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Natureza: TD de Literatura – 1o Bimestre

Aluno(a): Turma:

Professor: Maryval Ano: 2o/EM No Questões: — Data:

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS também, com a proteção da madrinha D. Maria José de
Mendonça Barroso, viúva do Brigadeiro e Senador do Im-
MACHADO DE ASSIS pério Bento Barroso Pereira, proprietária da Quinta do Li-
vramento, onde foram agregados seus pais.
Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro tra-
balho literário, o poema “Ela”, na revista Marmota Fluminense,
de Francisco de Paula Brito. A Livraria Paula Brito acolhia
novos talentos da época, tendo publicado o citado poema
Nome: Machado de Assis e feito de Machado de Assis seu colaborador efetivo.
Nascimento: 21/06/1839 Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de
tipógrafo na Imprensa Nacional, e começa a escrever du-
Natural: Rio de Janeiro-RJ rante o tempo livre. Conhece o então diretor do órgão,
Morte: 29/09/1908 Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sar-
gento de milícias, que se torna seu protetor.
Em 1858 volta à Livraria Paula Brito, como revisor e
colaborador da Marmota, e ali integra-se à sociedade lítero-
-humorística Petalógica, fundada por Paula Brito. Lá cons-
trói o seu círculo de amigos, do qual faziam parte Joaquim
Manoel de Macedo, Manoel Antônio de Almeida, José de
Alencar e Gonçalves Dias.
Começa a publicar obras românticas e, em 1859, era
(...) Assim são as páginas da vida, revisor e colaborava com o jornal Correio Mercantil. Em 1860,
como dizia meu filho quando fazia versos, a convite de Quintino Bocaiúva, passa a fazer parte da re-
e acrescentava que as páginas vão dação do jornal Diário do Rio de Janeiro. Além desse, es-
passando umas sobre as outras, crevia também para a revista O Espelho (como crítico tea-
esquecidas apenas lidas. tral, inicialmente), A Semana Ilustrada (onde, além do nome,
usava o pseudônimo de Dr. Semana) e Jornal das Famílias.
“Suje-se Gordo!” Seu primeiro livro foi impresso em 1861, com o título
Queda que as mulheres têm para os tolos, onde aparece
como tradutor. No ano de 1862 era censor teatral, cargo
que não rendia qualquer remuneração, mas o possibilitava
a ter acesso livre aos teatros. Nessa época, passa a colabo-
rar em O Futuro, órgão sob a direção do irmão de sua futura
esposa, Faustino Xavier de Novais.
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o
dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico título de Crisálidas.
e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de Em 1867, é nomeado ajudante do diretor de publica-
junho de 1839. Filho de um operário mestiço de negro e ção do Diário Oficial.
português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Agosto de 1869 marca a data da morte de seu amigo
Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior es- Faustino Xavier de Novais, e, menos de três meses depois,
critor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito em 12 de novembro de 1869, casa-se com Carolina Augusta
cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, Xavier de Novais.
que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, Nessa época, o escritor era um típico homem de le-
única que frequentará o autodidata Machado de Assis. tras brasileiro bem sucedido, confortavelmente amparado
De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de por um cargo público e por um casamento feliz que durou
sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livra- 35 anos. D. Carolina, mulher culta, apresenta Machado aos
mento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. clássicos portugueses e a vários autores da língua inglesa.
Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época moran- Sua união foi feliz, mas sem filhos. A morte de sua
do em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colé- esposa, em 1904, é uma sentida perda, tendo o marido
gio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se dedicado à falecida o soneto Carolina, que a celebrizou.
vendedor de doces. No colégio tem contato com professo- Seu primeiro romance, Ressurreição, foi publicado
res e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas em 1872. Com a nomeação para o cargo de primeiro ofici-
ocasiões em que não estava trabalhando. al da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Co-
Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou- mércio e Obras Públicas, estabiliza-se na carreira burocráti-
-se em aprender. Consta que, em São Cristóvão, conheceu ca que seria o seu principal meio de subsistência durante
uma senhora francesa, proprietária de uma padaria, cujo toda sua vida.
forneiro lhe deu as primeiras lições de Francês. Contava,

Rua Des. Leite Albuquerque, 1056 – Aldeota – CEP: 60.150-150 – Fone: 4008-2342 – Fortaleza-CE • e-mail:colegiobatista@batista.g12.br
Unidade Edson Queiroz – Rua Hil Morais, 124 – Edson Queiroz – CEP: 60.811-760 – Fone: 3273.1282
Unidade Sul – Rua Roberto Gradvohl, 3470 – Alagadiço Novo – CEP: 60.812-540 – Fone: 3276.3969/3274.9075 66648/13
Unidade Varjota – Av. Antônio Justa, 3790 – Varjota – CEP: 60.165-090 – Fone: 3267.2929 – “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” (Fil. 4:13.)
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No O Globo de então (1874), jornal de Quintino BIBLIOGRAFIA:


