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Introdução à Neurociência

da Linguagem

Maria Teresa Carthery-Goulart

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

Dezembro/2017
“Os limites da minha linguagem
são os limites do meu mundo”

Ludwig Wittgenstein (1889-1951)


Mas o que é linguagem?
 Comunicação
 Linguagem
 Fala
Linguagem
 Capacidade humana para compreender e usar um sistema complexo
e dinâmico de símbolos convencionados, em modalidades diversas
para comunicação e pensamento*

 Manifesta-se em todas as atividades sociais e culturais, constituindo a


base da transmissão cultural, dos sistemas de valores e das
tradições que caracterizam a sociedade humana

 Envolve Compreensão e Expressão

 Diferente de Comunicação e Fala

*American Speech-Language-Hearing Association,1982


Características da Linguagem
A linguagem é simbólica, isto é, as pessoas usam sons de voz e
palavras escritas para representar objetos, ações, eventos e ideias.

É semântica e é Intencional

É generativa, isto é, um número limitado de símbolos pode ser


combinada num número infinito de formas de gerar novas mensagens.

É estruturada; existem regras que governam arranjo de palavras em


frases e sentenças.

Deslocamento: A propriedade de linguagem que representa a


capacidade de comunicar sobre assuntos que não sejam no aqui e
agora
Linguagem para quê?

Comunicação
Resolução de problemas

Tomada de decisão
Classificação e categorização
NÍVEIS DE ESTUDO

 Fonético - “sons”
O que é linguagem?
Fonológico - fonemas
Lexical / Semântico – “palavras”
Morfológico/ Sintático –
sentenças e aspectos gramaticais
 Pragmático - discurso
Principais tópicos da

Psicolinguística

Desenvolvimento Compreensão da
da Linguagem Linguagem

Expressão da Linguagem
Processamento serial vs. paralelo
Uma coisa por vez
X
Várias coisas ao mesmo tempo
Processamento Top-down e
Bottom-up
Bottom-up
Fonemas – palavras – frases – discurso – unidades de
ordem maior

Top-down
Níveis de ordem maior influenciam níveis menores

Top-down – geralmente paralelo


Bottom-up – geralmente serial
Processos Automáticos e
Controlados

 Capacidade limitada para lidar com informações

 Tarefas controladas – usam mais recursos

 Tarefas automáticas – menos recursos


Não leia a palavra abaixo:

PERIGO
NÃO ELABORE UMA FRASE
COM AS PALAVRAS ABAIXO:

MANTEIGA

CAFÉ DA MANHÃ

BOLO
Modularidade

1) O sistema de processamento da linguagem é


independente do sistema cognitivo (Fodor, 1983)
Ou?
2) Linguagem e outros processos cognitivos relacionados
(memória operacional/ processamento automático,
processamento em paralelo na compreensão, produção e
aquisição da linguagem)
Ou
3) Subsistemas linguísticos Semântica, Sintaxe, Fonologia
operam separadamente ou interagem?
Neurociência da
Linguagem
Frans Joseph Gall (1758-1828)
Frenologia
Afasia

Monsieur Laborgne foi um paciente que possibilitou uma grande descoberta da


Neurologia. Depois de um acidente vascular encefálico, Laborgne não conseguiu
mais falar. Após sua morte, seu cérebro (à direita) foi estudado pelo neurologista
francês Pierre-Paul Broca (1824-1880; foto à esquerda), que lançou a hipótese,
hoje muitas vezes confirmada, de que a linguagem e muitas outras funções
neurais são precisamente localizadas em regiões específicas do encéfalo.
3
(LENT, 2010)
MODELO CLÁSSICO COM ÁREAS CRUCIAIS PARA
O PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM NO
HEMISFÉRIO ESQUERDO
As Lesões cerebrais
responsáveis pelas afasias
fornecem importantes
informações sobre o
processamento da linguagem
QUADROS NEURODEGENERATIVOS: A AFASIA
PROGRESSIVA PRIMÁRIA - REDE NO HE

Mesulam, 2013
ASSIMETRIA MORFOLÓGICA DOS
HEMISFÉRIOS CEREBRAIS

§ Plano temporal esquerdo é maior que o


direito mesmo antes do nascimento

Qual o papel do HD na linguagem?


ESTUDOS EM INDIVÍDUOS SADIOS - PROCEDIMENTO
DE WADA

•Anestesia de um dos hemisférios com amital sódico, um


barbitúrico de ação rápida injetado na carótida interna
direita ou esquerda.

Dominância do HE para a linguagem independente da


lateralidade.
Destros = 96% HE 4% HD
Canhotos= 70% HE, 15% HD, 15% distribuída
ESTUDOS EM
COMISSUROTOMIZADOS
 Hemisférios cirurgicamente
desconectados para tratar alguns tipos de
epilepsia
 Evidenciaram a síndrome de desconexão
hemisférica que se caracteriza pela
incapacidade de troca de informações
entre os hemisférios cerebrais
Hemisfério direito
Hemisfério Direito e Linguagem
 Inferências
 Produção de conteúdo informativo
 Gerar significados alternativos (compreensão de
metáforas, provérbios, piadas, pedidos
indiretos)
 Compreensão e Expressão de conteúdo
emocional (expressão facial, linguagem
corporal, prosódia)
(KEMMERER, 2014)
Circuitos relacionados com o processamento
fonológico

cad, calf, cash, cap, can, cot, kit, cut, coat,


bat, mat, rat, scat, pat, sat, and vat.
TÉCNICAS DE
NEUROIMAGEM
O EEG NO ESTUDO DA
LINGUAGEM

Incongruência
semântica ;
Quebra de
expectativa;

P600;
LPC
Reprocessamento
;
Reanalise ;

Kutas e Hillyard, 1980


O desenvolvimento da
linguagem
Aumento da complexidade sináptica ao final dos dois primeiros anos de idade

Recém- 1 mês 6 meses 2 anos


nascido

Giro Frontal Medial


Cérebro 400g  800g do nascimento ao um ano e
meio/ poucos neurônios novos.

