acórdão emanado do Tribunal de origem divergia de orientação jurisprudencial pacífica desta Suprema Corte, quando, na realidade, o julgado
oriundo da colenda Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, além de referir-se a matéria substancialmente diversa (“estabilidade financeira”),
fundamentou-se em questão eminentemente infraconstitucional de índole local, para prover o pleito formulado pelo Estado do Amazonas, ora
litisconsorte passivo.
Vale reproduzir, por oportuno, fragmento do voto condutor do acórdão rescindendo, revelador do manifesto equívoco em que esta Corte
incidiu no julgamento do RE 602.300-AgR/AM:

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


“O Tribunal de Justiça concedeu a segurança, sob o fundamento de que os agravantes se aposentaram com a dita gratificação já
incorporada aos seus vencimentos, fazendo jus, portanto, ao recebimento do benefício, da forma como por eles postulada.
Desse modo, é certo que o Tribunal de origem divergiu do entendimento firmado pelo Plenário desta Corte, no exame do Recurso
Extraordinário nº 563.965/RN, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, no qual, após reconhecida a repercussão geral da matéria, reafirmou-se
a jurisprudência deste Tribunal no sentido de que, embora constitucional o instituto da estabilidade financeira, não há direito adquirido à
forma de cálculo da remuneração, o que implicaria direito adquirido a regime jurídico, ficando assegurada, contudo, a irredutibilidade de
vencimentos.” (grifei)
Os fundamentos que venho de referir permitem invocar, em face de sua extrema pertinência, precedentes do Supremo Tribunal Federal nos
quais esta Corte, ao fazer incidir o art. 485, inciso IX e respectivo § 1º, do CPC, deixou assentado o cabimento da ação rescisória, quando razoável
presumir que o magistrado ou Tribunal não teria decidido a controvérsia nos termos em que o fez, não fosse a percepção errônea por ele revelada
no exame equivocado dos dados existentes nos autos e que constituíram objeto de inadequada apreciação judicial (AR 1.450-AgR/SP, Rel. Min.
CELSO DE MELLO – AR 1.605/SP, Rel. Min. LUIZ FUX – AR 1.607/MS, Red. p/ o acórdão Min. EROS GRAU – AR 1.916/SP, Rel. Min.
CELSO DE MELLO – AR 2.124/ES, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, v.g.):
“– Ação rescisória.
– Configuração, no caso, de erro de fato, pois o acórdão rescindendo admitiu a ocorrência de acontecimento inexistente, sem que
tenha havido pronunciamento judicial sobre ele.
Ação rescisória que se julga procedente.”
(RTJ 137/124, Rel. Min. MOREIRA ALVES – grifei)
“AÇÃO RESCISÓRIA – ERRO DE FATO (Art. 485, IX, do CPC):
Somente se admite a rescisória fundada nesse inciso processual quando for razoável presumir que o juiz não teria julgado como o fez
se tivesse atentado para a prova, e não quando a apreciou e, bem ou mal, firmou sua convicção. – Inexistência, ainda, de ofensa aos preceitos
constitucionais e legais invocados. Ação rescisória julgada improcedente.”
(AR 991/PB, Rel. Min. CUNHA PEIXOTO – grifei)
Perfilhando essa mesma orientação, assim se pronunciou o eminente Ministro MOREIRA ALVES no julgamento da AR 1.306/SP (RTJ
136/55), de que foi Relator:
“O erro de fato que dá margem à rescisória é aquele que, observados os requisitos do inciso IX do artigo 485, Código de Processo
Civil, serve de fundamento à sentença rescindível, que teria chegado a conclusão diversa não fora ele.” (grifei)
Cabe assinalar, por oportuno, que o Supremo Tribunal Federal, em recente julgamento plenário, reafirmou a jurisprudência da Corte sobre o
tema, proferindo, então, decisão consubstanciada em acórdão assim ementado:
“AÇÃO RESCISÓRIA – APOSENTADORIA POR IDADE DE TRABALHADOR RURAL – ACÓRDÃO RESCINDENDO QUE,
DANDO PROVIMENTO AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO INTERPOSTO PELO INSS, JULGOU IMPROCEDENTE A AÇÃO
PREVIDENCIÁRIA AJUIZADA PELO SEGURADO – APLICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DESTA SUPREMA CORTE NO SENTIDO
DA NECESSIDADE DA ‘INTERPOSITIO LEGISLATORIS’, PARA EFEITO DE APLICABILIDADE DO ART. 202, I, DA CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA, EM SUA REDAÇÃO PRIMITIVA – ERRO DE FATO (CPC, ART. 485, IX E § 1º) – ACÓRDÃO RESCINDENDO QUE
ADMITIU FATO INEXISTENTE, AO PROCLAMAR, ERRONEAMENTE, QUE A SITUAÇÃO VERSADA NOS AUTOS TERIA
OCORRIDO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI INSTITUIDORA DO PLANO DE BENEFÍCIOS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA
SOCIAL (LEI Nº 8.213/91) – CONSTATAÇÃO DE QUE O ÓRGÃO JULGADOR NÃO TERIA DECIDIDO A CONTROVÉRSIA, NOS
TERMOS EM QUE O FEZ, NÃO FOSSE A PERCEPÇÃO ERRÔNEA POR ELE REVELADA NO EXAME EQUIVOCADO DOS DADOS
EXISTENTES NOS AUTOS – A OCORRÊNCIA DE ERRO DE FATO COMO PRESSUPOSTO DE RESCINDIBILIDADE DOS
JULGADOS (CPC, ART. 485, n. IX) – A NOÇÃO DE ERRO DE FATO NA VISÃO DA JURISPRUDÊNCIA E DA DOUTRINA – PARECER
DA PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA PELO IMPROVIMENTO DO RECURSO – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.”
(AR 1.450-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Cumpre ter presente, ainda, a precisa lição de BERNARDO PIMENTEL SOUZA (“Introdução aos Recursos e à Ação Rescisória”, p.
387, 2000, Brasília Jurídica) no sentido de que “o erro que pode ser corrigido na ação rescisória é o de percepção do julgador, não o proveniente
da interpretação das provas” (grifei).
Importante ressaltar, por oportuno, o autorizado magistério de PONTES DE MIRANDA (“Tratado da Ação Rescisória”, p. 343, 2ª ed.,
2003, Bookseller), que, manifestando-se sobre essa específica hipótese de rescindibilidade, sustenta que “A distinção entre erro escusável e erro
inescusável é estranha ao erro de que tratamos como causa de rescindibilidade. A sentença, e não qualquer litigante, foi que admitiu o fato
inexistente, ou negou o fato existente. O erro é do juiz” (grifei).
Na linha desse entendimento, ADA PELLEGRINI GRINOVER (“Ação Rescisória. Erro de Fato. Atualização de Dívida de Dinheiro
Como Sendo de Valor”, “in” Revista da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pelotas, p. 201, Ano XIX, nº XIV, 1985), por sua vez,
assevera que “Consiste o erro de fato em admitir a sentença um fato inexistente, ou em considerar inexistente um fato efetivamente ocorrido. E os
pressupostos que devem concorrer para que o erro dê causa à rescindibilidade são: a) que a sentença nele seja fundada, ou seja, que, sem o erro,
outra seria a decisão; b) que o erro seja apurável mediante simples exame dos autos, afastada a possibilidade de novas provas para comprová-lo; c)
que não tenha havido controvérsia sobre o fato, com o pronunciamento judicial sobre a mesma” (grifei).
Relevante destacar que perfilha essa orientação o eminente Ministro (e notável processualista) LUIZ FUX, que expende, em obra
doutrinária (“Curso de Direito Processual Civil”, vol. I/688-689, item n. 3.4, 4ª ed., 2008, Forense), a propósito da hipótese de rescindibilidade
prevista no art. 485, inciso IX, do CPC, valiosas observações que se aplicam, com inteira pertinência, ao caso ora em exame.
São essas as razões que me levam a acolher a pretensão rescindente dos litisconsortes ativos, por entender configurado o pressuposto de
rescindibilidade a que se refere o inciso IX do art. 485 do CPC.
Uma vez desconstituída a decisão rescindenda, passo ao rejulgamento da causa, fazendo-o com apoio no “judicium rescissorium” que se
legitima, processualmente, em razão do que autoriza o art. 494 do CPC, que assim dispõe: “Julgando procedente a ação, o tribunal rescindirá a
sentença, proferirá, se for o caso, novo julgamento (…)” (grifei).
Ao fazê-lo, e tendo em vista o pedido expressamente formulado pelos litisconsortes ativos na inicial (“Do pedido”, item “c”), entendo que o
recurso extraordinário interposto pelo Estado do Amazonas revela-se insuscetível de conhecimento, eis que a suposta ofensa ao texto constitucional
invocada por essa unidade da Federação, caso existente, apresentar-se-ia por via reflexa, porque a sua constatação reclamaria – para que se
configurasse – a formulação de juízo prévio de legalidade, fundado na vulneração e infringência de dispositivos de ordem meramente legal. Não se
tratando de conflito direto e frontal com o texto da Constituição, como exigido pela jurisprudência da Corte (RTJ 120/912, Rel. Min. SYDNEY
SANCHES – RTJ 132/455, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), torna-se inviável o acesso à via recursal extraordinária.

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


De outro lado, cabe enfatizar que a matéria ora em análise foi decidida com base no direito local, sem qualquer repercussão direta no plano
normativo da Constituição da República, configurando, por isso mesmo, situação que inviabiliza, por completo, por efeito do que dispõe a Súmula
280/STF, a possibilidade de utilização do recurso extraordinário.
Impõe-se registrar, no que concerne ao próprio fundo da controvérsia que se suscitou na causa examinada pelo acórdão da 1ª Turma desta
Corte, que o entendimento exposto na presente decisão tem sido observado em julgamentos sobre casos idênticos, todos oriundos do Estado do
Amazonas, proferidos no âmbito desta Suprema Corte (ARE 725.266-AgR/AM, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – ARE 737.230/AM, Rel. Min. CÁRMEN
LÚCIA – ARE 776.848-AgR/AM, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RE 642.123-AgR/AM, Rel. Min. AYRES BRITTO – RE 642.621-AgR/AM, Rel. Min.
RICARDO LEWANDOWSKI – RE 660.717-AgR/AM, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RE 682.038-AgR/AM, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RE 683.173-
AgR/AM, Rel. Min. ROBERTO BARROSO – RE 683.330/AM, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RE 698.789-AgR/AM, Rel. Min. GILMAR MENDES,
v.g.):
“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO. SISTEMA REMUNERATÓRIO.
ATUALIZAÇÃO DA GRATIFICAÇÃO DE ATIVIDADE INDUSTRIAL – GAI. CONTROVÉRSIA DECIDIDA À LUZ DA
LEGISLAÇÃO ESTADUAL PERTINENTE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 280/STF.
1. Eventual ofensa ao Magno Texto apenas ocorreria de modo reflexo ou indireto, o que não autoriza a abertura da via recursal
extraordinária. Precedentes.
2. Agravo regimental desprovido.”
(RE 663.049-AgR/AM, Rel. Min. AYRES BRITTO – grifei)
“Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Servidor Público. Gratificação de atividade industrial
(GAI). Decreto do Estado do Amazonas nº 16.282/94. Legislação local. Ofensa reflexa. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade.
Precedentes.
1. Não se presta o recurso extraordinário para a análise da legislação local, tampouco para o reexame do conjunto fático-probatório
da causa. Incidência das Súmulas nºs 280 e 279/STF.
2. Agravo regimental não provido.”
(RE 677.239-AgR/AM, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – grifei)
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. SERVIDORES
PÚBLICOS DO ESTADO DO AMAZONAS. GRATIFICAÇÃO DE ATIVIDADE INDUSTRIAL. DECRETO ESTADUAL 16.282/1994.
MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL LOCAL. SÚMULA 280 DO STF. EXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO
CONSTANTE DOS AUTOS. SÚMULA 279 DO STF. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I – Inviável o recurso extraordinário quando sua apreciação demanda reexame, por esta Corte, da legislação infraconstitucional
local aplicável à espécie. Incidência da Súmula 280 do STF.
II – Para se chegar à conclusão contrária à adotada pelo acórdão recorrido, necessário seria o reexame do conjunto fático-
probatório constante dos autos, o que atrai a incidência da Súmula 279 do STF.
III – Agravo regimental a que se nega provimento.”
(ARE 724.627-AgR/AM, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI – grifei)
Impende assinalar, por oportuno, em face de sua extrema pertinência e ante a inquestionável procedência de suas observações, a seguinte
passagem da decisão que o eminente Ministro DIAS TOFFOLI proferiu em outra causa, de que foi Relator (RE 590.031-AgR/AM), em cujo
âmbito discutiu-se a mesma controvérsia jurídica ora veiculada na presente sede processual:
“(...) a jurisprudência desta Corte firmou o entendimento de que, para analisar o direito de equiparação salarial entre os servidores
da Secretaria da Fazenda do Estado do Amazonas e os servidores da Secretaria de Estado da Indústria, Comércio e Turismo do mesmo
Estado, seria necessário interpretar a legislação infraconstitucional pertinente (Decreto Estadual nº 16.282/94), cujo reexame é incabível
em sede de recurso extraordinário.” (grifei)
Vê-se, desse modo, que os fundamentos que venho de referir levam-me a reconhecer que o recurso extraordinário interposto pelo Estado do
Amazonas revela-se efetivamente insuscetível de conhecimento.
Impõe-se, finalmente, uma observação adicional: no desempenho dos poderes processuais de que dispõe, assiste ao Ministro Relator
competência plena para exercer, monocraticamente, o controle das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, legitimando-
se, em consequência, os atos decisórios que, nessa condição, venha a praticar (RISTF, art. 21, § 1º).
Cumpre acentuar, neste ponto, que eminentes Juízes desta Suprema Corte têm decidido, monocraticamente, ações rescisórias, examinando-as
quanto ao próprio fundo da controvérsia nelas suscitada (AR 1.411/PE, Rel. Min. AYRES BRITTO – AR 1.507/RN, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI – AR
1.509/RS, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – AR 1.521/RS, Rel. Min. EDSON FACHIN – AR 1.539/AM, Rel. Min. AYRES BRITTO – AR 1.670/SP, Rel.
Min. CELSO DE MELLO – AR 1.891/MG, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI – AR 2.075/SP, Rel. Min. LUIZ FUX – AR 2.297/PR, Rel. Min.
EDSON FACHIN – AR 2.315/PR, Rel. Min. EDSON FACHIN, v.g.).
Nem se alegue que tal conduta implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o postulado em questão sempre restará
preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal
Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel.
Min. CELSO DE MELLO).
Sendo assim, e em face das razões expostas, julgo procedente a presente ação rescisória, para, desconstituindo a autoridade da coisa julgada
que se formou no âmbito do RE 602.300-AgR/AM, não conhecer do recurso extraordinário interposto pelo Estado do Amazonas, restabelecendo,
em consequência, o acórdão que o E. Tribunal de Justiça amazonense proferiu no julgamento do MS 2007.1754-9.
Por tratar-se de beneficiários da gratuidade de justiça, os autores da presente demanda rescisória foram dispensados da efetivação do
depósito a que se refere o art. 488, inciso II, do CPC.
As custas processuais e a verba honorária, que arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor atualizado da causa (CPC, art. 20, § 4º), serão
pagas pelo Estado do Amazonas e pelo Fundo Previdenciário do Estado do Amazonas – AMAZONPREV, que sucumbiram integralmente, sendo
inaplicável a Súmula 512/STF, na linha de diversos precedentes desta Corte (AR 1.509/RS, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – AR 2.297/PR, Rel. Min.
EDSON FACHIN – AR 2.374/RS, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, v.g.).
2. À Secretaria, para retificar a autuação, em ordem a que conste, como litisconsorte passiva, nesta ação rescisória, a FUNDAÇÃO
AMAZONPREV, atual denominação do FUNDO PREVIDENCIÁRIO DO ESTADO DO AMAZONAS – AMAZONPREV, conforme indicado na petição
protocolada, eletronicamente, sob o nº 25827/2013 (contestação).

Arquivem-se os presentes autos.

Publique-se.

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23


Brasília, 16 de outubro de 2015.

Ministro CELSO DE MELLO


Relator

*decisão publicada no DJe de 21.10.2015

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
16 a 20 de novembro de 2015

Decreto de 18.11.2015 - Convoca as Conferências Nacionais dos Direitos da Criança e do Adolescente, dos
Direitos da Pessoa Idosa, de Políticas Públicas de Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais, dos Direitos da Pessoa com Deficiência e de Direitos Humanos. Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº
221, em 19.11.2011.
Decreto nº 8.573, de 19.11.2015 - Dispõe sobre o Consumidor.gov.br, sistema alternativo de solução de conflitos
de consumo, e dá outras providências. Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº 222, em 20.11.2015.
Lei nº 13.190, de 19.11.2015 - Altera as Leis nos 12.462, de 4 de agosto de 2011, que institui o Regime
Diferenciado de Contratações Públicas - RDC, 7.210, de 11 de julho de 1984, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 8.935,
de 18 de novembro de 1994, 11.196, de 21 de novembro de 2005, e 12.305, de 2 de agosto de 2010; e dá outras providências.
Publicada no DOU, Seção 1, Edição Extra nº 222, p. 1, em 20.11.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 808-STF (26/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE
194704/MG; ADI 1625/DF; PSV 115/DF; ARE 785068/DF; MS 32569/DF.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 5365 MC-AgR/PB; RMS 29914/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
 Inconstitucionalidade de lei estadual que prevê punições para quem exige teste de gravidez nas contratações.

DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES TEMPORÁRIOS
 Competência da Justiça Comum.

DIREITO ELEITORAL
FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL
 Inconstitucionalidade da norma que permitia doações anônimas a candidatos

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


SERVIDORES TEMPORÁRIOS
 Competência da Justiça Comum.

DIREITO CONSTITUCIONAL

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Inconstitucionalidade de lei estadual que prevê punições
para quem exige teste de gravidez nas contratações

É inconstitucional lei estadual que preveja punições a empresas privadas e a agentes públicos
que exijam a realização de teste de gravidez e a apresentação de atestado de laqueadura para
admissão de mulheres ao trabalho.
STF. Plenário. ADI 3165/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/11/2015 (Info 807).

Imagine a seguinte situação:


O Estado de São Paulo aprovou a Lei nº 10.849/2001, de iniciativa parlamentar, prevendo punições a
empresas privadas e a agentes públicos que exigirem, de mulheres candidatas a uma vaga de
emprego/cargo, a realização de teste de gravidez e a apresentação de atestado de laqueadura.

Informativo 807-STF (19/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


Essa lei é constitucional?
NÃO. É inconstitucional lei estadual que preveja punições a empresas privadas e a agentes públicos que
exijam a realização de teste de gravidez e a apresentação de atestado de laqueadura para admissão de
mulheres ao trabalho.

Inconstitucionalidade formal
A inconstitucionalidade, no caso, é formal. Isso porque a competência para legislar sobre direito do
trabalho é da União, nos termos do art. 22, I, da CF/88.
Vale ressaltar que já existe a Lei federal nº 9.029/95, que proíbe a exigência de atestados de gravidez e
esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos admissionais ou de permanência da relação
jurídica de trabalho.
Assim, como não existe omissão legislativa por parte da União, não poderia o Estado-membro ter legislado
sobre o tema.
Além disso, haveria vício de forma, uma vez que a lei estadual cuida de servidor público, mas ela foi
proposta por um Deputado Estadual, violando a reserva privativa do chefe do Poder Executivo (art. 61, §
1º, II, "c", da CF/88).

Não confunda
É proibido exigir, como condição para contratação da mulher, a realização de teste de gravidez ou de
qualquer procedimento de esterilização. A lei estadual foi declarada, contudo, inconstitucional porque
tratar sobre esse tema é competência da União e já existe lei federal dispondo sobre o assunto.

DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES TEMPORÁRIOS
Competência da Justiça Comum

Importante!!!
A justiça comum é competente para processar e julgar causas em que se discuta a validade de
vínculo jurídico-administrativo entre o poder público e servidores temporários.
Dito de outra forma: a Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários
(art. 37, IX, da CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal).
A competência NÃO é da Justiça do Trabalho, ainda que o autor da ação alegue que houve
desvirtuamento do vínculo e mesmo que ele formule os seus pedidos baseados na CLT ou na lei
do FGTS.
STF. Plenário. Rcl 4351 MC-AgR/PE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli,
julgado em 11/11/2015 (Info 807).

O art. 37, IX da CF/88 dispõe o seguinte:


IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade
temporária de excepcional interesse público;

Se a pessoa, contratada nas hipóteses do art. 37, IX, da CF/88, quer pedir judicialmente valores
decorrentes deste vínculo, de quem será a competência para julgar este pleito?
Justiça Comum. O STF possui entendimento pacífico de que a competência é da JUSTIÇA COMUM,
estadual (se o contratante for Estado ou Município) ou federal (se o contratante for órgão ou entidade

Informativo 807-STF (19/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


federal). Assim, a Justiça do Trabalho não é competente em tais casos.
Mesmo que tais contratos tenham sido prorrogados sucessivamente, de maneira irregular, ainda assim
persiste o caráter jurídico-administrativo do vínculo, de modo que a competência é da Justiça comum.
Em resumo: para o STF, os direitos relativos ao contrato de trabalho temporário, de que trata o art. 37, IX
da CF, são SEMPRE julgados pela Justiça comum. Nesse sentido: Confira:
Conforme o julgamento proferido no RE 573202, rel. min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, DJ
05.12.2008, compete à Justiça comum estadual o julgamento de causas que digam respeito a contratos
temporários celebrados pela Administração Pública municipal, nos termos do artigo 37, IX, da
Constituição.
(AI 784188 AgR, Relator Min. Joaquim Barbosa, 2ª Turma, julgado em 10/05/2011)

DIREITO ELEITORAL

FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL


Inconstitucionalidade da norma que permitia doações anônimas a candidatos

A parte final do § 12 do art. 28 da Lei nº 9.504/97 prevê a possibilidade de "doações ocultas"


de pessoas físicas a candidatos, ou seja, sem que os nomes dos doadores fiquem registrados na
prestação de contas. Veja: "§ 12. Os valores transferidos pelos partidos políticos oriundos de
doações serão registrados na prestação de contas dos candidatos como transferência dos
partidos e, na prestação de contas dos partidos, como transferência aos candidatos, sem
individualização dos doadores." (Incluído pela Lei nº 13.165/2015)
O Plenário deferiu pedido de medida cautelar na ADI para suspender, até o julgamento final da
ação, a eficácia da expressão sem individualização dos doadores , constante desse dispositivo.
Para o STF, essa expressão suprime a transparência do processo eleitoral, frustra o exercício da
fiscalização pela Justiça Eleitoral e impede que o eleitor exerça, com pleno esclarecimento, seu
direito de escolha dos representantes políticos. Isso atenta contra a arquitetura republicana e a
inspiração democrática que a Constituição Federal imprime ao Estado brasileiro.
STF. Plenário. ADI 5394 MC/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 12/11/2015 (Info 807).

Doações ocultas
O art. 28, § 12 da Lei nº 9.504/97 prevê a possibilidade de "doações ocultas" de pessoas físicas a
candidatos, ou seja, sem que os nomes dos doadores fiquem registrados na prestação de contas. Veja:
§ 12. Os valores transferidos pelos partidos políticos oriundos de doações serão registrados na prestação
de contas dos candidatos como transferência dos partidos e, na prestação de contas dos partidos, como
transferência aos candidatos, sem individualização dos doadores. (Incluído pela Lei nº 13.165/2015)

ADI
O Conselho Federal da OAB ajuizou ADI contra esse dispositivo, que foi incluído pela Lei nº 13.165/2015.
A entidade argumentou que o dispositivo é inconstitucional, pois permite que doações feitas a partidos
possam ser repassadas a candidatos sem a demonstração da origem dos recursos, o que violaria o
princípio da transparência e o princípio da moralidade, além de favorecer a corrupção, dificultando o
rastreamento das doações eleitorais.
Segundo a petição inicial, doações ocultas são aquelas em que não é possível identificar o vínculo entre
doadores e candidatos. Nesse modelo, a pessoa física doa dinheiro para o partido, que repassa ao
candidato, sem que o processo seja transparente.
áà possi ilidadeà deà doaçõesà o ultas à deà pessoasà físi asà aà a didatosà podeà sustentar relações pouco

Informativo 807-STF (19/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


republicanas entre os políticos e seus financiadores. A ausência de transparência impede a identificação
dos interesses por trás da atuação do candidato, dificultando eventuais investigações e impedindo que o
eleitor decida de modo informado.
É preciso que o eleitor saiba quem financia seus candidatos, compreendendo todo o caminho do dinheiro
nas campanhas eleitorais.

O STF apreciou o pedido de liminar formulado na ação. O que decidiu a Corte? Em uma análise liminar, o
dispositivo viola a Constituição Federal?
SIM. O Plenário deferiu pedido de medida cautelar na ADI para suspender, até o julgamento final da ação,
aàefi iaàdaàexp essãoà se ài di idualizaçãoàdosàdoado es ,à o stante da parte final do § 12 do art. 28 da
Lei nº 9.504/1997, acrescentado pela Lei 13.165/2015.
álé àdisso,à o fe iu,àpo à aio ia,àefeitosà exàtu à àde isão.à
A parte final do § 12 do art. 38 da Lei nº 9.504/97, acrescentado pela Lei nº 13.365/2015, suprime a
transparência do processo eleitoral, frustra o exercício da fiscalização pela Justiça Eleitoral e impede que o
eleitor exerça, com pleno esclarecimento, seu direito de escolha dos representantes políticos. Isso atenta
contra a arquitetura republicana e a inspiração democrática que a Constituição Federal imprime ao Estado
brasileiro.

Fundamentação
O STF afirmou que é necessário que haja um efetivo sistema de controle dos recursos arrecadados por
partidos e candidatos. Para isso, é indispensável que haja transparência nas contas eleitorais.
Sem as informações necessárias, entre elas a identificação dos particulares que contribuíram
originariamente para os partidos e candidatos, o processo de prestação de contas perde a sua capacidade
de documentar a real movimentação financeira, os dispêndios e os recursos aplicados nas campanhas
eleitorais, impedindo a fiscalização por parte da Justiça Eleitoral e o controle pelos eleitores. As
informações sobre as doações de particulares a candidatos e a partidos não interessam apenas à Justiça
Eleitoral, mas à sociedade como um todo.
A identificação dos particulares que fizeram doações eleitorais é informação essencial para que se possa
constatar se as doações provêm de fontes lícitas e se respeitam os limites máximos de valor previstos no
art. 23 da Lei nº 9.504/97.
Por fim, o acesso a esses dados ainda propicia o aperfeiçoamento da própria política legislativa de
combate à corrupção eleitoral, ajudando a denunciar as fragilidades do modelo e a inspirar propostas de
correção futuras.

Decisão aplicável às eleições de 2016


Vale ressaltar que a decisão do STF já vale para as eleições de 2016, ou seja, não poderá haver doações ocultas.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

SERVIDORES TEMPORÁRIOS
Competência da Justiça Comum

Importante!!!
A justiça comum é competente para processar e julgar causas em que se discuta a validade de
vínculo jurídico-administrativo entre o poder público e servidores temporários.
Dito de outra forma: a Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários
(art. 37, IX, da CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal).

Informativo 807-STF (19/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


A competência NÃO é da Justiça do Trabalho ainda que o autor da ação alegue que houve
desvirtuamento do vínculo e mesmo que ele formule os seus pedidos baseados na CLT ou na lei
do FGTS.
STF. Plenário. Rcl 4351 MC-AgR/PE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli,
julgado em 11/11/2015 (Info 807).

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Suspensão de ações judiciais em ADI e precatório


O Plenário, por maioria, negou provimento a agravo regimental interposto de decisão acauteladora
proferida em ação direta de inconstitucionalidade, ajuizada em face da LC 131/2015 do Estado da Paraíba.
A norma prevê a transferência de depósitos judiciais para conta específica do Poder Executivo, para
pagamento de precatórios de qualquer natureza e outras finalidades. A decisão agravada suspendera
diferentes ações judiciais que determinavam o sequestro dos valores previstos na lei complementar, sob
pena de prisão em flagrante do servidor da instituição financeira que não efetuasse a transferência
imediata dos recursos. O Colegiado apontou a existência de duas situações excepcionais: em primeiro
lugar, a lei impugnada não trataria apenas do repasse de valores para pagamento de precatórios, mas
também para outros fins, ou seja, para custeio do tesouro. Além disso, haveria lei complementar federal
recente, a disciplinar a matéria de maneira distinta das legislações estaduais (LC 151/2015). Ressaltou que
não haveria previsão legal, em se tratando de ADI, a respeito da possibilidade de suspender ações judiciais
em curso que determinassem a aplicação da lei impugnada, muito embora houvesse essa previsão para os
casos de ADC e ADPF. Assim, seria razoável adotar a mesma sistemática, não obstante se tratar de
diferentes espécies de ações constitucionais. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que provia o agravo.
ADI 5365 MC-AgR/PB, rel. Min. Roberto Barroso, 12.11.2015.

Mandado de segurança e prova pré-constituída


A Segunda Turma deu provimento a recurso ordinário em mandado de segurança que impugnava acórdão
do STJ em que se pleiteava o pagamento da Gratificação de Desempenho de Atividade Técnica de
Fiscalização Agropecuária - GDATFA aos inativos em paridade com o pessoal da ativa. Na espécie, aquele
tribunal superior assentara a ausência de prova pré-constituída e, por não ser permitida a dilação
p o ató ia,à julga aà exti toà oà it à se à julga e toà deà é ito.à áà Tu aà es la e euà ueà aà i pet a teà
pretende obter, em favor de seus substituídos, a percepção de determinada vantagem remuneratória que
teria natureza genérica, não inerente ao exercício do cargo. Para tanto, aduz que, com o advento da Lei
10.484/2002, os servidores ocupantes de cargos técnicos ativos do Poder Executivo teriam passado a
perceber, a título de GDATFA, o equivalente a 100 pontos, enquanto os servidores inativos estariam
limitados a 20 pontos. Segundo o Colegiado, a discussão se circunscreveria com a existência ou não do
direito dos inativos à equiparação ao pessoal da ativa no que se refere ao pagamento da vantagem em
questão, nos termos do voto condutor do acórdão recorrido. Nesse ponto, frisou não ser possível ao STF,
desde logo, entrar no mérito, porque a jurisprudência da Corte seria no sentido de que não se aplicaria, em
sedeà deà e u soào di ioàe à a dadoà deà segu a ça,à oà dispostoà oà a t.à515,à§à 3º,à doàCPCà [ á t.à515.à áà
apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. (...) § 3º Nos casos de extinção do
processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar
uestãoà ex lusi a e teà deà di eitoà eà esti e à e à o diçõesà deà i ediatoà julga e to ].à Noà e ta to,à deuà
provimento ao recurso ordinário para afastar o fundamento do acórdão recorrido, de forma que os autos
retornassem ao STJ para que prosseguisse no exame do mandado de segurança.
RMS 29914/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 10.11.2015. (RMS-29914)

Informativo 807-STF (19/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
9 a 13 de novembro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 910.351-DF


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. RECLAMATÓRIA TRABALHISTA. CONCESSÃO DE
FÉRIAS FORA DO PRAZO DO ART. 145 DA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO. PAGAMENTO EM DOBRO DA
REMUNERAÇÃO CORRESPONDENTE. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa ao pagamento em dobro da remuneração de férias concedidas fora do prazo do art. 145 da Consolidação das Leis do
Trabalho, fundada na interpretação desse dispositivo legal, é de natureza infraconstitucional.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 919.285-RS


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. LEGITIMIDADE DE REVISÃO DE CONTRATO JÁ
EXTINTO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa à legitimidade da revisão de contrato já extinto, por se resolver tão somente a partir da interpretação e da aplicação das
normas legais pertinentes, é de natureza infraconstitucional.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
Decisões Publicadas: 2

CLIPPING DO DJE
9 a 13 de novembro de 2015

AG. REG. NO ARE N. 906.386-DF


RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
RECURSO – CONTROVÉRSIA SOBRE CABIMENTO – EXTRAORDINÁRIO – ADEQUAÇÃO. Quando envolvida controvérsia sobre cabimento
de recurso, a via excepcional do extraordinário apenas é aberta se, no acórdão, constar premissa contrária à Constituição Federal.
FGTS – CONTRATO DE TRABALHO – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – NULIDADE. A nulidade do contrato de trabalho a envolver a
Administração Pública não afasta o direito aos depósitos relativos ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS. Precedente: Recurso
Extraordinário nº 596.478/RR, julgado no Pleno, redator do acórdão ministro Dias Toffoli, publicado no Diário da Justiça de 1º de março de 2013.
Ressalva de entendimento pessoal, porque vencido quanto aos efeitos do ato nulo.
AG. REG. NO ARE N. 894.024-SE
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Direito Civil. Princípios do contraditório e da ampla defesa. Ofensa
reflexa. Dano moral. Pressupostos da responsabilidade civil demonstrados na origem. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade. Ausência de
repercussão geral. Precedentes.
1. A afronta aos princípios da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, dos limites da coisa julgada e da prestação
jurisdicional, quando depende, para ser reconhecida como tal, da análise de normas infraconstitucionais, configura apenas ofensa indireta ou reflexa à
Constituição da República.
2. O Tribunal de origem concluiu, ante as circunstâncias fáticas peculiares do caso concreto, que a conduta da agravante teria sido apta a causar dano
à honra do agravado, ensejando assim sua condenação ao pagamento de indenização por danos morais.
3. A ponderação de interesses, in casu, não prescinde do reexame do conjunto fático-probatório da causa, o qual é inadmissível em recurso
extraordinário. Incidência da Súmula nº 279/STF.
4. O Plenário da Corte, no exame do ARE nº 739.382/RJ, Relator o Ministro Gilmar Mendes, concluiu pela ausência de repercussão geral do tema
relativo à configuração da responsabilidade civil por dano à imagem ou à honra, haja vista que o deslinde da questão não ultrapassa o interesse
subjetivo das partes, tampouco prescinde do reexame de fatos e provas.
5. Agravo regimental não provido.
AG. REG. NO MI. N. 6.519-DF
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE INJUNÇÃO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. APOSENTADORIA
ESPECIAL DE SERVIDOR PÚBLICO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA: ART. 40, § 4º, INC. I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. A
AUTORIDADE ADMINISTRATIVA RESPONSÁVEL PELO EXAME DO PEDIDO DE APOSENTADORIA É COMPETENTE PARA AFERIR,
NA ESPÉCIE EM EXAME, O PREENCHIMENTO DE TODOS OS REQUISITOS PARA A APOSENTAÇÃO PREVISTOS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO VIGENTE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

Informativo 807-STF (19/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


HC N. 114.223-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO CONSUMADO E TENTADO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ALEGAÇÃO DE
INÉPCIA DA INICIAL ACUSATÓRIA. IMPUTAÇÃO ALTERNATIVA. FALTA DE DESCRIÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO ART. 14, II,
DO CÓDIGO PENAL. INCOMPATIBILIDADE ENTRE DOLO EVENTUAL E TENTATIVA. INOCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS
DENEGADO.
1. A jurisprudência desta Corte firmou entendimento no sentido de que a extinção da ação penal, de forma prematura, pela via do habeas corpus,
somente se dá em hipóteses excepcionais, nas quais seja patente (a) a atipicidade da conduta; (b) a ausência de indícios mínimos de autoria e
materialidade delitivas; ou (c) a presença de alguma causa extintiva da punibilidade.
2. A inicial acusatória indica os elementos indiciários mínimos aptos a tornar plausível a acusação e, por consequência, suficientes para dar início à
persecução penal, além de permitir ao paciente o pleno exercício do seu direito de defesa, nos termos do art. 41 do Código de Processo Penal.
3. Não se reputa alternativa a denúncia que descreve conduta certa e determinada, em imputação de tipo penal doloso, tanto o dolo direto quanto o
eventual, porque cingidos naquela norma incriminadora.
4. Constatada a higidez da denúncia, não há como avançar nas questões que compõem típicas teses defensivas, sob pena de afronta ao modelo
constitucional de competência. Caberá ao juízo natural da instrução criminal, com observância do princípio do contraditório, proceder ao exame do
ora alegado e, porventura, conferir definição jurídica diversa para os fatos.
5. Ordem denegada.
AG. REG. NO ARE N. 819.662-RS
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO À SAÚDE. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
AGRAVO. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO PELO PODER PÚBLICO. INOVAÇÃO DE FUNDAMENTO EM AGRAVO
REGIMENTAL. IMPOSSIBILIDADE.
1. A tese suscitada pela parte agravante não fez parte das razões do recurso extraordinário, sendo aduzida somente nesta via recursal. Constitui-se,
portanto, em inovação insuscetível de apreciação neste momento processual. Precedentes.
2. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada.
Acórdãos Publicados: 578

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Liberdade de Imprensa - Censura Judicial – Inadmissibilidade (Transcrições)


(v. Informativo 807)
Rcl 21.504-MC-AgR/SP*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE DESRESPEITO À AUTORIDADE DO JULGAMENTO PLENÁRIO DA ADPF 130/DF.
EFICÁCIA VINCULANTE DESSA DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. POSSIBILIDADE DE CONTROLE, MEDIANTE
RECLAMAÇÃO, DE ATOS QUE TENHAM TRANSGREDIDO TAL JULGAMENTO. LEGITIMIDADE ATIVA DE TERCEIROS QUE
NÃO INTERVIERAM NO PROCESSO DE FISCALIZAÇÃO NORMATIVA ABSTRATA. LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
JORNALISMO DIGITAL. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL. DIREITO DE INFORMAR: PRERROGATIVA FUNDAMENTAL QUE SE
COMPREENDE NA LIBERDADE CONSTITUCIONAL DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E DE COMUNICAÇÃO.
INADMISSIBILIDADE DE CENSURA ESTATAL, INCLUSIVE DAQUELA IMPOSTA PELO PODER JUDICIÁRIO, À LIBERDADE DE
EXPRESSÃO, NESTA COMPREENDIDA A LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA. TEMA EFETIVAMENTE VERSADO
NA ADPF 130/DF, CUJO JULGAMENTO FOI INVOCADO, DE MODO INTEIRAMENTE PERTINENTE, COMO PARÂMETRO DE
CONFRONTO. PRECEDENTES. SIGILO DA FONTE COMO DIREITO BÁSICO DO JORNALISTA: PRERROGATIVA
CONSTITUCIONAL QUE SE QUALIFICA COMO GARANTIA INSTITUCIONAL DA PRÓPRIA LIBERDADE DE INFORMAÇÃO.
RECLAMAÇÃO JULGADA PROCEDENTE.
– A liberdade de imprensa, qualificada por sua natureza essencialmente constitucional, assegura aos profissionais de comunicação social o
direito de buscar, de receber e de transmitir informações e ideias por quaisquer meios, inclusive digitais, ressalvada, no entanto, a
possibilidade de intervenção judicial – necessariamente a posteriori à– nos casos em que se registrar prática abusiva dessa prerrogativa de
ordem jurídica, resguardado, sempre, o sigilo da fonte quando, a critério do próprio jornalista, este assim o julgar necessário ao seu
exercício profissional. Precedentes.
– A prerrogativa do jornalista de preservar o sigilo da fonte (e de não sofrer qualquer sanção, direta ou indireta, em razão da prática
legítima dessa franquia outorgada pela própria Constituição da República), oponível, por isso mesmo, a qualquer pessoa, inclusive aos
agentes, autoridades e órgãos do Estado, qualifica-se como verdadeira garantia institucional destinada a assegurar o exercício do direito
fundamental de livremente buscar e transmitir informações. Doutrina.
– O exercício da jurisdição cautelar por magistrados e Tribunais não pode converter-se em prática judicial inibitória, muito menos censória,
da liberdade constitucional de expressão e de comunicação, sob pena de o poder geral de cautela atribuído ao Judiciário transformar-se,
inconstitucionalmente, em inadmissível censura estatal.
DECISÃO:
1. Alegação de ofensa ao julgamento proferido na ADPF 130/DF: a reclamação como meio processual idôneo e a legitimidade ativa de
terceiros que não intervieram no processo de controle normativo abstrato

Informativo 807-STF (19/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


Trata-se de reclamação na qual se sustenta que o ato judicial ora questionado – emanado do Juízo de Direito da 2ª Vara Cível da comarca de
Ribeirão Preto/SP (Processo nº 1035561-20.2014.8.26.0506) – teria desrespeitado a autoridade da decisão que o Supremo Tribunal Federal proferiu
no julgamento da ADPF 130/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO.
A parte reclamante, ora agravada, para justificar o alegado desrespeito à autoridade decisória do julgamento proferido pelo Supremo
Tribunal Federal, afirma, em síntese, o que se segue:
“Com efeito, ao determinar que a reclamante retirasse do seu ‘site’ a matéria jornalística, a r. decisão solapou a autoridade da
decisão proferida pelo egrégio Supremo Tribunal Federal na ADPF 130, Rel. Min. Ayres Britto, que declarou a não recepção da chamada
‘Lei de Imprensa’ (Lei nº 5.250/1967) pela Constituição de 1988, constituindo, assim, censura na forma mais direta que um veículo de
comunicação pode sofrer.
A reportagem em questão foi embasada em diversos elementos de prova (testemunhal e documental) e não procurou denegrir
deliberadamente a imagem daquele requerente, mas apenas relatar situação de extrema relevância e de interesse da população.
Diversas testemunhas corroboraram os fatos lá narrados, confirmando a atuação de ** como segurança particular da síndica do
Condomínio ** – o que gerou a sanção disciplinar.
A reportagem, a bem de ver, não se baseia exclusivamente na conduta daquele requerente – que, na qualidade de policial, estava
fora do expediente de trabalho portando arma de fogo, em descompasso com a legislação aplicável –, mas em diversas irregularidades que
vêm ocorrendo dentro do condomínio em questão (vide reportagens que seguem acostadas).
Após várias denúncias dos moradores, entre as quais se destacam os crimes de ameaça, injúria e abuso de poder, a equipe de
reportagem do reclamante houve por bem investigar os fatos, o que deu ensejo à matéria em questão.
As arbitrariedades expostas na aludida reportagem que ocorreram no Condomínio **, na cidade de Ribeirão Preto/SP, constituem
fato público e notório, que inclusive motivaram a propositura de diversas demandas judiciais, tanto na esfera criminal, quanto na esfera civil,
contra a então síndica, **, assim como procedimento administrativo contra aquele requerente, a culminar em sanção disciplinar.
Destarte, por não se tratar de divulgação deliberada de informação falsa, mas, sim, obtida a partir de fontes jornalísticas, a
manutenção da r. decisão singular proferida pela autoridade reclamada viola a autoridade da decisão proferida na mencionada ADPF 130,
constituindo evidente censura prévia.” (grifei)
Registro que deferi o pedido de medida cautelar formulado nestes autos, por vislumbrar ocorrentes os requisitos da plausibilidade jurídica
e do “periculum in mora”.
O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do ilustre Subprocurador-Geral da República Dr. PAULO GUSTAVO GONET BRANCO,
opinou pela procedência da presente reclamação em parecer assim ementado:
“Reclamação. Censura a veículo de imprensa. Arguido desrespeito à autoridade da decisão proferida na ADPF 130. Parecer pela
procedência.” (grifei)
Admissível, preliminarmente, o ajuizamento de reclamação nos casos em que se sustente, como na espécie, transgressão à eficácia
vinculante de que se mostra impregnado o julgamento do Supremo Tribunal Federal proferido no âmbito de processos objetivos de controle
normativo abstrato, como aquele que resultou do exame da ADPF 130/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO.
Orienta-se nesse sentido a jurisprudência desta Suprema Corte:
“O DESRESPEITO À EFICÁCIA VINCULANTE, DERIVADA DE DECISÃO EMANADA DO PLENÁRIO DA SUPREMA
CORTE, AUTORIZA O USO DA RECLAMAÇÃO.
– O descumprimento, por quaisquer juízes ou Tribunais, de decisões proferidas com efeito vinculante, pelo Plenário do Supremo
Tribunal Federal, em sede de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade autoriza a utilização da
via reclamatória, também vocacionada, em sua específica função processual, a resguardar e a fazer prevalecer, no que concerne à Suprema
Corte, a integridade, a autoridade e a eficácia subordinante dos comandos que emergem de seus atos decisórios. Precedente: Rcl 1.722/RJ,
Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno).”
(RTJ 187/151, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)
Cabe reafirmar, de outro lado, que mesmo terceiros – que não intervieram no processo objetivo de controle normativo abstrato – dispõem
de legitimidade ativa para o ajuizamento da reclamação perante o Supremo Tribunal Federal, quando promovida com o objetivo de fazer restaurar
o “imperium” inerente às decisões emanadas desta Corte proferidas em sede de ação direta de inconstitucionalidade, de ação declaratória de
constitucionalidade ou, como no caso, de arguição de descumprimento de preceito fundamental.
É inquestionável, pois, sob tal aspecto, nos termos do julgamento plenário de questão de ordem suscitada nos autos da Rcl 1.880-AgR/SP,
Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, que se revela plenamente viável a utilização, na espécie, do instrumento reclamatório, razão pela qual assiste à
parte reclamante, ora agravada, legitimidade ativa “ad causam” para fazer instaurar a presente medida processual.
Impende registrar, por oportuno, tal como já precedentemente salientado, que esse entendimento tem prevalecido em sucessivos
julgamentos proferidos pelo Supremo Tribunal Federal:
“(...) LEGITIMIDADE ATIVA PARA A RECLAMAÇÃO NA HIPÓTESE DE INOBSERVÂNCIA DO EFEITO VINCULANTE.
– Assiste plena legitimidade ativa, em sede de reclamação, àquele – particular ou não – que venha a ser afetado, em sua esfera
jurídica, por decisões de outros magistrados ou Tribunais que se revelem contrárias ao entendimento fixado, em caráter vinculante, pelo
Supremo Tribunal Federal no julgamento dos processos objetivos de controle normativo abstrato instaurados mediante ajuizamento quer de
ação direta de inconstitucionalidade, quer de ação declaratória de constitucionalidade. Precedente. (…).”
(RTJ 187/151, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)
Plenamente justificável, assim, a utilização, no caso, do instrumento constitucional da reclamação pela parte reclamante, ora agravada.
2. Liberdade de informação jornalística como expressão de um direito fundamental. Inadmissibilidade da censura estatal, inclusive daquela
imposta pelo Poder Judiciário
Sendo esse o contexto, passo ao exame do pedido formulado nesta sede processual. E, ao fazê-lo, reitero os fundamentos que expus ao
deferir medida liminar nesta reclamação, eis que o ato judicial ora questionado na presente sede reclamatória está em desacordo com a orientação
jurisprudencial que esta Suprema Corte veio a firmar a propósito do tema em análise.
Cumpre enfatizar – presente o quadro normativo vigente em nosso País – que, mais do que simples prerrogativa de caráter individual ou de
natureza corporativa, a liberdade de informação jornalística desempenha relevantíssima função político-social, eis que, em seu processo de
evolução histórica, afirmou-se como instrumento realizador do direito da própria coletividade à obtenção da informação (JOSÉ AFONSO DA
SILVA, “Curso de Direito Constitucional Positivo”, p. 246, item n. 15.3, 32ª ed., 2009, Malheiros; JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, “Comentários à
Constituição de 1988”, vol I/283, item n. 184, 1989, Forense Universitária, v.g.).
Tenho enfatizado, em diversas decisões que proferi no Supremo Tribunal Federal, que o exercício da jurisdição cautelar por magistrados e
Tribunais não pode converter-se em prática judicial inibitória, muito menos censória, da liberdade constitucional de expressão e de comunicação,

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sob pena – como já salientei em oportunidades anteriores – de o poder geral de cautela atribuído ao Judiciário qualificar-se, perigosamente, como o
novo nome de uma inaceitável censura estatal em nosso País.
A interdição judicial imposta à empresa reclamante, ora agravada, ordenando-lhe a remoção, de seu “site”, de matéria que relatou situação
ocorrida no Condomínio ** em Ribeirão Preto, sob pena de incidência de multa cominatória diária, configura, segundo entendo, clara transgressão
ao comando emergente da decisão que esta Corte Suprema proferiu, com efeito vinculante, na ADPF 130/DF.
Não constitui demasia insistir na observação de que a censura, por incompatível com o sistema democrático, foi banida do ordenamento
jurídico brasileiro, cuja Lei Fundamental – reafirmando a repulsa à atividade censória do Estado, na linha de anteriores Constituições brasileiras
(Carta Imperial de 1824, art. 179, nº 5; CF/1891, art. 72, § 12; CF/1934, art. 113, nº 9; CF/1946, art. 141, § 5º) – expressamente vedou “(...)
qualquer censura de natureza política, ideológica e artística” (CF/88, art. 220, § 2º).
Cabe observar, ainda, que a repulsa à censura, além de haver sido consagrada em nosso constitucionalismo democrático, representa
expressão de um compromisso que o Estado brasileiro assumiu no plano internacional.
Com efeito, o Brasil subscreveu, entre tantos outros instrumentos de proteção internacional dos direitos humanos, a Declaração Universal
dos Direitos da Pessoa Humana, promulgada pela III Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.
Esse estatuto contempla, em seu Artigo XIX, previsão do direito à liberdade de opinião e de expressão, inclusive a prerrogativa de procurar,
de receber e de transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras.
O direito fundamental à liberdade de expressão, inclusive à liberdade de imprensa, é igualmente assegurado pelo Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos (Artigo 19), adotado pela Assembleia Geral da ONU em 16/12/1966 e incorporado, formalmente, ao nosso direito
positivo interno em 06/12/1992 (Decreto nº 592/92).
Vale mencionar, ainda, por sumamente relevante, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, promulgada pela IX
Conferência Internacional Americana, realizada em Bogotá, em abril de 1948, cujo texto assegura a todos a plena liberdade de expressão (Artigo
IV).
A Convenção Americana de Direitos Humanos, também denominada Pacto de San José da Costa Rica, por sua vez, garante às pessoas em
geral o direito à livre manifestação do pensamento, sendo-lhe absolutamente estranha a ideia de censura estatal (Artigo 13).
É interessante assinalar, neste ponto, até mesmo como registro histórico, que a ideia da incompatibilidade da censura com o regime
democrático já se mostrava presente nos trabalhos de nossa primeira Assembleia Geral Constituinte e Legislativa, reunida em 03/05/1823 e
dissolvida, por ato de força, em 12/11/1823.
Com efeito, ANTONIO CARLOS RIBEIRO DE ANDRADA, ao longo dessa Assembleia Constituinte, apresentou proposta que repelia, de
modo veemente, a prática da censura no âmbito do (então) nascente Estado brasileiro, em texto que, incorporado ao projeto da Constituição,
assim dispunha:
“Artigo 23 – Os escritos não são sujeitos à censura nem antes nem depois de impressos.” (grifei)
A razão dessa proposta de ANTONIO CARLOS RIBEIRO DE ANDRADA prendia-se ao fato de que D. João VI editara, então, havia pouco
mais de dois anos, em 02 de março de 1821, um decreto régio que impunha o mecanismo da censura, fazendo-nos recuar, naquele momento histórico, ao
nosso passado colonial, período em que prevaleceu essa inaceitável restrição às liberdades do pensamento.
Preocupa-me, por isso mesmo, o fato de que o exercício, por alguns juízes e Tribunais, do poder geral de cautela tenha se transformado em
inadmissível instrumento de censura estatal, com grave comprometimento da liberdade de expressão, nesta compreendida a liberdade de
imprensa e de informação. Ou, em uma palavra, como anteriormente já acentuei: o poder geral de cautela tende, hoje, perigosamente, a traduzir o
novo nome da censura!
Todas as observações que venho de fazer evidenciam, a meu juízo, que a decisão objeto da presente reclamação desrespeitou a autoridade do
julgamento plenário invocado pela parte reclamante, ora agravada, como parâmetro de controle, eis que o tema da censura foi efetivamente
abordado e plenamente examinado no julgamento plenário da ADPF 130/DF.
Enfatizo, por oportuno, que eu próprio, no voto que proferi na ADPF 130/DF, discuti, expressamente, o tema referente à censura estatal,
qualquer que tenha sido o órgão ou o Poder de que haja emanado esse ato de (inadmissível) cerceamento da liberdade de expressão.
Devo relembrar, neste ponto, que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento final da ADI 869/DF, ao declarar a
inconstitucionalidade de determinada expressão normativa constante do § 2º do art. 247 do Estatuto da Criança e do Adolescente, advertiu, em
decisão impregnada de efeito vinculante, que a cláusula legal que punia emissoras de rádio e de televisão, bem assim empresas jornalísticas, pelo
fato de exercerem o direito de informar mostrava-se colidente com o texto da Constituição da República (art. 220, § 2º).
O julgamento em questão restou consubstanciado em acórdão assim ementado:
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI FEDERAL 8069/90. LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO
PENSAMENTO, DE CRIAÇÃO, DE EXPRESSÃO E DE INFORMAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE RESTRIÇÃO.
1. Lei 8069/90. Divulgação total ou parcial, por qualquer meio de comunicação, de nome, ato ou documento de procedimento policial,
administrativo ou judicial relativo à criança ou adolescente a que se atribua ato infracional. Publicidade indevida. Penalidade: suspensão
da programação da emissora até por dois dias, bem como da publicação do periódico até por dois números. Inconstitucionalidade. A
Constituição de 1988 em seu artigo 220 estabeleceu que a liberdade de manifestação do pensamento, de criação, de expressão e de
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerá qualquer restrição, observado o que nela estiver disposto.
2. Limitações à liberdade de manifestação do pensamento, pelas suas variadas formas. Restrição que há de estar explícita ou
implicitamente prevista na própria Constituição.
Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.”
(ADI 869/DF, Red. p/ o acórdão Min. MAURÍCIO CORRÊA – grifei)
O fato é que não podemos – nem devemos – retroceder neste processo de conquista e de reafirmação das liberdades democráticas. Não se
trata de preocupação retórica, pois o peso da censura – ninguém o ignora – é algo insuportável e absolutamente intolerável.
RUI BARBOSA, em texto no qual registrou as suas considerações sobre a atuação do Marechal Floriano Peixoto durante a Revolução
Federalista e a Revolta da Armada (“A Ditadura de 1893”), após acentuar que a “rule of law” não podia ser substituída pelo império da espada,
assim se pronunciou sobre a questão da censura estatal:
“A Constituição proibiu a censura irrestritamente, radicalmente, inflexivelmente. Toda lei preventiva contra os excessos da imprensa,
toda lei de tutela à publicidade, toda lei de inspeção policial sobre os jornais é, por conseqüência, usurpatória e tirânica. Se o jornalismo se
apasquina, o Código Penal proporciona aos ofendidos, particulares, ou funcionários públicos, os meios de responsabilizar os verrineiros.”
(grifei)
Essencial reconhecer, pois, em face do que se vem de expor, que a liberdade de imprensa, qualificada por sua natureza essencialmente
constitucional, assegura aos profissionais de comunicação social o direito de buscar, de receber e de transmitir informações e ideias por
quaisquer meios, inclusive digitais, ressalvada, no entanto, a possibilidade de intervenção judicial – necessariamente “a posteriori” – nos
casos em que se registrar prática abusiva dessa prerrogativa de ordem jurídica, resguardado, sempre, o sigilo da fonte quando, a critério do
próprio jornalista, este assim o julgar necessário ao seu exercício profissional (Inq 870/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO).

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3. O direito do jornalista à preservação do sigilo da fonte: prerrogativa de índole constitucional
A Constituição da República, após assegurar a todos o acesso à informação, reconheceu aos profissionais dos meios de comunicação social
importantíssima prerrogativa jurídica consistente no direito de ver resguardado o sigilo da fonte quando necessário ao exercício profissional (CF,
art. 5º, XIV, segunda parte).
Com efeito, nenhum jornalista poderá ser constrangido a revelar o nome de seu informante ou a indicar a fonte de suas informações, sendo
certo, também, que não poderá sofrer qualquer sanção, direta ou indireta, quando se recusar a quebrar esse sigilo de ordem profissional e de
estatura constitucional.
Na realidade, essa prerrogativa profissional qualifica-se como expressiva garantia de ordem jurídica que, outorgada a qualquer jornalista
em decorrência de sua atividade profissional, destina-se, em última análise, a viabilizar, em favor da própria coletividade, a ampla pesquisa de
fatos ou eventos cuja revelação impõe-se como consequência ditada por razões de estrito interesse público.
O ordenamento constitucional brasileiro, por isso mesmo, prescreve que nenhum jornalista poderá ser compelido a indicar o nome de seu
informante ou a fonte de suas informações. Mais do que isso, e como precedentemente assinalado, esse profissional, ao exercer a prerrogativa em
questão, não poderá sofrer qualquer sanção motivada por seu silêncio ou por sua legítima recusa em responder às indagações que lhe sejam
eventualmente dirigidas com o objetivo de romper o sigilo da fonte.
Para FREITAS NOBRE (“Lei da Informação”, p. 251/252, 1968, Saraiva), “O jornalista, à semelhança de outros profissionais (...), goza
do direito ao segredo profissional, podendo (…) não indicar o nome do informante, ou mesmo a fonte de suas informações, isto é, até mesmo o local
onde obtém os elementos que lhe permitem escrever a notícia ou comentário”, eis que – tratando-se do profissional de imprensa – “este segredo é
exigência social, porque ele possibilita a informação mesmo contra o interesse dos poderosos do dia, pois que o informante não pode ficar à mercê
da pressão ou da coação dos que se julgam atingidos pela notícia”.
Com a superveniência da Constituição de 1988, intensificou-se, ainda mais, o sentido tutelar dessa especial proteção jurídica, vocacionada
a dar concreção à garantia básica de acesso à informação, consoante enfatizado pelo próprio magistério da doutrina (WALTER CENEVIVA,
“Direito Constitucional Brasileiro”, p. 52, item n. 10, 1989, Saraiva; MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, “Comentários à Constituição
Brasileira de 1988”, vol. 1/39, 1990, Saraiva, v.g.).
Essa é a razão pela qual a Carta Política, ao proclamar a declaração de direitos, nela introduziu – como pauta de valores essenciais à
preservação do Estado democrático de direito – explícita referência à indevassabilidade da fonte de informações, qualificando essa prerrogativa de
ordem profissional como expressão de um dos direitos fundamentais que claramente limitam a atividade do Poder Público.
A Constituição da República, tendo presente a necessidade de proteger um dos aspectos mais sensíveis em que se projetam as múltiplas
liberdades do pensamento – precisamente aquele concernente ao direito de obtenção (e de divulgação) da informação –, prescreveu, em seu art.
5º, n. XIV, que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional” (grifei).
Impõe-se rememorar, no ponto, o magistério de DARCY ARRUDA MIRANDA (“Comentários à Lei de Imprensa”, p. 774, item n. 781,
3ª ed., 1995, RT), que, após enfatizar o alto significado político-social que assume a prerrogativa concernente ao sigilo da fonte de informação,
observa:
“O jornalista ou radialista que publicou ou transmitiu a informação sigilosa, ainda que interpelado, não fica obrigado a indicar o
nome de seu informante ou a fonte de suas informações. Este silêncio é direito seu, não podendo ser interpretado neste ou naquele sentido e
não fica sujeito a sanção de qualquer natureza, nem a qualquer espécie de penalidade.
Esclareça-se, porém: o que não sofre sanção civil, administrativa ou penal, é o silêncio do divulgador, não a publicação ou
transmissão incriminada.” (grifei)
A liberdade de imprensa, na medida em que não sofre interferências governamentais ou restrições de caráter censório, constitui expressão
positiva do elevado coeficiente democrático que deve qualificar as formações sociais genuinamente livres. E a prerrogativa do sigilo da fonte,
nesse contexto, qualifica-se como instrumento de concretização da própria liberdade de informação, atuando como verdadeira garantia
institucional asseguradora do exercício do direito fundamental de livremente buscar e transmitir informações.
Isso claramente significa que a prerrogativa concernente ao sigilo da fonte, longe de qualificar-se como mero privilégio de ordem pessoal ou
de caráter estamental, configura, na realidade, meio essencial de plena realização do direito constitucional de informar, revelando-se oponível, por
isso mesmo, em razão de sua extração eminentemente constitucional, a qualquer pessoa e, também, a quaisquer órgãos, agentes ou autoridades do
Poder Público, inclusive do Poder Judiciário, não importando a esfera em que se situe a atuação institucional dos agentes estatais interessados.
Daí a exata advertência de CELSO RIBEIRO BASTOS (“Comentários à Constituição do Brasil”, vol. 2/81-82, 1989, Saraiva):
“O acesso à informação ganha uma conotação particular quando é levado a efeito por profissionais, os jornalistas. Neste caso, a
Constituição assegura o sigilo da fonte. Isto significa que nem a lei, nem a administração, nem os particulares podem compelir um
jornalista a denunciar a pessoa ou o órgão de quem obteve a informação. Trata-se de medida conveniente para o bom desempenho da
atividade de informar. Com o sigilo da fonte ampliam-se as possibilidades de recolhimento de material informativo.” (grifei)
Resulta claro, pois, que se mostra indeclinável o dever estatal de respeito à prerrogativa jurídica que assegura ao jornalista o direito de não
revelar a fonte de suas informações, pois – insista-se – esse direito, agora, compõe o quadro da própria declaração constitucional de liberdades
fundamentais, não podendo sofrer, por isso mesmo, qualquer tipo de restrição nem legitimar, quando exercido, a imposição, ao jornalista, de
medidas de caráter sancionatório.
Em uma palavra: a proteção constitucional que confere ao jornalista o direito de não proceder à “disclosure” da fonte de informação ou de
não revelar a pessoa de seu informante desautoriza qualquer medida tendente a pressionar ou a constranger o profissional de imprensa a indicar a
origem das informações a que teve acesso, eis que – não custa insistir – os jornalistas, em tema de sigilo da fonte, não se expõem ao poder de
indagação do Estado ou de seus agentes e não podem sofrer, em função do exercício dessa legítima prerrogativa constitucional, a imposição de
qualquer sanção penal, civil ou administrativa, tal como o reconheceu o Supremo Tribunal Federal (Inq 870/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO,
DJU 15/04/96, v.g.).
4. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e parecer da Procuradoria-Geral da República
Vale registrar, por sumamente relevante, o fato de que, em situações idênticas à que ora se examina, esta Suprema Corte, fazendo
prevalecer a eficácia vinculante derivada do julgamento da ADPF 130/DF, tem sustado decisões judiciais que haviam ordenado a interdição,
claramente censória, de matérias jornalísticas divulgadas em órgãos de imprensa (Rcl 11.292-MC/SP, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – Rcl
16.074-MC/SP, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, decisão proferida pelo Ministro Ricardo Lewandowski no exercício da Presidência – Rcl
16.434/ES, Rel. Min. ROSA WEBER – Rcl 18.186-MC/RJ, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, decisão proferida pelo Ministro Ricardo Lewandowski no
exercício da Presidência – Rcl 18.290-MC/RJ, Rel. Min. LUIZ FUX – Rcl 18.566-MC/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
Impende ressaltar, finalmente, que a douta Procuradoria-Geral da República, ao pronunciar-se pela procedência da presente reclamação,
formulou parecer do qual se destaca a seguinte passagem:

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“No julgamento da ADPF 130, foi repelida a censura prévia, proveniente de qualquer dos Poderes do Estado, por incompatível com a
ordem democrática instaurada em 1988. A Corte afirmou não caber ao poder público definir previamente o que não pode ser dito ou
publicado. (…).
…...................................................................................................
Daí haver exposto o Ministro Celso de Mello, na Rcl 18566 MC (Dje 16/9/2014), que o ‘exercício de jurisdição cautelar por
magistrados e Tribunais não pode converter-se em prática judicial inibitória, muito menos censória, da liberdade constitucional de expressão
e de comunicação, sob pena de o poder geral de cautela atribuído ao Judiciário qualificar-se, anomalamente, como um novo nome de uma
inaceitável censura estatal em nosso País’.
…...................................................................................................
A natureza do conteúdo da matéria jornalística, no caso, é de irrecusável interesse público (…).” (grifei)
5. Conclusão
Em suma: a questão em exame, segundo entendo, assume indiscutível magnitude de ordem político-jurídica, notadamente em face de seus
claros lineamentos constitucionais que foram analisados, de modo efetivo, no julgamento da referida ADPF 130/DF, em cujo âmbito o Supremo
Tribunal Federal pôs em destaque, de maneira muito expressiva, uma das mais relevantes franquias constitucionais: a liberdade de manifestação
do pensamento, que representa um dos fundamentos em que se apoia a própria noção de Estado democrático de direito e que não pode ser
restringida, por isso mesmo, pelo exercício ilegítimo da censura estatal, ainda que praticada em sede jurisdicional.
Sendo assim, pelas razões expostas, e acolhendo, ainda, o parecer da douta Procuradoria-Geral da República, julgo procedente a presente
reclamação, para invalidar a decisão ora impugnada, proferida pelo Juízo de Direito da 2ª Vara Cível da comarca de Ribeirão Preto/SP (Processo nº
1035561-20.2014.8.26.0506), e o acórdão, que a confirmou, emanado da 3ª Câmara de Direito Privado do E. Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo (Agravo de Instrumento nº 2067708-14.2015.8.26.0000), restando prejudicado, em consequência, o exame do recurso de agravo interposto
nesta sede processual.
Comunique-se, transmitindo-se cópia da presente decisão ao Juízo de Direito da 2ª Vara Cível da comarca de Ribeirão Preto/SP (Processo nº
1035561-20.2014.8.26.0506) e à 3ª Câmara de Direito Privado do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (Agravo de Instrumento nº
2067708-14.2015.8.26.0000).
Arquivem-se os presentes autos.

Publique-se.

Brasília, 05 de outubro de 2015.


(27º Aniversário da promulgação da vigente Constituição Republicana)

Ministro CELSO DE MELLO


Relator
*decisão publicada no DJe de 7.10.2015
**nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
9 a 13 de novembro de 2015

Medida Provisória nº 699, de 10.11.2015 - Altera a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que institui o
Código de Trânsito Brasileiro. Publicada no DOU, seção 1, Edição nº 215, p. 1, em 11.11.2015.
Lei nº 13.188, de 11.11.2015 - Dispõe sobre o direito de resposta ou retificação do ofendido em matéria
divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social. Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº 216, p.
1, em 12.11.2015.
Decreto nº 8.572, de 13.11.2015 - Altera o Decreto nº 5.113, de 22 de junho de 2004, que regulamenta o art. 20,
inciso XVI, da Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990, que dispõe sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -
FGTS. Publicado no DOU, Seção 1, Edição Extra nº 217, p. 1, em 13.11.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

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Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
PSV 93/DF; ADI 2404/DF; AP 913 QO/AL; RE 514639/RS.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: RE 201512/MG; RE 196752 AgR/MG; RE 790059 AgR-AgR/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
 Inviolabilidade de domicílio e flagrante delito.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


PROCESSO COLETIVO
 Legitimidade da Defensoria Pública para ação civil pública.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA
 Oitiva antecipada de testemunhas apenas pelo fato de serem policiais.

INDULTO
 Possibilidade de concessão para pessoas submetidas a medida de segurança.

DIREITO TRIBUTÁRIO
IPTU
 Alíquota aplicável em caso de lei municipal declarada inconstitucional por prever progressividade em função do
valor do imóvel antes da EC 29/2000.

DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Inviolabilidade de domicílio e flagrante delito

Importante!!!
A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno,
quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori , que indiquem
que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados.
STF. Plenário. RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/11/2015 (repercussão
geral) (Info 806).

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


INVIOLABILIDADE DOMICILIAR

Previsão
A CF/88 prevê, em seu art. 5º, a seguinte garantia:
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador,
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por
determinação judicial;

Entendendo o inciso XI:


Só se pode entrar na casa de alguém sem o consentimento do morador nas seguintes hipóteses:
Durante o DIA Durante a NOITE
•àE à asoàdeàflag a teàdelito; •àE à asoàdeàflag a teàdelito;
•àE à asoàdeàdesast e; •àE à asoàdeàdesast e;
•àPa aàp esta àso o o; •àPa aàp esta àso o o.
•à Pa aà u p i àdete i açãoàjudi ial (ex: busca e
apreensão; cumprimento de prisão preventiva).

Assim, guarde isso: não se pode invadir a casa de alguém durante a noite para cumprir ordem judicial.

O que é considerado "dia"?


Não há uma unanimidade.
Há os que defendem o critério físico-astronômico, ou seja, dia é o período de tempo que fica entre o
crepúsculo e a aurora.
Outros sustentam um critério cronológico: dia vai das 6h às 18h.
Existem, ainda, os que sustentam aplicar o parâmetro previsto no CPC, que fala que os atos processuais
serão realizados em dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas.
O mais seguro é só cumprir a determinação judicial após as 6h e até as 18h.

O que se entender por "casa"?


O conceito é amplo e abrange:
a) a casa, incluindo toda a sua estrutura, como o quintal, a garagem, o porão, a quadra etc.
b) os compartimentos de natureza profissional, desde que fechado o acesso ao público em geral, como
escritórios, gabinetes, consultórios etc.
c) os aposentos de habitação coletiva, ainda que de ocupação temporária, como quartos de hotel, motel,
pensão, pousada etc.

Escritório vazio e busca e apreensão realizada à noite por ordem judicial


No Inquérito 2.424/RJ, o STF considerou válida a instalação de escuta ambiental por policiais, no escritório
de advocacia de um advogado suspeito da prática de crimes. A colocação das escutas ocorreu no período
da noite por determinação judicial.
O STF afirmou que a CF/88, no seu art. 5º, X e XI, garante a inviolabilidade da intimidade e do domicílio dos
cidadãos, sendo equiparados a domicílio, para fins dessa inviolabilidade, os escritórios de advocacia, locais
não abertos ao público, e onde se exerce profissão (art. 150, § 4º, III, do CP). No entanto, apesar disso,
entendeu-se que tal inviolabilidade pode ser afastada quando o próprio advogado seja suspeito da prática
de crime concebido e consumado, sobretudo no âmbito do seu escritório, sob pretexto de exercício da
profissão. Neste caso, os interesses e valores jurídicos, inviolabilidade do domicílio, que não tem caráter
absoluto, deve ser ponderada e conciliada com o direito de puir, à luz da proporcionalidade.
Assim, apesar de ser possível a equiparação legal da oficina de trabalho com o domicílio, julgou-se ser
possível a instalação da escuta, por ordem judicial, no período da noite, principalmente porque durante

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esse período o escritório fica vazio, não sendo, portanto, possível sua equiparação neste caso a domicílio,
que pressupõe a presença de pessoas que o habitem.
Em suma, o STF decidiu que essa prova foi válida.
STF. Plenário. Inq 2424, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 26/11/2008.

Veículo é considerado casa?


Em regra não. Assim, o veículo, em regra, pode ser examinado mesmo sem mandado judicial.
Exceção: quando o veículo é utilizado para a habitação do indivíduo, como ocorre com trailers, cabines de
caminhão, barcos etc.

Flagrante delito
Vimos acima que, havendo flagrante delito, é possível ingressar na casa mesmo sem consentimento do
morador, seja de dia ou de noite.
Um exemplo comum no cotidiano é o caso do tráfico de drogas. Diversos verbos do art. 33 da Lei nº
11.343/2006 fazem com que este delito seja permanente:
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda,
oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:

Assim, se a casa do traficante funciona como boca-de-fumo, onde ele armazena e vende drogas, a todo
momento estará ocorrendo o crime, considerando que ele está praticando os verbos "ter em depósito" e
"guardar".

Diante disso, havendo suspeitas de que existe droga em determinada casa, será possível que os policiais
invadam a residência mesmo sem ordem judicial e ainda que contra o consentimento do morador?
SIM. No entanto, no caso concreto, devem existir fundadas razões que indiquem que ali está sendo
cometido um crime (flagrante delito). Essas razões que motivaram a invasão forçada deverão ser
posteriormente expostas pela autoridade, sob pena de ela responder nos âmbitos disciplinar, civil e penal.
Além disso, os atos praticados poderão ser anulados.

A tese fixada pelo STF em sede de recurso extraordinário sob repercussão geral foi a seguinte:
A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando
amparada em fundadas razões, devidamenteàjustifi adasà aàposte io i ,à ueài di ue à ueàde t oàdaà asaà
ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade, e de nulidade dos atos praticados.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

PROCESSO COLETIVO
Legitimidade da Defensoria Pública para ação civil pública

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Importante!!!
A Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em ordem a
promover a tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam titulares, em tese, as
pessoas necessitadas.
STF. Plenário. RE 733433/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/11/2015 (repercussão geral) (Info 806).

A Defensoria Pública pode ajuizar ação civil pública?


SIM. Trata-se, inclusive, de previsão expressa da Lei nº 7.347/85 (Lei da ACP):
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
II — a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448/2007).

A legitimidade da Defensoria para a ACP é irrestrita, ou seja, a instituição pode propor ACP em todo e
qualquer caso?
Apesar de não ser um tema ainda pacífico, a resposta que prevalece é que NÃO.
Assim, a Defensoria Pública, ao ajuizar uma ACP, deverá provar que os interesses discutidos na ação têm
pertinência com as suas finalidades institucionais.

Por que se diz que a legitimidade da Defensoria não é irrestrita?


Porque a legitimidade de nenhum dos legitimados do art. 5º é irrestrita, nem mesmo a do Ministério
Público. O STJ já decidiu, por exemplo,à ueà oàMi ist ioàPú li oà ãoàte àlegiti idadeàativaàpa aàp opo à
ação civil pública na qual busca a suposta defesa de um pequeno grupo de pessoas - no caso, dos
asso iadosà deà u à lu e,à u aàópti aà p edo i a te e teà i dividual. à REspà /“E,à Rel.àMin. Luis
Felipe Salomão, julgado em 21/06/2011).

Qual é, enfim, o parâmetro para a legitimidade da Defensoria na ACP?


A Defensoria só tem adequada representação se estiver defendendo interesses relacionados com seus
objetivos institucionais e que se encontram previstos no art. 134 da CF.
Em outras palavras, a Defensoria Pública somente poderia propor uma ACP se os direitos nela veiculados,
de algum modo, estiverem ela io adosà àp oteçãoàdosài te essesàdosàhipossufi ie tesà e essitados ,àouà
seja, indivíduosà o à i sufi i iaàdeà e u sos .à
Esse é o entendimento tanto do STJ (REsp 1.192.577-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
15/5/2014) como do STF (RE 733433/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/11/2015).

Segundo a jurisprudência, a Defensoria Pública só tem legitimidade ativa para ações coletivas se elas
estiverem relacionadas com as funções institucionais conferidas pela CF/88, ou seja, se tiverem por
objetivo beneficiar os necessitados que não tiverem suficiência de recursos (CF/88, art. 5º, LXXIV).

A própria Lei Orgânica da Defensoria Pública (Lei Complementar n. 80/94) nos faz concluir dessa forma:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
(...)
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos
direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar
grupo de pessoas hipossuficientes; (Redação dada pela LC 132/2009).
VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e
dos direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal; (Redação dada
pela LC 132/2009).
X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos
individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de

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ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela; (Redação dada pela LC 132/2009).
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da
pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de
outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado; (Redação dada pela LC
132/2009).

No julgamento da ADI 3943 (STF. Plenário. Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6 e 7/5/2015. Info 784),
diversos Ministros manifestaram esse mesmo entendimento.

A Min. Cármen Lúcia, em determinado trecho de seu voto, afirmou:


Nãoàseàest a afirmar a desnecessidade de a Defensoria Pública observar o preceito do art. 5º, LXXIV, da
CF, reiterado no art. 134 — antes e depois da EC 80/2014. No exercício de sua atribuição constitucional, é
necessário averiguar a compatibilidade dos interesses e direitos que a instituição protege com os possíveis
beneficiários de quaisquer das ações ajuizadas, mesmo em ação civil pública.

O Min. Roberto Barroso corroborou essa conclusão e afirmou que o fato de se estabelecer que a
Defensoria Pública tem legitimidade, em tese, para ações civis públicas, não exclui a possibilidade de, em
um eventual caso concreto, não se reconhecer a legitimidade da Instituição. Em tom descontraído, o
Ministro afirmou que a Defensoria não teria legitimidade, por exemplo, no caso concreto, para uma ação
ivilà pú li aà aà defesaà dosà só iosà doà Yat hà Clu .à Eà da doà out oà e e ploà e t e o,à afi ouà ueà aà
Defensoria não teria legitimidade, no caso concreto, para ajuizar uma ação civil pública em favor dos
lie tesà Pe so alit àdoàBa oàItaú.

O Min. Teori Zavascki segue na mesma linha e afirma que existe uma condição implícita na legitimidade da
Defensoria Pública para ações civis públicas que é o fato de ela ter que defender interesses de pessoas
hipossuficientes, sendo esta uma condição imposta pelo art. 134 da CF/88.

A Min. Rosa Weber também deixou claro que a Defensoria Pública tem legitimidade para propor ações
civis públicas, mas que o juízo poderá aferir, no caso concreto, sua adequada representação.

Atenção. Não confunda: não se está dizendo que a Defensoria Pública só pode propor ACP se os direitos
dis utidosà e volve e à ape asà pessoasà po es (rectius: hipossuficientes). Essa era a tese da CONAMP,
que foi rechaçada pelo STF. O que estou afirmando é que, para a Defensoria Pública ajuizar a ACP aquele
interesse discutido na lide tem que, de algum modo, favorecer seu público-alvo (hipossuficientes), ainda
que beneficie outras pessoas também que não sejam necessitadas.

Se o interesse defendido beneficiar pessoas economicamente abastadas e também hipossuficientes, a


Defensoria terá legitimidade para a ACP?
SIM, considerando que, no processo coletivo, vigoram os princípios do máximo benefício, da máxima
efetividade e da máxima amplitude.
Dessa feita, podendo haver hipossuficientes beneficiados pelo resultado da demanda, deve-se admitir a
legitimidade da Defensoria Pública.
É o caso, por exemplo, de consumidores de energia elétrica, que tanto podem abranger pessoas com alto
poder aquisitivo, como hipossuficientes:
LEGITIMIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO COLETIVA.
A Turma, ao prosseguir o julgamento, entendeu que a Defensoria Pública tem legitimidade para ajuizar
ação civil coletiva em benefício dos consumidores de energia elétrica, conforme dispõe o art. 5º, II, da Lei
nº 7.347/1985, com redação dada pela Lei nº 11.448/2007. (...)
REsp 912.849-RS, Rel. Min. José Delgado, julgado em 26/2/2008 (Info 346).

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Ao julgar o recurso extraordinário sob a repercussão geral, o STF firmou a seguinte tese:
A Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em ordem a promover a
tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam titulares, em tese, as pessoas necessitadas.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA


Oitiva antecipada de testemunhas apenas pelo fato de serem policiais

Existe um argumento no sentido de que se as testemunhas forem policiais, deverá haver


autorizada a sua oitiva como prova antecipada, considerando que os policiais lidam
diariamente com inúmeras ocorrências e, se houvesse o decurso do tempo, eles iriam esquecer
dos fatos. Esse argumento é aceito pela jurisprudência? A oitiva das testemunhas que são
policiais é considerada como prova urgente para os fins do art. 366 do CPP?
1ª corrente: SIM. O fato de o agente de segurança pública atuar constantemente no combate à
criminalidade faz com que ele presencie crimes diariamente. Em virtude disso, os detalhes de
cada uma das ocorrências acabam se perdendo em sua memória. Existem vários precedentes
do STJ nesse sentido.
2ª corrente: NÃO. Não serve como justificativa a alegação de que as testemunhas são policiais
responsáveis pela prisão, cuja própria atividade contribui, por si só, para o esquecimento das
circunstâncias que cercam a apuração da suposta autoria de cada infração penal.
STF. 2ª Turma. HC 130038/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/11/2015 (Info 806).

Se o acusado é citado por edital, mesmo assim o processo continua normalmente?


O art. 366 do CPP estabelece que:
 se o acusado for citado por edital e
 não comparecer ao processo nem constituir advogado
 o processo e o curso da prescrição ficarão suspensos.

Se o réu comparecer ao processo ou constituir advogado, o processo e o prazo prescricional voltam a


correr normalmente.
O objetivo do art. 366 é garantir que o acusado que não foi pessoalmente citado não seja julgado à revelia.

Produção antecipada de provas urgentes e prisão preventiva:


O art. 366 do CPP afirma que se o acusado, citado por edital, não comparecer nem constituir advogado, o
juiz poderá determinar:
 a produção antecipada de provas consideradas urgentes e
 decretar prisão preventiva do acusado se estiverem presentes os requisitos do art. 312 do CPP (o simples
fato do acusado não ter sido encontrado não é motivo suficiente para decretar sua prisão preventiva).

Produção antecipada das provas consideradas urgentes:


No caso do art. 366 do CPP, o juiz poderá determinar a produção antecipada de provas consideradas
urgentes.
Para que o magistrado realize a colheita antecipada das provas, exige-se que seja demonstrada a real
necessidade da medida.
Assim, toda produção antecipada de provas realizada nos termos do art. 366 do CPP está adstrita à sua
necessidade concreta, devidamente fundamentada.

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Nesse sentido, existe, inclusive, entendimento sumulado do STJ:
Súmula 455-STJ: A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no artigo 366 do
CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo.

A oitiva de testemunhas pode ser considerada prova urgente para os fins do art. 366 do CPP?
Sim, desde que as circunstâncias do caso concreto revelem a possibilidade concreta de perecimento.
Ex: a testemunha possui idade avançada e se encontra enferma, com possibilidade concreta de morte.

Existe um argumento no sentido de que se as testemunhas forem policiais, deverá haver autorizada a
sua oitiva como prova antecipada, considerando que os policiais lidam diariamente com inúmeras
ocorrências e, se houvesse o decurso do tempo, eles iriam esquecer dos fatos. Esse argumento é aceito
pela jurisprudência? A oitiva das testemunhas que são policiais é considerada como prova urgente para
os fins do art. 366 do CPP?
SIM. É a posição do STJ. NÃO. Julgado do STF.
O fato de o agente de segurança pública atuar É incabível a produção antecipada de prova
constantemente no combate à criminalidade faz testemunhal fundamentada na simples
com que ele presencie crimes diariamente. Em possibilidade de esquecimento dos fatos, sendo
virtude disso, os detalhes de cada uma das necessária a demonstração do risco de
ocorrências acabam se perdendo em sua perecimento da prova a ser produzida (art. 225 do
memória. CPP).
Essa peculiaridade justifica que os policiais sejam Não serve como justificativa a alegação de que as
ouvidos como produção antecipada da prova testemunhas são policiais responsáveis pela
testemunhal, pois além da proximidade temporal prisão, cuja própria atividade contribui, por si só,
com a ocorrência dos fatos proporcionar uma para o esquecimento das circunstâncias que
maior fidelidade das declarações, possibilita ainda cercam a apuração da suposta autoria de cada
o registro oficial da versão dos fatos vivenciados infração penal.
por ele, o que terá grande relevância para a STF. 2ª Turma. HC 130038/DF, Rel. Min. Dias
garantia da ampla defesa do acusado, caso a Toffoli, julgado em 3/11/2015 (Info 806).
defesa técnica repute necessária a repetição do
seu depoimento por ocasião da retomada do curso
da ação penal.
STJ. 5ª Turma. RHC 51.232-DF, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 2/10/2014 (Info 549).
STJ. 6ª Turma. RHC 48.073/DF, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 30/06/2015.

INDULTO
Possibilidade de concessão para pessoas submetidas a medida de segurança

Importante!!!
Indulto é um ato do Presidente da República (art. 84, XII, da CF/88), materializado por meio de
um Decreto, por meio do qual é extinto o efeito executório da condenação imposta a alguém.
Em outras palavras, mesmo havendo ainda pena a ser cumprida, o Estado renuncia ao seu
direito de punir, sendo uma causa de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP).
Tradicionalmente, o indulto é concedido a pessoas que receberam uma pena por terem sido

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condenadas pela prática de infração penal. No entanto, é possível que o indulto seja concedido
a pessoas que receberam medida de segurança.
Sobre o tema, o STF definiu a seguinte tese:

"Reveste-se de legitimidade jurídica a concessão, pelo Presidente da República, do benefício


constitucional do indulto (CF, art. 84, XII), que traduz expressão do poder de graça do Estado,
mesmo se se tratar de indulgência destinada a favorecer pessoa que, em razão de sua
inimputabilidade ou semi-imputabilidade, sofre medida de segurança, ainda que de caráter
pessoal e detentivo."
STF. Plenário. RE 628658/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4 e 5/11/2015 (Info 806).

Anistia, graça e indulto:


- são formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir;
- classificam-se como causas de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP);
- a anistia, a graça e o indulto são concedidas pelo Poder Legislativo (no primeiro caso) ou pelo Poder
Executivo (nos dois últimos), mas somente geram a extinção da punibilidade com a decisão judicial;
- podem atingir crimes de ação penal pública ou privada.

ANISTIA GRAÇA INDULTO


(ou indulto individual) (ou indulto coletivo)
É um benefício concedido pelo Congresso Concedidos por Decreto do Presidente da República.
Nacional, com a sanção do Presidente da
República (art. 48, VIII, CF/88), por meio do Apagam o efeito executório da condenação.
ualà seà pe doa à aà p ti aà deà u à fatoà
criminoso. A atribuição para conceder pode ser delegada ao(s):
Normalmente, incide sobre crimes políticos,  Procurador Geral da República;
mas também pode abranger outras espécies  Advogado Geral da União;
de delito.  Ministros de Estado.
É concedida por meio de uma lei federal Concedidos por meio de um Decreto.
ordinária.
Pode ser concedida: Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais benefícios
 antes do trânsito em julgado (anistia só podem ser concedidos após o trânsito em julgado da
própria); condenação. Esse entendimento, no entanto, está cada
 depois do trânsito em julgado (anistia dia mais superado, considerando que o indulto natalino,
imprópria). por exemplo, permite que seja concedido o benefício
desde que tenha havido o trânsito em julgado para a
acusação ou quando o MP recorreu, mas não para
agravar a pena imposta (art. 5º, I e II, do Decreto
7.873/2012).
Classificação Classificação
a) Propriamente dita: quando concedida a) Plenos: quando extinguem totalmente a pena.
antes da condenação. b) Parciais: quando somente diminuem ou substituem a
b) Impropriamente dita: quando concedida pena (comutação).
após a condenação.
a) Incondicionados: quando não impõem qualquer
a) Irrestrita: quando atinge indistintamente condição.
todos os autores do fato punível. b) Condicionados: quando impõem condição para sua
b) Restrita: quando exige condição pessoal concessão.
do autor do fato punível. Ex.: exige
primariedade. a) Restritos: exigem condições pessoais do agente. Ex.:

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a) Incondicionada: não se exige condição exige primariedade.
para a sua concessão. b) Irrestritos: quando não exigem condições pessoais do
b) Condicionada: exige-se condição para a agente.
sua concessão. Ex.: reparação do dano.

a) Comum: atinge crimes comuns.


b)Especial: atinge crimes políticos.
Extingue os efeitos penais (principais e Só extinguem o efeito principal do crime (a pena).
secundários) do crime.

Os efeitos de natureza civil permanecem Os efeitos penais secundários e os efeitos de natureza


íntegros. civil permanecem íntegros.
O réu condenado que foi anistiado, se O réu condenado que foi beneficiado por graça ou
cometer novo crime, não será reincidente. indulto, se cometer novo crime, será reincidente.
É um benefício coletivo que, por referir-se É um benefício individual É um benefício coletivo
somente a fatos, atinge apenas os que o (com destinatário certo). (sem destinatário certo).
cometeram. Depende de pedido do É concedido de ofício (não
sentenciado. depende de provocação).

Indulto natalino
É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no final de todos os anos, concedendo
i dulto.àEsseàDe etoà à o he idoà o oà i dultoà atali o .
No Decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do benefício. Caso o apenado
atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve reconhecer o direito, extinguindo a pena pelo indulto.

Indulto e medida de segurança


Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal.
Existem duas espécies de sanção penal:
a) pena;
b) medida de segurança.

Medidaà deà segu a çaà à aà odalidadeà deà sanção penal com finalidade exclusivamente preventiva, e de
caráter terapêutico, destinada a tratar inimputáveis e semi-imputáveis portadores de periculosidade, com
oàes opoàdeàevita àaàp ti aàdeàfutu asài f açõesàpe ais. à Má““ON,àCle e .àDireito Penal esquematizado.
São Paulo: Método, 2012, p. 815).

Assim, a medida de segurança é aplicável para o indivíduo que praticou uma conduta típica e ilícita, mas,
no tempo do fato, ele era totalmente incapaz (inimputável) ou parcialmente capaz (semi-imputável) de
entender o caráter ilícito de sua conduta e de se autodeterminar segundo tal entendimento. Em razão
disso, em vez de receber uma pena, ele estará sujeito a receber uma medida de segurança (AVENA,
Norberto. Execução penal esquematizado. São Paulo: Método, p. 363).

Ao final do ano, a Presidente da República tem editado Decreto concedendo indulto a diversas pessoas
condenadas pela prática de infrações penais. Dentre os beneficiados com esse perdão, têm sido incluídos
indivíduos que receberam medidas de segurança. Veja, por exemplo, o Decreto nº 8.380/2014:
Art. 1º Concede-se o indulto coletivo às pessoas, nacionais e estrangeiras:
(...)
XII - submetidas a medida de segurança, que, até 25 de dezembro de 2014, independentemente da
cessação de periculosidade, tenham suportado privação da liberdade, internação ou tratamento
ambulatorial por período igual ou superior ao máximo da pena cominada à infração penal correspondente
à conduta praticada ou, nos casos de substituição prevista no art. 183 da Lei de Execução Penal, por

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


período igual ao remanescente da condenação cominada;

O Ministério Público não concordou com essa prática. Segundo argumentou o Parquet, a medida de
segurança é um instituto jurídico de natureza terapêutica e que tem por objetivo evitar que a pessoa que
apresenta certo grau de periculosidade pratique novos fatos previstos como crime. Logo, de acordo com o
MP, só se poderia afastar a medida de segurança após uma avaliação técnica na qual ficasse comprovado
que o indivíduo não apresenta mais periculosidade. Assim, seria impossível conceder indulto para pessoas
submetidas a medida de segurança.

A tese do MP foi acolhida pelo STF? É vedada a concessão de indulto para pessoas submetidas a medida
de segurança?
NÃO. A tese do MP não foi acolhida. É possível sim a concessão de indulto para pessoas submetidas a
medida de segurança.
A competência do Presidente da República para a concessão de indulto (art. 84, XII, da CF/88) abrange não
apenas pessoas que receberam "pena", como também aquelas que foram submetidas a medida de
segurança, considerando que ambas são espécies de sanção penal. Ademais, não existe uma restrição
expressa à concessão de indulto.

O STF aprovou a seguinte tese para efeitos de aplicação da repercussão geral (para servir de paradigma):
Reveste-se de legitimidade jurídica a concessão, pelo Presidente da República, do benefício constitucional
do indulto (CF, art. 84, XII), que traduz expressão do poder de graça do Estado, mesmo se se tratar de
indulgência destinada a favorecer pessoa que, em razão de sua inimputabilidade ou semi-imputabilidade,
sofre medida de segurança, ainda que de caráter pessoal e detentivo.

DIREITO TRIBUTÁRIO

IPTU
Alíquota aplicável em caso de lei municipal declarada inconstitucional por prever
progressividade em função do valor do imóvel antes da EC 29/2000

Antes da EC 29/2000, a CF/88 permitia para o IPTU apenas a progressividade em razão da


função social da propriedade (art. 182, § 4º, II). A Constituição não previa, expressamente, a
progressividade em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I).
Ocorre que mesmo antes da EC 29/2000, muitos Municípios editaram leis prevendo alíquotas
progressivas em razão do valor do imóvel. O STF considera que essas leis são inválidas:
Súmula 668-STF: É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da emenda
constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o
cumprimento da função social da propriedade urbana.
Com a declaração de inconstitucionalidade da lei municipal, os contribuintes irão pagar o IPTU
com base em qual alíquota?
A mínima prevista. O STF firmou a seguinte tese: "Declarada inconstitucional a
progressividade de alíquota tributária, é devido o tributo calculado pela alíquota mínima
correspondente, de acordo com a destinação do imóvel."
STF. Plenário. RE 602347/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 4/11/2015 (repercussão geral)
(Info 806).

IPTU

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


IPTU significa imposto sobre propriedade territorial urbana de bens imóveis, sendo tributo de
competência dos Municípios.

O IPTU está previsto no art. 156, I, da CF/88:


Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
I - propriedade predial e territorial urbana;

Normas que regem o IPTU


 CF/88 (arts. 156, I, e § 1º; art. 182, § 4º, II);
 CTN (arts. 32 a 34);
 Estatuto da Cidade - Lei federal n. 10.257/2001 (art. 7º);
 Lei municipal que institua o imposto (verificar a lei local).

Características
Trata-se de um imposto:
 Real: incide sobre uma coisa (propriedade imobiliária urbana);
 Direto: o próprio contribuinte é quem suporta o encargo financeiro da tributação (não há repercussão
econômica);
 Fiscal: a função precípua deste imposto é a arrecadação (imposto fiscal). Vale ressaltar, no entanto,
que, em alguns casos, ele poderá assumir também um caráter extrafiscal (forma de estimular o
cumprimento da função social da propriedade);
 Progressivo: pode ser progressivo no tempo caso a propriedade não esteja cumprindo sua função
social (art. 182, § 4º), além de poder ser progressivo em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I);
 Complexivo: significa que seu fato gerador é um só ao longo de todo o ano.

Fato gerador

- de bem imóvel
propriedade

O fato gerador - por natureza ou
domínio útil

do IPTU é a... - por acessão física
posse
- localizado na zona urbana.

Alíquota
As alíquotas poderão ser livremente estipuladas pelos Municípios, desde que, obviamente, não sejam tão
elevadas a ponto de caracterizar um confisco, o que é vedado constitucionalmente (art. 150, IV, da CF/88).
Existem três critérios de diferenciação de alíquota no IPTU:
a) Progressividade em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I);
b) Progressividade em razão da função social da propriedade (art. 182, § 4º, II): aumento de alíquotas
para desestimular que o imóvel fique não edificado, inutilizado ou subutilizado.
c) Extrafiscalidade pela localização e uso (art. 156, § 1º, II).

O s:àalgu sàauto esà ha a àaàe t afis alidadeàpelaàlo alizaçãoàeàusoàdeà seletividadeàdoàIPTU .àÉàoà asoà
de Hugo de Brito Machado e Ricardo Lobo Torres.

Progressividade
Progressividade é uma técnica de tributação que tem como objetivo fazer com que os tributos atendam à
capacidade contributiva.
Na prática, a progressividade funciona da seguinte forma: a lei prevê alíquotas variadas para o imposto e o
aumento dessas alíquotas ocorre na medida em que se aumenta a base de cálculo.
Assim, na progressividade, quanto maior a base de cálculo, maior será a alíquota.

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


O exemplo comum citado pela doutrina é o do imposto de renda, que é progressivo.
No IR, quanto maior for a renda (BC), maior será o percentual (alíquota) do imposto. Quanto mais a pessoa
ganha, maior será a alíquota que irá incidir sobre seus rendimentos.

O IPTU é progressivo?
SIM. Existem duas espécies de progressividade no IPTU:
a) Progressividade em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I): quanto maior o valor do imóvel, maior a
alíquota. Trata-se de progressividade fiscal (com o objetivo de arrecadar mais).
b) Progressividade em razão da função social da propriedade (art. 182, § 4º, II): aumento de alíquotas para
desestimular que o imóvel fique não edificado, inutilizado ou subutilizado. Consiste em uma
progressividade extrafiscal (tem por finalidade fazer cumprir um mandamento constitucional, qual seja, a
função social da propriedade).

O IPTU sempre teve essas duas espécies de progressividade?


NÃO.
Antes da EC 29/2000, a CF/88 permitia para o IPTU apenas a progressividade em razão da função social da
propriedade (art. 182, § 4º, II) (letra "b" acima). A Constituição não previa, expressamente, a
progressividade em razão do valor do imóvel (art. 156, § 1º, I) (letra "a" acima).
Ocorre que mesmo antes da EC 29/2000, muitos Municípios editaram leis prevendo alíquotas progressivas
em razão do valor do imóvel. Em outras palavras, mesmo sem autorização expressa da CF/88, os
Municípios fizeram leis fixando alíquotas de IPTU que variavam de acordo com o valor do imóvel. Quanto
maior a faixa de valor, maiores eram as alíquotas.

Exemplo hipotético de lei municipal prevendo progressividade em razão do valor:


A Lei do Município XXX, editada em 1998, previa o seguinte
Art. 33. A alíquota para cálculo do IPTU é:

I - Quanto aos imóveis residenciais:


a) Para terrenos com valor venal até R$ 100 mil, alíquota de 5% (cinco por cento);
b) Para terrenos com valor venal acima de R$ 100 mil e até R$ 500 mil, alíquota de 7% (sete por cento);
c) Para terrenos com valor venal acima de R$ 500 mil e até R$ 1 milhão, alíquota de 9% (nove por cento);
d) Para terrenos com valor venal acima de R$ R$ 1 milhão, alíquota de 10% (dez por cento).

II - Quanto aos imóveis não-residenciais:


a) Para terrenos com valor venal até R$ 100 mil, alíquota de 6% (seis por cento);
b) Para terrenos com valor venal acima de R$ 100 mil e até R$ 500 mil, alíquota de 8% (oito por cento);
c) Para terrenos com valor venal acima de R$ 500 mil e até R$ 1 milhão, alíquota de 10% (dez por cento);
d) Para terrenos com valor venal acima de R$ R$ 1 milhão, alíquota de 12% (doze por cento).

Para o STF, as leis municipais que, antes da EC 29/2000, previam alíquotas progressivas em razão do
valor do imóvel eram válidas? Essa Lei do Município XXX era válida?
NÃO. Como vimos acima, antes da EC 29/2000, a CF/88 não previa, em seu texto, a progressividade em
razão do valor do imóvel. Para o STF, essa lacuna era proposital e, não havendo previsão expressa, os
Municípios estavam proibidos de instituir a progressividade em razão do valor. Antes da EC 29/2000 só era
válida uma forma de progressividade no IPTU: a progressividade para cumprir a função social da
propriedade. Logo essas leis municipais que trouxeram progressividade fiscal antes da EC 29/2000 eram
inconstitucionais. Foi editada até uma súmula para expor esse entendimento:
Súmula 668-STF: É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da emenda constitucional
29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função
social da propriedade urbana.

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


Imagine que esse art. 33 da Lei do Município XXX foi declarado inconstitucional com base no
entendimento exposto na Súmula 668-STF. A dúvida que surge agora é a seguinte: com a declaração de
inconstitucionalidade, os contribuintes estarão dispensados de pagar o IPTU?
NÃO. O fato de ter sido declarada inconstitucional a progressividade das alíquotas não inviabiliza a
cobrança do IPTU. De acordo com a teoria da divisibilidade da lei, somente se deve proferir a
inconstitucionalidade das normas viciadas, não devendo estender o juízo de censura às outras partes da
lei. Nesse sentido, a lei municipal só seria inconstitucional no tocante à progressividade das alíquotas, de
modo que a solução mais adequada é manter a exigibilidade do tributo.

Qual será, no entanto, a alíquota que deverá ser paga? Suponha que João possui um imóvel avaliado em
R$ 2 milhões, ele pagará o IPTU com base em qual alíquota?
Declarada inconstitucional a progressividade de alíquota tributária, é devido o tributo calculado pela
alíquota MÍNIMA correspondente, de acordo com a destinação do imóvel.
Segundo decidiu o STF, o reconhecimento da inconstitucionalidade da progressividade do IPTU não afasta
a cobrança total do tributo. Esta, no entanto, deve ser realizada pela forma menos gravosa prevista em lei.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Correção monetária, demonstrações financeiras, imposto de renda e Lei 8.200/1991 - 3


É constitucional o inc. I do art. 3º da Lei 8.200/1991, que dispõe sobre a correção monetária das
demonstrações financeiras para efeitos fiscais e societários. Com base nessa orientação, o Tribunal, em
preliminar e, por maioria, conheceu do recurso e, no mérito, deu-lhe provimento. Na espécie, tribunal
regional federal entendera que a devolução parcelada da diferença verificada no ano de 1990 entre a
variação do IPC e do BTNF, estabelecida pela mencionada norma, teria configurado empréstimo
compulsório sem observância dos requisitos constitucionais — v. Informativos 369 e 434. O Tribunal
adotou a jurisprudência por ele firmada no julgamento do RE 201.465/MG (DJU de 17.10.2003) no sentido
de que referido dispositivo, posteriormente modificado pelo art. 11 da Lei 8.682/1993, não representaria
ilegítima e disfarçada espécie de empréstimo, mas sim favor fiscal criado pelo legislador. Vencidos os
Ministros Marco Aurélio (relator), Ricardo Lewandowski (Presidente), Ayres Britto e Rosa Weber, que a ele
negavam provimento. Apontavam que a devolução parcelada da diferença verificada no ano de 1990 entre
a variação do IPC e do BTNF configuraria empréstimo compulsório porque ausentes requisitos
constitucionais.
RE 201512/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia.5.11.2015.

Juntada do incidente de inconstitucionalidade


Em conclusão de julgamento e, por maioria, o Plenário deu provimento a agravo regimental em recurso
extraordinário no sentido de dispensar a exigência de juntada do aresto que servira de base ao acórdão
recorrido nas hipóteses em que já houver o pronunciamento do STF sobre a questão. Assim como ocorreu no
asoà o eto,àaàCo teàe te deuà ue,àseàoàpa g afoàú i oàdoàa t.à àdoàCPCà á t.à .à“eàaàalegaçãoàfo à
rejeitada, prosseguirá o julgamento; se for acolhida, será lavrado o acórdão, a fim de ser submetida a questão
ao tribunal pleno. Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao
órgão especial, a arguição de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário
do Supremo Tribunal Federal sobre a questão) permite que, nesses casos, o órgão fracionário não submeta ao
plenário do STF o incidente de inconstitucionalidade, exigir-se a juntada do inteiro teor do acórdão proferido
peloàT i u alà aà uo à oài ide teàdeài o stitu io alidadeàpa aàoà o he i e toàdoà e u soàe t ao di ioà
resultaria em desmedida valoração do julgamento do órgão especial do Tribunal de origem sobre a decisão do
STF. Na espécie, trata-se de agravo regimental interposto contra decisão de relator que, ante a ausência da
juntada da arguição de inconstitucionalidade aos autos, negara seguimento a recurso extraordinário. Tal

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


recurso fora manejado contra acórdão de tribunal regional federal que, fundado em precedente do Plenário
daquela Corte, não integrado aos autos, reconhecera a inconstitucionalidade do art. 3º, I, da Lei 8.200/1991,
declarado constitucional pelo STF nos autos do RE 201.465/MG (DJU de 17.10.2003) — v. Informativos 310,
346 e 583. A Corte destacou que, embora o órgão recorrido não tenha transcrito integralmente o acórdão do
tribunal regional que apreciara o incidente de inconstitucionalidade, sua ementa fora reproduzida. Apontou
que estariam sumariadas as razões da decisão, suficientes para afastar qualquer dúvida a respeito do tema.
Ademais, o acórdão recorrido conteria vasta e minuciosa fundamentação própria a respeito da matéria
constitucional, condição suficiente para atestar a higidez do que nele contido e viabilizar o conhecimento do
recurso extraordinário. Vencidos os Ministros Sepúlveda Pertence (relator), Cármen Lúcia, Eros Grau e Marco
Aurélio, que negavam provimento ao recurso. Afastavam a incidência, na espécie, do parágrafo único do art.
481 do CPC.
RE 196752 AgR/MG, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 5.11.2015.

ECT e prescrição
A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, proveu agravo regimental para determinar que
o recurso extraordinário tenha sequência. Na espécie, debate-se a possibilidade, à luz do art. 173, § 1º, II, da
CF, de equiparação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) com a Fazenda Pública — v.
Informativo 797. A Turma destacou que a matéria deveria ser examinada em razão de várias prerrogativas de
direito público já terem sido reconhecidas aos Correios. Vencidos a Ministra Rosa Weber (relatora) e o
Ministro Roberto Barroso que mantinham a decisão agravada no sentido de que o conceito de fazenda
pública se estenderia à ECT. Agravo regimental em agravo regimental em recurso extraordinário provido para
assegurar o trânsito em julgado do recurso extraordinário em que se questiona a aplicação da prescrição
quinquenal prevista no Decreto 20.910/1932 à referida empresa pública prestadora de serviço público.
RE 790059 AgR-AgR/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 3.11.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 3 a 6 de novembro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 907.209-DF


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. RECLAMATÓRIA TRABALHISTA AJUIZADA POR
SINDICATO, NA QUALIDADE DE SUBSTITUTO PROCESSUAL. CONTROVÉRSIA ACERCA DA NATUREZA DOS DIREITOS
DEMANDADOS, SE INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS OU HETEROGÊNEOS. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa à natureza, se individual homogênea ou heterogênea, dos direitos postulados por Sindicato em reclamação trabalhista, na
qualidade de substituto processual, é de natureza infraconstitucional.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 911.161-SC
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DA LEI 9.099/95. PRAZO
PARA APRESENTAÇÃO DE DEFESA. TERMO INICIAL. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa ao termo inicial da contagem do prazo para apresentação de defesa no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, fundada na
interpretação da Lei 9.099/95 e do Código de Processo Civil, é de natureza infraconstitucional.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ademais, esta Corte, ao apreciar o Tema 800 da sistemática da repercussão geral (ARE 835.833-RG, de minha relatoria, DJe de 26/3/2015),
atribuiu os efeitos da ausência de repercussão geral aos recursos extraordinários interpostos nos Juizados Especiais Cíveis da Lei 9.099/99 que, como
o presente, não demonstrem claramente (a) o prequestionamento de matéria constitucional e (b) a repercussão geral da controvérsia.
4. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


CLIPPING DO DJE
3 a 6 de novembro de 2015

AG. REG. NO ARE N. 807.255-RJ


RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO TRIBUTÁRIO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.
DEVIDO PROCESSO LEGAL. ITBI. FATO GERADOR. PROMESSA DE COMPRA E VENDA.
1. A jurisprudência do STF se consolidou no sentido de que suposta ofensa aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório
e dos limites da coisa julgada, quando a violação é debatida sob a ótica infraconstitucional, não apresenta repercussão geral. Precedente: RE-RG
748.371, de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, DJe 1º.8.2013.
2. A transferência do domínio sobre o bem torna-se eficaz a partir do registro público, momento em que incide o Imposto Sobre Transferência de
Bens Imóveis (ITBI), de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Logo, a promessa de compra e venda não representa fato gerador
idôneo para propiciar o surgimento de obrigação tributária.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 910.280-DF
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITO DO TRABALHO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. CONTRATO DE TRABALHO ANTERIOR À
CF/1988. INEXISTÊNCIA DE TRANSPOSIÇÃO AO REGIME JURÍDICO ÚNICO. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO CONTRATO DE
TRABALHO. SÚMULA 284/STF. PRECEDENTES.
1. A controvérsia dos autos não é fundada em vínculo estatutário ou em contrato de trabalho temporário submetido a lei especial. Trata-se de
contrato que fora celebrado antes do advento da Constituição Federal de 1988, em época na qual se admitia a vinculação à Administração
Pública de servidores sob o regime da CLT. A competência, portanto, é da Justiça do Trabalho. Precedentes.
2. O Plenário Virtual do Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o ARE 906.491-RG, sob a relatoria do Ministro Teori Zavascki, reconheceu
a existência de repercussão geral da questão constitucional em análise e reafirmou a jurisprudência da Corte sobre a questão.
3. As razões do recurso extraordinário quanto à nulidade do vínculo com a Administração Pública não guardam pertinência com a
fundamentação do acórdão recorrido. Nessas circunstâncias, incide a Súmula 284/STF.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
RHC N. 117.806-PE
REDATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DOSIMETRIA DA PENA. PENA-BASE. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
DESFAVORÁVEIS. FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA. EXASPERAÇÃO. EXCESSO NÃO VERIFICADO. DISCRICIONARIEDADE
REGRADA. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA. RECURSO DESPROVIDO.
1. É razoável a fundamentação que justifica a exasperação da pena-base tendo em vista a constatação de circunstâncias judiciais desfavoráveis ao
condenado e que extrapolam os elementos típicos inerentes à figura penal cominada.
2. Inexiste excesso no quantum da exasperação quando, presentes diversos vetores negativos, a pena foi fixada abaixo do termo médio. Dosimetria
efetuada segundo os critérios de discricionariedade regrada que naturam a individualização da pena.
3.Recurso ordinário em habeas corpus desprovido.
AG. REG. NO AI N. 671.749-BA
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.
CONVERSÃO DE VENCIMENTOS. URV. LEI Nº 8.880/1994. MP 434/1994. REDUÇÃO DE VENCIMENTOS. SÚMULA 279/STF.
1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal já assentou a inexistência de repercussão geral da controvérsia relativa à suposta violação aos princípios do
contraditório, da ampla defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo legal (ARE 748.371-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes – Tema 660).
2. A questão referente a redução ou não dos vencimentos implicaria a reanálise dos fatos e provas constantes nos autos, o que é vedado pela súmula
279/STF.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. EM MS N. 27.052-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO QUE
JULGOU ILEGAL O ATO DE CONCESSÃO DE PENSÃO CIVIL. BENEFICIÁRIA. MENOR SOB GUARDA TEMPORÁRIA.
JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.
1. A Primeira Câmara do Tribunal de Contas da União considerou ilegal e negou registro à pensão civil instituída por servidora pública federal
falecida e concedida em favor da impetrante, sua neta, nascida em 28/10/1996, ao argumento de que a genitora da impetrante é economicamente ativa,
o que descaracterizava a dependência econômica da menor em relação à instituidora do benefício.
2. O recebimento de pensão temporária até completar 21 (vinte um) anos de idade (alínea “b”, do inciso II, do art. 217, da Lei nº 8.112/1990) é assegurado ao
menor de idade que esteja sob a guarda do servidor na data do seu óbito. Irrelevante o fato de a guarda ser provisória ou definitiva. (MS 25.823/DF, Redator
para o acórdão Min. Ayres Britto, Plenário, DJe 28/08/2009).
3. O art. 205 do Regimento Interno desta Suprema Corte, na redação conferida pela Emenda Regimental nº 28/2009, expressamente autoriza o Relator
a julgar monocraticamente o mandado de segurança, quando a matéria em debate for objeto de jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal
Federal.
4. In casu, a decisão do TCU teve por fundamento, apenas, a necessidade de comprovação da dependência econômica da ora impetrante. Dessa forma,
anulada a decisão questionada e não existindo outra fundamentação para a negativa do registro, a Corte de Contas deve procedê-lo na forma legal.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


HC N. 127.444-SP
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. SUBSTITUTIVO DE RECURSO CONSTITUCIONAL. INADEQUAÇÃO DA VIA
ELEITA. CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS. SENTENÇA CONDENATÓRIA. REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA. SUBSTITUIÇÃO
DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. MANUTENÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO.
1. Contra a denegação de habeas corpus por Tribunal Superior prevê a Constituição Federal remédio jurídico expresso, o recurso ordinário.
Diante da dicção do art. 102, II, a, da Constituição da República, a impetração de novo habeas corpus em caráter substitutivo escamoteia o
instituto recursal próprio, em manifesta burla ao preceito constitucional.
2. Inviável o exame das teses defensivas não analisadas pelo Superior Tribunal de Justiça, sob pena de indevida supressão de instância.
3. O decreto de prisão cautelar há de se apoiar nas circunstâncias fáticas do caso concreto, evidenciando que a soltura, ou a manutenção em
liberdade, do agente implicará risco à ordem pública, à ordem econômica, à instrução criminal ou à aplicação da lei penal (CPP, art. 312).
4. A motivação sem elementos concretos ou base empírica idônea a amparar o decreto prisional, esbarra na jurisprudência consolidada deste
Supremo Tribunal Federal, que não lhe reconhece validade. Precedentes.
5. Ordem de habeas corpus concedida para assegurar o direito de o paciente recorrer em liberdade.
AG. REG. NA Rcl N. 21.419-PA
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: RECLAMAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL. DESMEMBRAMENTO DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL POR DETERMINAÇÃO DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AÇÃO PENAL EM TRAMITAÇÃO PERANTE MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU. DEPOIMENTO
TESTEMUNHAL PRESTADO POR COLABORADOR. MENÇÃO A AUTORIDADE DETENTORA DE FORO PRIVILEGIADO. USURPAÇÃO
DE COMPETÊNCIA DO STF. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE PERSECUÇÃO CRIMINAL DIRETA DO
PARLAMENTAR PELO JUÍZO RECLAMADO.
1. A atuação do juízo reclamado deu-se com base em decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal em 19.12.2014, nos autos de Pet 5.245, que,
acolhendo manifestação do Procurador-Geral da República, dominus litis, deferiu “os requerimentos de cisão processual, mantendo-se no Supremo
Tribunal Federal aqueles termos em que figurem detentores de prerrogativa de foro correspondente (item VII, h), com remessa dos demais aos juízos
e tribunais indicados”.
2. Eventual encontro de indícios de envolvimento de autoridade detentora de foro privilegiado durante atos instrutórios subsequentes, por si só, não
resulta em violação de competência desta Suprema Corte, ainda mais quando houver prévio desmembramento pelo Supremo Tribunal Federal, como
ocorreu no caso.
3. Não demonstração de persecução, pelo juízo reclamado, da prática de atos violadores da competência do Supremo Tribunal Federal.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
*noticiado no Informativo 802
Ext N. 1.394-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: EXTRADIÇÃO. CLÁUSULA DO ACORDO EXTRADICIONAL FIRMADO ENTRE OS ESTADOS PARTES DO MERCOSUL, A
REPÚBLICA DA BOLÍVIA E A REPÚBLICA DO CHILE QUE IMPEDE A ENTREGA DO SÚDITO ESTRANGEIRO PARA EXECUÇÃO DE
SENTENÇA QUANDO A PENA AINDA POR CUMPRIR FOR INFERIOR A SEIS MESES. INDEFERIMENTO.
1. O acordo de extradição firmado entre os Estados Partes do Mercosul (República Argentina, República Federativa do Brasil, República do Paraguai
e República do Uruguai), a República da Bolívia e a República do Chile promulgado pelo Decreto 5.867/2006, contempla cláusula (artigo 2, item 2)
que impede a entrega do súdito estrangeiro para execução de sentença quando a pena ainda por cumprir no Estado requerente seja inferior a seis
meses.
2. Na verificação de pena remanescente a ser executada pelo Estado requerente é imprescindível que seja computado o lapso temporal em que o
estrangeiro permaneceu preso no aguardo do julgamento do pedido extradicional (art. 91, II, Lei 6.815/1990). Precedentes.
3. A hipótese dos autos revela que a pena remanescente resulta inferior a seis meses.
4. Extradição indeferida.
AG. REG. NA Rcl N. 5.476-PE
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO QUE DECIDIDO NA ADC Nº 4.
INDEFERIMENTO DE PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. AUSÊNCIA DE ESTRITA ADERÊNCIA.
Ao julgamento da medida cautelar na ADC 4, este Supremo Tribunal Federal assentou a legitimidade das restrições impostas pela Lei nº 9.494/97
relativas ao não cabimento de antecipação de tutela contra o Poder Público nas hipóteses que importem em a) reclassificação ou equiparação de
servidores públicos; (b) concessão de aumento ou extensão de vantagens pecuniárias; (c) outorga ou acréscimo de vencimentos; (d) pagamento de
vencimentos e vantagens pecuniárias a servidor público ou (e) esgotamento , total ou parcial, do objeto da ação, desde que tal ação diga respeito,
exclusivamente, a qualquer das matérias acima referidas.
Não se tratando de insurgência contra a concessão de medida liminar contra a Fazenda Pública nas hipóteses descritas, impõe-se reconhecer a
ausência de estrita aderência entre o ato reclamado e o paradigma invocado.
Agravo regimental conhecido e não provido.
Acórdãos Publicados: 230

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


Presunção Constitucional de Inocência - Dever do MP de Provar a Acusação (Transcrições)
(v. Informativo 806)
AP 869/AL*
RELATOR: Ministro Teori Zavascki

REVISOR: Ministro Celso de Mello


VOTO (SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO): A presente ação penal foi ajuizada contra o Deputado Federal ** pela suposta prática do delito
tipificado no art. 129, § 9º, do Código Penal, alegadamente cometido quando o réu – que hoje é membro do Congresso Nacional – exercia o
mandato de Deputado estadual em Alagoas.
A imputação criminal deduzida pelo eminente Senhor Procurador-Geral da República afirma ueàoà u,à oàdiaà / / ,à agrediu
fisicamente a sua ex-companheira ** na residência da vítima à fls.à à– grifei).
Segundo a denúncia,à as agressões perpetradas pelo denunciado ocasionaram lesões corporais leves na vítima, conforme o laudo de exame
de corpo de delito juntado às fls. 20 do apenso 2 à fls.à à– grifei).
Registro, ainda, por necessário, que o Ministério Público Federal, em peça processual protocolada em separado (fls. 52/53), propõe seja
declarada extinta a punibilidade do Deputado Federal ** em relação ao delito de ameaça (CP, art. 147), objeto de apuração nos autos do Inquérito
nº ** (Apenso, vol. 1), por entender consumada, na espécie, a prescrição penal.
Em sua resposta preliminar, o então denunciado alegou, em síntese, (a à a ausência de justa causa para o prosseguimento do feito, já que
toda a prova foi colhida por autoridade incompetente ;à b à a negativa de autoria ,àeis que,à ao contrário do que afirmado na denúncia, não é
verdade que o acusado tenha agredido fisicamente sua ex-companheira ** ,àsustentando, ainda, que, no caso,à a instauração de um processo
pe alàeàeve tualàse te çaà o de ató iaàt a ia à à vidaà eal à aisàp ejuízoàdoà ueà e efí io,à o t a ia doàaàdi ç oàdoàa t.à59, CP, e os fins políticos
de aplicação de uma pena à grifei).
A denúncia foi recebida por esta Suprema Corte, em 05/12/2013, em julgamento que está assim ementado (fls. 327):
P‘OCE““UáLàPENáL.àRECEBIMENTO DA DENÚNCIA. ATENDIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 41 DO CPP. PRESENÇA DE JUSTA
CAUSA (CPP, ART. 395, III), EM FACE DOS INDÍCIOS DE AUTORIA E MATERIALIDADE.
DENÚNCIA RECEBIDA.
(Inq 3.156/AL, Red. p/ o acórdão Min. TEORI ZAVASCKI – grifei)
O Ministério Público Federal, em suas alegações finais, pleiteou a absolvição penal do réu, fazendo-o em manifestação assim ementada (fls.
658):
AÇÃO PENAL. SUPOSTA PRÁTICA DO CRIME DE LESÕES CORPORAIS NO ÂMBITO DE RELAÇÕES DOMÉSTICAS ATRIBUÍDA A
CONGRESSISTA. ALEGAÇÕES FINAIS.
1. Negativa da existência dos fatos em audiência pela vítima, declarando que deu início à persecução criminal como forma de
vi ga ça .
2. Testemunhas negaram em juízo a existência do fato delituoso, com mudança do panorama fático apresentado à autoridade
policial. Laudo pericial que não corresponde à forma como a suposta agressão teria ocorrido.
3. Requerimento de absolvição do réu. Art. 386, VII, do CPP. Promoção de responsabilidade da comunicante pelo crime de
de u iaç oà alu iosa. à(grifei)
O réu, por sua vez, postula a absolvição da imputação penal contra ele deduzida por ausência de qualquer prova evidenciadora da autoria
do delito de lesões corporais (violência doméstica).
Impõe-se examinar, inicialmente, questão prévia, suscitada pelo Ministério Público Federal (fls. 52/53), consistente na ocorrência de causa
extintiva da punibilidade em relação, exclusivamente, ao delito de ameaça (CP, art. 147).
Assiste razão ao eminente Chefe do Ministério Público da União, eis que o exame dos marcos temporais relevantes para o cálculo
prescricional evidencia que se consumou, na espécie, a prescrição da pretensão punitiva do Estado referentemente ao delito tipificado no art. 147
do Código Penal (fls. 52/53):
1. Em relação ao delito de ameaça, objeto do Inquérito nº ** (apenso 1), verifica-se que houve o transcurso do lapso prescricional. A
pena máxima atribuída ao referido crime é de 6 (seis) meses de prisão. Como o delito foi praticado antes do advento da Lei nº 12.234/2010,
aplica-se o prazo prescricional de 2 (dois) anos previsto na redação original do art. 109, inciso VI, do Código Penal, por ser mais benéfico ao
investigado. A suposta ameaça teria sido praticada em 16.7.2007, sendo o prazo prescricional alcançado em 15.7.2009.
2. Ante o exposto, requer o Procurador-Geral da República seja declarada a extinção da punibilidade em relação ao delito de
ameaça. à grifei)
Acolho, por tal motivo, essa douta promoção do Senhor Procurador-Geral da República (fls. 52/53) e declaro extinta, em consequência,
quanto ao crime de ameaça (CP, art. 147), a punibilidade do Deputado Federal **, fazendo-o com apoio no art. 107, IV, c/c o art. 109, VI, do CP.
Superada essa questão, passo, desde logo, ao exame da causa. E, ao fazê-lo, entendo que a insuficiência da prova penal existente nos autos
não pode legitimar a formulação, no caso, de um juízo de certeza que autorize a condenação do réu.
Tenho para mim que os elementos produzidos neste processo evidenciam, de maneira bastante clara, a ausência de dados que permitam
identificar, com segurança, a autoria do crime de lesões corporais por parte do réu, sendo certo, ainda, o caráter precário da prova testemunhal,
que, embora arrolada pelo próprio Ministério Público, contradiz a versão dos fatos narrados na denúncia.
Também o Ministério Público Federal, como precedentemente assinalado, ao manifestar-se pela absolvição do réu, destacou, nas alegações
finais, a iliquidez do conjunto probatório quanto à autoria do fato, valendo destacar o seguinte fragmento de seu pronunciamento (fls. 661/666):
Por ocasião da audiência de instrução, ** declarou, essencialmente, o seguinte:
Juiz – […] A senhora está me dizendo, aqui, que não houve contato físico nenhum entre vocês?
Depoente – Não, não houve.
[…]
Juiz – Muito bem. Então, para finalizar, consta que a senhora foi examinada e foram verificados sinais, salvo engano, no seu
braço, ao que recordo agora. Ao que a senhora atribui, então, esses sinais de agressão?

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


Depoente – Não sei. Eu acho que hematoma... eu não sei, porque eu tenho mais duas crianças – uma do meu primeiro
casamento, e ele e eu brincava muito com os meninos, eu fico muito no chão com eles até hoje. Briga de menino, brincadeira de
menino geralmente são pesadas. Eu acho que foi alguma coisa dos meninos que eu devo ter esbarrado também, batido em berço. Eu
sou muito destrambelhada, assim, para essas coisas, até que eu tô com um roxo aqui no joelho.
Juiz – […]àa senhora reitera, então, que, naquela oportunidade – essa oportunidade claramente identificada na denúncia –, a
senhora, em nenhum momento, sofreu agressão física de **?
Depoente – Isso. Reitero.
[…]à
Ministério Público – Então, no caso, na Polícia Civil, a senhora teria inventado que ele lhe agrediu?
Depoente – Isso.
Ministério Público – Como vingança?
Depoente – Isso.
**, mãe da vítima e pessoa que teria presenciado parcialmente os fatos, declarou:
[…]à
Ministério Público – A acusação é de que, em novembro de 2006, ** teria agredido fisicamente a sua filha **. O que a senhora
pode dizer sobre essa acusação, sobre esses fatos?
Testemunha – Olha, agressão física eu não sei; não vi.
Ministério Público – Certo.
Testemunha – Pelo menos perante minha presença não aconteceu. Aí não. Houve discussão de baixíssimo grau.
Ministério Público – A senhora diz que não viu, mas o que a senhora viu?
Eu vi foi, quando fui chamada por uma secretária, que eles estavam em um bate-boca de baixo nível, a ponto de se pegarem.
Só discussões; discussão, como eu digo, de baixo nível. E aquilo estranhou o pessoal que trabalhava na casa, no apartamento, porque
não era comum, até porque também ele não estava mais em casa. Ele já tinha saído de casa, não é? E me chamaram com medo de
que acontecesse alguma coisa, alguma agressão, alguma coisa, mas quando eu cheguei lá meu filho puxou ele para a cozinha, eu
segurei ele e a gente assim... mas agressão, não. De jeito nenhum.
[…]
Ministério Público – Mas quando a senhora chegou lá na casa, ** estava como?
Testemunha – ** estava batendo boca com o **.
Ministério Público – Ah, ainda estava discutindo com ele em pé, na sala?
Testemunha – Estava, estava sim, estava em pé, estava batendo boca mesmo, sério.
Ministério Público – Sem agressão física?
Testemunha – Sem agressão,à asàestavaà a uela,à a ueleà i gue,àsa e?à[…].
Ministério Público – Mas tinha algum machucado no corpo dela? Alguma coisa?
Testemunha – Não, não, tinha não. De jeito nenhum.
Ministério Público – Ele já tinha tentado agredi-la fisicamente antes?
Testemunha – Não, nunca.
Ministério Público – Nunca?
Testemunha – Nunca. O **?
Por sua vez, **, irmão da vítima que teria presenciado parcialmente os fatos, declarou, em síntese, que:
[…]
Juiz – Em nenhum momento então o senhor viu o ** encostando a mão na sua (ininteligível)?
Testemunha – Não, de forma alguma. Pelo contrário. Eu até, para evitar isso, puxei ele para a cozinha, para conversar comigo;
porque, até então, eu não estava sabendo o que estava havendo e o motivo daquela discussão.
[…]
Ministério Público – Depois disso, sua mãe e sua irmã foram à delegacia de polícia para registrar a ocorrência, o senhor sabe?
Testemunha – Quem foi à delegacia fui eu, com ela. Fui eu que a acompanhei.
[…]à
Ministério Público – No mesmo dia?
Testemunha – No mesmo dia, na mesma noite que ela dizendo que tinha sido agredida. E eu perguntei onde estava a agressão,
que eu não tinha visto.
Ministério Público – E ela disse?
Testemunha – Ela ficou calada.
[…]
Ministério Público – E tinha algum machucado no corpo dela?
Testemunha – Eu não vi. Aparentemente, aqui no rosto, o que ela estava apresentando – né? –, eu não vi.
[…]
Juiz – Muitoà e .àMi haàpe gu taà àaàsegui te:à[…]àu aà ulhe à ueàapa ha, estaria talvez segurando um braço, ou gemendo
de dor, ou reclamando de um tapa. Nenhum desses sinais a senhora sua irmã apresentava?
Testemunha – Não, só vi ele chorando muito, mas sinais de agressão eu não vi,àEx el ia.
…...................................................................................................
O conjunto probatório é, contudo, ilíquido quanto à autoria. ** e **, ouvidas pela autoridade policial e pela autoridade judiciária,
modificaram completamente seus relatos de uma para a outra instância, passando a negar o que antes afirmaram.
…...................................................................................................
Impende, portanto, como forma de resguardar a respeitabilidade do sistema de justiça criminal, não só absolver o réu, mas possibilitar à
i st iaào di iaàaàp o oç oàdaà espo sa ilidadeàdeà**àpeloà i eàdeàde u iaç oà alu iosa. à(grifei)
Como se vê, Senhores Ministros, assume inquestionável relevo, no caso ora em julgamento, a ausência conspícua de dados probatórios
evidenciadores da prática delituosa pelo réu.
Com efeito, o estado de dúvida que emerge deste processo penal de conhecimento desautoriza, por completo, qualquer juízo condenatório.

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Na realidade, em nosso sistema jurídico, como ninguém o desconhece, a situação de dúvida razoável só pode beneficiar o réu, jamais
prejudicá-lo, pois esse é um princípio básico que deve sempre prevalecer nos modelos constitucionais que consagram o Estado democrático de
Direito.
O exame dos elementos constantes destes autos evidencia que o Ministério Público deixou de produzir prova penal lícita que corroborasse
o conteúdo da imputação penal deduzida contra o réu, não sendo capaz de cumprir, por isso mesmo, a norma inscrita oàa t.à ,à caput ,àdoàCPP,à
que atribui ao órgão estatal da acusação penal o encargo de provar, para além de qualquer dúvida razoável, a autoria e a materialidade do fato
delituoso.
Como sabemos, nenhuma acusação penal presume-se provada. Esta afirmação, que decorre do consenso doutrinário e jurisprudencial em
torno do tema, apenas acentua a inteira sujeição do Ministério Público ao ônus material de provar a imputação penal consubstanciada na
denúncia.
Com a superveniência da Constituição de 1988, proclamou-se, explicitamente (art. 5º, LVII), um princípio que sempre existira, de modo
imanente, em nosso ordenamento positivo: o princípio da não culpabilidade (ou do estado de inocência) das pessoas sujeitas a procedimentos
pe se utó iosà DáLMOàDEàáBREUàDáLLáRI,à O Renascer do Direito ,àp. / ,à ,àBushatsk ;àWEBERàMáRTIN“àBáTI“Tá,à Liberdade
Provisória ,àp.à ,à ,àFo e se .
Esse postulado – cujo domínio de incidência mais expressivo é o da disciplina da prova – impede que se atribuam à denúncia penal
consequências jurídicas apenas compatíveis com decretos judiciais de condenação definitiva. Esse princípio tutelar da liberdade individual repudia
presunções contrárias ao imputado, que não deverá sofrer punições antecipadas nem ser reduzido,àe àsuaàpessoalàdi e sãoàju ídi a,àaoà status
poenalis àdeà o de ado.àDe outro lado, faz recair sobre o órgão da acusação, agora de modo muito mais intenso, o ônus substancial da prova,
fixando diretriz a ser indeclinavelmente observada pelo magistrado e pelo legislador.
É preciso relembrar, Senhores Ministros, que não compete ao réu demonstrar a sua inocência. Antes, cabe ao Ministério Público
demonstrar, de forma inequívoca, a culpabilidade do acusado. Hoje já não mais prevalece, em nosso sistema de direito positivo, a regra hedionda
que, em dado momento histórico de nosso processo político, criou, para o réu, com a falta de pudor que caracteriza os regimes autoritários, a
obrigação de ele, acusado, provar a sua própria inocência!!!
Refiro-me ao art. 20, inciso 5, do Decreto-lei nº 88, de 20/12/1937 – editado sob a égide do nefando Estado Novo de VARGAS –, que
veiculava, no que se refere aos delitos submetidos a julgamento pelo tristemente célebre Tribunal de Segurança Nacional, e em ponto que guarda
inteira pertinência com estas observações, uma fórmula jurídica de despotismo explícito:à Presume-se provada a acusação, cabendo ao réu prova
em contrário (...) à grifei).
O fato indiscutivelmente relevante no domínio processual penal, Senhores Ministros, é que, no âmbito de uma formação social organizada
sob a égide do regime democrático, não se justifica, sem base probatória idônea, a formulação possível de qualquer juízo condenatório, que deve
sempre assentar-se – para que se qualifique como ato revestido de validade ético-jurídica – em elementos de certeza, os quais, ao dissiparem
ambiguidades, ao esclarecerem situações equívocas e ao desfazerem dados eivados de obscuridade, revelem-se capazes de informar e de subsidiar,
com objetividade, o órgão judiciário competente, afastando, desse modo, dúvidas razoáveis, sérias e fundadas, cuja ocorrência só pode conduzir a
um decreto de absolvição penal.
Não se pode – considerada a presunção constitucional de inocência dos réus – atribuir relevo e eficácia a juízos meramente conjecturais,
para, com fundamento neles, apoiar um inadmissível decreto condenatório.
Não custa enfatizar que, no sistema jurídico brasileiro, não existe qualquer possibilidade de o Poder Judiciário, por simples presunção ou
com fundamento em meras suspeitas, reconhecer, em sede penal, a culpa de alguém.
Revela-se importante advertir, Senhores Ministros, na linha do magistério jurisprudencial e em respeito aos princípios estruturantes do
egi eàde o ti o,à ue,à Por exclusão, suspeita ou presunção, ninguém pode ser condenado em nosso sistema jurídico-penal à RT 165/596, Rel.
Des. VICENTE DE AZEVEDO – grifei).
É preciso relembrar que as limitações à atividade persecutório-penal do Estado traduzem garantias constitucionais insuprimíveis que a
ordem jurídica confere ao suspeito, ao indiciado e ao acusado, com a finalidade de fazer prevalecer o seu estado de liberdade em razão do direito
fundamental – que assiste a qualquer um – de ser presumido inocente.
Cumpre ter presente, bem por isso, neste ponto, em face de sua permanente atualidade, a advertência feitaàpo àRUIàBáRBO“áà Novos
Discursos e Conferências ,àp.à ,à ,à“a aiva àno sentido deà ueà Quanto mais abominável é o crime, tanto mais imperiosa, para os guardas da
ordem social, a obrigação de não aventurar inferências, de não revelar prevenções, de não se extraviar em conjecturas (...) .
Nem se alegue, de outro lado, que os depoimentos prestados pela suposta vítima e pelas testemunhas perante a autoridade policial
autorizariam, por si só, a formulação de um juízo de certeza quanto à culpabilidade do réu em relação aos fatos que lhe foram imputados.
Não podemos desconhecer, no ponto, que o processo penal, representando uma estrutura formal de cooperação, rege-se pelo princípio da
contraposição dialética, que, além de não admitir condenações judiciais baseadas em prova alguma, também não legitima nem tolera decretos
condenatórios apoiados em elementos de informação unilateralmente produzidos pelos órgãos da acusação penal. A condenação do réu pela
prática de qualquer delito – até mesmo pela prática de uma simples contravenção penal – somente se justificará quando existentes, no processo, e
sempre colhidos sob a égide do postulado constitucional do contraditório, elementos de convicção que, projetando-se beyond all reasonable
doubt à além, portanto, de qualquer dúvida razoável), veiculem dados consistentes que possam legitimar a prolação de um decreto condenatório
pelo Poder Judiciário.
Somente a prova penal produzida em juízo pelo órgão da acusação penal, sob a égide da garantia constitucional do contraditório, pode
revestir-se de eficácia jurídica bastante para legitimar a prolação de um decreto condenatório (HC 73.338/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO).
Disso decorre que os subsídios ministrados pelas investigações policiais, que são sempre unilaterais e inquisitivas – embora suficientes ao
oferecimento da denúncia pelo Ministério Público –, não bastam, enquanto isoladamente considerados, para justificar a prolação, pelo Poder Judiciário,
de um ato de condenação penal.
Na realidade, Senhores Ministros, o resultado do inquérito policial traduz, como efeito da atividade unilateral desenvolvida pelo Poder
Público, um acervo informativo meramente destinado a habilitar o órgão da acusação penal, que é o Ministério Público,àaài stau a àaà persecutio
i i isài àjudi io à FERNáNDOàDEàáLMEIDáàPEDRO“O,à Processo Penal – O Direito de Defesa ,àp.à / ,àite à .à ,à ,àFo e se;àVICENTEàDEà
PáULOàVICENTEàDEàá)EVEDO,à Direito Judiciário Penal ,àp.à , ,à“a aiva;àJO“ÉàFREDERICOàMáRQUE“,à Elementos de Direito Processual
Penal ,àvol.àI,àp.à ,à ,àFo e se .
A unilateralidade dasài vestigaçõesàdese volvidasàpelaàPolí iaàJudi i iaà informatio delicti ,àde um lado, e o caráter inquisitivo que
assinala a atuação da autoridade policial, de outro, não autorizam, sob pena de grave ofensa à garantia constitucional do contraditório e da
plenitude de defesa, a formulação de decisão condenatória cujo único suporte venha a ser a prova, não reproduzida em juízo, consubstanciada nas
peças do inquérito respectivo.

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


Por isso mesmo, a orientação jurisprudencial dos Tribunais (RT 422/299 – RT 426/395 – RT 448/334 – RT 479/358 – RT 547/355) firmou-se
no sentido de que:
É nula a decisão proferida em processo que correu em branco, sem que nenhuma prova fosse produzida em Juízo.
(RT 520/484 – grifei)
A prova colhida no inquérito não serve, sabidamente, para dar respaldo a um decreto condenatório, à falta de garantia do
contraditório penal.
(RT 512/355 – grifei)
Nem se diga que o princípio do livre convencimento do magistrado deveria preponderar, sem qualquer limitação, tendo presente, apenas, a
realidade do conjunto probatório, e não o lugar em que este se produziu. Como apropriadamente observa FERNANDO DE ALMEIDA PEDROSO
op. cit. ,àp.à ,àite à ºà ,à sufragar-se tal escólio implicaria postergar-se, de maneira flagrante, o princípio basilar do contraditório... .
Outro não é o magistério deàJO“ÉàFREDERICOàMáRQUE“à Tratado de Direito Processual Penal , vol. I, 1980, Saraiva), para quem não há
prova (ou como tal não se considera), quando não produzida contraditoriamente à p.à à– grifei). Afinal, salienta o saudoso Mestre paulista,à se
a Constituição solenemente assegura aos acusados ampla defesa, importa violar essa garantia valer-se o Juiz de provas colhidas em procedimento
em que o réu não podia usar do direito de defender-seà o àosà eiosàeà e u sosài e e tesàaàesseàdi eito (p. 104).
O entendimento que venho de referir encontra apoio e àauto izadoà agist ioàdout i ioà EDUáRDOàE“PÍNOLáàFILHO,à Código de
Processo Penal Brasileiro Anotado ,àvol.àIV/ - ,àite à .à ,à ªàed.,à ,àBo soi;àJULIOàFáBBRINIàMIRáBETE,à Código de Processo Penal
Interpretado àp.à . ,àite à .à . ,à ªàed.,à ,àátlas;àGUILHERMEàDEà“OU)áàNUCCI,à Código de Processo Penal Comentado ,àp.à ,àite à .à
48, 5ª ed., 2006, RT), valendo referir, no ponto, ante a extrema pertinência de suas observações, a lição de FERNANDO DA COSTA TOURINHO
FILHOà Código de Processo Penal Comentado ,àvol.àI/ ,àite à .àVI,à ªàed.,à ,à“a aiva :
… àPara que o Juiz possa proferir um decreto condenatório é preciso haja prova da materialidade delitiva e da autoria. Na dúvida,
a absolvição se impõe. Evidente que a prova deve ser séria, ao menos sensata. Mais ainda: prova séria é aquela colhida sob o crivo do
contraditório. Na hipótese de, na instrução, não ter sido feita nenhuma prova a respeito da autoria, não pode o Juiz louvar-se no apurado na
fase inquisitorial presidida pela Autoridade Policial. Não que o inquérito não apresente valor probatório; este, contudo, somente poderá ser
levado em conta se, na instrução, surgir alguma prova, quando, então, é lícito ao Juiz considerar tanto as provas do inquérito quanto aquelas
por ele colhidas, mesmo porque, não fosse assim, estaria proferindo um decreto condenatório sem permitir ao réu o direito constitucional do
o t aditó io.à … . à grifei)
Em suma: a análise dos elementos de informação contidos neste processo leva-me a reconhecer a inexistência de prova penal convincente e
necessária que permita, de modo seguro, a formulação de um juízo de certeza quanto à autoria do fato delituoso cuja prática foi imputada ao réu
pelo Ministério Público.
Sendo assim, e consideradas as razões por mim expostas, julgo improcedente a presente ação penal, para, em consequência, absolver o réu,
**, da imputação penal contra ele deduzida (CP, art. 129, § 9º), fazendo-o nos termos do art. 386, inciso VII, do CPP, restando prejudicado, em
consequência, o exame doà agravo regimental àinterposto pelo Ministério Público Federal a fls. 254/263.
É o meu voto.
*acordão pendente de publicação
**nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
3 a 6 de novembro de 2015

Lei nº 13.183, de 4.11.2015 - Altera as Leis nºs 8.212, de 24 de julho de 1991, e 8.213, de 24 de julho de 1991,
para tratar da associação do segurado especial em cooperativa de crédito rural e, ainda essa última, para atualizar o rol
de dependentes, estabelecer regra de não incidência do fator previdenciário, regras de pensão por morte e de
empréstimo consignado, a Lei nº 10.779, de 25 de novembro de 2003, para assegurar pagamento do seguro-defeso para
familiar que exerça atividade de apoio à pesca, a Lei nº 12.618, de 30 de abril de 2012, para estabelecer regra de
inscrição no regime de previdência complementar dos servidores públicos federais titulares de cargo efetivo, a Lei nº
10.820, de 17 de dezembro de 2003, para dispor sobre o pagamento de empréstimos realizados por participantes e
assistidos com entidades fechadas e abertas de previdência complementar e a Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990; e
dá outras providências. Publicada no DOU, Seção 1, Edição nº 211, p. 1, em 5.11.2015.
Lei nº 13.184, de 4.11.2015 - Acrescenta § 2o ao art. 44 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para dispor sobre a matrícula do candidato de renda familiar inferior a dez
salários mínimos nas instituições públicas de ensino superior. Publicada no DOU, Seção 1, Edição nº 211, p. 2, em
5.11.2015.
Lei nº 13.185, de 6.11.2015 - Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). Publicada no
DOU, Seção 1, Edição nº 213, p. 1, em 9.11.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 806-STF (13/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
RE 579431/RS; MS 31285/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
 A disciplina sobre o ordenamento do espaço urbano pode ser feita por meio de outras leis municiais além do plano
diretor, desde que sejam compatíveis com esta.

CNMP
 Procedimento de controle administrativo e notificação pessoal.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


COMPETÊNCIA
 Disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


PEDERASTIA
 Inconstitucionalidade das expressões que mencionem homossexualismo

DIREITO CONSTITUCIONAL

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
A disciplina sobre o ordenamento do espaço urbano pode ser feita por meio de outras leis
municipais além do plano diretor, desde que sejam compatíveis com esta

Os Municípios com mais de 20 mil habitantes e o Distrito Federal podem legislar sobre
programas e projetos específicos de ordenamento do espaço urbano por meio de leis que
sejam compatíveis com as diretrizes fixadas no plano diretor.
Isso significa que nem sempre que o Município for legislar sobre matéria urbanística, ele
precisará fazê-lo por meio do Plano Diretor. O Plano Diretor é o instrumento legal que dita a
atuação do Município ou do Distrito Federal quanto ao ordenamento urbano, traçando suas
linhas gerais, porém a sua execução pode se dar mediante a expedição de outras lei e decretos,
desde que guardem conformidade com o Plano Diretor.
STF. Plenário. RE 607940/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 29/10/2015 (Info 805).

Imagine a seguinte situação:


No Distrito Federal, foi editada uma lei (Lei Complementar 710/2005) estabelecendo regras para a criação de
condomínios fechados (também denominados "condomínios horizontais" ou "condomínios urbanísticos").
Informativo 805-STF (06/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1
Vale ressaltar que o DF, por não ser dividido em Municípios (art. 32, caput, da CF/88), acumula tanto as
competências dos Estados-membros, como dos Municípios (art. 32, § 1º). Assim, quando o DF editou essa
lei, ele estava exercendo uma competência municipal (art. 30, I e II).
O Ministério Público do Distrito Federal ajuizou ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no TJDFT contra
a lei, tendo, contudo, o Tribunal de Justiça julgado a ADI improcedente.
Contra a decisão do TJ, o MP interpôs recurso extraordinário ao STF argumentando que a LC 710/2005
violaria o art. 182, §§ 1º e 2º, da CF/88, que define que é o plano diretor o instrumento básico de política
de desenvolvimento e de expansão urbana:
Art. 182 (...)
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil
habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de
ordenação da cidade expressas no plano diretor.

Em outras palavras, não poderia ter sido editada essa lei, uma vez que se trata de assunto que deveria ser
tratado no plano diretor.

A tese esposada pelo MP foi acatada pelo STF?


NÃO. A Constituição prevê que compete concorrentemente à União, aos Estados-membros, ao DF e aos
Municípios legislar sobre direito urbanístico (art. 24, I e § 1º, e 30, II). Nesta competência, os Municípios
possuem um papel fundamental porque tais entes serão os responsáveis pelo planejamento da política de
desenvolvimento e expansão urbana, a ser conduzida com a aprovação, pela Câmara Municipal, de um
plano diretor (obrigatório para as cidades com mais de 20.000 habitantes).
Vale ressaltar, no entanto, que nem toda matéria urbanística relativa às formas de parcelamento, ao uso
ou à ocupação do solo precisa estar inteiramente regrada no plano diretor. Determinados modos de
aproveitamento do solo urbano, pelas suas singularidades, podem receber disciplina jurídica autônoma,
ou seja, podem estar em leis específicas, como foi o caso da LC 710/2005.
O Plano Diretor é o instrumento legal que dita a atuação do Município ou do Distrito Federal quanto ao
ordenamento urbano, traçando suas linhas gerais, porém a sua execução pode se dar mediante a
expedição de outras lei e decretos, desde que guardem conformidade com o Plano Diretor (Min. Luiz Fux).

Em suma, o STF firmou a seguinte tese para fins de repercussão geral:


Os Municípios com mais de 20 mil habitantes e o Distrito Federal podem legislar sobre programas e
projetos específicos de ordenamento do espaço urbano por meio de leis que sejam compatíveis com as
diretrizes fixadas no plano diretor.

CNMP
Procedimento de controle administrativo e notificação pessoal

Reveste-se de nulidade a decisão do CNMP que, em procedimento de controle administrativo


(PCA), notifica o interessado por meio de edital publicado no Diário Oficial da União para
restituir valores aos cofres públicos.
A notificação por edital é feita com fundamento no Regimento Interno do CNMP. Essa previsão
também constava no Regimento interno do CNJ. Ocorre que o STF entende que tal disposição
normativa é inconstitucional, sendo necessária a intimação pessoal.
STF. 2ª Turma. MS 26419/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/10/2015 (Info 805).

Informativo 805-STF (06/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


Imagine a seguinte situação adaptada:
O CNMP instaurou procedimento de controle administrativo (PCA) contra determinado Promotor de Justiça.
O Conselho concluiu que houve a prática de atos irregulares por parte do Promotor e determinou que ele
devolvesse R$ 200 mil que teriam sido recebidos indevidamente.
O Promotor de Justiça foi notificado por meio de edital para que devolvesse os valores.

Diante disso, indaga-se: essa notificação foi válida?


NÃO. Reveste-se de nulidade a decisão do CNMP que, em procedimento de controle administrativo (PCA),
notifica o interessado por meio de edital publicado no Diário Oficial da União para restituir valores aos
cofres públicos.
A notificação por edital é feita com fundamento no art. 105 do Regimento Interno do CNMP O Relato
determinará a oitiva da autoridade que praticou o ato impugnado e, por edital, dos eventuais beneficiários
de seus efeitos, o p azo de ui ze dias . Essa previsão também constava no Regimento interno do CNJ.
Ocorre que o STF entende que tal disposição normativa é inconstitucional, sendo necessária a intimação
pessoal.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA
Disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente

Importante!!!
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou
adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B
do ECA), quando praticados por meio da rede mundial de computadores (internet).
STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. Orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 28 e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805).

Inciso V do art. 109 da CF/88


O art. 109 da CF/88 prevê a competência da Justiça Federal comum em 1ª instância.
Veja a hipótese trazida pelo inciso V:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

Este inciso fixa competência criminal da Justiça Federal. Consiste em competência estabelecida em função
da matéria.

Para que o delito seja de competência da Justiça Federal com base neste inciso, são necessários três
requisitos:
a) que o fato seja previsto como crime em tratado ou convenção;
b) que o Brasil seja signatário de compromisso internacional de combate àquela espécie delitiva;
c) que exista uma relação de internacionalidade entre a conduta criminosa praticada e o resultado
produzido [ou que deveria ter sido produzido].

Informativo 805-STF (06/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


A relação de internacionalidade ocorre quando:
• iniciada a execução do crime no Brasil, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro;
• iniciada a execução do crime no estrangeiro, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no Brasil.

Desse modo, não é suficiente que o crime esteja previsto em tratado ou convenção internacional para ser
julgado pela Justiça Federal.

Podemos citar os seguintes exemplos de crimes que poderão ser submetidos a julgamento pela Justiça
Federal com fundamento no art. 109, V, da CF/88, desde que haja relação de internacionalidade, por
serem previstos em tratados internacionais:
a) tráfico transnacional de drogas (art. 70, da Lei nº 11.343/2006);
b) tráfico internacional de arma de fogo (art. 18 da Lei nº 10.826/2003);
c) tráfico internacional de pessoas para fim de exploração sexual (art. 231 do CP);
d) envio ilegal de criança ou adolescente para o exterior (art. 239 do ECA).

Todo crime praticado pela internet é de competência da Justiça Federal com base neste inciso V?
Obviamente que não. Segundo entendimento pacífico da jurisprudência, o fato de o delito ter sido
cometido pela rede mundial de computadores não atrai, por si só, a competência da Justiça Federal. Para
que o delito cometido por meio da internet seja julgado pela Justiça Federal, é necessário que se amolde
em umas das hipóteses elencadas no art. 109, IV e V, da CF/88.

Disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente


O ECA prevê três crimes que punem a conduta de disponibilizar ou adquirir material pornográfico
envolvendo criança ou adolescente. Veja:
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio,
inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
(...)

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro
que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
(...)

De quem será a competência para julgar esses delitos caso tenham sido praticados por meio da internet?
Justiça Federal, com base no art. 109, V, da CF/88.
Os delitos acima listados são crimes que o Brasil, por meio de tratado internacional, comprometeu-se a
reprimir. Trata-se da Convenção sobre Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações
Unidas, aprovada pelo Decreto legislativo 28/90 e pelo Decreto 99.710/90.
Se o crime é praticado por meio da internet, o vídeo ou a fotografia envolvendo a criança ou o adolescente
em cenas de sexo ou de pornografia poderão ser visualizados em qualquer computador do mundo.
Ocorre, portanto, a transnacionalidade do delito.

Informativo 805-STF (06/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


A tese firmada pelo STF ficou assim redigida:
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material
pornográfico envolvendo criança ou adolescente [artigos 241, 241-A e 241-B da Lei 8.069/1990] quando
praticados por meio da rede mundial de computadores.

De quem será a competência territorial?


A competência territorial é da Seção Judiciária do local onde o réu publicou as fotos, não importando o
Estado onde se localize o servidor do site: STJ. CC 29.886/SP, julgado em 12/12/2007.
E se o réu publicou as fotos no exterior? Esse crime poderá ser julgado pelo Brasil, por se enquadrar na
hipótese prevista no art. 7º, II, do CP, cumpridas as condições previstas no § 2º do mesmo art. 7º. Em
sendo preenchidos tais requisitos, o delito seria julgado no Brasil pela Justiça Federal, sendo competente a
Seção Judiciária da capital do Estado onde o acusado por último morou ou, se nunca residiu aqui, será
competente a Seção Judiciária do Distrito Federal (art. 88 do CPP).

DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR

PEDERASTIA
Inconstitucionalidade das expressões que mencionem homossexualismo

O tipo penal do art. 235 do CPM continua sendo crime mesmo com a CF/88. No entanto, devem
ser consideradas incompatíveis com a CF/88 as expressões empregadas que falem em
homossexualismo. Isso porque o crime em tela se configura tanto quando o militar pratica
relação sexual com alguém do mesmo sexo, como também de sexo diferente, não devendo
haver distinção de tratamento.
Assim, as expressões pederastia ou outro — mencionada na rubrica enunciativa referente ao
art. 235 do CPM — e homossexual ou não — contida no aludido dispositivo — não foram
recepcionadas pela CF/88.
STF. Plenário. ADPF 291/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 28/10/2015 (Info 805).

O Código Penal militar prevê o seguinte delito:


Pederastia ou outro ato de libidinagem
Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com ele se pratique ato libidinoso, homossexual ou não, em
lugar sujeito a administração militar:
Pena - detenção, de seis meses a um ano.

ADPF 291
O Procurador-Geral da República ajuizou uma arguição de descumprimento de preceito fundamental
(ADPF) contra esse dispositivo alegando que ele violaria os princípios da isonomia, da liberdade, da
dignidade da pessoa humana, da pluralidade e do direito à privacidade, e pedia que fosse declarada a não
recepção do dispositivo pela CF/88. Subsidiariamente, pedia a declaração de inconstitucionalidade do
te o pede astia e da exp essão ho ossexual ou ão a tipificação pe al.
Para o PGR, essa norma foi editada no contexto histórico de um regime militar ditatorial, marcado pelo
autoritarismo e pela intolerância às diferenças.

Informativo 805-STF (06/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


O pedido contido na ADPF foi aceito?
Em parte. O STF decidiu que o tipo penal deveria ser mantido, mas deveriam ser declaradas inválidas
(incompatíveis com a CF/88) as exp essões pede astia ou out o e ho ossexual ou ão , co sta tes a
tipificação, uma vez que têm caráter discriminatório.
Segundo entendeu a maioria dos Ministros, a conduta do militar que pratica relação sexual em lugar
sujeito à administração militar pode ser punida como crime, considerando que isso ofende a disciplina e a
hierarquia, princípios estes que possuem fundamento constitucional (arts. 42 e 142 da CF/88).
Contudo, o tipo penal ao falar em "pederastia" (prática de sexo entre homens) e em "homossexual", acaba
sendo discriminatório. A lei não poderia se utilizar de expressões pejorativas e discriminatórias,
considerado o reconhecimento do direito à liberdade de orientação sexual como liberdade essencial do
indivíduo.

Em suma:
O tipo penal do art. 235 do CPM continua sendo crime mesmo com a CF/88. No entanto, devem ser
consideradas incompatíveis com a CF/88 as expressões empregadas que falem em homossexualismo. Isso
porque o crime em tela se configura tanto quando o militar pratica relação sexual com alguém do mesmo
sexo, como também de sexo diferente, não devendo haver distinção de tratamento.
Assim, o tipo penal do art. 235 do CPM deve ser agora lido da seguinte forma:
Ato de libidinagem
Art. 235. Praticar, ou permitir o militar que com ele se pratique ato libidinoso em lugar sujeito a
administração militar:
Pena - detenção, de seis meses a um ano.

OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DO D JE
26 a 29 de outubro de 2015

AG. REG. NOS EMB. DECL. NOS EMB. DIV. NO AG. REG. NO AI N. 808.405-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA – ACÓRDÃO RELATIVO A AGRAVO. Acórdão decorrente de julgamento de agravo regimental, interposto
contra ato de relator no exame de agravo, sem apreciação da matéria de fundo do extraordinário, não desafia embargos de divergência – inteligência
do artigo 546 do Código de Processo Civil.
Ext N. 1.351-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. EXTRADIÇÃO EXECUTÓRIA. REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA. TRÁFICO E ASSOCIAÇÃO
PARA O TRÁFICO DE ENTORPECENTES – ARTIGOS 33 E 35, C/C ARTIGO 40, I, TODOS DA LEI N. 11.343/2006. DUPLA TIPICIDADE. CIDADÃO
ALEMÃO. EXEQUATUR DE SENTENÇA PROFERIDA PELA JUSTIÇA ESPANHOLA CONCEDIDO PELA JUSTIÇA ALEMÃ. CUMPRIMENTO DA PENA NA
ALEMANHA. REGULARIDADE FORMAL DO PEDIDO. AUSÊNCIA DE TRATADO SUPRIDA PELA PROMESSA DE RECIPROCIDADE. COMPETÊNCIA DO
ESTADO REQUERENTE. PRINCÍPIO DA NACIONALIDADE. CONOTAÇÃO POLÍTICA. INEXISTÊNCIA. CONTENCIOSIDADE LIMITADA (ART. 85, § 1º DA
LEI N. 6.185/1980). NULIDADE DO INTERROGATÓRIO POR AUSÊNCIA DE TRADUTOR JURAMENTADO. INEXISTÊNCIA: TRADUTOR NOMEADO E
COMPROMISSADO PELO JUIZ. EXTRADITANDO NÃO FLUENTE EM PORTUGUÊS. CIRCUNSTÂNCIA NÃO COMPROMETEDORA DA VALIDADE DO
INTERROGATÓRIO: COMPREENSÃO PLENA DOS FATOS IMPUTADOS. PROPÓSITO DE ACIONAR O TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DOS
HOMENS PARA DESCONSTITUIR A SENTENÇA CONDENATÓRIA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE DECISÃO CONCESSIVA DE EFEITO SUSPENSIVO
DA EXECUÇÃO DA PENA. INEXISTÊNCIA DE PRESCRIÇÃO EM AMBOS OS ORDENAMENTOS JURÍDICOS. QUESTIONAMENTO A RESPEITO DA PRISÃO
PREVENTIVA PARA EXTRADIÇÃO. INVIABILIDADE: CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE DO PEDIDO. RESIDÊNCIA PERMANENTE NO BRASIL E FILHO
BRASILEIRO: CIRCUNSTÂNCIAS NÃO IMPEDITIVAS DA EXTRADIÇÃO (SÚMULA 421/STF). EXTRADIÇÃO DEFERIDA.
1. A extradição pressupõe o cumprimento dos requisitos legais extraídos por interpretação a contrario sensu do art. 77 da Lei nº 6.815/80; vale dizer,
defere-se o pleito se o caso sub examine não se enquadrar em nenhum dos incisos do referido dispositivo e restarem observadas as disposições do
tratado específico.
2. A promessa de reciprocidade torna indiferente a ausência de tratado, não impedindo a extradição.
3. Os elementos de convicção embasadores da condenação são insuscetíveis de análise pelo Supremo Tribunal Federal, cuja competência, a teor do
artigo 85, § 1º, da Lei n. 6.815/1980, restringe-se ao exame da identidade da pessoa reclamada, defeito de forma dos documentos ou ilegalidade da
extradição (Ext 1009, rel. Min. Sepúlveda Pertence).

Informativo 805-STF (06/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


4. A ausência de tradutor juramentado resta suprida com a nomeação de tradutor não detentor dessa qualificação que firmou o compromisso de
traduzir com veracidade e autenticidade as perguntas e respostas, sendo certo ainda que, na linha do parecer ministerial, “a circunstância de o
extraditando não ser plenamente fluente em português não chegou a comprometer a validade do interrogatório, ficando claro que ele, coadjuvado
pelo intérprete, teve plena compreensão dos fatos que lhe são imputados”.
5. A representação junto ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem para desconstituir a sentença condenatória é irrelevante para o julgamento do
pedido de extradição, mercê de a defesa não ter colacionado nos autos comprovação de eventual efeito suspensivo da execução da pena concedido por
qualquer organismo internacional.
6. Os crimes de tráfico e associação para o tráfico de entorpecentes não prescreveram segundo os ordenamentos jurídicos alemão e espanhol, uma vez
que a pena restou fixada, de modo conglobado, em 10 (dez) anos e o artigo 79, ns. 1-3 e 6, do Código Penal alemão prevê prazo prescricional de 20
(vinte) anos. O art. 133 do Código Penal espanhol estipula, por sua vez, o prazo de 15 (quinze) anos; logo, transitada em julgado a sentença em
06/11/2009, marco inicial da prescrição, resta evidente sua inocorrência.
7. A prescrição da pretensão executória também não ocorreu nos termos da legislação brasileira, porquanto apesar de o artigo 119 do Código Penal
dispor, no caso de concurso de crimes, que a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um deles, isoladamente, a jurisprudência desta
Corte firmou-se no sentido de que seja considerada a pena conglobada, uma vez que “viável não se torna formar um terceiro sistema, conjugando as
duas leis que, em regra, obedecem a princípios diferentes, para adotar um híbrido e com ele solver a tese da prescrição” (Ext 267/Iugoslávia). Desse
modo, tendo em conta o prazo prescricional de 16 (dezesseis) no que tange à pena superior a 8 (oito) anos e não excedente a 12 (doze) anos (art. 109,
II, do CP), o trânsito em julgado da sentença, ocorrido em 06/11/2009, e a causa interruptiva da prescrição, caracterizada pela prisão preventiva para
extradição, efetivada em 11/07/2014, a ausência da extinção da pretensão executória afigura-se patente, sendo certo ainda que, se fosse considerada a
pena mínima de 5 (cinco) anos, isoladamente, para os crimes de tráfico e de associação para o tráfico, a prescrição também não teria ocorrido, por
força do art. 109, III, do Código Penal, uma vez que consoante o referido diploma o prazo prescricional para a pena superior a 4 (quatro) anos e não
excedente a 8 (oito) anos é de 12 (doze) anos.
8. A prisão preventiva para extradição constitui condição de procedibilidade do processo extradicional (Ext 579-QO, Rel. Min. Celso de Mello),
tendo, a propósito, pronunciamento do Supremo Tribunal Federal no sentido da constitucionalidade do art. 84, parágrafo único, da Lei n. 6.815/1980,
in litteris: “A prisão perdurará até o julgamento final do Supremo Tribunal Federal, não sendo admitidas a liberdade vigiada, a prisão domiciliar,
nem a prisão albergue” (Ext 785-QO, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 06/10/2001).
9. A residência permanente no país e o filho brasileiro, dependente econômico do extraditando, não constituem causas impeditivas da extradição,
consoante Súmula 421/STF.
10. Os delitos de tráfico e associação para o tráfico de entorpecentes não expressam, a toda evidência, conotação política.
11. In casu:
(i) o extraditando foi condenado, em 30/07/2008, pela Justiça espanhola, à pena de 10 (dez) anos de de reclusão, advindo o trânsito em julgado em
06/11/2009;
(ii) a Justiça alemã concedeu exequatur à sentença espanhola, a fim de que o extraditando, alemão, cumpra a pena em seu país, competente para a
execução em face do princípio da nacionalidade;
(iii) os autos estão instruídos com informações seguras a respeito do local, data, natureza e circunstâncias dos fatos criminosos, identidade do
extraditando e cópia dos textos legais sobre os crimes, as penas e os prazos prescricionais, estando satisfeitos os requisitos do art. 80 da Lei n.
6.815/80; e
(iv) apesar de a sentença ter sido proferida pela Justiça da Espanha, a Alemanha é competente para a execução da pena em razão do exequatur que
concedera à sentença estrangeira e, principalmente, em virtude do princípio da nacionalidade, uma vez que se trata de cidadão alemão.
12. O Estado requerente deverá firmar o compromisso de descontar da pena o tempo de prisão do extraditando no território brasileiro para fins de
extradição (Ext 1211/REPÚBLICA PORTUGUESA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ de 24/3/2011; Ext 1214/EUA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno,
DJ 6/5/2011; Ext 1226/Reino da Espanha, rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 1/9/2011); aliás, como previsto na promessa de
reciprocidade.
13. Pedido de extradição deferido.
RMS N. 30.548-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
ANISTIA – SERVIÇO PÚBLICO – RETORNO – REGIME. O retorno do servidor à Administração Pública, à prestação de serviços, faz-se
observada a situação jurídica originária, descabendo transmudar o regime da Consolidação das Leis do Trabalho em especial – inteligência das Leis nº
8.878/94 e 8.212/90.
*noticiado no Informativo 799
Inq N. 3.601-SP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: INQUÉRITO. PENAL. CRIME DE FALSIDADE IDEOLÓGICA EM PRESTAÇÃO DE CONTAS ELEITORAL.
PREJUDICIAL: PRESCRIÇÃO PELA PENA EM ABSTRATO. INOCORRÊNCIA. NATUREZA PÚBLICA, E NÃO PRIVADA, DO
DOCUMENTO. PRECEDENTES. OMISSÃO DE INFORMAÇÃO COM FIM DE ALTERAR A VERDADE SOBRE FATO
JURIDICAMENTE RELEVANTE. NARRATIVA FÁTICA OBEDIENTE AO DISPOSTO NO ART. 41 DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL. DEMONSTRAÇÃO MÍNIMA DA PRÁTICA DA CONDUTA E DO ESPECIAL FIM DE AGIR. EXISTÊNCIA DE JUSTA
CAUSA PARA O INÍCIO DA AÇÃO PENAL. DENÚNCIA RECEBIDA.
1. O crime de falsidade ideológica, quando incidente sobre prestação de contas eleitoral, é apenado com reclusão, de um a cinco anos, e multa, por se
tratar de documento de natureza pública.
2. O candidato e o administrador financeiro da campanha são os responsáveis legais pela veracidade das informações, nos termos dos artigos 20 e 21
da Lei 9.504/97.
3. A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal assentou o entendimento de que jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal, “a
responsabilidade na prestação de contas das despesas realizadas com a campanha cabe ao candidato, pouco importando que outrem haja
intermediado as relações jurídicas” (Inq. 3345/DF, Primeira Turma, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 12/08/2014, unânime).
4. In casu, os nomes dos dois acusados constam do documento de prestação de contas objeto da acusação, razão pela qual ambos respondem pela
prática, em tese, do crime de falsum.
5. A aplicação do método fenomenológico e ontológico ao Direito penal levou à substituição do conceito causal por um conceito final de ação, cujo
ponto de partida é a consideração de que o que o comportamento humano possui de específico não é a causalidade, mas a finalidade (isto é, o
conduzir-se intencionalmente a uma meta previamente eleita), porque as forças da natureza também operam causalmente. Só a ação humana é
‘vidente’ (vê para onde tende a finalidade perseguida), ao contrário dos demais processos naturais, que atuam de modo ‘cego’. A ação humana se
caracteriza, pois, por ser ‘exercício de atividade final (PUIG, 2007, p. 156/157). Consequentemente, verificada a prática de uma conduta por um
indivíduo capaz (imputável), presume-se que ele a tenha praticado consciente e voluntariamente.

Informativo 805-STF (06/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


6. De modo excepcional, o comportamento humano pode derivar de culpa, que afasta o dolo. Culpa, segundo conceitua a doutrina, é a inobservância
do dever de cuidado manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido, objetivamente previsível (BITENCOURT, CONDE, 2000, p.
199).
7. In casu, a omissão narrada na exordial teria envolvido pagamento de despesas da campanha por uma empresa da família do candidato acusado,
empresa esta que teria sido empregada também em supostos crimes contra a Administração Pública.
8. Assim, a inicial acusatória apresentou argumentação suficiente para demonstrar não somente a materialidade delitiva como, também, a presença do
elemento subjetivo da conduta.
9. A justa causa revela-se demonstrada quando se analisam os documentos fiscais emitidos pela prestadora de serviços, inscrições que os vinculam
diretamente à campanha eleitoral do acusado, elemento a que se somam os montantes omitidos, no total de 21% dos recursos declarados na prestação
de contas.
10. Denúncia recebida contra os acusados PAULO SALIM MALUF e SÉRGIO STEFANELLI GOMES.
Acórdãos Publicados: 389

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Maus antecedentes e período depurador (Transcrições)


(v. Informativo 799)
HC 126.315/SP*
RELATOR: Ministro Gilmar Mendes
EMENTA: Habeas corpus. 2. Tráfico de entorpecentes. Condenação. 3. Aumento da pena-base. Não aplicação da causa de diminuição do § 4º
do art. 33, da Lei 11.343/06. 4. Período depurador de 5 anos estabelecido pelo art. 64, I, do CP. Maus antecedentes não caracterizados.
Decorridos mais de 5 anos desde a extinção da pena da condenação anterior (CP, art. 64, I), não é possível alargar a interpretação de modo a
permitir o reconhecimento dos maus antecedentes. Aplicação do princípio da razoabilidade, proporcionalidade e dignidade da pessoa humana.
5. Direito ao esquecimento. 6. Fixação do regime prisional inicial fechado com base na vedação da Lei 8.072/90. Inconstitucionalidade. 7.
Ordem concedida.
RELATÓRIO: Trata-se de habeas corpus, com pedido de medida liminar, impetrado pela Defensoria Pública da União, em favor de **, em face de
acórdão emanado da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que negou provimento ao Agravo Regimental no REsp 1.396.731/SP.
O paciente foi preso em flagrante em 8.10.2010, porquanto teria consigo, para consumo de terceiros, 32 (trinta e duas) porções de cocaína e 50
(cinquenta) porções de crack, sem autorização e em desacordo com determinação legal e regulamentar, além da quantia de R$ 211,00 (duzentos e
onze reais).
Após as diligências investigativas, foi denunciado pela suposta prática do delito tipificado no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006.
Em 28.12.2010, a denúncia foi recebida pelo Juízo da 1ª Vara da Comarca de Aparecida/SP.
As informações referentes à vida pregressa do paciente constam no eDOC 3, p. 24-52.
Transcorrida a instrução criminal, sobreveio condenação na qual o então réu recebeu a reprimenda de 5 (cinco) anos e 10 (dez) meses de reclusão, em
regime inicial fechado, e o pagamento de 583 dias-multa.
Interposta apelação defensiva no TJ/SP, esta foi parcialmente provida, tendo sido redimensionada a pena para 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de
reclusão, com manutenção do regime inicial fechado para cumprimento da pena, e o pagamento de 250 dias-multa, afastando-se a circunstância
desfavorável referente aos maus antecedentes, com fixação da pena-base no mínimo legal e aplicação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º,
da Lei nº 11.343/2006, no patamar de 1/2. Confiram-se os termos da ementa:
“TÓXICO - Crime de tráfico - Quadro probatório que se mostra seguro e coeso para evidenciar autoria e materialidade do delito -
Inexistência de dúvida que justifica o decreto condenatório - Impossibilidade de desclassificação para o crime de posse de drogas para uso
pessoal (art. 28 da Lei nº 11.343/06) - Condenação mantida - Dosimetria da pena - Não reconhecimento de maus antecedentes - Decurso do
período depurador (art. 64, I, CP) - Fixação da pena-base no mínimo legal - Acusado que preenche todos os requisitos exigidos para
aplicação da causa de diminuição (art. 33, § 4º) - Quantidade e variedade do tóxico que justifica a fixação do redutor na fração
intermediária - Regime inicial fechado que decorre de expressa previsão legal - Recurso parcialmente provido”. (eDOC 4, p. 23).
Daí, a interposição de recurso especial pelo Ministério Público do Estado de São Paulo. O apelo especial foi admitido pelo Tribunal estadual e
provido, monocraticamente, pelo Superior Tribunal de Justiça, determinando-se o restabelecimento da sentença proferida pelo Juízo de primeiro grau,
tendo em vista a efetiva existência de maus antecedentes.
Interposto agravo regimental pela defesa, a Sexta Turma do STJ negou-lhe provimento, nos termos da seguinte ementa:
“PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME DE TRÁFICO. DECURSO DE LAPSO TEMPORAL
SUPERIOR A CINCO ANOS ENTRE O TÉRMINO DA CONDENAÇÃO ANTERIOR E A DATA DO NOVO CRIME. RECONHECIMENTO
DE MAUS ANTECEDENTES. POSSIBILIDADE. - É firme neste Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que as condenações
anteriores transitadas em julgado, alcançadas pelo prazo de 5 anos de que cuida o art. 64, inciso I, do Código Penal, constituem fundamento
idôneo para justificar a exasperação da pena-base, ao passo que, embora esse período afaste os efeitos da reincidência, não o faz quanto aos
maus antecedentes. Precedentes.
- Agravo regimental desprovido”.
Nesta Corte, a defesa argumenta que condenações anteriores transitadas em julgado, alcançadas pelo prazo depurador de 5 anos, que já não mais geram
efeitos negativos da reincidência, também não podem configurar maus antecedentes, sob pena de se atribuírem efeitos perpétuos às condenações.
Aduz que o entendimento da Primeira Turma (HC 119.200/PR) é no sentido de não poderem ser consideradas maus antecedentes condenações
anteriores cujas penas foram extintas há mais de cinco anos.

Informativo 805-STF (06/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Questiona também a fixação de regime fechado para cumprimento de pena, considerando que as penas fixadas tanto em primeiro grau (5 anos
e 6 meses) quanto no Tribunal de origem (2 anos e 6 meses), segundo os critérios do art. 33, § 2º, do CP, demonstram a necessidade de se fixar o
regime inicial diverso do fechado.
Após a apreciação pelo Ministro Presidente desta Corte, com base no art. 13 do RI/STF, a impetração veio a minha apreciação.
A Procuradoria-Geral da República opinou pelo não conhecimento do writ e, se conhecido, pela denegação da ordem.
Em 4.3.2015, indeferi a liminar.
É o relatório.
VOTO: Conforme relatado, a defesa impetrou o presente habeas corpus buscando o reconhecimento de que as condenações transitadas em julgado
alcançadas pelo prazo de cinco anos de que cuida o inciso I do artigo 64 do Código Penal não constituem fundamento idôneo à exasperação da pena-
base a título de maus antecedentes. Dessa forma, pretende a Defensoria Pública o restabelecimento da decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo para que seja reduzida a pena-base do ora paciente e alterado regime prisional inicial de cumprimento da reprimenda, atualmente
fixado no fechado.
O Superior Tribunal de Justiça deu provimento ao REsp n. 1.396.731/SP, ao acolher a tese do Ministério Público segundo a qual, transcorrido
o período depurativo do art. 64, inciso I, do CP, não podem as condenações anteriores ser consideradas para reincidência, mas legitimam, por outro
lado, exasperação da pena-base como configuradoras de maus antecedentes. Como consequência de tal entendimento, a pena-base, antes fixada no
mínimo legal, foi restabelecida em 5 anos e 10 meses de reclusão e assim tornada definitiva, porquanto vedada a aplicação da privilegiadora do § 4º
do artigo 33 da Lei de Drogas, ante o afastamento da primariedade.
Desde logo, entendo assistir razão à defesa.
Impende ressaltar, por oportuno, que a celeuma em debate teve repercussão geral reconhecida (RE nº 593.818-RG/SC, de relatoria do min.
Roberto Barroso), não havendo, ainda, pronunciamento definitivo desta Corte.
Tecidas as considerações pertinentes, mister se faz analisar a preleção do art. 64, inciso I, do Código Penal, in verbis:
“Para efeito de reincidência: I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a
infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento
condicional, se não ocorrer revogação.”
Extrai-se da leitura do dispositivo transcrito que o período depurador de cinco anos tem aptidão de nulificar a reincidência, de forma que não
possa mais influenciar no quantum de pena do réu e em nenhum de seus desdobramentos.
Com efeito, é assente que a ratio legis consiste em apagar da vida do indivíduo os erros do passado, considerando que já houve o devido
cumprimento da punição, sendo inadmissível que se atribua à condenação o status de perpetuidade, sob pena de violação aos princípios
constitucionais e legais, sobretudo o da ressocialização da pena.
A Constituição Federal veda expressamente, na alínea b do inciso XLVII do artigo 5º, as penas de caráter perpétuo. Tal dispositivo suscita
questão acerca da proporcionalidade da pena e de seus efeitos para além da reprimenda corporal propriamente dita.
Ora, a possibilidade de sopesarem-se negativamente antecedentes criminais, sem qualquer limitação temporal ad aeternum, em verdade, é pena
de caráter perpétuo mal revestida de legalidade.
Como bem apontado por Luiz Luisi em conferência proferida no Seminário Internacional “O Tribunal Internacional e a Constituição
Brasileira”, promovido pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal em 30.9.99, as penas de caráter perpétuo têm sido
proibidas em diversos textos constitucionais, inclusive em países da própria América Latina. Nas palavras do professor:
“(...) No Brasil, a proibição das penas perpétuas – pode-se afirmar – é já uma tradição constitucional.
A primeira das nossas Constituições Federais a proibir a pena de prisão perpétua foi a de 16 de julho de 1934. (...)”
Especificamente quanto à proibição constitucional das penas de caráter perpétuo é preciso ressaltar a sua inserção no título dos
direitos e garantias individuais. É de se enfatizar que não se trata de um princípio, mas de uma verdadeira regra, embora esta se embase em
um princípio. É necessário relevar que no caput do art. 5º, da Constituição vigente, no qual estão enumerados os direitos e deveres
individuais e coletivos, está consagrada a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
É óbvio que consagrada constitucionalmente a inviolabilidade da liberdade, a sua privação e restrição há de ter caráter excepcional,
notoriamente quando presentes exigências de proteção de outros direitos invioláveis, ou seja, da vida, da propriedade e da segurança. A
tutela desses bens impõe, quando gravemente ofendidos, e as outras sanções que se revelem impotentes, o sacrifício da liberdade. Mas é
logicamente evidente que a possibilidade de supressão total de liberdade, ou seja, a supressão perpétua de liberdade implica negar a sua
inviolabilidade. Não é concebível a inviolabilidade da liberdade sem que se impeça a possibilidade de sua integral eliminação. Proibir, pois,
as penas perpétuas, como o faz expressamente a nossa Constituição, é um consectário necessário do princípio, também constitucional, da
inviolabilidade da liberdade.
Acresce, ainda, que o princípio da humanidade permeia a Constituição brasileira vigente. A sua presença é evidente em uma série de
incisos do art. 5º. Basta lembrar que são disposições constitucionais ser assegurado aos presos a integridade física e moral, a proibição de
pena de trabalhos forçados, as cruéis, e outras similares. Destarte a proibição de penas perpétuas é um corolário da orientação humanitária
ordenada pela Constituição, como princípio orientador da legislação penal.
Nessa perspectiva, por meio de cotejo das regras basilares de hermenêutica, constata-se que, se houve o objetivo primordial de afastar a pena
perpétua, reintegrando o apenado no seio da sociedade, com maior razão deve-se aplicar tal raciocínio aos maus antecedentes.
Advirto, outrossim, que o agravamento da pena-base com fundamento em condenações transitadas em julgado há mais de cinco anos não
encontra previsão na legislação, tampouco em nossa Carta Maior, tratando-se de analogia in malam partem, método de integração vedado no
ordenamento jurídico. É que, em verdade, assiste ao indivíduo o “direito ao esquecimento”, ou “direito de ser deixado em paz”, alcunhado, no direito
norte-americano de “the right to be let alone”.
O direito ao esquecimento, a despeito de inúmeras vozes contrárias, também encontra respaldo na seara penal, enquadrando-se como direito
fundamental implícito, corolário da vedação à adoção de pena de caráter perpétuo e dos princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade, da
proporcionalidade e da razoabilidade.
Manifestei-me nesse sentido, ainda em maio de 2013, quando relatei o HC nº 110.191/RJ, DJe 6.5.13. Em seguida, o entendimento foi adotado
na Primeira Turma, em março de 2014, quando do julgamento do HC nº 118.977/DF, da relatoria do ministro Dias Toffoli, a saber:
Recurso ordinário em habeas corpus. Processual Penal. Interposição contra julgado em que colegiado do Superior Tribunal de Justiça
não conheceu da impetração, ao fundamento de ser substitutivo de recurso ordinário cabível. Constrangimento ilegal não evidenciado.
Entendimento que encampa a jurisprudência da Primeira Turma da Corte. Precedente. Dosimetria. Fixação da pena-base acima do mínimo
legal em decorrência de maus antecedentes. Condenações transitadas em julgado há mais de cinco anos. Pretensão à aplicação do disposto
no inciso I do art. 64 do Código Penal. Penas ainda não extintas. Constrangimento ilegal inexistente. Recurso não provido. 1. O entendimento
do Superior Tribunal de Justiça quanto ao cabimento do habeas corpus encampou a jurisprudência da Primeira Turma da Corte no sentido da
inadmissibilidade do habeas corpus que tenha por objetivo substituir o recurso ordinário (HC nº 109.956/PR, Relator o Ministro Marco
Aurélio, DJe de 11/9/12), o que resultou no seu não conhecimento. 2. Quando o paciente não pode ser considerado reincidente, diante do

Informativo 805-STF (06/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


transcurso de lapso temporal superior a cinco anos, conforme previsto no art. 64, I, do Código Penal, a existência de condenações
anteriores não caracteriza maus antecedentes. Precedentes. 3. No caso as condenações anteriores consideradas pelas instâncias ordinárias
para fins de valoração negativa dos antecedentes criminais do ora paciente ainda não se encontram extintas. 4. Recurso não provido.
(Destaquei).
Dessa forma, entendo que, decorridos mais de cinco anos desde a extinção da pena da condenação anterior (CP, art. 64, I), não é possível
alargar a interpretação de modo a permitir o reconhecimento dos maus antecedentes.
Emerge daí que a pena-base deve adstringir-se ao piso legal, porquanto não há nenhuma circunstância judicial passível de justificar a majoração,
cabível, em consequência, a aplicação da causa de diminuição consubstanciada no art. 33, § 4º da Lei 11.343/06, nos moldes do acórdão proferido pelo TJSP.
E no que concerne ao regime prisional inicial para cumprimento de pena, entendo que o pedido também merece prosperar.
O magistrado do primeiro grau fixou o regime inicial fechado para cumprimento da pena apenas com fundamento na Lei 8.072/90 e na gravidade
abstrata do delito. Por oportuno, colho trecho da decisão:
“O regime inicial de cumprimento de pena deve ser o fechado, ressaltando-se que o tráfico é delito grave, equiparado a hediondo,
demonstrando periculosidade acentuada por parte do agente. Pelo mesmo motivo, presentes os requisitos da custódia cautelar, não poderá
recorrer em liberdade. Recomende-se o réu na prisão em que se encontra recolhido. Transitada em julgado, lance-se o nome do réu no rol dos
culpados. “(eDOC 3, p. 130).
Ocorre que, em sessão realizada em 27.6.2012 (DJe 17.12.2013), o Plenário, ao analisar o HC 111.840/ES, de relatoria do ministro Dias
Toffoli, por maioria, declarou, incidenter tantum, a inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90, com a redação dada pela Lei 11.464/2007.
Desse modo, ficou superada a obrigatoriedade de início do cumprimento de pena no regime fechado aos condenados por crimes hediondos ou a eles
equiparados.
Entender de forma diversa implica, necessariamente, malferir o princípio da individualização da pena, consignado na Constituição Federal.
Não se pode olvidar que, embora seja vedada a imposição de regra fixa ao regime prisional nos crimes hediondos, admite-se a definição de
regime mais gravoso, desde que se apreciem elementos concretos e individualizados, aptos a demonstrar a necessidade de maior rigor da medida
privativa de liberdade do indivíduo.
No caso, nem o juiz, nem o Tribunal paulista realizaram qualquer análise da situação concreta. Ao revés, fundamentaram o regime mais severo
tão somente no dispositivo legal eivado do vício da inconstitucionalidade.
Ante o exposto, voto no sentido de conceder a ordem para restabelecer a decisão proferida pelo TJ/SP na Apelação n. 0005243-
89.2010.8.26.0028, no que diz respeito à quantidade de pena aplicada.
Determino, ainda, ao Tribunal de origem que, afastando o disposto no art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/90, proceda a nova fixação do regime inicial
de cumprimento de pena, segundo os critérios previstos no art. 33, §§ 2º e 3º do CP.
É como voto.
*acordão publicado no Dje de 24.9.2015
**nomes suprimidos pelo Informativo

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 805-STF (06/11/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


Márcio André Lopes Cavalcante

Processo excluído deste informativo por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: ADI 5296 MC/DF.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: Rcl 8823/RJ; Ext 1394/DF.

ÍNDICE
DIREITO CIVIL
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
 Desnecessidade de registro do contrato de alienação fiduciária de veículos no RTD.

DIREITO PENAL
LEI MARIA DA PENHA
 Impossibilidade de penas restritivas de direito.

DIREITO CIVIL

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
Desnecessidade de registro do contrato de alienação fiduciária de veículos no RTD

Importante!!!
Quando for realizada a alienação fiduciária de um veículo, o contrato deverá ser registrado no
DETRAN e esta informação constará no CRV do automóvel.
É desnecessário o registro do contrato de alienação fiduciária de veículos em cartório.
STF. Plenário. RE 611639/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/10/2015 (repercussão geral).
STF. Plenário. ADI 4333/DF e ADI 4227/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 21/10/2015 (Info 804).

CONCEITO
A alie ação fidu iá ia e ga a tia é u o t ato i st u e tal e ue u a das pa tes, e o fia ça,
aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de
dete i ado fato. RAMO“, A d é Luiz “a ta C uz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo:
Método, 2012, p. 565).

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE VEÍCULOS


A espécie mais comum de alienação fiduciária é a de automóveis.
Ex: Antônio quer comprar um carro de R$ 30 mil, mas somente possui R$ 10.000,00. Antônio procura o
Ba o X , ue ele a o ele contrato de financiamento com garantia de alienação fiduciária.
Informativo 804-STF (29/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1
Assi , o Ba o X e p esta R$ 0 mil a Antônio, que compra o veículo. Como garantia do pagamento do
e p ésti o, a p op iedade esolúvel do a o fi a á o o Ba o X e a posse di eta o A tô io.
Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas no documento, a propriedade do automóvel
é do Ba o X o sta á alie ado fidu ia ia e te ao Ba o X . Diz-se que o banco tem a propriedade
esolúvel po ue, u a vez pago o e p ésti o, a p op iedade do a o pelo a o esolve-se a a a e o
automóvel passa a pertencer a Antônio.

Registro do contrato de alienação fiduciária no DETRAN e anotação da informação no CRV


CRV (Certificado de Registro de Veículos) é um documento expedido pelo DETRAN no qual consta quem é o
proprietário do veículo.
A legislação determina que, quando for realizada a alienação fiduciária de um veículo, o contrato deverá ser
registrado no DETRAN e esta informação constará no CRV do automóvel.
No CRV, existe um campo chamado "observações" e lá constará uma frase mais ou menos com os seguintes
dizeres: "AL.FID./BANCO XXX", que significa alienado fiduciariamente para o banco XXX. Veja a imagem
abaixo:

Essa informação é uma garantia tanto para o banco ,como também para terceiros que eventualmente se
interessem por comprar aquele carro. Isso porque, ao consultarem o documento do veículo (CRV), verão
que existe esse gravame e que a pessoa que está na posse direta do veículo não possui ainda a propriedade
plena do bem, já que aquele automóvel foi oferecido como garantia de uma dívida. Somente após pagar
todo o débito é que o possuidor terá a propriedade plena.

Onde consta a obrigatoriedade de que o contrato de alienação fiduciária seja registrado no DETRAN?
É o Código Civil que determina que o contrato de alienação fiduciária seja registrado no DETRAN e que essa
informação seja anotada no CRV. Confira:
Art. 1.361. Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com
escopo de garantia, transfere ao credor.
§ 1º Constitui-se a propriedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por instrumento público ou
particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se
tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento (explico: DETRAN), fazendo-se a
anotação no certificado de registro (esclareço: CRV).

Além de ser anotado no CRV, é necessário (obrigatório) que a alienação fiduciária seja registrada no
cartório de Registro de Títulos e Documentos (RTD)?
NÃO. É desnecessário o registro do contrato de alienação fiduciária de veículos em cartório.
O registro da alienação fiduciária no RTD, no passado, já foi obrigatório, conforme previa o art. 66, § 1º da
Lei nº 4.728/65, tendo este artigo sido revogado pela Lei nº 10.931/2004.
Além disso, para que não houvessem dúvidas de que o registro no RTD é dispensável, o legislador editou
duas leis afirmando isso. Confira:

Lei nº 11.882/2008:
Art. 6º Em operação de arrendamento mercantil ou qualquer outra modalidade de crédito ou
financiamento a anotação da alienação fiduciária de veículo automotor no certificado de registro a que se

Informativo 804-STF (29/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


refere a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, produz plenos efeitos probatórios contra terceiros,
dispensado qualquer outro registro público.

Lei nº 11.795/2008:
Art. 14 (...) § 7º A anotação da alienação fiduciária de veículo automotor ofertado em garantia ao grupo de
consórcio no certificado de registro a que se refere o Código de Trânsito Brasileiro, Lei nº 9.503, de 23 de
setembro de 1997, produz efeitos probatórios contra terceiros, dispensado qualquer outro registro público.

ADIs 4333 e 4227/DF


Os Registradores de Títulos e Documentos não ficaram satisfeitos com as alterações legislativas acima
expostas e ajuizaram, juntamente com um determinado partido político, duas ADIs no STF contra os arts.
1.361, § 1º, do Código Civil, art. 14, § 7º, da Lei nº 11.795/2008, e art. 6º da Lei nº 11.882/2008.
Segundo argumentaram, tais leis violaram o art. 236 da CF/88, uma vez que não poderiam dispensar a
realização do registro público dos contratos de alienação fiduciária em garantia de veículos automotores
pelas serventias extrajudiciais de registro de títulos e documentos.

Essa tese foi aceita? Houve inconstitucionalidade das referidas leis ao dispensarem o registro da
alienação fiduciária no RTD?
NÃO. Não havia nada que impedisse o legislador de extinguir, como o fez, essa obrigatoriedade. Não há
nenhum dispositivo na CF/88 que obrigue o registro do contrato de alienação fiduciária no cartório.
Na verdade, os requisitos relacionados com a formação, validade e eficácia de contratos privados são
assuntos para serem tratados pela legislação federal e não pelo texto constitucional.
O legislador entendeu, de forma correta, que a exigência do registro da alienação fiduciária na serventia
extrajudicial (RTD) acarretaria ônus e custos desnecessários ao consumidor, além de não conferir ao ato a
publicidade adequada. Para o leigo que irá comprar um carro, é muito mais provável que ele procure no
DETRAN e no CRV se há restrições ao veículo, sendo improvável que ele vá atrás dessa informação no RTD
ou em qualquer outro cartório.

Convênios entre DETRAN e RTD


Antes de 2008, era comum que os DETRANs fizessem convênios com os cartórios de RTD para que o
licenciamento dos veículos ocorresse nos próprios cartórios. A Lei nº 11.882/2008 proibiu essa prática:
Art. 7º (...)
§ 1º Consideram-se nulos quaisquer convênios celebrados entre entidades de títulos e registros públicos e
as repartições de trânsito competentes para o licenciamento de veículos, bem como portarias e outros atos
normativos por elas editados, que disponham de modo contrário ao disposto no caput deste artigo.
§ 2º O descumprimento do disposto neste artigo sujeita as entidades e as pessoas de que tratam,
respectivamente, as Leis nºs 6.015, de 31 de dezembro de 1973, e 8.935, de 18 de novembro de 1994, ao
disposto no art. 56 e seguintes da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e às penalidades previstas no
art. 32 da Lei nº 8.935, de 18 de novembro de 1994.

Essa proibição também foi questionada por meio das ADIs, mas o STF entendeu que não havia nenhuma
inconstitucionalidade na proibição.
O STF, no entanto, a fim de respeitar o ato jurídico perfeito e a segurança jurídica, afirmou que a vedação
imposta pela Lei nº 11.882/2008 não poderia ser aplicada aos convênios celebrados antes da publicação
dessa norma.
Assim, os convênios já pactuados por ocasião da edição da lei foram preservados até o fim do prazo da sua
vigência, sendo vedada qualquer prorrogação.

Informativo 804-STF (29/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


DIREITO PENAL
LEI MARIA DA PENHA
Impossibilidade de penas restritivas de direito

Não é possível a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ao


condenado pela prática do crime de lesão corporal praticado em ambiente doméstico (art.
129, § 9º do CP).
STF. 2ª Turma. HC 129446/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/10/2015 (Info 804).

Penas restritivas de direitos


O Código Penal prevê que, em determinadas situações, em se tratando de pessoa condenada a uma pena
privativa de liberdade, pode ser esta reprimenda substituída por uma ou duas penas restritivas de direito.

Quais são os requisitos cumulativos para a conversão da pena privativa de liberdade em penas
restritivas de direitos?
Estão previstos no art. 44 do CP e podem ser assim esquematizados:

1º requisito (objetivo): 2º requisito (subjetivo): 3º requisito (subjetivo):


Natureza do crime e Não ser reincidente A substituição seja
quantum da pena em crime doloso indicada e suficiente
a) Crime doloso: Regra: não ser reincidente em A culpabilidade, os
 igual ou inferior a 4 anos; crime doloso. antecedentes, a conduta social e
 sem violência ou grave a personalidade do condenado,
ameaça a pessoa. Exceção: bem como os motivos e as
§ 3º Se o condenado for circunstâncias, indicarem que
b) Crime culposo: qualquer que reincidente, o juiz poderá aplicar essa substituição seja suficiente
seja a pena aplicada. a substituição, desde que, em (Princípio da suficiência da
face de condenação anterior, a resposta alternativa ao delito).
medida seja socialmente
recomendável e a reincidência
não se tenha operado em
virtude da prática do mesmo
crime.

Se a pessoa for condenada a...


Pena igual ou inferior a 1 ano de prisão: Pena superior a 1 ano (até 4 anos) de prisão:
A pena privativa de liberdade aplicada poderá ser A pena privativa de liberdade aplicada poderá ser
substituída por: substituída por:
a) multa OU a) 1 pena restritiva de direito + multa OU
b) 1 pena restritiva de direito b) 2 penas restritivas de direito.

Agora que você relembrou os requisitos para a aplicação das penas restritivas de direito, imagine que João
foi condenado por lesão corporal no âmbito da violência doméstica, delito previsto no art. 129, § 9º do CP:
Violência Doméstica
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)

Informativo 804-STF (29/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


É possível que o juiz, na sentença, substitua a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos?
NÃO. A substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos pressupõe, entre outras
coisas, que o crime não tenha sido cometido com violência ou grave ameaça.
No caso concreto, embora a pena privativa de liberdade fosse inferior a 4 anos, o crime fora cometido com
violência contra pessoa, motivo suficiente para obstaculizar o benefício, nos termos do art. 44, I do CP.
Art. 17 da Lei nº 11.340/2006
O art. 17 da Lei Maria da Penha prevê o seguinte:
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de
cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o
pagamento isolado de multa.

Veja, portanto, que esse dispositivo proíbe que o juiz aplique as seguintes penas restritivas de direitos à
pessoa que praticou violência doméstica e familiar contra a mulher:
 Pena de "cesta básica";
 Quaisquer espécies de prestação pecuniária (art. 45, §§ 1º e 2º);
 Pagamento isolado de multa (art. 44, § 2º do CP).
Alguns doutrinadores sustentaram a tese de que o art. 17, ao proibir apenas esses tipos de penas, teria, a
contrario sensu, permitido que fossem aplicadas outras espécies de penas restritivas de direitos. Essa
interpretação, contudo, não foi aceita pela jurisprudência.
O entendimento que prevalece é o seguinte: além das sanções previstas no art. 17, são proibidas
quaisquer penas restritivas para os condenados por violência doméstica e familiar contra a mulher. Isso
porque o art. 44, I, do CP veda penas restritivas de direito em caso de crimes cometidos com violência ou
grave ameaça à pessoa. Nesse sentido:
(...) Não se pode diminuir a abrangência da norma trazida no art. 44, inciso I, do Código Penal, com a
finalidade de se contornar a impossibilidade de aplicação da Lei n. 9.099/1995 aos crimes cometidos no
âmbito familiar. Com efeito, não obstante a Lei n. 11.340/2006 não vedar a substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos, restringindo apenas a aplicação de pena de prestação pecuniária e o
pagamento isolado de multa, o inciso I do art. 44 do Código Penal é claro ao proibir a substituição quando
o crime for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa. (...)
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 288.503/MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/08/2014.

EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) (Juiz Federal TRF2 2009 CESPE) No caso de veículos, a propriedade fiduciária só se constitui após o registro do
contrato na repartição competente para o licenciamento, procedendo-se à anotação no certificado de registro. ( )
2) (Promotor MP/RO 2010 CESPE) Pela Lei de Registros Públicos, o registro em cartório do contrato de alienação
fiduciária de veículo automotor é requisito de validade do negócio jurídico. ( )
3) (Juiz TJDFT 2015 CESPE) Fernando, com trinta anos de idade, capaz, ameaçou de morte sua companheira Tereza,
com vinte e nove anos de idade, capaz. Fernando foi processado e condenado, definitivamente, pelo referido
crime à pena de cinco meses de detenção. Nessa situação, Fernando tem direito à substituição da pena privativa
de liberdade por pena restritiva de direitos. ( )
4) (Promotor MP/MS 2015) É possível a aplicação da pena restritiva de direitos de prestação pecuniária, bem como a
substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa, nos casos de violência doméstica e familiar
contra a mulher. ( )
5) (Juiz TJ/SC 2015 FCC) É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas
de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento
isolado de multa. ( )

1. C 2. E 3. E 4. E 5. C

Informativo 804-STF (29/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


JULGADOS NÃO COMENTADOS

Convalidação de atos e nulidade


“e dete i ada de isão do “TF de la a a ulidade p o essual a pa ti de e to de isiu a repercutir,
inclusive, nos atos subsequentes, o órgão reclamado não pode os declarar convalidados. Com base nessa
orientação, a Primeira Turma julgou procedente pedido formulado em reclamação e determinou fosse
afastada a custódia que decorrera da prática dos atos implementados de forma automática. No caso, ao
ap e ia ha eas o pus do e la a te, a P i ei a Tu a a ula a o ue de idido po t i u al egio al
federal, uma vez demonstrada a impossibilidade de comparecimento do representante processual à sessão
de apreciação de recurso em sentido estrito, com formal pedido de adiamento. Além disso, em embargos
declaratórios, a Turma esclarecera que a nulidade alcançara todos os atos posteriores ao exame do referido
recurso, inclusive os alusivos à custódia e ao julgamento popular. Ocorre que, ao reapreciá-lo, a turma
especializada do mencionado tribunal restabelecera atos no processo-crime que teriam sido afastados pela
Primeira Turma do STF no campo da automaticidade, a caracterizar ofensa ao que decidido no ha eas
o pus pa adig a HC . /RJ, DJe de . . 00 .
Rcl 8823/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, 20.10.2015.

Acordo de Extradição entre os Estados Partes do Mercosul e pena remanescente


A Segunda Turma indeferiu pedido de extradição formulado em desfavor de nacional argentino, condenado
em seu país à pena de seis anos de reclusão pela prática do crime de abuso sexual agravado pela conjunção
carnal, nos termos dos artigos 45 e 119, § 3º, do Código Penal Argentino. O Colegiado afirmou que o
Acordo de Extradição entre os Estados Partes do Mercosul e as Repúblicas da Bolívia e do Chile,
promulgado pelo Decreto 5.867/2006, contemplaria cláusula a impedir a entrega do súdito estrangeiro
para execução de sentença quando a pena ainda por cumprir no Estado requerente fosse inferior a seis
eses A tigo , ite : “e a ext adição fo e ue ida pa a a exe ução de u a se te ça exige-se, ademais,
que a parte da pena ainda por cumprir não seja inferior a seis eses . No aso, se ia possível o stata
que o extraditando efetivamente permanecera preso, de 16.8.2006 até 30.5.2011, tendo cumprido quatro
anos, nove meses e 14 dias da pena imposta. Já no Brasil, fora preso em 23.1.2015, por força de decreto de
prisão preventiva para fins de extradição, permanecendo preso desde então. Considerando que o período
em que o extraditando ficara detido no território brasileiro deveria ser detraído da pena a ser cumprida (Lei
6.815/1980, artigos 91, II, e Acordo firmado entre os Estados Partes do Mercosul, art. 17), ter-se-ia que a
pena remanescente — considerado o trânsito em julgado para a acusação — resultaria, a partir de
9.10.2015, inferior a seis meses, pelo que incidiria a cláusula restritiva disposta no artigo 2, item 2, do já
aludido acordo de extradição.
Ext 1394/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 20.10.2015. (Ext-1394)

OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DO D JE
19 a 23 de outubro de 2015

AG. REG. NA Rcl N. 21.632-PE


RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. ARTIGO 71, § 1º, DA LEI 8.666/93. CONSTITUCIONALIDADE.
ADC 16. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DEVER DE FISCALIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE DO ESTADO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A Administração tem o dever de fiscalizar o fiel cumprimento do contrato pelas empresas prestadoras de serviço, também no que diz respeito às obrigações
trabalhistas referentes aos empregados vinculados ao contrato celebrado, sob pena de atuar com culpa in eligendo ou in vigilando.

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2. A aplicação do artigo 71, § 1º, da Lei n. 8.666/93, declarado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADC 16, não exime a entidade
da Administração Pública do dever de observar os princípios constitucionais a ela referentes, entre os quais os da legalidade e da moralidade administrativa.
3. A decisão que reconhece a responsabilidade do ente público com fulcro no contexto fático-probatório carreado aos autos não pode ser alterada pelo manejo
da reclamação constitucional. Precedentes: Rcl 11985-AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 21/02/2013, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-050 DIVULG 14-03-2013 PUBLIC 15-03-2013.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 679.210-MG
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Constitucional e previdenciário. Pensão por morte. Cônjuge varão.
Demonstração de invalidez. Ofensa ao princípio da isonomia. Precedentes. Dependência econômica. Preenchimento do requisito reconhecido pelo
tribunal de origem. Legislação local. Reexame de fatos e provas. Análise. Impossibilidade. Precedentes.
1. A exigência de invalidez do marido para ser beneficiário de pensão por morte da esposa fere o princípio da isonomia inserto no art. 5º, inciso I, da
Constituição Federal, uma vez que tal requisito não é exigido em relação à esposa. Esse entendimento é aplicável, inclusive, quando o óbito da instituidora se
tenha dado anteriormente à promulgação da Emenda Constitucional nº 20/98. Precedentes.
2. Inadmissível, em recurso extraordinário, o reexame dos fatos e das provas da causa e a análise de legislação local. Incidência das Súmulas nºs 279 e 280/STF.
3. Agravo regimental não provido.
AG. REG. NA Rcl N. 9.674-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. PISO SALARIAL. LEI 4950-A/1966. ENGENHEIROS. BASE DE
CÁLCULO EM MÚLTIPLOS DE SALÁRIO-MÍNIMO. REAJUSTES POR OUTROS ÍNDICES. DESRESPEITO À SÚMULA VINCULANTE 4. NÃO
CONFIGURAÇÃO.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
AG. REG. NO AI N. 703.282-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. REGIME ESPECIAL DE RECOLHIMENTO DE ICMS. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. ACÓRDÃO BASEADO EM LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. CÓDIGO
TRIBUTÁRIO NACIONAL E LEI ESTADUAL 6.374/89. ANÁLISE. IMPOSSIBILIDADE. OFENSA REFLEXA À CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. VEDAÇÃO. SÚMULA 279/STF. RECURSO
ESPECIAL DESPROVIDO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. RESP 1.032.515 (2ª TURMA, REL. MIN. ELIANA CALMON).
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
AG. REG. NO AI N. 762.803-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no agravo de instrumento. Prequestionamento. Ausência. Precatório. Juros moratórios. Critérios de cálculo.
Coisa julgada reconhecida pelo Tribunal de origem. Limites objetivos. Fundamento suficiente à manutenção do acórdão recorrido. Matéria
infraconstitucional. Ofensa reflexa. Precedentes.
1. Inadmissível o recurso extraordinário quando os dispositivos constitucionais que nele se alega violados não estão devidamente prequestionados.
Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF.
2. Não se admite recurso extraordinário contra acórdão que contenha fundamento infraconstitucional suficiente para a manutenção do julgado
recorrido. Orientação da Súmula nº 283/STF.
3. É pacífica a jurisprudência da Corte de que não se presta o recurso extraordinário para a verificação dos limites objetivos da coisa julgada, haja
vista tratar-se de discussão de índole infraconstitucional.
4. Agravo regimental não provido.
AG. REG. NO HC N. 130.276-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS CONTRA DECISÃO DO STJ QUE APLICA A
SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE.
1. Inexistente ilegalidade na decisão que não conheceu do agravo contra decisão que aplica a sistemática da repercussão geral para não admitir o
extraordinário (art. 543-B, §§ 2º e 3º, do CPC). Isso porque o Plenário desta Corte firmou o entendimento de que não cabe recurso ou reclamação ao
Supremo Tribunal Federal para rever decisão do Tribunal de origem que aplica a sistemática da repercussão geral, a menos que haja negativa
motivada do juiz em se retratar para seguir a decisão da Suprema Corte. Precedentes.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO RE N. 580.279-SE
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SERVIDOR
PÚBLICO. REENQUADRAMENTO. ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO LOCAL PERTINENTE (LEI ESTADUAL 4.133/99). IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 280/STF. REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. VEDAÇÃO. SÚMULA 279/STF.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
EMB. DECL. NO ARE N. 829.646-RJ
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Embargos de declaração no recurso extraordinário com agravo. Conversão dos embargos declaratórios em agravo regimental.
Direito Administrativo. Pensão especial. Incidência do teto constitucional remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição Federal,
com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 41/03. Repercussão geral reconhecida. Manutenção do julgado em que se determinou o
retorno dos autos à origem. Precedentes.
1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental.
2. O Supremo Tribunal Federal, no exame do RE nº 609.381/GO, Relator Ministro Teori Zavascki, Tema nº 480, reconheceu a repercussão geral da
matéria relativa à “possibilidade, ou não, de ser mantida transitoriamente a integralidade dos proventos de servidores públicos, até que haja absorção
da diferença salarial a ser reduzida em decorrência do estabelecimento de novos limites remuneratórios trazidos pela EC 41/2003”.
3. Foi mantida a decisão com que, com base no art. 328, parágrafo único, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, se determinou a
devolução dos autos ao Tribunal de origem para a observância do disposto no art. 543-B do Código de Processo Civil.
4. Agravo regimental não provido.
QUARTO AG. REG. NO RE N. 285.302-SP

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RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE ESTADUAL. ART. 70 DA LEI 9.167/80, DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, NA REDAÇÃO DADA PELA LEI
MUNICIPAL 11.548/94. APLICAÇÃO, AOS SERVIDORES DO TRIBUNAL DE CONTAS MUNICIPAL, DA LEGISLAÇÃO ESTABELECIDA
PARA O QUADRO FUNCIONAL DA CÂMARA MUNICIPAL, INCLUSIVE NO QUE TOCA AOS “VALORES E FORMAS DE CÁLCULO
DAS VANTAGENS” E ÀS “ESCALAS DE VENCIMENTOS”. ATRIBUIÇÃO DA REGULAMENTAÇÃO DA MATÉRIA À CORTE DE
CONTAS, POR RESOLUÇÃO. INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA AOS ARTS. 2º, 37, X, 39, § 1º, 73 E 96, II, ‘B’, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL.
1. A isonomia a que se referia o art. 39, § 1º, da CF/88, na redação anterior à EC 19/98, era princípio dirigido ao legislador, a quem cabia concretizá-
lo, considerando especificamente os cargos de atribuições iguais ou assemelhadas, por meio da observância recíproca das leis de fixação de
vencimentos (ADI 1.776-MC, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, DJ de 26/5/2000; RMS 21.512, Rel. Min. MOREIRA ALVES,
Primeira Turma, DJ de 19/2/1993).
2. Não obstante haja, no caso em exame, lei formal prevendo a aplicação da legislação referente aos servidores da Câmara Municipal ao quadro
funcional do Tribunal de Contas, a referida norma não identificou os cargos de atribuições iguais ou assemelhados, limitando-se a conferir à Corte de
Contas a competência para, por meio de resolução, aplicar a seus servidores a legislação pertinente ao quadro funcional da Câmara Municipal.
3. Ao regular a matéria de que trata o art. 70 da Lei 9.167/80, o Tribunal de Contas terminaria por dispor pormenorizadamente acerca “dos valores e
formas de cálculo das vantagens e das escalas de vencimentos” aplicáveis a seus servidores, extrapolando, em muito, os limites do poder normativo
inerente à função administrativa desempenhada pelo órgão e imiscuindo-se em atribuição do Poder Legislativo Municipal, em manifesta violação ao
princípio da separação dos poderes, no qual encontra-se implícita a restrição de delegação legislativa (ADI 3.090-MC, Rel. Min. GILMAR MENDES,
DJe de 26/10/2007), mormente de matéria cuja reserva de lei é prescrita pela própria Carta Magna.
4. A norma municipal impugnada usurpa a iniciativa legislativa privativa conferida pela Constituição Federal aos tribunais de contas para tratar da
fixação da remuneração de seu quadro funcional, uma vez que, observada a legislação municipal, a esse órgão caberia apenas adequar aos seus
servidores o disposto em resolução da Câmara Municipal.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
RE N. 188.083-PR
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
LEI – APLICAÇÃO NO TEMPO – TRIBUTO – IRRETROATIVIDADE. Lei regedora de tributo há de ser editada em certo exercício, para
observância no subsequente.
BALANÇO – CORREÇÃO MONETÁRIA – EXERCÍCIO DE 1989 – ARTIGO 30, § 2º, DA LEI Nº 7.799/89. Ante o princípio da irretroatividade,
surge inconstitucional o § 2º do artigo 30 da Lei nº 7.799/89, no que impôs a correção monetária das demonstrações financeiras referentes ao
exercício de 1989.
*noticiado no Informativo 793
AG. REG. NO ARE N. 781.115-SP
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE DO
FORNECEDOR.
1. As razões recursais do agravo interno não refutam especificadamente todos os fundamentos da decisão agravada. Súmula 284 do STF.
2. Fixação de multa em 1% do valor da causa, em decorrência de litigância de má-fé.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 910.117-MG
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE.
COMPROVAÇÃO DA QUALIDADE DE SEGURADO DO DE CUJUS.
1. A jurisprudência do STF é firme no sentido da inadmissibilidade de recurso extraordinário interposto sem preliminar formal e fundamentada de
repercussão geral. Precedente: AI-QO 664.567, de relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, DJ 06.09.2007.
2. É inadmissível o recurso extraordinário, quando a matéria constitucional suscitada não tiver sido apreciada pelo acórdão recorrido, em decorrência
da ausência do requisito processual do prequestionamento. Súmula 282 do STF.
3. É inviável o processamento do apelo extremo, quando o seu exame demanda o reexame da legislação aplicável à espécie e dos fatos e provas.
Súmulas 279.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO HC N. 128.550-RS
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA
ELEITA. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
1. Contra a denegação de habeas corpus por Tribunal Superior prevê a Constituição Federal remédio jurídico expresso, o recurso ordinário. Diante da
dicção do art. 102, II, a, da Constituição da República, a impetração de novo habeas corpus em caráter substitutivo escamoteia o instituto recursal
próprio, em manifesta burla ao preceito constitucional.
2. Se as circunstâncias concretas da prática do crime indicam a periculosidade do agente ou o risco de reiteração delitiva, está justificada a decretação
ou a manutenção da prisão cautelar para resguardo da ordem pública, desde que igualmente presentes boas provas da materialidade e da autoria.
Precedentes.
3. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO ARE N. 881.585-DF
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Tributário. Coisa julgada. Efeitos. Alteração das circunstâncias fáticas
e jurídicas. Superveniência de alteração legislativa. Necessidade de reexame da causa à luz da legislação infraconstitucional e dos fatos e das
provas dos autos. Súmula 279/STF. Afronta reflexa.
1. O Tribunal de origem entendeu que houve alteração nas circunstâncias fáticas e jurídicas que permitiriam uma alteração dos efeitos da coisa
julgada não só por força da atual exegese do Supremo Tribunal Federal, como também por força de alteração legislativa (LC nº 87/96).
2. Para decidir de modo contrário ao assentado pelo Tribunal de origem, seria necessário analisar a eficácia vinculante da coisa julgada e se tais
circunstâncias fáticas teriam modificado, de modo substancial, a situação jurídica do objeto do pedido ou a causa de pedir, o que importaria no
revolvimento dos fatos e das provas dos autos. Incidência da Súmula 279/STF.

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3. A Corte tem entendimento pacífico no sentido de que a violação do art. 5º, XXXVI, da Constituição, quando dependente do reexame da contenda à
luz da legislação infraconstitucional (LC nº 87/96), ocorre de maneira meramente reflexa, sendo, dessa forma, incabível a interposição de apelo
extremo.
4. Agravo regimental não provido.
AG. REG. NO ARE N. 894.463-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Direito Administrativo. Servidor militar. Processo administrativo
disciplinar. Prequestionamento. Ausência. Violação dos princípios do contraditório, da ampla defesa e da legalidade. Ofensa reflexa.
Legislação infraconstitucional. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade. Artigo 125, §§ 4º e 5º da CF. Exclusão da Corporação. Comando-
Geral da Polícia. Competência. Possibilidade. Julgamento colegiado. Composição. Precedentes.
1. Inadmissível o recurso extraordinário quando os dispositivos constitucionais que nele se alega violados não estão devidamente prequestionados.
Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF.
2. A afronta aos princípios da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório, dos limites da coisa julgada ou da prestação
jurisdicional, quando depende, para ser reconhecida como tal, da análise de normas infraconstitucionais, configura apenas ofensa indireta ou reflexa à
Constituição Federal.
3. Inadmissível, em recurso extraordinário, o reexame dos fatos e das provas e a análise da legislação infraconstitucional. Incidência das Súmulas nºs
636, 279 e 280 /STF.
4. O art. 125, § 4º, da Constituição Federal somente se aplica quando a perda da graduação for pena acessória de sanção criminal aplicada em
processo penal, e não, como no caso dos autos, quando o comando-geral da polícia aplicar a pena de demissão após apuração de falta grave em
processo administrativo disciplinar.
5. O art. 125, § 5º, da Constituição Federal contém exigência de que as demandas que tenham por objeto ato disciplinar cometido por militar sejam
julgadas em primeiro grau por juiz de direito, não fazendo, entretanto, nenhuma menção acerca dos julgamentos colegiados de tais demandas.
6. Agravo regimental não provido.
Acórdãos Publicados: 466

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Procedimento investigatório criminal e arquivamento (Transcrições)


(v. Informativo 798)
RMS 28.428/SP*
RELATOR: Ministro Marco Aurélio
EMENTA: PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO – RECEBIMENTO – DISTRIBUIÇÃO – APRECIAÇÃO – PRINCÍPIO DA
LEGALIDADE – PORTARIA – INSUBSISTÊNCIA. Cumpre observar o princípio da legalidade, o que se contém no artigo 397 do Código de
Processo Penal Militar, não subsistindo Portaria de teor contrário.
RELATÓRIO: – O assessor Dr. ** prestou as seguintes informações:
O recorrente busca reformar acórdão do Superior Tribunal Militar assim ementado:
Mandado de Segurança. Impugnação de ato de magistrada da Justiça Militar da União, consubstanciado na Portaria nº 01, de
08/01/2009, fundado na qual teria se recusado a receber e autuar Procedimento Extrajudicial do MPM. Pedido de anulação da citada
Portaria. Indeferimento. Ausência de direito líquido e certo. A elaboração de portaria para normatizar procedimentos na Auditoria
insere-se na competência do Juiz Auditor. O direito à tutela jurisdicional é abstrato, isto é, não inclui o direito a uma decisão
favorável, e deve estar devidamente fundado. Controvérsia assentada na consideração por parte do Impetrante de que o
“Procedimento Extrajudicial”, um PIC, autuado na PJM/SP, tem natureza jurídico de “peça de informação” e como tal deveria ser
apreciado pela magistrada a quo à luz do preceituado no art. 397 do CPPM. Pressuposto básico do Mandado de Segurança é a
existência de direito incontroverso, não comportando dilação probatória, exigindo prova pré-constituída apresentada na Inicial,
devendo o direito surgir inquestionável, o que não ocorreu, uma vez que, na alusão às regras estabelecidas em duas normas – CPPM,
art. 397, e Resolução nº 51/CSMPM, não é possível identificar direito cristalino e incontroverso a amparar a pretensão do Requerente,
porquanto tais dispositivos não são expressos, no sentido de dar condições de sua aplicação ao Impetrante. Afastada a discussão e
decisão, no contexto da ação mandamental, sobre o tema relacionado à legitimidade da atuação investigatória do MPM, tendo em
vista que a matéria se encontra sub judice no e. STF. Indeferida a segurança, por falta de amparo legal. Decisão majoritária.
Sustenta equívoco no acórdão recorrido, porquanto assentada a validade da Portaria nº 001/2009, segundo a qual não são
passíveis de distribuição os procedimentos de investigação criminal e as sindicâncias, ante a ausência de amparo legal, ressalvada
denúncia oferecida pelo Ministério Público Militar, na forma do artigo 28 do Código de Processo Penal Militar. Segundo narra, o
mandado de segurança foi impetrado com a finalidade de assegurar que a autoridade judiciária competente apreciasse o
Procedimento Investigatório Criminal nº **, cujo seguimento foi obstado por força da aplicação do citado ato normativo.
Argui a ilegalidade da Portaria, a ofender, consoante aduz, direito líquido e certo no tocante à observância do artigo 397 do
Código de Processo Penal Militar, a versar a legitimidade do Promotor de Justiça para requerer o arquivamento do inquérito ou das
peças de informação. Menciona, ainda, a Resolução nº 51 do Ministério Público Militar, no que consagrada a regra a revelar que a
promoção de arquivamento será apresentada ao juízo competente, nos termos do aludido dispositivo legal, ou encaminhada à Câmara
de Coordenação e Revisão, para deliberação. Diz da negativa de prestação jurisdicional concretizada em ato infralegal.
Destaca que se dá o nome de peças de informação a todo e qualquer conjunto indiciário resultante das atividades desenvolvidas
fora do inquérito policial, de modo a incluir, no conceito, os procedimentos investigatórios derivados de sindicâncias e apurações
sumárias realizadas nos quartéis, por determinação de comandantes.

Informativo 804-STF (29/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


Enfatiza que, ao afastar o uso de outros instrumentos investigativos, senão para fins de oferecimento de denúncia, a Justiça
Militar promove desrespeito à ordem jurídica vigente, limitando as demandas passíveis de análise pelo Poder Judiciário. Ressalta que
as peças informativas podem rotular investigações e diligências diversas, na amplitude das provas que representam dados a respeito
de delitos, não se admitindo a recusa em recebê-las, quando diante de manifestação fundamentada.
Salienta que, na atualidade, o inquérito policial militar não ocupa primazia na apuração de delitos. Alude à existência de
diversos mecanismos apuratórios. Assinala que a restrição versada na Portaria atacada impõe obstáculos ao Ministério Público e,
como consequência, a toda a sociedade.
A Procuradoria Geral da República opina pelo provimento do recurso, porquanto ilegal a norma impugnada. Afirma que o
arquivamento de peças informativas pode se dar no âmbito da própria instituição ou a partir de requerimento dirigido à autoridade
judiciária. Evoca o artigo 15 da Resolução nº 12/2006, do Conselho Nacional do Ministério Público, a disciplinar a instauração e a
tramitação do procedimento investigatório criminal. Aponta, alfim, a inobservância aos artigos 397 do Código de Processo Penal
Militar e 28 do Código de Processo Penal.
É o relatório.
VOTO: – O recurso veio a ser interposto em 27 de outubro de 2009, data anterior à publicação do acórdão, em 29 seguinte. O subscritor da peça
encontra-se legalmente habilitado. Conheço.
Colho das razões recursais que o mandado de segurança tem por objetivo impugnar ato da Juíza Auditora Distribuidora da 2ª Circunscrição
Judiciária Militar, a qual, com fundamento na Portaria nº 001/2009, deixou de receber, distribuir e apreciar requerimento de arquivamento do
Procedimento Investigatório Criminal nº **, instaurado na Procuradoria da Justiça Militar de São Paulo, em decorrência de provocação do Chefe do
Estado-Maior da 2ª Região.
O recorrente aponta violação ao artigo 397 do Código de Processo Penal Militar, a versar a possibilidade de submissão da decisão de
arquivamento ao crivo do Poder Judiciário. Eis o teor do dispositivo legal alegadamente transgredido:
Art. 397. Se o procurador, sem prejuízo da diligência a que se refere o art. 26, n° I, entender que os autos do inquérito ou as peças de
informação não ministram os elementos indispensáveis ao oferecimento da denúncia, requererá ao auditor que os mande arquivar. Se este
concordar com o pedido, determinará o arquivamento; se dele discordar, remeterá os autos ao procurador-geral.
1º Se o procurador-geral entender que há elementos para a ação penal, designará outro procurador, a fim de promovê-la; em caso
contrário, mandará arquivar o processo.
2º A mesma designação poderá fazer, avocando o processo, sempre que tiver conhecimento de que, existindo em determinado caso
elementos para a ação penal, esta não foi promovida.
Procede a articulação. Não é preciso grande esforço para que se conclua no sentido da ilegalidade do ato impugnado, porquanto respaldado em
Portaria elaborada em afronta ao preceito transcrito. Há evidente conflito entre normas de diferente hierarquia, a revelar necessária a observância do
Direito instrumental militar.
Descabe discutir a natureza do procedimento administrativo que se pretendia ver apreciado, porquanto, a despeito da denominação utilizada,
fez-se composto por peças de informação, circunstância suficiente para atrair a observância do artigo 397 do Código de Processo Penal Militar, sem
campo para avaliações quanto ao rito previsto. A par desse aspecto, o artigo 28 do citado diploma legal alude expressamente à possibilidade de
dispensa do inquérito quando o fato e a autoria já estiverem esclarecidos por documentos ou outras provas materiais.
Cabia à Juíza Auditora a adoção de duas possíveis condutas: anuir com o arquivamento proposto ou, discordando da fundamentação
apresentada, remeter o processo ao Procurador-Geral. A recusa em dar andamento ao pleito de trancamento consagra inaceitável abandono do
controle jurisdicional a ser exercido no tocante ao princípio da obrigatoriedade da ação penal.
Não se pode admitir que argumentos pragmáticos, como aqueles ligados ao volume de trabalho da Justiça Militar, afastem o devido processo
legal.
Pelo exposto, dou provimento ao recurso para declarar a ilegalidade da Portaria nº 001/2009 e determinar a distribuição do Procedimento
Extrajudicial nº **, respeitado o rito consagrado no Código de Processo Penal Militar.
*acordão publicado no Dje de 17.9.2015
**nomes e números suprimidos pelo Informativo

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 804-STF (29/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos: RE 837311/PI; HC 100612/SP; Inq
3305 AgR/RS; RHC 130132/MS.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
MEDIDAS PROVISÓRIAS
 Emenda parlamentar em medida provisória e contrabando legislativo.

DIREITO CONSTITUCIONAL
MEDIDAS PROVISÓRIAS
Emenda parlamentar em medida provisória e contrabando legislativo

Importante!!!
Durante a tramitação de uma medida provisória no Congresso Nacional, os parlamentares
poderão apresentar emendas?
SIM, no entanto, tais emendas deverão ter relação de pertinência temática com a medida
provisória que está sendo apreciada. Assim, a emenda apresentada deverá ter relação com o
assunto tratado na medida provisória.
Desse modo, é incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de
pertinência temática com medida provisória submetida à sua apreciação.
STF. Plenário. ADI 5127/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado
em 15/10/2015 (Info 803).

Durante a tramitação de uma medida provisória no Congresso Nacional, os parlamentares poderão


apresentar emendas?
SIM, no entanto, tais emendas deverão ter relação de pertinência temática com a medida provisória que
está sendo apreciada. Em outras palavras, a emenda apresentada deverá ter relação com o assunto
tratado na medida provisória.

Imagine que o Presidente da República edita medida provisória dispondo sobre matéria tributária.
Durante a tramitação no Congresso Nacional, um Deputado apresenta emenda incluindo o art. 76 na
medida provisória para tratar sobre os requisitos para a profissão de contador. A medida provisória é
aprovada, sendo convertida em lei, inclusive com o artigo incluído. Indaga-se: esse art. 76 da lei é
constitucional?
NÃO. É incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de pertinência temática
com medida provisória submetida à sua apreciação. Assim, como essa emenda versa sobre assunto
diverso do que é tratado na medida provisória, deve-se considerá-lo inconstitucional.

Informativo 803-STF (22/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


A inserção, por meio de emenda parlamentar, de assunto diferente do que é tratado na medida provisória
que tramita no Congresso Nacional é chamada de "contrabando legislativo", sendo uma prática vedada.
O uso de medidas provisórias se dá por motivos de urgência e relevância da matéria, cuja análise compete
ao chefe do Poder Executivo. Assim, toda e qualquer emenda parlamentar em projeto de conversão de
medida provisória em lei deve ficar restrita ao tema definido como urgente e relevante.
Vale ressaltar que a própria Resolução 1/2002, do Congresso Nacional, que trata sobre os procedimentos
para tramitação das medidas provisórias, veda a apresentação de emendas sem pertinência temática com
a MP. Veja:
Art. 4º (...) § 4º É vedada a apresentação de emendas que versem sobre matéria estranha àquela tratada
na Medida Provisória, cabendo ao Presidente da Comissão o seu indeferimento liminar.

Assim, é até possível emenda parlamentar ao projeto de conversão da MP, no entanto, deverá ser
observada a devida pertinência lógico-temática.
Essa foi a conclusão do STF ao julgar a ADI 5127/DF proposta contra o art. 76 da Lei nº 12.249/2010,
inserido mediante emenda parlamentar em projeto de conversão de medida provisória em lei, e que
tratava sobre assunto diferente daquele veiculado no texto da MP.
O art. 76 foi acrescentado indevidamente por emenda parlamentar durante a tramitação da MP 472/2009,
convertida na Lei nº 12.249/2010. Isso porque o referido artigo dispunha sobre assunto diverso daquele
tratado na MP, faltando, portanto, pertinência temática. Assim, o art. 76 foi fruto de um contrabando
legislativo.

Conclusão com efeitos ex nunc


Veja agora algo bem interessante. O STF declarou que o contrabando legislativo é proibido pela CF/88,
como vimos acima. No entanto, a Corte afirmou que, mesmo assim, o art. 76 da Lei nº 12.249/2010 não
deveria ser declarado inconstitucional.
Segundo decidiu o STF, esse entendimento de que o contrabando legislativo é inconstitucional só deverá
valer para as próximas medidas provisórias que forem convertidas em lei. Assim, ficou decidido que o STF
irá comunicar ao Poder Legislativo esse seu novo entendimento e as emendas que forem aprovadas a
partir de então e que não tiverem relação com o assunto da MP serão declaradas inconstitucionais.
É como se o STF tivesse dado uma chance ao Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, um alerta: não faça
mais isso.

Quais foram os fundamentos utilizados pelo STF para não declarar o art. 76 da Lei nº 12.249/2010
inconstitucional?
O STF apresentou dois argumentos para não declarar o art. 76 inconstitucional:
1) Essa foi a primeira oportunidade em que a Corte enfrentou esse tema (contrabando legislativo) e, por
isso, seria necessário antes de declarar inconstitucionais todas as emendas que foram inseridas nesta
mesma situação, iniciar um diálogo entre o Legislativo e o Judiciário sobre a matéria.
2) O contrabando legislativo é uma prática já arraigada em nosso processo legislativo, tendo ocorrido
inúmeras outras vezes. Assim, se a decisão do STF já valesse para todos os casos, isso poderia provocar
enorme insegurança jurídica, considerando que diversos dispositivos que estão em vigor e são fruto desse
procedimento seriam declarados inconstitucionais.

Proclamação do resultado
Na proclamação do resultado do julgamento, a Corte decidiu cientificar ao Poder Legislativo que o STF afirmou,
com efeitos ex nunc (de agora em diante), que não é compatível com a Constituição a apresentação de
emendas sem relação de pertinência temática com medida provisória submetida à sua apreciação.
Ficam preservadas, até a data do julgamento, as leis oriundas de projetos de conversão de medidas provisórias,
em obediência ao princípio da segurança jurídica, mesmo que contenham contrabando legislativo.

Informativo 803-STF (22/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DO D JE
13 a 16 de outubro de 2015

HC N. 129.474-PR
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. SÚMULA 691/STF. AFASTAMENTO. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. ARTIGO
33, CAPUT, DA LEI 11.343/2006. LIBERDADE PROVISÓRIA COM FIANÇA. SITUAÇÃO ECONÔMICA DO RÉU. DISPENSA.
ARTIGOS 325, § 1º, I, E 350, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONCESSÃO DA ORDEM.
1. Em casos excepcionais, viável a superação do óbice da Súmula 691 desta Suprema Corte. Precedentes.
2. O magistrado de primeiro grau decidiu fundamentadamente pela concessão de liberdade provisória com fiança (art. 310, III, do CPP), porquanto
inexistentes os elementos concretos indicativos de fuga do paciente, de interferência indevida na instrução processual ou de ameaça à ordem pública.
3. Na dicção dos arts. 325 e 326 do Código de Processo Penal, a situação econômica do réu é o principal elemento a ser considerado no arbitramento
do valor da fiança.
4. Diante da incapacidade econômica do paciente, aplicável a concessão de liberdade provisória com a dispensa do pagamento da fiança, “sujeitando-
o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso”, nos termos do art. 325, § 1º, I, c/c art.
350, do Código de Processo Penal. Precedente.
5. Ordem de habeas corpus concedida para deferir o benefício da liberdade provisória com dispensa do pagamento de fiança e imediata expedição do
competente alvará de soltura, ressalvada, se o caso, a imposição de medidas cautelares do art. 319 do Código de Processo Penal, pelo Juízo de origem.
*noticiado no Informativo 800

HC N. 112.382-RS
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PENAL MILITAR. USO DE DOCUMENTO FALSO (ART. 315 DO CPM). CRIME
SUJEITO À JURISDIÇÃO MILITAR (ART. 9º, III, “A”, DO CPM). PRECEDENTES. EXASPERAÇÃO DA PENA, DE OFÍCIO, PELO
TRIBUNAL DE APELAÇÃO. IMPOSSIBLIDADE.
1. As condutas imputadas ao paciente, tais como descritas no acórdão condenatório, amoldam-se, em tese, ao tipo descrito no art. 315 do Código
Penal Militar, atingindo, diretamente, a ordem administrativa militar (art. 9º, III, “a”, do CPM). Nesse contexto, torna-se inviável, em sede de habeas
corpus, decidir que o crime praticado foi o de estelionato e, portanto, a vítima seria a Caixa Econômica Federal, até porque em momento algum a
denúncia alude a prejuízo alheio (elementar normativa do delito de estelionato).
2. Se é certo que o efeito devolutivo inerente ao recurso de apelação permite que o Tribunal aprecie em exaustivo nível de profundidade, o mesmo não
ocorre quanto a sua extensão (limite horizontal), que deve se adstringir - sobretudo em se tratando de recurso da acusação - à matéria questionada e ao
pedido formulado na petição recursal, ressalvada sempre a possibilidade de concessão de ordem de ofício. Assim, padece de ilegalidade julgado do
Tribunal de apelação que agrava a situação processual do réu (exasperação da pena) sem que a própria acusação a tenha almejado.
3. Ordem concedida em parte.
*noticiado no Informativo 793
AG. REG. NO ARE N. 883.846-RJ
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
AGRAVO – OBJETO. Visando o agravo a fulminar certa decisão, a minuta deve estar direcionada a infirmá-la. O silêncio quanto a fundamento
consignado conduz, por si só, à manutenção do que assentado.
AG. REG. NO ARE N. 900.478-RO
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. CELEBRAÇÃO DE CONVÊNIO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO QUE INADMITIU O RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SÚMULA 287/STF. ACÓRDÃO RECORRIDO
PUBLICADO EM 10.3.2014.
1. A jurisprudência desta Suprema Corte é firme no sentido de que inadmissível o agravo que não ataca especificamente os fundamentos da decisão
que inadmitiu o recurso extraordinário. Incidência da Súmula 287/STF.
2. Da detida leitura das razões recursais, bem como dos fundamentos adotados pela Presidência da Corte a quo, ao exame da admissibilidade do
recurso, verifico não impugnados os fundamentos da decisão pela qual inadmitido o extraordinário na origem.
3. Agravo regimental conhecido e não provido.
Ext N. 1.375-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. EXTRADIÇÃO EXECUTÓRIA. GOVERNO DA ESPANHA. SONEGAÇÃO FISCAL – ART. 1º, INC. I, DA LEI N.
8.137/90. REGULARIDADE FORMAL DO PEDIDO. DUPLA TIPICIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESPANHOLA: PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE.
AUSÊNCIA DE PRESCRIÇÃO EM AMBOS OS ORDENAMENTOS LEGAIS. CONVERSÃO DA PENA DE MULTA EM PRISÃO. IMPOSSIBILIDADE: QUESTÃO
AFETA À SOBERANIA ESTATAL. EXTRADIÇÃO DEFERIDA.
1. A extradição pressupõe o cumprimento dos requisitos legais extraídos por interpretação a contrario sensu do art. 77 da Lei nº 6.815/80; vale dizer,
defere-se o pleito se o caso sub examine não se enquadrar em nenhum dos incisos do referido dispositivo e restarem observadas as disposições do
tratado específico.
2. In casu, o extraditando foi condenado à pena de 2 (dois) anos e 5 (cinco) meses de prisão, pela prática do crime de sonegação fiscal, que restou
acrescida de 5 (cinco) meses por conta do inadimplemento da pena de multa, e que restou parcialmente cumprida entre 11/04/2011 e 08/06/2012,
resultando o saldo de 1 (um) ano e 9 (nove) meses a cumprir.
3. O pedido atende ao disposto no Tratado de Extradição firmado entre a Espanha e o Brasil (Decreto n. 99.340/1990), há indicações seguras sobre
locais, datas, natureza e circunstâncias dos fatos.

Informativo 803-STF (22/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


4. A omissão de declarações ao fisco espanhol, objetivando a supressão de tributos, corresponde ao crime de sonegação fiscal tipificado no artigo 1º,
inc. I, da Lei n. 8.137/1990, satisfazendo a exigência da dupla incriminação, que prescinde da absoluta identidade entre os tipos penais (EXT 1.283,
Relator o Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, DJe de 17/04/2014 e EXT 908, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 19/11/2004).
5. A ausência de cópia do inteiro teor da sentença condenatória e da certidão do tempo de pena a cumprir não impede a análise do pedido de
extradição quando emergem da parte dispositiva da sentença informações seguras sobre o tempo de prisão cumprido e a cumprir.
6. A inexistência de comprovação dos marcos interruptivos do curso prescricional não impossibilita verificar a inocorrência da causa extintiva da
pena, mercê de o artigo 133 do Código Penal espanhol dispor que o prazo prescricional da pretensão executória começa a fluir do trânsito em julgado
da sentença, ocorrido em 02/02/2011; ou seja, entre o marco inicial e a presente data não transcorreu o lapso prescricional de 5 (cinco) anos previsto
na legislação espanhola. Precedentes: EXT 1305, Rel. Min. Rosa Weber, 1ª Turma, DJe de 23/10/2014, e EXT 576, Rel. Min. Moreira Alves, Pleno,
DJ de 01/10/1993.
7. A prescrição também não se deu segundo a lei brasileira, que prevê o prazo prescricional de 8 (oito) anos (CP, art. 109, inc. IV) para a pena
superior a 2 (dois) anos e não excedente a 4 (quatro) anos.
8. A alegada prescrição da pretensão punitiva é impertinente, porquanto se trata de sentença penal transitada em julgado, vale dizer, de questão afeta à
prescrição da pretensão executória.
9. A ausência de legislação a respeito da competência do Estado requerente para o processo e julgamento não tem relevância em face do princípio da
territorialidade, aplicável em se tratando de prática delituosa contra o seu fisco (EXT 1094, Rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, DJe de 25/04/2009, e
EXT 1077, Rel. Ministra Cármen Lúcia, Pleno, DJe de 03/08/2007).
10. A pena foi fixada em 2 (dois) anos e 10 (dez) meses e o paciente cumpriu pouco mais de 1 (um) ano e 1 (um) mês – entre 11/04/2011 e
08/06/2012 -, remanescendo o saldo de 1 (um) ano e 9 (nove) meses, por isso que não incide o óbice à extradição previsto no item 2 do artigo II do
Tratado bilateral (Artigo II - […] 2) Se a extradição for solicitada para execução de uma sentença, será necessário que a parte da pena ainda não
cumprida seja superior a um ano)”.
11. A impossibilidade da conversão da pena de multa em prisão em decorrência de seu descumprimento é questão não afeta à jurisdição brasileira, sob
pena de afronta à soberania do Estado na regulação de seus institutos penais, conforme sustentado no parecer ministerial à luz do precedente firmado
na EXT 542, Rel. Min. Celso de Mello, Pleno, DJ de 20/03/1992, o qual se aplica, mutatis mutandis, ao presente caso, valendo destacar da ementa do
julgado, in verbis: “A questão do reconhecimento, ou não, da ficção jurídica do crime continuado, traduz – enquanto expressão da benignidade
estatal no tratamento jurídico-penal das infrações múltiplas cometidas pelo mesmo agente – opção legislativa peculiar ao ordenamento jurídico de
cada Estado. Nesse contexto, não se pode impor, no plano das relações extradicionais entre Estados soberanos, a compulsória submissão da parte
requerente ao modelo jurídico de aplicação das penas vigente no âmbito do sistema normativo do Estado a quem a extradição é solicitada. O Brasil,
consequentemente, não pode, a pretexto de deferir o pedido extradicional, impor, à observância necessária dos demais países o seu modelo legal
que, consagrando o instituto da unidade fictícia do crime continuado, estipula regras concernentes à aplicação da pena. A impossibilidade de o
Estado brasileiro impor, mediante ressalva, ao Estado requerente, a aceitação de institutos peculiares ao direito penal positivo do Brasil – tal como
se dá em relação ao fenômeno jurídico da continuidade delitiva – deriva da circunstância de que, em assim agindo, estaria a afetar a própria
integridade da soberania estatal da parte requerente. A força da importação de critérios ou de institutos penais não se legitima em face do Direito da
Gentes e nem à luz de nosso próprio sistema jurídico. Cabe, assim, à Justiça do Estado requerente, reconhecer soberanamente – desde que o permita
a sua própria legislação penal – a ocorrência, ou não, da continuidade delitiva, não competindo ao Brasil, em obséquio ao princípio fundamental da
soberania dos Estados, que rege as relações internacionais, constranger o Governo requerente a aceitar um instituto que até mesmo o seu próprio
ordenamento jurídico positivo possa rejeitar.”
12. O Estado requerente deverá firmar o compromisso de descontar da pena o tempo de prisão do extraditando no território brasileiro para fins de
extradição (Ext 1211/REPÚBLICA PORTUGUESA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno, DJ de 24/3/2011; Ext 1214/EUA, rel. Min. Ellen Gracie, Pleno,
DJ 6/5/2011; Ext 1226/Reino da Espanha, rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 1/9/2011).
13. Pedido de extradição deferido.
*noticiado no Informativo 796
HC N. 126.081-RS
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. AMPLA DEFESA. NULIDADE. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA
DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO PARA A SESSÃO DE JULGAMENTO DO RECURSO DE APELAÇÃO NO SUPERIOR
TRIBUNAL MILITAR. INOCORRÊNCIA. PROVA DA INTIMAÇÃO NOS AUTOS. ORDEM DENEGADA.
1. Imperiosa a intimação da Defesa da data do julgamento do recurso de apelação quando há pedido expresso para a realização de sustentação oral.
Precedentes.
2. Não há falar em nulidade por ausência de intimação se há prova nos autos de que a Defensoria Pública foi devidamente intimada da sessão de
julgamento do recurso de apelação pelo Superior Tribunal Militar.
3. Ordem de habeas corpus denegada.
*noticiado no Informativo 796
SEGUNDO AG. REG. NA Rcl N. 6.527-SP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. CAUSAS INSTAURADAS ENTRE SERVIDOR E PODER
PÚBLICO. VÍNCULO DE ORDEM ESTATUTÁRIA OU JURÍDICO-ADMINISTRATIVA. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA COMUM.
OFENSA À ADI 3.395-MC. OCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. É de competência da Justiça Comum o processamento e o julgamento dos dissídios entre o Poder Público e seus servidores subordinados a regime
jurídico estatutário, a teor do que decidiu o STF na ADI (MC) 3.395, Min. Cezar Peluso, DJ de 10.11.06.
2. Agravo regimental desprovido.
*noticiado no Informativo 796
Acórdãos Publicados: 345

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TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Recurso exclusivo da defesa e “reformatio in pejus” (Transcrições)


(v. Informativo 797)
RHC 126.763/MS*
RELATOR: Ministro Dias Toffoli
REDATOR P/ O ACORDÃO: Ministro Gilmar Mendes
VOTO-VISTA (MINISTRO GILMAR MENDES): Pois bem, a regra legal, cerne da presente discussão, vem fixada na parte final do artigo 617 do
Código de Processo Penal, que diz não poder o tribunal agravar a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.
A questão central aqui é definir, afinal, em que consiste esse agravamento de pena.
Pelo que se depreende das decisões anteriores e, também, do voto já proferido pelo Relator, a conclusão objetiva é: o princípio da ne
reformatio in pejus traria interpretação literal do artigo 617 do Código de Processo Penal, limitando-se a vedar o agravamento da quantidade da pena
ao final imposta.
Com a devida vênia, não creio ser esse o entendimento mais acertado.
Como se sabe, a melhor interpretação sempre é a sistemática, levando em conta que a norma está inserida em um conjunto organizado de
ideias, devendo ser seu sentido extraído da lógica geral, coadunando-se com o viés metodológico de todo o arcabouço normativo. Faz-se mister
encadear todos os dispositivos e normas, evidenciando-se, destarte, a mens legis. E, certamente, tal propósito jamais será alcançado se nos ativermos à
literalidade do dispositivo legal. A literalidade, especialmente nessas circunstâncias, apresenta-se rasa e, portanto, insuficiente.
Pois bem. O reiteradamente citado artigo 617 do Código de Processo Penal é a expressão do princípio da personalidade dos recursos que, em
resumo, determina que a irresignação só pode aproveitar àquele que a apresentou. Nessa linha, veda-se a reformatio in pejus.
Como já tive oportunidade de expressar em outros momentos, penso que a vedação da reformatio in pejus não se cinge, simplesmente, à
quantidade final de pena. Tal me parece evidente.
A pena, que é a consequência principal da prática delitiva, o fim em si do próprio direito penal, é fixada com base em determinados elementos
definidos em lei. É ato complexo, trifásico, no nosso ordenamento jurídico. Ao contrário do que possa parecer, não se trata de mero cálculo
aritmético, mas sim de efetiva valoração da conduta levada a efeito pelo sentenciado.
Rechaçando a restrição do disposto no artigo 617 do CPP ao simples aspecto quantitativo da pena, avalizam Ada Pellegrini Grinover, Antonio
Magalhães Gomes Filho e Antonio Scarance Fernandes:
“(...) Não se admite a reformatio in pejus, entendida como diferença para pior, entre a decisão recorrida e a decisão no recurso, não
podendo a piora ocorrer nem do ponto de vista quantitativo, nem sob o ângulo qualitativo.
Até mesmo com relação à matéria cognoscível de ofício – como, por exemplo, no caso das nulidades absolutas –, o recurso do réu não
pode servir de veículo para o reconhecimento de nulidade que prejudique a defesa. (...)” (Recursos no Processo Penal. 7ª Edição. Revista dos
Tribunais, 2011, p. 41, grifos meus).
Tamanha é a importância de não pronunciar qualquer decisão em desfavor de quem recorre que, seguindo tal raciocínio, os citados autores
trazem à baila o teor do Enunciado 160 da Súmula desta Corte, que veda o reconhecimento de nulidade absoluta quando desfavorece o réu, caso não
arguida em recuso da acusação.
Pois bem. Para fixar a pena-base, o magistrado, atendo-se às vetoriais do artigo 59 do Código Penal, dimensionará a culpabilidade do réu, a
existência de antecedentes, examinará a conduta social, a personalidade, os motivos que levaram à prática delitiva, as circunstâncias e consequências
desse ato, assim como a influência que o comportamento da vítima teve nos fatos. A reunião de todos esses elementos culminará na manutenção da
pena-base no mínimo legal ou em sua elevação.
Individualizar a reprimenda é uma das tarefas mais importantes e árduas a serem exercidas pelo magistrado, porque, sempre adstrito ao
princípio da legalidade, deve equalizá-la da forma mais justa possível ou, como acerta Paulo Queiroz, da forma menos injusta possível.
Como parece evidente, cada uma das vetoriais que compõem o rol do artigo 59 do Código Penal faz parte das circunstâncias fáticas que
envolvem a prática da infração penal. Não fosse assim, a lei traria uma pena previamente fixada, estanque, predeterminada e sem possibilidade de
alteração. Constitui ato decisório, constitutivo, que transita em julgado, não sendo mera fundamentação. Tanto é assim que, nos termos de pacífica
jurisprudência, a exasperação da pena-base sem fundamentação concreta é ato ilegal, passível, inclusive, de correção de ofício.
Tal tema foi objeto de recente discussão neste Colegiado, como evidencia o acórdão, de minha relatoria:
“Habeas corpus. 2. Emendatio libelli (art. 383, CPP) em segunda instância mediante recurso exclusivo da defesa. Possibilidade,
contanto que não gere reformatio in pejus, nos termos do art. 617, CPP. A pena fixada não é o único efeito que baliza a condenação, devendo
ser consideradas outras circunstâncias para verificação de existência de reformatio in pejus. 3. O redimensionamento da pena-base pelo
Tribunal de Apelação em patamar para além daquele fixado no Juízo originário, embora reduza a reprimenda total em apelação exclusiva da
defesa, reconhecendo vetoriais desfavoráveis não veiculadas na sentença (art. 59, CP), gera reformatio in pejus. 4. Ordem concedida. (HC
103310, relator(a): min. TEORI ZAVASCKI, redator do acórdão: min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 3/3/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-085 DIVULG 7-5-2015 PUBLIC 8-5-2015)”.
Nesse viés, tem-se em mente que, em decorrência do princípio devolutivo, o recurso interposto devolve ao tribunal somente o conhecimento da
matéria impugnada, nos termos da expressão tantum devolutum quantum appellatum. Então, como aceitar que o tribunal reconheça – e os agregue à
decisão e à condenação – elementos que envolvem a infração penal, que venham em desfavor do réu, quando estamos em face de apelação exclusiva
da defesa? Tal proceder vai de encontro a toda a lógica recursal vigente.

Informativo 803-STF (22/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Traçando-se um paralelo sem muito apuro, tão somente para evidenciar a esterilidade de tal pretensão, o próprio processo civil, que não é
revestido das mesmas garantias do processo penal e trata de interesses privados, não permite a ofensa à preclusão que aqui se pretende franquear,
ferindo, também, a lógica devolutiva.
Com efeito, na situação sob exame, à primeira vista, aos olhares mais desavisados, o então apelante parece ter sido beneficiado pela decisão de
segunda instância, levando em conta que sua pena final ficou menor do que a fixada na sentença monocrática. Nem por isso devemos nos contentar,
visto que, seguindo-se à risca as regras legais e interpretativas, sua pena deveria ter ficado ainda menor.
Após o trânsito em julgado para o Ministério Público, o Tribunal de apelação reconheceu a existência de uma circunstância qualificadora
(delito praticado durante o repouso noturno), em momento algum aventada. Contudo, ainda que presentes todos os requisitos fáticos à aplicação da
referida qualificadora, a ausência de recurso da acusação veda tal proceder, visto que é reconhecer elemento desfavorável à defesa.
Ainda, quando da fixação da pena-base, a Magistrada de primeira instância identificou por desfavoráveis cinco circunstâncias judiciais
elencadas no artigo 59 do Código Penal, elevando em doze meses a reprimenda, ou seja, quase dois meses e meio cada uma. Já em segunda instância,
quatro dessas vetoriais foram decotadas. Contudo, de forma desproporcional, atribuiu-se a essa circunstância judicial negativa remanescente um
aumento de oito meses na pena-base, além dos parâmetros definidos em primeiro grau e aceitos pela acusação, em claro desrespeito às normas
recursais.
De fato, não há de se olvidar que a pena privativa de liberdade final, fixada em 1 ano e 5 meses e 23 dias de reclusão, é menor do que a
imposta ainda em primeira instância, 2 anos, 7 meses e 15 dias de reclusão. Todavia, é, também, inegável que, sem que reconhecidas quaisquer
circunstâncias desfavoráveis ao apelante, em respeito às regras recursais, tal reprimenda restaria ainda menor. Está aí o evidente prejuízo.
Com efeito, aparentemente sem gerar qualquer prejuízo prático ao ora recorrente, a decisão de segunda instância aumentou a pena atribuída a
cada vetorial negativa reconhecida e agregou à decisão uma qualificadora outrora inexistente, o que indubitavelmente configura prejuízo e gera
constrangimento ilegal.
Vou pedir vênia a Vossa Excelência e abrir a divergência com base no precedente recente trazido, invocando, portanto, referidos fundamentos.
Ante o exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, a fim de que seja refeita a dosimetria da pena em relação ao recorrente.
*acordão publicado no Dje de 10.9.2015

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
13 a 16 de outubro de 2015

Decreto nº 8.539, de 8.10.2015 - Dispõe sobre o uso do meio eletrônico para a realização do processo
administrativo no âmbito dos órgãos e das entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional.
Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº 194, p. 2, em 9.10.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 803-STF (22/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 5286/AP, ADI 5287/PB e ADPF 339/PI; ADI 5296 MC/DF; Rcl 15243/RJ.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ACO 1664 AgR/RS, ACO 1516 AgR/RS; AP 933 QO/PB.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
INELEGIBILIDADES
 As hipóteses de inelegibilidade são aplicáveis às eleições suplementares

DIREITO ELEITORAL
INELEGIBILIDADES
 As hipóteses de inelegibilidade são aplicáveis às eleições suplementares

DIREITO PENAL
CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS (DL 201/67)
 Para a configuração do delito do art. 1º, XIV é indispensável a inequívoca ciência do Prefeito.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


COMPETÊNCIA
 Menção ao investigação com foro por prerrogativa de função no depoimento do réu que está sendo processado
em 1ª instância.

DIREITO CONSTITUCIONAL

INELEGIBILIDADES
As hipóteses de inelegibilidade são aplicáveis às eleições suplementares

As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo de
seis meses, são aplicáveis às eleições suplementares.
STF. Plenário. RE 843455/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/10/2015 (Info 802).

Para maiores informações, veja os comentários no capítulo de Direito Eleitoral.

Informativo 802-STF (16/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO ELEITORAL

INELEGIBILIDADES
As hipóteses de inelegibilidade são aplicáveis às eleições suplementares

As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo de
seis meses, são aplicáveis às eleições suplementares.
STF. Plenário. RE 843455/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/10/2015 (Info 802).

INELEGIBILIDADE REFLEXA
O art. 14, § 7º, da CF/88 estabelece o seguinte:
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins,
até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do
Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito,
salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

A doutrina chama esta hipótese de inelegibilidade em razão do parentesco ou inelegibilidade reflexa.

De acordo com esse caso de inelegibilidade:


O cônjuge,
parentes e afins Não poderão candidatar-se a...
até o 2º grau do...
PREFEITO Vereador e/ou prefeito do mesmo município.
Qualquer cargo no mesmo Estado, ou seja:
• vereador ou prefeito de qualquer município do respectivo Estado;
GOVERNADOR
• deputado estadual e governador do mesmo Estado;
• deputado federal e senador nas vagas do próprio Estado;
PRESIDENTE Qualquer cargo eletivo no país (municipal, estadual ou federal).

Exceção à regra do § 7º: (...) salvoàseàj àtitula àdeà a datoàeletivoàeà a didatoà à eeleição.

Assim, no caso do cônjuge, parente ou afim já possuir mandato eletivo, não haverá qualquer impedimento
para que concorra à reeleição (candidatura ao mesmo cargo).

A ra gê ia do ter o ô juge :
Considera-se cônjuge não somente a mulher/homem que esteja casada(o), mas também aquela(e) que
vive em união estável com o Chefe do Poder Executivo, ou mesmo com seu irmão (afim de 2º grau). Isso
porque a CF/88 amplia o conceito de entidade familiar, nos termos do art. 226, § 3º. A vedação incide
também no caso de união homoafetiva.

A inelegibilidade persiste, ainda que, no curso do mandato, a relação se extinga:


O TSE tem entendimento de que, se em algum momento do mandato, ocorreu a relação de casamento,
união estável ou parentesco, esta pessoa já está inelegível, ainda que esta relação seja desfeita.
Ex: Luciano foi eleito prefeito em 2004. Em 2008, foi reeleito. Logo, em 2012, não poderia concorrer à reeleição
porque seria seu terceiro mandato consecutivo. Em 2010, Luciano separou-se de sua esposa Amélia. Mesmo
estando separados, Amélia não poderá concorrer nas eleições de 2012 porque, durante o mandato do prefeito,
houve uma relação entre eles, não cessando a inelegibilidade pelo fim do vínculo conjugal.

Informativo 802-STF (16/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


O STF possui o mesmo entendimento:
Súmula vinculante 18-STF: A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não
afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

Os parentes (ou cônjuge) podem concorrer nas eleições, desde que o titular do cargo tenha direito à
reeleição e não concorra na disputa:
Ex: em 1998, Garotinho foi eleito Governador do RJ. No final do seu 1º mandato (em 2002), ele renunciou ao
cargo para se desincompatibilizar e concorrer à Presidência da República. Sua esposa, Rosinha, candidatou-se
ao cargo de Governador na eleição de 2002, tendo sido eleita. O TSE considerou que Rosinha poderia
concorrer e assumir o cargo porque seu marido havia renunciado e ainda estava no 1º mandato. A lógica
utilizada pelo TSE foi a seguinte: ora, se o próprio Garotinho poderia concorrer novamente ao cargo de
Governador, não haveria sentido em se negar à sua esposa o direito de disputar a eleição.
Vale ressaltar, no entanto, que Rosinha, ao ganhar a eleição, é como se estivesse exercendo o 2º mandato
consecutivo. Logo, em 2006 não poderia ela concorrer novamente ao Governo.
Em suma, este núcleo familiar foi eleito Governador em 1998 e reeleito em 2002, não podendo figurar em
um terceiro mandato consecutivo.

ELEIÇÃO SUPLEMENTAR E AS HIPÓTESES DE INELEGIBILIDADE


Imagine a seguinte situação hipotética:
João foi eleito, em 2012, prefeito de uma cidade do interior.
Ocorre que, em 2013, ele e o vice foram cassados.
Diante disso, a Justiça Eleitoral determinou a realização de nova eleição para Prefeito (chamada de
"eleição suplementar").
Maria, mulher de João, inscreveu-se para concorrer na eleição suplementar. No entanto, os partidos
oposicionistas impugnaram a candidatura afirmando que ela seria inelegível com base no art. 14, § 7º da CF/88:
Art. 14 (...) § 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes
consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de
Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses
anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

Maria defendeu-se afirmando que as hipóteses de inelegibilidade só se aplicam para eleições gerais, não
valendo para o caso de eleições suplementares.

O argumento defensivo de Maria está correto? As hipóteses de inelegibilidade só se aplicam para as


eleições gerais?
NÃO. As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF/88, inclusive quanto ao prazo de seis
meses, são aplicáveis às eleições suplementares. Assim, incide o art. 14, § 7º, da CF/88.
João estava no seu primeiro mandato. Logo, em tese, ele ainda teria direito de concorrer a uma reeleição
(em 2016). Diante disso, quando o próprio chefe do Poder Executivo ainda pode concorrer à reeleição, a
jurisprudência abre uma exceção ao art. 14, § 7º, da CF/88 e permite que o cônjuge (no caso, sua mulher)
concorra no seu lugar. Assim, em tese, em 2016, Maria poderia concorrer à Prefeita mesmo existindo a
regra do art. 14, § 7º (vimos essa situação acima no caso da Rosinha Garotinho).
Voltando, no entanto, ao caso concreto: Maria não poderá concorrer nas eleições suplementares porque
João, ao ser cassado, tornou-se inelegível, conforme prevê o art. 1º, I, "c", da LC 64/90:
Art. 1º São inelegíveis:
I - para qualquer cargo:
(...)
c) o Governador e o Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal e o Prefeito e o Vice-Prefeito que
perderem seus cargos eletivos por infringência a dispositivo da Constituição Estadual, da Lei Orgânica do
Distrito Federal ou da Lei Orgânica do Município, para as eleições que se realizarem durante o período

Informativo 802-STF (16/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


remanescente e nos 8 (oito) anos subsequentes ao término do mandato para o qual tenham sido eleitos;
(Redação dada pela Lei Complementar nº 135/2010)

Assim, sendo João inelegível, Maria também tornou-se inelegível, não podendo ser aplicada a exceção
feita pela jurisprudência ao art. 14, § 7º, da CF/88. Em outras palavras, não se pode aplicar aqui a mesma
solução dada ao caso da Rosinha porque lá o Garotinho não estava inelegível (ele ainda poderia concorrer
à reeleição, se quisesse). No presente caso é diferente porque João estava inelegível, fazendo com que
essa inelegibilidade se transmitisse à sua mulher.

O que é mais importante, no entanto, é que você aprenda a tese fixada pelo STF no âmbito da
repercussão geral:
As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo de seis meses,
são aplicáveis às eleições suplementares.

DIREITO PENAL

CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS (DL 201/67)


Para a configuração do delito do art. 1º, XIV, é indispensável a inequívoca ciência do Prefeito

O art. 1º, XIV, do DL 201/67 prevê que o Prefeito pratica crime quando nega execução a lei
federal, estadual ou municipal, ou deixa de cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da
recusa ou da impossibilidade, por escrito, à autoridade competente.
Vale ressaltar, no entanto, que, segundo entende o STF, para a configuração do delito em tela é
indispensável que o MP comprove a inequívoca ciência do Prefeito a respeito da ordem judicial.
Ex: em Joinville (SC), o juiz expediu ordem judicial determinando que o Município se
abstivesse de praticar determinado ato administrativo. A ordem judicial foi endereçada à
Procuradoria do Município. Mesmo após a intimação ser efetivada, o ato administrativo
questionado foi praticado. Diante disso, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o
Prefeito, imputando-lhe a prática do crime previsto no art. 1º, XIV, do DL 201/67. O STF
absolveu o réu. Segundo entenderam os Ministros, não foram produzidas provas de que o réu
tenha tido conhecimento da ordem judicial ou que tenha concorrido para seu
descumprimento. Para configuração do delito em tela, é indispensável que o MP comprove a
inequívoca ciência do Prefeito a respeito da ordem judicial, não sendo suficiente que a
determinação judicial tenha sido comunicada a terceiros. Para que o Prefeito pudesse ser
responsabilizado criminalmente, seria indispensável a sua intimação pessoal.
STF. 1ª Turma. AP 555/SC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/10/2015 (Info 802).

DECRETO-LEI 201/67
O Decreto-Lei 201/67 é um ato normativo com status de lei ordinária e que prevê, em seu art. 1º, uma lista
de crimes cometidos por Prefeitos no exercício de suas funções.
O DL 201/67 traz também regras de processo penal que deverão ser aplicadas quando ocorrerem os
crimes ali previstos.
Vale ressaltar que o DL 201/67 foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária (Súmula 496 do STF).

ART. 1º
O art. 1º do DL 201/67 elenca, em seus incisos, diversos crimes de responsabilidade dos Prefeitos.
Vejamos a redação do caput:

Informativo 802-STF (16/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais, sujeitos ao julgamento do Poder
Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:

O que são crimes de responsabilidade?


Tecnicamente falando, crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas praticadas por
pessoas que ocupam determinados cargos públicos.
Caso o agente seja condenado por crime de responsabilidade, ele não receberá sanções penais (prisão ou
multa), mas sim sanções político-administrativas (perda do cargo e inabilitação para o exercício de função
pública).

O art. 1º prevê realmente crimes de responsabilidade?


NÃO.à Oà a t.à 1ºà afi aà ueà osà delitosà eleà ele adosà sãoà i esà deà espo sa ilidade .à ápesa à deà se à
utilizada essa nomenclatu a,à aà dout i aà eà aà ju isp udê iaà o ige à oà legislado à eà afi a à ue,à aà
verdade, esses delitos são crimes comuns, ou seja, infrações penais iguais àquelas tipificadas no Código
Penal e em outras leis penais.
Desse modo, o que o art. 1º traz são crimes funcionais cometidos por Prefeitos.
Vale ressaltar que os crimes de responsabilidade (em sentido estrito) dos Prefeitos estão previstos no art.
4º do DL 201/67. É nesse dispositivo que estão definidas as infrações político-administrativas dos alcaides.
Nesse sentido: STF. Plenário. HC 70671, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 13/04/1994.

Os crimes funcionais dos Prefeitos estão previstos exclusivamente no art. 1º do DL 201/67?


NÃO. Os Prefeitos poderão responder também pelos crimes funcionais previstos no Código Penal, na Lei
de Licitações (Lei n. 8.666/93) e em outras leis penais, desde que tais condutas não estejam descritas no
art. 1º do DL 201/67. Os crimes tipificados nas demais leis somente incidirão para os Prefeitos se não
estiverem previstos no DL 201/67, que é norma específica.

Bem jurídico protegido pelos tipos do art. 1º: o patrimônio da Administração Pública e a moralidade
administrativa.

Sujeito passivo: em regra, é o Município. No entanto, a depender do caso concreto, poderá também ser
vítima do crime o Estado ou a União. É o caso em que o Prefeito se apropria ou desvia de bens ou rendas
públicas pertencentes ao ente estadual ou federal (ex: Prefeito que desvia recursos de um convênio
federal).
Sendo o sujeito passivo o Município ou o Estado, a competência para julgar o crime é da Justiça Estadual.
Se o sujeito passivo for a União, a competência será da Justiça Federal.

Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, uma vez que somente pode ser praticado pelo Prefeito (ou por
quem esteja no exercício desse cargo, como o Vice-Prefeito ou o Presidente da Câmara de Vereadores).
Os crimes do art. 1º são próprios, mas é possível que haja coautoria ou participação. Em outras palavras,
outros indivíduos podem ser coautores ou partícipes do Prefeito no cometimento da infração. Exs: um
Secretário Municipal, um contador, um assessor etc.

Término do mandato: importante destacar que o fato de ter terminado o mandato do Prefeito não
impede que ele seja denunciado e processado pelos crimes do art. 1º do DL 201/67, desde que os fatos
tenham sido praticados durante o mandato. Essa dúvida foi tão frequente no passado, que existem duas
súmulas afirmando isso:
Súmula 164-STJ: O prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua sujeito a processo por crime
previsto no art. 1º do Dec. lei n. 201, de 27/02/67.
Súmula 703-STF: A extinção do mandato do Prefeito não impede a instauração de processo pela prática
dos crimes previstos no art. 1º do DL 201/67.

Informativo 802-STF (16/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Elemento subjetivo: é o dolo. Todos os tipos previstos no art. 1º exigem o dolo, não havendo modalidade
culposa no DL 201/67.

É possível aplicar o princípio da insignificância?


Sobre o tema, existe divergência entre o STF e o STJ:
STF: SIM STJ: não pode ser aplicado
Ex-prefeito condenado pela prática do crime Não é possível a aplicação do princípio da
previsto no art. 1º, II do Decreto-Lei 201/1967, por insignificância a prefeito, em razão mesmo da
ter utilizado máquinas e caminhões de própria condição que ostenta, devendo pautar sua
propriedade da Prefeitura para efetuar conduta, à frente da municipalidade, pela ética e
terraplanagem no terreno de sua residência. 3. pela moral, não havendo espaço para quaisquer
Aplicação do princípio da insignificância. desvios de conduta. (...) (HC 148.765/SP, Rel. Min.
Possibilidade. (...) (HC 104286, Rel. Min. Gilmar Maria Thereza De Assis Moura, 6ª Turma, julgado
Mendes, 2ª Turma, julgado em 03/05/2011) em 11/05/2010)

CRIME DO INCISO XIV


Vamos agora estudar o crime previsto no inciso XIV (negar execução de lei ou descumprir decisão judicial):
Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais, sujeitos ao julgamento do Poder
Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:
(...)
XIV - Negar execução a lei federal, estadual ou municipal, ou deixar de cumprir ordem judicial, sem dar o
motivo da recusa ou da impossibilidade, por escrito, à autoridade competente;
(...)
§ 1º Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos os dos itens I e II, com a pena de
reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a pena de detenção, de três meses a três anos.

Exemplo:
Juiz do Trabalho determina ao prefeito que ele bloqueie o saldo que uma empresa que prestava serviços
ao Município ainda tinha para receber a fim de que esse dinheiro seja utilizado para pagar direitos
trabalhistas. Apesar de receber a ordem de forma direta e específica, o prefeito não a cumpre e autoriza o
pagamento à empresa.

Tipo especial de desobediência


O inciso XIV acima se assemelha com o crime de desobediência (art. 330 do CP). Cuidado para não
confundir: se quem descumpriu a ordem judicial foi o Prefeito, ele não responderá pelo art. 330 do CP,
mas sim pelo art. 1º, XIV, do DL 201/67.

Elemento subjetivo
O crime é punido a título de dolo. Não se exige elemento subjetivo especial ("dolo específico"). Assim,
para o crime se consumar, não é necessário que o Prefeito tenha descumprido a lei ou a ordem judicial por
causa de um motivo específico, para ajudar alguém, ter vantagem pecuniária etc. Para que o delito se
configure, basta que o Prefeito tenha negado execução à lei ou descumprido a ordem judicial de forma
injustificada, ou seja, sem apresentar motivos, por escrito, as razões da recusa ou da impossibilidade de
cumprimento.

É indispensável comprovar a inequívoca ciência do Prefeito


Imagine a seguinte situação adaptada:
Em Joinville (SC), o juiz expediu ordem judicial determinando que o Município se abstivesse de praticar
determinado ato administrativo.

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A ordem judicial foi endereçada à Procuradoria do Município.
Mesmo após a intimação ser efetivada, o ato administrativo questionado foi praticado.
Diante disso, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o Prefeito, imputando-lhe a prática do crime
previsto no art. 1º, XIV, do DL 201/67.
O STF, no entanto, absolveu o réu. Segundo entenderam os Ministros, não foram produzidas provas de
que o réu tenha tido conhecimento da ordem judicial ou que tenha concorrido para seu descumprimento.
De acordo com a jurisprudência do STF, para configuração do delito em tela, é indispensável que o MP
comprove a inequívoca ciência do Prefeito a respeito da ordem judicial, não sendo suficiente que a
determinação judicial tenha sido comunicada a terceiros.
Vale lembrar, ainda, que os Procuradores Municipais representam o Município e não o Prefeito. Dessa
forma, é certo que, ao intimar a Procuradoria, houve comunicação válida para o Município, mas não para o
Prefeito. Assim, o Município poderá sofrer sanções cíveis pelo descumprimento (ex: astreintes etc.), mas
para que o Prefeito pudesse ser responsabilizado criminalmente, seria indispensável a sua intimação pessoal.
A Ministra Relatora Rosa Weber salientou que Joinville é um município grande, com a maior população de
Santa Catarina, o que torna factível a alegação da defesa de que o prefeito não sabia das decisões judiciais
ou de seu descumprimento, pois possui administração descentralizada.
STF. 1ª Turma. AP 555/SC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/10/2015 (Info 802).

Consumação
Trata-se de crime formal (mera conduta): consuma-se no momento em que o Prefeito nega execução à lei
ou descumpre a ordem judicial sem apresentar motivos, por escrito, as razões da recusa ou da
impossibilidade de cumprimento.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA
Menção ao investigado com foro por prerrogativa de função
no depoimento do réu que está sendo processado em 1ª instância

Na chamada "operação Lava Jato", o STF decidiu desmembrar um dos feitos, ficando no
Supremo a investigação relacionada com o Deputado Federal "EC" e sendo remetido de volta
para a Vara Federal de Curitiba o processo que apura a conduta dos demais réus (supostos
comparsas do parlamentar).
Depois do desmembramento, durante a oitiva de um réu colaborador na 1ª instância, este
revelou novos fatos criminosos que teriam sido praticados por "EC".
Essa oitiva foi correta e não houve usurpação de competência do STF.
Só se poderia dizer que houve violação da competência do STF se o juiz federal tivesse
realizado medidas investigatórias dirigidas ao Deputado Federal, não podendo ser
considerada medida de investigação o simples fato de ele ter ouvido réu colaborador e este ter
mencionado a participação de "EC" durante a audiência.
É comum que, em casos de desmembramento, ocorra a produção de provas que se relacionem
tanto com os indivíduos investigados na 1ª instância, como o dos demais réus com foro
privativo. A existência dessa coincidência não caracteriza usurpação de competência.
Em suma, a simples menção do nome do reclamante em depoimento de réu colaborador,
durante a instrução em 1ª instância, não caracterizaria ato de investigação, ainda mais quando
houve prévio desmembramento, como no caso.
STF. Plenário. Rcl 21419 AgR/PR, Rel. Min.Teori Zavascki, julgado em 7/10/2015 (Info 802).

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Imagine a seguinte situação adaptada:
No curso das investigações da chamada operação "Lava Jato", surgiram supostos indícios de que o Deputado
Federal "EC" teria, em conjunto com outras pessoas, praticado crimes contra a administração pública.
Diante disso, considerando que parlamentar federal possui foro por prerrogativa de função, o juiz federal
que conduz o processo remeteu os autos ao STF.
O STF decidiu promover a cisão (desmembramento) das investigações, de forma que o Deputado
permaneceu sendo investigado no Supremo e o processo contra os demais envolvidos voltou para a 1ª
instância (13ª Vara Federal de Curitiba).
A instrução do processo continuou a tramitar na Vara Federal em Curitiba e, durante a oitiva de um réu
colaborador, este revelou novos fatos criminosos que teriam sido praticados por "EC".
Ao tomar conhecimento dessas declarações, "EC" ajuizou reclamação no STF afirmando que o juiz federal
de Curitiba usurpou a competência do Supremo porque o magistrado, a pretexto de conduzir a instrução
processual do feito, teria realizado atos de verdadeira investigação contra ele (parlamentar federal).

O STF concordou com os argumentos do reclamante? No caso concreto, houve usurpação da


competência do STF pelo juiz federal?
NÃO. O STF afirmou que, como houve o desmembramento dos feitos e a remessa de parte do processo
para a 1ª instância, o fato de terem sido encontrados novos indícios da participação do Deputado Federal
em momento subsequente não significa, por si só, que tenha havido usurpação de competência.
O juiz federal continuou conduzindo parte do processo por decisão do próprio STF e os fatos são os mesmos, de
forma que não se pode dizer que o magistrado estivesse investigando diretamente o reclamante.
Só se poderia dizer que houve violação da competência do STF se o juiz federal tivesse realizado medidas
investigatórias dirigidas ao Deputado Federal, não podendo ser considerada medida de investigação o simples
fato de ele ter ouvido réu colaborador e este ter mencionado a participação de "EC" durante a audiência.
Se fosse ser adotada a tese do reclamante, todas as vezes em que ele fosse mencionado, o processo teria que
retornar ao STF para novo exame, o que, além de desarrazoado, inviabilizaria, na prática, a persecução penal.
Além disso, é comum que, em casos de desmembramento, ocorra a produção de provas que se
relacionem tanto com os indivíduos investigados na 1ª instância, como o dos demais réus com foro
privativo. A existência dessa coincidência não caracteriza usurpação de competência.
Em suma, a simples menção do nome do reclamante em depoimento de réu colaborador, durante a
instrução em 1ª instância, não caracterizaria ato de investigação, ainda mais quando houve prévio
desmembramento, como no caso.

O juiz federal de Curitiba, ao prestar informações na reclamação contra ele proposta, bem explicou a
situação:
"Apesar da irresignação do Reclamante, não cabe à Justiça silenciar testemunhas ou acusados ou orientar o que
devem e o que não devem declarar em Juízo, máxime quando, segundo alegam, pretendem falar a verdade.
O foro por prerrogativa de função apenas outorga ao seu detentor o direito de ser processado perante a
Corte própria, privilégio este garantido ao Reclamante no presente caso, já que o Deputado Federal 'EC'
está sendo investigado pelos supostos crimes cometidos perante o Supremo Tribunal Federal no aludido
Inquérito 3.983.
O foro por prerrogativa de função não outorga ao titular o direito de não ter sequer o seu nome
pronunciado por quem quer que seja, máxime por testemunhas ou acusados colaboradores em
investigações ou processos previamente desmembrados pelo Supremo Tribunal Federal.
(...)
Saliente-se que a mera referência ao nome do titular do foro em depoimento em Juízo não o torna
acusado do processo, nem significa ato investigatório contra ele."

Informativo 802-STF (16/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


JULGADOS NÃO COMENTADOS

Conflito de atribuições: tribunal de justiça militar e ministério público


O Plenário, em julgamento conjunto e por maioria, negou provimento a agravos regimentais em ações
cíveis originárias que tratavam de conflito de atribuições relativamente à apuração de crime cometido por
membro de tribunal de justiça militar criado em âmbito estadual. Na espécie, órgão do Ministério Público
no Estado do Rio Grande do Sul, ao suscitar o conflito em questão, entendera que o STJ seria o órgão
competente para processar e julgar o referido magistrado, considerado o quanto disposto no art. 104, § 5°,
daàCo stituiçãoàdoàEstadoàdoàRioàG a deàdoà“ulà OsàJuízesàdoàT i u alàMilita àdoàEstadoàte ãoàve i e to,à
vantagens, direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos iguais aos dos Desembargadores do Tribunal
deàJustiça ,àoà ueàe seja iaàaàat i uiçãoàdoàMPUàpa aàatua à oàfeito.àásàde isõesàag avadas,àaoàa ata àaà
argumentação do suscitante, assentaram a atribuição do PGR. A Corte, mantendo esse entendimento,
destacou que a constitucionalidade do referido dispositivo da Constituição estadual ainda estaria pendente
de análise na ADI 4.360/RS. O fenômeno da prescrição e a necessária maturação da questão constitucional
proposta em sede de controle concentrado recomendariam que se resolvesse o presente conflito
imediatamente, de acordo com as normas atualmente inseridas no ordenamento jurídico. As referidas
normas se presumiriam constitucionais, não havendo prejuízo imediato para as partes no deslocamento
das investigações para a Procuradoria-Geral da República. Os Ministros Teori Zavascki e Rosa Weber
ressalvaram seu entendimento quanto ao conhecimento das ações. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que
provia os agravos para assentar a atribuição do Ministério Público estadual para atuar no caso em
comento.
ACO 1664 AgR/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 7 e 8.10.2015. (ACO-1664)
ACO 1516 AgR/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 7 e 8.10.2015. (ACO-1516)

Crime cometido por prefeito e competência do TRE


áà “egu daà Tu aà esolveuà uestãoà deà o de à pa aà o ede à ha easà o pus à deà ofí ioà eà exti gui à açãoà
penal, por ausência de justa causa, nos termos do art. 395, III, do CPP. Na espécie, o Ministério Público
Eleitoral denunciara o paciente, então prefeito, por supostamente ter oferecido emprego a eleitores em
troca de voto, com intermédio de empresa contratada pela municipalidade. A Turma frisou que o rito
instituído pela Lei 11.719/2008, que alterara o CPP, deveria ser aplicado ao 1º grau de jurisdição em
matéria eleitoral. Observou que, recebida a denúncia em 1ª instância, antes de o réu ter sido diplomado
como deputado federal, e apresentada a resposta à acusação, competiria ao STF, em face do deslocamento
de competência, examinar, em questão de ordem, eventuais nulidades suscitadas e a possibilidade de
absolvição sumária (CPP, art. 397), mesmo que o rito passasse a ser o da Lei 8.038/1990. Afirmou que, no
caso de crime eleitoral imputado a prefeito, a competência para supervisionar as investigações seria do
TRE, nos termos do Enunciado 702 da Súmula do STF. Dessa forma, não poderia o inquérito ter sido
supervisionado por juízo eleitoral de 1º grau. Além disso, não poderia a autoridade policial direcionar as
diligências para investigar e indiciar o prefeito. Assim, a usurpação da competência do TRE constituiria vício
que contaminaria de nulidade a investigação realizada, em relação ao detentor de prerrogativa de foro, por
violação do princípio do juiz natural (CF, art. 5º, LIII).
AP 933 QO/PB, rel. Min. Dias Toffoli, 6.10.2015. (AP-933)

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OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 5 a 9 de outubro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 906.491-DF


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRABALHISTA. COMPETÊNCIA. SERVIDOR PÚBLICO ADMITIDO SEM CONCURSO PÚBLICO, PELO
REGIME DA CLT, ANTES DO ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988. DEMANDA VISANDO OBTER PRESTAÇÕES DECORRENTES
DA RELAÇÃO DE TRABALHO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA.
REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.
1. Em regime de repercussão geral, fica reafirmada a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de ser da competência da Justiça do
Trabalho processar e julgar demandas visando a obter prestações de natureza trabalhista, ajuizadas contra órgãos da Administração Pública por
servidores que ingressaram em seus quadros, sem concurso público, antes do advento da CF/88, sob regime da Consolidação das Leis do Trabalho –
CLT. Inaplicabilidade, em casos tais, dos precedentes formados na ADI 3.395-MC (Rel. Min. CEZAR PELUSO, DJ de 10/11/2006) e no RE 573.202
(Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe de 5/12/2008, Tema 43).
2. Agravo a que se conhece para negar seguimento ao recurso extraordinário.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 817.338-DF
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Direito Constitucional e Administrativo. Segurança concedida para declarar a decadência de ato da Administração por meio do qual se
anulou portaria anistiadora. Análise quanto à existência ou não de frontal violação do art. 8º do ADCT. Julgamento de tese sobre a possibilidade de
um ato administrativo, caso evidenciada a violação direta do texto constitucional, ser anulado pela Administração Pública quando decorrido o prazo
decadencial previsto na Lei nº 9.784/99. Matéria dotada de repercussão econômica e jurídica. Questões suscetíveis de repetição em inúmeros
processos. Repercussão geral reconhecida.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 838.284-SC
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. TRIBUTÁRIO. TAXA PARA EMISSÃO DE ANOTAÇÃO DE
RESPONSABILIDADE TÉCNICA. LEI Nº 6.994/82. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL. FIXAÇÃO DE VALOR MÁXIMO.
Possui repercussão geral a matéria alusiva à validade da exigência da taxa para expedição da Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), baseada
na Lei nº 6.994/82 a qual estabeleceu limites máximos para a ART, até o valor de 5 MVR, considerada a exigência do art. 150, I, da Constituição.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 852.796-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ART. 20, LEI 8.212/91.
SISTEMÁTICA DE CÁLCULO. EXPRESSÃO DE FORMA NÃO CUMULATIVA. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE.
JUIZADO ESPECIAL.
A matéria envolvendo a constitucionalidade da expressão de forma não cumulativa constante no caput do art. 20 da Lei nº 8.212/91, o qual prevê a
sistemática de cálculo da contribuição previdenciária devida pelo segurado empregado e pelo trabalhador avulso, possui viés constitucional e
repercussão geral, pois concerne a afronta aos princípios da capacidade contributiva, da proporcionalidade e da isonomia.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 865.401-MG
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Direito constitucional. Direito fundamental de acesso à informação de interesse coletivo ou geral. Recurso extraordinário que se funda na
violação do art. 5º, inciso XXXIII, da Constituição Federal. Pedido de vereador, como parlamentar e cidadão, formulado diretamente ao chefe do
Poder Executivo, solicitando informações e documentos sobre a gestão municipal. Pleito que foi indeferido. Invocação do direito fundamental de
acesso à informação, do dever do poder público à transparência e dos princípios republicano e da publicidade. Tese da municipalidade fundada na
ingerência indevida, na separação de poderes e na diferença entre prerrogativas da casa legislativa e dos parlamentares. Repercussão geral
reconhecida.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 824.781-MT
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Direito Constitucional e Processual Civil. Ação popular. Condições da ação. Ajuizamento para combater ato lesivo à moralidade
administrativa. Possibilidade. Acórdão que manteve sentença que julgou extinto o processo, sem resolução do mérito, por entender que é condição da
ação popular a demonstração de concomitante lesão ao patrimônio público material. Desnecessidade. Conteúdo do art. 5º, inciso LXXIII, da
Constituição Federal. Reafirmação de jurisprudência. Repercussão geral reconhecida.
1. O entendimento sufragado no acórdão recorrido de que, para o cabimento de ação popular, é exigível a menção na exordial e a prova de prejuízo
material aos cofres públicos, diverge do entendimento sufragado pelo Supremo Tribunal Federal.
2. A decisão objurgada ofende o art. 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal, que tem como objetos a serem defendidos pelo cidadão,
separadamente, qualquer ato lesivo ao patrimônio material público ou de entidade de que o Estado participe, ao patrimônio moral, ao cultural e ao
histórico.
3. Agravo e recurso extraordinário providos.
4. Repercussão geral reconhecida com reafirmação da jurisprudência.
Decisões Publicadas: 6

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CLIPPING DO D JE
5 a 9 de outubro de 2015

RE N. 632.265-RJ
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
TRIBUTO – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. A exigibilidade de tributo pressupõe lei que o estabeleça – artigo 150 da Constituição Federal.
ICMS – REGIME DE APURAÇÃO – ESTIMATIVA – DECRETO – IMPROPRIEDADE. A criação de nova maneira de recolhimento do tributo,
partindo-se de estimativa considerado o mês anterior, deve ocorrer mediante lei no sentido formal e material, descabendo, para tal fim, a edição de
decreto, a revelar o extravasamento do poder regulamentador do Executivo.
*noticiado no Informativo 790
ADI N. 2.314-RJ
REDATOR P/ O ACÓRDÃO: MIN. MARCO AURÉLIO (ART.38,IV, b, DO RISTF)
POLÍCIA CIVIL – REGÊNCIA – LEI – NATUREZA. A previsão, na Carta estadual, da regência, quanto à polícia civil, mediante lei complementar
não conflita com a Constituição Federal.
*noticiado no Informativo 790
AG. REG. NO ARE N. 903.291-BA
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. AGENTE DE POLÍCIA.
APLICAÇÃO DE PENA DE SUSPENSÃO. NULIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO IMPUGNADO. FALHAS PROCEDIMENTAIS.
ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, XXXV, XXXVI, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CONTRADITÓRIO E AMPLA
DEFESA. DEVIDO PROCESSO LEGAL. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. DEBATE DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL.
EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ARTIGO 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NULIDADE.
INOCORRÊNCIA. RAZÕES DE DECIDIR EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO JURISDICIONAL. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM
18.3.2008.
1. Inexiste violação do artigo 93, IX, da Lei Maior. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o referido dispositivo
constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional, das razões do seu convencimento, dispensando o exame detalhado de cada argumento
suscitado pelas partes.
2. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, XXXV, XXXVI, LIV e LV, da Constituição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida a
matéria à apreciação desta Suprema Corte, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à
competência jurisdicional extraordinária prevista no art. 102 da Magna Carta.
3. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
4. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO ARE N. 906.803-MG
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. SUSPEITA DE FURTO. ABORDAGEM EM ESTABELECIMENTO
COMERCIAL. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI
MAIOR. REELABORAÇÃO DA MOLDURA FÁTICA CONSTANTE DO ACÓRDÃO REGIONAL. IMPOSSIBILIDADE. ACÓRDÃO
RECORRIDO PUBLICADO EM 11.02.2015.
1. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, X, da Constituição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida a matéria à apreciação desta
Suprema Corte, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à competência jurisdicional
extraordinária prevista no art. 102 da Magna Carta.
2. Divergir da conclusão da Corte Regional exigiria a reelaboração da moldura fática delineada no acórdão da origem, procedimento vedado em sede
extraordinária. Aplicação da Súmula 279/STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”.
3. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
4. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO ARE N. 893.353-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Direito do consumidor. Acidente de consumo. Lucros cessantes e
danos morais. Valor. Fixação. Prequestionamento. Ausência. Princípios da legalidade e do devido processo legal. Ofensa reflexa. Fatos e
provas. Reexame. Legislação infraconstitucional. Análise. Impossibilidade. Ausência de repercussão geral. Precedentes.
1. Não se admite o recurso extraordinário quando os dispositivos constitucionais que nele se alega violados não estão devidamente prequestionados.
Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF.
2. A afronta aos princípios da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa ou do contraditório, dos limites da coisa julgada ou da prestação
jurisdicional, quando depende, para ser reconhecida como tal, da análise de normas infraconstitucionais, configura apenas ofensa indireta ou reflexa à
Constituição Federal.
3. Inviável, em recurso extraordinário, o reexame dos fatos e das provas dos autos e a análise da legislação infraconstitucional de regência. Incidência
das Súmulas nºs 279 e 636 /STF.
4. O Supremo Tribunal Federal, analisando o ARE nº 743.771/SP-RG, Relator o Ministro Gilmar Mendes, assentou a ausência de repercussão geral
da questão relativa à modificação do valor fixado a título de indenização por danos morais, uma vez que essa discussão não alcança status
constitucional.
5. Agravo regimental não provido.

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AG. REG. EM MS N. 29.551-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PROVIMENTO, MEDIANTE REMOÇÃO, SEM CONCURSO PÚBLICO.
ILEGITIMIDADE. ARTIGO 236 E PARÁGRAFOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: NORMAS AUTOAPLICÁVEIS, COM EFEITOS
IMEDIATOS, MESMO ANTES DA LEI 9.835/1994. INAPLICABILIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO ARTIGO 54 DA LEI 9.784/1999.
PRECEDENTES DO PLENÁRIO. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência do STF é no sentido de que o art. 236, caput, e o seu § 3º da CF/88 são normas autoaplicáveis, que incidiram imediatamente desde
a sua vigência, produzindo efeitos, portanto, mesmo antes do advento da Lei 8.935/1994. Assim, a partir de 5/10/1988, o concurso público é
pressuposto inafastável para a delegação de serventias extrajudiciais, inclusive em se tratando de remoção, observado, relativamente a essa última
hipótese, o disposto no art. 16 da referida lei, com a redação que lhe deu a Lei 10.506/2002. As normas estaduais editadas anteriormente, que
admitem a remoção na atividade notarial e de registro independentemente de prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas.
2. É igualmente firme a jurisprudência do STF no sentido de que a atividade notarial e de registro, sujeita a regime jurídico de caráter privado, é
essencialmente distinta da exercida por servidores públicos, cujos cargos não se confundem.
3. O Plenário do STF, em reiterados julgamentos, assentou o entendimento de que o prazo decadencial de 5 (cinco) anos, de que trata o art. 54 da Lei
9.784/1999, não se aplica à revisão de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a Constituição de 1988, sem o atendimento das
exigências prescritas no seu art. 236.
4. É de ser mantida, portanto, a decisão da autoridade impetrada que interferiu na atuação irregular do Tribunal submetido ao seu controle e
considerou ilegítimo o provimento de serventia extrajudicial, sem concurso público, decorrente de remoção, com ofensa ao art. 236, § 3º, da
Constituição. Jurisprudência reafirmada no julgamento do MS 28.440 AgR, de minha relatoria, na Sessão do Plenário de 19/6/2013.
5. Agravo regimental desprovido.
RHC N. 129.951-PA
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO TRANSNACIONAL DE ENTORPECENTES. DOSIMETRIA. PENA-
BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. MENORIDADE RELATIVA. QUANTUM DE ATENUAÇÃO DA PENA. PATAMAR DE DIMINUIÇÃO
DE PENA PREVISTA NO ART. 33, § 4º, DA LEI 11.343/2006. FIXAÇÃO DE REGIME INICIAL SEMIABERTO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA
PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. CIRCUNSTÂNCIAS DESFAVORÁVEIS. NATUREZA E QUANTIDADE
DA DROGA APREENDIDA. FUNDAMENTOS IDÔNEOS.
1. A dosimetria da pena, além de não admitir soluções arbitrárias e voluntaristas, supõe, como pressuposto de legitimidade, adequada fundamentação
racional, revestida dos predicados de logicidade, harmonia e proporcionalidade com os dados empíricos em que se deve basear.
2. Idônea a exasperação da pena-base com fundamento na natureza das substâncias traficadas, consoante preconiza o art. 42 da Lei 11.343/2006 c/c
art. 59 do Código Penal.
3. A avaliação do quantum de atenuação da pena, à míngua de previsão legislativa dos parâmetros a serem considerados, sujeita-se ao livre
convencimento motivado do julgador, observado o limite máximo de redução, as circunstâncias do caso e os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade.
4. A minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 em patamar inferior ao máximo permitido encontrou respaldo em fundamentação
jurídica adequada, com base na quantidade da droga apreendida com o recorrente (2.360g de cocaína e 1.895g de maconha).
5. À luz do art. 33, § 3º, do Código Penal, a jurisprudência desta Corte firmou o entendimento de que a imposição do regime inicial de cumprimento
da pena não decorre somente do quantum da reprimenda, mas também das circunstâncias judiciais (CP, art. 59) declinadas na primeira etapa da
dosimetria. No crime de tráfico de drogas, devem ser levadas em consideração, ainda, a quantidade e a qualidade das drogas apreendidas, como
critério legal adicional na fixação do regime inicial de cumprimento de pena, conforme intelecção do art. 42 da Lei 11.343/2006.
6. Não é viável proceder à substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direito, pois, embora preenchido o requisito objetivo previsto
no inciso I do art. 44 do Código Penal (pena não superior a 4 anos), as instâncias ordinárias concluíram que a conversão da pena não se revela
adequada ao caso, ante a existência de circunstâncias judiciais desfavoráveis (natureza da droga apreendida). Precedentes.
7. Recurso a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 802.075-PA
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. EXTENSÃO DO
ABONO CONCEDIDO PELO DECRETO Nº 2.219/1997, DO ESTADO DO PARÁ, AOS SERVIDORES INATIVOS. NATUREZA DA
VANTAGEM. AUSÊNCIA DE QUESTÃO CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO ASSINADO POR ADVOGADO SEM
PROCURAÇÃO NOS AUTOS. DESCABIMENTO.
1. Caso em que o Tribunal de origem adotou fundamento autônomo e suficiente à manutenção do julgado, o qual não foi impugnado pelo recurso
extraordinário (Súmula 283/STF).
2. Para se chegar à conclusão pretendida pela parte recorrente no sentido da natureza transitória do abono em questão, seria necessário examinar a
legislação ordinária aplicada à espécie. Hipótese que atrai a incidência da Súmula 280/STF. Precedentes.
3. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de considerar inexistente o recurso interposto por advogado sem procuração nos autos, não sendo
aplicável a regra do art. 13 do CPC.
4. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada.
5. Agravos regimentais desprovidos.
AG. REG. NO ARE N. 898.539-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio próprio ao revolvimento da prova, também
não servindo à interpretação de normas estritamente legais.
PREQUESTIONAMENTO – CONFIGURAÇÃO – RAZÃO DE SER. O prequestionamento não resulta da circunstância de a matéria haver sido
arguida pela parte recorrente. A configuração pressupõe debate e decisão prévios pelo Colegiado, ou seja, emissão de entendimento. O instituto visa o
cotejo indispensável a que se diga enquadrado o recurso extraordinário no permissivo constitucional.
AG. REG. NO ARE N. 904.247-MG
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. UNIDADES DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE - UAPS. DETERMINAÇÃO DE
APRESENTAÇÃO ÀS AUTORIDADES COMPETENTES DE PROJETO ARQUITETÔNICO E DO PROCESSO DE SEGURANÇA CONTRA
INCÊNDIO E PÂNICO. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. RECURSO QUE NÃO ATACA
TODOS OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. IRREGULARIDADE FORMAL. ART. 317, § 1º, REGIMENTO INTERNO DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 09.02.2015.

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1. Não preenchimento do requisito de regularidade formal expresso no artigo 317, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal: “A
petição conterá, sob pena de rejeição liminar, as razões do pedido de reforma da decisão agravada.” Ausência de ataque, nas razões do agravo
regimental, aos fundamentos da decisão agravada.
2. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO ARE N. 907.826-PI
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITO DO TRABALHO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO
COM AGRAVO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. CONTRATO DE TRABALHO ANTERIOR À CF/1988. INEXISTÊNCIA DE
TRANSPOSIÇÃO AO REGIME JURÍDICO ÚNICO. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DO CONTRATO DE TRABALHO. SÚMULA 284/STF.
PRECEDENTES.
1. A controvérsia dos autos não é fundada em vínculo estatutário ou em contrato de trabalho temporário submetido a lei especial. Trata-se de contrato
que fora celebrado antes do advento da Constituição Federal de 1988, em época na qual se admitia a vinculação à Administração Pública de
servidores sob o regime da CLT. A competência, portanto, é da Justiça do Trabalho. Precedentes.
2. As razões do recurso extraordinário quanto à nulidade do vínculo com a Administração Pública não guardam pertinência com a fundamentação do
acórdão recorrido, a atrair a incidência da Súmula 284/STF.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NA ACO N. 928-DF
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO FINANCEIRO E CONSTITUCIONAL. AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. PERDA DE OBJETO.
1. Recebidas as verbas cuja liberação se almejava com a presente ação, esta perde o objeto.
2. Caso a parte interessada considere devido o seu ressarcimento, poderá postulá-lo na via própria.
3. Agravo Regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO RE N. 881.908-CE
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS – FRETE – BASE DE CÁLCULO – INCLUSÃO – LEI ORDINÁRIA –
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. Viola o artigo 146, inciso III, alínea “a”, da Carta Federal norma ordinária segundo a qual hão de ser
incluídos, na base de cálculo do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, valores em descompasso com o disposto na alínea “a” do inciso II
do artigo 47 do Código Tributário Nacional. Precedente – Recurso Extraordinário nº 567.935/SC, de minha relatoria, Pleno, apreciado sob o
ângulo da repercussão geral.
AG. REG. NOS EMB. DECL. NO AG. REG. NO RE N. 705.264-SC
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMBARGOS DECLARATÓRIOS – INEXISTÊNCIA DE VÍCIO. Uma vez voltados os embargos declaratórios ao simples rejulgamento de certa
matéria, inexistindo, na decisão formalizada, qualquer dos vícios que os respaldam – omissão, contradição e obscuridade –, cumpre desprovê-los.
ICMS – BENS – IMPORTAÇÃO – EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 33, DE 2001 – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE – PRECEDENTES. É constitucional a
incidência do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS em bens importados, prevista na Emenda Constitucional nº 33, de 2001, pressupondo a
cobrança a edição de lei complementar e de lei estadual a versar a matéria. Precedentes: Recursos Extraordinários n. 474.267/RS e 439.796/PR, julgados no Pleno,
relatados pelo ministro Joaquim Barbosa, acórdãos veiculados, respectivamente, no Diário de 20 e 17 de março de 2014.
EMB. DECL. EM MS N. 26.264-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMBARGOS DECLARATÓRIOS – VÍCIO – INEXISTÊNCIA. O acolhimento do pedido formulado pelo embargante, a envolver o mérito do
recurso, pressupõe um dos vícios relativos aos declaratórios – omissão, contradição e obscuridade.
MS N. 32.941-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
CONCURSO PÚBLICO – BALIZAS – EDITAL. O concurso é regido pelo edital, a lei do certame, publicado.
Acórdãos Publicados: 584

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Guarda municipal e fiscalização de trânsito (Transcrições)


(v. Informativo 793)
RE 658.570/MG*
RELATOR: Ministro Marco Aurélio
REDATOR P/ O ACORDÃO: Ministro Roberto Barroso
EMENTA:DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PODER DE POLÍCIA. IMPOSIÇÃO DE MULTA DE
TRÂNSITO. GUARDA MUNICIPAL. CONSTITUCIONALIDADE.
1. Poder de polícia não se confunde com segurança pública. O exercício do primeiro não é prerrogativa exclusiva das entidades policiais, a
quem a Constituição outorgou, com exclusividade, no art. 144, apenas as funções de promoção da segurança pública.
2. A fiscalização do trânsito, com aplicação das sanções administrativas legalmente previstas, embora possa se dar ostensivamente, constitui
mero exercício de poder de polícia, não havendo, portanto, óbice ao seu exercício por entidades não policiais.

Informativo 802-STF (16/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


3. O Código de Trânsito Brasileiro, observando os parâmetros constitucionais, estabeleceu a competência comum dos entes da federação para
o exercício da fiscalização de trânsito.
4. Dentro de sua esfera de atuação, delimitada pelo CTB, os Municípios podem determinar que o poder de polícia que lhe compete seja
exercido pela guarda municipal.
5. O art. 144, §8º, da CF, não impede que a guarda municipal exerça funções adicionais à de proteção dos bens, serviços e instalações do
Município. Até mesmo instituições policiais podem cumular funções típicas de segurança pública com exercício de poder de polícia.
Entendimento que não foi alterado pelo advento da EC nº 82/2014.
6. Desprovimento do recurso extraordinário e fixação, em repercussão geral, da seguinte tese: é constitucional a atribuição às guardas
municipais do exercício de poder de polícia de trânsito, inclusive para imposição de sanções administrativas legalmente previstas.
RELATÓRIO: – O Procurador-Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais formalizou ação direta de inconstitucionalidade perante o Tribunal de
Justiça local, requerendo a invalidação do inciso VI do artigo 5º da Lei nº 9.319/07 e do Decreto nº 12.615/07, ambos do Município de Belo
Horizonte. Transcrevo o teor dos dispositivos impugnados:
Lei Municipal nº 9.319/07
Art. 5º. Compete à Guarda Municipal de Belo Horizonte:
(...)
VI – atuar na fiscalização, no controle e na orientação do trânsito e do tráfego, por determinação expressa do Prefeito;
Decreto nº 12.615/07
Art. 1º. Por força do disposto no inciso VI do art. 5º da Lei nº 9.319, de 19 de janeiro de 2007, a Guarda Municipal fica designada
para atuar na fiscalização, no controle e na orientação do trânsito e do tráfego no âmbito do Município de Belo Horizonte, devendo
anteriormente adotar as seguintes medidas:
I – separação de um contingente para o exercício concomitante desta tarefa com as demais atribuições da Guarda Municipal;
II – treinamento específico para realização desta função.
O Procurador-Geral de Justiça alegou não ter a guarda municipal atribuição para exercer a fiscalização do trânsito em geral, autuar condutores
nem aplicar multas de trânsito, considerado o disposto nos artigos 144, § 8º, da Constituição Federal (Art. 144. A segurança pública, dever do Estado,
direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos: (...). § 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações,
conforme dispuser a lei.) e 138 da Carta do Estado de Minas Gerais (Art. 138. O Município pode constituir guardas municipais para a proteção de seus
bens, serviços e instalações, nos termos do art. 144, § 8º, da Constituição da República). Sustentou serem os aludidos atos administrativos de
competência da Polícia Militar, ante os preceitos dos artigos 144, § 5º, da Lei Maior (Art. 144. (...). § 5º. às polícias militares cabem a polícia
ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de
atividades de defesa civil) e 142, “inciso I”, do segundo Diploma (Art. 142. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar, forças públicas
estaduais, são órgãos permanentes, organizados com base na hierarquia e na disciplina militares e comandados, preferencialmente, por oficial da ativa
do último posto, competindo: I – à Polícia Militar, a polícia ostensiva de prevenção criminal, de segurança, de trânsito urbano e rodoviário, de
florestas e de mananciais e as atividades relacionadas com a preservação e restauração da ordem pública, além da garantia do exercício do poder de
polícia dos órgãos e entidades públicos, especialmente das áreas fazendária, sanitária, de proteção ambiental, de uso e ocupação do solo e de
patrimônio cultural;). Afirmou não abranger a fiscalização referida no artigo 23, inciso III, do Código de Trânsito Brasileiro (Art. 23. Compete às
Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal: (...) III – executar a fiscalização de trânsito, quando e conforme convênio firmado, como agente
do órgão ou entidade executivos de trânsito ou executivos rodoviários, concomitantemente com os demais agentes credenciados;) (Lei nº 9.503/97) –
para a qual se exige a celebração de convênio – a realizada nas vias públicas, por ser inerente ao controle ostensivo de trânsito, cuja competência
pertence à Polícia Militar. Aduziu violar o princípio da eficiência (artigos 37, cabeça, da Constituição Federal (Art. 37. A administração pública direta
e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:)e 13 da Carta estadual (Art. 13. A atividade de administração pública dos
Poderes do Estado e a de entidade descentralizada se sujeitarão aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência e
razoabilidade.) ) conferir a mesma atribuição (polícia de trânsito) a duas entidades diferentes – a guarda municipal e a Empresa de Transportes e
Trânsito de Belo Horizonte (BHTRANS), que, em virtude da celebração de convênio entre o Estado de Minas Gerais e o Município, ficou
encarregada de aplicar sanções e proceder à arrecadação das multas correspondentes. Apontou poderem os entes locais optar por quadro próprio de
agentes de trânsito ou pela formalização de convênio com o Estado, na forma do artigo 23, inciso III, do Código de Trânsito, a fim de que a Polícia
Militar execute a fiscalização de trânsito.
O Município de Belo Horizonte, por meio da Câmara Municipal e da Procuradoria-Geral, apresentou informações, defendendo a validade dos
atos atacados. Arguiu a competência do ente municipal para legislar sobre assuntos de interesse local e organizar e prestar serviços públicos também
nesse âmbito, incluído o transporte coletivo (artigo 30, incisos I e V, da Carta Federal (Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de
interesse local; (...) V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de
transporte coletivo, que tem caráter essencial;) ). Asseverou mostrar-se mais racional dispensar a Polícia Militar de funções meramente administrativas e
concentrar a atuação do órgão em atividades ligadas à segurança da população. Salientou não haver usurpação da competência dessa última, tendo em
conta o fato de a regra do § 5º do artigo 144 da Carta Federal não impedir outros órgãos e entidades de desempenharem a polícia de trânsito.
Esclareceu não ser taxativo o rol de atribuições conferidas pelo § 8º do artigo 144 do Texto Constitucional à guarda municipal. Sublinhou que
estabelecer a mesma competência a um órgão integrante da Administração direta e a uma entidade da Administração indireta não viola a Constituição
Federal, porquanto o artigo 175 (Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre
através de licitação, a prestação de serviços públicos.) dela constante autoriza a prestação de serviços públicos diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão.
A Câmara Municipal ponderou referirem-se as normas questionadas apenas à fiscalização, ao controle e à orientação do trânsito, providências
ligadas à proteção do patrimônio municipal, não havendo permissão para autuação, tampouco para lançamento de multas, atos de competência dos
órgãos de trânsito municipais e da Polícia Militar.
A Procuradoria-Geral do Município, ao contrário, destacou caber à guarda municipal não só o policiamento e a fiscalização, como também a
aplicação de penalidades de trânsito, por serem atribuições decorrentes de delegação legítima ao Município, presentes o interesse local e a existência
de previsão expressa no Código de Trânsito Brasileiro (artigo 24, incisos VI, VII, VIII, IX e XX (Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos
de trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: (...) VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas
cabíveis, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, no exercício regular do Poder de Polícia de Trânsito; VII -
aplicar as penalidades de advertência por escrito e multa, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, notificando os
infratores e arrecadando as multas que aplicar; VIII - fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas administrativas cabíveis relativas a infrações
por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como notificar e arrecadar as multas que aplicar; IX - fiscalizar o cumprimento da norma
contida no art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as multas nele previstas; (...) XX - fiscalizar o nível de emissão de poluentes e ruído

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produzidos pelos veículos automotores ou pela sua carga, de acordo com o estabelecido no art. 66, além de dar apoio às ações específicas de órgão
ambiental local, quando solicitado;) ).
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, por maioria, julgou improcedentes os pedidos, em acórdão assim ementado:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI E DECRETO MUNICIPAIS. GUARDA MUNICIPAL. PODER DE ATUAÇÃO.
POLICIAMENTO DO TRÂNSITO E IMPOSIÇÃO DE SANÇÃO PECUNIÁRIA AOS INFRATORES. POSSIBILIDADE. REPRESENTAÇÃO
JULGADA IMPROCEDENTE. 1. Em consonância com o posicionamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal, o Município detém
competência para coibir o estacionamento em locais proibidos, inclusive com competência para impor multas, ou seja, sanção pecuniária de
caráter administrativo. 2. Não basta só a fiscalização: uma fiscalização sem sanção não significa nada; do contrário. Ela nem precisaria
existir. 3. Desta forma, a aprovação do projeto de Lei pelo legislativo local, sancionado pelo Prefeito Municipal, vem apenas atender a uma
realidade do Município de Belo Horizonte. 4. Representação julgada improcedente.
Assentou não violar a Constituição a competência, conferida à guarda municipal, de autuar e aplicar multas de trânsito. Realçou o
esvaziamento da utilidade da fiscalização quando se retira dos agentes de controle o poder sancionador. Consignou que a autuação e a apenação
mostram-se inerentes ao poder de polícia. Esclareceu ser a criação da instituição uma necessidade histórica da realidade do Município de Belo
Horizonte, tendo em conta a complexidade do trânsito típica das grandes cidades. Destacou a existência de norma federal reconhecendo não se tratar
de competência privativa da Polícia Militar lavrar autos de infração e aplicar multas de trânsito (artigo 280, § 4º, do Código de Trânsito (Art. 280. (...).
§ 4º O agente da autoridade de trânsito competente para lavrar o auto de infração poderá ser servidor civil, estatutário ou celetista ou, ainda, policial
militar designado pela autoridade de trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de sua competência.) ). Asseverou disciplinar o ente local, ao
legislar sobre a fiscalização do trânsito e do tráfego nas ruas da capital, o uso de patrimônio municipal, no que não há inconstitucionalidade. Afirmou
haver previsão expressa, no Código de Trânsito Brasileiro, de aplicação de sanções pelos órgãos e entidades de trânsito municipal (artigo 24, incisos
V a VIII). Ressaltou a harmonia das normas atacadas com o Texto Constitucional, pois, ao controlar e fiscalizar o trânsito nas ruas, praças, avenidas e
outras vias de circulação – bens integrantes do patrimônio público municipal –, a guarda municipal está cumprindo o preceito do artigo 144, § 8º, da
Carta Federal.
Embargos de declaração interpostos foram desprovidos.
No extraordinário de folha 357 a 411, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais reproduz os argumentos lançados na inicial. Acrescenta
haver o acórdão recorrido implicado ofensa ao artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal, ante a omissão relativa ao exame da contrariedade ao
artigo 144, § 5º e § 8º, da Lei Maior, presente alegado rol taxativo das atribuições da guarda municipal e da Polícia Militar. Inova arguindo a
inobservância do princípio federativo, tendo em conta a redução da autonomia do Estado-membro provocada por restrições impostas ao poder-dever
de fiscalização da Polícia Militar decorrentes da ampliação das atribuições da guarda municipal.
O Município de Belo Horizonte, nas contrarrazões de folha 417 a 427, subscritas pela Procuradoria-Geral do Município, e nas de folha 429 a
441, elaboradas pela Câmara Municipal, sustenta a manutenção da decisão atacada.
O recurso foi admitido na origem mediante a decisão de folhas 443 e 444.
No Supremo, o processo, inicialmente distribuído ao ministro Dias Toffoli, foi a mim redistribuído, com base no artigo 325-A do Regimento,
porquanto a repercussão geral da matéria veio a ser reconhecida no Recurso Extraordinário nº 637.539, da minha relatoria (decisão de folha 457 e de
folhas 462 e 463) (Tema nº 472.).
Por meio do ato de folhas 465 e 466, determinei a substituição do aludido paradigma por este recurso, em virtude da homologação de pedido
de desistência formalizado no processo.
A Procuradoria Geral da República, no parecer de folha 471 a 477, opinou pelo provimento do extraordinário. Enfatiza não caber à legislação
local atribuir à guarda municipal funções de polícia de trânsito, em desrespeito ao artigo 144, § 8º, da Carta Federal. Sublinha restringir o dispositivo
constitucional as tarefas da guarda municipal à vigilância de bens e serviços do Município. Evoca julgados do Supremo no sentido de mostrar-se
taxativo o rol de órgãos de segurança pública versados na cabeça do artigo 144 (Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.827, da relatoria do
ministro Gilmar Mendes, e Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 236, da relatoria do ministro Octavio Gallotti.), entre os quais não se inclui a
guarda municipal. Argumenta que, por envolver monopólio de força bruta do Estado, as funções de fiscalização, controle e orientação do trânsito são
da competência da Polícia Militar. Salienta haverem os atos municipais impugnados contrariado o sistema constitucional de repartição de
competências, pois, ao conferirem aos guardas municipais as relacionadas à fiscalização do trânsito, disciplinaram matéria reservada privativamente à
União (artigo 22, inciso XI, da Constituição Federal). Ressalta não constar a guarda municipal no artigo 7º do Código de Trânsito Brasileiro (Art. 7º
Compõem o Sistema Nacional de Trânsito os seguintes órgãos e entidades: I - o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, coordenador do
Sistema e órgão máximo normativo e consultivo; II - os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o Conselho de Trânsito do Distrito Federal -
CONTRANDIFE, órgãos normativos, consultivos e coordenadores; III - os órgãos e entidades executivos de trânsito da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios; IV - os órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; V -
a Polícia Rodoviária Federal; VI - as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; e VII - as Juntas Administrativas de Recursos de Infrações -
JARI.), entre os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Trânsito, havendo, no tocante aos municípios, apenas alusão a “órgãos e entidades
executivos de trânsito” e “órgãos e entidades executivos rodoviários” (artigo 7º, incisos III e IV), que, segundo diz, deveriam ter exclusivamente
competências de trânsito. Por fim, destaca que a orientação firmada pela Segunda Turma do Supremo, no julgamento do Agravo Regimental no
Recurso Extraordinário nº 191.363, da relatoria do ministro Carlos Velloso, não respalda as conclusões veiculadas no acórdão recorrido, no que
assentada legítima a atuação do município em matéria de “infração de posturas municipais”, que não se confunde com “infrações de trânsito”.
É o relatório.
VOTO: – Na interposição do recurso, atendeu-se aos pressupostos de recorribilidade. A peça, subscrita por Procuradora de Justiça e por Promotor de
Justiça, atuando como fiscais da lei e ante o interesse público, foi protocolada no prazo legal. Conquanto o extraordinário tenha origem em ação direta
de inconstitucionalidade estadual, nas razões do recurso, arguiu-se, a par da violência ao artigo 93, inciso IX, a violação às normas dos artigos 144, §
5º e § 8º, 37, cabeça, e 18 da Constituição Federal, preceitos de reprodução obrigatória nas Cartas estaduais. A repercussão geral da questão foi
reconhecida. Conheço.
De início, afasto a alegação de ofensa ao artigo 93, inciso IX, do Texto Constitucional por entender ter sido amplamente debatida, na origem, a
questão relacionada às competências da Polícia Militar e da guarda municipal. Conforme decidido no Recurso Extraordinário nº 128.519, por mim
relatado, o prequestionamento prescinde da referência, no acórdão impugnado mediante o extraordinário, a artigo, parágrafo, inciso e alínea de
diploma normativo, sendo suficientes o debate e a decisão prévios do tema versado nas razões recursais. Eis a ementa do acórdão do Pleno:
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – PREQUESTIONAMENTO – ALCANCE DO INSTITUTO. A exigência do prequestionamento não
decorre de simples apego a determinada forma. A razão de ser está na necessidade de proceder a cotejo para, somente então, assentar-se o
enquadramento do recurso no permissivo legal. Diz-se prequestionado determinado tema quando o órgão julgador haja adotado
entendimento explícito a respeito, contando a parte sequiosa de ver o processo guindado à sede extraordinária com remédio legal para
compeli-lo a tanto - os embargos declaratórios. A persistência da omissão sugere hipótese de vício de procedimento. Configura-se deficiência
na entrega da prestação jurisdicional, o que tem contorno constitucional, pois à garantia de acesso ao Judiciário há que ser emprestado
alcance que afaste verdadeira incongruência, ou seja, o enfoque de que, uma vez admitido, nada mais é exigível, pouco importando a
insuficiência da atuação do Estado-Juiz no dirimir a controvérsia. Impor para configuração do prequestionamento, além da matéria

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veiculada no recurso, a referência ao número do dispositivo legal pertinente, extravasa o campo da razoabilidade, chegando às raias do
exagero e do mero capricho, paixões que devem estar ausentes quando do exercício do oficio judicante.
(…). (Recurso Extraordinário nº 128.519, Relator ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 27/09/1990)
No mais, não subsiste o argumento de usurpação da competência da Polícia Militar, prevista no § 5º do artigo 144 da Carta Federal, e de
inobservância ao princípio federativo (artigos 1º e 18 da Lei Maior). O fato de o constituinte ter atribuído a essa instituição o policiamento ostensivo e
a preservação da ordem pública não impede os entes municipais de fiscalizarem o cumprimento da legislação de trânsito nem de desempenharem
outras funções estabelecidas pela União no Código de Trânsito (artigo 22, inciso XI, da Constituição Federal). Não vejo redução de autonomia do
Estado-membro – mas simples cooperação – na atuação repressiva dos municípios no combate às infrações de trânsito. Os entes federativos devem se
esforçar, para, nos limites das competências de cada qual, assegurarem a efetividade das normas de trânsito.
No julgamento do Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº 191.363, da relatoria do ministro Carlos Velloso, muito embora se tenha
diferenciado “infração de posturas municipais” de “infrações de trânsito” – como apontou a Procuradoria Geral da República –, a Segunda Turma do
Supremo proclamou que:
na área de jurisdição, na organização do serviço local de trânsito, que se incluía e ainda se inclui em assunto de seu peculiar interesse,
o Município tem competência quanto ao trânsito, inclusive, evidentemente, para impor e arrecadar multas decorrentes das infrações que
ocorrem.
A União, no exercício da competência privativa para legislar sobre trânsito (artigo 22, inciso XI, da Carta Federal (Art. 22. Compete
privativamente à União legislar sobre: (...) XI - trânsito e transporte;) ), editou o Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/97) e incumbiu
expressamente os órgãos e entidades executivos de trânsito municipais de cumprirem e fazerem cumprir a legislação e as normas de trânsito, no
âmbito das respectivas atribuições (artigos 21, inciso I (Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas
atribuições;), e 24, inciso I); executarem a fiscalização de trânsito, autuarem, aplicarem as penalidades de advertência, por escrito, e ainda as multas e
medidas administrativas cabíveis, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicarem (artigo 21, inciso VI (Art. 21. Compete aos órgãos
e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição: (...) VI - executar a
fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as penalidades de advertência, por escrito, e ainda as multas e medidas administrativas cabíveis, notificando os
infratores e arrecadando as multas que aplicar;) ); executarem a fiscalização de trânsito, autuarem e aplicarem as medidas administrativas cabíveis,
por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas no Código de Trânsito, no exercício regular do poder de polícia de trânsito (artigo 24,
inciso VI); aplicarem as penalidades de advertência por escrito e multa, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas na Lei nº
9.503/97, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar (artigo 24, inciso VII); fiscalizarem, autuarem e aplicarem as penalidades e
medidas administrativas cabíveis relativas a infrações por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como notificarem e arrecadarem as
multas que aplicarem (artigo 24, inciso VIII); fiscalizarem o cumprimento da norma contida no artigo 95 do Código de Trânsito, aplicando as
penalidades e arrecadando as multas nele previstas (artigo 24, inciso IX). (Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos
Municípios, no âmbito de sua circunscrição: I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições; (...); VI -
executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas
neste Código, no exercício regular do Poder de Polícia de Trânsito; VII - aplicar as penalidades de advertência por escrito e multa, por infrações de
circulação, estacionamento e parada previstas neste Código, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar; VIII - fiscalizar, autuar e
aplicar as penalidades e medidas administrativas cabíveis relativas a infrações por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos, bem como
notificar e arrecadar as multas que aplicar; IX - fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as
multas nele previstas; Art. 95. Nenhuma obra ou evento que possa perturbar ou interromper a livre circulação de veículos e pedestres, ou colocar em
risco sua segurança, será iniciada sem permissão prévia do órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a via.)
O próprio recorrente, às folhas 371 e 372, admitiu a competência dos entes locais para fiscalizar, controlar e organizar o trânsito local.
Some-se a isso a promulgação da Emenda Constitucional nº 82/2014, que acrescentou o § 10 ao artigo 144 da Lei Maior, com a seguinte
redação:
Art. 144. (...).
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias
públicas:
I – compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao
cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus
agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.
Assentada a atribuição dos Municípios para fiscalizar e aplicar multas de trânsito, fica afastada a alegação de competência privativa da Polícia
Militar – órgão integrante da Administração estadual – para a autuação e imposição de penalidades por descumprimento da legislação de trânsito.
O § 4º do artigo 280 do Código de Trânsito, na mesma linha, dispõe ser competente para lavrar o auto de infração “servidor civil, estatutário
ou celetista ou, ainda, policial militar designado pela autoridade de trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de sua competência”.
A afirmação da Procuradoria Geral da República de não poderem as guardas municipais aplicar multas por não integrarem o sistema previsto
no artigo 7º do Código de Trânsito também não merece prosperar. Não existe preceito, na Lei nº 9.503/97, a preconizar que os órgãos executivos
municipais citados nos incisos III e IV do artigo 7º do diploma federal tenham somente atribuições relativas a trânsito. Nem poderia. A União, a
pretexto de exercer a competência privativa do artigo 22, inciso XI, da Carta Federal, não pode restringir a autonomia dos municípios a ponto de
dispor sobre atribuições de órgãos e estruturas do Poder Executivo local. A capacidade de autoadministração integra o núcleo essencial da autonomia
municipal. Transcrevo as lições do professor José Afonso da Silva acerca da questão:
A autonomia municipal, assim, assenta em quatro capacidades:
(a) capacidade de auto-organização, mediante a elaboração de lei orgânica própria;
(b) capacidade de autogoverno, pela eletividade do Prefeito e dos Vereadores às respectivas Câmaras Municipais;
(c) Capacidade normativa própria, ou capacidade de autolegislação, mediante a competência de elaboração de leis municipais sobre
áreas que são reservadas à sua competência exclusiva e suplementar;
(d) Capacidade de autoadministração (administração própria, para manter e prestar serviços de interesse local).
Nessas quatro capacidades, encontram-se caracterizadas a autonomia política (capacidades de auto-organização e de autogoverno), a
autonomia normativa (capacidade de fazer leis próprias sobre matéria de sua competência), a autonomia administrativa (administração
própria e organização dos serviços locais) e a autonomia financeira (capacidade de decretação de seus tributos e aplicação de suas rendas,
que é uma característica da autoadministração).
(...)
Veja-se a diferença fundamental da outorga da autonomia municipal: as normas constitucionais anteriores sobre ela se dirigiam aos
Estados-membros, porque estes é que deveriam organizá-los, assegurando-a, mas, aí, se reservavam a eles poderes sobre os Municípios, que

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agora já não têm: o poder de organizá-los, de definir suas competências, a estrutura e competência do governo local e os respectivos limites.
(SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 32ª edição. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 641)
Os municípios não estão impedidos de qualificarem como “órgão ou entidade executivo de trânsito” ou “órgão ou entidade executivo
rodoviário” estruturas da administração local titulares de outras competências não relacionadas ao trânsito.
Assento as premissas deste voto: os entes municipais têm competência para exercer a fiscalização, a orientação e o controle do trânsito,
inclusive com a aplicação de sanções, respeitados os limites estabelecidos pela legislação federal, editada com base no artigo 24, inciso XI, da Lei
Maior. Não se extrai do artigo 144, § 5º, do Texto Constitucional competência exclusiva da Polícia Militar na autuação e na aplicação de multas de
trânsito. Os municípios não estão proibidos de qualificarem como “órgão ou entidade executivo de trânsito” ou “órgão ou entidade executivo
rodoviário” estruturas da administração local titulares de outras competências não relacionadas ao trânsito.
Passo a tratar especificamente da competência da guarda municipal para atuar como órgão ou entidade executiva de trânsito nos municípios.
O artigo 144, § 8º, da Carta Federal dispõe:
Art. 144. (...)
§ 8º - Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme
dispuser a lei.
Ante o preceito, indaga-se: o legislador é livre para definir as atribuições da guarda municipal? Evidentemente que não. Há, nesse ponto,
vinculação constitucional. A regulamentação legal alusiva às funções dos guardas municipais apenas se mostra válida se mantiver alguma relação
com a proteção dos bens, serviços e instalações do município.
Mas não é só isso. Considerada a competência privativa da União para legislar sobre trânsito e transporte (artigo 22, inciso XI, do Texto
Constitucional), qualquer norma local a versar os deveres da guarda municipal deve observar as regras contidas na Lei nº 9.503/97.
Definidas as balizas constitucionais das atribuições da guarda municipal, pergunta-se: pode a lei conferir-lhe a prerrogativa de promover
autuações e aplicar multas de trânsito?
É preciso verificar, em primeiro lugar, se as atividades de prevenção e repressão a infrações de trânsito têm alguma relação com a proteção dos
bens, serviços e instalações do município.
Nessa análise, deve-se levar em conta constituírem ruas, avenidas, praças, logradouros e equipamentos públicos patrimônio municipal. É
inegável que o cumprimento de algumas normas do Código de Trânsito produz efeitos diretos e imediatos sobre as vias e passeios públicos. Imagine-
se um carro estacionado irregularmente sobre um jardim mantido pela Prefeitura. Ninguém duvida dos danos passíveis de ocorrer no tocante à
instalação pública em razão do desrespeito à norma proibitiva do estacionamento naquela área. Também não se questiona que a circulação de veículos
com peso acima dos parâmetros legais pode provocar graves prejuízos à pavimentação da via pública. Da mesma forma, não se podem negar os
transtornos causados aos serviços de transporte mantidos pelo município (artigo 30, inciso V, da Lei Maior (Art. 30. Compete aos Municípios: (...) V -
organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo,
que tem caráter essencial;) ), quando veículos estacionam em local proibido ou quando a realização de obras ou eventos, sem autorização do órgão
responsável de trânsito, perturbe ou atrapalhe a circulação de veículos e pedestres. Automóveis, trafegando acima do limite de velocidade, podem
colidir com instalações e equipamentos públicos municipais (postes, grades, sinais, placas de sinalização, monumentos, etc), danificando-os.
Em todos esses casos, de cunho exemplificativo e não exaustivo, o exercício da polícia de trânsito – a abranger tanto a fiscalização, como a
apenação – mantém estreita ligação com a proteção de bens, serviços e instalações municipais. Observem que a fiscalização, desacompanhada do
poder sancionador, esvazia a força conformativa da norma que a prevê e, nesses casos, põe em risco patrimônio e serviços municipais.
Estabelecida a conexão entre a atuação da guarda municipal e a proteção dos bens, serviços e instalações do município, afasta-se o óbice do
artigo 144, § 8º, da Carta Federal evocado pelo recorrente.
Deve-se analisar, em segundo lugar, se o exercício da polícia de trânsito por guardas municipais está em harmonia com a legislação federal,
considerada a competência privativa da União para legislar sobre trânsito e transporte (artigo 22, inciso XI). Não podem os municípios criar
atribuições para a guarda municipal em desarmonia com as regras editadas pelo Congresso Nacional. A propósito, transcrevo os seguintes preceitos
do Código de Trânsito Brasileiro:
Art. 21. Compete aos órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no
âmbito de sua circunscrição:
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições;
(...)
VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar, aplicar as penalidades de advertência, por escrito, e ainda as multas e medidas
administrativas cabíveis, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar;
(...)
Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:
I - cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições;
(...)
V - estabelecer, em conjunto com os órgãos de polícia ostensiva de trânsito, as diretrizes para o policiamento ostensivo de trânsito;
VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas administrativas cabíveis, por infrações de circulação,
estacionamento e parada previstas neste Código, no exercício regular do Poder de Polícia de Trânsito;
VII - aplicar as penalidades de advertência por escrito e multa, por infrações de circulação, estacionamento e parada previstas neste
Código, notificando os infratores e arrecadando as multas que aplicar;
VIII - fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e medidas administrativas cabíveis relativas a infrações por excesso de peso,
dimensões e lotação dos veículos, bem como notificar e arrecadar as multas que aplicar;
IX - fiscalizar o cumprimento da norma contida no art. 95, aplicando as penalidades e arrecadando as multas nele previstas;
(...)
Art. 95. Nenhuma obra ou evento que possa perturbar ou interromper a livre circulação de veículos e pedestres, ou colocar em risco
sua segurança, será iniciada sem permissão prévia do órgão ou entidade de trânsito com circunscrição sobre a via.
(...)
Art. 280. (...).
(...).
§ 4º O agente da autoridade de trânsito competente para lavrar o auto de infração poderá ser servidor civil, estatutário ou celetista ou,
ainda, policial militar designado pela autoridade de trânsito com jurisdição sobre a via no âmbito de sua competência.
Reproduzo, ainda, dispositivos da Lei federal nº 13.022, de 8 de agosto de 2014, que instituiu, recentemente, o chamado “Estatuto Geral das
Guardas Municipais”:
Art. 3º São princípios mínimos de atuação das guardas municipais:
(...)