Bocaiúva, começa a publicar em folhetins o romance A mão Comédia
e a luva. Escreveu crônicas, contos, poesias e romances • Desencantos, 1861.
para as revistas O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira. • Tu, só tu, puro amor, 1881.
Sua primeira peça teatral é encenada no Imperial
Teatro Dom Pedro II em junho de 1880, escrita especialmen- Poesia
te para a comemoração do tricentenário de Camões, em • Crisálidas, 1864.
festividades programadas pelo Real Gabinete Português de • Falenas, 1870.
Leitura. • Americanas, 1875.
Na Gazeta de Notícias, no período de 1881 a 1897, • Poesias completas, 1901.
publica aquelas que foram consideradas suas melhores crô-
Romance
nicas.
Em 1881, com a posse como ministro interino da Agri- • Ressurreição, 1872.
cultura, Comércio Obras Públicas do poeta Pedro Luís Pe- • A mão e a luva, 1874.
• Helena, 1876.
reira de Sousa, Machado assume o cargo de oficial de ga-
• Iaiá Garcia, 1878.
binete. • Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881.
Publica, nesse ano, um livro extremamente original, • Quincas Borba, 1891.
pouco convencional para o estilo da época: Memórias Pós- • Dom Casmurro, 1899.
tumas de Brás Cubas – que foi considerado, juntamente • Esaú e Jacó, 1904.
com O Mulato, de Aluísio de Azevedo, o marco do realismo • Memorial de Aires, 1908.
na literatura brasileira.
Extraordinário contista, publica Papéis Avulsos em Conto
1882, Histórias sem data (1884), Várias Histórias (1896), Pá- • Contos Fluminenses,1870.
ginas Recolhidas (1889), e Relíquias da casa velha (1906). • Histórias da meia-noite, 1873.
• Papéis avulsos, 1882.
Torna-se diretor da Diretoria do Comércio no Ministé-
• Histórias sem data, 1884.
rio em que servia, no ano de 1889. • Várias histórias, 1896.
Grande amigo do escritor paraense José Veríssimo, • Páginas recolhidas, 1899.
que dirigia a Revista Brasileira, em sua redação promoviam • Relíquias de casa velha, 1906.
reuniões os intelectuais que se identificaram com a ideia de
Lúcio de Mendonça de criar uma Academia Brasileira de Teatro
Letras. Machado desde o princípio apoiou a ideia e com- • Queda que as mulheres têm para os tolos, 1861
pareceu às reuniões preparatórias e, no dia 28 de janeiro de • Desencantos, 1861
1897, quando se instalou a Academia, foi eleito presidente • Hoje avental, amanhã luva, 1861.
da instituição, cargo que ocupou até sua morte, ocorrida • O caminho da porta, 1862.
• O protocolo, 1862.
no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908. Sua oração
• Quase ministro, 1863.
fúnebre foi proferida pelo acadêmico Rui Barbosa. • Os deuses de casaca, 1865.
É o fundador da cadeira nº 23, e escolheu o nome de • Tu, só tu, puro amor, 1881.
José de Alencar, seu grande amigo, para ser seu patrono.
Por sua importância, a Academia Brasileira de Letras Algumas obras póstumas
passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis. • Crítica, 1910.
Dizem os críticos que Machado era “urbano, aristo- • Teatro coligido, 1910.
crata, cosmopolita, reservado e cínico, ignorou questões so- • Outras relíquias, 1921.
ciais como a independência do Brasil e a abolição da escra- • Correspondência, 1932.
vatura. Passou ao longe do nacionalismo, tendo ambientado • A semana, 1914/1937.
• Páginas escolhidas, 1921.
suas histórias sempre no Rio, como se não houvesse outro
• Novas relíquias, 1932.
lugar. ... A galeria de tipos e personagens que criou revela o
• Crônicas, 1937.
autor como um mestre da observação psicológica. ... Sua • Contos Fluminenses – 2º volume, 1937.
obra divide-se em duas fases, uma romântica e outra • Crítica literária, 1937.
parnasiano-realista, quando desenvolveu inconfundível estilo • Crítica teatral, 1937.
desiludido, sarcástico e amargo. O domínio da linguagem é • Histórias românticas, 1937.
sutil e o estilo é preciso, reticente. O humor pessimista e a • Páginas esquecidas, 1939.
complexidade do pensamento, além da desconfiança na ra- • Casa velha, 1944.
• Diálogos e reflexões de um relojoeiro, 1956.
zão (no seu sentido cartesiano e iluminista), fazem com que
• Crônicas de Lélio, 1958.
se afaste de seus contemporâneos.”
• Conto de escola, 2002.
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Antologias Personagens
• Obras completas (31 volumes), 1936. Brás Cubas – narrador – morto aos 64 anos – “ainda prós-
• Contos e crônicas, 1958. pero e rijo”, fidalgo. Peralta quando criança, mimado pelo
• Contos esparsos, 1966. pai, irresponsável quando adolescente, tornou-se um ho-
• Contos: Uma Antologia (02 volumes), 1998 mem egoísta a ponto de discutir com a irmã pela prataria
que fiou de herança do pai e tornar-se amante de seu ami-
go, Lobo Neves, se bem que nesse romance não se pode
VISÃO I dizer propriamente que alguém é amigo de outro.
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS,
Virgília – filha do comendador Dutra, segundo o pai de Brás,
DE MACHADO DE ASSIS Bento Cubas A “Ursa Maior” amante de Brás Cubas casa-se
Análise da obra com Lobo Neves por interesse. Mulher bonita, ambiciosa,
que parece gostar sinceramente de Brás Cubas, mas jamais
É a obra inaugural da fase realista de Machado de se revela disposta a romper com sua posição social ou dis-
Assis, representando uma verdadeira revolução de ideias e pensar o conforto e o reconhecimento da sociedade.
formas: de ideias, porque aprofunda o desprezo pelas
idealizações românticas, fazendo emergir a consciência nua Damião Lobo Neves – casado com Virgília, homem frio e
do indivíduo, fraco e incoerente; de formas, pela ruptura calculista. Marido de Virgília, homem sério, integrado ao
com a linearidade da narrativa e pelo estilo “enxuto”. É tam- sistema, ambicioso, mas muito mais supersticioso, pois re-
bém obra inaugural do romance psicológico no Brasil. cusou nomeação pra presidente de uma província só por-
É a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) que a referida nomeação aconteceu num dia 13.
que Machado de Assis atinge o ponto mais alto e equilibra-
do da ficção brasileira. Quincas Borba – menino terrível que dava tombos no pacien-
É o drama da irremediável tolice humana. São as te professor Barata, colega de escola de Brás que o encontra-
memórias de um homem igual a tantos outros, o cauto e rá mais tarde mendigo que rouba-lhe um relógio mas retorna-
desfrutador Brás Cubas, que tudo tentou e nada deixou. A -o ao colega após receber uma herança. Amigo de infância do
vida moral e afetiva é superada pela existência biologica- protagonista. Desde criança era de um temperamento ativo,
mente satisfeita, e as personagens se acomodam cinica- exaltado, querendo ser sempre superior nas brincadeiras. Cu-
mente ao erro. bas diz que ele é impressionante quando brinca de imperador.
Quando adulto, passa pelo estado de mendigo, evoluindo
Estrutura da obra depois para filósofo e desenvolve um sistema filosófico, deno-
minado Humanitismo, que pretende superar e suprimir todos
A estrutura de Memórias Póstumas de Brás Cubas tem os demais sistemas até tornar-se uma religião.
uma lógica narrativa surpreendente e inovadora. A sequência
do livro não é determinada pela cronologia dos fatos, mas Marcela – Segundo grande amor de Brás Cubas, uma prosti-
pelo encadeamento das reflexões do personagem. Uma lem- tuta de elite, cujo amor por Brás duraria quinze meses e onze
brança puxa a outra e o narrador Brás Cubas, que promete- contos de réis. Mulher sensual, mentirosa, amiga de rapazes e
ra contar uma determinada história, comenta todos os ou- de dinheiro. Ganha muitas joias do adolescente Brás Cubas.
tros fatos que a envolvem, para retomar o tema anunciado Contrai varíola e fica feia, com a pele grossa como uma lixa.
muitos capítulos depois.
Organizados em blocos curtos, os 160 capítulos de Sabina – irmã do narrador e que, como ele, valoriza mais o
Memórias Póstumas de Brás Cubas fluem segundo o ritmo interesse pessoal e a posição social do que amizade ou
do pensamento do narrador. A aparente falta de coerência laços de parentesco.
da narrativa, permeada por longas digressões, dissimula
uma forte coerência interna, oferecendo ao leitor todas as Eugênia – Filha de Eusébia e Vilaça, menina bela embora
informações para conhecer a visão de mundo de um ho- coxa. Era moça séria, tranquila, dotada de olhos negros e
mem que passou pela vida sem realização nenhuma, ape- olhar direito e franco. Tinha “ideias claras, maneiras chãs,
nas ao sabor de seus desejos. certa graça natural, um ar de senhora, e não sei se alguma
Logo nas primeiras páginas, o escritor brinca com a outra cousa; sim, a boca exatamente a boca da mãe”.
expectativa do leitor de chegar logo às ações do romance.
Machado de Assis, por intermédio do seu narrador, se diri- Nhã-loló – moça simplória, tinha dotes de soprano – morre
ge diretamente ao leitor, metalinguisticamente, para comen- de febre amarela.
tar o livro. Diz Brás Cubas:
Cotrim – casado com Sabina, irmã de Brás; ambos interes-
“Veja o leitor a comparação que melhor lhe quadrar, seiros.
veja-a e não esteja daí a torcer-me o nariz, só porque ainda
não chegamos à parte narrativa destas memórias. Lá iremos. Nhonhô – filho de Virgília.
Creio que prefere a anedota à reflexão, como os outros leito-
res, seus confrades, e acho que faz muito bem.” D. Plácida – empregada de Virgília confidente e protetora
de sua relação extra conjugal.

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Enredo e transição (cap. 9, em que o narrador faz uma reflexão


