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DIÁLOGOS CONSTITUCIONAIS E

AS RELAÇÕES ENTRE OS
PODERES
VI FÓRUM DE GRUPOS DE
PESQUISA EM DIREITO
CONSTITUCIONAL E TEORIA DO
DIREITO

ORGANIZADORES
José Ribas Vieira
Margarida Maria Lacombe Camargo
Vanice Regina Lírio do Valle
Carina Barbosa Gouvêa
Fabiana de Almeida Maia Santos
Siddharta Legale

2016
Conselho Editorial Conselho Científico
Antonio Celso Alves Pereira Adriano Moura da Fonseca Pinto
Antônio Pereira Gaio Júnior Alexandre de Castro Catharina
Cleyson de Moraes Mello Bruno Amaro Lacerda
Germana Parente Neiva Belchior (FA7) – Ceará Carlos Eduardo Japiassú
Guilherme Sandoval Góes Claudia Ribeiro Pereira Nunes
Gustavo Silveira Siqueira Célia Barbosa Abreu
João Eduardo de Alves Pereira Daniel Nunes Pereira
José Maria Pinheiro Madeira Elena de Carvalho Gomes
Martha Asunción Enriquez Prado (UEL) – Paraná Jorge Bercholc
Maurício Jorge Pereira da Mota Leonardo Rabelo
Nuria Belloso Martín Marcelo Pereira Almeida
Rafael Mário Iorio Filho Nuno Manuel Morgadinho dos Santos Coelho
Ricardo Lodi Ribeiro Sebastião Trogo
Sidney Guerra Theresa Calvet de Magalhães
Valfredo de Andrade Aguiar Filho (UFPB) – Paraíba Thiago Jordace
Vanderlei Martins
Vânia Siciliano Aieta
ORGANIZAÇÃO
ATENÇÃO
Todos os direitos desta edição estão reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por
qualquer processo eletrônico ou mecânico, fotocopiada ou gravada sem autorização expressos do autor.
Edição: Freitas Bastos Editora
Capa e produção do ebook: Jair Domingos de Sousa

Fórum de Grupos de Pesquisa em Direito Constitucional e Teoria do Direito (6:2015, Rio de Janeiro, RJ)
Diálogos Constitucionais e as Relações entre os Poderes/ José Ribas Vieira, Margarida Maria Lacombe
Camargo, Vanice Regina Lírio do Valle, Carina Barbosa Gouvêa, Fabiana de Almeida Maia Santos e
Siddharta Legale. (organizadores). – Rio de Janeiro (RJ): Freitas Bastos Editora, 2016.
Xp.
ISBN 978-85-7987-269-3
1. Direito Constitucional. I. Vieira, José Ribas. II. Camargo, Margarida Maria Lacombe. III. Valle,
Vanice Regina Lírio do. IV. Gouvêa, Carina Barbosa. V. Santos, Fabiana de Almeida Maia.VI. Legale,
Siddharta. VII. Título.
CDU X

CIP – BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


VANESSA I. SOUZA CRB – 10/1468
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Reitor: Carlos Antônio Levi da Conceição
Vice-reitor: Antônio José Ledo Alves da Cunha
Pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa: Débora Foguel
Decania do Centro de Ciência Jurídicas e Econômicas
Decano: Vitor Mario Iório
Faculdade de Direito
Diretor: Flávio Alves Martins
Vice-diretor: Carlos Bolonha
Programa de Pós-graduação em Direito – PPGD
Coordenador: José Ribas Vieira
Coordenador Adjunto: Cecília Caballero Lois
Coordenação do Fórum
José Ribas Vieira
Comissão Científica
José Ribas Vieira
Vanice Regina Lírio do Valle
Margarida Lacombe Camargo
Cecília Caballero Lois
Carlos Bolonha
Comissão Executiva
Carina Barbosa Gouvêa
Fabiana de Almeida Maia Santos
Comissão Organizadora
Alfredo Canellas Guilherme da Silva
Allan Carlos da Silva Marques
Bianca Garcia Neri
Clara Duarte Silvestre Cavalcanti Lima
Daniele Ferreira Alvarenga
Eugeniusz Costa Lopes da Cruz
Francisco Arlindo Lima Moura
Igor Ajouz
Júlia Massadas Romeiro Fraga
Juliana de Souza Rodrigues
Lucas do Vale Pattitucci
Luciana Benevides Schueler
Maria Clara Borges Grippa de Souza
Mariana Almeida Picanço de Miranda
Osmar Schineidr Soares de Oliveira
Pietro do Valle Malamace Rezende
Raisa Duarte da Silva Ribeiro
Renata de Marins Jaber Maneiro
Tayssa Botelho dos Santos
Wanny Cristina Ferreira Fernandes
Grupos de Pesquisa Participantes
Direito Constitucional: Sociedade, Política e Economia – Universidade de
Tiradentes - UNIT
Direito, Democracia e Desenvolvimento - Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro – UNIRIO
Grupo de Pesquisa sobre Epistemologia Aplicada aos Tribunais -
GREAT/UFRJ
Laboratório de Estudos Teóricos e Analíticos sobre Comportamento das
Instituições - LETACI/UFRJ
Laboratório de Estudos Interdisciplinares em Direito Constitucional Latino
Americano - LEICLA/UFF
Novas Perspectivas em Jurisdição Constitucional - NP JURIS/UNESA
Núcleo de Estudos Urbanos e socioambientais NEUS/UVV/ES)
Núcleo de Pesquisas sobre Práticas e Instituições Jurídicas - NUPIJ/UFF
Observatório da Justiça Brasileira OJB - UFRJ/RJ
Transformações estruturais no Direito Urbanístico Brasileiro
contemporâneo – IPPUR/UFRJ
Grupo de Estudos de Direito Constitucional Internacional e Comparado -
GEDCIC
Produção Editorial
Organização: Margarida Maria Lacombe Camargo, José Ribas Vieira,
Vanice Regina Lírio do Valle, Carina Barbosa Gouvêa, Fabiana de
Almeida Maia Santos e Siddharta Legale.
Agradecimentos: Programa de Pós-graduação em Direito da Faculdade
Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(PPGD/FND/UFRJ), Universidade Estácio de Sá (UNESA), Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (PUC Rio).
Nota Prévia: Os texto reproduzidos aqui foram mantidos como foram
enviados para VI Fórum de Grupos de Pesquisa em Direito Constitucional
e Teoria do Direito, realizado na Pontifícia Universidade Católica no dia
1º de novembro de 2014.
APRESENTAÇÃO
Apresenta-se à comunidade acadêmica, por intermédio da presente obra,
parte dos trabalhos apresentados no VI Fórum de Grupos de Pesquisa em
Direito Constitucional e Teoria do Direito, reunido na Pontifícia Universidade
Católica no dia 1º de novembro de 2014. A iniciativa consolida essa arena de
debates posta em favor não do pesquisador individual – mas da investigação
que se desenvolve coletivamente. Mais do que isso, o acompanhamento ao
longo desses já 6 anos das pesquisas apresentadas no Fórum permite a
identificação de tendências no campo da pesquisa em Direito – observação
que é mais do que relevante para aqueles que se dedicam a esse mesmo
processo de investigação não só no mundo jurídico, mas em todo o vasto
campo das ciências sociais aplicadas.
Desponta no conjunto de trabalhos que integram esta obra, a compreensão
de que o Direito não pode ser entendido a partir de uma perspectiva
isolacionista, que o desconecte da realidade sobre a qual incide, e das suas
relações com outros vetores que integram a dinâmica do convívio social.
Rompe-se assim um certo isolamento cognitivo, para enfrentar a necessidade
de se compreender melhor o Direito como parte integrante de um todo – sem
que nisso se vislumbre qualquer risco para a pureza científica do primeiro. Em
alguma medida, tem-se uma desconstrução de velhos paradigmas de
segregação científica, expressando um direito que investe no seu compromisso
de eficácia – e por isso, se reexamina, relocaliza e reinventa. Nesse mesmo
esforço, pode-se apontar os textos que refletindo sobre o constitucionalismo,
meditam sobre esse leito de produção da law; não mais a partir dos velhos
dogmas da imutabilidade ou do governo dos mortos, mas apostando nas
experiências mais recentes do constitucionalismo latino-americano e daquele
democrático. Entender o constitucionalismo como estratégia necessariamente
dinâmica, que guarde estreita relação com a realidade sobre a qual incide,
refletindo especialmente sua diversidade é também contribuir para a
construção de um sistema jurídico responsivo, que não encontre fundamento
numa legalidade reducionista, mas no seu condão de gerar adesão a um projeto
de vida comum.
Tem-se aqui a primeira parte da presente obra: “Constitucionalismo e
fatos como matrizes de construção do Direito”. Nesta parte inicial,
oferecem os Grupos de Pesquisa participantes do VI Fórum, ferramental
básico para a edificação de um sistema jurídico eficaz como padrão de
conduta na coletividade sobre a qual incide.
Dessa nova abertura no espectro de investigação decorrem as duas partes
subsequentes da obra: “Diálogos constitucionais com o Legislativo” e
“Executivo e Diálogos constitucionais com o Judiciário”. A expressão
“diálogos constitucionais” aqui se usa num sentido figurado, propondo
entender como cada qual destes braços de poder especializado veem a si
mesmo e ao Direito Constitucional a partir da matriz institucional que o
próprio Texto de Base lhes traça. Importante expandir a reflexão sobre o papel
de cada qual das funções do poder, não só a partir do que diga o Judiciário –
mas também tendo em conta o lugar que elas veem para si mesmas na
engenharia constitucional.
Identificou-se igualmente no VI Fórum de Grupos de Pesquisa, a ampliação
da agenda de investigação no tema dos arranjos institucionais do poder –
preocupação primária especialmente do Direito Constitucional. Assim, a par
dos trabalhos expressando análise do delicado equilíbrio provocado pelo
exercício de jurisdição constitucional; verificou-se um crescimento expressivo
das pesquisas direcionadas à compreensão da dinâmica dos demais poderes,
no exercício de sua atividade de criação de Direito lato sensu, e de sua
aplicação. Parece superada uma visão anterior de que se pudesse apartar o
Direito, especialmente o Direito Constitucional, das estruturas de poder
classicamente vocacionadas à sua criação e aplicação. Entender a dinâmica da
atuação dos braços especializados de poder no domínio do Direito, e mais
ainda, a maneira segundo a qual se estabelecem as relações entre eles por
intermédio do Direito é condição sine qua non para um sistema jurídico apto
efetivamente operar na realidade.
Seis anos de Fórum de Grupos de Pesquisa evidenciam, sem sombra de
dúvida, o crescimento da pesquisa em Direito, que não mais se satisfaz em
compilar decisões como se conhecer a ciência se resumisse a isso. O Direito
cada vez mais se apresenta como uma ciência cujo ponto de partida seja
identificar seus próprios propósitos na concretização da justiça e da
democracia. Por isso, a presença cada vez maior de trabalhos onde o que se
discute não é o “como” - mas o porquê das decisões, especialmente no
domínio do Direito Constitucional, onde Direito e Política se encontram. O
que importa, todavia, registrar, é que essa “virada” reflexiva traduz acima de
tudo, maior maturidade democrática, e um ambiente onde esse tipo de
investigação é possível.
A isso se propõe o Fórum de Grupos de Pesquisa em Direito
Constitucional e Teoria do Direito – favorecer o debate acadêmico instigante,
propositivo e crítico. A resposta a esse convite, prontamente aceito pela
comunidade acadêmica, se tem o prazer de passar agora às mãos do leitor.
Rio de Janeiro, Janeiro de 2015.