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III - patrulhamento preventivo.
(...)
Art. 4º É competência geral das guardas municipais a proteção de bens, serviços, logradouros públicos municipais e instalações do
Município.
Parágrafo único. Os bens mencionados no caput abrangem os de uso comum, os de uso especial e os dominiais.
Art. 5º São competências específicas das guardas municipais, respeitadas as competências dos órgãos federais e estaduais:
(...);
VI - exercer as competências de trânsito que lhes forem conferidas, nas vias e logradouros municipais, nos termos da Lei no 9.503, de
23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro), ou de forma concorrente, mediante convênio celebrado com órgão de trânsito
estadual ou municipal;
A União, na competência legislativa privativa prevista no artigo 22, inciso XI, da Constituição Federal, não proibiu a guarda municipal de
aplicar multas de trânsito. Ao contrário: os artigos 280, § 4º, do Código de Trânsito Brasileiro e 3º, inciso III, e 5º, inciso VI, da Lei nº 13.022/14
autorizaram os guardas municipais a exercerem as atribuições de trânsito que lhes forem conferidas, nas vias e logradouros municipais, observados os
limites estabelecidos pelo Código de Trânsito.
O quadro normativo revela a possibilidade de guardas municipais aplicarem multas de trânsito, nos casos em que se verificar conexão entre a
repressão ao ato infracional e a proteção de bens, serviços e instalações municipais.
Não se extrai do Texto Constitucional, nem da legislação federal editada pela União, com base no artigo 22, inciso XI, vedação ao controle e
fiscalização do trânsito, tampouco à aplicação de multas, por guardas municipais.
Por outro lado, afigura-se incompatível com os artigos 144, § 8º, e 22, inciso XI, da Lei Maior reconhecer à guarda municipal o poder para
fiscalizar todo e qualquer tipo de infração de trânsito, impondo sanções. A guarda municipal não pode atuar na repressão de infrações de trânsito
quando não estiver em jogo a proteção de bens, serviços e equipamentos municipais, nem ultrapassar as fronteiras da competência dos municípios
fixadas pela legislação federal.
Essa circunstância conduz a conferir-se interpretação conforme à Constituição aos dispositivos atacados pelo Ministério Público estadual, de
forma a restringir as competências da guarda municipal consideradas as balizas estabelecidas acima.
Por conta dos limites à atuação da guarda municipal em matéria de trânsito, afasto a alegação de contrariedade ao princípio da eficiência. As
atribuições da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte – BHTRANS, ao menos sob a perspectiva constitucional, não se reduzem à
proteção de bens, serviços e instalações municipais, no que não haveria sobreposição de funções entre as duas instituições. Notem, a propósito, que o
empréstimo de poderes relativos à polícia de trânsito a pessoas jurídicas de direito privado – como a BHTRANS – é de duvidosa constitucionalidade,
tendo sido reconhecida a repercussão geral do tema no Recurso Extraordinário com Agravo nº 662.186 (Em 2014, ante o provimento do agravo, o
processo foi reautuado como Recurso Extraordinário nº 840.230.), da relatoria do ministro Luiz Fux, submetido ao regime dos artigos 543-A e 543-B
do Código de Processo Civil, ainda pendente de julgamento.
Ante o quadro, dou parcial provimento ao extraordinário para julgar procedente em parte o pedido formalizado na ação direta e dar
interpretação conforme aos dispositivos impugnados, de maneira a restringir a atribuição da guarda municipal para exercer a fiscalização e o controle
do trânsito aos casos em que existir conexão entre a atividade a ser desempenhada e a proteção de bens, serviços e equipamentos municipais,
respeitando-se os limites das competências municipais versados na legislação federal.
Proponho a seguinte tese para efeito de repercussão geral: é constitucional a lei local que confira à guarda municipal a atribuição de fiscalizar e
controlar o trânsito, com a possibilidade de imposição de multas, desde que observada a finalidade constitucional da instituição de proteger bens,
serviços e equipamentos públicos (artigo 144, § 8º, da Carta de 1988) e limites da competência municipal em matéria de trânsito, estabelecidos pela
legislação federal (artigo 22, inciso XI, da Constituição Federal).
É como voto.
*acordão publicado no Dje de 30.9.2015

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 802-STF (16/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
HC 101473/SP; MS 26415/DF. Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos: MS 25838/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
 Reversão jurisprudencial (revisão legislativa).

DIREITO ELEITORAL
PARTIDOS POLÍTICOS
 É constitucional a Lei 13.107/2015, que alterou a Lei dos Partidos Políticos.
 É inconstitucional a Lei 12.875/2013, que alterou a Lei dos Partidos Políticos e a Lei das Eleições.

DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Superação legislativa da jurisprudência (reação legislativa)

As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF no julgamento de ADI, ADC ou ADPF
possuem eficácia contra todos (erga omnes) e efeito vinculante (§ 2º do art. 102 da CF/88).
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado. Assim, o STF não proíbe
que o Poder Legislativo edite leis ou emendas constitucionais em sentido contrário ao que a Corte
já decidiu. Não existe uma vedação prévia a tais atos normativos. O legislador pode, por emenda
constitucional ou lei ordinária, superar a jurisprudência. Trata-se de uma reação legislativa à
decisão da Corte Constitucional com o objetivo de reversão jurisprudencial.
No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda
constitucional, a invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites
previstos no art. 60, e seus §§, da CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma emenda
constitucional buscando alterar a interpretação dada pelo STF para determinado tema, essa
emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se ofender uma cláusula pétrea ou o
processo legislativo para edição de emendas.
No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente colidir
com a jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, de forma
que caberá ao legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção do
precedente se afigura legítima. Assim, para ser considerada válida, o Congresso Nacional
deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas sobre as quais se fundou a decisão do
STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá verdadeira hipótese de
mutação constitucional pela via legislativa.
STF. Plenário. ADI 5105/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/10/2015 (Info 801).

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


Eficácia subjetiva das decisões proferidas em ADI: quem são as pessoas atingidas?
As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF no julgamento de ADI, ADC ou ADPF possuem eficácia
contra todos (erga omnes) e efeito vinculante. Isso está previsto no § 2º do art. 102 da CF/88:
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e
efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e
indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

Obs: no caso da ADPF, esse efeito está descrito no art. 10, § 3º da Lei nº 9.882/99.

O que acontece se as pessoas e órgãos que estão vinculados à decisão do STF desrespeitarem aquilo que
foi decidido?
Neste caso, o interessado poderá questionar esse ato diretamente no STF por meio de reclamação (art.
102, I, "l", da CF/88). Se o ato estiver realmente violando o que foi decidido, ele será cassado.

A decisão proferida na ADI, ADC e ADPF vincula o próprio STF? E o Poder Legislativo?
Veja abaixo um quadro-resumo sobre o tema:

EFICÁCIA SUBJETIVA DAS DECISÕES PROFERIDAS PELO STF EM ADI, ADC E ADPF
Ficam vinculados.
Particulares
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
Os órgãos e entidades do Poder Executivo ficam vinculados.
Executivo
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
Os demais juízes e Tribunais ficam vinculados.
Judiciário
Caso haja desrespeito, cabe reclamação.
A decisão vincula os julgamentos futuros a serem efetuados monocraticamente pelos
Ministros ou pelas Turmas do STF.
Essa decisão não vincula, contudo, o Plenário do STF. Assim, se o STF decidiu, em controle
abstrato, que determinada lei é constitucional, a Corte poderá, mais tarde, mudar seu
entendimento e decidir que esta mesma lei é inconstitucional por conta de mudanças no
STF
cenário jurídico, político, econômico ou social do país. Isso se justifica a fim de evitar a
"fossilização da Constituição".
Esta mudança de entendimento do STF sobre a constitucionalidade de uma norma pode
ser decidida, inclusive, durante o julgamento de uma reclamação constitucional. Nesse
sentido: STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013 (Info 702).
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado.
Isso também tem como finalidade evitar a "fossilização da Constituição".
Assim, o legislador, em tese, pode editar nova lei com o mesmo conteúdo daquilo que foi
declarado inconstitucional pelo STF.
Se o legislador fizer isso, não é possível que o interessado proponha uma reclamação ao
Legislativo
STF pedindo que essa lei seja automaticamente julgada também inconstitucional (Rcl
13019 AgR, julgado em 19/02/2014).
Será necessária a propositura de uma nova ADI para que o STF examine essa nova lei e a
declare inconstitucional. Vale ressaltar que o STF pode até mesmo mudar de opinião no
julgamento dessa segunda ação.

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


CASO CONCRETO JULGADO PELO STF
Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação concreta:
Em junho de 2012, o Plenário do STF, ao julgar as ADIs 4430 e 4795, declarou inconstitucionais
determinados dispositivos da Lei nº 9.504/97 (chamada de Lei das Eleições).
Em outubro de 2013, o Congresso Nacional editou a Lei nº 12.875/2013, que alterou novamente a Lei nº
9.504/97 prevendo algumas regras semelhantes àquelas que já haviam sido declaradas inconstitucionais
pelo STF no julgamento das ADIs 4430 e 4795.
Dessa forma, a Lei nº 12.875/2013 foi uma reação legislativa à decisão do STF, uma forma de o Congresso
Nacional superar a interpretação legislativa dada pela Corte ao tema.
Foi proposta ADI contra a Lei nº 12.875/2013. Vamos verificar o que foi decidido, mas antes é importante
fazer um resumo das considerações iniciais expostas no brilhante voto do Min. Luiz Fux, relator da ação.

Em tese, o Congresso Nacional pode editar uma lei em sentido contrário ao que foi decidido pelo STF no
julgamento de uma ADI/ADC?
SIM. Conforme vimos acima, o Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado aos
efeitos da decisão do STF.
O STF possui, segundo a CF/88, a missão de dar a última palavra em termos de interpretação da
Constituição. Isso não significa, contudo, que o legislador não tenha também a capacidade de
interpretação do Texto Constitucional. O Poder Legislativo também é considerado um intérprete autêntico
da Constituição e justamente por isso ele pode editar uma lei ou EC tentando superar o entendimento
anterior ou provocar um novo pronunciamento do STF a respeito de determinado tema, mesmo que a
Corte já tenha decidido o assunto em sede de controle concentrado de constitucionalidade. A isso se dá o
nome de "reação legislativa" ou"superação legislativa da jurisprudência"
A reação legislativa é uma forma de "ativismo congressual" com o objetivo de o Congresso Nacional
reverter situações de autoritarismo judicial ou de comportamento antidialógico por parte do STF, estando,
portanto, amparado no princípio da separação de poderes.

Mas se houver uma "reação legislativa", com toda a certeza o STF irá julgar novamente a nova lei
inconstitucional, não é verdade?
NÃO. Em tese, ou seja, na teoria, isso não é verdade. É possível que o STF repense seu entendimento
anterior e evolua para uma nova interpretação, chegando a conclusão diferente daquilo que havia
decidido e, assim, concorde com a nova lei editada com o mesmo conteúdo da anterior.
Veja o que dizem Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto, citados pelo Min. Luiz Fux em seu voto:
... ão é saluta at i ui a u ú i o ó gão ual ue a p e ogativa de da a últi a palav a so e o
sentido da Constituição. (...). É preferível adotar-se um modelo que não atribua a nenhuma instituição –
nem do Judiciário, nem do Legislativo – o di eito de e a po últi o , a i do-se a permanente
possibilidade de correções recíprocas no campo da hermenêutica constitucional, com base na ideia de
diálogo, em lugar da visão tradicional, que concede a última palavra nessa área ao STF.
(...)
As decisões do STF em matéria constitucional são insuscetíveis de invalidação pelas instâncias políticas.
Isso, porém, não impede que seja editada uma nova lei, com conteúdo similar àquela que foi declarada
inconstitucional. Essa posição pode ser derivada do próprio texto constitucional, que não estendeu ao
Poder Legislativo os efeitos vinculantes das decisões proferidas pelo STF no controle de
constitucionalidade (art. 102, § 2º, e art. 103-A, da Constituição). Se o fato ocorrer, é muito provável que a
nova lei seja também declarada inconstitucional. Mas o resultado pode ser diferente. O STF pode e deve
refletir sobre os argumentos adicionais fornecidos pelo Parlamento ou debatidos pela opinião pública para
dar suporte ao novo ato normativo, e não ignorá-los, tomando a nova medida legislativa como afronta à
sua autoridade. Nesse ínterim, além da possibilidade de alteração de posicionamento de alguns ministros,
pode have ta é a uda ça a o posição da Co te, o eflexões o esultado do julga e to.
(SARMENTO, Daniel; SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. Direito Constitucional. Teoria, história e métodos de
trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2012, p. 402-405)

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Existem exemplos de "reação legislativa" que foram consideradas exitosas, ou seja, que foram acolhidas
pelo STF gerando uma "correção jurisprudencial"?
SIM. Um exemplo emblemático diz respeito à chamada Lei da Ficha Limpa (LC 135/2010). Antes dessa Lei,
o TSE e o STF possuíam jurisprudência consolidada no sentido de que não era possível reconhecer a
inelegibilidade do candidato a não ser que houvesse contra ele uma condenação transitada em julgado. O
fundamento para esse entendimento residia no princípio da presunção de inocência.
A LC 135/2010 foi editada com o objetivo de superar esse entendimento. Segundo previu essa lei, não é
necessário que a decisão condenatória tenha transitado em julgado para que o condenado se torne
inelegível. Basta que tenha sido proferida por órgão colegiado (exs: TRE, TJ, TRF).
O STF, superando seus antigos precedentes, entendeu que a reação legislativa foi legítima e que a Lei da
Ficha Limpa é constitucional e não viola o princípio da presunção de inocência. (STF. Plenário. ADC 29/DF,
ADC 30/DF, ADI 4578/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 15 e 16/2/2012).
Esse caso, dentre outros, demonstra que, na teoria, não existe uma supremacia judicial do STF e que é possível,
em tese, a existência de um diálogo (abertura dialógica) por meio do qual o Legislativo proponha, por meio de
leis, correções à jurisprudência do Supremo, alterando a forma de a Corte interpretar a Constituição.

Mas sempre se disse que o STF possui a última palavra na interpretação da Constituição...
É verdade. Sempre se afirmou isso. O STF, de fato, detém a última palavra no que se refere à interpretação
da Constituição, imune a qualquer controle democrático. Contudo, essa afirmação vem sendo rediscutida
(remodelada) pelos constitucionalistas.
Entende-se atualmente que a decisão do STF em matéria constitucional deve ser compreendida como
"última palavra provisória", nas palavras do Min. Luiz Fux. Isso porque depois que o STF decidir, reiniciam-
se as rodadas de debates entre as instituições e os demais atores da sociedade civil sobre o tema.

Algumas conclusões do STF sobre o tema:


a) O STF não subtrai ex ante a faculdade de correção legislativa pelo constituinte reformador ou legislador
ordinário. Em outras palavras, o STF não proíbe que o Poder Legislativo edite leis ou emendas
constitucionais em sentido contrário ao que a Corte já decidiu. Não existe uma vedação prévia a tais atos
normativos. O legislador pode, por emenda constitucional ou lei ordinária, superar a jurisprudência. Trata-
se de uma reação legislativa à decisão da Corte Constitucional com o objetivo de reversão jurisprudencial.

b) No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda constitucional, a
invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites previstos no art. 60, e seus §§,
da CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma emenda constitucional buscando alterar a interpretação
dada pelo STF para determinado tema, essa emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se
ofender uma cláusula pétrea ou o processo legislativo para edição de emendas.

c) No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente colidir com a
jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, de forma que caberá ao
legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção do precedente se afigura legítima.
A novel legislação que frontalmente colida com a jurisprudência (leis in your face) se submete a um
controle de constitucionalidade mais rigoroso.
Para ser considerada válida, o Congresso Nacional deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas
sobre as quais se fundou a decisão do STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá
verdadeira hipótese de mutação constitucional pela via legislativa.
Vale ressaltar, no entanto, que excetuadas as situações de ofensa evidente ao texto constitucional, o STF
deve adotar comportamento de autorrestrição e de maior deferência às opções políticas do legislador.

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Voltando ao caso concreto:
No caso concreto da Lei nº 12.875/2013, o Congresso Nacional procurou superar o precedente fixado pelo
STF nas ADIs 4.430 e 4.795. Todavia, o STF, examinando as justificativas do projeto que deu origem à lei e
analisando a inocorrência de mudanças na sociedade entre a data da decisão passada e os dias atuais,
entendeu que não foi legítima a tentativa de reversão da interpretação fixada pelo Tribunal.
Para o STF, os argumentos invocados pelo Legislativo não são capazes de infirmar (retirar à força) a tese
jurídica fixada no julgamento das ADIs 4.430 e 4.795.
Por essa razão, o Plenário da Corte, por maioria, julgou inconstitucional a Lei nº 12.875/2013.

DIREITO ELEITORAL

PARTIDOS POLÍTICOS
É constitucional a Lei 13.107/2015, que alterou a Lei dos Partidos Políticos

A Lei 13.107/2015 alterou a Lei 9.096/95 com o objetivo de desestimular a fusão de partidos
políticos. Veja duas das mudanças promovidas:
1) A Lei nº 13.107/2015 alterou o § 1º do art. 7º da Lei 9.096/95 ao exigir que as pessoas que
assinarem o apoiamento para a criação de novos partidos não poderão fazer parte de outros
partidos políticos.
2) A Lei nº 13.107/2015 determinou que somente será admitida a fusão ou incorporação de
partidos políticos que hajam obtido o registro definitivo do Tribunal Superior Eleitoral há,
pelo menos, 5 anos. Antes não havia essa exigência.
Essas duas mudanças foram impugnadas por meio de ADI, mas o STF negou a medida cautelar
afirmando que as alterações são compatíveis com a CF/88, não tendo havido violação à
autonomia constitucional dos partidos políticos.
STF. Plenário. ADI 5311-MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/9/2015 (Info 801).

Lei 13.107/2015
Em 2015, foi publicada a Lei nº 13.107/2015, que alterou a Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos) com
o objetivo de desestimular a fusão de partidos políticos.

Veja duas das mudanças promovidas pela Lei nº 13.107/2015 na Lei nº 9.096/95:

1) Apoiamento de eleitores
O art. 7º da Lei nº 9.096/95 prevê as regras para que um partido político possa ser criado.
Um dos requisitos para a criação de um novo partido é que ele deverá obter uma quantidade mínima de
eleitores assinando uma declaração de apoio à nova agremiação. Isso é chamado de "apoiamento mínimo
de eleitores". É como se fosse um "abaixo-assinado" com eleitores declarando que desejam a criação do
novo partido. Essa lista de assinaturas e títulos é posteriormente conferida pelo chefe do Cartório
eleitoral, que irá lavrar um atestado na própria lista.
A Lei nº 13.107/2015 alterou o § 1º deste art. 7º com o objetivo de dificultar a criação de novos partidos ao
exigir que as pessoas que assinarem esse apoiamento não poderão fazer parte de outros partidos políticos.
Antes: pessoas que assinavam o apoiamento podiam já ser filiadas a partidos políticos. Ex: João é filiado ao
PSOL, mas assina lista de apoiamento para criação do partido REDE.
Depois: isso foi proibido. As pessoas que assinarem a lista de apoiamento não podem mais ser filiadas a
partidos políticos.

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


2) Prazo mínimo
Somente será admitida a fusão ou incorporação de partidos políticos que hajam obtido o registro
definitivo do Tribunal Superior Eleitoral há, pelo menos, 5 anos. Antes não havia essa exigência.

ADI 5311
O Partido Republicano da Ordem Social (Pros) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade no STF contra
essas duas alterações promovidas pela Lei nº 13.107/2015.
Segundo alegou o partido na Inicial, as modificações violam o pluralismo político, a liberdade de criação,
fusão, incorporação e extinção dos partidos políticos e a participação do cidadão no processo político-
partidário do país.

A princípio, o STF concordou com os argumentos do autor e concedeu a medida cautelar?


NÃO. O Plenário do STF indeferiu o pedido formulado em medida cautelar na ADI.

A CF/88 assegura a liberdade de criação, fusão, extinção e incorporação de partidos políticos, como
expressão do princípio democrático e do pluripartidarismo (art. 17). Portanto, realmente está garantida no
ordenamento jurídico-constitucional a liberdade dos partidos políticos de se articularem. Essa garantia,
contudo, não é absoluta, sendo possível haver um controle quantitativo e qualitativo dos partidos político,
o que justificaria a existência das normas impugnadas.

Segundo apontou o STF, há agremiações intituladas formalmente como partidos políticos sem qualquer
substrato eleitoral. Essas legendas estão habilitadas a receber parcela do fundo partidário e a disputar
tempo de televisão sem difundir, contudo, ideias e programas. Elas atuam para defender outros interesses
partidários, especialmente para obtenção de vantagens particulares para os seus dirigentes.

Como os partidos políticos recebem recursos do fundo partidário (dinheiro público), é necessário e
justificável que haja um controle sobre eles.

A proliferação indiscriminada de partidos sem coerência ou respaldo social causa risco institucional e
ameaça a democracia. Além disso, pode transformar o sadio pluripartidarismo em caos político.

As normas impugnadas têm como objetivo a tentativa de incentivar a utilização de mecanismos da


democracia representativa, a reforçar a legitimidade e o compromisso do eleitor e do partido no qual se
depositara o seu aval.

A exigência de que os apoiadores do novo partido não sejam filiados a partidos políticos está de acordo
com o sistema representativo.

A exigência de 5 anos para se levar a efeito fusões e incorporações entre partidos assegura o atendimento
do compromisso do cidadão com a sua opção partidária, o que evita o estelionato eleitoral ou a reviravolta
política contra o apoio dos eleitores, então filiados.

Portanto, as normas atacadas na ADI têm a finalidade de evitar a lógica mercantilista e nada republicana
de prática política.

Ante o exposto, o STF entendeu que não houve ingerência estatal indevida na autonomia constitucional
dos partidos políticos.

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


PARTIDOS POLÍTICOS
É inconstitucional a Lei 12.875/2013, que alterou a Lei dos Partidos Políticos e a Lei das Eleições

A Lei 12.875/2013 promoveu alterações na:


• Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/95); e na
• Lei das Eleições Lei 9. 0 /97 .
Mudança na Lei dos Partidos Políticos: a Lei 12.875/2013 determinou que, para os fins de
distribuição dos recursos do Fundo Partidário, deveriam ser desconsideradas as mudanças de
filiação partidária. Dessa feita, a Lei 12.875/2013 determinou que o Deputado Federal que
mudasse de partido (ainda que para um partido novo) durante o mandato não poderia levar
para o outro os votos que obteve na última eleição. O objetivo foi evitar que, com a mudança, o
partido de destino recebesse mais verbas do fundo partidário.
Mudança na Lei das Eleições: a Lei nº 12.875/2013 determinou que, para os fins de
distribuição do tempo de rádio e TV, seriam desconsideradas as mudanças de filiação
partidária. Assim, o Deputado Federal que mudasse de partido (ainda que para um partido
novo) durante o mandato não poderia levar para o outro os votos que obteve na última
eleição. Mais uma vez, o objetivo aqui da Lei 12.875/2013 foi o de evitar que o partido de
destino recebesse mais tempo de rádio e TV.
Assim, de acordo com as regras da Lei 12.875/2013, os partidos novos ficariam com
pouquíssimos recursos do Fundo Partidário e reduzidíssimo tempo de rádio e TV.
O STF entendeu que as mudanças efetuadas foram inconstitucionais. Em nosso sistema
proporcional, não há como afirmar, simplesmente, que a representatividade política do
parlamentar está atrelada à legenda partidária para a qual foi eleito, ficando, em segundo
plano, a legitimidade da escolha pessoal formulada pelo eleitor por meio do sufrágio. O voto
do eleitor brasileiro, mesmo nas eleições proporcionais, em geral, se dá em favor de
determinado candidato. O princípio da liberdade de criação e transformação de partidos,
contido no caput do art. 17 da CF/88 serve de fundamento constitucional para reputar como
legítimo o entendimento de que, na hipótese de criação de um novo partido, a novel legenda,
para fins de acesso proporcional ao rádio e à televisão, leva consigo a representatividade dos
deputados federais que para ela migraram diretamente dos partidos pelos quais foram eleitos.
STF. Plenário. ADI 5105/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/10/2015 (Info 801).

Sobre o que tratou a Lei 12.875/2013:


A Lei n. 12.875/2013 promoveu alterações na:
• Lei dos Pa tidos Políti os Lei n. 9.096/95); e na
• Lei das Eleições Lei n. 9.504/97).

Objetivo da Lei
A Lei 12.875/2013 foi editada com o objetivo de inibir a criação de novos partidos políticos. Para isso,
restringiu o acesso de novas legendas aos recursos financeiros do Fundo Partidário e ao tempo de
propaganda na TV e no rádio.

Fundo partidário
Trata-se de um Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos que tenham seu estatuto
registrado no Tribunal Superior Eleitoral e prestação de contas regular perante a Justiça Eleitoral.
O Fundo Partidário é o stituído po dotações o ça e tá ias da U ião, ultas, pe alidades, doações e
outros recursos financeiros previstos no art. 38 da Lei n. 9.096/95.
Os valores contidos no Fundo Partidário são repassados aos partidos políticos por meio de um cálculo
previsto no art. 41-A, da Lei n. 9.096/95.
Consiste na principal fonte de verbas dos partidos.

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


Propaganda eleitoral
A propaganda eleitoral é aquela que se realiza antes do certame eleitoral e objetiva, basicamente, a obtenção
de votos, tornando-se instrumento de convencimento do eleitor, que pode, por seu intermédio, ampliar seu
conhecimento sobre as convicções de cada candidato ou partido, fazendo a escolha que mais lhe convier.
A legislação que rege a propaganda eleitoral é a Lei n. 9.504/97.

ADI 5105
O Partido Solidariedade (SDD) ajuizou no STF ação direta de inconstitucionalidade contra a Lei nº
12.875/2013.
Vejamos as alterações realizadas pela Lei nº 12.875/2013 e se elas foram declaradas inconstitucionais pelo STF.

Alterações na Lei dos Partidos Políticos (Lei nº 9.096/95)


A Lei nº 12.875/2013 alterou o art. 29, § 6º e o art. 41-A da Lei nº 9.096/95.

O dinheiro do Fundo Partidário é dividido da seguinte forma:


 5% é dividido em partes iguais, a todos os partidos que atendam aos requisitos constitucionais de
acesso aos recursos do Fundo Partidário. Desse modo, pega-se 5% do Fundo e divide-se
igualitariamente entre todos os partidos.
 os 95% restantes são distribuídos aos partidos na proporção dos votos obtidos na última eleição geral
para a Câmara dos Deputados. Assim, os partidos que obtiveram mais votos, irão, proporcionalmente,
receber mais.

Até aí, tudo bem. Mas veja agora o que fez a Lei nº 12.875/2013.

A Lei nº 12.875/2013 determinou que, para os fins dessa distribuição acima, devem ser desconsideradas as
mudanças de filiação partidária. Dessa feita, o Deputado Federal que mudar de partido (ainda que para um
partido novo) du a te o a dato ão pode á leva para o outro os votos que obteve na última eleição,
de modo que a mudança não fará com que o partido de destino receba mais verbas do fundo partidário.

Alterações na Lei das eleições (Lei nº 9.504/97)


A Lei nº 12.875/2013 alterou o § 2º do art. 47 da Lei nº 9.504/97 e determinou que os horários de
propaganda eleitoral entre os partidos e coligações deveria ser o seguinte:

DISTRIBUIÇÃO DOS HORÁRIOS DE RÁDIO E TV PPARA PROPAGANDA ELEITORAL

2/3 1/3

do tempo seria distribuído entre os partidos e Desse 1/3 restante, a distribuição seria assim:
coligações de forma proporcional ao número de
Deputados Federais que possui esse partido ou a) 1/3 distribuído igualitariamente entre os
coligação. partidos e coligações; e

No caso de coligação, calcula-se esse número pela b) 2/3 de forma proporcional ao número de
soma dos Deputados Federais que integram os representantes eleitos no pleito imediatamente
partidos que fazem parte da coligação. anterior para a Câmara dos Deputados.

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Obs1: a Lei nº 12.875/2013 afirmou que, para os fins dessa distribuição acima, serão desconsideradas as
mudanças de filiação partidária. Assim, o Deputado Federal que mudar de partido (ainda que para um
partido novo) du a te o a dato ão pode á leva para o outro os votos que obteve na última eleição,
de modo que essa mudança não fará com que o partido de destino receba mais tempo de rádio e TV.

Obs2: de acordo com as regras da Lei nº 12.875/2013, os partidos novos ficariam com pouquíssimo tempo
de rádio e TV. Eles só entrariam na divisão da letra "a" da segunda coluna acima explicada.

As mudanças operadas pela Lei nº 12.875/2013 foram compatíveis com a CF/88?


NÃO. O STF julgou procedente a ADI e declarou a Lei nº 12.875/2013 INCONSTITUCIONAL.

A pergunta que o STF respondeu, na prática, foi a seguinte:


Se um novo partido é criado e não possui Deputados Federais eleitos pelo próprio partido, mas sim
oriundos de outras agremiações, mesmo assim ele terá direito de "ganhar" a participação no Fundo
Partidário e o tempo de propaganda eleitoral a que teria direito esse Deputado Federal? Em palavras
simples, o Deputado Federal que se filia a um partido novo "leva" seu percentual de Fundo Partidário e
de tempo de rádio e TV?
SIM. O STF entende que, no nosso sistema proporcional, não há como afirmar, simplesmente, que a
representatividade política do parlamentar está atrelada à legenda partidária para a qual foi eleito,
ficando, em segundo plano, a legitimidade da escolha pessoal formulada pelo eleitor por meio do sufrágio.
O voto do eleitor brasileiro, mesmo nas eleições proporcionais, em geral, se dá em favor de determinado
candidato.
O princípio da liberdade de criação e transformação de partidos, contido no caput do art. 17 da CF/88
serve de fundamento constitucional para reputar como legítimo o entendimento de que, na hipótese de
criação de um novo partido, a novel legenda, para fins de acesso proporcional ao rádio e à televisão, leva
consigo a representatividade dos deputados federais que para ela migraram diretamente dos partidos
pelos quais foram eleitos.
Esta interpretação prestigia, por um lado, a liberdade constitucional de criação de partidos (art. 17, caput,
CF/88) e, por outro, a representatividade do partido que já nasce com representantes parlamentares, tudo
em consonância com o sistema de representação proporcional brasileiro.

ADIs 4430 e 4795


Vale ressaltar que o STF já havia enfrentado esse mesmo tema no julgamento das ADIs 4430 e 4795
MC/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgadas em 27, 28 e 29/6/2012.
No julgamentos dessas duas ações, o STF já havia afirmado que os partidos novos, criados após a
realização de eleições para a Câmara dos Deputados, deveriam ter direito de acesso proporcional aos 2/3
do tempo destinado à propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.
Alguns meses após o julgamento dos casos supracitados, o Congresso Nacional editou a Lei nº
12.875/2013 que, em sentido oposto ao pronunciamento da Corte, subtraiu dos novos partidos o acesso
aos recursos do Fundo e ao direito de antena.
Dessa forma, a Lei nº 12.875/2013 foi uma reação legislativa à decisão do STF, uma forma de o Congresso
Nacional superar a interpretação legislativa dada pela Corte ao tema.
O STF não concordou com essa tentativa do Poder Legislativo.
Segundo afirmou o Min. Luiz Fux, houve abuso do legislador ao editar lei buscando modificar a interpretação
constitucional do Supremo. Diante disso, a Lei nº 12.875/2013 já nasceu com o gérmen da
inconstitucionalidade porque violou uma decisão do STF em controle concentrado de constitucionalidade
sem trazer nenhuma novidade. Para o Ministro, isso configura um atentado à dignidade da jurisdição do STF.

Lei nº 13.165/2015
Atenção. A Lei nº 13.165/2015 alterou o § 2º do art. 41 da Lei nº 9.504/97 modificando os percentuais de
tempo de rádio e TV destinados a cada partido. A redação atual do dispositivo é a seguinte:

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


LEI 9.504/97 (LEI DAS ELEIÇÕES)
Redação antes da Lei 13.165/2015 Redação depois da Lei 13.165/2015
Art. 47 (...) Art. 47 (...)

§ 2º Os horários reservados à propaganda de cada § 2º Os horários reservados à propaganda de cada


eleição, nos termos do § 1º, serão distribuídos eleição, nos termos do § 1º, serão distribuídos
entre todos os partidos e coligações que tenham entre todos os partidos e coligações que tenham
candidato, observados os seguintes critérios: candidato, observados os seguintes critérios:

I - 2/3 (dois terços) distribuídos I - 90% (noventa por cento) distribuídos


proporcionalmente ao número de representantes proporcionalmente ao número de representantes
na Câmara dos Deputados, considerado, no caso na Câmara dos Deputados, considerados, no caso
de coligação, o resultado da soma do número de de coligação para eleições majoritárias, o
representantes de todos os partidos que a resultado da soma do número de representantes
integram; dos seis maiores partidos que a integrem e, nos
casos de coligações para eleições proporcionais, o
resultado da soma do número de representantes
de todos os partidos que a integrem;

II - 10% (dez por cento) distribuídos


II - do restante, 1/3 (um terço) distribuído igualitariamente.
igualitariamente e 2/3 (dois terços)
proporcionalmente ao número de representantes
eleitos no pleito imediatamente anterior para a
Câmara dos Deputados, considerado, no caso de
coligação, o resultado da soma do número de
representantes de todos os partidos que a integram.

JULGADO NÃO COMENTADO

LC 75/1993: auxílio-moradia e promoção com deslocamento


A Segunda Turma denegou mandado de segurança impetrado em face de atos do TCU e do PGR que
importaram na cessação do pagamento de auxílio-moradia concedido aos membros do MPU em razão de
promoção com deslocamento. Na espécie, o TCU determinara a suspensão dos pagamentos do referido
auxílio, em razão da impossibilidade jurídica da criação de hipótese de benefício não prevista em lei. Ante
essa decisão, o PGR editara portaria que extingue o benefício relativamente àquela espécie de promoção. A
Turma afirmou que o auxílio-moradia fora instituído pelo art. 227, VIII, da LC 75/1993, que o assegura aos
e os do MPU ua do lotados e lo al ujas o dições de o adia seja pa ti ula e te difí eis ou
onerosas, assim definido em ato do Procurador-Ge al da Repú li a . Co ase essa disposição o ativa,
o chefe do MPU editara a Portaria 495/1995, cujo art. 1º dispunha, em sua redação original, que o auxilio
em comento seria concedido aos membros do MPU lotados nas localidades cujas condições de moradia são
consideradas particularmente difíceis ou onerosas — referidas na própria portaria —, bem como aos
promovidos com deslocamento. Contudo, a Portaria PGR 495/95 teria extrapolado os limites do art. 227,
VIII, da LC 75/1993. Esse comando normativo seria claro ao estabelecer o direito ao auxílio-moradia apenas

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


aos membros do MPU lotados em local cujas condições de moradia fossem particularmente difíceis ou
onerosas, delegando ao PGR apenas a atribuição para definir os locais em que a lotação ensejaria o
pagamento do benefício. Assim, o dispositivo legal não preveria a possibilidade de que ato do Chefe do
MPU estabelecesse outros casos de concessão do auxílio. Os atos administrativos normativos não poderiam
ultrapassar os limites da lei que regulamentam, dispondo acerca de situações não previstas na norma
primária de que retiram seu fundamento de validade, mormente em situações como a que se discute no
mandado de segurança em comento, em que o regulamento trataria de matéria que a própria Constituição
reservaria à lei em sentido formal (CF, art. 37, X, e 128, § 5º). Ademais, o art. 227, I, da LC 75/1993, já
determinaria a concessão de benefício — ajuda de custo — em razão da promoção com deslocamento.
MS 25838/DF, rel. Min.Teori Zavascki, 29.9.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DO DJE
28 de setembro a 2 de outubro de 2015

HC N. 125.768-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Habeas corpus. Processo penal militar. Recurso. Embargos infringentes e de nulidade. Superior Tribunal Militar. Norma
regimental que exige no mínimo 4 (quatro) votos minoritários divergentes para seu cabimento. Inadmissibilidade. Requisito não previsto nos
arts. 538 e 539 do Código de Processo Penal Militar. Tribunal que não dispõe de poderes normativos para disciplinar matéria recursal em
contrariedade à lei. Inteligência do art. 96, I, a, da Constituição Federal. Inconstitucionalidade formal da alteração regimental. Garantia da
razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, CF) que não a legitima. Violação dos princípios constitucionais do devido processo legal e da
ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, da CF). Ilegalidade flagrante. Impossibilidade de analogia com o art. 333, parágrafo único, do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal, que exige no mínimo 4 (quatro) votos vencidos para o cabimento dos embargos infringentes. Norma
editada à época em que o art. 119, § 3º, c, da Carta de 1969 expressamente outorgava à Suprema Corte poderes para dispor, em seu
regimento interno, sobre o processo e o julgamento dos feitos de sua competência originária ou recursal. Ordem concedida para se
determinar ao Superior Tribunal Militar que processe os embargos infringentes interpostos pelo paciente. Declarada a inconstitucionalidade
incidental do art. 119, § 1º, do Regimento Interno do Superior Tribunal Militar, na redação dada pela Emenda Regimental nº 24, publicada
no DJe de 10/6/14.
1. Assim como o legislador não pode se imiscuir em matéria reservada ao regimento interno dos tribunais, a esses é vedado desbordar de seus poderes
normativos e dispor sobre matéria de competência privativa da União (art. 22, I, CF), sob pena de inconstitucionalidade formal. Precedentes.
2. A atribuição de poderes aos tribunais para instituir recursos internos e disciplinar o procedimento dos recursos que devam julgar não lhes outorga
competência para criar requisito de admissibilidade recursal não previsto em lei. Inteligência do art. 96, I, a, da Constituição Federal.
3. Os arts. 538 e 539 do Código de Processo Penal Militar não exigem, para o cabimento dos embargos infringentes e de nulidade, número mínimo de
votos vencidos.
4. O art. 119, § 1º, do Regimento Interno do Superior Tribunal Militar, ao exigir, no mínimo, 4 (quatro) votos divergentes minoritários para o
cabimento dos embargos infringentes e de nulidade, além de dispor sobre matéria de competência privativa da União, viola o devido processo legal
(art. 5º. LIV, CF), por impor requisito de admissibilidade recursal não previsto em lei.
5. Descabe invocar-se analogia com o art. 333, parágrafo único, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, que exige no mínimo 4 (quatro)
votos vencidos para o cabimento dos embargos infringentes, uma vez que essa regra foi editada à época em que a Constituição de 1969, no art. 119, §
3º, c, outorgava poderes normativos ao Supremo Tribunal Federal para dispor sobre o processo e o julgamento dos feitos de sua competência
originária ou recursal.
6. A garantia constitucional da duração razoável do processo não pode ser hipertrofiada em prejuízo da ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes (art. 5º, LV, CF), salvo quando nítido o abuso do direito de recorrer.
7. É inconstitucional o art. 119, § 1º, do Regimento Interno do Superior Tribunal Militar, na redação dada pela Emenda Regimental nº 24, publicada
no DJe de 10/6/14, ao exigir no mínimo 4 (quatro) votos divergentes minoritários para o cabimento dos embargos infringentes e de nulidade.
8. Ordem de habeas corpus concedida.
*noticiado no Informativo 791
HC N. 128.446-PE
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. SONEGAÇÃO TRIBUTÁRIA. ART. 1º, I, DA LEI 8.137/1990. DOSIMETRIA DA PENA. AFERIÇÃO
DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DO ART. 59 DO CP. INVIABILIDADE. CIRCUNSTÂNCIAS E CONSEQUÊNCIAS DO CRIME.
QUANTUM FIXADO MEDIANTE FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA.
1. Não é viável, na via estreita do habeas corpus, o reexame dos elementos de convicção considerados pelo magistrado sentenciante na avaliação das
circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal. O que está autorizado é apenas o controle da legalidade dos critérios utilizados, com a
correção de eventuais arbitrariedades. No caso, entretanto, não se constata qualquer vício apto a justificar o redimensionamento da pena-base. Precedentes.
2. Ademais, em se tratando de infrações penais contra a ordem tributária, a extensão do dano causado pode ser invocada na primeira fase da
dosimetria, como critério para exasperação da pena-base, sem que tanto implique bis in idem.
3. Ordem denegada.
*noticiado no Informativo 799

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


MI N. 833-DF e MI 844-DF
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO. OFICIAIS DE JUSTIÇA. ALEGADA ATIVIDADE DE
RISCO. APOSENTADORIA ESPECIAL. ORDEM DENEGADA.
1. Diante do caráter aberto da expressão atividades de risco (art. 40, § 4º, II, da Constituição) e da relativa liberdade de conformação do legislador,
somente há omissão inconstitucional quando a periculosidade seja inequivocamente inerente ao ofício.
2. A eventual exposição a situações de risco – a que podem estar sujeitos os Oficiais de Justiça e, de resto, diversas categorias de servidores públicos –
não garante direito subjetivo constitucional à aposentadoria especial.
3. A percepção de gratificações ou adicionais de periculosidade, assim como o porte de arma de fogo, não são, por si sós, suficientes para reconhecer
o direito à aposentadoria especial, em razão da autonomia entre o vínculo funcional e o previdenciário.
4. Voto pela denegação da ordem, sem prejuízo da possibilidade, em tese, de futura lei contemplar a pretensão da categoria.
*noticiado no Informativo 789
RE N. 658.570-MG
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. ROBERTO BARROSO
DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PODER DE POLÍCIA. IMPOSIÇÃO DE MULTA DE TRÂNSITO. GUARDA
MUNICIPAL. CONSTITUCIONALIDADE.
1. Poder de polícia não se confunde com segurança pública. O exercício do primeiro não é prerrogativa exclusiva das entidades policiais, a quem a
Constituição outorgou, com exclusividade, no art. 144, apenas as funções de promoção da segurança pública.
2. A fiscalização do trânsito, com aplicação das sanções administrativas legalmente previstas, embora possa se dar ostensivamente, constitui mero
exercício de poder de polícia, não havendo, portanto, óbice ao seu exercício por entidades não policiais.
3. O Código de Trânsito Brasileiro, observando os parâmetros constitucionais, estabeleceu a competência comum dos entes da federação para o
exercício da fiscalização de trânsito.
4. Dentro de sua esfera de atuação, delimitada pelo CTB, os Municípios podem determinar que o poder de polícia que lhe compete seja exercido pela
guarda municipal.
5. O art. 144, §8º, da CF, não impede que a guarda municipal exerça funções adicionais à de proteção dos bens, serviços e instalações do Município.
Até mesmo instituições policiais podem cumular funções típicas de segurança pública com exercício de poder de polícia. Entendimento que não foi
alterado pelo advento da EC nº 82/2014.
6. Desprovimento do recurso extraordinário e fixação, em repercussão geral, da seguinte tese: é constitucional a atribuição às guardas municipais
do exercício de poder de polícia de trânsito, inclusive para imposição de sanções administrativas legalmente previstas.
*noticiado no Informativo 793
RE N. 673.707-MG
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO TRIBUTÁRIO. HABEAS DATA. ARTIGO 5º, LXXII, CRFB/88. LEI Nº 9.507/97.
ACESSO ÀS INFORMAÇÕES CONSTANTES DE SISTEMAS INFORMATIZADOS DE CONTROLE DE PAGAMENTOS DE
TRIBUTOS. SISTEMA DE CONTA CORRENTE DA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL-SINCOR. DIREITO
SUBJETIVO DO CONTRIBUINTE. RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO.
1. O habeas data, posto instrumento de tutela de direitos fundamentais, encerra amplo espectro, rejeitando-se visão reducionista da garantia
constitucional inaugurada pela carta pós-positivista de 1988.
2. A tese fixada na presente repercussão geral é a seguinte: “O Habeas Data é garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados
concernentes ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da
administração fazendária dos entes estatais.”
3. O Sistema de Conta Corrente da Secretaria da Receita Federal do Brasil, conhecido também como SINCOR, registra os dados de apoio à
arrecadação federal ao armazenar os débitos e créditos tributários existentes acerca dos contribuintes.
4. O caráter público de todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam
de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações é inequívoco (art. 1º, Lei nº 9.507/97).
5. O registro de dados deve ser entendido em seu sentido mais amplo, abrangendo tudo que diga respeito ao interessado, seja de modo direto ou
indireto. (…) Registro de dados deve ser entendido em seu sentido mais amplo, abrangendo tudo que diga respeito ao interessado, seja de modo
direto ou indireto, causando-lhe dano ao seu direito de privacidade.(...) in José Joaquim Gomes Canotilho, Gilmar Ferreira Mendes, Ingo Wolfgang
Sarlet e Lenio Luiz Streck. Comentários à Constituição. Editora Saraiva, 1ª Edição, 2013, p.487.
6. A legitimatio ad causam para interpretação de Habeas Data estende-se às pessoas físicas e jurídicas, nacionais e estrangeiras, porquanto garantia
constitucional aos direitos individuais ou coletivas.
7. Aos contribuintes foi assegurado constitucionalmente o direito de conhecer as informações que lhes digam respeito em bancos de dados públicos
ou de caráter público, em razão da necessidade de preservar o status de seu nome, planejamento empresarial, estratégia de investimento e, em
especial, a recuperação de tributos pagos indevidamente, verbis: Art. 5º. LXXII. Conceder-se-á habeas data para assegurar o conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público,
considerado como um writ, uma garantia, um remédio constitucional à disposição dos cidadãos para que possam implementar direitos subjetivos que
estão sendo obstaculados.
8. As informações fiscais conexas ao próprio contribuinte, se forem sigilosas, não importa em que grau, devem ser protegidas da sociedade em geral,
segundo os termos da lei ou da constituição, mas não de quem a elas se referem, por força da consagração do direito à informação do art. 5º, inciso
XXXIII, da Carta Magna, que traz como única ressalva o sigilo imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, o que não se aplica no caso sub
examine, verbis: Art. 5º. XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou
geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado.
9. In casu, o recorrente requereu à Secretaria da Receita Federal do Brasil os extratos atinentes às anotações constantes do Sistema de Conta-Corrente
de Pessoa Jurídica-SINCOR, o Sistema Conta-Corrente de Pessoa Jurídica-CONTACORPJ, como de quaisquer dos sistemas informatizados de apoio
à arrecadação federal, no que tange aos pagamentos de tributos federais, informações que não estão acobertadas pelo sigilo legal ou constitucional,
posto que requerida pelo próprio contribuinte, sobre dados próprios.
10. Ex positis, DOU PROVIMENTO ao recurso extraordinário.
*noticiado no Informativo 790

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


ADI N. 4.433-SC
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 3º DA LEI Nº 15.215/2010 DO ESTADO DE SANTA CATARINA.
CONCESSÃO DE GRATIFICAÇÃO A SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS. DISPOSITIVO INCLUÍDO POR EMENDA
PARLAMENTAR EM PROJETO DE CONVERSÃO DE MEDIDA PROVISÓRIA. MATÉRIA DE INICIATIVA PRIVATIVA DO CHEFE
DO PODER EXECUTIVO. SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS. REMUNERAÇÃO. AUMENTO DA DESPESA PREVISTA.
VEDAÇÃO. MATÉRIA ESTRANHA AO OBJETO ORIGINAL DA MEDIDA PROVISÓRIA SUBMETIDA À CONVERSÃO.
INOBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGISLATIVO. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. VÍCIO DE INICIATIVA.
ARTS. 2º, 61, § 1º, II, “A” E “C”, 62 E 63, I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRECEDENTES.
1. Segundo a jurisprudência reiterada desta Suprema Corte, embora o poder de apresentar emendas alcance matérias de iniciativa privativa do Chefe
do Poder Executivo, são inconstitucionais as alterações assim efetuadas quando resultem em aumento de despesa, ante a expressa vedação contida no
art. 63, I, da Constituição da República, bem como quando desprovidas de pertinência material com o objeto original da iniciativa normativa
submetida a cláusula de reserva. Precedentes.
2. Inconstitucionalidade formal do art. 3º da Lei nº 15.215/2010 do Estado de Santa Catarina, por vício de iniciativa.
Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente
*noticiado no Informativo 790

Acórdãos Publicados: 407

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Protocolização em setor indevido e tempestividade

(v. Informativo 801)


RE 755.613 AgR-ED/ES*
RELATOR: Ministro Dias Toffoli
EMENTA: Embargos de declaração no agravo regimental no recurso extraordinário. Efeitos infringentes. Possibilidade, em casos
excepcionais. Corte de origem. Recebimento de petição. Erro do próprio órgão judiciário no processamento do recurso. Recurso de
apelação tempestivo.
1. No caso concreto, o recebimento da petição de apelação no Tribunal a quo não poderia dar ensejo à declaração de intempestividade do
recurso, haja vista ter sido protocolado dentro do prazo previsto em lei.
2. O erro não pode ser atribuído exclusivamente ao advogado do apelante, sendo da responsabilidade, também, do setor que recebeu a petição
do recurso indevidamente.
3. A Turma acolheu os embargos de declaração para, atribuindo a eles excepcionais efeitos infringentes, dar provimento ao agravo regimental
e, em consequência, prover o recurso extraordinário, tão somente para que a Corte de origem, afastada a premissa de intempestividade,
prossiga no exame do recurso de apelação.
TRECHO DO VOTO DO RELATOR: No recurso extraordinário, alegou o sindicato, em síntese, que houve negativa de prestação jurisdicional
pela Corte de origem, uma vez que essa, ao considerar, equivocadamente, que o recurso de apelação seria intempestivo, teria deixado de examinar as
alegações nele veiculadas.
Ao analisar o referido recurso extraordinário, a ele neguei seguimento, entendimento que mantive no agravo regimental que se seguiu. Assim o
fiz porquanto a discussão relativa a requisitos de admissibilidade de recursos da competência de outras Cortes não alcança status constitucional,
conforme já assentado pelo Plenário desta Corte no RE nº 598.365/MG, Relator o Ministro Ayres Britto.
Esclareço, antes de prosseguir, que não proponho nenhuma reforma dessa orientação. Entretanto, examinando melhor a causa, diante das
peculiaridades do caso concreto, no qual vislumbro a existência de erro judiciário, entendo que merece prosperar a irresignação do embargante.
*acordão pendente de publicação.

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
28 de setembro a 2 de outubro de 2015

os
Lei nº 13.165, de 29.9.2015 - Altera as Leis n 9.504, de 30 de setembro de 1997, 9.096, de 19 de setembro de
1995, e 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral, para reduzir os custos das campanhas eleitorais, simplificar a
administração dos Partidos Políticos e incentivar a participação feminina. Publicada no DOU, Seção 1, Edição Extra, nº
186-A, p. 1, em 29.9.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES
Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13
28 de setembro a 2 de outubro de 2015
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)
Gestão - Fiscal - Relatório
Portaria nº 212, de 24.9.2015 - Torna público o Relatório de Gestão Fiscal referente ao segundo quadrimestre de
2015, constante do anexo a esta Portaria. Publicada no DOU, Seção 1, p. 91, em 29.9.2015.
Feriado forense - Expediente forense - Secretaria
- Prazo - Prorrogação
Portaria nº 192, de 28.9.2015 - Comunica que não haverá expediente na Secretaria do Tribunal no dia 12 de
outubro de 2015 (segunda-feira). E que os prazos que porventura devam iniciar-se ou completar-se nesse dia ficam
automaticamente prorrogados para o dia 13 subsequente (terça-feira). Publicada no DJE/STF, n. 195, p. 258, em
30.9.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 801-STF (13/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: SL
883 MC-AgR/RS; RMS 28774/DF; Rcl 19464/SP; HC 123144/PR.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: Inq 4130 QO/PR; RHC 117756/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
MINISTÉRIO PÚBLICO
 Três anos de atividade jurídica para ingresso na carreira.

DIREITO ADMINISTRATIVO
PROVIMENTO DERIVADO
 É inconstitucional lei estadual que transforma cargos de Comissário de Polícia em Delegado de Polícia.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


RECURSOS
 Recurso apresentado em setor errado do Tribunal.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


FIANÇA
 Concessão de liberdade provisória sem fiança a flagranteado assistido pela Defensoria Pública.

PRISÃO
 Súmula vinculante 11 (uso de algemas).

DIREITO CONSTITUCIONAL

MINISTÉRIO PÚBLICO
Três anos de atividade jurídica para ingresso na carreira

Importante!!!
A Constituição Federal exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura, do
Ministério Público e da Defensoria Pública, além da aprovação em concurso público, que o
bacharel em direito possua, no mínimo, três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129, § 3º).
A referência a três anos de atividade jurídica , contida na CF/88, não se limita à atividade
privativa de bacharel em Direito. Em outras palavras, os três anos de atividade jurídica não
precisam ter sido exercidos em um cargo privativo de bacharel em Direito.

Informativo 800-STF (01/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


Assim, por exemplo, se uma pessoa desempenhou por mais de três anos o cargo de técnico
judiciário (nível médio), mas nele realizava atividades de cunho jurídico, ele terá cumprido o
referido requisito.
STF. 1ª Turma. MS 27601/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/9/2015 (Info 800).

Atividade jurídica
A Constituição Federal exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura, do Ministério
Público e da Defensoria Pública, além da aprovação em concurso público, que o bacharel em direito
possua, no mínimo, três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129, § 3º).
Essa exigência foi inserida na CF/88 pela Emenda Constitucional nº 45/2004, a chamada Reforma do
Judiciário.

Feita essa consideração, imaginemos a seguinte situação:


João, bacharel em Direito, é servidor público do Poder Judiciário, ocupando o cargo de técnico judiciário.
Vale ressaltar que o cargo de técnico judiciário é de nível médio, ou seja, não se exige graduação em
Direito ou qualquer nível superior para que possa ser exercido.
Na condição de técnico judiciário, João auxilia o magistrado, fazendo pesquisas jurídicas e minutas de
despachos, decisões e sentenças, , o que ficou demonstrado por meio de uma certidão exarada pelo órgão.
Após quatro anos como técnico judiciário, João consegue ser aprovado no concurso do Ministério Público.

Diante disso, indaga-se: o tempo que João trabalhou como técnico judiciário poderá ser computado
como atividade jurídica?
SIM. áà efe iaàaà t sàa osàdeàatividadeàju ídi a ,à o tidaàna CF/88, não se limita à atividade privativa
de bacharel em Direito.
Em outras palavras, os três anos de atividade jurídica não precisam ter sido exercidos em um cargo
privativo de bacharel em Direito.
STF. 1ª Turma. MS 27601/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/9/2015 (Info 800).

DIREITO ADMINISTRATIVO

PROVIMENTO DERIVADO
É inconstitucional lei estadual que transforma cargo de Comissário de Polícia em Delegado de Polícia

Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil de
determinado Estado. Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de
Delegado de Polícia e de Comissário de Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um
desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia.
• a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente
com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos.
• a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de Polícia".
Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI e o STF decidiu que elas são
INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla à exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de Polícia
porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que eles
tivessem feito concurso público para tanto.

Informativo 800-STF (01/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia foi
criado, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que impediria a
transformação mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização administrativa.
STF. Plenário. ADI 3415/AM, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 24/9/2015 (Info 800).

Provimento
Provimento é o ato pelo qual o cargo público é preenchido, com a designação de seu titular (Hely Lopes
Meirelles). Existem duas formas de provimento: originário e derivado.

Ascensão funcional
O que a SV 43 do STF proíbe é a chamada ascensão funcional (também conhecida como acesso ou
transposição).
A ascensão funcional é a progressão funcional do servidor público entre cargos de carreiras distintas.
Ocorre quando o servidor é promovido para um cargo melhor, sendo este, no entanto, integrante de uma
carreira diferente.
A ascensão funcional era extremamente comum antes da CF/88. Quando o servidor chegava ao último
nível de uma carreira, ele ascendia para o primeiro nível de carreira diversa (e superior) sem necessidade
de concurso público.
Ex.1: o indivíduo é servidor público e ocupa o cargo de técnico judiciário; a lei previa que, se ele chegasse à
última classe de técnico judiciário, poderia ser promovido à analista judiciário.
Ex.2: o agente de polícia de último nível tornava-se delegado de polícia de nível inicial.
Antes da CF/88, somente se exigia o concurso público para o ato da primeira investidura.

A ascensão funcional é compatível com a CF/88?


NÃO.à áà p o oçãoà doà se vido à po à as e sãoà fu io alà o stituià u aà fo aà deà p ovimento derivado
ve ti al ,àouàseja,àaàpessoaàassu eàu àout oà a goà p ovi e to àe àvi tudeàdeàj ào upa àu àa te io à ouà
seja, derivado do primeiro), subindo no nível funcional para um cargo melhor (vertical).
A ascensão funcional é inconstitucional porque a CF/88 afirma que a pessoa somente pode assumir um
cargo público após aprovação em concurso público (art. 37, II), salvo as hipóteses excepcionais previstas
no texto constitucional. Desse modo, a ascensão viola o princípio do concurso público.
Veja esta ementa bem elucidativa:
(...) O Supremo Tribunal Federal fixou entendimento no sentido de banir o acesso ou ascensão, que
constitui forma de provimento de cargo em carreira diversa daquela para a qual o servidor ingressou no
serviço público. (...) STF. 2ª Turma. RE 602795 AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 16/03/2010).

Existe um enunciado do STF que espelha esse entendimento:


Súmula vinculante 43-STF: É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não
integra a carreira na qual anteriormente investido.

Feitos os devidos esclarecimentos, imagine o seguinte caso, julgado pelo STF, com algumas adaptações:
Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil de determinado Estado.
Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de Delegado, Comissário, Escrivão e
Investigador.
Vale ressaltar que, tanto para o cargo de Comissário como de Delegado, a lei exigia que seus ocupantes
fossem bacharéis em Direito.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um desses cargos, e
os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia:
 a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente com o
Delegado de Polícia, praticamente equiparando a remuneração dos dois cargos.

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 a segunda lei, editada poucos dias depois, transformando os cargos de "Comissário de Polícia" em
"Delegados de Polícia" de 5ª Classe.

O Procurador-Geral da República ajuizou ADI contra essas duas leis de 2004 argumentando que elas
promoveram uma transposição indevida de cargos, violando a regra do concurso público.

O STF concordou com a tese exposta na ADI? A Lei que transformou o cargo de Comissário de Polícia em
Delegado é inconstitucional?
SIM. Segundo decidiu o STF, as duas leis acima explicadas são inconstitucionais porque representaram
burla à exigência do concurso público.
Para o STF, essas leis fizeram uma espécie de ascensão funcional dos Comissários de Polícia porque
transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que eles tivessem feito concurso
público para Delegado.

Regra do concurso público e situações excepcionais em que se admite a transfiguração de cargos


O art. 37, II, da CF/88 impõe o concurso público como requisito para acesso aos cargos públicos.
Desse modo, em regra, a pessoa que foi aprovada no concurso para determinado cargo não pode,
posteriormente, ser aproveitada em outro, ainda que por meio de lei.
Vale ressaltar que existem algumas exceções nas quais o STF admite a transfiguração de cargos públicos e
o consequente aproveitamento dos seus antigos titulares na nova classificação funcional. Assim, em alguns
casos excepcionais, é possível a passagem de servidores de uma carreira em extinção para outra recém-
criada como forma de racionalização administrativa. Para isso, no entanto, é indispensável que haja
substancial correspondência entre as características dos dois cargos, sobretudo a respeito das atribuições
incluídas nas esferas de competência de cada qual.

Resumindo:
 Em regra, não é possível que a lei extinga determinado cargo e que os seus ocupantes sejam
aproveitados em outro cargo. Isso viola o princípio do concurso público (art. 37, II, da CF/88);
 Excepcionalmente, o STF admite essa mudança, como forma de racionalização administrativa, desde
que fique nitidamente provado que existe uma substancial correspondência entre as características
dos dois cargos, sobretudo no que diz respeito às competências e responsabilidades. Em outras
palavras, os cargos devem ser equivalentes.

Diferenças substanciais entre os cargos


No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia foi criado e
quando foi feito o concurso público, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de
Polícia. Foram apontadas as seguintes distinções:
 O cargo de Comissário tinha remuneração muito inferior ao de Delegado (quase metade);
 O cargo de Comissário apresentava natureza isolada, organizando-se em classe única, não havendo
possibilidade de promoção. O de Delegado, por seu turno, possuía quatro classes, havendo
possibilidade de promoção.
 Havia diferença de grau de responsabilidade entre cada um dos cargos. O Comissário de Polícia não
podia, por exemplo, exercer a chefia da Delegacia de Polícia, a não ser em caráter temporário. Desse
modo, em tese, o cargo de Delegado de Polícia possuía maiores responsabilidades.

Desse modo, na visão do STF, havia uma série de diferenças entre os cargos no que tange às
responsabilidades e perspectivas das carreiras. Isso impedia que houvesse essa transformação do cargo de
Comissário em Delegado. As diferenças entre os dois cargos não eram apenas formais, ou seja, na
nomenclatura.

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Segundo afirmou o Relator, aqueles que prestaram o primeiro concurso para o cargo em 2001 tinham
ciência das limitações da função e das diferenças entre os cargos.

Ante o exposto, o STF considerou que a transposição feita pela Lei violou a regra do concurso público.

Não haveria, de igual modo, um gradual processo de sincretismo entre os cargos. Portanto, houvera burla
ao postulado do concurso público, mediante o favorecimento de agentes públicos alçados por via
legislativa a cargo de maior responsabilidade do que aquele para o qual aprovados em concurso.

Assim, tanto a transformação do cargo de comissário no de delegado quanto a equiparação das


atribuições dos dois cargos — a quebrar a hierarquia antes existente e violar o art. 144, § 4º, da CF —,
promovidas pelas leis em debate, seriam inconstitucionais.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DEPOSITÁRIO INFIEL
Súmula vinculante 25 (prisão civil de depositário infiel)

O STF rejeitou proposta feita para cancelar a Súmula Vinculante 25, que tem a seguinte redação:
SV 25-STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito.
STF. Plenário. PSV 54/DF, 24.9.2015.

Proposta de cancelamento da SV
A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho - Anamatra ingressou com um pedido no
STF para cancelamento ou alteração do teor da Súmula Vinculante 25 do STF, que tem a seguinte redação:
SV 25-STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

A entidade pediu que a súmula fosse cancelada ou que sua redação fosse alterada e nela constasse
permissão para a prisão civil do depositário judiciário infiel no âmbito da Justiça do Trabalho.

Essa entidade tinha legitimidade para propor o cancelamento da SV?


SIM. A CF/88 determina que a proposta de cancelamento da súmula vinculante poderá ser provocada
pelas mesmas autoridades e entidades que podem propor a ADI. Em outras palavras, quem pode propor
ADI, pode também propor o cancelamento de súmula vinculante.
No caso, a Anamatra é uma entidade de classe de âmbito nacional, de forma que pode propor ADI (art.
103, IX, da CF/88) e, consequentemente, pode requerer o cancelamento de súmula vinculante.

O que o STF decidiu? A SV 25 foi cancelada ou alterada?


NÃO. O STF rejeitou a proposta de cancelamento do Enunciado 25 da Súmula Vinculante.

O STF afirmou que, para admitir-se a revisão ou o cancelamento de súmula vinculante, é necessário
demonstrar que houve:
a) evidente superação da jurisprudência do STF no tratamento da matéria;
b) alteração legislativa quanto ao tema; ou
c) modificação substantiva de contexto político, econômico ou social.

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A proponente, porém, não conseguiu comprovar a ocorrência de qualquer um desses pressupostos, o que
impossibilita o exame da proposta de cancelamento.

Vale destacar que o mero descontentamento ou eventual divergência quanto ao conteúdo da súmula
vinculante não autorizariam a rediscussão da matéria.

Desse modo, a SV 25 continua válida e plenamente aplicável.

RECURSOS
Recurso apresentado em setor errado do Tribunal

Se o advogado deu entrada no recurso, no último dia do prazo, no setor da contadoria do


Tribunal em vez de ser no protocolo, ainda assim o recurso terá que ser considerado
tempestivo. Isso porque o referido erro não pode ser atribuído exclusivamente ao advogado,
mas também ao setor da contadoria que recebeu a petição do recurso indevidamente.
STF. 1ª Turma. RE 755613 AgR-ED/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/9/2015 (Info 800).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Dr. João, advogado, queria recorrer contra uma sentença e o prazo terminava no dia 20.
No dia 20, Dr. João foi até o fórum dar entrada na apelação. Ocorre que ele ainda era inexperiente e, em
vez de apresentar o recurso no protocolo, ele protocolizou a petição na contadoria.
O servidor responsável pela contadoria recebeu a petição e assinou a contrafé na cópia do advogado.
No dia seguinte, ou seja, dia 21, o chefe do setor da contadoria percebeu que se tratava de um recurso de
apelação e que ele deveria ter apresentado no protocolo e não ali. Ato contínuo, ele remeteu o recurso
para o protocolo, que recebeu o documento.
Como a data do recebimento do recurso no protoloco foi o dia 21, o juiz declarou a apelação intempestiva.

A decisão do juiz foi correta, segundo o STF?


NÃO. O STF entendeu que o recebimento de recurso em setor indevido não poderá dar ensejo à
declaração de intempestividade, caso este tenha sido protocolizado dentro do prazo assinado em lei.
Os Ministros afirmaram que o referido erro não pode ser atribuído exclusivamente ao advogado do
apelante, mas também ao setor da contadoria que recebeu a petição do recurso indevidamente.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


FIANÇA
Concessão de liberdade provisória sem fiança a flagranteado assistido pela Defensoria Pública

O indivíduo foi preso em flagrante pela prática do crime de tráfico de drogas.


O magistrado concedeu liberdade provisória com a fixação de 2 salários-mínimos de fiança.
Como não foi paga a fiança, o indivíduo permaneceu preso.
A Defensoria Pública impetrou habeas corpus e o STF deferiu a liberdade provisória em favor
do paciente com dispensa do pagamento de fiança.
Os Ministros afirmaram que era injusto e desproporcional condicionar a expedição do alvará
de soltura ao recolhimento da fiança.

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Segundo entendeu o STF, o réu não tinha condições financeiras de arcar com o valor da fiança,
o que se poderia presumir pelo fato de ser assistido pela Defensoria Pública, o que
pressuporia sua hipossuficiência.
Assim, não estando previstos os pressupostos do art. 312 do CPP e não tendo o preso
condições de pagar a fiança, conclui-se que nada justifica a manutenção da prisão cautelar.
STF. 1ª Turma. HC 129474/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 22/9/2015 (Info 800).

Imagine a seguinte situação adaptada:


João foi preso em flagrante pela prática do crime de tráfico de drogas.
O Juiz de Direito concedeu ao flagranteado liberdade provisória com fiança (art. 310, III, do CPP),
estipulando 2 salários-mínimos como sendo o valor da fiança.
Ocorre que João não efetuou o pagamento da fiança, motivo pelo qual permaneceu preso.
Diante disso, a Defensoria Pública impetrou habeas corpus alegando que o juiz reconheceu que não
estavam presentes os pressupostos da prisão preventiva (art. 312 do CPP) e que o réu só ainda estava
preso por ser pobre, não tendo condições de arcar com o pagamento da fiança estipulada.

O STF concordou com o pedido da Defensoria? A ordem de HC foi concedida?


SIM. A 1ª Turma do STF o edeuàaào de àdeà ha easà o pus àe deferiu a liberdade provisória em favor
do paciente com dispensa do pagamento de fiança.
Os Ministros afirmaram que era injusto e desproporcional condicionar a expedição do alvará de soltura ao
recolhimento da fiança.
Segundo entendeu o STF, o réu não tinha condições financeiras de arcar com o valor da fiança, o que se
poderia presumir pelo fato de ser assistido pela Defensoria Pública, o que pressuporia sua hipossuficiência.
Assim, não estando previstos os pressupostos do art. 312 do CPP e não tendo o preso condições de pagar
a fiança, conclui-se que nada justifica a manutenção da prisão cautelar.
Vale ressaltar que o CPP permite que o magistrado, a depender da situação econômica do preso (se rico
ou pobre), dispense a fiança (art. 325, § 1º, I).

PRISÃO
Súmula vinculante 11 (uso de algemas)

O STF rejeitou proposta feita para cancelar a Súmula Vinculante 11, que tem a seguinte redação:
SV 11-STF: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou
de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada
a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do estado.
STF. Plenário. PSV 13/DF, 24.9.2015.

Proposta de cancelamento da SV
A Confederação Brasileira dos Trabalhadores Policiais Civis – Cobrapol ingressou com um pedido no STF
para cancelamento da Súmula Vinculante 11 do STF, que tem a seguinte redação:
SV 11-STF: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à
integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por
escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da
prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do estado.

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Segundo argumentou a entidade, a edição do referido enunciado consistiu em um verdadeiro ato
normativo, de forma que o STF teria usurpado a função do Poder Legislativo.

Essa entidade tinha legitimidade para propor o cancelamento da SV?


SIM. A CF/88 determina que a proposta de cancelamento da súmula vinculante poderá ser provocada
pelas mesmas autoridades e entidades que podem propor a ADI. Em outras palavras, quem pode propor
ADI, pode também propor o cancelamento de súmula vinculante.
No caso, a Cobrapol é uma entidade de classe de âmbito nacional, de forma que pode propor ADI (art.
103, IX, da CF/88) e, consequentemente, pode requerer o cancelamento de súmula vinculante.

O que o STF decidiu? A SV 11 foi cancelada?


NÃO. O STF rejeitou a proposta de cancelamento do Enunciado 11 da Súmula Vinculante.

O STF afirmou que, para admitir-se a revisão ou o cancelamento de súmula vinculante, é necessário
demonstrar que houve:
a) evidente superação da jurisprudência do STF no tratamento da matéria;
b) alteração legislativa quanto ao tema; ou
c) modificação substantiva de contexto político, econômico ou social.

A proponente, porém, não conseguiu comprovar a ocorrência de qualquer um desses pressupostos, o que
impossibilita o exame da proposta de cancelamento.

Vale destacar que o mero descontentamento ou eventual divergência quanto ao conteúdo da súmula
vinculante não autorizariam a rediscussão da matéria.

Desse modo, a SV 11 continua válida e plenamente aplicável.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Competência: foro por prerrogativa de função, prevenção e prorrogação - 1


O Plenário resolveu três questões de ordem, apresentadas pelo Ministro Dias Toffoli (relator), em inquérito
— afetado pela Segunda Turma — no qual se apura a suposta prática de ilícito penal com a participação de
senadora. As questões de ordem consistiam em: a) redistribuição do feito, por alegada prevenção, ao
Ministro Teori Zavascki, tendo em vista ser o relator de investigações já em andamento relacionadas a
fraudes no âmbito de sociedade de economia mista, que teriam relação com o presente inquérito; b) cisão
do inquérito, para que fosse remetido à justiça federal, onde as investigações prosseguiriam no tocante aos
não detentores de foro por prerrogativa de função no STF, e aqui permaneceriam apenas no que se refere
à senadora; e c) na hipótese de cisão do inquérito, encaminhamento do feito — no que diz respeito aos
demais investigados — à “eçãoà Judi i iaà doà Estadoà deà “ãoà Paulo.à Co à elaçãoà aoà ite à a ,à oà T i u alà
deliberou, por maioria, manter a decisão da Presidência da Corte que determinara a livre distribuição do
inquérito. Vencidos, quanto a esse item, os Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello, que reconheciam a
p eve çãoà doà Mi ist oà Teo ià )avas ki.à Noà ueà seà efe eà aoà ite à ,à oà Colegiadoà esolveuà aà uestãoà deà
ordem no sentido do desmembramento do feito, a fim de que a investigação prossiga, no STF, apenas
ua toà àse ado a.àáà espeitoàdoàite à ,àoàPle io,àpo àde isãoà ajo it ia,àasse touàaà o pet iaàdaà
Seção Judiciária Federal do Estado de São Paulo para investigar os demais envolvidos, preservada a
validade dos atos já praticados. Vencidos, no ponto, os Ministros Roberto Barroso, que não se manifestou
quanto ao juízo competente, e os Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello, que determinavam a remessa
do feito — a respeito dos outros investigados — à 13ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado do

Informativo 800-STF (01/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Paraná. Inicialmente, o Colegiado teceu considerações a respeito da colaboração premiada, que
alegadamente serviria como subsídio para justificar a prevenção do feito. No ponto, afirmou que este seria
mero meio de obtenção de prova, sendo possível que o agente colaborador trouxesse informações a
respeito de crimes que não teriam relação alguma com aqueles que, primariamente, fossem objeto da
investigação. Esses elementos informativos sobre outros crimes, sem conexão com a investigação primária,
deveriam receber o mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita ou o encontro fortuito de provas,
como na busca e apreensão e na interceptação telefônica. De toda sorte, ainda que válidos os elementos
de informação trazidos pelo colaborador, relativamente a crimes distintos do objeto da investigação matriz,
o acordo de colaboração, como meio de obtenção de prova, não constituiria critério de determinação, de
modificação ou de concentração da competência.
Inq 4130 QO/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 23.9.2015. (Inq-4130)

Competência: foro por prerrogativa de função, prevenção e prorrogação - 2


O Colegiado explicou os critérios sucessivos de determinação da competência: a) competência originária de
algum órgão de superposição, em virtude de foro por prerrogativa de função (STF ou STJ); b) competência
de jurisdição; c) competência originária; d) competência de foro ou territorial; e) competência de juízo; e f)
competência interna (juiz competente). Por sua vez, haveria hipóteses de modificação da competência, a
saber, a prorrogação e o desaforamento. Pelo fenômeno da prorrogação, alarga-se a competência de um
órgão jurisdicional, para receber uma causa que ordinariamente não se incluía nela. Nos casos de conexão
e continência, opera-se a prorrogação da competência. Por fim, nas hipóteses de concentração da
competência, exclui-se a competência de todos os órgãos judiciários teoricamente competentes para
determinada causa, menos um, que dela ficará incumbido. Enquadra-se, na hipótese, a prevenção, ou seja,
a concentração, em um órgão jurisdicional, da competência que abstratamente já pertencia a dois ou
vários, inclusive a ele. A prevenção seria, portanto, distinta das causas de prorrogação da competência.
Enquanto a prorrogação acrescenta causas à competência de um juiz, retirando-as de outro, a prevenção
retira causas da competência de todos os demais juízes potencialmente competentes, para que permaneça
competente só um deles. A prevenção, portanto, seria um critério de concentração da competência, razão
pela qual, inicialmente, devem-se observar as regras ordinárias de determinação da competência. Nos
termos do art. 70 do CPP, a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que consumada a
infração. Ocorre que, quando se trata de infrações conexas, praticadas em locais diversos, deve-se
determinar o foro prevalente. Para tanto, é preciso que uma infração exerça força atrativa sobre as demais,
prorrogando a competência do juízo de atração. A fim de se estabelecer o juízo prevalecente nesses casos,
há de se observar o art. 78 do CPP. Segundo esse dispositivo, a prevenção constitui um critério meramente
residual de aferição de competência.
Inq 4130 QO/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 23.9.2015. (Inq-4130)

Competência: foro por prerrogativa de função, prevenção e prorrogação - 3


O Tribunal repisou que a competência para processar e julgar os crimes delatados pelo colaborador, não
conexos com os fatos objeto da investigação matriz, dependerá do local em que consumados, da sua
natureza e da condição das pessoas incriminadas (se detentoras de foro por prerrogativa de função). Nos
casos de infrações conexas e de concurso de jurisdições da mesma categoria, o foro prevalente, em
primeiro lugar, será o do lugar da infração a que cominada a pena mais grave. Sendo de igual gravidade as
penas, prevalecerá a competência do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações. Por fim,
apenas se não houver diferença quanto à gravidade dos crimes ou quanto ao número de infrações, firmar-
se-á a competência pela prevenção. Assim, não haverá prorrogação da competência do juiz processante —
alargando-a para conhecer de uma causa para a qual, isoladamente, não seria competente — se não
estiverem presentes: a) uma das hipóteses de conexão ou de continência; e b) uma das hipóteses do art.
78, II, do CPP. Outrossim, ainda que o juízo processante, com base nos depoimentos do imputado
colaborador e nas provas por ele apresentadas, tenha decretado prisões e ordenado a realização de busca
e apreensão ou de interceptação telefônica, essa circunstância não gerará sua prevenção, com base no art.
83 do CPP, caso devam ser primariamente aplicadas as regras de competência atinentes ao local do crime
Informativo 800-STF (01/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9
ou de conexão e continência, uma vez que a prevenção é um critério subsidiário de aferição da
competência. Assentadas essas premissas, a Corte verificou que, no caso concreto, os ilícitos em apuração
nos procedimentos encaminhados pelo juízo da Seção Judiciária do Paraná se referem a repasses de valores
por empresa prestadora de serviços de informática na gestão de empréstimos consignados de servidores
federais, em decorrência de acordo celebrado no âmbito do Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão com a suposta intermediação de empresas de fachada. Não haveria, portanto, nenhuma
dependência recíproca entre esses fatos e a apuração de fraudes e desvio de recursos no âmbito de
sociedade de economia mista. Não se justificaria, na situação dos autos, a unidade de processo e
julgamento. Ainda que os esquemas fraudulentos pudessem eventualmente ter um operador comum e
destinação semelhante, seriam fatos ocorridos em âmbitos diversos, com matrizes distintas. O simples fato
de a polícia judiciária ou o Ministério Público considerarem fases da mesma operação uma sequência de
investigações sobre crimes diversos — ainda que sua gênese seja a obtenção de recursos escusos para a
consecução de vantagens pessoais e financiamento de partidos políticos ou de candidaturas — não se
sobrepõe às normas disciplinadoras da competência. O Plenário frisou não competir ao STF formular juízo
de admissibilidade de denúncia formulada isoladamente contra imputado não detentor de prerrogativa de
foro. Além disso, seria incongruente reconhecer a inexistência de prevenção do Ministro Teori Zavascki,
ante a ausência de conexão entre os ilícitos penais nas distintas investigações e ordenar, ainda assim, o
retorno dos autos desmembrados à origem. A mesma inexistência de conexão que motivaria o não
reconhecimento da prevenção de relator estender-se-ia ao juízo de 1º grau. Na espécie, as supostas
operações ilícitas de lavagem de dinheiro e de falsidade ideológica teriam relação com prestadores de
serviço situados, predominantemente, em São Paulo/SP. Assim, estaria justificada a atração de todos os
crimes para a seção judiciária daquele Estado-Membro, ressalvada a apuração de outras infrações conexas
que, por força do art. 78 do CPP, justificassem conclusão diversa quanto ao foro competente.
Inq 4130 QO/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 23.9.2015.

Refo atioài àpejus àeà ausaàdeàdi i uiçãoàdeàpe a


A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, deu provimento a recurso ordinário em
ha easà o pus àpa aàdete i a àaoàjuízoàdeào ige àaàapli açãoàdaà ausaàdeàdi i uiçãoàdeàpe aàp evista
no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, como entendesse de direito. No caso, o recorrente fora condenado à
pena de cinco anos e dez meses de reclusão, no regime inicial fechado, pela prática do crime de tráfico de
entorpecentes. Naquela oportunidade, o magistrado de primeiro grau ressaltara que, ante a reincidência, o
réu não teria direito à causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006. Já em
sede de apelação, o tribunal de justiça dera parcial provimento ao recurso defensivo, para, ao
desconsiderar a reincidência, porquanto inexistente, redimensionar a pena para cinco anos de reclusão.
Contudo, apesar de ter diminuído a pena aplicada, a Corte também afastara a minorante, mas com esteio
em razão diversa, asseverando não ser possível a diminuição em razão da quantidade e do alto teor
viciante da droga apreendida e pelas circunstâncias que teriam permeado o flagrante. Alegava o recorrente
que o tribunal de origem teria promovido indevida inovação de fundamentação ao agregar motivos
diversos daqueles invocados pelo juízo de piso para vedar a aplicação do privilégio legal, isso em recurso
exclusivo da defesa, configurando-se,à po ta to,à aà efo atioà i à pejus .à Osà Mi ist osà Luizà Fuxà eà Ma oà
Aurélio, ao dar provimento ao recurso, entendera à o figu ada,à aàhipótese,àaà efo atioài àpejus ,àdadoà
ueà oà t i u alà aà uo ,à apesa à deà afasta à aà ei id ia,à ãoà de aà oà devidoà efeitoà aà isso,à faze doà aà
compensação com argumento próprio. Assim, a situação do recorrente fora piorada — apesar de a pena ter
sido diminuída no julgamento da apelação —, porquanto tivesse sido feita a redução, ante a constatação da
inexistência da reincidência, a pena seria ainda menor se não tivesse havido a compensação com outro
argumento. O Ministro Roberto Barroso igualmente deu provimento ao recurso, porém por fundamento
dive so.à Ressaltouà ãoà have à efo atioà i à pejus à ua doà oà t i u alà deà 2ºà g au,à aoà ap e ia à e u soà
exclusivo da defesa, mantivesse ou reduzisse a pena aplicada em 1º grau, com justificativas distintas
daquelas utilizadas na sentença recorrida. Na situação em comento, a conclusão da Corte de apelação
acarretara uma redução de dez meses em relação à pena inicialmente imposta, resultando numa sanção de

Informativo 800-STF (01/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


cinco anos de reclusão. Entretanto, a fundamentação utilizada quando daquele julgamento não seria
idônea para impedir a incidência da minorante em questão. Seria certo que a primariedade técnica do réu
não conduziria à automática concessão do benefício, mas deveria ser demonstrada concretamente a
dedicação do sentenciado às atividades criminosas ou mesmo a sua integração a alguma organização
criminosa. Nada disso teria sido feito pela decisão então exarada, que se limitara a afirmar que o réu
cometera tráfico de substância com alto poder viciante e que havia sido preso em flagrante. A partir dessas
informações, próprias do tipo do art. 33 da Lei 11.343/2006, não se poderia presumir que o réu fosse
integrante de organização criminosa, devendo ser aplicada a causa de diminuição. Vencidos os Ministros
Dias Toffolià elato à eà Rosaà We e ,à ueà e te dia à ãoà esta à a a te izadaà aà esp ie,à aà efo atioà i à
pejus .à
RHC 117756/DF, rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 22.9.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 21 a 25 de setembro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 398.365-RS


RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso extraordinário. Repercussão geral. 2. Tributário. Aquisição de insumos isentos, não tributados ou sujeitos à alíquota zero. 3. Creditamento de
IPI. Impossibilidade. 4. Os princípios da não cumulatividade e da seletividade, previstos no art. 153, § 3º, I e II, da Constituição Federal, não
asseguram direito de crédito presumido de IPI para o contribuinte adquirente de insumos não tributados ou sujeitos à alíquota zero. Precedentes. 5.
Recurso não provido. Reafirmação de jurisprudência.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 835.818-PA
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
COFINS – PIS – BASE DE CÁLCULO – CRÉDITO PRESUMIDO DE IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS –
ARTIGOS 150, § 6º, E 195, INCISO I, ALÍNEA “B”, DA CARTA DA REPÚBLICA – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO
GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia acerca da constitucionalidade da inclusão de créditos presumidos do Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS nas bases de cálculo da Cofins e da contribuição ao PIS.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 855.649-RS
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
IMPOSTO DE RENDA – DEPÓSITOS BANCÁRIOS – ORIGEM DOS RECURSOS NÃO COMPROVADA – OMISSÃO DE
RENDIMENTOS CARACTERIZADA – INCIDÊNCIA – ARTIGO 42 DA LEI Nº 9.430, DE 1996 – ARTIGOS 145, § 1º, 146, INCISO III,
ALÍNEA “A”, E 153, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL
CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia acerca da constitucionalidade do artigo 42 da Lei nº 9.430, de 1996, a autorizar a
constituição de créditos tributários do Imposto de Renda tendo por base, exclusivamente, valores de depósitos bancários cuja origem não seja
comprovada pelo contribuinte no âmbito de procedimento fiscalizatório.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 878.313-SC
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL – ARTIGO 1º DA LEI COMPLEMENTAR Nº 110/2001 – FINALIDADE EXAURIDA – ARTIGOS 149 E 154,
INCISO I, DA CARTA DE 1988 – ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE – RECURSO EXTRAORDINÁRIO –
REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia relativa a saber se, constatado o exaurimento do objetivo –
custeio dos expurgos inflacionários das contas vinculadas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – em razão do qual foi instituída a contribuição
social versada no artigo 1º da Lei Complementar nº 110, de 29 de junho de 2001, deve ser assentada a extinção do tributo ou admitida a perpetuação
da cobrança ainda que o produto da arrecadação seja destinado a fim diverso do original.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 679.137-RJ
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
FORMALIZAÇÃO DE DISSÍDIO COLETIVO – EXIGÊNCIA DE COMUM ACORDO – ARTIGO 114, § 2º, DA CARTA DE 1988 –
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004 – CONSTITUCIONALIDADE – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – AGRAVO PROVIDO
NOS PRÓPRIOS AUTOS – SEQUÊNCIA – REPERCUSSÃO GERAL – CONFIGURAÇÃO. Possui repercussão geral a controvérsia acerca da
constitucionalidade da previsão de comum acordo entre as partes como requisito para a formalização de dissídio coletivo de natureza econômica,
versada no § 2º do artigo 114 da Carta de 1988, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004, considerado o disposto nos artigos
5º, incisos XXXV e XXXVI, e 60, § 4º, do Diploma Maior.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N.643.978-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MINISTÉRIO PÚBLICO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
CABIMENTO PARA A VEICULAÇÃO PRETENSÃO QUE ENVOLVA O FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO (FGTS).

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INTERPRETAÇÃO DO ART. 1º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 7.347/85 EM FACE DA DISPOSIÇÃO DO ART. 129, III, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA.
1. Possui repercussão geral a questão relativa à legitimidade do Ministério Público para a propositura de ação civil pública que veicule pretensão
envolvendo o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
2. Repercussão geral reconhecida.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 683.621-RS
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
APOSENTADORIA DE EX-COMBATENTE – CONVERSÃO – ARTIGO 53, INCISO V, DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS
TRANSITÓRIAS – REQUISITO DO TEMPO DE SERVIÇO EFETIVO – ALCANCE – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO
GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia acerca do alcance do inciso V do artigo 53 da Carta da República, considerada a
expressão “serviço efetivo, em qualquer regime jurídico”, a orientar a hipótese de conversão de aposentadoria especial de aeronauta, implementada
por meio da contagem de tempo ficto, em aposentadoria de ex-combatente.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 903.171-MG
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SERVIDOR PÚBLICO. ESTADO DE MINAS GERAIS. LEI ESTADUAL 18.975/2010.
ESTABELECIMENTO DO REGIME DE SUBSÍDIO, COM ACRÉSCIMO DE 5% (CINCO POR CENTO) AOS SERVIDORES A ELE
VINCULADOS. OPÇÃO PELO REGIME REMUNERATÓRIO ANTERIOR. DIREITO AO AUMENTO DE 5% (CINCO POR CENTO).
MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa ao direito dos servidores do Estado de Minas Gerais optantes do regime de pagamento anterior à Lei Estadual 18.975/10 ao
aumento de 5% (cinco por cento) por ela instituído, fundada na interpretação desse diploma normativo, possui natureza infraconstitucional.
2. É incabível, em sede de recurso extraordinário, a verificação, caso a caso, de decesso remuneratório decorrente de alteração no regime jurídico de
servidores públicos, já que necessária seria a reapreciação do conjunto fático-probatório dos autos (Súmula 279). A propósito, citem-se: ARE
790.203-AgR, Rel. Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, DJe de 19/8/2014; ARE 743.072-AgR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, DJe
de 24/6/2014; ARE 795.870-AgR, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, DJe de 23/5/2014; ARE 772.833-AgR, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe de 26/2/2014; RE 638.033-AgR, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, DJe de 3/2/2014; ARE
672.401-AgR, de minha relatoria, Segunda Turma, DJe de 18/9/2013; ARE 733.788-ED, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, DJe de
24/5/2013; AI 767.617-AgR, Rel. Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe de 17/9/2012; AI 820.444-AgR, Rel. Min. ELLEN GRACIE,
Segunda Turma, DJe de 18/5/2011.
3. O Plenário do Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que é possível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão
geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando eventual ofensa à Constituição Federal ocorra de forma indireta ou reflexa (RE
584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
4. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 906.569-PE


RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL.
CONVERSÃO DO TEMPO DE SERVIÇO. CARACTERIZAÇÃO DA ESPECIALIDADE DO LABOR. ARTIGOS 57 E 58 DA LEI 8.213/91.
1. A avaliação judicial de critérios para a caracterização da especialidade do labor, para fins de reconhecimento de aposentadoria especial ou de
conversão de tempo de serviço, conforme previsão dos artigos 57 e 58 da Lei 8.213/91, é controvérsia que não apresenta repercussão geral, o que
inviabiliza o processamento do recurso extraordinário, nos termos do art. 543-A, §5º, do Código de Processo Civil.
2. O juízo acerca da especialidade do labor depende necessariamente da análise fático-probatória, em concreto, de diversos fatores, tais como o
reconhecimento de atividades e agentes nocivos à saúde ou à integridade física do segurado; a comprovação de efetiva exposição aos referidos
agentes e atividades; apreciação jurisdicional de laudos periciais e demais elementos probatórios; e a permanência, não ocasional nem intermitente, do
exercício de trabalho em condições especiais. Logo, eventual divergência ao entendimento adotado pelo Tribunal de origem, em relação à
caracterização da especialidade do trabalho, demandaria o reexame de fatos e provas e o da legislação infraconstitucional aplicável à espécie.
INEXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
Decisões Publicadas: 9

CLIPPING DO DJE
21 a 25 de setembro de 2015

EMB. DECL. NOS EMB. DIV. NOS EMB. DECL. NO SEGUNDO AG. REG. NO AI N.621.124-RJ
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NO SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. RAZÕES RECURSAIS DISSOCIADAS DA FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO
RECORRIDA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL. INOCORRÊNCIA.
1. A orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que os embargos declaratórios opostos, com caráter infringente,
objetivando a reforma da decisão do relator, devem ser conhecidos como agravo regimental (MI 823-ED-segundos, Rel. Min. Celso de Mello; Rcl
11.022-ED, Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia; ARE 680.718-ED, Rel. Min. Luiz Fux).
2. As razões recursais não guardam pertinência com a fundamentação da decisão impugnada, que, portanto, permanece incólume.
3. Ademais, não é possível falar em extinção da punibilidade pela prescrição, uma vez que não transcorreu prazo superior a 12 anos entre os marcos
interruptivos previstos nos incisos do art. 117 do Código Penal.
4. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental a que se nega provimento, com determinação de baixa imediata dos autos à origem.
AG. REG. NA AR N. 1.798-PE
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
AÇÃO RESCISÓRIA – OBJETO – DECISÃO DE MERITO – AUSÊNCIA. A ausência de apreciação do mérito direciona à negativa de seguimento
ao pedido formulado na rescisória.

Informativo 800-STF (01/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


AG. REG. NO AI N. 692.541-SP
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. MEIO
AMBIENTE. IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA
SEPARAÇÃO DOS PODERES.
1. O Supremo Tribunal Federal já assentou ser possível ao Judiciário, em situações excepcionais, determinar ao Poder Executivo a implementação de
políticas públicas para garantir direitos constitucionalmente assegurados, sem que isso implique ofensa ao princípio da separação dos Poderes.
Precedentes.
2. O acórdão do Tribunal de origem está devidamente fundamentado, embora em sentido contrário aos interesses da parte agravante.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
EMB. DECL. NOS EMB. DECL. NO AG. REG. NO RE N. 806.436-SP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. CRIAÇÃO DE CARGOS EM COMISSÃO. AUSÊNCIA DA DESCRIÇÃO DAS
ATRIBUIÇÕES CORRESPONDENTES. IMPOSSIBILIDADE. OBSCURIDADE. CONTRADIÇÃO OU OMISSÃO. INEXISTÊNCIA.
INTUITO PROCRASTINATÓRIO. BAIXA IMEDIATA À ORIGEM. PRECEDENTES. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NÃO
CONHECIDOS.
AG. REG. EM MS N. 27.427-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUNAL DE CONTAS
DA UNIÃO. DIPLOMATA. RECEBIMENTO DE AUXÍLIO MORADIA NO PERÍODO DE OCUPAÇÃO DO POSTO DE CÔNSUL-GERAL EM
LOCALIDADE NA QUAL POSSUÍA IMÓVEL PRÓPRIO. OBRIGAÇÃO DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO, ALÉM DE PAGAMENTO DE
MULTA, DETERMINADA EM TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. CITAÇÃO POR MEIO DE CARTA REGISTRADA, COM AVISO DE
RECEBIMENTO. LEGALIDADE. PRECEDENTES. INSTAURAÇÃO DO PROCEDIMENTO POR CONTA DE NOTÍCIAS VEICULADAS NA
IMPRENSA SOBRE POSSÍVEIS DANOS AO ERÁRIO CAUSADOS PELO IMPETRANTE. LEGALIDADE. INDEPENDÊNCIA DAS
ATRIBUIÇÕES DO TCU E DA AUTORIDADE RESPONSÁVEL PELO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PRECEDENTES.
IRRELEVÂNCIA DO FATO DE O PAD TER SIDO ANULADO POR MOTIVO DE VÍCIO FORMAL.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
*noticiado no Informativo 798
Acórdãos Publicados: 476

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Colaboração Premiada – Restrições - Sigilo – Acesso do Investigado (Transcrições)


(v. Informativo 800)
Pet. 5.700/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Melo
EMENTA: 1. O pedido do Procurador-Geral da República. 2. Os fatos alegadamente delituosos. 3. A colaboração premiada, que não é
meio de prova, acha-se legalmente disciplinada como instrumento de obtenção de dados e subsídios informativos. Valor e restrição
concernentes ao depoimento do agente colaborador. O “Caso Enzo Tortoza” na Itália: um clamoroso erro judiciário. 4. A investigação
penal como dever jurídico e resposta legítima do Estado à “notitia criminis”: o investigado como sujeito de direitos e titular de garantias
oponíveis ao Estado. 5. A presunção constitucional de inocência não cessa nem deixa de prevalecer em face da instauração de investigação
penal e/ou de processo criminal. 6. Regime de sigilo e direito do investigado (e de seu Advogado) de conhecimento e acesso aos elementos
de informação constantes dos autos, inclusive ao depoimento do agente colaborador. O princípio da comunhão da prova. 7.
Desmembramento da investigação criminal em relação aos que não dispõem de prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal. 8.
Autorização para abertura de inquéritos individualizados em relação a Senador da República e a Ministro de Estado e deferimento de
outros pedidos.
DECISÃO: 1. O pedido do Procurador-Geral da República
O eminente Procurador-Geral da República, em face do depoimento de ** prestado em 29/05/2015, constante do Termo de Colaboração nº
29 resultante do regime de colaboração premiada disciplinado na Lei nº 12.850/2013, por vislumbrar a ocorrência de condutas que, em tese,
caracterizariam, “pelo menos, e em regime inicial de apuração” (fls. 51), a suposta prática do crime eleitoral de falsidade ideológica (Código
Eleitoral, art. 350) e do delito de lavagem de dinheiro (Lei nº 9.613/98, art. 1º, § 1º, inciso I), requer “a instauração de inquéritos –
individualizados – para aprofundar a investigação dos fatos” (fls. 52) nos quais poderiam estar alegadamente envolvidos o Senador ** e o Ministro
de Estado **.
O Chefe do Ministério Público da União também requer a separação da presente investigação penal, caso determinada a instauração dos
inquéritos em referência, de tal modo que remanesçam, nesta Corte Suprema, apenas os procedimentos investigatórios contra as autoridades
detentoras de prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal, ordenando-se a extração de cópias e a posterior remessa de todas as peças à
Justiça Eleitoral de São Paulo (Capital) e de Minas Gerais (Belo Horizonte) para apuração dos fatos concernentes, respectivamente, a ** e a **
(São Paulo) e a ** (Minas Gerais).
2. Os fatos alegadamente delituosos

Informativo 800-STF (01/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


O Senhor Procurador-Geral da República, tendo por fundamento as declarações prestadas pelo agente colaborador (fls. 05/12) e delas
inferindo possível ocorrência de fatos criminosos eventualmente imputáveis, quanto à sua autoria, aos ora requeridos, assim justificou, no ponto, o
pedido de instauração de Inquérito (fls. 40 e 50/52):
“II. Dos fatos especificamente relacionados ao caso concreto
Foi no contexto de sua colaboração premiada que **, sócio majoritário do grupo empresarial UTC e réu em ação penal proposta em
razão dos fatos ilícitos desvendados no contexto da investigação criminal que se denominou ‘Caso Lava Jato’, declinou
‘complementarmente’ fatos criminosos que foram praticados, em princípio, também por políticos com prerrogativa de foro no STF mas sem
correlação, até onde se sabe no presente momento, com as fraudes da Petrobras.
…...................................................................................................
No âmbito da competência do Supremo Tribunal Federal, tal como realizado em relação a todos os demais casos, há indicativos
objetivos ‘mínimos’ que, mediante recebimento em dinheiro não declarado para fins de campanha e sua respectiva ocultação, apontam para
a prática, em tese, pelo menos, dos delitos previstos nos arts. 350 do Código Eleitoral e art. 1º, § 1º, I, da Lei n. 9.613 (na redação da Lei
12.683/2012) por ** e **, nos moldes em que narrado pelo colaborador.
Com efeito, em relação a ambos, o colaborador deixou bastante expresso (com alguma riqueza de detalhes suficientes para a
instauração formal de inquérito) que houve solicitação e pagamento de doações em ‘dinheiro’ (sem contabilização), com ulterior possível
ocultação, e que ambos os parlamentares estavam presentes em reuniões e, se pelo menos não expressamente requereram (o que demandará
apuração), assentiram na solicitação por intermédio de seus representantes de campanhas.
III. Fundamentos
Com o recebimento dos valores para fins de campanha eleitoral não-contabilizados, as condutas noticiadas acima podem
caracterizar, pelo menos, e em regime inicial de apuração, os crimes previstos no art. 350 do Código Eleitoral e no art. 1º, § 1º, I, da Lei
9.613:
‘Art. 350. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins eleitorais:
Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa, se o documento é público, e reclusão até três anos e
pagamento de 3 a 10 dias-multa, se o documento é particular.

Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou
valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012).
[...] § 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de
infração penal: (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
I - os converte em ativos lícitos;’
Desta forma, diante da notícia de infrações em que a iniciativa da ação é pública incondicionada, necessária a instauração de
inquéritos – individualizados – para aprofundar a investigação dos fatos.” (grifei)
3. A colaboração premiada, que não é meio de prova, acha-se legalmente disciplinada como instrumento de obtenção de dados e subsídios
informativos. Valor e restrição concernentes ao depoimento do agente colaborador. O “Caso Enzo Tortoza” na Itália: um clamoroso erro
judiciário
Registro, inicialmente, que o instituto da colaboração premiada, especialmente nos termos em que disciplinado pela Lei nº 12.850/2013
(arts. 4º a 7º), vem sendo reconhecido, por esta Suprema Corte, com apoio no magistério doutrinário (VALDOIR BERNARDI DE FARIAS,
“Delação Premiada: constitucionalidade, aplicabilidade e valoração”, p. 135/158, 153, “in” “Temas Contemporâneos de Direito”, org. por José
Carlos Kraemer Bortoloti e Luciane Drago Amaro, 2009, Méritos Editora, v.g.), como relevante instrumento de obtenção de prova, e não como meio
de prova (HC 127.483/PR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Pleno), refletindo, em seu tratamento normativo, o que se delineou, no plano das relações
internacionais, na Convenção de Palermo (Artigo 26) e na Convenção de Mérida (Artigo 37), ambas subscritas pelo Brasil e formalmente já
incorporadas ao sistema de direito positivo interno de nosso País em virtude da promulgação, respectivamente, do Decreto nº 5.015/2004 e do
Decreto nº 5.687/2006.
Embora sofrendo críticas por parte de eminentes autores (CEZAR ROBERTO BITENCOURT e PAULO CÉSAR BUSATO, “Comentários
à Lei de Organização Criminosa”, p. 115/117, item n. 1, 2014, Saraiva; RÔMULO DE ANDRADE MOREIRA, “A Delação no Direito
Brasileiro”, v.g.), o fato é que a Lei nº 12.850/2013 “(...) traz aspectos positivos ao garantir ao delatado maior possibilidade de questionar o
depoimento do delator, ao buscar diminuir a possibilidade de erro judiciário vedando-se condenação com fundamento exclusivo em delação, ao
procurar garantir a integridade física do colaborador e ao regulamentar o acordo de colaboração, o que antes inexistia”, tal como assinalam
ROBERTO DELMANTO, ROBERTO DELMANTO JUNIOR e FABIO M. DE ALMEIDA DELMANTO (“Leis Penais Especiais Comentadas”,
p. 1.003/1.051, 1.031, 2ª ed., 2014, Saraiva – grifei), cuja lição, no entanto, ainda que reconhecendo a eficácia desse instituto “na apuração de
gravíssimos crimes”, não deixa de questionar-lhe os aspectos no plano ético.
Sendo esse o contexto, passo a apreciar o pleito formulado pelo Senhor Procurador-Geral da República, fazendo, no entanto, algumas
considerações que reputo essenciais ao exame do tema pertinente ao regime de colaboração premiada, tendo em vista o fato de que a pretendida
instauração de inquérito, no caso, fundamenta-se, precisamente, em depoimento prestado por agente colaborador.
Como se sabe, o Supremo Tribunal Federal tem admitido a utilização do instituto da colaboração premiada (cujo “nomen juris” anterior era
o de delação premiada), ressalvando, no entanto, bem antes do advento da Lei nº 12.850/2013 (art. 4º, § 16), que nenhuma condenação penal
poderá ter por único fundamento as declarações do agente colaborador (HC 94.034/SP, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – RE 213.937/PA, Rel. Min.
ILMAR GALVÃO, v.g.):
“PROVA – DELAÇÃO – VALIDADE. Mostra-se fundamentado o provimento judicial quando há referência a depoimentos que
respaldam delação de co-réus. Se, de um lado, a delação, de forma isolada, não respalda condenação, de outro, serve ao convencimento
quando consentânea com as demais provas coligidas.”
(HC 75.226/MS, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – grifei)
O aspecto que venho de ressaltar – impossibilidade de condenação penal com suporte unicamente em depoimento prestado pelo agente
colaborador, tal como acentua a doutrina (EDUARDO ARAÚJO DA SILVA, “Organizações Criminosas: aspectos penais e processuais da Lei
nº 12.850/13”, p. 71/74, item n. 3.6, 2014, Atlas, v.g.) – constitui importante limitação de ordem jurídica que, incidindo sobre os poderes do Estado,
objetiva impedir que falsas imputações dirigidas a terceiros “sob pretexto de colaboração com a Justiça” possam provocar inaceitáveis erros
judiciários, com injustas condenações de pessoas inocentes.
Na realidade, o regime de colaboração premiada, definido pela Lei nº 12.850/2013, estabelece mecanismos destinados a obstar abusos que
possam ser cometidos por intermédio da ilícita utilização desse instituto, tanto que, além da expressa vedação já referida (“lex. cit.”, art. 4º, § 16),
o diploma legislativo em questão também pune como crime, com pena de 1 a 4 anos de prisão e multa, a conduta de quem imputa “falsamente,

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sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente” ou daquele que revela “informações sobre a
estrutura de organização criminosa que sabe inverídicas” (art. 19).
Com tais providências, o legislador brasileiro procurou neutralizar, em favor de quem sofre a imputação emanada de agente colaborador, os
mesmos efeitos perversos da denunciação caluniosa revelados, na experiência italiana, pelo “Caso Enzo Tortoza” (na década de 80), de que resultou
clamoroso erro judiciário, porque se tratava de pessoa inocente, injustamente delatada por membros de uma organização criminosa napolitana
(“Nuova Camorra Organizzata”) que, a pretexto de cooperarem com a Justiça (e de, assim, obterem os benefícios legais correspondentes),
falsamente incriminaram Enzo Tortoza, então conhecido apresentador de programa de sucesso na RAI (“Portobello”).
Mais do que isso, cumpre ter presente, ainda, a correta observação feita pelo eminente Ministro TEORI ZAVASCKI no julgamento do HC
127.186/PR, de que foi Relator, ocasião em que expendeu considerações relevantes em torno do instituto da colaboração premiada, advertindo,
com absoluta procedência, com fundamento na legislação pertinente (Lei nº 12.850/2013, art. 4º, “caput” e § 6º), que “seria extrema arbitrariedade
(...) manter a prisão preventiva [de alguém] como mecanismo para extrair do preso uma colaboração premiada, que, segundo a lei, deve ser
voluntária” (grifei), concluindo, com inteiro acerto, que “Subterfúgio dessa natureza, além de atentatório aos mais fundamentais direitos
consagrados na Constituição, constituiria medida medievalesca que cobriria de vergonha qualquer sociedade civilizada” (grifei).
Registre-se, de outro lado, por necessário, que o Estado não poderá utilizar-se da denominada “corroboração recíproca ou cruzada”, ou seja,
não poderá impor condenação ao réu pelo fato de contra este existir, unicamente, depoimento de agente colaborador que tenha sido confirmado,
tão somente, por outros delatores, valendo destacar, quanto a esse aspecto, a advertência do eminente Professor GUSTAVO BADARÓ (“O Valor
Probatório da Delação Premiada: sobre o § 16 do art. 4º da Lei nº 12.850/2013”):
“A título de conclusão, podem ser formulados os seguintes enunciados:
A regra do § 16 do art. 4º da Lei 12.850/13 aplica-se a todo e qualquer regime jurídico que preveja a delação premiada.
O § 16 do art. 4º da Lei 12.850/13, ao não admitir a condenação baseada exclusivamente nas declarações do delator, implica uma
limitação ao livre convencimento, como técnica de prova legal negativa.
É insuficiente para o fim de corroboração exigido pelo § 16 do art. 4º da Lei 12.850/13 que o elemento de confirmação de uma
delação premiada seja outra delação premiada, de um diverso delator, ainda que ambas tenham conteúdo concordante.
Caso o juiz fundamente uma condenação apenas com base em declarações do delator, terá sido contrariado o § 16 do art. 4º da Lei
12.850/13 (...).” (grifei)
4. A investigação penal como dever jurídico e resposta legítima do Estado à “notitia criminis”: o investigado como sujeito de direitos e
titular de garantias oponíveis ao Estado
Feitas tais considerações, passo a examinar o pedido formulado pelo eminente Procurador-Geral da República, que pretende a instauração
de inquéritos policiais, separados e individualizados, em relação ao Senador ** e ao Ministro de Estado **.
É certo que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem reconhecido que a mera instauração de inquérito policial, só por si, não
constitui situação caracterizadora de injusto constrangimento, mesmo porque se impõe ao Poder Público, nos delitos perseguíveis mediante ação
penal pública incondicionada, adotar as providências necessárias ao integral esclarecimento da prática delituosa.
Por tal razão, firmou-se, nesta Suprema Corte, orientação jurisprudencial no sentido de que “a simples apuração da ‘notitia criminis’ não
constitui constrangimento ilegal a ser corrigido pela via do ‘habeas corpus’” (RTJ 78/138).
É por tal motivo que a não realização da investigação penal (quer por recusa de sua instauração, quer por sua extinção ou trancamento) só
se justificará, excepcionalmente, na linha da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RT 742/533 – RT 747/597 – RT 749/565 – RT 753/507 –
RTJ 168/498-499, v.g.), se os fatos puderem, desde logo, evidenciar-se como “inexistentes ou não configurantes, em tese, de infração penal” (RT
620/368), pois – insista-se –, havendo suspeita de crime, e existindo elementos idôneos de informação que autorizem a investigação penal do
episódio delituoso, tornar-se-á essencial proceder à ampla apuração dos fatos, satisfazendo-se, desse modo, com a legítima instauração do
pertinente inquérito, a um imperativo inafastável fundado na necessidade ético-jurídica de sempre se promover a busca da verdade real, tal como
tem sido decidido por esta Suprema Corte (RTJ 181/1039-1040, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
Esse entendimento – que se reflete na jurisprudência dos Tribunais (RT 590/450 – RT 598/321 – RT 603/365 – RT 610/321 – RT 639/296-
297 – RT 729/590) – também encontra apoio em autorizado magistério doutrinário, como se vê da lição de JULIO FABBRINI MIRABETE
(“Código de Processo Penal Interpretado”, p. 1.424, item n. 648.2, 7ª ed., 2000, Atlas):
“Em regra, o ‘habeas corpus’ não é meio para trancar inquérito policial, porque, para a instauração do procedimento inquisitório,
basta haver elementos indicativos da ocorrência de fato que, em tese, configura ilícito penal, e indícios que apontem determinada pessoa ou
determinadas pessoas como participantes do fato típico e antijurídico. Se os fatos configuram crime em tese, o inquérito policial não pode
ser trancado por falta de justa causa.” (grifei)
Os presentes autos noticiam fatos que, em tese, poderiam configurar práticas delituosas cuja materialidade e autoria estão a reclamar ampla
investigação destinada a produzir elementos e subsídios informativos consistentes, com o objetivo de apurar, em face do contexto em exame, a
realidade dos eventos referidos na “notitia criminis” veiculada no depoimento de agente colaborador (**, no caso).
As circunstâncias expostas no depoimento que venho de mencionar, que evidenciariam a suposta ocorrência de práticas delituosas
perseguíveis mediante ação penal pública incondicionada, tornam indispensável, em sede de regular “informatio delicti”, o aprofundamento da
investigação dos delitos noticiados (crime eleitoral de falsidade ideológica e delito de lavagem de dinheiro).
A investigação penal, em contexto como o ora referido, traduz incontornável dever jurídico do Estado e constitui, por isso mesmo, resposta
legítima do Poder Público ao que se contém na “notitia criminis”.
A indisponibilidade da pretensão investigatória do Estado impede que os órgãos públicos competentes ignorem aquilo que se aponta na
“notitia criminis”, motivo pelo qual se torna imprescindível a apuração dos fatos delatados, com o consequente e necessário aprofundamento da
investigação estatal.
É por tal razão – observa RENATO BRASILEIRO DE LIMA (“Curso de Processo Penal”, p. 86/87, item n. 6.7, 2003, Impetus) – que, “Ao
tomar conhecimento de notícia de crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial é obrigada a agir de ofício, independentemente
de provocação da vítima e/ou qualquer outra pessoa. Deve, pois, instaurar o inquérito policial de ofício, nos exatos termos do art. 5º, I, do CPP,
procedendo, então, às diligências investigatórias no sentido de obter elementos de informação quanto à infração penal e sua autoria. Para a
instauração do inquérito policial, basta a notícia de fato formalmente típico (...)”.
O significado e a importância da “notitia criminis” – cabe relembrar – vêm ressaltado no magistério de eminentes doutrinadores, que nela
vislumbram um expressivo meio justificador da instauração da investigação penal, pois, transmitido às autoridades públicas o conhecimento de
suposta prática delituosa perseguível mediante ação penal pública incondicionada, a elas incumbe, por dever de ofício, promover a concernente
apuração da materialidade e da autoria dos fatos e eventos alegadamente transgressores do ordenamento penal (JOSÉ FREDERICO MARQUES,
“Elementos de Direito Processual Penal”, vol. I/107-114, itens ns. 70-74, e vol. II/124, item n. 312, 3ª atualização, 2009, Millennium; EDILSON
MOUGENOT BONFIM, “Código de Processo Penal Anotado”, p. 53/57, 3ª ed., 2010, Saraiva; EUGÊNIO PACELLI DE OLIVEIRA, “Curso de
Processo Penal”, p. 39/42, item n. 4.1, 9ª ed., 2008, Lumen Juris; DENILSON FEITOZA, “Direito Processual Penal – Teoria, Crítica e Práxis”, p.
178, item n. 5.7, 6ª ed., 2009, Impetus; RENATO BRASILEIRO DE LIMA, “Curso de Processo Penal”, p. 92/93, item n. 8, 2013, Impetus; E.
MAGALHÃES NORONHA, “Curso de Direito Processual Penal”, p. 18/19, item n. 8, 19ª ed., 1989, Saraiva; FERNANDO CAPEZ e RODRIGO

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COLNAGO, “Código de Processo Penal Comentado”, p. 24, 2015, Saraiva; CARLOS FREDERICO COELHO NOGUEIRA, “Comentários ao
Código de Processo Penal”, vol. 1/187-193, itens ns. 55-58, 2002, Edipro; JULIO FABBRINI MIRABETE, “Processo Penal”, p. 64/68, item n. 3.3,
18ª ed., 2008, Atlas, v.g.).
O pleito de abertura de investigação penal formulado pelo eminente Procurador-Geral da República, por referir-se a crimes perseguíveis
mediante ação penal pública incondicionada, resulta, precisamente, do que venho de expor: o dever jurídico do Estado de promover a apuração da
autoria e materialidade dos fatos delituosos narrados por “qualquer pessoa do povo”, inclusive aqueles delatados por agentes colaboradores, como
na espécie.
5. A presunção constitucional de inocência não cessa nem deixa de prevalecer em face da instauração de investigação penal e/ou de processo
criminal
Cabe registrar, no ponto, por oportuno e necessário, que a mera instauração de inquérito, tanto quanto a abertura de processo penal em
juízo, não afetam a presunção constitucional de inocência, eis que qualquer pessoa, sem exceção, presume-se inocente, independentemente da
natureza e da gravidade dos crimes cuja prática lhe tenha sido imputada, subsistindo essa presunção de inocência, que tem fundamento na própria
Constituição da República (CF, art. 5º, LVII), até que sobrevenha o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Há, portanto, um momento claramente definido no texto constitucional a partir do qual se descaracteriza a presunção de inocência,
vale dizer, aquele instante em que sobrevém o trânsito em julgado da condenação criminal. Antes desse momento – insista-se –, o Estado não
pode tratar os indiciados ou réus como se culpados fossem. A presunção de inocência impõe, desse modo, ao Poder Público um dever de
tratamento que não pode ser desrespeitado por seus agentes e autoridades, tal como tem advertido a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:
“O POSTULADO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA IMPEDE QUE O ESTADO TRATE, COMO SE
CULPADO FOSSE, AQUELE QUE AINDA NÃO SOFREU CONDENAÇÃO PENAL IRRECORRÍVEL.
– A prerrogativa jurídica da liberdade – que possui extração constitucional (CF, art. 5º, LXI e LXV) – não pode ser ofendida por
interpretações doutrinárias ou jurisprudenciais que, fundadas em preocupante discurso de conteúdo autoritário, culminam por consagrar,
paradoxalmente, em detrimento de direitos e garantias fundamentais proclamados pela Constituição da República, a ideologia da lei e da
ordem.
Mesmo que se trate de pessoa acusada da suposta prática de crime hediondo, e até que sobrevenha sentença penal condenatória
irrecorrível, não se revela possível – por efeito de insuperável vedação constitucional (CF, art. 5º, LVII) – presumir-lhe a culpabilidade.
Ninguém pode ser tratado como culpado, qualquer que seja a natureza do ilícito penal cuja prática lhe tenha sido atribuída, sem que
exista, a esse respeito, decisão judicial condenatória transitada em julgado.
O princípio constitucional da presunção de inocência, em nosso sistema jurídico, consagra, além de outras relevantes conseqüências,
uma regra de tratamento que impede o Poder Público de agir e de se comportar, em relação ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao
réu, como se estes já houvessem sido condenados, definitivamente, por sentença do Poder Judiciário. Precedentes.”
(HC 96.095/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
De outro lado, a presunção de inocência, enquanto limitação constitucional ao poder do Estado, faz recair sobre o órgão da acusação,
agora de modo muito mais intenso, o ônus substancial da prova, fixando diretriz a ser indeclinavelmente observada pelo magistrado e pelo
legislador.
É preciso sempre relembrar, por isso mesmo, a advertência, constante do magistério jurisprudencial desta Suprema Corte, no sentido de que
não compete ao réu demonstrar a sua inocência. Antes, cabe ao Ministério Público comprovar, de forma inequívoca, em plenitude, para além de
qualquer dúvida razoável, a culpabilidade do acusado (RTJ 161/264-266, Rel. Min. CELSO DE MELLO).
O fato indiscutivelmente relevante, no domínio processual penal, é que, no âmbito de uma formação social organizada sob a égide do
regime democrático, não se justifica a formulação, seja por antecipação ou seja por presunção, de qualquer juízo condenatório, que deve, sempre,
respeitada, previamente, a garantia do devido processo, assentar-se – para que se qualifique como ato revestido de validade ético-jurídica – em
elementos de certeza, os quais, ao dissiparem ambiguidades, ao esclarecerem situações equívocas e ao desfazerem dados eivados de obscuridade,
revelam-se capazes de informar, com objetividade, o órgão judiciário competente, afastando, desse modo, dúvidas razoáveis, sérias e fundadas em
torno da culpabilidade do acusado.
Meras conjecturas – que sequer podem conferir suporte material a qualquer acusação penal – não se revestem, em sede processual
penal, de idoneidade jurídica. Não se pode – tendo-se presente a presunção constitucional de inocência dos réus – atribuir relevo e eficácia a
juízos meramente conjecturais, para, com fundamento neles, apoiar um inadmissível decreto condenatório e deste extrair, sem que ocorra o
respectivo trânsito em julgado, consequências de índole penal ou extrapenal compatíveis, no plano jurídico, unicamente com um título judicial
qualificado pela nota da definitividade.
É sempre importante advertir, na linha do magistério jurisprudencial e em respeito aos princípios estruturantes do regime democrático, que,
“Por exclusão, suspeita ou presunção, ninguém pode ser condenado em nosso sistema jurídico-penal” (RT 165/596, Rel. Des. VICENTE DE
AZEVEDO – grifei).
Na realidade, os princípios democráticos que informam o modelo constitucional consagrado na Carta Política de 1988 repelem qualquer
comportamento estatal que transgrida o dogma de que não haverá culpa penal por presunção nem responsabilidade criminal por mera suspeita (RT
690/390 – RT 698/452-454).
É por essa razão que a jurisprudência desta Suprema Corte enfatiza, com particular veemência, que “Não podem repercutir contra o réu
situações jurídico-processuais ainda não definidas por decisão irrecorrível do Poder Judiciário, especialmente naquelas hipóteses de inexistência
de título penal condenatório definitivamente constituído” (RTJ 139/885, Rel. Min. CELSO DE MELLO).
6. Regime de sigilo e direito do investigado (e de seu Advogado) de conhecimento e acesso aos elementos de informação constantes dos autos,
inclusive ao depoimento do agente colaborador. O princípio da comunhão da prova
Examino, agora, o pedido de acesso aos autos formulado pelo Senador **, protocolado, nesta Corte, sob o nº 0045850/2015.
A postulação em causa, que tem suporte jurídico na Súmula Vinculante nº 14/STF, mostra-se acolhível, pois, mesmo tratando-se de
procedimento em regime de sigilo, instaurado com apoio em depoimento prestado por agente colaborador na forma da Lei nº 12.850/2013, revela-
se plenamente legítima a pretensão de acesso aos autos daquele cuja suposta participação em alegada prática delituosa constitui objeto da delação
manifestada ao Ministério Público e/ou à Polícia Judiciária, cabendo ao Poder Judiciário garantir-lhe a possibilidade de conhecimento das peças
(inclusive das declarações do agente colaborador) a ele referentes.
Ao assim decidir, garantindo ao delatado, por intermédio de seu Advogado, o direito ao pleno conhecimento dos dados informativos já
formalmente incorporados aos autos, faço-o com apoio em precedentes desta Corte, alguns, inclusive, firmados em casos de que fui Relator:
“RECLAMAÇÃO. DESRESPEITO AO ENUNCIADO CONSTANTE DA SÚMULA VINCULANTE Nº 14/STF. PERSECUÇÃO
PENAL AINDA NA FASE DE INVESTIGAÇÃO POLICIAL. REGIME DE SIGILO. INOPONIBILIDADE AO ADVOGADO
CONSTITUÍDO PELO INDICIADO OU PELO RÉU. DIREITO DE DEFESA. COMPREENSÃO GLOBAL DA FUNÇÃO DEFENSIVA.
GARANTIA CONSTITUCIONAL. PRERROGATIVA PROFISSIONAL DO ADVOGADO (LEI Nº 8.906/94, ART. 7º, INCISOS XIII E
XIV). CONSEQUENTE ACESSO AOS ELEMENTOS PROBATÓRIOS JÁ DOCUMENTADOS, PRODUZIDOS E FORMALMENTE
INCORPORADOS AOS AUTOS DA PERSECUÇÃO PENAL (INQUÉRITO POLICIAL OU PROCESSO JUDICIAL) OU A ESTES

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REGULARMENTE APENSADOS. POSTULADO DA COMUNHÃO OU DA AQUISIÇÃO DA PROVA. PRECEDENTES (STF).
DOUTRINA. MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA.
– O sistema normativo brasileiro assegura ao Advogado regularmente constituído pelo indiciado (ou pelo réu) o direito de pleno
acesso aos autos de persecução penal, mesmo que sujeita, em juízo ou fora dele, a regime de sigilo (necessariamente excepcional), limitando-
se, no entanto, tal prerrogativa jurídica às provas já produzidas e formalmente incorporadas ao procedimento investigatório, excluídas,
consequentemente, as informações e providências investigatórias ainda em curso de execução e, por isso mesmo, não documentadas no
próprio inquérito ou processo judicial. Precedentes. Doutrina.”
(Rcl 18.399-MC/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Não se pode desconhecer, considerado o modelo constitucional vigente em nosso País, que qualquer pessoa sujeita a medidas de
investigação penal qualifica-se como sujeito de direitos, dispondo, nessa condição, mesmo na fase pré-processual, de garantias plenamente
oponíveis ao poder do Estado (RTJ 168/896-897, Rel. Min. CELSO DE MELLO), pois – não constitui demasia reafirmá-lo – “A unilateralidade da
investigação penal não autoriza que se desrespeitem as garantias básicas de que se acha investido, mesmo na fase pré-processual, aquele que sofre,
por parte do Estado, atos de persecução criminal” (RTJ 200/300, Rel. Min. CELSO DE MELLO).
É sempre importante relembrar que essa prerrogativa da pessoa sob investigação também encontra fundamento no postulado da comunhão
da prova, cuja eficácia projeta-se e incide sobre todos os dados informativos que, concernentes à “informatio delicti”, compõem o acervo probatório
coligido pelas autoridades e agentes estatais.
Esse postulado assume inegável importância no plano das garantias de ordem jurídica reconhecidas ao investigado e ao réu, pois, como se
sabe, o princípio da comunhão (ou da aquisição) da prova assegura ao que sofre persecução penal – ainda que submetida esta ao regime de sigilo
– o direito de conhecer os elementos de informação já existentes nos autos e cujo teor possa ser, eventualmente, de seu interesse, quer para efeito
de exercício da autodefesa, quer para desempenho da defesa técnica.
É que a prova penal, uma vez regularmente introduzida no procedimento persecutório, não pertence a ninguém, mas integra os autos do
respectivo inquérito ou processo, constituindo, desse modo, acervo plenamente acessível a todos quantos sofram, em referido procedimento
sigiloso, atos de persecução penal por parte do Estado.
Essa compreensão do tema – cabe ressaltar – é revelada por autorizado magistério doutrinário (ADALBERTO JOSÉ Q. T. DE CAMARGO
ARANHA, “Da Prova no Processo Penal”, p. 31, item n. 3, 3ª ed., 1994, Saraiva; DANIEL AMORIM ASSUMPÇÃO NEVES, “O Princípio da
Comunhão da Prova”, “in” Revista Dialética de Direito Processual (RDDP), vol. 31/19-33, 2005; FERNANDO CAPEZ, “Curso de Processo
Penal”, p. 259, item n. 17.7, 7ª ed., 2001, Saraiva; MARCELLUS POLASTRI LIMA, “A Prova Penal”, p. 31, item n. 2, 2ª ed., 2003, Lumen Juris,
v.g.), valendo referir, por extremamente relevante, a lição expendida por JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA (“O Juiz e a Prova”, “in” Revista
de Processo, nº 35, Ano IX, abril/junho de 1984, p. 178/184):
“E basta pensar no seguinte: se a prova for feita, pouco importa a sua origem. (…). A prova do fato não aumenta nem diminui de
valor segundo haja sido trazida por aquele a quem cabia o ônus, ou pelo adversário. A isso se chama o ‘princípio da comunhão da prova’: a
prova, depois de feita, é comum, não pertence a quem a faz, pertence ao processo; pouco importa sua fonte, pouco importa sua
proveniência. (…).” (grifei)
Cumpre rememorar, ainda, ante a sua inteira pertinência, o magistério de PAULO RANGEL (“Direito Processual Penal”, p. 411/412,
item n. 7.5.1, 8ª ed., 2004, Lumen Juris):
“A palavra comunhão vem do latim ‘communione’, que significa ato ou efeito de comungar, participação em comum em crenças,
idéias ou interesses. Referindo-se à prova, portanto, quer-se dizer que a mesma, uma vez no processo, pertence a todos os sujeitos
processuais (partes e juiz), não obstante ter sido levada apenas por um deles. (…).
O princípio da comunhão da prova é um consectário lógico dos princípios da verdade real e da igualdade das partes na relação
jurídico-processual, pois as partes, a fim de estabelecer a verdade histórica nos autos do processo, não abrem mão do meio de prova levado
para os autos.
(…) Por conclusão, os princípios da verdade real e da igualdade das partes na relação jurídico-processual fazem com que as provas
carreadas para os autos pertençam a todos os sujeitos processuais, ou seja, dão origem ao princípio da comunhão das provas.” (grifei)
É por tal razão que se impõe assegurar ao Advogado, em nome de seu constituinte, o acesso a toda informação já produzida e formalmente
incorporada aos autos da investigação penal em causa, mesmo porque o conhecimento do acervo probatório pode revestir-se de particular relevo
para a própria elaboração da defesa técnica por parte do interessado.
É fundamental, no entanto, para o efeito referido nesta decisão, que os elementos probatórios já tenham sido formalmente produzidos nos
autos da persecução penal.
O que não se revela constitucionalmente lícito, segundo entendo, é impedir que o interessado, qualquer interessado, tenha pleno acesso aos
dados probatórios que, já documentados nos autos (porque a estes formalmente incorporados ou a eles regularmente apensados), veiculam
informações que possam revelar-se úteis ao conhecimento da verdade real e à condução da defesa da pessoa investigada (como no caso) ou
processada pelo Estado, ainda que o procedimento de persecução penal esteja submetido a regime de sigilo.
O fato irrecusável, no exame da questão do acesso a procedimentos estatais em regime de sigilo – especialmente naqueles casos em que o
Estado se vale do instituto da colaboração premiada –, é um só: o delatado – como assinala a doutrina (FREDERICO VALDEZ PEREIRA,
“Delação Premiada – legitimidade e procedimento”, p. 124/125, item n. 4.2.3.1, 2013, Juruá) –, tem, constitucionalmente, o direito de confrontar,
em sede processual, o colaborador ou delator em razão da prerrogativa do contraditório, assegurada, em juízo, a quem sofre imputação penal
deduzida pelo Estado.
7. Desmembramento da investigação criminal em relação aos que não dispõem de prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal
O eminente Chefe do Ministério Público da União requer o desmembramento destes autos em relação àqueles que não detêm prerrogativa de
foro “ratione muneris” perante o Supremo Tribunal Federal (fls. 54/55).
Esse pleito do Chefe do Ministério Público da União encontra apoio no art. 80 do CPP, que autoriza a separação do feito presente motivo
relevante que torne conveniente a adoção de tal providência, como sucede nas hipóteses em que se registra pluralidade de investigados e/ou
denunciados (AP 366/AC, Rel. Min. GILMAR MENDES – AP 561/PE, Rel. Min. CELSO DE MELLO – Inq 1.720/RJ, Rel. Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE – Inq 1.741/MA, Rel. Min. CELSO DE MELLO – Inq 2.091/RR, Rel. Min. AYRES BRITTO – Pet 3.100/TO, Rel. Min. CARLOS
VELLOSO – Pet 3.838/RO, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, v.g.):
“I. – O fato de um dos co-réus ser Deputado Federal não impede o desmembramento do feito com base no art. 80 do Código de
Processo Penal.
II. – A possibilidade de separação dos processos quando conveniente à instrução penal é aplicável, também, em relação ao crime de
quadrilha ou bando (art. 288 do Código Penal).
III. – Agravos não providos.”
(AP 336-AgR/TO, Rel. Min. CARLOS VELLOSO, Pleno – grifei)

Informativo 800-STF (01/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


“INQUÉRITO. IMPUTAÇÃO DOS CRIMES DE PECULATO (ART. 312 DO CÓDIGO PENAL) E FRAUDE À LICITAÇÃO
(ART. 89 DA LEI 8.666/1993). DESMEMBRAMENTO EM RELAÇÃO AOS DENUNCIADOS QUE NÃO POSSUEM PRERROGATIVA
DE FORO. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento de que o desmembramento deve ser a regra, diante da
manifesta excepcionalidade do foro por prerrogativa de função, ressalvadas as hipóteses em que a separação possa causar prejuízo relevante.
Precedente.
.......................................................................................................
3. Agravo regimental a que se nega provimento.”
(Inq 2.671-AgR/AP, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI – grifei)
“– A cisão da causa penal, de caráter meramente facultativo, fundada em qualquer das hipóteses previstas no art. 80 do CPP (entre as
quais, a ocorrência de motivo relevante que torne conveniente a adoção de referida separação), pode efetivar-se, de modo legítimo, sempre a
critério do órgão judiciário competente, ainda que configurada, na espécie, a existência de vínculo de conexidade ou de relação de
continência e não obstante presentes, no procedimento persecutório, investigados detentores de prerrogativa de foro. Precedentes.”
(Inq 2.601-QO/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
8. Autorização para abertura de inquéritos individualizados em relação a Senador da República e a Ministro de Estado e deferimento de
outros pedidos
Sendo assim, e em face das razões expostas, defiro o pedido formulado pelo eminente Procurador-Geral da República e, em
consequência, determino:
(a) a instauração de inquérito em relação a **, “Com ulterior distribuição autônoma do feito no âmbito da competência do Supremo
Tribunal Federal” (fls. 54), preservado o regime de sigilo;
(b) a instauração de inquérito em relação a **, igualmente “Com ulterior distribuição autônoma do feito no âmbito da competência
do Supremo Tribunal Federal” (fls. 54), preservado o regime de sigilo;
(c) o desmembramento deste feito com relação a **, a ** e a**; e
(d) à Secretaria Judiciária, em razão do que se contém na letra “c”, que providencie a extração de cópias integrais dos presentes
autos e a remessa de mencionadas cópias, preservado o regime de sigilo, salvo deliberação ulterior dos órgãos judiciários competentes, à
Justiça Eleitoral de São Paulo (Capital) e de Minas Gerais (Belo Horizonte) para apuração dos fatos concernentes, respectivamente, a ** e
a ** (São Paulo) e a **(Minas Gerais), observada a indicação feita pelo eminente Procurador-Geral da República no item n. 3.1 de sua
promoção (fls. 54). O encaminhamento ora determinado far-se-á por intermédio dos respectivos TRE’s (SP e MG).
Asseguro, finalmente, ao Senador ** e a seus Advogados, considerado o pedido por eles formulado (PG/STF-0045850/2015), o acesso
integral aos autos, inclusive ao “Termo de Colaboração nº 29” prestado, em regime de colaboração premiada, por **.
Comunique-se, transmitindo-se cópia da presente decisão ao eminente
Senhor Procurador-Geral da República.
Publique-se.
Brasília, 22 de setembro de 2015.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
*processo em regime de sigilo
**nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
21 a 25 de setembro de 2015

Medida Provisória nº 692, de 22.9.2015 - Altera a Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, para dispor acerca
da incidência de imposto sobre a renda na hipótese de ganho de capital em decorrência da alienação de bens e direitos
de qualquer natureza, e a Medida Provisória nº 685, de 21 de julho de 2015, que institui o Programa de Redução de
Litígios Tributários – PRORELIT. Publicada no DOU, Seção 1, Edição Extra nº 181, em 22.9.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 800-STF (01/10/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Márcio André Lopes Cavalcante

Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos: RMS 30548/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS POLÍTICOS
 Inconstitucionalidade das doações eleitorais feitas por pessoas jurídicas.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA


 Sindicância e delegação de competência.

DIREITO ELEITORAL
FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL
 Inconstitucionalidade das doações feitas por pessoas jurídicas.

DIREITO PENAL
MAUS ANTECEDENTES
 Cinco anos após o cumprimento ou extinção da pena, a condenação pretérita ainda poderá ser utilizada como
maus antecedentes?

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (LEI 8.137/90)


 Dosimetria da pena.

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS POLÍTICOS
Inconstitucionalidade das doações eleitorais feitas por pessoas jurídicas

As contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais e partidos políticos são


inconstitucionais.
As contribuições de pessoas físicas são válidas e regulam-se de acordo com a lei em vigor.
STF. Plenário. ADI 4650/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16 e 17/9/2015 (Info 799).

Para maiores informações, veja comentários em Direito Eleitoral.

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
Sindicância e delegação de competência

A competência constitucional do CNJ é autônoma (e não subsidiária).


É regular a designação de juiz auxiliar, seja ele originário do Judiciário estadual ou federal,
para a condução de sindicância, por delegação do Corregedor-Nacional de Justiça, ainda que o
investigado seja magistrado federal. A autoridade delegada atua em nome do CNJ, sendo
irrelevante, portanto, se é Juiz Estadual ou Federal.
STF. 2ª Turma. MS 28513/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O CNJ instaurou sindicância para apurar infração disciplinar que teria sido praticada por determinado
Desembargador Federal.
Na portaria que instaurou a sindicância, o Corregedor-Nacional de Justiça determinou que algumas
diligências fossem realizadas por um Juiz de Direito (juiz estadual) que atua no local onde os fatos
ocorreram, devendo ele ouvir as testemunhas e remeter os depoimentos ao CNJ.

Mandado de segurança
O Desembargador investigado impetrou mandado de segurança no STF contra o ato do CNJ invocando, em
síntese, duas teses:
1) A competência disciplinar do CNJ é subsidiária e, antes de o Conselho atuar, deveria ter sido dada
oportunidade para que o caso fosse apurado pela Corregedoria do TRF ao qual o Desembargador é vinculado;
2) As diligências determinadas pelo CNJ deveriam ter sido delegadas a um Juiz Federal, e não a um Juiz de
Direito, considerando que o CNJ é um órgão federal.

O STF acolheu os pedidos formulados no MS?


NÃO.

1) O STF já firmou posição no sentido de que a competência constitucional do CNJ é autônoma (e não
subsidiária).

2) É regular a designação de juiz auxiliar, seja ele originário do Judiciário estadual ou federal, para a
condução de sindicância, por delegação do Corregedor-Nacional de Justiça, ainda que o investigado seja
magistrado federal. A autoridade delegada atua em nome do CNJ, sendo irrelevante, portanto, se é Juiz
Estadual ou Federal.

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


DIREITO ELEITORAL
FINANCIAMENTO DE CAMPANHA ELEITORAL
Inconstitucionalidade das doações feitas por pessoas jurídicas

Importante!!!
As contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais e partidos políticos são
inconstitucionais.
As contribuições de pessoas físicas são válidas e regulam-se de acordo com a lei em vigor.
STF. Plenário. ADI 4650/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16 e 17/9/2015 (Info 799).

Contribuições para campanhas eleitorais e partidos políticos


A legislação eleitoral permite que pessoas físicas e pessoas jurídicas façam doações em dinheiro (ou em bens
estimáveis em dinheiro) para campanhas eleitorais e também para partidos políticos. Isso está previsto na Lei
nº 9.504/97 (conhecida como Lei das Eleições) e na Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos).

Veja abaixo os dois principais artigos que tratam sobre o tema:

Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições):


Art. 81. As doações e contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais poderão ser feitas a
partir do registro dos comitês financeiros dos partidos ou coligações.

Lei nº 9.096/95 (Lei dos Partidos Políticos):


Art. 39. Ressalvado o disposto no art. 31, o partido político pode receber doações de pessoas físicas e
jurídicas para constituição de seus fundos.

ADI 4650
O Conselho Federal da OAB ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4650) no STF pedindo que
sejam declarados inconstitucionais os dispositivos da legislação eleitoral (Leis nº 9.096/95 e nº 9.504/97)
que autorizam doações de empresas a candidatos e a partidos políticos.
Na ação, a entidade também pede que seja fixado um limite máximo para as doações feitas por pessoas físicas.
Para a OAB, existe uma infiltração do poder econômico nas eleições, o que gera graves distorções, como a
desigualdade política, na medida em que aumenta a influência dos mais ricos sobre o resultado dos pleitos
eleitorais, e, consequentemente, sobre a atuação do próprio Estado. Além disso, essa forte influência do
poder econômico inviabiliza a possibilidade de sucesso eleitoral dos candidatos que não têm patrimônio
para suportar os gastos de campanha nem acesso aos financiadores privados.

Qual foi o resultado do julgamento?


O STF julgou parcialmente procedente a ADI e entendeu que:
 os dispositivos legais que autorizam as contribuições de pessoas JURÍDICAS para campanhas eleitorais
e partidos políticos são inconstitucionais.
 por outro lado, as contribuições de pessoas FÍSICAS são válidas e podem continuar sendo feitas de
acordo com a legislação em vigor.

Veja abaixo o resumo dos principais argumentos utilizados pelo STF:

Violação ao regime democrático e à cidadania


Para o STF, as doações feitas por pessoas jurídicas para campanhas eleitorais não são compatíveis com o
regime democrático e com a cidadania.

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Pessoa jurídica não exerce cidadania
O exercício de cidadania, em sentido estrito, pressupõe três modalidades de atuação física:
a o jus suf agius : direito de votar;
o jus ho o u : o direito de ser votado; e
c) o direito de influir na formação da vontade política por meio de instrumentos de democracia direta
como o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular de leis.

Essas modalidades de exercício da cidadania são inerentes às pessoas naturais e, por isso, é desarrazoado
estendê-las para as pessoas jurídicas.

Doações feitas por pessoas jurídicas inflacionam os custos das campanhas


A participação de pessoas jurídicas apenas encarece o processo eleitoral, sem oferecer, como
contrapartida, a melhora e o aperfeiçoamento do debate.
Esse aumento dos custos de campanhas não é acompanhado do aprimoramento do processo político, com
a veiculação de ideias e de projetos pelos candidatos.
Na verdade, o que se observa é que os candidatos que gastam maiores recursos em suas campanhas
possuem, em geral, maior êxito nas eleições.

Desequilíbrio da competição e a violação do princípio da igualdade


A excessiva participação do poder econômico no processo político desequilibra a competição eleitoral e
viola a igualdade política entre candidatos. Isso acaba repercutindo na formação do quadro
representativo, ou seja, nas pessoas que são eleitas.
O êxito das eleições atualmente depende mais dos recursos despendidos nas campanhas do que das
plataformas e ideias políticas. Essa realidade é muito nociva porque faz com que grande parte da população
fique desestimulada a disputar os pleitos eleitorais já que não teria condições econômicas de ter sucesso.

Mesmo sem as doações de pessoas jurídicas, será possível a realização das campanhas
Vale ressaltar que o fim das doações feitas por pessoas jurídicas não prejudicará a sobrevivência dos
partidos políticos nem impedirá que os candidatos façam suas campanhas. Isso porque todos os partidos
políticos têm acesso ao fundo partidário e à propaganda eleitoral gratuita nos veículos de comunicação,
podendo assim promover suas ideais e propostas.

Não basta melhorar os mecanismos de controle dos financiamentos de campanha


Havia um argumento no sentido de que as doações de pessoas jurídicas deveriam continuar sendo
permitidas e que o mais importante seria melhorar os mecanismos de controle desse financiamento.
Tal argumentação foi afastada.
Entendeu-se que isso seria insuficiente para resolver o atual cenário, no qual o poder político mostra-se
atraído pelo poder econômico.

Mas as pessoas jurídicas poderão continuar doando para campanhas e partidos de forma escondida
("caixa dois")...
É verdade. Isso é possível. No entanto, tal realidade não pode servir como argumento para evitar que o
STF declare inconstitucionais as leis que autorizam a doação por pessoas jurídicas.
A possibilidade de que as empresas continuem a investir elevadas quantias — não contabilizadas (caixa dois) —
nas campanhas eleitorais não constitui empecilho para que o STF declare ser errado o atual modelo.

Violação à isonomia
O STF invocou ainda um último argumento para declarar inconstitucionais as doações por pessoas
jurídicas. Trata-se do fato de que o art. 24 da Lei das Eleições proíbe que determinadas pessoas jurídicas
façam doações. É o caso, por exemplo, das associações de classe, entidades sindicais e entidades do

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


terceiro setor. Como resultado dessa proibição, o que se observava, na prática, é que apenas as empresas
privadas (que se destinam ao lucro) faziam doações. Isso representava um tratamento desigual entre as
próprias pessoas jurídicas, já que as empresas privadas poderiam doar e as entidades sem fins lucrativos e
os sindicatos não.

Dispositivos declarados inconstitucionais:


O STF declarou inconstitucionais:
 o art. 23, §1º, I e II; o art. 24; e o art. 1, aput e § 1º, da Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições), que
tratam de doações a campanhas eleitorais por pessoas físicas e jurídicas, no ponto em que cuidam de
doações por pessoas jurídicas.
 o art. 31; o art. 38, III; o art. 3 , aput e § 5º, da Lei nº 9.096/95 (Lei Orgânica dos Partidos Políticos),
que regulam a forma e os limites em que serão efetivadas as doações aos partidos políticos, também
exclusivamente no que diz respeito às doações feitas por pessoas jurídicas.

Votos vencidos
Ficaram vencidos os Ministros Teori Zavascki, Gilmar Mendes e Celso de Mello.

Modulação dos efeitos


O STF cogitou modular os efeitos da decisão, fazendo com que ela somente produzisse efeitos daqui a
alguns anos. No entanto, não foi atingido o número mínimo de votos necessários para a modulação
(segundo o art. 27 da Lei nº 9.868/99, exige-se o voto de 2/3 dos membros do STF - 8 Ministros - para que
haja a modulação dos efeitos).
Assim, a presente decisão já se aplica para as eleições de 2016. O STF afirmou também que a decisão já
vale independentemente da publicação do acórdão (algo que não é ordinário, comum, de acontecer).
Em outras palavras, nas próximas eleições (em 2016 e nas seguintes) já não mais serão permitidas doações
de pessoas jurídicas para as campanhas eleitorais e para os partidos políticos.

DIREITO PENAL

MAUS ANTECEDENTES
Cinco anos após o cumprimento ou extinção da pena, a condenação pretérita ainda poderá ser
utilizada como maus antecedentes?

A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a cinco anos, contado da


extinção da pena, poderá ser considerada como maus antecedentes? Após o período
depurador, ainda será possível considerar a condenação como maus antecedentes?
1ª corrente: SIM. Posição do STJ.
2ª corrente: NÃO. Posição do STF.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 323.661/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 01/09/2015.
STF. 2ª Turma. HC 126315/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/9/2015 (Info 799).

O que é reincidência?
A definição de reincidência, para o Direito Penal brasileiro, é encontrada a partir da conjugação do art. 63
do CP com o art. 7º da Lei de Contravenções Penais.

Com base nesses dois dispositivos, podemos encontrar as hipóteses em que alguém é considerado
reincidente para o Direito Penal (inspirado no quadro contido no livro de CUNHA, Rogério Sanches.
Manual de Direito Penal. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 401):
Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5
Se a pessoa é condenada E depois da condenação Qual será a consequência?
definitivamente por definitiva pratica novo(a)
CRIME
CRIME REINCIDÊNCIA
(no Brasil ou exterior)
CRIME CONTRAVENÇÃO
REINCIDÊNCIA
(no Brasil ou exterior) (no Brasil)
CONTRAVENÇÃO CONTRAVENÇÃO
REINCIDÊNCIA
(no Brasil) (no Brasil)
NÃO HÁ reincidência.
CONTRAVENÇÃO
CRIME Foi uma falha da lei.
(no Brasil)
Mas gera maus antecedentes.
NÃO HÁ reincidência.
CONTRAVENÇÃO
CRIME ou CONTRAVENÇÃO Contravenção no estrangeiro
(no estrangeiro)
não influi aqui.

A reincidência é uma agravante da pena


Se o réu for reincidente, sofrerá diversos efeitos negativos no processo penal.
O principal deles é que, no momento da dosimetria da pena em relação ao segundo delito, a reincidência
será considerada como uma agravante genérica (art. 61, I do CP), fazendo com que a pena imposta seja
maior do que seria devida caso ele fosse primário.
Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
I — a reincidência;

Os efeitos negativos da reincidência duram para sempre?


NÃO. Os efeitos deletérios da reincidência perduram pelo prazo máximo de cinco anos, contados da data
do cumprimento ou da extinção da pena. Após esse período, ocorre a caducidade da condenação anterior
para fins de reincidência. É o que afirma o art. 64, I, do CP:
Art. 64. Para efeito de reincidência:
I — não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a
infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de
prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;

Assim, diz-se que, em tema de reincidência, o Código Penal adota o sistema da temporariedade, uma vez
que os efeitos negativos da reincidência duram apenas por determinado período de tempo.

O prazo de 5 anos e ue a ei id ia ai da vigo a ha ado de pe íodo depu ado .

Curiosidade: na redação original do Código Penal (antes da Reforma de 1984), vigorava o sistema da
perpetuidade, ou seja, os efeitos negativos da reincidência duravam para sempre.

Exemplo:
Douglas praticou um furto, foi condenado e terminou de cumprir sua pena em 02/02/2010. Em
03/03/2015, ele comete um outro crime. No julgamento desse segundo delito, Douglas não poderá ser
considerado reincidente, porque já se passaram mais de cinco anos desde o dia em que terminou de
cumprir a pena pelo primeiro crime.

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Assim, após o prazo de cinco anos, não poderá mais ser considerado reincidente. Contudo, essa
condenação anterior poderá ser valorada como maus antecedentes? Após o período depurador, ainda
será possível considerar a condenação como maus antecedentes?
SIM. Posição do STJ NÃO. Posição do STF
Para o entendimento pacificado no STJ, mesmo A existência de condenação anterior, ocorrida em
ultrapassado o lapso temporal de cinco anos, a prazo superior a cinco anos, contado da extinção
condenação anterior transitada em julgado pode da pena, também não poderá ser considerada
ser considerada como maus antecedentes, nos como maus antecedentes.
termos do art. 59 do CP. Após o prazo de cinco anos previsto no art. 64, I,
do CP, cessam não apenas os efeitos decorrentes
Apesa de desapa e e a o dição de ei ide te, da reincidência, mas também qualquer outra
o agente não readquire a condição de primário, valoração negativa por condutas pretéritas
que é como um estado de virgem, que, violado, praticadas pelo agente.
não se refaz. A reincidência é como o pecado Ora, se essas condenações não mais servem para o
original: desaparece, mas deixa sua mancha, efeito da reincidência, com muito maior razão não
servindo, por exemplo, como antecedente devem valer para fins de antecedentes criminais.
i i al a t. 5 , aput BITENCOU‘T, Ceza O ho e ão pode se pe alizado ete a e te
Roberto. Código Penal Comentado. São Paulo: por deslizes em seu passado, pelos quais já tenha
Saraiva, 2007, p. 238). sido condenado e tenha cumprido a reprimenda
que lhe foi imposta em regular processo penal.
Faz ele jus ao de o i ado di eito ao
es ue i e to , ão pode do perdurar
indefinidamente os efeitos nefastos de uma
o de ação a te io , já egula e te exti ta.
(Min. Dias Toffoli).
Esse lapso de cinco anos é chamado de "período
depurador".
Reincidência: sistema da temporariedade. Tanto a reincidência como os maus antecedentes
Maus antecedentes: sistema da perpetuidade. obedecem ao sistema da temporariedade.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 323.661/MS, Rel. Min. STF. 1ª Turma. HC 119200, Rel. Min. Dias Toffoli,
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 01/09/2015 julgado em 11/02/2014.
STJ. 6ª Turma. HC 240.022/SP, Rel. Min. Maria STF. 2ª Turma. HC 126315/SP, Rel. Min. Gilmar
Thereza de Assis Moura, julgado em 11/03/2014. Mendes, julgado em 15/9/2015 (Info 799).

Obs.1: o tema será pacificado pelo STF no RE 593818 RG, que foi afetado para julgamento pelo Plenário
sob a sistemática da repercussão geral.

Obs.2: cuidado. Alguns livros de Direito Penal fornecem uma explicação em sentido contrário ao que vem
sendo decidido pelo STF.

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (LEI 8.137/90)
Dosimetria da pena

Determinado réu foi condenado por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei 8.137/90).
O STF considerou correta a sentença do juiz que, na 1ª fase da dosimetria da pena, aumentou a
pena-base com fundamento em dois argumentos:
1) Na análise das circunstâncias, o magistrado aumentou a pena sob a alegação de que o réu
omitiu seu nome do quadro societário da empresa com o objetivo de esconder que era ele
quem realmente administrava a empresa.
O STF afirmou que o ardil utilizado pelo réu (omissão do seu nome do quadro societário da
empresa) teve como objetivo acobertar sua real condição de administrador da empresa
investigada e, com isso, furtar-se de possível aplicação da lei penal. Essa omissão do nome do
réu no quadro societário não é a mesma omissão de que trata o inciso I do art. 1º.
A omissão que é elementar do tipo é a omissão para suprimir ou reduzir tributo. A omissão do
nome do réu foi para evitar que ele fosse descoberto. Logo, punir a omissão do nome do réu
não significa punir o condenado duas vezes pelo mesmo fato.
2) No exame das consequências do crime, o juiz também majorou a pena argumentando que o
crime praticado gerou um grande prejuízo ao erário (mais de 2 milhões de reais), o que
autorizaria a elevação da pena-base. Segundo entende o STF, em se tratando de infrações
penais contra a ordem tributária, a extensão do dano causado pode ser invocada na 1ª fase da
dosimetria como critério para exasperação da pena-base, sem que tanto implique bis in idem.
STF. 2ª Turma. HC 128446/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).

Critério trifásico
A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.

Primeira fase (circunstâncias judiciais)


Na primeira fase, as chamadas circunstâncias judiciais analisadas pelo juiz são as seguintes:
a) culpabilidade, b) antecedentes, c) conduta social, d) personalidade do agente, e) motivos do crime, f)
circunstâncias do crime, g) consequências do crime, h) comportamento da vítima.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


João foi condenado por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei 8.137/1990):
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e
qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;

Na 1ª fase da dosimetria (circunstâncias judiciais), o juiz aumentou a pena-base fundamentando essa


decisão em dois argumentos:

1º) Na análise das circunstâncias, o magistrado aumentou a pena sob a alegação de que o réu omitiu seu
nome do quadro societário da empresa com o objetivo de esconder que era ele quem realmente
administrava a empresa.

2º) No exame das consequências do crime, o juiz também majorou a pena argumentando que o crime
praticado gerou um grande prejuízo ao erário (mais de 2 milhões de reais), o que autorizaria a elevação da
pena-base.

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


A defesa questionou essa dosimetria.

Segundo sustentou a defesa, quando o magistrado aumentou a pena pelo fato de o réu ter omitido seu
nome do quadro societário, houve bis in idem. Isso porque "omitir informação" é uma elementar do crime
do art. 1º, I. Assim, se é uma elementar do tipo penal, não pode servir para aumentar a pena-base.

Quanto ao segundo aumento, a defesa afirmou que o montante do prejuízo ao erário não serve para
majorar a pena.

O juiz poderia ter aumentado a pena-base com fundamento na omissão do nome do réu do quadro
societário?
SIM. O STF afirmou que o ardil utilizado pelo réu (omissão do seu nome do quadro societário da empresa)
teve como objetivo acobertar sua real condição de administrador da empresa investigada e, com isso,
furtar-se de possível aplicação da lei penal. Essa omissão do nome do réu no quadro societário não é a
mesma omissão de que trata o inciso I do art. 1º.
A omissão que é elementar do tipo é a omissão para suprimir ou reduzir tributo. A omissão do nome do
réu foi para evitar que ele fosse descoberto.
Logo, punir a omissão do nome do réu não significa punir o condenado duas vezes pelo mesmo fato.
O ardil considerado, portanto, não seria aquele inerente ao tipo penal do crime contra a ordem tributária.

O juiz poderia ter aumentado a pena-base com fundamento no valor do prejuízo?


SIM. Em se tratando de infrações penais contra a ordem tributária, a extensão do dano causado pode ser
invocada na 1ª fase da dosimetria como critério para exasperação da pena-base, sem que tanto implique
bis in idem.

JULGADOS NÃO COMENTADOS


Anistia e regime celetista
A Primeira Turma negou provimento a recurso ordinário em mandado de segurança em que servidores
anistiados pleiteavam o reingresso ao serviço público em regime estatutário. No caso, os recorrentes,
anistiados pela Lei 8.878/1994, teriam questionado ato que determinara o retorno ao serviço público, em
quadro especial em extinção do Ministério das Cidades, sob o regime celetista. A Turma afirmou que a
possibilidade de transformação de empregos em cargos públicos não garantiria amparo automático à
pretensão dos recorrentes. Ressaltou que a Lei 8.878/1994 dera tratamento especial aos casos de
exoneração, demissão ou dispensa em virtude de o tomador dos serviços haver sido extinto, liquidado ou
privatizado. O benefício previsto na citada lei ficara jungido à transferência, absorção ou execução da
atividade do órgão extinto por outro da Administração Pública Federal. Enfatizou que o reingresso nos
quadros do Poder Executivo não implicaria necessária submissão ao estatuto dos servidores públicos
federais. Na situação concreta, a manutenção do regime celetista resultaria das características originais dos
vínculos rompidos. Salientou que isso se dera em atenção às normas que regulamentaram a anistia, as
quais teriam previsto a observância do cargo ou emprego anteriormente ocupado (Lei 8.878/1994, art. 2º e
Decreto 6.077/2007). Ademais, descaberia atribuir natureza autárquica à extinta Empresa Brasileira de
Transportes Urbanos – EBTU, simplesmente em razão das atividades por ela desempenhadas. A entidade
teria sido expressamente qualificada como empresa pública, consoante previsão do art. 5º da Lei
6.291/1975, dotada, portanto, de personalidade jurídica de direito privado e, consequentemente,
submetidas à CLT. O Ministro Edson Fachin consignou que a adoção do regime estatutário violaria,
também, o princípio do concurso público.
RMS 30548/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 15.9.2015.

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OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 14 a 18 de setembro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 901.963-SC


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA CONDENATÓRIA
GENÉRICA PROFERIDA EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA POR ASSOCIAÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA. LIMITES DA COISA
JULGADA. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A presente demanda consiste em execução individual de sentença proferida em ação civil pública. O recurso extraordinário suscita a ilegitimidade
ativa dos exequentes, ao argumento de que não deram autorização individual e específica à associação autora da demanda coletiva para os
representarem no processo de conhecimento, tampouco demonstraram sua condição de associados. Alega-se ofensa ao art. 5º, XXI e XXXVI, da
Constituição, bem como ao precedente do Plenário do Supremo Tribunal Federal formado no julgamento do RE 573.232/SC.
2. Ocorre que, conforme atestaram as instâncias ordinárias, no dispositivo da sentença condenatória genérica proferida no processo de conhecimento
desta ação civil pública, constou expressamente sua aplicabilidade a todos os poupadores do Estado de Santa Catarina. Assim, o fundamento da
legitimidade ativa para a execução, no caso, dispensa exame sobre a necessidade de autorização das associações para a representação de seus
associados. Em verdade, o que está em jogo é questão sobre limites da coisa julgada, matéria de natureza infraconstitucional cuja repercussão geral,
inclusive, já foi rejeitada por esta Corte em outra oportunidade (ARE 748.371-RG, Rel. Min. GILMAR MENDES, DJe de 1º/8/2013).
3. Outrossim, ao tratar dos limites subjetivos de sentença condenatória genérica proferida nos autos de ação civil pública ajuizada por associação, o
Tribunal de origem valeu-se de disposições da Lei 7.347/85 e do Código de Defesa do Consumidor, cujo exame é inviável em recurso extraordinário.
4. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
5. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
Decisões Publicadas: 1

CLIPPING DO D JE
14 a 18 de setembro de 2015

ADI N. 3.926-SC
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PROJETO DE LEI – INICIATIVA EXCLUSIVA DO EXECUTIVO – EMENDA PARLAMENTAR – DESVIRTUAMENTO. A ausência de
pertinência temática de emenda da casa legislativa a projeto de lei de iniciativa exclusiva do Executivo leva a concluir-se pela inconstitucionalidade
formal.
CARGO PÚBLICO – PROVIMENTO – INADEQUAÇÃO. A teor do Verbete nº 685 da Súmula do Supremo, “é inconstitucional toda modalidade de
provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público, em cargo que não integra a carreira na qual
anteriormente investido”.
*noticiado no Informativo 793
AG. REG. NO ARE N. 903.790-RJ
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO
TRIBUTÁRIO. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA E JULGADA. RE 566.621 (REL. MIN. ELLEN GRACIE).
ACÓRDÃO RECORRIDO CONFORME O PRECEDENTE. PREVIDÊNCIA PRIVADA. IMPOSTO DE RENDA. RESGATE. REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. PRESCRIÇÃO. VERIFICAÇÃO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE
BENEFÍCIO DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR APÓS A LEI 9.250/95. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO
DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI MAIOR. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 06.05.2015.
1. Ao exame do RE 566.621, Rel. Min. Ellen Gracie, esta Suprema Corte declarou a inconstitucionalidade do art. 4º, segunda parte, da LC 118/2005,
considerando válida a aplicação do novo prazo prescricional de 5 anos tão somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou
seja, a partir de 9 de junho de 2005. O entendimento adotado pela Corte de origem não divergiu dessa orientação.
2. A controvérsia não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais.
Compreender de modo diverso exigiria a análise da legislação infraconstitucional encampada na decisão da Corte de origem, a tornar oblíqua e
reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a exigência do art. 102, III, “a”,
da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Suprema Corte.
3. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
4. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NA AC N. 932-AP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CAUTELAR. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. FINANCEIRO. INSCRIÇÃO DE
ESTADO-MEMBRO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. ATOS DECORRENTES DE GESTÕES

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


ANTERIORES. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA SUBJETIVA DAS SANÇÕES. PRECEDENTES. INEXISTÊNCIA
DE OFENSA AO PRINCÍPIO COLEGIADO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. O princípio da intranscendência subjetiva das sanções, consagrado pela Corte Suprema, inibe a aplicação de severas sanções às administrações por
ato de gestão anterior à assunção dos deveres Públicos. Precedentes: ACO 1.848-AgR, rel. Min. Celso Mello, Tribunal Pleno, DJe de 6/11/2014;
ACO 1.612-AgR, rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe de 12/02/2015.
2. É que, em casos como o presente, o propósito é de neutralizar a ocorrência de risco que possa comprometer, de modo grave e/ou irreversível, a
continuidade da execução de políticas públicas ou a prestação de serviços essenciais à coletividade.
3. A tomada de contas especial é medida de rigor com o ensejo de alcançar-se o reconhecimento definitivo de irregularidades, permitindo-se, só então,
a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao crédito organizados e mantidos pela União. Precedentes: ACO 1.848-AgR, rel. Min. Celso Mello,
Tribunal Pleno, DJe de 6/11/2014; AC 2.032, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe de 20/03/2009.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO RHC N. 126.853-SP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RHC. CRIME DE PORNOGRAFIA INFANTIL (ART. 241, CAPUT, DA
LEI N. 8.069/90, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI N. 10.764/03). TESTEMUNHA DESCONHECEDORA DOS FATOS E DO RÉU. INDEFERIMENTO DA
OITIVA. DECISÃO FUNDAMENTADA (ARTIGO 400, § 1º, DO CPP): TESTEMUNHA HABILITADA EM INFORMÁTICA E/OU DIREITO ELETRÔNICO.
OPORTUNIDADE DE JUNTADA DE DOCUMENTO PERTINENTE A TAIS CONHECIMENTOS TÉCNICOS. AUSÊNCIA DE AFRONTA À AMPLA DEFESA.
DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGA SEGUIMENTO A PEDIDO OU RECURSO EM CONTRARIEDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL (ARTIGOS
21, § 1º, E 192 DO RISTF). PRECEDENTES.
1. O princípio do livre convencimento racional, previsto no § 1º do art. 400 do CPP, faculta ao juiz o indeferimento das provas consideradas
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. Precedentes: HC 106.734, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, DJe de 04/05/20110; HC nº
106.734/PR, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe 4/5/11; HC 108.961, Rel. Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, DJe de
08/08/2012; AI nº 741.442/SP-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 15/6/11; AI nº 794.090/SP-AgR, Segunda
Turma, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 10/2/11; e AI nº 617.818/SP-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe de
22/11/10 e RHC 115.133/DF, rel. Min. Luiz Fux.
2. In casu, o recorrente foi condenado a 2 anos e 11 meses de reclusão pela prática do crime de pornografia infantil (art. 241, caput, da Lei n. 8.069/90
com a redação dada pela Lei n. 10.764/03), sendo que a defesa arrolara três testemunhas, das quais duas figuraram como assistentes técnicos, restando
apenas uma como testemunha na acepção do termo, tendo o magistrado indeferido sua oitiva, fundado em que “versaria exclusivamente sobre
matéria de informática e/ou direito eletrônico”, uma vez que não detinha conhecimento dos fatos e, por não conhecer o réu, não apresentaria
informações relativas aos seus antecedentes, ressalvando, contudo, que o teor do seu relato, adstrito a conhecimentos técnicos em informática e/ou
direito eletrônico, poderia ser documentado nos autos, à critério da defesa.
3. Deveras, tendo o magistrado indeferido fundamentadamente a oitiva, não cabe a esta Corte imiscuir-se em seu juízo de conveniência para aferir se
a oitiva da testemunha era pertinente ou não ao interesse da defesa.
4. Os artigos 21, § 1º, e 192, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, preveem a atuação monocrática ao possibilitarem ao Relator negar
seguimento a recurso ou pedido manifestamente contrário à jurisprudência do Tribunal ou a concessão de habeas corpus quando houver entendimento
pacificado no sentido da tese exposta.
5. A ratio essendi desse entendimento, longe de constituir afronta ao princípio do colegiado, busca evitar o assoberbamento das Turmas e do Pleno
com matérias pacificadas, cabendo ressaltar ainda a possibilidade de a parte interpor agravo regimental caso entenda que o decisum monocrático lhe
causou prejuízo, prestigiando-se o princípio da ampla defesa (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, entre outros).
6. Agravo regimental no recurso ordinário em habeas corpus desprovido.
RHC N. 121.075-AL
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIOS TRIPLAMENTE
QUALIFICADOS - ART. 121, § 2º, INC. I, IV E V (QUATRO VEZES), C/C OS ARTS. 29 E 69. CASO CECI CUNHA. RÉU SOLTO DURANTE OS TREZE ANOS
DE TRÂMITE DA AÇÃO PENAL. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA NA SENTENÇA. POSSIBILIDADE: ARTIGOS 387, § 1º, E 492, I, E, DO CPP.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. GRAVIDADE CONCRETA DOS CRIMES, PERICULOSIDADE E PROPENSÃO AO CRIME. BASES EMPÍRICAS IDÔNEAS.
EXCESSO DE PRAZO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. TEMA NÃO SUSCITADO NO TRIBUNAL A QUO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. SAÚDE DEBILITADA.
DEVER DE ASSISTÊNCIA MÉDICA DO ESTADO.
1. A prisão preventiva pode ser decretada na sentença condenatória, conforme previsto nos artigos 387, § 1º, e 492, inciso I, alínea e, do Código de
Processo Penal, este último com a redação conferida pela Lei n. 11.689/2008, restando de somenos importância o fato de o réu ter permanecido solto
durante a instrução criminal, máxime quando demonstrados, como in casu, elementos concretos que a justifique.
2. A gravidade in concreto do crime, revelada pelo modus operandi, e a propensão à reiteração delituosa constituem fundamentos idôneos à
determinação da custódia cautelar para a garantia da ordem pública (HC 103.716, Relator Min. Luiz Fux, 1ª Turma, julgado em 2/8/2011; HC
104.699/SP, 1ª Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de 23.11.10; HC 103.107/MT, 1ª Turma, Relator o Ministro Dias Toffoli, DJe de
29.11.10; HC 101.717, Relator o Ministro Luiz Fux, 1ª Turma, DJe de 14/9/2011; HC 103.716, Relator o Ministro Luiz Fux, 1ª Turma, julgado em
2/8/2011).
3. O título condenatório superveniente justifica a prisão cautelar, mormente quando da dosimetria da pena o Magistrado destaca outros fatos que
demonstram a periculosidade exacerbada do paciente, o desprezo pela vida humana e o egoísmo na busca de seus ideais, in verbis:
“- […] o acusado é portador de personalidade talhada para o crime. Desprovido de sensibilidade e sem qualquer resquício de respeito pelo ser
humano; o acusado, segundo os depoimentos colhidos nos autos, sempre se referiu à prática de homicídios com aberrante naturalidade […].
- […] Segundo depoimento prestado por Maurício Guedes às fls. 43/51, o acusado mencionou sem qualquer pudor moral a intenção de matar outras
pessoas, mostrando-se ainda indiferente à morte de seus companheiros de coligação partidária ao revelar que seu único objetivo era assumir o
mandato como Deputado Federal, independentemente do tipo de violência necessária a tal fim.
- […] A personalidade predisposta a práticas criminosas se extrai do fato de o acusado estar determinado a eliminar qualquer um dos deputados
eleitos por sua coligação, exigindo a morte de todos os presentes na ação, mas também no fato de estimular o homicídio de pessoas cuja morte não
lhe interessaria.
- […] deflui-se que sua personalidade egoística e antiética impede que o acusado enxergue na vida humana valor superior a seus interesses pessoais
mais elementares. Tal embotamento do senso moral torna o acusado pessoa capaz de práticas perversas tais quais aquelas que motivaram a presente
ação penal, sem o mínimo traço de remorso ou hesitação.
- […] Também há nos autos a notícia de que o acusado teria ameaçado matar qualquer de seus assessores cujo comportamento fosse considerado
inadequado aos seus interesses.
- […] Em relação aos motivos, os elementos colhidos ao longo da instrução indicam que a ação do acusado foi movida não somente pelo desejo de
garantir o exercício do mandato de deputado federal inalcançado [por] meios legítimos, o que por si somente seria suficiente para configurar a

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torpeza do motivo, mas também de extrair do exercício do cargo vantagens ilícitas, exigindo pagamento em dinheiro em troca de votos nas sessões
da Câmara dos Deputados.”
4. In casu, por fatos ocorridos em 16/12/1998 (caso Ceci Cunha), o paciente, juntamente com outros corréus, foi condenado à pena de 103 (cento e
três) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, em regime inicial fechado, pela prática do crime tipificado no art. 121, § 2º, incisos I e IV, (homicídio
qualificado mediante paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe, e mediante a traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima) e pelo crime previsto no art. 121, § 2º, incisos I, IV e V (homicídio qualificado mediante
paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe, e mediante a traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte
ou torne impossível a defesa da vítima e para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime), na forma dos artigos 29 e
69, todos do Código Penal.
5. A sentença condenatória, proferida em 19/01/2012, revela-se harmônica com a jurisprudência desta Corte no tópico da prisão preventiva para
garantia da ordem publica ao assentar a periculosidade in concreto, o modus operandi do crime e a propensão delituosa como fatores idôneos e
justificadores da medida extrema de cerceio ante tempus da liberdade, qual se infere facilmente dos seguintes trechos:
“- […] há hipóteses excepcionais, nas quais a violência e gravidade dos crimes imputados aos réus geram tamanho clamor popular, que a
manutenção dos condenados em liberdade põe em risco a ordem pública e recomendam a prisão, nos termos do artigo 312 do CPP,
independentemente de primariedade ou bons antecedentes dos condenados.
- Não bastasse a violência dos crimes e sua repercussão social a exigir a prisão como forma de garantir a ordem pública, a espera de mais de treze
anos para o julgamento da Corte soberana é, por si só, suficiente para revestir de total ilegalidade a prisão dos condenados.
[...]
- Com efeito, em rumoroso caso de homicídio passional atribuído ao jornalista Pimenta Neves, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o longo
período decorrido entre o seu julgamento pelo Tribunal do Júri de São Paulo (cerca de onze anos), em razão da sucessiva interposição de recursos
por parte do réu, ainda que legítimos, imporia a imediata execução da pena privativa de liberdade, independentemente do trânsito em julgado.
- Situação esta que muito se assemelha ao caso em perspectiva, porquanto na presente ação penal os réus lançaram mão de todos os recursos
disponíveis, inclusive habeas corpus, levando suas irresignações às mesas de julgamento do STJ e STF, sem que até o momento atual possa-se falar
definitivamente da pronúncia.
- Aliás, aqui, o tempo que medeia entre o crime e a reunião do Tribunal do Júri é ainda maior do que no citado precedente do STF, eis que já se
passaram treze anos dos fatos descritos na denúncia, sem que a sentença de pronúncia haja transitado em julgado em razão do hábil manejo dos
recursos generosamente admitidos pela legislação processual.
- Essa similitude, inclusive, trouxe este caso aos debates que se seguiram ao voto do Ministro Celso de Melo (Relator do AI 7965677 AgR), quando o
Ministro Gilmar Mendes citou expressamente o homicídio da Deputada Federal Ceci Cunha como hipótese excepcional em que deveria ser admitida
a prisão dos réus, independentemente do trânsito em julgado da sentença condenatória.
- As semelhanças entre os casos são evidentes, sendo os fatos que embasam a presente demanda, inclusive, ainda mais graves. No caso ora utilizado
como paradigma, o autor agiu só, deixando uma única vítima; aqui, foram múltiplos agentes e quatro foram os mortos, entre estes uma Deputada
Federal, ao passo que no paradigma uma jovem foi assassinada em crime passional, aqui, exterminou-se uma família com o objetivo de garantir a
assunção de poder político. No paradigma, o uso dos recursos cabíveis gerou uma demora de cerca de dez anos, enquanto aqui mais de treze.
- Assim, ao considerar, no caso paradigma, que a excessiva demora ocasionada pelo uso de meios processuais legítimos, associada à gravidade dos
fatos levados a julgamento configuraram situação extraordinária o suficiente para excepcionar entendimento firme, sufragado pelo Plenário da
Suprema Corte desde 2009, o STF claramente sinalizou no sentido de admitir a prisão preventiva dos autores da chacina que vitimou a Deputada
Federal Ceci Cunha e seus familiares.
- Em face do exposto, seguindo o entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal nos autos do AI 7965677 AgR e utilizando os argumentos
acima para todos os réus, tenho por bem decretar a prisão preventiva de JADIELSON BARBOSA DA SILVA; JOSÉ ALEXANDRE DOS SANTOS;
ALÉCIO CEZAR ALVES VASCO; MENDONÇA MEDEIROS E PEDRO TALVANE LUÍS GAMA ALBUQUERQUE NETO.”
6. O tema atinente ao excesso de prazo da instrução criminal não passou pelo crivo do Tribunal a quo, por isso que sua análise neste writ traduz
indevida supressão de instância. A análise da questão ex officio resta inviabilizada ante a necessidade da colheita de informações ao juízo processante
e ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região, a fim de verificar, com prudência, a responsabilidade pela mora processual. Demais disso, não é crível
que a anormal tramitação do processo, por longos treze anos, se deva apenas às dificuldades materiais do Poder Judiciário, impondo-se sindicar a
responsabilidade de tal excesso pelo cotejo das razões da impetração com as informações dos órgãos judicantes envolvidos diretamente; isso, diga-se
de passagem, nas instâncias competentes, e não diretamente nesta Corte.
7. No que tange à questão de saúde debilitada do paciente, supõe-se que o Estado lhe preste, como a tantos em idêntica situação, a assistência médica
de que necessita.
8. Recurso ordinário em habeas corpus conhecido em parte e, nessa extensão, desprovido.
AG. REG. NO MI N. 6.326-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
E M E N T A : A G R A V O R E G IM E N T A L N O M A N D A D O D E IN J U N Ç Ã O . C O N S T IT U C IO N A L E AD M IN IS T R A T IV O .
A P O S E N T A D O R I A E S P E C I A L D E S E R V ID O R P Ú B L IC O P O R T A D O R D E D E F IC IÊ N C I A . O R IE N T A Ç Ã O
J U R IS P R U D E N C IA L CORRENTE NESTA CORTE PELA APLICABILIDADE DA LE I COMPLEMENTAR 142/2013 ATÉ QUE
SOBREVENHAM AS LEIS COMPLEMENTARES QUE REGULAMENTEM O ART. 40, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO. PRECEDENTES DO STF.
PERMANÊNCIA DO DEVER DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA COMPETENTE PARA A CONCESSÃO DA APOSENTADORIA DE
VERIFICAR O PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS NO CASO CONCRETO. LIMITES OBJETIVOS DA DECISÃO EM
MANDADO DE INJUNÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A aposentadoria especial de servidor público portador de deficiência é assegurada mediante a aplicação da Lei Complementar 142/2013, até que
editada a lei complementar exigida pelo art. 40, § 4º, I, da Constituição Federal. Precedentes do STF.
2. A decisão concessiva da ordem no mandado de injunção deve limitar-se à determinação da norma regulamentadora de direito constitucional
aplicável ao caso sub judice, sem, no entanto, abordar o efetivo preenchimento dos requisitos legais no caso concreto para a concessão da
aposentadoria especial, a serem verificados pela autoridade administrativa competente.
3. In casu, a omissão legislativa diz respeito tão somente à adoção de critérios diferenciados para a concessão da aposentadoria especial. Nesse
ponto, a decisão agravada colmatou integralmente a lacuna, ao determinar a incidência da sistemática prevista na Lei Complementar 142/2013.
4. Agravo regimental desprovido.
Ext. N. 1.367-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
COMPETÊNCIA – EXTRADIÇÃO – ESTADO REQUERENTE. Havendo notícia de prática delituosa voltada a introduzir substância entorpecente
no território do Governo requerente, incumbe ter como de boa origem o pedido de extradição.
DUPLA TIPICIDADE – EXTRADIÇÃO – CONSPIRAÇÃO – ASSOCIAÇÃO PARA LAVAGEM DE RECURSOS. A Convenção das Nações
Unidas contra o Crime Organizado Internacional, por ter sido assinada por Brasil e Estados Unidos, inseriu, no Tratado de Extradição firmado pelos
dois países, o crime de lavagem de capitais, se presente a transnacionalidade.

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EXTRADIÇÃO – REQUISITOS. Uma vez atendidos os requisitos legais sob o ângulo da existência de ordem de prisão ou de título condenatório
criminal, da dupla tipologia e da ausência de prescrição, estando os documentos anexados ao processo em harmonia com a forma prevista em lei, há
de ser reconhecida a possibilidade de entrega do extraditando, cabendo o ato definidor ao Chefe do Poder Executivo Nacional.
PRISÃO PERPÉTUA – EXCLUSÃO – EXTRADIÇÃO. No deferimento da extradição, deve-se impor cláusula, considerada a norma do artigo 75 do
Código Penal e, portanto, a impossibilidade de o extraditando cumprir pena perpétua cerceadora da liberdade de ir e vir, observando-se a detração.
DETRAÇÃO – CUSTÓDIA NO BRASIL – PRISÃO – DURAÇÃO. Impõe-se, na entrega do extraditando, a formalização de compromisso,
visando subtrair de possível pena aplicada ao extraditando o período em que esteve preso no Brasil, procedendo-se, de igual forma, quanto ao prazo
máximo de prisão – 30 anos.
AG. REG. NO ARE N. 879.909-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
DEVIDO PROCESSO LEGAL – PRESTAÇÃO JURISDICIONAL – NULIDADE – RECURSO EXTRAORDINÁRIO. Se, de um lado, é possível
haver situação concreta em que transgredido o devido processo legal a ponto de enquadrar o recurso extraordinário no permissivo que lhe é próprio,
de outro, descabe confundir a ausência de aperfeiçoamento da prestação jurisdicional com a entrega de forma contrária a interesses.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio próprio ao revolvimento da prova, também
não servindo à interpretação de normas estritamente legais.
AG. REG. NO ARE N. 897.489-RS
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. LEGISLAÇÃO
INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. CONTROVÉRSIA DECIDIDA COM BASE NO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA 279/STF.
1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal afasta o cabimento de recurso extraordinário para o questionamento de alegadas violações à
legislação infraconstitucional, sem que se discuta o seu sentido à luz da Constituição. Precedente.
2. Para chegar a conclusão diversa do acórdão recorrido, imprescindível seria uma nova apreciação dos fatos e do material probatório constante dos
autos (Súmula 279/STF), procedimento inviável em recurso extraordinário.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
HC N. 125.614-SP
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. IMPETRAÇÃO CONTRA DECISÃO MONOCRÁTICA DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. NÃO ESGOTAMENTO DE JURISDIÇÃO. HOMICÍDIO QUALIFICADO E TENTATIVA DE
HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. SENTENÇA CONDENATÓRIA SUPERVENIENTE. SUBSTITUIÇÃO DO TÍTULO PRISIONAL. NOVO TÍTULO. PERDA
DE OBJETO.
1. Há óbice ao conhecimento de habeas corpus impetrado contra decisão monocrática, indeferitória de writ, do Superior Tribunal de Justiça, cuja
jurisdição não se esgotou, ausente o manejo de agravo regimental. Precedentes.
2. Inviável o exame da tese defensiva não analisada pelo Superior Tribunal de Justiça, sob pena de indevida supressão de instância.
3. A sentença condenatória superveniente em que o Juízo aprecia e mantém a prisão cautelar anteriormente decretada implica a mudança do título da
prisão e prejudica o conhecimento de habeas corpus impetrado contra a prisão antes do julgamento.
4. Não mais se cogita de excesso de prazo da prisão ante o julgamento de mérito da ação penal. Precedentes.
5. Habeas corpus extinto sem resolução do mérito.
EMB.DECL. NO AG. REG. NO AI N. 787.988-RS
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMBARGOS DECLARATÓRIOS – ACÓRDÃO – INEXISTÊNCIA DE VÍCIO – DESPROVIMENTO. Uma vez voltados os embargos declaratórios ao
simples rejulgamento de certa matéria, inexistindo, no acórdão proferido, qualquer dos vícios que os respaldam – omissão, contradição e
obscuridade –, impõe-se o desprovimento.
EMB.DECL. NO AG. REG. NO ARE N. 873.282-MG
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Embargos de declaração no agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Questões afastadas nos julgamentos
anteriores. Não há omissão, contradição ou obscuridade a ser sanada. Precedentes.
1. No julgamento do recurso, as questões postas pela parte recorrente foram enfrentadas adequadamente. Inexistência dos vícios do art.
535 do Código de Processo Civil.
2. Embargos de declaração rejeitados.

Acórdãos Publicados: 343

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Pronúncia e envelopamento por excesso de linguagem (Transcrições)


(v. Informativo 795)
RHC 127.522/BA*
RELATOR: Ministro Marco Aurélio

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL EM HABEAS CORPUS – EXCESSO DE LINGUAGEM NA PRONÚNCIA –
ENVELOPAMENTO – INSUFICIÊNCIA. Reconhecido o excesso de linguagem da pronúncia, causa de nulidade absoluta, cumpre anulá-la,
determinando-se que outra seja prolatada, não sendo suficiente o desentranhamento e o envelopamento da decisão, em atenção ao parágrafo
único do artigo 472 do Código de Processo Penal e à vedação aos pronunciamentos ocultos.
RELATÓRIO: O Juízo da Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Porto Seguro/BA, no Processo nº 591/02, pronunciou o paciente, junto com
outros corréus, em 10 de julho de 2005, pela suposta prática do crime previsto no artigo 121, § 2º, incisos I, III e IV (homicídio qualificado pela
torpeza, pela crueldade e por meio que tornou impossível a defesa da vítima), do Código Penal.
Formalizou-se o Recurso em Sentido Estrito nº 49.571-7/2005, sustentando-se a ausência de nexo causal entre a conduta e o resultado
alcançado, bem como a existência de causa relativamente independente que, por si só, levou ao resultado. Arguiu-se a falta de prova da
autoria, buscando-se o afastamento da pronúncia. Requereu-se a desclassificação do delito para lesão corporal seguida de morte. A Segunda
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia, ao desprover o recurso, assentou a existência de elementos conducentes à autoria delitiva.
Salientou a causalidade entre os golpes desferidos contra a vítima e o resultado morte, não se podendo conceber causa superveniente. Refutou
a desclassificação para o crime de lesão corporal, pois as características da agressão sinalizam dolo eventual contra a vida.
Interpôs-se recurso especial, inadmitido na origem, com alusão ao Verbete nº 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça.
Protocolou-se agravo de instrumento, provido, sendo determinada a subida do recurso especial. A Sexta Turma desproveu-o, ante a vedação
de reexame da prova nessa sede. Assentou a ausência de prequestionamento quanto à alegação de excesso de linguagem na pronúncia.
Impetrou-se, no Superior Tribunal de Justiça, o Habeas Corpus nº 138.489/BA. Arguiu-se a nulidade do acórdão alusivo ao julgamento
do recurso em sentido estrito, em razão da eloquência acusatória. A Sexta Turma não admitiu a impetração, porque substitutiva de recurso,
mas implementou a ordem de ofício. Consignou o excesso de linguagem no acórdão impugnado, determinando o envelopamento, lacrando-o,
de maneira a impossibilitar o acesso pelos jurados, em vez de anulá-lo, tendo em conta a economia e a celeridade processuais.
Protocolados embargos declaratórios, foram parcialmente providos, apenas para determinar a juntada da degravação dos votos
vencidos.
Neste recurso ordinário, alega-se a insubsistência do acórdão, no que diz respeito ao simples envelopamento da pronúncia. Aponta-se a
possibilidade de qualquer cidadão ter acesso à peça. Por consubstanciar nulidade absoluta, requer-se a declaração de nulidade da sentença de
pronúncia.
O Ministério Público Federal manifestou-se pelo provimento do recurso.
Lancei visto no processo em 1º de agosto de 2015, liberando-o para ser examinado na Turma a partir de 18 seguinte, isso objetivando a ciência
do recorrente.
É o relatório.
VOTO: Na interposição deste recurso, atendeu-se aos pressupostos de recorribilidade. A peça, subscrita por profissional da advocacia, foi
protocolada dentro do prazo legal. A notícia do acórdão veio a ser veiculada no Diário de 12 de dezembro de 2014, ocorrendo a manifestação do
inconformismo em 19 subsequente. Conheço.
O excesso de linguagem apto a influenciar os jurados mostra-se incontroverso, tendo sido reconhecido, até mesmo, pelo Superior Tribunal de
Justiça, à unanimidade, não cabendo o reexame do tema. O abandono da linguagem comedida conduz, principalmente o leigo, a entender o ato não
como um mero juízo de admissibilidade da acusação, mas como título condenatório.
Reconhecida a insubsistência do acórdão confirmatório da pronúncia, por excesso de linguagem, a única solução contemplada no ordenamento
jurídico é a anulação, com a prolação de outra decisão. O simples envelopamento não é suficiente, ante os termos do parágrafo único do artigo 478 do
Código de Processo Penal, segundo o qual serão entregues aos jurados cópias não apenas da pronúncia, mas “das decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação e do relatório do processo”.
Consoante ressaltei no Habeas Corpus nº 103.037, relatora ministra Cármen Lúcia, julgado pela Primeira Turma em 22 de março de 2011,
com publicação do acórdão no Diário de Justiça de 31 de maio subsequente, “o Código é um sistema, e, nesse sistema, tem-se a problemática do que
apontei como decisão oculta, que o sistema não agasalha, e a regra segundo a qual os jurados devem receber cópia da sentença de pronúncia”.
Recentemente, o Colegiado defrontou-se novamente com o tema, em situação idêntica, de excesso verbal em pronúncia. Mais uma vez,
proclamou a nulidade absoluta da decisão, determinando a prolação de outra – Habeas Corpus nº 123.311, da relatoria do ministro Luiz Fux, julgado
em 24 de março de 2015, com publicação do acórdão em 13 de abril imediato. A mesma óptica foi adotada pela Segunda Turma, à unanimidade, no
Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 122.909, relatora ministra Cármen Lúcia, julgado em 4 de novembro de 2014, decisão publicada em 12 de
dezembro seguinte.
Friso, por oportuno, que o próprio Superior Tribunal de Justiça, ante a jurisprudência firme do Supremo acerca da matéria, evoluiu, para
reconhecer a nulidade da pronúncia viciada pelo excesso de linguagem, determinando a formalização de nova sentença – Agravo Regimental no
Recurso Especial nº 1.442.002/AL, relator ministro Sebastião Reis Júnior, julgado em 28 de abril de 2015 pela mesma Sexta Turma, acórdão publicado
no dia 6 de maio subsequente.
Provejo o recurso, declarando a insubsistência do acórdão do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia a confirmar a pronúncia, a fim de que
outra decisão interlocutória ou terminativa venha à balha na linguagem própria.
É como voto.
*acordão pendente de publicação

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 799-STF (24/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


Márcio André Lopes Cavalcante

Processo excluído deste informativo por não terem sido concluído em virtude de pedido de vista: RE 635659/SP

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS FUNDAMENTAIS
 Sistema carcerário e Estado de Coisas Inconstitucional.

DIREITO ADMINISTRATIVO
TRIBUNAL DE CONTAS
 Independência da tomada de contas em relação ao PAD.
 Citação no processo de tomada de contas.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


ARQUIVAMENTO
 Ilegalidade de Portaria que não admite o processamento de pedidos de arquivamento de procedimento de investigação.

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS FUNDAMENTAIS
Sistema carcerário e Estado de Coisas Inconstitucional

Importante!!!
O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando verifica-se a existência de um quadro de
violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais, causado pela inércia ou
incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a conjuntura, de
modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de uma
pluralidade de autoridades podem modificar a situação inconstitucional.
O STF reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas
Inconstitucional", com uma violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. As
penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e
desumanas.
Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três Poderes
(Legislativo, Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-Membros e do Distrito
Federal.
A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma
verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da perpetuação e
do agravamento da situação.

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


Assim, cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia, coordenar ações visando a
resolver o problema e monitorar os resultados alcançados.
Diante disso, o STF, em ADPF, concedeu parcialmente medida cautelar determinando que:
 juízes e Tribunais de todo o país implementem, no prazo máximo de 90 dias, a audiência de
custódia;
 a União libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo Penitenciário
Nacional para utilização na finalidade para a qual foi criado, proibindo a realização de
novos contingenciamentos.
Na ADPF havia outros pedidos, mas estes foram indeferidos, pelo menos na análise da medida
cautelar.
STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/9/2015 (Info 798).

Em que consiste o chamado "Estado de Coisas Inconstitucional"?


O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando....
- verifica-se a existência de um quadro de violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais,
- causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a
conjuntura;
- de modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de uma
pluralidade de autoridades podem modificar a situação inconstitucional.

Obs: conceito baseado nas lições de Carlos Alexandre de Azevedo Campos (O Estado de Coisas
Inconstitucional e o litígio estrutural. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-set-01/carlos-
campos-estado-coisas-inconstitucional-litigio-estrutural), artigo cuja leitura se recomenda.

Exemplo: no sistema prisional brasileiro existe um verdadeiro "Estado de Coisas Inconstitucional".

Origem
A ideia de que pode existir um Estado de Coisas Inconstitucional e que a Suprema Corte do país pode atuar
para corrigir essa situação surgiu na Corte Constitucional da Colômbia, em 1997, com a chamada
"Sentencia de Unificación (SU)". Foi aí que primeiro se utilizou essa expressão.
Depois disso, a técnica já teria sido empregada em mais nove oportunidades naquela Corte.
Existe também notícia de utilização da expressão pela Corte Constitucional do Peru.

Pressupostos:
Segundo aponta Carlos Alexandre de Azevedo Campos, citado na petição da ADPF 347, para reconhecer o
estado de coisas inconstitucional, exige-se que estejam presentes as seguintes condições:
a) vulneração massiva e generalizada de direitos fundamentais de um número significativo de pessoas;
b) prolongada omissão das autoridades no cumprimento de suas obrigações para garantia e promoção dos
direitos;
b) a superação das violações de direitos pressupõe a adoção de medidas complexas por uma pluralidade
de órgãos, envolvendo mudanças estruturais, que podem depender da alocação de recursos públicos,
correção das políticas públicas existentes ou formulação de novas políticas, dentre outras medidas; e
d) potencialidade de congestionamento da justiça, se todos os que tiverem os seus direitos violados
acorrerem individualmente ao Poder Judiciário.

O que a Corte Constitucional do país faz após constatar a existência de um ECI?


O ECI gera um litígio est utu al , ou seja, existe um número amplo de pessoas que são atingidas pelas
violações de direitos. Diante disso, para enfrentar litígio dessa espécie, a Corte terá que fixar e dios
est utu ais voltados à formulação e execução de políticas públicas, o que não seria possível por meio de
decisões mais tradicionais.

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


A Corte adota, portanto, uma postura de ativismo judicial estrutural diante da omissão dos Poderes
Executivo e Legislativo, que não tomam medidas concretas para resolver o problema, normalmente por
falta de vontade política.

Situações excepcionais
O reconhecimento do Estado de Coisas Inconstitucional é uma técnica que não está expressamente
prevista na Constituição ou em qualquer outro instrumento normativo e, considerando que "confere ao
Tribunal uma ampla latitude de poderes, tem-se entendido que a técnica só deve ser manejada em
hipóteses excepcionais, em que, além da séria e generalizada afronta aos direitos humanos, haja também
a constatação de que a intervenção da Corte é essencial para a solução do gravíssimo quadro enfrentado.
“ão asos e ue se ide tifi a u lo ueio i stitu io al pa a a ga a tia dos di eitos, o ue leva a Co te
a assumir um papel atípico, sob a perspectiva do princípio da separação de poderes, que envolve uma
intervenção mais ampla sobre o campo das políticas públicas." (trecho da petição inicial da ADPF 347).

ADPF e sistema penitenciário brasileiro


Em maio de 2015, o Partido Socialista e Liberdade (PSOL) ajuizou ADPF pedindo que o STF declare que a
situação atual do sistema penitenciário brasileiro viola preceitos fundamentais da Constituição Federal e, em
especial, direitos fundamentais dos presos. Em razão disso, requer que a Corte determine à União e aos Estados
que tomem uma série de providências com o objetivo de sanar as lesões aos direitos dos presos.
Na petição inicial, que foi subscrita pelo grande constitucionalista Daniel Sarmento, defende-se que o
sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas Inconstitucional".
São apontados os pressupostos que caracterizam esse ECI:
a) violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais;
b) inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a conjuntura;
c) situação que exige a atuação não apenas de um órgão, mas sim de uma pluralidade de autoridades para
resolver o problema.
A ação foi proposta contra a União e todos os Estados-membros.

Medidas requeridas na ação


Na ação, pede-se que o STF reconheça a existência do "Estado de Coisas Inconstitucional" e que ele expeça
as seguintes ordens para tentar resolver a situação:

O STF deveria obrigar que os juízes e tribunais do país:


a) quando forem decretar ou manter prisões provisórias, fundamentem essa decisão dizendo
expressamente o motivo pelo qual estão aplicando a prisão e não uma das medidas cautelares alternativas
previstas no art. 319 do CPP;
b) implementem, no prazo máximo de 90 dias, as audiências de custódia (sobre as audiências de custódia,
leia o Info 795 STF);
c) quando forem impor cautelares penais, aplicar pena ou decidir algo na execução penal, levem em
consideração, de forma expressa e fundamentada, o quadro dramático do sistema penitenciário brasileiro;
d) estabeleçam, quando possível, penas alternativas à prisão;
e) abrandar os requisitos temporais necessários para que o preso goze de benefícios e direitos, como a
progressão de regime, o livramento condicional e a suspensão condicional da pena, quando ficar
demonstrado que as condições de cumprimento da pena estão, na prática, mais severas do que as
previstas na lei em virtude do quadro do sistema carcerário; e
f) abatam o tempo de prisão, se constatado que as condições de efetivo cumprimento são, na prática,
mais severas do que as previstas na lei. Isso seria uma forma de "compensar" o fato de o Poder Público
estar cometendo um ilícito estatal.

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


O STF deveria obrigar que o CNJ:
g) coordene um mutirão carcerário a fim de revisar todos os processos de execução penal em curso no
País que envolvamm a aplicação de pena privativa de liberdade, visando a adequá-los às medidas
pleiteadas as alí eas e e f acima expostas.

O STF deveria obrigar que a União:


h) libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN)
para utilização na finalidade para a qual foi criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos.

O STF ainda não julgou definitivamente o mérito da ADPF, mas já apreciou o pedido de liminar. O que a
Corte decidiu?
O STF decidiu conceder, parcialmente, a medida liminar e deferiu apenas os pedidos "b" (audiência de
custódia) e "h" (liberação das verbas do FUNPEN).

O Plenário reconheceu que no sistema prisional brasileiro realmente há uma violação generalizada de
direitos fundamentais dos presos. As penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo
penas cruéis e desumanas.

Diante disso, o STF declarou que diversos dispositivos constitucionais, documentos internacionais (o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos, a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos e Penas
Cruéis, Desumanos e Degradantes e a Convenção Americana de Direitos Humanos) e normas
infraconstitucionais estão sendo desrespeitadas.

Os cárceres brasileiros, além de não servirem à ressocialização dos presos, fomentam o aumento da
criminalidade, pois transformam pe ue os deli ue tes e o st os do i e . A p ova da i efi i ia
do sistema como política de segurança pública está nas altas taxas de reincidência. E o reincidente passa a
cometer crimes ainda mais graves.

Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três Poderes (Legislativo,
Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-Membros e do Distrito Federal.

A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma verdadeira "falha
estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da perpetuação e do agravamento da situação.

Assim, cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia, coordenar ações visando a resolver o
problema e monitorar os resultados alcançados.

A intervenção judicial é necessária diante da incapacidade demonstrada pelas instituições legislativas e


administrativas.

No entanto, o Plenário entendeu que o STF não pode substituir o papel do Legislativo e do Executivo na
consecução de suas tarefas próprias. Em outras palavras, o Judiciário deverá superar bloqueios políticos e
institucionais sem afastar, porém, esses poderes dos processos de formulação e implementação das soluções
necessárias. Nesse sentido, não lhe incumbe definir o conteúdo próprio dessas políticas, os detalhes dos meios
a serem empregados. Com base nessas considerações, foram indeferidos os pedidos "e" e "f".

Quanto aos pedidos a , e d , o STF entendeu que seria desnecessário ordenar aos juízes e Tribunais
que fizessem isso porque já são deveres impostos a todos os magistrados pela CF/88 e pelas leis. Logo, não
havia sentido em o STF declará-los obrigatórios, o que seria apenas um reforço.

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


TRIBUNAL DE CONTAS
Independência da tomada de contas em relação ao PAD

As atribuições do Tribunal de Contas da União são independentes em relação ao julgamento do


processo administrativo disciplinar instaurado para apurar falta funcional do servidor
público. Em outras palavras, o processo no TCU não depende nem está vinculado ao PAD.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info 798).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Determinado servidor público federal recebeu indevidamente determinada verba.
No órgão em que ele trabalhava, foi instaurado um procedimento administrativo disciplinar para apurar o
fato, tendo, ao final, este sido anulado.
Algum tempo depois, o TCU iniciou um procedimento de Tomada de Contas Especial que impôs ao
servidor o pagamento de uma multa e o ressarcimento ao erário.

O fato de o PAD ter sido anulado interfere na Tomada de Contas Especial?


NÃO. A jurisprudência do STF é consolidada no sentido de que as atribuições do Tribunal de Contas da
União são independentes em relação ao julgamento do processo administrativo disciplinar instaurado para
apurar falta funcional do servidor público. Em outras palavras, o processo no TCU não depende nem está
vinculado ao PAD. Nesse sentido, confira o seguinte precedente:
(...) O Tribunal de Contas da União, em sede de tomada de contas especial, não se vincula ao resultado de
processo administrativo disciplinar. Independência entre as instâncias e os objetos sobre os quais se
debruçam as respectivas acusações nos âmbitos disciplinar e de apuração de responsabilidade por dano ao
erário. Precedente. (...)
STF. 1ª Turma. MS 27867 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/09/2012.

TRIBUNAL DE CONTAS
Citação no processo de tomada de contas

Nos processos administrativos que tramitam no TCU, é possível a citação do interessado por
via postal?
SIM. O envio de carta registrada com aviso de recebimento está expressamente enumerado
entre os meios de comunicação de que dispõe o TCU para proceder às suas intimações.

O interessado alega que não mora mais no endereço para o qual a carta com AR foi enviada.
Contudo, constata-se que esse é o endereço que consta na Receita Federal como sendo do
interessado, além do que é o mesmo que está na petição inicial do MS por ele impetrado. A
alegação de nulidade da citação deverá ser aceita?
NÃO. Inicialmente, deve-se esclarecer que a validade da comunicação dos atos do TCU não
depende de comunicação pessoal do interessado, bastando sua efetivação por meio de carta
registrada com aviso de recebimento que comprove sua entrega no endereço do destinatário.
No caso concreto, a a citação foi enviada ao endereço fornecido pelo impetrante no cadastro da
Receita Federal do Brasil, que é o mesmo informado na petição inicial do mandado de
segurança impetrado. Logo, o STF entendeu que foi comprovada a entrega da carta registrada
no endereço do destinatário, de forma que não se podia falar em nulidade do processo.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info 798).

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Tomada de contas especial
A Tomada de Contas Especial (TCE) é um processo administrativo realizado com o objetivo de apurar a
responsabilidade pela ocorrência de dano à administração pública e de obter o respectivo ressarcimento
(art. 3º da Instrução Normativa TCU 56/2007).
A TCE somente deverá ser instaurada após terem se esgotado todas as medidas administrativas de
competência do órgão ou entidade, e não obtido o devido ressarcimento ou saneamento da irregularidade.

Citação do investigado por carta


Imagine que o TCU instaurou processo administrativo de Tomada de Contas Especial e expediu citação, por
meio de carta registrada, que foi enviada para o endereço que constava na Receita Federal como sendo o
do investigado.

Nos processos administrativos que tramitam no TCU, é possível a citação do interessado por via postal?
SIM. O envio de carta registrada com aviso de recebimento está expressamente enumerado entre os
meios de comunicação de que dispõe o TCU para proceder às suas intimações.
O inciso II do art. 179 do Regimento Interno do TCU é claro ao exigir apenas a comprovação da entrega no
endereço do destinatário, bastando o aviso de recebimento simples.
STF. Plenário. MS 25816 AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 12/06/2006.

No caso concreto, o interessado alegou nulidade da citação sob o argumento de que não moraria mais
naquele endereço. Tal argumento foi aceito pelo STF?
NÃO. Inicialmente, deve-se esclarecer que a validade da comunicação dos atos do TCU não depende de
comunicação pessoal do interessado, bastando sua efetivação por meio de carta registrada com aviso de
recebimento que comprove sua entrega no endereço do destinatário.
No caso concreto, a citação foi enviada ao endereço fornecido pelo impetrante no cadastro da Receita
Federal do Brasil, que é o mesmo informado na petição inicial do mandado de segurança impetrado. Logo,
o STF entendeu que foi comprovada a entrega da carta registrada no endereço do destinatário, de forma
que não se podia falar em nulidade do processo.

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR

ARQUIVAMENTO
Ilegalidade de Portaria que não admite o processamento de
pedidos de arquivamento de procedimento de investigação

É ilegal Portaria expedida por Juiz-Auditor Militar na qual ele afirma que os pedidos de
arquivamento de procedimento investigatório criminal instaurados pela Procuradoria de
Justiça Militar não devem ser recebidos ou distribuídos pela Justiça Militar.
A referida Portaria é ilegal porque existe um procedimento previsto expressamente no art.
397 do CPPM para os casos de pedido de arquivamento do inquérito policial ou procedimento
investigatório criminal.
Diante de um pedido de arquivamento, compete ao Juiz-Auditor a adoção de duas possíveis
condutas: a) anuir (concordar) com o arquivamento proposto; ou b) discordando da
fundamentação apresentada, remeter o processo ao Procurador-Geral.
A recusa em dar andamento ao pleito de trancamento configura inaceitável abandono do
controle jurisdicional a ser exercido no tocante ao princípio da obrigatoriedade da ação penal.
STF. 1ª Turma. RMS 28428/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/9/2015 (Info 798).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O Juiz-Auditor Militar baixou portaria na qual dizia que os pedidos de arquivamento de procedimento
investigatório criminal instaurados pela Procuradoria de Justiça Militar não seriam nem recebidos ou
distribuídos.

Essa portaria é legal?


NÃO. O STF declarou que a referida Portaria é ilegal porque existe um procedimento previsto
expressamente no art. 397 do CPPM para os casos de pedido de arquivamento do inquérito policial ou
procedimento investigatório criminal. Confira:
Falta de elementos para a denúncia
Art. 397. Se o procurador, sem prejuízo da diligência a que se refere o art. 26, n° I, entender que os autos
do inquérito ou as peças de informação não ministram os elementos indispensáveis ao oferecimento da
denúncia, requererá ao auditor que os mande arquivar. Se êste concordar com o pedido, determinará o
arquivamento; se dêle discordar, remeterá os autos ao procurador-geral.

Há, portanto, evidente conflito entre uma norma de hierarquia inferior (Portaria) com uma norma superior
(CPPM), devendo prevalecer, portanto, este último diploma.

Diante de um pedido de arquivamento, compete ao Juiz-Auditor a adoção de duas possíveis condutas:


a) anuir (concordar) com o arquivamento proposto; ou
b) discordando da fundamentação apresentada, remeter o processo ao Procurador-Geral.

A recusa em dar andamento ao pleito de trancamento configura inaceitável abandono do controle


jurisdicional a ser exercido no tocante ao princípio da obrigatoriedade da ação penal.
Ademais, o STF afirmou que não se pode admitir que argumentos pragmáticos, como aqueles ligados ao
volume de trabalho da Justiça Militar, sirvam para justificar essa Portaria, que viola o devido processo legal.

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 7 a 11 de setembro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 898.450-SP


RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. EDITAL.
REQUISITOS. IMPEDIMENTO DO PROVIMENTO DE CARGO, EMPREGO OU FUNÇÃO PÚBLICA DECORRENTE DA
EXISTÊNCIA DE TATUAGEM NO CORPO DO CANDIDATO. AFERIÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA
ESTATAL DE QUE A TATUAGEM ESTEJA DENTRO DE DETERMINADOS PARÂMETROS. ARTS. 5º, I E 37, I E II DA CRFB/88.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.

CLIPPING DO D JE
7 a 11 de setembro de 2015

RE N. 593.727-MG
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
Repercussão geral. Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Constitucional. Separação dos poderes. Penal e processual penal. Poderes de
investigação do Ministério Público. 2. Questão de ordem arguida pelo réu, ora recorrente. Adiamento do julgamento para colheita de parecer do Procurador-
Geral da República. Substituição do parecer por sustentação oral, com a concordância do Ministério Público. Indeferimento. Maioria. 3. Questão de ordem
levantada pelo Procurador-Geral da República. Possibilidade de o Ministério Público de estado-membro promover sustentação oral no Supremo. O Procurador-
Geral da República não dispõe de poder de ingerência na esfera orgânica do Parquet estadual, pois lhe incumbe, unicamente, por expressa definição
constitucional (art. 128, § 1º), a Chefia do Ministério Público da União. O Ministério Público de estado-membro não está vinculado, nem subordinado, no plano
processual, administrativo e/ou institucional, à Chefia do Ministério Público da União, o que lhe confere ampla possibilidade de postular, autonomamente,
perante o Supremo Tribunal Federal, em recursos e processos nos quais o próprio Ministério Público estadual seja um dos sujeitos da relação processual.
Questão de ordem resolvida no sentido de assegurar ao Ministério Público estadual a prerrogativa de sustentar suas razões da tribuna. Maioria. 4. Questão
constitucional com repercussão geral. Poderes de investigação do Ministério Público. Os artigos 5º, incisos LIV e LV, 129, incisos III e VIII, e 144, inciso IV, §
4º, da Constituição Federal, não tornam a investigação criminal exclusividade da polícia, nem afastam os poderes de investigação do Ministério Público.
Fixada, em repercussão geral, tese assim sumulada: “O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo
razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob
investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais
de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da
possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula
Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição”. Maioria. 5. Caso concreto. Crime de responsabilidade de prefeito. Deixar de cumprir ordem
judicial (art. 1º, inciso XIV, do Decreto-Lei nº 201/67). Procedimento instaurado pelo Ministério Público a partir de documentos oriundos de autos de processo
judicial e de precatório, para colher informações do próprio suspeito, eventualmente hábeis a justificar e legitimar o fato imputado. Ausência de vício. Negado
provimento ao recurso extraordinário. Maioria.
*noticiado no Informativo 785
RE N. 730.462-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE PRECEITO NORMATIVO
PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EFICÁCIA NORMATIVA E EFICÁCIA EXECUTIVA DA DECISÃO: DISTINÇÕES.
INEXISTÊNCIA DE EFEITOS AUTOMÁTICOS SOBRE AS SENTENÇAS JUDICIAIS ANTERIORMENTE PROFERIDAS EM SENTIDO
CONTRÁRIO. INDISPENSABILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO OU PROPOSITURA DE AÇÃO RESCISÓRIA PARA SUA
REFORMA OU DESFAZIMENTO.
1. A sentença do Supremo Tribunal Federal que afirma a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito normativo gera, no plano do
ordenamento jurídico, a consequência (= eficácia normativa) de manter ou excluir a referida norma do sistema de direito.
2. Dessa sentença decorre também o efeito vinculante, consistente em atribuir ao julgado uma qualificada força impositiva e obrigatória em relação a
supervenientes atos administrativos ou judiciais (= eficácia executiva ou instrumental), que, para viabilizar-se, tem como instrumento próprio, embora
não único, o da reclamação prevista no art. 102, I, “l”, da Carta Constitucional.
3. A eficácia executiva, por decorrer da sentença (e não da vigência da norma examinada), tem como termo inicial a data da publicação do acórdão do
Supremo no Diário Oficial (art. 28 da Lei 9.868/1999). É, consequentemente, eficácia que atinge atos administrativos e decisões judiciais
supervenientes a essa publicação, não os pretéritos, ainda que formados com suporte em norma posteriormente declarada inconstitucional.
4. Afirma-se, portanto, como tese de repercussão geral que a decisão do Supremo Tribunal Federal declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade
de preceito normativo não produz a automática reforma ou rescisão das sentenças anteriores que tenham adotado entendimento diferente; para que tal ocorra,
será indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o caso, a propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC, observado o
respectivo prazo decadencial (CPC, art. 495). Ressalva-se desse entendimento, quanto à indispensabilidade da ação rescisória, a questão relacionada à execução
de efeitos futuros da sentença proferida em caso concreto sobre relações jurídicas de trato continuado.
5. No caso, mais de dois anos se passaram entre o trânsito em julgado da sentença no caso concreto reconhecendo, incidentalmente, a constitucionalidade do
artigo 9º da Medida Provisória 2.164-41 (que acrescentou o artigo 29-C na Lei 8.036/90) e a superveniente decisão do STF que, em controle concentrado,
declarou a inconstitucionalidade daquele preceito normativo, a significar, portanto, que aquela sentença é insuscetível de rescisão.
6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


RE N. 795.567-PR
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E PENAL. TRANSAÇÃO PENAL. CUMPRIMENTO DA PENA RESTRITIVA DE DIREITO. POSTERIOR
DETERMINAÇÃO JUDICIAL DE CONFISCO DO BEM APREENDIDO COM BASE NO ART. 91, II, DO CÓDIGO PENAL. AFRONTA À
GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL CARACTERIZADA.
1. Tese: os efeitos jurídicos previstos no art. 91 do Código Penal são decorrentes de sentença penal condenatória. Tal não se verifica, portanto, quando
há transação penal (art. 76 da Lei 9.099/95), cuja sentença tem natureza homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do
aceitante. As consequências da homologação da transação são aquelas estipuladas de modo consensual no termo de acordo.
2. Solução do caso: tendo havido transação penal e sendo extinta a punibilidade, ante o cumprimento das cláusulas nela estabelecidas, é ilegítimo o
ato judicial que decreta o confisco do bem (motocicleta) que teria sido utilizado na prática delituosa. O confisco constituiria efeito penal muito mais
gravoso ao aceitante do que os encargos que assumiu na transação penal celebrada (fornecimento de cinco cestas de alimentos).
3. Recurso extraordinário a que se dá provimento.
*noticiado no Informativo 787
AG. REG. NO ARE N. 868.922-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Embargos declaratórios opostos na origem rejeitados
monocraticamente pelo relator. Ausência de interposição do recurso cabível. Não esgotamento das instâncias ordinárias. Súmula nº 281/STF.
Prequestionamento. Ausência. Dano moral. Fixação do valor inicial em múltiplo do salário-mínimo. Violação da parte final do art. 7º, inciso
IV, da CF. Não ocorrência. Quantum indenizatório. Discussão. Ausência de repercussão geral. Precedentes.
1. O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto após decisão monocrática proferida pelo relator, haja vista que não esgotada a prestação
jurisdicional pelo Tribunal de origem. Incidência da Súmula nº 281/STF.
2. Não se admite o recurso extraordinário quando os dispositivos constitucionais indicados como violados carecem do necessário prequestionamento.
Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF.
3. É legítima a utilização do salário mínimo quando se tiver por finalidade apenas a expressão do valor inicial da indenização.
4. O Plenário da Corte, no exame do ARE nº 743.771/SP, Relator o Ministro Gilmar Mendes, concluiu pela ausência de repercussão geral do tema
relativo à “modificação do valor fixado a título de indenização por danos morais”, dado o caráter infraconstitucional da matéria.
5. Agravo regimental não provido.
*noticiado no Informativo 788
RHC N. 126.917-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. CRIME DE ESTELIONATO. ART. 171, CAPUT, DO CP.
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO RESSARCIMENTO DA VÍTIMA. APLICAÇÃO DA REGRA ESPECIAL DO § 2º DO ART. 9º DA LEI
10.684/2003. IMPOSSIBILIDADE.
1. Por se tratar de norma especial, dirigida a determinadas infrações de natureza tributária, a causa especial de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º
da Lei 10.684/2003 (pagamento integral do crédito tributário) não se aplica ao delito de estelionato do caput do art. 171 do Código Penal. Precedentes.
2. Recurso ordinário a que se nega provimento.
*noticiado no Informativo 796
HC N. 125.101-SP
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Habeas corpus. Processual Penal Militar. Tentativa de homicídio qualificado (CP, art. 121, § 2º, inciso IV, c/c o art. 14, inciso II).
Arquivamento de Inquérito Policial Militar, a requerimento do Parquet Militar. Conduta acobertada pelo estrito cumprimento do dever
legal. Excludente de ilicitude (CPM, art. 42, inciso III). Não configuração de coisa julgada material. Entendimento jurisprudencial da Corte.
Surgimento de novos elementos de prova. Reabertura do inquérito na Justiça comum, a qual culmina na condenação do paciente e de corréu
pelo Tribunal do Júri. Possibilidade. Enunciado da Súmula nº 524/STF. Ordem denegada.
1. O arquivamento de inquérito, a pedido do Ministério Público, em virtude da prática de conduta acobertada pela excludente de ilicitude do estrito
cumprimento do dever legal (CPM, art. 42, inciso III), não obsta seu desarquivamento no surgimento de novas provas (Súmula nº 5241/STF). Precedente.
2. Inexistência de impedimento legal para a reabertura do inquérito na seara comum contra o paciente e o corréu, uma vez que subsidiada pelo
surgimento de novos elementos de prova, não havendo que se falar, portanto, em invalidade da condenação perpetrada pelo Tribunal do Júri.
3. Ordem denegada.
*noticiado no Informativo 796
HC N. 128.921-RJ
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Habeas corpus. 2. Código de Trânsito Brasileiro. Direção sem habilitação, art. 309; e, lesão corporal, art. 303. 3. Incidência do princípio da
consunção. O crime de dirigir sem habilitação é absorvido pelo delito de lesão corporal 4. Precedentes de ambas as turmas. 5. Falta de representação
da vítima 6. Ordem concedida para restabelecer a decisão de primeiro grau, que rejeitou a denúncia.
*noticiado no Informativo 796

TRANSCRIÇÕES
Extradição e falsidade de registro civil de nascimento (Transcrições)
(v. Informativo 796)
Ext. 1.393/DF*
RELATOR: Ministro Dias Toffoli
EMENTA: Extradição instrutória. Governo do Paraguai. Nacionalidade do extraditando. Registros civis brasileiro e paraguaio
atestando seu nascimento, na mesma data, em ambos os países. Impossibilidade lógica de sua coexistência. Cancelamento do registro
civil brasileiro, em razão de sua falsidade. Antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional em ação anulatória de registro promovida
pelo Ministério Público. Presunção de veracidade do ato registrário brasileiro afastada (art. 1.604 do Código Civil). Provisoriedade da

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


decisão. Irrelevância, uma vez que continua a projetar seus efeitos. Existência de prova robusta, nos autos da extradição, de que o
extraditando efetivamente nasceu em solo paraguaio. Assento de nascimento lavrado no Paraguai 10 (dez) anos antes do registro civil
tardio do extraditando no Brasil. Extraditando que foi vereador e prefeito no Paraguai, onde gozou, em sua plenitude, da sua condição
de paraguaio nato. Vedação do art. 5º, LI, da Constituição Federal não caracterizada. Ausência de óbice ao exame de mérito da
extradição. Pedido instruído com os documentos necessários a sua análise. Atendimento aos requisitos da Lei nº 6.815/80 e do Acordo
de Extradição entre os Estados Parte do Mercosul. Homicídios qualificados (art. 105 do Código Penal do Paraguai e art. 121, § 2º, IV,
do Código Penal Brasileiro). Dupla tipicidade. Reconhecimento. Prescrição. Não ocorrência, tanto sob a óptica da legislação alienígena
quanto sob a óptica da legislação brasileira. Reexame de fatos subjacentes à investigação. Impossibilidade. Sistema de contenciosidade
limitada. Precedentes. Crime político não configurado. Precedentes. Existência de filhos brasileiros. Irrelevância. Súmula nº 421 do
Supremo Tribunal Federal. Compatibilidade com a Constituição Federal. Precedentes. Pedido deferido. Detração do tempo de prisão
a que o extraditando tiver sido submetido no Brasil (art. 91, II, da Lei nº 6.815/80).
1. Como o extraditando foi registrado civilmente no Paraguai e no Brasil e esses registros apontam que ele nasceu na mesma data em
ambos os países, a impossibilidade lógica de sua coexistência é manifesta.
2. Nos termos do art. 1.604 do Código Civil, “ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo
provando-se erro ou falsidade do registro”.
3. O assento de nascimento brasileiro do extraditando foi cancelado por decisão da Justiça Comum Estadual, que, antecipando os efeitos
da tutela jurisdicional em ação anulatória de registro civil promovida pelo Ministério Público, reconheceu sua falsidade.
4. Afastada a presunção juris tantum de veracidade do ato registrário brasileiro, por decisão que, embora provisória, continua a projetar
os seus efeitos, não há óbice ao exame de mérito da extradição.
5. Embora o extraditando tenha sido registrado civilmente no Paraguai e no Brasil, o assento de nascimento paraguaio foi lavrado 10
(dez) anos antes do brasileiro, o qual foi promovido, sintomaticamente, em conjunto com o registro tardio de seus irmãos, também previamente
registrados no Paraguai, circunstâncias que, em reforço à decisão judicial que determinou o cancelamento do registro brasileiro, militam em
favor da presunção de veracidade do primeiro registro realizado no Paraguai.
6. Todos esses fatos, somados à prova robusta produzida nos autos da extradição de que o extraditando nasceu em solo paraguaio e
sempre gozou, em sua plenitude, da sua condição de paraguaio nato, tendo sido vereador e prefeito no Paraguai, afastam a vedação do art. 5º,
LI, da Constituição Federal.
7. O pedido formulado pelo Governo do Paraguai, com base no Acordo de Extradição entre os Estados Parte do Mercosul, atende aos
pressupostos necessários a seu deferimento, nos termos da Lei nº 6.815/80.
8. Os fatos delituosos imputados ao extraditando correspondem, no Brasil, ao crime de homicídio qualificado, previsto no art. 121, § 2º,
IV, do Código Penal, satisfazendo, assim, ao requisito da dupla tipicidade previsto no art. 77, II, da Lei nº 6.815/80.
9. Não ocorre a prescrição da pretensão punitiva, consoante os textos legais apresentados pelo Estado requerente e a legislação penal
brasileira (art. 109, I, do Código Penal).
10. O pedido foi instruído com os documentos necessários a sua análise, trazendo indicações seguras a respeito da identidade do
extraditando, do local, da data, da natureza, das circunstâncias e da qualificação legal dos fatos delituosos. Está, portanto, em perfeita
consonância com as regras do art. 18 do Acordo de Extradição entre os Estados Parte do Mercosul e do art. 80, caput, da Lei nº 6.815/80.
11. Os crimes imputados ao extraditando (homicídios qualificados de um jornalista e de sua assistente, mediante recurso que
impossibilitou sua defesa), são despidos de natureza política e se inserem na criminalidade comum. Precedentes.
12. É irrelevante, para fins de extradição, o fato de o extraditando ter filhos brasileiros, nos termos da Súmula nº 421 do Supremo
Tribunal Federal, que é compatível com a Constituição Federal. Precedentes.
13. De acordo com o art. 91, II, da Lei nº 6.815/80, o Governo do Paraguai deverá assegurar a detração do tempo em que o extraditando
permanecer preso no Brasil por força do pedido formulado.
14. Extradição deferida.
RELATÓRIO: Trata-se de extradição instrutória, encaminhada pelo Ministro de Estado da Justiça e requerida, por via diplomática, pelo Governo do
Paraguai, com base no Acordo de Extradição entre os Estados Parte do Mercosul, promulgado pelo Decreto nº 4.975, de 30 de janeiro de 2004, em
que se pede a extradição do nacional paraguaio **.
Colhe-se da Nota Verbal nº 3/055/2015 que o extraditando está sendo processado naquele país por suposta participação em dois crimes de
homicídio doloso executados em 16.10.14 contra as vítimas ** e **, no Departamento de Canindeyú, República do Paraguai.
Por meio da Resolução Fiscal nº 55, de 18.10.14, o Ministério Público do Paraguai ordenou a detenção preventiva do extraditando e solicitou
ao Juizado Penal de Garantias de Curuguaty, Departamento de Canindeyú, a declaração de revelia e a sua detenção, por homicídio doloso (art. 105,
parágrafos 1º e 2º, incisos 2 e 4, do Código Penal Paraguaio), “em conformidade com a ata de imputação nº 55, do dia 29 de outubro do ano 2014” (fl.
212).
Em 30.10.14, o Juizado Penal de Garantias de Curuguaty, nos autos da “causa nº 1.527/2014”, declarou a revelia do extraditando e ordenou sua
captura, com fundamento no art. 82 do Código de Processo Penal Paraguaio (fls. 215/218). Posteriormente, em 6.11.14, o mesmo Juizado expediu ordem
de captura internacional do extraditando (fl. 224).
Em 6.3.15, nos autos da PPE nº 741, decretei a prisão preventiva do extraditando, por entender preenchidos os requisitos previstos no Acordo
de Extradição entre os Estados Parte do Mercosul e, nessa mesma data, a Polícia Federal cumpriu o respectivo mandado de prisão.
Em 9.3.15, nos termos do art. 21-A do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, deleguei competência ao Magistrado Instrutor
Rodrigo Capez, convocado para atuar em meu Gabinete, para interrogar o extraditando.
Em 8.5.15, o extraditando foi interrogado (fls. 345/347) e apresentou sua defesa (fls. 375/392), instruindo-a com documentos (fls. 396/530).
Sustenta o extraditando, em síntese, sua condição de brasileiro nato, por ter nascido no município de Paranhos, Estado do Mato Grosso do Sul, em
cujo Serviço de Registro Civil foi tardiamente registrado em 5.12.88, por ordem judicial, assim como o foram cinco de seus irmãos.
Aduz, em sua defesa, para comprovar sua nacionalidade brasileira, que seus pais se casaram em 7.3.67 no município de Caarapó/MS e, em
12.11.81, registraram seu irmão ** no Serviço de Registro Civil de Paranhos. Acrescenta que seus próprios filhos,** ** e **, nascidos no município
de Paranhos em, respectivamente, 1º.1º.05 e em 25.11.97, também são brasileiros natos.
A seu ver, o fato de seus pais, seus filhos e seus irmãos terem sido registrados no Brasil e possuírem documentos relacionados a sua condição
de brasileiros (título de eleitor, CPF, cartão nacional de saúde), bem como o fato de ser proprietário de uma motocicleta registrada no Brasil,
comprovariam ser ele brasileiro, tanto mais que sua cédula de identidade foi expedida em 20.6.2000 pela Secretaria de Segurança Pública do Mato
Grosso do Sul, ao passo que sua cédula de identificação paraguaia foi expedida, posteriormente, em 19.12.03.
Alega, ainda, a falsidade de seu registro civil no Paraguai, aduzindo que ele próprio mandou falsificá-lo e o utilizou para eleger-se vereador e
prefeito da cidade paraguaia de Ypejhu. Insurge-se, ainda, contra as certidões supostamente comprobatórias de seu nascimento no Paraguai,
apresentadas pelo Estado Requerente.
Ante o exposto, requer o indeferimento do pedido de extradição.
O Procurador-Geral da República, Dr. Rodrigo Janot Monteiro de Barros, opinou pelo deferimento do pedido de extradição (fls. 534/579).

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


Assevera Sua Excelência, em seu parecer, que todas as provas indicam que o extraditando é nacional paraguaio e que seu assento de
nascimento no Registro Civil de Paranhos/MS, por ser ideologicamente falso, foi cancelado por decisão do juízo da Vara Única da Comarca de Sete
Quedas/MS, que antecipou os efeitos da tutela jurisdicional em ação anulatória de registro civil proposta pelo Ministério Público, o que afasta a
presunção de sua veracidade.
Considerando-se que a Procuradoria-Geral da República, em seu parecer, juntou novos documentos, determinei à defesa que sobre eles se
manifestasse no prazo de 3 (três) dias.
O extraditando se manifestou por intermédio da petição nº 32.050/15 – STF, reiterando sua condição de brasileiro nato, nos termos do art. 12,
I, da Constituição Federal, por haver nascido no Brasil, mais precisamente no domicílio de **, conforme depoimento por si prestado, na condição de
testemunha, perante o juízo da Vara de Sete Quedas, nos autos da ação anulatória de registro civil. Requer, outrossim, seja requisitada ao referido
juízo cópia da gravação dessa audiência (fls. 573/580).
Por intermédio da petição nº 36.439/15, a Procuradoria-Geral da República, informou que “novos documentos, obtidos após o parecer
oferecido nessa extradição tornam inequívoca a falsidade do registro brasileiro”, esclarecendo que, por determinação do Tribunal de Justiça de Mato
Grosso do Sul, foi expedido ofício ao Hospital Municipal de Paranhos/MS para que informasse se a genitora do extraditando nele teria sido atendida
nos anos de 1974, 1975 e 1976, sendo que a resposta foi negativa. Por fim, com relação ao extraditando, o mesmo hospital informou haver o registro
de seu atendimento apenas em 29.2.08.
À vista dessa petição e dos novos documentos que a instruíram, determinei que a defesa sobre eles se manifestasse em 3 (três) dias.
A Secretaria Judiciária certificou o decurso, in albis, do prazo assinalado à defesa.
Por intermédio da petição nº 41.454/15 – STF, a defesa do extraditando alegou ter sido errônea a intimação do advogado **, OAB/MS nº **,
para se manifestar sobre os novos documentos apresentados pela Procuradoria-Geral da República, ao fundamento de que referido advogado
substabeleceu seus poderes ao advogado , OAB/MT nº **.
Requereu, ainda, fosse realizada nova intimação, na pessoa desse último, para a manifestação em questão (fls. 639/641).
Esse pedido foi por mim indeferido, pelos seguintes fundamentos:
“Conforme se observa do instrumento de fl. 346, o advogado **, OAB/MS nº ** substabeleceu, com reserva de iguais poderes, o
mandato ao advogado **, OAB/MT nº **.
Válida, portanto, a intimação feita em nome do primeiro advogado.
Como já tive a oportunidade de assentar, realizada a intimação em nome de advogado constituído pelo réu, que teria outorgado
substabelecimento, com reserva de poderes, a outro defensor,
‘(...) inegável a jurisprudência da Corte no sentido de que, ‘quando a parte tem mais de um advogado, basta que a intimação
seja realizada em nome de um deles. Se o advogado, ao outorgar o substabelecimento com reserva de poderes, não o faz para o
substabelecido acompanhar especificamente a tramitação do processo na superior instância e nem, tampouco, requer que o nome dele
figure nas publicações, inclusive para efeito de intimação, pertinentes ao julgamento da causa, reputa-se inocorrente a invalidade da
intimação’ (HC nº 79.592/MT, Primeira Turma, Relator o Ministro Ilmar Galvão, DJ de 12.5.2000). No mesmo sentido o MS nº
21.209/DF-AgR, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Nelson Jobim, DJ de 3/12/04’ (RHC 118.132/SP, Primeira Turma, de minha
relatoria, DJe de 29.11.13).
Ademais, ‘nos termos da orientação firmada nesta Corte, é válida a intimação realizada em nome de um dos advogados constituídos
pela parte, sendo desnecessária a intimação de todos eles’ (AI nº 726.743/MG-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Joaquim Barbosa,
DJe de 5.4.11).
Registro que, no substabelecimento, além da reserva de iguais poderes, não se ressalvou que as intimações deveriam ser feitas
exclusivamente na pessoa do advogado substabelecido, o que afasta a pretendida nulidade da intimação.
No mesmo sentido, destaco trecho do voto condutor do HC nº 114.846/SP-ED, Primeira Turma, Relator o Ministro Roberto Barroso,
DJe de 19.12.14):
‘Conclui-se, portanto, que no substabelecimento não foi mencionado que as intimações deveriam ser exclusivamente no nome
do impetrante e, assim, poderia haver intimação no nome de qualquer advogado constituído. Nessa linha é jurisprudência desta Corte
que considera ‘válida a intimação das decisões que inadmitiram os recursos extraordinário e especial interpostos pela defesa em nome
de um dos advogados constituídos pela Paciente, uma vez que, pelos documentos dos autos, não há pedido expresso para intimação
exclusiva no nome do Impetrante’ (HC 102.575. Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia)’.
Registro, por fim, que a defesa do extraditando, por intermédio da petição nº 41.455/15-STF, subscrita pelo advogado
substabelecido, efetivamente se manifestou sobre os novos documentos juntados pelo Ministério Público Federal, o que torna prejudicado
o pedido de renovação do prazo para essa finalidade” (grifei).
A defesa do extraditando, por intermédio da referida petição nº 41.455/15-STF, após se manifestar sobre os documentos apresentados pela
Procuradoria-Geral da República, reiterou o pleito de indeferimento do pedido extradicional, aduzindo que, além de ser brasileiro nato pelo critério do
jus solis, por ter nascido em território brasileiro (art. 12, I, a, CF), também o seria pelo critério do jus sanguinis, ao fundamento de que seus pais são
brasileiros e se casaram em 7.3.67, na cidade de Caarapó, Mato Grosso do Sul (fls. 645/667).
É o relatório.
VOTO: Conforme relatado, trata-se de extradição instrutória requerida pelo Governo do Paraguai fundada em título prisional preventivo expedido em
desfavor do extraditando ** no país requerente.
De acordo com a Nota Verbal nº 3/055/2015, o extraditando está sendo processado naquele país por ter sido o suposto mandante de dois
homicídios qualificados executados em 16.10.14 contra as vítimas ** ** e ** **, no Departamento de Canindeyú, República do Paraguai.
Preliminarmente, indefiro a conversão do julgamento em diligência requerida pelo extraditando (fls. 579/580) para a requisição de mídia
contendo a gravação da audiência realizada na ação anulatória de seu registro civil brasileiro, uma vez que a defesa já promoveu a juntada dos termos
de depoimentos prestados pelas testemunhas de seu interesse (fls. 581/590).
A providência reclamada, portanto, é irrelevante para a instrução do feito.
Superada essa preliminar, a questão a ser enfrentada, por ser prejudicial ao exame de mérito, é a da nacionalidade do extraditando.
O extraditando confessou ter dois assentos de nascimento: o primeiro, lavrado no Paraguai, em nome de **, e o segundo, lavrado muitos anos
anos depois, no Brasil, em nome de **.
Como os dois registros apontam que o extraditando nasceu, na mesma data, em ambos os países, a impossibilidade lógica de sua
coexistência é manifesta.
Os peritos da Polícia Federal, por meio de exame papiloscópico, constataram que as individuais datiloscópicas do extraditando identificam-se
com as de **, identificado civilmente no Estado de Mato Grosso do Sul sob nº ** (vide laudo da perícia papiloscópica nº 15/2015 no apenso 01).
Os peritos, apesar da baixa qualidade da digitalização das individuais datiloscópicas em nome de **, encaminhadas pela INTERPOL,
comprovaram ainda “que a classificação datiloscópica das impressões digitais do prontuário em nome de ** é coincidente com a classificação

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primária das impressões digitais constantes na individual datiloscópica em nome de **” (vide laudo pericial nº 3/2015, às fls. 16/17, e laudo de
perícia papiloscópica nº 15/2015, no apenso 01, grifo nosso).
É incontroverso, portanto, que o suposto nacional brasileiro ** e o suposto nacional paraguaio ** são a mesma pessoa.
Resta saber se é verdadeiro o assento de nascimento lavrado no Brasil, o que se erigiria em óbice à extradição, haja vista que, nos termos do
art. 5º, LI, da Constituição Federal,
“nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização ou de
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei”.
A resposta é desenganadoramente negativa.
Nos termos do art. 1.604 do Código Civil, “ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-
se erro ou falsidade do registro”.
Na Ext. nº 1.141/República Oriental do Uruguai-QO, Pleno, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJ de 7.10.14, discutiu-se a existência de
dúvida a respeito da nacionalidade do extraditando, registrado civilmente no Uruguai, cinco anos após o seu nascimento, e no Brasil, dezesseis anos
após o seu nascimento.
Nesse julgamento, observou o Ministro Celso de Mello que
“(...) o extraditando suscitou uma questão prejudicial, que é altamente relevante, porque concerne à alegada titularidade, por ele, da
condição jurídica de brasileiro nato.
Essa questão prejudicial, se acolhida, representará insuperável obstáculo ao conhecimento da ação de extradição passiva, pois
encontra fundamento na própria Constituição, que proclama a inextraditabilidade do brasileiro nato (CF, art. 5º, inciso LI).
Como aqui salientou o eminente Ministro CEZAR PELUSO, o registro civil produz todos os seus efeitos enquanto não for
desconstituído. Essa é uma regra básica que prevalece em matéria registral. Há, aí, uma presunção ‘juris tantum’, meramente relativa, de
legitimidade do ato registral.
A cessação da eficácia jurídica do assento de nascimento em causa, lavrado por órgão competente do Registro Civil das Pessoas
Naturais, depende, para efetivar-se, de desconstituição ordenada por autoridade judiciária.
Até que sobrevenha essa desconstituição judicial, subsiste, no que concerne ao mencionado assento de nascimento, a presunção de
legitimidade e de veracidade de referido ato estatal, cuja fé pública – é importante salientar – é resguardada pela própria Constituição
Federal, como resulta claro da norma inscrita em seu art. 19, inciso II.
Considerada a presunção de legitimidade e de veracidade que resulta do ato registral em questão, tenho sérias dúvidas a propósito da
subsistência da prisão cautelar, mesmo aquela de caráter domiciliar, do ora extraditando, pois milita, em favor deste, a condição jurídica de
brasileiro nato, como o evidencia certidão de nascimento extraída do Registro Civil das Pessoas Naturais de Bento Gonçalves/RS”.
E, mais adiante, aduziu que
“[a] questão básica consiste em saber se o assento de nascimento, ainda que tardiamente lavrado em órgão competente do Registro
Civil das Pessoas Naturais no Estado do Rio Grande do Sul, teria sido, ou não, desconstituído por decisão judicial, pois, enquanto tal não
ocorrer, esse ato registral produzirá todos os seus efeitos jurídicos, notadamente aquele que atribui a condição de brasileiro nato à pessoa a
que se refere”.
Na espécie, o juízo da Vara Única da Comarca de Sete Quedas/MS, em ação anulatória de registro civil ajuizada pelo Parquet estadual,
deferiu pleito de antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional e cancelou o assento de nascimento do extraditando no Brasil, in verbis:
“Trata-se de ação anulatória de registro civil ajuizada pelo Ministério Público Estadual em face de **, paraguaio, que atualmente
encontra-se no prédio da Polícia Federal em Campo Grande. Aduziu, em apertada síntese, que o requerido é paraguaio e foi registrado
naquele país na cidade de Ypehu, tendo nascido no dia 13.07.1975, filho de ** e **. Acontece que além da certidão de nascimento paraguaia,
o requerido possui certidão de nascimento brasileira, desta feita com o nome de **, com a mesma data de nascimento e nome dos pais,
apenas com a menção de que o nascimento ocorreu na cidade de Paranhos.
Apontou ainda como prova de que o requerido é paraguaio e a certidão de nascimento brasileira não condiz com a realidade o fato
dele ter ocupado até pouco tempo atrás o cargo de representante do executivo da cidade paraguaia de Ipehu, dele saindo apenas após ser
acusado pelos órgãos de segurança pública do Paraguai de ser o mandante do assassinato do jornalista ** e da estudante de jornalismo **.
Pediu tutela antecipada para anular o registro civil do requerido, diante da sua inveracidade. Com a inicial vieram documentos.
(…)
No caso em tela não há dúvida de que o assento de nascimento lavrado perante o cartório de registro civil de Paranhos é inválido, na
medida em que não representa a realidade.
Primeiro, há de se apontar a existência de certidão de nascimento feita no Paraguai, mais precisamente em Ypehu (cidade que faz
fronteira seca com Paranhos) apontando nascimento de ** no dia 13.07.1975, filho de ** e **, sendo tal documento emitido em 09.12.1978.
De outro lado, consta no registro civil de Paranhos o assento - que se pretende anular - de **, filho de ** e **, também nascido no dia
13.07.1975, mas do lado de cá da fronteira, na cidade de Paranhos, pertencente a esta comarca. O documento brasileiro foi feito em
05.12.1988, diante de processo de registro tardio.
Em que pese pequena diferença do nome do autor e de seus pais entre o registro paraguaio e o brasileiro, decorrente basicamente da
inserção na certidão brasileira do sobrenome **, dúvida não paira de que se trata da mesma pessoa.
O laudo pericial feito pela Polícia Federal, ainda que diante da baixa qualidade da digitalização do documento oriundo do Paraguai,
não tenha feito o confronto integral, aponta que as classificações datiloscópicas primárias são coincidentes, entre o documento de
identificação civil feito no Paraguai por ** e no Brasil por **.
Reforça ainda mais a presente convicção o fato de que seria uma extrema coincidência duas pessoas com nome praticamente iguais,
com nome dos pais praticamente iguais, terem nascido no mesmo dia, cada qual de um lado da fronteira, mormente na década de 1970,
oportunidade em que a região era ainda menos povoada.
O requerido ao depor na Polícia Federal diz que nasceu no Hospital de Paranhos, informação que não corresponde [à] de sua
certidão de nascimento, onde figura nascimento em domicílio paterno. Aliás, pouco crível o registro tardio de criança nascida em hospital.
Segue agora o maior fundamento para ter a certeza de que o requerido é paraguaio, não brasileiro, pois além de seu registro de
nascimento ter sido feito no Paraguai muito antes do que no Brasil, o próprio requerido admitiu que já foi vereador e prefeito de Ypehu, o que
somente poderia acontecer se fosse paraguaio. Também no depoimento prestado perante a Polícia Federal na data de hoje o requerido
admite que deixou o cargo de prefeito diante da acusação de ser o mandante do assassinato de um jornalista e uma estudante de jornalismo.
Basta uma simples conferida nos sítios do Paraguai para conferir que o prefeito de Ypehu que foragiu após ser acusado de mandante
de crime de homicídio é a pessoa de **, conhecido pelo apelido de **, não o seu nome brasileiro **.

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Não pode, infelizmente seja bastante comum nesta região de fronteira, sobretudo diante da generosidade da avaliação da prova no
registro tardio no afã de facilitar o acesso à cidadania das pessoas, o sujeito nascido na República do Paraguai e lá registrado, ter outro
documento de registro civil, como se nascido fosse em território brasileiro.
Eis, mais que demonstrada, a verossimilhança.
O fundado receito de dano irreparável ou de difícil reparação também está presente, na medida em que há necessidade de
desconstituição do assento de nascimento em questão para que seja levado a cabo o procedimento de extradição do réu, para que em
território paraguaio responda às acusações que lhe são dirigidas.
Ante o exposto, defiro o pleito de antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional para o fim de cancelar o assento de nascimento de **,
filho de ** e **, nascido aos 13.07.1975, matrícula n° 0628440255 1988 1 00007 123 0004348 96.”
Desta feita, diversamente da controvérsia retratada na citada Ext nº 1.141/República Oriental do Uruguai-QO, a validade do registro civil do
extraditando no Brasil é objeto de ação própria na Justiça Comum Estadual e os efeitos que dele emanam foram suspensos por decisão
judicial.
Como foi judicialmente afastada a presunção juris tantum de veracidade do ato registrário brasileiro, por decisão que, embora provisória,
continua a projetar seus efeitos, não há óbice à análise do mérito do pedido de extradição.
Nesse particular, embora esta não seja a sede própria para a determinação da real nacionalidade do extraditando, inúmeros elementos
de prova constantes destes autos reforçam a convicção de que ele é natural do Paraguai, corroborando a decisão de primeiro grau pelo
cancelamento de seu registro civil tardio brasileiro.
De acordo com a Direção Geral do Registro do Estado Civil do Ministério da Justiça do Paraguai, o extraditando **, filho de ** e de **,
nasceu em 13 de julho de 1975 na cidade de Ypejhu, no Paraguai, e foi registrado naquele órgão em 9 de dezembro de 1978 (vide certidões de
“ata de nascimento” às fls. 100 e 102 e as respectivas traduções às fls. 101 e 103).
Diversamente do que sustenta a defesa, não há qualquer dúvida de que 9 de dezembro de 1978 é a efetiva data da inscrição do extraditando no
registro civil paraguaio.
Com efeito, a data de 17 de março de 1988, constante da certidão de nascimento de fl. 102, é tão somente a data de emissão desse documento.
Por óbvio, a data de emissão de certidão de nascimento não se confunde com a data da lavratura do próprio assento de nascimento.
E não é só.
O extraditando é eleitor inscrito na Justiça Eleitoral paraguaia (fl. 139) e, em 2.3.90, foi registrado civilmente, sob nº 2.675.907, no
Departamento de Identificações da Polícia do Paraguai, constando desse registro que ele nasceu em Ypejhu, naquele País, em 13 de julho de 1975 (fl.
96).
Outrossim, o extraditando foi vereador, na legislatura 2006/2010, e Prefeito, de 2010 a 2014, da cidade de Ypejhu, no Paraguai. Não obstante
esse último mandato se estendesse a 2015, o extraditando abandonou o cargo e se evadiu do Paraguai, após a decretação de sua prisão preventiva
pelos homicídios a ele ora imputados.
Observo que sua eleição para Prefeito de Ypejhu foi impugnada pelo candidato oponente, ao fundamento de que teria dupla nacionalidade,
brasileira e paraguaia.
Na contestação apresentada ao Tribunal Eleitoral Paraguaio, o extraditando asseverou que era paraguaio nato e se chamaria **, negando,
por outro lado, que se chamasse ** e fosse brasileiro (fls. 154/160).
Aliás, o extraditando constituiu, por instrumento público, os advogados que o defenderam naquela causa eleitoral e, perante a “escrivã
juramentada” (tabeliã), identificou-se como o paraguaio **, apresentando cédula de identidade paraguaia (fls. 161/162).
Também ao ser ouvido pelo Ministério Público do Paraguai em investigações referentes a outros homicídios, o extraditando, em duas ocasiões
distintas (17.2.11 e 18.2.11), qualificou-se como **, paraguaio, natural de Ypejhú (fls. 199 e 202).
Ao propor ação penal privada contra o jornalista **, por crimes contra sua honra, o extraditando, mais uma vez, qualificou-se como paraguaio,
assinando a peça inicial conjuntamente com seu advogado (fls. 110/120).
Ao ser interrogado, o extraditando procurou fazer crer que nasceu em Paranhos/MS, mas admitiu que nunca estudou no Brasil e que somente
frequentou escolas paraguaias. Acrescentou que seu pai reside, de longa data, no Paraguai, onde também residia sua falecida mãe.
Outrossim, o único imóvel de que é titular, conforme declarou ao ser interrogado, situa-se no Paraguai.
O extraditando, em sua defesa, alega que seu registro civil paraguaio é falso, mas a justificativa por ele apresentada para essa suposta falsidade
é pueril.
Em seu interrogatório, ao ser indagado sobre o motivo de ter sido registrado no Paraguai, o extraditando alegou que, “na época, vendia leite na
rua” e o registrador paraguaio era seu cliente. “Todo dia ele brincava comigo e um dia perguntou se eu tinha registro e eu falei que não”. “Quando eu
tinha doze anos ele emitiu esse documento”. Alegou que, embora feito esse registro em 1988, ele foi falsamente antedatado para 1978.
Essa versão, além de inverossímil, é mendaz, por contrastar com a data em que, consoante já exposto, foi lavrado o seu assento civil no
Paraguai: 9 de dezembro de 1978, quando tinha apenas três anos de idade. Conforme também já demonstrado, 1988 é, tão somente, o ano de emissão
de uma das certidões de nascimento paraguaias que instruem o presente feito, e não o ano de lavratura do respectivo assento.
À vista de tão robustos elementos de convicção, o extraditando, indubitavelmente, é paraguaio nato, por ter nascido em solo
paraguaio.
Não se olvida que, por decisão do Juiz de Direito **, da Comarca de Amambaí, Mato Grosso do Sul (à qual, à época, pertencia o Município de
Paranhos) foi lavrado, em 5 de dezembro de 1988, o assento tardio de nascimento do extraditando no Serviço de Registro Civil de Paranhos, onde foi
registrado como **, filho de ** e de **, nascido em 13 de julho de 1978, em Paranhos, no domicílio materno (fls. 395/400).
Esse registro, todavia, como já exposto, foi cancelado por decisão que antecipou os efeitos da tutela jurisdicional em ação anulatória de
registro civil proposta pelo Ministério Público.
Por sua vez, embora, na averbação feita à margem do assento de nascimento, conste que o “registro foi feito de acordo com o despacho do
MM. Juiz de Direito Dr. **, da Comarca de Amambaí, em 09-11-88, arquivado neste Cartório” (fl. 400), o oficial do registro, sintomaticamente, não
encontrou em seus arquivos o requerimento de registro tardio e nem a decisão que o autorizou (fls. 397/398 e fl. 73 dos autos da PPE nº 741).
E não é só: o distribuidor da Comarca de Amambaí também não registra qualquer feito em nome do extraditando (fl. 74 dos autos da PPE nº
741).
É certo que, de acordo com o registrador civil de Paranhos, o juiz corregedor dessa serventia, àquela época, despachava no próprio
requerimento de registro tardio e o devolvia ao registrador, sem maiores formalidades, para arquivamento em pasta própria.
Ocorre que, como ressaltado, essa pasta também não foi localizada (fl. 399).
Sintomático, ainda, que o extraditando, ao ser ouvido na Polícia Federal, tenha declarado haver nascido no hospital de Paranhos/MS, quando o
registro tardio de nascimento brasileiro aponta que ele teria nascido no domicílio materno, supostamente situado naquele município.
Nesse particular, o extraditando, ao ser interrogado em juízo na presente extradição, alegou ter nascido no domicílio materno, em Paranhos.
Ocorre que a defesa promoveu a juntada de termo de depoimento de **, testemunha de defesa nos autos da ação anulatória de registro civil do
extraditando, que apresentou uma terceira e inovadora versão: a de que o extraditando teria nascido no domicílio dessa testemunha (fls.
589/590).

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Por sua vez, o Hospital Municipal de Paranhos/MS, de acordo com novos documentos apresentados pelo Procurador-Geral da República,
informou não haver nenhum registro de atendimento de **, genitora do extraditando, nos anos de 1974, 1975 e 1976 (fls. 627/628).
Todas essas contradições evidenciam, uma vez mais, a falsidade do registro tardio brasileiro do extraditando, e sepultam a versão de que teria
nascido no Brasil.
Também não se olvida que a defesa, em abono à tese de que o extraditando seria brasileiro nato, apresentou fotocópias de certidão de
casamento e de cédulas de identidade (fls. 405/409) para demonstrar que seu pai, **, seria natural de Ponta Porã/MS; sua mãe, **, seria natural de
Caarapó/MS e que ambos teriam se casado no Serviço de Registro Civil de Caarapó.
Ocorre que a certidão de fl. 107 comprova que a avó paterna do extraditando, **, é paraguaia, natural de Ypejhu, mesmo município em que
nasceu o extraditando, e registrou seu filho ** (pai do extraditando), em 9 de outubro de 1948, no serviço de registro civil de Ypejhu,
declarando que ele havia nascido em sua casa, naquela localidade.
Logo, além de fundada dúvida a respeito da nacionalidade brasileira de seu pai, o que milita em seu desfavor, há prova documental de que o
extraditando, seu genitor e sua avó paterna são paraguaios e nasceram em Ypejhu.
Todas essas dúvidas se estendem, inevitavelmente, à própria identidade de sua genitora.
O fato de, conforme sustenta sua defesa, o extraditando haver recebido atendimento médico em hospital de Paranhos/MS em 2006, 2008 e
2009, e de ter dois filhos nascidos nesse município (fls. 426 e 429) não infirma a conclusão de que o extraditando é natural de Ypejhu, até porque
essas cidades são contíguas, possibilitando a fronteira seca rápido e fácil deslocamento entre ambas.
O próprio extraditando, ao ser interrogado, declarou que, embora residisse no Paraguai, sempre buscava atendimento médico em Paranhos,
porque Ypejhu não tinha hospital.
Analogamente, o fato de ter, no Brasil, cédula de identidade (RG), inscrição no cadastro de pessoa física (CPF) e título eleitoral (fls. 434/435)
não abona a tese da nacionalidade brasileira, haja vista que se trata de documentos baseados no falso registro tardio brasileiro.
Como bem salientado pela Procuradoria-Geral da República em seu parecer,
“[i]nfelizmente, necessário consignar ser evento comum estrangeiros residentes na faixa de fronteira, fraudulentamente, conseguirem
registro de nascimento no Brasil com o fito de usufruir dos serviços públicos brasileiros, principalmente os de saúde e previdência, e até
mesmo para envolvimento no tráfico ilícito de entorpecentes e de armas na faixa internacional de fronteira”.
O extraditando, repise-se, teve seu assento de nascimento lavrado no Paraguai apenas três anos após seu nascimento, foi registrado civilmente
na Polícia do Paraguai, sempre estudou nesse país, onde viveu a maior parte de sua vida, é eleitor paraguaio e foi eleito vereador e prefeito naquele
País, com base em sua nacionalidade paraguaia.
O extraditando, portanto, sempre gozou, em sua plenitude, da nacionalidade paraguaia, a qual, agora, convenientemente, após se
evadir para o Brasil em razão dos graves crimes a ele imputados, rejeita.
Por sua vez, a precedência do registro paraguaio sobre o registro brasileiro, com uma diferença de dez anos entre ambos, reforça a convicção
de que o extraditando é paraguaio nato, ao que se soma a circunstância de seu pai ter requerido o registro tardio no Brasil do extraditando e de seus
cinco irmãos de cambulhada (vide declaração do oficial de registro civil de Paranhos à fl. 73 dos autos da PPE nº 741), os quais, do mesmo modo
que o extraditando, já haviam sido precedentemente registrados no Paraguai (fls. 550/566).
A esse respeito, confira-se: **, nascido em 2/11/81 em Ipejhu, foi registrado civilmente no Paraguai em 17.4.82 (fl. 552); **, nascido em
Ipejhu em 10.8.79, foi registrado civilmente no Paraguai em 10.9.80 (fl. 555); **, nascido em Ipejhu em 25.9.76, foi registrado civilmente no
Paraguai em 9.12.78 (fl. 558); **, nascida em Ipejhu em 9.3.69, foi registrada civilmente no Paraguai em 26.12.73 (fl. 561) e **, nascida em Ipejhu
em 1º.2.74, foi registrada civilmente no Paraguai em 9.12.78 (fl. 561).
Como se vê, o extraditando e seus irmãos (todos filhos do mesmo pai e da mesma mãe), nasceram em Ipejhu e foram registrados no
Paraguai, em datas diversas e relativamente próximas a seu nascimento, com larguíssima antecedência em relação ao registro civil tardio de
todos eles no Brasil, realizado de cambulhada, repita-se, numa mesma data, muitos anos após seu nascimento.
Todos esses fatos, aos quais se acresce a existência de decisão judicial em que, embora provisoriamente, se cancelou seu registro de
nascimento brasileiro, ao fundamento de sua falsidade, corroboram, uma vez mais, a conclusão de que o extraditando é paraguaio nato.
Superada a questão da nacionalidade, passo ao exame de mérito da extradição.
Por meio da Resolução Fiscal nº 55, de 18.10.14, o Ministério Público do Paraguai ordenou a detenção preventiva do extraditando e solicitou
ao Juizado Penal de Garantias de Curuguaty, Departamento de Canindeyú, “em conformidade com a ata de imputação nº 55, do dia 29 de outubro do
ano 2014”, a declaração de revelia e a sua detenção, por homicídio qualificado, nos termos do art. 105, §§ 1º e 2º, incisos 2º (“a ação coloc[ou] em
perigo imediato a vida de terceiros”) e 4º (“de forma traiçoeira, aproveitando intencionalmente a condição indefesa da vítima”), do Código Penal
Paraguaio (fl. 212).
Em 30.10.14, o Juizado Penal de Garantias de Curuguaty, nos autos da “causa nº 1.527/2014”, declarou a revelia do extraditando e ordenou
sua prisão, com fundamento no art. 82 do Código de Processo Penal Paraguaio (fls. 215/218). Posteriormente, em 6.11.14, o mesmo Juizado expediu
ordem de captura internacional do extraditando (fl. 224).
Os crimes ora imputados ao extraditando foram descritos na Resolução Fiscal nº 55 do Ministério Público do Paraguai (fls. 207/210).
Por sua vez, o pedido de extradição formulado pelo Juizado Penal de Garantias de Curuguaty narra minudentemente as circunstâncias em que
os crimes foram praticados:
“”Segundo o Ministério Público, **, com o apelido **, de nacionalidade paraguaia, de 39 anos de idade, estado civil solteiro, nascido
no dia 13 de julho de 1975, na localidade de Ypejhu, domiciliado no bairro Virgen dei Rosário da cidade de Ypejhu, com cédula de identidade
nº **, filho de ** e **; mantinha uma inimizade com ** , paraguaio, solteiro, de 58 anos de idade, com documento de identidade Nº **,
domiciliado na cidade de Curuguaty, jornalista, correspondente do jornal ABC COLOR e vítima do crime de homicídio.
A mencionada inimizade devia-se a que ** realizava constantes publicações jornalísticas contra **, a quem lhe atribuía supostas
vinculações com o narcotráfico na zona, estas publicações foram feitas antes de sua eleição como Prefeito da cidade de Ypejhú e continuaram
as publicações estando ** em tal cargo. Por causa de tais publicações o senhor ** teria recebido ameaças de morte por parte do senhor **.
Pelos indícios e elementos coletados existentes na pasta de investigação, o Ministério Público sustenta que ** teria mandado chamar o
seu irmão ** do Brasil para que, junto a seu sobrinho **, planificassem e realizassem o homicídio de **.
Assim sendo, tal plano foi executado no dia 16 de outubro do ano de 2014, quando **, sua assistente ** e a irmã da mesma **,
retornavam da colônia Crescendo González do Departamento de Canindeyú, depois de tirarem fotografias das pragas que atacavam o cultivo
na zona.
Nesse sentido, sendo aproximadamente as 14:10 horas do dia 16 de outubro de 2014, a uma distância de oito quilômetros antes de
chegar à zona urbana da cidade de Villa Ygatimí, Departamento de Canindeyú, República do Paraguai, num caminho dessa zona que liga
esta cidade e a Colônia Ko’e Porá, ** e **, utilizando vestimenta militar, haviam interceptado a caminhonete marca MITSUBISHI, modelo
L200, de cor branca, com chapa Nº **, conduzida por **.
Uma vez que o Senhor ** deteve a marcha acreditando que se tratavam de militares, estas pessoas que seriam ** e ** perguntaram se
ele era **, o qual respondeu que sim era, e sem dizer mais realizaram vários disparos contra o chofer **, tais tiros também impactaram **, a
qual estava no banco dianteiro. Uma vez executados todos os tiros possíveis para ter como segura a morte de **, ambas pessoas fugiram.

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Uma vez comunicado o fato, o agente fiscal se constituiu no local do acontecimento, acompanhado do médico forense de turno Dr. **,
quem constatou que ** já não apresentava sinais de vida, o corpo foi encontrado sentado no banco do motorista dentro do veículo; enquanto
que **, quem estava sentada no banco do passageiro e, ainda apresentava sinais de vida, pelo que foi derivada ao hospital de Curuguaty onde
chegou sem sinais de vida. Entretanto, ** quem estava no banco de trás não apresentava lesões de bala, dado que pôde se jogar ao chão da
caminhonete.
Os corpos de ** e ** foram remetidos ao necrotério do hospital de Curuguaty, onde foi realizada a autopsia. O Médico Forense
concluiu como causa da morte de ambas as vítimas “Destruição da massa encefálica por disparos de arma de tiro”. Igualmente, segundo o
informe da Divisão Criminalista da Polícia Nacional o Sr, ** recebeu impactos de projétil calibre 9mm e disparos de escopeta calibre 12mm
e a senhorita ** tinha recebido impactos de bala de 9mm.
Assim sendo, perante o Ministério Público, prestou declaração como testemunha **, única sobrevivente, quem relatou as
circunstâncias de como aconteceu o fato; igualmente esta testemunha realizou um Reconhecimento de Pessoas por fotografias, em caráter de
Antecipação Jurisdicional de Prova (Prova Antecipada). E assim que, de todas as fotos mostradas para ** sobre os possíveis participantes do
crime de HOMICÍDIO DOLOSO, ela reconheceu o rosto de um dos sujeitos que dispararam contra ** e **, tal fotografia corresponde a **,
quem logo foi imputado e cuja revelia foi solicitada por Requerimento Fiscal nº 55 de data 16.10.14, o mesmo, até a presente data encontra-se
foragido e com ordem de captura internacional.
Com relação à inimizade existente entre a vítima ** e ** existem vários elementos, como são as constantes publicações nas quais ** o
atribuía como suposto nexo com o tráfico de drogas na zona de fronteira com o Brasil e o cometimento cie alguns crimes de homicídio na
zona de Vil Ia Ygatimí e Ypejhú.
Segundo a informação dada pela Polícia Nacional, logrou-se identificar a ** como o outro participante do homicídio. Nesse sentido, o
pessoal policial designado para a investigação entrevistou um morador das redondezas do lugar do crime, quem manifestou ter visto ** na
casa de um vizinho seu, a quem o escutou perguntar se o motorista da caminhonete que passava nesse momento era **[.]
Por outro lado, **, uma vez que confirmou que a pessoa que dirigia a caminhonete era **, teria ligada para ** e ** para comunicar-
lhes esta informação. Esta afirmação se desprende do registro e intercâmbios de ligações telefônicas com que conta o Ministério Público.
Uma vez cumprida com esta missão de acompanhamento, por instrução de **, ** seguiu a caminhonete de **, ultrapassou a mesma e
foi encontrar-se com **, para esperar a passagem da caminhonete da vítima. Enquanto isso ** ficou na cidade de Ypejhú, esperando a
ligação de confirmação do homicídio de **.
Cabe assinalar que mediante as evidências coletadas foi possível confirmar que houve várias comunicações entre os imputados, antes,
durante e de maneira posterior ao cometimento do crime. ** utilizava o número telefônico**, para comunicar-se constantemente com **,
enquanto que este utilizava o número telefônico N° **, cujo titular da linha era seu chofer ** enquanto que ** utilizava a linha telefônica Nº
**.
No dia 08 de dezembro de 2014, sendo aproximadamente 08:00 horas foi detido ** (chofer de **) imputado na presente causa, quem
no momento de dar sua declaração manifestou que no dia 16.10.2014, sendo aproximadamente as 11:00 horas recebeu no número ** a
ligação de ** quem lhe solicitou que passasse a comunicação com **. Acrescentou que escutou a comunicação entre os citados onde **,
escutou que confirmou a ** que o senhor ** estava na zona, desde esse momento ficou com seu telefone celular. Posteriormente, ** chamou
** perguntando-lhe se terminou com ‘o trabalho’, e em seguida escutou ** dizer ‘beleza pura’ e desligou a ligação. Igualmente recalcou que
o aparelho celular com o número citado era utilizado pelo seu patrão o cidadão paraguaio **.
Também pôde-se confirmar as localizações dos celulares de **, ** e **, mediante o relatório das antenas ou células das telefonias. Em
tal sentido, conforme esta análise, ** e ** foram localizados no lugar e hora do crime, enquanto que ** foi localizado na cidade de Ypejhú
na hora em que aconteceu o crime.
Portanto, de acordo com as diligências realizadas na presente causa, para o Ministério Público surgem sérias suspeitas sobre a
participação de ** no crime de Homicídio contra ** e **, fato em que também estão envolvidos como autores diretos: ** e **. Conforme o
exposto sustenta-se que ** teria mandado seu irmão ** e a seu sobrinho **, para que acab[ass]em com a vida de **, os quais assim o
realizaram.”
O pedido de extradição, portanto, foi devidamente instruído pelo Estado requerente com cópia da ordem de prisão expedida por autoridade
judiciária competente, havendo indicações seguras a respeito do local, da data, da natureza e das circunstâncias dos fatos delituosos (art. 80 da Lei nº
6.815/80 e art. 18 do Acordo de Extradição entre os Estados Partes do Mercosul).
O Estado requerente possui competência para a instrução e o julgamento dos crimes imputados ao extraditando, descritos nos documentos que
instruem a Nota Verbal nº 3/055/2015, pois eles foram praticados em seu território (art. 78, I, da Lei nº 6.815/80).
Os crimes também não possuem qualquer conotação política, afastando-se, portanto, a vedação do art. 77 da Lei nº 6.815/80 e do art. 5º do
Acordo de Extradição entre os Estados Parte do Mercosul.
Neste particular, na Ext. 524, Pleno, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 8/3/91, ressaltou-se que
“a noção de criminalidade política é ampla. Os autores costumam analisá-la em face de posições doutrinárias que reduzem a teoria do
crime político a um dualismo conceitual, que distingue, de um lado, o crime político absoluto ou puro (é o crime político em sentido próprio)
e, de outro, o crime político relativo ou misto (é o delito político em sentido impróprio). Aquele, traduzindo-se em ações que atinjam a
personalidade do Estado, ou que buscam alterar-lhe ou afetar-lhe a ordem política e social (Manoel Gonçalves Ferreira Filho, op. cit., p.
609; Francisco de Assis Toledo, ‘Princípios básicos de Direito Penal’, p. 135, item 119, 3ª ed., 1997, inter plures); este – o crime político em
sentido impróprio – embora exprimindo uma concreta motivação político-social de seu agente, projeta-se em comportamentos geradores de
uma lesão jurídica de índole comum”.
Por sua vez, na Ext. 1.085, Pleno, Relator o Ministro Cezar Peluso, DJe de 16.4.10, o Supremo Tribunal Federal decidiu que homicídio
praticado em plena normalidade institucional de Estado Democrático de direito, desvestido de propósito político imediato ou conotação de reação
legítima a regime opressivo, não caracteriza crime político. Transcrevo, na parte que interessa, a ementa desse julgado:
“EXTRADIÇÃO. Passiva. Crime político. Não caracterização. Quatro homicídios qualificados, cometidos por membro de
organização revolucionária clandestina. Prática sob império e normalidade institucional de Estado Democrático de direito, sem conotação
de reação legítima contra atos arbitrários ou tirânicos. Carência de motivação política. Crimes comuns configurados. Preliminar rejeitada.
Voto vencido. Não configura crime político, para fim de obstar a acolhimento de pedido de homicídio praticado por membro de organização
revolucionária clandestina, em plena normalidade institucional de Estado Democrático de direito, sem nenhum propósito político imediato ou
conotação de reação legítima a regime opressivo (...)”.
Como destacado no voto condutor desse acórdão, em lição inteiramente aplicável à espécie,
“(...) a natureza dos delitos pelos quais o extraditando foi condenado, marcados sobremaneira pela absoluta carência de motivação
política, intensa premeditação, extrema violência e grave intimidação social, não se afeiçoa de modo algum ao modelo conceptual de delito
político que impede a extradição de súditos estrangeiros, ao menos nos contornos definidos e consolidados pela Corte nos precedentes já
mencionados (EXT nº 493, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ de 03.08.1990; EXT nº 694, Rel. Min. SYDNEY SANCHES, DJ de

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


22.08.1997; EXT nº 794, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, DJ de 24.05.2002 e EXT nº 994, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJ de
04.08.2006).
(...)
Os homicídios dolosos, cometidos com premeditação pelo ora extraditando, não guardam relação próxima nem remota com fins
altruístas que caracterizam movimentos políticos voltados à implantação de nova ordem econômica e social. Revelam, antes, puro intuito de
vingança pessoal, enquanto praticados contra dois policiais, cujas funções eram exercidas em presídios que abrigavam presos políticos e
comuns (i), e dois comerciantes que teriam reagido a anteriores tentativas de assalto a seus estabelecimentos (ii)”.
Nesse contexto, e não obstante o extraditando, ao ser interrogado, tenha procurado dar coloração política às acusações contra ele deduzidas,
não resta a menor dúvida de os crimes a ele imputados (homicídios de um jornalista e de sua assistente, mediante recurso que impossibilitou a sua
defesa), são despidos de natureza política e se inserem na criminalidade comum.
O requisito da dupla tipicidade foi preenchido, haja vista que os fatos encontram correspondência no art. 121, § 2º, IV, do Código Penal
Brasileiro.
Também se encontra presente o requisito da dupla punibilidade, haja vista que não ocorreu a prescrição da pretensão punitiva sob a óptica da
legislação de nenhum dos Estados (art. 77, VI, da Lei nº 6.815/80 e art. 9º do Acordo de Extradição).
O homicídio doloso, em sua forma qualificada, é punido, nos termos do art. 105, §§ 1º e 2º, do Código Penal Paraguaio, com pena máxima de
trinta anos.
Outrossim, de acordo com o art. 102, § 1º, do Código Penal Paraguaio, a prescrição da pretensão punitiva se verifica em quinze anos, quando
prevista pena máxima igual ou superior a quinze anos; em três anos, quando prevista pena privativa de liberdade de até três anos ou multa e, nos
demais casos, no mesmo tempo da pena máxima privativa de liberdade (fl. 253).
Como os fatos imputados ao extraditando ocorreram em 16/10/14 não ocorreu, segundo a legislação paraguaia, prescrição.
Do mesmo modo, à luz da legislação brasileira, não se operou essa causa de extinção da punibilidade, uma vez que a pena máxima cominada
ao homicídio doloso qualificado também é de trinta anos de reclusão (art. 121, § 2º, IV, do Código Penal), cuja prescrição se verifica, nos termos do
art. 109, I, do Código Penal, em vinte anos.
Portanto, sob todos os ângulos, não há que se falar em prescrição da pretensão punitiva.
O extraditando, ao ser interrogado, negou ter sido o mandante do duplo homicídio, alegando que essa imputação deriva do fato de ter movido
uma ação penal contra a vítima ** por crimes contra sua honra. Disse que sofria perseguição política, acrescentando que era do Partido Colorado, ao
passo que a referida vítima era do partido Liberal, de oposição.
Descabe, todavia, incursionar no mérito dessas alegações.
Esta Suprema Corte tem, reiteradamente, assinalado que
“o modelo extradicional vigente no Brasil – que consagra o sistema de contenciosidade limitada, fundado em norma legal (Estatuto do
Estrangeiro, art. 85, § 1º) reputada compatível com o texto da Constituição da República (RTJ 105/4-5 - RTJ 160/433-434 - RTJ 161/409-411 -
RTJ 183/42-43 - Ext 811/República do Peru) – não autoriza que se renove, no âmbito da ação de extradição passiva promovida perante o
Supremo Tribunal Federal, o litígio penal que lhe deu origem, nem que se efetive o reexame do quadro probatório ou a discussão sobre o
mérito da acusação ou da condenação emanadas de órgão competente do Estado estrangeiro” (Ext nº 866/PT, Tribunal Pleno, Relator o
Ministro Celso de Mello, DJ de 13.2.04).
Perfilhando esse entendimento, destaco, também, os seguintes precedentes:
“EXTRADIÇÃO. GOVERNO DA ITÁLIA. FORMAÇÃO DE QUADRILHA VOLTADA AO TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES,
CONCURSO EM EXTORSÃO E CONCURSO EM LESÕES GRAVES. EXTRADITANDO QUE POSSUI DOENÇA MENTAL ATESTADA POR
LAUDO. PRELIMINAR DE PREJUDICIALIDADE AFASTADA. ANÁLISE QUE CABE AO ESTADO REQUERENTE. PRESENÇA DA
DUPLA TIPICIDADE. INOCORRÊNCIA DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, TANTO PELA LEI BRASILEIRA COMO PELA LEI
ITALIANA QUANTO AOS FATOS RELATIVOS AOS MANDADOS DE PRISÃO EXPEDIDOS PELA JUSTIÇA ITALIANA. AUSÊNCIA DE
ÓBICE AO DEFERIMENTO DA EXTRADIÇÃO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA RECONHECIDA, NOS TERMOS DA
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA. PEDIDO PARCIALMENTE DEFERIDO. 1. Os crimes de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes,
associação para o tráfico, extorsão e lesões graves, pelos quais o extraditando foi condenado na Itália, encontram tipos penais
correspondentes no ordenamento jurídico brasileiro. Presente, portanto, o requisito da dupla tipicidade. 2. Não cabe a esta Corte examinar
matéria atinente à eventual inimputabilidade do extraditando, pois no Brasil o processo extradicional se pauta pelo princípio da
contenciosidade limitada. Cabe ao Estado requerente a análise sobre aplicação de pena ou medida de segurança ao extraditando. 3. A
prescrição da pretensão executória regulada pela pena residual em caso de fuga não admite o cômputo do tempo de prisão provisória.
Precedentes. Prescrição consumada em 11.06.2006, em relação à sentença penal condenatória proferida pela justiça italiana em 11.06.1994,
nos termos da legislação brasileira. 4. Prescrição não ocorrida, porém, à luz da legislação brasileira, tampouco nos termos da lei italiana,
quanto aos fatos que deram origem aos mandados de prisão expedidos pela justiça italiana. 5. Pedido de extradição parcialmente deferido”
(Ext nº 932/IT, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJ de 28.3.08 - grifos nossos);
“EXTRADIÇÃO PASSIVA DE CARÁTER EXECUTÓRIO - INEXISTÊNCIA DE TRATADO DE EXTRADIÇÃO ENTRE O BRASIL E A
REPÚBLICA TCHECA - PROMESSA DE RECIPROCIDADE - FUNDAMENTO JURÍDICO SUFICIENTE - DUPLA TIPICIDADE -
CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DO DELITO DE ESTELIONATO - PRETENDIDA NULIDADE DO JULGAMENTO DO EXTRADITANDO,
PORQUE ALEGADAMENTE REALIZADO SOB A ÉGIDE DE REGIME AUTORITÁRIO - INOCORRÊNCIA - ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE
FAIR TRIAL E DE JULGAMENTO POLÍTICO - AFIRMAÇÃO INCONSISTENTE - PRETENDIDA DISCUSSÃO SOBRE A PROVA PENAL
PRODUZIDA PERANTE TRIBUNAL DO ESTADO REQUERENTE - INADMISSIBILIDADE - SISTEMA DE CONTENCIOSIDADE
LIMITADA - EXTRADIÇÃO DEFERIDA. INEXISTÊNCIA DE TRATADO DE EXTRADIÇÃO E OFERECIMENTO DE PROMESSA DE
RECIPROCIDADE POR PARTE DO ESTADO REQUERENTE. - A inexistência de tratado de extradição não impede a formulação e o
eventual atendimento do pleito extradicional, desde que o Estado requerente prometa reciprocidade de tratamento ao Brasil, mediante
expediente (Nota Verbal) formalmente transmitido por via diplomática. Doutrina. Precedentes. EXTRADIÇÃO E RESPEITO AOS DIREITOS
HUMANOS: PARADIGMA ÉTICO-JURÍDICO CUJA OBSERVÂNCIA CONDICIONA O DEFERIMENTO DO PEDIDO EXTRADICIONAL. -
A essencialidade da cooperação internacional na repressão penal aos delitos comuns não exonera o Estado brasileiro – e, em particular, o
Supremo Tribunal Federal – de velar pelo respeito aos direitos fundamentais do súdito estrangeiro que venha a sofrer, em nosso País,
processo extradicional instaurado por iniciativa de qualquer Estado estrangeiro. O extraditando assume, no processo extradicional, a
condição indisponível de sujeito de direitos, cuja intangibilidade há de ser preservada pelo Estado a que foi dirigido o pedido de extradição
(o Brasil, no caso). - O Supremo Tribunal Federal não deve autorizar a extradição, se se demonstrar que o ordenamento jurídico do Estado
estrangeiro que a requer não se revela capaz de assegurar, aos réus, em juízo criminal, os direitos básicos que resultam do postulado do due
process of law (RTJ 134/56-58 - RTJ 177/485-488), notadamente as prerrogativas inerentes à garantia da ampla defesa, à garantia do
contraditório, à igualdade entre as partes perante o juiz natural e à garantia de imparcialidade do magistrado processante. Demonstração, no
caso, de que o regime político que informa as instituições do Estado requerente reveste-se de caráter democrático, assegurador das

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


liberdades públicas fundamentais. EXTRADIÇÃO E DUPLA TIPICIDADE. - A possível diversidade formal concernente ao nomen juris das
entidades delituosas não atua como causa obstativa da extradição, desde que o fato imputado constitua crime sob a dupla perspectiva dos
ordenamentos jurídicos vigentes no Brasil e no Estado estrangeiro que requer a efetivação da medida extradicional. O postulado da dupla
tipicidade – por constituir requisito essencial ao atendimento do pedido de extradição – impõe que o ilícito penal atribuído ao extraditando
seja juridicamente qualificado como crime tanto no Brasil quanto no Estado requerente, sendo irrelevante, para esse específico efeito, a
eventual variação terminológica registrada nas leis penais em confronto. O que realmente importa, na aferição do postulado da dupla
tipicidade, é a presença dos elementos estruturantes do tipo penal (essentialia delicti), tais como definidos nos preceitos primários de
incriminação constantes da legislação brasileira e vigentes no ordenamento positivo do Estado requerente, independentemente da designação
formal por eles atribuída aos fatos delituosos. PROCESSO EXTRADICIONAL E SISTEMA DE CONTENCIOSIDADE LIMITADA:
INADMISSIBILIDADE DE DISCUSSÃO SOBRE A PROVA PENAL PRODUZIDA PERANTE O TRIBUNAL DO ESTADO REQUERENTE. -
A ação de extradição passiva não confere, ao Supremo Tribunal Federal, qualquer poder de indagação sobre o mérito da pretensão deduzida
pelo Estado requerente ou sobre o contexto probatório em que a postulação extradicional se apóia. - O sistema de contenciosidade limitada,
que caracteriza o regime jurídico da extradição passiva no direito positivo brasileiro (RTJ 140/436 - RTJ 160/105 - RTJ 161/409-411 - RTJ
170/746-747 - RTJ 183/42-43), não permite qualquer indagação probatória pertinente ao ilícito criminal cuja persecução, no exterior,
justificou o ajuizamento da demanda extradicional perante o Supremo Tribunal Federal. Revelar-se-á excepcionalmente possível, no entanto,
a análise, pelo Supremo Tribunal Federal, de aspectos materiais concernentes à própria substância da imputação penal, sempre que tal
exame se mostrar indispensável à solução de controvérsia pertinente (a) à ocorrência de prescrição penal, (b) à observância do princípio da
dupla tipicidade ou (c) à configuração eventualmente política tanto do delito atribuído ao extraditando quanto das razões que levaram o
Estado estrangeiro a requerer a extradição de determinada pessoa ao Governo brasileiro” (Ext nº 897/TC, Tribunal Pleno, Relator o Ministro
Celso de Mello, DJ de 18.2.05 - grifos nossos).
Nesse sentido ainda, o magistério de Mirtô Fraga, para quem,
“ao apreciar a legalidade e a procedência do pedido, o Supremo examina os pressupostos (art. 77) e as condições (art. 78) da
extradição. Não se manifesta sobre o mérito do pedido, não aprecia a justiça ou injustiça da condenação ou do processo no Estado requerente
(...)” (O Novo Estatuto do Estrangeiro Comentado. 1. ed. Editora Forense, Rio de Janeiro, 1985, p. 336).
Por fim, nos termos da Súmula nº 421 do Supremo Tribunal Federal, “não impede a extradição a circunstância de ser o extraditando casado
com brasileira ou ter filho brasileiro”.
Irrelevante, portanto, para fins de extradição, o fato de o extraditando ter dois filhos brasileiros.
Nesse sentido, Ext. nº 1.074/RFA, Pleno, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe de 13.6.08, de cuja ementa destaco:
“ E X I S T Ê N C I A D E F A M Í L I A B R A S I L E I R A ( U N I Ã O E S T Á VE L ) , N O T A D A M E N T E D E F I L H O C O M
NACIONALIDADE BRASILEIRA ORIGINÁRIA – SITUAÇÃO QUE NÃO IMPEDE A EXTRADIÇÃO –
COMPATIBILIDADE DA SÚMULA 421/STF COM A VIGENTE CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – PEDIDO DE EXTRADIÇÃO
DEFERIDO.
- A existência de relações familiares, a comprovação de vínculo conjugal ou a convivência ‘more uxorio’ do extraditando com pessoa
de nacionalidade brasileira constituem fatos destituídos de relevância jurídica para efeitos extradicionais, não impedindo, em conseqüência,
a efetivação da extradição do súdito estrangeiro. Precedentes.
- Não impede a extradição o fato de o súdito estrangeiro ser casado ou viver em união estável com pessoa de nacionalidade brasileira,
ainda que com esta possua filho brasileiro.
- A Súmula 421/STF revela-se compatível com a vigente Constituição da República, pois, em tema de cooperação internacional na
repressão a atos de criminalidade comum, a existência de vínculos conjugais e/ou familiares com pessoas de nacionalidade brasileira não se
qualifica como causa obstativa da extradição. Precedentes.”
Portanto, de acordo com minha compreensão, estão presentes os requisitos legais necessários ao deferimento da extradição.
Ante o exposto, defiro o pedido de extradição.
Na hipótese de eventual condenação do extraditando pelos crimes que motivaram o pedido extradicional, o Estado Requerente deverá efetuar a
detração do tempo de prisão ao qual ele tiver sido submetido no Brasil, conforme previsto no art. 91, II, da Lei nº 6.815/80 e no art. 17 do Acordo de
Extradição entre os Estados Partes do Mercosul, observando-se, para esse fim, que o extraditando foi preso, preventivamente, em 6 de março de 2015.
É como voto.
*acordão publicado no Dje de 10.9.2015
**nomes suprimidos pelo informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
7 a 11 de setembro de 2015

Lei nº 13.163, de 9.9.2015 - Modifica a Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 - Lei de Execução Penal, para
instituir o ensino médio nas penitenciárias. Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº 173, p. 1, em 10.9.2015.

Informativo 798-STF (17/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADPF 347 MC/DF; RE 693456/RJ; AP 905 QO/MG; RE 790059 AgR-AgR/DF.

Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos: MS 33729/DF.

ÍNDICE
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
SUSPENSÃO DE SEGURANÇA
 Natureza da decisão e cabimento de recurso especial para impugná-la.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO
 Reconhecida a repercussão geral não é mais possível que as partes desistam do processo.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


PROCEDIMENTOS
 Aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo penal.

RECURSOS
 Situação de reformatio in pejus mesmo tendo havido redução da pena final

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

SUSPENSÃO DE SEGURANÇA
Natureza da decisão e cabimento de recurso especial para impugná-la

Cabe recurso especial da decisão proferida no âmbito do pedido de suspensão?


• Segundo o STJ: NÃO. Não cabe Recurso Especial de decisões proferidas no âmbito do pedido
de suspensão. O recurso especial se destina a combater argumentos que digam respeito a
exame de legalidade, ao passo que o pedido de suspensão ostentaria juízo político.
• Segundo a 1ª Turma do STF: SIM. A 1ª Turma do STF entendeu que a decisão em sede de
suspensão de segurança não é estritamente política, possuindo conteúdo jurisdicional. Com
base nisso, decidiu que é cabível, em tese, recurso especial contra decisões proferidas no
âmbito do pedido de suspensão de segurança (RE 798740 AgR/DF).
STF. 1ª Turma. RE 798740 AgR/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
julgado em 1º/9/2015 (Info 797).

CONCEITO
O pedido de suspensão é

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


- um instrumento processual (incidente processual)
- por meio do qual as pessoas jurídicas de direito público ou o Ministério Público
- requerem ao Presidente do Tribunal que for competente para o julgamento do recurso
- que suspenda a execução de uma decisão, sentença ou acórdão proferidos,
- sob o argumento de que esse provimento jurisdicional prolatado causa grave lesão à ordem, à saúde, à
segurança e à economia públicas.

NOMENCLATURA
Comumente, esse instituto é chamado de pedido deà suspe s oà deà segu a ça .à Issoà po ueà eleà foià
previsto originalmente na lei apenas para suspender as decisões liminares ou sentenças proferidas em
mandados de segurança.
Ocorre que, com o tempo, foram editadas novas leis trazendo a possibilidade de suspensão para
praticamente toda e qualquer decisão judicial prolatada contra a Fazenda Pública.
Po àessaà az o,àatual e te,àal àdeà suspe s oàdeàsegu a ça ,àpode-seàfala àe à suspe s oàdeàli i a ,à
suspe s oàdeàse te ça ,à suspe s oàdeàa ó d o àet .

PREVISÃO LEGAL
Há cinco diferentes dispositivos legais prevendo pedido de suspensão:
 art. 12, § 1º da Lei nº 7.347/85 (suspensão de liminar em ACP);
 art. 4º da Lei nº 8.437/92 (suspensão de liminar ou sentença em ação cautelar, em ação popular ou em
ACP). É considerada pela doutrina como a previsão mais geral sobre o pedido de suspensão;
 art. 1º da Lei nº 9.494/97 (suspensão de tutela antecipada concedida contra a Fazenda Pública);
 art. 16 da Lei nº 9.507/97 (suspensão da execução de sentença concessiva de habeas data);
 art. 15 da Lei nº 12.016/09 (suspensão de liminar e sentença no mandado de segurança).
Lei nº 8.437/92:
Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso,
suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas ações movidas contra o Poder Público
ou seus agentes, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público
interessada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave
lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas.
§ 1° Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em processo de ação cautelar inominada, no
processo de ação popular e na ação civil pública, enquanto não transitada em julgado.

NATUREZA JURÍDICA
P evale eà ueàseàt ataàdeàu à i ide teàp o essual à Leo a doàJos àCa ei oàdaàCu ha .

A decisão de suspensão de segurança possui caráter político ou jurisdicional?


1ª corrente: POLÍTICO 2ª corrente: JURISDICIONAL
Trata-se de um juízo político a respeito da A 1ª Turma do STF entendeu que a decisão em
lesividade do ato judicial à ordem, à saúde, à sede de suspensão de segurança não é
segurança e à economia públicas. estritamente política, possuindo conteúdo
É a posição pacífica do STJ. jurisdicional.
É com base nesse entendimento que o STJ não
admite recurso especial contra decisões proferidas Com base nessa compreensão, a 1ª Turma do STF
no âmbito do pedido de suspensão de segurança. chegou à conclusão que é cabível, em tese,
Segundo o STJ, o recurso especial se destina a recurso especial contra decisões proferidas no
combater argumentos que digam respeito a âmbito do pedido de suspensão de segurança (RE
exame de legalidade, ao passo que o pedido de 798740 AgR/DF).
suspensão ostentaria juízo político.

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


POSSIBILIDADE DE FORMULAR PEDIDO DE SUSPENSÃO E INTERPOR RECURSO
Contra uma decisão interlocutória proferida por um juiz, em 1ª instância, poderão ser interpostos o agravo
de instrumento e, concomitantemente, o pedido de suspensão. Isso porque o pedido de suspensão não é
recurso. Logo, não há violação ao princípio da singularidade ou unirrecorribilidade. Além disso, os
objetivos do agravo e do pedido de suspensão são diferentes.
Vale ressaltar que essa possibilidade é prevista expressamente:
Lei n.° 8.437/92
Art. 4º (...) § 6º A interposição do agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movidas
contra o Poder Público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de
suspensão a que se refere este artigo.
Lei n.° 12.016/2009
Art. 15 (...) § 3º A interposição de agravo de instrumento contra liminar concedida nas ações movidas
contra o poder público e seus agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de
suspensão a que se refere este artigo.

LEGITIMIDADE
Quem pode formular pedido de suspensão?
a) União, Estados, Distrito Federal e Municípios;
b) autarquias e fundações;
c) Ministério Público;
d) concessionárias de serviço público (desde que para tutelar o interesse público primário).

COMPETÊNCIA
A competência para apreciar o pedido de suspensão é do Presidente do
Tribunal que teria competência para julgar o recurso contra a decisão.
Decisão prolatada por Ex: concedida liminar por juiz federal do AM, o pedido de suspensão será
juiz de 1ª instância: julgado pelo Presidente do TRF1.
Ex2: concedida liminar por juiz de direito do AM, o pedido de suspensão será
julgado pelo Presidente do TJAM.
O pedido de suspensão será decidido pelo:
 Presidente do STF: se a matéria for constitucional.
 Presidente do STJ: se a matéria for infraconstitucional.
Decisão prolatada por
membro de TJ ou TRF:
Ex: concedida liminar pelo Desembargador do TJ/AM, o pedido de suspensão
será dirigido ao Presidente do STF ou do STJ, e não ao Presidente do TJ/AM
(art. 25 da Lei nº 8.038/90).
Se a causa tiver fundamento constitucional, é possível o ajuizamento de pedido de
Decisão prolatada por
suspensão dirigido ao Presidente do STF.
membro de Tribunal
Se a causa não tiver fundamento constitucional, não há possibilidade de
Superior:
pedido de suspensão.

NÃO SE EXAMINA O MÉRITO NO PEDIDO DE SUSPENSÃO:


Na análise do pedido de suspensão, é vedado o exame do mérito da demanda principal. O que será
examinado pelo Tribunal é se a decisão prolatada acarreta risco de grave lesão à:
a) ordem;
b) saúde;
c) segurança; ou
d) economia públicas.

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


A suspensão de liminar e de sentença limita-se a averiguar a possibilidade de grave lesão à ordem, à
segurança, à saúde e à economia públicas. Os temas de mérito da demanda principal não podem ser
examinados nessa medida, que não substitui o recurso próprio.
(AgRg na SLS 1.135/MA, Rel. Ministro PRESIDENTE DO STJ, Rel. p/ Acórdão Ministro CESAR ASFOR ROCHA,
CORTE ESPECIAL, julgado em 12/04/2010, DJe 20/05/2010)

APESAR DE NÃO SE EXAMINAR O MÉRITO, DEVE SER REALIZADO UM JUÍZO MÍNIMO DE DELIBAÇÃO
Mesmo sendo vedado ao Presidente do Tribunal examinar o mérito da demanda principal, é preciso, para
que se conceda a suspensão de liminar, que haja um mínimo de plausibilidade na tese da Fazenda Pública,
porque o pedido de suspensão funciona como uma contracautela, devendo, por isso, demonstrar fumus
boni iuris e periculum in mora inverso:
(...) 1. A jurisprudência pacificada do Supremo Tribunal Federal permite o proferimento de um juízo mínimo
de delibação, no que concerne ao mérito objeto do processo principal, quando da análise do pedido de
suspensão de decisão (SS 846-AgR/DF, rel. Ministro Sepúlveda Pertence, DJ 29.5.96; SS 1.272-AgR, rel.
Ministro Carlos Velloso, DJ 18.5.2001, dentre outros).
(STA 73 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2008, DJe-078 DIVULG 30-
04-2008 PUBLIC 02-05-2008 EMENT VOL-02317-01 PP-00001)

RECURSO CONTRA A DECISÃO PROFERIDA NO PEDIDO DE SUSPENSÃO:


Da decisão do Presidente do Tribunal que conceder ou negar a suspensão cabe algum recurso?
SIM. Caberá agravo interno para o Plenário ou Corte Especial do Tribunal. Nesse sentido, veja o § 3º do art.
4º da Lei nº 8.437/92:
§ 3º Do despacho que conceder ou negar a suspensão, caberá agravo, no prazo de cinco dias, que será
levado a julgamento na sessão seguinte a sua interposição.

Obs: o prazo para esse agravo é de 5 dias mesmo que tenha sido interposto pela Fazenda Pública ou pelo
MP. Em outras palavras, NÃO incide o art. 188 do CPC (que confere prazo em dobro para recorrer à
Fazenda Pública ou ao MP) na hipótese de o recurso interposto ser o incidente de suspensão de liminar
previsto no art. 4º, § 3º da Lei 8.437/1992.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.331.730-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/5/2013 (Info 523).

Cabe recurso especial da decisão do Plenário ou da Corte Especial que julga esse agravo?
 Segundo o STJ: NÃO. Não cabe Recurso Especial de decisões proferidas no âmbito do pedido de
suspensão. O recurso especial se destina a combater argumentos que digam respeito a exame de
legalidade, ao passo que o pedido de suspensão ostentaria juízo político.
 Segundo a 1ª Turma do STF: SIM. A 1ª Turma do STF entendeu que a decisão em sede de suspensão de
segurança não é estritamente política, possuindo conteúdo jurisdicional. Com base nisso, decidiu que
é cabível, em tese, recurso especial contra decisões proferidas no âmbito do pedido de suspensão de
segurança (RE 798740 AgR/DF).

NOVO PEDIDO DE SUSPENSÃO:


No entanto, se, na decisão do agravo, não for concedida ou mantida a suspensão, a Fazenda Pública ainda
terá outro instrumento: apresentar novo pedido de suspensão, desta vez para o STJ ou para o STF, a
depender da natureza da matéria (se infraconstitucional ou constitucional).

Lei n.° 8.437/92


Art. 4º (...) § 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3º resultar a manutenção ou o
restabelecimento da decisão que se pretende suspender, caberá novo pedido de suspensão ao Presidente
do Tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário.

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Ex1: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o Presidente do
TJ; este concede a suspensão; a parte autora agrava da decisão do Presidente para o Plenário, que reforma a
decisão do Presidente e restabelece a liminar concedida em primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a
Fazenda Pública terá a possibilidade de formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

Ex2: juiz concede liminar contra a Fazenda Pública, que formula pedido de suspensão para o Presidente do
TJ; este não concede a suspensão; a Fazenda Pública agrava da decisão do Presidente para o Plenário, que
mantém a decisão do Presidente e a liminar concedida em primeira instância. Dessa decisão do Plenário, a
Fazenda Pública terá a possibilidade de formular novo pedido de suspensão para o STJ ou para o STF.

áàdout i aàafi aà ueàseàt ataàdeàu àpedidoàdeàsuspe s oà po àsaltoàdeài st ia .

RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Reconhecida a repercussão geral, não é mais possível que as partes desistam do processo

Importante!!!
Um dos pressupostos de admissibilidade do recurso extraordinário é a repercussão geral.
Desse modo, para que o RE seja conhecido, é necessário que o recorrente demonstre a
repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso.
Antes do STF apreciar o mérito do recurso, ele primeiro decide se aquele determinado tema
discutido possui repercussão geral.
É comum que essa decisão reconhecendo a existência de repercussão geral seja proferida em
uma data e somente meses ou até anos depois é que o STF aprecia o mérito do recurso.
O STF decidiu que, uma vez reconhecida a repercussão geral da questão constitucional
discutida no caso, não é mais possível às partes a desistência do processo.
O novo CPC permite que a parte desista, mas afirma que a questão cuja repercussão geral foi
reconhecida continuará sendo analisada. Veja:
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do recurso.
Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão
geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou
especiais repetitivos.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/9/2015 (Info 797).

Análise por amostragem da repercussão geral


Um dos pressupostos de admissibilidade do recurso extraordinário é a repercussão geral.
Desse modo, para que o RE seja conhecido, é necessário que o recorrente demonstre a repercussão geral
das questões constitucionais discutidas no caso.
O STF não conhecerá do recurso extraordinário quando a questão constitucional nele versada não oferecer
repercussão geral.
O objetivo da exigência daà epe uss oàge al àfoiàoàdeàevita à ueàoà“TFàjulgasseà e u sosàext ao di iosà
de menor relevância, contribuindo, assim, para a redução do volume de processos na Corte.
Diz-se que há repercussão geral no recurso extraordinário quando existem questões relevantes do ponto
de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassam os interesses subjetivos da causa.

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Quando houver uma grande quantidade de recursos extraordinários que versem sobre o mesmo tema, o
STF poderá fazer a análise da repercussão geral por amostragem. Dito de forma mais simples, o STF
seleciona um ou alguns poucos recursos extraordinários, debate a tese ali apresentada, chega a uma
conclusão e aplica a mesma solução para todos os demais recursos semelhantes.

Decisão reconhecendo a repercussão geral


Antes de o STF apreciar o mérito do recurso, ele primeiro decide se aquele determinado tema discutido
possui repercussão geral.
É comum que essa decisão reconhecendo a existência de repercussão geral seja proferida em uma data e
somente meses ou até anos depois é que o STF aprecia o mérito do recurso.

Depois que o STF reconhece a repercussão geral é incabível a desistência


O STF decidiu que, uma vez reconhecida a repercussão geral da questão constitucional discutida no caso,
não é mais possível às partes a desistência do processo.
No caso concreto, pouco tempo antes de instaurar-se a sessão de julgamento, a parte recorrida peticionou
ao STF pedindo a desistência do mandado de segurança que ensejara o recurso extraordinário.
O Relator afirmou que, em regra, a parte impetrante pode desistir do mandado de segurança,
independentemente da concordância da autoridade coatora, da parte contrária ou da entidade estatal
interessada. Esse é o entendimento do STF firmado no RE 669.367/RJ (DJe de 29.10.2014). No entanto, no
caso concreto, a situação seria diferente, uma vez que o processo está em fase de recurso extraordinário
com repercussão geral reconhecida. Estando com a repercussão geral reconhecida, o processo perde o
caráter individual e ganha contornos de processo objetivo, uma vez que na decisão a ser proferida irá ser
construída uma tese geral que irá influenciar outros casos semelhantes.

CPC 2015
O novo CPC permite que a parte desista, mas afirma que a questão cuja repercussão geral foi reconhecida
continuará sendo analisada. Em outras palavras, a parte pode até desistir do processo, mas mesmo assim a
tese jurídica que era discutida na lide será definida pelo STF. Veja:
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes,
desistir do recurso.
Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha
sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos.

Confira o que diz a doutrina:


"O parágrafo único do art. 998, por sua vez, busca compatibilizar o interesse público subjacente ao
julgamento de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida e recursos extraordinários e/ou
repetitivos já afetados como tais como o interesse das partes. A melhor interpretação para a nova regra é
a de que a questão jurídica derivada do recurso poderá ser julgada, a despeito da desistência; não o
recurso do qual se desistiu, cujo processo terá sorte apartada daquele outro julgamento, ocasionando que
a decisão recorrida, eventualmente - se for este o caso -, transite materialmente em julgado." (BUENO,
Cassio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, p. 640).

"(...) o art. 998, parágrafo único, CPC, permite que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de
Justiça se pronunciem sobre questões recursais ainda que a parte tenha desistido do recurso. Nesse caso,
obviamente que a pronúncia da Corte não poderá alcançar o recurso da parte. Servirá, porém, para
outorgar unidade ao direito, valendo como precedente." (MARINONI, Luiz Guilherme; AREHART, Sérgio
Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: RT, 2015, p. 933).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROCEDIMENTOS
Aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo penal

Importante!!!
É cabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo penal.
Se no processo civil, em que se discutem direitos disponíveis, concede-se prazo em dobro, com
mais razão no processo penal, em que está em jogo a liberdade do cidadão.
STF. Plenário. Inq 3983/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em
3/9/2015 (Info 797).
STF. Plenário. Inq 4112/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgado em 1º/9/2015 (Info 797).

Lei n. 8.038/90 (regula os processos criminais de competência originária do STF/STJ)


Se a ação penal for de competência do STF e STJ, ela deverá obedecer a um rito processual próprio
previsto na Lei n. 8.038/90. Ex: se um Governador for acusado da prática de um crime, esta ação penal
tramitará originariamente no STJ e o procedimento será o da Lei n. 8.038/90 (o CPP será aplicado apenas
subsidiariamente).

O procedimento da Lei n. 8.038/90 é, resumidamente, o seguinte:


1. Oferecimento de denúncia (ou queixa).
2. Notificação do acusado para oferecer resposta preliminar no prazo de 15 dias (antes de receber a
denúncia) (art. 4º).
3. Se, com a resposta, o acusado apresentar novos documentos, a parte contrária (MP ou querelante) será
intimada para se manifestar sobre esses documentos, no prazo de 5 dias.
4. O Tribunal irá se reunir e poderá (art. 6º):
a) receber a denúncia (ou queixa);
b) rejeitar a denúncia (ou queixa);
c) julgar improcedente a acusação se a decisão não depender de outras provas (neste caso, o acusado é, de
fato, absolvido).
Importante: a decisão quanto ao recebimento ou não da denúncia ocorre após o denunciado apresentar
resposta.
5. Se a denúncia (ou queixa) for recebida, o Relator designa dia e hora para audiência.
Ao contrário do que ocorre no procedimento do CPP, a Lei n. 8.038/90 não prevê a existência de uma fase
para absolvição sumária, tal qual existente no art. 397 do CPP.

Feitas estas considerações, vejamos o caso concreto:


O Procurador-Geral da República ofereceu denúncia, no STF, contra o Presidente da Câmara dos
Deputados e contra outra pessoa (corréu) pela suposta prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem
de dinheiro.
O próximo passo seria a notificação dos denunciados para apresentarem resposta preliminar no prazo de
15 dias (art. 4º da Lei nº 8.038/90).
Ocorre que a defesa do Deputado pediu ao STF que o prazo da resposta preliminar, assim como todos os
demais prazos, fossem contados em dobro, aplicando-se, ao processo penal, por analogia, o art. 191 do
CPC 1973:
Art. 191. Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os
prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos.

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


O CPC 2015 também traz regra semelhante, exigindo, contudo, que, além de serem procuradores
(advogados) diferentes, os causídicos também sejam de escritórios de advocacia diferentes. Veja:
Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos,
terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal,
independentemente de requerimento.

Segundo argumentou o Deputado, ele está sendo acusado juntamente com outra pessoa (litisconsórcio
passivo no processo penal) e os dois réus estão sendo assistidos por escritórios de advocacia diferentes.
Logo, aplica-se perfeitamente o art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015).

Essa tese foi acatada pelo STF? É possível aplicar o art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) por
analogia ao processo penal?
SIM. É cabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao prazo previsto no
art. 4º da Lei nº . / à áp ese tadaàaàde ú iaàouàaà ueixaàaoàT i u al,àfa -se-á a notificação do
acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias .à
O Min. Luiz Fux argumentou que, se no processo civil, em que se discutem direitos disponíveis, concede-se
prazo em dobro, com mais razão no processo penal, em que está em jogo a liberdade do cidadão.

Obs1: para alguns, pode parecer estranho, mas se em um processo criminal existem dois ou mais réus,
tem-se, no caso, um litisconsórcio passivo, considerando que o MP (ou o querelante) é o autor da ação
penal e os réus estão no polo passivo.

Obs2: o precedente acima foi envolvendo a Lei nº 8.038/90, mas penso que nada impede que esse mesmo
entendimento seja aplicado aos procedimentos regidos pelo CPP.

É possível aplicar regras do CPC, por analogia, ao processo penal?


SIM. A analogia é vedada no Direito Penal, salvo se beneficiar o réu (analogia in bonam partem). No
processo penal, não existe esta mesma vedação, tendo em vista que as normas processuais não são
incriminadoras. Veja a autorização expressa prevista no CPP para a aplicação analógica:
Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o
suplemento dos princípios gerais de direito.

Precedente no caso "Mensalão"


Vale ressaltar que o STF já havia admitido que as partes (MP e defesa) tivessem prazo em dobro para
e o e à e a gosàdeàde la aç o à oà asoàdoà Me sal o ,àutiliza doà o oàa gu e toàjustamente o fato
de que havia, no caso, um litisconsórcio passivo (vários réus), com advogados diferentes, devendo,
portanto, ser aplicada, por analogia, a regra prevista no art. 191 do CPC (STF. Plenário. AP 470 Vigésimo
Segundo AgR/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 17/4/2013).

RECURSOS
Situação de reformatio in pejus mesmo tendo havido redução da pena final

João foi condenado em 1ª instância a uma pena de 2 anos pela prática do crime de furto
qualificado pela escalada (art. 155, § 4º, II, do CP). O Ministério Público não recorreu,
transitando em julgado a sentença para a acusação. A defesa do réu interpôs apelação. O
Tribunal de Justiça entendeu que não estavam presentes os requisitos necessários para a
configuração da qualificadora da escalada (art. 155, § 4º, II) e, por isso, a retirou,
transformando em furto simples. Até aí, tudo bem. Esse era um dos pedidos do recurso. Ocorre

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


que os Desembargadores foram além e decidiram reconhecer a presença da causa de aumento
prevista no § 1º do art. 155 do CP, em virtude de estar provado nos autos que o furto ocorreu
durante o repouso noturno. Assim, o TJ afastou a condenação pelo art. 155, § 4º, II, do CP e
condenou o réu pelo art. 155, § 1º, do CP. Com base nessa nova capitulação, o TJ fixou a pena do
réu em 1 ano e 4 meses. Agiu corretamente o TJ?
NÃO. O STF entendeu que a decisão do TJ violou o princípio do non reformatio in pejus,
devendo ser refeita a dosimetria. O TJ acrescentou uma causa de aumento de pena (art. 155, §
1º) que não havia sido reconhecida na sentença em 1ª instância. Como o recurso era exclusivo
da defesa, o TJ não poderia ter inserido na condenação uma circunstância contrária ao réu e
que não estava presente anteriormente. Assim, mesmo aparentemente a decisão do TJ tendo
sido benéfica ao réu (por ter reduzido a pena), na verdade, houve, na parte referente à causa
de aumento, uma reforma para pior.
STF. 2ª Turma. RHC 126763/MS, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgado em 1º/9/2015 (Info 797).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi condenado em 1ª instância a uma pena de 2 anos pela prática do crime de furto qualificado pela
escalada (art. 155, § 4º, II, do CP).
O Ministério Público não recorreu, transitando em julgado a sentença para a acusação.
A defesa do réu interpôs apelação.
O Tribunal de Justiça entendeu que não estavam presentes os requisitos necessários para a configuração
da qualificadora da escalada (art. 155, § 4º, II) e, por isso, a retirou, transformando em furto simples. Até
aí, tudo bem. Esse era um dos pedidos do recurso. Ocorre que os Desembargadores foram além e
decidiram reconhecer a presença da causa de aumento prevista no § 1º do art. 155 do CP, em virtude de
estar provado nos autos que o furto ocorreu durante o repouso noturno.
Assim, o TJ afastou a condenação pelo art. 155, § 4º, II, do CP e condenou o réu pelo art. 155, § 1º, do CP.
Com base nessa nova capitulação, o TJ fixou a pena do réu em 1 ano e 4 meses.

Agiu corretamente o TJ?


NÃO. O STF entendeu que a decisão do TJ violou o princípio do non reformatio in pejus, devendo ser
refeita a dosimetria.

Mas o TJ reduziu a pena do réu de 2 anos para 1 ano e 4 meses... mesmo assim pode-se dizer que houve
reformatio in pejus (reforma em prejuízo do recorrente)?
SIM. Isso porque o TJ acrescentou uma causa de aumento de pena (art. 155, § 1º) que não havia sido
reconhecida na sentença em 1ª instância. Como o recurso era exclusivo da defesa, o TJ não poderia ter
inserido na condenação uma circunstância contrária ao réu e que não estava presente anteriormente.
Assim, mesmo aparentemente a decisão do TJ tendo sido benéfica ao réu (por ter reduzido a pena), na
verdade, houve, na parte referente à causa de aumento, uma reforma para pior.