O romance é a autobiografia de Brás Cubas, narrador- metalinguística e retoma o fio narrativo, cronológico de sua
-personagem (1ª pessoa) que, depois de morto, na condi- vida, a partir de seu nascimento em 1805). A partir do
ção de “defunto-autor”, resolve escrever suas memórias. Por cap.10, a vida de Brás Cubas é contada de forma sucessi-
estar morto, Brás Cubas assume uma posição transtemporal, va: nascimento, batizado, infância, juventude.
de quem vê a própria existência já de fora dela, “desse ou- Relata um episódio de 1814 quando, aos nove anos,
tro lado do mistério”, de modo onisciente, descontínuo e delata uma cena de beijo entre Dr. Vilaça, “casado e pai” e
sem a pressa dos vivos. D. Eusébia, uma “robusta donzela”. É aluno do mestre
O fato de Brás Cubas colocar-se como um “defunto- Ludgero Barata, “calado, obscuro, pontual” e colega de
-autor”, isto é, como alguém que conta a sua vida de além- Quincas Borba, “uma flor”, o menino “mais gracioso,
-túmulo, dá-nos a impressão que se trata de um relato ca- inventivo e travesso”.
racterizado pela isenção, pela imparciabilidade de quem já Em 1822, data da independência política do Brasil,
não tem necessidade de mentir, pois deixou o mundo e torna-se o prisioneiro amoroso de Marcela, “amiga do di-
todas as suas ilusões. Essa é uma das famosas armadilhas nheiro e de rapazes”, em quem dá o primeiro beijo e cuja
machadeanas, contra a credulidade do leitor ingênuo e ro- paixão dura “quinze meses e onze contos de réis”. Obriga-
mântico de sua época. do pelo pai, vai para a Europa, estudar. Em Coimbra, torna-
Os fatos são narrados à medida que afloram à me- -se bacharel, “mediocremente”.
mória do narrador, que vai tecendo suas digressões, refle- Na história de sua vida, são intercalados capítulos
tindo sobre seus atos, sobre as pessoas, exteriorizando uma como O almocreve (cap. 21) e A borboleta preta (cap. 31),
visão cínica, irônica e desencantada de si mesmo e dos que são puramente filosóficos.
outros. Quando a mãe adoece, Brás Cubas volta ao Brasil,
Espécie de antimodelo, de personagem-símbolo da para velá-la, em seus últimos dias.
ironia machadeana quanto ao ideal burguês de “vencer na Tendo aprendido na universidade a ornamentação da
vida”, a figura de Brás Cubas constitui uma inversão da tra- História e da Jurisprudência, e não sua essência, passa a
vessia de heróis burgueses, tematizados pela literatura rea- usá-la para viver na superficial sociedade em que vivia. Seu
lista. pai quer que se torne deputado e lhe arranja uma noiva,
Machado de Assis ao escolher a situação fantástica Virgília, filha do Conselheiro Dutra, 15 ou 16 anos, atraente
de um morto que conta histórias, e que mesmo estando do e voluntariosa. No entanto, Brás Cubas vai visitar Eusébia, a
outro lado da vida procura mais “parecer” do que “ser”, isto mesma do episódio de 1814, que tinha uma filha de de-
é, na mente, ilude e distorce os fatos, escondendo suas zessete anos, Eugênia, “coxa de nascença”, uma “Vênus
misérias para que sejam vistas como superioridades, ques- manca”. Brás Cubas a corteja, mas opta por Virgília, “uma
tiona tanto a forma quanto o conteúdo do realismo tradi- joia, uma flor, uma estrela, uma coisa rara”. Brás Cubas en-
cional. contra Marcela, envelhecida, rosto marcado pelas “bexigas”,
Brás Cubas conta a história de sua vida, a partir de com um pequeno comércio na rua dos Ourives. Ao encon-
sua morte. Seu ouvinte é o leitor virtual, cinco ou dez leito- tra-se com Virgília, tem uma alucinação e vê a namorada
res, segundo acredita (cap. 34), Virgília, que espera venha a
com o rosto marcado como o de Marcela, mas passa.
ler o livro (cap. 27), ou um cavalheiro (cap.87), narrador
Virgília, no entanto, ambiciosa, casa-se com Lobo
diferente da leitura romântica a quem o narrador das obras
Neves, um homem que lhe pareceu mais promissor que Brás
anteriores se dirige.
Cubas. O pai de Cubas, desgostoso, morreu, inconformado.
Brás Cubas nasceu em 20/10/1805, no Rio de Janei-
Brás Cubas, a irmã Sabina e o cunhado, Cotrim, disputa-
ro, filho de Bento Cubas, da família burguesa que se enri-
ram a herança do pai e em tudo pode-se observar o interes-
queceu com o comércio. Tinha uma única irmã, Sabina,
se material determinando o comportamento das pessoas.
casada com Cotrim, com quem teve uma filha, Venância.
Seus tios eram João, oficial da infantaria, Ildefonso, padre, Brás Cubas torna-se recluso, escrevendo política e fazendo
e Emerenciana, a maior autoridade de sua infância. Ao fale- literatura, chegando a alcançar reputação de polemista e
cer, tinha 64 anos (...expirou às duas da tarde de uma sexta- poeta.
-feira de agosto de 1869), era solteiro e seu enterro teve 11 Luis Dutra, um primo poeta de Virgília, avisa Brás
pessoas. Sua morte foi assistida por 3 mulheres: a irmã Cubas de que Virgília e Lobo Neves tinham regressado de
Sabina, a sobrinha e Virgília, um de seus amores não con- São Paulo. Brás Cubas começa a frequentar a casa deles e
cretizados. torna-se amante de Virgília. À mesma época, encontra, na
Nos nove primeiros capítulos, Brás Cubas descreve a rua, o Quincas Borba, seu colega de infância, que vivia como
sua morte (cap. 1), o emplasto (uma ideia fixa que teve, ao mendigo. Ajuda-o com cinco mil réis e este lhe rouba o
final da vida, de inventar um “medicamento anti-hipocondrí- relógio, ao despedir-se.
aco”, isto é, que curasse a mania de doença das pessoas), Quando algumas pessoas começam a desconfiar do
sua origem (cap. 3), a ideia fixa do emplasto (cap. 4), sua relacionamento de Brás Cubas e Virgília, estes montam uma
doença (cap. 5), a visita de Virgília (cap. 6), o delírio (pesa- casinha, no recanto de Gamboa, cuja caseira era D. Pláci-
delo que teve antes de morrer em que lhe aparece Natureza da, uma antiga agregada da casa de Virgília.
ou Pandora, dona dos bens e dos males humanos, dentre Lobo Neves, marido de Virgília aguarda sua nomea-
os quais, o maior de todos é a esperança, cap. 7), razão ção para presidente da província e convida Brás Cubas para
contra a sandice (em que a razão expulsa a sandice, cap. 8) ser seu secretário. Este reluta em aceitar.

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Virgília tem um filho, Nhonhô, do marido, mas Cubas cepção do domínio do amor sobre todas as outras paixões;
sonha ter um filho com ela. afirmava-se a possibilidade de construir um grande livro sem
Brás Cubas recebe uma carta de Quincas Borba que recorrer à natureza, desdenhava-se a cor local, um autor co-
lhe devolve o relógio roubado e quer lhe expor sua teoria locava-se pela primeira vez dentro dos personagens.
filosófica do Humanitismo, o princípio das coisas. O humorismo começa pela dedicatória do narrador:
Lobo Neves recebe denúncias da traição da mulher. “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes de meu cadáver
É nomeado Presidente da Província e o casal parte, termi- dedico como saudosa lembrança estas Memórias póstu-
nando aí o romance proibido entre Virgília e Brás Cubas. mas.” Em seguida, como que preparando o leitor para a
Quincas Borba visita Brás Cubas, conta-lhe da fortu- revolução estética que o espera, Brás Cubas anuncia o es-
na herdada de um tio de Barcelona, mas só se ocupa de pírito inusitado de sua obra: “Escrevia-a com a pena da
sua doutrina filosófica, o humanitismo, uma paródia das te- galhofa e a tinta da melancolia”. A visão irônica dos aconte-
orias científicas no final do século XIX. Brás Cubas fica se- cimentos e dos pensamentos do narrador mesclada a co-
duzido pela teoria do Humanitismo, identificando-se com mentários amargos e cínicos sobre a existência produz uma
sua explicação materialista da existência humana. concepção de mundo absolutamente singular que estrutura
Outros motivos que lhe compensaram a perda de todas as obras de segunda fase de Machado de Assis.
Virgília foram a tentativa da irmã de casá-lo com Nha Loló e Além disso, Brás Cubas adverte que também o seu
a ambição política. Aquela no entanto, morre, aos 19 anos modo de narrar é inovador: “Trata-se, na verdade, de uma
de febre amarela. Brás Cubas torna-se deputado, atuando obra difusa”. O enredo de ações trepidantes, que vai num
ao lado de Lobo Neves. Em 1855, Brás Cubas encontra crescendo até o clímax, é completamente abandonado, ce-
Virgília, num baile. Ele a acha magnífica, mas nada mais dendo lugar a episódios mais ou menos soltos, que se
ocorre entre eles. alicerçam em pormenores aparentemente banais, em con-
Ao chegar ao 50 anos, Brás Cubas perde o interesse siderações filosóficas abusadas e em tiradas humorísticas,
pela vida, que é o amor. Quincas Borba o convence de que tudo ilusoriamente desvinculado da história central. Brás
era a idade da ciência e do governo, mas Brás Cubas perde Cubas usa um estilo de vaivém, interrompendo o fluxo da
intriga para brincar com o leitor ou tecer algum comentário
sua cadeira de deputado e, consequentemente, a paixão pelo
de fingida irrelevância. Quando, no entanto, o romance se
poder. Sua única companhia é Quincas Borba, com quem
fecha, os inúmeros episódios formam uma unidade, dando
filosofa sobre a vida e a existência humana através de obser-
a este mesmo leitor a noção de um conjunto harmonioso e
vações da realidade, como uma luta de cães por um osso.
convincente.
Brás Cubas recebe um bilhete de Virgília que pede-
Aspecto importante nas Memórias é o gosto pela ci-
-lhe para socorrer D. Plácida, que está a morrer. Ele dá-lhe
tação que o narrador exibe. A cultura de Brás Cubas é enci-
algum dinheiro e a interna na Misericórdia, onde falece.
clopédica, passando por todo o conhecimento geral da
Resolve publicar um jornal, de oposição ao governo,
época. Esta cultura, entretanto, é examinada sob o ângulo
que contraria Cotrim, seu cunhado. Pouco mais de seis meses
da paródia. Todas as citações e referências são extraídas
depois, o jornal deixa de sair.
de seu contexto específico e remetidas para o contexto
Lobo Neves morre, na iminência de ser ministro. Brás pessoal do narrador, como se este debochasse da tradição
Cubas vai-lhe ao enterro e vê que Virgília chorava “lágrimas ver- histórica e religiosa, colocando o saber culto de seu tempo
dadeiras”. de cabeça para baixo.
Brás Cubas reconcilia-se com o cunhado Cotrim, in- A escolha de um defunto autor para relatar a obra
gressa na ordem, para dar alguma utilidade a sua vida, se- pode ser interpretada de vários ângulos. Alguns críticos veem
gundo ele, foi a fase mais brilhante de sua vida. No hospital a morte de Brás Cubas como um símbolo do fim da con-
da ordem, viu morrer a ex-namorada, a linda Marcela, ago- cepção romântica que ainda se fazia presente nos roman-
ra feia, magra, decrépita; também encontrou, num cortiço, ces de primeira fase de Machado de Assis. Outros sugerem
outra ex, Eugênia, a filha de D. Eusébia e do Vilaça, tão um enfrentamento do escritor com as propostas do Realis-
coxa como antes e mais triste. mo / Naturalismo, então em plena voga, já que uma fala
Quincas Borba, que havia partido para Barcelona, vol- vinda do túmulo contrariava os princípios de racionalidade
ta, mais louco ainda, morrendo pouco tempo depois. O últi- e verossimilhança, obrigatórios aos autores daquela esco-
mo capítulo, Das negativas, finaliza a obra com o tom cético e la. Indiscutível, no entanto, é a ideia machadiana de que só
realista que atravessa toda a obra: Brás Cubas não se torna um morto poderia apresentar os fatos de sua existência sem
famoso por seu emplastro, não foi ministro, nem califa, nem se escrúpulos, sem fantasias e sem o temor da opinião públi-
casou. Em compensação, não comprou o pão com o suor do ca. Só um morto – por não ter nada a perder – revelaria os
rosto, pois nunca teve de trabalhar. Não morreu como D. Plá- seus intuitos mesquinhos, o seu egoísmo, a sua impotência
cida, Marcela, Eugênia e tantos outros, nem se tornou louco para a vida prática e a sua desesperada sede de glória.
como Quincas Borba. Ao morrer, chega ao outro lado, sentin- Brás Cubas não é a tradução ficcional de Machado
do-se um pouco credor, pois não teve filhos e portanto, não de Assis. Esta confusão entre o autor e seu personagem
transmitiu “a nenhuma criatura o legado de sua miséria”. advém da narrativa ser feita em primeira pessoa. Contudo,
Brás Cubas visivelmente representa uma classe social que
Notas não é a de Machado. O ângulo com que o narrador exami-
O autor, nesta obra, acabou com o sentimentalismo, na o mundo é o dos grandes proprietários: trata-se de al-
o moralismo superficial, a fictícia unidade da pessoa huma- guém que não trabalha, que vive parasitamente, de alguém
na, as frases piegas, o receio de chocar preconceitos, a con- cheio de caprichos, enredado com a falta de perspectivas