Vanice Regina Lírio do Valle


SUMÁRIO
Capa
Página de Rosto
Conselhos
Organização
Créditos
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Apresentação
Vanice Regina Lírio do Valle
Sumário

PESQUISA EMPÍRICA NO DIREITO


Marcelo Tadeu Baumann Burgos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PARTE 1 – CONSTITUCIONALISMO E FATOS COMO MATRIZES


DE CONSTRUÇÃO DO DIREITO
TEORIAS SISTÊMICAS, COMPLEXIDADE E O SISTEMA
CONSTITUCIONAL DE ADRIAN VERMEULE
Carlos Bolonha
Henrique Rangel
Igor de Lazari
Wanny Fernandes
Gustavo Costa
SYSTEMIC THEORIES, COMPLEXITY, AND THE ADRIAN
VERMEULE’S CONSTITUTIONAL SYSTEM
INTRODUÇÃO
1 CIÊNCIAS SISTÊMICAS
1.1 Reducionismo
1.2 Holismo
1.3 A Teoria dos Sistemas Complexos
1.4 A Escolha de um Paradigma Sistêmico
2 A PROPOSTA CIENTÍFICA DE ADRIAN VERMEULE
2.1 A Ontologia do Sistema Constitucional
2.2 A Epistemologia do Sistema Constitucional
2.3 A Metodologia do Sistema Constitucional
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONSTITUCIONALISMO DEMOCRÁTICO: SOBRE COMO RESIDE


NO PODER A APTIDÃO PARA LIMITAR A SI MESMO
DEMOCRATIC CONSTITUCIONALISM: ABOUT POWER AND ITS
ABILITY TO LIMIT ITSELF
Vanice Regina Lírio do Valle
1 MATURIDADE CONSTITUCIONAL E A ABERTURA PARA
OUTROS MODELOS DE CONSTITUCIONALISMO
2 CONSTITUIÇÃO E CONSTITUCIONALISMO: UMA DISTINÇÃO
AINDA ÁRDUA
2.1 Constituição e Constitucionalismo: um necessário acordo semântico
2.2 Constitucionalismo, Constituição e a sua Suposta Relação de
Precedência
3 CONSTITUCIONALISMO DEMOCRÁTICO COMO ESPÉCIE DO
GÊNERO CONSTITUCIONALISMO DIALÓGICO
4 ELEMENTOS CONCEITUAIS DO CONSTITUCIONALISMO
DEMOCRÁTICO
4.1 Autoridade Constitucional e Reconhecimento: o problema da
identidade constitucional
4.2 Visão Constitucional”, Contestação, Persuasão e Consenso:
ferramentas para a responsividade
5 CONSTITUCIONALISMO DEMOCRÁTICO PARA O CENÁRIO
BRASILEIRO: PORQUE COGITAR DISSO?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AS CATEGORIAS JURÍDICAS E A REALIDADE EXTERNA


LEGAL CATEGORIES AND THE EXTERNAL WORLD
Andre Wendriner
Pedro Aurélio de Pessôa Filho
Rachel Herdy
Janaina Matida
Alexandre De Luca
INTRODUÇÃO
1 REGRAS
2 ANALOGIA
3 PRECEDENTES
4 DETERMINAÇÃO DOS FATOS
CONCLUSÃO E PRÓXIMOS PASSOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A BUSCA PELOS FATOS NO DIREITO: A COERÊNCIA É UMA BOA


