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VERÔNICA, mesmo que seja a primeira versão, eu gostei do seu texto. Acho que estamos no
caminho. Não li tudo detalhadamente porque me desestimulei quando vi que você depois de ter
trabalhado tão bem, começa a apresentar um projeto de pesquisa. Nesse momento eu parei porque
a hora do projeto já passou. Quero um TEXTO com PESQUISA.
Vi que você fez uma pesquisa, mas por enquanto vamos por partes. Preciso conversar com você
para vermos a parte inicial do seu texto e melhorar.
PALAVRAS-CHAVE
O discurso neoliberal passa, mais uma vez, a ser reafirmado por meio das empresas que
vendem seus cursos partindo das seguintes ideologias: “Conquiste seu lugar no mercado de
trabalho”; “Tenha a oportunidade de se qualificar”; “Aproveite nossos descontos”; “Aqui seu
futuro é garantido” ou “O mercado quer técnicos, você está preparado?”. Estas frases de efeito,
da mesma forma que agem no marketing do mercado em vários segmentos, atuam no
inconsciente das pessoas levando-as a internalizar que realmente precisam adquirir determinado
produto, porém, disfarçadamente, induzem os indivíduos a atender os interesses do mercado de
trabalho.
Logo, os futuros alunos, ou seja, clientes, passam literalmente a comprar os cursos, entre
outros, na obsessão de vencer na vida, a qual se consolida como uma das principais “doenças
da sociedade moderna” (RIBEIRO, ANO ANTES DA PÁGINAp.20, 2000). Commented [FDCSS3]: Algumas referências se dão de
forma muito curta, duas ou três palavras. Bom rever isso.
Portanto, fica evidente o caráter excludente que a educação privada proporciona, pois o
acesso aos cursos se dá apenas pelo ato da compra por pessoas que possuem condições
financeiras acessíveis à aquisição dos serviços educacionais prestados pela instituição, sendo
estas representadas pela figura do homem neoliberal. Commented [FDCSS4]: Termo estranho.
Por outro lado, é importante destacar que quando os neoliberais enfatizam que
a educação deve estar subordinada às necessidades do mercado de trabalho,
estão se referindo a uma questão muito específica: a urgência de que o sistema
educacional se ajuste às demandas do mundo dos empregos. Isto não significa
que a função social da educação seja garantir empregos e, menos ainda, criar
fontes de trabalho. Pelo contrário, o sistema educacional deve promover o que
os neoliberais chamam de empregabilidade. Isto é, a capacidade flexível de
adaptação individual às demandas do mercado de trabalho. A função “social”
da educação esgota-se neste ponto. Ela encontra o seu preciso limite no exato
momento que o indivíduo se lança ao mercado de trabalho para lutar por um
emprego (GENTILI, 1996, p. 25).
competitividade, o capitalista se beneficia empregando profissionais por menores salários e Commented [FDCSS5]: Cuidado com as repetições de
palavras muito próximas.
benefícios, mesmo que estes sejam os mais qualificados.
qualificação para o mercado de trabalho impede o exercício de uma prática a qual colabore para
a formação de um sujeito crítico que seja capaz de transformar a realidade que está inserido
sendo pleno, social e político. Commented [FDCSS8]: Bom fazer aqui uma relação com
P. Freire, com Marx, com autores que discutam a práxis, as
possibilidades de a escola transformar a realidade.
Isto se contrapõe ao que a LDB em seu artigo 39 defende “a educação profissional deve
conduzir o cidadão ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva,
intimamente integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia”
(BRASIL, 1996), demandando discussões voltadas para o entendimento da construção do novo
perfil do trabalhador exigido pela sociedade do capital que vem se delineando com o passar do
tempo, haja vista que se a sociedade muda, os interesses capitalistas também mudam, Commented [FDCSS9]: Será que os interesses
capitalistas mudam? Esses interesses são um só: obter
influenciando também nos paradigmas educacionais. lucro, então acho que você devia cortar isso.
educação profissional, aprende a ensinar a partir da sua própria ação, uma vez que ainda não há Commented [FDCSS16]: Ver o meu texto no livro de
Educação Profissional. Um texto meu e de Viviane.
escola de formação inicial no país para estes profissionais. Embasados também nas próprias
experiências enquanto pertencentes às classes trabalhadoras, acreditamos que estes sejam Commented [FDCSS17]: Sei não. Acho melhor refazer.
subsídios para fundamentar as suas práticas de ensino, as quais vale salientar que estas
provocam fortes influências diante do educando, podendo mediar as informações necessárias à
sua formação profissional.
orientam e as estruturam através da observação dos saberes pedagógicos identificados pelos Commented [FDCSS19]: Como isso? Observação?
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Para tanto, o que nos conduziu a investigação de tal problemática, foi a experiência
advinda da Educação Profissional enquanto pedagoga do ITEC-Instituto Técnico do Brasil,
tendo em vista que começamos a problematizar certos questionamentos acerca dos saberes
próprios dos profissionais que atuam como professores, na finalidade de compreendermos quais
são as bases que sustentam as suas práticas de ensino, uma vez que estes não possuem uma
formação condizente com a área da docência para subsidiá-los.