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de sua existência. A própria técnica de narrar de Brás Cu- VISÃO II


bas, misturando irreverência e desrespeito a tudo e a to-
Nesta história narrada em primeira pessoa, por um
dos, corresponde à desfaçatez da classe dominante brasi-
defunto autor, Machado de Assis nos mostra através da
leira do século XIX. Assim, os erros e transgressões do per-
pretensa superioridade de seu protagonista – Brás Cubas –
sonagem expressariam o arbítrio e a falta de significado
a precariedade da espécie humana.
ético de uma elite historicamente condenada à destruição.
O procedimento básico de Brás Cubas em relação a
sua vida é o do desmascaramento. Entre a norma social e a I – NARRADOR
opinião pública, de um lado, e as intenções e desejos Os romances de Machado de Assis escondem várias
escusos do personagem, de outro lado, forma-se uma zona armadilhas ao longo do processo de leitura, especialmente
obscura que o narrador trata de esclarecer. Os “bons senti- quando se trata de um leitor romântico, acostumado a con-
mentos são a máscara hipócrita” do egoísmo, do interesse fiar sem questionamentos na onisciência do narrador – nas
e da luta pela glória. Instaura-se um terrível relativismo mo- narrações em terceira pessoa – e na sua autoridade como
ral e emerge com frequência certa noção da gratuidade e testemunha ocular da história contada, no caso específico
mesmo do caráter absurdo de certos gestos humanos. Epi- das narrações em primeira pessoa.
sódio revelador desta dimensão inexplicável de alguns atos Memórias póstumas de Brás Cubas pertence a este
ocorre, por exemplo, no capítulo A borboleta preta. A bor- caso, isto é, tem a narração em primeira pessoa: o foco
boleta invade o quarto de Brás Cubas e este, sem nenhuma narrativo centraliza-se no personagem-narrador, tornando-
razão plausível, a abate com uma toalha. Depois, ele tenta -se difícil, assim, recusarmos-nos a crer no que conta.
justificar a sua ação dando-lhe uma forma socialmente acei- Entretanto, uma das chaves para a leitura deste gran-
tável: “Também por que diabo não era ela azul?” Falsas dioso romance está justamente em desconfiarmos do narrador.
racionalizações como esta são emitidas o tempo inteiro pelo Ao colocarmos em dúvida a veracidade do ato narrativo,
narrador. começaremos a entender a estrutura do romance. Vejamos
Personagem de grande significação na obra é Quincas por quê: de um lado é um defunto autor, que conta a história
Borba, antigo colega de Brás Cubas. Convertido em men- de sua vida do além-túmulo, e assim dá a impressão de má-
digo cleptomaníaco e filósofo, Quincas Borba expõe com xima isenção, de uma imparcialidade absoluta. De outro lado,
hilariante seriedade um sistema de ideias designado como simultaneamente, vai espalhando pelo texto algumas pistas
Humanitismo. A teoria do Humanitas é uma caricatura feroz que denunciam suas mentiras e seus exageros.
ao positivismo e ao cientificismo dominantes na época. Vamos analisar, sob este aspecto, as partes iniciais
Paradoxalmente, o ridículo discurso filosófico de Quincas dos capítulos I e II.
Borba, próximo da insanidade, – cujo lema darwinista é “Ao Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias
vencedor as batatas” – parece expressar a própria concep- pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar
ção machadiana de mundo, centrada na luta selvagem do o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar
indivíduo para estabelecer algum tipo de supremacia sobre seja começar pelo nascimento, duas considerações me le-
os demais. varam a adotar diferente método: a primeira é que eu não
No capítulo O almocreve, Brás Cubas está sendo ar- sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor,
rastado por um jumento, pois tinha sido jogado fora da sela para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o
ficara com o pé preso no estribo. Possivelmente morreria escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que
não fosse a corajosa intervenção de um almocreve (condutor também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no
de bestas de carga), que deteve o animal. A primeira inten- cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
ção do narrador foi a de presentear o seu salvador com cin- Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-
co moedas de ouro, depois pensou dar-lhe duas, uma moe- -feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de
da de ouro. Acabou metendo na mão do almocreve uma Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e próspe-
moeda de prata, mas ao afastar-se pensou com remorso que ros, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acom-
deveria ter-lhe dado apenas uns vinténs, racionalizando que panhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Ver-
o homem não tinha em mira nenhuma recompensa ao salvá- dade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que
lo, cedendo apenas a um impulso natural. chovia – penetrava uma chuvinha miúda, triste e constante,
O mais célebre capítulo do livro, porém, é O delírio. tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da
Em estado de transe causado pela febre, Brás Cubas é arre- última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que
batado por um hipopótamo que o leva à origem dos sécu- proferiu à beira de minha cova: – “Vós, que o conhecestes,
los. Surge então uma mulher imensa de contornos indefini- meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza pa-
dos que diz-se chamar Natureza ou Pandora. Quando, por rece estar chorando a perda irreparável de um dos mais be-
fim, Brás Cubas vê de perto o rosto da estranha, percebe- los caracteres que têm honrado a humanidade”. Este ar som-
-lhe a impassibilidade egoísta e sua eterna surdez, ou seja brio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que co-
trata-se de algo ou alguém indiferente ao clamor humano. brem o azul com um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e
Ela conduz o defunto autor ao alto de uma montanha e lhe má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo
permite contemplar a passagem dos séculos e entender o isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.
absurdo da existência, sempre igual, centrada apenas no Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte
egoísmo e na luta pela conservação. O personagem vê a apólices que lhe deixei.
história como uma eterna repetição. (capítulo I – Óbito do autor)