DETETIVE?
FACT FINDING AT LAW: IS COHERENCE A GOOD DETECTIVE?
Juliana Melo Dias
Rachel Herdy
INTRODUÇÃO
PRIMEIRA PARTE
1 TRIAL BY MATHEMATICS
2 O TEOREMA DE BAYES
3 A PROPOSTA DE SHAFER
SEGUNDA PARTE:
4 TEORIAS DA VERDADE E TEORIAS DA JUSTIFICAÇÃO
EPISTÊMICA
5 A COERÊNCIA DE AMAYA
a) Inferência à melhor explicação
b) Coerência como satisfação de constrangimentos
c) Responsabilidade epistêmica
VI – O fundacoerentismo de Haack
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PARTE 2 – DIÁLOGOS CONSTITUCIONAIS COM O


LEGISLATIVO E O EXECUTIVO
TENSÕES NO FEDERALISMO BRASILEIRO: ANALISANDO A
GUERRA FISCAL E A NOVA DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES DO
PETRÓLEO
TENSIONS IN THE BRAZILIAN FEDERALISM: ANALYSING THE
FISCAL WAR AND THE OIL ROYALTIES’ NEW DISTRIBUTION
Camilla Gutierrez
Carlos Bolonha
Leonardo Gaspar
Luiz Felipe Lima
Natan Lima
Telmo Olímpio
Wanny Cristina Fernandes
INTRODUÇÃO
1 DESENVOLVIMENTO
1.1 Noções Introdutórias da Guerra Fiscal
1.2 Histórico da Guerra Fiscal no Brasil
1.3 Como Funciona a Guerra Fiscal
1.4 Noções Introdutórias da Partilha dos Royalties do Petróleo
1.5 O Petróleo no Pré-sal e a Mudança na Partilha dos Royalties
2 ANÁLISE DAS TENSÕES FEDERATIVAS
2.1 A Tensão Causada pela Guerra Fiscal
2.2 A Tensão Causada pela Partilha dos Royalties
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MEDIDAS PROVISÓRIAS PÓS EMENDA CONSITUCIONAL Nº


32/2001: UMA ANÁLISE DO DIÁLOGO INSTITUCIONAL ENTRE
EXECUTIVO E LEGISLATIVO
GOVERNMENT PROVISIONAL ACTS POST CONSITUCIONAL
AMENDMENT No. 32/2001: AN ANALYSIS OF THE
INSTITUTIONAL DIALOGUE BETWEEN EXECUTIVE AND
LEGISLATIVE
Breno Barros
Bruna Veríssimo
Lorena Senra
Stella de Souza Ribeiro de Araújo
INTRODUÇÃO
1 HISTÓRICO DAS MEDIDAS PROVISÓRIAS
2 PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO
3 ANÁLISE EMPÍRICA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIAS REGULADORAS: A LEGITIMIDADE DO PARECER


TÉCNICO
REGULATORY AGENCIES: THE LEGITIMACY OF TECHNICAL
REPORT
Ana Navarro
André Wendriner
Arnaldo Ferradosa
Carlos Bolonha
Gabriel Guia
Telmo Olímpio
INTRODUÇÃO
1 CAPACIDADE INSTITUCIONAL: PARECER TÉCNICO
2 BREVE HISTÓRICO DAS AGÊNCIAS REGULADORAS
3 O CONFLITO ENTRE O PARECER TÉCNICO E O POLÍTICO
4 RESOLUÇÃO ANVISA (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA): SOBREPOSIÇÃO DO LEGISLATIVO AO PARECER DA
AGÊNCIA REGULADORA
5 PODER NORMATIVO DO ESTADO: DELEGAÇÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A SEGURANÇA PÚBLICA NO ÂMBITO DO PODER EXECUTIVO


FEDERAL: OS PLANOS DE GOVERNO E A SUPREMACIA
EXECUTIVA
THE PUBLIC SAFETY UNDER THE FEDERAL EXECUTIVE POWER:
THE GOVERNMENT PLANS AND EXECUTIVE SUPREMACY
Carlos Bolonha
Dominique Oliveira
Gabriel Castro
Gabriel Dolabella
Gabriel Mendonça
Juliana Sales
Leonardo Gaspar
Luiz Lima
Stefanie Araujo
Telmo Olímpio
Victor Costa
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1 A CRISE DE SEGURANÇA PÚBLICA: CONTEXTO E
DESDOBRAMENTOS
1.1 Projetos Políticos
1.1.1 Aécio Neves
1.1.2 Dilma Rousseff
1.2 Impactos das Propostas no Âmbito Federativo-Institucional: Breve
Análise
2 SUPREMACIA EXECUTIVA E TIRANOFOBIA
2.1 A Supremacia Executiva: Falência do Legalismo Liberal
2.2 Tiranofobia: A Experiência Norte-Americana
2.3 Supremacia Executiva e Desafios Brasileiros
2.4 Tiranofobia: Conclusões Parciais
3 DESDOBRAMENTOS INSTITUCIONAIS
4 REFLEXOS NA REALIDADE FEDERATIVA BRASILEIRA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OS DESAFIOS PARA EFETIVAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL


FRENTE O DECRETO N° 8.243/14
CHALLENGES FOR AN EFFECTIVE SOCIAL PARTICIPATION IN
THE DECREE N° 8.243/14
Sonia Nogueira Leitão
Maíra Neurauter
Marcus Vinicius Bacellar Romano
Jovelino Muniz de Andrade Filho
INTRODUÇÃO
1 A CONSTRUÇÃO DO CONTROLE SOCIAL NA SAÚDE: UM
BREVE HISTÓRICO
2 O DECRETO Nº 8243/14 E SUA POLÍTICA NÃO DELIBERATIVA
3 DIMENSÕES JURÍDICAS DO DECRETO Nº 8.243/14
4 O QUE É UM DECRETO E QUAIS OS SEUS LIMITES
5 LIMITES FORMAIS DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA AO
EDITAR NORMAS COM BASE NO ART.84, VI DA CONSTITUIÇÃO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COTAS PARA O ACESSO AO SERVIÇO PÚBLICO: ANÁLISE


CRÍTICA DA LEI 12990/2014
QUOTAS FOR ACCESS TO PUBLIC OFFICE: A CRITICAL
ANALYSIS OF LAW 12990/2014
Alceu Mauricio Junior
Ana Carolina Gorrera França
Ricky Rocha Nascimento
INTRODUÇÃO
1 DESENVOLVIMENTO
2.1 A Igualdade como Objetivo Fundamental do Estado
2.2 Ação Afirmativa como Solução para a Desigualdade e a Teoria da
Justiça do Reconhecimento e Redistribuição
2.3 Análise da Lei 12.990: a não inclusão dos poderes legislativo e
judiciário
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A CIDADANIA NO ESPAÇO URBANO NO CONTEXTO DO NOVO


CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO
CITIZENSHIP IN URBAN SPACE IN THE CONTEXT OF THE NEW
LATIN AMERICAN CONSTITUTIONALISM
Enzo Bello
Ana Beatriz Oliveira Reis
Gabriel Barbosa Gomes de Oliveira Filho
Juliana Pessoa Mulatinho
Kelly Ribeiro Felix de Souza
Laíze Gabriela Benevides Pinheiro
Marcela Münch de Oliveira e Silva
INTRODUÇÃO
1 DIREITO À CIDADE E A “CIDADE DE EXCEÇÃO”
2 DESCOLONIALIDADE E DIREITO À CIDADE
3 DAS EXPERIÊNCIAS DO CONSTITUCIONALISMO LATINO-
AMERICANO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