O STF entendeu que houve violação à parte final do art. 617 do CPP:
Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que
for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.

Prevaleceu a tese de que a melhor interpretação a ser dada à parte final do art. 617 do CPP seria a sistemática,
a levar em conta que a norma está inserida em um conjunto organizado de ideias e, por isso, a vedação da
efo atioà i à pejus à oà seà est i ge à quantidade final de pena, devendo ser analisado se o Tribunal
acrescentou alguma imputação (seja ela qualificadora, causa de aumento etc.) que não estava prevista
anteriormente na condenação. Em outras palavras, não se deve analisar apenas a quantidade final da pena.

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JULGADO NÃO COMENTADO

Agravo regimental e interesse recursal


O Plenário, por maioria, não conheceu de agravo regimental interposto pelo Presidente da Câmara dos
Deputados em face de decisão monocrática que indeferira pedido de medida liminar formulado em
mandado de segurança em que se pleiteava a suspensão da análise isolada, pela Câmara dos Deputados,
dos Projetos de Decreto Legislativo 384/1997, 1.376/2009, 40/2011 e 42/2011, mas que sinalizara ao
Congresso Nacional que as votações futuras de contas presidenciais anuais deveriam ocorrer em sessão
conjunta. A Corte afirmou que estaria configurada, na espécie, a falta de interesse recursal, na medida em
que não haveria, na decisão monocrática objeto de impugnação, ato com conteúdo decisório desfavorável
ao agravante. Naquela decisão, quando da apreciação do pedido de liminar, fora assentada a existência do
fu usà o ià iu is .à Issoà po ueà de o e iaà daà Co stituiç oà ueà aà o pet iaà pa aà julga à asà o tasà doà
Presidente da República seria das duas casas do Congresso Nacional e não de cada uma delas
individualmente. Essa interpretação seria extraída do seguinte conjunto de argumentos constitucionais,
então demonstrados: a) caráter exemplificativo do rol de hipóteses de sessões conjuntas (CF, art. 57, § 3º);
b) natureza mista da comissão incumbida do parecer sobre as contas (CF, art. 161, § 1º); c) reserva da
at iaàaoà egi e toà o u ,à ueàdis ipli aàasàsessõesà o ju tasà CF,àa t.à ,à aput àeà§à º ,à asà uaisà
ambas as Casas se manifestam de maneira simultânea; d) previsão expressa, pois quando a Constituição
desejara a atuação separada de uma das Casas em matéria de contas presidenciais assim o fizera (CF, art.
51, II); e e) simetria entre a forma de deliberação das leis orçamentárias e a de verificação do respectivo
cumprimento. Portanto, fora destacada, naquele ato, a existência de plausibilidade do direito alegado. No
entanto, constatado que, na ocasião, as contas presidenciais em questão já haviam sido julgadas, não se
ve ifi a iaàoà pe i ulu ài à o a ,àdeve doàse àde egadaàaàli i a .àássi ,à oàte iaàsidoàp ati adoà e hum
ato desfavorável à Câmara dos Deputados. Em última análise, o agravo em questão se insurgiria contra a
fu da e taç oà daà de is oà o o ti aà p ofe ida,à aà pa teà doà fu usà o ià iu is .à Ve idoà oà Mi ist oà
Gilmar Mendes, que negava provimento ao agravo regimental por entender presente o interesse recursal.
MS 33729/DF, rel. Min. Roberto Barroso, 3.9.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 31 de agosto a 4 de setembro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 851.421-DF


RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
IMPOSTO SOBRE A CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS – GUERRA FISCAL – BENEFÍCIOS FISCAIS DECLARADOS
INCONSTITUCIONAIS – CONVALIDAÇÃO SUPERVENIENTE MEDIANTE NOVA DESONERAÇÃO – RECURSO EXTRAORDINÁRIO –
REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia relativa à constitucionalidade da prática mediante a qual os
estados e o Distrito Federal, respaldados em consenso alcançado no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ, perdoam
dívidas tributárias surgidas em decorrência do gozo de benefícios fiscais assentados inconstitucionais pelo Supremo, porque implementados em meio
à chamada guerra fiscal do ICMS.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 884.325-DF
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. EDSON FACHIN
EMENTA: CONSTITUCIONAL. ECONÔMICO. INTERVENÇÃO ESTATAL NA ECONOMIA. NORMAS DE INTERVENÇÃO. LIBERDADE
DE INICIATIVA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. SETOR SUCROALCOOLEIRO. QUALIFICAÇÃO JURÍDICA DO DANO.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. Tem repercussão geral a questão relativa à responsabilidade objetiva da União e à qualificação jurídica
do dano causado ao setor sucroalcooleiro, em virtude da fixação dos preços dos produtos do setor em valores inferiores ao levantamento de custos
realizados pela Fundação Getúlio Vargas, levando-se em conta o valor constitucional da livre iniciativa e a intervenção do Estado no domínio
econômico.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 662.055-SP

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DIREITOS DOS ANIMAIS E
RELEVANTE PREJUÍZO COMERCIAL A EVENTO CULTURAL TRADICIONAL. RESTRIÇÕES A PUBLICAÇÕES E DANOS MORAIS.
PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A decisão recorrida impôs restrições a publicações em sítio eletrônico de entidade de proteção aos animais, que denunciava a crueldade da
utilização de animais em rodeios, condenando-a ao pagamento de danos morais e proibindo-a de contactar patrocinadores de um evento específico,
tradicional e culturalmente importante.
2. Constitui questão constitucional da maior importância definir os limites da liberdade de expressão em contraposição a outros direitos de igual
hierarquia jurídica, como os da inviolabilidade da honra e da imagem, bem como fixar parâmetros para identificar hipóteses em que a publicação deve
ser proibida e/ou o declarante condenado ao pagamento de danos morais, ou ainda a outras consequências jurídicas.
3. Repercussão geral reconhecida.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 848.826-DF
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. JULGAMENTO DAS CONTAS DO CHEFE DO
PODER EXECUTIVO COMO ORDENADOR DE DESPESAS. COMPETÊNCIA: PODER LEGISLATIVO OU TRIBUNAL DE CONTAS.
REPERCUSSÃO GERAL.
1. Inadmissão do recurso no que diz respeito às alegações de violação ao direito de petição, inafastabilidade do controle judicial, devido processo
legal, contraditório, ampla defesa e fundamentação das decisões judiciais (arts. 5º, XXXIV, a, XXXV, LIV e LV, e 93, IX, da CF/1988). Precedentes:
AI 791.292 QO-RG e ARE 748.371 RG, Rel. Min. Gilmar Mendes.
2. Constitui questão constitucional com repercussão geral a definição do órgão competente – Poder Legislativo ou Tribunal de Contas – para julgar as
contas de Chefe do Poder Executivo que age na qualidade de ordenador de despesas, à luz dos arts. 31, § 2º; 71, I; e 75, todos da Constituição.
3. Repercussão geral reconhecida.
Decisões Publicadas: 4

CLIPPING DO D JE
31 de agosto a 4 de setembro de 2015

AG. REG. NO ARE N. 669.072-MG


RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. COFINS E CSLL. COMPENSAÇÃO. REVOGAÇÃO MEDIANTE MEDIDA PROVISÓRIA. AUSÊNCIA DE
HIERARQUIA ENTRE LEI COMPLEMENTAR E LEI ORDINÁRIA. CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA COM A JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA NO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, II, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LEGALIDADE. CONTRADITÓRIO E
AMPLA DEFESA. DEVIDO PROCESSO LEGAL. NATUREZA INFRACONSTITUCIONAL DA CONTROVÉRSIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
ARTIGO 93, IX, DA CARTA MAGNA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. RAZÕES DE DECIDIR EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO JURISDICIONAL. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERECE TRÂNSITO. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 16.3.2011.
1. O entendimento adotado pela Corte de origem, nos moldes do assinalado na decisão agravada, não diverge da jurisprudência firmada no âmbito
deste Supremo Tribunal Federal, no sentido da inexistência de reserva de lei complementar para dispor sobre isenção pertinente à Cofins, bem
como ausente relação hierárquica entre lei complementar e lei ordinária (art. 59 da Constituição) porquanto, em matéria tributária, a reserva de lei
complementar é definida em razão da matéria.
2. Obstada a análise da suposta afronta aos incisos II e LV do artigo 5º da Carta Magna, porquanto dependeria de prévia análise da legislação
infraconstitucional aplicada à espécie, procedimento que refoge à competência jurisdicional extraordinária desta Corte Suprema, a teor do art. 102
da Magna Carta.
3. Inexiste violação do artigo 93, IX, da Constituição Federal. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o referido
dispositivo constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional, das razões do seu convencimento, dispensando o exame detalhado de cada
argumento suscitado pelas partes.
4. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
5. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO HC N. 128.617-RN
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO. CRIMES DE ROUBO MAJORADO E
RECEPTAÇÃO. ALEGAÇÕES DE INÉPCIA DA DENÚNCIA E CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA.
1. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento no sentido da inadmissibilidade do uso da ação de habeas corpus em
substituição ao recurso ordinário previsto na Constituição Federal (v.g HC 109.956, Rel. Min. Marco Aurélio; e HC 104.045, Rel.ª Min.ª Rosa Weber).
Da mesma forma, o Supremo Tribunal Federal não admite a utilização do habeas corpus em substituição à ação de revisão criminal (v.g,
RHC119.605-AgR, Rel. Min. Luís Roberto Barroso; HC 111.412-AgR, Rel. Min. Luiz Fux; RHC 114.890, Rel. Min. Dias Toffoli; HC 116.827-MC, Rel. Min.
Teori Zavascki; RHC 116.204, Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia; e RHC 115.983, Rel. Min. Ricardo Lewandowski).
2. A alegação de inépcia da denúncia não foi apreciada pela autoridade impetrada, o que impede o imediato exame da matéria, sob pena de
indevida supressão de instância (v.g HC 116.350-AgR, Relª Minª Rosa Weber, e HC 114.166, Rel. Min. Ricardo Lewandowski). Não bastasse, a
orientação jurisprudencial desta Corte é no sentido de que a A alegação de i ép ia da de ú ia está p e lusa ua do sus itada após a se te ça
penal conde ató ia (RHC 105.730, Rel. Min. Teori Zavascki). No mesmo sentido: RHC 120.473, Rel.ª Min.ª Rosa Weber; RHC 122.465-AgR, Rel. Min.
Gilmar Mendes; RHC 120.751, Rel.ª Min.ª Rosa Weber; HC 111.363, Rel. Min. Luiz Fux; RHC 116.619, Rel. Min. Ricardo Lewandowski).
3. Quanto à alegação de cerceamento do direito de defesa, o acolhimento da pretensão defensiva quanto à análise do exaurimento, ou não, dos
meios necessários para a localização do paciente demandaria o revolvimento do conjunto fático-probatório da causa, inviável na via
processualmente restrita do habeas corpus, notadamente após o trânsito em julgado da condenação.
4. Agravo regimental desprovido.

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


AG. REG. NO HC N. 128.693-SP
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS CONTRA ATO DE MINISTRO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CASA DE PROSTITUIÇÃO. CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO.
DOSIMETRIA DA PENA. REGIME INICIAL. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.
1. Inexistindo pronunciamento colegiado do Superior Tribunal de Justiça, não compete ao Supremo Tribunal Federal examinar a questão de direito
implicada na impetração. Nesse sentido foram julgados os seguintes precedentes: HC 113.468, Rel. Min. Luiz Fux; HC 117.502, Relator para o
acórdão o Min. Luís Roberto Barroso; HC 108.141-AgR, Rel. Min. Teori Zavascki; e o HC 122.166-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski.
2. O Supremo Tribunal Federal não admite a utilização do habeas corpus em substituição à ação de revisão criminal (v.g, RHC119.605-AgR, Rel. Min.
Luís Roberto Barroso; HC 111.412-AgR, Rel. Min. Luiz Fux; RHC 114.890, Rel. Min. Dias Toffoli; HC 116.827-MC, Rel. Min. Teori Zavascki; RHC
116.204, Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia; e RHC 115.983, Rel. Min. Ricardo Lewandowski).
3. A dosimetria da pena é questão relativa ao mérito da ação penal, estando necessariamente vinculada ao conjunto fático probatório, não sendo
possível às instâncias extraordinárias a análise de dados fáticos da causa para redimensionar a pena finalmente aplicada. De modo que a discussão a
respeito da dosimetria da pena se cinge ao controle da legalidade dos critérios utilizados, restringindo-se,àpo ta to,àaoàexa eàdaà motivação
[formalmente idônea] de mérito e à congruência lógico-ju ídi a e t e os otivos de la ados e a o lusão (HC 69.419, Rel. Min. Sepúlveda
pertence).
.àáào ie taç oàju isp ude ialàdoà“up e oàT i u alàFede alà à oàse tidoàdeà ueà A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a
pena aplicada permitir exige motivação idônea à “ú ulaà /“TF .à
5. As instâncias de origem, ao concluírem que a conversão da reprimenda não se mostra recomendável diante da presença de circunstâncias
judiciais desfavoráveis, também não divergiram da jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal (vg. RHC 122.132-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes;
HC 117.719, Rel. Min. Teori Zavasacki; HC 119.811, Rel. Min. Teori Zavascki; ARE 774.815-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes; RHC 118.658, Rel. Min. Luiz
Fux).
6. Agravo regimental desprovido.
AG. REG. NO RHC N. 118.621-ES
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. FORMAÇÃO DE QUADRILHA, FALSIDADE IDEOLÓGICA E LAVAGEM DE DINHEIRO. INTERCEPTAÇÕES
TELEFÔNICAS.
1. As instâncias precedentes afirmaram que a interceptação telefônica foi precedida de diligências preliminares que demonstraram a e essidade e
i dispe sa ilidade da edida . Para dissentir-se desse entendimento seria necessário o revolvimento de fatos e provas, inviável na via do habeas
corpus.
2. O “up e o T i u al Fede al afasta a e essidade de t a s ição integral dos diálogos gravados durante quebra de sigilo telefônico, rejeitando
alegação de cerceamento de defesa pela não transcrição de partes da interceptação irrelevantes para o embasamento da denúncia (Inq. 3693,
Rel.ª Min.ª Cármen Lúcia). No mesmo sentido, o AI 685878-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO RE N. 869.633-SC
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ADICIONAL DE RISCO DE VIDA. DISCUSSÃO ACERCA DA
NATUREZA JURÍDICA DA VERBA. DEBATE DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, II, XXXVI, LIV E LV, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LEGALIDADE. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. DEVIDO PROCESSO LEGAL. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO
VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI MAIOR. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ARTIGO 93, IX, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. RAZÕES DE DECIDIR EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO JURISDICIONAL. ACÓRDÃO RECORRIDO
PUBLICADO EM 02.6.2014.
1. A controvérsia, a teor do já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos arts. 150, I, 154, I,
eà ,àI,à a ,àdaàCo stituiç oàFede al.àCo p ee de àdeà odoàdive soàexigi iaàaàa liseàdaàlegislaç oài f a o stitu io alàe ampada na decisão da
Corte de origem, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário.
2. Inexiste violação do artigo 93, IX, da Lei Maior. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o referido dispositivo
constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional, das razões do seu convencimento, dispensando o exame detalhado de cada argumento
suscitado pelas partes.
3. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, II, XXXVI, LIV e LV, da Constituição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida a matéria à
apreciação desta Suprema Corte, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à competência
jurisdicional extraordinária, prevista no art. 102 da Magna Carta.
4. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
5. Agravo regimental conhecido e não provido.
EMB.DECL. NO AG. REG. NO RE N. 632.343-RJ
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Embargos de declaração no agravo regimental no recurso extraordinário. Matéria criminal. Omissão no acórdão questionado não
caracterizada. Caráter manifestamente protelatório do recurso. Pretensão de alcançar a prescrição da pretensão punitiva. Risco iminente da
prescrição. Possibilidade de baixa imediata dos autos independentemente da publicação da decisão. Entendimento consolidado na
jurisprudência da Corte. Precedentes. Rejeição dos embargos. Baixa imediata dos autos ao juízo de origem.
1. Nenhuma das hipóteses autorizadoras da oposição do recurso declaratório (RISTF, art. 337) está configurada no caso dos autos, já que o acórdão
embargado abordou, de forma fundamentada, todos os pontos colocados em debate, nos limites necessários ao deslinde da controvérsia.
2. Intenção de se procrastinar a prestação jurisdicional da Corte e, assim, obstar a persecução penal, uma vez a prescrição da pretensão punitiva,
pela pena em abstrato, se avizinha (29/8/15).
3. Hipótese absolutamente repelida pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a qual consigna que a utilização de recurso manifestamente
protelatório autoriza o imediato cumprimento da decisão proferida pela Suprema Corte, independentemente da publicação do acórdão (RE nº
839.163/DF-QO, Tribunal Pleno, de minha relatoria, DJe de 9/2/15).
4. Embargos de declaração rejeitados.
5. Baixa imediata dos autos ao juízo de origem, independentemente da publicação do acórdão, tendo em vista o caráter manifestamente
protelatório do recurso.

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


AG. REG. NO ARE N. 851.864-ES
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Constitucional. Terreno de marinha. Ilha costeira. Sede de Município. EC nº
46/2005. Propriedade. Titularidade. Discussão. Repercussão geral. Decisão que determina o retorno dos autos à origem. Precedentes.
1. O Supremo Tribunal Federal, no exame do RE nº 636.199/ES, Relatora a Ministra Rosa Weber, reconheceu a repercussão geral da matéria relativa
à situaç oàdosàte e osàdeà a i haàlo alizadosàe àilhasà ostei asà o àsedeàe à u i ípio,àapósàadve toàdaàE e daàCo stitu io alà / .
2. Manutenção da decisão que, com base no art. 328, parágrafo único, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, determinou a devolução
dos autos ao Tribunal de origem para a observância do disposto no art. 543-B do Código de Processo Civil.
3. Agravo regimental não provido.
AG. REG. NO ARE N. 880.159-SC
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Princípio da legalidade. Ofensa reflexa. Servidor público.
Gratificação. Direito à percepção. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade. Valores recebidos de boa-fé. Restituição. Discussão. Ausência de
repercussão geral. Precedentes.
1. A afronta aos princípios da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório, dos limites da coisa julgada ou da prestação
jurisdicional, quando depende, para ser reconhecida como tal, da análise de normas infraconstitucionais, configura apenas ofensa indireta ou
reflexa à Constituição Federal.
2. Não se presta o recurso extraordinário para o exame do conjunto fático-probatório da causa. Incidência da Súmula nº 279/STF.
3. O Supremo Tribunal Federal no exame do AI nº 841.473/RS, Relator o Ministro Cezar Peluso, assentou a ausência de repercussão geral do tema
elativoà à estituiç oàdeàvalo esàpagosài devida e teàpelaàád i ist aç oàPú li aà à e efi i ioàdeà oa-f àe à az oàda inexistência de questão
constitucional a ser examinada.
4. Agravo regimental não provido.
Acórdãos Publicados: 363

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Obras emergenciais em presídios: reserva do possível e separação de poderes (Transcrições)


(v. Informativo 796)
RE 592.581-RS*
RELATOR: Ministro Ricardo Lewandowski
VOTO DO MINISTRO EDSON FACHIN:

Trata-se de Recurso Extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, cuja ementa se transcreve:
“Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DETERMINAÇÃO AO PODER EXECUTIVO DE REALIZAÇÃO DE OBRAS EM
PRESÍDIO. DECABIMENTO. PODER DISCRICIONÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO.
Preliminar:
O pedido não é juridicamente impossível, porquanto não lhe veda expressamente a ordem jurídica.
Mérito:
O texto constitucional dispõe sobre os direitos fundamentais do preso, sendo certo que as precárias condições dos estabelecimentos prisionais
importam ofensa à sua integridade física e moral. A dificuldade está na técnica da efetivação desses direitos fundamentais.
É que diversa a carga de eficácia quanto se trata de direito fundamental prestacional proclamado em norma de natureza eminentemente
programática, ou quando sob forma que permita, de logo, com ou sem interposição legislativa, o reconhecimento de direito subjetivo do
particular (no caso do preso), como titular do direito fundamental.
Aqui o ponto: saber se a obrigação imposta ao Estado atende norma constitucional programática, ou norma de natureza imposivita (sic).
Vê-se às claras, que mesmo não tivesse ficado no texto constitucional senão que também na Lei das Execuções Criminais, cuida-se de norma
de cunho programático. Não se trata de disposição auto-executável, apenas traça linha geral de ação ditada ao poder público.
Para além (sic) disso, sua efetiva realização apresenta dimensão econômica que faz depender da conjuntura; em outras palavras, das
condições que o Poder Público, como destinatário da norma, tenha de prestar. Daí que a limitação de recursos constitui, na opinião de
muitos, no limite fático à efetivação das normas de natureza programática. É a denominada ‘reserva do possível’.
Pois a ‘reserva do possível’, no que respeita aos direitos de natureza programática, tem a ver não apenas com a possibilidade material para
sua efetivação (econômica, financeira, orçamentária), mas também, e por conseqüência, com o poder de disposição de parte do
Administrador, o que imbrica na discricionariedade, tanto mais que não se trata de atividade vinculada.
Ao Judiciário não sabe determinar ao Poder Executivo a realização de obras, como pretende o Autor Civil, mesmo pleiteadas a título de
direito constitucional do preso, pena de fazer às vezes de administrador, imiscuindo-se indevidamente em seara reservada à Administração.

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


Falta aos Juízos, porque situados fora do processo político-administrativo, capacidade funcional de garantir a efetivação de direitos sociais
prestacionais, sempre dependentes de condições de natureza econômica ou financeira que longe estão dos fundamentos jurídicos.”
No Recurso Extraordinário, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, preliminarmente, alega a repercussão geral da matéria,
tendo em vista a violação dos direitos fundamentais do preso e do princípio da dignidade humana. Também afirma o prequestionamento do disposto
no artigo 5º, XLIX e art. 1º, III, ambos da Constituição Federal.
No tocante ao mérito, requer a reforma da decisão colegiada, pois teria sido desconsiderada a aplicabilidade imediata dos direitos
fundamentais. Acrescenta que impossibilidade de ordem orçamentária não pode servir de justificativa para a não efetivação desses direitos, assim
como deve ser observada a vinculação do Poder Público quanto à implementação de políticas públicas nesta seara.
Pondera que não há ofensa ao princípio da separação de poderes na apreciação da questão pelo Poder Judiciário, pois esse Poder também seria
“Estado” e o texto constitucional garante o acesso à prestação jurisdicional como direito fundamental (art. 5º, XXXV, da Constituição Federal). Disto
decorre que a atuação do Judiciário - como Estado na espécie - apenas tornaria efetivo o dever constitucional de garantir a integridade física e moral
dos presos.
Pede, por fim, a reforma integral do acórdão, provendo o recurso extraordinário a fim de compelir o Estado do Rio Grande do Sul a realizar, no
prazo de seis meses, obras de reforma geral no Albergue Estadual de Uruguaiana.
Não foram apresentadas contrarrazões (doc. 4).
Foram admitidos como amici curiae os Estados do Acre, Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais, Piauí, Rondônia, Bahia, Roraima, Amapá,
Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal (doc. 05), Rio de Janeiro (doc. 06), São Paulo (doc. 12), Pará (doc. 14).
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil apresentou memorial (doc. 20) a fim de contribuir para o deslinde do feito. Alega que
o quadro verificado no sistema prisional brasileiro deve-se à ausência de vontade/conveniência política e pelo senso coletivo de “justiça” que “coloca
ao sopé das listas de prioridades a implementação de condições minimamente dignas para o cumprimento de penas privativas de liberdade”. (pág. 5,
doc. 20). Afirma, ainda, a existência de recursos financeiros dos fundos penitenciários para implementação das obras necessárias. Conclui que a falta
de opção política para tanto abre a possibilidade de atuação do Poder Judiciário “em suplementação ao Executivo quando esse não age em atenção a
postulados de observância obrigatória derivados da Carta Magna por razões injustificada”. (pág. 6, doc. 20)
Em parecer (doc. 18), o Procurador-Geral da República opina pelo provimento do recurso extraordinário. Por didática e elucidativa, transcrevo
a ementa da mencionada peça:
“CONSTITUCIONAL. REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TEMA 220. SISTEMA PRISIONAL. RESPEITO À
INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL DOS PRESOS. DIREITO FUNDAMENTAL. APLICABILIDADE IMEDIATA. RESERVA DO POSSÍVEL.
DEVER DE O ESTADO GARANTIR O MÍNIMO EXISTENCIAL. INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO EM POLÍTICAS PÚBLICAS.
OMISSÃO ESTATAL. DETERMINAÇÃO AO EXECUTIVO DE OBRAS EM ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS.
1. A designação do problema como ‘controle judicial de políticas públicas’ pode levar à conclusão da ilicitude de intervenção judicial
no caso, sem se demonstrar antes a premissa de que o tema não é jurídico, mas político, e, portanto, entregue apenas aos órgãos de
representação popular. Existência de direito fundamental eventualmente desrespeitado por ação ou omissão estatal torna jurídica a questão.
2. É impossível adotar soluções absolutas em todas as questões atinentes a direitos fundamentais. A diferença de densidade dos
programas e dos domínios normativos dos direitos fundamentais brasileiros é obstáculo à generalização de conclusões para sua
concretização, por meio da transposição de precedentes. É necessário construir casuística graduada e adequada à espécie de direito
fundamental em causa.
3. Há equívoco em subsumir o direito à integridade física e moral dos presos, previsto no art. 5º, XLIX, da Constituição da República,
à categoria dos direitos sociais, a cuja realização se opõem restrições discricionariedade política e de reserva do possível. Esse direito
fundamental é direito de defesa, malgrado eventualmente uma de suas consequências jurídicas- secundárias- seja o deferimento de prestação
estatal. Deve preponderar o critério material, em detrimento do formal, na classificação dos direitos fundamentais brasileiros: direito de
defesa visam à garantia jurídica da liberdade, mediante omissões do Estado, ao passo que direitos sociais promovem igualdade de fato entre
pessoas, para que as menos aquinhoadas possam desfrutar de liberdade jurídica, por meio de prestações jurídicas ou materiais do Estado.
4. Uma vez que os presos não possuem, por definição, liberdade de fato, mas apenas limitado raio de liberdade jurídica, sua
integridade recai no âmbito dos direitos de defesa.
5. Ao contrário dos direitos a prestações, cuja implementação estatal se satisfaz por qualquer das opções adequadas adotadas pelo
legislador ou pelo administrador, direitos de defesa somente são respeitados caso o Estado se abstenha de todos comportamentos capazes de
suprimi-los ou de lesá-los. Não cabe falar, aí, de discricionariedade legislativa ou executiva no fornecimento de condições materiais que
atendam ao art. 5º, XLIX, da CR.
6. Possui aplicabilidade imediata o direito fundamental ao respeito à integridade física e moral dos cidadãos presos (art. 5º, XLIX e §
1º). O estado do sistema carcerário brasileiro fere a ordem constitucional e deveres convencionais e legais do Brasil.
7. Não cabe aplicação da cláusula da reserva do possível que resulte em negativa de vigência de núcleo essencial de direito
fundamental. O Estado deve garantir proteção do mínimo existencial do direito fundamental de respeito à integridade física e moral dos
presos. Núcleo essencial intangível a ser assegurado, independentemente de condições adversas, limites financeiros ou colisão com outros
direito fundamentais.

8. Tem legitimidade o Poder Judiciário para determinar adoção de políticas públicas que garantam intangibilidade do mínimo
existencial do direito fundamental ao respeito à integridade física e moral dos presos, como reforma, ampliação e construção de
estabelecimentos prisionais, em caso de omissão dos entes estatais. Precedentes.
9. Parecer pelo provimento do recurso extraordinário.”
É, em suma, o relatório/Voto.
- Premissa: o que é uma Constituição? / o que uma Constituição constitui?
A promulgação da Constituição da República de 1988 inaugurou uma nova ordem político-jurídica no Brasil. A partir de 05 de outubro de
1988, a Constituição deixou de ser compreendida apenas como mero documento político organizador do estado e repartidor de competências, passou
a ser compreendida como um projeto de construção nacional, com princípios (art. 3) e objetivos (art. 4) expressos, prevendo um rol de direitos e
garantias fundamentais (art. 5 ao art. 17), redefinindo a organização e separação entre os Poderes. Dessa forma, a questão central a partir de 1988
deixou de ser “o que é uma constituição”, e passou a ser “o que uma constituição constitui”. E a Constituição de 1988 não mais um mero documento
organizador do poder do Estado, mas sim o compromisso fundamental de uma comunidade de pessoas que se reconhecem reciprocamente como livres
e iguais. (NETO, Menelick de Carvalho; SCOTTI, Guilherme. Os Direitos Fundamentais e a (In)Certeza do Direito – A produtividade das Tensões

Informativo 797-STF (10/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


Principiológicas e a Superação do Sistema de Regras. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 19-20) Uma comunidade que deve, portanto, se preocupar
inclusive com seus concidadãos presos, encarcerados, mas não por isso menos dignos de igual respeito e consideração.
- O direito fundamental de proteção à integridade física e moral dos presos (art. 5º, XLIX)
Partindo dessa premissa e cotejando-a com o presente caso, a questão central a ser analisada no presente Recurso Extraordinário diz respeito ao
conteúdo normativo do direito à integridade física e moral do preso, consoante o disposto no art. 5º, XLIX, da Constituição da República, bem como
aos limites e possibilidades de atuação do Poder Judiciário, em conformidade com o princípio da separação de poderes insculpido no art. 2º do Texto
Constitucional.
O conteúdo normativo do artigo 5º, XLIX, consiste na proteção e garantia da saúde física e moral do preso. Vale dizer, é dever do Estado
garantir que as condições de encarceramento sejam dignas, de tal forma que suas condições de saúde física e moral sejam bem protegidas. Tal
previsão é densificada e pormenorizada em normas infraconstitucionais que não são novas e de há muito conhecidas pelos Estados.
Nesse sentido, é de se destacar que as condições em que a execução penal deve transcorrer encontram-se expressas na Lei 7.210, de 11 de
julho de 1984, Lei de Execução Penal, cujos art. 1º e 3º bem sintetizam seu conteúdo:
“Art. 1º. A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado e do internado.”
“Art. 3º. Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei.
Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política.”
Ao dispor sobre o alojamento do preso em cela individual em penitenciária, diz o art. 88, da LEP:
“Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório.
Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular:
a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência
humana;
b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).”
Esses parâmetros devem ser observados ainda na penitenciária feminina (art.89), na Colônia Agrícola, Industrial ou Similar (art. 92), em
Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (art. 99, parágrafo único), bem como na hipótese de isolamento como sanção disciplinar (art. 53, IV) e
cadeia pública (art. 104).
A Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal assim explica sua essência:
“19. O princípio da legalidade domina o corpo e o espírito do Projeto, de forma a impedir que o excesso ou o desvio da execução
comprometam a dignidade e a humanidade do Direito Penal.
20. É comum, no cumprimento das penas privativas da liberdade, a privação ou a limitação de direitos inerentes ao patrimônio
jurídico do homem e não alcançados pela sentença condenatória. Essa hipertrofia da punição não só viola a medida da proporcionalidade
como se transforma em poderoso fator de reincidência, pela formação de focos criminógenos que propicia.
(...)
65. Tornar-se-á inútil, contudo, a luta contra os efeitos nocivos da prisionalização, sem que se estabeleça a garantia jurídica dos
direitos do condenado.
67. A norma do art. 39, que impõe a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e presos provisórios,
reedita a garantia constitucional que integra a Constituição do Brasil desde 1967.
68. No estágio atual de revisão dos métodos e meios de execução penal, o reconhecimento dos direitos da pessoa presa configura
exigência fundamental.
(...)
74. A declaração desses direitos não pode conservar-se, porém, como corpo de regras meramente programáticas. O problema central
está na conversão das regras em direitos do prisioneiro, positivados através de preceitos e sanções.
75. O Projeto indica com clareza e precisão o repertório dos direitos do condenado, a fim de evitar a fluidez e as incertezas
resultantes de textos vagos ou omissos: alimentação suficiente e vestuária; atribuição de trabalho e sua remuneração; previdência social;
constituição de pecúlio; proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; exercício das atividades
profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, quando compatíveis com a execução da pena; assistência material, à saúde,
jurídica, educacional, social e religiosa; proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; entrevista pessoal reservada com o
advogado; visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos; chamamento nominal; igualdade de tratamento; audiência com o
diretor do estabelecimento; representação e petição a qualquer autoridade em defesa de direito; contato com o mundo exterior através de
correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação (art. 40).
76. Esse repertório, de notável importância para o habitante do sistema prisional, seja ele condenado ou preso provisório, imputável,
semi-imputável ou inimputável, se harmoniza não somente com as declarações internacionais de direitos mas também com os princípios
subjacentes ou expressos de nosso sistema jurídico e ainda com o pensamento e idéias dos penitenciaristas (Jason Soares de ALBERGARIA.
Os direitos do homem no Processo Penal e na execução da pena. Belo Horizonte, 1975).” (portal.mj.gov.br. Acesso em 13.08.2015)
Paralelamente, por meio da Resolução 09, de 18 de novembro de 2011, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária/Ministério da
Justiça estabeleceu diretrizes básicas para arquitetura penal, das quais se destacam as seguintes recomendações gerais:
“3.1. Capacidade dos Estabelecimentos Penais
O Conjunto Penal tem capacidade ilimitada, desde que os diversos estabelecimentos que o compõem respeitem as capacidades para
ele fixadas anteriormente e sejam independentes entre si ou estanques.
Em nenhuma hipótese um módulo de celas poderá ultrapassar a capacidade de 200 pessoas presas.
Em todas as penitenciárias e cadeias públicas que possuam celas coletivas, deverá ser previsto um mínimo de celas individuais (2% da
capacidade total), para o caso de necessidade de separação da pessoa presa que apresente problemas de convívio com os demais por período
determinado (Portaria Ministério da Justiça/DEPEN nº 01, de 27.01.2004, anexo) e pelo menos uma cela com instalação sanitária, por
módulo, obedecendo aos parâmetros de acessibilidade (NBR 9050/2004).
3.2. Parâmetros Arquitetônicos para a Acomodação de Pessoas Presas
A cela individual é a menor célula possível de um estabelecimento penal. Neste cômodo devem ser previstos cama e área de
higienização pessoal com pelo menos lavatório e aparelho sanitário, além da circulação. O chuveiro pode ser configurado fora da cela em
local determinado. Podem ainda ser projetados: mesa com banco, prateleiras, divisórias, entre outros elementos de apoio. Caso se opte
também pode ser incluído o chuveiro dentro da cela. A área mínima deverá ser de 6 metros quadrados, incluindo os elementos básicos – cama
e aparelho sanitário – independentemete de o chuveiro localizar-se fora da cela ou não. A cubagem mínima é de 15 metros cúbicos. O
diâmetro mínimo é de 2 metros.

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No caso da cela acessível, as dimensões do mobiliário dos dormitórios acessíveis devem atender às condições de alcance manual e
visual previstos na NBR 9050/2004 e serem dispostos de forma a não obstruírem uma faixa livre mínima de circulação interna de 0,90 m de
largura, prevendo área de manobras para o acesso ao sanitário, camas e armários. Os armários devem atender ao item 7.4.2. da NBR
9050/2004. Deve haver pelo menos uma área com diâmetro de no mínimo 1,50 m que possibilite um giro de 360°. A altura das camas deve ser
de 0,46 m.
Os parâmetros da cela acima descritos devem ser aplicados para salas e celas de saúde.
A cela coletiva é qualquer cômodo com a mesma função de uma cela individual, porém com capacidade para abrigar mais de uma
pessoa presa simultaneamente.
(...)
No caso do uso de três camas superpostas (beliches de três camas) deverá ser previsto um pé-direito mínimo de três metros e meio,
independentemente de exigir-se uma cubagem menor.
No caso de o chuveiro localizar-se fora da cela coletiva, poderão ser subtraídos 0,96 m2 da área em relação ao valor mínimo fixado
no quadro acima, sem prejuízo do parâmetro de diâmetro equivalente.
3.10. Conforto ambiental (ventilação e iluminação naturais)
Para paredes e coberturas deverá ser usado material adequado de acordo com as peculiaridades de cada região, prevendo-se a
conveniente ventilação, e proteção, com a adoção de esquemas técnicos especiais que atendam às condições climáticas regionais (...)
As aberturas dos compartimentos deverão obedecer a um mínimo de 1/8 a 1/6 da área de seu piso, dependendo da zona Bioclimática
em que o estabelecimento está inserido, por questões de aeração dos ambientes, atendendo ainda as normas da NBR 15220/2003 para as
condições de ventilação natural por região bioclimática. Excluem-se dessa obrigatoriedade os compartimentos que servem de corredores e
passagens com área igual ou inferior a 10m2 . Quando a iluminação/ventilação for zenital deverá atender também ao mínimo de 1/6 da área
do piso.
Os ambientes deverão possuir ventilação cruzada. Para isso, a relação entre aberturas de entrada e de saída deverá corresponder ao
mínimo de 0,5 para a circulação de ar.
3.12. Iluminação artificial
A iluminação artificial externa deverá ser executada da periferia para o interior ou da parte superior para a inferior. Neste caso, os
postes de iluminação deverão ter altura mínima equivalente ao dobro da cumeeira da cobertura dos telhados e permitir total iluminação das
fachadas, pátios e coberturas.
Todos os serviços das celas, como iluminação artificial, descarga dos vasos sanitários, água nos chuveiros, poderão contar com
comando externo centralizado (de acordo com as peculiaridades de cada estabelecimento), devem contar com dispositivos de aquecimento de
água quando a unidade estiver em região de baixas temperaturas e devem ser oferecidos de forma que atendam às necessidades humanas com
conforto e higiene.
As luminárias das celas e dos corredores podem ficar embutidas no forro e protegidas por materiais que lhes vedem o acesso por parte
do usuário, sendo sua manutenção feita através de alçapão situado sobre a carceragem ou por outra solução arquitetônica.
3.13. Recomendações técnicas
(...)
As edificações devem ser projetadas de modo a atender aos quesitos necessários quanto ao custo da construção, considerando-se
também o material a empregar, objetivando a redução das despesas que venham a demandar com a manutenção e o funcionamento, sem,
contudo, acarretar prejuízo das condições mínimas de comodidade, indispensáveis para a segurança e a preservação dos direitos
fundamentais da pessoa humana.
As edificações devem ser projetadas, preferencialmente, considerando as características necessárias ao sistema de distribuição,
reservação e utilização de água potável do prédio, assim como as condições necessárias para aparelhos sanitários, tubulações de água e de
esgotos, sistema de drenagem, reuso de águas e aproveitamento de águas pluviais.
(...)
As partes externas deverão ser convenientemente drenadas, permitindo o perfeito escoamento das águas pluviais, protegendo, assim,
as construções; recomenda-se que as tubulações devem ter no máximo 200 mm de diâmetro por linha.
(...)
As edificações devem ser projetadas de modo a atender aos quesitos necessários para obtenção da Etiqueta Nacional de Conservação
de Energia “A”, emitida pelo Ministério de Minas e Energias através do Programa Pracional de Eficiência Energética em Edificações, o
PROCEL EDIFICA.
A fiação elétrica, os quadros e caixas de passagem enterradas, caixas de incêndio e reservatórios d’água devem ser especialmente
protegidos com trancas de segurança e cadeados, e situados em locais de difícil acesso às pessoas presas.
Deve-se primar por aspectos de harmonização do ambiente com a vida humana, de forma a favorecer o equilíbrio, a saúde e a
tranquilidade, considerando itens como a pintura (cores), acabamento, configuração espacial que minimize a sensação de opressão, respeito
ao espaço pessoal, layout dos ambientes obedecendo aos princípios da ergonomia etc. Tais cuidados são necessários para minimizar os
efeitos da prisionalização, nocivos à saúde mental, não só dos presos, mas também dos funcionários que vivenciam os espaços prisionais.”
Revisitando a jurisprudência da Corte, verifica-se que em inúmeros julgados, entendeu-se, também com fulcro na dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, da Constituição Federal), rechaçar ofensas à integridade do preso, bem como conceder indenização diante de ofensa, consoante se extrai
das ementas colacionadas:
“EMENTA: HABEAS CORPUS. AMEAÇA DE VIOLÊNCIA FÍSICA, MORAL E SEXUAL EM PRESÍDIO. PEDIDO DE TRANSFERÊNCIA.
NEGATIVA DE SEGUIMENTO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, COM ADOÇÃO DAS PROVIDÊNCIAS CABÍVEIS. ALEGADO
CERCEAMENTO DO DIREITO DE ACESSO À JUSTIÇA. INOCORRÊNCIA. ORDEM DENEGADA.
1. Embora tenha negado seguimento ao habeas corpus, o Superior Tribunal de Justiça determinou ao juízo das execuções penais que
garantisse a segurança e integridade física do paciente no presídio em que se encontra recolhido.
2. Constrangimento ilegal não configurado.
3. Ordem denegada.” (HC 102.309, rel. min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, DJe de 30.09.2010)
“EMENTA: Recurso extraordinário. 2. Morte de detendo por colegas de carceragem. Indenização por danos morais e materiais. 3. Teoria do
Risco Administrativo. Configuração do nexo de causalidade em função do dever constitucional de guarda (art. 5º, XLX). Responsabilidade de
reparar o dano que prevalece ainda que demonstrada a ausência de culpa dos agentes públicos. 5. Recurso extraordinário a que se nega
provimento. (RE 272.839, rel. min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ de 08.04.2005)
Nesse ponto, é mister levar em consideração a finalidade da pena. Não obstante inúmeras teorias tentem explicá-la, há certo consenso quanto
ao seu fim ressocializador. Nesse sentido, é de grande valia resgatar a marcante decisão no HC 71.179, de relatoria do Min. Marco Aurélio:

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“PENA- CUMPRIMENTO- TRANSFERÊNCIA DE PRESO- NATUREZA. Tanto quanto possível, incumbe ao Estado adotar medidas
preparatórias ao retorno do condenado ao convívio social. Os valores humanos fulminam os enfoques segregacionistas. A ordem jurídica
em vigor consagra o direito do preso de ser transferido para local em que possua raízes, visando à indispensável assistência pelos familiares.
Os óbices ao acolhimento do pleito devem ser inafastaveis (sic) e exsurgir ao primeiro exame, consideradas as precárias condições do sistema
carcerário pátrio. Eficácia do disposto nos artigos 1º e 86 da Lei de Execução Penal- Lei 7.210, de 11 de julho de 1984- Precedente: habeas
corpus nº 62.411-DF, julgado na Segunda Turma, relatado pelo Ministro Aldir Passarinho, tendo sido o acórdão publicado na Revista
Trimestral de Jurisprudência nº 113, à página 1.049.” (Segunda Turma, DJ de 03.06.1994)
Isso demonstra que, além do direito fundamental do preso previsto no art. 5, XLIX, há também sólida legislação infraconstitucional e
entendimento consolidado desta Corte que esmiúçam e detalham o conteúdo normativo, bem como o âmbito de proteção do direito à integridade
física e moral do preso. O direito previsto no art. 5º, XLIX impõe uma conduta ao Estado. Conduta essa que possui parâmetros legais
infraconstitucionais nítidos, precisos e não são novos. Não há razão, portanto, para que o Estado se escuse de protegê-lo.
- O papel do Poder Judiciário
É de se destacar que ao Poder Judiciário não cabe se substituir ao legislador ou ao gestor. Mas, contra uma inação jurisdicional, geralmente
fundada em uma antiquada compreensão sobre a separação dos Poderes, é possível, sim, conceber um papel de relevo ao Poder Judiciário na
efetivação de direitos fundamentais, pois a adoção de medidas tomadas por juízes para efetivar esses direitos ajuda a promover a deliberação
democrática ao dirigir a atenção pública a interesses que, de outra forma, seriam ignorados na vida pública diária (GODOY, Miguel Gualano de.
Constitucionalismo e Democracia: uma leitura a partir de Carlos Santiago Nino e Roberto Gargarella. São Paulo: Saraiva, 2012). É possível, assim,
uma atuação que não seja cegamente omissa e nem irresponsavelmente ativista, mas que garanta o direito fundamental do preso à sua integridade
física e moral durante sua custódia pelo Estado. Uma compreensão sobre a separação de poderes que se atenha ao tradicional entendimento de que ao
Poder Judiciário cabe apenas ser deferente às escolhas do Executivo e do Legislativo demonstra uma limitada concepção de democracia, segundo a
qual as escolhas majoritárias dos representantes do povo (gestores e legisladores) são inquestionáveis. E essa compreensão rasa de democracia acaba
por permitir que direitos fundamentais de minorias, pouco vistas, sejam sistematicamente violados. Uma compreensão robusta de democracia deve, ao
contrário, possibilitar que esses grupos minoritários – como o são os encarcerados em geral – tenham suas situações de privação expostas e que diante
da violação de seus direitos o Poder Judiciário os garanta.
Nesse sentido, o jurista português Jorge Miranda aduz o seguinte no tocante aos dois sentidos de funções do Estado:
“I- São dois os sentidos possíveis de função do Estado: como fim, tarefa ou imperativo ou opção para agir, correspondente a certa
necessidade coletiva ou a certa zona da vida social; e como atividade com características próprias, passagem a ação, modelo ou
comportamento.
No primeiro sentido, a função traduz um determinado enlace entre a sociedade e o Estado, assim, como um princípio (ou uma
tentativa) de legitimação do exercício do poder. A crescente complexidade das funções assumidas pelo Estado- da garantia da segurança
perante o exterior, da justiça e da paz civil à promoção do bem-estar, da cultura e da defesa do ambiente- decorre do alargamento das
necessidades humanas, das pretensões de intervenção dos governantes e dos meios de que se podem dotar; e é ainda uma maneira de o
Estado ou os governantes em concreto justificarem a sua existência ou a sua permanência no poder.
No segundo sentido, a função - agora não tanto algo de pensado quanto algo de realizado - entronca nos atos e atividades que o
Estado constantemente, repetida e repetivelmente, vai desenvolvendo de harmonia com as regras que o condicionam e conformam; define-
se através das estruturas e das formas desses atos e atividades; e revela-se indissociável da pluralidade de processos e procedimentos, de
sujeitos e de resultados de toda a dinâmica jurídico-pública.
No primeiro sentido, a função não tem apenas que ver com o Estado enquanto poder; tem também que ver com o Estado enquanto
comunidade. Tanto pode ser prosseguida só pelos seus órgãos e serviços através das chamadas políticas públicas como ser realizada por
grupos e entidades da sociedade civil, em formas variáveis de complementariedade e subsidiariedade (tudo dependendo das concepções
dominantes e da intenção global do ordenamento).
No segundo sentido, a função não é outra coisa senão uma manifestação qualificada do poder político, um modo tipicizado de
exercício do poder, e carece de ser apreendida numa tríplice perspectiva-material, formal e orgânica.
No primeiro sentido, a função traduz-se depois em incumbências quer para a proteção e a promoção de direitos fundamentais, quer
para conformação de setores da vida coletiva (cfr., por exemplo, na Constituição portuguesa, os arts. 38º, nº 4, 59º e segs. ou 80º e segs.; e na
Constituição brasileira, os arts. 5º- LXXIV, 21 ou 134 e segs.).
No segundo sentido, a função é o modo específico como o Estado procura atingir os fins prescritos na Constituição e na lei, o modo
como se desincumbe das imposições que delas recebe.” (Teoria do Estado e da Constituição. 4.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. P.355-356)
Em assento contínuo na doutrina portuguesa, é possível concluir que a diversidade de funções não é algo a ser visto de forma estanque, mas
deve-se considerar o momento de sua concretização. Confira-se:
“A separação e interdependência não é um esquema constitucional rígido mas apenas um princípio organizatório fundamental.
Como tal, não há que perguntar pela sua realização estrita nem há que considera-lo como um dogma de valor intemporal. Devemos
perspectiva-lo como princípio histórico (K. Hesse) ‘em contacto’ com uma ordem constitucional concreta. Como princípio constitucional
concreto, o princípio da separação articula-se e combina-se com outros princípios constitucionais positivos (princípio de governo
semipresidencialista ou de regime misto parlamentar-presidencial, princípio da conformidade dos actos estaduais com a Constituição,
princípio da participação).
(...)
As várias funções devem ser separadas e atribuídas a um órgão ou grupo de órgãos também separados entre si. Isto significa não uma
equivalência total entre atividade orgânica e função, mas sim que a um órgão deve ser atribuída principal ou prevalentemente uma
determinada função.” (CANOTILHO, J.J Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. 2. Reimp. Coimbra:Almedina. p.
556-558)
No estágio atual de democracia em que o Brasil se posiciona, não há espaço para a negativa de direitos fundamentais positivados no Texto
Constitucional. A Constituição é fruto de uma opção política que adota a proteção desses direitos como única escolha possível na construção de uma
sociedade justa e democrática.
- Constituição Dirigente e Vinculação dos direitos fundamentais
A Constituição dirigente, que não esgota em si mesma o seu conteúdo direcional, é também política. Ela só se realiza plenamente através da
atuação do Poder Legislativo (produção de leis) e do Poder Executivo (criação e execução de políticas públicas). Mas, ao Poder Judiciário cabe
justamente guardar e garantir os direitos fundamentais, os quais devem estar subjacentes às leis e às políticas públicas. E quando estas são
insuficientes, como se verifica claramente no presente caso, é dever do Poder Judiciário atuar para que essas políticas públicas cumpram com o seu
desiderato e satisfaçam um direito tido como pressuposto para qualquer existência digna e sadia.

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A agenda de políticas públicas nasce de pesquisa realizada no seio do grupo social e da definição das prioridades, a partir dos recursos
financeiros existentes. Todavia, o não atendimento dessas necessidades coletivas pelos demais Poderes autoriza a atuação do Poder Judiciário no
sentido de tornar efetiva a proteção aos direitos fundamentais. Ou seja, a atuação judicial sobressai da inércia ou insuficiência dos demais Poderes em
cumprir as diretrizes e determinações da Constituição de efetivar direitos, especialmente os direitos fundamentais.
Comunga-se da ideia de que é preciso manter uma íntima ligação entre a Constituição e as circunstâncias sociais que se mantêm em constante
mutação. A dinâmica social exige um acompanhamento contínuo e incessante do Texto Constitucional, sob pena de o texto positivado não mais
refletir os valores e princípios fundamentais adotados pela sociedade destinatária.
De nenhuma valia teria a previsão de um direito fundamental se ele não puder ser tutelado pelo Estado, principalmente quando todos os
contornos normativos encontram-se definidos na legislação vigente, tal como ocorre na hipótese do direito à integridade física e moral do preso. E
nesta expressão – Estado – entende-se contida a tripartição Executivo, Legislativo e Judiciário. Nessa perspectiva, tem razão aqueles que afirmam que
o poder é uno e a repartição em três funções diversas – executiva, legislativa e judiciária – dá-se como instrumento de otimização de resultados.
A separação de Poderes, conforme anotado alhures por Canotilho, é apenas técnica de repartição organizatória funcional. Não há proibição de
um Poder agir para tutelar direitos caros em determinada ordem normativa. A forma como cada Poder exerce esta tutela é que diverge. Veda-se, na
verdade, que um possa imiscuir-se totalmente na função primordialmente exercida pelo outro. O sistema de freios e contrapesos, por si, já denota que
todos devem, na medida da função que lhe foi atribuída, tornar efetivas as escolhas do constituinte originário.
Nesta senda, ressalta-se que:
“Não é possível a invocação do princípio da separação dos poderes para a não apreciação da pretensão do titular do direito
fundamental social. Como já ressaltado, o Poder Judiciário, durante o exercício do controle de constitucionalidade, não interfere na esfera
exclusiva de atribuição das demais formas de expressão do poder estatal, porque atua exclusivamente no âmbito jurisdicional.
Por outro lado, o princípio da separação de poderes não pode ser utilizado para justificar a violação dos objetivos do Estado aos
quais todas as formas de expressão do poder estatal estão vinculadas.
A atuação jurisdicional reflete, portanto, atividade corretiva do Estado-juiz, com o precípuo propósito de atender aos objetivos
estatais, mediante a satisfação integral dos direitos fundamentais sociais, fator que assegura a unidade do sistema.” (CANELA JR, Osvaldo.
Controle Judicial de Políticas Públicas. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 94-95)
Exatamente por essa razão, o Supremo Tribunal Federal, em ocasiões distintas, posicionou-se pela inexistência de ofensa ao princípio da
separação de poderes nas hipóteses de direitos ou políticas públicas expressamente previstas na Constituição e não efetivadas, conforme se verifica
dos acórdãos colacionados:
“E M E N T A: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO (LEI Nº 12.322/2010) – MANUTENÇÃO DE REDE DE ASSISTÊNCIA À
SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – DEVER ESTATAL RESULTANTE DE NORMA CONSTITUCIONAL – CONFIGURAÇÃO,
NO CASO, DE TÍPICA HIPÓTESE DE OMISSÃO INCONSTITUCIONAL IMPUTÁVEL AO MUNICÍPIO – DESRESPEITO À
CONSTITUIÇÃO PROVOCADO POR INÉRCIA ESTATAL (RTJ 183/818-819) – COMPORTAMENTO QUE TRANSGRIDE A AUTORIDADE
DA LEI FUNDAMENTAL DA REPÚBLICA (RTJ 185/794-796) – A QUESTÃO DA RESERVA DO POSSÍVEL: RECONHECIMENTO DE
SUA INAPLICABILIDADE, SEMPRE QUE A INVOCAÇÃO DESSA CLÁUSULA PUDER COMPROMETER O NÚCLEO BÁSICO QUE
QUALIFICA O MÍNIMO EXISTENCIAL (RTJ 200/191-197) – O PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS INSTITUÍDAS PELA CONSTITUIÇÃO E NÃO EFETIVADAS PELO PODER PÚBLICO – A FÓRMULA DA RESERVA DO
POSSÍVEL NA PERSPECTIVA DA TEORIA DOS CUSTOS DOS DIREITOS: IMPOSSIBILIDADE DE SUA INVOCAÇÃO PARA LEGITIMAR
O INJUSTO INADIMPLEMENTO DE DEVERES ESTATAIS DE PRESTAÇÃO CONSTITUCIONALMENTE IMPOSTOS AO PODER
PÚBLICO – A TEORIA DA “RESTRIÇÃO DAS RESTRIÇÕES” (OU DA “LIMITAÇÃO DAS LIMITAÇÕES”) – CARÁTER COGENTE E
VINCULANTE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS, INCLUSIVE DAQUELAS DE CONTEÚDO PROGRAMÁTICO, QUE VEICULAM
DIRETRIZES DE POLÍTICAS PÚBLICAS, ESPECIALMENTE NA ÁREA DA SAÚDE (CF, ARTS. 6º, 196 E 197) – A QUESTÃO DAS
“ESCOLHAS TRÁGICAS” – A COLMATAÇÃO DE OMISSÕES INCONSTITUCIONAIS COMO NECESSIDADE INSTITUCIONAL
FUNDADA EM COMPORTAMENTO AFIRMATIVO DOS JUÍZES E TRIBUNAIS E DE QUE RESULTA UMA POSITIVA CRIAÇÃO
JURISPRUDENCIAL DO DIREITO – CONTROLE JURISDICIONAL DE LEGITIMIDADE DA OMISSÃO DO PODER PÚBLICO:
ATIVIDADE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIAL QUE SE JUSTIFICA PELA NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DE CERTOS PARÂMETROS
CONSTITUCIONAIS (PROIBIÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL, PROTEÇÃO AO MÍNIMO EXISTENCIAL, VEDAÇÃO DA PROTEÇÃO
INSUFICIENTE E PROIBIÇÃO DE EXCESSO) – DOUTRINA – PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM TEMA DE
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DELINEADAS NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA (RTJ 174/687 – RTJ 175/1212-1213
– RTJ 199/1219-1220) – EXISTÊNCIA, NO CASO EM EXAME, DE RELEVANTE INTERESSE SOCIAL – RECURSO DE AGRAVO
IMPROVIDO”. (ARE 745.745-AgR, rel. min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe de 02.12.2014)
“Ementa
SAÚDE – FORNECIMENTO DE REMÉDIOS. O preceito do artigo 196 da Constituição Federal assegura aos necessitados o fornecimento,
pelo Estado, dos medicamentos indispensáveis ao restabelecimento da saúde.” (ARE 744.170-AgR, rel. min. Marco Aurélio, Primeira Turma,
DJe de31.01.2014)
“Ementa
Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito Constitucional. Educação de deficientes auditivos. Professores
especializados em Libras. 3. Inadimplemento estatal de políticas públicas com previsão constitucional. Intervenção excepcional do Judiciário.
Possibilidade. Precedentes. 4. Cláusula da reserva do possível. Inoponibilidade. Núcleo de intangibilidade dos direitos fundamentais. 5.
Constitucionalidade e convencionalidade das políticas públicas de inserção dos portadores de necessidades especiais na sociedade.
Precedentes. 6. Ausência de argumentos suficientes a infirmar a decisão recorrida. 7. Agravo regimental a que se nega provimento.” (ARE
860.979-AgR, rel. min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de 05.05.2015)
No mesmo sentido: ARE 768.825 (rel. min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJ de 20.08.2014); RE 820.910 - AgR (rel. min.
Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe de 03.09.2014); RE 850.215-AgR (rel. min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe de 28.04.2015);
ARE 740.800-AgR (rel. min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe de 11.12.2013); RE 669.635-AgR (rel. min. Dias Toffoli, Segunda Turma, DJe de
10.04.2015); RE 642.536-AgR (rel. min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 26.02.2013); AI 739.151-AgR (rel. min. Rosa Weber, Primeira Turma,
DJe de 10.06.2014); RE 628.159-AgR (rel. min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe de 14.08.2013); ARE 649.600 (rel. min. Teori Zavascki, DJe de
18.09.2013) e ARE 761.127-AgR (rel. min. Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe de 15.08.2014).
- A impossibilidade de se invocar a Reserva do Possível como argumento retórico e escusa indevida
Contraproducente se revela a alegação da reserva do possível, pois o Estado não pode se furtar a garantir, minimamente, o conteúdo normativo
dos direitos especificados ao longo do Texto Constitucional e exaustivamente regulamentado pelas normas infraconstitucionais, sob pena de incorrer
em ilegitimidade.

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Quer dizer, nas palavras de Paulo Bonavides, “o poder representa sumariamente aquela energia básica que anima a existência de uma
comunidade humana num determinado território, conservando-a unida, coesa e solidária” (BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 16ed. São Paulo:
Malheiros, 2009. p. 115). E prossegue afirmando que a legitimidade deste poder relaciona-se à justificação e aos valores do poder legal. Confira:
“A legitimidade é a legalidade acrescida de sua valoração. E o critério que busca menos compreender e aplicar do que para aceitar
ou negar a adequação do poder às situações da vida social que ele é chamado a disciplinar.
No conceito de legitimidade entram as crenças de determinada época, que presidem à manifestação do consentimento e da
obediência.
A legalidade de um regime democrático, por exemplo, é o seu enquadramento nos moldes de uma constituição observada e praticada;
sua legitimidade será sempre o poder contido naquela constituição, exercendo-se de conformidade com as crenças, os valores e os princípios
da ideologia dominante, no caso a ideologia democrática.” (BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 16ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p.
121).
De tudo se conclui que o descompasso entre os direitos positivados na Constituição e sua efetivação – mínima, que seja – pelo Estado,
primariamente pelo Executivo, Legislativo ou, por fim, pelo Judiciário, torna letra morta o Texto Constitucional e esvazia o sentido da decisão
política tomada pela sociedade a que ela se destina.
A reserva do possível não pode servir de argumento para escusar o Estado de cumprir os comandos constitucionais, sobretudo aqueles
expressamente nomeados e caracterizados como direitos fundamentais. Eventual objeção orçamentária deveria ser acompanhada de prova expressa,
documental, que justifique adequadamente e demonstre a impossibilidade financeira do Estado, bem como porque as escolhas político-
governamentais deixaram de atender demanda tão fundamental. A invocação da reserva do possível não pode consistir em mera alegação que isenta,
por si só, o Estado de suas obrigações. Somente justo motivo, objetivamente aferido, tem tal valia.
Destarte, a inexistência de recursos no orçamento vigente - demonstrável objetivamente – não afasta a possibilidade de atendimento do direito
em tela. Nesta perspectiva, é possível a inclusão da respectiva dotação no orçamento do ano seguinte (art. 165, § 5º, c/c art. 167, I, ambos da
Constituição da República). Contudo, uma ressalva deve ser feita. O orçamento possui caráter apenas autorizativo, isto é, apenas permite que, caso se
pretenda utilizar o recurso financeiro, este uso estará permitido na peça orçamentária proposta pelo Executivo e aprovada pelo Legislativo. Não
possui, entretanto, caráter obrigatório para a execução daquela dotação. Tendo essa premissa como base, é imperativa a determinação da inclusão no
orçamento seguinte, bem como o início da execução da reforma, em certo prazo, após essa inclusão. Tais medidas visam dar concretude ao direito
violado e, em última análise, concretizar a força normativa da Constituição, sem que, no entanto, tal determinação judicial signifique uma substituição
indevida do Juiz aos atos do gestor. No presente caso, silenciar ou decidir pouco não contribui para a superação da situação de negação de direitos.
Por outro lado, atuar e garantir o direito do preso à sua integridade física e moral não precisa ser atividade de substituição ao gestor, mas exigir que
este, de acordo com suas escolhas políticas, orçamentárias, técnicas, cumpra a exigência constitucional.
- Conclusão
Diante do exposto, acompanho o voto do Ilustre Relator Ministro Ricardo Lewandowski para dar provimento ao presente Recurso
Extraordinário.
É como voto.
*acordão pendente de publicação

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
31 de agosto a 4 de setembro de 2015

Decreto nº 8.513, de 3.9.2015 - Dispõe sobre a antecipação do abono anual devido aos segurados e dependentes da
Previdência Social no ano de 2015. Publicado no DOU, Seção 1, Edição nº 170, p. 1, em 4.9.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES
31 de agosto a 4 de setembro de 2015

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)


Segurança - Transparência - Distribuição - Processo - Aprimoramento
Resolução nº 558, de 31 de agosto de 2015 - Dispõe sobre o aprimoramento da segurança e transparência na
distribuição de processos no Supremo Tribunal Federal. Publicada no DJE/STF, n. 174, p. 1, em 4.9.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

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Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADPF 347 MC/DF; Rcl 18564/SP; Rcl 15551/GO.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: Ext 1375/DF; Ext 1393/DF.

ÍNDICE
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
COMPETÊNCIA
 Litígios envolvendo servidores temporários e a Administração Pública.

DIREITO PENAL
ESTELIONATO
 Estelionato e devolução da vantagem indevida antes do recebimento da denúncia.

CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO


 Crime de dirigir sem habilitação é absorvido pela lesão corporal culposa na direção de veículo

DIREITO PROCESSUAL PENAL


INQUÉRITO POLICIAL
 (Im)possibilidade de reabertura de inquérito policial arquivado por excludente de ilicitude.

COLABORAÇÃO PREMIADA
 Impugnação do acordo de colaboração.

NULIDADES
 Julgamento adiado e intimação de julgamento a ser realizado no dia seguinte.

HABEAS CORPUS
 Cabimento de HC contra ato de Ministro do STF.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


COMPETÊNCIA
Litígios envolvendo servidores temporários e a Administração Pública

A Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários (art. 37, IX, da
CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal).
A competência NÃO é da Justiça do Trabalho.
STF. 1ª Turma. Rcl 6527 AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/8/2015 (Info 796).

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO PENAL

ESTELIONATO
Estelionato e devolução da vantagem indevida antes do recebimento da denúncia

Importante!!!
O art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003 prevê que o pagamento integral do débito fiscal realizado
pelo réu é causa de extinção de sua punibilidade.
Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato causando prejuízo aos cofres
públicos. Antes do recebimento da denúncia, o agente paga integralmente os danos produzidos.
Isso poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003?
NÃO. A causa especial de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º da Lei nº
10.684/2003, relativamente ao pagamento integral do crédito tributário, não se aplica ao
delito de estelionato (CP, art. 171).
O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras: a) arts.
1º e 2º da Lei nº 8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária); c) Art.
337-A do CP (sonegação de contribuição previdenciária). Repare, portanto, que o estelionato
(art. 171 do CP) não está listado nessa lei.

Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas regras por
analogia em favor do réu?
NÃO. O art. 9º da Lei 10.684/2003 somente abrange crimes tributários materiais, delitos que
são ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que protegem bens jurídicos
diferentes. Dessa forma, não há lacuna involuntária na lei penal a demandar analogia.

O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal?
SIM. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento posterior, tendo
sua pena reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 18 do CP).
STF. 2ª Turma. RHC 126917/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 24/3/2015 (Info 559).

Imagine que João praticou estelionato causando prejuízo de R$ 200 mil aos cofres públicos. Suponha

Isso poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º da Lei n. 10.684/2003?
que, antes do recebimento da denúncia, ele devolva todo esse valor, com juros e correção monetária.

NÃO. A causa especial de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º da Lei nº 10.684/2003,


relativamente ao pagamento integral do crédito tributário, não se aplica ao delito de estelionato (CP, art. 171).

Pagamento integral do débito e extinção da punibilidade


O pagamento integral do débito fiscal realizado pelo réu é causa de extinção de sua punibilidade,
conforme previu a Lei n. 10.684/2003:
Art. 9º É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1º e 2º da Lei nº
8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 - Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes
estiver incluída no regime de parcelamento.
(...)

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


§ 2º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com
o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive
acessórios.

Lei n. 12.382/2011


Em 2011, foi editada a Lei n. 12.382, que alterou o art. 83 da Lei n. 9.430/96 e passou a dispor sobre os
efeitos do parcelamento e do pagamento dos créditos tributários no processo penal. Veja o que diz a Lei:
Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos
arts. 1º e 2º da Lei n. 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social,
previstos nos arts. 168-A e 337-A do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será
encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final, na esfera administrativa, sobre a
exigência fiscal do crédito tributário correspondente. (Redação dada pela Lei nº 12.350/2010)
(...)
§ 2º É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o período
em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída
no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da
denúncia criminal. (Incluído pela Lei 12.382/2011)
§ 3º A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva. (Incluído pela Lei
12.382/2011)

§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica
relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive
acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento. (Incluído pela Lei 12.382/2011)

Estelionato não está previsto nas Leis n. 9.430/96 e 10.684/2003:


O art. 9º da Lei n. 10.684/2003 e o art. 83 da Lei n. 9.430/96 mencionam os crimes aos quais são
aplicadas suas regras:
 arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/90;
 art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária);
 Art. 337-A do CP (sonegação de contribuição previdenciária).

Repare, portanto, que o estelionato (art. 171 do CP) não está listado nessas duas leis.

Mesmo sem o estelionato estar previsto, não é possível aplicar essas regras por analogia em favor do réu?
NÃO. O art. 9º da Lei n. 10.684/2003 e o art. 83 da Lei n.9.430/96 somente abrangem crimes tributários
materiais, delitos que são ontologicamente distintos do estelionato e que protegem bens jurídicos
diferentes.
Dessa forma, não é possível a aplicação, por analogia, da causa extintiva de punibilidade prevista no art. 9º
da Lei 10.684/2003 pelo pagamento do débito ao estelionato, pois não há lacuna involuntária na lei penal
a demandar o procedimento supletivo, de integração do ordenamento jurídico.

O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo não trará qualquer benefício penal?
Trará sim. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento posterior, tendo sua
pena reduzida de 1/3 a 2/3:
Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a
coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de
um a dois terços.

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO
Crime de dirigir sem habilitação é absorvido pela lesão corporal culposa na direção de veículo

Se um indivíduo, que não possui habilitação para dirigir (art. 309 do CTB), conduz seu veículo
de forma imprudente, negligente ou imperita e causa lesão corporal em alguém, ele
responderá pelo crime do art. 303, parágrafo único, do CTB, ficando o delito do art. 309 do CTB
absorvido por força do princípio da consunção.
O delito de dirigir veículo sem habilitação é crime de ação penal pública incondicionada. Por
outro lado, a lesão corporal culposa (art. 303 do CTB) é crime de ação pública condicionada à
representação. Imagine que a vítima não exerça seu direito de representação no prazo legal.
Diante disso, o Ministério Público poderá denunciar o agente pelo delito do art. 309?
NÃO. O delito do art. 309 já foi absorvido pela conduta de praticar lesão corporal culposa na
direção de veículo automotor, tipificada no art. 303 do CTB, crime de ação pública condicionada à
representação. Como a representação não foi formalizada pela vítima, houve extinção da
punibilidade, que abrange tanto a lesão corporal como a conduta de dirigir sem habilitação.
STF. 2ª Turma. HC 128921/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/8/2015 (Info 796).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, conduzindo de forma imprudente veículo automotor, colidiu com o carro de Pedro, causando-lhe
lesões corporais.
Vale ressaltar que João não possui habilitação para dirigir ("carteira de motorista").

Qual foi o crime praticado por João?


Lesão corporal culposa (art. 303 do CTB).

E o crime de dirigir sem habilitação (art. 309 do CTB)?


Ficará absorvido pela lesão corporal culposa.

Por quê?
Porque o CTB estabelece que, se a lesão corporal culposa for praticada por um motorista que não tenha
habilitação para dirigir, haverá uma causa de aumento de pena prevista no parágrafo único do art. 303 c/c
o art. 302, § 1º, I. Veja:
Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do §
1º do art. 302.

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:


Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1º No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um
terço) à metade, se o agente:
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;

Levando em conta a vedação de bis in idem, não se pode admitir que o mesmo fato seja atribuído ao
paciente como crime autônomo e, ao mesmo tempo, como causa especial de aumento de pena.

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Desse modo, se um indivíduo, que não possui habilitação para dirigir (art. 309 do CTB), conduz seu veículo
de forma imprudente, negligente ou imperita e causa lesão corporal em alguém, ele responderá pelo
crime do art. 303, parágrafo único, do CTB, ficando o delito do art. 309 do CTB absorvido por força do
princípio da consunção.

O delito de dirigir veículo sem habilitação é crime de ação penal pública incondicionada. Por outro lado,
a lesão corporal culposa (art. 303 do CTB) é crime de ação pública condicionada à representação.
Imagine que Pedro (a vítima) não exerça seu direito de representação no prazo legal. Diante disso, o
Ministério Público poderá denunciar João pelo delito do art. 309?
NÃO. O delito do art. 309 foi absorvido pela conduta de praticar lesão corporal culposa na direção de
veículo automotor, tipificada no art. 303 do CTB, crime de ação pública condicionada à representação.
Como a representação não foi formalizada pela vítima, houve extinção da punibilidade, que abrange tanto
a lesão corporal como a conduta de dirigir sem habilitação.

O crime mais grave de lesões corporais culposas, qualificado pela falta de habilitação para dirigir veículos,
absorve o crime menos grave de dirigir sem habilitação (arts. 303, parágrafo único, e 309 do CTB). O crime de
lesões corporais culposas é de ação pública condicionada à representação da vítima por expressa disposição
legal (arts. 88 e 91 da Lei 9.099/1995). Na hipótese em que a vítima não exerce a faculdade de representar,
ocorre a extinção da punibilidade do crime mais grave de lesões corporais culposas, qualificado pela falta de
habilitação, não podendo o paciente ser processado pelo crime menos grave de dirigir sem habilitação, que
restou absorvido. (STF. 2ª Turma. HC 80.298, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJe 1-12-2000).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

INQUÉRITO POLICIAL
(Im)possibilidade de reabertura de inquérito policial arquivado por excludente de ilicitude

Atualize o Info 554-STJ


É possível a reabertura da investigação e o oferecimento de denúncia se o inquérito policial
havia sido arquivado com base em excludente de ilicitude?
 STJ: NÃO. Para o STJ, o arquivamento do inquérito policial com base na existência de causa
excludente da ilicitude faz coisa julgada material e impede a rediscussão do caso penal. O
mencionado art. 18 do CPP e a Súmula 524 do STF realmente permitem o desarquivamento
do inquérito caso surjam provas novas. No entanto, essa possibilidade só existe na hipótese
em que o arquivamento ocorreu por falta de provas, ou seja, por falta de suporte
probatório mínimo (inexistência de indícios de autoria e certeza de materialidade). STJ. 6ª
Turma. REsp 791.471/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 25/11/2014 (Info 554).
 STF: SIM. Para o STF, o arquivamento de inquérito policial em razão do reconhecimento de
excludente de ilicitude não faz coisa julgada material. Logo, surgindo novas provas seria
possível reabrir o inquérito policial, com base no art. 18 do CPP e na Súmula 524 do STF.
STF. 1ª Turma. HC 95211, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/03/2009. STF. 2ª Turma.
HC 125101/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
25/8/2015 (Info 796).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João ceifou a vida de Pedro.
Foi instaurado inquérito policial para apurar o ocorrido.

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Após as diligências investigatórias, o Ministério Público entendeu que estava demonstrado que João agiu
em legítima defesa, razão pela qual pugnou pelo arquivamento do IP.
O juiz concordou com o pedido do MP e determinou o arquivamento dos autos com base na excludente de
ilicitude.
Anos mais tarde, o Procurador-Geral de Justiça afirma que surgiram provas novas que poderão mudar o
caso e pugna pelo desarquivamento do IP.
O requerimento do Procurador-Geral foi fundamentado no art. 18 do CPP e na Súmula 524 do STF. Confira:
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a
denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.

Súmula 524-STF: Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de
Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.

O juiz deverá concordar? Deverá ser determinado o desarquivamento no presente caso? É possível a
reabertura da investigação e o oferecimento de denúncia se o inquérito policial havia sido arquivado
com base em excludente de ilicitude?
Atualmente, é possível identificar a existência de divergência entre o STJ e o STF:

STJ: NÃO STF: SIM


Para o STJ, o arquivamento do inquérito policial Para o STF, o arquivamento de inquérito policial
com base na existência de causa excludente da em razão do reconhecimento de excludente de
ilicitude faz coisa julgada material e impede a ilicitude não faz coisa julgada material. Logo,
rediscussão do caso penal. surgindo novas provas seria possível reabrir o
O mencionado art. 18 do CPP e a Súmula 524 do STF inquérito policial, com base no art. 18 do CPP e na
realmente permitem o desarquivamento do Súmula 524 do STF.
inquérito caso surjam provas novas. No entanto,
essa possibilidade só existe na hipótese em que o STF. 1ª Turma. HC 95211, Rel. Min. Cármen Lúcia,
arquivamento ocorreu por falta de provas, ou seja, julgado em 10/03/2009.
por falta de suporte probatório mínimo (inexistência STF. 2ª Turma. HC 125101/SP, rel. orig. Min. Teori
de indícios de autoria e certeza de materialidade). Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli,
STJ. 6ª Turma. REsp 791.471/RJ, Rel. Min. Nefi julgado em 25/8/2015 (Info 796).
Cordeiro, julgado em 25/11/2014 (Info 554).

Veja as hipóteses em que é possível o DESARQUIVAMENTO do IP:


É POSSÍVEL
MOTIVO DO ARQUIVAMENTO
DESARQUIVAR?
1) Ausência de pressuposto processual ou de condição da ação penal SIM
2) Falta de justa causa para a ação penal (não há indícios de autoria ou prova da
SIM
materialidade)
3) Atipicidade (fato narrado não é crime) NÃO
4) Existência manifesta de causa excludente de ilicitude STJ: NÃO
STF: SIM
5) Existência manifesta de causa excludente de culpabilidade NÃO
6) Existência manifesta de causa extintiva da punibilidade NÃO
Exceção: certidão
de óbito falsa

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COLABORAÇÃO PREMIADA
Impugnação do acordo de colaboração

Importante!!!
Colaboração premiada é um instituto previsto na legislação por meio do qual um investigado
ou acusado da prática de infração penal decide confessar a prática do delito e, além disso,
aceita colaborar com a investigação ou com o processo fornecendo informações que irão
ajudar, de forma efetiva, na obtenção de provas contra os demais autores dos delitos e contra a
organização criminosa, na prevenção de novos crimes, na recuperação do produto ou proveito
dos crimes ou na localização da vítima com integridade física preservada, recebendo o
colaborador, em contrapartida, determinados benefícios penais (ex: redução de sua pena).
"EMF", um dos réus na operação Lava-Jato impetrou no STF habeas corpus contra ato do Min.
Teori Zavascki, que homologou o acordo de delação premiada de Alberto Youssef.
No HC, a defesa do réu alegou, dentre outras teses, que o colaborador não teria idoneidade
para firmar o acordo e que, por isso, as informações por ele repassadas não seriam confiáveis.
Afirmou-se, ainda, que ele já descumpriu um outro acordo de colaboração premiada,
demonstrando, assim, não ter compromisso com a verdade.
Em razão disso, o acordo seria ilícito e todas as provas obtidas a partir dele também seriam
ilícitas por derivação, devendo ser anuladas.
O STF concordou com o HC? A ordem foi concedida?
NÃO. O STF indeferiu o habeas corpus.
 A colaboração premiada é apenas meio de obtenção de prova, ou seja, é um instrumento para
colheita de documentos que, segundo o resultado de sua obtenção, poderão formar meio de
prova. A colaboração premiada não se constitui em meio de prova propriamente dito.
 O acordo de colaboração não se confunde com os depoimentos prestados pelo colaborador
com o objetivo de fundamentar as imputações a terceiros. Uma coisa é o acordo, outra é o
depoimento prestado pelo colaborador e que será ainda valorado a partir da análise das
provas produzidas no processo.
 Homologar o acordo não significa dizer que o juiz admitiu como verídicas ou idôneas as
informações prestadas pelo colaborador. Quando o magistrado homologa o acordo, ele
apenas afirma que este cumpriu sua regularidade, legalidade e voluntariedade.
 O STF entendeu que o acordo não pode ser impugnado por terceiro, mesmo que seja uma
pessoa citada na delação. Isso porque o acordo é personalíssimo e, por si só, não vincula o
delatado nem afeta diretamente sua situação jurídica. O que poderá atingir eventual
corréu delatado são as imputações posteriores, constantes do depoimento do colaborador.
 A personalidade do colaborador ou o fato de ele já ter descumprido um acordo anterior de
colaboração premiada não têm o condão de invalidar o acordo atual. Não importa a
idoneidade do colaborador, mas sim a idoneidade das informações que ele fornecer e isso
ainda será apurado no decorrer do processo.
STF. Plenário. HC 127483/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26 e 27/8/2015 (Info 796).

COLABORAÇÃO PREMIADA
CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA
- Colaboração premiada é um instituto previsto na legislação por meio do qual...
- um investigado ou acusado da prática de infração penal
- decide confessar a prática do delito
- e, além disso, aceita colaborar com a investigação ou com o processo

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


- fornecendo informações que irão ajudar,
- de forma efetiva,
- na obtenção de provas contra os demais autores dos delitos e contra a organização criminosa,
- na prevenção de novos crimes,
- na recuperação do produto ou proveito dos crimes ou
- na localização da vítima com integridade física preservada,
- recebendo o colaborador, em contrapartida, determinados benefícios penais (ex: redução de sua pena).

A colaboração premiada possui natureza jurídica de "meio de obtenção de prova" (art. 3º, I, da Lei nº
12.850/2013). Chamo atenção para esse fato: a colaboração premiada não é um meio de prova
propriamente dito. A colaboração premiada não prova nada (ela não é uma prova). A colaboração
premiada é um meio, uma técnica, um instrumento para se obter as provas.

Enquanto os meios de prova são aptos a servir, diretamente, ao convencimento do juiz sobre a
veracidade ou não de uma afirmação fática (p. ex., o depoimento de uma testemunha, ou o teor de uma
escritura pública), os meios de obtenção de provas (p. ex.: uma busca e apreensão) são instrumentos para
a colheita de elementos ou fontes de provas, estes sim, aptos a convencer o julgador (p. ex.: um extrato
bancário [documento] encontrado em uma busca e apreensão domiciliar). Ou seja, enquanto o meio de
prova se presta ao convencimento direto do julgador, os meios de obtenção de provas somente
indiretamente, e dependendo do resultado de sua realização, poderão servir à reconstrução da história
dos fatos BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de Janeiro. Campus: Elsevier. 2012, p. 270).

PREVISÃO NORMATIVA
Podemos encontrar algumas previsões embrionárias de colaboração premiada em diversos dispositivos
legais esparsos. Confira a relação:
 Código Penal (arts. 15, 16, 65, III, 159, § 4º);
 Crimes contra o Sistema Financeiro – Lei 7.492/86 (art. 25, § 2º);
 Crimes contra a Ordem Tributária – Lei 8.137/90 (art. 16, parágrafo único);
 Lei dos Crimes Hediondos – Lei 8.072/90 (art. 8º, parágrafo único);
 Convenção de Palermo – Decreto 5.015/2004 (art. 26);
 Lei de Lavagem de Dinheiro – Lei 9.613/98 (art. 1º, § 5º);
 Lei de Proteção às Testemunhas – Lei 9.807/99 (arts. 13 a 15);
 Lei de Drogas – Lei 11.343/2006 (art. 41);
 Lei Antitruste – Lei 12.529/2011 (art. 87, parágrafo único).

O instituto, no entanto, foi tratado com maior riqueza de detalhes pela Lei nº 12.850/2013 (Lei do Crime
Organizado), em seus arts. 4º a 7º. Este é, atualmente, o diploma que rege, de forma geral, a colaboração
premiada em nosso país, razão pela qual a explicação abaixo será feita com base nesta Lei.

NOMENCLATURA
Normalmente, encontramos na doutrina e jurisprudência, a te i ologia delação p e iada .
A Lei .8 / , o e ta to, utilizou a exp essão ola o ação p e iada . Existe alguma diferença?
SIM. Para parcela da doutrina, a nomenclatura "colaboração premiada" é mais ampla, devendo ser
considerada como um gênero, do qual uma das suas espécies é a delação premiada.
A delação premiada ocorre quando o investigado ou acusado colabora com as autoridades delatando os
comparsas, ou seja, apontando as outras pessoas que também praticaram as infrações penais.
Desse modo, como já dito, a delação é uma forma de exercer a colaboração premiada. Existem, contudo,
outras espécies, conforme será visto mais a frente.

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


COLABORAÇÃO PREMIADA
DELAÇÃO PREMIADA
É um mecanismo previsto na legislação por
É uma espécie do gênero
meio do qual o investigado ou acusado de
"colaboração premiada".
uma infração penal colabora, efetiva e
Ocorre quando o investigado ou acusado
voluntariamente, com a investigação e com
decide colaborar com as autoridades
o processo, recebendo, em contrapartida,
delatando os comparsas, ou seja,
benefícios penais.
apontando as outras pessoas que também
Uma das formas de colaboração premiada é
praticaram as infrações penais.
a delação dos coautores ou partícipes.

Exemplo de colaboração premiada que não é delação premiada: o autor confessa a prática do crime e não
delata nenhum comparsa. No entanto, ele fornece todas as informações necessárias para que as
autoridades recuperem o dinheiro desviado com o esquema criminoso e que se encontrava em contas
bancárias no exterior.
Assim, toda delação premiada é uma forma de colaboração premiada, mas nem sempre a colaboração
premiada será feita por meio de uma delação premiada.

CRÍTICAS E IMPORTÂNCIA
A delação premiada é criticada por alguns doutrinadores. O argumento é o de que, por meio deste
expediente, o Estado estaria incentivando uma conduta antiética por parte do delator, qual seja, a traição.
Afirma-se, ainda, que a colaboração premiada seria uma forma de o Poder Público barganhar com os
criminosos, postura que não seria adequada.
A posição majoritária, contudo, e a meu ver, mais razoável, é aquela que defende que, em uma
ponderação de interesses, a delação premiada é medida indispensável ao combate da criminalidade
organizada, sendo, portanto, legítima, já que não viola nenhum direito ou garantia fundamental. Veja a
opinião de Nucci:
... pa e e-nos que a delação premiada é um mal necessário, pois o bem maior a ser tutelado é o
Estado Democrático de Direito. Não é preciso ressaltar que o crime organizado tem ampla
penetração nas entranhas estatais e possui condições de desestabilizar qualquer democracia, sem
que se possa combatê-lo, com eficiência, desprezando-se a colaboração daqueles que conhecem o
esquema e dispõem-se a denunciar co-autores e partícipes. No universo de seres humanos de bem,
sem dúvida, a traição é desventurada, mas não cremos que se possa dizer o mesmo ao
transferirmos nossa análise para o âmbito do crime, por si só, desregrado, avesso à legalidade,
contrário ao monopólio estatal de resolução de conflitos, regido por leis esdrúxulas e extremamente
severas, totalmente distante dos valores regentes dos di eitos hu a os fu da e tais. NUCCI,
Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e execução penal. São Paulo: RT, 2008, p. 418).
Ademais, se o Estado não pudesse contar (e incentivar) a delação por parte dos comparsas, dificilmente
seria possível desmantelar organizações criminosas poderosas, com estrutura hierarquizada de poder, nas
quais o chefe da ORCRIM raramente pratica os atos criminosos pessoalmente, valendo-se sempre de
interpostas pessoas e ordens reservadas. Se um integrante da organização for preso e o Poder Público não
tiver autorização para incentivar a delação dos demais membros, o grupo criminoso estará sempre se
renovando, além do que somente serão punidos os componentes de baixo escalão do crime organizado.
A história revela que o instituto da delação premiada foi imprescindível para que a Itália conseguisse punir
algu s i teg a tes do g upo afioso si ilia o o he ido o o Cosa Nost a a ha ada Ope ação
Mãos Li pas . U dos afiosos, To aso Bus etta, após se p eso, ele ou acordo com o Procuratore
Della Repubblica Giovanni Falcone, aceitando delatar seus comparsas e revelar toda a estrutura e os
planos da organização criminosa.

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


FORMAS DE COLABORAÇÃO PREMIADA (RESULTADOS QUE DEVEM SER ALCANÇADOS)
A Lei 12.850/2013 prevê, em seu art. 4º, cinco formas por meio das quais o investigado/réu poderá
colaborar com a investigação e com o processo.
Assim, para ter direito aos benefícios decorrentes da colaboração, o indivíduo deverá fornecer
informações efetivas com as quais as autoridades consigam pelo menos um dos seguintes resultados:

1) Identificar os demais coautores e partícipes da organização criminosa e as infrações penais por eles
praticadas.

2) Revelar a estrutura hierárquica e a divisão de tarefas da organização criminosa.

3) Prevenir as infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa.

4) Recuperar total ou parcialmente o produto ou o proveito das infrações penais praticadas pela
organização criminosa.

5) Localizar o paradeiro da vítima com a sua integridade física preservada.

Obs: reitero que basta que um desses cinco objetivos seja atingido para que o colaborador tenha direito
ao benefício.

COLABORAÇÃO VOLUNTÁRIA E EFETIVA


A colaboração deve ser voluntária, ou seja, o colaborador não pode ter sido coagido.
Vale ressaltar que a colaboração é considerada voluntária mesmo que a proposta não tenha partido do
investigado/acusado. Isso porque não se exige que a colaboração seja espontânea, ou seja, que tenha
partido do colaborador a ideia, a iniciativa. Basta que seja voluntária (que ele aceite livremente). Assim, se
a polícia ou o MP propõem o acordo e este é aceito livremente pelo colaborador, esta colaboração é tida
como voluntária.
A colaboração deve ser efetiva, isto é, somente será concedido o benefício se, com as informações
fornecidas pelo colaborador, for obtido um dos resultados previstos nos incisos do art. 4º da Lei.
Não se exige que o colaborador demonstre arrependimento. Sendo uma colaboração voluntária e efetiva,
a concessão do benefício é devida ainda que o investigado/acusado não tenha sentimentos altruístas.

MOMENTO
A colaboração premiada e a concessão dos benefícios dela decorrentes podem ocorrer em três momentos:
1) Na fase de investigação criminal (inquérito policial ou investigação conduzida pelo MP);
2) Durante o curso do processo penal (ainda que já em instância recursal);
3) Após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

BENEFÍCIOS
Poderão ser concedidos ao colaborador os seguintes benefícios (prêmios):
1) Não oferecimento da denúncia
Se o acordo de colaboração for firmado ainda na fase de investigação, sendo ele homologado pelo juiz, o
Ministério Público poderá deixar de oferecer a denúncia contra o colaborador. Trata-se de uma exceção ao
princípio da obrigatoriedade, segundo o qual, havendo justa causa, o MP é obrigado a oferecer a denúncia.
Para que o MP deixe de oferecer a denúncia contra o colaborador é necessário o preenchimento dos
seguintes requisitos:
a) A colaboração deve ser efetiva e voluntária;
b) O colaborador não pode ser o líder da organização criminosa;
c) O colaborador deve ter sido o primeiro a prestar efetiva colaboração.

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


2) Perdão judicial
Se a colaboração prestada for muito relevante, o Ministério Público ou o Delegado de Polícia poderão se
manifestar pedindo que o juiz conceda perdão judicial ao colaborador, o que acarreta a extinção da
punibilidade (art. 107, IX, do CP). Veja a redação do art. 4º, § 2º da Lei nº 12.850/2013:
§ 2º Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o
delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão
requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse
benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei
nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).

3) Redução da pena
Outro benefício previsto ao colaborador é a redução da pena que lhe for imposta.
 Se a colaboração ocorrer antes da sentença, ou seja, se a pessoa decidir colaborar antes de ser
julgada: sua pena poderá ser reduzida em até 2/3.
 Se a colaboração ocorrer após a sentença, ou seja, se a pessoa decidir colaborar apenas depois de ser
condenada: sua pena poderá ser reduzida em até metade (1/2).

4) Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos


O juiz poderá substituir a pena privativa de liberdade do colaborador por pena restritiva de direitos
mesmo que não estejam presentes os requisitos do art. 44 do CP.

5) Progressão de regime
Para que ocorra a progressão de regime, o réu deverá ter cumprido determinado tempo de pena. A isso
chamamos de requisito objetivo da progressão.
Para crimes comuns: o requisito objetivo consiste no cumprimento de 1/6 da pena aplicada.
Para crimes hediondos ou equiparados, o requisito objetivo representa o cumprimento de:
• / da pe a se fo p i á io.
• / da pe a se fo ei ide te.

Se o réu já estiver condenado e cumprindo pena e decidir colaborar, ele poderá receber como "prêmio" a
progressão de regime ainda que não tenha atingido o requisito objetivo (§ 5º do art. 4º).

O STF entende que, caso a colaboração seja efetiva e produza os resultados almejados, o colaborador tem
direito subjetivo à aplicação das sanções premiais estabelecidas no acordo, inclusive de natureza
patrimonial (HC 127483/PR).

CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA A ESCOLHA DO BENEFÍCIO


A Lei aponta os seguintes critérios para que o juiz escolha quais benefícios serão aplicados ao colaborador
(§ 1º do art. 4º):
a) Personalidade do colaborador;
b) Natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso;
c) Eficácia da colaboração.

DIREITOS DO COLABORADOR
O art. 5º da Lei 12.850/2013 prevê os seguintes direitos ao colaborador:
I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica (Lei nº 9.807/99);
II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados;
III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes;
IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados;

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua
prévia autorização por escrito;
VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou condenados.

PROCEDIMENTO ATÉ A ASSINATURA DO ACORDO DE COLABORAÇÃO


1) Negociação do acordo
O investigado (ou acusado), assistido por advogado, negocia o acordo de colaboração premiada com o
Delegado de Polícia ou com o Ministério Público.
O juiz não participará, em hipótese alguma, das negociações realizadas entre as partes para a formalização
do acordo de colaboração (§ 6º do art. 4º).
Caso o magistrado interagisse nas negociações, haveria uma grave violação do sistema acusatório e um
seríssimo risco de contaminação da sua imparcialidade, considerando que as informações enunciadas pelo
eventual colaborador iriam incutir no julgador preconcepções sobre o próprio delator e seus comparsas.
Se as negociações não culminassem com um acordo, a opinião do julgador a respeito do
investigado/denunciado já estaria construída em seu psicológico considerando que teria ouvido confissões
sobre os fatos criminosos.
Ademais, a simples presença do juiz da causa na tentativa de acordo poderia exercer uma indevida
coerção velada para que o investigado/acusado aceitasse eventual proposta, o que contraria a natureza do
instituto já que a colaboração deve ser voluntária.

2) Formalização do acordo e envio à Justiça


Caso as negociações tenham êxito, as declarações do colaborador serão registradas (em meio escrito ou
audiovisual) e será elaborado um termo de acordo de colaboração premiada, a ser assinado por todas as
partes e, então, remetido ao juiz para homologação.

O Delegado de Polícia pode negociar e assinar acordo de colaboração premiada com o colaborador
(assistido por seu defensor), enviando depois esse termo para ser homologado pelo juiz? A autoridade
policial tem legitimidade para celebrar o acordo de colaboração premiada?

Redação literal da Lei 12.850/2013: SIM Posição da doutrina majoritária: NÃO

A redação da Lei nº 12.850/2013 dá a entender A doutrina majoritária sustenta que a legitimidade


que, se fosse feito durante o inquérito policial, o para celebrar o acordo de colaboração premiada é
acordo de colaboração premiada poderia ser exclusiva do Ministério Público. O Delegado de
celebrado entre o Delegado de Polícia e o Polícia até poderia sugerir o acordo, mas quem
investigado, ou seja, a autoridade policial teria decide sobre a sua celebração e condições seria o
legitimidade para celebrar acordo de colaboração membro do MP. Os argumentos, em síntese, para
premiada, bastando que houvesse uma essa conclusão são os seguintes:
manifestação (parecer) do MP. Veja:
a) O acordo precisará ser homologado pelo
Art. 4º (...) magistrado e o Delegado de Polícia não teria
§ 2º Considerando a relevância da colaboração capacidade postulatória para peticionar em juízo
prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, pedindo a homologação;
e o delegado de polícia, nos autos do inquérito
policial, com a manifestação do Ministério Público, b) A CF/88, em seu art. 129, I, conferiu ao MP, a
poderão requerer ou representar ao juiz pela titularidade da ação penal pública e, com isso,
concessão de perdão judicial ao colaborador, também garantiu a esse órgão a decisão sobre a
ainda que esse benefício não tenha sido previsto viabilidade ou não da persecução penal. Alguns
na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o benefícios (prêmios) previstos ao colaborador
art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro implicam o não-exercício da ação penal (como o
de 1941 (Código de Processo Penal). não-oferecimento de denúncia), decisão essa que

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


(...) só poderia ser tomada pelo MP, já que ele é o
§ 6º O juiz não participará das negociações titular da ação penal.
realizadas entre as partes para a formalização do
acordo de colaboração, que ocorrerá entre o "(...) por mais que a autoridade policial possa
delegado de polícia, o investigado e o defensor, sugerir ao investigado a possibilidade de
com a manifestação do Ministério Público, ou, celebração do acordo de colaboração premiada,
conforme o caso, entre o Ministério Público e o daí não se pode concluir que o Delegado de Polícia
investigado ou acusado e seu defensor. tenha legitimação ativa para firmar tais acordos
com uma simples manifestação do Ministério
Público.
(...)
Por consequência, se a autoridade policial é
desprovida de capacidade postulatória e
legitimação ativa, não se pode admitir que um
acordo por ela celebrado com o acusado venha a
impedir o regular exercício da ação penal pública
pelo Ministério Público, sob pena de se admitir
que um dispositivo inserido na legislação ordinária
possa se sobrepor ao disposto no art. 129, I, da
Constituição Federal." (LIMA, Renato Brasileiro de.
Legislação criminal especial comentada. Salvador:
Juspodivm, 2015, p. 554-555).

3) Requisitos formais do acordo


Segundo o art. 6º, o termo de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por escrito e conter os
seguintes requisitos formais:
I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados;
II - as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia;
III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor;
IV - as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de polícia, do colaborador e de
seu defensor;
V - a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário.

Na proposta encaminhada ao Judiciário já deverá ser especificado o benefício que deverá ser concedido ao
colaborador (ex: redução de 2/3 da pena). Deve-se esclarecer, contudo, que o magistrado não está
vinculado aos termos da proposta, podendo adequá-la ao caso concreto (§ 8º do art. 4º).

4) O pedido de homologação do acordo é autuado como processo sigiloso


O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo apenas informações que
não possam identificar o colaborador e o seu objeto.
As informações pormenorizadas da colaboração serão dirigidas diretamente ao juiz a que recair a
distribuição, que decidirá no prazo de 48 horas. Obs: se já houver um juízo que estiver funcionando no
caso (ex: tiver deferido interceptação telefônica, recebido a ação penal etc.), este será o competente para
apreciar o acordo, sendo distribuído a ele por prevenção.
O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao Delegado de Polícia, como forma de
garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo
acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente
precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento.
O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso assim que recebida a denúncia (§ 3º do art. 7º).

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


5) Análise da homologação pelo juiz
As negociações do acordo de colaboração premiada ocorrem em âmbito extrajudicial, sendo vedada, como
vimos, a participação do magistrado. Repetindo: o magistrado não participa da negociação do acordo.

Ocorre que, após celebrado, o pacto somente terá eficácia processual se for homologado pelo juiz.

Na análise da homologação do acordo, o juiz deverá examinar os seguintes aspectos:


a) Regularidade: se os aspectos formais e procedimentais foram atendidos;
b) Legalidade: se a pactuação celebrada ofende algum dispositivo legal;
c) Voluntariedade: se o investigado/acusado não foi coagido a assinar o acordo.

Art. 4º (...) § 8º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais, ou
adequá-la ao caso concreto.

"A homologação não representa juízo de valor sobre as declarações eventualmente já prestadas pelo
colaborador à autoridade judicial ou ao Ministério Público." (Min. Dias Toffoli, no HC 127483/PR). Isso
significa que, quando o juiz homologa o acordo de colaboração premiada, não significa que esteja
concordando ou afirmando que as declarações prestadas pelo colaborador são verdadeiras. Tais
declarações ainda serão objeto de apuração.

6) Audiência sigilosa para confirmar a voluntariedade do acordo


Se houver dúvida do juiz acerca da voluntariedade do acordo, ou seja, se houver suspeita de que tenha
havido coação para que a pessoa colaborasse, o juiz poderá designar uma audiência sigilosa para ouvir o
colaborador, que deverá estar acompanhado de seu defensor.
O Ministério Público não será intimado e não participará desta audiência.

7) Recusa à homologação
O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso
concreto.
Na análise da homologação, o juiz deverá se ater ao exame da regularidade, legalidade e voluntariedade
do acordo. Assim, não pode o magistrado imiscuir-se em questões de discricionariedade investigatória ou
fazer incursões sobre a conveniência e oportunidade da colaboração premiada. Esta não é sua
competência.
Recurso contra a decisão do juiz que recusa a homologação do acordo: a lei não prevê. Diante desse
silêncio, a doutrina afirma que cabe, por analogia, recurso em sentido estrito (art. 581, I, do CPP). Nesse
sentido: Pacelli.

8) O que acontece após ser homologado o acordo


 Se as declarações do investigado/acusado já forem suficientes para se obter um dos resultados
previstos nos incisos do art. 4º: aplica-se a ele o benefício penal.
 Se, além das declarações do investigado/acusado, for necessária a realização de medidas de
colaboração: o prazo para oferecimento da denúncia ou o processo (caso já exista ação penal) ficarão
suspensos por até 6 meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas,
suspendendo-se o respectivo prazo prescricional. Veja o que diz a Lei:
Art. 4º (...)
§ 3º O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser
suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas
de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


O acordo de colaboração premiada é um "negócio jurídico processual personalíssimo, que não pode ser
impugnado por terceiros, ainda que venham a ser mencionados." O que poderá atingir eventual corréu
delatado são as imputações posteriores, constantes do depoimento do colaborador. (Min. Dias Toffoli, no
HC 127483/PR).

9) Oitiva do colaborador
Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser
ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo Delegado de Polícia responsável pelas investigações.
Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a
requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial.
Sempre que possível, o registro dos atos de colaboração será feito pelos meios ou recursos de gravação
magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade
das informações.

10) Se após as diligências for constatada a relevância da colaboração prestada


Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o Delegado
de Polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou
representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador.
Caso o juiz discorde, ele poderá invocar o procedimento previsto no art. 28 do CPP remetendo a
manifestação do Promotor de Justiça ao Procurador Geral de Justiça (ou no caso de Procurador da
República, encaminhando a circunstância à Câmara de Coordenação e Revisão do MPF).

RETRATAÇÃO DA PROPOSTA
Mesmo após a proposta ter sido aceita, alguma das partes pode voltar atrás e se retratar?
SIM. Segundo o § 10 do art. 4º, as partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas
autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu
desfavor.

RENÚNCIA AO DIREITO AO SILÊNCIO E COMPROMISSO DE DIZER A VERDADE


Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao
silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade (§ 14 do art. 4º).

COLABORADOR DEVERÁ SER SEMPRE ASSISTIDO POR ADVOGADO


Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá estar
assistido por defensor (§ 15 do art. 4º).

VALOR PROBATÓRIO DA COLABORAÇÃO: DECLARAÇÕES DO COLABORADOR DEVEM SER CORROBORADAS COM OUTRAS PROVAS
Segundo o § 16 do art. 4º da Lei, nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas
nas declarações de agente colaborador.
Assim, as declarações do colaborador deverão ser corroboradas por outros elementos de prova.
Em verdade, mesmo que não houvesse tal previsão, é certo que, para a jurisprudência, a simples delação
do corréu não é suficiente para uma condenação.
"Daí a importância daquilo que a doutrina chama de regra da corroboração, ou seja, que o colaborador
traga elementos de informação e de prova capazes de confirmar suas declarações (v.g., indicação do
produto do crime, de contas bancárias, localização do produto direto ou indireto da infração penal, auxílio
para identificação de números de telefone a serem grampeados ou na realização de interceptação
ambiental etc.)." (LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada. Salvador:
Juspodivm, 2015, p. 545).

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CASO CONCRETO JULGADO PELO STF:
HC impetrado contra decisão que homologou o acordo de colaboração premiada
"EMF", um dos réus na operação Lava-Jato, impetrou no STF habeas corpus contra ato do Min. Teori
Zavascki, que homologou o acordo de delação premiada de Alberto Youssef.
No HC, a defesa do réu alegou, dentre outras teses, que o colaborador não teria idoneidade para firmar o
acordo e que, por isso, as informações por ele repassadas não seriam confiáveis. Afirmou-se, ainda, que
ele já descumpriu um outro acordo de colaboração premiada, demonstrando, assim, não ter compromisso
com a verdade.
Em razão disso, o acordo seria ilícito e todas as provas obtidas a partir dele também seria ilícitas por
derivação, devendo ser anuladas.

O STF concordou com o HC? A ordem foi concedida?


NÃO. O STF indeferiu o habeas corpus. Veja as principais afirmações e conclusões expostas pelos Ministros
durante o julgamento:

Natureza da colaboração premiada


O acordo de colaboração premiada é um negócio jurídico processual personalíssimo que tem como objeto
a contribuição do imputado para a conclusão dos trabalhos do juízo ou do tribunal. Apenas se a
colaboração for exitosa e possibilitar a coleta de provas idôneas é que se produzirá efeitos jurídicos em
favor do delator.
A colaboração premiada é apenas meio de obtenção de prova, ou seja, é um instrumento para colheita de
documentos que, segundo o resultado de sua obtenção, poderão formar meio de prova.
A colaboração premiada não se constitui em meio de prova propriamente dito.

Acordo de colaboração não se confunde com o depoimento do colaborador


O acordo de colaboração não se confunde com os depoimentos prestados pelo colaborador com o
objetivo de fundamentar as imputações a terceiros. Uma coisa é o acordo, outra é o depoimento prestado
pelo colaborador e que será ainda valorado a partir da análise das provas produzidas no processo.
O acordo não é meio de prova. O depoimento do colaborador é meio de prova que, no entanto, somente
se mostra hábil à formação do convencimento judicial se vier a ser corroborado por outros meios idôneos
de prova. Por essa razão, o art. 4º, § 16 da Lei nº 12.850/2013 dispõe que nenhuma sentença condenatória
será proferida com fundamento exclusivo nas declarações do agente colaborador.

Natureza da decisão que homologa o acordo


O ato homologatório de delação premiada é simples fator de eficácia do acordo, limitando-se à pronúncia
sobre sua regularidade, legalidade e voluntariedade.
A homologação não representa juízo de valor sobre as declarações eventualmente já prestadas pelo
colaborador à autoridade judicial ou ao Ministério Público.
Homologar o acordo não significa dizer que o juiz admitiu como verídicas ou idôneas as informações
prestadas pelo colaborador.

Impossibilidade de o acordo ser impugnado por terceiros


O STF entendeu que o acordo não pode ser impugnado por terceiro, mesmo que seja uma pessoa citada
na delação. Assim, eventual coautor ou partícipe dos crimes praticados pelo colaborador não pode
impugnar o acordo de colaboração. Isso porque o acordo é personalíssimo e, por si só, não vincula o
delatado nem afeta diretamente sua situação jurídica. O que poderá atingir eventual corréu delatado são
as imputações posteriores, constantes do depoimento do colaborador.
Negar ao delatado a possibilidade de impugnar acordo de colaboração premiada assinado por outro
acusado não significa negar-lhe direito ao contraditório, pois a lei estabelece que nenhuma sentença
condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador.

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


O que deve ser assegurado ao delatado é o direito de defesa e de contraditar as informações do acordo,
inclusive com a possibilidade de efetuar perguntas ao colaborador.

Personalidade do colaborador
A personalidade do colaborador ou o fato de ele já ter descumprido um acordo anterior de colaboração
premiada não têm o condão de invalidar o acordo atual.
Não importa a idoneidade do colaborador, mas sim a idoneidade das informações que ele fornecer e isso
ainda será apurado no decorrer do processo.
Os delatores são pessoas envolvidas em delitos, tanto que também estão sendo acusados. Assim, em
regra, são indivíduos que não têm bons antecedentes criminais e apresentam personalidade desajustada
ao convívio social. Dessa forma, se a colaboração processual estivesse subordinada à boa personalidade do
colaborador, o instituto teria poucos efeitos práticos e quase nenhum acordo seria aceito.
Segundo a Lei nº 12.850/2013, a personalidade do colaborador irá influenciar apenas na escolha do
benefício que será concedido a ele (art. 4º, § 1º), mas não interfere na validade do acordo de colaboração.
O ue i po ta ão é a o fia ça do pode pú li o o age te ola o ado . O ue interessa é a análise da
idoneidade e utilidade das informações prestadas por ele, o que será aferido apenas posteriormente, no
curso do processo.

NULIDADES
Julgamento adiado e intimação de julgamento a ser realizado no dia seguinte

A Defensoria Pública, ao tomar ciência de que o processo será julgado em data determinada ou
nas sessões subsequentes, não pode alegar cerceamento de defesa ou nulidade de julgamento
quando a audiência não realizada no dia previamente marcado, ocorrer no dia seguinte à nova
intimação.
Ex: no dia 17/06/2014, o Defensor Público se fez presente para realizar a sustentação oral, no
entanto, não houve tempo para julgamento do recurso e este foi adiado sem que fosse informada
nova data. No dia 15/09/2014, o Defensor Público foi intimado pessoalmente de uma lista de 90
processos que seriam julgados no dia seguinte, entre eles a apelação que havia sido adiada. No
dia 16/09/2014, o recurso foi julgado sem que o Defensor Público tenha comparecido para fazer
a sustentação oral. Entendeu-se que não houve qualquer nulidade, já que a Defensoria Pública
foi intimada quanto à nova inclusão dos autos para julgamento em sessão do dia seguinte e
mesmo assim não requereu adiamento ou qualquer outra providência.
STF. 1ª Turma. HC 126081/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
Imagine a seguinte situação adaptada:
João foi condenado em 1ª instância e interpôs apelação por intermédio da Defensoria Pública.
No recurso, o Defensor Público pediu para fazer sustentação oral.
O Relator deferiu o pedido de sustentação oral e pautou o julgamento da apelação, proferindo o seguinte
despacho:
"Defiro o pedido de sustentação oral formulado pela Defensoria Pública e informo que o recurso será
julgado na Sessão do dia 17 de junho de 2014 ou sessões subsequentes".

No dia 17/06/2014, o Defensor Público se fez presente para realizar a sustentação oral, no entanto, não
houve tempo para julgamento do recurso e este foi adiado sem que fosse informada nova data.
No dia 15/09/2014, o Defensor Público foi intimado pessoalmente de uma lista de 90 processos que
seriam julgados no dia seguinte, entre eles a apelação que havia sido adiada.
No dia 16/09/2014, o recurso foi julgado sem que o Defensor Público tenha comparecido para fazer a
sustentação oral.
Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17
Houve nulidade no julgamento do recurso?
NÃO. A Defensoria Pública, ao tomar ciência de que o processo será julgado em data determinada ou nas
sessões subsequentes, não pode alegar cerceamento de defesa ou nulidade de julgamento quando a
audiência não realizada no dia previamente marcado, ocorrer no dia seguinte à nova intimação.
Entendeu-se que a Defensoria Pública foi intimada quanto à nova inclusão dos autos para julgamento em
sessão do dia seguinte e mesmo assim não requereu adiamento ou qualquer outra providência.

HABEAS CORPUS
Cabimento de HC contra ato de Ministro do STF

Mudança de entendimento!
É cabível habeas corpus em face de decisão monocrática proferida por Ministro do STF.
STF. Plenário. HC 127483/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26 e 27/8/2015 (Info 796).

Imagine que um Ministro do STF, em um processo que lá tramita, profere decisão monocrática
("sozinho") contrária a um investigado ou réu, neste caso caberá habeas corpus contra essa decisão? É
cabível HC contra decisão monocrática de Ministro do STF?
SIM. É cabível HC em face de decisão monocrática de Ministro do STF.
Se não fosse admitido HC neste caso haveria uma violação ao princípio da inafastabilidade da jurisdição
(art. 5º, XXXV, da CF/88) e ao próprio ideário de p oteção do ha eas o pus .
Ressalte-se que, se a parte quiser, em vez de impetrar HC, poderá interpor agravo regimental contra a
decisão monocrática do Ministro.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Extradição executória e soberania estatal


A omissão de declarações ao fisco espanhol, objetivando a supressão de tributos, corresponde ao crime de
sonegação fiscal tipificado no art. 1º, I, da Lei 8.137/1990, a satisfazer a exigência da dupla incriminação,
que prescinde da absoluta identidade entre os tipos penais. A impossibilidade da conversão da pena de
multa em prisão em decorrência de seu descumprimento é questão não afeta à jurisdição brasileira, sob
pena de afronta à soberania do Estado na regulação de seus institutos penais. Com base nessa orientação,
a Primeira Turma, por maioria, deferiu pedido de extradição formulado pelo Governo da Espanha. Na
espécie, tratava-se de pleito de extradição executória para que o extraditando cumprisse o restante da
pena, que fora acrescida de cinco meses em razão do inadimplemento da pena de multa. A Turma
esclareceu não se tratar de dívida, porém, de pena acessória a uma pena criminal, com característica de
sanção penal. Destacou que o Estado requerente deverá firmar o compromisso de descontar da pena o
tempo de prisão do extraditando no território brasileiro para fins de extradição. Assinalou que a ausência
de legislação a respeito da competência do Estado requerente para o processo e o julgamento não teria
relevância em face do princípio da territorialidade, aplicável em se tratando de prática delituosa contra o
seu fisco. A alegada prescrição da pretensão punitiva seria impertinente, porquanto se trataria de sentença
penal transitada em julgado, vale dizer, de questão afeta à prescrição da pretensão executória. A
inexistência de comprovação dos marcos interruptivos do curso prescricional não impossibilitaria verificar a
inocorrência da causa extintiva da pena, mercê de o art. 133 do Código Penal espanhol dispor que o prazo
prescricional da pretensão executória começaria a fluir do trânsito em julgado da sentença (2.2.2011), ou

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


seja, entre o marco inicial e a presente data não teria transcorrido o lapso prescricional de cinco anos
previsto na legislação espanhola. De igual forma, não estaria configurada a prescrição segundo a lei
brasileira, que prevê o prazo prescricional de oito anos para a pena superior a dois anos e não excedente a
quatro anos. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que concluía não ser possível a entrega do extraditando.
Lembrava que o Brasil subscrevera o Pacto de São José da Costa Rica e, com isso, fora revogada a prisão por
dívida civil. Aduzia que não se coadunaria com nosso ordenamento jurídico a transformação de uma dívida
em pena privativa de liberdade. Frisava que, em face do princípio da simetria, se o crime tivesse ocorrido
no Brasil, os cinco meses que teriam sido acrescidos em razão do inadimplemento da pena de multa
resultantes da transformação não seriam cumpridos.
Ext 1375/DF, rel. Min. Luiz Fux, 25.8.2015.

Extradição e falsidade de registro civil de nascimento


A Segunda Turma deferiu pedido de extradição instrutória, formulado pelo Governo do Paraguai em
desfavor de seu nacional, para o processamento de ação penal instaurada naquele país em razão de sua
suposta participação em dois crimes de homicídio doloso. A defesa sustentava a condição de brasileiro nato
do extraditando, sendo falso seu registro civil no Paraguai, o que impediria o deferimento da extradição. A
Turma afirmou que o pedido de extradição fora devidamente instruído pelo Estado requerente,
observando-se todos os requisitos legais. Assim, foram apresentadas cópias da ordem de prisão expedida
pela autoridade judiciária competente e dos demais documentos exigidos, havendo indicações seguras e
precisas sobre o local, a data, a natureza, as circunstâncias e a qualificação legal dos fatos delituosos.
Ademais, estariam configuradas, na espécie, a dupla tipicidade e a dupla punibilidade, na medida em que
os fatos delituosos imputados ao extraditando corresponderiam, no Brasil, ao crime de homicídio
qualificado, previsto no art. 121, § 2º, IV, do CP, e não teria ocorrido a prescrição da pretensão punitiva,
consoante os textos legais apresentados pelo Estado requerente e a legislação penal brasileira (CP, art. 109,
I). Relativamente à suposta condição de brasileiro nato do extraditando, o Colegiado asseverou ser
incontroverso o fato de o extraditando ter dois assentos de nascimento, o primeiro lavrado no Paraguai, e o
segundo, no Brasil, dez anos depois. Como os dois registros apontariam que o extraditando nascera, na
mesma data, em ambos os países, a impossibilidade lógica e material de sua coexistência seria manifesta.
Out ossi , os te os do a t. . do CC, i gué pode vi di a estado o t á io ao que resulta do
registro de nascimento, salvo provando-se e o ou falsidade do egist o . Na espé ie, juízo de p i ei a
instância, em ação anulatória de registro civil ajuizada pelo Ministério Público estadual, deferira pleito de
antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional e cancelara o assento de nascimento do extraditando no
B asil. Assi , esta do judi ial e te afastada a p esu ção ju is ta tu de ve a idade do egist o
brasileiro, por decisão que, não obstante provisória, continuaria a projetar seus efeitos, não haveria óbice à
análise do mérito do pedido de extradição. Nesse particular, embora o pleito extradicional não fosse a sede
própria para a determinação da real nacionalidade do extraditando, inúmeros elementos de prova
constantes dos autos reforçariam a convicção de que ele seria natural do Paraguai, lá gozando da condição
de paraguaio nato. Nesse sentido, esses elementos corroborariam a decisão de 1º grau que cancelara o seu
registro civil brasileiro. Ante o consignado, não seria aplicável ao caso em comento o art. 5º, LI, da CF, que
veda a extradição do brasileiro nato.
Ext 1393/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 25.8.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 24 a 28 de agosto de 2015

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REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 892.961-SP
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE
IMÓVEL. CLÁUSULAS CONTRATUAIS. ABUSIVIDADE. MATÉRIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA À
CONSTITUIÇÃO. INEXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
I – A controvérsia relativa à validade da cobrança de comissões e serviços previstos em contrato de compra e venda de imóvel entre consumidores e
construtora ou incorporadora, notadamente o Serviço de Assessoria Técnica Imobiliária – SATI, está restrita ao âmbito infraconstitucional.
II – O exame da questão constitucional não prescinde da prévia análise de normas infraconstitucionais, o que afasta a possibilidade de reconhecimento
do requisito constitucional da repercussão geral.
III – Repercussão geral inexistente.
Decisões Publicadas: 1

CLIPPING DO D JE
24 a 28 de agosto de 2015

HC N. 127.158-MG
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Habeas corpus. Penal e Processual Penal. Recurso especial. Revaloração do conjunto fático-probatório. Admissibilidade. Hipótese
que não se confunde com reexame de provas. Precedentes. Estupro (art. 213, § 1º, do CP). Pena. Dosimetria. Continuidade delitiva (art. 71,
CP). Majoração da pena no máximo legal de 2/3 (dois terços). Admissibilidade. Delitos praticados durante 6 (seis) anos contra a mesma
vítima. Imprecisão quanto ao número de crimes. Irrelevância. Dilatado lapso temporal que obsta a incidência do aumento em apenas 1/6
(um sexto). Ordem denegada.
1. A revaloração de elementos fático-jurídicos, em sede de recurso especial, não se confunde com reapreciação de matéria probatória, por se tratar de
quaestio juris, e não de quaestio facti. Precedentes.
2. Na espécie, toda a matéria fática foi bem retratada na sentença e no acórdão do tribunal local, razão por que se limitou o Superior Tribunal de
Justiça a emprestar-lhe a correta consequência jurídica.
3. Segundo pacífica jurisprudência da Suprema Corte, o quantum de exasperação da pena, por força da continuidade delitiva, deve ser proporcional
ao número de infrações cometidas. Precedentes.
4. A imprecisão quanto ao número de crimes praticados não obsta a aplicação da causa de aumento de pena da continuidade delitiva no patamar
máximo de 2/3 (dois terços), desde que haja elementos seguros que demonstrem que vários foram os delitos perpetrados ao longo de dilatado lapso
temporal.
5. Ordem denegada.
*noticiado no Informativo 791
AG. REG. NO AI N 682.983-RS
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PARCELAMENTO. EXTENSÃO ÀS EMPRESAS PRIVADAS.
IMPOSSIBILIDADE. TAXA SELIC. DÉBITO TRIBUTÁRIO. POSSIBILIDADE. MULTA MORATÓRIA. CARÁTER CONFISCATÓRIO
RECONHECIDO. REDUÇÃO PARA 20%.
1. O Supremo Tribunal Federal já assentou a ausência de repercussão geral da controvérsia relativa à violação aos princípios do contraditório, da
ampla defesa, do devido processo legal e dos limites da coisa julgada, quando o julgamento da causa depender de prévia análise da adequada
aplicação de normas infraconstitucionais (ARE 748.371-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes).
2. Esta Corte já decidiu pela impossibilidade de extensão do parcelamento de débito previdenciário em 240 meses, previsto na Lei nº 8.620/1993, às
empresas do setor privado, porquanto o Poder Judiciário não pode atuar como legislador positivo.
3. Nos termos do entendimento fixado nos autos do RE 582.461-RG, julgado sob relatoria do Ministro Gilmar Mendes, a utilização da Taxa Selic
como índice de atualização de débitos tributários não contraria qualquer preceito constitucional.
4. A aplicação de multa moratória acima do patamar de 20% detém caráter confiscatório. Trata-se de montante que se coaduna com a ideia de que a
impontualidade é uma falta menos grave, aproximando-se, inclusive, do valor que um dia já foi positivado na Constituição.
5. Agravo regimental a que se dá parcial provimento para determinar a redução da multa moratória para 20% (vinte por cento) sobre o valor do
tributo.
RHC N 128.281-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. POSSE DE ACESSÓRIO DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO. ART. 16 DA
LEI 10.826/2003. BUSCA E APREENSÃO. ILICITUDE DA PROVA. INOCORRÊNCIA. CRIME PERMANENTE. FLAGRANTE DELITO.
CRIME DE MERA CONDUTA E DE PERIGO ABSTRATO. IRRELEVÂNCIA DA POTENCIALIDADE LESIVA DO ARTEFATO.
DESCRIMINALIZAÇÃO TEMPORÁRIA PREVISTA NOS ARTIGOS 30 E 32 DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO. PRORROGAÇÃO DO
PRAZO CONFERIDO PELAS LEIS 11.706/2008 E 11.922/2009. ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE. NÃO OCORRÊNCIA.
1. Busca e apreensão autorizada judicialmente em propriedade rural, compreendida por seus vários imóveis. Inocorrência de ilicitude da prova por
ofensa ao princípio da inviolabilidade do domicílio.
2. Ademais, havendo fundada suspeita, a busca domiciliar nos crimes permanentes se justifica em decorrência do flagrante delito. Inexistência de
ingresso abusivo e constatação posterior de crime permanente.
3. A posse de arma de fogo de uso restrito, de seus acessórios ou de munições constitui crime de mera conduta e de perigo abstrato cujo objeto
jurídico tutelado compreende a segurança coletiva e a incolumidade pública.
4. Presente laudo especificando o modelo do silenciador de uso restrito, desnecessária a realização de perícia a comprovar a potencialidade lesiva do
acessório para configuração do delito.
5. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a descriminalização temporária prevista nos arts. 30 e 32 do Estatuto do Desarmamento, com a
redação conferida pela Lei 11.706/2008, restringe-se ao delito de posse irregular de arma de fogo de uso permitido (art. 12) e não se aplica à conduta
do art. 16 da Lei 10.826/2003.
6. Recurso ordinário a que se nega provimento.
AG. REG. NO RHC N 127.725-DF

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso ordinário em habeas corpus. Execução de alimentos. Inexistência de ordem atual de prisão. Perda
do objeto da impetração. Pretendido reconhecimento da nulidade do processo de conhecimento, por ausência de advogado. Descabimento.
Possibilidade de julgamento à revelia na ação de alimentos. Inteligência do art. 7º da Lei nº 5.478/68. Agravo regimental não provido.
1. Não subsistindo ameaça de prisão civil em execução de alimentos, há que se reconhecer a perda de objeto do habeas corpus.
2. A simples possibilidade de, futuramente, vir a ser observado o rito do art. 733 do Código de Processo Civil não obsta o reconhecimento da perda de
objeto do writ, mesmo porque também poderá ser adotado o rito da execução por quantia certa contra devedor solvente, sem nova cominação de
prisão.
3. O art. 7º da Lei nº 5.478/68 admite, na ação de alimentos, o julgamento à revelia de réu ausente, ao qual se equipara aquele que comparece
pessoalmente desacompanhado de advogado.
4. Logo, não há que se falar em nulidade do título executivo judicial por falta de nomeação de defensor ao recorrente.
5. Agravo regimental ao qual se nega provimento.
HC N 127.158-MG
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Habeas corpus. Penal e Processual Penal. Recurso especial. Revaloração do conjunto fático-probatório. Admissibilidade. Hipótese
que não se confunde com reexame de provas. Precedentes. Estupro (art. 213, § 1º, do CP). Pena. Dosimetria. Continuidade delitiva (art. 71,
CP). Majoração da pena no máximo legal de 2/3 (dois terços). Admissibilidade. Delitos praticados durante 6 (seis) anos contra a mesma
vítima. Imprecisão quanto ao número de crimes. Irrelevância. Dilatado lapso temporal que obsta a incidência do aumento em apenas 1/6
(um sexto). Ordem denegada.
1. A revaloração de elementos fático-jurídicos, em sede de recurso especial, não se confunde com reapreciação de matéria probatória, por se tratar de
quaestio juris, e não de quaestio facti. Precedentes.
2. Na espécie, toda a matéria fática foi bem retratada na sentença e no acórdão do tribunal local, razão por que se limitou o Superior Tribunal de
Justiça a emprestar-lhe a correta consequência jurídica.
3. Segundo pacífica jurisprudência da Suprema Corte, o quantum de exasperação da pena, por força da continuidade delitiva, deve ser proporcional
ao número de infrações cometidas. Precedentes.
4. A imprecisão quanto ao número de crimes praticados não obsta a aplicação da causa de aumento de pena da continuidade delitiva no patamar
máximo de 2/3 (dois terços), desde que haja elementos seguros que demonstrem que vários foram os delitos perpetrados ao longo de dilatado lapso
temporal.
5. Ordem denegada.

AG. REG. NO ARE N 855.715-SP


RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA AOS FUNDAMENTOS SUFICIENTES PARA MANTER A DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 284/STF.
1. Não comporta conhecimento o agravo interno que não impugna direta e especificamente os fundamentos indicados na decisão monocrática de
Relator.
2. Agravo regimental não conhecido.
Acórdãos Publicados: 383

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Arquivamento de inquérito policial e coisas julgadas (Transcrições)


(v. Informativo 796)
HC 125.101/SP*
REDATOR P/ O ACÓRDÃO: Ministro DIAS TOFFOLI
EMENTA: Habeas corpus. Processual Penal Militar. Tentativa de homicídio qualificado (CP, art. 121, § 2º, inciso IV, c/c o art. 14, inciso II).
Arquivamento de Inquérito Policial Militar, a requerimento do Parquet Militar. Conduta acobertada pelo estrito cumprimento do dever
legal. Excludente de ilicitude (CPM, art. 42, inciso III). Não configuração de coisa julgada material. Entendimento jurisprudencial da Corte.
Surgimento de novos elementos de prova. Reabertura do inquérito na Justiça comum, a qual culmina na condenação do paciente e de
corréu pelo Tribunal do Júri. Possibilidade. Enunciado da Súmula nº 524/STF. Ordem denegada.
1. O arquivamento de inquérito, a pedido do Ministério Público, em virtude da prática de conduta acobertada pela excludente de ilicitude do
estrito cumprimento do dever legal (CPM, art. 42, inciso III), não obsta seu desarquivamento no surgimento de novas provas (Súmula nº
524/STF). Precedente.
2. Inexistência de impedimento legal para a reabertura do inquérito na seara comum contra o paciente e o corréu, uma vez que subsidiada
pelo surgimento de novos elementos de prova, não havendo que se falar, portanto, em invalidade da condenação perpetrada pelo Tribunal
do Júri.
3. Ordem denegada.
VOTO–VISTA: Rememoro o caso para a perfeita compreensão.
Cuida-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de **, apontando como autoridade coatora a Sexta Turma do
Superior Tribunal de Justiça, que não conheceu do HC nº 257.958/SP.

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


Sustenta o impetrante, em linhas gerais, que na seara penal militar foi proferida decisão judicial transitada em julgado em que se arquivou
inquérito policial militar, a requerimento do Parquet Militar, entendendo-se que o paciente e o corréu agiram sob a excludente de ilicitude do
estrito cumprimento do dever legal (CPM, art. 42, inciso III).
Afirma que essa decisão fez coisa julgada formal e material, o que impediria a propositura de nova ação penal na justiça comum, na qual, por
fim, o paciente e o corréu vieram a ser condenados pelo júri, em razão de uma tentativa de homicídio qualificado (CP, art. 121, § 2°, inciso IV, c/c
art. 14, inciso II).
Essa condenação foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Nesse contexto, afirma o impetrante que
“a nova imputação, claramente, se constitui em violação ao ne bis in idem e na reformatio in pejus, posto que uma situação que estava
consolidada, inclusive com apreciação do mérito, foi desfeita e gerou a condenação do paciente perante o Júri da Justiça Estadual” (fl. 5 da
inicial – grifos do autor).
Requer o deferimento da liminar para suspender a ação penal intentada contra o paciente na justiça comum e, no mérito, pede a concessão da
ordem para que seja determinada a sua extinção.
A liminar foi deferida pelo Relator para suspender o andamento do feito.
Em petição incidental, o impetrante formulou pedido de extensão em favor do corréu **.
O Ministério Público Federal, em parecer de lavra da Subprocuradora-Geral da República Dra. Cláudia Sampaio Marques, opinou pelo não
conhecimento da impetração e, caso conhecida, pela denegação da ordem com a cassação da liminar.
Em sessão inaugural, o Relator votou pela concessão da ordem para determinar a extinção e o arquivamento da ação penal à qual responde o
paciente na justiça comum com a extensão dos seus efeitos ao corréu.
Pedi vista dos autos para uma reflexão sobre o tema.
É o relatório.
Passo à analise do caso.
Narra o impetrante que o paciente juntamente com o corréu**, na condição de policiais militares, na cidade de Campinas/SP,
“no dia 04.10.1992 empreenderam uma perseguição para atender uma ocorrência de um roubo, por conta disto acabou ocorrendo
disparos de arma de fogo em face à agressão perpetrada por **, o qual não veio a óbito” (fl. 3 da inicial).
Em razão desses fatos, conforme bem resumido pelo Relator em seu voto, foram instaurados
“dois inquéritos, um militar (Inquérito 1.119/1993) e outro civil (IP 1.091/1998). O inquérito policial militar foi arquivado em
21/10/1993, a pedido da Segunda Promotoria de Justiça Militar da Capital/SP, que entendeu terem os agentes agido em estrito cumprimento
de dever legal (excludente de ilicitude e, portanto, pressuposto do crime). No inquérito policial civil, a seu turno, o paciente foi denunciado
em 23/12/1998 e, instruída a ação penal, condenado à pena de 10 anos de reclusão, em regime inicial fechado, pela tentativa de homicídio
qualificado (art. 121, § 2º IV, c/c art. 14, II, do CP), decisão que foi mantida em segundo grau de jurisdição”.
O debate travado nesta impetração consiste em saber se a decisão judicial que arquivou inquérito policial militar, a requerimento do Parquet
Militar, sob a premissa de que o paciente e o corréu agiram sob a excludente de ilicitude do estrito cumprimento do dever legal (CPM, art. 42, inciso
III), fez coisa julgada material, de modo a obstar a instauração do Inquérito Policial civil (IP 1.091/98), o qual acarretou a condenação do paciente e
do corréu pelo Tribunal do Júri, em razão da tentativa de homicídio qualificado.
Assento, inicialmente, que à época em que proferida a decisão determinando o arquivamento daquele inquérito policial militar (21/10/93), a
Justiça Castrense era competente para processar e julgar o paciente e o corréu pelo delito em questão, já que somente com o advento da Lei nº
9.299/96 é que foi deslocado o julgamento dos crimes dolosos contra a vida de civis para a Justiça comum (Tribunal do Júri).
Não obstante a discussão doutrinária e jurisprudencial que circunda a constitucionalidade da Lei nº 9.299/96, na parte em que alterou a redação
do parágrafo único do art. 9º do Código Penal Militar e o art. 82, caput, do Código de Processo Penal Militar, ela permanece hígida e ganhou força
com a Emenda Constitucional nº 45 de 2004, que introduziu o § 4º do art. 125 da Constituição, segundo o qual
“[c]ompete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações
judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil (...)”.
À vista dessas considerações, a competência da Justiça Militar era indiscutível, tendo em conta a época dos fatos.
Dando sequência ao voto, destaco que há pronunciamento - de certo modo, recente - da Corte no sentido de que a decisão proferida por juiz
competente, em que esse determina o arquivamento de inquérito, a pedido do Ministério Público, em virtude de o fato apurado estar coberto por
excludente de ilicitude, não obsta o desarquivamento quando surgirem novas provas, consoante o enunciado da Súmula nº 524/STF. Refiro-me ao HC
nº 95.211/ES, de relatoria da Ministra Cármen Lúcia, cuja ementa transcrevo:
“HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. INQUÉRITO POLICIAL: ARQUIVAMENTO
ORDENADO POR JUIZ COMPETENTE A PEDIDO DO MINISTÉRIO PÚBLICO, COM BASE NO ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER
LEGAL. EXCLUDENTE DE ILICITUDE. ANTIJURIDICIDADE. DESARQUIVAMENTO. NOVAS PROVAS: POSSIBILIDADE. SÚMULA
524 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ORDEM DENEGADA. 1. A decisão que determina o arquivamento de inquérito policial, a
pedido do Ministério Público e determinada por juiz competente, que reconhece que o fato apurado está coberto por excludente de ilicitude,
não afasta a ocorrência de crime quando surgirem novas provas, suficientes para justificar o desarquivamento do inquérito, como autoriza a
Súmula 524 deste Supremo Tribunal Federal. 2. Habeas corpus conhecido e denegado” (Primeira Turma, DJe de 22/8/11).
Há que se destacar excerto do voto proferido pelo Ministro Ricardo Lewandowski no HC nº 87.395/PR, ainda pendente de conclusão no
Tribunal Pleno, em razão de pedido de vista, no qual Sua Excelência reflete esse entendimento da Primeira Turma ao firmar ser
“possível que a excludente de ilicitude vislumbrada num primeiro momento não tenha efetivamente ocorrido, e que eventual fraude na
condução do inquérito haja induzido o Ministério Público a requerer o seu arquivamento.
Em face, pois, dos novos elementos de convicção colhidos pelo Parquet mostra-se admissível a reabertura das investigações nos termos
do art. 18, in fine, do Código de Processo Penal (...)”.
Disse Sua Excelência, a meu ver, com muita propriedade que, “diante do que dispõe esse dispositivo [CP, art. 18], o arquivamento do inquérito
não faz coisa julgada nem causa a preclusão, eis que se trata de decisão tomada rebus sic stantibus”. E conclui o ilustre Ministro que,
“contrariamente ao que ocorre quando o arquivamento se dá por atipicidade do fato, a superveniência de novas provas relativamente
a alguma excludente de ilicitude admite o desencadeamento de novas investigações”.

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


Parece-me, salvo melhor juízo, acertado esse entendimento. Do mesmo modo que no caso paradigma, a decisão da Justiça Militar, na hipótese,
não afastou o fato típico ocorrido, mas sim sua ilicitude, em razão do estrito cumprimento do dever legal, que o Parquet Militar entendeu provado, a
partir dos elementos de prova de que dispunha até então.
Interessante notar que o próprio Ministério Público, quando propôs o arquivamento do inquérito, o fez “sob as ressalvas legais e no aguardo
de novas provas” (fl. 1 do anexo 4 – grifei), o que é um indicativo robusto de que naquele momento faltaria base para a denúncia.
Nesse diapasão, o eventual surgimento de novos elementos de convicção teria o condão de impulsionar a reabertura do inquérito na Justiça
comum, a teor do art. 18 do Código de Processo Penal, segundo o qual
“[d]epois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade
policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia” (grifei).
Resolvida essa questão, cabe analisar se novas provas subsidiaram a abertura do inquérito policial civil (IP 1.091/98), pois o Supremo Tribunal
Federal já assentou que essa possibilidade somente é admitida nesse contexto, consoante o enunciado da Súmula nº 524:
“[A]rquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada []
sem novas provas”.
Entretanto, essa questão deve ser avaliada, por se tratar de habeas corpus, cum grano salis, pois é do nosso entendimento que
“[o] exame do mérito da prova nova, que motivou o desarquivamento, a fim de verificar ausência de justa causa para a denúncia de
pronúncia, não se coaduna com a cognição sumária do remédio constitucional, salvo quando evidente que o quadro probatório permaneceu
inalterado” (HC nº 90.292/RJ, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 25/5/07 – grifei).
Sem descuidar dessa jurisprudência, destaco que a simples leitura das provas pré-constituídas dos autos aponta uma nova versão para os fatos
ocorridos com o prosseguimento das investigações na Justiça comum.
Colhe-se da denúncia oferecida a partir do Inquérito Policial civil (IP 1.091/98) que o paciente e o corréu
“eram policiais militares e juntos faziam patrulhamento no local acima apontado, tendo sido acionados nas proximidades para
atenderem uma ocorrência de roubo numa residência.
Avistaram, então, movimento, na residência de **, situada numa favela, e injustificadamente suspeitaram do envolvimento das pessoas
da casa no roubo.
Sem qualquer motivo, como manifesto abuso de poder, o acusado ** chutou a porta do barraco de **, fazendo com que este, assustado
e sem saber o que ocorria, fugisse pelo telhado da casa.
** seguiu ** e, valendo-se da arma de fogo do Estado, com evidente vontade de matar, deferiu-lhe dois tiros, vindo a feri-lo no braço e
no abdômen.
O ofendido, mesmo ferido, conseguiu esconder-se na casa de um vizinho. Ainda não satisfeitos, o acusado ** sempre acompanhado de
seu comparsa, **, ameaçou matar todos os moradores da casa, forçando a saída de **.
A proprietária da residência roubada teve a oportunidade de avistar ** ferido e dominado pelos acusados, quando afirmou não ter
sido ele quem havia lhe assaltado.
Em seguida, dissimulando a verdadeira intenção, os acusados anunciaram a todos que iriam socorrer **, colocando-o dentro da
viatura policial.
Contudo, ao invés de seguirem diretamente para um hospital os acusados dirigiram-se para uma chácara situada entre uma cerâmica
[sic] e o Parque Universitário, onde tiraram a vítima de dentro da viatura e colocaram-na de joelhos com as mãos para trás, a fim de matá-la
e evitar um depoimento incriminador, assegurando, assim, a impunidade do delito que tinha cometido.
Sem possibilitar qualquer chance de reação ao ofendido, que estava de joelhos e totalmente sob o domínio dos policiais milita res, o
acusado **, impiedosamente, desferiu-lhe mais um tiro, que atingiu a região do hipocôndrio direito, pouco abaixo do coração.
Acreditando que ** estivesse finalmente morto, os acusados levaram-no até o hospital Mário Gatti e, de imediato, falseando a verdade,
apresentaram e registraram os fatos no Boletim da Polícia Militar sob o título ‘Resistência Seguida de Morte’ (fls. 56), evidenciado, de fato,
que consideravam o ofendido como uma pessoa morta, face aos meios de execução empregados por eles.
Entretanto, ** resistiu bravamente aos ferimentos sofridos e, com o auxílio dos médicos, manteve-se vivo, sofrendo, todavia, sequelas e
ferimentos gravíssimos, consoante o laudo médico de fls. 34" (fls. 1 a 3 do anexo 5 – grifei).
Por sua vez, ao formular o pedido de arquivamento do feito, o Ministério Público Militar, à época, assim descreveu os fatos:
“Pelo que se depreende dos elementos que fluem desse inquérito policial militar, os indiciados agiram sob a excludente do estrito
cumprimento do dever legal.
A indicada vítima resistiu à ordem legal de prisão, forçando aos milicianos que fizessem uso da força necessária para, por fim, efetivá-
la e conduzi-la à repartição policial competente.
Nada obstante, o fizeram com moderação e dentro dos limites impostos pelo poder de polícia estatal que representam.
As lesões experimentadas pela vítima, portanto, exime a responsabilidade dos agentes, de sorte que praticadas sob ação revestida por
excludente da antijuridicidade.
Dessa forma, fica proposto o ARQUIVAMENTO, sob as ressalvas legais e no aguardo de novas provas” (fl. 1 do anexo 4).
A leitura verticalizada de ambas as manifestações do titular da ação penal demonstra claramente a existência de fatos diversos daqueles que
motivaram o arquivamento do feito na seara militar em 1993.
Portanto, pedindo venia ao Relator, não vislumbro nenhum impedimento legal para a propositura da nova ação penal contra o paciente e o
corréu na seara comum, sendo válida, portanto, a condenação perpetrada contra eles pelo Tribunal do Júri.
Com essas considerações, voto pela denegação da ordem de habeas corpus.
*acordão pendente de publicação
**nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
24 a 28 de agosto de 2015

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23


Lei nº 13.161, de 31.8.2015 - Altera as Leis nos 12.546, de 14 de dezembro de 2011, quanto à contribuição
previdenciária sobre a receita bruta, 12.780, de 9 de janeiro de 2013, que dispõe sobre medidas tributárias referentes à
realização, no Brasil, dos Jogos Olímpicos de 2016 e dos Jogos Paraolímpicos de 2016, 11.977, de 7 de julho de 2009, e
12.035, de 1o de outubro de 2009; e revoga dispositivos da Lei n o 11.196, de 21 de novembro de 2005, quanto à
tributação de bebidas frias. Publicada no DOU, seção 1, Edição Extra, p. 1, em 31.8.2015
Medida Provisória nº 691, de 31.8.2015 - Dispõe sobre a administração, a alienação, a transferência de gestão de
imóveis da União e seu uso para a constituição de fundos. Publicado no DOU, seção 1, Edição Extra, p. 3, em 31.8.2015
Medida Provisória nº 689, de 31.8.2015 - Altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Publicada no DOU,
seção 1, Edição Extra, nº 166, p. 3, em 31.8.2015

OUTRAS INFORMAÇÕES
24 a 28 de agosto de 2015

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)


Feriado - Dia - Servidor Público - Expediente forense - Secretaria - Prorrogação - Prazo
Portaria nº 163, de 25 de agosto de 2015 - Transfere para 30 de outubro de 2014, sexta-feira, as comemorações
alusivas ao Dia do Servidor Público. Não havendo expediente na Secretaria do Tribunal nesse dia. E comunica que os
prazos que porventura devam iniciar-se ou completar-se nesse dia ficam automaticamente prorrogados para o dia 3
subsequente (terça-feira) Publicada no DJE/STF, n. 168, p. 231, em 27.8.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 796-STF (03/09/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE
635659/SP; Inq 3731/DF.

ÍNDICE
DIREITO PROCESSUAL PENAL
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
 Constitucionalidade do Provimento do TJ que regulamentou a audiência de custódia.
 Anulação da pronúncia por excesso de linguagem.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Constitucionalidade do Provimento do TJ que regulamentou a audiência de custódia

Importante!!!
Audiência de custódia consiste no direito que a pessoa presa em flagrante possui de ser
conduzida (levada), sem demora, à presença de uma autoridade judicial (magistrado) que irá
analisar se os direitos fundamentais dessa pessoa foram respeitados (ex: se não houve
tortura), se a prisão em flagrante foi legal e se a prisão cautelar deve ser decretada ou se o
preso poderá receber a liberdade provisória ou medida cautelar diversa da prisão.
A audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), que
ficou conhecida como "Pacto de San Jose da Costa Rica", promulgada no Brasil pelo Decreto
678/92 e ainda não regulamentada em lei no Brasil.
Diante dessa situação, o TJSP editou o Provimento Conjunto nº 03/2015 regulamentando a
audiência de custódia no âmbito daquele Tribunal.
O STF entendeu que esse Provimento é constitucional porque não inovou na ordem jurídica,
mas apenas explicitou conteúdo normativo já existente em diversas normas da CADH e do CPP.
Por fim, o STF afirmou que não há que se falar em violação ao princípio da separação dos
poderes porque não foi o Provimento Conjunto que criou obrigações para os delegados de
polícia, mas sim a citada convenção e o CPP.
STF. Plenário. ADI 5240/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/8/2015 (Info 795).

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
Conceito
Audiência de custódia consiste...
- no direito que a pessoa presa em flagrante possui
- de ser conduzida (levada),

Informativo 795-STF (27/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


- sem demora,
- à presença de uma autoridade judicial (magistrado)
- que irá analisar se os direitos fundamentais dessa pessoa foram respeitados (ex: se não houve tortura)
- se a prisão em flagrante foi legal ou se deve ser relaxada (art. 310, I, do CPP)
- e se a prisão cautelar (antes do trânsito em julgado) deve ser decretada (art. 310, II) ou se o preso poderá
receber a liberdade provisória (art. 310, III) ou medida cautelar diversa da prisão (art. 319).

Previsão
A audiência de custódia é prevista na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), que ficou
conhecida como "Pacto de San Jose da Costa Rica", promulgada no Brasil pelo Decreto 678/92.
Veja o que diz o artigo 7º, item 5, da Convenção:
Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal
(...)
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra
autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais (...)

Segundo entende o STF, os tratados internacionais de direitos humanos que o Brasil foi signatário
incorporam-se em nosso ordenamento jurídico com status de norma jurídica supralegal (RE 349.703/RS,
DJe de 5/6/2009). Desse modo, na visão do STF, a Convenção Americana de Direitos Humanos é norma
jurídica no Brasil, hierarquicamente acima de qualquer lei ordinária ou complementar, só estando abaixo,
portanto, das normas constitucionais.
Obs: na época em que a CADH foi aprovada no Brasil, ainda não havia a previsão do § 3º do art. 5º da CF/88.

Regulamentação
Apesar de existir um projeto de lei tramitando no Congresso Nacional (PLS nº 554/2011), o certo é que a
audiência de custódia ainda não foi regulamentada por lei no Brasil. Isso significa que não existe uma lei
estabelecendo o procedimento a ser adotado para a realização dessa audiência.
Diante desse cenário, e a fim de dar concretude à previsão da CADH, recentemente, alguns Tribunais de
Justiça, incentivados pelo CNJ, passaram a regulamentar a audiência de custódia por meio de atos internos
exarados pelos próprios Tribunais (provimentos e resoluções).

Procedimento para a realização da audiência de custódia (segundo o projeto do CNJ):


1) Prisão em flagrante;
2) Apresentação do flagranteado à autoridade policial (Delegado de Polícia);
3) Lavratura do auto de prisão em flagrante;
4) Agendamento da audiência de custódia (se o flagranteado declinou nome de advogado, este deverá ser
intimado da data marcada; se não informou advogado, a Defensoria Pública será intimada);
5) Protocolização do auto de prisão em flagrante e apresentação do autuado preso ao juiz;
6) Entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado ou Defensor Público;
7) Início da audiência de custódia, que deverá ter a participação do preso, do juiz, do membro do MP e da
defesa (advogado constituído ou Defensor Público);
8) O membro do Ministério Público manifesta-se sobre o caso;
9) O autuado é entrevistado (são feitas perguntas a ele);
10) A defesa manifesta-se sobre o caso;
11) O magistrado profere uma decisão que poderá ser, dentre outras, uma das seguintes:
a) Relaxamento de eventual prisão ilegal (art. 310, I, do CPP);
b) Concessão de liberdade provisória, com ou sem fiança (art. 310, III);
c) Substituição da prisão em flagrante por medidas cautelares diversas (art. 319);
d) Conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva (art. 310, II);
e) Análise da consideração do cabimento da mediação penal, evitando a judicialização do conflito,
corroborando para a instituição de práticas restaurativas.
Informativo 795-STF (27/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2
Nomenclatura
O termo "audiência de custódia", apesar de ter sido consagrado no Brasil, não é utilizado expressamente
pela CADH, sendo essa nomenclatura uma criação doutrinária.
Durante os debates no STF a respeito da ADI 5240/SP, o Min. Luiz Fux defendeu que essa audiência passe a
se chamar "audiência de apresentação". Desse modo, deve-se tomar cuidado com essa expressão caso
seja cobrada em uma prova.

Qual é a amplitude da expressão "sem demora" prevista na CADH? Em até quanto tempo a pessoa presa
deverá ser levada para a audiência de custódia?
Não existe uma previsão específica de tempo na CADH. A doutrina majoritária defende, contudo, que esse
prazo deve ser de 24 horas, aplicando-se, subsidiariamente, a regra do § 1º do art. 306 do CPP.
Esse foi o prazo adotado pelo PLS nº 554/2011, em tramitação no Congresso Nacional.

Provimento Conjunto nº 03/2015, do TJSP


Em 22/01/2015, o TJSP editou o Provimento Conjunto nº 03/2015 regulamentando a audiência de
custódia no âmbito daquele Tribunal. Veja alguns dispositivos do Provimento:
Art. 1º Determinar, em cumprimento ao disposto no artigo 007°, item 5, da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (pacto de San Jose da Costa Rica), a apresentação de pessoa detida em flagrante delito,
até 24 horas após a sua prisão, para participar de audiência de custódia.
(...)
Art. 3º A autoridade policial providenciará a apresentação da pessoa detida, até 24 horas após a sua
prisão, ao juiz competente, para participar da audiência de custódia.
§ 1º O auto de prisão em flagrante será encaminhado na forma do artigo 306, parágrafo 1º, do Código de
Processo Penal, juntamente com a pessoa detida.
(...)
Art. 5º O autuado, antes da audiência de custódia, terá contato prévio e por tempo razoável com seu
advogado ou com Defensor Público.
Art. 6º Na audiência de custódia, o juiz competente informará o autuado da sua possibilidade de não
responder perguntas que lhe forem feitas, e o entrevistará sobre sua qualificação, condições pessoais,
tais como estado civil, grau de alfabetização, meios de vida ou profissão, local da residência, lugar onde
exerce sua atividade, e, ainda, sobre as circunstâncias objetivas da sua prisão.
§ 1º Não serão feitas ou admitidas perguntas que antecipem instrução próprio de eventual processo de
conhecimento.
§ 2º Após a entrevista do autuado, o juiz ouvirá o Ministério Público que poderá se manifestar pelo
relaxamento da prisão em flagrante, sua conversão em prisão preventiva, pela concessão de liberdade
provisória com imposição, se for o caso, das medidas caulelares previstas no artigo 319 do Código de
Processo Penal.
§ 3º A seguir, o juiz dará a palavra ao advogado ou ao Defensor Público para manifestação, e decidirá, na
audiência, fundamentadamente, nos termos do artigo 310 do Código de Processo Penal, podendo,
quando comprovada uma das hipóteses do artigo 318 do mesmo Diploma, substituir a prisão preventiva
pela domiciliar.
(...)
Art. 7º O juiz competente, diante das informações colhidas na audiência de custódia, requisitará o exame
clinico e de corpo de delito do autuado, quando concluir que a perícia é necessária para a adoção de
medidas, tais como:
I - apurar possível abuso cometido durante a prisão em flagrante, ou a lavratura do auto;
II - determinar o encaminhamento assistencial, que repute devido.

Informativo 795-STF (27/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


ADI 5240/SP
A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol) ajuizou ADI contra o Provimento Conjunto nº
03/2015, do TJSP.
Na ação, a referida associação defendeu que a audiência de custódia somente poderia ter sido criada por
lei federal e jamais por intermédio de tal provimento autônomo, já que a competência para legislar sobre
a matéria é da União (art. 22, I, da CF/88), por meio do Congresso Nacional.

O STF concordou com os argumentos da ADEPOL? A audiência de custódia disciplinada por meio de ato
do Tribunal de Justiça é inconstitucional?
NÃO. O STF julgou improcedente a ADI proposta.

A Corte afirmou que o artigo 7º, item 5, da Convenção Americana de Direitos Humanos, por ter caráter
supralegal, sustou os efeitos de toda a legislação ordinária conflitante com esse preceito convencional. Em
outras palavras, a CADH inovou o ordenamento jurídico brasileiro e passou a prever expressamente a
audiência de custódia.

Ademais, a apresentação do preso ao juiz está intimamente ligada à ideia da garantia fundamental de
li e dade, ual seja, o ha eas o pus . A ess ia desse e dio onstitucional, portanto, está
justamente no contato direto do juiz com o preso, para que o julgador possa, assim, saber do próprio
detido a razão pela qual fora preso e em que condições se encontra encarcerado. Justamente por isso, o
CPP estabelece que e e ida a petição de ha eas o pus , o juiz, se julga e essá io, e estive p eso o
paciente, mandará que este lhe seja imediatamente apresentado e dia e ho a ue desig a (a t. 656).

Desse modo, o STF entendeu que o Provimento Conjunto do TJSP não inovou na ordem jurídica, mas
apenas explicitou conteúdo normativo já existente em diversas normas da CADH e do CPP.

Por fim, o STF afirmou que não há que se falar em violação ao princípio da separação dos poderes porque
não foi o Provimento Conjunto que criou obrigações para os delegados de polícia, mas sim a citada
convenção e o CPP.

TRIBUNAL DO JÚRI
Anulação da pronúncia por excesso de linguagem

Havendo excesso de linguagem, o Tribunal deverá ANULAR a sentença de pronúncia e os


consecutivos atos processuais, determinando-se que outra seja prolatada.
Não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário anular a sentença e determinar
que outra seja prolatada.
STF. 1ª Turma. RHC 127522/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/8/2015 (Info 795).
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.442.002-AL, Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

Procedimento do Tribunal do Júri


Quando a pessoa pratica um crime doloso contra a vida, ela responde a um processo penal que é regido
por um procedimento especial, próprio do Tribunal do Júri (arts. 406 a 497 do CPP).

Quais são os crimes dolosos contra a vida (de competência do Tribunal do Júri)?
 homicídio (art. 121 do CP);
 induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122 do CP);
 infanticídio (art. 123 do CP);
 aborto em suas três espécies (arts. 124, 125 e 126 do CP).

Informativo 795-STF (27/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Procedimento bifásico do Tribunal do Júri
O procedimento do Tribunal do Júri é chamado de bifásico (ou escalonado) porque se divide em duas etapas:
É a fase de acusação e instrução preliminar (formação da culpa).
1) Fase do sumário da culpa
Inicia-se com o oferecimento da denúncia (ou queixa) e termina com a
(iudicium accusationis):
preclusão da sentença de pronúncia.
2) Fase de julgamento
(iudicium causae).

Fase do sumário da culpa


As etapas aqui são muito semelhantes ao procedimento comum ordinário.
Vejamos os principais passos do sumário da culpa:
DENÚNCIA Oferecimento da denúncia (em regra) ou queixa-crime.
RECEBIMENTO Juiz decide se recebe ou rejeita a peça acusatória.
Acusado é citado pessoalmente para responder a acusação, por escrito, no prazo de 10
CITAÇÃO
dias.
RESPOSTA Defesa apresenta resposta escrita à acusação.
Após a defesa apresentar a resposta, o juiz determinará que o MP (ou o querelante) seja
RÉPLICA ouvido, no prazo de 5 dias, sobre eventuais preliminares invocadas e documentos
juntados. Importante: essa etapa não existe no procedimento comum ordinário.
Juiz designa audiência de instrução e julgamento.
Importante: ao contrário do procedimento comum ordinário, no rito do júri, o
PAUTE-SE
magistrado somente irá decidir se absolve sumariamente o réu após a audiência de
instrução.
No dia designado, é realizada audiência de instrução, sendo feita a oitiva do ofendido (se
AUDIÊNCIA
possível), das testemunhas e do réu.
Após serem realizadas as oitivas, iniciam-se debates orais entre acusação e defesapelo
DEBATES
prazo de 20 (vinte) minutos para cada, prorrogáveis por mais 10 (dez).
Encerrados os debates, o juiz prolata a sentença na própria audiência ou, se preferir,
SENTENÇA poderá determinar que os autos lhe sejam conclusos para melhor analisar o processo,
devendo, nesse caso, proferir a sentença em um prazo de até 10 dias.

Sentença que encerra o sumário da culpa


Encerrados os debates, o juiz irá proferir a sentença na própria audiência ou em até 10 dias.
A sentença poderá ser no sentido de uma das quatro opções seguintes:
PRONÚNCIA IMPRONÚNCIA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA DESCLASSIFICAÇÃO
O réu será pronunciado O réu será impronunciado O réu será absolvido, desde Ocorre quando o juiz se
quando o juiz se convencer quando o juiz não se logo, quando estiver provado convencer de que o fato
de que existem prova da convencer: (a): narrado não é um crime
materialidade do fato e  da materialidade do fato;  a inexistência do fato; doloso contra a vida, mas sim
indícios suficientes de  da existência de indícios  que o réu não é autor ou um outro delito, devendo,
autoria ou de participação. suficientes de autoria ou partícipe do fato; então, remeter o processo
de participação.  que o fato não constitui para o juízo competente.
crime; Ex.: juiz entende que não
 que existe uma causa de houve homicídio doloso, mas
isenção de pena ou de sim latrocínio.
exclusão do crime.
Ex.: a única testemunha que
havia reconhecido o réu no Ex.: todas as testemunhas
IP não foi ouvida em juízo. ouvidas afirmaram que o réu
não foi o autor dos disparos.
Recurso cabível: RESE. Recurso cabível: APELAÇÃO. Recurso cabível: APELAÇÃO. Recurso cabível: RESE.

Informativo 795-STF (27/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Fundamentação da sentença de pronúncia e excesso de linguagem
A sentença de pronúncia deve ser fundamentada. No entanto, é necessário que o juiz utilize as palavras
com moderação, ou seja, valendo-se de termos sóbrios e comedidos, a fim de se evitar que fique
demonstrado na decisão que ele acredita firmemente que o réu é culpado pelo crime.
Se o magistrado exagera nas palavras utilizadas na sentença de pronúncia, dizemos que houve um
ex esso de li guage , ta ha ado de elo u ia a usató ia .
Ex: a se te ça de p o ú ia, o juiz afi a: não tenho nenhuma dúvida de que o réu foi o autor do
homicídio da vítima Fulano. Na verdade, em todos os meus anos de magistratura, nunca vi um homicida
tão frio, cruel e desp ezível, se do esse u i e utal ue e e e se g ave e te ep i ido”. Ora, no
caso houve claramente excesso de linguagem por parte do juiz.
Por que não pode haver o excesso de linguagem?
Porque o CPP afirma que os jurados irão receber uma cópia da sentença de pronúncia e das decisões
posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo (art. 472, parágrafo único).
Assim, se o juiz se excede nos argumentos empregados na sentença de pronúncia, o jurado irá ler essa
decisão e certamente será influenciado pela opinião do magistrado. O jurado poderá, inclusive, pensar o
segui te: se o juiz, que estudou e conhece das leis, está aqui no papel dizendo que o réu é culpado, deve
ser porque ele realmente é culpado. Vou ter que condená-lo também.
Perceba, portanto, que existe claro prejuízo para a defesa.
Havendo excesso de linguagem, o que o Tribunal deve fazer?
Se o Tribunal reconhecer que houve excesso de linguagem na sentença de pronúncia, ele deverá anular a
decisão, assim como atos processuais seguintes, determinando que outra sentença de pronúncia seja
prolatada.
Em vez de anular, o Tribunal pode apenas determinar que a sentença seja desentranhada (retirada do
processo) ou seja envelopada (isolada)? Isso já não seria suficiente, com base no princípio da economia
processual?
NÃO. Não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário anular a sentença e determinar que
outra seja prolatada. Isso porque, como já dito acima, a lei determina que a sentença de pronúncia seja
distribuída aos jurados. Logo, não há como desentranhar a decisão, já que uma cópia dela deverá ser
entregue aos jurados. Se essa cópia não for entregue, estará sendo descumprido o art. 472, parágrafo
único, do CPP.
Assim, não há outro jeito. A providência adequada é a anulação da sentença e os consecutivos atos
processuais que ocorreram no processo principal para que outra decisão seja proferida.
Resumindo:
Havendo excesso de linguagem, o Tribunal deverá ANULAR a sentença de pronúncia e os consecutivos
atos processuais, determinando-se que outra seja prolatada.
Não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário anular a sentença e determinar que
outra seja prolatada.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.442.002-AL, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/4/2015 (Info 561).
STF. 1ª Turma. RHC 127522/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/8/2015 (Info 795).

EXERCÍCIOS
(JUIZ TJSC 2015) O excesso de linguagem reconhecido acarreta a anulação da decisão de pronúncia ou do acórdão que
incorreu no mencionado vício. Assim, conforme já decidiu o STF, deverá ser providenciado o desentranhamento e
envelopamento da respectiva peça processual, para evitar que o jurado tenha acesso à tal peça processual. ( ) E
Gabarito
1. E

Informativo 795-STF (27/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 17 a 21 de agosto de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 889.173-MS


RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL. MANDADO DE SEGURANÇA. VALORES DEVIDOS
ENTRE A DATA DA IMPETRAÇÃO E A IMPLEMENTAÇÃO DA ORDEM CONCESSIVA. SUBMISSÃO AO REGIME DE PRECATÓRIOS.
REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 860.508-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
CONFLITO DE COMPETÊNCIA – JUSTIÇAS FEDERAL E ESTADUAL – ALCANCE DOS ARTIGOS 105, INCISO I, ALÍNEA “D”, E 108,
INCISO I, ALÍNEA “E”, DA CARTA DA REPÚBLICA – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. Possui
repercussão geral a controvérsia acerca da competência, sob o ângulo dos artigos 105, inciso I, alínea “d”, e 108, inciso I, alínea “e”, da Constituição
Federal, para processar e julgar conflitos entre juizado especial federal e juízo estadual no exercício de competência federal delegada.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA – JUSTIÇAS FEDERAL E ESTADUAL – ALCANCE DO ARTIGO 109, § 3º, DO DIPLOMA MAIOR –
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a questão acerca da definição do
pressuposto fático para a incidência do artigo 109, § 3º, da Constituição Federal, se a inexistência de juízo federal no município ou na comarca onde
reside o segurado ou beneficiário do Instituto Nacional do Seguro Social.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 851.108-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. ITCMD. BENS LOCALIZADOS NO EXTERIOR. ARTIGO 155, § 1º,
III, LETRAS A E B, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. LEI COMPLEMENTAR. NORMAS GERAIS. COMPETÊNCIA PARA INSTITUIÇÃO.
É de se definir, nas hipóteses previstas no art. 155, § 1º, III, letras a e b, da Constituição, se, ante a omissão do legislador nacional em estabelecer as
normas gerais pertinentes à competência para instituir imposto sobre transmissão causa mortis ou doação de quaisquer bens ou direitos (ITCMD), os
Estados-membros podem fazer uso de sua competência legislativa plena com fulcro no art. 24, § 3º, da Constituição e no art. 34, § 3º, do ADCT.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N 842.157-DF
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. PENSÃO ALIMENTÍCIA. AÇÃO DE ALIMENTOS. FIXAÇÃO COM BASE NO SALÁRIO
MÍNIMO. POSSIBILIDADE. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO ART. 7º, INCISO IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AUSÊNCIA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.

CLIPPING DO D JE
17 a 21 de agosto de 2015

MS N 33.092-DF
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Mandado de Segurança. 2. Tribunal de Contas da União. Tomada de contas especial. 3. Dano ao patrimônio da Petrobras. Medida cautelar de
indisponibilidade de bens dos responsáveis. 4. Poder geral de cautela reconhecido ao TCU como decorrência de suas atribuições constitucionais. 5.
Observância dos requisitos legais para decretação da indisponibilidade de bens. 6. Medida que se impõe pela excepcional gravidade dos fatos
apurados.Segurança denegada.
*noticiado no Informativo 779
ADI N 5.081-DF
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO Nº 22.610/2007 DO
TSE. INAPLICABILIDADE DA REGRA DE PERDA DO MANDATO POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA AO SISTEMA ELEITORAL
MAJORITÁRIO.
1. Cabimento da ação. Nas ADIs 3.999/DF e 4.086/DF, discutiu-se o alcance do poder regulamentar da Justiça Eleitoral e sua competência para dispor
acerca da perda de mandatos eletivos. O ponto central discutido na presente ação é totalmente diverso: saber se é legítima a extensão da regra da
fidelidade partidária aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário.
2. As decisões nos Mandados de Segurança 26.602, 26.603 e 26.604 tiveram como pano de fundo o sistema proporcional, que é adotado para a
eleição de deputados federais, estaduais e vereadores. As características do sistema proporcional, com sua ênfase nos votos obtidos pelos partidos,
tornam a fidelidade partidária importante para garantir que as opções políticas feitas pelo eleitor no momento da eleição sejam minimamente
preservadas. Daí a legitimidade de se decretar a perda do mandato do candidato que abandona a legenda pela qual se elegeu.
3. O sistema majoritário, adotado para a eleição de presidente, governador, prefeito e senador, tem lógica e dinâmica diversas da do sistema
proporcional. As características do sistema majoritário, com sua ênfase na figura do candidato, fazem com que a perda do mandato, no caso de
mudança de partido, frustre a vontade do eleitor e vulnere a soberania popular (CF, art. 1º, parágrafo único; e art. 14, caput).
4. Procedência do pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade.
*noticiado no Informativo 787

Informativo 795-STF (27/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


ADI N 5.081-DF
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO Nº 22.610/2007 DO
TSE. INAPLICABILIDADE DA REGRA DE PERDA DO MANDATO POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA AO SISTEMA ELEITORAL
MAJORITÁRIO.
1. Cabimento da ação. Nas ADIs 3.999/DF e 4.086/DF, discutiu-se o alcance do poder regulamentar da Justiça Eleitoral e sua competência para dispor
acerca da perda de mandatos eletivos. O ponto central discutido na presente ação é totalmente diverso: saber se é legítima a extensão da regra da
fidelidade partidária aos candidatos eleitos pelo sistema majoritário.
2. As decisões nos Mandados de Segurança 26.602, 26.603 e 26.604 tiveram como pano de fundo o sistema proporcional, que é adotado para a
eleição de deputados federais, estaduais e vereadores. As características do sistema proporcional, com sua ênfase nos votos obtidos pelos partidos,
tornam a fidelidade partidária importante para garantir que as opções políticas feitas pelo eleitor no momento da eleição sejam minimamente
preservadas. Daí a legitimidade de se decretar a perda do mandato do candidato que abandona a legenda pela qual se elegeu.
3. O sistema majoritário, adotado para a eleição de presidente, governador, prefeito e senador, tem lógica e dinâmica diversas da do sistema
proporcional. As características do sistema majoritário, com sua ênfase na figura do candidato, fazem com que a perda do mandato, no caso de
mudança de partido, frustre a vontade do eleitor e vulnere a soberania popular (CF, art. 1º, parágrafo único; e art. 14, caput).
4. Procedência do pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade.
*noticiado no Informativo 787
RE N 447.859-MS
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
FORÇA MILITAR – PRAÇA – PERDA DO POSTO. Relativamente a praça, é inexigível pronunciamento de Tribunal, em processo específico, para
que se tenha a perda do posto.
*noticiado no Informativo786
HC N 126.869-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Habeas corpus. Penal e Processual Penal. Furto simples tentado (art. 155, caput, c/c o art. 14, II, CP). Absolvição sumária (art.
397, III, do CPP). Crime impossível (art. 17, CP). Reforma dessa decisão, em sede de recurso especial, para o fim de se condenar, desde logo,
a paciente. Inadmissibilidade. Violação dos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, CF).
Anulação dessa condenação em sede de habeas corpus. Impossibilidade de o writ agravar a situação jurídica da paciente. Precedente.
Vedação da reformatio in pejus indireta. Prescrição que passa a ser regulada pela pena concretamente aplicada, uma vez que não mais
poderá ser majorada. Ordem concedida.
1. O Superior Tribunal de Justiça, ao prover o recurso especial do Ministério Público para cassar a decisão que absolveu sumariamente a paciente e
condená-la desde logo, determinando o retorno dos autos “ao Tribunal a quo para a fixação da dosimetria da pena”, violou os princípios do devido
processo legal, do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, CF).
2. A proibição da reformatio in pejus, princípio imanente ao processo penal, aplica-se ao habeas corpus, cujo manejo jamais poderá agravar a
situação jurídica daquele a quem busca, exatamente, favorecer. (HC nº 121.907/AM, Primeira Turma, de minha relatoria, DJe de 28/10/14).
3. Anulada, em habeas corpus, a decisão do Superior Tribunal de Justiça que condenou a paciente, a pena concretamente fixada não mais poderá ser
agravada, razão por que passa a constituir o referencial para o cálculo da prescrição da pretensão punitiva.
4. Ordem de habeas corpus concedida para cassar o acórdão que proveu o recurso especial e julgar extinta a punibilidade da paciente, pela
prescrição da pretensão punitiva.
*noticiado no Informativo 791
Acórdãos Publicados: 296

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais aprofundada do
pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham despertado ou possam despertar de
modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Plano Verão: IRPJ e correção monetária de balanço (Transcrições)


(v. Informativo 795)
RE 188.083/PR*
RELATOR: Ministro Marco Aurélio

LEI – APLICAÇÃO NO TEMPO – TRIBUTO – IRRETROATIVIDADE. Lei regedora de tributo há de ser editada em certo exercício, para
observância no subsequente.

BALANÇO – CORREÇÃO MONETÁRIA – EXERCÍCIO DE 1989 – ARTIGO 30, § 2º, DA LEI Nº 7.799/89. Ante o princípio da
irretroatividade, surge inconstitucional o § 2º do artigo 30 da Lei nº 7.799/89, no que impôs a correção monetária das demonstrações
financeiras referentes ao exercício de 1989.
RELATÓRIO: O Tribunal Regional Federal da 4ª Região acolheu pedido formulado em apelação, sufragando tese assim sintetizada na ementa do
acórdão de folha 247 a 250:
CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. CORREÇÃO MONETÁRIA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
DO EXERCÍCIO DE 1989. LEI Nº 7.799/89, arts. 2º e 3º. Constitucionalidade da exigência. Recurso provido (folha 250).

Informativo 795-STF (27/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Sobreveio a protocolação de embargos de declaração, acolhidos para esclarecer que “os fundamentos para a decisão tomada são também os do
acórdão desta Turma, de 12 de março de 1992, de fl. 173, e os votos que dela fazem parte integrante” (folha 266).
No extraordinário de folha 270 a 288, interposto com alegada base na alínea “a” do permissivo constitucional, articula-se com a configuração
de ofensa ao artigo 150, inciso III, alíneas “a” e “b”, da Carta Política da República. Alude-se à inutilidade da decisão do Plenário na argüição de
inconstitucionalidade, uma vez que, na inicial, apontara-se a desarmonia com a Carta do artigo 29 da Lei nº 7.799/89, enquanto o Colegiado Maior
apreciou a matéria sob o ângulo do artigo 30, § 2º, do diploma. Insiste-se na contrariedade do artigo 29 da Lei nº 7.799/89 ao Diploma Máximo, por
olvidar os princípios da irretroatividade das leis e da anterioridade. Sustenta-se que a referida lei foi publicada no Diário de 11 de julho de 1989, não
podendo, portanto, retroagir a janeiro daquele ano, até porque o fato gerador do Imposto de Renda abrange um determinado interregno e, uma vez
iniciado este, nenhuma lei posterior poderá influir na obrigação. Afirma-se que o contribuinte conta com o direito de apurar os lucros reais e o tributo
sobre ele incidente de acordo com a legislação vigente no dia em que começado o período-base, no caso, 1º de janeiro de 1989, e que o Fisco tem a
obrigação de aferir a inflação de forma igual para todos, procedimento de resto obstado mediante o citado preceito legal, que implicou a alteração do
lucro real dos contribuintes, gerando aumento fictício.
A Fazenda Nacional apresentou as contra-razões de folha 290 a 295, defendendo que a atualização monetária da base de cálculo do tributo
“não traduz majoração do pré-existente, devendo a utilização dos critérios de atualização monetária definidos na lei se fazer nos termos e nos limites
por ela impostos”.
O Juízo primeiro de admissibilidade registrou a relevância da matéria, a ensejar o pronunciamento desta Corte (folha 297).
A Procuradoria Geral da República emitiu o parecer de folha 308 a 310, preconizando o não-conhecimento do recurso.
É o relatório.
VOTO: Os pressupostos gerais de recorribilidade foram observados. Os documentos de folhas 22 a 32, 149, 158 e 306 revelam regular a
representação processual, estando à folha 299 a guia comprobatória do preparo. Quanto à oportunidade, constata-se a publicação do acórdão
inicialmente proferido no Diário de 19 de janeiro de 1994, quarta-feira (folha 252), e, portanto, no curso das férias coletivas. Seguiram-se embargos
declaratórios em 28 imediato, sexta-feira (folha 253). O acórdão integrativo foi veiculado no Diário de 25 de maio de 1994, quarta-feira (folha 269),
vindo à balha a manifestação de inconformismo em 1º de junho seguinte, quarta-feira (folha 270).
Em jogo faz-se o disposto nos artigos 29 e 30 da Lei nº 7.799/89, que entrou em vigor em 10 de julho de 1989. Eis os textos respectivos:
Art. 29. A correção monetária de que trata esta Lei será efetuada a partir do balanço levantado em 31 de dezembro de 1988.
Art. 30. Para efeito da conversão em número de BTN, os saldos das contas sujeitas à correção monetária, existentes em 31 de janeiro
de 1989, serão atualizados monetariamente tomando-se por base o valor da OTN de NCz$ 6,92.
§ 1° Os saldos das contas sujeitas à correção monetária, atualizados na forma deste artigo, serão convertidos em número de BTN
mediante a sua divisão pelo valor do BTN de NCz$ 1,00.
§ 2° Os valores acrescidos às contas sujeitas à correção monetária, a partir de 1° de fevereiro até 30 de junho de 1989, serão
convertidos em número de BTN mediante a sua divisão pelo valor do BTN vigente no mês do acréscimo.
Esclareça-se que a Medida Provisória nº 32, de 15 de janeiro de 1989, transformada na Lei nº 7.730, de 31 de janeiro de 1989, afastou,
mediante revogação do artigo 185 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, bem como do Decreto nº 2.341, de 29 de junho de 1987, a
desindexação do balanço, o denominado Plano Verão. Eis que, fixada a correção monetária com base no valor da OTN, de NCz$ 6,92 (seis cruzados
novos e noventa e dois centavos), em junho de 1989, para efeito de determinação do lucro real – base de cálculo do imposto de renda das pessoas
jurídicas –, previu-se, no artigo 2º da Lei nº 7.799/89, a atualização monetária das demonstrações financeiras, revelando-a, o citado artigo, na forma
estabelecida em artigos seguintes. Então, dispôs-se que seria ela efetuada a partir do balanço levantado em 31 de dezembro de 1988 – artigo 29 –,
preceituando o § 2º do artigo 30 que, a partir de 1º de fevereiro, até 30 de junho de 1989, considerar-se-ia a conversão em número de BTN vigente no
mês de acréscimo. Conclui-se que a normatividade surgida ao término do primeiro semestre veio a implicar modificação substancial, refletindo no
cálculo do próprio imposto de renda. No caso, não se trata de simples atualização de tributo devido, mas da tomada de fatos surgidos sob regência
específica para dar-se a eles nova conotação jurídica.
Conforme ressaltado na inicial, o sistema reintroduzido mediante a Lei nº 7.799/89 tem repercussão no resultado da incidência do imposto
sobre a renda, dependendo, quanto à geração de saldo credor ou devedor, da relação de valores entre o ativo permanente e o patrimônio líquido. Com
a sistemática, tem-se o surgimento de renda a ser tributada, de lucro a servir de base no cálculo do imposto de renda.
Ainda que se potencialize a circunstância de, para efeito de se saber o imposto de renda devido, levar-se em conta o fechamento do balanço em
1989, o texto da Lei nº 7.799/89, a alcançar a correção monetária das demonstrações financeiras no período de 1º de fevereiro até 30 de junho de
1989, acabou por implicar a retroatividade vedada no artigo 150, inciso III, alínea “a”, da Constituição. Em suma, a recorrente sofreu os efeitos da
situação jurídica criada pela Lei nº 7.730/89, no que prevista a desindexação, com o acerto relativo ao mês de janeiro de 1989. Foi surpreendida, no
mês de junho de 1989, com a modificação substancial introduzida inicialmente pela Medida Provisória nº 68 e, depois, pela Lei de conversão nº
7.799/89, implementada a retroatividade para cobrir período de disciplina diversa, quando inexistente a correção. Atos e fatos jurídicos ocorridos
antes da lei em comento foram apanhados, em retroatividade que contraria até mesmo o objetivo maior da normatização, que é a segurança jurídica.
Não se coloca em dúvida a possibilidade constitucional da volta à indexação do balanço. O que cumpre notar é que o período coberto pelo
diploma que a afastou não poderia ser considerado, como foi, pelo § 2º do artigo 30 da Lei nº 7.799/89, gerando, sob o ângulo da retroação, situação
jurídica gravosa, porquanto surgida renda sem que diploma anterior dispusesse sobre os respectivos fatos geradores. Vale ter presente o que
asseverado na inicial:
[...]
Como a correção monetária de balanço determina indubitavelmente uma nova aquisição de renda a ser adicionada ao lucro real,
provocando como conseqüência fatal o aumento do imposto de renda a pagar, a lei que a instituiu só poderá ter eficácia no exercício seguinte
àquele em que ela foi publicada, em respeito ao princípio constitucional da anterioridade, consagrada pela nova Carta em seu art. 150, III,
“b”, in verbis:

Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:
III – Cobrar tributos:
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
Conforme salientado pela melhor doutrina – Geraldo Ataliba e Roque Antônio Carraza –, o princípio da irretroatividade da norma há de ser
perquirido e preservado no âmbito da eficácia, dos resultados provocados pelas leis. Fatos anteriores à Lei nº 7.799/89, a demonstração financeira tal
como resultante da lei revogada – nº 7.730, de 31 de janeiro de 1989 –, não podem ser apanhados por diploma a eles posterior, sob pena de solapar o
sistema voltado à preservação da segurança jurídica.

Informativo 795-STF (27/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


Há de se estabelecer distinção entre o período-base de incidência das pessoas jurídicas – de 1º de janeiro a 31 de dezembro – e a disciplina de
fatos verificados nesse interregno, devendo ser preservada a regência do momento em que hajam surgido. Esse enfoque esteve presente quando da
prolação da sentença, oportunidade na qual se afastou, por inconstitucional, a correção versada no artigo 29 da Lei nº 7.799/89 – folha 122 a 133.
Em grau de apelação, precedendo o incidente de inconstitucionalidade, o então juiz Teori Zavascki deixou explicitado no voto proferido que o
princípio da anterioridade tem como escopo maior a ciência prévia, ao contribuinte, da regência do tributo, dele não podendo ser retirado o sentido
prático e, portanto, a respectiva concretude. Sua Excelência estabeleceu, no voto de folha 164 a 169, a diferença entre os princípios da irretroatividade
e da anterioridade, assinalando que o primeiro somente é observável em relação aos tributos não alcançados pelo segundo. Em última análise,
observada a ordem natural das coisas, o sentido vernacular e técnico dos vocábulos, a anterioridade já exclui a retroação da norma. Então, proclamou
que a lei só incide sobre fatos que venham a ocorrer após a sua vigência – princípio da irretroatividade – e o tributo devido em razão de tal incidência
só pode ser cobrado a partir do exercício seguinte ao da sua publicação. Por isso, concluiu Sua Excelência que, ante o princípio da irretroatividade, a
Lei nº 7.799, de 10 de julho de 1989, não poderia ter incidência sobre a desvalorização da moeda ocorrida no período anterior à própria vigência. Em
relação a tal espaço de tempo, ter-se-ia de atentar para o texto do artigo 29 da Lei nº 7.730, de 31 de janeiro de 1989. Entendeu Sua Excelência não
pela inconstitucionalidade da Lei nº 7.799/89, mas pelo conflito, com a Carta da República, do disposto no § 2º do artigo 30 da lei, que fixou a
correção monetária incidente sobre fatos surgidos no período pretérito. Confira-se com o que se contém à folha 164 à 169.
No mais, outra foi a conclusão do Colegiado de origem ao dirimir o incidente de inconstitucionalidade. Prevaleceu a óptica do juiz Ronaldo
Ponzi que, às folhas 201 e 202, ficou assim sintetizada:
a) O princípio de irretroatividade tributária não afasta toda e qualquer retroatividade, mas, apenas, aquela que fere o direito
adquirido, que em matéria de imposto de renda se traduz em direito de se ver cobrado do referido imposto sem novas hipóteses de incidência
ou sem majorações, ocorridas após o início do período-base;
b) Na espécie, o dispositivo legal acoimado de inconstitucional não majorou o imposto de renda, mas, apenas, de forma legal e
oportuna, determinou a incidência de correção monetária, em face da inflação efetivamente ocorrida no período de 01/02/89 a 30/06/89 em
relação às demonstrações financeiras, como forma de tornar adequadas aos efeitos da inflação os respectivos valores;
c) Tal procedimento, aliás, consistente em considerar os efeitos da espiral inflacionária sobre as demonstrações financeiras, tem se
constituído em objeto de inúmeras postulações de contribuintes, no sentido de tornar realísticos os resultados obtidos pelas empresas, tese
que tem merecido integral acolhimento por parte do Poder Judiciário;
d) Convém assinalar que o dispositivo legal de que se trata manteve o mesmo critério de correção monetária existente no início do
exercício social de 1989, lastreado na variação do IPC.
Sob o ângulo lógico, o que consignado no acórdão relativo ao incidente contraria o princípio do terceiro excluído – uma coisa é ou não é. Em
se tratando de retroatividade, considerados especialmente os campos penal – quando a visão se passa, em termos de gravame, para o acusado – e
tributário – levando em conta a exacerbação do ônus para o contribuinte –, não cabe a admissão do meio-termo, distinguindo-se a gradação da
retroatividade. Há mais, entretanto. No próprio acórdão proferido, indica-se como óbice à retroatividade da norma a existência de direito adquirido.
Ora, se, até junho de 1989, esteve em vigor sistema que afastava a indexação, é possível restabelecê-la de forma retroativa, apanhar fatos verificados
no período de vigência do diploma anterior? Operada a retroatividade, não se alcança o direito adquirido do contribuinte? O que assentado pela Corte
de origem importa no desconhecimento de direito introduzido pela Lei nº 7.730, de 31 de janeiro de 1989, quando, a partir do Plano Verão, teve-se
presente o afastamento da inflação desenfreada. A citada lei, mediante o artigo 29, implicou a revogação da Lei das Sociedades Anônimas, mais
precisamente do artigo 185 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, bem como das normas de correção monetária de balanço previstas no
Decreto-Lei nº 2.341, de 29 de junho de 1987, e isso se fez não de maneira implícita, por meio de revogação tácita, mas de modo a deixar o término
da indexação estreme de dúvidas. A única ressalva contemplada ficou restrita à correção no mês de janeiro, dispondo, então, o artigo 30:
Art. 30. No período-base de 1989, a pessoa jurídica deverá efetuar a correção monetária das demonstrações financeiras de modo a
refletir os efeitos da desvalorização da moeda observada anteriormente à vigência desta Lei.
§ 1º Na correção monetária de que trata este artigo a pessoa jurídica deverá utilizar a OTN de NCz$ 6,92 (seis cruzados novos e
noventa e dois centavos).
Nesse contexto normativo, a recorrente viu surgir, no próprio patrimônio, o que assegurado pela Lei nº 7.730/89, ou seja, o término da
indexação do balanço, afastada a correção do mês de janeiro, e, vindo à balha a Lei nº 7.799, de 10 de julho de 1989, com previsão retroativa, forçoso
é concluir, como fez o relator na origem – hoje ministro do Superior Tribunal de Justiça –, Teori Zavascki, pela inconstitucionalidade do § 2º do
artigo 30 nela inserto.
É como voto na espécie, restabelecendo a concessão da segurança e consignando que, no caso, incide o princípio da anterioridade, a apanhar o
balanço do ano em que editada a lei.
*acordão pendente de publicação

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
17 a 21 de agosto de 2015

Medida Provisória nº 688, de 18.8.2015 - Dispõe sobre a repactuação do risco hidrológico de geração de energia
elétrica, institui a bonificação pela outorga e altera a Lei n o 10.848, de 15 de março de 2004, que dispõe sobre a
comercialização de energia elétrica, a Lei no 12.783, 11 de janeiro de 2013, que dispõe sobre as concessões de energia
elétrica, e a Lei no 9.478, de 6 de agosto de 1997, que institui o Conselho Nacional de Política Energética. Publicada no
DOU, Seção 1, Edição Extra, p.2, em 18.8.2015.

Informativo 795-STF (27/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 5326 MC/DF; ADI 4983/CE.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS FUNDAMENTAIS
 Imposição de obras emergenciais em estabelecimento prisional.

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS FUNDAMENTAIS
Imposição de obras emergenciais em estabelecimento prisional

Importante!!!
É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na
promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais
para dar efetividade ao postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o
respeito à sua integridade física e moral, nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF, não
sendo oponível à decisão o argumento da reserva do possível nem o princípio da separação
dos poderes.
STF. Plenário. RE 592581/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 13/8/2015 (Info 794).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O presídio estadual localizado no Município de Uruguaiana (RS) encontrava-se em situação precária, com
as suas instalações em péssimas condições.
Diante disso, o Promotor de Justiça ingressou com ação civil pública contra o Estado do Rio Grande do Sul
pedindo que fosse realizada uma reforma geral no referido estabelecimento prisional.
A Fazenda Pública, por intermédio da Procuradoria Geral do Estado, apresentou contestação afirmando
que o pedido formulado pelo Ministério Público não poderia ser atendido porque violaria:
a) o princípio da separação dos poderes: já que o Poder Judiciário não pode intervir nas decisões
administrativas do Poder Executivo;
b) o princípio da reserva do possível: considerando que os recursos são limitados e as necessidades
ilimitadas, de forma que não há condições financeiras de o Estado atender a todas as demandas sociais.

Informativo 794-STF (19/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


A questão chegou até o STF. O que foi decidido? O Poder Judiciário pode determinar que o Poder
Executivo realize a reforma de presídio que se encontra em péssimas condições?
SIM. É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na
promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar
efetividade ao postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua
integridade física e moral, nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF/88, não sendo oponível à
decisão o argumento da reserva do possível nem o princípio da separação dos poderes.

Dignidade da pessoa humana


A pena deve ter caráter de ressocialização e esse objetivo não é atingido se o condenado está submetido a
condições sub-humanas.
É possível constatar que o sistema carcerário brasileiro encontra-se em quadro de total falência, sendo
cada dia mais frequentes as notícias envolvendo sevícias (maus-tratos), torturas, execuções sumárias,
revoltas, superlotação, condições precárias de higiene, entre outros problemas crônicos.
Esse evidente caos institucional compromete a efetividade do sistema prisional como instrumento de
reabilitação social.
Diante disso, percebe-se um desrespeito total ao postulado da dignidade da pessoa humana e um
processo de coisificação dos presos.
Dessa forma, cabe ao Judiciário intervir para que as garantias constitucionais dos presos sejam
asseguradas. No caso, os direitos fundamentais em discussão não são normas meramente programáticas,
devendo ser imediatamente implementadas.
A situação atual dos presídios brasileiros viola não apenas normas constitucionais e infraconstitucionais
internas como também normas internacionais que o Brasil se comprometeu a respeitar, como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos,
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, entre outros.
Deve-se destacar, ainda, que, em consequência da reiterada violação aos direitos humanos dos presos no
Brasil, já foram ajuizados contra o País diversos processos perante a Comissão e a Corte Interamericana de
Direitos Humanos. Dentre eles, o de maior repercussão é aquele que envolve a denúncia de mortes e
maus-tratos de detentos no Presídio José Mário Alves da Silva, conhecido como Urso Bra co , situado e
Porto Velho/RO.

Separação dos poderes


Não há que se falar em violação à separação dos poderes porque não se está determinando a
implementação de políticas públicas na seara carcerária. O que se está fazendo é garantir direitos
fundamentais dos presos, o que não poderia ser negado pelo Poder Judiciário diante do princípio da
inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF/88).
Ressalte-se que o Poder Judiciário não poderá intervir em todas as situações em que direitos fundamentais
sejam ameaçados. O juiz só poder intervir nas situações em que fique demonstrado u ão fazer
comissivo ou omissivo por parte das autoridades estatais que coloque em risco, de maneira grave e
iminente, os direitos dos jurisdicionados.
O magistrado não deve substituir o gestor público, mas pode compeli-lo (obrigá-lo) a cumprir o programa
constitucional vinculante, especialmente quando se trata de preservar a dignidade da pessoa humana.
A judicialização não substitui a política, mas há exceções, como no caso, em que se trata de proteger os
direitos de uma minoria sem direitos políticos, sem capacidade de vocalizar as próprias pretensões.

Reserva do possível
A cláusula da reserva do possível somente seria oponível se ficasse demonstrado objetivamente, pelo
Poder Público, um justo motivo para não realizar o mandamento constitucional.
Ademais, não cabe falar em falta de recursos, tendo em vista que o Fundo Penitenciário Nacional dispõe
de verbas da ordem de R$ 2,3 bilhões, e para usá-los basta que os entes federados apresentem projetos e
firmem convênios para realizar obras. Desse modo, o que falta é vontade para a implementação das
políticas e para enfrentar o problema.
Informativo 794-STF (19/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2
OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DO D JE
10 a 14 de agosto de 2015

AG. REG. NOS EMB. DIV. NOS EMB. DECL. NO AG. REG. NO ARE N. 845.201-RS
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
E M E N T A: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA – DESCUMPRIMENTO, PELA PARTE EMBARGANTE, DO DEVER PROCESSUAL DE
PROCEDER AO CONFRONTO ANALÍTICO DETERMINADO NO ART. 331 DO RISTF – SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL –
COMPETÊNCIA NORMATIVA PRIMÁRIA (CF/69, ART. 119, § 3º, “c”) – POSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL, SOB A ÉGIDE DA CARTA
FEDERAL DE 1969, DE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL DISPOR, EM SEDE REGIMENTAL, SOBRE NORMAS DE DIREITO
PROCESSUAL – RECEPÇÃO, PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988, DE TAIS PRECEITOS REGIMENTAIS COM FORÇA E EFICÁCIA DE
LEI (RTJ 147/1010 – RTJ 151/278) – PLENA LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO ART. 331 DO RISTF – RECURSO DE AGRAVO
IMPROVIDO.
– A parte embargante, sob pena de recusa liminar de processamento dos embargos de divergência – ou de não conhecimento destes, quando já
admitidos – deve demonstrar, de maneira objetiva, mediante análise comparativa entre o acórdão paradigma e a decisão embargada, a existência
do alegado dissídio jurisprudencial, impondo-se-lhe reproduzir, na petição recursal, para efeito de caracterização do conflito interpretativo, os
trechos que configurariam a divergência indicada, mencionando, ainda, as circunstâncias que identificariam ou que tornariam assemelhados os
casos em confronto. Precedentes.
– O Supremo Tribunal Federal, sob a égide da Carta Política de 1969 (art. 119, § 3º, “c”), dispunha de competência normativa primária para, em
sede meramente regimental, formular normas de direito processual concernentes ao processo e ao julgamento dos feitos de sua competência
originária ou recursal. Com a superveniência da Constituição de 1988, operou-se a recepção de tais preceitos regimentais, que passaram a
ostentar força e eficácia de norma legal (RTJ 147/1010 – RTJ 151/278), revestindo-se, por isso mesmo, de plena legitimidade constitucional a
exigência de pertinente confronto analítico entre os acórdãos postos em cotejo (RISTF, art. 331).

REFERENDO EM MED. CAUT. EM ADPF N. 341-DF


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. ADPF. NOVAS REGRAS REFERENTES AO FUNDO DE FINANCIAMENTO AO ESTUDANTE DO ENSINO SUPERIOR -
FIES. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO RETROATIVA. LIMINAR REFERENDADA.
1. O art. 3º da Portaria Normativa MEC nº 21/2014 alterou a redação do art. 19 da Portaria Normativa MEC nº 10/2010, passando a exigir média
superior a 450 pontos e nota superior a zero nas redações do ENEM, como condição para a obtenção de financiamento de curso superior junto ao
Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior - FIES.
2. O art. 12 da Portaria Normativa MEC nº 21/2014 previu que as novas exigência entrariam em vigor apenas em 30.03.2015, muito embora as
inscrições para o FIES tenham se iniciado em 23.02.2015, conforme Portaria Normativa nº 2/2015. Previu-se, portanto, uma norma de transição entre
o antigo e o novo regime jurídico aplicável ao FIES, possibilitando-se que, durante o prazo da vacatio legis, os estudantes se inscrevessem no sistema
com base nas normas antigas.
3. Plausibilidade jurídica da alegação de violação à segurança jurídica configurada pela possibilidade de ter ocorrido aplicação retroativa da norma
nova, no que respeita aos estudantes que: (i) já dispunham de contratos celebrados com o FIES e pretendiam renová-los; (ii) requereram e não
obtiveram sua inscrição no FIES, durante o prazo da vacatio legis, com base nas regras antigas. Perigo na demora configurado, tendo em vista o
transcurso do prazo para renovação dos contratos, bem como em razão do avanço do semestre letivo.
4. Cautelar referendada para determinar a não aplicação da exigência de desempenho mínimo no ENEM em caso de: (i) renovações de contratos de
financiamento; (ii) novas inscrições requeridas até 29.03.2015.
5. Indeferimento da cautelar no que respeita aos demais estudantes que requereram seu ingresso no FIES em 2015, após 29.03.2015, aos quais devem
ser aplicadas as novas normas.
*noticiado no Informativo 787
EMB. DECL. NA ADI N. 3.106-MG
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 79 e 85 DA LEI
COMPLEMENTAR N. 64, DE 25 DE MARÇO DE 2002, DO ESTADO DE MINAS GERAIS. REDAÇÃO ALTERADA PELA LEI
COMPLEMENTAR N. 70, DE 30 DE JULHO DE 2003. REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA E ASSITÊNCIA SOCIAL
DOS SERVIDORES DO ESTADO DE MINAS GERAIS. APOSENTADORIA E BENEFÍCIOS ASSEGURADOS A SERVIDORES NÃO-
TITULARES DE CARGO EFETIVO. ALEGADA VIOLAÇÃO AOS ARTIGOS 40, §13, E 149, §1º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
AÇÃO DIRETA JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE, DECLARANDO-SE INCONSTITUCIONAIS AS EXPRESSÕES
“COMPULSORIAMENTE” e “DEFINIDOS NO ART. 79”. INEXISTÊNCIA DE “PERDA DE OBJETO” PELA REVOGAÇÃO DA
NORMA OBJETO DE CONTROLE. PRETENSÃO DE MODULAÇÃO DE EFEITOS. PROCEDÊNCIA. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO ACOLHIDOS PARCIALMENTE.
1. A revogação da norma objeto de controle abstrato de constitucionalidade não gera a perda superveniente do interesse de agir, devendo a Ação
Direta de Inconstitucionalidade prosseguir para regular as relações jurídicas afetadas pela norma impugnada. Precedentes do STF: ADI nº 3.306, rel.
Min. Gilmar Mendes, e ADI nº 3.232, rel. Min. Cezar Pelluso.
2. A modulação temporal das decisões em controle judicial de constitucionalidade decorre diretamente da Carta de 1988 ao consubstanciar
instrumento voltado à acomodação otimizada entre o princípio da nulidade das leis inconstitucionais e outros valores constitucionais relevantes,
notadamente a segurança jurídica e a proteção da confiança legítima, além de encontrar lastro também no plano infraconstitucional (Lei nº 9.868/99,
art. 27). Precedentes do STF: ADI nº 2.240; ADI nº 2.501; ADI nº 2.904; ADI nº 2.907; ADI nº 3.022; ADI nº 3.315; ADI nº 3.316; ADI nº 3.430;
ADI nº 3.458; ADI nº 3.489; ADI nº 3.660; ADI nº 3.682; ADI nº 3.689; ADI nº 3.819; ADI nº 4.001; ADI nº 4.009; ADI nº 4.029.

Informativo 794-STF (19/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


3. In casu, a concessão de efeitos retroativos à decisão do STF implicaria o dever de devolução por parte do Estado de Minas Gerais de contribuições
recolhidas por duradouro período de tempo, além de desconsiderar que os serviços médicos, hospitalares, odontológicos, sociais e farmacêuticos
foram colocados à disposição dos servidores estaduais para utilização imediata quando necessária.
4. Embargos de declaração acolhidos parcialmente para (i) rejeitar a alegação de contradição do acórdão embargado, uma vez que a revogação parcial
do ato normativo impugnado na ação direta não prejudica o pedido original; (ii) conferir efeitos prospectivos (eficácia ex nunc) à declaração de
inconstitucionalidade proferida pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento de mérito da presente ação direta, fixando como marco temporal de
início da sua vigência a data de conclusão daquele julgamento (14 de abril de 2010) e reconhecendo a impossibilidade de repetição das contribuições
recolhidas junto aos servidores públicos do Estado de Minas Gerais até a referida data.
*noticiado no Informativo 786
AG. REG. NA AC N. 2.946-PI
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CAUTELAR. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. FINANCEIRO. INSCRIÇÃO
DE ESTADO-MEMBRO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. ATOS DECORRENTES DE
GESTÕES ANTERIORES. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA SUBJETIVA DAS SANÇÕES. PRECEDENTES.
INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO COLEGIADO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. O princípio da intranscendência subjetiva das sanções, consagrado pela Corte Suprema, inibe a aplicação de severas sanções às administrações por
ato de gestão anterior à assunção dos deveres Públicos. Precedentes: ACO 1.848-AgR, rel. Min. Celso Mello, Tribunal Pleno, DJe de 6/11/2014;
ACO 1.612-AgR, rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe de 12/02/2015.
2. É que, em casos como o presente, o propósito é de neutralizar a ocorrência de risco que possa comprometer, de modo grave e/ou irreversível, a
continuidade da execução de políticas públicas ou a prestação de serviços essenciais à coletividade.
3. A tomada de contas especial é medida de rigor com o ensejo de alcançar-se o reconhecimento definitivo de irregularidades, permitindo-se, só então,
a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao crédito organizados e mantidos pela União. Precedentes: ACO 1.848-AgR, rel. Min. Celso Mello,
Tribunal Pleno, DJe de 6/11/2014; AC 2.032, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe de 20/03/2009.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
*noticiado no Informativo 794
AG. REG. NO RE N 893.234-PR
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO DO CONSUMIDOR. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. DEBATE DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL.
EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ARTIGO 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
NULIDADE. INOCORRÊNCIA. RAZÕES DE DECIDIR EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO JURISDICIONAL. REELABORAÇÃO DA
MOLDURA FÁTICA CONSTANTE DO ACÓRDÃO REGIONAL. IMPOSSIBILIDADE. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM
05.3.2015.
1. Inexiste violação do artigo 93, IX, da Lei Maior. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o referido dispositivo
constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional, das razões do seu convencimento, dispensando o exame detalhado de cada argumento
suscitado pelas partes.
2. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, XXXV, XXXVI, e LV, da Constituição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida a matéria à
apreciação desta Suprema Corte, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à competência
jurisdicional extraordinária, prevista no art. 102 da Magna Carta.
3. Divergir da conclusão da Corte Regional exigiria a reelaboração da moldura fática delineada no acórdão da origem, procedimento vedado em sede
extraordinária. Aplicação da Súmula 279/STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.”
4. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
5. Agravo regimental conhecido e não provido.
EMB. DECL. NOS EMB. DECL. NOS EMB. DECL. NO AG. REG. NA Rcl N 5.698-SP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO
REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. AUSÊNCIA DE QUALQUER DOS VÍCIOS PREVISTOS NO ART. 535 DO CPC. TENTATIVA DE
MERA REDISCUSSÃO DO QUE JÁ UNANIMEMENTE DECIDIDO NO ACÓRDÃO EMBARGADO. VÍNCULO DE NATUREZA
CELETISTA. CAUSA DE PEDIR FUNDAMENTADA EM CONTRATO DE TRABALHO E NA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. INAPLICABILIDADE, IN CASU, DO QUE DECIDIDO NA ADI 3.395/MC.
INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO JURÍDICO-ADMINISTRATIVO. NÃO CONHECIMENTO. APLICAÇÃO DE MULTA. ARTIGO 538,
PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NÃO CONHECIDOS.
1. O inconformismo que tem como real escopo a pretensão de reformar o decisum não pode prosperar, porquanto inocorrentes as hipóteses de
omissão, contradição, obscuridade ou erro material, sendo inviável a revisão da decisão em sede de embargos de declaração, em face dos estreitos
limites do art. 535 do CPC.
2. In casu, os embargos de declaração demonstram mera tentativa de rediscussão do que foi decidido pelo acórdão embargado, inobservando o
embargante que os restritos limites desse recurso não permitem o rejulgamento da causa.
3. É competente a Justiça do Trabalho para julgar ação que envolva o Poder Público e o trabalhador regido pela Consolidação das Leis do Trabalho.
Precedentes: ARE 859.365-AgR, rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, DJe de 13/4/2015; ARE 846.036-AgR, rel. Min. Luiz Fux, Primeira
Turma, DJe de 14/4/2015; Rcl 16.458-AgR, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe de 9/9/2014; Rcl 16.893-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli,
Primeira Turma, DJe de 10/10/2014; Rcl 8.406-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, DJe de 29/5/2014.
4. A competência da Justiça Comum, em confronto com a da Justiça do Trabalho, em casos em que envolvido o Poder Público, reclama a análise da
natureza do vínculo jurídico existente entre o trabalhador – termo aqui tomado em sua acepção ampla - e o órgão patronal: se de natureza jurídico-
administrativa o vínculo, a competência fixa-se como da Justiça Comum; se de natureza celetista, a competência é da Justiça Trabalhista.
5. In casu, diante da natureza celetista do vínculo estabelecido entre as partes, é de se assentar a competência da Justiça do Trabalho.
6. Embargos de declaração não conhecidos.

Acórdãos Publicados: 431

Informativo 794-STF (19/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Saída temporária e decisão judicial (Transcrições)


(v. Informativo 793)
HC 128.763/RJ*
RELATOR: Ministro Gilmar Mendes
Habeas corpus. Direito Penal. Processo Penal. Execução penal. Saída temporária. Visita periódica à família. 2. Um único ato judicial que
analisa o histórico do sentenciado e estabelece um calendário de saídas temporárias, com a expressa ressalva de que as autorizações poderão
ser revistas em caso de cometimento de falta, é suficiente para fundamentar a saída mais próxima e as futuras. A decisão única permite
participação suficiente do Ministério Público, que poderá falar sobre seu cabimento e, caso alterada a situação fática, pugnar por sua revisão. 3.
Ameaça concreta de lesão ao direito do paciente. Dificuldades operacionais na Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro. Muito
provavelmente, se cada condenado tiver que solicitar cada saída, muitas serão despachadas apenas após perderem o objeto. 4. Ordem
concedida. Expedição do ofício ao Conselho Nacional de Justiça, ao Presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e à Corregedoria-
Geral de Justiça do Rio de Janeiro, para que avaliem e tomem providências quanto à situação da execução penal no Estado do Rio de Janeiro.
5. Expedição de ofício ao Superior Tribunal de Justiça e à Procuradoria-Geral de Justiça do Rio de Janeiro, dando notícia do julgamento.

RELATÓRIO: Trata-se de habeas corpus , com pedido de medida liminar, impetrado pela Defensora Pública do Estado do Rio de Janeiro **, em
favor de **, contra acórdão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que negou provimento ao Agravo Regimental no Agravo em
Recurso Especial 1.444.825/RJ.
O paciente cumpre pena privativa de liberdade em regime semiaberto.
A defesa requereu o benefício de visita periódica à família, nos termos dos arts. 122, inciso I, e 123 da LEP. O requerimento foi deferido. No
despacho, o Juiz fixou, desde logo, calendário com as saídas autorizadas (duas mensais, além de aniversário, páscoa, dia das mães e dos pais, natal e
ano novo).
Irresignado, o Ministério Público interpôs agravo ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, o qual negou provimento ao recurso.
Em seguida, interpôs recurso especial.
A 3ª Vice-Presidência do TJ/RJ, nos termos do artigo 543-C, § 7º, inciso II, do CPC, determinou a remessa dos autos à Câmara de origem, para
reexame da matéria, à luz de acórdão relativo ao recurso-paradigma, e eventual exercício do juízo de retratação ou manutenção do pronunciamento
divergente.
O órgão fracionário manteve seu entendimento. Eis o teor:
“AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. HIPÓTESE ESTABELECIDA NO ARTIGO 543-C,
PARÁGRAFO 7º, INCISO II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
Autos encaminhados pela Terceira Vice-Presidência para reexame da questão, à luz de acórdão relativo ao recurso paradigma.
Eventual exercício do juízo de retratação ou manutenção do pronunciamento divergente. Visita periódica ao lar. Inconformismo relacionado
à forma de fruição do benefício e deferimento automático de saídas temporárias. Acórdão paradigma - REsp n. 1.166.251/RJ - no sentido da
impossibilidade de delegação de função jurisdicional ao administrador do presídio. Entendimento desta Câmara Criminal no sentido de que o
Juízo executório pode conferir ao apenado saídas temporárias anuais para visitação familiar, de forma automática.
Manutenção do pronunciamento deste Órgão fracionário no julgamento do Agravo de Execução Penal em apreço. Sem desconhecer o
teor e os fundamentos da decisão emanada do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do recurso especial representativo da
controvérsia, decidiu-se pela confirmação da decisão proferida pelo Juízo executório, que atende aos objetivos da execução penal, expressos
no artigo 1º da Lei de Execução Penal.
Juízo de retratação não exercido. Devolução dos autos à 3ª Vice-Presidência, na forma do artigo 4º, parágrafo 2º, inciso III, alínea ‘a’
da Resolução TJ/3ª Vice-Presidência n. 03/2009”.
O Superior Tribunal de Justiça, a seu turno, deu provimento ao recurso especial do Ministério Público para cassar o acórdão recorrido e a
decisão que deferiu saídas temporárias automatizadas.
Impugnou-se a decisão por meio de agravo regimental, ao qual foi negado provimento, nos termos do acórdão assim ementado:
“EXECUÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL OFERTADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. SAÍDA
TEMPORÁRIA. CONCESSÃO AUTOMÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Ao julgar sob o rito de ‘recurso repetitivo’ (CPC, art. 543-C) o Recurso Especial n. 1.166.251/RJ, decidiu a Terceira Seção desta
Corte que ‘deve ser afastada a concessão de saídas automatizadas, para que haja manifestação motivada do Juízo da Execução, com
intervenção do Ministério Público, em cada saída temporária’ (Rel. Ministra Laurita Vaz, julgado em 14/03/2012).
2. Agravo regimental desprovido”.
Opostos embargos de declaração, estes foram rejeitados.
No presente habeas corpus, a defesa alegou a ocorrência de violação aos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da
duração razoável do processo. Sustentou que o pedido do benefício de saída temporária levou quase 2 (dois) meses para ser deferido, razão pela qual
se, para cada saída for preciso novo requerimento, o trâmite processual não apenas se prolongará de forma demasiada e desnecessária, como também
será suprimido o direito de o apenado visitar sua família na forma estabelecida pela Lei de Execuções Penais. Pleiteou a concessão da ordem para
restabelecer a decisão da Vara de Execuções Penais que concedeu ao paciente autorização de saída temporária.
A medida liminar foi indeferida (eDOC 22).

Informativo 794-STF (19/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Em parecer da Subprocuradora-Geral da República Deborah Macedo Duprat de Britto Pereira, o Ministério Público opinou pela concessão da
ordem (eDOC 23).
É o relatório.
VOTO: Como se sabe, o mandado de segurança desenvolveu-se entre nós, a partir da Constituição de 1934, fortemente inspirado na doutrina
brasileira do habeas corpus. Sob a Constituição de 1988 institui-se, ao lado da modalidade individual, o mandado de segurança coletivo - art. 5º,
LXX. O STF entendeu que, pela semelhança entre as ações, também são aplicáveis ao mandado de injunção as regras da modalidade coletiva. Faço
essas considerações para, uma vez mais, defender que, em casos com a configuração destes autos - identidade de lesão à liberdade de locomoção de
significativo número de pessoas - se reconheça a viabilidade de impetração coletiva também em sede de habeas corpus.
Dito isso, passo à análise do processo em julgamento, limitando-me, como requerido na impetração, à hipótese do paciente.
O caso trata da possibilidade de o Juiz de execuções penais deferir a saída temporária em uma única decisão, válida para diversas saídas.
A saída temporária sem vigilância direta é um benefício destinado aos sentenciados que cumprem pena em regime semiaberto, na forma do art.
122 da Lei 7.210/84. Autoriza-se que o preso saia e, se for o caso, pernoite, fora do estabelecimento prisional, para visitar a família, estudar ou
participar de outras atividades, com intuito de reintegrá-lo ao convívio social.
Conforme o art. 123 da Lei 7.210/84, a autorização deve ser concedida “por ato motivado”, ouvidas as partes e a administração carcerária.
O Superior Tribunal de Justiça interpretou esse dispositivo em recurso especial representativo da controvérsia, no sentido de que deve haver
“manifestação motivada do Juízo da Execução, com intervenção do Ministério Público, em cada saída temporária”- REsp 1.166.251/RJ, Rel. Ministra
Laurita Vaz, Terceira Seção, julgado em 14.3.2012.
Desse julgamento, resultou que o Juiz não pode fixar calendário prévio de saídas temporárias, deixando sua fiscalização ao administrador
prisional.
Esse é um dos precedentes que levou à adoção da Súmula 520 daquela Corte:
“O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade
administrativa do estabelecimento prisional”.
A Corte entendeu que, na medida em que o art. 123 da Lei 7.210/84 determina que a autorização deve ser concedida “por ato motivado”, cada
saída autorizada deve ser singularmente motivada, com base no histórico do sentenciado até então.
Não vislumbro essa necessidade. Um único ato judicial que analisa o histórico do sentenciado e estabelece um calendário de saídas
temporárias, com a expressa ressalva de que as autorizações poderão ser revistas em caso de cometimento de falta pelo sentenciado, é suficiente para
fundamentar a saída mais próxima e as futuras.
Por um lado, a decisão avalia a situação contemporânea, deixando claro que a saída mais próxima é recomendável. Por outro, projeta que, se
não houver alteração fática, as saídas subsequentes também serão recomendáveis.
A expressa menção às hipóteses de revisão deixa claro às partes que, caso surja incidente, ele será apreciado, podendo levar à revogação da
autorização.
Ressalto que, em situações ordinárias, os requisitos das saídas são os mesmos, independentemente da estação do ano em que elas ocorrem. A
saída do natal não tem requisitos mais brandos do que a saída da páscoa, por exemplo. Não há razão funcional para afirmar que, uma única decisão
que a ambas contemple, é deficiente de motivação.
A decisão única também permite a participação suficiente do Ministério Público, que poderá falar sobre seu cabimento e, caso alterada a
situação fática, pugnar por sua revisão.
Pode-se argumentar que a decisão do Superior Tribunal de Justiça não afeta diretamente direito do sentenciado. De fato, se o Juízo das
execuções penais determinar saídas temporárias em várias decisões sucessivas, ao invés de em única decisão, a situação do preso será a mesma.
No entanto, a realidade da execução penal demonstra que esse tipo de decisão coloca em risco o direito do sentenciado ao benefício.
A força de trabalho das varas de execuções penais é um recurso escasso, que precisa ter sua eficiência maximizada. Na medida em que as
decisões podem ser concentradas sem perda substancial de qualidade, é recomendável que assim se faça.
Se a força de trabalho não for usada com eficiência, é provável que os pedidos de autorização de saída só sejam apreciados após a data da saída
pretendida.
Registro que negligenciar a observância da economia processual nas autorizações de saída pode gerar reflexo inclusive na superlotação
carcerária.
As vagas no sistema prisional também são um recurso escasso, diretamente administrado pelos Juízes. Extinção de pena, progressão de regime,
livramento condicional, são judicialmente concedidos e abrem vagas no sistema.
Ressalto que o projeto de reforma da Lei de Execução Penal, PLS 513/2013, autor Senador Renan Calheiros, relator Senador Eunício Oliveira,
prevê a utilização de tecnologia da informação para que os benefícios na execução sejam automatizados. Despacho judicial somente será necessário
para negá-los.
Além disso, há precedente da 1ª Turma do STF no sentido da viabilidade da programação de várias saídas em uma única decisão, na medida
em que, estando presentes os requisitos da primeira, “as subsequentes mostram-se consectário legal, descabendo a burocratização a ponto de, a cada
uma delas (…), ter-se que formalizar novo processo” - HC 98.067, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 6.4.2010.
De tudo concluo que o Juiz de execuções penais pode deferir a saída temporária em uma única decisão, válida para diversas saídas, sem violar
o dever de fundamentação ou prerrogativa do Ministério Público. Pelo contrário, a análise individual de cada saída pode colocar em risco o direito do
sentenciado ao benefício.
No caso dos autos, o Juiz das execuções penais deferiu autorizações de saída, para visita periódica à família. No despacho, fixou, desde logo,
calendário com as saídas autorizadas (duas mensais, além de aniversário, páscoa, dia das mães e dos pais, natal e ano novo).
O Estado do Rio de Janeiro concentra suas execuções penais em uma única Vara, na capital. Essa Vara processa todas as execuções penais,
sejam de penas privativas de liberdade, restritivas de direito, ou medidas de segurança, na capital e interior do Estado.
O relatório do mutirão carcerário promovido pelo CNJ no período de 26.10.2011 a 16.12.2011, apontou diversas dificuldades operacionais na
serventia, ressaltando a demora no cumprimento dos atos de ofício.
Especificamente quanto à tramitação de expedientes para concessão de benefícios aos apenados, foi consignado o sistêmico atraso, nos
seguintes termos:
“Há na VEP/RJ excessiva demora em analisar os direitos possivelmente concedidos por lei aos apenados. A tramitação de remessa à
Defensoria Pública, retorno do Ministério Público, cumprimento de diligências requeridas, novo retorno ao Ministério Público, eventual novo retorno
à Defensoria e, finalmente, conclusão ao juiz para a decisão faz com que haja o transcurso de vários e vários meses entre o atingimento do lapso
(requisito objetivo para o benefício) e sua efetiva concessão”.
Em conclusão, o relatório apontou diversas recomendações, dentre elas a instalação de pelo menos duas novas varas de execuções.
Até o momento, não foram instaladas novas serventias. Aparentemente, os problemas não foram resolvidos de outra forma. O Jornal O Globo,
de 10.8.2014, noticia que cinco juízes lotados na Vara de Execuções supervisionam trinta e dois estabelecimentos prisionais e têm acervo de 110.000
(cento e dez mil) processos sob sua responsabilidade. A publicação ressalta o atraso na análise de benefícios dos sentenciados e a redução do número
de servidores na lotação.

Informativo 794-STF (19/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Para este mês de agosto, o site do TJRJ dá conta da realização de mutirão local, para reavaliação da situação de mais de dez mil presos do
regime semiaberto.
E é nesse cenário de insuficiência que a questão deve ser considerada.
A impetrante relata que a Vara profere cerca de 1.000 (mil) decisões de saída temporária por ano, cada uma contemplando 35 (trinta e cinco)
saídas. Se um novo pedido fosse necessário para cada saída, seriam necessárias 35.000 (trinta e cinco mil) decisões para obter o mesmo resultado.
Disso resulta que, muito provavelmente, se cada condenado tiver que solicitar cada saída, muitas serão despachadas apenas após perderem o
objeto. E, ainda mais grave, é de se esperar que vários requerimentos sequer sejam apresentados, perdendo os condenados benefício que lhes
assistiria.
Está presente, portanto, a ameaça concreta de lesão ao direito do paciente.
Ante o exposto, concedo a ordem, para restabelecer a decisão do Juízo das Execuções penais que concedeu autorização de saída temporária
para visita periódica à família.
Outrossim, proponho a expedição do ofício ao Presidente do Conselho Nacional de Justiça, ao Presidente do Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro e ao Corregedor-Geral de Justiça do Rio de Janeiro, para que avaliem e tomem providências quanto à situação da execução penal no Estado do
Rio de Janeiro.
Por fim, proponho a expedição de ofício ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça e à Procuradoria-Geral de Justiça do Rio de Janeiro,
dando notícia do julgamento.
* acórdão pendente de publicação
** nomes suprimidos pelo Informativo

OUTRAS INFORMAÇÕES
10 a 14 de agosto de 2015

Decreto nº 8.499, de 12.8.2015 - Altera o Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999, que aprova o Regulamento da
Previdência Social. Publicado no DOU nº 154, Seção 1, p.1, em 13.8.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 794-STF (19/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
SL 883 MC-AgR/RS; ADI 4764/AC; ADI 4747/DF; RE 855178 ED/SE; RE 600867/SP.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto:RE 188083/PR; ACO 478/TO; ADI 3711/ES; HC 112382/RS.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM A CF/88
 CE pode proibir que servidores estaduais substituam trabalhadores privados em greve.

PROCESSO LEGISLATIVO
 Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo e pertinência temática.

TRIBUNAL DE CONTAS
 Análise de aposentadoria e gratificação recebida por força de decisão judicial transitada em julgado.

DIREITO ADMINISTRATIVO
PODER DE POLÍCIA
 Poder de polícia de trânsito e guardas municipais.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL


CONCURSO PÚBLICO
 “e ve tias judi iais dispo íveis as ue esteja su judi e

DIREITO PENAL
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
 Aplicação em caso de reincidência e furto qualificado.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA
 Ressarcimento do prejuízo em acordo homologado no juízo cível e sua repercussão no processo criminal.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


EXECUÇÃO PENAL
 Calendário de saídas temporárias (saídas temporárias automatizadas).

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 1


DIREITO CONSTITUCIONAL
NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM A CF/88
CE pode proibir que servidores estaduais substituam trabalhadores privados em greve

CE estadual pode prever que é proibido que os servidores estaduais substituam trabalhadores
de empresas privadas em greve.
STF. Plenário. ADI 232/RJ, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 5/8/2015 (Info 793).

Constituição do Estado do Rio de Janeiro


A CE/RJ previu, em seu art. 77, XXIII, o seguinte:
Art. 77. A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes do Estado e dos
Municípios, obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, interesse
coletivo e, também, ao seguinte:
(...)
XXIII - ressalvada a legislação federal aplicável, ao servidor público estadual é proibido substituir, sobre
qualquer pretexto, trabalhadores de empresas privadas em greve.

ADI
O Governador do Estado do RJ, na época, ajuizou ADI contra esse inciso XXIII afirmando que ele seria
inconstitucional porque tratou sobre servidores públicos, invadindo nas matérias de competência do
Poder Executivo sem que a CF/88 tivesse dado essa autorização, já que não há, na Carta Federal, nenhum
dispositivo semelhante que pudesse ser aplicado por simetria para a Carta Estadual.

A tese do autor está correta? A previsão da CE/RJ é inconstitucional?


NÃO. O STF julgou improcedente a ADI e afirmou que o dispositivo da CE/RJ é constitucional.
Realmente, a CF/88 traz regras básicas (regras gerais) sobre o processo legislativo prevendo que
determinadas matérias serão de competência privativa do chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º). Tais
normas devem ser obrigatoriamente respeitadas pelas Constituições estaduais, conforme exige o art. 25:
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição.

Oàa t.à ,à§à º,àII,à a eà e , da CF/88, afirma que a competência para legislar sobre o funcionamento da
administração pública é do chefe do Poder Executivo. Tais matérias não podem nem mesmo ser tratadas
na CE porque devem ser propostas pelo chefe do Poder Executivo em leis de sua iniciativa.
Até aí, tudo, bem. O STF afirmou, no entanto, que isso não significa que as Constituições estaduais estão
inteiramente proibidas de tratarem sobre o funcionamento da Administração local. Isso também não
significa que as Constituições estaduais tenham que sempre repetir as mesmas regras da CF/88, não
podendo inovar em nada.
As Constituições estaduais podem tratar sobre o funcionamento da Administração estadual desde que
cumpridos alguns requisitos:
a) as regras de reserva de iniciativa devem ser respeitadas (ex: não pode haver violação ao art. 61, § 1º
da CF/88); e
b) o parlamento local não pode retirar do Governador alguma competência legítima que ele possua.
No caso concreto, o inciso XXIII do art. 77 da CE/RJ proíbe que servidor público estadual seja designado
para substituir trabalhadores de empresas privadas em greve. Embora o preceito esteja relacionado ao
funcionamento da Administração local, ele não invade o campo de discricionariedade política que a
Constituição Federal reserva, com exclusividade, à iniciativa do Governador. Em outras palavras, ele não
trata diretamente de nenhuma das matérias do art. 61, § 1º da CF/88. Além disso, essa regra não viola
nenhum outro dispositivo da CF/88. Assim, essa previsão não apresenta nenhum vício formal.
Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 2
A regra imposta pela CE/RJ coíbe o desvio de função que poderia ser utilizado como forma de frustrar o
direito de greve dos trabalhadores da iniciativa privada. Dessa feita, a Constituição estadual apenas tornou
expresso em seu texto um comportamento administrativo que já proibido pela CF/88.

Vale ressaltar que, segundo apontou o Min. Teori Zavascki, a previsão da CE/RJ não proíbe o deslocamento
de servidores estaduais para o exercício temporário de funções alheias aos correspondentes cargos, desde
que presente uma situação emergencial e isso sejafeito em benefício da Administração.

PROCESSO LEGISLATIVO
Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivoe pertinência temática

A iniciativa de competência privativa do Poder Executivo não impede a apresentação de


emendas parlamentares, presente a identidade de matéria e acompanhada da estimativa de
despesa e respectiva fonte de custeio.
Assim, é possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada
ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas originalmente previstas (art. 63, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3926/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/8/2015 (Info 793).

REQUISITOS PARA QUE SEJA VÁLIDA A EMENDA PARLAMENTAR A PROJETOS DE LEI DE OUTROS PODERES
O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa privativa do chefe
do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre uma das matérias do art. 61, §
1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser alterado pelos parlamentares?
SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada ao Chefe do
Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88).

Assim, nos projeto de lei de iniciativa do Chefe do Executivo, o parlamentar pode até propor emendas,
mas estas deverão respeitar as restrições trazidas pelo art. 63, I, da CF/88.

Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista:


I — nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º
e § 4º;
Obs.: os §§ 3º e 4º tratam sobre os projetos de lei orçamentária e da LDO; nesses dois casos é possível que
a emenda parlamentar acarrete aumento de despesas.

Veja um precedente antigo do Supremo nesse sentido:


(...) A atuação dos integrantes da Assembleia Legislativa dos Estados-membros acha-se submetida, no
processo de formação das leis, à limitação imposta pelo art. 63 da Constituição, que veda — ressalvadas as
proposições de natureza orçamentária — o oferecimento de emendas parlamentares de que resulte o
aumento da despesa prevista nos projetos sujeitos ao exclusivo poder de iniciativa do Governador do
Estado ou referentes à organização administrativa dos Poderes Legislativo e Judiciário locais, bem assim do
Ministério Público estadual.
(...)
O poder de emendar — que não constitui derivação do poder de iniciar o processo de formação das leis —
qualifica-se como prerrogativa deferida aos parlamentares, que se sujeitam, no entanto, quanto ao seu

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 3


exercício,à sà est içõesài postas,àe à u e us lausus ,àpelaàCo stituiç oàFede al.à
(...)
Revela-se plenamente legítimo, desse modo, o exercício do poder de emenda pelos parlamentares,
mesmo quando se tratar de projetos de lei sujeitos à reserva de iniciativa de outros órgãos e Poderes do
Estado, incidindo, no entanto, sobre essa prerrogativa parlamentar — que é inerente à atividade
legislativa —, as restrições decorrentes do próprio texto constitucional (CF, art. 63, I e II), bem assim
aquela fundada na exigência de que as emendas de iniciativa parlamentar sempre guardem relação de
pe ti iaà afi idadeàlógi a à o àoào jetoàdaàp oposiç oàlegislativa.àDout i a.à
(...)
STF. Plenário. ADI 2681 MC, Rel. Min. Celso De Mello, julgado em 11/09/2002.

Caso concreto julgado pelo STF:


O Governador de Santa Catarina enviou projeto de lei criando funções comissionadas na Secretaria de
Educação.
Durante a tramitação do projeto, um Deputado apresentou emenda prevendo o reenquadramento dos
servidores efetivos do Instituto de Previdência do Estado (Ipesc), com habilitação em direito e registro na
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), como procuradores jurídicos.
A lei foi aprovada e sancionada, inclusive com o artigo inserido pela emenda parlamentar.
O STF julgou inconstitucional esse artigo. Para a Corte, não havia pertinência temática da emenda com o
objeto do projeto de lei enviado pelo Executivo, de forma que está presente a inconstitucionalidade
formal.
Além disso, sob o ponto de vista material, esse reenquadramento viola o entendimento do STF no sentido
de ser inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia
aprovação em concurso público, em cargo que não integre a carreira na qual anteriormente investido.
Assim, o mencionado enquadramento violou o entendimento expresso na SV 43do STF:
Súmula vinculante 43-STF: É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor
investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não
integra a carreira na qual anteriormente investido.

TRIBUNAL DE CONTAS
Análise de aposentadoria e gratificação recebida por força de decisão judicial transitada em julgado

A sentença que reconhece ao trabalhador ou a servidor o direito a determinado percentual de


acréscimo remuneratório deixa de ter eficácia a partir da superveniente incorporação
definitiva do referido percentual nos seus ganhos.
Sendo uma relação de caráter continuativo (todos os meses a servidora recebe aquela
remuneração) e tendo havido superveniente modificação na situação de fato (o referido
reajuste foi incorporado, por lei, aos vencimentos da servidora), essa alteração no status quo
produz, de forma imediata e automática, a cessação da eficácia da decisão acobertada pela
coisa julgada. E para essa cessação não é necessária ação rescisória ou ação revisional.
Assim, se o TCU, ao analisar uma aposentadoria, percebe que determinada gratificação
recebida por servidor público por força de sentença transitada em julgado já foi
incorporada/extinta por leis posteriores, este Tribunal poderá determinar a sua supressão
sem que isso viole a coisa julgada. Neste caso, a mudança no estado das coisas faz com que esta
coisa julgada não mais subsista.
STF. 2ª Turma.MS 32435 AgR/DF, rel. orig. Min. Celso de Mello, red. p/ o acórdão, Min. Teori Zavascki,
4/8/2015 (Info 793).

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 4


Imagine a seguinte situação adaptada:
Maria era servidora pública federal.
Em 1996, ela propôs ação judicial pleiteando o pagamento de reajuste de 28,86%, tendo o pedido sido
julgado procedente, havendo trânsito em julgado.
Em 1998, foi editada uma Lei tratando sobre a carreira desempenhada por Maria e este percentual de
28,86% foi absorvidopor reestruturação remuneratória feita no cargo.
Apesar disso, Maria continuou a receber, em seu contracheque, uma verba denominada 28,86% por força
da decisão judicial.
Em 2010, Maria se aposentou.
Ao analisar a legalidade da aposentadoria, o TCU determinou a supressão dessa verba de 28,86% dos
proventos de Maria.
Diante disso, a servidora impetrou mandado de segurança contra o ato do TCU alegando que ele violou a
coisa julgada.

Quem julga mandado de segurança contra ato do TCU?


Oà“TF,à osàte osàdoàa t.à ,àI,à d ,àdaàCF/ :
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
d) o "habeas-corpus", sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de
segurança e o "habeas-data" contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados
e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio
Supremo Tribunal Federal;

O pedido de Maria foi acolhido pelo STF? O TCU violou a coisa julgada?
NÃO. A sentença que reconhece ao trabalhador ou a servidor o direito a determinado percentual de
acréscimo remuneratório deixa de ter eficácia a partir da superveniente incorporação definitiva do
referido percentual nos seus ganhos (STF RE 596.663).

Sendo uma relação de caráter continuativo (todos os meses a servidora recebe aquela remuneração) e
tendo havido superveniente modificação na situação de fato (o referido reajuste foi incorporado, por lei,
aos vencimentos da servidora), essa alteração no status quo produz, de forma imediata e automática, a
cessação da eficácia da decisão acobertada pela coisa julgada. E para essa cessação não é necessária ação
rescisória ou ação revisional.

No caso concreto, o Tribunal de Contas da União observou que a parcela atinente ao percentual de
28,86%, objeto da decisão transitada em julgado em 1996, foi ulteriormente absorvida por
reestruturações remuneratórias na carreira da servidora em virtude de lei editada em 1998.

Assim, com o advento da Lei em 1998, houve significativa mudança no estado de direito, não mais
subsistindo o quadro fático-normativo que deu suporte à decisão judicial transitada em julgado.

A coisa julgada fu io aà segu doà aà l usulaà e usà si à sta ti us ,à ouà seja,à so e teà e ua toà asà oisasà
permanecerem do modo que estão. Se houver modificação na situação de fato, aquela coisa julgada deixa
de produzir seus efeitos. Confira as palavras do Min. Teori Zavascki:

Éài o t ove saàaàp e issaàsegu doàaà ualàaàfo çaàvi ulativaàdaà oisaàjulgadaàatua rebus sic stantibus.
Quer dizer, ao pronunciar juízos de certeza sobre a existência, a inexistência ou o modo de ser das
relações jurídicas, a sentença leva em consideração as circunstâncias de fato e de direito que se
apresentam no momento da sua prolação. Tratando-se de relação jurídica de trato continuado, a eficácia
Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 5
temporal da sentença permanece enquanto se mantiverem inalterados esses pressupostos fáticos e
jurídicos que lhe serviram de suporte (cláusula rebus sic stantibus). Dessa forma, não atenta contra a coisa
julgada a superveniente alteração do estado de direito, em que a nova norma jurídica tem eficácia ex
u ,àse àefeitosà et oativos. à ágRegàM“à . .

Além disso, outro argumento invocado pelo STF foi o de que a decisão judicial transitada em julgado
concedeu o benefício para ser incorporado nos vencimentos da servidora (ou seja, quantia por ela
recebida enquanto estava na ativa). A decisão nada mencionou sobre sua incidência também para efeitos
de proventos da aposentadoria.

A servidora terá que devolver os valores recebidos antes da decisão do TCU?


NÃO.à Co fo eà e te di e toà pa ífi oà doà “TF,à oà se vido à aà ue à aà ád i ist aç oà o edeuà aà
aposentadoria se presume de boa-f àat àoàjulga e toàdaàsuaàilegalidadeàpeloàó g oà o pete teà à t e ho
do voto do Min. Sepúlveda Pertence proferido no julgamento do MS 25.112, Rel. Min. Marco Aurélio,
Pleno, DJ de 03/02/2006).
Assim, considerada a boa-fé da impetrante, o termo inicial para devolução dos valores indevidamente
recebidos deve corresponder à data em que teve conhecimento do ato que considerou ilegal a concessão
de sua aposentadoria. Nesse sentido:
O Plenário do Supremo Tribunal Federal, em diversas oportunidades, já assentou que, havendo boa-fé do
servidor público que recebe valores indevidos a título de aposentadoria, só a partir da data em que for ela
julgadaà ilegíti aà peloà ó g oà o pete teà deve à se à devolvidaà aà ua tiaà e e idaà aà aio à ... à “TF.à ªà
Turma. RE 450.458-AgR-segundo, Rel. Min. Teori Zavascki, DJe de 22/08/2013).

DIREITO ADMINISTRATIVO

PODER DE POLÍCIA
Poder de polícia de trânsito e guardas municipais

Importante!!!
As guardas municipais podem realizar a fiscalização de trânsito?
SIM. As guardas municipais, desde que autorizadas por lei municipal, têm competência para
fiscalizar o trânsito, lavrar auto de infração de trânsito e impor multas.
O STF definiu a tese de que é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício do
poder de polícia de trânsito, inclusive para a imposição de sanções administrativas legalmente
previstas (ex: multas de trânsito).
STF. Plenário.RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 6/8/2015 (Info 793).

Imagine a seguinte situação:


O Município de Belo Horizonte editou lei conferindo à guarda municipal a competência para fiscalizar o
trânsito e impor multas.
O Ministério Público questionou a constitucionalidade dessas normas sustentando que elas ofenderiamo
pacto federativo, pois a competência para fiscalizar o trânsito e impor multas seria da Polícia Militar, já
que cabe a este órgão (PM) realizar o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública, nos
termos do § 5º do art. 144 da CF/88.

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 6


A lei municipal é constitucional? A lei municipal pode atribuir competência para que as guardas
municipais realizema fiscalização de trânsito?
SIM. A lei municipal pode conferir às guardas municipais competência para fiscalizar o trânsito, lavrar auto
de infração de trânsito e impor multas.
O STF entendeu que a tese do MP não está correta porque a questão em tela não envolve segurança
pública, mas sim poder de polícia de trânsito.
Para o Min. Roberto Barroso, poder de polícia não se confunde com segurança pública. O exercício do
poder de polícia não é prerrogativa exclusiva das entidades policiais, a quem a CF outorgou com
exclusividade apenas as funções de promoção da segurança pública (art. 144).
A fiscalização do trânsito, com aplicação das sanções administrativas (multas), embora possa se dar
ostensivamente, constitui mero exercício de poder de polícia, não havendo, portanto, proibição de que
seja exercida por entidades não-policiais (como é o caso das guardas municipais).
O Código de Trânsito Brasileiro estabeleceu que a competência para o exercício da fiscalização de trânsito
é comum, cabendo tanto a União, como aos Estados/DF e Municípios.
A receber essa competência do CTB, o Município pode determinar, por meio de lei, que esse poder de
polícia (fiscalização do trânsito) seja exercido pela guarda municipal.

Mas o art. 144, § 8º, da CF/88, ao tratar sobre as guardas municipais, não fala em trânsito...
Não tem problema. O art. 144, § 8º, da CF/88define as atribuições da guarda municipal, mas não de forma
exaustiva. Assim, esse dispositivo não impede que a guarda municipal receba funções adicionais a ela
outorgadas por meio de lei. Em outras palavras, o § 8º do art. 144 da CF/88 traz um mínimo de atribuições
que são inerentes às guardas municipais, sendo possível, no entanto, que a lei preveja outras atividades a
esse órgão, desde que de competência municipal.

§ 10 do art. 144 da CF/88


Vale ressaltar que, recentemente,a EC 82/2014 acrescentou o § 10 ao art. 144 da CF/88 tratando sobre
segurança viária, nos seguintes termos:
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do seu patrimônio nas vias públicas:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em
lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou
entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.

O inciso II fortalece a ideia de que as guardas municipais podem exercer atividades de fiscalização de
trânsito uma vez que as guardas municipais são órgãos municipais estruturados em carreira e criados por
lei. Logo, enquadram-se na previsão do inciso II.
Desse modo, os Municípios podem criar órgãos de trânsito específicos ou, então, submeter esse serviço de
fiscalização de trânsito às guardas municipais.

Tese firmada pelo STF em sede de repercussão geral:


É constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício do poder de polícia de trânsito, inclusive
para a imposição de sanções administrativas legalmente previstas (ex: multas de trânsito).

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 7


DIREITO NOTARIAL
E REGISTRAL

CONCURSO PÚBLICO
Serventias judiciais disponíveis, mas que estejam su judi e

Nos concursos de cartório, o TJ deverá incluir no edital do certame como vagas as serventias
extrajudiciaisque estão sub judice ?
SIM. O TJ deverá incluir no concurso público as serventias consideradas disponíveis, mas que
estejam sub judice , devendo, no entanto, ser cumpridas duas cautelas:
• O edital do certame deverá informar que as serventias estão sub judice ;
•Tais serventias não poderão ser providas até o trânsito em julgado dos processos judiciais.
STF. 1ª Turma.MS 31228/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/8/2015 (Info 793).

Imagine a seguinte situação:


O Tribunal de Justiça do Paraná abriu concurso para serventias notariais e registrais.
Ocorre que algumas serventias estão sub judice , ou seja, houve uma determinação administrativa para
que os titulares deixassem as serventias (por não terem feito concurso, por terem feito permutas
irregulares etc.) e estes ingressaram com ações judiciais questionando tais decisões administrativas e até o
momento o processo judicial ainda não se encerrou.

A dúvida que surgiu foi a seguinte: o TJ deverá incluir no edital do certame como vagas as serventias
ext ajudi iais ue estão su judi e ?
SIM. O TJ deverá incluir no concurso público as serventias consideradas disponíveis, mas que estejam sub
judice , devendo, no entanto, ser cumpridas duas cautelas:
 Oàeditalàdoà e ta eàdeve ài fo a à ueàasàse ve tiasàest oà su àjudi e ;
 Tais serventias não poderão ser providas até o trânsito em julgado dos processos judiciais.

Advertência pública
É indispensável que haja uma adve t iaà pú li aà a e aà daà o diç oà su à judi e à das delegações
ofertadas no concurso, de modo que o candidato se quiser escolhê-la, o fará por sua conta e risco, sem
direito a qualquer reclamação posterior caso o resultado da ação judicial correspondente frustre sua
escolha e seu exercício.

Não provimento até o trânsito em julgado


O STF entendeu que o princípio da razoabilidade recomenda que não se dê provimento a serventia cuja
vacância esteja sendo contestada judicialmente antes do trânsito em julgado da respectiva decisão.
E àout asàpalav as,àseàoà a didatoàap ovadoàes olhe àu aàse ve tiaà ueàest à su àjudi e ,àeleàte à ueà
esperar o encerramento do processo judicial, com o trânsito em julgado, para poder assumir essa vaga.
Isso, obviamente, se o titular que está litigando na Justiça perder a causa. Se ele for vitorioso na ação
judicial e conseguir anular a decisão administrativa, neste caso, o candidato que escolheu essa serventia
ficará de fora.

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 8


DIREITO PENAL

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Aplicação em caso de reincidência e furto qualificado

É possível aplicar o princípio da insignificância em favor de um réu reincidente ou que já


responda a outros inquéritos ou ações penais?
É possível aplicar o princípio da insignificância em caso de furto qualificado?
O Plenário do STF, ao analisar o tema, afirmou que não é possível fixar uma regra geral (uma
tese) sobre o assunto. A decisão sobre a incidência ou não do princípio da insignificância deve
ser feita caso a caso.
Apesar disso, na prática, observa-se que, na maioria dos casos, o STF e o STJ negam a aplicação
do princípio da insignificância caso o réu seja reincidente ou já responda a outros inquéritos
ou ações penais. De igual modo, nega o benefício em situações de furto qualificado.
STF. Plenário.HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados
em 3/8/2015 (Info 793).

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
ORIGEM
Quem primeiro tratou sobre o princípio da insignificância no direito penal foi Claus Roxin, em 1964.
Esse princípio busca raízes no brocardo civil minimis non curat praetor algoà o oà oàp eto à– magistrado à
época – não cuida de coisas sem importância).

TERMINOLOGIA
Ta à à ha adoàdeà p i ípioàdaà agatela àouà i f aç oà agatela àp óp ia .

PREVISÃOLEGAL
O princípio da insignificância não tem previsão legal no direito brasileiro.
Trata-se de uma criação da doutrina e da jurisprudência.

NATUREZA JURÍDICA
Para a posição majoritária, o princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão da tipicidade
material.

TIPICIDADE MATERIAL
A tipicidade penal divide-se em:
a) Tipicidade formal (ou legal): é a adequação (conformidade) entre a conduta praticada pelo agente e a
conduta descrita abstratamente na lei penal incriminadora.
b) Tipicidade material (ou substancial): é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo
penal.

Verificar se há tipicidade formal significa examinar se a conduta praticada pelo agente amolda-se ao que
está previsto como crime na lei penal.
Verificar se há tipicidade material consiste em examinar se essa conduta praticada pelo agente e prevista
como crime produziu efetivamente lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo penal.

Primeiro se verifica se a conduta praticada pelo agente se enquadra em algum crime descrito pela lei penal.
 Se não se amoldar, o fato é formalmente atípico.
 Se houver essa correspondência, o fato é formalmente típico.

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 9


 Sendo formalmente típico, é analisado se a conduta produziu lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
que este tipo penal protege.
 Se houver lesão ou perigo de lesão, o fato é também materialmente típico.
 Se não houver lesão ou perigo de lesão, o fato é, então, materialmente atípico.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E TIPICIDADE MATERIAL


Se o fato for penalmente insignificante, significa que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem
jurídico. Logo, aplica-se o princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com
fundamento no art. 386, III do CPP.
O princípio da insignificância atua, então, como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal.

EXEMPLO DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA


João, réu primário, sem maus antecedentes, subtrai para si um pacote de biscoitos do supermercado,
avaliado em 8 reais. A conduta do agente amolda-se perfeitamente ao tipo previsto no art. 155 do CP.
Ocorre que houve inexpressiva lesão ao patrimônio do supermercado.

REQUISITOS OBJETIVOS (VETORES) PARA A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO:


O Min. Celso de Mello (HC 84.412-0/SP) idealizou quatro requisitos objetivos para a aplicação do princípio
da insignificância, sendo eles adotados pela jurisprudência do STF e do STJ.
Segundo a jurisprudência, somente se aplica o princípio da insignificância se estiverem presentes os
seguintes requisitos cumulativos:
a) mínima ofensividade da conduta;
b) nenhuma periculosidade social da ação;
c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e
d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Qual é a diferença entre cada um desses requisitos?


Não sei. Acho que ninguém sabe ao certo. Os julgados que mencionam esses requisitos não explicam o
que seja cada um deles, até porque alguns parecem se confundir. A doutrina critica esses critérios. Paulo
Queiroz, por exemplo, afirma que esses requisitos são claramente tautológicos e apenas dizem a mesma
coisa com palavras diferentes, argumentando em círculo (Curso de Direito Penal. Salvador: Juspodivm,
2014, p. 89).
Desse modo, não se preocupe em diferenciá-los, mas é importante ter uma noção dos quatro para fins de
concurso.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E OUTRAS AÇÕES PENAIS


É possível aplicar o princípio da insignificância em favor de um réu reincidente ou que já responda a
outros inquéritos ou ações penais?
O Plenário do STF, ao analisar o tema, afirmou que não é possível fixar uma regra geral sobre o assunto.
A decisão sobre a incidência ou não do princípio da insignificância deve ser feita caso a caso.
STF. Plenário. HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
3/8/2015 (Info 793).

Apesar disso, na prática, observa-se que, na maioria dos casos, o STF e o STJ negam a aplicação do
princípio da insignificância caso o réu seja reincidente ou já responda a outros inquéritos ou ações penais.

Ex: o STF negou o princípio da insignificância para réu que praticou furto simples de um chinelo avaliado
em R$ 16. Embora o bem tenha sido restituído à vítima, a Corte não aplicou o referido princípio em razão
de ele ser reincidente específico, costumeiro na prática de crimes contra o patrimônio. Segundo afirmou o
Min. Teori Zavascki, a reiteração criminosa do agente faz com que seja alta a carga dereprovabilidade da
conduta, servindo para impedir a concessão do benefício (HC 123.108/MG).
Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 10
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA E FURTO QUALIFICADO
É possível aplicar o princípio da insignificância em caso de furto qualificado?
O STF, ao analisar o tema, também afirmou que não é possível fixar uma regra geral sobre o assunto.
A decisão sobre a incidência ou não do princípio da insignificância deve ser feita caso a caso.
STF. Plenário. HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
3/8/2015 (Info 793).

Apesar disso, na prática, observa-se que, na maioria dos casos, o STF e o STJ negam a aplicação do
princípio da insignificância em caso de furto qualificado.

Ex1: réu, em conjunto com outra pessoa, furtou dois sabonetes líquidos avaliados em R$ 40. O STF negou
o princípio da insignificância em razão de ele ter praticado o crime em concurso de agentes, o que
caracteriza furto qualificado, nos termos do art. 155, § 4º, IV, do CP (HC 123.533/SP).

Ex2: réu furtou 15 bombonscaseiros avaliados em R$ 30. O STF negou o princípio da insignificância em
razão de ele ter praticado o crime com rompimento de obstáculo e mediante escalada, o que caracteriza
furto qualificado, nos termos do art. 155, § 4º, I e II, do CP (HC 123.533/SP).

PRINCIPAIS ARGUMENTOS DO STF AO JULGAR OS HC 123108/MG, HC 123533/SP E HC 123734/MG:


 Ao analisar se deverá ser aplicado ou não o princípio da insignificância, é preciso que o Poder
Judiciário avalie as consequências jurídicas e sociais que irão decorrer desse fato.
 Negar a tipicidade a condutas como essa acima exposta significaria afirmar que, doponto de vista
penal, essa conduta seria lícita, o que não é verdade.
 Vale ressaltar que a vítima, em tese, poderia pleitear uma indenização do agente pelos prejuízos que
sofreu. No entanto, isso, na prática, seria inviável (seria um possibilidade meramente formal), já que
dificilmente alguém entraria com ação judicial pleiteando um valor tão baixo diante dos custos e do
trabalho que essa pessoa teria.
 Sendoassim, se o agente não for punido na esfera penal, ele ficará sem punição alguma, considerando
que, como já dito, a parte lesada raramente ingressa com ação de indenização contra o autor do fato.
 A inação do Estado em punir o infrator que comete crimes considerados insignificantes poderia
esti ula à ueà aàvíti aàfizesseà justiçaà p ivadaà justiçaà o àasàp óp iasà os .à Assim, a pretexto de
favorecer o agente, a imunização de sua conduta pelo Estado o deixaria exposto a uma situação com
repercussões imprevisíveis e mais graves.
 Desse modo, o julgador, ao analisar a insignificância como requisito negativo da tipicidade,
especialmente em se tratando de crimes contra o patrimônio, deve fazer um juízo (uma avaliação)
muito mais abrangente, não podendo ficar restrito a apenas examinar o resultado da conduta do
agente.
 O julgador deverá investigar o desvalor da ação criminosa em seu sentido amplo, traduzido pela
ausência de periculosidade social, pela mínima ofensividade e pela ausência de reprovabilidade, de
modo a impedir que a vontade do legislador que editou o crime seja desvirtuada.
 O legislador previu algumas situações em que ele próprio considerou serem de menor importância (ex:
art. 155, § 2º do CP). Para que se considere o fato insignificante a ponto de se conduzir à atipicidade
da conduta, é necessário ir além da irrelevância penal prevista em lei.

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 11


APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Ressarcimento do prejuízo em acordo homologado no juízo cível
e sua repercussão no processo criminal

A advogada ficou com o dinheiro recebido pelo cliente e só devolveu a quantia após ser
demandada judicialmente e fazer acordo em ação de cobrança.
Vale ressaltar que, a esta altura, já havia um inquérito policial instaurado para apurar
eventual crime de apropriação indébita.
O STF, com base em peculiaridades do caso concreto, decidiu trancar a ação penal por falta de
justa causa.
Salientou-se que o acordo firmado no juízo cível que colocou fim à pendência ocorreu em
novembro de 2012 e a denúncia só foi formalizada quase um ano após.
Além disso, o juiz do processo cível determinou a comunicação à Delegacia de Polícia sobre o
acordo.
Diante desses fatos, a 1ª Turma entendeu que a situação seria excepcional e suficiente para se
trancar a ação penal.
Entendeu-se que a relação jurídica cível repercute porque o acerto de contas se deu em data
anterior à propositura da ação penal.
STF. 1ª Turma.RHC 125283/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/8/2015 (Info 793).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Dra. Maria, advogada, foi contratada por João para ingressar com reclamação trabalhista contra o ex-
empregador do funcionário.
Em 2009, foi realizado um acordo judicial entre João e a empresa reclamada, tendo esta se comprometido
a pagar ao reclamante a quantia pedida.
A Dra. Maria sacou o valor depositado pela empresa, mas no momento de repassá-lo a João, entregou
menos do que era devido, ficando para si com cerca de R$ 10 mil.
João procurou a advogada por diversas vezes, mas esta teria se negado a repassar a quantia.
Diante disso, João solicitou a instauração de procedimento disciplinar junto à OAB, a abertura de inquérito
policial por apropriação indébita, além de ter ajuizado ação de cobrança no Juizado Especial Cível.
Na audiência de conciliação realizada no Juizado Especial Cível houve um acordo entre João e a advogada,
tendo esta pago o valor que era devido.
O juiz que homologou o acordo e determinou que fosse oficiada a Delegacia de Polícia onde estava
tramitando o inquérito policial a fim de informar o Delegado que houve o ajuste entre as partes.

O fato de ter sido celebrado o acordo no cível produz efeitos na esfera penal?
Legislação: NÃO Decisão da 1ª Turma STF: SIM
Não existe previsão na legislação de que a A 1ª Turma do STF decidiu trancar a ação penal
devolução dos valores, com ressarcimento do por falta de justa causa.
dano, mesmo antes do recebimento da denúncia, Salientou-se que o acordo firmado no juízo cível
afaste o crime de apropriação indébita. que colocou fim à pendência ocorreu em
O STJ também decide neste mesmo sentido, novembro de 2012 e a denúncia só foi formalizada
entendendo que a devolução do bem na apropriação quase um ano após.
indébita, mesmo que antes do recebimento da Além disso, o juiz do processo cível determinou a
denúncia, não afasta o dolo, devendo esse fato ser comunicação à Delegacia de Polícia sobre o acordo.
considerado como mero arrependimento posterior Diante desses fatos, a 1ª Turma entendeu que a
e, portanto, servir apenas para reduzir a pena, nos situação seria excepcional e suficiente para se
termos do art. 16 do CP. trancar a ação penal.

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 12


Entendeu-se que a relação jurídica cível repercute
porque o acerto de contas se deu em data anterior
à propositura da ação penal.

Obs: a decisão acima do STF baseou-se nas peculiaridades do caso concreto e não se pode dizer que isso valha
para todas as situações envolvendo apropriação indébita e restituição da coisa. Apesar disso, é importante você
ficar atento(a) na hora da prova porque pode ser cobrado este julgado de forma específica.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

EXECUÇÃO PENAL
Calendário de saídas temporárias (saídas temporárias automatizadas)

Importante!!!
Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária deve ser formulado um
pedido ao juiz que, então, ouve o MP e a administração penitenciária, e, após, decide.
Em algumas partes do Brasil, no entanto, como é o caso do RJ, os juízes da execução penal
adotaram um procedimento para simplificar a concessão dessas saídas temporárias.
Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o juiz ouve o MP e o
diretor do Presídio, e, se estiverem preenchidos os requisitos, concede o benefício. No entanto,
nesta primeira decisão o juiz já fixa um calendário de saídas temporárias.
Desse modo, após o juiz deferir o benefício para o apenado nesta primeira vez, as novas saídas
temporárias deste mesmo reeducando não mais precisarão ser analisadas pelo juiz e pelo MP,
sendo concedidas automaticamente pela direção do Presídio, desde que a situação disciplinar
do condenado permaneça a mesma, ou seja, que ele tenha mantido o comportamento
adequado no cumprimento da pena. Se cometer falta grave, por exemplo, é revogado o
benefício.A esse procedimento simplificado deu-se o nome de saída temporária
automatizada ou calendário de saídas temporárias .
O calendário de saídas temporárias é permitido? A prática da saída temporária automatizada é
válida?
 STJ: NÃO. O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional
insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional
(Súmula 520-STJ).
 STF: SIM. É legítima a decisão judicial que estabelece calendário anual de saídas
temporárias para visita à família do preso.
STF. 2ª Turma.HC 128763/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/8/2015 (Info 793).

NOÇÕES GERAIS SOBRE A SAÍDA TEMPORÁRIA

O que é a saída temporária?


Saída temporária é...
-uma autorização concedida pelo juiz da execução penal
-aos condenados que cumprem pena em regime semiaberto
-por meio da qual ganham o direito de saírem temporariamente do estabelecimento prisional
-sem vigilância direta (sem guardas acompanhando/sem escolta)
-com o intuito de:
a) visitarem a família;

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 13


b) frequentarem curso supletivo profissionalizante, de ensino médio ou superior; ou
c) participarem de outras atividades que ajudem para o seu retorno ao convívio social.

Obs: o juiz pode determinar que, durante a saída temporária, o condenado fique utilizando um
equipamento de monitoração eletrônica (tornozeleira eletrônica).

Obs2: os presos provisórios que já foram condenados (ainda sem trânsito em julgado) e estão cumprindo a
pena no regime semiaberto podem ter direito ao benefício da saída temporária, desde que preencham os
requisitos legais que veremos abaixo.

Previsão
A saída temporária encontra-se disciplinada nos arts. 122 a 125 da Lei n. 7.210/84 (LEP).

Quem concede a saída temporária?


A autorização para saída temporária será concedida por ato motivado do Juiz da execução, devendo este
ouvir antes o Ministério Público e a administração penitenciária, que irão dizer se concordam ou não com
o benefício.

Requisitos
A concessão da saída temporária dependerá da satisfação dos seguintes requisitos (art. 123 da LEP):

I - comportamento adequado do reeducando;


É chamado de requisito subjetivo. Normalmente isso é provado por meio da certidão carcerária fornecida
pela administração penitenciária.

II - cumprimento mínimo de 1/6 da pena (se for primário) e 1/4 (se reincidente).
Trata-se do requisito objetivo.
Deve-se lembrar que o apenado só terá direito à saída temporária se estiver no regime semiaberto. No
entanto, a jurisprudência permite que, se ele começou a cumprir a pena no regime fechado e depois
progrediu para o semiaberto, aproveite o tempo que esteve no regime fechado para preencher esse
requisito de 1/6 ou 1/4. Em outras palavras, ele não precisa ter 1/6 ou 1/4 da pena no regime semiaberto.
Poderá se valer do tempo que cumpriu no regime fechado para preencher o requisito objetivo.
Co àout asàpalav as,àfoiàissoàoà ueàoà“TJà uisàdize àaoàedita àaà“ú ulaà :à Pa aào te ç oàdosà e efí iosàdeà
saída temporária e trabalho externo, considera-seàoàte poàdeà u p i e toàdaàpe aà oà egi eàfe hado.

III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.


Ressalte-se que o simples fato de o condenado que cumpria pena no regime fechado ter ido para o regime
semiaberto não significa que, automaticamente, ele terá direito ao benefício da saída temporária. Isso
porque o juiz deverá analisar se ele preenche os demais requisitos do art. 123 da LEP (STJ. 6ª Turma. RHC
49.812/BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 06/11/2014).

Quantidade de saídas por ano e tempo de duração


Regras gerais:
•Cadaàpreso terá o máximo de 5 saídas temporárias por ano (1 mais 4 renovações).
•Cadaà saídaà te po iaà te à du aç oà xi aà deà à dias.à E à out asà palav as,à oà p esoà e e e à aà
autorização para ficar 7 dias fora do estabelecimento prisional.
•E t eàu aàsaídaàtemporária e outra deve haver um intervalo mínimo de 45 dias.

Peculiaridade: no caso da saída temporária para estudo, o prazo da saída temporária será igual ao
necessário para as atividades discentes (ex: pode ser autorizada a saída temporária todos os dias).

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 14


Recomendo ler o art. 124 porque as vezes ele é cobrado literalmente nas provas:
Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, podendo ser renovada por
mais 4 (quatro) vezes durante o ano.
(...)
§ 2º Quando se tratar de frequência a curso profissionalizante, de instrução de ensino médio ou superior,
o tempo de saída será o necessário para o cumprimento das atividades discentes.
§ 3º Nos demais casos, as autorizações de saída somente poderão ser concedidas com prazo mínimo de 45
(quarenta e cinco) dias de intervalo entre uma e outra.

Condições
Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes condições legais (obrigatórias):
I – o condenado deverá fornecer o endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser
encontrado durante o gozo do benefício;
II – o condenado deverá se comprometer a ficar recolhido na residência visitada, no período noturno;
III – o condenado não poderá frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.

Além dessas, o juiz pode fixar outras condições que entender compatíveis com as circunstâncias do caso e
a situação pessoal do condenado. Nesse caso, chamamos de condições judiciais (ou facultativas).

CALENDÁRIO DE SAÍDAS TEMPORÁRIAS (SAÍDAS TEMPORÁRIAS AUTOMATIZADAS):


Em que consiste o calendário de saídas temporárias (saídas temporárias automatizadas)?
Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária deve ser formulado um pedido ao juiz
que, então, ouve o MP e a administração penitenciária, e, após, decide.
Em algumas partes do Brasil, no entanto, como é o caso do RJ, os juízes da execução penal adotaram um
procedimento para simplificar a concessão dessas saídas temporárias.
Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o juiz ouve o MP e o diretor do
Presídio, e, se estiverem preenchidos os requisitos, concede o benefício (segue, portanto, todo o rito
previsto na LEP). No entanto, nesta primeira decisão o juiz já fixa um calendário de saídastemporárias.

Veja um exemplo de decisão nesse sentido:


á teàoàexposto,àp ee hidosàosà e uisitosàp evistosà osàa ts. 122, I, e 123, da LEP,CONCEDO ao apenado
JOÃO DA SILVA autorização para 5 (cinco) saídas temporárias por ano, com duração de 7 (sete) dias cada,
para visita à família, que deverá ser realizada nas seguintes datas:
I – Páscoa;
II – dia das mães;
III – dia dos pais;
IV – Natal;
V – Ano Novo.

Verificando-se a prática de quaisquer das hipóteses do art. 125 da LEP, ficamautomaticamente revogadas
as autorizações para as saídas subsequentes.

Desse modo, após o juiz deferiro benefício para o apenado nesta primeira vez, as novas saídas temporárias
deste mesmo reeducando não mais precisarão ser analisadas pelo juiz e pelo MP, sendo concedidas
automaticamente pela direção do Presídio, desde que a situação disciplinar do condenado permaneça a
mesma, ou seja, que ele tenha mantido o comportamento adequado no cumprimento da pena. Se
cometer falta grave, por exemplo, é revogado o benefício.
A esse procedimento simplificado deu-se o nome de saída temporária automatizada àouà ale d ioàdeà
saídasàte po ias .

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 15


Insurgência do Ministério Público
Alguns Ministérios Públicos pelo país têm se insurgido contra este procedimento e interposto recursos que
chegam aos Tribunais Superiores. Segundo argumenta o Parquet, ao adotar essa saída temporária
automatizada, o juiz da execução penal está transferindo (delegando) para a autoridade administrativa do
estabelecimento prisional a decisão de conceder ou não a saída temporária, o que viola frontalmente o
a t.à àdaàLEPà á t.à .àáàauto izaç oàse à o edidaàpo àatoà otivadoàdoàJuizàdaàexe uç o... .
Além disso, para alguns Promotores, essa prática seria vedada porque cada saída temporária, para ser
autorizada, deve ser individualmente motivada com base no histórico do sentenciado.

O que entendem os Tribunais Superiores? O calendário de saídas temporárias é permitido? A prática da


saída temporária automatizada é válida?

STJ: NÃO STF: SIM

A autorização das saídas temporárias é ato É legítima a decisão judicial que estabelece calendário anual
jurisdicional da competência do Juízo das de saídas temporárias para visita à família do preso.
Execuções Penais, que deve ser motivada
com a demonstração da conveniência de Para o STF, um único ato judicial que analisa o histórico
cada medida. do sentenciado e estabelece um calendário de saídas
temporárias, com a expressa ressalva de que as
Desse modo, não é possível delegar ao autorizações poderão ser revistas em caso de
administrador do presídio a fiscalização cometimento de infração disciplinar, mostra-se suficiente
sobre diversas saídas temporárias, para fundamentar a autorização de saída temporária.
autorizadas em única decisão, por se tratar
de atribuição exclusiva do magistrado das O Min. Gilmar Mendes apontou que, em regra, os
execuções penais, sujeita à ação requisitos das saídas temporárias são os mesmos,
fiscalizadora do Parquet. independentemente do momento do ano em que
o o e .à áà saídaà doà Natalà oà te à e uisitosà aisà
Assim, não é legítima a prática de se brandos do que a saída da Páscoa, por exemplo. Não há
permitir saídas temporárias automatizadas. razão funcional para afirmar que uma única decisão que a
Para cada pedido de saída temporária, a asà o te pleà àdefi ie teàdeàfu da e taç o .
deverá haver uma decisão motivada do
Juízo da Execução, com intervenção do MP. Além disso, essa prática não exclui a participação do MP,
STJ. 3ª Seção. REsp 1166251/RJ, Rel. Min. que poderá se manifestar sobre seu cabimento e, caso
Laurita Vaz, julgado em 14/03/2012 alterada a situação fática, pedir sua revisão.
(recurso repetitivo) (Info 493).
A exigência feita pelo STJ no sentido de que haja uma
A fim de deixar bem evidente esse decisão motivada para cada saída temporária coloca em
entendimento, o STJ editou um enunciado: risco o direito do sentenciado ao benefício, em razão do
grande volume de processos nas varas de execuções penais.
Súmula 520-STJ: O benefício de saída
temporária no âmbito da execução penal é STF. 1ª Turma. HC 98067, Rel. Min. Marco Aurélio,
ato jurisdicional insuscetível de delegação julgado em 06/04/2010.
à autoridade administrativa do STF. 2ª Turma. HC 128763, Rel. Min. Gilmar Mendes,
estabelecimento prisional. julgado em 04/08/2015.

A Súmula 520 foi editada há pouquíssimo tempo (25/03/2015), mas é provável que seja cancelada pelo STJ
diante do entendimento acima manifestado pelo STF.

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 16


EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) Viola a Constituição Federal dispositivo de Constituição estadual que preveja que é proibido que os
servidores estaduais substituam trabalhadores de empresas privadas em greve. ( )
2) É terminantemente proibido a apresentação de emendas parlamentares em projetos de lei de iniciativa
do chefe do Poder Executivo. ( )
3) A iniciativa de competência privativa do Poder Executivo não impede a apresentação de emendas
parlamentares, presente a identidade de matéria e acompanhada da estimativa de despesa e
respectiva fonte de custeio. ( )
4) A sentença que reconhece ao trabalhador ou a servidor o direito a determinado percentual de
acréscimo remuneratório deixa de ter eficácia a partir da superveniente incorporação definitiva do
referido percentual nos seus ganhos. ( )
5) É constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício do poder de polícia de trânsito, inclusive
para a imposição de sanções administrativas legalmente previstas (ex: multas de trânsito). ( )

Gabarito
1. E 2. E 3. C 4. C 5. C

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Plano Verão: IRPJ e correção monetária de balanço - 5


Em conclusão de julgamento, o Plenário proveu recurso extraordinário em que discutida a
o stitu io alidadeàdosàa tigosà àeà àdaàLeià . / à á t.à .àáà o eç oà o et iaàdeà ueàt ataàestaà
Lei será efetuada a partir do balanço levantado em 31 de dezembro de 1988. Art. 30. Para efeito da
conversão em número de BTN, os saldos das contas sujeitas à correção monetária, existentes em 31 de
janeiro de 1989, serão atualizados monetariamente tomando-se por base o valor da OTN de NCz$ 6,92. § 1°
Os saldos das contas sujeitas à correção monetária, atualizados na forma deste artigo, serão convertidos
em número de BTN mediante a sua divisão pelo valor do BTN de NCz$ 1,00. § 2° Os valores acrescidos às
contas sujeitas à correção monetária, a partir de 1° de fevereiro até 30 de junho de 1989, serão convertidos
e à ú e oà deà BTNà edia teà aà suaà divis oà peloà valo à doà BTNà vige teà oà sà doà a s i o. à — v.
Informativos 427 e 782. O Colegiado declarou a inconstitucionalidade do § 2º do art. 30 da Lei 7.799/1989,
por entender caracterizada a ofensa aos princípios da anterioridade e da irretroatividade (CF, art. 150, III, a
e b). Asseverou que se deixara de observar o direito introduzido pela Lei 7.730/1989 — que afastara a
inflação e revogara o art. 185 da Lei 6.404/1976 e as normas de correção monetária de balanço previstas
no Decreto-Lei 2.341/1987 —, porquanto a retroatividade implementada incidira sobre fatos surgidos em
período em que inexistente a correção, implicando situação gravosa, ante o surgimento de renda a ser
tributada.
RE 188083/PR, rel. Min. Marco Aurélio, 5.8.2015.

Terras devolutas e transferência de domínio a particulares - 2


Em conclusão de julgamento, o Plenário acolheu pedido formulado em ação cível originária para declarar a
nulidade do Título Definitivo 1.449, emitido pelo Instituto de Terras do Estado do Tocantins - Itertins em
favor de réus que figuraram na presente ação, bem como determinar o cancelamento da matrícula R-1-M-
368, efetuada pelo Registro de Imóveis do Município de Marianópolis do Tocantins. Estendeu o vício aos
negócios jurídicos subsequentes, assegurados aos réus adquirentes os direitos decorrentes da evicção, nos

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 17


termos do art. 447 e seguintes do CC, e fixados os honorários advocatícios em 20% do valor atualizado da
causa, nos termos do art. 20, § 4º, do CPC, a ser rateado equitativamente pelos réus — v. Informativo 779.
O Colegiado, preliminarmente, assentou a legitimidade ativa da União na matéria. No mérito, assinalou que
a jurisprudência da Corte seria firme no sentido de não subsistir o ato de transmissão de propriedade
efetuado por Estado-Membro, se o imóvel rural nunca tivesse pertencido ao ente federado. Vencido, em
parte, o Ministro Marco Aurélio, que suscitava questão preliminar de incompetência do STF para apreciar a
matéria, haja vista se tratar de controvérsia patrimonial, sem qualquer impacto político ou institucional
entre os entes federados.
ACO 478/TO, rel. Min. Dias Toffoli, 5.8.2015.

ADI: extinção de cargo de escrivão judiciário e competência dos Estados-Membros


O Plenário julgou improcedente pedido formulado em ação direta e declarou a constitucionalidade do art.
2º, §§ 1º, 2º, 3º, 4º e 5º, da Lei 7.971, do Estado do Espírito Santo, que extingue o cargo de escrivão
judiciário e cria, em seu lugar, função de confiança para o exercício de atividades de direção, chefia e
assessoramento, por servidor público ocupante de cargo efetivo. O Tribunal asseverou que os tribunais de
justiça estaduais possuiriam competência para propor ao Poder Legislativo respectivo a criação e a extinção
de cargos, nos termos do art. 96, II, b, da CF. Consignou que a extinção do cargo de escrivão judiciário não
configuraria incursão indevida na esfera de competência da União para legislar sobre Direito Processual
(CF, art. 22, I), mormente por se tratar de vínculo administrativo-funcional, inserido na autoadministração
dos Estados-Membros (CF, art. 18). Ademais, a vacância do cargo público não se confundiria com a sua
extinção; enquanto a primeira significaria a saída do servidor do cargo público ocupado, a última seria a
eliminação de um núcleo de atribuições e responsabilidades na estrutura organizacional da Administração
Pública. Além disso, a exigência de critérios e garantias especiais para a perda do cargo pelo servidor
público estável, que desenvolvesse atividades exclusivas de Estado (CF, art. 247), somente se aplicaria à
vacância de cargo público e apenas nas estritas hipóteses do art. 41, § 1º, III, e do art. 169, § 7º, da CF, não
constituindo, portanto, qualquer óbice à extinção de cargo público por lei. No caso, a lei estadual atacada
extinguira o cargo de escrivão judiciário em sede estadual e criara, em seu lugar, função de confiança para
o exercício de atividades de direção, chefia e assessoramento, por servidor público ocupante de cargo
efetivo, em total consonância com o ordenamento constitucional, o que não configuraria transposição ou
qualquer outra forma de provimento vedada pelo Enunciado 685 da Súmula do STF.
ADI 3711/ES, rel. Min. Luiz Fux, 5.8.2015.

Desclassificação e aumento de pena imposta


áà“egu daàTu a,àpo à aio ia,à o edeu,àe àpa te,àaào de àe à ha easà o pus ,àpa aà esta ele e àpe aà
fixada em sentença condenatória de primeira instância, mantida, no entanto, a tipificação imposta pelo
STM em julgamento de recurso de apelação. No caso, o paciente fora condenado, em primeiro grau, à pena
de 1 ano e 6 meses de reclusão, pela suposta prática do crime de falsidade ideológica (CPM, art. 312), por
ter supostamente emitido declarações falsas de rendimentos em favor de outros corréus para a obtenção
de empréstimos consignados perante a Caixa Econômica Federal. O STM, contudo, dera parcial provimento
à apelação interposta pelo Ministério Público para modificar a capitulação para a do delito de uso de
documento falso (CPM, art. 315, c/c o art. 311), fixando nova reprimenda em 2 anos de reclusão. A
impetração sustentava: a) a incompetência absoluta da Justiça Militar da União, pois a suposta ação
delituosa não teria ferido nenhum bem jurídico diretamente relacionado às funções típicas das Forças
Armadas, previstas no art. 142 da CF; e b) a inexistência de correlação entre o que fora postulado pelo
Ministério Público nas razões da referida apelação e o que fora decidido pela Corte castrense, uma vez que
o apelo ministerial teria buscado apenas a modificação da capitulação do delito, sem pedido expresso de
aumento da pena imposta ao paciente. Em relação à alegada incompetência da Justiça Militar, a Turma
asseve ouà se à i vi velà aoà “TF,à e à sedeà deà ha easà o pus ,à de idi à ueà oà i eà p aticado seria o de
estelionato e que, portanto, a vítima seria a Caixa Econômica Federal. Aliás, em momento algum a denúncia
teria aludido a prejuízo alheio, elementar normativa do delito previsto no art. 171 do CP. Assim, se a

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 18


condenação se dera pela prática de uso de documento militar adulterado, previsto no art. 315 do CPM, as
condutas voltar-se-iam contra a ordem da administração militar, circunstância configuradora de crime
militar impróprio, nos termos do art. 9º, III, a, do CPM.

Quanto à alegação de ilegitimidade do aumento, em sede recursal, da pena anteriormente imposta, a


Turma assentou que, no caso, seria indevida a majoração em sede de apelação, pois dessa parte não teria
recorrido a acusação. O recurso de apelação do Ministério Público teria expressa e teà o sig adoà ueà oà
apelo ministerial cinge-se unicamente na correção do tipo penal a que o mesmo está incurso, pois sua
condenação deve se dar pela prática de uso de documento falso, consoante tipificação do art. 315 do
Código Penal Militar, nos exatos termos da fundamentação da sentença recorrida, inclusive quanto ao
ape a e toà ditadoà peloà Colegiadoà deà ªà I st ia .à Oà “TM,à aoà da à pa ialà p ovi e toà aoà e u soà pa aà
modificar a adequação típica, como postulado no recurso, desacolhera o pleito relativo à manutenção da
reprimenda, aplicando a pena cominada ao crime do art. 315 do CPM. Não se poderia, entretanto, admitir
o agravamento da reprimenda, de ofício, pelo STM, ainda que o recurso tivesse sido da acusação. Seria
certo que o efeito devolutivo inerente ao recurso de apelação permitiria que o tribunal o apreciasse em
exaustivo nível de profundidade. O mesmo não ocorreria, porém, no tocante à sua extensão — limite
horizontal —, que deveria se adstringir — sobretudo em se tratando de recurso da acusação — à matéria
questionada e ao pedido formulado na petição recursal, ressalvada sempre a possibilidade de concessão de
o de à deà ha easà o pus à deà ofí io.à E à o lus o,à ha ela à oà atoà daà Co teà eviso aà ueà ag ava aà aà
situação processual do réu sem que a própria acusação a tivesse almejado certamente implicaria violação a
princípios básicos do processo penal constitucional. Vencido o Ministro Dias Toffoli, que denegava a ordem
por entender que não caberia ao Ministério Público se manifestar sobre qual a pena a ser aplicada no caso
em comento, mas, sim, ao Poder Judiciário.
HC 112382/RS, rel. Min. Teori Zavascki, 4.8.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 3 a 7 de agosto de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 782.749-RS


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES RELATIVAS À CIRCULAÇÃO DE
MERCADORIAS E SOBRE PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS DE TRANSPORTE INTERESTADUAL E INTERMUNICIPAL E DE
COMUNICAÇÃO - ICMS. INCIDÊNCIA SOBRE A TARIFA DE ―ASSINATURA BÁSICA MENSAL‖. REPERCUSSÃO GERAL
CONFIGURADA.
1. Possui repercussão geral a questão relativa à incidência ou não do ICMS-comunicação (Constituição, art. 155, II) sobre a tarifa denominada
―assinatura básica mensal‖, paga pelo consumidor às concessionárias de telefonia, de forma permanente e contínua, durante toda a vigência do
contrato de prestação de serviços.
2. Repercussão geral reconhecida.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 891.653-MG
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO AJUIZADA EM FACE DE
CONSTRUTORA. VÍCIOS NA EDIFICAÇÃO DE IMÓVEL ADQUIRIDO ATRAVÉS DO PROGRAMA GOVERNAMENTAL ―MINHA CASA,
MINHA VIDA‖. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. CONSEQUENTE COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa à existência ou não de litisconsórcio passivo necessário entre a Caixa Econômica Federal e a parte demandada, com o
consequente reconhecimento da competência da Justiça Federal para julgar a ação, configura questão que envolve única e exclusivamente juízo a
respeito dos termos da demanda (causa de pedir e pedido) e das normas processuais, infraconstitucionais, que disciplinam a existência ou não de
litisconsórcio passivo necessário. Não há, portanto, matéria constitucional a ser apreciada.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
Decisões Publicadas: 2

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 19


CLIPPING DO D JE
3 a 7 de agosto de 2015

ADI N. 524-ES
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. INCISO VI DO ART. 32 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO. SERVIDOR PÚBLICO. NEPOTISMO. VEDAÇÃO AO EXERCÍCIO DE FUNÇÕES SOB A DIREÇÃO IMEDIATA DE CÔNJUGE OU
PARENTE ATÉ O SEGUNDO GRAU CIVIL. VIOLAÇÃO AO INCISO II DO ART. 37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E AO PRINCÍPIO DA
ISONOMIA. INEXISTÊNCIA. PROIBIÇÃO QUE DECORRE DO CAPUT DO ART. 37 DA CF. PROCEDÊNCIA PARCIAL PARA
EMPRESTAR INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO. INCIDÊNCIA EXCLUSIVA SOBRE CARGOS DE PROVIMENTO EM
COMISSÃO, FUNÇÃO GRATIFICADA E CARGOS E DIREÇÃO E ASSESSORAMENTO.
*noticiado no Informativo 786
ADI N. 3.580-MG
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 17, I e II, da Lei 12.919, de 29 de junho de 1998, do Estado de Minas Gerais. 3. Concurso Público de
Ingresso e Remoção nos Serviços Notarias e de Registro. Apresentação dos seguintes títulos: a) tempo de serviço prestado como titular, interino,
substituto ou escrevente em serviço notarial e de registro (art. 17, I); b) apresentação de temas em congressos relacionados com os serviços notariais e
registrais (art. 17, II). 4. Violação ao princípio constitucional da isonomia. Atividades específicas relacionadas às atividades notarial e de registro.
Precedentes. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. 6. Modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade. Efeito ex
nunc, a partir de 8.2.2006, data da concessão da cautelar.
*noticiado no Informativo 786
ADO N. 22-DF
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO. REGULAMENTAÇÃO DE PROPAGANDA DE BEBIDAS DE
TEOR ALCOÓLICO INFERIOR A TREZE GRAUS GAY LUSSAC (13° GL). AUSÊNCIA DE OMISSÃO. ATUAÇÃO DO PODER LEGISLATIVO.
ART. 2º DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE DE ATUAR O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO LEGISLADOR
POSITIVO, SUBSTITUINDO-SE AO PODER LEGISLATIVO NA DEFINIÇÃO DE CRITÉRIOS ADOTADOS NA APROVAÇÃO DAS NORMAS DE
PROPAGANDA DE BEBIDAS ALCOÓLICAS: PRECEDENTES. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. DECISÃO COM EFEITOS VINCUANTES.
*noticiado no Informativo 782
ADO N. 28-SP
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO. APOSENTADORIA ESPECIAL PARA POLICIAIS FEMININAS
CIVIS E MILITARES. ART. 40, § 1º E § 4º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.
1. Inexistência de omissão inconstitucional relativa à aposentadoria especial das servidoras da Polícia Militar. A Lei Complementar n. 144/2014,
norma geral editada pela União nos termos do art. 24, § 4º, da Constituição da República, é aplicável às servidoras da Polícia Civil do Estado de São
Paulo. Precedentes.
2. O art. 42, § 1º, da Constituição da República preceitua: a) o regime previdenciário próprio dos militares, a ser instituído por lei específica estadual;
b) não contempla a aplicação de normas relativas aos servidores públicos civis para os militares, ressalvada a norma do art. 40, § 9º, pela qual se
reconhece que “o tempo de contribuição federal, estadual ou municipal será contado para efeito de aposentadoria e o tempo de serviço
correspondente para efeito de disponibilidade”. Inaplicabilidade do art. 40, §§ 1º e § 4º, da Constituição da República, para os policiais militares.
Precedentes.
3. Ação direta de inconstitucionalidade por omissão julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 781
MS N. 25.845-DF
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
Mandado de segurança preventivo. 2. Ato futuro do Presidente do Tribunal de Contas da União. Determinação do pagamento das parcelas referentes
aos quintos decorrente do exercício de funções comissionadas no período compreendido entre a edição da Lei 9.624/1998 e a MP 2.225-48/2001. 3.
Impossibilidade de incorporação de quintos decorrente do exercício de funções comissionadas no período compreendido entre a edição da Lei
9.624/1998 e a MP nº 2.225-48/2001. Art. 61, § 1º, inciso II, ―a‖, e 63, inciso I, CF/88. Ausência de fundamentação legal indispensável para
incorporação dos quintos no período de 9.4.1998 a 4.9.2001, data da edição da MP 2.225-45/2001. Violação ao princípio constitucional da legalidade.
A medida provisória tão somente transformou em Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada (VPNI) a incorporação das parcelas a que se referem
os arts. 3º e 10 da Lei 8.911, de 11 de julho de 1994, e o art. 3º da Lei 9.624, de 2 de abril de 1998. 4. Impetração julgada prejudicada, com
reconhecimento de inconstitucionalidade. Acórdão 2.248/2005 do TCU.
*noticiado no Informativo778
Rcl N. 5.826-PA
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. DIAS TOFFOLI
Reclamação constitucional. Advogado. Recolhimento em sala de estado-maior, cujo desuso retira a consistência do ato normativo previsto no
Estatuto dos Advogados. Contrariedade ao que decidido na ADI nº 1.127/DF. Não ocorrência. Decisão reclamada que não se amparou na
inconstitucionalidade do art. 7º, inciso V, da Lei nº 8.096/94. Impropriedade da ação para averiguar se as instalações onde o reclamante se
encontra custodiado preencheriam os requisitos aptos a qualificá-la como sala de estado-maior. Precedentes. Improcedência.
1. A reclamação é instrumento destinado a preservar a competência do Supremo Tribunal Federal, garantir a autoridade dos seus julgados e infirmar
decisões que desrespeitem súmula vinculante editada pela Corte.
2. A decisão reclamada ao tratar das condições físicas do local onde o reclamante se encontra custodiado e se esse se enquadra no conceito de sala de
estado maior não se amparou na inconstitucionalidade do art. 7º, inciso V, do Estatuto dos Advogados, não havendo, portanto, que se falar em
descumprimento do que foi decidido no julgamento da ADI nº 1.127/DF.
3. Impropriedade da ação para averiguar situação de fato.
4. Reclamação improcedente.

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 20


*noticiado no Informativo 778
RE N. 211.304-RJ
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E ECONÔMICO. SISTEMA MONETÁRIO. PLANO REAL. NORMAS DE TRANSPOSIÇÃO DAS
OBRIGAÇÕES MONETÁRIAS ANTERIORES. INCIDÊNCIA IMEDIATA, INCLUSIVE SOBRE CONTRATOS EM CURSO DE EXECUÇÃO.
ART. 21 DA MP 542/94. INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO À MANUTENÇÃO DOS TERMOS ORIGINAIS DAS CLÁUSULAS DE
CORREÇÃO MONETÁRIA.
1. A aplicação da cláusula constitucional que assegura, em face da lei nova, a preservação do direito adquirido e do ato jurídico perfeito (CF, art. 5º,
XXXVI) impõe distinguir duas diferentes espécies de situações jurídicas: (a) as situações jurídicas individuais, que são formadas por ato de vontade
(especialmente os contratos), cuja celebração, quando legítima, já lhes outorga a condição de ato jurídico perfeito, inibindo, desde então, a incidência
de modificações legislativas supervenientes; e (b) as situações jurídicas institucionais ou estatutárias, que são formadas segundo normas gerais e
abstratas, de natureza cogente, em cujo âmbito os direitos somente podem ser considerados adquiridos quando inteiramente formado o suporte fático
previsto na lei como necessário à sua incidência. Nessas situações, as normas supervenientes, embora não comportem aplicação retroativa, podem ter
aplicação imediata.
2. Segundo reiterada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as normas que tratam do regime monetário - inclusive, portanto, as de correção
monetária -, têm natureza institucional e estatutária, insuscetíveis de disposição por ato de vontade, razão pela qual sua incidência é imediata,
alcançando as situações jurídicas em curso de formação ou de execução. É irrelevante, para esse efeito, que a cláusula estatutária esteja reproduzida
em ato negocial (contrato), eis que essa não é circunstância juridicamente apta a modificar a sua natureza.
3. As disposições do art. 21 da Lei 9.069/95, resultante da conversão da MP 542/94, formam um dos mais importantes conjuntos de preceitos
normativos do Plano REAL, um dos seus pilares essenciais, justamente o que fixa os critérios para a transposição das obrigações monetárias,
inclusive contratuais, do antigo para o novo sistema monetário. São, portanto, preceitos de ordem pública e seu conteúdo, por não ser suscetível de
disposição por atos de vontade, têm natureza estatutária, vinculando de forma necessariamente semelhante a todos os destinatários. Dada essa
natureza institucional (estatutária), não há inconstitucionalidade na sua aplicação imediata (que não se confunde com aplicação retroativa) para
disciplinar as cláusulas de correção monetária de contratos em curso.
4. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
*noticiado no Informativo 783

RE N. 638.115-CE
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso extraordinário. 2. Administrativo. 3. Servidor público. 4. Incorporação de quintos decorrente do exercício de funções comissionadas no
período compreendido entre a edição da Lei 9.624/1998 e a MP 2.225-48/2001. 5. Impossibilidade. 6. Recurso extraordinário provido.
*noticiado no Informativo 778
MS N. 33.340-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. CONTROLE LEGISLATIVO FINANCEIRO. CONTROLE EXTERNO. REQUISIÇÃO PELO
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO DE INFORMAÇÕES ALUSIVAS A OPERAÇÕES FINANCEIRAS REALIZADAS PELAS
IMPETRANTES. RECUSA INJUSTIFICADA. DADOS NÃO ACOBERTADOS PELO SIGILO BANCÁRIO E EMPRESARIAL.
1. O controle financeiro das verbas públicas é essencial e privativo do Parlamento como consectário do Estado de Direito (IPSEN, Jörn.
Staatsorganisationsrecht. 9. Auflage. Berlin: Luchterhand, 1997, p. 221).
2. O primado do ordenamento constitucional democrático assentado no Estado de Direito pressupõe uma transparente responsabilidade do Estado e,
em especial, do Governo. (BADURA, Peter. Verfassung, Staat und Gesellschaft in der Sicht des Bundesverfassungsgerichts. In:
Bundesverfassungsgericht und Grundgesetz. Festgabe aus Anlass des 25jähringe Bestehens des Bundesverfassungsgerichts. Weiter Band. Tübingen:
Mohr, 1976, p. 17.)
3. O sigilo de informações necessárias para a preservação da intimidade é relativizado quando se está diante do interesse da sociedade de se conhecer
o destino dos recursos públicos.
4. Operações financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas pelo sigilo bancário a que alude a Lei Complementar nº 105/2001,
visto que as operações dessa espécie estão submetidas aos princípios da administração pública insculpidos no art. 37 da Constituição Federal. Em tais
situações, é prerrogativa constitucional do Tribunal [TCU] o acesso a informações relacionadas a operações financiadas com recursos públicos.
5. O segredo como ―alma do negócio‖ consubstancia a máxima cotidiana inaplicável em casos análogos ao sub judice, tanto mais que, quem
contrata com o poder público não pode ter segredos, especialmente se a revelação for necessária para o controle da legitimidade do emprego dos
recursos públicos. É que a contratação pública não pode ser feita em esconderijos envernizados por um arcabouço jurídico capaz de impedir o
controle social quanto ao emprego das verbas públicas.
6. ―O dever administrativo de manter plena transparência em seus comportamentos impõe não haver em um Estado Democrático de Direito, no qual o
poder reside no povo (art. 1º, parágrafo único, da Constituição), ocultamento aos administrados dos assuntos que a todos interessam, e muito menos
em relação aos sujeitos individualmente afetados por alguma medida.‖ (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 27ª
edição. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 114).
7. O Tribunal de Contas da União não está autorizado a, manu militari, decretar a quebra de sigilo bancário e empresarial de terceiros, medida
cautelar condicionada à prévia anuência do Poder Judiciário, ou, em situações pontuais, do Poder Legislativo. Precedente: MS 22.801, Tribunal Pleno,
Rel. Min. Menezes Direito, DJe 14.3.2008.
8. In casu, contudo, o TCU deve ter livre acesso às operações financeiras realizadas pelas impetrantes, entidades de direito privado da Administração
Indireta submetidas ao seu controle financeiro, mormente porquanto operacionalizadas mediante o emprego de recursos de origem pública.
Inoponibilidade de sigilo bancário e empresarial ao TCU quando se está diante de operações fundadas em recursos de origem pública. Conclusão
decorrente do dever de atuação transparente dos administradores públicos em um Estado Democrático de Direito.
9. A preservação, in casu, do sigilo das operações realizadas pelo BNDES e BNDESPAR com terceiros não, apenas, impediria a atuação
constitucionalmente prevista para o TCU, como, também, representaria uma acanhada, insuficiente, e, por isso mesmo, desproporcional limitação ao
direito fundamental de preservação da intimidade.
10. O princípio da conformidade funcional a que se refere Canotilho, também, reforça a conclusão de que os órgãos criados pela Constituição da
República, tal como o TCU, devem se manter no quadro normativo de suas competências, sem que tenham autonomia para abrir mão daquilo que o
constituinte lhe entregou em termos de competências.(CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 5ª
edição. Coimbra: Almedina, 2002, p. 541.)
11. A Proteção Deficiente de vedação implícita permite assentar que se a publicidade não pode ir tão longe, de forma a esvaziar,
desproporcionalmente, o direito fundamental à privacidade e ao sigilo bancário e empresarial; não menos verdadeiro é que a insuficiente limitação ao
direito à privacidade revelar-se-ia, por outro ângulo, desproporcional, porquanto lesiva aos interesses da sociedade de exigir do Estado brasileiro uma
atuação transparente.

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 21


12. No caso sub examine:
I) O TCU determinou o fornecimento de dados pela JBS/Friboi, pessoa que celebrou contratos vultosos com o BNDES, a fim de aferir, por exemplo,
os critérios utilizados para a escolha da referida sociedade empresária, quais seriam as vantagens sociais advindas das operações analisadas, se houve
cumprimento das cláusulas contratuais, se as operações de troca de debêntures por posição acionária na empresa ora indicada originou prejuízo para o
BNDES.
II) O TCU não agiu de forma imotivada e arbitrária, e nem mesmo criou exigência irrestrita e genérica de informações sigilosas. Sobre o tema, o ato
coator aponta a existência de uma operação da Polícia Federal denominada Operação Santa Tereza que apontou a existência de quadrilha
intermediando empréstimos junto ao BNDES, inclusive envolvendo o financiamento obtido pelo Frigorífico Friboi. Ademais, a necessidade do
controle financeiro mais detido resultou, segundo o decisum atacado, de um ―protesto da Associação Brasileira da Indústria Frigorífica (Abrafigo)
contra a política do BNDES que estava levanto à concentração econômica do setor‖.
III) A requisição feita pelo TCU na hipótese destes autos revela plena compatibilidade com as atribuições constitucionais que lhes são dispensadas e
permite, de forma idônea, que a sociedade brasileira tenha conhecimento se os recursos públicos repassados pela União ao seu banco de fomento
estão sendo devidamente empregados.
13. Consequentemente a recusa do fornecimento das informações restou inadmissível, porquanto imprescindíveis para o controle da sociedade quanto
à destinação de vultosos recursos públicos. O que revela que o determinado pelo TCU não extrapola a medida do razoável.
14. Merece destacar que in casu:
a) Os Impetrantes são bancos de fomento econômico e social, e não instituições financeiras privadas comuns, o que impõe, aos que com eles
contratam, a exigência de disclosure e de transparência, valores a serem prestigiados em nossa República contemporânea, de modo a viabilizar o
pleno controle de legitimidade e responsividade dos que exercem o poder.
b) A utilização de recursos públicos por quem está submetido ao controle financeiro externo inibe a alegação de sigilo de dados e autoriza a
divulgação das informações necessárias para o controle dos administradores, sob pena de restar inviabilizada a missão constitucional da Corte de
Contas.
c) À semelhança do que já ocorre com a CVM e com o BACEN, que recebem regularmente dados dos Impetrantes sobre suas operações financeiras,
os Demandantes, também, não podem se negar a fornecer as informações que forem requisitadas pelo TCU.
15. A limitação ao direito fundamental à privacidade que, por se revelar proporcional, é compatível com a teoria das restrições das restrições
(Schranken-Schranken). O direito ao sigilo bancário e empresarial, mercê de seu caráter fundamental, comporta uma proporcional limitação destinada
a permitir o controle financeiro da Administração Publica por órgão constitucionalmente previsto e dotado de capacidade institucional para tanto.
16. É cediço na jurisprudência do E. STF que: ―ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – PUBLICIDADE. A transparência decorre do princípio da
publicidade. TRIBUNAL DE CONTAS – FISCALIZAÇÃO – DOCUMENTOS. Descabe negar ao Tribunal de Contas o acesso a documentos relativos
à Administração Pública e ações implementadas, não prevalecendo a óptica de tratar-se de matérias relevantes cuja divulgação possa importar em
danos para o Estado. Inconstitucionalidade de preceito da Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado do Ceará que implica óbice ao acesso.‖
(ADI 2.361, Tribunal Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe 23/10/2014).
17. Jusfilosoficamente as premissas metodológicas aplicáveis ao caso sub judice revelam que:
I - “nuclearmente feito nas pranchetas da Constituição. Foi o legislador de primeiríssimo escalão quem estruturou e funcionalizou todos eles (os
Tribunais de Contas), prescindindo das achegas da lei menor. (...) Tão elevado prestígio conferido ao controle externo e a quem dele mais se ocupa,
funcionalmente, é reflexo direto do princípio republicano. Pois, numa República, impõe-se responsabilidade jurídica pessoal a todo aquele que tenha
por competência (e consequente dever) cuidar de tudo que é de todos”. (BRITTO, Carlos Ayres. O regime constitucional dos Tribunais de Contas. In:
Revista do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Volume 8. 2º semestre de 2014. Rio de Janeiro: TCE-RJ, p. 18 e 20)
II - “A legitimidade do Estado Democrático de Direito depende do controle da legitimidade da sua ordem financeira. Só o controle rápido, eficiente,
seguro, transparente e valorativo dos gastos públicos legitima o tributo, que é o preço da liberdade. O aperfeiçoamento d controle é que pode
derrotar a moral tributária cínica, que prega a sonegação e a desobediência civil a pretexto da ilegitimidade da despesa pública. (TORRES, Ricardo
Lobo. Uma Avaliação das Tendências Contemporâneas do Direito Administrativo. Obra em homenagem a Eduardo García de Enterría. Rio de
Janeiro: Renovar, 2003, p. 645)
18. Denegação da segurança por ausência de direito material de recusa da remessa dos documentos.
*noticiado no Informativo 787
QUEST. ORD. EM ADI N. 4.425-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM. MODULAÇÃO TEMPORAL DOS EFEITOS DE DECISÃO DECLARATÓRIA DE
INCONSTITUCIONALIDADE (LEI 9.868/99, ART. 27). POSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE ACOMODAÇÃO OTIMIZADA DE
VALORES CONSTITUCIONAIS CONFLITANTES. PRECEDENTES DO STF. REGIME DE EXECUÇÃO DA FAZENDA PÚBLICA
MEDIANTE PRECATÓRIO. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 62/2009. EXISTÊNCIA DE RAZÕES DE SEGURANÇA JURÍDICA
QUE JUSTIFICAM A MANUTENÇÃO TEMPORÁRIA DO REGIME ESPECIAL NOS TERMOS EM QUE DECIDIDO PELO
PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
1. A modulação temporal das decisões em controle judicial de constitucionalidade decorre diretamente da Carta de 1988 ao consubstanciar
instrumento voltado à acomodação otimizada entre o princípio da nulidade das leis inconstitucionais e outros valores constitucionais relevantes,
notadamente a segurança jurídica e a proteção da confiança legítima, além de encontrar lastro também no plano infraconstitucional (Lei nº 9.868/99,
art. 27). Precedentes do STF: ADI nº 2.240; ADI nº 2.501; ADI nº 2.904; ADI nº 2.907; ADI nº 3.022; ADI nº 3.315; ADI nº 3.316; ADI nº 3.430;
ADI nº 3.458; ADI nº 3.489; ADI nº 3.660; ADI nº 3.682; ADI nº 3.689; ADI nº 3.819; ADI nº 4.001; ADI nº 4.009; ADI nº 4.029.
2. In casu, modulam-se os efeitos das decisões declaratórias de inconstitucionalidade proferidas nas ADIs nº 4.357 e 4.425 para manter a vigência do
regime especial de pagamento de precatórios instituído pela Emenda Constitucional nº 62/2009 por 5 (cinco) exercícios financeiros a contar de
primeiro de janeiro de 2016.
3. Confere-se eficácia prospectiva à declaração de inconstitucionalidade dos seguintes aspectos da ADI, fixando como marco inicial a data de
conclusão do julgamento da presente questão de ordem (25.03.2015) e mantendo-se válidos os precatórios expedidos ou pagos até esta data, a saber:
(i) fica mantida a aplicação do índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR), nos termos da Emenda Constitucional nº 62/2009,
até 25.03.2015, data após a qual (a) os créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E)
e (b) os precatórios tributários deverão observar os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus créditos tributários; e (ii) ficam
resguardados os precatórios expedidos, no âmbito da administração pública federal, com base nos arts. 27 das Leis nº 12.919/13 e nº 13.080/15, que
fixam o IPCA-E como índice de correção monetária.
4. Quanto às formas alternativas de pagamento previstas no regime especial: (i) consideram-se válidas as compensações, os leilões e os pagamentos à
vista por ordem crescente de crédito previstos na Emenda Constitucional nº 62/2009, desde que realizados até 25.03.2015, data a partir da qual não
será possível a quitação de precatórios por tais modalidades; (ii) fica mantida a possibilidade de realização de acordos diretos, observada a ordem de
preferência dos credores e de acordo com lei própria da entidade devedora, com redução máxima de 40% do valor do crédito atualizado.

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 22


5. Durante o período fixado no item 2 acima, ficam mantidas (i) a vinculação de percentuais mínimos da receita corrente líquida ao pagamento dos
precatórios (art. 97, § 10, do ADCT) e (ii) as sanções para o caso de não liberação tempestiva dos recursos destinados ao pagamento de precatórios
(art. 97, §10, do ADCT).
6. Delega-se competência ao Conselho Nacional de Justiça para que considere a apresentação de proposta normativa que discipline (i) a utilização
compulsória de 50% dos recursos da conta de depósitos judiciais tributários para o pagamento de precatórios e (ii) a possibilidade de compensação de
precatórios vencidos, próprios ou de terceiros, com o estoque de créditos inscritos em dívida ativa até 25.03.2015, por opção do credor do precatório.
7. Atribui-se competência ao Conselho Nacional de Justiça para que monitore e supervisione o pagamento dos precatórios pelos entes públicos na
forma da presente decisão.
*noticiado no Informativo 779
MS N. 30.788-MG
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. TRIBUNAL DE CONTAS. DEVIDO
PROCESSO LEGAL. SANÇÃO DE INIDONEIDADE.
1. Em processo administrativo no âmbito do Tribunal de Contas, é válida a comunicação por edital depois de tentativa frustrada de comunicação
postal (Lei nº 8.443/1992, art. 23, III).
2. É constitucional o art. 46 da Lei nº 8.443/1992, que institui sanção de inidoneidade a particulares por fraude a licitação, aplicável pelo TCU.
Precedente: Pet 3.606 AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence.
3. Ordem denegada.
*noticiado no Informativo 786
RE N. 603.580-RJ
RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. INSTITUIDOR
APOSENTADO ANTES DA EMENDA CONSTITUCIONAL 41/2003, PORÉM FALECIDO APÓS SEU ADVENTO. DIREITO DO
PENSIONISTA À PARIDADE. IMPOSSIBILIDADE. EXCEÇÃO: ART. 3º DA EC 47/2005. RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE DÁ
PARCIAL PROVIMENTO.
I – O benefício previdenciário da pensão por morte deve ser regido pela lei vigente à época do óbito de seu instituidor.
II – Às pensões derivadas de óbito de servidores aposentados nos termos do art. 3º da EC 47/2005 é garantido o direito à paridade.
III – Recurso extraordinário a que se dá parcial provimento.
*noticiado no Informativo 786
ADI N. 3.127-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: TRABALHISTA E CONSTITUCIONAL. MP 2.164-41/2001. INCLUSÃO DO ART. 19-A NA LEI 8.036/1990. EMPREGADOS
ADMITIDOS SEM CONCURSO PÚBLICO. CONTRATAÇÃO NULA. EFEITOS. RECOLHIMENTO E LEVANTAMENTO DO FGTS.
LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DA NORMA.
1. O art. 19-A da Lei 8.036/90, incluído pela MP 2.164/01, não afronta o princípio do concurso público, pois ele não infirma a nulidade da contratação
feita à margem dessa exigência, mas apenas permite o levantamento dos valores recolhidos a título de FGTS pelo trabalhador que efetivamente
cumpriu suas obrigações contratuais, prestando o serviço devido. O caráter compensatório dessa norma foi considerado legítimo pelo Supremo
Tribunal Federal no RE 596.478, Red. p/ acórdão Min. Dias Toffoli, DJe de 1º/3/2013, com repercussão geral reconhecida.
2. A expansão da abrangência do FGTS para cobrir outros riscos que não aqueles estritamente relacionados com a modalidade imotivada de dispensa
– tais como a própria situação de desemprego e outros eventos socialmente indesejáveis, como o acometimento por doença grave e a idade avançada –
não compromete a essência constitucional do fundo.
3. A MP 2.164/01 não interferiu na autonomia administrativa dos Estados, Distrito Federal e Municípios para organizar o regime funcional de seus
respectivos servidores, uma vez que, além de não ter criado qualquer obrigação financeira sem previsão orçamentária, a medida em questão dispôs
sobre relações jurídicas de natureza trabalhista, dando nova destinação a um valor que, a rigor, já vinha sendo ordinariamente recolhido na conta do
FGTS vinculada aos empregados.
4. Ao autorizar o levantamento do saldo eventualmente presente nas contas de FGTS dos empregados desligados até 28/7/2001, impedindo a reversão
desses valores ao erário sob a justificativa de anulação contratual, a norma do art. 19-A da Lei 8.036/90 não acarretou novos dispêndios, não
desconstituiu qualquer ato jurídico perfeito, nem investiu contra nenhum direito adquirido da Administração Pública, pelo que não há falar em
violação ao art. 5º, XXXVI, da CF.
5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 779
RE N. 422.349-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA:Recurso extraordinário. Repercussão geral. Usucapião especial urbana. Interessados que preenchem todos os requisitos exigidos
pelo art. 183 da Constituição Federal. Pedido indeferido com fundamento em exigência supostamente imposta pelo plano diretor do
município em que localizado o imóvel. Impossibilidade. A usucapião especial urbana tem raiz constitucional e seu implemento não pode ser
obstado com fundamento em norma hierarquicamente inferior ou em interpretação que afaste a eficácia do direito constitucionalmente
assegurado. Recurso provido.
1. Módulo mínimo do lote urbano municipal fixado como área de 360 m2. Pretensão da parte autora de usucapir porção de 225 m2, destacada de um
todo maior, dividida em composse.
2. Não é o caso de declaração de inconstitucionalidade de norma municipal.
3. Tese aprovada: preenchidos os requisitos do art. 183 da Constituição Federal, o reconhecimento do direito à usucapião especial urbana não
pode ser obstado por legislação infraconstitucional que estabeleça módulos urbanos na respectiva área em que situado o imóvel (dimensão do
lote).
4. Recurso extraordinário provido.
*noticiado no Informativo 783
MS N. 33.163-DF
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO NEGATIVA DO CONSELHO
NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INCOMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
1. A impugnação de decisão negativa do CNMP não enseja a competência originária desta Corte (art. 102, I, r, da CF).
2. Mandado de segurança não conhecido.

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 23


*noticiado no Informativo 784

Acórdãos Publicados: 624

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

“Habeas corpus” e autorização para visitas (Transcrições)


(v. Informativo 792)
HC 127.685/DF*
RELATOR: Ministro Dias Toffoli
EMENTA: Habeas corpus. Execução penal. Ato impugnado. Negativa de autorização para a companheira visitar o paciente (art. 41, X,
da Lei nº 7.210/84). Meio inidôneo para questionar sua legalidade. Inexistência de efetiva restrição ao status libertatis do paciente. Writ
do qual não se conhece.
1. O habeas corpus não constitui meio idôneo para se discutir a legalidade da proibição de a companheira visitar o paciente preso, por
inexistência de efetiva restrição ao seu status libertatis. Precedentes.
2. Habeas corpus do qual não se conhece.
RELATÓRIO: Habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de **, apontando como autoridade coatora a Sexta Turma do Superior
Tribunal de Justiça, que negou provimento ao agravo regimental no AREsp nº 574.120/DF, Relator o Ministro Sebastião Reis Júnior.
A impetrante alega, em síntese, a ilegalidade da decisão proferida pelo juízo da execução, que indeferiu o pedido de autorização de visitas feito
pela companheira do paciente, atualmente em cumprimento de pena privativa de liberdade.
Sustenta que
“o direito de visitas consubstancia direito fundamental do apenado, interligado diretamente à finalidade precípua da pena, consistente
na ressocialização do sentenciado. Assim, ainda que o direito de visitas, com efeito, não seja „absoluto ou ilimitado‟, é necessário que o seu
indeferimento seja concretamente fundamento com base em justificativa idônea (...)‖ (fl. 7 da inicial).
Entende a impetrante que
“não se erigiram fundamentos suficientes para subsidiar o seu indeferimento, pois este foi ancorado na suposta necessidade de se
preservar o estabelecimento prisional, a qual deve reverter em obrigações ao Estado, e não em restrições aos direitos dos apenados” (fl. 9 da
inicial).
Requer, liminarmente, a concessão da ordem para que seja assegurado ao paciente o direito de visita de sua companheira e, no mérito, sua
confirmação.
O pedido de liminar foi por mim indeferido.
Requisitei informações ao juízo das execuções criminais, que foram devidamente prestadas.
O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do Subprocurador-Geral da República Dr. Edson Oliveira de Almeida, manifestou-se pelo
não conhecimento do writ.
É o relatório.
VOTO: Conforme relatado, trata-se de habeas corpus impetrado em favor de **, apontando como autoridade coatora a Sexta Turma do Superior
Tribunal de Justiça, que negou provimento ao agravo regimental no AREsp nº 574.120/DF, Relator o Ministro Sebastião Reis Júnior.
Transcrevo a ementa do julgado ora impugnado:
“PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO EM EXECUÇÃO
PENAL. DIREITO DE VISITA. COMPANHEIRA CONDENADA POR TRÁFICO DE DROGAS. ART. 41, X, DA LEI N. 7.210/1984. O
DIREITO À VISITAÇÃO NÃO É ABSOLUTO. ACÓRDÃO EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. SÚMULA
83/STJ. ALEGAÇÃO DE DECRETAÇÃO DA EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO DA TESE
DEFENDIDA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. ARTS. 1º E 38 DO CP. INOVAÇÃO DE ARGUMENTOS. APRECIAÇÃO DE MATÉRIA
CONSTITUCIONAL. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
1. Não trazendo o agravante tese jurídica capaz de modificar o posicionamento anteriormente firmado, é de se manter a decisão
agravada por seus próprios fundamentos.
2. A questão referente aos arts. 1º, 38, 91 e 92 do Código Penal não foi objeto do recurso especial, muito menos do agravo, o que
configura inovação de tese, ficando impossibilitada a sua apreciação na presente sede recursal.
3. A análise de dispositivos constitucionais é de competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, sendo defeso a esta Corte
Superior fazê-la, sob pena de usurpação da competência atribuída pela Carta Magna. Dessa forma, inviável o exame do art. 5º, II, XXXIV e
LVII, da Constituição Federal.
4. Agravo regimental improvido” (fl. 1 do anexo 10).
Essa é a razão por que se insurge a impetrante, insistindo na revogação da proibição de a companheira visitar o paciente, que se encontra preso.
A inadequação da via eleita é manifesta.
Nesse sentido, já decidiu o Supremo Tribunal Federal,
“‟HABEAS CORPUS‟ – DIREITO DO CONDENADO DE RECEBER VISITA DA COMPANHEIRA NO ESTABELECIMENTO PRISIONAL EM
QUE CUMPRE PENA (LEI Nº 7.210/84, ART. 41, X) – UTILIZAÇÃO, PARA TAL FINALIDADE, DA AÇÃO DE „HABEAS CORPUS‟ – INADEQUAÇÃO
ABSOLUTA DO MEIO PROCESSUAL UTILIZADO – CESSAÇÃO DA DOUTRINA BRASILEIRA DO “HABEAS CORPUS” (REFORMA

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 24


CONSTITUCIONAL DE 1926) – PRECEDENTES – „HABEAS CORPUS‟ NÃO CONHECIDO” (HC nº 115.542/DF-MC, Segunda Turma,
Relator o Ministro Celso de Mello, DJe de 25/4/13).
Como destacado pelo eminente Ministro Celso de Mello no voto condutor desse acórdão,
―Como se sabe, a ação de ―habeas corpus‖ destina-se, unicamente, a amparar a imediata liberdade de locomoção física das pessoas,
revelando-se estranha, à sua específica finalidade jurídico-constitucional, qualquer pretensão que vise a desconstituir atos que não se mostrem
ofensivos, ainda que potencialmente, ao direito de ir, de vir e de permanecer das pessoas.
É por tal razão que o Supremo Tribunal Federal, atento à destinação constitucional do ‘habeas corpus‟, não tem conhecido do
remédio heroico, quando utilizado, como no caso, em situações de que não resulte qualquer possibilidade de ofensa ao ―jus manendi,
ambulandi, eundi ultro citroque‖ (RTJ 116/523 – RTJ 141/159).
A ação de ‘habeas corpus’, portanto, enquanto remédio jurídico-constitucional revestido de finalidade específica, não pode ser
utilizada como sucedâneo de outras ações judiciais, notadamente naquelas hipóteses em que o direito-fim (ou direito-escopo, na expressão
feliz de PEDRO LESSA) não se identifica – tal como neste caso ocorre – com a própria liberdade de locomoção física.
É que entendimento diverso conduziria, necessariamente, à descaracterização desse instrumento tutelar da liberdade de locomoção. Não se pode
desconhecer que, com a cessação da doutrina brasileira do ‘habeas corpus‟, motivada pela Reforma Constitucional de 1926, restaurou-se, em nosso
sistema jurídico, a função clássica desse remédio heroico. Por tal razão, não se revela suscetível de conhecimento a ação de ‘habeas corpus‟, quando
promovida contra ato estatal de que não resulte, de modo imediato, ofensa, atual ou iminente, à liberdade de locomoção física (RTJ 135/593 – RTJ
136/1226 – RTJ 142/896 – RTJ 152/140 – RTJ 178/1231 – RTJ 180/962 – RTJ 197/587-588, v.g.):

‟A função clássica do ‗habeas corpus‘ restringe-se à estreita tutela da imediata liberdade de locomoção física das pessoas.
- A ação de „habeas corpus‟ - desde que inexistente qualquer situação de dano efetivo ou de risco potencial ao „jus manendi,
ambulandi, eundi ultro citroque‟ - não se revela cabível, mesmo quando ajuizada para discutir eventual nulidade do processo penal
em que proferida decisão condenatória definitivamente executada.
Esse entendimento decorre da circunstância histórica de a Reforma Constitucional de 1926 - que importou na cessação
da doutrina brasileira do ‗habeas corpus‘ - haver restaurado a função clássica desse extraordinário remédio processual, destinando-
o, quanto à sua finalidade, à específica tutela jurisdicional da imediata liberdade de locomoção física das pessoas. Precedentes.‘
(RTJ 186/261-262, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

Vale insistir, bem por isso, na asserção de que o ‘habeas corpus’, em sua condição de instrumento de ativação da jurisdição
constitucional das liberdades, configura um poderoso meio de cessação do injusto constrangimento ao estado de liberdade de locomoção
física das pessoas. Se essa liberdade não se expõe a qualquer tipo de cerceamento, e se o direito de ir, vir ou permanecer sequer se revela
ameaçado, nada justifica o emprego do remédio heroico do ‘habeas corpus‟, por não estar em causa a liberdade de locomoção física:
‟CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. ‗HABEAS CORPUS‘: CABIMENTO. C.F., art. 5º, LXVIII.
I. – O „habeas corpus‟ visa a proteger a liberdade de locomoção – liberdade de ir, vir e ficar – por ilegalidade ou abuso de
poder, não podendo ser utilizado para proteção de direitos outros. C.F., art. 5º, LXVIII.
II. – H.C. indeferido, liminarmente. Agravo não provido.”
(HC 82.880-AgR/SP, Rel. Min. CARLOS VELLOSO, Pleno – grifei)

Cabe reafirmar, desse modo, que esse remédio constitucional, considerada a sua específica destinação tutelar, tem por finalidade
amparar, em sede jurisdicional, ‘única e diretamente, a liberdade de locomoção. Ele se destina à estreita tutela da imediata liberdade física
de ir e vir dos indivíduos (...)‟ (RTJ 66/396 – RTJ 177/1206-1207 – RT 423/327 – RT 338/99 – RF 213/390 – RF 222/336 – RF 230/280,
v.g.), excluída, portanto, a possibilidade de se questionar, no âmbito do processo de ‘habeas corpus‟, como ora pretendido pela parte ora
impetrante, ‘autorização para que a companheira do paciente possa visitá-lo‟, no estabelecimento penal em que cumpre pena‖.
Recentemente, no RHC nº 121.046/SP, Segunda Turma, de minha relatoria, DJe de 26/5/15, reafirmei o entendimento de que não cabe
―(…) habeas corpus que tenha por escopo assegurar o direito do condenado de receber visita da companheira no estabelecimento em
que cumpre pena (art. 41, X, da Lei nº 7.210/84), hipótese em que esta Corte já assentou a “inadequação absoluta do meio processual
utilizado‖ (HC nº 115.542/DF-MC, Segunda Turma, Relator o Ministro Celso de Mello, DJe de 25/4/13).
Não desconheço que, no HC nº 107.701/RS, Segunda Turma, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 26/3/12, ora invocado pela
impetrante, o Supremo Tribunal admitiu a impetração de habeas corpus para assegurar ao preso o direito de receber a visita de seus filhos e dos
filhos de sua companheira, ao fundamento de que,
“[e]m linhas gerais, o direito de visitas nada mais é que um desdobramento do direito de liberdade. De fato, só há falar de direito de
visitas porque a liberdade do apenado encontra-se tolhida. Dessarte, tenho para mim que a decisão do juízo das execuções que indeferiu o
pedido de visitas formulado teve diretamente o condão de repercutir na esfera de liberdade, na medida em que agrava, ainda mais, o grau de
restrição da liberdade do paciente.
Ademais, levando em conta que uma das finalidades da pena é a ressocialização, eventuais erros por parte do Estado ao promover a
execução podem e devem ser sanados via habeas corpus, sob pena de, ao fim do cumprimento da pena, não restar alcançado o objetivo de
reinserção eficaz do apenado em seu seio familiar e social”.
Nesse último caso, o pano de fundo foi a negativa de autorização para os menores visitarem o preso, ao fundamento de que seriam ―(...)
expostos, sem nenhuma garantia, a um ambiente que não lhes é próprio podendo trazer prejuízos à formação psíquica dos menores, o que, no
momento, deve[ria] ser preservado‖.
Esse argumento foi rechaçado no julgamento do HC nº 107.701/RS, sob a premissa de que ―cabe ao Poder Público o dever de propiciar meios
para que o apenado possa receber visitas, inclusive de seus filhos e enteados, em ambiente minimamente aceitável e preparado para tanto e que não
coloque em risco a integridade física e psíquica dos visitantes‖.
De toda sorte, mantenho-me fiel ao mais recente entendimento esposado pela Segunda Turma desta Suprema Corte de que, por não haver
efetiva restrição ao status libertatis do paciente, o habeas corpus é meio inidôneo para discutir direito de visita a preso.
Ainda que assim não fosse, melhor sorte não assistiria à impetrante.
Na espécie, a companheira do paciente deduziu, perante o juízo das execuções, dois pedidos de autorização para visitá-lo, que foram
indeferidos, respectivamente, em 4/9/13 e 16/6/14, ao fundamento de que veio a ser condenada definitivamente por tráfico, por ter sido flagrada, em
2/3/11, trazendo consigo droga, no próprio estabelecimento prisional em que seu companheiro estava recolhido, quando pretendia visitá-lo.
Como se observa, os fatos subjacentes à presente impetração e ao HC nº 107.701/RS são diversos, uma vez que, no caso vertente, a negativa de
autorização não se ampara na suposta necessidade de se resguardar a integridade psíquica de menores, mas sim em ato ilícito de extrema gravidade,
concretamente praticado pela companheira do paciente, comprometedor da segurança e da disciplina carcerárias.