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Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na importância, que talvez seja lido por cinco leitores. E vai
chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu ti- além, dizendo, aos que gostarem do livro, que é sorte de
nha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a quem o lê: se não gostarem, lhes dá um “piparote” ( panca-
pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim que da com o nó do dedo).
é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, Brás Cubas conta sua história através de uma postu-
deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até ra irônica, o que exige que leiamos o romance perceben-
tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te. do o avesso das palavras nele escritas. Assim, podemos
Essa ideia era nada menos que a invenção de um descobrir a forma pela qual esconde a verdade de uma
medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, des- trajetória inglória, dando-lhe sempre um tom de superiori-
tinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na peti- dade, criando uma espécie de “jogo” com o leitor.
ção de privilégio que então redigi, chamei a atenção do Este jogo, fundamentalmente baseado na ironia, afas-
governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. To- ta as Memórias póstumas da típica narração realista, cujo
davia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que caráter documental, fotográfico, racionalista não combina
deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos com a situação fantástica de um morto que conta histórias,
e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do extrapolando a verossimilhança dos fatos, exagerando, fal-
outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu seando e algumas vezes agredindo frontalmente o leitor.
principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, Por outro lado, se não é um tradicional narrador rea-
mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do lista, por certo Brás Cubas é um narrador realístico, na me-
remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para dida em que o desvendamento de suas ironias permite-nos
que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do reconhecê-lo imperfeito e contraditório.
foguete de lágrimas. Talvez os modestos me argúam esse Em conclusão, o romance, como de resto toda a
defeito: fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer obra de Machado de Assis, tem um realismo peculiar, que
os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as se aprofunda no mergulho da busca do real, indo além das
medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De aparências, que desde o foco narrativo desafia a percep-
um lado, filantropia e lucro; do outro lado sede de nomea- ção do leitor pela “não confiabilidade” do ato narrativo.
da. Digamos: – amor da glória. É importante, então, distinguirmos o específico do
(capítulo II – O emplasto) narrador desta obra em relação aos narradores realistas.
Enquanto estes pretendem contar de maneira realista, obje-
Os exageros e mentiras do narrador estão bem cla- tiva, e imparcial, aquele, com a ironia crítica de que se utili-
ros nestes trechos. A invenção de um remédio que curaria za, coloca em “xeque” tal objetividade, ao denunciar em si
todos os males, uma espécie de panaceia universal, o seu mesmo as imperfeições e as fraquezas humanas que nor-
“Emplasto Brás Cubas”, é evidentemente uma mentira bem malmente tentamos esconder.
colocada. Mesmo partindo de um morto que está narrando
sua história, esta afirmação não pode ser aceitável, na me-
II – ENREDO
dida em que o que a move é o lucro, a sede de nomeada,
o amor da glória, e até a filantropia, pouco convincente Sempre lembrando que Brás Cubas é um narrador
em relação aos outros motivos, nenhum deles, entretanto, de ótica própria, que deforma a história, vamos conhecê-la
ligados a qualquer preocupação e/ou formação científica. em alguns episódios significativos.
Este exemplo mostra que a pista que nos revela Brás No capítulo XI do romance – O menino é o pai do
Cubas como mentiroso já está colocada por ele mesmo homem – Brás Cubas relata sua infância: cresci, naturalmen-
nos primeiros capítulos. te, como crescem as magnólias e os gatos. Entretanto, tal
Ao leitor, resta, então, a tarefa de manter-se constan- “naturalidade” é negada pelo próprio narrador, segundo o
temente atento, percebendo os momentos em que a narra- qual talvez os gatos são menos matreiros e, com certeza,
ção cai nos exageros, nas invenções e nas mentiras. Pode- as magnólias são menos inquietas do que eu era na minha
mos surpreender o narrador, várias vezes, no difícil trabalho infância.
de encobrir uma verdade, uma fraqueza, que ele, sem que- O menino matreiro e inquieto, merecedor do apelido
rer, acabou revelando ao leitor. de menino diabo, maltrata os escravos, mente, esconde os
Quando fala de seu enterro, no capítulo I, ele diz ter chapéus das visitas, coloca rabos de papel em pessoas
sido acompanhado ao cemitério por onze amigos. Este é graves, puxa cabelos, dá beliscões, enfim, possui um com-
um féretro um tanto íntimo para quem, algumas linhas atrás, portamento maligno contando invariavelmente com a cum-
equiparou-se a Moisés. Parece que, ao notar que revelou plicidade do pai e as orações inúteis da mãe. Sim, meu pai
sua falta de importância ao leitor, tenta escondê-la. Para adorava-me. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco
justificar a ausência de mais amigos, inventa desculpas, não cérebro e muito coração, assás crédula, informa-nos Brás
houve anúncios de morte e, ainda, chovia (ou garoava, como Cubas. O tio cônego também não obtém resultados quan-
ele mesmo confessa) durante o enterro. Temos então uma do critica esta educação baseada na superproteção pater-
pessoa que se acha muito importante, mas ninguém fica na e na omissão materna.
sabendo de sua morte a não ser que seja avisado. A mediocridade e a frouxidão do tio cônego, que
Através deste exemplo, verificamos que se trata de entretanto, tinha virtudes exemplares, contrapõe-se à vida
um narrador narcisista, inclusive pela petulância com que galante, à língua solta e às obscenidades do tio João, que
se coloca em posição de superioridade perante o leitor. É tal como o pai mima o menino, ensinando-lhe muitas ane-
assim que, no prólogo do romance, confessa não ter muita dotas e malícias e, assim, conseguindo a sua preferência.
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Brás Cubas desenvolve-se neste contexto familiar que vamos comentar os personagens secundários do romance,
lhe favorece e justifica as traquinagens, e que prenuncia o vistos no que representam para o protagonista e narrador.
adulto egocêntrico em que se transforma, como ele mesmo Marcela, sua primeira paixão, é descrita como uma
reconhece irônica e criticamente em relação à própria edu- cortesã interesseira que acaba sendo atacada pela varíola.
cação, no capítulo mencionado. Brás Cubas parece sentir um prazer mórbido na descrição
Na juventude, envolve-se com Marcela, uma cortesã das marcas no rosto da espanhola. Sua descrição da per-
espanhola por quem se apaixona mas que o ama durante sonagem assemelha-se, assim, a uma vingança, sugerindo
quinze meses e onze contos de réis. Quando o pai toma ao leitor que mesmo os raros que conseguem enganá-lo
conhecimento dos gastos do filho, manda-o à Europa para são castigados até pelo destino.
estudos aos quais pouco se dedica. Ao retornar, Brás Cu- O homem que lhe toma a noiva e o mandato de de-
bas almeja casar-se com Virgília, num negócio arranjado putado – Lobo Neves – aparece como um supersticioso in-
pelo pai, também preocupado em torná-lo deputado. consequente. O cunhado Cotrim, com quem tivera que re-
Ambos os projetos falham: Brás Cubas perde a noiva partir a herança do pai, aos olhos do narrador é submisso
e o cargo para Lobo Neves. Mais tarde, quando suas inten- aos poderosos e interesseiros. Um dos raros amigos que
ções são de ser ministro, o que consegue é o amor adúlte- tem, Quincas Borba, é retratado inicialmente como um
ro de Virgília e, em vez do ministério, o cargo de deputado. mendigo ladrão de relógios e depois como um filósofo
Virgília engravida, mas o filho dela e de Brás Cubas morre doido.
antes de nascer, o que separa os amantes. Uma das poucas personagens que não lhe merecem
Nhã-loló (Eulália), a noiva arranjada pela irmã – Sabina palavras azedas é Virgília, embora seja retratada como mu-
– morre vitimada por uma epidemia e Quincas Borba, seu lher fraca, submissa ao destino e, assim, a ele também.
colega de infância que se diz filósofo, rouba-lhe o relógio e Neste sentido, o egocêntrico Brás Cubas sente-se tão forte
desaparece. Retorna tempos depois, enriquecido por uma quanto o destino. O fato de que Virgília se torna sua amante
herança, devolve o relógio e mais tarde enlouquece. é usado por Brás Cubas para disfarçar a frustração que teve
Assim, de fracasso em fracasso se conduz a travessia com a primeira derrota, quando iria casar-se com ela. É
de Brás Cubas, personagem-símbolo da ironia machadiana como se dissesse ao leitor que Virgília estava fadada a ser
quanto ao ideal burguês de “vencer na vida”, especialmen- sua, que nada pode se opor aos seus desejos e, mais cedo
te percebida através do humanitismo: teoria filosófica cria-
ou mais tarde, ele os acaba concretizando.
da por Quincas Borba.
Inventar um emplasto contra a hipocondria, um remé-
IV – LINGUAGEM
dio miraculoso que curaria os males da humanidade, cons-
titui a última tentativa de Brás Cubas, o seu último projeto – Para tornar mais funcional o nosso trabalho de análi-
sem sucesso como todos os outros – ironicamente impedi- se da linguagem do romance, vamos dividi-lo em itens re-
do pela morte do protagonista, que contrai pneumonia ao presentativos de seus elementos mais importantes.
sair de casa a fim de patentear o invento.
CONVERSA COM O LEITOR
III – PERSONAGENS
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me
Brás Cubas – protagonista e narrador do romance – egoís- canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns
ta, egocêntrico, entediado e como vimos petulante, irôni- magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que dis-
co, pretensamente superior, constitui uma espécie de inver- trai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira
são feita por Machado de Assis da trajetória típica dos he- a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e
róis do mundo burguês, tematizados na literatura realista. aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu
Tais heróis, como por exemplo nos romances de Stendhal e tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a
Balzac, caracterizam-se pela ascensão social geralmente narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este
relativizada pelo fracasso no plano afetivo. Brás Cubas, por livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à
sua vez, não tem sucesso em nenhum setor, tornando-se esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham,
uma espécie de antimodelo através do qual Machado de ameaçam o céu, escorregam e caem...
Assis ironiza impiedosa e ceticamente os valores burgueses E caem! – Folhas misérrimas do meu cipreste, heis
em particular e os valores humanos em geral. Além disso, de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu
questiona os modelos ideológicos e literários importados tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a
pelo Brasil, fazendo-o não só através da negação do herói grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir,
tradicional da literatura realista, mas também da também não deixa olhos para chorar... Heis de cair.
ridicularização das doutrinas positivistas e deterministas, (capítulo LXXI – O senão do livro)
através do humanitismo e de seu criador, o filósofo-maluco
Quincas Borba. Neste trecho, como em vários outros, o narrador diri-
ge-se ao leitor e, de um modo sarcástico e até agressivo,
SECUNDÁRIOS faz comentários sobre a sua escrita. Aqui, fala sobre as ex-
pectativas do leitor e sobre a sua própria linguagem, acen-
Pela ótica demolidora e narcisista de Brás Cubas, tuando as diferenças entre ambas.