POLÍTICA URBANA E GRANDES PROJETOS PRIVADOS: UM


ESTUDO DE CASO DE LICENCIAMENTO DE SHOPPING CENTER
E SEUS REFLEXOS NA ORDEM JURÍDICO-URBANÍSTICA
URBAN POLICY AND LARGE SCALE PRIVATE PROJECTS:A CASE
STUDY OF LICENCING A SHOPPING MALL AND ITS
IMPLICATIONS WITH THE LEGAL-URBAN ORDER
Laura Marques dos Santos Fernandes Alves 150
Angel Costa Soares
Juliana Leite de Araújo
INTRODUÇÃO
1 IMPACTOS ECONÔMICOS E URBANÍSTICOS DO PROJETO
1.1 Impactos sobre Atividades Econômicas
1.2 Impactos sobre o Sistema Viário
1.3 Impactos sobre a Morfologia Urbana
1.4 Impactos sobre o Patrimônio Edificado
2 O GRAU DE COMPATIBILIDADE DO EMPREENDIMENTO COM O
PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO
3 AS DEFICIÊNCIAS DA AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS
4 AS IRREGULARIDADES NOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS
DE LICENCIAMENTO: A NÃO OBSERVÂNCIA DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL
4.1 Irregularidade na Regulamentação e no Recolhimento da Outorga
Onerosa do Direito de Construir
5 A JUDICIALIZAÇÃO DO CONFLITO EM TORNO DO
LICENCIAMENTO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PARTE 3 - DIÁLOGOS CONSTITUCIONAIS COM O JUDICIÁRIO


A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EM 2014:
SUPREMACIA JUDICIAL, SUPREMACIA LEGISLATIVA E
DIÁLOGOS CONSTITUCIONAIS
THE DECISIONS OF SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL IN 2014:
JUDICIAL SUPREMACY, LEGISLATIVE SUPREMACY AND
CONSTITUCIONAL DIALOGUES
José Ribas Vieira
Margarida Lacombe Camargo
Siddharta Legale
Alexandre de Lucca
Fatima Amaral
Julia Cani
INTRODUÇÃO
1 A SUPREMACIA LEGISLATIVA NA JURISPRUDÊNCIA DO STF
2 A SUPREMACIA JUDICIAL NA JURISPRUDÊNCIA DO STF DE
2014
3 DIÁLOGOS CONSTITUCIONAIS NO STF, A NOVA APLICAÇÃO
DA SÚMULA VINCULANTE 26 E AS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS
SOBRE DIREITOS AUTORAIS E DIFERENÇA DE CLASSE
APONTAMENTOS FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A NATUREZA AMBIVALENTE DAS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS NO


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
THE AMBIVALENT NATURE OF PUBLIC HEARINGS ON THE
BRAZILIAN SUPREME COURT
Júlia Massadas
Fabiana de Almeida Maia Santos
Rachel Herdy
INTRODUÇÃO
1 A FUNÇÃO DOS EXPERTS
2 ENTRE FATOS E VALORES: UMA QUESTÃO DE GRAU
3 UM EXEMPLO: QUEIMADAS EM CANAVIAIS
4 ESTUDO EMPÍRICO
4.1 Entendimento da Corte
4.2 Critérios de Inadmissibilidade de Experts
5 NATUREZA AMBIVALENTE DAS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

O CONTROLE DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA PELO


JUDICIÁRIO NA IMPLEMENTAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS
FUNDAMENTAIS
THE JUDICIARY’S CONTROL ON BUDGET EXECUTION IN THE
IMPLEMENTATION OF FUNDAMENTAL SOCIAL RIGHTS
Claudio Felipe Alexandre Magioli Núñez
Renata Rogar
Alessandra Almada de Hollanda
Rafael Bitencourt Carvalhaes
Pedro Bastos de Souza
Celso de Albuquerque Silva
Eduardo Garcia Ribeiro Lopes Domingues
INTRODUÇÃO
1 BREVES APONTAMENTOS SOBRE UM MARCO TEÓRICO EM
POLÍTICAS PÚBLICAS
2 PODER JUDICIÁRIO E A JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA
3 O CONTROLE DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA PELO
JUDICIÁRIO NA IMPLEMENTAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS
FUNDAMENTAIS
3.1 Âmbito e Objeto de Controle
3.1.1 Direitos fundamentais sociais e orçamento: controle abstrato e
concentrado
O controle concreto
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

O TSE E SUAS RESOLUÇÕES DE CARÁTER NORMATIVO


AUTÔNOMO
THE TSE AND ITS ATONOMOUS REGULATORY RESOLUTIONS
Augusto Sampaio
Edimar Santos
Juliana de Alencar
Lorena Senra
Lucas Pattitucci
Rodrigo Dias
Stella Araújo
Wanny Fernandes
INTRODUÇÃO
1 COMPORTAMENTO INSTITUCIONAL
2 PODER NORMATIVO DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL:
ASPECTOS GERAIS E PROBLEMATIZAÇÃO
3 O DIREITO ELEITORAL, A ATROFIA DO CONGRESSO
NACIONAL E A HIPERTROFIA DO TRIBUNAL SUPERIOR
ELEITORAL
4 CASOS PARADIGMÁTICOS: ADI 3.999-7/DF E A ADI 4946/14
5 O PODER NORMATIVO DO TSE
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A TRANSNACIONALIZAÇÃO DA UMBANDA E SEU IMPACTO NA


SOCIEDADE, NO SISTEMA DE JUSTIÇA E NO DIREITO
CONSTITUCIONAL PORTUGUÊS
THE TRANSNATIONALIZATION OF UMBANDA AND ITS IMPACT
ON SOCIETY, IN THE JUSTICE SYSTEM AND PORTUGUESE
CONSTITUTIONAL RIGHT
Ilzver Matos Oliveira
Kellen Josephine Muniz de Lima
Bruno Alves
INTRODUÇÃO
1 A TRANSNACIONALIZAÇÃO DA UMBANDA
2 A DIVINE MIGRATION E AS RELIGIÕES NEOPENTECOSTAIS
BRASILEIRAS PELO MUNDO
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE A DIFERENÇA DE CLASSE NO


SUS: RISCOS E PERSPECTIVAS
PUBLIC HEARING ON THE DIFFERENCE TREATMENT IN THE
BRAZILIAN PUBLIC HEALTH SYSTEM: RISKS AND
PERSPECTIVES
Margarida Maria Lacombe Camargo
Siddharta Legale
Ana Caroline Barros
Fernanda Dalbem
INTRODUÇÃO
1 A AUDIÊNCIA PÚBLICA E AS CORRENTES FAVORÁVEIS E
CONTRÁRIAS À DIFERENÇA DE CLASSE
2 A JURISPRUDÊNCIA SOBRE A DIFERENÇA DE CLASSE
ANTERIOR À AUDIÊNCIA PÚBLICA
3 APONTAMENTOS FINAIS. RISCOS E PERSPECTIVAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LISTA DE AUTORES
A CIDADANIA NO ESPAÇO URBANO NO
CONTEXTO DO NOVO
CONSTITUCIONALISMO LATINO-
AMERICANO
CITIZENSHIP IN URBAN SPACE IN THE CONTEXT OF
THE NEW LATIN AMERICAN CONSTITUTIONALISM