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 25


Embora seja direito do preso ―a visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados‖ (art. 41, X, da Lei nº
7.210/84), esse direito, como destacado pelo julgado ora impugnado, não é absoluto, máxime quando a pessoa que pretenda realizar a visita veio a ser
condenada por tráfico de drogas praticado no próprio estabelecimento prisional em que recolhido o companheiro.
Nesse diapasão, encontra-se suficientemente justificada a proibição de a companheira visitar o paciente.
Com essas considerações, não conheço do writ.
*decisão pendente de publicação
** nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
3 a 7 de agosto de 2015

Lei nº 13.156, de 4.8.2015 - Altera a redação do § 2º do art. 5º da Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989, que cria
o Fundo Nacional de Meio Ambiente e dá outras providências. Publicado no DOU, Edição Extra, nº 148, Seção 1, p. 5,
em 5.8.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES
3 a 7 de agosto de 2015

CONVOCAÇÃO DE AUDIÊNCIA PÚBLICA – ADI 5.072/RJ – Uso de depósitos judiciais e


extrajudiciais – LC 147/2013 do Estado do Rio de Janeiro
O Ministro Gilmar Mendes, relator da ADI 5.072/RJ, ajuizada em face da LC 147/2013 — alterada pela LC
148/2013 e pela LC 163/2015 — do Estado do Rio de Janeiro, convocou, nos termos do art. 21, XVII, e 154, III, do
RISTF, audiência pública para debater a constitucionalidade de normas estaduais que possibilitam aos entes da
federação utilizarem-se dos recursos dos depósitos judiciais e extrajudiciais, inclusive dos efetuados em litígios nos
quais não são partes, para pagamentos de despesas diversas. As entidades convidadas e demais interessados em
participar da audiência pública, que será realizada na data provável de 21 de setembro de 2015, deverão requerer a sua
inscrição até o dia 28 de agosto de 2015, nos termos do art. 154, parágrafo único, I, do RISTF, por meio do endereço
eletrônico depositojudicial@stf.jus.br, com indicação dos respectivos representantes, bem como dos pontos que
pretendem abordar.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 793-STF (13/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 26


Márcio André Lopes Cavalcante

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: MS 26860 ED/DF; AP 530 ED-segundos/MS; RE 431602 Quarto-AgR/PB.

ÍNDICE
DIREITO PROCESSUAL PENAL
HABEAS CORPUS
 Pedido para autorização de visita.

INDULTO NATALINO
 Período de prova no sursis não pode ser equiparado a cumprimento de pena.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


CORREIÇÃO PARCIAL
 Não cabimento de correição parcial como sucedâneo de ação rescisória

DIREITO PROCESSUAL PENAL

HABEAS CORPUS
Pedido para autorização de visita

O habeas corpus não é meio processual adequado para o apenado obter autorização de visita
de sua companheira no estabelecimento prisional.
STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/6/2015 (Info 792).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, condenado em processo criminal, cumpre pena privativa de liberdade na penitenciária.
O juiz das execuções criminais negou direito de a companheira de João visitá-lo na unidade prisional.
Diante disso, o condenado impetrou habeas corpus afirmando que essa decisão foi ilegal.

O habeas corpus teve êxito?


NÃO. A 2ª Turma do STF entendeu que o habeas corpus não é meio processual adequado para o apenado
obter autorização de visita de sua companheira no estabelecimento prisional.

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


INDULTO NATALINO
Período de prova no sursis não pode ser equiparado a cumprimento de pena

Em 2013, a Presidente da República editou o Decreto 8.172/2013 concedendo o indulto


natalino para os condenados que cumprissem os requisitos ali estabelecidos.
No art. 1º, XIII e XIV, o Decreto concedeu indulto para os réus condenados a pena privativa de
liberdade, desde que tivessem cumprido, até 25/12/2013, 1/4 (um quarto) da pena.
Se o condenado foi beneficiado com sursis e já cumpriu mais de 1/4 do período de prova ele
poderá ser beneficiado com o indulto? É possível afirmar que cumprimento do período de
prova no sursis é a mesma coisa que cumprimento de pena?
NÃO. O sursis não tem natureza de pena. Ao contrário, trata-se de uma alternativa à pena, ou
seja, um benefício que o condenado recebe para não ter que cumprir pena. Por essa razão, não
se pode dizer que a pessoa beneficiada com sursis e que esteja cumprindo período de prova se
encontre cumprindo pena. Cumprimento de período de prova não é cumprimento de pena.
STF. 1ª Turma. RHC 128515/BA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/6/2015 (Info 792).

Anistia, graça e indulto:


- são formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir;
- classificam-se como causas de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP);
- a anistia, a graça e o indulto são concedidas pelo Poder Legislativo (no primeiro caso) ou pelo Poder
Executivo (nos dois últimos), mas somente geram a extinção da punibilidade com a decisão judicial;
- podem atingir crimes de ação penal pública ou privada.

ANISTIA GRAÇA INDULTO


(ou indulto individual) (ou indulto coletivo)
É um benefício concedido pelo Congresso Concedidos por Decreto do Presidente da República.
Nacional, com a sanção do Presidente da
República (art. 48, VIII, CF/88), por meio do Apagam o efeito executório da condenação.
ual se pe doa a p áti a de u fato
criminoso. A atribuição para conceder pode ser delegada ao(s):
Normalmente, incide sobre crimes políticos,  Procurador Geral da República;
mas também pode abranger outras espécies  Advogado Geral da União;
de delito.  Ministros de Estado.
É concedida por meio de uma lei federal Concedidos por meio de um Decreto.
ordinária.
Pode ser concedida: Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais benefícios
 antes do trânsito em julgado (anistia só podem ser concedidos após o trânsito em julgado da
própria); condenação. Esse entendimento, no entanto, está cada
 depois do trânsito em julgado (anistia dia mais superado, considerando que o indulto natalino,
imprópria). por exemplo, permite que seja concedido o benefício
desde que tenha havido o trânsito em julgado para a
acusação ou quando o MP recorreu, mas não para
agravar a pena imposta (art. 5º, I e II, do Decreto
7.873/2012).
Classificação Classificação
a) Propriamente dita: quando concedida a) Pleno: quando extingue totalmente a pena.
antes da condenação. b) Parcial: quando somente diminui ou substitui a pena
b) Impropriamente dita: quando concedida (comutação).
após a condenação.

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


a) Irrestrita: quando atinge indistintamente a) Incondicionado: quando não impõe qualquer
todos os autores do fato punível. condição.
b) Restrita: quando exige condição pessoal b) Condicionado: quando impõe condição para sua
do autor do fato punível. Ex.: exige concessão.
primariedade.
a) Restrito: exige condições pessoais do agente. Ex.:
a) Incondicionada: não se exige condição exige primariedade.
para a sua concessão. b) Irrestrito: quando não exige condições pessoais do
b) Condicionada: exige-se condição para a agente.
sua concessão. Ex.: reparação do dano.

a) Comum: atinge crimes comuns.


b)Especial: atinge crimes políticos.
Extingue os efeitos penais (principais e Só extinguem o efeito principal do crime (a pena).
secundários) do crime.

Os efeitos de natureza civil permanecem Os efeitos penais secundários e os efeitos de natureza


íntegros. civil permanecem íntegros.
O réu condenado que foi anistiado, se O réu condenado que foi beneficiado por graça ou
cometer novo crime, não será reincidente. indulto, se cometer novo crime, será reincidente.
É um benefício coletivo que, por referir-se É um benefício individual É um benefício coletivo
somente a fatos, atinge apenas os que o (com destinatário certo). (sem destinatário certo).
cometeram. Depende de pedido do É concedido de ofício (não
sentenciado. depende de provocação).

Indulto natalino
É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no final de todos os anos, concedendo
i dulto. Esse De eto é o he ido o o i dulto atali o .
No Decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do benefício. Caso o apenado
atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve reconhecer o direito, extinguindo a pena pelo indulto.

Decreto 8.172/2013
Em 2013, a Presidente da República editou o Decreto n. 8.172/2013 concedendo o indulto natalino para
os condenados que cumprissem os requisitos ali estabelecidos.
No art. 1º, XIII e XIV, o Decreto concedeu indulto para os réus condenados a pena privativa de liberdade,
desde que tivessem cumprido, até 25/12/2013, 1/4 (um quarto) da pena.

Imagine agora a seguinte situação adaptada:


João foi condenado e recebeu suspensão condicional da pena (sursis).
O sursis é um benefício por meio do qual o indivíduo, mesmo condenado, não irá cumprir pena (a pena
fica suspensa).
Assim, o condenado não ficará preso, mas terá que cumprir algumas condições que são impostas pelo juiz
e que irão durar por certo período (chamado de período de prova). Ex: prestar serviços à comunidade.
Cumprido o período de prova pelo prazo fixado, haverá extinção da punibilidade.
Voltando ao nosso exemplo, após João cumprir 1/4 do período de prova, ele pediu que a ele fosse
concedido o indulto natalino afirmando que o cumprimento do período de prova no sursis seria
equivalente ao cumprimento de pena. Logo, poderia ser estendida a ele, por equiparação, a possibilidade
de indulto prevista no art. 1º, XIII e IX do Decreto.

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


A tese de João foi aceita pelo STF?
NÃO. O sursis não tem natureza de pena. Ao contrário, trata-se de uma alternativa à pena, ou seja, um
benefício que o condenado recebe para não ter que cumprir pena.
Por essa razão, não se pode dizer que a pessoa beneficiada com sursis e que esteja cumprindo período de
prova se encontre cumprindo pena. Isso não é verdade. Cumprimento de período de prova não é
cumprimento de pena.

Veja o que diz a doutrina:


Incabível dizer que o sursis seja pena, pois estas estão claramente enumeradas no art. 32 do Código Penal
e a suspensão é medida destinada justamente a evitar a aplicação de uma delas, a privativa de liberdade.
(...) Daí por que é mais indicado tratar o sursis como medida alternativa de cumprimento da pena privativa
de liberdade, não deixando de ser um benefício. (...) (NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal
Comentado. 10ª ed., São Paulo: RT, p. 492).

Confira outro precedente do STF:


(...) O sursis não ostenta a categorização jurídica de pena, mas, antes, medida alternativa a ela; por isso
que não cabe confundir o tempo alusivo ao período de prova exigido para a obtenção desse benefício com
o requisito temporal relativo ao cumprimento de 1/4 da pena privativa de liberdade para alcançar-se o
indulto natalino e, consectariamente, a extinção da punibilidade.
(...)
3. In casu, o paciente foi condenado a 2 (dois) anos de reclusão, pela prática do crime de estelionato
tipificado no art. 251 do Código Penal Militar e, beneficiado com o sursis, teve, a posteriori, negado o
indulto natalino sob o fundamento de que não satisfizera o requisito temporal alusivo ao cumprimento de
1/4 da pena privativa de liberdade, advindo irresignação no sentido de que tal requisito fora satisfeito em
razão do cumprimento do período de provas da suspensão condicional da pena.
4. Destarte, tratando-se de institutos penais diversos, não cabe ter como tempo de cumprimento da pena
o período de prova exigido para a suspensão condicional da pena. (...)
STF. 1ª Turma. HC 117855, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/09/2013)

DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR

CORREIÇÃO PARCIAL
Não cabimento de correição parcial como sucedâneo de ação rescisória

É incabível o manejo de correição parcial para rever decisão que declarou extinta a
punibilidade do réu pelo reconhecimento da prescrição, decisão esta que já havia transitado
em julgado.
A correição de processos findos somente é possível para verificar eventuais irregularidades ou
falhas administrativas a serem corrigidas no âmbito da Justiça Militar. Não cabe seu uso,
porém, como substituto de ação rescisória.
STF. 2ª Turma. HC 112530/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 30/6/2015 (Info 792).

Imagine a seguinte situação adaptada:


João foi condenado à pena de 2 anos por furto (art. 240 do CPM).
O Conselho de Justiça Militar reconheceu que houve a prescrição retroativa e extinguiu a punibilidade.
Esta decisão transitou em julgado.

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Algum tempo depois, o Juiz Auditor Corregedor tomou conhecimento da decisão e formulou
representação que originou correição parcial no âmbito do Superior Tribunal Militar.
O STM decidiu rever a decisão extintiva da punibilidade fundamentando essa possibilidade no art. 498 do
seu Regimento interno:
Casos de correição parcial
Art. 498. O Superior Tribunal Militar poderá proceder à correição parcial:
(...)
b) mediante representação do Ministro Corregedor-Geral, para corrigir arquivamento irregular em
inquérito ou processo.

Agiu corretamente o STM?


NÃO. É incabível o manejo de correição parcial, por representação de juiz-auditor corregedor, para rever
decisão extintiva de punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva ou executória estatal.
Com base nesse entendimento, o STF o edeu a o de e ha eas o pus pa a dete i a o
arquivamento de correição parcial em trâmite no STM, mantendo-se a decisão de extinção da punibilidade
do réu pela ocorrência de prescrição da pretensão executória.
A correição de processos findos somente é possível para verificar eventuais irregularidades ou falhas
administrativas a serem corrigidas no âmbito da Justiça Militar. Não cabe seu uso, porém, como substituto
de ação rescisória.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

ED: sucumbência recursal e aplicação de multa


O Plenário, ao julgar em conjunto três embargos declaratórios opostos de decisão que denegara a ordem
em mandado de segurança — a versar sobre ingresso de substituto em serventia extrajudicial após a
promulgação da CF/1988 —, negou provimento aos primeiros embargos e não conheceu dos dois
subsequentes, com aplicação de multa de 1% sobre o valor da causa em relação ao último. Afirmou que, de
acordo com o CPC, seria possível majorar a multa aplicada apenas se tivesse sido imposta, anteriormente, a
sanção no valor de 1%. Após a primeira multa, se fossem protocolados novos embargos, poder-se-ia chegar
a até 10% no total. Assim, como no caso os primeiros embargos teriam sido oferecidos por uma parte; mas
os segundos e os terceiros, por outra, se aplicada essa sistemática chegar-se ia ao resultado em questão.
MS 26860 ED/DF; rel. Min. Luiz Fux, 1º.7.2015. (MS-26860)
MS 26860 ED-segundos/DF; rel. Min. Luiz Fux, 1º.7.2015. (MS-26860)
MS 26860-terceiros/DF, rel. Min. Luiz Fux, 1º.7.2015. (MS-26860)

ED: interesse recursal e reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva - 2


Em conclusão de julgamento, a Primeira Turma, por maioria, rejeitou embargos de declaração em que se
discutia a existência de omissão e contradição no julgado, uma vez que, ao desclassificar a conduta descrita
na denúncia, essa Corte deveria, por ser supostamente mais favorável ao acusado, ter reconhecido, de
imediato, a prescrição da pretensão punitiva com base na pena cominada em abstrato, e não ter
prosseguido no julgamento do feito, proferindo decreto condenatório, para, só então, reconhecer a
prescrição com base na pena aplicada em concreto — v. Informativo 789. A Turma ressaltou que não
haveria utilidade ou necessidade na prestação jurisdicional, na medida em que o Colegiado teria
efetivamente declarado a prescrição da pretensão punitiva estatal, sendo irrelevante se com fundamento
na pena em concreto ou em abstrato, pois o resultado prático seria o mesmo. Vencidos os Ministros
Roberto Barroso (relator) e Luiz Fux, que acolhiam os embargos.
AP 530 ED-segundos/MS, rel. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 30.6.2015.

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Extradição e dupla tipicidade - 3
Em conclusão de julgamento, a Segunda Turma, por maioria, indeferiu pedido de extradição instrutória,
formulado pelo Governo da Suécia em desfavor de seu nacional, para o processamento de ação penal
i stau ada e azão da suposta p áti a do i e de o duta a it á ia o e o (Código Pe al sue o,
art. 7º, § 4º). No caso, o extraditando, que deteria guarda compartilhada de sua filha — a qual residiria
permanentemente com ele — viajara com ela para o Brasil. Posteriormente, a justiça sueca proferira
decisão no sentido de transferir a guarda da menor unicamente para a mãe. Entre outras alegações, a
defesa sustentava que: a) o fato imputado ao extraditando seria atípico e não encontraria correspondência
na legislação penal brasileira, carecendo da dupla tipicidade, a atrair a incidência do art. 77, II, da Lei
6.815/1980; e b) seria necessário aguardar o deslinde de ação de busca, apreensão e restituição da menor,
em trâmite perante a Justiça Federal, para perquirir eventual tipicidade penal da conduta do extraditando
— v. Informativo 784. O Colegiado afirmou que o crime em análise teria se consumado, de acordo com a lei
sueca, no momento em que o extraditando deixara a Suécia, com a sua filha, aparentemente sem o
consentimento da mãe. Porém, a legislação brasileira trataria o fato de forma diferente. O pai até poderia
ser autor do crime de subtração de incapazes, mas apenas se destituído ou temporariamente privado do
pátrio poder, tutela, curatela ou guarda, nos termos art. 249, § 1º, do CP. Portanto, não se constataria, no
caso, a dupla tipicidade, na medida em que o pai, no momento da viagem, teria a guarda da menor.
Somente quando a criança já estava no Brasil, movera-se ação judicial perante a Corte sueca, o que levara à
cassação da guarda pelo extraditando. Se crime houvesse, de acordo com o direito brasileiro, residiria na
negativa de restituição da menor pelo extraditando após a perda da guarda. O Ministro Celso de Mello
salientou que a questão da subtração de menores incapazes teria, no plano penal, dois tratamentos legais
distintos, fundados no art. 249 do CP e no art. 237 do ECA. Afirmou que, em razão de o extraditando ter
ingressado em território brasileiro, sob a égide de autorização judicial, na qual estabelecida a guarda
compartilhada da menor, tornar-se-ia inaplicável ao caso o disposto no art. 249 do CP, considerada a
restrição expressamente fixada em seu § 1º. Sob a perspectiva do art. 237 do ECA, que exigiria requisito
específico para sua caracterização — a subtração para a colocação em lar substituto —, entendeu que a
conduta material praticada pelo extraditando, possuidor, à luz do Código Civil, de legitimidade para exercer
todos os poderes jurídicos inerentes à guarda sobre a criança, seria diversa daquela descrita no referido
tipo penal. Não estaria devidamente caracterizada, portanto, a subtração a que alude a legislação penal
brasileira, quer na descrição típica constante do art. 249 do CP, quer na descrição formulada pelo art. 237
do ECA. Ademais, eventual delito cometido pelo extraditando, após a transferência da guarda da menor
para sua mãe, estaria sujeito à competência penal do Estado brasileiro, aplicando-se o princípio da
territorialidade, que se acha consagrado expressamente no art. 5º do CP. Concluiu ser aplicável à espécie a
restrição fundada no art. 77, II, do Estatuto do Estrangeiro, devendo, dessa forma, ser indeferido o pedido
de extradição. Vencido, no ponto, o Ministro Teori Zavascki (relator), que deferia o pedido extradicional. O
Colegiado ressaltou, por fim, que a ação de busca, apreensão e restituição da menor movida pela União,
com base na Convenção sobre Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças – Convenção de Haia,
visando ao retorno à Suécia e entrega da menor à genitora, não estaria prejudicada.
Ext 1354/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 30.6.2015.

Terras indígenas e conflito de competência - 2


Em conclusão de julgamento, a Segunda Turma desproveu agravo regimental interposto de decisão que
negara seguimento a recursos extraordinários nos quais discutida a ocupação de terras indígenas. Os
agravantes alegavam que, havendo disputa de direitos indígenas, inclusive sobre terras ocupadas, bem como
a presença da Funai no feito, deslocar-se-ia a competência para a Justiça Federal (CF, art. 109, I).
Sustentavam, ainda, não incidir o Enunciado 279 da Súmula desta Corte para o estabelecimento de
competência em razão da pessoa — v. Informativo 634. A Turma asseverou que a decisão agravada não
mereceria reparos, pois a competência para julgamento da ação fora estabelecida com base no contexto
fático-probatório. Destacou que o pretendido interesse do MPF para atuar em defesa da população indígena

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


não poderia ser considerado, uma vez não se admitir reexame dos fundamentos fáticos — apreciados
exaustivamente na origem —, a partir dos quais afastada a característica indígena das terras objeto da
controvérsia inicial. Por fim, salientou que o ingresso da Funai nos autos ocorrera em adiantada fase recursal,
muito tempo após a estabilização da relação jurídico-processual, o que impediria a incidência do art. 109, I, da
CF, pois a competência fora determinada no momento da propositura da ação (CPC, art. 87).
RE 431602 Quarto-AgR/PB, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, 30.6.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 29 de junho a 1º de julho de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 888.938-PE


RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO. ÍNDICE DE REAJUSTE. MATÉRIA DE
ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO. INEXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
I – A controvérsia relativa ao índice de reajuste aplicável aos benefícios previdenciários, de modo a preservar o seu valor real, está restrita ao âmbito
infraconstitucional.
II – O exame da questão constitucional não prescinde da prévia análise de normas infraconstitucionais, o que afasta a possibilidade de reconhecimento
do requisito constitucional da repercussão geral.
III – Repercussão geral inexistente.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 855.091-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: TRIBUTÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA PESSOA
FÍSICA. JUROS DE MORA. ART. 3º, § 1º, DA LEI Nº 7.713/1988 E ART. 43, INCISO II, § 1º, DO CTN. ANTERIOR NEGATIVA DE
REPERCUSSÃO. MODIFICAÇÃO DA POSIÇÃO EM FACE DA SUPERVENIENTE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE
LEI FEDERAL POR TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL.
Decisões Publicadas: 2

CLIPPING DO D JE
29 de junho a 1º de julho de 2015

AR N. 2.199-SC
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
Ação rescisória. Decisão fundada em jurisprudência do STF posteriormente alterada. Art. 557, §1º, do CPC. Suposta violação literal de lei.
Inocorrência. Não cabe ação rescisória de decisões proferidas em harmonia com a jurisprudência do STF, ainda que ocorra alteração posterior do
entendimento do Tribunal sobre a matéria. Ação não conhecida. Precedente: RE 590.809.
*noticiado no Informativo 782
RE N. 632.853-CE
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso extraordinário com repercussão geral. 2. Concurso público. Correção de prova. Não compete ao Poder Judiciário, no controle de legalidade,
substituir banca examinadora para avaliar respostas dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas. Precedentes. 3. Excepcionalmente, é permitido ao
Judiciário juízo de compatibilidade do conteúdo das questões do concurso com o previsto no edital do certame. Precedentes. 4. Recurso extraordinário
provido.
*noticiado no Informativo 782
RE N. 675.978-SP
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ART. 37, INC. XI, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, ALTERADO PELA
EMENDA CONSTITUCIONAL N. 41/2003. A BASE DE CÁLCULO PARA A INCIDÊNCIA DO TETO REMUNERATÓRIO PREVISTO NO ART. 37,
INC. IX, DA CONSTITUIÇÃO É A RENDA BRUTA DO SERVIDOR PÚBLICO PORQUE: A) POR DEFINIÇÃO A REMUNERAÇÃO/PROVENTOS
CORRESPONDEM AO VALOR INTEGRAL/BRUTO RECEBIDO PELO SERVIDOR; B) O VALOR DO TETO CONSIDERADO COMO LIMITE
REMUNERATÓRIO É O VALOR BRUTO/INTEGRAL RECEBIDO PELO AGENTE POLÍTICO REFERÊNCIA NA UNIDADE FEDERATIVA
(PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE). A ADOÇÃO DE BASE DE CÁLCULO CORRESPONDENTE À REMUNERAÇÃO/PROVENTOS DO
SERVIDOR PÚBLICO ANTES DO DESCONTO DO IMPOSTO DE RENDA E DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS CONTRARIA O
FUNDAMENTO DO SISTEMA REMUNERATÓRIO INSTITUÍDO NO SISTEMA CONSTITUCIONAL VIGENTE. RECURSO AO QUAL SE NEGA
PROVIMENTO.
*noticiado no Informativo 781

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


AG. REG. NO HC N. 124.258-DF
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Agravo regimental em habeas corpus. 2. Penal e Processo Penal. 3. Crime de fraude processual. Suposta atipicidade da conduta. Trancamento da ação
penal. Não ocorrência. 4. Denúncia que satisfez os requisitos exigidos pelo CPP. Justa causa configurada. 5. Agravo regimental a que se nega
provimento.
ARE N. 652.777-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. PUBLICAÇÃO, EM SÍTIO ELETRÔNICO MANTIDO PELO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, DO NOME DE
SEUS SERVIDORES E DO VALOR DOS CORRESPONDENTES VENCIMENTOS. LEGITIMIDADE.
1. É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos nomes dos seus servidores e do valor dos
correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias. 2. Recurso extraordinário conhecido e provido.
*noticiado no Informativo 782
AG. REG. NA Rcl N. 19.205-BA
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
RECLAMAÇÃO – USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO SUPREMO – INEXISTÊNCIA. NÃO HAVENDO EQUÍVOCO QUANTO À APLICAÇÃO DA
SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL, IMPÕE-SE A NEGATIVA DE SEGUIMENTO À RECLAMAÇÃO.

Acórdãos Publicados: 504

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Direito de Resposta - Natureza Jurídica - Autonomia Constitucional – Funções (Transcrições)


RE 683.751/RS*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: DIREITO DE RESPOSTA. AUTONOMIA CONSTITUCIONAL (CF, ART. 5º, INCISO V). CONSEQUENTE
POSSIBILIDADE DE SEU EXERCÍCIO INDEPENDENTEMENTE DE REGULAÇÃO LEGISLATIVA. ESSENCIALIDADE DESSA
PRERROGATIVA FUNDAMENTAL, ESPECIALMENTE SE ANALISADA NA PERSPECTIVA DE UMA SOCIEDADE QUE
VALORIZA O CONCEITO DE “LIVRE MERCADO DE IDEIAS” (“FREE MARKETPLACE OF IDEAS”). O SENTIDO DA
EXISTÊNCIA DO “MERCADO DE IDEIAS”: UMA METÁFORA DA LIBERDADE? A QUESTÃO DO DIREITO DIFUSO À
INFORMAÇÃO HONESTA, LEAL E VERDADEIRA: O MAGISTÉRIO DA DOUTRINA. “A PLURIFUNCIONALIDADE DO DIREITO DE
RESPOSTA” (VITAL MOREIRA, “O DIREITO DE RESPOSTA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL”) OU AS DIVERSAS ABORDAGENS
POSSÍVEIS QUANTO À DEFINIÇÃO DA NATUREZA JURÍDICA DESSA PRERROGATIVA FUNDAMENTAL: (a) garantia de defesa
dos direitos de personalidade, (b) direito individual de expressão e de opinião, (c) instrumento de pluralismo informativo e de acesso de seu
titular aos órgãos de comunicação social, inconfundível, no entanto, com o direito de antena, (d) garantia do “dever de verdade” e (e) forma
de sanção ou de indenização em espécie. A FUNÇÃO INSTRUMENTAL DO DIREITO DE RESPOSTA (DIREITO-GARANTIA?): (1)
NEUTRALIZAÇÃO DE EXCESSOS DECORRENTES DA PRÁTICA ABUSIVA DA LIBERDADE DE INFORMAÇÃO E DE
COMUNICAÇÃO JORNALÍSTICA; (2) PROTEÇÃO DA AUTODETERMINAÇÃO DAS PESSOAS EM GERAL; E (3)
PRESERVAÇÃO/RESTAURAÇÃO DA VERDADE PERTINENTE AOS FATOS REPORTADOS PELOS MEIOS DE DIFUSÃO E DE
COMUNICAÇÃO SOCIAL. O DIREITO DE RESPOSTA/RETIFICAÇÃO COMO TÓPICO SENSÍVEL E DELICADO DA AGENDA
DO SISTEMA INTERAMERICANO: A CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (ARTIGO 14) E A OPINIÃO
CONSULTIVA Nº 7/86 DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. A OPONIBILIDADE DO DIREITO DE
RESPOSTA A PARTICULARES: A QUESTÃO DA EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. NECESSÁRIA
SUBMISSÃO DAS RELAÇÕES PRIVADAS AO ESTATUTO JURÍDICO DOS DIREITOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS.
DOUTRINA. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. LIBERDADE DE INFORMAÇÃO E DIREITOS DA
PERSONALIDADE: ESPAÇO DE POTENCIAL CONFLITUOSIDADE. TENSÃO DIALÉTICA ENTRE POLOS CONSTITUCIONAIS
CONTRASTANTES. SUPERAÇÃO DESSE ANTAGONISMO MEDIANTE PONDERAÇÃO CONCRETA DOS VALORES EM COLISÃO.
RESPONSABILIZAÇÃO SEMPRE “A POSTERIORI” PELOS ABUSOS COMETIDOS NO EXERCÍCIO DA LIBERDADE DE
INFORMAÇÃO. LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DIREITO À INTEGRIDADE MORAL (HONRA, INTIMIDADE, PRIVACIDADE E
IMAGEM) E AO RESPEITO À VERDADE. INCIDÊNCIA DO ART. 220, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CLÁUSULA
QUE CONSAGRA HIPÓTESE DE “RESERVA LEGAL QUALIFICADA”. O PAPEL DO DIREITO DE RESPOSTA EM UM
CONTEXTO DE LIBERDADES EM CONFLITO. ACÓRDÃO QUE CONDENOU O RECORRENTE, COM FUNDAMENTO NA
LEGISLAÇÃO PROCESSUAL CIVIL (E NÃO NA LEI DE IMPRENSA), A EXECUTAR OBRIGAÇÃO DE FAZER CONSISTENTE NA
PUBLICAÇÃO DE SENTENÇA, SOB PENA DE MULTA DIÁRIA (“ASTREINTE”). DECISÃO RECORRIDA QUE SE AJUSTA À
JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E IMPROVIDO.
DECISÃO: Trata-se de recurso extraordinário contra decisão que, emanada do E. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e
confirmada em sede de embargos de declaração, acha-se consubstanciada em acórdão assim ementado:
“AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO DE INTRUMENTO. AÇÃO PENAL PRIVADA. CRIME
CONTRA A HONRA. LEI Nº 5.250/67. PUBLICAÇÃO DE SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA EM JORNAL. OBRIGAÇÃO DE
FAZER. BENEFICIÁRIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. FIXAÇÃO DE ‘ASTREINTE’. COMINAÇÃO DE CRIME
DE DESOBEDIÊNCIA. POSSIBILIDADE.
O fato de ser o agravante beneficiário da assistência judiciária gratuita não o isenta do custo do cumprimento da obrigação de fazer,
consistente na publicação de sentença de improcedência proferida em ação penal privada.

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


A sentença contrária ao pedido do querelante faz nascer para o querelado, que foi o vencedor, a faculdade de exigir do querelante que
a sentença seja publicada em jornal pela parte perdedora. Assim, embora não seja um efeito imediato da sentença, sendo requerido pelo
querelado, deve o autor da queixa proceder à publicação, independentemente de ser ou não beneficiário de assistência judiciária gratuita.
Tratando-se, a publicação de sentença, de obrigação de fazer, é cabível a fixação de multa, nos termos do art. 461, § 4º, do CPC, que
faculta ao juiz a imposição de multa diária quando da imposição do cumprimento da obrigação de fazer, não sendo abusivo o valor da
‘astreinte’, de R$ 50,00 por dia de descumprimento.
Viável também a determinação da Magistrada de submeter o agravante às sanções pertinentes ao crime de desobediência, em caso de
descumprimento.
Precedente do E. STJ.
REVOGAÇÃO DA LEI DE IMPRENSA. DIREITO DE RESPOSTA. ‘STATUS’ CONSTITUCIONAL.
Considerando que o direito de resposta possui ‘status’ constitucional (artigo 5º, V, da CRFB), eventual ausência de lei, diante da
revogação da Lei de Imprensa pelo STF, não impede o exercício dessa prerrogativa.
.......................................................................................................
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO EM DECISÃO UNÂNIME.”
(AGRAVO REGIMENTAL nº 70032900326, Rel. Des. JOSÉ ANTÔNIO HIRT PREISS – grifei)
A parte ora recorrente sustenta, neste apelo extremo, que o acórdão recorrido teria violado diversos preceitos inscritos na Constituição da
República.
O E. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, ao proferir a decisão objeto do presente recurso extraordinário, bem sintetizou a
questão básica a ser examinada por esta Suprema Corte, assinalando que “o fato de o E. STF haver revogado a Lei de Imprensa não significa que se
tenha tornado inviável o direito de resposta. Ocorre que o direito de resposta no Brasil já ganhou ‘status’ constitucional (artigo 5º, V, da CRFB).
Por essa razão, eventual ausência de lei, diante da revogação da Lei de Imprensa pelo STF, não impedirá o exercício daquela prerrogativa”
(grifei).
Sendo esse o contexto, cabe reconhecer que o presente recurso extraordinário revela-se inviável, eis que a pretensão de direito material nele
deduzida encontra, ela mesma, óbice na orientação jurisprudencial que esta Suprema Corte firmou no exame da matéria.

Com efeito, o Supremo Tribunal Federal, na decisão final da ADPF 130/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO, ao julgar procedente o pedido
formulado naquela sede processual, o fez sem prejuízo do regular exercício do direito de resposta previsto no art. 5º, inciso V, da própria
Constituição:
“11. EFEITOS JURÍDICOS DA DECISÃO. Aplicam-se as normas da legislação comum, notadamente o Código Civil, o Código
Penal, o Código de Processo Civil e o Código de Processo Penal às causas decorrentes das relações de imprensa. O direito de resposta, que
se manifesta como ação de replicar ou de retificar matéria publicada é exercitável por parte daquele que se vê ofendido em sua honra
objetiva, ou então subjetiva, conforme estampado no inciso V do art. 5º da Constituição Federal. Norma, essa, ‘de eficácia plena e de
aplicabilidade imediata’, conforme classificação de José Afonso da Silva. ‘Norma de pronta aplicação’, na linguagem de Celso Ribeiro
Bastos e Carlos Ayres Britto, em obra doutrinária conjunta.” (grifei)
O direito de resposta, como se sabe, foi elevado à dignidade constitucional, no sistema normativo brasileiro, a partir da Constituição de
1934, não obstante a liberdade de imprensa já constasse da Carta Política do Império do Brasil de 1824.
O art. 5º, inciso V, da Constituição brasileira, ao prever o direito de resposta, qualifica-se como regra impregnada de suficiente densidade
normativa, revestida, por isso mesmo, de aplicabilidade imediata, a tornar desnecessária, para efeito de sua pronta incidência, a “interpositio
legislatoris”, o que dispensa, por tal razão, ainda que não se lhe vede, a intervenção concretizadora do legislador comum.
Isso significa que a ausência de regulação legislativa, motivada por transitória situação de vácuo normativo, não se revela obstáculo ao
exercício da prerrogativa fundada em referido preceito constitucional, que possui densidade normativa suficiente para atribuir, a quem se sentir
prejudicado por publicação inverídica ou incorreta, direito, pretensão e ação cuja titularidade bastará para viabilizar, em cada situação ocorrente, a
prática concreta da resposta e/ou da retificação.
É interessante assinalar, por oportuno, que o direito de resposta somente constituiu objeto de regulação legislativa, no Brasil, com o
advento da Lei Adolpho Gordo (Decreto nº 4.743, de 31/10/1923, arts. 16 a 19), eis que – consoante observa SOLIDONIO LEITE FILHO
(“Comentários à Lei de Imprensa”, p. 188, item n. 268, 1925, J. Leite Editores) – “Não havia na legislação anterior à lei de imprensa nenhum
dispositivo regulando o direito de resposta” (grifei).
O que me parece relevante acentuar, neste ponto, é que a ausência de qualquer disciplina ritual regedora do exercício concreto do direito
de resposta não impede que o Poder Judiciário, quando formalmente provocado, profira decisões em amparo e proteção àquele atingido por
publicações inverídicas ou inexatas.
É que esse direito de resposta/retificação não depende, para ser exercido, da existência de lei, ainda que a edição de diploma legislativo
sobre esse tema específico possa revelar-se útil e, até mesmo, conveniente.
Vale insistir na asserção de que o direito de resposta/retificação tem por base normativa a própria Constituição da República, cujo art. 5º,
inciso V, estabelece os parâmetros necessários à invocação dessa prerrogativa de ordem jurídica, tal como o decidiu, na espécie, o E. Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, ao enfatizar “que o direito de resposta possui status constitucional”, razão pela qual, presente o contexto
em exame, mostrava-se desnecessária a “interpositio legislatoris”.
Correto esse julgamento, pois sempre caberá ao Poder Judiciário, observados os parâmetros em questão, garantir à pessoa lesada (ainda que
se cuide do próprio jornalista) o exercício do direito de resposta.
De qualquer maneira, no entanto, a ausência, momentânea ou não, de regramento legislativo não autoriza nem exonera o Juiz, sob pena de
transgressão ao princípio da indeclinabilidade da jurisdição, do dever de julgar o pedido de resposta, quando formulado por quem se sentir
ofendido ou, então, prejudicado por publicação ofensiva ou inverídica.
Não se pode desconhecer que é ínsito à atividade do Juiz o dever de julgar conforme os postulados da razoabilidade, proporcionalidade e
igualdade, em respeito ao que está previsto no art. 126 do Código de Processo Civil (“O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando
lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e
aos princípios gerais de direito”), consoante assinala, sem maiores disceptações, o magistério da doutrina (ANTÔNIO CLÁUDIO DA COSTA
MACHADO, “Código de Processo Civil Interpretado e Anotado”, p. 405, 2ª ed., 2008, Manole; LUIZ GUILHERME MARINONI e DANIEL
MITIDIERO, “Código de Processo Civil Comentado Artigo por Artigo”, p. 174/175, 2008, RT; HUMBERTO THEODORO JUNIOR, “Curso de
Direito Processual Civil”, vol. I/38 e 40, itens ns. 35 e 38, 50ª ed., 2009, Forense, v.g.).
Isso significa, portanto, considerado o que prescreve o art. 126 do CPC, que, em situação de “vacuum legis” (tal como sucede na espécie), o
magistrado poderá valer-se de dispositivos outros – tais como aqueles existentes, p. ex., na Lei nº 9.504/97 (art. 58 e parágrafos) –, aplicando-os,
no que couber, por analogia, ao caso concreto, viabilizando-se, desse modo, o efetivo exercício, pelo interessado, do direito de resposta e/ou de
retificação.

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O fato é que o reconhecimento da incompatibilidade da Lei de Imprensa com a vigente Constituição da República não impede,
consideradas as razões que venho de expor, que qualquer interessado, injustamente atingido por publicação inverídica ou incorreta, possa exercer,
em juízo, o direito de resposta, apoiando tal pretensão em cláusula normativa inscrita na própria Lei Fundamental, cuja declaração de direitos
assegura, em seu art. 5º, inciso V, em favor de qualquer pessoa, “o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano
material, moral ou à imagem” (grifei).
O exame do contexto fático, tal como foi este soberanamente delineado pelo Tribunal de Justiça local (RTJ 152/612 – RTJ 153/1019 – RTJ
158/693, v.g.), permite-me reconhecer a compatibilidade da decisão recorrida com o texto da Constituição, notadamente no ponto em que o
julgamento em causa põe em destaque a circunstância de que uma das funções subjacentes ao direito de resposta reside, primariamente, no
restabelecimento e/ou na preservação da verdade, o que se pode viabilizar, entre os diversos meios de sua concreta realização, mediante publicação
da sentença cujo conteúdo revele a veracidade e a correção dos fatos veiculados pelos meios de comunicação social.
O direito de resposta/retificação traduz, como sabemos, expressiva limitação externa, impregnada de fundamento constitucional, que
busca neutralizar as consequências danosas resultantes do exercício abusivo da liberdade de expressão, especialmente a de imprensa, pois tem por
função precípua, de um lado, conter os excessos decorrentes da prática irregular da liberdade de informação e de comunicação jornalística (CF, art.
5º, IV e IX, e art. 220, § 1º) e, de outro, restaurar e preservar a verdade pertinente aos fatos reportados pelos meios de comunicação social.
Vê-se, daí, que a proteção jurídica ao direito de resposta permite identificar, nele, uma dupla vocação constitucional, pois visa a preservar
tanto os direitos da personalidade quanto assegurar, a todos, o exercício do direito à informação exata e precisa.
Mostra-se inquestionável que o direito de resposta compõe o catálogo das liberdades fundamentais, tanto que formalmente positivado na
declaração constitucional de direitos e garantias individuais e coletivos, o que lhe confere uma particular e especial qualificação de índole político-
juridíca.
Se é certo que o ordenamento constitucional brasileiro ampara a liberdade de expressão, protegendo-a contra indevidas interferências do
Estado ou contra injustas agressões emanadas de particulares, não é menos exato que essa modalidade de direito fundamental – que vincula não só
o Poder Público como, também, os próprios particulares – encontra, no direito de resposta (e na relevante função instrumental que ele desempenha),
um poderoso fator de neutralização de excessos lesivos decorrentes da liberdade de comunicação, além de representar um significativo poder
jurídico deferido a qualquer interessado “para se defender de qualquer notícia ou opinião inverídica, ofensiva ou prejudicial (…)” (SAMANTHA
RIBEIRO MEYER-PFLUG, “Liberdade de Expressão e Discurso do Ódio”, p. 86, item n. 3.2, 2009, RT).
Cabe relembrar, neste ponto, que a oponibilidade do direito de resposta a particulares sugere reflexão em torno da inteira submissão das
relações privadas aos direitos fundamentais, o que permite estender, com força vinculante, ao plano das relações de direito privado, a cláusula de
proteção das liberdades e garantias constitucionais, pondo em destaque o tema da eficácia horizontal dos direitos básicos e essenciais assegurados
pela Constituição da República, tal como tem acentuado o magistério da doutrina (WILSON STEINMETZ, “A Vinculação dos Particulares a
Direitos Fundamentais”, 2004, Malheiros; THIAGO LUÍS SANTOS SOMBRA, “A Eficácia dos Direitos Fundamentais nas Relações Jurídico-
Privadas”, 2004, Fabris Editor; ANDRÉ RUFINO DO VALE, “Eficácia dos Direitos Fundamentais nas Relações Privadas”, 2004, Fabris Editor;
INGO WOLFGANG SARLET, “A Constituição Concretizada: Construindo Pontes entre o Público e o Privado”, 2000, Livraria do Advogado,
Porto Alegre; CARLOS ROBERTO SIQUEIRA CASTRO, “Aplicação dos Direitos Fundamentais às Relações Privadas”, “in” “Cadernos de
Soluções Constitucionais”, p. 32/47, 2003, Malheiros; DANIEL SARMENTO, “Direitos Fundamentais e Relações Privadas”, p. 301/313, item n.
5, 2004, Lumen Juris; PAULO GUSTAVO GONET BRANCO, “Associações, Expulsão de Sócios e Direitos Fundamentais”, “in” “Direito
Público”, ano I, nº 2, p. 170/174, out/dez de 2003, v.g.), em lições que possuem o beneplácito da jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal
Federal (RTJ 164/757-758, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – RTJ 209/821-822, Red. p/ o acórdão Min. GILMAR MENDES – AI 346.501- -AgR/SP,
Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – RE 161.243/DF, Rel. Min. CARLOS VELLOSO, v.g.).
Cabe insistir na afirmação de que qualquer pessoa (tanto quanto a própria coletividade) tem o direito de obter e de ter acesso a informações
verazes, honestas e confiáveis, de tal modo que a violação desse direito, se e quando consumada, poderá justificar, plenamente, o exercício do
direito de resposta.
Desse modo, longe de configurar indevido cerceamento à liberdade de expressão, o direito de resposta, considerada a multifuncionalidade de
que se acha impregnado, qualifica-se como instrumento de superação do estado de tensão dialética entre direitos e liberdades em situação de
conflituosidade.
O exercício dessa prerrogativa fundamental, de extração eminentemente constitucional – que pode ser identificada tanto no plano individual
quanto no da metaindividualidade (GUSTAVO BINENBOJM, “Meios de Comunicação de Massa, Pluralismo e Democracia Deliberativa”) –,
permite qualificá-la (examinado o tema sob uma perspectiva pluralística) como instrumento concretizador do convívio harmonioso entre as
liberdades de informação e de expressão do pensamento e o direito à integridade moral e ao respeito à verdade, o que se mostra compatível com
padrões que distinguem sociedades democráticas.
Torna-se importante salientar, bem por isso, que a superação dos antagonismos existentes entre princípios constitucionais – como aqueles
concernentes à liberdade de informação, de um lado, e à preservação da honra e da verdade, de outro – há de resultar da utilização, pelo Poder
Judiciário, de critérios que lhe permitam ponderar e avaliar, “hic et nunc”, em função de determinado contexto e sob uma perspectiva axiológica
concreta, qual deva ser o direito a preponderar em cada caso, considerada a situação de conflito ocorrente, desde que, no entanto, a utilização do
método da ponderação de bens e interesses não importe em esvaziamento do conteúdo essencial dos direitos fundamentais, tal como adverte o
magistério da doutrina (DANIEL SARMENTO, “A Ponderação de Interesses na Constituição Federal” p. 193/203, “Conclusão”, itens ns. 1 e 2,
2000, Lumen Juris; LUÍS ROBERTO BARROSO, “Temas de Direito Constitucional”, tomo I/363-366, 2001, Renovar; JOSÉ CARLOS VIEIRA
DE ANDRADE, “Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976”, p. 220/224, item n. 2, 1987, Almedina; FÁBIO HENRIQUE
PODESTÁ, “Direito à Intimidade. Liberdade de Imprensa. Danos por Publicação de Notícias”, “in” “Constituição Federal de 1988 – Dez
Anos (1988-1998)”, p. 230/231, item n. 5, 1999, Editora Juarez de Oliveira; J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional”, p. 661, item n. 3,
5ª ed., 1991, Almedina; EDILSOM PEREIRA DE FARIAS, “Colisão de Direitos”, p. 94/101, item n. 8.3, 1996, Fabris Editor; WILSON ANTÔNIO
STEINMETZ, “Colisão de Direitos Fundamentais e Princípio da Proporcionalidade”, p. 139/172, 2001, Livraria do Advogado Editora; SUZANA
DE TOLEDO BARROS, “O Princípio da Proporcionalidade e o Controle de Constitucionalidade das Leis Restritivas de Direitos
Fundamentais”, p. 216, “Conclusão”, 2ª ed., 2000, Brasília Jurídica).
Cabe reconhecer que os direitos da personalidade (como os pertinentes à incolumidade da honra e à preservação da dignidade pessoal dos
seres humanos) representam limitações constitucionais externas à liberdade de expressão, “verdadeiros contrapesos à liberdade de informação”
(L. G. GRANDINETTI CASTANHO DE CARVALHO, “Liberdade de Informação e o Direito Difuso à Informação Verdadeira”, p. 137, 2ª ed.,
2003, Renovar), que não pode – e não deve – ser exercida de modo abusivo (GILBERTO HADDAD JABUR, “Liberdade de Pensamento e
Direito à Vida Privada”, 2000, RT), mesmo porque a garantia constitucional subjacente à liberdade de informação não afasta, por efeito do que
determina a própria Constituição da República, o direito do lesado à resposta e à indenização por danos materiais, morais ou à imagem (CF, art. 5º,
incisos V e X, c/c o art. 220, § 1º).
Na realidade, a própria Carta Política, depois de garantir o exercício da liberdade de informação, inclusive jornalística, impõe-lhe parâmetros –
entre os quais avulta, por sua inquestionável importância, o necessário respeito aos direitos da personalidade (CF, art. 5º, V e X) – cuja observância
não pode ser desconsiderada pelos órgãos de comunicação social, tal como expressamente determina o texto constitucional (art. 220, § 1º), cabendo
ao Poder Judiciário, mediante ponderada avaliação das prerrogativas constitucionais em conflito (direito de informar, de um lado, e direitos da

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personalidade, de outro), definir, em cada situação ocorrente, uma vez configurado esse contexto de tensão dialética, a liberdade que deve prevalecer
no caso concreto.
Lapidar, sob tal aspecto, o douto magistério do eminente Desembargador SÉRGIO CAVALIERI FILHO (“Programa de Responsabilidade
Civil”, p. 129/131, item n. 19.11, 6ª ed., 2005, Malheiros):
“(...) ninguém questiona que a Constituição garante o direito de livre expressão à atividade intelectual, artística, científica, ‘e de
comunicação’, independentemente de censura ou licença (arts. 5º, IX, e 220, §§ 1º e 2º). Essa mesma Constituição, todavia, logo no inciso X
do seu art. 5º, dispõe que ‘são invioláveis a intimidade’, a vida privada, a ‘honra’ e a imagem das pessoas, assegurado o direito à
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação’. Isso evidencia que, na temática atinente aos direitos e garantias
fundamentais, esses dois princípios constitucionais se confrontam e devem ser conciliados. É tarefa do intérprete encontrar o ponto de
equilíbrio entre princípios constitucionais em aparente conflito, porquanto, em face do ‘princípio da unidade constitucional’, a Constituição
não pode estar em conflito consigo mesma, não obstante a diversidade de normas e princípios que contém (…).
.......................................................................................................
À luz desses princípios, é forçoso concluir que, sempre que direitos constitucionais são colocados em confronto, um condiciona o outro,
atuando como limites estabelecidos pela própria Lei Maior para impedir excessos e arbítrios. Assim, se ao direito à livre expressão da atividade
intelectual e de comunicação contrapõe-se o direito à inviolabilidade da intimidade da vida privada, da honra e da imagem, segue-se como
conseqüência lógica que este último condiciona o exercício do primeiro.
Os nossos melhores constitucionalistas, baseados na jurisprudência da Suprema Corte Alemã, indicam o princípio da
‘proporcionalidade’ como sendo o meio mais adequado para se solucionarem eventuais conflitos entre a liberdade de comunicação e os
direitos da personalidade. Ensinam que, embora não se deva atribuir primazia absoluta a um ou a outro princípio ou direito, no processo
de ponderação desenvolvido para a solução do conflito, o direito de noticiar há de ceder espaço sempre que o seu exercício importar
sacrifício da intimidade, da honra e da imagem das pessoas.
Ademais, o constituinte brasileiro não concebeu a liberdade de expressão como direito absoluto, na medida em que estabeleceu que o
exercício dessa liberdade deve-se fazer com observância do disposto na Constituição, consoante seu art. 220, ‘in fine’. Mais expressiva,
ainda, é a norma contida no § 1º desse artigo ao subordinar, expressamente, o exercício da liberdade jornalística à ‘observância do disposto
no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV’. Temos aqui verdadeira ‘reserva legal qualificada’, que autoriza o estabelecimento de restrição à liberdade
de imprensa com vistas a preservar outros direitos individuais, não menos significativos, como os direitos de personalidade em geral. Do
contrário, não haveria razão para que a própria Constituição se referisse aos princípios contidos nos incisos acima citados como limites
imanentes ao exercício da liberdade de imprensa.
.......................................................................................................
Em conclusão: os direitos individuais, conquanto previstos na Constituição, não podem ser considerados ilimitados e absolutos, em
face da natural restrição resultante do ‘princípio da convivência das liberdades’, pelo quê não se permite que qualquer deles seja exercido de
modo danoso à ordem pública e às liberdades alheias. Fala-se, hoje, não mais em direitos individuais, mas em direitos do homem inserido na
sociedade, de tal modo que não é mais exclusivamente com relação ao indivíduo, mas com enfoque de sua inserção na sociedade, que se
justificam, no Estado Social de Direito, tanto os direitos como as suas limitações.” (grifei)
Daí a procedente observação feita pelo eminente Ministro GILMAR FERREIRA MENDES, em trabalho concernente à colisão de direitos
fundamentais (liberdade de expressão e de comunicação, de um lado, e direito à honra e à imagem, de outro), em que expendeu, com absoluta
propriedade, o seguinte magistério (“Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade – Estudos de Direito Constitucional”, p. 89/96,
2ª ed., 1999, Celso Bastos Editor):
“No processo de ‘ponderação’ desenvolvido para solucionar o conflito de direitos individuais não se deve atribuir primazia absoluta a
um ou a outro princípio ou direito. Ao revés, esforça-se o Tribunal para assegurar a aplicação das normas conflitantes, ainda que, no caso
concreto, uma delas sofra atenuação. (…).
Como demonstrado, a Constituição brasileira (…) conferiu significado especial aos direitos da personalidade, consagrando o
princípio da dignidade humana como postulado essencial da ordem constitucional, estabelecendo a inviolabilidade do direito à honra e à
privacidade e fixando que a liberdade de expressão e de informação haveria de observar o disposto na Constituição, especialmente o
estabelecido no art. 5.º, X.
Portanto, tal como no direito alemão, afigura-se legítima a outorga de tutela judicial contra a violação dos direitos de personalidade,
especialmente do direito à honra e à imagem, ameaçados pelo exercício abusivo da liberdade de expressão e de informação.” (grifei)
Inquestionável, desse modo, como anteriormente já enfatizado, que o exercício concreto da liberdade de expressão pode fazer instaurar
situações de tensão dialética entre valores essenciais igualmente protegidos pelo ordenamento constitucional, dando causa ao surgimento de
verdadeiro estado de colisão de direitos, caracterizado pelo confronto de liberdades revestidas de idêntica estatura jurídica, a reclamar solução
que, tal seja o contexto em que se delineie, torne possível conferir primazia a uma das prerrogativas básicas em relação de antagonismo com
determinado interesse fundado em cláusula inscrita na própria Constituição.
Cabe observar, bem por isso, que a responsabilização “a posteriori” (sempre “a posteriori”), em regular processo judicial, daquele que
comete abuso no exercício da liberdade de informação não traduz ofensa ao que dispõem os §§ 1º e 2º do art. 220 da Constituição da República,
pois é o próprio estatuto constitucional que estabelece, em favor da pessoa injustamente lesada, a possibilidade de receber indenização “por dano
material, moral ou à imagem” ou, então, de exercer, em plenitude, o direito de resposta (CF, art. 5º, incisos V e X).
Se é certo que o direito de informar, considerado o que prescreve o art. 220 da Carta Política, tem fundamento constitucional (HC
85.629/RS, Rel. Min. ELLEN GRACIE), não é menos exato que o exercício abusivo da liberdade de informação, que deriva do desrespeito aos
vetores subordinantes referidos no § 1º do art. 220 da própria Constituição, “caracteriza ato ilícito e, como tal, gera o dever de indenizar”,
consoante observa, em magistério irrepreensível, o ilustre magistrado ENÉAS COSTA GARCIA (“Responsabilidade Civil dos Meios de
Comunicação”, p. 175, 2002, Editora Juarez de Oliveira), inexistindo, por isso mesmo, quando tal se configurar, situação evidenciadora de
indevida restrição à liberdade de imprensa, tal como pude decidir em julgamento proferido no Supremo Tribunal Federal:
“LIBERDADE DE INFORMAÇÃO. PRERROGATIVA CONSTITUCIONAL QUE NÃO SE REVESTE DE CARÁTER ABSOLUTO.
SITUAÇÃO DE ANTAGONISMO ENTRE O DIREITO DE INFORMAR E OS POSTULADOS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E
DA INTEGRIDADE DA HONRA E DA IMAGEM. A LIBERDADE DE IMPRENSA EM FACE DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE.
COLISÃO ENTRE DIREITOS FUNDAMENTAIS, QUE SE RESOLVE, EM CADA CASO, PELO MÉTODO DA PONDERAÇÃO
CONCRETA DE VALORES. MAGISTÉRIO DA DOUTRINA. O EXERCÍCIO ABUSIVO DA LIBERDADE DE INFORMAR, DE QUE
RESULTE INJUSTO GRAVAME AO PATRIMÔNIO MORAL/MATERIAL E À DIGNIDADE DA PESSOA LESADA, ASSEGURA, AO
OFENDIDO, O DIREITO À REPARAÇÃO CIVIL, POR EFEITO DO QUE DETERMINA A PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
(CF, ART. 5º, INCISOS V E X). INOCORRÊNCIA, EM TAL HIPÓTESE, DE INDEVIDA RESTRIÇÃO JUDICIAL À LIBERDADE DE
IMPRENSA. NÃO-RECEPÇÃO DO ART. 52 E DO ART. 56, AMBOS DA LEI DE IMPRENSA, POR INCOMPATIBILIDADE COM A
CONSTITUIÇÃO DE 1988. DANO MORAL. AMPLA REPARABILIDADE. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

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EXAME SOBERANO DOS FATOS E PROVAS EFETUADO PELO E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO.
MATÉRIA INSUSCETÍVEL DE REVISÃO EM SEDE RECURSAL EXTRAORDINÁRIA. AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO.
– O reconhecimento ‘a posteriori’ da responsabilidade civil, em regular processo judicial de que resulte a condenação ao pagamento
de indenização por danos materiais, morais e à imagem da pessoa injustamente ofendida, não transgride os §§ 1º e 2º do art. 220 da
Constituição da República, pois é o próprio estatuto constitucional que estabelece, em cláusula expressa (CF, art. 5º, V e X), a
reparabilidade patrimonial de tais gravames, quando caracterizado o exercício abusivo, pelo órgão de comunicação social, da liberdade de
informação. Doutrina.
– A Constituição da República, embora garanta o exercício da liberdade de informação jornalística, impõe-lhe, no entanto, como
requisito legitimador de sua prática, a necessária observância de parâmetros – dentre os quais avultam, por seu relevo, os direitos da
personalidade – expressamente referidos no próprio texto constitucional (CF, art. 220, § 1º), cabendo, ao Poder Judiciário, mediante
ponderada avaliação das prerrogativas constitucionais em conflito (direito de informar, de um lado, e direitos da personalidade, de outro),
definir, em cada situação ocorrente, uma vez configurado esse contexto de tensão dialética, a liberdade que deve prevalecer no caso
concreto. Doutrina. (…).”
(AI 595.395/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
A discussão em torno da natureza jurídica do direito de resposta, por sua vez, tem estimulado a formulação de abordagens diferenciadas a
propósito dessa prerrogativa fundamental, como o evidencia a reflexão que VITAL MOREIRA faz sobre esse instituto, concebido como reação ao
abuso do poder informativo de que são titulares os detentores dos “mass media” e autores de livros em geral.
Em obra monográfica (“O Direito de Resposta na Comunicação Social”, p. 24/32, item n. 2.6, 1994, Coimbra Editora), esse ilustre
Professor da Universidade de Coimbra e antigo Juiz do Tribunal Constitucional português (1983-1989) expõe as diversas concepções que buscam
justificar, doutrinária e dogmaticamente, o direito de resposta, advertindo, no entanto, sobre a insuficiência de uma “explicação unifuncional”,
por vislumbrar, no direito de resposta, uma pluralidade de funções, por ele assim identificadas: (a) o direito de resposta como “defesa dos
direitos de personalidade”, (b) o direito de resposta como “direito individual de expressão e de opinião”, (c) o direito de resposta como
“instrumento de pluralismo informativo”, (d) o direito de resposta como “dever de verdade da imprensa” e, finalmente, (e) o direito de resposta
como “uma forma de sanção ‘sui generis’, ou de indenização em espécie”.
Ao sumariar as múltiplas funções que se mostram inerentes ao direito de resposta, esse Autor destaca-lhe, no contexto dessa
“plurifuncionalidade”, duas características que reputa mais expressivas (“op. cit.”, p. 32):
“(...) a defesa dos direitos de personalidade (ou, mais genericamente, de um ‘direito à identidade’) e a promoção do contraditório e do
pluralismo da comunicação social.
Esquematicamente, o direito de resposta satisfaz dois objectivos: (a) proporciona a todos os que se considerem afectados por uma
notícia de imprensa um meio expedito, simples e não dispendioso de defender a sua reputação ou de fazer a valer a sua verdade acerca de si
mesmo; (b) permite a difusão de versões alternativas, facultando desse modo ao público o acesso a pontos de vista divergentes ou
contraditórios sobre o mesmo assunto. Nas palavras de um especialista italiano são dois os ‘interesses tutelados pelo direito de resposta: por
um lado, um interesse eminentemente privatístico – o direito à identidade pessoal, isto é, o direito a não ver deformado o próprio património
moral, cultural, político, ideal, etc.; por outro lado, um interesse publicístico – a pluralidade de fontes de informação, permitindo ao leitor
julgar depois de ter ouvido também ‘a outra parte’ (…).” (grifei)
Cabe referir, por oportuno, quanto à amplitude e à própria titularidade ativa do direito constitucional de resposta (cujo exercício nem
sempre supõe a prática de ato ilícito), o valioso entendimento doutrinário exposto por GUSTAVO BINENBOJM, que ressalta o caráter
transindividual dessa prerrogativa jurídica, na medida em que o exercício do direito de resposta propicia, em favor de um número indeterminado
de pessoas (mesmo daquelas não diretamente atingidas pela publicação inverídica ou incorreta), a concretização do próprio direito à informação
correta, precisa e exata (“Meios de Comunicação de Massa, Pluralismo e Democracia Deliberativa. As Liberdades de Expressão e de
Imprensa nos Estados Unidos e no Brasil”, p. 12/15, “in” Revista Eletrônica de Direito Administrativo Econômico – REDAE, Número 5 –
fevereiro/março/abril de 2006, IDPB):
“Ocorre que, de parte sua preocupação com a dimensão individual e defensiva da liberdade de expressão (entendida como proteção
contra ingerências indevidas do Estado na livre formação do pensamento dos cidadãos), o constituinte atentou também para a sua dimensão
transindividual e protetiva, que tem como foco o enriquecimento da qualidade e do grau de inclusividade do discurso público. É interessante
notar que, ao contrário da Constituição dos Estados Unidos, a Constituição brasileira de 1988 contempla, ela mesma, os princípios que
devem ser utilizados no sopesamento das dimensões defensiva e protetiva da liberdade de expressão. É nesse sentido que Konrad Hesse se
refere à natureza dúplice da liberdade de expressão.
Importam-nos mais diretamente, para os fins aqui colimados, os dispositivos constitucionais que cuidam de balancear o poder
distorsivo das empresas de comunicação social sobre o discurso público, que devem ser compreendidos como intervenções pontuais que
relativizam a liberdade de expressão em prol do fortalecimento do sistema de direitos fundamentais e da ordem democrática traçados em
esboço na Constituição. No vértice de tal sistema se encontra a pessoa humana, como agente moral autônomo em suas esferas privada e
pública, capaz de formular seus próprios juízos morais acerca da sua própria vida e do bem comum.
.......................................................................................................
Além das normas constitucionais mencionadas logo no intróito deste capítulo, alguns direitos individuais relacionados no art. 5º
também mitigam a dimensão puramente negativa da liberdade de imprensa (art. 220, § 1º). Dentre eles, o direito de resposta (art. 5º, inciso
V) e o direito de acesso à informação (art. 5º, XIV) guardam pertinência mais direta com o ponto que se deseja demonstrar.
O direito de resposta não pode ser compreendido no Brasil como direito puramente individual, nem tampouco como exceção à
autonomia editorial dos órgãos de imprensa. De fato, além de um conteúdo tipicamente defensivo da honra e da imagem das pessoas, o
direito de resposta cumpre também uma missão informativa e democrática, na medida em que permite o esclarecimento do público sobre os
fatos e questões do interesse de toda a sociedade. Assim, o exercício do direito de resposta não deve estar necessariamente limitado à prática
de algum ilícito penal ou civil pela empresa de comunicação, mas deve ser elastecido para abarcar uma gama mais ampla de situações que
envolvam fatos de interesse público. Com efeito, algumas notícias, embora lícitas, contêm informação incorreta ou defeituosa, devendo-se
assegurar ao público o direito de conhecer a versão oposta.
A meu ver, portanto, o direito de resposta deve ser visto como um instrumento de mídia colaborativa (‘collaborative media’) em que
o público é convidado a colaborar com suas próprias versões de fatos e a apresentar seus próprios pontos de vista. A autonomia editorial, a
seu turno, seria preservada desde que seja consignado que a versão ou comentário é de autoria de um terceiro e não representa a opinião do
veículo de comunicação.
Na Argentina, a Suprema Corte acolheu esta utilização mais ampla do direito de resposta em caso no qual um famoso escritor
concedeu entrevista em programa de televisão na qual emitiu conceitos considerados ofensivos a figuras sagradas da religião católica. A
Corte assegurou o direito de resposta a um renomado constitucionalista, com a leitura de uma carta no mesmo canal de TV, baseando-se em
um direito da comunidade cristã de apresentar o seu próprio ponto de vista sobre as mencionadas figuras. Considerou-se, na espécie, que o
requerente atuou como substituto processual daquela coletividade.” (grifei)

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


Posiciona-se, no mesmo sentido, L. G. GRANDINETTI CASTANHO DE CARVALHO (“Liberdade de Informação e o Direito Difuso à
Informação Verdadeira”, p. 121/122, item n. 7, 2ª ed., 2003, Renovar):
“Nesse contexto, já vimos que o direito de informação, com esta nova ótica constitucional, importa no direito à informação
verdadeira, e que esta constitui um direito difuso da sociedade.
Sendo assim, o direito de resposta deve, por sua vez, reajustar-se para adaptar-se a esta nova ordem jurídica.
É primordial que se abandone a concepção do direito de resposta que o configura, apenas, como uma ação de reparação de dano, ou
como um instituto afim à legítima defesa. Ele é tudo isso, mas deve ser mais que isso. Ele deve ser deslocado do particular, ofendido
pessoalmente, titular de um direito à indenização, para a sociedade, credora de uma informação verdadeira, imparcial, autêntica.
Aceita a concepção, forçoso é admitir que o direito de resposta, integrante do direito de informação, é também um direito difuso, que
pode ser exercido por qualquer legitimado com o fim de preservar a verdade de um fato.
Não mais vigerá a estreita via da indenização e da legitimação exclusiva do lesado para opor-se à matéria inexata. O ofendido cederá
parte de seu lugar para o ‘interessado’ na exatidão da notícia – a sociedade.” (grifei)
Essa mesma percepção do tema é revelada por FÁBIO KONDER COMPARATO (“A Democratização dos Meios de Comunicação de
Massa”, “in” “Direito Constitucional: Estudos em Homenagem a Paulo Bonavides”, p. 165/166, item n. IV, 2001, Malheiros):
“O direito de resposta, tradicionalmente, visa a garantir a defesa da verdade e da honra individual. Legitimado a exercê-lo, portanto,
é sempre o indivíduo em relação ao qual haja sido difundida uma mensagem inverídica ou desabonadora. Ainda que se não possa nele
enxergar um direito potestativo, como quer uma parte da doutrina, é inegável que ele se apresenta como um meio de defesa particularmente
vigoroso, em geral garantido pela cominação de pesada multa em caso de descumprimento pelo sujeito passivo.
É, sem dúvida, necessário estender a utilização desse mecanismo jurídico também à defesa de bens coletivos ou sociais, que a teoria
moderna denomina ‘interesses difusos’. Os defensores do bem comum ou interesse social acham-se sempre em posição jurídica subalterna
em relação aos controladores dos meios de comunicação social, só tendo acesso garantido a esses veículos nos raros casos previstos em lei.
A legitimação para o exercício do direito coletivo de retificação deveria caber, analogamente ao previsto no chamado Código de
Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 1990): 1) ao Ministério Público; 2) a órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que
despidos de personalidade jurídica, quando especificamente criados para a defesa de interesses difusos ou coletivos; 3) a organizações não-
governamentais, existentes sob a forma de associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre suas finalidades
estatutárias a defesa desses interesses.” (grifei)
A razão subjacente a tais propostas parece resultar, segundo preconizam esses eminentes autores, da necessidade de intensificar,
fortalecendo-o, o processo de democratização dos meios de comunicação de massa (“mass media”), uma vez que o antigo conceito liberal do “livre
mercado de ideias” (“free marketplace of ideas”) – defendido por pensadores e intelectuais tão diversos como JOHN MILTON (“Areopagitica”),
JOHN STUART MILL (“On Liberty”), THOMAS JEFFERSON (“Letter to William Roscoe”), FRED S. SIEBERT (“The Libertarian Theory”),
OLIVER WENDELL HOLMES, JR. (voto vencido em “Abrams v. United States”, “in” 250 U.S. 616, proferido em 1919), WILLIAM
BRENNAN, JR. (voto vencedor em “Keyishian v. Board of Regents of the University of the State of New York”, in 385 U.S. 589, proferido em
1967), v.g. – achar-se-ia gravemente comprometido por uma progressiva concentração da propriedade dos meios de comunicação social, a ponto
de autores como JEROME A. BARRON (“Access to the Media – A Contemporary Appraisal” e “Access to the Media – A New First
Amendment Right”) e PATRICK GARRY (“The First Amendment and Freedom of the Press: A Revised Approach to the Marketplace of
Ideas Concept”) sustentarem que essa “concentration of Media ownership” culminaria por descaracterizar a velha noção expressa na metáfora do
“marketplace of ideas”, cujo perfil, agora, deveria ceder à nova fórmula do “revised marketplace model”, que, em decorrência dos dilemas e
distorções provocados pelo fenômeno do oligopólio dos meios de comunicação de massa, busca promover a realização de diversos objetivos que se
projetam no plano da transindividualidade, assim identificados por PATRICK GARRY, no estudo que venho de referir: “truth, individual and
social interaction, citizen participation in public affairs and the maintenance of a non-monopoly press”.
Vale destacar, por sua vez, um outro aspecto que se me afigura relevante. Refiro-me ao fato de que a justa preocupação da comunidade
internacional com a preservação do direito de resposta tem representado, no plano do sistema interamericano e em tema de proteção aos direitos de
personalidade, um tópico sensível e delicado da agenda dos organismos internacionais em âmbito regional, como o evidencia o Pacto de São José da
Costa Rica (Artigo 14), que constitui instrumento que reconhece a qualquer pessoa que se considere afetada por informação inexata ou ofensiva
veiculada por meios de difusão o direito de resposta e de retificação:
“Artigo 14 – Direito de retificação ou resposta
1. Toda pessoa atingida por informações inexatas ou ofensivas emitidas em seu prejuízo por meios de difusão legalmente
regulamentados e que se dirijam ao público em geral tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação ou resposta, nas
condições que estabeleça a lei.
2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão das outras responsabilidades legais em que se houver incorrido.
3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda publicação ou empresa jornalística, cinematográfica, de rádio ou televisão, deve
ter uma pessoa responsável que não seja protegida por imunidades nem goze de foro especial.” (grifei)
Cumpre relembrar, no ponto, o magistério doutrinário de VALÉRIO DE OLIVEIRA MAZZUOLI (“Direito Penal – Comentários à Convenção
Americana sobre Direitos Humanos/Pacto de San José da Costa Rica”, vol. 4/138, em coautoria com LUIZ FLÁVIO GOMES, 2008, RT), cuja
análise do mencionado Art. 14 da Convenção Americana de Direitos Humanos bem ressalta o entendimento que a comunidade internacional
confere à cláusula convencional pertinente ao direito de resposta e de retificação:
“A Convenção não se refere à ‘proporcionalidade’ da resposta relativamente à ofensa, não indicando se as pessoas atingidas têm
direito de responder em espaço igual ou maior, em que lapso pode exercitar esse direito, que terminologia é mais adequada etc. A
Convenção diz apenas que estas condições serão as ‘que estabeleça a lei’, frase que remete às normas internas dos Estados-Partes o
estabelecimento das ‘condições’ de exercício do direito de retificação ou resposta, o que poderá variar de país para país. Contudo, tal
proporcionalidade da resposta relativamente à ofensa deve entender-se ‘implícita’ no texto da Convenção, não podendo as leis dos Estados-
Partes ultrapassar os limites restritivos razoáveis e os conceitos pertinentes já afirmados pela Corte Interamericana.” (grifei)
Cabe mencionar, ainda, fragmento da Opinião Consultiva nº 7/86, proferida, em 29 de agosto de 1986, pela Corte Interamericana de
Direitos Humanos, que, ao ressaltar a essencialidade desse instrumento de preservação dos direitos da personalidade, entendeu que o direito de
resposta deve ser aplicado independentemente de regulamentação pelo ordenamento jurídico interno ou doméstico dos países signatários do Pacto
de São José da Costa Rica:
“A tese de que a frase ‘nas condições que estabeleça a lei’, utilizada no art. 14.1, somente facultaria aos Estados Partes a criar por lei
o direito de retificação ou de resposta, sem obrigá-los a garanti-lo enquanto seu ordenamento jurídico interno não o regule, não se
compadece nem com o ‘sentido corrente’ dos termos empregados nem com o ‘contexto’ da Convenção. Com efeito, a retificação ou resposta
em razão de informações inexatas ou ofensivas dirigidas ao público em geral se coaduna com o artigo 13.2.a sobre liberdade de pensamento

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


ou de expressão, que sujeita essa liberdade ao ‘respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas’ (…); com o artigo 11.1 e 11.3,
segundo o qual:

‘1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade’
‘3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas’
e com o artigo 32.2, segundo o qual ‘Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais, pela segurança de todos e
pelas justas exigências do bem comum, em uma sociedade democrática’.
O direito de retificação ou de resposta é um direito ao qual são aplicáveis as obrigações dos Estados Partes consagradas nos artigos
1.1 e 2 da Convenção. E não poderia ser de outra maneira, já que o próprio sistema da Convenção está direcionado a reconhecer direitos e
liberdades às pessoas e não a facultar que os Estados o façam (Convenção Americana, Preâmbulo, O efeito das reservas sobre a entrada em
vigência da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (art.s 74 e 75), Opinião Consultiva OC-2/82 de 24 de setembro de 1982. Série A,
n. 2, parágrafo 33).” (grifei)
Impende ressaltar, por oportuno, trecho da manifestação proferida no âmbito de mencionada Opinião Consultiva emanada da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, proveniente do eminente Juiz RODOLFO E. PIZA ESCALANTE, que assim se pronunciou:
“Em outras palavras, o direito de retificação ou de resposta é de tal relevância que nada impede respeitá-lo ou garanti-lo, vale dizer
aplicá-lo e ampará-lo, ainda que não haja lei que o regulamente, por meio de simples critérios de razoabilidade; no fim das contas, a
própria lei, ao estabelecer as condições de seu exercício, deve sujeitar-se a iguais limitações, porque, de outra forma, violaria ela mesma o
conteúdo essencial do direito regulamentado e, portanto, o artigo 14.1 da Convenção.” (grifei)
Em suma: é por todas essas razões, e também por aquelas resultantes do acórdão ora impugnado, que tenho por inviável a pretensão
recursal formulada nesta sede processual.
Sendo assim, e em face das razões expostas, conheço do presente recurso extraordinário, para negar-lhe provimento.
Publique-se.
Brasília, 24 de junho de 2015.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
*decisão publicada no DJe de 1º.7.2015

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
29 de junho a 1º de julho de 2015

Lei nº 13.139, de 26.6.2015 - Altera os Decretos-Lei nº 9.760, de 5.9.1946, nº 2.398, de 21.12.1987, a Lei nº
9.636, de 15.5.1998, e o Decreto-Lei nº 1.876, de 15.7.1981; dispõe sobre o parcelamento e a remissão de dívidas
patrimoniais com a União; e dá outras providências. . Publicada no DOU, nº 121, Seção 1, p. 2, em 29.6.2015.
Lei nº 13.140, de 26.6.2015 - Dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de controvérsias
e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública; altera a Lei nº 9.469, de 10.7.1997, e o
Decreto nº 70.235, de 6.3.1972; e revoga o § 2º do art. 6º da Lei nº 9.469, de 10.7.1997. Publicada no DOU, nº 121,
Seção 1, p. 4, em 29.6.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES
2 a 31 de julho de 2015

Lei 13.142, de 6.7.2015 - Altera os arts. 121 e 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7.12.1940 (Código Penal), e o art.
1º da Lei nº 8.072, de 25.7.1990 (Lei de Crimes Hediondos). Publicada no DOU, nº 127, Seção 1, p. 7, em 7.7.2015.
Lei 13.144, de 6.7.2015 - Altera o inciso III do art. 3º da Lei nº 8.009, de 29.3.1990, que disciplina o instituto do
bem de família, para assegurar proteção ao patrimônio do novo cônjuge ou companheiro do devedor de pensão
alimentícia. Publicada no DOU, nº 127, Seção 1, p. 2, em 7.7.2015.
Lei 13.146, de 6.7.2015 - Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência). Publicada no DOU, nº 127, Seção 1, p. 2, em 7.7.2015.
Lei nº 13.149, de 21.7.2015 - Altera as Leis nº 11.482, de 31.5.2007, para dispor sobre os valores da tabela
mensal do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, 7.713, de 22.12.1988, 9.250, de 26.12.1995, e 10.823, de
19.12.2003. Publicada no DOU, nº 138, Seção 1, p. 1, em 22.7.2015.
Lei nº 13.151, de 28.7.2015 - Altera os arts. 62, 66 e 67 da Lei nº 10.406, de 10.1.2002 - Código Civil, o art. 12
da Lei nº 9.532, de 10.12.997, o art. 1º da Lei nº 91, de 28.8.1935, e o art. 29 da Lei nº 12.101, de 27.11.2009, para
dispor sobre a finalidade das fundações, o prazo para manifestação do Ministério Público sobre suas alterações

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


estatutárias e a remuneração dos seus dirigentes; e dá outras providências. Publicada no DOU, nº 143, Seção 1, p.1, em
29.7.2015.
Lei nº 13.152, de 29.7.2015 - Dispõe sobre a política de valorização do salário-mínimo e dos benefícios pagos
pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) para o período de 2016 a 2019. Publicada no DOU, nº 144, Seção 1,
p.1, em 30.7.2015.
Lei nº 13.154, de 30.7.2015 - Altera a Lei no 9.503, de 23.9.1997 - Código de Trânsito Brasileiro, a Consolidação
das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o.5.1943, e a Lei no 13.001, de 20.6.2014; e dá
outras providências. Publicada no DOU, nº 145, Seção 1, p.1, em 31.7.2015.
Medida Provisória nº 680, de 6.7.2015 - Institui o Programa de Proteção ao Emprego e dá outras providências.
Publicada no DOU, nº 127, Seção 1, p. 11, em 7.7.2015.
Medida Provisória nº 681, de 10.7.2015 - Altera a Lei nº 10.820, de 17.12.2003, a Lei nº 8.213, de 24.7.1991, e a
Lei nº 8.112, de 11.12.1990, para dispor sobre desconto em folha de valores destinados ao pagamento de cartão de
crédito. Publicada no DOU, nº 131, Seção 1, p. 1, em 13.7.2015.
Medida Provisória nº 683, de 13.7.2015 - Institui o Fundo de Desenvolvimento Regional e Infraestrutura e o
Fundo de Auxílio à Convergência das Alíquotas do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e
sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS, com a finalidade
de facilitar o comércio interestadual e estimular o investimento produtivo e o desenvolvimento regional. Publicada no
DOU, nº 132, Seção 1, p. 1, em 14.7.2015.
Medida Provisória nº 684, de 21.7.2015 - Altera a Lei nº 13.019, de 31.7.2014, que estabelece o regime jurídico
das parcerias voluntárias, envolvendo ou não transferências de recursos financeiros, entre a administração pública e as
organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse
público; define diretrizes para a política de fomento e de colaboração com organizações da sociedade civil; institui o
termo de colaboração e o termo de fomento; e altera as Leis nº 8.429, de 2.6.1992, e 9.790, de 23.3.1999. Publicada no
DOU, nº 138, Seção 1, p. 2, em 22.7.2015.
Mensagem de veto total nº 231 de 30.6.2015 - Projeto de Lei nº 88, de 2013 (nº 5.171/13 na Câmara dos
Deputados), que “Altera o § 1º do art. 53 da Lei nº 6.015, de 31.12.1973, que dispõe sobre os registros públicos, para
dispor sobre o registro do nome que for dado ao natimorto”. Publicada no DOU, nº 121, Seção 1, p. 7, em 1º.7.2015.
Mensagem de veto total nº 263 de 21.7.2015 - Projeto de Lei nº 28, de 2015 (nº 7.920/14 na Câmara dos
Deputados), que “Altera o Anexo II da Lei nº 11.416, de 15.12.2006 - Plano de Carreiras dos Servidores do Poder
Judiciário da União, e dá outras providências”. Publicada no DOU, nº 138, Seção 1, p. 3, em 22.7.2015.
Decreto nº 8.479, de 6.7.2015 - Regulamenta o disposto na Medida Provisória nº 680, de 6.7.2015, que institui o
Programa de Proteção ao Emprego. Publicado no DOU, nº 127, Seção 1, p.1, em 7.7.2015.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)
Processo administrativo - Cópia de documento - Juntada - Desapensamento de autos
Instrução Normativa nº 194, de 11.6.2015 - Altera dispositivos da Instrução Normativa nº 191, de 27.3.2015.
Publicada no Boletim de Serviço, nº 7, p. 8, em 7.7.2015.
Expediente forense - Secretaria - Prazo - Prorrogação
Portaria nº 140, de 15.7.2015 - Comunica que não haverá expediente na Secretaria do Tribunal no dia 11.8.2015
(terça-feira). E que os prazos que porventura devam iniciar-se ou completar-se nesse dia ficam automaticamente
prorrogados para o dia 12 subsequente (quarta-feira). Publicada no DJE/STF, nº 140, p. 11, em 17.7.2015.

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 792-STF (03/08/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo por não terem sido concluídos: HC 118533/MS; ADI 4747/DF; Inq 3788/DF.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: HC 125768/SP; HC 127158/MG; HC 109708/SP.

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
 Princípio da intranscendência subjetiva na inscrição de unidade federativa em cadastro de inadimplentes.

CONCURSO PÚBLICO
 Momento para comprovação do limite de idade.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL


REGIME JURÍDICO DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES
 Não aplicação da Resolução 187/2014-CNJ a concursos que já estavam em andamento quando ela entrou em vigor.

DIREITO PENAL
MAUS ANTECEDENTES (DOSIMETRIA DA PENA)
 Inquéritos policiais e ações penais sem trânsito em julgado.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


HABEAS CORPUS
 Proibição da reformatio in pejus.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


INTERROGATÓRIO
 Momento do interrogatório no rito do CPPM.

DIREITO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
Princípio da intranscendência subjetiva na
inscrição de unidade federativa em cadastro de inadimplentes

Atenção! Advocacia Pública


O Estado de Pernambuco celebrou convênio com a União por meio do qual recebeu
determinadas verbas para realizar projetos de interesse público no Estado, assumindo o
compromisso de prestar contas da utilização de tais valores perante a União e o TCU. Ocorre
que o Estado não prestou contas corretamente, o que fez com que a União o inserisse no CAUC.

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


Ao julgar uma ação proposta pelo Estado-membro contra a União, o STF exarou duas
importantes conclusões:
1) Viola o princípio do devido processo legal a inscrição de unidade federativa em cadastros de
inadimplentes antes de iniciada e julgada tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas
da União. Em casos como esse, mostra-se necessária a tomada de contas especial e sua
respectiva conclusão, a fim de reconhecer que houve realmente irregularidades. Só a partir
disso é possível a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao crédito organizados e
mantidos pela União.
2) O princípio da intranscendência subjetiva impede que sanções e restrições superem a
dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as
causadoras do ato ilícito. Assim, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe
a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por
administrações anteriores. A inscrição do Estado de Pernambuco no CAUC ocorreu em razão
do descumprimento de convênio celebrado por gestão anterior, ou seja, na época de outro
Governador. Ademais, ficou demonstrado que os novos gestores estavam tomando as
providências necessárias para sanar as irregularidades verificadas. Logo, deve-se aplicar, no
caso concreto, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo que a
Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou
recebimento de repasses federais.
STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 23/6/2015
(Info 791).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O Estado de Pernambuco celebrou convênio com a União por meio do qual recebeu determinadas verbas
para realizar projetos de interesse público no Estado, assumindo o compromisso de prestar contas da
utilização de tais valores perante a União e o TCU.
Ocorre que o Estado não prestou contas corretamente, o que fez com que a União o inserisse no CAUC.
Com a inscrição no CAUC, o Estado-membro ficou impedido de contratar operações de crédito, celebrar
convênios com órgãos e entidades federais e receber transferências de recursos.

Antes de prosseguirmos, o que é o CAUC?


CAUC é a sigla de Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias.
O CAUC é um instrumento de consulta, por meio do qual se pode verificar se os Estados-membros ou
Municípios estão com débitos ou outras pendências perante o Governo federal.
O CAUC é alimentado com as informações constantes em bancos de dados como o SIAFI e o CADIN.
Se houver, por exemplo, um atraso do Estado ou do Município na prestação de contas de um convênio
com a União ou suas entidades, essa informação passará a figurar no CAUC e ele ficará impedido de
receber verbas federais.
Em uma alegoria para que você entenda melhor (não escreva isso na prova!), seria como se fosse um
“e asa de d itos dos Estados e Mu i ípios com a União, ou seja, um cadastro federal de inadimplência.

Ação proposta pelo Estado-membro


O Estado-membro não concordou com a inscrição no CAUC e ajuizou ação ordinária contra a União
questionando essa inclusão.
Os dois principais argumentos da ação proposta foram os seguintes:
a) Violação ao devido processo legal, pois houve inscrição no referido cadastro sem que o TCU tenha
encerrado a tomada de contas especial instaurada para apurar o fato;
b) Violação ao princípio da intranscendência subjetiva das sanções, uma vez que o inadimplemento
ocorreu em gestão anterior (era outro Governador).

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


Vejamos agora algumas questões jurídicas envolvendo o tema:

Quem será competente para julgar essa ação?


O “TF, os te os do a t. , I, f , da CF/88:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros,
inclusive as respectivas entidades da administração indireta;

Toda ação envolvendo União e Estados em polos distintos será julgada originariamente pelo STF com
base no art. , I, f , da CF/88?
NÃO.

Pa a se a a te iza a hipótese do a t. , I, f , da CF/88, é indispensável que, além de haver uma causa


envolvendo União e Estado, essa demanda tenha densidade suficiente para abalar o pacto federativo. Em
outras palavras, não é qualquer causa envolvendo União contra Estado que irá ser julgada pelo STF, mas
somente quando essa disputa puder resultar em ofensa às regras do sistema federativo. Confira trecho de
ementa que revela essa distinção:

Dife e ça e t e o flito e t e e tes fede ados e o flito fede ativo: e ua to o p i ei o, pelo p is a


subjetivo, observa-se a litigância judicial promovida pelos membros da Federação, no segundo, para além
da participação desses na lide, a conflituosidade da causa importa em potencial desestabilização do
próprio pacto federativo. Há, portanto, distinção de magnitude nas hipóteses aventadas, sendo que o
legislador constitucional restringiu a atuação da Corte à última delas, nos moldes fixados no Texto Magno,
e não incluiu os litígios e as causas envolvendo Municípios como ensejadores de conflito federativo apto a
exigir a co pet ia o igi ia da Co te. STF. Plenário. ACO 1.295-AgR-segundo, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 14/10/2010).

Mero conflito entre entes federados Conflito federativo


Trata-se da disputa judicial envolvendo União (ou Trata-se da disputa judicial envolvendo União (ou
suas entidades) contra Estado-membro (ou suas suas entidades) contra Estado-membro (ou suas
entidades). entidades) e que, em razão da magnitude do tema
discutido, pode gerar uma desestabilização do
próprio pacto federativo.
Ex: disputa entre a União e o Estado por conta de Ex: ação proposta pelo Estado questionando sua
um aluguel de um imóvel. indevida inclusão no CAUC, o que tem gerado o
fim de repasses federais.
Em regra, é julgado pelo juiz federal de 1ª instância. É julgado pelo “TF a t. , I, f da CF/88 .

No caso concreto, o STF entendeu que ele era competente para a ação. Isso porque, além da presença, em
polos distintos, de Estado-membro e União, estava em jogo a inscrição do ente local em cadastro federal
de inadimplência, o que impedia que ele contratasse operações de crédito, celebrasse convênios e
recebesse transferências de recursos. Essa situação revela possível abalo ao pacto federativo, já que está
mitigando (enfraquecendo) a autonomia do Estado-membro, a ensejar a incidência do art. 102, I, f , da
CF/88.

Em tese, é possível que a União inscreva Estado-membro em cadastro federal de inadimplentes, como é
o caso do CAUC ou do SIAFI?
SIM. A princípio, não existe qualquer ilegalidade no fato de a União proceder à inscrição do órgão ou ente
(o qual se mostre inadimplente em relação a débitos ou deveres legais) nos cadastros de restrição.

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Também não há qualquer ilegalidade no fato de a União se recusar a celebrar convênios ou prestar
garantias para entes públicos que estejam nessa situação.

No caso concreto, houve violação ao princípio do devido processo legal? Para que o Estado-membro seja
incluído no cadastro restritivo, é necessário o encerramento do procedimento instaurado pelo TCU?
SIM. Viola o princípio do devido processo legal a inscrição de unidade federativa em cadastros de
inadimplentes antes de iniciada e julgada tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas da União
(STF. 1ª Turma. ACO 2.159-MC-REF, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de 02/06/2014).
Em casos como esse, mostra-se necessária a tomada de contas especial e sua respectiva conclusão, a fim
de reconhecer que houve realmente irregularidades. Só a partir disso é possível a inscrição do ente nos
cadastros de restrição ao crédito organizados e mantidos pela União.

O que é o princípio da intranscendência subjetiva das sanções? No caso concreto, houve violação a esse
princípio?
SIM. O princípio da intranscendência subjetiva impede que sanções e restrições superem a dimensão
estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as causadoras do ato ilícito.
Assim, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de sanções às
administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores.
A inscrição do Estado de Pernambuco no CAUC ocorreu em razão do descumprimento de convênio
celebrado por gestão anterior, ou seja, na época de outro Governador. Ademais, ficou demonstrado que
os novos gestores estavam tomando as providências necessárias para sanar as irregularidades verificadas.
“egu do o Mi . Luiz Fux, o se pode i via iliza a ad i ist aç o de ue foi eleito de o ati a e te e
não foi respo s vel di eta e te pelas difi uldades fi a ei as ue a a eta a a i s iç o o atida .
Logo, deve-se aplicar, no caso concreto, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo
que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou recebimento
de repasses federais.

Outro exemplo de aplicação do princípio


Além do caso acima explicado, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções pode ser aplicado
também nas situações em que uma entidade estadual/municipal (ex: uma autarquia) descumpriu as regras
do convênio e a União inscreve não apenas essa entidade, como também o próprio ente
(Estado/Município) nos cadastros restritivos. Nesse sentido:
(...) O postulado da intranscendência impede que sanções e restrições de ordem jurídica superem a
dimensão estritamente pessoal do infrator. Em virtude desse princípio, as limitações jurídicas que derivam da
inscrição, em cadastros públicos de inadimplentes, das autarquias, das empresas governamentais ou das
entidades paraestatais não podem atingir os Estados-membros, projetando, sobre estes, consequências
jurídicas desfavoráveis e gravosas, pois o inadimplemento obrigacional – por revelar-se unicamente
imputável aos entes menores integrantes da administração descentralizada – só a estes pode afetar.
Os Estados-membros e o Distrito Federal, em consequência, não podem sofrer limitações em sua esfera
jurídica, motivadas pelo só fato de se acharem administrativamente vinculadas a eles as autarquias, as
entidades paraestatais, as sociedades sujeitas a seu poder de controle e as empresas governamentais
alegadamente inadimplentes e que, por tal motivo, hajam sido incluídas em cadastros federais (CAUC,
SIAFI, CADIN, v.g.). (...)
(STF. Plenário. ACO 1848 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 06/11/2014)

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CONCURSO PÚBLICO
Momento para comprovação do limite de idade

Atualize seu livro de 2014


O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso
público, há de ser comprovado no momento da inscrição no certame.
STF. 1ª Turma. ARE 840.592/CE, Min. Roberto Barroso, julgado em 23/6/2015 (Info 791).

Concurso público e limite de idade


Regra: como regra geral, é proibido que o edital do concurso público estabeleça diferença de salários, de
exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (art. 7º, XXX
c/c art. 39, § 3º, da CF/88).

Exceção: é possível que o edital do concurso público estabeleça limites de idade, desde que haja previsão
em lei e isso se justifique pela natureza das atribuições do cargo.

Sobre o tema, existe um enunciado do STF:


Súmula 683-STF: O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º,
XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser
preenchido.

Imagine agora a seguinte situação adaptada:


O Estado do Ceará abriu concurso público para policial militar.
A Lei da PM e o edital do certame previram que o candidato deveria ter o máximo de 30 anos de idade no
momento da inscrição do concurso.

Primeira pergunta: é válido limite de idade para os concursos de policial militar?


SIM. A jurisprudência está pacificada no sentido de que é possível exigir-se limite de idade para o ingresso
na carreira militar, desde que haja previsão em lei específica e no edital do concurso público.

Segunda pergunta: é possível que esse limite seja exigido no momento da inscrição no concurso?
SIM. O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso público,
há de ser comprovado no momento da inscrição no certame.
Algumas vozes afirmavam que essa exigência no ato de inscrição do concurso seria indevida e que o limite
de idade deveria ser sempre comprovado no momento do curso de formação ou da posse.
O STF, contudo, entendeu que a comprovação do limite de idade deve ocorrer por ocasião da inscrição no
concurso porque é impossível se antever, com certeza, a data em que será realizada a fase final do
concurso ou a possse. Nesse sentido:
(...) A comprovação do requisito etário estabelecido na lei deve ocorrer no momento da inscrição no
certame, e não no momento da inscrição do curso de formação.
(STF. 2ª Turma. ARE 685870 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/12/2013)

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DIREITO NOTARIAL /
REGISTRAL

REGIME JURÍDICO DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES


Não aplicação da Resolução 187/2014-CNJ a concursos
que já estavam em andamento quando ela entrou em vigor

A Resolução 187/2014 do CNJ disciplinou a contagem de títulos em concursos públicos para


cartórios (outorga de serventias extrajudiciais).
Imagine que em 2013 iniciou um concurso para cartório. Em 2015, chega ao fim a fase de
provas e inicia a análise dos títulos. O STF decidiu que, como esse concurso iniciou antes da
Resolução 187/2014, as regras por ela impostas não poderão se aplicar para este certame.
Em suma, a Resolução 187/2014 não se aplica a concursos que já estavam em andamento
quando ela iniciou a sua vigência, sob pena de isso representar um abalo à confiança dos
candidatos e à segurança jurídica.
STF. 1ª Turma. MS 33094/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/6/2015 (Info 791).

Resolução 187/2014-CNJ
A Resolução 187/2014 do CNJ alterou diversos dispositivos da Resolução 81/2009.
A Resolução 81/2009 do CNJ trata sobre as regras dos concursos públicos de cartório (outorga de
delegações de serventias notariais e registrais).
A Resolução 187/2014, por sua vez, modificou as normas que tratam sobre os títulos aceitos no concurso e
sua respectiva pontuação.

Resolução 187/2014-CNJ não se aplica para concursos iniciados antes de sua vigência
Imagine que em 2013 iniciou um concurso para cartório.
Em 2015, chega ao fim a fase de provas e inicia a análise dos títulos.
O STF decidiu que, como esse concurso iniciou antes da Resolução 187/2014, as regras por ela impostas
não poderão se aplicar para este certame.
Assim, a Resolução 187/2014 do CNJ não se aplica a concursos que já estavam em andamento quando ela
iniciou a sua vigência.
A aplicação das modificações promovidas pela Resolução 187/2014 a concurso em andamento representaria
um abalo à confiança que os candidatos depositaram no edital do certame que seguia a regras da Resolução
81/2009, em sua redação originária. Desse modo, haveria uma violação à segurança jurídica.

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


DIREITO PENAL
MAUS ANTECEDENTES (DOSIMETRIA DA PENA)
Inquéritos policiais e ações penais sem trânsito em julgado

A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não podem ser
considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena.
STF. Plenário. HC 94620/MS e HC 94680/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgados em 24/6/2015
(Info 791).

Critério trifásico
A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.

Este critério trifásico, elaborado por Nelson Hungria, foi adotado pelo Código Penal, sendo consagrado
pela jurisprudência pátria (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1021796/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 19/03/2013).

Primeira fase (circunstâncias judiciais)


Na primeira fase, as chamadas circunstâncias judiciais analisadas pelo juiz são as seguintes:
a) culpabilidade, b) antecedentes, c) conduta social, d) personalidade do agente, e) motivos do crime, f)
circunstâncias do crime, g) consequências do crime, h) comportamento da vítima.

Antecedentes:
São as anotações negativas que o réu possua em matéria criminal.
Se o juiz entender que o réu possui maus antecedentes, ele irá aumentar a pena-base imposta ao
condenado.

Se o réu possui inquéritos policiais instaurados e ações penais em curso, tais elementos podem ser
considerados como maus antecedentes no momento da dosimetria da pena?
NÃO. Inquéritos policiais ou ações penais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena. Isso por causa do princípio da presunção de não culpabilidade.
Esse é o entendimento pacífico da jurisprudência. No STJ, existe um enunciado espelhando tal conclusão:
Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.

No STF, a questão foi decidida pelo Plenário em sede de repercussão geral: RE 591054/SC, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

Observação importante:
No julgamento do HC 94620/MS e HC 94680/SP, acima destacados, o STF manteve seu entendimento
tradicional no sentido de que os inquéritos policiais e as ações penais sem trânsito em julgado não podem
ser considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena porque isso já havia sido
decidido em repercussão geral no RE 591054/SC. No entanto, seis Ministros (Ricardo Lewandowski,
Cármen Lúcia, Luiz Fux, Teori Zavascki, Edson Fachin e Rosa Weber) manifestaram-se no sentido de que
gostariam de rever esse entendimento ao julgarem um novo recurso extraordinário em sede de
repercussão geral. Assim, é possível que, no futuro, o STF passe a decidir que os inquéritos policiais em
curso ou as ações penais mesmo sem trânsito em julgado sejam considerados para fins de majorar a pena.
Vamos aguardar e acompanhar a discussão do tema.

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


DIREITO PROCESSUAL PENAL

NULIDADE
Intimação da Defensoria Pública com remessa dos autos
mesmo que a decisão tenha sido proferida em audiência

Importante!!!
A LC 80/94 (Lei Orgânica da Defensoria Pública) prevê, como uma das prerrogativas dos
Defensores Públicos, que eles devem receber intimação pessoal (arts. 44, I, 89, I e 128, I).
Se uma decisão ou sentença é proferida pelo juiz na própria audiência, estando o Defensor
Público presente, pode-se dizer que ele foi intimado pessoalmente naquele ato ou será
necessário ainda o envio dos autos à Defensoria para que a intimação se torne perfeita?
Para que a intimação pessoal do Defensor Público se concretize, será necessária ainda a
remessa dos autos à Defensoria Pública.
Segundo decidiu o STF, a intimação da Defensoria Pública, a despeito da presença do defensor
na audiência de leitura da sentença condenatória, se aperfeiçoa com sua intimação pessoal,
mediante a remessa dos autos.
STF. 2ª Turma. HC 125270/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/6/2015 (Info 791).

Intimação pessoal dos Defensores Públicos


A Lei Complementar n. 80/94 (Lei Orgânica da Defensoria Pública) prevê, como uma das prerrogativas dos
Defensores Públicos, que eles devem receber intimação pessoal (arts. 44, I, 89, I e 128, I).
Até aí tudo bem. Não há qualquer dúvida. O ponto polêmico reside no seguinte:

Se uma decisão ou sentença é proferida pelo juiz na própria audiência, estando o Defensor Público
presente, pode-se dizer que ele foi intimado pessoalmente naquele ato ou será necessário ainda o envio
dos autos à Defensoria para que a intimação se torne perfeita?
Para que a intimação pessoal do Defensor Público se concretize, será necessária ainda a remessa dos autos
à Defensoria Pública.
Segundo decidiu o STF, a intimação da Defensoria Pública, a despeito da presença do defensor na
audiência de leitura da sentença condenatória, se aperfeiçoa com sua intimação pessoal, mediante a
remessa dos autos.

Exemplo adaptado:
João foi condenado pelo juiz em sentença proferida na própria audiência, fato ocorrido dia 02/02/2015.
O Defensor Público que fazia sua assistência jurídica estava presente no ato.
Em 03/03/2015, os autos do processo foram remetidos à Defensoria Pública que, no dia seguinte,
apresentou recurso de apelação.
O Tribunal julgou a apelação intempestiva sob o argumento de que o prazo para o recurso se iniciou no dia
da audiência.
O STF não concordou com a decisão do Tribunal e decidiu que, mesmo o Defensor Público estando
presente na audiência, para que a sua intimação pessoal se aperfeiçoe é indispensável a remessa dos
autos à instituição.
Segundo afirmou o Min. Teori Zavaski:
Considerar intimado o defensor público pela presença na audiência de leitura da sentença condenatória,
sem a ulterior remessa dos autos, acaba por esvaziar o direito primordial do paciente à ampla e efetiva
defesa. Nessa perspectiva, há de se oferecer condições e facilidades, asseguradas por lei, à preparação das
teses defensivas.

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Lei Complementar n. 80/94:
Vejamos o que diz a Lei Orgânica da Defensoria:
Art. 128. São prerrogativas dos membros da Defensoria Pública do Estado, dentre outras que a lei local
estabelecer:
I – receber, inclusive quando necessário, mediante entrega dos autos com vista, intimação pessoal em
qualquer processo e grau de jurisdição ou instância administrativa, contando-se-lhes em dobro todos os
prazos; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

Obs: os membros da DPU e da Defensoria do DF possuem idêntica prerrogativa prevista nos arts. 44, I e
89, I, da mesma Lei Complementar.

Cuidado com a redação literal do dispositivo


Pela redação literal do dispositivo, a prerrogativa do Defensor de receber os autos com vista somente
o o e uando necessá io”. Assim, pela interpretação literal do inciso, nem sempre a intimação pessoal
do Defensor deverá ser feita com a entrega dos autos, mas tão somente quando necessário (ex: um
processo complexo, com muitos volumes etc.).
O STF, afastando-se da interpretação literal (que nem sempre é a melhor), afirmou que a intimação
pessoal da Defensoria Pública somente se concretiza com a respectiva entrega dos autos com vista por
causa do princípio da ampla defesa.
Alerta-se, contudo, mais uma vez, para a redação do dispositivo, considerando que, em uma prova
objetiva, poderá ser cobrada a mera transcrição da lei.

Em um concurso da Defensoria Pública


Em uma prova discursiva ou prática da Defensoria Pública é fundamental que o candidato defenda a tese
institucional de que a intimação pessoal do Defensor Público, a despeito da redação literal da lei, ocorre
sempre mediante a entrega dos autos com vista, sendo presumida a necessidade de que trata o
dispositivo.
Aponto alguns argumentos que podem ser utilizados pelo candidato em reforço à tese:
a) princípio da ampla defesa;
b) princípio da paridade de armas;
c) não há discrímen razoável em se estabelecer diferença de tratamento quanto à vista dos autos entre os
membros da Defensoria Pública e do MP;
d) quando o art. 128, I, fala ua do e ess io , deve-se interpretar que o Defensor Público pode,
quando não entender necessário, dispensar a remessa dos autos, ou seja, quem define quando é
necessária a entrega dos autos é o membro da Defensoria e não o juiz.

HABEAS CORPUS
Proibição da reformatio in pejus

A proibição da reformatio in pejus , princípio imanente ao processo penal, aplica-se ao


habeas corpus , cujo manejo jamais poderá agravar a situação jurídica daquele a quem busca
favorecer.
STF. 2ª Turma. HC 126869/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/6/2015 (Info 791).

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DIREITO PENAL /
PROCESSUAL PENAL MILITAR

INTERROGATÓRIO
Momento do interrogatório no rito do CPPM

A Lei 11.719/2008 alterou o art. 400 do CPP estabelecendo que o interrogatório deve ser feito
depois da inquirição das testemunhas e da realização das demais provas.
Essa alteração repercutiu no CPPM? No procedimento do CPPM, o interrogatório deve ser o
último ato da instrução?
 SIM (1ª Turma do STF)
 NÃO (2ª Turma do STF)

E se o interrogatório foi realizado no começo da instrução, mas este ato ocorreu antes da Lei
11.719/2008, haverá nulidade?
NÃO. Não haverá nulidade porque a Lei 11.719/2008 não pode ser aplicada para atos processuais
praticados antes de sua entrada em vigor (20/8/2008). Incide o princípio do tempus regit actum,
de forma que deve ser aplicada a legislação em vigor no momento da sua prática.
Ex: João foi denunciado pela prática do crime de concussão (art. 305 do CPM). Em 2007, foi
realizado seu interrogatório como primeiro ato do processo (antes da oitiva das testemunhas).
Em 2009, o réu foi condenado e a defesa suscitou nulidade afirmando que a Lei 11.719/2008
teria alterado o momento do interrogatório para o final. O STF considerou que não houve
nulidade, já que, quando o ato processual foi aplicado, não havia nenhuma dúvida de que o
interrogatório era o primeiro ato do processo, pois assim dispunha a legislação.
STF. Plenário. HC 123228/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2015 (Info 791).

O Código de Processo Penal Militar prevê o procedimento (rito) que deverá ser observado no caso de
crimes militares.
O procedimento previsto no CPPM possui algumas diferenças em relação ao procedimento trazido pelo
CPP. Uma das distinções reside no momento em que é realizado o interrogatório do réu. Vejamos:

CPP (art. 400) CPPM (art. 302)


O art. 400 do CPP foi alterado pela Lei n. O art. 302 do CPPM estabelece que o acusado será
11.719/2008 e, atualmente, o interrogatório deve qualificado e interrogado antes de ouvidas as
ser feito depois da inquirição das testemunhas e testemunhas.
da realização das demais provas. Em suma, o interrogatório é o primeiro ato da
Em suma, o interrogatório passou a ser o último instrução.
ato da audiência de instrução (segundo a antiga
previsão, o interrogatório era o primeiro ato).

O que é mais favorável ao réu: ser interrogado antes ou depois da oitiva das testemunhas?
Depois. Isso porque, após o acusado ouvir o relato trazido pelas testemunhas, poderá decidir a versão dos fatos
que irá apresentar. Se, por exemplo, avaliar que nenhuma testemunha o apontou como o autor do crime,
poderá sustentar a negativa de autoria ou optar pelo direito ao silêncio. Ao contrário, se entender que as
testemunhas foram sólidas em incriminá-lo, terá como opção viável confessar e obter a atenuação da pena.
Dessa feita, a regra do art. 400 do CPP é mais favorável ao réu do que a previsão do art. 302 do CPPM.

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


Diante dessa constatação, e pelo fato de a Lei n. 11.719/2008 ser posterior ao CPPM, surgiu uma
corrente na doutrina defendendo que o art. 302 teria sido derrogado e que, também no procedimento
do CPPM, o interrogatório deveria ser o último ato da instrução. Essa tese foi acolhida pela
jurisprudência?
SIM (1ª Turma do STF) NÃO (2ª Turma do STF)
A 1ª Turma do STF firmou o entendimento de que a Segundo entende a 2ª Turma do STF, em razão do
realização do interrogatório ao final da instrução princípio da especialidade, prevalece, para os
criminal, prevista no art. 400 do CPP, na redação casos de jurisdição militar, a norma processual
dada pela Lei nº 11.719/2008, também se aplica às penal militar e, por consequência, incabível a
ações penais em trâmite na Justiça Militar, em aplicação do rito previsto no art. 400 do CPP, com
detrimento do art. 302 do Decreto-Lei nº 1.002/69. a redação trazida pela Lei 11.719/2008.
Logo, na hipótese de crimes militares, o Logo, na hipótese de crimes militares, o
interrogatório passou a ser realizado depois da interrogatório continua a ser realizado antes da
oitiva das testemunhas, ao final da instrução. oitiva das testemunhas.
STF. 1ª Turma. HC 121907, Rel. Min. Dias Toffoli, STF. 2ª Turma. HC 122673/PA, Rel. Min. Cármen
julgado em 30/09/2014. Lúcia, julgado em 24/6/2014 (Info 725).

E se o interrogatório foi realizado no começo da instrução, mas este ato ocorreu antes da Lei n.
11.719/2008, haverá nulidade?
NÃO. Não haverá nulidade porque a Lei n. 11.719/2008 não pode ser aplicada para atos processuais
praticados antes de sua entrada em vigor (20/8/2008). Incide o princípio do tempus regit actum, de forma
que deve ser aplicada a legislação em vigor no momento da sua prática.
Ex: João foi denunciado pela prática do crime de concussão (art. 305 do CPM). Em 2007, foi realizado seu
interrogatório como primeiro ato do processo (antes da oitiva das testemunhas). Em 2009, o réu foi
condenado e a defesa suscitou nulidade afirmando que a Lei n. 11.719/2008 teria alterado o momento do
interrogatório para o final. O STF considerou que não houve nulidade, já que, quando o ato processual foi
aplicado, não havia nenhuma dúvida de que o interrogatório era o primeiro ato do processo, pois assim
dispunha a legislação.
Obs: o Plenário do STF ainda não firmou posição a respeito de uma das duas correntes acima explicadas. O
que ele decidiu é que se o ato foi praticado antes da Lei n. 11.719/2008 nem se deverá discutir sobre a
aplicação dessa lei porque ela ainda não estava em vigor.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Embargos infringentes e requisito de admissibilidade previsto em regimento interno


O Ple io o edeu a o de e ha eas o pus pa a ue o “TM d egula p o essa e to aos
embargos infringentes interpostos em favor do paciente. Além disso, declarou, incidentalmente, a
inconstitucionalidade do art. 119, § 1º, do Regimento Interno do STM (RISTM), na redação dada pela
Emenda Regimental 24/2014. Esse dispositivo prevê a exigência de no mínimo quatro votos minoritários
divergentes para o cabimento de embargos infringentes e de nulidade interpostos contra decisão não
unânime daquela Corte em recurso em sentido estrito e em apelação. Na espécie, a auditoria militar
condenara o paciente à pena de três anos de detenção em regime aberto. Em seguida, o STM, ao julgar as
apelações interpostas pelo Ministério Público e pela defesa, por maioria, reduzira a pena final a dois anos,
sete meses e quinze dias de detenção em regime aberto. Houvera, entretanto, dois votos vencidos que
te ia eduzido a pe a pa a dois a os de dete ç o, o o e efí io do su sis pe al. O o e ue os
embargos infringentes interpostos não foram admitidos pelo relator ao fundamento de que o art. 119, § 1º,
do RISTF, exige no mínimo quatro votos vencidos para o seu cabimento. O Colegiado do STF recordou que
em 2014 fora aprovada a Emenda Regimental 24, que alterara o RISTM para estabelecer o mínimo de

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quatro votos para cabimento dos embargos infringentes. No entanto, bastaria um único voto divergente
para serem cabíveis os embargos infringentes de acordo com o art. 539 do CPM. Observou que o legislador
não poderia se imiscuir em matéria reservada ao regimento interno dos tribunais. Da mesma forma, aos
tribunais seria vedado desbordar de seus poderes normativos para dispor sobre matéria de competência
privativa da União (CF, art. 22, I), sob pena de inconstitucionalidade formal. Ademais, a atribuição de
poderes aos tribunais para instituir recursos internos e disciplinar procedimento de recursos de sua alçada
não lhes outorgaria competência para criar requisito de admissibilidade recursal não previsto em lei (CF,
art. 96, I, a,).
HC 125768/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 24.6.2015.

Aumento da pena e continuidade delitiva


á “egu da Tu a i defe iu pedido fo ulado e ha eas o pus o ual se p ete dia fosse afastada a
aplicação da fração de aumento da pena, em decorrência da continuidade delitiva, prevista no art. 71,
aput , do CP, e seu g au xi o. álegava o i pet a te ue o “TJ, ao au e ta a f aç o de /6 pa a
2/3, teria efetuado a reanálise do acervo fático-probatório, o que seria vedado pelo Enunciado 7 da Súmula
daquela Corte. Apontava que, no caso, por não se saber com certeza quantas teriam sido as infrações
penais cometidas pelo paciente, o aumento da pena, em razão da continuidade delitiva, não poderia ser
aplicado em seu grau máximo, de modo que deveria ser restabelecida a fração de aumento de pena fixada
pelo t i u al lo al, e o se v ia ao p i ípio do i du io p o eo . á Tu a e te deu ue, o o j
decidido pelo STF, nova valoração de elementos fático-probatórios não se confundiria com reapreciação de
matéria probatória. Asseverou que, na espécie, como toda a matéria fática teria sido bem retratada na
sentença e no acórdão do tribunal local, o STJ teria se limitado a lhe emprestar a correta consequência
jurídica. Consignou, ademais, que o aumento de 2/3 da pena se harmonizaria com a jurisprudência pacífica
da Co te, o se tido de ue o ua tu de exaspe aç o da pe a, po fo ça do e o he i e to da
continuidade delitiva, deveria ser proporcional ao número de infrações cometidas. Considerou, por fim,
que a imprecisão quanto ao número de crimes praticados pelo paciente não obstaria a incidência da causa
de aumento da pena em seu patamar máximo, desde que houvesse elementos seguros, como na espécie,
que demonstrassem que vários seriam os crimes praticados ao longo de dilatadíssimo lapso temporal.
HC 127158/MG, rel. Min. Dias Toffoli, 23.6.2015.

Lei de drogas e princípio da consunção


á “egu da Tu a o he eu pa ial e te e, essa exte s o, o edeu, e pa te, a o de e ha eas
o pus , pa a restabelecer a sentença imposta ao paciente pelo juízo singular, com o decotamento da
confissão espontânea fixado em 2º grau. Na espécie, ele fora condenado pela prática de tráfico de drogas e
associação para o tráfico (Lei 11.343/2006, artigos 33 e 35). O tribunal local, ao apreciar as apelações da
acusação e da defesa, reduzira a pena referente ao tráfico, mas condenara o réu com relação aos delitos
dos a tigos , § º, I; e da Lei . / 6. No ha eas , suste tava-se a existência de irregularidades
quanto às transcrições de escutas telefônicas colhidas em investigação; a ilegalidade quanto à pena-base; a
ocorrência do princípio da consunção, considerados os delitos de tráfico e dos artigos 33, § 1º, I; e 34 da Lei
11.343/2006; a inexistência do crime de associação para o tráfico; a ilegalidade quanto à incidência da
agravante do art. 62, I, do CP; e a ocorrência de tráfico privilegiado. A Turma assinalou não haver nulidade
quanto às transcrições de interceptações telefônicas, que teriam sido devidamente disponibilizadas, sem
que a defesa, entretanto, houvesse solicitado a transcrição total ou parcial ao longo da instrução. Ademais,
entendeu que, dadas as circunstâncias do caso concreto, seria possível a aplicação do princípio da
consunção, que se consubstanciaria pela absorção dos delitos tipificados nos artigos 33, § 1º, I, e 34 da Lei
. / 6, pelo delito p evisto o a t. , aput , do es o diplo a legal. á os os p e eitos
buscariam proteger a saúde pública e tipificariam condutas que — no mesmo contexto fático,
evidenciassem o intento de traficância do agente e a utilização dos aparelhos e insumos para essa mesma
finalidade — poderiam ser consideradas meros atos preparatórios do delito de tráfico previsto no art. 33,
aput , da Lei . / 006. Quanto às demais alegações, não haveria vícios aptos a redimensionar a pena-

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base fixada, bem assim estaria demonstrada a existência de associação para o tráfico. Além disso, a suposta
ocorrência de tráfico privilegiado não poderia ser analisada, por demandar análise fático-probatória. Por
fim, a questão relativa à incidência do art. 62, I, do CP, não teria sido aventada perante o STJ, e sua análise
implicaria supressão de instância.
HC 109708/SP, rel. Min. Teori Zavascki, 23.6.2015. (HC-109708)

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 22 a 26 de junho de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 883.642-AL


RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ART. 8º, III, DA LEI MAIOR. SINDICATO. LEGITIMIDADE. SUBSTITUTO
PROCESSUAL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. DESNECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.
I – Repercussão geral reconhecida e reafirmada a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido da ampla legitimidade extraordinária dos
sindicatos para defender em juízo os direitos e interesses coletivos ou individuais dos integrantes da categoria que representam, inclusive nas
liquidações e execuções de sentença, independentemente de autorização dos substituídos.

Decisões Publicadas: 1

CLIPPING DO D JE
22 a 26 de junho de 2015

HC N. 85.011-RS
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. PODER DE INVESTIGAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
POSSIBILIDADE. IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO DE MEMBRO DO ÓRGÃO MINISTERIAL QUE PARTICIPOU DA FASE
INVESTIGATÓRIA. INOCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA PARA JULGAR ARGUIÇÃO DE IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO DE
PROMOTOR DE JUSTIÇA. MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU. ART. 104 DO CPP. PRISÃO CAUTELAR. FUNDAMENTAÇÃO
INIDÔNEA. EXCESSO DE PRAZO CONFIGURADO.
1. Ao concluir o julgamento do RE 593.727/MG, com repercussão geral reconhecida, o Plenário desta Corte assentou a seguinte tese: “o Ministério
Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os
direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as
hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso País, os Advogados
(Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado
democrático de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula Vinculante 14), praticados pelos
membros dessa instituição”.
2. A jurisprudência do STF é no sentido de que a participação de membro do Ministério Público na fase investigatória não acarreta, por si só, seu
impedimento ou sua suspeição para o oferecimento da denúncia, e nem poderia ser diferente à luz da tese firmada pelo Plenário, mormente por ser ele
o dominus litis e sua atuação estar voltada exatamente à formação de sua convicção.
3. À luz do art. 104 do CPP, é do juiz de primeira instância a competência para processar e julgar exceção de impedimento ou suspeição de promotor
de justiça, a quem cabe, inclusive, decidir sobre a realização ou não de diligências solicitadas nesse incidente processual, podendo indeferir as que
entender irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (CPP, art. 400, § 1º), sem que tanto configure cerceamento de defesa.
4. Nos termos da jurisprudência desta Corte, a mera impressão do juiz sobre a possibilidade de o paciente interferir na instrução criminal, bem como
sua situação econômica, sem a indicação de elementos concretos demonstradores do risco de fuga, não constituem fundamentos idôneos para o
decreto de prisão preventiva. Os autos revelam, ainda, situação configuradora de excesso de prazo da prisão cautelar.
5. Habeas corpus denegado. Ordem concedida de ofício para revogar a prisão cautelar.
*noticiado no Informativo 787
Inq N. 3.634-DF
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Inquérito. 2. Competência originária. 3. Penal e Processual Penal. 4. “Operação Sanguessuga”. Art. 1º, I, do Decreto-Lei 201/67 (peculato do
prefeito). Crime próprio, que admite participação. Justa causa. Indicativos suficientes de participação do denunciado no direcionamento de licitação
para compra de ambulância com sobrepreço. 5. Denúncia recebida.
*noticiado no Informativo 788
AG. REG. NO ARE N. 862.175-RJ
RELATORA: MIN. ROSA WEBER

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EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO VIGENTE AO
TEMPO DO ÓBITO DO INSTITUIDOR DO BENEFÍCIO. PRECEDENTES. CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA COM A
JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERECE
TRÂNSITO. REELABORAÇÃO DA MOLDURA FÁTICA. PROCEDIMENTO VEDADO NA INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA. NEGATIVA
DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ARTIGO 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. RAZÕES DE
DECIDIR EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO JURISDICIONAL. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 12.3.2013.
1. Inexiste violação do artigo 93, IX, da Lei Maior. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o referido dispositivo
constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional, das razões do seu convencimento, dispensando o exame detalhado de cada argumento
suscitado pelas partes.
2. O entendimento adotado pela Corte de origem, nos moldes do assinalado na decisão agravada, não diverge da jurisprudência firmada no âmbito
deste Supremo Tribunal Federal. Entender de modo diverso demandaria a reelaboração da moldura fática delineada no acórdão de origem, o que torna
oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário.
3. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
4. Agravo regimental conhecido e não provido.
Ext N. 1.372-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. EXTRADIÇÃO EXECUTÓRIA. GOVERNO DA ESPANHA. TRATADO ESPECÍFICO. AGRESSÃO SEXUAL,
MAUS TRATOS NO ÂMBITO FAMILIAR, COAÇÃO, LESÃO CORPORAL E MAUS TRATOS HABITUAIS. CRIMES TIPIFICADOS NOS ARTIGOS 179, 153,
172.2 E 173.2, DO CÓDIGO ESPANHOL, E NOS ARTIGOS 213, 136, 146 E 129, § 9º, DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO. REQUISITO DA DUPLA
TIPICIDADE ATENDIDO. SENTENÇA CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO. CÁLCULO DA PRESCRIÇÃO PELO CÚMULO DAS PENAS.
IMPOSSIBILIDADE: PRESCRIÇÃO A SER RECONHECIDA SEGUNDO QUALQUER UM DOS ORDENAMENTOS JURÍDICOS. DISPOSITIVO DO CÓDIGO
PENAL QUE CONSIDERA A PENA DE CADA CRIME PARA EFEITO DE PRESCRIÇÃO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA EM RELAÇÃO AOS
CRIMES COM PENAS INFERIORES A UM ANO. POSSIBILIDADE DE EXTRADITAR NO QUE TANGE A CRIMES COM PENAS INFERIORES A UM ANO.
TRATADO BILATERAL. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. PREVALÊNCIA, NO PONTO, SOBRE O ESTATUTO DO ESTRANGEIRO. DETRAÇÃO DO TEMPO
DE CUMPRIMENTO DE PRISÃO PREVENTIVA NO BRASIL. EXTRADIÇÃO DEFERIDA.
1. A extradição requer o preenchimento dos requisitos legais extraídos a contrario sensu do art. 77 da Lei nº 6.815/80, bem assim que sejam
observadas as disposições contidas em tratado específico.
2. In casu, o extraditando foi condenado, definitivamente, à pena de 10 (dez) anos e 26 (vinte e seis) meses de prisão pelos crimes de agressão
sexual, maus tratos no âmbito familiar, coação, lesão corporal e maus tratos habituais, tipificados nos artigos 179, 153 172.2 e 173.2, do Código
Espanhol, correspondentes aos delitos de estupro, maus tratos, constrangimento ilegal e lesão corporal praticada no âmbito familiar, tipificados nos
artigos 213, 136, 146 e 129, § 9º, do Código Penal brasileiro, o que atende à exigência legal da dupla incriminação prevista no art. 77, inc. II, da Lei n.
6.815/1980.
3. O artigo 133 do Código Penal Espanhol considera, para o cálculo da prescrição, o total das penas de todos os crimes, e não a pena de cada qual
isoladamente, sendo que a pena superior a 10 (dez) anos, pelo concurso de crimes, remete ao prazo prescricional de 15 (anos), que não transcorreu
entre o trânsito em julgado da sentença, em 15.06.2012.
3.1. O artigo 119 do Código Penal prevê, diversamente do dispositivo da lei espanhola, que “no caso de concurso de crimes, a extinção da
punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente” a impedir a extradição, devendo a regra brasileira incidir no caso concreto por força do
disposto no artigo IV do Tratado bilateral, in verbis: “Não será concedida a extradição: c) quando a ação penal ou a pena já estiver prescrita,
segundo as leis do Estado requerente ou do Estado requerido”, tudo a evidenciar que se impõe o reconhecimento da prescrição no que tange às
penas, consideradas isoladamente, inferiores a 1 (um) ano, cujo prazo prescricional é de 2 (dois) anos (cf. artigo 109, inc. VI, do Código Penal,
aplicado com a redação anterior a da vigência da Lei n. 12.234/2010, uma vez que os fatos datam de 2009), biênio já transcorrido entre o trânsito em
julgado da sentença condenatória, em 15/06/2012, e a prisão preventiva para extradição, efetivada em 31/10/2014.
3.2. As penas relativas aos crimes de maus tratos habituais (2 anos) e de agressão sexual (8 anos) anos não prescreveram.
4. A proibição de extraditar, por crime cuja pena seja igual ou inferior a um (1) ano (art. 77, IV, da Lei n. 6.815/1980), deve ser afastada, ex vi da
norma específica contida no Tratado de Extradição.
4.1. Destarte, o artigo II, parágrafo 1, do Tratado de Extradição entre o Brasil e a Espanha (Decreto n. 99.340/1990) estabelece que “Autorizam a
extradição os fatos a que as Leis do Estado requerido imponham pena privativa de liberdade superior a um ano”; contrario sensu, não se concederá
extradição no tocante ao crime cuja pena seja igual ou inferior a um ano. [grifei]
4.2. O artigo II, parágrafo 2, do Tratado específico ainda proíbe a extradição para executar sentença cuja pena ainda não cumprida seja inferior a um
ano.
4.3. O mesmo artigo II, em seu parágrafo 3, relativiza as exigências contidas nos seus parágrafos 1 e 2 ao dispor que “Quando o pedido de
extradição referir-se a mais de um delito, e alguns deles não cumprirem com os requisitos dos parágrafos 1 e 2 deste Artigo, a extradição poderá
ser concedida se um dos delitos preencher as referidas exigências”, a evidenciar que os crimes que não satisfaçam a exigência da pena mínima
seguem a reboque dos crimes cujas penas excedam a um ano. [grifei]
4.4. A cláusula de relativização do Tratado prevalece, à luz do princípio da especialidade, sobre o Estatuto do Estrangeiro, que veda, pura e
simplesmente, a extradição quando a pena for igual ou inferior a 1 (um) ano, por isso que também é possível conceder extradição no que tange a tais
delitos, em razão do perfazimento das condições avençadas relativamente aos crimes apenados com 2 e 8 oito anos de prisão (maus tratos habituais e
agressão sexual).
4.5. Contudo, a ocorrência, in casu, da prescrição das penas inferiores a um ano torna prejudicada a tese jurídica conducente à possibilidade de
extraditar no que tange a tais crimes quando haja outros que perfazem as condições para a extradição.
5. Extradição deferida apenas no que tange aos crimes de agressão sexual (8 anos) e de maus tratos (2 anos), uma vez que os crimes de lesão
corporal (10 meses), um dos crimes de maus tratos (6 meses) e de constrangimento ilegal (10 meses) encontram-se prescritos segundo o lei brasileira.
6. O Estado requerente deverá assumir o compromisso de descontar o tempo de prisão preventiva para extradição cumprido no Brasil.
SEGUNDOS EMB. DECL. NO AG. REG. NO ARE N. 835.893-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMBARGOS DECLARATÓRIOS – ACÓRDÃO – INEXISTÊNCIA DE VÍCIO – DESPROVIMENTO. Uma vez voltados os embargos
declaratórios ao simples rejulgamento de certa matéria, inexistindo, no acórdão proferido, qualquer dos vícios que os respaldam – omissão,
contradição e obscuridade –, impõe-se o desprovimento.
AG. REG. NA STA N. 729-SC
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE TUTELA ANTECIPADA. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. CASSAÇÃO DE
APOSENTADORIA. CONSTITUCIONALIDADE. DECISÃO AGRAVADA QUE DEFERIU A SUSPENSÃO DE TUTELA ANTECIPADA.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


I – A natureza excepcional da contracautela permite tão somente juízo mínimo de delibação sobre a matéria de fundo e análise do risco de grave lesão
à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. Controvérsia sobre matéria constitucional evidenciada e risco de lesão à ordem e à economia
públicas verificado.
II – O Plenário Supremo Tribunal Federal já se manifestou pela constitucionalidade da cassação da aposentadoria, inobstante o caráter contributivo de
que se reveste o benefício previdenciário. Precedentes: MS 21.948/RJ, Rel. Min. Néri da Silveira, MS 23.299/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence e MS
23.219-AgR/RS, Rel. Min. Eros Grau.
III – Impõe-se a suspensão das decisões como forma de evitar o efeito multiplicador, que se consubstancia no aforamento, nos diversos tribunais, de
processos visando ao mesmo escopo. Precedentes.
IV – Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 867.170-RS
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO DO CONSUMIDOR E DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO
COM AGRAVO. INCLUSÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO
MANIFESTAMENTE INADMISSÍVEL.
1. O Plenário Virtual do Supremo Tribunal Federal já assentou a inexistência de repercussão geral das controvérsias debatidas nos autos, relativas à
suposta violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa, dos limites da coisa julgada e do devido processo legal (ARE 748.371, Rel. Min.
Gilmar Mendes), bem como à indenização por danos morais em decorrência de cadastramento indevido em órgãos de proteção ao crédito (RE
602.136-RG, Rel.ª Min.ª Ellen Gracie).
2. Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC.
AG. REG. NO ARE N. 813.943-RJ
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. ITBI. Momento da ocorrência do fato gerador. Transferência da
propriedade. Antecipação para o momento da promessa de compra e venda. Artigo 150, § 7º, da CF. Alcance. Ausência de debate ou decisão
sobre seu alcance. Incidência das Súmulas 282 e 284/STF.
1. A Corte tem reiteradamente decidido que o fato gerador do ITBI somente ocorre com a transferência efetiva da propriedade imobiliária, mediante o
registro no cartório competente.
2. O alcance das normas contidas no art. 150, § 7º, da Constituição não foi objeto de debate ou decisão prévios, tampouco o recorrente demonstrou em
que medida a legislação do Município do Rio de Janeiro encontraria respaldo no referido dispositivo constitucional. Incidência das Súmulas nºs 282 e
284 da Corte.3. Agravo regimental não provido.
AG. REG. NO HC N. 126.779-MS
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Agravo regimental em habeas corpus. 2. Tráfico ilícito de entorpecentes. Condenação. Aplicação da minorante prevista no art. 33, § 4º, da Lei
11.343/2006 em seu patamar máximo. 3. Inviabilidade. Competência do Juízo sentenciante. 4. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão
agravada. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO AI N. 836.918-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO E PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO PARLAMENTAR. ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO LOCAL.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 280/STF. OFENSA REFLEXA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO DIREITO
ADQUIRIDO, AO ATO JURÍDICO PERFEITO, AO ACESSO À JUSTIÇA, AOS LIMITES DA COISA JULGADA E AOS PRINCÍPIOS DA
LEGALIDADE, DO CONTRADITÓRIO, DA AMPLA DEFESA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. QUESTÕES INFRACONSTITUCIONAIS.
REPERCUSSÃO GERAL NEGADA (ARE 748.371, REL. MIN. GILMAR MENDES, TEMA 660).
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
AG. REG. NO MI N. 6.460-DF
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO. PROVENTOS DOS JUÍZES
CLASSISTAS DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. REAJUSTE. ART. 40, § 8º, DA CF/1988.
1. Os proventos dos juízes classistas de primeira instância que adquiriram direito à aposentadoria antes da Lei nº 9.528/1997 são reajustados na
mesma época e no mesmo percentual concedido, em caráter geral, aos servidores públicos federais em atividade, por força da regra da paridade da Lei
nº 6.903/1981 e do disposto na Lei nº 9.655/1998.
2. Não há, portanto, omissão quanto ao reajuste de tais proventos. No cenário atual, como a sorte do benefício está atrelada à revisão geral anual dos
servidores públicos federais, aplica-se a jurisprudência desta Corte no sentido de que, com a edição das Leis nº 10.331/2001 e 10.697/2003, restou
regulamentado o art. 37, X, da CF/1988.3. Agravo regimental a que se nega provimento.
HC N. 126.118-PE
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: PENAL E PROCESSO PENAL. HC IMPETRADO CONTRA DECISÃO QUE INDEFERIU LIMINAR NO BOJO DE IDÊNTICA AÇÃO
CONSTITUCIONAL. ESTELIONATO, INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMAS DE INFORMAÇÃO, CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA, ASSOCIAÇÃO
CRIMINOSA E LAVAGEM DE DINHEIRO. PRISÃO PREVENTIVA PARA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. INEXISTÊNCIA DE
TERATOLOGIA NO ATO IMPUGNADO. ATUAÇÃO EX OFFICIO DO STF. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 691/STF.
1. A ausência de teratologia no ato impugnado faz incidir o óbice da Súmula 691/STF, in verbis: “Não compete ao Supremo Tribunal Federal
conhecer de ‘habeas corpus’ impetrado contra decisão do relator que, em ‘habeas corpus’ requerido a tribunal superior, indefere a liminar”.2. In casu,
o paciente foi responsabilizado pela prática dos crimes de estelionato, inserção de dados falsos em sistemas de informação, corrupção ativa e passiva,
associação criminosa e lavagem de dinheiro proveniente de fraudes contra o Instituto Nacional de Previdência Social – INSS, a evidenciar a
necessidade de sua prisão preventiva a bem da ordem pública.
3. Habeas corpus não conhecido, com fundamento na Súmula 691/STF, restando revogada a liminar concedida.
AG. REG. NO ARE N. 854.962-PR
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PRECATÓRIO – FRACIONAMENTO – LITISCONSÓRCIO ATIVO FACULTATIVO – EXECUÇÃO AUTÔNOMA – CRÉDITOS
INDIVIDUALIZADOS – REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR – POSSIBILIDADE. No julgamento do Recurso Extraordinário nº 586.645/SP, da
relatoria da ministra Cármen Lúcia, submetido à sistemática da repercussão geral, o Plenário concluiu que a regra do § 4º do artigo 100 da
Constituição Federal, hoje correspondente ao § 8º do mesmo dispositivo, permite a execução autônoma e o pagamento dos créditos individualizados
nos casos de litisconsórcio ativo facultativo.

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


HC N. 123.965-SP
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. CRIME DE HOMICÍDIO. ARTIGO 121, §§ 1º E 2º, DO CÓDIGO
PENAL. MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. SENTENÇA DE PRONÚNCIA. EXTENSÃO A CORRÉU. ARTIGO 580 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
1. Esta 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos, concedeu de ofício ordem de habeas corpus em benefício de corréu (HC
101.981/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 17.8.2010, DJe 03.11.2010), porquanto a manutenção do decreto prisional foi motivada de forma genérica e
abstrata, ao desamparo de base empírica idônea.
2. Inaplicável, todavia, o disposto no art. 580 do Código de Processo Penal - “No concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso
interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará outros” -, porquanto não
demonstrada a identidade de situação fática e jurídica entre o ora paciente e o corréu.
3. Habeas corpus extinto sem resolução de mérito.
AG. REG. EM MS N. 28.264-DF
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL.
EFETIVAÇÃO DE SUBSTITUTO SEM CONCURSO PÚBLICO. VAGA SURGIDA APÓS A PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988.
1. A aquisição do direito à efetivação, previsto no art. 208 da CF/69, subordinava-se à existência de vaga. Na hipótese, a vacância do cargo ocorreu na
vigência da Constituição de 1988, que passou a exigir expressamente prévia aprovação em concurso público para o ingresso na atividade notarial e de
registro. Jurisprudência pacífica do STF.
2. O Plenário desta Corte confirmou, recentemente, o entendimento de que o prazo decadencial quinquenal do art. 54 da Lei nº 9.784/1999 não se
aplica à revisão de atos de delegação de serventia extrajudicial editados após a Constituição de 1988, sem a observância do requisito previsto no seu
art. 236, § 3º (MS 26.860, Rel. Min. Luiz Fux).
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
HC N. 127.167-SP
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. SÚMULA 691/STF. AFASTAMENTO. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRISÃO
PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. MOTIVAÇÃO GENÉRICA E ABSTRATA.
CONCESSÃO DA ORDEM.
1. Em casos teratológicos e excepcionais, viável a superação do óbice da Súmula 691 desta Suprema Corte. Precedentes. 2. Motivado o decreto
prisional de forma genérica e abstrata, sem elementos concretos ou base empírica idônea a ampará-lo, esbarra na jurisprudência consolidada deste
Supremo Tribunal Federal, que não lhe reconhece validade. Precedentes. 3. Substituição da prisão preventiva por medidas cautelares previstas no art.
319 do Código de Processo Penal, a serem fixadas pelo juízo de primeiro grau.
4. Ordem de habeas corpus concedida para substituir a prisão preventiva decretada contra o paciente por medidas cautelares ao feitio legal.
SEGUNDO AG. REG. NO RE N. 498.546-RS
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. EXECUÇÃO EMBARGADA. PRECEDENTES.
1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que a premissa fática exigida para que se aplique o que foi decidido no RE nº
420.816 é a de que a execução não tenha sido embargada pela União. Precedentes.2. Agravo regimental a que se nega provimento.

EMB. DECL. NO ARE N. 761.396-RJ


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO
REGIMENTAL. AGRAVO QUE NÃO ATACA OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. MILITAR ANISTIADO. PROMOÇÕES.
LEI Nº 10.559/2002. PRESCRIÇÃO. PRECEDENTES.
1. A petição de agravo em recurso extraordinário não impugnou os fundamentos da decisão agravada, de modo que é inadmissível o agravo, segundo
orientação do Supremo Tribunal Federal. Precedentes.
2. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental a que se nega provimento.
RHC N. 126.404-RJ
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PROCESSO – INSTRUMENTALIDADE. Descabe assentar a nulidade do processo quando a inobservância de forma não tenha revelado prejuízo
para o acusado, no que foi exercido o direito de defesa, com interposição de recurso e formalização de revisão criminal na qual alcançado resultado
positivo parcial.

EMB. DECL. NO ARE N. 863.068-PE


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS. CUMPRIMENTO DE REQUISITOS. MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. REEXAME DE FATOS E PROVAS DOS AUTOS. SÚMULA 279/STF. CÔMPUTO DO TEMPO DE SERVIÇO
EXERCIDO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS, PARA EFEITO DE APOSENTADORIA. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. A
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que matéria relativa ao cumprimento dos requisitos para concessão de benefícios
previdenciários não tem natureza constitucional, justamente por tratar-se de matéria infraconstitucional e demandar o reexame do acervo probatório
dos autos (Súmula 279/STF). Precedentes. 2. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do AI 841.047, sob a relatoria do Min. Cezar
Peluso, concluiu pela ausência da repercussão geral da matéria versada nos autos, atinentes ao cômputo do tempo de serviço exercido em condições
especiais, para efeito de aposentadoria. 3. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental a que se nega provimento.

Decisões Publicadas: 165

TRANSCRIÇÕES
Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

CPI/PETROBRÁS - Busca e Apreensão - Reserva de Jurisdição - Delimitação dos Poderes Investigatórios (Transcrições)
MS 33.663 - MC/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: CPI/PETROBRAS. IMPUGNAÇÃO MANDAMENTAL AO ATO QUE DETERMINOU BUSCA E APREENSÃO “DE
DOCUMENTOS E COMPUTADORES” DOS IMPETRANTES. NATUREZA DOS PODERES DE INVESTIGAÇÃO DAS COMISSÕES
PARLAMENTARES DE INQUÉRITO. DELIMITAÇÃO CONSTITUCIONAL DAS ATRIBUIÇÕES DESSE ÓRGÃO DE
INVESTIGAÇÃO LEGISLATIVA. ATOS CUJA PRÁTICA É PERMITIDA A QUALQUER CPI. PRECEDENTES. IMPOSSIBILIDADE
JURÍDICA DE CPI PRATICAR ATOS SOBRE OS QUAIS INCIDA A CLÁUSULA CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE
JURISDIÇÃO, COMO A BUSCA E APREENSÃO DOMICILIAR, v.g.. DOUTRINA. PRECEDENTE. POSSIBILIDADE, CONTUDO,
DE A CPI ORDENAR BUSCA E APREENSÃO DE BENS, OBJETOS E COMPUTADORES, DESDE QUE ESSA DILIGÊNCIA NÃO SE
EFETIVE EM LOCAL INVIOLÁVEL, COMO OS ESPAÇOS DOMICILIARES, SOB PENA , EM TAL HIPÓTESE , DE INVALIDADE DA
DILIGÊNCIA E DE INEFICÁCIA PROBATÓRIA DOS ELEMENTOS INFORMATIVOS DELA RESULTANTES. DELIBERAÇÃO
DA CPI/PETROBRAS QUE, EMBORA NÃO ABRANGENTE DO DOMICÍLIO DOS IMPETRANTES, RESSENTIR-SE-IA DA FALTA
DA NECESSÁRIA FUNDAMENTAÇÃO SUBSTANCIAL. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO, NA ESPÉCIE, DE CAUSA PROVÁVEL E DE
FATOS CONCRETOS QUE, SE PRESENTES , AUTORIZARIAM A MEDIDA EXCEPCIONAL DA BUSCA E APREENSÃO, MESMO
A DE CARÁTER NÃO DOMICILIAR . LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO PODER DE CONTROLE, PELO JUDICIÁRIO, DOS
ATOS E DELIBERAÇÕES EMANADOS DE COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO, NOS CASOS EM QUE SE
INVOQUE SUPOSTO ABUSO DE PODER POR PARTE DESSE ÓRGÃO DE INVESTIGAÇÃO LEGISLATIVA. PRECEDENTES.
MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA .
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado contra o Senhor Presidente da CPI/PETROBRAS, em
razão da aprovação , por referida Comissão Parlamentar de Inquérito , de requerimento de medida de busca e apreensão “de documentos e
computadores nos escritórios das empresas do Grupo **.”
Busca-se, em sede cautelar, “(...) seja obstado o curso da medida de busca e apreensão emanada pela Comissão Parlamentar de Inquérito da
Petrobras, a partir da aprovação do Requerimento REQ 849/2015-CPI PETRO, até o ulterior julgamento do mérito desta impetração (…)”( grifei ).
Sendo esse o contexto, passo a examinar o pleito cautelar deduzido pelos ora impetrantes. E , ao fazê-lo , observo , inicialmente , que o
poder de investigar constitui uma das mais expressivas funções institucionais do Poder Legislativo. Essa prerrogativa de fiscalizar traduz, na
dimensão em que se projetam as múltiplas competências constitucionais do Legislativo, atribuição inerente à própria essência da instituição
parlamentar.
As Comissões Parlamentares de Inquérito - que constituem verdadeiras “fact-finding commissions”- devem dispor , na condução do
procedimento investigatório, de todos os meios necessários e pertinentes à colimação de seus objetivos. Os poderes de indagação probatória e de
investigação ou pesquisa dos fatos determinados que motivaram a instauração do inquérito parlamentar sofrem , no entanto , limitações de ordem
jurídico-constitucional que restringem , em consequência , a capacidade de atuação da CPI (RAUL MACHADO HORTA, “Limitações
Constitucionais dos Poderes de Investigação” ,” in” RDP, vol. 5/38; JOÃO DE OLIVEIRA FILHO, “Inquéritos Parlamentares” , “in” Revista
de Informação Legislativa, vol. 2/73; MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, “Comentários à Constituição Brasileira de 1988” , vol. 2/72,
1992, Saraiva).
O direito de investigar - que o ordenamento constitucional brasileiro atribuiu ao Congresso Nacional e às Casas que o compõem ( CF , art.
58, § 3º) - tem , no inquérito parlamentar , o instrumento mais significativo de sua concretização.
A Constituição da República , ao outorgar às Comissões Parlamentares de Inquérito “poderes de investigação próprios das autoridades
judiciais” (art. 58, § 3º), claramente delimitou a natureza de suas atribuições institucionais , restringindo-as , unicamente , ao campo da
indagação probatória , com absoluta exclusão de quaisquer outras prerrogativas que se incluem , ordinariamente , na esfera de competência dos
magistrados e Tribunais, inclusive aquelas que decorrem do poder geral de cautela conferido aos juízes, como a decretação de indisponibilidade de
bens da pessoa sob investigação legislativa ( MS 23.466/DF , Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE MS 23.471/DF , Rel. Min. OCTAVIO
GALLOTTI, v.g. ).
É por essa razão que a jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal - com apoio no magistério da doutrina (JOSÉ
CRETELLA JÚNIOR, “Comentários à Constituição de 1988”, vol. V/2.700-2.701, item n. 303, 1991, Forense Universitária) - tem advertido que
as Comissões Parlamentares de Inquérito não podem formular acusações nem punir delitos ( RDA 199/205 , Rel. Min. PAULO BROSSARD), nem
desrespeitar o privilégio contra a autoincriminação que assiste a qualquer indiciado ou testemunha ( RDA 196/197 , Rel. Min. CELSO DE MELLO
HC 79.244/DF , Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE), nem decretar a prisão de qualquer pessoa , exceto nas hipóteses de flagrância ( RDA
196/195 , Rel. Min. CELSO DE MELLO RDA 199/205 , Rel. Min. PAULO BROSSARD).
Se é certo , observadas as restrições jurisprudenciais mencionadas, que a Comissão Parlamentar de Inquérito “tem poderes imanentes ao
natural exercício de suas atribuições, como os de colher depoimentos, ouvir indiciados, inquirir testemunhas, notificando-as a comparecer perante
ela e a depor”, bem assim os de “requisitar documentos e buscar todos os meios de provas legalmente admitidos” ( RDA 199/205 , Rel. Min.
PAULO BROSSARD), não é menos exato - segundo autorizado magistério doutrinário (LUÍS ROBERTO BARROSO, “Comissões
Parlamentares de Inquérito - Limite de sua Competência - Sentido da Expressão Constitucional Poderes de Investigação Próprios das
Autoridades Judiciais - Inadmissibilidade de Busca e Apreensão sem Mandado Judicial , “in” Revista Forense, vol. 335/165; FÁBIO KONDER
COMPARATO, “Comissões Parlamentares de Inquérito – Limites”, “in” Revista Trimestral de Direito Público, vol. 5/66) - que a Comissão
Parlamentar de Inquérito não tem competência para praticar atos sujeitos à cláusula constitucional de reserva de jurisdição , vale dizer , não
dispõe de competência para promover atos cuja efetivação a Constituição Federal atribuiu , com absoluta exclusividade , aos membros do Poder
Judiciário .
O postulado da reserva constitucional de jurisdição - consoante assinala a doutrina (J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional e
Teoria da Constituição”, p. 580 e 586, 1998, Almedina, Coimbra, v.g. ) - importa em submeter à esfera única de decisão dos magistrados (e
somente dos magistrados) a prática de determinados atos cuja realização, por efeito de verdadeira discriminação material de competência
jurisdicional fixada no texto da Carta Política, somente pode emanar do juiz , não de terceiros , inclusive daqueles a quem se hajam eventualmente
atribuído “poderes de investigação próprios das autoridades judiciais .”
Isso significa considerada a cláusula de primazia judiciária que encontra fundamento no próprio texto da Constituição - que esta exige ,
para a legítima efetivação de determinados atos , notadamente daqueles que implicam restrição a direitos, que sejam eles ordenados apenas por

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


magistrados , tais como ( a ) a busca domiciliar ( CF , art. 5º inciso XI), ( b ) a interceptação telefônica ( CF , art. 5º inciso XII) e ( c ) a decretação
de prisão , ressalvada a situação de flagrância penal ( CF , art. 5º, inciso LXI) ( MS 23.452/RJ , Rel. Min. CELSO DE MELLO - MS 23.652/DF ,
Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g. ).
Daí a observação feita por LUIZ FLÁVIO GOMES e por CÁSSIO JUVENAL FARIA, que, a propósito da extensão dos poderes das
Comissões Parlamentares de Inquérito, expendem preciso magistério:
“São amplos, inegavelmente, os poderes investigatórios das CPIs, porém nunca ilimitados. Seus abusos não refogem, de modo algum,
ao controle jurisdicional ( HC 71.039-STF ). É sempre necessário que o poder freie o poder (Montesquieu). Tais Comissões podem: (a)
determinar as diligências que reputarem necessárias; (b) convocar ministros de Estado; ( c ) tomar o depoimento de qualquer autoridade; (d)
ouvir indiciados; (e) inquirir testemunhas sob compromisso; (f) requisitar de órgão público informações e documentos de qualquer natureza
(inclusive sigilosos); (g) transportar-se aos lugares aonde for preciso. Cuidando-se de CPI do Senado, da Câmara ou mista, pode, ainda,
requerer ao Tribunal de Contas da União a realização de inspeções e auditorias.
Quanto aos dados , informações e documentos, mesmo que resguardados por sigilo legal , desde que observadas as cautelas legais,
podem as CPIs requisitá-los . Isso significa que podem quebrar o sigilo fiscal, bancário, assim como o segredo de quaisquer outros dados,
abarcando-se, por exemplo, os telefônicos (registros relacionados com chamadas telefônicas já concretizadas), e , ainda , determinar buscas
e apreensões .
O fundamental , nesse âmbito , é :
( a ) jamais ultrapassar o intransponível limite da ‘reserva jurisdicional constitucional’ , isto é, a CPI pode muita coisa,
menos determinar o que a Constituição Federal reservou com exclusividade aos juízes . Incluem-se nessa importante restrição: a
prisão, salvo flagrante (CF, art. 5º, inc. LXI); a busca domiciliar (CF, art. 5º, inc. X) e a interceptação ou escuta telefônica (art. 5º,
inc. XII);
( b ) impedir , em nome da tutela da privacidade constitucional (art. 5º inc. X), a publicidade do que é sigiloso, mesmo porque,
quem quebra esse sigilo passa a ser dele detentor;
( c ) não confundir ‘poderes de investigação do juiz’ (CF, art. 58, § 3º) com o poder geral de cautela judicial: isso significa que a
CPI não pode adotar nenhuma medida assecuratória real ou restritiva do ‘jus libertatis’, incluindo-se a apreensão, seqüestro ou
indisponibilidade de bens ou mesmo a proibição de se afastar do país.” (grifei )
Vê-se, portanto, que as Comissões Parlamentares de Inquérito , tal como tem salientado a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ,
dispõem de competência para ordenar medidas de busca e apreensão cuja execução, no entanto, em sua projeção espacial , não se qualifique como
de natureza domiciliar , considerado , quanto a tal aspecto , o que estabelece o art. 5º, XI , da Constituição da República, que institui , de um lado ,
proteção à inviolabilidade domiciliar e define , de outro , hipótese de reserva constitucional de jurisdição .
Torna-se importante assinalar, contudo, que, mesmo naqueles casos em que se revelar possível o exercício, por uma Comissão Parlamentar
de Inquérito, dos mesmos poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, ainda assim a prática dessas prerrogativas estará
necessariamente sujeita aos mesmos condicionamentos, às mesmas limitações e aos mesmos princípios que regem o desempenho, pelos juízes, da
competência institucional que lhes foi conferida pelo ordenamento positivo.
Isso significa, por exemplo , que qualquer medida restritiva de direitos, por ser excepcional , dependerá , sempre , para reputar-se válida e
legítima , da necessária motivação, pois , sem esta , tal ato -à semelhança do que ocorre com as decisões judiciais ( CF , art. 93, IX) - reputar-se-á
írrito e destituído de eficácia jurídica ( RTJ 140/514 , Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g. ).
No caso sob exame, e em juízo de estrita cognição, a CPI/PETROBRAS parece haver ordenado a medida objeto de impugnação na presente
sede mandamental, sem que houvesse justificado , no entanto, de modo concreto , a partir da indicação de causa provável e com apoio em
motivação juridicamente idônea , a necessidade de sua adoção, deixando de cumprir , assim , uma determinação constitucional absolutamente
essencial e inafastável , consistente na exigência de fundamentação das resoluções estatais .
Com efeito, o Supremo Tribunal Federal, ao analisar esse específico aspecto dos poderes instrutórios das Comissões Parlamentares de
Inquérito, tem advertido que referidos órgãos de investigação legislativa só estarão legitimados a determinar medidas de busca e apreensão - e,
assim mesmo , apenas as de caráter não domiciliar - se justificarem tais providências extraordinárias com suporte em fundamentação substancial ,
cuja compreensão, como se sabe , requer o concurso de dois requisitos : ( a ) existência de causa provável e ( b ) indicação de motivação apoiada
em fatos concretos , sob pena de completa invalidade da deliberação tomada ( HC 80.420/RJ , Red. p/ o acórdão Min. ELLEN GRACIE - MS
23.452/RJ , Rel. Min. CELSO DE MELLO - MS 23.466/DF , Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - MS 23.619/DF , Rel. Min. OCTAVIO
GALLOTTI - MS 23.661/DF , Rel. Min. OCTAVIO GALLOTTI - MS 23.851/DF , Rel. Min. CELSO DE MELLO - MS 24.135/DF , Rel. Min.
NELSON JOBIM - MS 25.668/DF , Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g. ):
“CPI ATO DE CONSTRIÇÃO FUNDAMENTAÇÃO. Sem definir-se a competência, em face da dispersão de votos quanto aos
fundamentos da concessão da segurança, todo e qualquer ato a alcançar interesses de pessoas naturais e jurídicas há de fazer-se
devidamente fundamentado , pouco importando a natureza política do órgão que o implemente. Formalidade enquadrável como essencial
no que viabilizadora do exercício do lídimo direito de defesa.”
(MS 23.454/DF , Rel. Min. MARCO AURÉLIO - grifei )
“- Mandado de segurança contra ato do Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar o avanço e a
impunidade do narcotráfico. 2. Apreensão de documentos e equipamentos sem fundamentação em locais invioláveis,. 3. Parecer da
Procuradoria-Geral da República pela concessão da ordem. 4. O fato da autorização judicial para a perícia dos equipamentos, oriunda de
autoridade judiciária de primeiro grau, após a apreensão, sem mandado judicial, não legitima os resultados da perícia que se tenha realizado
ou em curso. 5. Mandado de segurança que se defere para determinar a devolução dos bens e documentos apreendidos, declarando-se
ineficaz eventual prova decorrente dessa apreensão com infração do art. 5º, XI, da Lei Maior.”
( MS 23.642/DF , Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA - grifei )
A justificação exposta no Requerimento 849/2015 - CPI/PETRO, cujo acolhimento é ora impugnado nesta impetração, não atende às
exigências estabelecidas pelo magistério jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, pois sequer indica um fato concreto que pudesse qualificar-
se como causa provável apta a legitimar a medida excepcional da busca e apreensão, ainda que de caráter não domiciliar, tal como tem advertido
a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal:
“ - As deliberações de qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito, à semelhança do que também ocorre com as decisões judiciais (
RTJ 140/514), quando destituídas de motivação, mostram-se írritas e despojadas de eficácia jurídica, pois nenhuma medida restritiva de
direitos pode ser adotada pelo Poder Público, sem que o ato que a decreta seja adequadamente fundamentado pela autoridade estatal.”
(MS 23.452/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno )
Não constitui demasia insistir na asserção de que qualquer medida restritiva de direitos ou que afete a esfera de autonomia jurídica das
pessoas, quando ordenada por órgãos estatais, como as Comissões Parlamentares de Inquérito, deve ser precedida, sempre, da indicação de causa
provável e, também, da referência a fatos concretos, pois, sem o atendimento de tais requisitos , a deliberação da CPI, quer em tema de busca e

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


apreensão ( como no caso ), quer em sede de quebra de sigilo , expor-se-á à invalidação ( RTJ 173/805 , Rel. Min. CELSO DE MELLO RTJ
174/844 , Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE RTJ 177/229 , Rel. Min. CELSO DE MELLO - RTJ 178/263 , Rel. Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, v.g. ):
“A QUEBRA DE SIGILO - QUE SE APÓIA EM FUNDAMENTOS GENÉRICOS E QUE NÃO INDICA FATOS CONCRETOS E
PRECISOS REFERENTES À PESSOA SOB INVESTIGAÇÃO - CONSTITUI ATO EIVADO DE NULIDADE .
- A quebra do sigilo inerente aos registros bancários, fiscais e telefônicos, por traduzir medida de caráter excepcional, revela-se
incompatível com o texto da Constituição, quando fundada em deliberações emanadas de CPI cujo suporte decisório apóia-se em
formulações genéricas , muitas vezes padronizadas, que não veiculam a necessária e específica indicação da causa provável, que constitui
pressuposto de legitimação essencial para a válida ruptura, por parte do Estado, da esfera de intimidade a todos garantida pela Carta
Política.”
( MS 23.964/DF , Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno )
Esse entendimento - que encontra apoio em autorizado magistério doutrinário (UADI LAMMÊGO BULOS, “Comissão Parlamentar de
Inquérito”, p. 253/257, item n. 2, 2001, Saraiva; ODACIR KLEIN, “Comissões Parlamentares de Inquérito”, p. 67/68, 1999, Fabris Editor;
ALEXANDRE ISSA KIMURA, “CPI Teoria e Prática” , p. 73/81, item n. 3.6, 2001, Ed. Juarez de Oliveira; ALEXANDRE DE MORAES,
“Direito Constitucional”, p. 387, item n. 2.5.1, 18ª ed., 2005, Atlas; OVÍDIO ROCHA BARROS SANDOVAL, “CPI ao Pé da Letra”, p. 131/134,
item n. 90, 2001, Millennium; LUIZ CARLOS DOS SANTOS GONÇALVES, “Comissões Parlamentares de Inquérito Poderes de Investigação”,
p. 73, item n. 2, e p. 123/126, item n. 7, 2001, Juarez de Oliveira, v.g. ) - repele deliberações de Comissões Parlamentares de Inquérito, que,
cingindo-se a meras presunções, ou a referências destituídas “do mínimo necessário de suporte informativo”, ou , ainda , a afirmações vagas e
genéricas, nestas fundamentam , mesmo assim , a medida extraordinária da quebra de sigilo ( ou de busca e apreensão), em claro desrespeito ao
modelo institucional de poderes limitados e ao sistema de garantias subjetivas estabelecidos no estatuto constitucional ( MS 23.668/DF , Rel. Min.
OCTAVIO GALLOTTI).
Cabe registrar, neste ponto, uma última observação. Refiro-me ao fato de que a presente decisão - precisamente por fazer prevalecer, na
espécie, uma garantia constitucional alegadamente desrespeitada pela CPI - em questão não pode ser qualificada como um ato de indevida
interferência na esfera orgânica do Poder Legislativo.
Uma decisão judicial que restaura a integridade da ordem jurídica e que torna efetivos os direitos assegurados pelas leis não pode ser
considerada um ato de interferência na esfera do Poder Legislativo, consoante já proclamou o Plenário do Supremo Tribunal Federal, em unânime
decisão:
“O CONTROLE JURISDICIONAL DE ABUSOS PRATICADOS POR COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO NÃO
OFENDE O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES.
- A essência do postulado da divisão funcional do poder, além de derivar da necessidade de conter os excessos dos órgãos que
compõem o aparelho de Estado, representa o princípio conservador das liberdades do cidadão e constitui o meio mais adequado para tornar
efetivos e reais os direitos e garantias proclamados pela Constituição.
Esse princípio , que tem assento no art. 2º da Carta Política, não pode constituir nem qualificar-se como um inaceitável manto
protetor de comportamentos abusivos e arbitrários, por parte de qualquer agente do Poder Público ou de qualquer instituição estatal.
- O Poder Judiciário , quando intervém para assegurar as franquias constitucionais e para garantir a integridade e a supremacia da
Constituição, desempenha, de maneira plenamente legítima, as atribuições que lhe conferiu a própria Carta da República.
O regular exercício da função jurisdicional, por isso mesmo, desde que pautado pelo respeito à Constituição, não transgride o
princípio da separação de poderes.
Desse modo, não se revela lícito afirmar, na hipótese de desvios jurídico-constitucionais nas quais incida uma Comissão Parlamentar
de Inquérito, que o exercício da atividade de controle jurisdicional possa traduzir situação de ilegítima interferência na esfera de outro Poder
da República.”
( RTJ 173/805-810, 806 , Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Esse entendimento tem sido por mim observado em diversos julgamentos que proferi nesta Suprema Corte e nos quais tenho sempre
enfatizado que a restauração, em sede judicial, de direitos e garantias constitucionais lesados por uma CPI não traduz situação configuradora de
ofensa ao princípio da divisão funcional do poder, como resulta claro da seguinte decisão, que está assim ementada :
“(...) O postulado da separação de poderes e a legitimidade constitucional do controle, pelo Judiciário, das funções investigatórias
das CPIs, se e quando exercidas de modo abusivo. Doutrina. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. (...).”
( HC 88.015-MC/DF , Rel. Min. CELSO DE MELLO, “in” Informativo/STF nº 416/2006)
Sendo assim, tendo presentes as razões expostas, e considerando o relevo jurídico da pretensão cautelar deduzida nesta impetração, defiro o
pedido de medida liminar, para suspender a eficácia do ato ora impugnado e sustar, em consequência, até final julgamento desta ação de mandado
de segurança, a execução de qualquer medida de busca e apreensão “de documentos e computadores nos escritórios das empresas do Grupo **.”
2. Comunique-se, com urgência, o teor desta decisão ao eminente Senhor Presidente da CPI/Petrobras.
3. Requisitem-se informações ao órgão ora apontado como coator.
Publique-se.
Brasília, 19 de junho de 2015 ( 21h00 ).
Ministro CELSO DE MELLO
Relator

*decisão pendente de publicação


**nome suprimido pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
22 a 26 de junho de 2015

Lei nº 13.137, de 19.6.2015 - Altera as Leis nº 10.865, de 30.4.2004, para elevar alíquotas da Contribuição para o
PIS/Pasep-Importação e da Cofins-Importação, 11.941, de 27.5.2009, 11.079, de 30.12.2004, 10.925, de 23.7.2004,

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


11.051, de 29.12.2004, 7.827, de 27.9.1989, 8.212, de 24.7.1991, 8.935, de 18.11.1994, 10.150, de 21.12.2000, 12.810, de
15.5.2013, 5.861, de 12.12.1972, 13.043, de 13.11.2014, 10.522, de 19.7.2002, 12.469, de 26.8.2011, 12.995, de
18.6.2014, 13.097, de 19.1.2015, 10.996, de 15.12.2004, 11.196, de 21.11.2005, 10.833, de 29.12.2003, e 12.024, de
27.8.2009, e o Decreto-Lei nº 1.598, de 26.12.1977; revoga dispositivos das Leis nº 4.380, de 21.8.1964, 9.430, de
27.12.1996, e 8.177, de 1.3.1991; e dá outras providências. Publicada no DOU, Edição Extra, nº 116-A, Seção 1, p.1, em
23.6.2015.
Medida Provisória nº 678, de 23.6.2015 - Altera a Lei nº 12.462, de 4.8.2011, que institui o Regime
Diferenciado de Contratações Públicas. Publicada no DOU, n 118, Seção 1, p.2, em 24.6.2015.
Medida Provisória nº 679, de 23.6.2015 - Dispõe sobre autorização para a realização de obras e serviços
necessários ao fornecimento de energia elétrica temporária para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, de que
trata a Lei nº 12.035, de 1.10.2009, e altera a Lei nº 11.977, de 7.7.2009, que dispõe sobre o Programa Minha Casa
Minha Vida e sobre a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas, a Lei nº 12.035, de 2009,
que institui o Ato Olímpico, e a Lei nº 11.473, de 10.5.2007, que dispõe sobre cooperação federativa no âmbito da
segurança pública. Publicada no DOU, n 118, Seção 1, p.3, em 24.6.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES
22 a 26 de junho de 2015

Decreto nº 8.474, de 22.6.2015 - Regulamenta o disposto no § 1º do art. 9º C e no § 1º do art. 9º D da Lei nº


11.350, de 5.10.2006, para dispor sobre as atividades de Agente Comunitário de Saúde e de Agente de Combate às
Endemias. Publicado no DOU, n 117, Seção 1, p.10, em 23.6.2015.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)
Valor - Venda - Publicação - Reprodução - Produto - TV Justiça - Rádio Justiça
Portaria nº 120, de 22.6.2015 – Altera os valores de venda das publicações editadas pelo Supremo Tribunal
Federal e das reproduções dos programas exibidos pelas TV Justiça e Rádio Justiça. Publicada no DOU, Seção 1, p.
160, em 23.6.2015.

Poder Judiciário - Ministério Público da União (MPU) - Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)
- Regime de Previdência Complementar - Servidor Público
Resolução Conjunta STF/MPU nº 1, de 23.6.2015 - Orienta os órgãos do Poder Judiciário da União, do Ministério
Publico da União (MPU) e do Conselho Nacional do Ministério Publico (CNMP) sobre o Regime de Previdência
Complementar instituído pela Lei nº 12.618, de 30.4.2012, estabelece procedimentos operacionais para a aplicação do
Plano de Benefícios do Judiciário da União, do MPU e do CNMP (JUSMP-PREV) e institui o Manual do Patrocinador
da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Judiciário. Publicada no DJE/STF, n.
124, p. 1-3, em 26.6.2015.

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 791-STF (02/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
HABEAS DATA
 Possibilidade de se obter dados do contribuinte que constem nos sistemas da Receita Federal.

NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM A CF/88


 CE pode prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil tenha status de lei complementar.

PROCESSO LEGISLATIVO
 Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo.

LIVRE CONCORRÊNCIA
 Súmula vinculante 49-STF.

DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
 Súmula vinculante 51-STF.

DIREITO TRIBUTÁRIO
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
 Súmula vinculante 50-STF.

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
 Súmula vinculante 52-STF.

ICMS
 Somente lei em sentido formal pode instituir o regime de recolhimento do ICMS por estimativa.

DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO


COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO
 Súmula vinculante 53-STF.

DIREITO CONSTITUCIONAL
HABEAS DATA
Possibilidade de se obter dados do contribuinte que constem nos sistemas dos órgãos fazendários

Importante!!!
O habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados concernentes
ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas informatizados de
apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes estatais.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


No caso concreto, o STF reconheceu que o contribuinte pode ajuizar habeas data para ter acesso às
informações relacionadas consigo e que estejam presentes no sistema SINCOR da Receita Federal.
O SINCOR (Sistema de Conta Corrente de Pessoa Jurídica) é um banco de dados da Receita
Federal no qual ela armazena as informações sobre os débitos e créditos dos contribuintes
pessoas jurídicas.
A decisão foi tomada com base no SINCOR, mas seu raciocínio poderá ser aplicado para outros
bancos de dados mantidos pelos órgãos fazendários.
STF. Plenário. RE 673707/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/6/2015 (repercussão geral) (Info 790).

Sistema SINCOR
SINCOR (Sistema de Conta Corrente de Pessoa Jurídica) é um banco de dados da Receita Federal no qual
ela armazena as informações sobre os débitos e créditos dos contribuintes pessoas jurídicas.
As Certidões de Regularidade Fiscal dos contribuintes são emitidas com base nas informações constantes
do SINCOR.
O sistema SINCOR é de uso interno da Receita Federal e ela não fornece as informações ali constantes nem
mesmo se a própria pessoa jurídica interessada requerer.

Habeas data impetrado por empresa para ter acesso ao SINCOR


Determinada empresa formulou requerimento à Receita Federal pedindo para ter acesso às informações a
ela relacionadas e que estivessem presentes no SINCOR.
O pedido foi indeferido pelo Fisco sob dois argumentos: 1) o que se o SINCOR se trata de um banco de
dados de uso interno, não tendo caráter público; 2) o de que fornecer tais informações representaria
violação ao sigilo fiscal.
Diante da recusa, a empresa impetrou habeas data.

O pedido da empresa poderá ser acolhido? A empresa tem direito de ter acesso às informações
presentes no SINCOR? O habeas data é instrumento adequado para esse pedido?
SIM. O STF decidiu que o habeas data é a ação adequada para que o contribuinte obtenha dados
relacionados ao pagamento de tributos e que constam nos sistemas informatizados dos órgãos da
administração fazendária (ex: SINCOR).

O que é o habeas data?


O habeas data é uma ação que tem por finalidade garantir o acesso de uma pessoa a informações sobre
ela que estejam armazenadas em arquivos ou bancos de dados de entidades governamentais ou públicas.
Trata-se de u a ga a tia, u it, u e dio o stitu io al p e isto o a t. º, LXXII, a , da CF/ :
A t. º …
LXXII – Conceder-se-á
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

Em nível infraconstitucional, o habeas data foi regulamentado pela Lei n. 9.507/97.

O SINCOR pode ser considerado um banco de dados de caráter público para fins de habeas data?
SIM. O art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 9.507/97 prevê o seguinte:
Parágrafo único. Considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados contendo informações
que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou
entidade produtora ou depositária das informações.

O SINCOR registra os dados sobre os débitos e créditos dos contribuintes e que servirão de apoio para os
servidores no trabalho de arrecadação dos tributos federais federal. Com isso, ele pode ser enquadrado no
conceito amplo de arquivo, banco ou registro de dados.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


Segundo a doutrina, o conceito de banco de dados para fins de habeas data deve ser entendido em
sentido amplo. Nesse sentido:
… Regist o de dados de e se e te dido e seu se tido ais a plo, a a ge do tudo ue diga espeito
ao interessado, seja de modo direto ou indireto, causando-lhe da o ao seu di eito de p i a idade. …
(CANOTILHO, Jose Joaquim Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz.
Comentários à Constituição. São Paulo: Saraiva, 1ª Ed.,, 2013, p. 487).

Veja novamente o texto constitucional:


LXXII – Conceder-se-á:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

Pela leitura da Constituição, percebe-se que o habeas data garante à pessoa o acesso às informações
presentes em:
 bancos de dados das entidades governamentais; e
 bancos de dados de caráter público geridos por pessoas privadas.

O te o e tidades go e a e tais é uma expressão que abrange órgãos da administração direta e


indireta. Portanto, cabe habeas data para se ter acesso aos dados do SINCOR, independentemente de este
ter ou não caráter público, uma vez que se trata de cadastro mantido por entidade governamental
(Receita Federal), e não por pessoa privada. Logo, não se exige que tenha caráter público condição que é
necessária apenas para os bancos geridos por pessoas privadas.

Os dados do SINCOR interessam ao contribuinte?


SIM. Claro que sim. Os contribuintes possuem interesse em conhecer as informações constantes do
SINCOR porque com isso poderão tomar medidas para preservar o status de seu nome, poderão fazer
planejamento empresarial, estratégia de investimento e terão condições de recuperar tributos pagos
indevidamente.
Desse modo, não se pode dizer que estes dados são de uso privativo do órgão produtor ou depositário das
informações (a Receita Federal) porque elas dizem respeito ao próprio contribuinte.
O Estado não pode deter em seus registros ou bancos de dados informações dos contribuintes e se negar a
fornecê-los a quem de direito. As informações fiscais relativas ao próprio contribuinte, se sigilosas, deverão ser
protegidas da sociedade em geral, mas não de quem elas se referissem (art. 5º, XXXIII, da CF/88).
A situação seria diferente o contribuinte estivesse requerendo informações sobre o planejamento
estratégico do órgão fazendário, tais como, informações fiscais sobre outros contribuintes, mapeamento
dos setores estratégicos a serem fiscalizados, programação da ação fiscal etc. Esses dados sim são de uso
interno da Receita e não poderiam ser fornecidos aos contribuintes.

Fornecer os dados do SINCOR ao contribuinte viola o sigilo fiscal?


NÃO, considerando que tais dados foram requeridos pelo próprio contribuinte e dizem respeito
unicamente a ele (são dados sobre a própria empresa).

Durante a tramitação da ação, um dos argumentos defensivos da União foi no sentido de que a empresa
ão teria i teresse de agir ao propor o habeas data já que as informações que alimentam o SINCOR
seriam fornecidas pela própria empresa. Tal alegação foi aceita pelo STF?
NÃO. Na atual sociedade de risco, os contribuintes estão submetidos a uma infinidade de obrigações
tributárias principais e acessórias, que implicam o pagamento de inúmeros tributos e o preenchimento de
incontáveis declarações. Desse modo, é razoável se entender que o contribuinte não consegue ter
controle total sobre todas essas informações, possuindo, portanto, interesse em ter acesso ao referido
banco de dados.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Ainda que se admita que a empresa deveria possuir os dados a serem prestados pela Receita Federal, esse
fato, por si só, não obsta o seu interesse no conhecimento das informações contidas nos sistemas
informatizados de apoio à arrecadação, para fins de aferição do fiel cumprimento de suas obrigações, o
que se justifica diante da transparência que deve revestir as informações atinentes aos pagamentos
efetuados pelo próprio contribuinte.

Bancos de dados mantidos por outros órgãos fazendários


A decisão foi tomada com base no SINCOR, mas seu raciocínio poderá ser aplicado para outros bancos de
dados mantidos pelos órgãos fazendários.

NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM A CF/88


CE pode prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil tenha status de lei complementar

Constituição estadual poderá prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil daquele estado tenha
status de lei complementar.
Não há nada na CF/88 que impeça o constituinte estadual de exigir quórum maior (lei
complementar) para tratar sobre essa questão.
Seria uma demasia (um exagero) negar à Constituição estadual a possibilidade de escolher
determinados temas como mais sensíveis, exigindo, para eles, uma aprovação legislativa mais
qualificada por meio de lei complementar.
STF. Plenário. ADI 2314/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
julgado em 17/6/2015 (Info 790).

Constituição do Estado do Rio de Janeiro


A CE/RJ previu, em seu art. 118, parágrafo único, uma lista que matérias que deveriam ser tratadas pelo
legislador por meio de lei complementar. Dentre elas, o inciso X afirmou que seria a Lei Orgânica da Polícia
Civil seria considerada como lei complementar.

ADI
O Governador do Estado do RJ, na época, ajuizou ADI contra esse dispositivo afirmando que ele seria
inconstitucional por violar o princípio da simetria. A CF/88, ao tratar sobre as polícias civis, não exige que
as suas leis orgânicas sejam elaborados com status de lei complementar. Logo, para o autor da ADI, a CE
não poderia ter feito essa imposição sem respaldo na Carta federal.

A tese do autor está correta? A previsão da CE/RJ é inconstitucional?


NÃO. O STF julgou improcedente a ADI e afirmou que o dispositivo da CE/RJ é constitucional.
A CF/88 prevê que a competência para legislar sobre o regime jurídico dos policiais civis é concorrente,
estando dividida entre a União (que estabelece as normas gerais) e os Estados/DF (que complementam
essa legislação segundo as peculiaridades regionais). Confira:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.

Desse modo, os Estados detém competência para legislar sobre o tema e não há nada na CF/88 que
impeça o constituinte estadual de exigir quórum maior (lei complementar) para tratar sobre essa questão.
Segundo entendeu o STF, seria uma demasia (um exagero) negar à Constituição estadual a possibilidade
de escolher determinados temas como mais sensíveis, exigindo, para eles, uma aprovação legislativa mais
qualificada por meio de lei complementar.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


PROCESSO LEGISLATIVO
Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo

A iniciativa de competência privativa do Poder Executivo não impede a apresentação de


emendas parlamentares, presente a identidade de matéria e acompanhada da estimativa de
despesa e respectiva fonte de custeio.
Assim, é possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada
ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas originalmente previstas (art. 63, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4433/SC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/6/2015 (Info 790).

REQUISITOS PARA QUE SEJA VÁLIDA A EMENDA PARLAMENTAR A PROJETOS DE LEI DE OUTROS PODERES
O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa privativa do chefe
do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre uma das matérias do art. 61, §
1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser alterado pelos parlamentares?
SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada ao Chefe do
Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88).

Assim, nos projeto de lei de iniciativa do Chefe do Executivo, o parlamentar pode até propor emendas,
mas estas deverão respeitar as restrições trazidas pelo art. 63, I, da CF/88.

Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista:


I — nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º
e § 4º;
Obs.: os §§ 3º e 4º tratam sobre os projetos de lei orçamentária e da LDO; nesses dois casos é possível que
a emenda parlamentar acarrete aumento de despesas.

Veja um precedente antigo do Supremo nesse sentido:


(...) A atuação dos integrantes da Assembleia Legislativa dos Estados-membros acha-se submetida, no
processo de formação das leis, à limitação imposta pelo art. 63 da Constituição, que veda — ressalvadas as
proposições de natureza orçamentária — o oferecimento de emendas parlamentares de que resulte o
aumento da despesa prevista nos projetos sujeitos ao exclusivo poder de iniciativa do Governador do
Estado ou referentes à organização administrativa dos Poderes Legislativo e Judiciário locais, bem assim do
Ministério Público estadual.
(...)
O poder de emendar — que não constitui derivação do poder de iniciar o processo de formação das leis —
qualifica-se como prerrogativa deferida aos parlamentares, que se sujeitam, no entanto, quanto ao seu
exercício, às restrições i postas, e u e us lausus , pela Co stituição Fede al.
(...)
Revela-se plenamente legítimo, desse modo, o exercício do poder de emenda pelos parlamentares,
mesmo quando se tratar de projetos de lei sujeitos à reserva de iniciativa de outros órgãos e Poderes do
Estado, incidindo, no entanto, sobre essa prerrogativa parlamentar — que é inerente à atividade
legislativa —, as restrições decorrentes do próprio texto constitucional (CF, art. 63, I e II), bem assim
aquela fundada na exigência de que as emendas de iniciativa parlamentar sempre guardem relação de
pe ti ia afi idade lógi a o o o jeto da p oposição legislati a. Dout i a.
(...)
STF. Plenário. ADI 2681 MC, Rel. Min. Celso De Mello, julgado em 11/09/2002.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Caso concreto julgado pelo STF:
O Governador de Santa Catarina enviou projeto de lei instituindo regime de subsídio para os Procuradores
do Estado.
Durante a tramitação do projeto, um Deputado apresentou emenda criando uma gratificação para os
servidores da PGE.
O projeto foi aprovado e sancionado, convertendo-se em lei.
O STF julgou essa lei inconstitucional por vício formal de iniciativa, pois a proposta de aumento de
remuneração, tema de iniciativa privativa do Poder Executivo a t. , § º, II, , da CF/ , foi incluída
durante a tramitação na Assembleia Legislativa, desrespeitando o princípio da independência dos poderes,
prevista no art. 2º da CF/88.
A relatora observou ainda a falta de pertinência temática, pois a criação da gratificação aos servidores do
Poder Executivo estadual foi incluída por meio de emenda parlamentar em medida provisória destinada a
estabelecer o subsídio mensal como forma de remuneração da carreira de procurador do estado.

LIVRE CONCORRÊNCIA
Lei municipal que impede instalação de estabelecimentos comerciais

Súmula vinculante 49-STF: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede
a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.

Conversão da súmula 646 do STF


A conclusão exposta nesta SV 49 já e a p e ista e u a sú ula o u do “TF, a sú ula 46 do STF (de
24/09/2003) e que tem a mesma redação.
O Ple á io do “TF te o e tido e sú ulas i ula tes algu as sú ulas o u s o o o jeti o de
agilizar os processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas.

Competência municipal para ordenamento urbano


Os Municípios possuem competência para realizar o ordenamento urbano, ou seja, possuem competência
para, por meio de lei e outros atos normativos, organizar o uso e ocupação do solo urbano. Isso está
previsto no art. 30, VIII, da CF/88:
Art. 30. Compete aos Municípios:
(...)
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do
uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;

Uma das formas de se fazer o ordenamento urbano é por meio do zoneamento.

Zoneamento urbano consiste na divisão da cidade em áreas nas quais podem ser realizadas determinadas
atividades. Ex: o Município poderá estabelecer que determinado bairro será considerado área residencial;
outra região da cidade será reputada como área comercial; outra localidade será prevista como área
industrial e assim por diante.

Na maioria dos Municípios este zoneamento não é extremamente rígido porque as cidades não nasceram
planejadas e nos diversos locais já havia tanto casas residenciais como estabelecimentos comerciais/industriais.
Assim, o mais comum é vermos áreas mistas em que existe mais de um tipo de imóvel.

O zoneamento urbano, em regra, é válido porque se trata de competência prevista na CF/88, além de ser
salutar já que organiza a vida na cidade.
Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6
Livre concorrência
O ordenamento e o zoneamento urbanos não podem, contudo, violar direitos e garantias constitucionais,
sob pena de serem ilegítimos.
Logo que a CF/88 foi editada, alguns Municípios, sob o pretexto de fazerem o ordenamento do solo
urbano, editaram leis proibindo que, em determinados áreas da cidade, houvesse mais de um
esta ele i e to o e ial do es o a o e p esa ial. Ex: o ai o X só pode ia ha e u
supermercado.
O STF considerou que tais previsões são inconstitucionais por violarem a livre concorrência, que é um
princípio protegido pela CF/88:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
(...)
IV - livre concorrência;

O Município, ao proibir que um estabelecimento comercial se instale em determinada área da cidade pelo
simples fato de já existir outro ali funcionando, impede a livre concorrência entre os empresários.

Além disso, tal medida viola o princípio da isonomia e não trará qualquer benefício para o ordenamento
urbano nem para a população local.

Exemplo concreto:
O Município de Joinville (SC) editou lei proibindo que novas farmácias se instalassem a menos de 500m de
outra. Essa lei municipal foi considerada inconstitucional.
Segundo explicou o Min. Ilmar Galvão, o Município possui competência para o zoneamento, podendo
i pedi o exe í io de e tas ati idades a zo a u a a. No e ta to, essa o pet ia ão pode hega
ao ponto de impedir a duplicidade, ou até a multiplicidade de estabelecimentos do mesmo ramo, numa
mesma área, o que redundaria em reserva de mercado, ainda que relativa, e, consequentemente, em
afronta aos princípios da livre concorrência, da defesa do consumidor e da liberdade de exercício das
atividades econômicas, que informam o modelo da ordem econômica consagrado a Carta da República
(art. 170 e pa ág afo, da CF . “TF. ª Tu a. RE 203909, julgado em 14/10/1997).

DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Revisão geral dos servidores antes da EC 19/98

Súmula vinculante 51-STF: O reajuste de 28,86%, concedido aos servidores militares pelas
Leis 8.622/1993 e 8.627/1993, estende-se aos servidores civis do Poder Executivo, observadas
as eventuais compensações decorrentes dos reajustes diferenciados concedidos pelos mesmos
diplomas legais.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.

Conversão da súmula 672 do STF


A o lusão exposta esta “V já e a p e ista e u a sú ula o u do “TF, a sú ula do “TF de
24/09/2003) e que tem a mesma redação.
O Plenário do “TF te o e tido e sú ulas i ula tes algu as sú ulas o u s o o o jeti o de
agilizar os processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


Revisão geral da remuneração antes da EC 19/98
O art. 37, X, da CF/88, antes da EC 19/98, estabelecia que a revisão geral da remuneração dos servidores
públicos civis deveria ser feita nos mesmos índices que a revisão geral da remuneração dos militares e
vice-versa. Havia uma vinculação entre eles. Confira:
Art. 37 (...)
(...)
X - a revisão geral da remuneração dos servidores públicos, sem distinção de índices entre servidores
públicos civis e militares, far-se-á sempre na mesma data;

Leis 8.622/93 e 8.627/93


Ocorre que, em 1993, o Governo Federal, descumprindo a determinação constitucional, editou duas leis
concedendo revisão geral da remuneração para os militares sem estendê-la aos servidores públicos civis
federais. Tais reajustes foram veiculados por meio das Leis n. 8.622/93 e n. 8.627/93.

Ações pedindo a extensão do aumento


Os servidores públicos civis passaram, então, a ingressar com ações pedindo a extensão para si da revisão
geral dada aos militares. A questão chegou até o STF que acatou a tese dos servidores e, para paciicar a
questão, editou um enunciado:
Súmula 672-STF: O reajuste de 28,86%, concedido aos servidores militares pelas Leis 8.622/1993 e
8.627/1993, estende-se aos servidores civis do Poder Executivo, observadas as eventuais compensações
decorrentes dos reajustes diferenciados concedidos pelos mesmos diplomas legais.

Atualmente, a regra constitucional continua a mesma?


NÃO. A EC 19/98 alterou o texto constitucional e impôs duas mudanças que interessam diretamente ao tema:
1) A tes da EC / , os ilita es e a ha ados de se ido es pú li os ilita es e o t aposição
aos se ido es pú li os i is . Após a uda ça, os ilita es deixa a de se ualifi ados o o
se ido es pú li os e passa a a se de o i ados ape as de ilita es . Os a tigos se ido es
pú li os i is ago a são ha ados ape as de se ido es pú li os ;
2) A redação do inciso X do art. 37 foi modificada e não mais existe essa equiparação entre os servidores
públicos e os militares. Veja:
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão
ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada
revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices; (Redação dada pela EC 19/98)

Assim, se atualmente for dado um reajuste anual para os militares maior do que para os servidores públicos do
Poder Executivo federal, estes não terão direito de pedir equiparação. O contrário também é verdadeiro.

Crítica
A súmula 672-STF foi editada para resolver uma questão específica que ocorreu há muitos anos. A
esmagadora maioria dos processos judiciais envolvendo o tema já foram julgados. Os pouco que ainda
restam poderiam ser facilmente resolvidos mediante a aplicação da sú ula o u -STF. Desse
modo, não havia necessidade na edição da transformação da súmula 672 em vinculante. A SV 51 não serve
para quase nada porque o tema está ultrapassado e, o pior, sua edição contraria o § 1º do 103-A da CF/88
ue exige o t o sia atual :
Art. 103-B (...)
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca
das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que
acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


DIREITO TRIBUTÁRIO

PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
Norma que altera o prazo de pagamento do tributo

Súmula vinculante 50-STF: Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação
tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.

Conversão da súmula 669 do STF


A conclusão exposta nesta SV 50 já e a p e ista e u a sú ula o u do “TF, a sú ula 669 do STF (de
24/09/2003) e que tem a mesma redação.
O Ple á io do “TF te o e tido e sú ulas i ula tes algu as sú ulas o u s o o o jeti o de
agilizar os processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas.

Princípio da anterioridade tributária


Existem, atualmente, dois princípios (ou subprincípios) da anterioridade tributária:

1) Princípio da anterioridade anual ou de exercício ou comum


Segundo esse princípio (rectius: uma regra), o Fisco não pode cobrar tributos no mesmo exercício
financei o a o e ue haja sido pu li ada a lei ue os i stituiu ou au e tou a t. , III, , da CF/ :
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios:
III - cobrar tributos:
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;

2) Princípio da anterioridade privilegiada, qualificada ou nonagesimal


Segundo o princípio da anterioridade nonagesimal, o Fisco não pode cobrar tributos antes de decorridos
90 dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou.
Trata-se de eg a p e ista o a t. , III, pa a os t i utos e ge al e ta o a t. ,§ º o
que se refere às contribuições sociais).
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios:
III - cobrar tributos:
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou,
observado o disposto na alínea b;

Esses dois princípios foram previstos para serem aplicados cumulativamente, ou seja, se um tributo é
instituído ou aumentado em um determinado ano, ele somente poderá ser cobrado no ano seguinte. Além
disso, entre a data em que foi publicada a lei e o início da cobrança deverá ter transcorrido um prazo
mínimo de 90 dias. Tudo isso para que o contribuinte possa programar suas finanças pessoais e não seja
pego de su p esa po u o o t i uto ou seu au e to.

Ex: a Lei X , pu li ada e de deze o de , au e tou o t i uto Y . Esse au e to de e á


respeitar a anterioridade anual (somente poderá ser cobrado em 2015) e também deverá obedecer a
anterioridade nonagesimal (é necessário que exista um tempo mínimo de 90 dias). Logo, esse aumento
somente poderá ser cobrado a partir de 11 de março de 2015.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


Obs.: existem alguns tributos que estão fora da incidência desses dois princípios. Em outras palavras, são
exceções a essas regras. Ao estudar para concursos, lembre-se de memorizar essas exceções,
considerando que são bastante cobradas nas provas.

Modificação do prazo de pagamento do tributo


Se uma lei (ou mesmo Decreto) antecipa a data de pagamento do tributo, essa lei terá que respeitar o
princípio da anterioridade? Ex: o Decreto previa que o IPTU deveria ser pago em julho de cada ano;
ocorre que em janeiro de 2015, o Prefeito edita um Decreto antecipando o pagamento para março; essa
mudança só valerá em 2016?
NÃO. Segundo o STF, o princípio da anterioridade só se aplica para os casos em que o Fisco institui ou
aumenta o tributo. A modificação do prazo para pagamento não pode ser equiparada à instituição ou ao
aumento de tributo, mesmo que o prazo seja menor do que o anterior, ou seja, mesmo que tenha havido
uma antecipação do dia de pagamento.
Em outras palavras, quando o Poder Público alterar o prazo de pagamento de um tributo, isso poderá
produzir efeitos imediatos, não sendo necessário respeitar o princípio da anterioridade (nem a anual nem
a nonagesimal).
Repare que no exemplo que demos acima, foi falado em Decreto. Isso porque a alteração do prazo de
pagamento não precisa ser feita por lei, podendo ser realizada por ato infralegal. Assim, pode-se dizer que
a alteração do prazo de pagamento não se submete ao princípio da legalidade.

Veja como o tema foi cobrado em prova:


(Procurador Federal AGU 2007 CESPE) Caso determinada lei estadual modifique o prazo de recolhimento
do imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA), para que todos os contribuintes efetuem
o pagamento do imposto em diferentes dias do mês de janeiro de cada ano, nesse caso, a referida lei
estadual deverá obedecer ao princípio da anterioridade tributária. (ERRADO)

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
Imunidade tributária e imóvel alugado

Súmula vinculante 52-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o
imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde que o
valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.

Conversão da súmula 724 do STF


A conclusão exposta nesta SV 51 já era prevista, em parte, e u a sú ula o u do “TF, a sú ula 724
do STF (de 24/09/2003) e redação parecida.
O Ple á io do “TF te o e tido e sú ulas i ula tes algu as sú ulas o u s o o o jeti o de
agilizar os processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas.

Imunidade tributária conferida em favor de partidos políticos, entidades sindicais de trabalhadores e


instituições educacionais e de assistência social
O a t. , VI, da CF/ p e ue os partidos políticos, entidades sindicais de trabalhadores e
instituições educacionais e de assistência social gozam de imunidade tributária quanto aos impostos,
desde que atendidos os requisitos previstos na lei. Vejamos a redação do dispositivo constitucional:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios:
VI — instituir impostos sobre:

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais
dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os
requisitos da lei;

Exemplos dessa imunidade (o partido/entidade/instituição não pagará):


Ex.1: IPTU sobre o prédio utilizado para a sua sede.
Ex.2: IPVA sobre os veículos utilizados em sua atividade-fim;
Ex.3: ITBI sobre a aquisição de prédio onde funcionará uma filial da entidade;
Ex.4: IR sobre os valores recebidos com doações;
Ex.5: ISS sobre os serviços prestados pela instituição.

Patrimônio, renda e serviços relacionados com as finalidades essenciais:


Essa imunidade abrange apenas o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades
essenciais do partido, entidade ou instituição. Isso está previsto no art. 150, § 4º da CF/88:
Art. 150 (...)
§ 4º - As vedações (leia-se: proibição de cobrar impostos) expressas no inciso VI, alíneas "b" e "c",
compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das
entidades nelas mencionadas.

Se o partido, entidade ou instituição possui um imóvel onde ali realiza suas atividades, esse bem é imune
(estará livre do pagamento de IPTU)?
SIM.

Se o partido, entidade ou instituição possui um imóvel e o aluga a um terceiro, esse bem continua sendo
imune (estará livre do pagamento de IPTU)?
SIM. Persiste a imunidade, mas desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais
tais entidades foram constituídas. É o que afirma a jurisprudência do STF que conferiu uma interpretação
teleológica à imunidade afirmando que o fator que realmente importa é saber se os recursos serão
utilizados para as finalidades incentivadas pela Constituição. Confira novamente a redação da súmula:
Súmula vinculante 52-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel
pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde que o valor dos aluguéis
seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.

Diferença entre a redação da antiga Súmula 724 do STF e a SV 52:


Súmula 724-STF SV 52-STF
Ainda quando alugado a terceiros, permanece Ainda quando alugado a terceiros, permanece
imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer
das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF,
Constituição, desde que o valor dos aluguéis seja desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas
aplicado nas atividades essenciais de tais atividades para as quais tais entidades foram
entidades. constituídas.

Repa e ue a “V te u a edação ais flexí el , ais elásti a ue a a tiga “ú ula po ue ago a ão


se exige mais que o valor dos alugueis seja aplicado nas atividades ESSENCIAIS da entidade, tendo sido
suprimido esse adjetivo. Atualmente, basta que o valor dos alugueis seja investido nas atividades da entidade.

SV 52-“TF pode se aplicada para a i u idade do art. 5 , VI, d , da CF/88


Apesar da súmula referir-se à imunidade do art. 150, VI, c , seu enunciado também se aplica à imunidade
religiosa prevista no art. 150, VI, b i u idade eligiosa: te plos de ual ue ulto . Nesse se tido:
STF. 2ª Turma. ARE 694453/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 09/08/2013.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


E se o imóvel do partido, entidade ou instituição estiver vago ou não edificado, ele, mesmo assim,
gozará da imunidade?
SIM. O fato de o imóvel estar vago ou sem edificação não é suficiente, por si só, para retirar a garantia
constitucional da imunidade tributária.
Não é possível considerar que determinado imóvel está voltado a finalidade diversa da exigida pelo
interesse público apenas pelo fato de, momentaneamente, estar sem edificação ou ocupação.
Em suma, essa imunidade tributária é aplicada aos bens imóveis, temporariamente ociosos, de
propriedade das instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos que atendam os
requisitos legais.
Esse tema é polêmico, mas a posição acima é a que prevalece no STF e STJ.
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 444.193-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/2/2014 (Info 534).
STF. Plenário. RE 767332/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 31/10/2013.

ICMS
Somente lei em sentido formal pode instituir o regime de recolhimento do ICMS por estimativa

Quando se fala em regime de apuração, isso significa a forma por meio da qual o valor tributo
será calculado. No caso do ICMS, existem vários regimes de apuração do imposto.
A LC 87/96 autoriza que os Estados membros adotem o regime de apuração por estimativa.
O Estado-membro pode estabelecer o regime de estimativa por meio de Decreto?
NÃO. Somente lei em sentido formal pode instituir o regime de recolhimento do ICMS por
estimativa.
STF. Plenário. RE 632265/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/6/2015 (Info 790).

ICMS
O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF/88:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
II — operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no
exterior;

A CF/88 determinou, no art. 155, § 2º, XII, que uma lei complementar nacional deveria fixar as normas
gerais sobre o ICMS prevendo os contribuintes do imposto, as formas de substituição tributária, c o regime
de compensação, a base de cálculo etc.

Que lei complementar é essa de que trata o art. 155, § 2º, XII?
Trata-se da LC 87/96, lei complementar nacional, que traz as regras gerais sobre o ICMS.
Os Estados-membros (e o DF) podem (e devem) editar leis estaduais tratando sobre o ICMS segundo suas
peculiaridades regionais, mas para isso precisam respeitar os limites e contornos fixados pela LC 87/96.

Regimes de apuração do ICMS


Quando se fala em regime de apuração, isso significa a forma por meio da qual o valor tributo será calculado.
No caso do ICMS, existem vários regimes de apuração do imposto, podendo-se destacar os seguintes:
a) Regime normal;
b) Regime sumário;
c) Regime de apuração em função da receita bruta;
d) Regime simplificado de apuração;
e) Regime de apuração por estimativa (por arbitramento).

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É a legislação estadual quem define o regime de apuração do ICMS, respeitando-se sempre as regras da
CF/88 e da LC 87/96.

Regime por estimativa


A LC 87/96 autoriza que os Estados membros adotem o regime de apuração por estimativa. Confira:
Art. 24. A legislação tributária estadual disporá sobre o período de apuração do imposto. As obrigações
consideram-se vencidas na data em que termina o período de apuração e são liquidadas por compensação
ou mediante pagamento em dinheiro como disposto neste artigo: (...)
(...)
Art. 26. Em substituição ao regime de apuração mencionado nos arts. 24 e 25, a lei estadual poderá
estabelecer:
(...)
III - que, em função do porte ou da atividade do estabelecimento, o imposto seja pago em parcelas
periódicas e calculado por estimativa, para um determinado período, assegurado ao sujeito passivo o
direito de impugná-la e instaurar processo contraditório.

O Estado-membro pode estabelecer o regime de estimativa por meio de Decreto?


NÃO. Somente lei em sentido formal pode instituir o regime de recolhimento do ICMS por estimativa.
A adoção do regime previsto no transcrito inciso III (regime por estimativa) pressupõe a edição de lei
estadual específica, por configurar excepcionalidade.
O art. 150 da CF/88 veda a exigência de tributo sem lei que o estabeleça.
Ex: no RJ, o Governador do Estado fixou, mediante decreto, o regime de apuração por estimativa. O STF
julgou esse decreto inconstitucional por violar o princípio constitucional da legalidade estrita.

Tese:
Como o tema foi julgado em sede de recurso extraordinário sob repercussão geral, o STF firmou a seguinte
tese que valerá para outros casos semelhantes:
Somente lei em sentido formal pode estabelecer o regime de recolhimento do ICMS por estimativa.

DIREITO PROCESSUAL
DO TRABALHO

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO


Execução das contribuições previdenciárias

Súmula vinculante 53-STF: A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da
CF, alcança a execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da
condenação constante das sentenças que proferir e acordos por ela homologados.
STF. Plenário. Aprovada em 17/06/2015.

Competências da Justiça do Trabalho


As competências da Justiça do Trabalho estão elencadas no art. 114 da CF/88.
A mais comum e conhecida é a competência para julgar as reclamações trabalhistas. Esta se encontra
prevista no inciso I. Veja:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da
administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

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Competência para executar contribuições sociais
Uma competência menos conhecida, mas também muito importante é a atribuição que a Justiça do
Trabalho possui para executar contribuições previdenciárias relacionadas com as sentenças que proferir.
Confira a redação do dispositivo:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
(...)
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos
legais, decorrentes das sentenças que proferir;

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos
da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa
física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;
(...)
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre
aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;

Assim, por exemplo, se o juiz do trabalho condena o empregador a pagar R$ 2 mil de salários atrasados,
ele também já poderá reconhecer que é devido o pagamento da contribuição previdenciária que incide
sobre essa verba, nos termos do a t. , I, a , e II, da CF/88 e cobrar do patrão condenado tanto as
verbas trabalhistas (que serão destinadas ao trabalhador) quanto as previdenciárias (que reverterão aos
cofres da Previdência).
SITUAÇÃO 1
Imagine agora a seguinte situação hipotética:
João t a alhou du a te a os, o a tei a assi ada, pa a a e p esa XX at ue, e to dia, foi de itido.
Insatisfeito com os valores recebidos na rescisão do contrato, o ex-empregado ajuíza ação trabalhista
pedindo o pagamento de horas extras, adicional noturno e adicional de insalubridade.

Se a Justiça do Trabalho condenar o empregador a pagar as verbas trabalhistas, ela já poderá


reconhecer que são devidas as contribuições previdenciárias relacionadas com o período e executá-las?
SIM. Ao condenar o empregador a pagar determinadas verbas de natureza salarial que não foram
quitadas, a Justiça do Trabalho já deverá reconhecer também, por via de consequência, que o empregador
deveria ter recolhido, sobre essas verbas, as contribuições previdenciárias respectivas. Logo, é permitido
que condene o reclamado a pagar tais contribuições, podendo executá-las, ou seja, cobrá-las, de ofício, do
empregador.
Para o TST e o STF, essa situação se enquadra na competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114,
VIII, da CF/88.

Tratando ainda sobre a 1ª situação. Se João e a empresa decidem fazer um acordo no qual a empresa
reconhece que as verbas salariais são devidas e as aceita pagar. Neste caso, o juiz, no momento de
homologar o acordo, deverá incluir as respectivas contribuições previdenciárias que deveriam incidir
sobre tais verbas?
SIM. Mesmo tendo havido um acordo, o juiz, ao homologá-lo, já deverá fazer constar na sentença
homologatória as contribuições previdenciárias que são devidas e poderá executá-las, de ofício, caso não
sejam pagas.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


SITUAÇÃO 2
Imagine agora outra situação hipotética:
Pedro prestava serviços para Ricardo, seu primo, e este, em troca pagava a ele R$ 1 mil por mês.
Não havia contrato de trabalho formalizado entre eles.
Essa situação perdurou por dois anos (fev/2012 a fev/2014) até que os primos brigaram e Pedro decidiu
ingressar com ação na Justiça do Trabalho pedindo que fosse reconhecido que havia uma relação de
emprego e cobrando 13º salário e férias que nunca foram pagos.

O juiz profere sentença julgado procedente o pedido para:


a) declarar que, entre fev/2012 a fev/2014, houve relação de emprego sendo Ricardo considerado
empregador e Pedro empregado, nos termos da CLT. Como consequência, o juiz determinou que tal
período fosse anotado na CTPS de Pedro, ou seja, na linguagem popular, mandou que Ricardo assinasse a
a tei a de Pedro; e
b) condenar Ricardo a pagar R$ 10 mil a título de 13º salário e férias e outras verbas rescisórias.

Observação importante: Ricardo (empregador) só foi condenado a pagar os R$ 10 mil reais. Ele não foi
condenado a pagar nenhum salário referente ao período de fev/2012 a fev/2014 porque estes já tinham
sido quitados.

Na sentença, o juiz deverá condenar o reclamado a pagar as contribuições previdenciárias, executando-


as caso não sejam quitadas voluntariamente pelo devedor?
Depende:
a) Contribuições previdenciárias que devem ser pagas sobre os salários recebidos entre fev/2012 a
fev/2014: NÃO.
b) Contribuições previdenciárias que devem ser pagas sobre as verbas salariais que o empregador foi
condenado a pagar na sentença (contribuições previdenciárias sobre os R$ 10 mil): SIM.

Segundo o TST e o STF, a Justiça do Trabalho só tem competência para executar de ofício as contribuições
sociais que se referiam às verbas que foram objeto da sentença condenatória ou do acordo homologado
(em nosso exemplo, sobre os R$ 10 mil).

A Justiça do Trabalho não pode executar contribuições previdenciárias relacionadas com períodos que ela
reconheceu como sendo relação de emprego, mas sobre os quais não houve condenação (em nosso
exemplo, fev/2012 a fev/2014).

Essa conclusão está presente na primeira parte do enunciado 368 do TST e na SV 53 do STF. Confira:
TST. SÚMULA Nº 368. DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO
PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO.
I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A
competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às
sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que
integrem o salário de contribuição. (...)

Súmula vinculante 53-STF: A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da CF, alcança a
execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da condenação constante das
sentenças que proferir e acordos por ela homologados.

Cuidado com o parágrafo único do art. 876 da CLT


O parágrafo único do art. 876 da CLT estabelece regra em sentido contrário ao que foi exposto acima. Em
outras palavras, esse dispositivo afirma que é possível que a Justiça do Trabalho execute não apenas as
verbas que ele condenar, mas também as outras em que ele apenas reconhecer o vínculo. Veja:

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


Art. 876 (...) Parágrafo único. Serão executadas ex-officio as contribuições sociais devidas em decorrência
de decisão proferida pelos Juízes e Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou homologação de
acordo, inclusive sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido. (Redação dada pela
Lei nº 11.457/2007)

Essa parte destacada em cinza é considerada inconstitucional pelo STF, devendo, portanto, ser aplicado o
entendimento exposto na SV 53 acima explicada.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 15 a 19 de junho de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 888.815-RS


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. ENSINO DOMICILIAR. LIBERDADES E DEVERES DO ESTADO E DA FAMÍLIA.
PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Constitui questão constitucional saber se o ensino domiciliar (homeschooling) pode ser proibido pelo Estado ou viabilizado como meio lícito de
cumprimento, pela família, do dever de prover educação, tal como previsto no art. 205 da CRFB/1988.
2. Repercussão geral reconhecida.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 858.075-RJ
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
ORÇAMENTO – APLICAÇÃO DE RECURSOS MÍNIMOS NA ÁREA DA SAÚDE – CONTROLE JUDICIAL – SEPARAÇÃO DE PODERES –
ALCANCE DOS ARTIGOS 2º, 160, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO II, E 198, § 2º E § 3º, DO CORPO PERMANENTE E 77, INCISO III, § 3º E
§ 4º, DO ATO DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS DA CARTA DE 1988 – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL
CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia alusiva à possibilidade de o Poder Judiciário impor aos municípios e à União a aplicação
de recursos mínimos na área da saúde, antes da edição da lei complementar referida no artigo 198, § 3º, da Constituição Federal, considerados os
preceitos dos artigos 2º, 160, parágrafo único, inciso II, e 198, § 2º e § 3º, do corpo permanente e 77, inciso III, § 3º e § 4º, do Ato das Disposições
Transitórias da Carta de 1988.
Decisões Publicadas: 2

CLIPPING DO D JE
15 a 19 de junho de 2015

ADI N. 4.284-RR
RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
EMENTA: PROCESSO CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.
DESCABIMENTO DE ADITAMENTO. II – PROCESSO LEGISLATIVO. VÍCIO DE INICIATIVA. EMENDA À CONSTITUIÇÃO ESTADUAL
QUE PREVÊ AFASTAMENTO DE MEMBROS DA ALTA ADMINISTRAÇÃO DO ESTADO. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL.
I – Não conhecimento da ação quanto à pretendida declaração de inconstitucionalidade do art. 111, §§ 1º e 2º, da Carta Estadual de Roraima, por não
indicação dos fundamentos jurídicos do pedido (Lei nº 9.868/1999, art. 3º, I).
II – Não conhecimento do aditamento à inicial quanto à nova redação do inciso XVIII do art. 33 da Constituição Estadual, dada pela EC nº 30/2012,
haja vista que o dispositivo original está em debate na ADI 2.167 e não foi impugnado na inicial.
III – Procedência do pedido quanto aos incisos XXXI e XXXII do art. 33 da Constituição Estadual, por tratarem de regime jurídico de servidores
públicos sem observar a iniciativa privativa do Chefe do Executivo.
IV – Ação conhecida em parte, e, na parte conhecida, julgada procedente.
*noticiado no Informativo 780
HC N.126.516-RJ
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO, LESÃO
CORPORAL AGRAVADA PELA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E POSSE ILEGAL DE ARMA DE FOGO – ARTIGOS 121, § 2º, INCISOS I E IV, 129, § 9º, AMBOS
DO CÓDIGO PENAL, E 12 DA LEI 10.826/03. ABSOLVIÇÃO. APELAÇÃO DA ACUSAÇÃO PROVIDA SOB O FUNDAMENTO DE CONTRARIEDADE À
PROVA DOS AUTOS. EXISTÊNCIA DE DUAS VERSÕES PLAUSÍVEIS. AFRONTA À SOBERANIA DOS VEREDICTOS DO TRIBUNAL DO JÚRI (ART. 5º, INC.
XXXVIII, ALÍNEA C, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). APELAÇÃO FUNDADA NO ART. 593, III, D, DO CPP. PRECEDENTES.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


1. A soberania dos veredictos do tribunal do júri, prevista no art. 5º, inc. XXXVIII, alínea c, da Constituição Federal resta afrontada quando o acórdão
da apelação interposta com fundamento no art. 593, inc. III, alínea d, do CPP acolhe a tese de contrariedade à prova dos autos, prestigiando uma das
vertentes verossímeis, in casu a da acusação em detrimento da defensiva sufragada pelo conselho de sentença (HC 75.072, Segunda Turma, Rel. Min.
Marco Aurélio, DJ de 27/06/1997; HC 83.691, Primeira Turma, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ de 23/04/2004; HC 83.302, Primeira Turma, Rel.
Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 28/05/2004; HC 82.447, Segunda Turma, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ de 27/06/2003; HC 80.115, Segunda
Turma, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 23/05/2000).
2. Premissas fáticas:
(i) o paciente foi denunciado pela prática dos crimes tipificados nos artigos 121, § 2º, incisos I e IV, 129, § 9º, ambos do Código Penal, e 12 da Lei
10.826/03, porquanto, no dia 18/10/2007, teria efetuado disparos de arma de fogo contra determinada pessoa e provocado lesões corporais em sua
companheira, motivado por suposto relacionamento amoroso das vítimas; e
(ii) o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri da Comarca de Teresópolis/RJ acolheu a tese de negativa autoria, advindo apelo da acusação, fundado
em contrariedade à prova dos autos (CPP, art. 593, III, d), que restou provido para submetê-lo a novo júri.
3. In casu, diversamente do que afirmado no voto condutor do acórdão da apelação, há, sim, duas vertentes probatórias sustentáveis, a da defesa,
consistente em inquirições de duas testemunhas no sentido da ausência de autoria, e a da acusação, de igual modo sustentada por testemunhas cujas
versões o Tribunal afirmou mais consistentes, em detrimento da negativa de autoria sufragada pelo Conselho de Sentença e respaldada,
reiteradamente, pelo Ministério Público estadual, ao opinar no recurso da apelação e nos embargos de declaração decorrentes do acórdão nele
proferido, e também pela manifestação do Ministério Público Federal nestes autos, in verbis: ”Há, portanto, além do depoimento do réu, outros
elementos capazes de embasar o juízo absolutório firmado pelos jurados. De fato, não poderia o tribunal de origem deliberar sobre quais
depoimentos seriam idôneos para formação do convencimento dos jurados. Isso porque cabe ao Conselho de Sentença, e apenas a ele, avaliar a
consistência de cada elemento de convicção, examinar eventuais contradições, e, ao final, decidir. Se há lastro probatório, mínimo que seja, a
sustentar a versão acolhida pelo júri, esta não pode ser afastada pela instância revisora, ao reavaliar a prova sob sua perspectiva”.
4. Destarte, ressaindo nítida a existência de duas versões plausíveis do fato, não é dado ao Tribunal de Justiça proceder a exame técnico e exauriente
das provas para, alfim, escolher a vertente probatória que melhor se ajusta a sua convicção, afastando a versão escolhida pelo conselho de sentença,
que, como é cediço, julga ex conscientia.
5. A ausência de agravo regimental da decisão que negou seguimento ao recurso especial implica o não conhecimento do presente writ, uma vez não
esgotada a jurisdição no Tribunal a quo, sendo certo ainda que se o referido regimental tivesse sido interposto, o acórdão dele decorrente seria
impugnável, em tese, pela via do recurso extraordinário, a evidenciar, igualmente, o descabimento do writ substitutivo desse recurso, o que não
impede a análise das razões da impetração na perspectiva da concessão de habeas corpus de ofício.
6. Habeas corpus não conhecido; ordem concedida, de ofício, em consonância com o parecer ministerial, para anular o acórdão proferido no recurso
de apelação e, via de consequência, restabelecer a sentença absolutória.
AG. REG. NO ARE N. 678.980-RJ
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SERVIDOR
PÚBLICO. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO. TERMO A QUO DO PRAZO
PRESCRICIONAL. MATÉRIA INFRACONSTICIONAL. LEI Nº 8.112/1990. SÚMULA 279/STF. PRECEDENTES.
1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal afasta o cabimento de recurso extraordinário para o questionamento de alegadas violações à
legislação infraconstitucional, sem que se discuta o seu sentido à luz da Constituição.
2. Decisão que está devidamente fundamentada, embora em sentido contrário aos interesses da parte agravante.
3. Para dissentir da solução conferida pelo Tribunal de origem, faz-se necessário nova apreciação da legislação infraconstitucional pertinente (Lei nº
8.112/1990), bem como dos fatos e do material probatório constantes dos atos, o que é vedado na instância recursal extraordinária (Súmula 279/STF).
Precedentes.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NOS EMB. DIV. NOS EMB. DECL. NO AG. REG. NO ARE N. 832.532-PE
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Agravo regimental em embargos de divergência em embargos declaratórios em agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito
Processual Civil. Aplicação de multa por embargos protelatórios. Art. 538, parágrafo único, CPC. Necessidade de prévio depósito do valor da multa
como requisito de admissibilidade de novos recursos. 3. Agravo regimental a que se nega provimento, com determinação de baixa imediata dos autos,
independentemente da publicação do acórdão.
AG. REG. NO ARE N. 699.199-CE
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SERVIDOR PÚBLICO QUE
FALECEU ANTES DA EC 20/98. PENSÃO POR MORTE. CÔNJUGE VARÃO. EXIGÊNCIA DE INVALIDEZ. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
ISONOMIA. PRECEDENTES.
1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que ofende o princípio constitucional da isonomia lei que exige do marido,
para fins de recebimento de pensão por morte da mulher, a comprovação do estado de invalidez. Precedentes.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO Inq N. 3.574-MT
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
COMPETÊNCIA – PRERROGATIVA DE FORO – CESSAÇÃO DE MANDATO – AGRAVO REGIMENTAL. Estando o agravo regimental
voltado a infirmar ato de integrante do Supremo, a este incumbe o julgamento, mostrando-se neutra a cessação do mandato gerador da prerrogativa de
foro.
RECURSO – ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO – PRESCRIÇÃO VIRTUAL – DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA – JULGAMENTO.
Surgindo a prerrogativa de o investigado ter o inquérito em curso no Supremo, cumpre ao Juízo, defrontando-se com recurso em sentido estrito,
remeter os autos ao Tribunal competente, atuando este sob o ângulo da revisão do que decidido.
PRESCRIÇÃO EM PERSPECTIVA. Inexiste norma legal que, interpretada e aplicada, viabilize assentar a prescrição da pretensão punitiva
considerada possível sentença condenatória.
*noticiado no Informativo 788

Ext N. 1.390-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: EXTRADIÇÃO FUNDADA EM TRATADO FIRMADO ENTRE O BRASIL E OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. CRIMES DE
CONSPIRAÇÃO, ROTULAGEM FRAUDULENTA, FRAUDE ELETRÔNICA, FRAUDE DE CORRESPONDÊNCIA E ROTULAGEM
FRAUDULENTA DE MEDICAMENTO ENQUANTO DISPONÍVEL PARA VENDA. DELITOS NÃO CONTEMPLADOS NO ART. II DO

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


ACORDO BILATERAL. IMPOSSIBILIDADE DE INCIDÊNCIA DA CONVENÇÃO DE PALERMO. CRIMES NÃO ABRANGIDOS PELO
ACORDO MULTILATERAL. DELITO DE CONSPIRAÇÃO RESTRITO AOS LIMITES TERRITORIAIS DO ESTADO REQUERENTE.
AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO CARÁTER TRANSNACIONAL E DE PROMESSA DE RECIPROCIDADE. INDEFERIMENTO.
1. O tratado de extradição firmado entre o Brasil e os Estados Unidos da América possui cláusula que restringe a entrega do súdito estrangeiro às
hipóteses expressamente previstas no art. II do mencionado acordo bilateral. Precedentes.
2. A denominada Convenção de Palermo (Decreto 5015/2004) abrange infrações cometidas no âmbito transnacional. No caso dos autos, os
documentos apresentados pelo Estado requerente não indicam eventual transnacionalidade da organização criminosa.
3. Os crimes de fraude eletrônica, fraude de correspondência, rotulagem fraudulenta e rotulagem fraudulenta de medicamento enquanto disponível
para venda não estão previstos na mencionada Convenção.
4. Crimes não contemplados no acordo bilateral podem fundamentar pedido extradicional desde que efetuada promessa de reciprocidade pelo Estado
requerente. Precedentes.
5. Extradição indeferida.
SEGUNDOS EMB. DECL. NO RE N.540.829-SP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: SEGUNDOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO.
ICMS. ENTRADA DE MERCADORIA IMPORTADA DO EXTERIOR. ART. 155, II, CF/88. OPERAÇÃO DE ARRENDAMENTO
MERCANTIL INTERNACIONAL. NÃO-INCIDÊNCIA. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE.
EMBARGOS REJEITADOS.
AG. REG. NO ARE N. 808.607-RO
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO. VANTAGEM OBTIDA POR SENTENÇA
TRABALHISTA. PASSAGEM PARA O REGIME JURÍDICO ÚNICO. EFEITOS DA SENTENÇA TRABALHISTA LIMITADOS AO
ADVENTO DA LEI Nº 8.112/1990. DIREITO ADQUIRIDO. INEXISTÊNCIA. CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA COM A
JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ARTIGO 93,
IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. RAZÕES DE DECIDIR EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO
JURISDICIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERECE TRÂNSITO. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 22.02.2011.
1. O entendimento adotado pela Corte de origem, nos moldes do assinalado na decisão agravada, não diverge da jurisprudência firmada no âmbito
deste Supremo Tribunal Federal, no sentido de que diante da transposição do servidor público celetista para o regime estatutário, extinto em
decorrência o contrato de trabalho, não há falar em direito adquirido a diferenças remuneratórias deferidas em decisão trabalhista.
2. Inexiste violação do artigo 93, IX, da Constituição Federal. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o referido
dispositivo constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional, das razões do seu convencimento, dispensando o exame detalhado de cada
argumento suscitado pelas partes.
3. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
4. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO ARE N. 885.904-SP
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RELAÇÃO DE CONSUMO. DÉBITOS EM CONTA-CORRENTE. AUSÊNCIA DE
AUTORIZAÇÃO. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INOVAÇÃO RECURSAL.
IMPOSSIBILIDADE. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 05.3.2014.
1. A alegada violação dos arts. 93, IX, e 98, I, da Constituição Federal não foi arguida nas razões do recurso extraordinário, sendo vedado ao
agravante inovar no agravo regimental. Precedentes.
2. A controvérsia, a teor do já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos
constitucionais indicados nas razões recursais. Compreender de modo diverso exigiria a análise da legislação infraconstitucional encampada na
decisão da Corte de origem, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário.
Desatendida a exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Corte.
3. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República. 4. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NOS EMB. DECL. NO AG. REG. NO ARE N. 676.665-PE
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
SERVIDOR TEMPORÁRIO – DIREITOS SOCIAIS – EXTENSÃO. De acordo com o entendimento do Supremo, o servidor contratado
temporariamente tem jus aos direitos sociais previstos no artigo 7º da Constituição Federal. Precedentes: Recurso Extraordinário nº 287.905/SC, da
relatoria da ministra Ellen Gracie, redator do acórdão ministro Joaquim Barbosa; Recurso Extraordinário nº 234.186/SP, da relatoria do ministro
Sepúlveda Pertence.
AG. REG. NA Pet N. 5.592-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA PETIÇÃO. TENTATIVA DE NOVA REDISCUSSÃO DO QUE JÁ ASSENTADO POR ESTA
CORTE EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO E EM POSTERIOR AÇÃO RESCISÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA PROCESSUAL
ELEITA. AÇÃO MANIFESTAMENTE INCABÍVEL. A CLASSE PROCESSUAL DE PETIÇÃO NÃO PODE SE CARACTERIZAR COMO
SUCEDÂNEO RECURSAL, NOTADAMENTE QUANDO PRETENDE REDISCUTIR A MESMA QUESTÃO JURÍDICA JÁ ASSENTADA
TANTO EM AÇÃO ORIGINAL QUANTO EM RESCISÓRIA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A ação rescisória – e quanto mais o seus sucedâneos recursais – é via processual inadequada à mera rediscussão de matérias já assentadas pelo
Tribunal à época do julgamento do qual decorreu a decisão que se quer ver desconstituída. Precedentes: AR 2.017, rel. Min. Luiz Fux, DJe de
17/4/2015; AR 2.304-AgR, rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 5/3/2015; AR 1.063, rel. Min. Néri da Silveira, Pleno, DJ de 25/8/1995; AR
973, rel. Min. Néri da Silveira, Pleno, DJ de 30/4/1992.
2. In casu, a discussão que se propõe tem sido objeto de apreciação pelo Judiciário desde a ação original, bem como pela posterior ação rescisória.
Assim, nota-se que o autor apenas pretende rediscutir alegações já expendidas durante o curso do processo original, as quais já foram objeto de
análise detida desta Corte, tanto no processo original, quando em sede rescisória; providência descabida neste momento processual.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
ADI N. 253-MT
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 65 da Constituição do estado de Mato Grosso. 3. Aplicação das proibições e impedimentos estabelecidos
a deputados estaduais ao vice-governador. 4. Inexistência de ofensa ao princípio da simetria. 5. A observância da simetria não significa que cabe ao
constituinte estadual apenas copiar as normas federais. 6. Ação direta julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 787
AG. REG. NOS EMB. DIV. NOS EMB. DECL. NO AG. REG. NO ARE N. 762.767-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. PROCESSO SELETIVO INTERNO. FORMAÇÃO DE SARGENTOS DA POLÍCIA MILITAR.
AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. SÚMULA STF 287. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO DISSENSO JURISPRUDENCIAL. MERO TRASLADO
DOS ACÓRDÃOS PARADIGMAS. CONFRONTO ESTABELECIDO EM FACE DE DECISÃO MONOCRÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL A
QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A impugnação específica da decisão agravada, quando ausente, conduz ao desprovimento do agravo regimental. Súmula 287 do STF. Precedentes:
RCL 5.684/PE-AgR, Tribunal Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe-152 de 15/8/08; ARE 665.255-AgR/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Segunda Turma, Dje 22/5/2013; e AI 763.915-AgR/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe 7/5/2013.
2. A demonstração objetiva do alegado dissídio jurisprudencial mediante análise comparativa entre o acórdão paradigma e o ato embargado é
imperiosa para o juízo de admissão dos embargos de divergência.
3. Inadmissíveis os embargos de divergência opostos com fundamento em decisões monocráticas. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
RE N. 254.559-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
LEI – CONSTITUCIONALIDADE – PRESUNÇÃO. Presume-se a constitucionalidade de diploma normativo.
LEI COMPLEMENTAR – VOTAÇÃO SIMBÓLICA – VERIFICAÇÃO – CONSTITUCIONALIDADE. Surge constitucional a aprovação de lei
complementar mediante o sistema de votação simbólica, uma vez prevista, no Regimento Interno da Casa Legislativa, a possibilidade de parlamentar
requerer a verificação de votos.
*noticiado no Informativo 786
SEGUNDO AG. REG. NO RE N. 828.965-RS
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE
TÉCNICA – ART. NATUREZA JURÍDICA DE TAXA. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA (ART. 150, INC. I,
DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA). LEIS NS. 6.496/1977 E 6.994/1982: COBRANÇA INDEVIDA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL
SE NEGA PROVIMENTO.
AG. REG. NO ARE N. 656.543-MS
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA
REPERCUSSÃO GERAL PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO PREVISTO NO ART. 544 DO CPC. NÃO
CABIMENTO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS AO TRIBUNAL DE ORIGEM. CABIMENTO
SOMENTE PARA OS RECURSOS INTERPOSTOS ANTES DE 19/11/2009. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I – Não é cabível agravo para a correção de suposto equívoco na aplicação da repercussão geral, consoante firmado no julgamento do AI 760.358-
QO/SE, Rel. Min. Gilmar Mendes.
II – A aplicação do princípio da fungibilidade recursal, com a devolução dos autos para julgamento pelo Tribunal de origem como agravo regimental,
só é cabível nos processos interpostos antes de 19/11/2009.
III – Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 789.012-SC
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESGATE DE CONTRIBUIÇÕES
VERTIDAS EM FAVOR DE FUNDO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA. CORREÇÃO MONETÁRIA. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Decisão agravada que está alinhado com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que assentara a ausência de repercussão geral da
controvérsia envolvendo a incidência de correção monetária sobre o resgate de contribuições vertidas em favor de entidade de previdência privada (
RE 582.504-RG, Rel. Min. Cezar Peluso – Tema 174), por restringir-se a tema infraconstitucional.
2. O art. 543-A, § 5º, do CPC, bem como os arts. 326 e 327 do RI/STF, dispõe que a decisão desta Corte quanto à inexistência de repercussão geral
valerá para todos os casos que versem sobre questão idêntica.
3. Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC.
EMB. DECL. NO AG. REG. NA Rcl N. 16.193-PR
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO.
INEXISTÊNCIA. REDISCUSSÃO DA MATÉRIA APRECIADA PELO TRIBUNAL. IMPOSSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE
SUBSIDIÁRIA DA UNIÃO. ADC Nº 16. CARÁTER INFRINGENTE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DESPROVIDOS.
1. A omissão, contradição ou obscuridade, quando inocorrentes, tornam inviável a revisão em sede de embargos de declaração, em face dos estreitos
limites do art. 535 do CPC.
2. O magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes
para embasar a decisão.
3. A revisão do julgado, com manifesto caráter infringente, revela-se inadmissível, em sede de embargos. (Precedentes: AI n. 799.509-AgR-ED,
Relator o Ministro Marco Aurélio, 1ª Turma, DJe de 8/9/2011; e RE n. 591.260-AgR-ED, Relator o Ministro Celso de Mello, 2ª Turma, DJe de
9/9/2011).
4. In casu, o acórdão embargado restou assim ementado: “AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA.
ARTIGO 71, § 1º, DA LEI 8.666/93. CONSTITUCIONALIDADE. ADC 16. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DEVER DE FISCALIZAÇÃO.
RESPONSABILIDADE DA UNIÃO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO”.
5. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DESPROVIDOS.
RECURSO ORD. EM MS N. 32.552-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PENSÃO – UNIÃO ESTÁVEL – TÍTULO JUDICIAL. Uma vez constando de título judicial o reconhecimento da união estável, cumpre observar, no
campo administrativo, as consequências que lhe são próprias, considerado o direito a pensão por morte do servidor público que a integrou.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


HC N. 125.372-SP
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Habeas corpus. 2. Pedido de absolvição. Alegação de inocência. Acervo probatório demonstra autoria e materialidade. 3. Ausência de ilegalidade na
formação da culpa 4. Constrangimento ilegal não caracterizado. 5. Ordem denegada.
AG. REG. NO ARE N. 863.862-CE
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SISTEMA FINANCEIRO DE
HABITAÇÃO. TAXA REFERENCIAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. NECESSIDADE DE REEXAME DO MATERIAL
PROBATÓRIO. SÚMULA 279/STF. CRITÉRIOS DE REAJUSTE. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Exceto o art. 5º, XXXVI, da Constituição, os demais temas constitucionais do recurso extraordinário não foram objeto de análise prévia e
conclusiva pelo Tribunal de origem. Incidência das Súmulas 282 e 356/STF. 2. A jurisprudência desta Corte assentou o entendimento de que não
ofende as garantias do ato jurídico perfeito e do direito adquirido a utilização da Taxa Referencial (TR) como fator de correção de contratos de SFH
anteriores à edição da Lei nº 8.117/1991, desde que no referido contrato conste cláusula de que a correção monetária seja feita com aplicação do
índice do BTN ou do índice de correção das cadernetas de poupança. Precedentes.3. O Supremo Tribunal Federal já assentou a ausência de
repercussão geral da questão discutida (RE 579.073-RG, Rel. Min. Cezar Peluso), relativa ao critério de reajuste de saldo devedor de contrato de
mútuo firmado no âmbito do sistema financeiro da habitação, por restringir-se a tema infraconstitucional. 4. O art. 543-A, § 5º, do CPC, bem como os
arts. 326 e 327 do RI/STF, dispõe que a decisão desta Corte quanto à inexistência de repercussão geral valerá para todos os casos que versem sobre
questão idêntica.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
EMB. DECL. NO QUARTO AG. REG. EM MS N. 26.889-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO QUARTO AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. SERVENTIA
EXTRAJUDICIAL. INGRESSO. SUBSTITUTO EFETIVADO COMO TITULAR DE SERVENTIA APÓS A PROMULGAÇÃO DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE.
DESPROVIMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
1. A omissão, contradição ou obscuridade, quando inocorrentes, tornam inviável a revisão em sede de embargos de declaração, em face dos estreitos
limites do art. 535 do CPC.
2. O magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes
para embasar a decisão.
3. A revisão do julgado, com manifesto caráter infringente, revela-se inadmissível, em sede de embargos. (Precedentes: AI n. 799.509-AgR-ED,
Relator o Ministro Marco Aurélio, 1ª Turma, DJe de 8/9/2011; e RE n. 591.260-AgR-ED, Relator o Ministro Celso de Mello, 2ª Turma, DJe de
9/9/2011).
4. In casu, o acórdão embargado restou assim ementado: AGRAVOS REGIMENTAIS. MANDADO DE SEGURANÇA. SERVENTIA
EXTRAJUDICIAL. INGRESSO. SUBSTITUTO EFETIVADO COMO TITULAR DE SERVENTIA APÓS A PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
DA REPÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE. DIREITO ADQUIRIDO. INEXISTÊNCIA. CONCURSO PÚBLICO. EXIGÊNCIA. ARTIGO 236, § 3º, DA
CRFB/88. NORMA AUTOAPLICÁVEL. DECADÊNCIA PREVISTA NO ARTIGO 54 DA LEI 9.784/1999. INAPLICABILIDADE. OFENSA DIRETA À
CARTA MAGNA. AGRAVOS REGIMENTAIS A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
5. O embargante alega, de início, a ocorrência de omissão no acordão recorrido, ante a ausência de manifestação do Plenário desta Corte sobre a
necessidade de comprovação de vício de consentimento para afastamento do prazo decadencial previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/1999, para o
exercício da autotutela.
6. Embargos de declaração DESPROVIDOS.
Acórdãos Publicados: 524

TRANSCRIÇÕES
Adoção de descendente maior de idade e legitimidade (Transcrições)
(v. Informativo 785)
MS 31.383/DF*
RELATOR: Ministro Marco Aurélio
PENSÃO – ADOÇÃO DE PESSOA MAIOR DE IDADE – INSTRUMENTO PÚBLICO – INSUFICIÊNCIA. Cumpre observar, no caso de
adoção de pessoa maior de idade, as dependências emotiva e financeira, não cabendo potencializar o ato formalizado em cartório quando
desacompanhado de tais fenômenos.
RELATÓRIO: O assessor ** prestou as seguintes informações:
** aponta ilegalidade praticada pela Primeira Câmara do Tribunal de Contas da União, que, no Acórdão nº 635/2012, formalizado no
Processo Administrativo TC nº 012.708/2007-7, negou registro a pensão militar recebida.
Segundo narra, no referido processo, figuraram quatro beneficiárias de pensões militares. Foi realizado julgamento conjunto em razão
da semelhança de situações fáticas, já que todas são beneficiárias de pensões militares decorrentes da adoção, feita por meio de escritura
pública, conforme regra do artigo 375 do Código Civil de 1916.
Afirma nunca ter sido intimada da tramitação do processo no Tribunal de Contas da União, o que revelaria tratamento discrepante
daquele conferido às demais beneficiárias, pois, em relação a elas, teriam sido respeitadas as garantias constitucionais do contraditório e da
ampla defesa. Diz da arbitrariedade da decisão do Tribunal, pois vinha recebendo a pensão desde 2000. Alude à existência de precedentes
nos quais o Supremo assentou a necessidade de contraditório para a cassação de pensões concedidas há mais de cinco anos, ante o princípio
da segurança jurídica. Assevera ser preciso observar o devido processo legal nos processos administrativos, consoante previsto no artigo 5º,
inciso LIV, da Lei Maior, o que inclui aqueles em curso no Tribunal de Contas da União. Aponta violação ao Verbete Vinculante nº 3 da
Súmula do Supremo.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


Alega ter havido decadência do direito de revisão do ato administrativo, nos termos do artigo 54, cabeça e § 1º, da Lei nº 9.784/99.
Sustenta a impossibilidade de o Tribunal de Contas da União afastar a eficácia jurídica da escritura pública de adoção, sob fundamento de
haver ocorrido simulação. Salienta que a competência para declarar a nulidade de negócio jurídico é matéria afeta ao Judiciário, do que
decorreria flagrante abuso de poder por parte do Órgão dito coator. Cita precedente – Mandado de Segurança nº 24.268.
Sob o ângulo do risco, menciona a cessação imediata do pagamento da pensão que recebe, única fonte de subsistência. No mérito,
requer a anulação do acórdão atacado e a declaração do direito à manutenção, em caráter definitivo, da pensão.
A medida acauteladora foi indeferida, sob a premissa de a validade de escritura formalizada em cartório ser passível de exame pelo
Órgão fiscalizador. Também foram afastados, de início, os argumentos de ofensa ao devido processo legal e da decadência do ato de negativa
de registro da pensão.
Em informações, o Tribunal de Contas da União, presente o Verbete Vinculante nº 3 da Súmula do Supremo, afirma a ausência de
inobservância do contraditório e da ampla defesa. Evoca precedentes do Tribunal para ressaltar a inadequação, no caso, do prazo
consagrado no artigo 54 da Lei nº 9.784/1999, ante a natureza complexa do ato que implica a concessão de pensão. No mérito, aduz a
ilegalidade do deferimento de benefício previdenciário sem a demonstração de dependência econômica em relação ao servidor falecido.
Segundo narra, a adoção formalizada por escritura pública, quando o instituidor já contava com 87 anos de idade, revela a existência de
desvio de finalidade e intenção de perpetuar-se simulação incompatível com o ordenamento jurídico. Aponta a própria competência para
avaliar a legalidade do ato por meio do qual instituída a filiação civil. Consoante assevera, não ocorreu declaração de nulidade do
documento, apenas houve simples confronto com os demais elementos probatórios, que indicavam o não preenchimento dos requisitos
necessários.
A impetrante, por meio da Petição/STF nº 5116/2012, enfatiza os fundamentos consignados na peça primeira e renova o pedido de
medida acauteladora.
O Ministério Público opina pelo indeferimento da ordem. Destaca a falta de afronta à garantia consagrada no inciso LIV do artigo 5º
da Constituição Federal. Reafirma a natureza complexa do ato. No tocante à questão de fundo, diz da competência do Tribunal de Contas
para, diante do caso concreto, reconhecer a inaptidão da escritura pública, em virtude da ausência de demonstração de dependência
econômica de beneficiária que já havia alcançado 41 anos no momento da adoção.
A União, embora intimada, deixou de se manifestar.
O processo encontra-se concluso para pronunciamento final.
É o relatório.
VOTO: Inicialmente, cumpre afastar a alegação de ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa. O que se vislumbra é um ato em
processo de formação, iniciado por manifestação de vontade administrativa do órgão de origem, que foi encaminhada ao Tribunal de Contas para
pronunciamento acerca da legalidade.
Mostra-se adequado, no caso, o Verbete Vinculante nº 3 da Súmula do Supremo, segundo o qual, nos processos perante o Tribunal de Contas
da União, asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie
o interessado, excetuada a apreciação da validade da concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.
Também não procede a arguição de decadência. A incidência do disposto no artigo 54 da Lei nº 9.784/99, a revelar que a Administração
Pública decai do direito de anular os próprios atos após decorrido o prazo fixado, pressupõe situação jurídica aperfeiçoada. Isso não acontece quanto
ao ato de natureza complexa, conforme decidido pelo Supremo no Mandado de Segurança nº 25.552/DF, da relatoria da ministra Cármen Lúcia.
No tocante ao tema de fundo, é de ser mantida a orientação consolidada no Órgão de fiscalização. A peça primeira não veio acompanhada de
elementos demonstrativos da dependência econômica capaz de justificar o deferimento da pensão. Não houve invalidação de negócio jurídico. Como
fiz ver ao indeferir a medida liminar, o documento por meio da qual formalizada a adoção não viabiliza, de modo absoluto, a concessão do benefício
previdenciário. Semelhante orientação foi adotada quanto ao processo de justificação judicial, conforme assentado no Mandado de Segurança nº
28.829, de minha relatoria.
Em contexto de crescente sangramento das contas públicas, devem ser combatidas posturas estrategicamente destinadas a induzir o
deferimento de pensões em situações que, diante das características subjetivas dos envolvidos, não ensejariam o reconhecimento do direito.
O quadro revela filiação formalizada por escritura pública, sob a égide do Código Civil de 1916, quando a impetrante, separada judicialmente,
contava com 41 anos. O servidor militar já havia alcançado idade avançada, não sendo viável, na ausência de elementos comprobatórios mínimos,
presumir as necessárias dependências econômica e afetiva. No momento da adoção, a impetrante exercia o magistério no serviço público estadual,
tudo a demonstrar o não cumprimento da relação de suporte a justificar a concessão da pensão.
O inciso I do artigo 7º da Lei nº 3.765/1960, com redação vigente quando do óbito do militar, em 1994, apenas admitia o deferimento do
benefício, em ordem de prioridade, aos filhos menores de 21 anos ou, quando estudantes, menores de 24 anos. Vale ressaltar que o parágrafo único do
aludido artigo afastava as limitações etárias apenas quando demonstrada invalidez ou enfermidade grave a impedir a subsistência do postulante da
pensão militar.
No mais, o § 1º do artigo 42 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ainda que em momento posterior à formalização da escritura pública
(ocorrida em 1989), trouxe regra a vedar a adoção por ascendentes, o que reforça o caráter reprovável da conduta analisada. Dentre as finalidades da
norma, é possível destacar o combate à prática de atos de simulação e fraude à lei, como nos casos em que a filiação é estabelecida unicamente para a
percepção de benefícios junto ao Poder Público.
A adoção de descendente maior de idade, sem a constatação de suporte moral ou econômico, não satisfaz a propósito legítimo. No ato
impugnado, prevaleceu óptica compatível com os princípios da boa-fé, moralidade e economicidade, todos indissociáveis da atuação do Tribunal de
Contas.
Indefiro a ordem.
*acórdão pendente de publicação
** nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
15 a 19 de junho de 2015

Lei nº 13.134, de 16.6.2015 - Altera as Leis n° 7.998, de 11.1.1990, que regula o Programa do Seguro-
Desemprego e o Abono Salarial e institui o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), n° 10.779, de 25.11.2003, que
dispõe sobre o seguro-desemprego para o pescador artesanal, e n° 8.213, de 24.7.1991, que dispõe sobre os planos de

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


benefícios da Previdência Social; revoga dispositivos da Lei n° 7.998, de 11.1.1990, e as Leis n° 7.859, de 25.10.1989,
e no 8.900, de 30.6.1994; e dá outras providências. Publicada no DOU, n. 113, Seção 1, p. 1, em 17.6.2015.
Lei nº 13.135, de 17.6.2015 - Altera as Leis nº 8.213, de 24.7.1991, n° 10.876, de 2.6.2004, n° 8.112, de
11.12.1990, e n° 10.666, de 8.5.2003, e dá outras providências. Publicada no DOU, n. 114, Seção 1, p. 1, em 18.6.2015.
Medida Provisória nº 676, de 17.6.2015 - Altera a Lei n° 8.213, de 24.7.1991, que dispõe sobre os Planos de
Benefícios da Previdência Social. Publicada no DOU, n. 114, Seção 1, p. 3, em 18.6.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES
15 a 19 de junho de 2015

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)


POSSE DE MINISTRO
O Ministro Luiz Edson Fachin, nomeado para ocupar a vaga decorrente da aposentadoria do Ministro Joaquim
Benedito Barbosa Gomes, tomou posse, nesta Corte, em 16 de junho de 2015.
AUDIÊNCIA PÚBLICA – ADI 4.439/DF – Ensino religioso nas escolas públicas – Art. 33, “caput” e §§ 1º e
2º, da Lei 9.394/1996
O Tribunal realizou, em 15.6.2015, audiência pública, determinada com base no § 1º do art. 6º da Lei 9.882/1999, pelo
Ministro Roberto Barroso, nos autos da ADI 4.439/DF, da qual relator, em que se questiona a constitucionalidade do ensino
religioso confessional — aquele vinculado a uma determinada religião — nas escolas públicas do País. Para a Procuradoria-
Geral da República (autora), a única forma de compatibilizar o caráter laico do Estado brasileiro com o ensino religioso nas
escolas públicas seria pela adoção do modelo não-confessional, em que o conteúdo programático da disciplina consistiria na
exposição das doutrinas, das práticas, da história e de dimensões sociais das diferentes religiões — bem como de posições
não-religiosas, como o ateísmo e o agnosticismo — sem qualquer tomada de partido por parte dos educadores. Ao fim do dia,
31 especialistas expuseram seus pontos de vista sobre o tema. Foram expositores: Manhã (das 9h às 13h): Conselho
Nacional de Secretários de Educação - CONSED (Expositor: Eduardo Deschamps); Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação - CNTE (Expositor: Roberto Franklin de Leão); Confederação Israelita do Brasil - CONIB
(Expositora: Roseli Fischmann); Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB (Expositor: Antonio Carlos Biscaia);
Convenção Batista Brasileira - CBB (Expositor: Vanderlei Batista Marins); Federação Espírita Brasileira - FEB (Expositor:
Alvaro Chrispino); Federação das Associações Muçulmanas do Brasil - FAMBRAS (Expositor: Ali Zoghbi); Federação
Nacional do Culto Afro-Brasileiro - FENACAB e Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno (Expositor:
Antônio Gomes da Costa Neto); Igreja Assembleia de Deus - Ministério de Belém e Convenção Geral das Assembleias de
Deus no Brasil (Expositor: Abiezer Apolinário da Silva); Convenção Nacional das Assembleias de Deus - Ministério de
Madureira (Expositor: Bispo Manoel Ferreira); Liga Humanista Secular do Brasil - LIHS (Expositor: Thiago Gomes Viana);
Sociedade Budista Brasileira (Expositor: João Nery Rafael); Centro de Raja Yoga Brahma Kumaris (Expositora: Cleunice
Matos Rehem); e Igreja Universal do Reino de Deus (Expositor: Renato Gugliano Herani). Tarde (das 14h30 às 19h30):
Anis — Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Expositora: Debora Diniz); Observatório da Laicidade na
Educação (Expositor: Luiz Antônio Cunha); AMICUS DH – Grupo de Atividade de Cultura e Extensão da Faculdade de
Direito da USP (Expositor: Virgílio Afonso da Silva); Comissão Permanente de Combate às Discriminações e Preconceitos
de Cor, Raça, Etnia, Religiões e Procedência Nacional (Expositor: Carlos Minc Baumfeld); Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara dos Deputados (Expositor: Deputado Marco Feliciano); Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e
Informação (Expositor: Salomão Barros Ximenes); Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso - FONAPER
(Expositor: Leonel Piovezana); ASSINTEC - Associação Inter-Religiosa de Educação e Cultura (Expositor: Elói Correa dos
Santos); Conselho Nacional de Educação do Ministério da Educação (Expositor: Luiz Roberto Alves); Comitê Nacional de
Respeito à Diversidade Religiosa da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (Expositor: Gilbraz
Aragão); Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião -
ANPTECRE (Expositor: Wilhelm Wachholz); Instituto dos Advogados Brasileiros - IAB (Expositor: Gilberto Garcia);
Associação Nacional de Advogados e Juristas Brasil-Israel - ANAJUBI (Expositor: Carlos Roberto Schlesinger); Frente
Parlamentar Mista Permanente em Defesa da Família (Expositor: Senador Magno Malta); Arquidiocese do Rio de Janeiro
(Expositor: Luiz Felipe de Seixas Corrêa); Conectas Direitos Humanos (Expositor: Oscar Vilhena Vieira); e Clínica de
Direitos Fundamentais da Faculdade de Direito da UERJ (Expositor: Daniel Sarmento). Os debates estão disponíveis no
“link” abaixo:
https://www.youtube.com/playlist?list=PLippyY19Z47szGoKQPqGn7Hp4TnpkcDkR

Tabela de custas - Porte de remessa e retorno dos autos - Atualização - Valor


Resolução nº 554, de 11.6.2015 - Dispõe sobre as Tabelas de Custas e a Tabela de Porte de Remessa e Retorno
dos Autos e dá outras providências. Publicada no DJE/STF, n. 114, p. 1-2, em 16.6.2015.

Informativo 790-STF (26/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
PSV 28/DF; ACO 989/BA; AP 530 ED-segundos/MS.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: RHC 125477/RJ.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
 Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão

DIREITO ADMINISTRATIVO
APOSENTADORIA ESPECIAL
 Oficiais de justiça não têm direito à aposentadoria especial.

DIREITO CIVIL
DIREITOS DA PERSONALIDADE
 Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão

DIREITO PENAL
TORTURA
 Regime inicial de cumprimento de pena.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


PRISÃO E LIBERDADE
 Prisão domiciliar e gestante a partir do 7º mês de gravidez.

DIREITO CONSTITUCIONAL

LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão

Importante!!!
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do indivíduo
biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização prévia
seria uma forma de censura, não sendo compatível com a liberdade de expressão consagrada
pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as seguintes:

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias
ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas retratadas como
coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes .
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus direitos
foram violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não apenas por
meio de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a publicação de
ressalva, de nova edição com correção, de direito de resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).

Biografias
Um dos gêneros literários mais lidos em todo o mundo são as chamadas biografias, livros nos quais o autor
narra a vida e a história de uma pessoa.
Ocorre que ao mesmo tempo em que as biografias geram paixão e interesse dos leitores, algumas vezes
despertam também polêmicas.
Isso porque existem duas espécies de biografias:
a) AUTORIZADA: na qual o indivíduo que será retratado no livro concordou com a sua divulgação (ou seus
familiares, se já tiver falecido) e até forneceu alguns detalhes para subsidiar a obra. Geralmente são obras
e osài te essa tesàpo ueà ep ese ta àaà e s oàofi ial àdaà idaàdoà iog afado,àouàseja,àape asàosàfatosà
e circunstâncias que ele quer que sejam mostrados, perdendo um pouco da imparcialidade do relato.
b) NÃO-AUTORIZADA: quando o biografado (pessoa que está sendo retratada) não concordou
expressamente com a obra ou até se insurgiu formalmente contra a sua edição. São esses os livros que
geram maior interesse porque nele são trazidos fatos polêmicos e às vezes pouco conhecidos da vida do
biografado, circunstâncias que muitas vezes ele não queria ter exposto.

As biografias não-autorizadas eram permitidas no Brasil?


NÃO. Segundo a posição tradicional, as biografias não-autorizadas seriam proibidas pelos arts. 20 e 21 do
Código Civil por representarem uma forma de violação à imagem e à privacidade do biografado. Confira:
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem
pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que
couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção
o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as
providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.

Veja, portanto, que o art. 20 afirma expressamente que a divulgação de escritos ou a publicação da
imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento.

Qua doàoàa t.à 0àfalaàe à i age ,àeleà oàest àape asàseà efe i doà ài age àfisio i aàdoài di íduoà
seuà et ato .àáàpala aà i age àaliàe p egadaàte àt sàacepções:

a) Imagem-retrato: são as características fisionômicas da pessoa, ou seja, o seu desenho, sua pintura, sua
fotografia. A imagem-retrato é captada pelos olhos.

b) Imagem-atributo: são as características imateriais (morais) por meio das quais os outros enxergam
aquela pessoa. É a personalidade, o caráter, o comportamento da pessoa segundo a visão de quem a
conhece. A imagem-atributo é captada pelo coração.

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


c) Imagem-voz: são as características do timbre de voz da pessoa. É a identificação da pessoa pela voz. O
exemplo típico é o dos locutores de TV, como Gil Gomes e Lombardi. A imagem-voz é captada pelo ouvido.

Em uma interpretação literal do art. 20, as biografias não-autorizadas seriam proibidas, já que elas
constituiriam na divulgação ou publicação da imagem-atributo do biografado sem que este tenha dado seu
consentimento.

Diante disso, o biografado poderia, invocando seu direito à imagem e à vida privada, pleitear judicialmente
providências para impedir ou fazer cessar essa publicação (art. 21 do CC). Em outras palavras, o biografado
poderia impedir a produção da biografia ou, se ela já estivesse pronta, a sua comercialização.

O exemplo mais emblemático de disputa judicial envolvendo o tema ocorreu no caso do cantor Roberto
Carlos, que processou o jornalista e escritor Paulo Cesar de Araújo, autor de sua biografia não-autorizada
ha adaàdeà Ro e toàCa losàe àdetalhes àeà ueà ha iaàsidoàla çadaàe àdeze oàdeà 00 àpelaàEdito aà
Planeta, sendo proibida pela Justiça em abril de 2007.

ADI 4815
Em 2012, a Associação Nacional dos Editores de Livros (ANEL) ajuizou uma ação direta de
inconstitucionalidade no STF com o objetivo de declarar a inconstitucionalidade parcial dos arts. 20 e 21
do Código Civil.
O pedido principal da autora foi para que o STF desse interpretação conforme a Constituição e declarasse
que não é necessário o consentimento da pessoa biografada para a publicação ou veiculação de obras
biográficas, literárias ou audiovisuais.

O STF concordou com o pedido? As biografias não-autorizadas podem ser publicadas mesmo sem prévia
autorização do biografado (ou de sua família)?
SIM. O STF julgou procedente a ADI e conferiu interpretação conforme à Constituição aos arts. 20 e 21 do
CC para declarar que não é necessária a autorização prévia para a publicação de biografias.

Liberdade de expressão
áà CF/88à o sag aà aà li e dadeà deà exp ess oà e à seuà a t.à º,à IX,à p e e doà ueà é livre a expressão da
atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou lice ça .
Noàa t.à 0,à§à º,àaàCa taàafi aà ueà à vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e
a tísti a .
Desse modo, uma regra infraconstitucional (Código Civil) não pode abolir o direito de expressão e criação
de obras literárias.

Argumentos utilizados pelo STF:


a) a Constituição assegura como direitos fundamentais a liberdade de pensamento e de sua expressão, a
liberdade de atividade intelectual, artística, literária, científica e cultural;
b) a Constituição garante o direito de acesso à informação e de pesquisa acadêmica, para o que a biografia
seria fonte fecunda;
c) a Constituição proíbe a censura de qualquer natureza, não se podendo concebê-la de forma subliminar
pelo Estado ou por particular sobre o direito de outrem;
d) a Constituição garante a inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da honra e da imagem da pessoa; e
e) a legislação infraconstitucional não poderia amesquinhar ou restringir direitos fundamentais
constitucionais, ainda que sob pretexto de estabelecer formas de proteção, impondo condições ao
exercício de liberdades de forma diversa da constitucionalmente fixada.

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Direitos do biografado
Os Ministros fizeram, no entanto, a ressalva de que os direitos do biografado não ficarão desprotegidos. A
biografia poderá ser lançada mesmo sem autorização do biografado, mas se ficar constatado que houve
abuso da liberdade de expressão e violação à honra do indivíduo retratado, este poderá pedir:
•àaà epa aç oàdosàda osà o aisàeà ate iaisà ueàsof eu;
•àaà etifi aç oàdasàinformações veiculadas;
•àoàdi eitoàdeà esposta;
•àeàat à es o,àe àúlti oà aso,àaà espo sa ilizaç oàpe alàdoàauto àdaào a.

Em suma:
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do indivíduo biografado, das
demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização prévia seria uma forma de censura,
não sendo compatível com a liberdade de expressão consagrada pela CF/88.
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus direitos foram
violados pela publicação, ele terá direito à reparação, que poderá ser feita não apenas por meio de
indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a publicação de ressalva, de nova
edição com correção, de direito de resposta etc.

DIREITO ADMINISTRATIVO

APOSENTADORIA ESPECIAL
Oficiais de justiça não têm direito à aposentadoria especial

Importante!!!
Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são mais
favoráveis que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas.
A CF/88 prevê que os servidores que exerçam atividades de risco têm direito à aposentadoria
especial, segundo requisitos e condições previstas em lei complementar art. 40, § 4º, )), b .
O sindicato dos Oficiais de Justiça ajuizou, no STF, mandado de injunção coletivo alegando que
os oficiais de justiça exercem atividades de risco, nos termos do art. 40, § 4º, II, da CF/88 e que,
apesar disso, até agora, não foi editada uma lei complementar nacional prevendo
aposentadoria especial para eles. Argumentou, então, que estaria havendo omissão legislativa.
O STF concordou com o pedido formulado?
NÃO. Os Oficiais de Justiça, no exercício de suas funções, até sofrem, eventualmente, exposição
a situações de risco, mas isso, por si só, não confere a eles o direito subjetivo à aposentadoria
especial.
Os Oficiais de Justiça podem até, a depender do caso concreto, estar sujeitos a situações de
risco, notadamente quando no exercício de suas funções em áreas dominadas pela
criminalidade, ou em locais marcados por conflitos fundiários. No entanto, o STF entendeu que
esse risco é contingente (eventual), e não inerente ao serviço. Não se pode dizer que as funções
dos Oficiais de Justiça são perigosas (isso não está na sua essência). Elas podem ser
eventualmente perigosas.
Se uma atividade é eventualmente perigosa, o legislador pode prever que os servidores que a
desempenham tenham direito à aposentadoria especial com base no art. 40, § 4º, II, da CF/88.
Se o legislador não fizer isso, não haverá omissão de sua parte porque o texto constitucional
não exige. Ex: Oficiais de Justiça. Reconhecer ou não o direito à aposentadoria especial é uma
escolha da discricionariedade legislativa.

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Se uma atividade é perigosa por sua própria natureza, o legislador tem o dever de prever que
os servidores que a desempenham terão direito à aposentadoria especial com base no art. 40,
§ 4º, II, da CF/88. Se o legislador não fizer isso, haverá omissão inconstitucional de sua parte
porque o texto da CF/88 exige. Aqui não existe discricionariedade, mas sim um dever do
legislador. Ex: carreira policial.
STF. Plenário. MI 833/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
11/6/2015 (Info 789).

O que é aposentadoria especial?


Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são mais favoráveis
que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas.

Quem tem direito à aposentadoria especial no serviço público?

Onde estão previstos os requisitos e


Quais servidores têm direito?
condições mais favoráveis?
Servidores que sejam portadores de deficiência (art. 40, § 4º, I).

Servidores que exerçam atividades de risco (art. 40, § 4º, II). A CF exige que seja editada uma lei
complementar.
Servidores que exerçam atividades sob condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física (art. 40, § 4º, III).

Logo, a CF/88 exige a edição de uma LEI COMPLEMENTAR definindo os critérios para a concessão da
aposentadoria especial aos servidores públicos. A Lei deverá, inclusive, elencar as carreiras que se
encontram em situação de risco ou cujas atividades prejudiquem a saúde ou integridade física.

Oficiais de justiça
O sindicato dos Oficiais de Justiça ajuizou, no STF, mandado de injunção coletivo alegando que os oficiais
de justiça exercem atividades de risco, nos termos do art. 40, § 4º, II, da CF/88 e que, apesar disso, até
agora, não foi editada uma lei complementar nacional prevendo aposentadoria especial para eles.
O autor argumentou, então, que estaria havendo omissão legislativa do Presidente da República e do
Presidente do Congresso Nacional na regulamentação do art. 40, § 4º, II, da CF/88, para a aposentadoria
especial dos ocupantes do cargo de Oficial de Justiça.
Além de pedir para ser reconhecida a mora (omissão legislativa), o sindicato requereu que, enquanto não
seja editada a lei complementar prevendo aposentadoria especial para os Oficiais de Justiça, sejam
aplicadas a essa categoria, por analogia, as regras de aposentadoria especial dos policiais civis, previstas na
Lei Complementar Federal n. 51/85.
O sindicato argumentou que poderia ser feita essa analogia porque os Oficiais de Justiça recebem
adicional de periculosidade e podem obter autorização para porte de arma de fogo de uso permitido, de
forma que seria uma carreira equiparável.

O STF concordou com os pedidos formulados?


NÃO. O STF afirmou que os Oficiais de Justiça, no exercício de suas funções, até sofrem, eventualmente,
exposição a situações de risco, mas isso, por si só, não confere a eles o direito subjetivo à aposentadoria
especial.
Os incisos do § 4º do art. 40 da CF utilizam exp ess esàa e tas:à po tado esàdeàdefi i ia ,à atividades de
risco à eà o diç esà espe iais ueà p ejudi ue à aà saúdeà ouà aà i teg idadeà físi a .à Dessaà fo a,à aà
Constituição, de forma proposital, deixou para que a lei complementar definisse o que significam esses
conceitos. Assim, o legislador possui relativa liberdade de atuação para fixar essas definições.
Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5
As atribuições dos Oficiais de Justiça, previstas no art. 143 do CPC 1973 (art. 154 do CPC 2015), podem até,
a depender do caso concreto, sujeitá-los a situações de risco, notadamente quando no exercício de suas
funções em áreas dominadas pela criminalidade, ou em locais marcados por conflitos fundiários. No
entanto, o STF entendeu que esse risco é contingente (eventual), e não inerente ao serviço. Dito de uma
forma mais simples, para o STF, não se pode dizer que as funções dos Oficiais de Justiça são perigosas (isso
não está na sua essência). Elas podem ser eventualmente perigosas.
Desse modo, o STF entendeu que o legislador não está obrigado a prever aposentadoria especial para os
Oficiais de Justiça com base no art. 40, § 4º daà CF/88à po ueà oà pe igo à de o e teà dessaà ati idade
profissional é eventual (e não inerente ao serviço).

É proibido que a lei complementar preveja aposentadoria especial, com base no art. 40, § 4º, II, da
CF/88, para atividades que são apenas eventualmente perigosas? Vamos admitir que a atividade dos
Oficiais de Justiça é apenas eventualmente perigosa. O legislador está impedido de prever
aposentadoria especial para essa categoria?
NÃO. O STF explicou que não existe uma impossibilidade jurídica de que a lei preveja critérios para
aferição de situações concretas de risco no serviço público, para fins de concessão de aposentadoria
especial. Em outras palavras, o legislador não está proibido de prever aposentadoria especial, com base no
art. 4º, II, da CF/88 para carreiras que desempenhem atividades apenas eventualmente perigosas. Assim, o
legislador até pode prever aposentadoria especial para Oficiais de Justiça com base na periculosidade.
O que o STF quis dizer é que não existe um dever constitucional do legislador de prever aposentadoria
especial para atividades apenas eventualmente perigosas. Isso é uma discricionariedade do legislador
(escolha política). O dever que existe é o de criar a aposentadoria especial para aquelas atividades
perigosas por sua própria natureza (ex: policiais).
Assim, embora o legislador possa, em tese, prever aposentadoria especial por periculosidade para os
Oficiais de Justiça, a decisão de editar ou não essa lei complementar é uma escolha política, a ser exercida
dentro pelo Parlamento.

Explicando melhor:
 Se uma atividade é eventualmente perigosa, o legislador pode prever que os servidores que a
desempenham tenham direito à aposentadoria especial com base no art. 40, § 4º, II, da CF/88. Se o
legislador não fizer isso, não haverá omissão de sua parte porque o texto constitucional não exige. Ex:
Oficiais de Justiça. Reconhecer ou não o direito à aposentadoria especial é uma escolha da
discricionariedade legislativa.
 Se uma atividade é perigosa por sua própria natureza, o legislador tem o dever de prever que os
servidores que a desempenham terão direito à aposentadoria especial com base no art. 40, § 4º, II, da
CF/88. Se o legislador não fizer isso, haverá omissão inconstitucional de sua parte porque o texto da
CF/88 exige. Aqui não existe discricionariedade, mas sim um dever do legislador. Ex: carreira policial.

O Congresso Nacional, ao cumprir o dever de legislar previsto no art. 40, § 4º, II, da CF/88, pode prever critérios
mais ou menos elásticos para a ide tifi aç oàdasà ati idadesàdeà is o ,à asà oàpode iaàdeixa àdeà o te pla à
as atividades inerentemente perigosas, sob pena de violação ao núcleo essencial do dispositivo.

Obs: no caso dos policiais, o legislador não está em omissão porque já existe lei regulando sua
aposentadoria especial. Trata-se da LC 51/85.

E como o STF refutou o argumento do sindicato de que os Oficiais de Justiça podem ser equiparados a
policiais porque recebem adicional de periculosidade e podem portar arma de fogo?
O STF afirmou que tais circunstâncias não podem, por si só, ou seja, de forma automática, produzir efeitos
sobre o vínculo previdenciário. Existe uma autonomia entre o vínculo funcional e o previdenciário, ou seja,
os requisitos para se obter gratificações, adicionais etc. são uns e os requisitos para se obter
aposentadoria especial são outros.

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


AGENTES DE SEGURANÇA
O mesmo pedido formulado acima pelos Oficiais de Justiça foi feito também pelos servidores do Ministério
Público da União que exercem atribuições de segurança.
O pedido foi apreciado em conjunto e o STF deu a mesma solução já explicada, ou seja, entendeu que tais
servidores exercem funções que podem ser eventualmente perigosas, mas que o perigo não é inerente à
função, isto é, não são atividades perigosas por sua própria natureza.
Assim, o STF também negou o mandado de injunção impetrado por tais servidores.
STF. Plenário. MI 844/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
11/6/2015 (Info 789).

DIREITO CIVIL

DIREITOS DA PERSONALIDADE
Biografias: autorização prévia e liberdade de expressão

Importante!!!
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária a autorização prévia do indivíduo
biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização prévia
seria uma forma de censura, não sendo compatível com a liberdade de expressão consagrada
pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as seguintes:
É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias
ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas retratadas como
coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes .
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus direitos
foram violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não apenas por
meio de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a publicação de
ressalva, de nova edição com correção, de direito de resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).

Veja comentários em Direito Constitucional.

DIREITO PENAL

TORTURA
Regime inicial de cumprimento de pena

O STF já decidiu que é inconstitucional a Lei que impõe o regime inicial fechado para os crimes
hediondos e equiparados (STF. HC 111.840-ES).
Para o STJ, isso se aplica também ao delito de tortura, por ser este equiparado a crime
hediondo. Logo, o juiz deve desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei nº
9.455/1997, por ser esta norma também inconstitucional. Assim, não é obrigatório que o
condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado. O
juiz, no momento da dosimetria da pena, deverá seguir as regras do art. 33 do CP.

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


No julgado noticiado neste Informativo, o Min. Marco Aurélio manifesta posição pessoal de que
o art. 1º, § 7º, da Lei nº 9.455/1997 seria constitucional, ou seja, seria legítima a regra que
impõe o regime inicial fechado para o crime de tortura. O inteiro teor do julgado ainda não foi
divulgado, mas penso que se trata de uma posição minoritária e isolada do Min. Marco Aurélio.
Os demais Ministros acompanharam o Relator mais por uma questão de praticidade do que de
tese jurídica. Isso porque os demais Ministros entendiam que, no caso concreto, nem caberia
habeas corpus considerando que já havia trânsito em julgado. No entanto, eles não aderiram
expressamente à tese do Relator.
STF. 1ª Turma. HC 123316/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/6/2015 (Info 789).

REGIME INICIAL DA PENA NO CASO DE CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS


O que são crimes hediondos?
São crimes que o legislador considerou especialmente repulsivos e que, por essa razão, recebem
tratamento penal e processual penal mais gravoso que os demais delitos.
A CF/88 menciona que os crimes hediondos são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia, não
definindo, contudo, quais são os delitos hediondos.
Art. 5º (...) XLIII — a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Quais são os crimes hediondos no Brasil?


O Brasil adotou o sistema legal de definição dos crimes hediondos. Isso significa que é a lei quem define,
de forma exaustiva (taxativa, numerus clausus), quais são os crimes hediondos.
Esta lei é a de nº 8.072/90, conhecida como Lei dos crimes hediondos.

A tortura é crime hediondo?


NÃO. O tráfico de drogas, a tortura e o terrorismo não são crimes hediondos. Estes três delitos (TTT) são
equiparados (assemelhados) pela CF/88 a crimes hediondos. Em outras palavras, não são crimes
hediondos, mas devem receber o mesmo tratamento penal e processual penal mais rigoroso que é
reservado aos delitos hediondos.

A Lei nº 8.072/90, em sua redação original, determinava que os condenados por crimes hediondos ou
equiparados (TTT) deveriam cumprir a pena em regime integralmente fechado:
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de: (...)
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado.

Em 23/02/2006, o STF declarou inconstitucional este § 1º do art. 2º por duas razões principais, além de
outros argumentos:
a) a norma violava o princípio constitucional da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF/88), já que
obrigava o juiz a sempre condenar o réu ao regime integralmente fechado independentemente do caso
concreto e das circunstâncias pessoais do réu;
b) a norma proibia a progressão de regime de cumprimento de pena, o que inviabilizaria a ressocialização
do preso.
STF. Plenário. HC 82959, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/02/2006.

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Diante dessa decisão, o Congresso Nacional editou a Lei nº 11.464/2007, modificando o § 1º do art. 2º
da Lei nº 8.072/90:
Redação original Redação dada pela Lei 11.464/2007
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será § 1º A pena por crime previsto neste artigo será
cumprida INTEGRALMENTE em regime fechado. cumprida INICIALMENTE em regime fechado.

O novo § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/2007, continua sendo
inconstitucional? Os vícios de inconstitucionalidade que existiam na redação original permanecem? Esse
dispositivo, em sua nova redação, continua violando o princípio constitucional da individualização da pena?
SIM. O STF decidiu que o § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/2007,
ao impor o regime inicial fechado, é INCONSTITUCIONAL.
STF. Plenário. HC 111.840/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, 27/6/2012 (Info 672).

Vejamos os principais argumentos utilizados para se chegar a essa conclusão.


 A CF prevê o princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI). Esse princípio também deve ser
observado no momento da fixação do regime inicial de cumprimento de pena. Assim, a fixação do
regime prisional também deve ser individualizada (ou seja, de acordo com o caso concreto), ainda que
se trate de crime hediondo ou equiparado.

 A CF prevê, no seu art. 5º, XLIII, as vedações que ela quis impor aos crimes hediondos e equiparados
(são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia). Nesse inciso, não consta que o regime inicial
para esses crimes tenha que ser o fechado. Logo, não poderia o legislador estabelecer essa imposição
de regime inicial fechado, por violar o princípio da individualização da pena.

 Desse modo, deve ser superado o disposto na Lei dos Crimes Hediondos (obrigatoriedade de início do
cumprimento de pena no regime fechado) para aqueles que preencham todos os demais requisitos
previstos no art. 33, §§ 2º, e 3º, do CP, admitindo-se o início do cumprimento de pena em regime
diverso do fechado.

 O juiz, no momento de fixação do regime inicial, deve observar as regras do art. 33 do Código Penal,
podendo estabelecer regime prisional mais severo se as condições subjetivas forem desfavoráveis ao
condenado, desde que o faça em razão de elementos concretos e individualizados, aptos a demonstrar
a necessidade de maior rigor da medida privativa de liberdade do indivíduo.

A partir dessa decisão do STF, a pergunta que surge é a seguinte:


Qual é o regime inicial de cumprimento de pena do réu que for condenado por crime hediondo ou
equiparado (ex.: tortura ou tráfico de drogas)?
O regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados (ex.: tráfico de drogas) não tem
que ser obrigatoriamente o fechado, podendo ser também o regime semiaberto ou aberto, desde que
p ese tesàosà e uisitosàdoàa t.à ,à§à º,àalí easà àeà“ ,àdoàC digoàPe al.
Assim, será possível, por exemplo, que o juiz condene o réu por tortura a uma pena de dois anos de
reclusão e fixe o regime inicial aberto.

Mas o juiz, ao sentenciar o réu por crime de tortura, não é obrigado a aplicar o § 7º do art. 1º da Lei nº
9.455/97 (Lei de Tortura) (§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º,
iniciará o cumprimento da pena em regime fechado)?
NÃO. Como vimos acima, o Plenário do STF decidiu que é inconstitucional a Lei que impõe o regime inicial
fechado para os crimes hediondos e equiparados (STF. HC 111.840-ES).
Esse entendimento do STF aplica-se também ao delito de tortura, por ser este equiparado a crime hediondo.
Logo, o juiz deve desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei nº 9.455/1997, por ser esta norma
também inconstitucional.

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


Em suma, não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no
regime prisional fechado. Existem vários precedentes do STJ nesse sentido:
(...) A obrigatoriedade do regime inicial fechado prevista na Lei do Crime de Tortura foi superada pela
Suprema Corte, de modo que a mera natureza do crime não configura fundamentação idônea a justificar a
fixação do regime mais gravoso para os condenados pela prática de crimes hediondos e equiparados, haja
vista que, para estabelecer o regime prisional, deve o magistrado avaliar o caso concreto de acordo com os
parâmetros estabelecidos pelo artigo 33 e parágrafos do Código Penal. (...)
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 629.324/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 24/02/2015.

(...) 3. É flagrante o constrangimento ilegal em relação à fixação do regime inicial fechado com base no art.
1.º, § 7.º, da Lei de Tortura.
4. Com a declaração pelo Pretório Excelso da inconstitucionalidade do regime integral fechado e do § 1.º do art.
2.º da Lei de Crimes Hediondos, com redação dada pela lei n.º 11.464/2007 - também aplicável ao crime de
tortura -, o cumprimento da pena passou a ser regido pelas disposições gerais do Código Penal. (...)
STJ. 5ª Turma. HC 286.925/RR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/05/2014.

O que foi noticiado no Info 789:


Crime de tortura e regime inicial de cumprimento da pena
O condenado por crime de tortura iniciará o cumprimento da pena em regime fechado, nos termos do
disposto no § 7º do art. 1º da Lei 9.455/1997 - Lei de Tortura. Com base nessa orientação, a Primeira
Tu aà de egouà pedidoà fo uladoà e à ha easà o pus ,à oà ualà seà p ete diaà oà e o he i e toà deà
constrangimento ilegal consubstanciado na fixação, em sentença penal transitada em julgado, do
cumprimento das penas impostas aos pacientes em regime inicialmente fechado. Alegavam os
impetrantes a ocorrência de violação ao princípio da individualização da pena, uma vez que
desrespeitados os artigos 33, § 3º, e 59 do CP. Apontavam a existência de similitude entre o disposto no
artigo 1º, § 7º, da Lei de Tortura e o previsto no art. 2º, § 1º, da Lei de Crimes Hediondos, dispositivo legal
que já teria sido declarado inconstitucional pelo STF no julgamento do HC 111.840/ES (DJe de 17.12.2013).
Salientavam, por fim, afronta ao Enunciado 719 da Súmula do STF. O Ministro Marco Aurélio (relator)
denegou a ordem. Considerou que, no caso, a dosimetria e o regime inicial de cumprimento das penas
fixadas atenderiam aos ditames legais. Asseverou não caber articular com a Lei de Crimes Hediondos, pois
a regência específica (Lei 9.455/1997) prevê expressamente que o condenado por crime de tortura iniciará
o cumprimento da pena em regime fechado, o que não se confundiria com a imposição de regime de
cumprimento da pena integralmente fechado. Assinalou que o legislador ordinário, em consonância com a
CF/1988, teria feito uma opção válida, ao prever que, considerada a gravidade do crime de tortura, a
execução da pena, ainda que fixada no mínimo legal, deveria ser cumprida inicialmente em regime
fechado, sem prejuízo de posterior progressão. Os Ministros Roberto Barroso e Rosa Weber
acompanharam o relator, com a ressalva de seus entendimentos pessoais no sentido do não
o he i e toàdoà it .àOàMi ist oàLuizàFux,à oào sta teàe te de à ueàoàp ese teà ha easà o pus àfa iaà
as vezes de revisão criminal, ante o trânsito em julgado da decisão impugnada, acompanhou o relator.
HC 123316/SE, rel. Min. Marco Aurélio, 9.6.2015.

Observe que, segundo defendeu o Min. Marco Aurélio, o § 7º do art. 1º da Lei n. 9.455/97 seria constitucional,
ou seja, para ele, é legítima a previsão de que o regime inicial no crime de tortura seja o fechado.

Cuidado: o inteiro teor do julgado ainda não foi divulgado, mas penso que se trata de uma posição
minoritária e isolada do Min. Marco Aurélio. Repare que os demais Ministros acompanharam o Relator
mais por uma questão de praticidade do que de tese jurídica. Isso porque os demais Ministros entendiam
que, no caso concreto, nem caberia habeas corpus considerando que já havia trânsito em julgado. No
entanto, eles não aderiram expressamente à tese do Relator.

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


Não há fundamento que justifique o § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90 (que obriga o regime inicial fechado
para crimes hediondos) ter sido declarado inconstitucional e o § 7º do art. 1º da Lei n. 9.455/97 (que prevê
regra semelhante para um crime equiparado a hediondo) não o ser.

Desse modo, a princípio, continue adotando o entendimento do STJ:


É inconstitucional a Lei que impõe o regime inicial fechado para os crimes hediondos e equiparados (STF. HC
111.840-ES). Isso se aplica também ao delito de tortura, por ser este equiparado a crime hediondo.
Logo, o juiz deve desconsiderar a regra disposta no art. 1º, § 7º, da Lei nº 9.455/1997, por ser esta norma
também inconstitucional.
Não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional
fechado. O juiz, no momento da dosimetria da pena, deverá seguir as regras do art. 33 do CP.

Qualquer novidade, você será avisado no site.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PRISÃO E LIBERDADE
Prisão domiciliar e gestante a partir do 7º mês de gravidez

A CF/88 assegura às presidiárias condições para que possam permanecer com seus filhos
durante o período da amamentação e enfatiza a proteção à maternidade e à infância (art. 5º,
L , e art. 6º, caput .
No caso concreto, a acusada encontrava-se presa preventivamente, em estágio avançado de
gravidez (7 meses), em penitenciária insalubre e sem condições para acompanhamento pré-natal.
Assim, objetivando efetivar o direito acima mencionado, reconheceu-se que a acusada teria
direito à prisão domiciliar, nos termos do art. 318, IV, do CPP:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco.
STF. 2ª Turma. HC 128381/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/6/2015 (Info 789).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Maria foi presa em flagrante pela prática, em tese, do crime de tráfico de drogas (art. 33 da Lei n.
11.343/2006).
Por vislumbrar presentes os requisitos autorizadores, o juiz de primeiro grau converteu o flagrante em
prisão preventiva.
Ocorre que Maria está grávida de 7 meses e recolhida em uma penitenciária desprovida de estrutura física
para acolhimento de presas nessa condição.

A ré deverá permanecer presa na penitenciária?


NÃO. A CF/88 assegura às presidiárias condições para que possam permanecer com seus filhos durante o
período da a a e taç oàeàe fatizaàaàp oteç oà à ate idadeàeà ài f iaà a t.à º,à L ,àeàa t.à º,à aput .
No caso, a acusada encontra-se presa preventivamente, em estágio avançado de gravidez, em
penitenciária insalubre e sem condições para acompanhamento pré-natal.
Assim, objetivando efetivar o direito acima mencionado, a acusada teria direito à prisão domiciliar, nos
termos do art. 318, IV, do CPP:

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
IV - gestante a partir do 7º (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco.

A concessão da prisão domiciliar encontra amparo legal na proteção à maternidade e à infância, como
também na dignidade da pessoa humana, porquanto prioriza-se o bem-estar da menor, principalmente,
por estar em estágio avançado de gravidez.

Além disso, no caso concreto, a prisão preventiva decretada não atendeu aos requisitos do art. 312 do
CPP, especialmente no que diz respeito à indicação de elementos concretos que, ao momento da
decretação, fossem imediatamente incidentes a ponto de justificar a constrição.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Recurso ordinário e devolução da matéria veiculada


A questão referente à suposta incompetência da justiça estadual para processar e julgar o feito não pode
ser apreciada por essa Corte se a matéria não fora analisada pelo STJ, sob pena de supressão de instância.
Com base nessa orientação, a Primeira Turma deu parcial provimento a agravo regimental e determinou
que o STJ conheça e julgue, como entender de direito, se compete à Justiça estadual ou à Justiça federal
julgar o agravante. Na espécie, o paciente (vereador) fora denunciado, na companhia de outros acusados,
porque teriam se associado, em unidade de ações e desígnios, de forma estável e permanente, para o fim
de praticar diversos crimes, notadamente os delitos de fraude à licitação, superfaturamento de compras e
serviços pela prefeitura e pela câmara municipal. O STJ não conhecera da alegada incompetência absoluta
da Justiça estadual, uma vez que a matéria não fora suscitada no tribunal de justiça local. A Turma
asseverou que em recurso ordinário haveria devolução de toda e qualquer matéria ao órgão recursal (STJ),
a exigir a análise da matéria por aquela Corte.
RHC 125477/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, 9.6.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 8 a 12 de junho de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 881.502-RS


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO.
DEMORA DO PODER PÚBLICO EM PROCEDER ÀS AVALIAÇÕES DOS SERVIDORES. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS.
MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Possui natureza infraconstitucional a controvérsia relativa à pretensão de indenização por danos materiais decorrentes da demora do Poder Público
em proceder à avaliação dos servidores em atividade, para o fim de pagamento de gratificação de desempenho. 2. É cabível a atribuição dos efeitos da
declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando eventual ofensa à Carta Magna ocorra de
forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009). 3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos
termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 816.830-SC
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO AO SENAR. SUBSTITUIÇÃO DA BASE DE CÁLCULO.
FOLHA DE SALÁRIO. RECEITA BRUTA PROVENIENTE DA COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO. PRODUTOR RURAL PESSOA
FÍSICA. SEGURADO ESPECIAL. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 882.461-MG
RELATOR: MIN. LUIZ FUX

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. ISSQN. INCIDÊNCIA. INDUSTRIALIZAÇÃO POR ENCOMENDA. SUBITEM
14.5 DA LISTA ANEXA À LEI COMPLEMENTAR Nº 116/2003. MULTA FISCAL MORATÓRIA. LIMITES. VEDAÇÃO AO EFEITO
CONFISCATÓRIO. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. QUESTÕES RELEVANTES DOS PONTOS DE VISTA ECONÔMICO E JURÍDICO.
TRANSCENDÊNCIA DE INTERESSES. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
Decisões Publicadas: 3

CLIPPING DO D JE
8 a 12 de junho de 2015

AG. REG. NO Inq N. 3.847-GO


RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental. Inquérito. Arquivamento de ofício pelo colegiado. Admissibilidade (vencido o Relator que admite o
arquivamento até mesmo por decisão monocrática). Ausência de elementos informativos mínimos que autorizem sua instauração. Denúncia
anônima e notícias genéricas extraídas da internet que não descrevem nenhum fato concreto. Inexistência de base empírica idônea para a
abertura de investigação com relação ao detentor de prerrogativa de foro. Necessidade de controle de legalidade da persecução penal pelo
Poder Judiciário. Recurso não provido.
1. A titularidade da ação penal pública e a atribuição para requerer o arquivamento do inquérito policial (art. 28 do Código de Processo Penal) não
significam que todo e qualquer requerimento de instauração de inquérito formulado pela Procuradoria-Geral da República deva ser
incondicionalmente atendido pelo Supremo Tribunal Federal. 2. Ao Poder Judiciário, na sua precípua função de garantidor de direitos fundamentais,
cabe exercer rígido controle de legalidade da persecução penal. 3. Assim como se admite o trancamento de inquérito policial, por falta de justa causa,
diante da ausência de elementos indiciários mínimos demonstrativos da autoria e materialidade, há que se admitir – desde o seu nascedouro - seja
coarctada a instauração de procedimento investigativo, uma vez inexistentes base empírica idônea para tanto e indicação plausível do fato delituoso a
ser apurado. 4. Agravo regimental não provido.
*noticiado no Informativo 780
MS N. 24.379-DF
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Mandado de segurança. Competência do Tribunal de Contas da União. Inclusão dos impetrantes em processo de tomada de
contas especial. Responsabilidade solidária. Ressarcimento ao erário. Ilegalidade e abuso de poder não configurados. Denegação da
segurança.
1. Ao auxiliar o Congresso Nacional no exercício do controle externo, compete ao Tribunal de Contas da União a relevante missão de julgar as contas
dos administradores e dos demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e
sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que
resulte prejuízo ao erário (art. 71, II, da Constituição Federal).
2. Compete à Corte de Contas da União aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas
em lei, que estabelece, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao Erário (art. 71, VIII, da Constituição Federal).
3. Em decorrência da amplitude das competências fiscalizadoras da Corte de Contas, tem-se que não é a natureza do ente envolvido na relação que
permite, ou não, a incidência da fiscalização da Corte de Contas, mas sim a origem dos recursos envolvidos, conforme dispõe o art. 71, II, da
Constituição Federal. 4. Denegação da segurança.
*noticiado no Informativo 780
REFERENDO EM MED. CAUT. EM AC N. 3.562-MG
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO CAUTELAR. ABSTENÇÃO DE INSCRIÇÃO DE ESTADO-MEMBRO NO
CADPREV, NO CAUC E NO CADIN. SUSPENSÃO DOS REGISTROS DE INADIMPLÊNCIA. EMISSÃO DE CERTIFICADO DE
REGULARIDADE PREVIDENCIÁRIA. MEDIDA LIMINAR PARCIALMENTE DEFERIDA. REFERENDO.
1. O Supremo Tribunal Federal tem reconhecido conflito federativo em situações nas quais a União, valendo-se de registros de pretensas
inadimplências dos Estados no Sistema Integrado de Administração Financeira – SIAFI, impossibilita a emissão do Certificado de Regularidade
Previdenciária, o repasse de verbas federais e a celebração de convênios. 2. O registro da entidade federada, por alegada inadimplência, nesse
cadastro federal pode sujeitá-la a efeitos gravosos, com desdobramentos para a transferência de recursos. 3. Em cognição primária e precária, estão
presentes o sinal do bom direito e o perigo da demora. 4. Medida liminar referendada.
ACO N. 555-DF
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação civil originária. Distrito Federal. Servidora cedida para a União, com ônus para o órgão cessionário. Ausência de repasse
dos valores referentes às remunerações e demais encargos sociais. Procedência da ação.
1. Previsão expressa no ato da Presidência da Câmara Legislativa do Distrito Federal de que a cessão da servidora distrital à União se deu com ônus
para o órgão cessionário. Atuação do ente federativo pautada no art. 93, inciso I e parágrafo único, da Lei federal nº 8.112/90, cujas disposições se
aplicam aos servidores do Distrito Federal, por força do art. 5º da Lei distrital nº 197/91. 2. Não é condizente com a Constituição da República a
interpretação restritiva dada pela Administração Federal quanto à impossibilidade de custeio dos ônus remuneratórios da servidora cedida em face da
ausência de norma federal que previsse tal responsabilidade até o advento da Medida Provisória nº 1.573-9/97. 3. Sendo a cessão de servidores parte
do arco maior da cooperação federativa, caberia à União, como regra de isonomia, ressarcir os valores desembolsados pelo Distrito Federal com a
servidora cedida. 4. Ação julgada procedente.
MED. CAUT. EM ADI N. 4.552-DF
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 305 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO
PARÁ. PENSÃO VITALÍCIA PARA EX-GOVERNADORES.
1. No vigente ordenamento republicano e democrático brasileiro, os cargos políticos de chefia do Poder Executivo não são exercidos nem ocupados
‘em caráter permanente’, por serem os mandatos temporários e seus ocupantes, transitórios. 2. Ex-governador não é mais agente público, pelo que
não se poderia cogitar de vinculação de categoria remuneratória afeta à desembargador do Estado, do Tribunal de Justiça do Estado. A remissão ao
vencimento do governador em exercício ou, na espécie, de desembargador, para fixação do padrão de subsídio, patenteia estender-se o subsídio a

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


quem não mais trabalha no Estado e, por isso, não teria razão para ser remunerado, menos ainda em idêntica situação a quem está no cargo. 3. A
carência de parâmetro constitucional nacional e a inauguração de padrão normativo estadual em desacordo com os princípios da Constituição da
República, especialmente aqueles referentes às regras orçamentárias e aos princípios constitucionais da Administração Pública, evidenciam a
relevância jurídica da questão posta e os gravames jurídicos e sociais que a preservação dos efeitos da norma poderia acarretar. 4. Precedentes. 5.
Medida cautelar deferida para suspender a eficácia do art. 305, caput e § 1º, da Constituição do Estado do Pará, até julgamento de mérito da presente
ação.
*noticiado no Informativo 780
AG. REG. NA Rcl N. 19.998-SC
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. ARTIGO 71, § 1º, DA LEI 8.666/93.
CONSTITUCIONALIDADE. ADC 16. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DEVER DE FISCALIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA PÚBLICA. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A Administração tem o dever de fiscalizar o fiel cumprimento do contrato pelas empresas prestadoras de serviço, também no que diz respeito às
obrigações trabalhistas referentes aos empregados vinculados ao contrato celebrado, sob pena de atuar com culpa in eligendo ou in vigilando. 2. A
aplicação do artigo 71, § 1º, da Lei n. 8.666/93, declarado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADC 16, não exime a
entidade da Administração Pública do dever de observar os princípios constitucionais a ela referentes, entre os quais os da legalidade e da moralidade
administrativa. 3. A decisão que reconhece a responsabilidade do ente público com fulcro no contexto fático-probatório carreado aos autos não pode
ser alterada pelo manejo da reclamação constitucional. Precedentes: Rcl 11985-AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em
21/02/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-050 DIVULG 14-03-2013 PUBLIC 15-03-2013. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
HC N. 121.575-SP
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS CONTRA ATO DE MINISTRO DO STJ. ROUBO CIRCUNSTANCIADO, EXTORSÃO E CORRUPÇÃO DE
MENORES. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 691/STF.
1. A autoridade impetrada não incorreu em ilegalidade flagrante ou evidente abuso de poder, o que não autoriza a superação da Súmula 691/STF.
2. Habeas Corpus extinto sem resolução do mérito por inadequação da via processual, cassada a liminar deferida.
3. Ordem concedida de ofício, na linha do parecer do Ministério Público Federal, apenas para determinar que o Superior Tribunal de Justiça retome o
julgamento do mérito do HC 287.942.
AG. REG. NO ARE N. 835.583-ES
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental em recursos extraordinários com agravos. Matéria criminal. Primeiro agravo. Intempestividade. Não
observância do prazo de 5 (cinco) dias (art. 28 da Lei nº 8.038/90). Incidência da Súmula nº 699/STF, não obstante a superveniência da Lei nº
12.322/10. Precedentes. Segundo agravo. Ausência de impugnação de todos os fundamentos da decisão agravada. Precedentes. Regimental
não provido.
1. O primeiro agravo, interposto em face da decisão de inadmissibilidade de recurso extraordinário proferida pelo Tribunal de Justiça do Espírito
Santo, é intempestivo, já que o agravante não observou o prazo de 5 (cinco) dias para sua interposição, conforme estabelece o art. 28 da Lei nº
8.038/90, o qual não foi revogado, em matéria penal, pela Lei nº 8.950/94, de âmbito normativo restrito ao Código de Processo Civil. Incidência na
espécie do enunciado da Súmula nº 699/STF.
2. O Plenário da Corte, ao julgar o ARE nº 639.846/SP-AgR-QO, Relator para o acórdão o Ministro Luiz Fux, assentou, a teor das alterações
promovidas pela Lei nº 12.322/10, a aplicabilidade do prazo de 5 (cinco) dias (art. 28 da Lei nº 8.038/90) para a interposição de agravo contra decisão
em que não se admite recurso extraordinário que verse sobre matéria penal ou processual penal.
3. O segundo agravo deixou de impugnar todos os fundamentos da decisão agravada, o que atrai a incidência da Súmula nº 287/STF.
4. Agravo regimental não provido.
AG. REG. NO RE N. 880.451-MS
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Direito Administrativo. Licitação. Equilíbrio econômico-financeiro. 3. Acórdão recorrido
devidamente fundamentado. Precedente: AI-QO-RG 791.292. 4. Consentimento nas prorrogações e alteração de 25% do contrato. Necessidade de
revolvimento do acervo fático-probatório, da legislação infraconstitucional e das cláusulas editalícias. Súmulas 279 e 454. 5. Ausência de argumentos
suficientes a infirmar a decisão recorrida. 6. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO AG. REG. NO ARE N. 831.561-BA
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR. CORPO DE BOMBEIROS. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. GRAU DE
RISCO DE EXPOSIÇÃO. PERCENTUAL. AVALIAÇÃO QUALITATIVA. ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL DO DEBATE. EVENTUAL
VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ACÓRDÃO
RECORRIDO PUBLICADO EM 05.10.2011.
Divergir do entendimento do Tribunal a quo acerca do percentual a ser aplicado ao adicional de insalubridade em função do grau de risco no exercício
das atividades que os policiais militares do Corpo de Bombeiros estão expostos exigiria a reelaboração da moldura fática delineada no acórdão
recorrido e análise de normas infraconstitucionais aplicáveis à espécie – Norma Regulamentadora nº 15 do Ministério do Trabalho e Lei Estadual nº
4.794/1988 -, o que refoge à competência jurisdicional extraordinária, prevista no art. 102 da Constituição Federal. Precedentes.
As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
Agravo regimental conhecido e não provido.

EMB. DECL. NOS SEGUNDOS EMB. DECL. NO AG. REG. NO AI N. 760.304-SP


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO PENAL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS EM EMBARGOS DECLARATÓRIOS EM AGRAVO REGIMENTAL EM
RECURSO EXTRAORDINÁRIO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. SUCESSIVIDADE DE EMBARGOS QUE BUSCAM A REDISCUSSÃO
DA CAUSA. IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DOS VÍCIOS RELACIONADOS NO ART. 619 DO CPP. REITERAÇÃO DE ALEGAÇÕES
EXPENDIDAS. PRETENSÃO DE CARÁTER INFRINGENTE.
1. As questões trazidas nesses embargos declaratórios já foram analisadas no julgamento do agravo regimental. A via recursal adotada não se mostra
adequada para a renovação de julgamento que se efetivou regularmente. 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que
os segundos embargos declaratórios só podem ser admitidos quando o vício a ser sanado tenha surgido pela primeira vez no julgamento dos

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


anteriores. Precedentes. 3. Embargos de declaração não conhecidos. 4. No caso, a reiteração dos embargos declaratórios mal disfarça a natureza
abusiva do recurso, o que autoriza a execução imediata da decisão, independentemente de sua publicação. Precedentes
AG. REG. NO ARE N. 791.625-AP
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Hipótese de dispensa de licitação. Convocação, pelo administrador, de diversas
empresas para apresentar propostas de preços. Negociação individual com apenas uma das participantes. Contratação por valor superior àquele
apresentado pela impetrante. Ofensa ao art. 24 da Lei 8.666/93. Matéria infraconstitucional. Fatos e provas. Súmula 279. 3. Competência da Justiça
Federal. Art. 109, I, CF. Não configuração. Mera alegação de interesse da União não desloca julgamento para Justiça Federal. 4. Não viola o
princípio da separação de poderes o exame da legalidade dos atos administrativos pelo Poder Judiciário. 5. Agravo regimental a que se nega
provimento.
AG. REG. NO AI N. 810.740-MG
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no agravo de instrumento. Ausência de fundamentação. Inexistência. Prequestionamento. Ausência.
Contribuição social. Majoração de alíquota. Medida Provisória nº 1.523/96. Lei nº 9.528/97. Cláusula de convalidação. Possibilidade.
Anterioridade nonagesimal. Termo inicial. Primeira edição. Precedentes.
1. Não procede a alegada violação do art. 93, inciso IX, da Constituição Federal, haja vista que a jurisdição foi prestada, no caso, mediante decisões
suficientemente motivadas, não obstante contrárias à pretensão da parte recorrente. 2. Não se admite o recurso extraordinário quando o dispositivo
constitucional que nele se alega violado não está devidamente prequestionado. Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF. 3. A Lei nº 9.528/97
convalidou os atos praticados com base na Medida Provisória nº 1.523/96, fazendo tal cláusula as vezes de decreto legislativo (AI nº 857.374/MG-
AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Marco Aurélio, DJe de 18/12/13). 4. O termo inicial para o cômputo da anterioridade nonagesimal é a
edição da primeira medida provisória que majora a contribuição social, no caso de reedições. Precedentes. 5. Agravo regimental não provido.
AG. REG. NO ARE N. 866.435-RJ
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
LEI – INICIATIVA – CONCURSO PÚBLICO – PRECEDENTE DO PLENÁRIO. Norma que dispõe sobre condição para se chegar à investidura no
cargo, por tratar de momento anterior ao da caracterização do candidato como servidor público, não é de iniciativa privativa do Chefe do Poder
Executivo – Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.672/ES. RECURSO EXTRAORDINÁRIO – PREQUESTIONAMENTO –
CONFIGURAÇÃO – RAZÃO DE SER. O prequestionamento não resulta da circunstância de a matéria haver sido arguida pela parte recorrente. A
configuração do instituto pressupõe debate e decisão prévios pelo Colegiado, ou seja, emissão de juízo sobre o tema. O procedimento tem como
escopo o cotejo indispensável a que se diga do enquadramento do recurso extraordinário no permissivo constitucional. Se o Tribunal de origem não
adotou tese explícita a respeito do fato jurígeno veiculado nas razões recursais, inviabilizado fica o entendimento sobre a violência ao preceito
evocado pelo recorrente.
AG. REG. NO RE N. 836.530-SP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO
PÚBLICO. LEGITIMIDADE. PRECEDENTES. RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO. DANO MORAL COLETIVO.
REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO CARREADO AOS AUTOS. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº
279/STF. PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL REJEITADA PELO
PLENÁRIO DO STF NO ARE 748.371-RG. CONTROVÉRSIA INFRACONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
AG. REG. NO ARE N. 871.462-SP
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Reexame de fatos e provas. Incidência do Enunciado 279 da Súmula/STF. 3. Alegação
de ofensa ao inciso IX do art. 93 da Constituição Federal. Inexistência. Precedente. AI-QO-RG 791.292, Tema 339. 4. Princípio da legalidade. 5.
Incidência do Enunciado 636 da Súmula do STF. 6. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. 7. Agravo regimental a que se
nega provimento.
EMB. DECL. NO ARE N. 748.309-RN
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. CONSELHOS PROFISSIONAIS. CUSTAS PROCESSUAIS. ISENÇÃO. INEXISTÊNCIA. ART. 4º,
PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 9.289/1996.
1. Apesar de ostentarem a natureza de autarquia, os Conselhos Profissionais estão excluídos da isenção do pagamento de custas. É o que estabelece o
parágrafo único do art. 4º da Lei 9.289/1996.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
Acórdãos Publicados: 426

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Ação civil pública em face de prefeito e atribuição ministerial (Transcrições)


(v. Informativo 788)
ARE 706.288-AgR/MS*
RELATOR: Ministro Dias Toffoli

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Direito constitucional e administrativo. Artigo 30, inciso X,
da Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (LC nº 72/94). Competência privativa do Procurador-Geral de Justiça
para ajuizamento de ação civil pública contra prefeito municipal. ADI nº 1.916/MS. Competência para propositura de ação civil pública.
Delegação. Possibilidade.
1. O Supremo Tribunal Federal ao examinar o mérito da ADI nº 1.916/MS julgou improcedente a ação que objetivava a declaração
de inconstitucionalidade do art. 30, inciso X, da Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (LC nº 72/94), que
prevê a competência privativa do procurador-geral de justiça para a propositura de ação civil pública contra as autoridades elencadas no
mencionado dispositivo, dentre as quais os prefeitos municipais, restando cassada a liminar anteriormente concedida, que havia suspendido a
eficácia do dispositivo.
2. No referido julgamento não restou proibida a delegação de tal atribuição a outros membros do Ministério Público, até porque se
destacou que “a legitimação para propositura da ação civil pública - nos termos do artigo 129, inciso III, da Constituição do Brasil - é do
Ministério Público, instituição una e indivisível”.
3. Existente nos autos a portaria de delegação, não há falar que o ora agravante, prefeito municipal à época da propositura da ação
civil pública intentada enquanto vigia a medida cautelar na referida ADI, tenha sido processado por autoridade incompetente, no caso,
promotor de justiça.
4. Nego provimento ao agravo regimental.
RELATÓRIO: *** interpõe tempestivo agravo regimental contra decisão em que conheci de agravo para negar provimento ao recurso
extraordinário, com a seguinte fundamentação:
“Vistos.
*** interpõe recurso extraordinário contra acórdão proferido pela Terceira Turma Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Mato
Grosso do Sul, assim ementado:
‘APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – PRELIMINARES – INCOMPETÊNCIA E INTERESSE DE AGIR –
MATÉRIAS APRECIADAS EM SEDE DE AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO SANEADORA – PRECLUSÃO.
Cuidando-se de preliminares que já foram objeto de apreciação em sede de agravo de instrumento, não cabe ao juízo ou
tribunal rever as matérias nelas suscitadas, sob pena de afronta à segurança jurídica.
APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – PRELIMINAR – CERCEAMENTO DE DEFESA – NÃO OCORRÊNCIA –
MÉRITO – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – PUBLICAÇÃO EM MATÉRIA ENCOMENDADA – SETOR DE SAÚDE DO
MUNICÍPIO – ÊNFASE PARA A PESSOA FÍSICA DO PREFEITO – PRINCÍPIOS DA IMPESSOALIDADE E DA MORALIDADE
AFRONTADOS – SENTENÇA MANTIDA – RECURSO NÃO PROVIDO.
Não ocorre cerceamento de defesa em caso de improbidade administrativa, quando a prova documental pré-constituída é
suficiente para demonstrar, por si só, a existência do fato e seu autor.
As publicações e propagandas oficiais, deve se revestir dos critérios de moralidade e impessoalidade. Verificando-se que o
prefeito, com dinheiro público, financiou propaganda de auto-promoção em face das obras realizadas na sua administração, deve ele
ser condenado à restituição dos valores saídos dos cofres públicos e à multa pertinente’.
Opostos embargos de declaração, foram rejeitados.
Insurge-se, no apelo extremo, fundado na alínea ‘a’ do permissivo constitucional, contra alegada contrariedade aos artigos 5º, incisos
II e LIII e 102, § 2º, da Constituição Federal.
O recurso especial paralelamente interposto já foi definitivamente rejeitado pelo Superior Tribunal de Justiça.
O parecer da douta Procuradoria-Geral da República é pelo não conhecimento ou desprovimento do recurso.
Decido.
Anote-se, inicialmente, que o recurso extraordinário foi interposto contra acórdão publicado após 3/5/07, quando já era plenamente
exigível a demonstração da repercussão geral da matéria constitucional objeto do recurso, conforme decidido na Questão de Ordem no
Agravo de Instrumento nº 664.567/RS, Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 6/9/07.
Todavia, apesar da petição recursal haver trazido a preliminar sobre o tema, não é de se proceder ao exame de sua existência, uma vez
que, nos termos do artigo 323 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, com a redação introduzida pela Emenda Regimental nº
21/07, primeira parte, o procedimento acerca da existência da repercussão geral somente ocorrerá ‘quando não for o caso de
inadmissibilidade do recurso por outra razão’.
A irresignação não merece prosperar.
Cinge-se a controvérsia em disputa nestes autos em determinar se poderia prosperar ação civil pública ajuizada por Promotor de
Justiça contra Prefeito Municipal, intentada quando vigia medida cautelar implementada nos autos da ADI nº 1.916/MS, a qual, afinal, foi
julgada improcedente, cassada a referida medida.
Tal ação teve por objeto questionar a norma do artigo 30, inciso X, da Lei Complementar Estadual nº 72 (Lei Orgânica do Ministério
Público do Estado do Mato Grosso do Sul), que atribuía exclusividade ao Procurador-Geral de Justiça daquele Estado, para ajuizar ações
como a presente.
Contudo, o que restou então decidido foi que não seria inconstitucional a atribuição, ao chefe do Ministério Público local, da
competência privativa para o ajuizamento de ação civil pública contra Prefeitos Municipais; contudo, em nenhum momento restou proibida a
delegação de tal atribuição a outros membros da instituição, até porque, conforme constou expressamente da ementa daquele julgado, ‘a
legitimação para propositura da ação civil pública - nos termos do artigo 129, inciso III, da Constituição do Brasil - é do Ministério Público,
instituição una e indivisível’.
Aliás, a própria Lei Orgânica em questão permitia essa delegação de poderes, pois o inciso XIII do mesmo artigo elenca, dentre as
atribuições do Procurador-Geral de Justiça, delegar as funções que a lei lhe comina, a outro órgão de execução.
E isso efetivamente ocorreu, no presente caso, conforme demonstrado nos autos, a afastar a alegação de que o recorrente tivesse sido
processado por autoridade incompetente.
Via de consequência, tampouco há que se falar na incompetência do Juízo de Primeiro Grau para o processamento originário da
demanda, matéria essa igualmente já pacificada na jurisprudência desta Corte, conforme precedentes que se seguem:
‘PROTESTO JUDICIAL FORMULADO CONTRA MINISTRO DE ESTADO - MEDIDA DESTITUÍDA DE CARÁTER PENAL
(CPC, ART. 867) - AUSÊNCIA DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - RECURSO DE AGRAVO
IMPROVIDO. A PRERROGATIVA DE FORO - UNICAMENTE INVOCÁVEL NOS PROCEDIMENTOS DE CARÁTER PENAL - NÃO
SE ESTENDE ÀS CAUSAS DE NATUREZA CIVIL. - As medidas cautelares a que se refere o art. 867 do Código de Processo Civil
(protesto, notificação ou interpelação), quando promovidas contra Ministro de Estado, não se incluem na esfera de competência
originária do Supremo Tribunal Federal, precisamente porque destituídas de caráter penal. Precedentes. A COMPETÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - CUJOS FUNDAMENTOS REPOUSAM NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - SUBMETE-SE A

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


REGIME DE DIREITO ESTRITO. - A competência originária do Supremo Tribunal Federal, por qualificar-se como um complexo de
atribuições jurisdicionais de extração essencialmente constitucional - e ante o regime de direito estrito a que se acha submetida - não
comporta a possibilidade de ser estendida a situações que extravasem os limites fixados, em ‘numerus clausus’, pelo rol exaustivo
inscrito no art. 102, I, da Constituição da República. Precedentes. O regime de direito estrito, a que se submete a definição dessa
competência institucional, tem levado o Supremo Tribunal Federal, por efeito da taxatividade do rol constante da Carta Política, a
afastar, do âmbito de suas atribuições jurisdicionais originárias, o processo e o julgamento de causas de natureza civil que não se
acham inscritas no texto constitucional (ações populares, ações civis públicas, ações cautelares, ações ordinárias, ações declaratórias
e medidas cautelares), mesmo que instauradas contra o Presidente da República ou contra qualquer das autoridades que, em matéria
penal (CF, art. 102, I, ‘b’ e ‘c’), dispõem de prerrogativa de foro perante a Corte Suprema ou que, em sede de mandado de segurança,
estão sujeitas à jurisdição imediata do Tribunal (CF, art. 102, I, ‘d’). Precedentes. AÇÃO CIVIL POR IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA - COMPETÊNCIA DE MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU, QUER SE CUIDE DE OCUPANTE DE CARGO
PÚBLICO, QUER SE TRATE DE TITULAR DE MANDATO ELETIVO AINDA NO EXERCÍCIO DAS RESPECTIVAS FUNÇÕES. - O
Supremo Tribunal Federal tem advertido que, tratando-se de ação civil por improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92), mostra-se
irrelevante, para efeito de definição da competência originária dos Tribunais, que se cuide de ocupante de cargo público ou de titular
de mandato eletivo ainda no exercício das respectivas funções, pois a ação civil em questão deverá ser ajuizada perante magistrado de
primeiro grau’ (Pet. nº 4.089-AgR/DF, Relator o Ministro Celso Mello, Tribunal Pleno, DJe de 1/2/13).
‘AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. RECURSO CONTRA DECISÃO
MONOCRÁTICA. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE. 1. A Lei n. 8.429/1992
não contraria o art. 65, parágrafo único, da Constituição da República. Precedente do Plenário. 2. Ausência de prequestionamento do
art. 129, inc. IX, da Constituição. Súmulas n. 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal. 3. Necessidade de reexame de fatos e provas e
análise de dispositivos infraconstitucionais. Ofensa constitucional indireta. 3. Inexistência de prerrogativa de foro em ação de
improbidade. 4. Agravo regimental ao qual se nega provimento’ (RE nº 540.712-AgR-AgR/SP, Relatora a Ministra Cármen Lúcia,
Segunda Turma, DJe de 13/12/12).
Não padece, portanto, o acórdão regional, das alegadas violações constitucionais que lhe foram imputadas.
Ante o exposto, conheço do agravo para negar provimento ao recurso extraordinário.
Publique-se.”
Insiste o agravante na alegação de que teria sido violado o § 2º do art. 102 da Constituição Federal.
Alega que teria sido processado por autoridade incompetente, no caso, promotor de justiça, uma vez que esta Corte, ao julgar o mérito da ADI
nº 1.916, teria concluído não haver inconstitucionalidade no art. 30, inciso X, da Lei Complementar nº 72/94 do Estado de Mato Grosso do sul, que
prevê a competência exclusiva do procurador-geral de justiça para promover a ação civil pública contra prefeito municipal.
Aduz, in verbis, que
“(...) a r. decisão agravada entendeu que, não obstante o julgamento da ADI nº 1.916/MS, que foi julgada improcedente e cassada a
liminar que permitia aos Promotores de Justiça locais o ajuizamento de ações civis públicas contra Prefeitos, a própria Lei Complementar
Estadual nº 72 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul) permitia que o Procurador-Geral de Justiça delegasse
tais atribuições a outros membros da instituição.
(...)
Quando o representante do Ministério Público Estadual aforou a presente ação, em 19/06/2007, o agravante era Prefeito Municipal de
Paranaíba-MS. A ação foi fundada, conforme se vê da inicial, nos artigos 25 e seguintes, da Lei Federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional
do Ministério Público), além dos artigos 127 e 129, da CF, Lei 8.429/92 e Lei 7.347/85.
Na época, já tramitava a Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI nº 1916 – perante este E. Supremo Tribunal Federal, mas tal
ação ainda não havia sido julgada, e estava com liminar deferida pelo STF, estando permitido que Promotores de Justiça intentassem ações
civis públicas contra algumas autoridades, dentre elas o Prefeito.
Não se discute que o Procurador-Geral de Justiça pode delegar a atribuição de ajuizar ação civil pública a outro membro da
instituição, dentre eles o Promotor de Justiça.
Na época estava em vigor à liminar deferida na referida ADIN que suspendia, até decisão final, com eficácia ‘ex nunc’, a execução e a
aplicabilidade da expressão ‘e a ação civil pública’, contida no inciso X, do art. 30, da LC nº 72/94.
Promotores de Justiça de primeira instância poderiam naturalmente ajuizar ações civis públicas contra inúmeras autoridades
políticas, dentre elas os Prefeitos, como foi o caso da presente ação, por conta da liminar que estava em vigor.
Apesar de permitida a delegação [pela LC nº 72/94], esta não foi feita à época do ajuizamento da ação civil pública, sendo feita
apenas posteriormente, através da Portaria nº 772/2010, de 7 de junho de 2010, ou seja, 3 (três) anos após o ajuizamento da ação civil
pública. Ainda que amparada por uma liminar em ADIN, deveria se ter a cautela de analisar os casos, caso a Ação Direta de
Inconstitucionalidade fosse julgada improcedente, como foi.
(...)
[A] Portaria expedida pelo Procurador-Geral de Justiça no ano de 2010 não pode retroagir à data do ajuizamento da ação, que foi em
2007. Isso fere a segurança jurídica (…).
Deveria o Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul prever que a ADI nº 1.916/MS poderia ser julgada procedente ou
improcedente. Se procedente, todos os atos seriam ratificados. Se improcedente, deveria se pautar na cautela de, naquele momento
(ajuizamento da ação ou ajuizamento da própria ADI), expedir uma norma delegando os poderes de competência exclusiva e privada do
Procurador-Geral de Justiça aos Promotores.
Entretanto, tal delegação somente foi feita após o julgamento da ADI nº 1.916/MS.”
É o relatório.
VOTO: O inconformismo não merece prosperar.
Esta Corte, em 11/2/99, deferiu pedido de medida cautelar na ADI nº 1.916/MS, Relator o Ministro Nelson Jobim, DJ de 26/10/01, para
suspender, até a decisão final da ação, com eficácia ex nunc, a execução e a aplicabilidade da expressão “e a ação civil pública”, contida no art. 30,
inciso X, da Lei Orgânica do Ministério Público do Mato Grosso do Sul (LC nº 72/94).
É este o teor do mencionado dispositivo:
“Art. 30. Além das atribuições previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público e em
outras leis, compete ao Procurador-Geral de Justiça:
X – promover o inquérito civil e a ação civil pública para a defesa do patrimônio público e social, bem como da probidade e
legalidade administrativas, quando a responsabilidade for decorrente de ato praticado, em razão de suas funções, por:

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


a) Secretário de Estado;
b) Membro de Diretoria ou do Conselho de Administração de entidade da Administração Indireta do Estado;
c) Deputado Estadual;
d) Prefeito Municipal;
e) Membro do Ministério Público;
f) Membro do Poder Judiciário.”
Ao julgar o mérito da referida ADI, em 14/4/10, o Tribunal Pleno, por maioria, julgou improcedente a ação, cassando a liminar anteriormente
concedida. Desse modo, o art. 30, inciso X, da Lei Complementar estadual nº 72/94 voltou a ter sua eficácia assegurada.
Eis a ementa do referido julgado, cujo acórdão foi publicado em 18/6/10:
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 30, INCISO X, DA LEI ORGÂNICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL - LC 72/94. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA PARA A PROPOSITURA.
PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA. AUSÊNCIA DE MATÉRIA DE CARÁTER PROCESSUAL. ORGANIZAÇÃO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO LOCAL. ARTIGO 128, § 5º, E ARTIGO 129, INCISO III, AMBOS DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. OFENSA NÃO
CARACTERIZADA. AÇÃO DIRETA JULGADA IMPROCEDENTE.
1. Competência exclusiva do Procurador-Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul para propor a ação civil pública contra
autoridades estaduais específicas.
2. A legitimação para propositura da ação civil pública - nos termos do artigo 129, inciso III, da Constituição do Brasil - é do
Ministério Público, instituição una e indivisível.
3. O disposto no artigo 30, inciso X, da LC 72/94, estabelece quem, entre os integrantes daquela instituição, conduzirá o inquérito civil
e a ação civil pública quando a responsabilidade for decorrente de ato praticado, em razão de suas funções, por determinadas autoridades
estaduais.
4. A Lei Complementar objeto desta ação não configura usurpação da competência legislativa da União ao definir as atribuições do
Procurador-Geral. Não se trata de matéria processual. A questão é atinente às atribuições do Ministério Público local, o que, na forma do
artigo 128, § 5º, da CB/88, é da competência dos Estados-membros.
5. A Lei Complementar n. 72, do Estado de Mato Grosso do Sul, não extrapolou os limites de sua competência.
Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente. Cassada a liminar anteriormente concedida” (Relator o Ministro Eros
Grau).
O que restou decidido no referido julgamento foi que Lei Complementar estadual nº 72/94, por não cuidar de matéria processual, não teria
extrapolado os limites de sua competência, desse modo, não seria inconstitucional a atribuição de competência privativa, ao chefe do Ministério
Público local, para o ajuizamento de ação civil pública contra as autoridades elencadas no art. 30, inciso X, do referido diploma normativo, dentre as
quais os prefeitos municipais.
Ressalte-se, entretanto, que, em nenhum momento, foi proibida a delegação de tal atribuição a outros membros da instituição, até porque, na
ocasião destacou-se que “a legitimação para propositura da ação civil pública - nos termos do artigo 129, inciso III, da Constituição do Brasil - é do
Ministério Público, instituição una e indivisível.”
A própria Lei Orgânica em comento permitia essa delegação de poderes, pois o inciso XIII do mesmo artigo elenca, dentre as atribuições do
Procurador-Geral de Justiça, delegar as funções que a lei lhe comina, a outro órgão de execução. E isso efetivamente ocorreu no presente caso,
conforme demonstrado nos autos.
De fato, colhe-se da Portaria nº 772/10 de 7/6/10, constante dos autos, o seguinte:
“Delega atribuição aos membros do Ministério Público de 1ª Instância para atuarem nos feitos de atribuição originária do
Procurador-Geral de Justiça, constante do artigo 30, inciso X, da Lei Complementar Estadual nº 72, de 18.1.1994.
O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, no uso das atribuições que lhe são conferidas
pelo artigo 30, inciso XIII, da Lei Complementar nº 72, de 18.1.1994, e artigo 29, inciso IX, da Lei nº 8.625, de 12.2.1993 (…)
Art. 1º Delegar as suas atribuições ao membro do Ministério Público que atua perante o respectivo Juízo de 1º Grau, para promover o
inquérito civil e a ação civil pública para a defesa do patrimônio público e social, bem como da probidade e legalidade administrativas,
quando a responsabilidade for decorrente de ato praticado, em razão de suas funções, por Secretário de Estado, Membro de Diretoria ou
Conselho de Administração de entidade da Administração Indireta do Estado, Deputado Estadual, Prefeito Municipal, Membro do Ministério
Público e Membro do Poder Judiciário.
§ 1º A delegação recairá no membro do Ministério Público que na comarca respectiva possuir atribuição especificamente relacionada
com a matéria de que trata o caput.
Art. 2º A delegação de atribuições abrange os inquéritos civis e demais procedimentos administrativos em trâmite, bem como as ações
civis públicas deles decorrentes, e ainda as ações civis públicas em andamento.”
Destarte é de ser afastada a alegação de que o ora agravante, prefeito municipal à época da propositura da ação civil pública intentada por
promotor de justiça, tenha sido processado por autoridade incompetente.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.
*acórdão pendente de publicação
** nome suprimido pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
8 a 12 de junho de 2015

Lei nº 13.132, de 9.6.2015 - Altera a Lei no 12.096, de 24.11.2009. Publicada no DOU, n. 108, Seção 1, p.1, em
10.6.2015.

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


OUTRAS INFORMAÇÕES
8 a 12 de junho de 2015

Decreto nº 8.463, de 5.6.2015 - Regulamenta as medidas tributárias referentes à realização, no Brasil, dos Jogos
Olímpicos de 2016 e dos Jogos Paraolímpicos de 2016 de que trata a Lei nº 12.780, de 9.1.2013, e altera o Decreto nº
7.578, de 11.10.2011, que regulamenta as medidas tributárias referentes à realização, no Brasil, da Copa das
Confederações FIFA 2013 e da Copa do Mundo FIFA 2014 de que trata a Lei nº 12.350, de 20.12.2010, e dá outras
providências. Publicado no DOU, n. 106, Seção 1, p.1, em 8.6.2015.
ARBITRAGEM - Agência Reguladora - Critério - Litígio - Resolução - Porto
Decreto nº 8.465, de 8.6.2015 - Regulamenta o § 1º do art. 62 da Lei nº 12.815, de 5.6.2013, para dispor sobre os
critérios de arbitragem para dirimir litígios no âmbito do setor portuário. Publicado no DOU, n. 107, Seção 1, p.2, em
9.6.2015.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) - Prazo Processual - Suspensão - Secretaria - Horário de


funcionamento - Expediente forense
Portaria nº 117, de 9.6.2015 - Comunica que durante o período de 2 a 31.7.2015 os prazos processuais ficarão
suspensos e o expediente na Secretaria do Tribunal será das 13 às 18 horas. Publicada no DJE/STF, n. 111, p. 127, em
11.6.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 789-STF (18/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


Márcio André Lopes Cavalcante

Processo excluído deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: Rcl
18165 AgR/RR.