Desta forma, o ensino de uma determinada profissão requer mais além do que a mera
transferência de conhecimentos, pois aprendemos e ensinamos à medida que nos relacionamos
uns com os outros. “O professor quando ensina, aprende ao ensinar, devido não existir ensino
sem aprendizagem” (FREIRE, 1996, p. 32).
Este tipo de pesquisa tem como pressuposto básico a concepção de que é por meio de
nossas próprias narrativas que construímos principalmente uma versão de nós
mesmos no mundo, e é através de sua narrativa que uma cultura fornece modelos de
identidade e agencia a seus membros. Deste modo, através do conflito sociocognitivo,
provocamos o outro a tomar a consciência das respostas alternativas. Com esta
situação, ele vai recriando seu próprio perfil, refletindo acerca das suas representações
anteriores (PASSEGGI, 2003, p. 14).
Para o pesquisador, exige-se um olhar que o possibilite enxergar além das aparências e
das formas mais visíveis, palpáveis e quantificáveis. É preciso trabalhar com a subjetividade, a
sutileza, a singularidade, a perspectiva do sujeito, os modos particulares com que cada indivíduo
se posiciona mediante o seu processo de formação pessoal e profissional.
Já no turno noturno, o perfil dos alunos que chegam até a escola são alunos que
trabalham durante o dia e à noite buscam novas oportunidades por meio dos cursos técnicos
para se aperfeiçoar nas suas áreas ou ampliar os espaços de atuação no mercado de trabalho.
Estrutura administrativa
Demanda atendida
Os sujeitos ora investigados a partir desta pesquisa são três professores e uma professora
atuantes no curso técnico em Edificações do ITEC, todos graduados em Engenharia Civil.
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Com relação à pós graduação dos engenheiros, uma professora cursa mestrado, um
professor é graduado, um professor é especialista e um professor cursa especialização.
Com a permissão dos professores, os registros dos encontros se darão pelas gravações
de áudio dos posicionamentos e relatos apresentados pelos docentes com base na leitura
realizada previamente por estes de três questões abertas, e da escrita das anotações pertinentes
a cada círculo reflexivo.
Partindo dos autores que dialogam sobre o saber fazer docente e que embasam esta
pesquisa, traremos as suas concepções como fundamentação teórica para nos proporcionar
subsídio às análises durante e após a coleta dos dados, permitindo a análise minuciosa das
informações e assim, auxiliando na obtenção dos resultados e discussões finais, no intuito de
que, na conclusão deste trabalho, as nossas indagações possam ser respondidas ao mesmo
tempo em que correspondam à realidade observada.
gratuitamente na escola pelo PRONATEC no ano de 2014, quando a instituição foi aprovada
pelo programa.
O curso ocorre na modalidade semi presencial, com encontros presenciais três vezes na
semana e tem a duração de um ano e meio, estando dividido em três semestres.
De acordo com Cunha (1997), a narrativa provoca mudanças na forma como as pessoas
compreendem a si próprias e os outros. Partindo do distanciamento da sua produção, é possível
ouvir a si mesmo ao ler seu escrito, sendo capaz de interiorizar a sua experiência, consolidando-
se em um processo de formação e de autoformação.
Nesta perspectiva, “a produção das pesquisas que viabilizem a escuta da voz dos
professores auxilia a compreendê-los além de profissionais, mas como pessoas, pois é
impossível separar o eu profissional do eu pessoal” (NÓVOA, 2007, p. 17). Tais pesquisas,
reconhecem a valorização da subjetividade docente compreendendo-a em toda a sua totalidade
e peculiaridade, dando o direito dos docentes de falarem por si mesmos.
No que se refere à construção da pesquisa, desde o início da Especialização em
Educação e Contemporaneidade que a direção do ITEC tomou conhecimento da nossa proposta,
sendo favorável à sua aceitação. Em seguida, entramos em contato com os professores
deixando-os cientes da possível colaboração quando assim fossem solicitados. Após as reuniões
de orientação, dentro do período de duas semanas, iniciamos os círculos reflexivos com os
professores de acordo com a disponibilidade dos mesmos ocorrendo em horários e dias
distintos, pois estes possuem outros vínculos além da instituição que lecionam.
Assim sendo, neste capítulo dialogaremos com os sujeitos colaboradores da pesquisa,
abordando os seus relatos voltados para a escolha da profissão, da docência em si e do seu
início, utilizando nomes fictícios para atribuir aos mesmos.
Verificamos que no tocante à escolha pela graduação em engenharia civil, os professores
argumentaram das seguintes maneiras:
Sara:
Basicamente porque era uma profissão que eu admirava, e tive também a
oportunidade de cursar com a expansão da UFERSA pelos campi no interior
do Estado, já que na época eu não poderia me deslocar até a capital para cursar
uma graduação. Então, digamos, que uniu o útil ao agradável. Era um curso
que eu admirava e tive a oportunidade de fazer com a expansão da UFERSA,
e então cursei a graduação e assim me tornei engenheira (Sara, engenheira
civil).