Enzo Bello
Ana Beatriz Oliveira Reis
Gabriel Barbosa Gomes de Oliveira Filho
Juliana Pessoa Mulatinho
Kelly Ribeiro Felix de Souza
Laíze Gabriela Benevides Pinheiro
Marcela Münch de Oliveira e Silva

RESUMO
No contexto da reforma urbana em curso na cidade do Rio de Janeiro e impulsionada pela realização dos
megaeventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas e as Paraolimpíadas de 2016, verifica-se
uma modificação radical do espaço urbano promovida como estratégia de atração de investimentos e
reposicionamento da cidade através de sua renovação urbanística. O direito à cidade surge em meio a
novas práticas urbanas de cidadania, assumindo uma forma política de resistência popular e uma faceta
jurídica de direito coletivo voltado à resistência perante as reformas urbanas impostas pelo capital,
articulando a iniciativa privada e o poder público. O Novo Constitucionalismo Latino Americano revela-se
importante espaço de reconhecimento formal de novas experiências e ferramentas de participação, que
significam tentativas de se fundar uma nova sociedade a partir de processos sociais e políticos respaldados
nas ruas pelas manifestações e protestos, de onde surgem novos sujeitos políticos, novas instituições e um
modelo constitucional construído por demandas populares.

PALAVRAS-CHAVE
Cidadania; espaço urbano; novo constitucionalismo latino-americano.

ABSTRACT
Considering the context of the ongoing urban reform in the city of Rio de Janeiro and strengthened by the
fulfillment of mega events, such as the 2014 FIFA World Cup and the 2016 Olympic and Paralympic
Games, there has been a radical modification of the urban space, promoted as a strategy to attract
investments and to reposition the city through a urban renovation. The right to the city emerges amidst
new urban practices of citizenship, as a political popular resistance and as a legal facet of the collective
right, resisting the urban reforms demanded by the capital, articulating the private iniciative and the
government. The New Latin American Constitutionalism reveals itself as a important space of formal
acknowledgement of new experiences and participatory tools, which signifies attempts to create a new
society through social and political processes backed on the streets by demonstrations and protests, where
new political subjects, new institutions and a new constitutional model emerge, built by popular demand.

KEYWORDS
Citizenship; urbana space; new latin-american constitutionalism.

INTRODUÇÃO
Tem-se como objetivo oferecer um ambiente de discussão crítica acerca do exercício da cidadania no
contexto do espaço urbano, tendo como base as teorias do direito à cidade e do descolonialismo, no
horizonte das experiências de participação popular presentes no chamado Novo Constitucionalismo Latino-
Americano. No contexto da reforma urbana em curso na cidade do Rio de Janeiro e impulsionada pela
realização dos megaeventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas e as Paraolimpíadas de
2016, verifica-se uma modificação radical do espaço urbano promovida como estratégia de atração de
investimentos e reposicionamento da cidade através de sua renovação urbanística. O processo de
reorganização cotidiana do espaço urbano se faz de maneira a atender a necessidade do sistema
capitalista de maior acumulação de capital e é acompanhado pela violação de inúmeros direitos num
contexto de cidades que já são marcadas pela segregação social. O direito à moradia, por exemplo, é
abandonado diante das remoções forçadas para a realização das obras de infraestrutura dos megaeventos.
O direito à cidade surge em meio a novas práticas urbanas de cidadania, assumindo uma forma política de
resistência popular e uma faceta jurídica de direito coletivo voltado à resistência perante as reformas
urbanas impostas pelo capital, articulando a iniciativa privada e o poder público. A partir dessas novidades
aparecem novos atores políticos que almejam poder exercer o direito à cidade da sua maneira mais plena,
através da participação efetiva no planejamento e na gestão das cidades para se construir um novo espaço
urbano. Percebe-se uma oportunidade de diálogo entre direito à cidade e cidadania, no qual o pensamento
descolonial denota ser uma ferramenta importante para compreender a imposição de um modelo de cidade
pelo capital, representado ora por empreiteiras, ora por organizações supranacionais (FIFA e COI) para a
manutenção de países como o Brasil na condição de periferia em relação ao centro. A escolha de locais
para sediarem megaeventos esportivos internacionais como a Copa do Mundo e as Olimpíadas tem sido
guiada pela possibilidade, maior em governos de países subdesenvolvidos, de entidades como FIFA e COI
conseguirem pressionar pela adoção de medidas que garantam seu lucro. Esse é o caso do Brasil, em que
decisões relevantes a respeito da alocação de recursos relacionada a tais eventos passaram ao largo da
participação da sociedade. Ademais, era pressuposta uma abertura maior ao discurso de um legado
positivo, dada a carência de infraestrutura, quando na verdade a consequência até agora percebida foi o
acirramento das desigualdades do espaço urbano brasileiro, com a intensificação de processos de remoção
e gentrificação da cidade. É neste embate entre o capitalismo global e as resistências locais, que lutam por
um projeto de sociedade que valorize a vida, e novos tipos de relações em detrimento de um modelo de
desenvolvimento que prega o lucro a qualquer custo, que se situa o direito à cidade como um direito a
construir um novo padrão de sociabilidade entre os cidadãos no espaço que eles mesmos constroem. O
Novo Constitucionalismo Latino Americano revela-se importante espaço de reconhecimento formal de
novas experiências e ferramentas de participação, que significam tentativas de se fundar uma nova
sociedade a partir de processos sociais e políticos respaldados nas ruas pelas manifestações e protestos,
de onde surgem novos sujeitos políticos, novas instituições e um modelo constitucional construído por
demandas populares.