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O leitor da época, consumidor do folhetim românti- “verdadeiros” europeus, até que dois deles se esquecem
co, é criticado; exige-se dele uma leitura mais pausada e de continuar representando os seus papéis. De refinados e
mais crítica, não preocupada com a mera sucessão dos progressistas adeptos do capitalismo moderno, eles se mos-
fatos, mas atenta aos pequenos detalhes que compõem a tram senhores de escravos, defensores de uma ordem soci-
narrativa machadiana. al tão injusta quanto atrasada. A ironia desse episódio está
Essas reflexões aproximam a obra do escritor das inqui- justamente no descompasso entre uma festa europeia e um
etações da literatura moderna. Em Machado, como atualmen- diálogo brasileiro demais...
te, é essencial entender as reflexões do narrador à luz do pró-
prio texto, comparando o que ele fala com o que ele faz. Nas
HUMOR E PESSIMISMO
Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado insiste na leitura
mais realista, fornecendo ao leitor as pistas para que ele leia O “humor fino”, caracterizado como “britânico”, é qua-
no romance não apenas a história de alguém que está morto, se um lugar-comum na análise da obra de Machado de
mas a própria tragédia do homem diante de si mesmo e que Assis. É possível identificá-lo, por exemplo, no episódio da
ainda assim não consegue se olhar com honestidade. festa napoleônica em que, em vez de fotografia realista,
reveladora da aparência, faz uma radiografia dos fatos, ao
mesmo tempo repleta de humor e de pessimismo.
A NARRAÇÃO FRAGMENTÁRIA
Ao humor obviamente percebido na revelação do
A narração fragmentária de Machado de Assis convi- descompasso, a qual denuncia simultaneamente a indigên-
da o leitor à participação, exigindo dele um esforço cia de nossa oligarquia rural e a sua hipocrisia em desco-
organizador. Além dos detalhes que compõem a coerência nhecer a si própria – atrelada que estava à cultura e às ideias
da obra, a própria sequência narrativa deve ser costurada. do liberalismo europeu – soma-se o pessimismo macha-
Há capítulos que explicam ou exemplificam um outro. Este diano, que perceberemos em toda a sua extensão, através
pode vir tanto antes quanto depois daqueles, e o leitor é o da análise de um fragmento do último capítulo do roman-
responsável por organizá-los coerentemente. ce, sugestivamente intitulado Das negativas.
Assim como exemplo, podemos discutir o capítulo XXXI, Este último capítulo é todo de negativas. Não alcan-
em que Brás Cubas conta uma pequena história acerca de cei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa,
uma borboleta preta. Aparentemente, este episódio não tem não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado destas
nada a ver com o que se conta da própria vida do narrador. faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com
Mas é só aparentemente. A história da borboleta pode ser o suor do meu rosto (...) Somadas umas coisas e outras,
vista como uma alegoria: os seres mais fracos (entenda-se os qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem so-
animais) são usados e destruídos pelos mais fortes (leia-se o bra, e consequentemente que sai quite com a vida. E imagi-
homem). Acontece que, neste tempo, Brás Cubas tentava-se nará mal, porque ao chegar a este outro lado do mistério,
aproveitar de Eugênia, uma moça pobre, um tanto bonita, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira nega-
mas manca. A alegoria da borboleta ajusta-se perfeitamente tiva neste capítulo de negativas: não tive filhos, não transmi-
ao caso: os mais fortes (leia-se “ricos”) podem usar os mais ti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
fracos (leia-se “pobres”). Mas a incompetência de Brás Cubas Ao se referir ao último capítulo do livro que escreve,
é tanta que ele não consegue realizar seus propósitos. o narrador inicialmente faz uma afirmação – Este capítulo é
Há outros casos, em que a fragmentação do texto é todo de negativas – para em seguida demonstrá-la, funda-
mais radical, como o capítulo LV (O velho diálogo de Adão mentá-la, através de fatos-exemplos: Não alcancei a cele-
e Eva) e o capítulo CXXXIX (De como não fui ministro bridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não
d'Estado). Ambos são totalmente compostos de sinais de conheci o casamento.
pontuação, deixando a cargo do leitor completar o espaço Além de enumerar os motivos, as causas das negati-
vazio de palavras, mas sugestivo de ideias, várias delas, vas que percebemos se referirem à vida, uma vida de fra-
aliás, presentes nos capítulos precedentes. Esta fragmenta- cassos tanto no plano profissional quanto no plano afetivo,
ção do ato de narrar, aliada à quebra da linearidade do o narrador ironiza tais fracassos mostrando que se por um
enredo, é outra técnica literária moderna anunciada no sé- lado houve faltas de sua parte por outro coube-lhe a boa
culo XIX por Machado de Assis. fortuna de não comprar o pão com o suor de seu rosto...
ou seja, não venceu mas em compensação não lutou, isto
O DUPLO SENTIDO IRÔNICO é, não fez o “jogo” do sistema, não obedeceu às regras do
mundo burguês segundo as quais o trabalho – comprar o
Há um segundo sentido em relação à aparência, que
pão com o suor do rosto – dignifica e enobrece o homem.
se revela aos poucos, pelos detalhes que o leitor vai perce-
O enfoque irônico, crítico, presente neste trecho, in-
bendo.
tensifica-se profundamente no final: a “lei das compensa-
Uma passagem sutil em Memórias póstumas de Brás
ções” de que se utiliza o narrador pode dar ao leitor uma
Cubas ilustra o duplo sentido irônico: os pais de Brás Cu-
impressão de “empate”, de que ele saiu quite com a vida.
bas dão uma festa para comemorar a queda de Napoleão,
Impressão errônea, na medida em que “do outro lado do
na França. Os convidados comentam a questão, uns colo-
mistério”, isto é, da perspectiva do além-túmulo, o narrador
cando-se a favor, outros contra. No meio da festa, dois de-
descobre que tem pequeno “saldo” perante a vida. Este
les trocam informações sobre uma partida de escravos que
saldo, paradoxalmente, corresponde à derradeira negativa
estava para chegar ao porto nos próximos dias. Revela-se
do capítulo de negativas: Não tive filhos, não transmiti a
aí justamente a face hipócrita e envergonhada de nossa clas-
nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
se dominante. Os convivas estavam se comportando como
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Vingando-se da vida através da recusa a seu princi- o comportamento deles, vai desmascarando um por um,
pal valor – a continuação da espécie humana – e passando por meio de suas atitudes.
da primeira pessoa do singular (não tive) para a primeira do Outra inovação fora de série para a época é o capítu-
plural (nossa miséria), o narrador estende a todos os ho- lo “De como fui ministro de Estado”. Pontos no lugar de
mens a sua miséria, o que a universaliza. Na realidade é o palavras, indicam a total falta de motivos para Brás não ter
que o leitor pode pressentir desde o início do romance: sido ministro.
Brás Cubas não é “qualquer pessoa” mas a síntese de mui- Até então, todas as biografias seguiam uma cronolo-
tas, se não de todas as pessoas, cujos fracassos não assu- gia linear. Machado inova quando inverte tudo e começa
midos e escamoteados Machado de Assis analisa com rara seu livro pelo fim – a morte e o enterro. Só então, volta ao
capacidade de penetração psicológica. nascimento e, a partir daí, os acontecimentos seguem a
linha do tempo. O romance volta e termina exatamente onde
VISÃO III iniciou, ou seja, a narrativa tem uma estrutura circular.
Em vez de descrever a burguesia carioca da classe
O AUTOR
burguesa, Machado é sutil. Monta quadros de comporta-
Atrás daquela aparência simples, as atitudes tímidas mento hipócrita, para criticar os relacionamentos por inte-
escondiam um dos maiores gênios de nossa literatura – um resse. A conclusão não poderia ser outra, o pessimismo em
escritor universal, culto e inovador. relação à humanidade – contido no capítulo final.
Machado de Assis foi um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras. Mas isso não aconteceu do dia para noi- O LIVRO
te. A consagração e a perfeição artística vieram com paciência
Boa família, dinheiro, estudos, noiva e carreira. Brás
e muita dedicação. Em uma sociedade marcada por divisões
confessa que teve tudo isso, mas deixou escapar as melho-
sociais rígidas, seu destino seria determinado pela origem e
res oportunidades de sua vida. Na época de romances
raça. Machado era mulato. Menino de subúrbio fascinado pela
melosos, poucos entenderam esse livro revolucionário. Um
vida intelectual da corte, ele passou a maior parte de seu tem-
morto é o personagem principal.
po trabalhando na rua do Ouvidor, onde acabou provando à
Brás Cubas, o personagem principal, conta a história
alta sociedade que seu nome era insuperável.
de sua vida no momento de sua morte – um balanço sem
Na virada do século XIX, Machado de Assis beirava
paixões, sentimentos nem julgamentos. Homem de poucos
os 60 anos. Sem ser rico, vivia com conforto e era uma das
amigos, só onze lhe prestaram as últimas homenagens. Entre
figuras mais ilustres de nossa literatura. Consta que nunca
eles, Virgília, a mulher mais importante de sua vida. Depois,
fora bonito e, ainda por cima, gaguejava. Mesmo assim,
a narrativa volta ao começo: filho de família rica, mimado e
teve (e quem nunca sonhou com isso?) um grande amor
protegido, Brás aprontou muito na infância. Aos 17 anos,
que foi correspondido durante praticamente toda a sua vida.
apaixonou-se por Marcela, uma linda prostituta espanhola
Era Carolina, com quem viveu casado por 30 anos, a quem
que lhe arrancou muito dinheiro. O pai descobriu o caso e
confessara um dia: “Eu vivo e morro por ti”.
despachou o rapaz para Portugal.
Machado vinha de uma família humilde – neto de es-
Cursou Direito em Coimbra, mais preocupado em cur-
cravos alforriados, filho de um pintor de paredes e de uma
tir a vida e passear pela Europa do que em estudar. Atenden-
dona-de-casa açoriana – e contava que, desde cedo, sen-
do ao pedido do pai, voltou ao Rio a tempo de assistir aos
tia “umas coisas estranhas”. Talvez fossem os primeiros sin-
funerais da mãe. Depois, escondeu-se na Tijuca para ficar só,
tomas de epilepsia.
mas, ao fim de uma semana, cansado da solidão, conheceu
O garoto pobre do Morro do Livramento, cuja obra
Eugênia, filha de uma antiga amiga da família. A garota, bo-
atravessou fronteiras para consagrá-lo internacionalmente, viu
nita e inteligente, era coxa. Com medo de se apaixonar, ele
morrer a única irmã aos 6 anos e, quatro anos depois, a mãe.
pulou fora. O pai tinha planos para ele: carreira política e
Apesar de tudo, o garoto – como qualquer outro de sua idade
casamento vantajoso. Brás concordou em conhecer Virgília
– adorava se esquecer da vida nas ruas do Rio de Janeiro,
e deu razão ao pai. Ela era linda mesmo. Já a considerava
onde nasceu (1839), viveu, amou, escreveu e morreu (1908).
sua namorada quando Lobo Neves apareceu e roubou tudo
que ele queria – a noiva, a carreira e o dote.
LITERATURA E ESTILO
Casados, Lobo e Virgília foram morar em São Paulo.
Memórias póstumas de Brás Cubas é um marco na Voltaram ao Rio e Brás constatou que Virgília estava ainda
literatura brasileira. Inaugurou o Realismo no Brasil (1881) mais linda. Depois de alguns jantares e festas, tornaram-se
ao lado de O mulato, de Aluísio Azevedo. Nessa obra, a amantes. Para evitar suspeitas, alugaram uma casinha onde
primeira do movimento, Machado de Assis introduz inova- viveram momentos de paixão. O romance teve de esfriar,
ções de altíssima qualidade. pois o marido de Virgília começou a desconfiar dos dois.
Entre as inovações, uma delas é o foco narrativo. Pela Lobo Neves foi nomeado presidente de uma província no
primeira vez na literatura brasileira, um livro é escrito na pri- Norte, e o casal partiu de novo. Ele se consolou com outra
meira pessoa, por um personagem morto, como se fosse – Nhã-Loló, que morreu poucos meses depois, aos 19 anos.
uma autobiografia. Daí a ironia de Machado em seu troca- Quando Virgília voltou, tornaram a se ver, mas não se
dilho: não é um autor defunto, mas um defunto autor. envolveram mais. Brás agora se limitava a receber o amigo
O autor não busca apenas retratar o real com fideli- de infância, Quincas Borba, mendigo e filósofo. A estas al-
dade nem focalizar somente os exageros patológicos do turas ele já havia passado por vários fracassos: quis ser mi-
Naturalismo. Machado faz mais. Apresenta uma brilhante nistro de Estado, mas não conseguiu; abriu e fechou um
análise psicológica de seus personagens: em vez de criticar jornal de oposição; ingressou numa Ordem Terceira e até
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exerceu alguns cargos, mas desistiu. Finalmente, tentou fa- Brás vai se lembrando de um por um e de tudo que
zer um emplastro que salvasse a humanidade da hipocondria, viveu, a partir da infância.
pegou uma pneumonia e morreu. II. Marcela, a linda prostituta espanhola, foi a primeira pai-
No balanço final de sua vida, Brás conta que havia xão de Brás. Quando o pai descobriu o caso e mandou
encontrado Eugênia, a coxa, morando em um cortiço; que o rapaz para a Europa, ele tentou comprar a moça com
Lobo Neves e Marcela tinham morrido; e que Quincas Borba uma presilha de três diamantes. Ela aceitou a joia, mas
enlouquecera e morrera seis meses antes dele. Depois de não fugiu com ele.
tanta desilusão, conclui que houve um saldo positivo: o de
nunca ter tido filhos. Assim, não transmitiu a herança da III. Na Gamboa, então um bairro portuário do Rio de Janei-
miséria humana. ro, uma casinha modesta abrigava os encontros de Brás
e Virgília. Lá, viveram uma grande paixão, pensando que
QUEM É QUEM? jamais alguém suspeitaria deles.