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Samuel:
Eu escolhi ser engenheiro desde os meus 10 anos. Na verdade eu me sinto uma
pessoa realizada, pois desde criança tive esse desejo, mas acho que ficou por
conta dessa enorme onda que existiu na nossa economia, com esse enorme
crescimento da construção civil e muitos pegaram esse embalo. Eu não, desde
criança que eu sempre tive dentro de mim esse desejo (Samuel, engenheiro
civil). Commented [FDCSS20]: uma criança de 10 anos não
escolhe uma profissão. Houve uma influência isso. Você
Heitor: devia ter explorado isso.
Pedro:
Eu nunca tive um sonho em ser um determinado profissional. Mas, eu fiz o
ensino médio integrado com o técnico, eu fiz edificações. E foi no curso de
Edificações lá no IFRN que eu comecei a achar interessante as disciplinas da
área de construção civil e foi me interessando pela área, na verdade antes de
entrar no curso eu já achava interessante a área da construção civil. Quando o
meu pai começou a construir a casa da gente eu achava bem interessante. E ai
quando eu entrei no curso realmente foi um dos principais motivos do meu
interesse pela área da engenharia civil. Inclusiva ainda no IF eu tinha
professores engenheiros civis que eram muito bons. Na verdade eu passei a
gostar muito mais das disciplinas de construção civil do que das disciplinas
do ensino médio (Pedro, engenheiro civil).
Em todas as reflexões, a escolha pelo curso de Engenharia Civil é feita, antes de tudo,
pelo fato da admiração à profissão, como também em alguns casos, o contato indireto com esta
e a observação do cotidiano da profissão e do profissional já graduado e em exercício, embasou
a opção pela graduação. Nesse sentido, Fernandes (2004) destaca que a escolha profissional
não é uma decisão exclusivamente individual, mas vinculada a diversos fatores.
Evidencia-se que a dimensão acadêmica está situada juntamente com outras dimensões
que a constituiu professora, visto que é impossível dissociar a trajetória da construção enquanto
docente da trajetória pessoal. A facilidade em lidar com as pessoas em público, de expor e o
grau de compreensão das demais pessoas que a ouviam incidiu forte influência na opção pela
docência, além dos incentivos dos professores da graduação em engenharia civil e colegas de
sala. Consideramos a contribuição destes últimos, um dos fatores mais relevantes para a
professora desenvolver o projeto de seguir a profissão docente, uma vez que os professores,
motivados com a profissão, transmitiram o incentivo necessário para a engenheira exercer a
docência de forma empenhada e com entusiasmo.
Todavia, Gonçalves (2000) explica que esta se deve uma certa tradição sociocultural e
a um senso comum que se traduzem na expressão popular do “ter nascido para”, a que se junta,
no caso da profissão docente, a ideia de prestação de um serviço ‘pessoal’ e‘humanitário’, que
pressupõe entrega e sacrifício, haja vista que a engenheira se posiciona dizendo que “até mesmo
antes da graduação, eu já me via como professora”.
A aceitação por parte dos alunos após iniciar como professora, a fez acreditar que seria
possível a docência, servindo também como estímulo para a engenheira prosseguir com este
pensamento.
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Nesse caso, o professor por opção escolheu a profissão docente ao término da sua
graduação, bem como fora por intermédio da docência, que o mesmo conseguiu a inserção no
mundo do trabalho.
No entanto, Pedro deixa transparecer nas entrelinhas que a questão dos seus professores
ser “muito bons”, explícita em sua fala, evidencia que a escolha docente é marcada também
pelas representações típicas do grupo o qual este esteve inserido, representações estas
observadas nos professores do seu ensino médio concomitante em Edificações, que deixaram
marcas no engenheiro, atuando fortemente na decisão pela docência.
Sara:
Samuel:
Foi complicado o início, e ainda é complicado. Não tenho conhecimento
teórico, não fiz licenciatura, então tem que se virar. Eu realmente... a gente
que não tem esse conhecimento a mais, tem que buscar algo inovador para os
alunos no dia a dia das aulas (Samuel, engenheiro civil).
Heitor:
Pedro:
O início sempre é complicado, pois qualquer profissão que você nunca atuou,
você sempre sente dificuldades no início, pois muitas coisas a gente aprende
na prática, eu não me considerava uma pessoa muito boa na oratória, mas o
que me deixou mais seguro no início foi a questão de eu me esforçar pra saber
o que eu ia falar, embora não tivesse tanto tempo para me preparar e por ser
uma novidade, também entrava a questão do nervosismo (Pedro, engenheiro
civil).
Logo, o saber fazer tem o papel formativo de relacionar os saberes técnicos, os saberes
didáticos e os saberes próprios ao professor, que “envolve o movimento dinâmico, dialético
entre o fazer e o pensar sobre o fazer, pois é pensando na prática que se pode melhorar a próxima
prática” (FREIRE, 1996, p. 17), suprindo assim as lacunas deixadas pela ausência de políticas
que assegurem uma formação inicial e continuada para os bacharéis docentes da Educação
Profissional.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
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Educação, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Universidade de Lisboa.
Lisboa, 2000.
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