1 DIREITO À CIDADE E A “CIDADE DE EXCEÇÃO”


O direito à cidade nasce como um direito coletivo em resposta à
intensificação do processo do processo de urbanização ocorrido no século
XX, e é assim compreendido por David Harvey:
O direito à cidade é, portanto, muito mais do que o direito de acesso
individual ou de grupo com os recursos que a cidade incorpora: é um
direito de mudar e reinventar a cidade além do desejo dos nossos
corações. É, além disso, um direito coletivo, em vez de um direito
individual, já que reinventar a cidade inevitavelmente depende do
exercício de um poder coletivo sobre os processos de urbanização. A
liberdade de fazer e refazer a nós mesmos e as nossas cidades é, eu
quero dizer, um dos mais preciosos e ainda mais negligenciados de
nossos direitos humanos (HARVEY, 2012, p. 4).
Esse direito à cidade é dinâmico assim como as necessidades daqueles que
constroem diariamente a cidade. Sendo assim, “não pode ser concebido
apenas como um simples direito de visita ou de retorno às cidades
tradicionais. Só pode ser formulado como direito à vida urbana, transformada,
renovada” (LEFEBVRE, 1991, p. 116-117). Relaciona-se diretamente ao
direito de participação, sendo o contexto da vida urbana o ambiente profícuo
para o desenvolvimento da cidadania ativa (BELLO, 2013, p. 61 e ss.) capaz
de resistir às reformas urbanas impostas pelo capital, bem como influenciar na
construção de um novo espaço urbano.
(...) o direito de cidade, isto é, o direito à participação nos processos
deliberativos que dizem respeito à cidade e a adoção do
universalismo de procedimentos como padrão de deliberação da
coletividade urbana sobre seus destinos; por outro lado, a questão
distributiva traduzida na quebra do controle excludente do acesso à
riqueza, à renda e às oportunidades geradas no (e pelo) uso e
ocupação do solo urbano, assegurando a todos o direito à cidade
como riqueza social em contraposição a sua mercantilização
(SANTOS JÚNIOR; RIBEIRO, 2011, p. 13).
O exercício do direito à cidade tem se mostrado, atualmente, um grande
desafio. No momento em que o capitalismo passa por uma nova etapa, qual
seja a globalização, emerge um novo modelo de cidade onde, segundo Vainer
(2013), a única democracia exercida é a “democracia direta do capital.”
Percebe-se, nesse contexto, o pleno exercício do direito impedido.
Na tentativa de traduzir o atual momento em que passam as metrópoles do
contexto da globalização, Carlos Vainer, estabelece o conceito de cidade de
exceção tendo como referencial teórico a obra de Giorgio Agamben (2004)
“Estado de Exceção”. O autor italiano defende que nos momentos de ascensão
do Estado de Exceção há a suspensão do direito. Segundo Agamben, ainda que
as leis permaneçam vigentes no ordenamento jurídico, elas perdem suas forças
em detrimento da aplicação de atos com um maior grau de autoritarismo, como
os decretos.
O conceito de “Cidade de Exceção” é cunhado por Vainer para definir a
situação pela qual passa muitas cidades brasileiras, em especial a cidade do
Rio de Janeiro no contexto das transformações urbanas em curso
impulsionadas pela realização dos megaeventos esportivos de projeção
internacional. Nas cidades de exceção,
As formas institucionais de democracia representativa burguesa
permanecem, formalmente, operantes. O governo eleito governa, o
legislativo municipal legisla... Mas a forma como governam e
legislam produz e reproduz situações e práticas de exceção, em que
poderes são transferidos a grupos de interesse empresarial.
(VAINER, 2013, p. 71)
Giorgio Agamben (2004) afirma ainda que, no estado de exceção há a
suspensão da ordem jurídica sem qualquer formalidade. Embora as normas
jurídicas não percam sua vigência, a aplicação dessas normas é deixada de
lado, sendo substituída por atos que não têm valor de lei e que são emanados,
exclusivamente, pelo poder executivo. Ocorreria, portanto, a adoção de
instrumentos que rompem com a ordem formal justificada a partir de um
suposto estado de necessidade.
Na cidade do Rio de Janeiro, diante das atuais transformações no espaço
urbano, impulsionadas pela realização dos megaeventos que objetivam a
inserção da cidade no circuito internacional das metrópoles, as normas
urbanísticas vêm sendo conduzidas pelo poder executivo através de decretos.
Esses processos, muitas vezes conduzidos sem qualquer diálogo com a
população, têm sido criticados não só pela academia, mas também pelos
movimentos sociais, por violar o direito à moradia através das remoções
diretas e indiretas, por aumentar a segregação sócio-espacial através do
fenômeno da gentrificação além de promover a valorização imobiliária
excessiva de certas áreas bem como incentivar a especulação imobiliária.
O Decreto Municipal nº 38.197/2013, que aprova as diretrizes para a
demolição de imóveis e realocação de moradores de assentamentos populares
e altera o Decreto nº 32.115/2010 pode ser considerado um exemplo de
legislação de exceção na cidade do Rio de Janeiro.
O predomínio da participação de técnicos, revestidos de uma suposta
neutralidade, é uma característica dessa nova fase do empreendedorismo
urbano (Harvey, 2005). A participação social nos assuntos relacionados ao
planejamento e a gestão da cidade é esvaziada em detrimento dos decretos
executivos que passaram a determinar os rumos da atuação urbanística do
poder público e dos agentes privados.
A ideia de flexibilidade e o modelo de planejamento estratégico, no qual
prevalecem os interesses do marketing urbano, são amplamente defendidos e
adotados pelos gestores públicos de várias cidades do mundo. Esse processo,
contudo, não começou a ser construído agora. Desde 1993, na gestão do ex-
prefeito César Maia, a cidade do Rio de Janeiro vem se preparando para se
destacar cada vez mais no cenário internacional.
Não parece haver dúvidas de que o que estamos vivendo hoje é o
resultado de um processo lento, complexo, porém continuado, de
constituição de um bloco hegemônico que tinha a oferecer à “cidade
em crise”, desde os anos 70 e, sobretudo,80, um novo projeto, leia-
se, um novo destino.(VAINER, 2013)
Agamben (2004) destaca que o estado de exceção muitas vezes foi
justificado diante das situações de guerra. Para que a cidade de exceção torne-
se uma realidade, faz-se necessário a difusão de um sentimento de crise capaz
de criar a sensação de um estado de necessidade que justifique as medidas
excepcionais do poder executivo.
Nesse sentido, percebe-se que, na cidade do Rio de Janeiro, não só a
guerra ao tráfico de drogas como também os levantes populares têm sido
usados como justificativa para a administração governar através da exceção.
Os diversos coletivos que se formam na cidade e que propõem a contestação e
resistência aos atuais processos de transformação do espaço urbano são
tratados com hostilidade pelo poder público. Esses movimentos populares vão
na contramão da tentativa do discurso hegemônico que tenta construir a cidade
através do consenso, deixando-se de lado as contradições produzidas pelo
sistema de produção capitalista no âmbito do espaço urbano e ignorando os
diversos interesses que se confrontam nas cidades marcadas pelas
desigualdades sociais e econômicas tão evidentes através do simples olhar
para a paisagem urbana carioca.
Sendo assim, a cidade governada através da exceção tem cumprido um
importante papel viabilizador desses processos que vêm ocorrendo na Cidade
Maravilhosa. No âmbito da cidade de exceção, a democracia é fragilizada e a
população fica cada vez mais distante dos assuntos coletivos, uma vez que a
única democracia que impera é a “democracia direta do capital” (VAINER,
2013, p. 59).