ÍNDICE
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
 Não cabimento de decisão monocrática do relator.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


 ACP proposta contra Prefeito e previsão na lei estadual de que tal atribuição é privativa do PGJ.

DIREITO PENAL
PRESCRIÇÃO
 Não se admite a denominada prescrição em perspectiva.

CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS


 Delito do inciso I do DL 201/67

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Não cabimento de decisão monocrática do relator

O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto após decisão monocrática


proferida pelo relator, haja vista não esgotada a prestação jurisdicional pelo tribunal de
origem. Aplica-se, no caso, o enunciado 281 do STF:
Súmula 281-STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na justiça de
origem, recurso ordinário da decisão impugnada.
STF. 2ª Turma. ARE 868922/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

Imagine a seguinte situação:


O juiz do Juizado Especial proferiu uma sentença.
Contra as sentenças do juiz no rito do juizado especial cabe recurso inominado (art. 41 da Lei n.
9.099/95), que é julgado pela Turma Recursal (colegiado composto por três juízes).
Em nosso exemplo, a parte sucumbente interpôs recurso inominado, mas a Turma Recursal julgou
improvido o recurso, mantendo a sentença.
Contra o acórdão da Turma, a parte opôs embargos de declaração, mas o Relator do processo não
conheceu dos embargos por meio de decisão monocrática, ou seja, ele sozinho decidiu que não era caso
de embargos (não levou os embargos para serem julgados pela Turma).
Contra a decisão monocrática do relator, a parte interpôs recurso extraordinário.

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


Cabe recurso extraordinário contra acórdão da Turma Recursal?
SIM. Súmula 640-STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau
nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.

Em nosso exemplo, cabia recurso extraordinário?


NÃO. Isso porque a decisão que não conheceu dos embargos de declaração foi monocrática, ou seja,
praticada apenas pelo relator. Não foi um acórdão da Turma Recursal.

O que a parte prejudicada deveria ter feito?


A parte deveria ter interposto agravo regimental (agravo interno) contra a decisão monocrática do Relator.
Este agravo seria julgado pelo colegiado (Turma Recursal). Se a Turma mantivesse a decisão monocrática,
aí sim, caberia recurso extraordinário.
Como a parte não fez isso, o recurso extraordinário interposto não pode ser conhecido. O STF aplicou ao
caso o entendimento exposto no enunciado 281, que tem a seguinte redação:
Súmula 281-STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na justiça de origem, recurso
ordinário da decisão impugnada.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


ACP proposta contra Prefeito e previsão na lei estadual de que tal atribuição é privativa do PGJ

É constitucional lei complementar estadual que afirme que somente o Procurador-Geral de


Justiça poderá ajuizar ação civil pública contra Secretários de Estado, Deputados Estaduais,
Prefeitos, membros do MP ou membros da Magistratura (STF. Plenário. ADI 1916, Rel. Min.
Eros Grau, julgado em 14/04/2010).
O PGJ poderá, no entanto, delegar essa atribuição para Promotores de Justiça, sendo, neste
caso, legítima a ACP proposta contra tais autoridades, ainda que por Promotor de Justiça.
STF. 2ª Turma. ARE 706288 AgR/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

Lei Orgânica do MP/MS


A Lei Complementar estadual n. 72/94 (Lei Orgânica do MP/MS) prevê que somente o Procurador-Geral
de Justiça poderá ajuizar ação civil pública contra Secretários de Estado, Deputados Estaduais, Prefeitos,
membros do MP ou membros da Magistratura.

Essa previsão é constitucional?


SIM. O STF decidiu que essa previsão é compatível com a CF/88, não havendo nenhuma
inconstitucionalidade. Confira a ementa:
(...) 1. Competência exclusiva do Procurador-Geral de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul para propor
a ação civil pública contra autoridades estaduais específicas.
2. A legitimação para propositura da ação civil pública --- nos termos do artigo 129, inciso III, da
Constituição do Brasil --- é do Ministério Público, instituição una e indivisível.
3. O disposto no artigo 30, inciso X, da LC 72/94, estabelece quem, entre os integrantes daquela
instituição, conduzirá o inquérito civil e a ação civil pública quando a responsabilidade for decorrente de
ato praticado, em razão de suas funções, por determinadas autoridades estaduais.
4. A Lei Complementar objeto desta ação não configura usurpação da competência legislativa da União ao
definir as atribuições do Procurador-Geral. Não se trata de matéria processual. A questão é atinente às
atribuições do Ministério Público local, o que, na forma do artigo 128, § 5º, da CB/88, é da competência
dos Estados-membros.

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


5. A Lei Complementar n. 72, do Estado de Mato Grosso do Sul, não extrapolou os limites de sua
competência. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente. Cassada a liminar
anteriormente concedida.
STF. Plenário. ADI 1916, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 14/04/2010.

Imagine agora a seguinte situação hipotética:


Houve notícia de que Prefeito de uma cidade do interior do Mato Grosso do Sul estava praticando
ilegalidades na aplicação das verbas destinadas à saúde da população local.
Diante disso, o Procurador-Geral de Justiça do Estado do MS editou uma portaria delegando poderes para
que o Promotor de Justiça que atuava na comarca instaurasse inquérito civil e ajuizasse ação civil pública
em relação a esses fatos.
Alguns meses depois, o Promotor de Justiça manejou ACP contra o Prefeito e este, em sua defesa, alegou
que estava sendo processado por autoridade incompetente e que a ação seria ilegal porque violaria a
legitimidade prevista na LC estadual 72/94.

A tese da defesa deverá ser acolhida?


NÃO. O STF decidiu que a ação seria legal porque é permitido que o Procurador-Geral de Justiça faça
delegação de atribuições a outros membros da instituição, dentre elas a de propor ACP.
Vale ressaltar que existe regra expressa na Lei Orgânica do Ministério Público estadual a permitir essa
delegação de poderes utilizada como fundamento para a edição de portaria voltada para esse fim.

DIREITO PENAL

PRESCRIÇÃO
Não se admite a denominada prescrição em perspectiva

A prescrição virtual ocorre quando o juiz, verificando que já se passaram muitos anos desde o
dia em que o prazo prescricional começou ou voltou a correr, entende que mesmo que o
inquérito ou processo continue, ele não terá utilidade porque muito provavelmente haverá a
prescrição pela pena em concreto.
Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se ele fosse condenado e, a
partir daí, examina se, entre os marcos interruptivos presentes no processo, já se passaram
mais anos do que o permitido pela lei.
A prescrição virtual é também chamada de prescrição em perspectiva , por prognose ,
projetada ou antecipada .
O STF e o STJ afirmam que é inadmissível a prescrição virtual por dois motivos principais: a)
em virtude da ausência de previsão legal; b) porque representaria uma afronta ao princípio da
presunção de não-culpabilidade.
O STJ tem, inclusive, um enunciado proibindo expressamente a prática (Súmula 438-STJ).
STF. 1ª Turma. Inq 3574 AgR/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

O que é a chamada prescrição virtual?


Ocorre quando o juiz, verificando que já se passaram muitos anos desde o dia em que o prazo
prescricional começou ou voltou a correr, entende que mesmo que o inquérito ou processo continue, ele
não terá utilidade porque muito provavelmente haverá a prescrição pela pena em concreto.
Para isso, o juiz analisa a possível pena que aplicaria para o réu se ele fosse condenado e, a partir daí,
examina se, entre os marcos interruptivos presentes no processo, já se passaram mais anos do que o
permitido pela lei.

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Exemplo:
João foi denunciado por furto simples, tendo a denúncia sido recebida em 2010 (marco interruptivo da
prescrição). A pena para o furto simples vai de 1 a 4 anos (art. 155 do CP).
O juiz novo chega na vara em 2015 e verifica que até agora o processo de João praticamente não evoluiu.
Nem se marcou ainda a audiência de instrução.
Diante disso, ele pensa:
 Se João for condenado a 1 ano, a prescrição pela pena em concreto será em 4 anos (art. 109, V do CP).
Já se passaram mais de 3 anos desde o último dia da interrupção da prescrição. Isso significa que a
instrução e a sentença condenatória não servirão para nada à j à ue, mesmo condenado, o crime
estará prescrito.
 Se João for condenado a 2 anos, será a mesma situação acima porque a prescrição pela pena em
concreto será em 4 anos (art. 109, V do CP) e já se passaram mais de 5 anos desde o recebimento da
denúncia.
 Logo, para que o crime não esteja prescrito, é necessário que a pena imposta a João seja superior a 2
anos, porque aí a prescrição subiria para 8 anos (art. 109, IV, do CP).
 Ocorre que, na visão do juiz, não existem circunstâncias judiciais nem agravantes nem causas de
aumento. Logo, não há motivos para que a pena de João (se ele for condenado) saia do mínimo legal
(1 ano). Mesmo que seja maior que o mínimo, não existem razões para que ela supere 2 anos.

Depois de fazer todo esse prognóstico, o juiz conclui que é inútil marcar instrução, expedir mandados de
intimação, gastar recursos com oficial de justiça, ouvir testemunhas e o réu, sabendo (ou tendo
praticamente certeza) que, mesmo se condenado, o réu não irá cumprir pena.

Diante disso, ele p ofe eà u aàse te çaàjulga doàexti taà aàpu i ilidadeà o à aseà aà p es içãoàvi tual
afirmando que não existe interesse de agir do Estado, já que o processo penal não terá utilidade.

Sinônimos
A prescrição virtual é também chamada de prescrição e àpe spe tiva ,à po àp og ose ,à p ojetada àouà
a te ipada .

A prescrição virtual possui previsão na lei?


NÃO. Apesar de ser comum na prática, a prescrição virtual não tem previsão na lei, sendo considerada
u aà iação àdosàjuízesàeàT i u ais.

A prescrição virtual é admitida pelo STF e pelo STJ?


NÃO. O STF e o STJ afirmam que é inadmissível a prescrição virtual por dois motivos principais:
 em virtude da ausência de previsão legal;
 porque representaria uma afronta ao princípio da presunção de não-culpabilidade.

O STJ tem, inclusive, um enunciado proibindo expressamente a prática:


Súmula 438-STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com
fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal.

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CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS
Delito do inciso I do DL 201/67

O crime do art. 1º, I, do Decreto-Lei 201/1967 é próprio, somente podendo ser praticado por
prefeito, admitida, porém, a participação, nos termos do art. 29 do CP.
Exemplo: Deputado Federal apresentou emenda parlamentar ao orçamento da União
autorizando o repasse de recursos para o Município X , verba destinada à aquisição de uma
ambulância. O recurso foi transferido, foi realizada a licitação, mas o certame foi direcionado
em favor de determinada empresa que superfaturou o preço. Ficou demonstrado que o
Prefeito, o Deputado e os donos da empresa vencedora estavam em conluio para a prática
dessa conduta. Desse modo, todos eles irão responder pelo delito do art. 1º, I, do DL 201/67.
STF. 2ª Turma. Inq 3634/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

DECRETO-LEI 201/67
O Decreto-Lei 201/67 é um ato normativo com status de lei ordinária e que prevê, em seu art. 1º, uma lista
de crimes cometidos por Prefeitos no exercício de suas funções.
O DL 201/67 traz também regras de processo penal que deverão ser aplicadas quando ocorrerem os
crimes ali previstos.
Vale ressaltar que o DL 201/67 foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária (Súmula 496 do STF).

CRIME DO INCISO I
Como dito, o art. 1º do DL 201/67 elenca diversos crimes de responsabilidade dos Prefeitos.
Vamos estudar o inciso I:
Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder
Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:
I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio;
(...)
§ 1º Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos os dos itens I e II, com a pena de
reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a pena de detenção, de três meses a três anos.

O que são crimes de responsabilidade?


Tecnicamente falando, crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas praticadas por
pessoas que ocupam determinados cargos públicos.
Caso o agente seja condenado por crime de responsabilidade, ele não receberá sanções penais (prisão ou
multa), mas sim sanções político-administrativas (perda do cargo e inabilitação para o exercício de função
pública).

O art. 1º prevê realmente crimes de responsabilidade?


NÃO. Oà a t.à 1ºà afi aà ueà osà delitosà eleà ele adosà sãoà i esà deà espo sa ilidade .à ápesa à deà se à
utilizadaà essaà o e latu a,à aà dout i aà eà aà ju isp udê iaà o ige à oà legislado à eà afi a à ue,à aà
verdade, esses delitos são crimes comuns, ou seja, infrações penais iguais àquelas tipificadas no Código
Penal e em outras leis penais.
Desse modo, o que o art. 1º traz são crimes funcionais cometidos por Prefeitos.
Vale ressaltar que os crimes de responsabilidade (em sentido estrito) dos Prefeitos estão previstos no art.
4º do DL 201/67. É nesse dispositivo que estão definidas as infrações político-administrativas dos alcaides.
Nesse sentido: STF. Plenário. HC 70671, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 13/04/1994.

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Os crimes funcionais dos Prefeitos estão previstos exclusivamente no art. 1º do DL 201/67?
NÃO. Os Prefeitos poderão responder também pelos crimes funcionais previstos no Código Penal, na Lei
de Licitações (Lei n. 8.666/93) e em outras leis penais, desde que tais condutas não estejam descritas no
art. 1º DL 201/67. Os crimes tipificados nas demais leis somente incidirão para os Prefeitos se não
estiverem previstos no DL 201/67, que é norma específica.

Bem jurídico protegido: o patrimônio da Administração Pública e a moralidade administrativa.

Sujeito passivo: em regra, é o Município. No entanto, a depender do caso concreto, poderá também ser
vítima do crime o Estado ou a União. É o caso em que o Prefeito se apropria ou desvia de bens ou rendas
públicas pertencentes ao ente estadual ou federal (ex: Prefeito que desvia recursos de um convênio
federal).
Sendo o sujeito passivo o Município ou o Estado, a competência para julgar o crime é da Justiça Estadual.
Se o sujeito passivo for a União, a competência será da Justiça Federal.

Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, uma vez que somente pode ser praticado pelo Prefeito (ou por
quem esteja no exercício desse cargo, como o Vice-Prefeito ou o Presidente da Câmara de Vereadores).

Se o sujeito comete o crime do art. 1º do DL 201/67, mas termina seu mandato sem que ele seja
denunciado, é possível que ele responda pelo delito mesmo não sendo mais Prefeito?
Claro que sim. Existem dois enunciados afirmando isso:
Súmula 164-STJ: O prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua sujeito a processo por crime
previsto no art. 1º do Dec. lei n. 201, de 27/02/67.
Súmula 703-STF: A extinção do mandato do Prefeito não impede a instauração de processo pela prática
dos crimes previstos no art. 1º do DL 201/67.

É possível a coautoria e a participação?


SIM. O crime do art. 1º, é próprio, somente podendo ser praticado por Prefeito, mas é possível que
ocorram as figuras da coautoria e da participação, nos termos do art. 29 do CP.
Em outras palavras, além do Prefeito, outras pessoas podem responder pelo delito como coautores ou
partícipes.

Em que consiste o delito do inciso I:


Ocorre quando o Prefeito...
- se apropria (fica para si, como se fosse dono)
- ou desvia (dá para a coisa um destino diferente daquilo que era o correto)
- bens públicos
- ou rendas públicas
- em proveito próprio ou de outra pessoa.

Exemplo:
Deputado Federal apresentou emenda parlamentar ao orçamento da União autorizando o repasse de
recursos para oàMu i ípioà X ,àve aàdesti adaà àaquisição de uma ambulância.
O recurso foi transferido, foi realizada a licitação, mas o certame foi direcionado em favor de determinada
empresa que superfaturou o preço.
Ficou demonstrado que o Prefeito, o Deputado e os donos da empresa vencedora estavam em conluio
para a prática dessa conduta.
Desse modo, todos eles irão responder pelo delito do art. 1º, I, do DL 201/67.
STF. 2ª Turma. Inq 3634/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Peculato: a doutrina afirma que esse crime é uma forma específica de peculato (art. 312 do CP), ou seja, é
como se fosse um crime de peculato mas cometido por Prefeito.

Prefeito que desvia bens ou rendas públicas em proveito da própria Administração: não comete o delito
do inciso I uma vez que este tipo penal exige que haja desvio em proveito próprio (pessoal do Prefeito) ou
proveito alheio (de terceira pessoa). No entanto, ele poderá responder pelo inciso III.

Tipo subjetivo: o crime do art. 1º só é punido a título de dolo. Não existe forma culposa.

Consumação: trata-se de crime material. No caso de apropriação, consuma-se quando o agente passa a
agir como se fosse dono. Na modalidade desvio, consuma-se quando o Prefeito dá uma destinação para a
coisa diversa daquela que estava legalmente prevista.

OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DO D JE
1º a 5 de junho de 2015

EMB. DECL. NA REPERCUSSÃO GERAL NO ARE N. 721.001-RJ


RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Embargos de declaração em repercussão geral em recurso extraordinário com agravo. 2. Configuração de erro material. 3. Embargos de
declaração acolhidos com efeito modificativo para tão somente permitir o processamento do recurso extraordinário.
*noticiado no Informativo 756
AG. REG. NO HC N. 126.879-SP
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. SÚMULA 691/STF. TRÁFICO DE DROGAS. ARTIGO 33, CAPUT, DA
LEI 11.343/2006. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. DECISÃO FUNDAMENTADA.
1. Não se conhece de habeas corpus impetrado contra indeferimento de liminar por Relator em habeas corpus requerido a Tribunal Superior. Súmula
691. Óbice superável apenas em hipótese de teratologia.
2. Se as circunstâncias concretas da prática do crime indicam a periculosidade do agente ou risco de reiteração delitiva, está justificada a decretação
ou a manutenção da prisão cautelar para resguardar a ordem pública, desde que igualmente presentes boas provas da materialidade e da autoria.
Precedentes.
3. Consoante jurisprudência desta Suprema Corte, “considerando que o réu permaneceu preso durante toda a instrução criminal, não se afigura
plausível, ao contrário, se revela um contrassenso jurídico, sobrevindo sua condenação, colocá-lo em liberdade para aguardar o julgamento do
apelo” (HC 110.518/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2ª Turma, DJe de 20.3.2012).
4. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. EM MS N. 29.583-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PROVIMENTO SEM CONCURSO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE. ART. 236, E
PARÁGRAFOS, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: NORMAS AUTOAPLICÁVEIS, COM EFEITOS IMEDIATOS, MESMO ANTES DA LEI
9.835/1994. INAPLICABILIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO ART. 54 DA LEI 9.784/1999. PRECEDENTES DO PLENÁRIO. AGRAVO NÃO
PROVIDO.
1. A jurisprudência do STF é no sentido de que o art. 236, caput, e o seu § 3º da CF/88 são normas autoaplicáveis, que incidiram imediatamente desde a sua
vigência, produzindo efeitos, portanto, mesmo antes do advento da Lei 8.935/1994. Assim, a partir de 5/10/1988, o concurso público é pressuposto inafastável
para a delegação de serventias extrajudiciais, inclusive em se tratando de remoção, observado, relativamente a essa última hipótese, o disposto no art. 16 da
referida lei, com a redação que lhe deu a Lei 10.506/2002. As normas estaduais editadas anteriormente, que admitem o ingresso na atividade notarial e de
registro independentemente de prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da Constituição, razão pela qual não foram por essa
recepcionadas.
2. É igualmente firme a jurisprudência do STF no sentido de que a atividade notarial e de registro, sujeita a regime jurídico de caráter privado, é
essencialmente distinta da exercida por servidores públicos, cujos cargos não se confundem.
3. O Plenário do STF, em reiterados julgamentos, assentou o entendimento de que o prazo decadencial de 5 (cinco) anos, de que trata o art. 54 da Lei
9.784/1999, não se aplica à revisão de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a Constituição de 1988, sem o atendimento das
exigências prescritas no seu art. 236.
4. É legítima, portanto, a decisão da autoridade impetrada que considerou irregular o provimento de serventia extrajudicial, sem concurso público,
com ofensa ao art. 236, § 3º, da Constituição. Jurisprudência reafirmada no julgamento do MS 28.440 AgR, de minha relatoria, na Sessão do Plenário
de 19/6/2013.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
MS N. 28.932-DF

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. VOTO DIVULGADO DIFERENTE DO VOTO LIDO EM
SESSÃO. FORMAÇÃO DA LISTA DE ANTIGUIDADE DA MAGISTRATURA PAULISTA. ALTERAÇÃO DE CRITÉRIOS. PROCURADOR-GERAL
DA REPÚBLICA. DISTRIBUIÇÃO POR PREVENÇÃO. DESCABIMENTO: PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA (§ 1º DO ART. 69 DO
REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL). FALTA DE PEÇA ESSENCIAL PARA A COMPROVAÇÃO DO ALEGADO.
PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. IMPOSSIBILIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. PRECEDENTES. POSSIBILIDADE DE O ÓRGÃO
JURISDICIONAL COMPETENTE ALTERAR DE OFÍCIO O RESULTADO DE JULGAMENTO NÃO PUBLICADO. PRECEDENTES. MANDADO
DE SEGURANÇA DENEGADO.
AG. REG. NA ACO N. 1.609-PI
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. FINANCEIRO.
APLICAÇÃO DE PERCENTUAIS MÍNIMOS EM AÇÕES E SERVIÇOS DE SAÚDE. NECESSIDADE DE ANÁLISE CASUÍSTICA.
PEDIDO FORMULADO GENERICAMENTE. PRETENSÃO AUTORAL QUE SE MOSTRA CONCRETAMENTE IRREALIZÁVEL.
PEDIDO QUE, NO SISTEMA PROCESSUAL VIGENTE, DEVE SER FORMULADO DE FORMA CERTA OU DETERMINADA. ART.
286 DO CPC. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. No sistema processual vigente, nos termos do art. 286 do CPC, o pedido deve ser formulado de forma certa ou determinada, não se admitindo sua
formulação em termos genéricos, salvo as exceções expressamente previstas (nenhuma delas aplicável ao presente caso).
2. In casu, o pedido de mérito foi assim formulado pelo autor: “O Estado do Piauí, à vista dessas conclusões, requer deste C. Tribunal: […] b) O
julgamento final de procedência da ação, que, confirmando a decisão liminar proferida nos autos da ação cautelar 2.648, determine em definitivo a
exclusão do autor do CAUC ou de quaisquer outros cadastros restritivos administrados pela União Federal com fundamento em divergências de
metodologia na apuração de percentual mínimo de investimento em ações e serviços públicos de saúde (art. 77, II, ADCT) ou, em qualquer hipótese,
sem a notificação prévia do requerente para o oferecimento de defesa em prazo hábil”.
3. Tal pedido, formulado em caráter genérico, torna irrealizável a pretensão autoral no plano concreto.
4. Agravo regimental a que se nega provimento
AG. REG. NA Rcl N. 20.034-RS
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO QUE DECIDIDO NA ADI 4.357.
INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE IDENTIDADE DE TEMAS ENTRE O ATO RECLAMADO E O PARADIGMA DESTA SUPREMA
CORTE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A ausência de identidade de temas entre o ato reclamado e o paradigma desta Corte conduz à inadmissão da reclamação.
2. In casu: a) O Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar as ADIs 4.357 e 4.425, assentou que o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada
pela Lei nº 11.960/09, ao reproduzir as regras da EC nº 62/09 quanto à atualização monetária e à fixação de juros moratórios de créditos inscritos em
precatórios, viola o direito fundamental de propriedade (CF, art. 5º, XXII), bem como o princípio constitucional da isonomia (CF, art. 5º, caput, da CF),
razão pela qual se revela inconstitucional por arrastamento; b) Neste feito, o reclamante se insurge contra decisão que deixou de aplicar o disposto no art.
1º-F da Lei nº 9.494/97, com fundamento na Orientação Jurisprudencial 382 da SBDI-1 do TST. Não há identidade ou similitude entre o ato impugnado e
a decisão tida por desrespeitada.
3. A reclamação é inadmissível quando utilizada como sucedâneo de ação rescisória ou de recurso.
4. Agravo regimental desprovido.
SEGUNDO AG. REG. EM MS N. 33.399-DF
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. TCU. EXCLUSÃO DE VANTAGEM
RECONHECIDA POR DECISÃO JUDICIAL COM TRÂNSITO EM JULGADO. PERDA DE EFICÁCIA DA SENTENÇA.
1. Afastamento da decadência do direito de o TCU rever o ato concessivo da aposentadoria, conforme jurisprudência deste Tribunal.
2. A Corte de Contas não desconsiderou a existência de decisão judicial com trânsito em julgado, mas apenas determinou que a parcela ali
reconhecida fosse paga na forma de vantagem pessoal nominalmente identificada VPNI, a ser absorvida por reajustes e reestruturações posteriormente
concedidos aos servidores públicos.
3. O Pleno da Corte, em repercussão geral, decidiu que “a sentença que reconhece ao trabalhador ou servidor o direito a determinado percentual de
acréscimo remuneratório deixa de ter eficácia a partir da superveniente incorporação definitiva do referido percentual nos seus ganhos” (RE
596.663, Rel. p/ acórdão Min. Teori Zavascki).
4. Cessação de efeitos que se opera, em regra, automática e imediatamente com a alteração das premissas fáticas em que se baseou a sentença, sem a
necessidade de ação rescisória ou revisional.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO RE N. 679.128-MT
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Direito Processual Civil e do Trabalho. 3. Direito de greve. Descontos dos dias paralisados.
Competência. Precedentes: MI 670/DF e MI 708/DF. O Tribunal de origem decidiu a questão com base no acervo fático-probatório. Incidência do
Enunciado 279 da Súmula do STF. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
HC N. 127.045-CE
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA PARA A PRISÃO PREVENTIVA DO PACIENTE:
PRECEDENTES. ALEGAÇÃO DE EXCESSO DE PRAZO PARA O JULGAMENTO DE APELAÇÃO DA DEFESA. INEXISTÊNCIA DE DESÍDIA
NA TRAMITAÇÃO DO FEITO. ORDEM DENEGADA.
1. Consideradas as circunstâncias do ato praticado e pelos fundamentos apresentados pelo juízo de origem, mantidos nas instâncias antecedentes, a
constrição da liberdade do Paciente harmoniza-se com a jurisprudência deste Supremo Tribunal no sentido de a periculosidade do agente, evidenciada pelo
modus operandi e pelo risco de reiteração delitiva, ser motivo idôneo para a custódia cautelar. Precedentes.
2. Inexistência de excesso de prazo para julgamento de recurso de apelação.
3. Ordem denegada.
Acórdãos Publicados: 394

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TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

CNJ - Interferência em Ato Jurisdicional – Impossibilidade (Transcrições)


MS 33.570-MC/DF*
RELATOR: Min. Celso de Mello
EMENTA: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). CORREGEDORA NACIONAL DE JUSTIÇA. ATO QUE SUSPENDE A
EFICÁCIA DE DECISÃO MONOCRÁTICA PROFERIDA NOS AUTOS DE AÇÃO CAUTELAR. INADMISSIBILIDADE. ATUAÇÃO
“ULTRA VIRES” DA SENHORA CORREGEDORA NACIONAL DE JUSTIÇA, PORQUE EXCEDENTE DOS ESTRITOS LIMITES QUE
CONFORMAM O EXERCÍCIO DAS ATRIBUIÇÕES MERAMENTE ADMINISTRATIVAS OUTORGADAS PELA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA AO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA E AOS ÓRGÃOS E AGENTES QUE O INTEGRAM. INCOMPETÊNCIA
ABSOLUTA DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, NÃO OBSTANTE ÓRGÃO CONSTITUCIONAL DE CONTROLE INTERNO
DO PODER JUDICIÁRIO, PARA INTERVIR EM PROCESSOS E EM DECISÕES DE NATUREZA JURISDICIONAL.
IMPOSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DE O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (QUE SE QUALIFICA COMO ÓRGÃO DE
CARÁTER EMINENTEMENTE ADMINISTRATIVO) FISCALIZAR, REEXAMINAR E SUSPENDER OS EFEITOS DECORRENTES DE
ATO DE CONTEÚDO JURISDICIONAL. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. MAGISTÉRIO DA DOUTRINA.
MEDIDA LIMINAR DEFERIDA.
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado contra ato da eminente Senhora Corregedora Nacional de
Justiça, que suspendeu decisão liminar proferida, por ilustre Desembargador do E. Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, em favor da ora
impetrante, em julgamento assim fundamentado:
“Neste diapasão, é válido ressaltar o caráter incontroverso de que se reveste o valor consignado, visto que, a própria requerida
consignante, na Cautelar Inominada nº 166.14312014 reconheceu e requereu, para que fosse declarado suficiente o depósito efetuado, para
quitação da divida para com a ora empresa requerente.
A especial natureza da ação consignatória evidencia a confissão de divida pela empresa consignante em favor da empresa
consignada. Contrariamente ao depósito, na consignação em pagamento, o autor admite a dívida e requer o depósito do valor que entende
devido, ante a recusa do credor. Isso significa dizer, que os valores consignados não mais pertencem à parte requerida consignante, uma vez
que voluntariamente deposita-os em conta judicial em favor da parte credora consignada.
Desse modo, a meu ver e sentir, presentes os requisitos necessários para o atendimento do pleito realizado, ante a constatação da
coexistência dos requisitos da fumaça do bom direito e do perigo da demora que, a um só tempo, revelam a viabilidade do processo cautelar
e a plausibilidade do direito.
Por fim, ressalto que o valor da causa é requisito da petição inicial, exatamente pelo seu caráter essencial para fixação do
procedimento a ser adotado, assim como para o ideal de justiça firmado no princípio da duração razoável do processo como corolário do
devido processo legal, podendo ser alterado de ofício pelo magistrado, face a sua natureza cogente de ordem pública.
…...................................................................................................
(...) o valor da causa na ação cautelar deve ser compatível com o aquele discutido na ação principal, embora não seja obrigado o
valor da causa cautelar ser igual ao da causa principal, não há de se aceitar, porém, que se estabeleça uma distância de grandes proporções
entre as mesmas, por simples vontade do autor. (Pet 774/ MG, Relator Ministro JOSÉ DELGADO, julgado em 17/06/1997, DJ 01/09/1997 p.
40744, RSTJ vol. 99 p. 68).
Dessa feita, não se mostra razoável fixar o valor da causa em R$ 1.000,00 (um mil reais) quando o objeto da ação de consignação
supera em muito tal valor.
Pelo exposto, com arrimo no artigo 798 CPC, defiro liminarmente o pedido de levantamento da quantia referenciada às fls. 25, que
se encontra depositada em juízo, desde que a parte requerente retifique o valor dado a causa, recolhendo/complementando as custas,
registrando como o correto, a quantia correspondente a 50% (cinquenta por cento) do valor que pretende auferir.” (grifei)
Sustenta-se, na presente sede mandamental, em síntese, o que se segue:
“Encontra-se pacificado pelo PLENÁRIO DO CNJ o entendimento da impossibilidade de conhecimento pelo Conselho Nacional de
Justiça de questões judicializadas (...):
…...................................................................................................
No caso, a questão objeto do vertente Pedido de Providências está judicializada nas Medidas Cautelares nº 3365/2015 e 166143/2014,
incidentais ao Recurso de Apelação nº 8809/2015, interposto da sentença proferida na Ação de Consignação em Pagamento nº 291/2012
(…):
…...................................................................................................
Ademais, encontra-se judicializada no Recurso de Apelação nº 8809/2015, interposto da sentença proferida na Ação de Consignação
em Pagamento nº 291/2012, como também no Mandado de Segurança nº 6602/2015 impetrado pela ** da decisão liminar concessiva da
liberação do valor consignado ao credor, todas em trâmite pelo Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso e pendentes de julgamento.
(...)
É dentro desse contexto que houve a intervenção do CNJ, com a devida licença, equivocada, atuando como alçada substitutiva dos
recursos legalmente previstos para a cassação da liminar deferida pelo Desembargador **, o que não obteve a Reclamante no Mandado de
Segurança impetrado e em nenhum outro pleito utilizado na questão judicializada. Por conseguinte, a liminar concedida pelo CNJ culminou
por substituir o Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, como também a dos tribunais superiores, em sua legítima função
constitucional.

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


…...................................................................................................
A atuação do Conselho Nacional de Justiça extrapolando suas funções regulares culmina por ofender ao PRINCÍPIO DO JUIZ
NATURAL na medida em que atravessa o pleno exercício da função jurisdicional dos membros e órgãos do Poder Judiciário constituídos
para tanto, gerando insegurança jurídica com decisões conflitantes, como a questionada no vertente mandado de segurança. (…):” (grifei)
Registro, por relevante, que a eminente Senhora Corregedora Nacional de Justiça prestou as informações que lhe foram requisitadas.
Sendo esse o contexto, passo a examinar a postulação cautelar ora deduzida na presente sede mandamental. E, ao fazê-lo, entendo, em juízo
de estrita delibação, acharem-se presentes os requisitos autorizadores da concessão do provimento cautelar ora postulado.
É que, como se sabe, a EC nº 45/2004, ao introduzir, no texto da Constituição, o art. 103-B, § 4º, definiu, de modo rígido, a competência
do Conselho Nacional de Justiça, nela incluindo, em seu inciso II, o poder de “apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos
administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário” (grifei).
Não se desconhece que o Conselho Nacional de Justiça – embora incluído na estrutura constitucional do Poder Judiciário – qualifica-se
como órgão de caráter eminentemente administrativo, não dispondo de atribuições institucionais que lhe permitam interferir na atividade
jurisdicional dos magistrados e Tribunais.
Esse entendimento – que põe em destaque o perfil estritamente administrativo do Conselho Nacional de Justiça e que não lhe reconhece
competência constitucional para intervir, legitimamente, em matéria de índole jurisdicional (SERGIO BERMUDES, “A Reforma do Judiciário pela
Emenda Constitucional nº 45”, p. 19/20, item n. 2, 2005, Forense) – foi bem sintetizado na lição de NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA
DE ANDRADE NERY (“Constituição Federal Comentada e Legislação Constitucional”, p. 302, item n. 2, 2006, RT):
“Conselho Nacional de Justiça. Natureza jurídica. O CNJ é órgão do Poder Judiciário (...), mas ‘sem jurisdição’, vale dizer, é órgão
judicial mas não jurisdicional. Órgão administrativo de controle externo do Poder Judiciário e da atividade da Magistratura (...), o CNJ não
tem função jurisdicional, cabendo-lhe fiscalizar a gestão financeira e administrativa do Poder Judiciário e o cumprimento do dever
funcional dos juízes (...). Ao CNJ não cabe controlar a ‘função jurisdicional’ do Poder Judiciário e de seus membros, razão por que não
pode rever nem modificar decisão judicial, isto é, não tem competência recursal (...).” (grifei)
Essa orientação doutrinária, por sua vez, fundada no magistério de autores eminentes (UADI LAMMÊGO BULOS, “Curso de Direito
Constitucional”, p. 1.089/1.094, item n. 6.8.1, 2007, Saraiva; NAGIB SLAIBI FILHO, “Reforma da Justiça”, p. 283/284, item n. 3, 2005, Impetus;
ERIK FREDERICO GRAMSTRUP, “Conselho Nacional de Justiça e Controle Externo”, “in” “Reforma do Judiciário: primeiros ensaios
críticos sobre a EC n. 45/2004”, coordenação de TERESA ARRUDA ALVIM WAMBIER, LUIZ RODRIGUES WAMBIER, LUIZ MANOEL
GOMES JR., OCTAVIO CAMPOS FISCHER e WILLIAM SANTOS FERREIRA, p. 193/194, item n. 4, 2005, RT; SYLVIO MOTTA e GUSTAVO
BARCHET, “Curso de Direito Constitucional”, p. 733, item n. 6.2, 2007, Elsevier; WALBER DE MOURA AGRA, “Curso de Direito
Constitucional”, p. 471/474, item n. 26.18, 2007, Forense), tem o beneplácito da jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal firmou a
propósito da matéria ora em exame (MS 28.174-AgR/DF, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI – MS 28.611-AgR-MC/MA, Rel. Min. CELSO
DE MELLO – MS 28.939-AgR/DF, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, v.g.):
“I. Mandado de segurança contra ato do Conselho Nacional de Justiça: arquivamento de petição que pretendia a anulação de decisão
judicial, por alegado vício processual atribuído aos Ministros do Superior Tribunal de Justiça: indeferimento.
1. Ainda que disponha o art. 103-B, § 6º, da Constituição Federal que ‘junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral da República e o
Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil’, a ausência destes às sessões do Conselho não importa em nulidade das
mesmas.
2. A dispensa da lavratura do acórdão (RICNJ, art. 103, § 3º), quando mantido o pronunciamento do relator da decisão recorrida
pelo Plenário, não traduz ausência de fundamentação:
II. Conselho Nacional de Justiça: competência restrita ao controle de atuação administrativa e financeira dos órgãos do Poder
Judiciário a ele sujeitos.”
(MS 25.879-AgR/DF, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – grifei)
“MANDADO DE SEGURANÇA – MEDIDA LIMINAR DEFERIDA – ATO DO CORREGEDOR NACIONAL DE JUSTIÇA QUE
SUSPENDE A EFICÁCIA DE DECISÃO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA CONCESSIVA DE MANDADO DE SEGURANÇA –
INADMISSIBILIDADE – ATUAÇÃO ‘ULTRA VIRES’ DO CORREGEDOR NACIONAL DE JUSTIÇA, PORQUE EXCEDENTE DOS
ESTRITOS LIMITES DAS ATRIBUIÇÕES MERAMENTE ADMINISTRATIVAS POR ELE TITULARIZADAS – INCOMPETÊNCIA
ABSOLUTA DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, NÃO OBSTANTE ÓRGÃO DE CONTROLE INTERNO DO PODER JUDICIÁRIO,
PARA INTERVIR EM PROCESSOS DE NATUREZA JURISDICIONAL – IMPOSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DE O CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA (QUE SE QUALIFICA COMO ÓRGÃO DE CARÁTER EMINENTEMENTE ADMINISTRATIVO) FISCALIZAR,
REEXAMINAR E SUSPENDER OS EFEITOS DECORRENTES DE ATO DE CONTEÚDO JURISDICIONAL, COMO AQUELE QUE
CONCEDE MANDADO DE SEGURANÇA – PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL – MAGISTÉRIO DA
DOUTRINA – RECURSO DE AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
– O Conselho Nacional de Justiça, embora integrando a estrutura constitucional do Poder Judiciário como órgão interno de controle
administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura – excluídos, no entanto, do alcance de referida competência, o próprio Supremo
Tribunal Federal e seus Ministros (ADI 3.367/DF) –, qualifica-se como instituição de caráter eminentemente administrativo, não dispondo de
atribuições funcionais que lhe permitam, quer colegialmente, quer mediante atuação monocrática de seus Conselheiros ou, ainda, do
Corregedor Nacional de Justiça, fiscalizar, reexaminar e suspender os efeitos decorrentes de atos de conteúdo jurisdicional emanados de
magistrados e Tribunais em geral, razão pela qual mostra-se arbitrária e destituída de legitimidade jurídico-constitucional a deliberação do
Corregedor Nacional de Justiça que, agindo “ultra vires”, paralise a eficácia de decisão que tenha concedido mandado de segurança.
Doutrina. Precedentes (MS 28.611-MC-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno, v.g.).”
(MS 28.598-MC-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)
Vale registrar, por relevante, que essa mesma percepção em torno da matéria – no sentido de que a competência constitucional do Conselho
Nacional de Justiça não compreende nem autoriza a revisão de atos jurisdicionais – foi igualmente revelada, por esta Suprema Corte, quando do
julgamento da ADI 3.367/DF, Rel. Min. CEZAR PELUSO, como o evidencia o acórdão plenário que, no ponto ora em análise, está assim
ementado:
“(...) 2. INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Emenda Constitucional nº 45/2004. Poder Judiciário. Conselho Nacional de
Justiça. Instituição e disciplina. Natureza meramente administrativa. Órgão interno de controle administrativo, financeiro e disciplinar da
magistratura. Constitucionalidade reconhecida. Separação e independência dos Poderes. História, significado e alcance concreto do
princípio. Ofensa a cláusula constitucional imutável (cláusula pétrea). Inexistência. Subsistência do núcleo político do princípio, mediante
preservação da função jurisdicional, típica do Judiciário, e das condições materiais do seu exercício imparcial e independente. Precedentes
e súmula 649. Inaplicabilidade ao caso. Interpretação dos arts. 2º e 60, § 4º, III, da CF. Ação julgada improcedente. Votos vencidos. São

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


constitucionais as normas que, introduzidas pela Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, instituem e disciplinam o
Conselho Nacional de Justiça, como órgão administrativo do Poder Judiciário nacional.
.......................................................................................................
4. PODER JUDICIÁRIO. Conselho Nacional de Justiça. Órgão de natureza exclusivamente administrativa. Atribuições de controle
da atividade administrativa, financeira e disciplinar da magistratura. Competência relativa apenas aos órgãos e juízes situados,
hierarquicamente, abaixo do Supremo Tribunal Federal. Preeminência deste, como órgão máximo do Poder Judiciário, sobre o Conselho,
cujos atos e decisões estão sujeitos a seu controle jurisdicional. Inteligência dos arts. 102, ‘caput’, inc. I, letra ‘r’, e 103-B, § 4º, da CF. (...).”
(RTJ 197/839-840, Rel. Min. CEZAR PELUSO – grifei)
Mostra-se importante destacar, ainda, em face da absoluta pertinência que guarda com o caso ora em exame, fragmento do voto que o
eminente Ministro EROS GRAU proferiu no já referido julgamento da ADI 3.367/DF:
“De resto – e este ponto é de fundamental importância – ao Conselho Nacional de Justiça não é atribuída competência nenhuma que
permita a sua interferência na independência funcional do magistrado. Cabe a ele, exclusivamente, o ‘controle da atuação administrativa e
financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes’, nada mais do que isso. Sua presença, como órgão do
Poder Judiciário, no modelo brasileiro de harmonia e equilíbrio entre os poderes, não conformará nem informará – nem mesmo afetará – o
dever-poder de decidir conforme a Constituição e as leis que vincula os membros da magistratura. O controle que exercerá está adstrito ao
plano ‘da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes’. Embora órgão
integrante do Poder Judiciário – razão pela qual desempenha autêntico controle interno – não exerce função jurisdicional.” (grifei)
Assinalo, por oportuno, que também proferi decisões em igual sentido (MS 27.148/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO), advertindo que o
Conselho Nacional de Justiça – quer colegialmente, quer mediante atuação monocrática de seus Conselheiros ou da Senhora Corregedora Nacional
de Justiça – não dispõe de competência para intervir em decisões emanadas de magistrados ou de Tribunais, quando impregnadas (como sucede na
espécie) de conteúdo jurisdicional:
“CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). DELIBERAÇÃO NEGATIVA QUE, EMANADA DO CNJ, RECONHECEU A
INCOMPETÊNCIA DESSE ÓRGÃO DE CONTROLE INTERNO DO PODER JUDICIÁRIO PARA INTERVIR EM PROCESSOS DE
NATUREZA JURISDICIONAL. IMPOSSIBILIDADE CONSTITUCIONAL DE O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (QUE SE
QUALIFICA COMO ÓRGÃO DE CARÁTER EMINENTEMENTE ADMINISTRATIVO) FISCALIZAR E REEXAMINAR ATOS DE
CONTEÚDO JURISDICIONAL. PRECEDENTES DO STF. MAGISTÉRIO DA DOUTRINA. (...).”
(MS 26.580/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Cabe referir, finalmente, trecho de decisão proferida pelo eminente Ministro CEZAR PELUSO, no exercício da Presidência desta Corte, no
período de férias forenses, no MS 28.537-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, em que também se impugnava deliberação do Conselho
Nacional de Justiça:
“3. É evidente a inconstitucionalidade de qualquer decisão do CNJ – ou de interpretação que se dê a decisões do CNJ – que tenda a
controlar, modificar ou inibir a eficácia de decisão jurisdicional, como se dá no caso, onde foram tidas ‘como ineficazes as decisões do
Tribunal de Justiça do Maranhão que garantem a permanência nos Cartórios Extrajudiciais de ocupantes que não estão sob o abrigo das
hipóteses explicitadas nos artigos 4º (parágrafo único), 5º (§ 2º) e 8º da Resolução nº 80 do Conselho Nacional de Justiça’ (fls. 54).
As decisões do CNJ de modo algum podem interferir no exercício da função jurisdicional.
É que as atribuições do CNJ são de natureza puramente administrativa, disciplinar e financeira, donde não lhe competir, em
nenhuma hipótese, apreciar, cassar ou restringir decisão judicial. Esta Corte, aliás, já deixou claro e assentado que, dentro das atribuições
do Conselho Nacional de Justiça (art. 103-B, § 4º), não cabe ‘nenhuma competência cujo exercício fosse capaz de interferir no desempenho
da função típica do Judiciário, a jurisdicional’ (ADI nº 3.367, de minha relatoria, DJ de 17.03.2006).
Daí vem logo a manifesta inconstitucionalidade do disposto no art. 106 do Regimento Interno do CNJ, que preceitua: ‘As decisões
judiciais que contrariarem as decisões do CNJ não produzirão efeitos em relação a estas, salvo se proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal’.
Uma coisa é dispor dos meios próprios necessários a garantir a exeqüibilidade das suas decisões, tomadas na seara administrativa e
financeira, cuja competência lhe é constitucionalmente cometida. Nesse sentido, estou em que lhe é permitido exigir o cumprimento imediato
de decisão ou ato seu, quando impugnado perante outro órgão que não o Supremo Tribunal Federal, porque, aí, está diante de decisão
visceralmente nula, uma vez editada por órgão absolutamente incompetente (art. 102, I, letra ‘r’, da Constituição da República).
Outra, porém, é expedir, no Regimento Interno, norma que traduza pretensão de atribuir competência jurisdicional e recursal ao
CNJ, ou vedação de exame jurisdicional de alegação de lesão ou ameaça de lesão a direito, em afronta direta ao art. 5º, XXXV, da
Constituição da República.
Assim, írrita, mais do que só na aparência, a decisão do CNJ que reconheceu como ineficazes as decisões do TJMA.” (grifei)
Sendo assim, e sem prejuízo de ulterior reapreciação da matéria, defiro o pedido de medida liminar, em ordem a suspender, cautelarmente,
até final julgamento da presente ação de mandado de segurança, os efeitos da decisão proferida pela Senhora Corregedora Nacional de Justiça, nos
autos da Reclamação Disciplinar nº 0000311-93.2015.2.00.0000.
Comunique-se, com urgência, transmitindo-se cópia da presente decisão à ilustre autoridade apontada como coatora e, ainda, ao E. Tribunal
de Justiça do Estado de Mato Grosso.
Publique-se.
Brasília, 30 de abril de 2015.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
*decisão publicada no DJe de 7.5.2015
** nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
1º a 5 de junho de 2015

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


CONTRATO DE TRABALHO - Trabalhador - Alteração - Revogação
Lei Complementar nº 150, de 1º.6. 2015 – Dispõe sobre o contrato de trabalho doméstico; altera as Leis no
8.212, de 24.7.1991, no 8.213, de 24.7.1991, e no 11.196, de 21.11.2005; revoga o inciso I do art. 3 º da Lei no 8.009, de
29.3.1990, o art. 36 da Lei no 8.213, de 24.7.1991, a Lei no 5.859, de 11.12.1972, e o inciso VII do art. 12 da Lei no
9.250, de 26.12.1995; e dá outras providências. Publicada no DOU, n. 103, Seção 1, p. 1-4, em 2.6.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES
1º a 5 de junho de 2015

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)


Delegação - Competência - Ato - Representação - Cooperação
Portaria nº 103/STF, de 27.5.2015 – Fica delegada ao Secretário-Geral da Presidência competência para a
prática do ato de, representando o STF, firmar Termo de Cooperação Técnica com o Conselho Nacional de Justiça para
produção de relatório estatístico e jurídico oficial, conforme consta do Processo Administrativo STF nº 356.545.
Publicada no DJE, Edição Extra, n. 103, p. 1, em, 1º.6.2015.
Expediente Forense - Atendimento ao público - Ministro - Posse
Portaria nº 110/STF, de 1º.6.2015 – Comunica que, no dia 16.6.2015, o expediente na Secretaria do Tribunal e de
atendimento ao público externo será das 8 às 13 horas. Publicada no DJE/STF, n. 104, p. 360, em 2.6.2015.

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 788-STF (11/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 3543/RS; ADI 3538/RS; RE 593068/SC; RE 514639/RS; HC 123698/PE.

Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos: ADPF 341 MC-Referendo/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
 Cabimento de nova ADI por inconstitucionalidade material contra ato normativo já reconhecido formalmente
constitucional pelo STF.
 Efeitos da declaração de inconstitucionalidade e ação rescisória.

NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM A CF/88


 CE pode prever que as proibições e impedimentos dos Deputados Estaduais são aplicáveis também aos
Governadores de Estado.

DIREITOS POLÍTICOS
 Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica a cargos eletivos majoritários.

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO


 BNDES é obrigado a fornecer ao TCU documentos e informações sobre contrato de financiamento celebrado com
empresa privada.
 Natureza do TCU.

DIREITO ELEITORAL
INFIDELIDADE PARTIDÁRIA
 Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica a cargos eletivos majoritários

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
 Súmula vinculante 47.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
 Legitimidade do MP para promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal.

TRANSAÇÃO PENAL
 Em caso de transação penal não se aplicam os efeitos do art. 91 do CP.

DIREITO TRIBUTÁRIO
ICMS
 Súmula vinculante 48.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Cabimento de nova ADI por inconstitucionalidade material contra
ato normativo já reconhecido formalmente constitucional pelo STF

Importante!!!
A Lei X foi questionada no STF por meio de ADI. Na ação, o autor afirmou que a lei seria
formalmente inconstitucional. O STF julgou a ADI improcedente, declarando a lei
constitucional. Quatro anos mais tarde, outro legitimado ajuíza nova AD) contra a Lei X , mas
desta vez alega que ela é materialmente inconstitucional.
Essa ação poderia ter sido proposta? O STF poderá, nesta segunda ação, declarar a lei
materialmente inconstitucional?
SIM. Na primeira ação, o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da Lei X nem
disse que ela era constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material).
Logo, nada impede que uma segunda ADI seja proposta questionando, agora, a
inconstitucionalidade material da lei e nada impede que o STF decida declará-la
inconstitucional sob o aspecto material.
O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma norma não interfere nem impede que
ele reconheça posteriormente que ela é materialmente inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).

Imagine a seguinte situação adaptada:


A Leià X foi questionada no STF por meio de ADI.
Na ação, o autor afirmou unicamente que a lei seria formalmente inconstitucional.
O STF julgou a ADI improcedente, declarando a lei constitucional sob o aspecto formal (nada falando sobre
o ponto de vista material).
Quatro anos mais tarde, outro legitimado ajuíza nova ADI o t aàaàLeià X , mas desta vez alega que ela é
materialmente inconstitucional.

Essa ação poderia ter sido proposta? O STF poderá, nesta segunda ação, declarar a lei materialmente
inconstitucional?
SIM. Na primeira ação, o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da Lei X à e àdisseà ueàelaà
era constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material).
Logo, nada impede que uma segunda ADI seja proposta questionando, agora, a inconstitucionalidade
material da lei e nada impede que o STF decida declará-la inconstitucional sob o aspecto material.
O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma norma não interfere nem impede que ele
reconheça posteriormente que ela é materialmente inconstitucional.

Exemplo concreto:
A Resolução 22.610/2007 do TSE foi objeto de ADI proposta por um partido político. Nesta ação,
questionou-se apenas a constitucionalidade formal do ato normativo. Não se impugnou seu aspecto
material. Tal ADI foi julgada improcedente, de sorte que o STF declarou que o ato é formalmente
constitucional (ADI 3999, julgado em 12/11/2008).
Alguns anos mais tarde, o PGR ajuizou nova ADI contra a Resolução 22.610/2007, mas desta vez questionando
somente aspectos materiais, ou seja, afirmando que há dispositivos na Resolução que são materialmente
inconstitucionais, tendo isso sido reconhecido pelo STF (ADI 5081/DF, julgado em 27/5/2015).

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Efeitos da declaração de inconstitucionalidade e ação rescisória

Importante!!!
A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito
normativo não produz a automática reforma ou rescisão das decisões proferidas em outros
processos anteriores que tenham adotado entendimento diferente do que posteriormente
decidiu o Supremo.
Para que haja essa reforma ou rescisão, será indispensável a interposição do recurso próprio
ou, se for o caso, a propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC
1973 (art. 966, V do CPC 2015), observado o prazo decadencial de 2 anos (art. 495 do CPC 1973
/ art. 975 do CPC 2015).
Segundo afirmou o STF, não se pode confundir a eficácia normativa de uma sentença que
declara a inconstitucionalidade que retira do plano jurídico a norma com efeito ex tunc
com a eficácia executiva, ou seja, o efeito vinculante dessa decisão.
STF. Plenário. RE 730462/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/5/2015 (repercussão geral)
(Info 787).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João ajuizou ação contra uma instituição financeira pedindo para deixar de pagar determinada dívida.
O pedido foi julgado improcedente sob o argumento de que a dívida cobrada pelo banco estava baseada
aàLeiàFede alà X ,àse do,àpo ta to,àlegal.
Houve trânsito em julgado da decisão.
Alguns meses mais tarde, foi proposta u aà áDIà o t aà aà Leià X à eà oà Ple ioà doà “TFà julgouà aà açãoà
p o ede te,àde la a do,à o àefeitosà exàtu àeàvi ula te,à ueàaà efe idaàleià ài o stitu io al.

A decisão do STF faz com que a sentença que foi proferida contra João seja considerada
automaticamente rescindida?
NÃO. A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito normativo
não produz a automática reforma ou rescisão das decisões proferidas em outros processos anteriores que
tenham adotado entendimento diferente do que posteriormente decidiu o Supremo.
Para que haja essa reforma ou rescisão, será indispensável a interposição do recurso próprio ou, se for o
caso, a propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V, do CPC 1973 (art. 966, V do CPC
2015), observado o prazo decadencial de 2 anos (art. 495 do CPC 1973 / art. 975 do CPC 2015).
Segundo afirmou o STF, não se pode confundir a eficácia normativa de uma sentença que declara a
inconstitucionalidade ( ueà eti aàdoàpla oàju ídi oàaà o aà o àefeitoà exàtu ) com a eficácia executiva,
ou seja, o efeito vinculante dessa decisão.

Eficácia normativa
Quando o STF, no controle concentrado de constitucionalidade (ADI ou ADC), decide que determinada lei é
constitucional ou inconstitucional, ele gera a consequência que se pode denominar de eficácia normativa,
que significa manter ou excluir (declarar nula) a referida norma do ordenamento jurídico.

Eficácia executiva ou instrumental


Além da eficácia normativa, a sentença de mérito na ADI ou ADC provoca também um efeito vinculante,
consistente em atribuir ao julgado uma força impositiva e obrigatória em relação aos atos administrativos
ou judiciais supervenientes. Em outras palavras, os atos administrativos e judiciais que forem praticados
depois do julgado do STF deverão respeitar aquilo que foi decidido. A isso o Min. Teori Zavascki chama de
eficácia executiva ou instrumental (eficácia vinculante).

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Em caso de descumprimento dessa eficácia executiva ou instrumental, a parte prejudicada poderá ajuizar
no STF uma reclamação (art. ,àI,à l àdaàCF/ .

Eficácia normativa = efeitos ex tunc


áàefi iaà o ativaà de la açãoàdeà o stitu io alidadeàouàdeài o stitu io alidade àope aàdeàfo aà exà
tu à et oativa .à

Eficácia executiva = efeitos ex nunc


A eficácia executiva (efeito vin ula te à p oduzà efeitosà exà u .à ássi ,à oà te oà i i ialà daà efi iaà
executiva é o dia de publicação do acórdão do STF no Diário Oficial (art. 28 da Lei 9.868/1999).
O efeito vinculante não nasce da inconstitucionalidade, mas do julgado que assim a declara. Em outras
palavras, o dever de todos respeitarem aquilo que foi decidido só surge depois da decisão.
O efeito vinculante não atinge os atos passados, sobretudo a coisa julgada.
Os atos passados, mesmo quando decididos com base em norma posteriormente declara inconstitucional,
não estão submetidos ao efeito vinculante da sentença, nem podem ser atacados por simples via de
reclamação. Somente poderão ser desfeitos ou rescindidos, se for o caso, em processo próprio.

Veja ementa de precedente do STF que espelha esse entendimento:


(...) A sentença de mérito transitada em julgado só pode ser desconstituída mediante ajuizamento de específica
ação autônoma de impugnação (ação rescisória) que haja sido proposta na fluência do prazo decadencial
previsto em lei, pois, com o exaurimento de referido lapso temporal, estar-se-á diante da coisa soberanamente
julgada, insuscetível de ulterior modificação, ainda que o ato sentencial encontre fundamento em legislação
que, em momento posterior, tenha sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, quer em
sede de controle abstrato, quer no âmbito de fiscalização incidental de constitucionalidade.
- A superveniência de decisão do Supremo Tribunal Federal, declaratória de inconstitucionalidade de
diploma normativo utilizado como fundamento do título judicial questionado, ainda que impregnada de
efi iaà exàtu à- como sucede, ordinariamente, com os julgamentos proferidos em sede de fiscalização
concentrada (RTJ 87/758 - RTJ 164/506-509 - RTJ 201/765) -, não se revela apta, só por si, a desconstituir a
autoridade da coisa julgada, que traduz, em nosso sistema jurídico, limite insuperável à força retroativa
esulta teàdosàp o u ia e tosà ueàe a a ,à i àa st a to ,àdaà“up e aàCo te.à(...)
STF. 2ª Turma. RE 592912 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 03/04/2012.

Observação:
Em seu voto, o Min. Teori Zavascki afirma que a solução jurídica para o caso concreto seria propor uma
ação rescisória questionando aàde isãoàa te io à ueàt a sitouàe àjulgado.àOà p o le a àdessaàsoluçãoà à
que, se a decisão que transitou em julgado estava de acordo com o entendimento então vigente no STF,
neste caso não caberá ação rescisória.
Se a sentença foi proferida com base na jurisprudência do STF vigente à época e, posteriormente, esse
entendimento foi alterado (ou puder ser alterado), não se pode dizer que essa decisão impugnada tenha
violado literal disposição de lei. Desse modo, não cabe ação rescisória em face de acórdão que, à época de
sua prolação, estava em conformidade com a jurisprudência predominante do STF.
STF. Plenário. AR 2199/SC, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/4/2015 (Info 782).

Logo, a solução dada pelo Min. Teori Zavascki só irá ter realmente sentido se, na época em que transitou
em julgado, o STF ainda não havia se posicionado sobre o tema. Essa é mais uma das polêmicas
envolvendo a súmula 343-STF. Para maiores detalhes, reveja o Info 782 do STF.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM A CF/88
CE pode prever que as proibições e impedimentos dos Deputados Estaduais são aplicáveis
também aos Governadores de Estado

É constitucional norma da Constituição estadual que preveja que as proibições e os


impedimentos estabelecidos para os Deputados Estaduais deverão ser aplicados também para
o Governador e o Vice-Governador do Estado.
STF. Plenário. ADI 253/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/5/2015 (Info 787).

A Constituição do Estado do Mato Grosso prevê a seguinte regra:


Art. 65. Aplicam-se ao governador e ao Vice-Governador, no que couber, as proibições e os impedimentos
estabelecidos para os Deputados Estaduais.

Foi proposta uma ADI contra esse dispositivo, mais especificamente contra a exp essãoà eà aoà Vi e-
Gove ado nela constante.

O argumento foi o de que a CF/88 não prevê nenhuma regra semelhante a essa. Em outras palavras, como
a CF/88 não diz que se aplicam ao Vice-Presidente da República as proibições e os impedimentos
estabelecidos para os Deputados Federais e Senadores, a Constituição Estadual não poderia fazer isso
quanto aos Vice-Governadores.
Logo, o autor da ADI afirmou que houve violação ao princípio da simetria.

Vamos relembrar o que é o princípio da simetria


Segundo o princípio ou regra da simetria, o legislador constituinte estadual, ao elaborar as normas da
Constituição estadual sobre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e sobre as regras do pacto
federativo, deverá observar, em linhas gerais, o mesmo modelo imposto pela Constituição Federal, a fim
de manter a harmonia e independência entre eles.
Ex.: a CE não pode estabelecer que o projeto de lei para a criação de cargos na Administração Pública
estadual seja de iniciativa parlamentar. Tal previsão violaria o princípio da simetria, já que iria de encontro
ao modelo federal imposto pelo art. 61,à§à º,àII,à a ,àdaàCF/ .
O princípio da simetria não está previsto de forma expressa na CF/88. Foi uma criação pretoriana, ou seja,
idealizado pela jurisprudência do STF.
Alguns Ministros invocam como fundamento normativo para a sua existência o art. 25 da CF e o art. 11 do
ADCT, que determinam aos Estados-membros a observância dos princípios da Constituição da República.
As regras de processo legislativo previstas na CF/88 são normas de reprodução obrigatória pelos Estados-
membros, ou seja, estão submetidas ao princípio da simetria.

A ADI foi julgada procedente? Esse dispositivo é inconstitucional? Houve violação ao princípio da simetria?
NÃO. Realmente, o princípio da simetria, que é baseado nos arts. 25 da CF/88 e 11 do ADCT determina que
os Estados deverão observar os princípios da Constituição Federal com o objetivo de buscar uma harmonia
e homogeneidade. Isso não significa, contudo, impor amarras absolutas às Constituições estaduais.
O princípio da simetria não significa que o constituinte estadual só pode copiar as normas federais e o que
esteja fora disso seja inconstitucional.
O fato de o constituinte federal não ter expressamente previsto semelhantes vedações ao Presidente e ao
Vice-Presidente da República não significa que o constituinte estadual não possa estabelecê-las para o
Governador e Vice-Governador.
O estabelecimento de restrições a certas proibições ao Vice-Governador, com o objetivo de preservar a
sua incolumidade política, é matéria que o Estado-membro pode desenvolver no exercício da sua
autonomia constitucional. Não há na Constituição Federal princípio que o impeça.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


DIREITOS POLÍTICOS
Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica a cargos eletivos majoritários

Importante!!!
Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito,
ele perderá o cargo que ocupa?
a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo
sistema majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor.
No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando
o quociente eleitoral nem o quociente partidário.
Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no candidato e não no seu partido político.
Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade
partidária é antagônica (contrária) à soberania popular.

b) Se for um cargo eletivo PROPORCIONAL: SIM


O mandato parlamentar conquistado no sistema eleitoral proporcional pertence ao partido
político.
Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de partido político, ele sofrerá um processo na
Justiça Eleitoral que poderá resultar na perda do seu mandato. Neste processo, com
contraditório e ampla defesa, será analisado se havia justa causa para essa mudança.
O assunto está disciplinado na Resolução 22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as
hipóteses consideradas como justa causa .
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).

SISTEMAS ELEITORAIS
Sistema eleitoral é o conjunto de regras e técnicas previstas pela CF e pela lei para disciplinar a forma
como os candidatos ao mandato eletivo serão escolhidos e eleitos.
No Brasil, atualmente, existem dois sistemas eleitorais:

a) MAJORITÁRIO b) PROPORCIONAL

O mandato eletivo fica com o candidato ou Terminada a votação, divide-se o total de votos
partido político que obteve a maioria dos votos. válidos pelo número de cargos em disputa,
obtendo-se assim o quociente eleitoral. Ex: na
Ganha o candidato mais votado, eleição para vereador houve 100 mil votos válidos
independentemente dos votos de seu partido. e eram 20 vagas. Logo, o quociente eleitoral será
5 mil (100.000 : 20 = 5.000).

Em seguida, pega-se os votos de cada partido ou


coligação e divide-se pelo quociente eleitoral,
obtendo-se assim o número de eleitos de cada
partido (quociente partidário). Ex: o Partido X e
seus candidatos tiveram 20 mil votos. Esses 20 mil
serão divididos pelo quociente eleitoral (5 mil).
Logo, esse partido terá direito a 4 vagas de
Vereador (20.000 : 5.000 = 4).

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Os candidatos mais bem votados desse partido
irão ocupar tais vagas.

No Brasil, é o sistema adotado para a eleição de No Brasil, é o sistema adotado para a escolha de
Prefeito, Governador, Senador e Presidente. Vereador, Deputado Estadual e Deputado Federal.

Obs: existe ainda o sistema eleitoral misto, que mescla regras de ambos, com votos distritais e votos
gerais. É o sistema adotado, por exemplo, na Alemanha.

INFIDELIDADE PARTIDÁRIA
Filiação partidária
No Brasil, a pessoa só pode concorrer a um cargo eletivo se ela estiver filiada a um partido político. Essa
exigência está prevista no art. 14, § 3º, V, da CF/88.

Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito, ele
perderá o cargo que ocupa?
Depende. O STF faz a seguinte diferença:

a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO b) Se for um cargo eletivo PROPORCIONAL: SIM
A perda do mandato em razão de mudança de O mandato parlamentar conquistado no sistema
partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo eleitoral proporcional pertence ao partido político.
sistema majoritário, sob pena de violação da Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de
soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor. partido político, ele sofrerá um processo na Justiça
No sistema majoritário, o candidato escolhido é Eleitoral que poderá resultar na perda do seu
aquele que obteve mais votos, não importando o mandato. Neste processo, com contraditório e
quociente eleitoral nem o quociente partidário. ampla defesa, será analisado se havia justa causa
Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no para essa mudança.
candidato e não no seu partido político. Desse O assunto está disciplinado na Resolução n.
modo, no sistema majoritário, a imposição da 22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as
perda do mandato por infidelidade partidária é hipóteses consideradasà o oà justaà ausa .
antagônica (contrária) à soberania popular.

Foi o que decidiu o STF no julgamento da ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015
(Info 787).

A decisão do STF foi inovadora?


SIM. Isso porque o TSE entendia que a infidelidade partidária, ou seja, a mudança de partido político após
a diplomação acarretava a perda do mandato tanto para cargos proporcionais como majoritários. Essa
conclusão estava expressa na Resolução 22.610/2007 do TSE (Infidelidade partidária).
Dessa forma, o STF julga parcialmente inconstitucional a Resolução 22.610/2007 do TSE nos trechos em
que ela fala sobre cargos majoritários.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO
BNDES é obrigado a fornecer ao TCU documentos e informações sobre contrato de
financiamento celebrado com empresa privada

Importante!!!
O BNDES celebrou um contrato de financiamento com um grande grupo empresarial de carnes
bovinas. A Comissão de Controle Externo da Câmara dos Deputados solicitou ao TCU que
realizasse auditoria neste contrato. O TCU instaurou o procedimento e determinou ao BNDES
que enviasse os documentos relacionados com a operação.
O BNDES impetrou mandado de segurança no STF contra o TCU pedindo para não ser obrigado
a fornecer as informações solicitadas, sob o fundamento de que isso violaria o sigilo bancário e
empresarial da empresa que recebeu o financiamento.
O STF concordou com as razões invocadas no MS?
NÃO. O STF denegou (indeferiu) o mandado de segurança impetrado e determinou que o
BNDES enviasse as informações.
O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito originárias de recursos
públicos não é coberto pelo sigilo bancário. O acesso a tais dados é imprescindível à atuação
do TCU na fiscalização das atividades do BNDES.
O STF possui precedentes no sentido de que o TCU não detém legitimidade para requisitar
diretamente informações que importem quebra de sigilo bancário. No entanto, a Corte
reputou que a situação acima relatada seria diferente dos demais precedentes do Tribunal, já
que se trata de informações do próprio BNDES em um procedimento de controle legislativo
financeiro de entidades federais por iniciativa do Parlamento.
STF. 1ª Turma. MS 33340/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

BNDES
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é uma empresa pública federal que tem
por objetivo financiar projetos de longo prazo que gerem o desenvolvimento da economia do país.
O apoio do BNDES se dá por meio de empréstimos, com condições facilitadas, que serão utilizados para
custear projetos de investimentos, aquisição de equipamentos e exportação de bens e serviços.
Poderão receber financiamentos do BNDES tanto empresas privadas como também pessoas físicas e até
órgãos e entidades da Administração Pública. Ex: durante a preparação para a Copa do Mundo de 2014, o
BNDES emprestou dinheiro para diversos Estados para a construção dos estádios de futebol. Também é
comum o empréstimo de recursos para grandes empresas construírem indústrias, obras etc.

Imagine a seguinte situação adaptada:


O BNDES celebrou um contrato de financiamento com um grande grupo empresarial de carnes bovinas.
A Comissão de Controle Externo da Câmara dos Deputados solicitou ao TCU que realizasse auditoria neste
contrato com o objetivo de analisar os critérios utilizados para a escolha da empresa beneficiada, as
vantagens sociais advindas dessas operações, o cumprimento das cláusulas contratuais etc.
O TCU instaurou o procedimento para analisar o empréstimo e determinou ao BNDES que enviasse os
documentos relacionados com a operação.
O BNDES impetrou mandado de segurança no STF contra o TCU pedindo para não ser obrigado a fornecer
as informações solicitadas, sob o fundamento de que isso violaria o sigilo bancário e empresarial da
empresa que recebeu o financiamento.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


O STF concordou com as razões invocadas no MS? O BNDES está desobrigado de fornecer as informações?
NÃO. O STF denegou (indeferiu) o mandado de segurança impetrado e determinou que o BNDES enviasse
as informações sobre as operações de crédito realizadas com o grupo empresarial de carnes bovinas.

O TCU pode determinar, diretamente, a quebra de sigilo bancário e fiscal?


NÃO. O TCU não detém legitimidade para requisitar diretamente informações que importem quebra de
sigilo bancário.
Por mais relevantes que sejam as suas funções institucionais, o TCU não está incluído no rol dos
legitimados a ordenar a quebra de sigilo bancário previsto na Lei Complementar nº 105/2001.
Assim, o TCU não pode determinar que o banco apresente informações bancárias resguardadas pelo sigilo.
Foi o que decidiu o STF no MS 22934/DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 17/4/2012.
Outro precedente do STF no mesmo sentido:
A Lei Complementar nº 105/2001 não conferiu ao Tribunal de Contas da União poderes para determinar a
quebra do sigilo bancário de dados constantes do Banco Central do Brasil.
O legislador conferiu esses poderes ao Poder Judiciário (art. 3º), ao Poder Legislativo Federal (art. 4º), bem
como às Comissões Parlamentares de Inquérito, após prévia aprovação do pedido pelo Plenário da Câmara
dos Deputados, do Senado Federal ou do plenário de suas respectivas comissões parlamentares de
inquérito (§§ 1º e 2º do art. 4º).
Embora as atividades do TCU, por sua natureza, verificação de contas e até mesmo o julgamento das
contas das pessoas enumeradas no artigo 71, II, da Constituição Federal, justifiquem a eventual quebra de
sigilo, não houve essa determinação na lei específica que tratou do tema, não cabendo a interpretação
extensiva, mormente porque há princípio constitucional que protege a intimidade e a vida privada, art. 5º,
X, da Constituição Federal, no qual está inserida a garantia ao sigilo bancário.
STF. Plenário. MS 22801, Rel. Min. Menezes Direito, julgado em 17/12/2007.

Caso concreto seria diferente


O STF decidiu, no entanto, que a situação em comento seria diferente dos precedentes acima
mencionados, porque a atuação do TCU teria amparo no art. 71 da CF/88 e se destinaria, precipuamente,
a controlar as operações financeiras realizadas pelo BNDES.
No caso concreto, a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados foi quem determinou
ao TCU que realizasse auditoria nas operações de crédito envolvendo o BNDES e a referida empresa de
carnes, com fundamento no art. 71, IV, da CF/88.
Trata-se, portanto, de hipótese de controle legislativo financeiro de entidades federais por iniciativa do
Parlamento.
Ademais, o STF entendeu que não se estava diante de requisição para a obtenção de informações de
terceiros (correntistas), mas sim de informações do próprio BNDES, que emprestou recursos públicos a
empresa privada.
Dessa forma, o pedido do TCU consiste no repasse de informações de uma empresa pública federal para
um órgão federal de controle externo (TCU), e isso não ostenta a conotação de quebra de sigilo bancário.
Em outras palavras, as informações requisitadas pelo TCU não representam quebra de sigilo bancário.
O BNDES atua como banco de fomento com características muito próprias, sendo um banco de fomento
econômico e social, e não uma instituição financeira privada comum. Por mais que ele possua a natureza
de pessoa de direito privado da Administração Indireta, também sofre intensa influência do regime de
Direito Público. Por essa razão, o sigilo de informações é relativizado em nome do interesse da sociedade
de se conhecer o destino dos recursos públicos.

Teoria da restrição das restrições


Durante os debates, o Min. Luiz Fux mencionou a chamada teoria da est içãoàdasà est ições .
Vejamos rapidamente em que consiste essa expressão.
áà teo iaà daà est içãoà dasà est ições à ouà limitação das limitações /à li itesà dosà li ites ) é uma teoria
que surgiu na Alemanha e é adotada constantemente no Brasil pelo STF

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


Uma das características dos direitos fundamentais é que eles são relativos, ou seja, podem sofrer
limitações. Em outras palavras, os direitos fundamentais têm limites, eles podem sofrer restrições.
Contudo, as restrições impostas aos direitos fundamentais devem ser feitas com critérios e de forma
excepcional para não esvaziar o seu núcleo essencial.
Assim, a doutrina germânica afirma que, quando forem ser feitas limitações aos direitos fundamentais, tais
limitações deverão ser limitadas. Dito de outro modo, pode haver restrições aos direitos fundamentais,
mas tais restrições deverão ser restritas (não podem ser muito amplas). Daí ter surgido essa brincadeira de
palav as,à est içãoàdasà est ições àouà li itaçãoàdasàli itações .
A excelente Prof. Jane Reis Gonçalves Pereira explica que aàexp essãoà li itesàdosàli ites àfoiàutilizadaàpo à
Karl August Betterman, em uma conferência realizada em Berlim (1964), na qual sustentou que as
limitações aos direitos fundamentais, para serem legítimas, devem atender a um conjunto de condições
materiais e formais estabelecidas na Constituição, que são os limites dos limites dos direitos
fu da e tais. à(NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 335).
Desse modo, só podem ser impostas restrições aos direitos fundamentais se forem observados certos
requisitos formais e materiais:
1) Requisito formal: osà di eitosà fu da e taisà sóà podem ser restringidos em caráter geral por meio de
normas elaboradas por órgãos dotados de atribuição legiferante conferido pela constituição. A restrição
deveàesta àexp essaàouài pli ita e teàauto izada. à NOVELINO,àMa elo.,àp.à .
2) Requisitos materiais:
Para que a restrição seja válida, deverão ser observados os seguintes princípios:
 Princípio da não retroatividade;
 Princípio da proporcionalidade;
 Princípio da generalidade e abstração;
 Princípio da proteção do núcleo essencial.

O objetivo aqui foi apenas o de apresentar esta teoria para você não ser surpreendido com ela na hora da
prova. Para maiores informações, leia NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. Salvador: Juspodivm,
2015, p. 335-337 ou outro bom livro de Direito Constitucional.

TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO


Natureza do TCU

O TCU ostenta a condição de órgão independente na estrutura do Estado brasileiro, cujas funções
estão elencadas nos incisos do art. 71 da CF/88. Seus membros possuem as mesmas prerrogativas
que as asseguradas aos magistrados (art. 73, § 3º da CF/88), tendo suas decisões a natureza
jurídica de atos administrativos passíveis de controle jurisdicional. Trata-se de um tribunal de
índole técnica e política, criado para fiscalizar o correto emprego dos recursos públicos.
Os Tribunais de Contas realizam controle de legitimidade, economicidade e de eficiência,
verificando se os atos praticados pelos entes controlados estão de acordo com a moralidade,
eficiência, proporcionalidade.
No atual contexto juspolítico brasileiro, o Tribunal de Contas possui competência para aferir
se o administrador atuou de forma prudente, moralmente aceitável e de acordo com o que a
sociedade dele espera.
O TCU representa um dos principais instrumentos republicanos destinados à concretização da
democracia e dos direitos fundamentais, na medida em que o controle do emprego de recursos
públicos propicia, em larga escala, justiça e igualdade.
STF. 1ª Turma. MS 33340/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


DIREITO ELEITORAL

INFIDELIDADE PARTIDÁRIA
Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica a cargos eletivos majoritários

Importante!!!
Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi eleito,
ele perderá o cargo que ocupa?
a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo
sistema majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor.
No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não importando
o quociente eleitoral nem o quociente partidário.
Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no candidato e não no seu partido político.
Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade
partidária é antagônica (contrária) à soberania popular.

b) Se for um cargo eletivo PROPORCIONAL: SIM


O mandato parlamentar conquistado no sistema eleitoral proporcional pertence ao partido
político. Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de partido político, ele sofrerá um
processo na Justiça Eleitoral que poderá resultar na perda do seu mandato. Neste processo,
com contraditório e ampla defesa, será analisado se havia justa causa para essa mudança.
O assunto está disciplinado na Resolução 22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as
hipóteses consideradas como justa causa .
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).

Veja comentários sobre o tema em Direito Constitucional.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Honorários advocatícios constituem-se em verba de natureza alimentar

Súmula vinculante 47-STF: Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou destacados


do montante principal devido ao credor consubstanciam verba de natureza alimentar cuja
satisfação ocorrerá com a expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, observada
ordem especial restrita aos créditos dessa natureza.
STF. Plenário. Aprovada em 27/05/2015, DJe 01/06/2015.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Honorários advocatícios são verba de natureza alimentar
Os honorários advocatícios são a remuneração do advogado e, portanto, possuem caráter alimentar. Esse
é o entendimento pacífico tanto do STJ como do STF.
Éà o oàseàfosseàoà sal io àdeàu àe p egado.àOàCPCà àp ev isso expressamente:

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


Art. 85 (...)
§ 14. Os honorários constituem direito do advogado e têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos
créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência parcial.

Espécies de honorários advocatícios


Os honorários advocatícios dividem-se em:
a) Contratuais (convencionados): ajustados entre a parte e o advogado por meio de um contrato. Ex: a
União ajuizou ação de desapropriação contra João. Este procura, então, um advogado e faz com ele um
contrato para que o causídico prepare sua defesa e acompanhe a demanda. João combina de pagar R$ 20
mil reais para Dr. Rui (seu advogado).
b) Sucumbenciais: são arbitrados pelo juiz e pagos, em regra, pela parte vencida na demanda ao advogado
da parte vencedora, na forma do art. 20 do CPC 1973 (art. 85 do CPC 2015). Ex: João foi a parte vencedora
na ação de desapropriação e a União, a parte vencida. A sentença que condenou a União a pagar a
indenização a João também determinou que a União pagasse os honorários ao advogado de João.

O advogado da parte vencedora terá direito aos honorários contratuais e aos honorários sucumbenciais,
estes últimos pagos pela parte sucumbente (vencida).

Obs: tanto os honorários contratuais como os sucumbenciais pertencem ao advogado e são considerados
verba alimentar.

Honorários advocatícios e causas contra a Fazenda Pública


A SV 47-STF trata sobre a situação dos honorários do advogado da parte que litigou contra a Fazenda
Pública e, ao final, sagrou-se vencedora.

REGIME DE PRECATÓRIOS
Para entender a súmula, é preciso relembrar em que consiste o regime de precatórios.
No caput do art. 100 da CF/88 consta a regra geral dos precatórios, ou seja, os pagamentos devidos pela
Fazenda Pública em decorrência de condenação judicial devem ser realizados na ordem cronológica de
ap ese taçãoàdosàp e ató ios.àExiste,àe tão,àu aàesp ieàdeà fila àpa aàpaga e toàdosàp e ató ios:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em
virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos
precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações
orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. (Redação dada pela EC 62/09)

Exceção ao regime de precatórios


O § 3º do art. 100 da CF prevê uma exceção ao regime de precatórios. Este parágrafo estabelece que, se a
o de açãoà i postaà à Faze daà Pú li aà fo à deà pe ue oà valo ,à oà paga e to será realizado sem a
necessidade de expedição de precatório:
§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos
pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam
fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado.

Qua to é pe ue o valo pa a os fi s do § 3º do a t. ?
Este quantum poderá ser estabelecido por cada ente federado (União, Estado, DF, Município) por meio de
leis específicas, conforme prevê o § 4º do art. 100:
§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias, valores distintos às entidades
de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior
benefício do regime geral de previdência social.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


União
Para as condenações envolvendo a União, pequeno valor equivale a 60 salários mínimos (art. 17, § 1º, da
Lei nº 10.259/2001).
Em 2015, levando-se em consideração o salário-mínimo de R$ 788,00, isso significa que, nas dívidas em
que a União for condenada até R$ 47.280,00 (60 x 788), a parte beneficiária não precisará ter que entrar
na fila dos precatórios, recebendo a quantia por meio de requisição de pequeno valor (RPV), um
procedimento muito mais simples e célere.

E se o ente federado não editar a lei prevendo o quantum do pe ue o valo ?


Nesse caso, segundo o art. 87 do ADCT da CF/88, para os entes que não editarem suas leis, serão
adotados,à o oà pe ue oàvalo àosàsegui tesà o ta tes:
I — 40 salários mínimos para Estados e para o Distrito Federal;
II — 30 salários mínimos para Municípios.

RPV
Nasàhipótesesàdeà pe ue oàvalo ,àoàpaga e toà àfeitoàpo à eioàdeà e uisiçãoàdeàpe ue oàvalo à RPV ,à
que se trata de uma ordem expedida pela autoridade judicial à autoridade da Fazenda Pública responsável
para pagamento da quantia devida.

FAZENDA PÚBLICA E PAGAMENTO DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS


Se a Fazenda Pública for condenada na ação de conhecimento, ela também terá que pagar honorários
sucumbenciais ao advogado da parte vencedora?
SIM.

Como são calculados os honorários contra a Fazenda Pública?

CPC 1973:
Os honorários eram fixados segundo apreciação equitativa do juiz:
Art. 20 (...) § 4º Nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver
condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão
fixados consoante apreciação equitativa do juiz, atendidas as normas das alíneas a, b e c do parágrafo
anterior.

CPC 2015:
O novo CPC prevê uma infinidade de regras no art. 85 para tratar sobre os honorários advocatícios pagos
pela Fazenda Pública.
Segundo o § 3º, nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os
seguintes percentuais:

Se o valor da condenação ou do Os honorários a serem pagos pela Fazenda Pública


proveito econômico obtido for... serão fixados entre

Até 200 salários-mínimos 10% a 20%


Até 2.000 salários-mínimos 8% a 10%
Até 100.000 salários-mínimos 3% a 5%
Acima de 100.000 salários-mínimos 1% a 3%

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


Observações:
 Os percentuais acima previstos devem ser aplicados desde logo, quando for líquida a sentença;
 Não sendo líquida a sentença, a definição do percentual somente ocorrerá quando liquidado o julgado;
 Não havendo condenação principal ou não sendo possível mensurar o proveito econômico obtido, a
condenação em honorários será feita com base no valor atualizado da causa;
 Será considerado o salário-mínimo vigente quando prolatada sentença líquida ou o que estiver em
vigor na data da decisão de liquidação.

§ 5º Quando, conforme o caso, a condenação contra a Fazenda Pública ou o benefício econômico obtido
pelo vencedor ou o valor da causa for superior ao valor previsto no inciso I do § 3º, a fixação do percentual
de honorários deve observar a faixa inicial e, naquilo que a exceder, a faixa subsequente, e assim
sucessivamente.
§ 6º Os limites e critérios previstos nos §§ 2º e 3º aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo
da decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de mérito.
§ 7º Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública que enseje
expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.

COMO FICAM OS HONORÁRIOS CASO A FAZENDA PÚBLICA TENHA SIDO CONDENADA A PAGAR O CRÉDITO PRINCIPAL POR
MEIO DE PRECATÓRIO

Situação 1. O crédito principal é maior que 60 salários-mínimos, mas o crédito do advogado é inferior.
Ex: João teve seu imóvel desapropriado pela União e irá receber R$ 800 mil de indenização fixada pelo juiz
em sentença transitada em julgado. O magistrado condenou a União a pagar 5% de honorários
advocatícios, ou seja, Dr. Rui, advogado de João, terá direito a R$ 40 mil de honorários advocatícios
sucumbenciais a serem pagos pela União.

Repare que a quantia que o advogado irá receber é inferior a 60 salários-mínimos, sendo, portanto,
o side ado o o de pe ue o valo . Neste aso, é possível fracionar o valor da execução movida
contra a Fazenda Pública, de modo a permitir a cobrança dos honorários sucumbenciais pelo rito da RPV
e o crédito principal ser cobrado mediante precatório? Em outras palavras, o advogado pode separar a
sua parte (referente aos honorários advocatícios) e pedir o pagamento imediato como RPV?
SIM. O STJ e o STF entendem que é possível que a execução de honorários advocatícios devidos pela
Fazenda Pública se faça mediante Requisição de Pequeno Valor (RPV) na hipótese em que os honorários
ãoàex eda àoàvalo àli iteàaà ueàseà efe eàoàa t.à ,à§à º,àdaàCF,àai daà ueàoà ditoàditoà p i ipal àsejaà
executado por meio do regime de precatórios. Isso porque os honorários advocatícios (inclusive os de
sucumbência) podem ser executados de forma autônoma — nos próprios autos ou em ação distinta —,
independentemente da existência do montante principal a ser executado. Em outras palavras, é possível o
fracionamento de precatório para pagamento de honorários advocatícios.
STF. Plenário. RE 564132/RS, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/10/2014 (repercussão
geral) (Info 765).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.347.736-RS, Rel. Min. Castro Meira, Rel. para acórdão Min. Herman Benjamin,
julgado em 9/10/2013 (recurso repetitivo) (Info 539).

Oà edo àp i ipalà e à ossoàexe plo,àJoão ,àte à ueàe t a à aà fila àdosàp e ató ios.

Situação 2. Tanto o crédito principal como o crédito do advogado são maiores que 60 salários-mínimos.
Ex: João teve seu imóvel desapropriado pela União e irá receber R$ 1 milhão de indenização fixada pelo
juiz em sentença transitada em julgado. O magistrado condenou a União a pagar 5% de honorários
advocatícios, ou seja, Dr. Rui, advogado de João, terá direito a R$ 50 mil de honorários advocatícios
sucumbenciais a serem pagos pela União.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


Repare que a quantia que o advogado irá receber é superior a 60 salários-mínimos, de forma que tanto
João (credo àp i ipal à o oàD .àRuiàte ãoà ueàe t a à aà fila àdosàp e ató ios.

A fila que Dr. Rui entrará para receber seu crédito de honorários é a mesma que João (credor principal)?
NÃO.àJoãoàte à ueàespe a àpa aà e e e àseuà ditoàe àu aà filaàge alàdosàp e ató ios àe ua toà ueàD .à
Ruiàagua da àe àu aà filaàp efe e ial àdeà ditosàdeà atu ezaàali e tí ia.àVejaà o oàfu io a:

Fila geral dos p e ató ios (caput do art. 100 da CF/88)


No caput do art. 100 da CF/88 consta a regra geral dos precatórios, ou seja, os pagamentos devidos pela
Fazenda Pública em decorrência de condenação judicial devem ser realizados na ordem cronológica de
ap ese taçãoàdosàp e ató ios.àExiste,àe tão,àu aàesp ieàdeà fila àpa aàpaga e toàdosàp e ató ios:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em
virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos
precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações
orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. (Redação dada pela EC 62/09)

Fila p efe e ial de p e ató ios (§ 1º do art. 100 da CF/88)


No § 1º do art. 100, há a previsão de que os débitos de natureza alimentícia gozam de preferência no
e e i e toàdosàp e ató ios.àÉà o oàseàexistisseàu aàesp ieàdeà fila preferencial :
§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos,
proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por
invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão
pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo.
(Redação dada pela EC 62/09).

O STF entende, como já vimos acima, que os honorários advocatícios possuem a natureza de verba
alimentar. Logo, o advogado que tiver que receber créditos da Fazenda Pública decorrentes de honorários
advocatíciosà ãoàe t a à aà filaàge al àdosàp e ató ios,à asàsi à aà filaàp efe e ial àdeà ueàt ataàoà§à ºà
do art. 100 da CF/88.

COMO FICAM OS HONORÁRIOS CASO A FAZENDA PÚBLICA TENHA SIDO CONDENADA A PAGAR O CRÉDITO PRINCIPAL POR
MEIO DE RPV

Imagine que a União foi condenada a pagar R$ 40 mil reais a João. O magistrado condenou a União a pagar
10% de honorários advocatícios, ou seja, Dr. Rui, advogado de João, terá direito a R$ 400 de honorários
advocatícios sucumbenciais.
Neste caso, após transitar em julgado, o juiz determina a expedição de uma RPV para pagar o crédito
principal de João e outra para pagar os honorários sucumbenciais do Dr. Rui.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DESTACADOS DO MONTANTE PRINCIPAL


Se você ler novamente a SV 47, ve á ue ela fala e ho o ários advocatícios incluídos na condenação
ou desta ados do o ta te p i ipal . O ue sig ifi a isso? Qual é a dife e ça?

a) Honorários incluídos na condenação: são os honorários sucumbenciais, ou seja, a quantia que o juiz
condenou a Fazenda Pública a pagar em favor da outra parte, que foi a vencedora. Como vimos acima,
esses honorários sucumbenciais serão incluídos na condenação, ou seja, irão figurar na sentença
(título executivo) e, a depender do valor, serão pagos por RPV ou precatório. Mesmo que sejam pagos
por precatório, esse crédito irá entrar na fila preferencial de verbas alimentícias.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


b) Honorários advocatícios destacados do montante principal: são os honorários contratuais que o
advogadoà daà pa teà ve edo aà podeà pedi à aoà juizà pa aà ueà elesà seja à desta ados à ese vados,à
separados) do valor que o seu cliente irá receber da Fazenda Pública.
Ex: João e Dr. Rui fizeram contrato de prestação de honorários advocatícios por meio do qual ficou
combinado que o advogado, como remuneração pelo seu trabalho, teria direito a 20% do valor que a
parte fosse receber da União caso se sagrasse vencedora na lide. Essa verba constitui-se em
honorários advocatícios contratuais.
O que nem todos sabem é que o advogado pode pedir que essa quantia seja destacada do montante
principal que a parte irá receber. Assim, imagine que a sentença determina que a União pague R$ 1
milhão a João; por força de contrato, Dr. Rui terá direito a 20% disso (R$ 200 mil); a fim de se precaver
e evitar um inadimplemento de seu cliente, Dr. Rui poderá pedir que seus honorários sejam
desta adosàdoà o ta teàp i ipal.àDessaàfo a,à oà o e toàdeà sa a àoàvalo àdoàp e ató io,àJoãoà
irá receber apenas R$ 800 mil e Dr. Rui poderá, ele próprio, sacar R$ 200 mil. O que vou falar agora
não é tecnicamente correto e serve apenas para você entender melhor: esse destaque é como se fosse
uma penhora; o cliente do advogado tem um crédito para receber, mas ele também tem uma dívida
com seu advogado; logo, o Poder Judiciário autoriza que, antes de a parte receber o valor total da
condenação, a quantia que pertence ao advogado já seja separada para ser entregue ao causídico.
Vale ressaltar, mais uma vez, que esses R$ 200 mil são apenas os honorários contratuais. Além deles, o
advogado irá receber os honorários sucumbenciais que estão incluídos na condenação.

Esse desta ue do valo dos ho o á ios o t atuais ão é ilegal?


NÃO. Ao contrário. Existe fundamento legal expresso na Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB):
Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários
convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência.
(...)
§ 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de
levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da
quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou.

Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao


advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer que o
precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor.

Natureza alimentar e fila preferencial


A SV deixa claro que tanto os honorários incluídos na condenação como os honorários destacados do
montante principal constituem-se em verba de natureza alimentar.
Se os honorários contratuais que foram destacados forem inferiores ao que a lei considera como pequeno
valor (art. 100, § 3º da CF/88), o advogado irá recebê-los mediante RPV. Se forem superiores, o advogado
irá recebê-los por meio de precatório.
Noàe ta to,àseàfo à e e e àpo à eioàdeàp e ató io,àoàadvogadoàte àdi eitoàdeàe t a à aà filaàp efe e ial à
dos créditos de natureza alimentícia.

Voltando ao exemplo:
Dr. Rui pediu que fosse destacado seu honorários contratuais do valor que João tem para receber da União. O
juiz autorizou e foi destacada a quantia de R$ 200 mil. João, para receber seu valor restante (R$ 800 mil),
entrará na fila geral de precatórios, e ua toà ueàD .àRuiàpode àagua da àseuà ditoà aà filaàp efe e ial .

SV 47 e Resolução 168/2011 do CJF


O Conselho da Justiça Federal (CJF), órgão responsável pela supervisão administrativa e orçamentária da
Justiça Federal de primeiro e segundo graus, editou uma Resolução (168/2011) que trata sobre o
pagamento dos precatórios na Justiça Federal.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


Nesta Resolução é prevista a seguinte regra no parágrafo único do art. 23:
Art. 23. O contrato particular de honorários celebrado entre o advogado e seu constituinte não obriga a
Fazenda Pública a antecipar o pagamento.
Parágrafo único. O destaque de honorários contratuais de advogado não transforma em alimentar um
crédito comum nem altera a modalidade de requisição por precatório para requisição de pequeno valor.

Este parágrafo único do art. 23 encontra-se em desacordo com o teor da SV 47 do STF e, portanto, terá
que ser revogado, sob pena de ser declarado nulo, nos termos do § 3º do art. 103-A da CF/88. Isso porque
a SV 47 diz claramente que os honorários advocatícios destacados do montante principal devido ao credor
consubstanciam verba de natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá observada ordem especial restrita
aos créditos dessa natureza. Em outras palavras, os honorários advocatícios destacados são verba
alimentar e devem ser pagos na fila preferencial, ao contrário do que afirma a Resolução.

ADENDO. POSSIBILIDADE EXCEPCIONAL DE PENHORA SOBRE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS


A explicação sobre a súmula acabou, mas existe um tema correlato que é muito importante e, por isso, gostaria
de relembrar para vocês. Trata-se da possibilidade excepcional de penhora sobre honorários advocatícios.

Imagine a seguinte situação hipotética:


João é advogado e possui dívidas de tributos federais, tendo sido, inclusive, proposta uma execução fiscal
contra ele pela União.
A Procuradoria da Fazenda Nacional, que cobra judicialmente as dívidas da União, soube que João irá receber
vultosa quantia de honorários advocatícios em outro processo onde lá ele atua como advogado. Diante disso,
formulou requerimento pedindo a penhora, no rosto dos autos, dos honorários que João irá receber.

Os honorários advocatícios podem ser penhorados?


Em regra não. Os honorários advocatícios (contratuais ou sucumbenciais) são a remuneração do advogado e,
portanto, possuem caráter alimentar. Logo, são, em princípio, impenhoráveis, com base no art. 649, IV, do CPC:
Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:
IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões,
pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do
devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
observado o disposto no § 3º deste artigo;

Por que se falou e eg a ? Existe possi ilidade de se pe ho a a ve a dos ho o á ios?


SIM. O STJ entende que o art. 649, IV, do CPC não pode ser interpretado de forma literal ou absoluta. Em
determinadas circunstâncias é possível a sua relativização.
Se os honorários advocatícios recebidos são exorbitantes e ultrapassam valores que seriam razoáveis para
sustento próprio e de sua família, a verba perde a sua natureza alimentar (finalidade de sustento) e passa
a ser possível a sua penhora, liberando-se apenas uma parte desse valor para o advogado.

Veja precedente nesse sentido:


(...) 1. É firme nesta Corte Superior o entendimento que reconhece a natureza alimentar dos honorários
advocatícios e a impossibilidade de penhora sobre verba alimentar, em face do disposto no art. 649, IV, do CPC.
2. Contudo, a garantia de impenhorabilidade assegurada na regra processual referida não deve ser
interpretada de forma gramatical e abstrata, podendo ter aplicação mitigada em certas circunstâncias,
como sucede com crédito de natureza alimentar de elevada soma, que permite antever-se que o próprio
titular da verba pecuniária destinará parte dela para o atendimento de gastos supérfluos, e não,
exclusivamente, para o suporte de necessidades fundamentais.
3. Não viola a garantia assegurada ao titular de verba de natureza alimentar a afetação de parcela menor
Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17
de montante maior, desde que o percentual afetado se mostre insuscetível de comprometer o sustento do
favorecido e de sua família e que a afetação vise à satisfação de legítimo crédito de terceiro, representado
por título executivo.
4. Sopesando criteriosamente as circunstâncias de cada caso concreto, poderá o julgador admitir,
excepcionalmente, a penhora de parte menor da verba alimentar maior sem agredir a garantia desta em
seu núcleo essencial. (...)
(STJ. 4ª Turma. REsp 1356404/DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 04/06/2013)

Resumindo:
Os honorários advocatícios (contratuais ou sucumbenciais) são a remuneração do advogado e, portanto,
possuem caráter alimentar. Logo, são, em princípio, impenhoráveis, com base no art. 649, IV, do CPC.
No entanto, o STJ entende que o art. 649, IV, do CPC não pode ser interpretado de forma literal ou
absoluta. Em determinadas circunstâncias é possível a sua relativização.
Assim, se os honorários advocatícios recebidos são exorbitantes e ultrapassam valores que seriam razoáveis
para sustento próprio e de sua família, a verba perde a sua natureza alimentar (finalidade de sustento) e passa
a ser possível a sua penhora, liberando-se apenas uma parte desse valor para o advogado.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/11/2014 (Info 553).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
Legitimidade do MP para promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal

O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por
prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias
que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado.
A controvérsia sobre a legitimidade constitucional do poder de investigação do Ministério
Público foi pacificada pelo STF com o julgamento do RE 593.727/MG (Info 785).
STF. 1ª Turma. HC 85011/RS, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

Neste julgado a 1ª Turma do STF simplesmente reiterou o que foi decidido no RE 593.727/MG, ou seja,
que o Ministério Público possui legitimidade para promover, por autoridade própria, investigações de
natureza penal, desde que respeitados certos parâmetros.
Para maiores informações sobre o tema, veja o Info 785 do STF.

TRANSAÇÃO PENAL
Em caso de transação penal, não se aplicam os efeitos do art. 91 do CP

Importante!!!
As consequências jurídicas extrapenais previstas no art. 91 do Código Penal são decorrentes
de sentença condenatória. Tal não ocorre, portanto, quando há transação penal, cuja sentença
tem natureza meramente homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade
criminal do aceitante. As consequências geradas pela transação penal são essencialmente
aquelas estipuladas por modo consensual no respectivo instrumento de acordo.
STF. Plenário. RE 795567/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/5/2015 (Info 787).

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Imagine a seguinte situação adaptada:
João era coletor de apostas do jogo do bicho. O jogo do bicho não é crime, sendo, no entanto, uma
contravenção penal tipificada no art. 58 do Decreto-Lei n. 3.688/41:
Art. 58. Explorar ou realizar a loteria denominada jogo do bicho, ou praticar qualquer ato relativo à sua
realização ou exploração:
Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa, de dois a vinte contos de réis.

Determinado dia, João estava em sua moto coletando apostas do jogo do bicho quando foi abordado por
policiais militares e levado até a Delegacia de Polícia. Lá chegando, o Delegado instaurou um termo
circunstanciado e liberou João com o compromisso de que ele deveria comparecer no Juizado Especial
Criminal no dia marcado. Ocorre que a autoridade policial não liberou a motocicleta, que ficou retida
porque poderia constituir-se em instrumento da infração penal.

Transação penal
No dia da audiência no Juizado, o Promotor ofereceu proposta de transação penal consistente na
obrigação de prestar serviços à comunidade por 60 horas.
João aceitou a transação e cumpriu a obrigação imposta.
O juiz prolatou, então, sentença declarando extinta a punibilidade do agente, mas, como pena acessória, o
magistrado decretou a perda do bem apreendido (motocicleta), sob o argumento de que ele teria sido
utilizado para o cometimento da referida contravenção penal. Como fundamento legal, o juiz invocou o
art. ,àII,à a ,àdoàCP:
Art. 91. São efeitos da condenação:
(...)
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
detenção constitua fato ilícito;

Agiu corretamente o magistrado?


NÃO. As consequências jurídicas extrapenais, previstas no art. 91 do CP, só podem ser aplicadas se foi proferida
uma sentença penal condenatória. Isso não ocorre, portanto, quando há transação penal, cuja sentença tem
natureza meramente homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do aceitante.
As consequências geradas pela transação penal são aquelas estipuladas por modo consensual no
respectivo instrumento de acordo.
Logo, não cabe a imposição de efeitos extrapenais acessórios de sentença penal condenatória no caso de
transação penal.
O único efeito acessório gerado pela homologação da transação penal está no fato de que durante 5 anos
ele não poderá receber novamente o mesmo benefício (§ 4º do art. 76 da Lei 9.099/1995).
A transação penal não gera outros efeitos penais e civis (§ 6º do art. 76).

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


DIREITO TRIBUTÁRIO
ICMS
ICMS importação e desembaraço aduaneiro

Súmula vinculante 48-STF: Na entrada de mercadoria importada do exterior, é legítima a


cobrança do ICMS por ocasião do desembaraço aduaneiro.
STF. Plenário. Aprovada em 27/05/2015.

Conversão da súmula 661 do STF


áà o lusãoàexpostaà estaà“Và àj àe aàp evistaàe àu aàsú ulaà o u àdoà“TF,àaàsú ulaà àdoà“TFà deà
24/09/2003) e que tem a mesma redação.
OàPle ioàdoà“TFàte à o ve tidoàe àsú ulasàvi ula tesàalgu asàsú ulasà o u s à o àoào jetivoàdeà
agilizar os processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas.

ICMS
Previsão
O ICMS é um imposto estadual previsto no art. 155, II, da CF e na LC 87/96:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
II — operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no
exterior;

Características
Principais características do imposto:
 plurifásico: incide sobre o valor agregado, obedecendo-se ao princípio da não-cumulatividade;
 real: as condições da pessoa são irrelevantes;
 proporcional: não é progressivo;
 fiscal: tem como função principal a arrecadação.

Fatos geradores
Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os seguintes fatos geradores (Manual de
Direito Tributário. 4. ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1061):
 circulação de mercadorias;
 prestação de serviços de transporte intermunicipal;
 prestação de serviços de transporte interestadual;
 prestação de serviços de comunicação.

Valeà essalta à ueài ideàoàICM“à es oà ueà asàope açõesàeàasàp estaçõesàseài i ie à oàexte io à a t.à
155, II da CF/88).

ICMS IMPORTAÇÃO
A CF/88 prevê que haverá cobrança de ICMS nos casos de mercadoria importada do exterior ou nas
hipóteses de serviço prestado no exterior. Ex: uma empresa que fabrica roupas deverá pagar ICMS se
importou da China uma máquina têxtil para utilizar em sua linha de produção.

Se a pessoa que importou a mercadoria era uma pessoa física não contribuinte habitual do imposto,
haverá incidência de ICMS?
SIM.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


Se a pessoa que importou a mercadoria era uma pessoa jurídica não comerciante (não contribuinte
habitual do imposto), haverá incidência de ICMS?
SIM.

Se a mercadoria foi importada pela empresa sem finalidade comercial (não seria utilizada em sua cadeia
produtiva), mesmo assim haverá incidência de ICMS?
SIM.

Desde a edição da EC 33/2001, o ICMS incide sobre toda e qualquer importação. Independentemente de a
pessoa ser contribuinte ou não do ICMS, deverá pagar o ICMS importação.

Vejaàaà edaçãoàdoàa t.à ,à º,àIX,à a ,àdaàCF/ :


Incide também o ICMS:
a) sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do exterior por pessoa física ou jurídica, ainda que
não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a sua finalidade, assim como sobre o serviço
prestado no exterior, cabendo o imposto ao Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento
do destinatário da mercadoria, bem ou serviço; (Redação dada pela EC 33/2001)

MOMENTO DA COBRANÇA DO ICMS IMPORTAÇÃO


O fato gerador do ICMS importação é a importação. Em que momento ocorre a importação e,
consequentemente, o fato gerador do imposto?
Considera-se ocorrido o fato gerador no momento do desembaraço aduaneiro da mercadoria ou bem
importado do exterior (art. 12, IX, da LC 87/96).
O despacho aduaneiro consiste na liberação da mercadoria ou bem importado após ser verificado que
todas as formalidades exigidas foram cumpridas.
Como o fato gerador ocorre com o despacho aduaneiro, a jurisprudência entende que exatamente neste
momento já pode ser exigido o ICMS. Daí ter sido editada a súmula afirmando isso:
Súmula vinculante 48-STF: Na entrada de mercadoria importada do exterior, é legítima a cobrança do
ICMS por ocasião do desembaraço aduaneiro.

Cuidado com a Súmula 577 do STF


O STF possui um enunciado antigo (de 15/12/1976), que dizia o seguinte:
Súmula 577-STF: Na importação de mercadorias do exterior, o fato gerador do imposto de circulação de
mercadorias ocorre no momento de sua entrada no estabelecimento do importador.

Esta súmula encontra-se SUPERADA porque era baseada na legislação anterior e não mais subsiste, já que o art.
12, IX, da LC 87/96 afirma que o fato gerador do imposto é o desembaraço aduaneiro, situação que ocorre
ainda na alfândega, ou seja, antes de o bem ou a mercadoria ser levada ao estabelecimento do importador.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


JULGADO NÃO COMENTADO

Fies e alteração de regras de forma retroativa - 2


O art. 19 da Portaria Normativa MEC 10/2010, com a redação dada pela Portaria Normativa MEC 21/2014,
que dispõe sobre procedimentos para inscrição e contratação de financiamento estudantil a ser concedido
pelo Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior - Fies não se aplica a todos os estudantes.
Com base nessa orientação, o Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, referendou concessão
parcial de medida cautelar em arguição de descumprimento de preceito fundamental para determinar a
não aplicação do referido art. 19 aos estudantes que: a) postularam a renovação de seus contratos; e b)
requereram sua inscrição no Fies até 29.3.2015. Na espécie, atos normativos teriam alterado
retroativamente a forma de ingresso e a renovação de contratos de financiamento de cursos de nível
superior celebrados com o Fies. Basicamente, o novo regramento passara a exigir que o postulante tivesse
média mínima no Exame Nacional do Ensino Médio - Enem de 450 pontos e que não obtivesse nota zero na
prova de redação, a alcançar, inclusive, quem já estivesse inscrito no programa — v. Informativo 785. O
Tribunal deliberou que os dois grupos de estudantes mencionados teriam assegurado o direito a que seus
pedidos fossem apreciados com base nas normas anteriores à Portaria Normativa MEC 21/2014, portanto,
sem a exigência de desempenho mínimo no Enem. Os demais estudantes, que requereram sua inscrição
após 29.3.2015, se submeteriam às exigências de desempenho mínimo contidas na Portaria Normativa
MEC 21/2014. A Corte asseverou ser legítimo o novo critério objetivo adotado pela portaria, visto o escasso
número de vagas e o grande contingente de postulantes. Considerou, entretanto, não ser válida a aplicação
retroativa de regras que afetassem estudantes que já teriam sido beneficiários do financiamento, sob pena
de muitos universitários serem obrigados a interromper seus cursos. Assim, aqueles que não tivessem
requerido sua inscrição no mencionado programa de financiamento não poderiam alegar expectativas de
direito, porque a adesão ao modelo ou a pretensão de ser regido por determinadas regras apenas se
caracterizaria no momento da inscrição. Lembrou que milhares de pessoas participaram do Enem e muitas
não cogitaram requerer financiamento, do que resultaria não haver expectativa de direito antes da
mencionada inscrição.

A Corte apontou que regras do Fies seriam explícitas no sentido de que, uma vez concluída a inscrição, o
órgão gestor iria verificar a disponibilidade de recursos para deferir ou não o ingresso daquele indivíduo.
Desse modo, não estaria caracterizado direito adquirido ou violação de segurança jurídica a quem não
tivesse se inscrito. Esclareceu que aqueles que conseguissem comprovar que tentaram entrar no sistema
na data aprazada e não tivessem conseguido se inscrever, por falhas no sistema eletrônico, teriam
assegurado o direito à inscrição no Fies. Frisou que o direito de se inscrever não significaria o direito de ter
deferido o pedido. Vencidos, em parte, os Ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Teori
Zavascki, que concediam a medida cautelar em maior extensão. Abrangiam, também, o grupo de
estudantes que teriam se submetido ao Enem antes das alterações introduzidas pela nova portaria e que
teriam preenchido o requisito exigido anteriormente, consistente na mera realização do exame nacional, e
que agora não poderiam aderir ao Fies por não preencherem os novos requisitos. A concessão se aplicaria
dentro do período de inscrição do Fies 2015, sem distinção quanto à data em que os candidatos teriam
tentado se inscrever no programa. Apontavam que a jurisprudência da Corte no sentido de não existir
direito adquirido a regime jurídico não se ajustaria ao caso dos autos. Enfatizavam que o financiamento
estudantil, instituído pela Lei 10.260/2001, se enquadraria na seara das políticas públicas destinadas à
promoção e à ampliação do acesso à educação superior. Aduziam que a relação estabelecida entre Estado e
particular seria de natureza prestacional. Concluíam que os requisitos instituídos pela nova regra deveriam
ser exigidos somente dos estudantes que viessem a prestar o Enem a partir de 2015, os quais, no momento
da realização das provas, teriam a devida ciência do novo regramento em vigor.
ADPF 341 MC-Referendo/DF, rel. Min. Roberto Barroso, 27.5.2015. (ADPF-341)

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 25 a 29 de maio de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 751.526-SP


RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. QUANTIFICAÇÃO DA CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS NAS AÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. SÚMULA 111 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E ART. 20, § 3º, DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL. MATÉRIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO. REPERCUSSÃO
GERAL. INEXISTÊNCIA.
I – A controvérsia acerca da apuração do valor da condenação em honorários advocatícios nas ações previdenciárias – notadamente quanto à
incidência, ou não, de verba honorária sobre as prestações vencidas após a sentença – está restrita ao âmbito infraconstitucional.
II – O exame da questão constitucional não prescinde da prévia análise de normas infraconstitucionais, o que afasta a possibilidade de reconhecimento
do requisito constitucional da repercussão geral.
III – Repercussão geral inexistente.
 Decisões Publicadas: 1

CLIPPING DO D JE
25 a 29 de maio de 2015

AG. REG. NO ARE N. 854.180-SC


RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA
REPERCUSSÃO GERAL PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO PREVISTO NO ART. 544 DO CPC. NÃO
CABIMENTO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS AO TRIBUNAL DE ORIGEM. CABIMENTO
SOMENTE PARA OS RECURSOS INTERPOSTOS ANTES DE 19/11/2009. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I – Não é cabível agravo para a correção de suposto equívoco na aplicação da repercussão geral, consoante firmado no julgamento do AI 760.358-
QO/SE, Rel. Min. Gilmar Mendes.
II – A aplicação do princípio da fungibilidade recursal, com a devolução dos autos para julgamento pelo Tribunal de origem como agravo regimental,
só é cabível nos processos interpostos antes de 19/11/2009.
III – Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO AI N. 744.010-MG
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL ADMITIDA – PROCESSO VERSANDO A MATÉRIA –
SOBRESTAMENTO – MANUTENÇÃO. O tema atinente à constitucionalidade da cobrança de contribuições sociais em face das atividades das
cooperativas em geral, tendo em conta a distinção entre “ato cooperativo típico” e “ato cooperativo atípico”, teve repercussão geral admitida pelo
denominado Plenário Virtual no Recurso Extraordinário nº 672.215/CE, da relatoria do ministro Luís Roberto Barroso. A matéria de fundo, tanto no
mencionado recurso como neste extraordinário, diz respeito à definição da incidência ou não desses tributos sobre as receitas decorrentes de tais atos.
Impõe-se aguardar o julgamento do mérito do paradigma, considerados o regime da repercussão geral, presentes os processos múltiplos, e a
possibilidade de revisão do entendimento.
AG. REG. NO ARE N. 775.003-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Direito administrativo. Serventias extrajudiciais. Reclassificação de
entrância. Legislação local. Ofensa reflexa. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade. Precedentes.
1. Inadmissível, em recurso extraordinário, o reexame dos fatos e das provas e a análise da legislação local. Incidência das Súmulas nºs 279 e
280/STF.
2. Agravo regimental não provido.
AG. REG. NO RE N. 555.421-AM
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário. Efeitos de revogação de decreto do Poder Executivo. Discussão, no âmbito da
Administração Pública, com observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. Necessidade.
1. A revogação de decreto editado pelo Poder Executivo não implica automática repristinação de anterior legislação editada sobre o tema.
2. É necessário rediscutir-se a matéria, em sede administrativa, com a observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa, até mesmo em
respeito à decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da SS nº 3.030/AM, a evitar, assim, grave lesão à ordem pública, considerada
em termos de ordem jurídico-constitucional.
3. Agravo regimental não provido.
AG. REG. NO RE N. 591.420-PE
RELATORA: MIN. ROSA WEBER

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23


EMENTA: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POSSESSÓRIA. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PRECLUSÃO E COISA
JULGADA. RECURSO QUE NÃO ATACA OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. IRREGULARIDADE FORMAL. ART. 317, §1º,
RISTF. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 17.01.2008.
Não preenchimento do requisito de regularidade formal expresso no artigo 317, § 1º, do RISTF (a petição conterá, sob pena de rejeição liminar, as
razões do pedido de reforma da decisão agravada). Ausência de ataque, nas razões do agravo regimental, aos fundamentos da decisão agravada,
mormente no que se refere à aplicação da Súmula 283/STF.
Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO ARE N. 863.596-RS
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO À EDUCAÇÃO. ASSEGURAR MONITOR PARA ACOMPANHAMENTO DE MENOR PORTADOR DE DEFICIÊNCIA.
LEIS Nº 9.394/96 (LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO) E Nº 7.853/89 (LEI DE APOIO ÀS PESSOAS PORTADORAS DE
DEFICIÊNCIA). FUNDAMENTO INFRACONSTITUCIONAL SUFICIENTE PARA MANUTENÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO.
APLICAÇÃO DA SÚMULA 283/STF. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O
MANEJO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 03.6.2014.
1. A suposta afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais dependeria da análise de legislação infraconstitucional, o que torna
oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário, considerada a disposição do art. 102,
III, “a”, da Lei Maior.
2. A jurisprudência desta Corte não admite recurso extraordinário contra acórdão que contém fundamento infraconstitucional suficiente e este se torna
imodificável. Aplicação da Súmula 283/STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um
fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.” Precedentes.
3. Agravo regimental conhecido e não provido.
HC N. 104.266-RJ
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO (LEI 6.368/1976, ART. 14). DOSIMETRIA. MAUS
ANTECEDENTES. INVOCAÇÃO DE INQUÉRITOS E AÇÕES PENAIS EM CURSO. INADEQUAÇÃO. PENA-BASE FIXADA NO SEU
PATAMAR MÁXIMO. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTOS IDÔNEOS E SUFICIENTES.
1. A dosimetria da pena, além de não admitir soluções arbitrárias e voluntaristas, supõe, como pressuposto de legitimidade, uma adequada
fundamentação racional, revestida dos predicados de logicidade, harmonia e proporcionalidade com os dados empíricos em que deve se basear.
2. No particular, a sentença, ao exasperar a pena-base em seu patamar máximo, levando em conta a culpabilidade e a existência de anotações
criminais, não atendeu adequadamente aos requisitos de coerência interna, de proporcionalidade e de equilíbrio em suas avaliações fáticas à luz do
princípio da individualização da pena. Se não bastasse, o ato judicial está em dissonância com o que decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal
Federal no julgamento do RE 591.054, o qual firmou a tese de que a existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não
pode ser considerada como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena.
3. Nessas circunstâncias, e considerando a jurisprudência do STF, tem-se situação reveladora de ilegalidade aferível sem necessidade de revolvimento
de fatos e provas.
4. Ordem concedida, em parte, para determinar ao juízo da vara de execuções penais que proceda ao novo cálculo da pena-base.
AG. REG. NO ARE N. 878.912-SP
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO CIVIL. RELAÇÃO DE CONSUMO. CONTRATO BANCÁRIO. FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. INADIMPLÊNCIA.
DANO COMPROVADO. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
LEGALIDADE. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. DEVIDO PROCESSO LEGAL. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. DEBATE
DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONAL. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O
MANEJO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 17.12.2014.
1. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV e LV, da Lei Maior, observada a estreita moldura com que devolvida a matéria à
apreciação desta Suprema Corte, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à competência
jurisdicional extraordinária, prevista no art. 102 da Magna Carta.
2. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
3. Agravo regimental conhecido e não provido.
AG. REG. NO AI N. 698.106-SP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. OBRA EM LOGRADOURO MUNICIPAL SEM
AUTORIZAÇÃO. MULTA. ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL LOCAL. INCURSIONAMENTO NO CONTEXTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULAS Nº 279 E Nº 280 DO STF. PREQUESTIONAMENTO. ALEGAÇÃO TARDIA.
INVIABILIDADE.
1. A multa decorrente do uso e ocupação do solo urbano sem autorização administrativa, nas hipóteses em que sub judice sua regularidade, encerra a
análise de norma infraconstitucional local e o reexame do conjunto fático-probatório dos autos.
2. A violação reflexa e oblíqua da Constituição Federal decorrente da necessidade de análise de malferimento de dispositivo infraconstitucional local
torna inadmissível o recurso extraordinário, a teor do Enunciado da Súmula nº 280 do Supremo Tribunal Federal, verbis: “Por ofensa a direito local
não cabe recurso extraordinário”.
3. O recurso extraordinário não se presta ao exame de questões que demandam revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, adstringindo-se
à análise da violação direta da ordem constitucional.
4. O prequestionamento da questão constitucional é requisito indispensável à admissão do recurso extraordinário. A Súmula nº 282 do STF dispõe,
verbis: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada”.
5. A alegação tardia da matéria constitucional, só suscitada em sede de embargos de declaração, não supre o requisito do prequestionamento.
Precedentes: ARE 693.333-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJe de 19/9/2012, e AI 738.152-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Segunda Turma, DJe de 8/11/2012.
6. In casu, o acórdão recorrido assentou: “Administrativo - Ação de nulidade de autuações e cautelar afim - Obras em logradouro público sem
autorização administrativa - Instalação de rede de fibra ótica com vistas a serviço de telefonia – Autuações municipais válidas - Formalidades
observadas - Exorbitância das multas, todavia - Poder regulamentar que não pode extrapolar a lei - Redução - Procedência parcial decretada, no
lugar da improcedência - Processo cautelar extinto, em não persistindo o interesse processual – Recurso dos autos principais provido em parte,
desacolhido o da cautelar, com alteração do dispositivo sentencial e rejeitada a preliminar.”
7. Agravo regimental DESPROVIDO.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24


AG. REG. NO HC 125.298-RJ
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. SUBSTITUTIVO DE RECURSO
CONSTITUCIONAL. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM
PÚBLICA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
1. Contra acórdão exarado em recurso ordinário em habeas corpus remanesce a possibilidade de manejo do recurso extraordinário previsto no art.
102, III, da Constituição Federal. Diante da dicção constitucional, inadequada a utilização de novo habeas corpus, em caráter substitutivo.
2. Se as circunstâncias concretas da prática do crime indicam, pelo modus operandi, a periculosidade do agente ou o risco de reiteração delitiva, está
justificada a decretação ou a manutenção da prisão cautelar para resguardar a ordem pública, desde que igualmente presentes boas provas da
materialidade e da autoria. Precedentes.
3. Agravo regimental conhecido e não provido.
EMB. DECL. NO AG. REG. NO ARE N. 717.440-RS
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PENAL.
CRIME MILITAR. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO DECURSO DO PRAZO PRESCRICIONAL. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU
OBSCURIDADE. INEXISTÊNCIA. EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE. DESPROVIMENTO.
1. A omissão, contradição ou obscuridade, quando inocorrentes, tornam inviável a revisão do julgado em sede de embargos de declaração, em face
dos estreitos limites dos arts. 535 do CPC e 382 do CPP.
2. O magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes
para embasar a decisão.
3. A revisão do julgado, com manifesto caráter infringente, revela-se inadmissível em sede de embargos de declaração. (Precedentes: AI 799.509-
AgR-ED, relator o Ministro Marco Aurélio, 1ª Turma, DJe de 8/9/2011, e RE 591.260-AgR-ED, relator o Ministro Celso de Mello, 2ª Turma, DJe de
9/9/2011).
4. In casu, o acórdão originariamente recorrido assentou: “APELAÇÃO. DEFESA E MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR. FALSIDADE IDEOLÓGICA.
LICITAÇÃO. PREJUÍZO. 1. Comete crime de falsidade ideológica o Militar, responsável pelo recebimento de gênero em sua Organização Militar,
que atesta a entrega total de bens adquiridos por meio de licitação, cuja entrega foi feita de forma parcelada e posterior ao atesto. 2. A não
ocorrência de prejuízo ao Erário não descaracteriza a conduta típica de falsidade ideológica. Preliminares rejeitadas. Recurso desprovido e provido
parcialmente. Decisão majoritária.”
5 . Embargos de declaração DESPROVIDOS.
AG. REG. NO ARE N. 870.681-RJ
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE DO
ESTADO. QUEDA EM BURACO NA VIA PÚBLICA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO. AUSÊNCIA DO
NECESSÁRIO PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS Nº 282 E Nº 356 DO STF. COMPETÊNCIA DO RELATOR PARA JULGAMENTO
MONOCRÁTICO DO FEITO. PRECEDENTE.
1. O prequestionamento da questão constitucional é requisito indispensável à admissão do recurso extraordinário.
2. As Súmulas nº 282 e nº 356 do STF dispõem, respectivamente, in verbis: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na
decisão recorrida, a questão federal suscitada” e “o ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não podem
ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.
3. A competência deferida ao Relator para, monocraticamente, julgar recurso manifestamente inadmissível, improcedente ou contrário à
jurisprudência desta Corte não derroga o princípio da colegialidade, que resulta preservado, no âmbito deste Tribunal, pelo cabimento do recurso de
agravo das decisões singulares proferidas por seus Ministros. Nesse sentido: AI 742.738-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe de
19/3/2010.
4. In casu, o acórdão recorrido assentou: “AGRAVO INOMINADO. DECISÃO QUE DEU PARCIAL PROVIMENTO A APELAÇÃO DA AUTORA,
COM BASE NO ART. 557, §1º-A, DO CPC E NEGOU SEGUIMENTO À DO 2º RÉU, COM FULCRO NO ART. 557, CAPUT, DO CPC. SUMÁRIO.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. QUEDA EM CALÇADA DECORRENTE DE BURACO ABERTO EM LOCAL DE GRANDE
MOVIMENTO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA EM RELAÇÃO À 1ª RÉ E PARCIAL PROCEDÊNCIA EM RELAÇÃO AO 2º RÉU.
APELAÇÕES. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONVERTIDO EM RETIDO, INTERPOSTO PELA 1ª RÉ, DE QUE NÃO SE CONHECE, FACE A
IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO EM RELAÇÃO À AGRAVANTE E AUSÊNCIA DE REITERAÇÃO EM CONTRARRAZÕES. BURACO EXISTENTE
EM CALÇADA DE GRANDE CIRCULAÇÃO DE PEDESTRES, LOCALIZADA NO CENTRO DO MUNICÍPIO. AUSÊNCIA DE FISCALIZAÇÃO
DO ENTE PÚBLICO, COLOCANDO EM RISCO A INTEGRIDADE FÍSICA DAS PESSOAS QUE POR ALI TRANSITAM. PRECEDENTE DO C.
STJ. INDENIZAÇÃO EXTRAPATRIMONIAL QUE ORA SE MAJORA PARA ADEQUAR-SE AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA
RAZOABILIDADE. HONORÁRIOS FIXADOS EM PATAMAR MÍNIMO, PREVISTO NO ART. 20, DO CPC. ERRO MATERIAL DA SENTENÇA
QUE SE CORRIGE, PARA ESTABELECER O CORRETO VALOR A TÍTULO DE DANO MATERIAL. CONFIRMAÇÃO DA SOLUÇÃO ANTERIOR
DESTE RELATOR. AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO.”
5. Agravo regimental DESPROVIDO.
AG. REG. NA ACO N. 1.936-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CIVIL ORIGINÁRIA. PEDIDO DE REVISÃO DE DECISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO QUE
ANULOU QUESTÃO DE PROVA OBJETIVA DO CONCURSO PARA PROCURADOR DA REPÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA.
AUTOTUTELA ADMINISTRATIVA (SÚMULA Nº 473 DO STF). INDEPENDÊNCIA E AUTONOMIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO (ART.
127, § 2º, DA CRFB). CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO COMO ÓRGÃO DO PARQUET. IMPOSSIBILIDADE DE
INCURSÃO NO MÉRITO ADMINISTRATIVO RELATIVO AOS CRITÉRIOS UTILIZADOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA ANULAR
A QUESTÃO. ILEGITIMIDADE AD CAUSAM DA AUTORA PARA POSTULAR EM NOME DOS CANDIDATOS SUPOSTAMENTE
PRETERIDOS. INEXISTÊNCIA DO INTERESSE DE AGIR. INCOMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA
CONHECER E JULGAR AÇÕES NÃO MANDAMENTAIS EM FACE DO CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. CONFUSÃO
ENTRE OS POLOS ATIVO E PASSIVO DA DEMANDA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende, em regra, como insindicável judicialmente a controvérsia atinente a critérios de correção de
questões de concurso público, sob pena de o Poder Judiciário substituir-se à banca examinadora de concurso público.
2. O Ministério Público, embora não detenha personalidade jurídica própria, é órgão vocacionado à preservação dos valores constitucionais, dotado de
autonomia financeira, administrativa e institucional que lhe conferem a capacidade ativa para a tutela da sociedade e de seus próprios interesses em
juízo, sendo descabida a atuação da União em defesa dessa instituição.
3. Inexiste interesse de agir quando não caracterizada a necessidade de controle jurisdicional do mérito administrativo.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25


4. Não atrai a competência originária do Supremo Tribunal Federal prevista no art. 102, I, r, da Constituição Federal a ação ordinária proposta em
face do Conselho Superior do Ministério Público. Precedente: AO 1.814-QO, rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe de 03/12/2014.
5. In casu, cuida-se de ação originariamente proposta pela União em face do Conselho Nacional do Ministério Público. A propositura de ação não
mandamental em face do Conselho Nacional do Ministério Público tem o condão de situar no polo passivo a União, ente a quem se atribui o ato que
se pretende combater, situação que caracteriza a confusão entre os polos ativo e passivo, atraindo a incidência do art. 267, IX, do CPC.
6. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 859.441-PI
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Concurso público. Teste de aptidão física. Direito à segunda
chamada. Inexistência, salvo previsão editalícia em sentido contrário. Validade das provas de segunda chamada realizadas até 15/5/13 assegurada (RE
nº 630.733/DF). Precedentes.
1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no exame do RE nº 630.733/DF, Relator o Ministro Gilmar Mendes, concluiu pela inexistência de direito
de realização de segunda chamada de teste físico para os candidatos impossibilitados de realizá-lo ao tempo da convocação, salvo expressa previsão
nesse sentido no instrumento convocatório do concurso público.
2. Na mesma ocasião, a Corte decidiu, por razões de segurança jurídica, pela manutenção da validade das provas realizadas em decorrência de
determinações judiciais realizadas até o dia 15/5/13, data da sessão de julgamento do citado acórdão.
3. Agravo regimental não provido.
AG. REG. NO HC N. 126.983-PE
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental em habeas corpus. Penal. Estelionato Previdenciário. (CP, art. 171, § 3º). Prescrição da pretensão punitiva. Não
ocorrência. Delito praticado pelo próprio beneficiário das parcelas da aposentadoria concedida mediante fraude. Crime permanente. Termo inicial do
prazo prescricional contabilizado a partir da cessação do pagamento do benefício indevido. Precedentes. Regimental não provido.
1. O magistério jurisprudencial da Corte está consolidado no sentido de que “o crime de estelionato previdenciário, quando praticado pelo próprio
beneficiário das prestações, tem caráter permanente, cessando a atividade delitiva apenas com o fim da percepção das prestações” (HC nº 107.385/RJ,
Primeira Turma, Relatora a Ministra Rosa Weber, DJe de 30/3/12).
2. Tomando por base esse entendimento, não há que se falar em prescrição da pretensão punitiva, pois a cessação da atividade delitiva ocorreu aos
31/12/07 e o lapso temporal de 4 (quatro) anos (CP, art. 109, inciso V c/c o parágrafo único), necessário a sua efetivação - tomando-se por base a pena
em concreto aplicada -, não foi alcançado entre os marcos interruptivos verificados na espécie, a saber, o recebimento da denúncia (em 8/2/11) e a
sentença penal condenatória recorrível (em 10/8/12).
3. Agravo regimental ao qual se nega provimento.
AG. REG. NA Rcl N. 19.567-GO
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
RECLAMAÇÃO – COISA JULGADA. A reclamação não faz as vezes de rescisória – Verbete nº 734 da Súmula do Supremo: “Não cabe reclamação
quando já houver transitado em julgado o ato judicial que se alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal”.
SEGUNDO AG. REG. NO RE N. 590.415-SC
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. DESCABIMENTO CONTRA DECISÃO QUE ADMITE “AMICUS CURIAE”.
1. Há dois entendimentos possíveis sobre o cabimento de recurso contra decisão que aprecia pedido de ingresso como amicus curiae: i) o primeiro, no
sentido da irrecorribilidade de tal decisão, em razão do teor literal do art. 7º, §2º, da Lei 9.868/1999 e do art. 21, XVIII, do RI/STF; ii) o segundo, na
linha capitaneada pelo Ministro Celso de Mello, admitindo a interposição de recurso contra a decisão que indefere o ingresso como o amicus curiae,
pelo próprio requerente que teve o pedido rejeitado (cf. RE 597.165 AgR, rel. Min. Celso de Mello).
2. O caso em exame não se enquadra em qualquer de tais hipóteses.
3. Agravo a que se nega seguimento.
QUEST. ORD. EM ADI N. 2.949-MG
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. MARCO AURÉLIO
EMENTA: JULGAMENTO – PROCLAMAÇÃO – REABERTURA – SESSÃO SUBSEQUENTE – IMPOSSIBILIDADE. Uma vez ocorrida a
proclamação do resultado do julgamento, descabe a reabertura em sessão subsequente.
*noticiado no Informativo 780
 Acórdãos Publicados: 416

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Governador de Estado – Crime Comum – Prévia Autorização Legislativa – Indispensabilidade – Crime de Responsabilidade
– Competência Federal (Transcrições)
(v. Informativo 774)
ADI 4.791/PR*
RELATOR: Min. Teori Zavascki

VOTO VOGAL: Min. Celso de Mello

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26


O Supremo Tribunal Federal firmou orientação jurisprudencial, hoje consolidada em enunciado sumular (Súmula 722), no sentido de que
compete, unicamente, à União Federal tipificar, de um lado, os denominados crimes de responsabilidade e definir, de outro, a ordem ritual do
respectivo processo e julgamento.
Não desconheço, Senhora Presidente, que se registra, na matéria ora em exame, amplo dissídio doutrinário em torno da qualificação jurídica
do “crime de responsabilidade” e do processo a que dá origem, pois, para uns, o “impeachment” constitui processo eminentemente político,
enquanto que, para outros, ele representa processo de índole criminal (como sucedeu sob a legislação imperial brasileira, Lei de 15/10/1827),
havendo, ainda, os que nele identificam a existência de um processo de natureza mista, consoante revela o magistério de eminentes autores
(PAULO BROSSARD DE SOUZA PINTO, “O Impeachment”, p. 75/87, 2ª ed., 1992, Saraiva; PINTO FERREIRA, “Comentários à Constituição
Brasileira”, vol. 3/596-600, 1992, Saraiva; MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, “Comentários à Constituição Brasileira de 1988”, vol.
2/168-172, 1992, Saraiva; JOSÉ AFONSO DA SILVA, “Curso de Direito Constitucional Positivo”, p. 518/520, 10ª ed., 1995, Malheiros; JOSÉ
CRETELLA JÚNIOR, “Comentários à Constituição de 1988”, vol. V/2931-2945, 1991, Forense Universitária; PONTES DE MIRANDA,
“Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda nº 1 de 1969”, tomo III/351-361, 3ª ed., 1987, RT; MICHEL TEMER, “Elementos de Direito
Constitucional”, p. 165/170, 7ª ed., 1990, RT; JOSÉ FREDERICO MARQUES, “Elementos de Direito Processual Penal”, vol. 3/375, Forense; JOÃO
BARBALHO, “Constituição Federal Brasileira – Comentários”, p. 133, 2ª ed., 1924; CARLOS MAXIMILIANO, “Comentários à Constituição
Brasileira”, vol. II/105-106, item n. 332, 5ª ed., 1954, Freitas Bastos; AURELINO LEAL, “Teoria e Prática da Constituição Federal Brasileira”,
Primeira Parte, p. 480, 1925).
Por entender, Senhora Presidente, que a natureza jurídica do “crime de responsabilidade” permite situá-lo no plano estritamente político-
constitucional, revestido de caráter evidentemente extrapenal, atribuo a essa figura a qualificação de ilícito político-administrativo, desvestido, em
consequência, de conotação criminal, o que me autoriza concluir – embora diversamente da orientação jurisprudencial prevalecente nesta Suprema
Corte (RTJ 166/147 – RTJ 168/729 – RTJ 176/199, v.g.) – que o impropriamente denominado “crime de responsabilidade” não traduz instituto
de direito penal.
Essa percepção do tema tem o beneplácito de autorizadíssimo magistério doutrinário (PAULO BROSSARD, “O Impeachment”, p.
82, item n. 56, 2ª ed., 1992, Saraiva; THEMISTOCLES BRANDÃO CAVALCANTI, “A Constituição Federal Comentada”, vol. II/274-
275, 1948, Konfino; CASTRO NUNES, “Teoria e Prática do Poder Judiciário”, vol. 1/40-41, item n. 2, 1943, Forense; ALEXANDRE DE
MORAES, “Constituição do Brasil Interpretada”, p. 1.239, 2002, Atlas; LUIZ ALBERTO DAVID ARAUJO e VIDAL SERRANO
NUNES JÚNIOR, “Curso de Direito Constitucional”, p. 268/269, itens ns. 1 e 3, 6ª ed., 2002, Saraiva), cujas lições propiciam o substrato
teórico legitimador do que venho de expor.
Embora perfilhe, eu próprio, essa orientação, atribuindo ao “crime de responsabilidade” a natureza jurídica de infração político-
administrativa (o que implicaria reconhecer a legitimidade da competência do Estado-membro para dispor sobre a matéria em referência), não
posso deixar de observar, contudo, nesse específico tema, em respeito e em obséquio ao princípio da colegialidade, a diretriz jurisprudencial hoje
consubstanciada na Súmula 722/STF, cujo teor confere à União Federal competência legislativa para definir, em caráter privativo, os
denominados “crimes de responsabilidade”, bem assim para estabelecer a respectiva disciplina ritual.
Por tal razão, Senhora Presidente, acompanho, no ponto, o voto do eminente Relator.
A outra controvérsia jurídica suscitada na presente causa envolve questão pertinente à indispensabilidade, ou não, de prévia licença da
Assembleia Legislativa estadual para autorizar a instauração, perante o Superior Tribunal de Justiça, de “persecutio criminis” contra Governador
de Estado.
Entendo, na linha da jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal (ADI 978/PB, ADI 1.019/RR, ADI 1.020/DF, ADI 1.021/SP, ADI
1.027/RS, v.g., das quais me tornei Red. p/ o acórdão), que essa prévia licença traduz medida imprescindível à válida instauração, perante o
Superior Tribunal de Justiça, de procedimento estatal contra o Chefe do Poder Executivo do Estado-membro nas infrações penais comuns.
O exame dessa questão, contudo, impõe algumas reflexões prévias, que se revelam necessárias, a meu juízo, à resolução da controvérsia ora
suscitada nesta sede processual.
Todos sabemos que a responsabilidade dos governantes, em um sistema constitucional de poderes limitados, tipifica-se como uma das cláusulas
essenciais à configuração mesma do primado da ideia republicana, que se opõe – em função de seu próprio conteúdo – às formulações teóricas ou
jurídico-positivas que proclamam, nos regimes monárquicos, a absoluta irresponsabilidade pessoal do Rei ou do Imperador, tal como sucedia sob
a Carta Política do Império do Brasil (art. 99) e que mereceu precisa análise por parte de JOSÉ ANTONIO PIMENTA BUENO, o Marquês de São
Vicente (“Direito Público Brasileiro e Análise da Constituição do Império”, p. 203, item n. 267, 1958, Ministério da Justiça – DIN).
Embora irrecusável a posição de grande eminência dos Governadores de Estado e do Distrito Federal no contexto político-institucional
emergente de nossa Carta Política, impõe-se reconhecer, até mesmo como decorrência necessária do princípio republicano, a possibilidade de
responsabilizá-los, penalmente, pelos atos ilícitos que eventualmente venham a praticar no desempenho de suas funções.
Mesmo naqueles Países cujo ordenamento político revela uma primazia do Poder Executivo derivada do crescimento das atividades do Estado,
ainda assim – tal como salienta JOSAPHAT MARINHO (RDA 156/11) – essa posição hegemônica, no plano jurídico-institucional, “não equivale
a domínio ilimitado e absorvente”, basicamente porque a expansão do arbítrio deve ser contida por um sistema que permita a aferição do grau de
responsabilidade daqueles que exercem o poder.
A consagração do princípio da responsabilidade do Chefe do Poder Executivo configura “uma conquista fundamental da democracia e, como
tal, é elemento essencial da forma republicana democrática que a Constituição brasileira adotou...” (PAULO DE LACERDA, “Princípios de
Direito Constitucional Brasileiro”, vol. I/459, item n. 621).
A sujeição dos Governadores de Estado e do Distrito Federal às consequências jurídicas de seu próprio comportamento é inerente e
consubstancial, desse modo, ao regime republicano, que constitui, no plano de nosso ordenamento positivo, uma das mais relevantes decisões
políticas fundamentais adotadas pelo legislador constituinte brasileiro.
Não obstante a posição hegemônica que detém na estrutura político-institucional do Poder Executivo local, o Governador – que também é
súdito das leis, como qualquer outro cidadão deste País – não se exonera da responsabilidade penal emergente dos atos que tenha praticado.
A forma republicana de Governo, analisada em seus aspectos conceituais, faz instaurar, portanto, um regime de responsabilidade a que se
deve submeter, de modo pleno, entre outras autoridades estatais, o Chefe do Poder Executivo dos Estados-membros e do Distrito Federal (RTJ
162/462-464, Red. p/ o acórdão Min. CELSO DE MELLO).
O princípio republicano, que outrora constituiu um dos núcleos imutáveis das Cartas Políticas promulgadas a partir de 1891, não obstante sua
plurissignificação conceitual, consagra, a partir da ideia central que lhe é subjacente, o dogma de que todos os agentes públicos – os Governadores
de Estado e do Distrito Federal, em particular – são responsáveis perante a lei (WILSON ACCIOLI, “Instituições de Direito Constitucional”, p.

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 27


408/428, itens nºs 166/170, 2ª ed., 1981, Forense; JOSÉ AFONSO DA SILVA, “Curso de Direito Constitucional Positivo”, p. 518/519, 10ª ed.,
1995, Malheiros; MARCELO CAETANO, “Direito Constitucional”, vol. II/239, item n. 90, 1978, Forense, v.g.).
Cumpre destacar, nesse contexto, o irrepreensível magistério do saudoso GERALDO ATALIBA (“República e Constituição”, p. 38, item n.
9, 1985, RT – grifei), para quem a noção de responsabilidade traduz um consectário natural do dogma republicano:
“A simples menção ao termo república já evoca um universo de conceitos, intimamente relacionados entre si, sugerindo a noção do
princípio jurídico que a expressão quer designar. Dentre tais conceitos, o de responsabilidade é essencial.” (grifei)
Foi por tal razão que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, atento às implicações jurídicas e políticas que resultam do princípio
republicano, pronunciou-se sobre o tema concernente à responsabilidade penal do Chefe do Poder Executivo dos Estados-membros, proferindo
decisão consubstanciada em acórdão assim ementado:
“PRINCÍPIO REPUBLICANO E RESPONSABILIDADE DOS GOVERNANTES.
– A responsabilidade dos governantes tipifica-se como uma das pedras angulares essenciais à configuração mesma da idéia republicana. A
consagração do princípio da responsabilidade do Chefe do Poder Executivo, além de refletir uma conquista básica do regime democrático,
constitui conseqüência necessária da forma republicana de governo adotada pela Constituição Federal.
O princípio republicano exprime, a partir da idéia central que lhe é subjacente, o dogma de que todos os agentes públicos – os Governadores de
Estado e do Distrito Federal, em particular – são igualmente responsáveis perante a lei.
RESPONSABILIDADE PENAL DO GOVERNADOR DO ESTADO.
– Os Governadores de Estado – que dispõem de prerrogativa de foro ‘ratione muneris’, perante o Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I,
‘a’) – estão permanentemente sujeitos, uma vez obtida a necessária licença da respectiva Assembléia Legislativa (RE 153.968-BA, Rel. Min. ILMAR
GALVÃO – RE 159.230-PB, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE), a processo penal condenatório, ainda que as infrações penais a eles
imputadas sejam estranhas ao exercício das funções governamentais.”
(RTJ 170/40-41, Red. p/ o acórdão Min. CELSO DE MELLO)
Desse modo, se é certo que os Governadores de Estado são plenamente responsáveis por atos delituosos que eventualmente pratiquem no
exercício de seu mandato, não é menos exato que a organização federativa do Estado brasileiro e a autonomia institucional dos Estados-membros
desempenham um papel relevante na definição dos requisitos condicionadores da persecução penal que venha a ser instaurada contra os Chefes
do Poder Executivo local.
Nesse contexto, torna-se de essencial importância a questão pertinente à prévia autorização legislativa – a ser dada pelo Poder Legislativo do
Estado-membro – que constitui pressuposto viabilizador da instauração da “persecutio criminis” contra o Chefe do Poder Executivo estadual.
A jurisprudência constitucional desta Suprema Corte, bem por isso, atenta ao princípio da Federação, qualificou a necessidade de prévio
consentimento da Assembleia Legislativa local como requisito de procedibilidade para a válida instauração da “persecutio criminis” contra
Governador de Estado.
Sob tal perspectiva institucional, o Supremo Tribunal Federal teve presente, para o efeito referido, um postulado essencial à configuração
mesma da organização federativa, tal como esta se acha delineada no sistema constitucional vigente em nosso País.
A ideia fundamental que motivou essa orientação jurisprudencial firmada pelo Supremo Tribunal Federal traduz, na realidade, a consagração
de um valor constitucional básico que informa e dá consistência à própria teoria da Federação: a autonomia institucional dos Estados-membros.
A importância político-jurídica dessa insuprimível prerrogativa institucional dos Estados-membros é tão intensa que, sem ela,
descaracterizar-se-ia, por completo, a própria noção de Estado Federal, pois – não custa enfatizar – a autonomia das unidades federadas
qualifica-se como valor essencial e conatural à compreensão do sistema federativo.
Mais do que isso, a ideia de Federação – que tem, na autonomia dos Estados-membros, um de seus “cornerstones” – revela-se elemento cujo sentido
de fundamentalidade torna-a imune, em sede de revisão constitucional, à própria ação reformadora do Congresso Nacional, por representar categoria
política inalcançável, até mesmo, pelo exercício do poder constituinte derivado (CF, art. 60, § 4º, I).
Por tal razão, tendo-se presente a natureza eminentemente constitucional da autonomia inerente aos Estados-membros, torna-se essencial –
notadamente quando se tratar de persecução penal “in judicio”, promovida contra os Governadores dessas unidades federadas, de cuja instauração
poderá resultar o seu afastamento provisório do exercício do mandato – que o postulado da Federação seja considerado como dado juridicamente
relevante na definição dos requisitos que devem condicionar o processamento de qualquer acusação criminal, perante o Superior Tribunal de Justiça,
contra o Chefe do Poder Executivo estadual.
Esse entendimento – que submete à Assembleia Legislativa local a avaliação política sobre a conveniência de autorizar-se, ou não, o
processamento de acusação penal contra o Governador do Estado – funda-se na circunstância de que, recebida a denúncia ou a queixa-crime pelo
Superior Tribunal de Justiça, dar-se-á a suspensão funcional do Chefe do Poder Executivo estadual, que ficará afastado, temporariamente, do
exercício do mandato que lhe foi conferido por voto popular, daí resultando verdadeira “destituição indireta de suas funções”, com grave
comprometimento da própria autonomia político-institucional da unidade federada que dirige.
Na realidade, a diretriz jurisprudencial que tem prevalecido no Supremo Tribunal Federal (RTJ 151/978-979, Rel. Min. ILMAR GALVÃO –
RTJ 158/280, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE) nada mais reflete senão a observância de paradigma revestido de inquestionável coeficiente
de federalidade e que, fundado na Carta Política (art. 86, § 1º, I), impõe-se, enquanto padrão referencial inderrogável, ao respeito dos Estados-
membros e dos Tribunais da República.
Em suma: a jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal impõe que a instauração de persecução penal, em juízo, contra Governador
de Estado, por supostas práticas delituosas perseguíveis mediante ação penal de iniciativa pública ou de iniciativa privada, seja necessariamente
precedida de autorização legislativa dada pelo Poder Legislativo local, a quem incumbe, com fundamento em juízo de caráter eminentemente
discricionário, exercer verdadeiro controle político prévio de qualquer acusação penal deduzida contra o Chefe do Poder Executivo do Estado-
membro, compreendidas, na locução constitucional “crimes comuns”, todas as infrações penais (RTJ 33/590 – RTJ 166/785-786), inclusive as de
caráter eleitoral (RTJ 63/1 – RTJ 148/689 – RTJ 150/688-689) ou as de natureza meramente contravencional (RTJ 91/423).
A “ratio” subjacente a essa orientação jurisprudencial, que prestigia o princípio da Federação e que busca preservar a intangibilidade da
autonomia estadual – impedindo que ocorra a suspensão provisória do exercício do mandato pelo Governador do Estado, motivada pelo
recebimento judicial da denúncia ou da queixa-crime, exceto se houver consentimento prévio emanado da Assembleia Legislativa local –, reflete-se
no próprio magistério da doutrina (ALEXANDRE DE MORAES, “Direito Constitucional”, p. 429/430, 7ª ed., 2000, Atlas; JULIO FABBRINI
MIRABETE, “Código de Processo Penal Interpretado”, p. 296, item n. 84.8, 7ª ed., 2000, Atlas; DAMÁSIO E. DE JESUS, “Código de Processo

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 28


Penal Anotado”, p. 99, 17ª ed., 2000, Saraiva, v.g.), cuja percepção do tema em exame põe em destaque a imprescindibilidade dessa autorização
legislativa, qualificada, sob tal aspecto, como requisito de procedibilidade que condiciona a instauração, em juízo, de persecução penal contra o
Chefe do Poder Executivo estadual, a quem se tem reconhecido, enquanto “in officio”, relativa imunidade formal em face dos processos penais
condenatórios.
Mostra-se lapidar, sob todos os aspectos, a autorizada lição de JOSÉ AFONSO DA SILVA (“Comentário Contextual à Constituição”, p. 581, item n.
4, 9ª ed., 2014, Malheiros), que, a propósito da questão ora em análise, expende as seguintes considerações:
“Seja como for, os crimes comuns dos governadores devem ser processados e julgados pelo STJ, mas a admissibilidade do processo
depende de autorização da Assembleia Legislativa do Estado. É que o juízo prévio de admissibilidade da acusação, que requer o voto de dois
terços da representação popular, é um prejulgamento que embasa a suspensão do acusado de suas altas funções, com aquela mesma ideia dos
sistemas argentino e norte-americano de que uma alta autoridade governamental não pode ser submetida a um processo político ou criminal,
enquanto estiver no exercício de sua magistratura. O Brasil encontrou um sistema adequado, submetendo o processo de imposição de sanção
política ou criminal a uma condição prévia de oportunidade política, a ser decidida pela representação popular, o que corresponde a uma
exigência democrática de que o governador, como o Presidente da República, só deva ser submetido a um processo que o afaste do cargo, para
o qual foi eleito pelo povo, com o consentimento ponderado pelo voto de dois terços dos membros da Assembleia representante desse mesmo
povo.” (grifei)
Concluo o meu voto, Senhora Presidente. E, ao fazê-lo, peço vênia para acompanhar o voto do eminente Ministro Relator, cujos fundamentos
reconhecem, corretamente, no ponto ora em exame, na linha da jurisprudência desta Suprema Corte (ADI 1.017/AC, Red. p/ o acórdão Min.
CELSO DE MELLO – ADI 1.018/MG, Red. p/ o acórdão Min. CELSO DE MELLO – ADI 1.022/RJ, Red. p/ o acórdão Min. CELSO DE MELLO –
HC 80.511/MG, Rel. Min. CELSO DE MELLO – HC 86.015/PB, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – RE 159.230/PB, Rel. Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, v.g.), a indispensabilidade da prévia licença da Assembleia Legislativa como condição de procedibilidade para a válida instauração,
perante o Superior Tribunal de Justiça, de persecução estatal, por infrações penais comuns, contra Governador de Estado.
É o meu voto.
*acórdão publicado no DJe de 24.4.2015

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
25 a 29 de maio de 2015

ARBITRAGEM - Ampliação - Aplicação - Sentença arbitral


Lei nº 13.129, de 26.5.2015 – Altera a Lei nº 9.307, de 23.9.1996, e a Lei nº 6.404, de 15.12.1976, para ampliar o
âmbito de aplicação da arbitragem e dispor sobre a escolha dos árbitros quando as partes recorrem a órgão arbitral, a
interrupção da prescrição pela instituição da arbitragem, a concessão de tutelas cautelares e de urgência nos casos de
arbitragem, a carta arbitral e a sentença arbitral, e revoga dispositivos da Lei nº 9.307, de 23.9.1996. Publicada no DOU,
n. 99, Seção 1, p. 1-2, em 27.5.2015.
PLANO DE ASSISTÊNCIA À SAUDE - Desobrigação - Pessoa Jurídica
Lei nº 13.127, de 26 de maio de 2015 – Altera a Lei nº 9.656, de 3.6.1998, que dispõe sobre os planos e seguros
privados de assistência à saúde, para eximir as entidades de autogestão constituídas sob a forma de fundação, de
sindicato ou de associação da obrigação de constituir pessoa jurídica independente, especificamente para operar planos
privados de assistência à saúde. Publicada no DOU, n. 99, Seção 1, p. 1, em 27.5.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES
25 a 29 de maio de 2015

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


Relatório - Gestão - Fiscalização financeira - Despesa com pessoal
Portaria nº 115, de 28.5.2015 - Torna público o Relatório de Gestão Fiscal referente ao primeiro quadrimestre de
2015. Publicada no DOU, n. 101, Seção 1, p. 166 em 29.5.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 787-STF (08/06/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 29


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 2921/RJ; ADI 4013/TO. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos: RE 254559/SP; ADI
4171/DF; ADI 3106 ED/MG; ADI 4876 ED/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PEC DA BENGALA
 ADI proposta contra a EC 88/2015.

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
 Cumulação de ADI com ADC.

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
 Controvérsia judicial relevante.

TRIBUNAL DE CONTAS
 Competência para declarar a inidoneidade de empresa para licitar.

DIREITO ADMINISTRATIVO
NEPOTISMO
 Norma que impede nepotismo no serviço público não alcança servidores de provimento efetivo.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL


CONCURSO E PROVA DE TÍTULOS
 Pontuação atribuída por tempo de serviço em serventias notariais e registrais

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


JUIZADOS ESPECIAIS
 Competência da União para legislar.

DIREITO PENAL
CRIMES TRIBUTÁRIOS
 Aplicação da SV 24-STF a fatos anteriores à sua edição.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


NULIDADE
 Constituição de novo mandatário, sem qualquer ressalva, enseja a revogação tácita da procuração anterior.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


CONDENAÇÃO CRIMINAL E PERDA DO CARGO
 A pena acessória de perda do cargo pode ser aplicada a praças mesmo sem processo específico

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO CONSTITUCIONAL

PEC DA BENGALA
ADI proposta contra a EC 88/2015

Importante!!!
No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que ficou jocosamente conhecida como PEC
da Bengala em virtude de aumentar o limite de idade da aposentadoria compulsória dos
Ministros de Tribunais Superiores.
Foi proposta uma ADI contra essa EC, tendo o STF julgado a medida liminar. Veja o que foi
decidido:
O art. 100 do ADCT afirma que os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU irão se
aposentar compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, Dznas condições do art. 52
da Constituição Federaldz. O que quer dizer essa parte final?
O objetivo dessa parte final do dispositivo foi o de exigir que o Ministro que complete 70 anos
somente possa continuar no cargo se for submetido a nova arguição pública sabatina e
votação no Senado Federal. Em outras palavras, o Ministro, quando completasse 70 anos,
poderia continuar no cargo até os 75 anos, mas, para isso, seu nome precisaria ser novamente
aprovado pelo Senado.

Essa exigência é compatível com a CF/88?


NÃO. Essa exigência é INCONSTITUCIONAL. O STF suspendeu a aplicação da expressão nas
condições do artigo da Constituição Federal , contida no final do art. do ADCT.
Essa exigência de nova sabatina acaba por vulnerar as condições materiais necessárias ao
exercício imparcial e independente da função jurisdicional, ultrajando a separação de
Poderes, cláusula pétrea inscrita no artigo , parágrafo º, inciso ))), da Constituição Federal .
Em simples palavras, o STF entendeu que há violação ao princípio da separação dos Poderes.
Desse modo, os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE, STM) e do TCU
possuem o direito de se aposentar compulsoriamente somente aos 75 anos e, para isso, não
precisam passar por uma nova sabatina e aprovação do Senado Federal.

É possível estender essa regra da aposentadoria compulsória aos 75 anos para juízes e
Desembargadores?
O STF afirmou que o art. 100 do ADCT da CF/88 não pode ser estendido a outros agentes
públicos até que seja editada a Lei Complementar Nacional a que se refere o art. 40, § 1º, inciso
II, da CF/88.

Essa LC nacional ampliando a aposentadoria compulsória dos juízes e Desembargadores para


75 anos pode ser apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República ou por algum
parlamentar?
NÃO. Todas as leis que trazem regras gerais sobre a magistratura nacional devem ser iniciadas
pelo STF, nos termos do art. 93 da CF/88.

O que acontece com os mandados de segurança que haviam sido impetrados pelos
Desembargadores que queriam prorrogar a aposentadoria compulsória para 75 anos?
O STF declarou que fica sem produzir efeitos todo e qualquer pronunciamento judicial e
administrativo que tenha interpretado que a EC 88/2015 permitiria, mesmo sem LC, ampliar
para 75 anos a idade da aposentadoria compulsória para outros agentes públicos que não
Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2
sejam Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU.
Em outras palavras, o STF afirmou que nenhuma decisão judicial ou administrativa pode
estender o limite de 75 anos da aposentadoria compulsória para outros agentes públicos.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

EC 88/2015
No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que fi ou jo osa e te o he ida o o PEC da Be gala ,
em virtude de aumentar o limite de idade da aposentadoria compulsória dos Ministros de Tribunais
Superiores.
Antes de entender o que foi decidido pelo STF, vejamos alguns breves comentários sobre o tema.

APOSENTADORIA DOS SERVIDORES PÚBLICOS


A CF/88, em seu art. 40, prevê as regras gerais sobre a aposentadoria dos servidores públicos estatutários,
sejam eles federais, estaduais ou municipais, tanto do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.
O conjunto de regras referentes à aposentadoria dos servidores públicos estatutários é chamada de
Regi e P p io de P evid ia “o ial RPP“ .
O assunto que estamos tratando aqui diz respeito ao RPPS.

ESPÉCIES DE APOSENTADORIA DO RPPS


Existem três espécies de aposentadoria no RPPS:

1) Aposentadoria por invalidez (art. 40, § 1º, I)


Ocorre quando o servidor público for acometido por uma situação de invalidez permanente, atestada por
laudo médico, que demonstre que ele está incapacitado de continuar trabalhando.
Como regra, o servidor aposentado por invalidez receberá proventos proporcionais ao tempo de
contribuição.
Exceção: ele terá direito a proventos integrais se a invalidez for decorrente de:
a) acidente em serviço;
b) moléstia profissional; ou
c) doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei.

2) Aposentadoria voluntária (art. 40, § 1º, III)


Ocorre quando o próprio servidor público, mesmo tendo condições físicas e jurídicas de continuar
ocupando o cargo, decide se aposentar.
Para que o servidor tenha direito à aposentadoria voluntária, ele deverá cumprir os requisitos que estão
elencados no art. 40, § 1º, III.
A aposentadoria voluntária pode ser com proventos integrais ou proporcionais, dependendo do tempo de
contribuição que o servidor tiver no serviço público.

Obs1: o § 5º do art. 40 prevê critérios diferenciados para a aposentadoria de professores que comprovem
exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino
fundamental e médio.

Obs2: o § 4º do art. 40 elenca a possibilidade de ser concedida aposentadoria com requisitos e critérios
diferenciados para servidores:
I – que sejam portadores de deficiência;
II – que exerçam atividades de risco;
III – cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


3) Aposentadoria compulsória (art. 40, § 1º, II)
A Constituição previu que, atingida determinada idade, o servidor público, independentemente de ainda
possuir condições físicas e mentais de continuar exercendo o cargo, deveria ser obrigatoriamente
aposentado.
Há aqui uma presunção absoluta de que, a partir daquela idade, o rendimento físico e mental do servidor
público sofre um decréscimo e, por razões de interesse público, ele será aposentado, mesmo que, por sua
vontade, ainda queira continuar no serviço público.
A EC 88/2015 trata sobre a aposentadoria compulsória.

Qual é a idade da aposentadoria compulsória no serviço público?


ANTES DA EC 88/2015: 70 anos (para todos os casos).

DEPOIS DA EC 88/2015:

• REGRA: o ti ua se do a os.
Os servidores públicos, sejam eles federais, estaduais ou municipais, de qualquer dos Poderes, incluindo
magistrados de Tribunais de 2ª instância, continuam se aposentando compulsoriamente aos 70 anos de idade.

• EXCEÇÃO : a Lei Co ple e ta pode á p eve ue a apose tado ia o puls ia seja a pliada pa a
anos, segundo critérios que ela fixar e para todos ou determinados cargos do serviço público.

Veja a nova redação do inciso II do § 1º do art. 40 dada pela EC 88/2015:


§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão aposentados (...):
(...)
II - compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta) anos de
idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, na forma de lei complementar;

• EXCEÇÃO : pa a os Mi ist os do “TF, dos T i u ais “upe io es “TJ, T“T, T“E, “TM e do TCU a idade da
aposentadoria compulsória já é agora 75 anos, mesmo sem Lei Complementar. A regra já está produzindo
todos os seus efeitos.

Veja o art. 100, que foi acrescentado no ADCT da CF/88 pela EC 88/2015:
Art. 100. Até que entre em vigor a lei complementar de que trata o inciso II do § 1º do art. 40 da
Constituição Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de
Contas da União aposentar-se-ão, compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, nas
condições do art. 52 da Constituição Federal.

Apesar de muito curta, a EC 88/2015 escondia algumas polêmicas que foram impugnadas por meio de ADI
julgada cautelarmente pelo STF. Vejamos:

1) NOVA SABATINA PELO SENADO PARA O MINISTRO PERMANECER ATÉ 75 ANOS


O art. 100 do ADCT afirma que os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU irão se aposentar,
compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, nas condições do art. 52 da Constituição
Federal. O que quer dizer essa parte final?
No a t. , III, a e , da CF/ p evisto ue o “e ado Federal tem a competência de aprovar, por voto
secreto, a escolha dos Ministros do STF, do STJ, do TST, do STM e do TCU.
Segundo as notas taquigráficas colhidas durante os debates para a aprovação da PEC, o objetivo dessa
parte final do dispositivo foi o de exigir que o Ministro que complete 70 anos somente possa continuar no
a go se fo su etido a ova a guição pú li a sa ati a e votação o “e ado Fede al. E out as

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


palavras, o Ministro, quando completar 70 anos, poderá continuar no cargo até os 75 anos, mas, para isso,
seu nome precisará ser novamente aprovado pelo Senado. Essa interpretação da parte final do art. 100 do
ADCT foi exposta pelo Presidente do Senado, Renan Calheiros, em entrevista concedida à imprensa logo
após a promulgação da emenda.

ADI
Diante disso, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a Associação Nacional dos Magistrados da
Justiça do Trabalho (Anamatra) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) ingressaram, no dia
08/05/2015, com ação direta de inconstitucionalidade (ADI) contra esse trecho (nas condições do art. 52
da Constituição Federal) previsto na parte final do art. 100 do ADCT da CF/88, acrescentado pela EC
88/2015.
As associações argumentaram que, quanto a esse trecho, o constituinte derivado acabou por mesclar
it ios de a esso o it ios de o ti uidade ou pe a ia o a go, ia do u a o a
a ifesta e te violado a da ga a tia da vitali iedade da agist atu a . De a o do o a ADI, a
i te p etação o se tido de ue a su issão de agistrados, detentores da garantia da vitaliciedade
prevista no artigo 95 da Constituição Federal, a uma nova sabatina perante o Senado Federal e a uma nova
nomeação pelo presidente da República afeta, diretamente, não apenas o direito/garantia de parte dos
associados das autoras – os membros desse egrégio STF e dos tribunais superiores –, como igualmente o
egula fu io a e to do Pode Judi iá io .
Assim, pediram que o STF declarasse inconstitucional a exigência de uma nova sabatina e aprovação pelo
Senado para que os Ministros permanecessem no cargo até os 75 anos.

O STF apreciou a medida cautelar da ADI. O que foi decidido? Essa exigência é compatível com a CF/88?
NÃO. Essa exigência é INCONSTITUCIONAL.
A liminar foi concedida nos termos do voto do relator da ADI, Ministro Luiz Fux, que suspendeu a aplicação
da exp essão as o diç es do a tigo da Co stituição Fede al , o tida o fi al do a t. do ADCT.
“egu do e te deu o “TF, essa exig ia de ova sa ati a a a a po vul e a as o diç es ate iais
necessárias ao exercício imparcial e independente da função jurisdicional, ultrajando a separação de
Pode es, láusula p t ea i s ita o a tigo , pa ág afo º, i iso III, da Co stituição Fede al . E si ples
palavras, o STF entendeu que há violação ao princípio da separação dos Poderes.
Desse modo, os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE, STM) e do TCU possuem o
direito de se aposentar compulsoriamente somente aos 75 anos e, para isso, não precisam passar por uma
nova sabatina e aprovação do Senado Federal.
A exigência de nova sabatina dos Ministros no Senado é inconstitucional.

2) EXTENSÃO DA APOSENTADORIA COMPULSÓRIA AOS 75 ANOS MESMO SEM LEI COMPLEMENTAR


Tão logo foi aprovada a EC 88/2015, alguns Desembargadores que tinham 69 anos e já estavam prestes a
se aposentar compulsoriamente impetraram mandados de segurança alegando que a regra prevista no
art. 100 da ADCT da CF/88, incluído pela Emenda, deveria ser aplicada também a eles.
Mesmo sem a Lei Complementar de que trata o inciso II do § 1º do art. 40 da CF/88, eles alegaram que
seria possível estender a regra de 75 anos para juízes e Desembargadores, considerando que a
magistratura é uma carreira única e nacional e que, portanto, deveria receber tratamento uniforme.
Argumentaram que seria inconstitucional tratar de forma desigual os Ministros dos Tribunais Superiores
(que se aposentariam, desde já, somente aos 75 anos) em detrimento dos juízes e Desembargadores que
continuariam a se aposentar compulsoriamente aos 70 anos até que fosse editada uma lei complementar
estendendo esse limite para 75 anos.
A imprensa noticiou ao menos duas liminares que foram concedidas em favor de Desembargadores do
TJPE e TJSP autorizando que eles somente se aposentassem aos 75 anos, utilizando-se da regra dos
Tribunais Superiores.
O STF, ao apreciar a ADI 5316, proposta pela AMB, Anamatra e Ajufe, também resolveu esse tema.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Afinal de contas, mesmo sem a LC de que trata o inciso II do § 1º do art. 40 da CF/88, é possível estender
essa regra dos 75 anos para juízes e Desembargadores?
NÃO. O STF afirmou que o art. 100 do ADCT da CF/88 não pode ser estendido a outros agentes públicos
até que seja editada a Lei Complementar Nacional a que se refere o art. 40, § 1º, inciso II, da CF/88.
A magistratura, de fato, é uma carreira que possui caráter nacional, tendo essa natureza sido reafirmada
pelo STF em diversas oportunidades. Isso, contudo, não significa que todas as regras válidas para os
Ministros do STF e dos Tribunais Superiores devam ser aplicadas para todos os demais magistrados de
qualquer instância.
O tratamento uniforme que deve ser dado à magistratura impede que sejam feitas distinções entre
magistrados iguais, que se encontram na mesma situação (ex: não pode haver diferenciações
remuneratórias entre um juiz federal e um juiz de direito que estejam em igualdade de condições).
Não existe, entretanto, qualquer fundamento constitucional que estabeleça um dever de todos os
magistrados receberem o mesmo tratamento legislativo reservado aos Ministros dos Tribunais Superiores.
Não há direito subjetivo de um juiz de ver para si aplicadas todas as regras válidas para os Ministros do
STF. A Constituição em nenhum momento permite extrair essa conclusão. Ao contrário, o texto da CF/88,
em diversas oportunidades, tratou de forma diferente os membros dos Tribunais Superiores dos demais
magistrados. Basta ver a forma de ingresso e os requisitos para o cargo, que são completamente distintos
dos demais juízes.
O legislador constituinte reformador foi muito claro ao elencar os cargos que teriam aposentadoria
compulsória estendida para 75 anos independentemente de lei complementar, não havendo nesta escolha
qualquer violação ao princípio da isonomia.

Essa LC ampliando a aposentadoria compulsória dos juízes e Desembargadores para 75 anos pode ser
uma LC estadual?
NÃO. Lei complementar estadual não poderá tratar do tema. É necessário que seja uma Lei complementar
nacional, ou seja, aprovada pelo Congresso Nacional.
Desse modo, será inconstitucional qualquer tentativa dos Tribunais de Justiça ou das Assembleias
Legislativas de ampliar a aposentadoria dos juízes e Desembargadores para 75 anos antes que seja editada
a LC nacional.

Essa LC nacional ampliando a aposentadoria compulsória dos juízes e Desembargadores para 75 anos
pode ser apresentada ao Congresso Nacional pelo Presidente da República ou por algum parlamentar?
NÃO. Todas as leis que trazem regras gerais sobre a magistratura nacional devem ser iniciadas pelo STF,
nos termos do art. 93 da CF/88.
Logo, o projeto de LC que estenderá para 75 anos a aposentadoria compulsória para juízes e
Desembargadores deverá ser apresentado ao Congresso Nacional pelo STF, sendo um dos dispositivos que
integrará o Estatuto da Magistratura (Lei Orgânica da Magistratura), nos termos do art. 93, VI, da CF/88:
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da
Magistratura, observados os seguintes princípios:
(...)
VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes observarão o disposto no art. 40;

O que acontece com os mandados de segurança que haviam sido impetrados pelos Desembargadores
que queriam prorrogar a aposentadoria compulsória para 75 anos?
O STF declarou que fica sem produzir efeitos todo e qualquer pronunciamento judicial e administrativo
que tenha interpretado que a EC 88/2015 permitiria, mesmo sem LC, ampliar para 75 anos a idade da
aposentadoria compulsória para outros agentes públicos que não sejam Ministros do STF, dos Tribunais
Superiores e do TCU.
Em outras palavras, o STF afirmou que nenhuma decisão judicial ou administrativa pode estender o limite
de 75 anos da aposentadoria compulsória para outros agentes públicos.
Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6
Com isso, os Desembargadores que concederam liminares a outros Desembargadores permitindo que eles
se aposentassem aos 75 anos deverão tornar sem efeito as decisões proferidas, revogando as liminares
concedidas. Os Desembargadores impetrantes, se já completaram 70 anos, deverão ser considerados
automaticamente aposentados, devendo os respectivos Tribunais publicar o ato aposentatório,
encaminhando-o ao Tribunal de Contas.

O que acontece se o Desembargador que concedeu a liminar mantiver-se recalcitrante e não tornar sem
efeito sua decisão? E se forem concedidas novas medidas liminares em outros processos?
Neste caso, a referida decisão poderá ser atacada por meio de reclamação proposta diretamente no STF,
que irá cassá-la.

Os mandados de segurança impetrados deverão ser extintos?


NÃO imediatamente. Apesar de ser praticamente impossível que o Supremo mude o entendimento que já
manifestou, como a decisão foi ainda apenas cautelar, o STF determinou que todos os processos que
envolvam a aplicação da nova idade para aposentadoria compulsória a magistrados deverão ficar
suspensos, até o julgamento definitivo da ADI.

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Cumulação de ADI com ADC

Importante!!!
O legitimado poderá ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) requerendo a
inconstitucionalidade do art. XX da Lei ZZZ e, na mesma ação, pedir que o art. YY seja
declarado constitucional? É possível, em uma mesma ação, cumular pedido típico de ADI com
pedido típico de ADC?
SIM. O STF entendeu que é possível a cumulação de pedidos típicos de ADI e ADC em uma única
demanda de controle concentrado.
A cumulação de ações, neste caso, além de ser possível, é recomendável para a promoção dos
fins a que destinado o processo objetivo de fiscalização abstrata de constitucionalidade,
destinado à defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional.
A cumulação objetiva permite o enfrentamento judicial coerente, célere e eficiente de
questões minimamente relacionadas entre si.
Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações, além de carecer de fundamento expresso na
Lei 9.868/1999, traria como consequência apenas o fato de que o autor iria propor novamente
a demanda, com pedido e fundamentação idênticos, ação que seria distribuída por prevenção.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Foi editada uma lei contendo diversos artigos. Um dos legitimados para a ADI (ex: o Conselho Federal da
OAB), examinando o diploma, entendeu que o art. XX da lei é inconstitucional. Por outro lado, este mesmo
legitimado considera que o art. YY é constitucional e importante para o ordenamento jurídico, mas que,
apesar disso, ele tem sido desrespeitado por juízes e Tribunais.

Esse legitimado poderá ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) requerendo a
inconstitucionalidade do art. XX e, na mesma ação, pedir que o art. YY seja declarado constitucional? É
possível, em uma mesma ação, cumular pedido típico de ADI com pedido típico de ADC?
SIM. O STF entendeu que é possível a cumulação de pedidos típicos de ADI e ADC em uma única demanda
de controle concentrado.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


A cumulação de ações, neste caso, além de ser possível, é recomendável para a promoção dos fins a que
destinado o processo objetivo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, destinado à defesa, em tese,
da harmonia do sistema constitucional.
A cumulação objetiva permite o enfrentamento judicial coerente, célere e eficiente de questões
minimamente relacionadas entre si.
Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações, além de carecer de fundamento expresso na Lei n.
9.868/1999, traria como consequência apenas o fato de que o autor iria propor novamente a demanda,
com pedido e fundamentação idênticos, ação que seria distribuída por prevenção.

Exemplo concreto:
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) ajuizou a ADI 5316 contra a EC 88/2015 formulando dois
pedidos principais:
 A declaração de inconstitucionalidade da exp essão as o diç es do a t. da Co stituição Fede al
contida no art. 100 do ADCT, introduzido pela EC 88/2015 (pedido típico de ADI); e
 A declaração de constitucionalidade da exigência de lei complementar para que a aposentadoria
compulsória aos 75 anos fosse estendida para juízes e Desembargadores, nos termos do inciso II do § 1º do
art. 40 da CF/88 e do art. 100 do ADCT, com redação dada pela EC 88/2015 (pedido típico de ADC).

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Controvérsia judicial relevante

A Lei 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos da
petição inicial. Um desses requisitos exigidos é se demonstre que existe controvérsia judicial
relevante sobre a lei objeto da ação.
Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a
constitucionalidade daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais
decidindo que aquela lei é inconstitucional. Se não existirem decisões contrárias à lei, não há
razão para se propor a ADC.
É possível que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher o
requisito da controvérsia judicial relevante com poucos dias de vigência do ato normativo?
SIM. Mesmo a lei ou ato normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível preencher
o requisito da controvérsia judicial relevante se houver decisões julgando essa lei ou ato
normativo inconstitucional.
O STF decidiu que o requisito relativo à existência de controvérsia judicial relevante é
qualitativo e não quantitativo. Em outras palavras, para verificar se existe a controvérsia não
se examina apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas decisões
em sentido contrário à lei. Mesmo havendo ainda poucas decisões julgando inconstitucional a
lei já pode ser possível o ajuizamento da ADC se o ato normativo impugnado for uma emenda
constitucional (expressão mais elevada da vontade do parlamento brasileiro) ou mesmo em se
tratando de lei se a matéria nela versada for relevante e houver risco de decisões contrárias à
sua constitucionalidade se multiplicarem.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

Ação declaratória de constitucionalidade – ADC


Ação declaratória de constitucionalidade é uma ação por meio da qual o STF é provocado para dizer que
determinada lei ou ato normativo federal é compatível com a CF/88.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Existe uma presunção de que toda lei é constitucional, até que se prove o contrário. Qual é, então, a
finalidade de existir uma ação apenas para declarar que a lei é constitucional? Essa ação não seria
desnecessária, inútil?
NÃO. Realmente, toda lei ou ato normativo goza de presunção de constitucionalidade. Ocorre que, como
existe no Brasil o controle de constitucionalidade difuso, pode acontecer de, logo após a lei ser editada,
inúmeros juízes e Tribunais começarem a julgar, em ações individuais, que ela é inconstitucional.
Nesses casos, acaba surgindo uma grave insegurança jurídica porque enquanto alguns estão obedecendo a
lei, outros conseguiram decisões judiciais para descumpri-la sob o argumento de que é inconstitucional.
Ex: determinada lei federal institui o imposto X ; muitos contribuintes ingressam na justiça alegando que
este tributo é inconstitucional; são concedidas inúmeras liminares declarando o imposto inexigível; caberá
ADC pedindo que o STF declare que a referida lei é constitucional.
A ADC serve, portanto, para, em tais situações, provocar o STF para que ele diga, de uma vez por todas, se
a lei é constitucional ou não, sendo que o que for decidido pela Corte valerá para todos (erga omnes) com
efeitos vinculantes.
A presunção de constitucionalidade da lei é relativa. Se ADC for julgada procedente, esta presunção torna-
se absoluta (ninguém mais poderá questioná-la).

Existência de controvérsia judicial relevante


A Lei n. 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos da petição
inicial. Um desses requisitos exigidos é se demonstre que existe controvérsia judicial relevante sobre a lei
objeto da ação:
Art. 14. A petição inicial indicará:
(...)
III - a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação
declaratória.

Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a constitucionalidade
daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais decidindo que aquela lei é
inconstitucional. Se não existirem decisões contrárias à lei, não há razão para se propor a ADC.

É possível que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher o requisito da
controvérsia judicial relevante com poucos dias de vigência do ato normativo?
SIM. Mesmo a lei ou ato normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível preencher o
requisito da controvérsia judicial relevante se houver decisões julgando essa lei ou ato normativo
inconstitucional.

Mas não é necessário que haja muitas decisões judiciais contrárias à lei ou ato normativo?
Não necessariamente. O STF decidiu que o requisito relativo à existência de controvérsia judicial relevante
é qualitativo e não quantitativo. Em outras palavras, para verificar se existe a controvérsia não se examina
apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas decisões em sentido contrário à
lei. Mesmo havendo ainda poucas decisões julgando inconstitucional a lei já pode ser possível o
ajuizamento da ADC se o ato normativo impugnado for uma emenda constitucional (expressão mais
elevada da vontade do parlamento brasileiro) ou mesmo em se tratando de lei se a matéria nela versada
for relevante e houver risco de decisões contrárias à sua constitucionalidade se multiplicarem.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


TRIBUNAL DE CONTAS
Competência para declarar a inidoneidade de empresa para licitar

Importante!!!
O TCU tem competência para declarar a inidoneidade de empresa privada para participar de
licitações promovidas pela Administração Pública. Essa previsão está expressa no art. 46 da
Lei 8.443/92, sendo considerada constitucional:
Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará a
inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na
Administração Pública Federal.
STF. Plenário. MS 30788/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 21/5/2015 (Info 786).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O Tribunal de Contas da União, em tomada de contas especial, detectou que determinada empresa
privada contratada para prestar serviços em determinado órgão público federal, havia apresentado
documentos falsos para participar da licitação.
Diante disso, o TCU aplicou, como punição à empresa, a proibição de que ela participe de novas licitações
públicas pelo período de 5 anos.

O TCU poderia ter adotado essa providência?


SIM. A Lei n. 8.443/92 (Lei Orgânica do TCU) prevê essa possibilidade em seu art. 46. Confira:
Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará a inidoneidade do
licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na Administração Pública Federal.

Desse modo, o STF reconheceu que o TCU tem competência para declarar a inidoneidade de empresa
privada para participar de licitações promovidas pela Administração Pública.

No caso concreto, a empresa prejudicada alegou que esse art. 46 somente poderia ser aplicado se a
licitação fosse do próprio TCU, não podendo ser utilizado para contratações feitas por outro órgão. Essa
argumentação foi aceita?
NÃO. Esse art. 46 da Lei n. 8.443/92 é um instrumento outorgado pelo legislador para que o TCU realize
sua missão constitucional de fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial
mediante o controle externo da Administração Pública federal (art. 70 da CF/88).

A empresa alegou, por fim, que o art. 46 da Lei n. 8.443/92 teria sido derrogado pelo art. 87 da Lei n.
8.666/93. Isso é correto?
NÃO. O art. 87, III, da Lei n. 8.666/93 prevê o seguinte:
Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração poderá, garantida a prévia defesa,
aplicar ao contratado as seguintes sanções:
(...)
III - suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a Administração,
por prazo não superior a 2 (dois) anos;

Segundo entende o STF, o poder outorgado pelo legislador ao TCU, de declarar, verificada a ocorrência de
fraude comprovada à licitação, a inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos,
de licitação na Administração Pública Federal (art. 46 da Lei n. 8.443/92), não se confunde com o art. 87
da Lei das Licitações (art. 87), que é dirigido apenas ao controle interno da Administração Pública e de

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


aplicação mais abrangente. São dispositivos com objetivos e aplicações distintas (STF. Pet 3606 AgR, Rl.
Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 21/09/2006).

O Tribunal de Contas pode aplicar punições para empresas privadas?


SIM. O parágrafo único do art. 70 da CF/88 traz essa possibilidade:
Art. 70 (...) Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que
utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União
responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária.

DIREITO ADMINISTRATIVO

NEPOTISMO
Norma que impede nepotismo no serviço público não alcança servidores de provimento efetivo

A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. , V), que é vedado ao servidor
público servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil .
Foi proposta uma ADI contra esta norma.
O STF julgou a norma constitucional, mas decidiu dar interpretação conforme à Constituição,
no sentido de o dispositivo ser válido somente quando incidir sobre os cargos de provimento
em comissão, função gratificada, cargos de direção e assessoramento. Em outras palavras, o
STF afirmou que essa vedação não pode alcançar os servidores admitidos mediante prévia
aprovação em concurso público, ocupantes de cargo de provimento efetivo, haja vista que isso
poderia inibir o próprio provimento desses cargos, violando, dessa forma, o art. 37, I e II, da
CF/88, que garante o livre acesso aos cargos, funções e empregos públicos aos aprovados em
concurso público.
STF. Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 20/5/2015 (Info 786).

A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu a t. , VI, ue vedado ao se vido pú li o


se vi so a di eção i ediata de juge ou pa e te at segu do g au ivil .
Foi proposta uma ADI contra esta norma.

O STF decidiu que essa regra é...


 constitucional para os cargos de provimento em comissão, função gratificada, cargos de direção e
assessoramento;
 mas não pode ser aplicada para servidores de provimento efetivo que passaram em concurso público.

O ue a CE uis foi p oi i o epotis o. O o e ue o epotis o sig ifi a p oteção , apad i ha ento


que é dado pelo superior para um cônjuge, companheiro ou parente seu que é contratado para o cargo ou
designado para a função em virtude desse vínculo. Isso ofende a moralidade.

Ocorre que se a pessoa foi aprovada em concurso público e irá assumir um cargo efetivo, ela poderá assumi-lo
mesmo que na direção imediata esteja seu cônjuge ou parente. Isso porque, neste caso, este cônjuge ou
parente não teve influência na contratação, que se deu em virtude de aprovação em concurso público.

Se fôssemos aplicar essa proibição inclusive para cargos efetivos, isso violaria o art. 37, I e II, da CF/88, que
garante o livre acesso aos cargos, funções e empregos públicos aos aprovados em concurso público.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


Essa previsão na CE proibindo o nepotismo era realmente necessária?
NÃO. O STF tem posição consolidada no sentido de que é proibida a prática de nepotismo, conforme
consagrado na Súmula Vinculante nº 13:
SV 13-STF: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até
o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em
cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou,
ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações
recíprocas, viola a Constituição Federal.

O nepotismo é vedado em qualquer dos Poderes da República por força dos princípios constitucionais da
impessoalidade, eficiência, igualdade e moralidade, independentemente de previsão expressa em diploma
legislativo.

Assim, o nepotismo não exige a edição de uma lei formal proibindo a sua prática, uma vez que tal vedação
decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88 (STF. Rcl nº 6.702/PR-MC-Ag).
Logo, essa previsão da CE era dispensável.

PENSÃO POR MORTE NO SERVIÇO PÚBLICO


Paridade e integralidade

Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 terão direito à paridade e à


integralidade?

PARIDADE
 Em regra, eles não têm direito à paridade com servidores em atividade;
 Exceção: terão direito à paridade caso se enquadrem na regra de transição prevista no art.
3º da EC 47/2005.

INTEGRALIDADE
 Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 não possuem direito à
integralidade (CF, art. 40, § 7º, I), não havendo regra de transição para isso.

A tese firmada pelo STF em sede de repercussão geral foi a seguinte:


Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à Emenda Constitucional 41/2003 têm
direito à paridade com servidores em atividade (artigo 7º EC 41/2003), caso se enquadrem na
regra de transição prevista no artigo 3º da EC 47/2005. Não têm, contudo, direito à
integralidade (artigo 40, parágrafo 7º, inciso I, CF).
STF. Plenário. RE 603580/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2015 (repercussão
geral) (Info 786).

Pensão por morte


Quando o servidor público morre, seus dependentes poderão ter direito à pensão por morte, desde que
atendidos os requisitos previstos em lei.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


PRINCÍPIO DA PARIDADE
O que é o princípio da paridade?
Princípio da paridade era uma garantia que os servidores públicos aposentados possuíam segundo a qual
todas as vezes que havia um aumento na remuneração recebida pelos servidores da ativa, esse
incremento também deveria ser concedido aos aposentados.
Ex.: João é servidor aposentado do Ministério da Fazenda, tendo se aposentado com os proventos do
cargo de técnico A1. Quando era concedido algum reajuste na remuneração do cargo técnico A1, esse
aumento também deveria ser estendido aos proventos de João.
No dicionário, paridade significa a qualidade de ser igual. Assim, o princípio da paridade enunciava que os
proventos deveriam ser iguais à remuneração da ativa.
Os pensionistas, ou seja, os dependentes dos servidores públicos falecidos beneficiados com pensão por
morte também tinham direito à paridade. Ex: João, quando faleceu, era servidor aposentado do Ministério
da Fazenda ocupante do cargo de técnico A1. Sua esposa passou a receber pensão por morte em valor
igual à remuneração do cargo de técnico A1. Se fosse concedido algum reajuste para o cargo de técnico
A1, esse aumento também deveria ser estendido à pensão por morte.
A regra da paridade estava prevista no art. 40, § 8º, da CF/88, incluído pela EC 20/1998.

O princípio da paridade ainda existe?


NÃO. Esse p i ípio foi evogado, esta do so e te pa a os se vido es o di eito ad ui ido, ue já
preenchiam os requisitos para a aposentadoria antes da edição da EC nº 41 (art. 3º, EC nº 41), ficando
também resguardado o direito para aqueles que estão em gozo do benefício (art. 7º, EC nº 41) e os que se
enquadrarem nas regras de transição do art. 6º da EC nº 41 e do art. º da EC º . MARINELA,
Fernanda. Direito Administrativo. 7ª ed., Niterói: Impetus, 2013, p. 774).
Desse modo, se você ingressar no serviço público hoje, não terá a garantia da paridade quando se
aposentar, já que ela foi extinta com a EC n. 41/2003. Da mesma forma, caso seja servidor público e
morra, seus dependentes poderão receber pensão por morte, mas não terão direito à paridade.
No luga da pa idade, existe hoje o ha ado p i ípio da p ese vação do valo eal , p evisto o a t. , §
8º, da CF/88, segundo o qual os proventos do aposentado devem ser constantemente reajustados para
que seja sempre garantido o seu poder de compra.
Art. 40 (...) § 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o
valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41/2003)

Os pensionistas de servidor falecido atualmente possuem direito à paridade?


 REGRA: NÃO. Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003, em regra, não têm
direito à paridade com servidores em atividade. Isso porque, conforme já vimos, o princípio da
paridade foi extinto pela EC 41/2003.
O benefício previdenciário da pensão por morte deve ser regido pela lei vigente no dia em que o
servidor morrer. Desse modo, em regra, se o servidor faleceu depois da EC 41/2003, seus dependentes
não terão direito à paridade.
Assim, se a remuneração do cargo for aumentada, esse reajuste não terá que ser dado à pensão por
morte recebida pelo dependente do servidor falecido.
 EXCEÇÃO: os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 possuem direito à
paridade com servidores em atividade caso se enquadrem na regra de transição prevista no art. 3º da
EC 47/2005.

PRINCÍPIO DA INTEGRALIDADE
O que é o princípio da integralidade?
Era uma garantia de que o servidor público, quando se aposentasse, iria receber o mesmo valor que já
auferia na sua última remuneração. Ex: o indivíduo era técnico judiciário, de 1ª classe, recebendo R$ 5 mil.
Isso significa que, quando ele se aposentasse, receberia os mesmos R$ 5 mil a título de proventos.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


Os pensionistas de servidor falecido atualmente possuem direito à integralidade?
NÃO. Essa garantia foi extinta com a EC 41/2003 e os pensionistas de servidor falecido posteriormente à
EC 41/2003 não têm direito à integralidade (CF, art. 40, § 7º, I).

Já que não existe mais a integralidade, como é calculado o valor da pensão por morte que será paga?
O cálculo é feito com base no art. 40, § 7º, I, da CF/88:
§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de pensão por morte, que será igual:
I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor falecido, até o limite máximo estabelecido para os
benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da
parcela excedente a este limite, caso aposentado à data do óbito; ou (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 41, 19.12.2003)

Desse modo, veja que o inciso I começa falando que a pensão por morte será o valor da totalidade dos
proventos do servidor falecido, mas logo em seguida já impõe uma série de restrições. Logo, não mais
existe o direito à integralidade.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL


CONCURSO E PROVA DE TÍTULOS
Pontuação atribuída por tempo de serviço em serventias notariais e registrais

Lei estadual previu como títulos em concursos de cartório:


I - tempo de serviço prestado como titular, interino, substituto ou escrevente em serviço
notarial ou de registro;
II - apresentação de temas em congressos relacionados com os serviços notariais e registrais.
O STF decidiu que:
Para o concurso de INGRESSO, tal previsão é inconstitucional.
Para o concurso de REMOÇÃO, essa pontuação é constitucional, desde que as atividades listadas
nesses dois incisos tenham sido realizadas após o ingresso no serviço notarial e de registro.
STF. Plenário. ADI 3580/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Infos 773 e 786).

Concurso de cartório e prova de títulos


A Lei n. 12.919/98, do Estado de Minas Gerais, dispõe sobre os concursos de ingresso e de remoção nos
serviços notariais e de registro. Sobre a prova de títulos, a referida Lei estabeleceu o seguinte:
Art. 17. O candidato não eliminado nas provas de conhecimento poderá apresentar títulos, considerando-
se como tais os seguintes:
I - tempo de serviço prestado como titular, interino, substituto ou escrevente em serviço notarial ou de
registro;
II - trabalhos jurídicos publicados, de autoria única, e apresentação de temas em congressos relacionados
com os serviços notariais e registrais;
III - conclusão de mestrado ou doutorado em matéria jurídica;
IV - exercício da advocacia;
V - aprovação em concurso público para cargos de carreira jurídica.
§ 1º - Aos títulos relacionados nos incisos I, II, III, IV e V será atribuída, respectivamente, pontuação total
máxima de 8% (oito por cento), 2% (dois por cento), 2% (dois por cento), 4% (quatro por cento) e 4%
(quatro por cento) do total de pontos distribuídos no concurso.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


O Procurador-Geral da República ajuizou ADI contra todo o inciso I e também contra a expressão
ap ese tação de te as e o g essos ela io ados o os se viços ota iais e egist ais , o sta te do
inciso II. Segundo o PGR, essas regras violam o princípio da isonomia.

O que decidiu o STF? Tal previsão é inconstitucional?


Existem duas espécies de concurso para as serventias notariais e registrais: concurso público de ingresso e
de remoção.
 Para o concurso de INGRESSO: o inciso I e a expressão impugnada do inciso II são inconstitucionais.
 Para o concurso de REMOÇÃO: o STF afirmou que tal previsão é constitucional, desde que as
atividades listadas nesses dois incisos tenham sido realizadas após o ingresso no serviço notarial e de
registro. No caso de concurso de remoção, é válido considerar o tempo de serviço como um dos pontos
atribuídos na prova de títulos, desde que se tenha como marco inicial a assunção do cargo em concurso.
Segundo o entendimento que prevalece no STF, é inconstitucional a lei que, prevendo critérios de
valoração de títulos em concurso de ingresso nos serviços notariais e de registro, atribuam maior
pontuação às condições pessoais ligadas à atuação anterior nessas atividades (STF. Plenário. ADI 4178 MC-
REF, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 04/02/2010).

Modulação dos efeitos


O STF decidiu modular os efeitos da decisão. A Corte entendeu que, em nome da segurança jurídica,
deveria considerar que foram válidos os efeitos produzidos pela Lei mineira até a data em que o STF
concedeu a liminar suspendendo a norma (08/02/2006). A partir daí, os incisos declarados
inconstitucionais já não produziram mais nenhum efeito. Segundo o relator da ADI, Min. Gilmar Mendes, o
objetivo da modulação é não prejudicar os concursos realizados antes da data da concessão da cautelar.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

JUIZADOS ESPECIAIS
Competência da União para legislar

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que crie, como requisito de admissibilidade para a


interposição de recurso inominado no âmbito dos juizados especiais, o depósito prévio de
100% do valor da condenação. Tal norma viola a competência privativa da União para legislar
sobre direito processual, além de vulnerar os princípios do acesso à jurisdição, do
contraditório e da ampla defesa.
STF. Plenário. ADI 2699/PE, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 20/5/2015 (Info 786).

Recurso inominado
A Lei nº 9.099/95, que disciplina o processo nos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, prevê que, contra a
sentença proferida pelo juiz no rito dos juizados, caberá recurso inominado para o próprio Juizado (recurso
a ser julgado pela Turma Recursal).
Obs.: contra sentença meramente homologatória de conciliação ou laudo arbitral não cabe recurso inominado.

Lei estadual exigindo depósito da condenação para recurso no Juizado


O Estado de Pernambuco aprovou uma lei exigindo, como condição para que a parte interponha recurso
inominado, o depósito em juízo do valor integral da condenação.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


Essa lei do Estado de Pernambuco é constitucional?
NÃO. É inconstitucional lei estadual que crie, como requisito de admissibilidade para a interposição de
recurso inominado no âmbito dos juizados especiais, o depósito prévio de 100% do valor da condenação.
A referida lei tratou sobre admissibilidade recursal, ue u assu to i se ido de t o do di eito p o essual .
A competência para legislar sobre direito processual é privativa da União, nos termos do art. 22, I, da CF/88.
Além disso, o STF afirmou que a mencionada lei dificultava ou mesmo inviabilizava a interposição de
recurso para a Turma Recursal, já que fazia exigência muito gravosa. Desse modo, vulnerava os princípios
constitucionais do acesso à jurisdição, do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, XXXV e LV, da CF/88).

DIREITO PENAL

CRIMES TRIBUTÁRIOS
Aplicação da SV 24-STF a fatos anteriores à sua edição

Importante!!!
A SV 24-STF diz que o crime tributário material só se consuma com o lançamento definitivo do
tributo. Em outras palavras, não existe crime antes da constituição definitiva do crédito
tributário. Logo, indiretamente, a SV afirma que o prazo prescricional só começa a ser contado
no dia da constituição definitiva do crédito tributário já que é nessa data que o delito se
consuma (art. 111, I, do CP).
Perceba, portanto, que sob o ponto de vista da prescrição, a SV 24-STF é prejudicial para o réu
porque mesmo ele tendo praticado a conduta anos antes, o prazo prescricional nem começou a
correr se ainda não houve constituição definitiva do crédito tributário. Fica assim mais difícil
de o agente escapar da prescrição. O Estado-acusação acaba ganhando mais tempo para
oferecer a denúncia antes que o crime prescreva.
Desse modo, surgiu a tese defensiva de que a SV 24-STF, por ser mais gravosa ao réu, não
poderia retroagir para ser aplicada a fatos anteriores à sua edição, sob pena de isso ser
considerado aplicação retroativa in malam partem . Esse argumento foi aceito? É proibido
aplicar a SV 24-STF para fatos anteriores à sua edição?
NÃO. A tese não foi aceita. A SV 24-STF pode sim ser aplicada a fatos anteriores à sua edição.
Não se pode concordar com o argumento de que a aplicação da SV 24-STF a fatos anteriores à
sua edição configura retroatividade in malam partem . )sso porque o aludido enunciado
apenas consolidou interpretação reiterada do STF sobre a matéria.
A súmula vinculante não é lei nem ato normativo, de forma que a SV 24-STF não inovou no
ordenamento jurídico. O enunciado apenas espelhou (demonstrou) o que a jurisprudência já
vinha decidindo.
STF. 1ª Turma. RHC 122774/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/5/2015 (Info 786).

Lei 8.137/90
A Lei n. 8.137/90, em seus arts. 1º e 3º, define crimes contra a ordem tributária.
O art. 1º prevê o delito de sonegação fiscal, que é um crime tributário MATERIAL (com exceção do inciso V,
que é formal).
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e
qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo
à operação tributável;
IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato;
V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a
venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a
legislação.
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Quando se consuma o crime tributário material?


O crime tributário material somente se consuma quando houver a constituição definitiva do crédito
tributário, nos termos da SV 24-STF:
Súmula vinculante 24-STF: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no artigo 1º,
incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

Termo inicial da prescrição penal


Como antes da constituição definitiva do crédito tributário ainda não existe crime, somente com o
lançamento definitivo é que se inicia a contagem do prazo de prescrição.
Assim, a fluência do prazo prescricional dos crimes contra a ordem tributária, previstos no art. 1º, incisos I
a IV, da Lei n. 8.137/90, somente tem início após a constituição do crédito tributário, o que se dá com o
encerramento do procedimento administrativo-fiscal e o lançamento definitivo (STJ. 5ª Turma. AgRg no
REsp 1217773/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 20/05/2014).
No caso do inciso V, por se tratar de crime formal, não se exige a constituição definitiva do crédito
tributário para início da prescrição.

De quando é a SV 24-STF?
A súmula foi publicada no DJe de 11/12/2009.

Feitos esses esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética:


Em 1998, João suprimiu imposto de renda prestando declaração falsa às autoridades fazendárias.
O processo administrativo-fiscal ficou se arrastando durante anos e somente em 2010 houve a
constituição definitiva do crédito tributário.
No mesmo ano, o MPF denunciou o réu pelo crime do art. 1º, I, da Lei n. 8.137/90.
Em 2011, ele foi condenado a 2 anos de reclusão, tendo havido o trânsito em julgado.

A defesa alegou, então, uma interessante tese:


A SV 24-STF diz que o crime tributário material só se consuma com o lançamento definitivo do tributo. Em
outras palavras, não existe crime antes da constituição definitiva do crédito tributário. Logo,
indiretamente, a SV afirma que o prazo prescricional só começa a ser contado no dia da constituição
definitiva do crédito tributário já que é nessa data que o delito se consuma (art. 111, I, do CP).
Perceba, portanto, que sob o ponto de vista da prescrição, a SV 24-STF é prejudicial para o réu porque
mesmo ele tendo praticado a conduta anos antes, o prazo prescricional nem começou a correr se ainda
não houve constituição definitiva do crédito tributário. Fica assim mais difícil de o agente escapar da
prescrição. O Estado-a usação a a a ga ha do ais te po pa a ofe e e a de úncia antes que o crime
prescreva.
Desse modo, a defesa de João alegou que a SV 24-STF, por ser mais gravosa ao réu, não poderia retroagir
para ser aplicada a fatos anteriores à sua edição, so pe a de isso se o side ado apli ação et oativa i
ala pa te . Ora, João praticou a sonegação em 1998 e a SV 24-STF somente foi publicada em 2009,
de forma que não poderia ser aplicada para este caso. Como ainda não havia a SV, deveria ser considerado
o início da prescrição em 1998.

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A tese da defesa foi aceita? É proibido aplicar a SV 24-STF para fatos anteriores à sua edição?
NÃO. A tese não foi aceita. A SV 24-STF pode sim ser aplicada a fatos anteriores à sua edição.
Para a 1ª Turma do STF, não se pode concordar com o argumento de que a aplicação da SV 24-STF a fatos
anteriores à sua edição configura retroatividade in malam partem . Isso porque o aludido enunciado
apenas consolidou interpretação reiterada do STF sobre a matéria.
A súmula vinculante não é lei nem ato normativo, de forma que a SV 24-STF não inovou no ordenamento
jurídico. O enunciado apenas espelhou (demonstrou) o que a jurisprudência já vinha decidindo.
Como exemplo disso, o Min. Dias Toffoli citou o HC 85.051/MG, julgado em 2005 (bem antes da SV 24), no
qual o STF já afirmava que a prescrição dos crimes tributários materiais somente se inicia com o
lançamento definitivo:
(...) a consumação do crime tipificado no art. 1º da Lei 8.137/90 somente se verifica com a constituição do
crédito fiscal, começando a correr, a partir daí, a prescrição. (...)
(STF. 2ª Turma. HC 85051, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 07/06/2005)

DIREITO PROCESSUAL PENAL

NULIDADE
Constituição de novo mandatário, sem qualquer ressalva,
enseja a revogação tácita da procuração anterior

Importante!!!
João respondeu a ação penal e foi condenado em 1ª instância. Seu advogado constituído na
época era Dr. Pedro que interpôs recurso de apelação.
Algumas semanas depois, João outorga procuração para outro advogado (Dr. Carlos)
conferindo-lhe poderes para representá-lo neste processo criminal. Vale ressaltar que nesta
segunda procuração não há qualquer menção ao mandato que havia sido dado a Dr. Pedro.
Dr. Carlos peticiona, então, ao Tribunal de Justiça (onde tramita a apelação) juntando a
procuração e informando que deseja ser intimado de todos os atos judiciais.
Ocorre que a petição do Dr. Carlos foi ignorada e, quando marcaram o dia do julgamento da
apelação, o advogado intimado foi o Dr. Pedro.
No julgamento da apelação, que não foi acompanhado nem pelo Dr. Carlos nem pelo Dr. Pedro,
o TJ manteve a sentença condenatória.
Houve nulidade no presente caso?
SIM. Houve nulidade do julgamento da apelação considerando que o novo advogado
constituído do réu não foi intimado. A jurisprudência do STF é firme no sentido de que a não
intimação de advogado constituído configura cerceamento de defesa e, portanto, nulidade dos
atos processuais.
Mesmo sem ter havido revogação expressa do mandato outorgado ao primeiro advogado, ficou
clara a intenção do réu de alterar seu causídico. Podemos dizer que houve revogação tácita.
Para o STF, a constituição de novo mandatário para atuar em processo judicial, sem ressalva
ou reserva de poderes, enseja a revogação tácita do mandato anteriormente concedido.
STF. 2ª Turma. RHC 127258/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 19/5/2015 (Info 786).

Intimação da data de julgamento da apelação


O defensor do réu deve ser intimado da data marcada para julgamento da apelação criminal. Nesse

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


sentido, há inclusive um enunciado:
Súmula 431-STF: É nulo o julgamento de recurso criminal, na segunda instância, sem prévia intimação, ou
publicação da pauta, salvo em habeas-corpus.

Como é feita essa intimação?


 Se for Defensor Público ou dativo: essa intimação deverá ser pessoal.
 Se for defensor constituído: a intimação pode ser por meio de publicação no órgão oficial de imprensa.

Recordado esse ponto, imagine a seguinte situação adaptada:


João respondeu a ação penal e foi condenado em 1ª instância.
Seu advogado constituído na época era Dr. Pedro que interpôs recurso de apelação.
Algumas semanas depois, João outorga procuração para outro advogado (Dr. Carlos) conferindo-lhe
poderes para representá-lo neste processo criminal. Vale ressaltar que nesta segunda procuração não há
qualquer menção ao mandato que havia sido dado a Dr. Pedro.
Dr. Carlos peticiona, então, ao Tribunal de Justiça (onde tramita a apelação) juntando a procuração e
informando que deseja ser intimado de todos os atos judiciais.
Ocorre que a petição do Dr. Carlos foi ignorada e, quando marcaram o dia do julgamento da apelação, o
advogado intimado foi o Dr. Pedro.
No julgamento da apelação, que não foi acompanhado nem pelo Dr. Carlos nem pelo Dr. Pedro, o TJ
manteve a sentença condenatória.

Houve nulidade no presente caso?


SIM. Houve nulidade do julgamento da apelação considerando que o novo advogado constituído do réu
não foi intimado. A jurisprudência do STF é firme no sentido de que a não intimação de advogado
constituído configura cerceamento de defesa e, portanto, nulidade dos atos processuais.

Mas o outro advogado foi i ti ado. Isso ão poderia salvar o ato?


NÃO. Isso porque, mesmo sem ter havido revogação expressa do mandato outorgado ao primeiro advogado,
ficou clara a intenção do réu de alterar seu causídico. Podemos dizer que houve revogação tácita.
Para o STF, a constituição de novo mandatário para atuar em processo judicial, sem ressalva ou reserva de
poderes, enseja a revogação tácita do mandato anteriormente concedido.
Ainda que se imagine que não houve revogação tácita da procuração anterior (apenas para argumentar), é
certo que o novo advogado postulou sua habilitação nos autos, ocasião em que também requereu,
expressamente, sua intimação de todos os atos judiciais. Desse modo, este simples fato de seu pedido não
ter sido atendido já seria capaz de gerar a nulidade do julgamento da apelação.
Deve-se esclarecer, ainda, que não há nos autos notícia de que o primeiro advogado (Dr. Pedro) tenha
continuado atuando no processo após o peticionamento da nova procuração. Assim, o réu ficou sem defesa.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR

CONDENAÇÃO CRIMINAL E PERDA DO CARGO


A pena acessória de perda do cargo pode ser aplicada a praças mesmo sem processo específico

Atenção! DPU
Se uma praça (exs: soldados, cabos) for condenada por crime militar com pena superior a 2 anos,
receberá, como pena acessória, a sua exclusão das Forças Armadas mesmo sem que tenha sido
instaurado processo específico para decidir essa perda?
SIM. A pena acessória de perda do cargo pode ser aplicada a PRAÇAS mesmo sem processo
específico para que seja imposta. Trata-se de uma pena acessória da condenação criminal.
E se um OFICIAL for condenado?
Neste caso, será necessário um processo específico para que lhe seja imposta a perda do posto
e da patente (art. 142, § 3º, VI e VII, da CF/88). Para que haja a perda do posto e da patente do
Oficial condenado a pena superior a 2 anos, é necessário que, além do processo criminal, ele
seja submetido a novo julgamento perante Tribunal Militar de caráter permanente para
decidir apenas essa perda.
STF. Plenário. RE 447859/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

O Código Penal Militar (editado em 1969) prevê que, se uma praça (exs: soldados, cabos) for condenada
por crime militar com pena superior a 2 anos, receberá, como pena acessória, a sua exclusão das Forças
Armadas. Veja:
Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de liberdade, por tempo superior a dois anos, importa
sua exclusão das fôrças armadas.

Obs1: na escala hierárquica, os militares estão divididos em dois grandes grupos: as praças (que
desempenham funções mais subalternas) e os oficiais (que realizam atividades mais graduadas).
Obs2: apesar de o art. 102 falar em Forças Armadas, esse dispositivo também se aplicada para a Polícia
Militar e para o Corpo de Bombeiros Militar.

Ocorre que, posteriormente, a CF/88 trouxe a seguinte regra:


Art. 125 (...)
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri
quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos
oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional 45/2004)

Diante dessa previsão, surgiu a tese de que o art. 102 do CPM não teria sido recepcionado pela CF/88 e
que a perda da graduação das praças somente seria possível se fosse aberto um processo específico para
essa finalidade e a perda fosse declarada por um Tribunal. Em outras palavras, a praça condenada por
crime militar não poderia receber, como pena acessória, a perda do cargo.

Essa tese foi acolhida pelo STF?


NÃO. A pena acessória de perda do cargo pode ser aplicada a PRAÇAS da Polícia Militar mesmo sem
processo específico para que seja imposta. Segundo o STF, o § 4º do art. 125 em nenhum momento exige
expressamente processo específico para perda da graduação das praças. Não é possível extrair desse
dispositivo tal conclusão.

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


E se um OFICIAL for condenado?
Neste caso, será necessário sim um processo específico para que lhe seja imposta a perda do posto e da
patente. Isso porque tal exigência consta expressamente no art. 142, § 3º, VI e VII, da CF/88:
Art. 142. (...)
VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível,
por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em
tempo de guerra;
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a dois anos,
por sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso anterior;

Desse modo, para que haja a perda do posto e da patente do Oficial condenado a pena superior a 2 anos,
é necessário que, além do processo criminal, ele seja submetido a novo julgamento perante Tribunal
Militar de caráter permanente para decidir apenas essa perda.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Processo legislativo: quórum qualificado e votação simbólica


É constitucional a LC 56/1987 — revogada pela LC 116/2003 —, que versava sobre ISS. Com base nesse
entendimento, o Plenário proveu recurso extraordinário para reformar acórdão em que declarada a
i o stitu io alidade fo al do diplo a. O T i u al a uo assentara que o requisito de aprovação por
maioria absoluta, no momento da votação na Câmara dos Deputados, não teria sido observado. De início, o
Colegiado admitiu o recurso. No ponto, ainda que o julgamento do acórdão recorrido tivesse sido realizado
por órgão fracionado, este proclamara a inconstitucionalidade formal da aludida lei complementar. A
Constituição, em seu art. 102, III, b, não exigiria que a declaração de inconstitucionalidade, objeto do
recurso extraordinário, fosse proferida por órgão específico. No mérito, o Colegiado aduziu que a LC
56/1987 teria sido aprovada por votação simbólica, na qual não se poderia aferir o número exato de votos
alcançados. Esse método de votação estaria de acordo com o Regimento Interno da Câmara dos Deputados
então em vigor, embora o art. 50 da Constituição pretérita estabelecesse que as leis complementares
somente seriam aprovadas se obtivessem maioria absoluta dos votos dos membros das duas Casas do
Congresso Nacional. Sucede que o citado regimento permitiria ao deputado que tivesse dúvida quanto ao
resultado proclamado pedir verificação imediata. Assim, existente o instrumento de verificação, não seria
possível dizer que fora desrespeitado o quórum qualificado apenas porque adotada a votação simbólica. No
caso, não haveria notícia de ter sido utilizada essa prerrogativa, a revelar a inexistência de dúvida sobre a
formação da maioria absoluta. Assim, não se poderia supor que teria sido ignorada a exigência do quórum
qualificado, em franco desrespeito à Constituição. Esclareceu, por fim, que a alegação de
inconstitucionalidade não teria por fundamento o chamado voto de liderança ou a participação somente
dos líderes na votação.
RE 254559/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 20.5.2015.

ICMS: combustíveis e bitributação - 5


O Plenário, em conclusão de julgamento e por maioria, acolheu pedido formulado em ação direta para
declarar a inconstitucionalidade dos §§ 10 e 11 da Cláusula Vigésima Primeira do Convênio ICMS 110/2007,
com a redação conferida pelo Convênio ICMS 136/2008 ( § . Os o t i ui tes ue efetua e ope aç es
interestaduais com os produtos resultantes da mistura de gasolina com AEAC ou da mistura de óleo diesel
com B100, deverão efetuar o estorno do crédito do imposto correspondente ao volume de AEAC ou B100
contido na mistura. § 11. O estorno a que se refere o § 10 far-se-á pelo recolhimento do valor
correspondente ao ICMS diferido ou suspenso que será apurado com base no valor unitário médio e na

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alíquota média ponderada das entradas de AEAC ou de B100 ocorridas no mês, observado o § 6º da
láusula vig si a ui ta — v. Informativos 634 e 776. O Colegiado destacou que os dispositivos
impugnados, ao terem estabelecido nova obrigação aos contribuintes que efetuassem operações
interestaduais com os produtos resultantes da mistura de gasolina com álcool AEAC ou da mistura de óleo
diesel com Biodiesel B100, a pretexto de criarem um estorno do crédito do ICMS, teriam violado o disposto
nos artigos 145, § 1º, 150, I, e 155, § 2º, I, e § 5º, da CF. Isso porque, se quando da aquisição do álcool AEAC
ou do Biodiesel B100, nem a refinaria e nem a distribuidora pagariam qualquer valor a título de ICMS —
uma vez que o seu pagamento seria diferido —, não poderia haver o estorno de quantia não paga e não
recebida pelo Estado. Levando-se em consideração a natureza jurídica do crédito de ICMS, a norma
impugnada não poderia excluir, a título de estorno — decorrente da anulação de crédito tributário da
operação anterior —, a obrigação de recolhimento de valor de ICMS diferido ou suspenso, como consta da
redação do referido §11.

A Corte asseverou que não se teria como aceitável a atribuição da responsabilidade às distribuidoras de
o ustíveis, o aso de ope aç es i te estaduais o gasoli a C ou leo diesel, pelo e olhi e to do
valor correspondente ao ICMS diferido ou suspenso, de modo a estornar o crédito do imposto
correspondente ao volume de AEAC ou B100 contidos na mistura. Não se poderia exigir o recolhimento de
quem não teria a obrigação legal relativamente a ele. Outrossim, não caberia exigir o estorno, na forma de
pagamento, para compensar a anulação de crédito meramente contábil. Se o crédito de ICMS, porventura
existente na operação anterior, seria meramente escritural, não haveria motivos de ordem prática e
jurídica a justificar a obrigação de estorno na forma de pagamento do imposto. O estorno poderia dar-se na
forma de compensação contábil, mas não na modalidade de pagamento de imposto. Por outro lado, na
espécie, os Estados-Membros e o Distrito Federal, sob a supervisão da União, teriam vulnerado o princípio
da legalidade tributária, pois, por meio de convênio, teriam estipulado que o mesmo fato gerador se
prestaria a servir de instrumento arrecadador para entes federados distintos, a gerar hipótese de
bitributação não contemplada na Constituição. Esse fato causaria, portanto, evidente surpresa e prejuízo
ao contribuinte, uma vez que agravaria sua situação tributária, em patente violação às limitações
constitucionais do poder de tributar. Vencidos os Ministros Luiz Fux e Cármen Lúcia, que julgavam
improcedente o pedido. Na sequência, o Plenário, por maioria, modulou os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade, para que tivesse a eficácia diferida por seis meses após a publicação do acórdão.
Vencido, quanto à modulação, o Ministro Marco Aurélio.
ADI 4171/DF, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, 20.5.2015.

Servidores não efetivos e regime de previdência: modulação de efeitos


O Plenário acolheu, em parte, embargos de declaração opostos de acórdão que decidira que a instituição
de planos de saúde e planos odontológicos por parte do Estado de Minas Gerais estaria excluída da
previsão constitucional dos benefícios de previdência e assistência social, porquanto a contribuição deveria
ser voluntária. A Corte apontou que serviços teriam sido prestados e, se fosse declarada a
i o stitu io alidade o efi á ia ex tu , os pla os te ia de devolve o di hei o das p estaç es pagas
e recebidas. Em razão desses fatos, o Plenário conferiu efeitos prospectivos à declaração de
inconstitucionalidade proferida pelo STF no julgamento de mérito da presente ação direta. Fixou como
marco temporal de início da sua vigência a data de conclusão daquele julgamento (14 de abril de 2010) e
reconheceu a impossibilidade de repetição das contribuições recolhidas junto aos servidores públicos do
Estado de Minas Gerais até a referida data.
ADI 3106 ED/MG, rel. Min. Luiz Fux, 20.5.2015.

Embargos de declaração e modulação de efeitos - 2


Em conclusão de julgamento, o Plenário acolheu, em parte, embargos de declaração para, em relação aos
servidores da educação básica e superior do Estado de Minas Gerais, estender o prazo de modulação dos
efeitos até o final de dezembro de 2015 — v. Informativo 779 (decisão de mérito noticiada no Informativo

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740). Quanto à questão de ordem formulada pela AGU no que tange à omissão no acórdão embargado
relativa ao regime previdenciário aplicável aos ocupantes dos cargos atingidos pela declaração de
inconstitucionalidade parcial do art. 7º da LC 100/2007, a Corte declarou que deveriam ser mantidos
válidos os efeitos produzidos pelo acordo celebrado entre a União, o Estado-Membro e o INSS — o qual
fora homologado judicialmente pelo STJ — no que se refere à aplicação do regime próprio de previdência
social àqueles servidores.
ADI 4876 ED/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 20.5.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 878.694-MG
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO DAS SUCESSÕES. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DISPOSITIVOS DO CÓDIGO CIVIL QUE PREVEEM DIREITOS
DISTINTOS AO CÔNJUGE E AO COMPANHEIRO. ATRIBUIÇÃO DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Possui caráter constitucional a controvérsia acerca da validade do art. 1.790 do Código Civil, que prevê ao companheiro direitos sucessórios
distintos daqueles outorgados ao cônjuge pelo art. 1.829 do mesmo Código.
2. Questão de relevância social e jurídica que ultrapassa os interesses subjetivos da causa.
3. Repercussão geral reconhecida.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 859.251-DF
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso extraordinário com agravo. Repercussão geral. Constitucional. Penal e processual penal. 2. Habeas corpus. Intervenção de terceiros. Os
querelantes têm legitimidade e interesse para intervir em ação de habeas corpus buscando o trancamento da ação penal privada e recorrer da decisão
que concede a ordem. 3. A promoção do arquivamento do inquérito, posterior à propositura da ação penal privada, não afeta o andamento desta. 4. Os
fatos, tal como admitidos na instância recorrida, são suficientes para análise da questão constitucional. Provimento do agravo de instrumento, para
análise do recurso extraordinário. 5. Direito a mover ação penal privada subsidiária da pública. Art. 5º, LIX, da Constituição Federal. Direito da
vítima e sua família à aplicação da lei penal, inclusive tomando as rédeas da ação criminal, se o Ministério Público não agir em tempo. Relevância
jurídica. Repercussão geral reconhecida. 6. Inquérito policial relatado remetido ao Ministério Público. Ausência de movimentação externa ao Parquet
por prazo superior ao legal (art. 46 do Código de Processo Penal). Surgimento do direito potestativo a propor ação penal privada. 7. Questão
constitucional resolvida no sentido de que: (i) o ajuizamento da ação penal privada pode ocorrer após o decurso do prazo legal, sem que seja oferecida
denúncia, ou promovido o arquivamento, ou requisitadas diligências externas ao Ministério Público. Diligências internas à instituição são irrelevantes;
(ii) a conduta do Ministério Público posterior ao surgimento do direito de queixa não prejudica sua propositura. Assim, o oferecimento de denúncia, a
promoção do arquivamento ou a requisição de diligências externas ao Ministério Público, posterior ao decurso do prazo legal para a propositura da
ação penal, não afastam o direito de queixa. Nem mesmo a ciência da vítima ou da família quanto a tais diligências afasta esse direito, por não
representar concordância com a falta de iniciativa da ação penal pública. 8. Reafirmação da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 9. Recurso
extraordinário provido, por maioria, para reformar o acórdão recorrido e denegar a ordem de habeas corpus, a fim de que a ação penal privada
prossiga, em seus ulteriores termos.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 876.982-PR
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ESTADO DO PARANÁ. SERVIDORA PÚBLICA.
GRATIFICAÇÃO DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO
GERAL.
1. A controvérsia relativa à base de cálculo da vantagem denominada “gratificação de insalubridade”, paga aos servidores públicos das universidades
estaduais do Paraná, é de natureza infraconstitucional, uma vez que fundada na interpretação das Leis Estaduais 10.692/93 e 15.050/06.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 881.383-RN
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SERVIDORA PÚBLICA INATIVA.
APOSENTADORIA NO CARGO DE PROFESSORA, COM CARGA HORÁRIA DE 40 HORAS. ALTERAÇÃO DO REGIME DO
MAGISTÉRIO ESTADUAL E POSTERIOR REENQUADRAMENTO NO CARGO DE PROFESSOR, COM CARGA HORÁRIA DE 30 HORAS.
OCORRÊNCIA DE DECESSO REMUNERATÓRIO. REEXAME DE FATOS E PROVAS (SÚMULA 279/STF). MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.

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1. A controvérsia diz respeito à diminuição de proventos de servidora inativa, aposentada no cargo de professora com carga horária de 40 horas, em
decorrência da alteração do regime do magistério estadual do Rio Grande do Norte e posterior enquadramento da parte no cargo de professor com
carga horária de 30 horas.
2. O Tribunal de origem decidiu que a alteração de regime não preservou o montante global do estipêndio até então percebido pela parte, tendo
ocorrido redução de caráter pecuniário. O acolhimento da tese recursal, nesse ponto, demandaria a reapreciação do conjunto fático-probatório dos
autos (Súmula 279/STF) e a análise da legislação infraconstitucional aplicável (Lei Complementar Estadual 322/06), de modo que eventual ofensa à
Constituição Federal seria meramente indireta.
3. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
4. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.

Decisões Publicadas: 4

CLIPPING DO D JE
18 a 22 de maio de 2015

ADI N. 2.615-SC
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Direito do Consumidor. 3. Telefonia. 4. Assinatura básica mensal. 5. Lei n. 11.908, de 25 de setembro de
2001, do estado de Santa Catarina. 6. Inconstitucionalidade formal. 7. Afronta aos arts. 21, XI, e 22, IV, da Constituição Federal. 8. É inconstitucional
norma local que fixa as condições de cobrança do valor de assinatura básica, pois compete à União legislar sobre telecomunicações, bem como
explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão seus serviços. 9. Ação direta julgada procedente.
*noticiado no Informativo 777

ADI N. 5.163-GO
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº 17.882/2012 DO ESTADO DE GOIÁS.
SERVIÇO DE INTERESSE MILITAR VOLUNTÁRIO (SIMVE). INOBSERVÂNCIA DA REGRA CONSTITUCIONAL IMPOSITIVA
DO CONCURSO PÚBLICO. VIOLAÇÃO AOS ART. 37, II, E 144, § 5°, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PREVISÃO GENÉRICA
E ABRANGENTE DE CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA: OFENSA AOS ARTS. 37, II, IX, E 144, CAPUT, DA CRFB/88.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. LEI ESTADUAL QUE CONTRARIA NORMAS GERAIS EDITADAS PELA UNIÃO. AÇÃO
JULGADA PROCEDENTE.
1. O postulado do concurso público traduz-se na necessidade essencial de o Estado conferir efetividade a diversos princípios constitucionais,
corolários do merit system, dentre eles o de que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (CRFB/88, art. 5º, caput).
2. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, conquanto instituições públicas, pressupõem o
ingresso na carreira por meio de concurso público (CRFB/88, art. 37, II), ressalvadas as funções administrativas para trabalhos voluntários (Lei nº
10.029/2000), restando inconstitucional qualquer outra forma divergente de provimento.
3. À luz do conteúdo jurídico do art. 37, inciso IX, da Constituição da República e da jurisprudência firmada por esta Suprema Corte em sede de
Repercussão Geral (RE 658.026, Relator Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe 31.10.2014), a contratação temporária reclama os seguintes
requisitos para sua validade: (i) os casos excepcionais devem estar previstos em lei; (ii) o prazo de contratação precisa ser predeterminado; (iii) a
necessidade deve ser temporária; (iv) o interesse público deve ser excepcional; (iv) a necessidade de contratação há de ser indispensável, sendo
vedada a contratação para os serviços ordinários permanentes do Estado, e que devam estar sob o espectro das contingências normais da
Administração, mormente na ausência de uma necessidade temporária.
4. No caso sub examine, não há qualquer evidência de necessidade provisória que legitime a contratação de policiais temporários para o munus da
segurança pública, mercê de a lei revelar-se abrangente, não respeitando os pressupostos básicos de norma que almeja justificar a sua
excepcionalidade frente à regra da Carta Magna (CRFB/88, art. 37, II e IX).
5. A competência legislativa concorrente entre a União e os Estados-membros (CRFB/88, art. 24), nos casos em que cabe àquela estabelecer normas
gerais (§ 1º) e a estes normas suplementares (§ 2º), submete-se ao exame de constitucionalidade em sede de fiscalização normativa abstrata quando
configurada inconstitucionalidade direta, imediata e frontal. Precedentes do Plenário:; ADI 1366 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe
20-09-2012; ADI 2656/SP, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ 01.08.2003; ADI 311 MC, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ
14-09-1990.
6. É que afronta o texto maior lei estadual que regule fora das peculiaridades locais e de sua competência suplementar, atentando contra as normas
gerais de competência da União em manifesta usurpação de competência (CRFB/88, arts. 22, XXI, e 24, § 2º).
7. É inconstitucional, por vício formal, lei estadual que inaugura relação jurídica contraposta à legislação federal que regula normas gerais sobre o
tema, substituindo os critérios mínimos estabelecidos pela norma competente.
8. In casu, a Lei nº 17.882, de 27 de dezembro de 2012, do Estado do Goiás, ao instituir o Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual (SIMVE)
na Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás, instituiu uma classe de policiais temporários, cujos integrantes, sem o
indispensável concurso público de provas e títulos, passam a ocupar, após seleção interna, função de natureza policial militar de maneira
evidentemente inconstitucional.
9. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
10. Proposta a modulação temporal pelo Relator, não se obteve, no Plenário, o quorum necessário para a sua aprovação.
*noticiado no Informativo 780

AP N. 568-SC
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO

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EMENTA : PROCESSO PENAL. AÇÃO PENAL. QUESTÃO DE ORDEM. DEPUTADO FEDERAL NÃO REELEITO. PERDA SUPERVENIENTE
DE PRERROGATIVA DE FORO. INSTRUÇÃO CONCLUÍDA. ATIPICIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA MANIFESTA. HABEAS CORPUS DE
OFÍCIO. CONCESSÃO. ABSOLVIÇÃO.
1. A Turma, por maioria de votos, já decidiu que a renúncia de parlamentar, após o final da instrução, não acarreta a perda de competência do
Supremo Tribunal Federal. Precedente: AP 606-QO, Rel. Min. Luís Roberto Barroso (Sessão de 07.10.2014).
2. No Inq 3734, a Turma entendeu, por ocasião do recebimento da denúncia, que na hipótese de não reeleição não se aplica o mesmo critério de
fixação de competência.
3. O caso presente, que envolve julgamento de ação penal, é análogo a este último. No entanto, a instrução foi concluída e o voto do relator preparado
quando o denunciado ainda era titular de mandato.
4. Diante disso, o relator propôs a concessão de habeas corpus de ofício, já que seu voto era pela absolvição. A Turma concordou que vulneraria o
mandamento da celeridade processual deixar-se de formalizar a extinção do processo com base no art. 386, III do CPP quando relator e revisor já
haviam formado tal convicção.
5. Ordem concedida de ofício.
*noticiado no Informativo 781

AG. REG. NO RE N. 632.343-RJ


RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário. Matéria criminal. Ausência de prequestionamento. Incidência das Súmulas nºs 282
e 356 da Corte. Ofensa indireta ou reflexa. Inadmissibilidade. Precedentes. Agravo regimental não provido.
1. Não se admite o recurso extraordinário quando os dispositivos constitucionais que nele se alega violados não estão devidamente prequestionados.
Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF.
2. O Tribunal de origem, ao decidir a questão, se ateve ao exame da legislação infraconstitucional. Portanto, a violação da Constituição, se ocorresse,
seria indireta ou reflexa, o que não enseja recurso extraordinário.
3. Agravo regimental não provido.
*noticiado no Informativo 776

AG. REG. NO RE N. 816.084-DF


RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental em recurso extraordinário. Prescrição. Multa por infração à norma celetista. Crédito não tributário. Artigo
5º, parágrafo único DL nº 1.569/77. Declaração de inconstitucionalidade. Súmula Vinculante nº 8. Alcance. Matéria constitucional. Devolução
dos autos ao TST, sob pena de supressão de instância.
1. O parágrafo único do art. 5º do Decreto-Lei nº 1.569/77 foi declarado inconstitucional por esta Corte apenas na parte em que se refere à suspensão
da prescrição dos créditos tributários, por se exigir, quanto ao tema, lei complementar.
2. O Supremo Tribunal Federal não declarou a inconstitucionalidade da suspensão da prescrição de créditos não tributários decorrente da aplicação do
caput art. 5º do Decreto-Lei nº 1.569/77. O tema ainda se encontra em aberto para discussão no âmbito do STF.
3. Afastada, no caso concreto, a aplicação da Súmula Vinculante nº 8, os autos devem retornar ao Tribunal Superior do Trabalho para que esse emita
juízo sobre o art. 5º do Decreto-Lei nº 1.569/77, considerada a hipótese de execução de crédito não tributário, sob pena de supressão de instância.
4. Agravo regimental provido para dar parcial provimento ao recurso extraordinário, no sentido de determinar o retorno dos autos ao Tribunal de
origem para que prossiga no julgamento do feito, como de direito.
*noticiado no Informativo 777

MS N. 33.046-PR
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. PROCEDIMENTO DE CONTROLE
ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO DE REMOÇÃO PARA OUTORGA DO 6º CARTÓRIO DE PROTESTOS DE
CURITIBA. CRITÉRIO PARA DESEMPATE DO CERTAME. LEI FEDERAL Nº 10.741/03. ESTATUTO DO IDOSO. NORMA GERAL.
CRITÉRIO DE DESEMPATE ETÁRIO. NÃO APLICABILIDADE. LEI FEDERAL Nº 8.935/94 E LEI ESTADUAL Nº 14.594/2004.
NORMAS ESPECÍFICAS. CRITÉRIO DE DESEMPATE. TEMPO DE SERVIÇO. APLICABILIDADE. ORIENTAÇÃO ADOTADA
PELO ACÓRDÃO IMPUGNADO. SEGURANÇA DENEGADA.
1. O princípio federativo brasileiro reclama, na sua ótica contemporânea, o abandono de qualquer leitura excessivamente inflacionada das
competências normativas da União (sejam privativas, sejam concorrentes), bem como a descoberta de novas searas normativas que possam ser
trilhadas pelos Estados, Municípios e pelo Distrito Federal, tudo isso em conformidade com o pluralismo político, um dos fundamentos da República
Federativa do Brasil (CRFB, art. 1º, V)
2. A competência da União para legislar sobre registros públicos (CRFB, art. 22, XXV) alcança apenas as atividades-fim dos notários e registradores,
correspondendo ao poder de “criar e extinguir requisitos de validade dos atos jurídicos de criação, preservação, modificação, transferência e
extinção de direitos e obrigações” (Precedente do STF: ADI nº 2.415, rel. Min. Ayres Britto, Tribunal Pleno, j. 22/09/2011, DJe-028 de 08-02-2012).
3. Cabe aos Estados-membros editar as normas e fixar os critérios para o concurso de remoção para outorga de serventia extrajudicial (ex vi do art. 25,
§1º, CRFB), como, a rigor, já reconhecido pela legislação federal sobre o tema (Lei nº 8.935/1994 - art. 18. A legislação estadual disporá sobre as
normas e os critérios para o concurso de remoção).
4. O Estado do Paraná, no exercício de sua competência legislativa, editou a Lei nº 14.594/2004, que estabeleceu as normas e critérios para concursos
de remoção nos serviços notariais e de registro.
5. A Lei nº 10.741/03 (Estatuto do Idoso) cuida apenas da admissão em concurso público em termos gerais, de modo que, quando em referência
concurso de remoção, não deve ser seguida, ante a existência de lei especial (lex specialis derogat legi generali).
6. In casu, o acórdão impugnado do Conselho Nacional de Justiça, ao negar a aplicação da Lei n° 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), privilegiando o
que estabelece a Lei Estadual n° 14.594/2004, agiu acertadamente, resolvendo o conflito aparente de normas segundo a boa técnica jurídica.
7. O tempo anterior na titularidade do serviço para o qual se realiza o concurso público não pode ser utilizado como critério de desempate por violar o
princípio da razoabilidade, segundo a jurisprudência do STF (Precedente: ADI nº 3.522, rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, j. 24/11/2005, DJ
12.05.2006).

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8. Destarte, na forma da Lei estadual nº 14.594/2004, deve-se adotar o critério de maior tempo de serviço público para desempatar o concurso de
remoção para a outorga do 6º Cartório de Protestos da Capital, exatamente nos termos em que proferido o acórdão impugnado do Conselho Nacional
de Justiça.
9. Segurança denegada.
*noticiado no Informativo 777

ADI N. 4.481-PR
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa:. I. TRIBUTÁRIO. LEI ESTADUAL QUE INSTITUI BENEFÍCIOS FISCAIS RELATIVOS AO ICMS. AUSÊNCIA DE CONVÊNIO
INTERESTADUAL PRÉVIO. OFENSA AO ART. 155, § 2º, XII, g, DA CF/88. II. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. MODULAÇÃO
DOS EFEITOS TEMPORAIS.
1. A instituição de benefícios fiscais relativos ao ICMS só pode ser realizada com base em convênio interestadual, na forma do art. 155, §2º, XII, g, da
CF/88 e da Lei Complementar nº 24/75.
2. De acordo com a jurisprudência do STF, o mero diferimento do pagamento de débitos relativos ao ICMS, sem a concessão de qualquer redução do
valor devido, não configura benefício fiscal, de modo que pode ser estabelecido sem convênio prévio.
3. A modulação dos efeitos temporais da decisão que declara a inconstitucionalidade decorre da ponderação entre a disposição constitucional tida por
violada e os princípios da boa-fé e da segurança jurídica, uma vez que a norma vigorou por oito anos sem que fosse suspensa pelo STF. A supremacia
da Constituição é um pressuposto do sistema de controle de constitucionalidade, sendo insuscetível de ponderação por impossibilidade lógica.
4. Procedência parcial do pedido. Modulação para que a decisão produza efeitos a contatar da data da sessão de julgamento.
*noticiado no Informativo 777

AG. REG. NO RHC N. 123.091-DF


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DEFENSOR CIENTIFICADO DA DATA DE JULGAMENTO
DO HC NO STJ. DOSIMETRIA DA PENA. CONDENAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO.
1. O Supremo Tribunal Federal firmou orientação no sentido de que é “Imperiosa a intimação pessoal da Defesa da data do julgamento da
impetração quando há pedido expresso para a realização de sustentação oral” (RHC 120.031, Rel.ª Min.ª Rosa Weber).
2. Hipótese em que não é possível falar em cerceamento do direito de defesa, tendo em vista que a data do novo julgamento da impetração foi
disponibilizada na página oficial do Superior Tribunal de Justiça na internet com mais de 48 (quarenta e oito) horas de antecedência.
3. A dosimetria da pena é questão relativa ao mérito da ação penal, estando necessariamente vinculada ao conjunto fático probatório, não sendo
possível às instâncias extraordinárias a análise dos dados fáticos da causa para redimensionar a pena finalmente aplicada. Precedentes.
4. As peças que instruem o processo revelam que sobreveio o trânsito em julgado da condenação do paciente. De modo que não é possível falar em
execução provisória da pena.
5. Agravo regimental desprovido.

EMB. DECL. NO Inq N. 3.438-SP


RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DENÚNCIA RECEBIDA CONTRA PARLAMENTAR FEDERAL. PERDA
SUPERVENIENTE DA PRERROGATIVA DE FORO PERANTE O STF. COMPETÊNCIA DA SUPREMA CORTE PARA O
JULGAMENTO DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS. CARÁTER INTEGRATIVO DA ESPÉCIE RECURSAL. ALEGAÇÃO DE
NULIDADE E OMISSÃO NO ACÓRDÃO. INEXISTÊNCIA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
1. Os embargos de declaração possuem função integrativa do julgado contra o qual se dirigem, razão pela qual competente para o seu julgamento o
juízo que prolatou a decisão embargada. Cabe, em decorrência, a esta Suprema Corte o julgamento dos embargos de declaração interpostos contra
o acórdão pelo qual recebida a denúncia oferecida pelo crime de injúria contra o ora embargante, detentor, à época do julgamento da prerrogativa de
foro neste Supremo Tribunal Federal, supervenientemente perdida.
2. Competência da Turma, e não do Plenário, para recebimento da denúncia contra o ora embargante, Deputado Federal à época do julgamento, a teor
do artigo 9º, I, j, do RISTF.
3. Ausente o vício de omissão no acórdão embargado, a justificar, juntamente com a ambiguidade, a obscuridade e a contradição, como condições de
embargabilidade, o acolhimento de embargos declaratórios, nos termos do art. 619 do Código de Processo Penal e do art. 337 do RISTF.
4. Embargos de declaração rejeitados.
AG. REG. NO ARE N. 871.677-PA
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME
DE ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. ARTIGO 214 DO CÓDIGO PENAL, NA SUA REDAÇÃO ANTERIOR À LEI Nº 12.015/09.
COMPROVAÇÃO DE AUTORIA E MATERIALIDADE. INCURSIONAMENTO NO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS
AUTOS. SÚMULA 279 DO STF.
1. A resolução da controvérsia atinente à autoria e materialidade criminais demanda a análise aprofundada do conjunto fático-probatório dos autos, o
que atrai a incidência da Súmula 279 do STF, que dispõe: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário”. Precedentes: ARE
804.388 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de 13/5/2014, e ARE 752.851 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de
18/3/2014.
2. In casu, o acórdão extraordinariamente recorrido assentou: "APELAÇÃO PENAL. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. CONTINUAÇÃO
DELITIVA. ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS IMPOSSIBILIDADE - RELATOS DA VÍTIMA SEGURO QUANTO AOS FATOS -
ADMISSÃO PARCIAL DO RÉU - FORÇA PROBATÓRIA DA PALAVRA DA OFENDIDA. REDUÇÃO DA PENA DE OFÍCIO. RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO. UNANIMIDADE.”
3. Agravo regimental DESPROVIDO.

SEG. JULG. EM HC N. 105.897-SP


RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. HOMICÍDIO CULPOSO E LESÃO CORPORAL CULPOSA NA DIREÇÃO DE VEÍCULO.
ALEGAÇÕES FINAIS. APELAÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. 1. A PRIMEIRA TURMA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26


CONSOLIDOU ENTENDIMENTO NO SENTIDO DA INADMISSIBILIDADE DA IMPETRAÇÃO DE HABEAS CORPUS EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO ORDINÁRIO
CONSTITUCIONAL. PRECEDENTES. 2. HIPÓTESE EM QUE NÃO SE COMPROVOU O ALEGADO CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA DO PACIENTE. 3.
HABEAS CORPUS EXTINTO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO POR INADEQUAÇÃO DA VIA PROCESSUAL, CASSADA A LIMINAR DEFERIDA.

AG. REG. NA Rcl N 18.384-SP


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MULTA APLICADA PELO
CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA. PRÉVIO RECOLHIMENTO PARA FINS DE RECURSO ADMINISTRATIVO. EXIGÊNCIA
AFASTADA PELO ACÓRDÃO RECLAMADO. DETERMINAÇÃO DE JULGAMENTO DOS RECURSOS ADMINISTRATIVOS QUE NÃO
FORAM CONHECIDOS PELA NÃO SATISFAÇÃO DE EXIGÊNCIA CONSIDERADA INDEVIDA. OFENSA À SÚMULA VINCULANTE 21.
NÃO CONFIGURAÇÃO.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

HC N. 123.652-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO INADMITIDO NA
ORIGEM. APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL. ALEGAÇÃO DE USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO STF.
INADMISSIBILIDADE. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO. ART. 297 DO CP. EXTINÇÃO PREMATURA DA AÇÃO PENAL.
INVIABILIDADE. PRESENTES OS PRESSUPOSTOS AUTORIZADORES DA PERSECUÇÃO CRIMINAL.
1. O Plenário desta Corte firmou o entendimento de que não cabe recurso ou reclamação ao Supremo Tribunal Federal para rever decisão do Tribunal
de origem que aplica a sistemática da repercussão geral, a menos que haja negativa motivada do juiz em se retratar para seguir a decisão da Suprema
Corte.
2. A denúncia narra de forma clara e objetiva os fatos supostamente delituosos, com a indicação dos elementos indiciários mínimos aptos a tornar
plausível a acusação, de modo a permitir, àquele que sofre a persecução criminal, o pleno exercício do direito de defesa, nos termos do art. 41 do
Código de Processo Penal.
3. Não há como avançar nas alegações sobre a veracidade, ou não, dos fatos imputados, questões que serão apuradas no âmbito da ação penal
originária, impossível de ser avaliada nesta via processual.
4. Não se trata de acusação de falsificação de fotocópia de documento público não-autenticada, ou de sua utilização, o que, em tese, poderia implicar
na inidoneidade do suposto documento para ilaquear a fé pública. O que se tem descrito é que a referida cópia seria um elemento de informação que
demonstraria a existência de duas versões de um mesmo contrato administrativo, cuja utilização do escrito supostamente falsificado teria gerado
prejuízos à municipalidade, ou seja, consequências no plano jurídico.
5. Ordem denegada.

HC N. 126.520-RJ
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PENAL MILITAR. PACIENTE CONDENADO PELO CRIME DE DESERÇÃO. ART. 187 DO CPM. EQUÍVOCO NA ELABORAÇÃO
DO TERMO DE DESERÇÃO. INOCORRÊNCIA. EXCLUSÃO DOS QUADROS DAS FORÇAS ARMADAS APÓS O PERÍODO DE GRAÇA.
CONSUMAÇÃO DO DELITO. ART. 452 DO CPPM. CARÁTER DE INSTRUÇÃO PROVISÓRIA DO TERMO. POSSIBILIDADE DE
UTILIZAÇÃO DE OUTROS MEIOS DE PROVA.
1. Eventual equívoco na lavratura do Termo de Deserção apenas tem o condão de afastar a tipicidade da conduta quando, a partir dele, as forças
armadas excluírem o militar durante o período de graça.
2. A literalidade do art. 452 do CPPM deixa claro que o Termo de Deserção tem o caráter de instrução provisória e destina-se a fornecer os elementos
necessários à propositura da ação penal, não significando prova definitiva, que será formada durante a instrução, sob o crivo do contraditório e da
ampla defesa. Doutrina.
3. Ordem denegada.
AG. REG. NO HC N. 124.867-PR
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
E M E N T A: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. DESCAMINHO. VALOR INFERIOR AO
ESTIPULADO PELO ART. 20 DA LEI 10.522/2002. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. HABITUALIDADE DELITIVA.
REPROVABILIDADE DA CONDUTA.
1. A pertinência do princípio da insignificância deve ser avaliada considerando os aspectos relevantes da conduta imputada.
2. A habitualidade delitiva revela reprovabilidade suficiente a afastar a aplicação do princípio da insignificância (ressalva de entendimento da
Relatora). Precedentes.
3. Agravo regimental conhecido e não provido
AG. REG. NO ARE N. 854.606-PE
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. GRATIFICAÇÃO
DE RISCO DE POLICIAMENTO OSTENSIVO. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº 59/2004. CARÁTER GENÉRICO. ART. 97 DA CF/88.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. PRECEDENTES.
1. Dissentir da conclusão adotada pelo Tribunal de origem quanto à natureza jurídica das vantagens concedidas aos servidores, se genéricas ou pro
labore faciendo, exige o exame da legislação local pertinente e uma nova apreciação dos fatos e do material probatório constante dos autos
(incidência das Súmulas 279 e 280/STF).
2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que não há violação ao princípio da reserva de plenário quando o acórdão
recorrido apenas interpreta norma local, sem declará-la inconstitucional ou afastar sua aplicação com base nos termos da Constituição Federal.
3. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
Acórdãos Publicados: 416

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 27


TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Júri - Versões Conflitantes - Opções dos Jurados – Possibilidade (Transcrições)


HC 107.906/SP*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: JÚRI. EXISTÊNCIA DE TESES ANTAGÔNICAS. OPÇÃO DO CONSELHO DE
SENTENÇA POR UMA DAS VERSÕES. JURADOS QUE SE MANIFESTAM COM
APOIO EM ELEMENTOS PROBATÓRIOS PRODUZIDOS NOS AUTOS. LEGITIMIDADE
DESSA OPÇÃO. ABSOLVIÇÃO PENAL DO RÉU. REFORMA DO VEREDICTO PELO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA, QUE O CONSIDEROU MANIFESTAMENTE CONTRÁRIO À
PROVA DOS AUTOS (CPP, ART. 593, III, “d”). OFENSA AO POSTULADO
CONSTITUCIONAL DA SOBERANIA DOS VEREDICTOS DO JÚRI (CF, ART. 5º,
XXXVIII, “c”). PRECEDENTES. “HABEAS CORPUS” DEFERIDO PARA RESTABELECER
A DECISÃO ABSOLUTÓRIA PROFERIDA PELO CONSELHO DE SENTENÇA.
– O julgamento efetuado pelo Conselho de Sentença realiza-se sob a égide do sistema da
íntima convicção (RTJ 132/307), que, além de dispensar qualquer fundamentação, acha-se
constitucionalmente resguardado tanto pelo sigilo das votações quanto pela soberania dos
veredictos (CF, art. 5º, inciso XXXVIII, “b” e “c”).
– Embora ampla a liberdade de julgar reconhecida aos jurados, estes somente podem decidir
com apoio nos elementos probatórios produzidos nos autos, a significar que, havendo duas ou
mais teses ou versões, cada qual apoiada em elementos próprios de informação existentes no
processo, torna-se lícito ao Conselho de Sentença, presente esse contexto, optar por qualquer
delas, sem que se possa imputar a essa decisão dos jurados a ocorrência de contrariedade
manifesta à prova dos autos.
– A decisão do júri somente comportará reforma, em sede recursal (CPP, art. 593, III, “d”), se
não tiver suporte em base empírica produzida nos autos, pois, se o veredicto do Conselho de
Sentença refletir a opção dos jurados por uma das versões constantes do processo, ainda que
ela não pareça a mais acertada ao Tribunal “ad quem”, mesmo assim a instância superior terá
que a respeitar. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais em geral.
DECISÃO: Registro, preliminarmente, por necessário, que o Supremo Tribunal Federal, mediante edição da Emenda Regimental nº 30, de
29 de maio de 2009, delegou expressa competência ao Relator da causa para, em sede de julgamento monocrático, denegar ou conceder a ordem de
“habeas corpus”, “ainda que de ofício”, desde que a matéria versada no “writ” em questão constitua “objeto de jurisprudência consolidada do
Tribunal” (RISTF, art. 192, “caput”, na redação dada pela ER nº 30/2009).
Ao assim proceder, fazendo-o mediante interna delegação de atribuições jurisdicionais, esta Suprema Corte, atenta às exigências de
celeridade e de racionalização do processo decisório, limitou-se a reafirmar princípio consagrado em nosso ordenamento positivo (RISTF, art. 21,
§ 1º; Lei nº 8.038/90, art. 38; CPC, art. 557) que autoriza o Relator da causa a decidir, monocraticamente, o litígio, sempre que este referir-se a
tema já definido em “jurisprudência dominante” no Supremo Tribunal Federal.
Nem se alegue que essa orientação implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o postulado em questão sempre restará
preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal
Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
A legitimidade jurídica desse entendimento decorre da circunstância de o Relator da causa, no desempenho de seus poderes processuais,
dispor de plena competência para exercer, monocraticamente, o controle das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal,
justificando-se, em consequência, os atos decisórios que, nessa condição, venha a praticar (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175 – RTJ 173/948),
valendo assinalar, quanto ao aspecto ora ressaltado, que este Tribunal, em decisões colegiadas (HC 96.821/SP, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI – HC 104.241-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO), reafirmou a possibilidade processual do julgamento monocrático do
próprio mérito da ação de “habeas corpus”, desde que observados os requisitos estabelecidos no art. 192 do RISTF, na redação dada pela Emenda
Regimental nº 30/2009.
Tendo em vista essa delegação regimental de competência ao Relator da causa, impõe-se reconhecer que a controvérsia ora em exame
ajusta-se à jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal firmou na matéria em análise, o que possibilita seja proferida decisão monocrática
sobre o litígio em questão.
Passo, desse modo, a examinar o pedido ora formulado nesta sede processual. E, ao fazê-lo, acolho o substancioso e fundamentado
pronunciamento do Ministério Público Federal, da lavra do ilustre Subprocurador-Geral da República Dr. EDSON OLIVEIRA DE ALMEIDA, que
opinou pela concessão da ordem de “habeas corpus”, em parecer do qual se destaca a seguinte passagem:

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 28


“5. Observo, preliminarmente, que, segundo a orientação dominante no Supremo Tribunal Federal, a avaliação
da decisão recorrida, para constatar se o Tribunal de segundo grau ateve-se aos limites impostos pela soberania do júri,
importa em ‘questão de direito’ e não ‘questão de fato’, como exemplifica a ementa do Recurso Extraordinário 106.715-
RS, relatado pelo eminente Ministro Néri da Silveira:
‘JÚRI. HOMICÍDIO DOLOSO. DECISÃO DOS JURADOS, DESCLASSIFICANDO O DELITO
PARA HOMICÍDIO CULPOSO. JULGAMENTO ANULADO PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, COM BASE
NO ART. 593, III, LETRA ‘d’, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
ALEGAÇÃO DE NEGATIVA DE VIGÊNCIA DO ART. 593, III, LETRA ‘d’, DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL.
Na espécie, em princípio, não se trata de reexaminar a matéria de fato ou o complexo probatório, mas
sim, de verificar se o julgamento da Corte de Apelação se comportou dentro dos limites, que lhe estão reservados
pela Lei Processual Penal, diante da soberania do júri, o que se propõe como ‘quaestio juris’. Não aplicação da
Súmula 279, em face da norma processual invocada, cumpre, assim, ter presente a extensão da competência do
tribunal ‘a quo’, para anular a decisão dos jurados. Não cabe, em casos tais, no julgamento do recurso
extraordinário, considerar se a prova abona a conclusão do acórdão, ou seja preferível a solução do júri, ao
desclassificar o delito para homicídio culposo. A vista dos fatos, assim como definidos no acórdão, e que importa,
efetivamente, verificar se a decisão do júri pode ser tida, ou não, como manifestamente contrária à prova dos
autos.’ (DJU 04.09.87, p. 18.288)
6. No caso, a vítima teria vendido para o paciente uma propriedade agrícola e, por conta disso, houve um
desentendimento entre eles, o que resultou também no ajuizamento de ações para solucionar a questão. No dia e hora
descritos na denúncia, a vítima, ao sair de casa, foi abordada por uma pessoa que desferiu-lhe tiros, que lhe causaram a
morte. O paciente foi denunciado como suposto mandante do crime. No Júri, o paciente foi absolvido, havendo o Conselho
de Sentença considerado que o paciente não concorreu para a prática do delito. Ocorre que a prova dos autos abriu
ensejo a duas versões: uma no sentido de que o paciente foi o mandante do homicídio e, outra, talvez menos consistente,
sustentada pela defesa, negando esse fato.
7. O Conselho de Sentença negou a participação do paciente, porque entendeu que uma das versões permitida
pela prova corroborava a tese da negativa da autoria. Presentes duas versões, o Conselho de Sentença optou pela tese
que lhe pareceu mais convincente, que resultou na absolvição do paciente. O Tribunal de Justiça, ao determinar o novo
júri, não negou essas duas versões, apenas concluiu que a prova da acusação era mais consistente que a prova favorável à
defesa. E o próprio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo reconheceu a presença de teses conflitantes, tanto que
consignou:
‘Acredito que o acusado deve ser novamente levado a Júri. Não se pode deixar de reconhecer que
existem depoimentos conflitantes e que a vida pessoal da vítima possibilita a existência de outras pessoas
interessadas em sua morte. No entanto, sem que isto constitua qualquer julgamento, é importante ressaltar que o
relacionamento entre a vítima e o apelado era por demais esgarçado. Existe depoimento de troca de tiros,
tentativa de furto de gado, insinuações de que a morte poderia ser realizada. Não se olvide que há
reconhecimento de que Policial que teria participado de ação na fazenda do acusado seria o autor do crime. O
fato de uma testemunha ter sido presa, pretendendo obter vantagem indevida, com a troca de relato por si só não
justifica o desprezo às demais provas.’
8. Não pode o Tribunal de segundo grau, nos estreitos limites da apelação contra as decisões do Tribunal do
Júri, desqualificar a prova favorável à defesa, ainda que se conceda que a versão que esta traz para os fatos não seja a
mais provável. Tal procedimento importa em atentado ao princípio da soberania do Júri, previsto no art. 5º, XXXVIII, da
Constituição Federal.
9. Versando sobre a apelação fundada no art. 593, III, ‘d’, do Código de Processo Penal, leciona Julio Fabbrini
Mirabete:
‘Trata-se de hipótese em que se fere justamente o mérito de causa, em que o ‘error in judicando’ é
reconhecido somente quando a decisão é arbitrária, porque se dissocia integralmente da prova dos autos, é
contrária ‘manifestamente’ à verdade apurada no processo e representa uma distorção da função judicante do
Conselho de Sentença. Assim, não é qualquer dissonância entre o veredito e os elementos de convicção colhidos
na instrução que autorizam a cassação do julgamento. Unicamente a decisão dos jurados que nenhum arrimo
encontra na prova dos autos é que pode ser invalidada. É lícito ao Júri optar por uma das versões verossímeis dos
autos, numa interpretação razoável dos dados instrutórios, devendo ser mantida a decisão quando isso ocorrer.’
10. Na verdade, o tribunal local, a pretexto de desqualificar a tese defensiva, acabou por confrontar a prova
existente no processo, dando mais peso àquela que ampara a versão contrária à tese da negativa da autoria, com isso
ultrapassando os limites restritos da apelação contra a decisão dos jurados. Não é demasia lembrar que se trata de
processo submetido ao Tribunal do Júri, onde vigora o ‘sistema da íntima convicção’, segundo o qual os jurados decidem
‘ex informata conscientia‘ (HC 68.047-MG, rel. Min. Sepúlveda Pertence, RTJ 132(1):307, abr. 1990), sem necessidade
de fundamentação: ‘a sentença baseia-se na certeza moral do juiz’ (Hélio Tornaghi. Código de Processo Penal. 7ª ed. São
Paulo, Saraiva, 1990, v. 1, p. 274). Assim, como observado por Nelson Hungria, citado por Espínola Filho, o júri ‘não
pode condenar ou absolver, desde que não há nenhum apoio na prova, mas dentro dos autos tem liberdade de julgar’
(Código de Processo Penal Brasileiro Anotado. 6ª ed. vol. VI, p. 137, nota).
11. Em resumo, não havendo decisão manifestamente contrária à prova dos autos, a determinação do novo
julgamento pelo Tribunal do Júri contrariou o princípio constitucional da soberania dos veredictos. (…).’ (grifei)

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Ao adotar, como razão de decidir, os fundamentos em que se apoia a manifestação da douta Procuradoria-Geral da República, valho-me da
técnica da motivação “per relationem”, cuja legitimidade jurídico-constitucional tem sido reconhecida pela jurisprudência desta Suprema Corte
(HC 69.438/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO – HC 69.987/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
Com efeito, o Supremo Tribunal Federal, pronunciando-se a propósito da técnica da motivação por referência ou por remissão,
reconheceu-a compatível com o que dispõe o art. 93, inciso IX, da Constituição da República (AI 734.689-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO
– ARE 657.355-AgR/SP, Rel. Min. LUIZ FUX – HC 54.513/DF, Rel. Min. MOREIRA ALVES – RE 585.932-AgR/RJ, Rel. Min. GILMAR
MENDES, v.g.):
“Reveste-se de plena legitimidade jurídico-constitucional a utilização, pelo Poder Judiciário, da técnica da
motivação ‘per relationem’, que se mostra compatível com o que dispõe o art. 93, IX, da Constituição da República. A
remissão feita pelo magistrado – referindo-se, expressamente, aos fundamentos (de fato e/ou de direito) que deram suporte
a anterior decisão (ou, então, a pareceres do Ministério Público, ou, ainda, a informações prestadas por órgão apontado
como coator) – constitui meio apto a promover a formal incorporação, ao ato decisório, da motivação a que o juiz se
reportou como razão de decidir. Precedentes.”
(AI 825.520-AgR-ED/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Observo, de outro lado, por relevante, que essa manifestação favorável do Ministério Público Federal ajusta-se, com absoluta fidelidade,
no que concerne ao tema de fundo, à diretriz jurisprudencial que o Supremo Tribunal Federal consagrou na apreciação de controvérsia idêntica à
ora em análise, sempre destacando, em seus vários precedentes, que a decisão do júri somente comportará reforma, em sede recursal (CPP, art. 593,
III, “d”), se não tiver suporte em base empírica produzida nos autos, pois, se o veredicto do Conselho de Sentença refletir a opção dos jurados por
uma das versões constantes do processo, ainda que ela não pareça a mais acertada ao Tribunal “ad quem”, mesmo assim a instância superior terá
que a respeitar (HC 85.904/SP, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA, v.g.).
Cabe enfatizar, neste ponto, por oportuno, que o julgamento efetuado pelos membros que compõem o Conselho de Sentença realiza-se
sob a égide do sistema da íntima convicção (RTJ 132/307), que, além de dispensar qualquer fundamentação, acha-se constitucionalmente
resguardado tanto pelo sigilo das votações quanto pela soberania dos veredictos (CF, art. 5º, inciso XXXVIII, “b” e “c”).
Embora ampla a liberdade de julgar reconhecida aos jurados, estes somente podem decidir com apoio nos elementos probatórios
produzidos nos autos.
Isso significa, portanto, que, havendo duas ou mais teses ou versões, cada qual apoiada em elementos próprios de informação existentes
no processo, torna-se lícito ao Conselho de Sentença, presente esse contexto, optar por qualquer delas, sem que se possa imputar a essa decisão
dos jurados a ocorrência de contrariedade manifesta à prova dos autos, tal como registram os precedentes deste Supremo Tribunal Federal e dos
Tribunais judiciários em geral (RTJ 109/338 – RTJ 118/273 – RTJ 177/847-848 – RT 151/540-553 – RT 155/81 – RT 211/105-106, v.g.):
“Júri. Manifesta divergência da prova dos autos.
Havendo duas linhas de interpretação para o fato, não há como impedir que o conselho de sentença opte por
uma delas, ainda que sua opção não coincida com a que parece melhor ao Tribunal de Justiça.
Recurso extraordinário conhecido e provido.”
(RE 104.061/PR, Rel. Min. FRANCISCO REZEK – grifei)
“(...) Desde que a decisão do Tribunal do Júri se ampare em alguns elementos de prova e se fundamente numa
das várias versões que razoavelmente se poderiam formar a partir do conteúdo do processo, não há como cassar a
decisão.
A Jurisprudência do STF, embora não admita versão inverossímil ou arbitrária, sem apoio em elementos de
convicção idôneos, assegura ao Tribunal Popular a opção por uma das linhas plausíveis de interpretação para o fato:
HC 68.047, RE 71.879, RE 78.312, HC 59.287, RE 99.344, RE 104.938, RE 113.789, RE 104.061.
Razoabilidade da versão adotada pelo Júri, que se viu diante de fatos conflitantes, de teses opostas e de uma
prova duvidosa, opinando por uma solução com a independência que lhe deve ser reconhecida. (…).”
(HC 70.129/RJ, Rel. Min. PAULO BROSSARD – grifei)
“(...) JÚRI – VEREDICTO – INSUBSISTÊNCIA – ATROPELAMENTO – HOMICÍDIO CULPOSO X
HOMICÍDIO DOLOSO. Além das nulidades, o veredicto dos jurados somente não subsiste quando se mostra
manifestamente contrário à prova dos autos (temperamento da soberania dos veredictos implementada via
jurisprudência). A existência de teses conflitantes (homicídio culposo e homicídio doloso, decorrentes de atropelamento) é
conducente a afastar-se a aplicação do disposto na alínea ‘d’ do inciso III do artigo 593 do Código de Processo Penal.
(…).”
(HC 76.778/RO, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – grifei)
“‘HABEAS CORPUS’. PROCESSO PENAL. JÚRI. DECISÃO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À
PROVA DOS AUTOS (CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, ART. 593, III, ‘D’). INOCORRÊNCIA. ORDEM
CONCEDIDA.
1. Decisão dos jurados, os quais, após apreciarem as teses esposadas em Plenário, optam pela absolvição do réu.
2. Se a decisão dos jurados estiver apoiada em algum elemento probatório, não há falar-se em decisão
manifestamente contrária à prova dos autos.
3. Ordem concedida, para anular o acórdão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região que reformara a
sentença absolutória.”
(HC 83.961/MS, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – grifei)
Sendo assim, pelas razões expostas e acolhendo, ainda, o parecer da douta Procuradoria-Geral da República, concedo a ordem de “habeas
corpus”, para restabelecer a absolvição penal do ora paciente proferida pelo Conselho de Sentença (Processo-crime nº 0004865- -
52.2006.8.26.0456 – 1ª Vara Judicial da comarca de Pirapozinho/SP).

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 30


Comunique-se, com urgência, transmitindo-se cópia da presente decisão ao E. Superior Tribunal de Justiça (HC 132.996/SP), ao E.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (Apelação Criminal nº 993.07.118966-9) e ao MM. Juiz de Direito da 1ª Vara Judicial da comarca de
Pirapozinho/SP (Processo-crime nº 0004865- -52.2006.8.26.0456).
Arquivem-se os presentes autos.
Publique-se.
Brasília, 08 de abril de 2015.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator

*decisão publicada no DJe de 13.4.2015

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
18 a 22 de maio de 2015

Lei nº 13.123, de 20.5.2015 - Regulamenta o inciso II do § 1o e o § 4o do art. 225 da Constituição Federal, o Artigo 1, a
alínea j do Artigo 8, a alínea c do Artigo 10, o Artigo 15 e os §§ 3 o e 4o do Artigo 16 da Convenção sobre Diversidade
Biológica, promulgada pelo Decreto no 2.519, de 16.3.1998; dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a
proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso
sustentável da biodiversidade; revoga a Medida Provisória no 2.186-16, de 23.8.2001; e dá outras providências.
Publicada no DOU em 21.5.2015, Seção 1, p. 52.

Lei nº 13.124, de 21.5.2015 - Altera a Lei no 10.446, de 8.5. 2002, que dispõe sobre infrações penais de repercussão
interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme, para os fins do disposto no inciso I do § 1 o do art. 144 da
Constituição Federal. Publicada no DOU em 22.5.2015, Seção 1, p. 1.

Medida Provisória nº 675, de 21.3.2015 - Altera a Lei nº 7.689, de 15.12.1988, para elevar a alíquota da Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido - CSLL em relação às pessoas jurídicas de seguros privados e de capitalização e às
referidas nos incisos I a VII, IX e X do § 1º do art. 1º da Lei Complementar nº 105, de 10.1.2001. Publicada no DOU
em 22.5.2015, Seção 1, p. 2.

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 786-STF (29/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 31


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADPF 341 MC-Ref/DF; RE 598677/RS; RE 658570/MG; ARE 868922 AgR/SP.

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
PENSÃO POR MORTE
 Adoção de descendente maior com o único objetivo de deixar pensão por morte.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
 Não cabem para corrigir erros de julgamento.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
 STF fixa requisitos para atuação do Ministério Público em investigações penais.

DIREITO ADMINISTRATIVO

PENSÃO POR MORTE


Adoção de descendente maior com o único objetivo de deixar pensão por morte

Não é legítima a adoção de descendente maior de idade, sem a constatação de suporte moral
ou econômico, com o fim de induzir o deferimento de benefício previdenciário.
No caso concreto, militar reformado do Exército, antes de falecer, adotou sua própria neta, que
na época tinha 41 anos de idade e era professora do ensino público estadual. Quando faleceu, a
neta habilitou-se para receber a pensão por morte como dependente do militar. O Exército fez
a concessão inicial do benefício, mas o TCU negou registro à pensão.
O STF considerou que a decisão do TCU foi correta porque a adoção não tinha suporte moral
nem econômico e tinha sido feita com o objetivo de induzir o deferimento do benefício
previdenciário. Logo, não foi legítima, tendo sido praticada com simulação e fraude à lei.
STF. 1ª Turma. MS 31383/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/5/2015 (Info 785).

Imagine a seguinte situação adaptada:


João, militar reformado do Exército, antes de falecer, adotou Maria, que na época tinha 41 anos de idade e
era professora do ensino público estadual.
Quando faleceu, Maria habilitou-se para receber a pensão por morte como dependente do militar.
O Exército fez a concessão inicial do benefício, mas o TCU negou registro à pensão.

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1
Maria impetrou mandado de segurança contra o acórdão do TCU, alegando que a decisão da Corte foi
ilegal porque:
a) não lhe foi garantida ampla defesa e contraditório;
b) houve decadência já que o TCU negou registro à pensão mais de 5 anos depois de sua concessão inicial
pelo Exército;
c) o TCU não poderia ter desconsiderado a adoção realizada.

O que decidiu o STF? A decisão do TCU foi correta?


SIM. Vejamos os principais pontos:

Como funciona o procedimento de concessão da aposentadoria ou pensão no serviço público?


O departamento de pessoal do órgão ou entidade ao qual o servidor está vinculado analisa se ele
preenche os requisitos legais para a aposentadoria ou se seus dependentes têm direito à pensão e, em
aso afi ativo, o ede o e efí io. Esse o e to, o e ta to, ha ado ai da de o essão i i ial
da aposentadoria ou da pensão, considerando que ainda haverá um controle de legalidade a ser feito pelo
Tribunal de Contas. Somente após passar por esse controle do Tribunal de Contas é que a aposentadoria
ou a pensão poderá ser considerada definitivamente concedida.

Diante disso, qual é a natureza jurídica do ato de aposentadoria ou do ato de pensão?


Trata-se de um ato administrativo complexo (segundo o STJ e o STF).
O ato administrativo complexo é aquele que, para ser formado, necessita da manifestação de vontade de
dois ou mais diferentes órgãos.

a) Contraditório e ampla defesa


Qua do o T i u al de Co tas faz o o t ole de legalidade da o essão i i ial do benefício
previdenciário, não é necessário que o servidor/pensionista seja intimado para contraditório e ampla
defesa, considerando que não há litígio ou acusação, mas tão somente a realização de um ato
administrativo.
Para que não houvesse dúvidas sobre o tema, o STF editou um enunciado:
Súmula Vinculante n. 3 do STF: Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o
contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato
administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão
inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

Desse modo, repetindo, em regra, quando o Tribunal de Contas aprecia se o ato de concessão inicial da
aposentadoria foi legal ou não, é desnecessário que haja contraditório e ampla defesa.

b) Decadência
Caso uma aposentadoria ou uma pensão tenham sido concedidas sem que os requisitos legais tenham
sido preenchidos, a Administração Pública pode anular esse benefício?
Sim, com base na autotutela administrativa. Nesse sentido, relembre a Súmula 473 do STF:
Súmula 473-STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

Qual o prazo de que dispõe a Administração Pública federal para anular o ato administrativo que concedeu
uma aposentadoria ilegal?
O prazo é de 5 anos, nos termos do art. 54 da Lei n. 9.784/99 (que regula o processo administrativo no
âmbito da Administração Pública Federal):

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para
os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

A partir de quando é contado esse prazo?


Segundo a jurisprudência do STF e do STJ, a concessão de aposentadoria possui natureza jurídica de ato
administrativo complexo, que somente se perfaz com a manifestação do Tribunal de Contas acerca da
legalidade do ato. Em outras palavras, o ato de concessão de aposentadoria somente é concluído
(formado) com a aprovação pelo Tribunal de Contas.
Logo, o termo inicial do prazo decadencial para que a Administração Pública anule ato administrativo de
concessão de aposentadoria é a data da homologação da concessão pelo Tribunal de Contas (e não a data
da o essão i i ial feita pelo ó gão ou e tidade .

Dessa forma, o argumento da impetrante também não deve prosperar quanto a este ponto. A incidência
do disposto no art. 54 da Lei n. 9.784/99 pressupõe situação jurídica aperfeiçoada. Isso não acontece
quanto ao ato de natureza complexa que só se aperfeiçoa depois que o Tribunal de Contas fizer o registro
do ato (aposentadoria ou pensão).

c) Adoção
O STF decidiu que a adoção no presente caso não tinha suporte moral nem econômico e tinha sido feita
com o objetivo de induzir o deferimento do benefício previdenciário. Logo, esta adoção não foi legítima,
tendo sido praticada com simulação e fraude à lei.
Não havia demonstração da dependência econômica capaz de justificar o deferimento da pensão.
Em contexto de escassez de recursos públicos, devem ser combatidas posturas estrategicamente
destinadas a induzir o deferimento de pensões em casos que, diante das características subjetivas dos
envolvidos, não ensejam o reconhecimento do direito.

Obs: alguns de vocês podem estar se perguntando: mas como o militar adotou sua própria neta se isso é
proibido? Realmente, segundo o ECA, o avós não podem adotar seus netos (art. 42, § 1º: Não podem
adotar os ascendentes e os irmãos do adotando ). Esse caso concreto, contudo, ocorreu antes do ECA e,
por isso, não havia ainda esta vedação. Essa informação não interfere no resultado do julgamento, mas
queria esclarecer apenas para que ninguém ficasse confuso.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
Não cabem para corrigir erros de julgamento

Os embargos de declaração não se prestam a corrigir possíveis erros de julgamento.


STF. Plenário. RE 194662 Ediv-ED-ED/BA, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, julgado em 14/5/2015 (Info 785).

Embargos de declaração
Os embargos de declaração são uma espécie de recurso, que são julgados pelo próprio órgão que prolatou
a decisão. Ex.: os embargos de declaração opostos em face de uma sentença são julgados pelo próprio juiz
que proferiu a decisão.
O prazo dos embargos de declaração é de 5 dias.

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3
Hipóteses de cabimento
Segundo o CPC 1973, cabem embargos de declaração quando o pronunciamento judicial apresentar
obscuridade, contradição ou omissão:
Art. 535. Cabem embargos de declaração quando:
I — houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição;
II — for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal.

O CPC 2015 repete as duas primeiras hipóteses e acrescenta uma terceira:


Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:
I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a
requerimento;
III - corrigir erro material.
Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:
I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de
assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento;
II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1º.

Três observações importantes sobre o art. 1.022 do CPC 2015:


 Ficou expressamente previsto que cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial. Antes,
diante da literalidade do art. 535 do CPC 1973, havia entendimentos de que não caberia embargos de
declaração contra decisões interlocutórias. Com o novo CPC, não há dúvidas de que isso é possível;
 O o eito do ue seja o issão pa a fi s de e a gos de de la ação foi ampliado;
 Foi acrescentada uma nova hipótese de embargos de declaração, que já era admitida pela
jurisprudência: situação em que se verifi a u e o ate ial a de isão.

No âmbito do CPC 1973, a jurisprudência admitia, com base no art. 463, I, que os erros materiais
i exatidões ate iais fossem corrigidos mesmo sem embargos. Bastava uma mera petição. O novo CPC
prevê isso como hipótese de cabimento dos embargos. Diante disso, indaga-se: no CPC 2015, se a parte
identificar um erro material e, em vez de opor embargos de declaração, apresentar uma mera petição ao
juiz pedindo que o vício seja sanado, será possível a sua correção?
SIM. Segundo conclusão doutrinária do Fórum Permanente de Processualistas Civis, a ão oposição de
e a gos de de la ação e aso de e o ate ial a de isão ão i pede sua o eção a ual ue te po
(Enunciado 360).

Efeito modificativo dos embargos de de laração ( e argos de de laração o efeito i fri ge te )


Em regra, a função dos embargos de declaração não é a de modificar o resultado da decisão, fazendo com
que a parte que perdeu se torne a vencedora. Essa não é função típica dos embargos.
Os objetivos típicos dos embargos são: a) esclarecer obscuridade; b) eliminar contradição; c) suprir
omissão; d) corrigir erro material.
Vale ressaltar, no entanto, que, muitas vezes, ao dar provimento aos embargos, pode acontecer de o
resultado da decisão ser alterado. Quando isso acontece, dizemos que os embargos de declaração
assumem um efeito infringente.

Erros de julgamento x premissa equivocada


O STF, adotando o entendimento acima exposto, afirmou que os embargos de declaração não se prestam
a corrigir possíveis e os de julga e to .
Por outro lado, a Corte admitiu que os embargos de declaração podem ter efeitos modificativos, desde
que para fins de correção de premissas equivocadas.
Vamos tentar entender melhor esta distinção:

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4
Embargos de declaração podem ser utilizados para corrigir...
Erro de julgamento: NÃO Premissa equivocada: SIM
Ocorre quando o órgão julgador não aplicou Ocorre quando o órgão julgador cometeu:
corretamente os fatos ou o direito ao caso  erro material; ou
concreto.  erro de fato (desconsiderou um fato que, se
Ex: o juiz aplicou de forma errada os precedentes fosse reconhecido, teria influência decisiva no
jurisprudenciais sobre aquela determinada julgamento, ou seja, teria alterado o resultado
matéria. do que foi decidido).
Os embargos de declaração não servem para
questionar erro de julgamento, devendo ser Cabem os embargos de declaração para corrigir o
interposto o recurso próprio contra a decisão. erro material ou para sanar a omissão e, por força
do efeito integrador deste recurso, pode ser que
ocorra, eventualmente, a modificação da decisão.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
STF fixa requisitos para atuação do Ministério Público em investigações penais

O STF reconheceu a legitimidade do Ministério Público para promover, por autoridade


própria, investigações de natureza penal, mas ressaltou que essa investigação deverá
respeitar alguns parâmetros que podem ser a seguir listados:
1) Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais dos investigados;
2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente documentados e praticados por
membros do MP;
3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, ou seja,
determinadas diligências somente podem ser autorizadas pelo Poder Judiciário nos casos em
que a CF/88 assim exigir (ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário etc);
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais asseguradas por lei aos advogados;
5) Deve ser assegurada a garantia prevista na Súmula vinculante 14 do STF É direito do
defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de
polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa ;
6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável;
7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao permanente controle do Poder
Judiciário.
A tese fixada em repercussão geral foi a seguinte: O Ministério Público dispõe de competência
para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal,
desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer
pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de
reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham
investidos, em nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994, art. 7º, notadamente os incisos I, II,
III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático
de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados
(Enunciado 14 da Súmula Vinculante), praticados pelos membros dessa Instituição.
STF. Plenário. RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgado em 14/5/2015 (repercussão geral) (Info 785).

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5
O Ministério Público pode realizar diretamente a investigação de crimes?
SIM. O MP pode promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal.

Mas a CF/88 expressamente menciona que o MP tem poder para investigar crimes?
NÃO. A CF/88 não fala isso de forma expressa. Adota-se aqui a teoria dos poderes implícitos.
Segundo essa doutrina, nascida nos EUA (Mc CulloCh vs. Maryland – 1819), se a Constituição outorga
determinada atividade-fim a um órgão, significa dizer que também concede todos os meios necessários
para a realização dessa atribuição.
A CF/88 confere ao MP as funções de promover a ação penal pública (art. 129, I). Logo, ela atribui ao
Parquet também todos os meios necessários para o exercício da denúncia, dentre eles a possibilidade de
reunir provas para que fundamentem a acusação.
Ademais, a CF/88 não conferiu à Polícia o monopólio da atribuição de investigar crimes. Em outras
palavras, a colheita de provas não é atividade exclusiva da Polícia.
Desse modo, não é inconstitucional a investigação realizada diretamente pelo MP.
Esse é o entendimento do STF e do STJ.

Qual é o fundamento constitucional?


Além da doutrina dos poderes implícitos, podemos citar como fundamento constitucional que autoriza, de
forma implícita, o poder de investigação do MP:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
(...)
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando
informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo
anterior;
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos
jurídicos de suas manifestações processuais;
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe
vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.

Existe algum fundamento legal?


A Lei Complementar n. 75/1993, também de forma implícita, autoriza a realização de atos de investigação
nos seguintes termos:
Art. 8º Para o exercício de suas atribuições, o Ministério Público da União poderá, nos procedimentos de
sua competência:
I - notificar testemunhas e requisitar sua condução coercitiva, no caso de ausência injustificada;
(...)
V - realizar inspeções e diligências investigatórias;
(...)
VII - expedir notificações e intimações necessárias aos procedimentos e inquéritos que instaurar;

Decisão do Plenário do STF


O STJ e a 2ª Turma do STF possuíam diversos precedentes reconhecendo o poder de investigação do
Ministério Público.
A novidade está no fato de que esse entendimento foi reafirmado agora pelo Plenário do STF no
julgamento do RE 593727, submetido a repercussão geral.
No julgamento, o Plenário do STF reconheceu a legitimidade do Ministério Público para promover, por
autoridade própria, investigações de natureza penal, mas ressaltou que essa investigação deverá respeitar
alguns parâmetros (requisitos).
Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6
Parâmetros que devem ser respeitados para que a investigação conduzida diretamente pelo MP seja
legítima
1) Devem ser respeitados os direitos e garantias fundamentais dos investigados;
2) Os atos investigatórios devem ser necessariamente documentados e praticados por membros do MP;
3) Devem ser observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, ou seja, determinadas
diligências somente podem ser autorizadas pelo Poder Judiciário nos casos em que a CF/88 assim exigir
(ex: interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário etc);
4) Devem ser respeitadas as prerrogativas profissionais asseguradas por lei aos advogados;
Deve se assegu ada a ga a tia p evista a “ú ula vi ula te 1 do “TF É di eito do defe so , o
interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em
procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exe í io do di eito de defesa ;
6) A investigação deve ser realizada dentro de prazo razoável;
7) Os atos de investigação conduzidos pelo MP estão sujeitos ao permanente controle do Poder Judiciário.

Tese fixada para fins de repercussão geral


Como dito, o STF apreciou o tema em um recurso extraordinário submetido à sistemática da repercussão
geral.
Nesse tipo de julgamento, o STF redige um enunciado que serve como tese que será aplicada para os casos
semelhantes. É como se fosse uma súmula.

A tese fixada pela Corte foi a seguinte:


O Mi ist io Pú li o dispõe de o pet ia pa a p o over, por autoridade própria, e por prazo razoável,
investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer
indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as
hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se
acham investidos, em nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI,
XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito – do
permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Enunciado 14 da Súmula
Vi ula te , p ati ados pelos e os dessa I stituição.

Resolução 13/2006 do CNMP


Vale ressaltar que, diante da inexistência de lei, o CNMP editou a Resolução 13/2006 disciplinando a
instauração e tramitação do procedimento investigatório criminal realizado pelo Ministério Público. Fica a
recomendação de sua leitura por quem está se preparando para concursos do MP.

OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DO D JE
11 a 15 de maio de 2015

HC N. 121.656-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMENTA: PRISÃO PREVENTIVA – EXCEÇÃO –FUNDAMENTOS. A prisão preventiva há de guardar sintonia com o figurino legal, porque,
revelando excepcionalidade, inverte a sequência natural das coisas, prendendo, para, depois, apurar.
PRISÃO PREVENTIVA – FUNDAMENTOS – IMPUTAÇÃO. A gravidade da imputação não respalda a prisão preventiva, sob pena de tornar-se,
em certas situações, automática.
PRISÃO PREVENTIVA – ESTRANGEIRO. O fato de tratar-se de réu estrangeiro é neutro considerada a custódia preventiva.

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7
PRISÃO PREVENTIVA – RESIDÊNCIA E OCUPAÇÃO LÍCITA. Descabe evocar, no ato alusivo à prisão preventiva, como respaldo, a falta de
comprovação, por parte do réu, relativamente a residência ou ocupação lícita.
PRISÃO PREVENTIVA – EXCESSO DE PRAZO. Configurado o excesso de prazo na custódia preventiva, impõe-se a devolução do direito à
liberdade de ir e vir ao acusado, presente o princípio constitucional da não culpabilidade: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória” – inciso LVII do artigo 5º da Carta Federal.
EMB. DECL. NO AG. REG. NA ACO N. 1.800-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CÍVEL
ORIGINÁRIA. INEXISTÊNCIA DE QUAISQUER DOS VÍCIOS DO ART. 535 DO CPC.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS.
Inq N. 3.817-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMENTA: PARLAMENTAR – IMUNIDADE. A imunidade parlamentar, ante ideias veiculadas fora da tribuna da Casa Legislativa, pressupõe nexo
de causalidade com o exercício do mandato.
QUEIXA – IMUNIDADE PARLAMENTAR – ARTIGO 53 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – INCIDÊNCIA. As declarações do investigado, na
qualidade de 2º Vice-Presidente da Comissão Permanente de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados, alusivas aos dirigentes do futebol
brasileiro, fizeram-se ligadas ao exercício do mandato, estando cobertas pela imunidade parlamentar material.
AG. REG. EM MS N. 29.691-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PROVIMENTO SEM CONCURSO PÚBLICO. ILEGITIMIDADE. ART. 236, E
PARÁGRAFOS, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: NORMAS AUTOAPLICÁVEIS, COM EFEITOS IMEDIATOS, MESMO ANTES DA
LEI 9.835/1994. INAPLICABILIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO ART. 54 DA LEI 9.784/1999. PRECEDENTES
DO PLENÁRIO. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência do STF é no sentido de que o art. 236, caput, e o seu § 3º da CF/88 são normas autoaplicáveis, que incidiram imediatamente desde
a sua vigência, produzindo efeitos, portanto, mesmo antes do advento da Lei 8.935/1994. Assim, a partir de 5/10/1988, o concurso público é
pressuposto inafastável para a delegação de serventias extrajudiciais, inclusive em se tratando de remoção, observado, relativamente a essa última
hipótese, o disposto no art. 16 da referida lei, com a redação que lhe deu a Lei 10.506/2002. As normas estaduais editadas anteriormente, que
admitem o ingresso na atividade notarial e de registro independentemente de prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas.
2. É igualmente firme a jurisprudência do STF no sentido de que a atividade notarial e de registro, sujeita a regime jurídico de caráter privado, é
essencialmente distinta da exercida por servidores públicos, cujos cargos não se confundem.
3. O Plenário do STF, em reiterados julgamentos, assentou o entendimento de que o prazo decadencial de 5 (cinco) anos, de que trata o art. 54 da Lei
9.784/1999, não se aplica à revisão de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a Constituição de 1988, sem o atendimento das
exigências prescritas no seu art. 236.
4. É legítima, portanto, a decisão da autoridade impetrada que considerou irregular o provimento de serventia extrajudicial, sem concurso público,
com ofensa ao art. 236, § 3º, da Constituição. Jurisprudência reafirmada no julgamento do MS 28.440 AgR, de minha relatoria, na Sessão do Plenário
de 19/6/2013.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO RHC N. 126.967-SC
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. RHC CONTRA ACÓRDÃO DO STJ PROFERIDO EM OUTRO RHC. INVIABILIDADE. REGRA DE
COMPETÊNCIA PREVISTA NO ART. 102, II, “A”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRISÃO PREVENTIVA. HOMICÍDIO QUALIFICADO.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PERICULOSIDADE DO AGENTE. CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL.
1. Segundo o art. 102, II, “a”, da CF, compete ao STF julgar, em recurso ordinário, o habeas corpus decidido em última instância pelos Tribunais
Superiores, se denegatória a decisão. A decisão foi proferida não no âmbito de habeas corpus originário, mas de julgamento de recurso ordinário em
habeas corpus interposto no Superior Tribunal de Justiça. Considerando as normas de distribuição de competências na Constituição Federal, de
natureza estrita, o presente recurso ordinário é manifestamente incabível. Precedentes.
2. Ainda que superado esse óbice, não há constrangimento ilegal a ser sanado. Os fundamentos utilizados revelam-se idôneos para manter a
segregação cautelar do paciente, na linha de precedentes desta Corte. É que a decisão está lastreada em circunstâncias concretas e relevantes (a) para
resguardar a ordem pública, ante a periculosidade do agente, evidenciada pelas circunstâncias em que o delito fora praticado; e (b) por conveniência
da instrução criminal, em razão do fundado receio de ameaça às testemunhas.
3. As circunstâncias concretas do caso não recomendam a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão preventiva, previstas no art. 319 do
Código de Processo Penal.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NOS EMB. DECL. EM MS N. 29.457-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PROVIMENTO, MEDIANTE REMOÇÃO, SEM CONCURSO PÚBLICO.
ILEGITIMIDADE. ART. 236, E PARÁGRAFOS, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: NORMAS AUTOAPLICÁVEIS, COM EFEITOS
IMEDIATOS, MESMO ANTES DA LEI 9.835/1994. INAPLICABILIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO ART. 54 DA LEI 9.784/1999.
PRECEDENTES DO PLENÁRIO. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência do STF é no sentido de que o art. 236, caput, e o seu § 3º da CF/88 são normas autoaplicáveis, que incidiram imediatamente desde
a sua vigência, produzindo efeitos, portanto, mesmo antes do advento da Lei 8.935/1994. Assim, a partir de 5/10/1988, o concurso público é
pressuposto inafastável para a delegação de serventias extrajudiciais, inclusive em se tratando de remoção, observado, relativamente a essa última
hipótese, o disposto no art. 16 da referida lei, com a redação que lhe deu a Lei 10.506/2002. As normas estaduais editadas anteriormente, que
admitem a remoção na atividade notarial e de registro independentemente de prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas.
2. É igualmente firme a jurisprudência do STF no sentido de que a atividade notarial e de registro, sujeita a regime jurídico de caráter privado, é
essencialmente distinta da exercida por servidores públicos, cujos cargos não se confundem.
3. O Plenário do STF, em reiterados julgamentos, assentou o entendimento de que o prazo decadencial de 5 (cinco) anos, de que trata o art. 54 da Lei
9.784/1999, não se aplica à revisão de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a Constituição de 1988, sem o atendimento das
exigências prescritas no seu art. 236.

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8
4. É legítima, portanto, a decisão da autoridade impetrada que considerou irregular o provimento de serventia extrajudicial, sem concurso público,
decorrente de remoção, com ofensa ao art. 236, § 3º, da Constituição. Jurisprudência reafirmada no julgamento do MS 28.440 AgR, de minha
relatoria, na Sessão do Plenário de 19/6/2013.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 764.763-DF
RELATOR : MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Agravo regimental no recurso extraordinário. 2. Razões recursais dissociadas dos fundamentos utilizados pelo Superior Tribunal de
Justiça para negar seguimento ao recurso especial. Incidência da Súmula 284. 3. Matéria constitucional surgida nas instâncias originárias. Não
interposição do recurso extraordinário concomitante ao especial. Preclusão. Precedentes. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.
RE N. 724.347-DF
RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. INVESTIDURA EM CARGO PÚBLICO POR FORÇA DE
DECISÃO JUDICIAL.
1. Tese afirmada em repercussão geral: na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão judicial, o servidor não faz jus a indenização,
sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante.
2. Recurso extraordinário provido.
*noticiado no Informativo 775
HC N. 126.910-SP
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Habeas corpus. 2. Ato infracional equiparado a tráfico e associação para tráfico ilícito de entorpecentes (arts. 33 e 35 da Lei 11.343/2006). 3.
Imposição de medida socioeducativa de internação. 4. Ausência de prévia manifestação das instâncias precedentes. Dupla supressão de instância.
Superação. 5. Conduta que não se amolda a nenhuma das situações descritas no art. 122 do ECA. Ausência de violência ou grave ameaça ou
reiteração. 6. Concessão da ordem, confirmando a liminar deferida para substituir a internação por liberdade assistida. Extensão da decisão colegiada
ao outro adolescente em razão da identidade da situação processual (art. 580 do CPP).
AG. REG. NOS EMB. DIV. NOS EMB. DECL. NOS EMB. DECL. NO AG. REG. NO RE N. 551.955-RS
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
DISPENSA. EXECUÇÃO NÃO EMBARGADA PELA FAZENDA PÚBLICA EM AÇÃO COLETIVA. IMPOSSIBILIDADE DE
FRACIONAMENTO DA EXECUÇÃO. ENTENDIMENTO ALINHADO AO POSICIONAMENTO SEDIMENTADO PELO PLENÁRIO
DESTA SUPREMA CORTE. PARADIGMA EMPREGADO COMO CAUSA DE DECIDIR DO ACÓRDÃO EMBARGADO. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A controvérsia suscitada nos presentes embargos de divergência encontra respaldo na decisão do Plenário do STF.
2. Inadmissíveis os embargos de divergência quando a decisão embargada estiver alinhada ao posicionamento do Plenário desta Suprema Corte.
3. In casu, apontado como acórdão paradigma o mesmo precedente empregado para fundamentar o julgado embargado.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 871.149-BA
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DOS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I - Nos termos da orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal, cabe à parte agravante impugnar todos os fundamentos da decisão agravada, o
que não ocorreu no caso.
II - Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 824.751-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ELEITORAL. PARTIDO POLÍTICO.
DESAPROVAÇÃO DE CONTAS. SUSPENSÃO DAS QUOTAS DO FUNDO PARTIDÁRIO. AUSÊNCIA DE PRELIMINAR
FUNDAMENTADA DE REPERCUSSÃO GERAL. ARTIGO 543-A, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL C.C. ARTIGO 327, § 1º,
DO RISTF.
1. A repercussão geral é requisito de admissibilidade do apelo extremo, por isso o recurso extraordinário é inadmissível quando não apresentar
preliminar formal de transcendência geral ou quando esta não for suficientemente fundamentada (Questão de Ordem no AI 664.567, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ de 6/9/2007).
2. A demonstração das questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos das
partes, deve ser realizada em tópico específico, devidamente fundamentado, no recurso extraordinário, e não nas razões do agravo regimental.
Incidência do óbice da preclusão consumativa.
3. In casu, o acórdão extraordinariamente recorrido assentou: “AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO. EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2010.
PRESTAÇÃO DE CONTAS. PARTIDO POLÍTICO. DIRETÓRIO ESTADUAL. DESAPROVAÇÃO. FALHAS QUE COMPROMETEM O CONTROLE
DAS CONTAS PELA JUSTIÇA ELEITORAL. RECURSO ESPECIAL. INADMISSÃO NA ORIGEM. INSURGÊNCIA QUE NÃO ATACA OS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO DO PRESIDENTE DO TRE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 182/STJ. DESPROVIMENTO.”
4. Agravo regimental DESPROVIDO.
AG. REG. NO ARE N. 861.275-RJ
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. TRIBUTÁRIO. EMPRÉSTIMO
COMPULSÓRIO. ELETROBRÁS. LEI Nº 4.156/1962. PRESCRIÇÃO. DEFINIÇÃO DO PRAZO. OFENSA REFLEXA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS Nº 282 E 356 DO STF. INOVAÇÃO RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIOS DA AMPLA
DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. MATÉRIA COM REPERCUSSÃO GERAL REJEITADA PELO PLENÁRIO DO STF NO ARE Nº
748.371. CONTROVÉRSIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL.
1. A definição do prazo prescricional para demandar em juízo a restituição dos valores tomados a título de empréstimo compulsório em favor da
ELETROBRÁS, nos termos da Lei nº 4.156/1962, quando sub judice a controvérsia, não dá ensejo ao cabimento do recurso extraordinário, por situar-
se no âmbito infraconstitucional.

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9
2. O prequestionamento da questão constitucional é requisito indispensável à admissão do recurso extraordinário. As súmulas 282 e 356 do STF
dispõem, respectivamente, verbis: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal
suscitada” e “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não podem ser objeto de recurso extraordinário,
por faltar o requisito do prequestionamento”.
3. A alegação tardia de matéria constitucional, só suscitada em sede de embargos de declaração, não supre o requisito do prequestionamento. Precedentes:
ARE 693.333-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJe de 19/9/2012; e AI 738.152-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma,
DJe de 8/11/2012.
4. A inovação de argumentos em agravo regimental é incabível. Precedente: AI 518.051-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de
17/2/2006.
5. Os princípios da ampla defesa, do contraditório, do devido processo legal e os limites da coisa julgada, quando debatidos sob a ótica
infraconstitucional, não revelam repercussão geral apta a tornar o apelo extremo admissível, consoante decidido pelo Plenário virtual do STF, na
análise do ARE 748.371-RG.
6. In casu, o acórdão recorrido extraordinariamente assentou: “TRIBUTÁRIO - EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL - DEBÊNTURES EMITIDAS PELA
ELETROBRÁS EM RAZÃO DO EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA (LEI 4.156/62) - PRESCRIÇÃO -
AUSÊNCIA DE CERTEZA, LIQUIDEZ E EXIGIBILIDADE DO TÍTULO - ALEGAÇÃO DE MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA”.
7. Agravo regimental DESPROVIDO.
AG. REG. NO ARE N. 873.798-RS
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO TRIBUTÁRIO. TAXA DE SAÚDE SUPLEMENTAR. LEI Nº 9.961/2000. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO
VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ART. 102 DA LEI MAIOR. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM
10.7.2014.
A controvérsia, a teor do que já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar, nesse compasso, em afronta aos
preceitos constitucionais indicados nas razões recursais, porquanto compreender de modo diverso exigiria análise da legislação infraconstitucional
encampada na decisão prolatada pela Corte de origem, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o
conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta
Corte.
As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada.
Agravo regimental conhecido e não provido.
EMB. DECL. NOS EMB. DECL. NO Inq N. 2.952-RR
RELATOR : MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Embargos de declaração em inquérito. 2. Alegação de ilicitude da prova, rechaçada por três argumentos, cada um deles suficiente para
rejeitar o pleito do embargante. Insuficiência das alegações dos embargos de declaração para atacar os argumentos do julgado. 3. Embargos de
declaração rejeitados.
AG. REG. NO HC N. 126.797-PR
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO E
LAVAGEM DE DINHEIRO. IMPEDIMENTO DE MINISTRO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: PREJUÍZO NÃO
DEMONSTRADO. DOSIMETRIA DA PENA-BASE. LIMITES INSTRUTÓRIOS DO HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO MANIFESTAMENTE
CONTRÁRIA À JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal é firme no sentido de não se verificar prejuízo quando Ministro impedido participa de julgamento cujo
resultado é unânime, pois a subtração do voto desse magistrado não teria a capacidade de alterar o resultado da votação.
2. Não há ilegalidade na fixação da pena-base acima do mínimo legal quando identificadas circunstâncias judiciais desfavoráveis e específicas.
3. Agravo Regimental não provido.
AG. REG. NO ARE N. 865.466-SP
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. APLICAÇÃO DA SISTEMÁTICA DA
REPERCUSSÃO GERAL PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO PREVISTO NO ART. 544 DO CPC. NÃO
CABIMENTO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS AO TRIBUNAL DE ORIGEM. CABIMENTO
SOMENTE PARA OS RECURSOS INTERPOSTOS ANTES DE 19/11/2009. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I - Não é cabível agravo para a correção de suposto equívoco na aplicação da repercussão geral, consoante firmado no julgamento do AI 760.358-QO/SE,
Rel. Min. Gilmar Mendes. II - A aplicação do princípio da fungibilidade recursal, com a devolução dos autos para julgamento pelo Tribunal de origem
como agravo regimental, só é cabível nos processos interpostos antes de 19/11/2009. III - Agravo regimental a que se nega provimento.
EMB. DECL. NO ARE N. 864.913-SC
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS DE DECISÃO MONOCRÁTICA. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL.
INEXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. ÓBICE INTRANSPONÍVEL AO PROCESSAMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I - A questão em exame nestes autos teve sua repercussão geral negada por esta Corte no julgamento do ARE 685.029-RG. Essa decisão vale para
todos os recursos sobre matéria idêntica, consoante determinam os arts. 326 e 327 do RISTF e o art. 543-A, § 5º, do CPC, introduzido pela Lei
11.418/2006.
II - Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE 825.283-MA
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ICMS. REVENDA DE COMBUSTÍVEIS.
SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. RAZÕES RECURSAIS QUE NÃO ATACAM TODOS OS FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO
RECORRIDO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 283 DO STF. REPERCUSSÃO GERAL NÃO EXAMINADA EM FACE DE OUTROS
FUNDAMENTOS QUE OBSTAM A ADMISSÃO DO APELO EXTREMO.1. É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão
recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles. (Súmula nº 283/STF). Precedente: RE 505.028-AgR,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe de 12/9/2008.2. Não afasta a incidência da Súmula nº 283 do STF a argumentação suscitada
apenas em agravo regimental contra os fundamentos contidos no acórdão recorrido, que não foram atacados no recurso extraordinário.3.
Inconstitucionalidade da base de cálculo, ilegitimidade passiva e ativa e bitributação indevida constituem fundamentos para, ainda que
individualmente admitidos, afastar exigência de obrigação tributária. Inexistência de argumentação contra qualquer desses fundamentos impede a

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10
análise do recurso extraordinário com fundamento na Súmula nº 283 do STF.4. In casu, o acórdão recorrido extraordinariamente assentou: “DIREITO
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSOS DE APELAÇÃO. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. AUTO DE INFRAÇÃO. ICMS.
EMPRESA DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. RECOLHIMENTO ANTECIPADO DO IMPOSTO PELA
REFINARIA. SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE O PEDIDO E CONDENOU A AUTORA AO PAGAMENTO DE CUSTAS E
HONORÁRIOS. AFRONTA AO PRINCIPIO DA LEGALIDADE. FIXAÇÃO DE PREÇOS DIFERENCIADOS POR MEIO DE PORTARIA
MINISTERIAL. REGIME DE PAUTA FISCAL. SÚMULA 431 DO STJ. MAJORAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO PELOS AUTOS DE INFRAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1 - Alguns produtos, dentre eles os combustíveis, são comercializados sob a estrutura,
que consiste em cobrar na ponta da cadeia os impostos incidentes em todas as etapas. Todos os impostos são cobrados na venda do combustível do
produtor para o distribuidor, portanto, as vendas do posto para o consumidor final são isentas de impostos, uma vez que estes já foram cobrados
antecipadamente por substituição tributaria. 2 - A Carta Magna, em seu art. 155, § 2º, inciso I, consagra como um dos princípios basilares do ICMS
a não cumulatividade, que é operacionalizado pelo instituto da compensação, efetivada pelo abatimento dos créditos decorrentes de operações
anteriores, com os débitos referentes à revenda, não necessitando que sejam provenientes da mesma mercadoria ou do mesmo serviço. 3 - A redução
da base de cálculo do ICMS na revenda de combustíveis, de acordo com a interpretação dada ao tema pelo Supremo Tribunal Federal, equivale à
isenção parcial do tributo. 4 - Sendo caso de isenção, esse princípio, assim como os demais insculpidos na Constituição determina que a
desoneração no preço de revenda da mercadoria ou serviço deverá acarretar a proporcional anulação do crédito relativo às operações anteriores
(artigo 155, II, ‘b’), pois condiciona o aproveitamento do crédito anterior, desde que não seja a operação posterior isenta ou não-incidente do
imposto. 5 - A base de cálculo do ICMS há de ser, em face de força do princípio da legalidade, o valor da operação de que decorrer na saída da
mercadoria. 6 - Primeiro apelo conhecido e provido a fim de reformar a sentença de base e anular os Autos de Infração e Segundo Apelo negado
provimento”.5. Agravo regimental DESPROVIDO.
AG. REG. NO ARE N.859.280-DF
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO DO TRABALHO. COMPLEMENTO DA REMUNERAÇÃO MÍNIMA POR NÍVEL E REGIME. INTERPRETAÇÃO DE
CLÁUSULAS DE ACORDO COLETIVO. EVENTUAL OFENSA REFLEXA NÃO VIABILIZA O MANEJO DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. INOCORRÊNCIA. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 23.5.2014.A controvérsia, a teor do que já asseverado na
decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar, nesse compasso, em afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões
recursais, porquanto compreender de modo diverso exigiria análise da legislação infraconstitucional encampada na decisão prolatada pela Corte de
origem, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a
exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Corte.
Divergir da conclusão do acórdão recorrido exigiria o reexame da interpretação conferida a cláusulas de acordo coletivo, procedimento vedado em
sede extraordinária. Aplicação da Súmula 454/STF: “Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá lugar a recurso extraordinário.”Agravo
regimental conhecido e não provido.

Acórdãos Publicados: 537

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

“Amicus Curiae” – ADIN – Poderes Processuais – Ingresso Recusado – Legitimidade Recursal (Transcrições)
(v. Informativo 665)
ADI 3.396-AgR/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
VOTO: Preliminarmente, conheço do presente recurso de agravo, considerando, para tanto, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que
admite a possibilidade de impugnação recursal, por parte de terceiro, quando recusada, como na espécie, a sua intervenção como “amicus curiae”
(ADI 3.105-ED/DF, Rel. Min. CEZAR PELUSO – ADI 3.934-ED-segundos-AgR/DF, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, v.g.):
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS POR ‘AMICUS CURIAE’.
AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE. INTERPRETAÇÃO DO § 2º DA LEI N. 9.868/99.
1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal é assente quanto ao não-cabimento de recursos interpostos por terceiros estranhos à
relação processual nos processos objetivos de controle de constitucionalidade.
2. Exceção apenas para impugnar decisão de não-admissibilidade de sua intervenção nos autos.
3. Precedentes.
4. Embargos de declaração não conhecidos.”
(ADI 3.615-ED/PB, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – grifei)
Vê-se, portanto, que o Plenário do Supremo Tribunal Federal entende cabível o recurso de agravo quando interposto contra decisão do
Relator que não admite a intervenção formal de terceiro, como “amicus curiae”, no processo de controle normativo abstrato.
Esta Corte Suprema, na realidade, buscando viabilizar o acesso de terceiros com representatividade adequada e, assim, permitir a
pluralização do debate constitucional, construiu entendimento jurisprudencial no sentido de submeter à revisão do Plenário do Supremo Tribunal
Federal, mediante recurso de agravo, o ato decisório que nega a possibilidade de intervenção do “amicus curiae”.
O recurso em questão, unicamente cabível na hipótese de recusa da intervenção de terceiros como “amicus curiae”, qualifica-se, na vasta
tipologia das espécies recursais, como recurso “secundum eventum litis”.
É por isso – insista-se – que esta Corte tem reconhecido legitimidade recursal ao terceiro quando não admitido, pelo Relator, como “amicus
curiae” (ADI 3.105-ED/DF, Rel. Min. CEZAR PELUSO – ADI 3.615-ED/PB, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, v.g.).

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11
Entendo essencial admitir, por todas essas razões, o controle recursal, pelo Plenário, da decisão do Relator que nega ao terceiro o ingresso
como “amicus curiae”, especialmente se se considerar que o objetivo precípuo da participação do colaborador da Corte consiste em pluralizar o
debate constitucional e em conferir maior coeficiente de legitimidade democrática aos julgamentos do Supremo Tribunal Federal em sede de
fiscalização abstrata de constitucionalidade.
Desse modo, e com apoio em tais fundamentos, conheço do presente recurso de agravo.
Superada essa questão prévia, passo a examinar o pleito recursal. E, ao fazê-lo, assinalo não assistir razão à parte ora agravante, por não
dispor de representatividade adequada, que traduz – tal como assinalado na decisão recorrida – um dos requisitos legitimadores da intervenção
do “amicus curiae” no processo objetivo de controle normativo abstrato.
Não vejo, pois, como reconhecer, ao Procurador da Fazenda Nacional ora recorrente, legitimidade para intervir, como “amicus curiae”,
neste processo de fiscalização normativa abstrata.
Como se sabe, terceiros não dispõem, ordinariamente, em nosso sistema de direito positivo, de legitimidade para intervir no processo de
fiscalização normativa abstrata (RDA 155/155 – RDA 157/266 – ADI 575-AgR/PI, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
A Lei nº 9.868/99, ao regular o processo de controle abstrato de constitucionalidade, prescreve que “Não se admitirá intervenção de
terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade” (art. 7º, “caput” – grifei).
A razão de ser dessa vedação legal – adverte o magistério da doutrina (OSWALDO LUIZ PALU, “Controle de Constitucionalidade”, p.
192/193, item n. 9.9.1, 2ª ed., 2001 RT; ZENO VELOSO, “Controle Jurisdicional de Constitucionalidade”, p. 89, item n. 109, 3ª ed./2ª tir., 2003,
Cejup; ALEXANDRE DE MORAES, “Direito Constitucional”, p. 755/756, item n. 9.2, 27ª ed., 2011, Atlas, v.g.) – repousa na circunstância de o
processo de fiscalização normativa abstrata qualificar-se como processo de caráter objetivo (RTJ 113/22 – RTJ 131/1001 – RTJ 136/467 – RTJ
164/506-507).
É certo, no entanto, que a regra constante do art. 7º, § 2º, da Lei nº 9.868/99 abrandou, em caráter inovador, o sentido da vedação
pertinente à intervenção assistencial, permitindo, agora, na condição de “amicus curiae”, o ingresso de entidades dotadas de representatividade
adequada no processo de controle abstrato de constitucionalidade.
A norma legal em questão, ao excepcionalmente admitir a possibilidade de ingresso formal de terceiros no processo de controle normativo
abstrato, assim dispõe:
“O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir,
observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou entidades.” (grifei)
Sabemos que entidades que possuem representatividade adequada podem ingressar, formalmente, em sede de controle normativo abstrato,
na condição de terceiros interessados, para efeito de participação e manifestação sobre a controvérsia constitucional suscitada por quem dispõe de
legitimidade ativa para o ajuizamento de referida ação constitucional.
Tal como assinalei em decisões anteriores (ADI 2.130-MC/SC, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU 02/02/2001), a intervenção do “amicus
curiae”, para legitimar-se, deve apoiar-se em razões que tornem desejável e útil a sua atuação processual na causa, em ordem a proporcionar
meios que viabilizem uma adequada resolução do litígio constitucional.
Impõe-se destacar, neste ponto, por necessário, a idéia nuclear que anima os propósitos teleológicos que motivam a intervenção do “amicus
curiae” no processo de fiscalização normativa abstrata.
Não se pode perder de perspectiva que a intervenção processual do “amicus curiae” tem por objetivo essencial pluralizar o debate
constitucional, permitindo que o Supremo Tribunal Federal venha a dispor de todos os elementos informativos possíveis e necessários à resolução
da controvérsia, visando-se, ainda, com tal abertura procedimental, superar a grave questão pertinente à legitimidade democrática das decisões
emanadas desta Corte, quando no desempenho de seu extraordinário poder de efetuar, em abstrato, o controle concentrado de constitucionalidade,
tal como destacam, em pronunciamento sobre o tema, eminentes doutrinadores (GUSTAVO BINENBOJM, “A Nova Jurisdição Constitucional
Brasileira”, 2ª ed., 2004, Renovar; ANDRÉ RAMOS TAVARES, “Tribunal e Jurisdição Constitucional”, p. 71/94, 1998, Celso Bastos Editor;
ALEXANDRE DE MORAES, “Jurisdição Constitucional e Tribunais Constitucionais”, p. 64/81, 2000, Atlas; DAMARES MEDINA, “Amicus
Curiae: Amigo da Corte ou Amigo da Parte?”, 2010, Saraiva, v.g.).
Valioso, a propósito dessa particular questão, o magistério expendido pelo eminente Ministro GILMAR MENDES (“Direitos
Fundamentais e Controle de Constitucionalidade”, p. 503/504, 2ª ed., 1999, Celso Bastos Editor), em passagem na qual põe em destaque o
entendimento de PETER HÄBERLE, para quem o Tribunal “há de desempenhar um papel de intermediário ou de mediador entre as diferentes
forças com legitimação no processo constitucional” (p. 498), em ordem a pluralizar, em abordagem que deriva da abertura material da
Constituição, o próprio debate em torno da controvérsia constitucional, conferindo-se, desse modo, expressão real e efetiva ao princípio
democrático, sob pena de se instaurar, no âmbito do controle normativo abstrato, um indesejável “deficit” de legitimidade das decisões que o
Supremo Tribunal Federal venha a pronunciar no exercício, “in abstracto”, dos poderes inerentes à jurisdição constitucional.
Daí, segundo entendo, a necessidade de assegurar, ao “amicus curiae”, mais do que o simples ingresso formal no processo de fiscalização
abstrata de constitucionalidade, a possibilidade de exercer o direito de fazer sustentações orais perante esta Suprema Corte, além de dispor da
faculdade de submeter ao Relator da causa propostas de requisição de informações adicionais, de designação de perito ou comissão de peritos,
para que emita parecer sobre questões decorrentes do litígio, de convocação de audiências públicas, sem prejuízo da prerrogativa de recorrer – tal
como esta Corte tem reiteradamente reconhecido – da decisão que tenha denegado o seu pedido de admissão no processo de controle normativo
abstrato.
Cumpre rememorar, nesta passagem, a irrepreensível observação do eminente Ministro GILMAR MENDES, no fragmento doutrinário já
referido, constante de sua valiosíssima produção acadêmica, em que expõe considerações de irrecusável pertinência em tema de intervenção
processual do “amicus curiae” (“op. loc. cit.”):
“Vê-se, assim, que, enquanto órgão de composição de conflitos políticos, passa a Corte Constitucional a constituir-se em elemento
fundamental de uma sociedade pluralista, atuando como fator de estabilização indispensável ao próprio sistema democrático.
É claro que a Corte Constitucional não pode olvidar a sua ambivalência democrática. Ainda que se deva reconhecer a legitimação
democrática dos juízes, decorrente do complexo processo de escolha e de nomeação, e que a sua independência constitui requisito
indispensável para o exercício de seu mister, não se pode deixar de enfatizar que aqui também reside aquilo que Grimm denominou de ‘risco
democrático’ (...).
É que as decisões da Corte Constitucional estão inevitavelmente imunes a qualquer controle democrático. Essas decisões podem
anular, sob a invocação de um direito superior que, em parte, apenas é explicitado no processo decisório, a produção de um órgão direta e
democraticamente legitimado. Embora não se negue que também as Cortes ordinárias são dotadas de um poder de conformação bastante
amplo, é certo que elas podem ter a sua atuação reprogramada a partir de uma simples decisão do legislador ordinário. Ao revés, eventual
correção da jurisprudência de uma Corte Constitucional somente há de se fazer, quando possível, mediante emenda.
Essas singularidades demonstram que a Corte Constitucional não está livre do perigo de converter uma vantagem democrática num
eventual risco para a democracia.

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12
Assim como a atuação da jurisdição constitucional pode contribuir para reforçar a legitimidade do sistema, permitindo a renovação
do processo político com o reconhecimento dos direitos de novos ou pequenos grupos e com a inauguração de reformas sociais, pode ela
também bloquear o desenvolvimento constitucional do País.
.......................................................................................................
O equilíbrio instável que se verifica e que parece constituir o autêntico problema da jurisdição constitucional na democracia afigura-
se necessário e inevitável. Todo o esforço que se há de fazer é, pois, no sentido de preservar o equilíbrio e evitar disfunções.
Em plena compatibilidade com essa orientação, Häberle não só defende a existência de instrumentos de defesa da minoria, como
também propõe uma abertura hermenêutica que possibilite a esta minoria o oferecimento de ‘alternativas’ para a interpretação
constitucional. Häberle esforça-se por demonstrar que a interpretação constitucional não é – nem deve ser – um evento exclusivamente
estatal. Tanto o cidadão que interpõe um recurso constitucional, quanto o partido político que impugna uma decisão legislativa são
intérpretes da Constituição. Por outro lado, é a inserção da Corte no espaço pluralista – ressalta Häberle – que evita distorções que
poderiam advir da independência do juiz e de sua estrita vinculação à lei.” (grifei)
Na verdade, consoante ressalta PAOLO BIANCHI, em estudo sobre o tema (“Un’Amicizia Interessata: L’amicus curiae Davanti Alla Corte
Suprema Degli Stati Uniti”, “in” “Giurisprudenza Costituzionale”, Fasc. 6, nov/dez de 1995, Ano XI, Giuffré), a admissão do terceiro, na condição de
“amicus curiae”, no processo objetivo de controle normativo abstrato, qualifica-se como fator de legitimação social das decisões do Tribunal
Constitucional, viabilizando, em obséquio ao postulado democrático, a abertura do processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade, em
ordem a permitir que, nele, se realize a possibilidade de participação de entidades e de instituições que efetivamente representem os interesses
gerais da coletividade ou que expressem os valores essenciais e relevantes de grupos, classes ou estratos sociais.
Essa percepção do tema foi lucidamente exposta pelo eminente Professor INOCÊNCIO MÁRTIRES COELHO (“As Idéias de Peter
Häberle e a Abertura da Interpretação Constitucional no Direito Brasileiro”, “in” RDA 211/125-134, 133):
“Admitida, pela forma indicada, a presença do ‘amicus curiae’ no processo de controle de constitucionalidade, não apenas se reitera
a impessoalidade da questão constitucional, como também se evidencia que o deslinde desse tipo de controvérsia interessa objetivamente a
todos os indivíduos e grupos sociais, até porque, ao esclarecer o sentido da Carta Política, as cortes constitucionais, de certa maneira,
acabam reescrevendo as constituições.” (grifei)
É por tais razões que entendo que a atuação processual do “amicus curiae” não deve limitar-se à mera apresentação de memoriais ou à
prestação eventual de informações que lhe venham a ser solicitadas ou, ainda, à produção de sustentações orais perante esta Suprema Corte.
Essa visão do problema – que restringisse a extensão dos poderes processuais do “colaborador do Tribunal” – culminaria por fazer
prevalecer, na matéria, uma incompreensível perspectiva reducionista, que não pode (nem deve) ser aceita por esta Corte, sob pena de total
frustração dos altos objetivos políticos, sociais e jurídicos visados pelo legislador na positivação da cláusula que, agora, admite o formal ingresso
do “amicus curiae” no processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade.
Cumpre permitir, desse modo, ao “amicus curiae”, em extensão maior, o exercício de determinados poderes processuais.
Esse entendimento é perfilhado por autorizado magistério doutrinário, cujas lições acentuam a essencialidade da participação
legitimadora do “amicus curiae” nos processos de fiscalização abstrata de constitucionalidade (GUSTAVO BINENBOJM, “A Nova Jurisdição
Constitucional Brasileira”, p. 157/164, 2ª ed., 2004, Renovar; GUILHERME PEÑA DE MORAES, “Direito Constitucional/Teoria da
Constituição”, p. 207/208, item n. 4.10.2.3, 4ª ed., 2007, Lumen Juris, v.g.), reconhecendo-lhe o direito de promover, perante esta Corte Suprema, a
pertinente sustentação oral (FREDIE DIDIER JR., “Possibilidade de Sustentação Oral do Amicus Curiae”, “in” “Revista Dialética de Direito
Processual”, vol. 8/33-38, 2003; NELSON NERY JR./ROSA MARIA DE ANDRADE NERY, “Código de Processo Civil Comentado e Legislação
Extravagante”, p. 1.388, 7ª ed., 2003, RT; EDGARD SILVEIRA BUENO FILHO, “Amicus Curiae: a democratização do debate nos processos
de controle de constitucionalidade”, “in” “Direito Federal”, vol. 70/127-138, AJUFE, v.g.) ou, ainda, a faculdade de solicitar a realização de
exames periciais sobre o objeto ou sobre questões derivadas do litígio constitucional ou a prerrogativa de propor a requisição de informações
complementares, bem assim a de pedir a convocação de audiências públicas, sem prejuízo, como esta Corte já o tem afirmado, do direito de recorrer
de decisões que recusam o seu ingresso formal no processo de controle normativo abstrato.
Cabe observar que o Supremo Tribunal Federal, em assim agindo, não só garantirá maior efetividade e atribuirá maior legitimidade às suas
decisões, mas, sobretudo, valorizará, sob uma perspectiva eminentemente pluralística, o sentido essencialmente democrático dessa participação
processual, enriquecida pelos elementos de informação e pelo acervo de experiências que o “amicus curiae” poderá transmitir à Corte
Constitucional, notadamente em um processo – como o de controle abstrato de constitucionalidade – cujas implicações políticas, sociais,
econômicas, jurídicas e culturais são de irrecusável importância, de indiscutível magnitude e de inquestionável significação para a vida do País e a de
seus cidadãos.
Cumpre acentuar, de outro lado, ante a sua inteira pertinência, que o sistema de controle normativo abstrato de constitucionalidade não
permite que, em seu âmbito, se discutam situações individuais, nem se examinem interesses concretos.
Cabe ter presente, neste ponto, que o processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade – por revestir-se de caráter objetivo –
destina-se a viabilizar “o julgamento, não de uma relação jurídica concreta, mas de validade de lei em tese (...)” (RTJ 95/999, Rel. Min. MOREIRA
ALVES – grifei).
A importância de qualificar-se o controle normativo abstrato de constitucionalidade como processo objetivo – vocacionado, como
precedentemente enfatizado, à proteção “in abstracto” da ordem constitucional – impede, por isso mesmo, a apreciação de qualquer pleito que vise a
resguardar interesses de expressão concreta e de caráter individual.
Isso significa, portanto, que, em face da natureza objetiva de que se reveste o processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade,
nele não se discutem situações individuais (RTJ 170/801-802, Rel. Min. CELSO DE MELLO), eis que inadmissível proceder à “defesa de direito
subjetivo” (Min. CÉLIO BORJA, “in” ADI 647/DF – RTJ 140/36-42) em sede de controle normativo abstrato:
“CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE – PROCESSO DE CARÁTER OBJETIVO – IMPOSSIBILIDADE DE
DISCUSSÃO DE SITUAÇÕES INDIVIDUAIS E CONCRETAS.
– O controle normativo de constitucionalidade qualifica-se como típico processo de caráter objetivo, vocacionado, exclusivamente à
defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional. A instauração desse processo objetivo tem por função instrumental viabilizar o
julgamento da validade abstrata do ato estatal em face da Constituição da República. O exame de relações jurídicas concretas e individuais
constitui matéria juridicamente estranha ao domínio do processo de controle concentrado de constitucionalidade.
A tutela jurisdicional de situações individuais, uma vez suscitada a controvérsia de índole constitucional, há de ser obtida na via do
controle difuso de constitucionalidade, que, supondo a existência de um caso concreto, revela-se acessível a qualquer pessoa que disponha
de interesse e legitimidade (CPC, art. 3º).”
(RTJ 164/506-509, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)
Concluo o meu voto: preliminarmente, conheço do presente recurso de agravo, apoiando-me, para tanto, nos precedentes firmados pelo
Plenário do Supremo Tribunal Federal.