Courchesne et al., 2007 adapted from Nolte (1993), whose figure combined panels from Conel (1939, 1941, 1951, 1959).
Desenvolvimento da Linguagem –
típico e atípico

Fatores genéticos
Fatores ambientais

O aprendizado da linguagem e seu uso são determinados pela interação de fatores


biológicos, cognitivos, psicossociais e ambientais
FATORES GENÉTICOS

 Regularidades Universais
 Maturação do sistema nervoso com a exposição a estímulos ambientais
adequados em períodos definidos - Períodos sensíveis ou receptivos do
desenvolvimento
 Especialização do hemisfério esquerdo para a linguagem –
assimetria morfológica dos hemisférios cerebrais nas áreas
relacionadas à linguagem antes do nascimento
FATORES AMBIENTAIS
 Fatores sócio-culturais
 Educação
 Hábitos e atividades
 Multilinguismo

INTERAÇÕES
 Doenças em vários períodos do
desenvolvimento – neuroplasticidade
Desenvolvimento Neural e Cognitivo

PERDAS E GANHOS

(EXEMPLO : DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO)


DESENVOLVIMENTO FONOLÓGICO

Percepção e Produção dos


fonemas da língua

PERCEPÇÃO
- Discriminação entre sons ambientais e sons da fala
- Segmentação dos sons da fala em unidades
significativas
- Discriminação de fonemas (ganhos e perdas)
- Percepção Categórica
Habilidade de adquirir
fonemas de uma
segunda língua

Patricial Kulh (2003)


Leitura e Escrita
Localização “estratégica”

Com muitas interações possíveis....

ventral occipitotemporal cortex


Faz conexão com áreas que podem
estar relacionadas com o
reconhecimento de objetos;
processamentos de detalhes,
discriminação fina (demanda o uso da
fóvea), processamento analítico; e
principalmente lateralizado a
esquerda por relacionar-se com áreas
da linguagem..
Dehaene et al. (2010) conducted an fMRI study that involved 63 Portuguese and
Brazilian adults with the following breakdown in terms of literacy…

• Brazilian literates with high socioeconomic status (LB1);


• Portuguese literates (LP);
• Brazilian literates with low socioeconomic status (LB2);
• Brazilian ex-illiterates (EXB);
• Portuguese ex-illiterates (EXP);
• Brazilian illiterates (ILB). Ativação VWFA
Leitura e Escrita
 Requerem ensino formal

 Leitura Fluente = automatismo na


identificação e acesso ao significado de
palavras escritas
Rota Fonológica Rota Lexical

Leitura segmentada Leitura global

Pseudopalavras Palavras irregulares

bristuma máximo, exame, lixo, táxi

Palavras desconhecidas Estrangeirismos

entropia diet, carrefour, bacon

Palavras de baixa freqüência Palavras de alta freqüência

talho casa, Brasil


Slide cedido por
A rota fonológica cede lugar à lexical até o 4o. ano Mirna Senaha
Dislexia
 Distúrbio de aprendizagem, de origem neurobiológica,
caracterizado por dificuldades em reconhecer palavras
escritas de forma acurada ou fluentemente

 Competência nas habilidades de leitura e ortografia não


se correlaciona de forma usual com a idade, inteligência,
habilidades cognitivas globais e estímulos educacionais
recebidos durante seu desenvolvimento

 Distúrbio persistente, mas pode melhorar com


intervenções adequadas

Lyon, Shaywitz e Shaywitz, 2003; Shaywitz et al., 2005


Dislexia
 Inabilidade de automatizar a leitura
 Acompanhada de dificuldades fonológicas –
evidenciada na leitura de pseudopalavras
 Dificuldade nas duas rotas de leitura – léxico
ortográfico não se desenvolve normalmente
porque o procedimento de conversão não é
automatizado
 Desenvolvimento atípico – não é um atraso.
Anomalias estruturais e funcionais

 Simetria entre os hemisférios em regiões do


lobo temporal ou assimetria reversa

 Disfunção de circuitos envolvidos no


processamento visual (occipito-temporais) e
fonológico (temporo-parietal e frontal)
Neurociência da
Linguagem na
UFABC
Grupo de Estudos em Neurociência da Linguagem e Cognição – GELC
Coordenação: Maria Teresa Carthery-Goulart
Katerina Lukasova
Maria Alice de Mattos Pimenta Parente

Pós-Graduandos
Alunos de Iniciação Científica

 Henrique Salmazo da Silva


 Carlos Fernando Ramos
 Roberta Roque Baradel
 Felipe Frossard
 Juliana Machado
 Brenda Miura
 Fernanda Marchezini
 Natalia Gasperoni Pires
 Rosimeire de Oliveira
 Katarina Duarte
 Elaine Torresi
 Jaqueline Estequi
 Edgard Pereira Neves
 Paulo Proglof
 Adriana Araujo
 Amanda Casadei
 Marina Lameira
 Marilia Socio
 Beatriz Raz
 Carolina Piaia
neuro.ufabc.edu.br/gelc
Visite: neuro.ufabc.edu.br/gelc/

GEL
Querem saber mais??

Contato: teresa.carthery@ufabc.edu.br
Obrigada!

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