2 DESCOLONIALIDADE E DIREITO À CIDADE


No capítulo anterior tratamos da “cidade de exceção” (VAINER, 2013) em
oposição ao “direito à cidade” (HARVEY, 2012), com o objetivo de
demonstrar como as cidades, em especial aquelas localizadas em territórios
tradicionalmente subalternizados face ao capital, vem sendo geridas em
contrariedade aos interesses da maior parte de seus cidadãos.
Neste capítulo busca-se: i) associar esse formato de gestão da cidade à
globalização e à manutenção de uma relação de colonialidade entre centros e
periferias capitalistas; ii) olhar para luta pelo direito à cidade como uma
forma de romper com o neoliberalismo, e sua dominação violenta sobre
determinadas formas de vida.
Na América Latina, o colonialismo transmutou-se em outra forma de
dominação: a colonialidade. Sem a consciência de tal assertiva a atual
conformação geopolítica do mundo não pode ser entendida.
Essa dominação encontra-se camuflada hoje no discurso dominante da
globalização neoliberal, que esconde a presença do Ocidente e a manutenção
de uma relação de subordinação/exploração face aos outros que lhe é vital
(CORONIL, 2005).
Essencial, portanto, desnudar a relação intrínseca entre modernidade e
capitalismo/colonialismo, ou seja, jogar luz sobre o fato de que ao capitalismo
foi e continua sendo essencial subalternizar e explorar determinados
territórios, sem os quais não teria se desenvolvido. Trata-se, portanto, de
perceber o lado escuro da globalização (CORONIL, 2005).
Segundo relatório de 1997 da Conferência das Nações Unidas sobre
Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), em 1965 o PIB médio per capita
dos 20% mais ricos da população mundial era trinta vezes maior que o dos
20% mais pobres; em 1990 esta diferença tinha duplicado, passando a
sessenta vezes. (CORONIL, 2005).
Essa concentração da riqueza global aparece, no entanto, de forma
geograficamente difusa, embaçando a lente de quem observa, pois aquela
relação metrópole colônia hoje se apresenta na dominação de conglomerados
financeiros transnacionais, que parecem não ter bandeira, mas continuam
socialmente localizados. Como bem resume, CORONIL:
Desde a conquista das Américas, os projetos de cristianização,
colonização, civilização, modernização e o desenvolvimento
configuraram as relações entre a Europa e suas colônias em termos de
uma oposição nítida entre um Ocidente superior e seus outros
inferiores. Em contraste, a globalização neoliberal evoca a imagem
de um processo indiferenciado, sem agentes geopolíticos claramente
demarcados ou populações definidas como subordinadas por sua
localização geográfica ou sua posição cultural; oculta as fontes de
poder altamente concentradas das quais emerge e fragmenta as
maiorias que atinge.( CORONIL, 2005, p.14)
E como essa dominação atinge as cidades? Em primeiro lugar, há uma
conexão inevitável entre o desenvolvimento capitalista e a urbanização
(HARVEY, 2012). Em outros termos, a expansão capitalista se dá
necessariamente na busca de novos territórios que possam escoar o seu
constante excedente de produção. De fato, na globalização neoliberal as
cidades passam a ter um papel fundamental para os processos de acumulação
de capital.
O impacto dessa configuração é um urbanismo marcado por megaeventos e
megaprojetos, que permitem mobilizar um grande volume de capital sob a
justificativa da necessidade de reformar a cidade. A “reabilitação” passa a ser
o termo em voga, num processo que HARVEY identifica como “destruição
criativa”, porquanto essa reabilitação implica necessariamente suplantar
formas e expressões de vida urbanas anteriores.
Em verdade, a substituição de habitantes menos ou não rentáveis por
habitantes de classe média e classe média alta é a nova estratégia urbanística
em voga nas cidades movidas pela competição global.
Conforme identifica o geógrafo Neil Smith em sua análise sobre o
fenômeno na cidade de Nova Iorque, o uso corrente do termo, aqui adaptado
para “reabilitação/renovação urbana” é prova de como a gentrificação se
institucionalizou e deixa de ser uma consequência pontual para tornar-se
objetivo central dos gestores da cidade.
Em que pese as diferenças entre os contextos dos cenários urbanos
observados pelo geógrafo e a realidade brasileira, é inegável que cidades
como o Rio de Janeiro, inseridas na corrida das cidades globais, estejam hoje
enfrentando problemas muito parecidos com os diagnosticados pelo autor.
Sendo assim, cumpre trazer aqui considerações por ele feitas, tais como a
de que a gentrificação pode ser considerada atualmente como uma aliança
sistemática e estratégica do urbanismo público e do capital, que se desenvolve
nas municipalidades com a presença de dois atores centrais - o Estado e as
empresas, e de uma nova ferramenta – a parceria público-privada. Mais ainda:
É a lógica do mercado e não mais os financiamentos dos serviços
sociais o novo modus operandi das políticas públicas. Os projetos
imobiliários se tornam a peça central da economia produtiva da
cidade, um fim em si, justificado pela criação de empregos, pela
geração de impostos, pelo desenvolvimento do turismo e pela
construção de grandes complexos culturais, além de enormes
conjuntos multisetoriais e templos do consumo nos novos centros
urbanos. (SMITH, 2006, p.79)
Todavia essa estratégia se concretiza por meio de um discurso ideológico
de “regeneração”, que ressalta a retomada dos centros urbanos, mas não
revela quem é o destinatário desse chamado, fazendo ignorar também a
existência de antigos habitantes dessas áreas, e, portanto, o fato de que terão
que ser deslocados para que se faça possível essa retomada. Essa ferramenta
significa nada mais que a escolha por identificar um fenômeno por sua
aparência, camuflando sua essência, e nisso reside extrema importância.
Ao apresentar-se enquanto reabilitação/revitalização, o fenômeno da
gentrificação reveste-se não apenas de uma institucionalidade e de uma
capacidade de intervenção planejada e financiada, mas também da
potencialidade neutralizadora de um discurso, que como afirma Neil Smith,
“representa uma vitória ideológica considerável para as visões neoliberais da
cidade.” (SMITH, 2006, p. 84)
Na década de 1990, em Seul, empresas de construção civil e empreiteiras
contrataram “lutadores de sumô” para destruir bairros inteiros, dado que a
zona tinha se tornado muito valiosa (HARVEY, 2012). No Rio de Janeiro, sob
a justificativa, num primeiro plano, da preparação da cidade para dois
megaeventos esportivos em especial, COPA (2014) e Olimpíadas (2016),
4.772 famílias já foram removidas, totalizando cerca de 16.700 pessoas de 29
comunidades, destas 3.507 famílias foram removidas por obras e projetos
ligados diretamente aos megaeventos esportivos.
Essas remoções acontecem sem nenhuma transparência e acesso à
informação dos moradores, que descobrem que suas casas serão removidas
com uma pintura feita por um funcionário da prefeitura na parede (ROLNIK,
2014).
Para além dessas remoções diretas, há ainda as indiretas ou “brancas”,
caracterizadas pela ocupação militar de determinados territórios na forma das
Unidades de Polícia Pacificadora, associada à entrada do mercado, que, aos
poucos encarece o custo de vida nestes lugares, expulsando seus antigos
moradores. Isso sem falar num controle que se instaura em seus cotidianos, a
partir de revistas diárias, de toques de recolher, do fechamento de locais de
encontro (como quadras esportivas).
Essas violações são ofuscadas, no entanto, por um discurso agregador, que
reclama um sentimento patriótico dos cidadãos em relação à cidade e ao seu
crescimento.
Embora toda a gestão da cidade esteja se dando no interesse do capital,
personificado em entidades internacionais como FIFA e COI, e de empreiteiras
que nada pretendem, senão o lucro através da alavanca da realização de
grandes obras, invoca-se um progresso benéfico rumo a tornar o Rio de
Janeiro uma cidade global, com plena capacidade de competir no mercado
internacional.
Mas existe resistência. Existem movimentos sociais urbanos buscando
construir à cidade de outra forma, se afirmando enquanto modos de expressão
de vida colidentes e é nessa resistência que esse trabalho coloca o foco. Na
sua capacidade de, ao reivindicar o poder de decisão sobre que tipo de cidade
se quer, questionar a própria forma de relações sociais que permeiam esse
cenário urbano, relações individualistas, isolacionistas, de modo a substituí-
las por outras formas de expressão, mais coletivas, mais integradas com a
natureza.
O que se quer investigar aqui é justamente o potencial da luta pelo direito à
cidade, entendido em sua complexidade, de romper com a gramática
neoliberal, que nos impõe subordinações geográficas, que nos impõe
dicotomias entre homem/natureza, centro/periferia, sujeitos do planejamento
urbano/e objetos ou obstáculos a esse planejamento.
Enfim, trata-se de reconhecer nas práticas de resistência criativa uma nova
possibilidade de cidade, e de relações humanas.