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13
Caso conhecido este recurso, nego-lhe provimento, seja em razão da inobservância, por parte do ora agravante, da exigência pertinente à
“adequacy of representation”, seja, ainda, em decorrência da inadmissibilidade da defesa de direitos e interesses individuais em sede de controle
normativo abstrato.
É o meu voto.
*decisão pendente de publicação

OUTRAS INFORMAÇÕES
11 a 15 de maio de 2015

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


Processo Judicial - Devolução - Repercussão Geral - Portaria – Revogação
Portaria nº 89, de 6.5.2015 - Revoga a Portaria nº 138, de 23.7.2009. Publicada no DJE/STF, n. 87, p. 1, em
12.5.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 785-STF (11/05 a 15/05) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14
Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE
580252/MS; Ext 1354/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CNMP
 STF não tem competência para ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e do CNJ.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


AÇÃO CIVIL PÚBLICA
 Legitimidade da Defensoria Pública.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


CRIME DE DESERÇÃO (ART. 187 DO CPM)
 Período de graça e configuração do crime de deserção.

DIREITO DO TRABALHO
EXECUÇÃO DE SENTENÇA NORMATIVA
 Execução de sentença normativa e ofensa à coisa julgada

DIREITO CONSTITUCIONAL

CNMP
STF não têm competência para ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e do CNJ

A competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP é do STF
(art. , I, r , da CF/88).
Algumas vezes o interessado provoca o CNJ ou o CNMP, mas tais órgãos recusam-se a tomar
alguma providência no caso concreto porque alegam que não tem competência para aquela
situação ou que não é hipótese de intervenção. Nessas hipóteses, dizemos que a decisão do CNJ
ou CNMP foi NEGATIVA porque ela nada determina, nada aplica, nada ordena, nada invalida.
Nesses casos, a parte interessada poderá impetrar MS contra o CNJ/CNMP no STF?
NÃO. O STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões
negativas do CNMP e do CNJ. Segundo entende o STF, como o conteúdo da decisão do
CNJ/CNMP foi negativo , ele não decidiu nada. Se não decidiu nada, não praticou nenhum ato.
Se não praticou nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP a ser atacado no STF.
STF. 1ª Turma. MS 33163/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 5/5/2015 (Info 784).

Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1
De quem é a competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP?
Do STF, nos termos do a t. , I, , da CF/88.

Decisões ͞negativas͟ do CNJ ou CNMP


Algumas vezes o interessado provoca o CNJ ou o CNMP pedindo a revisão disciplinar de algum ato
administrativo praticado por membro do Judiciário ou do MP, mas tais Conselhos rejeitam o pedido e
recusam-se a tomar qualquer providência no caso concreto porque alegam que:
a) não têm competência para aquela situação; ou
b) que o ato atacado não possui qualquer vício ou ilegalidade que mereça ser reparado.

Nessas hipóteses, dize os ue a de isão do CNJ ou CNMP foi egativa porque ela nada determina, nada
aplica, nada ordena, nada invalida.

Nesses casos, a parte interessada poderá impetrar MS contra o CNJ/CNMP no STF?


NÃO. O STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões negativas do
CNMP e do CNJ.
Se a parte impetrar MS neste caso, o STF não irá conhecer da ação.
Segundo entende o STF, o o o o teúdo da de isão do CNJ/CNMP foi egativo , ele não decidiu nada.
Se não decidiu nada, não praticou nenhum ato. Se não praticou nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP
a ser atacado no STF.
Na deliberação negativa, o CNJ/CNMP não substitui nem desconstitui qualquer ato administrativo. Assim,
se existe algum ato a ser atacado é o originário (e não o do Conselho).

Veja as seguintes ementas que bem explicam esse entendimento do STF:


(...) O pronunciamento do Conselho Nacional de Justiça que consubstancie recusa de intervir em
determinado procedimento, ou, então, que envolva mero reconhecimento de sua incompetência, ou,
ainda, que nada determine, que nada imponha, que nada avoque, que nada aplique, que nada ordene,
que nada invalide, que nada desconstitua, não faz instaurar, para efeito de controle jurisdicional, a
competência originária do Supremo Tribunal Federal.
– O Conselho Nacional de Justiça, em tais hipóteses, considerado o próprio conteúdo negativo de suas
resoluções (que nada proveem), não supre, não substitui nem revê atos ou omissões eventualmente
imputáveis a órgãos judiciários em geral, inviabilizando, desse modo, o acesso ao Supremo Tribunal
Federal, que não pode converter-se em instância revisional ordinária dos atos e pronunciamentos
administrativos emanados desse órgão de controle do Poder Judiciário. Precedentes. (...)
STF. 2ª Turma. MS 31453 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 28/10/2014

(...) A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que as deliberações negativas do Conselho
Nacional de Justiça não estão sujeitas a revisão por meio de mandado de segurança impetrado
diretamente no Supremo Tribunal Federal. (...)
STF. Plenário. MS 28202 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/03/2011

Neste caso, o que a parte deverá fazer?


A parte terá que impugnar na Justiça o ato originário que gerou seu pedido no CNJ/CNMP.
Ex: a parte ingressou com pedido de providência no CNMP contra ato administrativo praticado pelo
Procurador-Geral de Justiça. O CNMP entendeu que não cabia sua intervenção no caso, julgando
improcedente o pedido. O CNMP proferiu, po ta to, u a de isão egativa . Contra este pronunciamento
do CNMP não cabe MS. Somente restará à parte propor um MS contra o ato do Procurador-Geral de
Justiça, ação esta que será de competência do TJ.

Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


Legitimidade da Defensoria Pública

A Defensoria Pública pode propor ação civil pública na defesa de direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos.
É constitucional a Lei nº 11.448/2007, que alterou a Lei 7.347/85, prevendo a Defensoria
Pública como um dos legitimados para propor ação civil pública.
STF. Plenário. ADI 3943/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6 e 7/5/2015 (Info 784).

DEFENSORIA PÚBLICA E AÇÃO CIVIL PÚBLICA


A Defensoria Pública pode ajuizar ação civil pública?
SIM. Trata-se, inclusive, de previsão expressa da Lei nº 7.347/85 (Lei da ACP):
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
II — a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448/2007).

A inclusão da Defensoria no rol de legitimados para ajuizar ACP foi determinada pela Lei nº 11.448/2007.

Antes da Lei nº 11.448/2007, a Defensoria tinha legitimidade para propor ACP?


SIM, considerando que o art. 5º, da LACP e o art. 82, II, do CDC já previam que a ACP poderia ser proposta
pela União e pelos Estados. Logo, como a DPU é um órgão da União e a DPE é um órgão do Estado, a
jurisprudência majoritária entendia que as Defensorias já possuíam legitimidade para a ACP mesmo antes
da Lei n. 11.448/2007. Confira um precedente do STJ neste sentido:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA. INTERESSE. CONSUMIDORES.
A Turma, por maioria, entendeu que a defensoria pública tem legitimidade para propor ação civil pública
na defesa do interesse de consumidores. Na espécie, o Nudecon, órgão vinculado à defensoria pública do
Estado do Rio de Janeiro, por ser órgão especializado que compõe a administração pública direta do
Estado, perfaz a condição expressa no art. 82, III, do CDC. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 555.111-RJ, Rel. Min. Castro Filho, julgado em 5/9/2006.

A alteração promovida pela Lei nº 11.448/2007 foi, no entanto, muito importante porque reforçou ainda
mais essa legitimidade:
(...) 2. Este Superior Tribunal de Justiça vem-se posicionando no sentido de que, nos termos do art. 5º, II,
da Lei nº 7.347/85 (com a redação dada pela Lei nº 11.448/07), a Defensoria Pública tem legitimidade para
propor a ação principal e a ação cautelar em ações civis coletivas que buscam auferir responsabilidade por
danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico e dá outras providências. (...)
STJ. 1ª Turma. REsp 912849/RS, Rel. Min. José Delgado, julgado em 26/02/2008.

ADI 3943 proposta pela CONAMP


Nem todos, no entanto, ficaram satisfeitos com a importante novidade legislativa.
A Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (CONAMP) ajuizou Ação Direta de
Inconstitucionalidade contestando a constitucionalidade da Lei n. 11.448/2007, que acrescentou no art.
5º da Lei n. 7347/85 o inciso que legitima a Defensoria Pública a propor ACP.
A CONAMP alegou que a possibilidade da Defensoria Pública propor, sem restrição, ACP afeta
di eta e te as at i uições do Mi ist io Pú li o.

Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3
Para a entidade, a inclusão da Defensoria Pública afrontaria também os arts. 5º, LXXIV e 134, caput, da
CF/88, considerando que a função constitucional da instituição seria a de prestar assistência jurídica
integral e gratuita apenas aos hipossuficientes e, no bojo de uma ACP, não teria como ter certeza se a ação
estaria beneficiando apenas pessoas carentes ou também indivíduos economicamente ricos.
Assim, a CONAMP pediu que esta inclusão fosse declarada inconstitucional ou, então, que o STF dissesse
que a Defensoria Pública não pode ajuizar ACP em matéria de direitos difusos ou coletivos. Segundo a tese
da autora, a Defensoria, se pudesse propor ACP, somente poderia fazê-lo quanto a direitos individuais
homogêneos e desde que ficasse individualizada e identificada a presença de pessoas economicamente
hipossuficientes.
Segundo a autora, a Defensoria Pública foi criada para atender, gratuitamente, aqueles que possuem
recursos insuficientes para se defender judicialmente ou que precisam de orientação jurídica, de modo
que seria impossível a sua atuação na defesa de interesses difusos e coletivos em razão da dificuldade de
identificar quem é carente. No seu entendimento, os atendidos pela Defensoria Pública devem ser, pelo
menos, individualizáveis, identificáveis, para que se saiba se a pessoa atendida pela Instituição não possui
recursos suficientes para o ingresso em juízo.

O STF concordou com os argumentos da ADI proposta? É inconstitucional a previsão de que a Defensoria
Pública pode ajuizar ACP na defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos?
NÃO. Não há qualquer inconstitucionalidade na previsão da Lei nº 11.448/2007. Ao contrário, essa lei já
era compatível com o texto originário da CF/88 e isso ficou ainda mais claro quando o Congresso Nacional
aprovou a EC 80/2014, que alterou a redação do art. 134 da CF/88 prevendo expressamente que a
Defensoria Pública tem legitimidade para a defesa de direitos individuais e coletivos (em sentido amplo).
Veja:
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos
direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do
art. 5º desta Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80/2014)

Desse modo, seja antes da EC 80/2014 e com maior razão depois, a Defensoria Pública possui sim
legitimidade para propor ação civil pública na defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais
homogêneos.

Segundo pontuou a Ministra Cármen Lúcia, em um país como o nosso, marcado por graves desigualdades
sociais e pela elevada concentração de renda, uma das grandes barreiras para a implementação da democracia
e da cidadania ainda é o efetivo acesso à Justiça. Somente se conseguirá promover políticas públicas para
reduzir ou suprimir essas enormes diferenças se forem oferecidos instrumentos que atendam com eficiência às
necessidades dos cidadãos na defesa de seus direitos. Nesse sentido, destaca-se a ação civil pública. Dessa feita,
não interessa à sociedade restringir o acesso à justiça dos hipossuficientes.

A interpretação sugerida pela CONAMP restringe, sem fundamento jurídico, a possibilidade de utilização
da ação civil pública, que é instrumento capaz de garantir a efetividade de direitos fundamentais de
pobres e ricos a partir de iniciativa processual da Defensoria Pública.

Exigir que a Defensoria Pública, antes de ajuizar a ACP, comprove a pobreza do público-alvo não é
condizente com os princípios e regras norteadores dessa instituição permanente e essencial à função
jurisdicional do Estado, menos ainda com a norma do art. 3º da CF/88.

Vale ressaltar que no momento da liquidação e execução de eventual decisão favorável na ação coletiva, a
Defensoria Pública irá fazer a assistência jurídica apenas dos hipossuficientes. Nesta fase é que a tutela de
cada membro da coletividade ocorre separadamente.
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4
Além disso, deve-se lembrar que a CF/88 não assegura ao Ministério Público a legitimidade exclusiva para
o ajuizamento de ação civil pública. Em outras palavras, a Constituição em nenhum momento disse que só
o MP pode propor ACP. Ao contrário, o § 1º do art. 129 da CF/88 afirma que a legitimação do Ministério
Público para as ações civis não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta
Constituição e na lei.

Em suma:
É constitucional a Lei nº 11.448/2007, que alterou a Lei n. 7.347/85, prevendo a Defensoria Pública como
um dos legitimados para propor ação civil pública.
Vale ressaltar que, segundo o STF, a Defensoria Pública pode propor ação civil pública na defesa de
direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.
STF. Plenário. ADI 3943/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6 e 7/5/2015 (Info 784).

APROFUNDANDO:
Vou agora aprofundar um pouco mais o tema, tratando de alguns tópicos mais polêmicos e que ainda
podem suscitar divergências.

A legitimidade da Defensoria para a ACP é irrestrita, ou seja, a instituição pode propor ACP em todo e
qualquer caso?
Apesar de não ser um tema ainda pacífico, a resposta que prevalece é que NÃO.
Assim, a Defensoria Pública, ao ajuizar uma ACP, deverá provar que os interesses discutidos na ação têm
pertinência com as suas finalidades institucionais.

Por que se diz que a legitimidade da Defensoria não é irrestrita?


Porque a legitimidade de nenhum dos legitimados do art. 5º é irrestrita, nem mesmo do Ministério
Público. O “TJ já de idiu, po exe plo, ue o Mi ist io Pú li o ão te legiti idade ativa pa a p opo
ação civil pública na qual busca a suposta defesa de um pequeno grupo de pessoas - no caso, dos
associados de um clube, numa óptica predominantemente i dividual. REsp /“E, Rel. Mi . Luis
Felipe Salomão, julgado em 21/06/2011).

Qual é enfim o parâmetro para a legitimidade da Defensoria na ACP?


A doutrina majoritária tem defendido que a Defensoria só tem adequada representação se estiver
defendendo interesses relacionados com seus objetivos institucionais e que se encontram previstos no art.
134 da CF.
Em outras palavras, a Defensoria Pública somente poderia propor uma ACP se os direitos nela veiculados,
de algum modo, estiverem relacionados à p oteção dos i te esses dos hipossufi ie tes e essitados , ou
seja, i divíduos o i sufi i ia de e u sos . Esse foi o e te di e to suste tado pela ª Tu a do “TJ
no REsp 1.192.577-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2014.

Segundo a posição tranquila no STJ, a Defensoria Pública só tem legitimidade ativa para ações coletivas se
elas estiverem relacionadas com as funções institucionais conferidas pela CF/88, ou seja, se tiverem por
objetivo beneficiar os necessitados que não tiverem suficiência de recursos (CF/88, art. 5º, LXXIV).

A própria Lei Orgânica da Defensoria Pública (Lei Complementar n. 80/94) nos faz concluir dessa forma:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
(...)
VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos
direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar
grupo de pessoas hipossuficientes; (Redação dada pela LC 132/2009).
VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais, difusos, coletivos e individuais homogêneos e
Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5
dos direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal; (Redação dada
pela LC 132/2009).
X – promover a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos
individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de
ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela; (Redação dada pela LC 132/2009).
XI – exercer a defesa dos interesses individuais e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da
pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de
outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado; (Redação dada pela LC
132/2009).

No julgamento da ADI 3943, acima explicada, diversos Ministros manifestaram esse mesmo entendimento.

A Min. Cármen Lúcia, em determinado trecho de seu voto, afirmou:


Não se está a afirmar a desnecessidade de a Defensoria Pública observar o preceito do art. 5º, LXXIV, da
CF, reiterado no art. 134 — antes e depois da EC 80/2014. No exercício de sua atribuição constitucional, é
necessário averiguar a compatibilidade dos interesses e direitos que a instituição protege com os possíveis
beneficiários de quaisquer das ações ajuizadas, mesmo em ação civil pública.

O Min. Roberto Barroso corroborou essa conclusão e afirmou que o fato de se estabelecer que a
Defensoria Pública tem legitimidade, em tese, para ações civis públicas não exclui a possibilidade de, em
um eventual caso concreto, não se reconhecer a legitimidade da Instituição. Em tom descontraído, o
Ministro afirmou que a Defensoria não teria legitimidade, por exemplo, no caso concreto, para uma ação
civil pública na defesa dos sócios do Yatch Club . E dando outro exemplo extremo, afirmou que a
Defensoria não teria legitimidade, no caso concreto, para ajuizar uma ação civil pública em favor dos
lie tes Pe so alit do Ba o Itaú.

O Min. Teori Zavascki segue na mesma linha e afirma que existe uma condição implícita na legitimidade da
Defensoria Pública para ações civis públicas que é o fato de ela ter que defender interesses de pessoas
hipossuficientes, sendo esta uma condição imposta pelo art. 134 da CF/88.

A Min. Rosa Weber também deixou claro que a Defensoria Pública tem legitimidade para propor ações
civis públicas, mas que o juízo poderá aferir, no caso concreto, sua adequada representação.

Atenção. Não confunda: não se está dizendo que a Defensoria Pública só pode propor ACP se os direitos
dis utidos e volve e ape as pessoas po es . Essa era a tese da CONAMP, que foi rechaçada pelo STF.
O que estou afirmando é que, para a Defensoria Pública ajuizar a ACP aquele interesse discutido na lide
tem que, de algum modo, favorecer seu público-alvo (hipossuficientes), ainda que beneficie outras
pessoas também.

Análise da legitimidade da Defensoria Pública segundo a natureza do direito tutelado:


Direitos Direitos Direitos
DIFUSOS COLETIVOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
A legitimidade da Defensoria Pública No caso de ACP para a tutela de direitos coletivos e individuais
é ampla. homogêneos, a legitimidade da DP é mais restrita e, para que
Assim, a DP poderá propor a ação seja possível o ajuizamento, é indispensável que, dentre os
coletiva tutelando direitos difusos, beneficiados com a decisão, também haja pessoas necessitadas.
considerando que isso beneficiará
também as pessoas necessitadas.

Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6
Se o interesse defendido beneficiar pessoas economicamente abastadas e também hipossuficientes, a
Defensoria terá legitimidade para a ACP?
SIM, considerando que, no processo coletivo, vigoram os princípios do máximo benefício, da máxima
efetividade e da máxima amplitude.
Dessa feita, podendo haver hipossuficientes beneficiados pelo resultado da demanda deve-se admitir a
legitimidade da Defensoria Pública.
É o caso, por exemplo, de consumidores de energia elétrica, que tanto podem abranger pessoas com alto
poder aquisitivo como hipossuficientes:
LEGITIMIDADE. DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO COLETIVA.
A Turma, ao prosseguir o julgamento, entendeu que a Defensoria Pública tem legitimidade para ajuizar
ação civil coletiva em benefício dos consumidores de energia elétrica, conforme dispõe o art. 5º, II, da Lei
nº 7.347/1985, com redação dada pela Lei nº 11.448/2007. (...)
REsp 912.849-RS, Rel. Min. José Delgado, julgado em 26/2/2008 (Info 346).

Exemplo em que o STJ reconheceu não haver legitimidade, no caso concreto, para a Defensoria Pública
propor ACP:
Segundo decidiu o STJ, a Defensoria Pública não tem legitimidade para ajuizar ACP em favor de
consumidores de plano de saúde particular. Para a Corte, ao optar por contratar plano particular de saúde,
parece intuitivo que não se está diante de um consumidor que possa ser considerado necessitado, a ponto
de ser patrocinado, de forma coletiva, pela Defensoria Pública.
Ao revés, trata-se de grupo que, ao demonstrar capacidade para arcar com assistência de saúde privada,
presume-se em condições de arcar com as despesas inerentes aos serviços jurídicos de que necessita, sem
prejuízo de sua subsistência, não havendo que se falar em hipossuficiência.
Assim, o grupo em questão não é apto a conferir legitimidade ativa adequada à Defensoria Pública, para
fins de ajuizamento de ação civil.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.192.577-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2014 (Info 541).

DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR

CRIME DE DESERÇÃO (ART. 187 DO CPM)


Período de graça e configuração do crime de deserção

Eventual equívoco na lavratura do Termo de Deserção apenas tem o condão de afastar a


tipicidade da conduta quando, a partir dele, as forças armadas excluírem o militar durante o
período de graça.
A literalidade do art. 452 do CPPM deixa claro que o Termo de Deserção tem o caráter de
instrução provisória e destina-se a fornecer os elementos necessários à propositura da ação
penal, não significando prova definitiva, que será formada durante a instrução, sob o crivo do
contraditório e da ampla defesa.
STF. 2ª Turma. HC 126520/RJ, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 5/5/2015 (Info 784).

Crime de deserção
O Código Penal militar prevê o crime de deserção em seu art. 187:
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve
permanecer, por mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.

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Desse modo, o crime só se consuma quando completar o 9º dia de ausência do militar.
Esse p azo de dias ha ado pela dout i a de pe íodo de g aça , ou seja, u te po e ue se o
militar retornar, não terá cometido crime.

Imagine agora a seguinte situação adaptada:


João, militar do Exército, não compareceu à formatura matinal do dia 21/06.
Logo, o período de graça começou a correr à zero hora do dia seguinte (22/06), nos termos do art. 451, §
1º do CPPM:
Art. 451 (...)
§ 1º A contagem dos dias de ausência, para efeito da lavratura do termo de deserção, iniciar-se-á a zero
hora do dia seguinte àquele em que for verificada a falta injustificada do militar.

O período de graça terminará, por sua vez, à zero hora do dia 30/06. Nesta data (30/06), haverá a
consumação do crime.
Em nosso exemplo, tão logo completou o dia 30/06, o oficial lavrou um termo declarando que João havia
desertado (termo de deserção), conforme previsto no art. 451 do CPPM:
Art. 451. Consumado o crime de deserção, nos casos previstos na lei penal militar, o comandante da
unidade, ou autoridade correspondente, ou ainda autoridade superior, fará lavrar o respectivo termo,
imediatamente, que poderá ser impresso ou datilografado, sendo por ele assinado e por duas
testemunhas idôneas, além do militar incumbido da lavratura.

No caso concreto, a defesa questionava a lavratura do termo de deserção, afirmando que ele teria sido
lavrado antes do prazo, o que não aconteceu na realidade, já que o último dia do período de graça foi
29/06 e o termo lavrado em 30/06.

O que aconteceria se o termo de deserção tivesse sido lavrado antes do prazo, ou seja, durante o
período de graça?
Neste caso, o crime de deserção não teria se consumado. Haveria um fato atípico porque se a autoridade
lavrou o termo de deserção antes do final do prazo de graça, o acusado deixou de ser militar neste instante e
não haveria motivo para ele retornar ao serviço. Logo, antes de se completar os 8 dias, a autoridade acabou
desobrigando o ex-militar a voltar ao quartel . Antes de consumar o delito de deserção, o acusado deixou
de ter a obrigação de retornar ao serviço. Há precedentes do STF nesse sentido:
(...) O crime de deserção é próprio e, por isso, somente pode ser praticado por militar. A sua consumação
opera com a ausência injustificada por mais de oito dias (art. 187 do CPM).
2. A lavratura antecipada e equivocada do termo de deserção acarreta a perda da condição de militar,
antes de findar o oitavo dia de ausência, passando a ostentar o Paciente a condição de civil, situação
impeditiva da consumação da figura delitiva, ressaltando-se que a retificação do termo de deserção não
pode produzir efeitos pretéritos prejudiciais ao administrado.
3. Ordem concedida para determinar o trancamento da ação penal, restabelecida a decisão do Juízo da
Auditoria da 6ª Circunscrição Judiciária Militar.
STF. 2ª Turma. HC 121190, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 01/04/2014.

O entendimento do STF é baseado na lição da doutrina:


o ato de ex lusão do ilita interrompe o prazo de graça e o crime não se consuma porque seu agente
tornou-se ivil A““I“, Jo ge Cesa de. Comentários ao Código Penal Militar: comentários, doutrina,
jurisprudência dos tribunais militares e tribunais superiores e jurisprudência em tempo de guerra. 8ª ed.,
Curitiba: Juruá, 2014, p. 567).

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Outra alegação da defesa foi a de que o termo de deserção tinha vícios formais e que isso inviabilizaria a
condenação do réu. Esse argumento foi aceito?
NÃO. Eventual irregularidade do termo de deserção apenas tem o condão de afastar a tipicidade da
conduta quando, a partir dele, as Forças Armadas excluírem o militar durante o período de graça. Em
outras palavras, o vício que poderia levar à atipicidade da conduta seria a lavratura antecipada do termo, o
que, no caso concreto, não aconteceu. Logo, não há que se falar em atipicidade.

Além disso, o termo de deserção não é prova única e definitiva. O art. 452 do CPPM deixa claro que o
termo de deserção te o a áte de i st ução p ovisó ia e desti a-se a fornecer os elementos
necessários à propositura da ação pe al , ão sig ifi a do p ova defi itiva, ue se á fo ada du a te a
instrução, sob o ivo do o t aditó io e da a pla defesa NUCCI, Guilhe e de Souza. Código de
Processo Penal Militar Comentado. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 484).

Assim, cabia ao juízo natural da causa penal, com observância ao princípio do contraditório, colher as
provas e examinar se existiam elementos suficientes para condenar o réu além do termo de deserção. No
caso concreto, o juiz militar entendeu que havia provas suficientes de que o acusado praticou a deserção.

DIREITO PROCESSUAL
DO TRABALHO

EXECUÇÃO DE SENTENÇA NORMATIVA


Execução de sentença normativa e ofensa à coisa julgada

Não ofende a coisa julgada decisão extintiva de ação de cumprimento de sentença normativa,
na hipótese em que o dissídio coletivo tiver sido extinto sem julgamento de mérito.
A extinção da sentença proferida em ação de cumprimento, quando decorrente da perda da
eficácia da sentença normativa que a ensejou, não implica violação da coisa julgada. Essa
modalidade de ação é ajuizada visando ao cumprimento de cláusula de acordo coletivo.
STF. Plenário. RE 428154/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 7/5/2015 (Info 784).

O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte:


Houve um dissídio coletivo envolvendo o Sindicato dos Trabalhadores e a empresa, tendo, ao final, o TRT
prolatado sentença normativa em favor do sindicato.

A empresa recorreu da sentença normativa e o sindicato ajuizou ação de cumprimento na 1ª instância (1ª
Vara do Trabalho). Isso foi possível porque o ordenamento jurídico processual trabalhista permite a
propositura de ação de cumprimento antes do trânsito em julgado do dissídio coletivo. Ocorre que uma
peculiaridade acabou gerando um impasse. Veja:

A ação de cumprimento ajuizada na 1ª instância (1ª Vara do Trabalho) transitou em julgado e entrou na
fase de execução. No entanto, no julgamento do recurso ordinário interposto pela empresa no dissídio
coletivo, o TST concordou com os argumentos da recorrente e extinguiu o feito sem resolução do mérito.
Em outras palavras, o TST extinguiu a sentença do dissídio coletivo.

A empresa informou isso ao juízo da 1ª Vara do Trabalho que, por conta deste fato, extinguiu a ação de
cumprimento (que já havia transitado em julgado e estava em fase de execução!).

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O sindicato não concordou e recorreu contra esta decisão do juiz, inicialmente, para o TRT (que manteve a
sentença extintiva do magistrado) e depois para o TST (que também concordou com a extinção da
execução da sentença de cumprimento).

O sindicato não desistiu e, contra a decisão do TST, interpôs recurso extraordinário ao STF alegando que a
execução da sentença da ação de cumprimento não poderia ter sido extinta pelo juiz porque a sentença de
cumprimento já havia transitado em julgado.

O STF concordou com o argumento do sindicato?


NÃO. O STF entendeu que foi correta a decisão. Isso porque a execução instaurada com base em título
exequendo que foi posteriormente excluído do mundo jurídico pela extinção do dissídio coletivo em sede
recursal deve ser também extinta.
Para o Min. Luís Roberto Barroso, as duas ações estão atreladas, e a possibilidade de propositura de ação
de cumprimento antes do trânsito em julgado do dissídio coletivo tem um caráter condicional, sujeito à
confirmação da sentença normativa.
Diante disso, a extinção da sentença normativa acarreta, logicamente, a extinção da execução que tinha
por fundamento (título executivo) a sentença que foi excluída do mundo jurídico.

O STF possui jurisprudência consolidada neste sentido:


(...) A ação de cumprimento destina-se a assegurar a realização em concreto das regras fixadas na
sentença normativa. Esta possui natureza singular e excepcional, projetando no mundo jurídico normas de
caráter genérico e abstrato, por meio de ato jurisdicional praticado na solução de conflito coletivo de
trabalho submetido à deliberação do Poder Judiciário, sujeito, dessa forma, a recurso e posterior
alteração.
2. A superveniente extinção definitiva do processo de dissídio coletivo implica o total esvaziamento da
coisa julgada formada na ação de cumprimento, que, assim, perde seu poder impositivo em relação à
parte vencida. Afastada a eficácia da sentença normativa que constituía o elemento essencial da res
judicata, não tem mais sentido prosseguir na execução.
3. A imutabilidade material da sentença normativa é relativa, ostentando idêntica natureza a decisão
proferida na ação destinada a garantir o seu cumprimento. Extinta a primeira por decisão transitada em
julgado, igual sorte atinge a segunda, se ainda não ultimada sua execução, sem que haja violação à coisa
julgada formada na fase de conhecimento da ação de cumprimento. Recurso extraordinário não conhecido
por ausência de violação ao inciso XXXVI do artigo 5º da Constituição Federal.
STF. 2ª Turma. RE 331099, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgado em 20/05/2003.

No mesmo caminho, mais recentemente: RE 394051 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/03/2014.

OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DO D JE
4 a 8 de maio de 2015

ADI N. 3.477-RS
RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PREVIDENCIÁRIO. LEI Nº 8.633/2005 DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. CONTRIBUIÇÃO
SOCIAL INCIDENTE SOBRE PROVENTOS DE APOSENTADORIA E PENSÕES. DISPENSA NA REFORMA DA CARTA ESTADUAL PARA INSTITUIÇÃO DA
EXAÇÃO EM TELA, A QUAL PODE PERFEITAMENTE SER CRIADA PELA LEI ESTADUAL. A CRFB/88, EM SEU ARTIGO 40, COM REDAÇÃO CONFERIDA

Informativo 784-STF (04/05 a 08/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10
PELA EC Nº 41/2003, ESTABELECE REGRA GERAL A SER OBSERVADA PELOS ESTADOS, MUNICÍPIOS E DISTRITO FEDERAL. PARÁGRAFO 1º DO ART. 149
DA CRFB/88. IMPOSIÇÃO AOS ESTADOS DE OBRIGATORIEDADE DE INSTITUIÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL PARA CUSTEIO DO REGIME
PREVIDENCIÁRIO DE SEUS SERVIDORES. PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 3º DA LEI HOSTILIZADA. INTERPRETAÇÃO À LUZ DO PARÁGRAFO 21 DO ART.
40 DA CRFB/88, SEGUNDO A TÉCNICA DE INTERPRETAÇÃO CONFORME.
AÇÃO JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE.
*noticiado no Informativo 776
HC N. 103.310-SP
RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Habeas corpus. 2. Emendatio libelli (art. 383, CPP) em segunda instância mediante recurso exclusivo da defesa. Possibilidade, contanto que
não gere reformatio in pejus, nos termos do art. 617, CPP. A pena fixada não é o único efeito que baliza a condenação, devendo ser consideradas
outras circunstâncias para verificação de existência de reformatio in pejus. 3. O redimensionamento da pena-base pelo Tribunal de Apelação em
patamar para além daquele fixado no Juízo originário, embora reduza a reprimenda total em apelação exclusiva da defesa, reconhecendo vetoriais
desfavoráveis não veiculadas na sentença (art. 59, CP), gera reformatio in pejus. 4. Ordem concedida.
*noticiado no Informativo 776
Acórdãos Publicados: 371

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Vereador - Discurso na Tribuna da Câmara Municipal - Imunidade Parlamentar Material - Inviolabilidade Penal e Civil
(Transcrições)
(v. Informativo 775)
RE 600.063/SP*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
VOTO: Peço vênia ao eminente Ministro MARCO AURÉLIO para conhecer e dar provimento ao presente recurso extraordinário, pois entendo
incidir, na espécie, em favor do ora recorrente, que é Vereador, a prerrogativa constitucional da imunidade parlamentar em sentido material, que
se traduz na inviolabilidade a que alude o inciso VIII do art. 29 da Constituição da República.
Com efeito, reconheço que o discurso parlamentar que o ora recorrente proferiu da própria tribuna da Casa Legislativa local acha-se
abrangido pela cláusula constitucional da imunidade parlamentar em sentido material, apta a exonerá-lo de qualquer responsabilidade
eventualmente resultante de tais declarações, eis que inafastável, na espécie, a constatação de que tais atos resultaram de contexto claramente
vinculado ao exercício do ofício legislativo, tal como tem decidido o Supremo Tribunal Federal:
“‘HABEAS CORPUS’ – VEREADOR – CRIME CONTRA A HONRA – RECINTO DA CÂMARA MUNICIPAL – INVIOLABILIDADE (CF, ART. 29, VIII,
COM A RENUMERAÇÃO DADA PELA EC Nº 1/92) – TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL – PEDIDO DEFERIDO.
ESTATUTO POLÍTICO-JURÍDICO DOS VEREADORES E INVIOLABILIDADE PENAL.
– A Constituição da República, ao dispor sobre o estatuto político-jurídico dos Vereadores, atribuiu-lhes a prerrogativa da imunidade
parlamentar em sentido material, assegurando a esses legisladores locais a garantia indisponível da inviolabilidade, ‘por suas opiniões,
palavras e votos, no exercício do mandato e na circunscrição do Município’ (CF, art. 29, VIII).
Essa garantia constitucional qualifica-se como condição e instrumento de independência do Poder Legislativo local, eis que projeta,
no plano do direito penal, um círculo de proteção destinado a tutelar a atuação institucional dos membros integrantes da Câmara Municipal.
A proteção constitucional inscrita no art. 29, VIII, da Carta Política estende-se – observados os limites da circunscrição territorial do
Município – aos atos do Vereador praticados ‘ratione officii’, qualquer que tenha sido o local de sua manifestação (dentro ou fora do recinto
da Câmara Municipal).
…......................................................................................................
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA.
– O Vereador, atuando no âmbito da circunscrição territorial do Município a que está vinculado, não pode ser indiciado em inquérito
policial nem submetido a processo penal por atos que, qualificando-se como delitos contra a honra (calúnia, difamação e injúria), tenham
sido por ele praticados no exercício de qualquer das funções inerentes ao mandato parlamentar: função de representação, função de
fiscalização e função de legislação.
A eventual instauração de ‘persecutio criminis’ contra o Vereador, nas situações infracionais estritamente protegidas pela cláusula
constitucional de inviolabilidade, qualifica-se como ato de injusta constrição ao ‘status libertatis’ do legislador local, legitimando, em
conseqüência do que dispõe a Carta Política (CF, art. 29, VIII), a extinção, por ordem judicial, do próprio procedimento penal
persecutório.”
(HC 74.201/MG, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Não constitui demasia assinalar, considerada a própria jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal firmou no tema ora em exame, que
os discursos proferidos na tribuna das Casas legislativas (inclusive nas Câmaras Municipais) estão amparados, quer para fins penais, quer para
efeitos civis (RE 210.917/RJ, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE), pela cláusula da inviolabilidade, pois nada se reveste de caráter mais
intrinsecamente parlamentar do que os pronunciamentos feitos no âmbito do Poder Legislativo, a partir da própria tribuna do Parlamento, neste
compreendidas as próprias Câmaras de Vereadores (AI 631.276/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO – RE 140.867/MS, Red. p/ o acórdão Min.
MAURÍCIO CORRÊA – RE 278.086/SP, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA), hipótese em que será absoluta a inviolabilidade constitucional (Inq
1.958/AC, Red. p/ o acórdão Min. AYRES BRITTO, Pleno), como resulta, de forma bastante clara, da expressiva lição ministrada por eminentes
doutrinadores (JOSÉ AFONSO DA SILVA, “Curso de Direito Constitucional Positivo”, p. 597, 12ª ed., 1996, Malheiros; PINTO FERREIRA,

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“Comentários à Constituição Brasileira”, vol. 2/273, 1990, Saraiva; DAMÁSIO E. DE JESUS, “Código de Processo Penal Anotado”, p. 763, 11ª
ed., 1994, Saraiva; HELY LOPES MEIRELLES, “Direito Municipal Brasileiro”, p. 451/452, 6ª ed./3ª tir., 1993, Malheiros; JOSÉ NILO DE
CASTRO, “Direito Municipal Positivo”, p. 86, 2ª ed., 1992, Del Rey; DIOMAR ACKEL FILHO, “Município e Prática Municipal à Luz da
Constituição Federal de 1988”, p. 28, 1992, RT, v.g.), como faz certo ROSAH RUSSOMANO DE MENDONÇA LIMA (“O Poder Legislativo na
República”, p. 140/141, item n. 2, 1960, Freitas Bastos), cujo magistério é bastante preciso a respeito da matéria:
“Em conseqüência de tal determinação, o congressista usufrui de uma proteção ampla, integral, ininterrupta, sempre que atua no
exercício do mandato.
Sua palavra é livre, desconhece peias e limitações. Vota pelo modo que lhe parecer mais digno e que melhor se coadune com os
reclamos de sua consciência. Emite opiniões desafogadamente, sem que o atormente o receio de haver incidido em algum crime de calúnia,
de injúria ou de difamação.
…...................................................................................................
Há, pois, em verdade, uma ampla irresponsabilidade, que não tem outros limites, senão aqueles traçados pela Constituição.
Deste modo, se o congressista ocupar a tribuna, diga o que disser, profira as palavras que proferir, atinja a quem atingir, a
imunidade o resguarda. Acompanha-o nos instantes decisivos das votações. Segue-o durante o trabalho árduo das comissões e em todas as
tarefas parlamentares, dentro do edifício legislativo. Transpõe, mesmo, os limites do Congresso e permanece, intangível, a seu lado, quando
se trata do desempenho de atribuições pertinentes ao exercício do mandato.” (grifei)
Impõe-se reconhecer, ainda, que a garantia constitucional da imunidade parlamentar material também estende o seu manto protetor (1) às
entrevistas jornalísticas, (2) à transmissão, para a imprensa, do conteúdo de pronunciamentos ou de relatórios produzidos nas Casas Legislativas
(RTJ 172/400-401, Rel. Min. ILMAR GALVÃO) e (3) às declarações feitas aos meios de comunicação social (RTJ 187/985, Rel. Min. NELSON
JOBIM), eis que – tal como bem realçado por ALBERTO ZACHARIAS TORON (“Inviolabilidade Penal dos Vereadores”, p. 247, 2004, Saraiva)
– esta Suprema Corte tem reafirmado “(...) a importância do debate, pela mídia, das questões políticas protagonizadas pelos mandatários”, além de
haver enfatizado “a idéia de que as declarações à imprensa constituem o prolongamento natural do exercício das funções parlamentares, desde
que se relacionem com estas” (grifei).
Vale destacar, neste ponto, por oportuno, que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Inq 579/DF, Rel. Min. CÉLIO BORJA
(RTJ 141/406, 408), pôs em evidência, de modo bastante expressivo, no voto vencedor proferido pelo eminente Ministro PAULO BROSSARD, o
caráter absoluto da inviolabilidade constitucional que protege o parlamentar, quando expende suas opiniões da tribuna da Casa legislativa:

“(...) para palavras ditas da tribuna da Câmara dos Deputados, Pontes de Miranda diz que não há possibilidade de infração da lei
penal, porque a lei não chega até ela. O parlamentar fica sujeito à advertência ou à censura do Presidente dos trabalhos, mas falando na
Câmara, não ofende a lei penal.” (grifei)
Esse mesmo entendimento foi perfilhado pelo eminente Ministro CARLOS VELLOSO, quando do julgamento do RE 140.867/MS, Red. p/
o acórdão Min. MAURÍCIO CORRÊA, também decidido pelo Plenário desta Suprema Corte:
“(...) se a manifestação do Vereador é feita da tribuna da Câmara, a inviolabilidade é absoluta. Indaga-se se não haveria corretivo
para os excessos praticados da tribuna. Há sim. Os excessos resolvem-se no âmbito da Câmara. Pode vir até a perder o mandato, por falta
de decoro e outras transgressões regimentais. Certo é que, se a manifestação ocorreu da tribuna, repito, a inviolabilidade é absoluta.”
(grifei)
Essa orientação jurisprudencial foi expressamente consagrada em julgamento emanado do Plenário do Supremo Tribunal Federal, cujo
acórdão está assim ementado:
“INQUÉRITO. DENÚNCIA QUE FAZ IMPUTAÇÃO A PARLAMENTAR DE PRÁTICA DE CRIMES CONTRA A HONRA,
COMETIDOS DURANTE DISCURSO PROFERIDO NO PLENÁRIO DE ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA E EM ENTREVISTAS
CONCEDIDAS À IMPRENSA. INVIOLABILIDADE: CONCEITO E EXTENSÃO DENTRO E FORA DO PARLAMENTO.
A palavra ‘inviolabilidade’ significa intocabilidade, intangibilidade do parlamentar quanto ao cometimento de crime ou
contravenção. Tal inviolabilidade é de natureza material e decorre da função parlamentar, porque em jogo a representatividade do povo.
O art. 53 da Constituição Federal, com a redação da Emenda nº 35, não reeditou a ressalva quanto aos crimes contra a honra,
prevista no art. 32 da Emenda Constitucional nº 1, de 1969. Assim, é de se distinguirem as situações em que as supostas ofensas são
proferidas dentro e fora do Parlamento. Somente nessas últimas ofensas irrogadas fora do Parlamento é de se perquirir da chamada
‘conexão com o exercício do mandato ou com a condição parlamentar’ (INQ 390 e 1.710). Para os pronunciamentos feitos no interior das
Casas Legislativas, não cabe indagar sobre o conteúdo das ofensas ou a conexão com o mandato, dado que acobertadas com o manto da
inviolabilidade. Em tal seara, caberá à própria Casa a que pertencer o parlamentar coibir eventuais excessos no desempenho dessa
prerrogativa.
No caso, o discurso se deu no plenário da Assembléia Legislativa, estando, portanto, abarcado pela inviolabilidade. Por outro lado,
as entrevistas concedidas à imprensa pelo acusado restringiram-se a resumir e comentar a citada manifestação da tribuna, consistindo, por
isso, em mera extensão da imunidade material.
Denúncia rejeitada.”
(Inq 1.958/AC, Red. p/ o acórdão Min. AYRES BRITTO, Pleno – grifei)
Cabe enfatizar, por relevante, que a jurisprudência desta Suprema Corte firmou diretriz, nesse mesmo sentido, a propósito da extensão e
abrangência da cláusula de inviolabilidade de Vereadores, fundada no art. 29, inciso VIII, da Constituição da República, e que foi bem definida
no julgamento do AI 818.693/MT, Rel. Min. CELSO DE MELLO, assim ementado:
“VEREADOR. IMUNIDADE PARLAMENTAR EM SENTIDO MATERIAL: INVIOLABILIDADE (CF, art. 29, VIII). DISCURSO
PROFERIDO POR VEREADOR NA TRIBUNA DA CÂMARA MUNICIPAL À QUAL SE ACHA VINCULADO. IMPOSSIBILIDADE DE
RESPONSABILIZAÇÃO PENAL (E CIVIL) DO MEMBRO DO PODER LEGISLATIVO DO MUNICÍPIO. PRESSUPOSTOS DE
INCIDÊNCIA DA GARANTIA CONSTITUCIONAL DA IMUNIDADE PARLAMENTAR. PRÁTICA ‘IN OFFICIO’ E PRÁTICA ‘PROPTER
OFFICIUM’. RECURSO IMPROVIDO.
– A garantia constitucional da imunidade parlamentar em sentido material (CF, art. 29, VIII, c/c o art. 53, ‘caput’) exclui a
responsabilidade penal (e também civil) do membro do Poder Legislativo (Vereadores, Deputados e Senadores), por manifestações, orais ou
escritas, desde que motivadas pelo desempenho do mandato (prática ‘in officio’) ou externadas em razão deste (prática ‘propter officium’).
– Tratando-se de Vereador, a inviolabilidade constitucional que o ampara no exercício da atividade legislativa estende-se às opiniões,
palavras e votos por ele proferidos, mesmo fora do recinto da própria Câmara Municipal, desde que nos estritos limites territoriais do
Município a que se acha funcionalmente vinculado. Precedentes. AI 631.276/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).

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– Essa prerrogativa político-jurídica – que protege o parlamentar (como os Vereadores, p. ex.) em tema de responsabilidade penal -
incide, de maneira ampla, nos casos em que as declarações contumeliosas tenham sido proferidas no recinto da Casa legislativa,
notadamente da tribuna parlamentar, hipótese em que será absoluta a inviolabilidade constitucional. Doutrina. Precedentes.”
Impõe-se registrar, finalmente, a seguinte observação: se o membro do Poder Legislativo, não obstante amparado pela imunidade
parlamentar material, incidir em abuso de tal prerrogativa, expor-se-á à jurisdição censória da própria Casa legislativa a que pertence, tal como
assinala a doutrina (RAUL MACHADO HORTA, “Direito Constitucional”, p. 562, item n. 3, 5ª ed., atualizada por Juliana Campos Horta, 2010,
Del Rey; CARLOS MAXIMILIANO, “Comentários à Constituição Brasileira”, vol. II/49, item n. 297, 5ª ed., 1954, Freitas Bastos, v.g.) e acentua,
com particular ênfase, a jurisprudência constitucional firmada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal (RE 140.867/MS, Red. p/ o acórdão
Min. MAURÍCIO CORRÊA – Inq 1.958/AC, Red. p/ o acórdão Min. AYRES BRITTO).
Concluindo: a análise dos elementos constantes destes autos permite-me reconhecer que o comportamento do ora recorrente – que era,
então, à época dos fatos, Vereador – subsume-se, inteiramente, ao âmbito da proteção constitucional fundada na garantia da imunidade
parlamentar material, em ordem a excluir, na espécie, a responsabilidade penal do parlamentar municipal em referência, eis que incidente, no
caso, a cláusula de inviolabilidade inscrita no art. 29, inciso VIII, da Constituição da República, considerada a circunstância de que o questionado
discurso parlamentar foi proferido no exercício do mandato legislativo, no próprio recinto da Câmara de Vereadores e “na circunscrição do
Município”.
Por tais razões, e acompanhando o dissenso, conheço e dou provimento ao presente recurso extraordinário.
É o meu voto.
*acórdão publicado no DJe de 15.5.2015

OUTRAS INFORMAÇÕES
4 a 8 de maio de 2015

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


Prazo Processual - Prorrogação - Expediente Forense - Atendimento ao público - Secretaria
Portaria nº 98, de 5.52015 - Comunica que fica suspenso o expediente da Secretaria do Tribunal no dia 4.6.2015
(quinta-feira) e que os prazos que porventura devam iniciar-se ou completar-se nesse dia ficam automaticamente
prorrogados para o dia 5 subsequente (sexta-feira). Publicada no DJE, n. 84, p. 245, em 7.5.2015.

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

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Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos os julgamentos: MI 4204/DF; RE
607940/DF; Rcl 11427AgR/MG; Rcl 11408 AgR/RS; Rcl 4726/PR.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITO ADQUIRIDO E ATO JURÍDICO PERFEITO
 Aplicação imediata aos contratos em curso da lei que fixa novos índices de correção monetária.

DIREITO CIVIL
USUCAPIÃO
 Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que a área do imóvel seja inferior ao módulo mínimo dos lotes
urbanos previsto no plano diretor

DIREITO PROCESSUAL PENAL


COMPETÊNCIA
 Criação de nova vara e perpetuatio jurisdictionis .

PRISÃO E LIBERDADE
 Decisão no HC que substituiu a prisão preventiva dos réus da operação Lava Jato por outras medidas cautelares
(art. 319 do CPP).

DIREITO DO TRABALHO
PLANO DE DISPENSA INCENTIVADA
 Plano de dispensa incentivada e validade da quitação ampla de parcelas contratuais

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO ADQUIRIDO E ATO JURÍDICO PERFEITO


Aplicação imediata aos contratos em curso da lei que fixa novos índices de correção monetária

A Lei 9.069/95 (Lei do Plano Real) estabeleceu, em seu art. 21, que os índices de correção
monetária previstos nos contratos de locação comercial que já existiam antes mesmo da sua
vigência deveriam ser alterados.
Essa medida não violou direito adquirido nem ato jurídico perfeito.
Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, a lei nova pode incidir
imediatamente sobre as cláusulas presentes no contrato, desde que as normas legais sejam de
natureza cogente, ou seja, aquelas cujo conteúdo foge do domínio da vontade dos contratantes.

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Assim, se estivermos diante de um contrato de trato sucessivo e execução diferida, se surgir
uma lei nova que determine, de forma cogente, sua aplicação imediata, os contratantes não
podem invocar direito adquirido ou ato jurídico perfeito com o objetivo de manter o teor das
cláusulas na forma como originalmente foram previstas no contrato.
STF. Plenário. RE 212609/SP, RE 215016/SP, RE 211304/RJ, RE 222140/SP e RE 268652/RJ, red. p/
o acórdão Min. Teori Zavascki, julgados em 29/4/2015 (Info 783).

Plano Real
No começo da década de 90, o Brasil vivia um período de imensa inflação.
Com o objetivo de tentar resolver esse problema, o Governo lançou um novo programa econômico que foi
atizado de Pla o Real . Este plano foi instituído por meio de uma medida provisória (MP 542/1994) que,
posteriormente, converteu-se na Lei n. 9.069/95.

Correção monetária dos contratos de aluguéis


A Lei n. 9.069/95 instituía uma nova moeda (o real) em substituição à que vigorava até então (cruzeiro
real) e previa uma série de medidas econômicas para que fosse possível fazer essa o ve são .
Dentre as medidas fixadas, uma causou polêmica: a referida Lei estabeleceu, em seu art. 21, critérios para
a conversão dos valores dos aluguéis e modificou a periodicidade dos reajustes nos contratos de locação
comercial. Em palavras simples, a Lei alterou os índices de correção monetária previstos nos contratos de
locação comercial que já existiam antes mesmo da sua vigência. Ex: João alugava um imóvel para a
e p esa ABC ; no contrato de locação comercial, assinado em 1990, havia uma cláusula dizendo que a
correção monetária dos aluguéis seria feita com base no í di e XXX ; a Lei veio e disse que agora o índice
deve ia se o YYY .

Direito adquirido e ato jurídico perfeito


Diversos contratantes propuseram ações judiciais alegando que a aplicação das regras do art. 21 da Lei n.
9.069/95 aos contratos em curso violaria a garantia constitucional de preservação do direito adquirido e
do ato jurídico perfeito, prevista no art. 5º, XXXVI, da CF/88 ( A lei não prejudicará o direito adquirido, o
ato jurídico perfeito e a coisa julgada ).

O que o STF decidiu? Houve ofensa ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito? O art. 21 da Lei n.
9.069/95 é inconstitucional?
NÃO. O art. 21 da Lei n. 9.069/95 foi um das medidas mais importantes do Plano Real, um dos seus
pilares essenciais, já que fixava critérios para a transposição das obrigações monetárias, inclusive
contratuais, do antigo para o novo sistema monetário.
Esse dispositivo é classificado como um preceito de ordem pública e tem natureza estatutária, ou seja, não
pode ser afastado por vontade das partes. Dessa forma, ele vincula necessariamente todos os seus
destinatários.
Considerando que a norma em questão tem natureza institucional estatutária, ele pode ser aplicado
imediatamente aos contratos que já existiam quando a Lei entrou em vigor. Não há inconstitucionalidade
nesta incidência imediata.
Vale ressaltar que o fato de o art. 21 se aplicar aos contratos em curso não significa que a Lei esteja sendo
aplicada retroativamente. É preciso diferenciar aplicação imediata de aplicação retroativa da Lei.

Aplicação retroativa
Haveria aplicação retroativa se a Lei incidisse sobre fatos ocorridos no passado (ex: se ela alterasse as
parcelas que já foram pagas antes de sua vigência).
A aplicação retroativa da Lei é inconstitucional, salvo se dela não resultar violação a direito adquirido, a
ato jurídico perfeito ou a coisa julgada (art. 5º, XXXVI, da CF/88).
Assim, é possível a incidência retroativa de uma lei nova que, por exemplo, melhore a situação do seu
destinatário.

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Aplicação imediata
Por outro lado, aplicação imediata é aquela que se dá sobre fatos presentes, atuais, não sobre fatos
passados.
Em princípio, não há vedação alguma a essa incidência, respeitada, evidentemente, a cláusula
constitucional do ato jurídico perfeito, do direito adquirido e da coisa julgada.
O art. 21 da Lei n. 9.069/95 determinou a aplicação imediata de suas regras de conversão aos contratos
em curso. Não houve aplicação retroativa, considerando que as parcelas já pagas não foram alteradas,
somente as que venceram a partir de sua vigência.

Não há violação a direito adquirido nem a ato jurídico perfeito na aplicação imediata
Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, a lei nova pode incidir
imediatamente sobre as cláusulas presentes no contrato desde que as normas legais sejam de natureza
cogente, ou seja, aquelas cujo conteúdo foge do domínio da vontade dos contratantes.
Assim, se estivermos diante de um contrato de trato sucessivo e execução diferida, se surgir uma lei nova
que determine, de forma cogente, sua aplicação imediata, os contratantes não podem invocar direito
adquirido ou ato jurídico perfeito com o objetivo de manter o teor das cláusulas na forma como
originalmente foram previstas no contrato.

Resumindo:
Considerando que as normas em questão, constantes do art. 21 da Lei n. 9.069/95, editadas no âmbito da
implantação de novo sistema monetário (Plano Real) têm natureza institucional ou estatutária (são
cogentes), não há inconstitucionalidade em sua aplicação imediata, podendo, portanto, disciplinar as
cláusulas de correção monetária presentes nos contratos em curso quando a lei entrou em vigor. Isso não
se confunde com aplicação retroativa.
Esse é o entendimento consolidado no STF:
(...) no que pertine aos contratos em curso, as normas de ordem pública instituidoras de novo padrão
monetário são de aplicação imediata, haja vista a necessidade de reequilibrar-se a relação jurídica
anteriormente estabelecida. (...)
(STF. 1ª Turma. RE 289912 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/12/2012)

DIREITO CIVIL

USUCAPIÃO
Pode ser deferida usucapião especial urbana ainda que a área do imóvel seja inferior ao módulo
mínimo dos lotes urbanos previsto no plano diretor

Determinada pessoa preencheu os requisitos para obter o direito à usucapião especial urbana,
prevista no art. 183 da CF/88. Ocorre que o juiz negou o pedido alegando que o plano diretor
da cidade proíbe a existência de imóveis urbanos registrados com metragem inferior a 100m2.
Em outras palavras, fixou que o módulo mínimo dos lotes urbanos naquele Município seria de
100m2 e, como a área ocupada pela pessoa seria menor que isso, ela não poderia registrar o
imóvel em seu nome.
A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei municipal impede
que a pessoa tenha direito à usucapião especial urbana?
NÃO. Se forem preenchidos os requisitos do art. 183 da CF/88, a pessoa terá direito à
usucapião especial urbana e o fato de o imóvel em questão não atender ao mínimo dos
módulos urbanos exigidos pela legislação local para a respectiva área (dimensão do lote) não é
motivo suficiente para se negar esse direito, que tem índole constitucional.

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Para que seja deferido o direito à usucapião especial urbana basta o preenchimento dos
requisitos exigidos pelo texto constitucional, de modo que não se pode impor obstáculos, de
índole infraconstitucional, para impedir que se aperfeiçoe, em favor de parte interessada, o
modo originário de aquisição de propriedade.
STF. Plenário. RE 422349/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/4/2015 (repercussão geral) (Info 783).

Usucapião especial urbana


Existem várias modalidades de usucapião.
A CF/88 prevê duas espécies:
a) a usucapião especial urbana (pro misero) (art. 183);
b) a usucapião especial rural (pro labore) (art. 191).

O julgado ora analisado diz respeito à usucapião especial urbana.

Requisitos da usucapião especial urbana


A usucapião especial urbana é prevista no art. 183 da CF/88, sendo também reproduzida no art. 1.240 do
CC e no art. 9º da Lei n. 10.257/2001.
Para se ter direito à usucapião especial urbana, é necessário preencher os seguintes requisitos:
a) 250m2: a pessoa deve estar na posse de uma área urbana de, no máximo, 250m2;
b) 5 anos: a pessoa deve ter a posse mansa e pacífica dessa área por, no mínimo, 5 anos ininterruptos,
sem oposição de ninguém;
c) Moradia: o imóvel deve estar sendo utilizado para a moradia da pessoa ou de sua família;
d) Não ter outro imóvel: a pessoa não pode ser proprietária de outro bem imóvel (urbano ou rural).

 Não se exige que a pessoa prove que tinha um justo título ou que estava de boa-fé;
Algumas observações:

 Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez;
 É possível usucapião especial urbana de apartamentos (nesse caso, quando for calcular se o tamanho
do imóvel é menor que 250m2 não se incluirá a área comum, como salão de festas etc, mas tão
somente a parte privativa);
 O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos,
independentemente do estado civil.

Feitos os esclarecimentos acima, imagine a seguinte situação hipotética:


João é possuidor, há mais de 5 anos, de uma área urbana de 50m2, que utiliza para a sua própria moradia.
Ele não tem o título de propriedade dessa área, mas lá mora todos esses anos sem oposição de ninguém.
Vale ressaltar também que ele não tem outro imóvel, seja urbano, seja rural.
Determinado dia, João procura a Defensoria Pública e esta ajuíza, em nome do autor, uma ação de
usucapião especial urbana pedindo que ele se torne proprietário da área.
O juiz julga improcedente o pedido alegando que João preenche os requisitos da usucapião especial
urbana previstos no art. 183 da CF/88, porém ele não poderia se tornar proprietário em virtude de o plano
di eto da idade Lei u i ipal XXX proibir que existam imóveis urbanos registrados com metragem
inferior a 100m2. Em outras palavras, o plano diretor da cidade, para fins de organização e planejamento
urbano, fixou que o módulo mínimo dos lotes urbanos naquele Município seria de 100m2 e, como a área
ocupada por João seria menor que isso, ele não poderia registrar o imóvel em seu nome.

A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei municipal impede que a
pessoa tenha direito à usucapião especial urbana?
NÃO. A decisão do juiz não foi correta. Segundo decidiu o STF, se forem preenchidos os requisitos do art.
183 da CF/88, a pessoa terá direito à usucapião especial urbana e o fato de o imóvel em questão não

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atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos pela legislação local para a respectiva área (dimensão
do lote) não é motivo suficiente para se negar esse direito, que tem índole constitucional.
Para que seja deferido o direito à usucapião especial urbana basta o preenchimento dos requisitos
exigidos pelo texto constitucional, de modo que não se pode impor obstáculos, de índole
infraconstitucional, para impedir que se aperfeiçoe, em favor de parte interessada, o modo originário de
aquisição de propriedade.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA
Criação de nova vara e perpetuatio jurisdictionis

Importante!!!
Em 2004, três Auditores-Fiscais do Trabalho foram assassinados na zona rural do Município
de Unaí (MG) em virtude do trabalho de fiscalização que vinham realizando no local.
Na época dos fatos, não havia vara federal em Unaí, motivo pelo qual a denúncia do MPF foi
recebida pelo juízo da 9ª Vara Federal de Belo Horizonte (MG).
Alguns anos depois, foi criada a Vara Federal de Unaí (MG) e, em razão disso, o juízo da 9ª Vara
Federal de Belo Horizonte declinou a competência para julgar o processo para a recém criada
Vara Federal.
Tanto o STF como o STJ discordaram da decisão declinatória e reafirmaram o entendimento de
que a criação superveniente de vara federal na localidade de ocorrência de crime doloso
contra a vida não enseja a incompetência do juízo em que já se tenha iniciado a ação penal.
Incide, no caso, o princípio da perpetuatio jurisdictionis que, apesar de só estar previsto no
CPC (art. 87 do CPC 1973 / art. 43 do CPC 2015), é aplicável também ao processo penal por
força do art. 3º do CPP.
Assim, o juízo da Vara de Belo Horizonte, que recebeu a denúncia (iniciando a ação penal),
continua sendo competente para julgar o processo mesmo tendo sido criada nova vara.
STF. 1ª Turma. HC 117871/MG e HC 117832/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Rosa
Weber, julgados em 28/4/2015 (Info 783).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Em 2004, três Auditores-Fiscais do Trabalho foram assassinados na zona rural do Município de Unaí (MG)
em virtude do trabalho de fiscalização que vinham realizando no local.
Como o homicídio foi praticado contra servidores públicos federais em razão do serviço por eles
desempenhado, a competência para julgar o delito é da Justiça Federal (art. 109, IV, da CF/88).
Na época dos fatos, não havia vara federal em Unaí, motivo pelo qual a denúncia do MPF foi recebida pelo
juízo da 9ª Vara Federal de Belo Horizonte (MG).
Alguns anos depois, foi criada a Vara Federal de Unaí (MG) e, em razão disso, o juízo da 9ª Vara Federal de
Belo Horizonte declinou a competência para julgar o processo para a recém criada Vara Federal.

A decisão do juízo federal de declinar a competência foi correta, segundo o entendimento do STF e STJ?
NÃO. A criação superveniente de vara federal na localidade de ocorrência de crime doloso contra a vida
não enseja a incompetência do juízo em que já se tenha iniciado a ação penal.
Incide, no caso, a figura da perpetuatio jurisdictionis , que é aplicável também ao processo penal.
Assim, o juízo da Vara de Belo Horizonte, que recebeu a denúncia (iniciando a ação penal), continua sendo
competente para julgar o processo mesmo tendo sido criada nova vara.

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A criação de novas varas faz com que o juízo criminal onde se iniciou a ação penal perca a competência
para continuar julgando o processo?
REGRA: NÃO.
Em regra, a criação de novas varas, por intermédio de modificações na lei de organização judiciária, não
altera a competência territorial do juízo criminal no qual já foi instaurado o processo.
Vigora o princípio da pe petuatio ju isdi tio is (perpetuação da jurisdição), previsto no art. 87 do CPC
1973 (art. 43 do CPC 2015) e que pode ser aplicado ao processo penal por força do art. 3º do CPP.
Segundo esse princípio, uma vez iniciado o processo penal perante determinado juízo, nele deve
prosseguir até seu julgamento. Assim, depois que o processo se iniciou perante um juízo, as modificações
que ocorrerem serão consideradas, em regra, irrelevantes para fins de competência.

EXCEÇÕES:
Existem duas mudanças que irão influenciar na competência, ou seja, duas situações em que o juízo que
começou a ação penal deixará de ser competente para continuar o processo por força de fatos
supervenientes. Veja:

a) Supressão do órgão judiciário: a lei (ou a CF) extingue o órgão judiciário (juízo) que era competente
para aquele processo.
Ex1: imaginemos que viesse uma lei federal extinguindo a 9ª vara federal de BH.
Ex2: a EC 45/2004 extinguiu os Tribunais de Alçada e todos os recursos ali existentes foram
redistribuídos.

b) Alteração da competência absoluta: pode acontecer de determinadas modificações do estado de fato


ou de direito alterarem as regras de competência absoluta para julgar aquele crime.
Ex1: imaginemos que viesse uma EC retirando da Justiça Federal a competência para julgar delitos
contra servidores públicos federais no exercício de suas funções;
Ex2: o crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil, ainda que cometido em serviço,
deixou de ser considerado crime militar e passou a ser crime comum por força da Lei n. 9.299/96, que
alterou o art. 9º, parágrafo único, do CPM;
Ex3: se um réu está sendo processado criminalmente em 1ª instância e é eleito Deputado Federal, a
partir do momento em que ocorrer a sua diplomação, o juízo de 1ª instância deixará de ser
competente para o processo e deverá remetê-lo ao STF.

A regra e as exceções estão previstas no art. 87 do CPC 1973 (art. 43 do CPC 2015) que, como vimos,
aplica-se ao processo penal em virtude do art. 3º do CPP:
Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as
modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão
judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia.

Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo
irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando
suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.

Se você reparar, o novo CPC mantém a ideia geral do princípio da perpetuatio , mas melhora a redação
do dispositivo. Em vez de falar em alteração de competência em razão da matéria ou da hierarquia, ele
fala em alteração da competência absoluta. Isso porque matéria e hierarquia são critérios da competência
absoluta. Logo, melhor mencionar o gênero porque engloba as duas referidas, além de outras situações.

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Voltando ao caso concreto
O STJ e o STF entenderam que a competência para julgar os homicídios continua sendo da vara federal de
Belo Horizonte (MG) porque este juízo, ao receber a denúncia, perpetuou-se na jurisdição, nos termos do
art. 87 do CPC 1973 (art. 43 do CPC 2015), que é aplicável ao processo penal por força do art. 3º do CPP.
Como argumento adicional, vale ressaltar que os outros corréus, também acusados dos crimes em
questão, já foram até julgados pelo juízo da vara federal de Belo Horizonte (MG). Portanto, eventual
deslocamento do processo-crime para Unaí/MG seria temeroso, uma vez que poderia comprometer o
princípio da isonomia no julgamento dos envolvidos, que deve ser observado nesses casos.
Veja precedentes do STJ e STF nesse sentido:
(...) I - A criação de nova vara federal com jurisdição sobre o município onde se deu a infração não implica
em incompetência superveniente do juízo em que se iniciou a ação penal.
II - Por força do art. 3º do Código de Processo Penal, aplica-se ao caso o disposto no art. 87 do Código de
Processo Civil, levando à perpetuação do foro em respeito ao princípio constitucional do juiz natural. (...)
(STJ. 5ª Turma. HC 63.720/DF, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 05/10/2006)

(...) A criação de novas varas, em virtude de modificação da Lei de Organização Judicial local, não implica
incompetência superveniente do juízo em que se iniciou a ação penal.
2. O art. 87 do Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente ao processo penal, leva à perpetuação
do foro, em respeito ao princípio do juiz natural. (...)
(STF. Plenário. RHC 83181, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Joaquim Barbosa, julgado em 06/08/2003)

PRISÃO E LIBERDADE
Decisão no HC que substituiu a prisão preventiva dos réus da operação Lava Jato por outras
medidas cautelares (art. 319 do CPP)

O STF concedeu parcialmente a ordem em habeas corpus para os réus da operação Lava
Jato substituindo a prisão preventiva por outras medidas cautelares (art. 319 do CPP).
A prisão é a medida acauteladora mais grave no processo penal, razão pela qual somente deve
ser decretada quando absolutamente necessária.
A prisão somente é legítima em situações nas quais seja o único meio eficiente para preservar
os valores jurídicos que a lei penal visa a proteger, segundo o art. 312 do CPP (garantia da
ordem pública, da ordem econômica, conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal). Fora dessas hipóteses excepcionais, a prisão representa mera
antecipação de pena, o que é inadmissível.
O STF entendeu que o fato de o réu ser dirigente de empresa com filial no exterior e de fazer
constantemente viagens internacionais, por si só, não é suficiente para a decretação da preventiva.
Não há risco à conveniência da instrução penal, considerando que a instrução criminal está
praticamente concluída, tendo sido colhida toda a prova acusatória, e resta apenas a tomada
de alguns depoimentos da defesa.
Por mais graves e reprováveis que sejam as condutas praticadas, isso não é suficiente para
justificar a prisão processual. Da mesma maneira, não é legítima a decretação da preventiva
unicamente com o argumento da credibilidade das instituições públicas. Ainda que a
sociedade esteja, justificadamente, indignada com a notícia dos crimes em comento, a exigir
resposta adequada do Estado, também deve compreender que a credibilidade das instituições
somente se fortalece na exata medida em que seja capaz de manter o regime de estrito
cumprimento da lei, seja na apuração e julgamento dos delitos, seja na preservação dos
princípios constitucionais em jogo.
STF. 2ª Turma. HC 127186/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/4/2015 (Info 783).

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Operação Lava Jato
O ha eas o pus a ui a alisado é efe e te à ha ada ope ação Lava Jato .
O juiz federal da vara federal de Curitiba (PR) decretou a prisão preventiva de um dos réus e este, por
meio de sucessivos habeas corpus, levou a questão à apreciação do STF.
Neste julgado foi decidido apenas se este réu teria ou não direito de aguardar o julgamento do processo
em liberdade.

O que o STF decidiu?


A 2ª Turma do STF, po aio ia, o edeu pa ial e te a o de e ha eas o pus pa a su stitui a
prisão preventiva imposta ao paciente pelas seguintes medidas cautelares:
a) afastamento da direção e da administração das empresas envolvidas nas investigações, ficando proibido
de ingressar em quaisquer de seus estabelecimentos, e suspensão do exercício profissional de atividade de
natureza empresarial, financeira e econômica;
b) recolhimento domiciliar integral até que demonstre ocupação lícita, quando terá direito ao
recolhimento domiciliar apenas em período noturno e nos dias de folga;
c) comparecimento quinzenal em juízo, para informar e justificar atividades, com proibição de mudar de
endereço sem autorização;
d) obrigação de comparecimento a todos os atos do processo, sempre que intimado;
e) proibição de manter contato com os demais investigados, por qualquer meio;
f) proibição de deixar o país, devendo entregar passaporte em até 48 horas; e
g) monitoração por meio de tornozeleira eletrônica.

As medidas cautelares diversas da prisão estão previstas no art. 319 do CPP.

Segundo determina o CPP, a prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua
substituição por um ou algumas das medidas cautelares previstas no art. 319. Em outras palavras, a
primeira opção do magistrado deve ser impor uma das medidas do art. 319. Apenas se estas não forem
suficientes para o caso concreto é que o juiz deverá decretar a prisão preventiva (art. 282, § 6º do CPP).

No caso concreto, o STF entendeu que as medidas cautelares acima listadas eram suficientes e que a
prisão do empresário não se fazia necessária. Veja abaixo o resumo dos argumentos:

Prisão como medida cautelar mais grave


A prisão é a medida acauteladora mais grave no processo penal, razão pela qual somente deve ser
decretada quando absolutamente necessária.
A prisão somente é legítima em situações nas quais seja o único meio eficiente para preservar os valores
jurídicos que a lei penal visa a proteger, segundo o art. 312 do CPP (garantia da ordem pública, da ordem
econômica, conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal).
Fora dessas hipóteses excepcionais, a prisão representa mera antecipação de pena, o que é inadmissível
segundo a jurisprudência do STF.
Ademais, a prisão preventiva pressupõe prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
Por mais grave que seja o delito apurado e por mais robusta que seja a prova colhida, esses pressupostos
não bastam para justificar a prisão preventiva. Além disso, exige-se sempre em conjunto um dos seguintes
fundamentos:
a) garantia da ordem pública;
b) garantia da ordem econômica;
c) conveniência da instrução criminal; ou
d) segurança da aplicação da lei penal.

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A eventual decretação da prisão preventiva não deveria antecipar o juízo de culpa ou de inocência, sequer
pode servir de antecipação da reprimenda. Esse juízo deve ser feito apenas na sentença final.

Há, ainda, outra premissa: em qualquer dessas situações, além da demonstração concreta e objetiva dos
requisitos do art. 312 do CPP, é indispensável a evidência de que nenhuma das medidas alternativas do
art. 319 do mesmo diploma é apta para, no caso concreto, atender eficazmente aos mesmos fins (art. 282,
§ 6º do CPP).

Análise dos requisitos no caso concreto


A Turma entendeu que, no caso concreto, a decisão do juiz que decretou a prisão (decreto prisional) fez
uma análise minuciosa da materialidade delitiva e dos indícios de autoria.
No entanto, não estariam presentes os fundamentos específicos do art. 312 do CPP acima mencionados.

Risco à aplicação da lei penal (possibilidade de fuga)


A decisão mencionou que os investigados são dirigentes de empresas com filiais e recursos econômicos
mantidos no exterior e que faziam frequentes viagens internacionais, o que representaria risco de fuga.
O STF não concordou com o argumento e afirmou que isso não representaria a indicação de atos
concretos e específicos que demonstrem que o paciente tenha intenção de furtar-se à lei penal.
O fato de ser dirigente de empresa com filial no exterior, por si só, não é suficiente para a decretação da
preventiva.
A decisão do juiz está calcada, portanto, na presunção de que o paciente, por poder fugir, o faria,
fundamento que é rechaçado pela jurisprudência do STF.

Conveniência da instrução penal


Outro fundamento invocado na decisão do juiz foi o de que a prisão seria necessária para a conveniência
da instrução penal, pois teria ocorrido ameaça a testemunhas, juntada de documentação fraudulenta em
juízo e cooptação de agentes públicos.
Essas razões invocadas, a princípio, autorizariam a custódia cautelar. Ocorre que o decreto prisional
considerou tais circunstâncias presentes na época em que a decisão foi prolatada e o STF entendeu que,
atualmente, tais circunstâncias não persistiriam e não se revestiriam da mesma gravidade de antes.
A instrução criminal está praticamente concluída, tendo sido colhida toda a prova acusatória, e resta
apenas a tomada de alguns depoimentos da defesa. Assim, no que se refere à garantia da instrução, a
prisão preventiva exauriu sua finalidade.

Garantia da ordem pública


Por mais graves e reprováveis que sejam as condutas praticadas, isso não é suficiente para justificar a
prisão processual. Da mesma maneira, não é legítima a decretação da preventiva unicamente com o
argumento da credibilidade das instituições públicas. Ainda que a sociedade esteja, justificadamente,
indignada com a notícia dos crimes em comento, a exigir resposta adequada do Estado, também deve
compreender que a credibilidade das instituições somente se fortalece na exata medida em que seja capaz
de manter o regime de estrito cumprimento da lei, seja na apuração e julgamento dos delitos, seja na
preservação dos princípios constitucionais em jogo.

Outras considerações
Se num primeiro momento a prisão cautelar se mostrava indispensável, com o decurso do tempo a
medida extrema não tem mais essa qualidade, podendo ser eficazmente substituída por medidas
alternativas.
Há de se considerar também outras circunstâncias: a) os fatos imputados ocorreram entre 2006 e 2014; b)
a prisão preventiva perdura por aproximadamente seis meses; c) as empresas controladas pelo réu estão
impedidas de contratar com a Petrobrás; e d) houve o afastamento formal do réu da direção dessas
empresas, com o consequente afastamento do exercício de atividades empresariais.

Informativo 783-STF (11/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


O quadro demonstra, portanto, que os riscos, tanto no tocante à conveniência da instrução criminal
quanto no que se refere à garantia da ordem pública estão consideravelmente reduzidos, se comparados
aos indicados no decreto de prisão.

Outros réus
A Turma enfatizou que já foram aplicadas medidas acauteladoras diversas da prisão para outros
investigados com situação análoga à do paciente, tendo elas se mostrado de forma eficaz.
Embora o paciente não tenha se disponibilizado à colaboração premiada, essa circunstância não é motivo
relevante porque a prisão processual não pode servir de instrumento para obter colaboração por parte do
preso.

Votos contrários
Votaram pela liberdade do réu: Min. Teori Zavascki, Min. Gilmar Mendes e Min. Dias Toffoli.
Votaram pela manutenção da prisão: Min. Cármen Lúcia e Min. Celso de Mello

Extensão para outros réus


A Turma decidiu, com base no art. 580 do CPP, estender os efeitos desta decisão aos outros investigados
da ope ação Lava Jato que estejam presos preventivamente com base nos mesmos fundamentos.
Ressaltou-se, no entanto, que existem réus presos por outros motivos, de modo que, quanto a esses, não
caberia a extensão.

DIREITO DO TRABALHO
PLANO DE DISPENSA INCENTIVADA
Plano de dispensa incentivada e validade da quitação ampla de parcelas contratuais

Importante!!!
A transação extrajudicial que importa rescisão de contrato de trabalho, em razão de adesão
voluntária do empregado a plano de dispensa incentivada, enseja quitação ampla e irrestrita
de todas as parcelas objeto do contrato de emprego, caso essa condição tenha constado
expressamente do acordo coletivo que aprovou o plano, bem como dos demais instrumentos
celebrados com o empregado.
STF. Plenário. RE 590415/SC e RE 590415 AgR/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
30/4/2015 (repercussão geral) (Info 783).

Imagine a seguinte situação:


O banco XXX estava passando por dificuldades e resolveu demitir inúmeros funcionários.
O banco celebrou, então, um acordo coletivo com o sindicato dos trabalhadores comprometendo-se a
oferecer um Programa de Desligamento Incentivado (PDI), por meio do qual os empregados que
aceitassem o PDI receberiam determinado valor a título de verbas trabalhistas e dariam quitação ampla de
todas as parcelas decorrentes da relação de emprego, renunciando, assim, a quaisquer outras parcelas
eventualmente devidas.
João, empregado do banco, aderiu ao PDI.
Ocorre que depois de ter recebido a quantia, João ajuizou reclamação questionando a validade da cláusula
segundo a qual ele renunciava os demais direitos e pleiteando outras verbas que seriam, em tese, devidas.

Informativo 783-STF (11/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


A questão jurídica posta é, portanto, a seguinte: é válida a renúncia genérica a direitos contida em
termo de adesão ao Programa de Desligamento Incentivado (PDI) com chancela sindical e previsto em
norma de acordo coletivo?
SIM. O STF entendeu que, nos casos de Planos de Dispensa Incentivada – os chamados PDIs –, é válida a
cláusula que dá quitação ampla e irrestrita de todas as parcelas decorrentes do contrato de emprego,
desde que este item conste de Acordo Coletivo de Trabalho e dos demais instrumentos assinados pelo
empregado.

Quando se trata de acordo coletivo, não incide a regra do art. 477, § 2º da CLT, que restringe a eficácia
liberatória da quitação aos valores e às parcelas discriminadas no termo de rescisão exclusivamente:
Art. 477. É assegurado a todo empregado, não existindo prazo estipulado para a terminação do respectivo
contrato, e quando não haja ele dado motivo para cessação das relações de trabalho, o direto de haver do
empregador uma indenização, paga na base da maior remuneração que tenha percebido na mesma
empresa.
(...)
§ 2º - O instrumento de rescisão ou recibo de quitação, qualquer que seja a causa ou forma de dissolução
do contrato, deve ter especificada a natureza de cada parcela paga ao empregado e discriminado o seu
valor, sendo válida a quitação, apenas, relativamente às mesmas parcelas.

No âmbito do direito coletivo do trabalho não se verifica a mesma situação de assimetria de poder
presente nas relações individuais de trabalho. Como consequência, a autonomia coletiva da vontade não
se encontra sujeita aos mesmos limites da autonomia individual.

O art. 7º, XXVI, da CF/88 prestigia a autonomia coletiva da vontade e a autocomposição dos conflitos
trabalhistas, de forma a acompanhar a tendência mundial ao crescente reconhecimento dos mecanismos
de negociação coletiva, retratada na Convenção 98/1949 e na Convenção 154/1981 da Organização
Internacional do Trabalho. Assim, o reconhecimento dos acordos e convenções coletivas permite que os
trabalhadores contribuam para a formulação das normas a reger sua própria vida.

Os planos de dispensa incentivada permitem reduzir as repercussões sociais das dispensas, assegurando
àqueles que optem por seu desligamento da empresa condições econômicas mais vantajosas do que
aquelas que decorram da mesma dispensa por decisão do empregador.

É importante que seja assegurada a credibilidade dos planos, para preservar a sua função protetiva e não
desestimular o seu uso.

Os planos de dispensa incentivada têm se tornado, em alguns cenários econômicos, alternativa social
relevante para atenuar o impacto de dispensas em massa por oferecerem, em regra, condições mais
favoráveis que aquelas que ordinariamente o trabalhador receberia.

Por todo o exposto, o STF fixou a seguinte tese, em sede de repercussão geral, e que valerá para os demais
asos se elha tes: a transação extrajudicial que importa rescisão do contrato de trabalho em razão de
adesão voluntária do empregado a plano de dispensa incentivada enseja quitação ampla e irrestrita de
todas as parcelas objeto do contrato de emprego, caso essa condição tenha constado expressamente do
acordo coletivo que aprovou o plano, bem como dos demais instrumentos celebrados com o empregado .

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EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) (Promotor MP/BA 2015) Dar-se-á a usucapião especial de imóvel urbano quando o interessado possuir
como sua área ou edificação urbana de até 200 (duzentos metros) quadrados, por 5 (cinco) anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirindo-se,
assim, o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. ( )
2) (Juiz TJ/SP 2013) Sobre o imóvel urbano de 350 m² que, sem interrupção e nem oposição, está na posse
de Cícero desde fevereiro de 2003, tanto que nele construiu casa pré-fabricada de madeira, onde
habita com sua família, é correto dizer que
A) em fevereiro de 2005, a usucapião especial se consumaria.
B) em 2008, já poderia ter sido usucapido de acordo com a regra da usucapião especial urbana.
C) poderia ser usucapido somente em 2018, de acordo com a regra da usucapião ordinária do Código Civil.
D) em fevereiro de 2013, Cícero já pode ajuizar a ação de usucapião para ver reconhecido seu direito de
propriedade sobre o imóvel.
3) A criação superveniente de vara federal na localidade de ocorrência de crime doloso contra a vida não
enseja a incompetência do juízo em que já se tenha iniciado a ação penal. ( )

Gabarito
1. E 2. Letra D 3. C

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de27 de abril a 1 de maio de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 870.947-SE


RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS INCIDENTE SOBRE
CONDENAÇÕES JUDICIAIS DA FAZENDA PÚBLICA. ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494/97 COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.960/09.
TEMA 810. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 868.457-SC
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. JUIZADOS ESPECIAIS. OFENSA
AO PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO (ART. 97 DA CF/88). ALEGAÇÃO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. REVISÃO DE
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. EFEITOS FINANCEIROS RETROATIVOS. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL.1. O princípio da reserva de plenário não se aplica no âmbito dos juizados de pequenas causas (art. 24, X, da Constituição
Federal) e dos juizados especiais em geral (art. 98, I, da CF/88), que, pela configuração atribuída pelo legislador, não funcionam, na esfera recursal,
sob o regime de plenário ou de órgão especial. 2. A manifesta improcedência da alegação de ofensa ao art. 97 da Carta Magna pela Turma Recursal de
Juizados Especiais demonstra a ausência da repercussão geral da matéria, ensejando a incidência do art. 543-A do CPC.3. É de natureza
infraconstitucional a controvérsia relativa à legitimidade da retroação dos efeitos financeiros da revisão de benefício previdenciário, nas hipóteses em
que o segurado preencheu, na data de entrada do requerimento administrativo, os requisitos para a concessão de prestação mais vantajosa.4. É cabível
a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando eventual
ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/03/2009). 5. Ausência de repercussão
geral das questões suscitadas, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 665.632-RN
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. MILITARES DAS FORÇAS ARMADAS E DO DISTRITO
FEDERAL (POLICIAIS E BOMBEIROS MILITARES). EQUIPARAÇÃO DE VENCIMENTOS. ILEGITIMIDADE. VEDAÇÃO DO ART. 37,
XIII, DA CF/88. PRECEDENTES. REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA SOBRE A
MATÉRIA.1. É improcedente a demanda visando ao pagamento dos soldos dos integrantes das Forças Armadas no mesmo patamar da remuneração
devida aos militares do Distrito Federal. Isto porque, a pretensão fundamenta-se no art. 24 do Decreto-Lei 667/69 que, reproduzindo vedação
constante do art. 13, § 4º, da Constituição de 1967, na redação da EC 1/69, proíbe o pagamento de remuneração superior à fixada para os postos e
graduações correspondentes no Exército ao pessoal das Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares das Unidades da Federação.2. Salienta-se
que o impedimento do art. 13, § 4º, da Constituição de 1967, na redação da EC 1/69, não foi mantido na Constituição de 1988, cujos arts. 42, § 1º, e

Informativo 783-STF (11/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


142, § 3º, X, limitam-se a conferir aos Estados a competência para fixar, mediante lei estadual específica, a remuneração dos militares integrantes dos
quadros das suas Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares.
3. Já os arts. 42, § 1º, e 142, § 3º, X, da Carta Magna não se aplicam ao Distrito Federal, cujas Polícias Civil e Militar e Corpo de Bombeiros Militar,
por disposição do art. 21, XIV, da CF/88, são organizadas e mantidas pela União, a quem compete privativamente legislar sobre o vencimento dos
integrantes de seus respectivos quadros. A propósito, há entendimento sumulado: “compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos
membros das Polícias Civil e Militar do Distrito Federal” (Súmula 647/STF, cuja orientação foi recentemente adotada pela Súmula Vinculante 39).4.
O art. 37, XIII, da CF/88 coíbe a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias no âmbito do serviço público. Destarte, a pretensão
dos recorrentes se afigura evidentemente incompatível com a Constituição Federal de 1988, uma vez que importa a equiparação de vencimentos entre
os integrantes das Forças Armadas e os militares do Distrito Federal. Precedentes de ambas as Turmas em casos idênticos: ARE 652.202-AgR, Rel.
Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, DJe de 17/9/2014; ARE 651.415-AgR, Rel. Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe de 25/4/2012.5.
Agravo conhecido para negar provimento ao recurso extraordinário, com o reconhecimento da repercussão geral do tema e a reafirmação da
jurisprudência sobre a matéria.

CLIPPING DO D JE
27 de abril a 1º de maio de 2015

EMB. DECL. NO ARE N. 858.250-SP


RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Embargos de declaração no recurso extraordinário com agravo. Conversão dos embargos declaratórios em agravo regimental. Direito
civil. Dano material. Indenização. Prequestionamento. Ausência. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade. Legislação infraconstitucional. Ofensa
reflexa. Precedentes.1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental.2. Não se admite o recurso extraordinário quando o dispositivo
constitucional que nele se alega violado não está devidamente prequestionado. Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF. 3. Inadmissível, em
recurso extraordinário, o reexame dos fatos e das provas dos autos ou a análise da legislação infraconstitucional. Incidência das Súmulas nºs 279 e
636/STF. 4. Agravo regimental não provido.

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Impeachment – Denúncia – Controle Prévio – Interpretação Regimental – Mandado de Segurança – Incognoscibilidade


MS 33558/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. DENÚNCIA CONTRA A PRESIDENTE DA REPÚBLICA. PRINCÍPIO DA LIVRE
DENUNCIABILIDADE POPULAR (Lei nº 1.079/50, art. 14). IMPUTAÇÃO DE CRIME DE RESPONSABILIDADE À CHEFE DO PODER
EXECUTIVO DA UNIÃO. NEGATIVA DE SEGUIMENTO POR PARTE DO PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS.
RECURSO DO CIDADÃO DENUNCIANTE AO PLENÁRIO DESSA CASA LEGISLATIVA. DELIBERAÇÃO QUE DEIXA DE
ADMITIR REFERIDA MANIFESTAÇÃO RECURSAL. IMPUGNAÇÃO MANDAMENTAL A ESSE ATO EMANADO DO
PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. RECONHECIMENTO, NA ESPÉCIE, DA COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA O PROCESSO E O JULGAMENTO DA CAUSA MANDAMENTAL. PRECEDENTES. A
QUESTÃO DO “JUDICIAL REVIEW” E O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES. ATOS “INTERNA CORPORIS” E
DISCUSSÕES DE NATUREZA REGIMENTAL: APRECIAÇÃO VEDADA AO PODER JUDICIÁRIO, POR TRATAR-SE DE TEMA
QUE DEVE SER RESOLVIDO NA ESFERA DE ATUAÇÃO DO PRÓPRIO CONGRESSO NACIONAL OU DAS CASAS
LEGISLATIVAS QUE O COMPÕEM. PRECEDENTES. MANDADO DE SEGURANÇA NÃO CONHECIDO.
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado contra o Senhor Presidente da Câmara dos Deputados,
com o objetivo de questionar a validade jurídica de decisão que negou seguimento à denúncia que o ora impetrante, na condição de cidadão (Lei
nº 1.079/50, art. 14), formulou contra a Senhora Presidente da República, imputando-lhe a suposta prática de crimes de responsabilidade.
Busca-se, em síntese, na presente impetração, seja reconhecido “(...) o direito do Impetrante de recorrer ao Plenário da Câmara dos
Deputados em face da decisão do Presidente da Câmara que indeferiu o recebimento de denúncia contra a Presidente da República por crime
responsabilidade”.
O Senhor Presidente da Câmara dos Deputados, autoridade apontada como coatora, ao negar seguimento ao recurso interposto pelo ora
impetrante, apoiou-se nos seguintes fundamentos:
“Reportando-se ao expediente em epígrafe, informo a Vossa Senhoria que somente Deputados no exercício do mandato têm
legitimidade para interpor recurso no âmbito desta Casa, a teor dos arts. 100, § 1º, e 226, I, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados
– RICD.
Outrossim, esclareço que compete a esta Presidência aferir o cumprimento dos requisitos formais previstos nos arts. 14 e 16 da Lei n.
1.079/1950 e a existência de justa causa para a instauração de processo de ‘impeachment’, nos termos do art. 19 dessa Lei, do art. 218,
‘caput’ e §§ 1º e 2º, do RICD e da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (Agravo Regimental no Mandado de Segurança n. 30.672,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Plenário, DJe 18.10.2011; Mandado de Segurança n. 23.885. Rel. Min. Carlos Velloso, Plenário, DJ
20.9.2002; Mandado de Segurança n. 20.941, Red. p/ acórdão Min. Sepúlveda Pertence, Plenário, DJ 31.8.1992).” (grifei)

Informativo 783-STF (11/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


Assinalo, desde logo, a competência originária do Supremo Tribunal Federal para processar e julgar a presente causa mandamental, não
obstante anterior julgamento proferido no MS 23.977/DF, Rel. Min. CEZAR PELUSO, eis que esta Suprema Corte, em sucessivas decisões, tem
reconhecido a competência originária deste Tribunal para apreciar ação de mandado de segurança ajuizada com o objetivo de questionar
comportamento ativo ou omissivo atribuído ao Presidente da Câmara dos Deputados (MS 26.602/DF, Rel. Min. EROS GRAU – MS 26.603/DF,
Rel. Min. CELSO DE MELLO – MS 27.938/DF, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – MS 30.589/DF, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, v.g.):
“CONSTITUCIONAL. ‘IMPEACHMENT’: PRESIDENTE DA REPÚBLICA: DENÚNCIA: CÂMARA DOS DEPUTADOS.
PRESIDENTE DA CÂMARA: COMPETÊNCIA.
I. – ‘Impeachment’ do Presidente da República: apresentação da denúncia à Câmara dos Deputados: competência do Presidente
desta para o exame liminar da idoneidade da denúncia popular, ‘que não se reduz à verificação das formalidades extrínsecas e da
legitimidade de denunciantes e denunciados, mas se pode estender (...) à rejeição imediata da acusação patentemente inepta ou despida de
justa causa, sujeitando-se ao controle do Plenário da Casa, mediante recurso (...)’. MS 20.941-DF, Sepúlveda Pertence, ‘DJ’ de 31.08.92.
II. – M.S. indeferido.”
(MS 23.885/DF, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – grifei)
Definida, assim, a competência originária deste Tribunal, passo a analisar o pleito formulado na presente causa. E, ao fazê-lo, entendo não
assistir razão à parte impetrante, eis que os fundamentos em que se apoia o ato ora impugnado ajustam-se, integralmente, à orientação
jurisprudencial que o Plenário desta Suprema Corte veio a firmar a propósito do tema em análise (MS 20.941/DF, Red. p/ o acórdão Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE – MS 21.754-AgR/RJ, Red. p/ o acórdão Min. FRANCISCO REZEK – MS 30.672-AgR/DF, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI – MS 32.930/DF, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, v.g.):
“Agravo Regimental em Mandado de Segurança. 2. Oferecimento de denúncia por qualquer cidadão imputando crime de
responsabilidade ao Presidente da República (artigo 218 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados). 3. Impossibilidade de
interposição de recurso contra decisão que negou seguimento à denúncia. Ausência de previsão legal (Lei 1.079/50). 4. A interpretação e a
aplicação do Regimento Interno da Câmara dos Deputados constituem matéria ‘interna corporis’, insuscetível de apreciação pelo Poder
Judiciário. 5. Agravo regimental improvido.”
(MS 26.062-AgR/DF, Rel. Min. GILMAR MENDES – grifei)
Cumpre destacar, por oportuno, no sentido ora exposto e ante a inquestionável procedência de suas observações, a decisão proferida, em
caso idêntico, pelo eminente Ministro JOAQUIM BARBOSA (MS 26.074/DF):
“No presente caso, o impetrante invoca suposto direito líquido e certo a ver processado o recurso interposto contra decisão do
Presidente da Câmara dos Deputados que negou curso a pedido de ‘impeachment’ do presidente da República, na forma de seu regimento
interno.
Como ficou demonstrado nas informações, a não admissão do mencionado recurso interposto pelo impetrante no âmbito da Câmara
dos Deputados deve-se à interpretação sistemática do regimento interno daquela Casa. Isso porque não existe previsão constitucional ou
legal para o mencionado recurso, que tem previsão apenas no § 3º do art. 218 do regimento interno da Câmara. Observo, por outro lado, que
a Lei 1.079/1950 prevê apenas a possibilidade de qualquer cidadão formular denúncia contra o presidente da República perante
a Câmara dos Deputados, não prevendo, porém, qualquer recurso contra a decisão que o rechace.
A presente impetração tem como objeto questão jurídica consistente em determinar a interpretação e o alcance de normas do
regimento interno da Câmara dos Deputados. Ora, questões atinentes exclusivamente à interpretação e à aplicação dos regimentos das
casas legislativas constituem matéria ‘interna corporis’, da alçada exclusiva da respectiva Casa.
…..............................................................................................................
Do exposto, com fundamento no art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, nego seguimento ao presente
mandado de segurança. Fica prejudicada a análise do pedido de medida liminar.” (grifei)
A existência de mencionados precedentes revela-se bastante para justificar o não conhecimento da presente ação de mandado de segurança,
especialmente se se tiver em consideração o fato de que se acha excluída da esfera de competência do Poder Judiciário a possibilidade de revisão de
atos “interna corporis”, como se qualificam aqueles que se cingem à interpretação e à aplicação de normas regimentais.
A deliberação ora questionada nesta sede mandamental exauriu-se no domínio estrito do regimento legislativo, circunstância essa que torna
inviável a possibilidade jurídica de qualquer atuação corretiva do Poder Judiciário, constitucionalmente proibido de interferir na intimidade dos
demais Poderes da República, notadamente quando provocado a invalidar atos que, desvestidos de transcendência constitucional, traduzem mera
aplicação de critérios regimentais.
Não custa rememorar, por oportuno, que a correção de desvios exclusivamente regimentais, por refletir tema subsumível à noção de atos
“interna corporis”, refoge ao âmbito do controle jurisdicional, como tem decidido esta Suprema Corte
(MS 22.494/DF, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA – MS 22.503/DF, Red. p/ o acórdão Min. MAURÍCIO CORRÊA – MS 23.920-MC/DF, Rel. Min. CELSO
DE MELLO, v.g.):
“MANDADO DE SEGURANÇA.
PROCESSO LEGISLATIVO NO CONGRESSO NACIONAL.
‘INTERNA CORPORIS’.
Matéria relativa a interpretação, pelo presidente do congresso nacional, de normas de regimento legislativo é imune a critica
judiciária, circunscrevendo-se no domínio ‘interna corporis’.
Pedido de segurança não conhecido.”
(MS 20.471/DF, Rel. Min. FRANCISCO REZEK – grifei)
“Mandado de segurança que visa a compelir a Presidência da Câmara dos Deputados a acolher requerimento de urgência-
urgentíssima para discussão e votação imediata de projeto de resolução de autoria do impetrante.
– Em questões análogas à presente, esta Corte (assim nos MS 20.247 e 20.471) não tem admitido mandado de segurança contra atos
do Presidente das Casas Legislativas, com base em regimento interno delas, na condução do processo de feitura de leis.
Mandado de segurança indeferido.”
(MS 21.374/DF, Rel. Min. MOREIRA ALVES – grifei)
“8. Não cabe, no âmbito do mandado de segurança, também discutir deliberação, ‘interna corporis’, da Casa Legislativa. Escapa ao
controle do Judiciário, no que concerne a seu mérito, juízo sobre fatos que se reserva, privativamente, à Casa do Congresso Nacional
formulá-lo. 9. Mandado de segurança indeferido.”
(MS 23.388/DF, Rel. Min. NÉRI DA SILVEIRA – grifei)
“CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. ATOS DO PODER LEGISLATIVO: CONTROLE JUDICIAL. ATO
‘INTERNA CORPORIS’: MATÉRIA REGIMENTAL.

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– Se a controvérsia é puramente regimental, resultante de interpretação de normas regimentais, trata-se de ato ‘interna corporis’,
imune ao controle judicial, mesmo porque não há alegação de ofensa a direito subjetivo.
II. – Mandado de Segurança não conhecido.”
(MS 24.356/DF, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – grifei)
Essa delimitação temática, portanto, inibe a possibilidade de intervenção jurisdicional dos magistrados e Tribunais na indagação dos
critérios interpretativos dos preceitos regimentais orientadores de deliberações emanadas dos órgãos diretivos das Casas do Congresso Nacional,
sob pena de desrespeito ao postulado consagrador da divisão funcional do poder.
A submissão das questões de índole regimental ao poder de supervisão jurisdicional dos Tribunais implicaria, em última análise, caso
admitida, a inaceitável nulificação do próprio Poder Legislativo, especialmente em matérias – como a de que trata este processo – em que não se
verifica qualquer evidência de que o comportamento impugnado tenha vulnerado o texto da Constituição da República.
Tratando-se, em consequência, de matéria sujeita à exclusiva esfera da interpretação regimental, não haverá como incidir a “judicial
review”, eis que – tal como proclamado pelo Supremo Tribunal Federal – a exegese “de normas de regimento legislativo é imune à crítica
judiciária, circunscrevendo-se no domínio ‘interna corporis’” (RTJ 112/1023, Rel. Min. FRANCISCO REZEK – grifei).
As questões “interna corporis” excluem-se, por isso mesmo, em atenção ao princípio da divisão funcional do poder – que constitui
expressão de uma das decisões políticas fundamentais consagradas pela Carta da República –, da possibilidade de controle jurisdicional, devendo
resolver-se, exclusivamente, na esfera de atuação da própria instituição legislativa.
A jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal, bem por isso, tem reafirmado essa orientação em sucessivos
pronunciamentos, nos quais ficou assentado que, em se tratando de questão “interna corporis”, deve ela ser resolvida, com exclusividade, “(...) no
âmbito do Poder Legislativo, sendo vedada sua apreciação pelo Judiciário” (RTJ 102/27, Rel. Min. MOREIRA ALVES).
A impossibilidade constitucional de controle, por parte do Poder Judiciário, dos atos “interna corporis” emanados de órgão congressual
competente foi igualmente proclamada no julgamento do MS 20.509/DF, Rel. Min. OCTAVIO GALLOTTI (RTJ 116/67), ocasião em que o
Plenário desta Suprema Corte, coerente com esse entendimento, afirmou:
“Atos ‘interna corporis’, proferidos nos limites da competência da autoridade dada como coatora, com eficácia interna, ligados à
continuidade e disciplina dos trabalhos, sem que se alegue preterição de formalidade, atacando-se, ao invés, o mérito da interpretação do
Regimento, matéria em cujo exame não cabe ao judiciário ingressar.
Mandado de Segurança de que não se conhece.” (grifei)
O sentido dessas decisões do Supremo Tribunal Federal – a que se pode acrescentar o julgamento plenário do MS 20.464/DF, Rel. Min.
SOARES MUÑOZ (RTJ 112/598) – consiste no reconhecimento da soberania dos pronunciamentos, deliberações e atuação do Poder Legislativo,
na esfera de sua exclusiva competência discricionária, ressalvadas, para efeito de sua apreciação judicial, apenas as hipóteses de lesão ou de
ameaça a direito constitucionalmente assegurado.
É por tal razão que o Plenário do Supremo Tribunal Federal tem reiteradamente advertido que atos emanados dos órgãos de direção das
Casas do Congresso Nacional – o Presidente da Câmara dos Deputados, p. ex. –, quando praticados, por eles, nos estritos limites de sua competência
e desde que apoiados em fundamentos exclusivamente regimentais, sem qualquer conotação de índole jurídico-constitucional, revelam-se imunes ao
“judicial review”, pois – não custa enfatizar – a interpretação de normas de índole meramente regimental, por qualificar-se como típica matéria
“interna corporis”, suscita questão que se deve resolver, “exclusivamente, no âmbito do Poder Legislativo, sendo vedada sua apreciação pelo
Judiciário” (RTJ 168/444).
A inviabilidade da presente ação de mandado de segurança, em decorrência da razão ora mencionada, impõe, ainda, uma observação final:
no desempenho dos poderes processuais de que dispõe, assiste ao Ministro Relator competência plena para exercer, monocraticamente, o controle
das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, legitimando-se, em consequência, os atos decisórios que, nessa condição,
venha a praticar.
Cumpre acentuar, neste ponto, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a inteira validade constitucional da norma legal que
inclui, na esfera de atribuições do Relator, a competência para negar trânsito, em decisão monocrática, a recursos, pedidos ou ações quando
incabíveis, estranhos à competência desta Corte, intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a jurisprudência
predominante do Tribunal (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175).
Nem se alegue que esse preceito legal implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o postulado em questão sempre restará
preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal
Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
Sendo assim, em face das razões expostas, e com fundamento nos poderes processuais outorgados ao Relator da causa, não conheço da
presente ação de mandado de segurança.
2. Transmita-se cópia da presente decisão ao Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara dos Deputados.
Arquivem-se os presentes autos.
Publique-se.
Brasília, 28 de abril de 2015.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
*decisão publicada no DJe de 4.5.2015

OUTRAS INFORMAÇÕES
27 de abril a 1 de maio de 2015

Decreto nº 8.442, de 29.4.2015 - Regulamenta os art. 14 a art. 36 da Lei nº 13.097, de 19.1.2015, que tratam da
incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI, da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social - Cofins, no mercado interno e na importação, sobre produtos dos Capítulos 21 e 22 da
Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados - Tipi. Publicado no DOU em 30.4.2015, Seção 1, p. 2.

Informativo 783-STF (11/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista ou
suspensão de julgamento: PSV 65/SP, 22.4.2015; RE 422349/RS; RE 188083/PR.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: AI 801096 AgR-EDv/DF; ACO 555/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PUBLICIDADE DE BEBIDAS ALCÓOLICAS
 O legislador, ao editar a Lei 9.294/96, atendeu a regra do art. 220, § 4º, da CF/88.

DIREITO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
 Divulgação de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal.

CONCURSO PÚBLICO
 Controle de questões de concurso pelo Poder Judiciário.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


COMPETÊNCIA
 Causa que interessa a todos os membros da magistratura.

AÇÃO RESCISÓRIA
 Análise do art. 485, V, do CPC 1973 (art. 966, V, do CPC 2015).

DIREITO CONSTITUCIONAL

PUBLICIDADE DE BEBIDAS ALCÓOLICAS


O legislador, ao editar a Lei 9.294/96, atendeu a regra do art. 220, § 4º, da CF/88

O art. 220, § 4º da CF/88 prevê que lei poderá impor restrições às propagandas de bebidas
alcoólicas.
Com o objetivo de regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei 9.294/96.
Ocorre que a Lei 9.294/96 afirmou expressamente que só haveria restrições para as propagandas
de bebidas alcoólicas com teor alcoólico superior a 13 GL (art. 1º, parágrafo único).
O PGR não concordou com a medida e ajuizou ação direta de inconstitucionalidade por omissão
afirmando que o Congresso Nacional estaria em mora legislativa, considerando que deveria impor
restrições à propaganda de bebidas alcoólicas independentemente do seu teor de álcool.

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


O STF julgou improcedente o pedido. A Corte entendeu que não é possível que o Poder Judiciário
crie norma geral e abstrata em substituição ao legislador definindo o que é bebida alcoólica para
fins de propaganda. Além disso, o STF considerou que não existe a alegada omissão. O legislador
federal aprovou a Lei 9.294/96, que foi objeto de amplo debate no Congresso Nacional. Foi feita
uma escolha política de só serem impostas restrições para propagandas de bebidas alcóolicas com
grau superior a 13 GL, não podendo o STF rever essa decisão.
Por fim, o STF entendeu que a Lei 9.294/96 não contraria a Lei 11.705/2008 (Lei Seca),
considerando que são diplomas legislativos com âmbitos de incidência totalmente diversos. A
primeira lei cuida de restrições à propaganda e liberdade de expressão. Nela não se está
julgando o teor alcoólico da bebida e sim até que limite pode ir a sua publicidade. Na segunda,
estão sendo discutidos os efeitos do álcool para pessoas que dirigem veículo automotor e a
proibição imposta para essa prática.
STF. Plenário. ADO 22/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/4/2015 (Info 781).

Restrição à propaganda de bebidas alcoólicas


A CF/88 prevê, em seu art. 220, § 4º, que a lei poderá impor restrições às propagandas de bebidas
alcoólicas. Veja:
Art. 220. (...)
(...)
§ 3º - Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre a natureza deles,
as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se mostre
inadequada;
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de
programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da
propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
§ 4º A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará
sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário,
advertência sobre os malefícios decorrentes de seu uso.

Lei n. 9.294/96


Com o objetivo de regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei n. 9.294/96, que traz algumas regras e
proibições para as propagandas envolvendo bebidas alcoólicas e outros produtos.
Ocorre que a Lei n. 9.294/96 afi ou exp essa e te ue são o side adas bebidas alcoólicas, para
efeitos desta Lei, as bebidas potáveis com teor alcoólico superior a treze graus Gay Lussac (art. 1º,
parágrafo único).
Desse modo, o legislador fez uma escolha: para bebidas com teor de álcool abaixo de 13 GL, não há, por
força da Lei n. 9.294/96, restrições para a propaganda.
Com isso, ficou de fora das restrições impostas pela Lei n. 9.294/96 a publicidade de cervejas e vinhos,
que normalmente possuem teor alcoólico abaixo de 13 GL.

PGR e ADI por omissão


O Procurador Geral da República não concordou com a medida e ajuizou, em 2012, uma ação direta de
inconstitucionalidade por omissão afirmando que o Congresso Nacional estaria em mora legislativa,
considerando que deveria impor restrições à propaganda de bebidas alcoólicas independentemente do
seu teor de álcool.
Para o PGR, o § 4º do art. 220 da CF/88 não menciona limites de teor de álcool para fins de restrições
quanto à publicidade de bebidas alcoólicas.
Sustentou, ainda, que a Lei n. 9.294/96 estaria em contradição com a Lei n. 11.705/08 (Lei Seca).
Enquanto a Lei Seca considerou bebida alcoólica toda aquela que contenha álcool em sua composição em

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


concentração igual ou superior a meio grau Gay-Lussac (0,5 GL), a Lei n. 9.294/96 excluiu da restrição à
propaganda os produtos com concentração de até 13 GL.

O STF concordou com a ação proposta?


NÃO. O STF, por maioria, conheceu da ADI por omissão, mas, no mérito, julgou improcedente o pedido
formulado pelo PGR.

De início, a Ministra Relatora lembrou que o STF já decidiu esse mesmo tema e, com fundamento nos
princípios da harmonia e independência entre os Poderes, entendeu que não é possível que o Poder
Judiciário crie norma geral e abstrata em substituição ao legislador definindo o que é bebida alcoólica para
fins de propaganda (ADI 1.755/DF, DJU de 18.5.2001).

Além disso, no entanto, o principal ponto a ser considerado é que não existe a alegada omissão
inconstitucional. O legislador federal, no exercício da atribuição a ele conferida pelo poder constituinte
originário, aprovou a Lei n. 9.294/96. Analisando a tramitação do projeto, percebe-se que a matéria
invocada pelo PGR foi amplamente debatida durante sete anos nas casas do Congresso Nacional. Após sua
aprovação, houve ainda a edição do Decreto que regulamentou a lei (Decreto 2.018/96) e de outros atos
normativos infralegais tratando sobre o tema. Não existe, portanto, omissão no tratamento do assunto.

Ainda que os argumentos expostos pelo PGR sejam relevantes, o pedido não pode prosperar. Isso porque,
tão importante quanto a preservação da saúde daqueles que se excedem no uso de bebidas alcoólicas, é
relevante também que sejam respeitados os princípios do direito constitucional, como o da separação dos
Poderes. Se o STF fosse acolher o pedido feito na ação, ele teria que analisar a conveniência política da Lei
n. 9.294/96, elaborada legitimamente pelos representantes eleitos pelo povo. Portanto, não se está
diante de uma omissão, mas sim de uma opção do legislador.

Por fim, o STF entendeu que a Lei n. 9.294/96 não contraria a Lei n. 11.705/2008 (Lei Seca),
considerando que são diplomas legislativos com âmbitos de incidência totalmente diversos. A primeira lei
cuida de restrições à propaganda e liberdade de expressão. Nela não se está julgando o teor alcoólico da
bebida e sim até que limite pode ir a sua publicidade. Na segunda, estão sendo discutidos os efeitos do
álcool para pessoas que dirigem veículo automotor e a proibição imposta para essa prática.

Curiosidade
Foi falado acima que a Lei n. 9.294/96 não impõe restrições às propagandas de cervejas e vinhos porque
estas bebidas possuem teor alcóolico inferior a 13 GL. No entanto, talvez você tenha pensando o
segui te: as eu já vi a p opaga da de TV ue se p e após o a ú io da e veja apa e e a f ase e a
o ode ação . Po ue isso a o te e?
A obrigatoriedade dessa frase não foi imposta pela Lei n. 9.294/96, mas sim pelo CONAR (Conselho
Nacional de Autorregulamentação Publicitária).
O CONAR é uma organização da sociedade civil constituída por representantes de setores ligados à
propaganda e publicidade, tais como: agências de publicidade, anunciantes, jornais, revistas, emissoras de
rádio e TV.
O CONAR possui um Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, que não é lei (trata-se de um ato
i te o do CONA‘ , as ue, apesa disso, é fo te do Di eito lassifi ada o o ostu e a t. º da LINDB .
As agências de publicidade e os órgãos de imprensa respeitam fielmente o Código de
Autorregulamentação e, se determinado tipo de propaganda é proibida pelo CONAR, pode ter certeza que
nem a agência irá aceitar veicular e, muito menos, a TV, rádio ou jornal.
Desse modo, a Lei n. 9.294/96 não trata sobre a propaganda de cervejas e vinhos, mas o Código Brasileiro
de Autorregulamentação Publicitária do CONAR impõe uma série de restrições que você vê por aí.

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


DIREITO ADMINISTRATIVO

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Divulgação de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal

É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos
nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens
pecuniárias.
STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral)
(Info 782)

Princípio da publicidade
O princípio da publicidade exige que, em regra, haja ampla divulgação dos atos praticados pela
Administração Pública.
O princípio da publicidade existe porque vivemos em uma República democrática, na qual o titular do
poder é o povo (art. 1º, parágrafo único, da CF/88). O administrador apenas atua em nome do povo. Logo,
ele tem o dever de prestar contas ao povo sobre todos os atos que pratica. O povo tem que controlar
socialmente o poder. Como o povo vai controlar se ele não sabe como o Poder Público está agindo? Sem
essas informações, ele não consegue controlar a coisa pública de uma forma adequada.
Esse princípio da publicidade também está relacionado com a eficiência na gestão das contas públicas, já
que assim poderá haver uma maior fiscalização.

Exceção:
A própria CF/88 afirma que o princípio da publicidade não é absoluto e afirma que deverá ser assegurado
o sigilo se a informação a ser divulgada puder gerar riscos à segurança da sociedade e do Estado.
(Procurador do DF 2007 CESPE) Na esfera administrativa, o sigilo, como exceção ao princípio da
publicidade, é inadmissível ante a existência de preceito constitucional expresso que veda sua adoção pela
Administração Pública. (ERRADO).

Divulgação de vencimentos dos servidores públicos:


O STF travou interessante discussão envolvendo o princípio da publicidade.
A Prefeitura de São Paulo, desde 2011, passou a divulgar, em seu site na internet, a relação nominal de
todos os servidores e, ao lado, o quanto cada um recebia de remuneração.
Diversos servidores ingressaram com ações pedindo a retirada do nome, afirmando que isso violaria a
intimidade ou vida privada do servidor e que os colocaria até em risco por conta de assaltos, golpes etc.
Outros ajuizaram com ações de indenização por danos morais contra o Município.
O STF, no julgamento do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 652.777, decidiu, por unanimidade, que
essa publicação dos vencimentos é legítima (constitucional).
Para a Corte, a divulgação dos vencimentos dos servidores, a ser realizada oficialmente, constitui
informação de interesse público que não viola a intimidade e a segurança deles, uma vez que esses dados
dizem respeito a agentes públicos em exercício nessa qualidade.
O âmbito de proteção da privacidade do cidadão fica mitigado quando se trata de agente público. O
servidor público não pode pretender usufruir da mesma privacidade que o cidadão comum.

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011)
Alguns meses após o Município de São Paulo adotar essa prática de divulgar os vencimentos dos
servidores na internet, foi editada a Lei n. 12.527/2011 (conhecida como Lei de Acesso à Informação),
que determina justamente a divulgação de uma série de informações de interesse público.
Ocorre que a referida Lei não fala que os órgãos e entidades são obrigados a divulgar a relação das
remunerações dos servidores públicos. Apesar disso, a União editou decreto determinando que a remuneração
dos servidores deverá ser divulgada, não havendo qualquer inconstitucionalidade nessa prática.

CONCURSO PÚBLICO
Controle de questões de concurso pelo Poder Judiciário

É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi elaborada
de maneira equivocada? É possível que seja alterada a pontuação dada ao candidato na
questão sob o argumento de que a correção feita pela banca foi inadequada?
Regra: NÃO. Os critérios adotados por banca examinadora de concurso público não podem ser
revistos pelo Poder Judiciário. Não é possível controle jurisdicional sobre o ato administrativo
que corrige questões de concurso público. Não compete ao Poder Judiciário substituir a banca
examinadora para reexaminar o conteúdo das questões e os critérios de correção utilizados.
Exceção: apenas em casos de flagrante ilegalidade ou inconstitucionalidade, a Justiça poderá
ingressar no mérito administrativo para rever critérios de correção e de avaliação impostos
pela banca examinadora.
STF. Plenário. RE 632853/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral)
(Info 782).

É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi elaborada de
maneira equivocada? É possível que seja alterada a pontuação dada ao candidato na questão sob o
argumento de que a correção feita pela banca foi inadequada?

Regra: NÃO. Os critérios adotados por banca examinadora de concurso público não podem ser revistos
pelo Poder Judiciário. Não é possível controle jurisdicional sobre o ato administrativo que corrige questões
de concurso público. Não compete ao Poder Judiciário substituir a banca examinadora para reexaminar o
conteúdo das questões e os critérios de correção utilizados.

Exceção: apenas em casos de flagrante ilegalidade ou inconstitucionalidade, a Justiça poderá ingressar no


mérito administrativo para rever critérios de correção e de avaliação impostos pela banca examinadora.

O Poder Judiciário não pode realizar o controle jurisdicional sobre o mérito de questões de concurso
público. A reserva de administração impede que o Judiciário substitua banca examinadora de concurso,
por ser um espaço que não é suscetível de controle externo, a não ser nos casos de ilegalidade ou
inconstitucionalidade.

Assim, exige-se apenas que a banca examinadora dê tratamento igual a todos os candidatos, ou seja, que
aplique a eles, indistintamente, a mesma orientação. Sendo assegurada essa igualdade, o Poder Judiciário
não pode alterar os critérios de correção aplicados pela banca examinadora.

Caso concreto
No caso concreto julgado pelo STF, determinadas candidatas de um concurso público pretendiam que
fosse declarada a nulidade de dez questões do certame, ao fundamento de que as questões possuiriam

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


mais de uma assertiva correta e que o gabarito divulgado contrariaria leis federais, conceitos oficiais,
manuais técnicos e a própria doutrina recomendada pelo edital do concurso.
As candidatas recorreram administrativamente e não obtiveram êxito, razão pela qual propuseram ação
judicial pedindo a anulação das questões.
O STF entendeu que não se poderia atender o pedido das candidatas porque não se poderia entrar no
mérito do ato administrativo e substituir a banca examinadora para renovar a correção de questões de
concurso público, sob pena de se violar o princípio da separação de Poderes e a reserva de Administração.

Tese fixada para fins de repercussão geral


Vale ressaltar que o presente julgado foi examinado pela sistemática da repercussão geral, tendo sido
construída a seguinte tese, ue se vi á de pa adig a pa a os de ais asos: Os critérios adotados por
banca examinadora de concurso público não podem ser revistos pelo Poder Judiciário.

Situação diferente: conteúdo fora do edital


Vale ressaltar que a situação será diferente se a prova exigir conhecimentos que não estão no edital.
Se o conteúdo cobrado não se encontra previsto no edital, será possível anular a questão por violação à
regra editalícia, mas isso não significa aferir a correção dos critérios da banca examinadora, mas apenas
verificar se as questões formuladas estão no programa do certame.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


COMPETÊNCIA
Causa que interessa a todos os membros da magistratura

O STF tem competência para processar e julgar causas em que se discute prerrogativa dos
juízes de portar arma de defesa pessoal, por se tratar de ação em que todos os membros da
magistratura são direta ou indiretamente interessados art. , ), n , da CF/88 .
STF. Plenário. Rcl 11323 AgR/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki,
julgado em 22/4/2015 (Info 782).

Competência para julgar a causa que for de interesse da magistratura:


A fim de garantir a imparcialidade, a CF/88 determina que, se a causa for de interesse de todos os
membros da magistratura, ela deverá ser julgada originariamente pelo próprio STF:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I — processar e julgar, originariamente:
(...)
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela
em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou
indiretamente interessados;

Relembrada essa regra, vejamos a seguinte situação adaptada:


A Associação dos Juízes Federais de São Paulo e Mato Grosso do Sul (AJUFESP) impetrou mandado de
segurança contra o Delegado Superintendente Regional da Polícia Federal em São Paulo.
O MS foi ajuizado na Justiça Federal de 1ª instância (Vara Federal Cível da Seção Judiciária do Estado de
São Paulo) e nele a associação pediu que fosse assegurado aos magistrados que integram a entidade o
direito de registrar e renovar o porte de arma de fogo de modo simplificado, dispensando-se os requisitos
previstos no art. 5º, § 2º c/c o art. 4º da Lei n. 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), dentre eles os
testes psicológicos e de capacidade técnica.

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Segundo argumentou a entidade, a prerrogativa dos magistrados de portar arma de defesa pessoal está
prevista no art. 33, V, da LC 35/79 (LOMAN), de forma que não seria necessário preencher os requisitos do
Estatuto do Desarmamento.
A União formulou reclamação no STF alegando que a competência para julgar essa questão seria do
Supremo, já que seria assunto sobre o qual todos os membros da magistratura são interessados.

O STF concordou com a reclamação? Essa causa é de competência originária do STF com base no art.
, I, , da CF/ ?
SIM. O STF tem competência para processar e julgar causas em que se discute prerrogativa dos juízes de
portar arma de defesa pessoal, por se tratar de ação em que todos os membros da magistratura são direta
ou indiretamente interessados (art. 102, I, n , da CF/ ).
No caso concreto, essa prerrogativa é assegurada pela LOMAN a todos os magistrados indistintamente e
não apenas aos que integram as associações. Assim, todos os membros da magistratura são interessados.
A situação seria diferente se o assunto discutido influenciasse apenas uma parcela de magistrados,
hipótese na qual não haveria competência do STF. A regra da LOMAN, contudo, é clara ao prever essa
prerrogativa para todos os magistrados.

Obs: vale ressaltar que a matéria de fundo ainda não foi decidida, ou seja, o Supremo não definiu neste
julgamento se os magistrados possuem direito de portar arma de fogo sem se submeterem ao Estatuto do
Desarmamento. A única situação até agora definida foi a de que a competência para julgar o MS é do STF.

AÇÃO RESCISÓRIA
Análise do art. 485, V, do CPC 1973 (art. 966, V, do CPC 2015)

Se a sentença foi proferida com base na jurisprudência do STF vigente à época e,


posteriormente, esse entendimento foi alterado (ou puder ser alterado), não se pode dizer que
essa decisão impugnada tenha violado literal disposição de lei.
Desse modo, não cabe ação rescisória em face de acórdão que, à época de sua prolação, estava
em conformidade com a jurisprudência predominante do STF.
STF. Plenário. AR 2199/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
23/4/2015 (Info 782).
STF. Plenário. RE 590809/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/10/2014 (Info 764).

CONCEITO
Ação rescisória é uma ação que tem por objetivo desconstituir uma decisão judicial transitada em julgado.

NATUREZA JURÍDICA
A ação rescisória é uma espécie de ação autônoma de impugnação (sucedâneo recursal externo).
Atenção: a ação rescisória NÃO é um recurso. O recurso é uma forma de impugnar a decisão na pendência
do processo (este ainda não acabou). A ação rescisória, por sua vez, somente pode ser proposta quando
há trânsito em julgado, ou seja, quando o processo já se encerrou.

COMPETÊNCIA
A ação rescisória é sempre julgada por um tribunal (nunca por um juiz singular).
Quem julga a rescisória é sempre o próprio tribunal que proferiu a decisão rescindenda.

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


PRAZO
A ação rescisória possui prazo de dois anos, contados do trânsito em julgado da decisão.
CPC 1973
Art. 495. O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado
da decisão.

CPC 2015
Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última
decisão proferida no processo.

Repare que o CPC 2015 acrescenta esta importante parte final no seu texto explicitando que o prazo para
a rescisória é contado da última decisão proferida no processo.

HIPÓTESES
O CPC prevê as hipóteses em que a ação rescisória é cabível.
Vamos comparar como o tema é tratado no novo CPC:

CPC 1973 CPC 2015

Art. 485. A sentença de mérito, transitada em Art. 966. A decisão de mérito, transitada em
julgado, pode ser rescindida quando: julgado, pode ser rescindida quando:

I - se verificar que foi dada por prevaricação, I - se verificar que foi proferida por força de
concussão ou corrupção do juiz; prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;

II - proferida por juiz impedido ou absolutamente II - for proferida por juiz impedido ou por juízo
incompetente; absolutamente incompetente;

III - resultar de dolo da parte vencedora em III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora
detrimento da parte vencida, ou de colusão entre em detrimento da parte vencida ou, ainda, de
as partes, a fim de fraudar a lei; simulação ou colusão entre as partes, a fim de
fraudar a lei;

IV - ofender a coisa julgada; IV - ofender a coisa julgada;

V - violar literal disposição de lei; V - violar manifestamente norma jurídica;

VI - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido
apurada em processo criminal ou seja provada na apurada em processo criminal ou venha a ser
própria ação rescisória; demonstrada na própria ação rescisória;

VII - depois da sentença, o autor obtiver VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito
documento novo, cuja existência ignorava, ou de em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou
que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe
assegurar pronunciamento favorável; assegurar pronunciamento favorável;

VIII - houver fundamento para invalidar confissão, Obs: o inciso VIII do antigo CPC (invalidar
desistência ou transação, em que se baseou a confissão, desistência ou transação) não é previsto
sentença; mais como hipótese de rescisória, sendo caso de
ação anulatória (§ 4º do art. 966 do CPC 2015).

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou VIII - for fundada em erro de fato verificável do
de documentos da causa. exame dos autos.

§ 1º Há erro, quando a sentença admitir um fato § 1º Há erro de fato quando a decisão rescindenda
inexistente, ou quando considerar inexistente um admitir fato inexistente ou quando considerar
fato efetivamente ocorrido. inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo
indispensável, em ambos os casos, que o fato não
§ 2º É indispensável, num como noutro caso, que represente ponto controvertido sobre o qual o juiz
não tenha havido controvérsia, nem deveria ter se pronunciado.
pronunciamento judicial sobre o fato.

§ 2º Nas hipóteses previstas nos incisos do caput,


será rescindível a decisão transitada em julgado
que, embora não seja de mérito, impeça:
I - nova propositura da demanda; ou
II - admissibilidade do recurso correspondente.

§ 3º A ação rescisória pode ter por objeto apenas


1 (um) capítulo da decisão.

§ 4º Os atos de disposição de direitos, praticados


pelas partes ou por outros participantes do
processo e homologados pelo juízo, bem como os
atos homologatórios praticados no curso da
execução, estão sujeitos à anulação, nos termos
da lei.

ANÁLISE DO INCISO V
O inciso V do art. 485 prevê que é cabível a ação rescisória quando a sentença de mérito transitada em
julgado viola lite al disposição de lei .
O CPC de 2015 melhorou a redação da hipótese, incorporando em seu texto os entendimentos da
jurisprudência sobre o tema. Agora, diz-se que é cabível a ação es isó ia ua do a de isão violar
manifestamente norma jurídica .

Quando o inciso falava e lei , abrangia também as normas constitucionais? E agora, com o novo CPC?
“IM. A palav a lei no inciso V do art. 485 do CPC 1973 era interpretada pela doutrina e jurisprudência em
sentido amplo, abrangendo lei ordinária, lei complementar, medida provisória, norma constitucional,
decreto, resolução e qualquer outro ato normativo.
Assim, se a sentença violasse literal disposição de lei, de norma constitucional ou de qualquer outra norma
jurídica, cabia, em tese, ação rescisória.
O novo CPC adotou em seu texto esse entendimento e passou a prever, expressamente, que cabe
rescisória quando houver violação da norma jurídica.

Se a sentença violar um princípio, caberá ação rescisória?


SIM. A jurisprudência do STJ possui precedentes reconhecendo o cabimento de ação rescisória por conta
de violação a princípios. Vale lembrar que a doutrina atual considera que o princípio é uma espécie de
norma jurídica. Nesse sentido: STJ. 1ª Turma. REsp 1458607/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 23/10/2014.

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


Se a sentença violar literal disposição de súmula (comum ou vinculante), caberá ação rescisória?
NÃO. Não cabe ação rescisória contra violação de súmula. O inciso V não abrange a contrariedade à
súmula porque não se trata de ato normativo.
Súmula não é lei nem norma jurídica. Logo, não é possível no CPC 1973 e também não caberá no CPC 2015
ação rescisória sob o argumento de violação de súmula.

Súmula 343 do STF


Não é raro que uma mesma lei gere interpretações completamente diferentes, inclusive dentro de um
único Tribunal.
Imaginemos, por exemplo, que a 1ª Turma do STJ afirme que o art. XX da Lei n. 8.112/90 confere
determinado direito ao servidor. A 2ª Turma do STJ, por sua vez, interpreta o dispositivo de forma oposta
e entende que a Lei não confere esse direito.
O juiz A de idiu o ase a i tep etação dada pela 1ª Tu a do “TJ e esta se te ça transitou em julgado.
Ocorre que, um ano depois, a 1ª Turma modificou seu entendimento, curvando-se à posição da 2ª Turma.
Nesse aso, se ia possível ajuiza ação es isó ia o t a a se te ça p ofe ida pelo juiz A alega do ue ela
violou literal disposição do art. XX Lei n. 8.112/90? É possível dizer que ela violou manifestamente norma
jurídica?
NÃO. A jurisprudência entende que, se na época em que a sentença rescindenda transitou em julgado
havia divergência jurisprudencial a respeito da interpretação da norma jurídica, não se pode dizer que a
decisão proferida tenha tido um vício. Logo, não caberá ação rescisória. Isso está expresso na súmula 343
do STF:
Súmula 343-STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão
rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.

O raciocínio que inspirou essa súmula é o seguinte: se há nos tribunais divergência sobre um mesmo
preceito normativo, é porque ele comporta mais de uma interpretação, significando que não se pode
qualificar qualquer dessas interpretações, mesmo a que não seja a melhor, como ofensiva ao teor literal
da norma interpretada. Trata-se da ha ada doutrina da tolerância da azoável i te p etação da o a
(Voto do Ministro Teoria Zavascki no RE 590809/RS).

Obs: a súmula fala em ofe sa a lite al disposição de lei po ue esta é a redação do art. 485, V, do CPC
1973. O CPC 2015 altera esse dispositivo prevendo que cabe ação es isó ia ua do a de isão viola
a ifesta e te o a ju ídi a a t. 66 do CPC . A edação do ovo CPC ape as o sag a a
interpretação que a doutrina e a jurisprudência dão pa a a exp essão lei p evista o Código passado. Já
se entendia que lei deve ia se lida o o o a ju ídi a . Assi , ão há uma mudança substancial e o
raciocínio trazido pela súmula continua aplicável.

Aplica-se a Súmula 343 do STF em caso de violação à norma constitucional?


O STF dizia que não. Existem vários precedentes do STF afirmando que não se aplica a Súmula 343 do STF
quando o pedido de rescisão invoca ofensa a preceito constitucional. Nesse sentido: 1ª Turma. RE 567765
AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 16/04/2013.

Ex: na sentença, o juiz decidiu que o art. XX da CF/88 assegurava uma imunidade tributária. Na época, o
tema era controvertido, mas esse era o entendimento majoritário. Houve trânsito em julgado. Um ano
depois, o STF pacifica que o art. XX não garante imunidade tributária. O STF possuía julgados dizendo que
seria possível sim ação rescisória contra essa sentença, considerando que ela violaria o atual
entendimento do STF sobre a matéria. Logo, essa decisão deveria ser rescindida porque não se poderia
admitir que ela permanecesse hígida, já que afrontaria a supremacia da CF/88.

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


Em outras palavras, pelo entendimento que vigorava no STF, não se aplicava a vedação imposta pela
súmula 343-STF quando o tema tratado envolvia violação de norma constitucional.

O argumento para afastar a súmula e permitir a ação rescisória nesses casos era o de que violar a CF é
muito mais grave que ofender uma lei infraconstitucional. Assim, se a sentença transitada em julgado está
em confronto com a interpretação atual da CF, ela deve ser rescindida, mesmo que, na época em que
prolatada, aquele fosse o entendimento majoritário. Isso porque não se pode admitir interpretações
erradas sobre normas constitucional, ainda que razoáveis.

O STF ainda mantém o mesmo entendimento em relação ao tema?


NÃO. O STF, no julgamento do RE 590809/RS, mudou seu entendimento e decidiu aplicar a Súmula 343-
STF também em casos que envolvam ação rescisória tratando sobre matéria constitucional.
Segundo a nova posição da Corte, mesmo estando em jogo matéria constitucional, deve prevalecer, em
tese, a regra da súmula 343-STF.

O caso concreto foi o seguinte (com adaptações):


Em 2007, o TRF4, interpretando determinado artigo da CF/88, decidiu que o contribuinte tinha direito de
se creditar de IPI. Na época, esse tema era controvertido, mas o entendimento do STF era de que existia
direito ao creditamento. Assim, o TRF4 adotou a posição do STF.
Em 2009, o STF mudou seu próprio entendimento e passou a proibir o creditamento de IPI. Logo, significa
que o Supremo disse que esse artigo da CF/88 não dá direito ao creditamento.
Assim, o acórdão proferido em 2007 pelo TRF4 está em confronto com a interpretação dada atualmente
pelo STF ao artigo da CF/88 que fala sobre o creditamento.

Cabe ação rescisória nesse caso? Podemos dizer que o acórdão do TRF4 violou literal disposição de lei?
NÃO. Mesmo que a sentença transitada em julgado esteja em confronto com o atual entendimento do
STF, não caberá ação rescisória se, na época em que foi prolatada, ela estava em conformidade com a
jurisprudência predominante do próprio STF.
Aplicou-se, o aso, a “ú ula do “TF: Não a e ação es isó ia po ofe sa a lite al dispositivo de lei,
ua do a de isão es i de da se tive aseado e texto legal de i te p etação o t ove tida os t i u ais.
A súmula 343 do STF aplica-se quando a sentença transitada em julgado e que está sendo atacada foi
proferida na época com base no entendimento do próprio STF. Nesse caso, não se deve relativizar o
alcance do enunciado.
O Min. Marco Aurélio afirmou que, em regra, aplica-se a súmula 343-STF mesmo em caso de violação à
norma constitucional. No entanto, ele mencionou uma exceção: se a sentença transitada em julgado
baseou-se em uma lei e esta foi, posteriormente, declarada inconstitucional pelo STF com eficácia erga
omnes e sem modulação de efeitos, nesse caso caberia ação rescisória, afastando-se a súmula 343-STF.
STF. Plenário. RE 590809/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/10/2014 (Info 764).

Aplica-se a súmula 343 do STF em caso de violação à norma constitucional? É vedada ação rescisória se
a sentença foi proferida com base em interpretação controvertida sobre matéria constitucional, mas
atualmente é contrária ao posicionamento do STF?
 Entendimento até então vigente: NÃO
 Entendimento atual: SIM (se na época em que a decisão rescindenda foi prolatada, ela seguiu a
jurisprudência do STF).

Assim, o que o STF decidiu foi o seguinte:


Se a sentença foi proferida com base na jurisprudência do STF vigente à época e, posteriormente, esse
entendimento foi alterado, não se pode dizer que essa decisão impugnada tenha violado literal disposição
de lei.

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


Desse modo, não cabe ação rescisória em face de acórdão que, à época de sua prolação, estava em
conformidade com a jurisprudência predominante do STF.
STF. Plenário. RE 590809/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/10/2014 (Info 764).

Neste Informativo 782, o STF reiterou essa posição manifestada no RE 590809/RS e decidiu que não cabe
ação rescisória de decisões proferidas em harmonia com a jurisprudência do STF, ainda que o próprio
Supremo venha a alterar o seu entendimento sobre a matéria.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

EC 20/1998 e acumulação de proventos civis e militares


O Plenário, por decisão majoritária, negou provimento a embargos de divergência opostos em face de decisão
proferida pela Primeira Turma, na qual decidido que a acumulação de aposentadorias civil e militar é admissível
se o reingresso no serviço público se der antes da publicação da EC 20/1998, ainda que a aposentadoria tenha
ocorrido já sob a vigência da emenda. No caso, o embargado fora transferido para a reserva remunerada do
Exército em 1980 e, naquele mesmo ano, fora transferido para a Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República, para ser posteriormente lotado no Comando do Exército. Sua aposentadoria
compulsória se dera no cargo civil de analista de informações, em 2004. O Colegiado constatou haver
precedentes da Primeira Turma no mesmo sentido do acórdão embargado. Por outro lado, em sentido
contrário, a Segunda Turma teria julgado a afirmar a impossibilidade de acumulação de proventos civis e
militares quando a aposentadoria ocorresse sob a égide da EC 20/1998. Explicou que o § 10 do art. 37 da CF,
inserido com a referida emenda, vedaria a percepção simultânea de proventos. No entanto, haveria ressalva
quanto à situação dos inativos, servidores e militares, que, até a data da publicação da EC 20/1998, tivessem
ingressado novamente no serviço público (EC 20/1998, art. 11). Com base nesse dispositivo, a jurisprudência da
Corte assentara-se no sentido da possibilidade de acumulação de proventos civis e militares quando a reforma
se dera sob a égide da CF/1967 e a aposentadoria ocorrera antes da vigência da EC 20/1998. Nesses casos, não
se aplicaria a proibição do art. 11 da emenda, pois não se trataria de percepção de mais de uma aposentadoria
pelo regime previdenciário do art. 40 da CF, mas sim da percepção de proventos civis e militares. Assim, seria
irrelevante que a aposentadoria civil tivesse se dado na vigência da EC 20/1998, bastando que o reingresso no
serviço público ocorresse antes do advento da alteração constitucional, de forma a ensejar a incidência da
ressalva do art. 11 da emenda, cuja aplicação incidiria aos membros de poder e aos inativos, servidores e
militares, que, até a publicação da emenda, tivessem ingressado novamente no serviço público. Assim, no caso
em exame, seria plenamente possível a acumulação de proventos civis e militares, uma vez que a reforma do
embargado ocorrera sob a égide da CF/1967, e seu reingresso no serviço público, antes da publicação da EC
20/1998. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que provia os embargos. Entendia não ser relevante distinguir a
época em que o recorrido alcançara o que percebido antes da reforma, mas perquirir se, sob a vigência da
Constituição atual, ele teria direito a dupla aposentadoria.
AI 801096 AgR-EDv/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 22.4.2015.

Cessão de servidor e ônus remuneratório


O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação civil originária na qual se pleiteava a condenação da
União ao ressarcimento dos valores dispendidos no pagamento da remuneração e demais encargos sociais
decorrentes da cessão de servidora de órgão distrital para órgão da União. No caso, a cessão fora realizada com
a condição de que o órgão cessionário assumisse todos os encargos decorrentes da cessão, mas a União deixara
de proceder os repasses e pleiteara a devolução dos valores já pagos. Alegava-se que, em virtude do contido no
art. 93, I e § 1º, da Lei 8.112/90, o ônus remuneratório derivado de cessão de servidores públicos deveria ser
suportado pelo órgão cessionário, uma vez que seria esse o beneficiário do trabalho desempenhado pelo
agente. Ademais, afirmava que a própria União reconhecera ser dela o ônus financeiro pelos servidores por ela

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


requisitados quando da edição da MP 1.573-9/1997, que acrescentou o § 5º ao art. 93 da Lei 8.112/90. O
Plenário asseverou que o órgão cedente deixara claro ser encargo do órgão cessionário arcar com todos os
proventos da servidora.
ACO 555/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 23.4.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 20 a 24 de abril de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 867.326-SC


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
INCLUSÃO DE NOME EM SISTEMA DE ANÁLISE, AVALIAÇÃO E PONTUAÇÃO DE RISCO DE CRÉDITO, MANTIDO POR
INSTITUIÇÃO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa à legitimidade dos sistemas de análise, avaliação e pontuação de risco de crédito a consumidor (denominados concentre
scoring, credit scoring ou credscore), mantidos por instituição de proteção ao crédito, bem como a existência de danos indenizáveis por inserção do
nome de consumidor nesses sistemas, é matéria disciplinada por normas infraconstitucionais, sendo apenas reflexa e indireta eventual ofensa a normas
constitucionais.
2. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 870.776-RJ
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. POLICIAIS MILITARES INATIVOS DO ANTIGO
DISTRITO FEDERAL E SEUS PENSIONISTAS. PARIDADE REMUNERATÓRIA COM OS MILITARES DO ATUAL DISTRITO FEDERAL.
LEI 10.486/02 E DECRETO 28.371/07. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa à paridade remuneratória entre os militares do antigo e do atual Distrito Federal, fundada na interpretação da Lei 10.486/02
e do Decreto 28.371/07, é de natureza infraconstitucional.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/03/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 871.499-MA
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SERVIDORES PÚBLICOS. ESTADO DO MARANHÃO.
REAJUSTE CONCEDIDO PELO ART. 4º DA LEI ESTADUAL 8.369/06. NATUREZA DE REVISÃO GERAL ANUAL. MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa à natureza do reajuste concedido pelo art. 4º da Lei Estadual 8.369/06, se de revisão geral anual ou não, é de caráter
infraconstitucional.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 865.645-SP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA:RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. ARTIGO 203, V,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL.
REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 279/STF. INEXISTÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL.
Decisões Publicadas: 4

CLIPPING DO D JE
20 a 24 de abril de 2015

ADI N. 3.813-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei estadual (RS) nº 12.427/2006. Restrições ao comércio de produtos agrícolas importados
no Estado. Competência privativa da União para legislar sobre comércio exterior e interestadual (CF, art. 22, inciso VIII).
1. É formalmente inconstitucional a lei estadual que cria restrições à comercialização, à estocagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados no
Estado, ainda que tenha por objetivo a proteção da saúde dos consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por outros países. A
matéria é predominantemente de comércio exterior e interestadual, sendo, portanto, de competência privativa da União (CF, art. 22, inciso VIII).

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


2. É firme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido da inconstitucionalidade das leis estaduais que constituam entraves ao ingresso de
produtos nos Estados da Federação ou a sua saída deles, provenham esses do exterior ou não (cf. ADI nº 280, Rel. Min. Francisco Rezek, DJ de 17/6/94;
e ADI nº 3.035, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 14/10/05).
3. Ação direta julgada procedente.
*noticiado no Informativo 774
ADI N. 4.900-DF
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: AÇÃO DIRETA. LEI ORDINÁRIA QUE ESTABELECE SUBTETO APLICÁVEL AOS SERVIDORES DA JUSTIÇA
DESVINCULADO DO SUBSÍDIO MENSAL DOS DESEMBARGORES. INTELIGÊNCIA DO ART. 37, XI E § 12, CF.
1. No que respeita ao subteto dos servidores estaduais, a Constituição estabeleceu a possibilidade de o Estado optar entre: (i) a definição de um
subteto por poder, hipótese em que o teto dos servidores da Justiça corresponderá ao subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça (art. 37,
XI, CF, na redação da Emenda Constitucional 41/2003); e (ii) a definição de um subteto único, correspondente ao subsídio mensal dos
Desembargadores do Tribunal de Justiça, para todo e qualquer servidor de qualquer poder, ficando de fora desse subteto apenas o subsídio dos
Deputados (art. 37, § 12, CF, conforme redação da Emenda Constitucional 47/2005).
2. Inconstitucionalidade da desvinculação entre o subteto dos servidores da Justiça e o subsídio mensal dos Desembargadores do Tribunal de Justiça.
Violação ao art. 37, XI e § 12, CF.
3. Incompatibilidade entre a opção pela definição de um subteto único, nos termos do art. Art. 37, § 12, CF, e definição de “subteto do subteto”, em
valor diferenciado e menor, para os servidores do Judiciário. Tratamento injustificadamente mais gravoso para esses servidores. Violação à isonomia.
Ação direta a que se julga procedente.
*noticiado no Informativo 774
TERCEIROS EMB. DECL. NO SEGUNDO AG. REG. NO CC N.7.706-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Embargos de declaração em agravo regimental em conflito de competência. Ações judiciais conexas em trâmite perante a Justiça comum
e a Justiça do Trabalho. Interpretação extensiva sobre o art. 115 do CPC. Conhecimento do conflito. Ação de complementação de aposentadoria.
Aplicação do entendimento firmado no RE nº 586.453/SE. Competência da Justiça comum. Embargos de declaração acolhidos com efeitos
modificativos, para conhecer do conflito e reconhecer a competência da Justiça comum para o julgamento da causa.
1. Em regra, a admissão do conflito de competência com base no art. 115, III, do CPC exige que haja divergência entre juízos diversos quanto à
reunião ou separação dos feitos, consoante expressa previsão do dispositivo.
2. Cabível, todavia, por meio de interpretação extensiva do art. 115, do CPC, o acolhimento do incidente, mesmo ausente a apontada divergência,
quando se tratar de ações conexas (com possibilidade, portanto, de prolação de decisões conflitantes) em trâmite perante Justiças distintas e no bojo
das quais o apontamento de conexão não se mostrar suficiente à definição da competência para seu processo e julgamento.
3. No caso, trata-se de demandas em trâmite perante a Justiça comum e a justiça trabalhista, em que se discute complementação de aposentadoria,
com decisões conflitantes já proferidas, a justificar o conhecimento do conflito.
4. É inaplicável a regra de solução da conexão entre feitos (art. 105, do CPC), uma vez que as ações tramitam perante juízos com competência
material distinta – incidindo a vedação decorrente do art. 102 do CPC – e já contam com decisão de mérito – a atrair a aplicação da Súmula nº 235, do
STJ.
5. A definição do conflito com base na análise das regras de competência, para se aplicar ao caso a regra geral estabelecida por esta Corte nos autos
do RE nº 586.453/SE, com repercussão geral reconhecida, é no sentido de competir à Justiça comum o processamento de demandas ajuizadas contra
entidades privadas de previdência complementar, uma vez que a regra de modulação ali prevista (com atribuição de competência à Justiça do
Trabalho para processar e julgar todas as causas da espécie em que proferida sentença de mérito até 20/2/13) teve por pressuposto sua incidência
sobre demandas únicas, isoladamente consideradas, não tendo sido assentada para reger divergência quanto à competência para o processamento de
ações diversas.
6. Embargos de declaração acolhidos com efeitos modificativos, para conhecer do conflito e declarar a competência da Justiça comum para o processo
e o julgamento dos feitos.
*noticiado no Informativo 777
AG. REG. EM MS N. 26.734-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. APOSENTADORIA. REGISTRO NO TCU. ATO COMPLEXO.
DECADÊNCIA NÃO CONFIGURADA. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA.
INOCORRÊNCIA. A CONTAGEM RECÍPROCA DO TEMPO DE SERVIÇO PRESSUPÕE A COMPROVAÇÃO DO RECOLHIMENTO
DAS CONTRIBUIÇÕES. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
EMB. DECL. NO AG. REG. NO AG. REG. NA Ext N. 1.316-DF
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: DIREITO INTERNACIONAL. EXTRADIÇÃO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL. AUSÊNCIA DE
OMISSÃO.
1. Os autos estão suficientemente instruídos com as datas em que o Estado requerente foi informado da decisão que deferiu o pedido de extradição e
de que o nacional nigeriano estava à sua disposição para ser extraditado.
2. A jurisprudência da Primeira Turma desta Corte permite a interposição de recurso antes da intimação (cf. HC 101.132-ED, Rel. Min. Luiz Fux).
3. Embargos de declaração rejeitados.
AG. REG. NOS EMB. DIV. NO AG. REG. NO RE N. 649.112-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. ENTENDIMENTO ALINHADO AO POSICIONAMENTO SEDIMENTADO PELO PLENÁRIO DESTA
SUPREMA CORTE. PARADIGMA EMPREGADO COMO CAUSA DE DECIDIR DO ACÓRDÃO EMBARGADO. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Inadmissíveis os embargos de divergência opostos em face de acórdão alinhado ao posicionamento do Plenário desta Suprema Corte.
2. In casu, apontado como acórdão paradigma o mesmo precedente empregado para fundamentar o julgado embargado.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 833.985-MS
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. PENSÃO POR
MORTE. PRORROGAÇÃO DO BENEFÍCIO. LIMITE DE IDADE. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. NECESSIDADE

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


DE ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL LOCAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 280/STF. DECLARAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE DE TRATADO OU LEI FEDERAL. INEXISTÊNCIA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO INTERPOSTO
COM FUNDAMENTO NAS ALÍNEAS C E D DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL. INVIABILIDADE.
1. A pensão por morte, quando sub judice a controvérsia sobre a sua prorrogação em face do limite de idade, demanda a análise da legislação
infraconstitucional aplicável à espécie. Precedentes: ARE 740.855-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de 25/11/2013, e ARE
667.498-AgR, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe de 27/8/2013.
2. A violação reflexa e oblíqua da Constituição Federal decorrente da necessidade de análise de malferimento de dispositivo infraconstitucional local,
torna inadmissível o recurso extraordinário, a teor do Enunciado da Súmula nº 280 do Supremo Tribunal Federal, verbis: “Por ofensa a direito local
não cabe recurso extraordinário”.
3. A admissibilidade do recurso extraordinário interposto com fulcro na alínea b do permissivo constitucional exige que o recorrente demonstre
inequivocamente que o Tribunal a quo declarou a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, o que não se verifica na espécie.
4. O Tribunal a quo não julgou válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição, tampouco julgou válida lei local contestada em
face de lei federal, o que afasta o cabimento de recurso extraordinário com base nas alíneas c e d, do art. 102, III, da CF.
5. In casu, o acórdão recorrido assentou: “MANDADO DE SEGURANÇA – PENSÃO POR MORTE – INTERRUPÇÃO PELA MAIORIDADE CIVIL –
BENEFICIÁRIO CURSANDO ENSINO SUPERIOR – PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE PASSIVA DO ESTADO E LITISCONSÓRCIO
PASSIVO NECESSÁRIO DA AGEPREV AFASTADAS – PRELIMINARES DE IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA E CARÊNCIA DA AÇÃO
AFASTADAS – POSSIBILIDADE DE PRORROGAÇÃO DO BENEFÍCIO ATÉ 24 ANOS – APLICAÇÃO ANALÓGICA DA LEI 9.250/95 –
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DO ACESSO À EDUCAÇÃO – VIOLAÇÃO A
DIREITO LÍQUIDO E CERTO CARACTERIZADA – ORDEM CONCEDIDA.”
6. Agravo regimental DESPROVIDO.
AG. REG. NA AC N. 3.738-MG
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AÇÃO CAUTELAR. PEDIDO DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO EXTRAORDINÁRIO ADMITIDO
NA ORIGEM. INTERPOSIÇÃO SIMULTÂNEA DE RECURSO ESPECIAL, TAMBÉM ADMITIDO NA ORIGEM. AUTOS QUE SE
ENCONTRAM SOB APRECIAÇÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. JULGAMENTO DO RECURSO ESPECIAL AINDA NÃO
REALIZADO. NÃO CARACTERIZAÇÃO DO NECESSÁRIO EXAURIMENTO DA JURISDIÇÃO DO STJ. A CONCESSÃO DE EFEITO
SUSPENSIVO A RECURSO EXTRAORDINÁRIO ATRAVÉS DE MEDIDA CAUTELAR SE RESTRINGE AOS CASOS EM QUE O
RECURSO, DEVIDAMENTE ADMITIDO, ENCONTRA-SE SUBMETIDO À ANÁLISE DESTA CORTE, HIPÓTESE NÃO VERIFICADA
IN CASU. INCOMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
1. A competência do Supremo Tribunal Federal para a concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário através de medida cautelar se restringe
aos casos em que o recurso, devidamente admitido, encontra-se submetido à análise desta Corte. Precedentes: AC 3.683-AgR, Rel. Min. Rosa Weber,
Primeira Turma, DJe de 28/10/2014; AC 2.206-AgR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJe de 25/9/2009.
2. Interposto o recurso especial simultaneamente ao extraordinário, as medidas cautelares referentes ao último só devem ser examinadas por esta
Corte após o exaurimento da jurisdição do Superior Tribunal de Justiça, requisito não configurado in casu.
3. Agravo a que se nega provimento.
AG. REG. EM MS N. 29.753-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PROVIMENTO, MEDIANTE REMOÇÃO, SEM CONCURSO PÚBLICO.
ILEGITIMIDADE. ARTIGO 236 E PARÁGRAFOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: NORMAS AUTOAPLICÁVEIS, COM EFEITOS
IMEDIATOS, MESMO ANTES DA LEI 9.835/1994. INAPLICABILIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO ARTIGO 54 DA LEI 9.784/1999.
PRECEDENTES DO PLENÁRIO. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência do STF é no sentido de que o art. 236, caput, e o seu § 3º da CF/88 são normas autoaplicáveis, que incidiram imediatamente desde
a sua vigência, produzindo efeitos, portanto, mesmo antes do advento da Lei 8.935/1994. Assim, a partir de 5/10/1988, o concurso público é
pressuposto inafastável para a delegação de serventias extrajudiciais, inclusive em se tratando de remoção, observado, relativamente a essa última
hipótese, o disposto no art. 16 da referida lei, com a redação que lhe deu a Lei 10.506/2002. As normas estaduais editadas anteriormente, que
admitem a remoção na atividade notarial e de registro independentemente de prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas.
2. É igualmente firme a jurisprudência do STF no sentido de que a atividade notarial e de registro, sujeita a regime jurídico de caráter privado, é
essencialmente distinta da exercida por servidores públicos, cujos cargos não se confundem.
3. O Plenário do STF, em reiterados julgamentos, assentou o entendimento de que o prazo decadencial de 5 (cinco) anos, de que trata o art. 54 da Lei
9.784/1999, não se aplica à revisão de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a Constituição de 1988, sem o atendimento das
exigências prescritas no seu art. 236.
4. É de ser mantida, portanto, a decisão da autoridade impetrada que interferiu na atuação irregular do Tribunal submetido ao seu controle e
considerou ilegítimo o provimento de serventia extrajudicial, sem concurso público, decorrente de remoção, com ofensa ao art. 236, § 3º, da
Constituição. Jurisprudência reafirmada no julgamento do MS 28.440 AgR, de minha relatoria, na Sessão do Plenário de 19/6/2013.
5. Agravo regimental desprovido.
ADI N. 4.791-PR
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. RESPONSABILIDADE PENAL DE GOVERNADOR DE ESTADO. DENÚNCIAS
POR CRIMES COMUNS E DE RESPONSABILIDADE. ADMISSÃO SUJEITA A CONTROLE LEGISLATIVO. LICENÇA-PRÉVIA.
PREVISÃO EM CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. OBRIGATORIEDADE. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DA COMPETÊNCIA DA
UNIÃO PARA DISPOR SOBRE PROCESSO E JULGAMENTO POR CRIMES DE RESPONSABILIDADE.
1. A competência para dispor legislativamente sobre processo e julgamento por crimes de responsabilidade é privativa da União, que o fez por meio
da Lei 1.079/50, aplicável aos Governadores e Secretários de Estado, razão pela qual são inconstitucionais as expressões dos arts. 54 e 89 da
Constituição do Estado do Paraná que trouxeram disciplina discrepante na matéria, atribuindo o julgamento de mérito de imputações do tipo à
Assembleia Legislativa local. Precedentes.
2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de considerar legítimas as normas de Constituições Estaduais que subordinam a
deflagração formal de um processo acusatório contra o Governador do Paraná a um juízo político da Assembleia Legislativa local. Eventuais
episódios de negligência deliberada das Assembleias Legislativas não constituem fundamento idôneo para justificar a mudança dessa jurisprudência,
cabendo considerar que a superveniência da EC 35/01, que suprimiu a necessidade de autorização legislativa para processamento de parlamentares,
não alterou a situação jurídica dos Governadores. Precedente.
3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente em parte.

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


*noticiado no Informativo 774
ADI N. 4.792-ES
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 56, INC. XXI, E 93 DA CONSTITUIÇÃO DO ESPÍRITO SANTO.
INCOMPETÊNCIA DE ESTADO-MEMBRO PARA LEGISLAR SOBRE PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DE CRIMES DE
RESPONSABILIDADE COMETIDOS POR GOVERNADOR. EXIGÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA PARA
INSTAURAÇÃO DE PROCESSO CONTRA O GOVERNADOR POR PRÁTICA DE CRIMES DE RESPONSABILIDADE.
1. Inconstitucionalidade formal decorrente da incompetência dos Estados-membros para legislar sobre processamento e julgamento de crimes de
responsabilidade (art. 22, inc. I, da Constituição da República).
2. Constitucionalidade das normas estaduais que, por simetria, exigem a autorização prévia da assembleia legislativa como condição de
procedibilidade para instauração de ação contra governador (art. 51, inc. I, da Constituição da República).
3. Ação julgada parcialmente procedente para declarar inconstitucional o inc. XXI do art. 56 (“processar e julgar o governador e o vice-governador
do estado nos crimes de responsabilidade e os secretários de estado nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles”); e da segunda parte do
art. 93 da Constituição do Estado do Espírito Santo (“ou perante a assembleia legislativa, nos crimes de responsabilidade”).
*noticiado no Informativo 774
Acórdãos Publicados: 222

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Inadimplemento de pena de multa e progressão de regime (Transcrições)

(v. Informativo 780)


EP 12/DF*
RELATOR: Ministro Roberto Barroso
RELATÓRIO: 1. Trata-se de agravo regimental interposto por ** contra decisão monocrática de minha lavra que indeferiu o pedido de progressão
para o regime prisional aberto.
I. FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA
2. O sentenciado foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro à pena de 6 (seis) anos e 6 (seis) meses de reclusão,
em regime inicial semiaberto, bem assim à pena de multa fixada em 330 dias-multa.
3. Em 19.12.2014, deixei de conceder o regime prisional aberto, sobretudo porque o ora sentenciado, embora devidamente notificado, não
efetuou o pagamento da pena de multa.
4. Apenas registro que o “recuperando, durante o período de trabalho externo, esteve em um bar na Capital Mineira e ingeriu bebidas
alcoólicas” (Petição nº 1887/2015). Fato que justificou a instauração de procedimento administrativo perante o Juízo delegatário desta execução
penal para, observadas as garantias do contraditório e da ampla defesa, apurar eventual prática de falta grave pelo sentenciado.
II. FUNDAMENTOS DO AGRAVO REGIMENTAL
5. Ao impugnar a decisão, o agravante aponta os seguintes argumentos:
a) o prévio pagamento da pena de multa não é requisito legal para a progressão de regime, tendo em vista que não há prisão por
dívida (art. 5º, LXVII) e o art. 51 do CP proíbe a conversão da multa em pena de detenção;
b) a jurisprudência do STJ e do STF (Súmula 693/STF) sequer admite a impetração de HABEAS CORPUS para questionar a pena de
multa;
c) o recorrente já cumpriu mais de 1/6 da reprimenda e satisfaz todos os requisitos do art. 112 da LEP;
6. Com essa argumentação, a defesa postula o provimento deste agravo regimental para o fim de conceder ao sentenciado ** a progressão para
o regime prisional aberto. Em homenagem à garantia da ampla defesa, o agravante alega que a hipótese comporta sustentação oral na sessão de
julgamento, na linha do art. 197 da LEP.
III. PARECER DA PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA
7. O Procurador-Geral da República opinou pelo desprovimento do agravo regimental, afirmando, em síntese, que “o não pagamento da multa
por sentenciado que tenha condições de pagá-la constitui óbice à progressão de regime”.
8. É o relatório.
EMENTA: Execução Penal. Agravo Regimental. Inadimplemento deliberado da pena de multa. Progressão de regime. Impossibilidade.
1. O inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao sentenciado impede a progressão no regime prisional.
2. Tal regra somente é excepcionada pela comprovação da absoluta impossibilidade econômica do apenado em pagar a multa, ainda que
parceladamente.
3. Agravo regimental desprovido.
VOTO: 1. São as seguintes as questões pendentes de solução, que submeto ao Plenário:
I. Possibilidade de sustentação oral em sede de agravo regimental.
II. Saber se é possível conceder a progressão de regime diante do inadimplemento deliberado da pena de multa;
2. Enfrento cada uma delas em capítulos autônomos.
I. A IMPOSSIBILIDADE DE SUSTENTAÇÃO ORAL EM SEDE DE AGRAVO REGIMENTAL
3. Na linha da autorização conferida a este Relator pelo Plenário, no julgamento do Agravo Regimental na EP 2/DF (Sessão de 25.06.2014),
indeferi, monocraticamente, o pedido formulado pelo sentenciado de progressão para o regime prisional aberto.
4. Contra a referida decisão monocrática, o recurso cabível é o agravo regimental, nos termos do art. 317 do RI/STF:

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


“Art. 317. Ressalvadas as exceções previstas neste Regimento, caberá agravo regimental, no prazo de cinco dias de decisão do
Presidente do Tribunal, de Presidente de Turma ou do Relator, que causar prejuízo ao direito da parte.”
5. Nessas condições, não cabe falar em sustentação oral, tendo em vista a regra do art. 131, § 2º, do RI/STF, cuja constitucionalidade já foi
reconhecida pelo Plenário do STF. Vejam-se, nessa linha, a ementa da PET 2.820-AgR, Rel. Min. Celso de Mello (Plenário):
“[...]
- Não cabe sustentação oral, em sede de “agravo regimental”, considerada a existência de expressa vedação regimental que a impede
(RISTF, art. 131, § 2º), fundada em norma cuja constitucionalidade foi expressamente reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ
137/1053 – RTJ 152/782 – RTJ 158/272-273 – RTJ 159/991-992 – RTJ 184/740-741, v.g.).
[...]”
II. O RECOLHIMENTO DA MULTA COMO CONDIÇÃO PARA A PROGRESSÃO DE REGIME
II.1. NATUREZA E FUNÇÃO DA PENA DE MULTA
6. O art. 51 do Código Penal, na redação que lhe havia sido dada pela Lei nº 7.209/1984, previa a possibilidade de conversão da multa em pena
de detenção, quando o condenado, deliberadamente, deixava de honrá-la. Eis a antiga redação do dispositivo:
“Art. 51. A multa converte-se em pena de detenção, quando o condenado solvente deixa de pagá-la ou frustra a sua execução.
Modo de conversão:
§ 1º- Na conversão, a cada dia-multa corresponderá um dia de detenção, não podendo esta ser superior a um ano.
Revogação da conversão:
§ 2º - A conversão fica sem efeito se, a qualquer tempo, é paga a multa.”
7. Posteriormente, a Lei nº 9.268/1996 deu nova redação ao dispositivo, referindo-se à multa como “dívida de valor”. Confira-se:
“Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da
legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.”
8. A nova dicção do art. 51 traz duas consequências:
a) não mais permite a conversão da pena de multa em detenção;
b) permite a correção monetária e a cobrança da sanção como dívida ativa;
9. A referida modificação legislativa não retirou da multa o seu caráter de pena, de sanção criminal. Em rigor, sequer poderia cogitar em fazê-
lo, uma vez que o art. 5º, XLVI, da Constituição, ao cuidar da individualização da pena, faz menção expressa à multa, ao lado da privação da
liberdade e de outras modalidades de sanção penal. Coerentemente, o art. 32 do Código Penal, ao contemplar as espécies de pena, listou
expressamente a multa (art. 32, III).
10. Como tenho sustentado em diversas manifestações, o sistema punitivo no Brasil encontra-se desarrumado. E cabe ao Supremo Tribunal
Federal, nos limites de sua competência, contribuir para sua rearrumação. Nas circunstâncias brasileiras, o direito penal deve ser moderado, mas sério.
Moderado significa evitar a expansão desmedida do seu alcance, seja pelo excesso de tipificações, seja pela exacerbação desproporcional de penas.
Sério significa que sua aplicação deve ser efetiva, de modo a desempenhar o papel dissuasório da criminalidade, que é da sua essência.
11. Em matéria de criminalidade econômica, a pena de multa há de desempenhar papel proeminente. Mais até do que a pena de prisão – que,
nas condições atuais, é relativamente breve e não é capaz de promover a ressocialização –, cabe à multa o papel retributivo e preventivo geral da pena,
desestimulando, no próprio infrator ou em infratores potenciais, a conduta estigmatizada pela legislação penal. Por essa razão, sustentei no julgamento
da Ação Penal 470 que a multa deveria ser fixada com seriedade, em parâmetros razoáveis, e que seu pagamento fosse efetivamente exigido.
12. À vista das premissas acima estabelecidas, chego às seguintes conclusões parciais: (i) a pena de multa não perdeu o seu caráter de sanção
penal; (ii) em matéria de criminalidade econômica, a pena de multa desempenha um papel proeminente de prevenção específica, prevenção geral e
retribuição; e (iii) como consequência, a multa deve ser fixada com seriedade, proporcionalidade e, sobretudo, deve ser efetivamente paga.
II.2. OS REQUISITOS DO ART. 112 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL
13. O Código Penal (art. 33) e a Lei de Execução Penal (art. 110 e segs.) preveem e disciplinam três regimes diversos de cumprimento de
penas privativas de liberdade: o fechado, o semiaberto e o aberto. Para cada uma dessas fases, o legislador definiu estabelecimentos penais próprios.
14. De outro lado, o art. 112 da LEP estabelece os requisitos gerais para que o julgador autorize a progressão a regime prisional mais brando:
“Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser
determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento
carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.
§ 1º A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do Ministério Público e do defensor.
§ 2º Idêntico procedimento será adotado na concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos
previstos nas normas vigentes.”
15. Como regra geral, portanto, não sendo o caso de crime hediondo ou equiparado, condenados com bom comportamento podem progredir de
um regime para o outro após o cumprimento de um sexto da pena no regime anterior.
16. Nada obstante essa regra geral, a jurisprudência desta Corte tem demonstrado que a análise dos requisitos necessários para a progressão de
regime não se restringe ao referido art. 112 da LEP, tendo em vista que elementos outros podem, e devem, ser considerados pelo julgador na delicada
tarefa de individualização da resposta punitiva do Estado, especialmente na fase executória. Afinal, tal como previsto na Exposição de Motivos à Lei
de Execução Penal, “a progressão deve ser uma conquista do condenado pelo seu mérito”, “compreendido esse vocábulo como aptidão, capacidade
e merecimento, demonstrados no curso da execução”.
17. Nessa linha, recordo, por exemplo, a recente decisão adotada por este Plenário no julgamento de agravo regimental na Execução Penal nº
22, de que sou relator. Oportunidade em que esta Corte declarou a constitucionalidade do art. 33, § 4º, do Código Penal, no ponto em que impõe ao
apenado a reparação do dano causado à administração pública como condição para a progressão no regime prisional. Essa condição não figura nos
requisitos do art. 112 da LEP.
18. Um outro exemplo está na possibilidade de o Juízo da Execução Penal determinar a realização do exame criminológico para avaliar o
preenchimento, pelo sentenciado, do requisito subjetivo indispensável à progressão no regime prisional. Embora o exame criminológico tenha
deixado de ser obrigatório, com a edição da Lei nº 10.792/2003, que alterou o art. 112 da LEP, este Tribunal tem permitido “a sua utilização para a
formação do convencimento do magistrado sobre o direito de promoção para regime mais brando” (RHC 116.033, Rel. Min. Ricardo Lewandowski).
Essa orientação, consolidada na Corte, deu origem à Súmula Vinculante 26, assim redigida:
“Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 8.072/90, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame
criminológico”.
19. A análise desses julgados demonstra que o julgador, atento às finalidades da pena e de modo fundamentado, está autorizado a lançar mão
de requisitos outros, não necessariamente enunciados no art. 112 da LEP, mas extraídos do ordenamento jurídico, para avaliar a possibilidade de
progressão no regime prisional, tendo como objetivo, sobretudo, o exame do merecimento do sentenciado.
II.3. EXIGÊNCIA DE PAGAMENTO DA PENA DE MULTA PARA A PROGRESSÃO DE REGIME
20. Circunstâncias brasileiras – como as limitações orçamentárias, a superlotação dos presídios e a existência de centenas de milhares de
mandados de prisão à espera de cumprimento – fazem com que o sistema de cumprimento de penas e de progressão de regime entre nós seja menos
severo do que o de outros países. Menos do que uma opção filosófica ou uma postura de leniência, trata-se de uma escolha política acerca da alocação
de recursos, feita pelas instâncias representativas da sociedade e materializada na lei.
21. Todavia, especialmente em matéria de crimes contra a Administração Pública – como também nos crimes de colarinho branco em geral –,
a parte verdadeiramente severa da pena, a ser executada com rigor, há de ser a de natureza pecuniária. Esta, sim, tem o poder de funcionar como real
fator de prevenção, capaz de inibir a prática de crimes que envolvam apropriação de recursos públicos. A decisão que se tomar aqui solucionará não
apenas o caso presente, mas servirá de sinalização para todo o país acerca da severidade com que devem ser tratados os crimes contra o erário.
22. Nessas condições, não é possível a progressão de regime sem o pagamento da multa fixada na condenação. Assinale-se que o condenado
tem o dever jurídico – e não a faculdade – de pagar integralmente o valor da multa. Pensar de modo diferente seria o mesmo que ignorar modalidade
autônoma de resposta penal expressamente concebida pela Constituição, nos termos do art. 5º, inciso XLVI, alínea “c”. De modo que essa espécie de
sanção penal exige cumprimento espontâneo por parte do apenado, independentemente da instauração de execução judicial. É o que também decorre
do art. 50 do Código Penal, ao estabelecer que “a multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentença”.
23. Com efeito, o não recolhimento da multa por condenado que tenha condições econômicas de pagá-la, sem sacrifício dos recursos
indispensáveis ao sustento próprio e de sua família, constitui deliberado descumprimento de decisão judicial e deve impedir a progressão de regime.
Além disso, admitir-se o não pagamento da multa configuraria tratamento privilegiado em relação ao sentenciado que espontaneamente paga a sanção
pecuniária.
24. Não bastasse essa incongruência lógica, note-se, também, que a passagem para o regime aberto exige do sentenciado “autodisciplina e
senso de responsabilidade” (art. 114, II, da LEP), o que pressupõe o cumprimento das decisões judiciais que se lhe aplicam. Tal interpretação é
reforçada pelo que dispõe o art. 36, § 2º, do Código Penal e o art. 118, § 1º, da Lei de Execução Penal, que estabelecem a regressão de regime para o
condenado que “não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta”. De modo que o deliberado inadimplemento da pena de multa sequer
poderia ser comparável à vedada prisão por dívida, nos moldes do art. 5º, LXVII, da CF/88, configurando apenas óbice à progressão no regime
prisional.
III. DA IMPOSSIBILIDADE ECONÔMICA DO APENADO
25. A exceção admissível ao dever de pagar a multa é a impossibilidade econômica absoluta de fazê-lo. Aqui, diferentemente do que assentei
em relação ao crime de peculato no precedente já referido (EP 22-AgR, caso **) – em que a restituição do dinheiro desviado se mostrou imperativa
para a obtenção do benefício –, é possível a progressão se o sentenciado, veraz e comprovadamente, demonstrar sua absoluta insolvabilidade.
Absoluta insolvabilidade que o impossibilite até mesmo de efetuar o pagamento parcelado da quantia devida, como autorizado pelo art. 50 do Código
Penal (“o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais”).
26. A absoluta incapacidade econômica do apenado, portanto, deve ser devidamente demonstrada nos autos, inclusive porque o acórdão
exequendo fixou o quantum da sanção pecuniária especialmente em função da situação econômica do réu (CP, art. 60), como deve ser. De modo que
a relativização dessa resposta penal depende de prova robusta por parte do sentenciado.
27. No caso de que se trata, não houve a mínima comprovação da insolvabilidade do sentenciado, sendo incabível a exceção admissível ao
dever de pagar a multa.
IV. CONCLUSÃO
28. Diante do exposto, tendo em vista que o sentenciado não pagou a multa e não comprovou a sua incapacidade econômica, nego provimento
ao agravo regimental.
29. É como voto.

*decisão pendente de publicação


** nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
20 a 24 de abril de 2015

Lei nº 13.116, de 20.4.2015 - Estabelece normas gerais para implantação e compartilhamento da infraestrutura
os
de telecomunicações e altera as Leis n 9.472, de 16.07.1997, 11.934, de 5.5.2009, e 10.257, de 10.07.2001. Publicado
no DOU em 22.4.2015, Seção 1, p. 10.

OUTRAS INFORMAÇÕES
20 a 24 de abril de 2015

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) Processo administrativo – Autuação – Organização – Tramitação


– Desmembramento de processo –Juntada – Arquivamento
Instrução Normativa nº 191, de 27.3.2015 - Disciplina a formação de processos administrativos no âmbito do
Supremo Tribunal Federal. Publicada no Boletim de Serviço, n. 4, p. 6-12, em 10.4.2015.

Informativo 782-STF (05/05/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: RE
212609/SP; RHC 126763/MS.
Julgado excluído por ter sido decidido com base em peculiaridades do caso concreto: ADI 4413 MC QO/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CNMP
 CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei.

DIREITO ADMINISTRATIVO
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
 Constitucionalidade da Lei 9.637/98.

SERVIDORES PÚBLICOS
 Remunerações acima do teto constitucional e base de cálculo para incidência do IR e da contribuição
previdenciária.

DIREITO ELEITORAL
CRIMES ELEITORAIS
 Requisitos para a configuração do crime de desobediência eleitoral

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


MANDADO DE SEGURANÇA
 Desistência de MS após já ter sido prolatada sentença de mérito.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


COMPETÊNCIA
 Mesmo tendo cessada a competência do STF para julgar a ação penal é possível a concessão de habeas corpus de
ofício em caso de flagrante atipicidade.

DIREITO CONSTITUCIONAL
CNMP
CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei

Atenção! Ministério Público


O CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei,
considerando que se trata de órgão de natureza administrativa, cuja atribuição se resume a
fazer o controle da legitimidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos
do Ministério Público federal e estadual (art. 130-A, § 2º, da CF/88).

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


Assim, se o CNMP, julgando procedimento de controle administrativo, declara a
inconstitucionalidade de artigo de Lei estadual, ele exorbita de suas funções.
STF. 1ª Turma. MS 27744/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/4/2015 (Info 781).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O MPSC entendeu que determinado Promotor de Justiça (de entrância inicial) poderia permanecer
atuando aà o a aà XXX mesmo esta tendo sido transformada em comarca de entrância intermediária.
A decisão do MPSC foi fundamentada no art. 141 da LC 197/2000, do Estado de SC, que diz o seguinte:
Art. 141. O membro do Ministério Público terá garantida a sua permanência na comarca cuja entrância for
elevada e, quando promovido, nela será efetivado, desde que formalize a opção no prazo de cinco dias.

Outro Promotor de Justiça não concordou com a decisão do MPSC e ingressou com reclamação no CNMP
questionando isso. O Conselho decidiu que a permanência na comarca foi indevida porque o art. 141 da LC
estadual 197/2000 seria inconstitucional e não poderia ser aplicado para aquele caso concreto nem para
as situações futuras envolvendo outras comarcas.

A decisão do CNMP foi correta?


NÃO. O CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei, considerando
que se trata de órgão de natureza administrativa, cuja atribuição se resume a fazer o controle da
legitimidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério Público federal e
estadual (art. 130-A, § 2º, da CF/88).
Assim, o CNMP, ao declarar a inconstitucionalidade de artigo de Lei estadual exorbitou de suas funções.
Logo, o direito ou não do Promotor de Justiça de permanecer na comarca não poderia ter sido analisado
pelo CNMP sob o prisma da constitucionalidade ou não da lei local que previu a regra.

DIREITO ADMINISTRATIVO
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
Constitucionalidade da Lei 9.637/98

Importante!!!
Organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, prestadoras
de atividades de interesse público e que, por terem preenchido determinados requisitos
previstos na Lei . 3 / , recebem a qualificação de organização social .
A pessoa jurídica, depois de obter esse título de organização social , poderá celebrar com o
Poder Público um instrumento chamado de contrato de gestão por meio do qual receberá
incentivos públicos para continuar realizando suas atividades.
Foi ajuizada uma ADI contra diversos dispositivos da Lei 9.637/98 e também contra o art. 24,
XXIV, da Lei 8.666/93, que prevê a dispensa de licitação nas contratações de organizações
sociais.
O Plenário do STF não declarou os dispositivos inconstitucionais, mas deu interpretação
conforme a Constituição para deixar explícitas as seguintes conclusões:
a) o procedimento de qualificação das organizações sociais deve ser conduzido de forma
pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 3 da CF, e de
acordo com parâmetros fixados em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei 9.637/98;
b) a celebração do contrato de gestão deve ser conduzida de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 3 da CF;

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


c) as hipóteses de dispensa de licitação para contratações (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV) e
outorga de permissão de uso de bem público (Lei 9.637/1998, art. 12, § 3º) são válidas, mas
devem ser conduzidas de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios
do caput do art. 3 da CF;
d) a seleção de pessoal pelas organizações sociais deve ser conduzida de forma pública,
objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 3 da CF, e nos termos
do regulamento próprio a ser editado por cada entidade; e
e) qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério Público e pelo Tribunal de
Contas da União, da aplicação de verbas públicas deve ser afastada.
STF. Plenário. ADI 1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 15
e 16/4/2015 (Info 781).

SETORES DA ECONOMIA
Não sei se você já ouviu falar em primeiro, segundo ou terceiro setores da economia.
O assunto que irei explicar agora está relacionado com o chamado te ei oà seto à daà e o o ia. Mas
afinal de contas, o que é isso?
Existe uma classificação que divide os atores da economia em quatro setores diferentes:
1º Setor: 2º Setor: 3º Setor: 4º Setor:
Estado Mercado Entidades paraestatais Economia informal
São os órgãos e entidades São os empresários e Formado pelas entidades São os particulares que
da Administração Pública. sociedades empresárias. não-governamentais atuam no mercado, mas
Atuam e influenciam na Atuam na economia com (entidades privadas) que sem estarem registrados
economia com o objetivo o objetivo principal de prestam atividades de formalmente. É uma forma
principal de garantir os gerar lucro. interesse público, por de fugir do pagamento de
interesses da coletividade. iniciativa própria, sem fins tributos e demais
lucrativos. obrigações legais. Também
estão aqui pessoas que
praticam atividades
econômicas ilícitas (ex:
tráfico de drogas).

TERCEIRO SETOR
No terceiro setor estão as entidades privadas que, mesmo sem integrarem a Administração Pública,
executam atividades de interesse público (social) e sem fins lucrativos.
São também chamadas de:
- e tesàdeà ola o aç o à po ueàest oàajuda do/colaborando com a Administração Pública); ou
- e tidadesà pa aestatais à ( pa a à à u à adi alà deà o ige à g egaà ueà sig ifi aà aoà lado ;à assi ,à diz-se
ueàtaisàe tidadesàs oàpa aestataisàpo ueàatua à aoàlado dos órgãos e entidades estatais).
Existem, atualmente, cinco espécies de entidades que atuam no terceiro setor:
a) os Serviços Sociais Autônomos. Exs: SESI, SENAI, SESC.
b) as Organizações Sociais (OS).
c) as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP).
d) as Entidades de Apoio.

Quando falamos em crescimento e incentivo do terceiro setor devemos destacar uma expressão que pode ser
cobrada na sua prova: publicização dos serviços não exclusivos do Estado. Vejamos com calma o que é isso.
Na década de 90, ganhou força no Brasil a ideia de que seria necessário fazer uma Reforma do Aparelho do
Estado, reduzindo seu tamanho e as atividades por ele desenvolvidas. Foi então aprovado um Plano
Diretor com diversas medidas para transformar a Administração Pública, que era muito burocrática, em
uma Administração Pública mais moderna e eficiente (Administração Pública gerencial). Esse Plano tinha
cinco eixos principais:
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1) reduzir o papel do Estado na economia para que ele deixasse de ser responsável direto por atividades
econômicas e atuasse apenas como fomentador e regulador do mercado;
2) privatização de atividades que antes eram exercidas pelo Estado e poderiam ser passadas aos
particulares (ex: telefonia);
3) publicização dos serviços não exclusivos do Estado, ou seja, passou-se a defender que alguns serviços
públicos que não fossem exclusivos do Estado deveriam ser agora exercidos de forma prioritária pelo setor
público não estatal (sociedade civil organizada: 3º setor);
4) melhorar a eficiência da máquina administrativa;
5) reduzir os gastos públicos.

Desse modo, foram editadas algumas leis, como a Lei n. 9.637/98 e a Lei n. 9.790/99, buscando
incentivar o fortalecimento do terceiro setor a fim de promover a publicização dos serviços não exclusivos
do Estado, isto é, a sua gradual transferência para a sociedade civil.

Como disse, o assunto que iremos estudar agora está relacionado com esse 3º setor. Na verdade, vamos
tratar sobre uma dessas entidades que atua no 3º setor: as organizações sociais.

ORGANIZAÇÕES SOCIAIS (OS)


São pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, prestadoras de atividades de interesse público
e que, por terem preenchido determinados requisitos previstos na Lei n. 9.637/98, recebem a
qualificação (título, selo) de o ga izaç oàso ial .
áàpessoaàju ídi a,àdepoisàdeào te àesseàtítuloàdeà o ga izaç oàso ial ,àpode àcelebrar com o Poder Público
u à i st u e toà ha adoà deà o t atoà deà gest o à po à eioà doà ualà receberá incentivos públicos para
continuar realizando suas atividades.
As regras relacionadas com as organizações sociais estão previstas na Lei n. 9.637/98. Veja o que diz o art. 1º:
Art. 1º O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado,
sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento
tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos
previstos nesta Lei.

Quem concede a qualificação de OS?


O Ministro do Planejamento em conjunto com o Ministro da área na qual atua a pessoa jurídica que
pretende a qualificação de OS. Ex: se essa pessoa jurídica desempenha funções na área de educação,
quem concederá será o Ministro da Educação em conjunto com o Ministro do Planejamento.

Quais são os requisitos necessários para a pessoa jurídica ser qualificada como OS?
Tais requisitos estão elencados no art. 2º da Lei n. 9.637/98. Veja um resumo dos principais requisitos
necessários para que as entidades possam tentar receber a qualificação de organização social:
 finalidade não-lucrativa, com a obrigatoriedade de investimento de seus excedentes financeiros no
desenvolvimento das próprias atividades;
 ter, como órgãos de deliberação superior e de direção, um conselho de administração e uma diretoria;
 participação, no seu órgão colegiado de deliberação superior, de representantes do Poder Público e de
membros da comunidade, de notória capacidade profissional e idoneidade moral;
 obrigatoriedade de publicação anual, no Diário Oficial da União, dos relatórios financeiros e do
relatório de execução do contrato de gestão;
 proibição de distribuição de bens ou de parcela do patrimônio líquido em qualquer hipótese, inclusive
em razão de desligamento, retirada ou falecimento de associado ou membro da entidade;
 previsão de incorporação integral do patrimônio, dos legados ou das doações que lhe foram
destinados, bem como dos excedentes financeiros decorrentes de suas atividades, em caso de
extinção ou desqualificação, ao patrimônio de outra organização social qualificada no âmbito da

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


União, da mesma área de atuação, ou ao patrimônio da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos
Municípios, na proporção dos recursos e bens por estes alocados.

Se a pessoa jurídica preencher todos os requisitos ali listados, o Poder Público é obrigado a conceder a
qualificação?
NÃO. Mesmo preenchendo todos os requisitos, os Ministros podem decidir não conceder o titulo porque
esta é uma decisão discricionária, na qual se avalia a conveniência e oportunidade de conceder.

Em quais áreas atua a OS?


Para que a pessoa jurídica seja qualificada como OS ela precisa desempenhar atividades em uma das
seguintes áreas: ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, meio ambiente, cultura e saúde.
Segundo a doutrina majoritária, esse rol é taxativo, de forma que se a pessoa jurídica trabalhar apenas
com assistência social, por exemplo, não atenderá os requisitos para ser qualificada como uma OS.
Em provas de concurso, você poderá encontrar a afirmação de que as organizações sociais são pessoas
jurídicas de direito privado que prestam serviços públicos não exclusivos de Estado, ou seja, serviços que
são desempenhados pelo Estado, mas que podem também ser exercidos por particulares.

O que é o contrato de gestão?


Contrato de gestão é o instrumento firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como
organização social, com o objetivo de que, a partir daí, seja formada uma parceria entre eles para fomento
e execução das atividades que uma OS faz (ensino, pesquisa científica etc.).
No contrato de gestão serão listadas as atribuições, responsabilidades e obrigações do Poder Público e da
organização social.
O contrato de gestão deve ser submetido ao Ministro de Estado da área correspondente à atividade
fomentada. Ex: se a OS desenvolve atividades de saúde, quem aprovará o contrato será o Ministro da Saúde.
Obs.1:àapesa àdeàaàleiàdize à ueàesseàajusteà àu à o t ato ,àaàdout i aà iti aàa nomenclatura e afirma
que, na verdade, o melhor seria chamá-lo de convênio, de termo de colaboração ou termo de fomento.
Isso porque no contrato existem interesses opostos e nessa relação da OS com o Poder Público os
objetivos são os mesmos, são convergentes.
Obs.2: os responsáveis pela fiscalização do contrato de gestão, ao tomarem conhecimento de qualquer
irregularidade ou ilegalidade na utilização de recursos ou bens de origem pública por organização social,
deverão comunicar o Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade solidária.

As organizações sociais que celebrarem contrato de gestão com o Poder Público passam a ser
consideradas entidades da Administração Pública?
NÃO. Mesmo tendo celebrado contrato de gestão, continuam sendo entidades paraestatais (não estatais).

As organizações sociais que celebrarem contrato de gestão com o Poder Público podem ser consideradas
delegatárias de serviços públicos?
NÃO. As organizações sociais exercem em nome próprio serviços públicos, mas não são consideradas
delegatárias tendo em vista que não recebem uma concessão ou permissão de serviço do Poder Público.
Os setores de saúde, educação, cultura, desporto e lazer, ciência e tecnologia e meio ambiente são
classificados como serviços públicos sociais. Segundo a CF/88, tais serviços devem ser desempenhados não
apenas pelo Estado como também pela sociedade (são deve esà doà Estadoà e da Sociedade ). Assim, é
permitida a atuação, por direito próprio, dos particulares, sem que para tanto seja necessária a delegação
pelo Poder Público. Não se aplica, portanto, o a t.à1 5,à aput ,àdaàCF/88 às atividades desenvolvidas pelas
organizações sociais.

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Quais são os incentivos que uma OS recebe do Poder Público?
As organizações sociais poderão receber os seguintes incentivos para cumprir o contrato de gestão:
a) Recursos orçamentários: podem receber di hei oàpú li o ;
b) Cessão de bens públicos, mediante permissão de uso, dispensada licitação: podem receber, sem
licitação, bens públicos para serem usados em suas atividades;
c) Cessão especial de servidor, com ônus para o órgão de origem do servidor cedido: servidores públicos
podem ser colocados à disposição das organizações sociais para lá trabalharem, continuando recebendo
sua remuneração dos cofres públicos;
d) Contratadas sem licitação: as organizações sociais podem ser contratadas, com dispensa de licitação,
para prestarem serviço a órgãos e entidades da Administração Pública, recebendo por isso (art. 24, XXIV,
da Lei n. 8.666/93). Veja abaixo a redação da Lei de Licitações:
Art. 24. É dispensável a licitação:
(...)
XXIV - para a celebração de contratos de prestação de serviços com as organizações sociais, qualificadas no
âmbito das respectivas esferas de governo, para atividades contempladas no contrato de gestão. (Incluído
pela Lei nº 9.648/98)

Desse modo, quando a Administração contratar serviços a serem prestados pelas organizações sociais,
está dispensada de realizar licitação, desde que aquela atividade esteja prevista no contrato de gestão.

ADI 1923/DF
Em 1998, o PT e o PDT ajuizaram uma ADI contra diversos dispositivos da Lei das Organizações Sociais (Lei
n. 9.637/98) e também contra o art. 1º da Lei n. 9.648/98 que mudou a Lei n. 8.666/93 para prever a
dispensa de licitação nas contratações de organizações sociais.
O STF finalmente julgou a ação. Veja os principais pontos sobre o que foi decidido:

É inconstitucional a previsão de que as organizações sociais irão substituir a atuação de órgãos e


entidades da Administração Pública e irão, elas próprias, desempenhar determinados serviços públicos
não exclusivos?
NÃO. As organizações sociais exercem papel relevante, pela sua participação coadjuvante em serviços que
não seriam exclusivos do Estado, e a Constituição admite essa coparticipação particular. O programa de
publicização é, portanto, legítimo e permite ao Estado compartilhar com a comunidade, as empresas e o
terceiro setor a responsabilidade pela prestação de serviços públicos, como os de saúde e de educação.
O STF não pode engessar as opções políticas dos governantes e impedir que o Governo legitimamente
eleito adote determinado modelo de Estado (no caso, o Estado gerencial).

Os incentivos previstos na Lei n. 9.637/98 em favor das organizações sociais (recebimento de recursos
orçamentários, cessão de bens e servidores etc.) são inconstitucionais?
NÃO. O Poder Público pode atuar no domínio econômico (atividades econômicas) ou na área social por
meio de intervenção direta (quando ele mesmo age disponibilizando utilidades materiais aos beneficiários)
ou indireta (quando faz uso de seu instrumental jurídico para induzir que os particulares executem
atividades de interesses públicos).
Essa atuação indireta ocorre mediante atividades de regulação do mercado ou de fomento (concessão de
incentivos e estímulos). Em qualquer das situações, o certo é que a Administração Pública atua sob o
ângulo do resultado, ou seja, verificando se os objetivos buscados estão sendo atingidos.
Assim, essa cessão de recursos, bens e pessoal da Administração Pública para as entidades privadas, após
a celebração de contrato de gestão, é o que viabiliza (possibilita) a transferência para os particulares das
atividades de interesse público exigindo das organizações sociais, em contrapartida, metas e resultados a
serem alcançados.

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§ 3º da Lei n. 9.637/98) é inconstitucional?
A regra segundo a qual as organizações sociais podem usar bens públicos mesmo sem licitação (art. 12,

A dispensa de licitação para que o Poder Público contrate organizações sociais (art. 24, XXIV, da Lei n.
8.666/93) é inconstitucional?
NÃO. As dispensas de licitação instituídas no art. 12, § 3º, da Lei n. 9.637/98 e no art. 24, XXIV, da Lei n.
8.666/1993 tem a finalidade de induzir (fomentar) práticas sociais benéficas, ou seja, incentivar a atuação
de organizações sociais que tenham firmado contrato de gestão e que sejam, assim, reconhecidas como
colaboradoras do Poder Público no desempenho dos deveres constitucionais no campo dos serviços
sociais. A isso chamamos de função regulatória da licitação .

Função regulatória da licitação: segundo essa teoria, a licitação pode ser utilizada como instrumento de
regulação de mercado, de modo a torná-lo mais livre e competitivo, além de ser possível concebê-la como
mecanismo de indução de determinadas práticas (de mercado) que produzam resultados sociais
benéficos, imediatos ou futuros, à sociedade. A possibilidade de contratação direta, sem licitação, de
organizações sociais ou OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) é um exemplo dessa
função regulatória da licitação já que, como essa prática, o Estado induz que essas entidades sejam criadas
pelos particulares. Para maiores informações, veja: FERRAZ, Luciano. Função regulatória da licitação.
Disponível em: http://revista.tce.mg.gov.br/Content/Upload/Materia/490.pdf.

O afastamento do certame licitatório não exime, porém, o administrador público da observância dos
princípios constitucionais, de modo que a contratação direta deve observar critérios objetivos e
impessoais, com publicidade de forma a permitir o acesso a todos os interessados.

Vimos acima que a organização social que celebrar contrato de gestão pode receber recursos
orçamentários. Recebendo esse dinheiro público, a organização social, quando contratar terceiros (ex:
comprar produtos, serviços), é obrigada a fazer licitação? Dito de forma direta, a organização social
submete-se ao dever de licitar?
NÃO. As organizações sociais, por integrarem o Terceiro Setor, não fazem parte do conceito constitucional
de Administração Pública, razão pela qual não se submetem, em suas contratações com terceiros, ao
dever de licitar, o que consistiria em quebra da lógica de flexibilidade do setor privado, finalidade por
detrás de todo o marco regulatório instituído pela Lei.
No entanto, por receberem recursos públicos, bens públicos e servidores públicos, o regime jurídico das
organizações sociais deve ser minimamente informado (influenciado) pelos princípios da Administração
Pública (art. 37, caput ,à daà CF/ ), dentre os quais se destaca o princípio da impessoalidade, de modo
que suas contratações devem observar o disposto em regulamento próprio (Lei nº 9.637/98, art. 4º, VIII),
fixando regras objetivas e impessoais para o dispêndio de recursos públicos.
Em outras palavras, quando a OS for contratar, não precisará seguir as rígidas regras da Lei de Licitações
de Contratos (Lei n. 8.666/93), devendo respeitar, contudo, os princípios da Administração Pública
elencados no caput do art. 37 da CF/88 (LIMPE) e as normas de seu regulamento interno (que irão explicar
os passos necessários para a contratação).

Os salários pagos aos empregados das organizações sociais precisam ser fixados em lei, conforme exige
o art. 37, X, da CF/88?
NÃO. Os empregados das organizações sociais não são servidores públicos, mas sim empregados privados.
Logo, a sua remuneração não precisa ser fixada em lei (art. 37, X, da CF/88). Basta que seja prevista no
contrato de trabalho firmado consensualmente entre a OS e o empregado.

A OS é obrigada a fazer concurso público para a contratação de seus empregados?


NÃO. Não se aplica às organizações sociais a exigência de concurso público (art. 37, II, da CF/88). Vale
ressaltar, no entanto, que o STF exigiu que as organizações sociais, quando forem contratar seus
funcionários, deverão fazer um procedimento objetivo e impessoal.

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Resumo:
O Plenário do STF, por maioria, acolheu, em parte, pedido formulado na ADI para conferir interpretação
conforme a Constituição e deixar explícitas as seguintes conclusões:
a) o procedimento de qualificação das organizações sociais deve ser conduzido de forma pública, objetiva
eà i pessoal,à o à o se v iaà dosà p i ípiosà doà aput à doà a t.à 3 à daà CF,à eà deà a o doà o à pa et osà
fixados em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei 9.637/98;
b) a celebração do contrato de gestão deve ser conduzida de forma pública, objetiva e impessoal, com
o se v iaàdosàp i ípiosàdoà aput àdoàa t.à3 àdaàCF;à
c) as hipóteses de dispensa de licitação para contratações (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV) e outorga de
permissão de uso de bem público (Lei 9.637/1998, art. 12, § 3º) são válidas, mas devem ser conduzidas de
fo aàpú li a,ào jetivaàeài pessoal,à o ào se v iaàdosàp i ípiosàdoà aput àdoàa t.à3 àdaàCF;à
d) a seleção de pessoal pelas organizações sociais deve ser conduzida de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos p i ípiosà doà aput à doà a t.à 3 à daà CF,à eà osà te osà doà egula e toà
próprio a ser editado por cada entidade; e
e) qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas da
União, da aplicação de verbas públicas deve ser afastada.

SERVIDORES PÚBLICOS
Remunerações acima do teto constitucional e base de cálculo
para incidência do IR e da contribuição previdenciária

Existem determinados servidores, especialmente aposentados, que, por terem vantagens pessoais
incorporadas em seus vencimentos ex: quintos , no papel , deveriam receber mais do que o teto.
Ex: João, Desembargador aposentado, incorporou diversas gratificações pessoais ao longo de sua
carreira. Assim, a remuneração bruta de João é de R$ 50 mil, mas ele só receberá, de fato, até o
valor do teto, devendo ser ressaltado que a quantia que superar o limite constitucional não lhe
será paga. O valor que, no momento do pagamento, é descontado da remuneração total do
servidor por estar superando o teto constitucional é chamado de abate-teto .
O servidor público, antes de receber sua remuneração líquida, é obrigado a pagar imposto de
renda e contribuição previdenciária. Esse valor já é descontado na folha pela entidade pagadora.
Assim, o Tribunal de Justiça, antes de pagar a remuneração de um Desembargador, já desconta os
valores que ele deverá pagar de IR e contribuição previdenciária. As alíquotas do IR e da
contribuição previdenciária incidem sobre o valor da remuneração do servidor público. Ex: valor
do IR = 27,5% multiplicado pela remuneração do servidor. Em termos tributários, podemos dizer
que a base de cálculo do IR e da contribuição previdenciária é a remuneração do servidor.
Se o servidor tem uma remuneração no papel superior ao teto, o imposto de renda e a
contribuição previdenciária incidirão sobre essa remuneração total ou sobre a remuneração
total menos o abate-teto? Em outras palavras, a remuneração de João é 50 mil; ocorre que o
teto do funcionalismo é 33 mil; João pagará IR e CP sobre 50 mil ou sobre 33 mil?
Sobre os 33 mil. A base de cálculo para se cobrar o IR e a contribuição previdenciária é o valor
da remuneração do servidor depois de ser excluída a quantia que exceder o teto.
Como o recurso extraordinário foi julgado sob a sistemática de repercussão geral, o STF
definiu, em uma frase, a tese que será aplicada em todos os demais casos idênticos. A tese
firmada foi a seguinte: Subtraído o montante que exceder o teto e subteto previsto no artigo
37, inciso XI, da Constituição Federal, tem-se o valor que vale como base para o Imposto de
Renda e para a contribuição previdenciária .
STF. Plenário. RE 675978/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/4/2015 (repercussão geral)
(Info 781).

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Teto remuneratório
A CF/88 prevê, em seu art. 37, XI, o ha adoà tetoà e u e ató io ,à ouà seja,à oà valo à xi oà ueà osà
agentes públicos podem receber no país. O objetivo do constituinte foi o de evitar que alguns agentes
pú li osà e e esse àosà ha adosà supe sal ios ,à ueàs oài o patíveisà o àoàse viçoàpú li o.
Além de um teto geral (nacional), o dispositivo constitucional prevê limites específicos para o âmbito dos
Estados e Municípios (chamados de subtetos).
O teto geral do serviço público no Brasil é o subsídio dos Ministros do STF que, atualmente, está em R$
33.763,00.

Como é o teto remuneratório:

Teto NACIONAL: subsídio dos Ministros do STF


Ninguém poderá receber acima desse valor; as Constituições estaduais e leis orgânicas podem fixar
subtetos para Estados/DF e Municípios; tais subtetos também deverão respeitar o teto nacional.
Subteto nos
Subteto na União Subteto nos Estados/DF
Municípios
Subsídio dos Existem duas opções: Subsídio do Prefeito
Ministros do STF Opção 1 (subtetos diferentes para cada um dos Poderes):
 Executivo: subsídio do Governador.
 Legislativo: subsídio dos Deputados Estaduais.
 Judiciário (inclui MP, Defensoria e Procuradoria):
subsídio dos Desembargadores do TJ.

Opção 2 (subteto único para todos os Poderes): subsídio


dos Desembargadores do TJ.
Obs.1: o subsídio do Desembargador é 90,25% do
subsídio do Ministro do STF.
Obs.2: o subsídio dos Deputados Estaduais/Distritais
seguirá regras próprias (§ 2º do art. 27), não estando
sujeito ao subsídio dos Desembargadores.

Vale ressaltar que quem define se o Estado-membro


adotará subtetos diferentes ou único é a Constituição
estadual.

A quem se aplica o teto?


Aplica-se aos agentes públicos independentemente do tipo de vínculo: estatutário, celetista, temporário,
comissionado, político.

O teto se aplica à Administração direta e indireta?


 Agentes públicos da administração direta: SEMPRE
 Agentes públicos das autarquias e fundações: SEMPRE
 Empregados públicos das empresas públicas e sociedades de economia mista: o teto somente se aplica
se a empresa pública ou a sociedade de economia mista receber recursos da União, dos Estados, do DF
ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral (art. 37, § 9º).

Quais as parcelas incluídas nesse limite?


Regra: o teto abrange todas as espécies remuneratórias e todas as parcelas integrantes do valor total
percebido, incluídas as vantagens pessoais ou quaisquer outras.

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Exeções:
Estão fora do teto as seguintes verbas:
a) parcelas de caráter indenizatório previstas em lei (§ 11 do art. 37);
b) verbas que correspondam aos direitos sociais previstos no art. 7º c/c o art. 39, § 3º da CF/88, tais
como 13º salário, 1/3 constitucional de férias etc. (Fernanda Marinela);
c) quantias recebidas pelo servidor a título de abono de permanência em serviço (§ 19 do art. 40);
d) remuneração em caso de acumulação legítima de cargos públicos. O STJ entende que, se o servidor
acumular dois cargos públicos nas hipóteses previstas na CF/88, a remuneração de cada cargo não
poderá ser superior ao teto constitucional, sendo possível, no entanto, que a soma dos dois ultrapasse
esse limite (STJ. 2ª T. AgRg no AgRg no RMS 33.100/DF, Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado
em 07/05/2013). Ex.: se determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber
seu subsídio integral como Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse caso, o
teto seria considerado especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele recebesse acima do
limite previsto no art. 37, XI da CF, se considerarmos seus ganhos globais.

Obs: esse quadro de exceções é a posição atualmente majoritária, mas o STF ainda irá examinar e definir o
tema em um recurso extraordinário sob a sistemática da repercussão geral e que aguarda para ser julgado.

Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto?
Sim. A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.

O teto remuneratório existe desde quando?


A redação originária da CF/88 já previa a existência de um teto remuneratório, mas o dispositivo
constitucional não era autoaplicável. Assim, na prática, o teto só foi implementado com a EC nº 41/2003.
Dessa forma, na prática, o teto passou a vigorar no Brasil a partir da EC nº 41/2003, que foi publicada em
31/12/2003.

Quando o teto foi finalmente implementado na prática (EC 41/2003), o que aconteceu com a
remuneração das pessoas que recebiam acima do teto que foi instituído? Essas pessoas tiveram direito
adquirido de continuar recebendo acima do teto?
NÃO. O art. 9º da EC nº 41/2003 determinou que qualquer remuneração ou proventos que estivessem
sendo recebidos acima do teto deveriam ser imediatamente reduzidos ao limite fixado, não podendo a
pessoa invocar direito adquirido.

Abate-teto
Existem determinados servidores, especialmente aposentados, que, por terem vantagens pessoais
i o po adasàe àseusàve i e tosà ex:à ui tos ,à oàpapel ,àdeve ia à e e e à aisàdoà ueàoàteto.à
Ex: João, Desembargador aposentado, incorporou diversas gratificações pessoais ao longo de sua carreira.
Assim, a remuneração bruta de João é de R$ 50 mil, mas ele só receberá, de fato, até o valor do teto,
devendo ser ressaltado que a quantia que superar o limite constitucional não lhe será paga. O valor que,
no momento do pagamento, é descontado da remuneração total do servidor por estar superando o teto
o stitu io alà à ha adoàdeà a ate-teto .

Imposto de renda e contribuição previdenciária


O servidor público, antes de receber sua remuneração líquida, é obrigado a pagar imposto de renda e
contribuição previdenciária. Esse valor já é descontado na folha pela entidade pagadora. Assim, o Tribunal
de Justiça, antes de pagar a remuneração de um Desembargador, já desconta os valores que ele deverá
pagar de IR e contribuição previdenciária.
As alíquotas do IR (ex: 27,5%) e da contribuição previdenciária (ex: 11%) incidem sobre o valor da
remuneração do servidor público. Em termos tributários, podemos dizer que a base de cálculo do IR e da

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


contribuição previdenciária é a remuneração do servidor.
Até aqui, tudo bem. O problema é que, como vimos acima, existem servidores pú li osà ue,à oàpapel ,à
recebem remunerações acima do teto, mas, na prática, em virtude do abate-teto, acabam ganhando
menos.

Diante disso, surge a seguinte dúvida: se o servidor te u a re u eração o i al o papel


superior ao teto, o imposto de renda e a contribuição previdenciária incidirão sobre essa remuneração
total ou sobre a remuneração total menos o abate-teto?
Veja com um exemplo que fica mais claro (obs: para facilitar as contas, vou arredondar os percentuais de
descontos e considerar que o teto constitucional é 35 mil):
Contracheque de João (Desembargador aposentado):
- Subsídio: 30.000,00
- Vantagens pessoais: 20.000,00
- Remuneração bruta: 50.000,00
- Abate-teto: 15.000,00 (50.000,00 – 35.000,00)

No exemplo, acima, as alíquotas do imposto de renda e da contribuição previdenciária deverão incidir


sobre os 50 mil ou sobre 35 mil?
Surgiram duas correntes sobre o tema:
 Tese de João (servidor público): sobre o valor total (50 mil).
 Tese da Fazenda Pública: sobre o valor após a redução do abate-teto: (35 mil).

Mas agora eu não entendi.... Por que João queria pagar sobre o valor total? Isso não seria pior para ele?
NÃO. No caso concreto, não. A questão é matemática. Veja com calma porque, tirando Pontes de
Miranda, os operadores do Direito não são bons com números:

Se aplicada a tese de João Se aplicada a tese da Fazenda Pública


IR (27,5%) = 13.750,00 IR (27,5%) = 9.625,00
CP (11%) = 5.500,00 CP (11%) = 3.850,00
Total: 19.250,00 Total: 13.475,00

50.000 – 19.250,00 = 30.750,00 35.000 – 13.475,00 = 21.525,00

Desse modo, no caso concreto, para este servidor era melhor que ele pagasse o IR e a contribuição
previdenciária sobre o valor total de sua remuneração (e não sobre o valor depois de deduzido o abate-teto).

Qual das duas teses foi adotada pelo STF?


A segunda. Segundo definiu o STF, a base de cálculo para se cobrar o Imposto de Renda e a contribuição
previdenciária é o valor da remuneração do servidor depois de ser excluída a quantia que exceder o teto.
Portanto, as deduções de imposto de renda e de contribuições previdenciárias devem incidir após a
apli aç oàdoà a ate-teto .

Princípios da igualdade e da razoabilidade


Para o STF, se a base de cálculo do IR e da contribuição previdenciária fosse um valor superior ao do teto
constitucional, isso iria contrariar os princípios da igualdade e da razoabilidade.
O princípio da igualdade estaria violado porque os próprios Ministros do STF pagam IR e contribuição
previdenciária sobre o valor estipulado em lei como o teto geral constitucional.
Em segundo lugar, haveria ofensa ao princípio da razoabilidade, por contrariar os fundamentos do sistema
tributário, previdenciário e administrativo na definição e na oneração da renda. O art. 43 do CTN dispõe

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


que o imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza teria como fato gerador a aquisição da
disponibilidade econômica ou jurídica de renda e de proventos de qualquer natureza. Nessa linha, imposto
de renda somente poderia incidir quando ocorresse acréscimo patrimonial. Não se poderia considerar,
para fins de incidência tributária, os montantes não percebidos em virtude da aplicação do teto
constitucional. Essas verbas não ingressaram no patrimônio dos servidores e nem serão por eles
usufruídas, de modo que não se pode cogitar da incidência de tributo sobre elas. Se fosse possível a
ultimação dessas rete çõesà e à o e toà a te io à à apli aç oà doà a ate-teto ,à oà Estadoà fa iaà i idi à
tributos sobre base econômica não disponibilizada pelo sujeito passivo, em ofensa aos princípios da
capacidade contributiva e da vedação da utilização do tributo com efeito de confisco. Nessa hipótese, ao
final, o valor pago pelo servidor se daria sobre uma base econômica maior do que aquela efetivamente
posta à sua disposição. Assim, o Estado enriqueceria ilicitamente e o contribuinte sofreria decréscimo
patrimonial sem causa legítima. Ademais, a retenção do imposto de renda, bem como da contribuição
previdenciária, somente poderia ocorrer após a aplicação do teto, de forma a incidir o redutor, portanto,
sobre a remuneração bruta do servidor.

Foram muitas informações. Vou refazer a pergunta e respondê-la de forma objetiva no que interessa
para você e orizar: se o servidor te u a re u eração o papel superior ao teto, o i posto de
renda e a contribuição previdenciária incidirão sobre essa remuneração total ou sobre a remuneração
total menos o abate-teto? Em outras palavras, a remuneração de João é 50 mil; ocorre que o teto do
funcionalismo é 33 mil; João pagará IR e CP sobre 50 mil ou sobre 33 mil?
Sobre os 33 mil. A base de cálculo para se cobrar o Imposto de Renda e a contribuição previdenciária é o
valor da remuneração do servidor depois de ser excluída a quantia que exceder o teto.
Como o recurso extraordinário foi julgado sob a sistemática de repercussão geral, o STF definiu, em uma frase,
a tese que será aplicada em todos os demais casos id ti os.à áà teseà fi adaà foià aà segui te:à Subtraído o
montante que exceder o teto e subteto previsto no artigo 37, inciso XI, da Constituição Federal, tem-se o valor
que vale como base para o Imposto de Renda e para a contribuição p evide i ia .

SERVIDORES PÚBLICOS
Aposentadoria dos policiais civis e militares

Foi ajuizada ação direta de inconstitucionalidade por omissão contra o Governador e a


Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo afirmando que eles estavam sendo omissos
porque ainda não haviam editado lei complementar estadual prevendo critérios diferenciados
para aposentadoria de policiais civis e militares do sexo feminino nos termos do art. 40, §§ 1º e
4º, da CF/88. O STF julgou a ação improcedente por dois motivos:
 Quanto às policiais civis, o pleito formulado na ação já foi atendido com a edição, pelo
Congresso Nacional, da Lei Complementar federal 144/2014, de abrangência nacional, que
deu à policial civil o direito de se aposentar voluntariamente, com proventos integrais,
independentemente de idade, após 25 anos de contribuição, desde que conte pelo menos
15 anos de exercício em cargo de natureza estritamente policial.
 Quanto às policiais militares, o STF entendeu que não se aplica a regra de aposentadoria
especial do art. 40, § 4º, da CF/88, porque os militares não podem ser considerados,
atualmente, como servidores públicos, sendo a eles aplicável um regime jurídico próprio
disciplinado pelo art. 142, § 3º, X (e não pelo art. 40, § 4º). Não havendo determinação
constitucional expressa, a decisão de conceder aposentadoria com critérios facilitados para
policiais militares mulheres é uma escolha discricionária de cada Estado-membro.
STF. Plenário. ADO 28/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 16/4/2015 (Info 781).

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


ADI por omissão
A OAB ajuizou ação direta de inconstitucionalidade por omissão contra o Governador e a Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo alegando que eles estariam em mora legislativa porque até hoje não
teriam editado uma lei que previsse critérios diferenciados para a aposentadoria de policiais civis e
militares do sexo feminino.
Segundo sustentou a OAB, o art. 40, §§ 1º e 4º da CF/88 exige que as policiais do sexo feminino tenham
requisitos mais fáceis para se aposentar e que este direito, no Estado de São Paulo, não estaria sendo exercido
por falta de uma lei complementar que teria que ser proposta pelo Governador e aprovada pela ALE.
Acompanhe melhor o raciocínio:
O § 1º do art. 40 prevê que as mulheres se aposentam voluntariamente com menos tempo de idade e de
contribuição que os homens:
Art. 40 (...)
§ 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão aposentados,
calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§ 3º e 17:
(...)
III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo exercício no serviço
público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as seguintes condições:
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinqüenta e cinco anos de idade e
trinta de contribuição, se mulher;
b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, com proventos
proporcionais ao tempo de contribuição.

O § 4º do art. 40, por sua vez, estabelece que é possível a previsão de requisitos de aposentadoria mais
facilitados para pessoas que exerçam atividades de risco (ex: policiais), desde que isso seja definido em lei
complementar. Veja:
§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos
abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis
complementares, os casos de servidores:
(...)
II - que exerçam atividades de risco;

Logo, a tese do autor da ADI por omissão é a de que o Governador do Estado poderia propor e a ALE
aprovar um projeto de lei complementar prevendo menores requisitos para as policiais do sexo feminino
se aposentarem, nos termos do art. 40, § 4º, II, da CF/88.

Sobre o tema, vejamos algumas considerações interessantes:

A lei complementar de que trata o § 4º do art. 40 da CF/88 é uma lei complementar de cada ente (ex:
uma lei complementar para a União, para cada Estado e para cada Município)?
NÃO. O STF entende que a lei complementar de que trata o § 4º do art. 40 é uma lei complementar
nacional, ou seja, uma lei complementar editada pelo Congresso Nacional e que regule o tema de modo
uniforme, de caráter geral, a fim de evitar criação de regras distintas pelos Estados-Membros para
servidores em situações semelhantes.
Logo, não é correta a tese exposta na ação de que o Estado de São Paulo, ao não editar a lei, estaria sendo
omisso. Isso porque a responsabilidade pela edição da lei é do Presidente da República (iniciativa) e do
Congresso Nacional (aprovação).
Assim, a OAB deveria ter ajuizado a ação contra o Presidente da República e o Congresso Nacional (e não
contra a ALE e o Governador do Estado).

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


O Presidente da República e o Congresso Nacional estão omissos quanto ao tema? Pode-se dizer que não
existe lei tratando sobre a aposentadoria diferenciada dos policiais civis?
NÃO. O Presidente da República e o Congresso Nacional não estão omissos quanto ao tema, considerando
que já existe lei tratando sobre a aposentadoria diferenciada dos policiais civis. Trata-se da Lei
Complementar nacional n. 51/85, que dispõe sobre a aposentadoria do servidor público policial, nos
termos do § 4º do art. 40 da CF/88.

Esta LC 51/85 prevê um prazo menor para as policiais mulheres se aposentarem em relação aos policiais
homens? Existe algum critério diferenciado em favor das mulheres?
SIM. O art. 1º da LC 51/85 (com redação dada pela LC 144/2014) estabelece que a policial do sexo
feminino se aposenta com 5 anos a menos que o policial do sexo masculino.

No Estado de São Paulo existe alguma lei tratando sobre a aposentadoria dos policiais civis paulistas?
SIM. Existe a Lei complementar estadual 1.062/2008, que dispõe sobre requisitos e critérios diferenciados
para a concessão de aposentadoria voluntária aos policiais civis locais.
Vale ressaltar que essa lei paulista e a lei de todos os demais Estados e Municípios, quando regularem a
aposentadoria dos policiais civis, nos termos do art. 40, § 4º, II, da CF/88, deverão seguir as regras
previstas na Lei Complementar federal que trata sobre o tema.
Assim, se a lei federal sobre a matéria regulamenta o tempo de contribuição para efeito de aposentadoria
dos policiais de forma exaustiva, não pode a lei estadual dispor de modo diverso, sob pena de afrontar as
regras de repartição de competência firmadas pela Constituição.
Dessa feita, a Lei complementar 1.062/2008 do Estado de SP, por exemplo, não pode trazer regras
diferentes da LC federal 51/85.
Como a Lei complementar estadual 1.062/2008 não previa critérios mais favoráveis para as mulheres, o
STF entendeu que, nesta parte, ela está suspensa e deverão ser aplicados os requisitos diferenciados da LC
144/2014.

A aposentadoria dos policiais militares também se enquadra no art. 40, § 4º, II, da CF/88?
NÃO. O art. 40 trata sobre aposentadoria de servidores públicos e os policiais militares, atualmente, não
são mais o side adosà se vido esà pú li os . As emendas constitucionais 18/98 e 20/98 excluíram os
ilita esàdoà o eitoàdeà se vido esàpú li os .

E qual é o fundamento constitucional da aposentadoria dos policiais militares?


A doutrina e o STF afirmam que o fundamento constitucional para a aposentadoria dos policiais militares é
o art. 142, § 3º, X c/c o art. 42, § 1º da CF/88:
Art. 142 (...)
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem
a ser fixadas em lei, as seguintes disposições:
(...)
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições
de transferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e
outras situações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive
aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra.

Art. 42 (...)
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a ser
fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei
estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais
conferidas pelos respectivos governadores.

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


Assim, não se aplica a regra de aposentadoria especial prevista no art. 40, § 4º, da CF/88 em favor de
policial militar estadual.

Desse modo, existem duas espécies de regimes previdenciários próprios: um para servidores civis e outro
para militares.

A LC 51/85 pode ser aplicada aos policiais militares?


NÃO. A LC 51/85 é restrita aos servidores policiais, ou seja, integrantes da Polícia Civil, da Polícia Federal e
da Polícia Rodoviária Federal.
No caso dos policiais militares, a Lei estadual deverá prever as regras da aposentadoria especial, nos
termos do art. 142, § 3º, X c/c 42, § 1º, da CF/88. Exemplo: o Decreto-Lei n. 260/70-SP dispõe sobre a
inatividade dos componentes da Polícia Militar do Estadoàdeà“ oàPauloàeàp ev à eg asàdeà apose tado ia à
especial para os policiais militares.

A CF/88 obriga que os Estados-membros concedam aposentadoria com requisitos facilitados para as
policiais militares do sexo feminino?
NÃO. Veja que no art. 142, § 3º, X, da CF/88 não existe determinação constitucional expressa obrigando
que os Estados-membros concedam aposentadoria com requisitos facilitados para as policiais militares do
sexo feminino. No art. 40 existe; no art. 142 da CF/88 não. Assim, a decisão de conceder aposentadoria
para mulheres policiais militares com tempo reduzido encontra-se no âmbito de discricionariedade da lei
estadual. Caso o Estado não preveja isso, não haverá ofensa à CF/88.

DIREITO ELEITORAL

CRIMES ELEITORAIS
Requisitos para a configuração do crime de desobediência eleitoral

O juiz eleitoral de uma zona eleitoral do interior do Estado expediu um ofício-circular


proibindo que os candidatos fizessem carreatas em determinas ruas do Município. Alguns dias
depois, determinado candidato fez uma carreata no Município e passou por algumas ruas que
tinham sido proibidas. Diante disso, foi denunciado pela prática do crime de desobediência
eleitoral (art. 347 do Código Eleitoral). Houve a prática de crime?
NÃO. Para configuração do crime de desobediência eleitoral é necessário que:
• a ordem descumprida tenha sido emitida de forma direta e individualizada; e
• que o agente (réu) tinha ciência da ordem tida por descumprida.
A ordem foi emitida de forma geral e não individualizada e, além disso não havia nenhum
outro indício de que o agente tinha ciência da proibição.
STF. 2ª Turma. AP 904/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 14/4/2015 (Info 781).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Em agosto de 2014, o juiz eleitoral de uma zona eleitoral do interior do Estado expediu um ofício-circular
proibindo que os candidatos fizessem carreatas em determinas ruas do Município.
Alguns dias depois, LM ,à a didato a Deputado Federal, fez uma carreata no Município e passou por
algumas ruas que tinham sido proibidas pelo magistrado.
Dia teàdisso,à LM àfoiàde u iadoàpelaàp ti aàdo crime de desobediência eleitoral, delito tipificado no art.
347 do Código Eleitoral:

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


Art. 347. Recusar alguém cumprimento ou obediência a diligências, ordens ou instruções da Justiça
Eleitoral ou opor embaraços à sua execução:
Pena - detenção de três meses a um ano e pagamento de 10 a 20 dias-multa.

Considerando o que foi narrado, o STF considerou que houve a prática de crime?
NÃO. Para a configuração do crime de desobediência eleitoral (art. 347 do Código Eleitoral), é necessário que:
 a ordem descumprida tenha sido emitida de forma direta e individualizada; e
 que o agente (réu) tinha ciência da ordem tida por descumprida.

O STF entendeu que a ordem supostamente descumprida na hipótese (não realização de carreatas ou
passeatas eleitorais em determinado local) não teria sido dirigida especificamente ao acusado, mas a
todos os candidatos, partidos, coligações e cidadãos, mediante encaminhamento de ofício-circular pelo
juiz eleitoral. Como visto acima, para a configuração do crime de desobediência eleitoral, seria necessário
que a ordem tida por descumprida tivesse sido direta e individualizada ao agente, o que não aconteceu,
tendo em conta o caráter geral e abstrato da referida orientação da Justiça Eleitoral.

Além disso, não havia nos autos elementos mínimos e suficientes a indicar que o acusado tinha ciência do
ofício-circular elaborado pelo juiz eleitoral e que o tenha descumprido deliberadamente. Assim, resta
ausente, no caso, o elemento subjetivo do tipo (o dolo).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

MANDADO DE SEGURANÇA
Desistência de MS após já ter sido prolatada sentença de mérito

É possível que o impetrante desista do MS após já ter sido prolatada sentença de mérito?
Em regra, SIM. Existem julgados do STF e STJ admitindo (STF. RE 669367/RJ, Min. Rosa Weber,
julgado em 02/05/2013; STJ. 2ª Turma. REsp 1.405.532-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado
em 10/12/2013. Info 533).
O entendimento acima parecia consolidado. Ocorre que, em um caso concreto noticiado neste
Informativo, o STF afirmou que não é cabível a desistência de mandado de segurança, nas
hipóteses em que se discute a exigibilidade de concurso público para delegação de serventias
extrajudiciais, quando na espécie já houver sido proferida decisão de mérito, objeto de
sucessivos recursos. No caso concreto, o pedido de desistência do MS foi formulado após o
impetrante ter interposto vários recursos sucessivos (embargos de declaração e agravos
regimentais), todos eles julgados improvidos. Dessa forma, o Ministro Relator entendeu que
tudo levaria a crer que o objetivo do impetrante ao desistir seria o de evitar o fim da discussão
com a constituição de coisa julgada. Com isso, ele poderia propor uma ação ordinária em 1ª
instância e, assim, perpetuar a controvérsia, ganhando tempo antes do desfecho definitivo
contrário. Assim, com base nessas peculiaridades, a 2ª Turma do STF indeferiu o pedido de
desistência.
STF. 2ª Turma. MS 29093 ED-ED-AgR/DF, MS 29129 ED-ED-AgR/DF, MS 29189 ED-ED-AgR/DF, MS
29128 ED-ED-AgR/DF, MS 29130 ED-ED-AgR/DF, MS 29186 ED-ED-AgR/DF, MS 29101 ED-ED-
AgR/DF, MS 29146 ED-ED-AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 14/4/2015 (Info 781).

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


É possível que o impetrante desista do mandado de segurança impetrado mesmo sem a concordância da
parte contrária?
SIM. É plenamente possível que o impetrante desista do mandado de segurança impetrado. Vale ressaltar
que, para que haja a desistência do MS, não é necessária a concordância da parte adversa. Isso porque, no
caso de mandado de segurança, não se aplica o art. 267, § 4º, do CPC (STJ. REsp 930.952-RJ).

É possível que o impetrante desista do MS após já ter sido prolatada sentença de mérito?
Em regra, SIM. A 1ª Turma do STF possui julgado afirmando que a desistência do mandado de segurança é
uma prerrogativa de quem o propõe e pode ocorrer a qualquer tempo, sem anuência da parte contrária e
independentemente de já ter havido decisão de mérito, ainda que favorável ao autor da ação (RE
669367/RJ, Min. Rosa Weber, julgado em 02/05/2013).
O STJ também possui precedentes nesse sentido, ou seja, afirmando que o impetrante pode desistir de
mandado de segurança sem a anuência do impetrado mesmo após a prolação da sentença de mérito (STJ.
2ª Turma. REsp 1.405.532-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/12/2013. Info 533).

Intuito abusivo
O entendimento acima parecia consolidado. Ocorre que, em um caso concreto noticiado neste Informativo
781, o STF afirmou que não é cabível a desistência de mandado de segurança, nas hipóteses em que se
discute a exigibilidade de concurso público para delegação de serventias extrajudiciais, quando na espécie
já houver sido proferida decisão de mérito, objeto de sucessivos recursos.
No caso concreto, o pedido de desistência do MS foi formulado após o impetrante ter interposto vários
recursos sucessivos (embargos de declaração e agravos regimentais), todos eles julgados improvidos.
Dessa forma, o Ministro Relator entendeu que tudo levaria a crer que o objetivo do impetrante ao desistir
seria o de evitar o fim da discussão com a constituição de coisa julgada. Com isso, ele poderia propor uma
ação ordinária em 1ª instância e, assim, perpetuar a controvérsia, ganhando tempo antes do desfecho
definitivo contrário.
Assim, com base nessas peculiaridades, a 2ª Turma do STF indeferiu o pedido de desistência.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA
Mesmo tendo cessada a competência do STF para julgar a ação penal, é possível a concessão de
habeas corpus de ofício em caso de flagrante atipicidade

Importante!!!
Determinado réu foi denunciado pela prática de crime contra a Lei de Licitações. Como ele era
Deputado Federal, seu processo estava tramitando no STF. Após toda a instrução, o Ministério
Público apresentou alegações finais, no final de 2014, pedindo a absolvição por atipicidade da
conduta. O STF designou a sessão para julgar o réu. Ocorre que essa sessão somente foi
marcada para abril de 2015 e o problema é que o referido réu não conseguiu se reeleger
Deputado Federal e deixou o cargo em 31/12/2014. Desse modo, no dia marcado para a sessão
de julgamento, o acusado já não era mais Deputado Federal.
Como o réu deixou de ser Deputado Federal, a solução tecnicamente mais correta a ser
tomada pelo STF seria reconhecer que não era mais competente para a ação penal e declinar o
processo para ser julgado por um juiz de direito de 1ª instância. A Corte adotou, no entanto,
uma postura mais moderna ou de vanguarda para o caso: o STF reconheceu que não era
mais competente para julgar a ação penal, mas considerou que a situação era de flagrante

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


atipicidade (tanto que o PGR pediu a absolvição) e, por isso, entendeu que deveria ser
concedido habeas corpus, de ofício, em favor do réu, extinguindo o processo penal.
STF. 1ª Turma. AP 568/SP, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/4/2015 (Info 781).

Imagine a seguinte situação adaptada:


NLN foi denunciado pela prática de crime contra a Lei de Licitações.
Como era Deputado Federal, seu processo estava tramitando no STF.
Após toda a instrução, o Ministério Público apresentou alegações finais, no final de 2014, pedindo a
absolvição do réu por atipicidade da conduta.
O STF designou a sessão para julgar o réu. Ocorre que essa sessão somente foi marcada para abril de 2015
e o problema é que NLN à oà o seguiuàseà eelege àDeputadoàFede alàe deixou o cargo em 31/12/2014.
Desse modo, no dia marcado para a sessão de julgamento, o réu já não era mais Deputado Federal.

Diante disso, indaga-se: o STF continua tendo competência para julgar a ação penal proposta contra NLN ?
NÃO. Em regra, se o parlamentar federal (Deputado ou Senador) está respondendo a uma ação penal no
STF e deixa o cargo (seja porque renunciou, seja porque terminou seu mandato), cessa (acaba) o foro por
prerrogativa de função e o processo deverá ser remetido para julgamento em 1ª instância.
O foro privativo é uma prerrogativa do cargo ocupado (e não da pessoa física). Assim, deixando de exercer
o cargo de Deputado Federal ou de Senador, em regra, não há mais motivo para que o ex Parlamentar
continue a ser julgado pelo STF.
áà issoà álexa d eà deà Mo aesà ha aà deà eg aà daà atualidade ,à ouà seja,à t ata do-se de crime comum
praticado por detentores de foro privativo no STF, a competência será desta Corte somente enquanto
durar o cargo ou mandato. Obs: no livro Principais Julgados de 2014 explico a existência de duas
exceções a essa regra.

Habeas corpus de ofício


Desse modo, como NLN àdeixouàdeàse àDeputadoàFede al,àaàsoluç oàte i a e te mais correta a ser
tomada pelo STF seria reconhecer que não é mais competente para a ação penal e declinar o processo
para ser julgado por um juiz de direito de 1ª instância.
A Corte adotou, no entanto, uma postura aisà ode a à ouà deà va gua da para o caso: o STF
reconheceu que não era mais competente para julgar a ação penal, mas, em vez de remeter o processo
para a 1ª instância, declarou que a situação era de flagrante atipicidade (tanto que o PGR pediu a
absolvição) e, por isso, entendeu que deveria ser concedido habeas corpus, de ofício, em favor do réu,
extinguindo o processo penal.
Entendeu-se que deveria ser aplicado o princípio da duração razoável do processo.

Atenção
O julgamento acima não significa dizer que a regra mudou e que o réu que deixa de ser Deputado Federal
ou Senador continua sendo julgado pelo STF. Não. A regra não mudou. O que o STF fez, no caso concreto,
foi conceder um habeas corpus de ofício em favor do acusado.

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) O CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei. ( )
2) (Juiz TJ/MS 2012) As organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado componentes do
terceiro setor surgidas no sistema jurídico brasileiro com a promulgação da Constituição Federal de
1988. ( )
3) (Juiz TJ/MS 2012) A Constituição Federal não estabelece a distinção entre primeiro, segundo e terceiro
setores como um de seus critérios classificatórios, todavia, trata-se de um critério largamente utilizado
pela doutrina e jurisprudência, notadamente nos casos de parcerias entre pessoas jurídicas de direito
público e entidades privadas sem fins lucrativos. ( )
4) (PGE/GO 2013) As organizações sociais integram a chamada Administração Indireta. ( )
5) (Juiz Federal TRF4 2012) As organizações sociais integram a administração pública quando assumem a
forma de autarquia de regime especial. ( )
6) (Juiz Federal TRF2) Segundo o STF, as organizações sociais, como entes de cooperação, dispõem dos
benefícios processuais inerentes à fazenda pública, tendo em vista a relevância da sua atividade, que
visa o interesse público. ( )
7) (Promotor MS/SC 2014) Nos termos da Lei n. 9.637/1998, que dispõe sobre a qualificação de entidades
como organizações sociais, a criação do Programa Nacional de Publicização, a extinção dos órgãos e
entidades que menciona e a absorção de suas atividades por organizações sociais, e dá outras
providências, o Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de
direito privado, com ou sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa
científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, ao lazer, à
religião, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos previstos nessa Lei. ( )
8) (Juiz Federal TRF1 2013 CESPE) Para ser qualificada como organização social, a entidade deve firmar
termo de parceria com o ministério da área em que atua. ( )
9) (Promotor MP/GO 2014) É dispensável o certame licitatório, para o escopo de celebração de contratos
de prestação de serviços com as organizações sociais, para atividades contempladas no contrato de
gestão firmado entre o Poder Público e as entidades assim qualificadas no âmbito das respectivas
esferas de governo. ( )
10) (Juiz Federal TR4 2014) O Poder Executivo poderá qualificar como Organizações Sociais, por meio de
contratos de gestão, pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam
dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e à preservação do
meio ambiente, à cultura e à saúde, desde que satisfeitos os requisitos exigidos na Lei nº 9.637/98. ( )
11) (Juiz Federal TRF3 2011 CESPE) O contrato de gestão representa verdadeira cooperação entre as partes
no tocante ao interesse público a ser perseguido, sendo vedada, porém, a contratação direta que, feita
com entidade colaboradora, implique, de algum modo, dispensa de licitação. ( )
12) (DPE/AM 2013 FCC) As Organizações Sociais são pessoas jurídicas de direito privado, qualificadas pelo
Poder Executivo, nos termos da Lei Federal 9.637/98, com vistas à formação de parceria para execução
de atividades de interesse público. NÃO está entre as características das Organizações Sociais, nos
termos da referida lei,
A) o desempenho de atividades relacionadas a pelo menos um dos seguintes campos: ensino, pesquisa
científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente, cultura e saúde.
B) a atuação com finalidade não-lucrativa, com a obrigatoriedade de investimento de seus excedentes
financeiros no desenvolvimento das próprias atividades.
C) a necessidade de aprovação de sua qualificação, por meio de ato vinculado do Ministro ou titular de
órgão supervisor ou regulador da área de atividade correspondente ao seu objeto social e do Ministro
do Planejamento, Orçamento e Gestão.
D) a previsão de participação, no órgão colegiado de deliberação superior, de representantes do Poder
Público e de membros da comunidade, de notória capacidade profissional e idoneidade moral.

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


E) a proibição de distribuição de bens ou de parcela do patrimônio líquido em qualquer hipótese,
inclusive em razão de desligamento, retirada ou falecimento de associado ou membro da entidade.

13) (Juiz Federal TRF2) Às organizações sociais poderão ser destinados bens públicos, sendo dispensada
licitação, mediante permissão de uso, consoante cláusula expressa de contrato de gestão celebrado
com o poder público. ( )
14) Os salários pagos aos empregados das organizações sociais precisam ser fixados em lei, conforme exige
o art. 37, X, da CF/88. ( )
15) A OS não é obrigada a fazer concurso público para a contratação de seus empregados. ( )
16) A organização social, quando tiver recebido recursos públicos, é obrigada a fazer licitação, submete-se
ao dever de licitar. ( )
17) A regra segundo a qual as organizações sociais podem usar bens públicos mesmo sem licitação é
inconstitucional. ( )
18) A dispensa de licitação para que o Poder Público contrate organizações sociais é constitucional. ( )
19) Segundo o STF, os incentivos previstos na Lei 9.637/98 em favor das organizações sociais (recebimento
de recursos orçamentários, cessão de bens e servidores etc.) são constitucionais. ( )
20) Subtraído o montante que exceder o teto e subteto previsto no artigo 37, inciso XI, da Constituição
Federal, tem-se o valor que vale como base para o Imposto de Renda e para a contribuição
previdenciária. ( )

Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. E 5. E 6. E 7. E 8. E 9. C 10. C
11. E 12. Letra C 13. C 14. E 15. C 16. E 17. E 18. C 19. C 20. C

JULGADO NÃO COMENTADO

ADI e conversão de julgamento de medida cautelar em julgamento de mérito


O Plenário, ao resolver questão de ordem suscitada pelo Ministro Roberto Barroso (relator), converteu o
julgamento de medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade em julgamento de mérito, a ser
realizado futuramente. O relator explicitou que, por ocasião do exame conjunto de cautelares em duas
ações diretas, o Ministro Joaquim Barbosa, então relator, proferira o mesmo voto em relação aos dois
casos. Entretanto, a Ministra Ellen Gracie, em voto-vista, entendera que os pedidos formulados em ambas
as ações não seriam idênticos, pois um deles seria mais amplo. Em razão disso, o Ministro Joaquim Barbosa
indicara adiamento em relação à ação direta cujo objeto seria mais extenso — e sobre a qual incide a
presente questão de ordem —, e o Plenário prosseguira apenas na apreciação relativa ao outro caso — v.
Informativos 614 e 623. O relator afirmou que seria necessário definir se o voto proferido pelo Ministro
Joaquim Barbosa, no tocante ao julgamento adiado, deveria ser computado ou não. O Colegiado entendeu
que, tendo em vista se tratar de análise de medida cautelar, e em razão da relevância do tema, a cuidar de
tributação de embalagens em atividade gráfica, seria mais salutar proceder diretamente ao mérito de
ambas as ações diretas, superando-se a questão do cômputo do voto já proferido em cautelar.
ADI 4413 MC QO/DF, rel. Min. Roberto Barroso, 15.4.2015.

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DO D JE
13 a 17 de abril de 2015

SEGUNDO AG. REG. EM MS N. 29.519-DF


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVENTIA EXTRAJUDICIAL. PROVIMENTO, MEDIANTE REMOÇÃO, SEM CONCURSO PÚBLICO.
ILEGITIMIDADE. ART. 236, E PARÁGRAFOS, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL: NORMAS AUTOAPLICÁVEIS, COM EFEITOS
IMEDIATOS, MESMO ANTES DA LEI 9.835/1994. INAPLICABILIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO ART. 54 DA LEI 9.784/1999.
PRECEDENTES DO PLENÁRIO. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência do STF é no sentido de que o art. 236, caput, e o seu § 3º da CF/88 são normas autoaplicáveis, que incidiram imediatamente desde
a sua vigência, produzindo efeitos, portanto, mesmo antes do advento da Lei 8.935/1994. Assim, a partir de 5/10/1988, o concurso público é
pressuposto inafastável para a delegação de serventias extrajudiciais, inclusive em se tratando de remoção, observado, relativamente a essa última
hipótese, o disposto no art. 16 da referida lei, com a redação que lhe deu a Lei 10.506/2002. As normas estaduais editadas anteriormente, que admitem
a remoção na atividade notarial e de registro independentemente de prévio concurso público, são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da Constituição,
razão pela qual não foram por essa recepcionadas.
2. É igualmente firme a jurisprudência do STF no sentido de que a atividade notarial e de registro, sujeita a regime jurídico de caráter privado, é
essencialmente distinta da exercida por servidores públicos, cujos cargos não se confundem.
3. O Plenário do STF, em reiterados julgamentos, assentou o entendimento de que o prazo decadencial de 5 (cinco) anos, de que trata o art. 54 da Lei
9.784/1999, não se aplica à revisão de atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a Constituição de 1988, sem o atendimento das
exigências prescritas no seu art. 236.
4. É legítima, portanto, a decisão da autoridade impetrada que considerou irregular o provimento de serventia extrajudicial, sem concurso público,
decorrente de remoção, com ofensa ao art. 236, § 3º, da Constituição. Jurisprudência reafirmada no julgamento do MS 28.440 AgR, de minha
relatoria, na Sessão do Plenário de 19/6/2013.
5. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO ARE N. 853.495-SP
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. USUCAPIÃO
EXTRAORDINÁRIA. RECURSO CONTRA ACÓRDÃO DO STJ. CONTROVÉRSIA CONSTITUCIONAL SURGIDA NA INSTÂNCIA
ORDINÁRIA. INVIABILIDADE DO APELO EXTREMO. ADMISSIBILIDADE DE RECURSO DE CORTE DIVERSA. MATÉRIA COM
REPERCUSSÃO GERAL REJEITADA PELO PLENÁRIO DO STF NO RE 598.365-RG. CONTROVÉRSIA DE ÍNDOLE
INFRACONSTITUCIONAL. RECURSO TIDO POR PROCRASTINATÓRIO. APLICAÇÃO DE MULTA. AUSÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL. AI 752.633-RG.
1. O recurso extraordinário contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça proferido em recurso especial só é cabível quando a questão constitucional objeto da
controvérsia for diversa da decidida pela instância ordinária. Nesses casos, só é admissível o apelo extremo se a suposta violação constitucional tiver sido,
originariamente, apreciada pela Corte Especial. Precedentes: AI 718.334-AgR, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe de 12/11/2012; e AI 761.983-AgR,
Rel. Min. Ayres Britto, Segunda Turma, DJe de 17/12/2010.
2. Os requisitos de admissibilidade dos recursos da competência de cortes diversas não revelam repercussão geral apta a dar seguimento ao apelo
extremo, consoante decidido pelo Plenário Virtual do STF na análise do RE 598.365, da Relatoria do Min. Ayres Britto.
3. A multa em julgamento de recurso tido por protelatório, quando sub judice a controvérsia sobre a sua aplicação, não revela repercussão geral apta a tornar o
apelo extremo admissível, consoante decidido pelo Plenário Virtual do STF na análise do AI 752.633, da Rel. Min. Cezar Peluso.
4. In casu, o acórdão recorrido assentou: “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO
ESPECÍFICA AOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO PROFERIDA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM QUE NÃO ADMITIU O RECURSO ESPECIAL.
APLICAÇÃO DO ART. 544, § 4º, I, DO CPC. PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE, QUE IMPÕE O ATAQUE ESPECÍFICO AOS FUNDAMENTOS.
INSUFICIÊNCIA DE ALEGAÇÃO GENÉRICA. PRECEDENTES. MANUTENÇÃO DA DECISÃO ORA AGRAVADA. RECURSO
MANIFESTAMENTE INFUNDADO E PROCRASTINATÓRIO. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 557, § 2º, CPC.”
5. Agravo regimental DESPROVIDO.
AG. REG. NO ARE N. 853.884-DF
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. FORNECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
EXECUÇÃO. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, II, XXXV, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. LEGALIDADE.
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. DEVIDO PROCESSO LEGAL. INAFASTABILIDADE DA JURISDIÇÃO. DEBATE DE ÂMBITO
INFRACONSTITUCIONAL. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ARTIGO 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
NULIDADE. INOCORRÊNCIA. RAZÕES DE DECIDIR EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO JURISDICIONAL. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA.
ARTS. 21, XX, 22, VI, e 23, IX, DA MAGNA CARTA. SÚMULAS 282 E 356 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. ACÓRDÃO PROFERIDO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRECLUSÃO DA QUESTÃO
CONSTITUCIONAL SURGIDA NO DECISUM DO TRIBUNAL LOCAL. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 16.6.2014.
Inexiste violação do artigo 93, IX, da Lei Maior. O Supremo Tribunal Federal entende que o referido dispositivo constitucional exige que o órgão
jurisdicional explicite as razões do seu convencimento, dispensando o exame detalhado de cada argumento suscitado pelas partes.
O exame da alegada ofensa ao art. 5º, II, XXXV, LIV e LV, da Constituição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida a matéria à
apreciação desta Suprema Corte, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à competência
jurisdicional extraordinária, prevista no art. 102 da Magna Carta.
Cristalizada a jurisprudência desta Suprema Corte, a teor das Súmulas 282 e 356: “Inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na
decisão recorrida, a questão federal suscitada”, bem como que “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos
declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento.”

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


O acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso especial, somente legitima o uso do apelo extremo se versar questão
constitucional diversa daquela debatida na anterior instância – o que não se observa na presente hipótese. Precedentes.
As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
Agravo regimental conhecido e não provido.
HC N. 124.022-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PENAL. TRÁFICO TRANSNACIONAL DE DROGAS. AFASTAMENTO DA CAUSA ESPECIAL DE REDUÇÃO DE PENA.
FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. RESTABELECIMENTO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA QUE CONCEDEU O BENEFÍCIO NA
FRAÇÃO DE 1/3. PRECEDENTES.
1. A não aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 pressupõe a demonstração pelo juízo sentenciante da existência de um
conjunto probatório apto a afastar pelo menos um dos critérios, que são autônomos, descritos no preceito legal: (a) primariedade; (b) bons
antecedentes; (c) não dedicação a atividades criminosas; e (d) não integração à organização criminosa. Nesse juízo, não se pode ignorar que a norma
em questão tem a clara finalidade de apenar com menor grau de intensidade quem pratica de modo eventual as condutas descritas no art. 33, caput e §
1º, em contraponto ao agente que faz do crime o seu modo de vida, o qual, evidentemente, não goza do referido benefício (cf. justificativa ao Projeto
de Lei 115/2002 apresentada à Comissão de Constituição e Justiça e de Redação).
2. No caso, o Tribunal de apelação afastou a referida minorante com base em argumentos genéricos e teóricos, desprovidos de qualquer elemento
contido nos autos, senão no fato de a paciente ter sido condenada pela prática do crime de tráfico transnacional de drogas. Por outro lado, a sentença
condenatória afirmou, de forma segura, a inexistência de prova apta a justificar a negativa da causa de diminuição. Precedentes.
3. Ordem parcialmente concedida.
MS N. 31.323-DF
RELATORA: MIN. ROSA WEBE
EMENTA:MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO DE CARGOS DE PROCURADOR DA
REPÚBLICA. FASE OBJETIVA. IMPUGNAÇÃO DA FORMA REDACIONAL DE QUESTÕES. ALEGADA VIOLAÇÃO DO ART. 29 DA
RESOLUÇÃO Nº 116/09 DO CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DO ART. 17 DA RESOLUÇÃO Nº 14/06 DO
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. AGRAVO REGIMENTAL CONTRA O DEFERIMENTO DE LIMINAR.
1. Cabível o mandado de segurança, pois deduzida pretensão relativa a estrito controle de legalidade acerca da forma redacional de questões de
concurso, sob parâmetro das normas regulamentares incidentes. A impetrante não questiona o acerto do gabarito apresentado pela banca examinadora.
Não há, portanto, invasão jurisdicional sobre o mérito administrativo.
2. A concessão da ordem exige demonstração de direito líquido e certo, no caso à atribuição dos pontos correspondentes às questões impugnadas na
prova objetiva. Uma vez respeitadas as diretrizes regulamentares do certame, inexistente ilegalidade na forma redacional das perguntas, não há como
imputar a desclassificação da impetrante à autoridade apontada como coatora. Ordem denegada, cassada a liminar. Prejudicado o agravo da
União.
*noticiado no Informativo 778
EMB. DECL. NA AO N. 1.972-DF
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental e embargos de declaração em ação originária. Interposição de mais de um recurso contra a mesma decisão.
Princípio da unirrecorribilidade ou da singularidade recursal. Transgressão. Não conhecimento do segundo recurso. Exame do primeiro.
Agravo regimental interposto antes da publicação da decisão agravada. Recente modificação da jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal. Unificação do entendimento pelo Plenário no sentido de admitir recurso interposto antes da publicação da decisão impugnada. Falta
de impugnação dos fundamentos da decisão agravada. Incompetência do Supremo Tribunal Federal para apreciar a demanda. Não
conhecimento dos embargos declaratórios. Não provimento do agravo regimental.
1. A interposição pela parte recorrente de mais de um recurso contra a mesma decisão transgride o princípio da unirrecorribilidade ou da singularidade
recursal. Essa transgressão torna insuscetível de conhecimento o segundo recurso (embargos de declaração). Conhecimento e exame do agravo
regimental apenas.
2. O Plenário do STF, nos autos do AI nº 703.269-AgR-ED-ED-EDv-ED/MG, unificou, na sessão de 5/3/15, a compreensão da questão relativa à
admissibilidade da interposição de peça recursal antes da publicação da decisão impugnada, concluindo pela ausência de intempestividade processual
e, assim, pela possibilidade de conhecimento do recurso.
3. Os fundamentos da decisão agravada não foram infirmados pelo agravante. Não subsiste o agravo regimental que deixa de atacar especificamente
os fundamentos da decisão monocrática (art. 317, § 1º, RISTF). Precedentes.
4. A competência originária do Supremo Tribunal Federal submete-se a regime de direito estrito. Hipóteses taxativamente previstas no art. 102,
inciso I, da Constituição. Incompetência do STF para apreciar processo por crime de responsabilidade de prefeito. Precedentes.
5. Não conhecimento dos embargos de declaração. Agravo Regimental não provido.
Acórdãos Publicados: 457

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Prova Ilícita - Busca Domiciliar - Mandado Judicial - Requisitos – Inobservância (Transcrições)


(v. Informativo 772*)
HC 106.566/SP*
RELATOR: Ministro Gilmar Mendes

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


VOTO PROFERIDO PELO MINISTRO CELSO DE MELLO: Acompanho, integralmente, o douto voto proferido pelo eminente Ministro
Relator, considerada a insuperável situação de ilicitude que contamina a validade e a eficácia jurídicas da prova penal produzida ao longo da
“persecutio criminis” ora questionada nesta impetração.
Não se desconhece, tal como tive o ensejo de decidir nesta Suprema Corte (HC 93.050/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), que não são
absolutos os poderes de que se acham investidos os órgãos e agentes da persecução penal (Polícia Judiciária e Ministério Público), pois o Estado,
em tema de apuração de crimes, está sujeito à observância de um complexo de direitos e prerrogativas que assistem, constitucionalmente, aos
cidadãos em geral. Na realidade, os poderes do Estado encontram, nos direitos e garantias individuais, limites intransponíveis, cujo desrespeito
pode caracterizar, até mesmo, ilícito constitucional.
É por tal razão que a ação persecutória do Estado, qualquer que seja a instância de poder perante a qual se instaure, para revestir-se de
legitimidade, não pode apoiar-se em elementos probatórios ilicitamente obtidos, sob pena de ofensa à garantia constitucional do “due process of
law”, que tem, no dogma da inadmissibilidade das provas ilícitas, uma de suas mais expressivas projeções concretizadoras no plano de nosso
sistema de direito positivo.
A “Exclusionary Rule”, consagrada pela jurisprudência da Suprema Corte dos Estados Unidos da América, atua como expressiva limitação
ao poder do Estado de produzir prova em sede processual penal.
A Constituição da República, em norma revestida de conteúdo vedatório (CF, art. 5º, LVI), desautoriza, por incompatível com os
postulados que regem uma sociedade fundada em bases democráticas (CF, art. 1º), qualquer prova cuja obtenção, pelo Poder Público, derive de
transgressão a cláusulas de ordem constitucional, repelindo, por isso mesmo, quaisquer elementos probatórios que resultem da violação de direito
material (ou, até mesmo, de direito processual), não prevalecendo, em consequência, no ordenamento normativo brasileiro, em matéria de
atividade probatória, a fórmula autoritária do “male captum, bene retentum”.
Os procedimentos dos agentes da Polícia Judiciária que contrariem os postulados consagrados pela Constituição da República revelam-se
inaceitáveis e não podem ser corroborados pelo Supremo Tribunal Federal, sob pena de inadmissível subversão dos princípios constitucionais que
definem, de modo estrito, os limites – inultrapassáveis – que restringem os poderes do Estado em suas relações com os cidadãos, notadamente
com aqueles que sofrem a persecução penal instaurada pelos organismos estatais.
Daí a clara diretriz jurisprudencial desta Corte Suprema no sentido de que ninguém pode ser investigado, denunciado e, muito menos,
condenado com base, unicamente, em provas ilícitas, quer se trate de ilicitude originária, quer se cuide de ilicitude por derivação. Qualquer novo
dado probatório, ainda que produzido, de modo válido, em momento subsequente, não pode apoiar-se, não pode ter fundamento causal nem derivar
de prova comprometida pela mácula da ilicitude originária.
A exclusão da prova originariamente ilícita – ou daquela afetada pelo vício da ilicitude por derivação – representa um dos meios mais
expressivos destinados a conferir efetividade à garantia do “due process of law” e a tornar mais intensa, pelo banimento da prova ilicitamente
obtida, a tutela constitucional que preserva os direitos e prerrogativas que assistem a qualquer acusado em sede processual penal.
A doutrina da ilicitude por derivação (teoria dos “frutos da árvore venenosa”) repudia, por constitucionalmente inadmissíveis, os meios
probatórios que, não obstante produzidos, validamente, em momento ulterior, acham-se afetados, no entanto, pelo vício (gravíssimo) da ilicitude
originária, que a eles se transmite, contaminando-os, por efeito de repercussão causal.
O eminente Relator bem demonstrou que, no caso, a prova penal ora questionada resultou de ato impregnado de ilicitude material, pois a
execução do mandado judicial de busca e apreensão ocorreu “ultra vires”, eis que essa medida restritiva de direitos foi indevidamente estendida para
novo endereço, sem a necessária e prévia autorização judicial por escrito.
Todos sabemos que as buscas domiciliares qualificam-se como matérias postas sob reserva constitucional de jurisdição, eis que “a casa é
asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial” (CF, art. 5º, inciso XI).
Não constitui demasia relembrar, no entanto, que, para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5º, XI, da Constituição da
República, o conceito normativo de “casa” revela-se abrangente (CPP, art. 246) e, por estender-se a qualquer compartimento privado não aberto ao
público, onde alguém exerce profissão ou atividade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende, observada essa específica limitação espacial (área interna
não acessível ao público), os escritórios profissionais (HC 93.050/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO), “embora sem conexão com a casa de
moradia propriamente dita” (NELSON HUNGRIA).
Sem que ocorra qualquer das situações excepcionais taxativamente previstas no texto constitucional (art. 5º, XI), nenhum agente público,
ainda que vinculado aos organismos estatais de persecução criminal, poderá, contra a vontade de quem de direito (“invito domino”), ingressar,
durante o dia, sem mandado judicial, em espaço privado não aberto ao público, onde alguém exerce sua atividade profissional, sob pena de a prova
resultante da diligência de busca e apreensão assim executada reputar-se inadmissível, porque impregnada de ilicitude material (RHC 90.376/RJ,
Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
Cabe advertir, por necessário, que a busca e apreensão domiciliar constitui medida de índole cautelar destinada a viabilizar a obtenção de
dados probatórios, revestindo-se, em razão de sua própria natureza, de caráter excepcional, tanto que dependente de ordem judicial escrita e
fundamentada, a significar que o magistrado, ao deferir tal providência, deverá fazê-lo apenas se existentes “fundadas razões” (CPP, art. 240, §
1º), sob pena de invalidade não só da própria decisão que a defere, mas, igualmente, dos elementos de informação que por seu intermédio vierem a
ser obtidos.
Daí a procedente observação de EUGÊNIO PACELLI DE OLIVEIRA e de DOUGLAS FISCHER (“Comentários ao Código de Processo
Penal e sua Jurisprudência”, p. 432, item n. 240.5, 3ª ed., 2011, Lumen Juris):
“(...) o art. 246, CPP, amplia justificadamente o conceito, para abranger o compartimento habitado ou o aposento ocupado de habitação
coletiva ou o compartimento não aberto ao público, onde alguém exercer profissão ou atividade. Todos são considerados domicílios, fechando-
se, por isso mesmo, às regras da inviolabilidade domiciliar.
De início, tem-se a imprescindibilidade de ordem judicial para a busca e apreensão domiciliares. E a inviolabilidade do domicílio, como
ainda veremos, inclui-se nas chamadas ‘reservas de jurisdição’, segundo e pelas quais somente a autoridade judiciária poderia determinar o
afastamento de determinadas ‘franquias’ (inviolabilidades) pessoais (...).
A extensão do domicílio ao compartimento habitado e outras moradias, além de locais não abertos ao público no qual exerce a
pessoa sua profissão ou atividade, há que ser entendida como um reforço de proteção à intimidade e à privacidade, igualmente exercitadas e
merecedoras de tutela em locais não incluídos no rígido conceito de ‘residência’ e domicílio.
Observe-se que as providências reclamadas e assim justificadoras da busca e da apreensão domiciliar são mais amplas que a busca
pessoal.” (grifei)
Na realidade, o mandado judicial de busca e apreensão domiciliar que não observar os requisitos mínimos, intrínsecos e extrínsecos, impostos
pelo ordenamento positivo constituirá ato estatal desprovido de validade e de consequente eficácia no plano jurídico, cabendo rememorar, bem por
isso, as exigências estabelecidas pelo art. 243 do CPP, cujo inciso I foi claramente transgredido na espécie, pois o mandado de busca domiciliar, ao ser
executado no local em que efetivamente se deu a apreensão, não indicava, como ordena a legislação, “o mais precisamente possível”, o espaço privado
em que deveria ter sido realizada a diligência.

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23


No caso ora em exame, como bem o demonstrou a impetração e destacou o eminente Relator, a diligência policial efetivou-se com evidente
desrespeito aos estritos limites que delineiam os atos fundados em referida operação de coleta de provas, ainda mais se considerada a gravíssima
ausência de ordem judicial escrita autorizadora do ingresso em espaço privado sequer indicado no mandado judicial em questão.
Concluo o meu voto, Senhor Presidente. E, por tratar-se de provas que foram ilicitamente incorporadas aos autos da persecução penal,
entendo que se impõe, para além da proclamação da sua absoluta desvalia jurídica, a aplicação do que determina o § 3º do art. 157 do CPP, na
redação dada pela Lei nº 11.690/2008, que assim dispõe: “Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será
inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente” (grifei).
Sendo assim, em face das razões expostas, e sobretudo considerando o substancioso voto proferido pelo eminente Relator, também concedo a
ordem de “habeas corpus” e determino a inutilização das provas penais ilicitamente obtidas (CPP, art. 157, § 3º).
É o meu voto.

*acórdão publicado no DJe de 19.3.2015

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
13 a 17 de abril de 2015

Lei nº 13.114, de 16.4.2015 - Dispõe sobre a obrigatoriedade de os serviços de registros civis de pessoas naturais
comunicarem à Receita Federal e à Secretaria de Segurança Pública os óbitos registrados, acrescentando parágrafo
o
único ao art. 80 da Lei n 6.015, de 31.12.1973. Publicada no DOU, em 17.4.2015, Seção 1, p. 1.

OUTRAS INFORMAÇÕES
13 a 17 de abril de 2015

Decreto nº 8.431, de 9.4.2015 - Promulga o Tratado de Extradição entre a República Federativa do Brasil e a
República Popular da China, firmado em Brasília, em 12.12.2004. Publicado no DOU, em 10.4.2015, Seção 1, p. 4.

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 781-STF (24/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24


Márcio André Lopes Cavalcante

Processo excluído deste informativo por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: Inq 3305 AgR/RS.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: PSV 109/DF; Inq 3847 AgR/GO.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
 Impossibilidade de reabertura da discussão sobre a modulação se o Plenário já discutiu e rejeitou a proposta,
proclamando o resultado.

NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS DECLARADAS INCONSTITUCIONAIS PELO STF


 Modelo de fiscalização exacerbado sobre titulares de cargos públicos do Executivo.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
 Súmula vinculante 46-STF: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas
de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União.

TRIBUNAL DE CONTAS
 Anulação de acordo extrajudicial pelo TCU.

DIREITO ADMINISTRATIVO
LICITAÇÕES
 É constitucional lei estadual que determina que a Administração Pública irá, preferencialmente, utilizar
soft ares li res.

CONCURSO PÚBLICO
 Súmula vinculante 43-STF: É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se,
sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na
qual anteriormente investido.
 É inconstitucional lei estadual que cria Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual.
 Súmula vinculante 44-STF: Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público.

SERVIDORES PÚBLICOS
 Inconstitucionalidade de subsídio vitalício a ex-governador.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


PROGRESSÃO DE REGIME
 Novo requisito para progressão de regime: pagamento integral da pena de multa.

DIREITO INTERNACIONAL
EXTRADIÇÃO
 Não é possível conceder a extradição de estrangeiro se o crime está prescrito no Brasil

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Impossibilidade de reabertura da discussão sobre a modulação se o Plenário já discutiu e
rejeitou a proposta, proclamando o resultado

Importante!!!
O STF, ao apreciar uma ADI, julgou que determinada lei é inconstitucional. No dia que ocorreu
o julgamento, havia apenas 10 Ministros presentes. Na oportunidade, discutiu-se se deveria
haver ou não a modulação dos efeitos da decisão. 7 Ministros votaram a favor, mas como são
necessários, no mínimo, 8 votos, a proposta de modulação foi rejeitada e o resultado final do
julgamento foi proclamado. No dia seguinte, o Ministro que estava ausente compareceu à
sessão e afirmou que era favorável à modulação dos efeitos da decisão que declarou a lei
inconstitucional no dia anterior.
Diante disso, indaga-se: é possível que o Plenário reabra a discussão sobre a modulação?
NÃO. Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado concluído e
encerrado e, por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir novamente a
modulação dos efeitos da decisão proferida.
A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica:
a) primeiro, o Plenário decide se a lei é constitucional ou não; e
b) em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de modulação
dos efeitos.
Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votação sobre a
modulação (que não foi alcançada), não há como reabrir o caso, ficando preclusa a
possibilidade de reabertura para deliberação sobre a modulação dos efeitos.
STF. Plenário. ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
julgado em 8/4/2015 (Info 780).

MODULAÇÃO DOS EFEITOS EM PROCESSOS OBJETIVOS DE CONSTITUCIONALIDADE


No julgamento de ADI, ADC ou ADPF, a Lei prevê expressamente que o STF poderá modular os efeitos da
decisão que julga determinado ato contrário à CF.
Em outras palavras, a Lei permite que o STF determine que os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade somente valham a partir da decisão proferida (ex nunc) ou ainda a partir de
determinada data futura (efeitos prospectivos).

Lei 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços
de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de
seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

Mesma regra pode ser encontrada no art. 11 da Lei n. 9.882/99.


Regra: efeitos EX TUNC (retroativos)
Excepcionalmente o STF pode, pelo voto de, no mínimo, 8 Ministros (2/3):
* restringir os efeitos da declaração; ou Desde que haja razões de:
* decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado; ou * segurança jurídica; ou
* de outro momento que venha a ser fixado. * excepcional interesse social.

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


MODULAÇÃO DOS EFEITOS DO JULGADO EM PROCESSOS SUBJETIVOS
É possível a modulação dos efeitos do julgado no caso de processos subjetivos, como na hipótese da
decisão proferida em um recurso extraordinário (controle difuso)?
SIM. O STF consagrou entendimento no sentido de que, excepcionalmente, admite-se, em caso de
controle difuso de constitucionalidade, a modulação temporal dos efeitos da decisão proferida.
Com o objetivo de seguir o mesmo modelo previsto no art. 27 da Lei n. 9.868/99, o STF decidiu que é
necessário o quórum de 2/3 para que ocorra a modulação de efeitos em sede de recurso extraordinário
com repercussão geral reconhecida. Entendeu-se que essa maioria qualificada seria necessária para
conferir eficácia objetiva ao instrumento.
STF. Plenário. RE 586453/SE, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 20/2/2013
(Info 695).

MOMENTO-LIMITE DA MODULAÇÃO DOS EFEITOS


Feitos os esclarecimentos acima, imagine a seguinte situação:
O STF, ao apreciar uma ADI, julgou ueàaàleià ))) à ài o stitu io al.
No dia que ocorreu o julgamento, havia apenas 10 Ministros presentes.
Na oportunidade, discutiu-se se deveria haver ou não a modulação dos efeitos da decisão.
7 Ministros votaram a favor, mas, como são necessários, no mínimo 8 votos, a proposta de modulação foi
rejeitada e o resultado final do julgamento foi proclamado.
No dia seguinte, o Ministro que estava ausente compareceu à sessão e afirmou que era favorável à
odulaçãoàdosàefeitosàdaàde isãoà ueàde la ouàaàleià ))) inconstitucional no dia anterior.

Diante disso, indaga-se: é possível que o Plenário reabra a discussão sobre a modulação?
NÃO. Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado concluído e encerrado
e, por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir novamente a modulação dos efeitos da
decisão proferida.

Análise da ADI ocorre de forma bifásica:


A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica:
a) primeiro, o Plenário decide se a lei é constitucional ou não; e
b) em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de modulação dos efeitos.

Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votação sobre a modulação
(que não foi alcançada), não há como reabrir o caso, ficando preclusa a possibilidade de reabertura para
deliberação sobre a modulação dos efeitos.

NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS DECLARADAS INCONSTITUCIONAIS PELO STF


Modelo de fiscalização exacerbado sobre titulares de cargos públicos do Executivo

A Assembleia Legislativa do Estado de Roraima editou emenda, de iniciativa parlamentar, à


Constituição do Estado prevendo duas regras:
1) O Governador seria obrigado a submeter à análise da ALE os nomes que ele escolheu para
serem nomeados como membros do TCE, Defensor Público-Geral, Procurador-Geral do Estado,
diretores de fundações e autarquias e Presidentes de sociedade de economia mista e empresas
públicas.
2) Os titulares da Universidade Estadual, da Companhia de Águas do Estado, da Companhia
Energética do Estado e inúmeras outras autoridades deveriam comparecer anualmente à ALE

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


para apresentar relatório de atividades, que seria referendado ou não pelos Deputados e,
caso fosse rejeitado, isso implicaria o afastamento imediato do titular do cargo.
Sob o ponto de vista formal, essa emenda é inconstitucional porque como trata sobre regime
jurídico de servidores públicos não poderia ser de iniciativa parlamentar art. 61, § 1º, c , da
CF/88).
Sob o aspecto material, quanto à regra 1, o STF entendeu que a nomeação do Procurador-Geral
do Estado e dos Presidentes de sociedade de economia mista e empresas públicas não podem
ser submetidas ao crivo da ALE. O cargo de Procurador-Geral do Estado é de livre nomeação e
exoneração, sendo um cargo de confiança do chefe do Poder Executivo. As empresas públicas e
sociedades de economia mista submetem-se a regras de direito privado e não podem sofrer
ingerência por parte do Legislativo.
Quanto à regra 2, esta também é materialmente inconstitucional porque institui um modelo de
fiscalização exacerbado e, desse modo, viola o princípio da separação de Poderes.
STF. Plenário. ADI 4284/RR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/4/2015 (Info 780).

APROVAÇÃO PELA ALE DE SERVIDORES NOMEADOS PELO GOVERNADOR


Imagine a seguinte situação:
A Assembleia Legislativa do Estado de Roraima editou uma emenda à Constituição do Estado
determinando ao Governador a obrigação de submeter à análise da ALE os nomes que ele escolheu para
serem nomeados como membros do TCE, Defensor Público-Geral, Procurador-Geral do Estado, diretores
de fundações e autarquias e Presidentes de sociedade de economia mista e empresas públicas.
Segundo o dispositivo (art. 33, XXXI), os nomeados, ainda que interinamente, que não forem
encaminhados para apreciação e votação pela Assembleia Legislativa, nos 30 dias seguintes, serão
considerados afastados e seus atos serão anulados.
Vale ressaltar que essa emenda foi apresentada por um grupo de Deputados, ou seja, trata-se de uma
emenda constitucional de iniciativa parlamentar.

Essa previsão é constitucional?


NÃO. O STF entendeu que essa emenda trata sobre regime jurídico de servidores públicos, matéria que é
de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo, nos termos do art. ,à§à º,à , da CF/88.
Logo, a proposta, de iniciativa parlamentar, ao versar sobre regime jurídico de servidores, violou a reserva
de iniciativa legislativa privativa do Governador do Estado.

Mas o a t. 61, § 1º, fala e leis e o ato i pug ado e a u a e e da co stitucio al...
O STF entende que, se houver uma emenda constitucional tratando sobre algum dos assuntos listados no
art. 61, § 1º, da CF/88, essa emenda deve ter sido proposta pelo chefe do Poder Executivo. Assim, é
incabível que os parlamentares proponham uma emenda constitucional dispondo sobre o regime jurídico
dosàse ido esàpú li os,àpo àexe ploà a t.à ,à§à º,à II,à .à“eàissoàfosseà pe itido,àse iaàu aàfo aàdeà
burlar a regra do art. 61, § 1º, da CF/88.
Em su a,à at iaà est itaà ài i iati aàdoàPode àExe uti oà ãoàpodeàse à eguladaàpo àe e daà o stitu io alàdeà
o ige àpa la e ta à “TF.àPle io.àáDIà . ,àRel.àMi .àJoa ui àBa osa,àjulgadoàe à / / .

Tudo bem. Entendi que a emenda proposta foi formalmente inconstitucional. Mas e sob o ponto de vista
material, seria possível que as autoridades indicadas pelo Governador do Estado fossem obrigadas a se
submeter à aprovação da ALE?
 Quanto aos dirigentes de autarquias e fundações e quanto ao Defensor Público-Geral:
Se não fosse o vício formal, seria possível que a Constituição do Estado exigisse que tais nomes fossem
aprovados pela ALE. Isso porque a CF/88 permite que a legislação condicione a nomeação de
determinados titulares de cargos públicos à prévia aprovação do Senado Federal, a teor do art. 52, III.
Logo, em homenagem ao princípio da simetria, essa mesma previsão do art. 52 pode ser repetida na

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Constituição ou mesmo na legislação infraconstitucional estadual. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI
1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/9/2014 (Info 759).

 Quanto ao Procurador-Geral do Estado: não. Mesmo que não houvesse inconstitucionalidade formal,
haveria material. Isso porque o STF possui entendimento pacífico no sentido de que o Advogado-Geral
é cargo de confiança do Presidente da República, sendo de livre nomeação pelo Chefe do Poder
Executivo, não precisando passar por sabatina no Senado.

 Quanto aos dirigentes das empresas públicas e sociedades de economia mista: não. Mesmo que não
houvesse inconstitucionalidade formal, haveria material. Isso porque tais entidades se sujeitam ao regime
das empresas privadas e, portanto, não podem sofrer nenhuma ingerência por parte do Legislativo.

PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAL PARA A ALE


Além da regra acima explicada, a Assembleia Legislativa de Roraima também acrescentou na Constituição
Estadual a obrigação de que os Titulares da Universidade Estadual de Roraima - UERR; da Companhia de
Águas e Esgotos de Roraima - CAER; da Companhia Energética de Roraima – CER e inúmeras outras
autoridades que não vale a pena listar deveriam comparecer anualmente ao Poder Legislativo, em data
fixada por este, para apresentação de relatório anual de atividades desenvolvidas e plano de metas
para o ano seguinte, as quais serão referendadas por maioria absoluta em turno único e em votação
secreta, e cuja rejeição implicará o afastamento imediato do titular do cargo (art. 33, XXXI, da CE/RR).

Inconstitucionalidade formal
Assim como já expliquei acima, essa previsão é formalmente inconstitucional porque trata sobre regime
jurídico de servidores públicos e foi acrescentada por emenda constitucional de iniciativa parlamentar.

Inconstitucionalidade material
A obrigação acima é também inconstitucional sob o ponto de vista material porque institui um modelo de
fiscalização exacerbado, exagerado, extremo. Desse modo, isso viola o princípio da separação de Poderes.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Súmula vinculante 46

Súmula vinculante 46-STF: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das


respectivas normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União.
STF. Plenário. Aprovada em 09/04/2015 (Info 780).

CRIMES DE RESPONSABILIDADE
O que são crimes de responsabilidade?
Crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas praticadas por pessoas que ocupam
determinados cargos públicos.
Caso o agente seja condenado por crime de responsabilidade, ele não receberá sanções penais (prisão ou
multa), mas sim sanções político-administrativas (perda do cargo e inabilitação para o exercício de função
pública).
Os crimes de responsabilidade estão previstos:
 Quanto ao Presidente da República: no art. 85 da CF/88 e Lei n. 1.079/50.
 Quanto aos Governadores de Estado: na Lei n. 1.079/50.
 Quanto aos Prefeitos: no DL 201/67.

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE CRIMES DE RESPONSABILIDADE
Muitas Constituições estaduais tratam sobre o procedimento a ser aplicado quando o Governador do
Estado pratica um crime de responsabilidade. As Cartas estaduais podem dispor sobre isso?
NÃO. O STF entende que o Estado-membro não pode dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que
seja na Constituição estadual. Isso porque a competência para legislar sobre crime de responsabilidade é
privativa da União.

Por que é privativa da União?


Porque o STF entende que definir o que seja crime de responsabilidade e prever as regras de processo e
julgamento dessas infrações significa legislar sobre Direito Penal e Processual Penal, matérias que são de
competência privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85, parágrafo único, da CF:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra:
(...)
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e
julgamento.

Repare que a dout i aà o eituaà osà i esà deà espo sa ilidadeà o oà se doà i f açõesà políti o-
ad i ist ati as .àNoàe ta to,àoà“TFàe te deà ue,àpa aàfi sàdeà o pet iaàlegislati a,àissoà à at iaà ueà
se insere no direito penal e processual, de forma que a competência é da União.

Daí o Supremo ter editado um enunciado destacando essa conclusão:


Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União a definição dos crimes de
responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.

Dessa forma, a Constituição Estadual deve seguir rigorosamente os termos da legislação federal sobre
crimes de responsabilidade.

TRIBUNAL DE CONTAS
Anulação de acordo extrajudicial pelo TCU

O TCU tem legitimidade para anular acordo extrajudicial firmado entre particulares e a
Administração Pública, quando não homologado judicialmente.
Se o acordo foi homologado judicialmente, o TCU não pode anulá-lo porque a questão já
passou a ser de mérito da decisão judicial, o que não pode ser revisto pelo Tribunal de Contas.
Contudo, sendo o acordo apenas extrajudicial, a situação está apenas no âmbito
administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o ajuste celebrado.
STF. 1ª Turma. MS 24379/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Determinada empresa privada sofreu um dano causado por um órgão federal.
Foi celebrado, então, um acordo extrajudicial entre a empresa e o órgão por meio do qual a Administração
Pública comprometeu-se a pagar indenização de R$ 7 milhões.
Vale ressaltar que esse acordo não foi homologado judicialmente.
O TCU, analisando a prestação de contas desse órgão, entendeu que o valor pago a título de indenização
foi exacerbado considerando que o prejuízo comprovado da empresa foi de apenas R$ 500 mil.
Diante disso, o TCU anulou o acordo celebrado, determinou a devolução dos valores pagos e aplicou multa

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


ao administrador do órgão.

O TCU poderia ter adotado tal providência? O TCU pode anular acordos extrajudiciais envolvendo a
Administração Pública federal?
SIM. O TCU tem legitimidade para anular acordo extrajudicial firmado entre particulares e a Administração
Pública, quando não homologado judicialmente.
Se o acordo tivesse sido homologado judicialmente, o TCU não poderia anulá-lo porque a questão já
passaria a ser de mérito da decisão judicial, o que não pode ser revisto pelo Tribunal de Contas.
No caso, contudo, como o acordo foi apenas extrajudicial, a situação estava apenas no âmbito
administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o ajuste celebrado.

DIREITO ADMINISTRATIVO

LICITAÇÕES
É constitucional lei estadual que determina que a Administração Pública
irá, preferencialmente, utilizar soft ares li res

O Governo do Rio Grande do Sul editou uma lei estadual determinando que a administração
pública do Estado, assim como os órgãos autônomos e empresas sob o controle do Estado
utilizarão preferencialmente em seus sistemas e equipamentos de informática programas
abertos, livres de restrições proprietárias quanto à sua cessão, alteração e distribuição
softwares livres .
Determinado partido político ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria
inconstitucionalidades materiais e formais.
O STF julgou improcedente a ADI e afirmou que a lei é constitucional.
A preferência pelo software livre, longe de afrontar os princípios constitucionais da
impessoalidade, da eficiência e da economicidade, promove e prestigia esses postulados, além
de viabilizar a autonomia tecnológica do País.
Não houve violação à competência da União para legislar sobre licitações e contratos porque a
competência da União para legislar sobre licitações e contratos fica restrita às normas gerais,
podendo os Estados complementar as normas gerais federais.
A referida lei também não viola o art. 61, )), b , da CF/88 porque a competência para legislar
sobre licitação não é de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo, podendo ser
apresentada por um parlamentar, como foi o caso dessa lei.
STF. Plenário. ADI 3059/RS, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado m
9/4/2015 (Info 780).

Software livre x Software proprietário


Software é o nome que se dá aos programas de computador.
Software proprietário (também chamado de fechado ou privativo) é aquele que é licenciado com
direitos exclusivos para o seu produtor. Seu uso, redistribuição ou modificação é proibido, ou requer uma
autorizaçãoà doà p oduto .à Osà soft a es à p op iet iosà ta à o he idosà o oà fe hados à somente
podem ser usados pelo seu destinatário.
Os softwares àli es, por sua vez, que também são chamados de abertos, além de poderem ser utilizados,
podem também ser copiados, alterados e redistribuídos para outros usuários. Ex: o Governo compra
dete i adoà soft a e àli eàpa aàse àusadoà aà“e eta iaàdeà“aúde,àsig ifi aà ueàpode àse ài staladoàe à
todas as máquinas deste órgão e também em outras Secretarias, por exemplo.

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


Lei gaúcha
O Governo do Estado do Rio Grande do Sul editou uma lei estadual (Lei 11.871/2002) determinando que a
administração pública do Estado, assim como os órgãos autônomos e empresas sob o controle do Estado
utilizarão preferencialmente em seus sistemas e equipamentos de informática programas abertos, livres
de restrições proprietárias quanto à sua cessão, alteração e distribuição.

ADI
Determinado partido político ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria
inconstitucionalidades materiais e formais.
Segundo o autor, a lei violaria os princípios da impessoalidade, eficiência e economicidade. Além disso,
seria formalmente inconstitucional porque a competência para legislar sobre licitações e contratos seria
privativa da União (art. 22, XXVII, da CF/88) bem como pelo fato de o projeto que deu origem à lei ter sido
apresentado por um parlamentar (e não pelo Governador), o que afrontaria o art. 61, § 1º da CF/88.

O STF concordou com a ADI? A referida lei é inconstitucional?


NÃO.

Ausência de inconstitucionalidade material


Quanto ao primeiro argumento, o STF entendeu que a prefe iaàpeloà soft a e àli e,àlo geàdeàaf o ta à
os princípios constitucionais da impessoalidade, da eficiência e da economicidade, promove e prestigia
esses postulados, além de viabilizar a autonomia tecnológica do País.
Todos os que tenham desenvolvido algu à software e que tenham interesse em contratar com a
Administração Pública podem competir em igualdade de condições, sem que a preferência por um
programa livre constitua obstáculo. Basta que, para tanto, osà do osà dosà soft a es à disponibilizem o
código-fonte para a Administração Pública.
Também não houve afronta aos princípios da eficiência e da economicidade (arts. ,à aput àeà ,à aput,
da CF/88 àpo ue,àaoàopta àpo àu à soft a e àli e,àaàád i ist açãoàPú li aàsai ganhando, já que ela terá
liberdade para: a) executar o programa para qualquer propósito; b) poder estudar o funcionamento do
programa e adaptá-lo livremente às suas necessidades; e c) o pa tilha à oà soft a e à o à osà de aisà
órgãos e entidades da Administração haja vista que uma única cópia do programa pode ser utilizada por
todos os funcionários de um mesmo órgão público ou por qualquer outro ente, seja ele pessoa física ou
jurídica, sem custos adicionais.
Vale ressaltar também que a referida lei estadual confere preferência aosà soft a es àli es,àno entanto,
essa preferência não é absoluta porque a própria Lei 11.871/2002, em seu art. 3º, admite a contratação de
programas de computador com restrições proprietárias, nas seguintes hipóteses específicas: a) quando o
soft a e à a alisadoà ate de à aà o te toà oà o jeti oà li itadoà ouà o t atado;à eà à ua doà aà utilizaçãoà deà
programa livre e/ou código fonte aberto causar incompatibilidade operacional com outros programas
utilizados pela Administração.

Ausência de ofensa à competência da União


No que tange à suposta violação à competência, o STF entendeu que não houve ofensa ao art. 22, XXVII,
da CF/88, uma vez que a competência da União para legislar sobre licitações e contratos fica restrita às
normas gerais. Veja o dispositivo:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações
públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o
disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art.
173, § 1°, III;

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Assim, mesmo ãoà esta doà oà a t.à ,à oà assu toà li itaçãoà eà o t atação à pode ser objeto de leis
estaduais desde que estas apenas complementem e não contrariem as normas gerais fixadas pela União.

Ausência de ofensa à iniciativa privativa do Governador do Estado


Como visto acima, o autor da ADI argumentou que a lei teria violado o art. ,àII,à ,àdaàCF/ :
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
(...)
II - disponham sobre:
b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da
administração dos Territórios;

O STF entendeu que a lei não afronta esse dispositivo porque, na verdade, a lei versa sobre licitação no
âmbito da Administração Pública estadual, e não sobre nenhuma das matérias previstas nesse art. 61, II,
,à daà CF/ . Ademais, a iniciativa legislativa prevista no aludido dispositivo constitucional teria sido
reservada ao Presidente da República apenas por se tratar de matéria adstrita aos Territórios.

CONCURSO PÚBLICO
Súmula vinculante 43

Súmula vinculante 43-STF: É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao


servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento,
em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.
STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).

Conversão da súmula 685 do STF


áà o lusãoàexpostaà estaà“Và àj àe aàp e istaàe àu aàsú ulaà o u àdoà“TF,àaàsú ulaà àdoà“TFà deà
24/09/2003) e que tem a mesma redação. O Plenário do STF tem convertido em súmulas vinculantes algumas
sú ulasà o u s à o àoào jeti oàdeàagiliza àosàp o essosàeàpa ifi a àosàte as.àEssaàfoiàu aàdasàes olhidas.

Provimento
Provimento é o ato pelo qual o cargo público é preenchido, com a designação de seu titular (Hely Lopes
Meirelles). Existem duas formas de provimento: originário e derivado.

Ascensão funcional
O que a SV 43 do STF proíbe é a chamada ascensão funcional (também conhecida como acesso ou
transposição).
A ascensão funcional é a progressão funcional do servidor público entre cargos de carreiras distintas.
Ocorre quando o servidor é promovido para um cargo melhor, sendo este, no entanto, integrante de uma
carreira diferente.
A ascensão funcional era extremamente comum antes da CF/88. Quando o servidor chegava ao último
nível de uma carreira, ele ascendia para o primeiro nível de carreira diversa (e superior) sem necessidade
de concurso público.
Ex.1: o indivíduo é servidor público e ocupa o cargo de técnico judiciário; a lei previa que, se ele chegasse à
última classe de técnico judiciário, poderia ser promovido à analista judiciário.
Ex.2: o agente de polícia de último nível tornava-se delegado de polícia de nível inicial.
Antes da CF/88, somente se exigia o concurso público para o ato da primeira investidura.

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A ascensão funcional é compatível com a CF/88?
NÃO.à áà p o oçãoà doà se ido à po à as e sãoà fu io alà o stituià u aà fo aà deà p o i e toà de i adoà
e ti al ,àouàseja,àaàpessoaàassu eàu àout o cargo (provimento) em virtude de já ocupar um anterior (ou
seja, derivado do primeiro), subindo no nível funcional para um cargo melhor (vertical).
A ascensão funcional é inconstitucional porque a CF/88 afirma que a pessoa somente pode assumir um
cargo público após aprovação em concurso público (art. 37, II), salvo as hipóteses excepcionais previstas
no texto constitucional. Desse modo, a ascensão viola o princípio do concurso público.
Veja esta ementa bem elucidativa:
(...) O Supremo Tribunal Federal fixou entendimento no sentido de banir o acesso ou ascensão, que
constitui forma de provimento de cargo em carreira diversa daquela para a qual o servidor ingressou no
serviço público. (...) STF. 2ª Turma. RE 602795 AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 16/03/2010).

A SV 43-STF veda a promoção no serviço público?


NÃO. A SV 43-STF não veda a promoção, desde que seja na mesma carreira.
A promoção é a passagem (desenvolvimento funcional) do servidor público de um cargo para outro
melhor, tudo dentro da mesma carreira. Ex.: a Lei prevê que a carreira de Defensor Público é dividida em 3
classes; a pessoa ingressa como Defensor Público de 3ª classe e, após determinado tempo e cumpridos
certos requisitos, poderá ser promovida, por antiguidade e merecimento, alternadamente, a Defensor
Público de 2ª classe e depois a Defensor Público de 1ª classe.
A promoção é constitucional, não sendo proibida pela SV 43-STF.

Pode-se dizer que a A SV 43-STF proíbe todas as formas de provimento vertical?


NÃO. Vamos com calma. Existem duas formas de provimento: originário e derivado.

1) Provimento originário: ocorre quando o indivíduo passa a ocupar o cargo público sem que existisse
qualquer vínculo anterior com o Estado. Ex.: João prestou concurso público e foi aprovado para o cargo de
técnico judiciário do TRF, sendo nomeado. Trata-se de um provimento originário. Alguns anos depois, João
fez novo concurso público e foi aprovado, desta vez, para analista judiciário do TRF. Ao ser nomeado para
o cargo de analista, houve novo provimento originário, uma vez que seu vínculo não decorreu do anterior.

2) Provimento derivado: provimento derivado ocorre quando o indivíduo passa a ocupar determinado
cargo público em virtude do fato de ter um vínculo anterior com a Administração Pública. O
preenchimento do cargo decorre de vínculo anterior entre o servidor e o Poder Público.

Existem, por sua vez, três espécies de provimento derivado:


2.1) Provimento derivado vertical: ocorre quando o servidor muda para um cargo melhor.
Há dois exemplos de provimento derivado vertical:
 a ascensão funcional (transposição/acesso) e;
 a promoção.

A ascensão funcional, como vimos, é inconstitucional, sendo proibida pela SV 43-STF. Assim, atualmente, a
única hipótese permitida de provimento derivado vertical é a promoção.

2.2) Provimento derivado horizontal: ocorre quando o servidor muda para outro cargo com atribuições,
responsabilidades e remuneração semelhantes. É o caso da readaptação (art. 24 da Lei nº 8.112/90).

3) Provimento derivado por reingresso: ocorre quando o servidor havia se desligado do serviço público e
retorna em virtude do vínculo anterior. Exs.: reintegração, recondução, aproveitamento e reversão.

Desse modo, concluindo, a SV 43-STF não proíbe todas as formas de provimento derivado. Na verdade, ela
só veda uma espécie de provimento derivado vertical, que é a ascensão funcional.

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CONCURSO PÚBLICO
É inconstitucional lei estadual que cria Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual

O Estado de Goiás editou uma lei criando algo que ele chamou de Serviço de Interesse Militar
Voluntário Estadual (SIMVE). Esse SIMVE funcionaria, em linhas gerais, da seguinte forma: as
pessoas poderiam se alistar para trabalhar voluntariamente como soldado na Polícia Militar
ou no Corpo de Bombeiros Militar. Haveria uma espécie de seleção (menos rigorosa que um
concurso público) e, se a pessoa fosse escolhida, ela receberia, como contraprestação pelo
trabalho desempenhado, um subsídio e atuaria como se fosse um soldado. Esse contrato seria
por um prazo determinado.
O STF entendeu que esse SIMVE é formal e materialmente inconstitucional.
O SIMVE viola a regra do concurso público (art. 37, II, da CF/88).
Além disso, o STF afirmou ainda que a Lei estadual possui um vício formal, já que trata sobre
prestação voluntária de serviços na PM e Corpo de Bombeiros de forma diametralmente
oposta ao que diz a Lei federal 10.029/2000.
STF. Plenário. ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/3/2015 (Infos 880 e 881).

Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual – SIMVE


O Estado de Goiás editou uma lei criando algo que ele chamou de Serviço de Interesse Militar Voluntário
Estadual (SIMVE).
Esse SIMVE, previsto na Lei estadual 17.882/2012, funcionaria, em linhas gerais, da seguinte forma: as
pessoas (homens ou mulheres) com idade entre 19 a 27 anos poderiam se alistar para trabalhar
olu ta ia e te à o oàsoldadoà aàPolí iaàMilita àouà oàCo poàdeàBo ei osàMilita .
Haveria uma espécie de seleção (menos rigorosa que um concurso público) e se a pessoa fosse escolhida,
ela receberia, como contraprestação pelo trabalho desempenhado, um subsídio de aproximadamente R$
1.300.
As pessoas admitidas no SIMVE prestariam serviço durante 12 meses, podendo ser prorrogado até o limite
máximo de permanência, que seria de 33 meses.
O argumento do Governo foi o de que o SIMVE seria uma espécie de serviço militar facultativo a nível
estadual, em termos semelhante ao serviço militar obrigatório que existe para as Forças Armadas e que é
regulado pela Lei n. 4.735/64 (Lei do Serviço Militar).

O PGR ajuizou ADI contra essa lei. O que o STF decidiu? A Lei do SIMVE é constitucional?
NÃO. O STF decidiu que a Lei que instituiu o SIMVE é formal e materialmente inconstitucional.

Inconstitucionalidade material
A Lei estadual n. 17.882/2012, a pretexto de ter fundamento de validade na Lei n. 4.735/64 (Lei do
Serviço Militar), instituiu uma classe de policiais temporários, cujos integrantes, após serem aprovados em
seleção e em curso de formação, passariam a ocupar cargo de natureza policial militar. Esses temporários
seriam remunerados por subsídio, sujeitos à legislação militar e às normas específicas da Polícia Militar e
do Corpo de Bombeiros Militar estaduais.

O objetivo do Governo foi o de cortar gastos relacionados com a segurança pública. No entanto, ao
possibilitar que voluntários tivessem função de policiamento preventivo e repressivo, além de terem o
di eitoà deà usa à osà u ifo es,à i síg iasà eà e le asà utilizadosà pelaà o po ação,à o à aà desig açãoà “V ,à
recebendo subsídio, a lei criou policiais temporários, disfarçados sob a classificação de voluntários, para a
execução de atividades militares, em detrimento da exigência constitucional de concurso público.

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


O concurso público é uma forma de a Administração assegurar os princípios da isonomia e da
impessoalidade na concorrência dos candidatos aos cargos públicos.
A CF/88 previu algumas hipóteses excepcionais em que o concurso público não é obrigatório. No entanto, tais
situações são taxativas e entre elas não está incluída a possibilidade de contratação de policiais militares.

Ademais, a lei impugnada não se amolda à contratação temporária do art. 37, IX, da CF/88. Não estão
presentes os requisitos e limites para esse tipo de contratação.

Desse modo, o SIMVE viola frontalmente a regra do concurso público (art. 37, II, da CF/88).

A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar são instituições estaduais destinadas à função de
segurança pública e não seguem o mesmo regime constitucional alusivo às Forças Armadas. Essa diferença
diz respeito a inúmeros aspectos, dentre eles a forma de ingresso na carreira. Enquanto a admissão nas
Forças Armadas ocorre tanto pela via compulsória do recrutamento oficial quanto pela via voluntária de
ingresso nos cursos de formação, os servidores militares estaduais são submetidos, sempre
voluntariamente, a concurso público.

A Lei goiana possuía ainda outro vício: a lei do SIMVE permite a contratação de 2.400 policiais
temporários, mas existem cerca de 1.400 concursados aprovados regularmente no concurso da Polícia
Militar e que estão em cadastro reserva aguardando convocação.

Inconstitucionalidade formal
O STF afirmou ainda que a Lei possui um vício formal, já que viola o art. 24 da CF/88, ao usurpar a
competência da União para legislar sobre o tema. Isso porque a União já editou uma Lei prevendo a
prestação voluntária de serviços administrativos e de serviços auxiliares de saúde e de defesa civil nas
Polícias Militares e nos Corpos de Bombeiros Militares. Trata-se da Lei federal n. 10.029/2000.
A Lei estadual goiana, ao tratar sobre o mesmo tema (prestação de serviços voluntários) na PM e Corpo de
Bombeiros, violou o que diz a Lei n. 10.029/2000 ao dizer que os serviços voluntários podem ser
prestados não apenas para atividades administrativas ou serviços auxiliares, mas sim para a atividade-fim
(policiamento), o que não é possível.

CONCURSO PÚBLICO
Súmula vinculante 44

Súmula vinculante 44-STF: Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de
candidato a cargo público.
STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).

Conversão da súmula 686 do STF


áà o lusãoàexpostaà estaà“Và àj àe aàp e istaàe àu aàsú ulaà o u àdoà“TF,àaàsú ulaà 6 do STF (de
24/09/2003) e que tem a mesma redação.
OàPle ioàdoà“TFàte à o e tidoàe àsú ulasà i ula tesàalgu asàsú ulasà o u s à o àoào jeti oàdeà
agilizar os processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas.

É válida a realização de exame psicotécnico em concursos públicos?


SIM. O STF afirma que é admitida a realização de exame psicotécnico em concursos públicos, desde que a
lei da carreira preveja expressamente esse teste como um dos requisitos para acesso ao cargo.

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


Princípio da legalidade
O fundamento principal da súmula é o princípio da legalidade, aplicável aos concursos públicos, nos
termos do art. 37, I da CF/88. Confira:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
I – os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos
estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;

O mencionado art. 37, I afirma claramente que os requisitos de acesso a cargos, empregos e funções
sejam previstos em lei. Assim, as exigências contidas no edital do concurso público devem ter previsão na
lei. Em outras palavras, o edital não pode fixar exigências que não tenham amparo legal.

Requisitos do exame psicotécnico


Além da previsão em lei, o STJ e o STF exige outros requisitos à validade do teste psicotécnico. Cuidado,
portanto, porque a redação da SV 44-“TFà à i o pleta àe à elaçãoàaoàatualà e ioàdaàju isp ud ia.

Assim, para que seja válido em concursos públicos, o exame psicotécnico deverá cumprir os seguintes
requisitos:
a) o exame precisa estar previsto em lei e no edital;
b) deverão ser adotados critérios objetivos no teste;
c) deverá haver a possibilidade de o candidato prejudicado apresentar recurso contra o resultado.

Nesse sentido: STF. Plenário. AI 758.533-QO-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 13/8/2010; STJ. 2ª
Turma. AgRg no REsp 1404261/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 11/02/2014.

Início do prazo para mandado de segurança contra reprovação em exame psicotécnico


Se um candidato é eliminado no exame psicotécnico, o termo inicial do prazo decadencial para que ele
impetre mandado de segurança é a data da publicação do resultado do teste e não a data da publicação
do edital do certame (STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 202.442-RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 9/10/2012).

Se o exame psicotécnico for anulado por falta de previsão legal, o que acontece?
O candidato reprovado neste teste deverá ser considerado aprovado.

Se o exame psicotécnico for anulado por ser subjetivo (faltar-lhe objetividade), o que acontece?
O candidato reprovado neste teste deverá ser submetido a novo exame, desta vez adotando-se critérios
objetivos (STJ AgRg no REsp 1437941/DF). Assim, uma vez anulado o exame psicotécnico por falta de
objetividade, o candidato beneficiado com a decisão não pode prosseguir na disputa sem se submeter a
novo exame, não sendo válida a nomeação e a posse efetuadas sob essa hipótese, sob pena de
malferimento aos princípios da isonomia e da legalidade (STJ AgRg no AgRg no AREsp 566.853/SP).

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


SERVIDORES PÚBLICOS
Inconstitucionalidade de subsídio vitalício a ex-governador

Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de
Governador do Estado fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns
chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil. A previsão
desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. Essa regra fere o princípio da isonomia. Não há uma justificativa razoável para que seja
prevista genericamente a concessão da pensão para ex-governadores, configurando um
tratamento privilegiado sem haver fundamento legítimo.
STF. Plenário. ADI 4552 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 9/4/2015 (Info 780).

Subsídio vitalício a ex-Governador do Estado


A Constituição do Estado do Pará previu, em seu art. 305, que a pessoa que tiver exercido o cargo de
Governador do Estado, em caráter permanente, fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e
vitalício igual à remuneração do cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.
Enfim, os ex-Governadores teriam direito de ficar recebendo, até morrerem, um valor mensal igual ao
subsídio dos Desembargadores.

Essa previsão é constitucional?


NÃO. Essa regra fere o princípio da isonomia. Não há uma justificativa razoável para que seja prevista
genericamente a concessão da pensão para ex-governadores, configurando um tratamento privilegiado
sem haver fundamento legítimo.

Natureza dessa verba


Fica até difícil definir a natureza jurídica desse valor pago aos ex-Governadores. Ele não pode ser
considerado representação uma vez que essa verba é recebida pela autoridade para custear as despesas
de um gabinete com servidores etc., como é o caso dos Deputados e Senadores. Os ex-Governadores não
são mais autoridades nem administram qualquer gabinete.
Não se pode dizer que se trata pensão previdenciária considerando que, no serviço público, a pensão
previdenciária é o benefício pago aos dependentes do agente público que faleceu (art. 40, § 7º, da CF/88),
o que não tem nada a ver com a presente situação.
De igual modo, não h àpossi ilidadeàdeàe uad a àessaà e aà o oà pensão civil , haja vista que esta seria devida
para o caso de lesão ou outra ofensa à saúde (art. 949 do CC), sendo paga pelo causador do dano à vítima.

Outros precedentes
O STF já havia se manifestado sobre o tema, conforme se pode inferir pela ementa a seguir:
(...) Segundo a nova redação acrescentada ao Ato das Disposições Constitucionais Gerais e Transitórias da
Constituição de Mato Grosso do Sul, introduzida pela Emenda Constitucional n. 35/2006, os ex-
Governadores sul-mato-grossenses que exerceram mandato integral, em 'caráter permanente',
receberiam subsídio mensal e vitalício, igual ao percebido pelo Governador do Estado. Previsão de que
esse benefício seria transferido ao cônjuge supérstite, reduzido à metade do valor devido ao titular.
2. No vigente ordenamento republicano e democrático brasileiro, os cargos políticos de chefia do Poder
Executivo não são exercidos nem ocupados 'em caráter permanente', por serem os mandatos temporários
e seus ocupantes, transitórios.
(...)
4. Afronta o equilíbrio federativo e os princípios da igualdade, da impessoalidade, da moralidade pública e
da responsabilidade dos gastos públicos (arts. 1º, 5º, caput, 25, § 1º, 37, caput e inc. XIII, 169, § 1º, inc. I e
II, e 195, § 5º, da Constituição da República). (...)
(STF. Plenário. ADI 3853, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 12/09/2007)

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


DIREITO PROCESSUAL PENAL

COMPETÊNCIA
Súmula vinculante 45

Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do tribunal do júri prevalece sobre o


foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual.
STF. Plenário. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).

Conversão da súmula 721 do STF


A conclusão exposta nesta SV 45 j àe aàp e istaàe àu aàsú ulaà o u àdoà“TF,àaàsú ulaà721 do STF (de
24/09/2003) e que tem a mesma redação.
O Plenário do STF tem convertido em súmulas i ula tesàalgu asàsú ulasà o u s à o àoào jeti oàdeà
agilizar os processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas.

Competência constitucional do Tribunal do Júri


Dizemos que a competência do Tribunal do Júri é constitucional porque ela é prevista na própria CF/88 (e
não no CPP ou em qualquer lei ordinária).
O art. 5º, XXXVIII,àalí eaà d ,àdaàCF/ àafi aàexp essa e teà ueào Tribunal do Júri terá competência para
julgar os crimes dolosos contra a vida .

Quais são os crimes dolosos contra a vida (de competência do Tribunal do Júri)?
 homicídio (art. 121 do CP);
 induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (art. 122 do CP);
 infanticídio (art. 123 do CP);
 aborto em suas três espécies (arts. 124, 125 e 126 do CP).

Desse modo, em regra, ocorrendo a prática de um desses crimes, o autor será julgado pelo Tribunal do Júri
(e não por um juízo singular).

O que é o foro por prerrogativa de função?


Trata-se de uma prerrogativa prevista pela Constituição segundo a qual as pessoas ocupantes de
determinados cargos ou funções somente serão processadas e julgadas criminalmente (não engloba
processos cíveis) em foros privativos colegiados (TJ, TRF, STJ, STF).
A Constituição Federal prevê diversos casos de foro por prerrogativa de função. Ex: os Senadores deverão
se àjulgadosà i i al e teàpeloà“TFà a t.à ,àI,à àdaàCF/ .
A CF/88 previu que determinadas autoridades deveriam ser julgadas pelo Tribunal de Justiça e, como o
tema interessa aos Estados, as Constituições estaduais acabaram repetindo essas regras. Ex.1: a CF/88
afirma que os Prefeitos devem ser julgados pelo TJ (art. 29, X, da CF/88). Mesmo sendo desnecessário,
todas as Constituições Estaduais decidiram repetir, em seus textos, essa regra. Assim, você irá encontrar
tanto na CF/88 como nas Constituições Estaduais que a competência para julgar os Prefeitos é do TJ.

Surge, por fim, uma dúvida: a Constituição Estadual pode estabelecer que determinadas autoridades
deverão ser julgadas pelo Tribunal de Justiça mesmo isso não estando previsto na CF/88? É possível foro
por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual?
SIM. A CF/88 autoriza que a competência dos Tribunais de Justiça seja definida na Constituição do Estado
(art. 125, § 1º). No entanto, essa liberdade de definição não é absoluta. Quando a Constituição Estadual
for definir quais são as autoridades que serão julgadas pelo TJ ela deverá respeitar o princípio da simetria
ou paralelismo com a CF/88. Explicando melhor: as autoridades estaduais que podem ter foro privativo
são aquelas que, se comparadas com as mesmas autoridades em nível federal, teriam direito de foro por
prerrogativa de função na CF/88.

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


Ex.1: a CE pode prever que o Vice-Governador terá foro por prerrogativa de função no TJ. Isso porque a
autoridade correspondente em nível federal (Vice-Presidente) também possui foro privativo no STF.
Ex.2: a CE pode prever que os Secretários de Estado terão foro por prerrogativa de função no TJ. Isso
porque a autoridade correspondente em nível federal (Ministros de Estado) também possuem foro
privativo no STF.

Obs: existem ainda algumas polêmicas envolvendo o tema, mas, para fins de concurso, a resposta mais
adequada é o que foi explicado acima.

Desse modo, podemos concluir que existem hipóteses em que o foro por prerrogativa de função é
estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual. Exs: Vice-Governador, Secretários de Estado.

Feitos esses esclarecimentos, imagine o seguinte exemplo hipotético:


A Constituição do Estado do Amazonas prevê que os Secretários de Estado, se praticarem algum crime,
deverão ser julgados pelo Tribunal de Justiça (e não pelo juízo de 1ª instância). Em outras palavras, a
Constituição do Estado confere aos Secretários de Estado foro por prerrogativa de função.
Pode-se dizer que esse foro por prerrogativa de função é estabelecido exclusivamente pela Constituição
Estadual (a CF/88 não traz uma regra prevendo isso).
Suponha, então, que um Secretário do Estado do Amazonas cometa homicídio doloso contra alguém.

Quem julgará esse Secretário Estadual pelo homicídio por ele praticado?
Temos aqui um impasse: a CF/88 determina que esse réu seja julgado pelo Tribunal do Júri e a
Constituição Estadual preconiza que o foro competente é o Tribunal de Justiça.

Qual dos dois comandos deverá prevalecer?


A Constituição Federal, por ser hierarquicamente superior.

Logo, qual é a conclusão:


Se determinada pessoa possui por foro prerrogativa de função previsto na Constituição Estadual e comete
crime doloso contra a vida, deverá ser julgada pelo Tribunal do Júri, não prevalecendo o foro privativo
estabelecido na Constituição Estadual.

Este é o entendimento sumulado do STF:


Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.

Imaginemos outra seguinte situação hipotética para verificar se você entendeu:


BB à àVi e-Go e ado àdoàEstadoà XX
A Constituição do Estadoà XX àp e à ueàosàVi e-Governadores serão julgados criminalmente pelo TJ.

BB àp ati aà i eà o t aàli itaçãoà BB àse àjulgadoàpeloàT i u alàdeàJustiça


(art. 89, da Lei n. 8.666/93).
BB àp ati aà i eàdolosoà o t aàaà idaà BB àse àjulgadoàpeloàT i u alàdoàJú i
(arts. 121 a 126 do CP).

Vale ressaltar que esta diferença entre crimes dolosos contra a vida e demais delitos somente se aplica
para os casos em que o foro por prerrogativa de função for previsto apenas na Constituição Estadual.

Se o foro por prerrogativa de função for previsto na Constituição Federal, a pessoa será julgada no foro
privativo mesmo que o crime seja doloso contra a vida. Vamos a mais um exemplo:

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


BB à àPrefeito de uma cidade do interior.

BB àp ati aà i eà o t aàli itação BB àse àjulgadoàpeloàT i u alàdeàJustiça


(art. 89, da Lei n. 8.666/93).
BB àp ati aà i eàdolosoà o t aàaà idaà BB àse àjulgadoàpeloàT i u alàdeàJustiçaà
(arts. 121 a 126 do CP). (e não pelo Tribunal do Júri)

Por quê?
Porque o foro por prerrogativa de função dos prefeitos é previsto na própria Constituição Federal (art. 29, X).

Logo, temos a previsão da CF/88 dizendo que as pessoas que cometem crimes dolosos contra a vida serão
julgadas pelo Tribunal do Júri (art. 5º, XXXVIII, d). E temos a previsão, também da CF/88, dizendo que os
Prefeitos serão julgados pelo Tribunal de Justiça (art. 29, X). As duas normas são de mesma hierarquia (as
duas são da CF/88).

Qual deve ser aplicada então?


A norma mais específica, ou seja, a norma que prevê o foro por prerrogativa de função (os crimes
cometidos por Prefeito serão julgados pelo Tribunal de Justiça).

Vale ressaltar, no entanto, que o Prefeito será julgado pelo TJ se o crime for de competência da Justiça
Estadual. Se for da competência da Justiça Federal, será julgado pelo TRF e se for da Justiça Eleitoral, pelo
TRE. Este é o entendimento sumulado do STF. Confira:

Súmula 702-STF: A competência do Tribunal de Justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de
competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo
tribunal de segundo grau.

Crime comum praticado por Prefeito:


 Crime estadual: TJ
 Crime federal: TRF
 Crime eleitoral: TRE

PROGRESSÃO DE REGIME
Novo requisito para progressão de regime: pagamento integral da pena de multa

Importante!!!
Não tem nos livros!!!
O não pagamento voluntário da pena de multa impede a progressão no regime prisional?
SIM. O Plenário do STF decidiu o seguinte:
• Regra: o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao
sentenciado impede a progressão no regime prisional.
• Exceção: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se ficar
comprovada a absoluta impossibilidade econômica do apenado em quitar a multa, ainda que
parceladamente.
STF. Plenário. EP 12 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/4/2015 (Info 780).

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


PROGRESSÃO DE REGIME

Existem três regimes de cumprimento de pena:


a) Fechado: a pena é cumprida na Penitenciária.
b) Semiaberto: a pena é cumprida em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar.
c) Aberto: a pena é cumprida na Casa do Albergado.

Progressão de regime
No Brasil, adota-se o sistema progressivo (ou inglês), ainda que de maneira não pura.
Assim, de acordo com o CP e com a LEP, as penas privativas de liberdade deverão ser executadas
(cumpridas) em forma progressiva, com a transferência do apenado de regime mais gravoso para menos
gravoso tão logo ele preencha os requisitos legais.

Requisitos para a progressão


Os requisitos para que a pessoa tenha direito à progressão de regime estão previstos na Lei n. 7.210/84 e
também no Código Penal. Veja um resumo:

Requisitos para a progressão do regime FECHADO para o SEMIABERTO:


Crimes comuns: cumprimento de 1/6 da pena aplicada.
Crimes hediondos ou equiparados
Requisito
(se cometidos após a Lei 11.464/07):
 Cumprimento de 2/5 da pena se for primário.
OBJETIVO
 Cumprimento de 3/5 da pena se for reincidente.
Requisito Bom comportamento carcerário durante a execução (mérito).
SUBJETIVO
Requisito Oitiva prévia do MP e do defensor do apenado (§ 1ºA do art. 112 da LEP).
FORMAL

Requisitos para a progressão do regime SEMIABERTO para o ABERTO:


Crimes comuns: cumprimento de 1/6 da pena RESTANTE.
Crimes hediondos ou equiparados
Requisito
(se cometidos após a Lei 11.464/07):
 Cumprimento de 2/5 da pena se for primário.
OBJETIVO
 Cumprimento de 3/5 da pena se for reincidente.
Requisito Bom comportamento carcerário durante a execução (mérito).
SUBJETIVO
Requisito Oitiva prévia do MP e do defensor do apenado (§ 1ºA do art. 112 da LEP).
FORMAL
Além dos requisitos acima expostos, o reeducando deve:
a) Aceitar o programa do regime aberto (art. 115 da LEP) e as condições especiais
Requisitos impostas pelo Juiz (art. 116 da LEP);
ESPECÍFICOS b) Estar trabalhando ou comprovar a possibilidade de trabalhar imediatamente quando
do regime for para o regime aberto (inciso I do art. 114);
aberto c) Apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de
responsabilidade, ao novo regime (inciso II do art. 114).

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Requisito OBJETIVO adicional no caso de condenados por crime contra a Administração Pública:
No caso de crime contra a Administração Pública, para que haja a progressão será necessária ainda:
 a reparação do dano causado; ou
 a devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais.

Isso está previsto no § 4º do art. 33 do Código Penal:


§ 4º O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento
da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado,
com os acréscimos legais.

CONSTITUCIONALIDADE DO § 4º DO ART. 33 DO CP
A defesa de u dos co de ados o Me salão alegou ue esse e uisito exigido pelo § º do a t. do
CP se ia i co stitucio al po ep ese ta u a espécie de p isão po dívida . O “TF co co dou co o
argumento? Esse dispositivo viola a CF/88?
NÃO. O § 4º do art. 33 do CP é CONSTITUCIONAL.
Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo sem previsão expressa, deve ser permitido que o condenado
faça o parcelamento do valor da dívida.
STF. Plenário. EP 22 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

Feita essa breve revisão, imagine a seguinte situação:


João, indivíduo muito rico, foi condenado, com trânsito em julgado, pela prática de corrupção passiva e
lavagem de dinheiro.
Na sentença, recebeu duas penas:
 Pena privativa de liberdade de 6 anos de reclusão, em regime semiaberto.
 Pena de multa de 330 dias-multa.

Após cumprir 1/6 da pena (requisito objetivo) e tendo bom comportamento carcerário (requisito
subjetivo), João pediu a progressão do regime semiaberto para o aberto.
Depois de toda a tramitação, com a oitiva do MP, o juiz indeferiu o pedido porque o sentenciado, embora
devidamente notificado, não efetuou o pagamento da pena de multa imposta na sentença.
A defesa recorreu afirmando que o prévio pagamento da pena de multa não é requisito legal para a
progressão de regime, tendo em vista que não há prisão por dívida (art. 5º, LXVII) e que o art. 51 do CP
proíbe a conversão da multa em prisão.

Diante disso, indaga-se: a decisão do juiz foi correta? O não pagamento voluntário da pena de multa
impede a progressão no regime prisional?
SIM. O Plenário do STF decidiu o seguinte:
 Regra: o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao sentenciado
impede a progressão no regime prisional.
 Exceção: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se ficar comprovada a
absoluta impossibilidade econômica do apenado em quitar a multa, ainda que parceladamente.

O condenado tem o dever jurídico (e não a faculdade) de pagar integralmente o valor da multa. Pensar de
modo diferente seria o mesmo que ignorar que esta espécie de pena é prevista, expressamente, de forma
autônoma, oàa t.à º,ài isoàXLVI,àalí eaà àdaàCF/ .àO não recolhimento da multa por condenado que
tenha condições econômicas de pagá-la constitui deliberado descumprimento de decisão judicial e deve
impedir a progressão de regime. Além disso, admitir-se o não pagamento da multa configuraria
tratamento privilegiado em relação ao sentenciado que espontaneamente paga a sanção pecuniária.

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


Ressalte-se, ainda, que, em matéria de criminalidade econômica, a pena de multa desempenha um papel muito
relevante, sendo mais importante até mesmo que a pena de prisão, que, nas condições atuais, é relativamente
breve e não é capaz de promover a ressocialização. Desse modo, cabe à multa a função retributiva e preventiva
geral da pena, desestimulando, no próprio infrator ou em infratores potenciais, a prática dos crimes.

No caso concreto, a defesa não comprovou a impossibilidade do sentenciado de cumprir a pena de multa,
de forma que é incabível aplicar a ele a exceção.

O pagamento da multa está previsto no art. 112 da LEP como sendo um requisito para a progressão?
NÃO. O pagamento da multa não está previsto expressamente no art. 112 como um dos requisitos
necessários para a progressão de regime. Apesar disso, o STF entendeu que esse pagamento poderá ser
exigido porque a análise dos requisitos necessários para a progressão de regime não se restringe ao
referido art. 112 da LEP. Em outras palavras, outros elementos podem, e devem, ser considerados pelo
julgador na decisão quanto à progressão.
Assim, para o STF, o julgador, atento às finalidades da pena e de modo fundamentado, está autorizado a
lançar mão de outros requisitos, não necessariamente enunciados no art. 112 da LEP, mas extraídos do
ordenamento jurídico, para avaliar a possibilidade de progressão no regime prisional, tendo como
objetivo, sobretudo, o exame do merecimento do sentenciado.

Essa decisão não viola o art. 51 do CP, que proíbe a conversão da pena de multa em prisão?
NÃO. O art. 51 do Código Penal previa que se o condenado, deliberadamente, deixasse de pagar a pena de
multa, ela deveria ser convertida em pena de detenção. Essa regra foi alterada pela Lei n. 9.268/96 e,
atualmente, se a multa não for paga, ela será considerada dívida de valor e deverá ser cobrada do
condenado pela Fazenda Pública por meio de execução fiscal.
Importante, no entanto, esclarecer que, mesmo com essa mudança feita pela Lei n. 9.268/96, a multa
continua tendo caráter de sanção criminal, ou seja, permanece sendo uma pena.

Esse entendimento não viola a regra constitucional segundo a qual não existe prisão civil por dívida?
NÃO. Não se está prendendo alguém por causa da dívida, mas apenas impedindo que ela tenha direito à
progressão de regime em virtude do descumprimento de um dever imposto ao condenado. O benefício da
p og essãoàexigeàdoàse te iadoà autodis ipli aàeàse soàdeà espo sa ilidade à a t.à ,àIIàdaàLEP ,àoà ueà
pressupõe o cumprimento das decisões judiciais que a ele são aplicadas.

Mais um novo requisito objetivo:


Desse modo, o STF cria à u à o oà e uisitoà o jeti oà pa aà aà p og essãoà deà egi e:à oà ape adoà de e à
pagar integralmente o valor da multa que foi imposta na condenação ou, então, provar a absoluta
impossibilidade econômica do apenado em quitar a multa, ainda que parceladamente.