Nada de heróis românticos nem heroínas sem defei- IV. Brás reencontra Quincas Borba, seu melhor amigo da
tos. Brás Cubas relembra sua vida e a dos que a cercaram, época de escola. Quincas tornara-se um mendigo. Ape-
tentando ser o mais realista possível – sem emoções nem sar de ter ficado chocado com a situação, Brás ficou
meias verdades. feliz por tê-lo encontrado e deu dinheiro a Quincas. Eles
se despediram com um forte abraço. Quincas aprovei-
1. BRÁS CUBAS – Nasceu em 1805 e morreu aos 64 anos. tou a ocasião e roubou o relógio do amigo, que devol-
Era rico e bonito: “os olhos, vivos e resolutos, eram mi- veu mais tarde.
nha feição máscula.” Estudou em Coimbra, passeou pela
Europa e, na volta, encontrou o futuro traçado pelo pai. CENÁRIO
O bom casamento não aconteceu e os projetos não de-
ram certo. Sua história é a de um homem que quis e Conheça alguns bairros cariocas e lugares famosos
“quase foi” muitas coisas: não conseguiu ser ministro de do Rio de Janeiro onde Brás Cubas morou, passeou e na-
Estado, não se casou com Virgília, não teve filhos e não morou.
fabricou o emplastro que lhe daria dinheiro e fama. I. GAMBOA, O BAIRRO PORTUÁRIO – Centro importa-
2. VIRGÍLIA – Aparência frágil e atitudes arrojadas, “era dor e exportador, o Rio de Janeiro não tinha porto apro-
bonita, fresca, clara, cheia de uns ímpetos misteriosos”. priado. A Gamboa, bairro popular da orla marítima, ser-
Não se casou com Brás porque preferiu a condição social via de área de desembarque de mercadorias. A falta de
do marido. Amorosa com ele, traía-o com Brás Cubas. habitação para os trabalhadores levou os donos dos ter-
renos a construir quartos e casas pequenas. Era lá que
3. QUINCAS BORBA – “Uma flor, o Quincas. Nunca, em Brás e Virgília se encontravam escondidos. O cais foi
toda a minha vida, achei um menino mais gracioso, aterrado e, em 1910, deu lugar a um porto moderno.
inventivo e travesso.” Amigos de infância, eles se reen-
contram adultos. Quincas Borba, tinha virado mendigo II. PHAROUX, UM BOM LUGAR PARA AFOGAR AS MÁ-
e filósofo. GOAS – O francês Louis Pharoux montou um dos ende-
reços mais elegantes do Rio de Janeiro, no século XIX.
4. MARCELA – A linda prostituta que foi o primeiro amor Era o Hotel Pharoux, com vista para a baía da Guanabara.
de Brás Cubas: “Marcela amou-me durante quinze me- A cordialidade do dono, a ótima culinária e as bebidas
ses e onze contos de réis.” Brás tentou convencê-la a especiais transformaram o hotel no point da época. Lá,
fugir com ele para a Europa. Não conseguiu. podia-se tomar um bom vinho francês – iguaria rara, pois
5. EUGÊNIA – Duplamente discriminada, a jovem era coxa aqui só se bebia vinho português.
e também filha de um relacionamento clandestino. Brás III. PASSEIO PÚBLICO, O ORGULHO CARIOCA – Quando
quase namorou com ela, mas não teve coragem de en- D. Pedro II resolveu remodelar a área, o jardim de 1783
frentar os preconceitos. estava abandonado. O imperador encomendou o projeto
ao paisagista francês Auguste François Marie Glaziou, que
6. PERSONAGENS MENCIONADOS
fez um traçado de influência chinesa: muitas curvas, lago
a) OS PAIS DE BRÁS – Achavam graça em tudo que o artificial e larga rua do Passeio. Reaberto ao público em
menino fazia. O pai queria uma boa posição social e 1862, o local voltou a ser um lugar agradável e fresco, no
um casamento sólido para o filho. centro do Rio de Janeiro. É visitado até hoje, mas sem os
b) DR. DUTRA – Pai de Virgília: homem de prestígio e bem encantos nem os cuidados de outrora.
relacionado, preferia Lobo Neves a Brás como genro.
c) SABINA E COTRIM – Irmã e cunhado de Brás Cubas. À MODA DA CASA
d) DONA PLÁCIDA – Encobre o caso, tem vergonha Fumar charuto era um hábito elegante – a moda pe-
dos amantes, mas aceita o dinheiro que Brás lhe dá. gou, e as mansões até tinham seus fumódromos. Conheça
alguns hábitos “modernos” do século XIX.
CENAS IMPERDÍVEIS I. CHARUTO – A BAFORADA CHIQUE – Durante a Re-
I. Brás observa o próprio velório. Homem de poucos ami- gência e o Segundo Império, fumar charuto era o máxi-
gos, só onze deles compareceram. Virgília, a mulher que mo. Os palacetes até tinham um lugar especial para os
mais amou, estava lá. Sem paixão nem ressentimentos, fumantes, chamado de “fumoir”. Lá, os homens bebiam,
conversavam e davam suas baforadas. Apesar de os eu-
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ropeus fumarem cachimbo, o costume não pegou aqui, intelectuais brasileiros. De 1577 a 1822, Coimbra
por preconceito, pois os escravos também “pitavam”. diplomou 2.464 alunos nascidos no Brasil – entre eles,
II. CURANDEIROS E TRAPACEIROS – No Brasil do sécu- os poetas Gonçalves Dias e Gregório de Matos Guerra e
lo XIX, charlatães e curandeiros ganhavam dos médicos o jornalista Hipólito José da Costa. Em 1826, D. Pedro I
em preferência popular. Com seus emplastros e chás, criou duas escolas de direito – em São Paulo e em Olinda.
diziam-se herdeiros dos pajés indígenas ou da “escola” Os cursos começaram dois anos depois e o modelo era
africana trazida pelos escravos. Coimbra, de onde vieram os primeiros professores.