3 DAS EXPERIÊNCIAS DO CONSTITUCIONALISMO


LATINO-AMERICANO
Em consonância com o item anterior, o objetivo deste capítulo é buscar
referencias próximas de tentativas de ruptura com o modelo neoliberal, a
partir do movimento chamado de “novo constitucionalismo latino-americano”.
Fajardo (2010) faz uma distinção entre três ciclos de reformas
constitucionais que tem como marca a reconfiguração do modelo de Estado e
sua relação com os povos indígenas: o constitucionalismo multicultural (1982-
1988), o constitucionalismo pluricultural (1989-2005) e o constitucionalismo
plurinacional (2006-2009).
Neste último ciclo, segundo a autora, estariam os processos constituintes
da Bolívia (2006-2009) e do Equador (2008), cuja marca principal seria a
proposta de “refundação do Estado” em marcos descoloniais.
As novas Constituições pretendem libertar suas sociedades desse padrão
moderno colonial, i) fazendo um diagnóstico crítico dessa realidade,
compreendendo que por trás do discurso da modernidade há um oposto
necessário – a colonialidade do poder, que vai mais além do domínio
econômico, operando também no campo epistêmico, ao hierarquizar uma
produção de saber a partir da diferenciação racial e geográfica,
subalternizando ou mesmo silenciando conhecimentos periféricos ii)
produzindo um pensamento crítico desde as margens ou fronteiras
historicamente silenciadas por esse Estado eurocêntrico, colonial,
monocultural e monorganizativo.(MEDICI, 2012).
Há uma clara opção descolonial em oposição a um Estado permeado pelo
domínio de empresas e organismos do capitalismo transnacional, que impõem
receitas neoliberais gerando a ineficácia dos direitos humanos previstos no
texto formal.
Essa opção aparece i) nos preâmbulos, que marcam um desejo de
abandonar a colonialidade do poder, e refundar o Estado sobre bases plurais e
interculturais, resgatando a história de resistência de seus povos; ii) no eixo
central dessas constituições, traduzido na noção de “buen vivir” – Sumak
Kawsay (em Kechra), que significa um viver bem tanto em relações humanas
como em relações com a natureza, apartada dos parâmetros base da
modernidade: o individualismo, o lucro, a racionalidade custo-benefício, a
instrumentalização e objetivação da natureza, a relação estratégica entre seres
humanos e a mercantilização total das esferas de vida humana; iii) na noção de
interculturalidade – entendida aqui em termos mais amplos que um mero
reconhecimento das diferenças por um Estado que quer ser inclusivo, e
reformador, mantendo a ideologia neoliberal, mas como um reconhecimento da
diferença colonial e uma abertura para um diálogo a partir das autonomias e
cosmovisões distintas (MEDICI, 2012).
Quanto à forma de Estado, ambas as Constituições representam processos
transitórios de estruturas unitárias para estruturas plurinacionais,
interculturais, e descentralizadas a partir de um eixo descolonizador. O
reconhecimento de distintas formas de descentralização política e
administrativa dialoga com essa pluralidade, ao estabelecer os marcos de
competência a partir dela. Quanto à forma de governo, acentuam-se práticas
democráticas diretas, comunitárias e se reconhece o pluralismo no exercício
das funções judiciais. Na Bolívia se reconhece como sistema de governo três
formas de democracia: representativa, participativa e comunitária; o controle
de constitucionalidade é exercido por um Tribunal Constitucional
Plurinacional.
Quanto à previsão de direitos, ambas consagram um sistema onde a
universalidade, a indivisibilidade e a interdependência se articulam sobre a
noção de “buen vivir”, não havendo hierarquia entre direitos (não há divisão
hierárquica entre gerações de direitos), nem a dependência de normas infra-
constitucionais para aplicação. Há uma série de direitos previstos, marcados
por um contraste com o paradigma individualista e mecantilizado da
modernidade, e resultantes de experiências de conflitos anteriores, como é o
caso de recursos naturais como a água e o gás. (MEDICI, 2012).
A aproximação com essas experiências recentes latino-americanas levanta,
contudo, uma série de questões, as quais servem como norte desta pesquisa,
das quais listamos algumas a seguir:
i) A emergência dessas novas Constituições é possibilitada por contextos
mais gerais de crise do projeto civilizatório moderno e seus paradigmas
(segunda guerra e declínio a União Soviética), da fragmentação do Estado
nação, e de intensificação de um modelo de desenvolvimento econômico
calcado no crescimento econômico (e não necessariamente na distribuição) e
na exploração de recursos – com influência direta na organização do espaço e
sobre grupos que se reproduziam à margem do território estatal. Todavia, há
um contexto específico no Equador e na Bolívia, que dialoga com este mais
amplo, que é o fortalecimento da organização/representação dos povos
originários campesinos. No Equador, por exemplo, a CONAE conseguiu
abarcar um grande setor e ganhar força suficiente para impulsionar um projeto
de transformação. Como fazer um paralelo com o Brasil? Nós temos essa
potencia de organização? Onde enxergar essa possível identidade?
ii) Olhando para essas experiências, e buscando referências e
aprendizagens, o território pode ser um elemento interessante para articular a
noção de interculturalidade, e a noção de direitos? A dimensão territorial não
pode ser mais interessante que a dimensão “sujeito”?
iii) As novas Constituições partem de situações de tensão, que influenciam
inclusive a radicalidade da ruptura do texto constitucional. Por isso mesmo,
são tidas como transitórias e parte de um processo mais amplo. Até que ponto
a conquista desses novos textos constitucionais pode garantir a continuidade
de um avanço descolonial?
iv) Em ambos os casos, o novo Estado por vezes reivindica a “Revolução
Cidadã” ou a “Revolução” cultural para legitimar ações que continuam
violando territorialidades não estatais, qual seria a forma de lidar com essas
contradições?

CONCLUSÃO
O presente trabalho visou demonstrar que há um diálogo entre direito à
cidade e cidadania, no qual o pensamento descolonial denota ser uma
ferramenta importante para compreender a imposição de um modelo de cidade
pelo capital, representado ora por empreiteiras, ora por organizações
supranacionais (FIFA e COI) para a manutenção de países como o Brasil na
condição de periferia em relação ao centro.
Desta maneira, entendemos que o modelo de cidade em curso tem ligação
intrínseca com o atual desenvolvimento do modo de produção capitalista e sua
fase neoliberal, que estabelece na busca por índices de crescimento
econômico a prioridade da administração pública, transformando o Estado no
principal violador de direitos, a fim de garantir a competitividade na dinâmica
internacional.
Desta maneira, reivindicar um modelo de cidade inclusivo, onde a
cidadania seja exercida indistintamente por toda a população, impõe a
necessidade de debater e construir outro modelo de sociedade, rompendo com
a relação sujeito-objeto, calcada na garantia individual de direitos, para dar
lugar a uma relação coletiva, baseada no território, em harmonia com a
natureza. Ou seja, necessitamos superar a busca pelo lucro, substituindo-a pela
busca pelo “bem viver”, onde a natureza e as pessoas não sejam encaradas
como produtos mercantis a serem explorados, mas como partes integradas de
um mesmo todo.
Para isto, é necessário romper com a subordinação epistêmica eurocêntrica
e nos voltarmos a compreender as especificidades do nosso lugar no mundo,
romper com os laços coloniais e desenvolver, a partir das experiências da
América Latina, um pensamento e uma prática que sejam capazes de superar
os anos de exploração e subjugação e nos apontem rumos para não apenas
prever novos direitos sob novas bases teóricas, mas mecanismos de real
implementação destes, a partir de práticas e instrumentos de participação
verdadeiramente democráticos. É necessário transformar a cidade no local de
efetivo exercício da cidadania, onde a busca do “bem viver” seja maior e mais
importante que a luta diária pela sobrevivência nas favelas e áreas de
periferia.

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