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


DIREITO INTERNACIONAL

EXTRADIÇÃO
Não é possível conceder a extradição de estrangeiro se o crime está prescrito no Brasil

O Governo da Itália pediu a extradição de nacional italiano que está no Brasil em virtude de ele
ter sido condenado por crimes de falência fraudulenta naquele país.
O STF negou o pedido já que houve a prescrição da pretensão executória da pena do referido
delito segundo a lei brasileira.
Em outras palavras, estando o crime prescrito, não é possível conceder a extradição por faltar
o requisito da dupla punibilidade (art. 77, VI, do Estatuto do Estrangeiro).
STF. 2ª Turma. Ext 1324/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).

EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) (Juiz TJ/CE 2012 CESPE) A definição de condutas típicas configuradoras da prática de crime de
responsabilidade por parte de agentes estaduais e municipais está inserida no âmbito da competência
legislativa do estado-membro e do município, respectivamente. ( )
2) (Juiz TJ/DF 2014 CESPE) Será constitucional lei distrital que defina as condutas típicas configuradoras de
crimes de responsabilidade dos agentes políticos distritais e que discipline o correspondente processo. ( )
3) (DPE/TO 2013 CESPE) É constitucional norma inserida na constituição estadual que repute crime de
responsabilidade a ausência injustificada de secretário do estado à convocação da assembleia
legislativa para prestar esclarecimentos. ( )

Gabarito
1. E 2. E 3. E

JULGADOS NÃO COMENTADOS

PSV: imunidade tributária e instituições de assistência social


O Plenário rejeitou proposta de edição de enunciado de súmula vinculante, resultante da conversão do
E u iadoà àdaà“ú ulaàdoà“TF,àeà o àoàsegui teàteo :à áài u idadeàt i ut iaà o fe idaàaài stituiçõesàdeà
assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150, VI, c, da Constituição, somente alcança as entidades
fe hadasà deà p e id iaà so ialà p i adaà seà ãoà hou e à o t i uiçãoà dosà e efi i ios .à Osà Mi ist osà Diasà
Toffoli, Marco Aurélio, Cármen Lúcia e Teori Zavascki, ao votar pela rejeição da proposta, consignaram que
o art. 150, VI, c, da CF, não distinguiria as entidades de assistência social, ou seja, se apenas seriam
beneficiárias da imunidade aquelas que não contassem com a contribuição dos beneficiários ou se todas as
entidades. Ademais, o entendimento relativo à matéria não estaria pacificado a ponto de se tornar
vinculante, preservado, no entanto, o Enunciado 730 da Súmula do STF.
PSV 109/DF, 9.4.2015. (PSV-109)

Arquivamento de inquérito e requerimento do PGR


A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, negou provimento a agravo regimental em
que se impugnava decisão monocrática que, com base no art. 21, XV, e, do RISTF, determinara o
a ui a e toà deà i u itoà [ á t.à .à “ãoà at i uiçõesà doà Relator: ... XV – determinar a instauração de
inquérito a pedido do Procurador-Geral da República, da autoridade policial ou do ofendido, bem como o
seu arquivamento, quando o requerer o Procurador-Geral da República, ou quando verificar: ... e) ausência

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


de indí iosà í i osà deà auto iaà ouà ate ialidade ].à Oà ag a a teà apo ta aà aà ilegiti idadeà daà de isãoà
impugnada, porquanto o arquivamento de inquérito deveria decorrer de requerimento do PGR ou, quando
menos, após a sua oitiva. Destacava, também, a aplicabilidade, no caso, do precedente firmado quando do
julgamento do Inq 2.913 AgR/MT (DJe de 21.6.2012) no qual se afirmara que o dispositivo do regimento
i te oàutilizadoà o oàfu da e toàdaàde isãoào aàag a adaàofe de iaàoàa t.à º,àI,àdaàLeià . / à á t.à
3º - Compete ao relator: I - determinar o arquivamento do inquérito ou de peças informativas, quando o
e ue e àoàMi ist ioàPú li o,àouàsu ete àoà e ue i e toà àde isãoà o pete teàdoàT i u al .àáàTu aà
asseverou que a questão relativa à legitimidade da determinação de arquivamento do inquérito estaria
superada na hipótese em comento, dado que, com a interposição do agravo regimental, a matéria estaria
sendo apreciada pelo Colegiado. Outrossim, não existiria justa causa para a instauração do inquérito. O
Ministro Dias Toffoli (relator), embora também negasse provimento ao recurso, afirmara (na sessão de
30.9.2014) que eventual agravo regimental, interposto em face de decisão monocrática que tivesse
determinado o arquivamento de inquérito, levaria a matéria à apreciação do Colegiado, o que não
subverteria o quanto disposto no art. 3º, I, da Lei 8.038/1990. Ademais, não haveria, na espécie, elementos
suficientes para o prosseguimento do inquérito. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que dava provimento
ao agravo. Afirmava que a Lei 8.038/1990 seria clara, não apresentando qualquer distinção no que junge a
possibilidade de o relator arquivar o inquérito ao requerimento do Ministério Público. Ausente o
requerimento, o inquérito deveria ir à Turma, em questão de ordem. Por outro lado, seria cabível
investigação ante qualquer notícia de prática criminosa, devendo-se viabilizar a atuação do Ministério
Público em defesa da sociedade.
Inq 3847 AgR/GO, rel. Min. Dias Toffoli, 7.4.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DO D JE
6 a 10 de abril de 2015

HC N.120.678-PR
RED/ O ACÓRDÃO: MIN. MARCO AURÉLIO
EMENTA: CRIME – HOMICÍDIO E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO – EXCLUDENTE DE ILICITUDE – LEGÍTIMA DEFESA –
EXTENSÃO – IMPROPRIEDADE. Não se comunica a excludente de ilicitude que é a legítima defesa, relativa ao homicídio, ao crime autônomo de
porte ilegal de arma.
*noticiado no Informativo 775
HC N. 119.934-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Habeas corpus. Processual Penal. Prisão em flagrante. Crimes de tráfico de drogas. Artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06.
Liberdade provisória. Possibilidade. Inconstitucionalidade incidenter tantum do art. 44, caput, da Lei nº 11.343/06 reconhecida. Precedente da
Corte. Necessidade de comprovação da presença dos requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal. Inidoneidade dos
fundamentos justificadores da custódia no caso concreto. Superação do enunciado da Súmula nº 691 do Supremo Tribunal. Ordem
concedida.
1. Em princípio, se o caso não é de flagrante constrangimento ilegal, segundo o enunciado da Súmula nº 691, não compete ao Supremo Tribunal
Federal conhecer de habeas corpus contra decisão de relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere liminar.
2. Entretanto, o caso evidencia situação de flagrante ilegalidade, apta a ensejar o afastamento, excepcional, do referido óbice processual.
3. Diante do que foi decidido pelo Plenário da Corte no HC nº 104.339/SP, Relator o Ministro Gilmar Mendes, está reconhecida a
inconstitucionalidade incidenter tantum do art. 44, caput, da Lei nº 11.343/06, o qual vedava a possibilidade de concessão de liberdade provisória
nos casos de prisão em flagrante pelo delito de tráfico de entorpecentes, sendo necessário, portanto, averiguar se o ato prisional apresenta, de modo
fundamentado, os pressupostos autorizadores da constrição cautelar, nos termos do art. 312 do Código de Processo Penal.
4. Na hipótese em análise, ao determinar a custódia do paciente, o Tribunal estadual não indicou elementos concretos e individualizados que
comprovassem a necessidade da sua decretação, conforme a lei processual de regência, calcando-a em considerações a respeito da gravidade em
abstrato do delito, que, segundo a jurisprudência da Corte, não a justificam.
5. Ordem concedida.
*noticiado no Informativo 773
RHC N. 118.006-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Recurso ordinário em habeas corpus. Processual Penal. Júri. Homicídio qualificado. Artigo 121, § 2º, II, c/c o art. 29, do Código
Penal. Leitura pelo Ministério Público, nos debates, de sentença condenatória de corréu proferida em julgamento anterior. Alegação de sua

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


utilização como argumento de autoridade, em prejuízo do recorrente. Nulidade. Não ocorrência. Sentença que não faz qualquer alusão a sua
pessoa nem a sua suposta participação no crime. Inaptidão do documento para interferir no ânimo dos jurados em desfavor do recorrente.
Peça que não se subsume na vedação do art. 478, I, do Código de Processo Penal. Possibilidade de sua leitura em plenário (art. 480, caput,
CPP). Inexistência de comprovação de que o documento, de fato, foi empregado como argumento de autoridade e de que houve prejuízo
insanável à defesa (art. 563, CPP). Recurso não provido.
1. O art. 478, I, do Código de Processo Penal veda que as partes, nos debates, façam referência a decisão de pronúncia e a decisões posteriores em que
se tenha julgado admissível a acusação como argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado.
2. Esse dispositivo legal não veda a leitura, em plenário, da sentença condenatória de corréu, proferida em julgamento anterior, a qual é admitida pelo
art. 480, caput, do Código de Processo Penal.
3. A sentença, ademais, é desprovida de aptidão para interferir no ânimo dos jurados, como argumento de autoridade e em prejuízo do recorrente, uma
vez que não faz qualquer alusão a sua pessoa nem a sua suposta participação no crime.
4. Ausente a comprovação de que o documento, de fato, foi empregado como argumento de autoridade e que houve prejuízo insanável à defesa (art.
563, CPP), não há nulidade a ser reconhecida.
5. Recurso não provido.
*noticiado no Informativo 774

RHC N. 119.149-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Recurso ordinário em habeas corpus. Impetração da qual não conheceu o Superior Tribunal de Justiça, por ser ela substitutiva de
recurso especial. Entendimento que não se coaduna com o entendimento da Corte. Precedentes. Alegação de ofensa à vedação da reformatio
in pejus e ao princípio da individualização da pena. Não ocorrência. Recurso não provido.
1. A Corte não tem admitido a rejeição da impetração perante o Superior Tribunal de Justiça a pretexto de se cuidar de substitutivo de recurso
especial cabível (HC nº 115.715/CE, Primeira Turma, Rel. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/6/13).
2. Não há que se cogitar da reformatio in pejus, pois o Tribunal de Justiça gaúcho, ao negar provimento ao recurso criminal defensivo,
não reconheceu, em desfavor do recorrente, circunstância fática não reconhecida em primeiro grau, apenas fazendo sua reclassificação dentre os
vetores previstos no art. 59 do Código Penal.
3. Recurso não provido.
*noticiado no Informativo 774
ADI N. 4.639-GO
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO E CONSTITUCIONAL. LEI 15.150/05, DO ESTADO DE GOIÁS. CRIAÇÃO DE REGIME DE PREVIDÊNCIA
ALTERNATIVO EM BENEFÍCIO DE CATEGORIAS DE AGENTES PÚBLICOS NÃO REMUNERADOS PELOS COFRES PÚBLICOS.
INADMISSIBILIDADE. CONTRASTE COM OS MODELOS DE PREVIDÊNCIA PREVISTOS NOS ARTS. 40 (RPPS) E 201 (RGPS) DA CF.
1. A Lei estadual 15.150/05 estabeleceu regime previdenciário específico para três classes de agentes colaboradores do Estado de Goiás, a saber: (a)
os delegatários de serviço notarial e registral, que tiveram seus direitos assegurados pelo art. 51 da Lei federal 8.935, de 18 de novembro de 1994; (b)
os serventuários do foro judicial, admitidos antes da vigência da Lei federal 8.935, de 18 de novembro de 1994; e (c) os antigos segurados facultativos
com contribuição em dobro, filiados ao regime próprio de previdência estadual antes da publicação da Lei 12.964, de 19 de novembro de 1996.
2. No julgamento da ADI 3106, Rel. Min. Eros Grau, DJe de 29/9/10, o Plenário invalidou norma que autorizava Estado-membro a criar sistema
previdenciário especial para amparar agentes públicos não efetivos, por entender que, além de atentatória ao conteúdo do art. 40, § 13, da Constituição
Federal, tal medida estaria além da competência legislativa garantida ao ente federativo pelo art. 24, XII, do texto constitucional.
3. Presente situação análoga, é irrecusável a conclusão de que, ao criar, no Estado de Goiás, um modelo de previdência extravagante – destinado a
beneficiar agentes não remunerados pelos cofres públicos, cujo formato não é compatível com os fundamentos constitucionais do RPPS (art. 40), do
RGPS (art. 201) e nem mesmo da previdência complementar (art. 202) – o poder legislativo local desviou-se do desenho institucional que deveria
observar e, além disso, incorreu em episódio de usurpação de competência, atuando para além do que lhe cabia nos termos do art. 24, XII, da CF, o
que resulta na invalidade de todo o conteúdo da Lei 15.150/05.
4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, com modulação de efeitos, para declarar a inconstitucionalidade integral da Lei
15.150/2005, do Estado de Goiás, ressalvados os direitos dos agentes que, até a data da publicação da ata deste julgamento, já houvessem reunido os
requisitos necessários para obter os correspondentes benefícios de aposentadoria ou pensão.
HC N. 119.984-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
EMENTA: PRISÃO PREVENTIVA – CRIME HEDIONDO – AFASTAMENTO. Se a própria lei prevê que, em caso de sentença condenatória, o
juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade, forçoso é concluir que o enquadramento do crime como hediondo não revela,
por si só, base para a prisão.
PRISÃO PREVENTIVA – GRAVIDADE DA IMPUTAÇÃO. A gravidade da imputação, presente o princípio da não culpabilidade, não é capaz de
levar à prisão preventiva.
PRISÃO PREVENTIVA – DISTRITO DA CULPA – ABANDONO. A interpretação sistemática do Código de Processo Penal conduz a afastar-se,
como móvel para a preventiva, o fato de o acusado haver deixado o distrito da culpa.
PRISÃO PREVENTIVA – INSTRUÇÃO CRIMINAL – TESTEMUNHAS – INFLUÊNCIA. Mostra-se extravagante presumir que, solto, o acusado
poderá influenciar testemunhas, exigindo-se, para chegar-se à custódia preventiva, ato concreto sob tal ângulo.
PRISÃO PREVENTIVA – TRIBUNAL DO JÚRI - PRESENÇA – Descabe prisão preventiva para assegurar a presença do acusado no Tribunal do
Júri.
ADI N. 4.641-SC
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PREVIDENCIÁRIO E CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL QUE INCLUIU NO REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA
SEGURADOS QUE NÃO SÃO SERVIDORES DE CARGOS EFETIVOS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ART. 40 DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. NECESSÁRIA VINCULAÇÃO AO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL.
1. O art. 40 da Constituição de 1988, na redação hoje vigente após as Emendas Constitucionais 20/98 e 41/03, enquadra como segurados dos Regimes
Próprios de Previdência Social apenas os servidores titulares de cargo efetivo na União, Estado, Distrito Federal ou Municípios, ou em suas
respectivas autarquias e fundações públicas, qualidade que não aproveita aos titulares de serventias extrajudiciais.
2. O art. 95 da Lei Complementar 412/2008, do Estado de Santa Catarina, é materialmente inconstitucional, por incluir como segurados obrigatórios
de seu RPPS os cartorários extrajudiciais (notários, registradores, oficiais maiores e escreventes juramentados) admitidos antes da vigência da Lei
federal 8.935/94 que, até 15/12/98 (data da promulgação da EC 20/98), não satisfaziam os pressupostos para obter benefícios previdenciários.

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23


3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, com modulação de efeitos, para assegurar o direito adquirido dos segurados e dependentes
que, até a data da publicação da ata do presente julgamento, já estivessem recebendo benefícios previdenciários juntos ao regime próprio paranaense
ou já houvessem cumprido os requisitos necessários para obtê-los.
HC N. 84.548-SP
RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Habeas Corpus. 2. Questão de ordem. Renovação da sustentação oral. Alteração substancial da composição do Tribunal. A alteração da
composição do Tribunal não autoriza a renovação da sustentação oral. Maioria. 3. Prisão preventiva. Garantia da ordem pública. Ausência de
fundamentação concreta da necessidade da prisão. No entendimento da maioria, a comoção popular não é, por si só, suficiente para demonstrar a
necessidade da prisão. 4. Poderes de investigação do Ministério Público. O Ministério Público pode realizar diligências investigatórias para
complementar a prova produzida no inquérito policial. Maioria. 5. Rejeitada a questão de ordem por maioria. Ordem concedida, por maioria, apenas
para cassar o decreto de prisão preventiva.
Acórdãos Publicados: 547

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Separação entre os Poderes: jurisdição constitucional e devido processo constitucional legislativo (Transcrições)
MS 33.351/DF*
RELATOR: Ministro Luiz Fux
MANDADO DE SEGURANÇA. PRESIDENTE DA REPÚBLICA. RELATÓRIO BIMESTRAL SOBRE EXECUÇÃO
ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA. EXAME DE SUA COMPATIBILIDADE COM A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E DE
LEGALIDADE. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DE PARLAMENTAR. SEPARAÇÃO ENTRE OS PODERES E
PREVISÃO CONSTITUCIONAL PARA SUAS ATUAÇÕES. DEFERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO À DELIBERAÇÃO DA
MAIORIA PARLAMENTAR. MANDADO DE SEGURANÇA A QUE SE NEGA SEGUIMENTO.
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado por **, **, **, ** e **, Deputados Federais, contra ato da Presidente
da República.
Argumentam que esta Corte reconheceu a legitimidade do parlamentar para impetrar mandado de segurança contra ato da Mesa do Congresso
Nacional que viole o devido processo constitucional legislativo.
Narram os impetrantes que a autoridade coatora encaminhou ao Congresso Nacional o “Relatório de Avaliação das Receitas e Despesas,
referente ao quinto bimestre de 2014, destinada à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional, o qual foi
elaborado em flagrante violação ao direito em vigor à época do exercício orçamentário a que se refere e da feitura do instrumento”.
Sustentam que a mensagem seria nula, pois foi elaborada sem observar o art. 3º da Lei de Diretrizes Orçamentárias (Lei nº 12.919/2013), que
estabelece:
“Art. 3º A meta de superávit a que se refere o art. 2º pode ser reduzida em até R$ 67.000.000.000,00 (sessenta e sete bilhões de reais),
relativos ao Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, cujas programações serão identificadas no Projeto e na Lei Orçamentária de
2014 com identificador de Resultado Primário previsto na alínea “c” do inciso II do § 4º do art. 7º desta Lei, e a desonerações de tributos.”
Informam que na Exposição de Motivos Interministerial “EMI nº 00218/2014 MP MF”, subscrita pela Ministra do Planejamento e anexada à
Mensagem nº 398/2014, por intermédio da qual foi encaminhado o citado relatório, consta a seguinte informação:
“12. Nesse contexto, o Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional, por intermédio da Mensagem nº 365, de 10 de novembro de
2014, Projeto de Lei que altera a LDO-2014 (PLN nº 36/2014) no sentido de ampliar a possibilidade de redução da meta de resultado
primário no montante dos gastos relativos às desonerações de tributos e ao PAC. Ou seja, em caso de aprovação do referido projeto, o valor
que for apurado, ao final do exercício, relativo a desonerações e as despesas com o PAC, poderá ser utilizado para abatimento da meta fiscal.
O presente relatório já considera o projeto de lei em questão, indicando aumento de R$ 70,7 bilhões na projeção do abatimento da meta
fiscal. Isso posto, o abatimento previsto, neste Relatório, é de R$ 106,0 bilhões, o que é compatível com a obtenção de um resultado primário
de R$ 10,1 bilhões.”
Argumentam que estaria sendo violado o direito de fiscalização do Poder Executivo pelo Congresso Nacional, prerrogativa veiculada nos arts.
34, VII, “d”, 49, IX, e 70 da Constituição da República. Ressaltam que esse direito estaria incluído no estatuto constitucional da minoria parlamentar.
Pugnam pela declaração de nulidade da Mensagem nº 398/2014 da Presidente da República, bem como pela determinação para que seja
enviada nova mensagem de acordo com a legislação vigente à época do exercício bimestral a que se refere.
Requerem o deferimento de medida liminar para que seja suspensa “a tramitação do PLN nº 36, de 2014 até que a decisão de mérito tenha
sido cumprida pela Presidente da República, nos termos do art. 7º, III, da Lei 12.016, de 2009”.
É o relatório. Decido.
Preliminarmente, examino a legitimidade ativa ad causam dos impetrantes para deduzir a pretensão veiculada nesta ação mandamental.
Na esteira da remansosa jurisprudência desta Corte, os parlamentares possuem direito público subjetivo ao devido processo legislativo. Nesse
sentido, MS 20.257, Rel. Min. Moreira Alves, Tribunal Pleno, DJ 27/2/1981; MS 21.642, Rel. Min. Celso de Mello, RDA 191/200; MS 21.303, Rel.
Min. Octavio Galloti; MS 24.356, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ 12/9/2003; e MS 24.642, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno,
DJ 18/6/2004.
É cediço que “o parlamentar, fundado na sua condição de co-partícipe do procedimento de formação das normas estatais, dispõe, por tal
razão, da prerrogativa irrecusável de impugnar, em juízo, o eventual descumprimento, pela Casa legislativa, das cláusulas constitucionais que lhe
condicionam, no domínio material ou no plano formal, a atividade de positivação dos atos normativos” (MS nº 23.565, rel. Min. Celso de Mello, j.
10/11/1999, DJ 17.11.1999).

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24


Entretanto, a controvérsia versada nestes autos não se enquadra nesta hipótese excepcional de legitimidade ativa para impetração de mandado
de segurança.
O artigo 49, IX, da Constituição Federal, estabelece:
“Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
(...)
IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a execução dos planos de
governo;”
O artigo 70 da Carta de 1988 também trata da fiscalização atribuída ao Poder Legislativo:
“Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração
direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo
Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.”
A Constituição da República ainda determina, em seu artigo 165, § 1º, II, que “o acompanhamento e a fiscalização orçamentária” “caberá a
uma Comissão mista permanente de Senadores e Deputados”.
A questão atinge o cerne da teoria constitucional em um Estado Democrático de Direito, na medida em que conclama que o Supremo Tribunal
Federal se pronuncie sobre a validade jurídica de relatórios elaborados pelo Poder Executivo, que, posteriormente, são submetidos ao crivo do Poder
Legislativo, como representação da atuação política exercida pelos representantes do povo. Indispensável, por tal motivo, uma incursão, ainda que
breve, sobre os limites da atuação do Poder Judiciário em um regime democrático.
Os ideais da democracia e do constitucionalismo – não obstante caminhem lado a lado – vez por outra revelam uma tensão latente entre si. É
que, de um lado, a democracia, apostando na autonomia coletiva dos cidadãos, preconiza a soberania popular, que tem na regra majoritária sua forma
mais autêntica de expressão. De outro lado, o constitucionalismo propugna pela limitação do poder através de sua sujeição ao direito, o que impõe
obstáculos às deliberações do povo. Como bem destacou Vital Moreira, ao afirmar que “(...) por definição, toda Constituição constitui um limite da
expressão e da autonomia da vontade popular. Constituição quer dizer limitação da maioria de cada momento, e, neste sentido, quanto mais
Constituição, mais limitação do princípio democrático. (...) O problema consiste em saber até que ponto é que a excessiva constitucionalização não
se traduz em prejuízo do princípio democrático” (MOREIRA, Vital. “Constituição e Democracia”. In: MAUÉS, Antonio G. Moreira (Org.)
Constituição e Democracia. São Paulo: Max Limonad, 2001, p. 272).
Essa aparente contradição entre os valores albergados pelo Estado Democrático de Direito impõe um dever de cautela redobrado no exercício
da jurisdição constitucional. Com efeito, é certo que os tribunais não podem asfixiar a autonomia pública dos cidadãos, substituindo as escolhas
políticas de seus representantes por preferências pessoais de magistrados não eleitos pelo povo, como, aliás, testemunhado pela história constitucional
norte-americana durante a cognominada Era Lochner (1905-1937), período em que a Suprema Corte daquele país freou a implantação do Estado
social a partir de uma exegese inflacionada da cláusula aberta do devido processo legal (CHEMERINSKY, Erwin. Constitutional law: principles and
policies. New York: Wolters Kluwer Law & Business, 2011, p. 630-645).
Nesse sentido, a Constituição não pode ser vista como repositório de todas as decisões coletivas, senão apenas dos lineamentos básicos e
objetivos fundamentais da República. Deve-se, portanto, rechaçar qualquer leitura maximalista das cláusulas constitucionais que acabe por
amesquinhar o papel da política ordinária na vida social. É esse o magistério de Dieter Grimm:
“A Constituição estrutura a ação política organizando-a, guiando-a, limitando-a. Mas ela não regula a ponto de a política estar
reduzida à mera execução de ordens constitucionais. Dentro da moldura constitucional, os órgãos políticos estão livres para fazer as escolhas
que, de acordo com seu ponto de vista, o bem comum exige. A eleição decide qual dos pontos de vista em competição é o preferido pela
sociedade e qual o grupo político deve, dessa forma, liderar as posições no Estado e executar seu programa político. A seu turno, as Cortes,
especificamente as Cortes Constitucionais, são chamadas a controlar se os outros ramos de poder, ao definir, concretizar e implementar os
objetivos políticos agiram de acordo com os princípios constitucionais e não ultrapassaram os limites constitucionais”
[Do original: The constitution structures political action by organizing, guiding and limiting it. But it does not regulate it to an extent
which would reduce politics to mere execution of constitutional orders. Within the framework of the constitution the political organs are free
to make those choices which, according to their view, the common best requires. The election decides which of the competing views is
preferred by society and which political group may therefore fill the leading positions in the state and carry out its political program. By
contrast, courts and especially constitutional courts, are called to control whether the other branches of government, in defining, concretizing
and implementing the political goals, have acted in accordance with the constitutional principles and not transgressed the constitutional
limits].
(GRIMM, Dieter. Constitution Adjudication and democracy. Israel Law Review, vol. 33, 1999, p. 210).
Sem embargo, não se pode perder de mira que a Constituição representa autêntica norma jurídica, dotada de força cogente, vocacionada a
conformar condutas e apta a ensejar consequências pelo seu descumprimento. De há muito as Constituições deixaram de ser vistas como mera “folha
de papel”, como analisado por Ferdinand Lassale (A essência da Constituição. Rio de Janeiro: Liber Juris, 1988), para assumir a posição de
centralidade no sistema jurídico, enquanto definidora dos cânones estruturantes do Estado de Direito.
A efetividade da Constituição depende, em grande medida, da atuação das cortes, que, embora não monopolizem a sua interpretação, têm
como função precípua fiscalizar a observância e zelar pelo respeito das limitações constitucionais, cuja própria existência, como apontava Alexander
Hamilton, “somente pode ser preservada por meio do Judiciário, cuja função deve ser a de declarar nulos todos os atos contrários ao conteúdo
manifesto da Constituição. Sem isso todos os direitos e prerrogativas não significariam nada” (tradução livre do original: “[By a limited
Constitution, I understand one which contains certain specified exceptions to the legislative authority; such, for instance, as that it shall pass no bills
of attainder, no ex post facto laws, and the like. Limitations of this kind] can be preserved in practice in no other way than through the medium of
courts of justice, whose duty it must be to declare all acts contrary to the manifest tenor of the constitution void. Without this, all the reservations of
particular rights or privileges would amount to nothing”. (HAMILTON, Alexander. The Federalist, nº LXXVIII. Nova Iorque: Scribner, Armstrong,
1876, p. 541).
Eis o desafio da jurisdição constitucional no Estado Democrático de Direito: não ir além da sua missão, nem ficar aquém do seu dever. Na
lição irretocável de Daniel Sarmento e Cláudio Pereira de Souza Neto, “de um lado, deve-se reconhecer o importante papel do Judiciário na garantia
da Constituição, especialmente dos direitos fundamentais e dos pressupostos da democracia. Mas, de outro, cumpre também valorizar o
constitucionalismo que se expressa fora das cortes judiciais, em fóruns como os parlamentos e nas reivindicações da sociedade civil que vêm à tona
no espaço público informal” (SARMENTO, Daniel; SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. Direito Constitucional. Teoria, história e métodos de
trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2012, 240).
A impossibilidade de exame da compatibilidade do relatório elaborado pelo Poder Executivo com a Constituição e com a legislação, representa
uma medida de respeito e deferência ao Poder Legislativo. Com efeito, um standard de atuação legítima do Poder Judiciário reside, justamente, na
manutenção e adequado funcionamento das instituições democráticas. Assim, como bem adverte John Hart Ely, o Poder Judiciário deve atuar de
maneira mais ativa para proteger direitos e valores diretamente relacionados com o funcionamento da democracia. (ELY, John Hart. Democracy and

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25


Distrust. A Theory of Judicial Review. Cambridge: Harvard University Press, 1980). Ocorre que, acolher o pedido deduzido pelos impetrantes, de
sorte a suspender a tramitação do PLN nº 36/2014, é extinguir o debate. E isso não pode ser tolerado e não é o que se espera de uma Corte
Constitucional. Se, por um lado, é legítimo admitir uma atuação menos contida pelo Poder Judiciário para assegurar os direitos individuais
indispensáveis para a participação popular no procedimento democrático de tomada de decisões, por outro lado, o Poder Judiciário não pode substituir
o desfecho de um debate parlamentar. É no Parlamento, e não no Poder Judiciário, que as discussões públicas devem ocorrer por excelência. Não se
trata de um argumento acaciano, mas, ao revés, de um postulado ínsito à democracia, que não pode ser negligenciado. A questão deve permanecer em
discussão, de forma republicana, transparente e com os canais de participação aberto a todos o que queiram deles participar. Esse sim é o modelo de
atuação legislativa legítima, tal qual concebido por John Hart Ely.
Destarte, por toda a linha de argumentação desenvolvida até o momento, a solução que melhor se apresenta in casu é aquela que prestigia a
deliberação parlamentar para a apreciação da execução orçamentária e financeira realizada pelo Poder Executivo. Ela é a que, a um só tempo,
prestigia o desenho institucional delineado pelo constituinte de 1988 e promove de forma mais satisfatória os postulados democráticos, sem asfixiar o
âmbito de atuação constitucionalmente assegurado ao Poder Legislativo.
In casu, não se está diante de circunstância que reclame a proteção das minorias parlamentares, pois a própria Constituição estabelece que a
apreciação do relatório encaminhado pela Presidência da República será realizada pelo Congresso Nacional, e não pela minoria parlamentar. Ou seja,
não é possível, neste caso específico, sujeitar a vontade da maioria à da minoria.
Dessa forma, não verifico a existência de direito subjetivo de parlamentares passível de fundamentar a sua legitimidade ativa para a impetração
do presente writ.
Ressalto que embora o PLN nº 36/2014 tenha sido aprovado e sancionado, Lei nº 13.053 publicada no Diário Oficial da União em 15/12/2014,
o presente mandado de segurança não perdeu o seu objeto, tendo em vista o pedido de declaração de nulidade da Mensagem nº 398/2014 da
Presidente da República.
Pelo exposto, nego seguimento ao mandado de segurança, na forma do art. 21, § 1º, do Regimento Interno desta Corte. Prejudicado o exame de
medida liminar.
Publique-se. Int..
Brasília, 25 de março de 2015.
Ministro LUIZ FUX (Relator)
*decisão publicada no DJe de 30.3.2015
** nomes suprimidos pelo Informativo

OUTRAS INFORMAÇÕES
6 a 10 de abril de 2015

Medida Provisória nº 673, de 31.3.2015 - Altera a Lei nº 9.503, de 23.9.1997 - Código de Trânsito Brasileiro, e
dá outras providências. Publicada no DOU em 1º.4.2015, Seção 1, p. 1.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD

Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista ou
adiamento: ADI 3239/DF; ADI 5163/GO; ACO 478/TO; ADI 4876 ED/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
TRIBUNAL DE CONTAS
 Medida cautelar de indisponibilidade de bens.

DIREITO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
 Observância do devido processo legal, contraditório e ampla defesa antes da inclusão de entes federativos nos
cadastros federais de inadimplência.

CONCURSO PÚBLICO
 Constitucionalidade do art. 19-A da Lei 8.036/90.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA
 Caráter não-vinculante do parecer psicossocial na progressão da medida socioeducativa

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


PRECATÓRIOS
 Modulação dos efeitos da ADI que julgou inconstitucional o novo regime de precatórios estabelecido pela EC
62/2009.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


TRIBUNAL DO JÚRI
 Referência ou leitura da decisão de pronúncia durante os debates no júri.

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO CONSTITUCIONAL

TRIBUNAL DE CONTAS
Medida cautelar de indisponibilidade de bens

O TCU possui competência para decretar, no início ou no curso de qualquer procedimento de


apuração que lá tramite, a indisponibilidade dos bens do responsável por prazo não superior a
1 ano (art. 44, § 2º da Lei 8.443/92).
O STF entende que essa previsão é constitucional, de forma que se admite, ainda que de forma
excepcional, a concessão, sem audiência da parte contrária, de medidas cautelares, por
deliberação fundamentada do Tribunal de Contas, sempre que necessárias à neutralização
imediata de situações que possam causar lesão ao interesse público ou ainda para garantir a
utilidade prática do processo que tramita no TCU. Isso não viola, por si só, o devido processo
legal nem qualquer outra garantia constitucional, como o contraditório ou a ampla defesa.
STF. 2ª Turma. MS 33092/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015 (Info 779).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O TCU instaurou procedimento de tomada de contas especial para apurar possíveis irregularidades na
compra de uma refinaria de petróleo, nos EUA, pela Petrobrás.
Como medida cautelar, ainda no início da tomada de contas, o TCU determinou a indisponibilidade dos
bens do ex-Presidente da Petrobrás pelo prazo de um ano.

O TCU poderia ter adotado essa providência?


SIM. A Lei n. 8.443/92 (Lei Orgânica do TCU) prevê essa possibilidade em seu art. 44, § 2º. Confira:
Art. 44. No início ou no curso de qualquer apuração, o Tribunal, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, determinará, cautelarmente, o afastamento temporário do responsável, se existirem indícios
suficientes de que, prosseguindo no exercício de suas funções, possa retardar ou dificultar a realização de
auditoria ou inspeção, causar novos danos ao Erário ou inviabilizar o seu ressarcimento.
(...)
§ 2° Nas mesmas circunstâncias do caput deste artigo e do parágrafo anterior, poderá o Tribunal, sem
prejuízo das medidas previstas nos arts. 60 e 61 desta Lei, decretar, por prazo não superior a um ano, a
indisponibilidade de bens do responsável, tantos quantos considerados bastantes para garantir o
ressarcimento dos danos em apuração.

Essa indisponibilidade viola o devido processo legal ou outras garantias da CF/88?


NÃO. O STF entende que essa previsão da Lei n. 8.443/92 é constitucional, de forma que se admite, ainda
que de forma excepcional, a concessão, sem audiência da parte contrária, de medidas cautelares, por
deliberação fundamentada do Tribunal de Contas, sempre que necessárias à neutralização imediata de
situações que possam causar lesão ao interesse público ou ainda para garantir a utilidade prática do
processo que tramita no TCU.
Para o STF, isso não viola, por si só, o devido processo legal nem qualquer outra garantia constitucional,
como o contraditório ou a ampla defesa.

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


DIREITO ADMINISTRATIVO

PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
Observância do devido processo legal, contraditório e ampla defesa antes da inclusão de entes
federativos nos cadastros federais de inadimplência

Atenção! Concursos federais


A União, antes de incluir Estados-membros ou Municípios nos cadastros federais de
inadimplência (exs: CAUC, SIAF) deverá observar o devido processo legal, o contraditório e a
ampla defesa.
STF. Plenário. ACO 1995/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/3/2015 (Info 779).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O Estado da Bahia, por meio de sua Secretaria de Educação, celebrou convênio com o Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), que é uma autarquia federal responsável pela execução de políticas
educacionais do Ministério da Educação (MEC).
Por meio desse convênio, a Bahia receberia determinadas verbas para realizar projetos de educação no
Estado, assumindo o compromisso de prestar contas junto ao FNDE e ao TCU da utilização de tais valores.
O Estado vinha prestando contas regularmente das verbas que eram recebidas. Ocorre que houve um
incêndio em um dos prédios da Secretaria de Educação e parte dos documentos foi destruída, o
impossibilitou o Estado de apresentar ao FNDE os documentos relativos à prestação de contas.
Em virtude dessa pendência nas prestação de contas, a Secretaria de Educação foi inserida no CAUC.
Com a inscrição no CAUC, o Estado-membro ficou impedido de contratar operações de crédito, celebrar
convênios com órgãos e entidades federais e receber transferências de recursos.

Ante de prosseguirmos, o que é o CAUC?


CAUC é a sigla de Cadastro Único de Exigências para Transferências Voluntárias.
O CAUC é um instrumento de consulta, por meio do qual se pode verificar se os Estados-membros ou
Municípios estão com débitos ou outras pendências perante o Governo federal.
O CAUC é alimentado com as informações constantes em bancos de dados como o SIAFI e o CADIN.
Se houver, por exemplo, um atraso do Estado ou do Município na prestação de contas de um convênio
com a União ou suas entidades, essa informação passará a figurar no CAUC e ele ficará impedido de
receber verbas federais.
Em uma alegoria para que você entenda melhor (não escreva isso na prova!), seria como se fosse um
“e asa de d itos dos Estados e Municípios com a União, ou seja, um cadastro federal de inadimplência.

Violação do devido processo legal


O Estado-membro não concordou com a inscrição no CAUC e ajuizou ação ordinária contra a União
questionando essa inclusão.
O principal fundamento da ação proposta foi a violação ao devido processo legal. Segundo argumentou o
Estado, ele foi incluído no referido cadastro sem que tivesse tido a oportunidade de se defender e sem
que pudesse alegar que o motivo de não ter apresentado todos os documentos foi o incêndio ocorrido nas
dependências da Secretaria.
Vejamos agora algumas questões jurídicas envolvendo o tema:

Quem será competente para julgar essa ação?


O STF, nos termos do art. , I, f , da CF/ :
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros,
inclusive as respectivas entidades da administração indireta;

Toda ação envolvendo União e Estados em polos distintos será julgada originariamente pelo STF com
base no art. , I, f , da CF/88?
NÃO.

Para se caracterizar a hipótese do a t. , I, f , da CF/ i dispe sável ue, al de have u a ausa


envolvendo União e Estado, essa demanda tenha densidade suficiente para abalar o pacto federativo. Em
outras palavras, não é qualquer causa envolvendo União contra Estado que irá ser julgada pelo STF, mas
somente quando essa disputa puder resultar em ofensa às regras do sistema federativo. Confira trecho de
ementa que revela essa distinção:

Dife e ça e t e o flito e t e e tes fede ados e o flito fede ativo: e ua to o primeiro, pelo prisma
subjetivo, observa-se a litigância judicial promovida pelos membros da Federação, no segundo, para além
da participação desses na lide, a conflituosidade da causa importa em potencial desestabilização do
próprio pacto federativo. Há, portanto, distinção de magnitude nas hipóteses aventadas, sendo que o
legislador constitucional restringiu a atuação da Corte à última delas, nos moldes fixados no Texto Magno,
e não incluiu os litígios e as causas envolvendo Municípios como ensejadores de conflito federativo apto a
exigi a o pet ia o igi á ia da Co te. STF. Plenário. ACO 1.295-AgR-segundo, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 14/10/2010).

Mero conflito entre entes federados Conflito federativo


Trata-se da disputa judicial envolvendo União (ou Trata-se da disputa judicial envolvendo União (ou
suas entidades) contra Estado-membro (ou suas suas entidades) contra Estado-membro (ou suas
entidades). entidades) e que, em razão da magnitude do tema
discutido, pode gerar uma desestabilização do
próprio pacto federativo.
Ex: disputa entre a União e o Estado por conta de Ex: ação proposta pelo Estado questionando sua
um aluguel de um imóvel. indevida inclusão no CAUC, o que tem gerado o
fim de repasses federais.
Em regra, é julgado pelo juiz federal de 1ª instância. É julgado pelo “TF a t. , I, f da CF/ .

No caso concreto, o STF entendeu que ele era competente para a ação. Isso porque, além da presença, em
polos distintos, de Estado-membro e União, estava em jogo a inscrição do ente local em cadastro federal
de inadimplência, o que impedia que ele contratasse operações de crédito, celebrasse convênios e
recebesse transferências de recursos. Essa situação revela possível abalo ao pacto federativo já que está
mitigando (enfraquecendo) a autonomia do Estado-membro, a ensejar a incidência do art. 102, I, f , da
CF/88.

Por que a ação foi proposta pelo Estado contra a União? Não deveria ser ajuizada contra o FNDE
(autarquia federal)?
O STF entendeu que a ação deveria ser proposta contra a União mesmo. Isso porque embora o FNDE
possua personalidade jurídica própria, cabe à União, na qualidade de gestora, fazer a inscrição no CAUC e
no SIAFI. Logo, antes de fazer essa inscrição ela deve garantir a ampla defesa ao ente, sendo também ela a
competente para retirar do cadastro.

E o que o STF decidiu quanto ao mérito? A Corte concordou com os argumentos do Estado-membro?
SIM. O STF entendeu configurada ofensa ao devido processo legal. Para a Corte, ficou demonstrada a
ocorrência de incêndio que destruiu a documentação relacionada com a execução dos recursos advindos

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


do convênio. A inscrição no cadastro federal de inadimplência foi feita sem que o Estado-membro tivesse
pleno conhecimento dos elementos necessários à apresentação de sua defesa.
Diante disso, o STF entendeu que seria impróprio considerar o Estado-membro como inadimplente.
Para o Supremo, é necessário observar o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa antes que
haja a inscrição de entes públicos nos cadastros federais de inadimplência.

CONCURSO PÚBLICO
Constitucionalidade do art. 19-A da Lei 8.036/90

É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia


aprovação em concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos
em relação aos empregados eventualmente contratados, ressalvados os direitos à percepção
dos salários referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/90, ao
levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço — FGTS.
Neste julgado, o STF declarou que o art. 19-A da Lei 8.036/90 é CONSTITUCIONAL.
STF. Plenário. ADI 3127/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/3/2015 (Info 779).

Regra do concurso público


O art. 37, II, da CF/88 estabelece que, para a pessoa assumir um cargo ou emprego na administração
pública, ela precisa antes ser aprovada em concurso público:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
II — a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração;

Caso uma pessoa assuma cargo ou emprego público sem concurso público (fora das hipóteses permitidas
pela Constituição), qual será a consequência?
O § 2º do art. 37 determina que:
 o ato de investidura seja declarado nulo; e
 a autoridade responsável pelo ato seja punida, nos termos da lei (ex.: improbidade).

Imagine agora a seguinte situação:


João foi contratado, sem concurso, para trabalhar em uma autarquia pública estadual (emprego público).
Quando mudou a direção dessa autarquia, o novo diretor declarou que esse contrato de trabalho era nulo
e dispensou o funcionário.
João procurou a Justiça do Trabalho e ajuizou reclamação trabalhista contra essa autarquia pedindo sua
reintegração ao emprego ou, subsidiariamente, o pagamento de todas as verbas trabalhistas referentes ao
período em que laborou (aviso prévio, gratificação natalina, férias, adicional etc.).

João poderá ser reintegrado ao emprego público?


NÃO, considerando que o contrato de trabalho que tinha com a autarquia era nulo, por violação ao art. 37,
II, da CF/88.

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


João terá direito a receber todas as verbas trabalhistas que ele está pleiteando?
NÃO. Ele terá direito apenas a duas verbas:

Verba Fundamento
1) O saldo de salário pelo número de horas Princípio que veda o enriquecimento sem causa do
trabalhadas. Poder Público. Como ele trabalhou, tem direito de
ser ressarcido por isso.
2) Os valores referentes aos depósitos do FGTS. Art. 19-A da Lei nº 8.036/90.

Obs.: João não terá direito a receber as demais verbas trabalhistas como 13º salário, férias acrescidas de
1/3, FGTS acrescido de 40%, adicionais legais etc.

O TST também adota esse entendimento?


SIM, está expresso na súmula 363:
Contratação de Servidor Público sem Concurso — Efeitos e Direitos
A contratação de servidor público, após a CF/1988, sem prévia aprovação em concurso público, encontra
óbice no respectivo art. 37, II e § 2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação
pactuada, em relação ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos
valores referentes aos depósitos do FGTS.

Vejamos o que diz o art. 19-A da Lei nº 8.036/90:


Art. 19-A. É devido o depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador cujo contrato de trabalho seja
declarado nulo nas hipóteses previstas no art. 37, § 2º, da Constituição Federal, quando mantido o direito
ao salário. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.164-41, de 2001)

Discussão sobre a constitucionalidade desse entendimento:


Como vimos acima, a pessoa contratada sem concurso público tem direito apenas aos salários do período
trabalhado e ao levantamento do FGTS.
Esse entendimento era bastante questionado tanto pelos trabalhadores como pela Fazenda Pública.
De um lado, os trabalhadores defendiam a tese de que tinham direito às demais verbas trabalhistas.
De outro, a Fazenda Pública afirmava que o art. 19-A da Lei nº 8.036/90 seria inconstitucional por violar o
art. 37, II e § 2º da CF/88. Para ela, se a CF/88 determinou que o ato de contratar sem concurso é nulo,
não poderia a lei prever a produção de efeitos, como o pagamento do FGTS.

O STF acatou a tese dos trabalhadores ou a tese da Fazenda Pública?


NÃO. Nenhuma das duas.

Tese dos trabalhadores de que seriam devidas outras verbas


Para o STF, não é possível reconhecer a existência de vínculo empregatício nem conceder ao contratado os
respectivos direitos trabalhistas porque o art. 37, § 2º, da CF/88 atribui às contratações sem concurso
u a esp ie de ulidade ju ídi a ualifi ada , uja o se u ia ão só o desfazi e to i ediato da
relação, mas também a punição da autoridade responsável.
Daí afi a -se que o dispositivo impõe a ascendência do concurso no cenário do direito público brasileiro,
cuja prevalência é garantida mesmo diante de interesses de valor social considerável, como aqueles
protegidos pelas verbas rescisórias nos contratos por tempo indeterminado, considerado inexigíveis em
face da nulidade do pacto celebrado co t a a Co stituição , assi alou o Mi . Teo i )avas ki.
Assim, o único efeito jurídico válido, nessas circunstâncias, é o direito aos salários correspondentes aos serviços
efetivamente prestados e a possibilidade de recebimento dos valores depositados na conta vinculada do
trabalhador no FGTS. Este último, inclusive, só passou a ser admitido após a introdução, em 2001, do artigo 19-
A na Lei 8.036/1990, que regulamenta o FGTS, contendo previsão expressa nesse sentido.
STF. Plenário. RE 705140/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/8/2014.

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Tese da Fazenda Pública de que o art. 19-A seria inconstitucional
O STF entendeu que o art. 19-A da Lei nº 8.036/90 não afronta a CF/88.
Esse artigo não afronta o princípio do concurso público (art. 37, § 2º, da CF/88), pois não torna válidas as
contratações indevidas, mas apenas permite o saque dos valores recolhidos ao FGTS pelo trabalhador que
efetivamente prestou o serviço devido.
Mesmo sendo declarada a nulidade da contratação, nos termos do § 2º do art. 37 da CF/88, é certo que
este fato jurídico existiu e produziu efeitos residuais.
O STF tem levado em consideração a necessidade de se garantir a fatos nulos, mas existentes
juridicamente, os seus efeitos.
Não é possível aplicar, neste caso, a teoria civilista das nulidades, de modo a retroagir todos os efeitos
desconstitutivos dessa relação.
Se houver irregularidade na contratação de servidor sem concurso público, o responsável, comprovado
dolo ou culpa, deve responder regressivamente, nos termos do art. 37 da CF/88, de forma que não haja
prejuízo para os cofres públicos.
Além disso, a norma do art. 19-A é apenas a explicitação do fato de serem devidas as verbas salariais.
O STF entendeu também que o art. 19-A na Lei n. 8.036/90 não interfere na autonomia dos Estados e
Municípios para organizar o regime funcional de seus servidores, não cria despesa sem dotação
orçamentária nem viola direito adquirido da Administração Pública. A norma apenas dispôs sobre relações
jurídicas de natureza trabalhista, dando nova destinação a um valor que já vinha sendo recolhido na conta
vinculada dos trabalhadores.
STF. Plenário. RE 596478/RR, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 13/6/2012.
STF. Plenário. ADI 3127/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/3/2015 (Info 779).

Em suma:
É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia aprovação em
concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação aos empregados
eventualmente contratados, ressalvados os direitos à percepção dos salários referentes ao período
trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei n. 8.036/90, ao levantamento dos depósitos efetuados no
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço — FGTS.
O art. 19-A da Lei n. 8.036/90 é CONSTITUCIONAL.

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ECA

CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA


Caráter não-vinculante do parecer psicossocial na progressão da medida socioeducativa

Imagine que determinado adolescente cumpre medida socioeducativa de internação. Após seis
meses de cumprimento, o parecer psicossocial apresentado pela equipe técnica manifesta-se
favoravelmente à progressão para o regime de semiliberdade. O juiz pode decidir de forma
contrária ao parecer e manter a internação?
SIM. O parecer psicossocial não possui caráter vinculante e representa apenas um elemento
informativo para auxiliar o magistrado na avaliação da medida socioeducativa mais adequada
a ser aplicada. A partir dos fatos contidos nos autos, o juiz pode decidir contrariamente ao
laudo com base no princípio do livre convencimento motivado.
STF. 1ª Turma. RHC 126205/PE, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 24/3/2015 (Info 779).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, 17 anos, praticou atos infracionais equiparados a homicídio qualificado e roubo majorado.
Por conta disso, foi representado e sentenciado, sendo-lhe imposta a medida socioeducativa de
internação, a ser reavaliada semestralmente.
Essa reavaliação da internação é uma providência prevista na Lei n. 12.594/2012 (Lei do SINASE). Confira:
Art. 42. As medidas socioeducativas de liberdade assistida, de semiliberdade e de internação deverão ser
reavaliadas no máximo a cada 6 (seis) meses, podendo a autoridade judiciária, se necessário, designar
audiência, no prazo máximo de 10 (dez) dias, cientificando o defensor, o Ministério Público, a direção do
programa de atendimento, o adolescente e seus pais ou responsável.

Desse modo, quando estava prestes a completar o prazo de 6 meses, a defesa formulou pedido de
progressão do adolescente para liberdade assistida.
O juiz solicitou, então, que a equipe multidisciplinar que atua no centro de internação (composta por
psicólogas e assistentes sociais) emitisse um relatório da situação do adolescente.
O parecer psicossocial foi favorável ao adolescente e recomendou que ele saísse da internação e passasse
para o regime da semiliberdade (art. 120 do ECA).

Decisão e HC
O juiz, contudo, discordou do parecer e determinou que o adolescente continuasse cumprindo a
internação. Em sua decisão o magistrado utilizou como argumentos o fato de que, no histórico do
adolescente, existe registro de fuga além de ele já ter reiteradamente praticado atos infracionais graves e
com violência à pessoa.
A defesa impetrou habeas corpus contra a decisão do magistrado alegando que o juiz não poderia ter
decidido de forma contrária ao parecer psicossocial da equipe multidisciplinar, que foi favorável à
progressão para liberdade assistida.

A decisão do magistrado foi correta? O juiz poderia ter decidido de forma contrária ao parecer?
SIM. O parecer psicossocial não possui caráter vinculante e representa apenas um elemento informativo
para auxiliar o magistrado na avaliação da medida socioeducativa mais adequada a ser aplicada.
A partir dos fatos contidos nos autos, o juiz pode decidir contrariamente ao laudo com base no princípio
do livre convencimento motivado.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

PRECATÓRIOS
Modulação dos efeitos da ADI que julgou inconstitucional
o novo regime de precatórios estabelecido pela EC 62/2009

Importante!!!
A EC 62/2009 alterou o art. 100 da CF/88 e o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT) da CF/88 prevendo inúmeras mudanças no regime dos precatórios. Tais
alterações foram impugnadas por meio de ações diretas de inconstitucionalidade que foram
julgadas parcialmente procedentes. No entanto, o STF decidiu modular os efeitos da decisão,
ou seja, alguns dispositivos, apesar de terem sido declarados inconstitucionais, ainda irão
vigorar por mais algum tempo. Veja o resumo do que foi decidido quanto à modulação:
1. O § 15 do art. 100 da CF/88 e o art. 97 do ADCT (que tratam sobre o regime especial de
pagamento de precatórios) ainda irão valer (poderão ser aplicados) por mais cinco anos
(cinco exercícios financeiros) a contar de 01/01/2016. Em outras palavras, tais regras serão
válidas até 2020.
2. §§ 9º e 10 do art. 100 da CF/88 (previam a possibilidade de compensação obrigatória das
dívidas que a pessoa tinha com a Fazenda Pública com os créditos que tinha para receber com
precatório): o STF afirmou que são válidas as compensações obrigatórias que foram feitas até
25/03/2015 (dia em que ocorreu a modulação). A partir desta data, não será possível mais a
realização de compensações obrigatórias, mas é possível que sejam feitos acordos entre a
Fazenda e o credor do precatório e que também possua dívidas com o Poder Público para
compensações voluntárias.
3. Leilões para desconto de precatório: o regime especial instituído pela EC 62/2009 previa
uma série de vantagens aos Estados e Municípios, sendo permitido que tais entes realizassem
uma espécie de leilão de precatórios no qual os credores de precatórios competem entre si
oferecendo deságios descontos em relação aos valores que têm para receber. Aqueles que
oferecem maiores descontos irão receber antes do que os demais. Esse sistema de leilões foi
declarado inconstitucional, mas o STF afirmou que os leilões realizados até 25/03/2015 (dia
em que ocorreu a modulação) são válidos (não podem ser anulados mesmo sendo
inconstitucionais). A partir desta data, não será possível mais a realização de tais leilões.
4. Vinculação de percentuais mínimos da receita corrente líquida ao pagamento dos
precatórios e sanções para o caso de não liberação tempestiva dos recursos destinados ao
pagamento de precatórios: as regras que tratam sobre o tema, previstas nos §§ 2º e 10 do art.
97 do ADCT da CF/88 continuam válidos e poderão ser utilizados pelos Estados e Municípios
até 2020.
5. Expressão índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança prevista no §
do art. 100:
5.1 Para precatórios da administração ESTADUAL e MUNICIPAL: o STF disse que a TR (índice
da poupança) poderia ser aplicada até 25/03/2015.
5.2 Para os precatórios da administração FEDERAL: o STF afirmou que se poderia aplicar a TR
até 31/12/2013.
Após essas datas, qual índice será utilizado para substituir a TR (julgada inconstitucional)?
• Precatórios em geral: IPCA-E.
• Precatórios tributários: SELIC.

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


CNJ deverá apresentar proposta normativa que discipline (i) a utilização compulsória de 50%
dos recursos da conta de depósitos judiciais tributários para o pagamento de precatórios e (ii)
a possibilidade de compensação de precatórios vencidos, próprios ou de terceiros, com o
estoque de créditos inscritos em dívida ativa até 25.03.2015, por opção do credor do
precatório.
CNJ deverá monitorar e supervisionar o pagamento dos precatórios pelos entes públicos na
forma da presente decisão.
STF. Plenário. ADI 4357 QO/DF e ADI 4425 QO/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 25/3/2015 (Info 779).

Regime de precatórios
Se a Fazenda Pública Federal, Estadual, Distrital ou Municipal for condenada, por sentença judicial
transitada em julgado, a pagar determinada quantia a alguém, este pagamento será feito sob um regime
espe ial ha ado de p e ató io a t. da CF/ .

EC 62/2009
A EC 62/2009 alterou o art. 100 da CF/88 e o art. 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT) da CF/88 prevendo inúmeras mudanças no regime dos precatórios.
As modificações impostas pela EC 62/2009 dificultaram o recebimento dos precatórios pelos credores e
tornaram ainda mais vantajosa a situação da Fazenda Pública. Por esta razão, a alteração ficou conhecida,
jo osa e te, o o E e da do Calote .

ADI
Foram propostas quatro ações diretas de inconstitucionalidade contra esta previsão, tendo elas sido
julgadas parcialmente procedentes.
Confira abaixo os dispositivos que foram julgados inconstitucionais:

Dispositivos declarados integralmente inconstitucionais:


• § 9º do art. 100 da CF/88
• § 10 do art. 100 da CF/88
• § 15 do art. 100 da CF/88
• Art. 97 (e parágrafos) do ADCT

Dispositivos declarados parcialmente inconstitucionais:


• § 2º do art. 100 da CF/88
• § 12 do art. 100 da CF/88
• Art. 1º-F. da Lei nº 9.494/97.

Quanto ao § 2º do art. 100 da CF/88, foi declarada inconstitucional a seguinte expressão:


a data de expedição do p e ató io

Quanto ao § 12 do art. 100, foram declaradas inconstitucionais as seguintes expressões:


• í di e ofi ial de e u e ação ási a da ade eta de poupa ça
• i depe de te e te de sua atu eza

Quanto ao art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, como ele reproduzia, em parte, a redação do § 12 do art. 100, ele
também foi declarado inconstitucional no seguinte trecho de sua redação: índice oficial de remuneração
ási a da ade eta de poupa ça .

Os demais dispositivos do art. 100 da CF/88 permanecem válidos e eficazes.

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


Confira agora os motivos pelos quais cada dispositivo foi julgado inconstitucional:

§ 2º do art. 100 da CF/88


O § 2º do art. 100 prevê que os débitos de natureza alimentícia que tenham como beneficiários pessoas
com 60 anos de idade ou mais ou portadoras de doenças graves terão uma preferência ainda maior. É
o o se fosse u a fila o supe p efe ia .

Recapitulando:
Os débitos da Fazenda Pública devem ser pagos por meio do sistema de precatórios.
 Quem é pago em 1º lugar: créditos alimentares de idosos e portadores de doenças graves.
 Quem é pago em 2º lugar: créditos alimentares de pessoas que não sejam idosas ou portadoras de
doenças graves.
 Quem é pago em 3º lugar: créditos não alimentares.

Obs.1: a superprioridade para créditos alimentares de idosos e portadores de doenças graves possui um
limite de valor previsto no § 2º do art. 100. Assim, se o valor a receber pelo idoso ou doente grave for
muito alto, parte dele será paga com superpreferência e o restante será quitado na ordem cronológica de
apresentação do precatório. Esta limitação de valor foi considerada constitucional pelo STF.

Obs.2: dentro de ada u a dessas filas , os d itos deve se pagos o fo e a o de o ológi a e


que os precatórios forem sendo apresentados.

Obs.3: os débitos de natureza alimentícia são aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos,
pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez,
fundadas em responsabilidade civil.

Obs.4: em que momento é analisada esta idade de 60 anos para que a pessoa passe a ter a
superpreferência?
Segundo a redação literal do § 2º do art. 100, para que o indivíduo tivesse direito à superpreferência, ele
deveria ser idoso (60 anos ou mais) no dia da expedição do precatório pelo juízo. Veja a redação do § 2º:
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data
de expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei, serão pagos
com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os
fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante
será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.

Ocorre que, entre o dia em que o precatório é expedido e a data em que ele é efetivamente pago, são
passados alguns anos. Desse modo, é comum que a pessoa não seja idosa no instante em que o precatório
é expedido, mas, como o processo de pagamento é tão demorado, ela acaba completando mais de 60
anos de idade durante a espera.

Diante disso, esta expressão na data de expedição do pre atório constante no § 2º do art. 100 da CF/88
foi declarada INCONSTITUCIONAL. O STF entendeu que esta limitação até a data da expedição do
precatório viola o princípio da igualdade e que esta superpreferência deveria ser estendida a todos os
credores que completassem 60 anos de idade enquanto estivessem aguardando o pagamento do
precatório de natureza alimentícia.

Obs.5: o restante do § 2º do art. 100 da CF foi declarado constitucional e permanece válido.

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§§ 9º e 10 do art. 100 da CF/88
Segundo o § 10 do art. 100, antes de expedir o precatório, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora
que informe se existem débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o
exequente. Em outras palavras, o Tribunal indagará à Fazenda se o beneficiário original do precatório
possui débitos com o Poder Público.

Ex.: determinada sentença transitou em julgado condenando o Estado do Amazonas a pagar 500 mil reais
a João. Antes de expedir o precatório, o Tribunal deveria indagar à Fazenda Pública amazonense se João
devia algum valor líquido e certo ao Estado do Amazonas. Veja:

§ 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta
em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento, informação sobre os débitos que
preencham as condições estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 62/09).

Se existissem débitos, estes seriam abatidos do valor a ser pago pela Fazenda Pública. Assim, o § 9º previa
uma compensação entre o que era devido pela Fazenda e o que era devido pelo exequente.

Voltando ao nosso exemplo, João tinha a receber 500 mil reais, mas possuía uma dívida de 100 mil com a
Fazenda estadual. Logo, haveria uma compensação e o precatório seria expedido no valor de 400 mil.

Veja o que diz o § 9º:


§ 9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de regulamentação, deles deverá ser
abatido, a título de compensação, valor correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em
dívida ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas
vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de
contestação administrativa ou judicial. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/09).

O STF entendeu que os §§ 9º e 10 do art. 100 são INCONSTITUCIONAIS.


Para o Supremo, este regime de compensação obrigatória trazido pelos §§ 9º e 10, ao estabelecer uma enorme
superioridade processual à Fazenda Pública, viola a garantia do devido processo legal, do contraditório, da
ampla defesa, da coisa julgada, da isonomia e afeta o princípio da separação dos Poderes.

§ 12 do art. 100 da CF/88


Como já vimos, entre o dia em que o precatório é expedido e a data em que ele é efetivamente pago, são
passados alguns anos. Durante este período, obviamente, se a quantia devida não for atualizada, haverá uma
desvalorização do valor real do crédito em virtude da inflação. Com o objetivo de evitar essa perda, o § 5º do
art. 100 determina que o valor do precatório deve ser atualizado monetariamente quando for pago.

Como é calculado o valor da correção monetária e dos juros de mora no caso de atraso no pagamento do
precatório?
A EC nº 62/09 trouxe uma nova forma de cálculo prevista no § 12 do art. 100:
§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização (obs: correção monetária) de
valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua
natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de
compensação da mora (obs2: juros de mora), incidirão juros simples no mesmo percentual de juros
incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/09)

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


Desse modo, o § 12 determina que a correção monetária e os juros de mora, no caso de precatórios pagos
com atraso, devem adotar os índices e percentuais aplicáveis às cadernetas de poupança.

Regra semelhante está prevista no art. 1ºF da Lei nº 9.494/97:


Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins
de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única
vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de
poupança. (Redação dada pela Lei nº 11.960/09)

O § 12 do art. 100, inserido pela EC 62/09, também foi questionado. O que decidiu a Corte?
O STF declarou a inconstitucionalidade da exp essão í di e ofi ial de e u e ação ási a da ade eta
de poupa ça , o sta te do § do a t. da CF.
Para os Ministros, o índice oficial da poupança (que é chamado de TR – Taxa Referencial) não consegue
evitar a perda de poder aquisitivo da moeda.
Este índice (TR) é fixado ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não relacionados com
a inflação considerada no período. Todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a real flutuação de
preços apurada no período em referência.
Dessa maneira, como este índice (da poupança) não consegue manter o valor real da condenação, ele
afronta a garantia da coisa julgada, tendo em vista que o valor real do crédito previsto na condenação
judicial não será o valor que o credor irá receber efetivamente quando o precatório for pago (este valor
terá sido corroído pela inflação).
A finalidade da correção monetária consiste em deixar a parte na mesma situação econômica que se
encontrava antes. Nesse sentido, o direito à correção monetária é um reflexo imediato da proteção da
propriedade.
Vale ressaltar, ainda, que o Poder Público tem seus créditos corrigidos pela taxa SELIC, cujo valor supera
em muito o rendimento da poupança, o que reforça o argumento de que a previsão do § 12 viola também
a isonomia.

Como vimos acima, o art. 1º-F. da Lei nº 9.494/97, com redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960/2009,
também previa que, nas condenações impostas à Fazenda Pública, os índices que seriam aplicados seriam
os da caderneta de poupança.
Logo, com a declaração de inconstitucionalidade do § 12 do art. 100 da CF, o STF também declarou
inconstitucional, por arrastamento (ou seja, por consequência lógica), o art. 5º da Lei nº 11.960/2009, que
deu a redação atual ao art. 1º-F. da Lei nº 9.494/97.

O STF também declarou a inconstitucionalidade da exp essão i depe de te e te de sua atu eza ,
presente no § 12 do art. 100 da CF, com o objetivo de deixar claro que, para os precatórios de natureza
tributária, aplicam-se os mesmos juros de mora incidentes sobre o crédito tributário.
Assim, para o STF, aos precatórios de natureza tributária devem ser aplicados os mesmos juros de mora
que incidem sobre todo e qualquer crédito tributário. Atualmente, este índice é a SELIC.

§ 15 do art. 100 da CF/88


O grande problema e a vergonha deste país no que tange aos precatórios diz respeito aos Estados e
Municípios. Existem Estados e Municípios que não pagam precatórios vencidos há mais de 20 anos. Tais
dívidas se acumulam a cada dia e, se alguns Estados fossem obrigados a pagar tudo o que devem de
precatórios, isso seria muito superior ao orçamento anual.
Na União e suas entidades a situação não é tão deficitária e os precatórios não apresentam este quadro
absurdo de atraso.

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


Pensando nisso, a EC nº 62/09 acrescentou o § 15 ao art. 100, afirmando que o legislador
infraconstitucional poderia criar um regime especial para pagamento de precatórios de Estados/DF e dos
Municípios, estabelecendo uma vinculação entre a forma e prazo de pagamentos com a receita corrente
líquida desses entes. Veja a redação do dispositivo:
§ 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei complementar a esta Constituição Federal poderá
estabelecer regime especial para pagamento de crédito de precatórios de Estados, Distrito Federal e
Municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente líquida e forma e prazo de liquidação. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).

O objetivo era que este regime especial previsse uma forma dos Estados/DF e Municípios irem reduzindo
esta dívida de precatórios sem que o orçamento dos entes ficasse inviabilizado.

A EC nº 62/09 incluiu ainda o art. 97 ao ADCT prevendo um regime especial de pagamento dos precatórios
enquanto não fosse editada a lei complementar. Confira:
Art. 97. Até que seja editada a lei complementar de que trata o § 15 do art. 100 da Constituição Federal, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, na data de publicação desta Emenda Constitucional,
estejam em mora na quitação de precatórios vencidos, relativos às suas administrações direta e indireta,
inclusive os emitidos durante o período de vigência do regime especial instituído por este artigo, farão
esses pagamentos de acordo com as normas a seguir estabelecidas, sendo inaplicável o disposto no art.
100 desta Constituição Federal, exceto em seus §§ 2º, 3º, 9º, 10, 11, 12, 13 e 14, e sem prejuízo dos
acordos de juízos conciliatórios já formalizados na data de promulgação desta Emenda Constitucional.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/2009)

O regime especial instituído pelo art. 97 do ADCT prevê uma série de vantagens aos Estados e Municípios,
se do pe itido ue tais e tes ealize u a esp ie de leilão de p e ató ios o ual os credores de
precatórios competiriam e t e si ofe e e do deságios des o tos ) em relação aos valores que teriam
para receber. Aqueles que oferecessem maiores descontos iriam receber antes do que os demais.

Assim, o regime especial excepcionou a regra do art. 100 da CF/88 de que os precatórios deveriam ser
pagos na ordem cronológica de apresentação. Logo, se alguém estivesse esperando há 20 anos, por
exemplo, para receber seu precatório, já seria afetado por este novo regime e, para aumentar suas
chances de co segui logo seu dito, deve ia o ede u o des o to ao e te pú li o.

Leo a do da Cu ha afi ou, o azão, ue a EC º / p eviu u a esp ie de o ató ia ou


o o data pa a os Estados/DF e Mu i ípios DIDIER JR., F edie; et. al. Curso de Direito Processual Civil.
“alvado : Juspodiv , , p. . Daí a al u ha dada, de fo a justa, po si al, de e e da do alote .

O Supremo declarou inconstitucionais o § 15 do art. 100 da CF/88 e todo o art. 97 do ADCT.

Com a EC nº 62/09, o Poder Público reconheceu que descumpriu, durante anos, as ordens judiciais de
pagamento em desfavor do erário. Admitiu, ainda, que existem inúmeras dívidas pendentes, as quais se
propõe a pagar, mas de forma limitada a um pequeno percentual de sua receita.
Por fim, fica claro que, com o comportamento inadimplente do Poder Público e com o novo regime
instituído, o objetivo foi forçar os titulares de precatórios a participarem dos leilões, concedendo
des o tos ao e á io e elação a valo es ue são devidos po fo ça de decisão judicial transitada em
julgado.

O “TF o luiu ue a EC º / , ao p eve este alote , fe iu os valores do Estado de Direito, do devido


processo legal, do livre e eficaz acesso ao Poder Judiciário e da razoável duração do processo. Além disso,
mencionou-se a violação ao princípio da moralidade administrativa, da impessoalidade e da igualdade.

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


Afirmou-se que, para a maioria dos entes federados, não falta dinheiro para o adimplemento dos
precatórios, mas sim compromisso dos governantes quanto ao cumprimento de decisões judiciais. Nesse
contexto, observou-se que o pagamento de precatórios não se contraporia, de forma inconciliável, à
prestação de serviços públicos. Além disso, arrematou-se que configuraria atentado à razoabilidade e à
proporcionalidade impor aos credores a sobrecarga de novo alongamento temporal dos créditos que têm
para receber.

Modulação dos efeitos


Após a sessão de julgamento, vários amici curiae (plural de amicus curiae) ingressaram com pedidos para
que os efeitos da decisão que declarou a inconstitucionalidade parcial da EC 62/2009 fossem modulados.
Em 2013, o STF iniciou o julgamento desses pedidos e agora, em 2015, foi concluído (Info 779).
Vejamos agora as regras que foram estabelecidas na modulação, ou seja, aquilo que já deixou de valer e os
dispositivos que, apesar de terem sido declarados inconstitucionais, ainda irão vigorar por mais algum
tempo:

§ 15 DO ART. 100 DA CF/88 E ART. 97 DO ADCT


O § 15 do art. 100 da CF/88 e o art. 97 do ADCT (tratam sobre o regime especial de pagamento de
precatórios) ainda irão valer (poderão ser aplicados) por mais cinco anos (cinco exercícios financeiros) a
contar de 01/01/2016. Em outras palavras, tais regras serão válidas até 2020.

§§ 9º E 10 DO ART. 100 DA CF/88


Tais dispositivos previam a possibilidade de compensação obrigatória das dívidas que a pessoa tinha com a
Fazenda Pública com os créditos que tinha para receber com precatório.
O STF afirmou que são válidas as compensações obrigatórias que foram feitas até 25/03/2015 (dia em que
ocorreu a modulação).
A partir desta data, não será possível mais a realização de compensações obrigatórias, mas é possível que
sejam feitos acordos entre a Fazenda e o credor do precatório e que também possua dívidas com o Poder
Público para compensações voluntárias.

LEILÕES PARA DESCONTO DE PRECATÓRIO


O regime especial instituído pela EC 62/2009 previa uma série de vantagens aos Estados e Municípios,
sendo permitido que tais entes realizassem u a esp ie de leilão de p e ató ios o ual os edores de
p e ató ios o pete e t e si ofe e e do deságios des o tos e elação aos valo es ue t pa a
receber. Aqueles que oferecem maiores descontos irão receber antes do que os demais.
Esse sistema de leilões foi declarado inconstitucional, mas o STF afirmou que os leilões realizados até
25/03/2015 (dia em que ocorreu a modulação) são válidos (não podem ser anulados mesmo sendo
inconstitucionais).
A partir desta data, não será possível mais a realização de tais leilões.

VINCULAÇÃO DE PERCENTUAIS MÍNIMOS DA RECEITA CORRENTE LÍQUIDA AO PAGAMENTO DOS PRECATÓRIOS E SANÇÕES
PARA O CASO DE NÃO LIBERAÇÃO TEMPESTIVA DOS RECURSOS DESTINADOS AO PAGAMENTO DE PRECATÓRIOS
Diversos Estados e Municípios possuem dívidas de anos e até décadas de precatórios. O certo seria que
eles pagassem todos de uma só vez. No entanto, como isso não seria possível por falta de orçamento, a EC
62/2009 deu uma sobrevida a esses entes afirmando o seguinte: vocês não precisam pagar tudo de uma só
vez, mas precisarão, todos os meses, depositar em uma conta específica para pagamento de precatórios,
um determinado valor calculado com base em um percentual da sua receita corrente líquida. Ex: 1% da
receita corrente líquida.
Ao fazerem isso, tais entes não seriam considerados em mora quanto aos precatórios, mesmo eles
estando atrasados há anos. No entanto, caso descumprissem essas regras do § 2º do art. 97, iriam receber
sanções que foram previstas no § 10 do art. 97, o que incluía, inclusive, sequestro de verbas públicas.

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


Esse sistema de depósito mensal e tais sanções, assim como todo o art. 97 do ADCT, foram declarados
inconstitucionais pelo STF. No entanto, a Corte decidiu modular os efeitos dessa decisão e afirmou que
durante mais cinco anos, contados de 2016, tais regras serão consideradas válidas.
Em outras palavras, até 2020 o §§ 2º e 10 do art. 97 do ADCT da CF/88 continuam válidos e poderão ser
utilizados pelos Estados e Municípios.

EXPRESSÃO ͞ÍNDICE OFICIAL DE REMUNERAÇÃO BÁSICA DA CADERNETA DE POUPANÇA͟ PREVISTA NO § 12 DO ART. 100
O § 12 prevê que o valor dos precatórios será corrigido pelo índice básico da caderneta de poupança (TR).
O STF julgou esse índice inconstitucional. No entanto, a Corte conferiu eficácia prospectiva à declaração de
inconstitucionalidade dessa expressão, ou seja, o Supremo afirmou que essa inconstitucionalidade não
teria efeitos retroativos (ex tunc). Essa declaração de inconstitucionalidade somente iria valer a partir de
certa data. E qual data é esta?
Para precatórios da administração Para os precatórios da administração
ESTADUAL e MUNICIPAL FEDERAL

O STF disse que a TR (índice da poupança) poderia O STF afirmou que se poderia aplicar a TR até
ser aplicada até 25/03/2015. 31/12/2013.
Quando se for calcular a correção monetária do Quando se for calcular a correção monetária do
precatório, é possível utilizar a TR até essa data. precatório federal, utiliza-se a TR até essa data.

 Precatórios em geral: Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial. O IPCA-E passa a ser o índice
Após essas datas, qual índice será utilizado para substituir a TR (julgada inconstitucional)?

utilizado para a correção monetária dos precatórios.


 Precatórios tributários: os precatórios tributários deverão observar os mesmos critérios pelos quais a
Fazenda Pública corrige seus créditos tributários. Assim, para a sua correção aplica-se a SELIC.

Por que essa data 25/03/2015?


Porque foi o dia em que ocorreu a modulação. É como se o STF tivesse dito, daqui para trás foi válido.
Daqui para frente aplica-se o IPCA-E ou SELIC, conforme o caso.

Por que essa data 31/12/2013 para os precatórios federais?


O índice da poupança (TR), previsto no § 12 do art. 100 foi declarado inconstitucional pelo STF em 2013.
No entanto, naquela época, a Corte não afirmou qual seria o índice aplicável para substitui-lo. Ficou,
portanto, uma lacuna. A União precisava pagar seus precatórios e necessitava aplicar um índice de
correção. Diante disso, a fim de suprir esse vazio, o art. 27 da Lei Federal n. 12.919 /2013 (LDO) previu
que o índice de correção monetária dos precatórios federais passaria a ser o IPCA-E para o ano de 2014.
Confira:
Art. 27. A atualização monetária dos precatórios, determinada no § 12 do art. 100 da Constituição Federal,
inclusive em relação às causas trabalhistas, previdenciárias e de acidente do trabalho, observará, no
exercício de 2014, a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - Especial - IPCA-E do
IBGE.

A Lei n. 13.080/2014 também trouxe o mesmo índice para o ano de 2015:
Art. 27. A atualização monetária dos precatórios, determinada no § 12 do art. 100 da Constituição
Federal, bem como das requisições de pequeno valor expedidas no ano de 2015, inclusive em relação às
causas trabalhistas, previdenciárias e de acidente do trabalho, observará, no exercício de 2015, a variação
do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - Especial - IPCA-E do IBGE, da data do cálculo
exequendo até o seu efetivo depósito.

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


Com isso, a União resolveu o problema da falta de índice de correção monetária diante da decisão que
julgou inconstitucional o índice da poupança (TR) previsto no § 12 do art. 100 da CF/88.

Ao analisar a modulação dos efeitos da ADI, o STF concordou com o que a União fez, ou seja, chancelou a
escolha do IPCA-E como índice de correção monetária dos precatórios. Além disso, estendeu, por analogia,
esse mesmo índice para a correção monetária dos precatórios estaduais e municipais. No entanto, como
não havia leis estaduais ou municipais prevendo o IPCA-E, o STF afirmou que esse índice somente seria
aplicável depois do dia da modulação, ou seja, do dia 26/03/2015 em diante. O que ficou para trás, ou
seja, da data do julgamento da ADI até o dia da modulação, poderia ser aproveitado, aplicando-se ainda a
TR, já que os Estados e Municípios não tinham como adivinhar que o STF iria adotar realmente o IPCA-E.

RESUMO DA MODULAÇÃO DOS EFEITOS:


A questão foi tão complexa que o próprio STF divulgou um quadro-resumo do que foi decidido. O resumo
é basicamente o que expliquei acima, mas vou transcrever aqui embaixo porque pode ser cobrado na
prova com as exatas palavras utilizadas na síntese feita pelo STF:

PRECATÓRIOS
QUESTÃO DE ORDEM NAS ADIS 4.357 E 4.425

1. Modulação de efeitos que dê sobrevida ao regime especial de pagamento de precatórios, instituído pela
Emenda Constitucional nº 62/2009, por 5 (cinco) exercícios financeiros a contar de primeiro de janeiro de
2016.

2. Conferir eficácia prospectiva à declaração de inconstitucionalidade dos seguintes aspectos da ADI,


fixando como marco inicial a data de conclusão do julgamento da presente questão de ordem (25.03.2015)
e mantendo-se válidos os precatórios expedidos ou pagos até esta data, a saber:

2.1. Fica mantida a aplicação do índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR), nos
termos da Emenda Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data após a qual (i) os créditos em
precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (ii) os
precatórios tributários deverão observar os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus
créditos tributários; e

2.2. Ficam resguardados os precatórios expedidos, no âmbito da administração pública federal, com base
nos arts. 27 das Leis nº 12.919/13 e nº 13.080/15, que fixam o IPCA-E como índice de correção monetária.

3. Quanto às formas alternativas de pagamento previstas no regime especial:

3.1. Consideram-se válidas as compensações, os leilões e os pagamentos à vista por ordem crescente de
crédito previstos na Emenda Constitucional nº 62/2009, desde que realizados até 25.03.2015, data a partir
da qual não será possível a quitação de precatórios por tais modalidades;

3.2. Fica mantida a possibilidade de realização de acordos diretos, observada a ordem de preferência dos
credores e de acordo com lei própria da entidade devedora, com redução máxima de 40% do valor do
crédito atualizado.

4. Durante o período fixado no item 1 acima, ficam mantidas (i) a vinculação de percentuais mínimos da
receita corrente líquida ao pagamento dos precatórios (art. 97, § 10, do ADCT) e (ii) as sanções para o caso
de não liberação tempestiva dos recursos destinados ao pagamento de precatórios (art. 97, §10, do ADCT).

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


5. Delegação de competência ao Conselho Nacional de Justiça para que considere a apresentação de
proposta normativa que discipline (i) a utilização compulsória de 50% dos recursos da conta de depósitos
judiciais tributários para o pagamento de precatórios e (ii) a possibilidade de compensação de precatórios
vencidos, próprios ou de terceiros, com o estoque de créditos inscritos em dívida ativa até 25.03.2015, por
opção do credor do precatório.

6. Atribuição de competência ao Conselho Nacional de Justiça para que monitore e supervisione o


pagamento dos precatórios pelos entes públicos na forma da presente decisão

DIREITO PROCESSUAL PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI
Referência ou leitura da decisão de pronúncia durante os debates no júri

Importante!!!
O art. 478, I, do CPP afirma que, durante os debates, as partes não poderão, sob pena de
nulidade, fazer referências à decisão de pronúncia ou às decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação como argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o
acusado. Isso não significa, contudo, que qualquer referência ou leitura da decisão acarretará,
obrigatoriamente, a nulidade do julgamento.
Na verdade, somente haverá nulidade se a leitura ou as referências forem feitas como
argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado.
Assim, por exemplo, não haverá nulidade se o MP simplesmente ler, no Plenário, trecho da
decisão do Tribunal que manteve a sentença de pronúncia contra o réu, sem fazer a utilização
do artifício do argumento de autoridade .
STF. 2ª Turma. RHC 120598/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015 (Info 779).
STJ. 5ª Turma. HC 248.617-MT, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/9/2013 (Info 531).
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.235.899-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em
5/11/2013 (Info 531).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Daniel estava sendo julgado pelo Tribunal do Júri acusado da prática do delito de homicídio.
Durante os debates em Plenário, o Promotor de Justiça leu para os jurados trecho do acórdão do Tribunal
de Justiça que manteve a sentença de pronúncia contra o réu.
Imediatamente, o Defensor Público que fazia a assistência jurídica do réu impugnou essa conduta e pediu
que constasse em ata o referido fato.
O acusado foi condenado.
No recurso, como preliminar, a Defensoria arguiu a nulidade do julgamento, afirmando que houve violação
ao art. 478, I, do CPP:
Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências:
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação
do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado;

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Se MP ou defesa fizer a leitura ou alguma outra referência à decisão de pronúncia durante os debates
em plenário isso significará, obrigatoriamente, a nulidade do julgamento?
NÃO. As referências ou a leitura da decisão de pronúncia durante os debates em plenário do Tribunal do
Júri não acarretam, necessariamente, a nulidade do julgamento.
Somente haverá nulidade se a leitura ou as referências forem feitas como argumento de autoridade para
beneficiar ou prejudicar o acusado.

O que é argumento de autoridade?


A gu e to de auto idade u a falá ia lógi a ue apela pa a a palav a de algu a auto idade a fi de
validar o argumento. Este raciocínio é absurdo, vista que a conclusão baseia-se exclusivamente na
credibilidade do autor da proposição e não nas razões que ele tenha apresentado para sustentá-la. No
âmbito do Júri, pode-se dizer que, ao invés de se valer da prova constante dos autos, as partes tentam
formar o convencimento dos jurados apelando para uma anterior decisão do juiz-presidente ou do
Tribunal acerca do caso concreto. Como os jurados são pessoas leigas, geralmente desprovidas de
conhecimento técnico, podem ser facilmente influenciados no sentido da condenação (ou absolvição) do
acusado se lhes for revelado o entendimento do juiz togado acerca do caso concreto. Daí a importância de
se veda a utilização do a gu e to de auto idade. LIMA, Re ato B asilei o de. Manual de Processo
Penal. Vol. II. Niterói: Impetus, 2012, p. 487).

Exemplos:
Durante os debates em plenário, o Promotor de Justiça fala o seguinte para os jurados:
Situação 1: Situação 2
Prezados jurados, hoje os senhores irão julgar Prezados jurados, na sentença de pronún ia, o
Fulano de Tal, que foi pronunciado pelo crime de Dr. Sicrano, juiz de direito, que estudou muito e
homicídio qualificado por motivo fútil, conforme passou em concurso extremamente difícil,
podem ver na sentença de pronúncia que foi reconheceu que havia indícios de que o réu aqui
entregue a cada um de vocês e cujo trecho eu vou presente praticou um homicídio qualificado.
ler agora. Então, o juiz já concordou com o Ministério
Pú li o.
Nesta primeira hipótese, não há que se falar em Neste segundo exemplo, há nulidade porque a
nulidade uma vez que a referência à sentença de referência à sentença foi feita como argumento
pronúncia não foi feita como argumento de de autoridade.
autoridade. Utilizou-se o respeito e o prestígio da autoridade
Em outras palavras, não se utilizou a decisão do (magistrado) para convencer os jurados.
Poder Judiciário para impressionar ou influenciar O objetivo é passar aos jurados a mensagem
os jurados. su li i a de ue se at o juiz, ue o he e as
leis, disse que ele é culpado, eu tenho que
o de a .

Em suma, a lei não veda toda e qualquer referência à pronúncia ou às decisões posteriores que
mantiveram a acusação. O que o CPP proíbe é que tais menções sejam utilizadas como forma de persuadir
o júri a concluir que, se o juiz/Tribunal pronunciou o réu, logo este é culpado.

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 23 a 31 de março de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 836.819-SP, ARE N. 837.318-SP e ARE N.835.833-RS


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. DEMANDA PROPOSTA PERANTE OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS DA LEI 9.099/95. CONTROVÉRSIA
NATURALMENTE DECORRENTE DE RELAÇÃO DE DIREITO PRIVADO, REVESTIDA DE SIMPLICIDADE FÁTICA E JURÍDICA, COM
PRONTA SOLUÇÃO NA INSTÂNCIA ORDINÁRIA. EXCEPCIONALIDADE DE REPERCUSSÃO GERAL ENSEJADORA DE ACESSO À
INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA.
1. Como é da própria essência e natureza dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais previstos na Lei 9.099/95, as causas de sua competência decorrem
de controvérsias fundadas em relações de direito privado, revestidas de simplicidade fática e jurídica, ensejando pronta solução na instância ordinária.
Apenas excepcionalmente essas causas são resolvidas mediante aplicação direta de preceitos normativos constitucionais. E mesmo quando isso
ocorre, são incomuns e improváveis as situações em que a questão constitucional debatida contenha o requisito da repercussão geral de que tratam o
art. 102, § 3º, da Constituição, os arts. 543-A e 543-B do Código de Processo Civil e o art. 322 e seguinte do Regimento Interno do STF.
2. Por isso mesmo, os recursos extraordinários interpostos em causas processadas perante os Juizados Especiais Cíveis da Lei 9.099/95 somente
podem ser admitidos quando (a) for demonstrado o prequestionamento de matéria constitucional envolvida diretamente na demanda e (b) o requisito
da repercussão geral estiver justificado com indicação detalhada das circunstâncias concretas e dos dados objetivos que evidenciem, no caso
examinado, a relevância econômica, política, social ou jurídica.
3. À falta dessa adequada justificação, aplicam-se ao recurso extraordinário interposto nas causas de Juizados Especiais Estaduais Cíveis da Lei
9.099/95 os efeitos da ausência de repercussão geral, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 722.421-MG
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. VALORES RECEBIDOS EM
VIRTUDE DE CONCESSÃO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA POSTERIORMENTE REVOGADA. DEVOLUÇÃO. MATÉRIA DE ÍNDOLE
INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO. REPERCUSSÃO GERAL. INEXISTÊNCIA.
I – O exame da questão constitucional não prescinde da prévia análise de normas infraconstitucionais, o que afasta a possibilidade de reconhecimento
do requisito constitucional da repercussão geral.
II – Repercussão geral inexistente.
Decisões Publicadas: 4

CLIPPING DO D JE
23 a 31 de março de 2015

Ext N. 1.340-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. EXTRADIÇÃO INSTRUTÓRIA. GOVERNO DO URUGUAI. REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS.
DEFERIMENTO.
1. A extradição requer o preenchimento dos requisitos legais extraídos a contrario sensu do art. 77 da Lei nº 6.815/80, bem assim que sejam
observadas as disposições contidas em tratado específico.
2. O extraditando não logrou comprovar, perante a Justiça Federal, ser filho de brasileira, por essa razão teve indeferido o pedido de opção de
nacionalidade; via de consequência, resta afastado o óbice atinente à proibição de extraditar brasileiro nato, previsto no art. 5º, inc. LI, c/c art. 12, inc.
I, alínea c, da Constituição Federal.
3. O pedido está instruído com os documentos necessários à sua análise, como mandado de prisão expedido por juiz competente, contendo a narração
dos fatos, indicação de local e datas, e com os textos legais sobre o crime, a pena e sua prescrição.
4. A circunstância de o extraditando possuir família brasileira não constitui óbice ao deferimento do pedido, consoante a Súmula nº 421/STF, verbis:
“NÃO IMPEDE A EXTRADIÇÃO A CIRCUNSTÂNCIA DE SER O EXTRADITANDO CASADO COM BRASILEIRA OU TER FILHO
BRASILEIRO.”
5. O crime de tráfico de entorpecentes tipificado no artigo 31 do Decreto-Lei n. 14.294, do Uruguai, possui correspondente no art. 33 da Lei n.
11.343/2006, por isso que se encontra satisfeito o requisito da dupla tipicidade.
6. O Uruguai é competente para julgar o extraditando, visto que os fatos ocorreram em seu território, precisamente na cidade de Rivera, entre
01/06/2010 e 17/05/2013.
7. A legislação uruguaia prevê pena de até 10 (dez) anos de prisão e prazo prescricional de 10 (anos) após a data do fato (art. 117, § 1º, “c” do Código
Penal), além de que a ordem de prisão expedida em 21/09/2012 constitui causa interruptiva da prescrição, ex vi do art. 120 do mesmo Código, a
evidenciar a ausência da referida causa extintiva da punibilidade.
8. A prescrição também não ocorreu segundo a legislação brasileira, que comina pena em abstrato máxima de 15 anos para o crime de tráfico de
drogas (art. 33 da Lei n. 11.343/2006) e correspondente prazo prescricional de 20 anos (art. 109, inc. I, do Código Penal).
9. Extradição deferida, devendo o Estado requerente formalizar o compromisso de detrair de eventual pena o tempo de prisão preventiva cumprido no
Brasil para fins de extradição. Consigna-se ainda a ressalva prevista no art. 89, c/c art. 67 da Lei n. 6.815/80, visto que o extraditando responde a
processo no Brasil.
EMB. DECL. NO HC N. 95.443-SC
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


EMENTA: PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONTRADIÇÃO. ART. 619 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
INEXISTÊNCIA. EMBARGOS REJEITADOS.
1. A contradição que dá ensejo a embargos de declaração (art. 619 do CPP) é a que se estabelece no âmbito interno do julgado embargado, ou seja, a
contradição do julgado consigo mesmo, como quando, por exemplo, o dispositivo não decorre logicamente da fundamentação.
2. Embargos de declaração rejeitados.

Ext N. 1.363-DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: EXTRADIÇÃO FUNDADA EM PROMESSA DE RECIPROCIDADE. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. SONEGAÇÃO
FISCAL. ATENDIMENTO DOS REQUISITOS FORMAIS. DUPLA TIPICIDADE E PUNIBILIDADADE. INEXISTÊNCIA DE PRESCRIÇÃO
EM AMBOS OS ORDENAMENTOS JURÍDICOS. DEFERIMENTO.
1. A falta de tratado de extradição entre o Brasil e a República Federal da Alemanha não impede o atendimento da demanda, desde que o requisito da
reciprocidade seja atendido mediante pedido formalmente transmitido por via diplomática. Precedentes.
2. Por força do sistema de contenciosidade limitada consagrado no Estatuto do Estrangeiro (art. 85, § 1º) e placitado pela jurisprudência desta Corte,
compete ao Supremo Tribunal Federal exclusivamente o exame dos pressupostos formais do pedido de extradição. Precedentes.
3. O crime de sonegação fiscal previsto na legislação penal alemã (art. 370 do Código Penal alemão) encontra correspondência no tipo penal do art.
1º, I, da Lei 8.137/1990 (art. 77, II, da Lei 6.815/1980). Precedentes.
4. Extradição deferida.

AG. REG. NA ADI N. 4.600-DF


RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. AÇÃO PROPOSTA PELA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS MAGISTRADOS ESTADUAIS – ANAMAGES. ENTIDADE QUE REPRESENTA APENAS PARTE OU FRAÇÃO DA
CATEGORIA PROFISSIONAL DOS MAGISTRADOS. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. AÇÃO QUE NÃO MERECE SER
CONHECIDA. PRECEDENTES. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. As associações que congregam mera fração ou parcela de categoria profissional por conta de cujo interesse vem a juízo não possuem legitimidade
ativa para provocar a fiscalização abstrata de constitucionalidade. Precedentes: ADI 4.372, redator para o acórdão Min. Luis Fux, Pleno, DJe de
26/09/2014; ADPF 154-AgR, rel. Min. Cármen Lúcia, Pleno, DJe de 28/11/2014; ADI 3.6717-AgR, rel. Min. Cezar Peluso, Pleno, DJe de 1/7/2011.
2. In casu, à luz do estatuto social da agravante, resta claro que a entidade tem por finalidade representar os magistrados estaduais, defendendo seus
interesses e prerrogativas. Nota-se, assim, que a entidade congrega apenas fração da categoria profissional dos magistrados, uma vez que não
compreende, dentro de seu quadro, os Juízes Federais, por exemplo.
3. É firme o entendimento do Supremo Tribunal Federal no sentido da ilegitimidade ativa da ANAMAGES para a propositura de Ação Direta de
Inconstitucionalidade, ou qualquer outra ação do controle concentrado de constitucionalidade.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
AG. REG. NO HC N. 125.554-PR
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO CONTRA ATO DE MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. NÃO CABIMENTO. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA. APLICAÇÃO ANALÓGICA DA SÚMULA 606/STF.
1. Manifesto o descabimento deste habeas corpus, enquanto se volta contra ato de Ministro desta Corte, à luz da jurisprudência firmada pelo Plenário
deste Supremo Tribunal no sentido de que “não cabe pedido de habeas corpus originário para o Tribunal Pleno, contra ato de Ministro ou órgão
fracionário da Corte” (HC 86.548/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, maioria, DJe 19.12.2008).
2. Assentada, tal diretriz, na aplicação analógica do enunciado da Súmula 606/STF: “Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de
decisão de Turma, ou do Plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso”.
3. Agravo regimental conhecido e não provido.
HC N. 125.783-BA
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. SÚMULA 691/STF. AFASTAMENTO. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRISÃO
PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA, CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL E APLICAÇÃO DA LEI PENAL.
INCOMPATIBILIDADE COM REGIME INICIAL SEMIABERTO FIXADO NA SENTENÇA. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA.
MOTIVAÇÃO GENÉRICA E ABSTRATA. CONCESSÃO DA ORDEM.
1. Em casos teratológicos e excepcionais, viável a superação do óbice da Súmula 691 desta Suprema Corte. Precedentes.
2. Fixado o regime inicial semiaberto para cumprimento da pena, incompatível a manutenção da prisão preventiva nas condições de regime mais
gravoso. Precedentes.
3. Motivado o decreto prisional de forma genérica e abstrata, sem elementos concretos ou base empírica idônea a ampará-lo, esbarra na jurisprudência
consolidada deste Supremo Tribunal Federal, que não lhe reconhece validade. Precedentes.
4. Substituição da prisão preventiva por medidas cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo Penal, a serem fixadas pelo juízo de primeiro
grau.
5. Ordem de habeas corpus concedida para substituir a prisão preventiva decretada contra a paciente por medidas cautelares ao feitio legal e
determinar a observância do regime de cumprimento da pena fixado na sentença, caso iniciada a execução penal.
AG. REG. NA SS N. 4.836-DF
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. TETO REMUNERATÓRIO. EMENDA CONSTITUCIONAL 41/2003.
EFICÁCIA IMEDIATA DOS LIMITES NELA FIXADOS. EXCESSOS. GRAVE LESÃO À ORDEM E À ECONOMIA PÚBLICAS. DECISÃO
AGRAVADA QUE DEFERIU A SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I - A natureza
excepcional da contracautela permite tão somente juízo mínimo de delibação sobre a matéria de fundo e análise do risco de grave lesão à ordem, à
saúde, à segurança e à economia públicas. Controvérsia sobre matéria constitucional evidenciada e risco de lesão à ordem e à economia públicas
comprovado. II - O Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de que a percepção, por servidores públicos, de proventos ou remuneração
acima do limite estabelecido no art. 37, XI, da Constituição da República enseja lesão à ordem pública. III - Observância do limite remuneratório dos
servidores públicos estabelecido pelo art. 37, XI, da Constituição Federal, com redação dada pela Emenda Constitucional 41/2003. IV - Impõe-se a
suspensão das decisões como forma de evitar o efeito multiplicador, que se consubstancia no aforamento, nos diversos tribunais, de processos visando
ao mesmo escopo. Precedentes. V - Agravo regimental a que se nega provimento.
RHC N. 125.457-ES
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


Recurso ordinário em habeas corpus. 2. Homicídio qualificado pelo emprego de recurso que impossibilitou a defesa do ofendido. Prisão preventiva.
Pronúncia. 3. Pedido de revogação da segregação cautelar por ausência de fundamentação. 4. Acusado foragido durante mais de 12 anos. Nítida
intenção de furtar-se à aplicação da lei penal. A jurisprudência do STF consolidou-se no sentido de que a fuga do réu do distrito da culpa justifica o
decreto ou a manutenção da prisão (HC 106.816/PE, rel. min. Ellen Gracie, DJe 20.6.2011). 5. A gravidade in concreto do delito acrescida da fuga
justificam a manutenção da custódia cautelar. 6. Primariedade, bons antecedentes, residência fixa e ocupação lícita, por si sós, não afastam a
possibilidade da prisão preventiva. Precedentes. 7. Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento.
AG. REG. NO AI N. 652.648-SP
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV E LV,
DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. LEGALIDADE. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. DEVIDO PROCESSO LEGAL.
INAFASTABILIDADE DA JURISIDIÇÃO. DEBATE DE ÂMBITO INFRACONSTITUCIONA L. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. ARTIGO 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. RAZÕES DE DECIDIR
EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO JURISDICIONAL. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 10.5.2006.Inexiste violação do artigo 93, IX, da
Lei Maior. O Supremo Tribunal Federal entende que o referido dispositivo constitucional exige que o órgão jurisdicional explicite as razões do seu
convencimento, dispensando o exame detalhado de cada argumento suscitado pelas partes. O exame da alegada ofensa ao art. 5º, II, XXXV, XXXVI,
LIV e LV, da Constituição Federal, observada a estreita moldura com que devolvida a matéria à apreciação desta Suprema Corte, dependeria de
prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie, o que refoge à competência jurisdicional extraordinária, prevista no art. 102 da
Magna Carta. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que
se refere à ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
Agravo regimental conhecido e não provido.
Acórdãos Publicados: 597

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

União Federal x Estado Estrangeiro - Imunidade de Execução (Transcrições)


ACO 1.769/PE*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: EXECUÇÃO JUDICIAL CONTRA ESTADO ESTRANGEIRO. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL (CF, art. 102, I, “e”). IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO (imunidade à jurisdição cognitiva) E IMUNIDADE DE
EXECUÇÃO (imunidade à jurisdição executiva). O “STATUS QUAESTIONIS” NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. PRECEDENTES. DOUTRINA. PREVALÊNCIA DO ENTENDIMENTO NO SENTIDO DA IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA
DE EXECUÇÃO JUDICIAL CONTRA ESTADOS ESTRANGEIROS, EXCETO NA HIPÓTESE DE EXPRESSA RENÚNCIA, POR ELES,
A ESSA PRERROGATIVA DE ORDEM JURÍDICA. POSIÇÃO PESSOAL DO RELATOR (MINISTRO CELSO DE MELLO), QUE
ENTENDE VIÁVEL A EXECUÇÃO CONTRA ESTADOS ESTRANGEIROS, DESDE QUE OS ATOS DE CONSTRIÇÃO JUDICIAL
RECAIAM SOBRE BENS QUE NÃO GUARDEM VINCULAÇÃO ESPECÍFICA COM A ATIVIDADE DIPLOMÁTICA E/OU
CONSULAR. OBSERVÂNCIA, NO CASO, PELO RELATOR, DO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE. JULGAMENTO DA CAUSA
NOS TERMOS DA JURISPRUDÊNCIA PREDOMINANTE NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROCESSO DE EXECUÇÃO
DECLARADO EXTINTO, SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
DECISÃO: Trata-se de execução judicial promovida pela União Federal contra a República Federal da Alemanha.
Reconheço, preliminarmente, que, tratando-se de litígio entre Estado estrangeiro e a União Federal, assiste, ao Supremo Tribunal Federal,
competência originária para processá-lo e julgá-lo (ACO 709/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), inocorrendo, a esse respeito, notadamente
em face da existência de explícita previsão constitucional (CF, art. 102, I, “e”), qualquer divergência de índole doutrinária em torno do órgão
investido de jurisdição para, no plano interno, dirimir conflitos interestatais (PONTES DE MIRANDA, “Comentários à Constituição de 1967 com
a Emenda nº 1 de 1969”, tomo IV/24-25, item n. 11, 2ª ed./2ª tir., 1974, RT; JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, “Comentários à Constituição de 1988”,
vol. VI/3.084-3.086, item n. 105, 1992, Forense Universitária; WALTER CENEVIVA, “Direito Constitucional Brasileiro”, p. 195, item n. 4, 1989,
Saraiva; PINTO FERREIRA, “Comentários à Constituição Brasileira”, vol. 4/104, 1992, Saraiva; CELSO RIBEIRO BASTOS e IVES GANDRA
MARTINS, “Comentários à Constituição do Brasil”, vol. 4, tomo III/171, 2ª ed., 2000, Saraiva; MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO,
“Comentários à Constituição Brasileira de 1988”, vol. 2/219, 1992, Saraiva, v.g.).
Como precedentemente referido, trata-se de litígio que envolve tema pertinente à imunidade de execução e que foi instaurado entre o
Estado brasileiro (que é o Estado acreditado ou receptor), de um lado, e um Estado estrangeiro (que é o Estado acreditante ou de envio), de outro.
É inquestionável que a controvérsia suscitada na presente causa, consistente na discussão relativa à imunidade de Estados estrangeiros
perante o Poder Judiciário nacional, revela-se impregnada do mais alto relevo jurídico.
Como se sabe, a imunidade de jurisdição dos Estados estrangeiros – quer se trate de imunidade à jurisdição cognitiva (imunidade ao processo de
conhecimento), quer se cuide de imunidade à jurisdição executiva (imunidade de execução) – derivava, ordinariamente, de um princípio básico, o
princípio da “comitas gentium”, consagrado pela prática consuetudinária internacional e assentado em premissas teóricas e em concepções
políticas, que, fundadas na essencial igualdade entre as soberanias estatais, legitimavam o reconhecimento de que “par in parem non habet
imperium vel judicium”, consoante enfatizado pelo magistério da doutrina (JOSÉ FRANCISCO REZEK, “Direito Internacional Público”, p.
213/217, itens ns. 99 e 100, 14ª ed., 2013, Saraiva; VALÉRIO DE OLIVEIRA MAZZUOLI, “Curso de Direito Internacional Público”, p. 527, item
n. 1, 5ª ed., 2011, RT; CELSO D. DE ALBUQUERQUE MELLO, “Direito Constitucional Internacional”, p. 350/352, item n. 3, 2ª ed., 2000,
Renovar; ALFRED VERDROSS, “Derecho Internacional Publico”, p. 171/172, 1972, Aguilar, Madrid; JACOB DOLINGER, “A Imunidade
Estatal à Jurisdição Estrangeira”, “in” “A Nova Constituição e o Direito Internacional”, p. 195, 1987, Freitas Bastos; JOSÉ CARLOS DE

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MAGALHÃES, “Da Imunidade de Jurisdição do Estado Estrangeiro perante a Justiça Brasileira”, “in” “A Nova Constituição e o Direito
Internacional”, p. 209/210, 1987, Freitas Bastos; AMILCAR DE CASTRO, “Direito Internacional Privado”, p. 465/467, item n. 295, 6ª ed., 2008,
Forense, v.g.).
Tais premissas e concepções – que justificavam, doutrinariamente, essa antiga prática consuetudinária internacional – levaram a jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal, notadamente aquela que se formou sob a égide da revogada Carta Política de 1969, a emprestar, num primeiro
momento, caráter absoluto à imunidade de jurisdição instituída em favor dos Estados estrangeiros (RTJ 66/727 – RTJ 104/990 – RTJ 111/949 –
RTJ 116/474 – RTJ 123/29, v.g.).
Essa orientação, contudo, tratando-se de imunidade à jurisdição de conhecimento, sofreu abrandamentos, que, na vigência da presente
ordem constitucional, foram reconhecidos pelo Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da Apelação Cível 9.696/SP, Rel. Min.
SYDNEY SANCHES (RTJ 133/159), do AI 139.671-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO (RTJ 161/643-644), e do RE 222.368-AgR/PE, Rel.
Min. CELSO DE MELLO (RTJ 184/740-741).
Em função dessa nova orientação, a jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal, tratando-se de atuação de Estado estrangeiro em
matéria de ordem privada, notadamente em conflitos de natureza trabalhista, consolidou-se no sentido de atribuir caráter meramente relativo à
imunidade de jurisdição, tal como reconhecido pelo direito internacional público e consagrado na prática internacional.
Esse entendimento jurisprudencial, formulado sob a égide da vigente Constituição, foi bem sintetizado pelo Supremo Tribunal Federal,
quando do julgamento do AI 139.671-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, ocasião em que esta Corte proferiu decisão unânime,
consubstanciada em acórdão assim ementado:
“IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. CONTROVÉRSIA DE NATUREZA TRABALHISTA. COMPETÊNCIA JURISDICIONAL
DOS TRIBUNAIS BRASILEIROS.
- A imunidade de jurisdição do Estado estrangeiro, quando se tratar de litígios trabalhistas, revestir-se-á de caráter meramente
relativo e, em conseqüência, não impedirá que os juízes e Tribunais brasileiros conheçam de tais controvérsias e sobre elas exerçam o poder
jurisdicional que lhes é inerente.
ATUAÇÃO DO ESTADO ESTRANGEIRO EM MATÉRIA DE ORDEM PRIVADA. INCIDÊNCIA DA TEORIA DA
IMUNIDADE JURISDICIONAL RELATIVA OU LIMITADA.
- O novo quadro normativo que se delineou no plano do direito internacional, e também no âmbito do direito comparado, permitiu –
ante a realidade do sistema de direito positivo dele emergente – que se construísse a teoria da imunidade jurisdicional relativa dos Estados
soberanos, tendo-se presente, para esse específico efeito, a natureza do ato motivador da instauração da causa em juízo, de tal modo que
deixa de prevalecer, ainda que excepcionalmente, a prerrogativa institucional da imunidade de jurisdição, sempre que o Estado estrangeiro,
atuando em matéria de ordem estritamente privada, intervier em domínio estranho àquele em que se praticam os atos ‘jure imperii’.
Doutrina. Legislação comparada. Precedente do STF.
A teoria da imunidade limitada ou restrita objetiva institucionalizar solução jurídica que concilie o postulado básico da imunidade
jurisdicional do Estado estrangeiro com a necessidade de fazer prevalecer, por decisão do Tribunal do foro, o legítimo direito do particular
ao ressarcimento dos prejuízos que venha a sofrer em decorrência de comportamento imputável a agentes diplomáticos, que, agindo
ilicitamente, tenham atuado ‘more privatorum’ em nome do País que representam perante o Estado acreditado (o Brasil, no caso).
Não se revela viável impor aos súditos brasileiros, ou a pessoas com domicílio no território nacional, o ônus de litigarem, em torno de
questões meramente laborais, mercantis, empresariais ou civis, perante tribunais alienígenas, desde que o fato gerador da controvérsia judicial –
necessariamente estranho ao específico domínio dos ‘acta jure imperii’ – tenha decorrido da estrita atuação ‘more privatorum’ do Estado
estrangeiro.
OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA E A DOUTRINA DA IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO RELATIVA OU LIMITADA.
- Os Estados Unidos da América – parte ora agravante – já repudiaram a teoria clássica da imunidade absoluta naquelas questões
em que o Estado estrangeiro intervém em domínio essencialmente privado. Os Estados Unidos da América – abandonando a posição
dogmática que se refletia na doutrina consagrada por sua Corte Suprema em ‘Schooner Exchange v. McFaddon’ (1812) – fizeram
prevalecer, já no início da década de 1950, em típica declaração unilateral de caráter diplomático, e com fundamento nas premissas
expostas na ‘Tate Letter’, a conclusão de que ‘tal imunidade, em certos tipos de caso, não deverá continuar sendo concedida’. O Congresso
americano, em tempos mais recentes, institucionalizou essa orientação que consagra a tese da imunidade relativa de jurisdição, fazendo-a
prevalecer, no que concerne a questões de índole meramente privada, no ‘Foreign Sovereign Immunities Act’ (1976).”
(RTJ 161/643-644, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Uma das razões decisivas dessa nova visão jurisprudencial da matéria deveu-se ao fato de que o tema da imunidade de jurisdição dos
Estados soberanos – que, antes, como já enfatizado, radicava-se no plano dos costumes internacionais – passou a encontrar fundamento jurídico
em convenções internacionais (a Convenção Europeia sobre Imunidade dos Estados de 1972) ou, até mesmo, consoante informa LUIZ CARLOS
STURZENEGGER (RDA 174/18-43), na própria legislação interna de diversos Estados, como os ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (“Foreign
Sovereign Immunities Act” de 1976), o REINO UNIDO da GRÃ-BRETANHA e da IRLANDA DO NORTE (“State Immunity Act” de 1978), a
AUSTRÁLIA (“Foreign States Immunities Act” de 1985), CINGAPURA (“State Immunity Act” de 1979), a REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL
(“Foreign States Immunities Act” de 1981), o PAQUISTÃO (“State Immunity Act” de 1981), o CANADÁ (“State Immunity Act” de 1982) e a
REPÚBLICA ARGENTINA (“Ley nº 24.488/95”, art. 2º), exemplificativamente.
O novo quadro normativo que se delineou no plano do direito internacional, e também no âmbito do direito comparado, permitiu – ante a
realidade do sistema de direito positivo dele emergente – que se construísse, inclusive no âmbito da jurisprudência dos Tribunais, e em função de
situações específicas, a teoria da imunidade jurisdicional meramente relativa dos Estados soberanos.
É por essa razão – já vigente o novo ordenamento constitucional brasileiro – que tanto a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RTJ
133/159 – RTJ 161/643-644 – RTJ 184/740-741) quanto a do Superior Tribunal de Justiça (RSTJ 8/39 – RSTJ 9/53 – RSTJ 13/45) consolidaram-se no sentido de
reconhecer que, modernamente, não mais deve prevalecer, de modo incondicional, no que concerne a determinadas e específicas controvérsias –
tais como aquelas de direito privado – o princípio da imunidade jurisdicional absoluta, circunstância esta que, em tais situações, legitima a plena
submissão de qualquer Estado estrangeiro à jurisdição doméstica do Poder Judiciário nacional:
“IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO – RECLAMAÇÃO TRABALHISTA – LITÍGIO ENTRE ESTADO ESTRANGEIRO E
EMPREGADO BRASILEIRO – EVOLUÇÃO DO TEMA NA DOUTRINA, NA LEGISLAÇÃO COMPARADA E NA JURISPRUDÊNCIA
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: DA IMUNIDADE JURISDICIONAL ABSOLUTA À IMUNIDADE JURISDICIONAL MERAMENTE
RELATIVA – RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO CONHECIDO.
OS ESTADOS ESTRANGEIROS NÃO DISPÕEM DE IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO, PERANTE O PODER JUDICIÁRIO
BRASILEIRO, NAS CAUSAS DE NATUREZA TRABALHISTA, POIS ESSA PRERROGATIVA DE DIREITO INTERNACIONAL
PÚBLICO TEM CARÁTER MERAMENTE RELATIVO.
- O Estado estrangeiro não dispõe de imunidade de jurisdição, perante órgãos do Poder Judiciário brasileiro, quando se tratar de
causa de natureza trabalhista. Doutrina. Precedentes do STF (RTJ 133/159 e RTJ 161/643-644).

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23


- Privilégios diplomáticos não podem ser invocados, em processos trabalhistas, para coonestar o enriquecimento sem causa de
Estados estrangeiros, em inaceitável detrimento de trabalhadores residentes em território brasileiro, sob pena de essa prática consagrar
censurável desvio ético-jurídico, incompatível com o princípio da boa-fé e inconciliável com os grandes postulados do direito internacional.
O PRIVILÉGIO RESULTANTE DA IMUNIDADE DE EXECUÇÃO NÃO INIBE A JUSTIÇA BRASILEIRA DE EXERCER
JURISDIÇÃO NOS PROCESSOS DE CONHECIMENTO INSTAURADOS CONTRA ESTADOS ESTRANGEIROS.
- A imunidade de jurisdição, de um lado, e a imunidade de execução, de outro, constituem categorias autônomas, juridicamente
inconfundíveis, pois – ainda que guardem estreitas relações entre si – traduzem realidades independentes e distintas, assim reconhecidas
quer no plano conceitual, quer, ainda, no âmbito de desenvolvimento das próprias relações internacionais.
A eventual impossibilidade jurídica de ulterior realização prática do título judicial condenatório, em decorrência da prerrogativa da
imunidade de execução, não se revela suficiente para obstar, só por si, a instauração, perante Tribunais brasileiros, de processos de
conhecimento contra Estados estrangeiros, notadamente quando se tratar de litígio de natureza trabalhista. Doutrina. Precedentes.”
(RTJ 184/740-741, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Impõe-se destacar, por isso mesmo, na linha dos precedentes firmados pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ 133/159 – RTJ
161/643-644 – RTJ 184/740-741), que deixará de prevalecer, excepcionalmente, a prerrogativa institucional da imunidade de jurisdição
(imunidade à jurisdição cognitiva), sempre que o representante do Estado estrangeiro, por atuar em matéria de ordem estritamente privada (matéria
laboral, p. ex.), intervier em domínio estranho àquele em que usualmente se praticam, no plano das relações diplomáticas e consulares, atos “jure
imperii”.
Esse entendimento encontra fundamento, como já referido, em precedentes que o Supremo Tribunal Federal firmou já sob a égide da
vigente Constituição (RTJ 133/159, Rel. Min. SYDNEY SANCHES – RTJ 161/643-644, Rel. Min. CELSO DE MELLO – RTJ 184/740-741, Rel.
Min. CELSO DE MELLO), apoiando-se, ainda, em autorizado magistério doutrinário (PONTES DE MIRANDA, “Comentários ao Código de
Processo Civil”, tomo II/263-265, 2ª ed., 1979, Forense; CLÓVIS RAMALHETE, “Estado Estrangeiro Perante a Justiça Nacional”, “in” Revista da
Ordem dos Advogados do Brasil, nº 4/315-330, Setembro/Dezembro de 1970; AMILCAR DE CASTRO, “Direito Internacional Privado”, p.
465/467, item n. 295, 6ª ed., 2008, Forense; CLÓVIS BEVILÁQUA, “Direito Público Internacional”, tomo I/79, 2ª ed., Freitas Bastos; OSCAR
TENÓRIO, “Direito Internacional Privado”, vol. II/351, 11ª ed., Freitas Bastos; HILDEBRANDO ACCIOLY, “Tratado de Direito Internacional
Público”, vol. I/286, item n. 330, 3ª ed., 2009, Quartier Latin; PEDRO LESSA, “Do Poder Judiciário”, p. 212, 1915, Livraria Francisco Alves;
GUIDO FERNANDO SILVA SOARES, “Das Imunidades de Jurisdição e de Execução”, p. 152/161, 1984, Forense; LUIZ CARLOS
STURZENEGGER, “Imunidades de Jurisdição e de Execução dos Estados – Proteção a Bens de Bancos Centrais”, “in” RDA 174/18; OSIRIS
ROCHA, “Reclamações Trabalhistas contra Embaixadas: Uma Competência Inegável e Uma Distinção Imprescindível”, “in” LTr, vol. 37/602;
JOSÉ FRANCISCO REZEK, “Direito Internacional Público”, p. 175/178, item n. 97, 14ª ed., 2013, Saraiva; GERSON DE BRITTO MELLO
BOSON, “Constitucionalização do Direito Internacional”, p. 248/249, 1996, Del Rey; VALÉRIO DE OLIVEIRA MAZZUOLI, “Curso de
Direito Internacional Público”, p. 551/554, item n. 9, 5ª ed., 2011, RT, v.g.).
Ocorre, porém, que o Supremo Tribunal Federal, tratando-se da questão pertinente à imunidade de execução (matéria que não se confunde
com o tema concernente à imunidade de jurisdição), continua, quanto a ela (imunidade de execução), a entendê-la como prerrogativa institucional de
caráter mais abrangente (CELSO D. DE ALBUQUERQUE MELLO, “Curso de Direito Internacional Público”, vol. II/1.344, item n. 513, 14ª ed.,
2002, Renovar, v.g.), ressalvada, no entanto, a hipótese excepcional de renúncia, por parte do Estado estrangeiro, à prerrogativa da
intangibilidade dos seus próprios bens, tal como decidiu o Plenário desta Suprema Corte no julgamento da ACO 543-AgR/SP, Rel. Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE, valendo reproduzir, por bastante expressiva, a ementa da decisão proferida em referido processo:
“Imunidade de jurisdição. Execução fiscal movida pela União contra a República da Coréia.
É da jurisprudência do Supremo Tribunal que, salvo renúncia, é absoluta a imunidade do Estado estrangeiro à jurisdição executória:
orientação mantida por maioria de votos.
Precedentes: ACO 524-AgR, Velloso, DJ 9.5.2003; ACO 522-AgR e 634-AgR, Ilmar Galvão, DJ 23.10.98 e 31.10.2002; ACO 527-
AgR, Jobim, DJ 10.12.99; ACO 645, Gilmar Mendes, DJ 17.3.2003.” (grifei)
Tenho para mim, no entanto, que, além da hipótese de renúncia por parte do Estado estrangeiro à imunidade de execução, também se
legitimará o prosseguimento do processo de execução, com a consequente prática de atos de constrição patrimonial, se e quando os bens atingidos
pela penhora, p. ex., não guardarem vinculação específica com a atividade diplomática e/ou consular desempenhada, em território brasileiro, por
representantes de Estados estrangeiros.
Assinalo que fiquei vencido, na honrosa companhia dos eminentes Ministros AYRES BRITTO, RICARDO LEWANDOWSKI, JOAQUIM
BARBOSA e CEZAR PELUSO, no julgamento da ACO 543-AgR/SP, no qual se reconheceu assistir ao Estado estrangeiro, de modo absoluto,
imunidade à jurisdição executiva (imunidade de execução). Deixei consignado, então, em meu voto vencido, que a imunidade de execução, à
semelhança do que sucede com a imunidade de jurisdição, também não constitui prerrogativa institucional absoluta que os Estados estrangeiros
possam opor, quando instaurado, contra eles, perante o Poder Judiciário brasileiro, processo de execução.
Ao assim decidir, salientei que se revelaria possível fazer incidir a constrição judicial sobre bens de Estado estrangeiro, localizados em
território nacional, desde que o credor exequente demonstrasse que tais bens não se achavam afetados a uma específica destinação diplomática e/ou
consular, tal como corretamente decidiu o E. Tribunal Superior do Trabalho:
“RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ESTADO ESTRANGEIRO. CONSULADO GERAL DA ÍNDIA.
IMUNIDADE RELATIVA DE JURISDIÇÃO E EXECUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE RECAIR PENHORA SOBRE BENS AFETOS À
REPRESENTAÇÃO DIPLOMÁTICA. CONCESSÃO DA SEGURANÇA. Nos termos da jurisprudência do Excelso STF e desta Corte, é
relativa a imunidade de jurisdição e execução do Estado estrangeiro, não sendo passíveis de constrição judicial, contudo, os bens afetados à
representação diplomática. Assim, deve ser parcialmente concedida a segurança, a fim de se determinar que não recaia penhora sobre bens
atrelados, estritamente, à representação diplomática ou consular do impetrante. Precedentes. Recurso ordinário em mandado de segurança
conhecido e parcialmente provido.”
(RO 1258500-04.2008.5.02.0000, Rel. Min. ALBERTO BRESCIANI – grifei)
Cabe referir, neste ponto, a propósito da questão específica da imunidade de execução, o autorizado magistério de JOSÉ FRANCISCO
REZEK (“Direito Internacional Público”, p. 216, item n. 100, 14ª ed., 2013, Saraiva):
“A execução forçada da eventual sentença condenatória, entretanto, só é possível na medida em que o Estado estrangeiro tenha, no
âmbito espacial de nossa jurisdição, bens estranhos à sua própria representação diplomática ou consular – visto que estes se encontram
protegidos contra a penhora ou medida congênere pela inviolabilidade que lhes asseguram as Convenções de Viena de 1961 e 1963, estas
seguramente não derrogadas por qualquer norma ulterior (...).” (grifei)
São, também, desse eminente internacionalista e antigo Juiz da Corte Internacional de Justiça (Haia) e do Supremo Tribunal Federal (“A
Imunidade do Estado Estrangeiro à Jurisdição Local. O Problema da Execução na Justiça do Trabalho”, “in” I Ciclo de Estudos de Direito do

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24


Trabalho, p. 239/242, 241/242, IBCB, 1995) as seguintes ponderações, que vale rememorar ante a extrema pertinência que assumem no contexto
desta causa:
“Uma palavra final sobre o tema da execução, onde esbarramos com problema de grande seriedade. Antes que o Brasil alterasse sua
visão da matéria, outros países já o haviam feito, e, em alguns desses, como Itália, Alemanha e Estados Unidos da América, um dos Estados
estrangeiros processados no foro comum, trabalhista ou civil, havia sido justamente o Brasil; e foram casos em que, por casualidade, por
mero jogo de circunstâncias, a execução pôde consumar-se. É certíssimo que ela não pode realizar-se sobre bens diplomáticos ou
consulares. Nesse particular tem havido ainda no foro brasileiro algum equívoco. O processo de conhecimento, sim, tem cabimento, pode
chegar a termo.
No domínio da análise prática das coisas, é sabido que o Estado estrangeiro propende a executar, sem criar problemas, a sentença
condenatória proferida no processo de conhecimento. Quando isso, entretanto, não acontece, o que é fato raro, a execução não pode
materializar-se, forçadamente, sobre bens diplomáticos ou consulares. Aí estaríamos agredindo, de modo frontal, norma escrita, norma
convencional que nos obriga, e lançando o país em ilícito internacional. Todavia, a execução pode materializar-se quando se consegue
alcançar, dentro do domínio espacial da nossa soberania, incluído o mar territorial, o bem do Estado estrangeiro não coberto pela afetação
diplomática ou consular.
Assim aconteceu quando o Brasil foi o réu. Lá fora, eram bens do Instituto Brasileiro do Café, eram bens do Lloyd Brasileiro. Bens
do Estado, portanto, porém não afetos ao serviço diplomático ou consular. Serviam, assim, de objeto a execução. Eram penhorados e
garantiam a execução eficaz.” (grifei)
As considerações que venho de expor levam-me a reconhecer que a imunidade de execução, à semelhança do que sucede com a imunidade
de jurisdição, não ostenta caráter absoluto, de tal modo que, comprovado, pelo credor, que os bens pertencentes ao Estado estrangeiro não
guardam vinculação com as atividades diplomáticas e/ou consulares, legitimar-se-á, então, nessa particular situação, a instauração, contra essa
soberania estrangeira, do concernente processo de execução.
Entendo necessário fazer, ainda, neste ponto, uma ponderação – que considero relevante – consistente na distinção entre atos imputados a
agentes diplomáticos ou consulares (a que se aplicam as disposições das Convenções de Viena sobre Relações Diplomáticas e sobre Relações
Consulares), de um lado, e aqueles atribuídos aos próprios Estados estrangeiros, de outro, consoante adverte, a esse propósito, o eminente
Professor GUIDO FERNANDO SILVA SOARES (“Curso de Direito Internacional Público”, vol. 1/276, 2004, Atlas):
“No assunto, é mister distinguir as imunidades de jurisdição (incidentes relacionados ao conhecimento e julgamento das causas), das
imunidades de execução (incidentes relacionados a medidas constritivas, definitivas ou provisórias, contra os bens ou direitos, tendo em vista
o cumprimento preliminar ou definitivo das decisões dos órgãos do Poder Judiciário). No caso das imunidades de jurisdição das pessoas a
serviço do Estado, as regras internacionais são as que anteriormente expusemos e que não se confundem com as imunidades do próprio
Estado estrangeiro, frente aos Poderes Judiciários nacionais de outro Estado (aspecto que será analisado a seguir). Quanto às hipóteses das
imunidades de execução, a questão desloca-se para o exame não das pessoas, mas da natureza dos bens, eventualmente penhoráveis ou
não, e que, na verdade, ou são de propriedade do Estado estrangeiro, ou se encontram afetados a um serviço público de outro Estado, por
pertencerem ou estarem na posse de pessoas a seu serviço.
Poderia parecer contraditório que, aos Estados, fossem concedidas menos imunidades que a seus representantes em outros Estados;
contudo, é o que passa, tendo em vista que as imunidades concedidas aos representantes são tradicionais, muito bem definidas pelos usos e
costumes e pelas normas multilaterais escritas, conforme já expusemos, e que aquelas eventualmente concedidas aos Estados são fenômenos
modernos, em que o consenso dos Estados ainda é muito fluido. O que deve ser evitado, nesse campo, é o erro de transporem-se regras das
citadas Convenções de Viena de 1961 (sobre Relações Diplomáticas) e de 1963 (sobre Relações Consulares), para situações em que o
próprio Estado diretamente se encontra envolvido com particulares, diante de tribunais de outros Estados.” (grifei)
É importante assinalar, a esse respeito, que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Apelação Cível nº 9.696/SP, Rel. Min. SYDNEY
SANCHES (RTJ 133/159-170), também fez essa distinção, como se depreende do voto então proferido pelo eminente Ministro FRANCISCO
REZEK (RTJ 133/164-168):
“Esta Casa vinha sistematicamente proclamando que duas linhas de imunidade de jurisdição, fluentes do direito internacional público
contemporâneo, alcançam, grosso modo, a representação dos Estados estrangeiros no território da República.
Numa primeira vertente temos as imunidades pessoais resultantes das duas Convenções de Viena, de 1961 e 1963, ambas
promulgadas no Brasil, relacionada a primeira com o serviço diplomático, e a segunda com o serviço consular. Quando se cuide, pois, de
processo penal ou cível onde o pretendido réu seja membro do corpo diplomático estrangeiro aqui acreditado – ou ainda, em determinadas
hipóteses, do serviço consular estrangeiro –, opera em sua plenitude o direito internacional escrito: tratados que, em certo momento, se
negociaram lá fora, e que entraram em vigor para o Brasil, sendo aqui promulgados.
Ficou claro, não obstante, que nenhum dos dois textos de Viena diz da imunidade daquele que, na prática corrente, é o réu
preferencial, ou seja, o próprio Estado estrangeiro. Com efeito, o que nos evidencia a observação da vida judiciária é que raras vezes
alguém intenta no Brasil um processo contra a pessoa de um diplomata ou cônsul estrangeiro. O que mais vemos são demandas dirigidas
contra a pessoa jurídica de direito público externo, contra o Estado estrangeiro. Essas demandas, quando não têm índole trabalhista – o que
ocorre em mais de dois terços dos casos – têm índole indenizatória e concernem à responsabilidade civil. Quanto a esta imunidade – a do
Estado estrangeiro, não mais a dos seus representantes cobertos pelas Convenções de Viena -, o que dizia esta Casa outrora, e se tornou
cristalino no começo da década de setenta? Essa imunidade não está prevista nos textos de Viena, não está prevista em nenhuma forma
escrita de direito internacional público. Ela resulta, entretanto, de uma antiga e sólida regra costumeira do Direito das Gentes. (…).” (grifei)
Mesmo, porém, que não se fizesse essa distinção (que se revela necessária, contudo), ainda assim caberia uma observação referente aos
denominados “privilégios diplomáticos e consulares”.
Sabemos que as Convenções de Viena sobre Relações Diplomáticas (1961, Artigos 23, 34 e 36) e sobre Relações Consulares (1963, Artigos
32, 49, 50, 60, 62 e 66) instituíram, em favor das Missões Diplomáticas e das Repartições Consulares, prerrogativas e privilégios vários, dentre os
quais, a garantia de intributabilidade, cuja incidência, no entanto, depende da observância da cláusula de reciprocidade (“do ut des”), a significar,
portanto, que as autoridades brasileiras deverão dispensar, em nosso País, àquelas representações e repartições estrangeiras, o mesmo tratamento
que o Estado a que se acham vinculadas dispensar, em seu próprio território, às Missões Diplomáticas e às Repartições Consulares nele mantidas
pelo Brasil.
Caberia, portanto, à União Federal, presente o contexto subjacente a este processo de execução, demonstrar, ao Supremo Tribunal Federal,
que o ora executado não proporciona, em seu próprio território, ao Brasil, o exercício dessa mesma garantia de intributabilidade, em ordem a
tornar possível, desde que configurado eventual tratamento discriminatório, a aplicação, na espécie, da cláusula de reciprocidade.
É por esse motivo que entendo, com toda a vênia, sem desconhecer a extrema delicadeza de que se reveste a questão pertinente à
intangibilidade dos bens titularizados por soberanias estrangeiras (GUIDO FERNANDO SILVA SOARES, “Das Imunidades de Jurisdição e de
Execução”, 1984, Forense, v.g.), que se deveria permitir, ao credor exequente (à União Federal, no caso), em situações como a que ora se
examina, a possibilidade de comprovar que existem, em território brasileiro, bens passíveis de constrição judicial, pertencentes ao Estado

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estrangeiro que figura como devedor executado, desde que tais bens não se mostrem impregnados de destinação diplomática e/ou consular
(requisito de expropriabilidade), de modo a ensejar-se o regular prosseguimento, perante órgão competente do Poder Judiciário nacional (o
Supremo Tribunal Federal, na espécie), do processo de execução instaurado contra determinada soberania estrangeira.
Devo reconhecer, no entanto, como precedentemente salientado, que esta Suprema Corte, em outros julgamentos (ACO 524-AgR/SP, Rel.
Min. CARLOS VELLOSO – ACO 634-AgR/SP, Rel. Min. ILMAR GALVÃO, v.g.), vem adotando posição diversa, mais restritiva, daquela que
tenho perfilhado:
“Ação Cível Originária. 2. Execução Fiscal contra Estado estrangeiro. Imunidade de jurisdição. Precedentes. 3. Agravo regimental a que
se nega provimento.”
(ACO 645-AgR/SP, Rel. Min. GILMAR MENDES – grifei)
“CONSTITUCIONAL. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. EXECUÇÃO FISCAL PROMOVIDA PELA UNIÃO CONTRA ESTADO
ESTRANGEIRO. CONVENÇÕES DE VIENA DE 1961 E 1963.
1. Litígio entre o Estado brasileiro e Estado estrangeiro: observância da imunidade de jurisdição, tendo em consideração as
Convenções de Viena de 1961 e 1963.
2. Precedentes do Supremo Tribunal Federal: ACO 522-AgR/SP e ACO 634-AgR/SP, rel. Min. Ilmar Galvão, Plenário, 16.9.98 e
25.9.2002, DJ de 23.10.98 e 31.10.2002; ACO 527-AgR/SP, rel. Min. Nelson Jobim, Plenário, 30.9.98, DJ de 10.12.99; ACO 524 AgR/SP,
rel. Min. Carlos Velloso, Plenário, DJ de 09.05.2003.
3. Agravo não provido.”
(ACO 633-AgR/SP, Rel. Min. ELLEN GRACIE – grifei)
Observo que essa diretriz jurisprudencial vem orientando as decisões proferidas, no âmbito desta Corte, a propósito de idêntica questão
(ACO 623/SP, Rel. Min. MOREIRA ALVES – ACO 672/SP, Rel. Min. NELSON JOBIM – ACO 673/SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – ACO
691/SP, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – ACO 800/SP, Rel. Min. GILMAR MENDES – ACO 1.446/RJ, Rel. Min. ELLEN GRACIE – ACO
1.450/RJ, Rel. Min. EROS GRAU, v.g.).
Vale destacar, por relevante, neste ponto, que, o Supremo Tribunal Federal, mesmo com nova composição, tem adotado idêntica
compreensão em torno da matéria, reconhecendo, por isso mesmo, a impossibilidade jurídica de se promover execução judicial contra
representações diplomáticas e/ou consulares de Estados estrangeiros (AI 597.817/RJ, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – AI 743.826/RJ, Rel. Min.
ROSA WEBER – ARE 678.785/SP, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, v.g.).
Em consequência da orientação que tem prevalecido no Supremo Tribunal Federal, e embora reafirmando respeitosa divergência, devo
ajustar a minha compreensão da matéria ao princípio da colegialidade, considerados os inúmeros precedentes que a prática jurisprudencial desta
Corte já estabeleceu no tema.
Sendo assim, pelas razões expostas, considerando, ainda, a orientação jurisprudencial prevalecente nesta Suprema Corte, notadamente os
julgamentos plenários da ACO 633-AgR/SP e da ACO 645-AgR/SP e com ressalva da posição pessoal que externei em decisão proferida na ACO
709/SP, de que sou Relator, julgo extinto este processo de execução, sem resolução de mérito.
Arquivem-se os presentes autos.
Publique-se.
Brasília, 25 de fevereiro de 2014.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
*decisão publicada no DJe de 6.3.2014

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
23 a 31 de março de 2015

LICENÇA À GESTANTE - Adotante - Maternidade - Gravidez - Forças Armadas


Lei nº 13.109, de 25.3.2015 – Dispõe sobre a licença à gestante e à adotante, as medidas de proteção à
maternidade para militares grávidas e a licença-paternidade, no âmbito das Forças Armadas. Publicada no DOU, n. 58,
Seção 1, p. 1-2, em 26.3.2015.
OBRIGATORIEDADE - Empresário - Informação - Tributo - Venda - Regularidade - Veículo
Lei nº 13.111, de 25.3.2015 – Dispõe sobre a obrigatoriedade de os empresários que comercializam veículos
automotores informarem ao comprador o valor dos tributos incidentes sobre a venda e a situação de regularidade do
veículo quanto a furto, multas, taxas anuais, débitos de impostos, alienação fiduciária ou quaisquer outros registros que
limitem ou impeçam a circulação do veículo. Publicada no DOU, n. 58, Seção 1, p. 2, em 26.3.2015.
PARTIDO POLÍTICO - Fusão – Alteração
Lei nº 13.107, de 24.3.2015 – Altera as Leis nº 9.096, de 19.9.1995, e 9.504, de 30.9.1997, para dispor sobre
fusão de partidos políticos. Publicada no DOU, n. 57, Seção 1, p. 1, em 25.3.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 779-STF (08/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista ou
adiamento: MS 27931/DF; ADI 4357 QO/DF; ADI 4425 QO/DF; RE 798740 AgR/DF; HC 126315/SP.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: MS 25845/DF; MS 25763/DF; RE 638115/CE.

ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
 Questão da prova objetiva que exige do candidato saber quantas afirmações estão corretas.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


PRISÃO DE ADVOGADO
 Conceito de sala de Estado-Maior.

HABEAS CORPUS
 Desnecessidade de prequestionamento em HC.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


COMPETÊNCIA
 Furto praticado por militar contra outro militar dentro das instalações militares

DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCURSO PÚBLICO
Questão da prova objetiva que exige do candidato saber quantas afirmações estão corretas

Determinada candidata impetrou mandado de segurança questionando três questões da prova


objetiva do concurso para Procurador da República. As questões impugnadas foram
formuladas da seguinte forma: eram apresentadas quatro afirmações; após essas assertivas,
existiam quatro alternativas; a letra A dizia: apenas uma está correta ; letra B : duas estão
corretas ; letra C : três estão corretas ; letra D : todas estão corretas .
Segundo a autora, essa forma de questão objetiva estaria em desacordo com as Resoluções do
CNMP e do CNJ sobre concursos públicos.
O STF concordou com a tese da impetrante? Essa forma de questão objetiva violou a resolução
do CNMP?

Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


NÃO. Apesar de as referidas questões apresentarem realmente uma estrutura objetiva diversa
das demais perguntas normalmente feitas em prova objetiva, isso não significa qualquer
nulidade, sendo apenas uma forma de dificultar o nível da prova igualmente a todos os
candidatos e condizente com o objetivo de um concurso destinado a medir conhecimentos de
vários tipos, ou seja, não só jurídicos, mas também lógicos e gramaticais.
Ademais, entendeu-se que não se poderia invocar a Resolução 57/2009 do CNJ porque,
embora o CNJ e o CNMP possuam estruturas semelhantes e mesma origem constitucional, são
órgãos autônomos, de forma que o CNMP disciplinou o tema na forma que entendeu melhor e
não vedou esse tipo de questão.
STF. 1ª Turma. MS 31323 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/3/2015 (Info 778).

Situação concreta:
Determinada candidata impetrou mandado de segurança questionando três questões da prova objetiva do
26º Concurso para Procurador da República.
As questões impugnadas foram formuladas da seguinte forma: eram apresentadas quatro afirmações;
após essas asse ti as, existia uat o alte ati as; a let a A dizia: ape as u a está o eta ; let a B :
duas estão o etas ; let a C : t ês estão o etas ; let a D : todas estão o etas .
Veja a íntegra de uma das questões atacadas apenas para entender melhor:

Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


Argumento da impetrante
Segundo a autora, essa forma de questão objetiva estaria em desacordo com o art. 17 da Resolução
14/2006 do CNMP, que disciplina os aspectos formais da redação a ser conferida às questões de múltipla
escolha. De acordo com a impetrante, não seria permitido esse tipo de pergunta na qual as assertivas
devem ser julgadas verdadeiras e falsas pelos candidatos. Veja o que diz a Resolução do CNMP:
Art. 17. As provas escritas serão desdobradas em duas etapas, a saber:
I - prova preambular, de múltipla escolha, constando de questões objetivas, de pronta resposta e
apuração padronizada, em número estabelecido pelo edital, com a finalidade de selecionar os candidatos
a serem admitidos às provas previstas no inciso II deste artigo.

Para a candidata, essa forma de questão afrontou ainda o parágrafo único do art. 36 da Resolução 75 do
CNJ, que, apesar de se referir a concursos da magistratura, poderia também ser aplicada, por analogia,
para os certames do Ministério Público. Confira o que fala a Resolução do CNJ:
Art. 36. As questões objetivas serão agrupadas por disciplina e nos respectivos blocos, devidamente
explicitados.
Parágrafo único. Se a questão for elaborada sob a forma de exame prévio de proposições corretas ou
incorretas, constará de cada uma das alternativas de resposta expressa referência, em algarismos
romanos, à assertiva ou às assertivas corretas, vedada qualquer resposta que não indique com precisão a
resposta considerada exata.

O STF concordou com a tese da impetrante? Essa forma de questão objetiva violou a resolução do CNMP?
NÃO. Apesar de as referidas questões apresentarem realmente uma estrutura objetiva diversa das demais
perguntas normalmente feitas em prova objetiva, isso não significa qualquer nulidade, sendo apenas uma
forma de dificultar o nível da prova igualmente a todos os candidatos e condizente com o objetivo de um
concurso destinado a medir conhecimentos de vários tipos, ou seja, não só jurídicos, mas também lógicos
e gramaticais.
Ademais, entendeu-se que não se poderia invocar a Resolução 75/2009 do CNJ porque, embora o CNJ e o
CNMP possuam estruturas semelhantes e mesma origem constitucional, são órgãos autônomos, de forma
que o CNMP disciplinou o tema na forma que entendeu melhor e não vedou esse tipo de questão.

Apenas a título de curiosidade, o mandado de segurança foi proposto pela brilhante Prof. Fernanda
Marinela, grande administrativista, que fez, inclusive, sustentação oral no Supremo, mas, apesar disso, o
writ foi denegado.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

PRISÃO DE ADVOGADO
Conceito de sala de Estado-Maior

Importante!!!
Os advogados, membros da Magistratura, do MP e da Defensoria Pública, se forem presos antes
do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, possuem o direito de ficar recolhidos
não em uma cela com grades, mas sim em uma sala de Estado-Maior.
A palavra Estado-Maior representa o grupo de Oficiais que assessora o Comandante das
Forças Armadas, do Corpo de Bombeiros ou da Polícia Militar. Logo, sala de Estado-Maior é o
compartimento localizado na unidade militar que é utilizado por eles para o exercício de suas
funções.

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A jurisprudência do STF confere uma interpretação teleológica a essa garantia e afirma que os
integrantes dessas carreiras, quando forem presos provisoriamente, não precisam ficar em
uma sala dentro do Comando das Forças Armadas, mas devem ser recolhidos em um local
equiparado à sala de Estado-Maior, ou seja, em um ambiente separado, sem grades, localizado
em unidades prisionais ou em batalhões da Polícia Militar, que tenha instalações e
comodidades adequadas à higiene e à segurança do preso.
STF. Plenário. Rcl 5826/PR e Rcl 8853/GO, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias
Toffoli, julgados em 18/3/2015 (Info 778).

Prisão em sala de Estado-Maior


A legislação prevê que os advogados e os integrantes de determinadas carreiras, se forem presos antes do
trânsito em julgado da sentença penal condenatória, possuem o direito de ficar recolhidos não em uma
cela com grades, mas sim em uma sala de Estado-Maior. Veja a redação do art. 7º, V, da Lei nº 8.906/94
(Estatuto da OAB):
Art. 7º São direitos do advogado:
V — não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, com
instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão domiciliar;

Obs.1: a exp essão is ada assi e o he idas pela OAB foi de la ada i o stitu io al pelo “TF o
julgamento da ADI n. 1.127/DF. Desse modo, não é a OAB quem tem o poder de definir se o local onde foi
preso o advogado é ou não compatível com a definição de sala de Estado-Maior. Tal análise é feita pelo
juiz/Tribunal que determinou a prisão.

Obs.2: esse direito só é garantido em caso de prisão provisória. Quando houver o trânsito em julgado da
condenação, o cumprimento da pena deverá ocorrer em uma unidade prisional comum, como as demais
pessoas.

Veja as carreiras que possuem a garantia de prisão em sala de Estado-Maior:


Magistrados LC 35/79
Membros do MP Lei 8.625/93
Membros da Defensoria LC 80/94
Advogados Lei 8.906/94

Em que consiste sala de Estado-Maior?


Segundo já explicou o ex-Ministro Nelso Jo i , a pala a Estado-Maio ep ese ta o g upo de Ofi iais
que assessora o Comandante das Forças Armadas, do Corpo de Bombeiros ou da Polícia Militar. Logo, sala
de Estado-Maior é o compartimento localizado na unidade militar que é utilizado por eles para o exercício
de suas funções (Voto no HC 81632/SP, DJU em 21/3/2003).
Essa mesma conclusão acima exposta é comungada pelo Ministério da Defesa, que afirma que não existe uma
definição exata do que seja sala de Estado-Maior. Contudo, aglutinando os costumes da lide castrense e
alicerçado na definição de Estado-Maior, ou seja 'Estado-Maior – Órgão composto de pessoal militar
qualificado, que tem por finalidade assessorar o comandante no exercício do comando' – glossário das Forças
Armadas MD35-G-01 (4ª Edição/2007), pode-se dizer que 'sala de Estado-Maior' é um compartimento de
qualquer unidade militar que possa ser utilizado pelo Estado-Maio pa a exe e suas fu ções;

Problema: inexistência de sala de Estado-Maior em diversas localidades


A prática constata que a grande maioria dos Municípios brasileiros não possui salas de Estado-Maior,
considerando que são poucas as localidades onde existem comandos de unidade militar das Forças Armadas.
Além disso, nas unidades onde ela existe, normalmente só há uma sala desse tipo, sendo utilizado para os
serviços militares. Logo, manter uma pessoa lá presa durante meses inviabilizaria o próprio funcionamento
regular das Forças Armadas, que não poderiam utilizar a sala neste período.

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Diante disso, a jurisprudência conferiu uma interpretação teleológica ao dispositivo e passou a entender
que, quando a lei fala que determinada pessoa deve ficar presa em sala de Estado-Maior, isso significa que
ela deverá ficar recolhida em um gabinete (escritório), sem celas, sem grades, e que ofereça instalações
condignas, com condições adequadas de higiene e segurança. Esse gabinete (sala) pode ser localizado em
unidades prisionais ou em batalhões da Polícia Militar.
Em outras palavras, os advogados, membros da Magistratura, MP e Defensoria Pública, quando forem
presos provisoriamente, não precisam ficar em uma sala dentro do Comando das Forças Armadas, mas
devem ser recolhidos em um local equiparado à sala de Estado-Maior, ou seja, em um ambiente separado,
sem grades, localizado em unidades prisionais ou em batalhões da Polícia Militar, que tenha instalações e
comodidades adequadas à higiene e à segurança do preso.

HABEAS CORPUS
Desnecessidade de prequestionamento em HC

O réu impetrou habeas corpus contra determinada decisão do TRF.


O STJ não conheceu da impetração afirmando que a tese alegada no habeas corpus não foi
previamente enfrentada pelo TRF. Assim, para o STJ, somente após o Tribunal enfrentar e
rechaçar essa tese é que a defesa poderia impetrar HC questionando a decisão.
O entendimento do STJ foi correto?
NÃO. É desnecessária a prévia discussão acerca de matéria objeto de habeas corpus impetrado
originariamente no STJ, quando a coação ilegal ou o abuso de poder advierem de ato de TRF no
exercício de sua competência penal originária.
Ao fazer essa exigência, o STJ está impondo para o habeas corpus o requisito do
prequestionamento , que somente é aplicável nos casos de recurso especial ou recurso
extraordinário.
STF. 1ª Turma. RHC 118622/ES, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/3/2015 (Info 778).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra determinado Juiz Federal.
O Tribunal Regional Federal, órgão competente para julgar magistrados federais de 1ª instância, recebeu a
denúncia.
Contra essa decisão de recebimento, o magistrado impetrou habeas corpus no STJ alegando que as
interceptações telefônicas que embasaram a acusação foram ilegais.
O STJ não conheceu da impetração afirmando que o habeas corpus impetrado foi substitutivo de recurso
especial, e que a tese alegada no writ não foi previamente enfrentada pelo TRF. Assim, para o STJ,
somente após o Tribunal enfrentar e rechaçar essa tese (ilegalidade da prova) é que a defesa poderia
impetrar HC questionando a decisão.

O entendimento do STJ foi correto?


NÃO. É desnecessária a prévia discussão acerca de matéria objeto de habeas corpus impetrado
originariamente no STJ, quando a coação ilegal ou o abuso de poder advierem de ato de TRF no exercício
de sua competência penal originária.
Tratando-se de habeas corpus originário, como na hipótese em comento, não se exige que a matéria tenha
sido previamente discutida pelo Tribunal cuja decisão está sendo impugnada.
Ao fazer essa exigência, o STJ está impondo pa a o ha eas o pus o e uisito do p e uestio a e to ,
que somente é aplicável nos casos de recurso especial ou recurso extraordinário.

Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL MILITAR

COMPETÊNCIA
Furto praticado por militar contra outro militar dentro das instalações militares

Militar do Exército subtraiu de seu colega de farda, em quartel militar, cartão magnético,
juntamente com a respectiva senha. Após, efetuou empréstimo em nome da vítima, bem como
saques de valores. A competência para julgar esse crime é da Justiça Militar?
SIM. Compete à Justiça castrense processar e julgar militar pela prática de crime de furto (art.
240 do CPM) perpetrado contra outro militar em ambiente sujeito à administração militar
(art. 9º, II, a do CPM).
STF. 1ª Turma. HC 125326/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/3/2015 (Info 778).

Imagine a seguinte situação:


João, militar do Exército, subtraiu de seu colega de farda, em quartel militar, cartão magnético, juntamente
com a respectiva senha. Após, efetuou empréstimo em nome da vítima, bem como saques de valores.

A competência para julgar esse crime é da Justiça Militar?


SIM. Compete à Justiça castrense processar e julgar militar pela prática de crime de furto (art. 240 do
CPM) perpetrado contra outro militar em ambiente sujeito à administração militar.
Incide, no caso, o art. 9º, II, a do CPM:
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz
(...)
II – os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum,
quando praticados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou
assemelhado.

Mesmo o saque do dinheiro tendo ocorrido fora do quartel?


SIM. É indiferente, para a configuração da competência da justiça militar, o fato de o saque ter sido
realizado fora da organização militar. Isso porque a subtração ocorreu dentro do quartel.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

MS: pagamento de quintos e autoridade competente


Em conclusão, o Plenário julgou prejudicado mandado de segurança preventivo em que servidores públicos
do TCU discutiam o limite temporal, em razão de sucessivas edições de medidas provisórias e leis, para a
incorporação de quintos/décimos. A Corte deliberou que o STF seria competente para processar e julgar
atos do Presidente do TCU. Na espécie, houvera ato prévio à impetração, praticado pelo Secretário-Geral
da Administração do TCU, que determinara o pagamento das parcelas de quintos/décimos referente ao
pe íodo de .4. a 4. . 4. Dessa fo a, o it te ia sido i pet ado e elação a ato ue ão fo a e
não seria praticado por Presidente do TCU.
MS 25845/DF, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 18 e 19.3.2015.

Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Incorporação de quintos e princípio da legalidade
Ofende o princípio da legalidade a decisão que concede a incorporação de quintos pelo exercício de função
comissionada no período entre 8.4.1998 — edição da Lei 9.624/1998 — até 4.9.2001 — edição da Medida
Provisória 2.225-45/2001 —, ante a carência de fundamento legal. Essa a conclusão do Plenário que, por
maioria, deu provimento a recurso extraordinário em que discutida possibilidade da incorporação de
quintos decorrente do exercício de funções comissionadas e/ou gratificadas no período. Preliminarmente,
o Colegiado, por decisão majoritária, conheceu do recurso. Assentou que haveria jurisprudência da Corte
no sentido de ser inadmissível o recurso extraordinário interposto contra decisão do STJ que, em recurso
especial, se fundamentasse em matéria constitucional já apreciada e decidida na instância inferior e não
impugnada diretamente no STF mediante recurso extraordinário. Assim, não interposto o recurso
extraordinário contra a decisão de segunda instância dotada de duplo fundamento — legal e constitucional
— ficaria preclusa a oportunidade processual de se questionar a matéria constitucional. Novo recurso
extraordinário somente seria admissível para suscitar a questão constitucional surgida originariamente no
recurso especial pelo STJ. Porém, o caso seria peculiar. O tema, por suscitar a interpretação da legislação
aplicável à matéria, costumaria ser tratado como de índole estritamente infraconstitucional. No entanto,
essa forma de abordar a questão representaria apenas um dos enfoques possíveis quanto à legalidade.
Nada impediria que a controvérsia debatida nas instâncias inferiores, inclusive no STJ, fosse abordada por
outra perspectiva no STF, porque a causa de pedir em recurso extraordinário seria aberta. A mesma
questão debatida, devidamente prequestionada, poderia ser apreciada no Supremo, o qual poderia
enfrentar o tema sob o enfoque constitucional. Nessa hipótese, seria cabível o recurso extraordinário,
tendo em vista que, apreciada a questão novamente pelo STJ, apenas restaria a via recursal extraordinária
para que o STF analisasse a controvérsia. No caso, a questão seria visivelmente constitucional. Não se
cuidaria de mera discussão sobre ilegalidade, por ofensa ao direito ordinário. Constituiria, em verdade,
afronta ao postulado fundamental da legalidade. O Tribunal aduziu que se, de um lado, a transferência para
o STJ da atribuição para conhecer das questões relativas à observância do direito federal reduzira a
competência do STF às controvérsias de índole constitucional, por outro, essa alteração dera ensejo ao
Supremo para redimensionar o conceito de questão constitucional. Nesse sentido, o significado do
princípio da legalidade, positivado no art. 5º, II, da CF, deveria ser efetivamente explicitado, para que dele
se extraíssem relevantes consequências jurídicas. Esse postulado, entendido como o princípio da
supremacia ou da preeminência da lei, ou como o princípio da reserva legal, conteria limites para os três
Poderes constituídos. Dever-se-ia indagar, no ponto, se o tema versaria simples questão legal, insuscetível
de apreciação na via extraordinária, ou se teria contornos constitucionais e mereceria ser examinado no
STF. Ademais, dever-se-ia questionar se a decisão judicial adversada por suposta falta de fundamento legal
poderia ser considerada contrária à Constituição, a suscitar questão constitucional. Nessa linha, seria
necessário perquirir se a aplicação errônea do direito ordinário poderia dar ensejo a uma questão
constitucional. Reputou que o princípio da reserva legal explicitaria as matérias que deveriam ser
disciplinadas diretamente pela lei. Esse postulado afirmaria a inadmissibilidade de utilização de qualquer
outra fonte de direito distinta da lei. Por outro lado, admitiria que apenas a lei pudesse estabelecer
eventuais limitações ou restrições. Por seu turno, o princípio da supremacia ou da preeminência da lei
submeteria a Administração e os tribunais ao regime da lei, a impor a exigência de aplicação da lei e a
proibição de desrespeito ou de violação da lei.

O Colegiado ponderou que uma decisão judicial que, sem fundamento legal, afetasse situação individual,
revelar-se-ia contrária à ordem constitucional, pelo menos ao direito subsidiário da liberdade de ação. Se
admitido, como expressamente estabelecido na Constituição, que os direitos fundamentais vinculariam
todos os Poderes e que a decisão judicial deveria observar a Constituição e a lei, então a decisão judicial
que se revelasse desprovida de base legal afrontaria ao menos o princípio da legalidade. Essa orientação
poderia converter a Corte em autêntico tribunal de revisão, se fosse admitido que toda decisão contrária
ao direito ordinário seria inconstitucional. Por isso, deveria ser formulado um critério a limitar a
impugnação das decisões judiciais mediante recurso constitucional. A admissibilidade dependeria da

Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


demonstração de que, na interpretação e aplicação do direito, o juiz tivesse desconsiderado por completo
ou essencialmente a influência dos direitos fundamentais, que a decisão fosse manifestamente arbitrária
na aplicação do direito ordinário ou, ainda, que tivessem sido ultrapassados os limites da construção
jurisprudencial. Assim, uma decisão que, por exemplo, ampliasse o sentido de um texto penal para
abranger determinada conduta seria inconstitucional, por afronta ao princípio da legalidade. Seria,
portanto, admitida uma aferição de constitucionalidade tanto mais intensa quanto maior fosse o grau de
intervenção no âmbito de proteção dos direitos fundamentais. Em suma, seria possível aferir uma questão
constitucional na violação da lei pela decisão ou ato dos Poderes constituídos. A decisão ou ato sem
fundamento legal ou contrário ao direito ordinário violaria, portanto, o princípio da legalidade. O Ministro
Teori Zavascki também conheceu do recurso, mas por outro fundamento. Afirmou que, em razão de o
mesmo tema também chegar ao STF por meio de mandados de segurança, a Corte não fugiria do exame do
mérito da questão. Não faria sentido distinguir uma decisão com repercussão geral de outra, sem essa
qualidade, a conferir eficácias diferentes para decisões do Supremo. Todas elas, por sua própria natureza,
teriam eficácia expansiva necessária e peso institucional semelhante. O Ministro Marco Aurélio acresceu
que não se deveria exigir, para ter-se configurado o prequestionamento, a referência no acórdão recorrido
a dispositivo da Constituição. Seria suficiente a adoção de entendimento sobre a norma constitucional. No
caso, a decisão recorrida trataria claramente da existência de direito adquirido por parte dos servidores.
Além disso, citou precedentes da Corte em recursos extraordinários nos quais discutida transgressão ao
devido processo legal ou ao princípio da legalidade. Frisou que se estaria diante de situação concreta a
reclamar manifestação do STF, para pacificar-se o tema. O Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente)
sublinhou que, na repercussão geral, o STF teria a discricionariedade de admitir certos casos, se eles se
enquadrassem nos conceitos abertos de relevância política, econômica, social ou jurídica. Vencidos, quanto
ao conhecimento, os Ministros Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Celso de Mello. Entendiam que o
tema cuidaria de ofensa meramente reflexa à Constituição. Além disso, o acórdão recorrido seria calcado
em matéria infraconstitucional.

No mérito, o Plenário pontuou que a decisão judicial a determinar incorporação dos quintos careceria de
fundamento legal e, assim, violaria o princípio da legalidade. A decisão recorrida baseara-se no
entendimento segundo o qual a Medida Provisória 2.225-45/2001, em seu art. 3º, permitiria a incorporação
dos quintos no período compreendido entre a edição da Lei 9.624/1998 e a edição da aludida medida
provisória. O referido art. 3º transformara em Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada - VPNI a
incorporação das parcelas a que se referem os artigos 3º e 10 da Lei 8.911/1994 e o art. 3º da Lei
9.624/1998. Não se poderia considerar que houvera o restabelecimento ou a reinstituição da possibilidade
de incorporação das parcelas de quintos ou décimos. A incorporação de parcelas remuneratórias
remontaria à Lei 8.112/1990. Seu art. 62, § 2º, na redação original, concedera aos servidores públicos o
direito à incorporação da gratificação por exercício de cargo de direção, chefia ou assessoramento à razão
de um quinto por ano, até o limite de cinco quintos. A Lei 8.911/1994 disciplinara a referida incorporação.
Por sua vez, a Medida Provisória 1.195/1995 alterara a redação dessas leis para instituir a mesma
incorporação na proporção de um décimo, até o limite de dez décimos. A Medida Provisória 1.595-
14/1997, convertida na Lei 9.527/1997, extinguira a incorporação de qualquer parcela remuneratória, com
base na Lei 8.911/1994, e proibira futuras incorporações. As respectivas parcelas foram transformadas em
VPNI. A Lei 9.527/1997 não teria sido revogada pela Lei 9.624/1998, pois esta seria apenas a conversão de
uma cadeia distinta de medidas provisórias — reeditadas validamente — iniciada anteriormente à própria
Lei 9.527/1997. Desde a edição da Medida Provisória 1.595-14/1997, portanto, seria indevida qualquer
concessão de parcelas remuneratórias referentes a quintos ou décimos. Em suma, a concessão de quintos
somente seria possível até 28.2.1995, nos termos do art. 3º, I, da Lei 9.624/1998, enquanto que, de
1º.3.1995 a 11.11.1997 — edição da Medida Provisória 1.595-14/1997 — a incorporação devida seria de
décimos, nos termos do art. 3º, II e parágrafo único, da Lei 9.624/1998, sendo indevida qualquer concessão
após 11.11.1997. Nesse quadro, a Medida Provisória 2.225/2001 não viera para extinguir definitivamente o
direito à incorporação que teria sido revogado pela Lei 9.624/1998, mas somente para transformar em
VPNI a incorporação das parcelas referidas nas Leis 8.911/1994 e 9.624/1998. Assim, o direito à
Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8
incorporação de qualquer parcela remuneratória, fosse quintos ou décimos, já estaria extinto. O
restabelecimento de dispositivos normativos anteriormente revogados, a permitir a incorporação de
quintos ou décimos, somente seria possível por determinação expressa em lei. Em outros termos, a
repristinação de normas dependeria de expressa determinação legal. Assim, se a Medida Provisória
2.225/2001 não repristinara expressamente as normas que previam a incorporação de quintos, não se
poderia considerar como devida uma vantagem remuneratória pessoal não prevista no ordenamento. Em
conclusão, não existiria norma a permitir o ressurgimento dos quintos ou décimos levada a efeito pela
decisão recorrida. Vencidos os Ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia e Celso de Mello, que desproviam o
recurso. Assentavam que a incorporação de gratificação relativa ao exercício de função comissionada no
período de 8.4.1998 a 5.9.2001, transformando as referidas parcelas em VPNI, teria sido autorizada pela
Medida Provisória 2.225-45/2001, em razão de ter promovido a revogação dos artigos 3º e 10 da Lei
8.911/1994. Por fim, o Plenário, por decisão majoritária, modulou os efeitos da decisão para desobrigar a
devolução dos valores recebidos de boa-fé pelos servidores até a data do julgamento, cessada a ultra-
atividade das incorporações concedidas indevidamente. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que não
modulava os efeitos da decisão.
RE 638115/CE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18 e 19.3.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 16 a 20 de março de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 855.178-SE


RELATOR: MIN. LUIZ FUX
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. DIREITO À SAÚDE. TRATAMENTO MÉDICO.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. REAFIRMAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA.
O tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade solidária dos entes federados. O
polo passivo pode ser composto por qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 859.878- DF
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL, TRABALHISTA E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INFRINGÊNCIA À SÚMULA
VINCULANTE 10. INOCORRÊNCIA. PETRÓLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRÁS). VALIDADE DO CÁLCULO DO COMPLEMENTO DE
REMUNERAÇÃO MÍNIMA POR NÍVEL E REGIME (RMNR). CLÁUSULA 35ª DO ACORDO COLETIVO DE TRABALHO DE 2007/2009.
OFENSA CONSTITUCIONAL REFLEXA. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa à legitimidade da forma de cálculo da verba denominada Complemento de Remuneração Mínima por Nível e Regime
(RMNR), fundada na interpretação de cláusulas de acordo coletivo de trabalho, não enseja a interposição de recurso extraordinário, uma vez que
eventual ofensa à Constituição Federal seria meramente reflexa.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna se dê de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM AI N. 837.409-SE
RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
Agravo de instrumento. 2. Direito Tributário. IPTU. Execução fiscal. Competência tributária ativa. Controvérsia. Declaração de inconstitucionalidade
de dispositivo que definia limites territoriais de município. 3. Requisitos contidos no art. 18, § 4º, da Constituição Federal. Mitigação. 4. Discussão
quanto à correta aplicação do artigo 96 da CF/88. 5. Repercussão geral reconhecida.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 729.107-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO – EXECUÇÃO INICIADA – PARÂMETRO DE DEFINIÇÃO DE REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR –
ADMISSIBILIDADE DA INCIDÊNCIA DA LEI NOVA NA ORIGEM – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL –
PRECEDENTES EM AGRAVOS REGIMENTAIS DA SEGUNDA TURMA – CONFIGURAÇÃO. Possui repercussão geral a controvérsia alusiva
à incidência de lei nova sobre parâmetro de definição de requisição de pequeno valor na execução iniciada, consideradas a medula da segurança
jurídica, que é a irretroatividade da lei, e a existência de julgados da Segunda Turma em sentido contrário ao do acórdão atacado.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 796.376-SC
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


IMPOSTO DE TRANSMISSÃO – ITBI – IMÓVEIS INTEGRALIZADOS AO CAPITAL DA EMPRESA – ARTIGO 156, § 2º, INCISO I, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ALCANCE – LIMITAÇÃO OBSERVADA NA ORIGEM – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO
GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia alusiva ao alcance da imunidade quanto ao Imposto de Transmissão nos casos de
imóveis integralizados ao capital social da empresa, cujo valor de avaliação ultrapasse o da cota realizada, considerado o preceito do artigo 156, § 2º,
inciso I, da Carta Federal.
Decisões Publicadas: 5

CLIPPING DO D JE
16 a 20 de março de 2015

ADI N. 3.920-MT
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO – PROCESSO OBJETIVO – INCONSTITUCIONALIDADE DE NORMA – ATRIBUIÇÃO. Consoante dispõe
o artigo 103, § 3º, da Constituição da República, cumpre à Advocacia-Geral da União, no processo em que o Supremo aprecia inconstitucionalidade,
em tese, de norma legal ou ato normativo, atuar na defesa do ato ou texto impugnado.PROJETO DE LEI – SERVIDORES PÚBLICOS – REGIME
JURÍDICO. Surge como princípio sensível a separação de Poderes, cabendo aos entes da Federação observar o disposto no artigo 61 da Carta de
1988.
*noticiado no Informativo 773
AG. REG. NA PROGRESSÃO DE REGIME NA EP N.22-PI
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: EXECUÇÃO PENAL. PROGRESSÃO DE REGIME. CRIME CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DEVOLUÇÃO DO PRODUTO DO ILÍCITO. 1. É
constitucional o art. 33, § 4º, do Código Penal, que condiciona a progressão de regime, no caso de crime contra a Administração Pública, à reparação
do dano ou à devolução do produto do ilícito. 2. Tendo o acórdão condenatório fixado expressamente o valor a ser devolvido, não há como se afirmar
não se tratar de quantia líquida. 3. A alegação de falta de recursos para devolver o dinheiro desviado não paralisa a incidência do art. 33, § 4º, do
Código Penal. O sentenciado é devedor solidário do valor integral da condenação. 4. Na hipótese de celebração de ajuste com a União para
pagamento parcelado da obrigação, estará satisfeita a exigência do art. 33, § 4º, enquanto as parcelas estiverem sendo regularmente quitadas. 5.
Agravo regimental desprovido.
*noticiado no Informativo 772
ADI N 4.150-SP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
TRIBUNAL – COMPOSIÇÃO – QUINTO – ASSEMBLEIA LEGISLATIVA – PRONUNCIAMENTO – INADEQUAÇÃO. Conflita com a
Constituição Federal norma da Carta do Estado que junge à aprovação da Assembleia Legislativa a escolha de candidato à vaga do quinto em
Tribunal. Precedentes: Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.228, relator ministro Sepúlveda Pertence, e Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 202, relator ministro Octavio Gallotti, com acórdãos publicados no Diário da Justiça de 2 de junho de 1995 e 7 de março de
1997, respectivamente.
*noticiado no Informativo 775
ADO N. 6-PR
RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO. GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANÁ. ALEGADA
AUSÊNCIA DE INICIATIVA DO PROCESSO LEGISLATIVO QUANTO AOS ARTS. 39, § 4º, 128, § 5º, I, C , 135 e 144, § 9º, DA
CONSTITUIÇÃO, QUE DETERMINA A ADOÇÃO DO SUBSÍDIO COMO FORMA DE REMUNERAÇÃO PARA OS MEMBROS DO
MINISTÉRIO PÚBLICO, PROCURADORES DO ESTADO, DEFENSORES PÚBLICOS, POLICIAIS E INTEGRANTES DOS CORPOS DE
BOMBEIROS MILITARES. ILEGITIMIDADE QUANTO AO MINISTÉRIO PÚBLICO. PREJUDICIALIDADE RECONHECIDA NO TOCANTE
AOS DEMAIS AGENTES. AÇÃO CONHECIDA EM PARTE E JULGADA PREJUDICADA NA PARTE CONHECIDA.I - A remuneração dos
membros do Parquet deve ser fixada na forma do subsídio, porém, por iniciativa do Procurador-Geral de Justiça, pois a competência conferida ao
Ministério Público para propor a criação e extinção dos seus cargos compreende a de fixar os respectivos vencimentos. II - O modelo remuneratório
dos Defensores Públicos do Estado do Paraná foi alterado pela Lei Complementar estadual 136/2011, o que acarreta a perda superveniente de objeto
da ação no ponto. III - Idêntica situação de prejuízo desta ação verifica-se quanto ao modelo de remuneração dos policiais civis, diante do advento da
Lei estadual 17.170/2012, que instituiu o subsídio para a Polícia Civil e os Delegados do Estado do Paraná. IV - A Lei Complementar estadual
161/2013 alterou a remuneração da carreira de Procurador do Estado do Paraná para a forma de subsídio.V - Por seu turno, a Lei estadual
17.169/2012 dispôs sobre o subsídio da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Estado do Paraná.VI - Ação conhecida em parte e na parte
conhecida julgada prejudicada.
Acórdãos Publicados: 431

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


“Habeas Corpus” - Registro Histórico - Possibilidade de Impetração Simultânea com Recurso Especial ou Recurso
Extraordinário (Transcrições)
RHC 122.963/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: “HABEAS CORPUS” E RECURSO ESPECIAL: UTILIZAÇÃO SIMULTÂNEA. POSSIBILIDADE. ENTENDIMENTO
DIVERSO QUE, SE ACOLHIDO, IMPLICARIA GRAVÍSSIMA RESTRIÇÃO A UM FUNDAMENTAL INSTRUMENTO DE
PROTEÇÃO À LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO FÍSICA. EVOLUÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL EM TEMA DE “HABEAS CORPUS”: UM REGISTRO HISTÓRICO DE SEU ITINERÁRIO, DESDE A FORMULAÇÃO
DA DOUTRINA BRASILEIRA DO “HABEAS CORPUS” (PEDRO LESSA, ENÉAS GALVÃO E RUI BARBOSA) ATÉ A
RESTAURAÇÃO DE SUA FUNÇÃO CLÁSSICA A PARTIR DA REFORMA CONSTITUCIONAL DE 1926. DECISÃO DO E.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUE NEGOU SEGUIMENTO À AÇÃO DE “HABEAS CORPUS” AJUIZADA,
CONCOMITANTEMENTE, COM A INTERPOSIÇÃO, PELO PACIENTE, DE RECURSO ESPECIAL. JULGAMENTO QUE SE ACHA
EM DIRETO ANTAGONISMO COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO ORDINÁRIO
PROVIDO.
– A interposição de recurso especial e/ou de recurso extraordinário não impede a simultânea impetração, contra o mesmo acórdão, do
remédio constitucional do “habeas corpus”. Precedentes.
DECISÃO: Registro, preliminarmente, por necessário, que o Supremo Tribunal Federal, mediante edição da Emenda Regimental nº 30, de 29 de
maio de 2009, delegou expressa competência ao Relator da causa para, em sede de julgamento monocrático, denegar ou conceder a ordem de
“habeas corpus”, “ainda que de ofício”, desde que a matéria versada no “writ” em questão constitua “objeto de jurisprudência consolidada do
Tribunal” (RISTF, art. 192, “caput”, na redação dada pela ER nº 30/2009, aplicável à hipótese destes autos por efeito do art. 312 do RISTF).
Ao assim proceder, fazendo-o mediante interna delegação de atribuições jurisdicionais, esta Suprema Corte, atenta às exigências de
celeridade e de racionalização do processo decisório, limitou-se a reafirmar princípio consagrado em nosso ordenamento positivo (RISTF, art. 21,
§ 1º; Lei nº 8.038/90, art. 38; CPC, art. 557) que autoriza o Relator da causa a decidir, monocraticamente, o litígio, sempre que este referir-se a
tema já definido em “jurisprudência dominante” no Supremo Tribunal Federal.
Nem se alegue que essa orientação implicaria transgressão ao princípio da colegialidade, eis que o postulado em questão sempre restará
preservado ante a possibilidade de submissão da decisão singular ao controle recursal dos órgãos colegiados no âmbito do Supremo Tribunal
Federal, consoante esta Corte tem reiteradamente proclamado (RTJ 181/1133-1134, Rel. Min. CARLOS VELLOSO – AI 159.892-AgR/SP, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, v.g.).
A legitimidade jurídica desse entendimento decorre da circunstância de o Relator da causa, no desempenho de seus poderes processuais,
dispor de plena competência para exercer, monocraticamente, o controle das ações, pedidos ou recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal,
justificando-se, em consequência, os atos decisórios que, nessa condição, venha a praticar (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175 – RTJ 173/948),
valendo assinalar, quanto ao aspecto ora ressaltado, que este Tribunal, em decisões colegiadas (HC 96.821/SP, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI – HC 104.241-AgR/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO), reafirmou a possibilidade processual do julgamento monocrático do
próprio mérito da ação de “habeas corpus”, desde que observados os requisitos estabelecidos no art. 192 do RISTF, na redação dada pela Emenda
Regimental nº 30/2009.
Trata-se de recurso ordinário em “habeas corpus” interposto contra decisão que, emanada do E. Superior Tribunal de Justiça, acha-se
consubstanciada em acórdão assim ementado:
“AGRAVO REGIMENTAL NO ‘HABEAS CORPUS’. 1. IMPETRAÇÃO CONCOMITANTE COM RECURSO ESPECIAL.
PRECLUSÃO CONSUMATIVA. NÃO CONHECIMENTO. 2. SUSTENTAÇÃO ORAL NA SESSÃO DE JULGAMENTO DO AGRAVO
REGIMENTAL. IMPOSSIBILIDADE. 3. RECURSO IMPROVIDO.
1. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o postulado da unicidade merece ser compreendido como um
princípio geral, aplicando-se, desse modo, também ao processo penal. Assim, no momento em que a parte opta por determinado recurso,
opera-se a preclusão consumativa, desaparecendo a possibilidade de outras impugnações contra o mesmo ato judicial. Evita-se, dessa forma,
a proliferação de inconformidades, garantindo-se ao jurisdicionado maior segurança. Precedentes.
2. Nos termos dos arts. 91, inciso I, e 159, ‘caput’, do Regimento Interno desta Corte, o agravo regimental independe de inclusão em
pauta, sendo apresentado em mesa. Portanto, inviável o pedido de intimação da defesa técnica para a sessão de julgamento do mencionado
recurso, a fim de permitir a realização de sustentação oral. Precedentes.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.”
(HC 237.406-AgRg/DF, Rel. Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE – grifei)
Busca-se, nesta sede recursal, o “(...) conhecimento e provimento do recurso ordinário a fim de anular o julgamento proferido pela Egrégia
5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, determinando-se seja proferida decisão quanto à matéria de fundo contida no ‘habeas corpus’
237.406/DF” (grifei).
O Ministério Público Federal, em pronunciamento da lavra da ilustre Subprocuradora-Geral da República Dra. CLÁUDIA SAMPAIO
MARQUES, opinou pelo não provimento deste recurso ordinário em “habeas corpus”.
Sendo esse o contexto, passo a apreciar a causa ora em julgamento. E, ao fazê-lo, entendo assistir razão à parte recorrente.
Tenho para mim que a decisão emanada do E. Superior Tribunal de Justiça, objeto do presente recurso ordinário, mostra-se extremamente
restritiva quanto à utilização do “habeas corpus”, culminando por frustrar a aplicabilidade e a eficácia de um dos remédios constitucionais mais
caros à preservação do regime de tutela e amparo à liberdade de locomoção física das pessoas.
O E. Superior Tribunal de Justiça, no acórdão impugnado por este recurso ordinário, entendeu inadequada a utilização do remédio
constitucional do “habeas corpus”, porque impetrado, simultaneamente, com o recurso especial.
Preocupa-me abordagem tão limitativa das virtualidades jurídicas de que se acha impregnado o remédio constitucional do “habeas
corpus”, especialmente se se considerar o tratamento que o Supremo Tribunal dispensou a esse importantíssimo “writ” sob a égide da Constituição
de 1891.
Cabe fazer aqui um pequeno registro histórico concernente ao tratamento jurisprudencial que esta Suprema Corte conferiu ao remédio do
“habeas corpus” ao longo de nossa primeira Constituição republicana.
Foi no Supremo Tribunal Federal que se iniciou, sob a égide da Constituição republicana de 1891, o processo de construção jurisprudencial
da doutrina brasileira do “habeas corpus”, que teve, nesta Corte, como seus principais formuladores, os eminentes Ministros PEDRO LESSA e
ENÉAS GALVÃO.
A origem dessa formulação doutrinária reside nos julgamentos que, proferidos no célebre “Caso do Conselho Municipal do Distrito
Federal”, ampliaram, de modo significativo, o âmbito de incidência protetiva do remédio constitucional do “habeas corpus”.

Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


Refiro-me aos julgamentos plenários que esta Suprema Corte proferiu em 08/12/1909 (RHC 2.793/DF, Rel. Min. CANUTO SARAIVA),
em 11/12/1909 (HC 2.794/DF, Rel. Min. GODOFREDO CUNHA) e em 15/12/1909 (HC 2.797/DF, Rel. Min. OLIVEIRA RIBEIRO, e RHC
2.799/DF, Rel. Min. AMARO CAVALCANTI), além daquele que resultou na concessão, em 25/01/1911, do HC 2.990/DF, Rel. Min. PEDRO
LESSA.
As decisões proferidas em mencionados julgamentos revestem-se de aspecto seminal no que concerne ao próprio “corpus” doutrinário que
se elaborou, naquele particular momento histórico, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, no contexto da teoria brasileira do “habeas
corpus”, cuja incidência permitia, como já assinalado, o amparo jurisdicional de outros direitos, que não apenas o direito de ir, de vir e de
permanecer, desde que aqueles outros direitos guardassem relação de dependência ou tivessem por fundamento ou pressuposto a prática da
liberdade de locomoção física do indivíduo, tal como claramente expôs, em clássica monografia (“Do Poder Judiciário”, p. 285/287, § 61, 1915,
Francisco Alves), o eminente Ministro PEDRO LESSA:
“Algumas vezes, entretanto, a ilegalidade de que se queixa o paciente não importa a completa privação da liberdade individual.
Limita-se, a coação ilegal a ser vedada, unicamente à liberdade individual, ‘quando esta tem por fim próximo o exercício de um determinado
direito’. Não está o paciente preso, nem detido, nem exilado, nem ameaçado de imediatamente o ser. Apenas o impedem de ir, por exemplo,
a uma praça pública, onde se deve realizar uma reunião com intuitos políticos; a uma casa comercial, ou a uma fábrica, na qual é
empregado; a uma repartição pública, onde tem de desempenhar uma função, ou promover um interesse; à casa em que reside, ao seu
domicílio.
.......................................................................................................
Pouco importa a espécie de direitos que o paciente precisa ou deseja exercer. Seja-lhe necessária a liberdade de locomoção para pôr
em prática um direito de ordem civil, ou de ordem comercial, ou de ordem constitucional, ou de ordem administrativa, deve ser-lhe
concedido o ‘habeas-corpus’, sob a cláusula exclusiva de ser juridicamente indiscutível este último direito, o direito escopo. Para recolher à
casa paterna o impúbere transviado, para fazer um contrato ou um testamento, para receber um laudêmio, ou para constituir uma hipoteca;
para exercitar a indústria de transporte, ou para protestar uma letra; para ir votar, ou para desempenhar uma função política eletiva; para
avaliar um prédio e coletá-lo, ou para proceder ao expurgo higiênico de qualquer habitação; se é necessário garantir a um indivíduo a
liberdade de locomoção, porque uma ofensa, ou uma ameaça, a essa liberdade foi embaraço a que exercesse qualquer desses direitos, não
lhe pode ser negado ‘habeas-corpus’. (…).” (grifei)
Como salientado, a jurisprudência que se consolidou no Supremo Tribunal Federal, ao longo da Constituição de 1891, até a Reforma de 1926,
contemplava a possibilidade de utilização do remédio constitucional do “habeas corpus”, mesmo naqueles casos em que a liberdade de ir, de vir e
de permanecer pudesse ser afetada, ainda que de modo reflexo, por atos estatais supostamente abusivos ou ilegais (Revista Forense 34/505 – RF
36/192 – RF 38/213 – RF 45/183, v.g.):
“O ‘habeas-corpus’ é remédio legal para garantir a cidadão membro do poder legislativo municipal o livre exercício dos seus cargos
políticos.”
(RF 22/306, Rel. Min. MANOEL MURTINHO – grifei)
Vale mencionar, neste ponto, como registro histórico, que o Ministro ENÉAS GALVÃO, tal como relembrado por LÊDA BOECHAT
RODRIGUES (“História do Supremo Tribunal Federal”, vol. III/33-35, 1991, Civilização Brasileira), aprofundou, ainda mais, a discussão em torno
do alcance do “habeas corpus”, sustentando – para além do que preconizava PEDRO LESSA – que esse remédio constitucional deveria ter campo de
incidência muito mais abrangente, em ordem a proteger outros direitos, mesmo que estes não tivessem por fundamento o exercício da liberdade de
locomoção física, tal como o evidencia decisão emanada desta Corte Suprema consubstanciada em acórdão assim ementado:
“O ‘habeas-corpus’, conforme o preceito constitucional, não se restringe a garantir a liberdade individual, contra a prisão ou
ameaça de prisão ilegais, ampara, também, outros direitos individuais contra o abuso ou violência da autoridade.
Em casos semelhantes ao atual, o Tribunal tem concedido o ‘habeas-corpus’ para garantir a posse e exercício de Vereador eleito,
impedido pela autoridade de exercitar o cargo (…).”
(HC 3.983/MG, Rel. Min. CANUTO SARAIVA – grifei)
É importante relembrar, ainda, a decisiva participação de RUI BARBOSA nesse processo de construção hermenêutica que resultou na
elaboração da doutrina brasileira do “habeas corpus”.
O grande Advogado e jurisconsulto baiano, em discurso parlamentar proferido no Senado da República, na sessão de 22/01/1915 (“Obras
Completas de Rui Barbosa”, vol. XLII (1915), tomo II/89-161, 1981, MEC/Fundação Casa de Rui Barbosa), procedeu, de maneira bastante
eloquente, em seu último pronunciamento a propósito da intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro, a uma ampla análise do que significou,
para o País e para o regime das liberdades constitucionais, a formulação, pelo Supremo Tribunal Federal, da doutrina brasileira do “habeas corpus”.
Em decorrência da Reforma Constitucional de 1926, e com o restabelecimento da vocação histórica desse importantíssimo remédio
constitucional, tornou-se possível o conhecimento da ação de “habeas corpus” somente quando promovida contra ato estatal de que efetivamente
resulte, de modo direto e imediato, ofensa, atual ou iminente, à liberdade de locomoção física (RTJ 42/896 – RTJ 135/593 – RTJ 136/1226 – RTJ
152/140 – RTJ 178/1231 – RTJ 180/962 – RTJ 197/587-588, v.g.), restando incognoscível esse “writ” constitucional naquelas hipóteses em que
não haja situação de dano presente ou de risco potencial ao “jus manendi, ambulandi, eundi ultro citroque” (RTJ 186/261-262, Rel. Min. CELSO
DE MELLO).
Delineado, assim, esse itinerário que o “habeas corpus” percorreu em nosso sistema de direito positivo, e consolidada, hoje, a função
clássica que lhe é inerente – não obstante as vicissitudes impostas a esse importantíssimo remédio constitucional, tão temido por regimes
autocráticos, como o atesta o art. 10 do AI nº 5/68 –, causa-me preocupação a abordagem veiculada no acórdão ora recorrido, por implicar –
segundo entendo – gravíssima restrição a um fundamental instrumento de proteção jurisdicional da liberdade em nosso País.
Torna-se fácil concluir do que venho de expor que o E. Superior Tribunal de Justiça restringiu, excessivamente, no caso, o alcance do
remédio constitucional do “habeas corpus”, impondo-lhe condicionamentos que a jurisprudência desta Corte Suprema considera inadmissíveis.
Com efeito, o exame do contexto resultante dos presentes autos revela que o acórdão ora impugnado, emanado do E. Superior Tribunal de
Justiça, contraria orientação que esta Suprema Corte firmou no sentido de reconhecer admissível a impetração de “habeas corpus”, mesmo quando
simultaneamente interpostos recursos de índole extraordinária, como o recurso extraordinário e o recurso especial (HC 110.118/MS, Red. p/ o
acórdão Min. JOAQUIM BARBOSA – HC 110.935-AgR/SP, Rel. Min. ROBERTO BARROSO – HC 120.361/MG, Rel. Min. ROSA WEBER –
RHC 110.710/DF, Rel. Min. LUIZ FUX, v.g.).
“II. ‘Habeas-Corpus’ e recurso extraordinário: prejudicialidade.
O cabimento ou mesmo a interposição de recurso extraordinário não impede a impetração do ‘habeas-corpus’; mas a sucumbência
da defesa do acusado no RE ou no agravo contra seu indeferimento prejudica o conhecimento de ‘habeas-corpus’ que se funde na mesma
alegação anteriormente repelida pelo Supremo Tribunal.”
(HC 82.180/SP, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – grifei)

Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


“Criminal. Impetração de ‘habeas corpus’ substitutivo de recurso especial. Admissibilidade. Peculiaridades do caso concreto.
Concessão da ordem.
O eventual cabimento de recurso especial não constitui óbice à impetração de ‘habeas corpus’, desde que o direito-fim se identifique
direta e imediatamente com a liberdade de locomoção física do paciente.
‘Habeas corpus’ concedido, para que o STJ conheça e aprecie o mérito do HC 198.808/MG.”
(HC 109.664/MG, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA – grifei)
“Recurso ordinário constitucional. ‘Habeas corpus’. Negativa de seguimento pelo relator do ‘writ’ no Superior Tribunal de Justiça
confirmada pelo colegiado. Fundamento: agravo em recurso especial pendente de julgamento. Descabimento. Pressuposto de
admissibilidade não previsto na Constituição Federal. Precedentes. Recurso provido para determinar o exame de mérito do ‘habeas corpus’.
…...................................................................................................
2. É pacífico o entendimento da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal de que a interposição de recurso especial contra
acórdão de tribunal local não constitui óbice processual ao manejo concomitante do ‘habeas corpus’. Precedentes.
3. Recurso provido.”
(RHC 123.456/SP, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – grifei)
Sendo assim, e tendo em consideração as razões expostas, dou provimento ao presente recurso ordinário, em ordem a determinar que a
Quinta Turma do E. Superior Tribunal de Justiça examine, como entender de direito, o mérito do HC 237.406/DF.
Publique-se.
Brasília, 09 de março de 2015.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
*decisão publicada no DJe de 11.3.2015

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
16 a 20 de março de 2015

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - Processo civil - Norma infraconstitucional


Lei nº 13.105, de 16.3.2015 – Código de Processo Civil. Publicada no DOU, n. 51, Seção 1, p. 1-51, em
17.3.2015.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - Crime - Bebida alcoólica
Lei nº 13.106, de 17.3.2015 – Altera a Lei no 8.069, de 13.7.1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, para
tornar crime vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar bebida alcoólica a criança ou a adolescente; e revoga o inciso
I do art. 63 do Decreto-Lei no 3.688, de 3.10.1941 - Lei das Contravenções Penais. Publicada no DOU, n. 52, Seção 1,
p. 1, em 18.3.2015.
RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA - Pessoa jurídica - Atos - Administração pública
Decreto nº 8.420, de 18.3.2015 - Regulamenta a Lei no 12.846, de 1º.8.2013, que dispõe sobre a
responsabilização administrativa de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou
estrangeira e dá outras providências. Publicado no DOU, n. 53, Seção 1, p. 3, em 19.3.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES
16 a 20 de março de 2015

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)


Expediente Forense - Atendimento ao público - Secretaria - Prazo processual - Prorrogação
Portaria nº 60/STF, de 16.3.2015 – Comunica que fica suspenso o expediente na Secretaria do Tribunal nos dias
1º, 2 e 3.4.2015 e que os prazos que porventura devam iniciar-se ou completar-se nesses dias ficam automaticamente
prorrogados para o dia 6 de abril subsequente (segunda-feira). Publicada no DJE, n. 52, p. 274, em 18.3.2015.
Reserva de vaga - Cota racial - Concurso público - Cargo efetivo
Resolução nº 548/STF, de 18.3.2015 – Institui a reserva aos negros de 20% (vinte por cento) das vagas nos
concursos públicos para provimento de cargos efetivos no âmbito do Supremo Tribunal Federal. Publicada no DJE/STF,
n. 55, p. 3, em 20.3.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 778-STF (27/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista ou
adiamento: PSV 96/DF; PSV 26/DF; PSV 65/SP; PSV 57/DF; ACO 758/SE; ADI 4284/RR.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: CC 7706 AgR-segundo-ED-terceiros/SP; RE 816084 AgR/DF.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
 A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União.
 Súmula vinculante 38-STF: É competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento
comercial.
 Súmula vinculante 39-STF: Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias
civil e militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.

CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA
 Súmula vinculante 40-STF: A contribuição confederativa de que trata o artigo 8º, IV, da Constituição Federal, só é
exigível dos filiados ao sindicato respectivo.

DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
 Critério de desempate em concursos de remoção de serventias notariais e registrais.
SERVIDORES PÚBLICOS
 Súmula vinculante 42-STF: É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou
municipais a índices federais de correção monetária.
REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
 Lei estadual não pode incluir os titulares de serventias extrajudiciais no regime próprio de Previdência Social.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


PROGRESSÃO DE REGIME
 Estrangeiro com pedido de extradição já deferido.

DIREITO TRIBUTÁRIO
TAXAS
 Súmula vinculante 41-STF: O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.
ICMS
 É inconstitucional lei estadual que concede benefícios fiscais relacionados com o ICMS sem a prévia celebração de
convênio intergovernamental.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR
 Competência da Justiça estadual para julgar complementação de aposentadoria por entidades de previdência privada.

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO CONSTITUCIONAL

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União

A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União.


Logo, é inconstitucional lei estadual que verse sobre este tema, como é o caso de lei estadual
que dispõe sobre a organização dos serviços de telecomunicações, a criação e funcionamento
de um órgão regulador e outros aspectos institucionais.
STF. Plenário. ADI 2615/SC, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/3/2015 (Info 777).

A competência para legislar sobre telecomunicações é privativa da União, estando prevista nos art. 21, XI e
22, IV, da CF/88 :
Art. 21. Compete à União:
XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de
telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão
regulador e outros aspectos institucionais;

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

A Lei de que trata este inciso é a Lei n. 9.472/97, que dispõe sobre a organização dos serviços de
telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos institucionais.

Com base no que foi acima exposto, o STF julgou inconstitucional lei do Estado de SC que fixava as
condições de cobrança dos valores da assinatura básica residencial nos serviços de telefonia fixa.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

SÚMULA VINCULANTE 38-STF:


É competente o município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento
comercial.

Aprovada pelo Plenário do STF em 11/03/2015.

Conversão da súmula 645 do STF


A conclusão exposta nesta SV 38 já era p evistaàexp essa e teàe àu aàsú ulaà o u àdoà“TF,àaàsú ulaà
645 do STF (de 24/09/2003) e que tem exatamente a mesma redação.
Desse modo, o objetivo do STF foi o de reafirmar que o entendimento do enunciado 645 continua válido
atualmente e, além disso, conferir efeito vinculante a ele, fazendo com que se torne obrigatório para todos
os demais órgãos do Poder Judiciário e para a administração pública.

Histórico sobre o tema


Na década de 90, diversos Municípios brasileiros editaram leis fixando o horário de funcionamento de lojas,
bares, farmácias e outros estabelecimentos comerciais existentes em seu território.

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


Veja um exemplo concreto:
Lei Municipal n. 7.482/90 (Curitiba):
Art. 1º O funcionamento externo dos estabelecimentos comerciais e prestadores de serviço do Município
de Curitiba atenderá as disposições desta lei.
Art. 2º É livre o horário de atendimento ao público, observados os seguintes limites:
I - Das 9:00 às 19:00 horas, de segunda à sexta-feira;
II - Das 9:00 às 13:00 horas, aos sábados.
§ 1º - Os supermercados, nos setores de alimentação e similares, poderão funcionar de segunda à sábado,
das 9:00 às 21:00 horas.
(...)
§ 4º - O disposto no caput do presente artigo não se aplica aos seguintes estabelecimentos:
I - restaurantes, confeitarias, sorveterias, bares, cafés e similares;
II - mercearias, açougues, feiras e lojas de artesanato, bancas de jornais e revistas, floricultura, farmácias e
drogarias, cabeleireiros, barbeiros e funerárias;
II - hotéis e similares;
IV - postos de gasolina e estacionamento de veículos;
V - cinemas, teatros e casas de diversões públicas;
(...)

Os donos dos estabelecimentos comerciais atingidos começaram a questionar essas leis editadas ao redor
do país, sob o argumento de que esse assunto (horário de funcionamento dos estabelecimentos
o e iais à esta iaà ela io adoà o à Di eitoà Co e ial à eà Di eitoà doà T a alho ,à deà fo aà ueà taisà
Municípios teriam invadido a competência privativa da União prevista no art. 22, I, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho;

O argumento dos donos de estabelecimento foi aceito pelo STF? Tais leis municipais são inconstitucionais?
NÃO. O STF firmou o entendimento de que tais leis são CONSTITUCIONAIS.
Compete aos Municípios legislar sobre o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais
situados no âmbito de seus territórios.à Issoà po ueà essaà at iaà à e te didaà o oà se doà assu to de
interesse local ,à ujaà o pet iaà à u i ipal,à osàte osàdoàa t.à ,àI,àdaàCF/ :
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;

Cada cidade tem suas peculiaridades, tem seu modo de vida, umas são mais cosmopolitas, com estilo de
vida agitado, muitos serviços, turistas. Por outro lado, existem aquelas menos urbanizadas, com costumes
mais tradicionais etc. Assim, o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais deve atender a
essas características próprias, análise a ser feita pelo Poder Legislativo local.

Esse entendimento do STF foi reiterado inúmeras vezes ao ponto de a Corte editar um enunciado, em 2003,
explicitando a conclusão:
Súmula 645-STF (de 24/09/2003): É competente o Município para fixar o horário de funcionamento de
estabelecimento comercial.

Vale ressaltar que, sobre esse tema, já havia uma súmula mais antiga do STF que também espelhava, em
última análise, a mesma conclusão, apesar de ter sido editada sob a égide da CF/1946:

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Súmula 419-STF (de 01/06/1964): Os municípios tem competência para regular o horário do comércio local,
desde que não infrinjam leis estaduais obu federais válidas.

Por iniciativa do Min. Ricardo Lewandowski, atual Presidente da Corte, o Plenário do STF tem convertido
em súmulas vi ula tesàalgu asàsú ulasà o u s à o àoào jetivoàdeàagiliza àosàp o essosàeàpa ifi a àosà
temas. Essa súmula 645 foi uma das escolhidas e por isso sua redação foi transformada em súmula
vinculante.

Ressalva à SV 38-STF:
Existeàu aà ex eção à à“ú ulaàVi ulante 38: o horário de funcionamento dos bancos.

Segundo o STF e o STJ, as leis municipais não podem estipular o horário de funcionamento dos bancos.

A competência para definir o horário de funcionamento das instituições financeiras é da União. Isso porque
esse assunto (horário bancário) traz consequências diretas para transações comerciais intermunicipais e
interestaduais, transferências de valores entre pessoas em diferentes partes do país, contratos etc.,
situações que transcendem (ultrapassam) o interesse local do Município. Enfim, o horário de
funcionamento bancária é um assunto de interesse nacional (STF RE 118363/PR).

O STJ possui, inclusive, um enunciado que espelha esse entendimento:

Súmula 19-STJ: A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência da União.

Desse modo, a Súmula 19 do STJ é compatível com a Súmula Vinculante 38 do STF, ambas convivendo
harmonicamente.

Legislação sobre outros aspectos relacionados com os serviços bancários disponibilizados aos clientes
Vale ressaltar, por fim, que os Municípios podem legislar sobre medidas que propiciem segurança, conforto
e rapidez aos usuários de serviços bancários (STF ARE 691591 AgR/RS, julgado em 18/12/2012). Exs: tempo
xi oàdeàespe aà aàfilaà LeiàdasàFilas , instalação de banheiros e bebedouros nas agências, colocação de
cadeiras de espera para idosos, disponibilização de cadeiras de rodas, medidas para segurança dos clientes
etc. Tais assuntos, apesar de envolverem bancos, são considerados de interesse local e podem ser tratados
por lei municipal.

Resumindo. Lei municipal pode dispor sobre:


 Horário de funcionamento de estabelecimento comercial: SIM (SV 38).
 Horário de funcionamento dos bancos (horário bancário): NÃO (Súmula 19 do STJ).
 Medidas que propiciem segurança, conforto e rapidez aos usuários de serviços bancários: SIM.

Concursos
Súmula importantíssima para todos os concursos públicos, em especial os municipais.

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COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

SÚMULA VINCULANTE 39-STF:


Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias
civil e militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.

Aprovada pelo Plenário do STF em 11/03/2015.

Conversão da súmula 647 do STF


A conclusão exposta nesta SV 39 já era prevista em uma súmulaà o u àdoà“TF,àaàsú ulaà àdoà“TFà deà
24/09/2003) e que tem praticamente a mesma redação, tendo sido acrescentada, contudo, a menção ao
corpo de bombeiros, que não existia no enunciado original. Compare:
Súmula 647-STF: Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias
civil e militar do Distrito Federal.

Polícia civil, polícia militar e corpo de bombeiros militar do DF


As polícias civil e militar e o corpo de bombeiros militar são órgãos de segurança públicas estaduais. Em
outras palavras, são órgãos estruturados e mantidos pelos Estados-membros. Os vencimentos dos
membros das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros são fixados por meio de leis estaduais e os
recursos utilizados para pagamento são oriundos dos cofres públicos estaduais.
No caso do Distrito Federal, contudo, isso é diferente.
A CF/88 decidiu, por uma escolha política, que a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar
do Distrito Federal deveriam ser organizados e mantidos não pelo Distrito Federal, mas sim pela União
Gove oàFede al .àVeja:
Art. 21. Compete à União:
(...)
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal,
bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio
de fundo próprio;

Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo organizados e mantidos pelo Governo Federal, o Governo do
Distrito Federal poderá utilizar os serviços das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros militar, nos
termos da lei federal:
Art. 32. (...)
§ 4º - Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal, das polícias civil e militar e do
corpo de bombeiros militar.

Importante destacar, ainda, que as polícias civil e militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal,
mesmo sendo mantidas pela União, subordinam-se ao Governador do Distrito Federal (art. 144, § 6º).

Recapitulando. Polícia civil, polícia militar e o corpo de bombeiros militar do DF:


 Quem organiza e mantém: a União (art. 21, XIV);
 A quem estão subordinados: ao Governador do DF (art. 144, § 6º).

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Diante disso, surgiu a dúvida: quem tem competência para legislar sobre os vencimentos dos membros
das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal?
A União. Isso porque segundo o art. 21, XIV, da CF/88, compete à União ORGANIZAR e MANTER a polícia
civil as polícias civil e militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal. Ora, a organização dos
órgãos públicos, em regra, precisa ser feita por meio de lei. Além disso, manter tais órgãos significa dar os
recursos financeiros necessários à sua sobrevivência. Logo, compete à União legislar sobre os vencimentos
dos membros de tais instituições considerando que isso está abrangido no conceito de organizar e manter.

O então Min. Carlos Ayres Britto, durante debate de uma ADI no STF, afirmou, com muita sabedoria, que,
se fosse permitido que o Distrito Federal legislasse sobre os vencimentos dos membros das polícias civil e
militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal estaria sendo admitido que o Governo do DF
fizesseà o tesiaà o àoà hap uàalheio àpo ueà ue àvaiàa a à o àasàdespesasà àaàU iãoà “TF.àADI 1.045,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/4/2009).

Em suma, não haveria lógica em se admitir que o Distrito Federal tivesse competência para aumentar os
vencimentos dos policiais e bombeiros se não será ele quem ira pagar tal remuneração.

Concursos
Súmula menos importante para concursos públicos, salvo os do Distrito Federal.

CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA

SÚMULA VINCULANTE 40-STF:


A contribuição confederativa de que trata o artigo 8º, IV, da Constituição Federal, só é
exigível dos filiados ao sindicato respectivo.

Aprovada pelo Plenário do STF em 11/03/2015.

Conversão da súmula 666 do STF


áà o lusãoàexpostaà estaà“Và àj àe aàp evistaàe àu aàsú ulaà o u àdoà“TF,àaàsú ulaà àdoà“TFà deà
24/09/2003) e que tem a mesma redação.
Por iniciativa do Min. Ricardo Lewandowski, atual Presidente da Corte, o Plenário do STF tem convertido em
sú ulasàvi ula tesàalgu asàsú ulasà o u s à o àoào jetivoàdeàagiliza àosàp o essosàeàpa ifi a àosàte as.à
Essa súmula 666 foi uma das escolhidas e por isso sua redação foi transformada em súmula vinculante.

Contribuição sindical
Com o objetivo de garantir o seu custeio, a CF/88 assegurou às entidades sindicais duas contribuições
diferentes. Veja:
Art. 8º (...)
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada
em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente
da contribuição prevista em lei;

Desse modo, apesar de a redação do inciso ser um pouco truncada, é possível perceber que ele fala em
duas espécies de contribuição:
1ª) Contribuição fixada pela assembleia geral (destacada na primeira parte);
2ª) Contribuição prevista em lei (destacada na segunda parte).

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Confira as diferenças entre elas:

Contribuição CONFEDERATIVA Contribuição SINDICAL


Prevista na 1ª parte do art. 8º, IV, da CF/88. Prevista na 2ª parte do art. 8º, IV, da CF/88.
Ta à ha adaà deà o t i uiçãoà deà Ta à ha adaà deà i postoà si di al ,à
asse leia . expressão incorreta porque não é imposto.
NÃO é tributo. É um TRIBUTO.
Trata-se de contribuição parafiscal (ou especial).
É instituída pela União, mas a sua arrecadação é
destinada aos sindicatos.
Fixada pela assembleia geral do sindicato Instituída por meio de lei (obrigação ex lege).
(obrigação ex voluntate).
É VOLUNTÁRIA. É COMPULSÓRIA.
A contribuição confederativa é considerada como Deve ser paga por todos aqueles que fizerem
voluntária porque somente é paga pelas pessoas parte de uma determinada categoria econômica
que resolveram (optaram) se filiar ao sindicato. ou profissional, ou de uma profissão liberal, em
A contribuição confederativa de que trata o art. favor do sindicato representativo da mesma
8º, IV, da Constituição, só é exigível dos filiados ao categoria ou profissão ou, inexistindo este, à
sindicato respectivo (SV 40). Federação correspondente à mesma categoria
econômica ou profissional.
Aqui não tem jeito: se você é metalúrgico, p. ex.,
terá que pagar a contribuição sindical, mesmo que
não seja filiado ao sindicato. É um tributo.
NÃO precisa obedecer aos princípios tributários. DEVERÁ respeitar os princípios tributários
(legalidade, anterioridade etc.).

Logo que a CF/88 foi editada, os sindicatos quiseram emplacar a tese de que as duas espécies de
contribuição seriam obrigatórias, ou seja, a pessoa, mesmo sem ser filiada ao sindicato, deveria pagá-las.

O STF, contudo, rechaçou essa tese e, para pacificar o assunto, editou, em 2003, um enunciado:
Súmula 666-STF: A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição, só é exigível dos
filiados ao sindicato respectivo.

Por que a contribuição CONFEDERATIVA não é obrigatória para todos da categoria? Por que ela só é
exigível dos filiados ao sindicato?
Porque não existe uma lei que obrigue seu pagamento. A contribuição confederativa não é instituída por
lei, mas sim por decisão da assembleia geral. Ora, se a pessoa não é filiada ao sindicato, não há razão
jurídica que autorize que ela seja obrigada a pagar uma contribuição criada pela assembleia geral desse
sindicato do qual não faz parte.
O indivíduo somente pode ser obrigado a pagar algo se isso for determinado por meio de lei ou se ele
próprio se sujeitou a isso. Como a contribuição confederativa não é prevista em lei, somente será
obrigatória se o trabalhador se sujeitou à filiação junto àquele sindicato.

Para aqueles que fazem concursos trabalhistas, importante mencionar a posição do TST no mesmo sentido:
Precedente normativo 119-TST:
Nº 119 CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS - INOBSERVÂNCIA DE PRECEITOS CONSTITUCIONAIS – (mantido) - DEJT
divulgado em 25.08.2014
"A Constituição da República, em seus arts. 5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre associação e
sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção coletiva

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


ou sentença normativa estabelecendo contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa para
custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da
mesma espécie, obrigando trabalhadores não sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem
tal restrição, tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados."

Concursos
Súmula muito importante para todos os concursos públicos.

DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
Critério de desempate em concursos de remoção de serventias notariais e registrais

Importante!!!
A lei estadual do Estado X prevê que, em caso de empate entre os candidatos em concurso de
remoção para serventias notariais e registrais, o primeiro critério de desempate é o maior
tempo de serviço público.
Ocorre que a Lei Federal 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) determina que o primeiro critério
de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais
elevada (art. 27, parágrafo único).
Qual das duas legislações deverá prevalecer no caso?
A legislação estadual. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, não se aplica como critério de
desempate, no concurso público de remoção para outorga de delegação notarial e de registro,
quando existir lei estadual específica que regule o certame e traga regras aplicáveis em caso
de empate. Desse modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar com o candidato que tiver maior
tempo de serviço público (e não necessariamente com o mais idoso).
STF. 1ª Turma. MS 33046/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2015 (Info 777).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João, Carlos e outros candidatos estavam participando do concurso de remoção para o 1º Ofício de
Registro de Imóveis da capital.
João e Carlos terminaram o concurso empatados em 1º lugar com a mesma pontuação.
A lei estadual que rege o concurso para os serviços notariais e registrais do Estado prevê a seguinte regra:
Art. 11. Havendo empate entre os candidatos, a precedência na classificação será decidida de acordo com
os seguintes critérios, sucessivamente:
I – aquele que contar com maior tempo de serviço público;
II – o mais idoso.

João era tinha 10 anos de serviço público e Carlos, por seu turno, só possuía 7 anos.
Diante disso, o Tribunal de Justiça declarou que, pelo critério de desempate previsto na lei estadual, ele
figurou em 1º lugar no concurso de remoção, razão pela qual ficou com a titularidade do RI.

Estatuto do Idoso
Carlos, contudo, não concordou e impetrou mandado de segurança alegando que o art. 11 da Lei estadual
contraria o art. 27, parágrafo único da Lei Federal n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). Veja o que diz a Lei:
Art. 27. (...)
Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência
ao de idade mais elevada.

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Assim, como Carlos (55 anos) é mais velho que João (40 anos), pelo critério de idade, ele deveria ser
considerado o 1º colocado.

A tese de Carlos foi aceita pelo STF? E aso de o ursos pú li os e volve do artórios (serve tias
notariais e registrais), o primeiro critério de desempate deve ser obrigatoriamente a idade, por força do
Estatuto do Idoso?
NÃO. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, não se aplica como critério de desempate, no concurso público
de remoção para outorga de delegação notarial e de registro, quando existir lei estadual específica que
regule o certame e traga regras aplicáveis em caso de empate.
Desse modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar mesmo com João porque a legislação estadual não
prevê a idade como o primeiro critério de desempate, não se aplicando o Estatuto do Idoso.
No caso concreto, somente se poderia adotar o critério de desempate que privilegiasse o mais idoso, como
requeria o impetrante, se os candidatos tivessem também empatado quanto ao tempo de serviço público.

Mas neste caso não se estará negando vigência ao Estatuto do Idoso?


NÃO. Não se está negando vigência ao Estatuto do Idoso, responsável por concretizar os direitos
fundamentais da proteção do idoso na ordem jurídica brasileira, amparado nos princípios da cidadania e
da dignidade da pessoa humana. Ocorre que, nesse certame em particular, a lei estadual, por ser norma
especial a regular o concurso público de remoção para outorga de delegação notarial e de registro, deve
prevalecer sobre o Estatuto do Idoso no ponto em que trate de critérios de desempate.

SERVIDORES PÚBLICOS

SÚMULA VINCULANTE 42-STF:


É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou
municipais a índices federais de correção monetária.

Aprovada pelo Plenário do STF em 12/03/2015.

Conversão da súmula 681 do STF


áà o lusãoàexpostaà estaà“Và àj àe aàp evistaàe àu aàsú ulaà o u àdoà“TF,àaàsú ulaà àdoà“TFà deà
24/09/2003) e que tem a mesma redação.
Por iniciativa do Min. Ricardo Lewandowski, atual Presidente da Corte, o Plenário do STF tem convertido em
sú ulasàvi ula tesàalgu asàsú ulasà o u s à o àoào jetivoàdeàagiliza àosàp o essosàeàpa ifi a àosàte as.à
Essa súmula 681 foi uma das escolhidas e por isso sua redação foi transformada em súmula vinculante.

Remuneração de servidores vinculada a índices de correção monetária


Na época em que a inflação era ainda mais alta do que está atualmente, alguns Estados e Municípios, com
boa intenção, editaram leis prevendo que a remuneração de seus servidores seria automaticamente
reajustada de acordo com índices oficiais de correção monetária fornecidos por órgãos e entidades
federais. Veja o seguinte exemplo concreto:
Lei Estadual n. 9.061/90 (Rio Grande do Sul):
Art. 6º - Os vencimentos dos quadros de Pessoal do Estado de que trata o art. 1º desta Lei serão
reajustados nos meses de maio e julho de 1990.

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


§ 1º Quando o índice oficial da inflação correspondente aos meses de março e de maio for superior a 20%,
se ãoà o edidasà a te ipaçõesà dosà eajustesà efe idosà oà aput ,à osà eses de abril e de junho,
respectivamente, que representarão a diferença entre aquele índice e o aludido percentual.

Valeà essalta à ueàoàí di eà ofi ial àdeài flaçãoà àoàIPCáà Í di eàNa io alàdeàP eçosàaoàCo su ido àá plo ,à
que é produzido pelo IBGE (fundação federal). Desse modo, o IPCA, por ser calculado pelo IBGE, é
considerado um índice federal de correção monetária.

A previsão dessas Leis (como a acima mencionada) é constitucional?


NÃO. O STF entendeu que é INCONSTITUCIONAL a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores
estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária.

Violação à autonomia dos entes


Os Estados-membros e os Municípios são autônomos (art. 18 da CF/88).
Como entes autônomos, eles devem ter a liberdade de organizar seus órgãos públicos e respectivos
servidores, fixando, inclusive, a remuneração de tais agentes.
Se a lei estadual ou municipal prevê que a remuneração dos servidores estaduais ou municipais ficará
vinculada (atrelada) a índices federais de correção monetária, isso significa que, em última análise, quem
terá o poder de reajustar ou não os vencimentos dos servidores estaduais ou municipais será a União.
Dessa feita, isso retira do Poder Legislativo estadual ou municipal a autonomia de definir os reajustes dos
servidores.
Se a lei estadual/municipal diz que os vencimentos dos servidores serão reajustados sempre que for
reajustado o IPCA, na verdade, quem estará aumentando ou não a remuneração dos servidores
estaduais/municipais será o IBGE (e não o respectivo ente).

Art. 37, XIII, da CF/88


Além disso, o STF também afirma que essa vinculação viola o art. 37, XIII, da CF/88:
Art. 37 (...)
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de
remuneração de pessoal do serviço público;

Concursos
Súmula menos importante para concursos públicos.

REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL


Lei estadual não pode incluir os titulares de serventias extrajudiciais
no regime próprio de Previdência Social

Duas Leis estaduais incluíram no regime próprio de Previdência Social os titulares de


serventias extrajudiciais (notários e registradores).
Tais leis foram declaradas inconstitucionais.
Os titulares de serventias notariais e registrais exercem atividade estatal, entretanto não são
titulares de cargo público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Não são servidores
públicos. Logo, a eles não se aplica o regime próprio de Previdência Social previsto para os
servidores públicos (art. 40 da CF/88).
Desse modo, a lei estadual não poderia tê-los incluído no regime próprio de previdência social.
As leis estaduais acima desviaram-se do modelo previsto na CF/88 e usurparam a competência
da União para legislar sobre o tema.
STF. Plenário. ADI 4639/GO e ADI 4641/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 11/3/2015 (Info 777).

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


Leis estaduais incluíam titulares de serventia no regime de Previdência Social
Duas Leis estaduais (uma de GO e outra de SC) incluíram no regime próprio de Previdência Social os
titulares de serventias extrajudiciais (notários e registradores).
A Lei de SC incluía todos os titulares de serventias notariais e de registro na categoria de segurados
obrigatórios do regime próprio de previdência dos servidores do Estado.
A Lei de GO criou um regime diferenciado para os titulares de serviços notariais e registrais.

Tais leis são constitucionais?


NÃO. Os titulares de serventias notariais e registrais exercem atividade estatal, entretanto não são
titulares de cargo público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Não são servidores públicos. Logo, a
eles não se aplica o regime próprio de Previdência Social previsto para os servidores públicos (art. 40 da
CF/88). Um exemplo disso é que não se aposentam compulsoriamente aos 70 anos de idade (STF. Plenário.
ADI 2602/MG. Rel. p/ Acórdão Min. Eros Grau, julgado em 24/11/2005).
Desse modo, a lei estadual não poderia tê-los incluído no regime próprio de previdência social. Os notários
e registradores são segurados obrigatórios do regime geral de previdência social (administrado pelo INSS),
ostentando a condição de contribuintes individuais.
Além disso, a lei goiana possuía outros vícios porque criou um sistema previdenciário inédito para esses
titulares de serventia, com condições de contribuição, elegibilidade e cobertura diferentes. Em outras
palavras, o legislador previu condições diferenciadas que não existiam nem no RGPS nem no RPPS. Era
assi àu à odeloàalte ativo .
Desse modo, o STF entendeu que as leis estaduais acima desviaram-se do modelo previsto na CF/88 e
usurparam a competência da União para legislar sobre o tema já que tratavam sobre integrantes do RGPS.

Modulação dos efeitos


Em nome da segurança jurídica, o STF resolveu modular os efeitos da decisão e afirmou que deveria ser
preservada a situação dos segurados (aposentados e pensionistas) que estejam percebendo benefício
previdenciário ou tenham reunido condições para receber os benefícios previstos nas leis invalidadas até a
data da publicação da ata do julgamento.
Em outras palavras, as pessoas que, na ata de publicação do julgamento, já tinham se aposentado ou já
haviam reunido os requisitos para se aposentar poderão continuar gozando do benefício previdenciário
previsto nas leis impugnadas, mesmo elas já tendo sido declaradas inconstitucionais.

Modulação dos efeitos em processos objetivos de constitucionalidade


No julgamento de ADI, ADC ou ADPF, a Lei prevê expressamente que o STF poderá modular os efeitos da
decisão que julga determinado ato contrário à CF.
Em outras palavras, a Lei permite que o STF determine que os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade somente valham a partir da decisão proferida (ex nunc) ou ainda a partir de
determinada data futura (efeitos prospectivos).

Lei 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança
jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços
de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de
seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

Mesma regra pode ser encontrada no art. 11 da Lei n. 9.882/99.


Regra: efeitos EX TUNC (retroativos)
Excepcionalmente o STF pode, pelo voto de, no mínimo, 8 Ministros (2/3):
* restringir os efeitos da declaração; ou Desde que haja razões de:
* decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado; ou * segurança jurídica; ou
* de outro momento que venha a ser fixado. * excepcional interesse social.

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL
CONCURSO PÚBLICO
Critério de desempate em concursos de remoção de serventias notariais e registrais

Importante!!!
A lei estadual do Estado X prevê que, em caso de empate entre os candidatos em concurso de
remoção para serventias notariais e registrais, o primeiro critério de desempate é o maior
tempo de serviço público.
Ocorre que a Lei Federal 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) determina que o primeiro critério
de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais
elevada (art. 27, parágrafo único).
Qual das duas legislações deverá prevalecer no caso?
A legislação estadual. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, não se aplica como critério de
desempate, no concurso público de remoção para outorga de delegação notarial e de registro,
quando existir lei estadual específica que regule o certame e traga regras aplicáveis em caso
de empate. Desse modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar com o candidato que tiver maior
tempo de serviço público (e não necessariamente com o mais idoso).
STF. 1ª Turma. MS 33046/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2015 (Info 777).

APOSENTADORIA
Lei estadual não pode incluir os titulares de serventias extrajudiciais
no regime próprio de Previdência Social

Duas Leis estaduais incluíram no regime próprio de Previdência Social os titulares de


serventias extrajudiciais (notários e registradores).
Tais leis foram declaradas inconstitucionais.
Os titulares de serventias notariais e registrais exercem atividade estatal, entretanto não são
titulares de cargo público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Não são servidores
públicos. Logo, a eles não se aplica o regime próprio de Previdência Social previsto para os
servidores públicos (art. 40 da CF/88).
Desse modo, a lei estadual não poderia tê-los incluído no regime próprio de previdência social.
As leis estaduais acima desviaram-se do modelo previsto na CF/88 e usurparam a competência
da União para legislar sobre o tema.
STF. Plenário. ADI 4639/GO e ADI 4641/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 11/3/2015 (Info 777).

Veja comentários em Direito Administrativo.

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


DIREITO PROCESSUAL PENAL

PROGRESSÃO DE REGIME
Estrangeiro com pedido de extradição já deferido

Importante!!!
O estrangeiro que cumpre pena no Brasil pode ser beneficiado com a progressão de regime?
SIM. Não existe motivo para negar aos estrangeiros que cumprem pena no Brasil os benefícios
da execução penal, dentre eles a progressão de regime. Isso porque a condição humana da
pessoa estrangeira submetida a pena no Brasil é protegida constitucionalmente e no âmbito
dos direitos humanos. Assim, em regra, é plenamente possível a progressão de regime para
estrangeiros que cumpram pena no Brasil.
Vale ressaltar, no entanto, que essa providência (progressão) será ineficaz até que o STF
delibere acerca das condições da prisão para extradição. Em outras palavras, é possível que
seja deferida a progressão de regime ao apenado que aguarda o cumprimento da ordem de
extradição, mas isso só poderá ser concretizado pelo juízo das execuções (juiz de 1ª instância)
depois que o STF concordar. Cabe ao STF deliberar acerca de eventual adaptação das
condições da prisão para extradição ao regime prisional da execução penal. Assim, depois que
o juízo da execução afirmar que os requisitos para a progressão estão preenchidos, deverá
ainda o STF verificar se a concessão do regime semiaberto ou aberto ao extraditando não irá
causar risco à garantia da ordem garantia da ordem pública, da ordem econômica, à
conveniência da instrução criminal, nem à aplicação da lei penal pública (art. 312 do CPP).
STF. 2ª Turma. Ext 893 QO/República Federal da Alemanha, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
10/3/2015 (Info 777).

O estrangeiro que cumpre pena no Brasil tem direito aos benefícios da execução penal (ex.: saída
temporária etc.)?
SIM. O fato de o reeducando ser estrangeiro, por si só, não é motivo suficiente para inviabilizar os
benefícios da execução penal.

O estrangeiro que cumpre pena no Brasil pode ser beneficiado com a progressão de regime?
SIM. Conforme dito acima, não existe motivo para negar aos estrangeiros que cumprem pena no Brasil os
benefícios da execução penal, dentre eles a progressão de regime. Isso porque a condição humana da pessoa
estrangeira submetida a pena no Brasil é protegida constitucionalmente e no âmbito dos direitos humanos.
Assim, em regra, é plenamente possível a progressão de regime para estrangeiros que cumpram pena no Brasil.

Caso concreto julgado


No caso concreto julgado pelo STF, a 2ª Turma da Corte decidiu adaptar a prisão preventiva para fins de
extradição de cidadão alemão extraditando às condições do regime semiaberto.
ML , alemão, está preso em uma unidade prisional de Santa Catarina cumprindo pena por crime que
praticou no Brasil.
Na Alemanha, ML está sendo acusado de outros crimes que teria cometido lá e já teve a sua extradição
deferida pelo STF, não tendo sido, ainda, extraditado porque sua pena aqui não chegou ao fim.
De acordo com o art. 89 da Lei 6.815/1980 (Estatuto do Estrangeiro), a extradição está condicionada ao
cumprimento de pena condenatória imposta no Brasil. Veja o que diz a Lei:
Art. 89. Quando o extraditando estiver sendo processado, ou tiver sido condenado, no Brasil, por crime
punível com pena privativa de liberdade, a extradição será executada somente depois da conclusão do
processo ou do cumprimento da pena, ressalvado, entretanto, o disposto no artigo 67.

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


Ocorre que ML preencheu os requisitos objetivos e subjetivos necessários à progressão de regime e surgiu a
dúvida: ele poderá ir para o regime semiaberto mesmo aguardando a extradição? O apenado poderá
progredir para o regime semiaberto, mesmo havendo uma ordem de extradição ainda não cumprida?
SIM. Segundo afirmou o Min. Relator Gilmar Mendes a prisão para extradição não impede o juízo da
exe uçãoàpe alàdeàdefe i àp og essãoàdeà egi e,à oàe ta to,àessaàp ovid iaàse ài efi azàat à ueàoà“TFà
delibere acerca das condiçõesàdaàp isãoàpa aàext adição .
Em outras palavras, é possível que seja deferida a progressão de regime ao apenado que aguarda o
cumprimento da ordem de extradição, mas isso só poderá ser concretizado pelo juízo das execuções (juiz
de 1ª instância) depois que o STF concordar.
Para o Ministro, cabe ao STF deliberar acerca de eventual adaptação das condições da prisão para extradição ao
regime prisional da execução penal. Assim, depois que o juízo da execução afirmar que os requisitos para a
progressão estão preenchidos, deverá ainda o STF verificar se a concessão do regime semiaberto ou aberto ao
extraditando não irá causar risco à garantia da ordem garantia da ordem pública, da ordem econômica, à
conveniência da instrução criminal, nem à aplicação da lei penal pública (art. 312 do CPP). Dessa feita, em
outros termos, mesmo tendo sido preenchidos os requisitos para a progressão, o STF ainda analisaria se, para
os fins de extradição, é necessário ou não que ele permaneça em regime fechado.
No caso dos autos, o Relator destacou que a manutenção da prisão para extradição em regime fechado
era desnecessária, sendo possível, portanto, que ele fosse para o regime semiaberto mesmo estando
aguardando a extradição.
Assim, a 2ª Turma do STF assegurou que ML possa cumprir o restante da pena com os benefícios do
regime semiaberto, podendo ter direito, inclusive, às saídas temporárias ao trabalho externo.

DIREITO TRIBUTÁRIO

TAXAS

SÚMULA VINCULANTE 41-STF:


O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.

Aprovada pelo Plenário do STF em 11/03/2015.

Conversão da súmula 670 do STF


áà o lusãoà expostaà estaà “Và à j à e aà p evistaà e à u à e u iadoà o u à doà “TF,à aà sú ulaà à deà
24/09/2003) e que tem a mesma redação.
Por iniciativa do Min. Ricardo Lewandowski, atual Presidente da Corte, o Plenário do STF tem convertido em
sú ulasàvi ula tesàalgu asàsú ulasà o u s à o àoào jetivoàdeàagiliza àosàp o essosàeàpa ifi a àosàte as.à
Essa súmula 670 foi uma das escolhidas e por isso sua redação foi transformada em súmula vinculante.

Quantas e quais são as espécies de tributos?


A redação literal do CTN prevê apenas três espécies, mas o STF e a doutrina majoritária apontam cinco. Veja:
CTN (art. 5º) STF e doutrina majoritária
Teoria tripartida, tricotômica ou tripartite. Teoria pentapartida ou quinquipartida

Existem 3 espécies de tributos: Existem 5 espécies de tributos:


a) Impostos a) Impostos
Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14
b) Taxas b) Taxas
c) Contribuições de melhoria c) Contribuições de melhoria
d) Empréstimos compulsórios
e) Contribuições especiais

O que são as taxas?


A taxa é uma espécie de tributo paga pelo contribuinte:
- em virtude de um serviço prestado pelo Poder Público; ou
- em razão do exercício da atividade estatal de poder de polícia.

Características
Diz-se que a taxa é um tributo bilateral, contraprestacional, sinalagmático ou vinculado. Isso porque a taxa
é um tributo vinculado a uma atividade estatal específica, ou seja, a Administração Pública só pode cobrar
se, em troca, estiver prestando um serviço público ou exercendo poder de polícia.
Há, portanto, obrigações de ambas as partes. O poder público tem a obrigação de prestar o serviço ou
exercer poder de polícia e o contribuinte a de pagar a taxa correspondente.

Previsão
A disciplina sobre as taxas está prevista no art. 145, II da CF/88 e no art. 77 do CTN.

Quem pode instituir taxa?


A União, os Estados, o DF e os Municípios.
Trata-se de tributo de competência comum.
A taxa será instituída de acordo com a competência de cada ente. Ex.: Município não pode instituir uma
taxa pela emissão de passaporte, uma vez que essa atividade é de competência federal.
Logo, a competência para a instituição das taxas está diretamente relacionada com as competências
constitucionais de cada ente.

Espécies de taxas
As taxas podem ter dois fatos geradores:
 o exercício regular do poder de polícia; ou
 a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou
posto à sua disposição (art. 77 do CTN).

Com base nisso, pode-se dizer que existem duas espécies de taxa:
 taxa de polícia;
 taxa de serviço.

Taxa de serviço (ou de utilização)


O Estado poderá cobrar um valor para cobrir os custos dos serviços públicos que preste às pessoas. A isso
se dá o nome de taxa de serviço.

Para que seja cobrada a taxa, é necessário que o contribuinte use, de forma efetiva, o serviço público?
NÃO necessariamente. O Estado poderá cobrar a taxa não apenas quando prestar o serviço ao contribuinte,
mas também pelo simples fato de colocar o serviço à disposição das pessoas. Em outras palavras, estando o
serviço à disposição da população, é possível a instituição da taxa, ainda que não haja sua efetiva utilização.
É o caso, por exemplo, de uma pessoa que tenha um apartamento fechado. Mesmo não produzindo lixo, irá
pagar a taxa pelo serviço de coleta domiciliar de lixo.

É possível instituir taxa para custear qualquer serviço público?


NÃO. O poder público somente poderá cobrar taxa para custear serviços públicos específicos e divisíveis.
Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15
O que são serviços públicos ESPECÍFICOS?
O art. 79, II do CTN afirma que serviço público específico ou singular (uti singuli) é aquele que pode ser
destacado em unidades autônomas de intervenção, de unidade, ou de necessidades públicas.
Em palavras mais simples que a do Código, serviço específico é aquele no qual é possível identificarmos
quem é o usuário efetivo. Desse modo, o serviço específico é aquele que beneficia um número
determinado de pessoas.

O que são serviços públicos DIVISÍVEIS?


O art. 79, III do CTN afirma que serviço público divisível é aquele suscetível de utilização, separadamente,
por parte de cada um dos seus usuários.
Dito de outra forma, serviço público divisível é aquele que traz um benefício individualizado para cada
contribuinte.

Em suma, a taxa de serviço será cobrada em razão de um serviço público:


 específico e divisível,
 utilizado pelo usuário de maneira efetiva ou potencial.

Obs: você pode estar sentindo alguma dificuldade de conceituar e imaginar, na prática, o que são os
serviços específicos e divisíveis. Não se preocupe, no entanto, porque essa dificuldade existe também na
doutrina. Para fins de concurso, normalmente é cobrada apenas de definição dada pela própria lei e a
relação dos serviços que, segundo a jurisprudência, são considerados como específicos e divisíveis. Não
perca muito tempo querendo aprofundar o tema.

Exemplos de taxas de serviço:


 Custas judiciais e emolumentos.
 Serviço de coleta domiciliar de lixo.

Taxa de ilu i ação pú li a


Os serviços de iluminação pública (luzes que iluminam as cidades à noite) são de responsabilidade dos
Municípios em virtude de ser considerado um serviço de interesse local (art. 30 da CF/88).
Como os custos para manter esse serviço são muito altos, diversos Municípios instituíram, por meio de leis
municipais, a cobrança de um valor a ser pago pelas pessoas que tivessem conta de energia elétrica. Essa
cobrança já vinha diretamente na fatura da energia elétrica. As leis municipais diziam que estavam criando
u aà taxaàdeàse viço à taxaàdeàilu i açãoàpú li a .
Diversos contribuintes questionaram essa cobrança alegando que o serviço de iluminação pública não é
específico e divisível. Logo, não poderia ser remunerado mediante taxa.

A questão chegou até o STF. É possível instituir taxa para custear os serviços prestados pelo Município
com a iluminação pública? Em outras palavras, a iluminação dos postes nas vias públicas possui um
custo, que é suportado pelos Municípios. É permitido que tais entes cobrem uma taxa dos usuários para
remunerar esse serviço?
NÃO. O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.
Conforme vimos acima, o poder público somente poderá cobrar taxa para custear serviços públicos
específicos e divisíveis.
O serviço público de iluminação pública não é específico e divisível. Isso porque não é possível mensurar
(medir, quantificar) o quanto cada pessoa se beneficiou pelo fato de haver aquela iluminação no poste.
Uma pessoa que anda muito à pé, à noite, se beneficia, em tese, muito mais do que o indivíduo que quase
não sai de casa, salvo durante o dia. Apesar de ser possível presumir que tais pessoas se beneficiam de

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


forma diferente, não há como se ter certeza e não existe um meio de se controlar isso. Todo mundo (ou
quase todo mundo) acaba pagando igual, independentemente do quanto cada um usufruiu.
Perceba, assim, que o serviço de iluminação pública, em vez de ser específico e divisível, é, na verdade,
geral (beneficia todos) e indivisível (não é possível mensurar cada um dos seus usuários).

Como observa Ricardo Alexandre;


Nosà se viçosà pú li osà ge ais,à ta à ha adosà u ive saisà p estadosà uti universi), o benefício abrange
indistintamente toda a população, sem destinatários identificáveis. Tome-se, a título de exemplo, o serviço
de iluminação pública. Não há como identificar seus beneficiários (a não ser na genérica expressão
oletividade . Qualquer eleição de sujeito passivo pareceria arbitrária. Todos os que viajam para Recife,
sejam oriundos de São Paulo, do Paquistão ou de qualquer outro lugar, utilizam-se do serviço de iluminação
pública recifense, sendo impossível a adoção de qualquer critério razoável de mensuração do grau de
utilizaçãoài dividualàdoàse viço. à Direito Tributário esquematizado. São Paulo: Método, 2013, p. 29).

COSIP
Dia teà dasà eite adasà de isõesà judi iaisà de la a doà asà taxasà deà ilu i açãoà pú li a à i o stitu io ais, os
Municípios que perderam essa fonte de receita começaram a pressionar o Congresso Nacional para que
dessem uma solução ao caso. Foi então que, nos últimos dias de 2002, foi aprovada a EC 39/2002 que
arrumou uma forma de os Municípios continuarem a receber essa quantia.
O modo escolhido foi criar uma contribuição tributária destinada ao custeio do serviço de iluminação
pública. Sendo uma contribuição, não havia mais a exigência de que o serviço público a ser remunerado
fosse específico e divisível. Logo, o problema anterior foi contornado.
Essa contribuição, chamada pela doutrina de COSIP, foi introduzida no art. 149-A da CF/88:
Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis,
para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III.
Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura de consumo de
energia elétrica.
(artigo incluído pela Emenda Constitucional nº 39/2002)

Dessa forma, o serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa (SV 41). No entanto,
os Municípios poderão instituir contribuição para custeio desse serviço (art. 149-A da CF/88).

Pouca importância prática


Penso que a transformação do enunciado 670 em súmula vinculante tem pouca relevância pratica. Isso
porque desde 2002, ou seja, há mais de uma década, já existe a previsão da COSIP no art. 149-A da CF/88.
Logo, há muitos anos os Municípios revogaram suas leis que previam taxas de iluminação pública e
passaram a cobrar a COSIP. Com isso, quero dizer que a discussão sobre o tema (inconstitucionalidade da
cobrança de taxa de iluminação pública), se ainda houver, diz respeito apenas a uma pequena parcela de
processos antigos, anteriores à 2002.

Concursos
Para fins de concurso, contudo, súmula é importante e você deve conhecer.

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ICMS
É inconstitucional lei estadual que concede benefícios fiscais relacionados com o ICMS sem a
prévia celebração de convênio intergovernamental

É inconstitucional lei estadual que concede benefícios fiscais relacionados com o ICMS sem a
prévia celebração de convênio intergovernamental (art. 55, § º, XII, g , da CF/88 e LC
24/1975).
No caso concreto, o STF julgou inconstitucionais dispositivos da lei estadual que previam
parcelamento do pagamento de ICMS em quatro anos sem juros e correção monetária e
também os artigos que conferiam créditos fictícios de ICMS de forma a reduzir artificialmente
o valor do tributo. Além disso, a Corte entendeu inconstitucional dispositivo que autorizava o
Governador do Estado a conceder benefício fiscal por ato infralegal, tendo havido violação à
regra da reserva legal (art. 150, § 6º, da CF/88).
Por outro lado, o STF considerou constitucional dispositivo de lei estadual que estabeleceu a
suspensão do pagamento do ICMS incidente sobre a importação de matéria-prima ou de
material intermediário, e transferiu o recolhimento do tributo do momento do desembaraço
aduaneiro para o momento de saída dos produtos industrializados do estabelecimento. O
Supremo entendeu que tais dispositivos são constitucionais porque a jurisprudência permite o
legislador estadual, mesmo sem convênio, preveja o diferimento (retardamento) do
recolhimento do valor devido a título de ICMS se isso não implicar redução ou dispensa do
valor devido. Diferir o recolhimento do valor não significa benefício fiscal e, portanto, não
precisa da prévia celebração de convênio.
Modulação dos efeitos. O STF decidiu modular os efeitos da decisão para que ela tenha eficácia
somente a partir da data da sessão de julgamento. Ponderou que se trata de benefícios
tributários inconstitucionais, mas que se deveria convalidar os atos jurídicos já praticados,
tendo em vista a segurança jurídica e a pouca previsibilidade, no plano fático, quanto às
consequências de eventual decretação de nulidade desses atos, existentes no mundo jurídico
há anos. Deve-se chamar atenção para esse fato porque, em regra, a jurisprudência do
Supremo não tem admitido a modulação dos efeitos nessas hipóteses.
STF. Plenário. ADI 4481/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 11/3/2015 (Info 777).

Determinada Lei do Estado do Paraná concedeu benefícios fiscais relacionados com o ICMS.
Tal lei foi impugnada e o STF decidiu que alguns dispositivos nela previstos eram inconstitucionais.
Segundo jurisprudência consolidada no STF, a concessão unilateral de benefícios fiscais relativos ao ICMS
sem a prévia celebração de convênio intergovernamental, nos termos da LC 24/1975, afronta o art. 155, §
2º, XII, g , da CF/88, que estabelece o seguinte:
CF/88
Art. 155 (...) § 2º (...)
XII - cabe à lei complementar:
(...)
g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e
benefícios fiscais serão concedidos e revogados.

LC 24/75
Art. 1º As isenções do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias serão concedidas ou
revogadas nos termos de convênios celebrados e ratificados pelos Estados e pelo Distrito Federal, segundo
esta Lei.

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


O objetivo dessa vedação é o de evitar aà ha adaà gue aà fis al ,à ouà seja,à ueà osà Estados-membros
fiquem concedendo benefícios para tornarem-se mais atrativos para a instalação de empresas em seus
territórios. Veja uma ementa recente que espelha esse entendimento:
(...) Revela-se inconstitucional a concessão unilateral, por parte de Estado-membro ou do Distrito Federal,
sem anterior convênio interestadual que a autorize, de quaisquer benefícios tributários referentes ao
ICMS, tais como, exemplificativamente, (a) a outorga de isenções, (b) a redução de base de cálculo e/ou de
alíquota, (c) a concessão de créditos presumidos, (d) a dispensa de obrigações acessórias, (e) o diferimento
do prazo para pagamento e (f) o cancelamento de notificações fiscais. (...)
(STF. Plenário. ADI 4635 MC-AgR-Ref, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 11/12/2014)

Veja os dispositivos da Lei paranaense que foram julgados pelo STF:


 A t.à º,à aput ,à I e parágrafo único e art. 5º da Lei impugnada: estabelecem a suspensão do
pagamento do ICMS incidente sobre a importação de matéria-prima ou de material intermediário, e
transferem o recolhimento do tributo do momento do desembaraço aduaneiro para o momento de
saída dos produtos industrializados do estabelecimento. O STF entendeu que tais dispositivos são
CONSTITUCIONAIS. Isso porque a jurisprudência permite o legislador estadual, mesmo sem convênio,
preveja o diferimento (retardamento) do recolhimento do valor devido a título de ICMS se isso não
implicar redução ou dispensa do valor devido. Diferir o recolhimento do valor não significa benefício
fiscal e, portanto, não precisa da prévia celebração de convênio.

 Dispositivos que previam parcelamento do pagamento de ICMS em quatro anos sem juros e correção
monetária e também os artigos que conferiam créditos fictícios de ICMS de forma a reduzir
artificialmente o valor do tributo: o STF julgou INCONSTITUCIONAIS. Entendeu-se que haveria aí
concessão indevida de benefício fiscal.

 Dispositivo que autorizava o Governador do Estado a conceder benefício fiscal por ato infralegal:
INCONSTITUCONAL. Há aqui afronta à regra da reserva legal (art. 150, § 6º, da CF/88).

Modulação dos efeitos


O STF decidiu modular os efeitos da decisão para que ela tenha eficácia somente a partir da data da sessão
de julgamento. Ponderou que se trata de benefícios tributários inconstitucionais, mas que se deveria
convalidar os atos jurídicos já praticados, tendo em vista a segurança jurídica e a pouca previsibilidade, no
plano fático, quanto às consequências de eventual decretação de nulidade desses atos, existentes no
mundo jurídico há anos. Entretanto, o STF deixou claro que não poderia permitir que novos atos
inconstitucionais fossem praticados.
Deve-se chamar atenção para a decisão do STF de modular a declaração de inconstitucionalidade. Isso
porque, em regra, a jurisprudência do Supremo não tem admitido a modulação dos efeitos da declaração
de inconstitucionalidade em casos de leis estaduais que instituem benefícios sem o prévio convênio
exigido pelo art. 155, § 2º, inciso XII, da CF/88. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 3794 ED, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 18/12/2014.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR
Competência da Justiça estadual para julgar complementação de
aposentadoria por entidades de previdência privada

Segundo a jurisprudência do STF e do STJ, compete à Justiça COMUM ESTADUAL (e não à


Justiça do Trabalho) julgar demandas que envolvam a complementação de aposentadoria por
entidades de previdência privada.
STF. Plenário. CC 7706 AgR-segundo-ED-terceiros/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12/3/2015
(Info 777).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi admitido como empregado em determinada empresa privada no dia 02/02/1980, tendo esta se
comprometido, no contrato de trabalho, a conceder aposentadoria suplementar ao valor pago pelo INSS
no momento em que o trabalhador viesse a se aposentar. Segundo o contrato, esta complementação seria
feita por meio de plano de previdência privada fechado, administrado por uma Fundação (entidade de
previdência privada) ligada à empresa.
No dia 02/02/2013, o trabalhador aposentou-se.
A Fundação, ao calcular o valor da suplementação da aposentadoria, aplicou um fator diverso do que
previsto no regulamento do plano de previdência assinado, o que fez com que o benefício do empregado
ficasse menor do que teria realmente direito.
Diante disso, João quer ajuizar uma ação de complementação da aposentadoria contra a empresa e a
Fundação a ela ligada (entidade de previdência privada).

De quem é a competência para julgar tal demanda? Justiça do Trabalho ou Justiça comum?
R: Da Justiça COMUM ESTADUAL. Este é o entendimento do STJ e do STF.

No caso em tela, a causa de pedir é o contrato de previdência privada celebrado entre o autor da ação e a
entidade de previdência privada (fundação ligada à empresa).

As entidades de previdência privada são pessoas jurídicas de direito privado que custeiam previdência
complementar e possuem autonomia financeira, realizando atividades de natureza civil (Min. Luis Felipe
Salomão, CC 116.228).

Não há relação de natureza trabalhista entre o beneficiário da previdência complementar e a entidade de


previdência privada. O contrato celebrado entre a entidade e o beneficiário está submetido às regras de
direito civil, envolvendo apenas indiretamente questões de direito do trabalho. Nesse sentido, confira-se o
§ 2º do art. 202 da CF/88:
§ 2° As contribuições do empregador, os benefícios e as condições contratuais previstas nos estatutos,
regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada não integram o contrato de trabalho
dos participantes, assim como, à exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração dos
participantes, nos termos da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

Desse modo, cabe à Justiça estadual apreciar questões referentes ao seu fiel cumprimento.

Vale ressaltar que não importa a natureza da verba que se pretende incluir no cálculo de previdência
complementar. Será sempre competência da Justiça comum porque a discussão é contratual (nesse
sentido: STJ. EAg 1.301.267-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgados em 23/5/2012).

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


JULGADOS NÃO COMENTADOS

Conflito de competência e art. 115 do CPC


O Plenário acolheu embargos de declaração, com efeitos modificativos, para conhecer de conflito de
competência e assentar a competência da justiça comum para o processamento e julgamento de processos
que tratam de complementação de aposentadoria. O Tribunal afirmou que, em regra, a admissão do
conflito de competência, com base no art. 115, III do CPC, exigiria divergência entre juízos diversos quanto
à reunião ou separação dos feitos. Todavia, seria cabível, por meio de interpretação extensiva do art. 115
do CPC, o acolhimento do incidente, mesmo quando não houvesse a apontada divergência. Esse
entendimento ficaria evidenciado, sobretudo, em ações conexas, com possibilidade de prolação de
decisões conflitantes em trâmite perante justiças distintas, no bojo das quais o apontamento de conexão
não se demonstrasse suficiente à definição da competência para seu processamento e julgamento.
Ademais, o caso concreto trataria de demandas em trâmite perante a justiça comum e a justiça trabalhista,
em que se discutiria complementação de aposentadoria com decisões conflitantes já proferidas, a justificar
o conhecimento do conflito. Além disso, seria inaplicável a regra de solução de conexão entre os feitos
prevista no art. 105 do CPC, uma vez que as ações tramitariam perante juízos com competência material
distinta.
CC 7706 AgR-segundo-ED-terceiros/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 12.3.2015. (CC-7706)

Prescrição não tributária e Enunciado 8 da Súmula Vinculante - 3


Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma, por maioria, deu provimento a agravo regimental em recurso
ext ao di ioà pa aà afi a à ueà oà E u iadoà à daà “ú ulaà Vi ula teà doà “TFà “ãoà i o stitu io aisà oà
parágrafo único do artigo 5º do Decreto-lei nº 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que
tratam deàp es içãoàeàde ad iaàdeà ditoàt i ut io à ãoàseàapli aàaosà asosàdeàp es içãoàdeà ditosà
não tributários. Na espécie, o acórdão recorrido entendera que a pretensão da União de executar crédito
inscrito em dívida ativa, decorrente de multa administrativa imposta em razão de descumprimento da
legislação trabalhista, por possuir natureza administrativa, sujeitar-se-ia à prescrição quinquenal de que
trata o art. 1º do Decreto 20.910/1932, aplicável ao caso analogicamente. A União invocara em seu favor o
parágrafo único do art. 5º do Decreto-leià . / à “e àp ejuízoàdaài id iaàdaàatualizaçãoà o et iaà
e dos juros de mora, bem como da exigência da prova de quitação para com a Fazenda Nacional, o Ministro
da Fazenda poderá determinar a não inscrição como Dívida Ativa da União ou a sustação da cobrança
judi ialà dosà d itosà deà o p ovadaà i exe ui ilidadeà eà deà eduzidoà valo .à Oà a gu e to,à po ,à fo aà
afastadoàpeloàt i u alà aà uo ,àte doàe à o taàoà efe idoàe u iadoàsu ula à— v. informativos 767 e 770.
A Turma, inicialmente, assentou que a matéria em análise possuiria envergadura constitucional,
notadamente por envolver a interpretação do aludido enunciado e a sua eventual incidência sobre os
créditos não tributários. Aduziu, então, que o texto do parágrafo único do art. 5º do Decreto-lei 1.569/1977
a a ge iaàduasàdife e tesà o as:àa àaàapli açãoàdoà aput àdoàa t.à ºàda ueleàdiplo aà o ativo,à o àaà
o se ue teà suspe sãoà daà p es içãoà deà ditosà t i ut ios;à eà à aà apli açãoà doà aput à doà es o
dispositivo, com a suspensão da prescrição de créditos não tributários. No entanto, segundo se
depreenderia da análise dos precedentes que deram origem ao Enunciado 8 da Súmula Vinculante,
somente a primeira norma teria sido submetida à apreciação da Corte e considerada inconstitucional por
ofensa ao art. 18, § 1º, da CF/1969, que exigia lei complementar para tratar de normas gerais de direito
tributário. Extrair-se-ia desses precedentes, portanto, o sentido de que o parágrafo único do art. 5º do
Decreto-lei 1.569/1977 teria sido declarado inconstitucional apenas na parte em que se referisse à
suspensão da prescrição dos créditos tributários, por se exigir, quanto ao tema, lei complementar. Teria
permanecido, assim, com presunção de constitucionalidade a segunda norma do dispositivo, isto é, a
suspensão da prescrição de créditos não tributários. Vencidos os Ministros Marco Aurélio (relator) e Rosa
Weber, que negavam provimento ao agravo.
RE 816084 AgR/DF , rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 10.3.2015.

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 9 a março de de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 790.813-SP


RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. DIAS TOFFOLI
Direito constitucional. Convivência entre princípios. Limites. Recurso extraordinário em que se discute a existência de violação do princípio do
sentimento religioso em face do princípio da liberdade de expressão artística e de imprensa. Publicação, em revista para público adulto, de ensaio
fotográfico em que modelo posou portando símbolo cristão. Litígio que não extrapola os limites da situação concreta e específica. Plenário Virtual.
Embora o Tribunal, por unanimidade, tenha reputado constitucional a questão, reconheceu, por maioria, a inexistência de sua repercussão geral.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 845.779-SC
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: TRANSEXUAL. PROIBIÇÃO DE USO DE BANHEIRO FEMININO EM SHOPPING CENTER. ALEGADA VIOLAÇÃO À
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A DIREITOS DA PERSONALIDADE. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. O recurso busca
discutir o enquadramento jurídico de fatos incontroversos: afastamento da Súmula 279/STF. Precedentes. 2. Constitui questão constitucional saber se
uma pessoa pode ou não ser tratada socialmente como se pertencesse a sexo diverso do qual se identifica e se apresenta publicamente, pois a
identidade sexual está diretamente ligada à dignidade da pessoa humana e a direitos da personalidade 3. Repercussão geral configurada, por envolver
discussão sobre o alcance de direitos fundamentais de minorias – uma das missões precípuas das Cortes Constitucionais contemporâneas –, bem como
por não se tratar de caso isolado.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 778.889-PE
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: PERÍODO DE LICENÇA-MATERNIDADE. SERVIDORAS PÚBLICAS. EQUIPARAÇÃO ENTRE GESTANTES E ADOTANTES.
PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. Constitui questão constitucional saber se a lei pode ou não instituir prazos diferenciados para a
licença-maternidade concedida às servidoras gestantes e às adotantes, especialmente à luz do art. 227, § 6º, da CF/88. 2. Repercussão geral
reconhecida.
Decisões Publicadas: 3

CLIPPING DO D JE
9 a 13 de março de 2015

AR N. 1.699-DF
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
MANDADO DE SEGURANÇA – PARTE PASSIVA. No mandado de segurança, é parte passiva a pessoa jurídica de direito público que deve suportar
os efeitos de decisão favorável à impetração.
MANDADO DE SEGURANÇA – DECADÊNCIA – RELAÇÕES JURÍDICAS MÚLTIPLAS. Em se tratando de relações jurídicas diversas, sem
haver o litisconsórcio necessário, descabe cogitar de obrigatoriedade de impetração conjunta.
AÇÃO RESCISÓRIA – ACÓRDÃO RESCINDENDO – LIMITES. A ação rescisória é norteada pelos limites do acórdão rescindendo, quer sob o
ângulo subjetivo, quer sob o ângulo objetivo, não se podendo presumir pronunciamento judicial no que deve vir ao mundo jurídico devidamente
fundamentado.
*noticiado no Informativo 772
ADI N 4.925-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL 12.635/07, DE SÃO PAULO. POSTES DE SUSTENTAÇÃO DA REDE ELÉTRICA.
OBRIGAÇÃO DE REMOÇÃO GRATUITA PELAS CONCESSIONÁRIAS EM PROVEITO DE CONVENIÊNCIAS PESSOAIS DOS
PROPRIETÁRIOS DE TERRENOS. ENCARGOS EXTRAORDINÁRIOS NÃO PREVISTOS NOS CONTRATOS DE CONCESSÃO DE
ENERGIA ELÉTRICA. RELEVÂNCIA JURÍDICA DA TESE DE USURPAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS FEDERAIS PARA DISPOR SOBRE O
TEMA.1. Tendo em vista (a) a simplicidade da questão de direito sob exame; (b) a exaustividade das manifestações aportadas aos autos; e (c) a baixa
utilidade da conversão do rito inicial adotado para o presente caso, a ação comporta julgamento imediato do mérito. Medida sufragada pelo Plenário
em questão de ordem.2. As competências para legislar sobre energia elétrica e para definir os termos da exploração do serviço de seu fornecimento,
inclusive sob regime de concessão, cabem privativamente à União, nos termos dos art. 21, XII, “b”; 22, IV e 175 da Constituição. Precedentes.3. Ao
criar, para as empresas que exploram o serviço de fornecimento de energia elétrica no Estado de São Paulo, obrigação significativamente onerosa, a
ser prestada em hipóteses de conteúdo vago (“que estejam causando transtornos ou impedimentos”) para o proveito de interesses individuais dos
proprietários de terrenos, o art. 2º da Lei estadual 12.635/07 imiscuiu-se indevidamente nos termos da relação contratual estabelecida entre o poder federal
e as concessionárias.4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.
*noticiado no Informativo 774
EMB.DECL. NO ARE N.853.228-RS
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS DE DECISÃO MONOCRÁTICA. CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. APLICAÇÃO
DA SISTEMÁTICA DA REPERCUSSÃO GERAL PELO TRIBUNAL DE ORIGEM (ART. 543-B DO CPC). INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


PREVISTO NO ART. 544 DO CPC. NÃO CABIMENTO. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS AO
TRIBUNAL DE ORIGEM PARA JULGAMENTO DO RECURSO COMO AGRAVO INTERNO. CABIMENTO SOMENTE PARA OS
RECURSOS INTERPOSTOS ANTES DE 19/11/2009. CONFIGURAÇÃO DE ERRO GROSSEIRO. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
I - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido do não cabimento do agravo previsto no art. 544 do Código de Processo Civil
para atacar decisão a quo que aplica a sistemática da repercussão geral (AI 760.358-QO/SE, Rel. Min. Gilmar Mendes).
II - Inaplicável o princípio da fungibilidade recursal para se determinar a conversão do presente recurso em agravo regimental a ser apreciado pela origem,
porquanto esta Corte fixou o entendimento de que após 19/11/2009, data em que julgado o AI 760.358-QO/SE, a interposição do agravo previsto no art. 544
do CPC configura erro grosseiro.
III - Agravo regimental a que se nega provimento.
AG.REG. NO ARE N. 846.845- ES
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. REELABORAÇÃO DA
MOLDURA FÁTICA. PROCEDIMENTO VEDADO NA INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA. ÓBICE DA SÚMULA 279/STF. ALEGAÇÃO DE
OFENSA AO ART. 5º, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. DEVIDO PROCESSO
LEGAL. NATUREZA INFRACONSTITUCIONAL DA CONTROVÉRSIA. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O MANEJO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 04.6.2014.
Obstada a análise da suposta afronta aos incisos II, LIV e LV do artigo 5º da Carta Magna, porquanto dependeria de prévia análise da legislação
infraconstitucional aplicada à espécie, procedimento que refoge à competência jurisdicional extraordinária desta Corte Suprema, a teor do art. 102 da
Magna Carta.
Divergir do entendimento adotado no acórdão recorrido demanda a reelaboração da moldura fática delineada na origem, o que torna oblíqua e reflexa
eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário.
As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à
ausência de ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.
Agravo regimental conhecido e não provido.
REFERENDO EM MED.CAUT. EM ADC N 27-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PROCESSO OBJETIVO – LIMINAR – APRECIAÇÃO – COLEGIADO. Cumpre ao Colegiado o exame de pedido de liminar, apenas cabendo a
atuação individual do relator ante a impossibilidade de atuação, a tempo, do Órgão Maior.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE – REFERENDO. Uma vez não atendidos os requisitos de relevância e urgência,
incumbe indeferir o pleito de implemento de medida acauteladora.

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Processo Legislativo - Controle Jurisdicional - Cessação Superveniente do Mandato Parlamentar do Impetrante - Extinção
do Processo (Transcrições)
MS 33.444-MC/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: CONTROLE JURISDICIONAL DO PROCESSO LEGISLATIVO. UTILIZAÇÃO, PARA TANTO, DO MANDADO DE
SEGURANÇA. POSSIBILIDADE, DESDE QUE IMPETRADO O “WRIT” CONSTITUCIONAL POR MEMBRO DO CONGRESSO
NACIONAL. LEGITIMAÇÃO ATIVA “AD CAUSAM” QUE DEVE ESTAR PRESENTE, NO ENTANTO, JUNTAMENTE COM AS
DEMAIS CONDIÇÕES DA AÇÃO, NÃO SÓ NO INSTANTE DA PROPOSITURA DA DEMANDA, COMO, TAMBÉM, NO MOMENTO
DA RESOLUÇÃO DO LITÍGIO (CPC, ART. 462). CESSAÇÃO SUPERVENIENTE DO MANDATO PARLAMENTAR DO
IMPETRANTE. RELAÇÃO DE CONTEMPORANEIDADE, NÃO MAIS EXISTENTE, ENTRE A CONDIÇÃO JURÍDICA DE
CONGRESSISTA E A FASE DECISÓRIA DO MANDADO DE SEGURANÇA. EXTINÇÃO ANÔMALA DO PROCESSO
MANDAMENTAL. DOUTRINA. PRECEDENTES ESPECÍFICOS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. MANDADO DE
SEGURANÇA NÃO CONHECIDO.
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado contra omissão “do Presidente da Mesa Diretora da
Câmara dos Deputados”, com o objetivo de assegurar ao ora impetrante, embora presentemente extinto o seu mandato parlamentar, o direito de
“apresentar suas Emendas Parlamentares” e de vê-las “recebidas e apreciadas pelo relator”, ordenando-se, ainda, “a imediata suspensão das
Emendas Parlamentares apresentadas pelo deputado **”.
A presente impetração mandamental apoia-se, em síntese, nos seguintes fundamentos:
“1. O impetrante é Deputado Federal, tendo assumido o cargo recentemente através de decisão nos autos do Mandado de Segurança
32.957, em trâmite nessa Corte Suprema, proferida em 18.06.2014. Ocorre que a nomeação só aconteceu em 18.12.2014, tendo a autoridade
coatora desobedecido à ordem judicial por seis meses.
…...................................................................................................
3. Portanto, conforme consta no trecho citado, quando vagou a cadeira do deputado eleito, foi determinada a posse de suplente que já
não mais poderia assumir o cargo, dada a incidência do instituto da infidelidade partidária (primeiro, segundo e terceiro suplentes já não
mais pertenciam aos quadros do Partido **). Por tal motivo, o impetrante requereu ao eg. STF o reconhecimento da sua aptidão e a imediata
ocupação do cargo. A decisão do STF foi rápida, mas somente ocorreu a sua efetivação ao final de um périplo de exatos 6 (seis) meses, pois a
Mesa Diretora da Câmara protelou sua nomeação.
…...................................................................................................

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23


6. Excelência, a segurança que ao final requerer-se-á, diz respeito à apresentação de emendas parlamentares ao Orçamento Geral da
União, prerrogativa conferida ao parlamentar pela Resolução n.º 01/2006 do Congresso Nacional, uma vez que o prazo final para a
apresentação destas foi dia 17.12.2014, coincidentemente um dia antes do cumprimento da decisão do STF pela autoridade coatora.
7. Em razão do impetrante não estar no cargo seu de direito, as emendas apresentadas pelo deputado empossado ilegalmente foram
acolhidas e, o mais grave, o agora deputado não poderá apresentar nenhuma proposta ao orçamento.
8. Com efeito, o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias no Congresso Nacional e as Emendas Parlamentares ainda não foram
votados e encontram-se em análise do relator.
9. Dessa forma, com o direito legítimo de apresentar as referidas Emendas Parlamentares, o impetrante se socorre do Colendo
Tribunal para que sua pretensão seja resguardada, ou seja, para que seu direito à apresentação de emendas possa ser garantido.
…...................................................................................................
10. Conforme narrado acima, o impetrante deveria tomar posse no cargo de Deputado Federal em 18.06.2014, por força de
determinação judicial liminar proferida pelo Supremo Tribunal Federal, nos autos do Mandado de Segurança 32.957. (...):
…....................................................................................................
11. Destarte, em consequência da omissão da autoridade coatora, a participação do parlamentar no Orçamento Geral da União foi
inibida, pois só foi empossado no cargo em 18.12.2014, seis meses após a determinação judicial, e um dia depois do prazo para apresentação
de suas emendas ao orçamento se esgotar, permitindo, assim, que fossem analisados e aprovados os projetos do deputado que errônea e
ilegalmente ocupava a cadeira do parlamentar.
12. Logo, a autoridade coatora afrontou o princípio da legalidade por descumprimento a literal dispositivo de lei, permitindo que
outra pessoa se apropriasse da cadeira de direito do impetrante, até 17.12.2014.
13. Ademais, a Mesa Diretora também afrontou o princípio da moralidade, pois acolheu as emendas apresentadas pelo deputado que
ocupava a cadeira do Impetrante, apesar de ter sido previamente notificada sobre tal situação e que deveria ser dada a posse IMEDIATA (em
18/06/2014) ao impetrante.
…...................................................................................................
19. Destarte, ante as circunstâncias envoltas ao caso em apreço, o presente caso merece uma melhor reflexão, pois trata-se de uma
situação ‘sui generis’, uma vez que o impetrante não estava investido no cargo, justamente por culpa exclusiva da Mesa Diretora da Câmara
dos Deputados, e não por sua própria vontade, como por exemplo, para concorrer a outro cargo público, ou licença por determinado motivo.
20. Ademais, o comando de uma resolução do Congresso Nacional, ainda que possua o poder de Lei Ordinária, não pode beneficiar
um parlamentar que não estava legalmente investido no cargo de Deputado Federal.
21. Desse modo, a interpretação dada ao referido diploma deve ser flexibilizada, sob o pálio dos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, devendo ser garantido ao legitimado, ora impetrante, o direito sobre deliberação das vinte e cinco propostas de Emendas
Parlamentares, conforme previsto no art. 49 da Resolução 01/2006 do Congresso Nacional.
22. Cumpre ressaltar que, embora as Emendas Parlamentares já tenham sido apresentadas, estas ainda não foram objeto de
apreciação e parecer preliminar do relator no Congresso, possibilitando o deferimento do presente pedido liminar, inclusive para evitar ao
final do ‘writ’, se mantida a segurança, o que se espera, a decisão final seja ineficaz.” (grifei)
Observo, desde logo, tal como reconhecido pelo próprio impetrante, que este já não mais exerce o mandato de Deputado Federal.
Com efeito, o ora impetrante, que era suplente, somente veio a exercer o mandato parlamentar nos últimos dias da sessão legislativa de 2014,
em decorrência do afastamento, por ordem judicial, do Deputado Federal **, como registra o Diário da Câmara dos Deputados (edição de
18/12/2014):
“CÂMARA DOS DEPUTADOS
ATO DA PRESIDÊNCIA N. , de 2014
Afasta do exercício do mandato parlamentar o Senhor Deputado ** (**) e convoca para assumir a vaga decorrente o Senhor
** (**), ‘ad referendum’ da Mesa Diretora.
O PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, no uso de suas atribuições regimentais, notadamente aquela a que se refere o
artigo 15, parágrafo único, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, dando cumprimento à decisão do Supremo Tribunal Federal na
Medida Cautelar no Mandado de Segurança n. 32.957/DF, RESOLVE, ‘ad referendum’ da Mesa Diretora:
Afastar do exercício do mandato de Deputado Federal o Senhor **, nome parlamentar ** (**). Ato contínuo, convocar, para
assumir o mandato na vaga decorrente, o Senhor ** (**), o seguinte na ordem de suplência ainda filiado ao Partido **.
Sala de Reuniões, em 17 de dezembro de 2014.
Deputado **
Presidente” (grifei).
Impende registrar, por relevante, que o ora impetrante não se elegeu para a legislatura de 2015/2019.
Passo a examinar, assim, o pleito em causa. E, ao fazê-lo, entendo que a cessação superveniente da condição de membro do Congresso
Nacional, como sucedeu na espécie, qualifica-se como causa geradora da extinção anômala deste processo mandamental.
Cumpre ressaltar, no ponto, que tal situação tem efeito desqualificador da legitimidade ativa do congressista que, apoiado nessa específica
condição político-jurídica, ajuizou, no penúltimo dia da legislatura de 2011/2015 (30/01/2015), ação de mandado de segurança com o objetivo de
questionar a validade jurídica das “emendas parlamentares apresentadas” pelo Deputado **.
A atualidade do exercício do mandato parlamentar configura, nesse contexto, situação legitimante e necessária tanto para a instauração
quanto para o prosseguimento da causa perante o Supremo Tribunal Federal.
Inexistente, originariamente, essa situação, ou, como se registra no caso, configurada a ausência de tal condição, em virtude da cessação
superveniente do mandato parlamentar no Congresso Nacional, impõe-se a declaração de extinção do processo de mandado de segurança, porque
ausente a legitimidade ativa “ad causam” do ora impetrante, que não mais ostenta a condição de membro de qualquer das Casas do Congresso
Nacional.
Impende referir, por oportuno, a lição de NELSON NERY JÚNIOR (“Revista de Processo”, vol. 42/201), para quem “As condições da
ação, vale dizer, as condições para que seja proferida sentença sobre a questão de fundo (mérito), devem vir preenchidas quando da propositura da
ação e devem subsistir até o momento da prolação da sentença. Presentes quando da propositura, mas eventualmente ausentes no momento da
prolação da sentença, é vedado ao juiz pronunciar-se sobre o mérito, já que o autor não tem mais direito de ver a lide decidida” (grifei).
Vê-se, desse modo, que os requisitos de admissibilidade do “jus actionis”, dentre os quais – vale enfatizar – situa-se a legitimação ativa “ad
causam”, devem estar presentes não só no momento em que proposta a demanda, mas, por igual, também no instante em que vá ser proferido o
julgamento da lide, pois o ordenamento processual impõe que o Poder Judiciário, no momento de proferir a decisão, tome em consideração, mesmo
“ex officio”, fatos supervenientes à instauração do processo, tais como aqueles que se refiram, p. ex., à ausência, ainda que ulterior, de qualquer das
condições da ação.

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24


Se é certo, portanto, que o Supremo Tribunal Federal tem reiteradamente proclamado, em favor dos congressistas – e apenas destes –, o
reconhecimento de seu direito público subjetivo à regular participação no processo legislativo e à correta elaboração das leis e das emendas à
Constituição, não é menos exato que prestigioso magistério doutrinário, por conferir relevo jurídico a esse fato, tem exigido que as condições da
ação estejam igualmente presentes no momento em que a causa deva ser julgada (HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, “Curso de Direito
Processual Civil”, Vol. I, p. 326, 52ª ed., 2011, Forense; LUIZ GUILHERME MARINONI e DANIEL MITIDIERO, “Código de Processo Civil”, p.
260, 2ª ed., 2010, RT; ANTÔNIO CLÁUDIO DA COSTA MACHADO, “Código de Processo Civil Interpretado”, p. 547, 2ª ed., 2008, Manole;
JOÃO ROBERTO PARIZATTO, “Código de Processo Civil Comentado”, vol. 1, p. 4, 2008, Edipa, v.g.), como resulta claro de expressivo
precedente emanado do Plenário desta Suprema Corte:
“Voto de liderança. Legitimidade ‘ad causam’.
Se, embora, ao ser iniciado o julgamento do ‘mandamus’, possuía o impetrante legitimidade ‘ad causam’ para a impetração, mas veio
a seguir a perdê-la, antes de que fosse aquele concluído, é de ver considerado prejudicado o ‘writ’, por deixar de existir o pressuposto
essencial de legítimo interesse.”
(RTJ 123/31, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO – grifei)
Vale referir, no ponto, por extremamente oportuno, o douto magistério de CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO (“Instituições de Direito
Processual Civil”, vol. II, p. 325-326, item n. 554, 6ª ed., 2009, Malheiros), que, a propósito do tema concernente à relação de contemporaneidade
entre a prolação da sentença, de um lado, e a existência de interesse e legitimidade, de outro, assim se pronuncia:
“As partes só poderão ter o direito ao julgamento do mérito quando, no momento em que este está para ser pronunciado, estiverem
presentes as três condições da ação. Se alguma delas não existia no início mas ainda assim o processo não veio a ser extinto, o juiz a terá por
satisfeita e julgará a demanda pelo mérito sempre que a condição antes faltante houver sobrevindo no curso do processo. Inversamente, se a
condição existia de início e já não existe agora, o autor carece de ação e o mérito não será julgado. Na experiência processual do dia-a-dia
são muito mais freqüentes os casos de condições que ficam excluídas (pedido prejudicado).
.......................................................................................................
Essa posição, generalizada na doutrina e acatada pelos tribunais, tem assento jurídico-positivo no art. 462 do Código de Processo
Civil, segundo o qual ‘se depois da propositura da ação algum fato constitutivo, modificado ou extinto do direito influir no julgamento da
lide, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de-ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a sentença’. Cumpre-lhe, pois,
segundo esse dispositivo, levar em conta os fatos novos que implementem uma condição antes ausente ou que excluam uma que existia.”
(grifei)
Desse modo, e se a legitimação “ad causam” compreende uma relação de pertinência entre os sujeitos processuais e a relação de direito
material deduzida em juízo, torna-se claro que, não mais subsistindo a situação legitimadora da qualidade para agir (cessação superveniente, na
espécie, da condição de parlamentar), deixa de existir, por completo, o próprio interesse processual na solução do litígio, eis que, se se reputasse
lícito o prosseguimento desta ação mandamental, estar-se-ia reconhecendo, agora, “legitimatio ad causam” a quem, na presente condição de
cidadão comum, sequer dispõe da prerrogativa de provocar o controle jurisdicional do processo de formação das espécies normativas em geral.
O fundamento que ora venho de expor revela-se bastante, por si só, para justificar a extinção deste processo mandamental.
Sendo assim, e tendo em consideração as razões expostas, não conheço da presente ação de mandado de segurança, declarando extinto, sem
resolução de mérito, este processo mandamental, prejudicado, em consequência, o exame do pedido de medida cautelar.
Arquivem-se os presentes autos.
Publique-se.
Brasília, 09 de março de 2015.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
*decisão publicada no DJe de 12.3.2015
** nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
9 a 13 de março de 2015

HOMICÍDIO QUALIFICADO - Código Penal - Crime hediondo


Lei nº 13.104, de 9.3.2015 – Altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7.12.1940 - Código Penal, para prever
o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1 o da Lei no 8.072, de 25.7.1990, para
incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Publicada no DOU, n. 46, Seção 1, p. 1, em 10.3.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES
9 a 13 de março de 2015

Medida Provisória nº 670, de 10.3.2015 - Altera a Lei nº 11.482, de 31.5.2007, para dispor sobre os valores da
tabela mensal do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física; a Lei nº 7.713, de 22.12.1988; e a Lei nº 9.250, de
26.12.1995. Publicada no DOU em 11.3.2015, Seção 1, p. 1.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD

Informativo 777-STF (24/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 2949 QO/MG; RE 194662 Ediv-ED-ED/BA; ADI 4171/DF; ADI 2921/RJ; RE 593068/SC.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: HC 84548/SP; EP 1 QO/DF; RE 632343 AgR/RJ; HC 103310/SP.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
 Direito de jornal ter acesso a informações sobre o uso da verba indenizatória por Senadores.

PROCESSO LEGISLATIVO
 Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos.

DIREITO ADMINISTRATIVO
REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
 Lei estadual não pode conceder isenção de contribuição previdenciária para todos os servidores aposentados e
pensionistas que tiverem doença incapacitante.

DIREITO AMBIENTAL
COMPETÊNCIA
 Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


RECURSOS
 Tempestividade do recurso interposto antes da decisão recorrida ter sido publicada.

DIREITO PENAL
PRESCRIÇÃO
 A publicação do acórdão condenatório para fins de prescrição ocorre no dia da sessão de julgamento.

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO CONSTITUCIONAL

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Direito de jornal ter acesso a informações sobre o uso da verba indenizatória por Senadores

Importante!!!
Determinado jornal requereu ao Senado Federal cópia dos documentos que demonstrassem
como os Senadores utilizaram a verba indenizatória dos seus gabinetes.
A Presidência do Senado negou ao jornal o acesso aos dados sob o fundamento de que os
documentos solicitados seriam sigilosos e que haveria uma invasão à privacidade dos
Parlamentares.
O STF determinou que o Senado forneça cópia dos documentos solicitados.
A verba indenizatória destina-se a custear despesas direta e exclusivamente relacionadas ao
exercício da função parlamentar. Desse modo, tais valores possuem natureza pública, tanto pelo
fato de estarem sendo pagas por um órgão público (Senado Federal) quanto pela finalidade a que
se destinam, estando vinculadas ao exercício da representação popular (mandato). Sendo a verba
pública, a regra geral é a de que as informações sobre o seu uso são públicas.
A Corte entendeu que o fornecimento de tais informações não acarreta qualquer risco à
segurança nem viola a privacidade ou intimidade dos Parlamentares.
STF. Plenário. MS 28178/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 4/3/2015 (Info 776).

Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (antiga verba indenizatória)


Os Deputados Federais e Senadores gozam de determinada verba que pode ser utilizada para o
pagamento de despesas relacionadas com o exercício da atividade parlamentar. Essa verba é atualmente
ha ada de Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar , as a tes de e a ais o he ida
como verba indenizatória.
Essa cota é regulada por ato da Mesa Diretora da Câmara ou do Senado.
Exemplos de algumas despesas que podem ser pagas com essa cota: passagens aéreas, telefonia, serviços
postais, manutenção de escritórios de apoio à atividade parlamentar, alimentação etc.

Imagine a seguinte situação:


O Jo al Folha de “ o Paulo e ue eu ao Senado Federal cópia dos documentos que demonstrassem
como os Senadores da República utilizaram a verba indenizatória dos seus gabinetes no período de
setembro a dezembro de 2008.
A Presidência do Senado negou ao jornal o acesso aos dados sob o fundamento de que os documentos
solicitados seriam sigilosos e que haveria uma invasão à privacidade dos Parlamentares.
Diante disso, o veículo de imprensa impetrou mandado de segurança no STF (art. 102, I, d , da CF/
contra a negativa.

O que decidiu o STF? As informações solicitadas devem ser fornecidas?


SIM. O Plenário do STF concedeu a ordem no mandado de segurança e determinou que o Senado forneça
cópia dos documentos que demonstram o uso da verba indenizatória pelos Senadores no período
solicitado.

Natureza das verbas e publicidade como regra


A verba indenizatória destina-se a custear despesas direta e exclusivamente relacionadas ao exercício da
função parlamentar. Desse modo, tais valores possuem natureza pública, tanto pelo fato de estarem
sendo pagos por um órgão público (Senado Federal) quanto pela finalidade a que se destinam, estando
vinculados ao exercício da representação popular (mandato).

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


Sendo a verba pública, a regra geral é a de que as informações sobre o seu uso são públicas, sendo isso
baseado em diversos dispositivos constitucionais, como o direito de acesso à informação (art. 5º, XXXIII),
especialmente no tocante à documentação governamental (art. 216, § 2º), o princípio da publicidade (art.
, aput e § º, II e o p i ípio epu li a o art. 1º), do qual se originam os deveres de transparência e
prestação de contas, bem como a possibilidade de responsabilização ampla por eventuais irregularidades.
Todo o poder emana do povo (art. 1º, parágrafo único, da CF/88), de forma que os órgãos estatais têm o
dever de esclarecer ao seu mandante (povo: titular do poder político) como são usadas as verbas
arrecadadas da sociedade para o exercício de suas atividades.

Sigilo
Realmente, a CF/88 afirma que não são públicas as informações cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado (art. 5º, XXXIII, parte final) e às que sejam protegidas pela inviolabilidade
conferida à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas (art. 5º, X, c/c art. 37, § 3º, II).
No entanto, no caso concreto, as informações sobre o uso de tais verbas não se enquadram nem na
necessidade de sigilo por questões de segurança nem na proteção da intimidade.
No caso do Senado Federal, as atividades ordinárias de seus membros estão muito longe de exigir um
caráter predominantemente sigiloso. Em se tratando de órgão de representação popular por excelência,
presume-se justamente o contrário, ou seja, que tais atividades são públicas. Assim, eventual necessidade
de sigilo não pode ser invocada de forma genérica, devendo ser concretamente justificada (ex: despesas
para contratação de seguranças para um determinado parlamentar ameaçado).
Quanto à segunda exceção que justificaria a restrição à publicidade (informações relacionadas à intimidade,
vida privada, honra e imagem das pessoas), o STF entendeu que não é possível que se invoque a intimidade, de
forma genérica, para restringir a transparência acerca do emprego de verbas públicas exclusivamente
relacionadas ao exercício da função parlamentar. Em outras palavras, tais verbas não estão relacionadas com a
vida privada dos Senadores. São recursos, como dito, utilizados para o exercício parlamentar.
Vale ressaltar que o jornal havia se comprometido a pagar o custo das cópias reprográficas solicitadas.

PROCESSO LEGISLATIVO
Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos

É inconstitucional Lei Orgânica Municipal que disponha sobre o regime jurídico dos servidores
públicos (seus direitos e deveres).
O art. 61, § 1º, II, c , da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei
que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos e sobre o regime jurídico dos
militares. Essa regra também é aplicada no âmbito municipal por força do princípio da simetria.
STF. Plenário. RE 590829/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/3/2015 (Info 776).

A CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei que trate sobre os direitos e
deveres dos servidores públicos e também dos militares. Veja:
Art. 61. (...)
§ 1º — São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II — disponham sobre:
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
aposentadoria;
(...)
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade,
remuneração, reforma e transferência para a reserva.

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Essa regra vale também no âmbito municipal?
SIM. Essa regra é aplicada também no âmbito municipal por força do princípio da simetria.

No caso julgado pelo STF e noticiado neste Informativo 776, a Lei Orgânica de Cambuí/MG concedeu
benefícios a servidores públicos daquela municipalidade.
O STF julgou a referida lei inconstitucional por ofender o art. 61, § 1º, II, c da CF/88, a ensejar sua
inconstitucionalidade formal.

DIREITO ADMINISTRATIVO

REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL


Lei estadual não pode conceder isenção de contribuição previdenciária para todos os servidores
aposentados e pensionistas que tiverem doença incapacitante

O Estado-membro pode tratar sobre o regime próprio de previdência social de seus servidores
por meio de lei, não sendo necessário que tal regulamentação seja feita na Constituição
estadual.
As normas estaduais, contudo, deverão observar as regras da CF/88, em especial aquelas
previstas no art. 40.
Determinada lei estadual previu que os servidores públicos aposentados e pensionistas que
fossem portadores de doenças incapacitantes não iriam pagar contribuição previdenciária
(seriam isentos). O STF afirmou que essa regra estadual está em confronto com o § 21 do art.
40 da CF/88, considerando que a Carta Federal previu que os servidores públicos aposentados
e pensionistas que sejam portadores de doenças incapacitantes devem pagar contribuição
previdenciária se o valor dos proventos por eles recebidos superar o dobro do teto do RGPS
(dobro do maior valor de aposentadoria do INSS).
Assim, a norma da lei estadual deve receber interpretação conforme para que respeite essa
previsão do art. 40, § 21 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3477/RN, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em
4/3/2015 (Info 776).

Contribuição previdenciária dos servidores inativos:


Determinada Lei do Estado do Rio Grande do Norte (Lei n. 8.633/2005) prevê que os servidores
aposentados e pensionistas deverão pagar contribuição previdenciária. Veja o caput do art. 3º:
Art. 3º Os aposentados e os pensionistas de qualquer dos Poderes do Estado, do Ministério Público e do
Tribunal de Contas do Estado, incluídas suas autarquias e fundações, e dos Militares Estaduais contribuirão
para o regime próprio de previdência social, com 11 % (onze por cento) incidentes sobre o valor da parcela
dos proventos de aposentadorias e pensões que supere o limite máximo estabelecido para os benefícios
do regime geral de previdência social, fixado pela legislação federal.

A lei estadual poderia impor essa regra?


SIM. Cada Estado-membro pode dispor sobre o regime próprio de previdência de seus servidores, desde
que observadas as regras da CF/88, em especial aquelas previstas no art. 40.
O Estado-membro pode tratar sobre o regime próprio por meio de lei, não sendo necessário que tal
regulamentação seja feita na Constituição estadual.
A previsão trazida pelo caput do art. 3º da Lei do RN está de acordo com a norma do § 18 do art. 40 da
CF/88, que estabelece:

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


§ 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões concedidas pelo regime de
que trata este artigo que superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201, com percentual igual ao estabelecido para os servidores titulares
de cargos efetivos.

Isenção da contribuição previdenciária para servidores aposentados e pensionistas incapazes


O parágrafo único do art. 3º da Lei do RN previu que seriam isentos da contribuição previdenciária os
servidores públicos aposentados e pensionistas que fossem portadores de doenças incapacitantes. Veja:
Pa g afo ú i o. “ o ise tos da o t i uiç o de ue t ata o aput deste a tigo, os apose tados e
pensionistas que sejam portadores de patologias incapacitantes, abrangidos pela isenção oferecida pela
legislação do Imposto de Renda.

Essa isenção conferida pelo parágrafo único da Lei potiguar é constitucional?


NÃO. O STF entendeu que a legislação estadual avançou muito nesta regra do parágrafo único e trouxe
uma isenção maior do que aquela que foi autorizada pela CF/88. Isso porque a Constituição Federal até
permitiu que servidores aposentados e pensionistas que fossem portadores de doenças incapacitantes
tivessem uma va ta ge no valor de suas contribuições previdenciárias, mas não uma isenção total.
Confira o que diz o § 21 do art. 40 da CF/88:
§ 21. A contribuição prevista no § 18 deste artigo incidirá apenas sobre as parcelas de proventos de
aposentadoria e de pensão que superem o dobro do limite máximo estabelecido para os benefícios do
regime geral de previdência social de que trata o art. 201 desta Constituição, quando o beneficiário, na
forma da lei, for portador de doença incapacitante.

Compare:
CF/88 (art. 40, § 21) Lei do Estado do RN (art. 3º, parágrafo único)
Previu que os servidores públicos aposentados e Previu que os servidores públicos aposentados e
pensionistas que fossem portadores de doenças pensionistas que fossem portadores de doenças
incapacitantes só iriam pagar contribuição incapacitantes não iriam pagar contribuição
previdenciária se o valor dos proventos por eles previdenciária (seriam isentos).
recebidos superar o dobro do teto do RGPS (dobro
do maior valor de aposentadoria do INSS).

O STF afirmou que a regra de isenção da Lei do RN é muito simpática do ponto de vista de justiça social,
mas que ela fere a isonomia, estando em confronto com as normas fixadas pela CF/88.

Assim, o STF conferiu interpretação conforme a Constituição ao dispositivo da lei potiguar, de forma que a
isenção nela prevista deva se limitar ao que prevê o § 21 do art. 40 da CF/88. Em outras palavras, o STF
determinou que os servidores públicos aposentados e pensionistas do RN só terão isenção se o valor dos
proventos por eles recebidos não superar o dobro do teto do RGPS. Se for acima disso, pagarão a
contribuição.

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


DIREITO AMBIENTAL

COMPETÊNCIA
Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana

O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o
Estado-membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja
harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art.
30, I e II, da CF/88).
O STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo
para fins de limpeza e preparo do solo no referido município, inclusive para o preparo do
plantio e para a colheita de cana-de-açúcar e de outras culturas.
Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtida
com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos
trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a
garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros, que merecem proteção diante do
chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização, ambos trazidos pela pretensão
de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo.
Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se
traçar um planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como
método despalhador e facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art.
40) e Decreto 2.661/98.
STF. Plenário. RE 586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (repercussão geral) (Info 776).

De quem é a competência para legislar sobre meio ambiente?


Trata-se de competência concorrente, distribuída entre União, Estados/DF e Municípios, conforme
previsto na CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição;

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Então, o Município detém competência para legislar sobre meio ambiente?


SIM. O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o Estado-
membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a disciplina
estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88).

Feitas essas considerações, imagine o seguinte caso concreto:


A Lei do Município de Paulínia/SP proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de limpeza e
preparo do solo no referido município, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-de-
açúcar e de outras culturas.

Essa Lei é constitucional?


NÃO.

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


O STF afirmou que a análise da questão possuiria um caráter eclético e multidisciplinar, envolvendo
questões sociais, econômicas e políticas (possibilidade de crise social, geração de desemprego,
contaminação do meio ambiente em razão do emprego de máquinas, impossibilidade de mecanização em
determinados terrenos e existência de proposta federal de redução gradativa do uso da queima etc.).

A Corte entendeu que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtida com a
proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos trabalhadores que
atuem neste setor.

No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros,
que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização, ambos
trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo.

Entendeu-se que a proibição da queima da cana não pode ser imediata, abrupta, mas sim gradual,
progressiva, sob pena de gerar um desemprego em massa no setor.

Por outro lado, em relação à questão ambiental, constata-se que, se de um lado a queima causa danos, de
outro, a utilização de máquinas também gera impacto negativo ao meio ambiente, como a emissão de gás
metano decorrente da decomposição da cana, o que contribui para o efeito estufa, além do surgimento de
ervas daninhas e o consequente uso de pesticidas e fungicidas.

Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se traçar um
planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método despalhador e
facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei n. 12.651/2012 (art. 40) e Decreto n. 2.661/98.

Assim, a Lei municipal, ao proibir a queima de forma imediata, viola o espírito da legislação federal, que
propõe, como visto, a diminuição gradual da queima da cana. Vale ressaltar que esse assunto (proibição
ou não da queima da cana) tem um caráter e interesse nacional, não podendo, portanto, o Município
violar a previsão da legislação federal e estadual.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

RECURSOS
Tempestividade do recurso interposto antes da decisão recorrida ter sido publicada

Importante!!!
Mudança de entendimento!
Imagine que antes de o acórdão ser publicado no Diário de Justiça, o advogado da parte soube
da decisão e opôs embargos de declaração contra ela. Tais embargos são tempestivos? O
recurso contra a decisão que ainda não foi publicada é tempestivo segundo o STF?
SIM. Admite-se a interposição de embargos declaratórios oferecidos antes da publicação do
acórdão embargado e dentro do prazo recursal.
Se a parte tomar conhecimento do teor do acórdão antes de sua publicação e entender haver
omissão, contradição ou obscuridade, pode embargar imediatamente. Não há nada que impeça
isso. Não se pode dizer que o recurso é prematuro porque o prazo começa a correr da data de
intimação da parte, e a presença do advogado, a manifestar conhecimento do acórdão, supre a

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


intimação. Assim, se a parte se sentir preparada para recorrer antecipadamente, pode fazê-lo.
Essa conclusão é reforçada pelo art. 1.024, § 5º do novo CPC.
Vale ressaltar que, por enquanto, o STJ tem entendimento em sentido contrário, conforme se
verifica pela Súmula 418.
STF. Plenário. AI 703269 AgR-ED-ED-EDv-ED/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (Info 776).

TEMPESTIVIDADE
Para que um recurso seja conhecido, é indispensável que ele preencha requisitos intrínsecos e extrínsecos.
Um dos requisitos extrínsecos de todo e qualquer recurso é a tempestividade.
Tempestividade significa que o recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em lei.
Todo recurso tem um prazo e, se a parte o interpõe após este prazo, o recurso não será conhecido por
intempestividade.

RECURSO INTERPOSTO ANTES DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO


Imagine o seguinte exemplo hipotético:
João é o autor de uma ação contra Pedro.
O pedido foi julgado improcedente e o autor interpôs apelação ao Tribunal de Justiça, que manteve a sentença.
Antes de o acórdão ser publicado no Diário de Justiça, o advogado de João foi até o cartório judicial, leu a
decisão, preparou embargos de declaração e deu entrada no recurso.

Os embargos de declaração opostos são tempestivos?


SIM. Admite-se a interposição de embargos declaratórios oferecidos antes da publicação do acórdão
embargado e dentro do prazo recursal.
Se a parte tomar conhecimento do teor do acórdão antes de sua publicação e entender haver omissão,
contradição ou obscuridade, pode embargar imediatamente. Não há nada que impeça isso.
Não se pode dizer que o recurso é prematuro porque o prazo começa a correr da data de intimação da
parte, e a presença do advogado, a manifestar conhecimento do acórdão, supre a intimação.
Assim, se a parte se sentir preparada para recorrer antecipadamente, pode fazê-lo.
Recurso intempestivo é aquele interposto após o decurso do prazo.

Esse entendimento acima exposto já era majoritário no STF?


NÃO. Antes do julgado acima, o entendimento majoritário no STF era o de que o recurso interposto antes
da publicação do acórdão era prematuro (precoce) e, portanto, intempestivo. Isso mesmo. Se a parte
soubesse do teor da decisão antes de ela ser publicada e, adiantando-se, já interpusesse o recurso contra
essa decisão, tal recurso não seria conhecido por ser considerado intempestivo, já que o prazo nem teria
começado a correr. Isso obrigava o advogado a esperar o acórdão ser publicado para só então interpor o
recurso ou, então, deveria reiterar o recurso depois de o acórdão recorrido ter sido publicado. Veja um
recente precedente que era nesse sentido:
(...) O Supremo Tribunal Federal assentou que a simples notícia do julgamento não fixa o termo inicial da
contagem do prazo recursal, de modo que o recurso interposto antes da publicação do acórdão recorrido
é prematuro, a menos que seja posteriormente ratificado. (...)
(STF. Plenário. RE 606376 ED-EDv, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/11/2014)

Tal entendimento era extremamente criticado pela doutrina e, por isso, a mudança de posição do STF foi
muito salutar.

STJ e TST
Vale ressaltar que o STJ e o TST entendem que o recurso interposto antes da publicação do acórdão
recorrido é prematuro e, portanto, intempestivo. Veja:

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Súmula 418-STJ: É inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos
embargos de declaração, sem posterior ratificação.

Súmula 434-TST:
RECURSO. INTERPOSIÇÃO ANTES DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO IMPUGNADO. EXTEMPORANEIDADE.
I) É extemporâneo recurso interposto antes de publicado o acórdão impugnado.

Espera-se que, com a decisão do Plenário do STF, tanto o STJ como o TST mudem seu entendimento.
Qualquer novidade sobre a posição do STJ você será avisado até mesmo para atualizar seus Livros.

Novo CPC:
O novo entendimento do STF acima exposto continua válido com o novo CPC?
SIM. Na verdade, o novo CPC reforça a nova conclusão do STF ao trazer a seguinte regra:
Art. 1.024 (...)
§ 5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior,
o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos de declaração será
processado e julgado independentemente de ratificação.

Desse modo, após a entrada em vigor do novo CPC estará superada a súmula 418 do STJ.

DIREITO PENAL

PRESCRIÇÃO
A publicação do acórdão condenatório para fins de prescrição ocorre no dia da sessão de julgamento

Importante!!!
A prescrição da pretensão punitiva do Estado, em segundo grau de jurisdição, se interrompe
na data da sessão de julgamento do recurso e não na data da publicação do acórdão.
Para efeito de configuração do marco interruptivo do prazo prescricional a que se refere o art.
117, IV, do CP, considera-se como publicado o acórdão condenatório recorrível na data da
sessão pública de julgamento, e não na data de sua veiculação no Diário da Justiça ou em meio
de comunicação congênere.
A publicação do acórdão nos veículos de comunicação oficial deflagra o prazo recursal, mas
não influencia na contagem do prazo da prescrição.
STF. 1ª Turma. RHC 125078/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2015 (Info 776).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Determinado Prefeito estava respondendo a uma ação penal, que tramitava no Tribunal de Justiça em
razão do foro por prerrogativa de função.
Deve-se lembrar que os Prefeitos são processados e julgados pelo TJ (art. 29, X, da CF/88).
O fato criminoso ocorreu em janeiro de 1998.
A denúncia foi recebida em 04/11/2002.
Em 28/10/2010, foi realizada a sessão de julgamento do réu pelo TJ, tendo ele sido condenado a 2 anos e 3
meses de reclusão.
O acórdão condenatório foi publicado na Imprensa Oficial em 28/04/2011.
Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9
O MP não recorreu, de forma que essa pena tornou-se definitiva para a acusação.
A defesa, por seu turno, opôs embargos de declaração, alegando que houve prescrição retroativa pela
pena em concreto.

Será que houve? Vejamos:


Para calcular a prescrição, deve-se considerar a pena concretamente imposta (2 anos e 3 meses).

Qual é o prazo prescricional caso a pena fixada tenha sido de 2 anos e 3 meses?
8 anos, conforme previsto no art. 109, IV c/c art. 110 do CP.

Quais são as causas que interrompem o prazo prescricional?


O art. 117 do CP traz os momentos em que o prazo da prescrição é interrompido.
Interrupção do prazo significa que ele é zerado e recomeça a ser contado a partir daquela data.
Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se:
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II - pela pronúncia;
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI - pela reincidência.

Em nosso exemplo, a defesa alegava que entre o recebimento da denúncia (em 04/11/2002) e a publicação
do acórdão condenatório (em 28/04/2011) já havia se passado mais de 8 anos. Logo, estaria prescrita a
pena imposta pelo crime do art. 288 do CP. Houve prescrição?
NÃO. Não houve prescrição. A sessão de julgamento ocorreu no dia 28/10/2010, antes, portanto, de terem
se passado 8 anos da data do recebimento da denúncia.
Segundo a jurisprudência, a sessão em que realizado o julgamento da causa pode ser considerada como
marco interruptivo da prescrição, uma vez que em tal data a prestação jurisdicional penal condenatória
tornou-se pública (STF. Plenário. AP 396 ED/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 13/12/2012).

Em outras palavras, para efeito de configuração do marco interruptivo do prazo prescricional a que se
refere o art. 117, IV, do CP, considera-se o o pu li ado o a ó d o o de ató io e o ível a data da
sessão pública de julgamento, e não na data de sua veiculação no Diário da Justiça ou em meio de
comunicação congênere.

A publicação do acórdão nos veículos de comunicação oficial deflagra o prazo recursal, mas não influencia
na contagem do prazo da prescrição.

Logo, para fins do art. 117, IV, do CP, considera-se publicado o acórdão condenatório na data em que
realizada a sessão de julgamento pelo Tribunal, havendo aí a interrupção do prazo prescricional.

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


JULGADOS NÃO COMENTADOS

Investigação criminal promovida pelo Ministério Público e aditamento da denúncia - 10


O Ple io, e o lus o de julga e to e po aio ia, o edeu e pa te a o de e ha eas o pus
apenas para revogar o decreto de prisão preventiva e manteve, hígida, a denúncia contra o paciente. Na
espécie, pretendeu-se o trancamento de ação penal movida contra acusado da suposta prática do crime de
homicídio, e a invalidação da decisão que decretara sua prisão preventiva. Para a defesa, não haveria base
legal para a prisão, bem como não seria admissível a investigação promovida pelo Ministério Público, que
viera a servir de base ao aditamento à denúncia, a partir do qual o paciente fora envolvido na ação penal —
v. Informativos 471, 671, 672 e 693. O Tribunal destacou que houvera o deferimento da medida
acauteladora e consequente expedição de alvará de soltura e, por isso, desde 2004 o paciente responderia
ao processo em liberdade. Frisou que os requisitos autorizadores descritos no art. 312 do CPP não teriam
sido concretamente demonstrados pelo juízo de 1º grau. O magistrado teria se limitado a inferir a possível
periculosidade do réu a partir da gravidade abstrata do delito, o qual teria, ademais, gerado intensa
repercussão pública. Aduziu que, nos termos de remansosa jurisprudência do Tribunal, seria exigido que a
prisão preventiva estivesse justificada em fatos concretos. Não seria aceitável invocar abstratamente a
possível perturbação da ordem pública, de um lado, e tampouco a repercussão negativa na comunidade.
Refutou, de outro lado, os argumentos da defesa quanto à insubsistência da denúncia porque teria sido
baseada apenas em investigação por parte do Ministério Público. Asseverou que o Ministério Público não
se fu da a ex lusiva e te e i vestigações feitas po ele, Pa uet , as o ase e p ovas olhidas a
investigação policial e também decorrentes de quebra de sigilo telefônico do paciente autorizadas
judicialmente. Salientou que a peça acusatória, mesmo com o aditamento, poderia subsistir apenas com
base nos elementos produzidos no inquérito policial. Nesse ponto, a Corte esclareceu que a matéria
atinente à eventual possibilidade de investigação criminal pelo Ministério Público seria oportunamente
trazida para análise do Colegiado. Por fim, apontou a existência de fato novo, consistente em decisão da 1ª
Turma no HC 115.714/SP (DJe de 23.2.2015) em relação ao mesmo paciente. No referido julgamento, a
Turma determinara que fosse anulado parcialmente o processo principal, a partir de interrogatório de
o éus e, ai da, ue o juízo a uo o se vasse o disposto o a t. do CPP. Vencidos, em parte, os
Ministros Cezar Peluso, Cármen Lúcia e Ayres Britto, que denegavam a ordem, e o Ministro Marco Aurélio
(relator), que a implementava em maior extensão.
HC 84548/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão o Min. Gilmar Mendes, 4.3.2015.

Cumprimento de decreto presidencial e extinção da punibilidade


O Plenário, ao resolver questão de ordem em execução penal trazida pelo Ministro Roberto Barroso
(relator), declarou extinta a punibilidade de condenado, nos autos da AP 470/MG (DJe de 22.4.2013), à
pena de 4 anos e 8 meses de reclusão e 180 dias-multa pelo crime de corrupção ativa (CP, art. 333). O
Colegiado registrou que o apenado efetuara o pagamento integral da multa e que cumpriria a pena desde
15.11.2013. Ademais, atenderia os requisitos objetivos e subjetivos do Decreto 8.380/2014, por meio do
qual a Presidência da República concedeu indulto natalino e comutação de penas.
EP 1 QO/DF, rel. Min. Roberto Barroso, 4.3.2015.

Interceptação telefônica e autoridade competente - 2


Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma negou provimento a agravo regimental e manteve decisão que
negou sequência a recurso extraordinário por falta de prequestionamento. No caso, o juízo autorizara a
quebra do sigilo telefônico do agravante, vereador à época dos fatos. Em seguida, o tribunal de origem
declarara a incompetência dessa autoridade judicial com base em norma da Constituição do Estado do Rio
de Janeiro que estabelece a competência do tribunal de justiça para processar e julgar ação contra
vereador, mas legitimara as provas produzidas na fase investigatória — v. Informativo 640. O Colegiado,
por maioria, rejeitou a proposta formulada pelo Ministro Dias Toffoli (relator) no sentido da concessão da
ordem, de ofício. O Ministro Luiz Fux salientou que a nulidade não seria proclamada nas hipóteses em que

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


fosse possível a ratificação de atos prolatados por juiz incompetente inclusive em desfavor do réu. O
Ministro Marco Aurélio sublinhou que a Constituição (CF, art. 28, X) garantiria ao tribunal de justiça a
competência para julgar os prefeitos. Entretanto, essa regra não poderia ser ampliada pelas Constituições
estaduais para abarcar os vereadores. Pontuou, ademais, que à época em que determinada à interceptação
telefônica, haveria decisão do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro no sentido
da inconstitucionalidade dessa prerrogativa de foro. Vencido o proponente, que aduzia que a prova coligida
seria nula, porquanto autorizada por magistrado sabidamente incompetente.
RE 632343 AgR/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, 3.3.2015. (RE-632343)

‘e u so ex lusivo da defesa: eduç o da pe a e efo atio i pejus


á te o e pate a votaç o, a ª Tu a o edeu a o de e ha eas o pus i pet ado e favo de
condenada pelo crime do art. 33, c/c o art. 40, I, da Lei 11.343/2006. No caso, a sentença de 1º grau
impusera-lhe a pena de 7 anos e 9 meses de reclusão. Após apelação interposta pela defesa, dera-se parcial
provimento ao recurso, para reduzir a reprimenda para 6 anos e 5 meses de reclusão. Alegava-se que a 2ª
i st ia te ia i o ido e efo atio i pejus , pois, o o sta te o total da pe a tivesse sido eduzido,
o tribunal fixara a pena-base em patamar superior ao estabelecido anteriormente. A Turma registrou que a
quantidade da pena fixada não seria o único efeito a permear a condenação, e que o rearranjo da pena-
base — levado a efeito quando do exame de recurso exclusivo da defesa — poderia provocar, por exemplo,
o agravamento do regime inicial de reprimenda. Seria vedado ao tribunal agravar, qualitativa ou
quantitativamente, a sanção imposta. O STF, no entanto, admitiria que, em hipóteses como essa, fosse
dada nova definição jurídica ao fato delituoso, desde que não agravada a pena ou não piorada, de alguma
forma, a situação do apelante. No caso, embora, ao final, o cálculo da pena tivesse resultado em número
inferior, o tribunal reconhecera em desfavor da paciente circunstâncias não firmadas na sentença.
Aparentemente sem prejuízo prático para a condenada, a decisão reconhecera vetoriais negativas outrora
inexistentes, o que configuraria prejuízo e constrangimento ilegal. Assim, seria necessário realizar nova
dosimetria, mantidos, quanto à pena-base, os termos definidos em 1º grau. Os Ministros Teori Zavascki
(relator) e Cármen Lúcia indeferiam a ordem. Entendiam que, ainda que em recurso exclusivo da defesa, o
efeito devolutivo da apelação permitiria a revisão de toda a matéria e, portanto, dos critérios de fixação da
pena, respeitados os limites da acusação e da prova produzida. Se, ao final, a pena fosse reduzida, não
have ia ue se fala e efo atio i pejus .
HC 103310/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 3.3.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 2 a 6 de março de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 855.026-SP


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: TRIBUTÁRIO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. IMÓVEIS DO
PROGRAMA DE ARRENDAMENTO RESIDENCIAL (PAR). ISENÇÃO DO PAGAMENTO DA TAXA DE COLETA DE LIXO. MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa à isenção do pagamento da Taxa de Coleta de Lixo de imóveis do Programa de Arrendamento Residencial, fundada na
interpretação da Lei Municipal 11.988/04, é de natureza infraconstitucional.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna se dê de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 793.634-MG
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. GRATIFICAÇÃO
ELEITORAL. LEIS 8.350/1991 E 8.625/1993. BASE DE CÁLCULO. INCLUSÃO, OU NÃO, DO ABONO VARIÁVEL PAGO A JUÍZES

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


FEDERAIS. LEIS 9.655/1998 E 10.474/2002. MATÉRIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO.
REPERCUSSÃO GERAL. INEXISTÊNCIA.
I – O exame da questão constitucional não prescinde da prévia análise de normas infraconstitucionais, o que afasta a possibilidade de reconhecimento
do requisito constitucional da repercussão geral.
II – Repercussão geral inexistente.
Decisões Publicadas: 2

CLIPPING DO D JE
2 a 6 de março de 2015

ADI N. 2.063-RS
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Lei Complementar do Estado do Rio Grande do Sul nº 10.845, de 6 de agosto de 1996, art. 1º e 2º, ambos in fine dispõem da remuneração do serviço
público estadual e dão outras providências. Vulneração da CF 61, § 1º, inciso II, “a” e “c”; e 63, I. 2. Superação do vício de iniciativa. 3. Inexiste
qualquer conflito das normas fiscalizadas com a Constituição Federal. Ação direta julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 774
ADI N. 2.072-RS
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CRIAÇÃO DO FUNDO ROTATIVO DE EMERGÊNCIA DA AGRICULTURA
FAMILIAR. ISENÇÃO DE PAGAMENTO CONCEDIDA AOS PRODUTORES RURAIS BENEFICIADOS PELO PROGRAMA
EMERGENCIAL DE MANUTENÇÃO E APOIO A PEQUENOS PROPRIETÁRIOS RURAIS. LEI GAÚCHA N. 11.367/1999.
1. Perda de objeto da presente ação e do interesse de agir do Autor quanto aos arts. 3º e 4º da Lei gaúcha n. 11.367/1999, pela revogação parcial da lei
impugnada pela Lei gaúcha n. 11.774/2002.
2. Ausência de contrariedade ao art. 22, inc. I, da Constituição da República: normas de direito administrativo e financeiro.
3. O art. 1º da Lei n. 11.367/1999 não contraria o art. 61, § 1º, inc. II, alínea e, da Constituição da República porque não criou ou extinguiu secretarias
ou órgãos da administração pública.
4. O Supremo Tribunal Federal assentou que a reserva de lei de iniciativa do chefe do Executivo, prevista no art. 61, § 1º, inc. II, al. b, da Constituição,
somente se aplica aos territórios federais. Precedentes.
5. Não comprovação de ter sido excedido o limite da dívida mobiliária do Estado ou de prejuízo no desenvolvimento de políticas públicas estaduais.
Matéria de fato. Ofensa constitucional indireta. Precedentes. Inexistência de contrariedade ao art. 52, inc. IX, da Constituição da República.
6. A opção política do legislador estadual de isentar de pagamento os produtores rurais beneficiados pelo programa emergencial de manutenção e
apoio a pequenos proprietários rurais não contraria o princípio da moralidade (art. 37, caput, da Constituição da República), nem equivale à tentativa
de fraudar o pagamento da dívida contraída com a União. A isenção dos devedores primitivos foi conjugada com a assunção, pelo Estado do Rio
Grande do Sul, da condição de devedor principal, sem prejudicar o adimplemento das obrigações assumidas.
7. A vedação do art. 63, inc. I, da Constituição da República não abrange a Lei gaúcha n. 11.367/1999.
8. O art. 167, inc. II, da Constituição da República dirige-se ao administrador público, a quem cabe executar os programas contemplados na lei, com a
utilização de créditos orçamentários.
9. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei gaúcha n.
11.367/1999.
*noticiado no Informativo 773
AG. REG. NA ACO N. 1.684-MS
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. DEMANDA PROPOSTA
POR PARTICULARES OBJETIVANDO A DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA DE OCUPAÇÃO INDÍGENA NAS TERRAS DE SUA
PROPRIEDADE. PEDIDO DE INGRESSO COMO ASSISTENTE LITISCONSORCIAL PELO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL.
REMESSA DOS AUTOS A ESTA CORTE. INEXISTÊNCIA DE CONFLITO FEDERATIVO. INCOMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À ORIGEM.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
HC N. 112.121-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. JULGAMENTO DE PROCESSO ADMINISTRATIVO E RECEBIMENTO DE
DENÚNCIA PELO MESMO ORGÃO COLEGIADO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA LOCAL. IMPEDIMENTO DOS DESEMBARGADORES
PARTICIPANTES DE AMBAS AS SESSÕES DO ÓRGÃO ESPECIAL. NÃO OCORRÊNCIA. ART. 252, III, DO CPP. IMPOSSIBILIDADE DE
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. ROL TAXATIVO.
1. Por expressa previsão constitucional (arts. 93, VIII, e 96, III, da CF), tanto o procedimento administrativo disciplinar quanto a ação penal nos quais
envolvido magistrado de primeiro grau serão processados e julgados pelo respectivo Tribunal, não havendo falar em “outra instância” para fins de
impedimento previsto no art. 252, III, do Código de Processo Penal. Precedentes.
2. Ordem denegada.
RHC N. 125.112-RJ
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso ordinário em habeas corpus. 2. Justiça Militar. Recorrente que se ausentou, por um mês, da unidade onde exercia função militar. 3.
Abandono de posto (art. 195 do Código Penal Militar). Denúncia recebida. 4. Concomitante instauração de Instrução Provisória de Deserção.
Arquivamento do expediente em razão da condição de incapacidade em inspeção de saúde. 5. Alegação de ausência de justa causa da persecução
penal, pois o abandono de serviço estaria absorvido pela deserção, com base no princípio da consunção. 6. O fato de abandonar o serviço e praticar a
deserção, dentro de um mesmo contexto fático, não implica duas ações autônomas, incidindo, na hipótese, o fenômeno da absorção de um crime por
outro, uma vez que o abandono afigurou-se meio necessário à consecução do delito de deserção (R.S.E. 0000044-60.2011.7.06.0006, do STM). 7.
Parecer da PGR pelo provimento do recurso. 8. Recurso ordinário provido para determinar o trancamento da ação penal pelo crime de abandono de
posto.

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*noticiado no Informativo 774
ADI N. 1.358-DF
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Lei Distrital 842/94. 2. Redação dada pela Lei 913/95. 3. Art. 2º da Lei 913/95. 4. Pensão especial a cônjuge de vítima assassinada no Distrito
Federal. 5. Lei que impõe ao Distrito Federal responsabilidade além da prevista no art. 37, § 6º, da Constituição. 6. Inocorrência da hipótese de
assistência social. 7. Inconstitucionalidade do art. 1º da Lei 842/94. 8. Inconstitucionalidade por arrastamento dos demais dispositivos. 9. Ação
julgada procedente.
*noticiado no Informativo 773
ADI N. 3.942-DF
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 2º DA LEI N. 11.075/2004. CRIAÇÃO DE CARGOS E FUNÇÕES
GRATIFICADAS NO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. POSSIBILIDADE DE FUSÃO DE PROJETO DE LEI
EM PROJETO DE CONVERSÃO DE MEDIDA PROVISÓRIA EM LEI QUANDO PROPOSTOS PELA MESMA AUTORIDADE. A CRIAÇÃO DE
CARGOS EM COMISSÃO E DE FUNÇÕES GRATIFICADAS IMPUGNADA FOI ACOMPANHADA DE ESTIMATIVA DE DESPESA E DA
RESPECTIVA FONTE DE CUSTEIO E NÃO IMPORTA CONTRARIEDADE AOS PRINCÍPIOS DO CONCURSO PÚBLICO E DA
PROPORCIONALIDADE. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.
*noticiado no Informativo 773
Inq N. 3.734-SP
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: INQUÉRITO. DEPUTADO FEDERAL NÃO REELEITO. PRERROGATIVA DE FORO.
1. A Turma, por maioria de votos, já decidiu que a renúncia de parlamentar, após o final da instrução, não acarreta a perda de competência do
Supremo Tribunal Federal. Precedente: AP 606-QO, Rel. Min. Luís Roberto Barroso (Sessão de 07.10.2014).
2. Todavia, na hipótese de não reeleição, não se afigura ser o caso de aplicação da mesma doutrina.
3. Declínio da competência para o juízo de primeiro grau.
MED. CAUT. EM ADI N. 4.726-AP
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Toda vez que a norma atacada viabiliza dupla interpretação, cumpre adotar a
teoria que revela o sentido harmônico com a Carta da República.
BENEFÍCIO – SALÁRIO MÍNIMO. A referência ao salário mínimo contida na norma de regência do benefício há de ser considerada como a fixar,
na data da edição da lei, certo valor, passando a ser corrigido segundo fator diverso do mencionado salário.
EXECUTIVO – CRIAÇÃO DE ÓRGÃO – INICIATIVA. A iniciativa visando criar órgão no Executivo é deste último, não podendo resultar de
emenda parlamentar.
*noticiado no Informativo 774
REFERENDO EM MED. CAUT. EM ADI N. 5.091-MS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Referendo de medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade. Artigo 1º da Lei nº 10.011, de 17 de dezembro de 2013, do
Estado do Mato Grosso. Aceite de títulos obtidos nos países integrantes do MERCOSUL para progressão funcional de servidor público no
referido Estado. Vício formal de iniciativa. Disciplina diversa da legislação federal. Referendo da decisão liminar.
1. O art. 1º da Lei estadual nº 10.011/2013, oriunda de projeto de lei de iniciativa parlamentar, dispõe sobre critério de progressão funcional de
servidores do Estado do Mato Grosso, matéria atinente ao regime jurídico dos servidores públicos do Estado. Partindo do entendimento de que as
regras básicas do processo legislativo da União são de observância obrigatória pelos Estados, o Supremo Tribunal tem afirmado a
inconstitucionalidade, por vício de iniciativa, de leis estaduais provenientes de projetos de iniciativa parlamentar que, a exemplo da norma impugnada
na presente ação direta, tratam do regime jurídico dos servidores, matéria cuja iniciativa é reservada ao chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, inciso
II, c, da CF). Precedentes. Ademais, o preceito impugnado possibilita o aumento da remuneração dos agentes públicos contemplados pela norma,
revelando, novamente, violação da iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo estadual, dessa vez com base na alínea a do art. 61, § 1º, II, da
Carta Maior.
2. A norma questionada disciplinou o aproveitamento de diplomas obtidos em universidades estrangeiras de forma diversa da do regramento federal.
Nos termos do art. 48, § 3º, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBE), “[o]s diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por
universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por universidades que possuam cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mesma
área de conhecimento e em nível equivalente ou superior.”
3. Medida cautelar referendada.
*noticiado no Informativo 773
AG. REG. EM MS N. 32.061-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO ADMINISTRATIVO. ACÓRDÃO DO TCU QUE
DETERMINOU A EXCLUSÃO DE VANTAGEM ECONÔMICA RECONHECIDA POR DECISÃO COM TRÂNSITO EM JULGADO
(PLANO COLLOR, 84,32%). COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL ATRIBUÍDA À CORTE DE CONTAS. MODIFICAÇÃO DE
FORMA DE CÁLCULO DA REMUNERAÇÃO. INOCORRÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA COISA
JULGADA, DO DIREITO ADQUIRIDO E DA IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS. AGRAVO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
1. A garantia fundamental da coisa julgada (CRFB/88, art. 5º, XXXVI) não resta violada nas hipóteses em que ocorrerem modificações no contexto
fático-jurídico em que produzida – como as inúmeras leis que fixam novos regimes jurídicos de remuneração.
2. As vantagens remuneratórias pagas aos servidores inserem-se no âmbito de uma relação jurídica continuativa, e, assim, a sentença referente a esta
relação produz seus efeitos enquanto subsistir a situação fática e jurídica que lhe deu causa. A modificação da estrutura remuneratória ou a criação de
parcelas posteriormente à sentença são fatos novos, não abrangidos pelos eventuais provimentos judiciais anteriores.
3. É cediço que a alteração, por lei, da composição da remuneração do agente público assegura-lhe somente a irredutibilidade da soma total antes
recebida, assim concebido: os vencimentos e proventos constitucionais e legais. Precedentes: RE 563.965/RN-RG, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal
Pleno, DJe 20/3/2009; MS 24.784, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJe 25/6/2004.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
ADI N. 2.433-RN
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

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ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO – CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE – ARTIGO 103, § 3º, DA CARTA DA
REPÚBLICA. Ante a imperatividade do preceito constitucional, o papel da Advocacia-Geral da União é o de proteção à norma impugnada.
ESTABILIDADE E EFETIVAÇÃO – NATUREZA. Descabe confundir a estabilidade prevista no artigo 19 do Ato das Disposições Constitucionais
da Carta de 1988 com a efetivação em cargo público. A primeira apenas viabiliza a permanência do servidor no cargo para o qual foi arregimentado,
sem direito a integrar certa carreira. A efetividade pressupõe concurso público.
CARREIRA – INGRESSO. O ingresso em determinada carreira, mediante ocupação de cargo, depende de certame público – inconstitucionalidade
dos parágrafos 3º, 4º e 6º do artigo 231 da Lei Complementar nº 165, de 28 de abril de 1999, com a redação imprimida pela Lei Complementar nº 174,
de 7 de junho de 2000, do Estado do Rio Grande do Norte.
LEI DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA – CARGOS DE ESCRIVÃO – ACUMULAÇÃO – OPÇÃO. Surge constitucional preceito a ensejar a
escrivães de cartórios judiciais que acumulam as funções notarial ou de registro e ingressaram no cargo público por meio de concurso a opção pelo de
técnico judiciário. Interpretação do § 2º do artigo 231 da Lei Complementar nº 165/99, com a redação imprimida pela Lei Complementar nº 174/2000,
do Estado do Rio Grande do Norte, conforme à Carta Federal .
*noticiado no Informativo 773
HC N. 107.164-BA
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
HABEAS CORPUS – PACIENTE – MORTE – PREJUÍZO. Com a extinção da punibilidade em decorrência da morte do réu-paciente, fica
prejudicada a impetração.
RHC N. 123.871-SP
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. IMPETRAÇÃO NÃO CONHECIDA NO STJ POR
INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. SUBSTITUTIVO DE RECURSO CONSTITUCIONAL. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. APLICAÇÃO DA LEI PENAL. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. MOTIVAÇÃO GENÉRICA E
ABSTRATA.
1. O Superior Tribunal de Justiça observou os precedentes da Primeira Turma desta Suprema Corte que não vem admitindo a utilização de habeas
corpus em substituição a recurso constitucional.
2. Inobstante a gravidade dos delitos imputados ao Recorrente, o decreto prisional foi motivado de forma genérica e abstrata, sem elementos
concretos, amparados em base empírica idônea, quanto aos fundamentos da prisão preventiva.
3. A jurisprudência desta Corte Suprema reputa inidônea a fundamentação de prisão preventiva lastreada em circunstâncias genéricas e impessoais.
Precedentes.
4. Substituição da prisão preventiva por medidas cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo Penal, a serem fixadas pelo Tribunal Regional
Federal da 3ª Região.
5. Recurso ordinário em habeas corpus provido, para que o Recorrente seja colocado em liberdade, salvo se por outro motivo tiver que permanecer
preso, com a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares do art. 319 do Código de Processo Penal.
*noticiado no Informativo
ADI N. 3.848-RJ
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
CARTA ESTADUAL – MATÉRIA RESERVADA À INICIATIVA DO GOVERNADOR – INCONSTITUCIONALIDADE. Surge inconstitucional
disciplina, na Carta do Estado, de matéria cuja iniciativa de projeto é reservada ao Governador, como ocorre se, mediante preceito, dispõe-se sobre a
revisão concomitante e automática de valores incorporados à remuneração de servidores públicos em razão do exercício de função ou mandato
quando reajustada a remuneração atinente à função ou ao cargo paradigma – artigo 89, § 6º, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – PRONUNCIAMENTO POSITIVO – MODULAÇÃO. A modulação de pronunciamento do
Supremo, considerada a passagem do tempo, implica, a um só tempo, desconhecer írrito o ato contrário à Constituição Federal e estimular atuação
normativa à margem desta última, apostando-se na morosidade da Justiça e em ter-se o dito pelo não dito, como se, até então, a Lei Fundamental não
houvesse vigorado.
*noticiado no Informativo 774
AG. REG. EM MS N. 25.678-DF
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO ADMINISTRATIVO. PROVENTOS.
APOSENTADORIA. ACÓRDÃO DO TCU QUE DETERMINOU A EXCLUSÃO DE VANTAGEM ECONÔMICA RECONHECIDA POR
DECISÃO COM TRÂNSITO EM JULGADO (URP, 26,05%). COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL ATRIBUÍDA À CORTE DE
CONTAS. MODIFICAÇÃO DE FORMA DE CÁLCULO DA REMUNERAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA COISA JULGADA, DO DIREITO ADQUIRIDO E DA IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS.
DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. AGRAVO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO.
1. A garantia fundamental da coisa julgada (CRFB/88, art. 5º, XXXVI) não resta violada nas hipóteses em que ocorrerem modificações no contexto
fático-jurídico em que produzida – como as inúmeras leis que fixam novos regimes jurídicos de remuneração.
2. As vantagens remuneratórias pagas aos servidores inserem-se no âmbito de uma relação jurídica continuativa, e, assim, a sentença referente a esta
relação produz seus efeitos enquanto subsistir a situação fática e jurídica que lhe deu causa. A modificação da estrutura remuneratória ou a criação de
parcelas posteriormente à sentença são fatos novos, não abrangidos pelos eventuais provimentos judiciais anteriores.
3. É cediço que a alteração, por lei, da composição da remuneração do agente público assegura-lhe somente a irredutibilidade da soma total antes
recebida, assim concebido: os vencimentos e proventos constitucionais e legais. Precedentes: RE 563.965/RN-RG, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal
Pleno, DJe 20/3/2009; MS 24.784, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJe 25/6/2004.
4. A decadência prevista no art. 54 da Lei 9.784/99 não se consuma no período compreendido entre o ato administrativo concessivo de aposentadoria
ou pensão e o posterior julgamento de sua legalidade e registro pelo Tribunal de Contas da União, que consubstancia o exercício da competência
constitucional de controle externo (CRFB/88, art. 71, III) -, porquanto o respectivo ato de aposentação é juridicamente complexo, e se aperfeiçoa com
o registro na Corte de Contas. Precedentes: MS 30916, Rel. Min. Cármen Lúcia, 1ª Turma, DJe 08.06.2012; MS 25525, Rel. Min. Marco Aurélio,
Tribunal Pleno, DJe 19.03.2010; MS 25697, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe 12.03.2010.
5. O processo de registro de aposentadoria, desde que não tenha transcorrido período de tempo superior a cinco anos entre o início do processo no
TCU e o indeferimento do registro, não impõe o contraditório.
6. As URPs - Unidades de Referência de Preço - foram previstas visando a repor o poder aquisitivo de salários e vencimentos até a data-base da
categoria, quando verificado o acerto de contas; entendimento sumulado pelo egrégio Tribunal Superior do Trabalho, verbis: “Súmula 322: Os
reajustes salariais decorrentes dos chamados Gatilhos e URP’s, previstos legalmente como antecipação, são devidos tão-somente até a data-base de
cada categoria.”