III. TUDO PELAS COMPOTAS – Dos conventos portugue- II. NAPOLEÃO, O CONQUISTADOR MILITAR QUE SE
ses às cozinhas brasileiras, as quituteiras levaram adian- COROOU IMPERADOR – Em 1804, os franceses assisti-
te essa doce tradição culinária. As compotas – frutas da ram a uma das solenidades mais importantes do século
estação embebidas em calda de açúcar – eram a paixão XIX. Napoleão Bonaparte (1769-1821) consagrava-se im-
de Brás Cubas. Acompanharam toda sua vida, desde perador. Do aluno medíocre da École Militaire ao título
menino até os lanches com a amante Virgília. de imperador, ele construiu uma carreira vitoriosa. Em
20 anos de guerras, conquistou territórios da Polônia a
IV. HOMEOPATAS E BOTICAS – A homeopatia foi Portugal. Foi derrotado por sua obsessão de poder ao
introduzida no Brasil do Segundo Reinado. Na prática, enviar 700 mil homens a Moscou, em 1812. O exército
misturava soluções, ervas e resinas das curas afro-brasi- foi aniquilado, e um ano depois, Paris foi invadida pelos
leiras e indígenas. Em Campinas, em 1857, de cinco exércitos inimigos. Napoleão começava seu declínio.
médicos, dois eram homeopatas. As boticas homeopá-
ticas, populares e poderosas, publicavam enormes anún- III. VITÓRIA: A RAINHA QUE VIROU ESTILO – O longo
cios nos jornais da época. governo da rainha Vitória (1831-1901) foi marcado pelo
desenvolvimento da indústria e pela expansão colonialista
EM QUE ANOS ESTAMOS – BRASIL na Ásia e na África. A Inglaterra transformou-se na maior
potência econômica do século XIX. Nascia a burguesia,
Durante a vida de Brás Cubas, fatos como esses a classe social dos novos ricos, que fazia questão de
marcaram as páginas da história do Brasil. aparentar riqueza e nobreza.
I. BRASIL, ASILO DE RICOS – Em 1807, as tropas de IV. AS INVENÇÕES DO SÉCULO
Napoleão invadiram Portugal. D. João, sua família e a
A) 1816 – ESTETOSCÓPIO – O aparelho médico de aus-
corte, cerca de 15 mil pessoas – fugiram baratinados
cultação foi inventado pelo francês René Theophile
para o Brasil, enchendo os porões dos navios com tudo
Hyacinthe Laennec.
que puderam carregar. A primeira coisa que D. João fez
foi abrir os portos às nações amigas, principalmente a B) 1846 – SAXOFONE – Antoine - Joseph Sax patenteia
Inglaterra, para que o Brasil comerciasse, coisa proibida o instrumento de sopro que havia desenvolvido e já
até então. Depois, vieram outras melhorias: o Jardim era usado em algumas bandas.
Botânico, o Banco do Brasil, a Imprensa Régia, os tribu- C) 1848 – MANIFESTO COMUNISTA – Karl Marx e
nais, as escolas e as manufaturas. Friedrich Engels lançam Manifesto Comunista, a base
de uma nova ideologia social.
II. O DONO DA VERDADE – Ao assumir o trono, D. Pedro
II, com 14 anos, centralizou o poder. Ele nomeava os D) 1867 – DINAMITE – As experiências com a nitroglice-
presidentes das províncias e os senadores; podia dis- rina levam o químico sueco Alfred Nobel a criar a di-
solver a câmara de deputados e, com isso, fazer o namite.
revezamento dos dois partidos – o conservador e o libe-
ral; e também dava a palavra final na escolha dos sena- LIGAÇÕES SABOROSAS
dores. Sabe quais eram as exigências básicas para se Machado de Assis descrevia a alma de seus persona-
candidatar a esse cargo? Ser homem, branco, e ter uma gens. Outros fizeram o mesmo, nos mais diversos setores
renda superior a 1600 mil réis. do conhecimento humano e das artes.
III. IMPRENSA TARDIA – Portugal não queria críticas. Por I. FREUD – ABRINDO CABEÇAS – Psiquiatra e neurolista
isso, nosso primeiro jornal, O Correio Brasiliense, só foi austríaco, Sigmund Freud (1856-1939) foi o fundador da
impresso em 1808, em Londres. O proprietário, Hipólito psicanálise. Seus estudos, básicos para entender o
José da Costa, fazia de tudo – da redação à edição. D. psiquismo humano, influenciaram a arte e várias outras
João criou A Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal áreas de conhecimento.
impresso aqui. A partir daí, a imprensa pode se desen-
volver, funcionando inclusive como oposição aos gover- II. BOCAGE – O TALENTOSO POETA PORNOGRÁFICO
nos desses monarcas. – A família de Brás Cubas festejava a queda de Napoleão
com um banquete, quando um dos convidados disse que
EM QUE ANO ESTAMOS – MUNDO conversou com o poeta em Lisboa. Todos se espanta-
ram. É que Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765- 1805),
O século XIX viu crescer uma nova classe social e o libertino das rodas boêmias, autor dos sonetos satíri-
maravilhou-se com a glória desses dois nomes de peso: cos Rimas, não era uma figura bem-vista em público.
Napoleão Bonaparte e a rainha Vitória.
III. MUNCH – DO ESCÂNDALO AO RECONHECIMENTO –
I. COIMBRA DOS CHORÕES – A Universidade de Pintor e gravador nascido na Noruega, Edvard Munch
Coimbra, em Portugal, era o grande centro formador de (1863-1944) exerceu forte influência sobre a pintura dos
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expressionistas alemães do fim do século XIX e começo _________________________________________________________________________________________________________________________________________________


do XX. Os artista dessa escola deformavam a realidade
por meio de cores fortes e figuras disformes. Munch di- _________________________________________________________________________________________________________________________________________________
zia que “devemos pintar pessoas que respiram, sentem, _________________________________________________________________________________________________________________________________________________
sofrem e amam”. Foi o que fez. O Grito, é a sua tela mais
famosa. _________________________________________________________________________________________________________________________________________________
IV. TCHAIKOVSKY E A DERROTA FRANCESA – Em 1812, _________________________________________________________________________________________________________________________________________________
o Exército francês invadiu a Rússia. Foi abatido pelo in-
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verno e pela fome – o povo incendiou Moscou para não
abrigar o inimigo. Inspirado nesse tema, Piotr Ilyich _________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Tchaikovsky (1840-1893 ) compôs a Abertura 1812. Com
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canhões, sinos e rajadas de vento, a música conta a
vergonhosa retirada dos soldados de Napoleão. _________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________
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