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7. Agravo regimental a que se nega provimento.
Rcl N. 18.875-PR
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. QUESTÃO JÁ
EXAMINADA. REMESSA DOS AUTOS AO JUÍZO DE ORIGEM. NÃO EVIDENCIADA A PRÁTICA DE ATOS SUPERVENIENTES
VIOLADORES DA COMPETÊNCIA DESTA CORTE. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
1. Relativamente à alegada usurpação de competência do Supremo Tribunal Federal, o tema já foi debatido no julgamento de questão de ordem nas
Ações Penais 871-878, realizado no dia 10.6.2014, quando - a teor de verificação dos autos pelo Procurador-Geral da República, titular da ação penal
perante o Supremo Tribunal Federal - foi reconhecida a validade dos atos até então praticados naquelas ações, e na ação a que responde o requerente
inclusive, assim como a dos procedimentos investigatórios correlatos, ressalvado então apenas recorte indiciário que permaneceu no âmbito desta
Corte.
2. Eventual encontro de indícios de envolvimento de autoridade detentora de foro privilegiado durante atos instrutórios subsequentes, por si só, não
resulta em violação de competência desta Suprema Corte, já que apurados sob o crivo de autoridade judiciária que até então, por decisão da Corte, não
viola competência de foro superior.
3. No caso, não houve demonstração de persecução, pelo juízo, da prática de atos violadores da competência do Supremo Tribunal Federal.
4. Reclamação julgada improcedente.
Acórdãos Publicados: 569

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Interpelação Criminal (CP, art. 144) Ministro de Estado - Dúvidas Quanto aos Destinatários das Alegações Ofensivas –
Possibilidade (Transcrições)
Pet 5.557/DF*
RELATOR: Ministro Celso de Mello
EMENTA: INTERPELAÇÃO JUDICIAL. PROCEDIMENTO DE NATUREZA CAUTELAR. MEDIDA PREPARATÓRIA DE AÇÃO
PENAL REFERENTE A DELITOS CONTRA A HONRA (CP, ART. 144). PEDIDO DE EXPLICAÇÕES AJUIZADO CONTRA
MINISTRO DE ESTADO. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, POR TRATAR-SE DE
AUTORIDADE QUE DISPÕE, PERANTE A SUPREMA CORTE, DE PRERROGATIVA DE FORO NAS INFRAÇÕES PENAIS
COMUNS. NOTIFICAÇÃO DEFERIDA.
- O Supremo Tribunal Federal possui competência originária para processar pedido de explicações formulado com apoio no art. 144 do
Código Penal, quando deduzido contra Ministro de Estado, por tratar-se de autoridade que dispõe de prerrogativa de foro “ratione
muneris” nos ilícitos penais comuns (CF, art. 102, I, “c”).
- O pedido de explicações admissível - em qualquer das modalidades de crimes contra a honra - constitui típica providência de ordem
cautelar destinada a aparelhar ação penal principal tendente a sentença condenatória. O interessado, ao formulá-lo, invoca, em juízo,
tutela cautelar penal, visando a que se esclareçam situações revestidas de equivocidade, ambiguidade ou dubiedade, a fim de que se
viabilize o exercício eventual de ação penal condenatória, notadamente naqueles casos em que se registre efetiva incerteza quanto aos
destinatários específicos das imputações moralmente ofensivas (Pet 4.444-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno).
- A interpelação judicial, sempre facultativa (RT 602/368 - RT 627/365 - RT 752/611 RTJ 142/816), acha-se instrumentalmente vinculada
à necessidade de esclarecer situações, frases ou expressões, escritas ou verbais, caracterizadas por sua dubiedade, equivocidade ou
ambiguidade.
- O pedido de explicações em juízo submete-se à mesma ordem ritual que é peculiar ao procedimento das notificações avulsas (CPC, art.
867 c/c o art. 3º do CPP). Isso significa, portanto, que não caberá ao Supremo Tribunal Federal, em sede de interpelação penal, avaliar o
conteúdo das explicações dadas pela parte requerida nem examinar a legitimidade jurídica de sua eventual recusa em prestá-las, pois tal
matéria compreende-se na esfera do processo penal de conhecimento a ser ulteriormente instaurado. Doutrina. Precedentes.
DECISÃO: Trata-se de “interpelação judicial criminal” deduzida pelo Deputado Federal **, com fundamento no art. 144 do Código Penal,
contra o Ministro de Estado da Educação **.
Pretende-se, com a medida processual ajuizada, que o interpelando ofereça explicações necessárias ao esclarecimento de afirmações, a ele
atribuídas, e que, noticiadas no “blog” do jornalista **, sob o título “Câmara tem uns ‘400, 300 deputados achacadores’ diz Ministro **”, teriam
imputado “a Deputados Federais indeterminados a conduta de enfraquecer o governo com a intenção - ao que parece - de roubar o governo,
intimidando-o, ou de extorquir dinheiro do governo” (fls. 04 grifei), o que - segundo sustenta o próprio interpelante - configuraria, em tese, o
crime de injúria (CP, art. 140).
O ora interpelante assim justificou a formulação deste pedido de explicações (fls. 04/06):
“(…) é razoável supor que o interpelado, em tese, praticou o crime de injúria, tipificado no art. 140 do Código Penal. Mas não disse
quem são os ‘400 deputados, 300 deputados’ e nem em que consiste a tentativa de ‘achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais’. Achacar
mais o que? Tomar mais o que? Tirar mais o que?
São acusações gravíssimas dirigidas a um grupo de pessoas, mas revestidas de equivocidades e ambiguidades que, sem o devido
esclarecimento, inviabilizam a propositura de uma ação penal privada. Quem são os Deputados Federais acusados? E de quais atos? O
interpelado não explicou.
De acordo este Supremo Tribunal, a interpelação só pode ser manejada quando existirem dúvidas sobre o conteúdo das afirmações
tidas por injuriosas, a fim de aparelhar eventual e futura ação penal privada, ‘in verbis’:

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


‘- O pedido de explicações constitui típica providência de ordem cautelar, destinada a aparelhar ação penal principal tendente
a sentença penal condenatória. O interessado, ao formulá-lo, invoca, em juízo, tutela cautelar penal, visando a que se esclareçam
situações revestidas de equivocidade, ambiguidade ou dubiedade, a fim de que se viabilize o exercício futuro de ação penal
condenatória. A notificação prevista no Código Penal (art. 144) traduz mera faculdade processual sujeita à discrição do ofendido. E só
se justifica na hipótese de ofensas equívocas. - O pedido de explicações em juízo acha-se instrumentalmente vinculado à necessidade
de esclarecer situações, frases ou expressões, escritas ou verbais, caracterizadas por sua dubiedade, equivocidade ou ambiguidade.
Ausentes esses requisitos condicionadores de sua formulação, a interpelação judicial, porque desnecessária, revela-se
processualmente inadmissível. - Onde não houver dúvida objetiva em torno do conteúdo moralmente ofensivo das afirmações
questionadas ou, então, onde inexistir qualquer incerteza a propósito dos destinatários de tais declarações, aí não terá pertinência nem
cabimento a interpelação judicial, pois ausentes, em tais hipóteses, os pressupostos necessários à sua utilização. Doutrina.
Precedentes.’ (Agr. Reg. Na Petição nº 4444 - Tribunal Pleno Relator Ministro Celso de Mello - julg. em 26/11/2008)
Na doutrina, colhe-se a lição de Paulo José da Costa Júnior, ‘litteris’:
‘Se a ofensa for equívoca, por empregar termos ou expressões dúbias, cabe o pedido de explicações previsto pelo art. 144.
Por vezes, o agente emprega frases ambíguas propositadamente, quiçá para excitar a atenção dos outros e dar mais efeito ao
seu significado injurioso.
Trata-se de medida facultativa, que antecede o oferecimento da queixa. Só tem cabimento o pedido nos casos de ofensas
equívocas. ’ (Código Penal Comentado, pág. 442, 8ª edição, 2005, DPJ)
É exatamente a situação que se apresenta no caso em testilha. O interpelado, ‘quiçá para excitar a atenção dos outros e dar mais
efeito ao seu significado injurioso’, não explicou quem são os ‘300 ou 400 Deputados Federais’ aos quais se referia. Tampouco disse quais
são os atos que caracterizam a tentativa de ‘achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais’. Daí a necessidade da presente interpelação.” (
grifei )
Presente esse contexto, impõe-se verificar, preliminarmente, se assiste, ou não, competência a esta Suprema Corte para processar,
originariamente, este pedido de explicações.
A notificação, como se sabe, considerada a natureza cautelar de que se reveste, deve processar-se perante o mesmo órgão judiciário que é
competente para julgar a ação penal principal eventualmente ajuizável contra o suposto ofensor.
Essa é a razão pela qual, por ser o interpelando Ministro de Estado, compete ao Supremo Tribunal Federal processar, originariamente, o
pedido de explicações, tal como formulado na espécie (Pet 1.249-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO - Pet 3.668/DF, Rel. Min. GILMAR
MENDES - Pet 3.857/BA, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA - Pet 4.076-AgR/DF, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI - Pet 4.199/DF, Rel.
Min. CELSO DE MELLO - Pet 4.444-AgR/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO - Pet 4.892/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.):
“COMPETÊNCIA PENAL ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA O PEDIDO DE EXPLICAÇÕES.
- A competência penal originária do Supremo Tribunal Federal para processar pedido de explicações em juízo, deduzido (...) com
apoio no Código Penal (art. 144), somente se concretizará quando o interpelando dispuser, ‘ratione muneris’, da prerrogativa de foro,
perante a Suprema Corte, nas infrações penais comuns (CF, art. 102, I, b e c).”
(RTJ 170/60-61, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno)
Reconhecida, desse modo, a competência originária desta Suprema Corte, impende analisar, agora, a natureza e a destinação da
interpelação judicial em referência, fundada no art. 144 do Código Penal.
Cumpre ter em consideração, neste ponto, que o pedido de explicações - que constitui medida processual meramente facultativa, “de sorte
que quem se julga ofendido pode, desde logo, intentar a ação penal privada, dispensando quaisquer explicações, se assim o entender” (EUCLIDES
CUSTÓDIO DA SILVEIRA, “Direito Penal Crimes Contra a Pessoa”, p. 260, item n. 120, 2ª ed., 1973, RT; JULIO FABBRINI MIRABETE,
“Código Penal Interpretado”, p. 949, 8ª ed., 2013, Atlas; PAULO JOSÉ DA COSTA JUNIOR, “Código Penal Comentado”, p. 436, 9ª ed., 2007,
DPJ) - reveste-se de função instrumental, cuja destinação jurídica vincula-se, unicamente, ao esclarecimento de situações impregnadas de
dubiedade, equivocidade ou ambiguidade (CP, art. 144), em ordem a viabilizar, tais sejam os esclarecimentos eventualmente prestados, a
instauração de processo penal de conhecimento tendente à obtenção de um provimento condenatório, consoante reconhece a própria jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal:
“- O pedido de explicações constitui típica providência de ordem cautelar, destinada a aparelhar ação penal principal, tendente a
sentença penal condenatória. O interessado, ao formulá-lo, invoca, em juízo, tutela cautelar penal, visando a que se esclareçam situações
revestidas de equivocidade, ambigüidade ou dubiedade, a fim de que se viabilize o exercício futuro de ação penal condenatória.
A notificação prevista no Código Penal (art. 144) (…) traduz mera faculdade processual, sujeita à discrição do ofendido. E só se
justifica na hipótese de ofensas equívocas.”
(RTJ 142/816, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
O Plenário do Supremo Tribunal Federal, apreciando a função, a natureza, a eficácia e as notas que caracterizam a medida processual
fundada no art. 144 do Código Penal, assim se pronunciou , fazendo-o em julgamento que bem reflete a diretriz jurisprudencial prevalecente na
matéria:
“- O pedido de explicações - formulado com suporte no Código Penal (art. 144) (…) - tem natureza cautelar (RTJ 142/816), é cabível
em qualquer das modalidades de crimes contra honra, não obriga aquele a quem se dirige, pois o interpelado não poderá ser constrangido a
prestar os esclarecimentos solicitados (RTJ 107/160), é processável perante o mesmo órgão judiciário competente para o julgamento da
causa penal principal (RTJ 159/107 - RTJ 170/60-61 - RT 709/401), reveste - se de caráter meramente facultativo (RT 602/368 -
RT627/365), não dispõe de eficácia interruptiva ou suspensiva da prescrição penal ou do prazo decadencial (RTJ 83/662 - RTJ 150/474-475
- RTJ 153/78-79), só se justifica quando ocorrentes situações de equivocidade, ambigüidade ou dubiedade (RT 694/412 - RT 709/401) e
traduz faculdade processual sujeita à discrição do ofendido (RTJ 142/816), o qual poderá, por isso mesmo, ajuizar, desde logo (RT 752/611),
a pertinente ação penal condenatória. Doutrina. Jurisprudência.”
(Pet 2.740-ED/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
Impende assinalar, de outro lado, que o pedido de explicações em juízo submete-se à mesma ordem ritual que é peculiar às notificações
avulsas.
Com efeito, o magistério da doutrina, de um lado (JULIO FABBRINI MIRABETE, “Código de Processo Penal Interpretado”, p.
1.324/1.325, 11ª ed., 2003, Saraiva; FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO, “Código de Processo Penal Comentado”, vol. 2/234, 15ª ed.,
2014, Saraiva; CEZAR ROBERTO BITENCOURT, “Código Penal Comentado”, p. 610, item n. 20.7, 8ª ed., 2014, Saraiva, v.g.), e a
jurisprudência dos Tribunais, de outro (RT 467/347 - RT 602/350 - Pet 2.156/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO - Pet 3.601/DF, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, v.g.), têm acentuado que a ordem ritual a ser observada no processamento dos pedidos de explicações em juízo submete-se à

Informativo 776-STF (20/03/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


disciplina formal estabelecida no art. 867 do CPC c/c o art. 3º do CPP, de tal modo que bastará, para tal efeito, que se determine a notificação da
pessoa de quem teriam emanado expressões ou frases dúbias, equívocas ou ambíguas.
Cumpre registrar, quanto a essa disciplina procedimental, o magistério de DAMÁSIO E. DE JESUS (“Código Penal Anotado”, p. 621, 22ª
ed., 2014, Saraiva):
“O pedido de explicações em Juízo segue o rito processual das notificações avulsas. Requerido, o juiz determina a notificação do
autor da frase para vir explicá-la em Juízo. Fornecida a explicação, ou, no caso da recusa, certificada esta nos autos, o juiz simplesmente
faz com que os autos sejam entregues ao requerente. Com eles, aquele que se sentiu ofendido pode ingressar em Juízo com ação penal por
crime contra a honra ou requerer a instauração de inquérito policial. De notar-se que o juiz não julga a recusa ou a natureza das
explicações. Havendo ação penal, é na fase do recebimento da queixa que o juiz, à vista das explicações, irá analisar a matéria, recebendo a
peça inicial ou a rejeitando, considerando, inclusive, para isso, as explicações dadas pelo pretenso ofensor (…).” (grifei)
Isso significa, portanto, que não caberá ao Supremo Tribunal Federal, nesta sede processual, avaliar o conteúdo das explicações dadas pela
parte requerida nem examinar a legitimidade jurídica de sua eventual recusa em prestá-las a esta Corte Suprema, valendo rememorar, no ponto, a
advertência de EUCLIDES CUSTÓDIO DA SILVEIRA sobre a natureza e a finalidade da interpelação penal fundada no art. 144 do Código Penal
(“Direito Penal - Crimes Contra a Pessoa”, p. 260/261, item n. 120, 2ª ed., 1973, RT):
“Destina-se ela a esclarecer ou positivar o exato sentido da manifestação de pensamento do requerido. É, portanto, instituída quer em
favor do requerente, quer do requerido, porque poderá poupar ao primeiro a propositura de ação infundada e dá ao segundo oportunidade
de esclarecer a sua verdadeira intenção, dissipando o equívoco e evitando a ação penal injusta. Tal natureza ou finalidade da providência
desautoriza qualquer pronunciamento judicial prévio sobre as explicações dadas, assim como a recusa de dá-las, por si só, não induz a
tipificação irremissível do crime. Nenhuma decisão se profere nos autos do pedido de explicações, que serão, pura e simplesmente, entregues
ao requerente.” (grifei)
Acentue-se, por relevante, que o despacho judicial que determina a notificação não veicula nem transmite qualquer ordem ao destinatário
desse ato processual, razão pela qual o notificando não pode ser compelido a comparecer em juízo nem constrangido a prestar esclarecimentos, ou
a exibir documentos, ou, ainda, a fazer, deixar de fazer ou tolerar que se faça alguma coisa.
A notificação judicial, pois, ordenada com fundamento no artigo 144 do Código Penal, não se reveste de conteúdo cominatório. Não
veicula, por tal motivo, qualquer determinação judicial dirigida ao notificando.
Abrem-se, na realidade, ao destinatário da interpelação penal quatro opções possíveis:
a) poderá, querendo, atender ao pedido formulado;
b) poderá, igualmente, a seu exclusivo critério, abster-se de responder à notificação efetivada, deixando escoar, “in albis”, o prazo que lhe
foi assinado (CELSO DELMANTO, ROBERTO DELMANTO, ROBERTO DELMANTO JUNIOR e FABIO M. DE ALMEIDA DELMANTO,
“Código Penal Comentado”, p. 520, 8ª ed., 2010, Saraiva, v.g.). O Supremo Tribunal Federal, pronunciando-se a respeito do tema, entendeu
caracterizada a ocorrência de injusta coação nos casos em que a autoridade judiciária impõe, coercitivamente, ao interpelando, em caso de recusa,
o dever de prestar as explicações em juízo:
“Crimes contra a honra. Pedido de explicação em juízo. Recusa do interpelado em comparecer para prestá-las. Constrangimento
judicial a prestá-las (Ilegalidade). Código Penal, art. 144 (exegese). 1. Se o art. 144 do Código Penal prevê a hipótese de o interpelado
recusar-se a atender ao pedido de explicações em juízo, não pode o Juiz constrangê-lo a prestá-las, posto que, feita a notificação e realizada
a audiência, com ou sem o seu comparecimento, está exaurida a tarefa judicial. 2. A designação de nova audiência para explicações do
interpelado constitui constrangimento ilegal, remediável por ‘habeas corpus’. 3. Recurso de habeas corpus provido.”
(RTJ 107/160, Rel. Min. RAFAEL MAYER - grifei);
c) poderá, ainda, em atenção ao Poder Judiciário, comunicar-lhe, de modo formal, as razões pelas quais entende não ter o que responder
ao interpelante; e
d) poderá, finalmente, prestar as explicações solicitadas. Se, no entanto, optar por fazê-lo por intermédio de procurador, a este deverão ser
outorgados poderes especiais (ROGÉRIO LAURIA TUCCI, “Pedido de Explicações”, “in” RT 538/297, 303; BENTO DE FARIA, “Código Penal
Brasileiro Comentado”, vol. 4/243, 2ª ed., 1959; DAMÁSIO E. DE JESUS, “Código de Processo Penal Anotado”, p. 457, 24ª ed., 2010, Saraiva,
v.g.).
Analisados, assim, os diversos aspectos concernentes à interpelação penal (CP, art. 144), considerado o fato de que não se consumaram,
ainda, os prazos de decadência e de prescrição e reconhecida , também , a competência originária do Supremo Tribunal Federal para o
processamento dessa verdadeira ação penal cautelar , determino a notificação do Ministro **, para que , observado o prazo de 10 (dez) dias,
responda, querendo, à presente interpelação.
Publique-se.
Brasília, 09 de março de 2015.
Ministro CELSO DE MELLO
Relator
*decisão publicada no DJe de 12.3.2015
** nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
2 a 6 de março de 2015

Lei nº 13.103, de 2.3.2015 - Dispõe sobre o exercício da profissão de motorista; altera a Consolidação das Leis do
o o os
Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n 5.452, de 1 .3.1943, e as Leis n 9.503, de 23.9.1997 - Código de
Trânsito Brasileiro, e 11.442, de 5.1.2007 (empresas e transportadores autônomos de carga), para disciplinar a jornada
de trabalho e o tempo de direção do motorista profissional; altera a Lei n o 7.408, de 25.11.1985; revoga dispositivos da
o
Lei n 12.619, de 30.4.2012; e dá outras providências. Publicada no DOU em 3.3.2015, Seção 1, p. 1.

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Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

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Márcio André Lopes Cavalcante

Processo excluído deste informativo por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: ADI 2905/MG.
Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 4079/ES.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
 Lei estadual pode fixar número máximo de alunos por sala de aula.
PODER LEGISLATIVO
 Imunidade material dos Vereadores.
PODER JUDICIÁRIO
 CE não pode criar regras novas para a escolha do Desembargador pelo quinto constitucional.

DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO
 Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar.

DIREITO PENAL
FIXAÇÃO DO REGIME PRISIONAL
 Fixação de regime inicial de cumprimento de pena e circunstâncias judiciais.
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
 O porte ilegal de arma de fogo deve ser absorvido pelo crime de homicídio?

DIREITO CONSTITUCIONAL
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
Lei estadual pode fixar número máximo de alunos por sala de aula

A competência para legislar sobre educação e ensino é concorrente (art. 24, IX, da CF/88).
No âmbito da legislação concorrente, a União tem competência apenas para estabelecer as normas
gerais (§ 1º) e os Estados podem suplementar (complementar, detalhar) a legislação federal (§ 2º).
As normas gerais sobre educação foram editadas pela União na Lei 9.394/96 (LDB).
Determinado Estado-membro editou uma lei prevendo o número máximo de alunos que
poderiam estudar nas salas de aula das escolas, públicas ou particulares, ali existentes.
O STF entendeu que essa lei é constitucional e que não usurpa a competência da União para
legislar sobre normas gerais de educação.
STF. Plenário. ADI 4060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/2/2015 (Info 775).

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


Número máximo de alunos por sala
O Estado de Santa Catarina editou uma lei prevendo o número máximo de alunos que poderiam estudar
nas salas de aula das escolas, públicas ou particulares, existentes no Estado.
a) educação infantil envolvendo crianças de até 4 anos: máximo de 15 alunos;
b) educação infantil envolvendo crianças de até 6 anos: máximo de 25 crianças;
c) ensino fundamental até a 4ª série: máximo de 30 alunos;
d) ensino fundamental nas demais séries: máximo de 35 alunos;
e) ensino médio: máximo de 40 alunos.

O argumento utilizado pela Lei estadual foi o de que um número muito grande de alunos por sala de aula
não atende a critérios pedagógicos nem possibilita a adequada comunicação e aproveitamento do ensino.

ADI
A Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenem), contudo, não concordou e propôs,
no STF, uma ADI contra a lei.
Na ação, a Confenem argumentou que a União e os Estados são competentes para legislar sobre educação
(art. 24, IX, da CF/88), mas as regras gerais instituídas pela União são de observância obrigatória e os
Estados não podem tratar sobre o tema de forma contrária.
Segundo defendeu a autora da ADI, a Lei estadual teria violado o art. 25 da Lei federal n. 9.394/96 (LDB).

O STF concordou com a ADI proposta? A Lei estadual violou a CF/88?


NÃO. Lei editada por Estado-membro, que disponha sobre número máximo de alunos em sala de aula na
educação infantil, fundamental e média, não usurpa a competência da União para legislar sobre normas
gerais de educação (art. 24, IX, e § 3º, da CF/88).

A competência para legislar sobre educação e ensino é concorrente:


Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
IX - educação, cultura, ensino e desporto;

No âmbito da legislação concorrente, a União tem competência apenas para estabelecer as normas gerais
(§ 1º) e os Estados podem suplementar (complementar, detalhar) a legislação federal (§ 2º).

As normas gerais sobre educação foram editadas pela União na Lei n. 9.394/96, chamada de LDB (Lei de
diretrizes e bases da educação nacional).

A LDB trata sobre a quantidade de alunos em sala de aula em apenas um dispositivo. Confira:
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades responsáveis alcançar relação adequada entre o
número de alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais do estabelecimento.
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à vista das condições disponíveis e das
características regionais e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto neste artigo.

Sistema de ensino é uma expressão utilizada pela LDB que significa a organização do ensino no respectivo
Estado/DF ou Município. Assim, dizemos que existe o sistema de ensino estadual, distrital e municipal. É o
próprio ente que, por meio de lei, estabelece as regras sobre seu sistema de ensino, desde que
respeitadas as normas gerais da União. Veja o que diz a LDB:
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os
respectivos sistemas de ensino.
(...)
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei.

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
(...)
V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;

Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:


III - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino;

Desse modo, o Estado-membro poderia legislar sobre seu sistema de ensino e essa regra de número
máximo de alunos por sala de aula não violou nem a CF/88 nem o art. 25 da Lei n. 9.394/96. Ao contrário,
a legislação estadual cumpriu o que determina o parágrafo único do referido art. 25.

Segundo entendeu o STF, limite máximo de alunos em sala de aula é um tema que não precisa ser tratado
de forma idêntica em todo o Brasil (não precisa ter uma uniformidade nacional). Logo, não é matéria de
normas gerais da União, pois envolve circunstâncias peculiares, tais como: número de escolas colocadas à
disposição da população naquele Estado/Município, a oferta de vagas para o ensino fundamental e médio,
quantitativo de crianças em idade escolar, o número de professores em oferta, entre outros.

Assim, considerou-se que a Lei do Estado de Santa Catarina, ao prever número máximo de alunos por sala
de aula, apenas esmiuçou o art. 25 da LDB, não avançando sobre matéria de competência da União.

Durante os debates, os Ministros ressaltaram que o STF, em matéria de competência legislativa, deve
prestigiar (e aceitar) as leis de iniciativas regionais e locais, a menos que ofendam norma expressa e
inequívoca da Constituição. Essa diretriz se ajusta à noção de federalismo como sistema que visaria a
promover o pluralismo nas formas de organização política.

PODER LEGISLATIVO
Imunidade material dos Vereadores

Importante!!!
Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o
Prefeito, um Vereador passou a proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar. O
Vereador ofendido ajuizou ação de indenização por danos morais contra o ofensor. A questão
chegou até o STF que, julgando o tema sob a sistemática da repercussão geral, declarou que o
Vereador não deveria ser condenado porque agiu sob o manto da imunidade material. Na
oportunidade, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser aplicada aos casos semelhantes:
Nos limites da circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do mandato,
garante-se a imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores.
STF. Plenário. RE 600063/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 25/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).

O que são as chamadas imunidades parlamentares?


Imunidades parlamentares são algumas prerrogativas conferidas pela CF/88 aos parlamentares para que
eles possam exercer seu mandato com liberdade e independência.

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Quais são as espécies de imunidade:
MATERIAL FORMAL
(inviolabilidade) (imunidade processual ou adjetiva)
Significa que os Deputados e Podem ser de duas espécies:
Senadores são invioláveis, civil e a) Em relação à prisão (art. 53, § 2º): desde a expedição do
penalmente, por quaisquer de suas diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser
opiniões, palavras e votos (art. 53 da presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso,
CF/88). os autos serão remetidos dentro de 24 horas à Casa
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros,
resolva sobre a prisão.
b) Em relação ao processo (art. 53, § 3º): se for proposta e
recebida denúncia criminal contra Senador ou Deputado
Federal, por crime ocorrido após a diplomação, o STF dará
ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político
nela representado e pelo voto da maioria de seus membros,
poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.

A CF/88, ao tratar sobre as imunidades, no art. 53 fala sobre Deputados Federais e Senadores. Indaga-
se: os Deputados Estaduais e os Vereadores também gozam das mesmas imunidades?
Deputados Estaduais: SIM Vereadores:
A CF/88 determina que os Deputados Os Vereadores gozam de inviolabilidade por suas opiniões,
Estaduais possuem as mesmas palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição
imunidades que os parlamentares do Município (art. 29, VIII).
federais.
Resumindo:
Logo, os Deputados Estaduais gozam • I u idade fo al: NÃO goza ;
tanto da imunidade material como • I u idade ate ial: possue , as desde ue ela io ado
formal. com o mandato e por manifestações feitas dentro do
Município.

Caso concreto julgado pelo STF


Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o Prefeito, um
Vereador passou a proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar.
O Vereador ofendido ajuizou ação de indenização por danos morais contra o ofensor.
A questão chegou até o STF que, julgando o tema sob a sistemática da repercussão geral, declarou que o
Vereador não deveria ser condenado porque agiu sob o manto da imunidade material.
Na oportunidade, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser aplicada aos casos semelhantes:
Nos limites da circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do mandato, garante-
se a imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores.
STF. Plenário. RE 600063, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 25/02/2015.

Durante os debates, o Min. Celso de Mello afirmou que eventual abuso por parte do Parlamentar deve ser
coibido dentro da própria Casa Legislativa, pelos seus pares, que poderão até mesmo cassá-lo por quebra
de decoro. O que não se pode é processar civil ou criminalmente o Vereador por suas opiniões, palavras e
votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município.

Requisitos para a imunidade material dos Vereadores:


Repare que, para que haja a imunidade material dos Vereadores, são necessários dois requisitos:
1) que as opiniões, palavras e votos tenham relação como o exercício do mandato; e
2) que tenham sido proferidas na circunscrição (dentro dos limites territoriais) do Município.

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Ofensas que não tenham relação com o exercício do mandato ou que sejam proferidas fora do Município
não gozam da imunidade
Ex: Vereador que, no clamor de uma discussão, dirigiu expressões grosseiras contra policial militar. O STF
entendeu que as supostas ofensas foram proferidas em contexto que não guardava nenhuma relação com
o mandato parlamentar, durante discussão entre duas pessoas que se encontravam em local totalmente
alheio à vereança. Logo, não se aplica a imunidade material (STF. Plenário. Inq 3215, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 04/04/2013).

PODER JUDICIÁRIO
CE não pode criar regras novas para a escolha do Desembargador pelo quinto constitucional

A Assembleia Legislativa de determinado estado aprovou emenda constitucional afirmando


que, após o Governador escolher um dos candidatos da lista tríplice para ser Desembargador
pelo quinto constitucional, ele deveria ainda submeter esse nome à apreciação da ALE. Assim,
o candidato escolhido pelo chefe do Poder Executivo somente seria nomeado se a Assembleia
aprovasse a indicação pelo voto da maioria absoluta dos Deputados. Dessa forma, foi criada
mais uma etapa na escolha dos Desembargadores pelo quinto constitucional, que não está
prevista no art. 94 da CF/88.
O STF julgou essa emenda inconstitucional. A exigência de submissão do nome escolhido pelo
governador à Casa Legislativa, para preenchimento de vaga destinada ao quinto
constitucional, invade a atuação do Poder Executivo. O procedimento para a escolha dos
Desembargadores foi tratado de forma exaustiva pelo art. 94 da CF/88, não podendo o
constituinte estadual inovar e estabelecer novas etapas que não estejam expressamente
previstas na Carta Federal.
STF. Plenário. ADI 4150/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/2/2015 (Info 775).

Tribunal Regional Federal (TRF) e Tribunal de Justiça (TJ)


“ão o postos po Dese a gado es fede ais , o aso do TRF; e estaduais, o aso do TJ .
Esses Desembargadores são:
 juízes que foram promovidos (por antiguidade ou merecimento); ou
 ex-advogados ou ex- e os do MP o eados Dese a gado es pelo ha ado siste a do ui to
o stitu io al .

Regra do quinto constitucional


A CF/88 determina que 1/5, ou seja, 20% das vagas de Desembargadores no TJ e no TRF deverão ser
preenchidas não por magistrados de carreira, mas sim por advogados e membros do MP.
A isso ha a os de eg a do ui to o stitu io al .
Vejamos os detalhes disso:

Apli ado a o posição dos TRF’s e TJ´s

1/5 dos lugares dos TRF´s e dos TJ´s deve ser composto, alternadamente, por:
- membros do MP com mais de 10 anos de carreira; e
- advogados de notório saber jurídico e ilibada reputação com mais de 10 de efetiva atividade
profissional.

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Os candidatos serão indicados em lista sêxtupla pelos órgãos representativos da respectiva classe (MP ou
OAB), e o tribunal, recebida a lista, elaborará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo que, então, nos
20 dias subsequentes, escolherá um dos integrantes para a nomeação.

Ex: João, Desembargador do TJSP, oriundo da advocacia, aposentou-se; surge, então, uma vaga nesse TJ
para ser preenchida pelo sistema do quinto constitucional dentre advogados. A OAB-SP deverá elaborar
uma lista com 6 nomes de advogados que tenham notório saber jurídico, reputação ilibada e mais de 10
aos de efetiva advocacia. Essa lista será encaminhada ao TJSP. Desses 6 nomes, o TJ escolherá 3, ou seja,
fará uma lista tríplice e a remeterá ao Governador do Estado. O Governador do Estado escolherá um
desses 3 nomes para nomear como Desembargador.

Obs: no TRF o procedimento é semelhante, com a diferença de que, em vez do Governador do Estado,
quem escolhe um nome da lista tríplice é o Presidente da República.

Onde está prevista a regra do quinto constitucional?


CF/88. Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do
Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de
carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva
atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.
Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo,
que, nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação.

Veja o que a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo fez...


A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo incluiu na Constituição Estadual mais uma regra
(peculiaridade) a respeito da escolha dos Desembargadores do TJSP pelo quinto constitucional.
Foi previsto que, após o Governador escolher um dos candidatos da lista tríplice, ele deveria ainda
submeter esse nome à apreciação da Assembleia Legislativa.
Assim, o candidato escolhido pelo chefe do Poder Executivo somente seria nomeado se a Assembleia
aprovasse seu nome pelo voto da maioria absoluta.
Dessa forma, foi criada mais uma etapa na escolha dos Desembargadores pelo quinto constitucional.

Essa previsão da CE/SP é válida? Pode-se instituir uma regra na CE exigindo que o candidato à vaga do
quinto constitucional seja antes aprovado pela ALE?
NÃO. O STF entende que essa regra que foi inserida na Constituição de São Paulo não é válida.
Como vimos acima, o procedimento para a escolha dos Desembargadores foi tratado de forma exaustiva
pelo art. 94 da CF/88, não podendo o constituinte estadual inovar e estabelecer novas etapas que não
estejam expressamente previstas na Carta Federal.
STF. Plenário. ADI 4150/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/02/2015.

DIREITO ADMINISTRATIVO

CONCURSO PÚBLICO
Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar

Importante!!!
O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração
tem direito a receber a remuneração retroativa?

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o argumento
de que houve demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação tardia a cargo público em
decorrência de decisão judicial não gera direito à indenização.
Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o servidor não
foi nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade flagrante.
Nas exatas palavras do STF: Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão
judicial, o servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido investido
em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante.
STF. Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi aprovado em todas as provas teóricas do concurso, no entanto, foi eliminado no exame
psicotécnico, fato ocorrido no ano de 2010.
O candidato ingressou com ação ordinária questionando os critérios utilizados no teste psicotécnico
aplicado. O pedido de antecipação de tutela, contudo, foi negado.
Todos os demais candidatos aprovados tomaram posse.
A ação foi julgada procedente em todas as instâncias, mas a Fazenda Pública sempre recorria e João ainda
não havia tomado posse. Somente em 2015, quando houve o trânsito em jugado, ele foi nomeado e
empossado.
Significa que, enquanto os demais candidatos foram nomeados e estavam trabalhando desde 2010, João,
mesmo tendo direito, só conseguiu ingressar no serviço público 5 anos mais tarde.
Inconformado com a situação, João propôs ação de indenização contra o Poder Público alegando que teria
direito de receber, a título de reparação, o valor da remuneração do cargo referente ao período de 2010
até 2015.

O pedido de indenização formulado por João encontra amparo na jurisprudência? O candidato que teve
postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração tem direito a receber a
remuneração retroativa?

• Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o argumento de que
houve demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação tardia a cargo público em decorrência de
decisão judicial não gera direito à indenização.

• Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o servidor não foi
nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade flagrante.

O tema foi decidido pelo STF em sede de recurso extraordinário sob a sistemática da repercussão geral.

No julgado, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser aplicada aos casos semelhantes:
a hipótese de posse e argo pú li o deter i ada por de isão judi ial, o servidor ão faz jus à
indenização sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior, salvo situação de
ar itrariedade flagra te .
STF. Plenário. RE 724347/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 26/02/2015.

Por que o candidato não terá direito ao pagamento da remuneração retroativa?


O direito à remuneração é consequência do exercício de fato do cargo. Dessa forma, inexistindo o efetivo
exercício, a pessoa não faz jus à percepção de qualquer importância, a título de ressarcimento material,
sob pena de pena de enriquecimento sem causa.

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


O que entende o STJ?
O STJ possui posição pacífica no sentido de que o candidato cuja nomeação tardia tenha ocorrido por força
de decisão judicial não tem direito a indenização pelo tempo em que aguardou a solução definitiva pelo
Judiciário (STJ. Corte Especial. EREsp 1117974/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Teori Albino Zavascki, julgado em
21/09/2011).

Peculiaridade ressalvada pelo STF


Importante destacar, no entanto, que o STF trouxe uma peculiaridade que antes não era reconhecida por
ele nem pelo STJ.
Trata-se da previsão de que pode haver uma exceção.
Assim, em regra não será devida a indenização salvo se, no caso concreto, ficar demonstrado que o
servidor não foi nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade flagrante.

DIREITO PENAL

FIXAÇÃO DO REGIME PRISIONAL


Fixação de regime inicial de cumprimento de pena e circunstâncias judiciais

Se a pena-base é fixada acima do mínimo legal em virtude de as circunstâncias judiciais do art.


59 do CP serem desfavoráveis, é possível que o juiz determine regime inicial mais gravoso do
que o abstratamente previsto de acordo com a quantidade de pena aplicada.
Ex.: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de 2 anos e 6 meses de detenção. Em regra,
o regime inicial seria o aberto art. , § º, c , do CP . Ocorre que duas circunstâncias
judiciais foram desfavoráveis a ele, conforme fundamentação do juiz (circunstâncias e
consequências do crime). Nesse caso, o magistrado, fundamentando sua decisão nesses dados,
pode impor ao condenado o regime inicial semiaberto.
STF. 2ª Turma. HC 124876/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/2/2015 (Info 775).

FIXAÇÃO DO REGIME PRISIONAL


Regimes prisionais
Existem três regimes penitenciários:
FECHADO SEMIABERTO ABERTO
Pena cumprida em Pena cumprida em colônia Pena cumprida em casa de
estabelecimento de segurança agrícola, industrial ou albergado ou estabelecimento
máxima ou média. estabelecimento similar. adequado.

Fixação do regime inicial


O juiz, ao prolatar a sentença condenatória, deverá impor o regime no qual o condenado iniciará o
cumprimento da pena privativa de liberdade. A isso se dá o nome de fixação do regime inicial.
Os critérios para essa fixação estão previstos no art. 33 do Código Penal.

O que o juiz deve observar na fixação do regime inicial?


O juiz, quando vai fixar o regime inicial do cumprimento da pena privativa de liberdade, deve observar
quatro fatores:
1) o tipo de pena aplicada: se reclusão ou detenção;
2) o quantum da pena definitiva;

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


3) se o condenado é reincidente ou não;
4) as circunstâncias judiciais (art. 59 do CP).

Vamos organizar a aplicação desses quatro fatores:

FECHADO: se a pena é superior a 8 anos.

SEMIABERTO: se a pena foi maior que 4 e menor que 8 anos.


Se o condenado for reincidente, o regime inicial,
para esse quantum de pena, é o fechado.

RECLUSÃO
ABERTO: se a pena foi de até 4 anos.
O regime inicial
Se o condenado for reincidente, o regime inicial,
pode ser:
para esse quantum de pena, será o semiaberto ou o fechado.
O que irá definir isso vão ser as circunstâncias judiciais:
 se desfavoráveis, vai para o fechado;
 se favoráveis, vai para o semiaberto.

Súmula 269-STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos


reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as
circunstâncias judiciais.

FECHADO: nunca
Obs.: alguns autores mencionam como exceção o art. 10 da Lei de Crimes
Organizados, mas esse dispositivo é inconstitucional.
DETENÇÃO
O regime inicial
SEMIABERTO: se a pena foi maior que 4 anos.
pode ser:

ABERTO: se a pena foi de até 4 anos.


Se o condenado for reincidente, o regime inicial é o semiaberto.

Vimos acima que o regime inicial da detenção nunca será o fechado. No entanto, o condenado que está
cumprindo pena por conta de um crime punido com detenção poderá ir para o regime fechado caso
cometa falta grave e seja sancionado com a regressão?
SIM, é possível. Nesse caso, no entanto, não estaremos mais falando em regime inicial.

Atenção: o que vimos nesses dois quadros são as regras gerais.


Vamos agora fazer uma pergunta que reflete uma exceção a esse quadro:

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


É possível que seja imposto ao condenado primário um regime inicial mais rigoroso do que o previsto
para a quantidade de pena aplicada? Ex.: se uma pessoa for condenada a seis anos de reclusão, pode o
juiz fixar o regime inicial fechado?
SIM, é possível, desde que o juiz apresente motivação idônea na sentença.
Súmula 719-STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir
exige motivação idônea.

O juiz pode fundamentar a imposição do regime mais severo devido ao fato do crime praticado ser,
abstratamente, um delito grave? Ex.: o juiz afirma que, em sua opinião, no caso de tráfico de drogas o
regime deve ser o fechado em razão da gravidade desse delito.
NÃO. A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime NÃO constitui motivação idônea para
a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada (Súmula 718-STF).

O que é considerado, então, motivação idônea para impor ao condenado regime mais gravoso?
Exige-se que o juiz aponte circunstâncias que demonstrem que o fato criminoso, concretamente, foi grave.
Se as circunstâncias judiciais do art. 59 forem desfavoráveis, é possível que o juiz se fundamente nesses
dados para impor ao condenado regime inicial mais gravoso que o previsto para a quantidade de pena
aplicada. Nesse sentido:
(...) Se as penas-base de ambos os crimes são fixadas acima do mínimo legal em face da valoração negativa
das circunstâncias do art. 59 do Código Penal, não há ilegalidade na imposição de regime inicial mais
gravoso do que o abstratamente previsto de acordo com a quantidade de pena aplicada. (...)
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1471969/RN, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 20/11/2014)
Ex.: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de 2 anos e 6 meses de detenção. Em regra, o regime
inicial seria o aberto a t. , § º, , do CP . Ocorre que duas circunstâncias judiciais foram
desfavoráveis a ele, conforme fundamentação do juiz (circunstâncias e consequências do crime). Nesse
caso, o magistrado, fundamentando sua decisão nesses dados, pode impor ao condenado o regime inicial
semiaberto (STF. 2ª Turma. HC 124876/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/2/2015. Info 775).

Se a pena privativa de liberdade foi fixada no mínimo legal, é possível a fixação de regime inicial mais severo
do que o previsto pela quantidade de pena? Ex.: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de seis anos
de reclusão. As circunstâncias judiciais foram favoráveis. Pode o juiz fixar o regime inicial fechado?
Trata-se de tema polêmico. O “TJ possui i ú e os julgados afi a do ue fixada a pena-base no mínimo
legal e sendo o acusado primário e sem antecedentes criminais não se justifica a fixação do regime
p isio al ais g avoso “TJ. ª Tu a. HC 303.247/SP, Rel. Min Jorge Mussi, julgado em 11/11/2014).
Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais
gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.

No entanto, o Informativo 548 trouxe decisão do STJ no sentido de que, ainda que o juiz tenha
considerado favoráveis as circunstâncias judiciais (art. 59 do CP), é admissível a fixação do regime inicial
mais gravoso do que o abstratamente previsto de acordo com a quantidade de pena aplicada, desde que o
magistrado fundamente essa decisão na gravidade concreta da conduta delituosa (STJ. 5ª Turma. HC
294.803-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ-SC), julgado em 18/9/2014). Foi
mencionado outro precedente da Corte no mesmo caminho:
(...) A estipulação do regime de cumprimento da pena não está atrelada, em caráter absoluto, à pena-base. O
fato de esta ser colocada no mínimo legal não torna obrigatória a fixação de regime menos severo, desde que,
por meio de elementos extraídos da conduta delitiva, seja demonstrada a gravidade concreta do crime, de
forma a autorizar a imposição de regime mais rigoroso do que aquele permitido pelo quantu da ep i e da.
“TJ. ª Tu a. HC . ⁄“P, Rel. Mi . “e astião Reis Jú io , julgado e ⁄ ⁄ .

Vamos acompanhar para saber qual entendimento irá prevalecer.

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


ESTATUTO DO DESARMAMENTO
O porte ilegal de arma de fogo deve ser absorvido pelo crime de homicídio?

Importante!!!
Se o agente, utilizando arma de fogo, atira e mata alguém, haverá homicídio e porte de arma de
fogo ou apenas homicídio? Se uma pessoa pratica homicídio com arma de fogo, a acusação por
porte deverá ser absorvida? Aplica-se o princípio da consunção?
Depende da situação:
• Situação 1: NÃO. O crime de porte não será absorvido se ficar provado nos autos que o agente
portava ilegalmente a arma de fogo em outras oportunidades antes ou depois do homicídio e
que ele não se utilizou da arma tão somente para praticar o assassinato. Ex: a instrução
demonstrou que João adquiriu a arma de fogo três meses antes de matar Pedro e não a
comprou com a exclusiva finalidade de ceifar a vida da vítima.
• Situação 2: SIM. Se não houver provas de que o réu já portava a arma antes do homicídio ou
se ficar provado que ele a utilizou somente para matar a vítima. Ex: o agente compra a arma de
fogo e, em seguida, dirige-se até a casa da vítima, e contra ela desfere dois tiros, matando-a.
No caso concreto julgado pelo STF, ficou provado que o réu havia comprado a arma 3 meses
antes da morte da vítima. Além disso, também se demonstrou pelas testemunhas que o acusado,
várias vezes antes do crime, passou na frente da casa da vítima, mostrando ostensivamente o
revólver utilizado no crime. Desse modo, restou provado que os tipos penais consumaram-se em
momentos distintos e que tinham desígnios autônomos, razão pela qual não se pode reconhecer
o princípio da consunção entre o homicídio e o porte ilegal de arma de fogo.
STF. 1ª Turma. HC 120678/PR, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
em 24/2/2015 (Info 775).

Imagine a seguinte concreta julgada pelo STF:


O agente, utilizando arma de fogo de numeração raspada, deu um tiro na vítima, causando-lhe a morte.
O réu foi denunciado por homicídio (art. 121 do CP) em concurso material com porte ilegal de arma de
fogo com numeração raspada (art. 16, parágrafo único, IV, da Lei n. 10.826/2003).
O juiz da vara do Tribunal do Júri entendeu que ficou provado que o réu agiu em legítima defesa, razão
pela qual o absolveu sumariamente pelo crime de homicídio, mas determinou que o crime de porte de
arma de fogo deveria continuar e ser julgado pelo juiz da vara criminal comum.
A defesa recorreu requerendo a absolvição do réu também com relação ao crime do art. 16, sob o
argumento de que deveria incidir na hipótese o princípio da consunção.

A tese da defesa deverá ser acolhida? Se o agente, utilizando arma de fogo, atira e mata alguém, haverá, em
tese, homicídio e porte de arma de fogo ou apenas homicídio? Dito de outra forma, se uma pessoa pratica
homicídio com arma de fogo, a acusação por porte deverá ser absorvida? Aplica-se o princípio da consunção?
Depende da situação:

 Situação 1: NÃO. O crime de porte não será absorvido se ficar provado nos autos que o agente portava
ilegalmente a arma de fogo em outras oportunidades antes ou depois do homicídio e que ele não se
utilizou da arma tão somente para praticar o assassinato. Ex: a instrução demonstrou que João
adquiriu a arma de fogo três meses antes de matar Pedro e não a comprou com a exclusiva finalidade
de ceifar a vida da vítima.
A conduta de portar arma ilegalmente não pode ser absorvida pelo crime de homicídio, quando
restar evidenciada a existência de crimes autônomos, sem nexo de dependência ou subordinação.
(STJ. 5ª Turma. HC 217.321/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/08/2013)

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


 Situação 2: SIM. Se não houver provas de que o réu já portava a arma antes do homicídio ou se ficar
provado que ele a utilizou somente para matar a vítima. Ex: o agente compra a arma de fogo e, em
seguida, dirige-se até a casa da vítima, e contra ela desfere dois tiros, matando-a.
Havendo um contexto fático único e incontroverso de que a arma de fogo foi o meio para a
consumação do crime de homicídio, aplica-se o princípio da consunção. (STJ. 6ª Turma. HC
104.455/ES, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/10/2010).

Voltando ao caso concreto julgado pelo STF:


Ficou provado que o réu havia comprado a arma 3 meses antes da morte da vítima. Além disso, também
se demonstrou pelas testemunhas que o acusado, várias vezes antes do crime, passou na frente da casa da
vítima, mostrando ostensivamente o revólver utilizado no crime.
Desse modo, restou provado que os tipos penais consumaram-se em momentos distintos e que tinham
desígnios autônomos, razão pela qual a excludente de ilicitude reconhecida quanto ao homicídio não
alcança o porte ilegal de arma de fogo com numeração raspada.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Professores de rede estadual e regime de subsídio


O Plenário conheceu em parte de ação direta ajuizada em face dos artigos 1º a 7º da LC 428/2007 do
Estado do Espírito Santo e, na parte conhecida, julgou o pedido improcedente. Os dispositivos impugnados
tratam da instituição do regime de subsídio para o pagamento dos professores da rede estadual de ensino.
Além disso, estabelecem que os profissionais já integrantes do quadro possam optar pelo novo regime ou
pelo anterior, de vencimentos e vantagens pessoais. Preliminarmente, o Colegiado, por maioria,
reconheceu a legitimidade ativa da requerente, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação -
CNTE. No ponto, ressaltou haver precedente do STF a admitir a mesma entidade como legitimada em ação
de controle concentrado, tendo em vista se tratar de confederação sindical, de âmbito nacional, conforme
atestado pelo Ministério do Trabalho (ADI 1.969/DF, DJe de 31.8.2007). A CNTE contaria com expressiva
representatividade e, além disso, haveria tendência histórica da Corte no sentido de flexibilizar os
requisitos quanto à admissão de legitimados ativos. Outrossim, a entidade cumpriria o que exigido pelo art.
103, IX, da CF. Vencido, quanto à preliminar, o Ministro Teori Zavascki, que não reconhecia a legitimidade
ativa da requerente. Entendia não bastar que a entidade si di al fosse de o i ada Co fede ação , as
ue se ia e essá io ue ate desse aos e uisitos do a t. da CLT [ As Co fede ações o ga iza -se-ão
o o í i o de t s fede ações e te ão sede a Capital da Repú li a ]. Na esp ie, a CNTE o ta ia
com apenas uma federação. No mérito, o Plenário destacou que estariam cumulados dois pedidos: de
declaração de inconstitucionalidade por ação e por omissão, esta no que se refere ao art. 3º da norma
impugnada. Esse dispositivo trata dos valores dos subsídios e, segundo a requerente, deveria ser aplicado a
todos os servidores da categoria ou, subsidiariamente, ser retirado do mundo jurídico. No ponto, o
Colegiado afirmou haver precedente no sentido de reconhecer a relativa fungibilidade entre as ações
diretas de inconstitucionalidade por ação e por omissão (ADI 875/DF, DJe de 30.4.2010). Além disso, o
pedido, na espécie, seria alternativo, por isso juridicamente viável. Ademais, o Plenário considerou não
haver violação a direito adquirido, porque os professores já em atividade teriam a opção quanto ao regime
de pagamento. Tampouco haveria violação à irredutibilidade de vencimentos, porque essa opção poderia
ser realizada a qualquer tempo, então o profissional poderia permanecer no regime antigo até o momento
em que não mais fosse vantajoso. Além disso, não estaria violada a isonomia, pois a convivência dos dois
regimes seria favorável aos professores, permitiria que escolhessem a situação que mais lhes aprouvesse.
Não existiria discriminação ilegítima. Por outro lado, não seria possível cumular os dois regimes jurídicos,
para somar o subsídio, de maior valor, às vantagens pessoais adquiridas anteriormente. Por fim, o

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


Colegiado afastou a impugnação quanto ao art. 2º da norma adversada, uma vez não haver fundamentos,
na inicial, quanto a esse dispositivo. O pedido, no ponto, seria genérico, razão pela qual a ação não deveria
ser conhecida nesse aspecto.
ADI 4079/ES, rel. Min. Roberto Barroso, 25 e 26.2.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 18 a 27 de fevereiro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 833.248-RJ


RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. VEICULAÇÃO DE PROGRAMA TELEVISIVO QUE ABORDA CRIME OCORRIDO HÁ VÁRIAS
DÉCADAS. AÇÃO INDENIZATÓRIA PROPOSTA POR FAMILIARES DA VÍTIMA. ALEGADOS DANOS MORAIS. DIREITO AO
ESQUECIMENTO. DEBATE ACERCA DA HARMONIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E
DO DIREITO À INFORMAÇÃO COM AQUELES QUE PROTEGEM A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E A INVIOLABILIDADE DA
HONRA E DA INTIMIDADE. PRESENÇA DE REPERCUSSÃO GERAL.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 848.107-DF
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: CONSTITUCIONAL. PENAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. TERMO INICIAL PARA A CONTAGEM DA PRESCRIÇÃO NA
MODALIDADE EXECUTÓRIA. TRÂNSITO EM JULGADO SOMENTE PARA A ACUSAÇÃO. ARTIGO 112, INCISO I, DO CÓDIGO
PENAL. NECESSIDADE DE HARMONIZAÇÃO DO REFERIDO INSTITUTO PENAL COM O ORDENAMENTO JURÍDICO
CONSTITUCIONAL VIGENTE, DIANTE DOS POSTULADOS DA ESTRITA LEGALIDADE E DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (CF, ART.
5º, INCISOS II E LVII). QUESTÃO EMINENTEMENTE CONSTITUCIONAL. MATÉRIA PASSÍVEL DE REPETIÇÃO EM INÚMEROS
PROCESSOS, A REPERCUTIR NA ESFERA DO INTERESSE PÚBLICO. TEMA COM REPERCUSSÃO GERAL.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 541.856-ES
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
Recurso Extraordinário. Direito Trabalhista. Prescrição. FGTS. Questão relativa ao termo inicial para questionar o direito à correção de diferenças
alusivas ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Lei Complementar 110/2001. Controvérsia que se situa no âmbito da legislação
infraconstitucional. Ofensa reflexa. Ausência de repercussão geral da questão suscitada.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 849.397-RS
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. SERVIDORES
PÚBLICOS. VENCIMENTO BÁSICO. INCORPORAÇÃO DE 50% DA PARCELA AUTÔNOMA. OCORRÊNCIA DE DECESSO
REMUNERATÓRIO. NECESSIDADE DE REEXAME DA LEGISLAÇÃO ESTADUAL PERTINENTE E DO CONJUNTO FÁTICO-
PROBATÓRIO DOS AUTOS. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa à incorporação de 50% da “parcela autônoma” ao vencimento básico dos servidores públicos do Estado do Rio Grande do
Sul, por demandar a interpretação das Leis Estaduais 10.395/95 e 13.733/11, é de natureza infraconstitucional.
2. É pacífico na jurisprudência desta Corte o entendimento de que é inviável, em sede de recurso extraordinário, a verificação, caso a caso, de decesso
remuneratório decorrente de alteração no regime jurídico de servidores públicos, já que indispensável seria a reapreciação do conjunto fático-
probatório dos autos (Súmula 279).
3. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna se dê de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/03/2009).
4. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 633.981-DF
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES
Recurso Extraordinário. Direito Civil. Divórcio Direto. Ausência de coabitação dos cônjuges como prova da separação de fato. Análise da presença
dos requisitos necessários. Código Civil. Controvérsia que se situa no âmbito da legislação infraconstitucional. Ofensa reflexa. Ausência de
repercussão geral da questão suscitada.
Decisões Publicadas: 5

CLIPPING DO D JE
18 a 27 de fevereiro de 2015

ADI N. 2.940-ES
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


DIPLOMA LEGAL – ÓRGÃO DO EXECUTIVO – CRIAÇÃO –INICIATIVA – VÍCIO FORMAL. Surge vício de iniciativa quando o diploma legal
teve origem na própria Assembleia e versa a criação de órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde.
*noticiado no Informativo 771
RE N. 662.406-AL
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DE ATIVIDADE TÉCNICA DE FISCALIZAÇÃO
AGROPECUÁRIA - GDATFA. TERMO FINAL DO DIREITO À PARIDADE REMUNERATÓRIA ENTRE SERVIDORES ATIVOS E
INATIVOS. DATA DA REALIZAÇÃO DA AVALIAÇÃO DO PRIMEIRO CICLO.
1. O termo inicial do pagamento diferenciado das gratificações de desempenho entre servidores ativos e inativos é o da data da homologação do
resultado das avaliações, após a conclusão do primeiro ciclo de avaliações, não podendo a Administração retroagir os efeitos financeiros a data
anterior.
2. É ilegítima, portanto, nesse ponto, a Portaria MAPA 1.031/2010, que retroagiu os efeitos financeiros da Gratificação de Desempenho de Atividade
Técnica de Fiscalização Agropecuária - GDAFTA ao início do ciclo avaliativo.
3. Recurso extraordinário conhecido e não provido.
*noticiado no Informativo 771
AG. REG. NA MED. CAUT. NA AC N. 2.910-RS
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM NO AGRAVO REGIMENTAL NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO CAUTELAR. ATRIBUIÇÃO DE
EFEITO SUSPENSIVO A AGRAVO DE INSTRUMENTO. DESTRANCAMENTO. EFEITOS QUE PERDURAM APENAS ATÉ O EXAME DO
MÉRITO RECURSAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 759.276. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. PERDA SUPERVENIENTE DO
OBJETO DA AÇÃO. QUESTÃO DE ORDEM ACOLHIDA PARA EXTINGUIR A AÇÃO CAUTELAR.
*noticiado no Informativo 771
AG. REG. NA Pet N. 3.067-MG
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO.
1. A ação civil pública por ato de improbidade administrativa que tenha por réu parlamentar deve ser julgada em Primeira Instância. 2. Declaração de
inconstitucionalidade do art. 84, §2º, do CPP no julgamento da ADI 2797. 3. Mantida a decisão monocrática que declinou da competência. 4. Agravo
Regimental a que se nega provimento.
*noticiado no Informativo 768
HC N. 122.694-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Habeas corpus. Penal. Prescrição da pretensão punitiva, na modalidade retroativa, com base na pena aplicada na sentença.
Incidência entre a data do fato e a do recebimento da denúncia. Inadmissibilidade. Inteligência do art. 110, § 1º, do Código Penal, com a
redação dada pela Lei nº 12.234/10. Abolição, apenas parcial, dessa modalidade de prescrição. Exame da proporcionalidade em sentido
amplo. Submissão da alteração legislativa aos testes da idoneidade (adequação), da necessidade e da proporcionalidade em sentido estrito.
Constitucionalidade reconhecida. Liberdade de conformação do legislador. Inexistência de ofensa aos princípios da dignidade da pessoa
humana (art. 1º, III, CF), da humanidade da pena, da culpabilidade, da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF), da isonomia (art. 5º, II,
CF) e da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, CF). Análise de legislação comparada em matéria de prescrição penal. Ordem
denegada.
1. A Lei nº 12.234/10, ao dar nova redação ao art. 110, § 1º, do Código Penal, não aboliu a prescrição da pretensão punitiva, na modalidade retroativa,
fundada na pena aplicada na sentença. Apenas vedou, quanto aos crimes praticados na sua vigência, seu reconhecimento entre a data do fato e a do
recebimento da denúncia ou da queixa.
2. Essa vedação é proporcional em sentido amplo e não viola os princípios da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF), da humanidade da pena
(art. 5º, XLVII e XLIX, CF), da culpabilidade, da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF), da isonomia (art. 5º, II, CF) ou da razoável duração do
processo (art. 5º, LXXVIII, CF).
3. A Lei nº 12.234/10 se insere na liberdade de conformação do legislador, que tem legitimidade democrática para escolher os meios que reputar
adequados para a consecução de determinados objetivos, desde que eles não lhe sejam vedados pela Constituição nem violem a proporcionalidade.
4. É constitucional, portanto, o art. 110, § 1º, do Código Penal, com a redação dada pela Lei nº 12.234/10.
5. Ordem de habeas corpus denegada.
*noticiado no Informativo 771
RE N. 570.392-RS
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. LEI PROIBITIVA DE NEPOTISMO. VÍCIO FORMAL DE INICIATIVA
LEGISLATIVA: INEXISTÊNCIA. NORMA COERENTE COM OS PRINCÍPIOS DO ART. 37, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.
1. O Procurador-Geral do Estado dispõe de legitimidade para interpor recurso extraordinário contra acórdão do Tribunal de Justiça proferido em
representação de inconstitucionalidade (art. 125, § 2º, da Constituição da República) em defesa de lei ou ato normativo estadual ou municipal, em
simetria a mesma competência atribuída ao Advogado-Geral da União (art. 103, § 3º, da Constituição da República). Teoria dos poderes implícitos.
2. Não é privativa do Chefe do Poder Executivo a competência para a iniciativa legislativa de lei sobre nepotismo na Administração Pública: leis com
esse conteúdo normativo dão concretude aos princípios da moralidade e da impessoalidade do art. 37, caput, da Constituição da República, que,
ademais, têm aplicabilidade imediata, ou seja, independente de lei. Precedentes. Súmula Vinculante n. 13.
3. Recurso extraordinário provido.
*noticiado no Informativo 771
RE N. 773.992-BA
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Recurso extraordinário. Repercussão geral reconhecida. Tributário. IPTU. Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).
Imunidade recíproca (art. 150, VI, a, da CF).
1. Perfilhando a cisão estabelecida entre prestadoras de serviço público e exploradoras de atividade econômica, a Corte sempre concebeu a Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos como uma empresa prestadora de serviços públicos de prestação obrigatória e exclusiva do Estado.
2. A imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, a, da Constituição, alcança o IPTU que incidiria sobre os imóveis de propriedade da ECT e por ela
utilizados.
3. Não se pode estabelecer, a priori, nenhuma distinção entre os imóveis afetados ao serviço postal e aqueles afetados à atividade econômica.

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


4. Na dúvida suscitada pela apreciação de um caso concreto, acerca, por exemplo, de quais imóveis estariam afetados ao serviço público e quais não,
não se pode sacrificar a imunidade tributária do patrimônio da empresa pública, sob pena de se frustrar a integração nacional.
5. As presunções sobre o enquadramento originariamente conferido devem militar a favor do contribuinte. Caso já lhe tenha sido deferido o status de
imune, o afastamento dessa imunidade só pode ocorrer mediante a constituição de prova em contrário produzida pela Administração Tributária.
6. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
*noticiado no Informativo 763
ARE N. 660.010-PR
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Recurso extraordinário. Repercussão geral reconhecida. Servidor público. Odontologistas da rede pública. Aumento da jornada
de trabalho sem a correspondente retribuição remuneratória. Desrespeito ao princípio constitucional da irredutibilidade de vencimentos.
1. O assunto corresponde ao Tema nº 514 da Gestão por Temas da Repercussão Geral do portal do Supremo Tribunal Federal na internet e está
assim descrito: “aumento da carga horária de servidores públicos, por meio de norma estadual, sem a devida contraprestação remuneratória”.
2. Conforme a reiterada jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, não tem o servidor público direito adquirido a regime jurídico remuneratório,
exceto se da alteração legal decorrer redução de seus rendimentos, que é a hipótese dos autos.
3. A violação da garantia da irredutibilidade de vencimentos pressupõe a redução direta dos estipêndios funcionais pela diminuição pura e simples do
valor nominal do total da remuneração ou pelo decréscimo do valor do salário-hora, seja pela redução da jornada de trabalho com adequação dos
vencimentos à nova carga horária, seja pelo aumento da jornada de trabalho sem a correspondente retribuição remuneratória.
4. Não há divergência, nos autos, quanto ao fato de que os odontologistas da rede pública vinham exercendo jornada de trabalho de 20 horas
semanais, em respeito às regras que incidiam quando das suas respectivas investiduras, tendo sido compelidos, pelo Decreto estadual nº 4.345/2005
do Paraná, a cumprir jornada de 40 horas semanais sem acréscimo remuneratório e, ainda, sob pena de virem a sofrer as sanções previstas na Lei
estadual nº 6.174/70.
5. No caso, houve inegável redução de vencimentos, tendo em vista a ausência de previsão de pagamento pelo aumento da carga horária de trabalho, o
que se mostra inadmissível, em razão do disposto no art. 37, inciso XV, da Constituição Federal.
6. Recurso extraordinário provido para se declarar a parcial inconstitucionalidade do § 1º do art. 1º do Decreto estadual nº 4.345, de 14 de
fevereiro de 2005, do Estado do Paraná, sem redução do texto, e, diante da necessidade de que sejam apreciados os demais pleitos formulados
na exordial, para se determinar que nova sentença seja prolatada após a produção de provas que foi requerida pelas partes.
7. Reafirmada a jurisprudência da Corte e fixadas as seguintes teses jurídicas: i) a ampliação de jornada de trabalho sem alteração da
remuneração do servidor consiste em violação da regra constitucional da irredutibilidade de vencimentos; ii) no caso concreto, o § 1º do art.
1º do Decreto estadual nº 4.345, de 14 de fevereiro de 2005, do Estado do Paraná não se aplica aos servidores elencados em se u caput que,
antes de sua edição, estavam legitimamente submetidos a carga horária semanal inferior a quarenta horas.
*noticiado no Informativo 765
ARE N. 709.212-DF
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso extraordinário. Direito do Trabalho. Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Cobrança de valores não pagos. Prazo prescricional.
Prescrição quinquenal. Art. 7º, XXIX, da Constituição. Superação de entendimento anterior sobre prescrição trintenária. Inconstitucionalidade dos
arts. 23, § 5º, da Lei 8.036/1990 e 55 do Regulamento do FGTS aprovado pelo Decreto 99.684/1990. Segurança jurídica. Necessidade de modulação
dos efeitos da decisão. Art. 27 da Lei 9.868/1999. Declaração de inconstitucionalidade com efeitos ex nunc. Recurso extraordinário a que se nega
provimento.
*noticiado no Informativo 767
AG. REG. NO ARE N. 843.375-RJ
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio próprio ao revolvimento da prova, também
não servindo à interpretação de normas estritamente legais.
PREQUESTIONAMENTO – CONFIGURAÇÃO – RAZÃO DE SER. O prequestionamento não resulta da circunstância de a matéria haver sido
arguida pela parte recorrente. A configuração pressupõe debate e decisão prévios pelo Colegiado, ou seja, emissão de entendimento. O instituto visa o
cotejo indispensável a que se diga enquadrado o recurso extraordinário no permissivo constitucional.
*noticiado no Informativo
AG. REG. NO AI N. 818.064-CE
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULA 282. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULA 283/STF.
A alegada ofensa ao art. 37 da Constituição Federal não foi apreciada pelo acórdão impugnado, nem tampouco foi suscitada nos embargos
declaratórios. Incide, portanto, o óbice da Súmula 282/STF.
A controvérsia foi decidida com fundamento no princípio isonômico. Fundamento não impugnado pela parte recorrente na peça de recurso
extraordinário. Incidência da Súmula 283/STF.
Agravo regimental a que se nega provimento.
*noticiado no Informativo
AP N. 347-CE
RELATORA: MIN. ROSA WEBER
EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. CRIME PREVISTO NO ART. 3º DA LEI 7.143/83. NÃO-
CONFIGURAÇÃO. SUBVENÇÃO SOCIAL. ATIPICIDADE.
1. O desvio de subvenção social, de subsídios federais ou de verbas federais pode, a depender das circunstâncias do caso, configurar os crimes de
peculato, de apropriação indébita ou mesmo de estelionato.
2. Denúncia que não imputa aos acusados a apropriação privada da subvenção social, satisfazendo-se com a afirmação de que a subvenção social não
teria sido aplicada no projeto que lhe deu causa e classificando-a no crime do art. 3º da Lei nº 7.134/1985.
3. Subvenção social não é “crédito ou financiamento concedido por órgãos da administração pública, direta ou indireta, ou recurso proveniente de
incentivo fiscal”, o que afasta a aplicação do art. 3º da Lei nº 7.134/1985.
4. Inviabilidade do enquadramento da conduta narrada na denúncia nos tipos de peculato, apropriação indébita, estelionato ou do art. 3º da Lei nº
7.134/1985 que leva à absolvição por atipicidade.
5. Ação penal julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 772
QUEST. ORD. EM Inq N. 3.552-RS

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
INQUÉRITO – DETENTOR DE PRERROGATIVA DE FORO – INDÍCIOS. Surgindo indícios de detentor de prerrogativa de foro estar envolvido
em fato criminoso, cumpre à autoridade judicial remeter o inquérito ao Supremo – precedente: Inquérito nº 2.842, relator ministro Ricardo
Lewandowski –, sob pena de haver o arquivamento ante a ilicitude dos elementos colhidos.
*noticiado no Informativo 772
RE N. 239.458-SP
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. LEI MUNICIPAL N. 10.905/1990. DIREITO DE
OFICIAIS DE JUSTIÇA A ESTACIONAR EM VIAS SECUNDÁRIAS E EM ÁREAS DE FAIXA AZUL. LEI DE INICIATIVA
PARLAMENTAR. CONTRARIEDADE AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. SEGURANÇA DENEGADA. DECLARAÇÃO
INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 1º DA LEI N. 10.905/1990. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.
*noticiado no Informativo 771
RE N. 591.054-SC
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PENA – FIXAÇÃO – ANTECEDENTES CRIMINAIS – INQUÉRITOS E PROCESSOS EM CURSO – DESINFLUÊNCIA. Ante o princípio
constitucional da não culpabilidade, inquéritos e processos criminais em curso são neutros na definição dos antecedentes criminais.
*noticiado no Informativo 772
Acórdãos Publicados: 506

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Art. 478, I, do CPP e leitura de sentença prolatada em desfavor de corréu (Transcrições)


(v. Informativo 774)
RHC 118.006/SP*
RELATOR: Ministro Dias Toffoli
EMENTA: Recurso ordinário em habeas corpus. Processual Penal. Júri. Homicídio qualificado. Artigo 121, § 2º, II, c/c o art. 29, do
Código Penal. Leitura pelo Ministério Público, nos debates, de sentença condenatória de corréu proferida em julgamento anterior.
Alegação de sua utilização como argumento de autoridade, em prejuízo do recorrente. Nulidade. Não ocorrência. Sentença que não faz
qualquer alusão a sua pessoa nem a sua suposta participação no crime. Inaptidão do documento para interferir no ânimo dos jurados
em desfavor do recorrente. Peça que não se subsume na vedação do art. 478, I, do Código de Processo Penal. Possibilidade de sua
leitura em plenário (art. 480, caput, CPP). Inexistência de comprovação de que o documento, de fato, foi empregado como argumento
de autoridade e de que houve prejuízo insanável à defesa (art. 563, CPP). Recurso não provido.
1. O art. 478, I, do Código de Processo Penal veda que as partes, nos debates, façam referência a decisão de pronúncia e a decisões posteriores
em que se tenha julgado admissível a acusação como argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado.
2. Esse dispositivo legal não veda a leitura, em plenário, da sentença condenatória de corréu, proferida em julgamento anterior, a qual é
admitida pelo art. 480, caput, do Código de Processo Penal.
3. A sentença, ademais, é desprovida de aptidão para interferir no ânimo dos jurados, como argumento de autoridade e em prejuízo do
recorrente, uma vez que não faz qualquer alusão a sua pessoa nem a sua suposta participação no crime.
4. Ausente a comprovação de que o documento, de fato, foi empregado como argumento de autoridade e que houve prejuízo insanável à defesa
(art. 563, CPP), não há nulidade a ser reconhecida.
5. Recurso não provido.
RELATÓRIO: Recurso ordinário em habeas corpus interposto por ** contra o acórdão mediante o qual a Quinta Turma do Superior Tribunal de
Justiça não conheceu do HC nº 198.574/SP, Relator o Ministro Jorge Mussi.
Aduz o recorrente que, em 26/8/08, foi condenado pelo Tribunal do Júri da Comarca de Guarulhos/SP à pena de 14 (catorze) anos de reclusão
e que esse julgamento seria nulo, por violação do art. 478, I, do Código de Processo Penal, uma vez que, em plenário, o representante do Ministério
Público, utilizando-a como argumento de autoridade, procedeu à leitura da sentença condenatória, proferida em julgamento anterior, do corréu **,
“inclusive rogando para que os Senhores Jurados [a] lessem em sua companhia” (anexo 2, fl. 99).
Segundo o recorrente, a leitura dessa sentença
“se coaduna perfeitamente com o dispositivo do Art. 478 do CPP. Pois que a sentença é sem sombra de dúvida decisão posterior que
julgou admissível a acusação, demonstrando, destarte, que os Senhores Jurados como leigos que são, acabaram por serem induzidos a erro,
e condenaram o Recorrente somente com base nestes argumentos.
(…)
Por mais que o legislador não tivesse inserido no dispositivo infraconstitucional a frase: leitura de sentença do Corréu, por uma
singela interpretação concluímos que a menção: ‘às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação’ é sim uma explanação da
leitura de sentenças de julgamento que ocorrem de Corréus, quando da ocorrência de cisão em julgamento, o que se amolda perfeitamente ao
vertente caso”.
Ao ver do recorrente,
“(...) [a] leitura de peças e sua indicação é amparad[a] pelo artigo 480 do CPP. Contudo, ler decisão que admitiu e ratificou a
acusação, como na espécie uma sentença, é sim violar o dispositivo do artigo 478 do Diploma Processual Penal, afinal, é vedado utilizar
como argumento de autoridade!”.

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


Ante o exposto, requer o provimento do recurso e a concessão da ordem de habeas corpus, de modo que seja cassada sua condenação e
determinada sua submissão a novo julgamento pelo Tribunal do Júri.
Após contrarrazões, o recurso foi recebido e encaminhado ao Supremo Tribunal Federal.
O Ministério Público Federal, em parecer do ilustre Subprocurador-Geral da República Dr. Mario José Gisi, opinou pelo não conhecimento
do recurso ou, caso dele se conheça, pelo seu não provimento.
É o relatório.
VOTO: Como exposto, trata-se de recurso ordinário em habeas corpus, interposto por ** contra o acórdão mediante o qual a Quinta Turma do
Superior Tribunal de Justiça não conheceu do HC nº 198.574/SP, Relator o Ministro Jorge Mussi.
Transcrevo a ementa desse julgado:
“HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO ORIGINÁRIA. SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO ESPECIAL CABÍVEL. IMPOSSIBILIDADE.
RESPEITO AO SISTEMA RECURSAL PREVISTO NA CARTA MAGNA. NÃO CONHECIMENTO.
1. Nos termos do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, o Superior Tribunal de Justiça é competente para julgar, em recurso
especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, nas hipóteses descritas de forma taxativa nas suas alíneas ‘a’, ‘b’ e ‘c’.
2. Com o intuito de homenagear o sistema criado pelo Poder Constituinte Originário para a impugnação das decisões judiciais,
necessária a racionalização da utilização do habeas corpus, o qual não deve ser admitido para contestar decisão contra a qual exista previsão
de recurso específico no ordenamento jurídico.
3. Em se tratando de direito penal, destinado a recuperar as mazelas sociais e tendo como regra a imposição de sanção privativa de
liberdade, o direito de locomoção, sempre e sempre, estará em discussão, ainda que de forma reflexa. Tal argumento, entretanto, não pode
mais ser utilizado para que todas as matérias que envolvam a persecutio criminis in judictio até a efetiva prestação jurisdicional sejam
trazidas para dentro do habeas corpus, cujas limitações cognitivas podem significar, até mesmo, o tratamento inadequado da providência
requerida.
4. Tendo em vista que a impetração aponta como ato coator acórdão proferido por ocasião do julgamento de apelação criminal,
contra a qual seria cabível a interposição do recurso especial, depara-se com flagrante utilização inadequada da via eleita, circunstância que
impede o seu conhecimento.
5. Como o writ foi impetrado antes da alteração do entendimento jurisprudencial desta Corte Superior de Justiça, o alegado constrangimento
ilegal será enfrentado para que se analise a possibilidade de eventual concessão de habeas corpus de ofício.
HOMICÍDIO QUALIFICADO (ARTIGO 121, § 2º, INCISO II, DO CÓDIGO PENAL). APONTADA VIOLAÇÃO AO ARTIGO 478 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. LEITURA DA SENTENÇA QUE CONDENOU CORRÉU PELA PRÁTICA DO MESMO DELITO.
AUSÊNCIA DE ÓBICE LEGAL. NULIDADE INEXISTENTE.
1. De acordo com o artigo 478 do Código de Processo Penal, as partes não podem fazer referências, durante os debates, ‘à decisão de
pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade
que beneficiem ou prejudiquem o acusado’, bem como ‘ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em
seu prejuízo’.
2. A sentença condenatória proferida contra corréu não consta dos incisos I e II do artigo 478 da Lei Processual Penal, inexistindo
óbice à sua menção por quaisquer das partes.
3. O caput do artigo 480 do Código de Processo Penal prevê a possibilidade de leitura de peças processuais pelas partes, podendo a
acusação, a defesa e os jurados, a qualquer momento e por intermédio do Juiz Presidente, pedir que o orador indique a folha dos autos onde
se encontra o trecho lido ou citado.
4. Desse modo, não se pode afirmar que a leitura pelo membro do Ministério Público do édito repressivo prolatado contra corréu
tenha se dado em dissonância com o que prevê a legislação processual penal pertinente, não se vislumbrando a ocorrência da eiva indicada
pelos impetrantes.
5. Habeas corpus não conhecido.”
Contra essa decisão, insurge-se o recorrente.
O presente recurso foi interposto tempestivamente.
A despeito de não ter conhecido do habeas corpus, o Superior Tribunal de Justiça analisou a questão de fundo (alegada nulidade do
julgamento pelo Tribunal do Júri), razão por que sua reapreciação, nesta sede, não importa supressão de instância.
O recorrente, condenado pelo Tribunal do Júri, como incurso nas sanções do art. 121, § 2º, II, c/c o art. 29, caput, do Código Penal, à pena de
14 (catorze) anos de reclusão, em regime inicial fechado, insiste no reconhecimento da nulidade desse julgamento, pelo fato de a acusação, em
plenário, ter lido anterior sentença condenatória de corréu.
Sem razão, contudo.
Diversamente do que sustenta o recorrente, houve-se com acerto o Superior Tribunal de Justiça ao assentar que
“Pela letra do artigo 478 do Código de Processo Penal, as partes não podem fazer referências, durante os debates, ‘à decisão de
pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como argumento de autoridade
que beneficiem ou prejudiquem o acusado’, bem como ‘ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em
seu prejuízo’.
Na hipótese em tela, ‘pelo Dr. Defensor do co-réu ** foi requerido que constasse em ata que o Representante do Ministério Público,
durante sua explanação, leu os depoimentos tomados quando do julgamento em plenário de ** (Fls. 289, 291, 292, 295 e 299)’ (e-STJ fl. 167).
Dentre as peças lidas pelo órgão ministerial, estaria a sentença que condenou o corréu ** à pena de 14 (catorze) anos de reclusão
pela prática do crime de homicídio qualificado (e-STJ fls. 143/144).
Ora, o édito repressivo prolatado contra corréu não consta dos incisos I e II do artigo 478 da Lei Processual Penal, inexistindo óbice à
sua leitura por quaisquer das partes.
Aliás, o próprio caput do artigo 480 do Código de Processo Penal estabelece a possibilidade de leitura de peças processuais pelas
partes, podendo a acusação, a defesa e os jurados, a qualquer momento e por intermédio do Juiz Presidente, pedir que o orador indique a
folha dos autos onde se encontra o trecho lido ou citado.
Confira-se:
‘Art. 480. A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por intermédio do juiz presidente, pedir ao orador
que indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo
mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado.’
Desse modo, não estando a sentença condenatória do corréu dentre as decisões cuja referência é proibida, havendo a previsão, na
própria legislação processual penal, de leitura de peças dos autos pelas partes, e inexistindo a comprovação de que o órgão acusatório tenha

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


utilizado o édito repressivo prolatado contra um dos acusados como argumento de autoridade, correta a conclusão da Corte de origem, que
assim se manifestou sobre o ponto:
‘Quanto a preliminar arguida por ambos os defensores, razão alguma lhes assiste.
A leitura do conjunto probatório colhido nos autos não é vedada. Todos os depoimentos, laudos e decisões constantes dos autos
podem ser lidos aos Senhores Jurados, pois fazem parte dos autos e a eles têm os juízes leigos pleno acesso.
O que a lei veda é a tentativa de, tanto acusação quanto defesa, fazerem uso de tais documentos lendo-os aos jurados ‘como
argumento de autoridade, que beneficiem ou prejudiquem o acusado’, como expressamente dispõe o inciso I, do artigo 478, do Código
de Processo Penal.
Ou seja, tentem persuadir os jurados a acolher determinada tese não pelo conteúdo do documento constante dos autos, mas
diante da fonte de onde o mesmo emana, autoridade, juiz ou desembargador.
(...)
Infere-se da Ata de Julgamento que o combativo Defensor requereu que constasse, apenas, que o representante da Justiça
Pública fez a ‘leitura de folha dos autos’, sem nada especificar se com argumento de autoridade ou não.
Daí porque, não demonstrada a contaminação da vontade dos Senhores Jurados, nem prejuízo daí decorrente, rejeito a
preliminar invocada. (e-STJ fls. 204/205)’” (anexo 2, fls. 78/87).
Não se vislumbra, portanto, a alegada nulidade do julgamento em razão da leitura, em plenário, da sentença condenatória do corréu **,
proferida em julgamento anterior.
Nos termos do art. 480, caput, do Código de Processo Penal, as peças constantes dos autos podem ser lidas pelas partes, vedando-se apenas
que a decisão de pronúncia e as decisões posteriores que julgaram admissível a acusação sejam utilizadas como argumento de autoridade para
beneficiar ou prejudicar o acusado (art. 478, I, CPP).
Anterior sentença condenatória de corréu não se subsume no conceito de “decisões posteriores que julgaram admissível a acusação”, o qual
compreende o acórdão confirmatório da pronúncia, bem como os habeas corpus e recursos especial e extraordinário decididos, respectivamente, pelo
Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal.
Como bem observado pelo Ministério Público Federal em seu parecer,
“(...) a defesa não logrou comprovar que a leitura da sentença condenatória prolatada em desfavor do corréu foi empregada como
argumento de autoridade, de modo tal que produzisse insanável prejuízo à defesa, circunstância que, per si, obsta a declaração do vício
procedimental e a imposição de eventual sanção de nulidade (art. 563, CPP)”.
Nesse particular, observo que, de acordo com a ata de julgamento da sessão do Júri, a defesa do recorrente limitou-se a sustentar a tese de sua
não participação no homicídio (anexo 1, fl. 15).
Ora, a anterior sentença condenatória do corréu ** não faz qualquer alusão ao ora recorrente ou a sua suposta participação no crime. Seu
relatório, aliás, nem sequer menciona o nome do recorrente (anexo 1, fls. 11/12).
Essa sentença, portanto, não tinha aptidão para interferir no ânimo dos jurados em desfavor do ora recorrente, como argumento de autoridade.
A situação, portanto, é bem diversa daquela que o art. 478, I, do Código de Processo Penal procura tutelar, qual seja, o impedimento de que a
decisão de pronúncia ou quaisquer outras que a ela se refiram sejam esgrimidas nos debates como argumento de autoridade para prejudicar ou
beneficiar o acusado, por conterem juízos de valor a respeito da materialidade do crime, dos indícios de autoria e da existência de qualificadoras.
Em suma, não há vício que tenha comprometido a imparcialidade do julgamento pelo Conselho de Sentença, juiz natural da causa (art. 5º,
XXXVIII, d, CF).
Ante o exposto, nego provimento ao recurso.
É como voto.
* acórdão pendente de publicação
** nomes suprimidos pelo Informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
18 a 27 de fevereiro de 2015

o
Lei nº 13.102, de 26.2.2015 - Altera a Lei n 13.019, de 31.7.2014, que estabelece o regime jurídico das parcerias
voluntárias, envolvendo ou não transferências de recursos financeiros, entre a administração pública e as organizações
da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de interesse público; define
diretrizes para a política de fomento e de colaboração com organizações da sociedade civil; institui o termo de
os
colaboração e o termo de fomento; e altera as Leis n 8.429, de 2.6.1992, e 9.790, de 23.3.1999. Publicada no DOU em
27.2.2015, Seção 1, p. 3.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 775-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 4013/TO; ADI 3757/PR; RHC 117462/RJ.

Julgado excluído por ter menor relevância para concursos públicos ou por ter sido decidido com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 2063 MC/RS.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
SALÁRIO MÍNIMO
 Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como indexador econômico.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
 É inconstitucional lei estadual que cria obrigações pecuniárias para as concessionárias de energia elétrica.
 É inconstitucional lei estadual que proíba comercialização de produtos estrangeiros com agrotóxicos.

PROCESSO LEGISLATIVO
 Inconstitucionalidade de EC iniciada por parlamentar tratando sobre matérias do art. 61, § 1º da CF.

DIREITO ADMINISTRATIVO
TETO CONSTITUCIONAL
 É inconstitucional lei estadual que fixa teto remuneratório para servidores do Poder Judiciário.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


TRIBUNAL DO JÚRI
 Referência ou leitura de sentença prolatada em desfavor do corréu.

RECURSOS
 Inexistência de reformatio in pejus na manutenção da condenação, mas com base em fundamentos diversos da
sentença.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


DESERÇÃO
 Prescrição no caso do crime de deserção.

ABANDONO DE POSTO
 Abandono de posto e deserção praticados dentro do mesmo contexto fático

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO CONSTITUCIONAL
SALÁRIO MÍNIMO
Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como indexador econômico

Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo
vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário
mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a
remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou que seria possível conferir interpretação
conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o valor do benefício seria igual ao
salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso, mesmo o salário
mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar
automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não
pode servir como indexador. Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo
contida na lei estadual seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição
da lei, passando a ser corrigido nos anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com
isso, o benefício continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar
esse valor por meio de índices econômicos.
STF. Plenário. ADI 4726 MC/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2015 (Info 774)

Benefício assistencial fixado em salário mínimo


Em 2011, o Estado do Amapá editou uma Lei prevendo o pagamento de um benefício assistencial no valor
de metade do salário mínimo às famílias que se encontrassem em situação de pobreza e extrema pobreza,
consoante critérios de enquadramento nela definidos.
Foi proposta ADI contra essa previsão afirmando que a lei violou a parte final do art. 7º, IV, da CF/88, já que
criou uma vinculação entre o valor do benefício e o salário-mínimo. Veja o que diz o dispositivo constitucional:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais
básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene,
transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;

Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como indexador


A CF/88 realmente proíbe que o salário mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras
finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. Em outras palavras, é proibido que o preço de
bens, serviços ou benefícios sejam fixados com base no salário mínimo (ex: 1 salário mínimo, 2 salários
mínimos, 1/2 do salário mínimo, 1/3 do salário mínimo etc.).
Essa proibição tem como objetivo evitar que o salário mínimo se torne u à i dexado àe o i o (um
índice de reajuste).
Se a Constituição permitisse que o salário mínimo pudesse servir como indexador econômico, o valor e o
preço de vários benefícios, produtos e serviços seriam fixados em salário mínimo. Ex: se não houvesse a
vedação, o locador poderia estabelecer no contrato que o valor do aluguel seria de 2 salários mínimos, de
forma que todas as vezes que ele aumentasse, o valor pago também seria majorado. Ex2: o colégio
poderia fixar o valor da mensalidade em metade do salário mínimo; Ex3: a academia poderia estabelecer o
valor da mensalidade em 1/3 do salário mínimo etc.
Desse modo, se isso fosse permitido, haveria uma pressão muito grande no momento de aumentar o
salário mínimo no país, considerando que ele iria influenciar direta e imediatamente no preço de inúmeros
bens. Além disso, todas as vezes que o salário mínimo subisse, o preço desses bens e serviços iriam
também aumentar automaticamente, gerando inflação e fazendo com que não houvesse ganho real para
o trabalhador, já que todas as outras coisas também ficariam mais caras.

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


O que o STF decidiu em relação à Lei do AP?
A Lei do Amapá, ao dizer que o benefício assistencial teria o valor de 1/2 do salário mínimo, em tese,
violaria o art. 7º, IV, da CF/88. No entanto, o STF, a fim de evitar que fosse declarada a
i o stitu io alidadeàdoàdispositivo,à o seguiuà salv -lo ,àconferindo à lei uma interpretação conforme a
Constituição.
Em outras palavras, o STF afirmou que, para que a lei do AP seja compatível com o art. 7º, IV, da CF/88
devemos interpretá-la da seguinte forma: na época em que foi instituído o benefício (em 2011), o valor do
auxílio era igual a metade do salário mínimo (metade de R$ 545). No entanto, mesmo o salário mínimo
aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar automaticamente os
reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não pode servir como indexador.
Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual seja considerada
como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a ser corrigido nos anos seguintes
por meio de índice econômico diverso.
Com isso, o benefício continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse
valor por meio de índices econômicos.

Interpretação conforme a Constituição


Oà o jetivoàdaài te p etaçãoà o fo eà aàCo stituiçãoà à oàdeà p ese va àaàvo tadeà legislativaà ua doàfo à
possível extrair do dispositivo impugnado interpretação compatível com o Diploma Maior, ainda que não
seja a mais óbvia. Preservam-se, por meio da técnica, o princípio da separação de poderes – conducente à
valorização da manifestação do legislador democrático – e a efetividade da Constituiçãoà daà Repú li a. à
(Min. Marco Aurélio)

Alguns de vocês podem estar se perguntando: mas eu conheço um benefício assistencial, chamado de LOAS

Este benefício é previsto no art. 20 da Lei n. 8.742/93. Essa Lei viola o art. 7º, IV, da CF/88?
(amparo assistencial), que é pago aos deficientes e idosos miseráveis e que é no valor de um salário mínimo.

NÃO. Isso porque é a própria CF/88, em seu art. 203, V, que determina que esse benefício será pago no
valor de um salário mínimo. Veja:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social, e tem por objetivos:
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que
comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família,
conforme dispuser a lei.

Assim, não há problema se a própria CF/88 estabelecer vinculações a salário mínimo. Quem não pode
fazer isso é a lei sem respaldo constitucional.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que cria obrigações pecuniárias
para as concessionárias de energia elétrica

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que determine que os postes de sustentação à rede elétrica
que estejam causando transtornos ou impedimentos aos proprietários de terrenos serão
removidos, sem qualquer ônus para os interessados. Isso porque essa lei trata sobre energia
elétrica, matéria de competência privativa da União (art. 22, IV, da CF/88), além de interferir
nos termos da relação contratual estabelecida entre o poder federal e as concessionárias que
exploram o serviço de fornecimento de energia elétrica no Estado-membro.
STF. Plenário. ADI 4925/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 12/2/2015 (Info 774).

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


Lei dispondo sobre energia elétrica
Foi editada lei em São Paulo determinando que os postes de sustentação à rede elétrica que estejam
causando transtornos ou impedimentos aos proprietários de terrenos serão removidos, sem qualquer
ônus para os interessados.

Essa lei é constitucional?


NÃO. Essa lei é inconstitucional porque compete à União legislar sobre energia elétrica e definir como
ocorrerá a exploração dos serviços de energia elétrica. Veja:
Art. 21. Compete à União:
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
(...)
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
(...)
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.

A referida lei, ao criar para a empresa concessionária de energia elétrica obrigação significativamente
onerosa a ser prestada em hipóteses de conteúdo vago ( que estejam causando transtornos ou
impedimentos ), para o proveito de interesses individuais dos proprietários de terrenos, teria se imiscuído
nos termos da relação contratual estabelecida entre o poder federal e as concessionárias que exploram o
serviço de fornecimento de energia elétrica no Estado-membro.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que proíba comercialização de produtos estrangeiros com agrotóxicos

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que proíba a comercialização, no referido Estado-membro,


de produtos importados que não tenham sido submetidos à análise de resíduos químicos de
agrotóxicos. Isso porque essa lei trata sobre comércio exterior, matéria cuja competência é
privativa da União, nos termos do art. 22, VIII, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3813/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12/2/2015 (Info 774).

Lei determinando o controle de resíduos agrotóxicos nos produtos importados de outros países
Foi editada uma lei no Rio Grande do Sul determinando que ficava proibida a comercialização, a
estocagem e o trânsito de arroz, trigo, feijão, cebola, cevada e aveia e seus derivados, importados de
outros países, para consumo e comercialização no Estado, que não tivessem sido submetidos à análise de
resíduos químicos de agrotóxicos.

Essa lei é constitucional?


NÃO. Essa lei é formalmente inconstitucional porque trata sobre comércio exterior, matéria cuja
competência é privativa da União, nos termos do art. 22, VIII, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
VIII - comércio exterior e interestadual;

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Compete à União definir os requisitos para o ingresso de produtos estrangeiros no País, considerando que
se trata de uma questão típica de comércio exterior.

De acordo com a exposição de motivos da mencionada lei, a proibição em questão teria objetivo de evitar
que a população gaúcha consumisse produtos contaminados por agrotóxicos que, pela legislação federal,
seriam de uso proibido no País, por serem nocivos à saúde, mas que teriam uso regular na Argentina e no
Uruguai. Entretanto, em que pese a relevância das preocupações do Poder Legislativo gaúcho, a lei não
esconderia o propósito de criar requisitos especiais ao ingresso naquele Estado-membro de produtos
agrícolas provindos do exterior. Ao fazê-lo, a lei, por consequência lógica, restringiria a entrada desses
produtos não apenas no Rio Grande do Sul, mas em todo o País.

Para o STF, não é possível compreender a matéria como sendo de competência concorrente, sob o
argumento de tratar-se de legislação concernente à proteção da saúde dos consumidores (art. 24, V e XII,
§§ 1º e 2º). Isso porque, ainda que se trate de questão, sob certo ponto de vista, relacionada com
consumo e proteção à saúde, a lei é predominantemente sobre comércio exterior.

PROCESSO LEGISLATIVO
Inconstitucionalidade de EC iniciada por parlamentar tratando sobre matérias do art. 61, § 1º da CF

É INCONSTITUCIONAL emenda constitucional que insira na Constituição estadual dispositivo


determinando a revisão automática da remuneração de servidores públicos estaduais. Isso
porque tal matéria é prevista no art. 61, § 1º, II, c , da CF/88 como sendo de iniciativa
privativa do chefe do Poder Executivo.
STF. Plenário. ADI 3848/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2015 (Info 774).

Imagine a seguinte situação:


Um grupo de Deputados Estaduais apresentou proposta de emenda à Constituição do Estado do Rio de
Janeiro determinando a revisão automática da remuneração de servidores públicos estaduais (Art. 89. § 6º
O valor incorporado a qualquer título pelo servidor ativo ou inativo, como direito pessoal, pelo exercício
de funções de confiança ou de mandato, será revisto na mesma proporção e na mesma data, sempre que
se modificar a remuneração do cargo que lhe deu causa.), tendo ela sido aprovada.

Essa EC é compatível com a CF/88?


NÃO. Os projetos de lei que tratem sobre o regime jurídico dos servidores públicos são de iniciativa
p ivativaàdoà hefeàdoàPode àExe utivoà a t.à ,à§à º,àII,à c ,àdaàCF/ .
Logo, a proposta, de iniciativa parlamentar, ao tratar sobre o tema, violou a reserva de iniciativa legislativa
privativa do Governador do Estado.

Mas o art. 61, § 1º, fala e leis e o ato i pug ado era u a e e da co stitucio al...
O STF entende que se houver uma emenda constitucional tratando sobre algum dos assuntos listados no
art. 61, § 1º, da CF/88, essa emenda deve ter sido proposta pelo chefe do Poder Executivo. Assim, é
incabível que os parlamentares proponham uma emenda constitucional dispondo sobre o regime jurídico
dosàse vido esàpú li os,àpo àexe ploà a t.à ,à§à º,à II,à .à“eàissoàfosseà pe itido,àse iaàu aàfo aàdeà
burlar a regra do art. 61, § 1º, da CF/88.
E àsu a,à at iaà est itaà ài i iativaàdoàPode àExe utivoànão pode ser regulada por emenda constitucional de
o ige àpa la e ta à “TF.àPle io.àáDIà . ,àRel.àMi .àJoa ui àBa osa,àjulgadoàe à / / .

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


PODER EXECUTIVO
Crimes de responsabilidade envolvendo Governadores de Estado
Importante!!!
I – O Estado-membro não pode dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na
Constituição estadual. Isso porque a competência para legislar sobre crime de
responsabilidade é privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85 da CF/88.
II – As Constituições estaduais não podem prever que os Governadores serão julgados pela
Assembleia Legislativa em caso de crimes de responsabilidade. Isso porque o art. 78, § 3º da
Lei 1.079/50 afirma que a competência para julgar os Governadores de Estado em caso de
crimes de responsabilidade é de um Tribunal Especial , composto especialmente para julgar
o fato e que será formado por 5 Deputados Estaduais e 5 Desembargadores, sob a presidência
do Presidente do Tribunal de Justiça.
III – É constitucional norma prevista em Constituição estadual que preveja a necessidade de
autorização prévia de 2/3 dos membros da Assembleia Legislativa para que sejam iniciadas
ações por crimes comuns e de responsabilidade eventualmente dirigidas contra o Governador
de Estado. Durante a fase inicial de tramitação de processo instaurado contra Governador, a
Constituição estadual deve obedecer à sistemática disposta na legislação federal. Isso porque
não há nada que impeça que as Constituições estaduais estendam aos Governadores, por
simetria, essa prerrogativa assegurada ao Presidente da República no art. 51, I, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki; ADI 4800/RO e ADI 4792/ES, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgados em 12/2/2015 (Info 774).

NOÇÕES GERAIS
Responsabilidade do chefe do Poder Executivo
O chefe do Poder Executivo (Presidente da República, Governadores e Prefeitos) podem praticar duas
espécies de crime:

CRIMES COMUNS CRIMES DE RESPONSABILIDADE

São aqueles tipificados na lei penal São infrações político-administrativas praticadas por
(Código Penal e legislação extravagante). pessoas que ocupam determinados cargos públicos. Caso o
Exs: peculato, corrupção passiva etc. agente seja condenado por crime de responsabilidade ele
não receberá sanções penais (prisão ou multa), mas sim
sanções político-administrativas (perda do cargo e
inabilitação para o exercício de função pública).
Os crimes de responsabilidade estão previstos:
 Presidente: art. 85 da CF/88 e Lei n. 1.079/50.
 Governador: Lei n. 1.079/50.
 Prefeito: DL 201/67.

Quem julga: Quem julga:


 Presidente: STF (após autorização de  Presidente: Senado (após autorização da CD – 2/3).
2/3 da Câmara dos Deputados).  Governador: Tribunal Especial (composto por 5
 Governador: STJ (CE pode exigir que, membros da ALE e 5 Desembargadores, sob a
antes do processo, haja autorização presidência do Presidente do TJ). A CE pode exigir que,

 Prefeito: TJ/TRF/TRE (não precisa de


de 2/3 da ALE).
 Prefeito: Câmara Municipal.
antes do processo, haja autorização de 2/3 da ALE.

autorização da Câmara Municipal).

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE CRIMES DE RESPONSABILIDADE
Muitas Constituições estaduais tratam sobre o procedimento a ser aplicado quando o Governador do
Estado pratica um crime de responsabilidade. As Cartas estaduais podem dispor sobre isso?
NÃO. O STF entende que o Estado-membro não pode dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que
seja na Constituição estadual. Isso porque a competência para legislar sobre crime de responsabilidade é
privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85 da CF:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho;

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra:
(...)
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e
julgamento.

áàdout i aà o eituaàosà i esà deà espo sa ilidadeà o oàse doà i f aç esàpolíti o-ad i ist ativas .àNoà
entanto, o STF entende que, para fins de competência legislativa, isso é matéria que se insere no direito
penal e processual, de forma que a competência é da União.

O Supremo possui, inclusive, um enunciado destacando essa conclusão:


Súmula 722-STF: São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o
estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.

Dessa forma, a Constituição Estadual deve seguir rigorosamente os termos da legislação federal sobre
crimes de responsabilidade, devendo, portanto, o julgamento ocorrer perante um Tribunal Especial.

CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS NÃO PODEM PREVER QUE A COMPETÊNCIA PARA JUGAR GOVERNADORES É DA ALE
Algumas Constituições estaduais preveem que os Governadores, quando cometerem crimes de
responsabilidade, serão julgados pela Assembleia Legislativa. Essa regra é válida?
NÃO. Como vimos acima, a competência para julgar os Governadores de Estado em caso de crimes de
responsabilidade é de um Tribunal Especial ,à ueà à o postoàespe ial e teàpa aàjulga àoàfatoàeà ueà à
formado por 5 Deputados Estaduais e 5 Desembargadores, sob a presidência do Presidente do Tribunal de
Justiça. Isso está previsto no art. 78, § 3º da Lei n. 1.079/50:
Art. 78. O Governador será julgado nos crimes de responsabilidade, pela forma que determinar a
Constituição do Estado e não poderá ser condenado senão a perda do cargo, com inabilitação até cinco
anos para o exercício de qualquer função pública, sem prejuízo da ação da justiça comum.
(...)
§ 3º Nos Estados, onde as Constituições não determinarem o processo nos crimes de responsabilidade dos
Governadores, aplicar-se-á o disposto nesta lei, devendo, porém, o julgamento ser proferido por um
tribunal composto de cinco membros do Legislativo e de cinco desembargadores sob a presidência do
Presidente do Tribunal de Justiça local, que terá direito de voto no caso de empate. A escolha desse
Tribunal será feita - a dos membros dos membros do legislativo, mediante eleição pela Assembléia; a dos
desembargadores, mediante sorteio.

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


Mas espera um instante, o caput e o § 3º acima transcritos afirmam que as Constituições estaduais
poderiam dispor sobre o processo nos crimes de responsabilidade. Veja: O Governador será julgado nos
crimes de responsabilidade, pela forma que determinar a Constituição do Estado ... Nos Estados,
onde as Constituições não determinarem o processo nos crimes de responsabilidade dos Governadores
(...). É isso mesmo?
NÃO. Tais trechos não foram recepcionados pela CF/88, uma vez que, como vimos, a atual Carta
constitucional prevê que esse assunto deve ser objeto de lei de competência da União.
Desse modo, as Constituições que dispõem sobre crimes de responsabilidade de forma diferente daquilo
que é previsto na legislação federal possuem inconstitucionalidade formal, por violarem a competência
privativa da União.

CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS PODEM PREVER LICENÇA PRÉVIA DA ALE COMO CONDIÇÃO PARA O PROCESSO
Algumas Constituições estaduais preveem que, antes de os Governadores serem julgados (por crimes
comuns ou de responsabilidade), é necessária a autorização da Assembleia Legislativa (licença prévia)
mediante voto de 2/3 de seus membros. Essa regra é válida?
SIM. O STF reconheceu a constitucionalidade das normas das Constituições estaduais que exigem a
aprovação de 2/3 dos membros da Assembleia Legislativa como requisito indispensável (a denominada
licença prévia) para se admitir a acusação nas ações por crimes comuns e de responsabilidade,
eventualmente dirigidas contra o governador do Estado.
Segundo o STF, durante a fase inicial de tramitação de processo instaurado contra Governador, a
Constituição estadual deve obedecer à sistemática disposta na legislação federal.
A CF/88 prevê que compete à Câmara dos Deputados autorizar, por 2/3 de seus membros, a instauração
de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República (art. 51, I). Assim, é constitucional
norma prevista em Constituição estadual que preveja a necessidade de autorização prévia da Assembleia
Legislativa para que sejam iniciadas ações por crimes comuns e de responsabilidade eventualmente
dirigidas contra o Governador de Estado. Isso porque não há nada que impeça que as Constituições
estaduais estendam aos Governadores, por simetria, essa prerrogativa assegurada ao Presidente da
República no art. 51, I, da CF/88.
Essa licença prévia não se constitui em uma regalia antirrepublicana deferida em favor da pessoa do
Governador. Trata-se de uma garantia que serve para a preservação da normalidade institucional das
funções do Executivo e a salvaguarda da autonomia política do Estado-membro.
A exigência de licença para o processamento do Governador não traz prejuízo para o exercício da jurisdição,
porque, enquanto não autorizado o prosseguimento da ação punitiva, fica suspenso o prazo prescricional.
Vale ressaltar, no entanto, que essa necessidade de autorização prévia da ALE (controle político) não existe
para atos constritivos acessórios à investigação penal, entre eles as prisões cautelares. Em outras palavras, não
é preciso autorização prévia da ALE para investigar o Governador nem para decretar a sua prisão.

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


DIREITO ADMINISTRATIVO
TETO CONSTITUCIONAL
É inconstitucional lei estadual que fixa teto remuneratório para servidores do Poder Judiciário

Lei do Estado da Bahia fixava um teto remuneratório exclusivo para os servidores do Poder
Judiciário.
O STF entendeu que essa lei é inconstitucional.
O teto para o funcionalismo estadual somente pode ser fixado por meio de emenda à
Constituição estadual, não sendo permitido mediante lei estadual.
Além disso, a Constituição do Estado da Bahia adotou subteto único (§ 12º do art. 37 da CF/88)
e a lei viola a sistemática escolhida porque fixou um teto apenas para os servidores do Poder
Judiciário, excluindo-o para os demais Poderes.
STF. Plenário. ADI 4900/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 11/2/2015 (Info 774).

Teto remuneratório
áà CF/ à p ev ,à e à seuà a t.à ,à XI,à oà ha adoà tetoà e u e at io ,à ouà seja,à oà valo à xi oà ueà osà
agentes públicos podem receber no país. O objetivo do constituinte foi o de evitar que alguns agentes
pú li osà e e esse àosà ha adosà supe sal ios ,à ueàsãoài o patíveisà o àoàse viçoàpú li o.
Além de um teto geral (nacional), o dispositivo constitucional prevê limites específicos para o âmbito dos
Estados e Municípios (chamados de subtetos).
O teto geral do serviço público no Brasil é o subsídio dos Ministros do STF.

Como é o teto remuneratório:

Teto NACIONAL: subsídio dos Ministros do STF


Ninguém poderá receber acima desse valor; as Constituições estaduais e leis orgânicas podem fixar
subtetos para Estados/DF e Municípios; tais subtetos também deverão respeitar o teto nacional.
Subteto nos
Subteto na União Subteto nos Estados/DF
Municípios
Subsídio dos Existem duas opções: Subsídio do Prefeito
Ministros do STF Opção 1 (subtetos diferentes para cada um dos Poderes):
 Executivo: subsídio do Governador.
 Legislativo: subsídio dos Deputados Estaduais.
 Judiciário (inclui MP, Defensoria e Procuradoria):
subsídio dos Desembargadores do TJ.

Opção 2 (subteto único para todos os Poderes): subsídio


dos Desembargadores do TJ.
Obs.1: o subsídio do Desembargador é 90,25% do
subsídio do Ministro do STF.
Obs.2: o subsídio dos Deputados Estaduais/Distritais
seguirá regras próprias (§ 2º do art. 27), não estando
sujeito ao subsídio dos Desembargadores.

Vale ressaltar que quem define se o Estado-membro


adotará subtetos diferentes ou único é a Constituição
estadual.

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


Lei do Estado da Bahia
Em 2010, determinada Lei do Estado da Bahia previu o seguinte:
Art. 2º A remuneração dos servidores públicos ocupantes de cargos, funções e empregos no âmbito do
Poder Judiciário do Estado da Bahia, e os proventos, pensões e outras espécies remuneratórias,
percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não
poderão exceder o valor de R$ 22.000,00 (vinte e dois mil reais).

Vale ressaltar que, na época, em 2010, o subsídio dos Ministros do STF era de quase R$ 27 mil.

Essa lei baiana é constitucional?


NÃO. O teto para o funcionalismo estadual somente pode ser fixado por meio de emenda à Constituição
estadual, não sendo permitido mediante lei estadual.
Além disso, a Constituição do Estado da Bahia adotou a opção 2 (subteto único) e a lei viola a sistemática
escolhida porque fixa um teto apenas para os servidores do Poder Judiciário, excluindo-o para os demais
Poderes.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

TRIBUNAL DO JÚRI
Referência ou leitura de sentença prolatada em desfavor do corréu

Importante!!!
Imagine que duas pessoas tenham praticado, em conjunto, homicídio. Uma delas foi julgada
primeiro, tendo sido condenada. No julgamento do segundo réu, durante os debates no
Plenário do Júri, o Promotor de Justiça leu a sentença que condenou o primeiro réu. Houve
nulidade por violação do art. 478, I, do CPP?
NÃO. A leitura, pelo Ministério Público, da sentença condenatória de corréu proferida em
julgamento anterior não gera nulidade de sessão de julgamento pelo conselho de sentença.
Segundo decidiu o STF, o art. 478, I, não proíbe que se leia a sentença condenatória de corréu
no mesmo processo. Logo, não é possível falar que houve descumprimento da regra prevista
nesse dispositivo.
STF. 1ª Turma. RHC 118006/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info 774).

Imagine a seguinte situação adaptada:


João e Pedro são acusados de terem matado Paulo.
João estava foragido, razão pela qual seu processo ficou suspenso enquanto Pedro foi julgado e
condenado pelo crime, decisão que transitou em julgado.
Alguns anos depois, João foi encontrado e pronunciado. Durante os debates no Plenário do Júri, o
Promotor de Justiça que fazia a condenação leu a sentença que condenou Pedro (corréu).
O advogado de defesa de João impugnou essa leitura alegando que violou o art. 478, I, do CPP:
Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências:
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação
do uso de algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado;

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


A alegação feita pela defesa foi aceita pelo STF? Houve nulidade em virtude de o membro do MP ter lido
a sentença condenatória do corréu?
NÃO. A leitura, pelo Ministério Público, da sentença condenatória de corréu proferida em julgamento
anterior não gera nulidade de sessão de julgamento pelo conselho de sentença.
Segundo decidiu o STF, o art. 478, I, não proíbe que se leia a sentença condenatória de corréu no mesmo
processo. Logo, não é possível falar que houve descumprimento da regra prevista nesse dispositivo.

RECURSOS
Inexistência de reformatio in pejus na manutenção da condenação, mas com base em
fundamentos diversos da sentença

Não caracteriza reformatio in pejus a decisão de tribunal de justiça que, ao julgar recurso de
apelação exclusivo da defesa, mantém a reprimenda aplicada pelo magistrado de primeiro
grau, porém, com fundamentos diversos daqueles adotados na sentença.
STF. 1ª Turma. RHC 119149/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/2/2015 (Info 774).

Em recurso exclusivo da defesa, o Tribunal não pode complementar a sentença para acrescentar fatos que
possam repercutir negativamente no âmbito da dosimetria da pena (STF. 1ª Turma. HC 101380, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 04/10/2011). Se o Tribunal fizesse isso, haveria a chamada reformatio in pejus.

Vale ressaltar, no entanto, que nãoà a a te izaà efo atioài àpejus àaàde isãoàdeàt i u alàdeàjustiçaà ue,à
ao julgar recurso de apelação exclusivo da defesa, mantém a reprimenda aplicada pelo magistrado de
primeiro grau, porém com fundamentos diversos daqueles adotados na sentença.

No caso concreto, o réu foi condenado em 1ª instância e apelou para o TJ. O MP não recorreu. No recurso,
a defesa questionou os parâmetros utilizados na dosimetria da pena. O TJ manteve a condenação e a pena
imposta, no entanto, um dos aspectos, o Desembargador falou que não deveria ser considerado como
o dutaà so ial à o oà fezà oà juiz ,à se doà aisà ade uadoà lassifi a à essaà i unstância como
pe so alidade àdoàage te. Desse modo, o Tribunal manteve a reprimenda fixada, mas com fundamentos
diferentes dos que foram adotados na sentença, o que não configura reformatio in pejus.

DIREITO PENAL /
PROCESSUAL PENAL MILITAR
DESERÇÃO
Prescrição no caso do crime de deserção

Atenção! DPU
Como ocorre a prescrição no caso do crime de deserção:
a) Se o agente praticou a deserção, mas depois foi reincorporado ao serviço militar: no dia em
que ele reapareceu, inicia-se o prazo prescricional, nos termos do art. 125 do CPM;
b) Se o desertor ainda não foi capturado nem se apresentou à corporação: aplica-se a regra
especial prevista no art. 132 do CPM. Esse artigo determina que, mesmo o agente não
reaparecendo, haverá prescrição quando ele completar 45 anos (se não tiver patente de
oficial); se for oficial, a prescrição ocorre quando atingir 60 anos.

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


O STF entende que o art. 132 do CPM é compatível com a CF/88.
STF. 1ª Turma. HC 112005/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, 10.2.2015 (Info 774).

Deserção
O Código Penal militar prevê o delito de deserção nos seguintes termos:
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve
permanecer, por mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.

Como ocorre a prescrição no caso do crime de deserção:


O Código Penal militar apresenta dois critérios de prescrição no crime de deserção:
a) Se o agente praticou a deserção, mas depois foi reincorporado ao serviço militar: aplica-se a regra geral,
ou seja, os prazos prescricionais gerais aplicáveis aos demais crimes militares. Tais prazos estão previstos
no caput do art. 125 do CPM:
Art. 125. A prescrição da ação penal, salvo o disposto no § 1º dêste artigo, regula-se pelo máximo da pena
privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:
I - em trinta anos, se a pena é de morte;
II - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
III - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito e não excede a doze;
IV - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro e não excede a oito;
V - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois e não excede a quatro;
VI - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;
VII - em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano.

Vale ressaltar, no entanto, que o crime de deserção é permanente e que a conduta delitiva só é cessada no
momento da captura ou da apresentação voluntária do agente. Assim, enquanto ele se encontra foragido,
não se iniciou o curso do prazo prescricional.

b) Se o desertor (trânsfuga) ainda não foi capturado nem se apresentou à corporação: aplica-se a regra
especial prevista no art. 132 do CPM:
Art. 132. No crime de deserção, embora decorrido o prazo da prescrição, esta só extingue a punibilidade
quando o desertor atinge a idade de quarenta e cinco anos, e, se oficial, a de sessenta.

Desse modo, e ua toàaàpessoaà o ti uaà fo agida à e àsituaçãoàdeàdeserção), o prazo prescricional não


se inicia porque o crime de deserção é permanente. Esse prazo ficará suspenso, mas não de forma
indefinida (para sempre). Mesmo que o agente não se reapresente, ou seja, mesmo que continue
foragido, haverá prescrição quando ele completar 45 anos. Se quem praticou a deserção foi um oficial
(patentes mais altas), só se consumará a prescrição quando fizer 60 anos.

Constitucionalidade do art. 132


A DPU suscitou a inconstitucionalidade desse dispositivo, mas o STF afirmou que ele não possuía vício e
que, na verdade, o art. 132 é uma garantia do réu. Isso porque, sendo a deserção um crime permanente,
em tese, seria possível que o prazo prescricional ficasse suspenso indefinidamente, ou seja, enquanto não
reaparecesse o agente, não começaria a contar o prazo. O art. 132 vem mitigar essa indefinição ao dizer
que haverá a prescrição quando o agente completar certa idade, mesmo que ainda não tenha retornado,
ou seja, mesmo que ainda esteja em situação de deserção. Logo, o referido dispositivo é mais favo vel
ao acusado do que se ele simplesmente não existisse no ordenamento jurídico.

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


ABANDONO DE POSTO
Abandono de posto e deserção praticados dentro do mesmo contexto fático

Atenção! DPU
O fato de abandonar o serviço e praticar a deserção, dentro de um mesmo contexto fático, não
implica duas ações autônomas, incidindo, na hipótese, o fenômeno da absorção de um crime por
outro, uma vez que o abandono afigurou-se meio necessário à consecução do delito de deserção.
STF. 2ª Turma. RHC 125112/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/2/2014 (Info 774).

Imagine a seguinte situação adaptada:


João (militar) ausentou-se do serviço no dia 26/12/2013, somente retornando ao quartel um mês depois.
Por esse fato, João foi denunciado pelo crime de deserção (art. 187) e de abandono de posto (art. 195).
Ao ser interrogado, o militar esclareceu que seu objetivo, ao deixar o quartel, era realmente o de
abandonar o serviço militar.
Veja os tipos penais pelos quais foi acusado:

Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve
permanecer, por mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.

Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o pôsto ou lugar de serviço que lhe tenha sido designado, ou o
serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

É correto imputar ao réu os dois delitos?


NÃO. O abandono de posto foi apenas o crime-meio para alcançar o delito-fim, ou seja, a deserção. A
conduta de abandonar o posto foi mero instrumento para chegar à pretensão de desertar. O motivo de
ambos os delitos era o mesmo e, portanto, o crime de abandono de lugar de serviço é um ante facto
impunível. Deve-se aplicar ao caso o princípio da consunção.
O fato de abandonar o serviço e praticar a deserção, dentro de um mesmo contexto fático, não implica
duas ações autônomas, incidindo, na hipótese, o fenômeno da absorção de um crime por outro, uma vez
que o abandono afigurou-se meio necessário à consecução do delito de deserção.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Emenda parlamentar e vício formal


O Plenário confirmou medida cautelar (noticiada no Informativo 182) e julgou improcedente pedido
formulado em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada em face da parte final do art. 1º e do art. 2º da
LC 10.845/1996 do Estado do Rio Grande do Sul, que dispõe sobre a remuneração de vantagens no serviço
público estadual. Na espécie, a norma impugnada fora acrescida, por meio de emenda parlamentar, da
exp essãoà essalvadosàosàdi eitosàdosàse vido esà o à o essãoàsupe io àa te ede teàaà ºàdeàagostoàdeà
19 .à áà Co teà apo touà ueà aà ess iaà dasà o asà so à exa eà se iaà exata e teà aà es aà i luídaà aà
mensagem encaminhada à Assembleia Legislativa pelo então governador. Portanto, o dispositivo não se
revestiria de nenhuma inconstitucionalidade. No caso, se emenda de origem parlamentar, malgrado a
diversidade da redação, tivesse conteúdo normativo idêntico à proposta do Executivo, a sua aprovação não
invadiria a iniciativa reservada ao governador.
ADI 2063 MC/RS, Min. Gilmar Mendes, 11.2.2015.

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 9 a 13 de fevereiro de 2013

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 827.538-MG


RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
POLÍTICA PÚBLICA – MEIO AMBIENTE – SERVIÇOS E INSTALAÇÕES DE ENERGIA ELÉTRICA – APROVEITAMENTO ENERGÉTICO
DOS CURSOS DE ÁGUA – LEI Nº 12.503, DE 1997, DO ESTADO DE MINAS GERAIS – COMPETÊNCIA LEGISLATIVA – ARTIGOS 21,
INCISO XII, ALÍNEA “B”, E 22, INCISO IV E PARÁGRAFO ÚNICO, DA CARTA DA REPÚBLICA – RECURSO EXTRAORDINÁRIO –
REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia acerca da constitucionalidade, sob o ângulo da competência
legislativa – se privativa da União, prevista no inciso IV do artigo 22 da Carta Federal, ou a concorrente, versado o meio ambiente, estabelecida no
artigo 23, inciso VI, da Constituição –, de norma estadual mediante a qual foi adotada política pública dirigida a compelir concessionária de geração
de energia elétrica a promover investimentos, com recursos identificados como parcela da receita que aufere, voltados à proteção e à preservação de
mananciais hídricos.

CLIPPING DO D JE
9 a 13 de fevereiro de 2013

ADI N. 2.616-PR
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Emenda nº 10/2001 à Constituição do Estado do Paraná. Inconstitucionalidade formal.
Vício de iniciativa.
1. Ação direta proposta em face da Emenda Constitucional nº 10/2001 à Constituição do Estado do Paraná, a qual cria um novo órgão de polícia, a
“Polícia Científica”.
2. Vício de iniciativa em relação à integralidade da Emenda Constitucional nº 10/2001, uma vez que, ao disciplinar o funcionamento de um órgão
administrativo de perícia, dever-se-ia ter observado a reserva de iniciativa do chefe do Poder Executivo prevista no art. 61, § 1º, II, e, da CF/88.
Precedentes: ADI nº 3.644/RJ, ADI nº 4.154/MT, ADI nº 3.930/RO, ADI nº 858/RJ, ADI nº 1.746/SP-MC.
3. Ação direta julgada procedente.
*noticiado no Informativo 768
RE N. 477.323-RS
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS – BASE DE INCIDÊNCIA REDUZIDA – SISTEMA OPCIONAL. Sendo
opcional o sistema a envolver base do tributo reduzida, não se tem violência ao princípio da não cumulatividade no que considerado o crédito de
forma proporcional.
*noticiado no Informativo 763

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Renitente esbulho e terra tradicionalmente ocupada por índios (Transcrições)


(v. Informativo 771)
ARE 803.462-AgR/MS*
RELATOR: Ministro Teori Zavascki
Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. TERRA INDÍGENA “LIMÃO VERDE”. ÁREA TRADICIONALMENTE
OCUPADA PELOS ÍNDIOS (ART. 231, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). MARCO TEMPORAL. PROMULGAÇÃO DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NÃO CUMPRIMENTO. RENITENTE ESBULHO PERPETRADO POR NÃO ÍNDIOS: NÃO
CONFIGURAÇÃO.
1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Pet 3.388, Rel. Min. CARLOS BRITTO, DJe de 1º/7/2010, estabeleceu como
marco temporal de ocupação da terra pelos índios, para efeito de reconhecimento como terra indígena, a data da promulgação da Constituição,
em 5 de outubro de 1988.

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


2. Conforme entendimento consubstanciado na Súmula 650/STF, o conceito de “terras tradicionalmente ocupadas pelos índios” não abrange
aquelas que eram possuídas pelos nativos no passado remoto. Precedente: RMS 29.087, Rel. p/ acórdão Min. GILMAR MENDES, Segunda
Turma, DJe de 14/10/2014.
3. Renitente esbulho não pode ser confundido com ocupação passada ou com desocupação forçada, ocorrida no passado. Há de haver, para
configuração de esbulho, situação de efetivo conflito possessório que, mesmo iniciado no passado, ainda persista até o marco demarcatório
temporal atual (vale dizer, a data da promulgação da Constituição de 1988), conflito que se materializa por circunstâncias de fato ou, pelo
menos, por uma controvérsia possessória judicializada.
4. Agravo regimental a que se dá provimento.
RELATÓRIO: Trata-se de agravo regimental contra decisão que, em demanda em que se discute a respeito da natureza indígena de área de terras
situada no Município de Aquidauana, Estado do Mato Grosso do Sul (Fazenda Santa Bárbara), conheceu de agravo para negar seguimento a recurso
extraordinário aos fundamentos de que (a) a Súmula 650/STF não se aplica ao presente caso, por tratar-se de hipótese diversa; (b) “embora o marco
temporal de ocupação de um determinado espaço geográfico por determinada etnia aborígene, para fins de reconhecimento de que se trata de terras
tradicionalmente ocupadas pelos índios, seja a data da promulgação da Carta Magna (5 de outubro de 1988), o renitente esbulho por parte de não
índios não é hábil a descaracterizar a tradicionalidade da posse nativa” (fl. 3086); (c) dissentir das conclusões do acórdão recorrido demandaria o
reexame de fatos e provas, providência vedada pela Súmula 279/STF.
Sustenta a parte agravante, em suma, que (a) na verdade, o entendimento da Súmula 650/STF foi firmado no julgamento do RE 219.983, caso
idêntico ao presente, em que se assentou que apenas as terras atualmente ocupadas por índios pertencem à União; (b) o Tribunal Regional Federal da
3ª Região considerou existente o renitente esbulho com base em “três súplicas formalizadas apenas por dois índios Terena, setenta anos depois de a
Fazenda Santa Bárbara ser titulada, em 1914, pelo então Estado de Mato Grosso” (fl. 3100); (c) “em nenhuma dessas reclamações há menção de que
os proprietários da Fazenda Santa Bárbara esbulharam a posse deles ou vice-versa” (fl. 3100); (d) “são pedidos genéricos com o fito de expandir os
lindes da Aldeia Limão Verde, feitos em torno de quatro décadas depois da pretensa saída dos indígenas das terras em litígio (…)” (fl. 3100); (e) não
se pretende o reexame de provas, mas apenas “que o Supremo Tribunal Federal esclareça se bastam essas três reclamações genéricas formuladas por
dois índios para a expansão da Aldeia Limão Verde para caracterizar o ‘renitente esbulho’ do qual se falou no julgamento do caso Raposa Serra do
Sol” (fl. 3101).
Em memoriais, alega a parte agravante que (a) para que se caracterize o “renitente esbulho”, necessário se faz que haja a espoliação
persistente, que reaja às investidas da tribo desapossada; (b) sem que essa insistente contraposição se estenda até a data da promulgação da
Constituição Federal, não há ofensa ao direito dos índios; (c) a ocorrência de “renitente esbulho” só foi reconhecida pela Relatora, visto que o Revisor
e o Vogal com ela não concordaram; (d) a perícia oficial, em momento algum, constata a existência de “renitente esbulho”, mas apenas de um
esbulho, ocorrido em 1953, sem fazer referência a qualquer revide indígena; (e) assim, ainda que os índios tenham sido impedidos de utilizar as áreas
litigiosas após 1953, jamais reclamaram ou protestaram contra a situação.
Em parecer, a Procuradoria-Geral da República manifestou-se pelo desprovimento do agravo regimental.
É o relatório.
VOTO: 1. A controvérsia foi relatada pela decisão agravada nos seguintes termos:
1. Trata-se de agravo contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário interposto em ação declaratória. O Tribunal Regional
Federal da 3ª Região decidiu, em suma, que (a) “ainda que os índios tenham perdido a posse por longos anos, têm indiscutível direito de
postular sua restituição, desde que ela decorra de tradicional (antiga, imemorial) ocupação” (fl. 2824); (b) “a perícia encontrou elementos
materiais e imateriais que caracterizam a área como de ocupação Terena, desde período anterior ao requerimento/titulação dessas terras por
particulares” (fl. 2830 - verso); (c) inaplicável a Súmula 650/STF ao caso, visto que “não consta que a área objeto desta ação seja área de
extinto aldeamento indígena, ou seja, não consta tenham os indígenas deixado de ocupá-la algum dia, por vontade própria e em passado
remoto, ali retornando após o decurso de tempo suficiente para justificar o título de domínio defendido pelo autor nestes autos” (fl. 2831); (d)
“restando comprovado, nos autos, o renitente esbulho praticado pelos não índios, inaplicável à espécie, o marco temporal aludido na PET
3388 e Súmula 650 do Supremo Tribunal Federal” (fl. 2832).
No recurso extraordinário, a parte recorrente aponta, com base no art. 102, III, “a”, da Constituição Federal, violação ao art. 231 da
CF/88, pois, (a) segundo a firme jurisprudência do STF, para que seja considerada tradicional, a posse indígena deve ser verificada na data
em que promulgada a Carta Magna; (b) não houve esbulho renitente por parte do recorrente, visto que a convivência com os índios Terena
foi pacífica desde 1950 até 1996, quando iniciado o processo de demarcação da Aldeia Limão Verde; (c) o Tribunal de origem concluiu pela
existência de “eventual prática de esbulho” apenas com base em três reclamações genéricas elaboradas pelos índios Terena em 1982, 1984 e
1989, nenhuma das quais se referia diretamente à Fazenda Santa Bárbara.
Em contrarrazões, os recorridos postulam, preliminarmente, o não conhecimento do recurso, em razão da (a) ausência de
prequestionamento; (b) fundamentação deficiente; (c) ofensa constitucional reflexa; (d) não demonstração da repercussão geral da matéria;
(e) necessidade de reexame probatório. No mérito, pedem o desprovimento do recurso.
A Procuradoria-Geral da República opinou pelo desprovimento do agravo, ao entendimento de que o provimento do recurso
extraordinário demandaria o revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado pela Súmula 279/STF.
2. A decisão agravada enfatizou a presença do óbice da Súmula 279/STF a impedir o conhecimento do recurso extraordinário. Todavia, as
razões de agravo e, sobretudo, os aprofundados votos proferidos no julgamento, nesta Turma, em 16/9/2014, do RMS 29.087, em que ficou designado
o Ministro Gilmar Mendes para redigir o acórdão, conduzem a uma conclusão diferente quanto a esse ponto. Realmente, sem necessidade de
invocação de outros fatos que não os expressamente indicados no acórdão recorrido, é possível formular um juízo seguro a respeito do tema
constitucional posto no recurso extraordinário. Assim, superado esse óbice e considerada a relevância da matéria, trago a questão desde logo à
consideração do Colegiado.
3. Ao julgar a Pet 3.388 (Rel. Min. CARLOS BRITTO, DJe de 1/7/2010), o Plenário desta Corte assentou que o art. 231, § 1º, da CF/88
estabeleceu, como marco temporal para reconhecimento à demarcação como de natureza indígena de “terras tradicionalmente ocupadas pelos índios”,
a data da promulgação da Carta Constitucional, ou seja, 5 de outubro de 1988. Assim, não se incluem nesse o conceito de terras indígenas aquelas
ocupadas por eles no passado e nem as que venham a ser ocupadas no futuro. Confira-se:
I – o marco temporal da ocupação. Aqui, é preciso ver que a nossa Lei Maior trabalhou com data certa: a data da promulgação dela
própria (5 de outubro de 1988) como insubstituível referencial para o reconhecimento, aos índios, “dos direitos sobre as terras que
tradicionalmente ocupam”. Terras que tradicionalmente ocupam, atente-se, e não aquelas que venham a ocupar. Tampouco as terras já
ocupadas em outras épocas, mas sem continuidade suficiente para alcançar o marco objetivo do dia 5 de outubro de 1988. Marco objetivo
que reflete o decidido propósito constitucional de colocar uma pá de cal nas intermináveis discussões sobre qualquer outra referência
temporal de ocupação de área indígena. Mesmo que essa referência estivesse grafada na Constituição anterior. É exprimir: a data de
verificação do fato em si da ocupação fundiária é o dia 5 de outubro de 1988, e nenhum outro. Com o que se evita, a um só tempo: a) a
fraude da subitânea proliferação de aldeias, inclusive mediante o recrutamento de índios de outras regiões do Brasil, quando não de outros
países vizinhos, sob o único propósito de artificializar a expansão dos lindes da demarcação; b) a violência da expulsão de índios para

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


descaracterizar a tradicionalidade da posse das suas terras, à data da vigente Constituição. Numa palavra, o entrar em vigor da nova Lei
Fundamental Brasileira é a chapa radiográfica da questão indígena nesse delicado tema da ocupação das terras a demarcar pela União para
a posse permanente e usufruto exclusivo dessa ou daquela etnia aborígine. (…)
Ressalvou-se, é certo, que não descaracterizaria a tradicionalidade da posse nativa eventual situação de “esbulho renitente” cometido por não
índios . Veja-se:
(…) Afinal, se, à época do seu descobrimento, o Brasil foi por inteiro das populações indígenas, o fato é que o processo de colonização
se deu também pela miscigenação racial e retração de tais populações aborígines. Retração que deve ser contemporaneamente espontânea,
pois ali onde a reocupação das terras indígenas, ao tempo da promulgação da Lei Maior de 1988, somente não ocorreu por efeito do
renitente esbulho por parte dos não-índios, é claro que o caso já não será de perda da tradicionalidade da posse nativa. Será de violação aos
direitos originários que assistem aos índios, reparável tanto pela via administrativa quanto jurisdicional. (…)
4. Ora, no caso, tanto o voto vencedor, quanto o voto vencido do acórdão recorrido permitem concluir que a última ocupação indígena na área
objeto da presente demanda (Fazenda Santa Bárbara), deixou de existir desde, pelo menos, o ano de 1953, data em que os últimos índios teriam sido
expulsos da região. Portanto, é certo que não havia ocupação indígena em outubro de 1988.
Argumenta, porém, o voto vencedor, que, “ainda que os índios tenham perdido a posse por longos anos, têm indiscutível direito de postular sua
restituição, desde que ela decorra de tradicional (antiga, imemorial) ocupação” (fls. 2824). Esse entendimento, todavia, não se mostra compatível com
a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que, conforme já afirmado, é pacífica no sentido de que o conceito de “terras tradicionalmente
ocupadas pelos índios” não abrange aquelas que eram ocupadas pelos nativos no passado. Nesse sentido é a própria Súmula 650/STF: “os incisos I e
XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto”. Foi
também nesse sentido o recente julgado da Segunda Turma em caso análogo ao presente, acima referido, em que foi reafirmado o marco temporal
fixado na Pet 3.388:
DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. O MARCO REFERENCIAL DA OCUPAÇÃO É A PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DAS SALVAGUARDAS INSTITUCIONAIS. PRECEDENTES. 1. A configuração de
terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, nos termos do art. 231, § 1º, da Constituição Federal, já foi pacificada pelo Supremo Tribunal
Federal, com a edição da Súmula 650, que dispõe: os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos
extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto. 2. A data da promulgação da Constituição Federal (5.10.1988) é referencial
insubstituível do marco temporal para verificação da existência da comunidade indígena, bem como da efetiva e formal ocupação fundiária
pelos índios (RE 219.983, DJ 17.9.1999; Pet. 3.388, DJe 24.9.2009). 3. Processo demarcatório de terras indígenas deve observar as
salvaguardas institucionais definidas pelo Supremo Tribunal Federal na Pet 3.388 (Raposa Serra do Sol). 4. No caso, laudo da FUNAI indica
que, há mais de setenta anos, não existe comunidade indígena e, portanto, posse indígena na área contestada. Na hipótese de a União
entender ser conveniente a desapropriação das terras em questão, deverá seguir procedimento específico, com o pagamento de justa e prévia
indenização ao seu legítimo proprietário. 5. Recurso ordinário provido para conceder a segurança. (RMS 29.087, Rel. Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Rel. p/ acórdão Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe de 14/10/2014)
Nesse aresto, a controvérsia foi decidida pelo Min. Gilmar Mendes nos seguintes termos:
Após precisa análise, verifico que o relatório de identificação e delimitação da terra indígena Guyraroká, elaborado pela
FUNAI, indica que a população Kaiowá residiu na terra reivindicada até o início da década de 1940 e que, “a partir dessa época, as
pressões dos fazendeiros que começam a comprar as terras na região tornaram inviável a permanência de índios no local” (fl. 26).
Nos termos do laudo, que deu base à edição da Portaria 3.219, objeto da presente demanda:
“Os Kaiowá só deixaram a terra devido às pressões que receberam dos colonizadores que conseguiram os primeiros títulos de
terras na região. A ocupação da terra pelas fazendas desarticulou a vida comunitária dos Kaiowá, mas mesmo assim muitas famílias
lograram permanecer no local, trabalhando como peões para os fazendeiros. Essa estratégia de permanência na terra foi praticada até
início da década de 1980, quando as últimas famílias foram obrigadas a deixar o local.” (fl. 30).
Vê-se, pois, que o laudo da FUNAI indica que há mais de setenta anos não existe comunidade indígena e, portanto, posse indígena.
O acórdão do Superior Tribunal de Justiça reitera que “a comunidade Kaiowá encontra-se na área a ser demarcada desde os anos de
1750-1760, tendo sido desapossados de suas terras nos anos 40 por pressão dos fazendeiros”, mas que alguns permaneceram na região
“trabalhando nas fazendas, cultivando costumes dos seus ancestrais e mantendo laços com a terra”. Nos termos da decisão do STJ, esse fato
seria suficiente para legitimar a demarcação pretendida.
Se esse critério pudesse ser adotado, muito provavelmente teríamos de aceitar a demarcação de terras nas áreas onde estão situados
os antigos aldeamentos indígenas em grandes cidades do Brasil, especialmente na região Norte e na Amazônia.
Diferente desse entendimento, a configuração de terras “tradicionalmente ocupadas” pelos índios, nos termos do art. 231, § 1º, da
Constituição Federal, já foi pacificada pelo Supremo Tribunal Federal, com a edição da Súmula 650, que dispõe:‘os incisos I e XI do art. 20
da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto.’.
No RE 219.983, precedente dessa Súmula, o Min. Nelson Jobim destacou, em relação ao reconhecimento de terras indígenas, que:
“Há um dado fático necessário: estarem os índios na posse da área. É um dado efetivo em que se leva em conta o conceito
objetivo de haver a posse. É preciso deixar claro, também, que a palavra ‘tradicionalmente’ não é posse imemorial, é a forma de
possuir; não é a posse no sentido da comunidade branca, mas, sim, da comunidade indígena. Quer dizer, o conceito de posse é o
conceito tradicional indígena, mas há um requisito fático e histórico da atualidade dessa posse, possuída de forma tradicional.” (RE
219.983, julg. em 9.12.1998).
Mesmo preceito foi seguido no julgamento do caso Raposa Serra do Sol, em 19 de março de 2009. Na Pet. 3.388, o Supremo Tribunal
Federal estipulou uma série de fundamentos e salvaguardas institucionais relativos à demarcação de terras indígenas. Trata-se de
orientações não apenas direcionados a esse caso específico, mas a todos os processos sobre mesmo tema.
Importante foi a reafirmação de marcos do processo demarcatório, a começar pelo marco temporal da ocupação. O objetivo principal
dessa delimitação foi procurar dar fim a disputas infindáveis sobre terras, entre índios e fazendeiros, muitas das quais, como sabemos,
bastante violentas.
Deixou-se claro, portanto, que o referencial insubstituível para o reconhecimento aos índios dos “direitos sobre as terras que
tradicionalmente ocupam”, é a data da promulgação da Constituição Federal, isto é, 5 de outubro de 1988.
(…)
Em complemento ao marco temporal, há o marco da tradicionalidade da ocupação. Não basta que a ocupação fundiária seja
coincidente com o dia e o ano da promulgação, é preciso haver um tipo “qualificadamente tradicional de perdurabilidade da ocupação
indígena, no sentido entre anímico e psíquico de que viver em determinadas terras é tanto pertencer a elas quanto elas pertencerem a eles, os
índios.” (voto Min. Ayres Britto, Pet. 3.388).

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


Nota-se, com isso, que o segundo marco é complementar ao primeiro. Apenas se a terra estiver sendo ocupada por índios na data da
promulgação da Constituição Federal é que se verifica a segunda questão, ou seja, a efetiva relação dos índios com a terra que ocupam. Ao
contrário, se os índios não estiverem ocupando as terras em 5 de outubro de 1988, não é necessário aferir-se o segundo marco.
A decisão impugnada pelo presente recurso ordinário chegou a mencionar a Pet 3.388 e, inclusive, transcreveu trechos relativos à
definição dos marcos temporal e tradicional, nela delimitados. Realizou, contudo, equivocada interpretação da jurisprudência desta Casa.
Como visto, há mais de setenta anos não existe comunidade indígena na região reivindicada. Isto é, em 5 de outubro de 1988, marco
objetivo insubstituível para o reconhecimento aos índios dos “direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam”, essas terras não eram
habitadas por comunidade indígena há quase meio século!
O marco temporal relaciona-se com a existência da comunidade e a efetiva e formal ocupação fundiária. Caso contrário, em nada
adiantaria o estabelecimento de tais limites, que não serviriam para evitar a ocorrência de conflitos fundiários. A jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal, repita-se, não compreende a palavra “tradicionalmente” como posse imemorial.
Esse entendimento, como se vê, infirma a orientação da corrente vencedora do acórdão recorrido, que, ante o mero fato de os índios Terena
terem ocupado a Fazenda Santa Bárbara no passado, considerou legítima a demarcação daquela área como terra indígena, não obstante a inexistência
de efetiva ocupação em 1988.
5. Restaria, como fundamento de legitimação de ato demarcatório, averiguar a existência do que, no julgamento da Pet 3.388, se denominou de
“esbulho renitente”. O voto vencedor do julgado atacado considerou presente a ocorrência desse esbulho nos seguintes termos:
Na hipótese, restou incontroverso que, à época da promulgação da Constituição Federal de 1988, os índios da etnia Terena não
estavam na posse da área reivindicada, posteriormente demarcada e homologada pelo Decreto Presidencial.
Importa saber, portanto, se dela foram os índios desalojados em virtude de renitente esbulho praticado por não índios. Acerca desta
questão, o laudo pericial explica exatamente como os silvícolas foram desalojados do local onde viviam. (fl.1100):
“Como indicamos nos itens 2.1 e 2.2, e depois nos itens 4.1 e 4.2 deste laudo, o processo de colonização da região da bacia do
Aquidauana se intensifica especialmente depois do término da Guerra do Paraguai. Na região em questão, existiam diversos
aldeamentos indígenas, como Ipegue na planície e o Piranhinha nos morros, como são registrados nos documentos já citados, pelo
menos desde 1865-66. A partir de 1892 inicia-se um processo de colonização conduzido por um grupo de coronéis (apesar de que
antes da aquisição de terras por esse grupo, já existiam posseiros na região, como é o caso de João Dias Cordeiro) por meio da
constituição vila de Aquidauana e de propriedades rurais e urbanas. Pelos documentos localizados, a partir de 1895 em diante inicia-
se um processo de titulação em terras localizadas entre o Córrego João Dias, o Morro do Amparo e o Aquidauana que se choca com
as terras de ocupação indígena em diversos pontos. Isso caracteriza um choque entre o poder local e a economia agropecuária e a
sociedade Terena. Esse choque de interesses sobre as terras e os recursos ambientais está registrado nos diversos documentos
analisados e citados no laudo, e resultará na titulação das terras para o município em 1928 e depois na criação da Colônia XV de
Agosto em 1959, incidentes na área depois identificada como indígena. Assim, consolida-se o processo ocupação nos territórios em
questão. Com relação às terras da fazenda Santa Bárbara, podemos indicar que existiu ocupação indígena (no sentido de uso para
habitação) até o ano de 1953, quando em meio ao processo de demarcação houve a expulsão dos índios da área, mas a ocupação
(como uso de recursos naturais e ambientais) permanece até os dias de hoje, uma vez que os índios praticam a caça e coleta na serra.”
(grifei).
Além disso, o MM. Juiz sentenciante constatou na inspeção judicial que, a partir do ano de 1953, os índios, não por vontade própria,
ficaram impedidos de utilizar as terras da área litigiosa. Confira-se o seguinte trecho da r. sentença:
“Por ocasião da inspeção que realizei na área em litígio constatei que a Fazenda Santa Bárbara tem divisa bem definida com
as terras indígenas. Além da divisa natural, representada pelo paredão da Serra de Amambaí, tornando difícil o acesso entre as
glebas, existem cercas em todo o perímetro da fazenda. Essas cercas remontam à época que antecedeu a passagem do agrimensor
Camilo Boni (1953).” - (fls. 2417)
Diante disso, restando comprovado, nos autos, o renitente esbulho praticado pelos não índios, inaplicável à espécie, o marco temporal
aludido na PET 3388 e Súmula 650 do Supremo Tribunal Federal.
Ademais, não vislumbro como afastar as conclusões do laudo oficial, considerando que nem mesmo os argumentos que foram
deduzidos pelo assistente técnico do autor conseguiram desconstituir a conclusão a que chegou o perito judicial, de reconhecida idoneidade e
competência. (fl. 2831/2832)
O que se tem nessa argumentação, bem se percebe, é a constatação de que, no passado, as terras questionadas foram efetivamente ocupadas
pelos índios, fato que é indiscutível. Todavia, renitente esbulho não pode ser confundido com ocupação passada ou com desocupação forçada,
ocorrida no passado. Há de haver, para configuração de esbulho, situação de efetivo conflito possessório que, mesmo iniciado no passado, ainda
persista até o marco demarcatório temporal atual (vale dizer, na data da promulgação da Constituição de 1988), conflito que se materializa por
circunstâncias de fato ou, pelo menos, por uma controvérsia possessória judicializada.
Também não pode servir como comprovação de “esbulho renitente” a sustentação desenvolvida no voto vista proferido no julgamento do
acórdão recorrido, no sentido de que os índios Terena pleitearam junto a órgãos públicos, desde o começo do Século XX, a demarcação das terras do
chamado Limão Verde, nas quais se inclui a Fazenda Santa Bárbara. Destacou-se, nesse propósito, (a) a missiva enviada em 1966 ao Serviço de
Proteção ao Índio; (b) o requerimento apresentado em 1970 por um vereador Terena à Câmara Municipal, cuja aprovação foi comunicada ao
Presidente da Funai, através de ofício, naquele mesmo ano; e (c) cartas enviadas em 1982 e 1984, pelo Cacique Amâncio Gabriel, à Presidência da
Funai. Essas manifestações formais, esparsas ao longo de várias décadas, podem representar um anseio de uma futura demarcação ou de ocupação da
área; não, porém, a existência de uma efetiva situação de esbulho possessório atual. Nesse aspecto, cumpre registrar o que atestou o voto vencido do
aresto impugnado:
Desde a desocupação na década de 1950, o grupo tribal Terenas não reivindica direta ou indiretamente a área. A tolerância que se
sucedeu ao esbulho praticado pelos membros da sociedade nacional comprometeu o liame entre a fazenda e os usos, costumes, tradições da
comunidade e originou uma situação fática que veio a ser legitimada pela Constituição Federal de 1988 (fl. 2914)
Dessa forma, sendo incontroverso que as últimas ocupações indígenas na Fazenda Santa Bárbara ocorreram em 1953 e não se constatando, nas
décadas seguintes, situação de disputa possessória, fática ou judicializada, ou de outra especie de inconformismo que pudesse caracterizar a presença
de não índios como efetivo “esbulho renitente”, a conclusão que se impõe é a de que o indispensável requisito do marco temporal da ocupação
indígena, fixado por esta Corte no julgamento da Pet 3.388 não foi cumprido no presente caso.
6. Diante do exposto, dou provimento ao agravo regimental e conheço do agravo para dar provimento ao recurso extraordinário, julgando
procedente o pedido. Ficam invertidos os ônus de sucumbência. É o voto.
*decisão publicada no DJe de 12.2.2015.

Informativo 774-STF (27/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista:
ADI 3628/AP; ADI 3802/DF; ADI 5154/PA; HC 124180/RS.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 2433/RN; ADI 2072/RS; ADI 5091 Referendo-MC/MT; ADI 4967/PA; HC 119934/SP.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PROCESSO LEGISLATIVO
 Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos e militares.
 Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo.

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL


 O art. 5º da MP 2.170-36/2001 é formalmente constitucional não tendo violado o art. 62 da CF.

DIREITO ADMINISTRATIVO
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
 Inconstitucionalidade de lei estadual que preveja pensão para cônjuges de todos os falecidos por crimes hediondos.

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL


CONCURSO E PROVA DE TÍTULOS
 Pontuação atribuída por tempo de serviço em serventias notariais e registrais

DIREITO CONSTITUCIONAL

PROCESSO LEGISLATIVO
Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos e militares

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que disponha sobre o regime


jurídico dos servidores públicos e dos miliares estaduais (seus direitos e deveres).
O art. 61, § 1º, II, c e f , da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa
de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos e sobre o regime jurídico
dos militares. Essa regra também é aplicada no âmbito estadual por força do princípio da
simetria.
O fato de o Governador do Estado sancionar esse projeto de lei não faz com que o vício de
iniciativa seja sanado (corrigido). A Súmula 5 do STF há muitos anos foi cancelada.
STF. Plenário. ADI 3920/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/2/2015 (Info 773).

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


A CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei que trate sobre os direitos e
deveres dos servidores públicos e também dos miliares. Veja:
Art. 61. (...)
§ 1º — São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II — disponham sobre:
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
aposentadoria;
(...)
f) militares das Forças Armadas, seu regime jurídico, provimento de cargos, promoções, estabilidade,
remuneração, reforma e transferência para a reserva.

Essa regra vale também no âmbito estadual?


SIM. Essa regra é aplicada também no âmbito estadual por força do princípio da simetria.

Princípio da simetria
Segundo o princípio ou regra da simetria, o legislador constituinte estadual, ao elaborar as normas da
Constituição estadual sobre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e sobre as regras do pacto
federativo, deverá observar, em linhas gerais, o mesmo modelo imposto pela Constituição Federal, a fim
de manter a harmonia e independência entre eles.
Ex.: a CE não pode estabelecer que o projeto de lei para a criação de cargos na Administração Pública
estadual seja de iniciativa parlamentar. Tal previsão violaria o princípio da simetria, já que iria de encontro
ao odelo fede al i posto pelo a t. , § º, II, a , da CF/ .
O princípio da simetria não está previsto de forma expressa na CF/88. Foi uma criação pretoriana, ou seja,
idealizado pela jurisprudência do STF.
Alguns Ministros invocam como fundamento normativo para a sua existência o art. 25 da CF e o art. 11 do
ADCT, que determinam aos Estados-membros a observância dos princípios da Constituição da República.
As regras de processo legislativo previstas na CF/88 são normas de reprodução obrigatória pelos Estados-
membros, ou seja, estão submetidas ao princípio da simetria.

Leis de iniciativa parlamentar que tratem sobre regime jurídico de servidores públicos e também de
militares são inconstitucionais
O STF constantemente julga inconstitucionais leis de iniciativa parlamentar que versem sobre direitos e
deveres dos servidores públicos e dos militares. Existe, nessa situação, inconstitucionalidade formal
subjetiva.

No caso julgado pelo STF e noticiado neste Informativo 773, a Lei n. 6.841/96, do Estado de Mato Grosso,
de iniciativa parlamentar, tratou sobre a indenização por morte e invalidez permanente dos servidores
públicos militares do referido Estado-membro.
O STF julgou a referida lei inconstitucional por ofender os arts. 2º; 61, § 1º, II, c e f ; 63, II; e 84, III,
todos da CF/88, a ensejar sua inconstitucionalidade formal.

Se o Governador do Estado sancionar o projeto de lei de iniciativa parlamentar que trate sobre matéria
de iniciativa privativa do chefe do Executivo, essa sanção faz com que o vício de iniciativa seja sanado
(corrigido)?
NÃO. A jurisprudência do STF é firme no sentido de que a sanção do projeto de lei aprovado não convalida
o defeito de iniciativa. Assim, se o projeto de lei deveria ter sido apresentado pelo Chefe do Poder
Executivo e, no entanto, foi deflagrado por um Parlamentar, ainda que este projeto seja aprovado e
mesmo que o Chefe do Executivo o sancione, ele continuará sendo formalmente inconstitucional.
Antigamente (há muitos anos), o STF tinha posição em sentido contrário, tanto que havia editado uma

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


súmula afirmando que esse vício seria sanado. No entanto, o Supremo reviu esse entendimento e
cancelou o enunciado. Veja o que dizia a súmula cancelada e que espelhava a posição superada:
Súmula 5-STF: A sanção do projeto supre a falta de iniciativa do Poder Executivo. (CANCELADA pelo STF no
julgamento da RP-890).

PROCESSO LEGISLATIVO
Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo

A iniciativa de competência privativa do Poder Executivo não impede a apresentação de


emendas parlamentares, presente a identidade de matéria e acompanhada da estimativa de
despesa e respectiva fonte de custeio.
Assim, é possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada
ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas originalmente previstas (art. 63, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3942/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, jugado em 5/2/2014 (Info 773).

O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa privativa do chefe
do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre uma das matérias do art. 61, §
1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser alterado pelos parlamentares?
SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa reservada ao Chefe do
Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas originalmente previstas (art. 63, I, da CF/88).

Assim, nos projetos de lei de iniciativa do Chefe do Executivo, o parlamentar pode até propor emendas,
mas estas deverão respeitar as restrições trazidas pelo art. 63, I, da CF/88.

Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista:


I — nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado o disposto no art. 166, § 3º
e § 4º;
Obs.: os §§ 3º e 4º tratam sobre os projetos de lei orçamentária e da LDO; nesses dois casos é possível que
a emenda parlamentar acarrete aumento de despesas.

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL


O art. 5º da MP 2.170-36/2001 é formalmente constitucional, não tendo violado o art. 62 da CF

Importante!!!
O art. 5º da MP 2.170-36/2001 permite que haja capitalização de juros com periodicidade
inferior a um ano nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema
Financeiro Nacional.
A MP 2.170-36/2001 era impugnada sob a alegação de que o tema capitalização de juros não
possuía relevância e urgência, de forma que não poderia ter sido tratado por meio de medida
provisória (art. 62 da CF/88).

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3


O STF, contudo, decidiu que o art. art. 5º da MP 2.170-36/2001 é formalmente constitucional,
não tendo violado o art. 62 da CF/88.
Do ponto de vista da relevância, esta estaria presente, considerando que a MP trata sobre a
regulação das operações do Sistema Financeiro, tema de suma importância para a economia
do país.
No que se refere à urgência, a norma foi editada há 15 anos, em um período cuja realidade
financeira era diferente da atual, sendo difícil afirmar com segurança que não havia o
requisito da urgência naquela oportunidade. O cenário econômico, caracterizado pela
integração da economia nacional ao mercado financeiro mundial, exigia medidas céleres,
destinadas à adequação do Sistema Financeiro Nacional aos padrões globais.
Além disso, se a Corte declarasse a inconstitucionalidade da norma, isso significaria atuar
sobre um passado em que milhares de operações financeiras poderiam, em tese, ser atingidas.
Obs: existe uma ADI no STF que, além dos requisitos da MP, alega também a
inconstitucionalidade material da capitalização de juros em periodicidade inferior a um ano.
Trata-se da ADI 2316, cujo julgamento ainda não foi concluído.
STF. Plenário. RE 592377/RS, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki,
julgado em 4/2/2015 (repercussão geral) (Info 773).

Juros capitalizados
A capitalização de juros, também chamada de anatocismo, ocorre quando os juros são calculados sobre os
próprios juros devidos.
Out as de o i aç es pa a apitalização de ju os : ju os so e ju os , ju os o postos ou ju os
f ugífe os .
Normalmente, são verificados em contratos de financiamento bancário.

Capitalização anual de juros


A capitalização de juros foi vedada no ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto 22.626/33 (Lei de
Usura), cujo art. 4º estabeleceu:
Art. 4º É proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos
aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.

A ressalva prevista na segunda parte do art. 4º (a parte destacada) significa que a Lei da Usura permite a
capitalização anual.

Desse modo, a capitalização anual sempre foi PERMITIDA (para todos os contratos).

Capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano


Em 31 de março de 2000, o Presidente da República editou medida provisória permitindo que as
instituições financeiras, em seus contratos, fixassem a capitalização de juros com periodicidade inferior a
um ano. Foi a MP 1.963-17/2000 (atual MP 2.170-36/2001).

Essa medida provisória foi sucessivamente reeditada, at ue veio a EC / , ue ete izou as


medidas provisórias que existiam na época. Veja o que diz o art. 2º da EC 32/2001:
Art. 2º As medidas provisórias editadas em data anterior à da publicação desta emenda continuam em
vigor até que medida provisória ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do
Congresso Nacional.

Em outras palavras, todas as medidas provisórias que estavam em vigor quando foi publicada a EC
32/2001 deixaram de ser provisórias e passaram a vigorar como se fossem lei. Assim, as medidas
provisórias que estavam em vigor quando veio a EC 32/2001 não mais têm prazo para expirar e irão valer
até que uma lei as revogue ou que elas sejam rejeitadas pelo Congresso.

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4


Esse foi o caso da MP que estávamos falando, ou seja, da MP sobre a capitalização dos juros.

Quando a EC 32/2001, entrou em vigor, a MP 2.170-36/2001 estava valendo e foi ete izada , ou seja, ela
vale como se fosse uma lei até que outra lei a revogue ou até que o Congresso a rejeite.

Veja o que diz o art. 5º da MP 2.170-36/2001:


Art. 5º Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é
admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano.

Desse modo, a MP 2.170-36/2001 permitiu que as instituições financeiras, em seus contratos, fixassem a
capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano. Esta MP continua vigorando e não tem data
para perder eficácia por causa do art. 2º da EC 32/2001.

Impugnações à MP 2.170-36/2001
Existem, no Poder Judiciário, milhares de ações judiciais questionando a legalidade e a constitucionalidade
da MP 2.170-36/2001. As três impugnações principais contra a referida MP são as seguintes:

1) Ilegalidade da capitalização inferior a um ano


Sustentava-se que o art. 5º da MP 2.170-36/2001, que permite a capitalização inferior a um ano, teria sido
revogado pelo art. 591 do Código Civil, que permite somente a capitalização anual.
Alguns alegavam também que haveria violação ao CDC.

Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? A MP 2.170-36/2001 é ilegal? A capitalização de juros com
periodicidade inferior a um ano (ex: capitalização mensal de juros) é proibida também para os bancos?
NÃO. É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos BANCÁRIOS
celebrados após 31 de março de 2000, data da publicação da MP 1.963-17/2000 (atual MP 2.170-
36/2001), desde que expressamente pactuada (STJ. 2ª Seção. REsp 973.827/RS, Rel. p/ Acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 08/08/2012).
O art. 591 do Código Civil não alterou a regra do art. 5º da MP porque esta é norma específica e o CC é lei
geral, aplicando-se o princípio da especialidade, segundo o qual lei geral não revoga lei específica, ainda
que seja posterior.
A MP também não viola qualquer disposição do CDC.
Portanto, sob o ponto de vista da legalidade, o art. 5º da MP 2.170-36/2001 é plenamente válido.

2) Inconstitucionalidade formal da MP por violação ao art. 62 da CF/88 (relevância e urgência)


Outra impugnação que era feita contra a MP 2.170-36/2001 era a de ue o te a apitalização de ju os
não possuía relevância e urgência, de forma que não poderia ter sido tratado por meio de medida
provisória (art. 62 da CF/88).

Essa tese foi acolhida pela jurisprudência? A MP 2.170-36/2001 é inconstitucional por ter sido editada
sem relevância e urgência?
NÃO. O STF decidiu que o art. 5º da MP 2.170-36/2001 é formalmente constitucional, não tendo violado o
art. 62 da CF/88.
A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias consiste, em regra,
em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do Presidente da República,
controlado pelo Congresso Nacional.
Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na análise dos
requisitos da MP.
No caso concreto, do ponto de vista da relevância, esta estaria presente, considerando que a MP trata sobre
a regulação das operações do Sistema Financeiro, tema de suma importância para a economia do país.
Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5
No que se refere à urgência, a norma foi editada há 15 anos, em um período cuja realidade financeira era
diferente da atual, sendo difícil afirmar com segurança que não havia o requisito da urgência naquela
oportunidade. O cenário econômico, caracterizado pela integração da economia nacional ao mercado
financeiro mundial, exigia medidas céleres, destinadas à adequação do Sistema Financeiro Nacional aos
padrões globais.
Além disso, se a Corte declarasse a inconstitucionalidade da norma, isso significaria atuar sobre um
passado em que milhares de operações financeiras poderiam, em tese, ser atingidas.

3) Inconstitucionalidade material da MP
Existe uma ADI no STF que, além dos requisitos da MP, alega também a inconstitucionalidade material da
capitalização de juros em periodicidade inferior a um ano. Trata-se da ADI 2316, cujo julgamento ainda
não foi concluído.

DIREITO ADMINISTRATIVO
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Inconstitucionalidade de lei estadual que preveja pensão para cônjuges
de todos os falecidos por crimes hediondos

É inconstitucional lei estadual (distrital) que preveja o pagamento de pensão especial a ser
concedida pelo Governo do Estado (Distrito Federal) em benefício dos cônjuges de pessoas
vítimas de crimes hediondos, independentemente de o autor do crime ser ou não agente do
Estado. Tal lei amplia, de modo desmesurado (irrazoável), a responsabilidade civil do Estado
prevista no art. 37, § 6º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1358/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 773).

Em 1995, foi editada uma Lei no Distrito Federal prevendo uma pensão especial a ser paga para os
cônjuges de pessoas assassinadas vítimas de crimes hediondos ocorridos no DF.
Em outras palavras, todas as vezes que morresse alguém no DF, vítima de crime hediondo, o Governo
deveria pagar uma pensão mensal ao viúvo (a) do(a) morto(a) mesmo que o autor do delito não tivesse
sido um agente público.
O STF entendeu que essa lei é inconstitucional porque amplia, de modo desmesurado, a responsabilidade
prevista no art. 37, § 6º, da CF/88.
A referida Lei impôs ao DF responsabilidade civil muito maior que a prevista na CF/88.
A Constituição afirma que o Estado é responsável civilmente pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros.
Vale ressaltar que o Poder Público até poderia, como medida de assistência social (e não por força de
responsabilidade civil), instituir essa pensão, mas desde que fosse para pessoas necessitadas, conforme
exige o art. 203 da CF/88 e, desde que houvesse a previsão da fonte de custeio total (§ 5º do art. 195):
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social, e tem por objetivos:
(...)
Art. 195 (...)
§ 5º - Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a
correspondente fonte de custeio total.

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6


DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL
CONCURSO E PROVA DE TÍTULOS
Pontuação atribuída por tempo de serviço em serventias notariais e registrais

Lei estadual previu como títulos em concursos de cartório:


I - tempo de serviço prestado como titular, interino, substituto ou escrevente em serviço
notarial ou de registro;
II - apresentação de temas em congressos relacionados com os serviços notariais e registrais.
O STF decidiu que:
Para o concurso de INGRESSO, tal previsão é inconstitucional.
Para o concurso de REMOÇÃO, essa pontuação é constitucional, desde que as atividades
listadas nesses dois incisos tenham sido realizadas após o ingresso no serviço notarial e de
registro.
STF. Plenário. ADI 3580/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 773).

Concurso de cartório e prova de títulos


A Lei n. 12.919/98, do Estado de Minas Gerais, dispõe sobre os concursos de ingresso e de remoção nos
serviços notariais e de registro. Sobre a prova de títulos, a referida Lei estabeleceu o seguinte:
Art. 17. O candidato não eliminado nas provas de conhecimento poderá apresentar títulos, considerando-
se como tais os seguintes:
I - tempo de serviço prestado como titular, interino, substituto ou escrevente em serviço notarial ou de
registro;
II - trabalhos jurídicos publicados, de autoria única, e apresentação de temas em congressos relacionados
com os serviços notariais e registrais;
III - conclusão de mestrado ou doutorado em matéria jurídica;
IV - exercício da advocacia;
V - aprovação em concurso público para cargos de carreira jurídica.
§ 1º - Aos títulos relacionados nos incisos I, II, III, IV e V será atribuída, respectivamente, pontuação total
máxima de 8% (oito por cento), 2% (dois por cento), 2% (dois por cento), 4% (quatro por cento) e 4%
(quatro por cento) do total de pontos distribuídos no concurso.

O Procurador-Geral da República ajuizou ADI contra todo o inciso I e também contra a expressão
ap ese tação de te as e o g essos ela io ados o os se viços ota iais e egist ais , o sta te do
inciso II. Segundo o PGR, essas regras violam o princípio da isonomia.

O que decidiu o STF? Tal previsão é inconstitucional?


Existem duas espécies de concurso para as serventias notariais e registrais: concurso público de ingresso e
de remoção.
 Para o concurso de INGRESSO: o inciso I e a expressão impugnada do inciso II são inconstitucionais.
 Para o concurso de REMOÇÃO: o STF afirmou que tal previsão é constitucional, desde que as
atividades listadas nesses dois incisos tenham sido realizadas após o ingresso no serviço notarial e de
registro. No caso de concurso de remoção, é válido considerar o tempo de serviço como um dos pontos
atribuídos na prova de títulos, desde que se tenha como marco inicial a assunção do cargo em concurso.
Segundo o entendimento que prevalece no STF, é inconstitucional a lei que, prevendo critérios de
valoração de títulos em concurso de ingresso nos serviços notariais e de registro, atribuam maior
pontuação às condições pessoais ligadas à atuação anterior nessas atividades (STF. Plenário. ADI 4178 MC-
REF, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 04/02/2010).

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7


JULGADOS NÃO COMENTADOS

Concurso público: reenquadramento e art. 19 do ADCT


O Plenário confirmou em parte medida cautelar (noticiada no Informativo 229) e julgou parcialmente
procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade dos §§ 3º, 4º e 6º do
art. 231 da LC 167/1999 do Estado do Rio G a de do No te, o a edação da LC estadual / [ A t.
231. Os atuais cargos de escrivão, Escrevente Substituto e Ajudante de Cartório Oficializado são
transformados nos cargos de Técnico Judiciário. ... § 3º Fica assegurado aos Auxiliares de Cartórios, que se
encontravam com cinco (05) anos cumpridos de exercício ao tempo da promulgação da Constituição
Federal de 1988, e que permaneceram vinculados ao serviço, quando da vigência da Lei Complementar n.º
165, de 28 de abril de 1999, o direito de optar pelo enquadramento definitivo no Quadro Permanente de
Pessoal do Poder Judiciário. § 4º O enquadramento de que trata o parágrafo anterior dar-se-á no cargo de
Auxiliar Técnico – Nível AT-1, e far-se-á mediante requerimento do interessado, dirigido ao Presidente do
Tribunal de Justiça, ficando o requerente obrigado a apresentar documentação comprobatória do ato da
designação perante a serventia judicial e do termo de compromisso, bem como da permanência vinculada
à Secretaria Judicial. ... § 6º O disposto no § 3º deste artigo aplica-se aos serviços extra-judiciais que
estiverem vagos na data da vigência desta Lei ou os que vierem a vagar no prazo de um ano, desde que
p ee ha os e uisitos ali p evistos. ]. Ade ais, o fe iu i te p etação onforme a Constituição quanto
ao § º do itado a tigo § º Os es ivães ue a u ula as fu ç es ota ial e egist al pode opta pelo
cargo de Técnico Judiciário, contanto que o façam no prazo de dez dias a partir da instalação da Secretaria
do respectivo Juízo , a fi de asse ta a a a g ia da o a ape as aos es ivães ue vi ha
acumulando funções notarial e registral além das atinentes a cargo efetivo, alcançado mediante concurso.

Preliminarmente, o Ministro Marco Aurélio (relator) consignou que a manifestação do Advogado-Geral da


União no feito deveria restringir-se à defesa do ato ou texto impugnado, nos termos do art. 103 da CF, de
modo que não caberia a emissão de parecer. No mérito, o Colegiado afirmou que a jurisprudência da Corte
seria no sentido da indispensabilidade da prévia aprovação em concurso público, nos termos do Enunciado
da “ú ula do “TF É i o stitu io al toda odalidade de p ovi e to ue p opi ie ao se vido
investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não
i teg a a a ei a a ual a te io e te i vestido . No aso, os §§ º, º e º do a t. da o a e
questão confeririam aos auxiliares de cartório que contavam com cinco anos de exercício quando
promulgada a CF/1988, o direito a enquadramento definitivo. No entanto, a estabilidade excepcional
garantida pelo art. 19 do ADCT não daria direito à efetividade ou a qualquer tipo de transposição. O
servidor estável, segundo o referido preceito, teria assegurada somente a permanência no cargo para o
qual arregimentado, excluído o direito a, sem concurso público, ser efetivado. Por outro lado, o § 2º da
norma estadual versaria a acumulação de cargos no que se refere a funções notarial e registral e cogitaria
da opção pelo cargo de técnico judiciário. Uma vez presumido que os escrivães ocupariam cargo efetivo,
obtido por concurso, a regra deveria ser interpretada para ter como beneficiários apenas os escrivães que
cumprissem esse requisito.
ADI 2433/RN, rel. Min. Marco Aurélio, 4.2.2015.

Despesas orçamentárias e vício de iniciativa


O Plenário, por maioria, confirmou medida cautelar (noticiada no Informativo 171) e julgou parcialmente
procedente pedido formulado em ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei
11.367/1999 do Estado do Rio Grande do Sul que, ao tornar o governo estadual devedor principal de
obrigações que agricultores daquele Estado-membro assumiram, inicialmente, com o governo Federal,
transmudara a natureza do pacto originalmente firmado. A Corte relatou que, em face de grande estiagem
ocorrida em 1995, o governo do Rio Grande do Sul instituíra o Programa Emergencial de Manutenção e
Apoio a Pequenos Proprietários Rurais (Decreto 36.459/1996) para atender, com recursos oriundos do

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


governo Federal, os agricultores que perderam suas lavouras naquele ano. Fora ainda instituído, pela Lei
11.185/1998 do Estado do Rio Grande do Sul, o fundo rotativo de emergência da agricultura familiar, com
recursos oriundos do governo Federal. Em 31.8.1999, via emenda parlamentar, fora sancionada a Lei
gaúcha 11.367/1999, que isentara de pagamento os produtores rurais que teriam sido beneficiados por
esse programa emergencial. Previra, também, em seu art. 2º, que o governo estadual assumiria as
obrigações perante o governo Federal. Em preliminar, o Tribunal asseverou que, embora a Lei gaúcha
11.774/2002 tivesse revogado expressamente o art. 2º da Lei 11.367/1999, nesse ponto, não se poderia
julgar o pedido prejudicado porque não produzira efeitos, em face da medida cautelar que suspendera o
ato. No mérito, asseverou que a emenda parlamentar que dera nova redação ao art. 2º da Lei estadual
11.367/1999 teria afrontado a competência do Poder Executivo. Vencidos, em parte, os Ministros Marco
Aurélio e Luiz Fux, que julgavam integralmente procedente o pedido formulado. Para o Ministro Marco
Aurélio, a norma impugnada seria um caso emblemático de ingerência do Poder Legislativo no Poder
Executivo. Asseverava que a assembleia legislativa local, ao dispor sobre isenção, estaria a diminuir o
orçamento aprovado para o Poder Executivo. Frisava que este Poder, tampouco poderia dispor desses
valores, a beneficiar certos cidadãos. Apontava que o órgão legislativo estaria a exercer as funções
inerentes ao Executivo.
ADI 2072/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, 4.2.2015.

Progressão funcional de servidor público e iniciativa legislativa


O Plenário referendou medida cautelar concedida em ação direta de inconstitucionalidade, com o fim de
suspender a eficácia do art. 1º da Lei 10.011/2013 do Estado de Mato Grosso. A norma impugnada, de
iniciativa parlamentar, dispõe sobre critério de progressão funcional de servidores do referido Estado-
membro, matéria cuja iniciativa seria reservada ao chefe do Poder Executivo (CF, art. 61, § 1º, II).
ADI 5091 Referendo-MC/MT, rel. Min. Dias Toffoli, 4.2.2015.

Entidade de classe e legitimidade ativa


O Plenário, por maioria, não conheceu de ação direta proposta pela Federação Nacional de Entidades de
Oficiais Militares - FENEME, pelo Clube dos Oficiais da Polícia Militar do Pará - COPMPA, pelo Clube dos
Oficiais do Corpo de Bombeiros Militar do Pará - COCB, pela Associação dos Cabos e Soldados da Polícia
Militar do Pará - ASSUBSAR e pelo Instituto de Defesa dos Servidores Públicos Civis e Militares do Estado do
Pará - INDE“PCMEPA, e azão da falta de legiti idade ativa ad ausa , eite ado o ua to decidido na
ADI 4.473 AgR/PA (DJe de 1º.8.2012). No referido precedente, a Corte decidira que a FENEME não
abrangeria a totalidade dos atuantes dos corpos militares estaduais, compostos de praças e oficiais.
Ademais, aquela entidade não preencheria o requisito da ampla representatividade do conjunto de todas
as pessoas às quais a norma atacada se aplicaria. No presente caso, a norma impugnada — LC 39/2002 do
Estado do Pará — institui o regime de previdência dos servidores do Estado do Pará e dá outras
providências. Vencido, em parte, o Ministro Marco Aurélio, que reconhecia a legitimidade ativa da
FENEME. Afirmava que, no caso, tratar-se-ia de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada por
associação de classe de âmbito nacional, cuja legitimidade estaria prevista no art. 103 da CF.
ADI 4967/PA, rel. Min. Luiz Fux, 5.2.2015.

Prisão preventiva e reincidência


A ª Tu a i i iou julga e to de ha eas o pus e ue se dis ute aus ia de fu da e tação id ea,
lastreada na necessidade de preservação da ordem pública, a justificar a prisão preventiva do paciente. No
caso, o réu, após subtrair uma carteira, teria sido preso em flagrante, custódia convertida, em seguida, em
prisão preventiva. Posteriormente, sobreviera sentença condenatória à pena de quatro anos e nove meses
de reclusão, além de 20 dias- ulta, pela p áti a do delito p evisto o a t. , aput , / o a t. , I,
ambos do CP. Na ocasião, a prisão preventiva ficara mantida. Pendente, atualmente, apelação da defesa. O
Ministro Gilmar Mendes (relator) concedeu a ordem. Afirmou que todas as decisões constantes dos autos
pela manutenção da prisão teriam se baseado na gravidade abstrata do delito de roubo e na garantia da

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


ordem pública. O único elemento aventado que se referiria especificamente ao caso objetivo seria a
reincidência do réu. Salientou que a prisão preventiva, para ser decretada, deveria estar embasada na
conduta concretamente realizada, nas circunstâncias que a envolvessem, e não num modelo genérico de
periculosidade. Ressaltou que a configuração da grave ameaça ainda estaria sob discussão e seria definida
quando do julgamento do recurso de apelação. Diante dessas circunstâncias, reputou que seria frágil a
fundamentação da prisão preventiva com base nos requisitos do art. 312 do CPP. Além disso, a situação
causaria maiores perplexidades ante as modificações promovidas no CPP pela Lei 12.403/2011, que dispõe
sobre matérias pertinentes a prisão processual, fiança, liberdade provisória e demais medidas cautelares.
Ademais, ainda que se fizessem presentes de forma indiscutível os requisitos acautelatórios dispostos na lei
processual penal, a prisão cautelar, atualmente, revelar-se-ia medida desproporcional. Em cálculo rápido,
seria fácil perceber que o paciente já permanecera, em razão da preventiva, preso há mais de um ano em
regime fechado, já ultrapassado, portanto, um sexto de sua reprimenda. Assim, se sua pena já fosse
definitiva, teria ele direito à progressão para o regime semiaberto. Todavia, atualmente sua situação não
seria de condenado definitivo, visto que em seu favor ainda militaria o princípio constitucional da
presunção de inocência, pendente julgamento de recurso defensivo no qual se discutiria inclusive a
tipificação legal da conduta a ele atribuída. Em divergência, os Ministros Cármen Lúcia e Celso de Mello
denegaram a ordem. A Ministra Cármen Lúcia consignou que a prisão preventiva estaria motivada na
reincidência. O Ministro Celso de Mello registrou haver dados concretos que revelariam que o réu se
tornara um delinquente habitual, agressor do patrimônio, sempre se valendo de violência física ou de
violência moral, tanto que fora condenado, pelo menos duas vezes, com trânsito em julgado, pela prática
do crime tipificado no art. 157 do CP. Ademais, a jurisprudência do STF orientar-se-ia no sentido de que a
habitualidade poderia legitimar a imposição da referida medida. Em seguida, o Ministro Teori Zavascki
pediu vista.
HC 124180/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, 3.2.2015.

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 2 a 6 de fevereiro de 2015

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 759.244-SP


RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO
Ementa: Possui repercussão geral a controvérsia a respeito da aplicação, ou não, da imunidade prevista no art. 149, § 2º, I, da Constituição às
exportações indiretas, isto é, aquelas intermediadas por “trading companies”.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 808.202-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. NOTÁRIOS E REGISTRADORES. LIMITE À REMUNERAÇÃO DOS SUBSTITUTOS OU
INTERINOS DESIGNADOS PARA O EXERCÍCIO DE FUNÇÃO DELEGADA. SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS. TETO REMUNERATÓRIO.
DISCUSSÃO QUANTO À INCIDÊNCIA OU NÃO NA HIPÓTESE DOS ARTS. 37, INCISOS II E XI, E 236, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 728.181-RJ
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: DIREITO ELEITORAL. REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DE CERTIDÃO DE QUITAÇÃO ELEITORAL. ART. 11, §7º,
DA LEI N. 9.504/1997. CONTROVÉRSIA QUANTO À SUFICIÊNCIA DA MERA APRESENTAÇÃO DAS CONTAS DE CAMPANHA
ELEITORAL. MATÉRIA DE TEOR INFRACONSTITUCIONAL. NECESSIDADE DE ANÁLISE DA LEI N. 9.504/1997 E DE RESOLUÇÕES
DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. POTENCIAL DE OFENSA MERAMENTE REFLEXA À LEI MAIOR. INEXISTÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO NÃO CONHECIDO.
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 748.543-RS
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA – ARTIGO 155, § 2º, INCISO X, ALÍNEA “B”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ALCANCE – INTERMEDIÁRIA NA AQUISIÇÃO E
ALIENAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL VERIFICADA. Possui repercussão geral a
controvérsia acerca do alcance da imunidade tributária, prevista no artigo 155, § 2º, inciso X, alínea “b”, da Constituição Federal, à intermediária que
adquire energia elétrica e a aliena a consumidores no mesmo estado.

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 598.650-MS
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
AÇÃO RESCISÓRIA FORMALIZADA PELA UNIÃO – TERCEIRA INTERESSADA – TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL – DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA
– DECISÃO RESCINDENDA – JUSTIÇA ESTADUAL – ARTIGOS 108, INCISO I, ALÍNEA “B”, E 109, INCISO I, DA CARTA DA REPÚBLICA –
CONFLITO – RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA. Possui repercussão geral a controvérsia acerca da
competência para processar e julgar pedido formalizado pela União, na qualidade de terceira interessada em relação ao processo originário, voltado a ver
rescindida decisão prolatada por juiz estadual.

Decisões Publicadas: 5

CLIPPING DO D JE
2 a 6 de fevereiro de 2015

ADI N. 2.255-ES
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei estadual nº 5.645/1998, do Espírito Santo. Indenização de vítimas de violências praticadas por agentes
estatais. 3. Inexistência de vício formal. Responsabilidade civil do Estado. Regulação de matéria exclusiva de direito administrativo. 4. Não regulação
de matéria de competência exclusiva do Presidente da República. Inocorrência de usurpação de competência privativa da União. 5. Ação direta
julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 768
ADI N. 2.444-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 11.521/2000 do Estado do Rio Grande do Sul. Obrigação do Governo de divulgar na
imprensa oficial e na internet dados relativos a contratos de obras públicas. Ausência de vício formal e material. Princípio da publicidade e
da transparência. Fiscalização. Constitucionalidade. 1. O art. 22, inciso XXVII, da Constituição Federal atribuiu à União a competência para editar
normas gerais de licitações e contratos. A legislação questionada não traz regramento geral de contratos administrativos, mas simplesmente determina
a publicação de dados básicos dos contratos de obras públicas realizadas em rodovias, portos e aeroportos. Sua incidência é pontual e restrita a
contratos específicos da administração pública estadual, carecendo, nesse ponto, de teor de generalidade suficiente para caracterizá-la como “norma
geral”.2. Lei que obriga o Poder Executivo a divulgar na imprensa oficial e na internet dados relativos a contratos de obras públicas não depende de
iniciativa do chefe do Poder Executivo. A lei em questão não cria, extingue ou modifica órgão administrativo, tampouco confere nova atribuição a
órgão da administração pública. O fato de a regra estar dirigida ao Poder Executivo, por si só, não implica que ela deva ser de iniciativa privativa do
Governador do Estado. Não incide, no caso, a vedação constitucional (CF, art. 61, § 1º, II, e). 3. A legislação estadual inspira-se no princípio da
publicidade, na sua vertente mais específica, a da transparência dos atos do Poder Público. Enquadra-se, portanto, nesse contexto de aprimoramento
da necessária transparência das atividades administrativas, reafirmando e cumprindo o princípio constitucional da publicidade da administração
pública (art. 37, caput, CF/88). 4. É legítimo que o Poder Legislativo, no exercício do controle externo da administração pública, o qual lhe foi
outorgado expressamente pelo poder constituinte, implemente medidas de aprimoramento da sua fiscalização, desde que respeitadas as demais balizas
da Carta Constitucional, fato que ora se verifica.5. Não ocorrência de violação aos ditames do art. 167, I e II, da Carta Magna, pois o custo gerado
para o cumprimento da norma seria irrisório, sendo todo o aparato administrativo necessário ao cumprimento da determinação legal preexistente.6.
Ação julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 766
ADI N. 3.223-SC
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 10.926/1998 do Estado de Santa Catarina. Tribunal de contas. Vício de iniciativa.
Inconstitucionalidade formal. Transposição de cargos de corte de contas para o quadro de pessoal do Poder Executivo. 1.
Inconstitucionalidade formal de dispositivo acrescentado por emenda parlamentar que transpõe cargos de analista de controle externo do quadro de
pessoal do Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina para o grupamento funcional do Poder Executivo local. Essa transposição promove
indiretamente a extinção de cargos públicos pertencentes à composição funcional do Tribunal de Contas do Estado.2. Conforme reconhecido pela
Constituição de 1988 e pelo Supremo Tribunal Federal, gozam as cortes de contas do país das prerrogativas da autonomia e do autogoverno, o que
inclui, essencialmente, a iniciativa reservada para instaurar processo legislativo para criar ou extinguir cargos, como resulta da interpretação
sistemática dos arts. 73, 75 e 96, II, b, da Constituição Federal (cf. ADI nº 1.994/ES, Relator o Ministro Eros Grau, DJ de 8/9/06; ADI nº 789/DF,
Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 19/12/94).3. A jurisprudência da Corte é firme no sentido de que a Constituição Federal veda ao Poder
Legislativo formalizar emendas a projetos de iniciativa exclusiva se delas resultar aumento de despesa pública ou se forem elas totalmente
impertinentes à matéria versada no projeto (ADI nº 3.288/MG, rel. Min. Ayres Britto, DJ de 24/2/11; ADI n° 2350/GO, Rel. Min. Maurício Corrêa,
DJ de 30/4/2004). No caso dos autos, o projeto original já versava acerca da transposição de cargos públicos, mas essa transposição limitava-se a
cargos do quadro do Poder Executivo. 4. Ação julgada procedente.
*noticiado no Informativo 766
ADI N. 4.203-RJ
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 5.388/99 do Estado do Rio de Janeiro. CONAMP. Obrigação de entrega de
declaração de bens à Assembleia Legislativa por agentes públicos estaduais. Competência atribuída ao Poder Legislativo sem o devido
amparo constitucional. Vício de iniciativa. Parcial procedência.1. A CONAMP congrega os membros do Ministério Público da União e dos
Estados, tendo legitimidade reconhecida por esta Corte (ADI nº 2.794/DF, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 30/3/07). A exigência de
pertinência temática não impede o amplo conhecimento da ação, com a declaração de inconstitucionalidade da norma para além do âmbito dos
indivíduos representados pela entidade requerente, quando o vício de inconstitucionalidade for idêntico para todos os seus destinatários. Precedentes.
Preliminar rejeitada.2. Lei estadual que estabeleceu, com fundamento na competência constitucional de controle externo por parte do Poder
Legislativo, a obrigatoriedade de apresentação de declaração de bens por diversos agentes públicos estaduais (magistrados, membros do Ministério
Público, deputados, procuradores do estado, defensores públicos, delegados etc.) à Assembleia Legislativa.3. Modalidade de controle direto dos
demais Poderes pela Assembleia Legislativa - sem o auxílio do Tribunal de Contas do Estado - que não encontra fundamento de validade na
Constituição Federal. Assim, faltando fundamento constitucional a essa fiscalização, não poderia a Assembleia Legislativa, ainda que mediante lei,

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


outorgar a si própria competência que é de todo estranha à fisionomia institucional do Poder Legislativo.4. Inconstitucionalidade formal da lei
estadual, de origem parlamentar, que impõe obrigações aos servidores públicos em detrimento da reserva de iniciativa outorgada ao chefe do Poder
Executivo (art. 61, § 1º, II, da CF), e da autonomia do Poder Judiciário (art. 93 da CF) e do Ministério Público (arts. 127, § 2º, e 128, § 5º, da CF) para
tratar do regime jurídico dos seus membros e servidores.5. Constitucionalidade da lei em relação aos servidores e membros da própria Assembleia
Legislativa, por se tratar de controle administrativo interno, perfeitamente legítimo.6. Ação direta julgada parcialmente procedente, declarando-se i) a
inconstitucionalidade dos incisos II a V do art. 1º; dos incisos II a XII e XIV a XIX do art. 2º; das alíneas b a e do inciso XX também do art. 2º, todos
da Lei nº 5.388, de 16 de fevereiro de 2009, do Estado do Rio de Janeiro, e ii) conferindo-se interpretação conforme à Constituição ao art. 5º do
mesmo diploma legal, para que a obrigação nele contida somente se dirija aos administradores ou responsáveis por bens e valores públicos ligados ao
Poder Legislativo.
*noticiado no Informativo 765
RE N. 602.439-MA
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
COISA JULGADA – ENVERGADURA – MITIGAÇÃO EXCEPCIONAL – AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO AUTÔNOMA – RESCISÓRIA. A coisa julgada,
ato jurídico perfeito e acabado por excelência, porque emanado do Judiciário, apenas é mitigada pelo texto constitucional no que prevista a ação
rescisória.
*noticiado no Informativo 767
RE N. 626.397-PI
RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. MANDADO DE
SEGURANÇA CONTRA ATO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUE DÁ CUMPRIMENTO A DECISÃO DO CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA, DESCONSTITUINDO ATOS DE PROVIMENTO EFETIVO EM CARGOS PÚBLICOS SEM PRÉVIA APROVAÇÃO EM
CONCURSO PÚBLICO. OBSERVÂNCIA DO ARTIGO 37, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ATO MERAMENTE EXECUTÓRIO,
DESPROVIDO DE CONTEÚDO DECISÓRIO. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA (art. 5º, LV, CF): DESNECESSIDADE DE
OBSERVÂNCIA, POR INOCUIDADE DE SEU EXERCÍCIO. 1. O ato executório de Tribunal, derivado de cumprimento de decisão do Conselho
Nacional de Justiça, por não ostentar conteúdo decisório, não desafia o writ. 2. O contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV, da Constituição da
República) não constituem requisitos para a lavratura do ato administrativo desprovido de cunho decisório, porquanto despiciendos para a sua
formação.3. Deveras, a tramitação do writ com a interposição dos recursos cabíveis em atendimento à ampla defesa com os recursos a ela
inerentes cumpre a cláusula constitucional à saciedade, máxime nas hipóteses em que a questão de direito veiculada na pretensão deduzida visa a
infirmar o teor da Súmula 685, verbis: “É inconstitucional toda modalidade de provimento quer propicie ao servidor investir-se sem prévia
aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido”.4. In casu,
inclusive, não se discute aqui, porque se trata de tema estranho às questões trazidas ao conhecimento do STF por força do recurso extraordinário, da
validade em si da decisão do CNJ à luz dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. E não era essa a pretensão das Recorrentes,
que, ao invés de dirigirem sua irresignação contra a decisão do CNJ no PCA nº 268, optaram, neste feito, por impugnar judicialmente o ato
meramente executório exarado. Desistiram, inclusive, de questionar judicialmente a decisão do CNJ, quando desistiram do MS nº 26.658 (Rel. Min.
MARCO AURÉLIO), cuja liminar já havia, inclusive, sido indeferida pelo eminente Relator.5. Recurso extraordinário provido, para reformar a decisão
do Tribunal a quo que, concedendo a segurança, anulou a Portaria nº 465 do TJ/PI que dava cumprimento à determinação do CNJ para desconstituir
os atos de provimento efetivo em cargos públicos sem a prévia aprovação em concurso público.
Rcl N. 4.311-DF
RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Processual Civil e Constitucional. Reclamação. ADC nº 4/DF-MC. Decisão de mérito contrária à Fazenda Pública. Direito de
servidor público a férias. Providência cautelar para assegurar o resultado prático equivalente ao do adimplemento (art. 461, caput, segunda
parte, do CPC). Indenização de férias não gozadas como mera consequência secundária do reiterado descumprimento de decisão de mérito.
Reclamação improcedente.1. Exige-se aderência estrita do objeto do ato reclamado ao conteúdo da decisão paradigmática do STF para o
conhecimento da reclamação constitucional.2. A existência de decisão de mérito nos autos originários impede o conhecimento da reclamação
constitucional proposta com fundamento na ADC nº 4/DF-MC.3. Há limitação objetiva do alcance da ADC nº 4/DF às hipóteses taxativas do art. 1º
da Lei nº 9.494/97.4. A indenização de férias não gozadas como mera consequência secundária do reiterado descumprimento de decisão de mérito não
apresenta identidade com o tema em debate no paradigma.5. Reclamação improcedente.
*noticiado no Informativo 766
RE N. 602.381-AL
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. ALEGADA INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DE TURMA RECURSAL. AUSÊNCIA
DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS NS. 282 E 356 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DE
LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. RECURSO AO QUAL NÃO SE CONHECE NO
PONTO. PROCURADORES FEDERAIS. PRETENDIDA CONCESSÃO DE FÉRIAS DE SESSENTA DIAS E CONSECTÁRIOS LEGAIS. ART.
1º DA LEI N. 2.123/1952 E ART. 17, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI N. 4.069/1962. DISPOSIÇÕES NORMATIVAS RECEPCIONADAS COM
STATUS DE LEI ORDINÁRIA. POSSIBILIDADE DE REVOGAÇÃO PELO ART. 18 DA LEI N. 9.527/1997. INTERPRETAÇÃO DO ART. 131,
CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. A PROCURADORIA-GERAL FEDERAL, APESAR DE MANTER VINCULAÇÃO, NÃO SE
CARACTERIZA COMO ÓRGÃO DA ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO. ATUAL IMPOSSIBILIDADE DE EQUIPARAÇÃO DAS
CONDIÇÕES FUNCIONAIS DOS MEMBROS DA ADVOCACIA PÚBLICA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO. RECURSO PARCIALMENTE
CONHECIDO E, NESSA PARTE, PROVIDO.
*noticiado no Informativo 768
Acórdãos Publicados: 428

TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.
Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12
Busca e apreensão e autorização judicial (Transcrições)
(v. Informativo 772)
HC 106.566/SP*
RELATOR: Ministro Gilmar Mendes
Habeas corpus. 2. Inviolabilidade de domicílio (art. 5º, IX, CF). Busca e apreensão em estabelecimento empresarial. Estabelecimentos
empresariais estão sujeitos à proteção contra o ingresso não consentido. 3. Não verificação das hipóteses que dispensam o consentimento. 4.
Mandado de busca e apreensão perfeitamente delimitado. Diligência estendida para endereço ulterior sem nova autorização judicial. Ilicitude
do resultado da diligência. 5. Ordem concedida, para determinar a inutilização das provas.
RELATÓRIO: Trata-se de habeas corpus, sem pedido de medida liminar, impetrado por **, ** e ** em favor de **, contra acórdão proferido pela
Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, por maioria, conheceu, parcialmente, do pedido e, nessa extensão, denegou a ordem no HC
124.253/SP.
Relatou que foi alvo das investigações policiais federais – “Chacal” e “Satiagraha”. Em 27.10.2004, os policiais cumpriram mandado de busca
e apreensão, expedido nos autos do PCD 2004.61.81.001452-5 pela 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, tendo como alvo o endereço profissional
do paciente, localizado na Av. **, **, Rio de Janeiro/RJ, no 28º andar. Na mesma oportunidade, realizaram busca e apreensão no endereço do Banco
**, localizado no 3º andar do mesmo edifício, sem que houvesse mandado judicial para tal endereço.
Afirmou que, após decidir realizar a busca e apreensão no 3º andar, a autoridade policial entrou em contato com o juiz substituto da Vara em
questão. Esse juiz emitiu decisão autorizando o espelhamento do disco rígido do servidor da instituição financeira. Ressaltou que o magistrado não era
o mesmo que emitiu os mandados, não dispunha dos autos em que a medida foi determinada, não sabia da inexistência de mandado para o endereço e
não autorizou a apreensão, apenas determinou o espelhamento imediato do disco rígido como forma de preservar o funcionamento da instituição
financeira.
Relatou que a defesa do paciente e o Banco ** interpuseram apelação contra a decisão que determinou as buscas e apreensões (Processo nº
2004.61.81.009685-2).
Paralelamente, a defesa do paciente peticionou ao juiz da causa, que proferiu decisão reconhecendo a ilicitude da prova obtida, mas negou-se a
devolver os objetos apreendidos, alegando que a questão estava devolvida ao Tribunal Regional em apelação dos requeridos contra a decisão que
determinou as buscas. Contra a decisão que reconheceu a ilegalidade da busca, o Ministério Público Federal propôs a Correição Parcial, à qual foi
negado seguimento.
Sobreveio decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, negando provimento ao apelo do paciente e do Banco ** contra o indeferimento
da exclusão da prova.
Alegou que a decisão do Tribunal Regional resulta indevida, visto que agrava a situação do paciente em recurso exclusivo da defesa.
Acrescentou ter sido impetrado o Habeas Corpus 124.253, em favor do paciente, buscando, novamente, a exclusão da prova. Sobreveio
decisão denegando a ordem, fundamentada na desnecessidade de referência precisa do local a ser cumprida a diligência de busca e apreensão e no fato
de que o paciente seria, “notoriamente”, vinculado ao Banco **. Aduziu que os argumentos não se sustentam.
Pediu provimento judicial que:
“reconhecendo a ilegalidade decorrente da busca e apreensão determinada no curso do Processo nº 2004.61.81.001452-5, decrete a nulidade da
diligência de busca e apreensão sucedida em 27/10/2004, precisamente no ponto em que, extrapolando os limites do mandado judicial,
abrangeu as dependências do BANCO **.”
Distribuída a ação ao ministro Marco Aurélio, por dependência ao Habeas Corpus 98.667, sobreveio decisão encaminhando os autos ao Ministro-
Presidente para verificação de prevenção ao Habeas Corpus 95.009, relatoria do Ministro Eros Grau (eDOC 55).
Sobreveio decisão do Ministro-Presidente, Cezar Peluso, determinando a livre distribuição do feito (eDOC 57).
Redistribuídos, determinei a regularização dos documentos que instruíram a petição inicial e solicitei informações ao Juízo de primeira
instância (eDOC 59).
Prestadas informações (eDOC 62), o Procurador-Geral da República pugnou pela denegação da ordem (eDOC 69).
Sobreveio petição dos impetrantes (eDOC 71), informando que o paciente foi absolvido em primeira instância, mas mantém o legítimo
interesse processual, visto que interposta apelação pelo Ministério Público.
É o relatório.
VOTO: Tenho por cabível o habeas corpus. O entendimento do Supremo Tribunal Federal é pelo cabimento do uso da ação com vistas ao
reconhecimento de ilicitude de provas. Especificamente, no que se refere à busca e apreensão, menciono o HC 112.851, de minha relatoria, julgado
pela 2ª Turma em 5.3.2013.
Da mesma forma, é firme o entendimento da 2ª Turma no sentido de que o cabimento do recurso ordinário não afasta a possibilidade de
impetração de novo habeas corpus. No julgamento do HC 111.670, Segunda Turma, julgado em 25.6.2013, votei pelo cabimento do habeas corpus
substitutivo do recurso ordinário, nos seguintes termos:
“Como já tive a oportunidade de me manifestar, não olvido as legítimas razões que alimentam a preocupação com o alargamento das
hipóteses de cabimento do habeas corpus e, com efeito, as distorções que dele decorrem. Contudo, incomoda-me mais, ante os fatos históricos,
restringir seu espectro de tutela.
O valor fundamental da liberdade, que constitui o lastro principiológico do sistema normativo penal, sobrepõe-se a qualquer regra
processual cujos efeitos práticos e específicos venham a anular o pleno exercício de direitos fundamentais pelo indivíduo. Ao Supremo
Tribunal Federal, como guardião das liberdades fundamentais asseguradas pela Constituição, cabe adotar soluções que, traduzindo as
especificidades de cada caso concreto, visem reparar as ilegalidades perpetradas por decisões que, em estrito respeito a normas processuais,
acabem criando estados de desvalor constitucional”.
No HC 121.419, julgado pela 2ª Turma em 2.9.2014, voltei a manifestar minha contrariedade e preocupação com as teses pela limitação do
habeas corpus.
Dito isso, tenho por cabível a ação de habeas corpus para a finalidade pretendida.
Além disso, não vislumbro falta de legítimo interesse processual ou legitimidade de parte neste caso. Os impetrantes sustentam que o paciente
nada tem a ver com a administração do Banco **. Ainda assim, buscam impedir a utilização da prova apreendida na sede de tal instituição em ação
penal movida contra o paciente. Ainda que aparentemente contraditória, essa conduta não impede o conhecimento da ação de habeas corpus. O
implicado pode pedir a exclusão de uma prova, com fundamento em sua ilicitude, independentemente do conteúdo. Entender em contrário, seria

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


exigir que o implicado demonstrasse que a prova é incriminatória para, só então, admitir que sustente sua exclusão. Em consequência do direito à não
autoincriminação, não se exige do implicado essa demonstração.
Quanto ao mérito, o presente processo trata da validade de busca e apreensão em escritório sem autorização judicial.
A casa é protegida contra o ingresso não consentido, sem autorização judicial, na forma do art. 5º, XI, da Constituição Federal:
“XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante
delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;”
Muito embora a Constituição empregue o termo “casa”, a proteção contra a busca domiciliar não autorizada vai além do ambiente doméstico.
O art. 150, § 4º, do Código Penal, ao definir “casa” para fins do crime de violação de domicílio, traz conceito abrangente do termo:
“§ 4º - A expressão “casa” compreende:
I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade”.
O conceito do Código Penal serve de ponto de partida para a regra constitucional de proteção contra a busca não autorizada.
Assim, o conceito de “casa” estende-se:
“(...) a qualquer compartimento privado não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (CP, art. 150, § 4º, III), compreende,
observada essa específica limitação espacial (área interna não acessível ao público), os escritórios profissionais”. (HC 82788, relator min.
CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 12.4.2005).
Ou seja, não há dúvida de que o “compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade”, isto é, ambientes
profissionais privados em geral (escritórios, salas, lojas, oficinas, restaurantes, consultórios etc.) estão sujeitos à proteção constitucional.
A busca e apreensão domiciliar dependem, imprescindivelmente, de ordem judicial devidamente fundamentada, indicando, da forma mais
precisa possível, o local em que serão realizadas, assim como motivos e fins da diligência.
Assim, a busca e apreensão de documentos e objetos realizados por autoridade pública em “casa” de alguém, sem autorização judicial
fundamentada, revelam-se ilegítimas e o material eventualmente apreendido configura prova ilicitamente obtida.
No presente caso, a Autoridade Policial representou pela expedição de mandados de busca e apreensão em vários endereços, dentre eles o
endereço da Av. **, **, Rio de Janeiro/RJ, no 28º andar, apontado como endereço profissional do paciente (eDOC 5).
O juiz da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, Luiz Renato Pacheco Chaves de Oliveira, acolheu a representação (eDOC 6). O mandado de busca e
apreensão foi expedido (eDOC 7).
Conforme “Auto Circunstanciado de Busca” (eDOC 9), por ocasião da realização da diligência, foram apreendidos dois equipamentos de
informática, que não estavam no local judicialmente autorizado para busca (28º andar), mas em andar inferior do mesmo prédio (3º andar), sede do
Banco **. Trata-se dos itens 5 e 6 apreendidos, respectivamente, uma torre de computador com quatro discos rígidos e um servidor com cinco discos
rígidos, assim descritos:
“5 – UMA (01) torre de computador marca COMPAQ PROLIANT 1600, nº de série F939DDJ11105, com drive de 3 ½’’, unidade de CD-
ROM e array com 4 (quatro) discos SCSI.
Localizado na sala do CPD da empresa **.
LACRE nº 0001021
6 – UM (01) servidor marca HP, nº de série F328KJN21075, contendo array com 05 (cinco) discos rígidos SCSI.
Localizado na sala do CPD do BANCO **, localizado no 3º andar.
LACRE nº 0001022".
Houve expressa discordância do advogado presente à diligência quanto à medida, que fez constar do auto que a apreensão dos equipamentos
não estava no objeto da medida e que as informações contidas diriam respeito ao Banco **, não ao aqui paciente.
Ou seja, a apreensão ocorreu em local equiparado, para fins constitucionais e legais, à casa, sem estar amparada em mandado judicial de busca
e apreensão e sem o consentimento do responsável.
O argumento de que o mandado de busca e apreensão não precisa de indicar endereço determinado não convence.
A legislação processual afirma que o mandado deverá “indicar, o mais precisamente possível”, o local da diligência (art. 243, CPP). A indicação, no
caso concreto, não deixou margem a dúvidas.
Não houve equívoco na identificação do endereço. Não se tratava de local de difícil identificação, como comumente ocorre no meio rural.
Desde o início, os policiais identificaram o 28º andar como alvo da diligência – e para tal endereço o mandado foi expedido.
O que ocorreu foi que, durante a diligência, os policiais identificaram um novo local de interesse. Esse novo local estava fora do âmbito do
mandado em cumprimento – o mandado era expressamente direcionado ao 28º andar e para o 28º andar apenas. Por óbvio, não permitia uma
diligência quinze andares abaixo, no 3º andar.
Ou seja, não estamos diante de hipótese de interpretação dos limites do mandado de busca. A ordem claramente não contemplava o endereço
aqui discutido.
Não se cogitava de flagrante delito ou outra situação excepcional que dispensasse a ordem judicial. Assim, apenas com um novo mandado a
diligência seria possível.
É certo que, durante a execução da busca, foram descobertos elementos que levavam a crer que havia ligação do escritório do 28º andar com a
sede do Banco **. É certo, também, que a ligação do paciente ao Grupo ** é fato conhecido – muito embora ele negue participar da administração do
Banco **, que não seria parte do grupo. Esses elementos talvez servissem de justa causa a postular um novo mandado judicial – desta feita,
direcionado à sede do Banco **, no 3º andar. Incumbiria ao juiz competente avaliar a justa causa da medida e, se fosse o caso, ordenar a diligência.
Não houve, no entanto, pedido de novo mandado de busca e apreensão.
Houve, sim, contato com o Juízo acerca na diligência no 3º andar. Há ofício, expedido pela 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo no dia da
diligência, fazendo referência aos equipamentos apreendidos. Esse ofício, assinado pelo juiz federal Alexandre Cassetari – magistrado diverso
daquele que ordenara as diligências iniciais –, determinava que o servidor do Banco ** não fosse apreendido, mas autorizava cópia do material nele
constante – “mesmo que, para tanto, se faça necessária a momentânea remoção do equipamento ao DPF, com posterior e incontinenti restituição à
instituição financeira”. (eDOC 6).
O mencionado ofício, no entanto, não é um mandado de busca e apreensão. Sob o aspecto formal, o documento não atende aos requisitos do
mandado de busca domiciliar, previstos no art. 243, I e II, do CPP:
“Art. 243. O mandado de busca deverá:
I- indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador; ou,
no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;
II - mencionar o motivo e os fins da diligência;”.

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


Reconheço que se tratava de uma situação em que o tempo era importante, na medida em que os policiais já estavam no local da diligência. A
situação existente poderia levar a uma tolerância quanto a deficiências de documentação da diligência. Entretanto, mesmo uma interpretação
benevolente não leva à conclusão de que o ofício seja uma autorização judicial para busca e apreensão.
O ofício não exprime minimamente o fim de permitir a apreensão dos equipamentos de informática localizados no 3º andar. Muito pelo
contrário, é uma ordem para que os servidores da instituição financeira não sejam apreendidos. Apenas se indispensável a apreensão para cópia
(espelhamento) dos dados, é autorizada a remoção do equipamento, para imediata devolução.
Ou seja, o que se tem não é uma nova ordem de apreensão, mas uma limitação à apreensão em andamento.
Isso foi reconhecido pelo próprio Juiz da causa, em decisão posterior, em que afirma ser certo que “houve manifestações judiciais a respeito do
HD”, no entanto, “nenhuma delas considerou a questão da abrangência da ordem” de busca e apreensão, apenas “referiram-se ao prejuízo existente
com a remoção do HD” e ao sigilo dos dados financeiros de terceiros eventualmente contidos no dispositivo (eDOC 8).
Aparentemente, o magistrado que despachou o caso no dia da busca e apreensão não foi alertado, ou simplesmente não percebeu, que os
equipamentos em questão estavam em local diverso do constante do mandado.
O que está documentado é que houve resistência do advogado presente contra a apreensão dos servidores da instituição financeira.
Alegadamente, a apreensão dos servidores impediria as atividades da instituição financeira. Além disso, as operações financeiras têm sigilo
assegurado legalmente – Lei Complementar 105/01. Disso se infere que o magistrado foi chamado para, em face das peculiaridades que envolviam a
apreensão do banco de dados da instituição financeira, decidir acerca da persistência da ordem de busca e apreensão. Certamente, não foi para emitir
nova ordem para endereço novo.
Disso tudo se conclui que o ofício em questão não é um mandado de busca e apreensão, nem a ele é equivalente.
Assim, as provas obtidas pela busca e apreensão no 3º andar do Av. **, **, Rio de Janeiro/RJ, foram ilicitamente adquiridas, porque a
diligência contrariou a regra constitucional de inviolabilidade de domicílio – art. 5º, XI, da Constituição Federal.
As provas ilicitamente incorporadas ao processo devem ser excluídas, na forma do art. 157, § 3º, do CPP.
Ante o exposto, concedo a ordem para determinar a imediata devolução do material apreendido na sede do Banco ** (“UMA (01) torre de
computador marca COMPAQ PROLIANT 1600, nº de série F939DDJ11105, com drive de 3 ½’’; unidade de CD-ROM e array com 4 (quatro) discos
SCSI, LACRE nº 0001021; e UM (01) servidor marca HP, nº de série F328KJN21075, contendo array com 05 (cinco) discos rígidos SCSI, LACRE
nº 0001022") e, se realizado espelhamento das mídias computacionais, a entrega do material aos representantes da instituição financeira, mediante
substituição por mídias em branco com capacidade equivalente.
* acórdão pendente de publicação
** nomes suprimidos pelo Informativo

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

Informativo 773-STF (19/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


Márcio André Lopes Cavalcante

Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: MI
4367 AgR/DF; RE 422349/RS; RE 603580/RJ.

Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em
peculiaridades do caso concreto: RvC 5437/RO; AR 1699/DF; Inq 3552 QO/RS; AP 347/CE; HC 121089/AP.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
AMICUS CURIAE
 Recurso contra decisão que nega intervenção de amicus curiae.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE


MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
 Impossibilidade de privação da liberdade em caso da prática de ato infracional equiparado ao art. 28 da LD.

DIREITO PENAL
MAUS ANTECEDENTES (DOSIMETRIA DA PENA)
 Inquéritos policiais e ações penais sem trânsito em julgado.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


NULIDADES
 Mandado de busca e apreensão com endereço incorreto.

FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PARA REPARAÇÃO DOS DANOS (ART. 387, IV DO CPP)
 O inciso IV do art. 387 do CPP não pode ser aplicado a fatos anteriores à Lei 11.719/2008.

REVISÃO CRIMINAL
 Impossibilidade de reiteração de teses já apreciadas no processo originário.

PROGRESSÃO DE REGIME (EXECUÇÃO PENAL)


 O § 4º do art. 33 do CP é constitucional.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR


DOSIMETRIA DA PENA
 Culpabilidade e consequências do crime podem ser utilizadas na sentença na dosimetria da pena

DIREITO INTERNACIONAL
EXTRADIÇÃO
 Pedido de extradição formulado com base em terrorismo.

Informativo 772-STF (03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1


DIREITO CONSTITUCIONAL

AMICUS CURIAE
Recurso contra decisão que nega intervenção de amicus curiae

O amicus pode recorrer contra a decisão proferida?


NÃO. Em regra, o amicus curiae não pode recorrer porque não é parte. Não pode nem mesmo
opor embargos de declaração.
Exceção: o amicus curiae pode recorrer, interpondo agravo regimental, contra a decisão do
Relator que inadmitir sua participação no processo.
Obs.: a decisão despacho que admite a participação do amicus curiae no processo é
irrecorrível.
STF. Plenário. ADI 5022 AgR/RO, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/12/2014 (Info 772).

CONCEITO E FINALIDADE
Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, em razão de sua representatividade, é chamado ou se
oferece para intervir em processo relevante com o objetivo de apresentar ao Tribunal a sua opinião sobre
o debate que está sendo travado nos autos, fazendo com que a discussão seja amplificada e o órgão
julgador possa ter mais elementos para decidir de forma legítima.

NOMENCLATURA
Amicus curiae,àe àu aàt aduçãoàlite alàdoàlati ,àsig ifi aà a igoàdaà o te àouà a igoàdoàt i u al .àO s.:
amici curiae é o plural de amicus curiae.

ORIGEM
Alguns autores afirmam que esta figura surgiu no direito processual penal inglês, enquanto outros
identificam uma origem mais remota, lembrando que havia figura assemelhada no direito romano
(Marcelo Novelino).

NATUREZA JURÍDICA
Existe muita polêmica sobre este ponto, mas prevalece, entre os Ministros do STF, que o amicus curiae é
uma forma de intervenção anômala de terceiros.

PREVISÃO DO AMICUS NO CASO DE ADI E ADC


Vale a pena destacar a previsão da Lei nº 9.868/99 (ADI / ADC), que é a mais cobrada:
Art. 7º Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade.
§ 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por
despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros
órgãos ou entidades.

Como se vê, em regra, não é admitida a intervenção de terceiros nos processos de ADI e ADC, sendo,
contudo, permitida a participação do amicus curiae, que é uma intervenção anômala.

RECURSOS
Recursos cabíveis contra a decisão do Relator sobre a participação do amicus:
•à o t aàaàde isãoà despa ho à ueàad iteàaàpa ti ipaçãoàdoàamicus: não há recurso cabível.
•à ontra a decisão que inadmite a participação do amicus: cabe agravo regimental.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2


FORMALIZAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DO AMICUS CURIAE
O amicus curiae pode ser convocado, de ofício, pelo Tribunal, ou, então, pleitear sua participação no
processo.
O STF já decidiu que o pedido de admissão do amicus curiae deve ser assinado por advogado constituído,
sob pena de não ser conhecido (ADPF 180/SP).

O amicus curiae não poderá intervir se o processo já foi liberado pelo Relator para que seja incluído na
pauta de julgamentos (STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 21/5/2014.
Info 747).

PODERES DO AMICUS CURIAE

O amicus pode apresentar memoriais? SIM.

O amicus pode aditar o pedido contido na inicial?


NÃO. O amicus curiae, uma vez admitido seu ingresso no processo objetivo, tem direito a ter seus
argumentos apreciados pelo Tribunal, inclusive com direito a sustentação oral, mas NÃO TEM direito a
formular pedido ou de aditar o pedido já delimitado pelo autor da ação (AC 1362 / MG).

O amicus tem direito de fazer sustentação oral?


•à Nosà p ocessos perante o STF: SIM. Para o STF, o amicus curiae, uma vez formalmente admitido no
processo tem o direito de fazer sustentação oral (ADI 2777/SP).
•àNosàp o essosàpe a teàoà“TJ:àNÃO.àáàCo teàEspe ialàdoà“TJàdefi iu,àe àQuestãoàdeàO de àexa i adaà oà
REsp 1.205.946/SP (Rel. Min. Benedito Gonçalves, sessão de 17.8.2011), que o amicus curiae NÃO TEM
direito à sustentação oral. Excepcionalmente, o STJ poderá convocá-lo para sustentação oral se assim
entender necessário.

O amicus pode recorrer contra a decisão proferida?


NÃO. O amicus curiae não pode recorrer porque não é parte. Não pode nem mesmo opor embargos de
declaração. Essa é a posição do STF (ADI 3615 ED/PB, rel. Min. Cármen Lúcia, 17.3.2008).
Vale ressaltar, no entanto, que o amicus curiae pode recorrer, interpondo agravo regimental, contra a
decisão do Relator que inadmitir sua participação no processo.

ECA
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Impossibilidade de privação da liberdade em caso da prática
de ato infracional equiparado ao art. 28 da LD

Não é possível aplicar nenhuma medida socioeducativa que prive a liberdade do adolescente
(internação ou semiliberdade) caso ele tenha praticado um ato infracional análogo ao delito
do art. 28 da Lei de Drogas. Isso porque o art. 28 da Lei 11.343/2006 não prevê a possibilidade
de penas privativas de liberdade caso um adulto cometa esse crime. Ora, se nem mesmo a
pessoa maior de idade poderá ser presa por conta da prática do art. 28 da LD, com maior razão
não se pode impor a restrição da liberdade para o adolescente que incidir nessa conduta.
STF. 1ª Turma. HC 119160/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 9/4/2014 (Info 742).
STF. 2ª Turma. HC 124682/SP, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 16/12/2014 (Info 772).

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Imagine a seguinte situação:
Igor, 17 anos de idade, foi apreendido pela polícia com pequena quantidade de maconha, que seria
utilizada para o próprio consumo.
O Ministério Público ofereceu representação imputando ao adolescente a prática do ato infracional
equiparado ao art. 28 da Lei n. 11.343/2006 e propondo a aplicação da medida socioeducativa (art. 182
do ECA).
áà ep ese tação àdeà ueàt ataàoàECáà àse elha teà à de ú ia à oàp o essoàpe al.
A representação será oferecida por petição, que conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato
infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária
instalada pela autoridade judiciária (§ 1º do art. 182).

Sentença
Após toda a instrução, o juiz proferiu sentença aplicando ao adolescente medida socioeducativa de
semiliberdade.
Ao fundamentar a decisão, o magistrado afirmou que a medida era necessária porque Igor já havia
cometido outras infrações graves antes daquela, além de já ter em seu histórico o relato de
descumprimento de outras medidas socioeducativas anteriormente impostas.

A decisão do magistrado foi acertada? No caso concreto, era possível aplicar ao adolescente uma
medida socioeducativa que o priva da sua liberdade?
NÃO. Não é possível aplicar nenhuma medida socioeducativa que prive a liberdade do adolescente
(internação ou semiliberdade) caso ele tenha praticado um ato infracional análogo ao delito do art. 28 da
Lei de Drogas. Isso porque o art. 28 da Lei n. 11.343/2006 não prevê a possibilidade de penas privativas
de liberdade caso um adulto cometa esse crime. Ora, se nem mesmo a pessoa maior de idade poderá ser
presa por conta da prática do art. 28 da LD, com maior razão não se pode impor a restrição da liberdade
para o adolescente que incidir nessa conduta.
Veja as sanções previstas para o art. 28;
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal,
drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às
seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Quais são as medidas socioeducativas que implicam privação de liberdade?


 Semiliberdade;
 Internação.

Semiliberdade (art. 120 do ECA)


Pelo regime da semiliberdade, o adolescente realiza atividades externas durante o dia, sob supervisão de
equipe multidisciplinar, e fica recolhido à noite.
O regime de semiliberdade pode ser determinado como medida inicial imposta pelo juiz ao adolescente
i f ato ,àouà o oàfo aàdeàt a siçãoàpa aàoà eioàa e toà u aàesp ieàdeà p og essão .

Internação (arts. 121 e 122 do ECA)


Por esse regime, o adolescente fica recolhido na unidade de internação.
A internação constitui medida privativa da liberdade e se sujeita aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Pode ser permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo
expressa determinação judicial em contrário.
A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
fundamentada, no máximo a cada seis meses.
Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4
Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.
Se o interno completar 21 anos, deverá ser obrigatoriamente liberado, encerrando o regime de
internação.

O juiz somente pode aplicar a medida de internação ao adolescente infrator nas hipóteses taxativamente
previstas no art. 122 do ECA, pois a segregação do adolescente é medida de exceção, devendo ser aplicada
e mantida somente quando evidenciada sua necessidade, em observância ao espírito do Estatuto, que visa
à reintegração do menor à sociedade (STJ HC 213778).

Veja a redação do art. 122 do ECA:


Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

Vale ressaltar, conforme vimos acima, que, no caso do art. 28 da LD não é possível aplicar a medida de
internação ou de semiliberdade nem mesmo em caso de reiteração de infrações (inciso II) ou de
descumprimento de medidas anteriormente aplicadas (inciso III).

Logo, se o adolescente praticar um ato infracional equiparado ao art. 28 da LD, somente poderá receber:
 Medidas protetivas (arts. 101, I a VI, do ECA);
 Advertência (art. 115);
 Prestação de serviços à comunidade (art. 117);
 Liberdade assistida (art. 118).

DIREITO PENAL

MAUS ANTECEDENTES (DOSIMETRIA DA PENA)


Inquéritos policiais e ações penais sem trânsito em julgado

Importante!!!
A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não podem ser
considerados como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena.
STF. Plenário. RE 591054/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

Critério trifásico
A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.

Este critério trifásico, elaborado por Nelson Hungria, foi adotado pelo Código Penal, sendo consagrado
pela jurisprudência pátria (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1021796/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 19/03/2013).

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5


Primeira fase (circunstâncias judiciais)
Na primeira fase, as chamadas circunstâncias judiciais analisadas pelo juiz são as seguintes:
a) culpabilidade, b) antecedentes, c) conduta social, d) personalidade do agente, e) motivos do crime, f)
circunstâncias do crime, g) consequências do crime, h) comportamento da vítima.

Antecedentes:
São as anotações negativas que o réu possua em matéria criminal.
Se o juiz entender que o réu possui maus antecedentes, ele irá aumentar a pena-base imposta ao
condenado.

Se o réu possui inquéritos policiais instaurados e ações penais em curso, tais elementos podem ser
considerados como maus antecedentes no momento da dosimetria da pena?
NÃO. Inquéritos policiais ou ações penais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena. Isso por causa do princípio da presunção de não culpabilidade.
Esse é o entendimento pacífico da jurisprudência.

No STJ, existe um enunciado espelhando tal conclusão:


Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.

No STF, a questão foi decidida pelo Plenário em sede de repercussão geral: RE 591054/SC, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

Princípio da presunção de não-culpabilidade


Por força da cláusula constitucional da não culpabilidade (art. 5º, LVII da CF/88) somente podem ser
valoradas como maus antecedentes as decisões condenatórias irrecorríveis.
Assim, não podem ser considerados para esse fim quaisquer outras investigações ou processos criminais
em andamento, mesmo em fase recursal.
Esse ponto de vista está em consonância com a moderna jurisprudência da Corte Interamericana de
Direitos Humanos e do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Ademais, há recomendação por parte do
Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, no sentido de que o Poder Público deve abster-se de
prejulgar o acusado.

Não podem ser utilizadas como maus antecedentes:


O Plenário do STF afirmou que não é possível utilizar para majorar a pena-base:
 Propostas de transação penal aceitas (art. 76, § 6º da Lei 9.099/1995);
 Remissão em procedimento judicial do ECA, com aplicação de medida de caráter reeducacional;
 Sentenças de extinção da punibilidade, excetuados os resultantes em indulto individual, coletivo ou
comutação de pena.
Obs: a condenação de pessoas beneficiadas com indulto ou comutação de pena podem continuar sendo
utilizadas como maus antecedentes.
Somente condenações ocorridas antes do novo crime e transitadas em julgado podem prejudicar o réu
na dosimetria dessa segunda condenação
Por fim, as condenações por fatos posteriores ao crime que está sendo julgado, ainda que tenham
transitado em julgado, também não são aptas a desabonar, na primeira fase da dosimetria, os
antecedentes para efeito de exacerbação da pena-base. Ex: réu praticou crime A em 02/02; em 04/04
cometeu delito B , que transitou em julgado em 08/08. Em 10/10, ele vai ser julgado pelo crime A .
Segundo o Min. Marco Aurélio, essa condenação pelo crime B não poderá ser utilizada para majorar a
pena do crime A já que este aconteceu antes do delito B .

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

NULIDADES
Mandado de busca e apreensão com endereço incorreto

O juiz deferiu mandado de busca e apreensão tendo como alvo o escritório de um banco,
localizado no 28º andar de um prédio comercial. Quando os policiais chegaram para cumprir a
diligência, perceberam que a sede do banco ficava no 3º andar. Diante disso, entraram em
contato com o juiz substituto que autorizou, por meio de ofício sem maiores detalhes, a
apreensão do HD na sede do banco.
A 2ª Turma do STF declarou a ilegalidade da apreensão por ausência de mandado judicial
específico.
STF. 2ª Turma. HC 106566/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/12/2014 (Info 772).

Imagine a seguinte situação adaptada:


O juiz deferiu mandado de busca e apreensão tendo como alvo o escritório de um banco, localizado em
um prédio comercial no Rio de Janeiro.
No mandado de busca e apreensão ficou consignado que a diligência deveria acontecer na sala do banco
localizado no 28º andar. No entanto, quando os policiais chegaram para cumprir a diligência, perceberam
que a sede do banco ficava no 3º andar.
Diante disso, entraram em contato com o juiz substituto que autorizou, por meio de ofício sem maiores
detalhes, o espelhamento [cópia] dos discos rígidos do servidor da instituição financeira.
A defesa impetrou habeas corpus impugnando a validade dessa prova.

É cabível habeas corpus nesse caso?


A 2ª Turma do STF entendeu que sim. O habeas corpus é instrumento legítimo para aferir procedimentos
de feição penal ou processual penal, inclusive para o reconhecimento de eventual ilicitude de provas
obtidas em inquérito policial.

A prova obtida no 3º andar do prédio foi válida?


NÃO. A 2ª Turma do STF declarou a ilegalidade da apreensão por ausência de mandado judicial específico.
Os Ministros entenderam que as provas colhidas a partir dos HDs devem ser desconsideradas e
determinaram, ainda, a imediata devolução do material apreendido à instituição financeira.
Segundo a Min. Cármen Lúcia, ao deferir o pedido de espelhamento do HD pertencente ao banco, o
magistrado ou não foi alertado ou não percebeu que a medida importaria em alteração daquele primeiro,
espe ial e teàe à elaçãoàaoàe de eçoàeà à e essidadeàdoàespelha e toàse àfeitoà aàfo aà o oàfoi .
O Min. Celso de Mello afirmou que os mandados de busca e apreensão não podem se revestir de
conteúdo genérico, nem ser omissos quanto à indicação do local objeto dessa medida extraordinária. Para
ele, houve violação do art. 243, I, do CPP:
Art. 243. O mandado de busca deverá:
I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo
proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais
que a identifiquem;

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FIXAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PARA REPARAÇÃO DOS DANOS (ART. 387, IV DO CPP)
O inciso IV do art. 387 do CPP não pode ser aplicado a fatos anteriores à Lei 11.719/2008

A Lei 11.719/2008 alterou o CPP, prevendo que o juiz, ao condenar o réu, já estabeleça na
sentença um valor mínimo que o condenado estará obrigado a pagar a título de reparação dos
danos causados.
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: IV - fixará valor mínimo para reparação
dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;
A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei 11.719/2008. Se o
crime ocorreu antes dessa Lei e foi sentenciado após a sua vigência, o juiz não poderá aplicar
esse dispositivo e fixar o valor mínimo de reparação dos danos.
Segundo entendimento majoritário, o inciso IV do art. 387 do CPP é norma híbrida (de direito
material e processual) e, por ser mais gravosa ao réu, não pode ser aplicada a fatos praticados
antes da vigência da Lei 11.719/2008.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

A sentença penal condenatória, depois de transitada em julgado, produz diversos efeitos.


Um dos efeitos é que a condenação gera a obrigação do réu de reparar o dano causado:
Código Penal
Art. 91. São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

A sentença condenatória, inclusive, constitui-se em título executivo judicial:


Código de Processo Civil
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais:
II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;

Assim, a vítima (ou seus sucessores), de posse da sentença que condenou o réu, após o seu trânsito em
julgado, dispõe de um título que poderá ser executado no juízo cível para cobrar o ressarcimento pelos
prejuízos sofridos em decorrência do crime.

Qual era, no entanto, a dificuldade antes da Lei nº 11.719/2008?


Apesar de ser reconhecida a obrigação de indenizar (an debeatur), não era possível que a vítima (ou seus
sucessores) executasse imediatamente a sentença porque não havia sido definido ainda o valor da
indenização (quantum debeatur). Em outras palavras, a sentença condenatória reconhecia que a vítima
tinha direito à indenização a ser paga pelo condenado, mas não dizia o quanto.

Com isso, a vítima (ou seus sucessores) tinha ainda que tomar uma outra providência antes de executar:
fazer a liquidação (art. 475-A do CPC).

O legislador tentou facilitar a situação da vítima e, por meio da Lei nº 11.719/2008, alterou o CPP,
prevendo que o juiz, ao condenar o réu, já estabeleça na sentença um valor mínimo que o condenado
estará obrigado a pagar a título de reparação dos danos causados. Veja:
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos
sofridos pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719/2008)

Desse modo, se o juiz, na própria sentença, já fixar um valor certo para a reparação dos danos, não será
necessário que a vítima ainda faça a liquidação, bastando que execute este valor caso não seja pago
voluntariamente pelo condenado.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8


Veja o parágrafo único do art. 63 do CPP, que explicita essa possibilidade:
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível,
para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo
valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação para a
apuração do dano efetivamente sofrido. (Incluído pela Lei nº 11.719/2008).

Algumas observações sobre o art. 387, IV do CPP:

1) Qual é a natureza jurídica dessa fixação do valor mínimo de reparação?


Trata-se de um efeito extrapenal genérico da condenação.

2) A vítima poderá pleitear indenização maior no juízo cível?


SIM. Na sentença penal, o juiz fixará um valor mínimo. Assim, a vítima poderá executar desde logo este
valor mínimo e pleitear um valor maior que o fixado na sentença, bastando, para isso, que prove que os
danos que sofreu foram maiores que a quantia estabelecida na sentença. Essa prova é feita em
procedimento de liquidação por artigos (procedimento cível regulado pelos arts. 475-E e 475-F do CPC).

3) Para que seja fixado o valor da reparação, deverá haver pedido expresso e formal do MP ou do
ofendido?
SIM. Para que seja fixado, na sentença, o valor mínimo para reparação dos danos causados à vítima (art.
387, IV, do CP), é necessário que haja pedido expresso e formal, feito pelo parquet ou pelo ofendido, a fim
de que seja oportunizado ao réu o contraditório e sob pena de violação ao princípio da ampla defesa (STJ.
6ª Turma. AgRg no AREsp 389.234/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 08/10/2013).

4) Deverá haver provas dos prejuízos sofridos


O STJ já decidiu que o juiz somente poderá fixar este valor se existirem provas nos autos que demonstrem
os prejuízos sofridos pela vítima em decorrência do crime. Dessa feita, é importante que o Ministério
Público ou eventual assistente de acusação junte comprovantes dos danos causados pela infração para
que o magistrado disponha de elementos para a fixação de que trata o art. 387, IV do CPP. Vale ressaltar,
ainda, que o réu tem direito de se manifestar sobre esses documentos juntados e contraditar o valor
pleiteado como indenização. Nesse sentido:
A fixação da reparação civil mínima também não dispensa a participação do réu, sob pena de frontal
violação ao seu direito de contraditório e ampla defesa, na medida em que o autor da infração faz jus à
manifestação sobre a pretensão indenizatória, que, se procedente, pesará em seu desfavor. (...)
STJ. 5ª Turma. REsp 1236070/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/03/2012 (não divulgado
em Info).

5) O julgador penal é obrigado a sempre fixar esse valor mínimo?


NÃO. O juiz pode deixar de fixar o valor mínimo em algumas situações, como, por exemplo:
a) quando não houver prova do prejuízo;
b) se os fatos forem complexos e a apuração da indenização demandar dilação probatória, o juízo criminal
poderá deixar de fixar o valor mínimo, que deverá ser apurado em ação civil;
c) quando a vítima já tiver sido indenizada no juízo cível.

Oà exe ploà itadoà estaà let aà à foià justa e teà oà ueà o o euà oà julga e toà doà Me salão .à Oà “TFà
rejeitou o pedido formulado pelo MPF, em sede de alegações finais, no sentido de que fosse fixado valor
mínimo para reparação dos danos causados pelas infrações penais, sob o argumento de que a
complexidade dos fatos e a imbricação de condutas tornaria inviável assentar o montante mínimo. Assim,

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9


não haveria como identificar com precisão qual a quantia devida por cada réu, o que só seria possível por
meio de ação civil, com dilação probatória para esclarecimento desse ponto (Plenário. AP 470/MG, rel.
Min. Joaquim Barbosa, 17/12/2012).

6) Além dos prejuízos materiais, o juiz poderá também condenar o réu a pagar a vítima por danos
morais?
1ª corrente: SIM. Posição de Norberto Avena.
2ª corrente: NÃO. Defendida por Eugênio Pacelli.

7) O art. 387, IV, do CPP, com a redação dada pela Lei nº 11.719/2008, fez com que o Brasil passasse a
adotar a cha ada cu ulaç o de i st cias e até ia de i de izaç o pela p tica de c i es?
NÃO. A cumulação de instâncias (ou união de instâncias) em matéria de indenização pela prática de crimes
ocorre quando um mesmo juízo resolve a lide penal (julga o crime) e também já decide, de forma
exau ie te,àaài de izaçãoàdevidaà àvíti aàdoàdelito.àCo fo eàexpli aàPa elliàeàFis he ,à po àesseàsiste a,à
oà ajuiza e toà daà de a daà pe alà dete i aà aà u idadeà deà juízoà pa aà aà ap e iaçãoà daà at iaà ível à
(Comentários ao Código de Processo Penal e Sua Jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2012, p. 769). No Brasil,
não há unidade de instâncias porque o juízo criminal irá apenas, quando for possível, definir um valor
mínimo de indenização pelos danos sofridos sem, contudo, esgotar a apreciação do tema, que ainda
poderá ser examinado pelo juízo cível para aumentar esse valor.
Assim, continuamos adotando o modelo da separação mitigada de instâncias.

8) A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei nº 11.719/2008. Se o crime
ocorreu antes da Lei e foi sentenciado após a sua vigência, pode ser aplicado o dispositivo e fixado o
valor mínimo de reparação dos danos?
1ª corrente: SIM 2ª corrente: NÃO (majoritária)
Trata-se de norma de direito processual. Assim, Trata-se de norma híbrida (de direito material e
ainda que o processo tenha se iniciado antes da processual) e, por ser mais gravosa ao réu, não
Lei nº 11.719/2008, se ele for sentenciado após a pode ser aplicada a fatos praticados antes de sua
sua vigência, deverá observar a fixação do valor vigência.
mínimo de que trata o art. 387, IV, do CPP.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.176.708-RS, Rel. Min. STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/6/2012. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

9) O condenado poderá impugnar o valor fixado na forma do art. 387, IV do CPP por meio de um habeas
corpus?
NÃO. A via processual do habeas corpus não é adequada para impugnar a reparação civil fixada na
sentença penal condenatória, com base no art. 387, IV do CPP, tendo em vista que a sua imposição não
acarreta ameaça, sequer indireta ou reflexa, à liberdade de locomoção (HC 191.724/RJ, Rel. Min. Laurita
Vaz, Quinta Turma, julgado em 15/10/2013) (não divulgado em Info).

10) Se a punibilidade do condenado for extinta pela prescrição da pretensão punitiva, haverá extinção
também do valor de reparação imposto na sentença?
SIM. Extinta a condenação pela prescrição, extingue-se também a condenação pecuniária fixada como
reparação dos danos causados à vítima, nos termos do art. 387, IV do CPP, pois dela decorrente, ficando
ressalvada a utilização de ação cível, caso a vítima entenda que haja prejuízos a serem reparados (EDcl no
AgRg no REsp 1260305/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 12/03/2013) (não
divulgado em Info).

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10


REVISÃO CRIMINAL
Impossibilidade de reiteração de teses já apreciadas no processo originário

A revisão criminal é instrumento excepcional, não podendo ser utilizado para reiteração de
teses já vencidas pelo acórdão revisando, seja quanto a matéria de direito, seja quanto a
matéria de fato.
Em outras palavras, na revisão criminal não se pode querer rediscutir os argumentos que já
foram alegados e rejeitados durante o processo criminal.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

Revisão criminal é...


 uma ação autônoma de impugnação
 de competência originária dos Tribunais (ou da Turma Recursal no caso dos Juizados)
 por meio da qual a pessoa condenada requer ao Tribunal
 que reveja a decisão que a condenou (e que já transitou em julgado)
 sob o argumento de que ocorreu erro judiciário.

Revisão criminal e ação rescisória


A revisão criminal se parece com a ação rescisória do processo civil. Existem, no entanto, duas diferenças
principais:
Revisão criminal Ação rescisória
Pode ser interposta a qualquer tempo após o Deve ser interposta até o prazo de 2 anos após o
trânsito em julgado (não há prazo de decadência trânsito em julgado.
para ajuizar a revisão).
Só pode ser ajuizada em favor do condenado (só A ação rescisória pode ser proposta pelo autor ou
existe revisão criminal pro reo; não existe revisão pelo réu.
criminal pro societate).

Então a revisão criminal pode ser proposta a qualquer tempo?


SIM. A revisão poderá ser requerida em qualquer tempo, mesmo após já ter sido extinta a pena (art. 622
do CPP).

Natureza jurídica
A revisão criminal NÃO é um recurso.
Trata-se de uma ação autônoma de impugnação, mais precisamente uma ação penal de natureza
constitutiva (tem por objetivo desconstituir uma decisão transitada em julgado).

Pressupostos:
A revisão criminal tem dois pressupostos:
a) existência de decisão condenatória (ou absolutória imprópria) com trânsito em julgado;
b) demonstração de que houve erro judiciário.

Quem pode propor a revisão criminal?


 O próprio réu;
 Procurador legalmente habilitado pelo réu;
 O cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do réu, caso este já tenha morrido.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 11


CPP/Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou,
no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

O MP pode propor revisão criminal em favor do réu?


Há divergência na doutrina. No entanto, para fins de prova objetiva, deve-se afirmar que não é possível,
considerando que o CPP não prevê essa legitimidade.

Hipóteses em que caberá a revisão criminal:


Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:
I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos;
II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos;
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância
que determine ou autorize diminuição especial da pena.

O que o STF decidiu:


As informações acima foram apenas para que você fizesse um rápido estudo sobre revisão criminal. O que
o STF decidiu foi o seguinte: a revisão criminal é instrumento excepcional, não podendo ser utilizado para
reiteração de teses já vencidas pelo acórdão revisando, seja quanto a matéria de direito, seja quanto a
matéria de fato.
Em outras palavras, na revisão criminal não se pode querer rediscutir os argumentos que já foram
alegados e rejeitados durante o processo criminal.

PROGRESSÃO DE REGIME (EXECUÇÃO PENAL)


O § 4º do art. 33 do CP é constitucional

Importante!!!
Segundo o § 4º do art. 33 do CP, para que o condenado por crime contra a Administração
Pública tenha direito à progressão de regime e necessário que ele faça a reparação do dano
que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais.
O STF decidiu que essa previsão do § 4º do art. 33 do CP é CONSTITUCIONAL.
Vale ressaltar, no entanto, que deve ser permitido que o condenado faça o parcelamento do
valor da dívida.
STF. Plenário. EP 22 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

Existem três regimes de cumprimento de pena:


a) Fechado: a pena é cumprida na Penitenciária.
b) Semiaberto: a pena é cumprida em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar.
c) Aberto: a pena é cumprida na Casa do Albergado.

Progressão de regime
No Brasil, adota-se o sistema progressivo (ou inglês), ainda que de maneira não pura.
Assim, de acordo com o CP e com a LEP, as penas privativas de liberdade deverão ser executadas
(cumpridas) em forma progressiva, com a transferência do apenado de regime mais gravoso para menos
gravoso tão logo ele preencha os requisitos legais.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12


Requisitos para a progressão
Os requisitos para que a pessoa tenha direito à progressão de regime estão previstos na Lei n. 7.210/84 e
também no Código Penal. Veja um resumo:

Requisitos para a progressão do regime FECHADO para o SEMIABERTO:


Crimes comuns: cumprimento de 1/6 da pena aplicada.
Crimes hediondos ou equiparados
Requisito
(se cometidos após a Lei 11.464/07):
 Cumprimento de 2/5 da pena se for primário.
OBJETIVO
 Cumprimento de 3/5 da pena se for reincidente.
Requisito Bom comportamento carcerário durante a execução (mérito).
SUBJETIVO
Requisito Oitiva prévia do MP e do defensor do apenado (§ 1ºA do art. 112 da LEP).
FORMAL

Requisitos para a progressão do regime SEMIABERTO para o ABERTO:


Crimes comuns: cumprimento de 1/6 da pena RESTANTE.
Crimes hediondos ou equiparados
Requisito
(se cometidos após a Lei 11.464/07):
 Cumprimento de 2/5 da pena se for primário.
OBJETIVO
 Cumprimento de 3/5 da pena se for reincidente.
Requisito Bom comportamento carcerário durante a execução (mérito).
SUBJETIVO
Requisito Oitiva prévia do MP e do defensor do apenado (§ 1ºA do art. 112 da LEP).
FORMAL
Além dos requisitos acima expostos, o reeducando deve:
a) Aceitar o programa do regime aberto (art. 115 da LEP) e as condições especiais
Requisitos impostas pelo Juiz (art. 116 da LEP);
ESPECÍFICOS b) Estar trabalhando ou comprovar a possibilidade de trabalhar imediatamente quando
do regime for para o regime aberto (inciso I do art. 114);
aberto c) Apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de
responsabilidade, ao novo regime (inciso II do art. 114).

Requisito OBJETIVO adicional no caso de condenados por crime contra a Administração Pública:
No caso de crime contra a Administração Pública, para que haja a progressão será necessária ainda:
 a reparação do dano causado; ou
 a devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais.

Isso está previsto no § 4º do art. 33 do Código Penal:


§ 4º O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento
da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado,
com os acréscimos legais.

á defesa de u dos co de ados o Me sal o alegou ue esse e uisito exigido pelo § º do a t. do


CP seria inconstitucional por representar uma espécie de p is o po dívida . O STF concordou com o
argumento? Esse dispositivo viola a CF/88?

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13


NÃO. O § 4º do art. 33 do CP é CONSTITUCIONAL.
Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo sem previsão expressa, deve ser permitido que o condenado faça
o parcelamento do valor da dívida.

Fundamentos da conclusão
Segundo o STF, em matéria de crimes contra a Administração Pública — como também nos crimes de
colarinho branco em geral —, a parte verdadeiramente severa da pena, a ser executada com rigor, há de
ser a de natureza pecuniária. Esta, sim, teria o poder de funcionar como real fator de prevenção, capaz de
inibir a prática de crimes que envolvessem apropriação de recursos públicos.
A imposição da devolução do produto do crime não constitui sanção adicional, mas, apenas a restituição
daquilo que foi indevidamente apropriado ou desviado.
Ademais, não é o direito fundamental à liberdade do condenado que está em discussão, mas, tão
somente, se a pena privativa de liberdade a ser cumprida deve se dar em regime mais favorável ou não, o
que afasta a alegação quanto à suposta ocorrência, no caso, de prisão por dívida. Outrossim, a norma em
comento não é a única, prevista na legislação penal, a ter na reparação do dano uma importante medida
de política criminal. Ao contrário, basta uma rápida leitura dos principais diplomas penais brasileiros para
o stata à ueà aà faltaà deà epa açãoà doà da o:à a à podeà se à ausaà deà evogaçãoà o igató iaà doà su sis ;à à
impede a extinção da punibilidade ou mesmo a redução da pena, em determinadas hipóteses; c) pode
acarretar o indeferimento do livramento condicional e do indulto; d) afasta a atenuante genérica do art.
65, III, b , do CP, entre outros.

DIREITO PENAL /
PROCESSUAL PENAL MILITAR

DOSIMETRIA DA PENA
Culpabilidade e consequências do crime podem ser utilizadas na sentença na dosimetria da pena

Não há nulidade na sentença que julga um crime militar se o juiz aumenta a pena-base com
fundamento na culpabilidade do réu e nas consequências do delito. Isso porque o art. 69 do
CPM fala em intensidade do dolo , locução que, em outras palavras, quer significar a mesma
coisa que culpabilidade . De igual forma, a menção às consequências do crime não implica
qualquer nulidade, já que essa expressão está presente implicitamente no art. 69 do CPM
quando este dispositivo fala em maior ou menor extensão do dano .
STF. 2ª Turma. HC 109545/RJ, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 16/12/2014 (Info 772).

Imagine a seguinte situação adaptada:


João foi condenado pela Justiça Militar por roubo qualificado (art. 242, § 2º, I, do CPM).
Na sentença, o juiz aumentou a pena-base entendendo que as circunstâncias judiciais eram desfavoráveis
ao acusado já que a culpabilidade do réu se mostrou acentuada e as consequências do delito eram muito
graves.
A DPU, fazendo a assistência jurídica do condenado, recorreu contra a sentença alegando que a dosimetria
da pena nos crimes militares deve obedecer ao art. 68 do CPM e que neste dispositivo não menciona a
ulpa ilidade como um dos elementos a serem analisados pelo magistrado.
Em outras palavras, para a defesa, o Código Penal Militar não autoriza que o juiz aumente a pena com
base na culpabilidade e nas consequências do crime, de forma que a sentença foi nula.

A tese da DPU foi aceita pelo STF?


NÃO.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14


‘eal e te,à oà a t.à à doà CPMà ãoà falaà exp essa e teà e à ulpa ilidadeà doà age te à e à e à
o se u iasàdoà i e .àCo fi a:
Fixação da pena privativa de liberdade
Art. 69. Para fixação da pena privativa de liberdade, o juiz aprecia a gravidade do crime praticado e a
personalidade do réu, devendo ter em conta a intensidade do dolo ou grau da culpa, a maior ou menor
extensão do dano ou perigo de dano, os meios empregados, o modo de execução, os motivos
determinantes, as circunstâncias de tempo e lugar, os antecedentes do réu e sua atitude de
insensibilidade, indiferença ou arrependimento após o crime.

Tais expressões ulpa ilidadeàdoàage te àeà o se u iasàdoà i e àestão previstas apenas no art. 59
doàCódigoàPe alà o u .

Apesar disso, a 2ª Turma do STF entendeu que não houve nulidade. Isso porque ulpa ilidade , na
dosimetria da pena, significa juízo deà ep ova ilidade ,àouàseja,àg auàdeà e su a feita pelo magistrado à
conduta pessoal do réu. Oàa t.à àdoàCPMà ãoàfalaàexp essa e teàe à ulpa ilidade ,à asàdiz que o juiz
irá considerado aài te sidadeàdoàdoloàouàg auàdaà ulpa ,àlo uçãoà ue, em outras palavras, quer significar
a mesma coisa.

Doà es oà odo,à aà e çãoà sà o se u iasà doà i e à ãoà i pli a qualquer nulidade, já que essa
expressão está presente implicitamente no art. 69 do CPM quando este dispositivo fala em maior ou
menor extensão do dano .

‘esu i do:à ãoà h à ulidadeà po ueà aà ulpa ilidade à doà age teà podeà se à e te didaà o oà se doà aà
i te sidadeàdoàdolo àeàasà o se u iasàdoà i e àsãoàaà maior ou menor extensão do dano .

DIREITO INTERNACIONAL
EXTRADIÇÃO
Pedido de extradição formulado com base em terrorismo

Importante!!!
O terrorismo não é tipificado como crime pela legislação brasileira, não sendo válido o art. 20
da Lei 7.170/83 para criminalizar essa conduta.
Logo, não é cabível que seja concedida extradição de um estrangeiro que praticou crime de
terrorismo no Estado de origem, considerando que, pelo fato de o Brasil não ter definido esse
crime, não estará presente o requisito da dupla tipicidade.
Vale ressaltar que, mesmo o Brasil não prevendo o crime de terrorismo, seria possível, em
tese, que a extradição fosse concedida se o Estado requerente tivesse demonstrado que os atos
terroristas praticados pelo réu amoldavam-se em outros tipos penais em nosso país (exs:
homicídio, incêndio etc.). Isso porque a dupla tipicidade não é analisada sob o ponto de vista
do nomen juris , ou seja, do nome do crime . O que importa é que aquela conduta seja punida
no país de origem e aqui, sendo irrelevantes as diferenças terminológicas. No entanto, no caso
concreto, o pedido feito pelo Estado estrangeiro estava instruído de forma insuficiente.
STF. 2ª Turma. PPE 730/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 16/12/2014 (Info 772).

Imagine a seguinte situação adaptada:


Juan, cidadão peruano, está sendo processado em seu país pela prática do crime de terrorismo.
Vale ressaltar que Juan se encontrava morando no Brasil, razão pela qual a República do Peru requereu a

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15


sua extradição.

Tendo como base unicamente esses elementos, será possível que o Brasil conceda a extradição?
NÃO. U àdosà e uisitosàpa aà ueàoàB asilà o edaàaàext adiçãoà àaà ha adaà duplaàtipi idade ,àouàseja,à
que o fato seja considerado crime no Estado estrangeiro de origem e também aqui no Brasil. Esse requisito
está previsto no art. 77 do Estatuto do Estrangeiro:
Art. 77. Não se concederá a extradição quando:
II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente;

No caso, não estaria atendida a exigência da dupla tipicidade, senão vejamos:

O que é terrorismo?
OàMi .àCelsoàdeàMello,àdeàfo aàp e isa,à o stataà ueàat àhoje,à aà o u idadeài te a io alàfoiài apazà
de chegar a uma conclusão acerca da definição jurídica do crime de terrorismo, sendo relevante observar
que, até o presente momento, já foram elaborados, no âmbito da Organização das Nações Unidas, pelo
menos, 13 (treze) instrumentos internacionais sobre a matéria, sem que se chegasse, contudo, a um
consenso universal sobre quais elementos essenciais deveriam compor a definição típica do crime de
terrorismo ou, então, sobre quais requisitos deveriam considerar-se necessários à configuração dogmática
daàp ti aàdelituosaàdeàatosàte o istas .
Em outras palavras, trata-se ainda de um tema polêmico.
Apesar disso, podemos citar uma definição feita por René Ariel Dotti e que é bastante difundida no âmbito
doutrinário:
o terrorismo pode ser definido como a prática do terror como ação política, procurando alcançar, pelo
uso da violência, objetivos que poderiam ou não ser estabelecidos em função do exercício legal da
vontade política. Suas características mais destacadas são: a indeterminação do número de vítimas; a
generalização da violência contra pessoas e coisas; a liquidação, desativação ou retração da vontade de
combater o inimigo predeterminado; a paralisação contra a vontade de reação da população; e o
se ti e toàdeài segu a çaàt a s itidoàp i ipal e teàpelosà eiosàdeà o u i ação (Terrorismo e devido
processo legal. RCEJ, ano VI, Brasília, set. 2002, p. 27-30 apud LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação
Criminal Especial Comentada. Niterói: Impetus, 2013, p. 58).

O terrorismo é tipificado como crime no Brasil?


Sobre o tema existem duas correntes:
Sim NÃO
O terrorismo seria previsto como crime no art. 20Para a maioria da doutrina, contudo, a legislação
da Lei n. 7.170/83 (Lei de Crimes Contra a brasileira ainda não definiu o crime de terrorismo.
Segurança Nacional): Oà ele e toà ormativo atos de terrorismo
Art. 20. Devastar, saquear, extorquir, roubar, constante do art. 20 da Lei n. 7.170/83 é tão vago
sequestrar, manter em cárcere privado, incendiar,e elástico que não permite ao julgador, por
depredar, provocar explosão, praticar atentado ausência de uma adequada descrição do conteúdo
pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo fático desse ato, enquadrar qualquer modalidade
político ou para obtenção de fundos destinados à da conduta humana. Logo, o crime do art. 20 da
manutenção de organizações políticas
Lei n. 7.170/83 não pode ser tratado como
clandestinas ou subversivas. terrorismo, sob pena de evidente violação ao
Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. princípio da taxatividade (nullum crimen nulla
poena sine lege certa). à (LIMA, Renato Brasileiro
de., p. 59).
É a posição de Julio Fabbrini Mirabete, Fernando É a corrente sustentada por Alberto Silva Franco,
Capez, Guilherme de Souza Nucci. José Cretella Neto, Damásio de Jesus, Gilberto
Pereira de Oliveira.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16


Desse modo, para a maioria da doutrina, o terrorismo não é tipificado pela legislação brasileira, não sendo
válido o art. 20 da Lei n. 7.170/83 para criminalizar essa conduta.

A CF/88 afi a ue não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opi i o (a t.
5º, LII). O terrorismo pode ser co side ado u c i e político e enquadrado nessa proibição do art. 5º,
LII? Em outras palavras, mesmo após o terrorismo ser previsto como crime no Brasil, haverá proibição de
extradição por causa do art. 5º, LII?
NÃO. O terrorismo não podeà se à o side adoà i eàpolíti o àeà e uad adoà no art. 5º, LII. O óbice que
existe atualmente para a concessão de extradição por causa de terrorismo é a inexistência desse crime no
Brasil (requisito da dupla tipicidade). Veja como já decidiu o STF:
(...) Os atos delituosos de natureza terrorista, considerados os parâmetros consagrados pela vigente
Constituição da República, não se subsumem à noção de criminalidade política, pois a Lei Fundamental
proclamou o repúdio ao terrorismo como um dos princípios essenciais que devem reger o Estado brasileiro
em suas relações internacionais (CF, art. 4º, VIII), além de haver qualificado o terrorismo, para efeito de
repressão interna, como crime equiparável aos delitos hediondos, o que o expõe, sob tal perspectiva, a
tratamento jurídico impregnado de máximo rigor, tornando-o inafiançável e insuscetível da clemência
soberana do Estado e reduzindo-o, ainda, à dimensão ordinária dos crimes meramente comuns (CF, art.
5º, XLIII). (...)
O terrorismo - que traduz expressão de uma macrodelinquência capaz de afetar a segurança, a integridade
e a paz dos cidadãos e das sociedades organizadas - constitui fenômeno criminoso da mais alta gravidade,
a que a comunidade internacional não pode permanecer indiferente, eis que o ato terrorista atenta contra
as próprias bases em que se apóia o Estado democrático de direito, além de representar ameaça
inaceitável às instituições políticas e às liberdades públicas, o que autoriza excluí-lo da benignidade de
tratamento que a Constituição do Brasil (art. 5º, LII) reservou aos atos configuradores de criminalidade
política.
- A cláusula de proteção constante do art. 5º, LII da Constituição da República - que veda a extradição de
estrangeiros por crime político ou de opinião - não se estende, por tal razão, ao autor de atos delituosos
de natureza terrorista, considerado o frontal repúdio que a ordem constitucional brasileira dispensa ao
terrorismo e ao terrorista. (...)
(STF. Ext 855, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 26/08/2004)

Duas observações:
 No caso concreto, o motivo principal pelo qual o STF negou a extradição do estrangeiro foi o fato de o
Estado requerente não ter apresentado alguns documentos obrigatórios e que foram exigidos pela
Corte. Assim, o pedido feito foi instruído de forma insuficiente. Apesar disso, o Ministro Relator
avançou na apreciação do tema e fez as considerações acima expostas sobre o terrorismo.
 Mesmo o Brasil não prevendo o crime de terrorismo, seria possível, em tese, que a extradição fosse
concedida se o Peru tivesse demonstrado que os atos terroristas praticados pelo réu amoldavam-se
em outros tipos penais em nosso país. Ex: o réu praticou terrorismo por meio de homicídios,
incêndios, explosões etc. O pedido de extradição não poderia ser deferido com base em terrorismo,
mas poderia ter sido autorizado com fundamento em homicídio (ar. 121 do CP), incêndio (art. 250) e
explosão (art. 251). Isso porque a dupla tipicidade não é analisada sob o ponto de vistaà doà o e à
ju is ,à ouà seja,à doà nome do crime . O que importa é que aquela conduta seja punida no país de
origem e aqui, sendo irrelevantes as diferenças terminológicas.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17


EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) (TJDFT 2012) Embora não seja admitida a intervenção de terceiros no processo da Ação Direta de
I o stitu io alidade,àoà“up e oàT i u alàFede alàve àpe iti doàoà á i usà u iae ,àpa aàpossi ilita à
à sociedade um mais amplo debate da questão constitucional. ( )
2) (MP/SP 2012) A figura do amicus curiae ouà a igoàdaàCo te ,à ujaàfu çãoàp i o dialà àjuntar aos autos
parecer ou informações com o intuito de trazer à colação considerações importantes sobre a matéria
de direito a ser discutida pelo Supremo Tribunal Federal, bem como acerca dos reflexos de eventual
decisão sobre a inconstitucionalidade ou constitucionalidade da espécie normativa impugnada pode ser
admitida a qualquer tempo, antes do julgamento final, exigindo a maioria de 2/3 dos membros do STF.
( )
3) (DPE/PB 2014 FCC) O Supremo Tribunal Federal e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, com o
intuito de tornar a interpretação dos direitos humanos mais aberta e plural, podem admitir a
participação de amicus curiae. ( )
4) (DPE/RR 2013 CESPE) O STF admite o ingresso de amicus curiae na ADI, reconhecendo-lhe o direito de
aditar o pedido formulado pelo autor da referida ação. ( )
5) (TJ/BA 2012 – CESPE) No processo objetivo do controle de constitucionalidade, a intervenção do amicus
curiae equivale à intervenção de terceiros, o que lhe garante a prerrogativa de interpor recurso para
discutir a matéria objeto de análise na ação em que atua. ( )
6) (Juiz Federal TRF2 2009 – CESPE) O STF admite a figura do amicus curiae na ADC, sem, contudo,
reconhecer-lhe a faculdade de interpor recurso quanto à matéria objeto do processo objetivo, salvo
quando se insurge contra a decisão que não admite sua intervenção. ( )
7) (DPE/SP 2012 – FCC) É possível a intervenção de amicus curiae no procedimento de análise da
repercussão geral em recurso extraordinário, dando legitimação social à decisão do STF. ( )
8) (Juiz TJRN 2013 CESPE) Em se tratando de recurso extraordinário interposto pela União, tendo havido
reconhecimento pelo STF da repercussão geral da questão suscitada nesse recurso, não é possível o
ingresso de estado da Federação como amicus curiae, já que essa forma de ingresso é possível apenas
em ação de controle concentrado de constitucionalidade. ( )
9) (PFN 2012 – ESAF) A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, diante da importância da
apreciação de controvérsias sob a sistemática do julgamento por amostragem de recursos repetitivos,
permite a ampla participação de amicus curiae, inclusive com direito à sustentação oral. ( )
10) (PGE/MS 2014) Ao interpretar a possibilidade legal (artigo 543-A, §6º, CPC) de manifestação de
terceiros na análise da repercussão geral, o STF passou a admitir o ingresso de amici curiae no
procedimento da repercussão geral no recurso extraordinário, admitindo, inclusive, que produzam
sustentação oral na sessão de julgamento. ( )
11) (Juiz Federal TRF2 2013 CESPE) O amicus curiae somente pode demandar a sua intervenção até a data
em que o relator liberar o processo para pauta de julgamento, e a sua participação será autorizada
mediante despacho irrecorrível do relator nas ações diretas de inconstitucionalidade; porém a sua
participação não será cabível no procedimento de controle difuso de constitucionalidade. ( )
12) (Procurador BACEN 2013 CESPE) A legislação de regência veda expressamente a participação de amicus
curiae em ADI por omissão, embora admita a participação dos demais legitimados para a ação. ( )
13) (TJ/CE 2012 – CESPE) Na ação direta de inconstitucionalidade por omissão, admite-se a participação do
amicus curiae, bem como de peritos especializados na realização de audiências públicas. ( )
14) É incabível a imposição da medida socioeducativa de internação ao adolescente que pratique ato
infracional equiparado ao porte de drogas para consumo próprio, tipificado no art. 28 da Lei
11.343/2006. ( )
15) (Juiz Federal TRF1 2014) Ações penais em curso e decisões recorríveis caracterizam maus
antecedentes?
16) (Juiz TJDFT 2014 CESPE) É legal o aumento da pena-base, a título de maus antecedentes, com
fundamento em registro decorrente da aceitação de transação penal proposta pelo MP. ( )
Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18
17) (Juiz TJPR 2013) É vedada a utilização de inquéritos policiais para agravar a pena-base, sendo permitida,
entretanto, a utilização das ações penais em curso. ( )
18) (Juiz TJPR 2014) O juiz, ao proferir a sentença condenatória, não poderá fixar em favor do ofendido
valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, devendo a discussão ser dirimida no
juízo cível. ( )
19) (Juiz TJRN 2013 CESPE) Ao proferir sentença condenatória, o juiz fixará, se cabível, valor mínimo para a
reparação dos danos causados, sem prejuízo da liquidação, perante o juízo cível, para a apuração do
dano efetivamente sofrido. ( )
20) (Juiz TJCE 2014 FCC) A revisão criminal pode ser requerida em qualquer tempo, mas apenas antes da
extinção da pena. ( )

Gabarito
1. C 2. 3. C 4. E 5. E 6. C 7. C 8. E 9. E 10. C
11. E 12. E 13. C 14. C 15. - 16. E 17. E 18. E 19. C 20. E

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Condenação criminal: reparação de dano e contraditório


O Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente pedido formulado em revisão criminal para afastar
da condenação imposta ao requerente a fixação do valor mínimo de reparação dos danos, nos termos do
a t.à ,àIV,àdoàCPPà á t.à .àOàjuiz, ao proferir sentença condenatória: ... IV - fixará valor mínimo para
epa açãoà dosà da osà ausadosà pelaà i f ação,à o side a doà osà p ejuízosà sof idosà peloà ofe dido ,à se à
prejuízo da persecução correspondente em procedimento autônomo, mantidas íntegras as demais
cominações condenatórias. No caso, ele fora condenado à pena de 13 anos, 4 meses e 10 dias de reclusão,
em regime inicial fechado, além de 66 dias-multa, pela prática de formação de quadrilha e peculato. Além
disso, o valor da a reparação do dano fora fixado em R$ 1.647.500,00, a ser atualizado na fase de execução
pelos índices de correção monetária. O Colegiado, de início, frisou que a revisão criminal seria excepcional,
presente ilegalidade ou contrariedade à evidência dos autos, de modo que não se admitiria mera reiteração
de teses já vencidas pelo acórdão revisando, seja quanto a matéria de direito, seja quanto a matéria de
fato. Quanto à suposta nulidade decorrente do oferecimento de denúncia alicerçada em elementos
informativos obtidos em investigação de caráter eminentemente civil, o conhecimento do pedido não
encontraria amparo. Essa arguição estaria rechaçada nos fundamentos da decisão condenatória. Portanto,
nesse ponto, a condenação deveria ser mantida, pois não contrariara texto expresso de lei ou a evidência
dos autos. Além disso, a questão de incompetência do STF para julgar congressista que renuncia ao
mandato antes da sessão de julgamento teria sido exaustivamente debatida anteriormente. Tampouco
essa pretensão mereceria acolhimento, diante da evidente intenção do requerente de conferir outra
solução à questão discutida pela Corte não só no julgamento objeto da revisão, mas em outros casos, o que
não teria espaço nessa via processual. No que se refere à alegação de insuficiência probatória para o
decreto condenatório, o Tribunal afirmou que o acórdão pautara-se em abundante acervo produzido sob o
crivo do contraditório, de maneira a não existirem motivos para desqualificá-lo como apto à condenação. A
respeito da dosimetria da pena, ela teria sido devidamente individualizada, sem afrontar o princípio da
isonomia, porquanto decorrera de análise concreta das circunstâncias judiciais do art. 59 do CP.
Relativamente à continuidade delitiva, o Colegiado afastou a tese defensiva. A respeito, seria necessário
para a caracterização do instituto: a) a pluralidade de condutas; b) a pluralidade de crimes da mesma
espécie; c) a prática dos crimes nas mesmas condições de tempo, lugar, modo de execução e outras
semelhantes; e d) o fato de os crimes subsequentes serem continuação do primeiro. No tocante à tese
ligada ao crime de quadrilha, tendo em conta suposta configuração de peculato continuado em concurso
de agentes, a decisão revisanda também enfrentara o tema e demonstrara o caráter de durabilidade e

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19


permanência da associação, elementos indispensáveis à caracterização do delito. O requerimento, nesse
ponto, não mereceria conhecimento, ainda que sustentado por alegação de mudança de entendimento
jurisprudencial. Todavia, no que diz respeito à fixação do valor mínimo destinado à reparação de danos, nos
termos do art. 387, IV, do CPP, o Colegiado lembrou que essa previsão normativa fora inserida pela Lei
11.719/2008, que não somente seria posterior aos fatos, ocorridos entre 1995 e 1998, como também ao
oferecimento da denúncia, em 1999. Assim, sobretudo porque não ocorrido o contraditório a respeito,
incidiria reserva intransponível à incidência da norma, do ponto de vista material e processual.

Vencidos os Ministros Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Celso de Mello, que julgavam o pedido
integralmente improcedente. Apontavam que a necessidade de reparação do dano causado teria respaldo
no art. 91, I, do CP, já em vigor à época dos fatos. A inovação trazida pela Lei 11.719/2008 diria respeito
apenas à delegação para que o juiz fixasse o valor mínimo. Tratar-se-ia, portanto, de mera mudança na
regra de procedimento, aplicável ao caso. O Ministro Celso de Mello acrescia que a referida lei também
alterara o parágrafo único do art. 67 do CPP. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução
pode à se à efetuadaà peloà valo à fixadoà osà te osà doà i isoà IVà doà aput à doà a t.à à desteà Códigoà se à
prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido, a indicar que o valor a ser ressarcido
não seria imutável, e o dano efetivamente sofrido seria apurado em liquidação. Vencido, ademais, o
Ministro Marco Aurélio, que julgava o pleito procedente para assentar a incompetência do STF para julgar o
requerente, em face da renúncia ocorrida antes do julgamento, bem assim anulava a dosimetria da pena,
segundo a qual o exercício do então réu de seu direito à renúncia fora considerado circunstância judicial
desfavorável. Além disso, também afastava o ressarcimento do dano nos termos do art. 387, IV, do CPP.
RvC 5437/RO, rel. Min. Teori Zavascki, 17.12.2014.

Mandado de segurança: concurso público e litisconsórcio necessário


O Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação rescisória mediante a qual se
pretendia desconstituir decisão proferida em mandado de segurança. Na decisão rescindenda assentara-se
que os impetrantes, candidatos habilitados na primeira fase de concurso público para fiscal do trabalho
anteriormente aberto, ainda que não classificados dentro do número de vagas inicialmente oferecidas,
teriam preferência sobre os candidatos habilitados na primeira fase de novo concurso para o mesmo cargo.
Na rescisória, alegava-se que a decisão não teria observado a obrigatória citação dos litisconsortes
necessários, porquanto seus efeitos incidiriam sobre o direito subjetivo dos demais candidatos
participantes do certame. Ademais, sustentava-se que o acórdão rescindendo, ao assegurar a participação
dos impetrantes não classificados na segunda fase do concurso, ofenderia o princípio da isonomia, bem
assim que a matéria teria sido decidida com suporte em erro fático, dado o caráter regionalizado do
concurso. Preliminarmente, o Colegiado reputou presente o interesse de agir da União, pois a autoridade
apontada como coatora no mandado de segurança seria Ministro de Estado. Afastou, ainda, a tese relativa
ao litisconsórcio necessário. O caso veicularia situações jurídicas individualizadas, embora fosse possível
que outros candidatos estivessem em situação idêntica à dos impetrantes. Lembrou que o Plenário, em
outra oportunidade, já assentara a inocorrência de litisconsórcio necessário na espécie, dado que presente,
no mandado de segurança, cumulação subjetiva de natureza facultativa. Assim, por se tratar de interesses
divisíveis, eventual configuração do litisconsórcio necessário implicaria a transformação do acesso à justiça
em obrigação da parte, a tolher sua liberdade. Imaginar-se, a essa altura, a obrigatoriedade de candidatos,
ainda que aprovados em concursos ulteriores, integrarem a relação processual alusiva ao mandado de
segurança significaria subversão da ordem processual.

No mérito, o Plenário afirmou que a decisão rescindenda estaria devidamente fundamentada, no sentido
de determinar a convocação dos impetrantes para a realização da segunda etapa do certame, tendo em
conta a existência de novo concurso. Em momento algum, colocara-se em jogo a situação de outros
candidatos, muito menos dos aprovados em concursos diversos. Naquela oportunidade, explicitara-se o
direito de os concursados serem convocados para o estágio seguinte da disputa sem o risco de serem

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20


prejudicados pela feitura de outro concurso. Ressaltou, ademais, que o caso seria idêntico à AR 1.685/DF
(DJe de 10.12.2014), a tratar de outro candidato envolvido no mesmo certame. Vencidos os Ministros
Ricardo Lewandowski (Presidente e revisor) e Roberto Barroso, que julgavam o pedido procedente. Quanto
ao alegado erro de fato sobre o caráter regional do concurso, afirmavam que o acórdão rescindendo não
tomara esse aspecto como razão de decidir, e não seria razoável que, independentemente do prazo de
validade do certame, fosse determinada a convocação de todos os candidatos habilitados na primeira fase
para o novo concurso, uma vez que não haveria vagas na localidade pretendida pelos impetrantes. Assim,
não haveria de se falar em prejuízo ou preterição dos interessados.
AR 1699/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 18.12.2014.

Quebra de sigilo bancário e unilateralidade em inquérito policial


Em conclusão de julgamento, a 1ª Turma resolveu questão de ordem, suscitada pelo Ministro Marco
Aurélio (relator), e determinou o arquivamento de inquérito policial, bem assim julgou prejudicado agravo
regimental em que discutida a legalidade de pedido de quebra de sigilo bancário para fins de investigação
i i al.àNoà aso,àoà Pa uet à e ue e a,àal àdaà ue aàdeàsigilo,àoàe a i ha e toàdi etoàdosàdadosà
colhidos ao Ministério Público, bem como a autorização para que o órgão atuasse diretamente junto às
instituições bancárias, sem necessidade de intervenção judicial, com o intuito de obter documentos de
suporte das transações financeiras realizadas no período — v. Informativo 764. Tratava-se de investigação
instaurada para apurar o envolvimento de parlamentar com o desvio de verbas públicas, com a suposta
participação de agentes públicos e empresários. O Colegiado registrou que a investigação estaria assentada
nos elementos colhidosà aà de o i adaà Ope açãoà “olid ia à I à . /‘“,à DJeà deà . . ,à osà uaisà
teriam sido declarados imprestáveis pelo STF para serem utilizados contra o investigado, tendo em conta
violação das regras de prerrogativa de foro. Assim, se os dados seriam ilícitos, não poderiam servir de base
para nenhuma persecução, independentemente dos fatos que se pretendesse apurar.
Inq 3552 QO/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 16.12.2014.

Irregularidades em prestação de contas e configuração típica


A 1ª Turma, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação penal para absolver os réus, com
fulcro no art. 386, III, do CPP. No caso, eles foram denunciados pela suposta prática do crime do art. 3º da
Leià . / à[ á t.à ºà- Todo crédito ou financiamento concedido por órgãos da administração pública,
direta ou indireta, ou recurso proveniente de incentivo fiscal terá que ser aplicado exclusivamente no
projeto para o qual foi liberado. Art. 2º - Os infratores ficam sujeitos às seguintes penalidades: I - não se
beneficiarão de nenhum outro empréstimo de organismo oficial de crédito e nem poderão utilizar recursos
de incentivos fiscais, por um período de 10 (dez) anos; II - terão que saldar todos os débitos, vencidos e
vincendos, relativos ao crédito ou financiamento cuja aplicação foi desviada, no prazo de 30 (trinta) dias,
contados da constatação da irregularidade. Parágrafo único - As penalidades constantes deste artigo
somente serão aplicadas mediante processo regular, assegurada ao acusado ampla defesa. Art. 3º - Além
das sanções previstas no artigo anterior, os responsáveis pela infração dos dispositivos desta Lei ficam
sujeitos às penas previstas no art. 171 do Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal
B asilei o. ],à o i adoà o à oà a t.à 71, § 3º, do CP, em razão da existência de irregularidades em
prestação de contas por parte de fundação de direito privado municipal, tendo em conta a disponibilização
de recursos a essa entidade pelo governo federal. Um dos denunciados, deputado federal, era prefeito da
municipalidade à época dos fatos. Preliminarmente, a Turma, por decisão majoritária, assentou a
competência do STF para julgar a ação. No ponto, afirmou que, embora apenas um dos denunciados
ostentasse foro por prerrogativa de função — o que, em regra, exigiria o desmembramento do feito em
relação aos demais —, a depender das peculiaridades do caso, a Corte seria competente para enfrentar a
demanda em relação aos corréus não detentores de prerrogativa de foro, inclusive, presentes a continência
e a conexão. O Ministro Roberto Barroso apontou que não se deveria desmembrar o feito, no particular,
tendo em conta o princípio da economia processual. Vencido, quanto à preliminar, o Ministro Marco

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21


Aurélio. Entendia que a competência, no tocante aos réus não detentores de prerrogativa de foro perante
o STF, deveria ser declinada para o juízo de 1º grau.

No mérito, o Colegiado registrou que a denúncia não imputara aos acusados a apropriação privada dos
recursos públicos disponibilizados, o que configuraria peculato ou apropriação indébita. A peça acusatória
simplesmente reproduzira conclusões de relatório de diligência policial, por meio do qual foram
identificadas irregularidades em prestação de contas apresentadas pela fundação quanto ao emprego da
subvenção social recebida do então Ministério da Ação Social. Apesar das irregularidades, a denúncia não
concluíra pela apropriação privada das verbas, mas apenas que não teriam sido aplicadas exclusivamente
no projeto para o qual liberadas. Assim, de acordo com a tipificação realizada pelo acusador, o crime em
questão configuraria espécie anômala de estelionato. Entretanto, essa equiparação seria problemática,
o side adaàaàdive sidadeàdasà o dutasàe à uestão.àál àdisso,àaà su ve çãoàso ial à e e idaà oà asoà ãoà
seà ualifi a iaà o oà ditoàouàfi a ia e to àouà e u soàp ove ie teàdeài e tivoàfis al .àDesse modo,
não haveria como enquadrar o fato na Lei 7.134/1983, sequer no art. 20 da Lei 7.492/1986 ou no art. 2º, IV,
da Lei 8.137/1990, que revogaram parcialmente a Lei 7.134/1983. Não estaria configurado, de igual modo,
o estelionato, que exige o locupletamento pessoal ou em favor de outrem. Todavia, o melhor
enquadramento da conduta narrada na denúncia seria, talvez, o art. 315 do CP. Tratar-se-ia, entretanto, de
crime próprio de funcionário público, e a acusação não demonstrara a eventual possibilidade de amoldar os
dirigentes da entidade de assistência social no aludido dispositivo. De todo modo, ainda que fosse possível
essa tipificação, o crime estaria prescrito. A Turma destacou que poderia, eventualmente, haver crimes de
falsidade, uma vez que a prestação de contas feita pela fundação conteria documentos falsos. Entretanto,
essas condutas não constituiriam objeto da imputação. Assim, o fato narrado seria atípico. Poderia haver
configuração típica, mas seria preciso demonstrar que houvera apropriação indevida e privada dos
recursos, por meio de rastreamento dos valores, ou mesmo o esclarecimento do projeto para o qual
liberados recursos para a fundação. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que julgava o pedido procedente
haja vista a configuração do crime de estelionato.
AP 347/CE, rel. Min. Rosa Weber, 16.12.2014. (AP-347)

OUTRAS INFORMAÇÕES

REPERCUSSÃO GERAL
DJe de 15 a 19 de dezembro de 2014

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 770.821-PB


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: ADMINISTRATIVO. PLANO DE CARREIRA DOS CARGOS TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS DA EDUCAÇÃO (PCCTAE).
VENCIMENTO BÁSICO COMPLEMENTAR (VBC). ABSORÇÃO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS.
MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. A controvérsia relativa à violação ao princípio da irredutibilidade de vencimentos decorrente da absorção do Vencimento Básico Complementar,
fundada na interpretação da Lei 11.091/05, é de natureza infraconstitucional.
2. Inviável, em recurso extraordinário, apreciar ofensa aos arts. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV e LV, e 37, caput, da Constituição Federal, em razão de
necessidade de revisão da interpretação das normas infraconstitucionais pertinentes (AI 796.905-AgR, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe de
21/5/2012; AI 622.814-AgR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, DJe de 8/3/2012; ARE 642.062-AgR, Rel. Min. ELLEN GRACIE,
Segunda Turma, DJe de 19/8/2011).
3. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna se dê de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
4. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.

REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 819.641-DF


RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO NÃO EMBARGADA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. RENÚNCIA AO VALOR
EXCEDENTE A 40 SALÁRIOS MÍNIMOS. CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL.
AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22


1. A controvérsia relativa à condenação em honorários advocatícios na execução não embargada contra a Fazenda Pública na qual há renúncia ao
valor excedente a 40 salários mínimos, fundada na interpretação do art. 1º-D da Lei 9.494/97 e dos arts. 20 e 730 do CPC, é de natureza
infraconstitucional.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna se dê de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 848.240-RN
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. FGTS. DEPÓSITOS EFETUADOS NA CONTA VINCULADA.
ÍNDICE DE CORREÇÃO MONETÁRIA. APLICAÇÃO DA TAXA REFERENCIAL. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL.
1. Esta Suprema Corte, em diversas manifestações de seu órgão plenário, afirmou a legitimidade da Taxa Referencial (TR) como índice de atualização de
obrigações, com a única ressalva da inviabilidade de sua aplicação retroativa para alcançar situações pretéritas. Nesse sentido: ADI 493-MC, Rel. Min.
MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, DJ de 4/9/1992; ADI 768-MC, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, DJ de 13/11/1992; ADI 959-MC,
Rel. Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, DJ de 13/5/1994.
2. Assim sendo, o exame da inaplicabilidade da TR em situações específicas pertence ao domínio da legislação ordinária pertinente a cada caso, a
significar que eventual ofensa à Carta Magna seria apenas reflexa.
3. Portanto, é de natureza infraconstitucional a controvérsia relativa à aplicação da TR como índice de correção monetária dos depósitos efetuados em
conta vinculada do FGTS, fundada na interpretação das Leis 7.730/89, 8.036/90 e 8.177/91.
4. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/03/2009).
5. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
REPERCUSSÃO GERAL EM ARE N. 849.328-RN
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. FUNDO DE GARANTIA DE OPERAÇÕES DE CRÉDITO
EDUCATIVO (FGEDUC). ADESÃO APÓS REALIZAÇÃO DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL COM O FUNDO DE
FINANCIAMENTO AO ESTUDANTE DE ENSINO SUPERIOR (FIES). MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL.
1. É de natureza infraconstitucional a controvérsia relativa à legitimidade de adesão ao Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo
(FGEDUC) após a formalização de contrato de financiamento estudantil, fundada na interpretação da Lei 10.260/01 e das cláusulas do contrato que
rege a relação entre as partes.
2. Incabível, em recurso extraordinário, apreciar violação ao art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, por ser indispensável a revisão da interpretação
das normas infraconstitucionais pertinentes (AI 796.905-AgR, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe de 21.5.2012; AI 622.814-AgR, Rel. Min.
DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, DJe de 08.3.2012; ARE 642.062-AgR, Rel. Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, DJe de 19.8.2011).
3. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/03/2009).
4. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC.
Decisões Publicadas: 4

CLIPPING DO D JE
DJe de 15 a 19 de dezembro de 2014

REFERENDO EM MED.CAUT. EM ADI N. 4.663-RO


RELATOR: MIN. LUIZ FUX
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTITUCIONAL E FINANCEIRO. SISTEMA ORÇAMENTÁRIO
CONSTITUCIONAL INAUGURADO PELA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988. TELEOLOGIA VOLTADA AO PLANEJAMENTO DA
ATUAÇÃO DO PODER PÚBLICO. LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS DO ESTADO DE RONDÔNIA (LEI Nº 2.507/11). TERMO AD
QUEM. FINAL DO EXERCÍCIO FINANCEIRO SUBSEQUENTE. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PRAZO DE
VIGÊNCIA ESGOTADO AO TÉRMINO DO EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2012. EXAURIMENTO DA EFICÁCIA DO DIPLOMA
NORMATIVO E DAS NORMAS IMPUGNADAS. PERDA SUPERVENIENTE DE OBJETO. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
PREJUDICADA.
*noticiado no Informativo 763
MS N. 25.875-DF
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
JORNADA – ATO JURÍDICO PERFEITO E ACABADO – CLÁUSULA PÉTREA. Ante a existência de situação jurídica aperfeiçoada, descabe
modificar, em prejuízo do servidor, a jornada de trabalho.
*noticiado no Informativo 762
RE N. 240.785-MG
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
TRIBUTO – BASE DE INCIDÊNCIA – CUMULAÇAO – IMPROPRIEDADE. Não bastasse a ordem natural das coisas, o arcabouço jurídico
constitucional inviabiliza a tomada de valor alusivo a certo tributo como base de incidência de outro.
COFINS – BASE DE INCIDÊNCIA – FATURAMENTO – ICMS. O que relativo a título de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e a
Prestação de Serviços não compõe a base de incidência da Cofins, porque estranho ao conceito de faturamento.
*noticiado no Informativo 762
Inq N. 2.760-TO
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Inquérito. 2. Competência originária. 3. Penal e Processual Penal. 4. A absolvição de outros implicados em ações penais por fatos semelhantes, pela
falta de provas, não prejudica a propositura da ação penal. 5. Narrando a denúncia o propósito inicial de subtração de recursos públicos liberados por

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23


entidade de desenvolvimento, com concurso necessário de servidores públicos, correta a tipificação do fato como peculato-furto. Inviável a
desclassificação para os crimes do art. 2º da Lei 8.137/90. 6. O depoimento de implicado assistido de advogado e repetido em juízo não é,
aparentemente, viciado. 7. A propositura de várias denúncias por fatos não idênticos não caracteriza abuso do poder de denunciar. 8. Peculato-furto e
lavagem de dinheiro. Exigência de propina para liberação de recursos do Finam a empreendedores. Subtração de recursos públicos. Ocultação dos
recursos mediante endosso em branco de cheques e saques em espécie. Prova da existência dos fatos e indícios de autoria. Denúncia recebida.
*noticiado no Informativo 762
AG. REG. NA ADPF N. 319-PB
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Agravo regimental em arguição de descumprimento de preceito fundamental. Ato omissivo do Governador do Estado da Paraíba
consistente na ausência de envio, ao Poder Legislativo estadual, do projeto de lei que fixa, na forma de subsídio, a remuneração do Defensor Público
do Estado. Mandado de segurança em trâmite no Tribunal de Justiça do Estado com idêntico objeto. Ausência de subsidiariedade. Agravo a que se
nega provimento.1. Encontra-se em trâmite no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba mandado de segurança impetrado pela Defensoria Pública do
Estado em que se impugna o mesmo ato omissivo objeto da presente arguição, sendo os respectivos pedidos idênticos. Portanto, existe meio
processual capaz de sanar a lesividade alegada pela associação autora com a mesma amplitude e imediaticidade que teria a decisão proferida pelo
Supremo Tribunal Federal, razão pela qual se tem por não atendido o requisito da subsidiariedade.2. Agravo regimental a que se nega provimento.
HC N. 123.837-SP
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA:Habeas Corpus. Processual Penal. Agravo regimental interposto em sede de habeas corpus não admitido pelo Superior Tribunal de
Justiça por ausência de capacidade processual do recorrente. Entendimento que afronta a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Em
sede de habeas corpus, o fato de a parte não possuir capacidade postulatória não impede o conhecimento do agravo regimental. Precedentes.
Ordem concedida de ofício.
1. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça em não admitir o manejo, pelo paciente que não detém capacidade postulatória, de agravo
regimental em sede de habeas corpus está em desacordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
2. É firme a jurisprudência da Corte no sentido de que, em sede de habeas corpus, o fato de a parte não possuir capacidade postulatória não impede o
conhecimento do agravo regimental.
3. Ordem concedida de ofício para determinar ao Superior Tribunal de Justiça que, afastado o óbice ao conhecimento do agravo regimental
interposto, julgue seu mérito.
RHC N. 123.400-SP
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI
EMENTA: PENAL. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. ART. 288 DO CP. EXTINÇÃO PREMATURA DA AÇÃO PENAL. ALEGAÇÃO DE BIS IN
IDEM. RECORRENTE QUE CUMPRIU PENA NO EXTERIOR. QUESTÕES DE MÉRITO QUE DEVEM SER DECIDIDAS PELO JUIZ
NATURAL DA CAUSA. INVIABILIDADE DE ANÁLISE DE FATOS E PROVAS.
1. A jurisprudência desta Corte firmou entendimento no sentido de que a extinção da ação penal, de forma prematura, pela via do habeas corpus,
somente se dá em hipóteses excepcionais, nas quais seja patente (a) a atipicidade da conduta; (b) a ausência de indícios mínimos de autoria e
materialidade delitivas; ou (c) a presença de alguma causa extintiva da punibilidade, o que não se verifica no caso.
2. Não há como avançar nas alegações postas no recurso, que, a rigor, pretendem o julgamento antecipado da ação penal mediante exame do conjunto
fático-probatório dos autos. Caberá ao juízo natural da causa, com observância ao princípio do contraditório, proceder ao exame das provas colhidas e
conferir a definição jurídica adequada para o caso.
3. Recurso ordinário desprovido.
ADI N. 2.803-RS
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei Complementar nº 11.530, de 21 de setembro de 2000, do Estado do Rio Grande do Sul.
Inclusão do Município de Santo Antônio da Patrulha na Região Metropolitana de Porto Alegre. Vício de iniciativa. Inexistência.
Improcedência do pedido.
1. Não incide em violação da reserva de iniciativa legislativa do chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, e, CF) lei complementar estadual que
inclui novo município em região metropolitana. A simples inclusão de município em região metropolitana não implica, per se, a alteração da estrutura
da máquina administrativa do Estado. Precedente: ADI nº 2.809/RS, Relator o Ministro Maurício Corrêa, DJ de 30/4/04.
2. O impedimento constitucional à atividade parlamentar que resulte em aumento de despesa (art. 63, I, CF/88) só se aplica aos casos de iniciativa
legislativa reservada. Ademais, conforme esclarece a Assembleia Legislativa, a inclusão de município na região metropolitana não gera aumento de
despesa para o Estado, uma vez que “a dotação orçamentária está vinculada à própria região metropolitana, independentemente do número de
municípios que a integrem, sendo irrelevante, portanto, a inclusão posterior de Município da região em comento”.
3. A legislação impugnada observa formal e materialmente o disposto no art. 25, § 3º, da Constituição Federal. O instrumento normativo utilizado é
idôneo, uma vez que se trata de lei complementar estadual, e o requisito territorial insculpido na expressão “municípios limítrofes” foi atendido. Na
justificativa do projeto de lei, está demonstrada a proximidade física e a interdependência urbana, social e histórica entre o Município de Santo Antônio da
Patrulha e os demais componentes da Região Metropolitana de Porto Alegre.
4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
*noticiado no Informativo 766
MS N. 32.271-DF
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. PROCESSO DISCIPLINAR CONTRA MAGISTRADO. PENA
DE DISPONIBILIDADE COM PROVENTOS PROPORCIONAIS. DECURSO DO PRAZO DE DOIS ANOS (ART. 57, § 1º, DA LOMAN). PEDIDO
DE APROVEITAMENTO. INDEFERIMENTO MOTIVADO PELO AJUIZAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONTRA O MAGISTRADO.
NECESSIDADE DE AGUARDAR O DESFECHO DA AÇÃO. FUNDAMENTO INIDÔNEO. AFASTAMENTO POR PRAZO INDETERMINADO:
DESPROPORCIONALIDADE. ORDEM DE SEGURANÇA CONCEDIDA.
RHC N. 122.618-MG
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
Recurso ordinário em habeas corpus. 2. Ofensa aos princípios o contraditório e do devido processo legal. Inocorrência. 3. Inaplicabilidade da consunção se, do
quadro fático fixado pela jurisdição ordinária, concluírem-se diversas as condutas a justificar a subsunção das ações a tipos penais diferentes. 4.
Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento. 5. Concessão da ordem, de ofício, para determinar a análise de eventual continuidade
delitiva entre os roubos.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24


TRANSCRIÇÕES
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

Medida cautelar de afastamento de cargo público e cabimento de “habeas corpus” (Transcrições)


HC 121.089/AP*
RELATOR: Ministro Gilmar Mendes
Habeas Corpus. 2. Cabimento. Proteção judicial efetiva. As medidas cautelares criminais diversas da prisão são onerosas ao implicado e
podem ser convertidas em prisão se descumpridas. É cabível a ação de habeas corpus contra coação ilegal decorrente da aplicação ou da
execução de tais medidas. 3. Afastamento cautelar de funcionário público. Conselheiro de Tribunal de Contas. Excesso de prazo da medida.
Ausência de admissão da acusação. Há excesso de prazo no afastamento cautelar de Conselheiro de Tribunal de Contas, por mais de dois anos,
sem que a denúncia tenha sido admitida. 4. Ação conhecida por maioria. Ordem concedida.
RELATÓRIO: Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado por ** e outros, em favor de **, buscando provimento judicial que,
inclusive liminarmente, desconstitua a decisão proferida pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça nos autos da Ação Penal 702/AP, a qual
determinou o afastamento do paciente de suas funções de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Amapá e impediu a entrada nas
dependência do Tribunal, bem como “a utilização de veículos, recebimento de vantagens decorrentes do efetivo exercício no cargo, tais como
passagem aérea, diárias, ajuda de custo, telefone e quaisquer outros bens de propriedade” da Corte de Contas, até a apreciação da denúncia.
Relatou ser conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Amapá. Afirmou que, em 10.9.2010, sofreu prisão cautelar, por ordem do
Superior Tribunal de Justiça, nos autos do Inquérito 681, posteriormente desmembrado no Inquérito 720 e, por fim, na Ação Penal 702. A prisão foi
mantida até 11.3.2011, ocasião em que, por decisão do ministro do Superior Tribunal de Justiça João Otávio de Noronha, foi substituída pelo
afastamento da função pública pelo prazo de 360 dias. Esgotado o prazo, retornou às atividades em 23.3.2012. Em 13.4.2012, foi denunciado nos
mencionados autos. Em 20.4.2012, o Ministério Público requereu novo afastamento por 360 dias. Em 23.4.2012, o pedido foi julgado em mesa pela
Corte Especial, tendo sido deferido novo afastamento, desta feita até a análise da denúncia.
Alegou a nulidade da decisão, visto que o afastamento por prazo indeterminado não foi requerido pelo Ministério Público. Sustentou estar
afastado por prazo irrazoável, sendo a medida verdadeira antecipação da pena. Acrescentou que a medida não é necessária, visto que as investigações
já foram concluídas. Alegou que o ato coator seria baseado exclusivamente na gravidade do delito.
Pediu provimento judicial que, inclusive liminarmente, desconstitua a ordem de afastamento de suas atividades como conselheiro do Tribunal
de Contas.
O Superior Tribunal de Justiça prestou informações (eDOC 29).
A medida liminar foi indeferida em março de 2014 (eDOC 213).
Foi requerida reconsideração (eDOC 219).
A Procuradoria-Geral da República pugnou pelo não conhecimento do habeas corpus, por inadequação da via eleita, visto que não haveria
ameaça à liberdade de locomoção.
O paciente propôs a Medida Cautelar 3679, buscando provimento judicial que determine, inclusive liminarmente, a reintegração no cargo.
** (eDOC 227), ** e ** e ** (eDOC 241) requereram a extensão dos efeitos da decisão, na forma do art. 580 do CPP. Os três primeiros
relataram serem conselheiros e o último conselheiro aposentado do Tribunal de Contas. Afirmaram estarem afastados de suas funções por força da
mesma decisão do Superior Tribunal de Justiça. Sustentaram estarem na mesma situação processual do paciente.
É o relatório.
VOTO: Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Amapá, afastado por força de decisão na
Ação Penal 702, do Superior Tribunal de Justiça, buscando a reintegração no cargo e afastamento de outras medidas cautelares.
Inadequação da via eleita. A Procuradoria-Geral da República pugnou pelo não conhecimento do habeas corpus, por inadequação da via
eleita, visto que não haveria ameaça à liberdade de locomoção.
De acordo com o art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, “conceder-se-á ‘habeas-corpus’ sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”.
É certo que inexiste divergência teórica quanto ao fato de o habeas corpus se destinar a proteger o indivíduo contra qualquer medida restritiva
à liberdade de ir, vir e permanecer (art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal).
O Plenário desta Corte reiteradamente tem assentado que aludido remédio tem como escopo a proteção da liberdade de locomoção e seu
cabimento tem parâmetros constitucionalmente estabelecidos, justificando-se a impetração sempre que alguém sofrer, ou se achar ameaçado de sofrer,
violência ou coação em sua liberdade de ir e vir, por ilegalidade ou abuso de poder (AgR no HC 82.880/SP, DJ 16.5.2003).
Ainda, a jurisprudência prevalecente no STF é no sentido de que não terá seguimento habeas corpus que não afete diretamente a liberdade de
locomoção. Nesse sentido: HC-AgR 97.119/DF, rel. Min. Celso de Mello, 2ª Turma, unânime, DJe 8.5.2009; HC 96.220/PR, rel. Min. Cármen Lúcia,
1ª Turma, unânime, DJe 1º.7.2009, e RHC-AgR 86.011/MG, rel. Min. Cezar Peluso, 2ª Turma, unânime, DJe 23.10.2009.
A despeito da força que essa interpretação tem assumido em nossa jurisprudência, não me impressiona o argumento de que habeas corpus é o
meio adequado para proteger tão somente o direito de ir e vir.
O habeas corpus configura proteção especial tradicionalmente oferecida no sistema constitucional brasileiro. Não constava, porém, da
Constituição de 1824, tendo sido contemplado, inicialmente, no Código de Processo Criminal de 1832 (arts. 340 a 355) e, posteriormente, ampliado,
com a Lei n. 2.033 de 1871.
A Constituição de 1891 estabeleceu, no art. 72, § 22, o seguinte: dar-se-á habeas corpus sempre que o indivíduo sofrer violência, ou coação,
por ilegalidade, ou abuso de poder.
A formulação ampla do texto constitucional deu ensejo a uma interpretação que permitia o uso do habeas corpus para anular até mesmo ato
administrativo que determinara o cancelamento de matrícula de aluno em escola pública, para garantir a realização de comícios eleitorais, o exercício
de profissão, entre outras possibilidades.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25


A propósito, observam Ada Pellegrini, Gomes Filho e Scarance Fernandes:
“Na verdade, três posições firmaram-se com o advento da Constituição republicana: alguns, como Rui Barbosa, sustentavam que a
garantia deveria ser aplicada em todos os casos em que um direito estivesse ameaçado, manietado, impossibilitado no seu exercício por abuso de
poder ou ilegalidade; em sentido oposto, afirmava-se que o habeas corpus, por sua natureza e origem histórica, era remédio destinado
exclusivamente à proteção da liberdade de locomoção; e finalmente, uma terceira corrente, vencedora no seio do Supremo Tribunal Federal,
propugnava incluir na proteção do habeas corpus não só os casos de restrição da liberdade de locomoção, como também as situações em que a
ofensa a essa liberdade fosse meio de ofender outro direito. Assim, exemplificava Pedro Lessa: quando se ofende a liberdade religiosa, obstando
que alguém penetre no templo, tem cabimento o habeas corpus, pois foi embaraçando a liberdade de locomoção que se feriu a liberdade religiosa;
quando se ofende a liberdade religiosa, porque se arrasam as igrejas, ou se destroem os objetos do culto, não é possível requerer o remédio,
porque aí não está em jogo a liberdade de locomoção das pessoas”. (Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho e Antonio
Scarance Fernandes, Recursos no processo penal, cit., p. 347-348).
Esse desenvolvimento foi cognominado de doutrina brasileira do habeas corpus.
Em 1926, emenda constitucional vinculou de forma expressa o habeas corpus à liberdade de locomoção (Dar-se-á habeas corpus sempre que
alguém sofre violência por meio de prisão ou constrangimento ilegal em sua liberdade de locomoção).
Todas as demais constituições brasileiras, sem nenhuma exceção, incorporaram a garantia do habeas corpus (Constituição de 1934, art. 113, n. 23;
Constituição de 1937, art. 122, n. 16; Constituição de 1946, art. 141, § 23; e Constituição de 1967/69, art. 150, § 20). Durante todo esse tempo, essa garantia
somente foi suspensa pelo Ato Institucional n. 5, de 1968, no que concerne aos crimes políticos, contra a segurança nacional, contra a ordem
econômica e social e contra a economia popular.
Não olvido as legítimas razões que alimentam a preocupação com o alargamento das hipóteses de cabimento do habeas corpus e, com efeito,
as distorções que dele decorrem. Contudo, incomoda-me mais, ante os fatos históricos, restringir seu espectro de tutela.
Tenho que a ação de habeas corpus deve ser admitida para atacar medidas criminais que, muito embora diversas da prisão, afetem interesses
não patrimoniais importantes da pessoa física.
No HC 90.617, de minha relatoria, julgado em 30.10.2007, a 2ª Turma determinou a reintegração de desembargador, por excesso de prazo na
decisão que decretou o afastamento cautelar da função.
Naquele julgamento, após afirmar que a medida cautelar já durava por prazo além do razoável, assim analisei o cabimento da ação:
“(...) considerada essa configuração fática excepcional, entendo ser o caso de se estabelecer um distinguishing com relação à referida
jurisprudência tradicional deste Tribunal quanto à matéria do cabimento do habeas corpus. Entendo que o writ é cabível porque, na espécie,
discute-se efetivamente aquilo que a dogmática constitucional e penal alemã – a exemplo da ilustre obra Freiheitliches Strafrecht (“Direito
Penal Libertário”), de Winfried Hassemer, – tem denominado Justizgrundrechte.
Essa expressão tem sido utilizada para se referir a um elenco de normas constantes da Constituição que tem por escopo proteger o
indivíduo no contexto do processo judicial. Não tenho dúvidas que o termo seja imperfeito, uma vez que, amiúde, esses direitos transcendem a
esfera propriamente judicial.
Assim, à falta de outra denominação genérica, também nós optamos por adotar designação assemelhada – direitos fundamentais de
caráter judicial e garantias constitucionais do processo –, embora conscientes de que se cuida de denominações que pecam por imprecisão.
De toda forma, independentemente dessa questão terminológica, um elemento decisivo é o de que, no caso concreto ora em apreço, invoca-se
garantia processual de natureza judicial e administrativa, que tem repercussão direta quanto ao devido processo legal penal e à dignidade
pessoal e profissional do paciente.
Desse modo, o tema da razoável duração do processo (CF, art. 5 o, LXXVIII), por expressa disposição constitucional, envolve não
somente a invocação de pretensão à “direito subjetivo” de célere tramitação dos processos judiciais e administrativos, mas também, o
reconhecimento judicial de “meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. Em outras palavras, a interpretação desse dispositivo
também está relacionada à efetivação de legítimas garantias constitucionais como mecanismos de defesa e proteção em face de atrocidades e
desrespeitos aos postulados do Estado democrático de Direito (CF, art. 1 o).
Nesse particular, entendo que, preliminarmente, o habeas corpus é garantia cabível e apta para levar ao conhecimento deste Tribunal
a apreciação do tema do excesso de prazo para a instrução criminal.
É dizer, embora a decisão impugnada não repercuta diretamente no direito de ir e vir do paciente (liberdade de locomoção stricto
sensu), observa-se situação de constrangimento ilegal decorrente de mora na prestação jurisdicional no âmbito processual penal.
No caso concreto, tal constrangimento corresponde à persistência do afastamento cautelar em razão do recebimento da denúncia pelo
STJ.
A viabilidade deste writ se dá, portanto, em razão de que o afastamento cautelar do paciente tem perdurado por lapso temporal
excessivo.”
Naquele caso, a 2ª Turma entendeu por reintegrar magistrado afastado do cargo por período além do razoável, por força de decisão em
processo criminal. Aceitou-se a ação de habeas corpus como via processual adequada para o pleito.
Muito embora não desconheça as decisões em sentido contrário (HC 114490 AgR, Relator Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
10.12.2013; RHC 118015, Relator Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 24/09/2013), sigo entendendo na linha da
admissibilidade da ação.
Reitero que não proponho retomar a doutrina brasileira do habeas corpus, admitindo a ação como remédio para afirmar qualquer direito
líquido e certo. No entanto, há medidas cautelares restritivas a direitos importantes, adotados em processo criminal, que merecem atenção por
instâncias revisionais pela via mais expedita o possível.
Note-se que as alterações no Código de Processo Penal promovidas pela Lei 12.403/11 valorizaram a adoção de medidas cautelares diversas da
prisão – art. 319. Se, por um lado, essas medidas são menos gravosas do que o encarceramento cautelar, por outro lado, são medidas
consideravelmente onerosas ao implicado. Mais do que isso, se descumpridas, podem ser convertidas em prisão processual – art. 312, parágrafo
único, do CPP.
Se fechada a porta do habeas corpus para tutelar a pessoa atingida por essas medidas, restaria o mandado de segurança. Nos processos que
correm em primeira instância, talvez o mandado de segurança seja suficiente para conferir proteção judicial recursal efetiva ao alvo da medida.
No entanto, em processos de competência originária dos tribunais, há a peculiaridade de que o próprio tribunal que decreta a medida cautelar é
competente para julgar os mandados de segurança, por força do art. 21, VI, da Lei Complementar 35/79 – “Compete aos Tribunais, privativamente julgar,
originariamente, os mandados de segurança contra seus atos, os dos respectivos Presidentes e os de suas Câmaras, Turmas ou Seções”.
Confundem-se na mesma instância as competências para decretar a medida e para analisar a ação de impugnação da medida. Isso, na prática,
esvazia a possibilidade de impugnar a medida em tempo hábil.
O presente caso é ilustrativo dessa preocupação. As medidas cautelares combatidas foram decretadas pela Corte Especial do Superior Tribunal
de Justiça. Contra essa decisão, foi impetrado o Mandado de Segurança 20.223, relator ministro Gilson Dipp. O Superior Tribunal não conheceu do
mandado de segurança, justamente porque se tratava de decisão da própria Corte Especial daquele tribunal, competente também para julgamento do
writ.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 26


Ou seja, aos pacientes foi denegada a via impugnatória do mandado de segurança. Não há recurso cabível. Restaria apenas o habeas corpus.
Dessa forma, tenho que o habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza criminal diversas da prisão.
Nestes autos, discute-se justamente o afastamento de cargo público e imposição de outras medidas cautelares, já por considerável período de
tempo e por provimento judicial de duração indeterminada, sem nem sequer acusação recebida.
Feitas essas considerações, rejeito a preliminar de inadequação da via eleita.
Mérito. O paciente ** é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Amapá.
Sofreu prisão cautelar, por ordem do Superior Tribunal de Justiça, nos autos do Inquérito 681, em 10.9.2010.
A prisão foi mantida até 11.3.2011, ocasião em que, por decisão do ministro do Superior Tribunal de Justiça João Otávio de Noronha, relator
da Ação Penal 702 (novo número do procedimento), foi substituída pelo afastamento da função pública pelo prazo de 360 dias.
Esgotado o prazo assinalado para o afastamento, retornou às atividades em 23.3.2012.
Permaneceu em atividade, no entanto, por período curto.
Em 13.4.2012, **, juntamente com outros réus, foi denunciado (eDOC 98, fl. 2951).
Em 20.4.2012, o Ministério Público requereu o afastamento dos denunciados de suas funções públicas por 360 dias (eDOC 99, fl. 3024).
Em 23.4.2012, o pedido foi julgado em mesa pela Corte Especial, tendo sido deferido o afastamento de ** e dos também conselheiros **, ** e
** de suas funções junto ao Tribunal de Contas do Amapá. Foi outrossim deferida medida cautelar para impedir a entrada dos denunciados nas
dependência do Tribunal, bem como “a utilização de veículos, recebimento de vantagens decorrentes do efetivo exercício no cargo, tais como
passagem aérea, diárias, ajuda de custo, telefone e quaisquer outros bens de propriedade” da Corte de Contas.
As medidas cautelares foram deferidas até a análise da denúncia (eDOC 99, fl. 3031).
O procedimento prosseguiu sem a necessária agilidade.
Em 18.5.2012, o relator determinou a notificação dos denunciados para defesa.
No final de agosto de 2012, todos os denunciados já haviam oferecido resposta – com exceção da denunciada Margarete, que faleceu (eDOC
124, fl. 4024).
A partir de então, foram juntados documentos, com intimações das defesas para vista, e resolvidos alguns requerimentos.
Por fim, consultando o andamento processual na página do Superior Tribunal de Justiça na rede mundial de computadores, verifico que a
denúncia restou recentemente aditada, para incluir nova acusada. Em 14.10.2014, o eminente relator determinou a notificação de **, para resposta
preliminar.
Analisando a tramitação do feito, não vislumbro manobra procrastinatória imputável às defesas em geral, ou aos pacientes em particular.
Em suma, o afastamento de ** dura há mais de quatro anos no total – iniciou-se em 10.9.2010 e foi interrompido por apenas 31 (trinta e um)
dias.
A acusação foi formalizada em 13.4.2012 (há dois anos e meio), sem que, até a presente data, sua admissão tenha sido analisada.
É certo que a denúncia imputa crimes graves a onze acusados, sendo quatro conselheiros da ativa e um aposentado do Tribunal de Contas do
Estado (eDOC 98, fl. 2951). O paciente ** sofre as acusações mais graves. Sobre ele recai a imputação da prática de quatro crimes de peculato (art. 312 do
CP), sendo o primeiro de forma continuada, ordenação ilegal de despesa (art. 359-D do CP) e formação de quadrilha (art. 288 do CP).
Muito embora reconheça a complexidade da investigação e posterior acusação que levou ao afastamento, tenho que o afastamento já dura além
do aceitável. No voto que proferi no mencionado HC 90.617, afirmei que o prazo de dois anos, para além do qual este tribunal tem dado por
configurado “excesso de prazo gritante” para prisões, poderia ser transportado para as medidas cautelares de afastamento de cargo ou função pública:
“Ademais, entendo que, em princípio, a excessiva mora processual verificável de plano, nestes autos, configura-se como aquilo que,
em matéria de ilegítima persistência dos efeitos da custódia cautelar, ambas as Turmas deste STF têm denominado como “excesso de prazo
gritante”. Nesse sentido, arrolo alguns processos nos quais foi adotado o parâmetro de moras processuais superiores a 2 (dois) anos para o
deferimento da ordem, a saber: HC n o 87.913/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, unânime, DJ 5.9.2006; HC no 84.095/GO, Rel.
Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, unânime, DJ 2.8.2005; HC n o 83.177/PI, Rel. Min. Nelson Jobim, Segunda Turma, unânime, DJ
19.3.2004; HC no 81.149/RJ, Rel. Min. Ilmar Galvão, Primeira Turma, unânime, DJ 5.4.2002.”
Aqui, mesmo que descontada a fase de investigação, o prazo estaria ultrapassado. Há mais de dois anos foi superada a fase de acusação e
resposta na ação penal, pendendo a análise da admissibilidade da acusação. Nada indica demora imputável às defesas.
Além disso, não há nem sequer sinalização de data para julgamento pelo Superior Tribunal de Justiça. Ou seja, há justo receio de que a medida
tenda à perenização.
Ante o exposto, voto pela concessão da ordem, para desconstituir a decisão proferida pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça nos
autos da Ação Penal 702/AP, na parte em que determinou o afastamento de ** de suas funções de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do
Amapá e impôs outras medidas cautelares até a apreciação da denúncia.
* acórdão pendente de publicação
** nome suprimido pelo Informativo

OUTRAS INFORMAÇÕES
20 de dezembro de 2014 a 31 de janeiro de 2015

Decreto nº 8.380, de 24.12.2014 - Concede indulto natalino e comutação de penas, e dá outras providências.
Publicada no DOU em 24.12.2014, Seção 1, p. 1(edição extra).
Decreto nº 8.381, de 29.12.2014 - Regulamenta a Lei nº 12.382, de 25.2.2011, que dispõe sobre o valor do salário mínimo
e a sua política de valorização de longo prazo. Publicada no DOU em 30.12.2014, Seção 1, p. 1.
Mensagem de veto total nº 4 de 6.1.2015 - Projeto de Lei nº 96, de 2014 (nº 1.872/07 na Câmara dos
Deputados), que “Acrescenta arts. 6º-A e 6º-B à Lei nº 6.530, de 12.5.1978, para dispor sobre a associação entre
corretor de imóveis e imobiliárias e sobre a contribuição sindical dos corretores de imóveis”. Publicada no DOU em
7.1.2015, Seção 1, p. 1.

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 27


Lei nº 13.058, de 22.12.2014 - Altera os arts. 1.583, 1.584, 1.585 e 1.634 da Lei no 10.406, de 10.1. 2002 (Código
Civil), para estabelecer o significado da expressão “guarda compartilhada” e dispor sobre sua aplicação. Publicada no
DOU em 23.12.2014, Seção 1, p. 2.
Lei nº 13.060, de 22.12.2014 - Disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo pelos agentes de
segurança pública, em todo o território nacional. Publicada no DOU em 23.12.2014, Seção 1, p. 3.
Lei nº 13.063, de 30.12.2014 - Altera a Lei no 8.213, de 24.7.1991, para isentar o aposentado por invalidez e o
pensionista inválido beneficiários do Regime Geral da Previdência Social - RGPS de se submeterem a exame médico-
pericial após completarem 60 (sessenta) anos de idade. Publicada no DOU em 31.12.2014, Seção 1, p. 1.
Medida Provisória nº 665, de 30.12.2014 - Altera a Lei no 7.998, de 11.1.1990, que regula o Programa do
Seguro-Desemprego, o Abono Salarial e institui o Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT, altera a Lei no 10.779, de
25.11.2003, que dispõe sobre o seguro desemprego para o pescador artesanal, e dá outras providências. Publicada no
DOU em 30.12.2014, Seção 1, p. 2 (edição extra).
Medida Provisória nº 664, de 30.12.2014 - Altera as Leis no 8.213, de 24.7.1991, no 10.876, de 2.6.2004, nº
8.112, de 11.12.1990, e a Lei nº 10.666, de 8.5.2003. Publicada no DOU em 30.12.2014, Seção 1, p. 1 (edição extra).
Lei nº 13.080, de 2.1.2015 - Dispõe sobre as diretrizes para a elaboração e execução da Lei Orçamentária de 2015 e dá
outras providências. Publicada no DOU em 2.1.2015, Seção 1, p. 1 (edição extra).
TERRITÓRIO NACIONAL - Forças Armadas - Permanência - Alteração
Lei Complementar nº 149, de 12.1.2015 – Altera a Lei Complementar nº 90, de 1º.10.1997, que determina os
casos em que forças estrangeiras possam transitar pelo território nacional ou nele permanecer temporariamente.
Publicada no DOU, n. 8, Seção 1, p. 1, em 13.1.2015.
PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA - Subsídio - Reajuste
Lei nº 13.092, de 12.1.2015 – Dispõe sobre o subsídio do Procurador-Geral da República, referido no inciso XI do
art. 37 e no § 4º do art. 39, combinados com o § 2º do art. 127 e a alínea c do inciso I do § 5º do art. 128, todos da
Constituição Federal; revoga dispositivo da Lei nº 12.770, de 28.12.2012; e dá outras providências. Publicada no DOU,
n. 8, Seção 1, p. 5, em 13.1.2015.
Medida Provisória nº 668, de 30.1.2015 - Altera a Lei nº 10.865, de 30.4.2004, para elevar alíquotas da
Contribuição para o PIS/PASEP-Importação e da COFINS-Importação, e dá outras providências. Publicada no DOU em
30.1.2015, Seção 1, p. 2 (edição extra).
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)
Ministro - Subsídio - Reajuste
Lei nº 13.091, de 12.1.2015 – Dispõe sobre o subsídio de Ministro do Supremo Tribunal Federal, referido no
inciso XV do art. 48 da Constituição Federal; revoga dispositivo da Lei nº 12.771, de 28.12.2012; e dá outras
providências. Publicada no DOU, n. 8, Seção 1, p. 1, em 13.1.2015.
Subsídio - Magistratura - União
Resolução nº 544/STF, de 13.1.2015 – Torna público o subsídio mensal da Magistratura da União. Publicada no
DJE/STF, n. 10, p. 3, em 16.1.2015.
Tabela de custas - Tabela - Porte de remessa e retorno dos autos - Valor - Atualização
Resolução nº 543/STF, de 13.1.2015 – Dispõe sobre as Tabelas de Custas e a Tabela de Porte de Remessa e
Retorno dos Autos e dá outras providências. Publicada no DJE/STF, n. 11, p. 1, em 19.1.2015.
Expediente Forense - Atendimento ao público - Secretaria - Prazo processual - Prorrogação
Portaria nº 24/STF, de 26.1.2015 – Comunica que não haverá expediente na Secretaria do Tribunal nos dias 16 e
17.2.2015, em virtude do disposto no inciso III do artigo 62 da Lei nº 5.010, de 30.5.1966, e, também, que os prazos que
porventura devam iniciar-se ou completar-se nesses dias ficam automaticamente prorrogados para o dia 18 subsequente
(quarta-feira), em que o expediente será das 14 às 19 horas. Publicada no DJE/STF, n. 19, p. 12, em 29.1.2015.
Secretaria de Documentação – SDO
Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD

Informativo 772-STF(03/02/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 28

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